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Paola Carlevaro Fedele
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Versão Final
Florianópolis, 2004
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Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Santa Catarina
como requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo
Orientador: Prof. Hugo C. Lucini, Dr.
Florianópolis, 2004
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Paola Carlevaro Fedele
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Esta dissertação foi julgada e aprovada para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo
no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis, 27 de agosto de 2004
Prof. Sonia Afonso, Dr.
Coordenadora do Programa
BANCA EXAMINADORA
___________________________ ___________________________
Prof. Carolina Palermo Szücs, Dr. Prof. Eduardo Castells, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina
___________________________ ___________________________
Prof. Fernando Barth, Dr. Prof. Hugo Camilo Lucini, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina Universidade do Vale do Itajaí
ORIENTADOR
Pelo apóio constante agradeço e dedico este trabalho
a toda minha família e amigos,
e em particular, à minha Mãe, que de forma muito especial
não mediu esforços, desde o início, para me acompanhar e apoiar,
e também, ao meu esposo, que graças ao seu incentivo
iniciei tão longa caminhada.
Pelo respeito à minha profissão e, principalmente, ao ser humano,
dedico também este trabalho a todas as cidades brasileiras.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Santa Catarina.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior CAPES
Ao orientador Prof. Dr. Hugo Camilo Lucini, pelo acompanhamento
Aos professores, alunos e funcionários do
Curso de Pós-Graduação – Pós-Arq
A todos os que direta ou indiretamente
contribuíram para a realização desta pesquisa
“Se a melhor relação entre uma coisa e outra é o amor,
e a arquitetura é a relação entre o edifício e o lugar,
a arquitetura é o amor entre o edifício e o lugar
onde ele está assentado”
Gustavo Penna
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A partir da observação da realidade em relação à qualidade da habitação em
conjuntos multifamiliares, produzidos para a classe média e média-baixa
brasileira, e face ao reconhecimento dos múltiplos problemas que apresenta do
ponto de vista da qualidade espacial externa, procuram-se entender as carências
decorrentes das atuais formas de produção habitacional, com a finalidade de
resgatar conceitos de arquitetura que possam gerar as reflexões necessárias para
a melhoria das soluções atuais. Comentam-se aspectos como a qualidade
ambiental, espacialidade, e relações contextuais, analisados em relação às áreas
externas públicas e semipúblicas, considerando também, como estas interferem
no cotidiano das pessoas. Assim, considera-se que as relações espaciais
estabelecem reações comportamentais nos seres humanos, que incidem na sua
qualidade de vida. Relações espaciais dimensionais-, consideradas a partir dos
conceitos de proporcionalidade, escala, e número de usuários. A partir dos
estudos realizados, e em função de uma forma mais econômica para a habitação,
surge o conceito de organização espacial presente nos conjuntos habitacionais
em quarteirão fechado, que propicia o desenvolvimento de reações
comportamentais favoráveis à socialização, territorialidade e ambiência, mas que,
para o Brasil, representa uma solução não tradicional. Consideram-se os valores
espaciais e sociais desta tipologia, sempre em relação aos espaços abertos,
mostrando como estes se apresentam em outras formas de organização de
habitação coletiva. Parte-se da vitalidade da cidade desenvolvida através da
pluralidade de funções e a integração de diferentes faixas de renda, como
elementos necessários à uma melhor qualidade de vida. Finalmente confrontam-
se as opções arquitetônicas apresentadas com a formação do arquiteto brasileiro,
verificando-se a dificuldade de implementação destas.
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Habitação - Qualidade - Tipologia
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Based on an insight into reality concerning quality of habitation in multi-family
housing for brazilian middle and lower-middle classes, and acknowledging the
wide range of problems it presents from the perspective of external spatial quality,
an understanding of the deficiencies resulting from the way living accomodations
are currently conformed will allow for applying architectural concepts that may
generate the necessary ideas for improving on current solutions. Topics such as
environmental quality, spatiality and contextual relations are analyzed in relation to
the public and semi-public external areas, considering how these affect people’s
daily lives. Hence it is considered that spatial relations entail behavioral alterations
in human beings, which affect their quality of life. Proportionateness, scale and
number of users are the relevant concepts involved in these spatial dimensional
relations. From the undertaken reaserch and seeking a lower cost for housing,
the type of spatial organization that develops housing in the form of a closed city
block is the concept that rises, which in turn promotes the developement of
behaviours that favor socialization, territoriality and ambience; this however, is a
non-tratitional solution in Brazil. The spatial and social values of this typology will
be presented, especially in what concerns open areas, showing how these appear
in other forms of organization of collective housing. The multiplicity of roles and the
integration of the different income levels will help develop the city’s vitality, and are
essential elements to a better quality of life. Finally, the presented architectural
options are faced against brazilian architects’ formation, showing there are
difficulties in implementing them.
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Housing - Quality - Typology
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Figura 01 p. 20
Rua em Nova Gurna.
Figura 02 p. 20
Projeto habitacional Pruitt-Igoe, St. Louis. Por Minoru Yamasaki,
concluído em 1955.
Figura 03 p. 21
Implosão, no ano de 1972, das “Viviendas Pruitt-Igoe” em St. Louis (1952-1955),
por abrigarem centros de violência e criminalidade .
Figura 04 p. 21
Ruínas, no ano de 1972, das “Viviendas Pruitt-Igoe” em St. Louis (1952-1955), por
abrigarem centros de violência e criminalidade .
Figura 05 p. 23
Conjuntos Residenciais Multifamiliares construídos na década de 80, localizados
no bairro Trindade da cidade de Florianópolis, que apresentam as mesmas
características espaciais e de implantação dos conjuntos executados hoje em dia.
Figura 06 p. 24
Conjunto Residencial Multifamiliar concluído no final do ano de 2003, localizado
no bairro Trindade da cidade de Florianópolis, segue sem qualquer
questionamento as características arquitetônicas espaciais e de implantação
“historicamente comuns” na região.
Figura 07 p. 24
Perspectiva do Projeto Arquitetônico para o Conjunto Residencial Multifamiliar que
tem sua entrega prevista para o final de 2005. Localiza-se no bairro Parque o
Jorge da cidade de Florianópolis, e segue igualmente que os exemplos anteriores
as mesmas características arquitetônicas espaciais e de implantação.
Figura 08 p. 31
Perspectiva do Projeto Arquitetônico, mostradas no anúncio publicitário para o
Conjunto Residencial Multifamiliar lançado em 2003 que se localiza no bairro
Saco Grande da cidade de Florianópolis. A perspectiva ressalta uma aparente
grande área de lazer e espaços verdes bem ensolarados, porém se prestarmos
atenção à implantação do conjunto perceberemos que seu centro é uma
circulação de veículos para onde convergem as sacadas e dormitórios dos
apartamentos tipo 5 e 6, os quais não apresentarão boa insolação e iluminação
em função da orientação solar. Observando também o “jardim” na planta,
percebemos que este existe somente pela configuração da circulação dos
veículos.
Figura 09
p. 31
Planta do Projeto Arquitetônico, mostradas no anúncio publicitário para o
Conjunto Residencial Multifamiliar lançado em 2003 que se localiza no bairro
Saco Grande da cidade de Florianópolis.
Figura 10 p. 32
Espaços destinados a áreas de lazer em edifícios residenciais de alto padrão no
bairro Batel da cidade de Curitiba. Exemplo da baixa qualidade que áreas de lazer
podem oferecer, mesmo para uma camada da população com alto poder
aquisitivo, onde seus usuários acabam confinados a espaços remanescentes.
Figura 11 p. 48
Esquemas representativos da proposta urbana de quarteirão fechado com pátio
interno (figura A) e da solução comumente adotada no país (figura B), para
conjuntos habitacionais multifamiliares.
Figura 12 p. 57
“Insulaes” Romanas.
Figura 13 p. 58
“Insulaes” Romanas. Vista da rua principal de Óstia, a Decanus Maximus, mostra
restos das insulae que tornaram famoso o porto.
Figura 14 p. 61
Cidadela de Sargão II, Khorsabad, 742-706 a.C, da Assíria.
Figura 15 p. 62
Comparação dos novos métodos de divisão de quarteirões com os anteriores, por
Walter Gropius.
Figura 16 p. 62
Imóveis de vários pavimentos agrupados em quarteirões fechados, para as
camadas mais baixas da população.
Figura 17 p. 64
Primeiro Plano Cerdá para Barcelona, 1859.
Figura 18 p. 64
Perspectiva do Projeto de expansão de 1859 de Ildefons Cerda.
para Barcelona.
Figura 19 p. 65
Esquema quarteirões (paralelo e perpendicular) do Plano Cerdá.
Figura 20 p. 65
Comparação da perspectiva do Projeto de expansão de Barcelona de 1859 com
sua reelaboração de 1863 pelo mesmo Ildefons Cerdá.
Figura 21 p. 66
Vista aérea atual de Barcelona: verificação da aplicação real e parcial do Plano
Cerda e sua comparação com a malha do centro histórico de Barcelona.
Figura 22 e 23
p. 66-67
“El paseo de Gracia” e Edifício do mercado de San Antonio, respectivamente:
onde se verifica a organização em quarteirões e suas esquinas chanfradas,
legados do palno de Cerda.
Figura 24 p. 68
Vantagens ou desvantagens das construções abertas ou semi-abertas diante das
construções fechadas.
Figura 25 p. 69
Construção em blocos dispostos em fileiras formando bandas paralelas para
edifícios de vários pavimentos ou não.
Figura 26 e 27 p. 70
Vista aérea e do mapa dos blocos dispostos em fileiras formando fitas paralelas
em Amsterdam: o bairro sul (plano de Berlage, 1917).
Figura 28 p. 71
Os “imóveis villas”, blocos de apartamentos de 120 villas superpostas que
propõem uma nova fórmula urbana de habitação, onde cada apartamento é uma
pequena casa com jardim.
Figura 29 p. 71
Detalhe de fachada dos “imóveis villas”.
Figura 30 p. 72
Unidades de Habitação. Vista do Boulevard Michelet.
Figuras 31, 32 e 33 p.75-76
Recuperação de edifícios em quadra perimetral, Fraenkelufer-Berlim.
Figura 34 p. 84
Conjunto Residencial Tarumã, no bairro Itacorubí, Florianópolis.
Figura 35 p. 84
Conjunto Residencial Green Park, no bairro Itacorubí, Florianópolis.
Figura 36 p. 84
Conjunto Residencial Verde Vale, no bairro Itacorubí, Florianópolis.
Figura 37 p. 85
Edifícios do condomínio Reserva do Parque, São Paulo.
Figuras 38 e 39 p. 86
Conjunto Residencial Verde Vale, no bairro Itacorubí, Florianópolis.
Figura 40__ _ ______ p. 86
Conjunto Residencial Itacorubí, no bairro Itacorubí, Florianópolis.
Figura 41
p. 87
Vista aérea do Conjunto Residencial Zezinho Magalhães Prado, 1967. De
Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha.
Figura 42 p. 87
Vista das unidades habitacionais, 1967. De Vilanova Artigas, Fábio Penteado e
Paulo Mendes da Rocha.
Figura 43 p. 93
Vista de Florianópolis, sem data. Óleo sobre tela, do Acervo Museu de Arte de
SC.
Figura 44 p. 94
Crescimento da cidade de Florianópolis e expansão da área urbana, antes da
virada para o século XX.
Figura 45 p. 95
Sobrados da rua João Pinto da Florianópolis Republicana. “Morar num edifício de
dois andares era um luxo e um conforto até então não experimentado”.
Figura 46 p. 96
Nasce em 1922, por uma decisão arrojada do governador Hercílio Luz, uma obra
que viria a mudar radicalmente a vida social, econômica e política de um do
estado.
Figura 47 p. 98
Vista da Av. Madre Benvenuta na cidade de Florianópolis, onde a população de
menor poder aquisitivo continua aumentando nas encostas dos morros, de difícil
acesso, e os conjuntos habitacionais multifamiliares crescem em áreas que
anteriormente eram exclusivamente unifamiliares em função da valorização da
terra pelo crescimento periférico da cidade.
Figuras 48 e 49 p. 99
Condomínio Por do Sol II e Baía Norte, respectivamente, no bairro João Paulo,
Florianópolis. Conjuntos de residências unifamiliares de “alto padrão” que nascem
em locais onde faz pouco tempo havia somente mata nativa e pequenas casinhas
de pescadores.
Figuras 50 e 51 p. 99
Condomínios multifamiliares que surgem sem parar num bairro que ainda
preserva características de uma vila onde seus moradores pescam, cultivam e
ainda criam galinhas, mesmo quando o “progresso” toma conta destes espaços,
coexistindo aqueles com os novos moradores que possuem um nível econômico
muito elevado.
Figuras 52, 53 e 54 p. 100
O bairro João Paulo, que a poucos anos atrás era habitado por pescadores,
esta hoje invadido por conjunto unifamiliares de alto padrão. Como percebemos
nesta seqüência de imagens que compara áreas construídas com as poucas
que inda permanecem como eram originalmente.
Figuras 55, 56, 57 e 58
p. 101
As imagens pertencem ao mesmo bairro, João Paulo, aonde coexistem opostos
em lugares muito próximos.
Figuras 59 e 60 p. 102
Propaganda enganosa que atinge os conjuntos residenciais para usuários de
baixa renda, também existe para condomínios de luxo, como surge da
comparação do painel de divulgação do empreendimento e da obra.
Figura 61 p. 102
A qualidade de vida que podemos chamar de “natural” na cidade, precisa ser
preservada, socorrida, corrigida, levando em consideração que, se as áreas
verdes são importantes para todos, representam ainda um papel mais importante
em Florianópolis, onde elas parecem fazer parte da identidade do lugar.
Figura 62 p. 104
Esquema representativo do eixo Igreja-Praça-mar existente na cidade de
Florianópolis. As relações com o meio variaram em função dos valores atribuídos
à natureza ao longo dos anos pelas diferentes sociedades.
Figuras 63 e 64 p. 107
Vista do interior de alguns conjuntos habitacionais multifamiliares, em
Florianópolis, que evidenciam a falta de qualidade e segurança dos espaços
destinados ao convívio social e às “áreas verdes” que, como mostra a figura 64,
são áreas remanescentes que configuram a passagem das ruas internas dos
condomínios.
Figura 65 p. 108
Vista de conjuntos habitacionais em Florianópolis desde o Parque da UDESC,
utilizado pelos moradores como espaço de lazer.
Figura 66 e 67 p. 109
Vista do Parque UDESC, nas figuras 66 e 67, utilizado pelos moradores do bairro.
E na figura 68, nos fundos da Universidade, onde crianças brincam com pipas.
Figura 69 p. 122
Cidade de UR – Mesopotâmia.
Figura 70 p. 129
Tipos de formas de implantação.
Figuras 71__ p. 130
Estudo de V. Gregotti. “Barrio Zen en Palermo”, Itália, 1969.
Figuras 72 e 73 p. 131
Estudos de Oefelein, Freund e Schmock. “Proyecto de barrio residenial en la
Sonnenallee”, Berlin, Alemanha, 1975; Projeto de Conjunto residencial em
Ruopigen-Littau, de 1971, respectivamente.
Figuras 74 e 75
p. 138
Planta e vista aérea do Conjunto Bagnols-sur-Cèze de 1955-61.
Figuras 76, 77 e 78 p. 139
Vista do Conjunto e planta da unidade individual habitacional e Plano geral do
Conjunto habitacional em Aix-em-Provence, França de 1961.
Figura 79 p. 140
Conjunto da cidades de Casablanca, do final da década de 50 em Argélia.
Figuras 80 e 81 p. 140
Conjuntos das cidades de Orán e Sisi bel Abbès, em Argélia.
Figuras 82 e 83 p. 141-142
Articulação dos domínios público e privado. Concurso Caen-Hérouville de 1961,
centro linear – estacionamento de carros – planta geral.
Figuras 84 e 85 p. 144
Estudo de H. Larsen. “Proyecto para un Concurso”, Dinamarca, 1974.
IMPLANTAÇÃO GERAL E AMPLIADA.
Figuras 86 e 87 p. 145
Projeto de Sert, Jackson and Ass.“Proyecto en Roosvelt Island”, New York, EUA,
1974. IMPLANTAÇÃO GERAL e VISTA DA MAQUETE.
Figura 88 p. 145
Projeto de Boehm. “Conjunto residencial en Köln-Chorweiler”, Colonia, Alemanha.
CORTE.
Figuras 89 e 90 p. 147
O projeto de Siza evita as demolições e realiza um complemento discreto nos
vazios existentes. As butiques próximas à estação de metrô são mantidas e um
edifício novo de habitação de 5 andares em ângulo, marca a esquina do
quarteirão. Medidas de transformação e reconstrução valorizam o espaço interior
do mesmo.
Figuras 91 e 92 p. 148
Croquis Conjunto residencial Novazzano-Chiasso, 1988-1992.
Figuras 93 e 94 p. 149
Anel de áreas industriais degradadas e ferrovias que rodeiam Dallas; O American
Airlines Center Plaza libera um generoso espaço público com praças de
alimentação.
Figuras 95 e 96 p. 149
O projeto de Koetter Kim interliga espaços diferentes gerando a
plurifuncionalidade.
Figuras 97 e 98
p. 150
Na primeira figura a fragmentação da cidade é o resultado da construção de
linhas de trem no século XIX e de estradas no séc. XX. Os “vazios” gerados pelos
trilhos do trem são preenchidos por serviços (ver eixos “verdes”); e na segunda
figura o bloco urbano tradicional é fundamental no projeto.
Figuras 99 e 100 p. 151
A escala dos edifícios varia, mas os materiais impostos pedra e tijolo assim
como a rua clássica estão na base do projeto.
Figura 101 e 102 p. 152
Vista geral do projeto de renovação do centro de Seattle e Edifícios de escritórios.
Figuras 103 e 104 p. 154
O Centro do Cinema Irlandês: recuperação de antiga casa da reunião Quaker
(religião) do século XVIII, restaurada, que ocupa uma posição central.
Figuras 105 e 106 p. 154
O conceito arquitetônico de O’Donnell e Tuomey inscreve-se numa tradição que
pode ser considerada racionalista.
Figura 107, 108 e 109 __ p. 155-156
Plano Diretor. Galerias cobertas entre edifícios e Quarteirões residenciais com
multiplicidade de usos na Postdamer Platz, Berlim. Na figura 109 áreas
residenciais em azul.
Figura 110 p. 158
Transformação dos trapiches obsoletos em uma extensão do centro de
Rotterdam.
Figura 111 p. 158
Ponte Erasmus inaugurada em 1996, elemento fundamental na infra-estrutura de
comunicações que liga Kop van Zuid ao centro de Rotterdam.
Figura 112 p. 159
Habitações “Hillekop 3” da Mecanoo Architects Rotterdam.
Figura 113 p. 160
O projeto para o bairro de Chiado, em Lisboa, utiliza os vazios deixados pelo fogo
e reestrutura edifícios por trás de fachadas históricas como forma de aumentar o
número de residentes.
