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VÍTOR BARALDI THOMAZINE
Adaptabilidade diferencial das variantes moleculares “slow” e
fast” da esterase-5 de Drosophila mulleri
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ii
Thomazine, Vítor Baraldi.
Adaptabilidade diferencial das variantes moleculares “slow” e “fast”
da esterase-5 de Drosophila mulleri. / Vítor Baraldi Thomazine. - São
José do Rio Preto : [s.n.], 2007.
51 f. : il. ; 30 cm.
Orientador: Carlos Roberto Ceron
Co-orientador: Gustavo Orlando Bonilla Rodríguez
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas
1. Drosofila. 2. Esterases. 3. Aloenzimas - Purificação. 4.
Drosophila mulleri. I. Ceron, Carlos Roberto. II. Bonilla-Rodríguez,
Gustavo Orlando. III. Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas. IV. Título.
CDU - 575
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iii
VÍTOR BARALDI THOMAZINE
Adaptabilidade diferencial das variantes moleculares “slow” e “fast” da esterase-5 de
Drosophila mulleri
Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre
em Genética, área de Genética junto ao Programa de Pós-
Graduação em Genética do Instituto de Biociências, Letras
e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Carlos Roberto Ceron
Professor Assistente Doutor
UNESP - São José do Ro Preto
Orientador
Prof. Dr. Hamilton Cabral
Professor Doutor
Universidade de São Paulo
Prof
a
. Dr
a
. Fátima Pereira de Souza
Professor Assistente Doutor
UNESP - São José do Rio Preto
São José do Rio Preto, 29 de fevereiro de 2008
iv
O presente trabalho foi realizado nos laboratórios de Genética Bioquímica, Bioquímica de
Proteínas e Genética de Populações do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
(IBILCE) de São José do Rio Preto, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), sob a
orientação do Prof. Dr. Carlos Roberto Ceron e co-orientação do Prof. Dr.Gustavo Orlando
Bonnila-Rodríguez, com o auxílio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES).
v
Dedico
Aos meus pais, Anibal e Maria Helena,
ao meu irmão, Renan,
à minha namorada, Andresa,
e a todos os meus amigos.
vi
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Ceron, pela orientação, amizade e respeito
desde o estágio básico.
Ao Prof. Dr. Gustavo Orlando Bonnila-Rodríguez, pela co-orientação.
À Eliani, técnica do laboratório, por toda a ajuda e paciência no
laboratório.
Ao Prof. Dr. Eduardo Alves de Almeida pela ajuda com os ensaios
enzimáticos.
Aos meus amigos de laboratório, pela ajuda e companhia nesta jornada.
Aos meus amigos de república e de pós-graduação.
À Capes, pelo auxílio financeiro.
À minha namorada Andresa, pelo incentivo, carinho e compreensão.
À minha família, que é tudo em minha vida, sem a qual não estaria aqui.
À Deus,
Obrigado
vii
“Nada é tão contagioso como o entusiasmo.
Ele comove pedras. Encanta brutos.
A verdade é que nada se realiza sem ele;”
Grantland Rice
viii
RESUMO
Vários trabalhos na literatura têm discutido a importância dos polimorfismos
enzimáticos em relação ao estado de ser adaptado dos organismos. Nesse trabalho foram
estudadas algumas propriedades bioquímicas das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
de Drosophila
mulleri, que poderiam estar relacionadas às diferenças em valores adaptativos em indivíduos
que apresentam essas variantes enzimáticas. Os resultados sugerem que a aloenzima EST-5
S
apresenta maior resistência à desnaturação térmica e a agentes caotrópicos, bem como maior
atividade em altas concentrações salinas. Os resultados do experimento de produtividade a 29º
C mostram que os indivíduos homozigotos para o alelo Est-5
S
deixam mais descendentes que
os indivíduos homozigotos para o alelo Est-5
F
. Quanto as caractetísticas cinéticas, essas
aloenzimas não diferem de forma significante. Os valores de V
max
e K
m
obtidos para as
enzimas não purificadas foram, respectivamente, para a EST-5
S
: 32,54 µM/min e 1,43 mM, e
para a EST-5
F
: 33,34 µM/min e 1,54 mM. A purificação das aloenzimas foi obtida pela
separação em SDS-PAGE seguida da remoção dos géis, eluição em agitador magnético para a
difusão das enzimas e posterior concentração desse material em membrana filtrante de 50 kDa
(Millipore). O concentrado foi então analisado quanto à atividade esterásica e quanto à pureza
(SDS-PAGE). Ambas as aleloenzimas apresentaram uma massa molecular entre 66 e 68 kDa
para a subunidade, em SDS-PAGE. Os resultados do presente estudo não são concordantes
com a hipótese de neutralidade para a manutenção dos polimorfismos, tanto em populações
naturais como de laboratório, indicando a atuação da seleção natural sobre as aleloenzimas
estudadas.
ix
ABSTRACT
Several works in literature have discussed the importance of the enzymatic
polymorphisms in respect to the state of being adapted of the organisms. In this work, some
biochemical properties of Drosophila mulleri of the allozymes EST-5
S
and EST-5
F
, which
could be related to the differences in fitness values in individuals that present those enzymatic
variants, were studied. The results suggest that the EST-5
S
allozyme presents larger resistance
on the thermic denaturation and the chaotropics agents, as well as higher activity in elevated
salt concentrations. The results of the productivity experiment at 29°C show that the
homozygous individuals to the Est-5
S
allele let more offspring than the homozygous
individuals to the Est -5
F
allele. Regarding the kinetic characteristics, those allozymes do not
differ in a significant way. The K
m
and V
max
values obtained for crude extracts allozymes
were, respectively, to the EST-5
S
: 32,54 µM/min and 1,43 mM, and to the EST-5
F
: 33,34
µM/min and 1,54 mM. The purification of the allozymes was obtained by the separation on
SDS-PAGE followed by their removal from gels, elution in magnetic shaker for the diffusion
of the enzymes and concentration of this material in filtrant membranes of 50 kDa
(Millipore). The concentrated materials were then analyzed regarding to their enzymatic
activity and to the purity (SDS PAGE). Both allozymes presented subunit molecular weights
around 66 and 68 kDa on SDS PAGE. The results of the present study do not agree to
neutrality hypothesis for polymorphisms maintenance, in natural and laboratory populations,
indicating a natural selection action of the on the studied allozymes.
x
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELA
Figura 1 Gel não-desnaturante, corado especificamente para esterases, 18
ilustrando o padrão de bandas de indivíduos homozigotos e
heterozigotos para os alelos S e F do gene Est-5.
Figura 2 Gel não-desnaturante, corado especificamente para esterases, 19
com amostras pré-incubadas a temperatura de 50°C.
Figura 3 Gel não-desnaturante, corado especificamente para esterases, 20
com amostras pré-incubadas a temperatura de 55°C.
Figura 4 Gel não-desnaturante, corado especificamente para esterases, 21
com amostras pré-incubadas em uréia.
Figura 5 Gel não-desnaturante, corado especificamente para esterases, 22
com amostras pré-incubadas em NaCl.
Figura 6 Gel SDS-PAGE, corado com Nitrato de Prata, mostrando as 24
aleloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
purificadas.
Figura 7 Gel SDS-PAGE, corado especificamente para esterases, 25
mostrando a atividade catalítica das aleloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
purificadas sobre o substrato β-naftil-acetato.
Figura 8 Gel não-desnaturante, corado especificamente para esterases, 28
mostrando a ação do PMSF sobre a esterase-2 de D. mulleri.
Figura 9 Gráfico ilustrando a perda da atividade enzimática das amostras 29
pré-incubadas a temperatura de 50ºC.
Figura 10 Gráfico ilustrando a perda da atividade enzimática das amostras 29
pré-incubadas a temperatura de 55ºC.
Figura 11 Gráfico ilustrando a perda da atividade enzimática das amostras 30
pré-incubadas a temperatura de 60ºC.
Figura 12 Gráfico ilustrando a perda da atividade enzimática das amostras 30
pré-incubadas com uréia.
xi
Figura 13 Gráfico ilustrando a perda da atividade enzimática das amostras 31
pré-incubadas com NaCl.
Figura 14 Gráfico ilustrando a perda da atividade enzimática das amostras 31
em diferentes concentrações do triton X-100.
Figura 15 Gráfico ilustrando o perfil de pH das aleloenzimas da esterase-5. 32
Tabela 1 Produtividade média de descendentes por casal a 20 e 29 ºC para 32
as linhagens Est-5
S
e Est-5
F
.
Figura 16 Produtividade média de descendentes por casal a 20 (A) e 29ºC 33
(B) para as linhagens Est-5
S
e Est-5
F
.
.
.
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
pCMB Para-cloromercuriobenzoato.
bp Pares de bases nucleotídicas.
kDa Quilo dalton, medida de massa molecular.
PAGE Gel de poliacrilamida
SDS Dodecil sulfato de sódio
SDS-PAGE Gel de poliacrilamida com SDS
ASN Asparagina, aminoácido.
ASP Ácido Aspártico, aminoácido.
THR Treonina, aminoácido.
ALA Alanina, aminoácido.
xg Força centrífuga.
C Porcentagem de ligações cruzadas no gel, entre a bis-acrilamida e a acrilamida.
TRIS Tri(hidroximetil)aminometano.
HCl Ácido clorídrico.
PMSF Fluoreto de fenil metilssulfonila
DTNB Ácido 5,5’-dithiobis-2-dinitrobenzóico
xiii
SUMÁRIO
I. Introdução 1
I.1 O grupo repleta 1
I.2 Esterases como isoenzimas 2
I.3 O cluster das β-esterases 3
I.4 Polimorfismo no “cluster” das β-esterases do complexo mulleri 5
II. Objetivos 9
III. Material e Métodos 10
III.1 Obtenção e manutenção das moscas 10
III.2 Preparo das amostras 10
III.3 Quantificação da proteína total dos extratos brutos 10
III.4 Teste de resistência à temperatura 10
III.5 Teste de resistência a agentes desnaturantes 10
III.6 Efeito da concentração salina 11
III.7 Teste do efeito do triton X-100 12
III.8 Teste do pH 12
III.9 Mensuração da atividade catalítica 12
III.10 Padronização da Eletroforese 12
III.11 Detecção das esterases nos géis 13
III.12 Ação do fluoreto de fenil metilssulfonila (PMSF) sobre as
esterases de D. mulleri sulfonila (PMSF) 13
III.13 Ensaios enzimáticos 13
III.14 Eletroforese em gel de poliacrilamida com SDS (SDS-PAGE) 14
III.15 Metodologia de purificação das variantes da EST-5 14
III.16 Estudo da produtividade 15
IV. Resultados 16
IV.1 Análise comparativa da atividade enzimática das aloenzimas sobre
diferentes condições físico-químicas 16
IV.2 Purificação das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
23
xiv
IV.3 Ensaios enzimáticos após diferentes condições físico-químicas 26
IV.4 Caracterização Cinética 27
IV.5 Estudo da produtividade 27
V. Discussão 34
VI. Conclusão 41
Referências 42
Introdução
1
I - INTRODUÇÃO
I.1 - O grupo repleta
O grupo repleta do gênero Drosophila (Díptera; Drosophilidae) constitui um bom
modelo biológico para estudos evolutivos. Atualmente, este grupo compreende cerca de 100
espécies distribuídas nos subgrupos: fascíola, hydei, mercatorum, mulleri e repleta, dentre os
quais o subgrupo mulleri é o mais numeroso, contando atualmente com 44 espécies. Cada
subgrupo, por sua vez, tem sido subdividido em complexos e clusters. O conhecimento atual
sobre a filogenia do grupo repleta está baseado em dados morfológicos (Throckmorton,
1982a; Vilela, 1983), citológicos (Wasserman, 1982, 1992; Powell, 1997), aloenzimáticos
(Zouros, 1973; Richardson et al. 1975; Richardson e Smouse, 1976; Richardson et al. 1977;
Heed et al. 1990; Mateus e Sene, 2003) e moleculares (Sullivan et al.1990; Russo et al. 1995,
Spicer, 1995, 1996; Rodríguez et al. 2000; Durando et al. 2000; Tartarenkov e Ayala, 2001).
