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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA
AVALIAÇÃO DE RISCOS TERATOGÊNICOS EM
GESTAÇÕES EXPOSTAS AO MISOPROSTOL: UM
ESTUDO DE CASO-CONTROLE.
EMÉRITA SÁTIRO OPALEYE
FORTALEZA – CEARÁ
2006
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2
EMÉRITA SÁTIRO OPALEYE
AVALIAÇÃO DE RISCOS TERATOGÊNICOS EM
GESTAÇÕES EXPOSTAS AO MISOPROSTOL: UM
ESTUDO DE CASO-CONTROLE
.
FORTALEZA – CEARÁ
2006
Dissertação submetida à Coordenação do
Curso de Pós-Graduação em Ciências
Farmacêuticas área de concentração
Farmácia Clínica, como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em Ciências
Farmacêuticas, área de concentração
Farmácia Clínica.
Orientador:
Prof. Dr. Fabrício da Silva Costa
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3
EMÉRITA SÁTIRO OPALEYE
AVALIAÇÃO DE RISCOS TERATOGÊNICOS EM
GESTAÇÕES EXPOSTAS AO MISOPROSTOL: UM
ESTUDO DE CASO-CONTROLE.
Aprovada em:
Fortaleza-CE, ____/____/2006
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof. Dr. Fabrício da Silva Costa (Orientador)
Universidade Estadual do Ceará
_____________________________________________
Prof. Dra. Helena Lutéscia Luna Coelho
Universidade Federal do Cea
_____________________________________________
Profa. Dra. Lavínia Schüler Faccini
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
4
“A busca pelo conhecimento e erudição realça as contradições
inerentes à natureza humana, expondo nossos limites e
valores. Precisamos lembrar desses quando nos deparamos
com forças que lidam com a vida – com nossa eventual
necessidade de manipulá-la ou destruí-la. É preciso
compreender o que ela é: um presente de amor; um atributo
divino. Estimular a alegria por tê-la recebido ajuda-nos a
lutar para preservá-la: com idéias e ideais; com garra e
trabalho; com espírito e virtude”.
Luciana & Manoel
5
DEDICATÓRIA
Às mães e filhos participantes deste trabalho, vítimas
sociais da marginalização, do abandono e da falta de
assistência integral, a quem todos os esforços sempre são o
mínimo.
Aos meus maiores exemplos de vida, idoneidade e
perseverança, grandes responsáveis por todas as minhas
conquistas: meus pais Abelardo e Zilda.
Aos meus irmãos Érico (in memoriam), Luciana e Lígia,
pelo grande aprendizado em conviver com harmonia, troca e
amor na mais absoluta diferença.
Em especial, ao meu amigo e esposo Davi, companheiro de
todas as horas, cúmplice de sonhos e aventuras, conselheiro
fiel e grande empreendedor de minhas vitórias.
6
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ao Deus, pai Criador, sobretudo pela força inspiradora do viver;
Ao Prof. Dr. Fabrício da Silva Costa, pela dedicação e amor à pesquisa,
competência, determinação, paciência e sabedoria, um grande líder como
orientador;
À Profa. Dra. Helena Lutéscia Luna Coelho, idealizadora do projeto e também
de várias conquistas dos farmacêuticos no Ceará, exemplo profissional que me
guia;
À Profa. Dra. Lavínia Schüler Faccini pela árdua tarefa de cruzar o país duas
vezes para contribuir com excelentes dicas para execução da pesquisa;
Ao Prof. Dr. Paulo César de Almeida pelo auxílio com o aspecto estatístico do
trabalho e atenção primorosa a qualquer tempo;
À querida amiga Milena Pontes Portela, pela ajuda voluntária e incondicional em
vários momentos do trabalho, inclusive pelas palavras de incentivo e
credibilidade;
Aos acadêmicos participantes do projeto, em especial aos amigos, Elaine,
Leonardo e Ana Júlia, dedicados alunos e futuros brilhantes profissionais;
À grande amiga Anna Cristina Matos Rolim, personalidade determinada que
muito me orienta em vários aspectos de minha vida, pessoal e profissional, pelo
fornecimento de bons e raros artigos;
Às amigas e colegas Luciana Medeiros e Giselle Brilhante, pelo apoio amigo,
incentivo aos estudos e compreensão nas inúmeras trocas de horários;
Aos colegas Mariana (MEAC), George (HGCC), Daniel, Flavilene e Adriano
(HGF), pelo auxílio com informações importantes sobre os hospitais;
A todos os amigos do Mestrado em Ciências Farmacêuticas, em especial Thaise,
Pablo, Fernanda, Sandra e Ana Lúcia, conselheiros essenciais ao bom
7
desenvolvimento do projeto e Raimundinha, pela sua sempre disponibilidade e
simpatia;
A todos os meus bons amigos que compreenderam minhas ausências e sempre
me deram força nos momentos difíceis, em especial Ana e Gelista, Marjorie e
Sânzio, Ingrid e Leo, Adriano, Lauro, Liana e Michelline;
Às enfermeiras, sem as quais esse trabalho não se realizaria, especialmente às
exemplares Rute, Isolda, Rosalete, Cíntia, Regina e Liduína (MEAC),
Jackeline, Ângela, Alice e Ana Célia (HGCC), Érika, Verônica e Lílian (HGM),
Genilda, Isabele, Lúcia e Marilac (HGF);
À Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa (FUNCAP), por ter fornecido
suporte financeiro para a realização dessa pesquisa.
8
Resumo
9
AVALIAÇÃO DE RISCOS TERATOGÊNICOS EM GESTAÇÕES EXPOSTAS AO
MISOPROSTOL: UM ESTUDO DE CASO-CONTROLE.
Autora: Emérita Sátiro
Opaleye. Orientador: Prof. Dr. Fabrício da Silva Costa. [Dissertação de Mestrado
– Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Ceará]
INTRODUÇÃO: O misoprostol (Cytotec
®
) é um análogo de prostaglandina E1,
inicialmente comercializado com finalidades terapêuticas do trato gastrintestinal,
de uso proscrito em gestantes pelo risco de abortamento. A realidade do aborto e
o ineficiente controle de medicamentos em nosso país tornaram generalizado seu
uso como método abortivo. Estudos demonstram que o potencial abortivo do
misoprostol é variável e seu uso sem acompanhamento médico pode levar a uma
gestação que não se perde, gerando risco para o embrião/feto. Vários relatos de
casos e estudos epidemiológicos associam o uso de misoprostol durante a
gestação com crianças malformadas, especialmente seqüência de Möebius,
defeitos de redução de membros e diversas anomalias do sistema nervoso
central. O risco do surgimento destes defeitos não pôde ainda ser determinado
com os dados atualmente disponíveis, fazendo-se necessário a continuidade de
pesquisas. OBJETIVOS: Identificar em recém nascidos (RNs) malformados nas
principais maternidades de Fortaleza e em controles normais a freqüência de
exposição ao misoprostol e apresentar o espectro de MFs dos neonatos expostos.
MÉTODOS: Estudo de caso controle, com busca ativa diária de RNs malformados
e controles pareados em quatro maternidades públicas de Fortaleza CE, no
período de julho a novembro de 2005, para entrevista com a parturiente utilizando
questionário estruturado, na busca por exposições diversas durante a gestação,
inclusive ao misoprostol. RESULTADOS: Os grupos eram homogêneos quanto
ao perfil sócio-demográfico e principais características, apresentando diferenças
somente em desfechos desfavoráveis mais esperados em RNs MFs, como menor
peso (p=0,0001), menor adequação peso x idade gestacional (p=0,006), maior
natimortalidade (p=0,024) e maior mortalidade perinatal (p=0,0001). Ambos os
grupos tiveram índice de assistência pré-natal no mínimo adequada (69%),
diferindo somente na quantidade de ultra-sonografias (US) realizadas a mais
pelos casos (p=0,003). Quanto aos fatores de risco, a única diferença consistiu no
grupo caso ter apresentado maior freqüência em apresentação pélvica (19,8%,
p=0,037). Aproximadamente 84% das mães relataram exposição a pelo menos
um medicamento durante a gestação, e a média de medicamentos consumidos
por gestante foi de 3,72. O uso de fumo, álcool e drogas ilícitas foi pouco
reportado, e somente o fumo apresentou-se mais freqüente no grupo controle
(p=0,0171). A maior parte das gestações foi declarada como planejada ou
desejada (70% do total). O relato de tentativa de aborto foi de 6,8% do total da
amostra, havendo maior citação de uso de misoprostol no grupo caso, embora
não tenha sido estatisticamente significativo. CONCLUSÃO: Os achados deste
estudo sugerem que ocorre uma maior exposição de misoprostol durante a
gestação em RNs malformados comparados a RNs saudáveis, Odds Ratio (OR) =
3,65 [IC
95%
: 0,74;17,91]. O espectro de MFs encontradas, associadas ao
misoprostol foi: hidrocefalia, mielomeningocele, agenesia de quadril,
equinovaro, luxação de joelho, luxação de quadril, agenesia de falanges distais,
sindactilia, polidactilia, imperfuração anal, ausência de testículos no bolso escrotal
e higroma cístico.
PALAVRAS-CHAVE: misoprostol, teratogenicidade, malformações congênitas.
X
10
Abstract
11
EVALUATION OF THE TERATOGENIC RISKS EM GESTATIONS EXPOSED
TO MISOPROSTOL: A CASE-CONTROL STUDY. Author: Emérita Sátiro
Opaleye. Supervisor: Prof. Dr. Fabrício da Silva Costa. [Master’s degree in
Pharmaceutical Sciences – Department of Pharmacy, Federal University of Ceara]
INTRODUCTION: Misoprostol (Cytotec
®
) is a prostaglandin E1 analog, previously
commercialized with therapeutic purposes, with proscribed use in the gravid due to
the risk of miscarriage. The common practice of abortion and the inefficient control
on access to drugs in our country has lead to the generalized use of this drug as
an abortive method. Studies have shown that the abortive potency of misoprostol
is variable and its use without medical assistance may lead to thriving gestation,
and a consequent risk of malformation to the fetus. Various case reports and
epidemiological studies associate the use of misoprostol during gestation with
offspring bearing malformations, especially with the Möebius sequence, terminal
transverse-limb defects and diverse other anomalies of the central nervous
system. The risk of acquiring these malformations cannot however be determined
with available data, thus, there is a need for continuous research. OBJECTIVE:
Identifying newborns bearing malformations in the leading maternities in Fortaleza
and selecting their respective study controls, determining the frequency of
exposition to misoprostol and identifying the spectrum of anomalies in the exposed
group. METHODS: A case control-study, with a daily active search within the four
largest maternities in Fortaleza, Ceara for newborn with congenital defects and a
paired control, from July to November 2005. Every mother was interviewed with a
questionnaire in the search for diverse expositions during pregnancy, including
misoprostol. RESULTS: The groups were homogenous in respect to their
socioeconomic profile and other main characteristics. Differences were found in
respect to unfavorable outcomes among newborn with congenital defects like low
weight (p=0,0001), low weight in relation to gestational age (p=0,006), increased
natimortality (p=0,024) and increased perinatal mortality (p=0,0001). Both groups
had adequate pre-natal assistance (69%), deferring only in the amount of
ultrasonographic exams carried out in the case group (p=0,003). In regards to risk
factors, the only deference encountered was the case group having more breech
presentation (19,8%, p=0,037). Approximately 84% of mothers had been exposed
to at least one medication during gestation, and the average number of drugs
consumed was 3, 72. The use of tobacco, alcohol and illicit drugs was rarely
informed, and only tobacco smoking was more frequent in the control group
(p=0,0171). Most gestation were reported as planed or desired (70% of the total).
Attempted abortion was reported in 6,8% of whole sample, with the use of
misoprostol in the case group, although without statistic significance.
CONCLUSION: The findings of these study suggest that exposition to misoprostol
during gestation occurs more frequently in newborn with congenital defects
compared with healthy ones, Odds Ratio (OR) = 3,65 [IC
95%
: 0,74;17,91]. The
spectrum of malformations found and associated with misoprostol was
hydrocephalus, meningomyelocele, agenesis of hip, equinovarus, luxation of the
knee, hip congenital dislocation, absence of distal phalanges, syndactyly,
polidactyly, anal imperforation, criptorchidism and cystic higroma.
KEY-WORDS: misoprostol, teratogenicity, congenital defects.
XII
12
LISTA DE TABELAS
TABELAS
PÁGINAS
TABELA 1 -
Perfil socioeconômico de es de recém-nascidos
malformados comparados a mães de recém-
nascidos saudáveis numa amostra de Fortaleza-
CE, julho a novembro de 2005.
75
TABELA 2 -
Perfil socioeconômico de pais de recém-nascidos
malformados comparados a pais de recém-
nascidos saudáveis numa amostra de Fortaleza-
CE, julho a novembro de 2005.
76
TABELA 3 -
Distribuição quanto à presença ou não de união
consensual e tempo de união nos grupos caso e
controle em Fortaleza-CE, julho a novembro de
2005.
76
TABELA 4 -
Comparação das principais características dos
grupos caso e controle analisados em amostra de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
78
TABELA 5 -
Principais fatores de riscos associados à
malformações fetais nos grupos caso e controle de
uma amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro
de 2005.
80
TABELA 6 -
Perfil de assistência pré-natal comparando os
grupos caso e controle em amostra de Fortaleza-
CE, julho a novembro de 2005.
81
TABELA 7 - Utilização de vacinas durante a gestação conforme
o grupo caso ou controle em uma amostra de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
82
TABELA 8 -
Principais sinais e sintomas relatados durante a
gravidez, distribuídos por sistemas nos grupos
caso e controle em amostra de Fortaleza-CE, julho
a novembro de 2005.
83
TABELA 9 -
Principais doenças agudas registradas na gestação
de grupos caso e controle em amostra de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
85
XIII
13
TABELA 10 -
Distribuição de doenças crônicas classificadas por
CID em amostra de puérperas. Fortaleza-CE, julho
a novembro de 2005.
87
TABELA 11 -
Uso de medicamentos durante gestação ordenados
pela primeira classificação ATC, distribuídos nos
grupos caso e controle, em amostra de Fortaleza-
CE, julho a novembro de 2005.
90
TABELA 12 -
Principais medicamentos utilizados durante a
gestação segundo classificação ATC nível,
distribuídos nos grupos caso e controle, em
amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de
2005.
91
TABELA 13 -
Principais medicamentos utilizados durante a
gestação segundo classificação ATC nível,
distribuídos nos grupos caso e controle, em
amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de
2005.
91
TABELA 14 -
Comparação de freqüências de consumo dos
principais grupos farmacológicos entre o presente
estudo e dois estudos brasileiros.
94
TABELA 15 -
Perfil epidemiológico de mães que tentaram aborto
com misoprostol em amostra de Fortaleza-CE,
julho a novembro de 2005.
102
TABELA 16 -
Freqüência de sistemas ou órgãos afetados em
amostras de recém-nascidos malformados em
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
104
TABELA 17 -
Perfil de malformações encontradas em RNs
expostos ao misoprostol durante a gestação.
Fortaleza, julho a novembro de 2005.
106
TABELA 18 -
Principais contribuições da literatura encontrada
sobre malformações associadas com exposição
intra-uterina ao misoprostol.
130
14
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICOS
PÁGINAS
GRÁFICO 1 -
Distribuição de recém-nascidos por hospital de
nascimento entre julho e novembro de 2005 nas
principais maternidades públicas de Fortaleza-CE.
73
GRÁFICO 2 -
Distribuição de recém-nascidos malformados por
hospital de nascimento. Fortaleza-CE, julho a
novembro de 2005.
74
GRÁFICO 3 -
Ocorrência de metrorragia durante a gestação em
amostra de puérperas distribuídas em grupos
caso ou controle. Fortaleza-CE, julho a novembro
de 2005.
84
GRÁFICO 4 -
Distribuição das principais doenças agudas
referidas na gestação em amostra avaliada em
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
86
GRÁFICO 5 -
Distribuição de exposição a fatores físicos durante
a gestação em amostra de puérperas de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
88
GRÁFICO 6 -
Consumo de medicamentos segundo período
gestacional em amostra de puérperas de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
92
GRÁFICO 7 -
Principais medicamentos consumidos no período
gestacional segundo o grupo caso ou controle.
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
92
GRÁFICO 8 -
Distribuição de gestantes de acordo com o
número de medicamentos consumidos. Fortaleza-
CE, julho a novembro de 2005.
93
GRÁFICO 9 -
Distribuição de pacientes de acordo com o
número de medicamentos consumidos durante a
gestação divididos nos grupos caso e controle.
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
93
GRÁFICO 10 -
Número de gestantes expostas ao fumo
categorizadas pela quantidade diária consumida.
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
95
XV
15
GRÁFICO 11 -
Distribuição de gestantes quanto ao hábito de
consumo de álcool segundo o trimestre
gestacional, divididas em grupos caso e controle.
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
96
GRÁFICO 12 -
Distribuição de gestantes conforme planejamento
e aceitação da gestação por grupo caso e
controle. Fortaleza-CE, julho a novembro de
2005.
98
GRÁFICO 13 - Relação entre as respostas sobre planejamento e
desejo da gravidez, indução de menstruação e
tentativa de aborto em amostra de puérperas de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
99
GRÁFICO 14 -
Dose total de misoprostol administrada em
relação aos grupos caso e controle (n=9).
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
100
GRÁFICO 15 -
Distribuição da dose de misoprostol administrada
em relação à via de administração (n=9).
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
101
GRÁFICO 16 -
Reações adversas associadas ao uso de
misoprostol (n=8). Fortaleza-CE, julho a
novembro de 2005.
101
GRÁFICO 17 -
Freqüência de malformações pelo critério de
gravidade em amostra de Fortaleza-CE, julho a
novembro de 2005.
105
16
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
QUADROS
PÁGINAS
QUADRO 1 -
Freqüência dos principais desfechos de usuárias
de misoprostol comparados a usuárias de inserção
de catéter.
37
QUADRO 2 -
Classificação das substâncias químicas de acordo
com o seu potencial teratogênico segundo o FDA.
45
FIGURAS
FIGURA 1 -
Representação esquemática dos enanciômeros
que compõem o misoprostol.
30
FIGURA 2 -
Diferenças na área sob a curva após absorção oral
e vaginal de misoprostol.
40
FIGURA 3 -
Distribuição de gestantes quanto ao planejamento
e aceitação da gravidez, Fortaleza-CE, julho a
novembro de 2005.
97
XVII
17
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABPST – Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida
ASC – Área Sobre a Curva
ASS – Ácido Acetil Salicílico
CIAT – Centro de Informação e Assistência Toxicológica
DAINES – Drogas Antiinflamatórias Não Esteroidais
DG – Diabetes Gestacional
DM – Diabetes Mellitus
ECLAMC – Estudo Colaborativo Latino-americano de Malformações Congênitas
ENTIS – European Network of Teratogenic Information Services
FDA – Food and Drug Administration
HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica
HGCC – Hospital Geral Dr. César Cals
HGF – Hospital Geral de Fortaleza
HGM – Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana
IG – Idade Gestacional
IP – Infecção Pulmonar
ITU – Infecção do Trato Urinário
MEAC – Maternidade Escola Assis Chateaubriand
MF(s) – Malformação (ões)
OMS – Organização Mundial de Saúde
OR – Odds Ratio
PAISM – Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
PE – Pré-eclâmpsia
RCIU – Restrição de Crescimento Intrauterino
RN (s) – Recém-nascido (s)
SESA – Secretaria de Saúde do Estado do Ceará
SIAT – Serviço de Informação Sobre Agentes Teratogênicos
SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
SISNEP – Sistema Nacional de Ética em Pesquisa
SNC – Sistema Nervoso Central
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences
SUS – Sistema Único de Saúde
US – Ultra-sonografia obstétrica
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
WHOWorld Health Organization
XVIII
18
ÍNDICE
RESUMO.... ....................................................................................................................X
ABSTRACT....................................................................................................................XII
LISTA DE TABELAS.....................................................................................................XIII
LISTA DE GRÁFICOS................................................................................................. .XV
LISTA DE QUADROS E FIGURAS.............................................................................XVII
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.....................................................................XVIII
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 22
1.1.
ABORTO ................................................................................................................... 22
1.1.1. FECUNDIDADE E CONTRACEPÇÃO .......................................................... 22
1.1.2. A PROBLEMÁTICA DO ABORTO ................................................................. 24
1.1.2.1. A Demografia do Aborto ......................................................................................... 24
1.1.2.2. O Panorama Nacional do Aborto............................................................................ 25
1.1.3. PERFIL DAS MULHERES QUE ABORTAM E ANÁLISE DE CAUSAS ......... 26
1.1.4. TÉCNICAS UTILIZADAS PARA INDUÇÃO DE ABORTO ............................. 27
1.2.
MISOPROSTOL ........................................................................................................ 29
1.2.1 ASPECTOS FARMACOLÓGICOS ................................................................. 29
1.2.1.1. Descrição ................................................................................................................ 29
1.2.1.2. Farmacocinética ..................................................................................................... 30
1.2.1.3. Farmacodinâmica ................................................................................................... 30
1.2.2. ASPECTOS COMERCIAIS ............................................................................ 31
1.2.3. O USO DO MISOPROSTOL COMO MÉTODO ABORTIVO .......................... 32
1.2.3.1. Breve Histórico do Misoprostol no Brasil ................................................................ 32
1.2.3.2 Propagação e Forma de Uso Como Abortivo ......................................................... 34
1.2.3.3. Conseqüências da Disponibilidade do Misoprostol no Brasil ................................. 35
1.2.4. USOS CLÍNICOS DO MISOPROSTOL ......................................................... 36
1.2.4.1. Prostaglandinas ...................................................................................................... 36
1.2.4.2. O Uso do Misoprostol na Obstetrícia...................................................................... 37
1.3.
TERATOGENIA ........................................................................................................ 40
1.3.1. O EPISÓDIO DA TALIDOMIDA ..................................................................... 40
1.3.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE DEFEITOS CONGÊNITOS .............................. 41
1.3.2.1 Princípios básicos de teratogênese......................................................................... 41
1.3.2.2. Agente teratogênico ............................................................................................... 42
1.3.2.3 Por que é tão difícil identificar uma droga teratogênica? ........................................ 43
1.3.3. INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE TERATOGENICIDADE ................. 45
1.3.3.1 O Estudo Colaborativo Latino-americano de Malformações Congênitas (ECLAMC)
............................................................................................................................................. 45
1.3.3.2. Os Serviços de Informação sobre Agentes Teratogênicos (SIAT) ........................ 46
1.4.
O
POTENCIAL
TERATOGÊNICO
DO
MISOPROSTOL ............................................ 47
1.4.1. O MISOPROSTOL COMO TERATÓGENO ................................................... 47
1.4.1.1. Aborto Incompleto com o Misoprostol .................................................................... 47
1.4.2. SÍNDROME DE MÖEBIUS ............................................................................ 49
1.4.3. OUTROS DESFECHOS DE RECÉM-NASCIDOS EXPOSTOS AO
MISOPROSTOL ...................................................................................................... 51
2. RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA ................................................................... 54
19
3. OBJETIVOS ..................................................................................................... 57
3.1.
GERAL ...................................................................................................................... 57
3.2.
ESPECÍFICOS .......................................................................................................... 57
4. MÉTODOS ....................................................................................................... 59
4.1.
DELINEAMENTO
DO
ESTUDO ................................................................................ 59
4.2.
PERÍODO
DA
COLETA ............................................................................................. 59
4.3.
LOCAL
DO
ESTUDO ................................................................................................ 59
4.4.
FONTE
DOS
DADOS ................................................................................................ 60
4.5.
POPULAÇÃO
DO
ESTUDO ...................................................................................... 60
4.5.1. POPULAÇÃO ALVO ...................................................................................... 60
4.5.2. TAMANHO DA AMOSTRA ............................................................................ 61
4.5.3. CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DA AMOSTRA .............................................. 61
4.5.3.1.Critérios de Inclusão ................................................................................................ 61
4.5.3.2. Critérios de Exclusão .............................................................................................. 62
4.6.
INSTRUMENTOS ...................................................................................................... 62
4.7.
TREINAMENTO
DA
EQUIPE
DE
COLETA
DE
DADOS ............................................ 62
4.8.
OPERACIONALIZAÇÃO
DO
ESTUDO ..................................................................... 62
4.9.
DESCRIÇÃO
DAS
VARIÁVEIS ................................................................................. 64
4.9.1 VARIÁVEIS RELATIVAS AOS ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS DA MÃE E
AO RECÉM-NASCIDO ............................................................................................ 64
4.9.2. VARIÁVEIS DE ANTECEDENTES DA GRAVIDEZ ....................................... 66
4.9.3. VARIÁVEIS RELACIONADAS AO MISOPROSTOL ...................................... 67
4.9.4. VARIÁVEIS DE IDENTIFICAÇÃO DOS PAIS ................................................ 68
4.10.
PROCESSAMENTO
E
ANÁLISE
DOS
DADOS ............................................... 69
4.11.
ASPECTOS
ÉTICOS ........................................................................................ 70
5. RESULTADOS ................................................................................................. 72
5.1.
CARACTERIZAÇÃO
DA
AMOSTRA
ESTUDADA .................................................... 72
5.1.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO ........................................................................ 72
5.1.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS RNs ................................................ 76
5.2.
OCORRÊNCIAS
DURANTE
A
GESTAÇÃO ............................................................. 79
5.2.1. QUALIDADE DE ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL ............................................... 79
5.2.2. EXPOSIÇÃO A VACINAS.............................................................................. 80
5.2.3. OCORRÊNCIA DE SINAIS E SINTOMAS ..................................................... 81
5.2.3.1. Presença de Metrorragia ........................................................................................ 83
5.2.4. ANTECEDENTES DE DOENÇAS ................................................................. 84
5.2.4.1. Doenças Agudas .................................................................................................... 84
5.2.4.2. Doenças Crônicas .................................................................................................. 86
20
5.2.5. EXPOSIÇÕES FÍSICAS E QUÍMICAS DURANTE A GESTAÇÃO ............. Erro!
Indicador não definido.
5.2.5.1. Exposição a Fatores Físicos .................................... Erro! Indicador não definido.
5.2.5.2. Exposição a Medicamentos .................................................................................... 87
5.2.5.3. Exposição ao Fumo ................................................................................................ 93
5.2.5.4. Exposição ao Álcool ............................................................................................... 94
5.2.5.5. Exposição a Drogas Ilícitas .................................................................................... 95
5.3.
CARACTERIZAÇÃO
DOS
GRUPOS
QUANTO
À
TENTATIVA
DE
ABORTO .......... 96
5.3.1. ATITUDES FRENTE À GESTAÇÃO .............................................................. 96
5.3.2. QUANTO À UTILIZAÇÃO DE ABORTIVOS .................................................. 97
5.3.2.1. Uso de Misoprostol ................................................................................................. 98
5.3.2.2. Caracterização de Mulheres que se Expuseram ao Misoprostol na Gestação ... 100
5.4.
ANÁLISE
RELATIVA
ÀS
MALFORMAÇÕES
FETAIS ............................................ 103
5.4.1. ESPECTRO DE MALFORMAÇÕES ............................................................ 103
5.4.2. DIAGNÓSTICO DAS MALFORMAÇÕES .................................................... 104
5.5.
RNS
EXPOSTOS
AO
MISOPROSTOL ................................................................... 105
6. DISCUSSÃO .................................................................................................. 108
6.1.
CONSIDERAÇÕES
SOBRE
A
AMOSTRA .............................................................. 108
6.1.1. REPRESENTATIVIDADE DA AMOSTRA .................................................... 108
6.1.2. PERFIL SOCIOECONÔMICO ..................................................................... 109
6.1.3. CARACTERÍSTICAS DOS RNS .................................................................. 110
6.1.4. PRINCIPAIS FATORES DE RISCO ............................................................ 112
6.1.4.1. Idade dos Pais ...................................................................................................... 112
6.1.4.2. Consangüinidade Parental ................................................................................... 113
6.1.4.3. História Familiar .................................................................................................... 113
6.1.4.4. Apresentação ao Nascer ...................................................................................... 114
6.1.5. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL ........................................................................ 114
6.1.5.1. Vacinas ................................................................................................................. 116
6.1.6. SINAIS E SINTOMAS .................................................................................. 116
6.2.
