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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
SORAIA LOECHELT PORATH
A PAISAGEM DE RIOS URBANOS.
A PRESENÇA DO RIO ITAJAÍ-AÇU NA CIDADE DE BLUMENAU.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
FLORIANÓPOLIS 2004
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SORAIA LOECHELT PORATH
A PAISAGEM DE RIOS URBANOS.
A PRESENÇA DO RIO ITAJAÍ-AÇU NA CIDADE DE BLUMENAU.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal de Santa Catarina
como requisito parcial para obtenção do título
de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profa. Dra. Sonia Afonso
Florianópolis 2004
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Ficha Catalográfica Elaborada por
Am ércia I. Buzzi CRB 14/400
Porath, Soraia Loechelt
P832p A paisagem de rios urbanos : a presença do Rio Itajaí-Açu na
cidade de Blumenau / Soraia Loechelt Porath. - 2004.
xiv, 150p. : il.
Orientadora: Sonia Afonso.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Santa
Catarina, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo.
1. Arquitetura paisagística Blumenau (SC). 2. Hidrologia urbana
Itaj-Açu, Rio, Vale (SC). 3. Urbanização Blumenau (SC). I. Afonso,
Sonia. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo. III. Título.
CDD 711.40981642
A PAISAGEM DE RIOS URBANOS.
A PRESENÇA DO RIO ITAJAÍ-AÇU NA CIDADE DE BLUMENAU.
SORAIA LOECHELT PORATH
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Mestre
em Arquitetura e Urbanismo, área de concentração Projeto e Tecnologia do
Ambiente Construído, linha de pesquisa Desenho Urbano e Paisagem, no
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Santa Catarina.
Profa. Dra. Sonia Afonso
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
APROVADA PELA COMISSÃO EXAMINADORA EM: 12 de Fevereiro de 2004.
Profa. Dra. Sonia Afonso (Membro UFSC)
Orientadora
Profa. Dra. Dora Maria Orth (Membro UFSC)
Profa. Dra. Alina Gonçalves Santiago (Membro UFSC)
Prof. Dr. Elson Manuel Pereira (Membro UFSC)
Prof. Dra. Lucia Maria S. A. Costa (Membro UFRJ)
Florianópolis 2004
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
III
Os desafios constantes no planejamento,
projeto e manejo de uma área não se resumem
em se ter uma visão espacial e temporal de uma
ampla área, mas em se enfrentar as principais
questões sociais e ambientais presentes.
Abastecimento de água, transporte e circulação,
biodiversidade, recursos paisagísticos, relações
culturais e comunitárias, agricultura entre outros
tantos mais, são fatores essenciais a serem
considerados. Para que todos os planos
atendam adequadamente a essas questões,
uma ampla gama de conhecimentos técnicos
específicos deve ser alcançada”.
PELLEGRINO, Paulo, R. M., 2000, p. 171.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
IV
Para Gerson.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
V
AGRADECIMENTOS
Neste momento, após ter concluído a pesquisa, muito me satisfaz olhar
para trás e ver quantas pessoas conheci neste caminho, as quais me ajudaram a
crescer.
Em primeiro lugar, meus sinceros agradecimentos à minha orientadora
Profa. Sonia Afonso, pelo freqüente acompanhamento da pesquisa, pelas lições
de vida e pela confiança em mim depositada, fazendo-me sua cativa admiradora.
Minha gratidão se estende aos professores Alina Gonçalves Santiago,
Elson Manuel Pereira, Dora Maria Orth e Lucia Maria Sá Antunes Costa, pelos
quais tenho profunda admiração, por todos os ensinamentos, atenção no
desenvolvimento deste trabalho e críticas importantes para o aprimoramento da
pesquisa.
Agradeço às instituições que contribuíram para a realização da pesquisa:
CAPES e FUNPESQUISA, pelo apoio financeiro; FURB, Arquivo Histórico José
Ferreira da Silva, pelas informações cedidas, aos professores e funcionários do
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, em especial a Profa. Cláudia Araripe
de Freitas Siebert e IPA; ao; ao SAMAE (Serviço de Abastecimento Municipal de
Água e Esgoto), à Prefeitura Municipal de Blumenau (IPUB, Defesa Civil e
Cadastro).
Quero destacar o apoio, incentivo e motivação sempre presente dos
colegas de mestrado, em especial aos arquitetos Luís Guilherme Aitta Pippi,
Felipe Heidrich, Fernanda Jane Furtado Loureiro e Célia Regina da Silva, que se
tornaram eternos amigos.
Um agradecimento especial para importantes pessoas que não são
arquitetos ou professores, mas educadores da vida e me completam como ser
humano: mãe, que mesmo longe fisicamente, soube sempre estar presente, pai e
irmãos, família Porath e esposo Gerson, pela compreensão nos momentos mais
difíceis, inclusive pelas horas roubadas do nosso convívio familiar em favor da
pesquisa.
E por fim, ao Arquiteto do Universo, que me acompanhou e me deu força
para enfrentar as dificuldades encontradas;
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
VI
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................
VIII
LISTA DE ABREVIAÇÕES.............................................................................
XII
RESUMO........................................................................................................ XIII
ABSTRACT.....................................................................................................
XIV
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO................................................................................................
1
1.1. O TEMA E OS OBJETIVOS......................................................... 2
1.2. MATERIAIS E MÉTODOS........................................................... 6
1.3. A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO........................................... 9
CAPÍTULO 2
REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................
12
2.1. DESENHO URBANO E PAISAGEM............................................ 13
2.2. PAISAGEM E AMBIENTE........................................................... 16
CAPÍTULO 3
A PAISAGEM DE RIOS URBANOS...............................................................
23
3.1. OS RIOS E O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES................. 24
3.1.1. A visão do Rio como Fonte de Problemas..................... 25
3.1.2. A visão do Rio como Obra de Arte................................. 32
3.1.2.1. Os Rios como Soluções Paisagísticas............. 34
3.1.2.2. Os Rios como Soluções Paisagísticas e
Ambientais da Cidade.................................................... 40
3.2. QUADRO DE RIOS URBANOS................................................... 51
CAPÍTULO 4
A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ -AÇU.........................................
60
4.1. A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE
PLANEJAMENTO............................................................................... 61
4.2. DADOS GERAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ-
AÇU.....................................................................................................
62
4.2.1. A Geomorfologia............................................................. 67
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
VII
4.2.2. O Clima........................................................................... 68
4.2.3. A Vegetação................................................................... 69
CAPÍTULO 5
A PRESENÇA DO RIO ITAJAÍ-AÇU EM BLUMENAU ..................................
73
5.1. A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM....................................... 74
5.1.1. Primeira Fase: A Paisagem Colonial (1850 a 1883)...... 77
5.1.2. Segunda Fase: A Paisagem do Desenvolvimento
(1884 a 1938)........................................................................... 84
5.1.3. Terceira Fase: A Paisagem das Intervenções (1939 a
1968)........................................................................................
89
5.1.4. Quarta Fase: A Paisagem Cultural (1969 a
1983)........................................................................................
96
5.1.5. Quinta Fase: A Paisagem da Reconstrução (1984 a
1995)........................................................................................
101
5.1.6. Sexta Fase: A Paisagem Atual (1996 a 2003).............. 109
CAPÍTULO 6
A PAISAGEM DO RIO ITAJAÍ-AÇU.............................................................. 115
6.1. AS UNIDADES E ELEMENTOS DE PAISAGEM DO RIO
ITAJAÍ-AÇU......................................................................................... 116
6.2. DADOS GERAIS DO BAIRRO CENTRO..................................... 125
6.2.1. As Unidades de Paisagem do Rio Itajaí-Açu................. 125
6.2.2. Os Elementos de Paisagem do Bairro Centro................ 127
CAPÍTULO 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................
133
7.1. RESULTADOS ENCONTRADOS................................................ 134
7.2. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...................................... 137
CAPÍTULO 8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................
142
8.1. LIVROS E PERIÓDICOS............................................................. 143
8.2. LEGISLAÇÕES MUNICIPAIS...................................................... 148
8.3. ENDEREÇOS ELETRÔNICOS.................................................... 149
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
VIII
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Desenvolvimento da cidade na margem de um rio................................................... 2
Figura 2 Esquema da relação dos rios com a paisagem natural e construída...................... 5
Figura 3 Esquema das abordagens da pesquisa.................................................................... 7
Figura 4 A dinâmica de uma várzea mostra que os rios transbordam com uma freqüência
previsível e as construções nas várzeas correm o risco de destruição..................................... 17
Figura 5 Ciclo hidrológico........................................................................................................ 26
Figura 6 Escoamento superficial na pré e pós-urbanização................................................... 27
Figura 7 Casas sobre palafitas no Rio Capibaribe em Recife/PE........................................... 27
Figura 8 Poluição do Rio Jacarta (Indonésia)......................................................................... 28
Figura 9 Rios urbanos e sua poluição..................................................................................... 28
Figura 10 Avenidas marginais do Rio Tietê e a mata ciliar degradada pela retificação......... 29
Figura 11 Os Jardines Del Turia ocupam o antigo leito do Rio Turia em Valência................. 30
Figura 12 Avenida Hercílio Luz em Florianópolis aprisionando o Rio da Fonte Grande........ 30
Figura 13 Modelo de canalização de rios............................................................................... 31
Figura 14 Ataque urbano sobre pequenos rios e córregos..................................................... 31
Figura 15 Canal do Rio Tamanduateí com densa área industrial entre o canal e a linha
férrea.......................................................................................................................................... 32
Figura 16 Urbanização de Budapeste às margens do Rio Danúbio....................................... 34
Figura 17 Margens do Rio Elba em Hamburgo....................................................................... 34
Figura 18 Festa para o Rio Alster em Hamburgo................................................................... 34
Figura 19 Dois dos mais de 2.500 barcos habitados nos canais de Amsterdã...................... 35
Figura 20 Mapa de São Petersburgo com indicação das principais edificações às margens
do Rio Neva............................................................................................................................... 35
Figura 21 O Rio Sena como obra de arte............................................................................... 36
Figura 22 O Centro de Paris às margens do Rio Sena........................................................... 36
Figura 23 Roma às margens do Rio Tibre............................................................................. 37
Figura 24 Ponte Sant’Angelo e margem do Rio Tibre, em Roma........................................... 37
Figura 25 O Rio Ganges em Benares..................................................................................... 38
Figura 26 Margens do Rio Tejo, no Centro de Lisboa, Portugal............................................. 39
Figura 27 Construções voltadas para o Rio Capibaribe no Centro de Recife........................ 39
Figura 28 Margens arborizadas do Rio Tâmisa...................................................................... 40
Figura 29 Sistema de Comportas do Rio Tâmisa................................................................... 41
Figura 30 O traçado original do Rio Don em Toronto, no Canadá........................................ 41
Figura 31 Trilhas às margens do Rio Don............................................................................ 42
Figura 32 Área de retenção de águas da chuva transformado em campo de golf em
Woodlands, no Texas................................................................................................................
44
Figura 33 O Caminho Verde do Rio Platte com 24km de trilhas interligadas......................... 46
Figura 34 O Confluence Park oferece lugar para saída de canoas e caiaques e uma vista
da área de canoagem................................................................................................................
47
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
IX
Figura 35 O Sistema de Parques de Boston........................................................................... 48
Figura 36 Riverway (implantação e pós-implantação)............................................................ 48
Figura 37 A cidade de Linz, na Áustr
urbano........................................................................................................................................ 49
Figura 38 A linearidade do rio como um sistema................................................................... 62
Figura 39 Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu....................................................................... 63
Figura 40 Barragem Oeste...................................................................................................... 64
Figura 41 Barragem Norte...................................................................................................... 64
Figura 42 Médio e Baixo Vale na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu.................................. 66
Figura 43 Mapa geológico da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu........................................ 67
Figura 44 Clima de Blumenau................................................................................................. 69
Figura 45 Mapa Fitogeográfico da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu................................ 70
Figura 46 Capivara nas margens do Rio Itajaí-Açu................................................................ 71
Figura 47 Quero-quero nas margens do Rio Itajaí-Açu.......................................................... 71
Figura 48 Periodização da transformação da paisagem de Blumenau.................................. 75
Figura 49 Área de concentração do estudo da transformação da paisagem na área central
de Blumenau..............................................................................................................................
76
Figura 50 - Pintura da chegada dos imigrantes alemães na Colônia Blumenau em 1850....... 77
Figura 51 Área navegável do Rio Itajaí-Açu com destaque para área de implantação da
Colônia em fundos de vale.........................................................................................................
78
Figura 52 A divisão dos lotes no período colonial................................................................... 79
Figura 53 Demarcação da linha de fundos dos lotes coloniais............................................... 80
Figura 54 Detalhe do mapa de 1864 com os lotes demarcados e numerados
perpendicularmente aos cursos d’água..................................................................................... 81
Figura 55 Detalhe do parcelamento do solo no Centro (Stadtplatz) de Blumen
com as principais vias da colônia............................................................................................... 82
Figura 56 Detalhe do mapa de 1872 com a divisão dos lotes coloniais na Ponta Aguda e o
traçado viário surgindo paralelamente aos cursos d’água......................................................... 83
Figura 57 Rua XV de Novembro (paralela ao Rio Itajaí-Açu) em 1890.................................. 84
Figura 58 Centro da cidade de Blumenau (Stadtplatz) em 1900............................................ 85
Figura 59 O mapa de 1900 mostra os lotes, o traçado viário, os cursos d’água e os morros 85
Figura 60 Ponte de pedras sobre o ribeirão Garcia e o hotel Holetz...................................... 86
Figura 61 O porto de Blumenau na década de 1920............................................................. 87
Figura 62 Crescente urbanização em 1930............................................................................ 87
Figura 63 Detalhe do mapa de 1938 onde o Centro da cidade aparece como uma mancha. 88
Figura 64 Blumenau em 1940 com destaque para a Ponte da Estrada de Ferro................... 89
Figura 65 Estação de tratamento de água no Morro da Boa Vista com vista para os bairros
Centro e Ponta Aguda................................................................................................................
89
Figura 66 Ponte dos Arcos, concluída em 1950..................................................................... 90
Figura 67 Margens do Rio Itajaí-Açu no Centro da cidade na década de 1950..................... 90
Figura 68 Detalhe do mapa de 1955 com destaque para o traçado viário, os cursos
d’água, a estrada de ferro e as pontes sobre o Rio Itajaí-Açu, as áreas verdes e principais
edifícios......................................................................................................................................
91
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
X
edifícios......................................................................................................................................
Figura 69 Bairros adjacentes a área navegável do Rio Itajaí-Açu.......................................... 92
Figura 70 Ponte Adolfo Konder e urbanização concentrada na margem direita do Rio
Itajaí-Açu.................................................................................................................................... 93
Figura 71 O Grande Hotel e Edifício Visconde de Mauá destacam-se entre as edificações. 93
Figura 72 Esquema da margem direita do Rio Itajaí-Açu antes e depois da intervenção...... 94
Figura 73 Início da construção da Avenida Beira-Rio em 1968.............................................. 95
Figura 74 Detalhe do mapa de 1968 com destaque para os rios e ribeirões, a estrada de
ferro, as pontes e o traçado viário com a projeção da Avenida Beira-
Rio..............................................................................................................................................
95
Figura 75 Foto aérea de 1972 com destaque para o Centro. da cidade................................ 96
Figura 76 Detalhe do mapa da década de 1970 com o sistema viário nomeado e em
destaque os cursos d’água e o desaparecimento do Ribeirão Bom Retiro............................... 97
Figura 77 Zoneamento da área navegável do Rio Itajaí-Açu em Blumenau de 1977............ 98
Figura 78 Construções emblemáticas na Avenida Beira-Rio.................................................. 100
Figura 79 Avenida Beira-Rio na enchente de 1983................................................................ 100
Figura 80 Área atingível pelas enchentes em Blumenau até a cota de 17,00m..................... 101
Figura 81 Foto aérea de 1984 destacando o Centro da cidade com os marcos referenciais,
as vias principais, os cursos d’água e as pontes....................................................................... 102
Figura 82 Detalhe do mapa de 1984 com destaque para os cursos d’água e a projeção de
novas vias.................................................................................................................................. 103
Figura 83 Zoneamento da área navegável do Rio Itajaí-Açu em Blumenau de 1989............ 104
Figura 84 Corte da cidade de Blumenau no sentido norte-sul................................................ 106
Figura 85 Foto aérea de 1993 destacando o Centro da cidade.............................................. 106
Figura 86 Evolução do sistema viário de Blumenau até 1993................................................ 107
Figura 87
Blumenau................................................................................................................................... 108
Figura 88 Zoneamento da área navegável do Rio Itajaí-Açu em Blumenau de 1997........... 109
Figura 89 Relação dos picos de enchentes registradas em Blumenau desde sua fundação. 110
Figura 90 Sistema viário e hipsometria de Blumenau em 2003.............................................. 111
Figura 91 Topografia e divisão de bairros de Blumenau........................................................ 111
Figura 92 Foto aérea de 2003 destacando o Centro da cidade consolidado em áreas
inundáveis com grande impermeabilização do solo.................................................................. 112
Figura 93 Tabela da evolução da população de Blumenau.................................................... 113
Figura 94 Médio vale do Itajaí com destaque para Blumenau (área urbana e rural).............. 113
Figura 95 As Unidades de Paisagem nas margens de rios.................................................... 116
Figura 96 Visuais a partir do eixo do Rio Itajaí-
Paisagem...................................................................................................................................
117
Figura 97 Mapa da área navegável do Rio Itajaí-Açu em Blumenau e bairros adjacentes.... 118
Figura 98 Saída de Efluentes no Rio Itajaí-Açu...................................................................... 119
Figura 99 Erosão nas margens do Rio Itajaí-Açu................................................................... 120
Figura 100 Faixas de Preservação ao longo do Rio Itajaí-Açu sobre foto aérea de 2003..... 121
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
XI
Figura 101 Elementos de Paisagem (EP) que predominam nos bairros ao longo do trecho
navegável do Rio Itajaí-Açu....................................................................................................... 122
Figura 102 Unidades de Paisagem (UP) do trecho navegável do Rio Itajaí-Açu................... 124
Figura 103 Unidade de Paisagem 3: o Centro da cidade de Blumenau................................. 124
Figura 104 Localização do bairro Centro no trecho navegável do Rio Itajaí-Açu................... 125
Figura 105 Mapa de cheios e vazios da área central da cidade evidenciando a vegetação.. 126
Figura 106 Esquema dos Elementos de Paisagem (EP) no bairro Centro, em Cinco
trechos.......................................................................................................................................
127
Figura 107 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 1.................................... 128
Figura 108 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 2.................................... 129
Figura 109 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 3.................................... 130
Figura 110 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 4.................................... 131
Figura 111 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 5.................................... 132
Figura 112
urbano........................................................................................................................................ 137
Figura 113 Rios urbanos como espaços livres públicos de recreação e
lazer...........................................................................................................................................
139
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
XII
LISTA DE ABREVIAÇÕES
AHJFS Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
AMMVI Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí
ANEA Área Não Edificável e Não Aterrável
FURB Universidade Regional de Blumenau
IPA Instituto de Pesquisas Ambientais
IPPUB Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Blumenau
PMB Prefeitura Municipal de Blumenau
PROEB Fundação Promotora de Eventos de Blumenau
UP Unidade de Paisagem
EP Elemento de Paisagem
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
XIII
RESUMO
PORATH, Soraia Loechelt. 2004. A paisagem de rios urbanos. A presença do Rio
Itajaí-Açu na cidade de Blumenau. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFSC,
Florianópolis.
Os rios têm sido uma presença constante na formação e crescimento das
cidades. Desde os primórdios das civilizações, por uma questão de sobrevivência
e utilidade, servem como fonte de recursos e meio de circulação. Porém, os rios
urbanos são mal compreendidos. São entendidos como um limite ao crescimento
das cidades, um obstáculo a ser transposto, e desta forma, não recebem
tratamento adequado. Vistos como um problema de drenagem urbana,
localizados em fundos de lote e tratados como local de despejos, os rios não vêm
sendo considerados como elementos enriquecedores na construção da paisagem
urbana. Sob o aspecto físico e da forma urbana, os rios são fortes elementos da
paisagem. Eles estruturam o tecido urbano que lhes é próximo, tornando-se
muitas vezes eixos de desenvolvimento do desenho da cidade. Eles delimitam a
configuração urbana e, em alguns casos, servem como divisa de municípios. O
desenho urbano ocasiona as transformações na paisagem, na morfologia urbana
e nas áreas adjacentes aos rios. Para compreendermos a dinâmica urbana e
ambiental através do tempo, mostrando como os diferentes elementos se alteram
ou persistem, analisamos através de um estudo de caso, as transformações que
ocorreram no Rio Itajaí-Açu, na cidade de Blumenau/SC, desde a fundação até os
dias atuais.
Palavras-Chave: Paisagem, Rios Urbanos, Rio Itajaí-Açu, Blumenau.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
XIV
ABSTRACT
PORATH, Soraia Loechelt. 2004. The Landscape of the urban rivers. The
presence of the Itajaí-Açu River in Blumenau city. Dissertation thesis (Master’s
degree in Architecture and Urbanism) Post-Graduate program in Architecture
and Urbanism, UFSC, Florianópolis.
Rivers have a strong influence in forming and grow of towns. Since the beginning
of civilization, for reasons of survival, its resources were used for all sorts of
possibilities. Still local rivers are bad treated, they are seen as limits of grow and
hindrance of transport. They are used for drainage of law laying lands and
sewage, the rivers are not seen for their beautiful views in the local constructed
areas. As physical aspect of town development, rivers do have a strong influence,
they form the towns layout structure and often are the center of the town they
decide the towns development and some times are the dividing line, between
towns. The development of the town sometimes change the outlook on the river
and develop new views of the river. To understand the dynamic changes of the
development of the ambient. Environment, a study of all different aspects should
be done, to see the changes from the founding of Blumenau to now in respect to
the Itajaí-Açu River.
Key-Words: Landscape, Urban Rivers, River Itajaí-Açu, Blumenau.
1
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO
1
1.1.
O TEMA E OS OBJETIVOS
1.2. MATERIAIS E M
ÉTODOS
1.3. A ESTRUTURA DA DISSERTAÇ
ÃO
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
2
Figura 1 Desenvolvimento da cidade na margem de um rio.
Elaboração: Soraia L. Porath
A cidade é em primeiro lugar um sítio
natural do espaço geográfico. Duas lógicas
principais explicam a seleção desse sítio. A mais
característica diz respeito à economia dos
transportes e remete pois para o papel comercial
das cidades. As cidades-portos, as cidades
instaladas no ponto de confluência de dois rios
ou num local privilegiado para a travessia de um
rio (as ilhas de Paris) desenvolveram-se aí
porque era mais fácil controlar a circulação dos
fluxos de mercadorias”.
LACAZE, [S.I.], p. 16.
1.1. O TEMA E OS OBJETIVOS
Os rios desempenharam um papel essencial na estruturação das
paisagens urbanas e consolidaram uma conexão entre forma e uso exclusiva em
cada cidade. Desta forma, manifestaram -se as probabilidades de agrupamento,
de construção e o desenvolvimento de uma consciência que lhes ordenou e
orientou (Figura 1). As vias navegáveis tiveram, então, mais do que os caminhos
terrestres, a primordial atribuição de assegurar a subsistência e a proteção da
emergente associação humana.
Ao longo do tempo,
os rios se tornaram
espinhas dorsais das
cidades por onde passam,
estruturando o tecido
urbano próximo a eles e
tornando-se muitas vezes
eixos de desenvolvimento
do desenho da cidade.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
3
As populações servem-se dos rios, interferem no seu traçado e poluem as
águas sem a consciência da importância da conservação dos rios urbanos e sua
paisagem. Em virtude desse processo as cidades têm sofrido intensas
modificações em sua paisagem. As áreas adjacentes aos rios são gradativamente
ocupadas, transformando áreas de grande valor ecológico e paisagístico em
densas áreas urbanas.
No Brasil, a urbanização tem tratado com desprezo os cursos d'água,
origem e razão de ser de muitas cidades, transformando-os em paisagem
residual. Os pequenos rios e córregos estão cada vez mais desaparecendo dos
mapas. Encontramos rios com seus leitos alterados, canalizados, aterrados ou em
avenidas-canal. Obras como túneis, viadutos e pontes são projetados para
facilitar o fluxo do sistema viário, acabam por colocar em segundo plano as
facilidades possibilitadas pelos rios urbanos, tais como a sua utilização como
meio de circulação em área urbana. A mata ciliar é degradada, há um
adensamento cada vez mais intenso nas áreas próximas aos rios com
impermeabilização do solo, pontes, avenidas e túneis são construídos e os rios
são tratados então como fundos de lotes e local de despejos. Enfim, os rios e
suas margens são desvalorizados e com esse processo, acabam por sucumbir ao
ataque urbano, transformando-se numa paisagem invisível por aterros e canais.
As cidades cada vez mais estão tendo uma paisagem de rios esquecidos,
tornando-se cada vez mais sujos, poluídos e desvalorizados, onde quanto menos
ele é visto, melhor é para a imagem da cidade.
Sabemos que a transformação de um ambiente natural em um meio
urbano, sempre resultará em alterações ambientais. Mas compete a nós,
arquitetos, engenheiros e profissionais de áreas afim, procurar adequar o
processo de urbanização às características do ambiente existente.
Com a problemática em relação aos rios urbanos, algumas indagações
estiveram presentes durante toda a pesquisa: O que é um rio urbano? Em que ele
se difere dos demais rios? Como os rios estão presentes na paisagem urbana?
Como podem ser verificadas as transformações da paisagem dos rios urbanos?
Por que em determinados trechos dos rios as cidades apresentam as mesmas
características de paisagem desde a sua fundação? Como é possível classificar
as diferentes paisagens no entorno de rios urbanos? Na verdade, essas
indagações formaram o eixo de reflexão, norteando a organização da pesquisa.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
4
O interesse por assuntos relacionados a essa área surgiu da insatisfação
com o tratamento que se tem dado aos rios pela população, pelos órgãos
municipais e, principalmente, pelos arquitetos, planejadores urbanos e outros
profissionais da área. No Brasil, ainda são poucos os estudos realizados nessa
área de pesquisa e mostram-se pontuais. A proposta dessa pesquisa é iniciar um
estudo sobre rios urbanos na visão do arquiteto, despertando em outros
profissionais, o interesse pelo assunto.
Nesta direção, o foco principal dessa pesquisa está na presença dos rios
na paisagem das cidades, considerando que a paisagem tem um importante
papel nas relações e transformações entre o sistema da natureza e os processos
de desenho urbano. A partir daí surgiu a pergunta principal da pesquisa, que se
deterá em explicar: Como um rio urbano pode ser valorizado na paisagem
nas diferentes fases de desenvolvimento das cidades? Afinal, os rios têm sido
tratados como resíduos da cidade, fundos de lote e local de despejos, onde sujos
e poluídos, acabam desaparecendo da paisagem. Portanto, como hipótese dessa
pesquisa, temos que, geralmente os rios não são considerados
adequadamente no processo de urbanização.
Para elaborar o objetivo geral da pesquisa partimos dos seguintes
pressupostos teóricos sobre rios urbanos e suas margens:
§ As inundações são fenômenos naturais que ocorrem devido a uma
excessiva precipitação pluvial em um determinado período de tempo. A
urbanização desordenada é um fator agravante, mas não sua única
causa. A ocupação das margens dos cursos d’água pela urbanização
aumenta a convivência do homem com as inundações, transformando
um fenômeno natural em calamidade.
§
O processo de urbanização adjacente aos rios provoca a degradação
da mata ciliar e/ou a sua extinção, sujeitando suas margens a
processos erosivos que terminam por diminuir a vazão do mesmo
através de assoreamento.
§ A impermeabilização do solo aumenta o escoamento da água na
superfície, impossibilitando a infiltração da água e ocasionando o
aumento da ocorrência de enchentes.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
5
Figura 2 Esquema da relação dos rios com a
paisagem natural e construída numa área urbana.
Elaboração: Soraia L. Porath
§ A maioria das cidades brasileiras não têm tradição de navegação,
fazendo com que os processos de urbanização desconsiderem frentes
de água (rios e lagoas) como potencial paisagístico.
Emntese, a presença
dos rios pode ser vista nas
cidades de duas maneiras: como
uma fonte de problemas, ou
seja, o rio é desvalorizado na
paisagem, ou pode ser tratado
como uma obra de arte,
valorizado no desenho urbano e
na paisagem. Portanto, temos
como objetivo geral analisar de
que forma os rios urbanos se
inserem na paisagem e quais
as inter-relações que se estabelecem entre o sistema urbano e o sistema da
natureza (Figura 2).
Nessa pesquisa, desenvolvida dentro da linha de pesquisa Desenho
Urbano e Paisagem, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), utilizamos a
estratégia de um estudo de caso tendo como pano de fundo a presença do Rio
Itajaí-Açu na cidade de Blumenau, pelo fato deste ser um dos rios mais
expressivos do Estado de Santa Catarina.
O estudo de caso se concentra em um trecho do rio e nas áreas onde a
cidade passou pelas maiores transformações na sua configuração espacial,
mostrando que os diferentes elementos de uma paisagem urbana são alteradas
ou persistem, no caso dos elementos construídos, as áreas verdes, seguindo os
ritmos e as fases de crescimento urbano e as formas de apropriação de suas
margens.
O processo de ocupação transformou a paisagem do Rio Itajaí-Açu e
modificou sua natureza. O Rio Itajaí-Açu, em seu trecho no município de
Blumenau, apresenta urbanização junto às suas margens, com distintos usos
residenciais, comerciais e industriais, e encontra referências na ocupação
tradicional de muitas cidades brasileiras, em que o curso dos rios e ribeirões é
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
6
tratado como uma área desvalorizada e quanto menos ele é visto, mais fácil é
utilizá-lo como lixeira e local de despejo. Neste trecho, o rio sujo e poluído reflete
o tratamento que vem recebendo ao longo de todo o seu percurso. As
transformações da paisagem do Rio Itajaí-Açu foram geradas pelos seguintes
fenômenos: degradação da mata ciliar e deflagração de processos erosivos,
impermeabilização do solo gerado pelas construções de edifícios e pavimentação
de vias e interferência na paisagem gerada pelo processo de verticalização.
Além da concretização do objetivo geral, temos os seguintes objetivos
específicos:
§ Analisar as transformações da paisagem ocorridas nas margens do Rio
Itajaí-Açu, na área central da cidade de Blumenau, através da
identificação de áreas construídas (horizontal ou vertical e patrimônios
históricos), áreas livres (ruas, praças, largos, pátios, quintais, parques,
jardins, terrenos baldios e outros) e áreas verdes (toda e qualquer área
com vegetação), desde a sua fundação até os dias atuais;
§ Analisar as transformações de desenho urbano e as repercussões
ambientais pelas legislações que definiram a paisagem do Rio Itajaí-
Açu na cidade de Blumenau;
§ Elaborar um quadro da relação entre o Rio Itajaí-Açu e a cidade de
Blumenau em unidades e elementos de paisagem existentes,
caracterizadas pelas tipologias arquitetônicas construídas, espaços
livres/abertos e áreas verdes, na área navegável do rio;
§ Elaborar um quadro da situação da paisagem de alguns rios urbanos no
Brasil e no mundo.