Como mencionado, dentro do grupo repleta o subgrupo mulleri é o mais numeroso
com 44 espécies. Este grupo apresenta cinco complexos de espécies, a saber: anceps,
eremophila, meridiana, mulleri e buzzatii. Por sua vez, o complexo mulleri reúne as espécies:
Drosophila arizonae, Drosophila mojavensis, Drosophila navajoa, Drosophila aldrich,
Drosophila whelleri e a espécie utilizada neste projeto, a Drosophila mulleri. Análises
filogenéticas moleculares confirmaram a solidez monofilética do complexo mulleri que
consiste de membros estritamente relacionados (Durando et al. 2000), o que faz com que esse
complexo seja muito utilizado para diversos estudos genéticos e evolutivos.
As espécies do grupo repleta ocupam diferentes habitats, mas sem dúvida, a
característica mais notável é a capacidade de utilizarem os cladódios em decomposição de
vários tipos de cactos neotropicais para realizar a ovoposição e se alimentar de leveduras
presentes nesses vegetais. Essa adaptação tem permitido às espécies do grupo ocuparem
desertos e as zonas áridas do Novo Mundo e facilitado a exploração de nichos desocupados,
permitindo uma rápida evolução e formação de novas espécies (Ruiz e Fontdevila, 1981;
Heed, 1982; Etges et al. 2001; Tidon-Sklorz e Sene, 2001). O grau de utilização dos tecidos
cactáceos é variado entre as espécies. Por exemplo, a maioria das espécies do subgrupo
mulleri utiliza as cactáceas como local de criação, chegando a ser indispensável à vida de
certas espécies como Drosophila mojavensis que é cactofílica restrita. as espécies do grupo
fascíola, hydei, mercatorum e repleta são generalistas, alimentando-se de outros frutos
vegetais (Pereira et al. 1983).
Introdução
2
I.2 – Esterases como isoenzimas
Isoenzimas podem ser definidas segundo a comissão de Nomenclatura Bioquímica da
IUPAC-IUB (International Union of Pure and Applied Chemistry and International Union of
Biochemistry), de 1977, “como múltiplas formas moleculares de uma enzima que ocorrem
dentro de uma única espécie, como resultado da presença de mais de um gene estrutural”. A
importância das isoenzimas do ponto de vista evolutivo, bioquímico e fisiológico, torna-se
evidente quando são analisadas algumas de suas características. Formas moleculares múltiplas
das enzimas são observadas em todos os organismos, podendo assim desempenhar uma
função específica no metabolismo em harmonia com outras enzimas no contexto celular. As
isoenzimas freqüentemente apresentam distribuições diferentes, tanto celular como tecidual, o
que confere versatilidade, flexibilidade e precisão em termos das várias funções metabólicas
desempenhadas pelos tecidos. A origem destas formas moleculares múltiplas pode ser
atribuída à presença de mais de um loco gênico, ou a mais de um alelo em um mesmo loco.
Assim, em ambos os casos, os produtos gênicos são diferentes, e no último caso, em
particular, as formas enzimáticas podem ser chamadas de aleloenzimas (ou aloenzimas). Esta
classe de isoenzimas é a responsável pelos polimorfismos enzimáticos observados em
populações naturais.
As aloenzimas apresentam diferentes padrões de mobilidade eletroforética resultantes
de diferenças alélicas e têm se constituído um excelente material para o estudo da questão da
adaptabilidade ou neutralidade dos polimorfismos, pois suas propriedades diferem entre os
indivíduos de uma mesma espécie ou entre populações que habitam diferentes ambientes.
As esterases encontram-se entre os sistemas enzimáticos que apresentam a maior
diversidade de função e formas isoenzimáticas. Presentes em todos os organismos, elas
compreendem um grupo multifuncional e heterogêneo de enzimas que participam da hidrólise
de ésteres e outros compostos. Nos insetos, estas enzimas estão envolvidas em vários
processos metabólicos, incluindo degradação de feromônios e do hormônio juvenil (Kort e
Granger, 1981; Jones et al. 1994; Rauschenbach et al. 1994), processos digestórios
(Sreerama
e Veerahadrappa, 1991; Kerlin e Hugues, 1992; Argentine e James, 1995) e reprodutivos
(Richmond e Senior, 1991; Mikhailov e Torrado, 2000). Uma função importante das
carboxilesterases nos insetos está relacionada à capacidade de metabolizar vários compostos
agroquímicos, incluindo piretróides, organofosforados e carbamatos (Spackman et al. 1994;
Gupta et al. 2005; Wheelock et al. 2005). Várias das esterases encontradas nos insetos são
Introdução
3
altamente polimórficas, o que justifica suas múltiplas atividades no metabolismo desses
organismos.
A classificação mais amplamente aceita para as esterases é baseada na sua
sensibilidade a três grupos de inibidores da atividade enzimática (Holmes e Máster, 1967
apud Oakeshott et al. 1993), incluindo os reagentes que se ligam a grupos sulfidrílicos (como
exemplo o para-cloromercuriobenzoato – pCMB ou iodoacetamida), os organofosforados
(exemplo: malathion) e carbamatos (como exemplo o sulfato de eserina). Com base neste
critério, quatro classes de esterases são diferenciadas:
. acetilesterases - não são afetadas pelos inibidores acima citados e geralmente têm maior
afinidade por substratos alifáticos, envolvendo derivados do ácido acético.
. arilesterase - são inibidas somente por reagentes que se ligam a grupos sulfidrílicos e atuam
principalmente sobre substratos aromáticos.
. carboxilesterases - são inibidas somente por organofosforados e sua maior afinidade é por
ésteres alifáticos, geralmente ácidos de cadeias longas.
. colinesterases - são inibidas por organofosforados e carbamatos, e atuam preferencialmente
sobre substratos como ésteres de colina a outros ésteres alifáticos e aromáticos. Podem ser
separadas em acetilcolinesterases e pseudocolinesterases.
I.3 – O cluster das β-esterases
Como já observado, os organismos multicelulares utilizam um amplo conjunto de
enzimas para desempenhar as mais diversas funções bioquímicas, e essas enzimas são, em
geral, resultantes da evolução das famílias de multigenes. É suposto que a evolução dessas
famílias tenha ocorrido por meio da duplicação gênica e posterior divergência do gene
duplicado, que adquire novas funções. As esterases compreendem um sistema isoenzimático
que exemplifica esse processo. uma significativa similaridade entre as carboxilesterases e
colinesterases de eucariotos seqüenciadas, que podem ser agrupadas em uma família
multigênica denominada carboxil/colinesterase. Essa família engloba todas as esterases de
Drosophila seqüenciadas até o momento. A família das carboxil/colinesterases pode ser
incluída dentro de uma superfamília chamada α/β hidrolases. Esta inclui também as lipases e
algumas arilesterases de bactérias, que apresentam algumas semelhanças na estrutura terciária
e na seqüência de aminoácidos (revisão em Oakeshott et al. 1993) e parecem apresentar um
ancestral comum.
Introdução
4
Em Drosophila, e outros organismos, dois grupos de esterases podem ser distinguidos
com base no substrato hidrolisado in vitro, o grupo das α-esterases e o grupo das β-esterases,
que hidrolisam preferencialmente os substratos sintéticos α-naftil e β-naftil acetatos,
respectivamente. Alternativamente, essas enzimas atuam sobre o α e o β-naftil propionato ou
α e o β-naftil butirato. Em Drosophila, o grupo das α-esterases inclui carboxilesterases,
colinesterases e acetilesterases. O grupo das β-esterases é constituído somente por
carboxilesterases, entretanto, Mateus (1997) detectou a presença de acetilesterases,
características da fase larval, em espécies do complexo mulleri.
O grupo das β-esterases tem sido intensivamente estudado no gênero Drosophila,
desde a estrutura e função das enzimas até a estrutura, organização e regulação de seus genes.
Vários estudos correlacionam a EST-6 de D.melanogaster com diferentes ß-esterases em
outras espécies de Drosophila, sugerindo uma provável homologia entre a EST-6 e estas
esterases. Homologia de seqüências nucleotídicas também foi observada para a Est-6
de D.
melanogaster
e a Est-5 de Zaprionus indianus, uma ß-carboxilesterase detectada
principalmente nos machos desses drosofilídeos (Paulino, 2008). Brady et al.
(1992)
observaram uma similaridade de 73% nas seqüências codificadoras para os genes Est-6 de D.
melanogaster e Est-5b de D. pseudoobscura. A comparação destas seqüências indicou a
distribuição de 2 exons intercalados por um intron, de 55bp no caso de D. pseudoobscura,
localizado na mesma posição do intron de 51bp observado em D. melanogaster. Entretanto, as
enzimas correspondentes (EST-6 e EST-5) mostram claras diferenças quanto à estrutura
quaternária e ao padrão de expressão tecidual. A EST-5 de D. pseudoobscura é um dímero de
100kDa, expressa-se em altas concentrações durante o desenvolvimento e é encontrada nos
olhos e na hemolinfa de adultos de ambos os sexos. A EST-6 é um monômero de 62kDa, se
expressa primariamente em machos adultos de D. melanogaster e sua atividade é encontrada
apenas em ductos ejaculatórios. na maioria das espécies do grupo repleta avaliadas até o
momento, observa-se pelo menos duas β-esterases que tem estrutura dimérica, sendo uma
presente em todas as etapas do desenvolvimento e a outra restrita à fase larval, como a EST-1
(todo o ciclo) e EST-J (larval) de D. buzzatii (East, 1982), ou EST-5 (todo o ciclo) e EST-4
(fase larval) de D. mojavensis (Zouros et al. 1982; Pen et al. 1986) e em D. arizonae e D.
mojavensis (Mateus et al. 2008).