EXPOSIÇÕES
DURANTE
A
GESTAÇÃO ............................................................... 118
6.2.1. DOENÇAS ................................................................................................... 118
6.2.1.1. Doenças Agudas .................................................................................................. 118
6.2.1.2. Doenças Crônicas ................................................................................................ 119
6.2.2. FATORES FÍSICOS .................................................................................... 120
6.2.3. MEDICAMENTOS ....................................................................................... 121
6.2.4. FUMO, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ...................................................... 123
6.3.
ABORTO ................................................................................................................. 126
6.4.
TERATOGENICIDADE
DO
MISOPROSTOL .......................................................... 128
6.5.
LIMITAÇÕES
DO
ESTUDO ..................................................................................... 130
7. CONCLUSÃO ................................................................................................ 132
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 135
9. ANEXOS ........................................................................................................ 151
21
Introdução
22
1. INTRODUÇÃO
1.1. ABORTO
1.1.1. FECUNDIDADE E CONTRACEPÇÃO
O Brasil é um país marcado historicamente e até os dias de hoje pelos
altos índices de desigualdade social e econômica, acompanhadas de substancial
mobilidade social. Ainda que aparentemente contraditório, esse fenômeno foi
incorporado às explicações demográficas sobre o aumento do controle da
fertilidade como um resultado da modernização da sociedade brasileira, a
ascensão social e crescimento de uma nova classe média, e a crescente distância
entre desejos pessoais e consumo. O comportamento reprodutivo das mulheres
brasileiras passou por profundas transformações, quer seja por atitudes,
manifestado pelo maior uso de métodos contraceptivos, quer seja de
preferências, evidenciada pela escolha por uma menor família (GOLDANI, 2001;
PASCOM, 2002).
Durante os últimos 30 anos, a fertilidade tem declinado dramaticamente no
Brasil, refletida, também pelo progresso educacional e por oportunidades de
trabalho para a mulher. O número médio de nascidos vivos por mulher caiu de 5.8
em 1970 para 2.2 em 1996, e mesmo nas regiões mais pobres do país, a taxa de
fertilidade está rapidamente se aproximando de níveis nacionais (BENFAM,
1996). Grande parte desse declínio se deu pelo impacto causado na redução da
taxa de fecundidade da região Nordeste do país, haja vista ter sido esta região
responsável pela maior média de fecundação por mulher em idade reprodutiva.
Num estudo de Ferraz et al (1992) entre 1970 e 1991, somente na região
Nordeste a taxa de fecundidade total declinou de 7,5 para 3,7, com
aproximadamente 50% do declínio nos últimos cinco anos do estudo.
A adoção de novas tecnologias contraceptivas no Brasil não é um resultado
de escolha individual baseada em fatores instrumentais, e sim o resultado de um
processo coletivo. Entretanto, o declínio da fertilidade no Brasil não está
associado às políticas públicas de controle de crescimento populacional, como
ocorreu em vários países em desenvolvimento, visto que nunca houve um
23
programa nacional de controle populacional ou de privação familiar específico
para o controle da população. O aborto e a esterilização são apontados como
provavelmente os responsáveis pelo rápido declínio das taxas de fertilidade
(MARTINE, 1996; GOLDANI, 2001).
O uso de métodos anticoncepcionais é também um dos principais
determinantes no processo de queda de fecundidade observada no Brasil.
Levantamentos já na década de 80 indicam que mais de 75% das mulheres
brasileiras casadas com idade entre 14 e 49 anos praticavam alguma forma de
anticoncepção; uma taxa de prevalência comparável ao observado em muitos
países desenvolvidos (OLIVEIRA & SIMÕES, 1987).
A Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (1996) ofereceu um
panorama nacional e regional sobre fecundidade, saúde materno-infantil,
características socioeconômicas das mulheres de 15 a 49 anos, além de algumas
informações sobre a participação masculina na prática reprodutiva. Apesar do
crescente nível de uso de contraceptivos nos últimos anos, a limitação de acesso
e disponibilidade dos setores públicos que ofertam serviços e informações sobre
planejamento familiar ocasiona necessidades de contracepção não supridas. Os
métodos mais efetivos resumem-se a esterilização feminina, adotada por 52% das
usuárias de método contraceptivo, e anticoncepcionais orais, usados em 27% dos
casos. Todos os outros métodos combinados contabilizam apenas 21% das
mulheres como usuárias (BENFAM, 1996).
Em estudo realizado em Pelotas sobre características reprodutivas de
mulheres em idade fértil, os resultados também apontam problemas como um
elevado índice de gravidez indesejada entre adolescentes e a esterilização como
método anticoncepcional mais prevalente (OLINTO, 1999). Apesar de vários
trabalhos associarem a esterilização a condições socioeconômicas mais baixas,
os dados deste estudo sugerem que mesmo em populações com nível
socioeconômico acima da média do país, a esterilização ainda é um dos métodos
anticoncepcionais mais utilizados.
Estudos como esses questionam o aspecto qualitativo do uso de métodos
anticoncepcionais. Como ressalta Jejeebhoy (1990), níveis elevados de
24
prevalência no uso de métodos anticoncepcionais não resultam necessariamente
em baixos níveis de fecundidade. À medida que a prevalência do uso de
anticonceptivos aumenta, os níveis de fecundidade tornam-se mais dependentes
da eficácia e duração no uso desses métodos. A demografia já tem apontado que
a escolaridade elevada da mulher produz um resultado efetivo na regulação da
fecundidade porque se relaciona ao conhecimento real acerca dos métodos
anticoncepcionais e à sua correta utilização, bem como a redução no número de
filhos desejados e alcançados. Porém, esta condição de escolaridade é contrária
à grande maioria das mulheres brasileiras (JEJEEBHOY, 1990; MARTINE, 1996;
DUARTE et al, 2003).
Numa avaliação sobre razão para descontinuidade de métodos
anticoncepcionais no Nordeste do Brasil entre 1986 e 1991, Leite (2003) utilizou
dados da Pesquisa sobre Saúde Familiar no Nordeste do Brasil realizada em
1991 e com uma amostra de 3.115 mulheres entre 15 e 49 anos observou que
71,1% abandonaram o anticoncepcional de uso, destas, somente 8,6% pelo
desejo de engravidar. Dentre as principais razões estavam: presença de efeitos
colaterais (19,7%) e outras razões relativas ao uso do método (19,1%), como
desaprovação do parceiro, contra-indicação, acesso/disponibilidade, busca por
método mais eficaz, inconveniente de usar/não gostou, custo e fatalismo.
1.1.2. A PROBLEMÁTICA DO ABORTO
1.1.2.1. A Demografia do Aborto
O Programa Especial de Pesquisa, Desenvolvimento e Treinamento em
Pesquisa sobre Reprodução Humana da Organização Mundial de Saúde (OMS)
investiga principalmente os métodos e serviços de programas de planejamento
familiar, freqüentemente inadequados em países em desenvolvimento. As
principais falhas são evidentes pela lacuna existente entre a intenção de
planejamento familiar e uso de contraceptivos, altas taxas de descontinuidade dos
vários métodos, um número alto de gestações não planejadas e a elevada
proporção destas que são finalizadas por aborto provocado (WHO, 1997).
Em todo o mundo, estima-se que cerca de 50% das gestações não o
planejadas e aproximadamente 25% não são desejadas. O resultado confere uma
25
estatística alarmante: 150.000 abortos o induzidos diariamente, cerca de 53
milhões a cada ano. Um terço desses abortos são realizados em condições
inseguras e em ambiente legal e social adverso, resultando num quadro de 135 a
275 mortes por dia, correspondendo a 20% de todos os óbitos maternos que
ocorrem a cada ano no mundo inteiro. Um número muito maior sofre sérias
complicações que podem ter conseqüências irreversíveis para sua saúde (WHO,
1997).
Os abortos provocados têm sido apontados como uma das principais
causas de morbi-mortalidade materna em países onde existem restrições legais a
tal prática. Em várias regiões da América Latina, é facultado ao médico encerrar
legalmente uma gestação quando esta compromete a vida da gestante, quando
esta é originada de incesto ou estupro, ou ainda, quando é diagnosticada uma
deformidade fetal, embora essas opções sejam raramente utilizadas. Não são
questões recentes os elevados índices de abortos clandestinos na América
Latina. Profissionais de saúde são cientes de que desde a década de 60
procedimentos inseguros vêm sendo realizados com este intuito na maioria dos
países da região, com sérias conseqüências para a saúde da mulher e para os
custos dos serviços públicos de saúde (AGI, 1996).
1.1.2.2. O Panorama Nacional do Aborto
No Brasil, a ptica do aborto é amparada legalmente somente nos casos
de risco de morte para a mãe ou quando a concepção ocorreu a partir de estupro,
conforme os artigos 124 a 128 do Código Penal. A penalidade para as mulheres
que se submetem ao aborto de forma ilegal varia de 1 a 10 anos de prisão, com a
pena duplicada para aqueles que o praticam ou auxiliam (CÓDIGO..., 1940).
O principal efeito dessas medidas restritivas não é tornar a taxa de abortos
induzidos menos prevalente, mas exacerbar desigualdades de gênero, etnia e
classes tão difundidas na sociedade brasileira. Apesar de proibido, é prática
conhecida em nosso país, com estimativas divergentes quanto ao volume de
abortos realizados, pela dificuldade em se reconhecer a real incidência na prática
(MOREIRA et al, 2001). Singh & Wulf (1991) apontam entre 300.000 e 3,3
milhões de abortos ilegais realizados a cada ano, enquanto uma pesquisa
26
realizada por AGI estimou que 1,5 milhões de brasileiras procuram encerrar uma
gestação indesejada a cada ano e um terço de todas as gestações são
intencionalmente abortadas (AGI, 1996).
A falta de estatísticas oficiais e de estudos com base populacional dificulta
uma avaliação da magnitude do problema do aborto no Brasil. Os poucos dados
disponíveis são obtidos de pesquisas e levantamentos feitos em hospitais,
subestimando a população que se submete à prática. Sabe-se, entretanto, que
complicações por pós-aborto estão entre as principais causas de admissão
hospitalar, e que os tratamentos necessários consomem parte substancial dos
escassos recursos do sistema de saúde (COSTA & VESSEY, 1993; FONSECA et
al, 1996; OSIS et al, 1996; FONSECA et al, 1997).
Nesse terreno fértil de problemas, cita-se ainda os decorrentes das
tentativas de aborto mal-sucedidas. Alguns estudos demonstram uma maior
proporção de malformações (MFs) em crianças que foram expostas a abortivos,
os quais podem ser dotados de efeitos teratogênicos (MOREIRA et al, 2001).
1.1.3. PERFIL DAS MULHERES QUE ABORTAM E ANÁLISE DE CAUSAS
Ter conhecimento sobre o perfil das mulheres que se submetem a um
aborto com base em dados nacionais é um critério importante para ajudar a
identificar subgrupos na população que mais carecem de proteção contraceptiva.
Alguns estudos têm resultado controverso, sugerindo que o perfil pode variar
conforme a cultura, paridade, nível socioeconômico, nível educacional e idade.
Dados do Alan Guttmacher Institute (1996) mostram que a maioria das
latino-americanas que induzem aborto tem idade igual ou superior a 20 anos, são
casadas e já tem pelo menos um filho. Esse perfil contrasta com o encontrado nos
países desenvolvidos, que em geral é caracterizado por mulheres mais jovens, a
grande maioria solteira e cerca de metade delas não são mães.
A maioria dos estudos de mulheres hospitalizadas por complicações de
aborto conclui que as principais razões para interromper a gravidez o motivos
econômicos, pessoais e familiares. Muitas mulheres não são casadas ou vivem
uma relação instável. Solteiras e jovens, temem que provavelmente não terão
27
como educar um filho sozinhas, sem maior suporte financeiro. Contudo, o maior
volume de pacientes é mesmo proveniente de relações estáveis que tiveram o
número de filhos que julgavam capazes de educar, demonstrando alguma falha
no alcance das políticas voltadas ao planejamento familiar (AGI, 1996).
Dificuldades sociais e condições econômicas, aliadas a um aumento no
nível educacional das mulheres e maior ingresso ao mercado de trabalho
contribuem para o desejo dos casais por poucos filhos. Apesar disso, estudos na
América Latina demonstram uma substancial proporção de mulheres que não
querem engravidar, mas que não usam nenhum método contraceptivo ou que
utilizam métodos com altas taxas de falhas, como abstinência periódica ou coito
interrompido (AGI, 1996).
Em Fortaleza-CE, dados das duas maiores maternidades públicas,
publicados em 1996, referem o aborto provocado como um importante problema
de saúde pública, responsável por cerca de 30 a 40% do total de internações
obstétricas nessas maternidades. A maioria das mulheres que busca cuidados
hospitalares por complicações de aborto provocado tende a ser jovem, sem
parceiro estável, de baixa paridade, com escolaridade incipiente e não-usuária
habitual de métodos contraceptivos. (FONSECA et al, 1996).
Relatos de abortos prévios provocados entre os casos de aborto estudados
sugerem a hipótese de que a indução do aborto é utilizada por mulheres como
uma forma de controlar sua fertilidade (FONSECA et al, 1996), sugestão
reforçada por Fisher et al (2005) num estudo sobre características de mulheres
que realizam aborto repetido, mesmo em países desenvolvidos e que consideram
o aborto uma prática legal.
1.1.4. TÉCNICAS UTILIZADAS PARA INDUÇÃO DE ABORTO
Uma variedade de agentes farmacológicos é utilizada para induzir a
menstruação quando atrasada, e provavelmente este comportamento está
associado à intenção de provocar aborto, especialmente em países onde o aborto
é ilegal (MENGUE, 1998). Num estudo multicêntrico realizado no Brasil entre
1991 e 1995, Mengue et al (1998) encontraram uma prevalência de 14% de
28
gestantes que fizeram uso de alguma droga para “descer a menstruação”. As
ervas (principalmente o chá de sena, arruda, canela e boldo), a combinação de
estrógenos e progestógenos e o misoprostol são citados como sendo as
principais substâncias utilizadas pelas gestantes com essa finalidade. Entre as
gestantes que usaram misoprostol, o odds ratio (OR) era 16 vezes maior no grupo
das mulheres que não planejaram a gravidez.
Em estudo realizado em 1993 no Brasil, Chile, República Dominicana,
México e Peru, percebe-se a familiaridade que mulheres de todas as partes têm
com chás e infusões feitas com ervas e outros produtos vegetais que se acredita
possuir efeito abortivo. Se esses métodos forem ineficientes (e não se sabe ao
certo o quanto eles são abortivos), são utilizados outros métodos como a inserção
de instrumentos pérfuro-cortantes, líquidos cáusticos ou outros objetos na vagina
e a utilização oral ou vaginal de potentes medicamentos ou hormônios (AGI,
1996).
Em áreas urbanas, na maioria dos países, as gestantes que buscam
solução para uma gravidez indesejada e que têm recursos disponíveis,
submetem-se a procedimentos relativamente seguros em clínicas médicas
privadas, como dilatação e curetagem. Mulheres pobres são forçadas a usar
como recurso a prática de aborto sob condições anti-higiênicas, praticados por
pessoas não habilitadas ou por tentativa auto-induzida. Freqüentemente, os
procedimentos são iniciados pela própria mulher, incluindo a inserção vaginal de
varetas ou cateteres, ou a ingestão de coquetéis de medicamentos, chás e ervas,
por vezes em doses absurdas (COSTA, 1998).
A disseminação e acessibilidade de métodos farmacológicos assistidos
poderiam salvar milhares de vidas que são perdidas anualmente em abortos
inseguros, especialmente em países em desenvolvimento (CARBONELL et al,
1997).
No Brasil, como em quase toda América Latina, o aborto é um tema
extremamente controverso e sensível e a perspectiva de legalização em curto
prazo é mínima, pelos fatores culturais, políticos e religiosos que envolvem a
questão.
29
A discussão atual em torno da proposta de um Anteprojeto de Lei, que
sugere alterar o Código Penal com a possibilidade de legalidade do aborto
quando da constatação de o feto apresentar graves e irreversíveis anomalias
físicas ou mentais, reforça o argumento de que a temática do aborto tem muito a
ser discutida entre os principais setores da sociedade brasileira, permanecendo
um grave problema de saúde pública.
1.2. MISOPROSTOL
1.2.1 ASPECTOS FARMACOLÓGICOS
1.2.1.1. Descrição
O misoprostol é um análogo sintético da prostaglandina E1 que contém
aproximadamente a mesma quantidade de diastereoisômeros, representados na
FIGURA 1 com seus enanciômeros indicados por (±) (REYNOLDS, 1996).
FIGURA 1: Representação esquemática dos enanciômeros que compõem o
misoprostol
FONTE: Reynolds JEF. Martindale The Extra Pharmacopoeia, 31a, Royal Pharmaceutical Society,
London, 1996, p. 1446.
O misoprostol é solúvel em água, apresentando-se como um líquido
viscoso. Tem peso molecular de 382,5 e fórmula molecular C
22
H
38
O
5
. Os
ingredientes inativos que geralmente acompanham sua fórmula são: óleo mineral
hidrogenado, hipromelose, celulose microcristalina e glicolato amido de sódio
(REYNOLDS, 1996).
30
1.2.1.2. Farmacocinética
O misoprostol demonstrou em voluntários saudáveis uma rápida absorção
após administração oral com pico de concentração xima de 12 ± 3 minutos e
uma meia-vida de eliminação de 20 a 40 minutos. Após administração, sofre
intensa metabolização (reação de desesterificação) para sua forma ativa, o ácido
misoprostóico, detectável no plasma. Os níveis plasmáticos do ácido sofrem
variabilidade entre os ensaios clínicos realizados, mas a média de valores após
administração de uma única dose demonstra uma reação linear com uma dose
que varia de 200 a 400µg. Em muitos estudos sobre dose, o ácido misoprostóico
não se apresentou cumulativo (REYNOLDS, 1996).
A concentração plasmática máxima do ácido misoprostóico diminui quando
a dose é administrada juntamente com alimentos, e sua disponibilidade total é
reduzida quando da utilização concomitante de antiácidos, apesar deste dado
aparentemente não ter importância clínica. Após administração oral de
misoprostol com radiomarcador, cerca de 80% foi detectado na urina. Estudos
farmacocinéticos em pacientes com variações na função renal concluíram não ser
necessário ajuste de doses de rotina, mas a dose pode ser reduzida caso o
paciente não tolere a dose usual (REYNOLDS, 1996).
O misoprostol não afeta as enzimas hepáticas oxidase de função mista
(citocromo P450) em animais. Estudos de interação medicamentosa entre
misoprostol e drogas antiinflamatórias não esteroidais (DAINES) não identificaram
efeitos na cinética do ibuprofeno e diclofenaco, porém declinou em 20% a área
sob a curva (ASC) do ácido acetil salicílico, o sendo significativo clinicamente.
A ligação do ácido misoprostóico às proteínas plasmáticas é inferior a 90% e sua
concentração independe da faixa terapêutica (REYNOLDS, 1996).
1.2.1.3. Farmacodinâmica
O misoprostol tem atividade superior às prostaglandinas naturais agindo
com dupla ação: antisecretória, inibindo a secreção do ácido gástrico e atuando
com propriedades de proteção da mucosa (em animais). Sua principal indicação é
prevenir e tratar lesões gástricas induzidas pelos DAINES em usuários crônicos
ou pacientes com alto risco de complicação de úlceras do trato gastrintestinal
31
superior, como por exemplo, pacientes idosos com debilidades concomitantes ou
pacientes com história anterior de úlcera (BRIGGS et al, 2002).
Os DAINES inibem a síntese de prostaglandinas, causando um déficit de
produção do bicarbonato e secreção da mucosa, que contribui para os danos
provocados por estes medicamentos na mucosa gástrica. O misoprostol, numa
concentração de 200µg, inibe substancialmente a secreção basal e noturna de
ácido gástrico, e a secreção ácida em resposta a vários estímulos, incluindo
alimentação, histamina, pentagastrina e café. A atividade se inicia depois de trinta
minutos de administração oral e persiste por pelo menos três horas (REYNOLDS,
1996).
O misoprostol pode aumentar a produção de muco e bicarbonato, mas em
humanos somente com doses iguais a 200µg e quando superior, tem ação
também antisecretória. Não se sabe ao certo se a habilidade do misoprostol em
reduzir riscos de úlceras gástricas é resultado de seu efeito antisecretório, seu
efeito de protetor de mucosa ou de ambos (REYNOLDS, 1996).
Seus principais efeitos adversos incluem: náusea, vômito, diarréia, dor
abdominal, calafrios, tremores e febre, e todos são dose-dependente. Doses
tóxicas do misoprostol não foram determinadas, todavia uma dose cumulativa de
2.200µg administrada num intervalo de 12hs foi tolerada por gestantes, com
nenhum efeito adverso sério. O relato de caso descrito na literatura que apresenta
a mais alta dose administrada de misoprostol conhecida, sem finalidade
abortiva, foi de 76 comprimidos (15.200µg), tendo a paciente de 71 anos
apresentado hipertermia, tremor, taquicardia, hipertensão, náusea e cólica
abdominal, com completa resolução dos sintomas em até 12 horas após a
ingestão, compatível com a meia vida da droga. Este relato de caso configura o
perfil de segurança do misoprostol (GRABER & MEIER, 1991; EL-REFAEY &
TEMPLETON, 1995; GOLDBERG et al, 2001).
1.2.2. ASPECTOS COMERCIAIS
O misoprostol é comercializado atualmente em mais de 85 países desde
seu lançamento comercial, pelo laboratório Searle em 1985. Em quase todos, tem
32
a aprovação somente para tratamento de úlcera gástrica (com exceção do Brasil,
Egito e França), apesar da extensa literatura respaldando sua segurança e
efetividade para importantes indicações em ginecologia e obstetrícia
(MISOPROSTOL..., 2005).
Sob a marca comercial Prostokos
®
, do laboratório nacional Hebron, nas
apresentações de 25, 50, 100 e 200µg, o misoprostol é extensamente utilizado na
prática obstétrica no Brasil. É conhecido popularmente com a marca comercial
Cytotec
®
, do laboratório multinacional Searle, embora este tenha o registro
vencido para comércio no Brasil desde março de 2005 (ANVISA, 2006).
1.2.3. O USO DO MISOPROSTOL COMO MÉTODO ABORTIVO
1.2.3.1. Breve Histórico do Misoprostol no Brasil
A realidade do aborto e o ineficiente controle de medicamentos em nosso
país tornaram generalizado o uso do misoprostol como método abortivo. Desde a
época em que foi lançado comercialmente pelo laboratório Searle, em meados da
década de 80, o misoprostol, teve seu uso contra-indicado durante a gestação,
sendo classificado como potencialmente abortivo. Como as demais
prostaglandinas, o misoprostol estimula atividade de contrações uterinas e causa
sangramento vaginal. Tanto sozinho ou em associação com mifepristona ou
metotrexato, o medicamento tem demonstrado variações na efetividade do aborto
completo (NORMAN et al, 1991; THONG & BAIRD, 1992; COELHO et al, 1994;
PASTUSZAK et al, 1998).
A rápida disseminação do medicamento no Brasil com o propósito de
provocar aborto foi identificada por Coelho et al (1991) numa pesquisa sobre
indicações de abortivos por farmácias comerciais de Fortaleza-CE. O misoprostol
foi a opção mais indicada de método abortivo pelo próprio balconista da farmácia
para os pesquisadores, que simulavam procurar solução para uma gravidez
indesejada. Das 122 indicações, o misoprostol esteve sozinho ou em associações
em 99 casos, contabilizando uma freqüência de 83%.
A análise retrospectiva de internações para curetagem pós-aborto na
principal maternidade pública também de Fortaleza-CE revelou uma clara
33
tendência ascendente de uso de Cytotec
®
para abortos provocados atendidos: 20
casos em 1988, 139 em 1989, 524 em 1990 (COELHO, 1991). Posteriormente,
um estudo de desenho transversal na mesma maternidade entre janeiro de 1990
e julho de 1992, reforçou os crescentes índices de utilização do misoprostol como
abortivo. Utilizando o mesmo desenho, constatou-se que o número de abortos
incompletos induzidos por misoprostol aumentou substancialmente durante a
primeira metade de 1990. Do total de 593 casos de abortos provocados em 1991,
75% havia utilizado o misoprostol com o propósito de abortar (COELHO et al,
1993).
O teor de ambas as pesquisas veio a público antes de suas oficiais
publicações científicas, por ter sido mencionado em um seminário apresentado no
Instituto Nacional de Controle de Qualidade de Fármacos da Fundação Oswaldo
Cruz, no Rio de Janeiro e publicado em carta de opinião no Lancet
(SCHÖNHÖFER, 1991). À época, alguns relatos de casos que sugeriam relação
entre crianças fortalezenses expostas ao misoprostol na gestação e surgimento
de raras MFs foram levantados sem ainda publicação científica, também
comentados em carta resposta no Lancet (FONSECA et al, 1991).
A segunda pesquisa em maternidades de Fortaleza ainda revelou que,
mesmo após a proibição das vendas do misoprostol em farmácias comerciais do
Estado do Ceará em julho de 1991, o misoprostol foi associado com 70% de
todas as curetagens pós-aborto induzido realizadas entre agosto de 1991 e junho
de 1992, (COELHO et al, 1993).
Outros estudos também referenciam a utilização do misoprostol para
indução de aborto, isolado ou em combinação com outros métodos (COSTA,
1998; FONSECA et al, 1998; PASTUSZAK et al, 1998), mesmo após a restrição
comercial em âmbito nacional do Cytotec
®
para hospitais cadastrados, conforme
Portaria 344/98 de medicamentos de controle especial (MS, 1998). Estes dados
demonstram a ineficiência da vigilância sanitária de medicamentos em nosso
país, até mesmo nos dias de hoje.
34
1.2.3.2 Propagação e Forma de Uso Como Abortivo
Costa & Vessey (1993) detectaram que 57% das mulheres internadas por
complicações de aborto provocado em um hospital do Rio de Janeiro, em 1991,
referiram uso de misoprostol. Do total, 84% das mulheres que usaram a
prostaglandina foram influenciadas por informações advindas de amigos,
parentes, colegas e numa menor proporção (10%) diretamente pelo farmacêutico.
Esse panorama, comum também ao estudo de Coelho et al (1994), retrata que
farmácias, médicos, as próprias mulheres e a mídia foram todos responsáveis
pela divulgação de informações acerca do poder abortivo do fármaco.
Perguntadas por que decidiram usar misoprostol para abortar, 28% das mulheres
achavam o método mais acessível, 14% julgavam como a opção mais segura e
13% porque era mais barato.
Além da venda livre, outra característica que contribuiu para a propagação
do misoprostol como abortivo foi a facilidade de uso que lhe é peculiar. O
medicamento é simples de estocar, tem baixo custo, pode ser administrado pela
própria gestante, por via oral e vaginal e, em geral, apresenta menores riscos
quando comparado a outros métodos (CARBONELL et al, 1997).
As doses de misoprostol relatadas pelas mulheres avaliadas por Costa &
Vessey (1993) no Rio de Janeiro em 1991 variaram de 200 a 16.800 µg (1 a 64
comprimidos), com mediana de 800µg, que corresponde a 4 comprimidos; 65%
via oral, 29% conjugaram oral e vaginal e somente 6% via vaginal. No estudo de
Fortaleza, a dose de misoprostol utilizada variou de 200 a 9.400µg (1 a 47
comprimidos), com mediana também de 800µg, sendo 400µg via oral e 400µg
vaginal (COELHO et al, 1993).