1.2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para estudar a paisagem de rios urbanos, será adotada uma estrutura com
duas abordagens que se complementam (Figura 3):
§ a primeira, de caráter geral, trata da parte teórica do tema sob o
enfoque de diversos pesquisadores, revela a importância dos rios
urbanos no desenho das cidades e contempla uma visão da paisagem
nos principais rios urbanos do Brasil e do mundo.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
7
§ a segunda, de caráter específico, é o estudo de caso sobre a paisagem
do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau desde a sua fundação em
1850 até os dias atuais.
Iniciamos o trabalho pela leitura sobre o desenho urbano e sua relação
com a paisagem, e paralelamente sobre a paisagem dos rios nos centros
urbanos. Nosso referencial teórico se baseou em Anne W. Spirn (1995;1998),
Edmund Bacon (1995), Aldo Rossi (1995), Kevin Lynch (1990), Silvio Soares
Macedo (1986;1987;1995;1999), John T. Lyle (1999), Ian L. McHarg (1992),
Suetônio Mota (1999), Michael Hough (1995), Maria de Assunção Ribeiro Franco
(1997;2000), Christopher Alexander (1980), Sonia Afonso (1995; 1999), entre
outros. Essa leitura serviu pra nos abrir os olhos sobre o processo de urbanização
adjacente aos cursos d’água bem como a questão da paisagem urbana resultante
desse processo.
A seguir, procedemos à coleta de dados cartográficos sobre a Bacia
Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu no Instituto de Pesquisas Ambientais da FURB,
Comitê da Bacia Hidrográfica e na bibliografia. Destacamos os trabalhos de
Carlos E. Zimmermann (1993;1994) sobre a fauna e a flora das margens do Rio
Itajaí-Açu em Blumenau; Fernando Fontoura Xavier (1995), que elaborou a carta
geotécnica da cidade; Julio C. Refosco (2003), que está desenvolvendo um
trabalho de doutorado sobre o Vale do Itajaí; Victor A. Peluso Jr. (1952; 1991),
Figura 3 Esquema das abordagens da pesquisa.
Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
8
que relatou e mapeou o relevo do Estado e também comparou o desenvolvimento
das cidades alemãs e portuguesas; Roberto M. Klein (1978) que descreveu e
mapeou a flora catarinense; e Juarês José Aumond (1994), que relata os
aspectos geológicos e geomorfológicos de Blumenau.
Partindo da cidade como o um complexo produto cultural de uma
sociedade, que reflete a contribuição de várias gerações sobre o meio, é que
selecionamos, como objeto dessa pesquisa, as transformações ocorridas no
trecho navegável do Rio Itajaí-Açu e suas margens, na cidade de Blumenau,
iniciando pela sua fundação como Colônia, em 1850, para então avançar até
nossos dias.
Esse recorte espaço-temporal bastante amplo faz-se necessário, pois as
cidades vão sendo construídas em camadas sucessivas, uma sobre as outras,
com estruturas pré-existentes assumindo novas funções urbanas. A cidade de
Blumenau que conhecemos hoje foi moldada através dos anos por uma série de
agentes e fatores cujas ações sobre o rio e suas margens se sobrepuseram,
gerando a atual paisagem urbana.
Realizamos então a coleta e análise da transformação da paisagem do Rio
Itajaí-Açu em Blumenau através da bibliografia, do acervo cartográfico do Arquivo
Histórico e também da Prefeitura Municipal de Blumenau. A bibliografia sobre a
história da cidade de Blumenau é muito rica, pois o tema da imigração tem atraído
muitos pesquisadores e o Arquivo Histórico da cidade possui um acervo de
documentos originais excelente.
Por exemplo, do ponto de vista histórico, destacamos autores como
Cláudia A. Freitas Siebert (1999; 2000), que trabalhou com o controle e
descontrole urbanístico e a exclusão sócio-espacial de Blumenau; Edith Kormann
(1994), que resgatou minuciosamente fontes do Arquivo Histórico; e José Deeke
(1995), considerado o primeiro historiador blumenauense que publicou um livro
em 1917 e recentemente teve seu trabalho traduzido da língua alemã para o
português.
Sob os aspectos da paisagem urbana e do Rio Itajaí-Açu destacamos o
livro da Angelina C. R. Wittmann (2001), que descreve como a implantação da
estrada de ferro alterou a paisagem da cidade; a autora Méri Frotscher (2000),
que estudou sobre a evolução do sistema de saneamento refletindo sobre a
paisagem e também organizou um livro com Cristina Ferreira sobre as diferentes
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
9
visões que se tem da cidade; e ainda Maria Bernadete Ramos Flores (1997), que
trata sobre a questão do turismo em Blumenau e como a Oktoberfest mudou a
paisagem da cidade.
Sob os aspectos econômicos destacamos o trabalho de Maria Luiza
Renaux Hering (1987), que possui profundo conhecimento sobre a
industrialização de Blumenau e Brusque; e Nelson Marcelo Santiago (2001) que
recentemente organizou o trabalho da Associação Comercial e Industrial de
Blumenau desde o início da colonizaç ão da cidade.
Para analisarmos a evolução da cidade recorremos ao estudo da
cartografia obtida no Arquivo Histórico José Ferreira da Silva e na Prefeitura
Municipal. Ao todo foram obtidos nove mapas, correspondendo aos seguintes
períodos: 1864, 1872, 1900, 1938, 1955, 1968, 1970, 1984, 2003. Além disso,
mapeamos os zoneamentos correspondentes aos Planos Diretores de 1977, 1989
e 1997 e elaboramos a transformação da paisagem sobre fotos aéreas de 1972,
1984, 1993 e 2003. Essa análise mostra que ao longo do tempo, a construção de
ferrovias e rodovias foram se priorizando e que o Rio Itajaí-Açu e os demais
cursos d’água acabaram no esquecimento da população de Blumenau.
Ao longo do trabalho, coletamos dados fotográficos sobre o Rio Itajaí-Açu e
suas margens, em campo e no Arquivo Histórico, para documentar a evolução da
cidade e sua paisagem, relacionando-os com as legislações vigentes no período.
À medida que reuníamos o material de pesquisa e procedíamos sua
análise, o trabalho avolumava-se, em função da complexidade do tema e da
abrangência do recorte-espaço temporal a que nos propusemos, mas nunca
deixamos de considerar a necessidade de superar esse desafio, que foi
extremamente instigante e enriquecedor.
1.3. A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Estruturamos a apresentação dos resultados desse trabalho que inter-
relaciona como temas principais a paisagem atual de rios urbanos, a
transformação da sua paisagem em diferentes períodos e estágios econômicos e
a presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau da seguinte maneira:
No Capítulo 2, apresentaremos o embasamento teórico desse trabalho,
analisando a relação entre o desenho urbano, o ambiente e a paisagem e nos
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
10
referenciamos a diversos autores que abordaram a questão da transformação da
paisagem pela urbanização.
No Capítulo 3, abordamos sobre a paisagem de rios urbanos no Brasil e
no mundo. Realizamos um levantamento de rios significativos para as cidades e
buscamos informações sobre a relação rio x cidade, ou seja, o rio pode ser visto
como uma fonte de problemas para a cidade (poluição, enchentes, favelas sobre
o rio, canal de esgoto a céu aberto) ou também pode ser visto como uma obra de
arte, apresentando soluções urbanísticas que evidenciam o rio na cidade
paisagisticamente (referência da cidade) e/ou ambientalmente (parques de fundos
de vale).
Na literatura percebemos que os autores revelam a mesma preocupação
em relação à urbanização junto às margens dos rios, a impermeabilização do
solo, a canalização de rios, interferência no leito do rio, degradação da mata ciliar.
Esses fatores acabam por prejudicar a dinâmica natural do rio e fazer a cidade
perceber a presença do rio cada vez mais como um problema.
Ao final desse capítulo, fizemos um quadro dos rios urbanos, evidenciando
os rios podem contribuir para a imagem da cidade e ser tratado como uma obra
de arte quando é permitido avistar o rio e ter contato com suas águas.
O Capítulo 4 inicia o estudo de caso sobre a paisagem do Rio Itajaí-Açu,
onde num primeiro momento, é necessário que entendamos os aspectos ligados
às condições do seu ambiente físico, pois um rio não pode ser analisado
isoladamente, em apenas um trecho ou em uma só cidade. O tema rio urbano
permite ao estudo da bacia hidrográfica a qual este rio pertence pois a linearidade
do rio sugere a idéia de um único sistema.
Analisamos a presença do rio na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, que
é a maior bacia da vertente atlântica do Estado e em todo o seu percurso,
apresenta grandes potenciais de estudo sobre a paisagem de rios, pois várias
cidades formaram-se às suas margens, condicionadas pelo seu sítio físico. Não
apenas a vegetação e a topografia montanhosa contribuem para esta identidade
paisagística, mas também os seus corpos d'água contribuem para a imagem
destas cidades.
Dando continuidade tema, no Capítulo 5 analisamos as transformações
que vêm ocorrendo na paisagem do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau, onde
demonstramos que a cidade de Blumenau teve início com a escolha do sítio e o
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 1 - Introdução
11
planejamento original condicionados pela navegabilidade fluvial e pelo acesso à
água, ou seja, não para os interesses da cidade que se formaria, mas para a
necessidade de uma colônia agrícola. A partir do rio e da topografia local a cidade
se estruturou e cresceu. O Rio Itajaí-Açu configura um corredor, uma via de
conexão entre diferentes realidades ambientais e culturais.
Linearmente ao longo dos fundos de vale, o crescimento da cidade surgiu
a partir do Stadtplatz (Praça da cidade) localizado entre a foz do ribeirão Garcia e
a foz do Ribeirão da Velha. Mesmo após inúmeras enchentes e enxurradas, a
cidade continuou a se desenvolver nos fundos de vale, com os fundos de lote
voltados para os cursos d’água e a ocupar áreas facilmente inundáveis. O Rio
Itajaí-Açu foi responsável por incontáveis prejuízos para o assentamento urbano
próximo de suas margens e a cidade, pouco, a pouco, começou a se transformar:
a população começou a ocupar as encostas, preferiu morar no alto dos prédios e
na região norte do município, em áreas planas e livres de enchentes.
Ainda no Capítulo 5, analisamos as principais leis que vigoraram na cidade
e foram responsáveis pelas transformações na paisagem do Rio Itajaí-Açu:
zoneamentos, planos diretores, legislações federais e estaduais.
No Capítulo 6, classificamos a paisagem do Rio Itajaí-Açu, mostrando os
diferentes elementos que a compõem. Através do levantamento fotográfico a
campo, mostramos como a cidade encontra hoje as águas do rio e qual é a
relação do rio com a cidade.
No Capítulo 7 apresentamos os resultados encontrados sobre o tema geral
do trabalho corroborando a hipótese, afirmando que na maioria das vezes os rios
não são considerados no processo de urbanização. Neste mesmo capítulo,
concluímos sobre a paisagem de rios urbanos, lançando recomendações e
diretrizes para a valorização dos rios e também respondemos sinteticamente a
pergunta principal da pesquisa que foi desenvolvida durante o trabalho.
A relevância desta pesquisa apóia-se na possibilidade dela vir a servir de
base para os futuros estudos e intervenções (urbanísticas/paisagísticas),
especialmente os que considerem a valorização e a preservação dos rios
urbanos, bem como a recuperação de rios degradados, garantindo uma melhor
imagem para a cidade. Esperamos que o leitor desse trabalho possa percorrer
com interesse essas páginas e encontrar aqui informações que lhe sejam úteis e
que contribuam para a reflexão sobre a paisagem de rios urbanos.
12
REFERENCIAL
TEÓRICO
CAPÍTULO
2
2.1. DESENHO URBANO E PAISAGEM
2.2. PAISAGEM E AMBIENTE
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
13
“A percepção do tempo, do espaço e da
natureza muda com a evolução cultural, o que
exige a procura de novas formas de organização
do território que melhor expressem o universo
contemporâneo, formas que capturem o
conhecimento, as crenças, os propósitos e os
valores da sociedade”.
LEITE, 1994, p. 7.
2.1. DESENHO URBANO E PAISAGEM
As particularidades do sítio paisagístico e a maneira pela qual o tecido urbano
encontra as águas do rio, dão um caráter à forma da cidade. Segundo Spirn (1995,
p. 28), o ambiente natural de uma cidade e sua forma urbana, tomados em
conjunto, compreendem um registro da interação entre os processos naturais e os
propósitos humanos através do tempo. Juntos, contribuem para a identidade única
de cada cidade.”
Sob o aspecto físico e da forma urbana, os rios são fortes elementos da
paisagem e, geralmente, espinhas dorsais das cidades que se desenvolvem às suas
margens. Eles estruturam o tecido urbano que lhes é adjacente, tornando-se muitas
vezes eixos de desenvolvimento do desenho da cidade. Eles limitam o crescimento
das cidades, delimitam a configuração urbana e, em alguns casos, servem como
divisa de municípios.
Bacon (1995, p. 13) afirma que a forma da cidade é um indicador do estado
de uma civilização. As relações entre as formas urbanas e os processos sociais que
as produzem e delas se apropriam são, realmente, indicativos das características de
uma sociedade. O estudo da história urbana com o processo social permite, desde o
momento presente, determinar o nosso futuro pois a cidade sofre inúmeras
modificações (MUMFORD, 1998, p. 620), porém, as inovações devem aplicar a arte
e o pensamento, com uma nova dedicação aos processos ecológicos.
Fica implícito que na configuração/renovação urbana há um viés temporal.
Para Rossi (1995, p. 61) o “desenvolvimento urbano é correlato em sentido
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
14
temporal, isto é, na cidade há uma antes e um depois”. Segundo Lamas (1992, p.
11), o tempo é fundamental para compreender o território como objeto físico e
também para posicionar a intervenção do arquitecto: intervenção num dado
momento que modifica a forma existente e que poderá também sofrer um processo
de evolução”.
Na paisagem urbana podemos observar que as construções não são iguais
do ponto de vista arquitetônico e datam de tempos diferentes. A dimensão de vários
tempos está impregnada na paisagem da cidade. Para Ferrara (1993), a paisagem é
a acumulação, no tempo, de práticas, técnicas, valores e símbolos culturalmente
transmitidos às futuras gerações.
Em se tratando de áreas urbanas, observamos o caráter extremamente
dinâmico dessas transformações, com intensidades variáveis, em função das
características de cada contexto. Lynch (1990, p. 2) diz que a cidade pode ser
estável por algum tempo, mas por outro lado, ela está sempre se modificando nos
detalhes. Para o autor, não há um resultado final, apenas uma contínua sucessão de
fases.
Podemos afirmar então que a paisagem é dinâmica, ou seja, de evolução
constante. Cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, o
espaço e a paisagem se transformam para adaptar-se às novas necessidades. Tais
alterações são apenas parciais, pois alguns elementos não mudam e permanecem
como testemunhas do passado, ou mesmo são flexíveis e se adaptam as novas
situações. Assim, podemos dizer que a paisagem representa uma acumulação de
tempos.
Del Rio (1995, p. 94) afirma que a paisagem deve ser entendida como o
cenário que nos rodeia, participa e conforma o nosso cotidiano”. A paisagem então,
pode ser definida como um conjunto de formas que manifestam as heranças que
representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza.
Nessas sucessivas transformações, os objetos construídos, por serem até certo
ponto fixos, constituem a representação e testemunho de uma época.
Contudo, as transformações da paisagem não implicam necessariamente
uma postura de negação, nem mesmo a superação absoluta do já existente,
substituindo-o completamente por uma inovação. Mas, ao contrário, encontramos
com freqüência resquícios de elementos anteriores convivendo com essas
inovações.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
15
Franco (1997, p. 136) diz que a paisagem deve ser entendida como um
sistema ecológico onde a topografia, o tipo de solos, a vegetação, a fauna, o clima e
também as intervenções antrópicas são elementos fundamentais. Essa classificação
deve estar correlacionada com a geologia, a geomorfologia e o clima. Para a autora,
as diferentes partes desse sistema de paisagem constituem as unidades de
paisagem que estão mais relacionadas com a escala de percepção humana.
Um dos elementos básicos da configuração do desenho da paisagem urbana
é o espaço livre - ruas, praças, largos, pátios, quintais, parques, jardins, terrenos
baldios, corredores externos, vilas, vielas e outros, onde são desenvolvidas as
atividades de trabalho e lazer (MACEDO, 1995, p. 16). Porém, a paisagem é
também constituída “pelo relevo, pelas águas, construções, estradas, formas de
propriedade do solo, ações humanas decorrentes (como plantios e edificações) e,
finalmente, pelo comportamento (individual e coletivo) dos seres humanos
(MACEDO, 1999, p.15).
A qualidade dos espaços livres urbanos está vinculada à sua utilização pelo
público. Quanto mais e melhor possa ser utilizado, desde que devidamente mantido,
maior será sua aceitação social e por mais tempo será mantida a sua identidade
morfológica. Para Leite (1994, p. 49), a paisagem pode ser identificada a partir de
relações econômicas e naturais, mas seu processo de qualificações parte de
critérios de enorme poder subjetivo, ligados, em particular, ao desenvolvimento
cultural da sociedade.
Na cidade, ocorrem mudanças em termos de economia, política, relações
sociais e também no âmbito espacial, com adaptação às novas exigências e
características da sociedade. Isto explica a existência de várias cidades dentro de
uma cidade: diferenças arquitetônicas, de usos, de cores, de tempos, de
intensidade, de movimentos, de desigualdades e contradições (CARLOS, 1992).
Nas palavras de Rodrigues (1986, p. 14), o espaço urbano é, por excelência, o
espaço do confronto de interesses, do processo histórico de definição dos direitos do
indivíduo e da coletividade, permanentemente escrito e reescrito na arquitetura da
cidade”.
Com essas transformações torna-se necessário o desenho urbano, que é
um processo de planejamento urbano que trata a dimensão físico-ambiental da
cidade, enquanto conjunto de sistemas físico-espaciais e sistemas de atividades que
interagem com a população através de suas vivências, percepções e ações
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
16
cotidianas” (DEL RIO, 1990, p. 54). Podemos afirmar a partir desse autor que o
desenho urbano é um processo que busca compreender o desenvolvimento urbano
e elaborar possibilidades para intervenções com qualidade físico-ambiental, em
outras palavras, é a intervenção sobre o espaço urbano de forma planejada,
resultando num espaço organizado e de qualidade.
Sobre desenho urbano, destacamos autores como Gosling & Maitland (1984),
que descrevem aplicações e soluções em diferentes estudos de caso em desenho
urbano. Lyle (1999) e McHarg (1992), que propõem corredores verdes em seus
trabalhos, e Carl Steinintz (2002) que realiza projetos da paisagem regional.
McHarg (1992) coloca a necessidade de compatibilizar processos naturais e
sociais nas propostas de intervenção paisagística, onde a procura de locais
apropriados para a agricultura, pecuária, lazer e urbanização segundo geologia e
relevo deveria ser dominante na definição da paisagem. Para o autor, a natureza é
uma força fundamental que determinará a morfologia das cidades e os esforços
humanos.
2.2. PAISAGEM E AMBIENTE
O termo ambiente urbano é formado por dois sistemas intimamente
interrelacionados: trata da envolvente que cerca os seres vivos e as coisas. Tanto
pode ser utilizado para tratar dos espaços e objetos físicos construídos (sistema
antrópico), como dos espaços e objetos naturais (sistema natural).
Segundo Costa et al (2002), os rios cruzam o tecido urbano nas suas
diferentes modulações paisagísticas: florestas urbanas, áreas livres públicas, áreas
de uso industrial, comercial, institucional, residencial, entre muitas outras. No
entanto, devido ao processo de urbanização, estes rios estão em grande parte
ocultos na paisagem urbana. Spirn (1995, p. 146) dá ênfase a esta situação quando
afirma que, excluindo os grandes rios, os córregos e cursos d’água da paisagem
anterior à urbanização estão desaparecendo dos mapas modernos. Cobertos e
esquecidos, antigos cursos d’água correm através da cidade, enterrados sob o solo
em grandes tubulações. Enfocados, de um modo geral, como um problema de
drenagem urbana, como fundos de lote ou como local de despejos, os rios têm sido
pouco considerados como elementos enriquecedores na construção da paisagem
urbana” (COSTA, 2002; COSTA, 2003).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
17
Figura 4 A dinâmica de uma várzea mostra que os
rios transbordam com uma freqüência previsível e as
construções nas várzeas correm o risco de
destruição.
Fonte: SPIRN, 1995, p. 149 Elaboração: Soraia L.
Porath
Assim como em outros ambientes, o homem tem, na cidade, a capacidade de
dirigir suas ações, utilizando o meio ambiente como fonte de matéria e energia
necessárias à sua vida, ou como receptor de seus produtos e resíduos. As
alterações introduzidas pelo homem, no ambiente, são sempre decorrentes de forma
rápida e variada, provocando alterações muitas vezes irreversíveis.
A urbanização tem causado muitos impactos no meio ambiente resultando em
alterações na qualidade do ambiente e da paisagem. Wilheim (1993) apud Mota
(1999, p. 50) faz uma breve simulação da urbanização e suas conseqüências numa
cidade que não possui planejamento:
A primeira conseqüência negativa para o ambiente é o desmatamento,
inevitável para a urbanização. O resultado é a aridez da cidade e a mudança gradual
do micro-clima. Posteriormente a essa ação, ocorre a terraplanagem para o preparo
do parcelamento do solo, alterando a topografia, violentando os sistemas naturais de
drenagem natural que posteriormente, vem ocupar o seu espaço na cidade trazendo
inúmeros prejuízos. Morros são arrasados e levam para os cursos d’água toneladas
de terra. O assoreamento provoca as enchentes, portanto, os cursos d’água são
desviados, abrindo novas fendas no solo e, fragilizando o subsolo.
Em terceiro lugar, o
desnudamento de solos frágeis
inicia o processo de erosão.
Cidades apertadas entre orlas
marítimas e montanhas, como Rio
de Janeiro, Salvador e
Florianópolis, resultam em aterros
que chegam a desafiar o mar,
alterando regimes e correntes,
fazendo desaparecer algumas
praias e surpreendentemente às
vezes, criando outras. Há cidades,
como São Paulo, em que as
várzeas em vastas baixadas, foram
simplesmente aterradas, ocupadas,
loteadas e vendidas, ousadamente alterando o regime do rio, diminuindo seu
espaço, submetendo moradores a enchentes periódicas (Figura 4).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
18
Depois disso, para maximizar o negócio imobiliário, o negócio de todos, a
legislação foi extremamente permissiva, permitindo elevadas taxas de ocupação e
aproveitamento. As ruas passaram a ser excessivamente sombreadas por
construções verticais em lotes que anteriormente dimensionados para casas.
A composição de diversos fatores resultou em drenagem urbana ineficiente,
em elevação de temperatura, em impermeabilização excessiva, levando águas de
chuva a irem com excessiva rapidez às calhas dos rios, provocando enchentes
urbanas anuais.
As elevadas taxas de crescimento não foram acompanhadas por
investimentos em infra-estrutura, gerando déficits ainda insuperados em
abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, rede viária. Novos ataques
ao ambiente foram disparados: perfuraram-se, sem critérios, poços artesianos e
fossas sépticas, provocando contaminação; em pouco tempo todos os córregos e
rios transformaram-se em fétidas e perigosas cloacas de esgoto.
As atividades fabris se instalaram e prosperaram nesse período, resultando
em mais empregos, riqueza, estrutura industrial. Sem normas, nem cautelas,
acabaram poluindo o ar, as águas e os solos urbanos.
Para agravar a situação, a elevada taxa de motorização, os modelos de
carros, ônibus e caminhões fabricados e a composição dos combustíveis, geraram
uma poluição do ar mais grave, hoje, do que as indústrias. O aumento demográfico e
do consumo resultou em grande quantidade de lixo domiciliar a ser coletada e
disposta.
Finalmente a paisagem urbana alterou-se: se por um lado teve ganhos
(edifícios monumentais, torres e antenas, alguns espaços públicos bem projetados),
por outro lado também teve perdas: edifícios de valor histórico e/ou estético foram
demolidos, alterados ou escondidos atrás de painéis publicitários; pequenos rios e
córregos desapareceram da cidade e dos mapas da cidade.
Esse texto retrata a evolução de algumas cidades brasileiras e muitas outras
do mundo, com o desenvolvimento da urbanização provocando graves mudanças
ambientais. É comum ocorrer a ocupação dos terrenos marginais aos recursos
hídricos, com a destruição da mata ciliar e a impermeabilização do solo, o que
contribuiu para agravar os problemas de drenagem, de assoreamento dos
mananciais e de inundações.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
19
Se cada intervenção no desenho, na configuração de um dos elementos da
paisagem, conduz a uma resposta do meio ambiente, então as águas, sejam elas
frentes de água em orlas marítimas, rios ou lagos deveriam merecer especial
atenção no processo de desenho urbano. Afinal, segundo a Constituição Federal de
1988 (Título VIII, Capítulo VI, Artigo 225), que trata do meio ambiente, todos nós
temos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pois é um bem de uso
comum do povo e essencial à qualidade de vida, mas juntamente com o poder
público, também temos o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
A partir de inúmeras modificações ocorridas no contexto mundial no final do
século XIX, destaca-se a descaracterização das áreas naturais, que ocorreram a
partir da destruição dos recursos naturais e do intenso processo de urbanização
verificado nos aglomerados urbanos. Nesta época, o planejamento urbano realizou-
se considerando, principalmente, os aspectos sociais, culturais e econômicos,
admitindo que o meio físico deveria adequar-se às atividades do homem.
Considerava-se que os recursos naturais podiam ser utilizados e alterados de forma
ilimitada, desde que fossem atendidas as necessidades básicas: habitar, trabalhar,
circular e recrear. Neste contexto, Macedo (1986, p. 108) diz que “urbanizar significa
drenar mangues, retificar rios, ganhar terras adequadas à construção de novos
prédios e ruas, aterrar, cortar, cobrir, desmatar, e muitas destas intervenções visam
realmente melhorar as condições de vida de populações carentes que se instalam
nas áreas alagadiças, sobre os mangues, nas várzeas e nas encostas. Os reflexos
diretos são inundações nas áreas distantes, (onde antes não ocorriam), na
diminuição de vida animal nas águas vizinhas a mangues extintos, no assoreamento
de rios devido a desmatação e terraplenos, no aumento das temperaturas das áreas
urbanas muito construídas”.
Ao longo dos anos, os processos de desenho das cidades têm dado pouca ou
nenhuma relevância aos processos naturais, privilegiando soluções tecnológicas ou
formais que pouco contribuem para uma integração entre espaços urbanos e
ecossistemas nos quais estão inseridos. Estas posturas de projeto têm uma grande
repercussão na paisagem urbana. Pesquisas voltadas para esta temática, têm
apontado para a importância do rebatimento das questões ambientais nos projetos
de espaços livres públicos (HOUGH, 1995; CROWE, 1995; SPIRN, 1998; entre
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
20
outros), contribuindo para o esclarecimento das diversas relações que se
estabelecem entre natureza e cultura nas cidades (COSTA, 2002, p. 291).
A importância da visibilidade das paisagens dos rios urbanos se configura em
um dos princípios de projeto defendidos por Hough (1995, p. 83) como uma
estratégia para promover consciência e responsabilidade ambiental. Em outras
palavras, projetos para os rios devem reconhecer e considerar a multiplicidade de
valores e significados que são atribuídos a eles e tomar estas paisagens visíveis. O
papel dos rios enquanto corredores biológicos tem sido destacado em diversos
estudos sobre os valores dos rios que há muito vem defendendo a necessidade de
sua preservação.
Alexander (1980, p. 141) e Afonso (1995) dizem que as estradas, vias
expressas e indústrias, assim como outras construções, bloqueiam as margens dos
rios de uma maneira tão tradicional nas cidades que resultam em inacessibilidade ao
rio pela população. Essas margens de rios às vezes são preservadas, outras, são
destruídas, mas geralmente são áreas privadas pois, em se tratando de
parcelamento de solo em margem de rios urbanos, geralmente os lotes fazem frente
e fundos para uma estrada e para um rio. Este fato leva ao desconhecimento da
população pela presença de um rio urbano, que também não conhece a sua
importância para a cidade. É fundamental que as cidades sejam planejadas de
maneira que haja um maior contato da população com os rios e suas margens, e
assim, haja uma maior conscientização de sua preservação pela população, afinal,
só se preserva aquilo que se ama e só se ama aquilo que se conhece.
Mann (1973) apud Costa (2002;2003) destaca alguns aspectos que
ressaltam a importância da presença dos rios no tecido das cidades. Inicialmente,
sob o ponto de vista ecológico e ambiental, as margens dos rios são locais
singulares onde algumas das mais produtivas associações de espécies vegetais
podem ser encontradas. Muitas destas margens, com sua mata ciliar, são habitats
de pequenos mamíferos, espécies aquáticas e pássaros. Desta forma, os rios são
verdadeiros corredores biológicos por onde a natureza chega e pulsa no tecido
urbano.
Alguns autores, dentre eles Spirn (1995, p. 165), têm apontado diretrizes de
projeto para rios urbanos, visando contribuir para a construção de paisagens
representativas de valores culturais e ambientais. Uma destas diretrizes é o acesso
ao rio. A idéia de acesso é, entretanto, bastante ampla: implica em acesso ao rio,
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
21
acesso ao longo de suas margens, mantendo e enfatizando o sentido de
continuidade e, finalmente, a possibilidade de cruzar, periodicamente, suas
margens.
Em algumas cidades, as iniciativas de requalificação urbana têm dirigido
esforços no sentido de recuperar o potencial dos rios enquanto espaços livres
públicos, e desta forma sua inserção paisagística prevê áreas de acesso de
pedestres, jardins públicos e equipamentos culturais, além da recuperação
ambiental (COSTA et al, 2002). Estas iniciativas apresentam a preocupação em
resgatar a visibilidade dos rios urbanos, na maioria das vezes desconsiderada no
processo de urbanização, visando paralelamente a sua preservação através do
conhecimento e do uso público.
É necessário conhecer e entender a trajetória que levou à situação atual da
paisagem urbana. Ao longo do tempo as populações servem-se dos rios, interferem
no seu traçado e poluem as águas sem a consciência da importância da
conservação da paisagem dos rios urbanos (CORRÊA & ALVIM, 2000, p. 138).