Figura 114 p. 160
No bairro de Chiado, em Lisboa, o imóvel de habitação Camara Chaves é a prova
da vontade de preservar as fachadas históricas onde fosse possível assim como
de salientar a polivalencia do lugar.
Figura 115
p. 161
Vista de Ijburg.
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CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO
1. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA p. 18
1.1 Qualidade de Vida p. 28
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS p. 34
2.1 Pressuposto principal p. 34
2.2 Pressupostos secundários p. 34
3. OBJETIVOS p. 36
3.1 Objetivo geral p. 36
3.2 Objetivos específicos p. 36
4. METODOLOGIA p. 38
5. RECORTE p. 41
6. LIMITAÇÕES p. 41
CAPÍTULO II – REVISÃO TEÓRICA E CONCEITUAL
1. PROBLEMA E MUDANÇA – crescimento urbano p. 42
2. CIDADES – URBANIZAÇÃO E O PROBLEMA DA HABITAÇÃO p. 52
2.1 Raízes históricas do problema da habitação p. 52
2.1.1 A cidade e sua arquitetura p. 52
2.1.2 A habitação coletiva p. 57
2.2 Panorama Nacional: Desenvolvimento urbano p. 79
2.2.1 Panorama Florianopolitano p. 91
3. ESPAÇOS AO AR LIVRE p. 103
3.1 Sentido dos espaços verdes p. 103
3.2 Espaços abertos: privativos e públicos de lazer p. 106
4. ALGUNS DOS COMPONENTES E AGENTES DO SISTEMA DE PROMOÇÃO
E PRODUÇÃO DA HABITAÇÃO p. 111
4.1 Racionalização e os componentes e agentes do processo de produção
da habitação p. 111
4.2 Componentes e Agentes p. 112
4.3 Integração entre os agentes p. 116
4.4 O arquiteto e as soluções arquitetônicas p. 117
4.4.1 Formação acadêmica – ensino e aprendizagem p. 117
4.4.2 O papel e a prática do Arquiteto p. 120
5. O CAMINHO DAS SOLUÇÕES - EXEMPLIFICAÇÃO DOS CONCEITOS
p. 122
5.1 Centro X Periferia p. 124
5.1.1 Soluções para o centro da cidade
p. 125
5.1.2 Soluções para a periferia p. 132
5.2 O caminho das soluções adotadas com o passar dos anos p. 135
5.2.1 Experiências de meados da década de 50
às décadas de 60/70 p. 135
5.2.1.1 Projetos desenvolvidos por Candilis, Josic e Woods p. 135
5.2.1.1.1 Exemplos p. 138
5.2.1.2 Projetos desenvolvidos por Deilmann, Bickenbach e Pfeiffer
p. 143
5.2.1.2.1 Exemplos p. 144
5.2.2 Experiências das décadas de 80/90 p. 146
5.2.2.1 Exemplos p. 146
5.2.2.1.1 Berlim – Kreuzberg (década de 80) p. 146
5.2.2.1.2 Lugano (final da década de 80) p. 147
5.2.2.1.3 Dallas – Victoty District (1987-2010) p. 148
5.2.2.1.4 Seattle – Projeto de renovação do centro (1997 até hoje)
p. 151
5.2.2.1.5 Dublin – Temple Bar (1991-2000) p. 153
5.2.2.1.6 Berlim – Postdamer Platz (1991-2000) p. 155
5.2.2.1.7 Rotterdam – Kop van Zuid (1987-2010) p. 157
5.2.2.1.8 Lisboa – Reconstrução do bairro do Chiado (1988-2000)
p. 159
5.2.2.1.9 Amsterdam – Ijburg (previsão finalização 2012) p. 161
6. CONCEITOS DIRETIVOS DE EMBASAMENTO:
RESGATE DAS PRINCIPAIS IDÉIAS p. 162
CAPÍTULO III – CONCLUSÕES
1. CONCLUSÕES p. 164
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. OBRAS, ARTIGOS, CATÁLOGOS E REVISTAS CITADOS p. 173
1.1 Obras p. 173
1.2 Artigos p. 174
1.3 Catálogos p. 175
1.4 Revistas p. 175
1.4.1 Ambiente
p. 175
1.4.2 Arkinka
p. 175
1.4.3 Architecture Française
p. 176
1.4.4 AU p. 176
1.4.5 Bravo!
p. 176
1.4.6 Habitare p. 176
1.4.7 Hollandhorizon
p. 176
1.4.8 Projeto p. 176
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA p. 177
1. OBRAS E ARTIGOS CONSULTADOS p. 177
1.1 Obras p. 177
1.2 Artigos p. 177
ANEXO I
18

1. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
O problema da habitação
1
, qualquer que seja sua modalidade, para um arquiteto
implica em preocupações de toda ordem. Desde que o mesmo seja compreendido
como algo bem mais complexo do que o simples projeto de um objeto
arquitetônico dissociado do contexto e de quem o utilizará
2
.
Conforme Diane Ghirardo,
A maioria dos projetos novos... [de habitação] ...envolve alguma
reconceitualização do papel do arquiteto, de artista solitário a um dos
membros de uma grande equipe envolvida com a habitação, enquanto
parte de um maior ataque às más condições de vida [sublinhado da
autora]
.
(GHIRARDO, 2002, p. 124)
A equipe citada pela autora inclui usuários, arquitetos, construtores, promotores e
todos os setores envolvidos com a produção habitacional, entre os quais
considera-se fundamental a inclusão do poder público, de grande
responsabilidade na definição dos usos do solo. Equipe cuja finalidade deve ser o
“...ataque às más condições de vida”, e não o benefício particular de cada um dos
participantes no processo, independentemente das necessidades de um deles: o
usuário. Benefício, que especificamente no caso do arquiteto brasileiro, além de
econômico resulta social e até cultural, ao identificar-se, por sua formação, com
tipologias habitacionais que partem duma situação privilegiada, já que comumente
são tipologias do “poder”
3
. Muitas vezes os interesses particulares destes setores
1
Considera-se o conceito de habitação não restrito unicamente à unidade habitacional, mas
também ao seu entorno, ao ambiente que a cerca, ao seu contexto (ABIKO, 1995).
2
Entende-se por contexto o conjunto total de elementos, interiores e exteriores, que participam da
definição de uma solução arquitetônica.
3
Consideram-se tipologias do “poder” aquelas que historicamente assim surgem como
monumento ou ponto de destaque no terreno, diferentemente daquelas que surgem para a maioria
19
(imobiliário, financeiro, da construção civil, industrial de materiais e componentes,
estatal, e dos usuários), são conflitantes, fazendo com que os mais fortes e
organizados prevaleçam, sendo que isto não significa necessariamente a adoção
da solução socialmente mais adequada (ABIKO, 1995).
Fora a consideração de interesses pessoais, sabemos que a história arquitetônica
está repleta de fatos que demonstram a existência de erros conceituais
cometidos, na maioria das vezes, com a melhor das intenções. Gurna, a cidade
projetada por Hassan Fathy (1973, p.221), que se encontra hoje praticamente
abandonada (ver figura 01); os edifícios Pruitt Igoe de Minouru Yamasaki
(STRICKLAND, 2003, p.136 e JENCKS, 1981, p.09), que foram transformados em
centros de violência e criminalidade (ver figuras 02, 03 e 04), ou simplesmente
exemplos como o das banheiras ou vasos sanitários nos quais os moradores
cultivam plantas mostram que, muitas vezes, cuidadosas elaborações teóricas
escapam à realidade porque a complexidade desta esconde sempre algum
aspecto que não foi considerado. A diversidade cultural, formas de vida
diferenciadas, inclusive dentro da mesma cidade, ou necessidades particulares do
ser humano que escapam a qualquer análise racional, podem ser alguns dos
motivos que geram respostas imprevisíveis a soluções teoricamente adequadas.
da sociedade. Assim apresentam-se desde os templos gregos em 450 a.C., aos palácios e villas
renascentistas do século XV-XVI, às casas de campo do século XVIII, às mansões do século XIX,
e também nesta época até nossos dias, aos arranha céus que surgem nos anos 1880, todos
implantados centralmente num lote (STRICKLAND, 2003). No Brasil, por exemplo, os palacetes
construídos no final do século XIX cercados de área verde, contrapõem-se aos conjuntos de casas
enfileiradas, de um só proprietário, construídas para aluguel, da mesma época (LEMOS, 1999).
20
Figura 01: Rua em Nova Gurna
Fonte: FATHY, Hassan. Construindo com o povo. Arquitetura para os pobres. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 1973, p.251.
Figura 02: Projeto habitacional Pruitt-Igoe, St. Louis. Por Minoru Yamasaki, concluído em 1955.
“Os defensores do estilo Internacional prometiam que a estética de fábrica podia melhorar a vida
dos moradores, uma espécie de garantia de que ‘se nós construímos eles florescerão’. Projetado
como um modelo de habitação eficiente, este projeto de baixo custo tornou-se uma armadilha
mortal. Blocos de torres individuais, com repetição em grande escala de elementos uniformes, não
apenas deixaram de melhorar a condição humana, mas também mostraram-se uma influência
prejudicial. A habitação de massa uniforme presa fácil para o vandalismo e crime foi
considerada socialmente não desejável tardiamente. Estas torres, julgadas prejudiciais ao espírito
e à natureza dos moradores, foram dinamitadas 17 anos após a construção”.
Fonte: STRICKLAND, Carol. Arquitetura Comentada, Uma breve viagem pela história da
Arquitetura. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p.136.
21
Figuras 03 e 04: Implosão e ruínas, no ano de 1972, respectivamente, das Viviendas Pruitt-Igoe
em St. Louis (1952-1955), por abrigarem centros de violência e criminalidade.
Fonte: JENCKS, Charles. El lenguaje de la arquitectura Posmoderna. Barcelona: Editora
Gustavo Gili, 1981, p.09.
Se, de acordo com Christian Norberg Schulz (1979), a tarefa da Arquitetura é a
“...criação da espacialidade de uma forma de vida”, considera-se que esse
objetivo implica necessariamente na definição e interpretação das formas de vida,
não somente respeitando as diversidades culturais, como também fazendo-o com
qualidade.
Entende-se que nessa tarefa existe uma enorme responsabilidade para todos,
porque a realidade mostra, como é comum no dia a dia de nossa atividade
profissional, que não seja dada importância devida à qualidade.
Alguma coisa pode ser feita? Acredita-se que sim e, em definitivo, este será o
maior objetivo do trabalho.
Para alcançá-lo considera-se importante desenvolver os seguintes assuntos:
Como ponto de partida toma-se a análise das circunstâncias atuais em que
se encontra a habitação multifamiliar destinada à população com um poder
aquisitivo médio e médio/baixo.
A primeira constatação, que surge da comparação de elementos de
observação pessoal, é clara: a falta de qualidade, em seu sentido mais
amplo, desse tipo de habitação. E a segunda também se torna óbvia: as
visíveis exigências do mercado, voltadas ao máximo aproveitamento do
22
solo urbano, às quais todos os agentes promotores e produtores da
habitação estão sujeitos - incluídos os profissionais responsáveis pela
elaboração dos projetos arquitetônicos - que acabam determinando a
conseqüente baixa qualidade habitacional dos conjuntos implantados nas
áreas urbanas.
Desconsidera-se, na produção dos projetos arquitetônicos, conduzidos
geralmente pelos detentores do capital imobiliário - e produzidos pelos
profissionais de projeto segundo as normas ditadas por aqueles -, questões
referentes à real satisfação das necessidades básicas individuais e
coletivas dos usuários (conclusão das entrevistas realizadas às empresas
construtoras consultadas em Florianópolis, 2003).
Carlos Antônio Leite Brandão, refere-se ao assunto da seguinte forma:
Nós, arquitetos, habituamo-nos demais a admirar uma arquitetura de
revista, feita mais para ser vista do que vivida. Habituamo-nos a
contemplar os espaços à nossa frente e desacostumamo-nos a vê-los
desenvolver ao nosso redor, abrigar-nos em um cosmos ou universo
familiar, sugerir ações e comportamentos, acolher amigos e conversas,
promover a itinerância, o movimento ou o repouso. Vemos a arquitetura
como se fosse quadro ou objeto de museu e não como espaços onde
se habita e se convive com os outros e com nós mesmos, espaços onde
educamos corpo, alma, hábitos e afetos. (BRANDÃO, 2003, p. 04).
A carência de qualidade espacial e ambiental dos conjuntos de edifícios,
aliada a uma implantação geométrica repetitiva que considera,
aparentemente, a questão da moradia como fechada em si mesma,
excluindo até o próprio terreno e sua relação com o contexto existente,
negando assim o vínculo com a rua, com as características do bairro e, em
particular, com os próprios espaços abertos, verdes e de lazer, exigíveis
em qualquer conjunto habitacional, são características que se apresentam
freqüentemente nos exemplos analisados e ainda permanecem como
diretivas para a realização de novos projetos (ver figuras 05, 06 e 07).
Segundo Alex Kenya Abiko (1995), a construção de conjuntos
habitacionais é tradicional no Brasil e procura vantagens “...da economia
23
de escala, qual sejam, a minimização de custos de implantação, custos de
infra-estrutura urbana, custo das edificações”. O autor ainda acrescenta
que, “para um maior aproveitamento desta economia os conjuntos
habitacionais são construídos com projetos de edifícios-padrão, resultando
em uma implantação repetitiva e monótona”. Considerando ainda a
elevação do custo da construção constata-se que estes conjuntos
habitacionais diminuem cada vez mais seu tamanho e atendem
progressivamente a faixas de renda mais elevadas (ABIKO, 1995).
Figura 05: Passado. Conjuntos Residenciais Multifamiliares construídos na década de 80,
localizados no bairro Trindade da cidade de Florianópolis, que apresentam as mesmas
características espaciais e de implantação dos conjuntos executados hoje em dia.
Fonte: Fotografia realizada pela autora em 2003.
24
Figura 06: Presente. Conjunto Residencial Multifamiliar concluído no final do ano de 2003,
localizado no bairro Trindade da cidade de Florianópolis, segue sem qualquer questionamento as
características arquitetônicas espaciais e de implantação “historicamente consolidadas” na região.
Fonte: Fotografia realizada pela autora em 2003.
Figura 07: Futuro. Perspectiva do Projeto Arquitetônico para o Conjunto Residencial Multifamiliar
que tem sua entrega prevista para o final de 2005. Localiza-se no bairro Parque São Jorge, da
cidade de Florianópolis, e segue igualmente os exemplos anteriores, com as mesmas
características arquitetônicas espaciais e de implantação.
Fonte: Panfleto distribuído gratuitamente pela Empresa Construtora para divulgação e propaganda
do empreendimento.
25
A transformação da habitação num bem de consumo exige daqueles que a
produzem uma imagem “vendável” do produto, criada pela generalização
de estereótipos de qualidade de vida que, na maioria das vezes,
respondem aparentemente aos anseios e necessidades de vida dos
usuários, criados de fato pelos próprios produtores da habitação. A imagem
criada consegue convencer o cliente/usuário, que perceberá tardiamente a
realidade, ou chegará mesmo a não percebê-la, convencido que o que lhe
é oferecido é o melhor que pode ser feito para a sua categoria, por falta de
conhecimento de outras alternativas possíveis.
Por essa razão, a consulta ao usuário, quando chega a ser feita, pode não
ser o reflexo da realidade, o que coloca em dúvida os resultados dos atuais
mecanismos empregados nas avaliações pós-ocupação
4
.
Apesar das questões acima apresentadas, a solução em conjuntos
habitacionais tem sido adotada, pois para o usuário além de ser o que
existe em termos de oferta é o mais conveniente economicamente; os
empreiteiros, construtores e, ou promotores defendem esta solução, pois
se constitui em seu consolidado mercado, e para o Poder Público a
construção de novas habitações é sempre sinônimo de prestígio e
competência que se traduzem em votos na ocasião oportuna (ABIKO,
1995).
Essa imagem criada ou "qualidade estética", para Carlos Antônio Leite
Brandão,
...impera num campo entrincheirado, desligado do mundo real, da
cultura, da história, do saber, do dever e das decisões. Nele, o objeto
passa a habitar, exclusivamente, a esfera das aparências, onde vigora a
“beleza”
[aspas da autora] e não valem os limites da realidade, além da
qual se debruça a estética. (BRANDÃO, 2003, p.05).
4
A avaliação pós-ocupação – APO – segundo Alex Kenya Abiko (1995) “...é utilizada para
diagnosticar aspectos positivos e negativos de edifícios, espaços públicos e privados, uma vez
ocupados, a partir de uma avaliação de fatores técnicos funcionais, econômicos, estéticos e
comportamentais do ambiente em uso. Esta avaliação é baseada na opinião de técnicos,
projetistas e construtores, os atores do processo construtivo e dos usuários.
26
Como forma de encontrar subsídios para a compreensão e defesa do
objetivo final se estudará o processo de desenvolvimento da habitação
coletiva no tempo, considerando períodos fundamentais, como o posterior
à Revolução Industrial e o do pós-guerra, no panorama mundial e nacional.
Apresentam-se, como parâmetros comparativos, alguns exemplos de
propostas européias que dão resposta a uma situação de aumento
descontrolado do número de habitações implantadas em cada de solo
disponível, resultando numa diminuição da qualidade de vida, o
exclusivamente pelas características de seu ambiente interno, mas
principalmente pelo total desrespeito pelas áreas comuns, verdes e de
lazer, degradando progressivamente a habitação, a cidade e seus
habitantes.
A análise desses exemplos será uma referência na procura de caminhos
que levem a respostas superadoras com relação às monótonas repetições
de edifícios e de formas de implantação, para alcançar uma rica
diversidade espacial que permita a interação entre a moradia e os espaços
abertos, entre esses e seus usuários, e que possa qualificar a paisagem
urbana.
Neste estudo, tem um destaque especial o conceito gerador da proposta
da tipologia de quarteirão fechado com pátio interno, e suas possibilidades
de adequação às características e personalidade brasileira, que desde o
início da habitação coletiva é esta a forma utilizada como espaço
socializante, como será apresentado ao longo do segundo capítulo.
Dentro da importância que serão dados aos valores contextuais, será
abordada a integração dos conjuntos habitacionais com a cidade e suas
ruas, ao invés do isolamento dos mesmos em “parques” suburbanos. Neste
aspecto, será tratado também o valor da plurifuncionalidade do conjunto,
como forma de integrar os conceitos de habitação e qualidade de vida,
que a diversidade de funções é a responsável por trazer um número maior
de pessoas (donos de estabelecimentos comerciais ou de serviços,
clientes ou usuários) e de manter os próprios moradores em seu bairro,
27
pela proximidade de serviços e maiores opções de trabalho, ou seja, tem-
se menores despesas com deslocamentos, maior conforto, maiores
possibilidades de relações de vizinhança, maior segurança no uso dos
espaços para um maior de pessoas, por formarem-se núcleos de
pessoas conhecidas (LUCINI, 1996).