Em Fortaleza, em um estudo sobre os determinantes do aborto provocado
entre mulheres admitidas em hospitais, Fonseca et al (1996) encontraram 66% de
referência ao misoprostol, isolado ou combinado a outros métodos, entre as
mulheres que relataram tentativa de abortamento. A grande maioria referiu ter
administrado a droga via oral e vaginal simultaneamente (89,8%), embora esta
última não tivesse indicação na bula do produto; e as dosagens auto-
35
administradas variaram de 400 a 4.000µg (2 a 20 comprimidos de 200µg), com
mediana de 800µg (4 comprimidos).
Os estudos realizados após 1991 indicam um padrão de utilização de 4
comprimidos (800µg), metade administrada via oral, metade vaginal.
Aparentemente, as mulheres limitaram a dose em 4 comprimidos, em parte
porque a população foi adquirindo experiência com o manejo da droga, mas
principalmente porque o misoprostol tornou-se mais caro com a venda
clandestina, como resultado da restrição comercial (COELHO et al, 1994; COSTA,
1998).
1.2.3.3. Conseqüências da Disponibilidade do Misoprostol no Brasil
Outro levantamento de Fortaleza-CE avaliou as características e
experiência de um grupo de mulheres que tentaram aborto utilizando o
misoprostol. Coelho et al (1994) entrevistaram 102 mulheres, entre julho de 1992
e fevereiro de 1993 e constataram que a maioria das usuárias de misoprostol
tinham entre 20 e 29 anos (57%), eram solteiras (46%), com escolaridade inferior
a oito anos (58%), de baixa classe social (77% das classes D e E) e
consideravam-se católicas (81%).
As razões mais freqüentemente citadas pelas gestantes para procurarem
atendimento médico após a utilização de misoprostol como abortivo foi
sangramento vaginal e cólica uterina (80% e 70%, respectivamente), e 8% das
mulheres relataram vômito e diarréia no estudo de Costa & Vessey (1993).
Achados importantes desse estudo foram a substancial presença de
morbidade entre as usuárias do misoprostol, embora menos severa que entre as
mulheres que utilizaram inserção de cateteres ou outros métodos invasivos. No
QUADRO 1 os desfechos entre os grupos que utilizaram como método abortivo o
misoprostol ou inserção de cateter são comparados. Uma maior proporção
estatisticamente significativa (p<0,0005) do grupo que utilizou inserção de catéter
apresentou sinais de infecção, requereu transfusão sanguínea ou teve danos
físicos em comparação ao grupo que utilizou misoprostol (COSTA & VESSEY,
1993).
36
Em relação à efetividade do misoprostol como abortivo, os dados do estudo
realizado no Rio de Janeiro sugeriram que a droga induziu aborto completo em
cerca de metade das mulheres que o utilizaram. Do total de 1603, 96 mulheres
reportaram ter usado misoprostol com o mesmo propósito anteriormente, das
quais 14% disseram ter sido um método falho, e 86% obtiveram sucesso
(considerado como sangramento vaginal). Quase metade das mulheres (46%)
recebeu cuidados hospitalares e 40% submeteu-se a evacuação uterina (COSTA
& VESSEY, 1993). Esses resultados levantam a hipótese de que mesmo o
medicamento não sendo efetivo em induzir aborto completo quando isolado,
muitas mulheres fazem uso dele como instrumento para induzir sangramento e
facilitar o acesso para realizar curetagem em hospitais públicos, completando
assim o aborto (COELHO et al, 1994; COSTA, 1998).
QUADRO 1: Freqüência dos principais desfechos de usuárias de
misoprostol comparados a usuárias de inserção de catéter
Método
Abortivo
(% Total)
Nº (% de mulheres usuárias do método)
SVI
Infecção
TS
LM
Misoprostol 365 (45) 80 (19) 79 (17) 6 (1) 6 (1)
Inserção de
Catéter
36 (4) 5 (16) 18 (50) 4 (11) 3 (9)
NOTAS: SVI: Sangramento vaginal intenso; TS: Transfusão sanguínea; LM: Lesões mecânicas.
FONTE: Adaptado de Costa S, Vessey MP. Misoprostol and illegal abortion in Rio de Janeiro,
Brazil. Lancet 1993; 341:1258-61.
1.2.4. USOS CLÍNICOS DO MISOPROSTOL
1.2.4.1. Prostaglandinas
O uso de prostaglandinas em obstetrícia e na interrupção de gestações
vem evoluindo rapidamente ao longo dos últimos anos. Elas não promovem
contratilidade uterina como faz a ocitocina, mas tamm aceleram o
amadurecimento fisiológico do colo uterino (O’BRIEN, 1995).
As prostaglandinas pertencem à família dos eicosanóides, que são
metabólitos ativos do ácido araquidônico. Isso inclui, dentre outras
prostaglandinas, a prostaciclina e o tromboxano. O tratamento com
37
prostaglandinas provavelmente desencadeia a produção endógena de
eicosanóides, atuando poucas horas após a administração. Os receptores de
prostaglandina estão sempre presentes no tecido do miométrio, enquanto os
receptores de ocitocina se desenvolvem durante o último período gestacional.
Entre as prostaglandinas, as classificadas como da série E e F são as mais
importantes, das quais as de série E, da qual faz parte o misoprostol, são mais
seletivas para o útero e são superiores na atividade de amadurecimento do colo
uterino (ULDBJERG & ULMSTEN, 1990; O’BRIEN, 1995).
As prostaglandinas são usadas para induzir trabalho de parto,
amadurecimento do colo uterino em gestações a termo, encerramento clínico de
gravidez (aborto clínico) e dilatação do colo uterino no caso de interrupção
cirúrgica da gravidez. Podem ser úteis também para prevenção de dano ao colo
do útero (SCHEEPERS et al, 1999).
1.2.4.2. O Uso do Misoprostol na Obstetrícia
A experiência do misoprostol como abortivo rendeu diversas pesquisas
sobre a utilidade clínica da droga. O misoprostol tem um potencial de amplo
alcance para indicações em ginecologia e obstetrícia, divididas em três
categorias: trabalho de parto, evacuação uterina após falência na gestação e
indução de aborto. Entre as vantagens que justificam seu uso na ginecologia e
obstetrícia, está o custo, inferior a 100 vezes em relação a outras
prostaglandinas, tem uma meia-vida longa, é fácil de administrar, tem menos
efeitos colaterais quando comparado aos tratamentos padrões e não requer
refrigeração para estocagem (BLANCHARD et al, 2002).
A indução do trabalho de parto é um procedimento relativamente comum
em obstetrícia, ocorrendo em mais de 15% dos partos. O misoprostol tem
demonstrado efetividade como agente indutor do trabalho de parto, amparado por
extensa literatura em revisão sistemática recente de Blanchard et al (2002). No
mesmo trabalho, 12 estudos que investigavam o uso do misoprostol para
tratamento de aborto incompleto foram revisados. Não foi possível quantificar,
mas o uso da droga foi associado com menores índices de procedimentos
cirúrgicos (incluindo seus custos e morbidades).
38
Bugalho et al (1994) também demonstraram a eficácia do misoprostol
intravaginal em doses de 100µg a cada 12 horas para indução de trabalho de
parto com feto morto, sendo uma alternativa segura, prática e menos onerosa
para essa indicação.
Ensaios clínicos realizados em países onde o aborto é legalizado
mostraram que, quando utilizado sob cuidadosa atenção médica, o misoprostol
pode ter a sua eficácia abortiva otimizada. Quando associado à mifepristona, na
dosagem de 800µg, tanto oral como vaginal, o misoprostol é mais eficaz do que
quando utilizado isoladamente. Com metotrexato, 800µg de misoprostol
administrados pela via vaginal sete dias após sua administração, tem eficácia
superior que a mesma dose dada três dias depois. O aborto médico com
mifepristona ou metotrexato combinado com o misoprostol é seguro e efetivo
(GRIMES, 1997).
Alguns ensaios clínicos referenciam a aplicação vaginal de misoprostol
com atividade superior à oral, e com menos efeitos colaterais, embora tal
informação não seja referida na bula do medicamento Cytotec
®
. Num ensaio
clínico realizado por Zieman et al (1997), avaliando especificamente as diferenças
na absorção do misoprostol utilizando ambas as vias, a biodisponibilidade
sistêmica do misoprostol administrado vaginalmente foi três vezes superior a
quando administrado oralmente, determinado pela área sob a curva (ASC) em
240 horas (FIGURA 2). Estes dados podem explicar porque o uso intravaginal tem
sido relatado com maior efetividade que o uso oral para aborto clínico com o
misoprostol (CREININ & DARNEY, 1993; EL-REFAEY & TEMPLETON, 1995;
ZIEMAN et al, 1997).
O misoprostol também tem sido avaliado para indicação de hemorragia
pós-parto não responsiva à ocitocina e metilergometrina. Numa série de casos
com 14 mulheres que haviam utilizado ocitocina e metilergometrina sem
sucesso, a hemorragia foi sustada em todas elas após três minutos da
administração de 1.000µg de misoprostol via retal (O’BRIEN et al, 1998).
O caráter de clandestinidade do aborto e o uso desassistido do misoprostol
interferem negativamente na efetividade deste como método abortivo. Ainda
39
assim, a despeito dos potenciais riscos pela automedicação com o misoprostol,
dados hospitalares indicam que as complicações decorrentes de um aborto
provocado são significativamente menos severas entre as mulheres que utilizam
misoprostol frente a outros métodos invasivos, podendo ter um impacto
importante nos custos dos tratamentos por complicação de aborto e morbidade de
longo prazo, ainda que a maioria das mulheres admitidas em hospitais seja
submetida a procedimentos cirúrgicos de esvaziamento uterino. Apesar da
inclusão do misoprostol na Lista de Medicamentos Essenciais da OMS em 2005,
um considerável número de mulheres, em países onde o aborto é ilegal, está
indubitavelmente usando o misoprostol sem sucesso, expondo o concepto a um
risco teratogênico (COSTA, 1993; COELHO, 1998; MISOPROSTOL..., 2005).
FIGURA 2: Diferenças na área sob a curva após absorção oral e vaginal de
misoprostol
FONTE: Adaptado de Zieman M, Fong SK, Benowitz NL, Banskter D, Darney PD. Absorption
Kinetics of Misoprostol With Oral or Vaginal Administration. Obstet Gynecol 1997; 90:88-92.
Tempo (minutos)
Ácido Misoprostóico Plasmático (pg/ml)
40
1.3. TERATOGENIA
1.3.1. O EPISÓDIO DA TALIDOMIDA
A droga a-ptalimidoglutaramida, conhecida como talidomida, foi
protagonista de um dos maiores desastres da história da farmacoterapia.
Sintetizada pela primeira vez em 1954 pelo laboratório farmacêutico alemão
Chemie Grunenthal, com o objetivo inicial de uso como anti-histamínico, teve
pouca eficácia detectada nos primeiros estudos realizados em animais, embora
tenha sido revelada sua propriedade sedativa e hipnótica (STIRLING et al, 1997).
Outra importante propriedade detectada foi a alegada baixa toxicidade, pois a
despeito de suas propriedades sedativas assemelhar-se às dos barbitúricos, os
experimentos realizados em ratos, cobaias e coelhos não mostraram taxas de
letalidade significativas, mesmo quando utilizando altas doses (MELLIN &
KATZENSTEIN, 1962ª).
Extrapolando os resultados obtidos em animais para seres humanos, o
laboratório lançou o medicamento no mercado em outubro de 1957, indicado
como sedativo e propagado como “inteiramente atóxico”, tendo se tornado
rapidamente um dos medicamentos líderes de vendas na Alemanha. Entre 1954 e
1957, foram realizados vários ensaios clínicos com o objetivo de avaliar a eficácia
da talidomida para uma ampla diversidade de situações, como distonia
neurovegetativa, tuberculose, arteriosclerose, hipertireoidismo, affecções
gástricas de origem nervosa e problemas hepáticos. A droga popularizou-se como
antiemético ideal para gestantes e a empresa disseminava a idéia de droga
multipotente e livre de efeitos colaterais, difundindo suas vendas por todos os
continentes, chegando a ser comercializado em 11 países europeus, 7 africanos,
17 asiáticos e 11 nas Américas do Norte e do Sul (OLIVEIRA et al, 1999).
A partir de 1959, inicialmente na Alemanha, começaram os relatos médicos
sobre o aumento da incidência de nascimentos de crianças com um tipo peculiar
de malformação congênita (MF), caracterizada pelo desenvolvimento defeituoso
dos ossos longos dos braços e pernas e cujas mãos e pés variavam entre o
normal e o rudimentar, denominada de síndrome de focomelia. Não tardou muito
para que se suscitasse a hipótese de associação desses eventos com o uso de
41
algum novo medicamento, haja vista naquela ocasião a indústria farmacêutica
experimentar sua era de ouro, com lançamentos de uma enorme quantidade e
variedade de novos produtos (MELLIN & KATZENSTEIN 1962b; BERMUDEZ,
1995; STIRLING et al, 1997).
Entretanto, foi somente em novembro de 1961 que Lenz, dico alemão,
apresentou 34 casos de recém-natos com focomelia e levantou publicamente a
possibilidade de as anomalias congênitas relatadas terem sido provocadas pelo
consumo de talidomida durante a gestação (MELLIN & KATZENSTEIN 1962b). A
hipótese foi reforçada por McBride (1961), estabelecendo como 20% a correlação
de uso de talidomida pelas gestantes acompanhadas por ele e que geraram
crianças com múltiplas e graves MFs, enquanto a incidência geral do evento
observada anteriormente em seu país era de 1,5%.
A essa altura, a tragédia alcançou cerca de 10 a 15 mil crianças
malformadas em todo o mundo e como conseqüência, a droga foi retirada do
mercado no período compreendido entre novembro de 1961 e março de 1962,
embora no Brasil, de acordo com informações da Associação Brasileira dos
Portadores da Síndrome da Talidomida (ABPST), o medicamento tenha sido
retirado de fato do mercado em 1965 (OLIVEIRA et al, 1999).
O episódio da talidomida foi um marco para modificações na regulação de
medicamentos no mercado internacional, com poderes de órgãos reguladores de
medicamentos. Nos Estados Unidos, o Food and Drug Administration (FDA), a
partir de então, passou a assumir todas as atividades relativas à política de
regulação de medicamentos e exigir estudos de eficácia e segurança para os
medicamentos novos e licenciados, servindo como referência aos demais
países (OLIVEIRA et al, 1999).
1.3.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE DEFEITOS CONGÊNITOS
1.3.2.1 Princípios básicos de teratogênese
Os danos reprodutivos na espécie humana podem ser agrupados em
classes, sendo as principais: (1) morte do concepto, (2) malformações, (3) retardo
do crescimento intra-uterino e (4) deficiências funcionais, incluindo aqui o retardo
42
mental. Estes danos podem tanto ter uma causa genética como ambiental, e
muitas vezes, uma combinação das duas (etiologia multifatorial) (SCHÜLER-
FACCINI et al, 2001).
Os defeitos congênitos vêm apresentando relevância crescente como
causa de sofrimento e prejuízos à saúde da população. Define-se como defeito
congênito toda anomalia funcional ou estrutural do desenvolvimento do feto
decorrente de fator originado antes do nascimento, seja genético, ambiental ou
desconhecido, mesmo quando o defeito não for aparente no recém-nascido (RN)
e só manifestar-se mais tarde (HOROVITZ et al, 2005).
Estima-se que cerca de 15% de todas as gestações reconhecidas
terminem em aborto e que de 3% de todos os RNs vivos apresentem algum
defeito congênito. Nas perdas gestacionais estima-se uma contribuição de causas
cromossômicas em mais de 50% dos abortamentos espontâneos. Com relação
aos defeitos congênitos, causas genéticas parecem ser responsáveis por 15-20%,
fatores ambientais são reconhecidamente responsáveis por 7%, de origem
multifatorial são cerca de 20% e em mais de 50% dos casos a causa permanece
desconhecida (SCHÜLER-FACCINI et al, 2001).
1.3.2.2. Agente teratogênico
Um agente teratogênico é definido como qualquer substância, organismo,
agente físico ou estado de deficiência que, estando presente durante a vida
embrionária ou fetal, produz uma alteração na estrutura ou função da
descendência. A ação de um agente teratogênico sobre o embrião ou feto em
desenvolvimento depende de diversos fatores, destacando-se (SCHÜLER-
FACCINI et al, 2001):
Estágio de desenvolvimento do concepto: a susceptibilidade a
agentes teratogênicos varia segundo o estágio de desenvolvimento
do concepto no momento da exposição;
Relação entre dose e efeito: as manifestações do desenvolvimento
anormal aumentam à medida que se incrementa a dose do agente,
43
variando desde nenhum efeito, passando por danos funcionais e
MFs, até a morte;
Genótipo materno-fetal: a heterogeneidade genética da mãe e do
feto pode conferir maior susceptibilidade ou proteção à manifestação
de um determinado agente;
Mecanismo patogênico específico de cada agente: os agentes
teratogênicos atuam por mecanismos específicos sobre as células e
tecidos em desenvolvimento, por exemplo, alteração no crescimento
de um tecido, interferência com a diferenciação celular ou
morfogênese fetal e morte celular.
1.3.2.3 Por que é tão difícil identificar uma droga teratogênica?
Relacionar o uso de uma droga durante a gestação e o surgimento de
efeitos adversos no embrião ou feto é uma tarefa difícil, haja vista a gestante estar
exposta a um número elevado de substâncias químicas que não se sabe os
possíveis efeitos. Estima-se que apenas em torno de 1.500 substâncias químicas
foram testadas em animais e pouco mais de 40 o comprovadamente
teratogênicos no homem, um número limitado pelas dificuldades de investigação
de teratogenicidade nos humanos (SCHÜLER-FACCINI et al, 2002).
Os estudos experimentais em animais, tradicionalmente, fornecem a base
de triagem para a verificação do potencial teratogênico de um determinado
agente. Essas investigações têm o papel fundamental de elucidar os princípios e
mecanismos da teratogênese, mas não são bem-sucedidas na identificação de
teratógenos humanos devido às diferenças genéticas entre as espécies. Por
exemplo, os corticosteróides, potentes teratógenos em roedores, são
aparentemente seguros para o homem; por outro lado, a talidomida, conhecido
teratógeno humano, é aparentemente seguro para a maioria dos animais. Assim,
a evidência definitiva de uma droga ser teratogênica ou não para humanos deve
ser procurada no próprio homem (SCHÜLER-FACCINI et al, 2002).
A abordagem epidemiológica dos defeitos congênitos é a espinha dorsal da
pesquisa das suas causas. A observação experimental dos efeitos teratogênicos
44
permite levantar algumas hipóteses a serem testadas. Algumas estratégias
podem ser estabelecidas para propósitos mais amplos como o registro de
variáveis, tais como o uso de medicações pelas gestantes, a saúde dos pais,
riscos ocupacionais, o nível socioeconômico e a história familiar (SCHÜLER-
FACCINI et al, 2002).
A avaliação dos resultados dos testes em animais fornece uma idéia clara
dos efeitos tóxicos das substâncias químicas sobre o organismo em
desenvolvimento pré-natal e sobre todo o ciclo reprodutivo dos mamíferos. Assim,
para facilitar o acesso a essas informações e principalmente para avaliar na
exposição humana, os agentes químicos receberam várias propostas de
classificação teratogênica, sendo a mais utilizada a do FDA, apresentadas no
QUADRO 2 (LEMÔNICA, 2001).
QUADRO 2: Classificação das substâncias químicas de acordo com o seu
potencial teratogênico segundo o FDA.
Categoria Descrição
A Estudos controlados demonstram não haver risco. Estudos adequados,
bem controlados, em mulheres grávidas não mostraram risco para o feto.
B Sem evidência de risco humano. Estudos em animais mostram risco, mas
estudos em humanos não mostram, ou, se não estudos adequados em
humanos, os estudos animais são negativos.
C O risco não pode ser afastado. Faltam estudos em humanos, e os estudos
em animais ou são positivos para risco fetal ou igualmente faltam.
Entretanto, os benefícios potenciais podem justificar o possível risco.
D Evidência positiva de risco. Dados de investigação preliminar ou pós-
comercialização mostram risco para o feto. Entretanto, os benefícios
potenciais podem ser maiores que o risco potencial.
X Contra-indicado na gravidez. Estudos em animais ou humanos, ou relatos
de investigação preliminar ou pós-comercialização, mostraram risco fetal
que claramente se sobrepõe a qualquer possível benefício para a paciente.
FONTE: Lemônica IP. Teratogênese experimental e sua aplicação em humanos. In: Sanseverino
MTV, Spritzer DT, Schüler-Faccini L. Manual de Teratogênese. ed., Porto Alegre: Ed.
Universidade/UFRGS; 2001; p.19-39.
45
1.3.3. INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE TERATOGENICIDADE
Desde a catástrofe da talidomida, rios sistemas para registro e
identificação de defeitos congênitos têm sido estabelecidos em diversos países. A
maioria desses programas tem o propósito de identificar, tão logo quanto possível,
qualquer agente contaminante do ambiente que possa oferecer risco teratogênico
(SCHÜLER-FACCINI et al, 2002).
1.3.3.1 O Estudo Colaborativo Latino-americano de Malformações
Congênitas (ECLAMC)
O Estudo Colaborativo Latino-americano de Malformações Congênitas
ECLAMC é um programa de investigação clínica e epidemiológica dos defeitos
congênitos, suas freqüências e fatores de risco, com o objetivo de preveni-los,
promovendo as ações pertinentes de saúde, atuando em quase toda a América
Latina. Seu caráter voluntário e colaborativo garante a qualidade de informações
exigidas para um programa de ampla cobertura e grande nível de complexidade
(ECLAMC, 2002).
O ECLAMC iniciou suas atividades em 1967, desde então programado
para investigação de base hospitalar dos fatores de risco na causalidade das MFs
com metodologia de caso controle. Desde o início de suas atividades, o ECLAMC
vem sendo reconhecido como centro colaborador para prevenção de MFs
congênitas pela Organização Mundial de Saúde. Os profissionais interessados
ingressam de forma voluntária e ajustam-se a um corpo de normas operacionais
que garantem a uniformidade dos critérios, necessária para a comparação dos
dados registrados em diferentes hospitais. As necessidades econômicas do
ECLAMC são cobertas mediante subsídios de investigação, solicitados para
programas específicos (ROCHA et al, 2006; HOROVITZ et al, 2005; ECLAMC,
2002).
O ECLAMC atualiza anualmente um Manual Operacional, que detalha todo
o delineamento da pesquisa e orienta quanto à execução das entrevistas e o
preenchimento do instrumento de coleta de dados validado, referido no próprio
Manual.
46
1.3.3.2. Os Serviços de Informação sobre Agentes Teratogênicos (SIAT)
Com a vasta bibliografia que se desenvolveu sobre teratogenicidade,
espalhada em diversos tipos de revistas científicas e com a necessidade de
atualização constante, surgiram em vários países da Europa e América do Norte
serviços especializados em avaliar e interpretar a literatura médica e retornar as
informações a médicos e pacientes em geral. Após a década de 80, estes
serviços difundiram-se e hoje se apresentam como importantes fontes de dados
para investigação sobre potencial teratogênico de diversos agentes através do
exame dos RNs de mães expostas (SCHÜLER-FACCINI et al, 2001).
Os serviços de informação teratogênica variam em tamanho, população
atendida, tipo de resposta do serviço e metas de pesquisa (LEEN-MITCHELL et
al, 2000). O primeiro serviço desta natureza a operar na América Latina foi o
Sistema Nacional de Informação sobre Agentes Teratogênicos (SIAT), implantado
no Serviço de Genética Médica do Hospital das Clínicas de Porto Alegre em
agosto de 1990, vinculado ao ECLAMC e posteriormente integrado ao European
Network of Teratogenic Information Services (ENTIS), que congrega entidades
congêneres em todo o continente europeu (SCHÜLER-FACCINI et al, 2001).
Através de um serviço telefônico gratuito, por fax ou rásent, o SIAT
fornece informações sobre riscos reprodutivos relacionados à exposição de
mulheres grávidas a agentes químicos, físicos, biológicos e ambientais. Com um
método de caráter prospectivo, que evita o viés de memória materna e reúne um
grande número de gestantes expostas a diversas substâncias, o SIAT tem dois
objetivos principais: a prevenção do aparecimento de defeitos congênitos na
espécie humana, decorrentes de exposições ambientais e o aprofundamento do
conhecimento a respeito da teratogênese em humanos (SCHÜLER-FACCINI et
al, 2001).
Atualmente, o Brasil dispõe de outras quatro unidades do SIAT, sendo elas
no Rio de Janeiro, Campinas, Salvador e Fortaleza. A unidade de Fortaleza está
em fase de estabelecimento de uma parceria com o Centro de Informação e
Assistência Toxicológica (CIAT), tornando-se o primeiro serviço de referência no
47
Brasil que congrega informações sobre toxicologia clínica e reprodutiva (ROCHA
et al, 2006).
1.4. O POTENCIAL TERATOGÊNICO DO MISOPROSTOL
1.4.1. O MISOPROSTOL COMO TERATÓGENO
1.4.1.1. Aborto Incompleto com o Misoprostol
A despeito de suas propriedades sobre o útero materno, o misoprostol
isolado não é um abortivo satisfatoriamente eficiente quando utilizado no primeiro
trimestre gestacional. Num ensaio clínico controlado, realizado no Reino Unido,
Norman et al (1991) investigaram os efeitos do misoprostol na contratilidade
uterina no início da gestação. As administração de misoprostol em doses que
variaram de 200 a 600µg, houve um aumento significativo na pressão uterina. Em
um segundo grupo de mulheres que receberam de 200 a 1000µg de misoprostol
após administração de 200mg de mifepristona, houve um aumento significativo na
amplitude e na freqüência das contrações uterinas. O aborto completo ocorreu em
18 das 21 mulheres que receberam misoprostol e mifepristona, mas apenas em 2
das 40 mulheres que receberam somente o misoprostol.
O uso do misoprostol como abortivo sem acompanhamento médico pode
levar a uma gestação que não se perde, ocasionando uma ansiedade adicional na
mãe pelo risco para o embrião/feto (SCHVARTZMAN & ABECHE, 2001).
1.4.1.2. Relatos de Malformações Associadas ao Misoprostol
O programa de toxicologia do laboratório Searle não encontrou evidência
de teratogenia no uso do misoprostol em animais, mesmo em doses 625 vezes
superiores a administradas em seres humanos (DOWNIE, 1991). Paumgartten et
al (1995) também realizaram estudo experimental para avaliar MFs congênitas em
ratos relacionadas ao misoprostol, mas não identificaram. No entanto, vários
relatos de casos e estudos posteriores em humanos associam o uso de
misoprostol durante a gestação a crianças nascidas com MFs, que incluem
defeitos nos membros, anormalidades nos ossos cranianos frontais e temporais,
onfalocele, artrogripose e seqüência de Möebius, entre outros (AGENT..., 2004).
48
O primeiro relato no Brasil de dano fetal originado de tentativa mal-
sucedida de aborto com o misoprostol foi descrito por Fonseca et al (1993). Três
pacientes apresentaram uma MF congênita atípica no crânio e couro cabeludo.
Em todos os casos, as mães admitiram ter usado o misoprostol para abortar.
Gonzalez et al (1993) também reportaram sete pacientes, de três diferentes
centros, com a mesma exposição, porém com MFs diferentes. Todos os pacientes
apresentavam defeitos nos membros e quatro deles tinham diagnóstico de
síndrome de Möebius.
Uma série de 42 crianças expostas ao misoprostol durante o primeiro
trimestre da gestação (dose média de 800µg, variando de 200 a 16.000µg) e com
MFs foi reportada por Gonzalez et al (1998). Dezessete delas apresentavam
equinovaro, acompanhado de defeitos em nervos cranianos. Dez tinham
equinovaro como parte de uma extensa artrogripose. O mais distinto fenótipo
encontrado foi artrogripose restrito às pernas (cinco casos) e defeitos de redução
terminal transversa dos membros (nove casos) com ou sem seqüência de
Möebius. Todos os pacientes apresentavam deformidades atribuídas a disrupção
vascular.
