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Universidade Federal do Espírito Santo
Centro Tecnológico
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental
Bianca Barcellos Bazzarella
Caracterização e aproveitamento de água
cinza para uso não-potável em edificações
Vitória, dezembro de 2005.
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Bianca Barcellos Bazzarella
Caracterização e aproveitamento de água
cinza para uso não-potável em edificações
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da
Universidade Federal do Espírito Santo,
como requisito parcial para obtenção do Grau
de Mestre em Engenharia Ambiental.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Franci Gonçalves.
Vitória, dezembro de 2005.
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Bianca Barcellos Bazzarella
Caracterização e aproveitamento de água
cinza para uso não-potável em edificações
_________________________
Prof. Dr. Ricardo Franci Gonçalves.
Orientador - UFES
_____________________________
Prof. Dr. Sérvio Túlio Alves Cassini
Examinador Interno - UFES
_____________________________
Prof. Dr. Francisco Suetônio Bastos Mota
Examinador Externo - UFC
Universidade Federal do Espírito Santo
Vitória, dezembro de 2005.
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
Bazzarella, Bianca Barcellos, 1979-
B364c Caracterização e aproveitamento de água cinza para uso não-potável
em edificações / Bianca Barcellos Bazzarella. – 2005.
165 f. : il.
Orientador: Ricardo Franci Gonçalves.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Espírito Santo,
Centro Tecnológico.
1. Água - Reutilização. 2. Água - Fontes alternativas. 3. Águas
residuais - Estações de tratamento. 4. Água cinza. I. Gonçalves, Ricardo
Franci. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro Tecnológico.
III. Título.
CDU: 628
A meus pais.
Agradecimentos
9 A Deus, por iluminar sempre o meu caminho, dando-me forças para continuar
e sempre achar que era possível;
9 Aos meus pais, Lucia e Tarcísio, pelo apoio, carinho e incentivo em todos os
momentos de minha vida;
9 Ao meu orientador Ricardo Franci, por ter me confiado um tema motivante e
inovador, por ter acreditado no meu trabalho dando-me orientações de como
prosseguir e solucionar os problemas enfrentados;
9 A toda a equipe do projeto, Germana, Patrícia, Cinthia, Fernanda, Pâmela,
Bruno e Dilkerson, pelo desempenho, ajuda e disposição em todos os
momentos, quer seja no laboratório quer seja na ETAC. “Sem vocês eu não
teria conseguido”;
9 Ao PROSAB 4, à CAPES e ao CNPq, pelo apoio financeiro;
9 A todos que colaboraram com a pesquisa produzindo muita água cinza:
tomando banho, escovando os dentes, lavando roupa...;
9 Ao meu namorado, Felipe, pelo amor, carinho e conforto em todas as horas;
9 Ao meu irmão, Rafael, pelos momentos de descontração, embalados por
música e cantoria;
9 A toda minha família linda (avós, tios, primos...), pela torcida carinhosa, pelas
orações, pelos conselhos e ainda pelos almoços...;
9 Aos amigos do Labsan (...) que acompanharam de perto cada etapa dessa
trajetória, trocando experiências, compartilhando dificuldade e sucessos:
“Valeu pessoal!”
9 Aos meus amigos, Tati, Débora, Wê, Dani, Délio, Maris, Rúbia, Karine,
Letícia, Dudu ... “Vocês são muito especiais!”
OBRIGADA.
Existem mais coisas entre o céu e a terra do supõe
a nossa vã filosofia”
William Shakespeare
Resumo
Uma das formas de se conservar água nas residências é utilizando fontes
alternativas de suprimento. O reúso de águas cinza para fins não-potáveis, tais
como lavagem de veículos, rega de jardins e descarga de vasos sanitários, é
apenas um exemplo. Este trabalho tem como objetivo pesquisar alternativas para
redução do consumo de água potável e da produção de esgotos sanitários em
edificações, a partir do aproveitamento do tratamento e reúso de águas cinza em
descargas de vasos sanitários. Para isso, foi realizada uma etapa preliminar de
caracterização qualitativa de águas cinza coletadas em diversas fontes (lavatório,
chuveiro, pia de cozinha, tanque e de máquina de lavar roupa) do ponto de vista
físico-químico e microbiológico. A água cinza apresentou significativa
concentração de matéria orgânica rapidamente biodegradável e sulfatos,
evidenciando o grande potencial de produção de H
2
S, caso ela seja estocada
sem tratamento. As concentrações de nutrientes (N e P) foram menores que no
esgoto convencional, uma vez que a maior parte deles é oriunda dos
excrementos (urina e fezes). A presença de E. coli mostrou que a desinfecção
prévia ao reúso é necessária, principalmente se as normas para o reúso em
descarga de vasos sanitários forem muito rígidas. Uma outra etapa realizada
neste trabalho foi o monitoramento de um sistema de reúso implantado em um
prédio localizado na UFES. O prédio contém duas salas de professores com
banheiros individuais e banheiros coletivos, masculino e feminino, contabilizando
um total de seis pias, dois chuveiros, seis vasos sanitários e dois mictórios. As
águas cinza do prédio (efluente de chuveiro e lavatório) são encaminhadas
separadamente para uma Estação de Tratamento de Águas Cinza (ETAC), cujo
processo é baseado na associação de um Reator Anaeróbio Compartimentado
(RAC), de um Filtro Biológico Aerado Submerso (FBAS), de um Filtro Terciário
(FT) e de desinfecção à base de cloro. O tratamento adotado apresentou
elevada eficiência na remoção de turbidez, cor, DBO
5
, DQO e E. coli., e
características
compatíveis com diversos padrões estabelecidos para o reúso
não-potável. As características dos lodos gerados desse tratamento
apresentaram concentrações de ST e relação SV/ST de 0,59% e 77% (1ª câmara
do RAC), 0,54% e 74% (2ª câmara do RAC), 0,004% e 32% (lodo aeróbio),
0,008% e 60% (1ª coleta lodo terciáro) e 0,004% e 25% (2ª coleta lodo terciáro).
Abstract
Alternative sources of residential water supply may aid water conservation. One
example is the reuse of greywater for non potable purposes (car washing, garden
irrigation and toilet flushing). This work investigates alternatives for reducing
potable water consumption and the production of wastewater in buildings, using
greywater treatment applied to toilet flushing. Initially, a physical-chemical and
microbiological qualitative characterization of greywater collected in several
sources (lavatory, shower, kitchen sink, tank and wash machine) was carried out.
The greywater presented significant concentrations of quickly biodegradable
organic substances and sulphates, highlighting its high potential for H
2
S
production when stored untreated. The nutrient concentrations (N and P) were
minor compared with the ones in a conventional sewer, since they largely came
from faeces and urine. The presence of E. coli showed the need for disinfection
before reuse, depending on the quality standards for toilet flushing. Additionally a
reuse system was monitored in a building at UFES University. The building
contains two professors’ rooms with individual bathrooms and collective
bathrooms, male and female, giving a total of six lavatories, two showers, six
toilets and two urinals. This building’s greywater (the effluent of showers and
lavatories) is directed to a Greywater Treatment Plant (ETAC), whose processing
is based on a combination of techniques - Compartment Anaerobic Reactor
(RAC), Submerged Aerated Filter (FBAS), Tertiary Filter (FT) and disinfection
based in chlorine. The adopted treatment showed high efficiency in the removal of
turbidity, color, BOD
5
, QOD, E. coli, and was compatible with diverse standards
established for non potable reuse. The characteristics of the generated sludge of
this treatment presented concentrations of ST and the relation SV/ST of 0,59%
and 77% (1
st
chamber of the RAC), 0.54% and 74% (2
nd
chamber of the RAC),
0.004% and 32% (aerobic sludge), 0.008% and 60% (1
st
collects tertiary sludge)
and 0.004% and 25% (2
nd
collects tertiary sludge).
Lista de Figuras
Figura 3-1: Ciclo hidrológico_______________________________________________ 25
Figura 3-2: Distribuição de água no mundo ___________________________________ 26
Figura 3-3: Fluxo linear de massa em um sistema sanitário tradicional em países
industrializados_________________________________________________________ 29
Figura 3-4: Fluxo circular de massa em um possível sistema sanitário sustentável ____ 29
Figura 3-5: Distribuição do consumo de água no mundo_________________________ 30
Figura 3-6: Esquema de um sistema de gerenciamento de águas em uma edificação__ 37
Figura 3-7: Distribuição de alguns compostos nas parcelas do esgoto doméstico _____ 45
Figura 3-8: Comparação entre a densidade de E. coli na água cinza e no esgoto
doméstico combinado ___________________________________________________ 45
Figura 3-9: Comparação entre a taxa de decomposição da água cinza e da água negra 47
Figura 3-10: Produção típica de água cinza e descargas de vasos sanitário requeridas em
uma universidade _______________________________________________________ 49
Figura 3-11: Esquema de um sistema de reúso de água cinza utilizando o processo dois-
estágios ______________________________________________________________ 51
Figura 3-12: Sistema de wetpark para tratamento de água cinza __________________ 53
Figura 3-13: Croqui de uma ETE do tipo UASB + BFs __________________________ 56
Figura 3-14: Comparação entre coliformes totais e termotolerantes encontrados em vasos,
efluente bruto __________________________________________________________ 67
Figura 4-1: Coleta da amostra do lavatório ___________________________________ 71
Figura 4-2: Coleta da amostra de cozinha ____________________________________ 72
Figura 4-3: Coleta da amostra de chuveiro ___________________________________ 72
Figura 4-4: Coleta da amostra de máquina de lavar ____________________________ 73
Figura 4-5: Coleta da amostra de tanque_____________________________________ 73
Figura 4-6: Transporte das amostras em bombonas ____________________________ 74
Figura 4-7: Edificação localizada no parque experimental de saneamento da UFES ___ 76
Figura 4-8: Projeto hidro-sanitário de esgoto da edificação da UFES _______________ 76
Figura 4-9: Isométrico de água da edificação da UFES__________________________ 77
Figura 4-10: Fluxograma do sistema de reúso_________________________________ 78
Figura 4-11: Vista superior da ETAC ________________________________________ 79
Figura 4-12: Vista frontal da ETAC _________________________________________ 79
Figura 4-13: Planta baixa ETAC____________________________________________ 80
Figura 4-14: Meio suporte utilizado no FBAS__________________________________ 82
Figura 4-15: Esquema de caracterização do meio suporte _______________________ 83
Figura 4-16: Bomba utilizada no descarte do lodo aeróbio _______________________ 84
Figura 4-17: Esquema da operação de lavagem do FT__________________________ 85
Figura 4-18: Flutuador utilizado na desinfecção________________________________ 86
Figura 4-19: Máquina de lavar acoplada no lavatório ___________________________ 87
Figura 4-20: Introdução do efluente de cozinha na elevatória de água cinza bruta_____ 87
Figura 4-21: Frascos de coleta de amostras __________________________________ 89
Figura 4-22: Forma de expressão dos resultados ______________________________ 90
Figura 4-23: Vazão média diária de entrada na ETAC___________________________ 91
Figura 4-24: Carga superficial média diária em cada etapa de tratamento da ETAC ___ 92
Figura 4-25: Carga volumétrica média diária em cada etapa de tratamento da ETAC __ 93
Figura 4-26: Hidrômetros instalados no lavatório, chuveiro, vaso sanitário. __________ 95
Figura 4-27: Tela de monitoramento do sistema supervisório. ____________________ 97
Figura 4-28: Esquema das interconexões de rede das ligações ___________________ 98
Figura 5-1: Curvas de biodegradabilidade de águas cinza e de esgoto bruto ________ 117
Figura 5-2: Remoção de turbidez__________________________________________ 119
Figura 5-3: Remoção de SST_____________________________________________ 119
Figura 5-4: Remoção de cor verdadeira_____________________________________ 119
Figura 5-5: Remoção de DBO
5
____________________________________________ 120
Figura 5-6: Remoção de DQO ____________________________________________ 120
Figura 5-7: Remoção de E.coli____________________________________________ 121
Figura 5-8: Remoção de Coliformes totais___________________________________ 121
Figura 5-9: Comparação do vaso sem cloro e com cloro – E. coli_________________ 122
Figura 5-10: Comparação do vaso sem cloro e com cloro – coliformes totais________ 122
Figura 5-11: Teor de cloro residual total e livre _______________________________ 122
Figura 5-12: Evolução dos teores de sulfato _________________________________ 124
Figura 5-13: Evolução dos teores de sulfeto _________________________________ 124
Figura 5-14: Amostras coletadas em cada etapa de tratamento e no vaso sanitário __ 125
Figura 5-15: Porcentagem de atendimento aos padrões mais e menos restritivos ____ 126
Figura 5-16: Lodos provenientes das câmaras 1 e 2 do RAC, do descarte do decantador
do FBAS e da lavagem do FT ____________________________________________ 130
Figura 5-17: Comparação através de microscopia ótica de lodos anaeróbios tratando água
cinza e esgoto sanitário _________________________________________________ 130
Figura 5-18: Consumo total diário de água do prédio A) com máquina de lavar; B) sem
máquina de lavar ______________________________________________________ 132
Figura 5-19: Distribuição do consumo de água por aparelho sanitário._____________ 133
Figura 5-20: Distribuição do consumo de água por tipo de aparelho sanitário A) com
máquina de lavar; B) sem máquina de lavar _________________________________ 134
Figura 5-21: Média Produção x demanda de água cinza do prédio da UFES A) com
máquina de lavar; B) sem máquina de lavar _________________________________ 134
Figura 5-22: Produção x demanda diária de água cinza com uso da máquina de lavar 135
Figura 5-23: Produção x demanda diária acumulada de água cinza com uso da máquina
de lavar______________________________________________________________ 136
Figura 5-24: Produção x demanda diária de água cinza sem uso da máquina de lavar 137
Figura 5-25: Produção x demanda diária acumulada de água cinza sem uso da máquina
de lavar______________________________________________________________ 137
Figura 5-26: Produção x demanda horária de água cinza edificação UFES (11/07/05) 138
Figura 5-27: Produção x demanda horária de água cinza edificação UFES (15/07/05) 138
Figura 5-28: Produção x demanda horária de água cinza edificação UFES (15/08/05) 139
Figura 5-29: Consumo total de água potável e de reúso ________________________ 140
Figura 5-30: Produção de águas residuárias (águas cinza, águas negra, águas amarela)
140
Lista de Tabelas
Tabela 3-1: Consumo de água médio per capita e por economia em cada região
geográfica no Brasil _____________________________________________________ 32
Tabela 3-2: Distribuição do consumo de água em edificações domiciliares __________ 33
Tabela 3-3: Características das águas cinza originadas de várias fontes ____________ 40
Tabela 3-4: Resultados obtidos no sistema wetpark para tratamento de água cinza ___ 53
Tabela 3-5: Característica típica de alguns sistemas de tratamento de esgoto aeróbio e
combinações anaeróbio+ aeróbio __________________________________________ 54
Tabela 3-6: Limites estabelecidos para reúso em descarga de vasos sanitários – normas
internacionais __________________________________________________________ 64
Tabela 3-7: Limites estabelecidos para reúso em descarga de vasos sanitários – normas
brasileiras _____________________________________________________________ 65
Tabela 3-8: Legislações brasileiras que regulamentam a utilização de fontes alternativas
de água ______________________________________________________________ 65
Tabela 4-1: Consumo de água potável e de água cinza por aparelho sanitário _______ 70
Tabela 4-2: Característica do meio suporte ___________________________________ 81
Tabela 4-3: Características da pastilha de cloro _______________________________ 86
Tabela 4-4: Tempos de detenção hidráulicos médios ___________________________ 91
Tabela 4-5: Características geométricas da ETAC _____________________________ 93
Tabela 4-6: Estimativa da produção de água cinza no prédio da ETE UFES _________ 94
Tabela 4-7: Estimativa da demanda de água cinza no prédio da ETE UFES _________ 94
Tabela 4-8: Hidrômetro correspondente em cada aparelho sanitário _______________ 95
Tabela 5-1: Caracterização qualitativa da água cinza segregada - Parâmetros físicos_ 102
Tabela 5-2: Características físicas de águas cinza obtidas em outras pesquisas _____ 102
Tabela 5-3: Características típicas de sólidos no esgoto bruto ___________________ 103
Tabela 5-4: Caracterização qualitativa da água cinza segregada - compostos
nitrogenados) _________________________________________________________ 104
Tabela 5-5: Características químicas de águas cinza obtidas em outras pesquisas –
compostos nitrogenados ________________________________________________ 105
Tabela 5-6: Características típicas de compostos nitrogenados no esgoto bruto _____ 105
Tabela 5-7: Caracterização qualitativa da água cinza segregada – compostos fosforados
_____ _______________________________________________________________ 106
Tabela 5-8: Características químicas de águas cinza obtida em outras pesquisas –
compostos fosforados __________________________________________________ 107
Tabela 5-9: Características típicas do esgoto bruto - compostos fosforados_________ 107
Tabela 5-10: Caracterização qualitativa da água cinza segregada – compostos
orgânicos__ __________________________________________________________ 108
Tabela 5-11: Características químicas de águas cinza obtida em outras pesquisas –
compostos orgânicos ___________________________________________________ 109
Tabela 5-12: Características típicas do esgoto bruto - compostos orgânicos ________ 109
Tabela 5-13: Caracterização qualitativa da água cinza segregada – Compostos de
enxofre_ _____________________________________________________________ 110
Tabela 5-14: Caracterização qualitativa da água cinza segregada – Outros parâmetros 113
Tabela 5-15: Características químicas de águas cinza obtida em outras pesquisas – outros
parâmetros ___________________________________________________________ 114
Tabela 5-16: Características químicas típicas no esgoto bruto ___________________ 114
Tabela 5-17: Caracterização qualitativa da água cinza segregada - Parâmetros
microbiológicos________________________________________________________ 115
Tabela 5-18: Características microbiológicas de águas cinza obtida em outras
pesquisas__ __________________________________________________________ 116
Tabela 5-19: Características microbiológicas típicas no esgoto bruto ______________ 116
Tabela 5-20: Resumo da remoção das etapas do tratamento para a qualidade final da
água cinza tratada _____________________________________________________ 125
Tabela 5-21: Resultado do monitoramento da ETAC___________________________ 127
Tabela 5-22: Resultado do monitoramento da ETAC – compostos nitrogenados e
fosforados____________________________________________________________ 128
Tabela 5-23: Resultado do monitoramento da ETAC – O&G e Surfactante aniônico __ 129
Tabela 5-24: Características do lodo produzido nos sistemas de tratamento ________ 129
Lista de Símbolos
ANA
Agência Nacional das Águas
As
Área superficial
C
DQO
Concentração de DQO
CH
Chuveiro
CO
2
Dióxido de carbono
CNUMAD
Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
C
SUP
Carga superficial
CT
Coliformes Totais
CV
Coeficiente de variação
C
VOL
Carga volumétrica
DP
Desvio Padrão
DQO
Demanda Química de Oxigênio
DBO
5
Demanda Bioquímica de Oxigênio
EACB
Elevatória de Água Cinza Bruta
EACT
Elevatória de Água Cinza Tratada
EcoSan
Eco Saneamento ou Saneamento Ecológico
EPA
Environment Protection Agency
ETAC
Estação de Tratamento de Águas cinza
ETE
Estação de Tratamento de Esgoto
FBAS
Filtro Biológico Aerado Submerso
FT
Filtro Terciário
H
2
O
Água
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
K1
Coeficiente de Desoxigenação
LAO
Liceu de Artes e Ofícios
LV
Lavatório
Max
Valor Máximo
MC
Mictório
Méd
Valor Médio
Min
Valor Mínimo
n
Número de Amostras
NH
3
– N
Nitrogênio em amônia
NO
2
– N
Nitrogênio em nitrito
NO
3
– N
Nitrogênio em nitrato
NMP
Número Mais Provável
NTK
Nitrogênio Total Kjedal
O
2
Oxigênio
OD
Oxigênio Dissolvido
O&G
Óleo e Graxas
pH
Potencial hidrogeniônico
PNCDA
Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água
PROSAB
Programa de Pesquisa em Saneamento Básico
P
TOTAL
Fósforo Total
RAC
Reator Anaeróbio Compartimentado
RSAP
Reservatório Superior de Água Potável
RSAR
Reservatório Superior de Água de Reúso
S
-2
Sulfeto
SCP
Sistema de Controle Programável
SO
4
-2
Sulfato
SST
Sólidos Suspensos Totais
ST
Sólidos Totais
SV
Sólidos Voláteis
TDH
Tempo de Detenção Hidráulico
UASB
Do Inglês: Uperflow Anaerobic Sludge (Reator Anaeróbio de Fluxo
Ascendente e Manta de Lodo)
UFC
Unidades Formadoras de Colônias
UFES
Universidade Federal do Espírito Santo
UNICEF
United Nations Children’s Fund
USP
Universidade de São Paulo
VS
Vaso Sanitário
Vu
Volume útil
WHO
World Health Organization
Sumário
1. Introdução ______________________________ 22
2. Objetivos _______________________________ 24
2.1 Objetivo Geral_________________________________________________ 24
2.2 Objetivos Específicos ___________________________________________ 24
3. Revisão Bibliográfica_____________________ 25
3.1 Escassez de água _____________________________________________ 25
3.2 Problemática das áreas urbanas __________________________________ 27
3.2.1 Ciclo urbano da água______________________________________ 28
3.3 Consumo de água _____________________________________________ 30
3.3.1 Consumo de água residencial _______________________________ 30
3.3.2 Distribuição do consumo de água residencial ___________________ 32
3.4 Conservação de água potável ____________________________________ 33
3.4.1 Uso racional de água ______________________________________ 34
3.4.1.1 Aparelhos economizadores de água ________________________ 34
3.4.1.2 Medição individualizada __________________________________ 35
3.4.1.3 Fontes alternativas de água _______________________________ 35
3.5 As cores das águas ____________________________________________ 36
3.6 Tipos de reúso ________________________________________________ 38
3.7 Água cinza ___________________________________________________ 38
3.7.1 Características qualitativas da água cinza______________________ 39
3.7.1.1 Características físicas____________________________________ 40
3.7.1.2 Características químicas__________________________________ 41
3.7.1.3 Características microbiológicas ____________________________ 43
3.7.2 Diferença entre as parcelas do esgoto doméstico________________ 44
3.7.3 Características quantitativas da água cinza ____________________ 47
3.8 Tratamento da água cinza – Algumas práticas atuais __________________ 49
3.8.1 Sistemas simplificados tipo dois-estágios (two-stage system) ______ 50
3.8.2 Sistemas físicos e físico-químicos ____________________________ 51
3.8.3 Sistemas biológicos _______________________________________ 52
3.9 Desenvolvimento de processos aeróbios e anaeróbios no Brasil _________ 53
3.9.1 Associação UASB + Biofiltros _______________________________ 54
3.10 Sistemas Anaeróbios+Aeróbios em águas cinza _____________________ 57
3.10.1 Reator Anaeróbio Compartimentado - RAC ___________________ 57
3.10.2 Filtro biológico aerado submerso - FBAS _____________________ 58
3.11 Filtração terciária _____________________________________________ 59
3.12 Cloração ____________________________________________________ 59
3.12.1 ______________________________________________________ 61
3.13 Estocagem __________________________________________________ 61
3.14 Normas e legislação e padrões vigentes a cerca do reúso em edificações_ 62
3.15 Riscos associados ao reúso de água em edificações _________________ 65
4. Material e Métodos ______________________ 69
4.1 Contextualização da pesquisa ____________________________________ 69
4.2 Caracterização qualitativa da água cinza segregada ___________________ 69
4.2.1 Pontos de coleta _________________________________________ 70
4.2.1.1 Lavatório ______________________________________________ 71
4.2.1.2 Pia de cozinha _________________________________________ 71
4.2.1.3 Chuveiro ______________________________________________ 72
4.2.1.4 Máquina de lavar roupa __________________________________ 72
4.2.1.5 Tanque _______________________________________________ 73
4.2.2 Análises laboratoriais______________________________________ 73
4.2.2.1 Análises físico-químicas __________________________________ 74
4.2.2.2 Análises microbiológicas__________________________________ 74
4.2.3 Análises estatísticas ______________________________________ 75
4.3 Descrição da edificação com reúso da UFES ________________________ 75
4.3.1 Funcionamento do prédio __________________________________ 77
4.4 Sistema de reúso de água cinza __________________________________ 77
4.4.1 Descrição da Estação de Tratamento de Água Cinza (ETAC) ______ 78
4.4.1.1 Reator anaeróbio compartimentado (RAC) ___________________ 80
4.4.1.2 Filtro Biológico Aerado Submerso (FBAS) ____________________ 81
4.4.1.3 Decantador secundário (DEC) _____________________________ 83
4.4.1.4 Filtro terciário (FT)_______________________________________ 84
4.4.1.5 Desinfecção ___________________________________________ 85
4.4.2 Monitoramento do sistema de reúso __________________________ 86
4.4.2.1 Medidas adotadas para o aumento da produção de Água Cinza___ 87
4.4.2.2 Pontos de coleta ________________________________________ 88
4.4.2.3 Vazão de água cinza ____________________________________ 88
4.4.2.4 Fase líquida ___________________________________________ 89
4.5 Quantificação da produção e demanda de águas cinza_________________ 93
4.5.1 Produção e demanda teórica de águas cinza ___________________ 93
4.5.2 Produção e demanda real de águas cinza _____________________ 94
4.5.2.1 O uso da máquina de lavar roupa___________________________ 95
4.5.2.2 Sistema de monitoramento ________________________________ 96
4.5.2.3 Aferição dos hidrômetros _________________________________ 98
4.5.2.4 Análises estatísticas _____________________________________ 99
5. Resultados e Discussão __________________ 100
5.1 Considerações gerais __________________________________________ 100
5.2 Caracterização qualitativa da água cinza segregada __________________ 100
5.2.1 Características físicas ____________________________________ 100
5.2.2 Características químicas __________________________________ 103
5.2.2.1 Compostos nitrogenados ________________________________ 103
5.2.2.2 Compostos fosforados __________________________________ 105
5.2.2.3 Compostos orgânicos ___________________________________ 107
5.2.2.4 Compostos de enxofre __________________________________ 110
5.2.2.5 Outros parâmetros de qualidade __________________________ 110
5.2.3 Características microbiológicas _____________________________ 114
5.2.4 Ensaio de biodegradabilidade ______________________________ 116
5.3 Desempenho da ETAC no tratamento das águas cinza de uma edificação
educacional_____________________________________________________ 117
5.3.1 Características gerais da água cinza bruta ____________________ 118
5.3.2 Remoção de sólidos, turbidez e cor__________________________ 118
5.3.3 Remoção de matéria orgânica______________________________ 119
5.3.4 Remoção de microrganismos ______________________________ 120
5.3.5 Sulfato e sulfeto _________________________________________ 123
5.3.6 Resumo do desempenho de cada tratamento__________________ 124
5.3.7 Atendimento aos limites e padrões __________________________ 125
5.3.8 Outros parâmetros monitorados ____________________________ 127
5.4 Características dos lodos gerados ________________________________ 129
5.5 Quantificação da produção e da demanda de águas cinza do prédio ETE-
UFES _________________________________________________________ 131
5.5.1 Consumo de água global __________________________________ 131
5.5.1.1 Consumo total_________________________________________ 131
5.5.1.2 Consumo por aparelho sanitário (hidrômetros) _______________ 132
5.5.2 Distribuição do consumo de água por tipo de aparelhos sanitários _ 133
5.5.3 Produção x Demanda de água cinza_________________________ 134
5.5.3.1 Análise mensal ________________________________________ 134
5.5.3.2 Análise diária _________________________________________ 135
5.5.3.3 Análise horária ________________________________________ 137
5.5.4 Simulação do consumo total de água potável e da produção de águas
residuárias__________________________________________________ 139
6. Conclusão______________________________ 141
7. Recomendações _________________________ 145
8. Referências Bibliográficas________________ 146
Anexo A__________________________________ 156
Anexo B__________________________________ 158
Anexo C__________________________________ 162
Anexo D _________________________________ 164
1 – Introdução
22
1. Introdução
O crescimento populacional e o desenvolvimento industrial combinados com o
uso irracional da água têm aumentado consideravelmente a demanda por água
doce e a produção de águas residuárias no mundo. Esses efluentes, tanto de
origem industrial quanto urbana, quando lançados no ambiente, degradam ainda
mais os mananciais onde essa água doce é captada.
Tendo em vista esse contexto de poluição, escassez e desperdício dos recursos
naturais, foi criada na Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992 (também
conhecida como Rio 92), um dos marcos referenciais para o desenvolvimento
sustentável, a Agenda 21. Ela estabelece um plano de ação elaborado de forma
consensuada por governos e instituições de diversos países, visando orientar um
novo padrão de desenvolvimento para o século XXI, cujo alicerce é a sinergia de
sustentabilidade ambiental, social e econômica (Ministério do Meio Ambiente).
Desde então, aumentou-se no mundo todo o número de experiências que visam
principalmente reduzir, reciclar, reutilizar e recuperar os resíduos gerados.
Umas das principais fontes de consumo de água são as residências. Alguns
países da Europa e Estados Unidos já concentram seu foco de ações nessa
escala. Em áreas densamente urbanizadas, o consumo de água nas edificações
pode atingir até 50% do consumo total de água potável. Uma redução
significativa desse consumo (30% a 40%) pode ser atingido nas residências
através de técnicas racionalizadoras (ex: uso de dispositivos economizadores nos
aparelhos) ou através da utilização de fontes alternativas de suprimento (ex: água
de chuva, água do mar dessalinizada ou o reúso de águas servidas, também
conhecida como águas cinza) para fins menos nobres (ex:lavagem de veículo,
rega de jardins, descarga de vasos sanitários
1 – Introdução
23
Entretanto, para se alcançar soluções ecológicas para o saneamento é
necessário que haja mudanças no modo como as pessoas pensam e agem
com relação aos resíduos por elas gerados. Considerando então a
necessidade de desenvolvimento de tecnologia brasileira para sistemas de
reúso, aspectos referentes às características quali-quantitativa de águas cinza
e ao desenvolvimento de novos processos de tratamento constituem-se em
importantes objetos de pesquisa.
2 – Objetivos
24
2. Objetivos
2.1 Objetivo Geral
Pesquisar alternativas para redução do consumo de água potável e da produção
de esgotos sanitários em edificações a partir da coleta, do tratamento e do reúso
de águas cinza em descargas de vasos sanitários.
2.2 Objetivos Específicos
9 Caracterizar, sob o ponto de vista físico-químico e microbiológico, águas cinza
residenciais provenientes de diferentes fontes (chuveiro, lavatório, máquina
de lavar, tanque, pia de cozinha).