Por outro lado, a estrutura padronizada das cidades, em sua maioria,
instala as áreas destinadas ao trabalho no centro e a moradia nas áreas
periféricas (JACOBS, 2003). Essa situação tem, sem vida, várias
explicações, mas precisa, para funcionar, do uso do carro ou, no mínimo,
de um eficiente sistema viário e de transporte coletivo para evitar maiores
problemas para a cidade.
Consideram-se o comportamento social do usuário, e seus conceitos sobre
qualidade de vida dados fundamentais do problema que, como foi
destacado, muitas vezes acabam sendo influenciados e alterados pelos
caminhos do marketing e dos meios de comunicação, direcionados
exclusivamente a aumentar o número de vendas. A partir dessa
problemática, considerou-se importante substituir a entrevista pela
observação direta do usuário, em diversos conjuntos residenciais (ver
Anexo I). Usos e relações que se estabelecem espontaneamente poderão
orientar sobre as características do usuário e de seu cotidiano,
possibilitando, assim, o conhecimento necessário para poder determinar
novas diretrizes para a produção de projetos que ofereçam maior qualidade
de vida aos diferentes usuários.
Sobre o aspecto “visual” e de “marketing” na arquitetura, dado nos dias de
hoje, Brandão argumenta:
Reduzir a arquitetura a um único aspecto, expulsando tudo o mais, é
não explorar a abundância de seu ser. Produzir ou criticar a forma
considerando apenas seus arabescos exteriores, não referindo-a às
outras duas dimensões da tríade vitruviana ou à idéia e sua conversão
em projeto e edificação, significa essencialmente não conceber a forma-
da-arquitetura, mas a arquitetura concebida como imagem, negando-a e
cegando-se. (BRANDÃO, 2003, p.11).
28
A meta final do trabalho alicerça-se, portanto, no resgate dum conjunto de
conceitos que, visando a real melhoria da qualidade de vida das pessoas,
introduzam um nível desta mais aceitável, responsável e digno para a arquitetura
dos conjuntos habitacionais, assim como para o meio no qual estão inseridos.
Estudando-se os valores da proposta urbana de quarteirão fechado, pretende-se
resgatar os traços que se consideram positivos de uma postura urbanística
tradicional, reinterpretando suas características fundamentais como meio de
conquistar uma forma de vida digna nos espaços residenciais, de acordo com a
realidade do país e, principalmente, de acordo com o comportamento social de
sua população.
Se o objetivo é a conquista de qualidade de vida, considera-se de fundamental
importância esclarecer desde este primeiro momento o que se entende por esta
expressão para este trabalho.
1.1 Qualidade de Vida
Definir o que todo mundo parece saber é, talvez, uma das tarefas mais difíceis.
Todos parecem concordar sobre seu significado, mas chegar a uma definição
suficientemente clara de qualidade de vida para poder transformá-la num
parâmetro em arquitetura, torna-se difícil. Principalmente porque não existe uma
definição objetiva e universal para esse conceito, por seu caráter cultural e
subjetivo e, portanto, difícil de ser medido; também porque a complexidade de
fatores que o integram transforma qualquer definição em redutora. Por isso, não
se pretende chegar a uma definição e, sim, a uma aproximação de seu significado
que, pelo menos, deixe clara a intenção da proposta deste trabalho.
Através da observação dos espaços desenvolvidos pelo homem pode-se concluir
que as soluções habitacionais com qualidade de vida devem responder, antes de
tudo, às necessidades de proteção e aconchego do ser humano. Sabe-se que
29
desde a Pré-História, os testemunhos deixados pelo homem expressam estas
necessidades manifestadas, é claro, através de exigências materiais, mas
fundamentalmente através de sensações. Assim é o “sentir” o que se considera
mais importante, já que as pessoas, de modo geral, sentem-se melhor num
ambiente aconchegante do que a num ambiente com melhor orientação solar, por
exemplo.
Essas necessidades estão na origem da procura do homem pela aproximação
com seus semelhantes, gerando novas necessidades válidas desde então: a
sociabilidade e o desenvolvimento dos valores comunitários que estimulam a
solidariedade.
A forma primeira e mais natural de agrupamento organizado dos seres humanos
foi a aldeia
5
, a forma grupal mais comunitária que existe. Numa entrevista
realizada recentemente na televisão, uma índia, quando solicitada a representar
sua casa, desenhou sua aldeia.
Analisando exemplos do cotidiano pode-se entender que o forte individualismo
desenvolvido nos tempos modernos não parece ter conseguido apagar essas
necessidades primárias. É suficiente o aparecimento de circunstâncias especiais,
como um acidente ou uma enchente, para que, por exemplo, habitantes de um
condomínio, que muitas vezes nem se conhecem, se integrem em grupos para
resolver os problemas. A autora pode constatar, ao participar de uma enchente
em seu condomínio, que esta integração solidária em grupos é feita com alegria:
o homem sente-se bem sendo solidário e participando de um grupo.
Deduz-se, então, que as estruturas que favorecem a vida de forma mais
comunitária desenvolvem a qualidade de vida, assim como as que desenvolvem
valores de interioridade e as relações espaciais, favorecem o aconchego e a
segurança.
5
Desde os primórdios da civilização o homem teve necessidade de se abrigar, utilizando como
abrigo espaços naturais (cavernas e árvores). Com o progressivo desenvolvimento das
habilidades humanas os abrigos passaram a ser construídos com pedras, madeira e terra, e com o
passar do tempo o homem ao juntar-se com outros homens forma aldeias, agrupamentos
comunitários de moradias que crescem com áreas para o cultivo de alimentos, construções de
defesa e atividades religiosas. Quando a produção torna-se maior do que a necessidade de
consumo, constituindo o excedente, este tem que ser comercializado, distribuído, armazenado;
neste momento pode-se caracterizar a formação das primeiras cidades (ABIKO, 1995).
30
As híbridas soluções, presentes no dia a dia das pessoas, incansavelmente
repetitivas, tão comuns, ignoram todos esses valores humanos que não requerem
altos investimentos para serem alcançados. O verdadeiro problema está na
qualidade arquitetônica.
Diante de formas ou objetos agradáveis e desagradáveis até uma criança
intuitivamente sabe qual escolher, assim pode-se concluir que o sentido de beleza
também faz parte da essência do ser humano como valor de satisfação, pelo que
se considera sua presença necessária em soluções que considerem o usuário
como tal.
A desinformação influencia o usuário a aceitar sem críticas soluções que não lhe
satisfazem realmente. Sabe-se o quanto se faz para convencê-lo de que não
pode aspirar mais por suas condições econômicas, quando a simples substituição
de formas estereotipadas por criatividade resolveria boa parte do problema.
Respostas arquitetônicas adequadas não deveriam custar mais: uma maior
qualificação da habitação deveria estar no campo de atuação do arquiteto, que é
quem deveria trabalhar com os valores culturais, além dos materiais, e quem
poderia estar melhor capacitado tanto para oferecer ao usuário possibilidades
reais de respostas adequadas à sua realidade, quanto para incentivar aos demais
agentes responsáveis pela produção da habitação, que essas respostas
podem trazer benefícios para todos. Porém, no Brasil, isto não acontece, em
função de que este profissional não é formado nem socialmente nem
culturalmente para solucionar questões econômicas dos edifícios sociais, de
tipologias sociais, mas sim de tipologias do “poder”, às quais o modificadas de
acordo com questões econômicas. Esta questão será abordada com mais
profundidade no capítulo II, item 4 e subitem 4.4).
Entende-se que a qualidade de vida, por estar relacionada com tendências
naturais do ser humano, deverá trilhar muitas vezes caminhos contraditórios.
Observa-se em qualquer um dos conjuntos habitacionais apresentados no Anexo
I, que às necessidades comunitárias, de relacionamento com o meio, opõem-se à
procura de privacidade, resultando a qualidade na melhor solução de equilíbrio
entre ambas.
31
Não pode deixar de ser considerado também o uso adequado de elementos
objetivos como os apresentados nos regulamentos dos órgãos municipais
competentes: os padrões de tamanho das diferentes habitações, próprios da
sociedade e da classe considerada; os equipamentos; o número de pavimentos; a
orientação solar; a resposta adequada ao clima, entre outros, que, se bem estão
geralmente instituídos, seria importante conscientizar sobre a sua incidência,
que tantas vezes o esquecidos, como se pode verificar através dos exemplos
apresentados.
Por outra parte, deve-se levar em consideração que o progresso tecnológico
possibilita e gera, principalmente através da mídia, novas necessidades que
transformam o nível de qualidade de vida desejado, e que, em função do
marketing, costumam adotar mais uma forma “enganosa”: transforma-se a
necessidade numa paródia, como por exemplo, nos anúncios publicitários onde a
“piscina” ou o “play-ground” dos condomínios, ao contrário do anunciado, por suas
dimensões, implantação forçada, localização à sombra e outras características
negativas habilmente camufladas não introduzem qualquer melhoria na qualidade
de vida (ver figuras 08, 09 e 10).
Figuras 08 e 09: Perspectiva e planta do Projeto Arquitetônico, mostradas no anúncio publicitário
para o Conjunto Residencial Multifamiliar, lançado em 2003, que se localiza no bairro Saco
Grande, da cidade de Florianópolis. A perspectiva ressalta uma aparente grande área de lazer e
espaços verdes bem ensolarados; porém, se prestarmos atenção à implantação do conjunto,
perceberemos que seu centro é uma circulação de veículos para onde convergem as sacadas e
os dormitórios dos apartamentos tipo 5 e 6, os quais não apresentarão boa insolação e iluminação
em função da orientação solar. Observando também o “jardim” na planta, percebemos que este
existe somente pela configuração da circulação dos veículos.
Fonte: Panfleto distribuído gratuitamente pela Empresa Construtora para divulgação e propaganda
do empreendimento.
32
Figura 10: Espaços destinados a áreas de lazer em edifícios residenciais de alto padrão, no bairro
Batel, da cidade de Curitiba. Exemplo da baixa qualidade que áreas de lazer podem oferecer,
mesmo para uma camada da população com alto poder aquisitivo, onde seus usuários acabam
confinados a espaços remanescentes.
Fonte: Fotografia realizada pela autora em 2003.
Segundo Abiko (1995), a questão tecnológica condiciona as soluções
habitacionais, e muitas vezes a inovação tecnológica procura apenas baratear
uma determinada solução técnica, o que leva a uma diminuição de qualidade,
além da preocupação com a tecnologia estar voltada apenas à tecnologia da
33
unidade habitacional, sendo que deveria ser analisada de forma integral no
conjunto habitacioanal.
Consideraram-se os valores humanos como os fundamentais para definir a
qualidade de vida. Será dessa forma que a qualidade de vida deverá ser
entendida neste trabalho.
34
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
2.1 Pressuposto principal
Algumas das características espaciais e de implantação da tipologia de habitação
coletiva com tio interno, consideradas formalmente num sentido amplo, podem
contribuir no caso de habitações destinadas à classe média e média/baixa para:
- a melhoria do ambiente construído, ou seja, das relações urbanas
espaciais internas e externas ao conjunto;
- a recuperação saudável de relações entre os espaços privados, os
públicos e os semipúblicos;
- possibilitar modificações de comportamento social nos usuários e nos
produtores da habitação que incidam na melhoria da qualidade de vida.
2.2 Pressupostos secundários
- A produção habitacional segue, atualmente, parâmetros “qualitativos”,
embasados no conceito de máximo aproveitamento do solo urbano,
criando aglomerados de construções, não de arquitetura, que esquecem as
necessidades básicas e as relações dos moradores com espaços abertos,
verdes e de lazer, assim como com a rua e a cidade;
- Os incorporadores e construtores, detentores do capital imobiliário, exigem
a aplicação de determinadas “fórmulas” que orientam a produção
arquitetônica “vendável”. Fórmulas aceitas pela maioria dos arquitetos,
35
habituados a responder a estes setores desde sua formação profissional, o
que não propicia a singularidade de um bom projeto, que poderia ser ainda
mais rentável;
- A arquitetura responsável (em termos de funcionalidade, técnica, perfeição
e rigor), não é necessariamente mais cara;
- A mídia cria estereótipos de qualidade de vida que acabam sendo aceitos
pelo usuário e que respondem mais aos interesses de venda dos
empresários do que às reais necessidades da população;
- Existe uma relação entre a qualidade espacial e ambiental, e o
comportamento e grau de satisfação do usuário, em função de relações
dimensionais - escala, proporcionalidade, número de pessoas -.
- A solução para uma produção habitacional econômica e social requer um
re-posicionamento do arquiteto o qual, em nosso meio, muitas vezes é um
agente passivo e mercadológico que aceita, por sua formação, assim como
os outros agentes participantes na produção habitacional, as diretrizes dos
detentores do capital de investimento.
36
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Resgatar através de referências nacionais e internacionais, independentemente
do momento histórico em que aconteceram, conceitos para soluções urbano-
arquitetônicas de conjuntos residenciais multifamiliares que, visem a real melhoria
da qualidade de vida das pessoas, introduzindo um nível mais aceitável,
responsável e digno para a produção de conjuntos habitacionais, assim como
para o meio no qual estão inseridos.
3.2 Objetivos Específicos
- Recuperar o significado dos espaços de lazer exteriores em conjuntos
habitacionais para o desenvolvimento destes de forma consciente nos
projetos arquitetônicos;
- Apresentar, de forma comparativa às referências internacionais, os
diferentes exemplos nacionais e atuais da situação dos espaços exteriores
nas habitações de conjuntos multifamiliares para as classes média e
média/baixa;
- Através dos exemplos apresentados, que consideram a qualidade de vida
nos espaços externos dos conjuntos residenciais, indicar soluções
arquitetônicas que possam influenciar e promover uma reformulação
qualitativa da produção habitacional atual;
37
- Mostrar (através da observação e de contatos informais com moradores
dos conjuntos habitacionais apresentados), que as formas espaciais e a
qualidade ambiental nos espaços de uso coletivo exercem influência no
comportamento humano, gerando idéias de territorialidade, ambiência e
proporcionalidade, determinados pela escala, dimensão de ambiente,
forma e número de usuários fundamentalmente;
38
4. METODOLOGIA
A proposta à qual se pretende chegar surgiu inicialmente da observação ao longo
dos anos de estudante e depois de formada, da realidade da cidade de
Florianópolis, em relação à deterioração do ambiente construído dos conjuntos
residenciais para a população de média e baixa renda. Na eleição do “recorte”
necessário ao desenvolvimento deste trabalho, a qualidade específica dos
espaços externos tornou-se o ponto de maior interesse nos conjuntos
habitacionais, por ser aparentemente, em função da realidade vista nos exemplos
selecionados, um dos mais desconsiderados no momento projetual, apesar de
seu importante significado.
Inicia-se assim, por uma sistematização das observações já realizadas, baseadas
agora nos estudos desenvolvidos e no confronto da realidade de Florianópolis
com outras, sejam nacionais ou internacionais, contemporâneas ou históricas.
O Estudo complementa-se com pesquisas sobre os temas necessários ao
entendimento da realidade habitacional multifamiliar: características do ser
humano, características do mercado da cidade, e forma de trabalhar dos agentes
produtores da habitação desta.
A seqüência das pesquisas realizadas com esta finalidade deu origem aos
diferentes capítulos que integram o trabalho.
Entende-se que a percepção da realidade é subjetiva, o que não poderia ser de
outra maneira num trabalho que exige uma postura crítica e, assim, pessoal. O
rigor estará dado pela procura da diversidade de opiniões qualificadas
pesquisadas, através das quais se procurará obter informações dos segmentos
que conformam o problema, interpretando os pontos de vista da forma mais
objetiva possível.
39
A opinião sobre a realidade observada será complementada e confrontada com
os conhecimentos obtidos através de leituras que desenvolvam em profundidade
o tema, assim como por uma nova observação da realidade sob a ótica dos novos
conhecimentos adquiridos. Através da constante reformulação dos conceitos e
uma análise progressiva da realidade, serão revelados os possíveis parâmetros
de conflito que, a partir de questionamentos e a confrontação com a realidade,
permitirão elaborar um trabalho que contribua no sentido de uma possível
mudança e melhoria da situação em questão a ser verificada no decorrer do
trabalho.
Assim, serão resgatados conceitos de arquitetura que poderão contribuir para
novas posturas e alternativas qualitativas que favorecerão a produção
habitacional atual, centralizadas na questão espacial externa.
Entende-se que pode ser provável uma posterior aplicação das conclusões
obtidas através deste trabalho de forma que possam ser entendidas,
principalmente, pelas empresas responsáveis pela promoção e produção das
habitações, o que poderá garantir uma aplicabilidade real deste trabalho. Espera-
se que o objetivo desta pesquisa seja válido no sentido de iniciar uma mudança
na direção da produção habitacional atual, mesmo sem garantia de sua
aplicabilidade.
A produção habitacional coletiva será analisada a partir de alguns exemplos
realizados por empresas construtoras de Florianópolis, e da avaliação de suas
soluções espaciais em relação a outros exemplos internacionais e ao
comportamento das pessoas e da realidade arquitetônica criada. Dito de outra
forma, serão analisadas as conseqüências que as construções, realizadas pelos
agentes promotores e produtores da habitação, têm sobre o comportamento das
pessoas e sobre os valores urbanos. E como as relações espaciais resultantes
podem efetivamente provocar estas alterações comportamentais.
O levantamento e verificação das necessidades e expectativas dos moradores de
conjuntos habitacionais serão realizados através da observação do cotidiano no
local, como, necessidades, usos e inconvenientes.
40
Orientações de projeto para novas formas de produção habitacional serão o
resultado dos conceitos obtidos a partir da revisão conceitual e teórica. A intenção
é que, ao longo do tempo, o mercado imobiliário tenha a possibilidade de
conhecer, absorver e aplicar estes conceitos, e conseguir distinguir as vantagens,
não só econômicas, geradas por uma demanda mais satisfeita e, portanto, maior.
Desta forma, os passos seguidos pela metodologia proposta procurarão deixar
claro que as formas espaciais e a qualidade ambiental que correspondem, neste
estudo, aos espaços de uso coletivo, exercem importante influência no
comportamento humano. Assim, pressupõe-se que através de reformulações
projetuais nos conjuntos habitacionais pode tornar-se possível a melhoria na
qualidade de vida dos usuários, assim como na paisagem urbana.
41
5. RECORTE
A pesquisa é desenvolvida considerando uma tipologia habitacional específica: o
Conjunto Habitacional Multifamiliar de edifícios de até 6 pavimentos, estudado
para uma faixa de poder aquisitivo médio e médio/baixo.
Nosso campo crítico compreende principalmente a cidade de Florianópolis.
6. LIMITAÇÕES
Ausência de uma tipologia habitacional, no campo delimitado para abordagem,
que possua as qualidades encontradas nos conjuntos habitacionais pesquisados
no exterior.