Um possível mecanismo para explicar o surgimento de tais defeitos é a
disrupção vascular durante o trimestre de gestação. Disrupção vascular pode
ser definido como o surgimento de anomalias estruturais resultantes da lesão ou
interrupção do desenvolvimento vascular embrionário normal, freqüentemente
ocasionado por insultos externos ao feto (VARGAS et al, 2000).
Outra série de casos (COELHO et al, 2000) relatou evolução clínica de 15
pacientes com artrogripose associada à exposição ao misoprostol. Todos tinham
retardo no crescimento, ossos subdesenvolvidos, pés encurtados com
equinovaro, rigidez de varias articulações associado com covas em pele e
membrana, movimentos reduzidos de membros secundários a um déficit
neurológico, hipoplasia simétrica e bilateral de musculatura de membros e
reflexos tendinosos ausentes.
Na Venezuela, Sánchez & Guerra (2003) publicaram um relato de caso de
um paciente sem história de outros fatores de risco (consagüinidade entre os pais,
49
história familiar, outras exposições durante a gestação) que a mãe havia tentado
aborto no segundo mês de gestação com misoprostol 400µg intravaginal e 600µg
via oral, repetindo em 15 dias a mesma dose, sem sucesso. O paciente teve
diagnóstico de síndrome de Möebius associada a falanges distais muito pequenas
com hipoplasia ungueal do e dedo bilateral e sindactilia membranosa
bilateral nos membros superiores e equinovaro irredutível bilateral nas
extremidades inferiores.
Nunes et al (1999) relatam um caso de seqüência de Möebius associado
ao uso de misoprostol na semana de gestação e sugerem que o quadro de
hipoventilação alveolar central congênita apresentado também pelo paciente
possa ter sido induzido pela exposição. Apesar de incomum, a associação foi
descrita antes com cerca de 15 casos descritos na literatura, e todos têm em
comum a presença de necrose tegumentar visualizado em tomografia
computadorizada, sugerindo uma injúria mecânica ao centro bulbar respiratório.
Marques-Dias et al (2003) também associam três casos de síndrome de Möebius
com exposição ao misoprostol na gestação.
Em Fortaleza, um estudo transversal de 15 mães de crianças com
diagnóstico genético de Möebius, identificou que 10 delas (66,7%) haviam tentado
aborto, todas utilizando o misoprostol no primeiro trimestre, com idade gestacional
(IG) variando de 5 a 8 semanas (70%) e 9 a 12 semanas (30%) (BARBOSA,
2005).
O medicamento é atualmente classificado na categoria X de potencial
teratogênico pelos critérios do FDA, ou seja, os estudos pós-comercialização
demonstram claramente que os possíveis benefícios na mãe não justificam seu
emprego pelos evidentes riscos de danos ao feto (REYNOLDS, 1996;
LEMÔNICA, 2001).
1.4.2. SÍNDROME DE MÖEBIUS
A seqüência de Möebius ou síndrome de Möebius é uma condição clínica
caracterizada por paralisia ocular ou facial uni ou bilateral, freqüentemente
associada a MFs musculares e ósseas nos membros superiores ou inferiores,
50
tendo como critério clínico mais aceito o envolvimento dos nervos cranianos VI e
VII, embora o comprometimento de outros nervos cranianos possa ocorrer
(BANDIM et al , 2003).
Uma possível explicação para a vulnerabilidade dos nervos cranianos VI e
VII seria pela localização destes na região romboencefálica, como observado
experimentalmente em embriões de ratos. Após uma contração uterina, induzida
pelo misoprostol, o embrião pode flexionar-se na direção cefálico-caudal, podendo
o ponto de máximo de angulação localizar-se exatamente nos nervos VI e VII,
causando presumivelmente redução do fluxo sangüíneo, hemorragia e/ou morte
celular. Até 60 dias após a fecundação, o volume de líquido amniótico não é
suficiente para proteger o embrião, sendo afetado diretamente por qualquer
contração uterina, o que não ocorre após esse prazo (fim do período de
embriogênese), quando a quantidade de líquido amniótico pode proteger o
embrião (SHEPARD, 1995; SHEPARD, 2002).
Em outras palavras, a exposição ao misoprostol durante os primeiros dois
meses de gestação pode causar eventos isquêmicos no desenvolvimento
cerebral, resultando na seqüência de Möebius, visto que os neurônios são
particularmente sensíveis a mecanismos externos que causam anóxia (POTTIE,
1999).
Isquemia do tronco cerebral pré-natal com necrose e calcificação dos
núcleos facial, abducente, trigeminal e hipoglossal foram descritos em
pacientes com síndrome de Möebius. É definido como seqüência porque
representa uma cascata de eventos que ocorrem após um trauma embrionário
decorrente de várias etiologias, dentre elas conhece-se o misoprostol, a
ergotamina e a biópsia do vilo coriônico (GONZALEZ et al, 1998).
A síndrome pode ser diagnosticada logo após o nascimento e manifesta-se
clinicamente por fechamento incompleto dos olhos durante o sono, estrabismo,
falta de controle da saliva e dificuldade de sucção. Posteriormente, a criança não
sorri ou movimenta os músculos faciais ao choro, condição conhecida como
“fácies de máscara” e freqüentemente tem dificuldade com a fala. Estima-se que
retardo mental, variando de sutil à moderado, aparece em aproximadamente 10%
51
dos casos, e severo em pelo menos 50% deles. Entretanto, é provável que ocorra
superestimação pela presença das manifestações clínicas supracitadas (KUMAR,
1990).
Schüler et al (1999) realizaram o único estudo observacional prospectivo
controlado com 86 gestantes expostas ao misoprostol durante a gestação,
pareadas com 86 gestantes não expostas. Não houve diferença significativa nas
taxas de MFs maiores ou menores no grupo de expostos quando comparado ao
grupo não exposto após análise multivariada. Não houve significância estatística
por IG, peso do neonato e taxa de sexo entre os grupos.
Por outro lado, um estudo multicêntrico de caso-controle com 94 crianças
com seqüência de Möebius detectou uma freqüência significativamente mais alta
de uso de misoprostol no primeiro trimestre (por tentativas de abortamento) pelas
mães destas crianças quando comparadas a um grupo controle de 94 crianças
com defeitos de fechamento de tubo neural. Das crianças com síndrome de
Möebius, 49% haviam sido expostas ao misoprostol no primeiro trimestre
gestacional comparado a somente 3% dos RNs com defeitos em tubo neural (OR
= 29,7 [IC
95%
:11,6;76] (PASTUSZAK et al, 1998).
1.4.3. OUTROS DESFECHOS DE RECÉM-NASCIDOS EXPOSTOS AO
MISOPROSTOL
Recentes estudos também apontam outra preocupação em crianças
expostas ao misoprostol. A prevalência de autismo na população geral é de
aproximadamente 5.2/10.000 casos, numa relação de sexo masculino/feminino de
4:1. Em indivíduos expostos ao misoprostol na gestação, a prevalência de
autismo encontrada foi cerca de 100 vezes maior que na população em geral,
comprometendo o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e
comunicativas destes pacientes (MILLER & STRÖMLAND, 1999; BANDIM, 2003).
Um estudo prospectivo desenvolvido em Portugal durante cinco anos com
RNs prematuros comparou um grupo exposto ao misoprostol na gestação com
um grupo o exposto para avaliar morbidades e mortalidade neonatal. Pareados
por fatores de riscos para prematuridade, embora os grupos não tenham diferido
52
com significância estatística em taxa de mortalidade, o grupo exposto ao
misoprostol na gestação apresentou uma incidência significativamente maior de
desenvolvimento neurológico desfavorável com um ano de idade. A condição
mais freqüentemente encontrada foi paralisia cerebral (29% vs 3%, p=0,015). O
grupo exposto ao misoprostol na gestação também apresentou elevadas taxas de
defeito de fechamento de ducto arterial (58% vs 29%, p=0,031) e doença
pulmonar crônica (47% vs 14%, p=0,026) (ESCUMALHA et al, 2005).
Severas dificuldades de alimentação são esperadas no primeiro ano de
vida, podendo apresentar impacto significativo no estado pulmonar e nutricional
da criança, levando-a, por vezes, ao óbito. Secundariamente, comprometimentos
no desenvolvimento psicomotor, cognitivo e lingüístico poderão surgir em graus
variáveis de gravidade, afetando a sua capacidade de comunicação, socialização
e escolarização (BARBOSA, 2005).
A conclusão atual é de que o misoprostol é um teratógeno quando usado
no primeiro trimestre de gravidez, podendo levar à perda gestacional ou a MFs,
especialmente seqüência de Möebius, defeitos de redução de membros e
diversas anomalias do sistema nervoso central (SNC). O risco do surgimento
destes defeitos não pode ser determinado com os dados atualmente disponíveis.
Considerando a alta freqüência de seu uso como abortivo e um estudo
prospectivo negativo, estima-se grosseiramente, que o risco de MFs em
gestações expostas seja menor que 10% (SCHVARTZMAN & ABECHE, 2001).
Dessa forma, faz-se necessário a continuidade de pesquisas que objetivem
elucidar melhor essas questões.
53
Relevância
e Justificativa
54
2. RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA
A experiência das mulheres brasileiras com o misoprostol proporciona um
sério exemplo de como mulheres frente a uma gravidez indesejada utilizam o
aborto ilegal sob qualquer recurso, ainda que custe risco à sua própria saúde
(COSTA, 1998). A falta de conhecimento e/ou dificuldade na obtenção dos
métodos de planejamento familiar, associados à disponibilidade e facilidade de
utilização do misoprostol como abortivo tendem a favorecer a continuidade da
utilização deste (FONSECA et al, 1996), como é conhecido na prática pelos
profissionais de saúde no Brasil.
O presente projeto compreende uma estratégia de investigação sobre o
potencial teratogênico do misoprostol. Frente à comprovada falibilidade do seu
uso desassistido como método abortivo, o misoprostol continua sendo utilizado
em larga escala com o objetivo de encerrar uma gestação indesejada, nem
sempre alcançando sucesso. Uma vez exposto ao misoprostol na gestação que
vai a termo, um RN está suscetível à ão de um medicamento que não se
conhece os reais riscos de surgimento de MFs, tampouco todo o possível
espectro. Sabe-se, pom, que pacientes com seqüência de ebius, condição
clínica rara, apresentaram um risco significativamente superior, quando
comparados a crianças com defeitos no tubo neural, de terem sido expostos na
gestação ao misoprostol, o que por si só, já justifica maiores investigações sobre
o potencial teratogênico do fármaco.
A literatura disponível sobre o uso do misoprostol em nossa cidade é rica,
com publicações internacionais importantes, que tornaram Fortaleza a pioneira a
evidenciar o uso contra indicado da droga, bem como o relato de casos com MFs
associados à exposição ao misoprostol na gestação. É imprescindível, portanto, o
seguimento de pesquisas sobre o impacto que o misoprostol está causando em
nossa sociedade.
Os resultados obtidos neste estudo poderão contribuir para um melhor
conhecimento acerca do potencial teratogênico do fármaco, podendo servir de
pilar para intervenções políticas mais severas, nas áreas sociais e de saúde, que
foquem a atenção para a questão dos métodos de anticoncepção, do aborto
55
clandestino, e da saúde da mulher; podendo reduzir os custos sociais e humanos
associados à ocorrência de MFs pela falta de acesso da população mais
suscetível.
56
Objetivos
57
3. OBJETIVOS
3.1. GERAL
Identificar em recém-nascidos malformados e controles normais a
freqüência de exposição ao misoprostol.
3.2. ESPECÍFICOS
Avaliar a freqüência da tentativa de aborto entre as gestações estudadas
Conhecer o espectro de malformações relacionadas à exposição ao
misoprostol
Descrever o perfil epidemiológico das mulheres que se expõem ao
misoprostol
58
Métodos
59
4. MÉTODOS
4.1. DELINEAMENTO DO ESTUDO
Para estudos que investigam uma relação de causalidade para doenças
raras, com menores custos, é mais eficaz partir do paciente com desfecho e
investigar uma possível exposição ao fator de risco no passado, comparado à
prevalência da exposição na população geral (NEWMAN et al, 2003). O modelo
investigacional aplicado foi de estudo caso-controle 1:1, ou seja, para cada caso
existe um controle pareado, seguindo recomendação da literatura e metodologia
estabelecida pelo Estudo Colaborativo Latino Americano de Malformações
Congênitas (ECLAMC, 2002).
4.2. PERÍODO DA COLETA
A coleta dos dados foi realizada no período de 01 de Julho de 2005 a 30 de
Novembro de 2005.
4.3. LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi desenvolvido nas quatro principais maternidades públicas de
Fortaleza-CE, região Nordeste do Brasil, em um estado com uma população de
7.430.661 habitantes (IBGE, 2005) que conta com 19.200 leitos hospitalares do
Sistema Único de Saúde (SUS), destes 2.725 destinados ao atendimento de
obstetrícia (MS, 2005).
A Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC) é uma unidade
universitária federal, especializada em saúde da mulher, nível terciário, multibloco,
com 220 leitos divididos em: clínica médica (n=9), obstétrica (n=115), cirúrgica
(n=19), neonatal (clínica, UTI e unidades intermediárias, n=72) e UTI adulto (n=5),
com média de ocupação de 61,92% e 14.923 admissões de pacientes no ano de
2005. Realizou 5.630 partos no ano de 2005, sendo 2.097 no período da coleta.
O Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) é um hospital de ensino, geral, de
esfera estadual, atenção terciária, multibloco, com 249 leitos distribuídos em:
60
clínica médica (n=52), obstétrica (n=67), neonatal, incluindo clínica, Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) e unidades intermediárias (n=62), cirúrgica (n=56) e UTI
adulto (n=12), com percentual médio de ocupação anual de 113% (operando
acima da capacidade de lotação) e em 2005 admitiu 14.043 pacientes. No ano de
2005, realizou 5.660 partos, sendo 2.582 no período da coleta.
O Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana (HGM) é um hospital geral
de média complexidade, de gestão municipal, atendimento secundário,
monobloco, com 83 leitos distribuídos em clínica médica (n=7), cirúrgica (n=5),
neonatal (n=10), pediátrica (n=17) e obstétrica (n=44). O número de partos
realizado em 2005 foi de 4.268; destes, 1.625 no período da coleta.
Por fim, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) é um hospital geral, de esfera
estadual, grande porte, alta complexidade, nível terciário, monobloco vertical, com
343 leitos, distribuídos em: clínica médica (n=90), cirúrgica (n=155), pediátrica
(n=16), neonatal (n=25), obstétrica (n=27) e UTI (n=30). O percentual médio de
ocupação é 75,7% e o número de admissões no ano 2005 foi de 9.079. Foram
realizados 1.430 partos no ano de 2005, e 674 no período de coleta.
4.4. FONTE DOS DADOS
Entrevistas com as mães dos recém-nascidos à beira do leito;
Prontuários dos pacientes;
Resultados de exames das gestantes ou neonatos;
Contato com o neonatologista/pediatra da unidade.
4.5. POPULAÇÃO DO ESTUDO
4.5.1. POPULAÇÃO ALVO
Recém-nascidos vivos ou mortos cujos partos foram realizados nos
hospitais MEAC, HGCC, HGF e HGM no período estabelecido para a coleta.
61
4.5.2. TAMANHO DA AMOSTRA
Partindo-se de uma média na prevalência de RNs malformados descritos
na literatura de 3% (KALTER & WARKANY, 1983), embora não seja ainda
possível definir a prevalência de malformados expostos ao misoprostol, o
tamanho da amostra foi estimado com base na tabela descrita em Lwanga &
Lemeshow (1991).
Com base em um Odds ratio aproximado de 4,25, calculado a partir dos
dados colhidos inicialmente, com probabilidade antecipada de exposição nos
controles de 2%, para um nível de significância de 95% e poder de 80%, a
amostra deveria atingir 234 pacientes (LWANGA & LEMESHOW, 1991). Com um
número já aproximado desse valor, foi definido que a coleta seria encerrada ao
completar cinco meses. Por fim, o número total de entrevistas do presente estudo
foi de 252 pacientes, sendo 126 casos e 126 controles, aumentando portanto o
poder estatístico dos resultados encontrados.
4.5.3. CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DA AMOSTRA
4.5.3.1.Critérios de Inclusão
Considerou-se caso
o neonato vivo ou morto, com peso igual ou superior a
500g, indiferente sexo, produto ou não de gestação única, que tinha diagnóstico
de MF congênita em pré-natal ou diagnosticado por neonatologista no período
neonatal até a sua alta hospitalar, nascido nas instituições da pesquisa no
decorrer do estudo.
A definição de controle
é dada como o primeiro recém-nascido vivo, sem
MFs e de igual sexo, que tinha nascido no mesmo hospital imediatamente após a
detecção de um caso. Na impossibilidade de se colher o primeiro RN após o
caso, considerava-se o primeiro RN nascido a partir das 8 horas do dia seguinte,
critério estabelecido pelo ECLAMC como controle não seguinte, devendo não
exceder 10% do total de controles, como ocorrido neste trabalho. Esta definição
provém um grupo controle pareado um a um por sexo, lugar e momento do
nascimento com o grupo de MFs.
62
4.5.3.2. Critérios de Exclusão
Os infantes nascidos em outras instituições transferidos para os hospitais
de estudo eram desconsiderados. Os casos de suspeitas de MF eram coletados,
com conseqüentes controles, e ficavam sendo acompanhados para diagnóstico
definitivo, que quando negativo eram descartados.
4.6. INSTRUMENTOS
O instrumento de coleta de dados dos pacientes utilizado foi um
questionário estruturado adaptado do ECLAMC, acrescido de questões
relacionadas sobre o planejamento e desejo da gravidez, tentativa de aborto e
uso do misoprostol durante a gestação, com perguntas abertas, semi-abertas e
fechadas sobre o período gestacional e o recém-nascido (ANEXO I).
4.7. TREINAMENTO DA EQUIPE DE COLETA DE DADOS
Participaram da coleta de dados dez acadêmicos de medicina, que foram
submetidos a dois treinamentos para aptidão na pesquisa. No primeiro, com carga
horária teórica e prática de 20hs, foram treinados sobre avaliação de recém-
nascidos malformados pela Dra. Erlane Marques Ribeiro, especialista em
Genética Clínica pela Universidade de São Paulo.
Em seguida, a mestranda e o orientador realizaram treinamentos com
apresentação sobre o projeto de pesquisa, treinamentos de entrevista com o
questionário estruturado e manual ECLAMC e repetidas reuniões para
recolhimentos dos questionários e revisão de dúvidas. Outra ferramenta
importante utilizada no treinamento foi a internet, com o envio de emails coletivos
sempre que se verificava a necessidade de reforçar um conceito. Quando
necessário, procedia-se o retorno ao prontuário ou era mantido contato telefônico
com a paciente para elucidação de dúvidas.
4.8. OPERACIONALIZAÇÃO DO ESTUDO
Antes de iniciar a coleta, todos os hospitais foram visitados em turnos
diferentes para apresentação da pesquisa às principais equipes (enfermeiras e
63
neonatologistas), e exposto em livros de ocorrência ou quadros de avisos uma
mensagem sobre os objetivos do estudo (ANEXO II), como se daria a coleta e os
telefones de contato da mestranda para notificação espontânea.
Diariamente era realizada busca ativa dos casos por telefone no período da
manhã utilizando uma ficha de coleta para cada hospital. Em todos os hospitais, a
sala de parto era o local-chave de informações, embora na MEAC e HGM fosse
necessário também telefonar para todas as unidades de internação de neonatos.
A informação era sempre solicitada à enfermeira de plantão, que em geral durante
a semana era a mesma pessoa, processo que facilitou a notificação.
Quando era notificado um caso, a mestranda registrava o nome da mãe,
unidade de internação, sexo do RN, tipo de MF, data, hora e tipo do parto, para se
operar com uma previsão de alta da mãe, de forma a acionar o entrevistador
responsável a tempo de se deslocar até o hospital.
Durante a coleta, duas vezes na semana eram escolhidas unidades
diferentes para se repetir a ligação à tarde ou à noite, de modo a verificar o grau
de notificação dos casos entre as diversas equipes.
Obedecendo a uma escala, um dos dez acadêmicos de medicina era
comunicado e se dirigia ao hospital para colher informações e realizar entrevista à
beira do leito com questionário estruturado à mãe do RN que, depois de
esclarecida sobre a intenção da pesquisa e esclarecida pelo termo de
consentimento, aceitasse participar do estudo.
O mesmo entrevistador, na maioria das vezes, era responsável também
por proceder entrevista à mãe do controle usando questionário semelhante, com
exceção dos campos específicos à MF. Havendo necessidade, o médico e
enfermeira assistentes eram procurados e dados clínicos colhidos do prontuário
médico.
Eram realizadas visitas de supervisão aleatórias nos hospitais para
confirmação dos dados obtidos pelos acadêmicos. Todos os questionários eram
revisados, codificados e digitados pela mestranda num banco de dados
estruturado no programa excel para posterior análise estatística.
64
4.9. DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS
4.9.1 VARIÁVEIS RELATIVAS AOS ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS DA
MÃE E AO RECÉM-NASCIDO
VARIÁVEL DEFINIÇÃO TIPO
V1HOSP
Instituição onde se deu o nascimento: 1) MEAC;
2) HGCC; 3) HGF; 4) HGM.
Categórica
V2CACO
Tipo de coleta: 1) Caso; 2) Controle seguinte; 3)
Controle não seguinte.
Categórica
V3MF
Grupo de malformações a qual pertence o tipo
de defeito congênito diagnosticado no caso.
Categórica
V4PESO
Em gramas, representa o primeiro peso após o
nascimento.
Contínua
V5GESTA
Inclui todas as gestações da mãe,
independente de seu produto final: vivo, morto,
simples, múltipla ou abortos (espontâneos ou
induzidos).
Discreta
V6PARTO
Número de partos já realizados (quando o
produto final é nativivo ou natimorto, superior a
500g).
Discreta
V7ABORT
Número de abortos espontâneos ou induzidos:
produtos com peso inferior a 500g.
Discreta
V8IDGESTA
É a IG expressa em semanas e dias, calculada
a partir do dia da última menstruação, pela
ultra-sonografia (US) obstétrica ou ainda pelo
exame físico do RN.
Contínua
V9PIG
Relação do peso ao nascer e IG classificado
pela curva de Battaglia & Lubchenco (1967),
aceita atualmente pela OMS, definida como:
1) RNs pequenos para a IG (PIG) todos os
RNs abaixo do percentil 10 para IG na curva
do crescimento,
2) RNs adequados para a IG (AIG) os RNs
cujo peso de nascimento está entre o
percentil 10 e 90 na curva do crescimento,
3) RNs grandes para a IG (GIG) quando o
peso de nascimento está acima do percentil
90 para determinar IG na curva do
crescimento.
Categórica
65
V10NASC
Condição de nascimento do RN: 1) Vivo; 2)
Morto.
Dicotômica
V11SEXO
Corresponde ao sexo do RN: 1) Masculino; 2)
Feminino; 3) Intersexo.
Categórica
V12ALTA
Refere-se à condição de alta hospitalar do RN:
1) Vivo; 2) Morto; 3) Sem alta.
Categórica
V13APRES
Refere-se à apresentação intra-uterina do feto:
1) Cefálica; 2) Pélvica; 3) Outra.
Categórica
V14PARTO
Refere-se ao tipo de parto: 1) Normal ou vaginal
espontâneo; 2) Cesariano ou cirúrgico; 3)
Vácuo; 4) Fórceps.
Categórica
V15EVID
Tipo de evidência para o diagnóstico da
malformação: 1) Clínica; 2) Radiológica; 3)
Cirúrgica; 4) Autópsia; 5) US Pré-natal; 6) US
Pósnatal; 7) Ecocardio; 8) Citogenética.
Categórica
V16DIAGMF
Idade de diagstico de malformação: 1) Pré-
natal; 2) Natal (1º dia); 3) Pósnatal.
Categórica
V17GEME Gestação múltipla: 1) Sim; 2) Não. Dicotômica
V18CONSPRE
Número de consultas pré-natais realizadas,
categorizadas em cruzamento com a variável
V19 conforme o índice de Kotelchuck
modificado, descrito por Leal et al (2004).
Discreta
V19TRIM
Trimestre em que foram realizadas as consultas
pré-natais.
Categórica
V20LUGAR
Lugar em que a mãe realizou o pré-natal: 1)
Hospital de nascimento; 2) Outro.
Categórica
V21US Número de US realizados durante o pré-natal. Discreta
V22DUM Data do primeiro dia da última menstruação. Contínua
V23VASOS
Número de vasos presentes no cordão
umbilical.
Discreta
V24SRN Tipo sangüíneo do RN.
Categórica
V25SMAE Tipo sangüíneo da mãe.
V26SPAI Tipo sangüíneo do pai.
V74ENGRAV Engravidou fácil: 1) Sim; 2) Não. Dicotômica
V75REALIZ
Realizada investigação sobre a fertilidade: 0)
Não; 1) Estudos; 2) Tratamento.
Categórica
66
4.9.2. VARIÁVEIS DE ANTECEDENTES DA GRAVIDEZ
Para as variáveis abaixo, o último caractere corresponde ao período de
exposição: P – Pré-gestacional (Um mês antes de engravidar), 1 – primeiro
trimestre; 2 – segundo trimestre; 3 – terceiro trimestre.
NOME DA
VARIÁVEL
DEFINIÇÃO
TIPO DA
VARIÁVEL
V27VACP
As variáveis VAC correspondem às vacinas
recebidas no período gestacional: 1) Antivaríola;
2) Antitetânica; 3) Antipólio; 4) Antidifteria; 5)
Anti-hepatite C; 6) Antigripal; 7) Antirubéola; 8)
Outras / Não especificada.
Categórica
V28VAC1
V29VAC2
V30VAC3
V31SINP
Compreende os sinais e sintomas referidos
durante a gestação, codificados conforme a
Classificação Internacional de Doenças (OMS,
2005).
Categórica
V32SIN1
V33SIN2
V34SIN3
V35DAP
Compreende as doenças agudas referidas
durante o período gestacional, classificadas
conforme a CID-10 (OMS, 1993).
Categórica
V36DA1
V37DA2
V38DA3
V39DC
Compreende as doenças crônicas presentes nas
gestantes, codificadas de acordo com o CID-10
(OMS, 1993).
Categórica
V40FISP
Fatores físicos sofridos durante a gravidez
classificados adaptado de Barros (1994): 1)
Traumatismo/Queda; 2) Choque Elétrico; 3)
Radiografia facial; 4) Radiografia tórax, abdômen
ou pelve; 5) Outras Radiografias; 6) Cirurgia; 7)
Outros Procedimentos Invasivos; 8) Outros.
Categórica
V41FIS1
V42FIS2
V43FIS3
V44MEDP
Medicamentos aos quais foram expostos durante
a gestação, codificados de acordo com a
classificação ATC Anatomical Therapeutic
Chemical Classification (WHO, 2005).
Categórica
V45MED1
V46MED2
V47MED3
67
V48METRP
Presença de sangramento vaginal durante a
gestação: 1) Sim; 2) Não.
Dicotômica
V49METR1
V50METR2
V51METR3
V52TABP
Número de cigarros usados por dia durante a
gestação.
Discreta
V53TAB1
V54TAB2
V55TAB3
V56ALCOP
Avaliação de hábito de consumo alcoólico
durante a gestação: 1) Sim; 2) Não. É
considerado como hábito quando a gestante tiver
ingerido pelo menos uma vez por semana.
Categórica
V57ALCO1
V58ALCO2
V59ALCO3
V60DROGP
Consumo durante a gravidez de drogas ilícitas: 0)
Nenhum; 1) Maconha; 2) Crack; 3) Cocaína; 4)
Outros.
Categórica
V61DROG1
V62DROG2
V63DROG3
4.9.3. VARIÁVEIS RELACIONADAS AO MISOPROSTOL
NOME DA
VARIÁVEL
DEFINIÇÃO
TIPO DA
VARIÁVEL
V64PLAN A gravidez foi planejada: 1) Sim; 2) Não Dicotômica
V65SENT
Como se sentiu quando confirmou a gravidez: 1)
Positivo; 2) Negativo; 3) Não especificado.
