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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CÂMPUS DE JABOTICABAL
CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE
NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO DE
DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL - SP
André Dias Lopes
Zootecnista
JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL
2007
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CÂMPUS DE JABOTICABAL
CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE
NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO DE
DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL - SP
André Dias Lopes
Orientador: Prof. Dr. Mauro Dal Secco de Oliveira
Co-orientadora: Profa. Dra. Maria Imaculada Fonseca
Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias Unesp, Campus de
Jaboticabal, como parte das exigências para a
obtenção do título de Mestre em Zootecnia.
JABOTICABAL – SÂO PAULO – BRASIL
Junho de 2007
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iii
DADOS CURRICULARES DO AUTOR
ANDRÉ DIAS LOPES - nascido em Itápolis/SP, em 18 de março de 1979, filho
de Octacílio Sebastião Lopes e Elena Aparecida Dias Lopes. Graduou-se em Zootecnia
pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP, Jaboticabal, em Junho
de 2002. Foi Trainee na empresa Scot Consultoria em Bebedouro/SP até agosto de
2002, quando ingressou como professor de práticas agrícolas e zootécnicas na Escola
Agropecuária “Dr Ulisses Guimarães” no município de Itápolis/SP, onde lecionou até
2005. Em março de 2005 iniciou o curso de pós-graduação em Zootecnia pela FCAV
de Jaboticabal, obtendo o título de mestre em maio de 2007.
iv
“O bom não é ser importante, mas sim, o importante é ser bom.”
“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência,
poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.”
William Shakespeare
v
Dedico
Aos meus pais,
Octacílio Sebastião Lopes e Elena Aparecida Dias Lopes,
minhas fortalezas, meu maior apoio, meu maior exemplo.
vi
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus, pois pude presenciar várias vezes sua ação em
minha vida;
À Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias, Campus de Jaboticabal-SP;
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo
auxílio financeiro;
A CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior,
pela bolsa concedida;
Ao meu orientador, o professor Dr. Mauro Dal Secco de Oliveria pela
compreensão, incentivo, apoio e amizade.
A minha co-orientadora e amiga, professora Dra. Maria Imaculada Fonseca, por
me acalmar nos momentos difíceis e pela prontidão em ajudar.
A pesquisadora Dra. Maria Lúcia Pereira Lima, por ter participado da banca de
defesa, dando sugestões valiosíssimas no trabalho.
Ao professor Dr. Samir Issa Samara, pelo carinho, respeito e valiosas sugestões,
na defesa do projeto, na qualificação e na defesa da dissertação.
Ao professor Dr. Ricardo Andrade Reis, sou grato, pelas suas colocações na
defesa do projeto.
Ao professor Dr. José Gilberto de Souza, pelas informações, dicas e sugestões
levantadas na qualificação.
Ao professor Dr. Antônio Sérgio Ferraudo, pelas contribuições na parte
estatística de análise multivariadas.
Ao professor de administração César Loddi, pelo carinho e auxílio.
À minha família e a minha namorada Luciana pelo amor, compreensão e
infindável dedicação em todos os momentos;
Aos produtores de gado leiteiro que aceitaram participar deste trabalho, dando
contribuições valiosíssimas para esta pesquisa.
vii
Ao funcionário público de Guariba, Dema, pelo carinho, respeito e ajuda
incansável, na visita as propriedades.
Aos membros da República Boi Banguelo, pela nova acolhida, respeito e carinho.
Aos meus amigos pós-graduandos, em especial a turminha do gado leiteiro,
Juliana, Diego e Felipe, os quais nunca vou esquecer.
A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a concretização deste
trabalho, desde um sorriso amigo a uma palavra de incentivo.
Muito Obrigado
viii
SUMÁRIO
Página
RESUMO......................................................................................................................xi
SUMMARY...................................................................................................................xii
CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS ...............................................................01
1.1 A importância da captação de informações dentro do sistema agroindustrial do
leite............................................................................................................................01
1.1.1 - Oportunidades e desafios para a cadeia produtiva do leite....................01
1.1.2 - O efeito canavieiro no Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de
Jaboticabal/SP...........................................................................................................04
1.1.3 - Situação da pecuária leiteira no Escritório de Desenvolvimento Rural
(EDR) de Jaboticabal/SP..............................................................................................05
1.2 – Referencial teórico metodológico .....................................................................06
1.2.1 - O uso da análise multivariada e seu emprego na atividade agropecuária
.....................................................................................................................................07
1.2.2 - Análise de componentes principais........................................................08
1.2.3 - Análise de agrupamento (clusters).........................................................10
CAPÍTULO 2 CARACTERIZAÇÃO PRODUTIVA DA PECUÁRIA LEITEIRA NA ÁREA
DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL/SP............13
2.1 – Introdução ........................................................................................................13
2.2 - Material e Métodos............................................................................................14
2.3 - Resultados e Discussão....................................................................................14
2.4 – Conclusões.......................................................................................................18
CAPÍTULO 3 – CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DAS PROPRIEDADES DE BAIXA
ESCALA LEITEIRA OBSERVADAS NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO
DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL/SP .........................................19
ix
3.1 – Introdução ........................................................................................................19
3.2 - Material e Métodos............................................................................................22
3.3 - Resultados e Discussão ....................................................................................24
3.4 – Conclusões.......................................................................................................35
CAPÍTULO 4 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-PRODUTIVAS E DE
COMERCIALIZAÇÃO EM PEQUENAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE,
LOCALIZADAS NA ÁREA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE
JABOTICABAL/SP .......................................................................................................36
4.1 – Introdução ........................................................................................................36
4.1.1 - Necessidade de levantamento de variáveis sócio-produtivas e de
comercialização............................................................................................................36
4.1.2.1 - A instrução normativa 51/2002 e suas implicações................................38
4.1.2.2 - O mercado informal................................................................................39
4.2 - Material e Métodos............................................................................................41
4.3 - Resultados e Discussão....................................................................................43
4.3.1 – Características sócio-produtivas...............................................................43
4.3.2 – Características de comercialização..........................................................46
4.4 – Conclusões.......................................................................................................51
CAPÍTULO 5 A NECESSIDADE DE IDENTIFICAÇÃO DE PROCESSOS
“BENCHMARKS” ENTRE AS PEQUENAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE ...52
5.1 – Introdução ........................................................................................................52
5.1.1 - A importância das informações na tomada de decisões ...........................54
5.1.2 – Metodologia de “benchmarking” ...............................................................56
5.1.2.1 – Planejamento do projeto “benchmarking”..............................................56
5.1.2.2 – Análise dos dados “benchmark” ............................................................56
5.1.2.3 – Integração dos resultados .....................................................................57
5.1.2.4 – Ação ......................................................................................................57
5.1.2.5 – Maturidade ............................................................................................57
x
5.2 - Material e Métodos............................................................................................58
5.3 - Resultados e Discussão....................................................................................60
5.4 – Conclusões.......................................................................................................68
CAPÍTULO 6 – IMPLICAÇÕES....................................................................................69
REFERÊNCIAS............................................................................................................72
APÊNDICE...................................................................................................................80
xi
CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE NA ÁREA DE
ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE
JABOTICABAL – SP
RESUMO O trabalho foi desenvolvido com dados de um levantamento em
pequenas unidades produtoras de leite na área do Escritório de Desenvolvimento Rural
de Jaboticabal SP, com o uso de um questionário semi-estruturado e de observações
do pesquisador, com o objetivo de caracterizar o perfil destas propriedades analisando
a relação entre as variáveis abordadas, de acordo com aspectos técnicos, sócio-
produtivos e de comercialização, e com isto, possibilitar a identificação de
procedimentos ou práticas “benchmarking”, ou seja, tidos como referenciais. Com o
uso da análise de agrupamentos e de componentes principais, foi possível selecionar
as principais variáveis envolvidas na diferenciação dos sistemas produtivos, e agrupar
as unidades produtoras de acordo com suas similaridades, o que permitiu identificar as
que apresentaram algum ponto destoante das demais. Pelos resultados observados,
ficou evidente a possibilidade de identificação de práticas, processos e procedimentos
mais eficientes, mesmo entre propriedade de baixa escala de produção. Não houve
uma unidade produtora que se destacou na maioria dos quesitos avaliados, mas sim,
em alguns aspectos específicos, de acordo com as suas particularidades.
Palavras-Chave: agrupamento, comercialização, componentes principais, produtor de
leite
xii
CHARACTERIZATION OF MILK PRODUCERS’ UNITS IN THE AREA OF
ABRANGENCIA OF THE OFFICE OF AGRICULTURAL DEVELOPMENT OF
JABOTICABAL - SP
SUMMARY - The work was developed through a data-collecting, collected from
small milk producers units located in the area next to the Office of Agricultural
Development of Jaboticabal - SP, using of a semi-structuralized questionary and
researcher’s observation, with the objective to characterize the profile of these
properties analyzing the relation between the observable variable, in accordance with
aspects technical, social-productive and of commercialization, and to make possible the
identification of practical or procedures “benchmarking”, that is, had as reference. With
the use of the analysis of groupings and main components, it was possible to select the
main variable involved in the productive systems’ differentiation, and grouping the
producing units in accordance with its similarities and to identify the ones that had
presented some dissonant point of other. Analyzing the results, it was evident the
possibility of identification of more efficient practical, processes and procedures, even
low scale production dairy farm’s. It had not a producing unit that it has came off at the
majority of the evaluated questions, but in some specific aspects, in accordance with its
particularity.
Keywords: grouping, commercialization, main components, milk producer
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS
1.1 – A importância da captação de informações dentro do sistema agroindustrial
do leite
As informações geradas a partir de dados confiáveis e relacionadas ao sistema
produtivo leiteiro, em suas unidades de produção, aliadas as suas particularidades
regionais e às exigências comuns de mercado, fornecem um valioso instrumento de
ação direcional com base em referenciais lógicos.
Estas informações devem ser utilizadas na tomada de decisões, de acordo com a
similaridade dos grupos envolvidos e de acordo com as principais variáveis
relacionadas à produtividade e lucratividade.
As unidades produtoras de leite (UPL), sobretudo as pequenas, precisam de uma
base comparativa que respeite as suas características (vantagens e dificuldades),
assim como, arraigadas às peculiaridades da região e do momento em que está
inserida.
Portanto, torna-se de extrema importância a caracterização da região em estudo,
assim como, buscar a identificação das principais variáveis relacionadas ao sistema
produtivo adotado, facilitando a observação de grupos de acordo com suas
similaridades, podendo assim, estabelecer possíveis tendências e identificar unidades
produtoras de leite com processos mais eficientes, capazes de serem difundidos.
1.1.1 - Oportunidades e desafios para a cadeia produtiva do leite
A crescente produção de leite nos últimos anos no Brasil, como pode ser
constatado pelos dados disponíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE(2006), está associada principalmente a ganhos de produtividade nas
unidades produtoras, forçada pelo mercado mais exigente em qualidade e que imprime
2
margens de lucro por litro, muito pequenas, necessitando aumento da escala de
produção e redução de custos para viabilizar o sistema que força uma readequação
dinâmica no sistema produtivo.
Segundo dados do ANUALPEC (2006), nas últimas duas décadas a produção de
leite no Brasil cresceu vertiginosamente, atingindo a marca de 25 bilhões de litros em
2005. A produção atual atende o consumo e produz excedente para exportação,
gerando superávit na balança comercial.
A presença do leite brasileiro no mercado internacional gera novas perspectivas
na cadeia do leite, enquanto o produtor continua a almejar a recuperação da renda.
A Instrução Normativa n.º 51 (IN 51), tem sido um dos assuntos mais discutidos
entre os produtores de leite nestes últimos tempos. Mobilizando técnicos, produtores e
indústrias, a IN. 51 abrange a cadeia produtiva, desde a vaca até o laticínio, definindo
parâmetros mínimos de qualidade. São parâmetros mundialmente aceitos, por isso a
IN 51 é vista com bons olhos pela indústria exportadora de lácteos. O meio técnico
também aprova o conteúdo da instrução normativa, da mesma forma que o produtor
especializado, pois a maior parte das exigências está implantada nas fazendas. No
entanto, torna-se imprescindível, ações de auxílio aos que não conseguiram se adaptar
as novas exigências, no sentido de evitar a exclusão destes produtores, que pode
ocasionar sérios problemas sociais, como a migração para cidade, desemprego, e
inchaço do sistema urbano.
Em algumas regiões o leite ainda é pago com diferencial, somente por volume
entregue, ou seja, quanto mais o produtor entregar, mais receberá por litro, que
uma redução nos custos administrativos e de logística do comprador. Mas nas regiões
que abrigam as maiores bacias leiteiras, o pagamento por volume vem recebendo um
adicional relativo à qualidade, com bonificações a itens como teor de proteína, gordura
e extrato seco total, além de prêmios por menor contagem bacteriana total (CBT) e
menor contagem de células somáticas (CCS).
Em contrapartida, aumenta a punição aos produtores de leite de qualidade,
sendo que o produto que não atinge os parâmetros mínimos impostos pelas indústrias
3
tem seu preço reduzido em razão de descontos, o que tende a acelerar os processos
de marginalização e exclusão destes produtores.
Portanto, vale a pena ressaltar a importância de políticas públicas voltadas à
manutenção, aumento de eficiência e competitividade das unidades produtoras de leite
espalhadas por todo o território nacional, no sentido de viabilizar a produção de acordo
com as exigências do mercado (interno e externo), além de dar condições de
adequação e profissionalização dos grandes aos pequenos produtores, buscando
diminuir a marginalização e a informalidade neste setor.
O atual cenário submete o produtor a margens de lucro cada vez menores,
levando-o a ampliar a escala de produção e a modernizar-se para reduzir custos que
logo se transformarão em redução de preços. Ou seja, para sobreviver, os produtores
têm que crescer, além de reduzir o custo (ALVIM & MARTINS, 2004).
Ainda segundo estes autores, além de melhorar a eficiência produtiva, medidas
governamentais devem ser tomadas, no sentido de viabilizar o aumento da produção
nacional, como vencer as barreiras tarifárias e não-tarifárias impostas por alguns países
importadores, desestimular as importações de produtos que sofrem subsídios,
incentivar o aumento de qualidade da matéria prima, melhorar os serviços de
fiscalização, disponibilizar crédito de fácil acesso, desoneração da carga tributário dos
produtos lácteos, fortalecer o associativismo e promover o consumo de lácteos.
ALEIXO (2003) destacou que o setor leiteiro, desde sua gênese até o período
atual, nunca esteve inserido em um programa político preocupado com seu efetivo
desenvolvimento, principalmente quando se trata de implementação de políticas de
cunho social, bem como a manutenção de pequenos e médios produtores.
No que tange a pesquisas relacionadas à cadeia produtiva do leite, torna-se cada
vez mais visível a necessidade de que os conhecimentos gerados e desenvolvidos,
cheguem ao produtor, de forma clara e aplicável.
A sociedade pode e deve exigir que os organismos que geram a tecnologia
sejam mais responsáveis pelos produtos e processos que desenvolvem, por intermédio
de uma rede de suporte que até o momento inexiste (NOVO & CAMARGO, 2004).
4
Portanto é evidente a responsabilidade dos governantes, órgãos de pesquisa e
difusão de tecnologias e técnicos, na capacitação e profissionalização do produtor, de
maneira dinâmica, assim como o desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao
setor, que não sejam apenas punitivas, mas sim subsidiárias de crescimento e
rentabilidade as unidades produtoras de leite.
A cadeia produtiva do leite está altamente relacionada à geração de empregos,
renda e tributos, desde que adquire insumos e serviços no setor de produção primária,
até o momento da industrialização e comercialização (MARTINS, 2005).
Aliado a todos estes desafios e oportunidades, deve-se estabelecer regras claras
para que o Brasil possa ter um instrumento legal eficiente na defesa sanitária animal e
combata a atividade informal, como relatado por RUBENS (2005), de forma não apenas
punitiva, mas oferecendo oportunidades aos produtores mais marginalizados.
1.1.2 - O efeito canavieiro na região do escritório de desenvolvimento rural (EDR)
de Jaboticabal/SP.
As correntes transformações que vem ocorrendo no perfil das propriedades
agrícolas no estado de São Paulo, sobretudo nas regiões onde o valor das terras é
elevado, como no EDR de Jaboticabal (formado pelos municípios de Borborema,
Cândido Rodrigues, Dobrada, Fernando Prestes, Guariba, Ibitinga, Itápolis, Jaboticabal,
Monte Alto, Santa Ernestina, Taiaçú, Taiúva, Taquaritinga e Vista Alegre do Alto)
forçam um redirecionamento produtivo e tecnológico dos produtores, no sentido de
manterem-se em atividades com maior rentabilidade.
A indústria canavieira, bem mais capitalizada e organizada do que outros
setores agropecuários (ALVES, 2003), engloba dia a dia uma fatia maior das terras,
ditando as regras em que antigos produtores passam a ser simples locatários de suas
terras.
Neste contexto, fica difícil para os proprietários, muitas vezes descapitalizados e
com dificuldades na adoção de tecnologias e gestão, competirem com o “dinheiro fácil”
5
que representa o arrendamento, o que leva cada vez mais a concretização da
monocultura canavieira nestas regiões.
Evidentemente a produção de álcool e açúcar é de grande importância na
geração de divisas para o país e se consolida como matriz energética para o mercado
doméstico e mundial, mas a ilusão de ser a cana-de-açúcar a melhor alternativa para o
produtor rural, deve ser revista.
A diversificação de produtos deve ser incentivada por políticas públicas, no
sentido de viabilizar a manutenção de empregos no campo, a produção de alimentos de
primeira necessidade e alternativos, o fortalecimento da economia e distribuição de
renda dos municípios como um todo.
Para isto, é necessário que as culturas e criações exploradas, assim como a
cana-de-açúcar, também sejam geridas como uma empresa, direcionada a indústria e
ao interesse do consumidor final.
Neste sentido, os produtores devem ser estimulados na adoção de novas
tecnologias, além da capacitação gerencial de suas propriedades e atividades,
aumentando sua eficiência e rentabilidade com a atividade desenvolvida, ao invés de
simplesmente seguir a tendência.
1.1.3 - Situação da pecuária leiteira na região do Escritório de Desenvolvimento
Rural (EDR) de Jaboticabal/SP.
