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Por sua vez, na matriz cristã protestante
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, verifica-se na igreja que também a
participação em cerimônias e grupos sociais religiosos evangélicos, na qualidade de
organizadoras ou, até mesmo, dirigentes, era uma das ocupações femininas “inatas”, talvez,
por servir como um remédio para as mais inquietas, aquelas que desejavam muito mais que
um casamento e filhos, estudar, ter uma profissão e uma vida mais ativa, com deveres sim,
porém, com direitos respeitados. E, por não poderem enfrentar a família, encontravam na
religião a aceitação do papel que lhe reservaram dentro dessa sociedade: o da aceitação à
submissão, primeiro ao pai, depois ao marido.
Nos anos de implantação do metodismo em Uruguaiana, na primeira década do século
XX, encontra-se, além do nome do Dr. João C. Corrêa que aqui já havia estado bem antes, o
nome de Thomaz Carey, segundo registra Pont (1985, p. 7):
“Um outro missionário [...] cidadão inglês, ligado aos Diretores da Cia Brasil Great
Southern, que aqui faziam os projetos e assentamento da estrada de ferro. Juntamente com
Eduardo Joiner, iniciaram uma Escola Dominical, com assistência regular”.
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Villela (1971, p. 192) registra entre as igrejas de matriz protestante, todas datadas do século XX, a igreja
metodista como a única datada do século anterior a esse: 1875; atribuindo ao dr. João da Costa Corrêa a sua
fundação. Pont (1985, p. 7) também escreve que em data anterior a 1905 o reverendo João Corrêa já havia
estado na localidade; informando, ainda, que residia em Montevideu e que “periodicamente fazia viagens por
esta fronteira, desempenhando funções de médico itinerante e comerciava medicamentos homeopáticos,
aviados pelo próprio facultativo”, sendo que, conforme o autor, “o mais das vezes o Dr. Corrêa os ministrava
sem receber pagamentos, conforme os casos” (p. 7). Grande era o prestígio da igreja metodista na cidade, em
que vários de seus pastores de origem norte-americana também trabalhavam no “Collégio União” adquirido
do huguenote francês Aleixo Vurlod ainda na primeira década do século XX. Aleixo Vurlod e suas filhas
tornam-se membros da igreja metodista e continuaram trabalhando no colégio então sob a administração dos
religiosos metodistas norte-americanos. Villela (p. 193) cita uma nota publicada no jornal “O Comércio”, de
25/4/1905, em que se lê: “Domingo, 23 de abril, às 7:30 horas, da noite, no salão onde celebra o culto
evangélico, professaram publicamente sua fé em Cristo, unindo-se à Igreja Metodista, as seguintes senhoras,
senhoritas e cavalheiros: Adelaide Wurlod - Clotilde Marenco - Tereza Wurlod - Danieta Owel - Luiza
Wurlod - Amélia Delacoste - Ana Cardona - Ernestina Cardona - Conceição Cardona - Carmem Cardona -
Ana Silva Corso - Maria Corso - Helena Corso - Hercília Romaguera Corrêa - Joana Couto Canto - Mathilde
Lagisquet - Rosa Winckler - Eduardo Mena Barreto - Fernando Wurlod - Fernando Kruger e Augusto Eliseu
de Freitas”. Pont (1985, p. 7), fazendo referência a essa notícia, lembra que o jornal acrescentava: “O ritual
era o mais simples, sem ostentação de luxo. Após aquela cerimônia, fez-se a coleta destinada à caridade,
seguida da celebração da Santa Ceia, segundo o ritual metodista, da qual participaram os comungantes. É
digno de notar a ordem, o respeito mais austero durante os atos religiosos, pelo seleto e numeroso auditório. O
movimento evangélico está prosperando notavelmente [...]”. O primeiro pastor metodista listado por Villela,
na obra em referência, é Eduardo Everett Joiner (1903). Os reverendos J.W. Price (1913) que junto com o
bispo W. Lambuth adquiriu o colégio União de Aleixo Vurlod, e G.D. Parker (1915) também aparecem na
lista dos reitores norte-americanos que dirigiram o colégio. Em Uruguaiana, a igreja metodista conta com o
templo central e o templo São Paulo, além de suas capelas.