Avaliação subjetiva do entrevistador.
Categórica
V66DESCER
Antes de saber que estava grávida, a mãe tomou
algo para descer a menstruação: 1) Sim; 2) Não.
Dicotômica
V67ABORT Utilizou algum método abortivo: 1) Sim; 2) Não. Dicotômica
V68CYTO Tomou Cytotec
®
: 1) Sim; 2) Não. Dicotômica
V69ORAL Quantos comprimidos administrados via oral. Discreta
V70VAG Quantos comprimidos administrados via vaginal. Discreta
V71REAC
Teve alguma reação que pudesse ser atribuída ao
misoprostol: 1) Náuseas; 2) Diarréia; 3)
Sangramento; 4) Cólica; 5) Outras.
Categórica
V72CONS Como conseguiu o Cytotec. Descritiva
68
V73METOD Usou outro método além do Cytotec. Descritiva
4.9.4. VARIÁVEIS DE IDENTIFICAÇÃO DOS PAIS
NOME DA
VARIÁVEL
DEFINIÇÃO
TIPO DA
VARIÁVEL
V76ID MAE Idade materna em anos.
Quantitativa
Contínua.
V77ID PAI Idade paterna em anos.
V78LUG M
Naturalidade da mãe e do pai: 1) Interior; 2)
Capital; 3) Outro Estado; 4) Outro País.
Categórica
Nominal.
V79LUG P
V80VIVEM Vivem juntos: 1) Sim; 2) Não.
Categórica
Dicotômica
V81TEMP Há quanto tempo vivem juntos (meses).
Quantitativa
Contínua.
V82MFFAM
Algum caso de malformação na família do RN: 1)
Sim; 2) Não.
Categórica
Dicotômica
V83CSANG
Pai e Mãe do RN têm algum grau de parentesco:
1) Sim; 2) Não.
Categórica
Dicotômica
V84ESCM
Nível de escolaridade: 1) Analfabeto; 2)
Alfabetizado sem escolaridade; 3) Fundamental
Incompleto; 4) Fundamental Completo; 5) Médio
Incompleto; 6) Médio Completo; 7) Superior
Incompleto; 8) Superior Completo.
Categórica
Nominal.
V85ESCP
V86OCUM Ocupação: 1) Do lar; 2) Desempregado; 3)
Profissional Não Qualificado; 4) Profissional
Qualificado; 5) Profissional Autônomo; 6)
Empregado; 7) Patrão; 8) Profissional/Executivo.
Categórica
Nominal.
V87OCUP
V88TRABM Mãe trabalha ausente do lar: 1) Sim; 2) Não.
Categórica
Dicotômica
69
4.10. PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
Após revisão dos questionários, os dados foram codificados e introduzidos
no banco de dados estruturado, a cada dia de coleta, utilizando planilha do
software Excel. Em seguida, foram transferidos para o Statistical Package for the
Social Sciences – SPSS, versão 13.0, agrupados em classe para facilitar a
tabulação, o confronto dos dados e a discussão dos resultados; e organizados
posteriormente em tabelas e gráficos.
A análise estatística foi realizada através de:
Análise univariada: utilização de medidas estatísticas como freqüência
absoluta e relativa, média, mediana e desvio padrão;
Análise bivariada: análise das associações entre presença de MF (caso)
e ausência (controle) com as principais variáveis, utilizou-se o teste não
paramétrico do qui-quadrado (X
2
), Teste de Fisher-Freeman-Halton e teste
z. São elas:
Relativas ao neonato
: peso, IG, peso x IG, status de nascimento,
sexo, status de alta hospitalar, apresentação uterina, tipo de
parto, gemelaridade e nº de vasos.
Relativas à mãe ou à gestação
: de gestações, de partos e de
abortos anteriores, idade materna, exposições durante a gravidez
à vacinas, doenças, medicamentos, sangramentos, álcool,
drogas, fatores físicos, métodos abortivos e misoprostol;
Perfil sócio-demográfico
: consultas pré-natais, idade paterna,
local de procedência dos pais, estado civil, escolaridade,
profissão, antecedentes de doença congênita familiar,
consangüinidade entre pais, tentativa de aborto, planejamento e
sentimento em relação à gravidez.
Para todos os testes fixou-se o nível de significância máximo de 5%. Foi
calculado o Odds ratio como aproximação do risco relativo entre RNs
malformados e associação ao uso de misoprostol na gestação.
70
4.11. ASPECTOS ÉTICOS
O projeto foi apresentado aos hospitais e submetido ao parecer do Comitê
de Ética em Pesquisa do HGCC (ANEXO III), cadastrado no Sistema Nacional de
Ética em Pesquisa (SISNEP). Com a autorização, foi enviada cópia para os
demais hospitais que emitiram declaração favorável à realização da pesquisa
(ANEXOS IV, V e VI).
Dado o aspecto observacional do estudo, a pesquisa o representava
riscos para os pacientes selecionados. As puérperas foram orientadas quanto ao
propósito geral da investigação, à natureza da participação voluntária, respeitando
todos os direitos destas ao anonimato e à autonomia, referidos no termo de
consentimento esclarecido (ANEXO VII). Somente três controles se recusaram a
participar da pesquisa (duas do HGCC e uma da MEAC), porém nenhuma referiu
o motivo. Para acesso ao prontuário médico, foi apresentado o termo de fiel
depositário (ANEXO VIII) à instituição. O estudo teve como benefício ampliação
de conhecimento acerca da teratogenicidade do misoprostol.
71
Resultados
72
5. RESULTADOS
5.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ESTUDADA
5.1.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO
No período de julho a novembro de 2005, os hospitais Maternidade Escola
Assis Chateaubriand (MEAC), Hospital Geral César Cals (HGCC), Hospital Geral
de Fortaleza (HGF) e o Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana (HGM)
realizaram um total de 6.978 partos, dos quais 126 (1,8%) cumpriam os critérios
para inclusão dos RNs como caso
na amostra, tendo sido coletados também
dados de 126 RNs classificados como controles. O número de partos por hospital
está detalhado no GRÁFICO 1.
GRÁFICO 1: Distribuição de recém-nascidos por hospital de nascimento
entre julho e novembro de 2005 nas principais maternidades públicas de
Fortaleza-CE.
0
100
200
300
400
500
600
Nº Partos
Jul Ago Set Out Nov
Meses de Coleta
MEAC
HGCC
HGM
HGF
Nenhuma das mães entrevistadas desistiu de participar do estudo, não
havendo, portanto perdas na amostra durante a pesquisa. Quase metade dos
73
casos (49%, n=61) nasceu no HGCC, condizente com o maior número de partos
da instituição em relação aos demais hospitais do estudo. A freqüência de casos
distribuídos por hospitais apresenta-se no GRÁFICO 2.
GRÁFICO 2: Distribuição de recém-nascidos malformados por hospital de
nascimento. Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
48,4%
(n=61)
25,4%
(n=32)
13,5%
(n=17)
12,7%
(n=16)
MEAC
HGCC
HGF
HGM
Em relação às características socioeconômicas, os grupos apresentam-se
homogêneos quando comparadas variáveis relacionadas à procedência, à
escolaridade e à ocupação dos pais. Mais da metade das mães de RNs
malformados são procedentes do interior (57,6%, n=72), têm no máximo o ensino
fundamental completo (55,6%, n=70) e estão desempregadas ou são do lar
(61,9%, n=78). Comparadas aos pais, as mães apresentam maior grau de
escolaridade, com 31% (n=39) delas com no mínimo ensino médio concluído,
enquanto os pais somente 25,7% (n=30) concluíram o ensino médio. Entretanto,
os pais ocupam mais o mercado de trabalho que as mães, e grande parte deles
são profissionais não qualificados (43,9%, n=54). Todas as variáveis o
apresentam diferenças estatisticamente significativas quando comparados os dois
grupos (TABELAS 1 e 2).
74
A presença de adolescentes, com idade inferior a 19 anos, na amostra do
presente estudo é de 35 mães, 13,9% da amostra total (sendo 14 casos e 21
controles) e 12 pais (4 casos e 8 controles). Somente sete RNs têm ambos os
pais adolescentes ( 1 caso e 6 controles).
Na TABELA 3 é traçado um perfil comparativo entre os grupos caso e
controle sobre o tipo de união consensual dos pais, inclusive pelo tempo de união.
Também sem diferença estatisticamente significativa, aproximadamente 20%
(n=51 somando ambos os grupos) dos casais não têm qualquer tipo de união,
mesmo informal, e dos que vivem juntos, a maioria convive no intervalo de tempo
de 1 a 5 anos (44,8%, n=56 no grupo caso e 49,2%, n=61 no grupo controle).
TABELA 1: Perfil socioeconômico de mães de recém-nascidos malformados
comparados a mães de recém-nascidos saudáveis numa amostra de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Características
Caso Controle Total
χ2 P
% % %
Procedência
3,14
0,208
Interior
72 57,6 58 46,4 130 52,0
Capital
46 36,8 58 46,4 104 41,6
Outros
7 5,6 9 7,2 16 6,4
Escolaridade
0,682*
Analfabeto
6 4,8 3 2,4 9 3,6
Alfabetizado sem
escolaridade
0 0,0 3 2,4 3 1,2
Fundamental incompleto
52
41,3
51
40,5
103
40,9
Fundamental completo
12 9,5 15 11,9 27 10,7
Médio incompleto
17 13,5 22 17,5 39 15,5
Médio completo
33 26,2 26 20,6 59 23,4
Superior incompleto
2 1,6 2 1,6 4 1,6
Superior completo
4 3,2 4 3,2 8 3,2
Ocupação
1,12 0,289
Do lar/Desempregado
78 61,9 87 69,0 165 65,5
Profissional não qualificado
23
18,3
17
13,5
40
15,9
Profissional qualificado
7 5,6 3 2,4 10 4,0
Profissional autônomo
6 4,8 6 4,8 12 4,8
Empregado
11 8,7 12 9,5 23 9,1
Patrão/Executivo
1 0,8 1 0,8 2 0,8
Mãe Trabalha Ausente do
Lar
1,07 0,300
Sim
51 40,5 41 33,3 92 36,9
Não
75 59,5 82 66,7 157 63,1
NOTAS – χ
2
: Teste do Qui-quadrado; p: Valor de p;
*: Teste de Fisher-Freeman-Halton
75
TABELA 2: Perfil socioeconômico de pais de recém-nascidos malformados
comparados a pais de recém-nascidos saudáveis numa amostra de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Características
Caso Controle
Total
χ2
p
% % Nº %
Procedência
2,02 0,364
Interior
66 54,1 54 45,0 120 49,6
Capital
48 39,3 56 46,7 104 43,0
Outros
8 6,6 10 8,3 18 7,4
Escolaridade
0,801*
Analfabeto
9 7,7 3 2,7 12 5,2
Alfabetizado sem escolaridade
5 4,3 3 2,7 8 3,5
Fundamental incompleto
41 35,0 49 43,4 90 39,1
Fundamental completo
15 12,8 8 7,1 23 10,0
Médio incompleto
17 14,5 19 16,8 36 15,7
Médio completo
25 21,4 25 22,1 50 21,7
Superior incompleto
1 0,9 1 0,9 2 0,9
Superior completo
4 3,4 5 4,4 9 3,9
Ocupação
0,01 0,930
Do lar/Desempregado
13 10,6 12 10,1 25 10,3
Profissional não qualificado
54 43,9 44 37,0 98 40,5
Profissional qualificado
10 8,1 5 4,2 15 6,2
Profissional autônomo
15 12,2 12 10,1 27 11,2
Empregado
30 24,4 45 37,8 75 31,0
Patrão/Executivo
1 0,8 1 0,8 2 0,8
NOTAS – χ
2
: Teste do Qui-quadrado; p: Valor de p;
*: Teste de Fisher-Freeman-Halton
TABELA 3: Distribuição quanto à presença ou não de união consensual e
tempo de união nos grupos caso e controle em Fortaleza-CE, julho a
novembro de 2005.
Variáveis
Caso Controle Total
χ
2
p
% % %
Pais Vivem Juntos
0,001 0,974
Sim
99 79,2 99 79,8 198 79,5
Não
26 20,8 25 20,2 51 20,5
Tempo de União (anos)
0,520 0,771
< 1
5 4,0 6 4,8 11 4,4
1 a 5
56 44,8 61 49,2 117 47,0
> 5
38 30,4 32 25,8 70 28,1
NOTAS – χ
2
: Teste do Qui-quadrado; p: Valor de p.
76
5.1.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS RNs
Os grupos apresentam diferenças significativas nos desfechos já
esperados de serem desfavoráveis para RNs com MFs fetais, por estes serem
mais suscetíveis a déficit ou retardo de desenvolvimento e co-morbidades
associadas. São elas: peso, adequação peso x IG, status ao nascer e status de
alta hospitalar. Todas as variáveis estão comparadas na TABELA 4.
Dos 68 (27%) recém-nascidos de baixo peso da amostra total, 47 (69,11%)
são malformados (p=0,0001) e 21,4% (n=27) são pequenos para IG (p=0,006).
Para RNs macrossômicos (peso superior a 4.000 gramas), a amostra apresentou-
se com freqüência maior na população não malformada: dos 11 (4,4% da amostra
total) RNs macrossômicos, 8 (73%) são do grupo controle.
Quanto à variável IG, os grupos tiveram resultados similares, com maior
freqüência de partos realizados na gestação a termo (de 37 a 42 semanas) em
ambos os grupos. O grupo controle apresentou 70,6% (n=89) das gestações a
termo, comparados a 60,3% (76) do grupo caso, enquanto houve uma tendência
maior de gestações compreendidas entre 33 e 36 semanas no grupo caso
(24,6%, n=31) comparados ao grupo controle (16,7%, n=21). Entretanto, os
grupos não apresentaram diferença estatisticamente significativa.
Apenas 1 RN controle (0,8%) era natimorto (morte fetal diagnosticada por
ultra-sonografia), sem resultado de autópsia até a finalização deste trabalho. Em
US pré-natal, o RN não apresentou MFs e teve diagnóstico de anidrâmnio,
provavelmente pela mãe ter desenvolvido doença hipertensiva não controlada
durante a gravidez. O resultado difere estatisticamente do grupo caso, que
compreendeu 9 RNs natimortos, 7,1% do total (p=0,024).
Em relação ao sexo, os grupos diferem estatisticamente somente quando
realizado os testes de associação incluindo os RNs intersexo, localizados
evidentemente no grupo de RNs malformados. Quando afastados da análise, os
grupos apresentam freqüência de sexos semelhantes, com uma maior freqüência
de nascimento de crianças do sexo masculino na amostra total (52,4%, n=132).
77
TABELA 4: Comparação das principais características dos grupos caso e
controle analisados em amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Características
Caso Controle Total
χ
2
p
% % %
Peso (gramas)
14,76 0,0001*
< 2.500 47 37,3 21 16,7 68 27,0
2.500 a 4.000 76 60,3 97 77,0 173 68,7
> 4.000 3 2,4 8 6,3 11 4,4
Idade Gestacional (semanas)
2,91 0,55
< 29 7 5,6 6 4,8 13 5,2
29 a 32 11 8,7 10 7,9 21 8,3
33 a 36 31 24,6 21 16,7 52 20,6
37 a 42 76 60,3 89 70,6 165 65,5
> 42 1 0,8 0 0,0 1 0,4
Adequação Idade Gestacional
10,16 0,006*
PIG 27 21,4 10 7,9 37 14,7
AIG 89 70,6 99 78,6 188 74,6
GIG 10 7,9 17 13,5 27 10,7
Status ao Nascimento
5,1 0,024*
Vivo 117 92,9 125 99,2 242 96,0
Morto 9 7,1 1 0,8 10 4,0
Sexo
0,01 0,920†
Masculino 64 50,8 68 54,0 132 52,4
Feminino 56 44,4 58 46,0 114 45,2
Intersexo 6 4,8 0 0,0 6 2,4
Status na Alta Hospitalar
23,85 0,0001*
Vivo 8 6,3 22 17,5 30 11,9
Morto 11 9,4 0 0,0 11 4,5
Sem alta 98 77,8 103 81,7 201 79,8
Tipo de Parto
2,26 0,324
Normal 42 33,3 53 42,1 95 37,7
Cesárea 82 65,1 72 57,1 154 61,1
Fórceps 2 1,6 1 0,8 3 1,2
Presença de Gemelaridade
0,999‡
Sim 1 0,8 2 1,6 3 1,2
Não 125 99,2 124 98,4 249 98,8
Passado Obstétrico Materno
Paridade
0,67 0,714
Nenhuma 48 38,1 42 33,3 90 35,7
1 a 4 63 50,0 69 54,8 132 52,4
≥ 5 15 11,9 15 11,9 30 11,9
Aborto
1,66 0,197
Sim 28 22,2 38 30,2 66 26,2
Não 98 77,8 88 69,8 186 73,8
NOTAS χ
2
: Teste do Qui-quadrado; p: Valor de p;
*: p inferior a 0,05; †: Teste do Qui-quadrado
excluindo a categoria intersexo; ‡: Teste de Fisher-Freeman-Halton
78
Dos 126 RNs malformados que tiveram seus dados coletados, excluindo os
9 natimortos, 11 (9,4%) tiveram morte antes de completar 24 horas de nascido,
comparados a nenhum do grupo controle (p=0,0001).
Quanto ao tipo de parto, 154 (61,1%) da amostra nasceu de parto cesárea,
destes 82 (53,2%) eram RNs malformados. Somente três partos necessitaram de
uso de fórceps (1,2%). Houve três casos de gemelaridade na amostra, sendo dois
controles e um caso, não sendo possível uma avaliação mais acurada pelo
tamanho da amostra ser reduzido.
O passado obstétrico materno também revelou homogeneidade entre os
grupos. Sobre a paridade, a maioria estava compreendida no estrato de 1 a 4
filhos anteriores em ambos os grupos e 26,2% (n=66) haviam sofrido abortos
anteriores (espontâneos e provocados), sem diferença estatisticamente
significativa entre os grupos.
Na TABELA 5 estão dispostas informações sobre os principais fatores de
risco nos grupos caso e controle. A idade materna de ambos os grupos teve uma
maior freqüência (69,4%, n=175) afastada dos extremos, compreendida entre 20
e 35 anos, sem diferença estatisticamente significativa entre os grupos, inclusive
nas outras faixas etárias, que predispõe maior risco para MFs. A idade paterna
acima de 40 anos apresentou uma tendência maior no grupo caso (14,5%, n=18)
comparado ao grupo controle (10%, n=12), embora também não apresentasse
diferenças significativas.
Apenas 21 do total de puérperas entrevistadas (8,4%) tinham
consangüinidade com o pai da criança, distribuídos em 12 casos (57,1%) e 9
controles (42,9%). A presença de MF em membros de até terceiro grau na família
foi mencionada em 16,7% da amostra (n=42), sendo 23 casos (54,7%) e 19
controles (45,3%). Ambos os fatores de risco não apresentaram diferença
estatisticamente significativa (p=0,690).
Quanto à apresentação ao nascer, 184 RNs (82,1%) nasceram em
apresentação cefálica. Cerca de 19,8% (n=22) RNs malformados nasceram em
apresentação pélvica, comparados a 8% (n=9) do grupo controle, com diferença
estatisticamente significativa (p=0,037).
79
TABELA 5: Principais fatores de riscos associados à malformações fetais
nos grupos caso e controle de uma amostra de Fortaleza-CE, julho a
novembro de 2005.
Fatores
Caso Controle Total
χ
2
p
% % %
Idade Materna (anos)
0,86 0,646
Até 19
14 11,1 21 16,6 35 13,9
20 a 35
99 78,6 93 73,9 192 76,2
Acima de 35
13 10,3 12 9,5 25 9,9
Idade Paterna (anos)
0,77 0,379
Até 39
106 85,5 108 90,0 214 87,7
≥ 40
18 14,5 12 10,0 30 12,3
Consagüinidade Entre os Pais
0,16 0,69
Sim
12 9,5 9 7,3 21 8,4
Não
114 90,5 114 92,7 228 91,6
História Familiar de Malformação
0,23 0,672
Sim
23 18,3 19 15,2 42 16,7
Não
103 81,7 106 84,8 209 83,3
Apresentação ao Nascer
6,61 0,037*
Cefálica
85 76,6 99 87,6 184 82,1
Pélvica
22 19,8 9 8,0 31 13,8
Outra
4 3,6 5 4,4 9 4,0
NOTAS – χ
2
: Teste do Qui-quadrado; p: Valor de p; *: p inferior a 0,05.
5.2. OCORRÊNCIAS DURANTE A GESTAÇÃO
5.2.1. QUALIDADE DE ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL
A assistência pré-natal de ambos os grupos foi classificada
qualitativamente conforme o índice de Kotelchuck modificado (TABELA 6), tendo
a maior parcela de gestantes realizado no mínimo o pré-natal adequado (69%),
não havendo diferenças estatísticas entre os grupos. A maioria também realizou
pré-natal em outra unidade de saúde que não o hospital de nascimento (73,4%,
n=177).
80
Os grupos diferem quanto à quantidade de exames de US realizados
durante a gestação utilizando o teste de Fisher, tendo o grupo caso realizado um
número superior a três exames (34,9%, n=44) mais que o grupo controle (21,4%,
n=27) (p=0,003).
TABELA 6: Perfil de assistência pré-natal comparando os grupos caso e
controle em amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Variáveis
Caso Controle Total
p
% % %
Índice de Kotelchuck Modificado
0,902
Não fez pré-natal
2 1,8% 2 1,6% 4 1,6%
Inadequado
16 14,5% 17 13,4% 33 13,1%
Intermediário
21 19,1% 20 15,7% 41 16,3%
Adequado
44 40,0% 47 37,0% 91 36,1%
Mais que adequado
43 39,1% 40 31,5% 83 32,9%
Onde Realizou o Pré-Natal
0,603
Hospital de nascimento
27 22,5% 32 26,4% 59 24,5%
Outra unidade de saúde
91 75,8% 86 71,1% 177 73,4%
Ambos os serviços
2 1,7% 3 2,5% 5 2,1%
Nº de Ultra-sonografias Realizadas
0,003*
Nenhuma
1 0,8% 9 7,1% 10 4,0%
De 1 a 3
81 64,3% 90 71,4% 171 67,9%
Acima de 3
44 34,9% 27 21,4% 71 28,2%
NOTASp: Teste de Fisher-Freeman-Halton; *: p inferior a 0,05.
5.2.2. EXPOSIÇÃO A VACINAS
Quanto a exposições a vacinas, 68 gestantes se expuseram pelo menos a
um tipo de vacina durante o 1º trimestre (29,2%), 91 gestantes durante o
trimestre (39%) e 74 no período do 3º trimestre (31,8%). O número de exposições
total foi 235. A TABELA 7 apresenta o número de exposições sofridas a vacinas
durante a gravidez, classificadas por grupo e período gestacional, não havendo
diferença estatística entre os dois grupos.
81
A vacina mais utilizada foi a antitetânica, presente em 87,7% das
gestantes. As outras vacinas foram agrupadas por representarem um número que
não permite maiores conclusões estatísticas. A vacina contra a rubéola foi
registrada em três gestantes, e outras duas receberam a vacina BCG.
TABELA 7: Utilização de vacinas durante a gestação conforme o grupo caso
ou controle em uma amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Tipo
Caso Controle Total
P
% % %
1º Trimestre
1,000
Antitetânica
30 96,8 35 94,6 65 95,6
Outras
1 3,2 2 5,4 3 4,4
2º Trimestre
0,695
Antitetânica
47 90,4 38 95,0 85 92,4
Outras
5 9,6 2 5,0 7 7,6
3º Trimestre
0,615
Antitetânica
36 97,3 35 92,1 71 94,7
Outras
1 2,7 3 7,9 4 5,3
Total de Exposições
120 115 235
NOTASp: Teste de Fisher-Freeman-Halton
5.2.3. OCORRÊNCIA DE SINAIS E SINTOMAS
A TABELA 8 apresenta os principais sinais e sintomas coletados a partir de
entrevistas e análise de prontuário das pacientes. No primeiro trimestre
gestacional, 155 gestantes (61,5%) reportaram sintomas, responsáveis por 332
exposições, perfazendo uma média de 2,14 sintomas por paciente. No segundo
trimestre, 102 pacientes (40,5%) citaram 227 queixas, uma média de 2,25
exposições/paciente e por fim, 119 gestantes (47,2%) mencionaram 236 sintomas
no terceiro trimestre, gerando uma média de 1,98 sintomas/paciente.
82
TABELA 8: Principais sinais e sintomas relatados durante a gravidez,
distribuídos por sistemas nos grupos caso e controle em amostra de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Sintomas
Caso Controle Total
% % %
1º Trimestre
Sistema Respiratório 3 1,8 7 4,3 10 3,0
Sistema Cardiovascular 7 4,2 4 2,4 11 3,3
Sistema Digestivo 96 57,1 94 57,3 190 57,2
Sistema Gênitourinário 5 3,0 2 1,2 7 2,1
Sistema Nervoso Central 40 23,8 43 26,2 83 25,0
Distúrbios do Estado Geral 13 7,7 10 6,1 23 6,9
Sistema Músculo Esquelético 3 1,8 3 1,8 6 1,8
Sintomas da Pele/Tecido Subcutâneo 1 0,6 1 0,6 2 0,6
2º Trimestre
Sistema Respiratório 3 2,3 6 6,1 9 4,0
Sistema Cardiovascular 9 7,0 7 7,1 16 7,0
Sistema Digestivo 54 42,2 40 40,4 94 41,4
Sistema Gênitourinário 13 10,2 6 6,1 19 8,4
Sistema Nervoso Central 33 25,8 30 30,3 63 27,8
Distúrbios do Estado Geral 10 7,8 6 6,1 16 7,0
Sistema Músculo Esquelético 4 3,1 3 3,0 7 3,1
Sintomas da Pele/Tecido Subcutâneo 2 1,6 1 1,0 3 1,3
3º Trimestre
Sistema Respiratório 7 5,2 7 6,9 14 5,9
Sistema Cardiovascular 12 8,9 13 12,9 25 10,6
Sistema Digestivo 47 34,8 27 26,7 74 31,4
Sistema Gênitourinário 10 7,4 5 5,0 15 6,4
Sistema Nervoso Central 25 18,5 32 31,7 57 24,2
Distúrbios do Estado Geral 10 7,4 7 6,9 17 7,2
Sistema Músculo Esquelético 4 3,0 4 4,0 8 3,4
Sintomas da Pele/Tecido Subcutâneo 1 0,7 0 0,0 1 0,4
Específicos da Gestação 19 14,1 6 5,9 25 10,6
Total de Ocorrências
431 364 795
Mais da metade dos sintomas mencionados no primeiro trimestre o
relacionados ao sistema digestivo (57,2%), sendo náuseas e vômitos os mais
comumente citados (49,7% do total de sintomas). A partir do segundo trimestre,
ocorre uma redução nos sintomas relacionados ao sistema digestivo, porém ainda
representam o sintoma mais freqüente (41,4% e 31,4% no segundo e terceiro
trimestre respectivamente). De forma constante durante toda a gestação, os
83
sintomas relacionados ao sistema nervoso central ocupam segundo lugar em
ocorrência (25,7%), principalmente pela presença de cefaléia, responsável por
17,6% dos sintomas do SNC.
No último trimestre, 10,6% das gestantes desenvolveram alterações de
volume do quido amniótico, como polidrâmnio, oligodrâmnio ou anidrâmnio,
sendo 76% no grupo caso, achado esperado nos RNs malformados, mas sem
diferença estatisticamente significativa em relação aos controles (p=0,175). Houve
também um aumento considerável no percentual de gestantes em ambos os
grupos com sintomas cardiovasculares, principalmente edema e alterações de
pressão sangüínea, no último trimestre.