Os rios são áreas especiais e devem ser incorporados no processo de
urbanização. As alterações que o homem provoca nestes e em outros ecossistemas
são responsáveis por danos nos ambientes físico e biótico. Compete ao homem
procurar adequar o processo de urbanização às características do ambiente
existente, de modo que os efeitos negativos sejam os mínimos possíveis (MOTA,
1999, p. 47),
Afonso (1999, p. 73) afirma que “a reserva de terrenos para a criação de um
sistema de espaços livres públicos (parques, praças, acessos e passeios inter-
conectados) a serem apropriados a curto, médio ou longo prazo, bem como a
definição de espaços livres de uso privado (através das taxas de ocupação, índice
de aproveitamento, recuos e afastamento) são condições básicas para a
concretização do planejamento e desenho da paisagem urbana, visando a
conservação ambiental em áreas planas ou inclinadas”. Para preservar a paisagem
é necessário nos voltarmos à realidade ambiental do país, na qual nossas cidades
devem ter desenhos adequados ao clima, ao sítio, ao povo e sua cultura, com
soluções específicas às diversas situações.
Um dos precursores do planejamento integrado à Natureza, McHarg (1992, p.
5), diz que o planejamento ecológico é aquele em que uma determinada região é
entendida como um amplo processo biofísico e social através da ação de leis e do
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 2 Referencial Teórico
22
tempo. Isso significa que devem ser consideradas as oportunidades e restrições a
um determinado uso humano, devendo um estudo revelar as localizações e
atividades mais adequadas. Para o autor, vivemos em um mundo físico, um mundo
biológico e um mundo social, devendo nossas ações sempre considerar todos eles.
Segundo Afonso (1999, p. 73), para preservar a paisagem é necessário
respeitar e manter sua estrutura morfológica (saliências, reentrâncias, encostas,
divisores, topos, talvegues, vales, drenagens, afloramentos rochosos e vegetação
nativa) e em caso de urbanização deve-se considerar essas características como
condicionantes de projeto: mantendo a forma original, visando finalidades estético-
culturais-ambientais.
Segundo Costa et al (2002), para serem apropriados de outras formas, não
simplesmente como depositários de lixo e esgoto, os rios urbanos e todas as suas
possibilidades de fruição devem estar visíveis para a população. Novos valores
podem ser atribuídos, antigas atitudes podem ser alteradas, e assim a situação
dramática em que hoje eles se encontram talvez possa ser revertida. É um longo
caminho, na medida em que a população precisa ser ainda informada da existência
de rios na cidade e perceber que o rio é mais um espaço livre público que pode
oferecer possibilidades de convergência social, locais de lazer, de fruição da
paisagem, de memória urbana, além de funcionar como importante corredor
biológico na cidade, dentre muitas outras funções (COSTA et al, 2002).
As diretrizes aqui citadas, implicam na difícil integração entre valores
ecológicos, pressões de uso pela população e recuperação de paisagens
degradadas, apontando para o uso e apropriação das paisagens naturais pela
população como um dos instrumentos de conservação ambiental.
23
A PAISAGEM DE
RIOS URBANOS
CAPÍTULO
3
3.1. OS RIOS E O DESENVOLVIMENTO
DAS CIDADES
3.2. QUADRO DE RIOS URBANOS
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
24
“A paisagem é considerada então como
um produto e como um sistema. Como um
produto porque resulta de um processo social
de ocupação e gestão de um determinado
território. Como um sistema, na medida em que,
a partir de qualquer ação sobre ela impressa,
com certeza haverá uma reação
correspondente, que equivale ao surgimento de
uma alteração morfológica parcial ou total”.
MACEDO, 1999, p. 11.
3.1. OS RIOS E O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES
O desenvolvimento de importantes cidades está precedido de
peculiaridades do sítio paisagístico, de algumas condições ou acidentes
geográficos relevantes, como rios ou montanhas. Desta forma, se manifestaram
as probabilidades de agrupamento, de construção e o desenvolvimento de uma
consciência que lhes ordenou e orientou. As vias navegáveis tiveram, então, mais
do que os caminhos terrestres, a primordial atribuição de assegurar a subsistência
e a proteção da emergente associação humana. Como diz Moreno (2002, p.28),
as cidades primeiramente nasceram e se multiplicaram nas rotas comerciais, nas
margens de rios e oceanos, e depois, junto aos caminhos que unem tais centros
mercantis, transformando a paisagem dos rios urbanos.
Os rios estruturaram as paisagens urbanas e consolidaram a forma, o uso
e a cultura de cada cidade, gerando paisagens culturalmente exclusivas. Para
Leite (1994, p. 7), os lugares e elementos que compõe uma paisagem possuem
valores específicos que mudam constantemente, acompanhando a evolução dos
padrões culturais. Esses padrões são enraizados nos processos naturais de cada
lugar ou região, isto é, a natureza e a cultura juntas, como processos
interagentes, conferem forma e individualidade a cada lugar.
Por outro lado dessa história houve uma convivência cada vez maior com o
ambiente construído fazendo a sociedade pensar que os rios existentes tinham
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
25
mais importância para navegação do que para a sobrevivência. Dessa forma, os
rios foram se transformando em canais naturais de esgoto, ou seja, a
potencialidade que tem os rios e o ambiente natural de contribuir para uma forma
urbana diferenciada, memorável e simbólica foi, na maioria das vezes,
desconsiderada no planejamento urbano.
Mas então, cabe a pergunta, o que é afinal, um rio urbano? Pode-se
afirmar que um rio urbano é aquele que sofre modificações pelo homem no
processo de urbanização, tendo seu potencial paisagístico aproveitado ou não.
Os diferentes tratamentos, usos e apropriações dos rios urbanos em
diferentes cidades nos mostram as especificidades culturais e muitos outros
valores, com uma repercussão direta na qualidade da paisagem (COSTA, 2002).
A escolha de exemplos consagrados de rios urbanos permite avaliar problemas
e/ou soluções urbanísticas de desenho urbano e o modo como esses rios
interferem na qualificação da paisagem e do ambiente.
3.1.1. A VISÃO DO RIO COMO FONTE DE PROBLEMAS
Falar da urbanização de diferentes cidades é um caminho para se mostrar
o processo de degradação por que passaram os rios, suas várzeas e suas águas.
Destacamos nesta parte da pesquisa, de maneira geral, algumas das dificuldades
que os rios enfrentam nas áreas urbanas e a visão do rio enquanto fonte de
problemas.
Há cidades que possuem grandes rios que secionam o tecido urbano, mas
há também um número significativo de pequenos rios e córregos. Muitos desses
rios são lembrados nos períodos de fortes chuvas pois se tornam notícias de
jornais devido às inundações. E porque isto? As cidades que apresentam uma
baixa declividade do sítio, um alto índice pluviométrico, associados à degradação
ambiental, com áreas densamente construídas e impermeabilizadas, tornam-se
um escudo à prova d’água e incapaz de penetrar no solo, as águas escoam pela
superfície cada vez mais rápido e em quantidades cada vez maiores (SPIRN,
1995, p. 146).
A água faz parte do ciclo hidrológico, que é um processo de precipitação,
infiltração, escoamento superficial (runoff), escoamento subterrâneo, evaporação
e evapo-transpiração (Figura 5). Segundo Mota (1999, p. 41), o processo de
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
26
Figura 5 Ciclo hidrológico.
Elaboração: Soraia L. Porath
urbanização provoca alterações sensíveis no ciclo hidrológico, principalmente sob
os seguintes aspectos:
- aumento da precipitação;
- diminuição da evapo-transpiração, como conseqüência da redução da
vegetação;
- aumento da quantidade de líquido escoado (aumento do runoff);
- diminuição da infiltração da água, devido à impermeabilização e
compactação do solo;
- consumo de água superficial e subterrânea, para abastecimento público,
usos industriais e outros;
- mudanças no nível do lençol freático, podendo ocorrer redução ou
esgotamento do mesmo;
- maior erosão do solo e consequente aumento do processo de
assoreamento das coleções superficiais de água;
- aumento da ocorrência de enchentes;
-
poluição de águas superficiais e subterrâneas.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
27
Figura 7 Casas sobre palafitas no Rio Capibaribe em
Recife/PE.
Fonte: Soraia L. Porath
A urbanização descontrolada e a impermeabilização do solo provocam
alterações na drenagem das águas pluviais, resultando no aumento do volume de
água escoada, bem como em um pico de vazão maior e de ocorrência mais
rápida (Figura 6).
Todas alterações no ciclo hidrológico podem resultar em condições
bastante prejudiciais para os habitantes de uma área urbana. Portanto, o ciclo
deve ser considerado na ocupação do solo, visando minimizar os seus efeitos
negativos.
O rio também pode ser
fator de segregação e
problema social. As cidades
que são cortadas por um rio de
grande porte podem ocasionar
duas margens com ocupações
diferenciadas, ou seja, um rio
pode separar diversas
comunidades dentro do próprio
município. Assim como uma
rua ou uma ferrovia, um rio
também pode ser tratado como
um limite. Para Lynch (1990, p. 52), os limites são as fronteiras entre duas faces,
separam uma região de outra. Como exemplo de segregação e problema social,
Figura 6 Escoamento superficial na pré e pós-urbanização.
Fonte: MOTA, 1999, p. 45 Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
28
Figura 9 Poluição do Rio Jacarta (Indonésia).
Fonte: TEICH, 2002, p. 83
citamos as casas sobre palafitas no Rio Capibaribe, na cidade do Recife (Figura
7) .
Segundo Correia (1999, p. 49) o desprestígio do rio no Centro do Recife
pode ser constatado pela implantação de construções que, embora situados junto
ao Capibaribe (Igreja Madre de Deus, Teatro Santa Isabel e Palácio do Governo),
dão as costas para ele, ou seja, o rio é relegado a uma posição secundária no
cenário urbano. Para a autora tal desprestígio pode ser entendido em um
momento em que o rio é o grande depósito de lixo e fezes”.
O conhecimento de como pode acontecer a poluição do ar, da água, do
solo, acústica e visual, em um meio urbano, bem como as medidas que podem
ser aplicadas, no disciplinamento do uso do solo, para evitar a sua ocorrência,
contribuirá para um bom planejamento
territorial, o qual definirá uma ocupação
de acordo com as características naturais
do ambiente.
A utilização que o homem faz da
água resulta em resíduos líquidos e
sólidos que voltam novamente para aos
recursos hídricos, causando a
sua poluição. Por outro lado a
água que precipita carrega
impurezas do ar e do solo para
as áreas superficiais ou
subterrâneas de água, alterando
a sua qualidade, poluindo-a
(Figura 8 e 9).
Assim, vários são os
mecanismos de poluição da
água superficial e subterrânea
em um meio urbano, podendo-se
destacar como principais fontes
de poluição como o lançamento
de esgotos domésticos
RIO CONDIÇÃO
Ganges (Índia) Muito poluído
Yang-tsé (China) Poluído
Mississippi (EUA) Poluído
Nilo (Egito) Poluído
Volga (Rússia) Poluído
Reno (Europa) Poluído
Figura 8 Rios urbanos e sua poluição.
Fonte: LÜCKMAN et al, 2000, p. 14
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
29
Figura 10 Avenidas marginais do Rio Tietê e a
mata ciliar degradada pela retificação.
Fonte: OPPIDO, 1999, p. 35
(sanitários), de esgotos industriais e de águas pluviais, através de galerias, ou
ainda a água do escoamento superficial (runoff), água de infiltração, lançamento
direto de resíduos sólidos e outras impurezas (como por exemplo a ocupação
desordenada das margens e o uso excessivo de agrotóxicos) e a intrusão de
água salgada.
Com a urbanização junto
aos rios, destacamos a
preocupação de Rodrigues &
Leitão Filho (2001, p. 235) em
relação à degradação das matas
ciliares. Com a expansão das
cidades, a vegetação natural é
cada vez mais substituída por
novas vias e avenidas com suas
construções (Figura 10). O autor
ressalta que a recuperação de áreas degradadas é uma conseqüência do uso
incorreto da paisagem e do solo por todo o país, sendo uma tentativa limitada de
remediar um dano que na maioria das vezes poderia ter sido evitado.
Na cidade de Valência, Espanha, foi introduzida a exploração agrícola nas
margens do Rio Turia e seus oito afluentes. Como conseqüência, ano a ano, o
Rio Turia inundava a cidade. Em 1957 choveu tanto que o nível das águas subiu 5
metros acima do solo causando inúmeros prejuízos e mortes, num estado de
calamidade pública. Após esse acontecimento, um ousado plano de engenharia
desviou o curso do Turia sete quilômetros antes da entrada do rio da cidade. O rio
que passava pela vida de Valência deixou de passar e o que sobrou nessa área
foi apenas o leito vazio.
Como tentativa de remediar o erro, começava na cidade o trabalho de
reurbanização. Toda a área antes ocupada pelo rio foi, pouco a pouco, sendo
transformada em 12 quilômetros de jardins, parques infantis e centros de cultura
(Figura 11). Ricardo Bofill realizou, em 1981, o plano diretor de uma área que
compreende o antigo leito do Rio Turia Jardines Del Turia. O arquiteto estudou
a forma, a estrutura e o funcionamento da cidade em que o Rio Turia havia sido o
fator físico de influência mais relevante. Em alguns trechos, o rio determinou o
sistema viário e, em outros, serviu como meio para cortar irregularmente o
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
30
Figura 12 Avenida Hercílio Luz em Florianópolis
aprisionando o Rio da Fonte Grande.
Foto: Soraia L. Porath
Figura 11 Os Jardines Del Turia ocupam o antigo leito do Rio Turia em Valência.
Fonte: LYALL, 1991, p. 50
traçado das ruas que se orientavam a elementos tais como o porto ou a praia
(LYALL, 1991, p. 50).
De modo geral, os rios
urbanos são paisagens muito
degradadas, com seus leitos
alterados, poluídos por distintas
tipologias de esgoto e lixo e suas
margens sem qualquer
tratamento de preservação
(COSTA, 2003). Os rios urbanos
na paisagem das cidades, na
maioria das vezes, são
subordinados a paradigmas
tecnicistas e/ou estéticos e
funcionais que em geral não
consideram suas formas e
processos naturais, ou mesmo seu papel social e cultural (COSTA 2002).
Nas cidades brasileiras como Florianópolis e Rio de Janeiro, por exemplo,
podemos identificar algumas características típicas no processo de projeto:
aterrados total ou parcialmente, tratados como fundo de lote ou são tratados
como avenida-canal (COSTA, 2002) (Figura 12). A cidade de Curitiba possui
parques para a prevenção de cheias nas regiões mais periféricas da cidade, mas
na região central o rio torna-se avenida-canal ou é canalizado e desaparece do
mapa e da paisagem.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
31
Figura 13 Modelo de canalização de rios.
Elaboração: Soraia L. Porath
Estas têm sido opções de
projeto que, embora possam ser
consideradas corretas sob o
aspecto técnico, não consideram
os processos naturais,
eliminando sumariamente
funções importantes que
caracterizam pequenos rios e
córregos urbanos, que é a de
corredor biológico e parte do
ciclo hidrológico. Por este
aspecto, estas soluções
representam a morte do rio
enquanto um sistema biológico
rico e complexo (COSTA, 2002)
(Figura 14). Muitas vezes, a
poluição do rio é tão grande que
já não é mais possível falar em
reabilitação de um rio urbano,
mas em ressuscitar um rio morto.
Ferrara (2000, p. 65)
afirma que em muitos casos a
presença do rio na paisagem das
cidades é apenas um pano de
fundo. As pontes ocupam o
primeiro plano e poderiam
referenciar o rio, não na sua
harmonia com a cidade, mas
como obstáculo a ser
transposto”. Ou seja, segundo a autora, de tão poluído, o rio já não encontra-se
mais em harmonia com a cidade. O conflito das imagens rio versus cidade,
dificulta o papel que o rio desempenha na cidade.
Figura 14 Ataque urbano sobre pequenos rios e
córregos.
Fonte: FRANÇA, 2000, p. 87
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
32
Figura 15 Canal do Rio Tamanduateí com densa
área industrial entre o canal e a linha férrea.
Fonte: OPPIDO, 1999, p. 56.
Os rios centrais da cidade
de São Paulo no século XXI o
Tamanduateí, Anhangabaú,
Pinheiros e o Tietê, assim os
demais córregos estão
totalmente desfigurados, sujos,
densos, cobertos, quase sem
vida (Figura 15). Inconscientes
de sua existência, os paulistanos
passam velozmente por eles nas
marginais, sobre eles nos
viadutos ou sob eles, como no caso do túnel do Rio Pinheiros, como afirma
Corrêa e Alvim (2000, p. 102): o esgoto sujou os rios, a energia retificou e mudou
seu curso, a necessidade de saneamento levou à sua canalização, e o automóvel
ao seu desaparecimento”. Enfim, não são considerados em termos paisagísticos
e ambientais.
Segundo Costa (2002, p. 21), os rios tornam-se assim paisagens invisíveis,
pois ao longo do processo de urbanização, muitos rios têm os seus percursos
alterados ou adulterados, onde as margens e o fundo do leito são revestidos em
concreto. O que vemos, na verdade, é que nas grandes cidades, para um
pequeno rio a travessia da cidade é sempre uma tarefa quase impossível. Ao
contrário de grandes rios, pequenos rios e córregos são altamente vulneráveis e
acabam sucumbindo ao ataque do urbano que lhe é próximo”.
3.1.2. A VISÃO DO RIO COMO OBRA DE ARTE
As civilizações urbanas, por muito tempo, têm enfrentado problemas de
abastecimento e uso das águas, disposição dos esgotos, drenagem das águas
pluviais e prevenção das enchentes. Não há falta de modelos de soluções bem-
sucedidas para esses problemas. Culturas urbanas que surgiram nos climas
áridos e semi-áridos da Pérsia e do Mediterrâneo desenvolveram uma arte da
paisagem que conserva e ao mesmo tempo exibe sua água. Em muitas cidades,
os rios têm um importante papel na construção da paisagem urbana. Isso se dá
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
33
principalmente quando se trata de rios de grande porte pois os rios se mesclam
com as cidades e as imagens se tornam uma só (COSTA, 2002).
Em algumas situações, a paisagem urbana em torno dos rios construída ao
longo do tempo resulta em tal qualidade que podemos dizer que o rio recebe
tratamento digno de uma obra de arte, porém, evidenciamos que nem todo rio
tratado como obra de arte é ambientalmente correto. Devemos considerar que há
um grande número de rios que são determinantes na implantação e orientação de
grandes avenidas e marcos arquitetônicos e paisagísticos da cidade. Uma das
qualidades estéticas das paisagens dos rios são espaços livres que possibilitam
perspectivas e visões privilegiadas da cidade.
Outras situações nos mostram rios que recuperaram suas águas e
valorizaram o rio na paisagem urbana tratando-o como organismo vivo e
transformando suas várzeas em amplas áreas de lazer e recreação. As cidades
que exploram o potencial de armazenamento das cheias e do tratamento das
águas dos terrenos alagadiços demonstram como parques e áreas verdes podem
servir a vários usos.
Segundo Leite (1994, p. 86), a década de 70 marca o despertar mundial da
consciência ecológica, onde pela primeira vez os problemas de degradação do
ambiente, provocados pelo crescimento econômico, são entendidos como um
problema global que supera amplamente as questões pontuais apontadas nas
décadas de 50 e 60. A partir dessa data algumas cidades passam a incorporar o
rio no planejamento urbano. Os pontos positivos da presenç a dos rios na cidade
começam a ser reconhecidos e valorizados pela população. Podemos citar entre
os pontos positivos do rio nos centros urbanos: a presença da água e o contato
com a natureza, o acesso às águas do rio, a produção de energia elétrica, a
coleta de esgotos, fazer parte da paisagem da cidade, a geração de empregos, o
potencial de lazer, transporte e turismo, a possibilidade de nadar e pescar, a
sinuosidade do rio, valorização da área como potencial de projeto, o rio como
referência para as margens.
Dessa forma, podemos classificar os rios enquanto obras de arte
apresentando soluções urbanísticas e paisagísticas para cidade e também os rios
apresentando soluções urbanísticas, paisagísticas e ambientais, o que resulta na
qualidade da paisagem.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
34
Figura 17 Margens do Rio Elba em Hamburgo.
Fonte: SCHLÜSSELBURG & SCHUMANN,
1997, p. 7
Figura 18 Festa para o Rio Alster em Hamburgo.
Fonte: SCHLÜSSELBURG & SCHUMANN,
1997, p. 15
Figura 16 Budapeste às margens do Rio Danúbio.
Fonte: HEMZÓ, 1993, p. 22
3.1.2.1. OS RIOS COMO SOLUÇÕES PAISAGÍSTICAS DA CIDADE
Na Europa, o Rio
Danúbio percorre 2.850km por
oito países europeus, e entre
dezenas de cidades estão três
grandes capitais - Viena,
Belgrado e Budapeste.
Budapeste, capital da
Hungria, na verdade dividia-se
em duas cidades diferentes,
Buda e Peste, até elas serem
unificadas, em 1872. Buda se desenvolveu na margem esquerda do Rio Danúbio,
enquanto Peste ocupou as planícies do lado direito do rio. As duas antigas
cidades secionadas, divididas
pelo rio Danúbio, hoje são
unidas por várias pontes, se
transformaram na segunda
cidade mais extensa da Europa
e formam a cidade que ficou
conhecida como Rainha do
Danúbio (Figura 16) (BECKNER,
2002, p. 49).
A cidade de Hamburgo,
na Alemanha, situa-se 115km da
foz do Rio Elba e é uma cidade
portuária densamente
urbanizada às margens do rio
(Figura 17). Outros dois rios, o
Alster e o Bille desembocam no
Elba também em Hamburgo
(Figura 18). O antigo núcleo
urbano situa-se às margens do
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
35
Figura 20 Mapa de São Petersburgo com indicação
das principais edificações às margens do Rio Neva.
Fonte: MILNER-GULLAND & DEJEVSKY, 1997, p.
215.
Figura 19 Dois dos mais de 2.500 barcos habitados
nos canais de Amsterdã.
Fonte: WEIDEMANN, 1998, p. 102
Alster e no desenvolvimento posterior, a cidade passou a acompanhar o curso do
Elba. A cidade é cortada por canais e há um grande contato com as águas dos
rios através das suas margens e também pelo turismo fluvial. Quando as águas
do Rio Alster congelam a população sai às ruas comemorando numa grande festa
esse fenômeno natural.
O Rio Amstel é o curso
d’água principal da cidade de
Amsterdã, mas cerca 80 canais
cortam a cidade com mais de
400 pontes. A cidade é hoje um
grande centro comercial e
industrial com cerca de 20% das
terras abaixo do nível do mar. No
passado o restrito espaço para
construir fez com que as casas e
os terrenos fossem
extremamente caros resultando em construções debruçadas sobre os rios e
canais onde mais de 2.500 barcos são habitados (Figura 19). Prédios altos e
estreitos foram erguidos na
maior parte no século XVII
criando uma arquitetura
característica.
São Petersburgo, na
Rússia, situa-se no delta do Rio
Neva e possui mais de 60 canais
para drenar o terreno baixo e
pantanoso que ocasionou no
passado inúmeras inundações. A
construção do porto fez da
cidade um núcleo comercial. A
indústria e a construção naval
prosperaram e a arquitetura se
desenvolveu. Em suas margens
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
36
Figura 21 O Rio Sena como obra de arte.
Fonte: BARSA, vol 11, 2000, p. 157
foram criados boulevards, jardins, monumentos, palácios, obeliscos, igrejas e
pontes. Os braços do Neva dividem a cidade em quatro seções, e mostra que a
cidade formou-se debruçada sobre seus rios e canais: Almirantado, núcleo da
cidade original, com museus, monumentos e construções históricas; a ilha
Vasilievski, sede da universidade estatal; Petrogrado, onde fica a fortaleza Pedro-
Paulo; e Viborg, subúrbio industrial (Figura 20).
A qualidade paisagística
foi sabiamente explorada na
construção da paisagem urbana
de Paris. O Rio Sena, ao longo
dos 12 quilômetros em que cruza
o tecido urbano parisiense,
segue apresentando à cidade
praticamente plana, jardins e
parques públicos, praças, além
de equipamentos culturais e
esportivos (Figura 21 e 22).
Segundo Costa (2002), mais do
que suas características ambientais e ecológicas, o reconhecimento deste rio
urbano enquanto Patrimônio da Humanidade destaca suas qualidades
excepcionais enquanto paisagem cultural, ou seja, uma paisagem reinterpretada,
transformada e reconhecida neste caso enquanto obra de arte”.
A Île-de-la-Cité, que é uma ilha fluvial do Sena, divide a cidade em duas
áreas distintas: a da margem esquerda, Rive Gauche, e a da margem direita, Rive
Figura 22 O Centro de Paris às margens do Rio Sena.
Fonte: CERDÀ, 1996, p. 58
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
37
Figura 23 Roma às margens do Rio Tibre.
Fonte: CERDÀ, 1996, p. 59
Figura 24 Ponte Sant’Angelo e margem do Rio
Tibre, em Roma.
Fonte: ROME AND THE VATICAN, 1990, p. 67
Droite, unidas por 34 pontes formando paisagens conhecidas no mundo todo. O
turismo fluvial é explorado pelos bateaux mouches.
Fortes chuvas provocaram o acúmulo das águas do Rio Sena devido ao
seu leito ser pouco acidentado (escoamento lento) causando grandes prejuízos. A
fim de resolver esse problema
foram realizadas obras de
retificação das margens,
alçamento de cais, alargamento
de braços secundários,
construção de barragens, novos
muros de proteção, ordenados e
harmonizados aos existentes e
pavimentação das suas bordas
servindo de espaço para
recreação, resultando na
qualidade paisagística e
ambiental da cidade. Essas
obras foram concluídas em 1855,
período em que o Barão Georges
Eugène Haussmann e seus
colaboradores promoviam a
transformação urbana na cidade.
Destacamos também o
Rio Tibre, que atravessa a
cidade de Roma de norte a sul
(Figura 23). A cidade cresceu
intra-muros, numa certa
desorganização urbanística, e se
estende por sete colinas na
margem esquerda do rio. Este rio
é o coração de uma
extraordinária galeria paisagística
de onde se contemplam
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
38
Figura 25 O Rio Ganges em Benares.
Fonte: ÍNDIA, 2003
admiráveis marcos arquitetônicos.
As margens do Rio Tibre estão configuradas por arquiteturas que lhes
delimitam, proporcionando uma mescla entre o rio e a cidade. Importantes
elementos arquitetônicos dispostos ao longo do rio e em ambas as margens,
reforçam o seu caráter como espaço cenográfico (Figura 24).
Datam da segunda metade do século VII a.C. os primeiros trabalhos de
drenagem e edificações que deram o caráter urbano a antiga aldeia. A riqueza
dos imperadores financiou grandes obras como os aquedutos, construídos entre
312 a.C. e 226 da era cristã. Entre 1585 e 1590 o papa Sisto V e seu arquiteto,
Domenico Fontana, transformaram Roma numa das cidades mais bem planejadas
da Europa.
Devido ao regime irregular do Rio Tibre ocorriam inundações em alguns
bairros. Para resolver o problema houve a canalização de seu leito em todo o
trecho da cidade. Há indicações históricas que o rio era navegável no século VIII
a.C, mas a quantidade de sedimentos depositada pelo seu leito fez estagnar a
navegação. Do fim do século XVII até meados do século XIX fizeram-se tentativas
de restaurar sua navegabilidade por meio de dragagem e recondicionamento de
seu leito, mas os esforços foram abandonados no século XX.
Na planície aluvial da
bacia hidrográfica do Rio
Ganges, na Índia, uma das
regiões mais férteis, desenvolve-
se a agricultura. Toda essa
região é densamente ocupada e
o uso constante de agrotóxicos
na agricultura tornaram o rio
muito poluído. Apesar disso, há
um intenso contato da população
com o rio, em grande parte pela
religião da população. Na cidade
de Benares, as construções são voltadas para Rio Ganges e a ocupação é
desordenada acompanhando à topografia junto às margens do rio. O acesso às
águas do Rio Ganges é realizada através de rampas, escadarias e passagens
entre as construções (Figura 25).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
39
Figura 26 Margens do Rio Tejo, no Centro de
Lisboa, Portugal.
Fonte: VICENT & STRADLING, 1997, p. 116 (inf.) e
p.117 (sup.)
Figura 27 Construções voltadas para o Rio
Capibaribe no Centro de Recife.
Foto: Soraia L. Porath
Em Lisboa, o centro da
cidade continua hoje, em grande
parte como foi projetado pelo
Marquês de Pombal e seus
arquitetos depois do terremoto
(1755) em que o Rio Tejo
transbordou suas margens e
inundou a cidade. Comparando
a planta (plano original de
Pombal) e a vista aérea
percebemos que um grande
espaço se abre para o Rio Tejo,
a chamada Praça do Comércio.
Mas verificamos também grandes
alterações como aterros e um
alto índice de impermeabilização
do solo com ausência de
vegetação (Figura 26).
Como exemplo brasileiro,
destacamos o Rio Capibaribe,
em Recife. O núcleo inicial da
cidade era constituído pelas ilhas
de Recife (que desde o início
concentrou sua função portuária)
e Santo Antônio (centro
administrativo e comercial da
cidade). A expansão de bairros e
subúrbios realizou-se em cinco
direções. Entre elas, à oeste,
seguindo o Rio Capibaribe
acima, localizam-se os bairros de Boa Vista, Aflitos, Graças, Casa Amarela, Casa
Forte, Apipucos e Dois Irmãos.
A cidade se desenvolveu de costas para as águas do Rio Capibaribe mas a
construção de cais na área central e a abertura de novas ruas alteraram a relação
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
40
Figura 28 Margens arborizadas do Rio Tâmisa.
Fonte: Toda Londres
da cidade com o rio (Figura 27). Segundo Correia (1999, p. 49) domesticado,
definido seu curso em limites precisos e alterado o seu uso, o rio habilita-se para
desempenhar um novo papel, surgindo como elemento de valorização da
paisagem urbana. Os prédios voltaram-se para o rio na medida em que este foi
isolado da cidade por obras de engenharia aterros, construção de cais e jardins
em suas margens e teve seu uso alterado por outras destas obras
implantação de sistemas de coleta de lixo e de esgotamento que reduziram a
sujeira do rio no centro”.
3.1.2.2. OS RIOS COMO SOLUÇÕES PAISAGÍSTICAS E AMBIENTAIS DA
CIDADE
O Rio Tâmisa, em
Londres, para Mann (1973, p.
111) é o rio da arte, arquitetura e
história (Figura 28). Para Hough
(1995, p. 48), a história da
reabilitação do rio Tâmisa, em
Londres, é um dos exemplos
mais interessantes do processo
de deterioração e que parecia
impossível a recuperação da
saúde do rio.
O Tâmisa já foi considerado o rio mais poluído do mundo. Sua poluição
nasceu e se deu de forma violenta com a Revolução Industrial devido a milhares
de fábricas instaladas ao longo do rio. Em meados do século XIX as águas do
Tâmisa formavam um esgoto a céu aberto, o que representava um problema à
saúde pública, agravado pelo fato do rio ser a principal fonte de água potável de
Londres.