A regional agrícola de Jaboticabal, certamente não é considerada um grande
expoente em produção leiteira do estado. No entanto, devido à capacidade deste setor
em gerar empregos diretos e indiretos, manutenção de famílias nas propriedades rurais
e utilização de áreas de difícil mecanização, esta alternativa merece mais atenção dos
órgãos públicos no sentido de viabilizar, capacitar e inserir as unidades produtoras de
leite (UPL) no mercado formal.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística IBGE (2005)
a produção de leite no EDR de Jaboticabal (composta de 14 municípios sendo eles:
6
Borborema, Cândido Rodrigues, Dobrada, Fernando Prestes, Guariba, Ibitinga, Itápolis,
Jaboticabal, Monte Alto, Santa Ernestina,Taiaçú, Taiúva, Taquaritinga,Vista Alegre do
Alto) foi de 17.814 mil litros ano, com um rebanho de 14.420 vacas ordenhadas, o que
representou uma produção média de 1.235 litros por vaca ordenhada no ano, que
mesmo baixa, estava acima da média nacional (1.190,97 litros/vaca ordenhada/ano) e
do estado de São Paulo (1.065,52 litros/vaca ordenhada/ano), neste período.
A tradição familiar, o uso de áreas impróprias para mecanização, à manutenção
do caseiro na propriedade, e até mesmo, como principal fonte de renda, são fatores que
contribuem para a continuidade da atividade leiteira nas propriedades.
1.2 – Referencial teórico metodológico
A caracterização da região em estudo, assim como a formação de grupos de
unidades produtoras de leite, de acordo com suas similaridades e a obtenção das
principais variáveis envolvidas dentre as observadas, como também a possível relação
entre estas variáveis, podem ser obtidos com o uso da análise multivariada de dados,
pelas técnicas de análise de agrupamento (cluster) e de componentes principais,
utilizando o programa Statística versão 6.0 (STATSOFT, 2001).
1.2.1 - O uso da análise multivariada e seu emprego na atividade agropecuária
De um modo geral a análise multivariada refere-se a todos os métodos
estatísticos que simultaneamente analisam múltiplas medidas (variáveis) sobre cada
indivíduo ou objeto sob investigação. As variáveis devem ser aleatórias e inter-
relacionadas de maneira que seus diferentes efeitos não podem ser significativamente
interpretados de forma separada. Os métodos multivariados tornam possível levantar
questões específicas e precisas de considerável complexidade em um conjunto de
dados transformando informação m-dimensional em tri ou bidimensional, pois a
capacidade humana de identificação por reconhecimento visual é possível até a
7
terceira dimensão. Na posse de uma enorme quantidade de informações a questão
principal que surge é naturalmente como interpreta-las e, obedecendo à natureza
multivaridada, como extrair informação relevante.
As ferramentas constituídas pelas técnicas de análise multivariada de dados,
sobretudo as análises, fatorial em componentes principais e por correspondências
múltiplas, combinadas a análise de agrupamento (cluster), mostram, conforme afirma
CARRER (2000), grande potencial para elucidação de problemas semelhantes aos
investigados neste trabalho, tais como: caracterizar uma região de acordo com as
similaridades produtivas da pecuária leiteira de seus municípios, bem como as
diferenciações que afetam o desempenho das unidades produtoras de leite.
Segundo GOMES & BARI (1996), trabalhando também com produtores de leite,
a classificação dos mesmos, via separação por grupos através de análise multivariada,
é uma ferramenta importante no estudo da tipificação de produtores de leite.
SCHNEIDER & WAQUIL (2001) ao analisarem uma caracterização dos
municípios gaúchos segundo os indicadores socioeconômicos, utilizando-se dados do
censo agropecuário de 1995-1996 e da contagem populacional de 1996, conseguiram
através das técnicas em questão, caracterizar cinco diferentes grupos homogêneos
quanto as condições socioeconômicas dos proprietários rurais no estado.
KAGEIAMA & SILVEIRA (1997) analisaram o processo de modernização da
agricultura brasileira, baseado em variáveis que representavam aspectos tecnológicos,
organizacionais e de produtividade. O momento de análise foi centrado em dados
censitários de 1985, utilizando-se a análise de componentes principais. Neste processo
quinze variáveis foram reduzidas a três fatores, representando diferentes níveis de
desenvolvimento, que foram explicados de maneira mais sistêmica e simples, com
perda de apenas 9,39% da variabilidade total.
ALEIXO & SOUZA (2001), ao analisarem a cooperativa COONAI em Ribeirão
Preto, num universo de pequenos agricultores, verificaram a formação de cinco grupos
homogêneos de produtores, onde encontraram uma variabilidade muito grande de
características entre os mesmos.
8
Neste sentido, observa-se por enquanto que as ferramentas obtidas pelas
técnicas de análise multivariada de dados, neste caso a análise fatorial em
componentes principais, combinada a análise de agrupamento (cluster), mostram-se
com adequado potencial de uso para a elucidação dos problemas, relacionados a um
grande número de variáveis.
1.2.2 – Análise de componentes principais
Esta técnica consiste em identificar um número relativamente pequeno de fatores
que podem ser usados para representar relações entre um conjunto de variáveis inter-
relacionadas. Segundo GOMES & BARI (1996), a pressuposição básica da análise
fatorial é de que existem certos fatores causais gerais que originam as correlações
observadas entre as variáveis em estudo. Dado que muitas relações entre as variáveis
são, na maior parte, devido aos mesmos fatores causais gerais, o número de fatores
será quase sempre menor que o número de variáveis.
A técnica busca reduzir o espaço de variáveis criando eixos ortogonais que são
combinações lineares das variáveis originais denominados componentes principais. É
medido o poder de cada variável no seu respectivo componente, o que permite diminuir
a estrutura de variáveis originais numa nova estrutura menor que a inicial. As unidades
amostrais (ou objetos) são distribuídos em gráficos bidimensionais ou tridimensionais
onde os eixos ortogonais são os componentes principais.
Segundo HOFFMANN (1992), a análise em componentes principais (ACP) é uma
técnica estatística estreitamente associada com a análise fatorial, sendo que, em um
conjunto de variáveis, os componentes principais são combinações lineares dessas
variáveis construídas com o objetivo de explicar o máximo da variância das variáveis
originais.
Na análise de um problema é comum passar a utilizar apenas os primeiros
componentes principais, aos quais corresponde, geralmente, grande parte da variância
das variáveis. É claro que alguma informação é perdida quando substituímos os fatores
9
com um número relativamente grande de variáveis, com problemas de
multicolineariedade, por um número relativamente pequeno de variáveis (componentes
principais) não correlacionadas (HOFFMANN, 1992).
Portanto, a análise de componentes principais (ACP) é executada com o objetivo
de simplificar a descrição de um conjunto de variáveis interrelacionadas. Tanto na
análise de agrupamentos como na análise de componentes principais as variáveis não
são discriminadas como independentes ou dependentes como na análise de regressão.
Todas são tratadas como variáveis.
A técnica pode ser entendida como um método de transformação das variáveis
originais em novas variáveis não correlacionadas. Cada componente principal é uma
combinação linear das variáveis originais. Uma medida da quantidade de informação
explicada por cada componente principal é a sua variância. Por esta razão os
componentes principais são ordenados em ordem decrescente da sua variância, ou
seja, o componente principal que contém mais informação é o primeiro, sendo o último
àquele com menos informação.
Admitindo-se que L observações para n variáveis, no espaço L-dimensional
das observações as n variáveis correspondem a n vetores. Um grupo de variáveis,
fortemente, correlacionadas entre si corresponde a um feixe de vetores. Os feixes são
detectados com a utilização da análise em componentes principais. Se houver um
número substancial de variáveis formando um desses feixes, deverá ser obtido um fator
altamente correlacionado com as variáveis que formam o feixe (HOFFMANN, 1992).
A partir do conjunto inicial de variáveis utilizado em cada análise, pode ser obtido
um conjunto de novas variáveis (fatores), proveniente das combinações lineares das
variáveis originais. Essas combinações lineares constituem os novos vetores
associados aos eixos fatoriais. Com dois eixos fatoriais obtém-se um plano, onde
podem ser lidas as projeções dos pontos. Assim, com o uso dos fatores (eixos
fatoriais), pode-se interpretar o problema em estudo, de uma forma mais simples,
comparando-se com o número de variáveis originais (KAGEYAMA & SILVEIRA, 1997).
Os componentes principais são não correlacionados o que é interessante, pois
um pesquisador estando com um problema envolvendo variáveis originais de complexo
10
interrelacionamento, pode analisar um conjunto menor de variáveis não correlacionadas
que são os componentes principais. Num conjunto grande de variáveis, nem todas tem
quantidade de informação relevante, podendo através da ACP selecionar aquelas que
mais possuem informações relevantes.
A análise de componentes principais é considerada uma técnica estatística
exploratória, utilizada na tentativa de compreender o interrelacionamento entre as
variáveis originais.
1.2.3 - Análise de agrupamento (clusters)
A análise de agrupamentos é uma técnica que permite classificar (indivíduos ou
objetos) em subgrupos excludentes, em que se pretende de uma forma geral maximizar
a homogeneidade de objetos ou indivíduos dentro de grupos e maximizar a
heterogeneidade entre os grupos. A representação dos grupos é feita num gráfico com
uma estrutura de árvore denominado dendrograma (SNEATH & SOKAL, 1973).
Um conceito fundamental a ser observado na aplicação das técnicas de
agrupamento é a escolha adequada de um critério de medida que defina a distância
entre dois objetos ou indivíduos ou que identifique quanto eles são similares. Esta
medida normalmente é chamada de coeficiente de parecença (CARRER, 2000).
Do ponto de vista técnico, esse coeficiente poderá ser dividido em duas
categorias: medidas de similaridade e medidas de dissimilaridade. Na primeira, quanto
maiores às distâncias observadas, mais similares serão os indivíduos, ocorrendo o
contrário com a segunda medida, ou seja, quanto maiores as medidas observadas,
menos similares serão os indivíduos. O coeficiente de correlação é um exemplo da
primeira, e distância euclidiana, da segunda (BUSSAB et al., 1990).
Conhecendo-se a árvore de classificação é fácil deduzir participações em um
número maior ou menor de classes. Assim, obtendo-se os grupos de indivíduos
(empresas agrícolas), será possível verificar os parâmetros que evidenciam as
11
características homogêneas das empresas dentro de um grupo e também as principais
diferenças entre grupos.
Para tal análise, utilizam-se como dados básicos os valores das coordenadas
dos indivíduos nos eixos fatoriais (JUDEZ, 1988). Com a utilização da técnica
hierárquica, os indivíduos são classificados obtendo-se uma “árvore” de classificação
(dendrograma), através de uma agregação de indivíduos e posteriormente de grupos de
indivíduos.
Após a obtenção dos resultados gráficos, a análise da “árvore” contendo as
observações servirá de base para a definição do número de grupos a serem retidos. Ao
se escolher um nível elevado de “corte”, obtém-se um número de grupos pequeno,
ocorrendo o inverso se o nível de corte for mais baixo.
Segundo BUSSAB et al (1990), o nível de corte do dendrograma deverá ser
realizado analisando-o de forma a buscar alterações significativas dos níveis de
similaridade entre as sucessivas fusões obtidas.
Portanto, o exame da árvore induz ao privilégio de certas partições julgadas boas
e à rejeição de outras. Uma regra sugerida, para se obter boas partições é “cortar os
ramos mais longos” (VOLLE, 1993).
Conhecendo-se a árvore de classificação é fácil deduzir participações em um
número maior ou menor de classes (BOUROCHE & SAPORTA, 1981).
De acordo com ALEIXO (2000), obtendo-se os grupos de indivíduos (propriedade
rural), será possível verificar os parâmetros que evidenciam as características
homogêneas dentro de um grupo e também as principais diferenças entre grupos.
Sendo assim, os cortes para as análises são realizados com o objetivo de se
obter um número de grupos relativamente homogêneos, diferenciando-se uns dos
outros.
O método de comparação de grupo permite planejar um sistema de produção
melhor do que o existente, não chegando, porém, a permitir que se encontre a
combinação ótima para o conjunto de fatores disponíveis. Este método é aplicável, por
exemplo, a regiões relativamente limitadas e tem por finalidade generalizar as técnicas
12
de cultivo e administração usadas nas propriedades que, nessa região, obtém os
melhores resultados econômicos (HOFFMANN et al, 1981).
Segundo ZIBORDI (1998), o método da análise de grupo apresenta uma série de
vantagens, tais como:
Trata-se de um método simples e pouco oneroso;
É um método compreensível para o agricultor, o que constitui um fator muito
importante de aceitação, pois agrega os produtores por similaridade de manejo e
condição produtiva;
Permite um bom conhecimento da região agrícola onde é praticado;
Sugere novas orientações técnicas realistas e eficazes, que os valores assumidos
pelos “elementos chaves” (“normas chaves”) provêm de uma experiência concreta.
Portanto, neste trabalho o objetivo central foi a caracterização da região em
estudo e da relação entre variáveis no perfil de pequenas unidades produtoras de leite,
selecionando variáveis com o auxílio da análise de componentes principais e agrupando
as propriedades de acordo com suas similaridades, com a técnica da análise de
agrupamentos, facilitando a observação da relação entre variáveis, assim como
possibilitando identificar possíveis procedimentos ou práticas de destaque.
13
CAPÍTULO 2 CARACTERIZAÇÃO PRODUTIVA DA PECUÁRIA LEITEIRA NA
ÁREA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL/SP
2.1 - Introdução
O escritório de desenvolvimento rural (EDR) de Jaboticabal/SP é formado por 14
municípios, sendo eles: Borborema, Cândido Rodrigues, Dobrada, Fernando Prestes,
Guariba, Ibitinga, Itápolis, Jaboticabal, Monte Alto, Santa Ernestina, Taiaçú, Taiúva,
Taquaritinga, Vista Alegre do Alto, totalizando uma área de 5.016 Km
2
.
Esta região é caracterizada pela sua expressiva produção agrícola,
principalmente ligada à citricultura e cana-de-açúcar, sendo que esta última vem a cada
ano ganhando mais espaço, como pode ser observado pelos dados disponíveis no site
da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI (2006).
No entanto, muitos produtores desta região continuam ativos na pecuária leiteira,
seja por motivos de tradição familiar, ocupação de mão de obra disponível na
propriedade (caseiros), uso de áreas desfavoráveis para outras culturas, alternativa
para diversificação na produção e complementação da renda, como pode ser
constatado neste trabalho. Sendo assim, a pecuária leiteira apresenta importância, não
apenas do ponto de vista econômico, mas principalmente social, ajudando na
manutenção de empregos no campo e na produção de alimentos.
Segundo FONSECA & CARVALHO (1997), trabalhando com produtores dos
municípios de Jaboticabal, Taiúva e Monte Alto, constatou-se que as tecnologias não
estão sendo adotadas de forma eficiente, levando a crer que não são condizentes com
a estrutura socioeconômica desses produtores.
Neste sentido, ações de desenvolvimento e profissionalização com o uso de
tecnologias apropriadas e acessíveis aos produtores, devem ser feitas, com uma boa
compreensão das características regionais.
O objetivo do presente trabalho é fazer uma primeira abordagem de variáveis
relacionadas à produtividade e concentração leiteira nos municípios pertencentes à
14
região, auxiliará no agrupamento destes, de acordo com suas similaridades,
apresentando uma visão geral da distribuição e classificação o que servirá de base para
futuros estudos.
2.2 - Material e Métodos:
Os dados para análise foram coletados do sistema digital do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE (2005), produção da pecuária municipal e da
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral CATI (2006), pelas informações do
Lupa (levantamento das unidades de produção agropecuárias), sendo então obtidas as
seguintes variáveis: número de vacas ordenhadas e produção de leite em mil litros por
ano, e a partir destes valores foi também obtido o de produção por vaca ordenhada ao
ano (litros/vaca ordenhada/ano), área de pasto total (soma das áreas ocupadas com
capim braquiária, napier, colonião, gramas, jaraguá, e outras gramíneas e leguminosas
usadas em pastagens, não exclusivamente com bovinos), os de concentração de vacas
ordenhadas por hectare de pasto total (vacas ordenhadas/hectare) e produção de leite
por hectare de pasto total (litros de leite/hectare).
Com estes dados foi realizada a análise de agrupamento (conforme o item 1.2.3
da pág. 10) dos municípios pertencentes à EDR de Jaboticabal, classificando estes em
grupos mais homogêneos, representados num gráfico com estrutura de árvore
denominado dendrograma (SNEATH & SOKAL, 1973).
2.3 - Resultados e Discussão
Os dados utilizados neste trabalho podem ser observados na Tabela 1, onde
estão representados os 14 municípios pertencentes ao escritório de desenvolvimento
rural de Jaboticabal/SP e os valores das variáveis abordadas.
.
15
Tabela 1 Produção e concentração leiteira das propriedades localizadas na região do
Escritório de Desenvolvimento Rural de Jaboticabal/SP
MUNICÍPIO
Vacas
Ordenhadas
Produção de
Leite (1000 L)
L/VO/ANO
área
pasto
(ha)
Vacas
Ord/ha
L/ha
BORBOREMA 2.520 2.271 901 20.791,4 0,12 109
CÂNDIDO
RODRIGUES
200
210 1.050 910,9 0,22 231
DOBRADA 70 80 1.143 321,2 0,22 249
FERNANDO
PRESTES
300
400 1.333 2.623,4 0,11 152
GUARIBA 110 118 1.073 667,1 0,16 177
IBITINGA 4.480 3.900 871 27.229,3 0,16 143
ITÁPOLIS 1.550 1.398 902 27.498,8 0,06 51
JABOTICABAL 1.500 2.180 1.453 3.292,0 0,46 662
MONTE ALTO 1.500 2.450 1.633 5.954,7 0,25 411
SANTA
ERNESTINA
90
90 1.000 271,8 0,33 331
TAIAÇU 810 2.661 3.285 1.306,8 0,62 2.036
TAIÚVA 590 646 1.095 619,4 0,95 1.043
TAQUARITINGA 600 1.300 2.167 4.572,0 0,13 284
VISTA ALEGRE
DO ALTO
100
110 1.100 628,2 0,16 175
EDR -
Jaboticabal 14.420
17.814 1.235 96.687,0 0,15 184
Fonte: IBGE, Produção da pecuária municipal 2005 e CATI, Levantamento das
unidades de produção agropecuária (2006) (adaptado).
Sendo: L/VO/ano = litros produzidos por vaca ordenhada no ano; Área de pasto = (soma das espécies
braquiária, napier, colonião, gramas, jaraguá, outras gramíneas e outras leguminosas usadas em
pastagem); Vacas Ord/ha = número de vacas ordenhadas por hectare de pasto; L/ha = litros produzidos
por hectare de pasto no ano.