9 Estudar o desempenho de uma estação compacta de tratamento de águas
cinza, composta pela associação em série de um Reator anaeróbio
compartimentado, um filtro biológico aerado submerso, um filtro terciário e um
clorador de pastilha, tratando as águas cinza de um prédio localizado no
Parque Experimental de Saneamento Básico da UFES.
9 Avaliar as características dos subprodutos gerados no tratamento das águas
cinza de um prédio localizado no Parque Experimental de Saneamento
Básico da UFES.
9 Estudar a produção e a demanda de água cinza de um prédio localizado no
Parque Experimental de Saneamento Básico da UFES.
3 – Revisão Bibliográfica
25
3. Revisão Bibliográfica
3.1 Escassez de água
Quando, em 1961, o astronauta russo Yuri A. Gagarin avistou a terra do espaço e
enviou a mensagem “A Terra é azul”, fez com que se pensasse que água, recurso
essencial à vida, nunca fosse se findar.
De fato, a água é um recurso natural renovável e possui seu fluxo permanente e
volume inalterado em virtude do ciclo hidrológico (figura 3-1). Entretanto, uma
preocupação recorrente e vastamente justificada (UN/WWAP, 2003), é de que a
água, tão abundante, se torne paradoxalmente cada vez mais escassa para
consumo humano. Nos últimos 100 anos o consumo de água multiplicou por seis
e hoje 1/3 da humanidade vive em áreas onde falta água limpa. Em virtude disso,
em março de 2005, o secretário-geral das Organizações das Nações Unidas
(ONU), Kofi Annan, decretou como a Década da Água os anos de 2005 a 2015.
FONTE: www.explora.cl/ otros/agua/ciclo2.html
Figura 3-1: Ciclo hidrológico
3 – Revisão Bibliográfica
26
Segundo reportagem publicada pela revista Veja em 12 de outubro de 2005
(LIMA, 2005), o problema da escassez de água pode ser resumido em dois
aspectos: má distribuição e má gestão. O primeiro se deve à própria natureza e o
segundo é culpa do homem. A figura 3-2 mostra como as reservas de água doce
são mal distribuídas na superfície do planeta. Regiões como o Oriente Médio e a
África possuem problemas sérios e até conflitos devido à falta desse bem.
Todavia, mesmo nas regiões mais abastadas, a distância entre as fontes de água
e os centros consumidores pode ser enorme.
FONTE: ANA
Figura 3-2: Distribuição de água no mundo
O Brasil detém umas das maiores reservas de água doce no mundo, mas
também enfrenta internamente esse paradoxo. As cidades passam por crises de
abastecimento, das quais não escapam nem as situadas na Região Norte, que
estão perto de 80% das descargas de água de rios no Brasil (REBOUÇAS, 2003).
Além disso, parte da água no Brasil já perdeu a característica de recurso natural
renovável (principalmente nas áreas densamente povoadas), em razão de
processos de urbanização, industrialização e produção agrícola, que são
incentivados, mas pouco estruturados em termos de preservação da água e do
ambiente.
3 – Revisão Bibliográfica
27
3.2 Problemática das áreas urbanas
Existe uma grande diferença nos modelos de cidades distribuídos ao redor do
mundo. As áreas urbanas variam de grandes cidades a pequenos centros de
comércio. Por isso, generalizações entre elas é difícil, em virtude de cada uma ter
seu próprio cenário social, político e econômico.
A urbanização pode aumentar drasticamente o uso de água para consumo
humano. De acordo com estudos feitos pelo WHO (World Health Organization) e
pela UNICEF (United Nations Children’s Fund) (2001), o número de residentes
em áreas urbanas sem acesso a fontes de água aumentou de 113 milhões em
1990 (5% da população urbana mundial) para 173 milhões em 2000 (6% da
população urbana mundial).
O desenvolvimento de cidades sem um correto planejamento ambiental resulta
em prejuízos significativos para a sociedade. Uma outra conseqüência do
crescimento urbano é o acréscimo da poluição doméstica e industrial, criando
condições ambientais inadequadas e propiciando o desenvolvimento de doenças,
contaminação da água subterrânea, entre outros problemas.
No Brasil, de acordo com dados do último censo (IBGE, 2000), da população de
quase 170 milhões de pessoas existentes, perto de 138 milhões vivem nas
cidades. Os efeitos desta realidade fazem-se sentir sobre todo aparelhamento
urbano relativo a recursos hídricos, ao abastecimento de água, ao transporte e ao
tratamento de esgotos e pluvial.
Ainda segundo o IBGE, cerca de 76,1% da população brasileira é atendida por
rede de abastecimento de água e apenas 40% é atendida por rede de esgoto
sanitário. Apenas 40% do volume desse esgoto coletado é tratado antes do
lançamento. Esse panorama é comum em outros países em desenvolvimento,
onde a infra-estrutura de água e esgoto urbana não atende a uma grande parcela
da população.
3 – Revisão Bibliográfica
28
3.2.1 Ciclo urbano da água
O sistema urbano convencional de uso da água apresenta, hoje, um ciclo
imperfeito. A água é bombeada de uma fonte local, é tratada, utilizada e, depois,
retornada para o rio ou lago, para ser bombeada novamente. Entretanto, a água
que é devolvida raramente possui a mesma qualidade que a água receptora (ou a
água original, como foi extraída da natureza). Sais, matéria orgânica, calor e
outros resíduos que caracterizam a poluição da água são agora encontrados.
Segundo Otterpohl et al. (1997), os sistemas tradicionais de saneamento
produzem um fluxo linear de materiais, causando acumulação e mistura do ciclo
da água com o ciclo de alimentos (Figura 3-3). Esse sistema adota a premissa de
que os nutrientes eliminados nas excretas humanas não têm valor significativo, e
devem ser descartados (ESREY et al., 1998).
Outra desvantagem desse sistema são os grandes volumes de água utilizados
para o transporte dos resíduos nas redes coletoras. O sistema mistura
quantidades comparativamente pequenas de substâncias potencialmente
prejudiciais, com grandes quantidades de água, aumentando a magnitude do
problema (LANGERGRABER e MUELLEGGER, 2005). Se por um lado os
problemas urgentes relacionados à higiene são solucionados, por outro, os
impactos ambientais nos recursos hídricos utilizados para o suprimento de água
potável são enormes (OTTERPOHL et al., 2002).
O saneamento ecológico é um caminho alternativo para evitar as desvantagens
de um sistema convencional de esgoto. O paradigma do saneamento ecológico
(EcoSan) é baseado nos caminhos naturais dos ecossistemas e no ciclo fechado
de materiais (Figura 3-4). As excretas humanas (fezes e urina) bem como as
demais águas residuárias domésticas são reconhecidas como um recurso (não
como um resíduo) que pode ser disponível para o reúso (LANGERGRABER e
MUELLEGGER, 2005). O reúso de águas cinza bem como a racionalização do
uso de água potável (foco deste trabalho) é parte integrante e importante desse
ciclo, pois promove a preservação de águas de melhor qualidade para fins
potáveis e reduz a poluição no meio ambiente.
3 – Revisão Bibliográfica
29
FONTE: Adaptado de OTTERPOHL et al, 1997
Figura 3-3: Fluxo linear de massa em um sistema sanitário tradicional em países industrializados
FONTE: Adaptado de OTTERPOHL et al, 1997
Figura 3-4: Fluxo circular de massa em um possível sistema sanitário sustentável
3 – Revisão Bibliográfica
30
3.3 Consumo de água
A competitividade pelo uso dos recursos hídricos no mundo está caracterizada
por três grandes demandas: uso urbano ou doméstico, uso industrial e uso
agrícola, estimado e ilustrado na Figura 3-5. Quanto mais alto o nível de
desenvolvimento do país, mais água é utilizada para fins industriais e urbanos e
menos para a agricultura.
69%
23%
8%
Uso Agrícola
Uso industrial
Uso urbano
FONTE: HINRICHSEN et al., 1997
Figura 3-5: Distribuição do consumo de água no mundo
O uso da água para consumo nas áreas urbanas subdivide-se em três categorias
(Tomaz, 2000):
Consumo residencial: relativo a residências unifamiliares e edifícios
multifamiliares;
Consumo comercial: relativo a restaurantes, hospitais e serviços de
saúde, hotéis, lavanderias, autoposto e lava a jatos, clubes
esportivos, bares, lanchonetes e lojas;
Consumo público: relativo aos edifícios públicos, escolas, parque
infantil, prédios de unidade de saúde pública, cadeia pública e todos
os edifícios municipais, estaduais e federais existentes.
3.3.1 Consumo de água residencial
O consumo de água residencial pode constituir mais da metade do consumo total
de água nas áreas urbanas. Na região metropolitana de São Paulo, o consumo
3 – Revisão Bibliográfica
31
de água residencial corresponde a 84,4% do consumo total urbano (incluindo
também o consumo em pequenas indústrias). Na cidade de Vitória, a
porcentagem desse consumo é bem similar, correspondendo a aproximadamente
85% desse total (dados da CESAN de 2002 e 2003) (RODRIGUES, 2005).
A quantidade de água consumida em uma residência depende de uma série de
fatores, que vão desde variáveis comportamentais até variáveis físicas e
econômicas. Arbués et al. (2003) realizou um estado da arte sobre vários
procedimentos estatísticos utilizados para estimativa da demanda de água em
residências, tomando como base as diversas variáveis que determinam esse
consumo. Algumas delas são: a tarifa exercida, renda familiar, condições
climáticas (precipitação, temperatura); características das residências (tamanho,
se possui área externa ou não), moradores (quantidade e faixa etária).
O Documento Técnico de Apoio (DTA) E1, do PNCDA (Programa Nacional de
Combate ao Desperdício de água), apresenta metodologias e equipamentos
necessários para se chegar à caracterizão do consumo de água de habitações
unifamiliares brasileiras (ROCHA et al., 1998).
O consumo de água residencial inclui tanto o uso interno quanto o uso externo a
residências. Em edificações residenciais, os usos de água internos distribuem-se
principalmente em atividade de limpeza e higiene, enquanto que os externos
ocorrem devido à irrigação, lavagem de veículos, piscinas, entre outros.
Estudos realizados pelo Ministério das Cidades no âmbito do Programa de
Modernização do Setor de Saneamento - PMSS (2004) mostraram no Diagnóstico
dos Serviços de Água e Esgoto de 2003 que o consumo per capita médio no
Brasil é de 141,0 L/hab.dia. Em termos regionais, destaca-se a Região Sudeste
que apresentou um consumo per capita de 174,0 L/hab.dia, superior a média do
país (Tabela 3-1. De acordo com esse mesmo estudo, a CESAN (Companhia
Espírito-Santense de Saneamento) apresentou um consumo per capita de 194,9
L/hab.dia. Isso evidencia que um gasto excessivo é atribuído a esse setor.
3 – Revisão Bibliográfica
32
Tabela 3-1: Consumo de água médio per capita e por economia em cada região geográfica no
Brasil
Por habitante
(L/hab.dia)
Por economia
(m³/economia.mês)
Norte 111,7 16,1
Nordeste 107,3 12,5
Sudeste 174,0 15,9
Sul 124,6 11,7
Centro-Oeste 133,6 13,4
Brasil 141,0 14,1
Consumo médio de água
Região
FONTE: PMSS (2004)
3.3.2 Distribuição do consumo de água residencial
O conhecimento dos consumos específicos de água que ocorrem nos diversos
pontos de utilização de uma residência é de fundamental importância para se
saber onde se deve priorizar as ações de conservação do uso da água em
edificações.
A Tabela 3-2 mostra algumas experiências que realizaram a parametrização do
consumo de água em edificações, bem como uma simulação do consumo de
água em uma residência de classe media brasileira, realizada por uma
conceituada empresa do ramo de peças e aparelhos sanitários (Deca).
A Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Deca, realizou um
estudo em um prédio da própria universidade. Já o documento técnico de apoio
E1, do PNCDA, apresenta uma caracterização do consumo de água para um
apartamento situado em um conjunto residencial para população de baixa renda
(ROCHA et al., 1998).
A NSWHealth (2000) e o EPA (1992) apresentam dados sobre domicílios
australianos e americanos respectivamente. Jensen (1991, apud TOMAZ, 2000)
apresentou a distribuição de consumo de água médio em residências na
Dinamarca.
3 – Revisão Bibliográfica
33
Tabela 3-2: Distribuição do consumo de água em edificações domiciliares
Simulação
Deca *
Prédio USP*
PNCDA
(BRASIL, 1998)
Austrália
(NSWhealth, 2000)
Dinamarca
(Jensen,1991)
**
EUA
(
EPA, 1992)
72% 63% 68% 70% 50% 74%
Bacia sanitária 14% 29% 5% 32% 20% 41%
Pia 12% 6% 8% 5% 10% -
Chuveiro 47% 28% 55% 20% 33%
Banheira - - - - -
15% 22% 18% 7% 25% 5%
Pia de cozinha 15% 17% 18% 5% 5%
Máq de lavar louça - 5% - 20% -
13% 15% 14% 23% 15% 21%
Máq de lavar roupa 8% 9% 11% 23% 15% 21%
Tanque - 6% 3% - - -
Torneira de uso geral 5% - - - - -
Limpeza - - - - - -
0% 0% 0% 10% 0%
Outros - - - - -
Lavagem de carro - - - - 10% -
Vazamentos - - - - -
* Disponível na Homepage da Deca
** Citado em Tomaz (2000)
Setor da residêcia
Cozinha
Área de serviço
Outros
Banheiro
33%
7%
Pela análise da tabela 3-2, é possível identificar que o banheiro é o ponto de
maior consumo de água, independentemente da região onde se encontra a
edificação, representando mais da metade do consumo de água nas residências.
A bacia sanitária e o chuveiro, em alguns locais, possuem um consumo
relativamente semelhante, justificando a necessidade de se investirem esforços e
recursos em pesquisas sobre práticas de reúso.
3.4 Conservação de água potável
Santos (2002) conceitua Conservação de água” como sendo um conjunto de
ações que propiciam a economia de água seja nos mananciais, seja no sistema
público de abastecimento de água, seja ainda nas habitações.
Restringindo-se ao cenário das habitações, de acordo com o Manual de
Conservação e Reúso de Água em Edificações elaborado pela FIESP (2005), a
conservação da água pode ser definida como qualquer ação que: reduza a
quantidade de água extraída em fontes de suprimento; reduza o consumo de
água; reduza o desperdício de água; aumente a eficiência do uso da água; ou
ainda aumente a reciclagem e o reúso de água.
3 – Revisão Bibliográfica
34
É oportuno destacar que, com relação à tipologia das ações de economia, elas
podem ser de uso racional de água e de uso de fontes alternativas.
3.4.1 Uso racional de água
As ações de uso racional de água são basicamente de combate ao desperdício
quantitativo, como a priorização do uso de aparelhos sanitários economizadores
de água, o incentivo à adoção da medição individualizada, a conscientização do
usuário para não desperdiçar água no ato do uso, a detecção e controle de
perdas de água no sistema predial de água fria, o estabelecimento de tarifas
inibidoras do desperdício, entre outras (SANTOS, 2002).
3.4.1.1 Aparelhos economizadores de água
Os desperdícios de água verificados em bacias sanitárias, torneiras, chuveiros,
mictórios e outros componentes ocorrem pelos seguintes motivos: vazão
excessiva, tempo de utilização prolongado, dispersão do jato e por vazamentos.
Todos esses fatores, com exceção do vazamento, podem ser controlados através
de componentes adequados às condições físicas e funcionais do local
(OLIVEIRA, 2005).
A concepção de sistemas economizadores de água preconiza um menor
consumo, um melhor desempenho e menor influência da ação do usuário na
economia de água. Existe uma série deles disponível no mercado, como bacias
sanitárias de volume reduzido ou com duplo acionamento (3 ou 6 L), chuveiros e
lavatórios com volumes fixos de descarga, arejadores, etc.
No manual de Conservação e Reúso de Água em Edificações (FIESP, 2005)
existem alguns estudos de caso que retratam a economia de água através da
implantação de alguns desses tipos de aparelhos. Um dos estudos de caso é
referente à aplicação de registros restritores de vazão em um edifício residencial
e em um hotel de São Paulo. Eles proporcionaram a redução de 73% e 81% do
consumo de água, respectivamente.
3 – Revisão Bibliográfica
35
3.4.1.2 Medição individualizada
A medição individualizada nas residências é outro fator que afeta o consumo de
água. Quando se paga proporcionalmente aos volumes consumidos, há uma
tendência de redução no consumo de água. No Canadá, um estudo feito em
1999, pelo Governo de British Columbia, mostrou que as residências que não
possuíam medição individualizada consumiram 70% a mais água (457 L/hab.dia)
do que as que possuíam esse tipo de medição (269 L/hab.dia).
3.4.1.3 Fontes alternativas de água
As fontes alternativas de água são fontes opcionais àquelas normalmente
disponibilizadas às habitações (água potável). Destacam-se a água cinza, a água
de chuva, a água subterrânea, a água mineral envasada e a água distribuída em
caminhões-pipas.
A utilização da água de chuva como fonte alternativa trata-se de uma das
soluções mais simples e baratas para preservar a água potável. Ela é viável
principalmente nas regiões onde o regime pluviométrico é generoso em termos
quantitativos e distributivos ao longo do ano.
A utilização da água da chuva nas edificações é uma prática antiga que foi um
pouco esquecida quando os sistemas públicos de abastecimento foram
implementados. Atualmente, a sua utilização voltou a ser realidade e faz parte da
gestão moderna de grandes cidades e de países desenvolvidos. Vários países
europeus e asiáticos utilizam amplamente a água da chuva nas residências para
usos que não requerem qualidade de água potável, como a descarga de vasos
sanitário, a lavagem de roupas, calçadas e carros e a rega de jardins (MAY,
2004).
A configuração básica de um sistema de aproveitamento de água de chuva
consta da área de captação (telhado, laje, piso), dos sistemas de condução de
água (calhas, condutores verticais e horizontais), da unidade de tratamento da
água (reservatório de coleta de primeira chuva, filtros e desinfecção) e do
3 – Revisão Bibliográfica
36
reservatório de acumulação. Em alguns casos, pode ser necessário um sistema
de recalque, o reservatório superior e a rede de distribuição.
A qualidade da água de chuva pode ser afetada por diversos fatores, como a
localização geográfica, presença de vegetação, condições meteorológicas,
estação do ano, presença de carga poluidora (indústria) e condições da superfície
de captação. Portanto, é de suma importância proceder a caracterização da água
da chuva da região para melhor conhecê-la, possibilitando assim o seu
aproveitamento de forma segura. Vaccari et al. (2005) estudaram a qualidade da
água da chuva do município de Vitória e observaram que a sua qualidade atende
aos padrões de qualidade de água de reúso classe 1, segundo o manual
“Conservação e Reúso da Água em Edificações”, exceto para coliformes totais,
se o primeiro 1,5mm de chuva for eliminado.
3.5 As cores das águas
O conceito de saneamento ecológico é baseado no princípio de separação dos
fluxos dos diferentes tipos de efluentes domésticos, de acordo com suas
características, visando reutilizá-los ou minimizá-los para reduzir sua liberação ao
meio ambiente. A Figura 3-6 mostra um modelo de gerenciamento das águas em
escala residencial, com linhas de suprimento águas e de produção de águas
residuárias diferenciadas conceitualmente pelas cores das águas (Gonçalves,
2004 / PROSAB plano de integração).
3 – Revisão Bibliográfica
37
c Suprimento de água convencional, a partir da rede pública.
d Coleta e aproveitamento de água de chuva a partir do telhado da edificação;
e Coleta, tratamento e reúso das águas cinza na descarga de vasos sanitários;
f Coleta, tratamento e reúso de águas amarelas (urina) na agricultura;
g Coleta, tratamento e reúso das águas negra na agricultura;
Figura 3-6: Esquema de um sistema de gerenciamento de águas em uma edificação
Com base em Otterpohl (2001), o esgoto sanitário gerado nas residências pode
ser segregado da seguinte forma:
Água negra (blackwater): efluente proveniente dos vasos sanitários,
incluindo fezes, urina e papel higiênico, principalmente;
Água cinza (greywater): águas servidas, excluindo o efluente dos
vasos sanitários;
Água amarela: representando somente a urina.
Água marrom: representando somente as fezes.
A caracterização destes diferentes tipos de águas residuárias é de fundamental
importância para o sucesso dos projetos de reúso. Quanto mais informações se
obtiver do efluente, melhor se poderá caracterizá-lo e, assim, escolher o
tratamento mais adequado, atendendo aos requisitos de qualidade exigidos para
o reúso que se deseja.
Agricultura
2
3
4
5
1
Lodo
Lodo
Agricultura
2
3
4
5
1
Lodo
Lodo
3 – Revisão Bibliográfica
38
3.6 Tipos de reúso
Mancuso & Santos (2003) classificam o reúso de água, em geral, em: potável e
não-potável. Essa classificação foi adotada por esses autores pela sua
praticidade e facilidade.
O reúso potável divide-se em direto e indireto. O reúso potável direto ocorre
quando o esgoto é recuperado por meio de tratamento avançado e reutilizado
diretamente no sistema como água potável e, o indireto ocorre quando o esgoto,
após o tratamento, é disposto nas coleções de águas superficiais ou
subterrâneas para diluição, purificação natural e subseqüente captação,
tratamento e finalmente utilizado como água potável.
Já o reúso não-potável é dividido de acordo com sua finalidade, como por
exemplo: para fins agrícolas, industriais, domésticos, recreacionais, para
manutenção de vazões, para aqüicultura e para recarga de aqüíferos
subterrâneos.
O reúso de água cinza enquadra-se no reúso não-potável. Ela pode ser utilizada
para todos os fins citados acima, destacando-se, principalmente, o reúso
doméstico (rega de jardins residenciais, lavagem de veículos e de áreas
impermeáveis, descarga de vasos sanitários) e agrícola. Segundo Eriksson et al.
(2002), diferentes tipos de água cinza podem ser adequados para diferentes tipos
de reúso e irá requerer diferentes tipos de tratamento, dependendo do reúso que
se pretende dar a ela.
3.7 Água cinza
O termo água cinza é utilizado, em geral, para água servida originada em
residências (ou também escolas, escritórios ou edifícios públicos), que não possui
contribuição de efluentes de vasos sanitários. É a água residuária proveniente do
uso de lavatórios, chuveiros, banheiras, pias de cozinha, máquina de lavar roupa
e tanque (JEFFERSON et al., 1999; ERIKSSON et al., 2002; OTTOSON e
3 – Revisão Bibliográfica
39
STENSTRÖM, 2003). Alguns autores, como Nolde (1999) e Christova-Boal et al.
(1996), não consideram como água cinza o efluente oriundo de cozinhas, por
considerá-lo altamente poluído, putrescível e com inúmeros compostos
indesejáveis, como por exemplo, óleos e gorduras.
3.7.1 Características qualitativas da água cinza
A água cinza é geralmente originada pelo uso de sabão ou de outros produtos
para lavagem do corpo, de roupas ou de limpeza em geral (JEFFERSON et al.,
1999). Ela varia em qualidade de acordo com a localidade e nível de ocupação da
residência, faixa etária, estilo de vida, classe social e costumes dos moradores
(NSWHEALTH, 2000) e com o tipo de fonte de água cinza que está sendo
utilizado (lavatório, chuveiro, máquina de lavar, etc.) (NOLDE, 1999). Outros
fatores que, segundo Eriksson et al. (2002), também contribuem para as
características da água cinza são: a qualidade da água de abastecimento e o tipo
de rede de distribuição, tanto da água de abastecimento quanto da água de
reúso. A Tabela 3-3 mostra características físico-químicas e microbiológicas de
águas cinza originadas de várias fontes dentro de uma residência.
3 – Revisão Bibliográfica
40
Tabela 3-3: Características das águas cinza originadas de várias fontes
Chuveiro/
Banheira
Pia de
Cozinha
Lava
Louças
Lava Roupas
Enxague de
roupa
Banheiro Lavanderia Banheira Lavatório Chuveiro
Pia de
Cozinha
Físicos
mg/l exceto onde indicado
Temperatura ( °C ) 29 27 38 32 28
Turbidez ( NTU ) 60 - 240 50 - 210
ST 250 2410 1500 1340 410
SST 120 720 440 280 120 54 181 200 235
Químicos
mg/l exceto onde indicado
pH 6,4 - 8,1 9,3 - 10
Condutividade (
µ
S/cm)
82 - 250 190 - 1400
Alcalinidade 24 - 43 83 - 200
DBO5
170 1460 1040 380 150 76 - 200 48 - 290
DQO 210 298 501 644
Óleos e Graxas 37 - 78 8,0 - 35
Cloreto 9,0 - 18 9,0 - 88
Nutrientes
mg/l exceto onde indicado
N-total 17 74 40 21 6
NTK 4,6 - 20 1,0 - 40
NH4-N
2 6 4.5 0,7 0,4 <0,1 - 15 <0,1 - 1,9 1,1 0,3 1,2 0,3
NO3-N
0,4 0,3 0,3 0,6 0,4 4,2 6 6,3 5,8
NO3 & NO2
<0 0,10 - 0,31
P-total 2 74 68 57 21 0,11 - 1,8 0,062 - 42
PO
4
-
P
1 31 32 15 4 5,3 13,3 19,2 26
Microbiológicos
por 100 ml exceto onde indicado
ColiformesTotais
70-8200
85 - 8,9x10
5
190 - 1,5x10
5
500-2,4 x 10
7
2,3 x 10
3
-3,3 x 10
5
Coliformes Fecais
1-2500
9 - 1,6x10
4
35 - 7,1x10
3
170-3,3 x 10
3
110 -1,09x10
3
Cripistoridium
nd nd
Salmonela
nd
* Citado em Eriksson et al. (2002)
Tipos de água Cinza
Siegrist et al. (1976) *
Parâmetros
Christova-Boal et al. (1998) Almeida et al. (1999)
3.7.1.1 Características físicas
Os parâmetros físicos mais relevantes são: temperatura, cor, turbidez e o
conteúdo de sólidos suspensos. Altas temperaturas podem ser indesejáveis
devido ao favorecimento do crescimento de microorganismos; já as medidas de
turbidez e sólidos suspensos podem dar alguma informação a respeito do
conteúdo de partículas e colóides que poderiam induzir ao entupimento de
instalações de transporte e tratamento desses efluentes. Embora o conteúdo de
sólidos esperados na água cinza seja menor, de acordo com Gray e Becker
(2002), aproximadamente 32,7% da carga do esgoto convencional, esses
problemas relacionados com entupimento de tubulação não podem ser
negligenciados. A razão disso é que esses colóides combinados com os
surfactantes (oriundo dos detergentes) podem causar estabilização na fase sólida
devido à adsorção do surfactante na superfície do colóide (ERIKSSON et al.,
2002).
3 – Revisão Bibliográfica
41
3.7.1.2 Características químicas
As características químicas serão divididas de acordo com o tipo de composto
presente.
Compostos orgânicos
O valor de DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e de DQO (demanda química
de oxigênio) irá indicar o risco de depleção de oxigênio devido à degradação da
matéria orgânica durante o transporte e estocagem e, ligado a isso, o risco de
produção de sulfeto. A maior parte da DQO é derivada dos produtos químicos
utilizados nas residências, como produtos de limpeza e detergentes. Espera-se,
então, que os níveis de DQO sejam próximos aos encontrados para o esgoto
doméstico convencional, enquanto que para as concentrações de DBO esperam-
se valores mais baixos (ERIKSSON et al., 2002).
Segundo Gray e Becker (2002), água cinza contribui com aproximadamente
39,1% da carga de DQO de uma residência. Sendo que o efluente da cozinha
contribui com 7,4%, o do banheiro (excluindo o vaso sanitário) com 15,4% e o da
lavanderia com 9,0%.
Compostos nitrogenados e fosforados (nutrientes)
Com relação aos nutrientes, as concentrações de nitrogênio total na água cinza
são mais baixas do que no esgoto convencional, visto que a principal fonte desse
nutriente é a urina e ela não está presente na água cinza. Dessa forma, quem
mais contribui para os níveis de nitrogênio na água cinza é o efluente da cozinha.
Entretanto, em algumas residências tem-se o costume de urinar durante o banho
(ERIKSSON et al., 2002).
Já para o fósforo, sua principal fonte são os detergentes, principalmente em
locais onde ainda é permitido o uso de detergentes contendo fosfatos
(ERIKSSON et al., 2002). Em locais onde o uso desses detergentes não é
3 – Revisão Bibliográfica
42
permitido, o conteúdo de fósforo na água cinza tende a ser 70% menor
(OTTERPOHL, 2001).
A água cinza contribui, em geral, com apenas 7,7% da carga de nitrogênio total,
com 2,3% da carga de amônia e com 12,4% da carga de fósforo em uma
residência (GRAY E BECKER, 2002)
Compostos de enxofre
Assim como no esgoto sanitário, o íon sulfato (SO
4
-2
) está presente nas águas
cinza. Entretanto, na águas cinza essas concentrações são um pouco
preocupantes em virtude da rapidez com que esta se torna anaeróbia (melhor
explicado no item 3.7.2).
Em condições anaeróbias, os sulfatos são reduzidos a sulfetos através de
reações decorrentes da ação bacteriológica e, os sulfetos podem se combinar
com o hidrogênio formando o sulfeto de hidrogênio ou gás sulfídrico (H
2
S)
(METCALF e EDDY, 1991). Simplificando as reações:
22
22
4
M COOHSSOOrgânicaatéria
bactéria
++⎯→+
SHHS
2
2
2 ⎯→+
+
A preocupação está justamente em função da formação de H
2
S, pois estes,
quando observados acima de 1mg/L, geram maus odores.
Outros componentes
O pH na água cinza depende basicamente do pH da água de abastecimento.
Entretanto, alguns produtos químicos utilizados podem contribuir para aumento o
do mesmo. Além disso, as medidas de alcalinidade e dureza (de maneira similar
às de turbidez e sólidos suspensos) dão alguma informação a respeito do risco
de entupimento das tubulações (ERIKSSON et al., 2002).
3 – Revisão Bibliográfica
43
Alguns produtos químicos são esperados que estejam presentes na água cinza,
constituindo um grupo heterogêneo de compostos. Eles são originados pelo uso
de sabões, detergentes, xampus, perfumes, tinturas, produtos de limpeza, entre
outros. O efluente da cozinha ainda possui lipídios (óleos e gorduras), chá, café,
amido solúvel, glicose, entre outros. Já na lavanderia, diferentes tipos de
detergentes, alvejantes e perfumes são utilizados. Dentro de toda essa gama de
substâncias, uma maneira de selecionar compostos realmente relevantes para
caracterização de uma água cinza poderia ser baseada nos compostos
encontrados em produtos residenciais, juntamente com a identificação do risco
ambiental que eles proporcionam. O principal composto da lista são os
surfactantes (ex: não-iônico, aniônico e anfóteros) utilizados em detergentes e
produtos de higiene pessoal (ERIKSSON et al., 2002).