O longo processo de despoluição do Tâmisa começou em 1856 e até a sua
solução foram décadas de tentativas e o rio continuou a ser um esgoto a céu
aberto (SPIRN, 1995, p. 151). A partir de 1963 as autoridades realizaram um
esforço bem sucedido para evitar a contaminação das águas. Na década de 1980,
várias espécies de peixes voltaram a nadar no rio que antes era considerado
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
41
Figura 29 Sistema de Comportas do Rio Tâmisa.
Fonte: NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, vol 13, 2000,
p.464
Figura 30 O traçado original do Rio Don em
Toronto, no Canadá.
Fonte: HOUGH, 1995, p. 56
morto. Hoje, o governo britânico faz publicidade de que o Tâmisa é o mais limpo
de todos os rios que cruzam uma metrópole. O trabalho do governo inglês para
limpar o Tâmisa simboliza uma mudança de atitude das potências mundiais em
relação ao uso da água.
Havia inundações
danosas no baixo curso do rio,
quando chuvas prolongadas ou a
brusca fusão da neve coincidiam
com marés altas, afetando o
centro de Londres, cidade que
está praticamente no nível do
mar. Um sistema de comportas
foi construído para regular o
fluxo das marés que
anteriormente faziam transbordar
o Tâmisa. O sistema entrou em
funcionamento em 1982 (Figura
29). O rio teve a navegabilidade
melhorada após sucessivas
obras públicas realizadas desde
o século XVIII. Diversos canais
foram construídos para unir a
outros canais de outras bacias
fluviais da Inglaterra. No final do
século XX, o transporte de
mercadorias se limitava à porção
do rio que fica abaixo da Torre
de Londres, enquanto a
navegação turística e de lazer
percorria seu médio curso.
O Rio Don é muito
significativo para a cidade de
Toronto, no Canadá, porque é
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
42
Figura 31 Trilhas às margens do Rio Don.
Fonte: HOUGH, 1995, p. 69
altamente urbanizado e degradado, especialmente nas partes mais baixas (Figura
30). Seus valores naturais essenciais foram ignorados por uns duzentos anos:
água poluída pela rede pluvial e fecal, o baixo vale canalizado e es suas margens
foram construídas vias rápidas de quatro pistas, vias férreas, torres de
transmissão, sua diversidade animal e vegetal desapareceu em grande escala,
enfim, seu sentido de totalidade, beleza e lugar eram só recordaç ões do passado
(HOUGH, 1995, p. 51).
Em 1990, a Autoridade
para a Conservação da Região
Metropolitana de Toronto, cuja
função era proteger e gerenciar
o vale na região de Toronto
iniciou um trabalho muito intenso
de recuperação do Rio Don.
Inicialmente foram realizados
reflorestamentos de alguns dos
parques vazios da cidade, foram
construídas escadas para dar
acesso ao rio e também pontes
para unir os parques situados em cada margem e se criou o acesso por trilhas de
bicicletas em 8km acompanhando o traçado do rio (Figura 31).
Hough (19995, p. 70) afirma que a restauração do Rio Don mostra que os
problemas de contaminação da água se resolvem melhor quando formam parte
de uma estratégia integrada de desenho, que combine biologia e tecnologia,
interesses sociais e econômicos.
Na área urbana de São José do Rio Preto, em São Paulo, foi projetado um
espaço destinado ao Parque Setorial de fundo de vale. Essa área de 510ha
constitui um dos prolongamentos das faixas de preservação dos mananciais,
propostos no Estudo das Áreas Verdes e Espaços Abertos do Município de São
José do Rio Preto, em 1977, e transformados em lei em 1992.
À medida em que a faixa de proteção do Rio Preto e do Córrego da
Piedade penetra na área urbanizada, ela se alarga configurando o Parque
Setorial, fixando-se principalmente nos terrenos ainda não ocupados dos vales
daqueles rios. Devido a presença de uma estrada de ferro que percorre os vales
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
43
desses principais rios da cidade e à constituição natural dos terrenos de várzea, a
ocupação dessa área foi relativamente inexpressiva, considerando-se a
densidade geral da cidade.
O Parque Setorial estende-se dentro dos limites urbanos linearmente por
17km, com uma largura média de 300m, formando uma área verde destinada à
recreação e à prática de esportes, com arborização significativa e situação
estratégica, acessível a toda a população da cidade. Devido à sua extensão, o
parque foi dividido em trechos (trecho A, executado em 1982; trecho B, executado
entre 1983 e 1996; e trecho C, executado entre 1982 e 1988), a fim de que sua
implementação atendesses às necessidades de urbanização com equipamentos
de parque de acordo com o crescimento da cidade.
Além do suprimento de área verde equipada para lazer e esporte, de
proteção ambiental e melhoria da qualidade de vida urbana, o Parque tem como
objetivo a proteção às várzeas e áreas adjacentes dos vales como calhas naturais
de drenagem. Dessa forma, o escoamento das águas pluviais captadas nas
glebas urbanizadas ao longo do parque servem para minimizar o problema das
enchentes (DOURADO, 1997, p. 69).
O leito natural dos cursos d’água (Rio Preto e córrego da Piedade) foi
aproveitado como potencial paisagístico no projeto do parque, abandonando
definitivamente as soluções de canalização. As vias marginais ao longo do vale se
situam no mesmo lado do rio, interligadas diretamente à malha urbana da cidade,
cujo modelo deveria ser adotado para o vale do córrego Piedade. A vegetação
significativa existente foi mantida e complementada com espécies típicas da
região e mais adequadas às funções de parque público em zonas especiais de
fundos de vale.
Entre as cidades bem-sucedidas e que se adaptaram engenhosamente à
natureza destacamos a cidade de Woodlands, Estado do Texas, nos Estados
Unidos. É uma cidade localizada a 48 km ao norte de Houston que considera e
valoriza, de forma integrada, a drenagem das águas pluviais, o controle das
enchentes, a qualidade das águas e a sua conservação nos espaços livres,
públicos e privados. Esta cidade, segundo Hough (1995, p. 83), proporciona um
exemplo excelente da adaptação da forma urbana nos processos hidrológicos,
sobretudo para as áreas suburbanas de baixa densidade nas que é possível
adaptar as condições naturais de um espaço ao desenvolvimento urbano.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
44
Figura 32 Área de retenção de águas da chuva
transformado em campo de golf em Woodlands, no
Texas.
Fonte: HOUGH, 1995, p. 86
A cidade localiza-se numa região subtropical, que possui invernos
temperados e verões quentes e úmidos, apresentando extensos bosques, uma
topografia plana e extensas áreas de solos com baixa impermeabilidade. As fortes
chuvas ocasionavam o freqüente transbordamento dos córregos e a drenagem
insuficiente do solo provocava a permanência da água depois da chuva, isso
devido aos rios que possuem um fluxo muito baixo devido a sua topografia plana.
A empresa de arquitetos paisagistas e planejadores ecológicos Wallace
McHarg Roberts & Todd, anteriormente ao início do plano geral, fez uma análise
do meio ambiente, mostrando que a conservação do equilíbrio hidrológico era um
fator chave para o planejamento e que a preservação do solo permeável
desempenhava um papel principal. Também resultou que a introdução de um
sistema convencional de drenagem pluvial poderia significar a derrubada de
grandes áreas de matas e a diminuição do nível do lençol freático. Isso poderia
também aumentar as enchentes e degradar a qualidade da água a jusante. As
análises dos tipos de solo tiveram como resultado a definição da porcentagem
que uma área poderia ou não ser impermeável, sem afetar a capacidade de
absorção depois de uma forte e continuada precipitação.
O sistema de drenagem
natural é composto por dois
subsistemas: um que estoca e
absorve as águas das chuvas
freqüentes (Figura 32) e outro,
que drena as águas das
grandes tempestades. Esse
sistema de Woodlands, para
Spirn (1995, p. 180), explora a
capacidade das várzeas
florestadas naturais de
acomodarem as águas pluviais e dos solos de boa drenagem de absorverem e
armazenarem água. Isso reduz a combinação do aumento das enchentes com a
diminuição da vazão de água normalmente associados à urbanização, mantém a
qualidade da água e recarrega o aqüífero subterrâneo nos arredores de Houston.
Em resposta a esses fatores, o traçado urbano se desenhou de acordo
com os determinantes hidrológicos. O plano geral respondia ao sistema de
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
45
drenagem principal, localizando as ruas principais e pontos mais densos nos
espigões e nos pontos mais elevados, enquanto preservava as várzeas nos
parques e áreas livres, e localizava as áreas habitacionais de baixa densidade na
zona intermediária. O uso das várzeas e canais de drenagem como espaços
livres funcionava bem, tanto do ponto de vista ecológico como social. Ruas,
campos de golfe e parques foram projetados para reter as águas das chuvas e
aumentar a sua absorção por solos com boa drenagem. Desta forma, a cidade de
Woodlands passou a proteger os solos permeáveis, a conter a erosão e a
sedimentação, incrementar o fundo dos riachos e a proteger dos habitats de
vegetação e vida selvagem.
À medida que se sucederam as fases da construção, se tornou evidente
que o sistema natural de drenagem era efetivo. Com o projeto de Woodlands, o
custo da prevenção inicial é substancialmente menor que o valor das medidas
corretoras que seriam realizadas depois da urbanização. Além disso, ele beneficia
não apenas a cidade nova, mas também toda a região, prevenindo as enchentes
à jusante do rio Houston e recarregando o aqüífero abaixo. A maior parte desse
sistema hidrológico é arborizado, servindo não apenas para absorver e escoar
águas das chuvas, mas também para assimilar os resíduos do escoamento
urbano e oferecer uma vasta reserva de vida selvagem.
Para Spirn (1995, p. 183), os benefícios econômicos de um sistema de
drenagem natural podem não ser, em outra parte qualquer, tão radicais como em
Woodlands, com suas extensas áreas planas e seus solos de baixa drenagem,
mas podem, todavia, ter sentido. Podemos considerar Woodlands como um
modelo de projeto de drenagem, desde os detalhes mais comuns de
pavimentação e projetos de canais até a coordenação de solos, brejos e várzeas
num sistema de drenagem integral.
Ainda segundo a mesma autora, SPIRN, 1995, p. 172-9), Denver, no
Colorado, é outro bom exemplo significativo de uma cidade que implementou um
conjunto de estratégias abrangentes e coordenadas para a administração de sua
água. As devastadoras perdas de propriedades causadas por uma enchente em
1965 deram incentivo para a formação de um Distrito de Drenagem Urbana e de
Controle das Enchentes em 1969. Os estudos realizados pelo Distrito cobrem
uma bacia inteira de drenagem e não apenas projetos localizados, onde as
devastadoras perdas de propriedades causadas por uma enchente em 1965
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
46
Figura 33 O Caminho Verde do Rio Platte com
24km de trilhas interligadas.
Fonte: SPIRN, 1995, p. 176.
deram incentivo para a formação de um Distrito de Drenagem Urbana e de
Controle das Enchentes em 1969. Esse Distrito trabalha com os governos locais
para assegurar a adoção e implementação de normas para o uso adequado e
coerente das várzeas e realização de planos diretores para as bacias
hidrográficas. O Manual de Critérios de Drenagem das Águas Pluviais Urbanas,
publicado em 1969, orienta o trabalho no distrito e assegura o controle e a
drenagem das enchentes compatíveis e atuais através de toda a região
metropolitana. O manual traz questões de política, legislação e planos
relacionados à drenagem das águas e ao controle das enchentes, ao cálculo da
quantidade das águas que se dirigem ao sistema de águas pluviais, ao projeto
dos sistemas de escoamento de
águas pluviais e à redução dos
danos por enchentes.
A cada ano, o Distrito de
Drenagem Urbana e de Controle
das Enchentes de Denver reúne
uma lista de cinco a dez projetos
que fazem parte de um plano
diretor, aos quais o distrito, por
requisição dos governos locais,
presta assessoria. O projeto
deve ser multijurisdicional, e os
governos locais devem
concordar em pagar metade dos
custos do estudo e da
construção e assumir o controle
depois de terminadas as obras.
O distrito mapeia a várzea para
cem anos, prepara um estudo
preliminar do trabalho a ser feito
e coordena os engenheiros
consultores, em nome dos
governos locais.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
47
Figura 34 O Confluence Park oferece lugar para
saída de canoas e caiaques e uma vista da área de
canoagem.
Fonte: SPIRN, 1995, p. 178
O plano diretor identifica onde os problemas de inundação acontecem e
recomenda medidas saneadoras. Suas recomendações podem incluir a adoção
de regulamentos para as áreas das várzeas e a implementação de projetos como
a contenção das águas pluviais, melhoria das canalizações, checagem das
comportas ao longo dos cursos d’água para criar e baixar a velocidade da
correnteza.
A cidade de Denver agora exige dos proprietários das áreas que paguem
uma taxa de serviços de drenagem das águas, para ajudar a financiar a
construção e manutenção do sistema de águas pluviais. A quantidade de edifícios
e superfícies pavimentadas na propriedade determina o valor da taxa cobrada.
Os moradores de Denver transformaram um trecho de 16 Km do Rio South
Platte, que atravessa a área central de Denver, de um imundo esgoto a céu
aberto, coberto de entulho, rodeado de lixo e de terras devolutas, em um parque
ajardinado para esportes aquáticos, reuniões públicas, ciclismo, caminhadas e
estudos da natureza. Como o Distrito de Drenagem Urbana e de Controle das
Enchentes, o desenvolvimento do Greenway (Caminho Verde) do South Platte de
Denver tem suas raízes na desastrosa enchente de 1965.
O Caminho Verde do Rio
Platte liga agora dezoito parques
em 24 Km de trilhas interligadas
(Figura 33). Com uma área de
182ha, este é o maior parque de
Denver. Quando completado, o
Caminho Verde vai estender
40km rio acima até o pé das
montanhas Rochosas e 32km rio
abaixo até uma área de
recreação estadual nas planícies
do Rio Colorado. Seus idealizadores esperam que as comunidades suburbanas
desenvolvam trilhas ao longo dos afluentes do Rio Platte, de forma que, 192km de
trilhas ribeirinhas contínuas entrelaçarão a região metropolitana.
Com o uso crescente do rio para caminhadas, ciclismo e canoagem surgiu
uma preocupação maior com a qualidade da água do rio e um forte interesse pela
melhoria e manutenção dessa qualidade. O Caminho Verde do Rio Platte foi
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
48
Figura 36 Riverway (implantação e pós-
implantação).
Fonte: BEVERIDGE & ROCHELEAU, 1998, p. 86
Figura 35 O Sistema de Parques de Boston.
Fonte: EMERALDNECKLACE, 2002.
realizado pelos esforços
coordenados de organizações
públicas e privadas, e de
cidadãos individuais. Em pouco
mais de uma década, Denver
conseguiu um considerável
sucesso na recuperação de suas
águas.
Arquitetos paisagistas e
historiadores urbanos
consideram o sistema de
parques de Boston, em
Massachussets, conhecido como
Emerald Necklace (Colar de
Esmeraldas), como um marco no
planejamento de parques
americanos (Figura 35) (FABOS,
1996, p. 3), mas poucos sabem
que um terço do sistema foi
projetado para o controle das
enchentes e melhoria da
qualidade das águas e não
fundamentalmente para
recreação (BEVERIDGE &
ROCHELEAU, 1998, p. 83).
Entre 1878 e 1895,
Frederick Law Olmsted propôs
para a área remanescente da
Back Bay de Boston um plano
que objetivava combater os
problemas de enchentes e de
poluição das várzeas. Seu ponto
central era um parque chamado
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
49
Figura 37 A cidade de Linz, na Áustria, considera e
valoriza o Rio Danúbio no desenho urbano.
Fonte: RUANO, 1999, p. 27.
Fens, projetado para armazenar temporariamente as águas das chuvas, sem
provocar com isso a inundação das áreas adjacentes (MANN, 1973, p. 205). O
Rio Muddy flui através do Fens, sendo seu atual alinhamento e forma uma
criação artificial do século XIX. As margens do Rio Muddy foram reniveladas,
ladeadas por alamedas, cruzadas por pontes para pedestres e veículos, e
plantadas com gramíneas, arbustos e árvores para formar o Riverway. Como o
Fens, em algumas poucas décadas de sua implantação, o Riverway tomou a
aparência de uma várzea natural que penetra na cidade (Figura 36).
Segundo Spirn (1995, p. 39), a solução de Olmsted foi eficiente e
considerada moderna para a época, sendo que técnicas similares ainda
representam o que há de mais avançado atualmente. Em 1977, quando o Corpo
de Engenheiros do Exército deu início à compra de milhares de hectares de
várzeas a montante de Boston, por sua capacidade de reter as águas das cheias,
prevenindo desta forma a inundação do centro de Boston, esta ação foi
considerada inovadora.
A urbanização às
margens do Rio Danúbio, na
cidade de Linz, na Áustria, se
inspirou nas antigas estruturas
urbanas das cidades européias,
do Oriente Médio e da Ásia,
assim como também no
movimento da cidade-jardim. A
cidade é o resultado de três
décadas de planejamento,
investigação e urbanização, com
o objetivo de criar um bairro
residencial com boa qualidade
de vida, proteger os recursos
energéticos, combinar as
edificações de alta e baixa densidade e criar espaços ao ar livre, desenhados e
utilizados individualmente (Figura 37). A cidade demonstra o resultado positivo de
um planejamento global de desenho urbano. A mata ciliar e a faixa de
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
50
preservação são preservadas e a urbanização de baixa altura predomina na área
adjacente ao rio (RUANO, 1999, p. 26-9).
O Rio Mississippi passa por sete estados dos Estados Unidos quase de
um extremo ao outro e hoje é uma importante hidrovia comercial. Sua importância
cresceu na segunda metade do século XX, após a entrada em operação de um
complexo sistema de controle da vazão da água.
Em 1933, o TVA (Tennessee Valley Authority) tornou-se um exemplo de
planejamento regional. O plano possuía linhas diversas de atuação: onde houve a
melhoria da navegação em Muscle Shoals, no Alabama, desenvolver um
programa energético, viabilizar o local para produção de armamentos e controlar
as enchentes por meio de construção de barragens, reflorestar as margens e
incentivar o desenvolvimento agrícola-industrial. O TVA constituiu-se num
exemplo incomum de planejamento regional para a bacia hidrográfica.
No Brasil, a cidade de Curitiba apresenta exemplos de parques criados
para a prevenção de enchentes, ampliação do saneamento básico e preservação
de áreas verdes e fundos de vale. Entre eles, destacamos o Parque Municipal do
Barigüi, em Curitiba/PR, que segundo Dourado (1997, p. 26), foi uma inteligente
alternativa aos tradicionais programas de investimento em melhoria urbana
aplicados na canalização de cursos d’água, responsáveis pelo desaparecimento e
negação do potencial paisagístico dos rios e cursos d’água na construção de
nossas cidades.
Muitos desses modelos, contudo, consistem em soluções para o aspecto
do problema da água: tanto a drenagem das águas pluviais como o controle das
enchentes, o tratamento do esgoto ou a conservação e suprimento de água. Para
Spirn (1995, p.26), cada cidade pode tratar de maneira abrangente pelo menos
um de seus problemas urbanos, e para melhorar a cidade, as soluções não
precisam sem abrangentes, mas o entendimento do seu problema sim. Enfim, os
problemas ambientais não são exclusivos das cidades, somente mais visíveis, e
seus efeitos, mais concentrados.
Enfim, percebemos que a o desenho urbano pode solucionar em muito os
conflitos ambientais e que deve ser um processo contínuo, pois é uma função
essencial e vital para a qualidade da paisagem. O desenho urbano junto aos rios
deve propiciar ao poder público e aos cidadãos os instrumentos de gestão urbana
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
51
e ambiental que garantam a intervenção responsável e consciente na paisagem,
promovendo a regeneração dos recursos naturais.
3.2. QUADRO DE RIOS URBANOS
A idéia de construir um quadro da paisagem de rios urbanos vem ao
encontro de uma tendência contemporânea de pesquisa, que busca compreender
um fenômeno, através do estudo de casos reais, analisando a relação que a
cidade estabelece com o rio.
Para a elaboração deste quadro, que trata de uma aproximação
panorâmica do assunto, são apresentados a imagem do rio e suas margens
permitindo verificar como o meio físico se insere no meio natural e como a cidade
encontra as águas do rio, ou seja, a forma de ocupação das margens dos rios
(construída ou livre), sendo que vários exemplos mencionados fazem parte do
corpo dos itens anteriores e poderão ser oportunamente reconhecidos.
No campo ao lado da imagem temos o nome do rio e sua extensão total, a
cidade correspondente à imagem, o país e a data da ocupação das suas
margens. No campo denominado caracterização das margens do rio procuramos
resumir as condições que nos permitem atribuir aos exemplos escolhidos e
orientar sobre a situação de seus valores paisagísticos e ambientais.
O quadro foi construído a partir de referências bibliográficas e também pela
importância do rio para a cidade, mostrando a situação atual em que esses rios se
encontram nas cidades. Procuramos analisar de que maneira os rios são
utilizados, como são tratados pela cidade, qual a situação das suas margens e
quais os problemas e/ou soluções urbanísticas que apresentam. Verificamos
ainda os pontos positivos ou negativos da inserção urbana às suas margens, o
desenho da cidade em relação ao rio, como o rio foi tratado no processo de
planejamento das cidades, as diretrizes de projeto utilizadas, as medidas
paliativas e enfim, os resultados (usos, apropriação, recuperação ambiental e
estética).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
52
Rio Extensão
Data da
Ocupação
Cidade País
Imagem
Caracterização das margens do rio
Danúbio
2.850
km
70 a.C. Budapeste Hungria
Fonte: VIAGENS E IMAGENS, 2002.
É a segunda cidade mais extensa da Europa,
com ocupações diferenciadas nas margens. Na
margem direita localiza-se Peste, no lado
esquerdo Buda. Cidades unificadas em 1872.
Embarcações turísticas. Margens ocupadas
e locais para passeio e recreação. É uma das
artérias comerciais mais importantes da Europa.
Elba 1.165km 808 Hamburgo Alemanha
Fonte: SO SCHÖN IST HAMBURG, 1992, p. 16.
A cidade de Hamburgo, construída às margens do
Rio Elba e Alster, volta suas construções para o Rio
Elba. Foram construídos canais ao longo dos rios e
neles há uma intensa exploração turística.
As margens dos rios são impermeabilizadas e há
um grande contato com as águas do rio. Escadas e
rampas permitem o acesso às suas águas e podemos
dizer que a população tem o rio como referência da
cidade.
Sena 52 a.C. Paris França
Fonte: GUIMARÃES, 1998, p. 28.
O curso do Rio Sena faz parte das principais
rotas hidroviárias da França. Os canais fazem a
ligação do Sena com os rios Loire, Ródano e
Reno e rios da Bélgica ampliando sua
capacidade de navegação e de comunicação.
O Rio Sena é bordeado por arbustos e
árvores. Ao nível da rua, mas uma linha de
árvores inclina-se às águas, formando um
importante parque linear que se relaciona com a
arborização da cidade e apresenta continuidade
com a vegetação de seus jardins, praças e
parques.
Neva 1.703
São
Petersburgo
Rússia
Fonte: MILNER-GULLAND & DEJEVSKY, 1997, p.
215.
A cidade de São Petersburgo se desenvolveu às
margens do Rio Neva. Com as constantes
inundações, foram construídos canais para drenar o
terreno baixo e pantanoso.
Percebemos que nas margens do rio há uma
massa de vegetação onde foram criados jardins para
recreação e contemplação do rio.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
53
Rio Extensão
Data da
Ocupação
Cidade País
Imagem
Caracterização das margens do rio
Nilo 6.690km 641 Cairo Egito
Fonte: CAIRO, 2003.
A cidade situa-se a 20km do delta do Rio
Nilo e lembra um leque, onde a área norte é
mais larga e se localizam as férteis terras
banhadas pelo rio.
A parte moderna da cidade, na zona oeste,
está rodeada pelos
três bairros mais antigos do
Cairo, que constituem uma grande aglomeração
humana. A principal via pública da cidade, al-
Qurnish, corre paralela ao Nilo. As duas ilhas
situadas no centro do rio Yazira e Roda são
zonas residenciais.
South Platte 1.858 Denver EUA
Fonte: FABOS, 1996, p. 69.
A cidade é um importante centro industrial,
comercial e financeiro fazendo as águas do rio
ficarem cada vez mais poluídas.
Houve a recuperação do rio para recreação,
sistema de medição da qualidade da ág
ua,
prevenção de enchentes, esportes aquáticos e
24km de trilhas interligadas.
A imagem mostra a ponte sobre o rio e o
acesso por meio de rampas.
Tâmisa 338km I a.C. Londres Inglaterra
Fonte: TODA LONDRES, [S.I.].
A Grande Londres se es
tende por ambos os
lados do Tâmisa num raio de mais de 25km.
Cidade portuária e com muitas indústrias nas
margens do Tâmisa.
A poluição das suas nasceu e se deu de
forma violenta com a instalação de milhares de
fábricas às suas margens. Mesmo poluído
, o
Rio Tâmisa não deixa de ser um referencial
para a cidade que possui suas construções
voltadas para o rio.
Tejo 1.200 a.C. Lisboa Portugal
Fonte: ALONSO & GIL, 1997, p. 49.
A cidade conserva o seu valor tradicional e
muitas das mais antigas construções. Situa-se
à margem direita do rio. O Centro de Lisboa
era, na pré-
história, o leito de um afluente do
Tejo. Nessa área, o rio se alarga e forma uma
baía de sete quilômetros de largura e nas
últimas décadas do século XX instalou-
se na
margem
sul do rio mais importante zona
industrial do país. A Ponte Vinte e Cinco de
Abril é famosa na cidade pois liga o Centro aos
bairros industriais.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
54
Rio Extensão
Data da
Ocupação
Cidade País
Imagem
Caracterização das margens do rio
Tejo 193 a.C Toledo Espanha
Fonte: VICENT & STRADLING, 1997, p. 55.
Cidade construída na margem direita do
Tejo. Apresenta ruas estreitas e tortuosas com
grande número de patrimônios históricos
preservados. Duas pontes cruzam o Tejo: a de
Alcântara, que remonta em parte a época
romana e árabe; e a de San Martín, do final do
século XIII.
A topografia permite que as construções
sejam voltadas para o rio possibilitando o
contato visual. Suas margens apresentam
trechos com densas massas de vegetação.
Tibre 405km Séc. VIII
a.C.
Roma Itália
Fonte: ROME AND THE VATICAN, 1990, p. 67.
O baixo Tibre atravessa Roma. Suas margens
estão delimitadas por edifícios e entre eles, existem
diversos espaços de uso público. Próximo ao rio
temos a imagem de uma cidade clássica, que
preserva seus patrimônios históricos.
O rio possui uma extraordinária galeria
paisagística em suas margens de onde se
contemplam admiráveis marcos arquitetônicos.
Barigüi 1.853 Curitiba Brasil
Fonte: DOURADO, 1997, p. 27.
A criação do parque foi uma inteligente
alternativa aos tradicionais programas de
investimento em melhoria urbana aplicados na
canalização de cursos d’água, responsáveis
pelo desaparecimento e negação do potencial
paisagístico dos rios e cursos d’água na
construção de nossas cidades. O represamento
dos rios formando lagos, contribui para a
contensão de cheias, além dos aspectos
recreativos e paisagísticos.
Preto
São José do
Rio Preto
Brasil
Fonte: DOURADO, 1997, p. 68.
O leito natural do rio foi potencial
paisagístico aproveitado no projeto de um
parque de fundo de vale, abandonando
definitivamente as soluções de canalização
entre duas pistas expressas de veículos. Há
proteção das várzeas e áreas adjacentes dos
vales como calhas naturais de drenagem. O
parque linear ao rio por 17km forma uma área
verde destinada à recreação e à prática de
esportes, com arborização significativa e
situação estratégica, acessível a toda a
população da cidade.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
55
Rio Extensão
Data da
Ocupação
Cidade País
Imagem
Caracterização das margens do rio
Fonte Grande Florianópolis Brasil
Foto: Soraia L. Porath, 2003.
Com o desenvolvimento da cidade de
Florianópolis, o Rio da Fonte Grande foi
transformado
em local de despejos pela
população e se tornou um problema para a
cidade. O resultado encontrado pelos órgãos
públicos foi a canalização do rio que esconde a
sua poluição.
Hoje, a Avenida Hercílio Luz e os edifícios
aprisionam o rio. Sobre ele, há a
lguns trechos
para passeios com arborização urbana e outros
trechos para estacionamentos.
Vltava Séc. IX Praga
República
Tcheca
Fonte: VESZELITZ, 1998, p. 4.
Fonte: TEICH, 2002, p. 86.
A cidade cresceu sobre sete colinas em
ambas as marge
ns do Rio Vltava (Moldava)
pouco antes da confluência com o Rio Elba. O
rio é divisor de duas ocupações diferenciadas
(cidade velha e cidade nova). Pode ser dividida
em cinco partes: na margem direita do rio o
bairro judeu, a cidade velha e a cidade nova,
e
na margem esquerda do rio todas as
construções anteriores ao século XIX e o
castelo de Praga, onde foi fundada a cidade.
O rio apresenta um curso sinuoso através
da cidade e há ocorrência de enchentes. Há 16
pontes sobre o Rio Vltava. Numerosos
monumentos integram a paisagem urbana
composta de ruas com traçado irregular que
contrastam com novos bairros residenciais de
arquitetura moderna. As partes históricas da
cidade são preservadas como monumentos
nacionais.
Turia Valência Espanha
Fonte: VALÊNCIA, 2003.
O Rio Turia teve o seu curso desviado de
Valência devido às enchentes que ocorriam na
cidade. No imenso vazio urbano foram projetados e
executados jardins que seguem o seu antigo curso.
Seu desenho fundamenta-se em axialidades e
simetrias da geometria clássica, contrastando com o
percurso orgânico da calha fluvial onde se instala. A
vegetação segue submissa à geometria rígida do
desenho de Ricardo Bofill.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
56
Rio Extensão
Data da
Ocupação
Cidade País
Imagem
Caracterização das margens do rio
Amstel Séc. XIII Amsterdã Holanda
Fonte: AZEVEDO, 1998, p. 7.
A cidade é um grande centro comercial e
industrial com rios canalizados e poluídos.
Todas as suas margens foram ocupadas e
seus canais apresentam mais de com 2.50
0
barcos habitados. Cerca de 20% das terras
estão abaixo do nível do mar.
A cidade densamente construída apresenta
arborização urbana ao longo do Rio Amstel.
Suas construções acompanham o curso dos
rios e canais que são referência da cidade.
Pegnitz Séc. XII Nuremberg Alemanha
Fonte: NUREMBERG, 2003.
Nuremberg é uma cidade fortificada às
margens do Rio Pegnitz. Um castelo
construído pelo imperador Henrique III foi o
núcleo original da cidade. Devido a topografia,
suas construções e pontes permitem avistar o
rio. Muros delimitam suas margens que
apresentam-se arborizadas.
Volga 3.530km Saratov Rússia
Fonte: SARATOV, 2003.