42

1. PROBLEMA E MUDANÇA
crescimento urbano
O problema concreto da habitação coletiva faz parte, obviamente, de um
problema mais amplo que é o crescimento das cidades. Entende-se que se se
pretenderem encontrar soluções nesse campo, não se pode deixar de inseri-lo
dentro da problemática urbana total.
Observando a realidade, e procurando entendê-la através da bibliografia que trata
do assunto no Brasil, pode-se perceber que o País como um todo vive hoje em
função de um grande crescimento urbano, num momento conflituoso e
contraditório em relação à habitação coletiva multifamiliar.
A superfície urbanizada das cidades sempre apresentou, e apresenta até os dias
atuais, um progressivo crescimento que visa responder às necessidades do
homem; porém, até o século XIX esse crescimento aconteceu através de
processos mais lentos que permitiram uma assimilação e uma sedimentação das
intervenções anteriores. Atualmente, o ritmo de crescimento invade áreas sempre
maiores e perturba o equilíbrio existente, transtornando os significados, como
acontece hoje nas periferias e nas faixas dispersas dos aglomerados (JACOBS,
2003). Esses problemas não acontecem exclusivamente no Brasil. E, justamente,
por apresentar um caráter internacional, considera-se que reflexões de autores ou
arquitetos europeus sobre o tema podem ajudar a entender a própria realidade
para tentar melhorá-la.
O arquiteto Mário Botta, por exemplo, apresenta um posicionamento bem
concreto: o importante para começar a resolver os problemas do crescimento
urbano é:
43
...travar drasticamente o crescimento em direção ao exterior,
recuperando no interior da cidade as grandes áreas obsoletas...,
satisfazendo as novas exigências quantitativas, mas ao mesmo tempo
contribuindo para um processo geral de requalificação. (BOTTA, 1996,
p.98).
De acordo com esse arquiteto, o espaço urbano encontra-se fragmentado e a
arquitetura deve assumir uma nova tarefa, enfrentando a complexidade da cidade
na qual cabe ao arquiteto:
...transformar os espaços residuais de forma a que voltem a ser
espaços desenhados, que os vazios urbanos voltem a ser verdadeiras
praças, que os elementos resultantes do construído se tornem partes
‘desenhadas’ da cidade. (Idem, p.41).
Ainda, a observação da situação da arquitetura atual no Brasil e do papel do
arquiteto nesta, não verifica o compromisso com essa nova tarefa pretendida por
Botta.
Sabe-se que desde os primórdios da história, a cidade sempre representou a
necessidade do ser humano de superar sua solidão, de integrar esforços e de
criar formas de vida em conjunto. Porém, ironicamente, considerando o exemplo
do dia a dia das maiores cidades do Brasil, pode-se inferir que talvez estas sejam
os lugares onde as pessoas vivem cada vez mais isoladas, independentes e
alheias às relações sociais. Curiosamente, pode-se dizer que a própria cidade
parece estar negando a sua própria origem. Se um dia os seres humanos,
segundo os textos que contam a história da cidade, decidiram levantar uma
muralha e viverem juntos dentro dela, é sem dúvida porque eles sentiram a
necessidade de relacionar-se e de comunicar-se e, para isso, precisaram de
espaços que viabilizassem e estimulassem esse relacionamento de forma
concreta.
No entanto, assistindo o cotidiano das cidades, principalmente Brasileiras,
atualmente é comum que espaços destinados à comunicação e ao
relacionamento social permaneçam vazios. Por que? O ser humano deixou de ser
social? Vive melhor sem sê-lo? Ou será que se estão alterando com as cidades
tendências naturais e permanentes do ser humano?
44
Botta considera que sim, que está acontecendo algo errado no encaminhamento
atual de nossa forma de vida:
Não existe atualmente cidade que não escape a um profundo mal-estar,
onde construções feitas para responder a necessidades de tipo
funcional não se revelem negativas para a própria vida do homem.
(BOTTA, 1996, p.95).
Conclui-se que a organização social dentro da cidade e a “evolução” tecnológica
oferecem cada vez mais aos cidadãos condições favoráveis ao individualismo, e
não à sociabilidade. Considera-se, igualmente a Gregotti, que a cidade
representa:
...o esforço mais notável, por parte da civilização humana, de uma
transformação completa do ambiente natural, a passagem mais radical
do estado de natureza ao estado de cultura com a criação de um
“microclima” particularmente adequado para o desenvolvimento de
algumas relações fundamentais para a vida do homem... [e que deveria
oferecer] ...o sistema mais adequado para reduzir ao mínimo o controle
social, mais ampla liberdade de trabalho em termos de escolha, de
organização sindical, etc., a mobilidade social, uma gama de serviços e
diversões mais ampla e um elevado vel de sistemas educativos e
sanitários. Além disso, a cidade induz o indivíduo a considerar-se centro
de uma situação, protagonista, de certo modo mais direto, de uma
dinâmica de desenvolvimento, e considerar-se (se bem que
freqüentemente de modo ilusório) habitante de um ponto do território
historicamente privilegiado e dono dos significados que representa para
o grupo social. (GREGOTTI, 2001, p.68-69).
Considera-se que esses objetivos devem ser devolvidos às cidades e seus
cidadãos; a Arquitetura o pode esquecer sua responsabilidade em relação ao
espaço urbano. Entende-se que o profissional mais indicado e que deveria
assumir o compromisso com a valorização qualitativa do espaço da cidade, ao
mesmo tempo em que poderia satisfazer seu crescimento quantitativo, deveria ser
o arquiteto, apesar de que diariamente pode-se reconhecer e concluir que este
profissional, no âmbito nacional e de modo geral, não esta propondo, ou voltando-
se neste sentido.
45
Concorda-se com Benedetto Gravagnuolo quando afirma que:
...a essência da arquitetura não está no útil, isto é, nas puras e simples
soluções práticas às exigências do espaço coberto, mas responde a
uma necessidade mais profunda do espírito: construir a qualidade do
habitar. A prova está no fato da nossa cultura transcender o mero dado
material das construções para projetar sobre as formas construídas,
valores estéticos, simbólicos e emocionais tais, que se elevam a signos
de uma civilização, há motivos para esperar que esta antiqüíssima
necessidade espiritual do homem permaneça viva também no futuro.
(GRAVAGNUOLO in: Prefácio de Ética do Construir. BOTTA, 1996,
p.12).
Esses são os valores que estão sendo banalizados pela forma na qual a
arquitetura vem sendo praticada pelas sociedades, e pela atitude passiva dos
arquitetos perante os objetivos que interessam ao mercado capitalista, onde o
consumidor, o usuário, o morador, que necessita da satisfação desses valores, é
tratado como um estereótipo. A “...essência da arquitetura...”, descrita por
Gravagnuolo, parece estar mesmo sendo distorcida pela maioria dos arquitetos
do país ao investirem “...nas puras e simples soluções práticas às exigências do
espaço coberto...”, determinadas, muitas vezes, pelos produtores, promotores do
espaço da cidade.
O estudo da complexidade das causas que transformam a cidade extrapola o
objetivo deste trabalho.
A discussão sobre a insatisfação da população com a sua cidade teve, em épocas
passadas, outros motivos. Durante o pós-guerra, a habitação construída
precipitadamente por uma demanda quantitativa exagerada gerou grandes
problemas relativos à higiene ambiental, salubridade e deterioração física
arquitetônica e urbana (JOEDICKE, 1968). A falta de recursos derivada da guerra
fez, por exemplo, que na Alemanha, o arquiteto Walter Gropius se dedicasse
principalmente a uma atividade teórica e de ensino, sem conseguir concretizar
melhores soluções para o problema da habitação (GROPIUS, 1956). Mas hoje,
simplesmente caminhando nas cidades, pode-se perceber que é a especulação
imobiliária que, em função do valor da terra, pretende utilizar ao ximo cada
46
metro quadrado de solo urbano, gerando uma arquitetura sem qualquer
comprometimento com os espaços abertos relacionados com os edifícios, como
identificamos nos exemplos nacionais observados anteriormente. Pode-se
deduzir, a partir destas observações que a especulação gera uma preocupação
exclusiva com a unidade habitacional fechada em si mesma, esquecendo o valor
dos espaços abertos para a qualidade de vida de seus usuários. Nas visitas
realizadas a diferentes imobiliárias pode-se perceber, de modo geral, que como
estratégia de mercado apresenta-se e vende-se ao cliente uma “planta baixa” com
lay-out chamativo. Este muitas vezes é enganoso, não internamente em
função da utilização de diferentes escalas para o apartamento e seu mobiliário,
mas também externamente, onde sequer é mostrada sua relação com o espaço
externo e aspectos de orientação.
Pensa-se assim, que interpretar as expectativas da sociedade contemporânea e
suas necessidades na realização de suas obras,
...longe de se confundir com cedência profissional às leis heterônomas
do mercado da construção civil, representa um desafio contra aquele
pessimismo, tão difuso quanto sem motivo, que nega a possibilidade de
realizar arquitetura de qualidade no nosso ‘presente desencantado’.
(Idem, p.13-14).
O arquiteto Hugo Lucini (1996), em sua tese sobre habitação social, concorda
com a hipótese sustentada por Botta, com relação ao impedimento do
crescimento periférico e desmedido da cidade e ao favorecimento da recuperação
de áreas internas obsoletas. Mas ele também entende que essa hipótese só
poderá ser efetivada através de uma tipologia habitacional específica que
responda a essa integração urbana, e contemple os setores de poder aquisitivo
baixo e médio (eliminando a segregação)
6
, e que a possibilidade de provocar e
aceitar uma mudança tipológica habitacional deveria partir das próprias
exigências dos usuários.
6
Para a válida implantação desta tipologia habitacional específica devem satisfazer-se também os
objetivos dos setores econômicos preponderantes na produção das edificações: promotores,
incorporadores, produtores, construtoras, assim como os objetivos sociais e humanos: demanda
quantitativa e qualitativa ampla e reestruturação urbana racionalização do uso da terra, da infra-
estrutura e serviços, para redução dos custos sociais e ambientais (LUCINI, 1996).
47
Incentivados por profissionais comprometidos com a importância de melhorar a
realidade habitacional existente, os usuários poderiam conhecer e compreender a
relação que existe entre comportamento social e formas espaciais de implantação
nos conjuntos habitacionais, e o que esta relação representa em termos de
melhoria de qualidade de vida.
É importante então, esclarecer o sentido que tem para este trabalho essa
importante relação, ou seja, especificar de que forma entende-se que as relações
espaciais podem provocar alterações comportamentais, e como podem assim
modificar a qualidade de vida dos usuários, especificamente nas áreas externas
dos conjuntos habitacionais multifamiliares.
Como apresentado no Capítulo I, pretendem-se resgatar os valores da proposta
urbana de quarteirão fechado com pátio interno, “tipologia habitacional específica”
comentada por Lucini (1996), com características espaciais bem diferenciadas às
da maioria das opções encontradas no país, e principalmente na cidade de
Florianópolis, conforme os exemplos analisados.
Esquematicamente estas podem ser apresentadas conforme a figura 11 a seguir
exibida. A figura mostra que na opção A, com pátio interno fechado, a área
construída assim como a área externa livre, não esta segmentada como na opção
B, solução comumente adotada para os conjuntos habitacionais de Florianópolis.
Nesta segunda opção, a área de interesse, externa do condomínio, em função de
não se dispor de forma agrupada, como na primeira opção, acaba formando,
como mencionado por Lucini (1996), áreas residuais, isoladas, sem favorecer a
formação de parques de vivência para os moradores ou área de lazer
“vivenciada”, o que levaria à recuperação da vizinhança. Importante no sentido de
garantir algumas das necessidades básicas dos usuários, melhorando
conseqüentemente o nível de qualidade de vida destes.
48

 

Figura 11: Esquemas representativos da proposta urbana de quarteirão fechado com pátio interno
(figura A) e da solução comumente adotada no país (figura B), para conjuntos habitacionais
multifamiliares. A mesma área construída e não-construída é apresentada em ambos exemplos,
no primeiro, concentrada e no segundo segmentada. Para uma altura baixa, os espaços abertos
criados pela separação necessária entre blocos é praticamente a mesma que a gerada por um
espaço central único (LUCINI, 1996).
Fonte: Adaptação de Lucini, 1996.
Considera-se o espaço privado, ou melhor, semi-privado, da forma urbana
tradicional, na opção A, o espaço social que melhor propicia o sentido
comunitário, por integrar e incitar num único espaço comum as atividades de lazer
e recreativas entre os usuários. Além de melhorar questões como ventilação e
insolação das habitações. E também, por ser a que melhor poderia adequar-se ao
conceito de plurifuncionalidade
7
, que deve ser considerado numa alternativa
habitacional que busque uma inserção no espaço urbano da cidade. A pesar de
que, esta alternativa seja de difícil aceitação social e cultural pela sociedade
brasileira
8
: o estudo da história habitacional no país mostra que na medida em que
se busca uma posição social privilegiada, procura-se reproduzi-la na habitação,
7
O sistema estrutural do conjunto habitacional multifamiliar deve considerar a possibilidade de
integração com a rua, no sentido de possuir áreas de atividade comercial e de serviço localizadas
no pavimento térreo. Bairros unifuncionais, principalmente para faixas de renda de menor poder
aquisitivo, reduzem a permanência do usuário (LUCINI, 1996), comprometendo o que a habitação
deve garantir: as necessidades básicas humanas e individuais das pessoas (SZÜCS).
8
Atualmente os níveis de renda se identificam pela localização e tipologias, gerando segregação
(LUCINI, 1996).
49
ou seja, por uma questão social e conseqüentemente cultural é a tipologia do
“poder”, disposta de forma centralizada no lote (mencionada na página 18), a
mais valorizada e almejada pelos usuários das diferentes classes sociais, no país.
Assim, partindo-se, como mostra a figura 11, da maior área construída possível
no menor lote (relação financeira mais interessante para os investidores e
empresas construtoras; uma vantagem que não deveria diminuir a qualidade do
objeto construído (LUCINI, 1996)), conclui-se que o espaço externo comum mais
amplo e favorável à satisfação das necessidades básicas humanas individuais
das pessoas
9
é o apresentado na opção A.
Porém, para que, na primeira opção, as relações espaciais, que acabam sendo
dimensionais, sejam positivas à satisfação dessas necessidades, devem ser
capazes de gerar ambiência, sentido de territorialidade, permanência, equilíbrio,
identidade, harmonia, segurança, para que o espaço seja efetivamente apropriado
por seus usuários. Para isto esta alternativa tipológica deve considerar: a escala
humana, criando proporções humanas adequadas ao bem estar das pessoas; o
tamanho do espaço externo com maior concentração de áreas verdes agrupadas,
proporcional à altura dos edifícios e ao número de usuários; uma maior segurança
dentro do conjunto e em seus acessos; a diversidade de funções através da
coexistência das residências, comércios e serviços; uma melhor adequação
climática, com insolação, ventilação e utilização de fachadas prejudicadas pela
orientação, sempre que possível, para os serviços e comércios; e o melhor custo
de manutenção
10
; o que atende as necessidade humanas individuais citadas
anteriormente, melhorando a qualidade de vida das pessoas
11
(LUCINI, 1996).
9
Consideradas como: necessidades humanas: territorialidade, privacidade, identidade, ambiência,
harmonia, segurança e estabilidade; necessidades individuais: habitação própria com áreas
verdes; que devem ser associadas às necessidades das atividades promotoras e produtoras da
habitação: maior número de pessoas; economia de solo urbano, de rede sanitária, de rede
rodoviária; e maior espaço comum (SZÜCS).
10
Em função de uma menor área de fachadas, menor quantidade de escadas e elevadores (se
necessários), menor área de circulação, menor área de manutenção de telhados, menor índice de
infiltrações, e divisão do condomínio entre um maior número de moradores e ainda, a existência
de serviços e comércios (LUCINI, 1996).
11
Em função de um menor número de doenças pela maior ventilação dos ambientes, menores
despesas com deslocamentos, pela proximidade dos comércios e serviços. Consideração das
diversidades humanas para garantir maior conforto, eficiência e segurança no uso dos ambientes
para o maior número possível de pessoas, o que leva à diminuição de doenças e problemas
50
Para que o espaço habitacional responda a tudo que foi colocado nos parágrafos
anteriores, considera-se que algumas mudanças devem acontecer. Nos códigos
de edificações, que deveriam determinar normas que garantissem qualidade
ambiental, construtiva, possibilidade de adaptação no tempo através da
refuncionalização, e promoção da racionalidade da ocupação do solo, não
permitindo que as variações do mercado gerem áreas de invasão ou
esvaziamento, ao contrário do que é determinado hoje por estes códigos
(utilizações ximas do solo e mínimas para os ambientes construídos,
afastamentos, elementos de segurança, padrões mínimos de qualidade aceitável
para os sistemas construtivos) que não se relaciona com a qualidade dos
ambientes construídos (LUCINI, 1996). Outra mudança deve acontecer com o
profissional de projeto, que devem estar capacitados para poder propiciar ao
usuário potencial, seu verdadeiro cliente, mesmo que de uma certa forma “virtual”
(além do cliente contratante real: os empresários detentores do capital
imobiliário), uma visão crítica que possa estabelecer como parâmetro de projeto
as verdadeiras necessidades habitacionais. Entende-se que, nesse sentido, uma
revisão da capacitação dos profissionais é mais um elemento a ser considerado
para uma mudança na forma de sua atuação.
Assim, o estudo concentra-se nos conjuntos residenciais verticais de quatro a seis
pavimentos que apresentam uma implantação ortogonal e repetitiva de seus
edifícios no terreno (como apresentado na opção B da figura 11), por ser esta
uma tipologia utilizada com freqüência para o recorte estudado, e por ser uma das
mais prejudiciais formas de produzir habitação, segundo conclusões dos autores
estudados e a observação de usuários em sua habitação. Prejudicial não somente
à qualidade de vida de seus moradores, como também à qualidade espacial e
ambiental de seu entorno. Além de desqualificar e descaracterizar os espaços
destinados à moradia, essa tipologia, aparentemente, apresenta os conjuntos
habitacionais com um único objetivo: o de dormitório. Esquece-se que as pessoas
precisam de outros espaços além dos restritos à moradia.
ocupacionais. Garantindo-se desta forma a acessibilidade, o direito de ir e vir, o direito da
cidadania que se espacializa através da acessibilidade aos ambientes (LUCINI, 1996).
51
Volta-se, assim, a discutir nesta abordagem a humanização de nossas cidades,
considerando todos os espaços por ela conformados e suas relações com a rua e
os conjuntos habitacionais.
Penso que hoje nenhum arquiteto se pode sentir tranqüilo face à
multiplicidade de necessidades que se apresentam, à mudança de
cenários, à rapidez de mudanças que se sucedem. O arquiteto, perante
a complexidade da organização social e espacial expressa na cidade,
tem que trabalhar arduamente para encontrar soluções. (BOTTA, 1996,
p.28).