De acordo com Grey e Becker (2002), a carga de óleos e graxas na água
cinza é de 61,5% da carga de um esgoto residencial convencional.
3.7.1.3 Características microbiológicas
No que diz respeito às características microbiológicas, embora a água cinza não
possua contribuição dos vasos sanitários, de onde provém a maior parte dos
microorganismos patogênicos, algumas atividades como limpeza das mãos após
o uso do toalete, lavagem de roupas fecalmente contaminadas (ex: fraldas) ou o
próprio banho são algumas das possíveis fontes desses agentes na água cinza
(OTTOSON e STENSTRÖM, 2003).
Segundo Ottoson e Stenström (2003), os risco à saúde humana dependem: do
tipo de patógenos, do tratamento aplicado e da rota de exposição. A presença de
Escherichia coli ou outros organismos entéricos indica a contaminação fecal e a
possibilidade de presença de patógenos intestinais, como Salmonella ou vírus
entéricos, na água cinza. Grandes quantidades de coliformes fecais são
indesejáveis e implicam uma maior chance de contágio em humanos durante o
contato com a água cinza reutilizada (ROSE et al., 2002). Entretanto, esse
indicador pode, em alguns casos, superestimar os riscos devido ao seu potencial
de crescimento dentro do sistema (OTTOSON e STENSTRÖM, 2003). Estudos
3 – Revisão Bibliográfica
44
feitos por Rose et al. (2002) com análise de água cinza estocada mostram que a
quantidade de bactérias aeróbias, como os coliformes termotolerantes, aumenta
muito durante as primeiras 48 horas de estocagem e depois fica relativamente
estabilizada pelos próximos 12 dias.
3.7.2 Diferença entre as parcelas do esgoto doméstico
Alguns engenheiros sanitaristas conservadores mantêm o conceito de que
“esgoto é esgoto” independente de ser somente água cinza ou esgoto (água
cinza mais água negra misturada). Uma razão para esse conservadorismo é o
fato de a água cinza, quando estocada sem tratamento por alguns dias, ter
características semelhantes a de um esgoto convencional, pois ambos terão mau
cheiro (anaerábios) e uma grande quantidade de bactérias. Entretanto, as
diferenças são muito mais importantes do que suas similaridades.
As diferenças em termos quantitativos e qualitativos estão exemplificadas na
Figura 3-7. Essas características demonstradas na figura foram de um projeto
piloto realizado em Lübeck (Alemanha) para uma nova comunidade de
aproximadamente 400 pessoas, utilizando toaletes a vácuo, segregação das
águas resíduárias e destinações diferentes a cada uma delas (OTTERPOHL,
2001).
Outra diferença é que as fontes de água cinza, encontradas na cozinha, na
lavanderia e nos banheiros (chuveiros e lavatórios), possuem densidade de
patógenos inferior às encontradas nos resíduos dos vasos sanitários. A Figura 3-
8 mostra uma comparação das densidades de E. coli entre a água cinza e o
esgoto doméstico combinado bruto em termos de unidades logarítmicas por
100ml.
3 – Revisão Bibliográfica
45
98%
2%
0,2%
44%
11%
45%
40%
35%
25%
8%
85%
7%
Água cinza Água amarela Água marrom
DQO
P
TOT
N
TOT
Volume
FONTE: Adaptado de OTTERPOHL, 2001
Figura 3-7: Distribuição de alguns compostos nas parcelas do esgoto doméstico
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Água cinza Esgoto combinado
E. coli (log/100mL)
FONTE: Adaptação von Sperling (2005); Ottoson e Stenström (2003)
Figura 3-8: Comparação entre a densidade de E. coli na água cinza e no esgoto doméstico
combinado
Entretanto, a diferença mais significante entre as águas negras (fezes+urina) e as
águas cinza está na taxa de decaimento de poluentes em cada uma. As curvas
de DBO podem demonstrar o quanto o grau de oxidação de um material pode
afetar a quantidade de oxigênio ao longo do tempo (Figura 3-9). Apesar da
diferença dos compostos orgânicos presentes, os processos de decomposição
podem ser descritos como uma reação de primeira ordem, expressa de acordo
com a seguinte equação diferencial:
LK
dt
dL
=
1
. Onde, L é concentração de
3 – Revisão Bibliográfica
46
DBO remanescente (mg/L); t é tempo (dia); e K
1
é o coeficiente de
desoxigenação (dia
-1
).
Quanto menor o valor de K
1
mais lenta é a decomposição. Como a matéria
orgânica presente nas águas negras já foi exposta a uma das mais eficientes
“estações de tratamento”, o sistema digestivo humano, é justificável que os
resíduos desse processo não se decomponham tão rapidamente quando
misturados com a água. Em contrapartida, a rápida taxa de decaimento na água
cinza pode ser explicada pela presença de compostos orgânicos de degradação
mais fácil e, conseqüentemente, mais disponíveis para os microrganismos.
Em virtude disso, a água cinza, quando armazenada sem tratamento, decompõe-
se rapidamente (consumindo o oxigênio), tornando-se anaeróbia. Quando atinge
esse estado séptico, a água cinza forma um lodo que pode sedimentar ou flotar,
dependendo do conteúdo de gás e da densidade do mesmo. A água cinza séptica
pode então exalar mau cheiro assim como as águas negras e conter também
bactérias anaeróbias que podem ser patogênicas ao homem. Conseqüentemente,
o sucesso dos tratamentos da água cinza está ligado à utilização de processos
que as tratem antes delas se tornarem anaeróbias.
3 – Revisão Bibliográfica
47
FONTE: OLSON et al. (1968, citados em www.greywater.com)
Figura 3-9: Comparação entre a taxa de decomposição da água cinza e da água negra
3.7.3 Características quantitativas da água cinza
Os aspectos quantitativos, tanto de produção quanto de demanda de água cinza,
estão muito relacionados com o consumo de água dentro das residências, que
variam principalmente de acordo com a região, com o clima e com os costumes
dos habitantes. Características como vazão específica dos aparelhos sanitários,
associadas à realidade de seus usos (freqüência e duração de uso), permitem
estimar a vazão diária de água cinza a ser produzida (SANTOS, 2002). Uma
pesquisa realizada por Rocha et al. (1998), dentro do Programa de Nacional de
Combate ao Desperdício de Água (PNCDA), mostra que a determinação da
caracterização do consumo de água em residências tem sido feita em alguns
poucos países do Hemisfério Norte e os correspondentes valores, por falta de
3 – Revisão Bibliográfica
48
outros válidos, têm sido utilizados pelas equipes técnicas brasileiras, apenas
como referência, mostrando a necessidade urgente de levantamentos relativos à
realidade brasileira.
Em 1972, na Inglaterra, Gibson (1972 apud ROCHA et al., 1998) aplicou uma
metodologia que consistia na instalação, em todos os pontos de utilização de
água, de sensores de fluxo associados a hidrômetros instrumentados, que por
sua vez foram interligados a um gravador de fita magnética para registro das
ocorrências de passagem de água e registro do correspondente volume, mais o
horário de início e fim do evento. Os sinais gravados na fita passavam por um
decodificador, que comandava uma máquina de perfuração (punch-paper), que
gerava fita de papel perfurada. Esta fita servia como entrada de dados para um
computador que realizava o tratamento dos dados dos consumos registrados
obtendo gráficos do tipo histogramas diários de uso dos pontos de utilização.
Em 1979, na Suécia, Holmberg e Olsson (1979 apud ROCHA et al., 1998)
realizaram uma investigação em um prédio com vinte apartamentos, onde foram
instalados, nos pontos de utilização, sensores de fluxo e hidrômetros
instrumentados, mais sensores de pressão e temperatura. Todos os sensores
foram conectados a um equipamento de aquisição de dados, que registrava a
ocorrência dos eventos em um disquete, para ser, posteriormente, lido em
computador (ou microcomputador), para tratamento e análise dos dados. No
computador foram desenvolvidos programas para tratamento dos dados que
permitiram a confecção de gráficos da distribuição do consumo de água dos
apartamentos estudados ao longo do dia.
No Brasil, a partir da década de 90, algumas pesquisas têm sido desenvolvidas
pelo IPT (Instituto de Pesquisa e Tecnologia) no intuito de estabelecer um
processo metodológico para realização de campanhas de medição do consumo
de água em residências brasileiras, empregando equipamentos de monitoramento
automático em cada um dos pontos de utilização de água (ROCHA et al., 1998).
Um fator-chave para o sucesso de um sistema de reúso é o balanço entre o
suprimento e a demanda de água cinza. Estudos feitos por Surendran e Wheatley
(1998, apud Jefferson et al., 1999), em uma universidade, mostram que o volume
3 – Revisão Bibliográfica
49
acumulado de água cinza gerado e o volume requerido pelas descargas dos
vasos sanitários em um dia são bastante semelhantes. Entretanto a dinâmica da
situação não é tão ideal. A água cinza é produzida em um tempo ligeiramente
deslocado de quando a descarga dos vasos é acionada e, além disso, ela é
gerada em curtos períodos de tempo, ao passo que a descarga dos vasos
sanitários ocorre de maneira mais consistente ao longo do dia. Isso geralmente
resulta em um déficit de água durante a tarde e a madrugada, como mostra a
Figura 3-10. A utilização de reservatórios de estocagem pode corrigir esse déficit,
mas aumenta substancialmente o tamanho de todo o sistema.
FONTE: Surendran e Wheatley (1998, apud JEFFERSON et al., 1999)
Figura 3-10: Produção típica de água cinza e descargas de vasos sanitários requeridas em uma
universidade
3.8 Tratamento da água cinza – Algumas práticas atuais
A análise das características do efluente, conjuntamente com os requisitos de
qualidade requeridos para a aplicação de reúso desejada, geralmente define o
tipo de tratamento a ser adotado.
Consumo de água (l/hab.dia)
3 – Revisão Bibliográfica
50
Em se tratando de reúso de água, devido à grande variabilidade tanto da fonte
quanto da própria finalidade a que se destina o efluente tratado, ou o tipo de
reúso pretendido, uma gama de sistemas ou seqüências de processos são
possíveis de serem concebidos (MANCUSO e SANTOS, 2003). Os processos
desenvolvidos variam desde sistemas simples em residências até séries de
tratamentos avançados para reúso em larga escala (JEFFERSON et al., 1999).
3.8.1 Sistemas simplificados tipo dois-estágios (two-stage system)
A filtração grosseira seguida de desinfecção é uma tecnologia comumente
utilizada no Reino Unido para reúso doméstico e várias empresas fabricam
sistemas de tratamento de reúso que se baseiam nesse processo de dois
estágios (two-stage process) (Figura 3-11). Segundo Jefferson et al. (1999) o
processo genérico emprega um curto período de detenção hidráulica. Assim a
natureza química da água cinza permanece inalterada e apenas um mínimo
tratamento é requerido. A desinfecção pode ser feita utilizando tanto cloro como
bromo, sendo eles dispersos na forma de pastilhas que se dissolvem lentamente
ou através de dosagem de solução líquida. Entretanto, concentrações de matéria
orgânica elevadas limitam a eficiência da desinfecção química, pois dificultam a
difusão do desinfetante, aumentam a demanda do agente desinfetante e, no caso
do cloro, pode gerar subprodutos como cloraminas e trihalometanos
Hill et al. (2003) mostram o monitoramento de um sistema que foi implantado por
uma empresa britânica em cinco novas residências em Aylesbury (Inglaterra),
utilizando o bromo como desinfetante. Este monitoramento mostrou uma
concentração de DBO
5
remanescente relativamente alta (22-87mg/l) e apresentou
alguns problemas operacionais como, o entupimento na tubulação de entrada do
filtro, falha na bomba e insuficiência na desinfecção.
Um outro sistema de reúso implantado em um apart-hotel, localizado na Ilha de
Mallorca (Espanha) utilizou processos de sedimentação, filtração (filtro de tela de
nylon) e desinfecção (hipoclorito de sódio). Resultados satisfatórios foram
obtidos, através do controle adequado das condições operacionais (período de
estocagem inferior a 48 horas e concentração de cloro residual 1 mg/L nas
3 – Revisão Bibliográfica
51
descargas dos toaletes). A qualidade da água de reúso (turbidez 16,5 NTU e SST
18,6 mg/L) foi bem aceita pelos hóspedes do hotel, embora para alguns
parâmetros estivesse aquém dos padrões estabelecidos para água potável
(MARCH et al., 2004).
FONTE: HILL et al., 2003
Figura 3-11: Esquema de um sistema de reúso de água cinza utilizando o processo dois-estágios
3.8.2 Sistemas físicos e físico-químicos
Os processos físicos desenvolvidos para o tratamento de águas cinza
compreendem principalmente a filtração com leitos de areia e processos
utilizando membranas, esses últimos geralmente são precedidos de um pré-
tratamento apropriado.
A remoção de sólidos suspensos da água cinza é essencial tanto para irrigação
de jardins quanto para descarga de vasos sanitários. Segundo Christova-Boal et
al. (1996), a utilização de filtros pode propiciar qualidade aceitável para esse tipo
de reúso. Em alguns locais experimentais a remoção do material suspenso foi
alcançada através de um sistema de filtros com três estágios (CHRISTOVA-BOAL
et al., 1996): pré-filtração (remoção de sólidos grosseiros do efluente de
lavanderia, chuveiro e banheira), filtro de peneira (coleta principalmente de
cabelo, partículas de sabões, fibra de tecidos) e filtro fino (retenção dos
precipitados e do material sedimentado). Os filtros utilizados nesse mesmo
experimento necessitavam de limpezas periódicas com duração de 15 a 20 min,
3 – Revisão Bibliográfica
52
uma ou duas vezes na semana, dependendo das atividades dentro das
residências. Os resíduos eram dispostos na rede de esgoto ou em latas de lixo.
Os sistemas de membrana oferecem uma barreira permanente para as partículas
suspensas de dimensões superiores ao material da membrana, que podem variar
de 0,5µm, para membranas de microfiltração (MF), até as dimensões moleculares
utilizadas para osmose reversa. Apesar dos sistemas de membranas gerarem
efluentes com baixíssima turbidez e densidade de coliformes abaixo do limite de
detecção, eles apresentam a desvantagem de requererem elevadas demandas
de energia (JEFFERSON et al., 1999).
3.8.3 Sistemas biológicos
O tratamento biológico de água cinza é requerido para remover o material
biodegradável e é indicado especialmente para sistemas de reúso que possuem
grandes redes de distribuição. No Japão, processos com biorreatores de
membranas (do inglês MBR) têm sido muito empregados em sistemas de reúso
de água em edifícios residenciais e comerciais (KISHINO et al., 1996). Esses
processos MBR combinam reatores de lodo ativado com membranas de
microfiltração.
Um edifício na Universidade de Kalmar, na Suécia, com capacidade para 500
alunos, foi equipado com sistema reúso de água cinza (GÜNTHER, 2000). O
tratamento utilizando era composto por sistemas de lagoas e wetlands,
denominados de wetparks (parque molhado). A água cinza gerada no prédio,
originada da lavagem de mão e de pratos, era disposta nas raízes da vegetação
plantada e armazenada em uma lagoa até atingir a outra margem. Esse processo
repetia-se por três vezes para se conseguir uma grande redução de bactérias
patogênicas, DBO e nutrientes (Tabela 3-4). Após a última lagoa, a água seguia
para um filtro de areia e era coletada em um reservatório (Figura 3-12). O tempo
de detenção desse sistema era bastante elevado devido às baixas temperaturas
durante o inverno. De acordo com Günther (2000), os wetparks, além de
proporcionarem o tratamento da água cinza através de wetllands construídas,
funcionavam também como parques para fins recreacionais.
3 – Revisão Bibliográfica
53
FONTE: Günther (2000)
Figura 3-12: Sistema de wetpark para tratamento de água cinza
Tabela 3-4: Resultados obtidos no sistema wetpark para tratamento de água cinza
Amostras
DBO
5
(mg/L)
Nitrogênio
(mg/L)
Fósforo (mg/L)
Coliformes
termotolerantes
(cfu/100mL)
Estreptococos
fecais
(cfu/100mL)
Água cinza bruta
47 3,72 3,73
9,4 x 10
4
3,6 x 10
4
Pond 1 0,5 0,975 0,372 2,5 x 10
3,61 x 10
2
Pond 2 0 - - 9,6 x 10
4,32 x 10
2
Pond 3 0,8 1,9 0,02 1,1 x 10 1,5 x 10
Reservatório final 0 1,618 0,022
1,72 x 10
2
4,3 x 10
FONTE: Adaptado de Günther (2000)
3.9 Desenvolvimento de processos aeróbios e anaeróbios
no Brasil
Nos últimos anos, diversas pesquisas no âmbito do PROSAB 2 observaram que
as associações do tipo anaeróbio + aeróbio poderiam constituir-se em uma
tecnologia tão eficiente na remoção de matéria orgânica quanto os sistemas
simplesmente aeróbios de tratamento de esgoto. Com a vantagem de ocuparem
um espaço notoriamente inferior e reduzirem significativamente os gastos com
energia elétrica.
As associações anaeróbio+aeróbio são também soluções bastante inteligentes
para a difícil questão do manuseio e disposição final dos lodos aeróbios, uma vez
que estes podem ser encaminhados para que sofram adensamento e digestão no
reator anaeróbio. Assim, observa-se que não há necessidade de digestores
exclusivos para estabilização do lodo aeróbio excedente (VAN HAANDEL e
LETTINGA, 1994), acarretando vantagens operacionais e levando a uma
considerável economia de custos. Outro atrativo está relacionado à possibilidade
3 – Revisão Bibliográfica
54
de aproveitamento do potencial energético do biogás gerado, para alimentação
dos equipamentos eletromecânicos
Pela análise da Tabela 3-5, pode-se observar algumas vantagens quando os
sistemas aeróbios são combinados com sistemas anaeróbios (reator UASB). A
combinação do UASB com lagoa de polimento apresenta como vantagem
principal a redução dos requisitos de área, quando comparado com a utilização
apenas de lagoa facultativa. Essa vantagem é muito importante quando se trata
de implantar estações de tratamento dentro de áreas urbanas, onde espaço físico
é limitado.
Já a combinação de reatores UASB com sistemas de lodos ativados ou filtros
biológicos aerados submersos apresentam uma redução significativa do consumo
de energia elétrica (potência) e da produção anual de lodo. Von Sperling et al.
(2001) observaram uma economia de 30% no volume total das unidades e 70%
no consumo de energia para aeração, através da conversão de um sistema de
tratamento aeróbio tipo lodos ativados aeração prolongada para um sistema
constituído por uma associação entre UASB e lodos ativados, sendo assegurados
os padrões de qualidade do efluente final.
Tabela 3-5: Característica típica de alguns sistemas de tratamento de esgoto aeróbio e
combinações anaeróbio+ aeróbio
Potência
instalada
(W/hab)
Potência
consumida
(kWh/hab.ano)
Lodo líquido
a ser tratado
(L/hab.ano)
Lodo
desidratado a
ser disposto
(L/hab.ano)
Instalação
(R$/hab)
Manutenção
(R$/hab.ano)
Lagoa facultativa 2,0 - 4,0 0,0 0,0 38 - 90 15 -30 40 - 80 2,0 - 4,0
UASB + Lagoa de polimento 1,5 - 2,5 0,0 0,0 150 - 250 10 - 35 40 - 70 4,5 - 7,0
Lodos ativados convencional 0,12 - 0,25 2,5 - 4,5 18 - 26 1100 - 3000 35 - 90 100 - 160 10 - 20
UASB + Lodos ativados 0,08 - 0,2 1,8 - 3,5 14 -20 180 - 400 15 - 60 70 - 110 7,0 - 12
Biofiltro aerado submerso com nitrificaçao 0,1 - 0,15 2,5 - 4,5 18 - 26 1100 - 3000 35 - 90 70 - 120 8,0 - 15
UASB + Biofiltro aerado submerso 0,05 - 0,15 1,8 - 3,5 14 -20 180 - 400 15 - 55 65 - 100 7,0 - 12
Custos
Área
(m²/hab)
Sistemas
Potência para aeração Volume de lodo
FONTE: Adaptado de von Sperling (2005)
3.9.1 Associação UASB + Biofiltros
Configurações de ETEs associando em série reatores UASB e BFs já têm sido
objeto de pesquisa pela UFES desde 1996 (BOFF, 1996; VERONEZ, 2001). No
Brasil, associações em série de reatores UASB e biofiltros aerados submersos
(BF) já são utilizadas largamente como solução para o tratamento de esgoto em
pequenos e médios municípios (GONÇALVES, et al., 2001).
3 – Revisão Bibliográfica
55
Uma descrição sucinta desses dois sistemas de tratamento, baseada em von
Sperling (2005), está apresentado a seguir:
Reator UASB
Nos reatores UASB, a biomassa cresce dispersa e não-aderida a um meio-
suporte, como no caso de filtros anaeróbios. A concentração de biomassa no
reator é bastante elevada e por isso seu volume requerido é bastante reduzido,
em comparação com outros sistemas de tratamento.
O líquido entra no fundo do reator e segue em fluxo ascendente passando pelo
leito de lodo, onde grande parte da matéria orgânica é adsorvida pela biomassa.
Como resultado da atividade anaeróbia, são formados gases (principalmente
metano e gás carbônico). A parte superior do reator apresenta uma estrutura
(geralmente cônica) que possibilita as funções de separação e acúmulo de gás e
de separação e retorno dos sólidos (biomassa). Essa estrutura é denominada
separador trifásico, por separar o líquido, os sólidos e os gases. O gás é coletado
na parte superior do reator e pode ser reaproveitado (energia do metano) ou
queimado. Os sólidos se sedimentam, deslizando pelas paredes do separador.
Dessa forma, tem-se a retenção de grande parte da biomassa no sistema,
alcançada por simples retorno gravitacional. Devido à elevada retenção de
sólidos, a idade do lodo é bastante elevada, e o tempo de detenção hidráulica
pode ser bastante reduzido (da ordem de 6 a 10 horas). O efluente sai, então, do
compartimento de sedimentação relativamente clarificado, e a concentração de
biomassa no reator é mantida elevada.
Biofiltro
O biofiltro aerado submerso é constituído por um tanque preenchido com material
poroso, através do qual esgoto e ar fluem permanentemente. O biofiltro é,
portanto, um reator trifásico, composto por: fase sólida - constituído pelo meio-
suporte e pelas colônias de microrganismos que nele se desenvolvem; fase
líquida - composta pelo líquido em permanente escoamento em meio poroso; fase
3 – Revisão Bibliográfica
56
gasosa - formada pela aeração artificial e, em reduzida escala, pelos gases
subprodutos da atividade biológica.
Os biofiltros aerados submersos podem ser constituídos com meios granulares
(BF) ou com meios estruturados (FBAS). Ambos realizam, no mesmo reator, a
remoção de compostos orgânicos solúveis e de partículas em suspensão
presentes no esgoto. No caso dos BFs, o material granular, além de servir de
meio suporte para os microrganismos, constitui-se também de um eficaz meio
filtrante. O mesmo não ocorre com o FBAS, que precisa de decantadores
secundários para retenção da biomassa em suspensão. Entretanto, os BFs
necessitam de lavagens periódicas para eliminar o excesso de biomassa
acumulada no meio suporte. Durante a lavagem, com a alimentação do esgoto
interrompida ou não, são realizadas diversas descargas hidráulicas seqüenciais
de ar e água de lavagem.
Nos sistemas que associam os reatores supracitados (UASB + Biofiltro), o lodo
proveniente da lavagem (BF) ou descarte do dentador secundário (FBAS) é
retornado para dentro do reator UABS, onde o mesmo é adensado e digerido,
conjuntamente com o lodo anaeróbio (Figura 3-13). O lodo misto resultante
necessita apenas de desidratação. Como vantagem, há também a economia de
energia nos biofiltros, advinda da maior eficiência de remoção de DBO nos
reatores UASB.
FONTE: Gonçalves et al. (2001)
Figura 3-13: Croqui de uma ETE do tipo UASB + BFs
3 – Revisão Bibliográfica
57
3.10 Sistemas anaeróbios + aeróbios em águas cinza
A proposta desta pesquisa de utilizar a associação anaeróbia + aeróbia para o
tratamento da água cinza é em virtude de suas características, apresentadas
anteriormente. A principal delas é devido ao seu conteúdo orgânico ser facilmente
biodegradável.
Outro fator que influenciou nessa escolha foram as condições climáticas
favoráveis encontradas no Brasil. Em Vitória, onde o sistema foi implantado, as
estações do ano não são bem definidas e as temperaturas variam de 18 a 38°C
ao longo de todo o ano. Essa faixa de temperatura é considerada ótima para o
balanço entre o oxigênio dissolvido e a atividade biológica (JORDÃO e PESSOA,
2005).
Segundo Günther (2000), um dos problemas para a adoção de sistemas
biológicos na Suécia são as baixas temperaturas que ocorrem durante o inverno,
que acarretam na baixa atividade biológica e no potencial decrescimento da
condutividade do efluente (causado pelo congelamento).
Diante desse contexto, a tecnologia adotada na pesquisa foi a combinação de um
Reator Anaeróbio Compartimentado (RAC) com um Filtro Biológico Aerado
Submerso (FBAS). Esse tratamento foi ainda complementado com uma etapa de
filtração terciária e de desinfecção.
3.10.1 Reator Anaeróbio Compartimentado - RAC
O avanço da tecnologia de tratamento de esgotos em reatores UASB propiciou o
surgimento de outros reatores similares baseados em sua concepção, de forma a
aperfeiçoar a sua aplicação prática, procurando aproveitar todas as
potencialidades dos processos anaeróbios: a formação e retenção de grande
quantidade de biomassa e a melhoria do contato biomassa – esgoto.
O reator anaeróbio compartimentado (RAC) é uma das variantes do reator UASB.
Ele tem sido estudado com o objetivo de reduzir ainda mais os custos de
implantação e operação proporcionados pelos reatores UASB.
3 – Revisão Bibliográfica
58
Constitui-se de um tanque de diversas câmaras dispostas em série, cada qual
separada por paredes verticais, com separador trifásico na última câmara. O fluxo
em cada câmara é vertical e ascendente. Em termos de processo, o reator
compartimentado oferece a possibilidade de separar algumas fases do
tratamento, como a digestão anaeróbia e a decantação, proporcionando um
menor fluxo de sólidos para o compartimento de sedimentação e,
conseqüentemente, um efluente anaeróbio mais clarificado.
Em reatores UASB convencionais, a ocorrência de grandes variações de vazões
afluentes pode causar grandes velocidades ascensionais, particularmente nas
aberturas para os compartimentos de decantação (CHERNICHARO e CARDOSO,
1999 apud SOARES et al., 2001). No reator UASB compartimentado, as
variações de vazão são acomodadas em uma, duas ou três câmaras de digestão,
fazendo com que as variações de velocidade ascensional em cada câmara sejam
menores (BRITO et al., 2001). Apesar do bom desempenho dos reatores UASB,
quanto à remoção de matéria orgânica com uma baixa produção de lodo em um
tempo de detenção hidráulica baixo (horas), é necessária uma etapa posterior
para a remoção complementar de matéria orgânica e principalmente de
patógenos, que são pouco afetados pelo tratamento anaeróbio.
3.10.2 Filtro biológico aerado submerso - FBAS
Os filtros biológicos aerados submersos (FBAS), também conhecidos como
sistemas de aeração por contato, têm sido utilizados por mais de 50 anos no
tratamento de esgoto sanitário. Pedra, coque, ripas de madeiras e material
cerâmico eram alguns dos materiais suportes, utilizados no passado. Com o
advento do material de contato feito de plástico, os filtros continuam atraindo o
interesse de pesquisadores. Aisee e Além Sobrinho (2001) utilizaram um meio-
suporte de material plástico estruturado em um FBAS utilizado como pós-
tratamento de um reator UASB.
O FBAS pode operar com fluxo ascendente ou descendente e, como necessita de
fornecimento de ar para aeração, este é feito por meio de difusores de bolhas
grossas, colocados na parte inferior do filtro e alimentados por sopradores
3 – Revisão Bibliográfica
59
(GONÇALVES et al., 2001). As bolhas de ar erodem o biofilme e previnem a
colmatação do meio suporte. A turbulência também assegura o bom contato entre
o substrato e os microorganismos (RUSTEN, 1984 apud AISEE e ALÉM
SOBRINHO, 2001). O biofilme que se desprende do meio deve ser removido em
uma etapa de decantação secundária.
O FBAS foi adotado nessa pesquisa, por ser de mais fácil operação que os
biofiltros com leito granular, pois não necessitam de lavagens periódicas.
3.11 Filtração terciária
O objetivo da filtração terciária é remover partículas suspensas e coloidais do
efluente secundário ou do esgoto quimicamente tratado. Isso é conseguido pela
passagem do esgoto através de um meio granular ou por uma tela de malha fina.
O filtro perde sua eficiência, à medida em que os sólidos vão sendo removidos. O
ciclo de filtração termina quando há um aumento excessivo da perda de carga ou
quando há liberação de sólidos suspensos no efluente. Ocorrendo um desses
fatores, é necessário realizar a limpeza do leito filtrante. Essa limpeza é realizada
através da retrolavagem, um processo onde a água e ar passam em fluxo
ascendente através do leito. A água de lavagem é então descartada contendo os
sólidos que se encontravam retidos e o leito fica preparado para o próximo ciclo
de filtração (SANTOS NETO et al., 2003).
3.12 Cloração
Como a água cinza tratada nessa pesquisa será reutilizada para descarga de
vasos sanitários, existem alguns riscos à saúde associados a respingos e
aerossóis que ocorrem com o uso do toalete. Bortone et al. (1999) realizaram
alguns testes para avaliar a difusão dos aerossóis em diferentes distâncias e
alturas dos toaletes utilizando água cinza sintética com quantidades conhecidas
3 – Revisão Bibliográfica
60
de Lactobacilos delbrueckii bulgaricus (microrganismos não-patogênicos
geralmente presentes no corpo humano) (Tabela 3-6).