16
SANTA ERNESTINA
FERNANDO PRESTES
VISTA ALEGRE DO ALTO
GUARIBA
DOBRADA
CÂNDIDO RODRIGUES
TAIÚVA
TAIAÇU
TAQUARITINGA
MONTE ALTO
JABOTICABAL
IBITINGA
ITÁPOLIS
BORBOREMA
0
2
4
6
8
10
12
Linkage Distance
Devido à dificuldade de visualizar as similaridades dos municípios em relação ao
total das variáveis, de forma a facilitar a classificação em grupos, foi realizado a análise
de agrupamentos. Por esta análise, foi possível visualizar a formação de quatro grupos
(considerando o corte no ponto cinco), através do dendrograma, construído pelo
método de Ward (WARD, 1963), demonstrado na Figura 1.
Figura 1: Agrupamento dos municípios localizados no escritório de desenvolvimento
rural de Jaboticabal/SP de acordo com as variáveis abordadas na Tabela 1.
Apontados os grupos, a construção de uma tabela com as suas respectivas
médias, facilita a visualização de suas características frente as variáveis abordadas,
sendo observados na Tabela 2.
G1
G2
G3
G4
17
Tabela 2 – Grupos formados e seus respectivos valores nas variáveis observadas
Grupos
Vacas
Ordenhadas
Produção
de Leite
(1000 L)
L/VO/ANO
área
pasto (ha)
Vacas
Ord/ha
L/ha
G1 870 1.008 1.158,62 5.422,6 0,16 185,89
G2 1.400 3.307 2.362,14 1.926,2 0,73 1.716,85
G3 3.600 5.930 1.647,22 13.818,7 0,26 429,13
G4 8.550 7.569 885,26 75.519,5 0,11 100,22
Sendo: L/VO/ano = litros produzidos no ano por vaca ordenhada; Área de pasto = (soma das espécies
braquiária, napier, colonião, gramas, jaraguá, outras gramíneas e outras leguminosas usadas em
pastagem); Vacas Ord/ha = vacas ordenhadas por hectare de pasto, L/ha = litros produzidos no ano por
hectare de pasto.
O grupo 1 formado por seis municípios: Santa Ernestina, Fernando Prestes, Vista
Alegre do Alto, Guariba, Dobrada e Cândido Rodrigues, foi o que apresentou menor
relevância nas características leiteiras, ou seja, municípios onde a atividade leiteira
demonstrou tendência a pequeno impacto econômico e social, pelo pequeno número de
vacas ordenhadas (870 divididas entre os seis municípios) e baixa produção de leite
(1.008 mil litros/ 6 municípios), o que resultou em uma pequena produção de leite em
relação à área total de pasto (185,89 litros/ha), o que indica que mesmo nas áreas de
pasto, as criações desenvolvidas, provavelmente não estão relacionadas a atividade
leiteira.
O grupo 2 foi formado por dois municípios, sendo eles: Taiúva e Taiaçú, que
apresentaram maior concentração de vacas ordenhadas e de produção de leite por
hectare de pasto total (0,76 e 1.716,85 respectivamente), além da maior produção por
vaca ordenhada no ano (2.632,14 litros) em relação aos demais grupos. Este fato
indicou que a pecuária leiteira apresentou maior importância econômica e social nestes
municípios, além de possivelmente possuir sistemas de produção mais intensivos.
O grupo 3 formado pelos municípios de Taquaritinga, Monte Alto e Jaboticabal,
apresenta características intermediárias entre os grupos 2 e 4.
O grupo 4 foi formado por três municípios: Ibitinga, Itápolis e Borborema, ambos
com grandes áreas de pastagens (75.519,5 ha), porém, com o menor valor de produção
de leite por vaca ordenhada no ano (885,26 litros), de vacas ordenhas por hectare de
18
pasto total (0,11 VO/ha) e de produção de leite por hectare de pasto total (100,22
litros/ha). Estes dados, indicam a baixa eficiência produtiva dos rebanhos leiteiros,
além de outras atividades de criação nas áreas de pasto, que não a leiteira.
A análise de agrupamentos, representada pelo dendrograma (Figura 1), foi
fundamental na determinação destes grupos e na facilidade para visualizá-los, sendo
então mais fácil discutir a tabela 1, referente aos dados e variáveis utilizadas.
2.4 - Conclusões
Pela caracterização da pecuária leiteira na área de abrangência do Escritório de
Desenvolvimento Rural de Jaboticabal, foi possível observar a formação de quatro
grupos de municípios.
O grupo 1(Santa Ernestina, Fernando Prestes, Vista Alegre do Alto, Guariba,
Dobrada e Cândido Rodrigues) foi formado por municípios de baixa aptidão leiteira.
O grupo 2 (Taiúva e Taiaçú) se destacou, com valores que podem indicar
sistemas mais intensivos de produção, assim como utilização de tecnologias mais
eficientes.
O grupo 3 (Taquaritinga, Monte Alto e Jaboticabal) apresentou características
intermediárias entre o 2 e o 4.
O grupo 4 (Ibitinga, Itápolis e Borborema) apresentou as maiores áreas de
pastagem e rebanhos leiteiros, porém pouco eficientes ou subutilizadas para a
produção de leite.
Os municípios pertencentes ao grupo 2 demonstraram oferecer vantagens para
os laticínios, pela facilidade de captação de leite em função da maior concentração de
vacas ordenhadas e de produção por hectare.
19
CAPÍTULO 3 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DAS PROPRIEDADES DE BAIXA
ESCALA LEITEIRA OBSERVADAS NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO
DE DESENVOLVIMENTO RURAL (EDR) DE JABOTICABAL-SP.
3.1 - Introdução:
A análise do sistema produtivo das unidades produtoras de leite (UPL) é de vital
importância para comparar e relacionar as diversas propriedades, assim como, suas
interações com outros fatores envolvidos na atividade.
São inúmeras as variáveis que podem influenciar no sistema produtivo,
ocasionando conseqüências positivas ou negativas.
Sendo assim, a diminuição do número de variáveis a serem analisadas, sem
diminuir muito o grau de esclarecimento das ocorrências, torna-se de fundamental
importância na facilitação de tomada de decisões, assim como no entendimento de
suas correlações.
Alguns parâmetros quantitativos e qualitativos, referentes à propriedade, a
produção e a utilização da mão de obra, podem gerar informações importantes no
direcionamento de ações.
Portanto, a obtenção de dados com relativa facilidade e rapidez, pode auxiliar
técnicos e produtores no planejamento e estabelecimento de prioridades, focando nas
principais restrições do sistema.
Esta agilidade é fator de grande interesse, sobretudo quando se trabalha com
pequenas unidades produtoras de leite, onde geralmente os dados são escassos e a
resistência a mudanças é fortemente influenciada pelo tradicionalismo e receio.
Alguns dados relacionados às características da propriedade e do modo de agir
dos proprietários e funcionários, assim como dados de produtividade, auxiliam na
identificação de grupos, servindo como uma análise exploratória, o que indica possíveis
maneiras de atuação, mais eficazes e disponíveis para os grupos em questão.
20
Vários aspectos técnicos devem ser considerados na caracterização do sistema
produtivo, dentre estes, apresentam grande importância e relativa facilidade de
visualização os referentes à produtividade, alimentação, sazonalidade, escala de
produção, sanidade e qualidade, padrão genético e assistência técnica. Além destes, o
gerenciamento e o controle financeiro (custos), são de primordial importância. No
entanto, muitas vezes, estes dados existem precariamente e raramente são
disponibilizados pelos produtores.
No caso da produtividade, por exemplo, este fator demonstra o efeito de vários
outros correlacionados e seus baixos índices demonstram problemas de ineficiência
que precisam ser solucionados. Segundo NOVAES (1997), o baixo potencial genético
dos animais, aliado à carência da dieta alimentar e ao inadequado controle sanitário do
rebanho, tem resultado em uma produção bastante pulverizada no país.
FONSECA (1992) considera que o baixo nível de produtividade deve-se,
principalmente, à pequena utilização das tecnologias disponíveis e que, para maior
desenvolvimento da pecuária leiteira, é necessário investir em transferência, adaptação
e geração contínua de tecnologia, com o objetivo de oferecer alternativas para
aumentar a eficiência da atividade.
Segundo ALEIXO (2003), as condições que envolvem os produtores
caracterizam agricultores que subutilizam a estrutura existente. Tem a informação
sobre a tecnologia, mas não tem acesso à efetiva formação técnica, para posterior
adoção, caso haja real necessidade.
Um dos fatores de extrema importância a ser considerado é a alimentação, ponto
primordial na criação, devido ao seu grande impacto na produção e no custo.
De acordo com SAMPAIO (2004), a redução dos custos com alimentação, sem
acarretar sub ou supernutrição dos animais, está na base do sucesso econômico da
exploração leiteira. Isto porque, a alimentação do rebanho representa
aproximadamente 50% dos custos de produção (ALVIM et al., 2001). Portanto, este
é um dos fatores primordiais que deve ser altamente controlado, tanto em relação a
custos, como em atender corretamente as exigências de cada animal de acordo com a
sua categoria e produção.
21
Outra variável problemática no sistema produtivo se refere à sazonalidade de
produção, que trás incômodos tanto aos produtores como às indústrias de
beneficiamento.
As variações climáticas (secas/chuvas) ao longo do ano vão influenciar a
disponibilidade de alimentação para o rebanho, principalmente em propriedades que
não possuem um adequado planejamento, refletindo em oscilações na produção. A
sazonalidade, que caracteriza a produção de leite no estado e no país, acaba
prejudicando tanto o produtor rural quanto a indústria (MENEGAZ, 2005).
A escala de produção também influencia na manutenção ou encerramento da
atividade leiteira de muitas propriedades, sendo um dos maiores problemas das
pequenas UPL.
De acordo com MENEGAZ (2005) a baixa escala de produção das unidades
produtoras impede a redução dos custos de produção, ocasionando a obtenção de
baixas margens de lucro e, como conseqüência, limitando a capacidade de
investimento no setor. Além deste fator, a baixa escala inviabiliza em muitos casos
algumas linhas do leite, pela grande distância para captação em relação ao baixo
volume, sendo então, estes produtores desprezados por muitas indústrias e laticínios.
No tocante a sanidade e qualidade, a falta de condições higiênicas durante o
processo produtivo pode ocasionar prejuízos tanto à sanidade do rebanho como à
qualidade do leite (KRUG, 2001). Para CASTRO & PADULA (1998), os problemas
relacionados com a qualidade do leite têm origem na unidade produtora, seja devido à
precariedade das instalações e dos equipamentos utilizados na ordenha e no
armazenamento da matéria-prima, seja aos descuidos com a higiene.
Adequando-se a todos os demais fatores, o padrão genético dos animais é ponto
crucial na eficiência do sistema produtivo leiteiro.
Considerando a diversidade de ecossistemas que existe no Brasil, é necessário o
desenvolvimento de programas de melhoramento genético, os quais devem priorizar a
oferta de genótipos que apresentem melhor adaptabilidade às diferentes condições
agroclimáticas do país (ALVIM et al., 2001). O produtor deve definir seu objetivo na
22
produção de leite, sem ficar arraigado a sistemas tradicionalistas de criação de bezerros
e com animais de aptidão desfavorável a produção preconizada.
Como o sistema produtivo é dinâmico e competitivo, a manutenção do negócio
leite, necessita de constante aprimoramento, sendo que, a assistência técnica de
qualidade é essencial para o sucesso do empreendimento.
ALEIXO (2003) relatou que o conhecimento e o auxílio técnico é o maior
problema dentro da pecuária leiteira no Brasil, nesse sentido, o capital, do ponto de
vista de investimento, não se faz preponderante no sentido inicial de melhoria dentro do
processo produtivo.
Para dar suporte técnico ao sistema produtivo é essencial a atuação de
profissionais preparados e capacitados, que tenham facilidade na transferência de
novas técnicas.
De acordo com FARIA (2001) é fundamental que o trabalho realizado pela
assistência técnica passe a contemplar múltiplas funções como, por exemplo, aquelas
referentes ao planejamento, à organização, a execução e ao controle das atividades
desempenhadas pelo setor produtivo, necessitando uma maior atenção a formação da
mão de obra envolvida.
O objetivo foi conhecer as variáveis relacionadas a estes fatores, buscando
compreender o perfil das unidades produtoras de leite, o que possibilita a adoção das
tecnologias necessárias de acordo com o tipo de sistema adotado pelo proprietário.
3.2 - Material e Métodos
No presente estudo, foram coletados dados de 16 pequenas unidades
produtoras de leite (UPL) identificadas de P1 a P16 , sendo 6 no município de Itápolis, 7
de Ibitinga, 1 de Taquaritinga e 2 de Guariba, sendo que todos estão localizados na
área do Escritório de Desenvolvimento Rural de Jaboticabal/SP. Neste trabalho não foi
possível estabelecer a proporcionalidade de UPL observadas em relação ao total da
região com as mesmas características, em virtude da inexistência de tal referencial nos
23
órgãos competentes, como as casas da agricultura e sindicatos. Além deste fator, como
se tratam de pequenas UPL que na maioria das vezes atuam sem vínculo com
cooperativas ou empresas, o cadastro e acesso a estas propriedades torna-se muito
difícil, o que resultou no baixo número de UPL observadas.
Esta região caracteriza-se pelo predomínio canavieiro e de citricultura,
onde a produção leiteira, geralmente, não é a atividade principal, mas tem importância
na complementação da renda familiar e na manutenção de empregos fixos na zona
rural, como pode ser observado pelos dados de explorações vegetais e animais
disponibilizados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI (2006).
As UPL foram selecionadas de acordo com a facilidade de contato com os
produtores e a aceitação dos mesmos, além de que, todas apresentaram uma produção
de leite/dia inferior a 300 litros, estando esta atividade, entre as três principais fontes de
renda da propriedade.
Este trabalho não teve a pretensão de retratar o que acontece com o
comportamento das propriedades leiteiras da região em estudo, mas sim, das variáveis
dentro do grupo envolvido.
Os dados referentes às UPL foram obtidos por meio de observação e
questionários semi-estruturados aplicados na propriedade, entre ultimo semestre de
2005 e no ano de 2006, sempre com o mesmo pesquisador, buscando reduzir
problemas de interpretação nos itens questionados.
As variáveis envolvidas neste estudo foram:
V1 - Área total
V2 - Área utilizada para pecuária leiteira
V3 - Porcentagem da área total da propriedade utilizada na pecuária leiteira
V4 - Colocação da atividade leiteira em relação a sua importância na propriedade.
V5 - Distância (Km) da propriedade até a cidade
V6 - Sazonalidade de produção (diferença % entre os meses de chuvas e de seca).
V7 - Escala de produção (litros por dia, mais comumente produzido ao longo do ano)
V8 - Produtividade (litros por hectare ao ano)
V9 - Produção (total de litros produzidos ao ano / número total de vacas do rebanho)
24
V10 - Porcentagem de vacas em lactação
V11 - Vacas em lactação por hectare
V12 - Horas de mão de obra trabalhada por dia na atividade leiteira
V13 - Número de pessoas envolvidas na atividade leiteira
V14 - Eficiência humana (litros de leite produzidos ao dia / número de horas trabalhadas
na atividade leiteira).
V15 - Tipo de mão de obra (Familiar ou Contratada)
V16 - Realização de adubação de pastagem
V17 - Critério para adubar a pastagem
V18 - Critério para fornecer ração
V19 - Vacinações realizadas (aftosa e brucelose)
V20 - Cuidados na aquisição de animais
V21 - Raça leiteira predominante
V22 - Tipo de assistência técnica mais utilizada
Após a coleta destes dados, devido ao grande número de variáveis, foi realizada
a análise de componentes principais, para reduzir o número de variáveis, a um conjunto
menor de fatores independentes, de tal forma, que esses fatores pudessem explicar, de
forma simples e reduzida as variáveis originais, sendo então, novamente aplicado a
análise de componentes principais e de agrupamentos (conforme itens 1.2.2 e 1.2.3 das
páginas 08 e 10, respectivamente) considerando apenas as variáveis de maior
importância na classificação de grupos.
3.3 - Resultados e Discussão
Dentre as 16 pequenas UPL estudadas na regional agrícola de Jaboticabal (6 em
Itápolis, 7 em Ibitinga, 1 em Taquaritinga, 2 em Guariba), pode-se observar uma grande
variação no tamanho total das propriedades, sendo a menor e a maior de 7,26 e 685,66
25
hectares respectivamente, indicando que baixas produções não são exclusivas de
pequenas propriedades.
Evidenciou-se que quanto maior a área total da propriedade, menor a
porcentagem da área utilizada na pecuária leiteira, assim como, menor a importância
desta, na renda total da propriedade.
Todas as pequenas UPL apresentaram alta variação sazonal, com queda na
produção nos meses de seca (média = -36,58%; ± -10 % a -75%).
As pequenas unidades produtoras de leite apresentaram escala média de
produção de 104,69 litros/dia (± 35 a 220).
Estes valores que indicam uma grande variação na produção ao longo do ano, e
a baixa produção por dia, caracterizam as propriedades de baixa escala leiteira, o que
resulta em um dos maiores problemas enfrentados para se manterem no mercado.
No entanto, BRESSAN (1998), destaca que se as unidades de pequena
produção se unirem, estruturando cooperativas de crédito ou organizarem-se em torno
de cooperativas de produção com nichos próprios de mercado, conseguirão obter uma
economia de escala, principalmente em função da redução de custos na fazenda, do
que relacionada com o volume de leite produzido, conseguindo mais leite por hectare
de terra utilizada e mais leite por homem ocupado na produção.
A produtividade leiteira em média foi de 2.746,87 litros/ha/ano (± 780 a 7.280) e a
produção anual em litros de leite em relação ao total de vacas do rebanho foi de
1.154,02 606 a 1.820), valores que indicam a baixíssima produtividade do rebanho,
que pode ser visualizado se considerarmos uma situação hipotética, porém
perfeitamente viável, com uma vaca de produção média de 10 litros diários e lactação
de 10 meses, o que resultaria a produção de 3.000 litros de leite por lactação, ainda, se
considerarmos a presença de 2 a 3 vacas em lactação por hectare, como foi apontado
como ideal para as condições do estado de São Paulo por Gomes (1997), obteremos a
produtividade de 6.000 a 9.000 litros de leite por hectare ao ano.
Segundo BENEDETI (2002), a característica mais marcante da maioria dos
produtores e ou extratores de leite do Brasil é a baixa produtividade dos fatores de
produção, como a baixa produtividade da terra (inferior a 700 Kg de leite/ha/ano), da
26
mão de obra (inferior a 100 Kg de leite/dia/homem) de do capital (inferior a 1.000 Kg de
leite/vaca/lactação).