A genética clássica e o avanço das técnicas moleculares permitiram a localização
cromossômica dos genes responsáveis pela codificação das β-carboxilesterases. Esses genes
estão organizados em “clusters”, assim como os genes de outras esterases em Drosophila e
mesmo em outros organismos. Em espécies de Drosophila, o grupo das
β-carboxilesterases
Introdução
5
inclui dois ou três genes ligados, organizados em “clusters” (Oakeshott et al. 1993). Na maior
parte das vezes, estes genes estão estreitamente ligados e orientados na mesma direção. Assim
admite-se que tenham surgido por duplicação. Um modelo de duplicação foi proposto por
Brady et al. (1990) e Brady e Richmond (1992) em D. pseudoobscura e D. melanogaster.
Nesse modelo, uma primeira duplicação, no loco, teria ocorrido antes da divergência entre D.
pseudoobscura e D. melanogaster, provavelmente entre 20 e 40 milhões de anos atrás. Essa
duplicação teria originado os genes Est-5A e Est-5B em D. pseudoobscura e Est-P e Est-6 em
D. melanogaster, que codificam a esterase larval e aquela presente em todo o ciclo,
respectivamente em cada espécie. a Est-5C teria se originado por meio de uma duplicação
mais recente de Est-5B em D. pseudoobscura. Segundo Brady e Richmond (1992), a
duplicação que originou Est-5A e Est-5B em D. pseudoobscura, e Est-P e Est-6 em D.
melanogaster, deve ser a mesma que originou os genes para a esterase larval e de todo o ciclo
nos outros grupos de espécies de Drosophila. Seria improvável que essas duplicações
tivessem ocorrido independentemente uma da outra e, portanto, esses dois genes deveriam
estar presentes em uma espécie de Drosophila ancestral, comum à maioria, senão a todas as
espécies que atualmente apresentam esses genes duplicados.
Estudos que visam detectar uma grande parcela de atividade esterásica em insetos
podem certamente contribuir para um entendimento mais completo destas enzimas do ponto
de vista genético. Entre esses trabalhos devem ser citados os de Ritz (1997), com Megaselia
scalaris, de Castiglioni-Ruiz et al. (1997), com Hematobia irritans, de Lapenta et al. (1995,
1998), que utilizaram o padrão de esterases para estabelecer relações de proximidade entre as
linhagens de Drosophila serido e posteriormente utilizaram o padrão de esterases para
caracterizar as espécies do “cluster” buzzati, de Nascimento e Bicudo (2002) com espécies de
Drosophila do subgrupo saltans (grupo saltans) e de Lima-Catellani et al. (2004) com Aedes
aegypti.
I.4 – Polimorfismo no “cluster” das β-esterases do complexo mulleri
Nas espécies de Drosophila do complexo mulleri, uma esterase com especifidade para
o β-naftil acetato se destaca do conjunto de outras esterases encontradas nesses organismos.
Esta enzima foi previamente estudada em espécies do complexo mulleri, principalmente em
Drosophila mojavensis e em Drosophila arizonae, e em espécies relacionadas, sendo
designada esterase-5 por Zouros et al. (1982). A expressão do loco Est-5 foi detectada em
todo o ciclo de vida desses insetos, sendo a atividade da enzima correspondente (EST-5)
Introdução
6
detectada principalmente na hemolinfa e no corpo gorduroso. Uma segunda β-esterase,
denominada esterase-4 também foi encontrada em Drosophila mojavensis e outras espécies do
complexo mulleri (Zouros et al. 1982; Pen et al. 1984; Ceron, 1988; Mateus et al. 2008). A
esterase-4 é uma enzima exclusivamente larval detectada em larvas de instar e em pupas,
com menor atividade. Ambas, esterase-4 e esterase-5 são enzimas diméricas. Assim, os
indivíduos homozigotos, para os locos Est-4 e Est-5, apresentam enzimas com subunidades
idênticas, detectadas nos géis como uma única banda para cada enzima, enquanto os
indivíduos heterozigotos possuem enzimas formadas por subunidades idênticas e diferentes,
que em géis de poliacrilamida não-desnaturante são visualizados como três bandas, duas
bandas iguais a dos parentais homozigotos e uma banda híbrida intermediária a essas duas,
resultado da habilidade de formação de heterodímeros intralocus (Zouros et al. 1982).
Pen et al. (1986) purificaram a esterase-5 de Drosophila mojavensis, espécie
pertencente ao complexo mulleri, e a compararam com a esterase-4, previamente purificada
(Pen et al. 1984). A subunidade da esterase-4 apresentou um peso molecular entre 62 e 64
kDa sob SDS-PAGE, enquanto a subunidade da esterase-5 apresentou um peso molecular
entre 64 e 66 kDa. Zouros et al. (1982), por meio de várias evidências, haviam concluído
que essas enzimas são produtos de um evento de duplicação. Essas evidências foram
reforçadas pela análise da composição de aminoácidos da esterase-4 e 5, e determinação das
seqüências dos primeiros 40 aminoácidos da extremidade N-terminal dessas enzimas, as quais
se mostraram largamente idênticas (Pen et al. 1986).
Ceron (1988) isolou duas linhagens homozigotas para a esterase-5 de Drosophila
mulleri que mostraram diferentes velocidades de migração sob géis não-desnaturantes, cujos
alelos foram designados Est-5
S
(do inglês slow“: migração lenta) e Est-5
F
(de fast”:
migração rápida). Observou-se que nas populações de laboratório a freqüência do alelo Est-5
S
era de aproximadamente 70%, contra 30% do alelo Est-5
F
.
Em estudos populacionais posteriores, Lourenço et al. (2001) mostraram uma
adaptabilidade diferencial para os alelos Est-5
S
e Est-5
F
em Drosophila mulleri. Foram
estimados vários componentes do valor adaptativo para os genótipos Est-5
S
/Est-5
S
, Est-5
S
/Est-
5
F
(com o alelo F de origem materna), Est-5
F
/Est-5
S
(com o alelo S de origem materna) e Est-
5
F
/Est-5
F
. Doze componentes foram analisados, incluindo longevidade, produtividade e
viabilidade. Estes parâmetros foram usados para estimar o valor adaptativo total para cada
genótipo. O melhor valor adaptativo foi alcançado para os indivíduos portadores do genótipo
Est-5
S
/Est-5
S
(valor adaptativo de 1.000), seguido pelo valor adaptativo de 0.892 apresentado
pelo genótipo Est-5
F
/Est-5
S
, 0.863 para o Est-5
F
/Est-5
F
, e 0.842 para Est-5
S
/Est-5
F
. Estes
Introdução
7
resultados sugeriram uma maior adaptabilidade relativa do genótipo Est-5
S
/Est-5
S
, seguido
pelo heterozigoto Est-5
F
/Est-5
S
que possuía o alelo Est-5
S
de origem materna, o que é
incompatível com a predição de um polimorfismo neutro neste loco.
Dados da literatura reforçam a hipótese de adaptabilidade diferencial para as variantes
alélicas. Por exemplo, em Drosophila melanogaster a variante “slow” para a EST-6 é a mais
comum em localidades mais distantes do equador (Oakeshott et al. 1981; Bubliy et al. 1999).
em populações experimentais de Drosophila melanogaster, mantidas a 29°C,
iniciando-se com uma relação 1:1 dos alelos Est-6
S
e Est6
F
, houve um aumento da freqüência
do alelo S (Totskii et al. 1994). A seqüência completa de aminoácidos para as variantes S e F
da EST-6 de Drosophila melanogaster foi determinada, diferindo em 2 aminoácidos:
ASN/ASP na posição 237 e THR/ALA na posição 247, respectivamente para as aloenzimas F
e S. Essas duas trocas foram consideradas os sítios mais prováveis de seleção atuando sobre a
distribuição diferencial desses alelos em função da latitude (Cooke e Oakeshott, 1989). Estes
estudos também revelaram uma única variante aloenzimática de termoestabilidade, EST6
S
-8
dentro do grupo EST6
S
, que é muito mais comum que outras variantes, e pode ser produto de
um processo seletivo contemporâneo. Outros estudos correlacionam a alta variabilidade
genética de locos esterásicos em populações naturais de pássaros das espécies Parus major, P.
caeruleus e P. ater com um aumento do valor adaptativo desses indivíduos, permitindo o
aparecimento de resistência múltipla a vários componentes tóxicos, além da possibilidade de
utilização de novos recursos alimentares (Driesel et al. 2004).
Outros estudos relacionados à evolução molecular da EST-6 em D.melanogaster
mostraram que a distribuição diferencial desses alelos em função da latitude poderia ser
explicada pela interação de processos seletivos atuando nas suas regiões promotoras e
codificadoras (Balakirev et al. 2002). Estes estudos suportam a hipótese que a variação em
loco estrutural altamente polimórficos em populações naturais devem ser material para a
seleção natural, e esta variação deve ser mantida em populações pela força da seleção
balanceada. Ayala et al. (2002) em seus estudos, da mesma forma, obtiveram evidências
indicando que a seleção direcional e a balanceadora estariam impactando separadamente a
região promotora e codificante do loco Est-6. Estes estudos também revelaram um pico de
polimorfismo silencioso próximo das duas substituições codificantes do polimorfismo,
ASN/ASP na posição 237 e THR/ALA na posição 247, o qual não é consistente com a
predição da teoria neutra da evolução molecular.
A comparação das seqüências nucleotídicas e de aminoácidos entre proteínas
homólogas de espécies diferentes, e de variantes protéicas dentro de uma mesma espécie
Introdução
8
fornece elementos para entendermos suas relações evolucionárias interespecíficas bem como
as diferenças em valores adaptativos entre os indivíduos de uma espécie. Além disso,
caracterizações bioquímicas e comparações entre as linhagens homozigotas para essas
variantes são importantes no fornecimento de informações sobre a questão da adaptabilidade
diferencial das isoenzimas. Esse foi o objetivo do presente trabalho, com base na
caracterização bioquímica e em estudos de produtividade, envolvendo as linhagens
homozigotas da Est-5
S
e Est-5
F
de D. mulleri para o reforço, ou não, da questão da
adaptabilidade diferencial dessas variantes enzimáticas.
Objetivos
9
II - OBJETIVOS
a) Verificar e comparar a atividade das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
de extratos brutos
de linhagens homozigotas de Drosophila mulleri frente a vários parâmetros:
temperatura, agentes desnaturantes, efeito da concentração salina e variação do pH;
b) Purificar, identificar e seqüênciar os fragmentos N-terminais das aleloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
para a construção de oligonucleotídeos iniciadores, visando o
sequênciamento do gene e, desta forma, estabelecer as diferenças em suas seqüências
nucleotídicas e de aminoácidos;
c) Caracterizar cineticamente as aloenzimas para tentar ajudar na diferenciação dessas
variantes alelonzimáticas em Drosophila mulleri.
d) Mensurar e comparar a produtividade das linhagens homozigotas da esterase-5 de
D.mulleri em diferentes temperaturas
e) Correlacionar os dados obtidos nos itens acima para o reforço, ou não, da questão da
adaptabilidade diferencial dessas variantes enzimáticas em D. mulleri.