Tabela 3-6: Contagem microbiológica de Lactobacillus bulgaricus em amostras de aerossóis de
descarga de toaletes
Distâncias do toalete Posição
Horizontal Vertical
Concentração
Afluente
(ufc/L)
Frontal
(ufc/m³)
Direita
(ufc/m³)
Esquerda
(ufc/m³)
20 cm 160 cm 10
4
ND* ND* ND*
20 cm 160 cm 10
5
5 4 ND*
20 cm 160 cm 10
6
8 17 4
10 cm 30 cm 610 2342 3067
* Não-detectáveis
FONTE: Bortone et al. (1999)
A desinfecção é um processo para eliminar os organismos patogênicos, sem no
entanto produzir uma água esterilizada. Existem dois fatores importantes no
processo de desinfecção, o tempo de contato e a concentração do agente
desinfetante.
O cloro e seus derivados apresentam alto poder oxidante e reagem com vários
compostos presentes nos esgotos. A demanda de cloro, calculada pela diferença
entre a dose inicial e o residual de cloro, é proveniente dessa variedade de
reações nas quais o cloro é consumido por vários constituintes das águas
residuárias e por decomposição. De modo simplificado, o cloro reage com a
amônia para produzir uma série de compostos chamados cloraminas e,
eventualmente, oxida a amônia em gás nitrogênio (N
2
). O mecanismo de reação é
complexo, e os produtos variam com o pH, razão entre cloro adicionado e a
amônia presente e o tempo de contato. A monocloramina (NH
2
Cl) e a dicloramina
(NHCl
2
), denominadas cloro combinado, têm poder desinfetante, apesar de este
ser inferior ao dos produtos resultantes da dissociação de qualquer forma de
cloro na água, conhecidos como cloro livre (HOCl e OCl
-
). As reações com outros
compostos inorgânicos, como o sulfeto de hidrogênio (H
2
S), ocorrem
imediatamente após a aplicação de cloro. Das reações com compostos orgânicos
pode haver formação de trihalometanos (AISSE et al., 2003).
3 – Revisão Bibliográfica
61
3.12.1 Clorador de pastilha
O clorador de pastilha consiste em um dispositivo simples, confeccionado de
materiais resistentes à corrosão química, que promove a abrasão de pastilhas de
hipoclorito de cálcio armazenadas em seu interior pela passagem de água ou
líquido a ser tratado, formando a solução clorada que será aplicada ao efluente a
ser desinfetado (AISSE et al., 2003)
3.13 Estocagem
A estocagem é um importante elemento em todos os sistemas de reúso de água
cinza e ela se faz necessária em algum ponto desse sistema, seja ele antes do
tratamento ou depois dele. Segundo Dixon et al. (1999), se a água cinza for
estocada antes do tratamento, existe a vantagem de alguns sólidos primários
ficarem retidos antes de chegarem ao tratamento, entretanto, há o risco da
geração de maus odores e do crescimento de microrganismos. A água cinza
quando estocada na sua forma bruta passa por significantes mudanças de
qualidade. Dixon et al. (1999) propuseram hipoteticamente quatro principais
processos que podem governar essas mudanças. A sedimentação de partículas
suspensas e a depleção do oxigênio dissolvido (provavelmente causado pelo
crescimento de biomassa aeróbia) são dominantes nas primeiras horas de
estocagem. Os outros dois processos-chaves são a reaeração do oxigênio
dissolvido na superfície da água (comandado pela variação de temperatura) e a
liberação da DQO solúvel devido à degradação anaeróbia do material particulado
sedimentado (teoria baseada principalmente pela observação do aumento da
DQO, após alguns dias de estocagem e pela produção de maus odores
confirmando a anaerobiose).
3 – Revisão Bibliográfica
62
3.14 Normas e legislação e padrões vigentes acerca do
reúso em edificações
Existem dois tipos de norma: as que estabelecem limites de qualidade para a
água a ser reutilizada e as que regulamentam o uso da prática de reúso.
A utilização de sistemas de reúso traz o ônus de alguém se tornar “produtor de
água” e, portanto, responsável pela gestão tanto qualitativa quanto quantitativa
desse insumo. Cuidados específicos devem ser considerados para que não haja
risco de contaminação a pessoas ou produto, ou danos em equipamento (FIESP,
2005).
O reúso de água requer medidas efetivas de proteção à saúde pública e ao meio
ambiente, e ambas devem ser tecnicamente e economicamente viáveis. Existem
diversos países com diferentes níveis de desenvolvimento e quantidade de água
disponível. Assim, é interessante que normas sejam feitas sob medida para se
ajustar o equilíbrio entre disponibilidade, tecnologia e risco (ANDERSON, 2001).
Os padrões de reúso de água variam bastante de um lugar para outro. A Tabela
3-7 relaciona uma série de normas internacionais que estabelecem requisitos
mínimos de qualidade, em alguns casos até mesmo níveis de tratamento, para a
água de reúso em ambientes urbanos.
Diversos países têm desenvolvido diferentes alternativas para a proteção da
saúde pública e do meio ambiente. Todavia, o fator econômico é que governa a
escolha de uma estratégia, principalmente com relação aos custos do tratamento
e de monitoramento. Grande parte dos países desenvolvidos estabeleceu
diretrizes conservativas, com baixo risco e utilizando tecnologias de alto custo,
como os padrões californianos. Entretanto, isso nem sempre garante um baixo
risco, em virtude da falta de experiência operacional. Um grande número de
países em desenvolvimento adota outra estratégia de controle dos riscos à
saúde, através de tecnologias de baixo custo baseadas nas recomendações do
World Health Organization (WHO).
3 – Revisão Bibliográfica
63
De acordo com o EPA (2004), não existe nenhuma regulamentação federal nos
Estados Unidos relacionada diretamente para prática do reúso. Entretanto,
diversos Estados, de maneira individual, desenvolveram regulamentações ou
guias para esse fim. Alguns Estados, como por exemplo, a Califórnia,
desenvolveram amplos regulamentos e guias especificando requisitos de
qualidade e/ou processos de tratamento, para as várias aplicações da água de
reúso. O reúso em descarga de vasos sanitários está na categoria de reúso
irrestrito urbano.
No Brasil, até a presente data, existem apenas poucas legislações que
incentivam a prática do reúso de água. As tabelas 3-8 e 3-9 mostram alguns
limites estabelecidos para reúso em descarga de vasos sanitários e algumas
legislações que regulamentam o uso de fontes alternativas de água
respectivamente.
Um fator de grande importância relativo ao reúso diz respeito aos aspectos
estéticos da água reciclada. Neste caso, o reúso está vinculado ao “adorno
arquitetônico, exigindo grau de transparência, ausência de cor, odor, escuma, ou
qualquer outra substância ou componentes flutuantes” (FIESP, 2005). O manual
elaborado pela FIESP (2005) recomenda para a água de reúso classe 1 a
detecção do cloro residual combinado em todo sistema de distribuição e o
controle de agentes tensoativos, devendo seu limite de detecção ser abaixo de
0,5mg/L.
3 – Revisão Bibliográfica
64
Tabela 3-7: Limites estabelecidos para reúso em descarga de vasos sanitários – normas
internacionais
pH
DBO
5
(mg/L)
SST
(mg/L)
Turbidez
(NTU)
Coli. Total
(ufc/100mL)
Coli. Fecal
(ufc/100mL)
Cloro livre
Cl2
Cloro
residual
(mg/L)
2
(méd)
ND
(méd)
5
(máx)
23
(Máx)
2
(méd)
2,2
(méd)
5
(máx)
23
(Máx )
ND
(75%)
25
(Máx)
2,2
(méd)
23
(Máx)
2,2
(méd)
23
(Máx)
20
(méd)
75
(Máx)
2
(méd)
2,2
(méd)
5
(máx)
23
(Máx )
< 10
(90%)
< 10
(90%)
<10
(90%)
0,5-2,0
(90%)
20
(máx)
20
(máx)
30
(Máx)
2,0
(máx)
2
(méd)
5
(máx)
6 - 9 20 30 1 - 2 500 100 - -
1000
(m)
200
(g)
56 - 910-51010--
6 - 30 30 5 200 200 - > 1
---
4
WHO
-- - -
-
PARÂMETROS
Tratamento
3
Secundário,
filtração
terciária e
desinfecção
-
--
Japão
South Australia
Austrália
Alemanha -
guideline
Padrões
Canadenses
propostos
Arizona
Secundário,
Filtração e
Desinfecção
-
Califónia
Flórida
Secundário,
Filtração e
Alto nível de
Desinfecção
Oxidação,
Coagulação,
Filtração e
Desinfecção
Hawaii
Oxidação,
Filtração e
Desinfecção
Nevada
Secundário,
Desinfecção
Texas
-
Washington
Oxidação,
Coagulação,
Filtração e
Desinfecção
--
-
-
-20 5 -
-
--
---
-- -2
(máx)
-
--
-
---30
-5 - 3
-
--
--
2
-3030
EPA (uso urbano irrestrito)
-
-
-
Desinfecção
< 10 < 10
-<1
---
1
-- -
< 20
1 - EPA (2004)
2- NSW health, 2005
3 - Citado em: KAYAALP (1996)
4 - Citado em: JEFFERSON (1999).
5 - Citado em: LAZAROVA (2003)
6 - CMHC (2004)
m - mandatory
g - guideline
3 – Revisão Bibliográfica
65
Tabela 3-8: Limites estabelecidos para reúso em descarga de vasos sanitários – normas
brasileiras
Manual de "Consevação e reúso
de água em edificações "
Classe 1 (FIESP, 2005)
NBR 13.969/97 item 5.6.4
Classe 3
6,0 - 9,0
-
10 -
2< 10
1-
10 -
Não detectáveis < 500
Ausentes
-
10 -
20 -
1-
0,1 -
5-
500 -
Nitrito (mg/L)
Fósforo Total (mg/L)
SST (mg/L)
SDT (mg/L)
Nitrato (mg/L)
Nitrogênio Amoniacal (mg/L)
DBO (mg/L)
Parâmetros
Turbidez (NTU)
pH
Cor (UH)
Óleos e Graxas (mg/L)
Coliformes Fecal (NMP/100mL)
Compostos Orgânicos Voláteis
Tabela 3-9: Legislações brasileiras que regulamentam a utilização de fontes alternativas de água
Água de Chuva Água cinza Esgoto Sanitário
Contenção
Lei Nº 13.276/2002 -São Paulo/SP - -
Uso predial
Lei Nº 10.785/2003 -Curitiba/PR
Lei Nº 13.276/2002 -São Paulo/SP
Lei Nº 6.345/2003 - Maringá/PR
Lei Nº 10.785/2003 -Curitiba/PR
Lei Nº 6.345/2003 - Maringá/PR
NBR 13.969/1997
Urbano
--
Lei Nº 6.076/2003 -Maringá/PR
Lei Nº 13.309/2002 -São Paulo/SP
NBR 13.969/1997
3.15 Riscos associados ao reúso de água em edificações
As questões econômicas de uma região são um fator-chave na escolha da
filosofia dos padrões de qualidade, pois a redução do risco está associada a uma
elevação do custo. Dessa forma, é necessário que se defina o tamanho do risco,
ou o risco aceitável. Os países desenvolvidos tendem a adotar caminhos que
levam ao “risco zero” e, com isso, fazem uso de tecnologias de custos mais
elevados.
Os riscos à saúde incluem tanto os riscos microbiológicos quanto os riscos devido
a agentes químicos. Os riscos devido a produtos químicos na água de reúso são
oriundos da presença de compostos orgânicos, compostos radioativos e de
3 – Revisão Bibliográfica
66
metais, entretanto, esses riscos são muito mais baixos do que os causados por
microrganismos patogênicos (GREGORY et al., 1996). Em virtude disso, os
modelos de avaliação de risco para o reúso não-potável são baseados nos riscos
microbiológicos.
Existem duas formas de avaliação dos riscos à saúde (ANDERSON, 2001;
GREGORY et al., 1996):
Avaliação quantitativa de riscos (AQR): utilizada quando a contagem
de patógenos, a exposição da população e os dados de dose
infecciosa são conhecidos. A AQR permite o cálculo teórico de riscos
extremamente baixos que a comunidade está exposta com a prática
do reúso. Ela é capaz de fornecer estimativas de riscos com duas ou
mais ordens de magnitude inferior àqueles fornecidos por estudos
epidemiológicos.
Riscos imputáveis (RI): Levam em consideração cadeias
epidemiológicas, fatores físicos e sociais que afetam a probabilidade
de desenvolvimento de doenças como um resultado da exposição à
água de reúso. As diretrizes e padrões são então baseados no
princípio da incorrência de nenhum incremento de risco para a
população por meio da prática de reúso. Os riscos imputáveis não
são tão sensíveis quanto o AQR na estimativa de risco, pois os
estudos epidemiológicos são, por natureza, limitados.
Padrões ou diretrizes de reúso de água variam de acordo com o tipo de
aplicação, com o contexto de cada região, e com os ricos oriundos dessa prática.
Dependendo das especificações do projeto, irão existir diferentes requisitos de
qualidade, processos de tratamento, critérios de operação e confiabilidade.
Entretanto, o ponto de partida de qualquer projeto de reúso de água,
independentemente do ponto de aplicação, é a segurança da saúde dos usuários.
Por essa razão, os parâmetros microbiológicos são os que receberam a maior
atenção nas regulamentações de reúso de água. Uma vez que é viável o
monitoramento de todos os patógenos, indicadores biológicos específicos são
utilizados para minimização desses riscos (EPA, 2004).
3 – Revisão Bibliográfica
67
O governo da Austrália desenvolveu uma estratégia de gerenciamento nacional
da qualidade da água (citado em ANDERSON, 2001). Essa estratégia inclui
também um guia (guideline) para o uso de água reciclada. Esse guia estipulou
quatro graus de qualidade para água reciclada em termos microbiológicos
expressos pelo nível médio de coliformes fecais (CF) nela presentes, dependendo
da intensidade do contato da água reciclada com o usuário:
Contato alto: CF < 10 ufc/100ml
Contato Médio: CF < 100 ufc/100ml
Contato baixo: CF < 1000 ufc/100ml
Acesso restrito: CF < 10000 ufc/100ml
Um estudo feito na Universidade Federal da Bahia (Escola Politécnica) avaliou a
qualidade da água encontrada no selo hídrico de vasos sanitários de shopping
centers de Salvador e da própria universidade (ORNELAS, 2004). Esse estudo
mostrou que a qualidade da água dos selos hídricos coletados possui níveis de
coliformes totais e termotolerantes equivalentes aos encontrados em efluentes
tratados de estações de tratamento de esgoto (Figura 3-14).
FONTE: ORNELAS (2004)
Figura 3-14: Comparação entre coliformes totais e termotolerantes encontrados em vasos,
efluente bruto e tratado
3 – Revisão Bibliográfica
68
Diante desse contexto, os riscos potenciais aos quais os usuários estariam
expostos, se utilizassem água de reúso em descarga de vasos sanitários, seriam,
teoricamente, equivalentes aos riscos potencias a que eles estão expostos na
atual situação (com abastecimento de água potável). Um questionamento então
pode ou deve ser feito: Os padrões para reúso em descarga de vasos sanitários
precisam limitar a densidade de coliformes a níveis tão baixos? Quanto a água
cinza precisa realmente ser tratada para ser reutilizada?
4. Material e Métodos
69
4. Material e Métodos
4.1 Contextualização da pesquisa
Esta pesquisa fez parte de um projeto de pesquisa da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES) financiado pelo edital 4/2004 do PROSAB (Programa de
Pesquisa em Saneamento Básico), integrante da rede temática nº 05, que trata
de novas tecnologias para minimização do consumo de água potável. Ela foi
realizada no período de janeiro de 2004 a setembro de 2005, no Parque
Experimental de Saneamento Básico da UFES
, localizado no Campus
Universitário de Goiabeiras, Vitória - Espírito Santo – Brasil.
A pesquisa foi desenvolvida em três etapas:
Caracterização qualitativa da água cinza segregada;
Caracterização quantitativa da produção e da demanda de água cinza de
uma edificação de ensino;
Desempenho da estação de tratamento de água cinza para reúso em uma
edificação de ensino.
4.2 Caracterização qualitativa da água cinza segregada
Para a realização da caracterização qualitativa da água cinza segregada, foram
coletadas e analisadas separadamente águas cinza provenientes de lavatório,
chuveiro, pia de cozinha, tanque e de máquina de lavar roupa. Foi analisada
também uma amostra composta preparada em laboratório, misturando frações da
4. Material e Métodos
70
água cinza coletada, proporcionais aos consumidos dentro de residências (40%
chuveiro, 10% lavatório, 15% tanque, 15% máquina de lavar, 20% pia da
cozinha). Essas porcentagens foram estabelecidas tendo como base os dados de
distribuição de consumo de água de um prédio da Universidade de São Paulo
(USP), de uma residência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional
Urbano (CDHU) e de uma simulação feita pela empresa de louças e peças
sanitárias (DECA). Devido à escassez de dados brasileiros a esse respeito, foram
utilizados também dados de alguns países europeus, dos Estados Unidos e da
Austrália para a determinação dessas porcentagens (Tabela 4-1).
Tabela 4-1: Consumo de água potável e de água cinza por aparelho sanitário
Total
Água
cinza
Total
Água
cinza
Total
Água
cinza
Total
Água
cinza
Total
Água
cinza
Total
Água
cinza
Total
Água
cinza
14% 29% 5% 32% 20% 32% 41%
58% 68% 34% 48% 61% 64% 38% 55% 30% 43% 35% 58% 33% 56%
Pia 12% 14% 6% 8% 7% 7% 5% 7% 10% 14%
Chuveiro 47% 54% 28% 39% 54% 57% 33% 48% 20% 29% 29% 48% 33% 56%
Banheira 6% 10%
15% 17% 22% 31% 20% 21% 8% 11% 25% 36% 7% 11% 5% 8%
Pia de cozinha 15% 17% 17% 24% 17% 18% 5% 7% 5% 8%
Máq de lavar louça 5% 7% 3% 3% 20% 29% 7% 11%
13% 16% 15% 21% 14% 15% 23% 34% 15% 21% 19% 31% 21% 36%
Máq de lavar roupa 8% 10% 9% 13% 4% 4% 15% 21% 19% 31% 21% 36%
Tanque 6% 8% 10% 11%
Torneira de uso geral 5% 6%
10% 14% 7% 11%
Outros 7% 11%
Lavagem de carro 10% 14%
* Disponível na Homepage da Deca
** Citado em Tomaz (2000)
Setor da residêcia
EUA
(EPA, 1992)
Bacia sanitária
Cozinha
Área de serviço
Outros
Simulação
DECA*
Banheiro
Prédio USP* CDHU
Dinamarca
(Jensen,1991)
**
Holanda
(IWSA,1993)
**
Austrália
(NSWhealth, 2000)
4.2.1 Pontos de coleta
A coleta das amostras foi realizada semanalmente durante o período da manhã e
as análises iniciavam-se no período da tarde. Foi realizado um total de nove
coletas.
As amostras de chuveiro, tanque e máquina de lavar foram coletadas em
residências onde moravam apenas pessoas adultas. Os volumes coletados para
cada amostra foram de 15 litros, sendo 5 litros somente para a análise de ovos de
helmintos e os outros 10 para o preparo da amostra misturada e para as análises
físico-químicas. Para a análise de E. coli e coliformes totais, a coleta foi feita com
frascos plásticos autoclavados de 100ml.
4. Material e Métodos
71
4.2.1.1 Lavatório
As amostras de lavatório foram coletadas no banheiro feminino do Laboratório de
Saneamento da UFES. Essa coleta foi feita desviando-se o efluente da pia
através de uma tubulação adaptada ao sifão para uma bombona de 50L (Figura
4-1). A abertura da coleta tinha início aproximadamente às 8h da manhã e
término após o almoço, aproximadamente às 14h. Esse horário foi escolhido, por
ser o período de maior movimento de pessoas escovando os dentes e lavando as
mãos.
Figura 4-1: Coleta da amostra do lavatório
4.2.1.2 Pia de cozinha
Foram coletadas amostras simples na caixa de gordura da cantina/restaurante do
Centro Tecnológico da UFES. A coleta era feita com um becker e a água era
armazenada em um balde (figura 4-2), em dois horários diferentes: o primeiro,
quando os alimentos ainda estavam sendo preparados (~11h30) e o segundo,
quando um volume grande de louça estava sendo lavado (~13h30).
4. Material e Métodos
72
Figura 4-2: Coleta da amostra de cozinha
4.2.1.3 Chuveiro
As amostras de chuveiro foram coletadas durante o banho de um ou mais
moradores da residência. Uma banheira plástica de aproximadamente 40 litros
serviu de reservatório para coletar toda a água proveniente do banho (Figura 4-
3), posteriormente transferida para reservatório plástico de 10 litros.
Figura 4-3: Coleta da amostra de chuveiro
4.2.1.4 Máquina de lavar roupa
As amostras de máquina de lavar foram coletadas direcionando-se a mangueira
de saída da máquina para um balde (Figura 4-4). O programa de lavagem
escolhido (lavar, enxaguar e centrifugar) era composto por três ciclos. No primeiro
e no segundo, ocorria a adição de sabão em pó, e no terceiro, era adicionado
amaciante. A água descartada de cada ciclo era coletada em um balde diferente
e, posteriormente, proporções iguais da água coletada dos três ciclos eram
misturadas e colocadas em um reservatório plástico de 10 litros.
4. Material e Métodos
73
Figura 4-4: Coleta da amostra de máquina de lavar
4.2.1.5 Tanque
Na residência onde foi realizada a coleta, o tanque era utilizado para lavagem de
roupas mais finas e também para lavagem de peças muito sujas antes de serem
colocadas na máquina (Figura 4-5). As roupas eram lavadas em bacias e a água
utilizada era posteriormente colocada em um reservatório plástico de 10 litros.
Figura 4-5: Coleta da amostra de tanque
4.2.2 Análises laboratoriais
Após o término da coleta, as amostras foram acondicionadas e transportadas em
reservatórios plásticos para o laboratório de saneamento da UFES, onde eram
realizadas as análises (Figura 4-6).
4. Material e Métodos
74
Figura 4-6: Transporte das amostras em bombonas
Antes do início das análises, a amostra composta era preparada de acordo com a
descrição já apresentada anteriormente (40% chuveiro, 10% lavatório, 15%
tanque, 15% máquina de lavar, 20% pia da cozinha).
4.2.2.1 Análises físico-químicas
Os parâmetros físico-químicos analisados foram pH, temperatura, OD, turbidez,
alcalinidade, condutividade elétrica, dureza, cloreto, DBO
5
, DQO, SST, ST, O&G,
P
t
, NTK, N-NH
3
, N-NO
2
-
, N-NO
3
-
, S
-2
, SO
4
-2
.
As técnicas de análises laboratoriais obedeceram aos procedimentos
recomendados pelo Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater – 19ª Edição (APHA et al., 1995) e encontram-se referenciadas no
Anexo A.
4.2.2.2 Análises microbiológicas
A densidade de E. coli foi avaliada através da determinação do número mais
provável (NMP), utilizando-se meio cromofluorogênico (LMX), com quantificação
por meio de cartelas.
Para detecção dos ovos de helmintos foi utilizada a técnica de incubação para
efluentes (ZERBINE e CHERNICHARO, 2001), onde as amostras passam pelas
4. Material e Métodos
75
seguintes etapas: sedimentação, centrifugações sucessivas com solução salina
(NaCl 0,85%), flutuação com solução de sulfato de zinco (densidade 1,18),
filtração em membrana de 47mm e 0,45µm de porosidade e incubação a 28°C
durante 28 dias. Após os 28 dias de incubação, a contagem é realizada
utilizando-se uma câmara de Sedgewick Rafter, com observação no microscópio
dos ovos viáveis (com larva) e não-viáveis.
4.2.3 Análises estatísticas
A análise estatística dos resultados físico-químicos e microbiológicos foi realizada
utilizando o software Excel para obtenção da estatística descritiva dos parâmetros
analisados (média, desvio padrão, máximo, mínimo e coeficiente de variação).
4.3 Descrição da edificação com reúso da UFES
Uma edificação localizada no Parque Experimental de Saneamento Básico da
UFES foi utilizada para implantação do sistema de monitoramento do consumo de
água e da estação de tratamento de água cinza (ETAC) (Figura 4-7). Ele contém
duas salas de professores com banheiros individuais e dois banheiros coletivos
(masculino e feminino). Os banheiros individuais possuem um vaso sanitário e um
lavatório. Os banheiros coletivos possuem dois vasos sanitários, dois lavatórios e
um chuveiro. O banheiro masculino possui ainda dois mictórios.
O projeto hidro-sanitário desse prédio foi desenvolvido com algumas
particularidades:
segregação das águas residuárias. As águas cinza, águas negras
(provenientes dos vasos sanitários) e águas amarelas (provenientes dos
mictórios) utilizam tubulações distintas e são conduzidas a tratamentos
diferenciados (Figura 4-8).
4. Material e Métodos
76
abastecimento de água com rede dupla, uma de água potável, destinada
a atender a lavatórios e chuveiros, e outra de água de reúso, que
abastece os vasos sanitários e mictórios (Figura 4-9).
Figura 4-7: Edificação localizada no parque experimental de saneamento da UFES
Figura 4-8: Projeto hidro-sanitário de esgoto da edificação da UFES
4. Material e Métodos
77
4.3.1 Funcionamento do prédio
Por se tratar de uma edificação dentro de uma instituição de ensino o horário de
funcionamento do prédio é de acordo com o período de trabalho dos
pesquisadores e professores. Em geral, esse horário é de 8:00 às 18:00h com
duas horas de intervalo para almoço (12h às 14h).
4.4 Sistema de reúso de água cinza
Os lavatórios e chuveiros eram abastecidos pela água potável que está
armazenada no reservatório superior de água potável (RSAP), antes de ser
distribuída. A água cinza gerada pelo uso desses aparelhos era encaminhada à
elevatória de água cinza bruta (EACB) e bombeada para dentro da estação,
passando primeiramente pelo Reator anaeróbio compartimentado (RAC) e
seguindo pelo Filtro biológico aerado submerso (FBAS), pelo decantador
secundário (DEC) e pelo filtro terciário (FT) na seqüência. Após a saída da
estação a água cinza seguia ainda para uma etapa de desinfecção por cloro, que
ocorria dentro da própria elevatória de água cinza tratada (EACT). A água cinza
Figura 4-9: Isométrico de água da edificação da UFES
4. Material e Métodos
78
então, depois de clorada, era bombeada para o reservatório superior de água de
reúso de onde era distribuída para os vasos sanitários e mictórios.
A água utilizada para lavagem do filtro terciário era a própria água cinza tratada
que ficava armazenada no reservatório superior de água de reúso.
O lodo armazenado no decantador secundário e a água utilizada na lavagem do
FT eram direcionados para a EACB quando descartados.
A figura 4-10 mostra o fluxograma do sistema de reúso do prédio da ETE-UFES.
4.4.1 Descrição da Estação de Tratamento de Água Cinza (ETAC)
A estação de tratamento de águas cinza (ETAC) foi dimensionada para tratar as
águas cinza produzidas por 60 pessoas (24L/hab.dia). Ela é composta por um
RAC - reator anaeróbio compartimentado (1,08m³), um FBAS - filtro biológico
aerado submerso (0,2m³), um DEC - decantador de placas (0,27m³), e um FT -
filtro terciário (0,17m³). Esta ETAC foi construída em fibra de vidro, com estrutura
compartimentada, contendo os quatro processos citados em volume único, com
Figura 4-10: Fluxograma do sistema de reúso
Cloro
EACB RAC FBAS
DEC FT
EACT
RSR
Lodo
Descarte água de lavagem
Água para
lavagem
RSP
Tratamento de águas
negras e águas amarelas
Água potável
Cloro
EACB RAC FBAS
DEC FT
EACT
RSR
Lodo
Descarte água de lavagem
Água para
lavagem
RSP
Tratamento de águas
negras e águas amarelas
Água potável
4. Material e Métodos
79
dimensões totais de 0,6m x 1,7m x 2,2m (Figuras 4-11 a 4-13). O
dimensionamento detalhado da ETAC encontra-se no anexo B.
O fluxo da estação ocorre de acordo com os usos dos lavatórios e chuveiros
dentro prédio.
Figura 4-11: Vista superior da ETAC
Figura 4-12: Vista frontal da ETAC
4. Material e Métodos
80
Planta Baixa
500
1700
600
300300
RAC
C1
300
RAC
C3
RAC
C2
DEC
FT
300
300
300
FBAS
OBS: Cotas em milímetro.
Entrada do Efluente
Saída do Efluente
Extravasor
Figura 4-13: Planta baixa ETAC
4.4.1.1 Reator anaeróbio compartimentado (RAC)
O reator anaeróbio compartimentado possui forma prismática com dimensões
totais de 0,6m x 0,9m x 2,10m. Ele subdivide-se em três compartimentos de
mesmo volume (0,36m³).
A água cinza entra pela parte superior do primeiro compartimento e é
encaminhada por meio de tubulação vertical até 10cm do fundo, de onde segue
em fluxo ascendente até a parte superior da segunda câmara. O efluente segue
para as demais câmaras da mesma forma.
Na primeira e na segunda câmara ocorre a etapa de digestão, pois é onde se
localiza a manta de lodo e ocorrem, principalmente, as reações de estabilização
de matéria orgânica.
A terceira câmara ocorre a etapa de sedimentação. Ela possui um decantador
lamelar composto por placas paralelas e eqüidistantes, formando um ângulo de
aproximadamente 50° com a horizontal. Na tampa do reator existe uma saída
para o biogás.
Cada compartimento possui 3 torneiras nas alturas de 0,1m, 0,8m e 1,5m, a partir
do fundo do reator, possuindo 9 torneiras no total. Elas foram colocadas para
avaliação do perfil de lodo dentro do reator e para eventuais descartes do
4. Material e Métodos
81
mesmo. No decorrer da pesquisa, não houve necessidade de realizar nenhum
descarte de lodo do RAC.
Para a partida do RAC foi colocado lodo de um Reator UASB na primeira câmara
até altura de 0,8m (aproximadamente 140L). Este reator UASB, também se
localiza no parque experimental ETE-UFES e trata esgoto sanitário de um bairro
de classe média alta próximo ao campus universitário.
O RAC, além de tratar água cinza, também digere anaerobiamente o lodo aeróbio
e o lodo terciário que são recirculados para a elevatória de água cinza bruta no
momento do descarte do decantador e da lavagem do filtro terciário. Esses
procedimentos serão detalhados mais adiante.
4.4.1.2 Filtro biológico aerado submerso (FBAS)
O polimento do efluente do RAC é realizado em um filtro biológico aerado
submerso (FBAS). Ele possui dimensões totais de 0,3m x 0,5m x 2,2m e altura do
leito de 1,38m.