Essa reflexão de Mario Botta exige respostas dos arquitetos que, como
profissionais interessados pelos problemas da vida do homem, não poderiam
deixar de perceber o caos do ambiente construído em que vivemos,
principalmente em nosso País. Mas deve-se também levar em consideração a
afirmação de Gravagnuolo, para quem “a concepção de uma forma nova é,
contudo a opção mais difícil de tomar para um arquiteto” (in: Prefácio de Ética do
Construir. BOTTA, 1996, p.12). Será este o caminho deste trabalho, com intenção
de resgatar conceitos e sugerir assim novas alternativas de soluções projetuais
para conjuntos habitacionais multifamiliares, que partam do anseio de transformar
espacialmente o ambiente construído, desejo que antes de ser deste trabalho,
deve ser de quem o usufruirá.
“...Não creio que se possa falar em projeto sem falar em desejo. O projeto é o
modo através do qual intentamos transformar em ato a satisfação de um
desejo...”, como diz Gregotti (2001), e entende-se que esse desejo é o resultado
da maior responsabilidade: a conquista de uma melhor qualidade de vida para o
ser humano.
52
2. CIDADES – URBANIZAÇÃO E O PROBLEMA DA HABITAÇÃO
2.1 Raízes Históricas do Problema da Habitação
2.1.1 A cidade e sua Arquitetura
O problema da habitação urbana no mundo inteiro, em sua forma atual, surge no
século XIX como conseqüência da Revolução Industrial, que gerou um aumento
considerável de concentração populacional na cidade numa época na qual, pelo
ritmo do desenvolvimento, a população urbana mundial crescia constantemente
de forma muito mais acelerada do que em momentos anteriores (DEILMANN,
BICKENBACH, PFEIFFER, 1977).
Um resultado imediato da Revolução Industrial foi o surgimento de um programa
arquitetônico novo, a fábrica, que estabeleceu definitivamente a separação entre
trabalho e moradia. Trabalhava-se na fábrica que, por suas características de
forma de produção, localizava-se fora da cidade, mas morava-se nela. Sua
existência consolidou também a migração do campo em proporções nunca antes
ocorridas, criando como conseqüência o, desde então, crucial problema do déficit
habitacional. Essa invasão da cidade deu início também aos problemas de
estabilidade social que Charles Dickens descreveu o claramente para a cidade
de Coketown (BENEVOLO, 1963, p.180)
12
. Pode-se dizer que os mesmos
problemas são totalmente atuais, que o século XXI parece confirmar o destino
urbano do ser humano: um século atrás, 10% da humanidade vivia em cidades e,
bastante antes do final do culo XX, essa porcentagem ultrapassava os 50%
(POWELL, 2000, p.06).
12
Problemas gerados pela industrialização, como os desajustes sociais provocados pelo
adensamento urbano populacional e as transformações negativas do meio ambiente: em
Coketown, a transformação de um vale verde numa área árida coberta por carvão.
53
Estando a Arquitetura sempre relacionada com o desenvolvimento da cidade, o
processo de separação de atividades trouxe, logicamente, inúmeras
conseqüências gerando, entre outras, o aparecimento maciço do imóvel coletivo
de habitação. O custo da terra determinou a localização desses imóveis na
periferia, provocando o início da extensão desmedida das cidades e os
conseqüentes e posteriores vazios urbanos nas áreas centrais (DEILMANN,
BICKENBACH, PFEIFFER, 1977)
Considerando a urgência por soluções, a falta de recursos, o número de
habitações necessárias que ultrapassa a capacidade construtiva e a falta de
legislação apropriada (DEILMANN, BICKENBACH, PFEIFFER, 1977), assim
como a tendência natural do homem de tentar aproveitar qualquer situação
conflituosa em benefício próprio, pode se entender a origem sem qualidade desse
tipo de habitação.
Com essa tendência colaboraram posteriormente as políticas de zoneamento e a
dispersão das atividades predicadas pelo Movimento Moderno que, junto com as
teorias sobre insolação e ventilação, acabaram gerando a morte do centro da
cidade e a extensão cada vez maior da periferia.
Essa situação apresentou um agravante relacionado aos valores sociais e
simbólicos que os seres humanos desenvolvem e que acabaram produzindo
encaminhamentos inesperados.
O centro da cidade, que historicamente representa uma área de privilégio (tanto
quando era constituído por um castelo românico, como quando se transforma no
centro de uma cidade do século XIX), sempre foi um lugar de demanda, de preços
da terra elevados e de qualidade urbana. Em função do desenvolvimento
tecnológico, acabou perdendo suas características originais, gerando migrações
da população em sentidos opostos, como se verá (DEILMANN, BICKENBACH,
PFEIFFER, 1977).
A procura por tranqüilidade, melhores condições de higiene ambiental e um novo
“status” gerou uma tendência centrífuga que levou a sociedade de maiores
recursos também para a periferia. Onde antes a terra era de baixo custo, onde
54
moravam artesões ou pescadores, por exemplo, a nova demanda fez com que os
valores aumentassem, assim como mudou o tipo de vida e a paisagem urbana, o
que acabou empurrando para outros lugares seus primitivos habitantes, que
seguiram em duas direções: uma nova periferia ou a invasão do centro. O centro,
que acabou sendo deixado vazio pelos moradores anteriores, transformou-se em
lugar de trabalho, administrativo e comercial quase que exclusivamente,
causando um grande vazio nas horas da noite sem essas atividades. Foi, assim,
estimulada uma tendência centrípeta que levou para o centro camadas sociais, as
quais, por falta de recursos, não conseguiram manter as moradias em bom
estado, introduzindo a deterioração urbana da área e o surgimento de áreas
intersticiais e vazios urbanos (DEILMANN, BICKENBACH, PFEIFFER, 1977).
A tradição gerada pela “cidade jardim” inglesa, o trabalho dos “Utopistas” e outras
tentativas de solucionar os problemas da cidade consideraram que reduzir a
densidade resolveria todos os problemas, assim como a posterior criação de
“cidades satélites”, que acabaram sendo apenas cidades dormitório e que
ignoraram outras necessidades do ser humano, além da simples proteção
(POWELL, 2000).
a partir dos anos 60 surgiram outros caminhos, principalmente se são
considerados os argumentos apaixonados da escritora Jane Jacobs (Apud
POWELL, 2000, p.08) que levaram a uma nova postura, hoje internacional,
centrada na diminuição do desenvolvimento das áreas periféricas, reanimando
novamente a vida do centro.
Na Europa dos anos 60-70, realiza-se a recuperação de áreas degradadas que
foram recuperadas para um nível de renda superior. Transformou-se assim a
construção inicial em outro produto, que não muda muito seu aspecto físico e
funções básicas, mas que recria uma nova imagem que modifica o valor do
mercado. Na Europa as condições são favoráveis para que isso se perpetue em
função da guerra, economia e arquitetura (LUCINI, 1996). Considera-se que
também seja uma questão cultural, no sentido de aceitação desta mudança.
Os passos descritos nos primeiros parágrafos deste item, surgem principalmente
de valores alheios à essência da Arquitetura, como a especulação, a guerra e os
55
significados sociais, entre outros. A partir desse momento, historicamente,
começará a se percorrer um caminho próprio da Arquitetura que, sem ignorar a
participação de todos esses outros fatores, coloca o arquiteto não somente como
criador de edifícios, mas também como aquele que pode dar forma à cidade.
Benedetto Gravagnuolo comenta que, “...uma nova beleza pode nascer até dos
vestígios da civilização industrial...”, onde “...a qualidade do habitar não é um
dado da natureza, mas o resultado do projeto humano” (op. cit., p.16).
A arquitetura atual da cidade,
...procura criar verdadeiros espaços públicos que não sejam
simplesmente habitáveis, mas vivíveis, o que não tinha sido feito
mais de meio século. A idéia de que uma cidade não é somente um
lugar de intercâmbios econômicos, mas o lugar aonde as pessoas
divertem-se, cultivam-se, distraem-se, volta com força. O ‘Homo urbanis’
volta a ser um cidadão completo na medida em que a concepção
puramente funcional da cidade deixa lugar a uma visão mais ampla das
coisas. (POWELL, 2000, p.11).
Paulo Mendes da Rocha, por sua vez, defende que se repensem conceitos como
cultura e propriedade para num futuro “em que a inteligência vencerá a
estupidez”, fazer a cidade que priorize de fato as relações humanas [sublinhado
da autora]. O arquiteto ainda argumenta que:
...a arquitetura pode resolver os problemas... e que, muito engano
quando se diz que a arquitetura pretende fazer isso ou aquilo. Na
verdade, ela vem, desde a origem do homem, numa posição de resolver
problemas. Ocorre que os problemas não existem previamente: eles são
criados. O homem acrescenta a idéia de desejo às suas necessidades
básicas, e a arquitetura é o sucesso da realização de desejos.
(REVISTA BRAVO, n. 72, 2003, p.31).
Antes de concluir este breve panorama da cidade, poder-se-ia falar rapidamente
de uma tipologia especial: o cortiço. É interessante salientar que essa modalidade
habitacional chama-se, na língua espanhola “conventillo”, o que significa
“convento pequeno”, porque o cortiço organiza-se como um conjunto de células
individuais ao redor de um pátio. O pátio é quem estabelece a relação comunitária
56
entre todas as lulas. Le Corbusier (1960), que passou dez anos de sua vida
num convento, expôs sua admiração por esse partido arquitetônico, capaz de
desenvolver ao mesmo tempo a individualidade e o sentido de comunidade,
capaz de resolver a contraposição entre espaço fechado e espaço aberto
comunitário. Dentro de uma valorização do significado do espaço arquitetônico,
consideramos muito importante esse exemplo porque, mesmo sendo totalmente
deficitário em relação às condições mínimas de habitabilidade, apresenta valores
humanos interessantes a serem preservados, que serão discutidos no
desenvolvimento deste trabalho.
Os conceitos
13
que orientaram as teorias acima expostas serão os mesmos que
orientarão este trabalho em relação aos conjuntos habitacionais multifamiliares.
Após esta rápida síntese do direcionamento seguido pelo desenvolvimento da
cidade, procurar-se-á entender o caminho historicamente seguido pelas respostas
dadas aos problemas da habitação coletiva.
13
Conceitos sobre os valores sociais e simbólicos criados pelos seres humanos e necessários a
estes, além do da simples proteção para sua habitação. Sobre a diminuição do desenvolvimento
das áreas periféricas e conseqüente reanimação da vida do centro através do “projeto humano”
(BOTTA, 1996), ou seja, da Arquitetura e o arquiteto, que pode dar forma à cidade com qualidade.
Com a criação de verdadeiros espaços públicos vivíveis...aonde as pessoas divertem-se,
cultivam-se, distraem-se, e onde a cidade deixa de ser puramente funcional(POWELL, 2000), e
que priorize de fato as relações humanas”
(MENDES DA ROCHA, 2003). E, o conceito de um
partido arquitetônico para a habitação coletiva em conjuntos que conformam um pátio interno,
adequado ao desenvolvimento simultâneo da individualidade e o sentido de comunidade, que
resolve a contraposição entre espaço fechado e espaço aberto comunitário,
apresentando os
valores humanos importantes a serem preservados.
57
2.1.2 A Habitação Coletiva
Os imóveis coletivos de habitação têm uma longa história: as insulaesromanas
da época imperial possuíam cinco e seis andares e todo tipo de problemas (ver
figuras 12 e 13)
(ABRIL-COLEÇÕES, 1998)
.
Figura 12: “Insulaes” Romanas. “Desde o século a.C., os construtores romanos erigiram altos
edifícios de apartamento chamados insulae, para abrigar a crescente população de Roma. Com
três, quatro e até cinco andares, essas moradias eram muitas vezes mal construídas, com
estruturas de madeira, e o fogo era um perigo constante”. “...depois do desastroso Grande
Incêndio de 64 d.C., o Imperador Nero tentou regulamentar as construções, impondo às insulae
um limite de 22 metros de altura, com uma distância mínima de 3 metros entre os edifícios.
Embora tenham abrigado boa parte dos cidadãos romanos – havia 25 insulae para cada habitação
particular subsistiram poucos vestígios desses blocos de apartamentos”. Construídos de
concreto revestido de tijolos, os altos blocos de apartamento de Óstia se enfileiravam nas ruas
largas e retas, com suas inúmeras janelas se abrindo para uma série de balcões. O térreo era
geralmente ocupado por lojas com tetos em abóbada semicilíndrica, entremeadas por escadarias
de pedra que levavam aos andares superiores. Embora os cômodos em geral fossem espaçosos,
o conforto era limitado. Os apartamentos o tinham instalações para cozinha e apenas os do
andar térreo possuíam banheiro. Porém, em muitas das insulae havia um pátio central, que
fornecia luz e ventilação para os apartamentos internos, e uma cisterna que abastecia de água os
andares superiores. Os maiores blocos em Óstia acomodavam mais de cem inquilinos, e alguns
podem ter abrigado até trezentos".
Fonte: ABRIL-COLEÇÕES. Roma: Ecos da Glória Imperial. Rio de Janeiro: Editores Time Life
Livros, 1998, p.56-57.
58
Figura 13: “Insulaes” Romanas. Vista da rua principal de Óstia, a Decanus Maximus, mostra restos
das insulae que tornaram famoso o porto. Os edifícios mais caprichados apresentavam janelas de
vidro, mica ou gesso transparente; os mais simples usavam papel oleado ou postigos.
Fonte: ABRIL-COLEÇÕES. Roma: Ecos da Glória Imperial. Rio de Janeiro: Editores Time Life
Livros, 1998, p.57.
Analisando os exemplos reais apresentados pela história, como se poderá
observar ao longo deste capítulo, conclui-se que durante a maior parte de sua
história, a habitação coletiva não foi uma tipologia de alto padrão. O apartamento
de luxo é muito recente. Portanto, pode-se entender que ela não surge do sonho
do ser humano, sonho de proteção, abrigo, conforto ou de seus sentimentos, mas
em função de um problema: o aumento do número de habitantes de poucos
recursos econômicos da cidade e o conseqüente déficit habitacional.
Sabe-se que este mesmo ser humano, que sonha o bem-estar para si próprio,
pode também sonhar com soluções que resolvam os problemas de todos. Porém,
o dia a dia mostra que em função de uma personalidade curiosa do homem,
diante dos problemas alheios, estão os que se aproveitam para alicerçar o único
caminho que lhes interessa: a própria ambição.
59
Lewis Mumford faz a esse respeito interessantes comentários a partir das
“insulaes” romanas; comentários que poderiam ser aplicados também em nossa
época contemporânea. Em Roma,
A municipalidade permitia, ou aliás, por sua própria continuada
negligência, até mesmo encorajava o alojamento da vasta massa de
sua população em habitações super congestionadas, constituindo
enormes quarteirões chamados ‘insulae’, ou ilhas. (MUNFORD, 1965,
p.287).
Ainda segundo Mumford,
Até na mais crua aldeia neolítica, a casa era sempre mais que mero
abrigo para o corpo físico: era o ponto de encontro de uma família; seu
lar era o centro de cerimônias religiosas, bem como um auxiliar da
culinária; era a morada do Deus da família e o centro de vida dessa
família, repositório de valores morais que não se mediam em dinheiro.
Todas essas associações e tradições foram arrancadas das ‘insulae’
romanas: para sugar o máximo lucro de uma construção péssima e do
espaço congestionado, um simples abrigo era suficiente; e ter
reconhecido quaisquer outros valores teria sido diminuir as
possibilidades de extorsão. Todos os piedosos costumes de família,
todos os valores sentimentais ligados à própria família, por escritores
como Cícero, aplicam-se apenas às casas dos patrícios. Ninguém
pretendia que os fantasmas dos cortiços de Roma tivessem tais
favoráveis guardiões ou pudessem participar de refeições cerimoniais e
ritos de família. (Ibidem, p.288).
O problema do déficit habitacional, gerado pelas especialíssimas características
da Roma Imperial
14
, cidade que nos dois primeiros séculos de nossa era chega a
ter um milhão de habitantes, deixará de existir no ocidente a partir da queda do
14
Foi característica do Império Romano desenvolver um tipo de vida de alto padrão de conforto.
Sua política conquistadora baseava-se no oferecimento desse conforto a todos os níveis da
população, incluídos os escravos. A construção de estradas e pontes, necessários aos
deslocamentos das Legiões Romanas, caminhos que partiam ou chegavam sempre a Roma,
permitiram um acesso suficientemente fácil à capital do Império, como para que no século I d.C.
Roma tivesse mais de 1.000.000 de habitantes. No dizer do poeta Rutilio Namaciano, falando ao
Imperador, “uma cidade fizestes deste imenso planeta” (FEDELE, Pilar. Aula de História da
Arquitetura. 1996, p.05. Apostila).
Essas “especialíssimas características geraram uma importantíssima corrente migratória em
direção a Roma, criando assim o déficit habitacional mencionado.
60
Império (por volta do século V d.C) (FEDELE, 1996). No processo seguido pela
história, esses problemas não ressurgem com tanta intensidade a que se
produzam as conseqüências, do ponto de vista habitacional, da Revolução
Industrial (final do séc. XVIII e séc. XIX) ou das guerras modernas (1914-18 e
1941-45), como poderá ser comprovado nos parágrafos seguintes.
A aglomeração de operários ou de desabrigados nas cidades fez surgir, como em
Roma, grupos de especuladores. No século XIX apareceram os jerry buildings,
como comenta Benévolo (1963, p.84 e 88), que construíram casas de um único
pavimento enfileiradas e que, oferecendo mínimas condições de habitabilidade,
foram consideradas um bom modelo que poderia ser repetido até o “infinito.
Assim, a habitação do século XIX seguiu a lei da especulação: “...forte densidade
de construção, crescimento em anéis concêntricos ao redor dos velhos centros ou
locais de trabalho, falta de espaços livres” (BENEVOLO, 1963, p.84).
Os regulamentos para a edificação na Europa do século XIX também não
colaboraram com o estabelecimento de normas que pudessem melhorar a
situação da moradia. Preocupavam-se, quase que exclusivamente, em eliminar as
possibilidades de risco de incêndio, enquanto que disposições sobre higiene eram
poucas e imprecisas. Permitia-se, dessa forma, com a única e absurda condição
de manter o alinhamento em relação às ruas, construir sem qualquer limitação
que considerasse exigências relativas à ventilação, insolação, etc (DEILMANN,
BICKENBACH, PFEIFFER, 1977).
Segundo Deilmann, Bickenbach e Pfeiffer (1977, p.12), no século XIX utilizou-se
freqüentemente, tanto em Berlim quanto na Inglaterra, o sistema de ordenação
espacial da construção em quarteirões fechados.
Ainda segundo estes autores, esse sistema é característico das colônias gregas,
assim como da antiga Roma, onde os quarteirões, limitados por ruas, consistiam
em casas unifamiliares dotadas de pátio interior. Um sistema muito simples que
foi utilizado praticamente desde o início da existência da cidade, de forma
espontânea, como na Mesopotâmia (ver figura 14), ou de forma planejada como
aconteceu desde os primeiros tempos do urbanismo científico.