Material e Métodos
10
III - MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado no Laboratório de Genética Bioquímica e no Laboratório de
Bioquímica de Proteínas do Departamento de Química e Ciências Ambientais. Também foi
utilizado o Laboratório de Populações do Departamento de Biologia da UNESP, campus de
São José do Rio Preto.
III.1 - Obtenção e manutenção das amostras
Duas linhagens de Drosophila mulleri foram utilizadas: a linhagem Est-5
S
que
é
homozigota para o alelo que codifica a isoenzima EST-5
S
, de migração mais lenta, e a
linhagem Est-5
F
, homozigota para o alelo que codifica a isoenzima EST-5
F
, de migração mais
rápida em relação ao ânodo. As duas linhagens foram mantidas no Departamento de Biologia
da UNESP, campus de São José do Rio Preto, em garrafas de vidro de 250 mL, contendo
meio de banana-ágar, em câmaras de temperatura constante a 25°C, com fotoperíodo de
aproximadamente 12 horas. As culturas-estoques das moscas foram mantidas por meio de
repiques a cada 25 dias.
III.2- Preparo das Amostras
Para verificação das possíveis diferenças entre as aleloenzimas da esterase-5, estas
foram submetidas a tratamentos físicos e químicos (temperaturas, agentes desnaturantes, entre
outros) que serão descritos nos itens.III.4 a III.9. Para cada experimento foi feito um extrato
bruto recém-preparado, que consistiu em um total de 15 moscas macerado em tampão TRIS-
HCl 0,5M pH 8,8 contendo glicerol a 12% e azul de bromofenol a 0,01%. O macerado foi
centrifugado a 10.000xg a 4°C por 5 minutos e, em seguida, o sobrenadante de cada uma das
amostras foi submetido aos tratamentos específicos.
III.3 - Quantificação da proteína total dos extratos brutos e amostras purificadas
Com o intuito de garantir que os extratos e proteínas purificadas das linhagens Est-5
S
e
da Est-5
F
de Drosophila mulleri, aplicados nos géis e utilizados nos ensaios enzimáticos,
apresentassem a mesma concentração de proteínas totais, determinamos a concentração das
mesmas, utilizando-se o método de Bradford (1976).
Material e Métodos
11
III.4 - Teste de resistência à temperatura
Nestes experimentos foram realizadas pré-incubações dos sobrenadantes dos
extratos brutos em diferentes temperaturas. Os sobrenadantes foram mantidos às temperaturas
de 50° e 55° C, em banho-maria, por 5, 10 e 15 minutos. Após esses procedimentos, os
sobrenadantes foram submetidos à eletroforese e à coloração usual. Neste experimento, as
amostras controles permaneceram incubadas em gelo durante o tratamento das amostras. O
teste de temperatura foi repetido com 50 e 55° C, pré-incubando-se também os extratos brutos
à temperatura de 60°C. Além disso, foi adicionado o tempo de pré-incubação de 20 minutos,
após esses tratamentos, as amostras foram analisadas quanto à atividade esterásica por meio
do ensaio enzimático específico para carboxilesterase.
III.5 - Teste de resistência a agentes desnaturantes
A observação do efeito de agentes desnaturantes sobre a atividade das aleloenzimas foi
realizada pré-incubando-se os extratos brutos das aleloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
a uma
concentração de uréia 2 M, nos tempos de 10, 20, 30, 45 e 60 minutos a 37° C. As amostras
controle foram pré-incubadas em tampão sem uréia por 60 minutos a 37° C. Após esses
procedimentos, as amostras foram submetidas à eletroforese não desnaturante, seguida da
coloração específica das esterases, para a visualização da atividade enzimática das
aloenzimas. O teste de resistência a uréia foi repetido pré-incubando-se os extratos brutos a
uma concentração de 2 M de uréia por 5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos a 37° C, e, após esses
tratamentos, as amostras foram analisadas quanto a atividade esterásica por meio do ensaio
enzimático específico para carboxilesterase.
III.6 - Efeito da concentração salina
O experimento com o cloreto de sódio foi realizado pré-incubando-se os extratos
brutos das aloenzimas com NaCl na concentração de 2,5 M por 15 minutos à 37°C, sendo
que, neste experimento, ambas aloenzimas foram misturadas. Após este tratamento, o extrato
bruto das aloenzimas misturadas foi utilizado para a eletroforese. Neste experimento, as
amostras controles foram pré-incubadas sem o NaCl por 15 minutos à 37°C. A análise do
efeito da concentração salina foi repetida pré-incubando-se os extratos brutos a uma
Material e Métodos
12
concentração de 2,5 M de cloreto de sódio por 10, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos a 37° C, e, após
esse tratamento, as amostras foram analisadas quanto a atividade esterásica por meio de
ensaio enzimático específico para carboxilesterases.
III.7 – Teste do efeito do triton X-100
Neste experimento não houve pré-incubação do extrato bruto. O triton X-100 foi
diluído no tampão de homogeinização do ensaio enzimático nas concentrações de 0,01; 0,1; 1;
2 e 5 %. Portanto, no experimento com triton X-100, a atividade enzimática das aleloenzimas
foi mensurada apenas por meio dos ensaios enzimáticos.
III.8 - Teste do pH
Neste experimento, como no item III.8, não houve pré-incubação do extrato bruto. A
mudança do pH foi realizada através da mudança do tampão de homogeinização para tampões
com os seguintes pHs: 5,4; 5,7; 6,2; 6,5; 7,0; 7,5 e 8,5. Para cada pH foi preparado um branco
da reação Portanto, nos experimentos com variação de pH, a atividade enzimática das
aleloenzimas foi mensurada apenas por meio dos ensaios enzimáticos.
III.9 – Mensuração da atividade catalítica
Após os tratamentos, descritos acima, a atividade enzimática foi mensurada de duas
formas: através da visualização da atividade catalítica das aleloenzimas sobre géis não
desnaturantes, após a coloração específica das esterases, como será descrito no item III.10 e
III.11, e por meio de ensaio enzimático específico para carboxilesterases, que será descrito no
item III.13.
III.10 - Padronização da Eletroforese
Após os tratamentos, os sobrenadantes foram utilizados para a eletroforese em géis de
poliacrilamida a 10% (C = 5%), confeccionados com tampão TRIS-HCl 1,5 M pH 8,8. A
corrida eletroforética foi de 3 horas e meia a uma voltagem constante de 180V, com tampão
da cuba TRIS-glicina 0,1M pH 8,3, seguida da coloração específica para as esterases como
será descrito no item III.11.
Material e Métodos
13
III.11 - Detecção das esterases nos géis
Após a eletroforese, os géis foram pré-incubados numa solução de tampão fosfato
0,1M, pH 6,2 por 40 minutos. Ao término da pré-incubação, os géis foram submetidos à
coloração em 50 mL de tampão fosfato 0,1M pH 6,2 contendo 20 mg de alfa-naftil-acetato e
20 mg de beta-naftil-acetato como substratos das enzimas, 60 mg de Fast Blue RR, e 5 mL de
n-propanol. O Fast Blue acopla-se com o produto da reação das esterases (alfa ou beta naftol)
formando um precipitado que é visualizado nos géis com bandas pretas, no caso das α-
esterases, ou vermelhas, no caso das esterases específicas para o beta-naftil-acetato (β-
esterases). O propanol foi adicionado para melhorar a visualização das bandas no gel. O
tempo de coloração foi o menor possível para ressaltar as diferenças entre as aloenzimas
submetidas aos diferentes tratamentos. Após a coloração o gel foi transferido para a solução
descorante contendo: água, ácido acético, e etanol comercial, na proporção de 3: 1: 3, mais
12% de glicerina comercial, e submetido à secagem de acordo com Ceron et al. (1992).
III.12 - Ação do fluoreto de fenil metilssulfonila (PMSF) sobre as esterases de D. mulleri
Extratos brutos das linhagens homozigotas da esterase-5 de Drosophila mulleri foram
pré-incubados por 5 min à temperatura ambiente com o fluoreto de fenil metilssulfonila
(PMSF), numa concentração final de 1 mM. Em seguida, os extratos foram submetidos à
eletroforese em gel de poliacrilamida não desnaturante e a coloração usual para as esterases,
como descritos no item III.3, tendo como controle extratos brutos de ambas as linhagens sem
a pré-incubação com o PMSF.
III.13 – Ensaios enzimáticos
A atividade esterásica foi medida de acordo com Ellman et al. (1961). O feniltiocetato
foi usado como substrato para a carboxilesterase e monitorado pela liberação de tiol-derivados
em 412 nm. Os ensaios foram realizados em triplicata em tampão de homogeinização TRIS-
HCl 100 mM pH 8,0 com 1mM de DTNB, mais PMSF 1mM. A reação catalítica foi
mensurada por 1 min. Brancos sem substrato ou amostras foram incubadas em 25˚C por 5 min
para calcular a reação-cruzada endógena com o DTNB. Os ensaios começaram pela adição do
substrato. As atividades específicas foram expressadas em U mg proteína
-1
; 1 U é a quantia
de enzima que hidrolisa 1 µmol de substrato por min. A concentração de proteínas dos
Material e Métodos
14
extratos brutos foi determinada de acordo com o Método de Bradford (1976). Nestes
experimentos foi utilizado um espectrofotômetro GBC Cintra 10
e
.
Os gráficos foram construídos através da utilização do programa computacional
Origin 6.0. A atividade catalítica foi determinada como porcentagem do controle sem o
tratamento físico ou químico. Nos gráficos, os valores foram representados pelas médias ±
desvio padrão(
±
S.D
) das leituras, em porcentagens.
Os experimento cinéticos dos extratos brutos das aleloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
foram
realizados fixando-se a concentração da enzima e aumentando a concentração do substrato.
Os valores cinéticos foram obtidos pelo mesmo programa computacional citado acima,
plotando-se os recíprocos dos valores das velocidades iniciais em função dos recíprocos da
concentração do substrato. Através deste gráfico, o gráfico de Lineweaver-Burk, foi possível
determinar os valores de V
max
e K
m
de ambas aloenzimas.
