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AVALIAÇÃO DE RISCOS TERATOGÊNICOS EM GESTAÇÕES EXPOSTAS AO
MISOPROSTOL: UM ESTUDO DE CASO-CONTROLE.
Autora: Emérita Sátiro
Opaleye. Orientador: Prof. Dr. Fabrício da Silva Costa. [Dissertação de Mestrado
– Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Ceará]
INTRODUÇÃO: O misoprostol (Cytotec
®
) é um análogo de prostaglandina E1,
inicialmente comercializado com finalidades terapêuticas do trato gastrintestinal,
de uso proscrito em gestantes pelo risco de abortamento. A realidade do aborto e
o ineficiente controle de medicamentos em nosso país tornaram generalizado seu
uso como método abortivo. Estudos demonstram que o potencial abortivo do
misoprostol é variável e seu uso sem acompanhamento médico pode levar a uma
gestação que não se perde, gerando risco para o embrião/feto. Vários relatos de
casos e estudos epidemiológicos associam o uso de misoprostol durante a
gestação com crianças malformadas, especialmente seqüência de Möebius,
defeitos de redução de membros e diversas anomalias do sistema nervoso
central. O risco do surgimento destes defeitos não pôde ainda ser determinado
com os dados atualmente disponíveis, fazendo-se necessário a continuidade de
pesquisas. OBJETIVOS: Identificar em recém nascidos (RNs) malformados nas
principais maternidades de Fortaleza e em controles normais a freqüência de
exposição ao misoprostol e apresentar o espectro de MFs dos neonatos expostos.
MÉTODOS: Estudo de caso controle, com busca ativa diária de RNs malformados
e controles pareados em quatro maternidades públicas de Fortaleza – CE, no
período de julho a novembro de 2005, para entrevista com a parturiente utilizando
questionário estruturado, na busca por exposições diversas durante a gestação,
inclusive ao misoprostol. RESULTADOS: Os grupos eram homogêneos quanto
ao perfil sócio-demográfico e principais características, apresentando diferenças
somente em desfechos desfavoráveis mais esperados em RNs MFs, como menor
peso (p=0,0001), menor adequação peso x idade gestacional (p=0,006), maior
natimortalidade (p=0,024) e maior mortalidade perinatal (p=0,0001). Ambos os
grupos tiveram índice de assistência pré-natal no mínimo adequada (69%),
diferindo somente na quantidade de ultra-sonografias (US) realizadas a mais
pelos casos (p=0,003). Quanto aos fatores de risco, a única diferença consistiu no
grupo caso ter apresentado maior freqüência em apresentação pélvica (19,8%,
p=0,037). Aproximadamente 84% das mães relataram exposição a pelo menos
um medicamento durante a gestação, e a média de medicamentos consumidos
por gestante foi de 3,72. O uso de fumo, álcool e drogas ilícitas foi pouco
reportado, e somente o fumo apresentou-se mais freqüente no grupo controle
(p=0,0171). A maior parte das gestações foi declarada como planejada ou
desejada (70% do total). O relato de tentativa de aborto foi de 6,8% do total da
amostra, havendo maior citação de uso de misoprostol no grupo caso, embora
não tenha sido estatisticamente significativo. CONCLUSÃO: Os achados deste
estudo sugerem que ocorre uma maior exposição de misoprostol durante a
gestação em RNs malformados comparados a RNs saudáveis, Odds Ratio (OR) =
3,65 [IC
95%
: 0,74;17,91]. O espectro de MFs encontradas, associadas ao
misoprostol foi: hidrocefalia, mielomeningocele, agenesia de quadril, pé
equinovaro, luxação de joelho, luxação de quadril, agenesia de falanges distais,
sindactilia, polidactilia, imperfuração anal, ausência de testículos no bolso escrotal
e higroma cístico.
PALAVRAS-CHAVE: misoprostol, teratogenicidade, malformações congênitas.
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