5.2.3.1. Presença de Metrorragia
A ocorrência de episódios de metrorragia foi registrada 52 vezes nas
gestações avaliadas. Somente no primeiro trimestre, houve diferença entre os
grupos caso e controle, porém não foi estatisticamente significativa (p=0,206). O
GRÁFICO 3 segmenta os casos de metrorragia na amostra por grupo caso ou
controle.
GRÁFICO 3: Ocorrência de metrorragia durante a gestação em amostra de
puérperas distribuídas em grupos caso ou controle. Fortaleza-CE, julho a
novembro de 2005
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Gestantes
1° Trim 2° Trim Trim
Trimestre de Gestação
Caso
Controle
84
5.2.4. ANTECEDENTES DE DOENÇAS
5.2.4.1. Doenças Agudas
A TABELA 9 sumariza a freqüência de doenças, conforme classificação
CID-10 (OMS, 2005), distribuídas entre os grupos caso e controle.
TABELA 9: Principais doenças agudas registradas na gestação de grupos
caso e controle em amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Classificação CID-10
Caso Controle Total
% % %
1º Trimestre
Doenças do aparelho respiratório
13 48,1 8 29,6 21 38,9
Doenças da gravidez, parto e puerpério
0 0,0 3 11,1 3 5,6
Doenças do aparelho digestivo
0 0,0 2 7,4 2 3,7
Doenças do aparelho genitourinário
10 37,0 11 40,7 21 38,9
Transtornos mentais e comportamentais
2 7,4 0 0,0 2 3,7
Doenças do sangue, órgãos
hematopoiéticos
e alguns transtornos imunitários
1 3,7 3 11,1 4 7,4
Doenças infecciosas e parasitárias
1 3,7 0 0,0 1 1,9
2º Trimestre
Doenças do aparelho respiratório
14 36,8 15 37,5 29 37,2
Doenças da gravidez, parto e puerpério
5 13,2 9 22,5 14 17,9
Doenças do aparelho digestivo
1 2,6 1 2,5 2 2,6
Doenças do aparelho genitourinário
14 36,8 12 30,0 26 33,3
Transtornos mentais e comportamentais
2 5,3 1 2,5 3 3,8
Doenças do sangue, órgãos
hematopoiéticos
e alguns transtornos imunitários
1 2,6 2 5,0 3 3,8
Doenças infecciosas e parasitárias
1 2,6 0 0,0 1 1,3
3º Trimestre
Doenças do aparelho respiratório
11 28,9 15 31,9 26 30,6
Doenças da gravidez, parto e puerpério
9 23,7 18 38,3 27 31,8
Doenças do aparelho digestivo
1 2,6 2 4,3 3 3,5
Doenças do aparelho genitourinário
10 26,3 9 19,1 19 22,4
Transtornos mentais e comportamentais
3 7,9 0 0,0 3 3,5
Doenças do sangue, órgãos
hematopoiéticos
e alguns transtornos imunitários
2 5,3 2 4,3 4 4,7
Doenças infecciosas e parasitárias
2 5,3 1 2,1 3 3,5
Total de Exposições
103 114 217
85
Das 217 ocorrências de doenças agudas na amostra avaliada, 24,8%
foram no primeiro trimestre gestacional (n=54), 36,0% no segundo (n=78) e 39,2%
no terceiro (n=85). No primeiro trimestre, as doenças do aparelho respiratório e do
aparelho genitourinário somaram quase 80% das ocorrências, relativamente
semelhantes entre os grupos, principalmente pelo surgimento de gripe/virose
(84,2% das doenças do aparelho respiratório) e infecção do trato urinário (75,8%
das doenças do aparelho genitourinário). Esse padrão repete-se também no
segundo e terceiro trimestre, embora no último trimestre, as doenças relacionadas
ao aparelho genitourinário tenham caído para o terceiro lugar, em decorrência do
aumento na incidência de doenças relacionadas à gravidez, ao parto e ao
puerpério (31,8%, n=27).
As principais doenças incluídas na categoria de doenças da gravidez, do
parto e do puerpério são a pré-eclâmpsia (PE) e o diabetes gestacional (DG).
Houve uma incidência maior no grupo controle em relação ao grupo caso (n=30 e
n=14, respectivamente), não tendo sido estatisticamente significativa. O
GRÁFICO 4 permite uma avaliação da distribuição das principais doenças agudas
incididas sobre a amostra estudada por trimestre de gestação.
GRÁFICO 4: Distribuição das principais doenças agudas referidas na
gestação em amostra avaliada em Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
0% 50% 100%
Virose
PE
DG
ITU
Anemia
IP
Tipo de doença
% de doença
1° Trim
2° Trim
3° Trim
NOTAS IP: Infecção pulmonar, ITU: Infecção trato urinário, DG: Diabetes gestacional, PE: Pré-
eclâmpsia.
86
5.2.4.2. Doenças Crônicas
Sobre a amostra total, um percentual de 20,6% (n=52) apresentava pelo
menos um tipo de doença crônica, sendo ao todo identificado um total de 57
exposições, responsável por uma média de 1,096 doenças por gestante. As
doenças mais prevalentes foram aquelas relacionadas ao aparelho circulatório
(33,3%) e doenças endócrinas e do sangue (ambas 15,8%), principalmente HAS,
DM e anemia (TABELA 10). Estas condições foram consideradas crônicas
quando a paciente declarou portar a doença antes e/ou independente da
gestação.
As doenças do sistema nervoso central compreendem enxaqueca (n=4),
epilepsia (n=1) e neurocisticercose (n=1). Não houve qualquer diferença
estatística entre os grupos caso e controle em relação às doenças crônicas.
TABELA 10: Distribuição de doenças crônicas classificadas por CID em
amostra de puérperas. Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
1º Classificação CID
Classificação
Caso Controle Total
% % %
Doenças do aparelho respiratório Asma 4 12,90% 1 3,80% 5 8,80%
Doenças do aparelho circulatório HAS 6 19,40% 9 34,60% 15 26,30%
Cardiopatia 3 9,70% 1 3,80% 4 7,00%
Doenças do aparelho digestivo Gastrite 1 3,20% 0 0,00% 1 1,80%
Doenças do aparelho genitourinário ITU 1 3,20% 0 0,00% 1 1,80%
Mioma 3 9,70% 1 3,80% 4 7,00%
Doenças do sistema nervoso Todas 3 9,70% 3 11,50% 6 10,50%
Doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas
DM 5 16,10% 4 15,40% 9 15,80%
Doenças do sangue, órgãos
Hematopoiéticos e alguns transtornos
imunitários
Anemia 3 9,70% 3 11,50% 6 10,50%
DI 1 3,20% 2 7,70% 3 5,30%
Doenças infecciosas e parasitárias SIDA 0 0,00% 1 3,80% 1 1,80%
Outras 1 3,20% 1 3,80% 2 3,50%
Total de Exposições
31 100,00%
26 100,00%
57 100,00%
NOTAS – HAS: Hipertensão arterial sistêmica, ITU: Infecção do trato urinário, DM: Diabetes
mellitus, DI: Doenças Imunológicas; SIDA: Síndrome da imunodeficiência adquirida.
87
5.2.5.2. Exposição a Medicamentos
Os medicamentos foram os principais fatores de exposição química
durante a gestação, mencionado pelas puérperas ou retirados da ficha de pré-
natal da paciente. Do total da amostra, 210 mães (83,3%) reportaram ter utilizado
medicamento pelo menos uma vez durante a gestação, totalizando 383
exposições, numa média de 1,82 medicamentos por gestante.
88
Subdividindo por trimestres, no primeiro, sobre a amostra total, 57,5% das
mulheres (n=145) se submeteram a pelo menos um tipo das 259 exposições a
medicamentos, perfazendo uma média de 1,78 medicamentos por gestante. Da
mesma forma, no segundo trimestre, 143 (56,7%) gestantes utilizaram 277 vezes
um tipo de medicamento (média de 1,93 exposição por gestante). Por fim, 144
gestantes (57,1% da amostra total) reportaram o uso de pelo menos um tipo de
medicamento 246 vezes (média de 1,70). O GRÁFICO 6 apresenta o consumo de
medicamentos segundo o período gestacional.
Somando todos os trimestres, não houve diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos caso e controle, quando comparadas as freqüências
utilizando teste z, inclusive estratificadas por grupo de classificação ATC de
medicamentos. Na TABELA 11 estão apresentados os números de exposições
ordenadas segundo o primeiro nível de classificação ATC e segmentadas entre os
grupos caso e controle, com seus respectivos testes estatísticos. Estão inclusos
os medicamentos que não tiveram o nome propriamente mencionado, porém pela
indicação foi possível classificar no primeiro nível. O número de exposições
diminui nas TABELAS 12 e 13, que apresentam a freqüência de exposição por
grupo caso e controle no segundo e terceiro nível de classificação ATC.
O GRÁFICO 7 apresenta os principais medicamentos utilizados, divididos
em grupos caso e controle. O GRÁFICO 8 apresenta a distribuição das pacientes
conforme o número de especialidades farmacêuticas consumidas durante o
período de gestação, e o GRÁFICO 9 as dispõem separadas nos grupos caso e
controle. Em relação ao total de mulheres que utilizou medicamento durante a
gravidez (n=210), cerca de metade consumiu apenas um tipo de medicamento. O
máximo de especialidades farmacêuticas consumidas, reportado por somente
duas pacientes, foram de seis medicamentos diferentes dentro de um mesmo
trimestre gestacional.
89
TABELA 11: Uso de medicamentos durante gestação ordenados pela
classificação ATC 1º nível, distribuídos nos grupos caso e controle, em
amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Classificação ATC 1º Nível
Caso Controle Total
z p
% % %
1º Trimestre
A – Trato alimentar e metabolismo
25 19,1 23 18,0 48 18,5 0,076 0,940
B – Sangue e órgãos hematopoiéticos
45 34,4 53 41,4 98 37,8 0,432 0,666
C – Sistema cardiovascular
5 3,8 4 3,1 9 3,5 0,369 0,712
D – Dermatológicos
0 0,0 1 0,8 1 0,4
G – Sistema gênitourinário e hormônios sexuais
7 5,3 2 1,6 9 3,5 0,909 0,366
H – Hormônios sistêmicos (incluindo sexuais)
3 2,3 2 1,6 5 1,9 1,156 0,248
J – Antiinfecciosos gerais para uso sistêmico
9 6,9 16 12,5 25 9,7 0,203 0,839
M – Sistema músculo esquelético
2 1,5 0 0,0 2 0,8
N – Sistema nervoso central
33 25,2 26 20,3 59 22,8 0,627 0,531
P – Antiparasitários
1 0,8 1 0,8 2 0,8
V – Vários
1 0,8 0 0,0 1 0,4
2º Trimestre
A – Trato alimentar e metabolismo
24 16,4 20 15,3 44 15,9
B – Sangue e órgãos hematopoiéticos
63 43,2 57 43,5 120 43,3
C – Sistema cardiovascular
6 4,1 9 6,9 15 5,4
D – Dermatológicos
8 5,5 9 6,9 17 6,1
G – Sistema gênitourinário e hormônios sexuais
4 2,7 3 2,3 7 2,5
H – Hormônios sistêmicos (incluindo sexuais)
9 6,2 12 9,2 21 7,6
J – Antiinfecciosos gerais para uso sistêmico
32 21,9 21 16,0 53 19,1
3º Trimestre
A – Trato alimentar e metabolismo
22 17,5 16 13,3 38 15,4
B – Sangue e órgãos hematopoiéticos
50 39,7 50 41,7 100 40,7
C – Sistema cardiovascular
7 5,6 12 10,0 19 7,7
D – Dermatológicos
1 0,8 0 0,0 1 0,4
G – Sistema gênitourinário e hormônios sexuais
1 0,8 2 1,7 3 1,2
H – Hormônios sistêmicos (incluindo sexuais)
6 4,8 5 4,2 11 4,5
J – Antiinfecciosos gerais para uso sistêmico
10 7,9 15 12,5 25 10,2
M – Sistema músculo esquelético
0 0,0 1 0,8 1 0,4
N – Sistema nervoso central
25 19,8 17 14,2 42 17,1
P – Antiparasitários
4 3,2 2 1,7 6 2,4
Total de Exposições
403 379 782
NOTAS – Z: Teste z realizado para as somas de todas as exposições nos três trimestres.
90
TABELA 12: Principais medicamentos utilizados durante a gestação
segundo classificação ATC 2º nível, distribuídos nos grupos caso e
controle, em amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Classificação ATC 2º Nível
Caso Controle Total
% % %
A02 – Drogas para doenças relativas à acidez
7 2,59 4 1,71 11 2,18
A03 – Drogas para desordens funcionais do TGI
10 3,70 7 2,99 17 3,37
A04 – Antieméticos e antinauseantes
8 2,96 9 3,85 17 3,37
A10 – Drogas usadas em diabetes
6 2,22 3 1,28 9 1,79
A11 – Vitaminas
20 7,41 14 5,98 34 6,75
B03 – Preparações antianêmicas
88 32,59 86 36,75 174 34,52
C02 – Antihipertensivos
5 1,85 11 4,70 16 3,17
C09 – Agentes que atuam no sistema renina-angiotensina
2 0,74 3 1,28 5 0,99
G01 – Antiinfecciosos e anti-sépticos ginecológicos
9 3,33 10 4,27 19 3,77
G02 – Outros de uso ginecológico
8 2,96 2 0,85 10 1,98
G03 – Hormônios sexuais e moduladores do sistema genital
12 4,44 3 1,28 15 2,98
J01 – Antibacterianos de uso sistêmico
25 9,26 29 12,39 54 10,71
N02 – Analgésicos
45 16,67 38 16,24 83 16,47
N03 – Antiepilépticos
4 1,48 1 0,43 5 0,99
Outros
21 7,78 14 5,98 35 6,94
TOTAL
270 234 504
NOTAS: TGI – Trato gastrintestinal
TABELA 13: Principais medicamentos utilizados durante a gestação
segundo classificação ATC 3º nível, distribuídos nos grupos caso e
controle, em amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Classificação ATC 3º Nível
Caso Controle Total
% % %
A03B – Beladona e derivados
10 3,70 6 2,56 16 3,17
A04A – Antieméticos e antinauseantes
8 2,96 9 3,85 17 3,37
A11A – Combinações de multivitamínicos
18 6,67 11 4,70 29 5,75
B03A – Preparações de ferro
59 21,85 63 26,92 122 24,21
B03B – Vitamina B12 e ácido fólico
29 10,74 23 9,83 52 10,32
C02A – Agentes antiadrenérgicos de ação central
5 1,85 11 4,70 16 3,17
G01A – Antiinfecciosos e anti-sépticos, excluindo
combinações com corticóides
9 3,33 10 4,27 19 3,77
J01C – Antibacterianos beta lactâmicos, penicilinas
12 4,44 18 7,69 30 5,95
J01D – Outros antibacterianos beta lactâmicos
13 4,81 8 3,42 21 4,17
N02B – Outros analgésicos e antipiréticos
44 14,44 38 12,82 82 13,69
Outros
63 25,19 37 19,23 100 22,42
TOTAL
270 234 504
91
GRÁFICO 6: Consumo de medicamentos segundo período gestacional em
amostra de puérperas de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
29%
30%
31%
32%
33%
34%
35%
% de Medicamentos
Trim 2° Trim 3° Trim
Trimestre de Gestação
GRÁFICO 7: Principais medicamentos consumidos no período gestacional
segundo o grupo caso ou controle. Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
0 50 100 150 200 250
Sulfato Ferroso
Paracetamol
Ácido Fólico
Polivitamínicos
Cefalexina
Amoxicilina
Dimenidrato
Hioscina
Dipirona
Medicamentos
Nº Medicamentos
Caso
Controle
92
GRÁFICO 8: Distribuição de gestantes de acordo com o número de
medicamentos consumidos. Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
% de Pacientes
1 2 3 4 ou +
Nº Medicamentos
GRÁFICO 9: Distribuição de pacientes de acordo com o número de
medicamentos consumidos durante a gestação divididos nos grupos caso e
controle. Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
% Gestantes
1 2 3 4 ou +
Nº Medicamentos
Caso
Controle
No total de exposições durante a gestação, os principais grupos
farmacológicos consumidos, pela classificação ATC, foram: sangue e órgãos
hematopoiéticos (40,66%), sistema nervoso central (19,69%), trato alimentar e
93
metabolismo (16,62%) e antiinfecciosos gerais para uso sistêmico (9,08%). A
TABELA 14 apresenta uma comparação entre os principais grupos
farmacológicos encontrados no presente estudo e em dois trabalhos publicados
sobre uso de medicamentos durante a gestação.
TABELA 14: Comparação de freqüências de consumo dos principais grupos
farmacológicos entre o presente estudo e dois estudos brasileiros.
1º Classificação ATC
Presente
Estudo
Mengue et al,
2001
Osório-de-
Castro
et al, 2004
Sangue e órgãos hematopoiéticos 40,6% 32% 29,3%
Sistema nervoso central 19,7% 15% 9,4%
TGI e metabolismo 16,6% 23% 44,6%
Antiinfecciosos de uso sistêmico 9,0% 6,9% 5,2%
NOTAS: TGI: Trato gastrointestinal.
5.2.5.3. Exposição ao Fumo
O tabagismo, interpretado no presente estudo como o consumo de pelo
menos um cigarro por dia durante a gestação, foi presente em 44 pacientes pelo
menos durante um trimestre gestacional (17,5% da amostra total), e destas, 27
(61,4%) passaram toda a gestação fumando. Houve um registro maior de
consumo de tabaco no grupo controle; 67% das fumantes em relação ao grupo
caso (p=0,0171). O GRÁFICO 10 apresenta as usuárias de tabaco classificadas
pela quantidade diária consumida e divididas entre os grupos caso e controle.
Para analisar a influência que o reconhecimento da gestação exerceu
sobre a perda do hábito, foi investigado o consumo antes da gravidez.
Aproximadamente 5% (n=11) da amostra total afirmou ter sido fumante antes da
gestação, tendo abandonado o hábito quando reconhecida a gravidez.
94
GRÁFICO 10: Número de gestantes expostas ao fumo categorizadas pela
quantidade diária consumida. Fortaleza-CE, julho e novembro de 2005.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Nº Gestantes
1 2 a 9 10 a 19 20 ou +
Qdade Consumida
Caso
Controle
5.2.5.4. Exposição ao Álcool
A exposição ao álcool, considerado como a ingesta pelo menos uma vez
por semana, foi encontrada na amostra avaliada em 24 gestantes (9,52%) por
pelo menos durante um trimestre gestacional, e destas, somente 8 (33%)
consumiram álcool habitualmente durante toda a gestação, não havendo
diferenças estatísticas entre os grupos caso e controle.
O GRÁFICO 11 apresenta o percentual de gestantes que utilizaram álcool
com freqüência durante a gestação, categorizadas por trimestre gestacional e
distribuídas nos grupos caso e controle.
Para analisar a influência que o reconhecimento da gestação exerceu
sobre a perda do hábito, foi investigado o consumo antes da gravidez. Das 252
puérperas entrevistadas, 11 (4,36%) confirmaram que consumiam álcool pelo
menos uma vez por semana e abandonaram totalmente o hábito quando
reconheceram a gravidez.
95
GRÁFICO 11: Distribuição de gestantes quanto ao hábito de consumo de
álcool segundo o trimestre gestacional, divididas em grupos caso e
controle. Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
% Gestantes
1° Trim 2° Trim 3° Trim
Trimestre de Gestação
Caso
Controle
5.2.5.5. Exposição a Drogas Ilícitas
Somente três gestantes (1,2% da amostra total), um caso e dois controles,
declararam ter utilizado drogas ilícitas durante a gestação. A gestante do grupo
caso referiu ter consumido crack e maconha no primeiro trimestre, mas quando
soube da gravidez, interrompeu apenas o crack, e permaneceu com o consumo
diário de maconha. Um dos controles referiu ter consumido crack durante todo o
primeiro trimestre, mas interrompeu quando soube da gravidez e o outro controle
utilizou crack e maconha durante todo o período gestacional.
Nenhuma das gestantes que reportou consumo de drogas ilícitas relatou
tentativa de aborto ou utilização de misoprostol durante a gravidez. O RN do caso
exposto às drogas ilícitas mencionadas desenvolveu gastrosquise, uma MF maior
da parede abdominal. A mãe também referiu consumo de tabaco diariamente
(cerca de 40 cigarros no primeiro trimestre, reduzindo para 5 quando reconheceu
a gravidez) e consumo freqüente de álcool.
96
5.3. CARACTERIZAÇÃO DOS GRUPOS QUANTO À TENTATIVA DE ABORTO
5.3.1. ATITUDES FRENTE À GESTAÇÃO
As mães participantes do estudo foram indagadas se a gravidez em
questão havia sido planejada e desejada. Cerca de 36% (n=90) da amostra
afirmou ter planejado a gravidez, ou seja, evitou o uso de métodos
anticoncepcionais com o objetivo de engravidar.
A FIGURA 3 representa o número de gestantes que tiveram a gestação
planejada e/ou desejada, e o GRÁFICO 12 indica a distribuição de gestantes por
grupo caso e controle.
FIGURA 3: Distribuição de gestantes quanto ao planejamento e aceitação da
gravidez, Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Apesar de somente um terço das gestações terem sido planejadas, o
sentimento em relação à gestação foi positivo em 171 puérperas (67,9% do total),
não havendo diferença estatisticamente significativa entre os grupos caso e
controle em ambas as variáveis (p=0,693 e p=0,590 respectivamente).
6
84 87
Gravidez
Planejada
Gravidez
Desejada
n=252
97
GRÁFICO 12: Distribuição de gestantes conforme planejamento e aceitação
da gestação por grupo caso e controle. Fortaleza-CE, julho a novembro de
2005.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Nº Gestantes
Planejou Desejou
Atitude
Caso
Controle
5.3.2. QUANTO À UTILIZAÇÃO DE ABORTIVOS
Como tentativa de suavizar a introdução na temática delicada do aborto, as
puérperas foram inicialmente questionada sobre o uso de algum tipo de
medicamento com a finalidade de induzir a menstruação. Sobre a amostra total,
13,1% (n=33) afirmou ter utilizado pelo menos um tipo de medicamento,
distribuídos em 19 casos e 14 controles, não havendo diferença estatística entre
os grupos (p=0,455).
O uso de algum método abortivo durante a gestação foi declarado por 17
pacientes de uma amostra de 250 mulheres (6,8%), visto que um caso e um
controle não responderam à pergunta. Destas, 10 foram no grupo caso e 7 no
grupo controle (p=0,615).
O GRÁFICO 13 apresenta o número de mães que reportaram não ter
planejado, não ter desejado, ter utilizado algum medicamento com o objetivo de
induzir menstruação e ter tentado aborto, categorizados segundo grupo caso ou
controle. Podemos analisar a relação entre as perguntas sobre gravidez
planejada, desejada, indução de menstruação e tentativa de aborto. Dez casos e
98
oito controles mencionaram ter tomado algo para induzir menstruação, mas não
declararam ter utilizado algum tipo de método abortivo. Entre as demais pacientes
que referiram tentativa de aborto, mas não utilizaram misoprostol, seis
consumiram chás diversos (cabacinha, boa-noite, malva-santa) e duas utilizaram
medicamentos (Regulador Xavier
®
e Elixir Paregórico
®
).
GRÁFICO 13: Relação entre as respostas negativas sobre planejamento e
desejo da gravidez e positivas quanto à indução de menstruação e tentativa
de aborto em amostra de puérperas. Fortaleza-CE, julho a novembro de
2005.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Mães
Aborto
Menstruação
Desejo
Planejamento
Controle
Caso
5.3.2.1. Uso de Misoprostol
O uso de misoprostol (Cytotec
®
) durante a gestação com finalidade
abortiva entre a amostra estudada foi reportado por 9 puérperas (3,6% da
amostra total), sendo 7/126 casos (5,6%) e 2/126 controles (1,6%) com uma
razão de chances (odds ratio) de 3,65, intervalo de confiança IC
95%
[0,74;17,91].
Dessa forma, embora sem diferença estatisticamente significativa entre os grupos
quanto à utilização do misoprostol, os achados deste trabalham sugerem que
99
quando utilização pré-natal do misoprostol, ocorre um aumento no risco do RN
apresentar MFs.
Quanto ao período gestacional, quatro casos utilizaram o misoprostol no
primeiro trimestre, três no segundo trimestre, e ambos os controles no segundo
semestre. Somente três casos referiram usar outro método abortivo associado ao
misoprostol (dois usaram chá de quina-quina, e um usou um chá que não soube
mencionar o nome).
Quanto à dose, observa-se a distribuição de gestantes em relação à
variação da dose total entre os grupos caso e controle no GRÁFICO 14. A
mediana da dose total de misoprostol administrada foi de 800mcg. No GRÁFICO
15, observa-se a distribuição das doses por via de administração.
GRÁFICO 14: Dose total de misoprostol administrada em relação aos grupos
caso e controle (n=9). Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
0
1
2
3
4
5
6
400 800 2000
Dose Total (mcg)
Nº Gestantes
Caso
Controle
Sobre possíveis reações adversas que pudessem ser atribuíveis ao
misoprostol, do total de 9 gestantes expostas, somente 1 controle mencionou não
ter tido qualquer tipo de reação. A reação adversa mais comumente relacionada
ao misoprostol foi a presença de sangramento vaginal (46%), seguida de cólica
100
abdominal, useas e diarréia. Todas as reações adversas mencionadas tiveram
sua freqüência distribuída no GRÁFICO 16.
GRÁFICO 15: Distribuição da dose de misoprostol administrada em relação
à via de administração (n=9). Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
0
1
2
3
4
5
6
7
200 400 600 800 1200
Dose (mcg)
Nº Gestantes
Oral
Vaginal
GRÁFICO 16: Reações adversas associadas ao uso de misoprostol (n=8).
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
18%
9%
46%
27%
Náusea
Diarréia
Sangramento
Vaginal
Cólica
Abdominal
5.3.2.2. Caracterização de Mulheres que se Expuseram ao Misoprostol na
Gestação
A TABELA 15 apresenta as principais características e perfil
epidemiológico das mães que relataram uso do misoprostol como abortivo.
TABELA 15: Perfil sociodemográfico e epidemiológico de mães que tentaram aborto com misoprostol em amostra de
Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
RN MF Idade Escolaridade Ocupação
Estado Civil
(TU)
Nº Filhos
(incluindo
RN)
Abortos
Anteriores
Sinais e Sintomas Doenças
1 N 44 Analfabeta Do Lar União Estável
(27 anos)
4 0
2 N 26 Fundamental
Incompleto
Profissional Não
Qualificado
Solteira 6 2 Cólica*
3 S 23 Fundamental
Completo
Profissional Não
Qualificado
Solteira 2 0 Náusea*, Diarréia*, STV* ITU
4 S 22 Médio Completo Profissional Não
Qualificado
Solteira 1 0 Náusea, Vômito, Cefaléia, Dor no
hipogástrio, Tontura, STV*
Virose
5 S 27 Médio Completo Profissional Não
Qualificado
União Estável
(15 anos)
2 1 Oligoidrâmnio, STV* Depressão
6 S 30 Fundamental
Completo
Do Lar União Estável
(10 anos)
4 1 Cefaléia, Cólica*, STV*
7 S 19 Médio Incompleto Do Lar União Estável
(2 meses)
1 0 Cefaléia, Náusea, STV*
8 S 23 Médio Completo Empregada Solteira 2 0 Náusea, Vômito, STV* ITU
9 S 18 Médio Incompleto Do Lar União Estável
(5 anos)
1 0 Náusea, Cólica*
NOTAS: RN: Recém-nascido; MF: Malformado; N: Não; S: Sim; TU: Tempo de União; †: Induzidos ou espontâneos; *: Associados ao misoprostol; STV:
Sangramento Transvaginal; ITU: Infecção do Trato Urinário
102
103
5.4. ANÁLISE RELATIVA ÀS MALFORMAÇÕES FETAIS
5.4.1. ESPECTRO DE MALFORMAÇÕES
As malformações detectadas na amostra de 126 RNs classificados como
casos foram ordenadas por sistema ou órgão acometido e por gravidade. No total,
foram diagnosticadas 136 MFs, totalizando uma média de 1,07 malformações/RN.