III.14 - Eletroforese em gel de poliacrilamida com SDS (SDS-PAGE)
A eletroforese em gel de poliacrilamida-SDS (SDS-PAGE) foi realizada em gel de
corrida a 11 % e o de empilhamento a 4% de concentração (Laemmli, 1970). Para a corrida
eletroforética foi preparado um tampão de corrida TRIS-HCl pH 8,3 com SDS a 1%. A
corrida foi realizada aplicando uma voltagem de 110V, por aproximadamente 2 horas e 30
minutos. As amostras foram preparadas com tampão TRIS-HCl 0,5M pH 6,8 contendo
glicerol a 10%, mais azul de bromofenol a 0,05%, mercaptoetanol a 0,715M e SDS a 2,5%
(Dodecil Sulfato de Sódio) e, além disso, as amostras foram fervidas por 5 minutos.
III.15 - Metodologia de purificação das variantes moleculares da EST-5
O método de purificação consistiu na separação em gel de poliacrilamida - SDS, como
descrito acima, de uma amostra contendo extrato bruto de aproximadamente 200 moscas, que
foram aplicadas em cinco géis. Neste caso, as amostras foram preparadas conforme o item
III.2. Os géis foram confeccionados com pentes que formaram um único e grande poço. Após
a corrida eletroforética, que nesse caso durou cinco horas, os cinco géis foram pré-incubados
por 40 minutos em 100 ml de tampão fosfato 0,1 M pH 6,2 mais 2,5 mL de triton X-100, para
a remoção do SDS, e renaturação das proteínas. Em seguida, os géis foram lavados em água
destilada até a retirada total do triton X-100, submetidos à coloração para identificação das
esterases e posterior remoção da enzima. Uma fina tira de gel na qual se visualizava a
Material e Métodos
15
atividade da esterase-5 (S ou F em cada caso) foi cortada e macerada em tampão TRIS-HCl
50 mM pH 8,0, colocado em um agitador a 4°C em geladeira por 12 horas para a difusão da
enzima do gel. Após esse procedimento, a solução foi filtrada e concentrada em membrana
filtrante de 50 kDa (Millipore). O concentrado foi então analisado quanto a proteínas totais
(SDS-PAGE) para a verificação da pureza das amostras. Neste caso, as amostras das enzimas
purificadas foram diluídas em tampão de amostra conforme descrito no item III.14. Também
foram utilizados marcadores de peso molecular com proteínas coloridas Rainbow
TM
na faixa
de 14.3 - 220 kDa (Amersham Pharmacia Biotech). A coloração usada para a detecção das
proteínas nos géis foi o Nitrato de Prata segundo o método de See (1989). Para verificação da
atividade, foi utilizado o mesmo procedimento da extração da enzima do gel, procedimento
este que preserva a atividade da enzima.
III.16 – Estudo da produtividade
Foram realizados cruzamentos por casal em tubos, contendo meio de cacto,
para ambas as linhagens, nas temperaturas de 20 e 29°C. Cinqüenta casais, formados por
indivíduos virgens com 7 dias foram mantidos em câmara de germinação tipo B.O. D. a 20 e a
29º C. Após seis dias, os casais foram descartados e os tubos que continham a progênie foram
mantidos na mesma temperatura até a eclosão dos descendentes. Contagens diárias do número
de machos e fêmeas recém-eclodidos nos cruzamentos em tubos foram realizadas durante 8
dias para ambas as linhagens nas duas temperaturas.
Resultados
16
IV – RESULTADOS
A EST-5 é uma carboxilesterase presente em todos os estágios do ciclo de vida de
Drosophila mulleri, indicando que desempenha funções importantes. Em eletroforese em géis
não desnaturantes, essa esterase é a enzima mais fortemente corada que apresenta atividade
preferencial pelo substrato sintético beta-naftil acetato, corando-se em vermelho. Além disso,
as aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
apresentam estrutura quaternária dimérica e em cruzamentos
entre indivíduos homozigotos, obtém-se, nos descendentes, um padrão eletroforético de três
bandas, característico da formação de uma enzima híbrida, resultante da agregação de uma
cadeia EST-5
S
com uma EST-5
F
(figura 1).
IV.1 Análise comparativa da atividade enzimática das aloenzimas sobre diferentes
condições físico-químicas.
Foram realizados vários experimentos com os extratos brutos contendo as
aleloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
em diferentes temperaturas, concentrações de uréia e NaCl. De
modo geral, observou-se que a aloenzima EST-5
S
sofre um menor efeito da temperatura, das
concentrações de uréia e NaCl sobre sua atividade, indicando uma maior estabilidade desta
isoenzima em relação a EST-5
F
. Nestes experimentos, comparou-se a atividade enzimática
das aloenzimas pela intensidade de coloração das bandas no gel. Também foi mantida a
mesma concentração de proteínas por amostra, em torno de 65 µg/uL.
Os resultados obtidos com os experimentos de temperatura foram os seguintes: a 50°C
(figura 2) notou-se uma atividade enzimática levemente maior para EST-5
S
, pois as bandas
desta aleloenzima estão levemente mais intensas. Na temperatura de 55°C (figura 3)
observou-se para as duas aloenzimas uma redução da atividade em função do tempo de pré-
incubação. Além disso, esta temperatura demonstrou que a EST-5
S
apresenta maior
resistência à desnaturação térmica que a EST-5
F
, pois como visualizado, no tempo de 5
minutos houve uma intensa atividade catalítica da EST-5
S
(colunas 2 e 3), enquanto nesse
mesmo tempo foi detectado uma menor atividade da EST-5
F
. no tempo de 10 minutos
(colunas 4 e 5) não foi detectada nenhuma atividade enzimática para a EST-5
F
, enquanto a
EST-5
S
mostrou-se ainda com alguma atividade, detectada pela coloração no gel.
O experimento de pré-incubação com uréia está exibido na figura 4. Da mesma forma,
notou-se uma maior resistência da aloenzima EST-5
S
à desnaturação pela uréia que a EST-5
F
,
pois esta teve a atividade reduzida no tempo de 10 minutos (coluna 2), perdendo totalmente a
Resultados
17
atividade catalítica no tempo de 20 minutos (coluna 3), enquanto a aleloenzima EST-5
S
apresentou sinal de desnaturação no tempo de 20 minutos, tornando-se inativa aos 30 minutos
(coluna 4).
Na figura 5, observa-se o resultado da pré-incubação das isoenzimas misturadas e
tratadas com cloreto de sódio à concentração de 2,5 M. Percebe-se, neste caso, que as
aleloenzimas têm a migração alterada pelo efeito do NaCl, por isso, migram menos que seus
respectivos controles. Um dos objetivos deste experimento era de verificar a dissociação das
subunidades e a consecutiva formação da aloenzima EST-5
S
/EST-5
F
, que seria a
representação de uma enzima híbrida, contudo, isso não foi observado. O resultado mais
relevante nesse experimento foi a comprovação da maior resistência da EST-5
S
sobre a sua
correlata EST-5
F
, perante o efeito salino, como pode ser observado pela intensidade de
coloração da banda nos géis.
Resultados
18
Figura 1: Imagem digitalizada de gel não-desnaturante, corado especificamente para
esterases, ilustrando o padrão de bandas apresentado por uma mosca da linhagem homozigota
Est-5
S
(coluna 1), da linhagem Est-5
F
(coluna 8), e por moscas heterozigotas resultantes de
cruzamentos entre moscas das linhagens acima citadas (colunas 2-7). Observa-se que a
amostra 8 é de um indivíduo homozigoto Est-5
F
e “alelo nulo” para o loco Est-2.
1 2 3 4 5 6 7 8
EST-5
F
EST-5
S
EST-5
S
/EST-5
F
EST
-
2
Resultados
19
A - B -
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7
Figura 2: Imagem digitalizada de gel não-desnaturante contendo amostras da linhagem Est-5
S
(A) e Est-5
F
(B), corado especificamente para esterases. As amostras foram pré-incubadas à
temperatura de 50°C nos tempos de 5 (colunas 2 e 3), 10 (colunas 4 e 5) e 15 minutos
(colunas 6 e 7). Amostras não tratadas (colunas 1-A e 1-B).
EST
-
5
F
EST-5
S
EST-2
Resultados
20
A - B -
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7
Figura 3: Imagem digitalizada de gel não-desnaturante contendo amostras da linhagem Est-5
S
(A) e Est-5
F
(B), corado especificamente para esterases. As amostras foram pré-incubadas à
temperatura de 55°C nos tempos de 5 (colunas 2 e 3), 10 (colunas 4 e 5) e 15 minutos
(colunas 6 e 7). Amostras não tratadas (colunas 1-A e 1-B).
EST-5
S
EST-5
F
EST-2
Resultados
21
A - B -
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
Figura 4: Imagem digitalizada de gel não-desnaturante contendo amostras da linhagem Est-5
S
(A) e Est-5
F
(B), corado especificamente para esterases. As amostras foram pré-incubadas em
uréia na concentração de 2 M nos tempos de 10 (colunas 2-A e 2-B), 20 (colunas 3-A e 3-B),
30 (colunas 4-A e 4-B), 45 (colunas 5-A e 5-B) e 60 minutos (colunas 6-A e 6-B). Amostras
não tratadas (colunas 1-A e 1-B).
EST-5
F
EST-5
S
EST-2
Resultados
22
1 2 3 4 5 6
Figura 5: Imagem digitalizada de gel não-desnaturante contendo amostras da
linhagem Est-5
S
e Est-5
F
submetida a uma pré-incubação com NaCl 2,5 M e corado
especificamente para esterases. Colunas 3, 4, 5, e 6 amostras EST-5
S
e EST-5
F
combinadas e pré-incubadas com NaCl por 15 minutos a 37° C. Coluna 1 e 2: amostra
EST-5
S
e EST-5
F
não tratadas.
EST-5
S
EST-5
F
EST-5
S
EST-5
F
EST-2
EST-2
Resultados
23
IV.2 – Purificação das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
.
Inicialmente, foram realizados testes de purificação das aleloenzimas utilizando-se
métodos clássicos. Ao redor de 8 gramas de moscas suspensas em 15 mL de tampão TRIS-
HCL 10 mM com 0,22 M de NaCl pH 7,5 foram trituradas com auxílio de um homogenizador
manual Power Gen 35 (Fischer Scientific), filtradas através de 4 camadas de gaze e
centrifugadas a 10.000 xg durante 45 minutos a 4°C em centrífuga refrigerada Jouan CR3i.
O material foi concentrado por centrifugação em concentradores Amicon Centricon 50
e submetido a cromatografias de exclusão de massa molecular em Sephacryl S-100 HR e em
Sephacryl S-300 HR e uma troca iônica em resina Q–Sepharose. Contudo, os resultados não
mostraram um grau de purificação satisfatório, em virtude do qual decidimos isolar a enzima
pelo método eletroforético descrito no item III. 16 de Material e Métodos.
A purificação das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
foi obtida através da remoção de
ambas de géis de poliacrilamida, contendo SDS. A visualização das enzimas purificadas foi
feita em gel de poliacrilamida SDS com a posterior coloração de prata. A figura 6 mostra
esses resultados, onde as aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
estão totalmente purificadas e
apresentam subunidades de mesma massa molecular, em torno de 66 e 68 kDa.