Esse filtro funciona em fluxo normal ascendente e o seu leito é fluidizado. Possui
meio-suporte composto por material plástico, onde as colônias de
microorganismos responsáveis pela degradação biológica se fixam.
No FBAS não há retenção física da biomassa pela ação da filtração, sendo
necessária uma etapa de decantação secundária para remoção do biofilme de
excesso que cresce ao redor do meio suporte. Entretanto, ele não precisa ser
retrolavado (autolimpante), suprimindo, assim, operações e instrumentações mais
complexas e de maior custo.
O suprimento de ar é feito através de um compressor (Marca: Schulz S. A.,
Modelo: MSI 5,2ML) de forma contínua, a uma vazão de aproximadamente
1,4Nm³/h na maior parte do tempo.
4. Material e Métodos
82
Caracterização do meio suporte
O meio suporte utilizado foi de material plástico, composto de conduítes elétricos
corrugados de diâmetro de 1’’, cortados em pedaços de aproximadamente 2cm
(Figura 4-14). Eles foram escolhidos por serem bem leves e por possuírem maior
superfície específica, quando comparados com a brita.
Figura 4-14: Meio suporte utilizado no FBAS
Para caracterização do meio suporte foi realizado o seguinte procedimento
(Figura 4-15):
9 contabilização de quantos conduítes cabem em um recipiente de volume
conhecido;
9 tarar a balança com o recipiente utilizado;
9 pesar o recipiente com os conduítes;
9 encher o recipiente com água sem tirar os conduítes e pesar novamente;
9 medir o volume de água que foi colocado no recipiente;
9 repetir as etapas acima de 3 a 5 vezes;
9 medir as dimensões de um conduíte.
4. Material e Métodos
83
Com esses dados foi possível fazer um cálculo estimado da área superficial
específica, da porosidade e da massa específica desse meio suporte (Tabela 4-
2).
Tabela 4-2: Característica do meio suporte
Meio suporte
Área superficial
específica (m²/m³)
Porosidade (%)
Massa específica
(kg/m³)
Conduíte 202 92% 53
4.4.1.3 Decantador secundário (DEC)
O decantador secundário opera em fluxo ascendente e possui 5 placas paralelas,
eqüidistantes e inclinadas a 55° em relação à horizontal. Suas dimensões totais
são de 0,3m x 0,5m x 2,1m. Ele possui o fundo em forma de tronco de pirâmide,
para facilitar o depósito do lodo e sua posterior remoção.
Operação de descarte do lodo aeróbio
O descarte do lodo aeróbio acumulado no decantador foi realizado semanalmente
através do acionamento de uma bomba de máquina de lavar e retornado para
elevatória de água cinza bruta, entrando novamente no tratamento (Figura 4-16).
O acionamento da bomba era feito manualmente, embora o tempo de descarte
fosse programado, através de um Sistema de Controle Programável (SCP). Esse
tempo era de 1,0min, representando um volume de descarte de aproximadamente
23L.
Figura 4-15: Esquema de caracterização do meio suporte
n° ?
1
0,25
3
4
2,30
5
6
7
TARA
2
n° ?
1
n° ?n° ?
1
0,25
3
0,250,25
3
44
2,30
5
2,302,30
5
66
77
TARA
2
TARA
2
4. Material e Métodos
84
Figura 4-16: Bomba utilizada no descarte do lodo aeróbio
4.4.1.4 Filtro terciário (FT)
O filtro terciário é a unidade de polimento do tratamento biológico e sua finalidade
é, principalmente, a retenção de sólidos suspensos remanescentes.
O FT opera em fluxo descendente, possui dimensões totais de 0,3m x 0,6m x
2,10m e um volume útil de 0,17m³, composto por uma tela de aço inox que fica
perpendicular ao fluxo, funcionando como uma peneira.
Operação de lavagem
A lavagem do FT era feita com ar e água no fluxo ascendente, ou seja, contrária
ao fluxo no filtro. O suprimento de ar vinha de um compressor e era
disponibilizado para o FT através de uma válvula solenóide. A água para a
lavagem vinha do reservatório superior de água cinza tratada e era liberada para
o filtro através de uma válvula pneumática. A água descartada da lavagem (lodo
terciário) retornava para a caixa de água cinza bruta, entrando novamente na
estação (Figura 4-17).
A freqüência de lavagem era semanal. O acionamento foi feito manualmente,
embora a seqüência de lavagem fosse automática, sendo a abertura e o
fechamento das válvulas controlados pelo mesmo sistema (SCP) utilizado no
descarte do lodo aeróbio. A programação foi feita com a seguinte seqüência de
lavagem:
4. Material e Métodos
85
9 2 minutos de ar;
9 2 minutos de ar e água;
9 1 minuto de água;
Figura 4-17: Esquema da operação de lavagem do FT
4.4.1.5 Desinfecção
A etapa de desinfecção foi inserida objetivando a destruição de patógenos ainda
presentes no efluente tratado, tornando-o mais seguro para seu uso posterior
(descarga de vasos sanitários). Entretanto, a desinfecção não produz uma água
esterilizada. O agente desinfetante utilizado foi o cloro, que foi escolhido, pois
além de proporcionar a desinfecção no tanque de contato, ainda deixa uma
concentração residual, garantindo a desinfecção em caso de recontaminação.
Para cloração, foi utilizada uma pastilha de cloro 200g, cujas características estão
descritas na Tabela 4-3. Ela foi acoplada a um flutuador e, este conjunto, inserido
Válvula
solenóide
SCP
Compressor
Tubo AC tratada
(lavagem FT)
Rotâmetro
Válvula
pneumática
Entrada de
ar do FT
(Lavagem)
Válvula
solenóide
SCP
Compressor
Tubo AC tratada
(lavagem FT)
Rotâmetro
Válvula
pneumática
Entrada de
ar do FT
(Lavagem)
4. Material e Métodos
86
na elevatória de água cinza tratada (Figura 4-18). A aplicação de cloro era feita
de forma gradativa, na medida em que a pastilha ia se dissolvendo. A dosagem
era controlada por uma grelha localizada na parte inferior do flutuador. A grelha
foi mantida praticamente toda fechada para que a dosagem aplicada fosse a
mínima possível. Cada pastilha de cloro durou aproximadamente dois meses.
Figura 4-18: Flutuador utilizado na desinfecção
Tabela 4-3: Características da pastilha de cloro
Nome Fornecedor Características
Ingrediente ativo:
Tricloro-S-Triazina-Triona
(90% de cloro ativo)................................99%
Pace tricloro
(cloro estabilizado em
tablete)
Hth
Composição:
Água, hidróxido de cálcio........................1%
4.4.2 Monitoramento do sistema de reúso
Após a construção e a realização de testes hidráulicos na ETAC, iniciou-se a fase
de monitoramento em março de 2005.
4. Material e Métodos
87
4.4.2.1 Medidas adotadas para o aumento da produção de Água
Cinza
Para aumentar a produção de água cinza e para que o efluente gerado ficasse
mais próximo ao de uma residência, foi colocado no banheiro feminino uma
máquina de lavar de funcionamento manual com capacidade de até 4kg de roupa
(Lavamatic super – Suggar). Ela foi acoplada em um dos lavatórios e utilizada
quase que diariamente (Figura 4-19). Também foi adicionada na estação amostra
de pia de cozinha, que foi coletada na caixa de gordura da cantina/restaurante do
Centro Tecnológico da UFES. Eram coletados, em média, 40 litros e inseridos na
elevatória de água cinza bruta três vezes por semana (Figura 4-20)
Figura 4-19: Máquina de lavar acoplada ao lavatório
Figura 4-20: Introdução do efluente de cozinha na elevatória de água cinza bruta
4. Material e Métodos
88
4.4.2.2 Pontos de coleta
9 Água cinza bruta; coletada na elevatória de água cinza bruta;
9 Água cinza efluente ao RAC e afluente ao FBAS; coletada na saída da
terceira câmara do RAC;
9 Água cinza efluente ao decantador secundário do FBAS e afluente ao FT;
coletada na saída do DEC;
9 Água cinza efluente ao FT e afluente à desinfecção; coletada na saída do
FT;
9 Água cinza efluente à desinfecção (efluente final); coletada na elevatória
de água cinza tratada;
9 Vasos sanitários; coletada nos vasos sanitários dos banheiros do prédio;
9 Lodo anaeróbio; coletado nas torneiras localizadas a 10cm do fundo
câmara 1 e 2 do RAC;
9 Lodo aeróbio; coletado no momento do descarte do lodo do DEC antes de
entrar na elevatória de água cinza bruta;
9 Lodo terciário; coletado no momento da lavagem do FT antes de entrar na
elevatória de água cinza bruta.
4.4.2.3 Vazão de água cinza
Como a vazão de água cinza não era constante ao longo do dia, o sistema não
funcionava em fluxo contínuo. Dessa forma, o controle da vazão foi feito através
do registro do tempo em que a bomba de água cinza bruta permaneceu ligada
durante um dia. Esses tempos foram monitorados automaticamente através de
um sistema de aquisição de dados (o mesmo dos hidrômetros) e armazenados no
computador segundo a segundo. Anteriormente foi medida a vazão da bomba de
água cinza bruta (0,5L/s) e com o dado de quantos segundos ela ficou ligada em
cada dia, era calculada a vazão diária de água cinza em L/dia.
4. Material e Métodos
89
4.4.2.4 Fase líquida
Para a fase líquida, foram feitas coletas de amostras simples duas vezes por
semana, sempre na parte da manhã. O volume coletado para cada amostra era
de aproximadamente 2,7L, distribuídos nos frascos de coleta como mostra a
Figura 4-21.
Figura 4-21: Frascos de coleta de amostras
Os parâmetros físico-químicos analisados foram: pH, temperatura, OD, turbidez,
cor verdadeira, alcalinidade, condutividade elétrica, dureza, cloreto, DBO
5
, DQO,
SST, O&G, Pt, NTK, N-NH
3
, N-NO
2
-, N-NO
3
-, S
-2
, SO
4
-2
, surfactante aniônico.
Como indicador do potencial de contaminação por patógenos, avaliou-se a
densidade de E. coli. As metodologias utilizadas em cada análise estão
referenciadas no Anexo A.
4.4.2.5 Fase sólida
O lodo anaeróbio foi coletado na primeira e na segunda câmara do RAC na
torneira que fica a 10cm do fundo do reator. As amostras foram coletadas em
Sulfeto
O&G
E. Coli
CT
Cloro
residual
Demais análises
físico-químicas
4. Material e Métodos
90
becker e levadas para o laboratório, onde foram analisadas os parâmetros ST e
SV, de acordo com a metodologia referenciada no Anexo A.
O lodo aeróbio e o lodo terciário foram coletados no momento do descarte do
lodo do decantador secundário e da lavagem do FT, respectivamente, antes deles
entrarem na elevatória de água cinza bruta. A coleta do lodo terciário foi realizada
em dois momentos: no início e ao final da lavagem. Os parâmetros analisados
foram os mesmo do lodo anaeróbio.
4.4.3 Análise estatística
A análise estatística dos resultados foi realizada utilizando o software Excel, para
a obtenção da estatística descritiva dos parâmetros analisados (média, mediana,
desvio padrão, máximo, mínimo e percentis). Foram gerados gráficos do tipo Box
e Whiskers (Figura 4-22), séries temporais e distribuição da freqüência
acumulada.
dia
25%
50%
d
90%
10%
n
x
75%
Figura 4-22: Forma de expressão dos resultados
4.4.4 Condições operacionais da ETAC durante o monitoramento
Para avaliação das condições operacionais durante o monitoramento da ETAC,
foram calculadas as cargas volumétrica e superficial diárias aplicadas em cada
etapa de tratamento. Elas foram calculadas a partir da geometria da estação, da
vazão de entrada e da concentração afluente, em termos de DQO.
4. Material e Métodos
91
A vazão começou a ser monitorada em meados de maio de 2005, embora, por
problemas na captura on-line do funcionamento da bomba de água cinza bruta,
os dados só tenham sido registrados continuamente a partir do mês de julho.
Para determinação da vazão média foram excluídos os dias em que a bomba não
funcionou (principalmente finais de semana e feriados). Dessa forma, calculou-se
a vazão média de entrada na estação (0,123m³/dia) a partir dos dias em que a
bomba funcionou efetivamente. A estação operou com tempo de detenção
hidráulica (TDH) médio de 12 dias (Tabela 4-4).
Tabela 4-4: Tempos de detenção hidráulicos médios
RAC FBAS FT Total
TDH (dia)
9 2 1 12
Duas medidas foram tomadas no intuito de aumentar a vazão de água cinza no
prédio. A primeira, representada pelo número 1 nas figuras 4-23 a 4-25, foi a
utilização de uma máquina de lavar roupa. A segunda, representada pelo número
2, foi a colocação de efluente de cozinha, oriundo da caixa de gordura da
cantina/restaurante do Centro Tecnológico da UFES. Ambas as medidas serviram
também para aumentar a carga de DQO aplicada na estação.
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
16-mai
21-mai
26-mai
31-mai
5-jun
10-jun
15-jun
20-jun
25-jun
30-jun
5-jul
10-jul
15-jul
20-jul
25-jul
30-jul
4-ago
9-ago
14-ago
19-ago
24-ago
29-ago
3-set
8-set
13-set
Tempo (dia)
Vazão (m³/d)
Média
0,123 m³/d
1
2
LEGENDA: 1 – Início lavagem de roupa; 2 – Início inserção efluente de cozinha
Figura 4-23: Vazão média diária de entrada na ETAC
4. Material e Métodos
92
A carga superficial aplicada (CSUP) foi calculada a partir da relação entre a
vazão afluente (Q) e a área superficial de cada reator (As) (equação 4-1). O
RAC, o FBAS e o FT operaram com carga superficial média de 0,228, 0,820 e
0,022m³/m².dia, respectivamente (Figura 4-24).
()
(
)
()
2
3
23
SUP
mAs
dmQ
dmmC =
(Equação 4-1)
A carga volumétrica aplicada (CVOL) foi calculada a partir da relação entre o
produto da concentração de DQO (CDQO) e da vazão afluente (Q) pelo volume
útil de cada reator (VU) (Equação 4-2). A variabilidade da alimentação da ETAC,
tanto em termos de vazão quanto em termos de concentrações de DQO
afluentes, faz com que as cargas volumétricas também variem. Os valores
médios aplicados no RAC, FBAS e FT no período do experimento foram,
respectivamente, de 0,074, 0,111, 0,018 kgDQO/m³.d (Figura 4-25).
()
()
(
)
()
3
3
U
3
DQO
3
VOL
10
mV
dmQLmgC
dmkgDQOC
=
(Equação 4-2)
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
16-mai
21-mai
26-mai
31-mai
5-jun
10-jun
15-jun
20-jun
25-jun
30-jun
5-jul
10-jul
15-jul
20-jul
25-jul
30-jul
4-ago
9-ago
14-ago
19-ago
24-ago
29-ago
3-set
8-set
13-set
Tempo (dia)
Carga Superficial (m³/m².d)
RAC FBAS FT
0,228 0,820 0,022
Média
1
2
LEGENDA: 1 – Início lavagem de roupa; 2 – Início inserção efluente de cozinha
Figura 4-24: Carga superficial média diária em cada etapa de tratamento da ETAC
4. Material e Métodos
93
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
16-mai
21-mai
26-mai
31-mai
5-jun
10-jun
15-jun
20-jun
25-jun
30-jun
5-jul
10-jul
15-jul
20-jul
25-jul
30-jul
4-ago
9-ago
14-ago
19-ago
24-ago
29-ago
3-set
8-set
13-set
Tempo (dia)
Carga volumétrica (KgDQO/m³.d)
RAC FBAS FT
0,074 0,111 0,018
Média
1
2
LEGENDA: 1 – Início lavagem de roupa; 2 – Início inserção efluente de cozinha
Figura 4-25: Carga volumétrica média diária em cada etapa de tratamento da ETAC
Tabela 4-5: Características geométricas da ETAC
Dimensões
Compartimento
Largura
(m)
Comprimento
(m)
Altura útil
(m)
Área
superficial
As
(m²)
Volume útil
Vu
(m³)
RAC 0,6 0,9 2,00 0,54 1,08
FBAS 0,3 0,5 1,81 0,15 0,27
FT 0,6 0,3 0,94 0,18 0,17
4.5 Quantificação da produção e demanda de águas cinza
4.5.1 Produção e demanda teórica de águas cinza
Para o cálculo da produção e da demanda teórica máxima de água cinza do
prédio, foram consideradas as seguintes variáveis:
9 Número máximo de usuários: 60 pessoas;
9 Vazão de cada aparelho sanitário: dados dos fabricantes e, quando
possível, medidas
in loco de volume e tempo;
9 Freqüência e duração do uso de cada aparelho sanitário: (TOMAZ, 2000).
4. Material e Métodos
94
Como no Brasil não há registros de pesquisas sobre freqüência e duração de uso
em aparelhos sanitários, eles foram estimados a partir de dados americanos e
europeus e adaptados para a nossa realidade (TOMAZ, 2000). Esses dados
foram úteis para o dimensionamento da Estação de Tratamento de Águas cinza
(ETAC). As Tabelas 4-6 e 4-7 mostram as variáveis adotadas e os resultados da
produção e demanda de água cinza, respectivamente.
Tabela 4-6: Estimativa da produção de água cinza no prédio da ETE UFES
N° de usuários:
60 pessoas
Vazão do
aparelho
(L/min)
Duração do
uso
(min/hab.dia)
Freqüência
de uso
Produção de
água cinza
(L/dia)
L/hab.dia
Lavatório
7 2 1 * 840 14
Chuveiro
10 10 0,1 ** 600 10
Total
1440 24
* dia ** banho/hab.dia
Tabela 4-7: Estimativa da demanda de água cinza no prédio da ETE UFES
N° de usuários:
60 pessoas
Volume
(L/descarga)
Freqüência
de uso
(descarga/hab.d)
Vazamento
(%/descarga)
Demanda de
água cinza
(L/dia)
L/hab.dia
Vaso sanitário
7 2
10 924 15
Mictório
0,5 2
5 63 1
Total
987 16
4.5.2 Produção e demanda real de águas cinza
Para quantificação da produção e da demanda real de água cinza do prédio, cada
aparelho sanitário (num total de 16) foi monitorado por um hidrômetro com saída
de sinal (Figura 4-26). Cada hidrômetro instalado recebeu um número
correspondente, de acordo com a Tabela 4-8. Os hidrômetros foram doados pelo
Liceu de Artes e Ofício de São Paulo (LAO).
4. Material e Métodos
95
Figura 4-26: Hidrômetros instalados no lavatório, chuveiro, vaso sanitário
Tabela 4-8: Hidrômetro correspondente em cada aparelho sanitário
Hidrômetro Aparelho sanitário Local
H1 Vaso sanitário Sala de professor 1
H2 Lavatório Sala de professor 1
H3 Lavatório Sala de professor 2
H4 Vaso sanitário Sala de professor 2
H5 Lavatório Banheiro masculino
H6 Lavatório Banheiro masculino
H7 Chuveiro Banheiro masculino
H8 Vaso sanitário Banheiro masculino
H9 Lavatório Banheiro feminino
H10* Lavatório Banheiro feminino
H11 Mictório Banheiro masculino
H12 Mictório Banheiro masculino
H13 Vaso sanitário Banheiro feminino
H14 Vaso sanitário Banheiro masculino
H15 Vaso sanitário Banheiro feminino
H16 Chuveiro Banheiro feminino
* Lavatório utilizado para acoplar a máquina de lavar roupa.
4.5.2.1 O uso da máquina de lavar roupa
A máquina de lavar roupa modelo Lavamatic Super da Suggar, com capacidade
de até 4kg de roupa, foi utilizada para aumentar a produção de água cinza do
prédio da ETE-UFES. Ela era acoplada ao lavatório monitorado pelo hidrômetro
H10 apenas no momento em que se iniciava lavagem de roupa. Em geral, eram
lavados jalecos utilizados por pesquisadores do Núcleo Água. A lavagem era
realizada da seguinte forma:
9 Colocação das roupas a serem lavadas;
4. Material e Métodos
96
9 Abertura e fechamento da torneira até o nível desejado (35L a 45L);
9 Lavagem por turbilhonamento com adição de sabão em pó;
9 Esvaziamento manual da água de lavagem para o ralo de água cinza;
9 Abertura e fechamento da torneira até o nível desejado (35L a 45L);
9 Lavagem por turbilhonamento com adição de amaciante;
9 Esvaziamento manual da água de lavagem para o ralo de água cinza.
Após cada uso da máquina, ela era desacoplada da torneira para que a mesma
pudesse ser utilizada normalmente. Em geral, o volume de água utilizado para
cada lavagem era de aproximadamente 70 litros.
4.5.2.2 Sistema de monitoramento
Os hidrômetros com saída de sinal são aparelhos que possuem a característica
de fornecer, através de cabo com fios, sinais elétricos. Estes sinais são
proporcionais à vazão do próprio hidrômetro. Os aparelhos fornecidos pela LAO
produzem uma saída em tensão pulsada, na proporção de um pulso a cada
100ml de água que atravessa o hidrômetro (resolução do hidrômetro).
Para contar os pulsos dos hidrômetros e para convertê-los em dados que possam
ser analisados, foram utilizados módulos locais. Esses módulos são
equipamentos baseados em microcontrolador (uma espécie de microprocessador
com alguns periféricos integrados). Nesse sentido, os módulos locais funcionam
da seguinte maneira: quando um pulso é gerado por um hidrômetro, o
microcontrolador se encarrega de detectá-lo e contabilizá-lo, para que a cada
segundo se tenha disponível a informação de vazão (ml/s) daquele hidrômetro
específico, bastando para isso multiplicar a contagem de pulsos por 100.
Esta informação de vazão é transmitida ao sistema supervisório remoto, porém,
essa transmissão não pode ser feita diretamente, sendo necessária a presença
de um conversor de comunicação entre o sistema supervisório e os módulos
locais. Os módulos locais implementados têm capacidade de varredura de até
oito hidrômetros simultaneamente, além de outros sinais eletrônicos.
4. Material e Métodos
97
O conversor de comunicação é um equipamento simples que promove a interface
de comunicação entre os módulos locais e o sistema supervisório. Isto se faz
necessário porque o sistema supervisório (que será visto mais adiante) está no
computador e este, por sua vez, permite apenas a comunicação em protocolo
RS232. Para que mais de um módulo pudesse ser conectado simultaneamente,
foi necessário implementá-los com o protocolo RS485. Dessa forma, houve a
necessidade de se instalar um conversor de comunicação para realizar a tarefa
de converter a comunicação de RS232 para RS485 e vice-versa, possibilitando
assim a conexão de mais de um módulo local.
O sistema supervisório utilizado foi o Elipse Scada 32 bits Real time 300. É ele
que recebe as informações sobre as vazões dos hidrômetros conectados a cada
módulo e as separa por hidrômetro. A cada segundo, os módulos locais se
encarregam de preparar pacotes com os dados de vazões dos hidrômetros
relativos ao segundo imediatamente anterior. O sistema supervisório, por sua
vez, recolhe esse pacote e o decifra, separando os dados de vazão de cada
hidrômetro por coluna e gerando um histórico de dados que periodicamente é
convertido para o formato texto. Os arquivos em txt são convertidos em planilhas
eletrônicas para melhor manipulação dos dados. A Figura 4-27 mostra a tela de
monitoramento do sistema supervisório (Elipse Scada).
A Figura 4-28 ilustra esquematicamente as interconexões de rede e as ligações
do sistema.
O sistema de monitoramento entrou em operação na sua forma plena no final do
mês de junho/2005 e os dados utilizados na pesquisa foram de julho/2005 a
setembro/2005, representando um total de 44 dias de monitoramento.
Figura 4-27: Tela de monitoramento do sistema supervisório
4. Material e Métodos
98
Figura 4-28: Esquema das interconexões de rede das ligações
4.5.2.3 Aferição dos hidrômetros
Foram feitos testes de calibração para validação dos resultados obtidos no
computador. Os testes, de maneira geral, foram feitos medindo-se volumes em
tempos determinados em cada aparelho e comparando com os dados gerados no
computador.
Nos lavatórios e chuveiros, os volumes
in loco foram medidos através de
reservatórios graduados e também através de leituras iniciais e finais nos
próprios hidrômetros. Nos mictórios e nos vasos sanitários esses volumes só
puderam ser medidos através das leituras nos hidrômetros. Para os chuveiros e
lavatórios, a comparação foi feita entre a vazão medida e a vazão obtida no
computador e para os vasos sanitários e mictórios, a comparação foi feita com
relação aos volumes medidos e do computador (Anexo C).
RS232
RS485
Sistema
supervisório
remoto
Conversor de
comunicação
Módulos
locais
Hidrômetros
4. Material e Métodos
99
4.5.2.4 Análises estatísticas
Os arquivos txt gerados no computador pelo sistema supervisório foram
convertidos em planilhas em Excel para umamelhor manipulação. As seguintes
análises foram realizadas:
Consumo de água total médio do prédio em cada um dos meses
monitorados: somatório dos resultados obtidos em todos os aparelhos
sanitários por dia e calculada a média ao final de cada mês;
Consumo de água médio de cada aparelho sanitário em cada um dos
meses monitorados
Distribuição do consumo diário de água por tipo de aparelho sanitário:
somatórios dos consumos médios diários de chuveiros, lavatórios, vasos
sanitários e mictórios e distribuídos em um gráfico “pizza”;
Análises mensais, diárias e horárias da produção e demanda da água
cinza.
Análise do consumo de água potável e da produção de águas residuárias
do prédio, considerando quatro cenários distintos.
Para esses cálculos foram excluídos finais de semana e feriados, pois não
havia praticamente nenhum uso nos aparelhos sanitários.
5. Resultados e Discussão
100
5. Resultados e Discussão
5.1 Considerações Gerais
Neste capítulo serão apresentados os resultados referentes à caracterização
qualitativa da água cinza segregada, monitoramento quantitativo da produção e
demanda de água cinza no prédio da ETE-UFES, monitoramento do sistema de
reúso implantado nesse mesmo prédio.
5.2 Caracterização qualitativa da água cinza segregada
Neste item discute-se a caracterização qualitativa da água cinza coletada em
diversas fontes: Chuveiro, Lavatório, Tanque, Máquina de lavar roupa, e Cozinha.
As características das águas cinza obtidas na pesquisa serão sempre
comparadas com as características de águas cinza obtidas por outros autores e
também com esgotos domésticos de características fortes, médias e fracas.
5.2.1 Características físicas
O resumo estatístico descritivo dos resultados referentes às características
físicas (turbidez, sólidos suspensos totais e sólidos totais) encontra-se disposto
na tabela 5-1.
As águas cinza, de maneira geral, apresentam uma quantidade de sólidos em
suspensão bastante elevada, evidenciada tanto pelos resultados de turbidez
quanto pela concentração de sólidos suspensos totais. Resíduos de alimentos,
cabelos e fibras de tecidos são alguns exemplos de material sólido nas águas
5. Resultados e Discussão
101
cinza de cozinha, banheiro (chuveiro e lavatório) e lavanderia (tanque e máquina
de lavar), respectivamente. Esses materiais em suspensão conferem um aspecto
desagradável ao efluente, além de servirem de abrigo para microrganismos,
podendo ocasionar rejeição por parte dos usuários no caso de um reúso sem
tratamento.
Pode-se observar que, para os três parâmetros físicos analisados, os resultados
foram discrepantes tanto para uma mesma fonte de coleta (desvio padrão alto)
quanto de uma fonte para outra. Por exemplo, enquanto que para as amostras de
lavatório os resultados médios de turbidez, SST e ST foram 158NTU, 146mg/L e
500mg/L, respectivamente, para amostras de cozinha esses resultados foram,
nessa mesma ordem, 250NTU, 336mg/L e 2160mg/L.
A tabela 5-2 permite uma comparação dos resultados obtidos no presente estudo,
com os obtidos por Siegrist et al. (1976, apud Eriksson et al., 2002), Christova-
Boal et al. (1996), Almeida et al. (1999), Borges (2003), Jamrah et al. (2004),
Burnat e Mahmoud (2004).
Christova-Boal et al. (1996) encontraram, para amostras de banheiro e de
lavanderia, turbidez bem próximas às obtidas na pesquisa, assim como os
valores encontrados por Borges (2004). Almeida et al. (1999) encontraram, para
amostras de lavatório, chuveiro e cozinha, concentrações de SST de 181, 200 e
235 mg/L, respectivamente, enquanto que as concentrações médias obtidas na
pesquisa foram, nessa mesma ordem, de 146, 103 e 336mg/L.
Quando comparada com o esgoto doméstico, a água cinza misturada possui
concentrações de SST e ST médias semelhantes às de um esgoto médio e forte,
respectivamente (Tabela 5-3).
5. Resultados e Discussão
102
Tabela 5-1: Caracterização qualitativa da água cinza segregada - Parâmetros físicos
Parâmetro Ponto n Med n Máx DP CV
Turbidez
Lavatório 9 158 95 327 72 0,46
(NTU)
Chuveiro 9 109 45 345 97 0,90
Tanque 9 299 111 507 141 0,47
Máq. Lavar 9 58 32 100 23 0,40
Cozinha 8 250 60 750 225 0,90
Misturada 7 166 90 289 65 0,39
SST
Lavatório 10 146 84 209 35 0,24
(mg/L)
Chuveiro 10 103 15 483 139 1,35
Tanque 10 221 68 756 202 0,91
Máq. Lavar 10 53 17 106 27 0,50
Cozinha 8 336 101 1103 325 0,97
Misturada 7 134 70 220 52 0,39
ST
Lavatório 9 500 225 1609 433 0,87
(mg/L)
Chuveiro 8 437 224 1009 258 0,59
Tanque 9 1862 723 4578 1155 0,62
Máq. Lavar 8 1004 227 1586 561 0,56
Cozinha 8 2160 1131 5124 1321 0,61
Misturada 6 1536 686 4691 1550 1,01
Tabela 5-2: Características físicas de águas cinza obtidas em outras pesquisas
Turbidez
(NTU )
ST
(mg/L)
SST
(mg/L)
Chuveiro/ Banheira
- 250 120
Lava Roupas
- 1340 280
Enxague de roupa
- 410 120
Pia de Cozinha
- 2410 720
Lava Louças
- 1500 440
Banheiro
60 - 240 - -
Lavanderia
50 - 210 - -
Lavatório
--181
Chuveiro
--200
Banheira
--54
Máquina de lavar
--165
Pia de Cozinha
--235
Borges
(2003)
Banheiro Curitiba 2,0 - 189 - -
Al-Mwaleh
307 800 410
Al-Hail
539 1000 470
Al-Khodh
278 250 180
Al-Mwaleh
439 4500 665
Al-Hail
494 3150 120
Al-Khodh
400 450 160
Al-Mwaleh
120 1250 925
Al-Hail
168 750 305
Al-Khodh
111 450 285
Burnat & Mahmoud
(2004)
Misturada Palestina - - 94 - 181
Jamrah et al.