O Rio Volga e setenta afluentes são
navegáveis. A barragem de Samara inunda os vales
do Volga numa e extensão de dezenas de
quilômetros.
Percebemos nesse trecho a possibilidade
de contato visual e com suas águas. Há
embarcações junto às suas margens. Devido a
sua topografia, as construções permitem
avistar o rio. A cidade é densamente
construída mas verificamos massas de
vegetação.
Saône e
Ródano
Séc. II Lyon França
Fonte: Cartão Postal
Lyon é uma grande cidade do
Renascimento. A atividade industrial e cultural
transformou a cidade num dos principais
núcleos urbanos da França. A cidade situa-se
numa zona montanhosa do centro-leste do
país, na confluência dos dois rios.
Percebemos uma carência de espaços com
vegetação e grande impermeabilização do solo
e das margens dos rios.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
57
Rio Extensão
Data da
Ocupação
Cidade País
Imagem
Caracterização das margens do rio
Neckar Séc. XII Heidelberg Alemanha
Fonte: NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, Vol. 7, 2000,
p. 339.
A cidade situa-se entre o Rio Neckar e as
colinas de Odenwald. Há poucas construções
barrocas na cidade devido a Guerra dos 30 anos
e as campanhas francesas de 1689 e 1693. O
turismo é a principal atividade econômica e há
poucas indústrias na cidade. Como vemos, a
cidade fica aprisionada entre o vale e a
montanha, apresenta impermeabilização do solo
nas margens do rio e também a possibilidade do
contato com suas águas. Há grande quantidade
de vegetação nas encostas mas próximo ao rio
há ausência de mata ciliar o que agrava o
fenômeno das enchentes. Próximo às margens
observamos que há extração de areia do rio.
Yang-Tsé-Kiang 5.494km Xangai China
Fonte: XANGAI, 2003.
O Rio Yang-Tsé-Kiang, ou Rio Azul, é um dos
mais poluídos do mundo. Em 1998 teve a sua
maior enchente. Um milhão de pessoas moram
em 13 cidades às suas margens e estão sendo
removidas devido à construção de uma represa
As Três Gargantas. Está sendo construída para
o controle das enchentes porque quando ocorre,
atinge uma população maior do que a dos EUA.
As margens são altamente impermeabilizadas e
por Xangai ser uma cidade portuária, localizada
na foz do rio, o rio está constantemente presente
na paisagem.
Don 1.787 Toronto Canadá
Fonte: HOUGH, 1995, p. 66
Vale urbanizado em torno de 70% com
problemas em relação a qualidade da água e o
desaparecimento da vegetação nativa. Mesmo
assim o vale era um corredor migratório da vida
selvagem e indicou que o rio, mesmo
deteriorado, seria um candidato viável para sua
restauração: reflorestamento de alguns parques
do vale. Mesmo canalizado, houve a construção
de escadas para acesso ao rio, 8 km de pista
para ciclismo, educação ambiental, etc.
Ganges 2.506km
Varanasi (ou
Benares)
Índia
Fonte: ÍNDIA, 2003.
O rio é pouco profundo e o volume de águas
apresenta grandes variações, provocadas pelo
degelo das neves do Himalaia (onde o rio nasce,
a 4.500m de altitude) e pelas chuvas de
monções. Percebemos que as edificações são
voltadas para o rio e acompanham a topografia
local, onde o contato com as águas do rio é
muito intenso.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
58
Rio Extensão
Data da
Ocupação
Cidade País
Imagem
Caracterização das margens do rio
Reno Séc. XIII Rotterdam Holanda
Fonte: NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, Vol. 12,
2000, p. 484.
Fonte: ROTTERDAM, 2003.
Na cidade pouco se conserva da arquitetura
antiga devido aos bombardeios
da Segunda Guerra
Mundial. Mas seu porto foi reconstruído pós-guerra.
Localiza-se na foz dos rios Reno e Mosa, às margens
do NieuweMaas (Novo Mosa), um dos braços do
Reno.
No plano urbanístico pós-guerra, os bairros
residenciais foram distribuídos nas áreas periféricas e
a zona industrial localizou-se nas imediações do
porto. Os artistas chamados a colaborar na
reconstruções decoraram os novos prédios, públicos
e privados, com esculturas, mosaicos e pinturas
murais, o que minimiza a aparência comercial da
cidade e introduz uma homogeneidade das
construções.
A cidade investiu em tecnologia e a imagem
superior mostra a Ponte levadiça num canal de
Rotterdam. A atividade portuária, completada por uma
ampla rede de canais, é a base do desenvolvimento
da cidade.
Veneza Itália
Fonte: ARLETE & GUTO, 2003.
A cidade é um arquipélago formado por 118 ilhas
entrecortados por 170 canais com 350 pontes. Há
ruas estreitas e becos, mas os canais são as
verdadeiras ruas da cidade. O Grande Canal é a
principal avenida de Veneza com 3,8km de extensão,
5m de profundidade e largura que varia de 30 a 70m.
A cidade é densamente construída com palácios
dos séculos XVII e XVIII, residências, comércios e
prestações de serviços voltados para as águas dos
canais.
Atualmente está sendo colocado em prática um
rigoroso programa de recuperação e preservação da
cidade e de suas águas, que estão poluídas.
Arno 200a.C. Florença Itália
Fonte: ARLETE & GUTO, 2003.
Pode-se dizer que a cidade de Florença, ou
Firenze é um museu ao ar livre, que volta suas
construções para as águas do Rio Arno. A Ponte
Vechio foi construída em 1345 e é a única que
escapou da destruição nazista durante a 2ª Guerra.
A cidade, densamente construída, possui grandes
palácios, igrejas e praças que permitem avistar as
águas do rio. Percebemos ausência de vegetação nas
margens do rio nesse trecho da cidade.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 3 A Paisagem de Rios Urbanos
59
A análise de diferentes paisagens de rios urbanos no Brasil e no mundo
nos mostra que a maioria dos rios urbanos apresenta modificações e que a
preservação dos fundos de vale com a criação de parques, o controle das
enchentes, a valorização do rio pelo turismo fluvial são soluções para um rio
urbano ser valorizado na paisagem. Este quadro serve para estabelecer
parâmetros paisagísticos e ambientais de ocupação, bem como diretrizes para o
Rio Itajaí-Açu e mostra a importância do desenho urbano junto aos rios.
Rio Extensão
Data da
Ocupação
Cidade País
Imagem
Caracterização das margens do rio
Capibaribe 195km 1.534 Recife Brasil
Fonte: NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, Vol. 12, 2000, p.
233.
Cidade plana às margens da foz do rio.
Num primeiro momento, a cidade virou as
costas para o rio. Num segundo momento,
aterros, construção de cais, abertura de
novas ruas, jardins e avenidas em suas
margens fazem a cidade valorizar o rio na
paisagem.
Verificamos um alto índice de
impermeabilização do solo com ocupações
diferenciadas linearmente ao rio. O rio é
explorado para o turismo.
Tietê 1.145km 1.554
São
Paulo
Brasil
Fonte: OHTAKE, 1991, p. 21.
O rio possibilitou a fundação de cidades
nas proximidades de suas margens. O rio
sofreu retificação, canalização e hoje,
apresenta-se aprisionado entre avenidas.
O Tietê é o rio mais poluído do Brasil e o
processo de purificação de suas águas foi
iniciado em 1991. Na cidade de São Paulo há
constantes enchentes e a ocupação intensa
das suas várzeas trazem inúmeros prejuízos
à cidade e à população. Foi criado o Parque
Ecológico do Tietê e Área de Proteçã
o
Ambiental da Várzea do Rio Tietê.
Charles 1.630 Boston EUA
Fonte: NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, Vol. 3, 2000, p.
69.
Boston é uma cidade industrial que possui um
sistema de parques com um terço projetado para o
controle das enchentes e melhoria
da qualidade
das águas.
Espaço para recreação urbana em suas
margens e o rio é utilizado para navegação.
Percebemos ausência de mata ciliar nas margens
do rio. O rio é um limite forte da cidade com
avenidas paralelas ao leito do rio.
60
A BACIA
HIDROGRÁFICA DO
RIO ITAJAÍ-AÇU
CAPÍTULO
4
4.1. A BACIA HIDROGRÁFICA COMO
UNIDADE DE PLANEJAMENTO
4.2. DADOS GERAIS DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ-AÇU
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
61
“O planejamento territorial de uma bacia
hidrográfica com base em princípios ambientais
constitui o melhor método para evitar a
degradação de seus recursos hídricos. Este
planejamento deve ser feito a partir de um
diagnóstico ambiental de toda a bacia,
levantando as principais características do meio
físico, biológico e sócio econômico”.
MOTA, 1999, p. 138.
4.1. A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO
Os primeiros modelos de gestão das águas surgiram no século XIX, com o
aumento da demanda devido à industrialização, preocupados basicamente com o
aspecto quantitativo da questão. No entanto, a intensificação da escassez, e
principalmente da poluição, ocasionou a adoção de modelos de gestão nos quais
se priorizou o aspecto qualitativo. Assim a bacia hidrográfica passou a ser
considerada hierarquicamente superior às divisas políticas municipais, estaduais
e até mesmo nacionais, tornando-se a unidade básica de planejamento.
Segundo Romagnoli & Casagrande Jr. (2002, p. 59), pode-se afirmar que
existem no mundo dois modelos de gestão de bacias hidrográficas. O primeiro, o
do Mercado de Água, é comum a regiões que enfrentam escassez Austrália,
Índia, México e Estados Unidos. Já o Modelo de Gestão Negociada surgiu em
1913, na Alemanha, devido à contaminação da Bacia do Vale do Rio Ruhr, região
carbonífera. A associação criada para gerenciar a bacia tinha como princípios
gerais implantar uma gestão estatal, porém participativa, cobrando taxas pelo uso
e/ou poluição da água. Este modo influenciou o surgimento de novas associações
na Alemanha e na França, que criou em 1964 os Comitês de Bacias
Hidrográficas, formados por representantes da coletividade, dos usuários e do
Estado.
A legislação francesa também aprimorou os conceitos de “usuário-pagador”
e “poluidor-pagador”, para financiar ações na própria bacia, que foram adotados
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
62
por outros países do mundo. Dentre os países que têm aplicado o modelo de
Gestão Negociada, encontra-se o Brasil, que em 1997 promulgou uma Lei
Federal que rege o Gerenciamento de Recursos Hídricos. Esta lei criou os
Comitês de Bacias Hidrográficas, os quais têm por atribuições arbitrar os conflitos
entre usuários, aprovar e executar os Planos de Recursos Hídricos e
regulamentar a outorga e cobrança pelo uso da água. Essa lei introduziu
mudanças na concepção de gestão ambiental e o estabelecimento da bacia
hidrográfica como unidade de planejamento rompeu com o conceito de gestão
calcado na divisão político administrativa do território.
4.2. DADOS GERAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ-AÇU
Primeiramente, partimos para o estudo dos condicionantes naturais da
Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, pois nas palavras de Sun apud Afonso
(1995, p. 9), as bacias hidrográficas, unidades naturais da água, como
delimitação de uma paisagem para estudos e intervenções, fornecem elementos
concretos de referência, facilmente estabelecidos no território e na cartografia. As
bacias ocupam superfície determinada e delineada por espigões e vales, e neste
espaço, pode-se avaliar o desempenho da paisagem em relação à utilização dos
recursos hídricos através da visualização do ciclo hidrológico, um processo
associado às condições do clima. Água é um elemento que confere dinâmica,
unidade e continuidade da paisagem a uma bacia”.
Autores como Lyle (1999), Spirn (1995), Mc Harg (1992) e Steinitz (2002)
atribuem às características sistêmicas dos terrenos uma importância
preponderante no estabelecimento de diretrizes de desenvolvimento de cidades,
pensando não somente nos aspectos econômicos, mas valorizando os aspectos
ambientais e cênicos.
Um rio não pode ser
analisado isoladamente, em
apenas um trecho do rio ou
em uma só cidade. O
tratamento do tema rio
urbano permite ao estudo da
Figura 38 A linearidade do rio como um sistema.
Fonte: BASCHAK & BROWN, 1996, p. 221
Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
63
bacia hidrográfica a qual este rio pertence. A linearidade do rio sugere a idéia de
sistema (Figura 38).
Para compreendermos as transformações que vêm ocorrendo na paisagem
da cidade de Blumenau é necessário que entendamos os aspectos ligados às
condições do seu ambiente físico. Por esse motivo, apresentaremos dados sobre
a bacia hidrográfica em que o Rio Itajaí-Açu está inserido.
A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu situa-se na unidade fisiográfica
Litoral e Encostas de Santa Catarina. Esta bacia é a maior da vertente atlântica
do Estado de Santa Catarina e possui aproximadamente 15.500 km² (16,15% do
território catarinense) distribuída em 47 municípios.
Os seus divisores de água encontram-se a Oeste na Serra Geral e na
Serra dos Espigões, ao Sul na Serra da Boa Vista, na Serra dos Faxinais e na
Serra do Tijucas, e ao Norte na Serra da Moema (Figura 39). O maior curso
d'água da bacia é o Rio Itajaí-Açu suprido por 54 rios e ribeirões. Seus
Figura 39 Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: FURB/IPA Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
64
Figura 40 Barragem Oeste.
Fonte: COMITÊITAJAÍ, 2002
Figura 41 Barragem Norte.
Fonte: COMITÊITAJAÍ, 2002
formadores são os rios Itajaí do Oeste e Itajaí do Sul que, quando encontram-se
no município de Rio do Sul, passam a se chamar Rio Itajaí-Açu.
A colonização da região do Vale do Itajaí possuía desde o início uma
estreita relação com o Rio Itajaí-Açu, ora no transporte de cargas e passageiros,
ora no desbravamento de novas áreas para a agricultura ou na construção de um
novo espaço para viver e trabalhar. Mas nem sempre esta interação trouxe os
frutos esperados, pois em algumas ocasiões, o rio aumentou seu volume,
trazendo prejuízos materiais à
população da região. As
enchentes constituem-se na
questão ambiental de maior
abrangência e prejuízos
contabilizados. A partir da
década de 1920 tem aumentado
o número de pequenas
enchentes devido ao aumento da
ocupação no Alto Vale do Itajaí.
Isso provocou uma reflexão
sobre a relação entre o homem e
a natureza. A partir daí, passou-
se a discutir alternativas de
solução frente às ações de
forças naturais.
A primeira solução para o
problema foram as obras de
engenharia (barragens em
diversos afluentes do rio), pois a água seria retida em reservatórios, evitando o
alagamento dos locais com cotas mais baixas ou das suas margens. As represas
de contenção foram projetadas a partir de 1957, sendo que foram construídas três
(Figuras 40 e 41):
- Barragem Oeste (no Rio Itajaí do Oeste, em Taió);
- Barragem Sul (no Rio Itajaí do Sul, em Ituporanga); e
- Barragem Norte (no Rio Hercílio, em José Boiteux).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
65
Com um gradativo abandono do sistema de contenção de cheias (as
barragens) por parte do poder público, foi criado o Comitê de Gerenciamento da
Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí Comitê do Itajaí pelo Decreto Estadual n.º 2109,
de 05 de agosto de 1997, que tem entre outros objetivos:
- promover o gerenciamento descentralizado, participativo e integrado dos
recursos hídricos em sua área de atuação;
- promover a integração das ações na defesa contra eventos hidrológicos
críticos, que ofereçam riscos à saúde e à segurança públicas, assim como
prejuízos econômicos e sociais;
- adotar a bacia hidrográfica como unidade físico-territorial de planejamento
e gerenciamento;
- reconhecer o recurso hídrico como um bem público de valor econômico
cuja utilização deve ser cobrada, observados os aspectos de quantidade,
qualidade e as peculiaridades da bacia hidrográfica;
- combater e prevenir as causas e efeitos adversos da poluição, das
inundações, das estiagens, da erosão do solo e do assoreamento dos
corpos de água nas áreas urbanas e rurais;
- compatibilizar o gerenciamento dos recursos hídricos com o
desenvolvimento regional e com a proteção do meio ambiente;
- estimular a proteção das águas contra ações que possam comprometer o
seu uso atual e futuro;
- apoiar e incentivar a criação e implantação de Unidades de Conservação
na bacia hidrográfica do Itajaí.
Uma importante linha de ação criada pelo Comitê do Itajaí recentemente é
o Programa de Recuperação da Mata Ciliar, que tem como meta a recuperação
das matas ciliares em toda a Bacia do Itajaí, o que virá a alterar significativamente
a paisagem das margens do Rio Itajaí-Açu.
A paisagem se diferencia por um conjunto de componentes interligados
que são o relevo, os solos, o clima e a cobertura vegetal. O estudo desses
diferentes componentes são essenciais para a compreender a paisagem.
Entendendo a paisagem como uma herança tectônica, temos o autor Ab’Sáber
(2001, p. 19) dizendo que a história fisiográfica e ecológica do nosso país envolve
uma herança complexa de muitos fatores e processos interferentes ao longo da
história geológica.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
66
Figura 42 Médio e Baixo Vale na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: REFOSCO, 2003. Elaboração: Soraia L. Porath
O Rio Itajaí-Açu pode ser dividido, nos seus 200 quilômetros, em três
setores principais, segundo suas características naturais: Alto, Médio e Baixo
Vales do Itajaí (SANTA CATARINA, 1997).
O compartimento natural denominado Alto Itajaí-Açu, com 26 quilômetros
de extensão, compreende a área desde as nascentes dos rios Itajaí do Sul e Itajaí
do Oeste até o Salto dos Pilões. Apresenta-se com curso sinuoso e pequena
declividade, onde os núcleos urbanos de Rio do Sul e Lontras atingem suas
margens.
O Médio Itajaí-Açu, com 93 quilômetros de extensão, inicia em Salto dos
Pilões (entre os municípios de Lontras e Ibirama) e vai até o Salto Weissbach
(Blumenau). Os 12 quilômetros iniciais deste compartimento natural apresentam
forte declividade e os demais, com moderados declives. Os núcleos urbanos às
margens do Rio Itajaí-Açu são Apiúna, Ascurra, Indaial e parte de Blumenau
(Figura 42).
O Baixo Itajaí-Açu, com aproximadamente 80 quilômetros de extensão,
com menos sinuosidade e declives reduzidos, inicia no Salto Weissbach e segue
até o Oceano Atlântico, passando pelas cidades de Blumenau, Gaspar, Ilhota,
Navegantes e Itajaí.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
67
Figura 43 Mapa geológico da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: PELUSO Jr., 1952 Elaboração: Soraia L. Porath
4.2.1. A GEOMORFOLOGIA
A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu apresenta aspectos geomorfológicos
distintos (Figura 43).
Na região do Alto Vale do Itajaí existem altiplanos esculpidos sobre rochas
sedimentares. A erosão freqüente dos rios Itajaí do Norte e Itajaí do Sul tem
resultado numa paisagem de forma escalonada (em degraus), devido ao desgaste
diferenciado nos vários pacotes de rochas sedimentares. Os rios Itajaí do Oeste e
do Sul têm, comparativamente, um poder erosivo menor que o Rio Itajaí do Norte,
devido diferença na velocidade de escoamento. O Rio Itajaí do Norte apresenta
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
68
uma velocidade de escoamento maior que desgasta os terrenos menos
resistentes, resultando num processo erosivo mais intenso.
No Médio Vale do Itajaí existe uma transição, onde o rio corre por dentro de
rochas metamórficas, do Complexo Granulítico de Santa Catarina. Os afluentes
do rio, neste trecho, se originam nas escarpas do altiplano do planalto sedimentar.
Devido a topografia acidentada (embasamento e planalto sedimentar) os rios
apresentam alto poder erosivo e transportador, carregando grande quantidade de
sedimentos que resultam na cor turva do Rio Itajaí-Açu.
A característica da região do Baixo Vale do Itajaí é a existência das serras
litorâneas, esculpidas sobre rochas mais antigas do embasamento, incidindo
granitos, gnaisses e outras rochas metamórficas. Nesta área ocorre o
alargamento da planície sedimentar, onde as cotas altimétricas muitas vezes são
inferiores a 100 metros e o escoamento é menor, sendo que o rio transporta
apenas material mais selecionado de granulação mais fina, iniciando o processo
de deposição e surgindo as várzeas e as planícies de aluvião. Neste percurso os
materiais são constituídos principalmente por areia, silte e argila.
Aumond & Scheibe (1994, p. 121) alertam que a diversidade geológica e
geomorfológica da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, aliada ao intenso
processo de ocupação humana, especialmente em termos de urbanização nas
áreas vulneráveis do ponto de vista geológico, exigem o máximo de cautela na
implementação de obras estruturais que implique na modificação do
comportamento da dinâmica do rio.
4.2.2. O CLIMA
A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu possui o clima mesotérmico úmido
(grupo climático Cfa subtropical úmido), ou seja, quente e chuvoso, com
distribuição quase uniforme das chuvas por todos os meses, devido à
superposição de três regimes pluviométricos (tropical, frente polar com percurso
oceânico e frente polar de percurso continental) que se confrontam na região sul
do Brasil.
A existência de altas serras a oeste e sul também influenciam no clima da
Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu: no inverno protegem dos ventos frios vindos
do sudoeste; e no verão atuam no sentido de elevar a temperatura. A leste e
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
69
noroeste as pequenas elevações e planícies são diretamente influenciadas pelo
mar, que amenizam os altos índices térmicos.
A freqüência de dias quentes com máxima superior a 25ºC é alta na bacia
hidrográfica e atinge 230 dias do ano em Blumenau (Figura 44).
4.2.3. A VEGETAÇÃO
Para o melhor conhecimento da vegetação é necessário considerar e
aprofundar o estudo da geomorfologia, da fitogeografia e da botânica, pois são
campos de conhecimento importantes para os que lidam com a paisagem e o
ambiente (AFONSO, 1999, p. 377). A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu é
coberta pela Floresta Ombrófila Densa, ou Floresta Atlântica, no Médio, Baixo e
Alto Vale, correspondendo a 70% da área (Figura 45). A Floresta Ombrófila Mista
ou Floresta com Araucária predomina no Alto Vale do Itajaí e corresponde a 28%
da área. Há também pequenos mosaicos de Estepe ou Campos Naturais
localizados no Alto Vale. Para Zimmermann (1993, p. 5), o que caracteriza uma
floresta é uma alta heterogeneidade, um complicado conjunto de espécies e
indivíduos que disputam e repartem os recursos disponíveis no meio ambiente,
originando um complexo sistema de relações ecológicas. É esta heterogeneidade
que mantém o equilíbrio ecológico”.
A fitogeografia é um ramo da biogeografia que estuda a origem,
distribuição, adaptação e associação das plantas na superfície da Terra. Em
Santa Catarina, Klein (1978) descreveu e mapeou a fitogeografia, apresentando
apenas o quadro primitivo da vegetação, ou seja, não foram consideradas as
alterações geradas pela ocupação humana.
Blumenau situa-se dentro da Floresta Pluvial da Encosta Atlântica definida
por Klein (1978, p. 3), como uma das formações mais importantes do estado
devido à sua exuberância, complexidade e formação por diversos agrupamentos
Especificação
Cidade
Temperatura
Média Anual
Temperatura
Média
Máxima
Temperatura
Média
Mínima
Temperatura
Máxima
Absoluta no
Verão
Umidade
relativa do ar
Blumenau 20,1ºC 27,2ºC 15,8ºC 43ºC 84%
Figura 44 Clima de Blumenau.
Fonte: COMITÊITAJAÍ, 2002 Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
70
distintos. Correndo quase paralelamente ao Oceano Atlântico, essa vegetação se
alastra sensivelmente para o interior, na altura do Vale do Itajaí. Essa floresta
pode ser focalizada em sub-áreas, onde a Floresta Tropical do Litoral e Encosta
Centro-Norte predomina em Blumenau e se apresenta densa, alta e sombria.
Na vegetação da área urbana de Blumenau, mais especificamente na mata
ciliar do Rio Itajaí-Açu encontramos animais como a capivara (Figura 46). Nas
proximidades de riachos e encostas de morros encontramos cutias, gambás,
Figura 45 Mapa Fitogeográfico da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: KLEIN, 1978 Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
71
Figura 46 Capivara nas margens do Rio Itajaí-Açu.
Foto: Soraia L. Porath
Figura 47 Quero-quero nas margens do Rio Itajaí-
Açu.
Foto: Soraia L. Porath
bugios, quero-quero, mergulhões
e garças brancas (Figura 47).
São habitantes freqüentes da
zona central do município aves
de pequeno porte como o
saguaçu, gaturano, saira-de-
sete-cores, bem-te-vi, e de
médio a grande porte como
gavião-carijó e jacuguaçú.
Encontramos no Vale do
Itajaí grande quantidade em
árvores como a canela-preta
(Ocotea catharinensis), a peroba
(Apidosperma parvifolium),
sassafrás (Ocotea odorifera),
imbuia (Ocotea porosa), cedro
(Cedrela fissilis), pindabuna
(Duguettia lanceolata), caroba
(Jacaranda micrantha), o
palmiteiro (Euterpe edulis), e a
exuberante araucária ou pinheiro
(Araucaria angustifolia).
Segundo Mota (1999, p. 43), a vegetação:
- contribui para a retenção e estabilização dos solos;
- previne contra a erosão do solo;
- às margens de cursos d’água, produz sombra que mantém a água na
temperatura adequada às diversas espécies de peixes e outros
organismos aquáticos;
- está intimamente relacionada com a paisagem, oferecendo aspecto
visual agradável;
- influi no clima.
A vegetação foi a base da economia da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-
Açu durante décadas e a ela se deve toda a colonização para o interior. Mas em
função do intenso desmatamento, tanto o planalto serrano como a serra litorânea
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 4 A Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu
72
tem hoje uma capacidade de absorção da água menor que nos tempos iniciais da
colonização.
No Vale do Itajaí, segundo Sevegnani & Santos (2000, p. 5), a dinâmica do
Rio Itajaí-Açu e tributários foi alterada mediante retificações, alargamentos,
aterros e assoreamentos, diminuindo drasticamente a extensão dos cursos
d’água. Sabemos que todas essas modificações alteram o equilíbrio de uma
natureza que não é estática e que apresenta quase sempre um dinamismo
harmonioso em evolução estável e contínua.
Zimmermann (1993, p. 6) afirma que a floresta funciona como uma gigante
esponja, retendo quantidades consideráveis de água após uma chuva. Por esse
motivo, a ausência da cobertura vegetal tem aumentado o escoamento superficial
das águas, e em conseqüência, a erosão em diversas áreas da bacia.
A mata ciliar protege as margens dos rios, diminuindo a erosão e o
assoreamento. Por este motivo, para Zimmermann (1994, p. 137), há muito tempo
a mata ciliar é considerada parte integrante da rede de drenagem de uma bacia
hidrográfica.
Na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu destacamos que os processos de
exploração madeireira, de palmito, de óleo sassafrás, de lenha, bem como a
derrubada da floresta para instalação de pastagens, agricultura, cidades e
rodovias, provocaram impacto de forma intensa em todo o ecossistema existente.
Segundo Caubet & Frank (1993, p. 12), “a população do Vale do Itajaí têm noções
claras sobre alguns dos efeitos da degradação ambiental que elas mesmas
provocam. Mas este conhecimento por si só não acarreta mudanças. São
necessários estímulos, exemplos, incentivos enfim, um amplo elenco de
atividades inseridas num processo educativo indutor dessas mudanças. A relação
homem-natureza precisa ser transformada”.
73
A PRESENÇA DO
RIO ITAJAÍ-
AÇU EM
BLUMENAU
CAPÍTULO
5
5.1. A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
74
A cidade é vista como uma grande obra,
identificável na forma e no espaço, mas essa
obra pode ser apreendida através de seus
trechos, de seus diversos momentos; é esse o
levantamento que podemos efetuar com
segurança. A unidade dessas partes é dada
fundamentalmente pela história, pela memória
que a cidade tem de si mesma”.
ROSSI, 1995, p. 66.
5.1. A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM
Para compreender a paisagem de um determinado lugar, muitas vezes nos
perguntamos: quais foram os fatores que levaram a essa paisagem? Por que a
paisagem apresenta-se dessa forma? Por esse motivo, para compreender a
paisagem atual do Rio Itajaí-Açu é fundamental que entendamos as
transformações que ocorreram ao longo da história da cidade. Macedo (1987)
desenvolveu um trabalho similar em Higienópolis e arredores na cidade de São
Paulo onde a transformação da paisagem através da história, ou mutação da
paisagem, segundo o autor, também se tornou o eixo do estudo.
A análise da transformação da paisagem do Rio Itajaí-Açu debruçou-se
sobre os grandes acontecimentos que alteraram a paisagem de Blumenau, como
a legislação urbanística, as enchentes e a urbanização (Figura 48). Portanto, a
periodização adotada neste estudo foi definida da seguinte forma:
1ª Fase: A Paisagem Colonial, de 1850 a 1883, compreende o período da
fundação da Colônia Blumenau à instituição do município;
2ª Fase: A Paisagem do Desenvolvimento, de 1884 a 1938, período entre a
formação da cidade e a negação da cultura alemã na cidade;
3ª Fase: A Paisagem das Intervenções, de 1939 a 1968, período de
grandes intervenções no espaço urbano e o surgimento da Avenida Beira-Rio;
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
75
4ª Fase: A Paisagem Cultural, de 1969 a 1983, período onde houve a
consolidação da área central do município, valorização da cultura alemã e
construção de grandes marcos referenciais da cidade;
5ª Fase: A Paisagem da Reconstrução, de 1984 a 1995, compreende
desde as grandes enchentes que alteraram a paisagem de Blumenau e a
preocupação dos órgãos públicos em relação à cidade e as enchentes.
6ª Fase: A Paisagem Atual, de 1996 a 2003, período de grandes mudanças
no sistema físico da cidade.
Colônia Blumenau
Município Blumenau
Negação da cultura
alemã
Grandes
intervenções
Grandes Enchentes
Plano Diretor de
1997
Blumenau hoje
1850
1860
1870
1880
1890
1900
1910
1920
1930
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
76
Essa análise se
concentra nas áreas
adjacentes ao Rio Itajaí-Açu
na região central da cidade
(Figura 49) pelo fato das
áreas urbanas centrais
constituírem amostragens
mais representativas e
compreensivas da vida
urbana, pela maior presença
(intensidade) e
simultaneidade de funções e
usos” (RODRIGUES, 1986, p.
14).
Figura 49 Área de concentração do estudo da
transformação da paisagem na área central de Blumenau.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
77
Figura 50 Pintura da chegada dos imigrantes
alemães na Colônia Blumenau em 1850.
Fonte: AHJFS
5.1.1. PRIMEIRA FASE: A PAISAGEM COLONIAL (1850 A 1883)
No século XIX a Europa passava por um período de mudanças pelas
guerras napoleônicas e na Alemanha, havia um cenário de intensas disputas
políticas e econômicas. A tardia chegada da Revolução Industrial afetou também
a vida no campo. A Alemanha convivia com um sistema agrário feudal, que
começava a dar sinais de exaustão e os camponeses começaram a migrar para
as cidades e a competir com a mão-de-obra dos artesãos. Criou-se então o
quadro perfeito para a emigração.