Para demonstrar que o material obtido continha de fato as aloenzimas EST-5
S
e EST-
5
F
purificadas, amostras do mesmo material foram submetidas à eletroforese em gel de
poliacrilamida SDS, porém, neste caso, as amostras foram diluídas em tampão de amostra
sem SDS e mercaptoetanol, e não foram fervidas (item III.2). Além disso, após a corrida
eletroforética, o gel foi pré-incubado em tampão fosfato com triton X-100 2,5 % para a
retirada do SDS e renaturação da enzima e, posteriormente, foi corado especificamente para
esterases. O resultado é visto na figura 7, onde pode ser observado as atividades das
aloenzimas purificadas EST-5
S
e EST-5
F
, utilizando-se o substrato β-naftil-acetato (colunas 2
e 3 da figura 7, respectivamente). Observa-se ainda, que as aloenzimas apresentaram
migrações distintas e que a EST-5
F
apresenta-se menos intensamente corada, provavelmente
devido à ação do triton.
Amostras das aloenzimas purificadas EST-5
S
e EST-5
F
foram encaminhadas para o
Laboratório Nacional de Luz ncronton - LNLS, no Laboratório de Espectrometria de
Massas, em Campinas, SP, para a identificação de alguns fragmentos de seqüências primárias.
Ainda não temos esses resultados disponíveis.
Resultados
24
Figura 6: Imagem digitalizada de gel de poliacrilamida-SDS, corado com Nitrato de Prata.
Coluna 1: marcador de peso molecular colorido Rainbow
TM
; coluna 2: amostra EST-5
S
purificada; coluna 3: amostra EST-5
F
purificada.
EST-5
F
EST-5
S
1 2 3
14.3 kDa
20.1 kDa
30 kDa
45 kDa
66 kDa
97 kDa
220 kDa
Resultados
25
1 2 3
Figura 7: Imagem digitalizada de gel de poliacrilamida-SDS, contendo amostras não
desnaturadas das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
purificadas, e, em seguida, corado
especificamente para as esterases. Coluna 1: marcador de peso molecular Rainbow
TM
; coluna
2: amostra EST-5
S
; coluna 3: amostra EST-5
F
.
EST-5
S
EST-5
F
220 kDa
97 kDa
66 kDa
45 kDa
30 kDa
14,3 kDa
20,1 kDa
Resultados
26
IV.3 – Ensaios enzimáticos após diferentes condições físico-químicas.
O processo de purificação não teve um bom rendimento em termos quantitativos, desta
forma, a atividade enzimática das aleloenzimas foi medida com os extratos brutos das
linhagens homozigotas da esterase-5 de Drosophila mulleri, acrescido de fluoreto de fenil
metilssulfonila (PMSF). O PMSF é um inibidor de serino-proteases e não tem ação sobre a
esterase-5. Como o ensaio enzimático usado neste trabalho é específico para
carboxilesterases, o uso deste composto foi necessário para inibir a esterase-2, uma α-esterase
que também apresenta atividade como carboxilesterase. A figura 8 evidencia a ação deste
inibidor.
Os resultados dos ensaios enzimáticos corroboram os resultados obtidos no item IV.1.
Nos dois experimentos foi avaliada a resistência das formas aloenzimáticas EST-5
S
e EST-5
F
à desnaturação térmica, a desnaturação por agentes caotrópicos e o efeito salino, a diferença
baseou-se na metodologia empregada para mensurar a atividade catalítica. Também foi
mantida a mesma concentração de proteínas por amostra, em torno de 65 µg/uL.
Os ensaios enzimáticos precedidos pela pré-incubação à temperatura de 50, 55 e 60ºC
estão mostrados respectivamente nas figuras 9, 10 e 11. Observa-se que nas três figuras as
aleloenzimas apresentam curvas semelhantes, demonstrando um padrão na perda da atividade
enzimática em função do tempo de pré-incubação. Contudo, a característica a ser ressaltada é
a predominância da curva da EST-5
S
sobre a EST-5
F
. Em todas as figuras, a atividade
catalítica é mostrada como porcentagem do controle sem o tratamento físico ou químico.
O efeito da uréia sobre atividade enzimática está demonstrado na figura 12.
Semelhantemente às curvas com o efeito da temperatura, as aleloenzimas tratadas com uréia
exibiram um padrão semelhante e gradativo de redução da atividade catalítica, porém, com
uma maior evidência da diferença de resistência das isoenzimas à desnaturação. Os resultados
do cloreto de sódio e do triton X-100 (figura 13 e 14, respectivamente) também mostraram
maior divergência entre as curvas das aleloenzimas. A queda abrupta da atividade catalítica da
EST-5
F
no tempo de 20 minutos e nas concentrações de 0,01 a 1% são conseqüências da
maior sensibilidade da EST-5
F
a estes compostos. Em ambos os casos, a diferença entre as
aloenzimas diminuiu no final com o aumento do tempo de pré-incubação e a concentração do
detergente.
O experimento realizado em diferentes pHs não mostrou diferenças no perfil de
atividades de ambas as aloenzimas. Na figura 15, observa-se que ambas as enzimas
Resultados
27
apresentam curvas de pH semelhantes, com atividade máxima na região alcalina e menor
atividade em pHs ácidos.
IV.4 - Caracterização Cinética.
Para a caracterização cinética foram realizados ensaios enzimáticos, conforme descrito
no item III.13. Com os valores das velocidades iniciais e concentração do substrato construiu-
se o gráfico de Lineweaver-Burk, obtendo-se para a EST-5
S
os valores de 32,54 µM/min de
V
max
e 1,43 mM de K
m
, e para a EST-5
F
os valores de 33,34 µM/min de V
max
e 1,54 mM de
K
m
.
IV.5 – Estudo da produtividade.
O resultado do estudo da produtividade para as linhagens homozigotas da esterase-5
nas temperaturas de 20 e 29°C está mostrado na tabela 1 e na figura 16 (A e B). A tabela 1
mostra a média do número total de descendentes por casal de ambas as linhagens nas duas
temperaturas, enquanto a figura 16 mostra a média de descendentes por casal por dia, a figura
16-A a 20°C e a figura 16-B a 29°C.
Observa-se na tabela, que as proporções de machos e fêmeas estão próximas do
esperado. Na temperatura de 20°C, a linhagem Est-5
S
produziu um total de 49,25% de machos
e 50,75% de fêmeas, enquanto a linhagem Est-5
F
produziu um total de 46,15% de machos e
53,85% de fêmeas. Na temperatura de 29°C, a linhagem Est-5
S
produziu um total de 47,3% de
machos e 52,7% de fêmeas, enquanto a linhagem Est-5
F
produziu um total de 51,35% de
machos e 48,68% de fêmeas.
Ainda na tabela 1, pode-se observar que na temperatura de 20°C houve uma
produtividade maior, de 30% em favor da linhagem Est-5
F
, em contrapartida, na temperatura
de 29°C a linhagem Est-5
S
deixou em torno de 50% a mais de descendentes que a linhagem
Est-5
F
. A figura 16 ilustra melhor essa diferença, mostrando a diferença por dia. Nesta figura
também pode-se perceber que a temperatura alta (figura 16-B) acelera o tempo de
desenvolvimento das moscas, que nos tubos mantidos a 29°C as moscas eclodiram nove
dias antes que aquelas mantidas a 20°C (figura 16-A).
Resultados
28
Figura 8: Imagem digitalizada de gel não-desnaturante, corado especificamente para
esterases, mostrando ação do PMSF sobre as esterases das linhagens Est
S
e Est
F
de D. mulleri.
Colunas 1-3 e 4-6: extratos brutos das linhagens Est
S
e Est
F
o tratadas com o PMSF
(controle). Colunas 7-9 e 10-12: extratos brutos das mesmas linhagens pré-incubados por 5
min a temperatura ambiente com PMSF 1 mM.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
EST-5
F
EST-5
S
EST-2
Resultados
29
0 5 10 15 20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
Atividade enzimática (%)
Tempo de pré-incubação (min)
AmostraS
AmostraF
Figura 9: Efeito do tempo de pré-incubação à temperatura de 50°C sobre a atividade das
aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
. As barras verticais indicam o desvio padrão. Os ensaios foram
realizados em triplicata.
0 5 10 15 20
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
Atividade enzimática (%)
Tempo de pré-incubação (min)
AmostraS
AmostraF
Figura 10: Efeito do tempo de pré-incubação à temperatura de 55°C sobre a atividade das
aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
. As barras verticais indicam o desvio padrão. Os ensaios foram
realizados em triplicata.
Resultados
30
0 5 10 15 20
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
Atividade enzimática (%)
Tempo de pré-incubação (min)
AmostraS
AmostraF
Figura 11: Efeito do tempo de pré-incubação à temperatura de 60°C sobre a atividade das
aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
. As barras verticais indicam o desvio padrão. Os ensaios foram
realizados em triplicata.
0 5 10 15 20 25 30
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
Atividade enzimática (%)
Tempo de pré-incubação (min)
AmostraS
AmostraF
Figura 12: Efeito do tempo de pré-incubação em uréia na concentração 2M sobre a atividade
das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
. As barras verticais indicam o desvio padrão. Os ensaios
foram realizados em triplicata.
Resultados
31
0 10 20 30 40 50 60
75
80
85
90
95
100
105
Atividade enzimática (%)
Tempo de pré-incubação (min)
AmostraS
AmostraF
Figura 13: Efeito do tempo de pré-incubação com cloreto de sódio na concentração 2,5 M
sobre a atividade das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
. As barras verticais indicam o desvio
padrão. Os ensaios foram realizados em triplicata.
0 1 2 3 4 5
40
50
60
70
80
90
100
Atividade enzimática (%)
% do Triton X-100
AmostraS
AmostraF
Figura 14: Efeito da concentração do triton X-100 sobre a atividade das aloenzimas EST-5
S
e
EST-5
F
. As barras verticais indicam o desvio padrão. Os ensaios foram realizados em
triplicata.
Resultados
32
5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 7.5 8.0 8.5
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
Atividade enzimática (%)
pHs
AmostraS
AmostraF
Figura 15: Efeito da variação do pH sobre a atividade das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
. As
barras verticais indicam o desvio padrão. Os ensaios foram realizados em triplicata.
Tabela 1: Produtividade média de descendentes por casal a 20 e 29ºC para as linhagens Est-
5
S
e Est-5
F
.
Média do Número de Descendentes por Casal
20ºC
29ºC
Linhagens
N
Macho
Fêmea
N
Macho
Fêmea
Est-5
S
19
6.5
6.7
31
19.5
22
Est-5
F
36
9
10.5
39
11.2
10.7
Resultados
33
A –
1 2 3 4 5 6 18 19 20 21 22 23 24 25 26
0
2
4
Média de descendentes por casal
Dias após início dos cruzamentos
S
F
B –
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Média de descendentes por casal
Dias após início dos cruzamentos
S
F
Figura 16 (A e B): Produtividade média de descendentes por casal para as linhagens Est-5
S
(barras pretas) e Est-5
F
(barras vermelhas), a 20 (A) e 29°C (B).