No tocante a porcentagem de vacas em lactação, em média apenas 58,4%
26,5 a 100) das vacas estava em produção, sendo que a propriedade P8, com 100%
das vacas em lactação apresentou estes valores em virtude de ter adquirido a poucos
meses todos os animais em lactação. Este dado é alarmante, se considerarmos que o
ideal é em torno de 83%, o que significa intervalo entre partos de 12 meses e duração
das lactações de 10 meses, como destaca CAMPOS & LIZIEIRE (1993). A baixa
porcentagem de vacas em lactação pode estar relacionada a diversos fatores, entre
eles pode-se destacar a baixa persistência de lactação de raças menos especializadas
para a produção de leite (predomínio de raças zebuínas), problemas reprodutivos
ocasionados por deficiências sanitárias, de manejo e de alimentação, além do descarte
ineficiente de vacas de baixo potencial genético ou improdutivas.
As porcentagens de vacas no rebanho e de vacas em lactação e a capacidade
de suporte estabelecem um índice importante na definição da capacidade produtiva do
sistema, isto é, a quantidade de vacas em lactação por hectare (FARIA & SILVA, 1996).
Neste trabalho, no tocante a vacas em lactação por hectare, as propriedades
apresentaram média de 1,39 0,26 a 3,5), sendo que o baixo valor foi mais
influenciado pela baixa porcentagem de vacas em lactação do que pela concentração
de animais.
No que se refere à eficiência da utilização de mão de obra, tempo dedicado à
atividade e número de pessoas envolvidas, pode-se constatar que em média:
- o número de pessoas envolvidas foi de 2,33 (± 1 a 5).
- a soma das horas de trabalho na atividade leiteira de todos os envolvidos foi de 9,34
(± 3 a 17,5).
- a eficiência relacionada a litros produzidos por hora trabalhada foi de 12,55 5 a
37,50).
Estes valores indicam que mesmo nas pequenas UPL, a atividade mantém um
alto número de pessoas envolvidas (geralmente maior que dois), que geralmente
trabalham apenas pequena parte do tempo na atividade leiteira (média de 4,7 horas),
27
dando atenção especial a outras atividades (principalmente ligados à citricultura ou
cana-de-açúcar).
No entanto, ocorre uma grande variação na eficiência de utilização desta mão de
obra na produção de leite, como pode ser constatado se for considerado o valor bruto
pela venda do leite, a R$0,40 o litro (preço médio pago pelos pequenos laticínios da
região), o arrecadado em uma propriedade com eficiência de 5 litros por hora de
trabalho será de R$2,00, enquanto na propriedade com eficiência de 37,50 litros por
hora de trabalho resultará em R$15,00.
A mão de obra utilizada é familiar (56%) e/ou contratada permanente (44%), não
sendo observado casos de contratos temporários, mesmo em épocas de maior
necessidade.
Quanto à adubação de pastagem, das 16 UPL, 12 proprietários afirmaram que
adubam a pastagem, no entanto, apenas 3 fazem adubação com base na análise do
solo, sendo que a maioria usa sobras de outras culturas, ou segue apenas
recomendações de amigos ou vizinhos.
A alimentação é basicamente o pasto, sendo que 3 propriedades não fornecem
qualquer tipo de ração no cocho, e das que fornecem apenas 5 utilizam o critério de
produção de leite para estabelecer a quantidade de ração a ser fornecida.
A vacinação foi outro ponto de grande preocupação, que apenas 9 das UPL
(56%) realizam todas as vacinações preconizadas para a região (febre aftosa e
brucelose), sendo que, das que não utilizam, alguns produtores demonstraram
completo desinteresse pelo assunto, afirmando que o seu gado apresentava ótima
saúde.
Para aquisição de novos animais no rebanho, apenas 4 UPL (25%) afirmaram
exigir o exame comprovando a sanidade do animal, as demais, priorizam comprar de
vendedor conhecido e pelo preço.
Quanto ao padrão genético o predomínio é o gado girolando, sendo que apenas
3 propriedades apresentaram o gado holandês como principal raça do rebanho e 1 o
cruzado pardo suíço e holandês.
28
Das 16 propriedades, 6 nunca receberam qualquer tipo de assistência técnica, 5
receberam ou recebem assistência técnica pública, 3 de médicos veterinários e 2 de
técnicos ligados a empresas comerciais, sendo que nenhuma delas recebe assistência
com uma freqüência pré-estabelecida.
Utilizando a técnica de análise fatorial de componentes principais foi possível
reduzir o número inicial de variáveis relacionadas ao sistema produtivo (22 variáveis) a
um número bem menor (9 variáveis), sendo considerado apenas as que tiveram
coeficientes de correlação acima de ± 0,6, como pode ser visto na Tabela 1.
Tabela 1. Coeficientes de correlação das variáveis com os dois primeiros componentes,
considerando a amostra total.
Variáveis Componente Principal 1 Componente Principal 2
Área Total -0,875273 -0,068988
Área utilizada pecuária leiteira -0,749071 -0,297489
% da área total com pecuária
leiteira
0,476202 -0,357306
Colocação da pecuária leiteira -0,763084 0,023718
Distância da propriedade a
cidade
-0,137860 0,778054
Variação sazonal 0,237290 0,252337
Escala -0,521827 0,222636
Produtividade
(litros/hectare/ano)
0,475374 0,783432
Produção (litros/vaca total/ano) 0,481317 0,345223
% vacas em lactação 0,773030 0,117449
Vacas lactação por hectare 0,524835 0,686525
Horas de mão de obra
trabalhada na atividade no dia
-0,182562 0,265481
Número pessoas envolvidas -0,430876 0,268011
Litros por hora trabalhada -0,629020 -0,027849
Tipo de mão de obra 0,509376 -0,226950
Adubação do pasto 0,454804 -0,586890
Critério para adubar 0,198749 -0,436374
Critério para fornecimento de
ração
-0,362114 -0,011807
Vacinação 0,661492 -0,082682
Cuidados para comprar animais. -0,461665 0,364971
Raças -0,586352 0,002817
Tipo assistência técnica 0,211958 -0,400345
Variância Explicada (%) 27,75 14,49
Variância Acumulada (%) 27,75 42,24
29
As variáveis selecionadas permitem uma maior facilidade na distinção entre
propriedades de acordo com suas características, como demonstrado na tabela 2.
Tabela 2. Características das UPL observadas de acordo com as 9 variáveis
selecionadas com o uso da análise de componentes principais.
UPL
Área
total
(ha)
Área
útil
na
pec.
leite
Coloc.
da
pec.
leite
Distância
(Km) da
prop. até
a cidade
Realização
da
vacinação
obrigatória
Produtividade
(L/ha/ano)
% de
vacas
em
lactação
Vacas
em
lactação
por
hectare
Eficiência
humana
(litros por
hora
trab.)
P1 484 41,0 3 9 Sim 884,72 50,0 0,49 5,71
P2 63 7,0 2 20 Não 4.512,40 64,0 1,86 10,00
P3 7 6,0 1 1 Não 2.406,61 58,0 1,65 5,00
P4 15 4,5 2 8 Sim 5.662,22 40,0 1,77 5,83
P5 41 12,0 2 13 Sim 1.052,89 60,0 0,50 11,60
P6 13 7,0 2 3 Não 2.506,89 55,5 1,37 6,25
P7 29 28,0 1 3 Não 1.880,16 55,3 0,73 11,11
P8 5 4,5 1 3 Não 3.235,55 100,0 1,77 13,33
P9 48 19,0 3 12 Sim 1.880,16 66,6 2,07 16,66
P10 170 9,6 2 15 Sim 2.632,23 50,0 2,06 7,78
P11 53 36,0 1 2 Não 1.604,41 66,6 0,83 10,00
P12 14 6,0 1 23 Não 7.280,00 75,0 3,50 15,00
P13 686 70,5 3 10 Sim 780,00 26,5 0,26 37,50
P14 105 95,5 2 7 Sim 827,27 40,0 0,29 18,33
P15 14 13,5 1 13 Sim 2.506,88 64,3 1,25 10,00
P16 36 17,0 2 13 Sim 4.297,52 60,0 1,79 16,66
Sendo: UPL = unidade produtora de leite; ha = hectares; pec. = pecuária; prop. = propriedade; L = litros;
trab. = trabalhada.
Na Figura 1 está representado a disposição destas 9 variáveis no gráfico gerado
pela análise dos componentes principais.
30
A. tot.
A. util. leite
coloc. da pec. leite
dist. da prop.
produtiv.
% V. lact.
V. lact. ha
L. hora trab.
não vac.
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
Fator 1 : 47,61%
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
Fator 2 : 20,91%
Figura 1: Coordenadas das variáveis associadas ao fator 1 e 2.
Sendo: A. tot. = área total da propriedade, A.util. leite = área utilizada para pecuária leiteira, L. hora trab.
= litros de leite produzidos em relação a cada hora da somatória das horas trabalhadas de todos os
envolvidos na atividade, coloc. da pec. Leite = colocação da pecuária de leite em ordem de importância
entre as demais atividades desenvolvidas na propriedade, dist. da prop. = distância da propriedade até a
cidade (Km), V. lact. ha = vacas em lactação por hectare, produtiv. = produtividade, % V. lact. =
porcentagem de vacas em lactação, não vac. = não realiza as vacinações obrigatórias.
Pela projeção das variáveis observada na Figura 1, é possível sugerir algumas
relações que podem indicar os principais fatores de distinção entre os sistemas
produtivos envolvidos.
A variável da produtividade está fortemente relacionada à concentração de vacas
em lactação por hectare, como era esperado, no entanto, como foi destacado, a
baixa porcentagem de vacas em lactação nas propriedades observadas é um ponto
crucial que deve ser melhorado pelos produtores e técnicos envolvidos, através de
seleção e descarte de animais com maior rigor.
31
Outro fato de fácil visualização refere-se a tamanho da propriedade, colocação
da pecuária leiteira, eficiência de utilização da mão de obra (litros por hora trabalhada),
vacinação e porcentagem de vacas em lactação, sugerindo que nas maiores
propriedades (dentre as de baixa produção), geralmente a pecuária leiteira apresentou
uma menor importância, ficando entre a e colocada entre as outras atividades
desenvolvidas, mas a hora trabalhada pela mão de obra foi usada com mais eficiência,
assim como os cuidados com vacinação foram mais rigorosos, no entanto a relação
entre vacas em lactação e total de vacas no rebanho tendeu a ser menor do que em
propriedades menores.
Estas observações evidenciaram que as maiores propriedades preferencialmente
trabalham com outras atividades, mais lucrativas no momento, como a cana-de-açúcar
e a citricultura, mantendo a atividade leiteira apenas em áreas impróprias a agricultura
ou por tradição familiar, com pouca motivação em melhorar o sistema produtivo, o que
se reflete na baixa porcentagem de vacas em lactação, no entanto, devido a melhores
condições financeiras destes produtores e geralmente mais informações das
necessidades sanitárias, previnem mais eficientemente o seu rebanho com vacinas,
assim como, devido a uma maior cobrança sobre os funcionários que tem outras
funções além de cuidar do gado leiteiro, alcançam maior eficiência em litros produzidos
por hora de trabalho, como é o caso da UPL P13, que apresentou a maior produção de
litros de leite por hora trabalhada na atividade leiteira, com a marca de 37,5 litros.
Outro fato interessante de ser observado foi de que a variável distância (km) da
propriedade até a cidade, demonstrar tendência de relacionar-se positivamente com a
maior produtividade, ou seja, propriedades mais afastadas do local de venda acabam
forçando mais a melhorar os índices de produtividade, possivelmente para viabilizar os
custos com o transporte.
Portanto, considerando a disposição das variáveis, o posicionamento das
propriedades de acordo com suas características fica evidente na Figura 2, onde as 16
UPL estão alocadas.
32
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
P12
P13
P14
P15
P16
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8
Fator 1: 47,61%
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
Fator 2: 20,91%
Figura 2: Coordenadas das 16 UPL estudadas segundo as variáveis selecionadas.
Para facilitar a observação de grupos de acordo com suas similaridades, dentre
as variáveis selecionadas, foi aplicada a análise de agrupamentos, sendo montado um
dendrograma, demonstrado na Figura 3, agrupando as UPL em quatro grupos, que
podem ser observados pelo corte do eixo vertical, pela linha horizontal logo acima da
distancia de ligação (Linkage Distance) número 4.
Na Tabela 3 são apresentadas às médias das variáveis dentro de cada grupo,
facilitando a observação de possíveis relações entre variáveis.
33
Distância Euclidiana
Método de Ward's
P8 P11 P7 P6 P3 P15 P5 P9 P16 P10 P4 P12 P2 P13 P14 P1
0
2
4
6
8
10
12
G1
G2
G3
G4
Figura 3. Dendrograma obtido pelo método de Ward’s, demonstrando o agrupamento
das UPL da amostra em 4 grupos.
Tabela 3. Média das variáveis selecionadas em seus respectivos grupos de UPL.
Grupos
Á.
Tot.
(ha)
Á.
util.
leite
Coloc.
da
pec.
leite
Dist. da
prop.
(Km)
Vac. Obrig.
Produtiv.
(L/ha/ano)
% V.
lact.
V. lact.
ha
Efic.
humana
(litros por
hora
trab.)
G1 21,4 16,3 1,2 2,4 Não 2.326,72 67,12 1,27 9,14
G2 54,0 12,6 2,0 12,3 Sim 3.005,32 56,82 1,57 11,42
G3 38,5 6,5 1,5 21,5 Não 5.896,20 69,50 2,68 12,50
G4 425,0 69,0 2,7 8,6 Sim 830,66 38,83 0,34 20,51
Sendo: A. tot. = área total da propriedade; A.util. leite = área utilizada para pecuária leiteira; Coloc. da pec. leite =
colocação da pecuária de leite em ordem de importância entre as demais atividades desenvolvidas na propriedade;
Dist. da prop. = distância da propriedade até a cidade (Km); Vac. Obrig. = realização das vacinações obrigatórias;
produtiv. = produtividade em litros por hectare por ano; % V. lact. = porcentagem de vacas em lactação; V. lact. ha =
vacas em lactação por hectare; Efic. humana = litros de leite produzidos em relação a cada hora da somatória das
horas trabalhadas de todos os envolvidos na atividade.
34
O grupo 1 (G1), formado por 5 UPL (P8, P11, P7, P6 e P3) são propriedades
pequenas (21,4 ha), que praticamente não realizam vacinação, e estão localizadas bem
próximas a cidade (2,4 km); apresentam baixo valor de produtividade (2.326,72
L/ha/ano), e a pior eficiência de utilização da mão de obra (9,14 litros de leite por hora
trabalhada na atividade) dentre as observadas.
O grupo 2 (G2) composto por 6 UPL (P15, P5, P9, P16, P10, P4) é formado por
proprietários mais conscientes quanto a necessidade de vacinação; as propriedades
são mais distantes da cidade (12,3 km) se comparado ao grupo 1, e os índices de
produtividade (3.005,32 L/ha/ano) e de eficiência de utilização de mão de obra (11,42
litros de leite por hora trabalhada na atividade) também são superiores ao grupo que o
precede.
O grupo 3 (G3) foi formado por 2 UPL (P2 e P12), que teve como característica
principal a melhor produtividade (5.826,20 L/ha/ano e o maior distanciamento da cidade
(21,5 km), acompanhado da maior porcentagem de vacas em lactação (69,5 %).
O grupo 4 (G4), formado por 3 UPL (P13, P14, P1), são propriedades de maior
tamanho (425 ha), com outras atividades prioritárias (principalmente citricultura e cana-
de-açúcar), onde a produção de leite apresentou características “extrativistas e
oportunistas”, que é mantida apenas para aproveitar determinadas áreas impróprias
para a agricultrua e/ou faz parte de criação de gado para corte com uso de touros para
este fim, o que explica a pior produtividade (830,66 L/ha/ano). Quanto à eficiência da
mão de obra, ocorreram algumas disparidades, como é o caso das UPL P1 e P13,
sendo que na primeira foi observado um dos piores índices (5,71 litros por hora
trabalhada), devido principalmente ao grande número de pessoas envolvidas (5) para
uma pequena produção diária (100 litros), enquanto na segunda, embora apresentasse
um dos piores índices de produtividade (780 litros/ha/ano), demonstrou melhor
eficiência de utilização da mão de obra (37,5 litros por hora trabalhada), possivelmente
em razão de que os dois funcionários envolvidos dedicassem apenas duas horas por
dia, para os cuidados nesta atividade, priorizando os demais afazeres da propriedade.
A baixa produção obtida por vaca ordenhada é característica da região de
abrangência da EDR de Jaboticabal, como foi demonstrado no Capítulo 2 deste
35
trabalho, onde a média regional foi de 1.235 litros por vaca ordenhada no ano de 2005,
sendo que o município de Taiaçú, foi o que apresentou o maior valor (3.285 litros/vaca
ordenhada) e Ibitinga o menor (871 litros/vaca ordenhada).
3.4 - Conclusões:
Pela caracterização das unidades produtoras de leite observadas, pode-se
observar que nas menores, geralmente a atividade leiteira tem maior grau de
importância, mas com deficiências sanitárias e de uso da mão de obra, mais
acentuadas.
As maiores produtividades ficaram relacionadas com as propriedades mais
distantes da cidade, enquanto as maiores áreas apresentaram as piores, mas com
melhor eficiência do uso da mão de obra.
Estes fatos indicam a necessidade de ações direcionadas de acordo com as
individualidades de cada propriedade, que podem ser facilitadas pelo agrupamento de
acordo com suas similaridades.
Devido ao pequeno número de unidades produtoras de leite observadas, existe a
necessidade do desenvolvimento de outros trabalhos envolvendo mais propriedades e
continuidade no elo entre pesquisadores e produtores.
36
CAPÍTULO 4 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-PRODUTIVAS E DE
COMERCIALIZAÇÃO EM PEQUENAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE,
LOCALIZADAS NA ÁREA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE
JABOTICABAL/SP
4.1 - Introdução
4.1.1 - Necessidade de levantamento das variáveis sócio-produtivas e de
comercialização
A pecuária leiteira representa um importante papel no setor agropecuário
brasileiro, tanto no que se refere à produção de alimentos, como também na geração de
empregos, fixação do homem ao campo e fortalecimento econômico.