(2004)
Referência
Fonte de
água cinza
Local
Inglaterra
Austrália
EUA
Siegrist et al.
(1976)
*
Christova-Boal et al.
(1996)
Almeida et al.
(1999)
Lavanderia
Pia de cozinha
Chuveiro
Pametros Físicos
* (apud Eriksson et al., 2000)
5. Resultados e Discussão
103
Tabela 5-3: Características típicas de sólidos no esgoto bruto
Matéria sólida Esgoto Forte Esgoto Médio Esgoto Fraco
SST (mg/L) 360 230 120
ST (mg/L) 1.160 730 370
FONTE: Jordão & Pessoa (2005)
5.2.2 Características químicas
Os parâmetros químicos analisados foram divididos em cinco grupos:
Compostos Nitrogenados: NTK, NH
3
-N, NO
2
-N, NO
3
-N
Compostos fosforados: P
Total
Compostos de enxofre: S
-2
, SO
4
-2
Compostos orgânicos e inorgânicos: DBO
5
, DQO
Outros: pH, OD, condutividade elétrica, alcalinidade, dureza, cloreto e
O&G.
5.2.2.1 Compostos nitrogenados
Os resultados das características químicas referentes aos compostos
nitrogenados estão estatisticamente resumidos na Tabela 5-4. As concentrações
médias de NTK obtidas na pesquisa foram de 3,4mg/L, para amostras de
chuveiro, e de 13,7mg/L, para amostras de cozinha. Já as concentrações de
nitrogênio amoniacal variaram de 0,5mg/L, para amostras de lavatório, a 2,5mg/L
para amostras de cozinha. Estas concentrações são de 2 a 4 vezes inferiores às
usualmente encontradas em esgotos domésticos típicos, onde a principal fonte de
nitrogênio é a urina (Tabela 5-6). Para se ter uma idéia, somente a urina contribui
para cerca de 80% do nitrogênio presente no esgoto convencional (SCHÖNNING,
2001).
No caso da água cinza, a principal fonte de nitrogênio vem dos alimentos
(efluente da cozinha).
As concentrações de NTK e NH
3
-N encontradas por outros autores foram
bastante similares às encontradas nesta pesquisa. Apenas Christova-Boal et al.
(1996), para amostras de chuveiro e lavanderia, e Burnat e Mahmoud (2004),
para amostra de água cinza misturada, encontraram concentrações de NTK um
pouco superiores.
5. Resultados e Discussão
104
As concentrações de nitrito encontradas na pesquisa foram baixas e similares às
de um esgoto bruto. Já as de nitrato, para todas as amostras foram um pouco
superiores às usualmente encontradas em esgotos domésticos forte (Tabela 5-4).
Almeida et al. (1999) e Jamrah et al. (2004) encontraram concentrações de nitrato
ainda maiores, variando de 2,0 a 34,5mg/L (Tabela 5-5).
Tabela 5-4: Caracterização qualitativa da água cinza segregada - Compostos nitrogenados
Parâmetro Ponto n Med Mín Máx DP CV
Nitrogênio
Lavatório 10 0,5 0,2 1,1 0,2 0,52
Amoniacal
Chuveiro 10 0,8 0,2 1,4 0,4 0,57
(mg/L)
Tanque 10 3,8 1,0 15,2 4,1 1,07
Máq. Lava
r
10 1,5 0,3 4,4 1,4 0,94
Cozinha 9 2,5 1,0 6,4 1,6 0,64
Misturada 7 1,9 0,9 4,1 1,1 0,59
NTK
Lavatório 9 5,6 0,7 21,2 6,4 1,14
(mg/L)
Chuveiro 9 3,4 1,2 6,6 2,2 0,65
Tanque 9 10,3 2,5 27,8 8,3 0,81
Máq. Lavar 9 3,6 0,2 5,9 2,0 0,56
Cozinha 8 13,7 5,1 22,1 5,0 0,37
Misturada 6 6,6 2,3 11,2 3,4 0,51
Nitrito
Lavatório 9 0,03 0,01 0,14 0,04 1,43
(mg/L)
Chuveiro 9 0,03 0,00 0,11 0,03 1,28
Tanque 9 0,20 0,01 0,36 0,13 0,68
Máq. Lavar 9 0,11 0,01 0,52 0,16 1,38
Cozinha 7 0,09 0,01 0,36 0,13 1,34
Misturada 5 0,09 0,00 0,19 0,07 0,78
Nitrato
Lavatório 8 0,57 0,00 0,93 0,30 0,53
(mg/L)
Chuveiro 9 0,46 0,01 0,73 0,25 0,54
Tanque 8 0,71 0,18 1,42 0,53 0,75
Máq. Lavar 8 0,46 0,14 0,76 0,26 0,56
Cozinha 7 0,65 0,07 1,17 0,41 0,63
Misturada 6 0,46 0,19 0,98 0,34 0,75
5. Resultados e Discussão
105
Tabela 5-5: Características químicas de águas cinza obtidas em outras pesquisas – compostos
nitrogenados
N-total NTK
NH
3
-N NO
3
-N
Chuveiro/ Banheira
17 2 0,4
Lava Roupas
21 0,7 0,6
Enxague de roupa
60,40,4
Pia de Cozinha
74 6 0,3
Lava Louças
40 4.5 0,3
Inglaterra
0,16 0,7
Malta
0,23 1,02
Inglaterra
1,5 0,36
Malta
1,6 0,39
Inglaterra
10 1,93
Malta
10,5 1,98
Inglaterra
4,2 0,38
Malta
3,68 0,33
Banheiro
4,6 - 20 <0,1 - 15
Lavanderia
1,0 - 40 <0,1 - 1,9
Lavatório
0,3 6
Chuveiro
1,2 6,3
Banheira
1,1 4,2
Máquina de lavar
2,0 2,0
Pia de Cozinha
0,3 5,8
Al-Mwaleh
6,6
Al-Hail
34,5
Al-Khodh
45
Al-Mwaleh
<2,5
Al-Hail
49
Al-Khodh
2,6
Al-Mwaleh
3,2
Al-Hail
26,8
Al-Khodh
0,6
Burnat &
Mahmoud (2004)
Misturada Palestina 16 - 17 7 - 12 0 - 1,3
* (apud Eriksson et al 2002)
Jamrah et al.
(2004)
Referência
Fonte de
água cinza
Local
Siegrist et al.
(1976) *
Butler et al.
(1995)
Christova-Boal et
al. (1996)
Almeida et al.
(1999)
Pia de cozinha
Austrália
Chuveiro
Pia de cozinha
Parâmetros (mg/L)
EUA
Inglaterra
Lavatório
Banheira e chuveiro
Lavanderia
Máquina de lavar
roupa
Tabela 5-6: Características típicas de compostos nitrogenados no esgoto bruto
Pametro (mg/L) Esgoto Forte Esgoto Médio Esgoto Fraco
N-total 85 40 20
N-orgânico 35 20 10
Amônia livre 50 20 10
Nitrito, NO
2
0,10 0,05 0
Nitrato, NO
3
0,40 0,20 0,10
FONTE: Jordão & Pessoa (2005)
5.2.2.2 Compostos fosforados
A principal fonte de fósforo na água cinza são os detergentes e os sabões
contendo fosfatos. Isso explica o fato de que os valores encontrados nas
5. Resultados e Discussão
106
amostras de tanque, máquina de lavar e cozinha foram maiores do que nas
amostras de lavatório e chuveiro (tabela 5-7). A água cinza misturada possui
concentrações médias de 9,0mg/L, semelhante a um esgoto sanitário com
características médias (Tabela 5-9).
Siegrist et al. (1976, apud Eriksson et al., 2002) encontraram concentrações de P-
total de 2,0mg/L, para amostras de chuveiro, a 74mg/L, para amostras de pia de
cozinha. Esses valores foram bem superiores aos encontrados nesta pesquisa,
que obteve, para esses mesmos tipos de amostra, concentrações máximas de 1,1
e 13,3mg/L (Tabela 5-8).
Tabela 5-7: Caracterização qualitativa da água cinza segregada – Compostos fosforados
Parâmetro Ponto n Med n x DP CV
Fósforo total
Lavatório 9 0,6 0,1 1,1 0,3 0,48
(mg/L)
Chuveiro 9 0,2 0,0 0,5 0,2 1,04
Tanque 9 17,7 0,4 34,7 14,2 0,80
Máq. Lavar 9 14,4 2,8 26,1 8,7 0,60
Cozinha 8 9,1 3,5 13,3 3,2 0,35
Misturada 6 9,0 1,1 13,2 4,5 0,50
5. Resultados e Discussão
107
Tabela 5-8: Características químicas de águas cinza obtida em outras pesquisas – compostos
fosforados
P-total
PO
4
-P
Chuveiro/ Banheira
21
Lava Roupas
57 15
Enxague de roupa
21 4
Pia de Cozinha
74 31
Lava Louças
68 32
Inglaterra
-30
Malta
-44
Inglaterra
-0,89
Malta
-0,98
Inglaterra
-31
Malta
-32
Inglaterra
-14
Malta
-12
Banheiro
0,11 - 1,8 -
Lavanderia
0,062 - 42 -
Lavatório
-13,3
Chuveiro
-19,2
Banheira
-5,3
Máquina de lavar
-21,0
Pia de Cozinha
-26,0
Borges
(2003)
Banheiro Curitiba 0,51 - 38,4 -
Burnat & Mahmoud
(2004)
Misturada Palestina 15 - 17 4,5 - 5,2
* (apud Eriksson et al 2002)
Austrália
Inglaterra
Referência
Fonte de
água cinza
Local
Siegrist et al.
(1976) *
Butler et al.
(1995)
Christova-Boal et al.
(1996)
Almeida et al.
(1999)
Pametros (mg/L)
Pia de cozinha
Banheira e
chuveiro
Máquina de lavar
roupa
Lavatório
EUA
Tabela 5-9: Características típicas do esgoto bruto - compostos fosforados
Pametro (mg/L) Esgoto Forte Esgoto Médio Esgoto Fraco
P-Total 20 10 5
P-orgânico 7 4 2
P-inorgânico 13 6 3
FONTE: Jordão & Pessoa (2005)
5.2.2.3 Compostos orgânicos
Mesmo não possuindo contribuições dos vasos sanitários, o conteúdo de matéria
orgânica e inorgânica presente na água cinza é bastante significativo. A maior
parte dela é oriunda de resíduos de alimento, óleos e gorduras, resíduos
corporais, cabelo, sabão etc. Já a matéria inorgânica provém principalmente dos
produtos químicos e detergentes utilizados para limpeza.
5. Resultados e Discussão
108
Os resultados de demanda química e bioquímica de oxigênio estão
estatisticamente resumidos na tabela 5-10. Eles se apresentaram bastante
variados, tanto para diferentes frações de água cinza quanto para uma mesma
fração. As medidas de DQO de todas as amostras apresentaram uma variação
média de 521 a 1712mg/l, enquanto que para as de DBO
5
essa variação foi bem
mais baixa (165-633mg/l). Em algumas amostras, os valores se aproximam (em
alguns casos até superam) dos valores esperados para um esgoto doméstico
com características forte (Tabela 5-12).
Tabela 5-10: Caracterização qualitativa da água cinza segregada – Compostos orgânicos
Parâmetro Ponto n Med Mín Máx DP CV
DBO
5
Lavatório 8 265 90 675 183 0,69
(mg/L)
Chuveiro 6 165 100 188 32 0,20
Tanque 5 570 100 875 347 0,61
Máq. Lavar 7 184 90 300 70 0,38
Cozinha 6 633 190 1200 353 0,56
Misturada 5 571 425 725 143 0,25
DQO
Lavatório 10 653 190 1200 309 0,47
(mg/L)
Chuveiro 10 582 216 1127 290 0,50
Tanque 10 1672 558 3958 908 0,54
Máq. Lavar 10 521 190 920 258 0,50
Cozinha 9 1712 480 4793 1387 0,81
Misturada 7 857 190 1331 404 0,47
Concentrações similares, quando comparados os mesmo tipos de fonte, também
foram observados por Siegrist et al. (1976, apud Eriksson et al., 2002), Buttler et
al. (1995), Christova-Boal et al. (1996), Almeida et al. (1999), Borges (2003) e
Burnat e Mahmoud (2004). Jamrah et al. (2004) encontrou, porém concentrações
bem mais baixas de DBO e DQO para o efluente de pia de cozinha (tabela 5-11).
As concentrações de DBO e de DQO nas amostras indicam o risco de depleção
de oxigênio devido à degradação da matéria orgânica. Se o oxigênio dissolvido
for todo consumido (efluente anaeróbio), ocorre produção de sulfetos pela
redução de sulfatos e, conseqüentemente, emanação de odores desagradáveis.
5. Resultados e Discussão
109
Tabela 5-11: Características químicas de águas cinza obtida em outras pesquisas – compostos
orgânico
DBO
5
DQO
Chuveiro/ Banheira
170 -
Lava Roupas
380 -
Enxague de roupa
150 -
Pia de Cozinha
1460 -
Lava Louças
1040 -
Inglaterra
148 -
Malta
215 -
Inglaterra
250 -
Malta
274 -
Inglaterra
662 -
Malta
682 -
Inglaterra
756 -
Malta
669 -
Banheiro
76 - 200 -
Lavanderia
48 - 290 -
Lavatório
- 298
Chuveiro
- 501
Banheira
- 210
Máquina de lavar
- 1815
Pia de Cozinha
- 644
Borges
(2003)
Banheiro Curitiba 17 - 287 -
Al-Mwaleh
60 116
Al-Hail
156 695
Al-Khodh
174 72
Al-Mwaleh
212 340
Al-Hail
236 278
Al-Khodh
91 76
Al-Mwaleh
25 60,9
Al-Hail
156 77,5
Al-Khodh
28,2 35,5
Burnat &
Mahmoud (2004)
Misturada Palestina 222 - 375 600 - 850
* (apud Eriksson et al 2002)
Jamrah et al.
(2004)
Referência
Fonte de
água cinza
Local
Siegrist et al.
(1976) *
Butler et al. (1995)
Christova-Boal et
al. (1996)
Almeida et al.
(1999)
Austrália
Máquina de lavar
roupa
Pia de cozinha
Pia de cozinha
Pametros (mg/L)
EUA
Lavatório
Banheira e chuveiro
Chuveiro
Lavanderia
Inglaterra
Tabela 5-12: Características típicas do esgoto bruto - compostos orgânicos
Pametro (mg/L) Esgoto Forte Esgoto Médio Esgoto Fraco
DBO
5
400 200 100
DQO 800 400 200
FONTE: Jordão & Pessoa (2005)
5. Resultados e Discussão
110
5.2.2.4 Compostos de enxofre
Quanto aos compostos de enxofre, as concentrações de sulfeto encontradas
foram baixas em todas as amostras (tabela 5-13). Entretanto, essas
concentrações podem ser aumentadas em virtude das elevadas concentrações
de sulfato e de matéria orgânica, pois em ambientes anaeróbios o sulfato é
reduzidos a sulfeto durante a oxidação de compostos orgânicos. A formação do
gás sulfidríco (H
2
S) gera odores desagradáveis quando observados acima de
1mg/L.
Burnat e Mahmoud (2004) observaram, para amostras de uma água cinza
misturada, valores de sulfato em torno de 53mg/L. Este valor foi bem abaixo dos
encontrados para a água cinza misturada sintética desta pesquisa. Uma razão é
que as proporções utilizadas para o preparo da água cinza sintética foram
estimadas a partir de um consumo diário total de água. Já na água cinza
caracterizada por Burnat e Mahmoud (2004), as coletas eram feitas em horários
diferentes, e provavelmente, nem todas as fontes de água cinza foram utilizadas.
Tabela 5-13: Caracterização qualitativa da água cinza segregada – Compostos de enxofre
Parâmetro Ponto n Med n Máx DP CV
Sulfeto
Lavatório 8 0,11 0,00 0,19 0,07 0,60
(mg/L)
Chuveiro 8 0,09 0,06 0,17 0,04 0,42
Tanque 7 0,09 0,01 0,23 0,08 0,80
Máq. Lavar 8 0,11 0,05 0,25 0,07 0,61
Cozinha 7 0,14 0,07 0,29 0,07 0,54
Misturada 6 0,11 0,06 0,22 0,06 0,54
Sulfato
Lavatório 10 112,4 9,4 325,5 93,3 0,83
(mg/L)
Chuveiro 10 162,1 22,4 439,5 128,4 0,79
Tanque 9 554,9 18,2 1149,3 366,4 0,66
Máq. Lavar 9 355,4 38,4 1011,1 275,7 0,78
Cozinha 9 130,4 25,4 326,2 103,7 0,80
Misturada 7 305,1 121,1 377,3 87,1 0,29
5.2.2.5 Outros parâmetros de qualidade
Os resultados estatísticos descritivos dos demais parâmetros analisados estão
expressos na tabela 5-14.
O pH da água cinza depende basicamente do pH da água de abastecimento.
Entretanto, alguns produtos químicos utilizados podem contribuir para o seu
5. Resultados e Discussão
111
aumento. Isso pode ser observado nas amostras da máquina de lavar e do
tanque, onde seu pH alcalino pode ser atribuído ao uso do sabão em pó e do
amaciante. Christova-Boal et al. (1996) e Jamrah et al. (2004) também
observaram valores de pH alcalino para amostras de lavanderia (Tabela 5-15). As
amostras de água cinza misturada, no entanto, apresentaram o pH bem próximo
da neutralidade, assim como em esgotos domésticos típicos.
As concentrações de oxigênio dissolvido (OD) foram relativamente altas, pois a
análise desse parâmetro era realizada logo após a coleta. Desse modo, não
houve tempo de consumo durante o transporte, como ocorre, em geral, com os
esgotos sanitários.
Os valores médios de condutividade elétrica observados na pesquisa, para todas
as amostras, variaram de 116mg/L (lavatório) a 938mg/L (tanque) (tabela 5-14).
Valores bastante superiores foram observados por Jamrah et al. (2004),
principalmente para efluentes de chuveiro e de cozinha (tabela 5-15).
A alcalinidade é um parâmetro muito importante quando se pretende tratar a água
cinza pela via de digestão anaeróbia, visto que uma redução do pH pode afetar
os microrganismos responsáveis pela depuração. As amostras de tanque foram
as que apresentaram os maiores valores (206,9mg/L), enquanto que nas
amostras de cozinha a alcalinidade foi praticamente nula (1,9mg/L). Entretanto,
para as amostras de água cinza misturada o valor médio encontrado foi de
114,7mg/L, ou seja, dentro da faixa observada para esgoto doméstico típico
(Tabela 5-16). Outros autores encontraram valores de alcalinidade um pouco
abaixo dos obtidos nesta pesquisa, quando correlacionados os mesmo tipos de
fonte, com exceção dos obtidos por Jamrah et al. (2004) para efluente de
cozinha.
Segundo von Sperling (2005), apesar de não haver evidências de que a dureza
cause problemas sanitários, uma água dura reduz a formação de espuma,
implicando um maior consumo de sabão, e pode causar incrustações em
tubulações de água quente, caldeiras e aquecedores. Os resultados médios de
dureza obtidos neste trabalho, entretanto, mostraram que todas as frações de
água cinza possuem característica de água mole (dureza < 50mg/LCaCO
3
). Isso
5. Resultados e Discussão
112
é uma vantagem e também um indicativo de que água cinza, depois de tratada,
pode ser reutilizada também para lavagem de roupas.
Os cloretos (Cl
-
) são advindos da dissolução de sais, como por exemplo, o cloreto
de sódio. Isso explica as altas concentrações desse íon no efluente da cozinha
(130mg/L). Burnat e Mahmoud (2004) também encontraram concentrações de
cloretos elevadas para uma água cinza misturada, contendo também
contribuições de cozinha (180 – 220mg/L). As demais frações de água cinza, com
exceção da amostra do tanque, apresentaram concentrações de cloretos
similares às do esgoto doméstico típico (Tabela 5-14).
As principais fontes de óleos e graxas (O&G) na água cinza são os óleos e
gorduras utilizados no preparo de alimento, resíduos presentes no corpo e nas
roupas, oriundos da transpiração humana. Dessa forma, as amostras da cozinha
foram as que apresentaram maior concentração desses compostos (176,4mg/L),
seguidas pelas amostras de tanque (140,6mg/L) e chuveiro (95,2mg/L). A
amostra de água cinza misturada apresentou uma concentração média de
101,3mg/L, similar a de um esgoto doméstico típico. Caso não haja a remoção
prévia de O&G, a presença desses compostos em quantidade pode diminuir a
eficiência de tratamentos biológicos subseqüentes.
5. Resultados e Discussão
113
Tabela 5-14: Caracterização qualitativa da água cinza segregada – Outros parâmetros
Parâmetro Ponto n Med Min Máx DP CV
pH
Lavatório 7 8,03 6,63 8,97 0,92 0,11
Chuveiro77,346,838,140,410,06
Tanque 78,857,719,550,800,09
q. Lavar 7 9,06 7,92 9,73 0,67 0,07
Cozinha75,144,215,950,700,14
Misturada 5 7,05 5,99 7,58 0,64 0,09
OD
Lavatório 6 6,9 4,7 8,9 1,6 0,23
(mg/L)
Chuveiro 6 6,6 5,9 7,5 0,6 0,09
Tanque 6 7,1 5,1 8,6 1,2 0,16
Máq. Lavar 6 7,1 5,3 8,7 1,3 0,18
Cozinha 6 4,2 1,8 6,4 1,7 0,40
Misturada 4 6,5 5,5 7,6 0,9 0,14
Condutividade
Lavatório 8 116 86 150 26 0,23
elétrica
Chuveiro 10 124 63 261 55 0,45
(µS/cm)
Tanque 10 938 220 1817 500 0,53
Máq. Lavar 10 524 194 966 233 0,44
Cozinha 9 528 78 1023 320 0,61
Misturada 7 430 307 600 105 0,24
Alcalinidade
Lavatório 5 88,0 45,5 204,0 65,4 0,74
(mg/L)
Chuveiro 6 38,3 21,3 103,3 32,0 0,84
Tanque 4 206,9 102,5 262,5 71,1 0,34
Máq. Lavar 5 74,2 28,9 109,5 36,9 0,50
Cozinha 5 1,9 0,0 5,4 2,3 1,23
Misturada 4 114,7 39,0 312,4 132,4 1,15
Dureza
Lavatório 6 44,2 21,7 104,9 31,1 0,70
(mg/L)
Chuveiro 5 30,1 12,8 79,9 25,5 0,85
Tanque 5 38,5 16,8 94,9 38,5 0,87
Máq. Lavar 6 38,7 12,8 84,9 38,7 0,71
Cozinha 4 12,1 0,0 48,4 12,1 2,00
Misturada 4 21,2 0,0 65,2 21,2 1,45
Cloreto
Lavatório 6 10,1 1,3 18,8 6,9 0,69
(mg/L)
Chuveiro 6 20,0 5,2 36,6 12,7 0,63
Tanque 9 76,3 2,7 158,8 55,3 0,73
Máq. Lavar 7 23,6 4,9 69,0 22,2 0,94
Cozinha 9 130,0 2,6 307,9 81,0 0,62
Misturada 5 64,0 20,6 100,0 34,9 0,55
O&G
Lavatório 9 81,9 30,4 124,7 27,0 0,33
(mg/L)
Chuveiro 9 95,2 34,0 319,8 89,9 0,94
Tanque 7 140,6 22,0 282,2 105,9 0,75
Máq. Lavar 9 24,2 7,1 41,8 12,4 0,51
Cozinha 8 176,4 52,0 339,8 98,4 0,56
Misturada 6 101,3 51,5 217,8 58,9 0,58
5. Resultados e Discussão
114
Tabela 5-15: Características químicas de águas cinza obtidas em outras pesquisas – outros
parâmetros
pH OD
Condutiv.
Elétrica
(
µ
S/cm)
Alcalin.
(mg/L)
O&G
(mg/L)
Cloreto
(mg/L)
Banheiro
6,4 - 8,1 82 - 250 24 - 43 37 - 78 9,0 - 18
Lavanderia
9,3 - 10 190 - 1400 83 - 200 8,0 - 35 9,0 - 88
Borges
(2003)
Banheiro Curitiba 6,7 - 8,5 2,67 - 5,9
Al-Mwaleh
7,88 2,3 1171 19
Al-Hail
7,69 2,6 1584 17
Al-Khodh
6,77 2,8 1362 9
Al-Mwaleh
8,04 2,5 392 42
Al-Hail
8,87 2,7 311 27
Al-Khodh
8,08 3,5 1755 16
Al-Mwaleh
7,69 2,8 1038 20
Al-Hail
7,06 2,3 1605 15
Al-Khodh
6,68 3,9 1708 5
Burnat &
Mahmoud
(2004)
Misturada Palestina 6,6 - 7,4 5,24 - 6,5 180 - 220
Lavanderia
Austrália
Local
Christova-Boal
et al. (1996)
Jamrah et al.
(2004)
Referência
Fonte de
água cinza
Pia de
cozinha
Pametros Químicos
Chuveiro
Tabela 5-16: Características químicas típicas no esgoto bruto
Faixa Típico
pH 6,7 - 7,5 7,0
Alcalinidade (mg/L) 110 - 170 140
Cloretos (mg/L) 20 - 50 35
Óleo e Graxas (mg/L) 55 - 170 110
OD (mg/L) 0 0
FONTE: Von Sperling (2005); Jordão & Pessoa (2005)
Concentração
Parâmetro
5.2.3 Características microbiológicas
No que diz respeito à característica microbiológica, embora a água cinza não
possua contribuição dos vasos sanitários, de onde provém a maior parte dos
microorganismos patogênicos, as amostras de água cinza apresentaram
resultado positivo de
E. coli. A limpeza das mãos após o uso do toalete, lavagem
de roupas e alimentos fecalmente contaminados ou o próprio banho, são algumas
das possíveis fontes de contaminação.
Os resultados dos parâmetros microbiológicos estão estatisticamente resumidos
na tabela 5-17. As amostras de chuveiro foram as que apresentaram maior
densidade, tanto de coliformes totais quanto de
E.coli (ambos em torno de 10
4
).
5. Resultados e Discussão
115
Além disso, por representar a maior fração na água cinza misturada (40%), os
resultados na amostra composta também foram bastante significativos.
Outros autores também identificaram a presença de contaminação fecal, através
de resultados positivos de coliformes fecais. Borges (2003), por exemplo,
encontrou concentrações de até sete unidades logarítmicas para amostras de
banheiro (Tabela 5-18).
Apesar das densidades dos indicadores de contaminação fecal na água cinza
serem menores do que as encontradas no esgoto, elas não são desprezíveis e
evidenciam a necessidade de uma desinfecção prévia no caso de reúsos mais
restritivos (Tabela 5-19).
Tabela 5-17: Caracterização qualitativa da água cinza segregada - Parâmetros microbiológicos
Parâmetro Ponto n Med n Máx DP CV
CT
Lavatório 2 1,35E+02 1,35E+02 1,35E+02 0,00E+00 0,00
(NMP/100mL)
Chuveiro 3 3,95E+04 2,76E+04 7,27E+04 2,52E+04 0,58
Tanque 4 2,06E+02 1,00E+00 5,79E+03 2,70E+03 1,34
Máq. Lavar 3 5,37E+00 1,00E+00 1,55E+02 8,89E+01 1,70
Cozinha 4 1,47E+03 1,00E+00 1,12E+06 5,58E+05 1,97
Misturada 2 6,14E+04 2,90E+04 1,30E+05 7,14E+04 0,90
E. coli
Lavatório 8 1,01E+01 1,00E+00 9,00E+01 3,55E+01 1,20
(NMP/100mL)
Chuveiro 5 2,63E+04 2,42E+03 1,98E+05 8,02E+04 1,28
Tanque 7 2,87E+01 1,00E+00 2,14E+03 7,82E+02 1,95
Máq. Lavar 7 2,73E+01 1,00E+00 2,61E+04 9,80E+03 2,53
Cozinha 5 6,47E+02 1,00E+00 1,90E+05 8,06E+04 1,63
Misturada 3 3,25E+04 1,01E+04 1,30E+05 6,51E+04 1,17
5. Resultados e Discussão
116
Tabela 5-18: Características microbiológicas de águas cinza obtida em outras pesquisas
Coliformes
Totais
Coliformes
Fecais
E. coli
Chuveiro/ Banheira 70 - 8200 1 - 2500 -
Lava Roupas
85 - 8,9x10
5
9 - 1,6x10
4
-
Enxague de roupa
190 - 1,5x10
5
35 - 7,1x10
3
-
Chuveiro/ Banheira
10
5
6 x 10
3
-
Lava Roupas 199 126 -
Enxague de roupa 56 25 -
Lavanderia - -
28,2 x 10
6
Cozinha - -
0,16 x 10
6
- 96,6 x 10
6
Banheiro/Cozinha - -
236 x 10
6
Banheiro
500-2,4 x 10
7
170 - 3,3 x 10
3
-
Lavanderia
2,3 x 10
3
- 3,3 x 10
5
110 -1,09x10
3
-
Chuveiro/ Banheira
10
2
- 10
3
10
-1
- 10
1
-
Chuveiro
10
1
- 10
3
10
-1
- 10
1
-
Chuv./ Banheira e
maq de lavar (fralda)
10
4
-10
6
10
4
-10
6
-
Borges
(2003)
Banheiro Curitiba
5,1 - 1,6 x 10
8
2,0 - 1,6 x 10
7
-
* (apud Eriksson et al, 2002)
Siegrist et al.
(1976) *
Christova-Boal
et al. (1996)
Nolde
(1999)
Rose et al
(1991)
Hargelius et al
(1995) *
Referência
Fonte de
água cinza
Local
Berlim
Suécia
Austrália
EUA
EUA
Parâmetros (NMP/100ml)
Tabela 5-19: Características microbiológicas típicas no esgoto bruto
Parâmetro
(NMP/100ml)
Concentração
Coliformes totais
10
6
- 10
9
Coliformes fecais
10
5
- 10
8
FONTE: Von Sperling (2005)
5.2.4 Ensaio de biodegradabilidade
No ensaio de biodegradabilidade utilizou-se um aparelho que armazena os dados
do consumo de oxigênio durante os 5 dias da análise de DBO. A partir daí,
ajustou-se, pelo método dos mínimos quadrados, curvas de biodegradabilidade
aeróbia e determinou-se o coeficiente de desoxigenação (k1) para cada amostra
de água cinza. O mesmo foi feito para uma amostra de esgoto sanitário bruto, a
título de comparação.