O sistema mais freqüentemente afetado foi o sistema nervoso, responsável
por 27,2% (n=37) de todas as MFs diagnosticadas. Nele estão compreendidas
principalmente hidrocefalia (54%) e anencefalia (16,2%). Na amostra também foi
encontrado um elevado percentual de polimalformados (19,1%, n=26), segundo
classificação do ECLAMC, pela presença de duas ou mais anomalias maiores. A
TABELA 16 apresenta as freqüências de MFs por sistemas ou órgão acometidos.
TABELA 16: Freqüência de sistemas ou órgãos afetados em amostras de
recém-nascidos malformados em Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
Sistema ou Órgão Afetado Diagn
Freq
Boca 6 4,4%
Cardiovascular 11 8,1%
Digestivo/Abdômen 12 8,8%
Genitourinário 14 10,3%
Músculo esquelético 26 19,1%
Olhos 2 1,5%
Polimalformados 26 19,1%
Respiratório 2 1,5%
Sistema Nervoso 37 27,2%
Total 136 100,0%
NOTAS – Nº Diagn: Número de diagnósticos; Freq: Freqüência.
104
Quanto à gravidade, os defeitos congênitos foram classificados como
anomalias menores, anomalias maiores e malformações múltiplas, seguindo
também classificação do ECLAMC. O critério para classificação como MFs
múltiplas é a presença de três ou mais anomalias maiores não relacionadas, com
ou sem diagnóstico sindrômico. A freqüência das MFs encontradas considerando
o critério da gravidade está disposta no GRÁFICO 17.
GRÁFICO 17: Freqüência de malformações pelo critério de gravidade em
amostra de Fortaleza-CE, julho a novembro de 2005.
14%
(n=19)
4%
(n=6)
82%
(n=111)
Anomalias Menores
Anomalias Maiores
Malformões
Múltiplas
5.4.2. DIAGNÓSTICO DAS MALFORMAÇÕES
Foram levantadas as evidências consideradas para diagnóstico da MF no
RN. Para os 136 diagnósticos de MFs, foram consideradas 144 tipos de
evidências com a seguinte distribuição: US pré-natal (47,9%), clínica (43,1%),
radiológica (4,9%), ecocardiografia (2,8%) e US pós-natal (1,4%).
Mais da metade dos malformados tiveram diagnóstico pré-natal (54,8%,
n=69) e 34,9% (n=44) foram diagnosticados no primeiro dia de nascimento.
Apenas 10,3% (n=13) tiveram diagnóstico tardio: a partir do segundo dia de
105
nascimento, porém dentro do mesmo intervalo de tempo da internação
conseqüente ao nascimento.
5.5. RNS EXPOSTOS AO MISOPROSTOL
Em relação aos malformados expostos ao misoprostol, a TABELA 17
apresenta o sexo, o trimestre gestacional da exposição, a dose, as MFs
diagnosticadas e outros possíveis fatores de risco para deformidades dos RNs
expostos ao misoprostol durante a gestação.
TABELA 17: Perfil de malformações encontradas em RNs expostos ao
misoprostol durante a gestação. Fortaleza, julho a novembro de 2005.
RN Sexo
TGE
Dose (mcg)
RAM
Descrição das Malformações Possíveis FR
Oral Vag
3 M 1º 400 400 1,2,3
Agenesia de quadril,
equinovaro, imperfuração anal,
ausência de testículos no bolso
escrotal, fácies sindrômicas
Antimicrobiano (SI)
4 F 400 400 3 equinovaro bilateral, luxação
de joelho bilateral, luxação de
quadril bilateral
Não
5 M 2º 400 400 3 Higroma cístico Antidepressivo (SI)
Oligoidrâmnio
6 F 200 200 1,3,4
Hidrocefalia, mielomeningocele,
equinovaro bilateral, luxação
de quadril
Não
7 M 2º 600 200 3 equinovaro, sindactilia do 1º e
dedos da mão direita com
ausência de falanges distais,
sindactilia do 4º e dedos da
mão esquerda com ausência de
falanges distais
Consangüinidade
parental (tio e
sobrinha)
8 M 1º 400 400 3 equinovaro bilateral,
hidrocefalia
Não
9 M 1º 800 1200 4 Polidactilia no dedo da mão
esquerda
Álcool ocasional
NOTAS: M: Masculino; F: Feminino; TGE: Trimestre gestacional de exposição; Vag: vaginal; RAM:
Reação atribuível ao misoprostol; 1: Náuseas, 2: Diarréia; 3: Sangramento; 4: Cólica; FR: Fatores
de risco; SI: Sem identificação
106
O primeiro caso detectado apresentou múltiplas malformações com fácies
sindrômicas, mas não havia o registro na ficha do paciente com diagnóstico de
síndrome, provavelmente atribuível à escassez de profissionais em Fortaleza
capacitados para executar um diagnóstico seguro de doenças congênitas, como
geneticistas.
107
Discussão
108
6. DISCUSSÃO
6.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A AMOSTRA
6.1.1. REPRESENTATIVIDADE DA AMOSTRA
De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará – SESA
(2006), foram registrados no ano de 2005, em atendimento do SUS, 40.795
nascidos vivos na cidade de Fortaleza CE. Destes, somente 211 tiveram
registro oficial de algum tipo de anomalia congênita. Apesar da amostra do
presente trabalho compreender somente 17,1% do total de partos realizados no
serviço blico na cidade de Fortaleza CE, a amostra de RNs malformados,
excluindo os natimortos, foi de aproximadamente 56% do total registrado
oficialmente em 2005, com apenas 5 meses de coleta.
A estimativa de presença de malformações congênitas na população de um
modo geral ocorre numa faixa de 3 a 5% dos nascimentos (KALTER &
WARKANY, 1983; OPAS, 1984). A expectativa, portanto, de RNs malformados
em Fortaleza para o ano de 2005, com base nesses estudos, seria de 1.224 a
2.040 RNs.
Esses dados são conflitantes, e trazem questionamentos sobre o registro
oficial das MFs congênitas. A subnotificação de doenças congênitas é um
problema conhecido no Brasil, ocorrendo em até 60,7% dos casos, mesmo após a
implementação do campo 34 na declaração de nascimento, que dispõe de um
campo para a informação de presença de MFs e para descrição e classificação da
anomalia segundo o CID-10 (CUNHA et al, 2002).
Em relação aos hospitais do estudo, três dos quatro hospitais participantes
da pesquisa (MEAC, HGCC e HGF) são hospitais de referência para resolução de
partos com diagnóstico pré-natal de MFs. Houve um decréscimo nos casos
notificados pela MEAC a partir de setembro de 2005, provavelmente motivado
pelo reduzido quadro de funcionários no período e pelo encaminhamento da
maioria dos partos com diagnóstico pré-natal de defeitos congênitos para o
HGCC, em decorrência de uma greve na instituição.
109
6.1.2. PERFIL SOCIOECONÔMICO
Quanto ao perfil socioeconômico das mães, alguns achados são similares
a resultados encontrados em outros estudos com população alvo relativamente
semelhante. Brilhante e Santana (2005) analisaram os fatores de risco
relacionados a RNs com baixo peso ao nascer em Fortaleza, utilizando como
população alvo puérperas do HGCC. Cerca de 66% das mulheres incluídas no
estudo são do lar e 45,1% são procedentes do interior do Estado. No presente
estudo, foi encontrado um percentual de 61,9% de mulheres do lar e 57,6%
procedentes do interior.
Em relação ao nível de escolaridade, os resultados diferiram um pouco:
53,1% com no nimo o ensino médio completo, contrastando com 28,2% de
nossa amostra. É possível que o nível de escolaridade inferior encontrado na
pesquisa seja explicado pela heterogeneidade da amostra em relação ao estudo
de Brilhante & Santana (2005), realizado em apenas um hospital de Fortaleza-CE.
Do total de 71 mulheres que completaram o ensino médio em nossa amostra,
58% (n=41) eram do HGCC, demonstrando o nível elevado de escolaridade da
clientela deste hospital.
O tipo de união consensual vai de encontro com os achados da maioria dos
estudos na população brasileira. No estudo de Brilhante & Santana (2005), 47,5%
das entrevistadas o mantinham relação estável, em comparação a 20%
encontrados em nossa amostra. Nos registros oficiais da SESA (2006), 62,6% dos
RNs vivos de Fortaleza CE no ano de 2005 eram de es solteiras. Segundo
Olinto & Galvão (1999), em estudo sobre mulheres em idade reprodutiva em
Pelotas – RS, 35% delas eram solteiras.
Uma possível explicação para a diferença na taxa de união consensual é o
pequeno percentual de adolescentes na amostra estudada. Vários trabalhos
demonstram um elevado percentual de mães adolescentes ou gravidez na
adolescência, com variação de 16,6% a 32,6%, face aos 13,9% do presente
estudo (FONSECA et al, 1996; OLINTO & GALVÃO, 1999; YAZLLE et al, 2002;
BRILHANTE & SANTANA, 2005; SESA, 2006). Um tempo de união inferior a um
ano também foi pouco registrado na amostra: somente 4,4%. Esse dado
110
demonstra a estabilidade das relações consensuais entre a maioria dos casais
avaliados.
Não foram encontrados na literatura estudos semelhantes que tratassem
do perfil socioeconômico dos pais de RNs para uma efetiva comparação.
Os fatores de análise socioeconômica não parecem estar associados com
a presença de MFs congênitas, visto que não houve diferenças significativas entre
os grupos. No entanto, são dados necessários para um reconhecimento da
população envolvida com desfechos negativos, permitindo um possível
planejamento de estratégias de prevenção e diagnóstico precoce, podendo
minimizar morbi-mortalidades e custos associados.
6.1.3. CARACTERÍSTICAS DOS RNS
Do total de RNs estudados, 27% eram de baixo peso, comparados com
somente 9,85% dos dados da SESA (2006) e demais estudos sobre o tema, que
apresentam uma variação de 8,5% a 12% em países em desenvolvimento, como
o Brasil (LIMA et al, 1998). É provável que esse desvio seja pela ocorrência maior
de malformados em nossa amostra em relação aos outros estudos, influenciando
também os achados de adequação peso x IG. Entretanto, ao analisar somente os
controles, foi encontrada uma incidência de 16,7% de RNs de baixo peso, ainda
alta quando comparada com o descrito na literatura.
Outros achados influenciados pela amostra de RNs malformados foi o
status ao nascimento e status de alta hospitalar. Comparados aos dados da
SESA (2006), com freqüência de 1,35% de natimortos em relação aos nativivos e
4,9% de malformados entre os natimortos, a amostra coletada também
apresentou divergências: 4% de natimortos em relação aos nativivos e 90% de
malformados entre os natimortos.
Horovitz et al (2005) apud Paskulin (1989) cita que o tempo de internação
dos pacientes malformados é o dobro dos pacientes usados como controle. Existe
uma maior expectativa que o RN malformado tenha maior tempo de
hospitalização e portanto, seja ultrapassado pelo número de RNs normais que
recebem alta. No presente trabalho, entretanto, é possível que os resultados
111
tenham se apresentado semelhantes entre os grupos porque o tempo de
deslocamento até o hospital era induzido as a detecção do RN malformado, e
em cumprimento do método, o controle coletado era nascido posteriormente ao
malformado, portanto, tinha menos tempo de vida e menos tempo de internação
que o caso, não sendo tempo ainda de receber alta hospitalar.
Entretanto, em relação à mortalidade perinatal, houve diferença
estatisticamente significativa entre o grupo caso e controle (p=0,0001), tendo o
grupo caso apresentado uma mortalidade 11 vezes superior ao grupo controle no
período neonatal. Horovitz apud Paskulin (1989) observou que a mortalidade
entre os pacientes malformados é cinco vezes superior ao RN sem defeitos
congênitos, e Brunoni (1997) encontrou uma taxa quatro vezes maior entre os
malformados.
Todas as características supracitadas relativas à morbi-mortalidade do
neonato foram superestimadas em relação à literatura. Uma possível hipótese
seria a seleção de RNs mais complicados na amostra do presente estudo, pela
maioria dos hospitais do estudo serem hospitais de referência para gestações de
alto risco e procedimentos de alta complexidade. Da mesma forma, 87,1% dos
RNs da cidade de Fortaleza, conforme a SESA (2006), nasceram com IG
compreendida entre 37 e 42 semanas, em comparação a somente 65,5% de
nossa amostra.
Quanto ao sexo, os resultados foram similares aos registrados na SESA
(2006) com uma pequena diferença a mais para o sexo masculino, sem diferença
estatística entre os grupos. Alguns estudos indicam que as MFs ocorrem com
freqüência significativamente maior entre os RNs de sexo masculino (BARROS,
1994).
O tipo de parto que predominou foi cesariana em 61,1% dos neonatos,
cerca de 10% a mais que os 51% relatados pela SESA (2006) e 20% a mais que
o encontrado por Brilhante & Santana (2005) de 43,4%. Entre os grupos caso e
controle não houve diferença quanto ao tipo de parto. Descrito na literatura, os
caso de MF em que indicação absoluta para parto abdominal são espinha
112
bífida e hidrocefalia; entretanto, a maioria das indicações é relativa, dependendo
da habilidade e do julgamento do obstetra (DWINNEL & GOTTESFELD, 2000).
A incidência de gemelaridade na amostra foi de 1,2% do total de puérperas
entrevistadas, inferior ao referido pela SESA (2006), da ordem de 2,18%. A
gestação gemelar é duas vezes mais propensa a MFs congênitas que a gestação
única. Na amostra estudada, somente três casos de gemelaridade encontrados,
duas no grupo controle, não permitiu uma avaliação estatística confiável.
6.1.4. PRINCIPAIS FATORES DE RISCO
6.1.4.1. Idade dos Pais
Do ponto de vista biológico, a fase mais oportuna para a concepção está
mais ou menos eqüidistante dos extremos que limitam o período reprodutivo
feminino (menarca e menopausa). É descrito que ocorre uma maior incidência de
RNs com ambigüidade genital, gastrosquise e aquelas provenientes de
disrupções vasculares entre mães adolescentes, e crianças com anomalias
cromossômicas entre mães com idade superior a 35 anos. Entre elas, a Síndrome
de Down é a mais descrita em humanos, e esfortemente associada com idade
materna avançada (MORON, 1987; TROVISCAL & LEITE, 2001).
Na presente análise, entre as mães adolescentes, não houve casos de
malformados intersexo. Entre os 25 filhos de mães com idade superior a 35 anos,
somente dois tinham diagnóstico de Down, numa incidência de 8%. Dos 126
casos coletados em nossa amostra, seis tiveram diagnóstico de Síndrome de
Down (4,7%).
A forte correlação que existe entre a idade paterna e materna dificulta
maiores conclusões acerca do real risco que a idade paterna possa causar na
indução de MFs congênitas. Zhu et al (2005) realizaram uma coorte com 71.937
casais durante 16 anos e não descobriram associação entre idade paterna e a
prevalência geral de malformados na amostra. No entanto, foi verificada uma forte
associação entre idade paterna e MFs de extremidades e síndromes de múltiplos
sistemas, como síndrome de Down. A ocorrência dessas MFs aumentou de 30 a
40% quando comparados pais com idade igual ou superior a 40 anos de idade
113
com pais mais jovens (20 a 29 anos). Haug-Wilkins (2000) discorre que as
anomalias congênitas mais comuns em idade paterna avançada são associadas a
mutações dominantes autossômicas (acondroplasia, neurofibromatose).
Não houve diferença estatística entre os grupos relacionados à idade
materna e paterna. Somente um dos casos expostos ao misoprostol tinha pai com
idade superior a 40 anos (41 anos).
6.1.4.2. Consangüinidade Parental
Os casamentos consangüíneos acarretam um aumento nas enfermidades
recessivas e multifatoriais em torno de 7%. Fortemente ligados à etnicidade e à
religiosidade, têm seu extremo nos relacionamentos incestuosos (entre parentes
de primeiro e segundo grau) e que portam um elevadíssimo risco para o
nascimento de crianças portadoras de enfermidades genéticas (TROVISCAL &
LEITE, 2001).
Não foi encontrada na literatura uma incidência de consangüinidade entre
casais no Ceará. Um estudo realizado em Campinas (SP) identificou uma
incidência considerada elevada pelos autores, de 3,06% dos neonatos de um
centro especializado de atenção à saúde da mulher. Destes, 35% eram
provenientes da região Nordeste (MORENO & CAVALCANTI, 2003). No presente
estudo, foi identificada uma incidência de 8,4% de consangüinidade parental na
amostra total, sem diferença estatisticamente significativa entre os grupos caso
controle.
6.1.4.3. História Familiar
Cerca de 40 a 65% das anomalias congênitas responde a uma causa
multifatorial, com risco de ocorrência na irmandade de 4% (SHEPARD, 1986). De
maneira geral, o genitor com um determinado caráter multifatorial corre um risco
de 2 a 3% de ter sua prole afetada, com chance de recorrência de 2 a 3% para
um segundo filho afetado e de 4 a 6% para o terceiro filho afetado. Os irmãos dele
que não forem afetados correm um risco de 1 a 2% de ter uma prole afetada
(HAUG-WILKINS, 2000). No entanto, o risco varia de acordo com cada doença.
114
Não houve diferença estatística entre os grupos caso e controle em relação
à presença de MFs na família. A incidência encontrada na amostra total foi de
16,7%. Entre os pacientes malformados expostos ao misoprostol, nenhum
apresentou história familiar de defeitos congênitos.
6.1.4.4. Apresentação ao Nascer
Quanto à apresentação ao nascer, caso e controle tiveram freqüências
semelhantes em apresentação cefálica. A apresentação pélvica ocorre quando o
feto, disposto longitudinalmente dentro do útero, está com o pólo pélvico situado
na área do estreito superior. Alguns estudos apresentam incidência que varia de 3
a 7% das gestações a termo (WESTER, 2000; MADI et al, 2004).
O índice de MFs é maior entre as apresentações pélvicas (varia de 6 a
18%), e contribui significativamente para o índice de mortalidade e de morbidade
da apresentação pélvica, quer ocorra por parto via vaginal ou por via abdominal
(WESTER, 2000). Na presente pesquisa, o número de partos em apresentação
pélvica correspondeu a 13,8% do total de partos, sendo 71% no grupo de
malformados (p=0,037).
6.1.5. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL
O índice de Kotelchuck classifica qualitativamente o pré-natal, relacionando
o número de consultas e o período gestacional de início do pré-natal. Modificado
para adaptação à realidade brasileira, Leal et al (2004) incluiu a possibilidade da
não realização do pré-natal.
A assistência pré-natal, preconizada desde 1983 pelo MS, através do
Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), é considerada
adequada numa gestação a termo, que se inicie o acompanhamento no primeiro
trimestre gestacional e que sejam feitas de seis ou mais consultas, realizar uma
ultra-sonografia obstétrica no trimestre e exames complementares para
detectar doenças sexualmente transmissíveis e anemia (MS, 2006).
Os resultados do presente estudo foram classificados pelo índice de
Kotelchuck modificado, considerando o número de seis consultas, preconizadas
pelo MS (2006). Em comparação com os resultados de Leal et al (2004), os
115
achados surpreendem pelo acesso da população estudada aos serviços de saúde
para realização do pré-natal. Somente 1,7% de nossa amostra não fez pré-natal,
comparados a 3,9% da amostra do Rio de Janeiro. Cerca de 70% de nossa
amostra realizou pré-natal no mínimo adequado, comparados a 38,6% do Rio de
Janeiro, não havendo diferença estatística entre os grupos caso e controle
(p=0,902).
Em contrapartida, o número de gestantes que realizou pré-natal mais que
adequado foi relativamente alto (32,9%), mesmo quando isolado somente o grupo
controle. Esses dados podem ser explicados por uma suposta complexidade nos
RNs do estudo ou pelo fácil acesso ao serviço de saúde, porém, podem sugerir
um excedente desnecessário no número de consultas, que não implica
necessariamente em aumento da qualidade da assistência pré-natal e ocasiona
uma sobrecarga nos serviços, que poderiam atender a uma demanda reprimida.
Sobre a amostra total, quase 25% realizou pré-natal no próprio hospital de
nascimento da criança. Isso sugere uma taxa de gestações de risco, visto que os
pré-natais realizados nos hospitais de referência, na grande maioria, ocorrem
quando do diagnóstico de MFs congênitas ou fatores que predispõe à
complicação do parto.
A ultra-sonografia para rastreio de defeitos congênitos está sendo cada vez
mais utilizada no atendimento pré-natal de rotina. Contudo, alguns autores
sugerem que a US pré-natal de rotina não é efetiva em populações de baixo risco
na detecção de doenças congênitas, e os principais argumentos são a falha dos
ensaios clínicos randomizados em demonstrar benefício claro, os efeitos
deletérios dos diagnósticos falso-positivos ou falso-negativos e a falta de pessoal
adequadamente treinado para realizar os procedimentos e o custo (NORTON &
ZELOP, 2000; GIUGLIANI & SANSEVERINO, 2001).
Ainda assim, é um importante método de diagnóstico porque trata-se de
um exame não invasivo e sem riscos para a gestação e quando detalhado e
realizado por profissional experiente, é capaz de identificar 70 a 80% dos defeitos
maiores (GIUGLIANI & SANSEVERINO, 2001). Na realidade deste estudo, 67,9%
das puérperas entrevistadas realizaram de uma a três US durante a gestação, e o
116
grupo caso teve uma freqüência significativamente maior de realização de mais
de três US durante a gravidez em comparação com o grupo controle, o que era
esperado diante da natureza dos pacientes do grupo caso.
6.1.5.1. Vacinas
Uma das ações estratégicas do PAISM é a cobertura vacinal antitetânica
de todas as gestantes cadastradas no programa. O tétano neonatal é uma
complicação muito comum em partos sem higiene ideal nos países em
desenvolvimento, portanto, a imunização de gestantes é considerada uma
importante medida de saúde pública. Os estudos disponíveis não permitem
avaliar um aumento no risco fetal ao administrar-se o toxóide tetânico na mãe
(COSTA & CASTRO, 2001; MS, 2006). Na presente análise, 87,7% das gestantes
receberam a vacina antitetânica.
um consenso de que a gestação é uma contra-indicação à
administração de todas as vacinas de vírus vivo, pelo risco teórico de infecção do
feto, exceto quando a suscetibilidade e a exposição são altamente prováveis e a
doença a ser evitada constitui uma ameaça maior para a mulher ou para o feto. O
BCG e a vacina contra rubéola estão entre as vacinas de uso desaconselhado
pela Academia Americana de Ginecologia e Obstetrícia (COSTA & CASTRO,
2001). Este estudo detectou um percentual de 2% (5/252) de gestantes expostas
a tais vacinas, embora não faça parte do objetivo deste estudo avaliar a situação
as quais foram prescritas.
6.1.6. SINAIS E SINTOMAS
Segundo McFee (2001), os sinais e sintomas da gestante que podem
representar perigo à gestação são principalmente: cólica abdominal ou pélvica,
sangramento vaginal, cefaléia severa, vômitos persistentes e febre. Destes, em
cumprimento aos objetivos do trabalho, discutiremos somente os relacionados a
MFs congênitas.
A febre é bem documentada em experimentos animais como causador de
MFs, sendo mais freqüentemente reportado os defeitos de tubo neural. Em
humanos, alguns estudos são conflitantes, porém Moretti et al (2005) em meta-
117
análise realizada envolvendo 15 estudos, com 1.719 casos e 37.898 controles,
concluíram que a hipertermia materna, no início da gestação, está associada com
aumento do risco para defeitos de tubo neural e pode ser considerado um
teratógeno humano.
No presente estudo, a ocorrência de febre no início da gestação (
trimestre) entre as participantes foi pequena, somente 4 casos e 5 controles, e
nenhum destes teve história de exposição ao misoprostol.
É documentada a influência do sangramento vaginal nos resultados
perinatais desfavoráveis do RN, como nascimento prematuro, baixo peso,
restrição de crescimento uterino (RCIU) e sofrimento fetal (BRILHANTE &
SANTANA, 2005). Cerca de 20% das mulheres apresentam sangramento durante
o primeiro trimestre da gravidez (ABBOTT & MELLUM, 2000).
Na amostra, somente 10% do total relatou sangramento no primeiro
trimestre gestacional, com maior freqüência no grupo caso em relação ao grupo
controle, sem diferença estatística (p=0,206). Entre as pacientes usuárias de
misoprostol, todas associaram o episódio inicial de sangramento à utilização do
abortivo, embora duas tenham referido outros episódios de sangramento até o
final da gestação.
Outro importante sinal para o estudo de MFs são aqueles relacionados às
alterações de volume amniótico. Bastos et al (2003) realizaram um estudo sobre
as repercussões do oligoidrâmnio detectado até a 26ª semana gestacional, sem
ruptura prematura das membranas, e encontraram uma freqüência de 48% de
malformados na amostra, principalmente MFs do trato urinário. O mesmo estudo
revisa a literatura que apresenta uma taxa de variação de 4,5 a 37% de anomalias
em caso de oligoidrâmnio.
No presente estudo, 3,5% da amostra total tiveram diagnóstico de
oligoidrâmnio, sendo 7/126 no grupo caso e 2/126 no grupo controle, sem
diferença estatisticamente significativa. Dos pacientes que se expuseram ao
misoprostol, somente o caso do higroma cístico teve diagnóstico de oligoidrâmnio.
118
6.2. EXPOSIÇÕES DURANTE A GESTÃO
6.2.1. DOENÇAS
A importância das enfermidades maternas, tanto agudas como crônicas no
estudo das causalidades das anomalias congênitas não reside somente na sua
provável teratogenicidade, mas também na indicação indireta de outros possíveis
agentes teratogênicos (BARROS, 1994).
6.2.1.1. Doenças Agudas
As doenças agudas mais comuns foram relacionadas ao trato respiratório,
especialmente quadros viróticos e ao trato urinário, como infecção.
Os quadros viróticos só se tornam importantes quando da menção de febre
alta e utilização de medicamentos. Os resultados revelaram que somente uma
mãe do grupo caso exposta ao misoprostol teve gripe durante o primeiro trimestre
gestacional, sem febre, tendo utilizado apenas paracetamol para cefaléia.
É possível que o maior índice de infecções urinárias em gestantes decorra
da alteração anatômica do sistema renal, como dilatação dos cálices e pelve
renais e diminuição do peristaltismo. Além disso, no terceiro trimestre ocorre
compressão de um ou ambos os ureteres pelo útero aumentado. A bacteriúria
assintomática ocorre com a mesma incidência que nas mulheres de vida sexual
ativa (4-7%), porém 20-40% de gestantes com bacteriúria assintomática
desenvolvem infecções sintomáticas (FREDERICKSON, 2000).
A presença de infecções do trato urinário está relacionada com maior taxa
de trabalho de parto prematuro (COX, 2000). Não foram encontrados na literatura
trabalhos que associem à presença de MFs congênitas. No presente estudo,
aproximadamente 14% da amostra total apresentou pelo menos uma vez um
quadro de ITU, sem diferença estatística entre os grupos. Dos pacientes expostos
ao misoprostol, um caso relatou um episódio de ITU no segundo trimestre, tendo
utilizado um antimicrobiano que não recordava o nome.
O aumento de doenças relacionadas à gravidez, ao parto e ao puerpério
era esperado no último trimestre gestacional, tendo ocorrido em 31,8% do total de
119
doenças agudas relatadas. Contribuíram para tal incidência o diagnóstico de pré-
eclâmpsia (PE) e diabetes gestacional (DG).
Cerca de 1 a 3% das gestantes apresentam desordens hipertensivas, das
quais 70% são pré-eclâmpsia/eclâmpsia, 25% hipertensão essencial e 5%
hipertensão gestacional (ARAÚJO et al, 2001). Para o feto, a PE está associada
com natimortalidade, RCIU, baixo peso ao nascer, parto prematuro, pequeno para
IG e síndrome do desconforto respiratório (THE MAGPIE..., 2002).