Considerando que o sucesso na atividade leiteira está condicionado a um grande
número de fatores, envolvendo variáveis dentro e fora da porteira, a administração da
empresa rural, independentemente de seu porte, não pode mais ser feita de maneira
amadora, o que indica que não basta trabalhar exaustivamente nas atividades do dia a
dia, se as decisões não forem tomadas com um referencial lógico e planejadas, de
acordo com informações geradas na propriedade e no mercado. Assim sendo, é
fundamental que os agricultores possam dispor de ferramentas gerenciais adequadas
às especificidades dos seus sistemas produtivos e de suas culturas empresariais
(QUEIROZ & BATALHA, 2003).
Sobretudo, nas pequenas unidades produtoras de leite, a eficiência
administrativa, gerada por um bom planejamento, organização, coleta de dados e na
tomada de decisões é uma forma de aumentar a rentabilidade, sem a necessidade de
grandes investimentos.
Outro ponto chave para o sucesso de qualquer empreendimento produtivo é a
comercialização, ou seja, atender as necessidades e exigências do mercado, satisfazer
e fidelizar o cliente, padronizar e ter constância na entrega do produto, produzir a baixo
37
custo para ter preços competitivos, analisar as oscilações do mercado, adequar-se as
normas de qualidade e sanidade, agregar valor a produtos diferenciados, entre outros
fatores, são primordiais para quem almeja sucesso na atividade que conduz.
Segundo HOFFMANN (1976), comercialização é o conjunto das operações ou
funções realizadas no processo de levar os bens e serviços desde o produtor primário
até o consumidor final. Portanto, é vital o perfeito conhecimento dos canais de
distribuição.
ROSEMBLOOM (1999) define o canal de distribuição como o caminho seguido
pelo produto desde sua concepção até o consumidor final.
Sendo assim, a produção e comercialização do leite merecem especial atenção,
por ser um produto delicado e altamente perecível, tendo suas características físicas,
químicas e biológicas facilmente alteradas pela ação de microrganismos e pela
manipulação a que é submetido, além de poder tornar-se um veículo de doenças caso
não haja um conjunto de ações preventivas antes do seu consumo (DÜRR, 2004).
Portanto, as preocupações relacionadas à comercialização começam bem antes
da venda do produto, tomando medidas sanitárias, higiênicas e nutricionais que
garantam a boa qualidade do leite produzido.
A cadeia produtiva do leite está passando por uma grande transformação nos
últimos anos, gerando uma reorganização da agroindústria leiteira, que por
conseqüência leva a uma reestruturação das empresas rurais, para que continuem
fornecendo a matéria prima que o mercado exige.
Para que o produtor obtenha sucesso no seu sistema produtivo é fundamental
que tenha conhecimento do mercado consumidor, assim como esteja inserido em um
sistema de comercialização eficaz, legítimo e que lhe permita remunerar todos os seus
recursos de produção.
Fatores ligados à comercialização também podem ser determinantes na decisão
do produtor, na escolha entre a formalidade ou a informalidade na colocação dos seus
produtos.
Segundo BANKUTI, et al. (2003) o baixo nível de escolaridade e a idade do
chefe de família (variáveis sociais), bem como a escala de produção, podem constituir-
38
se em barreiras à entrada no mercado formal, ou mesmo a substituição da atividade
leiteira por outra qualquer. Entretanto, existem outras razões econômicas, tais como o
preço obtido no mercado informal e falta de mecanismos institucionais que induzam a
adequação ao mercado formal. Além destes, existem consumidores que preferem
comprar diretamente dos produtores, seja devido à possibilidade de adquirir o produto a
um valor mais baixo, seja por acreditar que está comprando um produto de melhor
qualidade.
De acordo com NOGUEIRA FILHO, et al. (2001), tendo em vista a tendência
crescente dos laticínios efetuarem pagamentos diferenciados, levando em consideração
a qualidade, a regularidade e a quantidade do leite entregue pelos produtores induzirá a
especialização da pecuária leiteira, no entanto, o desconhecimento demonstrado pela
maioria dos fornecedores pode tornar-se um obstáculo a sua permanência no mercado
formal.
4.1.2.1 – A Instrução Normativa 51/2002 e suas implicações
O Plano Nacional da Qualidade do Leite (PNQL), do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), tem por objetivo implementar medidas para
melhorar a qualidade do leite no país.
A publicação da instrução normativa 51/2002 foi a proposta que mais gerou
discussão e polêmica, por definir regulamentos técnicos para a produção, identidade e
qualidade de diversos tipos de leite, bem como as condições para sua refrigeração na
propriedade rural e transporte do leite a granel até a indústria.
Os novos regulamentos estabelecem limites para características como
temperatura de refrigeração e contagem microbiana total, as quais são afetados
diretamente pelo tipo de equipamento utilizado na exploração leiteira. Contudo, apesar
de a tecnologia mais adequada para atingir os níveis de qualidade do leite
estabelecidos, incluir a ordenha mecanizada e a refrigeração em tanques de expansão,
esses equipamentos não garantem a qualidade, tampouco são banidas pela nova
legislação as tecnologias alternativas, como a ordenha manual ou os tanques de
39
refrigeração por imersão. O princípio proposto é justamente o de julgar a qualidade a
partir do produto, não a partir da infra-estrutura da unidade produtora (DÜRR, 2004).
Várias reivindicações de grupos de pequenos produtores foram atendidas, no
sentido de dar maior flexibilidade a IN 51, evitando um impacto maior sobre a
sobrevivência destas pequenas unidades de produção, tais como:
- Aumento do prazo para implantação das normas;
- Fixação do limite máximo de temperatura do leite de 7ºC em três horas após o
final da ordenha e 10 ºC na entrega do leite no posto ou laticínio ao invés de 4ºC e 7ºC
inicialmente proposto;
- Utilização irrestrita de tanques comunitários de refrigeração e tanques de
imersão;
- Uso de pasteurização lenta nos âmbitos de inspeção municipal e estadual;
- Continuidade do fornecimento do leite em latões, desde que seja entregue na
unidade processadora até duas horas após a ordenha;
- Redução nas análises laboratoriais propostas.
No entanto, muitas discussões conflitantes ainda surgem a este respeito, de um
lado produtores maiores e técnicos, que trabalham a um bom tempo dentro destas
normas de qualidade e que exigem a extinção de quem não se adequou, por outro lado,
milhares de pequenos produtores que não se adequaram às exigências e estão
deixando a atividade ou partindo de vez para o mercado informal.
4.1.2.2 – O mercado Informal
A informalidade no Brasil é elevada e envolve problemas de ordens econômica e
social.
No caso do setor lácteo, assim como outros setores de alimentos, a necessidade
de controle da informalidade deve ocorrer também devido a questões de segurança do
alimento. Na cadeia produtiva do leite no Brasil, deve-se ressaltar que apesar das
recentes mudanças ocorridas (re-estruturação industrial, aumento do consumo,
40
aumento das exportações, mudanças das exigências legais, dentre outras), os
problemas de informalidade não foram solucionados. A fiscalização ainda é falha e a
informalidade do leite no país é elevada (FARINA et al, 2001).
Segundo BANKUTI, et al. (2003), o processo de abertura comercial e
sobrevalorização da moeda brasileira na década de 90 geraram fortes incentivos à
entrada de empresas estrangeiras e a importação de leite e derivados no país. Tais
empresas adotaram estratégias de fusões e aquisições de empresas e/ou cooperativas
laticinistas nacionais. Em busca da redução dos custos de captação e melhoria da
qualidade do leite, estas empresas passaram a exigir de seus fornecedores a utilização
do tanque de expansão e elevarem a quantidade mínima de fornecimento. Diante
destas novas exigências, principalmente em função dos investimentos necessários
(aquisição do tanque de expansão, aumento da produtividade do rebanho e/ou número
de animais e maior controle da qualidade do leite na propriedade), a atividade tornou-se
inviável para um grande número de pequenos e médios produtores de leite no país.
Em função destas variações que vem ocorrendo no mercado lácteo, fica difícil
evitar que grande número de produtores continue ou passem a atuar na informalidade.
De acordo com dados do ANUALPEC (2006) a estimativa de atuação do mercado
formal em 2005 foi de 65%, ou seja, 35% de todo leite produzido é destinado ao
autoconsumo ou ao mercado informal.
A manutenção da informalidade no mercado lácteo pode levar a sérios
problemas sócio-econômicos, com conseqüência a saúde, a arrecadação fiscal, ao
aumento dos gastos públicos com tratamento de pessoas doentes em função de
alimentos contaminados, ao mesmo tempo em que, muitas vezes acaba sendo a única
alternativa para a conservação da atividade e do trabalho em algumas propriedades.
Sendo assim, técnicos, agentes da fiscalização, órgãos de extensão e pesquisa e
programas governamentais devem atuar juntos, no sentido de viabilizar que as
pequenas UPL passem a agir como uma empresa, dentro da legalidade e capitalizando
o produtor.
41
O objetivo foi traçar o perfil sócio produtivo e da comercialização e desenvolver
sua compreensão, dando atenção especial ao mercado de atuação, os motivos que
levam a comercializar da maneira atual, a observação de contratos, associações ou
recebimento de diferencial por qualidade, assim como as adequações as normas
preconizadas pela IN 51, nas pequenas unidades produtoras de leite (UPL), que pode
auxiliar na identificação de fatores correlacionados, que exercem grande influência na
maneira de agir destas UPL, assim como na viabilidade de implantação de tecnologias
compatíveis com a realidade regional e produtiva das propriedades leiteiras.
4.2 - Material e Métodos
No presente estudo, foram coletados dados de 16 pequenas UPL localizadas na
área do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Jaboticabal - SP, mais
precisamente nos municípios de Itápolis, Taquaritinga, Guariba e Ibitinga.
Esta região caracteriza-se pelo predomínio canavieiro e de citricultura,
onde a produção leiteira, geralmente, não é a atividade principal, mas tem importância
na complementação da renda familiar e na manutenção de empregos fixos na zona
rural, como pode ser observado pelos dados de explorações vegetais e animais
disponibilizados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI (2006).
As UPL foram selecionadas de acordo com a facilidade de contato com os
produtores e a aceitação dos mesmos, além de que, todas apresentaram uma produção
de leite/dia inferior a 300 litros, estando esta atividade, entre as três principais fontes de
renda da propriedade.
Além das pequenas UPL, também foi caracterizada uma grande UPL localizada
no município de Taiaçú, que serviu como comparativo do perfil sócio produtivo.
Este trabalho não teve a pretensão de retratar o que acontece com o
comportamento das propriedades leiteiras da região em estudo, mas sim, das variáveis
dentro do grupo envolvido. Sendo assim, este estudo fornece subsídios auxiliares para
tomada de decisões em pequenas unidades produtoras de leite, relacionando o seu
42
perfil sócio produtivo e de comercialização.
Os dados referentes às UPL foram obtidos por meio de observação e
questionários semi-estruturados aplicados na propriedade, sempre com o mesmo
pesquisador, buscando reduzir problemas de interpretação nos itens questionados.
Na coleta de dados foram abordados aspectos sócio-produtivos e de
comercialização básicos, com perguntas simples, de modo a facilitar a compreensão do
entrevistado.
Os dados sócio-produtivos observados neste trabalho foram principalmente os
relacionados a objetivos, metas, organização, controles e mudanças que estão
ocorrendo no sistema produtivo, de maneira a facilitar a compreensão de alguns
aspectos da administração nestas propriedades.
Do ponto de vista da comercialização foram abordadas as variáveis relacionadas
à exigência do mercado consumidor, tipo de mercado em que atua (formal, formal e
informal, informal), motivo por atuar neste mercado, forma como comercializa o leite
(leite, derivados, ambos), valor recebido por litro (R$/L), recebimento de diferencial por
qualidade, existência de contrato de venda, local onde o leite é armazenado após a
ordenha, veículo utilizado para o transporte, conhecimento da IN. 51, se a propriedade
possui tanque de resfriamento, se o produtor atua ou atuou em associações. Desta
forma buscou-se a caracterização das propriedades em relação às adequações
impostas pelo mercado e a sua possível sustentação na atividade e inserção
mercadológica.
Após a entrevista foi entregue aos produtores um cartão de contato do
pesquisador, com nome, telefone e e-mail, além de outras visitas subseqüentes, para
que quem tivesse interesse em assistência técnica gratuita ao longo do ano, entrasse
em contato, sendo assim possível um real julgamento de interesse dos produtores.
Após tabulados todos os dados, estes foram analisados, utilizando a análise
fatorial em componentes principais e posterior análise de agrupamento (cluster), como
relatado no item 1.2.2 na pág. 08 e 1.2.3 na pág. 10, facilitando a visualização das
principais variáveis envolvidas, assim como na formação de grupos de maior
43
similaridade nos aspectos abordados. Para estas análises foi utilizado o programa
Statística versão 6.0.
4.3 - Resultados e Discussão
4.3.1 - Características sócio-produtivas:
As pequenas UPL envolvidas apresentaram escala de produção variando de 35
a 220 litros ao dia (média de 105,9 litros/dia).
Os resultados relacionados ao perfil sócio produtivo, podem ser observados na
Tabela 1, onde estão dispostas as pequenas UPL de acordo com as respostas obtidas,
e também foi demonstrado o perfil de uma grande UPL (média de 6.000 litros/dia),
como comparativo, onde o X demonstra sua posição.
Tabela 1 – Perfil sócio-produtivo das unidades produtoras de leite abordadas
1
Objetivos do produtor em relação à produção de leite
Pequenas UPL % Grande UPL
Aumentar 7 44 X
Diminuir 2 12
Manter 7 44
Feito para atingir os objetivos
Pequenas UPL % Grande UPL
Nada 6 38
Aumentar rebanho 2 13 X
Venda de animais 1 6
Melhorar alimentação 4 25
Diminuir uso de ração 1 6
Selecionar os melhores animais 2 12
Como são definidos planos futuros
Pequenas UPL % Grande UPL
Preço do leite e do animal 12 76
Comparação com outros produtos agrícolas 2 12
Preço e análise de mercado 1 6 X
Cálculo do custo de produção 1 6
Ações adotadas para diminuir custo
Pequenas UPL % Grande UPL
Melhorar o uso da pastagem 8 50
Diminuir concentrados 4 25
Aumentar o uso da cana de açúcar 1 6
nenhuma 3 19 X
Como são definidas as funções
Pequenas UPL % Grande UPL
Afinidade 9 57 X
1
Continua...
Sendo:
X = resposta obtida na grande unidade produtora de leite (UPL)
44
Tabela 1 – Perfil sócio-produtivo das unidades produtoras de leite abordadas
(continuação)
Imposição 2 12
Disponibilidade de tempo 4 25
Necessidade 1 6
Como são identificados os animais
Pequenas UPL % Grande UPL
Reconhecidos pelo nome 16 100
Brincos 0 0 X
Apresentam ficha individual dos animais
Pequenas UPL % Grande UPL
Sim 0 0 X
Não 16 100
Animais separados em lotes de produção
Pequenas UPL % Grande UPL
Sim 1 6 X
Não 15 94
Apresentam touro separado das fêmeas
Pequenas UPL % Grande UPL
Sim 2 12 X
Não 14 88
Esta realizando mudanças na UPL
Pequenas UPL % Grande UPL
Sim 11 69 X
Não 5 31
Finalidade das mudanças
Pequenas UPL % Grande UPL
Diminuir custo 1 9
Melhorar alimentação 6 55
Melhorar instalações 3 27 X
Diminuir o rebanho 1 9
Fixação de metas
Pequenas UPL % Grande UPL
Sim 5 31 X
Não 11 69
Realizam algum tipo de controle
Pequenas UPL % Grande UPL
Sim 7 44 X
Não 9 56
Número de informações controladas
Pequenas UPL % Grande UPL
Dois 4 57
Três 1 14
Quatro 2 29
Cinco 0 0 X
Utilizam os controles
Pequenas UPL % Grande UPL
Sim 3 43 X
Às vezes 4 57
Onde registra os dados controlados
Pequenas UPL % Grande UPL
Caderneta ou caderno 5 71
Computador 2 29 X
Porque não registra mais dados
Pequenas UPL % Grande UPL
Não acha importante 5 31
Falta de tempo 3 19
Não tem hábito 7 44
Falta de um modelo 1 6 X
Fonte: dados de campo
X = resposta obtida na grande unidade produtora de leite (UPL)
45
Como pode ser observado, a maioria das pequenas UPL abordadas (56%), não
demonstraram interesse em aumentar a produção de leite, possivelmente, por
estarem limitadas em relação ao mercado, ou por estarem desestimuladas com a baixa
remuneração alcançada. Este fato está de acordo com trabalho realizado por WAGNER
(2004), em que o tipo de produtor tradicional, continuou estagnado na atividade, tanto
no que diz respeito à infra-estrutura de produção, como em relação a produção de leite,
não manifestando interesse em aumentar a produção.
No entanto, ainda em relação aos dados apresentados na Tabela 1, pode-se
constatar que a maioria dos produtores entrevistados (69%) está realizando alguma
mudança no seu sistema produtivo, e a maior parte destes (55%), está relacionado ao
manejo alimentar, que é o que mais influencia nos custos, sendo assim, como foi
relatado por ALVES (2001), a inovação pode resultar em renda aumentada, em função
de redução dos custos.
No tocante a organização do rebanho, as pequenas unidades de produção foram
muito similares, que praticamente todas, identificam os animais apenas pelo nome,
não possuem ficha individual dos animais, não fazem separação em lotes de produção
e não mantém separado o touro das vacas.
A grande maioria das pequenas UPL não apresentou metas de produção, e os
controles, quando realizados, geralmente tratavam apenas de dados referentes à
produção total diária de leite, data de nascimento de bezerros e de litros entregue ao
laticínio, demonstrando ineficiência para uma boa gestão da propriedade. Estes fatos
também foram evidenciados por NOGUEIRA FILHO, et al. (2001), trabalhando com
produtores de leite no nordeste, onde observaram que os níveis de controles na
pecuária leiteira regional foram muito baixos, mantendo uma coerência com a tradição e
o caráter familiar dos empreendimentos.
As principais razões pelas quais a coleta e registro de dados da atividade não
são realizadas pelos produtores, neste trabalho, foi semelhante ao apontado por
QUEIROZ & BATALHA (2003), ao trabalhar com produtores familiares de hortaliças na
região de São Carlos, ou seja, “falta de tempo”, “não acha importante” e “falta de
hábito”.
46
Das dezesseis pequenas UPL, apenas três manifestaram interesse em receber
assistência técnica, sendo que em uma destas, o forte tradicionalismo do produtor,
aliado ao desestímulo pela baixa remuneração pela venda do leite e conflitos na
comercialização, resultaram em grande resistência em aceitar as recomendações
sugeridas, o que dificultou o processo de difusão assistencial. As outras duas
propriedades, após alguns meses de orientação e assistência, apresentaram
mudanças positivas de perfil, principalmente aumentando o número de dados
controlados, como de produção leiteira, reprodutivos e de custos operacionais,
melhorando o planejamento das atividades.