61
Figura 14: Os mesopotâmios (Mesopotâmia quer dizer “entre rios” Tigre e Eufrates, onde hoje
fica o Iraque) fundaram as primeiras cidades. A figura acima representa a Cidadela de Sargão II,
Khorsabad, 742-706 a.C, da Assíria, que ocupava 2,59 km². Pode observar-se o palácio real (no
centro, atrás), o zigurate poder religioso (maior inovação da arquitetura mesopotâmica torre
alta escalonada com um templo no cume), que dominavam a cidade, e que assim como as áreas
residenciais estão conformados por um sistema de ordenação espacial da construção em
quarteirões fechados.
Fonte: STRICKLAND, Carol. Arquitetura Comentada: Uma breve viagem pela história da
arquitetura. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 06.
Os mesmos autores ainda destacam que na Alemanha, no século XIX, ao
surgirem espontaneamente em grande quantidade as cooperativas e associações
de utilidade pública, começa-se a construir principalmente, imóveis de vários
pavimentos agrupados em quarteirões fechados para as camadas mais baixas da
população. Inicialmente (ver figura 14 – primeiro desenho), deixava-se um espaço
central inexpressivo do ponto de vista tanto sanitário como de comunicação
social. Por essa razão, a regulamentação surgida após a primeira guerra mundial
substituirá essa péssima solução pelos quarteirões de edificação periférica (ver
figura 15 segundo desenho). Nesses últimos, tentava-se melhorar a iluminação
e a ventilação das habitações. O interior do quarteirão não era para edificar,
mas deixava-se livre para conformar um jardim privado como área de
espairecimento, comunicado com o exterior através de pequenas aberturas de
acesso. Esses espaços interiores serviam também como espaços para serviços e
instalações comunitárias, desempenhando igualmente funções de acesso para as
moradias térreas voltadas para essa área (ver figura 16).
62
Figura 15: 1º quarteirão fechado com espaço central reduzido – quarteirão de construção
periférica com espaço central livre – 3º divisão do quarteirão com construção em faixas paralelas.
Fonte: GROPIUS, Walter. Alcances de la Arquitectura Integral. Buenos Aires: Editorial La Isla,
1956, p.176.
Figura 16: imóveis de vários pavimentos agrupados em quarteirões fechados, para as camadas
mais baixas da população.
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conjuntos residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1977, p. 12.
63
Nesse período destaca-se também o Plano Cerdá de 1859, que elabora pela
primeira vez um plano total para a cidade, o que permite uma distribuição
equilibrada de serviços e uma rede de infra-estrutura completa. São dois os
planos de Cerdá parcialmente levados à prática. As inovações surgem,
principalmente, no desaparecimento da rua-corredor, do quarteirão fechado, e na
diferenciação entre o trânsito de pedestres e o de veículos. No primeiro Plano,
elaborado sobre a base da quadrícula (ver figuras 17 e 18), com ruas de 20
metros de largura, surge a idéia do edifício em altura com liberação do terreno
para uso público e melhores condições de insolação e ventilação. Estrutura-se em
quarteirões abertos, nos quais os blocos estão distribuídos alternadamente de
forma paralela ou perpendicular a uma mesma direção (ver figura 19). Entre os
blocos cria-se um amplo espaço público ajardinado que, ao integrar-se à rua, no
caso dos blocos estarem perpendiculares a ela, destrói a continuidade da antiga
rua corredor. No segundo Plano de Ildefons Cerdá aparecem novos blocos em “L”
(ver figura 20), porém, mantendo a regra de não edificar mais do que dois lados
do quarteirão e de deixar livre o centro ajardinado. Ainda nele, grandes avenidas
diagonais colaboram com a diversificação dos espaços urbanos (EXPOSIÇÃO
CERDÁ, 1995). Esses planos não foram implantados integralmente: os
quarteirões foram edificados em seus quatro lados, transformando-se em
quarteirões fechados, assim como os blocos projetados para serem térreos, e de
até três pavimentos, aumentaram sua altura e os jardins chegaram a desaparecer
por completo (ver figura 21) (BENEVOLO, 1963); mas serviram de base para o
traçado da parte moderna de Barcelona (ver figuras 22 e 23) que, do ponto de
vista deste trabalho, apresentam um equilíbrio entre a área construída e a área de
estar-jardim, assim como uma relação com o entorno que merece ser
reconsiderada.
64
Figura 17: Primeiro Plano Cerdá para Barcelona, 1859.
Fonte: BENEVOLO, Leonardo. Historia de la arquitectura moderna. Madrid: Taurus Ediciones,
1963, p. 135.
Figura 18: Perspectiva do Projeto de expansão de 1859 de Ildefons Cerdá para Barcelona.
Fonte: FUNDACIÓ CATALANA PER A LA RECERCA. Catálogo de la Exposición Cerdá. Ciudad y
Territorio: una visión de futuro. Barcelona, 1995, p. 10.
65
Figura 19: Esquema quarteirões (paralelo e perpendicular) do Plano Cerdá.
Fonte: Desenho da autora, 2004, a partir das figuras extraídas da bibliografia pesquisada.
Figura 20: Comparação da perspectiva do Projeto de expansão de Barcelona de 1859 com sua
reelaboração de 1863 pelo mesmo Ildefons Cerdá.
Fonte: FUNDACIÓ CATALANA PER A LA RECERCA. Catálogo de la Exposición Cerdá. Ciudad y
Territorio: una visión de futuro. Barcelona, 1995, p. 12.
66
Figura 21: Vista aérea atual de Barcelona: verificação da aplicação real e parcial do Plano Cerda e
sua comparação com a malha do centro histórico de Barcelona.
Fonte: FUNDACIÓ CATALANA PER A LA RECERCA. Catálogo de la Exposición Cerdá. Ciudad y
Territorio: una visión de futuro. Barcelona, 1995, p. 28.
Figura 22: “El paseo de Gracia”, onde se verifica a organização em quarteirões e suas esquinas
chanfradas, legado do plano de Cerdá.
Fonte: CALLICÓ, J. Sobrequés; CARANDELL, Joseph M.; CABANA, Joseph. Barcelona Viva.
Barcelona: Luna Wennberg, 1983, f. 46.
67
Figura 23: Vista do edifício do mercado de San Antonio, onde também se verifica a organização
em quarteirões e suas esquinas chanfradas, legado do plano de Cerdá.
Fonte: CALLICÓ, J. Sobrequés; CARANDELL, Joseph M.; CABANA, Joseph. Barcelona Viva.
Barcelona: Luna Wennberg, 1983, f. 62.
No final do século XIX, começa a polêmica sobre as vantagens ou desvantagens
das construções abertas ou semi-abertas diante das construções fechadas (ver
figura 24). Naquele momento, as “opiniões” da grande maioria sustentavam uma
forte oposição às construções fechadas e, segundo essas “opiniões”, somente as
construções expandidas ou “estendidas” na superfície poderiam resolver os
problemas do habitat nas grandes cidades (DEILMANN; BICKENBACH;
PFEIFFER, 1977).
68
Figura 24: vantagens ou desvantagens das construções abertas ou semiabertas diante das
construções fechadas.
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conjuntos residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1977, p. 13.
A discussão sobre o tipo de moradia chega, então, à revalorização da casa
unifamiliar com jardim. Em 1929 na Alemanha, as Diretivas Governamentais para
a Indústria da Construção estabeleceram:
As moradias devem ser providas em edifícios que cumpram com os
modernos requisitos sanitários, particularmente no que se refere à
adequada ventilação e iluminação. A melhor maneira de satisfazer estes
requisitos é por meio da construção de casas pequenas no sentido mais
amplo da palavra. O objetivo deveria de ser a moradia unifamiliar com
jardim. (GROPIUS, 1965, p.154).
Segundo Cambi, Di Cristina e Steiner (1992), é proposta a casa com pátio
moderna, no período entre guerras, para responder à demanda de habitações
individuais térreas de rápida construção e baixo custo, inclusive com elementos
pré-fabricados (experimento de Betondorp com as primeiras aplicações da pré-
fabricação de casas térreas), para os programas de edificação social. Durante os
primeiros cinco anos posteriores à Primeira Guerra Mundial, a cultura das
“Cidades jardim” é uma referência comum (Inglaterra, Holanda, Alemanha, Viena,
França) para grande parte dos novos programas de edificações que precederam
os “superblocos”. Porém, em dez anos, esse quadro modifica-se de tal forma que,
69
no início dos anos trinta, encontra-se realizado “o cinto de superblocos”
vienenses, e nos então recentes bairros alemães não são mais previstas casas
individuais (CAMBI; DI CRISTINA; STEINER, 1992, p.08).
a partir de 1928, as propostas de Gropius e dos CIAM de Frankfurt e de
Bruxelas sobre a casa “alta laminar” abrem uma linha favorável à casa coletiva
“multiplanta” com habitações de pequenas dimensões, julgadas, naquele
momento, como as mais adequadas para os operários das grandes cidades
(CAMBI; DI CRISTINA; STEINER, 1992, p.08).
De qualquer forma, os problemas gerados por essa solução - casa unifamiliar com
jardim -, que se considera utópica, abrirão as portas para as idéias do Movimento
Moderno que começará a discutir as “vantagens” de agrupar as “casas”
verticalmente. Surgirão, assim, conjuntos de blocos paralelos (ver figuras 25, 26 e
27) que liberarão grandes espaços de uso público, e que serão as premissas que
qualquer política habitacional seguirá a partir daquele momento (DEILMANN;
BICKENBACH; PFEIFFER, 1977).
Figura 25: Nova “concepção mais moderna da arquitetura”, a construção em blocos dispostos em
fileiras para edifícios de vários pavimentos ou não.
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conjuntos residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1977, p. 13.
70
Figura 26: Vista aérea dos blocos dispostos em fileiras em Amsterdam: o bairro sul (plano de
Berlage, 1917)
Fonte: BENENOLO, Leonardo. Historia de la Arquitectura Moderna. Madrid: Taurus Ediciones,
SA, 1963, p.433.
Figura 27: Mapa dos blocos dispostos em fileiras em Amsterdam: o bairro sul (plano de Berlage,
1917)
Fonte: BENENOLO, Leonardo. Historia de la Arquitectura Moderna. Madrid: Taurus Ediciones,
SA, 1963, p.433.
71
Assim, Gropius e Le Corbusier, principalmente, procuram desenvolver o bloco de
habitação de forma a torná-lo cada vez mais higiênico e mais parecido com uma
“casa” colocada em qualquer posição, tanto na horizontal quanto na vertical, como
acontece com os “imóveis villas” deste último (ver figuras 28 e 29), que
posteriormente transformar-se-ão nas Unidades de Habitação (ver figura 30) (LE
CORBUSIER, 1960).
Figura 28: Os “imóveis villas”, blocos de apartamentos de 120 vilas superpostas que propõem uma
nova fórmula urbana de habitação, onde cada apartamento é uma pequena casa com jardim.
Fonte: LE CORBUSIER. Le Corbusier 1910-60. Zurich: Editions Girsberg, 1960, p.26.
Figura 29: Detalhe de fachada dos “imóveis villas”.
Fonte: LE CORBUSIER. Le Corbusier 1910-60. Zurich: Editions Girsberg, 1960, p.26.
72
Figura 30: Unidades de Habitação. Vista do Boulevard Michelet
Fonte: LE CORBUSIER. Le Corbusier 1910-60. Zurich: Editions Girsberg, 1960, p.151.
A partir desse momento, a discussão se estabelecerá em relação à altura dos
imóveis de habitação: o edifício de três ou quatro andares, “mais próximo do
chão” e sem elevador, ou a solução permitida pelo avanço tecnológico de altos
blocos com elevador. Considerou-se, naquele momento, mais adequada essa
última, onde se libera o terreno para a realização de parques públicos, elimina-se
o custo de muitos quilômetros de redes de estradas e permite-se uma insolação e
ventilação correta para todas as moradias. Os edifícios em altura, isolados, como
os projetou Le Corbusier, ou distribuídos paralelamente no terreno, como
idealizados por Gropius, segundo seus autores, permitiriam obter condições
sanitárias aceitáveis para todas as moradias por igual, estabelecendo menores
distâncias na relação com outros locais da cidade e oferecendo serviços
centralizados como suporte para as donas de casa; essas soluções poderiam
ocasionar algumas dificuldades no cuidado das crianças por causa das distâncias
verticais, mas em contrapartida garantiam uma moradia mínima econômica e que
promoveriam o espírito comunitário (através da existência de cafés e locais de
73
encontros no nível térreo dos edifícios e porque os parques do entorno facilitariam
os passeios e a comunicação) (DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER, 1977).
Para este trabalho, considera-se importante o que expõem Deilmann, Bickenbach
e Pfeifer (1977) com relação a esse tipo de construção, em altura, que significa o
abandono definitivo do espaço da rua e, portanto, da relação com a cidade,
desvalorizando a configuração das áreas verdes e comuns e sua integração com
a habitação. Sem entrar numa análise crítica, hoje é de fácil percepção a um
observador o quanto essas soluções colaboraram para deturpar valores
essenciais de relacionamento humano, gerando isolamento, perda de identidade
e, se concordamos com Charles Jencks (1981, p.09), até criminalidade, como, de
acordo com ele, aconteceu nos conjuntos Pruitt Igoe, implodidos em 1972 (rever
figuras 2, 3 e 4 do capítulo I).
Parece realmente que a história da habitação coletiva percorre um caminho difícil.
Pode-se aprontar, a partir do apresentado, que talvez se deva entender que o
problema da moradia está sendo submetido a uma contradição. Ou seja, a
velocidade com a qual o avanço tecnológico introduz mudanças nas formas de
trabalhar e de viver opõe-se ao sentido de lar. E sendo esse um elemento com
um significado tradicionalmente claro de segurança, considera-se que deveria
proporcionar estabilidade, permanência, tranqüilidade. Porém, percebe-se que
acaba perdendo essa essência quando envolvido na dinâmica das mudanças
constantes.
Certamente não se pode deixar de pensar na sinceridade e no correto raciocínio
do Movimento Moderno ao pensar que o problema da habitação estaria resolvido
construindo moradias sãs e liberando grandes áreas destinadas ao lazer e
desfrute da natureza. Mas, hoje se nota que não deu certo, assim como tantas
outras bem intencionadas propostas.
Anos após o auge das tendências modernistas, em Estocolmo fundamentalmente,
pretendeu-se solucionar o problema da habitação com a criação de “cidades
satélites”. Deviam ser, de acordo com seus criadores, comunidades equilibradas,
lugares de trabalho e de desenvolvimento de uma vida confortável, mas
74
acabaram transformando-se em cidades dormitório, com todas as carências que
as caracterizam (POWELL, 2000).
Várias outras tentativas que pretendiam manter baixas densidades não
ofereceram os resultados esperados, como por exemplo, a cidade nova de Milton
Keynes na Inglaterra. Segundo o site pesquisado
15
na internet, a nova cidade
estava destinada a albergar 150.000 habitantes de Londres e chegaria, num
período de 20 anos, a 250.000 habitantes. Para a sua construção foram
destinados 9.000 hectares que incluíam pequenas cidades e povoados
existentes. O projeto de 1970 baseava-se principalmente nos fluxos circulatórios
que permitissem liberdade de movimento, e na flexibilidade e liberdade de usos.
Conforme Keneth Powell (2000, p.11), nessa cidade, as taxas de criminalidade,
de racismo e de doenças mentais tornaram-se rapidamente semelhantes às de
cidades como Manchester, o que fez com que nos anos 90 viessem a considerar-
se as baixas densidades de população como inimigas da vida civilizada, ponto de
vista expressado com vigor por Richard Rogers, cujo informe a esse respeito,
“Urban Task Force”, pode ser considerado como o documento fundador do novo
urbanismo na Grã-Bretanha.
Nos anos 70, Léo Krier, apesar de seus conceitos em alguns aspectos bastante
tradicionalistas, será talvez o iniciador de uma reviravolta em relação à postura
urbanística modernista (POWELL, 2000). Ele afirma que:
A riqueza simbólica da arquitetura e da cidade tradicionais fundamenta-
se na proximidade e no diálogo da maior variedade possível de usos,
tanto privados quanto públicos, e, portanto, na expressão de uma
variedade autêntica, como está colocado em evidência em toda
articulação honesta e significativa dos espaços blicos, do tecido
urbano, e dos recortes. (Apud POWELL, 2000, p.08).
O crítico italiano Carlo Paganelli (2001) também dirá, no início do século XXI, que
o momento da “sinfonia” passou, e que estamos no momento do “pluralismo
sinfônico [...] com dissonância e contraponto, como o jazz. Aceitamos com prazer
15
www.mkweb.co.uk/Milton_Keynes_General/displayarticle.asp?id=285.
75
a diversidade e a incerteza para uma criatividade superior. Como a da natureza
(REVISTA AMBIENTE, n. 86, 2001, p.06).
Os exemplos urbanísticos mais atuais, sem exceções, concretizam um movimento
de re-apropriação da cidade pelos seus cidadãos, baseada na recuperação de
áreas degradadas, como mostram os exemplos que serão apresentados no item
5.2.2 deste capítulo.
Pode-se observar que a tendência nesses exemplos é a de desbloquear os
espaços urbanos remanescentes, de restabelecer as relações rompidas, de
facilitar adaptações a novos usos. A variedade é o desejado, centrada na cultura
como geradora da regeneração. Segundo Paulo Mendes da Rocha, “a idéia de
revitalização das áreas centrais é mundial...” “A cidade é feita com casas. a
exclusão da moradia simples, popular, das áreas centrais já é um absurdo”
(REVISTA BRAVO, 2003, p.32).
Assim, tudo reafirma a heterogeneidade da vida cidadã como característica do
novo urbanismo. E pode-se então concluir que, dentro da cidade, a habitação
volta a ser considerada o centro: uma cidade onde não se vive, morre. Começa a
reaparecer assim, o esquema tradicional de ruas em oposição aos blocos
envolvidos por parques (tipologia do “poder” X tipologia em quarteirão fechado
com pátio interno, mencionadas na página 18), como pode ser observado nos
exemplos apresentados a seguir, desde 1980 na Interbau de Berlim (ver figuras
31, 32 e 33).
76
Figuras 31, 32 e 33: Em Fraenkelufer, Berlim, foi mantido um bloco perimetral construído
preenchendo os vazios do quarteirão para reconfigurar a estrutura urbana existente, não atuando
contra ela. O vazio existente atrás dos blocos em curva, construídos a partir do alinhamento com o
rio, foi complementado por novas unidades habitacionais voltadas para um pátio central
(anteriormente vazio) que inclui uma escola já existente.
Fonte: EXPOSITION INTERNATIONALE D’ARCHITECTURE - BERLIN. Catálogo. Premiers
projets en vue d’une rénovation urbaine circonspecte. Berlim: GmbH, 1984, p.40.