Os alemães viam a América como uma forma de melhorar sua condição de
vida e o grande ideal era conseguir ser o dono de suas terras. Desse ideal
surgiram as companhias de apoio e financiamento à migração. A Sociedade de
Proteção aos Imigrantes Alemães do Sul do Brasil, em Hamburgo, financiou a
primeira viagem de Hermann Bruno Otto Blumenau ao Brasil, que, juntamente
com mais 17 imigrantes alemães fundou a cidade de Blumenau em 2 de setembro
de 1850 (Figura 50).
O sítio escolhido para a
implantação da Colônia foi o
último trecho navegável do Rio
Itajaí-Açu. Os primeiros
imigrantes se instalaram no
encontro do Ribeirão da Velha
com o Rio Itajaí-Açu e
posteriormente, construíram um
galpão para abrigo provisório na
foz do Ribeirão Garcia.
As primeiras construções
da Colônia Particular foram
ranchos de madeira, mas transformados em abrigos para animais. A casa da
família de imigrantes foi construída em enxaimel. O enxaimel é uma técnica
construtiva na qual a madeira assume a função estrutural e a alvenaria de tijolos
apenas empregada para o fechamento dos vãos. Essa técnica foi introduzida no
sul do Brasil pelos imigrantes alemães que vieram colonizar Santa Catarina e o
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
78
Figura 51 Área navegável do Rio Itajaí-Açu com destaque para área de implantação da
Colônia em fundos de vale.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
Rio Grande do Sul no século XIX e Weimer (1983) documentou essa arquitetura
no Rio Grande do Sul.
Ao longo do tempo, as construções em enxaimel foram desaparecendo da
paisagem de Blumenau devido à falta de uma cultura preservacionista e também
devido ao fato de que elas foram, em geral, construídas muito próximas aos
primeiros caminhos e sem recuo frontal, fazendo com que entre em conflito com o
alargamento das vias. Destacamos que dessa época, não se estruturou um centro
histórico homogêneo e concentrado devido as casas, construídas em lotes
coloniais, estarem distantes de cem a duzentos metros uma das outras.
O grupo de imigrantes alemães ajudou Dr. Blumenau a construir o núcleo
da Colônia que aos poucos, ia se estruturando e agregando novos imigrantes,
que se surpreendiam com o estado do local ao chegar, pois a propaganda que
era feita na Alemanha diferia muito da realidade que os esperava às margens do
Rio Itajaí-Açu (Figura 51). Segundo Siebert (1999, p. 49), o trabalho de
colonização exigia muito trabalho braçal para a derrubada da mata, a construção
de estradas e das casas na técnica do enxaimel, e para o cultivo do solo”.
Entre os primeiros colonos alemães destacamos o cientista e naturalista
Fritz Muller (nome popular de Johann Friedrich Theodor Muller). Ele chegou a
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
79
Figura 52 A divisão dos lotes no período colonial.
Fonte: SIEBERT, 1999, p. 52 Elaboração: Soraia L. Porath
Blumenau em 1852 e dedicou a maior parte da sua vida ao estudo da flora e da
fauna de Santa Catarina (FRANCO, 2000, p. 139; SAWAYA, 2000, p. 62).
À medida que os novos imigrantes chegavam à Colônia, iam sendo
demarcados lotes urbanos e rurais ao longo das picadas já abertas. As picadas
seguiam os cursos dos rios, ribeirões e riachos dos fundos de vale (Figura 52).
Os lotes coloniais foram então traçados de forma que todos pudessem ter
o acesso a água, ora para utilização na irrigação e consumo doméstico, ora para
transporte. A ligação com a água e com os primeiros caminhos, juntamente com a
topografia acidentada da cidade, gerou lotes estreitos e compridos, paralelos
entre si e perpendiculares tanto ao rio, quanto ao caminho e às curvas de nível.
Deeke (1995, p. 200), descreve a demarcação dos lotes coloniais na
cidade e que havia três variações em relação à linha de fundos dos lotes: reta -
formando lotes de profundidade desigual; sinuosa - formando uma paralela ao
traçado do curso d’água para o qual os lotes faziam frente; e escalonada (Figura
52).
Ainda segundo Deeke (1995, p. 198), a topografia obrigou o colonizador a
adotar o sistema de lotes pois o terreno de Blumenau é montanhoso e só
apresenta áreas planas nas margens dos rios. Essa característica foi
determinante para a conformação dos lotes com frente (testada) estreita para a
estrada, principalmente junto ao vale do rio, e os fundos tão extensos que se
confrontavam, nas linhas divisoras de água, com lotes de outros vales. Essa
forma de divisão de lotes marcou profundamente a estrutura fundiária e
consequentemente as malhas urbanas de Blumenau e Vale do Itajaí.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
80
linha de fundos reta linha de fundos sinuosa linha de fundos escalonada
profundidade dos lotes profundidade dos lotes profundidade dos lotes
variável constante constante
Figura 53 Demarcação da linha de fundos dos lotes coloniais.
Fonte: SIEBERT, 1999, p. 51 Elaboração: Soraia L. Porath
Segundo Santiago (2001, p. 18), no ano de 1859, Blumenau já contava
com 943 habitantes que ocupavam 169 lotes coloniais e urbanos. Existiam
menos de sete quilômetros de estradas ‘carroçáveis’ e quase onze quilômetros de
estradas para cavaleiros e pedestres”. A economia da colônia, ao final da primeira
década de existência, era baseada na agricultura.
Deeke (1995, p. 50), cita o artigo Conversa de um Velho Colono
Blumenauense e revela a paisagem da Colônia em 1860. “Nos vales do rio, mais
à jusante, podiam -se ver extensos campos e pastagens, os arredores da cidade
apresentavam, em sua maioria, aspecto agreste. Na verdade existia um lugar,
não uma cidade. Havia uma casa e nela um comércio de toda Blumenau e o
escritório do diretor da Colônia. Todas as demais construções eram choupanas de
barro. Na embocadura do Ribeirão Garcia localizava-se a edificação mais
importante para quem chegava, o Galpão da Recepção. Em geral, havia terras
não habitadas entre um e outro morador, pois os lotes, naquele tempo, como
também agora, não eram distribuídos em série: cada um podia escolher o número
do lote que melhor lhe agradasse. À montante, o Rio Itajaí-Açu estava desmatado
a partir do centro da cidade até onde hoje se ergue a igreja católica. Depois vinha
a floresta até o Ribeirão da Velha, na foz do qual teve início a Colônia”.
Em 1860, a Colônia até então particular foi vendida para o Império. Na
prática, o novo status não representou mudança para os moradores porque o
local continuava sob o comando do fundador e regido pelas mesmas regras.
Segundo Deeke (1995, p. 61), a obra colonizadora progrediu, a partir dali, com
mais intensidade porque o Governo concedia meios suficientes para que
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
81
Figura 54 Detalhe do mapa de 1864 com os lotes demarcados e numerados
perpendicularmente aos cursos d’água.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
pudessem executar construções de estradas e outras obras públicas, com as
quais havia oportunidade de os colonos ganharem mais dinheiro”.
O primeiro registro cartográfico foi elaborado em 1864, onde os lotes
coloniais aparecem demarcados e numerados, traçados perpendicularmente ao
longo dos cursos d’água (Figura 54). O mapa mostra em detalhe o parcelamento
do solo perpendicular aos cursos d’água na área navegável do Rio Itajaí-Açu e
também os primeiros caminhos paralelos ao leito dos rios que mais tarde, irão se
transformar nas estradas principais da cidade. Destacamos aqui a preocupação
dos colonizadores em mapear os cursos d’água que no decorrer da história,
passam a aparecer em segundo plano nos mapas da cidade.
No Centro da cidade de Blumenau (Stadtplatz) observamos o traçado do
ribeirão Bom Retiro (entre o ribeirão Garcia e o ribeirão da Velha) e de vários
afluentes que nos próximos mapas irão desaparecer devido à urbanização da
área (Figura 55).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
82
Figura 55 Detalhe do parcelamento do solo no
Centro (Stadtplatz) de Blumenau em 1864 com as
principais vias da colônia.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
Peluso (1991, p. 372-5)
fez a análise desse mapa
comparativamente com a
formação das cidades de origem
portuguesa e alemã. Como a
cidade de Blumenau surgiu de
um porto fluvial, teve seu plano
dirigido pela função comercial.
Para o autor, os elementos
dominantes do plano de
Blumenau são a rua comercial e
a adaptação ao relevo. As
subidas íngremes foram
evitadas, e as ruas mudaram de
direção toda vez que
encontraram um obstáculo”.
Meio de chegada do fundador e dos primeiros colonos, o Rio Itajaí-Açu
continuou sendo a porta de entrada e saída de Blumenau por muitas décadas. A
ida e vinda de pessoas e mercadorias era feita entre a cidade e o Porto de Itajaí
em canoas ou pequenos barcos. No ano de 1865 foi aberto o primeiro caminho
por terra entre Blumenau e Itajaí. Tratava-se de uma picada na margem direita do
Rio Itajaí-Açu que deu origem à estrada que hoje liga os dois municípios, ainda
seguindo praticamente o traçado original.
No ano de 1867 foi aberta uma via de ligação entre a Blumenau e a cidade
de Lages. Emílio Odebrecht e sua equipe demarcaram terras e abriram picadas
que mais tarde seriam transformadas em caminho para carroças e tropas. Em
1869, segundo Santiago (2001, p. 21), a Colônia já possuia aproximadamente
6.000 pessoas e a infra-estrutura crescia no mesmo ritmo, havendo neste ano, 63
quilômetros de estradas carroçáveis e 220 quilômetros para cavaleiros e
pedestres. A ocupação de terras já se tinha se estendido até as cidades de
Timbó, Rio dos Cedros, Indaial e Gaspar, sendo povoados os dois lados do Rio
Itajaí-Açu.
Em 1872 foi elaborado o segundo mapa da Colônia, mostrando que ainda
não haviam pontes sobre o Rio Itajaí-Açu e que na margem direita do rio (Ponta
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
83
Figura 56 Detalhe do mapa de 1872 com a divisão dos lotes coloniais na Ponta Aguda e o
traçado viário surgindo paralelamente aos cursos d’água.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
Aguda) foi iniciada a divisão de lotes coloniais (Figura 56). Nesse mapa os lotes
coloniais não estão numerados e mostra claramente a importância dos cursos
d’água para a cidade.
Nessa época, os colonos pediam urgência na abertura de uma estrada
carroçável na margem esquerda do Rio Itajaí-Açu porque eles só tinham como
meio de acesso às suas propriedades o rio, em muitos pontos difícil de navegar. E
assim Dr. Blumenau seguia ampliando a Colônia, rumo à cidade de Jaraguá do
Sul (norte da cidade de Blumenau).
Diversos empreendimentos foram surgindo, mas os agricultores e
comerciantes viram suas iniciativas estranguladas por conta da dificuldade do
escoamento da produção. Como saída para esse problema, em 1879 chegou a
Blumenau o vapor Progresso. A chegada do barco ocorreu juntamente com a
abertura dos primeiros trechos de estrada entre Blumenau e Lages, por onde
começou a chegar o gado e sair produtos agrícolas e manufaturados. A Colônia
passou a ser um importante entreposto comercial entre o litoral e o planalto. O
setor primário ainda predominava como base da economia de Blumenau e
dominava a paisagem. Zöller (1883, p. 70) descreve que esta viagem feita por
uma região montanhosa com lindas florestas ainda em parte nativas se desenrola
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
84
Figura 57 Rua XV de Novembro (paralela ao Rio
Itajaí-Açu) em 1890.
Fonte: AHJFS
numa variada paisagem. As copas das árvores cobrem as margens do rio sob o
qual talvez se esconde um arisco jacaré ou crocodilo brasileiro”.
Para Hering (1987, p. 41), o desenvolvimento da colônia seguiu o
desmatamento e a agricultura de subsistência, a exploração agrícola e
paralelamente o beneficiamento doméstico da produção e a exploração de
excedentes”.
A partir de 1880 os irmãos Hermann e Bruno Hering fundaram a indústria
têxtil Hering, a primeira do Brasil, localizada na rua XV de Novembro, e próxima
ao Rio Itajaí-Açu. Essa indústria iniciou o processo de industrialização na cidade,
sempre próxima aos cursos d’água, e quebrou o ciclo de manufatura diretamente
ligado ao setor primário. Mas o surgimento das indústrias independentes da
atividade primária não impedia o florescimento de diversas outras iniciativas fabris
tradicionais, como os curtumes, os moinhos e as cervejarias (SANTIAGO, 2001,
p. 31).
Em 4 de fevereiro de 1880, através da Lei 860, Blumenau foi elevada à
condição de Município. Porém, essa conquista política se concretizou apenas em
1883, devido a uma enchente que ocorreu em 1880, atingindo 17,10 metros.
5.1.2. SEGUNDA FASE: A PAISAGEM DO DESENVOLVIMENTO (1884 A 1938)
O contínuo desenvolvimento
econômico impulsionou os
empreendedores locais a criar
mais alternativas de transporte
fluvial, fazendo surgir o
rebocador Jan (1890), os
vapores Blumenau (1895), Santa
Catarina (1906) e Richard Paul
(1910). Se, por um lado, o rio
era meio de ligação da cidade
com o exterior, por outro separava diversas comunidades dentro do próprio
município.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
85
Figura 58 Centro da cidade de Blumenau (Stadtplatz)
em 1900.
Fonte: AHJFS
Figura 59 O mapa de 1900 mostra os lotes, o traçado
viário, os cursos d’água e os morros.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
A primeira grande ponte
sobre o Rio Itajaí-Açu foi a
Lauro Muller, popularmente
conhecida como Ponte do
Salto, cujas obras começaram
em 1896 e concluídas somente
17 anos depois, em 1913. As
outras opções eram pequenas e
rústicas pontes de madeira,
balsas e canoas.
Neste período começavam a surgir no município novos e grandes edifícios,
erguidos por comerciantes que principiavam a acumular fortuna com os negócios de
importação e exportação.
Em 1900 foi elaborado o
terceiro mapa da cidade de
Blumenau, com os morros e os
cursos d’água nitidamente
traçados (Figura 59). Os lotes
aparecem demarcados no
sistema tradicional e
numerados, com a área central
densamente dividida,
assumindo a configuração de
cidade no lugar da Colônia
Blumenau. Na margem
esquerda percebe-se a divisão
de terra na Ponta Aguda
também perpendicular ao leito
do Rio Itajaí-Açu.
Passaram a ser pontos
de referência no cenário urbano
de Blumenau construções de grande porte, como o Hotel Holetz e a casa de
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
86
Figura 60
Ponte de pedras sobre o ribeirão Garcia e
o hotel Holetz.
Fonte: AHJFS
comércio Paul Husadel, esta construída em 1901 e até hoje presente na rua XV de
Novembro. Em 1902, a rua XV de Novembro teve seu sinuoso traçado, a que teve
seu apelido de “
Wurststrasse
” (rua da Lingüiça), parcialmente retificado. No ano de
1903 circulou o primeiro veículo a motor, fazendo com que aos poucos houvesse a
retificação dos antigos caminhos coloniais e a abertura de vias mais retilíneas.
Em 1906 foi inaugurada a
ponte de pedras e ferro que unia
as duas partes do Centro de
Blumenau e, segundo Kormann
(1994, p. 161), substituiu a ponte
de madeira construída em 1882
(Figura 60).
Segundo Wittmann (2001,
p. 51), os fatores que
influenciaram na construção de
uma ferrovia na região de
Blumenau foram:
-
o desenvolvimento econômico, através do aumento da produção agro-
agrícola da Colônia;
-
as grandes distâncias entre vários núcleos da colônia;
-
os trechos do Rio Itajaí-Açu não propícios à navegação de médio e grande
porte, em função das corredeiras;
-
e, para finalizar, os constantes assaltos indígenas.
Em 1907, uma locomotiva importada da Alemanha testou os trilhos da
estrada de ferro. A inauguração oficial da Estrada de Ferro Santa Catarina, trecho
primeiro entre Blumenau e Indaial, aconteceu em maio de 1909. A Estação de
Blumenau localizava-se na Praça Victor Konder, local onde está implantado o atual
prédio da Prefeitura Municipal de Blumenau. Para Wittmann (2001, p. 51), “
à medida
que os trilhos avançavam ao longo da margem do rio Itajaí-Açu, no município de
Blumenau, e serra acima, em outras localidades, novas concentração de
moradores e pequenos comerciantes instalavam-se junto às pequenas estações
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
87
Figura 62 Crescente urbanização em 1930.
Fonte: AHJFS
Figura 61 O porto de Blumenau
na década de 1920.
Fonte: AHJFS
de passageiros. Em Blumenau, o principal destaque é para o surgimento das
localidades Passo Manso, Salto Weissbach e Salto
”.
A infra-estrutura básica
acompanhava o crescimento da
cidade, surgindo os primeiros
passos para a instalação de luz
elétrica e água encanada. A partir
daí o povoamento tomou impulso
transformando-se numa cidade
em constante e contínuo processo
de transformação de sua
paisagem: em 1909, Blumenau
passou a ter um sistema de
iluminação pública; em 1913, com o objetivo de melhorar o transporte de produtos
entrou operação o primeiro barco com motor a combustão, fazendo a ligação entre
Blumenau e Itajaí; e no ano seguinte, em 1914, surgiu o primeiro ônibus da cidade.
Nos anos de 1920, Blumenau possuía um comércio forte, diversificado e
refinado para os padrões brasileiros da época. Em decorrência da Primeira Guerra,
o setor têxtil foi o que mais cresceu. As oportunidades geradas pela substituição
das importações fizeram com que a economia da cidade se diversificasse. Com
isso, acelerou-se o processo de urbanização do Brasil e formou-se nas cidades
uma grande massa de operários, que fizeram surgir o proletariado nacional.
Depois da Guerra houve
um acelerado o processo de
crescimento, modernização e
diversificação da economia. No
início da década de 1930, houve
não somente à agitação política
no plano nacional, mas também
ao surgimento de diversas obras
que mudaram o perfil urbano.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
88
Figura 63 Detalhe do mapa de 1938 onde o Centro
da cidade aparece como uma mancha.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
Em 1931 foi inaugurada a ponte metálica da Estrada de Ferro (hoje
denominada Ponte Aldo de Andrade, conhecida como Ponte da Prefeitura) sobre o
Rio Itajaí-Açu, na foz do Ribeirão da Velha, ligando o Centro com a Ponta Aguda.
Após a conclusão das obras da ponte, alguns operários construíram suas casas ali
e aos poucos, os casebres foram se somando a outros fazendo surgir a Favela
Farroupilha (FROTSCHER, 2000, p. 59).
Se por um lado a Primeira Guerra trouxe prosperidade para o setor industrial
de Blumenau, por outro fez a população sofrer pelo fato de ser composta, em sua
maioria, por alemães ou descendentes diretos deles. As retaliações começaram a
chegar em Blumenau a partir da década de 1930. Caresia (2000, p. 172) diz que a
Campanha de Nacionalização ocorreu a partir de 1938 com o advento do Estado
Novo de Getúlio Vargas (1937). A partir daí, todos os periódicos deveriam ser
editados em português e o alemão era proibido também nas ruas, escolas, igrejas e
nos clubes.
Em relação à paisagem, segundo Siebert (1999, p. 71), “
este período se
traduziu pelo mascaramento das construções em enxaimel, que foram rebocadas.
As ruas com nomes alemães foram renominadas, através de decreto, com
denominações de origem brasileira. A herança cultural foi negada, e seu resgate
hoje ainda é um trabalho delicado, de superação do doloroso trauma da
nacionalização
”. Neste período, segundo Caresia (2000, p. 177), a cidade passou a
sofrer mudanças significativas em
sua estrutura urbana,
aproximando a cidade aos
grandes centros urbanos, com a
construção de pontes, rodovias,
ferrovias, aeroportos e com a
expansão da telefonia.
Em 1938 foi elaborado um
mapa de todo o município de
Blumenau. Porém, o mapa
mostra-se com baixa precisão
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
89
Figura 65 Estação de tratamento de água no Morro
da Boa Vista com vista para os bairros Centro e Ponta
Aguda.
Fonte: AHJFS
Figura 64 Blumenau em 1940 com destaque para a
Ponte da Estrada de Ferro.
Fonte: AHJFS
cartográfica, com omissão de muitas ruas, dificuldade da distinção de ruas e cursos
d’água (Figura 63).
5.1.3. TERCEIRA FASE: A PAISAGEM DAS INTERVENÇÕES (1939 A 1968)
Em 1939 foi aprovado o
primeiro regulamento construtivo
de Blumenau, o Código de
Construções (Decreto-Lei
Municipal n.º 45), que distingue a
zona urbana da zona rural e
determinou a necessidade de
recuos frontais de quatro metros
para as novas edificações nas
ruas residenciais, além de
estabelecer uma série de
procedimentos construtivos, muitos deles vigentes até hoje. O Código manifestava
preocupações estéticas, preocupação com a harmonia da paisagem urbana e a
busca da urbanidade (SIEBERT, 1999, p. 74).
A primeira estação de tratamento de água de Blumenau foi inaugurada em
1943 (Figura 65). Construída em área livre de enchente, no Morro da Boa Vista,
passou a atender as regiões centrais do município. Do Morro da Boa Vista,
segundo Frotscher (2000, p. 57),
poderia ser avistada “
a estação
ferroviária (...), as edificações ao
longo da mesma rua, o
caudaloso rio cortando a cidade
ao meio, deixando de um lado o
Centro, e de outro, a Ponta
Aguda(...). Entre o trecho da
Itoupava Norte e o Centro,
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
90
Figura 67 Margens do Rio Itajaí-Açu no Centro da
cidade na década de 1950.
Fonte: AHJFS
Figura 66 Ponte dos Arcos, concluída em 1950.
Fonte: AHJFS
apenas a majestosa Ponte de Ferro ligava as duas margens do rio
.”
Após quase um século, o Rio Itajaí-Açu estava deixando de ser a principal
porta de entrada e saída de mercadorias e passageiros em Blumenau. O
movimento de cargas e pessoas no porto da Praça Hercílio Luz (atual Biergarden),
na foz do Ribeirão Garcia, era cada vez menor. As estradas e a ferrovia passaram a
concentrar a maior parte do tráfego e as constantes e viagens dos vapores
Progresso e Blumenau, ligando a cidade de Itajaí, começavam a fazer parte do
passado (SANTIAGO, 2001, p. 145).
No ano de 1949 começaram os preparativos para os festejos do centenário
da fundação da cidade. Várias ruas receberam pavimentação e a prefeitura apoiou
a progressiva demolição da Favela Farroupilha, que surgiu a partir de 1931, e
muitas famílias foram dali transferidas para locais mais distantes do Centro, a partir
daquele ano.
Em 1950 foi concluída
mais uma ponte da estrada de
ferro ligando a Ponta Aguda à rua
Itajaí. Construída na forma de
arcos, denominada atualmente
por Ponte Eng. Antonio Vitorino
Ávila Filho, a ponte ficou
conhecida por Ponte dos Arcos
(Figura 66). Era mais um passo à
definitiva ligação ferroviária entre
Blumenau e a cidade de Itajaí.
A economia de Blumenau
se desenvolvia com rápido
crescimento da atividade
industrial, com destaque para a
indústria têxtil. Nessa época, a
população do campo ainda era
maior do que a urbana, mas já
havia um crescente êxodo rural,
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
91
Figura 68 Detalhe do mapa de 1955 com destaque para o traçado viário, os cursos d’água, a
estrada de ferro e as pontes sobre o Rio Itajaí-Açu, as áreas verdes e principais edifícios.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
onde os colonos estavam deixando o interior em busca de melhores condições de
vida na cidade. Esse crescimento populacional obrigava a prefeitura de Blumenau a
investir em mais infra-estrutura para a cidade.
A Ponte Irineu Bornhausen, mais conhecida como Ponte das Gaitas Hering,
foi inaugurada em 1953 e marcou o desenvolvimento para a região norte, que até
então tinha opções de travessia do Rio Itajaí-Açu somente as pontes do Salto ou da
Estrada de Ferro, na Ponta Aguda.
Neste período, apesar de existirem quatro pontes sobre o Rio Itajaí-Açu
ligando as duas margens, a ocupação ainda se dava quase que exclusivamente na
margem direita. Na margem esquerda, a ocupação se limitava nas proximidades do
Rio Itajaí-Açu.
Em 1955 foi elaborado mais um mapa da cidade, que nesta época, contava
com aproximadamente 48.600 habitantes. Esse mapa apresenta características
verdadeiramente urbanas, mostrando claramente as ruas com sua denominação e
sem a demarcação dos lotes coloniais (Figura 68).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
92
Figura 69 Bairros adjacentes à área navegável do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
Nesse mapa aparece a Avenida Presidente Castelo Branco, conhecida por
Avenida Beira-Rio (que virá a ser implantada mais tarde), as pontes, as principais
edificações, a via férrea e as áreas verdes. Analisando essa parte do mapa,
percebemos que o sistema viário assumiu o papel de organizador do espaço
urbano e os antigos lotes coloniais estão, aos poucos, se transformando em
loteamentos com ruas transversais às vias principais. Aparecem destacados nesse
mapa: o Hospital Santo Antônio, a Prefeitura Municipal, o Colégio Santo Antônio, o
Teatro Carlos Gomes, o Colégio Luiz Delfino e a Estação da Estrada de Ferro
Blumenau. Essas duas últimas darão lugar, mais tarde, a nova Prefeitura Municipal
de Blumenau. Entre as áreas verdes do mapa, temos a Praça Hercílio Luz (antigo
porto fluvial) e a Praça Dr. Blumenau. Observamos também que a maioria dessas
edificações está localizada na margem direita do Rio Itajaí-Açu (devido à fundação
da Colônia Blumenau e da inexistência de pontes interligando as duas margens) e
que elas tomaram o primeiro plano do mapa pois comparando este com os
anteriores, verificamos que os cursos d’água estão desaparecendo. Um exemplo
disso é que já aparece canalizado um trecho do ribeirão Bom Retiro.
Foram criados oficialmente os 19 primeiros bairros da cidade pela Lei
Municipal n.º 717, de 28 de Abril de 1956. Os bairros adjacentes ao Rio Itajaí-Açu e
outros utilizam muitas vezes os rios como limite (Figura 69).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
93
Figura 71 O Grande Hotel e Edifício Visconde de
Mauá destacam-se entre as edificações.
Fonte: AHJFS
Figura 70 Ponte Adolfo Konder e urbanização
concentrada na margem direita do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: AHJFS
Houve uma transformação pontual de grande impacto visual na paisagem em
1956. Foi concluída a nova Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, na área central,
substituindo a antiga igreja. Ambas foram marcos visuais nesta época. A torre de
pedras com três sinos em orifícios circulares foi concluída somente em 1963.
No ano de 1957 ocorreram três enchentes em três meses e a maior delas,
em agosto, inundou 2/3 da área edificada do município.
Ainda em 1957, surgiu no
cenário da cidade a Ponte Adolfo
Konder, conhecida como Ponte
da Moellmann, ligando o Centro à
Ponta Aguda (Figura 70). Nesse
mesmo ano desapareceu um de
seus maiores referenciais
urbanos, que, durante toda a
primeira metade do século XX,
dominou a cena do Centro da
cidade: o Hotel Holetz foi posto abaixo dando lugar ao moderno Grande Hotel
Blumenau com 14 pavimentos, inaugurado em 1962. Em 1963, outro edifício foi
inaugurado destacando-se no cenário urbano que está presente até os dias de hoje,
o conhecido Edifício Visconde de Mauá (Figura 71).
Foi a partir de 1970 que o
Brasil modificou definitivamente
seu perfil econômico. O prenúncio
do chamado “milagre econômico”
fez com que a indústria nacional
se desenvolvesse rapidamente. A
crescente industrialização trouxe
como reflexo a urbanização,
impulsionando o governo a
aumentar a infra-estrutura básica.
Em 1967 o prefeito Carlos
Curt Zadrozny criou a Comissão
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
94
Municipal de Turismo, criando roteiros e atrações para os turistas que visitassem a
cidade. Segundo Santiago (2001, p. 142), “para incentivar os brasileiros a visitar a
cidade, a comissão criou em 1968, uma campanha publicitária que tinha como
tema ‘Adivinhe que país é esse?’, trazendo sempre como ilustrações imagens de
Blumenau que a mostravam como um pedaço da Europa no Brasil
”.
Uma das primeiras realizações do prefeito Carlos Curt Zadrozny foi incentivar
o surgimento do Frohsinn, um restaurante típico alemão com vista panorâmica para
o Centro da cidade e para o Rio Itajaí-Açu.
Em 1968, o barco Blumenau II inaugurou uma viagem pelas águas do Rio
Itajaí-Açu. Era mais uma iniciativa para incentivar o crescente movimento turístico na
cidade.
No mesmo ano o aspecto urbano do município sofreu uma grande
modificação com o surgimento da Avenida Beira-Rio, construída paralela à rua XV
de Novembro e impermeabilizando grande parte da área da margem direita do Rio
Itajaí-Açu no Centro de Blumenau (Figuras 72 e 73).
Para Siebert (1999, p. 80), “
a construção de uma avenida na beira do rio foi
uma mudança de paradigma para a época, pois a cidade sempre cresceu de
costas para os rios, com os fundos das casas aproveitando os cursos d’água
como coletores de esgoto. A visão panorâmica do rio proporcionada pela Beira-
Rio, de alto impacto paisagístico, tornou-se marca registrada de Blumenau, um
dos seus referenciais mais fortes do imaginário coletivo
”.
Apesar da impermeabilização e da extinção da mata ciliar nesse trecho,
podemos dizer que com a construção da Avenida Beira-Rio, a cidade passou a ter
Figura 72 Esquema da margem direita do Rio Itajaí-Açu antes e depois da intervenção.
Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
95
Figura 73 Início da construção da Avenida Beira-
Rio em 1968.
Fonte: AHJFS
um olhar mais atento ao Rio Itajaí-
Açu. Nesse trecho, as construções
voltaram-se para o rio, era permitido
o acesso, o contato, o olhar e assim,
houve a valorização do rio. Nessa
área, o rio não foi mais tratado como
fundo de lote, apesar de ainda ser
tratado como local de despejos pela
população.
Também em 1968 foi
elaborada uma planta geral do
fotocadastro imobiliário, já
mostrando o primeiro trecho da
Avenida Beira-Rio concluído. As
pontes foram evidenciadas e as ruas começam a subir as encostas, muitas vezes
acompanhando a topografia (Figura 74).
Figura 74 Detalhe do mapa de 1968 com destaque para os rios e ribeirões, a estrada de ferro,
as pontes e o traçado viário com a projeção da Avenida Beira-Rio.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
96
Figura 75 Foto aérea de 1972 com destaque para o Centro
da cidade.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
4.1.4. QUARTA FASE: A PAISAGEM CULTURAL (1969 A 1983)
Nesta época melhoraram as estruturas de crédito, telefonia, comunicações e
energia elétrica. Blumenau havia iniciado os anos de 1970 com crescimento notável
na economia onde surgiu um grande movimento de abertura de capitais das
indústrias locais, como a Karsten, a Lorenz e a Cremer, sempre próximas ao Rio
Itajaí-Açu.