Discussão
34
V - DISCUSSÃO
Neste trabalho estudou-se o polimorfismo da esterase-5 em D. mulleri, no intuito de se
compreender quais os mecanismos que atuam na manutenção destas variantes genéticas.
Segundo Árnason (1991), que estudou o polimorfismo do loco da esterase-5 (alelos 100 e
106), loco este ligado ao cromossomo X em Drosophila pseudoobscura, assume que a
hipótese de seleção balanceada é rejeitada em favor da hipótese nula (Kimura, 1983). Árnason
trabalhou com um total de 22 populações réplicas, com onze começando com alta freqüência
de 76% (população N) do alelo 106 e outras onze com uma baixa freqüência de 21%
(população U) do mesmo alelo. Depois de 200-300 dias, as freqüências alélicas mudaram
direcionalmente e diminuíram em ambas as populações U e N como grupo, e alcançaram o
equilíbrio de 60 e 14 %, respectivamente. A princípio, esta mudança sugere seleção natural.
Contudo, com uma posterior reperturbação das freqüências alélicas em cada população,
criando-se assim 22 adicionais populações reperturbadas EN e EU, e tendo como controle a
população original, foi obtido um resultado diferente, pois as freqüências alélicas não
mudaram direcionalmente entre as populações reperturbadas como um grupo, concluindo
desta maneira, que os alelos 100 e 106 do loco Est-5 não diferem no valor adaptativo dentro
das condições ambientais do laboratório de populações.
Resultados opostos à teoria da neutralidade foram obtidos por Ochando, et al. (1999)
que estudaram o valor adaptativo de fêmeas selvagens de Drosophila melanogaster com
relação às variantes aloenzimáticas das seguintes enzimas: GPDH, ADH, PGM e EST-C. Os
componentes do valor adaptativo foram estimados sobre diferentes condições ambientais:
duas temperaturas (22 e 28° C) e duas densidades (escasso e lotado). Os parâmetros medidos
do valor adaptativo foram fecundidade, taxa de ovoposição e produtividade. O parâmetro
densidade teve um significante efeito sobre produtividade; a temperatura teve um significante
efeito sobre fecundidade, taxa de oviposição e taxa de desenvolvimento. Diferenças no valor
adaptativo entre os genótipos aloenzimáticos ocorreram para todos os componentes do valor
adaptativo, exceto taxa de oviposição. Mas qual genótipo é superior depende das condições
ambientais: heterozigotos exibiram um maior valor adaptativo que os homozigotos em alguns
casos, mas inferior em outros. No todo, os experimentos mostraram que os polimorfismos
aloenzimáticos são associados com os efeitos de seleção.
No presente trabalho, as duas formas aloenzimáticas mais comuns em D. mulleri, as
aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
, foram submetidas a tratamentos físicos e químicos na tentativa
de se verificar diferenças entre essas variantes enzimáticas. Além disso, as duas linhagens
Discussão
35
homozigotas da esterase-5 foram comparadas em termos de produtividade, em condições de
laboratório, nas temperaturas de 20 e 29°C.
Trabalhos realizados submetendo aloenzimas a diferentes condições ambientais vêm
sendo realizados algum tempo. Dentre esses, os mais comuns são aqueles realizados com a
temperatura. Khaustova et al. (1992) com alelos da enzima álcool desidrogenase e Totskii et
al. (1994) com alelos da esterase-6 de Drosophila melanogaster também utilizaram os efeitos
das altas temperaturas para identificar os mecanismos atuantes na manutenção destes
polimorfismos.
No presente estudo, os experimentos de variação de temperatura revelaram um fator
seletivo a favor do alelo Est-5
S
, pois, como relatado, a aloenzima EST-5
S
resistiu muito
mais aos efeitos da temperatura que sua correlata EST-5
F
. Além disso, o experimento de
produtividade em alta temperatura (29ºC) mostrou que indivíduos com o genótipo
homozigoto para o alelo Est-5
S
deixam mais descendentes que indivíduos com o genótipo
homozigoto Est-5
F
/Est-5
F
. Esses resultados corroboram os resultados obtidos por Lourenço et
al. (2001), que detectaram uma maior adaptabilidade relativa do genótipo Est-5
S
/Est-5
S
seguido pelo heterozigoto Est-5
F
/Est-5
S
que possuía o alelo Est-5
S
de origem materna, o que é
incompatível com a predição de polimorfismo neutro. Neste trabalho, a longevidade foi
considerada diretamente como um dos principais componentes associados com o valor
adaptativo total. A observação que moscas com o genótipo Est-5
S
/Est-5
S
são
significantemente mais longevas sugeriram que esses indivíduos têm a chance de persistir na
população por mais tempo e então teriam a possibilidade de produzir mais descendentes. Por
outro lado, os machos Est-5
F
/Est-5
F
apresentaram um período de longevidade menor. Os
resultados obtidos para produtividade revelaram uma outra possível associação para a
freqüência aumentada do alelo Est-5
S
na população. A maior produtividade para os
cruzamentos cujas fêmeas parentais tinham o genótipo Est-5
S
/Est-5
S
, principalmente em
comparação com o genótipo Est-5
F
/Est-5
F
, certamente contribuiu para a maior performance
exibida pelo alelo Est-5
S
. Em adição, a produtividade média de machos e fêmeas em todas as
combinações indicou uma vantagem para as fêmeas portadoras do alelo Est-5
S
. Este fato,
adicionado a maior longevidade dos indivíduos Est-5
S
/Est-5
S
capacitou a classificação deste
genótipo como aquele que apresenta maior adaptabilidade.
O resultado de maior resistência da aloenzima EST-5
S
à temperatura, obtido no
presente trabalho, poderia realmente conferir maior valor adaptativo aos seus portadores em
ambientes de elevada temperatura, pois, como visto nas figuras 3, 9, 10 e 11, a atividade
enzimática da aloenzima EST-5
F
decresce mais rapidamente com o aumento do tempo de pré-
Discussão
36
incubação que a sua correlata, portanto, os portadores do alelo EST-5
S
sobreviveriam melhor
nesses ambientes, sendo mais longevos, produzindo maior descendência. Essa hipótese foi
reforçada pelos experimentos de produtividade, no qual os genótipos homozigotos Est-5
S
/Est-
5
S
deixaram mais descendentes a 29°C.
Os dados obtidos do presente trabalho corroboram os resultados de Totskii et al.
(1994), que estudaram os efeitos do sistema gene-enzima da esterase-6 sobre a expressão dos
traços de viabilidade em Drosophila melanogaster em diferentes temperaturas. Os resultados
desses trabalhos indicaram que a aloenzima S, que tem menor mobilidade eletroforética, é
mais resistente a altas temperaturas (57°C) que a aloenzima F. Comparando as linhagens, as
moscas homozigotas S foram mais resistentes a altas temperaturas e foram duas vezes mais
férteis que as moscas homozigotas F. Esta vantagem seletiva da linhagem S foi monitorada
por 40 gerações em altas temperaturas (29°C). Além disso, nas populações experimentais que
começaram com uma razão 1:1 da Est-6
F
e Est-6
S
, e que foram mantidas em 29°C, foi
demonstrado um aumento na freqüência do alelo S. Khaustova et al. (1992) também
concluíram que influências constantes (período de vida de 25 gerações) de elevada
temperatura mudaram a estrutura genética das populações, devido às vantagens seletivas do
alelo S da enzima álcool desidrogenase, sobre estas condições. Lourenço (2000) também
examinou o conjunto de populações de Drosophila mulleri iniciadas com diferentes
freqüências iniciais do alelo Est-5
S
na temperatura de 25°C. Foi demonstrado que depois de
12 gerações o genótipo Est-5
S
/Est-5
S
foi o mais freqüente em todas as populações,
independentemente das freqüências iniciais deste alelo quando as populações foram
estabelecidas.
Nos experimentos de produtividade do presente trabalho, também foi observado que
na temperatura de 20°C houve uma vantagem da linhagem Est-5
F
/Est-5
F
, que deixou mais
descendentes, em torno de 30% a mais que a linhagem Est-5
S
/Est-5
S
. Entretanto, um efeito
claro da temperatura de 29°C em relação ao genótipo Est-5
S
. Esses resultados poderiam
explicar a manutenção do alelo F nas populações, pois a vantagem seletiva depende das
condições ambientais, que ora favorece um alelo, ora o outro.
De maneira semelhante, Bubliy et al. (1994) concluíram que a seleção natural é quem
mantêm o polimorfismo nas populações naturais. Esses autores estudaram as freqüências
alélicas de três locos aloenzimático, o ADH, o alfa-GPDH e o EST-6, em populações naturais
de Drosophila melanogaster do leste europeu, do Caucáso e da Ásia Central. Os dados
obtidos por eles foram combinados com dados de outros autores sobre o polimorfismo do
Discussão
37
ADH, do alfa-GPDH e do EST-6 em outras regiões da Eurásia. Esses dados foram analisados
na tentativa de se encontrar um padrão de diferenciação geográfica em escala continental. A
freqüência do alelo ADH-S apresentou-se negativamente correlacionada com a latitude e a
média de chuva do mês mais seco, e positivamente correlacionadas com a temperatura média
do mês mais frio e a média de chuvas do mês mais chuvoso. A freqüência do alfa-GPDH-S
aumentou na parte oeste da Eurásia e não foi associada com variabilidade climática. A
freqüência do alelo Est-6
S
aumentou em direção ao centro do continente e foi positivamente
correlacionada com a temperatura do mês mais frio e com a média de chuvas do mês mais
seco. Esses resultados reforçam que a variação genética deve ser mantida em populações pela
força da seleção balanceada.
Os resultados obtidos com a uréia (figuras 4 e 12) também condizem com os
resultados obtidos com os experimentos de temperatura. Em ambas as figuras, os resultados
indicam que a aloenzima EST-5
S
resiste a um maior tempo que a EST-5
F
sobre a concentração
de uréia 2M. Na figura 12, a atividade catalítica da EST-5
S
permanece maior em todos os
pontos, até que, aos 30 minutos, ambas atingem uma atividade enzimática perto dos 30 %.
Esses resultados sugerem que devam existir diferenças, mesmo que sutis, na estrutura das
aloenzimas que permita que a aloenzima EST-5
S
resista mais, tanto às altas temperaturas
como a agentes desnaturantes.