Assim a partir das colocações apresentadas, pode-se coincidir com o pensamento
de Lucini (1996), com relação à forma das edificações que colaboram com a
estruturação da cidade. Para o autor, o quarteirão compacto, responde a uma
série de elementos positivos em relação à habitação e a construção da cidade,
por apresentar:
Maior volume edificado em relação à área disponível do terreno;
Menor custo por sistema construtivo homegeneizado;
77
Racionalização de instalações;
Correta iluminação e insolação para todos, através do pátio interno;
O pátio como espaço integrador;
Definição da rua e da integração com ela;
Pela alta densidade, aumento do volume construído, padronização e
normatização, produção industrializada e alta produtividade da mão-de-
obra, geram uma relação financeira mais interessante para os investidores
e empresas construtoras. Estas vantagens o diminuem a qualidade do
objeto construído.
O autor ainda acrescenta que o quarteirão, além de ser interessante por ser
historicamente um antecedente de tradição, como apresentamos anteriormente,
materializa um “lugar” e sua repetição cria a rua, assim, o quarteirão é capaz de
formar bairros dentro dos limites da rua e das praças, independentemente das
tipologias dos edifícios, através da continuidade construída. O modernismo, com
seus edifícios isolados e unifuncionais não gerou integração (LUCINI, 1996).
Para Zaha Hadid (Ibidem, p.37), os problemas da sociedade e do urbanismo
contemporâneo são muito similares em diferentes lugares do mundo.
Um fato pode ser considerado como verdadeiro a partir do estudo realizado até o
momento e, pois a história assim o comprova: não existe nem a cidade ideal nem
uma proposta perfeita para a habitação. Uma cidade não é uma quina que
pode ajustar-se para produzir sempre o mesmo resultado, porque o produto que
ela gera diz respeito ao ser humano. Por esse motivo, insistir-se-á na
necessidade do conhecimento do ser humano, de uma sociedade específica, de
um determinado lugar e momento histórico, para poder atender melhor às suas
necessidades culturais e físicas e aos seus anseios.
Essa, claro, é uma colocação difícil, mas se não se chegar a soluções perfeitas,
acredita-se que se pode, ao menos, melhorar situações.
78
A tecnologia que se tem ao alcance diariamente, disponível para um numero de
pessoas cada vez maior, faz com que se viva num mundo cada vez mais
globalizado e, portanto, num mundo no qual as influências se cruzam com
rapidez. Entende-se assim que o conhecimento do panorama mundial deve ser,
sem dúvida, uma base importante para desenvolver este trabalho. Teorias,
experiências internacionais, podem, com certeza, ajudar a visualizar melhor os
próprios problemas.
Porém, antes de passar a analisar exemplos da realidade, considera-se
importante fazer uma breve síntese do caminho percorrido pelo desenvolvimento
urbano no País.
Encerra-se este item com a definição que Richard Rogers (REVISTA AMBIENTE,
n.81, 1999, p.30) dá para a sustentabilidade, porque mesmo que se refira à
cidade, consideram-se todos os seus termos válidos e aplicáveis à habitação,
como também poderão ser comprovados nos exemplos apresentados no item
5.2.2.
Para esse autor, uma cidade sustentável é:
Uma cidade justa, onde a comida, o teto, a educação, a saúde e a justiça
estão distribuídas eqüitativamente e na qual toda a população participa de
seu governo;
Uma cidade bela, onde a arte, a arquitetura e a paisagem acendem a
imaginação e comovem o espírito;
Uma cidade criativa, onde a abertura mental e a experimentação
mobilizam todo o potencial de seus recursos humanos e permitem uma
rápida resposta para a mudança;
Uma cidade ecológica, que minimiza seu impacto ambiental, e onde a
paisagem e as construções estão balanceadas e os edifícios e a infra-
estrutura são seguros e eficientes;
79
Uma cidade de contatos, onde o âmbito público promove o sentido
comunitário e a mobilidade social e a informação é trocada de maneira
pessoal e eletrônica;
Uma cidade compacta e policêntrica, que protege a paisagem que a
rodeia, integra as comunidades dentro dos bairros e promove proximidade;
Uma cidade com diversidade, com um amplo espectro de atividades
superpostas que criam, animam, inspiram e sustentam uma vida pública de
grande vitalidade.
2.2 Panorama Nacional: Desenvolvimento Urbano
A comparação entre o panorama internacional, já apresentado, e a pesquisa
realizada para o Brasil, mostra que o caminho seguido pelo País dentro do
processo de urbanização percorre, em alguns aspectos, direções similares às do
resto do mundo.
A transformação das áreas urbanas tradicionais, submetidas à especulação, e o
surgimento de novas áreas periféricas, assumidas por uma nova população de
baixos recursos econômicos, em áreas degradadas e sem qualquer infra-estrutura
básica de serviços mínimos, correspondem ao processo geral criado no mundo
inteiro pela evolução da sociedade. A segregação de atividades e de diferentes
grupos sociais de renda será também fator determinante no planejamento urbano
do espaço público e privado no Brasil, que ainda permite que a força da
especulação imobiliária atue de forma inconseqüente e praticamente irrestrita
(LEMOS, 1999).
Mas esse processo, segundo Lemos (1999) dá-se tardiamente: verifica-se que até
1930 o País é agrário, e somente a partir da segunda metade do século XX,
inicia-se um intenso processo de urbanização.
80
De acordo com Ermínia Maricato (2001, p.16), a população urbana em 1940 era
de 26,3%, chegando em 2000, a 81,2%. Mas muito mais surpreendente que
essas porcentagens são os números concretos de habitantes urbanos: em 1940,
18,8 milhões de brasileiros viviam em cidades, enquanto que em 2000, esse
número passou para 138 milhões de pessoas.
O enorme problema gerado por esse desmedido aumento da população urbana
levou os habitantes de baixa renda para os morros ou para faixas periféricas
(MARICATO, 2001). Para Lucini (1996), a ampliação das áreas urbanas através
da expansão periférica descontrolada, denomina-se “falso crescimento”, assim
como a formação de áreas intersticiais indefinidas e vazios urbanos, que se deve
à substituição das edificações existentes em áreas centrais (constante demolição
e reconstrução) denominam-se “falsa renovação”. A “renovação” e o
“crescimento” o sustentados pela especulação e a segregação de atividades e
grupos sociais de diferentes rendas afetando os setores de menores recursos,
que passam a ocupar setores mais degradados e periferias carentes de serviços
mínimos (LUCINI, 1996).
Maricato expõe a questão da seguinte forma:
Os governos municipais e estaduais desviaram sua atenção dos vazios
urbanos (que, como se sabe, se valorizam com os investimentos
públicos e privados feitos nos arredores) para jogar a população... [de
poucos recursos]
...em áreas completamente inadequadas ao
desenvolvimento urbano racional, penalizando seus moradores e todos
os contribuintes que tiveram que arcar com a extensão da infra-
estrutura. (MARICATO, 2001, p.21).
Um processo que invade morros, em função da topografia do país, mas que em
essência repete velhas fórmulas de segregação do mundo inteiro.
O crescimento urbano sempre se deu no Brasil através da exclusão social e de
“tragédias urbanas” características da estrutura natural e humana do país:
enchentes, desmatamentos, desmoronamentos, epidemias, violência. E isso tem
suas raízes nos cinco séculos de formação da sociedade brasileira,
81
fundamentalmente, a partir da privatização da terra em 1850 e da emergência do
trabalho livre em 1888 (MARICATO, 2001, p.23).
As raízes coloniais da sociedade abriram caminho para a dominação externa,
assim como para a interna, fundada sobre o patrimonialismo e o privilégio. O
proprietário privado tornou-se poder político, econômico e social gerando duas
cidades em cada aglomerado urbano, conforme denominação citada por Maricato:
a cidade “legal”, feita à imagem e semelhança das do Primeiro Mundo, e a cidade
“ilegal”, que sea causa do aumento, entre 1991 e 2000, do número de favelas
em 22% (MARICATO, 2001, p.37).
Efetivamente, a casa colonial iniciará uma evolução em sua forma e função a
partir da importação de costumes, mão-de-obra e profissionais estrangeiros,
importados principalmente pela indústria do café para atender às necessidades da
população de maior poder financeiro (LEMOS, 1999).
A indústria do café, assim como o trabalho livre, gerou, do ponto de vista da
habitação, conseqüências similares às da Revolução Industrial: necessidades
imediatas de multiplicação de moradias que acabam traduzindo-se em obras
inacabadas e edificações com uso inadequado. Surgem, assim, nesta época, os
cortiços, implantados em qualquer terreno livre e barato e, portanto, mal
localizado, muitas vezes alagadiço e conseqüentemente insalubre. Aparecem as
doenças, e com estas a preocupação por melhoria da moradia, com o intuito de
melhorar a produtividade das pessoas (LEMOS, 1999).
Durante o período colonial, e mesmo imperial, a legislação referia-se somente ao
exterior das edificações. Interiormente, todos tinham total liberdade de ação,
porém, as dificuldades técnicas determinaram a existência de uma casa padrão
para todos, sendo as únicas diferenças o número de cômodos ou os tipos de
acabamento (LEMOS, 1999).
É no período da Guerra mundial (1914) que se estudam as leis inspiradas no
serviço sanitário, cuja principal preocupação é a correta insolação das casas.
Com o passar do tempo, surgem normas que procuram garantir um mínimo de
higiene nas habitações (azulejos, cômodos com abertura para o exterior, porão
82
para ventilar o assoalho, e preocupação com a cubagem de ar que determina
uma altura mínima para o pé direito e, posteriormente, a preocupação com a
impermeabilização e a largura das ruas). Essas normas caracterizavam-se mais
como intenções do que exigências. Somente em 1951 institucionaliza-se a
fiscalização domiciliar que modifica as edificações existentes (LEMOS, 1999).
Segundo Carlos Lemos (1999), a grande falha urbana dessa época foi acreditar
que as pessoas necessitassem de um grande lote dentro da cidade com
edificações isoladas dentro dele, esquecendo custos da terra e da infra-estrutura.
Utilizou-se, dessa forma, uma solução semi-rural em áreas urbanas, o que
facilitou a posterior segmentação desses grandes lotes na medida em que a
necessidade por habitações aumentava, valorizando cada vez mais a ocupação
desregular e gerando vazios urbanos intersticiais.
A partir desse período, são os problemas naturais decorrentes das novas
aglomerações urbanas que fazem com que o Estado decida tomar iniciativas no
sentido do surgimento de uma nova atividade governamental que se preocupasse
com elas. Nasce, dessa maneira, no Estado Novo o Planejamento Urbano que
chegará ao seu auge na década de 60 e início da de 70. O mesmo será
influenciado e estimulado diretamente pela experiência do pós-guerra europeu, e
pelo reconhecimento do governo de que o processo de urbanização que estava
acontecendo representava uma das transformações fundamentais da sociedade
brasileira (DEÁK, 1990).
O planejamento urbano, assumido pelo Estado, passou a ordenar espacialmente
as atividades urbanas. Segundo Deák (1990), foram elaborados grandes planos
integrados de desenvolvimento para a maioria das cidades brasileiras, que
procuravam abarcar:
...todos os aspectos possíveis e imagináveis da vida das cidades, desde
obras de infra-estrutura física à renovação e desenhos urbanos,
ordenação legal do uso do solo e paisagem urbana, até provisão de
serviços... ...quanto saúde e educação pública.
Antes das cidades serem obrigadas, pela Constituição de 1988, a estabelecerem
planos de desenvolvimento, o governo as estimulava nesse sentido em função
83
dos financiamentos para obras de infra-estrutura, que somente seriam obtidos
mediante a elaboração de um plano para a cidade (LEMOS, 1999).
Após a intensa produção, na virada de sessenta para setenta, dos planos de
desenvolvimento integrado, segundo Carlos Lemos (1999), sucederam-se anos
de frustração, que pouco, ou quase nada deles era efetivamente implantado.
Percebe-se o grande afastamento entre a teoria e a prática no planejamento
urbano, cada vez mais aparente. Dessa forma, em meados da década de 70, os
planos integrados foram extintos. Porém, ainda por algum tempo elaboraram-se
planos setoriais: um sistema de saneamento, um programa habitacional ou um
plano de transportes. Com a recessão de 1982-83, o planejamento urbano perdeu
sua força e, até hoje, apesar de sua obrigatoriedade pela Constituição de 1988,
permanece restrito a iniciativas isoladas que principalmente arrolam os
problemas, mas dificilmente propõem efetivas soluções ao processo urbano
(LEMOS, 1999).
Além do que, como destaca Schneider (2001), a ausência de mecanismos de
fiscalização respaldados em leis acaba contribuindo para manter um mercado
“...em baixo nível de exigência”. Observam-se, em nossa realidade, as
conseqüências da falta de um controle de qualidade respaldado em normas
qualitativas que estejam presentes em todas as etapas dos projetos.
A qualidade do ambiente construído, que neste trabalho considera não só a
edificação, mas também o espaço aberto conformado por esta, parece ter sido
ignorada desde o início por todas as normas para construção elaboradas e, até
hoje, verificamos que as normas dos códigos parecem dissociadas dessa visão.
Parecem, como foi comentado anteriormente, ao contrário, seguir objetivos
ditados pelo mercado especulativo, ao apontarem um aproveitamento máximo da
terra somado à máxima tolerância para utilização mínima dos espaços destinados
à unidade da moradia, objetivando o maior número de habitantes/m² possível.
Como se pode observar nos exemplos selecionados na cidade de Florianópolis,
nas figuras 34, 35 e 36.
84
Figura 34: Segmentação do terreno através dos blocos habitacionais, implantados de forma
ortogonal e repetitiva, separados pela valorização do automóvel: circulações realizadas
exclusivamente para os carros. Conjunto Residencial Traumã, no bairro Itacorubi, Florianópolis.
Fonte: Fotografia da autora, 2004.
Figuras 35 e 36: Semelhante à figura anterior é a situação dos conjuntos residenciais Green Park
e Verde Vale, respectivamente, ambos no bairro Itacorubi, Florianópolis.
Fonte: Fotografia da autora, 2004.
85
Analisando essa situação nos exemplos apresentados e considerando a tradição
em construir blocos ordenados ortogonalmente no terreno, principalmente
falando-se em conjuntos habitacionais, concluímos que estes contribuíram para
que os espaços livres definissem vazios utilizados meramente para a circulação
de pessoas (sem segurança) e, principalmente, de veículos e, enfim, apenas
necessários para a ventilação dos edifícios (já não se pode referir-se, em muitos
casos, à insolação, que a orientação e a proximidade desses blocos não
permite mais), como se pode verificar, também, nas figuras 37, 38, 39 e 40.
Figura 37: Edifícios do condomínio Reserva do Parque, São Paulo.
Fonte: REVISTA PROJETO DESIGN, n. 278. Artigo sobre tecnologia e serviços. São Paulo:
Arco Editorial Ltda., 2003, p.92.
86
Figuras 38 e 39: Conjunto Residencial Verde Vale, no bairro Itacorubi, Florianópolis.
Fonte: Fotografia da autora, 2004.
Figura 40: Conjunto Residencial Itacorubi, no bairro Itacorubi, Florianópolis.
Fonte: Fotografia da autora, 2004.
Ainda na década de sessenta, podem se verificar conjuntos como o apresentado
na figura a seguir, projetados por arquitetos renomados como Vilanova Artigas,
Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, que continuam apresentando
soluções embasadas nas tendências modernistas, e que permanecem sendo
87
propostas com resultados infrutíferos. No conjunto Residencial Zezinho
Magalhães Prado de 1967, os arquitetos Artigas, Penteado e Mendes da Rocha
explicam que a filosofia seguida visou “a reformulação do conceito de habitação,
pela valorização do equipamento urbano do projeto e das áreas comunitárias
dedicadas ao lazer e à recreação” (XAVIER; LEMOS; CORONA, 1983, p.89) (ver
figuras 41 e 42). Mas que, a partir das considerações realizadas ao momento,
pode-se dizer que a pesar de haver uma preocupação com áreas comunitárias, as
características do conjunto, provavelmente não devem satisfazer às necessidades
básicas de seus moradores, interferindo em sua qualidade de vida.
Figura 41: Vista aérea do Conjunto Residencial Zezinho Magalhães Prado, 1967. De Vilanova
Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha.
Fonte: XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. Arquitetura Moderna Paulistana.
São Paulo: Pini, 1983, p.89.
Figura 42: Vista das unidades habitacionais, 1967. De Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo
Mendes da Rocha.
Fonte: XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. Arquitetura Moderna Paulistana.
São Paulo: Pini, 1983, p.90.
88
Não somente o espaço comum dos conjuntos habitacionais é deficitário, mas
também, se for considerada a cidade como um todo, percebe-se que o próprio
espaço urbano, apresenta uma falta de espaços públicos de qualidade destinados
ao lazer, e que efetivamente permitam seu usufruto, possibilitando assim desfrutar
do verdadeiro sentido da cidade. Espaços, que como já foi mencionado são
essenciais à satisfação das necessidades coletivas e individuais dos homens, que
introduzem num contexto feito de tijolos e concreto o verde da natureza, mesmo
sendo ela criada artificialmente.
A importância dos espaços ao ar livre será abordada no terceiro item deste
capítulo.
Não se pode deixar de salientar, também, a importância da “satisfação visual”,
geradora de importantes sensações de bem-estar que integram o bem-viver do
ser humano, ou como colocado anteriormente faz parte da satisfação das
necessidades das pessoas, ou seja, contribui com o aumento da qualidade de
vida. Sabe-se que a cidade e o cleo habitacional são criações humanas, pelo
que se pode deduzir, que deveriam estar cheias de “humanidade”. Mas a
realidade mostra, como visto anteriormente, em sua maioria, outro tipo de cidade
e núcleo habitacional, com características opostas. Assim hoje se considera que,
saber criar “lugares” onde se viva com satisfação deveria ser responsabilidade
obrigatória dos profissionais que trabalham em sua construção, e que deveriam
também conhecer que esse caminho não tem porque deixar de ser rentável. “A
arquitetura está feita de espaço, sol e natureza”, como dizia Le Corbusier (Apud
PIANO, Renzo, in: ARKINKA, n. 69, 2001, p.82).
Sabe-se que as soluções dependem de um grupo ou equipe, como colocado no
capítulo I, responsável pela produção e promoção das habitações. E que,
segundo Ricardo Ohtake deve estabelecer um acordo no sentido de melhores
soluções: “resolver os problemas depende de um pacto político, entre arquitetos,
prefeitos e sociedade. Sem isso, a própria questão urbana vira simplesmente uma
questão de viabilidade financeira” (Apud FREITAS; ALBUQUERQUE; KATO, in:
Revista BRAVO, 2003, p.29).
89
Para Maricato (2001), o ambiente construído será sempre o reflexo de uma
sociedade e, portanto, é impossível pensar que uma sociedade desigual e
autoritária como a brasileira, baseada em relações de privilégio e arbitrariedade
possa produzir cidades que não tenham também essas características.