Sabe-se que quanto menor o valor de k1 mais lenta é a taxa de decomposição.
Seguindo esse raciocínio, apenas as amostras de chuveiro e de cozinha
apresentaram valores de k1 inferiores ao do esgoto sanitário. Isso indica que
alguns tipos de águas cinza apresentam uma taxa de consumo de oxigênio mais
rápida do que o esgoto sanitário convencional, mostrando que períodos longos de
estocagem podem comprometer significativamente as características iniciais
5. Resultados e Discussão
117
dessas águas (Figura 5-1). Os resultados foram bastante semelhantes aos
obtidos em um estudo realizado na Suécia em 1967 (OLSON et al. (1968, citados
em www.greywater.com), onde foram encontrados valores de k1 de 0,45 para
água cinza.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
012345
Tempo (dia)
DBO (mg/l)
Lavatório Chuveiro Tanque q lavar Cozinha Misturada Esgoto bruto
k
1
(dia
-1
)
0,48 0,18 0,57 0,5 0,45 0,48 0,48
Figura 5-1: Curvas de biodegradabilidade de águas cinza e de esgoto bruto
5.3 Desempenho da ETAC no tratamento das águas cinza
de uma edificação educacional
Neste item discute-se o desempenho de cada etapa de tratamento que compõe a
ETAC tratando águas cinza de uma das edificações da UFES. O desempenho é
avaliado em relação à remoção de sólidos, cor, matéria orgânica e
E. coli e
Coliformes Totais. A evolução de alguns parâmetros como sulfeto e sulfato
também foram avaliados.
A temperatura, durante todo o período de monitoramento, ficou entre 20 e 30°C.
5. Resultados e Discussão
118
5.3.1 Características gerais da água cinza bruta
As características médias da água cinza bruta apresentadas durante toda a
pesquisa foram: 533uC (cor verdadeira), 168NTU (turbidez), 283mg/L (DBO
5
),
498mg/L (DQO), 11,8mg/L (SST), 5,42 x 10
5
NMP/100ml (E. coli) e
1,87x10
7
NMP/100ml (Coliforme total).
Assim como os resultados obtidos na etapa de caracterização, os resultados
referentes à água cinza bruta (afluente) apresentaram grande dispersão. Isso
pode ser observado pela extensão da caixa nos gráficos de
Boxplot and Whiskers
em todos os parâmetros analisados (Figuras 5-2 a 5-12).
5.3.2 Remoção de sólidos, turbidez e cor
Analisando a ETAC como um todo, no que tange ao conteúdo de sólidos
suspensos (SST e turbidez) e dissolvidos (cor verdadeira), a maior eficiência de
remoção ocorreu na etapa biológica (anaeróbia + aeróbia). O RAC apresentou
eficiência de remoção de turbidez, cor e SST da água cinza bruta de 56%, 53% e
72%, respectivamente. O polimento do efluente anaeróbio, realizado pelo FBAS,
apresentou eficiências de 96% para turbidez, 83% para cor e 95% para SST
(Figura 5-2 a Figura 5-4).
Não houve remoção significativa desses parâmetros nem na etapa de filtração
terciária, nem na de desinfecção, e em alguns casos, houve uma ligeira piora na
qualidade da água cinza tratada biologicamente. Isso ocorreu provavelmente
devido a problemas decorrentes da lavagem do FT e a eventuais sujeiras
oriundas do ambiente externo à caixa de água cinza tratada (poeira, areia,
insetos, etc.).
Após a filtração terciária, era possível perceber uma coloração ligeiramente
amarelada quando se acumulava um volume maior de água tratada. Essa
coloração ficou bastante reduzida com o advento da cloração. A redução da
turbidez e do SST nessa etapa foi, possivelmente, devido à sedimentação de
algumas partículas em suspensão na elevatória de água cinza tratada (EACT).
5. Resultados e Discussão
119
Após a desinfecção, a água cinza tratada atendeu à qualidade mínima requerida
pelo padrão mais restritivo para turbidez (2NTU), cor (10uC) e SST (5mg/L).
A qualidade da água cinza tratada coletada nos vasos sanitários apresentou uma
ligeira piora para os três parâmetros em questão. Isso pode ter ocorrido em
virtude da limpeza dos mesmos não estar sendo feita na freqüência adequada.
312
3
55
168
0
100
200
300
400
500
600
700
Afluente RAC FBAS FT Cloro Vaso
Turbidez (NTU)
2,3
0,6
2,2
2,0
3,1
11,8
0
5
10
15
20
25
30
35
Afluente RAC FBAS FT Cloro Vaso
SST (mg/L)
Figura 5-2: Remoção de turbidez Figura 5-3: Remoção de SST
7
5
18
22
189
533
0
200
400
600
800
1000
1200
Afluente RAC FBAS FT Cloro Vaso
Cor verdadeira (UC)
Figura 5-4: Remoção de cor verdadeira
5.3.3 Remoção de matéria orgânica
A remoção de matéria orgânica na ETAC, assim como a de sólidos, foi mais
intensa na etapa biológica. Isso já era esperado, pois o conteúdo orgânico na
água cinza é de fácil degradação. O RAC apresentou, em média, uma eficiência
de remoção de 69% para DBO
5
e 74% para DQO oriunda da água cinza bruta. O
FBAS realizou o polimento do efluente anaeróbio e apresentou uma eficiência
FIESP – 10 UC
FIESP – 2 NTU
NBR 13.969 – 10 NTU
FIESP e Flórida – 5 mg/L
Alemanha e Canadá – 30 mg/L
5. Resultados e Discussão
120
complementar de 90% e 74% para DBO
5
e DQO, respectivamente (Figura 5-5 e
Figura 5-6).
O FT, como já era esperado, não apresentou redução significativa do material
orgânico em relação às concentrações remanescentes do FBAS, sendo essa
remoção de apenas 23%, tanto para DBO
5
quanto para DQO.
Na desinfecção, o cloro atuou também como um agente oxidante na remoção da
pequena parcela de matéria orgânica remanescente do FT. Entretanto, como
praticamente toda fração orgânica da DQO já tinha sido removida até o
tratamento terciário, a cloração contribuiu com apenas 6% de sua eficiência de
remoção.
A qualidade da água cinza tratada, no que diz respeito ao conteúdo de DBO
5
atendeu aos padrões requeridos para o reúso em descarga de vasos sanitários
preconizados pelo EPA (2004) e FIESP (2005).
105
12 3
0
7
283
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
Afluente RAC FBAS FT Cloro Vaso
DBO
5
(mg/L)
498
115
27
20
16
15
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1100
Afluente RAC FBAS FT Cloro Vaso
DQO (mg/L)
Figura 5-5: Remoção de DBO
5
Figura 5-6: Remoção de DQO
5.3.4 Remoção de microrganismos
Como já dito anteriormente, utilizou-se a densidade de Escherichia coli como
indicação de contaminação fecal e como indicação da eficiência de remoção de
patógenos no processo de tratamento da água cinza.
A água cinza bruta apresentou, em média (geométrica), níveis de
E. coli e
coliformes totais (CT) com aproximadamente duas unidades logarítmicas inferior
ao do esgoto sanitário convencional (5,4x10
5
e 1,9x10
7
NMP/100mL). Entretanto,
Texas – 5 mg/L
Canadá – 30 mg/L
5. Resultados e Discussão
121
essas densidades são consideradas altas quando comparadas com as normas
para reúso em vasos sanitários, preconizadas, por exemplo, pela FIESP (2005) e
pelo EPA (2004) (Figura 5-7 e figura 5-8).
O tratamento anaeróbio removeu, em média, 90% da densidade inicial de
E. coli
e 99% da de coliformes totais. Embora esses números pareçam elevados, isso
corresponde a apenas 1 log e 2 logs de remoção de
E. coli e CT respectivamente.
O FBAS, complementando o tratamento realizado pelo RAC, apresentou, em
média, uma remoção de 2 unidades logs para
E. coli, chegando a concentrações
em torno de 1,6x10
2
NMP/100mL. A remoção de CT não foi tão expressiva,
removendo nesse tratamento apenas 1 unidade log.
No FT a remoção tanto de
E. coli quanto de CT foi praticamente nula. Em
algumas amostras coletadas as concentrações foram maiores no FT do que no
FBAS.
A cloração, como já se esperava, foi bastante eficiente na remoção dos dois
grupos de microrganismos estudados. Essa etapa removeu aproximadamente 2
logs e 4 logs de
E.coli e CT, respectivamente, chegando a concentrações
compatíveis com padrões de reúso mais restritivos.
5,4E+05
1,8E+04
1,6E+02
1,5E+02
1,5E+00
1,0E+00
1,0E+01
1,0E+02
1,0E+03
1,0E+04
1,0E+05
1,0E+06
1,0E+07
1,0E+08
Afluente RAC FBAS FT Cloro
E. coli (NMP/100mL)
5,4E+00
1,1E+04
3,9E+04
3,4E+05
1,9E+07
1,0E+00
1,0E+01
1,0E+02
1,0E+03
1,0E+04
1,0E+05
1,0E+06
1,0E+07
1,0E+08
1,0E+09
Afluente RAC FBAS FT Cloro
Coli total (NMP/100mL)
Figura 5-7: Remoção de E.coli Figura 5-8: Remoção de Coliformes totais
Assim como para os outros parâmetros, foram analisadas, em termos de
E. coli e
CT, as amostras coletadas nos vasos sanitários do prédio. Houve coleta antes e
depois do início da cloração. As figuras 5-9 e 5-10 mostram que quando a
desinfecção ainda não estava sendo realizada, as densidades de
E. coli e CT
Arizona – Não detectável
FIESP – Não detectável
NBR 13.969
500 ufc/100ml
Califórnia – 2,2 ufc/100mL
WHO – 1000 ufc/100ml
5. Resultados e Discussão
122
mantiveram-se praticamente iguais às do tratamento terciário. Após o início da
cloração, as densidades de ambos não diferiram tanto das encontradas na
elevatória de água cinza tratada. Isso mostra que não houve recontaminação da
água de reúso utilizada na descarga dos vasos sanitários. Isso se deve
principalmente ao elevado teor de cloro residual na água cinza tratada após a
cloração (Figura 5-11).
Entretanto, estudos feitos por Ornelas (2004) mostraram que, mesmo utilizando
água potável nas descargas de vaso sanitários, é possível encontrar densidade
de coliformes termotolerantes e totais na ordem de 10
3
a 10
5
(NMP/100ml).
1,9E+00
7,1E+02
1,0E+00
1,0E+01
1,0E+02
1,0E+03
1,0E+04
1,0E+05
1,0E+06
Vaso s/ Cl Vaso c/ Cl
E. coli (NMP/100mL)
3,5E+04
1,6E+01
1,0E+00
1,0E+01
1,0E+02
1,0E+03
1,0E+04
1,0E+05
1,0E+06
Vaso s/ Cl Vaso c/ Cl
Coli total (NMP/100mL)
Figura 5-9: Comparação do vaso sem cloro e
com cloro –
E. coli
Figura 5-10: Comparação do vaso sem cloro e
com cloro – coliformes totais
15,1
6,2
10,1
4,4
0
5
10
15
20
25
30
35
Cloro Vaso Cloro Vaso
Cloro residual (mg/L)
Total Livre
Figura 5-11: Teor de cloro residual total e livre
5. Resultados e Discussão
123
5.3.5 Sulfato e sulfeto
O íon sulfato, assim como no esgoto sanitário, está presente também na água
cinza. Entretanto, em virtude da água cinza ser composta por uma matéria
orgânica de mais fácil degradação, ela torna-se anaeróbia mais rapidamente do
que o esgoto convencional. Esse sulfato presente pode ser então reduzido a
sulfeto, causando odor desagradável. Durante todo o período de monitoramento
não foram observados problemas de odor nas proximidades da elevatória de
água cinza bruta (Figura 5-12 e Figura 5-13).
Já no RAC, pelo mesmo motivo citado anteriormente, as concentrações de sulfato
foram levemente reduzidas, e as de sulfeto aumentadas. O odor característico de
sistemas anaeróbios, proveniente do gás sulfídrico (H
2
S), foi detectado nas
amostras coletadas desse reator. No entanto, como a estação é coberta, esse
odor não causou transtornos aos usuários do prédio.
O tratamento aeróbio, como polimento do efluente do RAC, fez com que as
concentrações de sulfeto fossem novamente reduzidas e as de sulfato
aumentadas (processo inverso), promovendo, dessa forma, a desodorização do
efluente anaeróbio. Esse foi, então, mais um dos motivos de adoção do FBAS,
pois sistemas de reúso podem ser rejeitados se a água utilizada apresentar, além
de cor, mau cheiro.
Nas demais etapas de tratamento, as concentrações tanto de sulfato quanto de
sulfeto não sofreram alteração significativa. Entretanto, as de sulfato
apresentaram dispersão bastante acentuada. No caso das concentrações de
sulfeto, as dispersões foram bem pequenas.
Apesar de não existir padrões estabelecidos por norma para as concentrações
desses íons, eles não podem ser negligenciados, pois estão diretamente ligados
ao controle de odor e conseqüentemente, à satisfação dos usuários.
5. Resultados e Discussão
124
35
50
46
50
23
29
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Afluente RAC FBAS FT Cloro Vaso
Sulfato (mg/L)
0,78
0,10
0,10
0,11
0,12
0,19
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
Afluente RAC FBAS FT Cloro Vaso
Sulfeto (mg/L)
Figura 5-12: Evolução dos teores de sulfato Figura 5-13: Evolução dos teores de sulfeto
5.3.6 Resumo do desempenho de cada tratamento
A Tabela 5-20 apresenta um resumo de como cada etapa de tratamento que
compõe a ETAC contribui para a qualidade final da água cinza tratada. Observou-
se que a maior parte dos compostos presentes na água cinza bruta foi removida
no tratamento biológico RAC + FBAS.
O RAC foi de fundamental importância, pois removeu boa parte dos sólidos e da
matéria orgânica presente na água cinza bruta sem praticamente nenhum aporte
energético. Além disso, esse reator produziu pouco lodo e a operação foi
bastante simples.
Embora no FBAS necessite-se de aeração constante (fornecida pelo compressor)
e de descartes periódicos de lodo do decantador, ele complementou
significativamente a remoção do material particulado e da matéria orgânica
remanescente do reator anaeróbio, já chegando a níveis de concentração que
atendem, em alguns parâmetros, a normas e padrões mais restritivos. Além
disso, o efluente tratado pelo FBAS é completamente desprovido de odor.
O FT praticamente não contribuiu para o aumento da eficiência de remoção dos
parâmetros analisados. Em alguns casos, o efluente, após passar pelo tratamento
terciário, apresentou uma piora na sua qualidade. Além disso, a necessidade de
operações mais complexas como, por exemplo, as lavagens periódicas com ar e
água, justifica que o tratamento em nível terciário não se faz tão necessário no
sistema de reúso estudado (Figura 5-14).
5. Resultados e Discussão
125
Em contrapartida, a etapa de desinfecção é de extrema importância, pois
enquadra o efluente tratado para o reúso em termos de concentrações de
microrganismos. O cloro remove também a cor remanescente dos tratamentos
anteriores, percebida principalmente quando armazenada em grandes volumes,
além de ser mais uma garantia de eliminação do odor.
Tabela 5-20: Resumo da remoção das etapas do tratamento para a qualidade final da água cinza
tratada
RAC FBAS FT Cloro
Cor
+++ ++++ + +++
Turbidez
+++ ++++ ++
SST
++++ +++ +
DBO
5
+++ ++++ ++
DQO
++++ ++++ ++ +
E.coli
++ +++ + ++
Coli total
+++ ++ + ++++
Tratamentos
Parâmetros
LEGENDA: ++++ - Eficiência de remoção de 100 a 70% (ou 4 logs)
+++ - Eficiência de remoção de 69 a 40% (ou 3 logs)
++ - Eficiência de remoção de 39 a 10% (ou 2 logs)
+ - Eficiência de remoção < 10% (ou < 1 log)
- Piora na qualidade em relação ao tratamento anterior
Figura 5-14: Amostras coletadas em cada etapa de tratamento e no vaso sanitário
5.3.7 Atendimento aos limites e padrões
Foi realizada uma análise da freqüência de atendimento aos padrões (mais e
menos restritivos), de acordo com as tabelas 3-6 e 3-7. Essa análise foi feita
em termos de porcentagem para cada tratamento e parâmetro analisado.
A
fluente
RAC
FBAS
FT
Cloro
Vaso
5. Resultados e Discussão
126
Dessa forma, pode-se observar que somente o RAC não foi suficiente para
produzir água cinza tratada de qualidade compatível com o uso em descarga
de vasos sanitários. Com exceção da concentração de SST (que foi atendida
em 85% das amostras para o padrão mais restritivo e para 100% das
amostras para o menos restritivo), os demais parâmetros não apresentaram
nenhuma amostra dentro dos padrões, após passar pelo reator anaeróbio.
Entretanto, ele foi imprescindível, pois proporciona a redução da carga
orgânica para os tratamentos subseqüentes (Figura 5-15).
Parâmetros como turbidez e DBO já são praticamente alcançados em todas as
amostras, ao passar pelo FBAS, em termos dos padrões menos restritivos
(97% e 94%, respectivamente). Entretanto, para que o padrão mais restritivo
seja alcançado é necessária a desinfecção.
No caso dos parâmetros microbiológicos, o padrão mais restritivo só é
alcançado em 83% das amostras, no caso de E. coli, e em 62% das amostras
no caso de coliformes totais.
0
59
70
93
0
25
38
0
31
25
83
000
62
0
97
100
0
94
100 100 100 100
0
44
58
100
00
8
92
100100
86
93
95
100100100
0
20
40
60
80
100
120
RAC
FBAS
FT
Cloro
RAC
FBAS
FT
Cloro
RAC
FBAS
FT
Cloro
RAC
FBAS
FT
Cloro
RAC
FBAS
FT
Cloro
Turbidez DBO SST E.coli CT
Mais restritivos Menos restritivos
Mais restritivo
Menos restritivo
2 NTU
10 NTU
5 mg/L
30 mg/L
5 mg/L
30 mg/L
2,2 NMP/100mL
1000 NMP/100mL
Não detectável
500 NMP/100mL
Figura 5-15: Porcentagem de atendimento aos padrões mais e menos restritivos
5. Resultados e Discussão
127
5.3.8 Outros parâmetros monitorados
Os resultados do monitoramento do pH, Condutividade elétrica, OD, Alcalinidade,
cloreto e dureza estão estatisticamente resumidos na Tabela 5-21. Esses
parâmetros, assim como na etapa de caracterização, mostraram-se bastante
variados, evidenciado pelo alto desvio padrão e coeficiente de variação.
Tabela 5-21: Resultado do monitoramento da ETAC
Parâmetro Ponto n dia mín x DP CV
Afluente 37 7,07 4,87 9,03 0,79 0,11
RAC376,806,417,290,240,04
FBAS 37 7,18 6,46 7,78 0,24 0,03
FT 28 7,19 6,71 7,79 0,28 0,04
Cloro156,806,077,300,390,06
Vaso 32 7,17 6,63 7,71 0,23 0,03
Afluente 36 291 95 764 174 0,60
RAC 37 414 187 863 179 0,43
FBAS 37 378 6 807 178 0,47
FT 28 384 152 888 193 0,50
Cloro 15 478 271 924 185 0,39
Vaso 32 255 101 747 128 0,50
Afluente 29 0,7 0,0 4,9 1,0 1,39
RAC 29 0,0 0,0 0,0 0,0
FBAS 29 4,7 2,5 5,8 0,9 0,19
FT 21 5,2 3,1 7,1 1,2 0,24
Cloro 11 7,6 7,0 3,1 0,3 0,04
Vaso 24 7,3 5,1 8,9 1,3 0,17
Afluente 36 90,3 24,9 197,5 43,6 0,48
RAC 36 171,2 79,1 292,9 66,7 0,39
FBAS 35 86,2 41,7 161,7 35,2 0,41
FT 28 93,5 22,0 229,8 50,3 0,54
Cloro 15 77,1 28,9 113,0 26,3 0,34
Vaso 31 46,0 15,4 98,5 23,0 0,50
Afluente 36 21,7 1,6 125,5 21,1 0,97
RAC 37 10,6 0,0 100,4 19,2 1,81
FBAS 37 32,0 12,0 92,4 20,8 0,65
FT 35 29,8 10,9 77,6 17,3 0,58
Cloro 15 38,5 20,5 122,0 27,0 0,70
Vaso 32 21,7 2,1 70,7 13,5 0,62
Afluente 35 107,4 12,0 681,6 164,7 1,53
RAC 36 86,2 42,0 280,8 45,7 0,53
FBAS 36 108,2 37,9 708,2 120,8 1,12
FT 29 92,5 37,9 273,1 62,0 0,67
Cloro 14 109,5 4,1 778,9 194,3 1,77
Vaso 31 96,2 35,9 758,4 129,9 1,35
Alcalinidade
(mg/L)
Cloreto (mg/L)
Dureza (mg/L)
pH
Condutividade
elétrica (uS/cm)
OD (mg/L)
Compostos nitrogenados e fosforados
Conforme observado na etapa de caracterização, as concentrações dos
compostos nitrogenados e fosforados mostraram-se bastante inferiores às de um
5. Resultados e Discussão
128
esgoto com características médias. A ETAC, de maneira geral, não apresentou
redução significativa de fósforo total, NTK e nitrogênio amoniacal (Tabela 5-22).
Tabela 5-22: Resultado do monitoramento da ETAC – compostos nitrogenados e fosforados
Parâmetro Ponto n dia mín x DP CV
Afluente 36 2,3 0,1 9,3 2,9 1,26
RAC 36 2,2 0,2 7,9 2,0 0,94
FBAS 36 2,0 0,2 7,7 2,0 0,99
FT 31 1,9 0,0 7,8 1,9 1,00
Cloro 14 3,0 0,1 7,0 2,3 0,76
Vaso 30 1,6 0,1 6,8 2,0 1,21
Afluente 31 11,9 0,4 44,7 11,0 0,93
RAC 31 15,5 0,4 84,2 17,1 1,10
FBAS 30 8,8 0,4 81,4 15,4 1,76
FT 30 8,1 0,0 49,5 12,4 1,54
Cloro 10 7,3 1,7 21,6 6,6 0,90
Vaso 26 7,3 0,2 81,0 15,5 2,13
Afluente 32 6,1 0,2 20,1 4,8 0,78
RAC 32 11,0 1,3 38,7 7,7 0,70
FBAS 32 5,7 0,1 44,9 8,6 1,51
FT 32 5,8 0,0 49,3 10,6 1,83
Cloro 10 0,1 0,0 0,2 0,1 0,60
Vaso 27 1,4 0,0 5,2 1,5 1,11
P
T
(mg/L)
NTK (mg/L)
NH
3
-N (mg/L)
Óleos e graxas e surfactantes
A ETAC apresentou uma eficiência de remoção de O&G e surfactante aniônico
bastante considerável já no reator anaeróbio, sendo 25% e 34% respectivamente
(Tabela 5-23).
A remoção de surfactantes é muito importante quando se trata de reúso em
descarga de vasos sanitários, devido à possível formação de espuma no
momento da descarga.
Observou-se que após o início da introdução do efluente da cozinha na elevatória
de água cinza bruta, as concentrações de O&G afluente aumentaram e houve,
conseqüentemente, uma ligeira piora no desempenho da estação. Isso evidencia
que para sistemas de reúso predial a introdução de efluentes oriundos de cozinha
não é muito vantajosa.
5. Resultados e Discussão
129
Tabela 5-23: Resultado do monitoramento da ETAC – O&G e Surfactante aniônico
Parâmetro Ponto n média n x DP CV
Afluente 26 8,5 2,9 15,7 4,2 0,49
RAC 25 1,4 0,1 3,8 0,8 0,60
FBAS 26 1,0 0,0 3,1 0,8 0,78
FT 22 1,1 0,0 3,5 1,1 0,96
Cloro 8 1,0 0,2 1,5 0,5 0,52
Vaso 18 0,9 0,1 2,5 0,5 0,62
Afluente 34 2,4 0,9 14,9 2,7 1,09
RAC 34 1,2 0,1 5,4 1,2 0,95
FBAS 34 0,4 0,0 1,6 0,4 1,06
FT 26 0,3 0,0 0,9 0,2 0,85
Cloro 15 0,5 0,2 1,7 0,4 0,73
Vaso 30 0,3 0,0 1,2 0,3 0,94
O&G (mg/L)
Surfactante
aniônico (mg/L)
5.4 Características dos lodos gerados
Conforme comentado anteriormente, para partida do RAC foi colocado em sua
primeira câmara aproximadamente 140 litros de lodo proveniente de um reator
UASB tratando esgoto sanitário. Esse lodo foi coletado na torneira situada a 0,1m
do fundo e possuía teor de sólidos totais de 0,6% e relação SV/ST de 74%.
A caracterização dos lodos gerados na estação de tratamento de água cinza
iniciou-se aproximadamente dois meses após a sua partida. A Tabela 5-24 ilustra
as características dos lodos provenientes das câmaras 1 e 2 do RAC, do descarte
do decantador do FBAS e da lavagem do FT (Figura 5-16).
Tabela 5-24: Características do lodo produzido nos sistemas de tratamento
Lodo ST (%) SV/ST (%)
RAC - C1
0,59 77,0%
RAC - C2
0,54 73,9%
DEC
0,004 32,1%
FT
1
0,008 60,1%
FT
2
0,004 25,3%
5. Resultados e Discussão
130
RAC
C1
RAC
C2
DEC FTRAC
C1
RAC
C2
DEC FT
Figura 5-16: Lodos provenientes das câmaras 1 e 2 do RAC, do descarte do decantador do
FBAS e da lavagem do FT
Os lodos anaeróbios coletados na primeira e na segunda câmara do RAC
apresentaram teores de sólidos totais médios bem próximos um do outro (0,59%
para C1 e 0,54% para C2). Ambos podem ser considerados como lodo fluido,
segundo van Haandel e Lettinga (1994). Observou-se, através de microscopia
ótica com aumento de 10 vezes, que os lodos das duas câmaras do RAC
apresentaram a estrutura do floco mais dispersa, quando comparados com o lodo
do reator UASB inicialmente colocado para partida. Entretanto, ambos os lodos
são floculentos e possuem também alguns grânulos dispersos (Figura 5-17). A
elevada relação SV/ST indica que esses lodos possuem um bom grau de
estabilização, característicos de lodos digeridos anaerobiamente.
RAC – C1 (água cinza)
RAC – C2 (água cinza)
UASB T1 (esgoto)
Figura 5-17: Comparação através de microscopia ótica de lodos anaeróbios tratando água cinza e
esgoto sanitário
Os lodos aeróbio e terciário são ainda mais fluidos que os anaeróbios. Eles
possuem teores de sólidos totais baixíssimos, 0,008% para o lodo do início da
lavagem do FT (FT
1
) e 0,004% tanto para o lodo de descarte do decantador
(DEC) quanto para o de final de lavagem do FT (FT
2
). Esses lodos também se
apresentaram menos estabilizados que o lodo anaeróbio, todavia eles retornam
ao início do tratamento, onde são digeridos no próprio RAC. Dessa forma, pode-
se considerar que o lodo coletado no RAC é um lodo misto.
10x
10x 10x
5. Resultados e Discussão
131
5.5 Quantificação da produção e da demanda de águas
cinza do prédio ETE-UFES
Os resultados a seguir foram obtidos a partir dos dados de monitoramento dos
hidrômetros instalados nos aparelhos sanitários durante os meses de julho a
setembro de 2005, correspondendo a um total de 44 dias (excluindo finais de
semana e feriados). As análises dos consumos de água do prédio foram
realizadas considerando o uso da máquina de lavar roupa e desconsiderando o
seu uso.
5.5.1 Consumo de água global
O consumo de água foi avaliado em termos do consumo total de água no prédio e
do consumo medido em cada aparelho sanitário
5.5.1.1 Consumo total
O consumo diário médio de água (reúso + potável) do prédio foi em média
202,1L/dia (Figura 5-18A). Esse consumo representou apenas 8,3% do consumo
teórico calculado anteriormente (tabelas 4-1 e 4-2). Além de ter sido considerada
uma população usuária máxima de 60 pessoas, que não foi atingida em nenhum
momento do monitoramento, as freqüências e durações de uso dos aparelhos
foram superestimadas para efeito de dimensionamento da ETAC.
Estimando-se que a população usuária real do prédio fosse de 20 pessoas por
dia, o
per capita de água seria, em média, de 10,1L/pessoa.dia. Von Sperling
(2005) cita os consumos de água típicos de alguns estabelecimentos e, no caso
de banheiros públicos, a faixa de vazão típica é de 10 a 25L/usuário.dia.
Se o cálculo do consumo de água for feito desconsiderando o uso da máquina de
lavar, o consumo de água no prédio seria reduzido em torno de 40% (Figura 5-
18B).
5. Resultados e Discussão
132
A)
0
50
100
150
200
250
300
Consumo total diário (L/dia)
Julho Agosto Setembro
B)
0
50
100
150
200
250
300
Consumo total drio (L/dia)
Julho Agosto Setembro
Figura 5-18: Consumo total diário de água do prédio A) com máquina de lavar; B) sem máquina de
lavar
5.5.1.2 Consumo por aparelho sanitário (hidrômetros)
O lavatório monitorado pelo hidrômetro H10 foi o que apresentou o maior
consumo médio de água mensal, pois nele foi acoplada uma máquina de lavar
roupa onde eram feitas lavagens quase que diariamente. O volume de água gasto
em cada lavagem era de aproximadamente 70 litros.
Os aparelhos sanitários do banheiro feminino foram os mais utilizados durante o
monitoramento, porque a população de mulheres era muito superior a de homens
(Figura 5-19).
5. Resultados e Discussão
133
0
10
20
30
40
50
60
70
80
H16H15H14H13H12H11H10H9H8H7H6H5H4H3H2H1
CH
Fem.
VS
Fem.
VS
Mas.
VS
Fem.
MC
Mas.
MC
Mas.
LV
Fem.
LV
Fem.
VS
Mas.
CH
Mas.
LV
Mas.
LV
Mas.