A industrialização também provocou o fenômeno da urbanização. O perfil
urbano de Blumenau passou por uma verticalização, causada pela construção de
diversos edifícios. A cidade viu surgir novas ruas e pontes e seu comércio
acompanhou o crescimento da economia local através da diversificação de
produtos comercializados.
Dentro da política
de incentivos da prefeitura,
em 1971 uma parceria
entre o Executivo municipal
e a iniciativa privada fez
surgir um novo
empreendimento turístico:
o restaurante Moinho do
Vale, construído na
margem esquerda do Rio
Itajaí-Açu. Neste mesmo
ano, todo o tráfego
ferroviário foi suspenso
devido à melhoria das
rodovias e o leito da
ferrovia foi aos poucos se
incorporando ao sistema
viário.
Como marcos
referenciais dessa época
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
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Figura 76 Detalhe do mapa da década de 1970 com o sistema viário nomeado e em destaque
os cursos d’água e o desaparecimento do Ribeirão Bom Retiro.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
podemos destacar grandes construções como a estação Blumenau da estrada de
ferro, o Teatro Carlos Gomes, a Igreja Matriz que se destacava na paisagem por
sua torre, o Grande Hotel que substituiu o Hotel Holetz, a Prefeitura Municipal, as
praças e a primeira etapa concluída da Avenida Presidente Castelo Branco entre
a foz do ribeirão Garcia e a Ponte Adolfo Konder (Figura 75).
Na década de 1970 foi elaborado mais um mapa da cidade (Figura 76).
Julgamos esse período pelo mapa não possuir data e nele ainda não aparecer a
Ponte José Ferreira da Silva. O mapa mostra cada vez mais o ambiente urbano
sobre o ambiente natural pois os cursos d’água desapareceram em grande
quantidade desde os primeiros registros cartográficos da cidade. Como podemos
observar, houve a canalização completa do Ribeirão Bom Retiro e muitos outros
córregos, mostrando a prioridade do sistema viário em detrimento do fluvial.
O presidente Ernesto Geisel visitou Blumenau em 1976 e prometeu o fim das
enchentes. Ele anunciou para 1978 o término da construção da barragem Norte, em
Ibirama. O presidente afirmou que com essa barragem acabariam as enchentes.
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Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
98
Mas todos sabemos que o fenômeno das enchentes é um processo natural e que
mesmo com a construção de represas e barragens, ainda continuou ocorrendo na
cidade.
Em 1977 foi instituído o primeiro Plano Diretor Físico-Territorial da cidade de
Blumenau, trazendo preocupações com os aspectos tradicionais da comunidade e
com a preservação e valorização da paisagem (Lei Municipal n.º 2.235, de 05 de
maio de 1977, Capítulo VIII, Art. 24 e 25). Define áreas de proteção paisagística em
determinadas glebas, bosques, cursos d’águas, represas e suas margens, bem
como edifícios, logradouros públicos e outros locais.
A Lei determina que deverá
ser respeitado o Código Florestal (Lei Federal nº. 4771, de 15 de setembro de
1965 em resumo, determina a proteção de florestas nativas e define como áreas
de preservação permanente (onde a conservação da vegetação é obrigatória) uma
faixa de 30 a 500 metros nas margens dos rios, de lagos e de reservatórios, além
de topos de morro e encostas com declividade superior a 45 graus).
Entretanto, o maior equívoco desse Plano Diretor refere-se às enchentes. O
Plano proibiu edificações apenas abaixo da cota de 10 metros em relação ao nível
Figura 77 Zoneamento da área navegável do Rio Itajaí-Açu em Blumenau de 1977.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
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Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
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do mar. Por este motivo, em um período de intensa urbanização e crescimento
acelerado, grande extensão de área inundável foi ocupada nas proximidades dos
rios e ribeirões, transformando mais tarde as enchentes em grandes calamidades.
Como afirma Siebert (2000, p. 122-3), “
no Plano Diretor de 1977 não havia limite
máximo de altura (gabarito) para as edificações, podendo-se construir tantos
pavimentos quanto permitisse o uso conjugado do coeficiente de aproveitamento
e a taxa de construção
”. Isso resultou no adensamento do Centro da cidade, num
sistema viário sobrecarregado e na supervalorização de uma área já valorizada por
sua centralidade.
Nessa época, o município de Blumenau era dividido em área urbana, área de
expansão urbana e área rural (conforme Lei Municipal n.º 2.021, de 09 de agosto
de 1974), e o Código de Zoneamento e de Uso do Solo (Lei Municipal n.º 2.242, de
30 de maio de 1977) dividia essas áreas em zonas, que na área navegável do Rio
Itajaí-Açu estão definidas em (Figura 77):
§ Zona Central ZC1: oferta de serviços, comércio varejista, recreação e
pontos de encontro e convívio social, era incentivada a verticalização na
Avenida Beira-Rio (Avenida Presidente Castelo Branco). Com isso, gerou
as edificações mais altas da área central de Blumenau;
§ Zona de expansão do Centro ZC2: atividades comerciais e de serviços
que exigem áreas mais amplas;
§ Zonas Residenciais ZR1: uso de residências unifamiliares de padrão
elevado, ZR2: conjuntos residenciais coletivos de padrão médio,
horizontais e verticais, ZR3: habitações de padrão econômico e conjuntos
residenciais coletivos de baixa altura (máximo de 4 pavimentos);
§ Zonas Industriais ZI2: indústrias leves e médias não poluidoras;
§ Zona Especial Residencial ZER: preservar a conservação da paisagem
com ocupação por residências unifamiliares de padrão elevado;
§ Zonas Recreativas ZRC: áreas não edificáveis para fins parque público
e atividades desportivas e culturais;
§
Zonas especiais ZE: qualquer construção deverá ser aprovada pela
Assessoria de Planejamento;
§ Zona agrícola ZAG.
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Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
100
Figura 79 Avenida Beira-Rio na enchente de 1983.
Fonte: PMB Defesa Civil
Figura 78 Construções na Avenida Beira-Rio que se
tornaram símbolos da cidade.
Fonte: SANTIAGO, 2001, p. 156
Também em 1977 a paisagem de Blumenau passou por graves alterações.
A Lei de incentivo fiscal (Lei Municipal n.º 2.262/77), que tornou isento o imposto
predial à construção e reforma de edificações em estilo germânico transformou a
área central da cidade dando-lhe um forte apelo turístico. A chamada febre do
enxaimel gerou um fachadismo sem sinceridade estrutural com a aplicação de
madeirinhas cruzadas que proliferaram pela cidade em réplicas de construções
medievais européias.
Como exemplos dessas
construções podemos citar
algumas construções no Centro
de Blumenau. Em 1978, foi
inaugurada a nova parte da
Moellmann, rapidamente batizado
pela população como castelinho
da Moellmann. A construção, uma
réplica da prefeitura de
Michelstadt, na Alemanha, foi
projetada por Heinrich Herwig e
tornou-se um dos mais conhecidos cartões-postais da cidade. A nova sede da
prefeitura foi inaugurada em 1982 e encontramos nos cartões-postais da cidade. A
cultura alemã, sufocada pela Nacionalização, apelou pelo pastiche no fachadismo,
procurando imitar o enxaimel.
Esta época foi
profundamente marcada pelas
grandes e sucessivas enchentes.
O nível médio do leito do Rio
Itajaí-Açu em Blumenau é de 6
metros acima do nível do mar.
Em 1983 ocorreram 12
inundações. A maior delas, em
julho, chegou a 15,34 metros e
atingiu cerca de 70% do parque industrial e 90% do comércio. Com a cidade
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Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
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destruída houve o aumento do desemprego, a diminuição do poder aquisitivo da
população e uma brusca reversão do processo de instalação e expansão de
empresas. As enchentes, segundo Siebert (1999, p. 95),
provocaram uma
modificação profunda no modelo de urbanização de Blumenau
”.
5.1.5. QUINTA FASE: A PAISAGEM DA RECONSTRUÇÃO (1984 A 1995)
Em 1984 a história das enchentes se repetiu. A cidade ainda não havia se
recuperado totalmente das cheias do ano anterior quando as chuvas fizeram os rios
subirem novamente em agosto, atingindo 15,46 metros acima do seu nível normal
(Figura 80). Nas palavras de Frotscher (2000, p. 188), “
pelas ruas vazaram as
águas do rio, cobrindo a cidade com um mar de água barrenta. Durante quinze
dias, a cidade ficou à mercê das águas do Rio Itajaí-Açu. (...) Com a degradação
do meio ambiente e da urbanização em 1980 a percentagem de urbanização
em Blumenau era de 90% - as enchentes transformaram-se em azar ambiental de
grande impacto no vale do Itajaí
”.
Segundo Flores (1997, p. 108),
a catástrofe ocorrendo num momento
recessivo para a economia brasileira, aumentou as dificuldades para a
BOA VISTA
PONTA AGUDA
ITOUPAVA NORTE
ITOUPAVA SECA
VICTOR
KONDER
PETRÓPOLIS
BOM RETIRO
CENTRO
RIBEIRÃO FRESCO
VORSTADT
Rios principais
Área de inundação até 10,00m
Área de inundação entre 10,00m e 12,00m
Área de inundação entre 12,00m e 15,46m
Área de inundação entre 15,46m e 17,00m
Divisão de bairros
Limite da área urbana
FORTALEZA
ESCALA GRÁFICA
0
N
400 2400m800 1600800 600 400 200
Ribeirão da
VELHA
Ribeirão
GARCIA
RIO ITAJAÍ-AÇU
Figura 80 Área atingível pelas enchentes em Blumenau até a cota de 17,00m.
Fonte: FURB/IPA Elaboração: Soraia L. Porath
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Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
102
reconstrução da cidade. Isso fez com que a alternativa econômica proporcionada
pelo turismo fosse vista como uma das mais viáveis para a região atingida pelas
enchentes
”. A fórmula encontrada pelo Prefeito Dalto dos Reis e pelo secretário de
Turismo Antônio Nunes foi a realização, entre os dias 5 e 14 de outubro daquele
ano, da primeira edição da Oktoberfest. A festa atraiu milhares de turistas e
dinamizou o setor do turismo.
Figura 81 Foto aérea de 1984 destacando o Centro da cidade com os marcos referenciais, as
vias principais, os cursos d’água e as pontes.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
103
Na foto aérea de 1984 percebemos elementos que persistem na paisagem.
Como referenciais edificados dessa época em falso enxaimel destacamos a
nova Prefeitura Municipal e a Moellmann. Entre as edificações históricas,
destacamos a antiga Prefeitura Municipal, o Teatro Carlos Gomes, o Edifício
Catarinense e Visconde de Mauá. As praças Hercílio Luz e Dr. Blumenau continuam
fazendo parte dos referenciais urbanos. As ruas principais continuam as mesmas
devido ao espaço limitado entre o Rio Itajaí-Açu e a montanha (Figura 81).
No mesmo ano foi elaborado um mapa de ruas com a projeção das novas
vias (em tracejado) mostrando o desenvolvimento da cidade (Figura 82). Com a
ocupação concentrada nos fundos de vale, as novas vias subiam ainda mais as
encostas e permitiam a ocupação de áreas sensíveis à erosão, alterando a
paisagem do Centro da cidade.
Figura 82 Detalhe do mapa de 1984 com destaque para os cursos d’água e a projeção de
novas vias.
Fonte: AHJFS Elaboração: Soraia L. Porath
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Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
104
Após as enchentes de 1983 e 1984, segundo Siebert (1999, p. 98), “
houve
grande pressão imobiliária de verticalização das áreas inundáveis, como forma de
fazer frente à desvalorização dos imóveis atingidos
”. Nesta época, o zoneamento foi
alterado de forma extra-oficial, como por exemplo, nas áreas residenciais
unifamiliares do bairro Ponta Aguda, os índices urbanísticos foram aumentados
resultando numa rápida verticalização da área.
Em 1989 o Plano Diretor de Blumenau foi revisado e aprovado na
administração do Prefeito Vilson Pedro Kleinubing. O objetivo geral do Plano era de
assegurar o bem-estar da população através do disciplinamento do
desenvolvimento do Município, garantindo-se assim o
equilíbrio entre o
desenvolvimento demográfico/econômico e a preservação da qualidade de vida
(o Art. 5º do Capítulo II da Lei Municipal n.º 3.652, de 12 de Dezembro de 1989, que
institui o Código de Diretrizes Urbanísticas, trata dos objetivos do Plano Diretor de
Blumenau).
Figura 83 Zoneamento ao longo do trecho navegável do Rio Itajaí-Açu em 1989.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
105
Porém, muitas alterações atenderam aos interesses imobiliários que
incrementavam os índices urbanísticos para a valorização dos imóveis (Figura 83).
Um exemplo disso foi o limite da altura das edificações em 15 pavimentos,
excetuando-se a ZC1, onde o limite era de 9 pavimentos e as ZLE e ZPH, onde o
limite estabelecido era de 4 pavimentos (o Art. 26 do Capítulo V da Lei Municipal n.º
3.650, de 06 de dezembro de 1989, que institui o Código de Zoneamento e de Uso
do Solo, trata do limite de altura das edificações).
Siebert (2000, p. 125) afirma que as maiores contribuições deste Plano
Diretor para com o espaço urbano foram: a preocupação com a circulação viária; a
definição de um macrozoneamento que tentou direcionar a expansão urbana; a
redução dos índices urbanísticos da área central, visando evitar o adensamento
excessivo do local; a proibição do uso residencial abaixo da cota de 12 metros; a
definição de eixos industriais ao longo das rodovias de acesso; e a preservação do
patrimônio histórico e do meio ambiente.
Esse Plano considera área não edificável e não aterrável uma faixa mínima
de 33 metros para cada margem em todo o talude do Rio Itajaí-Açu (o Art. 23º do
Capítulo IX da Lei 3.652, de 12 de dezembro de 1989, que institui o Código de
Diretrizes Urbanísticas, trata das faixas não edificáveis e não aterráveis ao longo
dos cursos d’água). E também para reduzir os prejuízos causados pelas
inundações, foram proibidos os usos residencial, industrial e comercial abaixo da
cota da enchente de 10,00m e o uso residencial até 12,00m (Art. 27 do Capítulo V
da Lei Municipal n.º 3.650, de 06 de dezembro de 1989, que institui o Código de
Zoneamento e de Uso do Solo, trata da ocupação do solo em áreas inundáveis).
Depois das enchentes que marcaram a história da cidade e da revisão do
Plano Diretor de Blumenau realizada em 1989, o modelo de urbanização de
Blumenau modificou profundamente. Uma verticalização acelerada foi induzida pela
pressão imobiliária nas áreas atingidas e os morros foram sendo ocupados, o que
alterou a paisagem da área central de Blumenau. A verticalização permitiu um limite
de até 15 pavimentos e segundo Siebert (1999, p. 103), “
esta estratégia visava
promover a ocupação dos vazios urbanos das áreas bem servidas de infra-
estrutura, e redirecionar os investimentos imobiliários do centro da cidade para a
área em seu entorno imediato. Esperava-se com isto contribuir para desafoga-lo,
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
106
Figura 85 Foto aérea de 1993 destacando o Centro da
cidade com os marcos referenciais, os rios e pontes e as
vias principais.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
uma vez que no Plano Diretor anterior o centro era a área com mais estímulos à
construção, e por este motivo, acrescido à sua configuração espacial aprisionada
entre rio e morro, corria o risco de entrar em colapso
”.
Outra resultante do
Plano Diretor de 1989 foi à
direção da expansão da
cidade para a região norte,
que apresenta uma
topografia menos
acentuada, é
geologicamente mais
estável e localiza-se em
áreas livres de enchentes.
Porém, os bairros situados
nas áreas inundáveis
(planícies centrais)
continuaram a crescer
devido à proximidade com o
Centro e pela possibilidade
de verticalizar essas áreas
(Figura 84).
Em 1993
destacamos edificações
que persistiram ao longo da
Figura 84 Corte da cidade de Blumenau no sentido norte-sul.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
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Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
107
história da cidade e novas edificações como o edifício do Banco do Brasil, Lojas
Hering, e o Edifício do Clube Náutico América (Figura 85).
Em relação à evolução do sistema viário, desde o primeiro registro
cartográfico da cidade até 1993, podemos analisar que as vias se desenvolveram
paralelamente às margens dos rios, acompanhando a topografia local nos fundos de
vale e também nas encostas (Figura 86).
Em relação à topografia da cidade, ressaltamos que os acidentes geológicos
registrados em áreas urbanas geralmente estão associados a enchentes,
escorregamentos, erosão e subsidências que geralmente são induzidos e/ou
Figura 86 Evolução do sistema viário de Blumenau até 1993.
Fonte: AHJFS/PMB Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
108
Figura 87 Carta geotécnica (Mapa de uso recomendado do solo) do Município de Blumenau.
Fonte: PMB/IPPUB Elaboração: Soraia L. Porath
potencializados por intervenções no meio físico como por exemplo, o crescimento
rápido e desordenado das cidades. Por esse motivo, o IPPUB (Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano de Blumenau), em 1995, elaborou a carta
geotécnica da cidade (Figura 87). Essa carta expõe as limitações e
potencialidades dos terrenos e estabelece diretrizes de ocupação frente às formas
de uso (XAVIER, 1995, p. 2).
A carta geotécnica deve fornecer subsídios para a elaboração de novos
zoneamentos da cidade, pois apresenta critérios geológicos/geotécnicos para
ocupação do solo. No caso de Blumenau, que se desenvolveu e ainda se
desenvolve às margens de rios, observamos que ocorreram alguns equívocos na
proposição dessa carta. Se a carta geotécnica mapeia e recomenda a urbanização
em determinadas áreas e deve ser considerada para os próximos zoneamentos,
então também deveriam ser observados os níveis de enchentes da cidade. O que
verificamos é que a carta geotécnica nos mostra grande parte das áreas inundáveis
designadas como sendo adequadas à ocupação, e isso foi interpretado para a
elaboração do zoneamento do Plano Diretor.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
109
Figura 88 Zoneamento da área adjacente ao Rio Itajaí-Açu em Blumenau, em 1997.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
O resultado foi a permissão da ocupação nas áreas atingíveis pelas
enchentes, o que acarretará em mais prejuízos para a população e para a cidade.
Portanto, alertamos que além da carta geotécnica deve-se também observar com
cautela os níveis de enchente para ocupação.
5.1.6. SEXTA FASE: A PAISAGEM ATUAL (1996 A 2003)
A segunda revisão do Plano Diretor ocorreu em 1996, na administração do
Prefeito Renato de Mello Vianna e sancionado em 1997, na administração do
Prefeito Décio Nery de Lima. Essa revisão foi ampla e longamente discutida pelo
Conselho Deliberativo do recém criado Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano de Blumenau (IPPUB) e entidades comunitárias.
O Plano Diretor de 1997 aumentou as restrições sobre o adensamento na
área central e assegurou a preservação do patrimônio histórico e ambiental (Figura
88). A maior contribuição desse Plano foi a criação das ZRU (Zonas Recreacionais
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
110
PICOS DE ENCHENTES (1852 - 2001)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1800 1850 1900 1950 2000 2050
AN0
NÍVEL (metros)
Figura 89 Relação dos picos de enchentes
registradas em Blumenau desde sua fundação.
Fonte: PMB Defesa Civil
Urbanas) que, localizadas em fundos de vale e áreas inundáveis, tem o objetivo de
implantar parques e áreas de lazer, ao mesmo tempo que preserva estas áreas da
urbanização. Porém, também observamos no zoneamento um traçado viário
paralelo ao leito do Rio Itajaí-Açu na margem direita, onde está prevista a
continuação da Avenida Beira-Rio. Ao ser executado esse projeto, haverá o que já
ocorreu na abertura dessa via: uma grande impermeabilização do solo com
degradação da mata ciliar, o leito do rio será alterado, e como conseqüência
desses atos, teremos uma maior urbanização nas margens do Rio Itajaí-Açu. Ao
longo da história e da transformação da paisagem, vimos que a cidade sofre as
conseqüências da sua urbanização em fundos de vale quando ocorre o fenômeno
das enchentes. Portanto, é inadmissível que os inúmeros prejuízos causados pelo
fenômeno natural das enchentes nas áreas com densa urbanização ainda não tenha
servido de alerta aos órgãos públicos no que tange à abertura de vias, construções
e alterações às margens do Rio Itajaí -Açu.
Sobre a legislação urbanística de Blumenau, vimos que a ação do estado
sobre o espaço urbano evoluiu de ações administrativas para ações de
organização espacial, passando por períodos de preocupações estéticas e
higienistas (1977); por períodos de preocupações com o sistema viário e com o
adensamento (1989); e por períodos de preocupações com o meio ambiente e com
os patrimônios históricos da cidade (1996/1997), onde percebemos que sua
aplicação está se tornando realidade nos dias atuais. Desde essa época, o Centro
da cidade vem sendo reestruturado pelo governo municipal e entre os projetos
executados, destacamos a
reurbanização da rua XV de
Novembro e das praças Hercílio
Luz e Dr. Blumenau, o sistema
integrado de transportes, a Ponte
Vilson Kleinübing (Ponte do
Tamarindo), e o programa de
recuperação da mata ciliar.
Em relação às enchentes,
destacamos que seu fenômeno
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
111
tem sido agravado pelo desmatamento indiscriminado, a ocupação desordenada
das encostas ao longo do tempo e o crescente processo de erosão das margens
dos rios e encostas. As enchentes sempre estiveram presente na história da cidade
e a ampliação da atividade humana, seja nos centros urbanos ou na zona rural, além
das poucas áreas disponíveis não sujeitas a enchentes, têm agravado ainda mais
este quadro de problemas e aumentado os prejuízos (Figura 89).
Figura 90 Sistema viário e hipsometria de Blumenau em 2003.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
Figura 91 Topografia e divisão de bairros de Blumenau.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
112
Figura 92 Foto aérea de 2003 destacando o Centro da cidade consolidado em áreas inundáveis
com grande impermeabilização do solo.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
Analisando o mapa do sistema viário de 2003 com a hipsometria e o mapa
topográfico observamos a predominância de vias principais nos fundos de vale
acompanhando o curso de rios e ribeirões até a cota de 20 metros e que grande
parte das vias após a cota de 25 metros acompanham as curvas de nível (Figuras
90 e 91).
A foto aérea de 2003 mostra as vias aprisionadas entre rios e montanhas
num vale estreito e íngreme, com grande impermeabilização do solo, ausência de
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
113
N
População (hab.) População (%)
Ano
Urbana Rural
Total
Urbana Rural
1940 14.640 26.538 41.178 36% 64%
1950 23.473 19.816 43.289 54% 46%
1960 47.740 19.038 66.778 71% 29%
1970 86.519 13.756 100.275 86% 14%
1980 146.001 11.257 157.258 93% 7%
1991 186.327 25.698 212.025 88% 12%
2000 241.943 19.865 261.808 92% 8%
Figura 93 Tabela da evolução da população de Blumenau.
Fonte: IBGE/PMB Elaboração: Soraia L. Porath
mata ciliar ao longo do Rio Itajaí-Açu devido à construção da Avenida Beira -Rio,
intensa vegetação ao longo dos ribeirões da Velha e Garcia e arborização urbana
nas vias principais (Figura 92). Em relação aos marcos referenciais, muito pouco foi
alterado na paisagem desde 1984 devido à con solidação dessa área.
Blumenau é
em 2003 uma
cidade de
aproximadamente
260.000 habitantes
(Figura 93). Como
vimos, Blumenau foi
fundada como
Colônia particular e
logo partiu da
agricultura de subsistência para a transformação do excedente em produtos
artesanais, inicialmente, e industrializados, em um segundo estágio, até se tornar o
terceiro pólo da indústria têxtil e do vestuário do país, bem como forte centro
turístico.
A cidade situa-se aos
26º55’26” de latitude sul e aos
49º03’22” de longitude oeste,
distanciando 89 km em linha reta
da capital do Estado,
Florianópolis, e 140 km por meio
rodoviário. Blumenau tem como
limite os municípios de Luiz Alves
e Gaspar a leste, Indaial e
Pomerode a oeste, Jaraguá do
Sul e Massaranduba ao norte e
Guabiruba, Botuverá e Indaial ao
sul.
Figura 94 Médio vale do Itajaí com
destaque para Blumenau (área urbana e
rural).
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L.
Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 5 A presença do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
114
A área total do município é de 510,3km
2
, sendo 192km
2
de área urbana e
318,3km
2
de área rural, com altitude média na área urbana de 21m. Integra-se na
Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (AMMVI), composta de 14
municípios, cujo centro polarizador é Blumenau.
Finalizando, vimos até aqui todos os fatos ao longo da história que levaram à
paisagem atual das áreas adjacentes do trecho navegável do Rio Itajaí-Açu,
evidenciando o Centro da cidade de Blumenau. Observamos que a paisagem está
num constante processo de transformação e que em particular nas áreas urbanas e
em margem de rios, há um caráter extremamente dinâmico dessas transformações,
com intensidades variáveis, em função das características de cada contexto.
Notamos que ocorreram mudanças em termos de economia, política, relações
sociais e também no âmbito espacial, com adaptação às novas exigências e
características da sociedade. Lynch (1991, p. 12) diz que “
a cidade não é apenas
um objeto perceptível (e talvez apreciado) por milhões de pessoas das mais
variadas classes sociais e pelos mais variados tipos de personalidades, mas é o
produto de muitos construtores que constantemente modificam a estrutura por
razões particulares”.
Em Blumenau, é necessário que se preserve a paisagem existente e se volte
à realidade ambiental do país, desenhando a cidade adequada ao clima, a
topografia, a sociedade e sua cultura, com soluções específicas quando se tratar de
margem de rios. Vimos portanto, que os projetos de cidades localizadas em fundos
de vale e em margens de rios devem ter máxima cautela quando se tratar de
urbanização.
115
A PAISAGEM DO
RIO ITAJAÍ-AÇU
CAPÍTULO
6
6.1. AS UNIDADES E ELEMENTOS DE
PAISAGEM DO RIO ITAJAÍ-
AÇU
6.2. OS ELEMENTOS DE PAISAGEM DO
BAIRRO CENTRO
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
116
Figura 95 As Unidades de Paisagem nas margens de
rios.
Elaboração: Soraia L. Porath
Enfocados de um modo geral como um
problema de drenagem urbana, fundo de lote ou
local de despejos, os rios tem sido muito pouco
considerados como elementos enriquecedores
na construção da paisagem urbana. Entretanto, é
indiscutível sua importância para a população no
que concerne a experiência da natureza nas
cidades
”.
COSTA, 2002.
6.1. AS UNIDADES E OS ELEMENTOS DE PAISAGEM DO RIO ITAJAÍ-AÇU
A paisagem faz parte de um sistema. Franco (1997, p. 136-7) explica que o
sistema de paisagem é
uma classificação baseada na topografia, solos,
vegetação e intervenção antrópica cultivada ou plantada (agricultura)
correlacionadas com geologia, geomorfologia e clima
”. As diferentes partes de um
sistema de paisagem constituem-se nas unidades de paisagem.
As unidades de
paisagem são áreas que
apresentam características
semelhantes entre si (Figura
95). Para Rossi (1995, p. 142),
a cidade é constituída por
partes e cada uma dessas
partes apresenta características distintas.
No caso do Rio Itajaí-Açu, em Blumenau, analisamos as unidades de
paisagem pela divisão de bairros. O bairro é uma unidade morfológica e estrutural,
caracterizado por uma certa paisagem urbana, por um certo conteúdo social e por
uma função. Muitas vezes, quando ocorre uma mudança num desses elementos, é
fixado o limite do bairro. Também percebemos que alguns rios, assim como
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
117
Figura 96 Visuais a partir do eixo do Rio Itajaí-Açu para classificação dos Elementos de
Paisagem.
Elaboração: Soraia L. Porath
divisores de água, tornam-se referências definidoras do limite de bairros (AFONSO,
1995). O bairro torna-se então “um setor da forma da cidade, intimamente ligado à
sua evolução e à sua natureza, constituídos por partes e à sua imagem
” (ROSSI,
1995, p. 70).
As unidades de paisagem são constituídas por elementos de paisagem,
que nessa pesquisa, foram observados a partir do eixo do Rio Itajaí-Açu, na cidade
de Blumenau, onde foi possível elaborar um quadro da situação atual em que se
encontram suas margens (Figura 96). Entre as características marcantes dos
elementos de paisagem, em se tratando de rios urbanos, encontramos: os padrões
de relevo, as edificações, o tecido urbano gerado pelas diferentes formas de
apropriação do solo, os espaços públicos e a vegetação.
Mas nem todo o trecho do rio é navegável, portanto, para identificar as
características dos elementos de paisagem, foram analisados os seguintes bairros:
na margem esquerda, Itoupava Norte (parcial) e Ponta Aguda; e na margem direita,
Itoupava Seca (parcial), Boa Vista, Centro e Vorstadt (Figura 97).
Analisando o mapa da divisão de bairros, observamos que muitos cursos
d’água se transformaram em limites, e que a topografia teve influência no nome do
bairro. Por exemplo, no bairro Ponta Aguda, a sinuosidade do Rio Itajaí-Açu
configura uma ponta acentuada de terra que deu origem ao seu nome; no bairro Boa
Vista, o morro com o mesmo nome permite a possibilidade de uma visão completa
do Centro da cidade; no bairro Itoupava Seca, a palavra Itoupava tem origem no
tupi-guarani, que significa corredeiras, e a palavra Seca se refere ao afloramento de
pedras do Rio Itajaí-Açu em época de estiagem; o bairro Vorstadt tem origem
alemã e significa entrada/antes da cidade (BLUMENAU, 1996).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
118
Figura 97 Mapa da área navegável do Rio Itajaí-Açu em Blumenau e bairros adjacentes.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
Através de fotografias e mapas, foi possível classificar os elementos de
paisagem existentes em cada um desses bairros. Essa classificação foi realizada
a partir de paisagens semelhantes em diferentes trechos do rio. Os níveis das
margens em relação ao leito do rio, as altitudes do relevo, a presença ou não das
áreas verdes próximas ao rio, o traçado viário e a tipologia das edificações
constituem e caracterizam os elementos de paisagem (EP) do Rio Itajaí-Açu. Sendo
assim, temos então classificados:
EP1 Pontes: consideramos as pontes como linhas de costura que ligam
uma margem à outra e permitem o desenvolvimento da cidade. Com o advento do
automóvel, algumas dessas pontes que foram construídas para a ferrovia, deram
lugar à passagem de veículos e pedestres. Em relação à técnica construtiva utilizada,
temos uma ponte metálica construída no Centro da cidade e as demais em
concreto.