Portanto, a maior parte das pequenas UPL observadas neste trabalho,
caracterizou-se pela presença do produtor tradicional, segundo definição GEHLEN
(2000), trata-se de um produtor consolidado, que se identifica como produtor tradicional,
ou seja, sua produtividade está de acordo com o padrão tradicional na sua região. A
produção de leite não é uma atividade estratégica dentro da propriedade, utilizando-se
da força de trabalho secundária e apenas o tempo necessário, não sendo esta
qualificada. Na organização sistêmica da propriedade, não prioriza a produção de leite,
sendo que o reinvestimento dos rendimentos raramente se na atividade leiteira. No
padrão tecnológico, as instalações e equipamentos, quando existem, são precários, os
animais não são especializados, a alimentação não é balanceada e na maior parte do
tempo precária.
4.3.2 – Características de comercialização
Aplicando-se o método da análise fatorial em componentes principais foram
analisados os dois primeiros fatores, apresentando 60,33% da variância explicada
acumulada (Tabela 2).
Utilizando esta técnica foi possível reduzir o número inicial de variáveis (12
variáveis) para nove, sendo considerado apenas as que tiveram coeficientes de
correlação acima de ± 0,6, como pode ser visto na Tabela 2.
47
Tabela 2. Coeficientes de correlação das variáveis com os dois primeiros componentes,
considerando a amostra total.
Variáveis Componente principal 1 Componente principal 2
Exigência do consumidor
0,004117 -0,195621
Atua em qual mercado
-0,729255
0,591032
Motivo de atuar neste mercado
-0,592849 0,523322
Comercializa derivados
-0,325030
0,654917
Remuneração por litro
-0,722120
0,531720
Diferencial por qualidade
-0,828054
-0,473344
Contrato de venda
-0,632373 -0,603670
Local de armazenagem do leite
-0,700770
-0,434078
Veículo p/ transporte do leite
-0,770965
0,243147
Conhecimento da IN 51
0,187216 0,006480
Possui tanque de resfriamento
-0,630164
-0,087764
Associação de produtores
-0,828054
-0,473344
Variância Explicada (%)
39,99 20,34
Variância Acumulada (%)
39,99 60,33
Após selecionar estas variáveis com maior correlação, pela técnica de
componentes principais, foi realizada a análise de agrupamentos das UPL em relação
as variáveis selecionas, para a formação de grupos de acordo com suas similaridades,
de maneira a obter a maior homogeneidade dentro dos grupos e a maior
heterogeneidade entre estes, como pode ser observado na Figura 1.
48
P16 P15 P2 P6 P5 P4 P7 P14 P11 P8 P3 P13 P12 P10 P9 P1
0
2
4
6
8
10
12
14
16
G1
G2
G3 G4
G5
Figura 1. Agrupamento dos produtores (dendrograma) segundo as variáveis de
comercialização abordadas.
Desta maneira ocorreu a formação de cinco grupos, sendo: G1 (P16, P15), G2
(P2), G3 (P6, P5, P4), G4 (P7, P14, P11, P8, P3) e G5 (P13, P12, P10, P9, P1).
O grupo G1 foi formado por UPL que atuam no mercado formal, vendendo o leite
para laticínios sob inspeção federal, possuem contrato de venda e recebem diferencial
por qualidade, refrigerando o leite na propriedade, com o uso de tanque de
resfriamento, sendo o leite captado e transportado por caminhão de tanque isotérmico.
Estas propriedades, mesmo sendo de baixa escala de produção, conseguiram se
manter no mercado formal, por se juntarem na entrega do leite, conseguindo negociar
um maior volume, além disto, os produtores fazem parte de uma associação, que luta
pela união dos produtores, principalmente na compra de insumos e venda do leite em
conjunto. No entanto, este grupo foi o que obteve uma das piores remunerações por
litro de leite (R$0,40).
O grupo G2 é formado apenas pela UPL P2, que também atua no mercado
formal, vendendo o seu leite para um pequeno laticínio municipal, no entanto, não
recebe diferencial por qualidade, nem possui contrato de venda, tendo uma
49
remuneração por litro de leite de R$0,42. A propriedade possui tanque de expansão
onde refrigera seu leite, mas o transporte é feito em latões em caminhão de carroceria
aberta. Esta UPL não participa de associações.
As propriedades formadoras do grupo G3 caracterizam-se principalmente por
transformarem a maior parte do leite produzido, em queijo, agregando valor ao produto
e facilitando a comercialização direta ao consumidor, neste grupo não existe qualquer
tipo de contrato de venda ou recebimento de diferencial por qualidade, o leite é
armazenado em latões, não sendo refrigerado. O maior estímulo aos produtores deste
grupo é a maior remuneração obtida por litro de leite que variou de R$0,80 a R$1,00
neste trabalho.
Este fato também foi relatado por LOPES, et al. (2006), que destacou a
produção e comercialização do queijo, mostram-se mais rentáveis que a do leite,
contribuindo para aumento das receitas, sem alterações significativas de custo
operacional efetivo, e torna-se uma alternativa para o incremento da renda do produtor.
O grupo G4 foi formado por UPL que geralmente atuam no mercado formal e
informal simultaneamente, ou seja, primeiramente vendem o leite diretamente para o
consumidor ou produzem queijo, obtendo uma melhor remuneração pelo litro (R$0,80),
e o que sobra é entregue para os pequenos laticínios (R$0,40). Estas propriedades não
possuem tanque de expansão, e quando refrigeram o leite, geralmente usam a
geladeira ou o freezer, para o leite da tarde que será entregue no dia seguinte; o
armazenamento também é feito em latões e o transporte em carros ou caminhonetes.
O grupo G5 consiste em UPL que comercializam exclusivamente no mercado
formal, entregando o leite para pequenos laticínios municipais, não fazem parte de
associações, nem recebem diferencial por qualidade ou possuem contrato de venda, o
leite é armazenado em latões e transportado de carro ou caminhonete, recebendo
remuneração por litro de leite de R$0,40 a R$0,45.
Ao observar as variáveis relacionadas aos aspectos da forma de
comercialização, nestas pequenas UPL, ficou evidente que os canais de distribuição
consistem basicamente de três formas: leite vendido diretamente ao consumidor
(comércio informal), leite vendido a pequenos laticínios municipais e raramente a
50
laticínios com inspeção federal (comércio formal), e venda de queijos preparados na
propriedade, diretamente ao consumidor final (comércio informal).
Outro fato que dificulta a venda no mercado formal é a baixa concentração de
vacas ordenhadas por hectare de pasto total na região do Escritório de
Desenvolvimento Rural de Jaboticabal, ocasionando uma menor concentração de leite
por área, o que dificulta a manutenção das linhas de captação do leite pelos grandes
laticínios, como foi destacado no Capítulo 2.
A maioria dos produtores (87,5%) não recebe diferencial por qualidade do leite,
nem fazem parte de associações.
A utilização do tanque de resfriamento ainda não é uma realidade nas pequenas
UPL, sendo que apenas 3 propriedades o utilizavam, considerando que uma destas,
não o possui, utilizando em conjunto com o vizinho. Ainda em relação ao tanque de
resfriamento, outras disparidades também foram encontradas, como no caso de uma
UPL que adquiriu um tanque de capacidade de 1.500 litros, mas não o utiliza em função
de sua produção diária (120 litros) ser muito inferior, o que inviabiliza o seu
funcionamento e acaba gerando aumento nos custos devido ao capital investido
imobilizado.
O comércio informal do leite e do queijo é acompanhado de uma melhor
remuneração (geralmente o dobro do valor pelo litro em relação aos laticínios), aliado a
menor exigência em relação à qualidade (o leite não passa por nenhum teste de
qualidade) e a ineficiência da fiscalização.
O associativismo, que poderia funcionar como uma ferramenta de fortalecimento
entre estas pequenas UPL, não está bem difundido (apenas 2 das 16 UPL participam),
no entanto, as propriedades que aderiram tendem a apresentar vantagens competitivas,
seja na compra de insumos, ou na venda do leite, em maior quantidade, o que aumenta
seu poder de barganha e a oportunidade de se manterem no mercado formal.
Em apenas uma das UPL, o produtor demonstrou ter um bom conhecimento das
normas preconizadas pela IN 51, sendo que a maioria desconhecia o assunto, ou
possuía informações contraditórias. Isto confirma a grande necessidade de programas
51
de conscientização dos produtores sobre práticas e procedimentos para manter a
qualidade do leite.
4.4 Conclusões
Pelas características levantadas neste trabalho, ficou evidente que a maioria das
pequenas UPL apresentam-se estagnadas, seja por não conseguirem atender as
exigências do mercado formal, da baixa adequação as novas tecnologias, e
principalmente ao baixo estímulo remuneratório na atividade leiteira.
As ações do dia a dia se sobrepõem às necessidades de planejamento,
organização e controle da atividade, dificultando um gerenciamento eficaz.
As dificuldades em melhorar os índices de produtividade, escala de produção,
variações sazonais, dentre outros, aliado a baixa remuneração do litro de leite no
mercado formal, induz a busca de rentabilidade no mercado informal, com venda direta
de leite e queijo aos consumidores, ou mesmo, o abandono da atividade.
52
CAPÍTULO 5 A NECESSIDADE DE IDENTIFICAÇÃO DE PROCESSOS
“BENCHMARKS” ENTRE AS PEQUENAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE.
5.1 - Introdução
O sucesso na atividade leiteira está condicionado a um grande número de
fatores, envolvendo variáveis dentro e fora da porteira, o que indica que não basta
trabalhar exaustivamente nas atividades do dia a dia, se as decisões não forem
tomadas com um referencial lógico e planejadas, de acordo com informações geradas
na propriedade e no mercado.
Sobretudo, nas pequenas unidades produtoras de leite, a eficiência
administrativa, gerada por um bom planejamento, organização, coleta de dados e
tomada de decisões é uma forma de aumentar a rentabilidade, sem a necessidade de
grandes investimentos.
Segundo COSTA & GONÇALVES (2002), a sobrevivência de pequenas
propriedades produtoras de leite no Brasil é um tema que gera bastante discussão,
dada à situação em que a atividade se encontra no momento (baixa produtividade,
desestímulo governamental, grande incidência de impostos, pequeno número de
laticínios compradores, oferta inconstante de produto e escassez de assistência técnica
de qualidade, dentre outras).
No entanto, algumas vezes, as pequenas empresas estão em melhor posição
para sobreviver ao caos, por causa da sua flexibilidade e agilidade, embora muitos
empreendedores estão tão concentrados nas operações do dia a dia que não tem uma
perspectiva a longo prazo, necessária ao crescimento contínuo, relata DAFT (1999).
Por isto, a empresa rural deve funcionar como um relógio cujas engrenagens são
representadas principalmente pelos recursos naturais, humanos, benfeitorias,
financeiros, máquinas e animais. Como a maior parte dos recursos disponíveis é de
forma geral limitado, a empresa deve procurar escolher a alternativa de combinação e
53
utilização dos recursos que apresentem melhores resultados aproximando-a de sua
meta, ou seja, obter lucros hoje e no futuro (SOUKI et al., 1999).
Por outro lado, sendo a pecuária leiteira uma exploração dinâmica, onde as
atividades e acontecimentos são contínuos e ocorrem ao longo de cada mês, os
registros de dados físicos, econômicos e zootécnicos devem ser feitos diariamente, mas
pela falta de organização do produtor, isto geralmente não acontece, o que acaba lhe
comprometendo na hora de tomar decisões.
Portanto, o sucesso da exploração leiteira está intimamente ligado às decisões
tomadas pelo produtor. Embora a qualidade destas dependa, em boa parte, do talento
do administrador, é preciso reconhecer que a ausência de um referencial lógico,
orientador do processo decisório, é geralmente a razão de insucesso no direcionamento
das ações.
As decisões são tomadas para se chegar a algum objetivo ou resultado, sendo
assim, para minimizar possíveis falhas, é imprescindível que o tomador destas,
identifique, em todas as suas dimensões e relações, o objetivo a ser alcançado
(GOMES et al., 1986).
Para que os sistemas produtivos leiteiros possam estar em constante
aprimoramento, torna-se necessário que suas restrições ou “gargalos” sejam
identificados e uma lista de prioridades seja criada, sempre do fator mais restritivo para
o menos restritivo. Quando o administrador ênfase para algum fator desnecessário,
estão se aumentando, os custos de produção e o inventário, distanciando a empresa de
sua meta. Muitas vezes também, os custos da tecnologia adotada são incompatíveis
com as possibilidades de retorno, o que representa uma “miopia administrativa”.
Partindo-se da premissa de que a produtividade é um “gargalo” no desenvolvimento e
na rentabilidade da pecuária, torna-se premente a maximização da utilização de
recursos que visem seu incremento (SOUKI et al., 1999).
O uso da técnica de “benchmarking” vem sendo empregado pelas unidades
produtoras como uma importante ferramenta administrativa capaz de auxiliá-las a
superar seus próprios limites, além de ultrapassar o desempenho obtido pelas demais
(MENEGAZ, 2005).
54
A técnica de “benchmarking” consiste em se fazer comparações e procurar imitar
as organizações, concorrentes ou não, que desempenham de maneira excepcional
alguma prática, procedimento ou processo (WATSON, 1994).
Assim, “benchmarking” significa copiar algum procedimento “benchmark”, o qual
passa a representar o ponto de referência ou padrão a ser imitado (MAXIMIANO, 2002).
Ainda, para este mesmo autor, a descoberta do marco de referência ou padrão a ser
copiado, pode ocorrer de forma casual, através de observações às organizações que
atuam, ou não, no mesmo ramo de negócios, ou de forma proposital, quando
comprovado a necessidade de se solucionar algum problema que esteja
comprometendo o desempenho organizacional.
Além disso, a utilização desta técnica, pode auxiliar tanto em nível estratégico,
estabelecendo novos padrões de desempenho, como em nível operacional de uma
empresa, procurando entender as melhores práticas e processos para alcançar os seus
objetivos (ZAIRI & LEONARD, 1995).
Esta técnica tem exercido um papel fundamental para o processo de tomada de
decisão e gestão das unidades produtoras, auxiliando os produtores “benchmark” a
medir o grau de eficiência da atividade leiteira, bem como detectar os pontos fracos do
sistema produtivo (MENEGAZ, 2005).
5.1.1 - A importância das informações na tomada de decisões.
No livro A Arte da Guerra, que tem mais de dois mil anos e autoria atribuída ao
general chinês Sun Tzu, a tônica é essa: o combatente deve conhecer a si mesmo, o
território em que pisa e as características do oponente para não ser surpreendido por
ele e, mais que isso, para vencê-lo.
Esta teoria, hoje aprimorada e conhecida como inteligência competitiva, é
essencial para a manutenção e crescimento de empresas, e deve ser também utilizada
pelos produtores rurais, para aumentar sua competitividade frente a um mercado, cada
vez mais exigente e excludente.
55
Segundo COSTA (2006) a inteligência competitiva é usada predominantemente
nas grandes e médias empresas, no entanto, ela é viável e fundamental inclusive nas
pequenas, já que todos estão submetidos a uma concorrência global que só aumenta, e
isso pode gerar novas oportunidades ou acabar com tudo.
Portanto, obter o maior número de dados possíveis das organizações
(propriedades rurais), torna-se uma ferramenta poderosa para suprir-las de informações
capazes de garantirem seu êxito.
Ainda, de acordo com o mesmo autor, mais de 80% das informações que uma
empresa precisa para tomar decisões estão dentro da própria empresa, as demais
podem ser conseguidas consultando fontes disponíveis, como pessoas e periódicos
especializados.
No entanto, o que geralmente acontece, principalmente em pequenas
propriedades rurais (que não funcionam como empresas), é que o produtor não tem
uma cultura de atenção ao ambiente externo, não estão acostumados a tentar entender
o que ocorre dentro e fora da empresa. Eles sempre têm muita coisa para fazer, estão
preocupados com a sobrevivência no dia-a-dia, pagar contas, manter o caixa, e por isso
acabam focando demais no operacional.
Por isso boa parte das decisões tomadas não está embasada em informações
analisadas adequadamente.
A maioria dos produtores de leite, em especial os de pequenas unidades
produtoras de leite, tem acesso restrito a informações, e mesmo quando as tem,
apresentam grande resistência em colocá-las em prática, quando para isto devem
mudar algum comportamento ou prática habitual.
No entanto, cabe ressaltar que no Brasil existem 1,47 milhões de
estabelecimentos familiares, somente na atividade leiteira, e destes, 41% estão
localizados na região sudeste. São propriedades de até 50 hectares, que embora não
produzam mais do que 100 litros de leite por dia, respondem por 36% da oferta do
produto na região (CALDAS, 2003)
56
Sendo assim, medidas de difusão de tecnologias, compatíveis com a realidade
destes produtores, devem ser aprimoradas de forma a incentivar as mudanças na
maneira de agir dos responsáveis pelas unidades produtoras de leite.
Pelo relatado por vários técnicos que atuam em extensão rural, uma das
melhores alternativas é a identificação e manutenção de propriedades “modelos”, ou
seja, que apresentam alguma prática ou procedimento de reconhecida eficiência e que
serve como um exemplo para os demais produtores mais resistentes.
Para isto, a identificação de possíveis práticas ou procedimentos “benchmarks”
em pequenas UPL é uma alternativa interessante, no sentido de expandir informações e
práticas para um maior número de produtores de natureza semelhante.
5.1.2 - Metodologia de “benchmarking”
A utilização da técnica de “benchmarking”, segundo MAXIMIANO (2002),
compreende cinco etapas: planejamento, análise, integração, ação e maturidade. Nos
próximos sub-itens, será realizada a caracterização dessas cinco etapas, a qual seguirá
integralmente as citações deste autor.
5.1.2.1 - Planejamento do projeto “benchmarking”
Nesta etapa, o objetivo consiste em definir quais serão as melhores práticas a
serem pesquisadas e, posteriormente, copiadas. Para tanto, é necessário selecionar o
produto ou o processo a ser comparado; selecionar as práticas, os procedimentos ou os
processos “benchmark” a serem imitados e, posteriormente, definir o método de
obtenção dos dados.
5.1.2.2 - Análise dos dados “benchmark”
57
A etapa da análise envolve o processo de coleta, estudo e interpretação dos
dados pertencentes à organização “benchmark”, onde se deve procurar entender as
práticas (por que “benchmark” é melhor? em que se baseia sua superioridade? quais de
suas práticas podem ser copiadas e implementadas?) e determinar as diferenças
através da comparação efetiva com as organizações.