Da mesma maneira que a temperatura e a uréia, elevadas concentrações de cloreto de
sódio mostraram um efeito maior sobre a aloenzima EST-5
F
. Na figura 5, observa-se-se que
os controles de ambas as aloenzimas apresentam níveis idênticos de atividade enzimática, isso
é notado pela coloração, enquanto nas alíquotas tratadas nota-se uma diferença nos níveis de
atividade, isto é a EST-5
F
apresenta menor atividade catalítica do que a sua correlata, mesmo
que com uma pequena diferença metodológica, pois as aloenzimas foram pré-incubadas juntas
no NaCl. Todavia, a figura 14 ilustra melhor essa diferença entre as aleloenzimas, apesar
destas não apresentarem tanto prejuízo na suas atividades enzimáticas perante o cloreto de
sódio, 82,5 % para a EST-5
S
e 75% para EST-5
F
.
O triton X-100 é um detergente não-iônico comumente usado em tampão de extração
de enzima destinado a ensaios enzimáticos. Contudo, trabalhos mais recentes concluíram que
o triton X-100 altera e modula atividade de acetilcolinesterases e butirilcolinesterases
(Jaganathan e Boopaty, 1998; Marcel et al.,2000; Rosenfeld et al., 2001). E, também, reduz a
atividade de carboxilesterases com o aumento de sua concentração (Vioque-Fernández et
al.2007), experimento este, realizado com camarões-d’água-doce da espécie Procambarus
clarkii, cuja atividade esterásica foi reduzida a menos da metade em concentrações acima de 2
Discussão
38
%. De maneira similar, o resultado do experimento com o triton X-100 (figura 14) do presente
trabalho também demonstrou a diminuição da atividade das carbolxilesterases frente a este
detergente e, possibilitou ainda, a diferenciação das aloenzimas.
Em relação ao pH, os dados da figura 15 mostram que ambas as aloenzimas
apresentam curvas de pH semelhantes. Assim, o pH não deve influir na distinção entre elas.
Portanto, os resultados em conjunto sugerem que a aloenzima EST-5
S
apresenta um
comportamento de maior resistência à desnaturação térmica ou por agentes caotrópicos, bem
como maior atividade em altas concentrações salina, além da maior produtividade nos
experimentos a 29ºC, o que poderia conferir uma maior vantagem adaptativa aos seus
portadores.
Tem sido dada tanta importância as esterases, que em diversas espécies, essas têm sido
purificadas e caracterizadas quanto às suas propriedades, proporcionando um maior
entendimento das funções delas. A maioria dos trabalhos com purificação e caracterização é
relativa à área de resistência a inseticidas, que tentam esclarecer as funções das esterases em
linhagens resistentes a produtos agroquímicos.
Entre esses trabalhos, foi encontrado o de Prabhakaran e Kamble (1995), que
purificaram e caracterizaram as formas mais ativas das esterases E5, E6, e E7, em Blattella
germanica (barata da Alemanha), tanto das linhagens resistentes como das linhagens
susceptíveis a inseticidas desta espécie. Os resultados desses autores sugerem que a
resistência aos inseticidas nesta espécie de barata seja devido ao aumento da produção da
isoenzima E6, cuja atividade principal deve ser a de seqüestrar as moléculas dos inseticidas,
seguida de uma hidrólise mais lenta.
Em outro estudo, Lee et al. (2000) purificaram e caracterizaram uma esterase que
conferia resistência ao coleóptero da espécie Oryzaephilus surinamensis frente a vários
inseticidas organofosforados. A esterase da linhagem resistente, designada como A, não
encontrada na linhagem susceptível, foi purificada e caracterizada pelas técnicas de
cromatografia e eletroforese, com uma massa molecular de 130 kDa, consistindo de duas
subunidades de 65 kDA, estimada por SDS-PAGE.
Haubruge et al. (2002) utilizaram muitas técnicas para conseguir a purificação de uma
carboxilisterase que confere resistência específica a linhagens de Tribolium castaneum ao
malathion. A enzima purificada apresentou um peso molecular de 62 kDa.
Srinivas et al. (2006) purificaram e caracterizaram uma isoenzima esterásica envolvida
na hidrólise de compostos organofosforados de uma peste resistente a inseticida, a
Helicorvepa armigera, coletada de safra de campos. A massa molecular determinada por
Discussão
39
SDS-PAGE foi de 66 kDa. A enzima foi parcialmente seqüenciada e identificada como
alcalino fosfatase.
Neste trabalho realizamos a purificação das aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
em D.
mulleri a partir de linhagens homozigotas para essas enzimas. Com a intenção de se obter as
diferenças nas seqüências de aminoácidos entre as aleloenzimas, estas foram encaminhadas
para a identificação no Laboratório Nacional de Luz Síncronton - LNLS, no Laboratório de
Espectrometria de Massas, em Campinas, SP, cujos resultados ainda não foram obtidos. O
sequênciamento de fragmentos das aloenzimas purificadas serão oportunamente utilizados
para o desenho de oligonucleotídeos iniciadores, visando o sequênciamento do gene da
esterase-5.
Ambas as aloenzimas foram purificadas, como mostrado nas figuras 6 e 7. Na figura 6,
as massas moleculares encontradas para as subunidades das EST-5
S
e EST-5
F
são idênticas e
estimadas em torno de 66 e 68 kDa por SDS-PAGE. Esses resultados reforçam a idéia de que
a migração diferente em géis não desnaturantes seja devido ao efeito de carga elétrica,
provavelmente envolvendo mutações que tenham substituídos aminoácidos de cargas opostas
ou aminoácidos neutros por aminoácidos eletricamente carregados.
Os resultados da purificação foram confirmados utilizando-se um sistema que preserva
a atividade enzimática. A figura 7 mostra a separação das esterases em gel de poliacrilamida -
SDS, onde as amostras não foram fervidas. Após a corrida eletroforética, o gel foi pré-
incubado em tampão fosfato com triton X-100 2,5 %, para remoção do SDS, e,
posteriormente, foi corado especificamente para esterases. Portanto, as bandas que são
visualizadas neste gel são o resultado da atividade catalítica das aloenzimas purificadas sobre
o substrato β-naftil-acetato, dessa forma, assegurando que as proteínas purificadas na figura 6
são realmente as EST-5
S
e EST-5
F
. Contudo, nesta figura 7, as aleloenzimas apresentaram
migrações diferentes, explicado pela metodologia empregada. Nesse caso, o SDS deve ter
contribuído para a dissociação das subunidades que ainda apresentaram atividade catalítica.
Como as isoenzimas não foram totalmente desnaturadas, mas apenas dissociadas em suas
subunidades observou-se, nesse caso, que a migração também teve a influência da carga total
das subunidades das proteínas, e não devido ao peso molecular, como é o caso da figura 6.
Além disso, a figura 7 também pode ser explorada para ilustrar a diferença de resistência das
aleloenzimas frente ao triton, pois como visualizado, a atividade esterásica da EST-5
S
foi mais
expressiva que a EST-5
F
, que apresentou atividade catalítica mais reduzida.
Pen et al. (1986) também purificaram as duas principais variantes da esterase-5 de D.
mojavensis, espécie pertencente ao mesmo complexo mulleri. Da mesma forma, as EST-5
96
e
Discussão
40
EST-5
100
foram purificadas de linhagens homozigotas para os alelos codificantes destas
isoenzimas. E, semelhantemente aos nossos resultados, as aleloenzimas apresentaram massas
moleculares iguais em SDS-PAGE. As subunidades das EST-5
96
e EST-5
100
de Drosophila
mojavensis apresentaram uma massa molecular entre 64 e 66 kDa,
um pouco menor que a
esterase-5 de Drosophila mulleri.
Lee et al. (2000) também realizaram ensaios enzimáticos com a enzima em extrato
bruto e depois purificaram uma das esterases (designada como A). Esses autores
purificaram e caracterizaram a esterase A (enzima não encontrada nas linhagens susceptíveis
ao inseticida) que conferia resistência ao coleóptero da espécie Oryzaephilus surinamensis
frente a vários inseticidas organofosforados. As atividades esterásicas dos extratos brutos das
linhagens resistentes (linhagem VOSF) e susceptíveis (linhagem VOS48) foram realizadas
com três substratos: ρ-nitrofenil acetato, α-naftil acetato e β-naftil acetato. A linhagem VOSF
mostrou elevada atividade esterásica em comparação a linhagem VOS48, demonstrando assim
o nível de esterases em insetos adultos para as duas linhagens.
Haubruge et al. (2002) caracterizaram cineticamente a carboxilisterase que confere
resistência ao malathion (MCE) em Tribolium castaneum. A MCE de linhagens resistentes
apresentou um K
m
17 vezes menor e uma V
max
4,6 vezes maior do que a MCE de linhagens
susceptíveis. No entanto, a MCE das linhagens susceptíveis hidrolisou o α-naftil acetato mais
rápido do que a MCE de linhagens resistentes. A constante de especificidade para as duas
esterases estudadas mostrou que a MCE de linhagens susceptíveis preferem o α-naftil acetato
ao malathion, por outro lado, a MCE de linhagens resistentes apresentou uma melhor
especificidade ao malathion comparado ao α-naftil acetato.Desta forma os autores concluem
que a resistência específica ao malathion é devido à presença de uma esterase
qualitativamente diferente.
Como observado, trabalhos comparando os valores cinéticos de variantes
isoenzimáticas, principalmente aquelas variantes que proporcionam resistência a inseticidas. E
essas, na maioria dos casos, apresentam características cinéticas distintas. Em contrapartida,
nos resultados do presente trabalho, os valores de V
max
e K
m
foram semelhantes para ambas as
aloenzimas, o que sugere que a diferença entre elas não esteja relacionada à atividade do sítio
catalítico, mas talvez as diferenças sutis em suas estruturas, causadas por trocas de
aminoácidos, que originaram a resistência diferencial entre elas.
Conclusão
41
VI – CONCLUSÃO
Os resultados dos extratos brutos contendo as aloenzimas EST-5
S
e EST-5
F
submetidos a tratamentos físicos e químicos, juntamente com os resultados dos experimentos
de produtividade e dados da literatura, são incompatíveis com a hipótese da neutralidade para
a manutenção do polimorfismo no loco da esterase-5 de Drosophila mulleri, devido ao fator
seletivo a favor do alelo Est-5
S
nas condições estudadas.
Os experimentos de purificação reforçaram importantes dados sobre as aloenzimas,
pois estas apresentaram subunidades de mesma massa molecular, o que deixa claro que a
migração diferente em géis não desnaturantes seja devido ao efeito de carga elétrica,
provavelmente envolvendo mutações que tenham substituídos aminoácidos de cargas opostas
ou aminoácidos neutros por aminoácidos eletricamente carregados.
A caracterização cinética forneceu os valores de V
max
e
K
m
, que embora semelhantes,
sugeriram que a diferença entre elas não esteja relacionada à atividade do sítio catalítico, mas
talvez as diferenças sutis em suas estruturas, causadas por trocas de aminoácidos, que
provavelmente originaram a resistência diferencial entre elas.
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Autorizo a reprodução xerográfica para fins de pesquisa.
São José do Rio Preto,13/02/2008
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