EP2 Foz de ribeirões: temos o ribeirão Garcia e o ribeirão da Velha que se
encontram com as águas do Rio Itajaí-Açu no Centro da cidade e o Ribeirão Fidélis
que limita os bairros Itoupava Norte e Ponta Aguda.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
119
Figura 98 Saída de Efluentes no Rio Itajaí-Açu
classificada como EP3.
Foto: Soraia L. Porath
EP3 Águas residuárias
(Figura 98): tubulações levam as
águas residuárias diretamente ao
Rio Itajaí-Açu ao longo de todo o
percurso. As águas residuárias
são compostas por excretas
humanas (esgoto) e por águas
servidas, procedentes de uso
doméstico, comercial, industrial e
por águas pluviais. De toda a
bacia hidrográfica, somente
Blumenau possui um sistema
central de tratamento de esgoto sanitário. A única estação de tratamento de
efluentes (ETE) se localiza no bairro Garcia, faz o tratamento do ribeirão Garcia e
tem capacidade para atender a uma população de 15.000 habitantes. Porém de
toda a rede coletora instalada no bairro, somente 3% das residências conectam-se
a essa rede, ou seja, todo o restante do bairro e do município não possui tratamento
de esgoto indo até o Rio Itajaí-Açu e seguindo até a sua foz em Itajaí. Nas épocas
onde o nível do rio apresenta-se abaixo do normal, podemos verificar os canos dos
fundos das casas que levam o esgoto diretamente ao rio.
EP4 Verticalização das edificações: caracteriza principalmente o bairro
Centro, um dos mais antigos da cidade. O Código de Construções aprovado em
1939 (Decreto-Lei 45/39), se preocupava com a estética da cidade e a harmonia da
paisagem urbana, onde havia a exigência de no mínimo dois pavimentos para as
edificações no bairro, o que ocasionou uma intensa verticalização no local
EP5 Impermeabilização do solo: a urbanização traz consigo a
impermeabilização do solo, resultante das construções e do calçamento das ruas.
Esse elemento de paisagem também caracteriza as áreas mais antigas da cidade.
Percebemos que a impermeabilização do solo se dá muito próxima ao Rio Itajaí-
Açu e nas áreas inundáveis.
EP6 Acesso ao rio: verificamos o acesso ao Rio Itajaí-Açu em fundos de
lotes de residências, através de trilhas e/ou construção de rampas e escadarias.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
120
Figura 99 Erosão nas margens do Rio Itajaí-Açu
classificada como EP8.
Foto: Soraia L. Porath
Também no Centro, na Avenida Beira-Rio, na Praça Hercílio Luz (Biergarden) ou na
Praça Juscelino Kubitschek (Prainha), há locais que permitem o acesso rio, seja
para pesca, banho de rio, passeios de barco ou treinamento de remo.
EP7 Construções emblemáticas: a Lei municipal 2.262/77 gerou a
chamada febre do enxaimel, onde falsidade estrutural e aplicação de madeirinhas
cruzadas proliferaram pela cidade. Nessa época surgiram muitas construções que
são hoje, marcos referenciais da cidade.
EP8 Degradação da
mata ciliar (Figura 99): já em
1948, no Código de Posturas (Lei
Municipal n.º 37/48), havia
algumas preocupações
ambientais com a caça e pesca,
as águas e os rios, e a proteção
das florestas e dos espécimes
vegetais raros. O Código de
Posturas, que tornou a ser
revisado em 1974 (Lei Municipal
n.º 2.047/74), trouxe a expressão meio ambiente, que surgiu pela primeira vez na
legislação de Blumenau, e refletiu a tendência de conscientização ambiental.
Depois, vieram os planos diretores de 1977, 1989 e 1996 (aprovado em 1997) com
os respectivos zoneamentos que pouco contribuíram para a faixa de preservação ao
longo do Rio Itajaí-Açu. Com a intensa urbanização e crescimento acelerado, houve
intensa degradação da mata ciliar.
EP9 Erosão: nos últimos tempos, a quantidade de extratores de areia no
Rio Itajaí-Açu levou ao desaparecimento de algumas ilhas fluviais, onde as margens
foram sendo absorvidas pelo rio. Devido a esse processo, áreas onde antes não
eram atingidas pelas inundações, hoje as inundações ocorrem.
EP10 Preservação da mata ciliar: em alguns trechos a mata ciliar encontra-
se preservada e configura um corredor. Nesses trechos encontramos os habitats de
inúmeros mamíferos, espécies aquáticas, répteis e pássaros, além de algumas das
mais produtivas associações de espécies vegetais.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
121
Figura 100 - Faixas de Preservação ao longo do Rio
Itajaí-Açu sobre foto aérea de 2003.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
EP11 Edificações na
faixa de preservação (Figura
100): a Lei Complementar n.º
142/96 considera Área não
Edificável e Não Aterrável
(ANEA) para o Rio Itajaí-Açu,
que possui largura de até 200
metros, uma faixa marginal de
45 metros. Já o Código Florestal
brasileiro (Lei Federal nº. 4771,
de 15 de setembro de 1965)
considera que um curso d’água,
com largura entre 200 metros e
300 metros deve ter, no mínimo, uma faixa marginal de 200 metros de
preservação permanente. O Código Florestal diz que em áreas urbanas, os
planos diretores e as leis de uso do solo devem ser observados, porém, nesse
elemento de paisagem verificamos que a faixa de preservação de 45m não é
obedecida e como está sendo tratada em diferentes trechos do rio.
EP12 Praças: encontramos no Centro da cidade, locais de lazer para a
população que permitem avistar o rio. Essas praças se localizam em áreas
inundáveis e possuem equipamentos públicos e infra-estrutura para o lazer e
turismo.
EP13 Ruas paralelas ao leito do rio: em alguns trechos, as ruas paralelas
permitem avistar o rio devido à inexistência da mata ciliar ou a diferença de
altitude em relação ao rio. Em alguns pontos foram construídos mirantes para
apreciação e fruição da paisagem do rio.
EP14 Ocupação de encostas: pela topografia acentuada, Blumenau se
estruturou e desenvolveu nos fundos de vale e ao longo dos cursos d’água. Com
as freqüentes enchentes que a cidade sofreu, foram surgindo cada vez mais
ocupações nas encostas. Temos esse elemento de paisagem principalmente nos
bairros Ponta Aguda e Boa Vista.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
122
Figura 101 Elementos de Paisagem (EP) que predominam nos bairros ao longo do trecho navegável do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
123
Observando a campo os diferentes elementos de paisagem ao longo do Rio
Itajaí-Açu no seu trecho navegável foi possível elaborar um mapa com a paisagem
predominante de cada bairro (Figura 101). Através desses elementos, é possível
identificar os pontos positivos e negativos das margens do Rio Itajaí-Açu. Se por um
lado, é possível chamar a atenção para áreas de grande valor paisagístico, as quais
deverão ser ocupadas de forma planejada, aproveitando-se as características
naturais do meio e preservando a mata ciliar, por outro, podemos alertar a
população e os órgãos públicos sobre os efeitos negativos da urbanização em
margens de rios e suas várzeas.
Os elementos de paisagem predominantes ao longo do trecho navegável do
Rio Itajaí-Açu permitiram a elaboração de um mapa das unidades de paisagem
(UP), o que possibilita a sua inclusão no quadro de rios urbanos. Este mapa possui
como base a divisão de bairros da cidade de Blumenau (Figura 102):
UP1 Bairros Itoupava Seca e Itoupava Norte: as semelhanças entre esses
bairros parte da topografia que apresenta o mesmo nível das margens em relação
ao leito do rio, possui o traçado viário paralelo ao leito do rio, bem como as
edificações voltando as “costas” para o rio. Em relação aos elementos de
paisagem, predominam em ambos os bairros, águas residuárias (EP3), áreas com
erosão (EP9), mas também trechos com a mata ciliar preservada mesmo em fundos
de lote (EP10).
UP2 Bairros Boa Vista, Ponta Aguda e Vorstadt: assim como a UP1, esses
bairros apresentam semelhanças na topografia acentuada que se destaca na
paisagem, apresentam quase o mesmo nível das margens em relação ao leito do
rio, também possuem o traçado viário paralelo ao leito do rio e em alguns trechos
muito próximos a ele permitindo avistar suas águas. Em relação aos elementos de
paisagem, predominam a existência de pontes (EP1), o acesso às águas do rio por
meio de rampas e trilhas (EP6), edificações na faixa de preservação, mas que se
voltam para avistar as águas do rio (EP11), ruas paralelas ao leito do rio (EP13) e
ocupação de encostas (EP14).
UP3 Bairro Centro: esse bairro se diferencia dos demais devido à história
do local. Como vimos anteriormente no Capítulo 5, essa região localiza-se na área
mais antiga da cidade, e sofreu as maiores transformações na paisagem desde a
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
124
sua fundação. Por este motivo, analisaremos com maiores detalhes os elementos
de paisagem que constituem o bairro Centro.
Percebemos que toda a área central de Blumenau encontra-se hoje
consolidada, com vias aprisionadas entre o rio e a montanha em vales estreitos e
íngremes, com grande impermeabilização do solo, verticalização e ausência de
mata ciliar na margem direita do Rio Itajaí-Açu devido à construção da Avenida
Beira-Rio (Figura 103).
Esse trecho do rio é navegável somente por embarcações pequenas porque a laje
de concreto da Avenida Beira-Rio se estende até o ponto mais baixo do rio e
Figura 102 Unidades de Paisagem (UP) do trecho navegável do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
Figura 103 Unidade de Paisagem 3: O Centro da cidade de Blumenau.
Fonte: Arquivo Zás Color
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
125
também porque há um grande número de rochas que afloram do rio mesmo no nível
normal do rio. Até hoje, a cidade sofre as conseqüências da sua urbanização nessa
área quando ocorre o fenômeno das enchentes.
6.2. DADOS GERAIS DO BAIRRO CENTRO
A análise sobre a paisagem do bairro Centro justifica-se pelo fato “das áreas
urbanas centrais constituirem amostragens mais representativas e compreensivas
da vida urbana, pela maior presença (intensidade) e simultaneidade de funções e
usos” (RODRIGUES, 1986, p.14) e também porque “o centro situa-se em geral em
volta do ponto de convergência das velhas estradas de acesso à cidade” (LACAZE,
s/d, p. 18).
O bairro Centro localiza-se na margem direita do Rio Itajaí-Açu e tem como
limites o Rio Itajaí-Açu, o Ribeirão da Velha, o Ribeirão Garcia, vias principais e a
topografia. Sua hidrografia compreende também os ribeirões Garcia, Velha e Bom
Figura 104 Localização do bairro Centro no trecho navegável do Rio Itajaí-Açu.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
126
Retiro (hoje canalizado). Situa-se numa área completamente plana, nas chamadas
planícies centrais da cidade. Grande parte do bairro é atingida pelas enchentes com
prejuízos graves devido à urbanização próxima ao rio. Em relação à vegetação,
podemos dizer que essa área possui ausência de vegetação autóctone (nativa)
devido ao cultivo da agricultura na época Colonial da cidade.
Para analisar as áreas verdes (toda e qualquer área que possua vegetação)
existentes na área central da cidade, foi elaborado um mapa de cheios e vazios
sobre a foto aérea de 2003, onde o cheio (cor preta do mapa) representa a
vegetação e o vazio (cor branca do mapa) representa as áreas impermeabilizadas
(ruas, calçadas e edificações) e os cursos d’água (Figura 105). Dessa forma,
percebemos que na planície do bairro Centro, há um índice alto de
impermeabilização do solo, inclusive nas áreas mais atingíveis pelas enchentes e
Figura 105 Mapa de cheios e vazios da área central da cidade evidenciando a vegetação.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
127
Figura 106 Esquema dos Elementos de Paisagem (EP)
no bairro Centro, em cinco trechos.
Elaboração: Soraia L. Porath
que essa área carece de vegetação pois verificamos apenas a presença de
arborização urbana nas vias principais. Porém, podemos dizer que na margem
esquerda do Rio Itajaí-Açu e em ambas as margens dos ribeirões da Velha e
Garcia a mata ciliar apresenta-se preservada. Outro agravante que percebemos em
relação à vegetação é que os morros estão sendo gradativamente ocupados pois
não há mais uma massa de vegetação nos topos, mas uma certa dispersão de
vegetação.
Quanto ao ambiente construído, o Centro possui construções emblemáticas
em grande número de patrimônios históricos e também em falso enxaimel. Em
comparação a outros bairros, o Centro apresenta maior número de marcos
referencias que se evidenciam na paisagem e uma maior verticalização com
consequente impermeabilização do solo. Atualmente, o Centro possui atividades de
serviços e comércio e cada vez menos pessoas residem nesse local. De acordo
com o Censo 2000, o bairro possui uma população de 1.612 habitantes.
6.2.1. OS ELEMENTOS DE PAISAGEM DO BAIRRO CENTRO
No bairro Centro os
elementos de paisagem (EP)
estão localizados nos mapas
a seguir, em cinco diferentes
trechos ao longo do Rio Itajaí-
Açu. As imagens mostram o
tratamento das margens e a
íntima relação visual da cidade com o Rio Itajaí-Açu. O limite da classificação é a
divisão de bairros que se situa nos ribeirões Garcia e Velha (Figura 106).
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
128
Esse trecho foi o núcleo inicial da cidade. Hoje, temos a Praça Hercílio Luz
(Biergarden), acesso às águas do rio, a foz do ribeirão Garcia e o início da
Avenida Beira-Rio com muitas saídas de efluentes.
120 160m080 204060 40 80
N
Figura 107 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 1.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
EP3 Águas residuárias
EP6 Acesso ao rio
EP2 Foz de ribeirões
EP2
EP6
EP12
EP3
Localização da
área ampliada
UP12 Praças
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
129
Essa é uma área verticalizada com grande impermeabilização do solo. As
edificações na faixa de preservação surgiram em decorrência da construção da
Avenida Beira-Rio e da própria Colonização.
Figura 108 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 2.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
Localização da
área ampliada
EP11
EP4
EP5
EP6
EP5 Impermeabilização do solo
EP4 Verticalização
EP6 Acesso ao rio
EP11 Edificações na faixa de
preservação
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
130
Essa é uma área verticalizada com grande impermeabilização do solo e
também construções emblemáticas. Na paisagem, evidencia-se a Ponte Adolfo
Konder e a Moellmann.
80
Figura 109 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 3.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
EP4
EP7
EP7
EP1
Localização da
área ampliada
EP7 Construções emblemáticas
EP7 Construções emblemáticas
EP4 Verticalização
EP1 Pontes
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
131
O trecho mostra o acesso às águas do rio e a saída de efluentes, e a
Avenida Beira-Rio densamente verticalizada e impermeabilizada. Entre as
construções, evidencia-se o Edifício Brasília.
120 160m080 204060 40 80
N
Figura 110 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 4.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
EP4
EP13
EP3
EP6
EP3
Localização da
área ampliada
EP4 Verticalização
EP3 Águas residuárias
EP13 Ruas paralelas ao leito do rio
EP3 Águas residuárias
EP6 Acesso ao rio
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 6 A Paisagem do Rio Itajaí-Açu
132
Nesse trecho temos a Prefeitura Municipal e a foz do ribeirão da Velha.
Desse local podemos avistar a ponte metálica da estrada de ferro pela sua
imponência na paisagem do Rio Itajaí-Açu.
120 160m080 204060 40 80
N
Figura 111 Os Elementos de Paisagem do bairro Centro trecho 5.
Fonte: PMB Elaboração: Soraia L. Porath
EP6
EP2
EP7
EP1
Localização da
área ampliada
EP2 Foz de ribeirões
EP7 Construções emblemáticas
EP6 Acesso às águas do rio
EP1 Pontes
133
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
CAPÍTULO
7
7.1.
RESULTADOS ENCONTRADOS
7.2.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 7 Considerações Finais
134
“Todo o trabalho de planejamento inclui a
leitura perceptiva da paisagem como indicadora,
não só dos pontos de maior significado visual,
como também dos aspectos críticos de
transformação do relevo; das condições de
degradação dos solos e da cobertura vegetal;
das características da ocupação urbana; e,
finalmente, na detecção de vocações
paisagísticas, as quais se constituem no
primeiro passo da criação de cenários de
desenho ambiental”.
FRANCO, 1997, p. 137.
7.1. RESULTADOS ENCONTRADOS
A vida urbana é a forma concreta de o homem dominar a natureza,
modificá-la ou até destruí-la. O homem, na civilização pós-industrial, perdeu suas
referências com o ambiente, colocando-se acima e fora dele e não como parte de
uma totalidade.
A cidade é um organismo vivo criado e mantido pelos homens para
satisfazer suas necessidades. Assim, através do quadro de rios urbanos,
podemos afirmar que a paisagem de rios urbanos e o uso e ocupação do solo
adjacentes se apresentam como reflexo das atividades econômicas e sociais do
homem, da cultura e crença.
Com o crescimento econômico e a concentração populacional crescente no
Brasil, o processo de urbanização ganha força e se expande para novas áreas. E,
de um modo geral, quanto maior a urbanização, maior a alteração da paisagem.
Vimos nessa pesquisa, através do estudo de caso do Rio Itajaí-Açu em
Blumenau, que a transformação de áreas antes rurais em urbanas, traz como
resultado o aumento da área impermeabilizada, tanto pelos asfaltos
implementados nas ruas, quanto pelos telhados, calçadas, pátios entre outros
materiais que fazem com que a parcela de água que antes infiltrava no solo,
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 7 Considerações Finais
135
passe a escoar através de condutos, aumentando assim o escoamento
superficial. Além da impermeabilização, outros fatores advindos da urbanização
também contribuem para o aumento na freqüência das enchentes na cidade.
A construção da Avenida Presidente Castelo Branco (Avenida Beira-Rio)
junto ao Rio Itajaí-Açu nos mostrou que as intervenções antrópicas, quando mal
projetadas, tendem a se comportar como obstruções à dinâmica hidrológica,
provocando estrangulamento da seção do rio, alterando a dinâmica do transporte
sedimentar e assim agravando o problema de assoreamento.
Outro fator de grande agravo é a invasão de áreas de proteção ambiental e
impróprias para moradia, ou seja, a ocupação junto às margens e nas várzeas
dos rios, impulsionada pela necessidade de espaços planos para a habitação. No
caso de Blumenau, a topografia acidentada fez com que a cidade se
desenvolvesse junto aos rios e ribeirões, ou seja, nas chamadas planícies
centrais da cidade. Nesse processo vimos que o desmatamento visando
urbanização ocorre de forma extensiva e impensada, além disso evidenciamos
que a mata ciliar possui um papel importante de resistência ao escoamento das
águas e proteção do solo, devendo ser preservada nas áreas urbanas e rurais.
A falta de áreas verdes, além de impor privações aos habitantes, pela falta
de sombreamento, barreira contra o vento, poluição visual e sonora, entre outras,
não lhes permite desenvolver princípios de cidadania, como o respeito e
admiração ao ambiente natural e à paisagem. Observamos claramente no bairro
Centro de Blumenau, que à medida que a cidade expande, as áreas verdes se
reduzem a espaços sem tratamento e desprovidos de vegetação.
A ausência da mata ciliar ocasiona a exposição do solo e disponibiliza
grande carga sedimentar às calhas fluviais, além do lançamento de lixo e esgoto
produzidos, na sua grande maioria, diretamente nos rios e ribeirões, aumentando
o assoreamento e agravando a ocorrência de enchentes e inundações. Os
elementos de paisagem do bairro Centro nos mostraram a grande quantidade de
saída de efluentes no Rio Itajaí-Açu.
Vimos diferentes paisagens de rios urbanos e verificamos que, em alguns
casos, a ocupação destas áreas é realizada pelas camadas mais baixas da
população por se tratar de locais desvalorizados economicamente. Porém,
quando as inundações possuem um grande intervalo de tempo, muitas vezes
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 7 Considerações Finais
136
estas áreas também são ocupadas por setores da sociedade de renda mais alta,
devido às amenidades do local.
Verificamos nesse trabalho que Blumenau é um exemplo de cidade, que
por possuir grandes intervalos entre as enchentes que atingem um nível mais
elevado, terminam por ocupar as várzeas e repetir um ciclo desastroso. No caso
do Rio Itajaí-Açu, a legislação vigente não permite edificações residenciais abaixo
da cota de 12,00 metros, mas conseqüentes e graves enchentes ocorreram até a
cota de 17,00m. Portanto, o Plano Diretor deve ser revisto no sentido evitar a
urbanização até este nível.
O aumento expressivo da população, aliado à falta de planejamento,
repercute no crescimento desordenado das cidades. Assim, o panorama geral
observado é a deteriorização ambiental de suas áreas urbanas e rurais. O
conjunto das ações antrópicas tem provocado enchentes urbanas e rurais, erosão
e degradação dos mananciais, bolsões de pobreza e outros problemas de ordem
ambiental e social, que agem diretamente sobre a qualidade da paisagem.
Hoje, com mais de 80% da população em áreas urbanas, a realidade
brasileira se constitui de diversos desafios, uma vez que esta concentração
populacional traz consigo um agravamento da questão das águas urbanas,
juntamente com a ausência de um suporte técnico nas administrações municipais.
A mentalidade brasileira sobre o planejamento urbano se cristalizou a partir
da Constituição de 1988, quando se obrigou a elaboração de Planos Diretores
Urbanos para cidades com mais de 20 mil habitantes. Depois, o Estatuto das
Cidades consolidou uma visão holística sobre a urbanização e a sua interação
com a natureza. Tratou as cidades com uma dimensão humana e social.
Entretanto, poucas cidades têm hoje um plano para ordenar o seu crescimento e
manter a qualidade da sua paisagem que, na maioria das vezes, é o seu maior
atrativo.
Para a valorização dos rios na paisagem urbana, afirmamos que é
necessário o conhecimento dos efeitos da urbanização nos diversos componentes
do ciclo hidrológico e o seu controle, através de uma abordagem científica e
ambiental. Infelizmente, vimos que os rios não estão sendo considerados no
processo de urbanização e planejamento urbano, comprovando a nossa hipótese
principal da pesquisa. A importância da hidrologia (ciência que trata das águas,
suas propriedades, leis, fenômenos e distribuição, na superfície e abaixo da
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 7 Considerações Finais
137
Figura 112 Esquema de um ciclo de projeto considerando a paisagem no planejamento
urbano.
Elaboração: Soraia L. Porath
superfície da Terra) e sua contribuição ao planejamento territorial urbano vem
sendo relegado ao segundo plano, não sendo considerada como um fator
relevante na orientação da ocupação e uso do solo urbano, uma vez que
problemas advindos da urbanização são crescentes.
Em geral, a elaboração de planos de ocupação do solo sem levar em
consideração a forma do terreno tinha como base o desejo de fazer prevalecer o
conhecimento do ser humano, onde não se admitia a hipótese de alterar os
traçados e projetos urbanísticos em vista de um condicionante físico. A falta de
consideração da hidrologia urbana no planejamento fica evidente quando todos
esses problemas citados anteriormente não só continuam existindo como são
agravados a cada dia.
7.2. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O planejamento da paisagem nunca foi tarefa fácil e passou, nos últimos
tempos, a ter ampliado sua complexidade pelo processo de urbanização cada vez
mais veloz. Um bom planejamento resulta de ações de equipes multi e
interdisciplinares (administradores, políticos, arquitetos, engenheiros e
profissionais das mais diferentes áreas) preocupadas com a paisagem a planejar.
Isso porque, no planejamento integrado, devem ser considerados todos os
fatores: geológicos, biológicos e físicos de um ambiente, considerando suas
ações conjuntas, além das estruturas sócio-econômicas que a compõem. A
imagem estética, a paisagem da cidade, nem sempre passa pelo respeito às
questões ambientais, a Figura 112 mostra a situação ideal de um ciclo de projeto.
Em se tratando de rios urbanos, é preciso considerar os aspectos
ambientais e paisagísticos no planejamento urbano considerando que o plano
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 7 Considerações Finais
138
deverá ser um instrumento da política de desenvolvimento urbano, rural e
ambiental que assegure:
§ a preservação e a recuperação do meio ambiente;
§ a valorização do contexto paisagístico da cidade;
§ o aproveitamento dos recursos naturais de modo ecologicamente
equilibrado e socialmente justo;
§ a utilização racional da infra-estrutura urbana existente, bem como sua
expansão;
§ a proteção do patrimônio artístico, cultural, histórico e espiritual,
importantes para a identidade da comunidade;
§ o entendimento às necessidades básicas do cidadão;
§ o aumento da saúde e segurança da cidade e de seus vizinhos;
§ a defesa de um sistema de auto-regulação e avaliação participativa;
§ o incentivo à implantação e manutenção das atividades econômicas que
promovam o desenvolvimento sustentável;
§ a educação social responsável e a integração regional planejada.
Afirmamos que as divisões administrativas municipais não são
competentes para enfrentar isoladamente questões que extrapolam suas
fronteiras. De nada adianta um município ter uma atitude conservacionista em
relação ao ambiente, se outros municípios próximos poluem as mesmas fontes de
recursos. No caso de rios urbanos, os Comitês de Bacias Hidrográficas são o
fórum ideal para se discutir as questões urbano-ambientais, estabelecendo
condições para o alcance da sustentabilidade.
A consciência ambiental, o conhecimento técnico, e a vontade política de
realizar obras adequadas são fatores preponderantes na valorização dos rios
urbanos. A caracterização ambiental pode ser um dos fatores determinantes na
adoção de novas diretrizes urbanas, como por exemplo, a simples adoção da
faixa non aedificandi de um corpo d’água pode colaborar para a sua valorização.
A presença da mata ciliar nos centros urbanos é uma solução natural para
proteger as margens dos rios e mostra-se apropriada e muito mais econômica do
que as soluções de engenharia. A mata ciliar deve ser entendida como um
pulmão para a cidade e para a fauna pois é a vegetação é um bem social
necessário e que pode ser encarado como um dos indicadores de civilização e
qualidade de vida.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 7 Considerações Finais
139
Figura 113 Rios urbanos como espaços livres públicos de recreação e lazer.
Elaboração: Soraia L. Porath
As margens dos rios e córregos devem ser aproveitados para a criação de
parques e o leito do rio, quando possível, deve ser utilizado para a finalidade de
navegação como ocorre nas cidades européias e norte-americanas. Essas
margens também devem possibilitar o contato visual da população com as águas
do rio e fazer do rio um espaço livre público para recreação e lazer (Figura 113).
Ressaltamos que a presente pesquisa não se opõe à urbanização, mas
observamos a necessidade de que este processo se desenvolva levando em
consideração o ciclo hidrológico, a presença dos rios nos centros urbanos e suas
várzeas. Com isto, será possível antever parte dos problemas, muitas vezes
evitando-os e prevenindo-os, ou seja, a ocupação do espaço será realizada de
maneira mais harmônica com o meio, respeitando os limites do ambiente e
reduzindo os problemas e prejuízos causados pelo conflito entre as necessidades
antrópicas e a dinâmica ambiental.
Ao longo dessa pesquisa, vimos vários exemplos de inserção urbana no
meio físico e destacamos que, em relação ao estudo de caso, são necessárias
soluções integradas, tanto de manutenção dos aspectos naturais quanto obras de
engenharia para se valorizar o Rio Itajaí-Açu na paisagem urbana de Blumenau.
Além disso, destacamos que as cidades que exploram o potencial do
armazenamento das cheias e o tratamento das águas dos terrenos alagadiços
demonstram como parques e áreas verdes podem servir para vários usos e
melhorar a qualidade da paisagem, em reservatórios artificiais.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 7 Considerações Finais
140
É necessária muita cautela nos projetos entorno de rios urbanos e em
áreas de fundos de vale, como no caso do Rio Itajaí-Açu e a cidade de Blumenau
que se desenvolveu debruçada às suas margens. Mas, então, como proceder? O
que fazer para que os rios não se tornem uma paisagem esquecida e ignorada no
desenvolvimento das cidades às suas margens?
Como resposta a essas indagações, destacamos e recomendamos, tanto
para o Rio Itajaí-Açu em Blumenau quanto para outros rios urbanos que:
§
o planejamento e projeto de rios urbanos devem ser realizados em escala
regional, ou seja, a partir de bacias hidrográficas e por equipes
interdisciplinares;
§ a visibilidade e o acesso público são uns dos importantes critérios de
projeto para valorização dos rios urbanos;
§ a legislação deve ser amplamente divulgada e fiscalizada;
§ a mata ciliar deve ser preservada e quando houver recuperação de matas
ciliares degradadas, deve-se implantar a vegetação adequada para cada
região, segundo classificações de especialistas;
§ as extrações de areia devem ser realizadas somente na calha dos rios que
suportam esta ação e rigorosamente fiscalizadas;
§ deve-se impedir a impermeabilização das margens dos rios;
§ a construção de pontes permite a visibilidade ao rio e consequente
valorização;
§ no caso de urbanização em fundos de vale, a faixa de preservação deve
ser respeitada e após essa área, as construções devem voltar-se para os
rios e não tratá-los como fundo de lote e local de despejos;
§ a construção de ruas e avenidas devem ser realizadas em áreas livres de
enchente que permitem o contato visual com o rio;
§ a criaç ão de parques nas várzeas do rio permite que as enchentes
invadam suas áreas, funcionando como uma faixa de proteção para a
cidade;
§ as ocupações das margens devem ser restritas, como por exemplo,
equipamentos de lazer e recreação;
§ seja implantado um sistema de tratamento de efluentes nas diversas
cidades da bacia hidrográfica;
§ deve-se incentivar a navegabilidade e o turismo fluvial.
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 7 Considerações Finais
141
Infelizmente sabemos que a realidade brasileira mostra-se oposta a tal
nível de idealização e esses pressupostos dificilmente são aplicados na prática
dos rios em centros urbanos. Por esse motivo, esse trabalho conclui revelando a
importância de realizarmos pesquisas e estudos voltados para a questão do
desenho e da paisagem evidenciando que rios são condicionantes de projeto e
seu potencial deve ser aproveitado.
Cada intervenção no desenho, na configuração dos elementos da
paisagem conduz a uma resposta do meio ambiente. Por isso, os estudos
realizados sobre o desenho urbano e a paisagem devem servir como base para o
planejamento urbano, incorporando e valorizando os nossos rios e desta forma,
contribuir para uma melhor intervenção no espaço.
Esperamos que essa pesquisa sobre a paisagem de rios urbanos, através
da análise da transformação da paisagem do Rio Itajaí-Açu, possa servir de alerta
para a população e para os órgãos públicos, no sentido de repensar o desenho
urbano no entorno dos rios. Além disso, que esse estudo possa contribuir para as
próximas legislações, seja municipal, estadual e/ou federal, no sentido de
valorizar a paisagem dos rios e suas peculiaridades em diferentes regiões do
país, e ainda instigar os novos pesquisadores para a questão dos rios urbanos.
142
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CAPÍTULO
8
8.1. LIVROS E PERIÓDICOS
8.2.
LEGISLAÇÕES MUNICIPAIS
8.3. ENDEREÇOS ELETRÔNICOS
A Paisagem de Rios Urbanos. A presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau.
Capítulo 8 Referências Bibliográficas
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