5.1.2.3 - Integração dos resultados
Nesta etapa, as informações resultantes da aplicação da técnica de
“benchmarking”, são utilizadas para definir as modificações a serem realizadas no
produto ou processo que foi comparado. Assim, é necessário obter aprovação das
informações provenientes da aplicação da técnica e divulgação das informações
geradas, a todos os níveis organizacionais.
5.1.2.4 - Ação
Neste estágio ocorre a implementação das modificações necessárias, sejam no
produto ou processo, para melhorar o desempenho da organização. Para cumprir o
objetivo desta etapa deve-se colocar em prática os resultados “benchmarking”; avaliar
continuamente a implementação das práticas, processos e procedimentos, assim como,
prever modificações e divulgar o progresso.
5.1.2.5 – Maturidade
Quando a empresa passar a incorporar e, conseqüentemente, procurar o
aprimoramento contínuo das melhores práticas, pode-se dizer que a mesma encontra-
se no estágio de maturidade. A concretização desta fase ocorre à medida que outras
empresas passam a se interessar pelo processo ou produto que foi copiado.
58
Neste trabalho, não foi realizado avaliações contínuas (ao longo de anos) que
permitissem visualizar o aprimoramento do setor produtivo através da implementação
das práticas, processos e procedimentos apontados pelo sistema “benchmarking”,
sendo concretizado, apenas as três etapas iniciais da técnica, ou seja, planejamento,
análise e integração, o que permitiu o estudo e interpretação dos dados capazes de
permitir inferir sugestões sobre modificações a serem realizadas no processo que foi
comparado.
5.2 – Material e Métodos
No presente estudo, foram coletados dados de 16 pequenas UPL localizadas na
área de abrangência do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Jaboticabal -
SP, mais precisamente nos municípios de Itápolis, Taquaritinga, Guariba e Ibitinga.
Esta região caracteriza-se pelo predomínio canavieiro e de citricultura,
onde a produção leiteira, geralmente, não é a atividade principal, mas tem importância
na complementação da renda familiar e na manutenção de empregos fixos na zona
rural, como pode ser observado pelos dados de explorações vegetais e animais
disponibilizados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI (2006).
As UPL foram selecionadas de acordo com a facilidade de contato com os
produtores e a aceitação dos mesmos, além de que, todas apresentaram uma produção
de leite/dia inferior a 300 litros, estando esta atividade, entre as três principais fontes de
renda da propriedade.
Os dados referentes às UPL foram obtidos por meio de observação e
questionários semi-estruturados aplicados na propriedade, sempre com o mesmo
pesquisador, buscando reduzir problemas de interpretação nos itens questionados.
Este trabalho não teve a pretensão de retratar o que acontece com o
comportamento das propriedades leiteiras da região em estudo, mas sim, das variáveis
dentro do grupo envolvido.
Para isto, foram abordados alguns aspectos fundamentais já consagrados, e
59
também, criados alguns índices pelo autor, abordando um maior número de variáveis e
estabelecendo pontuações, de acordo com sua contribuição. Os itens avaliados foram:
Produtividade por hectare (litros/ha/ano);
Porcentagem de vacas em lactação (relação percentual entre o número de vacas
em lactação e o total de vacas);
Vacas em lactação por hectare (relação entre o número de vacas em lactação e a
área total, em hectares, destinada a pecuária leiteira na propriedade);
Litros de leite produzidos por hora de mão de obra trabalhada (produção média de
leite em litros por dia, dividido pelo número total de horas trabalhadas na atividade
leiteira, das pessoas envolvidas em um dia);
Participação em associações de produtores ou cooperativas (dados os valores: 0
para quem nunca participou, 1 para quem já participou ou tem interesse mas no
momento não participa e 2 para quem participa);
Preocupação com qualidade do leite (valor obtido pela somatória de 5 itens, sendo
que cada um vale 1 ponto, sendo eles: refrigera o leite na propriedade, armazena em
tanque de resfriamento, atua no mercado formal, recebe diferencial por qualidade do
leite, realiza vacinações recomendadas);
Manejo adequado das pastagens (valor obtido pela somatória de 5 itens, sendo que
cada um vale 1 ponto, sendo eles: realiza adubação, faz análise do solo, utiliza sistema
rotacionado de pastagens, possui irrigação na pastagem, apresenta pasto cultivado);
Interesse por assistência técnica (dados os valores: 0 para os que não manifestaram
interesse, 1 para quem manifestou interesse, mas não colocou em prática nenhuma das
recomendações, 2 para quem aceitou, mas cumpriu poucas das recomendações, 3
para quem aceitou e procurou fazer o máximo possível do que foi aconselhado);
Estabelecimento de metas (dados os valores: 0 para quem não estabelece e 1
quando existem metas definidas);
Controle de dados da atividade (pontos: 0 para quem não realiza, 1 utiliza apenas
alguns controles de produção e reprodutivos, 2 utiliza os mencionados anteriormente e
também os de custos, mesmo que com deficiências);
60
Organização no manejo (valor obtido pelo somatório de 3 pontos: separação dos
animais em lotes ou tratamento individualizado, touro separado das vacas, utilização de
fichas de controle individual);
Objetivo em relação à produção de leite (pontos: 0 para diminuir, 1 para manter, 2
para aumentar).
Estas variáveis foram escolhidas na determinação de possíveis procedimentos
“benchmarks” em pequenas UPL, pelo fato de conciliarem alguns indicadores
importantes na competitividade de empresas rurais, tais como: eficiência de utilização
do capital imobilizado em terras e animais, eficiência no uso da mão de obra disponível,
consciência da importância de união da classe, interesse e comprometimento dos
produtores com a assistência técnica, preocupação com a qualidade do produto,
manutenção de pastagens produtivas, além de fatores ligados a melhoria da
capacidade administrativa, como o estabelecimento de metas, controles e organização.
È evidente que vários outros fatores são importantes na escolha de
procedimentos e UPL referenciais, tais como aspectos administrativos, econômicos e
zootécnicos, no entanto, o esperado, é que estes fatores estejam relacionados
positivamente com as variáveis que foram observadas.
Tendo como objetivo básico a identificação de práticas, processos e
procedimentos que demonstram melhor eficiência, por apresentarem melhores índices
dentre as variáveis selecionadas, aplicou-se a análise fatorial em componentes
principais (conforme item 1.2.2 da pág. 08), para observar o posicionamento das
propriedades em relação a estas variáveis.
5.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os itens levantados anteriormente, podem ser observados na Tabela 1 e 2,
sendo a primeira relacionada com os valores reais obtidos e a segunda com a
pontuação de quesitos, sugerida pelo autor de acordo com as variáveis questionadas.
61
Tabela 1 Características das 16 UPL em relação à produtividade, porcentagem de
vacas em lactação, número de vacas em lactação por hectare e eficiência
humana, medida em litros de leite produzidos por hora de mão de obra
trabalhada na atividade ao dia (L/H/MO).
UPL*
Produtividade
(L/ha/ano)
Vacas em lactação
(%)
Vacas em
Lactação por
hectare
Eficiência Humana
L/H/MO
P1 884,72 50,0
0,49
5,71
P2
4.512,40 64,0
1,86
10,00
P3 2.406,61 58,0
1,65
5,00
P4
5.662,22
40,0
1,77
5,83
P5 1.052,89
60,0
0,50
11,60
P6 2.506,89 55,5
1,37
6,25
P7 1.880,16 55,3
0,73
11,11
P8
3.235,55 100,0
1,77
13,33
P9 1.880,16
66,7
2,07
16,66
P10 2.632,23 50,0
2,06
7,78
P11 1.604,41
66,6
0,83
10,00
P12
7.280,00 75,0
3,50
15,00
P13 780,00 26,5
0,26
37,50
P14 827,27 40,0
0,29
18,33
P15 2.506,88
64,3
1,25
10,00
P16
4.297,52 60,0
1,79
16,66
Média 2.746,87 58,2 1,39 12,55
Sendo: *UPL = unidade produtora de leite; L/ha/ano = litros produzidos em um hectare por ano; L/H/MO = litros de leite produzidos
em relação a cada hora de mão de obra trabalhada na atividade.
Tabela 2 Características das 16 UPL de acordo com as pontuações nos quesitos
observados pelo autor.
UPL*
Participação
de
associações
Preocupação
com
qualidade
Manejo
do
pasto
Interesse
por
assistência
Definição
de
metas
Realização
de
controles
Organização
do
manejo
Objetivo
P1 0 3 1 0 0 0 0 0
P2 0 3
4 2
0
2 2 2
P3 0 0 1 1 0 0 0 1
P4 0 2 1 1
1
1 0
2
P5 0 2 1 0
1
0 1 1
P6 0 0 0 0 0 1 0 1
P7 0 0 2 0 0 1 0 1
P8 0 0 1 0 0 0
1 2
P9 0 2 3 0 0 0 0 1
P10 0 2 2 0
1
0 0
2
P11 0 1 1 0 0 1 0 1
P12 0 2
5 2
0 1 0
2
P13 0 2 2 0 0
2
0 0
P14 1 1 2 0 0 1 0 1
P15 2
5
3
2 1
0 0
2
P16 2
5
3
2 1
0 0
2
*UPL = unidade produtora de leite. Pontuações maiores indicam melhor posicionamento.
62
Projeção das variáveis no fator-plano ( 1 x 2)
Produtiv.
% Vacas lact.
Vacas lact./ha
Efic. hum.
Assoc.
Qual.
Man. pasto
Int.assist.
Metas
Contr.
Org.
Obj.
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
Fator 1 : 36,05%
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
Fator 2 : 19,28%
Com a intenção de facilitar a observação da distribuição das variáveis e das UPL
em relação a estas, pela técnica de análise de componentes principais, foi demonstrada
a projeção das variáveis no plano representado na Figura 1, onde ficou evidente que a
maioria dos índices desejados estão direcionados para o lado esquerdo do gráfico, o
que demonstra uma possível correlação destas variáveis. O fator 1 (eixo horizontal)
representou 36,05% da variância e está relacionado, principalmente, às variáveis de
produtividade, interesse pela assistência técnica, manejo da pastagem, objetivos em
relação a produção de leite e número de vacas em lactação por hectare, enquanto o
fator 2 (eixo vertical) que representa 19,28%, está relacionado principalmente a
porcentagem de vacas em lactação, associativismo, preocupação com qualidade e
estabelecimento de metas.
Figura 1. Coordenadas das variáveis associadas aos fatores 1 e 2.
Sendo: Assoc = interesse por associativismo; Qual = preocupação com qualidade; Metas = definição de metas; Int. assist. =
interesse pela assistência técnica; Man. Pasto = manejo do pasto; obj. = objetivos em relação a produção; Produtiv. = produtividade
(L/ha/ano); Vacas lact./ha = concentração de vacas em lactação em um hectare; % Vacas lact. = porcentagem de vacas em
lactação no rebanho; Org. = organização do manejo; Contr. = controles realizados; Efic. hum. = eficiência humana, medida em litros
de leite produzidos, dividido pela somatória de horas trabalhadas na atividade de todos os envolvidos.
63
Projeção das UPL no fator-plano ( 1 x 2)
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
P12
P13
P14
P15
P16
-6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
Fator 1: 36,05%
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
Fator 2: 19,28%
Ainda em relação à distribuição das variáveis na Figura 1, é interessante
observar que, neste trabalho, as variáveis que representam eficiência do uso da mão de
obra (litros de leite produzido em relação às horas trabalhadas) e controles realizados,
embora com menor expressividade, foram as únicas direcionadas para o lado direito, o
que pode indicar que nas propriedades observadas, ocorreu uma relação entre o
procedimento de realizar controle mais eficiente (maior número de dados coletados) e a
utilização da mão de obra, também de maneira mais eficaz.
Como pode ser visualizado na distribuição das variáveis da Figura 1, pode-se
inferir possíveis práticas, procedimentos ou processos, mais relevantes, nas UPL que
ficarem alocadas nas extremidades dos eixos, relacionados a(s) variável(eis) em que se
destacou, facilitando com isto, a visualização de possíveis características “benchmarks”.
Este fato pode ser compreendido, ao observarmos a Figura 2, onde estão
distribuídas as 16 UPL que participaram deste trabalho, no plano formado pelo fator 1 e
2, de acordo com as variáveis abordadas.
Figura 2: Coordenadas das 16 propriedades em relação as variáveis abordadas na
Figura 1.
64
Sendo assim, fica mais fácil observar as UPL que apresentaram algum
procedimento que se destacou, sendo estas, direcionadas para as extremidades dos
eixos, como pode ser visto, na Figura 2, nas que foram destacadas pelo círculo.
Assim como foi destacado por MENEGAZ (2005), neste trabalho também pôde
ser observado que não existe uma propriedade que se destacou em todos os
processos, práticas e procedimentos em relação as demais, mas sim, em alguns
aspectos, de acordo com suas particularidades.
Portanto, para facilitar a identificação de alguma prática ou procedimento
diferenciado nestas propriedades, vamos analisar separadamente as propriedades P2,
P12, P15, P16, P8 e P13.
A unidade produtora de leite P2, fica localizada no município de Guariba a 20 Km
da cidade e tem a produção de leite como a atividade mais importante da
propriedade, sendo a 1° a cana-de-açúcar.
O trabalho é exclusivamente familiar, sendo que um dos filhos é formado em
técnico agropecuário e apresenta bom conhecimento prático da atividade, além de ser
mais acessível a mudanças e novas técnicas, o que viabilizou o recebimento de
assistência técnica nesta propriedade por membros da Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias de Jaboticabal.
Sendo assim, recebendo assessoria e realizando as mudanças preconizadas,
ainda que com algumas restrições, a propriedade modificou seu sistema de produção,
principalmente no que se refere à alimentação, montando um sistema de pastejo
rotacionado e diminuindo a alimentação no cocho.
Além desta mudança, a propriedade passou a adubar o pasto frequentemente,
com base na análise do solo e melhorou a qualidade de suas forragens.
Os animais foram examinados e encontram-se livres de doenças contagiosas, no
entanto, necessitam passar por uma seleção mais criteriosa para descarte de vacas de
baixa produção e com problemas reprodutivos.
O produtor começou a fazer alguns controles, como leiteiro e reprodutivo, mas
ainda com algumas falhas, e ainda não tem coletado dados suficientes para realizar o
controle financeiro da atividade.
65
Nesta propriedade pode ser observada uma melhor organização no manejo, com
a separação de vacas em lotes e do touro, o que facilita o manejo alimentar e
reprodutivo.
A produtividade foi de 4.512,40 litros/ha/ano, a porcentagem de vacas em
lactação foi de 64% e o número de vacas em lactação por hectare foi 1,86, estando
acima da média (2.746,87; 58,24; 1,39; respectivamente) das 16 UPL observadas.
O leite é vendido no mercado formal, sendo refrigerado na propriedade em
tanque de expansão, no entanto, o transporte não é granelizado, sendo realizado em
latões sobre carroceria aberta de caminhão.
O produtor afirmou vacinar apenas contra aftosa, por acreditar que como o seu
rebanho é livre de outras doenças (fez exame), não precisa de outras vacinas.
O produtor nunca fez parte de associações, nem demonstrou interesse em
participar, no momento.
A UPL número P12 fica localizada em Ibitinga, a 23 Km da cidade e tem a
atividade leiteira como a principal fonte de renda e de trabalho da propriedade.
O trabalho é realizado por dois trabalhadores contratados como caseiros da
propriedade, responsáveis pela sua guarda e manutenção, que sua principal
finalidade é como área de lazer do dono, sendo a atividade leiteira introduzida para
ocupar área desocupada e propiciar uma possível fonte de recursos para pagamento
dos funcionários.
Nesta UPL, também é utilizado o pastejo rotacionado, sendo que esta área
também possui sistema de irrigação.
O proprietário demonstrou interesse pela assistência técnica oferecida neste
trabalho e aceitou as primeiras recomendações feitas, ocasionando uma elevação na
produção de leite logo no primeiro mês, passando de 120 litros para 200 litros/dia, em
um rebanho de 21 vacas em lactação em 6 hectares (3 ha de pasto e 3 ha de milho
para silagem), apenas com o balanceamento e readequação do manejo alimentar.
O controle leiteiro e de nascimento e coberturas, também começou a gerar
informações importantes para o gerenciamento da propriedade, aliado também ao
66
controle dos custos com alimentação, que passaram a ser realizados de maneira mais
eficiente.
A produtividade era de 7.280,00 litros/ha/ano, sendo que 75% das vacas
estavam em lactação, ou seja, foi a que apresentou a melhor produtividade dentre as
UPL observadas.
Esta UPL adquiriu um tanque de expansão, mas não o utiliza por ser de
capacidade muito superior a produção diária, portanto não refrigera o leite a ser
entregue.
No tocante a vacinação, a vacina contra a febre aftosa foi a única que o produtor
afirmou utilizar.
As unidades produtoras de leite P15 e P16 são muito similares em algumas das
variáveis observadas, sendo que as duas recebem assessoria de técnicos do SAI
(sistema agroindustrial integrado), que auxilia através de cursos, palestras e visitas
técnicas, vários produtores da região.
De todas as UPL estudadas estas foram às únicas em que os produtores
realmente participam de associações, na compra de insumos e na venda do leite,
conseguindo vantagens na negociação devido ao maior volume.
Embora apenas a UPL P16 possua tanque de expansão, ambas refrigeram o
leite na propriedade, pois a P15 utiliza o mesmo tanque em conjunto.
Todos os animais são vacinados de acordo com as recomendações dos técnicos
da região.
A preocupação com a qualidade do leite é bem mais visível, principalmente
porque vendem o leite para um laticínio que oferece diferencial no preço pela qualidade
do produto. Outro fato interessante de ser observado é que nestas duas UPL a
definição e o estabelecimento de metas são praticados usualmente.
A UPL P8 ficou alocada na extremidade inferior do gráfico (Figura 2),
principalmente em função da alta porcentagem de vacas em lactação (100%), no
entanto, este índice não é viável, sendo que somente ocorreu em razão do produtor ter
vendido as vacas que estavam secas e adquirido mais animais, em lactação.
Portanto, este caso não se destacou como práticas ou procedimentos “benchmark”.
67
na UPL P13, o seu diferencial está relacionado a eficiência do uso da mão de
obra, variável esta, em que apresentou o maior valor de litros produzidos em relação a
hora trabalhada na atividade (37,5 L) dentre as UPL observadas. No entanto, seu
direcionamento na extremidade direita do gráfico (Figura 2), mostra-se contrário as
variáveis relacionadas à eficiência na utilização da área para produção de leite (Figura
1), como pode ser constatado pela baixíssima produtividade e porcentagem de vacas
em lactação (780 L/ha/ano e 26,5%; respectivamente).