O DG acomete 3% do total de gestações. O DM aumenta a incidência de
hipertensão induzida pela gestação, polidrâmnio e mortalidade materna. Para o
feto, ocorre um aumento da morbimortalidade perinatal, relacionada aos fatores
de macrossomia, parto cesárea, trauma, doença da membrana hialina,
hipoglicemina, hipocalcemia, hiperbilirrubinemia e policitemia (ARAÚJO et al,
2001).
No presente estudo, 20 puérperas (7,9% do total) tiveram diagnóstico de
PE durante a gestação, divididas em 6 casos e 14 controles. Não se sabe explicar
a diferença encontrada entre os grupos, mas como não foi estatisticamente
significativa, pode ser atribuída meramente ao acaso. O percentual de DG
encontrado no total de puérperas foi de 1,58% (n=4), sendo um caso e três
controles. Entre os casos expostos ao misoprostol, nenhum apresentou sinais de
PE ou DG durante a gestação.
6.2.1.2. Doenças Crônicas
As necessidades de ferro e ácido fólico estão aumentadas na gestação,
podendo esta exacerbar uma deficiência assintomática prévia. Talvez por isso, a
anemia é encontrada em cerca de 50% das gestantes. A anemia ferropriva é a
mais comum, sendo responsável por 75-80% dos casos; a anemia
megaloblástica, por deficiência de vitamina B12, está relacionada a 0,02% e a
anemia por deficiência de folato a 0,5-2% (embora um terço das mulheres tenha
deficiência de ácido fólico sem resultar em anemia) (ARAÚJO et al, 2001).
A anemia ferropriva está associada com placenta prévia, hipertrofia e
deslocamento placentários, pré-eclâmpsia e hemorragia pós-parto; se severa,
120
associa-se com RCIU e natimortalidade. A deficiência de ácido fólico está
associada a um risco aumentado para defeitos de tubo neural, tanto na população
em geral, como em famílias com história prévia desta MF (ARAÚJO et al, 2001).
Somente três casos e três controles (2,38%) referiram um quadro de
anemia na gestação. Um dos casos tinha mielomeningocele, um defeito do
fechamento de tubo neural. Nenhum dos casos expostos ao misoprostol reportou
anemia.
Um dos motivos da subnotificação de anemia na amostra em relação à
literatura pode ter sido o elevado acesso ao pré-natal, que conduziu 34,5% (n=87)
das gestantes a utilizar profilaticamente sulfato ferroso ou ácido fólico.
O maior percentual de doenças crônicas na amostra foi de HAS (6% da
amostra total, n=15), 6 no grupo caso e 9 no grupo controle. Quando a medida da
pressão arterial ultrapassa 160 x 110 mmHg ou ainda na presença de outros
fatores de risco como idade materna superior a 40 anos, DM, cardiomiopatia,
doença renal e do tecido conjuntivo, os riscos para a mãe e para o feto são
preocupantes. As principais conseqüências são: abortos espontâneos, RCIU,
morte fetal, descolamento de placenta, prematuridade e maior morbimortalidade
perinatal. A HAS ainda é responsável por cerca de 20% das mortes maternas
(ARAÚJO et al, 2001).
Nove gestantes (3,5% do total) também relataram ser portadoras de
diabetes mellitus tipo I, sendo 5 no grupo caso e 4 no grupo controle. A taxa de
MFs fetais no DM tipo I é de 7,5-12,9% (aumento de 2 a 6 vezes), sendo os
defeitos cardíacos e de tubo neural os mais freqüentes, seguidos de problemas
respiratórios, anolftalmia ou microftalmia, fenda labial e/ou palatina, MFs
esqueléticas, do trato gastrointestinal e genitourinárias. Nenhum dos casos
expostos ao misoprostol portavam DM tipo I ou HAS (ARAÚJO et al, 2001).
6.2.2. FATORES FÍSICOS
Poucos foram os relatos de fatores físicos que pudessem ter algum
impacto na gestação, segundo a concepção das mães. Os principais fatores
relatados, com base em perguntas sugestionadas, foram quedas, melhor
121
classificadas na categoria de traumatismos, exposição a radiografias e choques
elétricos.
Em relação a traumatismos, está documentado que a mortalidade perinatal
associada ao pequeno traumatismo é de 0,5%, subindo para 61% no caso do
grande traumatismo, e para 80% quando o choque é parte da apresentação. No
terceiro trimestre, pequenos traumatismos ocorrem com freqüência maior do que
em qualquer outra época no decorrer da vida adulta (HAUG & WILKINS-HAUG,
2000). Em nossa amostra, não houve caso grave de traumatismo que requeresse
internação hospitalar.
O segundo fator físico de maior exposição, embora pouco relatado em
nossa amostra (2,7%, n=7), tem uma representatividade importante por ser
considerado fator de risco para MFs fetais. Os defeitos congênitos comprovados
até hoje relacionados à radioexposição foram microcefalia em embriões expostos
entre a 4ª e 17ª semanas de gestação e retardo mental naqueles expostos entre a
e 15ª semanas, sendo que a elevação da dose de exposição estaria
relacionada a um aumento na freqüência de ambos os efeitos (LEITE, 2001).
Das mães de RN malformados expostos ao misoprostol, duas revelaram ter
sofrido pelo menos uma queda durante a gestação; nenhuma se expôs a qualquer
tipo de radiação.
6.2.3. MEDICAMENTOS
A utilização de medicamentos durante a gravidez deve ser vista com
cautela e estar sujeita à criteriosa avaliação de benefício/risco, devido às
implicações sobre a higidez do feto (OSORIO-DE-CASTRO et al, 2004). Os
efeitos sobre o feto dependem do fármaco ou substância, da paciente, da época
de exposição durante a gestação, da freqüência e da dose total, redundando
potencialmente em teratogenia ou com conseqüências farmacológicas e
toxicológicas diversas (SORENSEN & DE JONG-VAN DEN BERG, 1997).
A prática da prescrição de medicamentos a gestantes é carregada de
empirismos, uma vez que o “padrão ouro” da evidência científica, que o os
ensaios clínicos controlados randomizados duplo cego, o são eticamente
122
aceitos para realização em subgrupos vulneráveis, como gestantes, antes do
lançamento comercial da droga. Mesmo assim, as dúvidas quanto aos riscos para
o concepto convivem com a necessidade prática de tratar mulheres grávidas que
apresentem doenças (OSORIO-DE-CASTRO et al, 2004).
Padecendo de outros problemas como o alto índice de automedicação
inadequada (ARRAIS et al, 1997), o Brasil dispõe de alguns estudos que avaliam
a amplitude da exposição de gestantes a medicamentos. Dados de um estudo
realizado em seis capitais brasileiras, com usuárias da atenção básica do SUS,
detectaram que 83,8% das gestantes usaram pelo menos um medicamento
durante a gestação. Classificados quanto ao risco teratogênico para a gestação,
foi possível avaliar que 40% dos medicamentos usados na gestação são feitos
sem bases definidas de segurança (MENGUE et al, 2001).
Fonseca et al (2002) realizaram um estudo em Campinas-SP, num hospital
escola, e presenciaram que 94,6% tomaram pelo menos um medicamento
durante a gravidez, sendo que 46,1% das pacientes utilizaram medicamentos no
primeiro trimestre. Outro estudo em hospital, desta vez no Rio de Janeiro,
referiram uso de algum medicamento durante a gravidez 91,3% das puérperas
entrevistadas, com média de 2,3 medicamentos por gestante (OSORIO-DE-
CASTRO et al, 2004).
O presente estudo detectou que 83,3% (n=210) das es entrevistadas
referiram usar pelo menos um medicamento durante a gestação, freqüência
similar ao estudo de Mengue et al (2001), com média de exposição por gestante
inferior ao relatado nos estudos citados. Foi detectado um total de 383
exposições, perfazendo uma média de 1,82 medicamentos por gestante. Em
relação ao número total de mulheres expostas a medicamentos, 69% (n=145)
sofreu exposição no primeiro trimestre gestacional, período mais crítico para o
desenvolvimento feto-embrionário.
Os quatro principais grupos farmacológicos utilizados pelas gestantes
coincidem com a literatura, porém, diferem entre si na proporção de casos
(TABELA 16).
123
Ocorreu uma inversão na proporção de medicamentos utilizados para
sangue e órgãos hematopoiéticos e trato gastrointestinal e metabolismo do
presente estudo comparado a Osorio-de-Castro et as (2004). É muito provável
que tenha ocorrido pela presença de pacientes de hospitais privados na amostra
de Osório-de-Castro et al (2004), que têm melhores condições financeiras de
adquirir polivitamínicos, classificados para o TGI e metabolismo, que as pacientes
de atendimento pré-natal exclusivo pelo SUS, que recebem do programa de
assistência farmacêutica somente o sulfato ferroso e/ou ácido fólico, classificados
para o sangue e órgãos hematopoiéticos. A exemplo disso, quando analisado
somente os estratos de hospitais públicos, o estudo do Rio de Janeiro presencia
de 36 a 39% de medicamentos que atuam no TGI e 35 a 37% que atuam no
sangue e órgãos hematopoiéticos.
Houve uma maior utilização também de antimicrobianos de uso sistêmico
na presente amostra, mais associada às pacientes que tiveram infecção do trato
urinário.
Em relação à classificação quanto ao risco teratogênico, o único
medicamento de uso referido categorizado como X, pela classificação FDA, foi o
misoprostol, discutido a posteriori.
6.2.4. FUMO, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
O uso de drogas durante a gestação, de maneira geral, foi pouco reportado
no presente estudo. Um possível motivo seria a subnotificação própria de estudos
de caso-controle, que incorpora o viés de memória materna ao desejo de negação
frente à higidez do filho ou à culpa de ter determinado uma condição negativa à
saúde do filho. Além disso, é possível que o elevado índice de gestações
planejadas e/ou desejadas em nossa amostra (cerca de 70%), associado a uma
adequada assistência pré-natal, também de aproximadamente 70%, tenha
realmente selecionado uma amostra pouco sujeita à utilização de drogas
recreacionais pelo maior cuidado conferido à gestação.
O tabagismo é um dos comportamentos mais prejudiciais durante a
gestação, e seus vários componentes causam dano tanto para a mãe como para
124
o feto por diferentes modos. Os riscos decorrentes da exposição ao fumo na
gravidez incluem: placenta prévia e descolamento de placenta, ruptura prematura
de membranas, hemorragias no terceiro trimestre, prematuridade, RCIU e
mortalidade perinatal (PERES & SPRITZER, 2001).
Em relação às MFs congênitas, a única que está bem definida com
aumento de risco de 1,5 a 2,7 vezes é o surgimento de fenda labial com ou sem
fenda palatina, e aumento de 1,4 a 2,8 vezes para fenda palatina isolada. Existe
também um risco teórico para MFs ocasionadas por disrupção vascular, embora
não se tenha na literatura trabalhos consistentes (PERES & SPRITZER, 2001).
Montoya (1991) realizou uma pesquisa específica para avaliar freqüência
de exposição de drogas durante a gestação, sendo que o tabagismo, considerado
como o hábito diário de fumar no mínimo um cigarro, estava presente em 39,2%
de sua amostra, e citou outros trabalhos com variação de consumo de 29 a 47,3%
do total da amostra. Em outro estudo realizado em seis capitais brasileiras, o
hábito de fumar foi relatado por 39,5% das gestantes entrevistadas (KROEFF et
al, 2004). O presente estudo identificou apenas 44 usuárias de cigarro em algum
momento da gestação (17,5% entre o total avaliado), e destas, somente 27
(10,7% do total da amostra) passou toda a gestação fumando.
Não se sabe explicar o motivo, mas ocorreu uma maior freqüência de
fumantes no grupo controle (67%), apresentando diferença estatística no teste de
Fisher (p=0,0171).
O consumo materno de álcool durante a gestação é uma das causas mais
previníveis de defeitos ao nascer e de incapacidades da infância. A extensão e a
natureza dos riscos para uma mulher gestante e para o feto em relação ao uso de
álcool durante a gestação ainda não estão completamente claras, não existindo
um padrão dose/resposta entre o consumo e o desfecho fetal, sendo que uma
dose segura de álcool na gestação ainda não pode ser estabelecida (CHANG &
FARHART, 2000; PERES & SPRITZER, 2001).
O álcool é definido como um teratógeno humano, e tem como principais
efeitos:
125
a) Síndrome do álcool fetal: ligada ao alcoolismo materno instalado,
caracterizado pelo consumo freqüente de quantidades substanciais,
com episódios de intoxicação, síndrome de abstinência e outros
sintomas patognomônicos de etilismo. Os achados encontrados no
feto com essa síndrome são: dismorfias faciais, retardo de
crescimento e anomalias do sistema nervoso central.
b) Efeitos relacionados ao álcool: ligados a um padrão de consumo
abusivo, com estudos controversos em relação à quantidade
consumida que possa estar associada com esses efeitos: MFs
cardíacas, esqueléticas, renais, oculares, auditivas e outras (fenda
labial).
Um estudo realizado nos Estados Unidos identificou que 14,6% das
gestantes consumiam álcool e que 2,1% fizeram uso freqüente durante a
gestação (EBRAHIM et al, 1998). Em Porto Alegre-RS, 30,4% das gestantes que
consultam o SIAT referem consumo de álcool, em quantidade não especificada
(PERES & SPRITZER, 2001). Outros estudos reportaram uma faixa de 20,7 a
33,7% de consumidoras de álcool entre as gestantes (KAUP et al, 2001; FREIRE
et al, 2005).
O presente estudo identificou somente 24 gestantes (9,52% do total) que
consumiam álcool pelo menos uma vez por semana durante no mínimo um
trimestre gestacional. Destas, somente 8 continuaram usando até o fim da
gestação, sendo 5 controles e 3 casos, com diagnósticos de: subluxação de
quadril, gastrosquise e polidactilia. Esta última foi também um dos casos expostos
ao misoprostol.
O uso de drogas ilícitas foi ainda menos reportado, talvez influenciado
pelos motivos mencionados, mas também pelo caráter ilegal e discriminatório
de seu consumo. Existem muitos fatores de confusão quando se avaliam os
efeitos adversos, principalmente devido ao uso concomitante de outras
substâncias também de abuso e as condições socioeconômicas destas pessoas.
Prova disso, é que as três puérperas (1,19% da amostra total) que
assumiram consumir durante a gestação maconha e/ou crack, eram também
126
fumantes e duas, usuárias freqüente de álcool. Somente uma era do grupo caso,
com filho diagnosticado com gastrosquise. Apesar de nenhuma ter planejado e
também desejado a gravidez, nenhuma reportou tentativa de aborto ou utilização
de misoprostol.
Foi encontrado somente um estudo no Brasil com o objetivo de analisar o
consumo de drogas ilícitas entre gestantes. Montoya (1991) encontrou uma
freqüência de 1,5% (n=9) pacientes usuárias de maconha. Os estudos que
avaliam a teratogenicidade da maconha são controversos e não há evidência do
aumento na freqüência de MFs congênitas, baixo peso ao nascer ou alterações
de linguagem. Porém, no que diz respeito à exposição da gestante ao crack, a
expectativa é de uma possibilidade de o feto apresentar alterações de padrão
disruptivo do desenvolvimento cerebral e em outros sistemas, ocasionando RCIU
e defeitos de redução transversa de membros (PERES & SPRITZER, 2001).
6.3. ABORTO
A questão do aborto no Brasil se origina de várias fontes, envolvendo
principalmente as questões sociais, pelas desigualdades econômicas e o nível
educacional da maior parte da população; as questões políticas, como a falta de
políticas públicas efetivas no controle de natalidade e planejamento familiar e as
questões de saúde pública, como o alcance e a qualidade dos programas e
serviços de atenção básica à saúde de adolescentes e mulheres em idade fértil.
Vários estudos sobre o aborto no Brasil denotam o índice de gravidezes
indesejadas (SHOR, 1990; SINGH & WULF, 1991; FONSECA et al, 1996, OSIS et
al, 1996; FONSECA et al, 1998) e como aponta um relatório emitido pelo AGI
(1996), é um problema de saúde pública em toda a América Latina, reforçando os
argumentos das questões socioeconômicas envolvidas. De acordo com o relatório
do AGI, 54% das gestações no Brasil em 1991 não eram desejadas (comparadas
a 32% deste trabalho) e destas, a maior parte (57,4%) acabava em aborto.
Não é conhecida qual a proporção de gestações que são expostas a uma
tentativa de aborto malsucedida, e que por fim chegam a termo, provavelmente
porque a maior parte das mulheres que tentam aborto realmente abortam. Um
127
estudo realizado em Salvador-BA, voltado para analisar a associação entre o uso
de abortivos e teratogenicidade, identificou que 52,3% da amostra não planejou a
gravidez, e destas, 16% tentaram algum método abortivo (MOREIRA et al, 2001).
Do total de gestantes entrevistadas em nosso trabalho, foi declarado um
percentual de tentativa de aborto de 6,8% (n=17; 10 casos e 7 controles). Destas,
somente um caso relatou que inicialmente desejou a gestação, não tendo tomado
nada para induzir a menstruação, porém arrependeu-se e tentou aborto utilizando
misoprostol. Um dos controles que assumiu ter tentado aborto, negou que tivesse
utilizado algo para induzir a menstruação. Todas as outras responderam
positivamente quanto à tomada de algo para induzir a menstruação e declararam
que a gravidez não era planejada e desejada.
A tentativa de se investigar sobre a prática de abortos ilegais lida com um
problema de subnotificação e de poucas informações verazes, pelo tema
delicado, sensível e com múltiplas implicações em relação ao sentimento da mãe.
Existem aspectos psicológicos, morais, religiosos e culturais associados não só à
decisão de se fazer um aborto, mas também de como reagir e a falar ou não
sobre ele (OSIS et al, 1996).
É provável, que por todos esses sentimentos negativos que envolvem o
aborto, as mulheres estabelecem racionalmente uma distinção entre abortar e
fazer algo para descer a menstruação, especialmente se a providência tomada
nesse sentido significar apenas a ingestão de determinadas substâncias, como
chás e/ou remédio, e nenhuma intervenção direta na região genital (OSIS et al,
1996 apud LEAL & LEWGOY, 1994).
A relação entre o planejamento e aceitação da gestação, bem como
utilização de medicamentos para induzir a menstruação teve o objetivo nesse
trabalho de tentar valorar uma taxa de mães suscetíveis a realizar aborto, porém,
motivadas por sentimentos de vergonha, culpa, medo, negação e temor de
rejeição, omitiram-se. É bastante provável que a gravidez planejada não incorra
em tentativa de aborto, embora não se possa dizer o mesmo do inverso.
Entretanto, é mais provável haver alguma que discorra com a verdade entre as
sete gestantes que declararam não planejamento, insatisfação com a gravidez e
128
ter utilizado alguma substância para induzir a menstruação, do que entre as que
declararam o contrário das afirmativas.
Em relação aos chás e medicamentos mencionados pelas pacientes para
induzir menstruação e como abortivos, não existe relato na literatura científica
sobre possíveis riscos teratogênicos.
6.4. TERATOGENICIDADE DO MISOPROSTOL
A exposição ao misoprostol durante a vida intra-uterina tem sido relatada
por vários estudos que objetivam associar o evento a um desfecho de MF no
neonato. A freqüência de exposição ao feto varia de 2,2% a 10%, mas na prática,
devido às limitações dos estudos, pode-se vivenciar uma freqüência maior
(COSTA & VESSEY, 1993; MENGUE et al, 1998). Mesmo assim, não está
descrito qual o percentual destes fetos expostos durante a gravidez que não
abortam, e podem chegar a termo. A TABELA 18 compara as principais MFs
descritas na literatura científica associadas à exposição ao misoprostol na
gestação.
Nem todos os fetos expostos a um agente teratogênico são afetados da
mesma forma. O efeito produzido será alterado conforme a época da gestação, a
duração da exposição e a suscetibilidade genética do feto. A exemplo disto,
gêmeos dizigóticos inadvertidamente expostos no mesmo período gestacional e
com a mesma duração de exposição ao mesmo agente teratogênico mostrarão
graus variados de agressão, mediados por seus diferentes genótipos (HAUG-
WILKINS, 2000).
Em relação ao espectro de malformações relacionadas ao uso do
misoprostol no presente estudo, todas as condições, com exceção do RN3 com
higroma cístico, obedecem a um padrão de defeitos congênitos citados em artigos
publicados sobre uso de misoprostol e relação com MFs congênitas.
equinovaro, defeito de redução de membros, agenesia de falanges e sindactilia
são MFs associadas a disrupção vascular, mecanismo associado à fortes
contrações uterinas, que podem ser ocasionadas pelo misoprostol.
129
Além disso, as MFs encontradas têm plausibilidade biológica para explicar
a associação, apresentam uma relação temporal de exposição e surgimento da
malformação e ausência de outros fatores de risco significativos exceção do
RN5, pela consangüinidade dos pais).
TABELA 18: Principais contribuições da literatura encontrada sobre
malformações associadas com exposição intra-uterina ao misoprostol.
Autores
Tipo de
Estudo
Principais Contribuições
Fonseca et al, 1993 RC Deficiência do crânio e do couro cabeludo.
Gonzalez et al, 1993 RC equinovaro, agenesia de falanges, microcefalia,
micrognatia, dextrocardia, hipospadia, sindactilia e
seqüência de Möebius.
Gonzalez et al, 1998 SC equinovaro, hidrocefalia, sindactilia, ausência de
membros, encurtamento ou agenesia de falanges,
macrocrania, microcefalia, onfalocele, hipospadia, fenda
palatina, braquidactilia e seqüência de Möebius.
Hofmeyr et al, 1998 RC Agenesia de membros.
Pastuszak et al, 1998 CC Comparou freqüência de exposição entre pacientes com
defeitos de tubo neural e seqüência de Möebius, tendo
demonstrado um risco aumentado para a segunda
população.
Schüler et al, 1999 Coorte Acompanhou gestações expostas e não expostas, não
encontrou diferenças significativas, mas teve uma
tendência no aumento de MFs menores. Principais: anéis
de constrição nos braços, hepatoesplenomegalia,
hipertensão pulmonar, não fechamento do ducto arterial.
Nunes et al, 1999 RC Seqüência de Möebius e hipoventilação alveolar central
congênita.
Coelho et al, 2000 SC Artrogripose, pé equinovaro, ausência de tendões, anéis de
constrição, espinha bífida.
Orioli & Castilla, 2000 CC Encontrou em excesso 4 das 5 MFs mais freqüentes,
descritas na literatura, associadas ao misoprostol.
Principais: anéis de constrição, defeito de redução
transversa de membros, hidrocefalia e artrogripose.
Vargas et al, 2000 CC Encontrou forte associação entre misoprostol pré-natal e
MFs de disrupção vascular. Principais: seqüência de
Möebius, redução transversa de membros, microssomia
hemifacial, artrogripose, microtia, cisto porencefálico e
hipoglossia hipodactilia
Marques-Dias et al, 2003;
Sanchéz & Guerra, 2003
RC Seqüência de Möebius
NOTAS: RC: Relato de caso; SC: Série de caso; CC: Caso-Controle.
130
6.5. LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Os estudos de caso-controle padecem de vieses já comentados neste
trabalho, principalmente o viés de amostragem e viés de medição retrospectiva.
Com o objetivo de minimizar o primeiro, foram incorporadas ao trabalho as
principais maternidades da cidade de Fortaleza-CE, responsáveis por mais de
40% de todos os partos realizados na cidade em um ano. Em relação ao viés de
medição retrospectiva, foi elaborado questionário com perguntas estruturadas
abertas, semi-abertas e fechadas para a realização de entrevista, com o objetivo
de minimizar os erros de memória materna. Muitas informações tamm foram
buscadas nos prontuários, exames, fichas e cartões de pré-natal das pacientes
para cruzamento das informações.
Entretanto, é factível considerar que a amostra possa não ter representado
o quadro real de mulheres que tentam aborto com misoprostol sem sucesso na
cidade de Fortaleza, e que podem estar gerando filhos com alguma deformidade.
Atentamos que a amostra estudada é eminentemente urbana e com acesso
satisfatório aos serviços de saúde, e que, portanto, alguns achados podem não
ser aplicáveis a áreas rurais ou outros locais do país e a populações que não
tenham semelhanças com a estudada.
Além disso, uma parte dos malformados nascidos nos hospitais do estudo
pode o ter sido notificada pelas equipes consultadas, quer seja pelo desgaste
ou desinteresse do informante, quer seja pelos pacientes que não tiveram
diagnóstico ou por este ter se dado após a internação, e que, portanto, não
puderam ser detectados pelas equipes informantes da pesquisa.
Outro possível viés que interfere sobre a conclusão é a subnotificação de
exposições citadas pela mãe, quer seja por esquecimento, quer seja pelos
sentimentos negativos que a temática levantada pelo trabalho possa ter gerado.
Parte desse viés foi diluído na sistematização das entrevistas, com o treinamento
da equipe e a checagem imediata de dúvidas ou respostas dúbias, muitas vezes
com a própria entrevistada. Ainda assim, é possível que tal erro tenha acontecido.
131
Conclusão
132
7. CONCLUSÃO
Os resultados deste trabalho apontam para a necessidade de maior
discussão acerca das questões de amplitude dos programas de planejamento
familiar, aborto, ineficiência de órgãos reguladores de medicamentos, influência
ambiental previsível em teratogenicidade e cuidados a pacientes com MFs
congênitas.
A partir dos dados encontrados, com enfoque nos objetivos do trabalho, as
principais conclusões são:
1. Cerca de 64% das gestações não eram planejadas, 32% não eram
desejadas, 13,1% das pacientes utilizaram algum recurso para
induzir menstruação e 6,8% tentaram aborto, sem diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos caso e controle;
2. O uso de misoprostol como abortivo foi indicado por nove puérperas,
sendo sete casos e dois controles. Apesar de não haver diferença
significativamente estatística entre os grupos em relação ao uso do
misoprostol, os achados deste estudo sugerem que com a
exposição ao misoprostol durante a gravidez, ocorre maior risco de
surgimento de MFs, com OR=3,65; [IC
95%
: 0,74;17,91]. A mediana
da dose de misoprostol utilizada foi de 400mcg via oral e 400mcg via
vaginal, administradas no primeiro (quatro casos) e segundo
trimestre gestacional (três casos e dois controles). A reação adversa
mais freqüentemente atribuída ao misoprostol pela gestante foi
sangramento vaginal (46%);
3. O espectro de malformações encontradas entre os pacientes que se
expuseram na vida intra-uterina ao misoprostol foi:
a) Sistema Nervoso: hidrocefalia e mielomeningocele;
b) Sistema Músculo Esquelético: agenesia de quadril,
equinovaro, luxação de joelho, luxação de quadril, agenesia
de falanges distais, sindactilia e polidactilia;
133
c) Sistema Genitourinário: imperfuração anal e ausência de
testículos no bolso escrotal;
d) Cardíaca: higroma cístico;
4. Não se alcançou uma amostra representativa de mães que tivessem
se exposto ao misoprostol durante a gestação para se tentar
estabelecer um padrão. Entretanto, as principais características
desta amostra foram: idade média de 25,7 anos (mínima 18 e
máxima 44); maioria com escolaridade incipiente (somente 33%
havia concluído no mínimo o ensino médio); todas ou o do lar ou
não tem ocupação que necessite de qualificação.
5. Em relação ao estado civil, metade tinha união estável, metade era
solteira, e uma passou a morar com o pai da criança por ocasião da
gravidez. Somente três mulheres não tinham filhos anteriores, e três
tiveram história de abortos anteriores (induzidos ou espontâneos).
6. A maioria dos sinais e sintomas reportados foram associados pelas
parturientes à utilização do misoprostol. As doenças manifestadas
não pareceram interferir no processo de análise de MFs.
7. Somente duas mães (22,2%) realizaram pré-natal adequado,
segundo classificação de Kotelchuck modificado. O restante realizou
pré-natal classificado como inadequado (33,3%) ou intermediário
(44,5%).
134
Referências
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150
Anexos
151
9. ANEXOS
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