VS
Sala 2
LV
Sala 2
LV
Sala 1
VS
Sala 1
Unidade hidro-sanitária
Consumo médio de água (L/dia)
Julho Agosto Setembro
LEGENDA: CH – Chuveiro; VS – Vaso sanitário; MC – Mictório; LV – Lavatório
Figura 5-19: Distribuição do consumo de água por aparelho sanitário
5.5.2 Distribuição do consumo de água por tipo de aparelhos
sanitários
Os resultados da medição do consumo de água em cada aparelho mostraram que
todos os vasos sanitários, mictórios e chuveiros consumiram, em média, um
volume de 79, 2 e 40L/mês respectivamente. Os lavatórios consumiram 85L/mês
considerando o uso da máquina de lavar. Se esse uso for desconsiderado, o
consumo de água dos lavatórios cai para um pouco menos da metade (40L/dia).
Nessas duas situações (com e sem o uso da máquina de lavar), os consumos de
água dos vasos sanitários e mictórios ficaram em pelo menos até 50% do
consumo total, mostrando que água de reúso atendeu à demanda requerida por
esses aparelhos, na maior parte do tempo (Figura 5-20).
5. Resultados e Discussão
134
A)
Vasos
sanitários
38%
Mictórios
1%
Lavatórios
42%
Chuveiros
19%
B)
Vasos
sanitários
49%
Mictórios
1%
Lavatórios
25%
Chuveiros
25%
Figura 5-20: Distribuição do consumo de água por tipo de aparelho sanitário A) com máquina de
lavar; B) sem máquina de lavar
5.5.3 Produção x demanda de água cinza
A análise da produção e da demanda de água cinza foi feita de forma mensal,
diária e horária.
5.5.3.1 Análise mensal
A produção diária média de água cinza, nos três meses monitorados, atendeu à
demanda requerida pelos vasos sanitários. Se não tivesse ocorrido a lavagem de
roupa, a produção de água cinza seria menor, mas ainda assim a demanda
também seria atendida (Figura 5-21).
A)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Produção de água cinza Demanda de água cinza
Consumo médio de água (L/dia)
Julho Agosto Setembro
B)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Produção de água cinza Demanda de água cinza
Consumo médio de água (L/dia)
Julho Agosto Setembro
Figura 5-21: Média Produção x demanda de água cinza do prédio da UFES A) com máquina de
lavar; B) sem máquina de lavar
5. Resultados e Discussão
135
5.5.3.2 Análise diária
Durante os meses analisados, a produção superou a demanda de água cinza na
maior parte dos dias (Figura 5-22). Um déficit de água de reúso ocorreu apenas
em 8 dos 44 dias monitorados. Quando ocorre um déficit de água de reúso os
vasos sanitários e mictórios são abastecidos com água potável, automaticamente.
O início da lavagem de roupas ocorreu no dia 7/07/2005 e, a partir desse dia, o
volume acumulado de água de reúso tendeu a crescer, chegando ao final do
monitoramento a valores superiores a 1800 litros (Figura 5-23).
-100
-50
0
50
100
150
200
250
1/7
4/7
7/7
10/7
13/7
16/7
19/7
22/7
25/7
28/7
31/7
3/8
6/8
9/8
12/8
15/8
18/8
21/8
24/8
27/8
30/8
2/9
5/9
8/9
11/9
Tempo (dia)
Volume (L)
Produção Demanda Estocagem
Figura 5-22: Produção x demanda diária de água cinza com o uso da máquina de lavar
5. Resultados e Discussão
136
Figura 5-23: Produção x demanda diária acumulada de água cinza com uso da máquina de lavar
Simulando o monitoramento do consumo de água sem o uso da máquina de
lavar, observa-se que a produção de água cinza diminuiria bastante (Figura 5-24).
Os dias de déficit de água de reúso passariam de 7 para 27 dos 44 dias
monitorados.
A produção e demanda acumulada de água cinza apresentou um déficit
acumulado, ao final do monitoramento, de 262 litros de água de reúso. (Figura 5-
25).
-1000
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
1/7
4/7
7/7
10/7
13/7
16/7
19/7
22/7
25/7
28/7
31/7
3/8
6/8
9/8
12/8
15/8
18/8
21/8
24/8
27/8
30/8
2/9
5/9
8/9
11/9
Tempo (dia)
Volume acumulado (L)
Produção Demanda Estocagem
Início lavagem
roupa
5. Resultados e Discussão
137
-100
-50
0
50
100
150
200
250
1/7
4/7
7/7
10/7
13/7
16/7
19/7
22/7
25/7
28/7
31/7
3/8
6/8
9/8
12/8
15/8
18/8
21/8
24/8
27/8
30/8
2/9
5/9
8/9
11/9
Tempo (dia)
Volume (L)
Produção Demanda Estocagem
Figura 5-24: Produção x demanda diária de água cinza sem uso da máquina de lavar
-1000
-500
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1/7
4/7
7/7
10/7
13/7
16/7
19/7
22/7
25/7
28/7
31/7
3/8
6/8
9/8
12/8
15/8
18/8
21/8
24/8
27/8
30/8
2/9
5/9
8/9
11/9
Tempo (dia)
Volume (L)
Produção Demanda Estocagem
Figura 5-25: Produção x demanda diária acumulada de água cinza sem uso da máquina de lavar
5.5.3.3 Análise horária
Através de uma análise horária da produção e demanda de água cinza
acumulada é possível observar-se, em algum momento do dia (8h às 18h), que
houve déficit de água cinza estocada, ou seja, se foi necessário suprir a demanda
dos vasos sanitários e mictórios com água potável.
5. Resultados e Discussão
138
No dia 11/7/2005, por exemplo, a produção de água cinza superou a demanda
em todo horário de funcionamento do prédio, havendo ainda um estoque de água
cinza de 15,7 litros (Figura 5-26).
Nos dias 15/7/2005 (Figura 5-27) e 15/8/2005 (Figura 5-28) houve déficit de água
cinza de 13h30 às 15h50 e de 8h30 às 15h, respectivamente. Entretanto, ao final
do dia (18h) houve estocagem de água cinza de 89 litros no dia 15/7 e de 70 litros
no dia 15/8.
(11/7/2005)
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
140
160
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Hora
Volume acumulado (L)
Produção Demanda Estocagem
Figura 5.26: Produção x demanda horária de água cinza edificação UFES (11/07/2005)
(15/7/2005)
-100
-50
0
50
100
150
200
7 8 9 10111213141516171819
Hora
Volume acumulado (L)
Produção Demanda Estocagem
Figura 5-27: Produção x demanda horária de água cinza edificação UFES (15/07/2005)
5. Resultados e Discussão
139
(15/8/2005)
-100
-50
0
50
100
150
200
250
7 8 9 10111213141516171819
Hora
Volume acumulado (L)
Produção Demanda Estocagem acumulada
Figura 5-28: Produção x demanda horária de água cinza edificação UFES (15/08/2005)
5.5.4 Simulação do consumo total de água potável e da produção
de águas residuárias
Conforme observado anteriormente, o uso da máquina de lavar proporcionou um
aumento da produção de água cinza e, conseqüentemente, uma diminuição do
déficit de água de reúso demandada pelos vasos sanitários. Entretanto, o
consumo de água potável também sofreu um aumento.
As figuras 5-29 e 5-30 ilustram como foi o consumo total de água (potável e de
reúso) e a produção de águas residuárias (águas cinza, águas negras, águas
amarelas) durante os 44 dias de monitoramento, considerando quatro cenários
distintos de abastecimento de água:
9 Cenário 1: Sem sistema de reúso e sem máquina de lavar;
9 Cenário 2: Sem sistema de reúso e com máquina de lavar;
9 Cenário 3: Com sistema de reúso e sem máquina de lavar;
9 Cenário 4: Com sistema de reúso e com máquina de lavar.
O consumo de água potável é maior, como já era de se esperar, quando o
sistema de reúso não é utilizado e quando há a lavagem de roupa. Quando se
compara apenas os cenários com o uso do sistema de reúso, o consumo de água
potável também é maior quando se utiliza a máquina.
5. Resultados e Discussão
140
A produção de águas residuárias não é alterada se a comparação for feita entre
os cenários 1 e 3 e entre os cenários 2 e 4. Entretanto, com a utilização do
sistema de reúso do prédio é possível segregar as águas residuárias e dar
destinos diferentes a cada uma delas. As águas cinza, como é proposto neste
trabalho, após passar por um tratamento, são utilizadas para abastecer a
descarga dos vasos sanitários do prédio. As águas negras e amarelas podem,
por exemplo, ser utilizadas como fertilizantes naturais agrícolas após passar por
algum processamento prévio. Nesse contexto, o melhor cenário é o 3, pois é o
que consome o menor volume de água e ainda utiliza o sistema de reúso com
segregação das águas residuárias.
7675
4457
6116
3218
3659
9775
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
Cenário 1
Sem reúso e
sem máquina
Cenário 2
Sem reúso e
com máquina
Cenário 3
Com reúso e
sem máquina
Cenário 4
Com reúso e
com máquina
Volume (L)
Consumo de água potável Consumo de água de reúso
Figura 5-29: Consumo total de água potável e de reuso
3797
5897
104 104
7675
3774
3774
9775
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
Cenário 1
Sem reúso e
semquina
Cenário 2
Sem reúso e
com máquina
Cenário 3
Com reúso e
sem máquina
Cenário 4
Com reúso e
com máquina
Volume (L)
Água cinza Água negra Água amarela Esgoto Total
Figura 5-30: Produção de águas residuárias (águas cinza, águas negras, águas amarelas)
6 – Conclusão
141
6. Conclusão
Com relação à caracterização qualitativa da água cinza segregada:
1. De maneira geral, as diversas frações da águas cinza coletadas em lavatórios,
chuveiros, tanque, máquina de lavar e pia de cozinha apresentaram
características variadas quando comparadas umas com as outras.
2. Os resultados apresentaram a presença significativa de matéria orgânica
rapidamente biodegradável e sulfatos. Isso evidencia o grande potencial de
produção de H
2
S, caso não seja realizado um tratamento adequado.
3. Evidenciou-se também a presença de nutrientes (nitrogênio e fósforo),
entretanto, em menor quantidade que no esgoto sanitário de características
médias, já que a maior parte deles é oriunda dos excrementos (urina e fezes).
4. As concentrações de
E. coli e coliformes totais (CT) também foram bastante
significativas, mostrando que, mesmo com a ausência do efluente de vasos
sanitários, existe a contaminação fecal. Dessa forma, é necessária a
desinfecção previamente ao reúso.
5. Os efluentes de lavatório e de chuveiro apresentaram características
semelhantes à de um esgoto com características de fracas a médias.
Enquanto que os efluentes de tanque, máquina de lavar e pia de cozinha
apresentaram características semelhantes a de um esgoto com características
de médias a fortes.
Com relação ao monitoramento da estação de tratamento de águas cinza:
1. O RAC foi de fundamental importância, pois removeu boa parte dos sólidos e
da matéria orgânica presente na água cinza bruta, sem praticamente aporte
6 – Conclusão
142
energético. Além disso, esse reator produziu pouco lodo e a operação foi
bastante simples.
2. A inserção da etapa de tratamento aeróbio à jusante do RAC incrementou
consideravelmente a remoção de turbidez, cor e matéria ornica e, em menor
escala, a remoção de SST da água cinza bruta, chegando a níveis de
concentração de alguns parâmetros, que atendem às normas e padrões. Além
disso, o efluente tratado pelo FBAS é completamente desprovido de odor.
3. O FT não aportou reduções muito significativas nem de material particulado e
orgânico, nem de microrganismos. Sendo que para alguns parâmetros, a
qualidade do efluente piorou. Além disso, a necessidade de lavagens
periódicas demonstra que o tratamento em nível terciário poderia ser
eliminado no sistema de reúso estudado.
4. A etapa de desinfecção foi de extrema importância, pois complementou com
eficiência a remoção de
E.coli e CT, enquadrando o efluente tratado para o
reúso em termos de concentrações de microrganismos nos padrões mais
restritivos. O cloro removeu também a cor remanescente dos tratamentos
anteriores e garantiu a completa desodorização.
5. Entretanto, após passar pelo FBAS as concentrações de E. coli foram
menores do que as encontradas por Ornelas (2004) no selo hídrico de
vasos sanitários abastecidos por água potável.
6. Com relação à freqüência de atendimento aos padrões de reúso em descarga
de vasos sanitários, praticamente todos os parâmetros físico-químicos tiveram
100% das amostras atendendo aos limites mais restritivos, após passar pela
etapa de cloração, com exceção da turbidez, que, para o parâmetro mais
restritivo, atendeu em 93% das amostras.
7. Ainda nessa mesma análise, mas com relação aos parâmetros
microbiológicos, as porcentagens de atendimento aos padrões mais restritivos
foram de 83% e 62% para
E. coli e CT, respectivamente. Já com relação aos
padrões menos restritivos, a porcentagem de atendimento foi de 100% e 92%,
nessa mesma ordem.
6 – Conclusão
143
Com relação às características dos subprodutos gerados na ETAC:
1. De maneira geral a ETAC apresentou uma baixa produção de lodo
anaeróbio, pois não houve necessidade de descarte no período da
pesquisa.
2. As amostras do lodo anaeróbio, tanto da câmara 1 quanto da câmara 2
apresentaram: alto grau de estabilização, estrutura floculenta e alguns
grânulos dispersos.
3. Os lodos aeróbio e terciário apresentaram-se bastante líquidos, com
baixíssimos teores de ST, além disso, ambos possuíam baixo grau de
estabilização, justificando o seu retorno para o RAC, onde eram digeridos.
4.
O retorno do lodo aeróbio e terciário para elevatória de água cinza bruta
não influenciou na eficiência de tratamento.
Com relação ao monitoramento da produção e demanda de água cinza da
edificação da UFES:
1. O consumo diário médio de água (reúso + potável) do prédio foi em média
202,1L/dia, considerando o uso da máquina de lavar, e 121,2 L/dia, se esse
uso fosse desconsiderado.
2. A distribuição do consumo de água por tipo de aparelho mostrou que os
lavatórios foram os que consumiram mais água (42%), quando considerado o
uso da máquina de lavar. Já quando esse uso foi desconsiderado, os
aparelhos que consumiram mais foram os vasos sanitários (49%).
3. A produção diária média de água cinza, considerando o uso da máquina de
lavar, atendeu à demanda requerida pelos vasos sanitários e mictórios, nos
três meses monitorados. Quando o seu uso é desconsiderado, a demanda dos
vasos não foi atendida no mês de agosto.
4. Através da análise de quatro cenários, observou-se que o pior cenário foi o
2 (s/ reúso e c/ MQ) com maior consumo de água potável e o melhor
6 – Conclusão
144
cenário foi o 3 (c/ reúso e s/ MQ) pois apresentou menor consumo de água
potável e, ainda, segregação das águas residuárias
7 – Recomendações
145
7. Recomendações
Quantificar a produção de biogás produzida pelo RAC, bem como avaliar a
composição do mesmo em termos de metano e sulfetos;
Definir procedimentos para caracterizar o coeficiente de produção de lodo
anaeróbio;
Estudar possíveis modificações no tratamento anaeróbio, com a inclusão de
meio suporte plástico na 1ª câmara do RAC para melhor retenção da
biomassa.
Estudar a remoção de outros microrganismos presentes na água cinza, tais
como salmonela, giárdia, ovos de helmintos, vírus entéricos, entre outros;
Testar novas configurações de tratamento de água cinza visando ao reúso,
tanto para descargas sanitárias quanto para outros fins não-potáveis, tais
como lavagem de roupa, irrigação de jardins, etc.
Avaliar a qualidade da água cinza tratada com a eliminação da etapa de
filtração terciária.
Avaliar se há formação de organoclorados, como por exemplo, os
trihalometanos, em virtude da desinfecção à base de cloro.
Testar outros tipos de processos de desinfecção, como, por exemplo, a
desinfecção com radiação UV.
Avaliar diversos cenários possíveis ao reúso ou não de água cinza com
relação às fontes de água potável existentes na região da Grande Vitória.
Estudar a viabilidade econômica da implantação do sistema de reúso em
novos empreendimentos.
8 – Referências Bibliográficas 146
8. Referências Bibliográficas
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Sites visitados:
www.ambientebrasil.com.br
Anexo A
156
Anexo A
Metodologia das análises dos parâmetros físico-químicos
PARÂMETRO
MÉTODOS REFERÊNCIA
pH Método eletrométrico
STANDARD METHODS
4500-H
+
B, 1995
Alcalinidade Me.todo titulométrico
STANDARD METHODS
2320 B, 1995
Condutividade elétrica Método laboratório
STANDARD METHODS
2510 B, 1995
OD Método eletrodo-membrana
STANDARD METHODS
4500-O G, 1995
Temperatura
Método de laboratório e de
campo
STANDARD METHODS
2550 B, 1995
Cor verdadeira Método espectrofotométrico
STANDARD METHODS
2120 C, 1995
Turbidez Método nefelométrico
STANDARD METHODS
2130 B, 1995
Cloreto Método Argentométrico
STANDARD METHODS
4500 – Cl
-
B, 1995
Dureza Método titulométrico EDTA
STANDARD METHODS
2340 C, 1995
DBO
5
Oxitop
DQO
Oxidação por dicromato de
potássio em meio ácido
STANDARD METHODS
5220 D,1995
SST, ST Método gravimétrico
STANDARD METHODS
2540, 1995
Óleos e graxas (O & G) Médoto de extração Soxhlet
STANDARD METHODS
5520 D, 1995
P
T
Método do ácido ascórbico
pela oxidação em meio ácido
STANDARD METHODS
4500 P, 1995
NTK e N-NH
3
Método Semimicro Kjeldahl
STANDARD METHODS
4500 C, 1995
PARÂMETRO
MÉTODOS REFERÊNCIA
N-NO
3
-
Método da Coluna Redutora
de Cádmio
STANDARD METHODS
4500 E, 1995
Anexo A
157
N-NO
2
-
Método colorimétrico
STANDARD METHODS
4500 – NO
2
-
B, 1995
Sulfato Método turbidimétrico
STANDARD METHODS
4500 –SO
4
2-
E, 1995
Sulfeto Método Iodométrico
STANDARD METHODS
4500 – S
2-
F, 1995
Surfactante
Surfactante aniônico como
MBAS
STANDARD METHODS
5540 C, 1995
Cloro residual (livre e total) Método DPD colorimétrico
STANDARD METHODS
4500 – Cl G, 1995
Anexo B
158
Anexo B
Dimensionamento ETAC
a) Dados de entrada
População (P) 60 habitantes
Per Capita (q) 24L/hab.dia
k1 1,2
k2 1,5
Altura ETAC (H) 2,20m
Velocidade ascensional (v) 1,2m/h
b) Cálculo da vazão
)/(
86400
sL
qP
Q
med
=
hmsLQ
med
/064,0/017,0
86400
2460
3
==
=
hmkkQQ
med
/115,05,12,1064,0
3
21max
=
==
c) Dimensionamento do Reator Anaeróbio Compartimentado (RAC)
O RAC foi dimensionado com geometria retangular, para uma temperatura média no
esgoto de 20
o
C. Para assegurar uma eficiência mínima de 65% na remoção de
DBO, tomou-se como parâmetro principal de dimensionamento o tempo de detenção
hidráulica (θ) de 12 horas e uma compartimentação de 3 (três) câmaras.
Anexo B
159
L
RAC
B
RAC
Hh
útil
L
RAC
B
RAC
Hh
útil
θ
=
medRAC
QV , onde:
V
RAC
: volume útil do RAC (m
3
)
Q
méd
: vazão de água cinza média (m
3
/h)
θ:
tempo de detenção hidráulica (h)
Assim:
3
3
768,0
12)/(064,0
mV
hhmV
RAC
RAC
=
=
Adotando uma altura útil (h
RAC
) de 2,00m, calculou-se a área superficial (A
RAC
):
2
384,0
00,2
768,0
m
h
V
A
útil
RAC
RAC
===
Adotando: B
RAC
= 0,6m
m
B
A
L
RAC
RAC
RAC
64,0
6,0
384,0
===
Como são três compartimentos:
m
L
RAC
21,0
3
=
Em virtude de limitações construtivas adotou-se
m
L
RAC
30,0
3
=
Dimensões adotadas para cada compartimento: 0,60 x 0,3 x 2,20m
d) Dimensionamento Filtro Biológico Aerado Submerso (FBAS)
O FBAS foi dimensionado com geometria retangular e tomou-se como parâmetro
principal de dimensionamento a velocidade ascencional (v) de 1,2m/h. Calculando a
área superficial (A
FBAS
):
2
053,0
2,1
064,0
m
v
Q
A
med
FBAS
===
Anexo B
160
L
FBAS
= L
DEC
B
FBAS
Hh
DEC
B
DEC
h
leito
h
FBAS
L
FBAS
= L
DEC
B
FBAS
Hh
DEC
B
DEC
h
leito
h
FBAS
Adotando L
FBAS
= 0,5 m, tem-se:
m
L
A
B
FBAS
FBAS
FBAS
011,0
5,0
053,0
===
Em virtude de limitações construtivas
adotou-se B
FBAS
= 0,30 m
Dimensões adotadas: 0,5 x 0,3 x 2,20m
e altura do leito (h
leito
) = 1,38 m
e) Decantador Secundário (DEC)
O DEC foi dimensionado com geometria retangular e tomou-se como parâmetro
principal de dimensionamento a taxa superficial (t
s
) de 20 m³/m².dia. Calculando a
área superficial (A
DEC
):
2
23
3
max
14,0
20
248,1064,0
)./(
)/(
m
dmmt
dmQ
A
s
DEC
=
==
Adotando L
DEC
= 0,5 m, tem-se:
m
L
A
B
DEC
DEC
DEC
28,0
5,0
14,0
===
Aproximou-se B
DEC
= 0,30 m
Dimensões adotadas: 0,5 x 0,3 x 2,20m
f) Filtro Terciário (FT):
O FBAS foi dimensionado com geometria retangular e tomou-se como parâmetro
principal de dimensionamento a velocidade ascensional (v) de 1,2 m/h. Calculando a
área superficial (A
FT
):
2
053,0
2,1
064,0
m
v
Q
A
med
FT
===
Adotando B
FT
= 0,6m
Anexo B
161
H
L
FT
B
FT
h
FT
H
L
FT
B
FT
h
FT
L
FT
B
FT
h
FT
m
B
A
L
FT
FT
FT
02,0
6,0
053,0
===
Em virtude de limitações construtivas adotou-se:
L
FT
= 0,30 m
A tela utilizada como superfície filtrante era plana e com 0,6 x 0,3 m.
Dimensões adotadas: 0,6 x 0,3 x 2,20m
Anexo C
162
Anexo C
Aferição dos hidrômetros
Sanitário H1
4,9; 4,95
4,8; 4,99
5,1; 4,96
5,2; 5,07
5,0; 4,8
4,75
4,80
4,85
4,90
4,95
5,00
5,05
5,10
4,70 4,80 4,90 5,00 5,10 5,20 5,30
Volume computador (L)
Volume medido (L)
Erro médio 2,9
%
Lavatório H2
y = 0,9605x + 0,0266
R
2
= 0,999
Erro = 1,31%
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Vazão média computador (L/min)
Vao medida (L/min)
Lavatório H3
y = 0,998x - 0,0219
R
2
= 0,9906
Erro = 2,45%
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00
Vao média computador (L/min)
Vazão medida (L/min)
Sanitário H4
5,5; 5,49
5,5; 5,45
5,3; 5,42
5,7; 5,55
5,6; 5,6
5,6; 5,61
5,40
5,45
5,50
5,55
5,60
5,65
5,20 5,30 5,40 5,50 5,60 5,70 5,80
Volume computador (L)
Volume medido (L)
Erro médio 1,0
%
Lavatório H5
y = 0,9889x + 0,0298
R
2
= 0,9979
Erro = -1,84%
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00
Vazão média computador (L/min)
Vazão medida (L/min)
Lavatório H6
y = 0,992x - 0,0177
R
2
= 0,997
Erro = 2,64%
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00
Vazão média computador (L/min)
Vazão mediada (L/min)
Chuveiro H7
y = 0,9908x + 0,0268
R
2
= 0,9645
Erro = 3,73%
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00
Vazão média computador (L/min)
Vao medida (L/min)
Sanitário H8
5,2; 5,3
5,4; 5,39
5,4; 5,35
5,3; 5,37
5,15
5,20
5,25
5,30
5,35
5,40
5,45
5,15 5,20 5,25 5,30 5,35 5,40 5,45
Volume computador (L)
Volume medido (L)
Erro médio 1,1
%
Lavatório H9
y = 1,0065x - 0,0006
R
2
= 0,9942
Erro = -0,59%
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0,12
0,14
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14
Vazão média computador (L/s)
Vazão medida (L/s)
Anexo C
163
Lavatório H10
y = 0,9903x + 0,0021
R
2
= 0,9952
Erro = 0,77%
0,00
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
0,10
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10
Vazão média computador (L/s)
Vazão mediada (L/s)
Mictório H11
y = 0,9781x + 0,0247
R
2
= 0,996
Erro = -0,27%
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Volume computador (L)
Volume medido (L)
Mictório H12
y = 0,9834x + 0,0154
R
2
= 0,9946
Erro = 0,12%
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Volume computador (L)
Volume medido (L)
Sanitário H13
5,29; 4,8
5,32; 5,65,29; 5,6
5,36; 5,5
4,70
4,80
4,90
5,00
5,10
5,20
5,30
5,40
5,50
5,60
5,70
5,28 5,30 5,32 5,34 5,36 5,38
Volume computador (L)
Volume medido (L)
Errodio
5,7%
Sanitário H14
4,7; 4,56
5,2; 5,19
5,2; 5,39
5,1; 5,05
5,0; 5,09
4,50
4,60
4,70
4,80
4,90
5,00
5,10
5,20
5,30
5,40
5,50
4,60 4,80 5,00 5,20 5,40
Volume computador (L)
Volume medido (L)
Erro médio
1,9%
Sanitário H15
6,7; 6,71
6,7; 6,76
6,8; 6,69
6,9; 6,87
6,9; 6,83
6,68
6,70
6,72
6,74
6,76
6,78
6,80
6,82
6,84
6,86
6,88
6,65 6,70 6,75 6,80 6,85 6,90 6,95
Volume computador (L)
Volume medido (L)
Erro médio
0,8%
Chuveiro H16
y = 0,9453x - 0,001
R2 = 0,9957
Erro = 5,90%
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10
Vazão média computador (L/s)
Vazão medida (L/s)
Anexo D
164
Anexo D
Monitoramento da ETAC
Parâmetro Ponto n média n x DP CV
Afluente 33 533 162 1154 261 0,49
RAC 33 189 26 476 127 0,67
FBAS 33 22 0 71 16 0,74
FT 25 18 0 57 16 0,86
Cloro 15 5 0 17 5 0,97
Vaso 27 7 0 17 6 0,77
Afluente 37 168 55 650 109 0,65
RAC 37 55 19 120 27 0,49
FBAS 37 2,5 0,0 19,0 3,2 1,27
FT 30 1,6 0,0 4,4 1,2 0,78
Cloro 14 1,2 0,3 4,0 0,9 0,79
Vaso 32 2,9 0,2 6,7 1,6 0,55
Afluente 12 283 190 430 91 0,32
RAC 14 105 50 250 62 0,59
FBAS 16 12 3 40 10 0,85
FT 13 7 3 14 4 0,52
Cloro30000
Vaso 2 3 0 5 4 1,41
Afluente 36 498 79 1082 230 0,46
RAC 37 115 10 396 76 0,66
FBAS 34 27 7 63 14 0,53
FT 25 20 3 51 14 0,71
Cloro 15 16 2 53 14 0,85
Vaso 29 15 4 77 14 0,93
Afluente 33 11,8 4,1 33,3 6,9 0,59
RAC 36 3,1 0,0 13,4 2,5 0,81
FBAS 29 2,0 0,0 9,1 2,0 1,02
FT 20 2,2 0,0 8,6 1,9 0,88
Cloro 11 0,6 0,0 1,3 0,5 0,83
Vaso 24 2,3 0,1 6,8 1,9 0,84
Afluente 26 29,4 0,6 87,9 23,2 0,79
RAC 27 23,4 0,3 69,5 17,0 0,73
FBAS 27 50,2 10,8 87,4 21,8 0,43
FT 21 46,0 1,4 88,2 25,7 0,56
Cloro 15 50,1 36,0 83,8 12,0 0,24
Vaso 25 35,3 9,9 58,1 13,6 0,38
Afluente 35 0,190 0,072 0,437 0,092 0,48
RAC 33 0,778 0,177 2,768 0,813 1,04
FBAS 35 0,119 0,046 0,377 0,066 0,55
FT 29 0,108 0,000 0,223 0,052 0,49
Cloro 11 0,099 0,017 0,280 0,070 0,71
Vaso 29 0,098 0,011 0,302 0,057 0,58
Cor verdadeira
(UC)
Turbidez (NTU)
DBO (mg/L)
DQO (mg/L)
SST (mg/L)
SO
4
-2
(mg/L)
S
-2
(mg/L)
Anexo D
165
Parâmetro Ponto n dia mín x DP CV
Afluente 27 5,42E+05 7,00E+04 1,06E+07 2,82E+06 1,88
RAC 16 1,84E+04 2,00E+03 2,00E+05 5,58E+04 1,35
FBAS 16 1,64E+02 1,00E+00 1,00E+04 2,99E+03 1,54
FT 24 1,55E+02 1,00E+00 6,13E+04 1,29E+04 3,30
Cloro 12 1,51E+00 1,00E+00 1,40E+01 4,37E+00 1,54
Vaso 19 3,17E+01 1,00E+00 1,21E+05 2,79E+04 3,19
Afluente 22 1,86E+07 1,32E+06 2,41E+08 5,54E+07 1,31
RAC 18 3,43E+05 6,10E+03 6,48E+06 1,61E+06 1,55
FBAS 18 3,95E+04 7,50E+03 1,73E+06 4,04E+05 2,65
FT 25 1,14E+04 2,72E+01 2,33E+05 6,39E+04 1,44
Cloro 13 5,35E+00 1,00E+00 1,75E+03 4,82E+02 3,24
Vaso 20 5,04E+02 1,00E+00 4,04E+05 8,97E+04 2,57
Cloro 14 15,1 0,0 31,9 12,0 0,82
Vaso 14 6,2 0,0 20,2 6,0 1,01
Cloro 14 6,2 0,0 20,2 9,5 1,01
Vaso 14 4,4 0,5 16,7 4,3 1,02
Cloro residual
Livre (mg/L)
E. coli
(NMP/100mL)
CT (NMP/100mL)
Cloro residual
total (mg/L)
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