No tocante ao objetivo do produtor em relação a produção de leite, dentre estas
UPL que se destacaram, apenas a P13 não demonstrou interesse em aumentar a
produção, o que ressalta que estas propriedades estão buscando alternativas para
continuarem na atividade.
Como referencial de práticas, processos e procedimentos, destacaram-se as
UPL P2 e P12, com melhores índices de produtividade e de concentração de vacas em
lactação por hectare, com uso do pastejo rotacionado intensificando a utilização da
pastagem, assim como, a correta adubação pela análise do solo e até mesmo, sistemas
de irrigação.
Além destes aspectos, o manejo alimentar adequado com uso de ração
balanceada e fornecimento de acordo com as exigências do animal, o melhor controle
de dados facilitando o gerenciamento da propriedade e a tomada de decisões, são
fatores de destaque nestas propriedades, ainda que apresentem deficiências.
Nas UPL P15 e P16, vale ressaltar, o associativismo como forma de união e
força das pequenas UPL e a maior preocupação com qualidade e estabelecimento de
metas, principalmente das que recebem algum diferencial no preço do leite.
As vantagens do associativismo também foram relatadas por BRESSAN (1998),
onde destacou que os produtores podem otimizarem seus ganhos, quando se associam
em grupos de compra e venda em comum, constituírem associações e grupos de
pressão, para obterem melhores preços por seus produtos, criarem sistemas
condominiais de coleta e transporte do leite resfriado (participando, assim, da chamada
granelização do leite, que permite, no mínimo, ganhos com a redução de frete).
68
A UPL P13, embora apresentou valores de produtividade inferiores aos demais,
deve ser observada como referência a ser seguida pelas demais, na melhoria da
eficiência no uso da mão de obra, que apresentaram valores muito baixos (como pode
ser observado na Tabela 1) em todas as demais UPL.
Para melhorar o método de aplicação da técnica de benchmarking, a inclusão de
planilhas que facilitem o gerenciamento e o controle das principais variáveis analisadas
nas UPL, com o desenvolvimento de um caderno de campo contendo o conjunto de
normas a serem seguidas pelas UPL observadas, deve ser considerado para futuros
trabalhos, assim como foi sugerido por MENEGAZ (2005).
5.4 - Conclusões:
Pelos dados levantados neste trabalho, foi possível observar que a identificação
de benchmarks em pequenas UPL também é possível, devido a grande
heterogeneidade das mesmas.
Embora não foi encontrada uma UPL padrão, em que a maioria de seus dados
fossem positivos, a difusão de técnicas, práticas e procedimentos podem ser feitos por
ações e procedimentos de sucesso, observadas as particularidades dentro de cada
propriedade.
As possíveis UPL benchmarks estão em constante aprimoramento, fato
importantíssimo para quem quer se manter no setor.
69
CAPÍTULO 6 – IMPLICAÇÕES
As questões levantadas neste trabalho buscam levar técnicos, produtores,
pesquisadores e órgãos governamentais ou particulares, ligados à cadeia produtiva
leiteira, a uma reflexão sobre a situação das pequenas unidades produtoras de leite,
localizadas na área do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Jaboticabal-SP,
região esta, dominada pelos setores sucroalcooleiro e citrícola, em um momento onde a
rentabilidade da atividade leiteira é muito questionada e as exigências preconizadas no
mercado formal, em termos de qualidade e volume produzido, tem levado um grande
número de produtores a desistir da atividade, ou partirem para a informalidade.
Os produtores rurais, de diversas atividades, estão rapidamente abandonando
suas antigas plantações e criações e arrendando suas terras para o plantio da cana-de
açúcar, fato este, considerado por muitos, inclusive por alguns órgãos governamentais,
como a melhor alternativa, levando em consideração apenas a rentabilidade da terra ao
longo do ano. No entanto, esquecem ou mascaram fortes problemas sociais que vem
ocorrendo com esta inserção desenfreada da monocultura canavieira, tanto no
ambiente rural quanto nas cidades.
A diminuição das atividades diversificadas no campo, leva à diminuição de
empregos fixos e no inchaço das cidades pelo êxodo destas famílias rurais e pela
chegada dos trabalhadores temporários que sobrecarregam a infra-estrutura das
cidades, muitas vezes precárias, em época de safra, principalmente em termos de
atendimento à saúde e disponibilidade de empregos; além destes fatores, ocorre
também queda na produção de gêneros alimentares básicos e conseqüente elevação
de preço, em razão destes produtos terem que vir de regiões mais distantes, e
possíveis alterações ambientais no solo e no clima, com conseqüências sobre as
populações das espécies da flora e fauna regionais.
Sendo assim, atividades que conciliam a fixação de trabalhadores ao campo com
a diversificação de culturas, devem ser estimuladas, de maneira a diminuir sérios
problemas sociais, atualmente já arraigados.
70
A atividade leiteira mostra-se altamente interessante, no sentido da viabilização
da permanência do homem no campo, com a produção de um alimento de grande
importância social e econômica.
Neste sentido, a identificação de maneiras de manter esta atividade, sobretudo
em pequenas propriedades, de maneira rentável para o produtor e oferecendo
alternativas para que este, se adeque as exigências de qualidade e que possua canais
de distribuição e comercialização, compatíveis com a sua realidade, são aspectos
fundamentais para a diminuição da marginalização dos pequenos produtores.
A maior flexibilidade em função dos menores investimentos em infra-estrutura
destas pequenas propriedades, com o uso do trabalho familiar em sua maioria, são
grandes armas para a manutenção de sistemas de produção eficientes, mesmo com
pequeno volume.
O poder para negociação de melhores preços, tanto na compra de insumos
como na venda do leite, como foi ressaltado neste trabalho, está na união dos
produtores, através de associações e cooperativas, de maneira participativa,
reivindicando seus direitos e lutando por seus interesses, ao mesmo tempo em que
ocorre a capacitação técnica e administrativa.
A difusão de técnicas apropriadas a pequenas unidades produtoras de leite, deve
ser incentivada, principalmente com o uso de propriedades de natureza semelhante,
que funcionariam como sistemas “modelo”, assim como, na integração entre órgãos de
pesquisa e extensão governamentais, universidades e poder público municipal, na
identificação das maiores prioridades, tanto na produção como na comercialização,
buscando medidas de garantir a rentabilidade do produtor, ao mesmo tempo em que
monitora a melhoria da qualidade dos produtos que chegam ao consumidor.
Determinadas medidas, adotadas em algumas cidades, como a construção de
galpões de recebimento e resfriamento do leite em conjunto, para venda em maior
volume para as indústrias, tem demonstrado bastante eficiência, à medida que controla
melhor a qualidade do leite na hora da recepção, condições ao produtor manter-se
na formalidade, propicia condições de obter uma maior remuneração em razão do maior
volume de venda, facilita o contato destes produtores com técnicos por terem um ponto
71
de contato constante, diminui os riscos a saúde pública pela venda informal de leite e
seus derivados, além da possível manutenção e geração de novos empregos.
Outro fato, que também merece atenção especial, é o funcionamento dos
pequenos laticínios sob inspeção municipal, que muitas vezes são a única opção de
venda do leite para os produtores de baixa escala de produção, pois aceitam a entrega
de menores volumes, embora na maioria das vezes, oferecem um valor abaixo da
cotação do mercado pelo litro do leite.
Sendo assim, a manutenção destes pequenos laticínios, também é
extremamente dependente dos pequenos produtores, pois os de grande escala,
preferem entregar seu leite a grandes indústrias, obtendo uma maior remuneração pelo
litro do leite, além de bonificações por qualidade.
Portanto, é imprescindível que ações sejam adotadas, também no sentido de
viabilizar o funcionamento dos pequenos laticínios, e de preferência, incentivando a
diversificação e agregação de valores dos seus produtos, como a fabricação de
derivados de qualidade, divulgados com forte apelo social e regional, no fortalecimento
da pecuária e na contribuição a manutenção e geração de empregos.
Como foi observado neste trabalho, a maioria dos proprietários exercem outras
funções prioritárias na geração de renda, sendo a produção de leite, atividade
complementar, no entanto, responsável pela manutenção de empregos,
complementação da renda e da alimentação de muitas famílias.
A grande heterogeneidade de situações e sistemas de produção, demonstra que
a atividade ainda apresenta índices muito contrastantes de produtividade, eficiência de
utilização da mão de obra e da infra-estrutura utilizada, partindo de situações de
criações com características totalmente extensivas, até sistemas mais intensivos com
pastejo rotacionado e irrigação.
No entanto, como pode ser observada na maioria dos casos, a rotina dos
afazeres do dia a dia, está acima das preocupações com o correto gerenciamento da
propriedade e principalmente da atividade leiteira, que geralmente, não apresenta os
mínimos dados de controle, para um bom planejamento, organização e direcionamento
72
das atividades, ocasionando uma grande incerteza na eficiência do sistema adotado
pelo produtor.
Esta incerteza na produtividade e rentabilidade do sistema, é um dos fatores que
impulsiona o produtor a lançar-se em outras atividades, que no momento parecem ser
bem mais atrativas, como o cultivo da cana-de-açúcar ou o arrendamento da terra para
as usinas.
A identificação de unidades produtoras que se destacam por algum processo,
prática ou procedimento comprovadamente eficaz, assim como o constante
acompanhamento pela assistência técnica, na busca e difusão de técnicas apropriadas
a este tipo de produtores, de maneira a comprovar sua eficiência e rentabilidade,
podem ser sugeridos como princípios para manutenção desta atividade.
Portanto, a identificação das características regionais e individuais dos
produtores, aliado as características de mercado, tanto do produto em questão, como
das demais alternativas de produção e renda, devem ser muito bem avaliadas,
possibilitando assim, a tomada de decisões com bases sólidas, tanto por parte dos
produtores como de técnicos e do poder público, no sentido de minimizar problemas
sociais e econômicos.
REFERÊNCIAS:
2
ALEIXO, S.S. Identificação de componentes principais na determinação de grupos
econômicos e tecnicamente homogêneos na pecuária de leite. 2003. 121f.
(Dissertação de mestrado) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2003.
ALEIXO, S.S; SOUZA, J.G. Análise de nível tecnológico de produtores de leite: estudo
de caso da Cooperativa Nacional Agro-Industrial (COONAI) – Ribeirão Preto (SP).
Informações Econômicas, São Paulo, v.31, n. 10, p.27-36, 2001.
2
Segundo normas da ABNT-NR6023
73
ALEIXO S.S.; Análise de nível tecnológico de produtores de leite: estudo de caso
da Cooperativa Nacional Agro-Industrial. 2000. 119f. Monografia (Trabalho de
Graduação em Zootecnia) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2000.
ALVES, F.J.C. Políticas setoriais e auto-sustentabilidade: avaliação e proposta para
a Bacia Hidrográfica Mogi-Guaçú. São Carlos: DEP/UFSCar, 2003. (Projeto Temático
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80
APÊNDICE
81
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO UTILIZADO NO TRABALHO DE CAMPO
Etapa 1 – Diagnóstico P(______)
1.1 Qual a idade do produtor?_________(anos)
2- Em qual cidade se localiza a propriedade?__________________
3- Identificação da propriedade
3.1 Qual o nome da propriedade?_______________________________________
3.1 Qual a área total da propriedade?_____________________
3.2 Qual a área utilizada para pecuária leiteira?____________________
3.3 Quais as três primeiras atividades rentáveis existentes na propriedade?
1°-
2°-
3°-
3.4 Qual a distância da propriedade até a cidade (aproximadamente):__________ (Km).
Parâmetros Técnicos:
1T-Qual a produção média de leite por dia na propriedade?
No período das águas __________(litros)
No período das secas __________(litros)
2T- Qual o volume de leite produzido por dia mais comum ao longo do ano:
_____________(litros).
3T -Qual o número de animais do rebanho leiteiro da propriedade:
N. de vacas em lactação:_________
N. de vacas secas: ___________
N. de touros: _______________ Qual a raça do touro: ____________
3T -Quantos trabalham e por quanto tempo em atividades voltadas a produção de leite
(ordenha, alimentação, manejo geral):
N.________ homens __________ horas trabalhadas com
gado leiteiro
N.________ mulheres __________ horas trabalhadas com
gado leiteiro
4T - O produtor utiliza mão de obra contratada?
( ) Sim ( )Permanente ( )Temporária ( )Não
82
5T –O produtor faz alguma coisa para evitar a queda na produção de leite nos meses
de seca?
a)Não b)Concentra os nascimentos no início da seca c)Fornece silagem de milho
d)fornece cana ou capim picado e)fornece mais ração f)utiliza reserva de pasto
g)fornece sal proteinado
6T –Qual o tipo de capim utilizado pelo produtor na pastagem? (Qual o principal)
7T – O produtor realiza adubação de pastagem ou capim?
( )Sim ( )Não
9T – Como é definida a quantidade de adubo utilizado na pastagem?
a) pela análise de solo b) de acordo com o que para comprar c) com o que sobra
de outras culturas d) segundo recomendação de amigo e) outra (especificar) f) não
aduba
10T -O produtor fornece ração (concentrado)? Com qual critério?
a) não fornece b) fornece e todos os animais adultos comem junto c) fornece de
acordo com a produção de cada vaca d) fornece de acordo com as exigências
calculadas por um técnico e) outra opção (especificar)
12T -Que tipo de vacinação é realizada?
( )aftosa ( )brucelose ( )paratifo ( )carbúnculo ( )raiva ( )nenhuma
14T- Quais os cuidados para comprar novos animais?
a)avalia o preço b)só compra de vendedor conhecido c)manda fazer exame
comprovando sanidade e)outros (especificar)
16T-Quais as principais raças dos animais do rebanho?
a)Gir b)Girolando c)Holandês d)Gir/Corte e)Jersey f)outros (especificar)
17T-Com que freqüência o produtor recebe assistência técnica?
a)nunca b)somente quando o animal está em risco de vida c)frequentemente
d)raramente
18T-Qual o tipo de assistência técnica mais utilizada?
a)veterinário b)técnico de empresa comercial c)profissional liberal d)órgão de
assistência do governo e)outro (especificar)
Parâmetros Administrativos
Planejamento:
1Ap- Quais pessoas são responsáveis por planejar o que vai ser feito na propriedade?
a)Dono b)Família c)Filhos e)outros (especificar)
83
2Ap -Quais os principais objetivos do produtor quanto a produção de leite?
a)manter como está b)aumentar sua produção c)diminuir sua produção
6 Ap- O que o produtor observa para fazer seus planos futuros?
a)o preço do leite e do animal b)preço e análise de mercado c)comparativo de outros
produtos agrícolas d)faz calculo do custo de produção e)outro (especificar)
Organização (Ao)
1 Ao- Como são definidas as funções de cada pessoa na propriedade? (tempo,
afinidade, gosto, impostas).
a)disponibilidade de tempo b)afinidade (gosto) c)imposição d)outro (especificar)
3 Ao- Os animais possuem algum tipo de identificação?
( )não ( )são reconhecidos e tem nome ( )brincos ( )colar ou corrente de
identificação
( )outros (especificar)
4 Ao- O produtor possui ficha individual com os dados de cada animal?
( )Sim ( )Não
5 Ao- O produtor faz separação dos animais por lote de produção?
( )Sim ( )Não
6 Ao- O produtor mantém o touro separado das fêmeas?
( )Sim ( )Não
Execução (Ae)
1 Ae- O produtor está realizando algum tipo de mudança (venda ou compra de animais,
melhoria das instalações, máquinas ou pastagens, alteração na alimentação ou no
manejo) no seu sistema produtivo?
a)Sim b)Não
2 Ae- Qual a finalidade da mudança em ação?
a)sem mudanças b)diminuir custos de produção c)melhorar a alimentação d)melhorar
as instalações e)aumentar o rebanho f)diminuir o rebanho g)melhorar a qualidade do
leite h)outras (especificar)
3 Ae- A mudança envolve algum tipo de investimento (gasto)?
a)Sem mudanças b)Não c)Sim
6 Ae- As ações que são realizadas ocorrem de acordo com um planejamento anterior?
( )Sim ( )Não
84
7 Ae- São definidas metas para execução de atividades?
Ex: aumentar a produção de leite em tantos litros daqui a tantos anos fazendo
determinada ação
a)Sim b)Não
Controle (Ac)
1Ac- É feito coleta e registro de dados da atividade? (produção de leite, produção por
vaca, compra de insumos, vendas de leite, controle de custos, controle de estoque, data
de cobertura, data de nascimento, outros) Se não, ir para 8 Ac.
a)Sim b)Não
2Ac- Quais são os dados coletados e registrados?
a)Nenhum b)Data de cobertura c)Produção de leite total d)Produção de leite de cada
vaca e)controle de custos f)controle de estoque g)data de nascimento h)idade ao
primeiro parto i)outros (especificar)
4Ac- Os controles estão sendo utilizados para tomada de decisões?
a)Sim b)Não c)As vezes
5Ac- Quais os meios utilizados para registrar os dados?
a)não registra os dados b)caderno de anotações c)computador d)outros (especificar)
8Ac- Porque o produtor não coleta e registra dados (ou mais outros dados)
a)não acha importante b)não tem tempo c)falta de hábito d)falta de um modelo
Parâmetros de Comercialização
2C - Qual é a forma de entrega do leite (vendem para quem)?
a)para laticínios b)vende direto para o consumidor c)vende para o laticínio e direto
para o consumidor
3C - Qual motivo que leva o produtor a entregar (vender) o leite desta maneira?
a)maior valor b)não tem outra opção de venda c)desentendimento com o laticínio
d)facilidade de entrega
85
4C - Parte do leite também é comercializado na forma de derivados (queijo, doces...)
feitos pelo produtor?
a)não b)sim, pequena parte c)sim, a maior parte
6C – Quanto o produtor recebe pelo litro de leite?
Do laticínio: R$________ Venda direta para o consumidor: R$_________
8C - O produtor recebe diferencial(ganha mais por litro) por qualidade do leite?
a)Sim b)Não
9C - Existe algum contrato de venda entre o produtor e o consumidor ou laticínio ?
a)Sim b)Não
10C - Onde o leite é armazenado após a ordenha?
a)latão b)tanque de resfriamento c)geladeira d)freezer
12C - O produtor realiza compra de produtos ou venda de leite junto com outros
produtores?
a)Sim b)Não
14C – O produtor possui tanque de expansão (para resfriar o leite na propriedade)?
a) Sim b) Não
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