Coincidindo com essa posição, Deák (2001) afirma que “...descrever, entender ou
interpretar o processo de urbanização do Brasil implica na verdade, descrever,
entender, interpretar a natureza de sua própria sociedade”.
São salientadas também por Maricato (2001) como importantes características
negativas da sociedade brasileira em relação ao processo de desenvolvimento
urbano, a sua tradição “livresca e retórica” que provoca a ignorância da realidade
local por basear-se nas tendências estrangeiras; a confusão que se realiza entre
a esfera pública e a privada; o ensino extremamente teórico que não permite ver
os problemas do ponto de vista prático, o que gera sua ignorância; e a concepção
do trabalho como uma coisa degradante. Como arremate, citamos uma frase
desta mesma autora: “Nossas cidades são máquinas produtoras de
irregularidades(Ibid.).
Em relação à habitação coletiva, pode-se dizer que ela se desenvolve, no Brasil, a
partir de 1940, correspondendo nesta primeira etapa a moradias para a classe
média. O BNH, criado em 1965, acaba sendo extinto em 1986; vários outros
empreendimentos públicos e privados tentarão algumas soluções que não
alcançarão uma definição clara e uma planificação organizada gerando o
resultado que se lamenta em matéria de habitação (MARICATO, 2001): uma
produção habitacional repetitiva, que por sua implantação, desconsidera os
espaços abertos dos conjuntos, como verdadeiros espaços para o lazer e
recreação, necessários à qualidade de vida de seus moradores que acaba sendo
afetada em função do máximo aproveitamento econômico do terreno, como
colocado em parágrafos anteriores.
O “Estatuto da Cidade”, projeto de lei do ano 1990, tenta colocar um basta nesta
situação, estabelecendo “normas de ordem blica e interesse social que
regulamentam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da
segurança e do bem-estar dos cidadãos bem como do equilíbrio ambiental
90
(sublinhado da autora). Nesse sentido, é importante ressaltar a opinião de Deák
(2001):
...as perspectivas de evolução das eventuais crises, impasses ou
dilemas da gestão urbana dependem inteiramente das perspectivas de
desenrolar dos atuais processos de transformação da sociedade... Em
particular as aglomerações urbanas terão saneamento mais acurado,
transporte rápido de massas abrangente, transporte coletivo
diversificado e de boa qualidade, redes adequadas de telefonia e de
informações, áreas públicas e de lazer mais generosas e equipadas,
serviços públicos acessíveis, ou patrimônio histórico respeitado e
conservado e paisagem urbana condizente, se as transformações da
sociedade os requererem, isto é se a sociedade brasileira se livrar do
lastro patrimonialista e dos entraves a seu desenvolvimento para entrar
em um estágio de desenvolvimento fundado no aumento da
produtividade do trabalho, que requer, enquanto necessidade histórica,
uma elevação - sempre crescente dos níveis de reprodução da força
de trabalho e conseqüentemente dos níveis de serviço das infra-
estruturas e serviços urbanos.
Por outro lado, Hadid e Schumacher acreditam que o dinheiro privado tem sim
que contribuir para um novo planejamento urbano das cidades. Segundo eles,
O estado pode responder por alguns pontos centrais, infra-estrutura,
talvez moradias populares, mas a era em que todo o desenvolvimento
da cidade era movido pela autoridade pública, acabou. É preciso que
haja uma espécie de marco estabelecido pelo investimento público e
talvez por algumas iniciativas público-privadas, mas o investimento do
setor privado é o principal fator para preencher e criar espaços vitais.
Ainda que os centros cívicos chaves sejam investimentos públicos, tudo
ao redor tem de ser investimento privado. (REVISTA BRAVO, 2003,
p.38).
Schneider (2001), ressalta que o grave problema do déficit habitacional brasileiro,
estará, infelizmente, ainda presente por muito tempo neste novo século que se
inicia, graças a péssima distribuição de renda, ao desemprego, aos baixos
salários e a toda política econômica, social e habitacional existente no País, que
aliada as formas que regem a produção de moradias, tem imposto um elevado
custo ao direito de habitar a cidade. Esta situação tem provocado, ainda para a
91
autora, o assentamento de inúmeras famílias em loteamentos clandestinos,
favelas, e mais gravemente em áreas de risco, gerando toda sorte de catástrofes.
Trabalhos e pesquisas no Brasil, dedicados a este tema, tem demonstrado que a
pesar deste quadro negativo, pode-se obter resultados positivos, desde que se
realizem propostas para habitações coerentes coma situação encontrada, com o
local, com o tipo de usuário, com o envolvimento da comunidade a ser
beneficiada, de técnicos de diferentes áreas e uma relação intrínseca entre
projeto e produção. E é claro vontade de superar os obstáculos existentes
(SCHNEIDER, 2001).
Vivencia-se um novo momento histórico, onde se pode contar com novas
tecnologias e conhecimentos que permitem o estudo e a percepção da habitação
sob outros pontos de vista, com novos problemas que devem ser enfrentados e
uma busca constante por soluções que permitam a todos uma melhor qualidade
de vida (LUCINI, 1996).
2.2.1 Panorama Florianopolitano
Para o desenvolvimento de uma visão mais concreta, em função de um maior
conhecimento da cidade, analisar-se-á a questão habitacional em Florianópolis.
A história da cidade de Florianópolis é importante para poder entender seu
desenvolvimento do ponto de vista habitacional.
A Ilha de Santa Catarina, concretamente, esteve povoada desde há mais de
5.000 anos. Na localidade de São João do Rio Vermelho e na Ilha do Campeche,
existem provas da passagem de grupos humanos, talvez nômades (GOSS, 2002).
Segundo Goss (2002), Os índios carijós também estavam ali assentados quando
da chegada dos primeiros habitantes brancos. O espanhol Juan Dias de Solís foi
um dos primeiros navegadores a descer na Ilha, mas seus primeiros habitantes
permanentes estabeleceram-se ali absolutamente por acaso: um grupo de pouco
mais de dez homens da expedição de Solís no retorno do Rio de la Plata
92
naufragou, ficando para sempre em terras que, com certeza, devem ter sido
receptivas.
Ainda para o mesmo autor, o início da colonização oficial portuguesa ocorreu em
1673, quando Francisco Dias Velho funda a colônia e o povoado de Nossa
Senhora do Desterro. Essa fundação, assim como a chegada dos primeiros
casais açorianos em 1748, teve uma única razão por parte da coroa portuguesa:
consolidar a ocupação de um ponto importante na disputa de terras com a coroa
espanhola. Por essa razão, a única intervenção importante no lugar será a criação
de um sistema defensivo que culminará com a divisão de terras assinada no
Tratado de Santo Ildefonso em 1778.
Em 1823, Nossa Senhora do Desterro passa a ser a capital da Província de Santa
Catarina. Deve-se entender o processo de formação desta capital como resultado
de circunstâncias favoráveis num determinado momento. Apenas os valores
naturais de seu porto, entrada e saída dos produtos do Estado, do restante do
território brasileiro e do exterior, justificarão seu desenvolvimento. Isso gerará
para a cidade um perfil essencialmente comercial. O solo arenoso e seco da Ilha
favoreceu a produção de mandioca que daria a tônica alimentar da região (GOSS,
2002).
A atividade comercial gerou um importante crescimento urbano que desenvolveu
uma procura por costumes requintados e melhores formas de vida. Projetou-se a
melhoria do porto e a construção de edifícios públicos, entre outras obras
urbanas. A modernização política e a organização de atividades culturais também
se destacaram (GOSS, 2002).
Goss (2002) ainda acrescenta que o porto gerou o desenvolvimento da
construção naval, existindo, na segunda metade do século XIX, três estaleiros na
cidade. Gerou também o desenvolvimento de serviços necessários pelo aumento
do trânsito de navios de passageiros.
De acordo com dados da administração provincial de 1871, existiam em Desterro
1.542 casas, sendo 1.360 térreas e 182 sobrados (GOSS, 2002).
Fernando Goss conta em seu capítulo do livro “Hercílio Luz - Uma Ponte”, que:
93
A população menos abastada desenvolvia uma diversidade imensa de
atividades na busca diária pela sobrevivência, como trabalhos nas
colheitas de café e na época da farinhada, além da pescaria de tarrafa
com a captura dos peixes para o caldo da ceia noturna. Havia ainda os
pombeiros, vendedores de frutas e de outros gêneros, que levavam
seus produtos às casas dos fregueses (GOSS, 2002).
Nas ilustrações seguintes, podem-se observar o crescimento da cidade e o
casario tomando conta lentamente de sua paisagem. A figura 43 retrata a cidade
de, provavelmente, final do século XIX e início do século XX. Assim como a figura
44, da virada para o século XX.
Figura 43: Vista de Florianópolis, sem data. Óleo sobre tela, do Acervo Museu de Arte de SC.
Fonte: GOSS, Fernando. Uma Ilha sem uma ponte. In: Hercílio Luz Uma ponte. Florianópolis:
Tempo Editorial, 2002, p.12 e 13.
94
Figura 44: Crescimento da cidade e expansão da área urbana, antes da virada para o século XX.
Fonte: GOSS, Fernando. Uma Ilha sem uma ponte. In: Hercílio Luz Uma ponte. Florianópolis:
Tempo Editorial, 2002, p. 18.
Os anos que se seguiram à Proclamação da República foram conturbados para a
história de Desterro. A Revolução Federalista, a proclamação da cidade como
sede do Governo Provisório Federal, fuzilamentos posteriores e até a duvidosa
homenagem a Floriano Peixoto que mudou definitivamente o nome da cidade,
foram episódios marcantes desta história (GOSS, 2002).
Mas o autor ressalta que a pequena cidade mostrou sua capacidade para manter
sua cota de importância nos destinos do País.
Nos finais do século XIX e inícios do XX, a paisagem urbana de Florianópolis
aumentou consideravelmente o número de sobrados (ver figura 45), “símbolo da
consolidação de uma classe mais abastada, burguesa, formada principalmente
por comerciantes e armadores” (GOSS, 2002, p.25). Mas sua economia, coloca
Goss, estava sendo ultrapassada pelas colônias de origem alemã (Blumenau e
Joinville, fundamentalmente).
95
Figura 45: Sobrados da rua João Pinto da Florianópolis Republicana. “Morar num edifício de dois
andares era um luxo e um conforto até então não experimentado”.
Fonte: GOSS, Fernando. Uma Ilha sem uma ponte. In: Hercílio Luz Uma ponte. Florianópolis:
Tempo Editorial, 2002, p.19.
Florianópolis teve sempre pouco desenvolvimento industrial, especializando-se no
comércio e na instalação de firmas de importação e exportação. Em 1920, a
cidade tinha 41.000 habitantes, e o núcleo mais pobre da população localizava-se
na área correspondente ao Rio da Bulha. Essa população estava constituída por
trabalhadores manuais, pescadores e ex-escravos, que residiam em casas
pequenas muito próximas, formando uma espécie de cortiço. A construção da
primeira avenida da cidade, a “Avenida do Saneamento” (hoje Hercílio Luz),
expulsou esses moradores para a periferia, nos morros próximos, fazendo-os
abandonar a área central (GOSS, 2002, p.26 e 31).
Passados os momentos que deram a Desterro seu valor estratégico, o
desenvolvimento industrial de outras áreas do Estado começará a questionar sua
validade como capital, inclusive pelo seu isolamento numa ilha. Isso determinará
a necessidade de uma ponte e sua construção em 1926, a Ponte Hercílio Luz
(GOS, 2002) (ver figura 46).
96
Figura 46: Nasce em 1922, por uma decisão arrojada do governador Hercílio Luz, uma obra que
viria a mudar radicalmente a vida social, econômica e política do estado.
Fonte: JENI, Joana Andrade. Uma ponte para uma ilha. In: Hercílio Luz Uma ponte.
Florianópolis: Tempo Editorial, 2002, p.36-37.
Segundo Andrade (2002), a ponte modificamuitas coisas na vida e no destino
de Florianópolis. Talvez o mais importante seja a confirmação de um caminho
atípico de desenvolvimento urbano da ilha, em relação à maioria das outras
cidades.
Sendo uma ilha, Florianópolis não desenvolveu um crescimento baseado na
produção agrícola ou na industrialização. Ao contrário, esses elementos
participantes de suas origens foram cada vez mais diminuindo sua importância e
gerando uma conurbação que não estabelece limites, nem sequer em relação à
área ilhada, integrando ilha e continente a partir dos setores administrativo e de
serviços em geral, “importando” de outros lugares do País o que lhe é necessário
e que não produz. A ponte parece ter aberto os caminhos da comunicação
(ANDRADE, 2002).
Se o Brasil de forma geral iniciou seu caminho para a industrialização a partir dos
anos 40, Florianópolis ignorou totalmente esse processo. O que não significa que
não tenha concretizado um processo de crescimento urbano excepcional: em
1964, 64% das pessoas moravam na cidade; na década de 70, eram 79% e em
2000, 97%. Florianópolis cresce pelo desenvolvimento do setor público, pela
presença de sua Universidade Federal, pelas grandes empresas de serviços nela
instaladas como, por exemplo, a Eletrosul, pelo desenvolvimento financeiro e
fundamentalmente desde 1980, pelo impressionante crescimento do turismo, e
recentemente pela indústria do vestuário e da informática, que vêm se tornando
também setores de grande desenvolvimento (ANDRADE, 2002).
97
O processo de urbanização de Florianópolis, para Andrade (2002), não partiu do
campo em função dos requerimentos de um desenvolvimento industrial, o que
não quer dizer que o problema habitacional não apresente, por outros motivos,
problemas tão importantes de déficit habitacional como os de outras cidades
brasileiras.
Dos 97.800 habitantes que ela possuía em 1960, passou em 1990, para 254.900,
e para 369.781 habitantes em 2003 (segundo estimativa do IBGE), praticamente
todos localizados numa cidade que se estende tentacularmente para todos os
lados, criando uma continuidade urbanizada que ainda tenta resolver o problema
da centralização dos serviços através de um melhor sistema de transporte
(ANDRADE, 2002).
Uma ocupação maciça e desordenada trouxe importantes problemas de agressão
ao meio ambiente, destruindo cultivos naturais, manguezais, diminuindo a pesca
artesanal, isso sem falar na “invasão” de turistas durante os meses de verão.
Vogel expõe que:
Os aterros e os paredões de prédios o afastavam as pessoas do
mar como comprometiam o ambiente térmico da cidade. Estradas e
loteamentos invadiram todos os recantos, fazendo com que tradicionais
comunidades pesqueiras ou agrícolas perdessem sua identidade e se
transformassem em balneários e bairros residenciais”. “...enquanto a
cobertura do solo por materiais impermeáveis aumentava o risco da
ocorrência de enchentes, a grande valorização de algumas áreas
provocou o agravamento da marginalização da população de menor
renda para as encostas dos morros, e os sinais de miséria foram assim
mais claramente demarcados na paisagem da cidade, denunciando a
desigualdade social e um tipo de desenvolvimento que é excludente, e,
por isso mesmo, questionável (VOGEL, 2002, p.89). (ver figura 47).
98
Figura 47: Vista da Av. Madre Benvenuta na cidade de Florianópolis, onde a população de menor
poder aquisitivo continua aumentando nas encostas dos morros, de difícil acesso, e os conjuntos
habitacionais multifamiliares crescem em áreas que anteriormente eram exclusivamente
unifamiliares em função da valorização da terra pelo crescimento periférico da cidade.
Fonte: Fotografia da autora, 2004.
Nesta cidade a realidade diária mostra que, todos esses problemas continuam a
agravar-se a partir da redistribuição da habitação comentada (ver páginas 53 e
54), em que as áreas centrais se esvaziam porque as pessoas de maior poder
econômico deixam o centro para refugiar-se da poluição e da insegurança, nos
bairros residenciais de alto padrão criados nos morros (ver figuras 48 e 49), ou
em condomínios fechados da periferia ou ainda em altos prédios de apartamentos
luxuosos também localizados na periferia, graças a uma legislação permissiva,
sempre disposta a anular qualquer intento de bom planejamento (ver figuras 50,
51, 52, 53 e 54)
16
.
16
É visível o esvaziamento do centro na contínua substituição de casas residenciais por estas
mesmas adaptadas para clínicas, consultórios, escritórios, academias e todo tipo de serviços.
Constata-se, na cidade, a visão dos autores anteriormente mencionados, como Maricato, Mendes
99
Figura 48 e 49: Condomínio Por do Sol II e Baía Norte, respectivamente, no bairro João Paulo,
Florianópolis. Conjuntos de residências unifamiliares de “alto padrão” que nascem em locais onde
há pouco tempo havia somente mata nativa e pequenas casinhas de pescadores.
Fonte: Fotografias da autora, 2004.
Figura 50 e 51: Condomínios multifamiliares que surgem sem parar num bairro que ainda preserva
características de uma vila onde seus moradores pescam, cultivam e ainda criam galinhas, mesmo
quando o “progresso” toma conta destes espaços, coexistindo aqueles com os novos moradores
que possuem um nível econômico muito elevado.
Fonte: Fotografias da autora, 2004.
da Rocha, Lucini entre outros, sobre o esvaziamento residencial do centro das cidades e o
conseqüente crescimento periférico.
100
Figuras 52, 53 e 54: O bairro João Paulo, que até poucos anos atrás era habitado por pescadores,
está hoje invadido por conjuntos unifamiliares de alto padrão, como percebemos nesta seqüência
de imagens que compara áreas construídas com as poucas que ainda permanecem como eram
originalmente.
Fonte: Fotografias da autora, 2004.
O abandono do centro pelos moradores de nível socioeconômico superior se
manifesta na transformação das áreas periféricas. Tomando como exemplo um
bairro da cidade em desenvolvimento, percebe-se esta questão na seqüência de
imagens que compara áreas construídas com as poucas que ainda
permanecem como eram originalmente (ver figuras 55, 56, 57 e 58).
101
Figura 55, 56, 57 e 58: As imagens pertencem ao mesmo bairro citado na página anterior, aonde
coexistem opostos em lugares muito próximos.
Fonte: Fotografia da autora.
Importante é também salientar alguns detalhes que podem ser percebidos nas
figuras 59 e 60 a seguir, onde a mesma propaganda enganosa que atinge os
conjuntos residenciais para usuários de baixa renda também existe para
condomínios de luxo, como sugere a comparação do painel de divulgação do
empreendimento (figura 59) e da obra (figura 60). Observa-se também, no que diz
respeito à vinculação física e espacial desse empreendimento com o passeio
público, a criação do que se pode denominar como “vazio construído”: o alto muro
cego de fechamento faz morrer qualquer possibilidade de comunicação entre o
empreendimento e a rua, e entre ele e seu bairro.
102
Figuras 59 e 60. Painel de divulgação do empreendimento e a vista real da obra. A divulgação não
reflete a realidade. Ainda na figura 72 percebem-se os “vazios construídos”, onde um alto muro
cego de fechamento o permite a comunicação física e/ou visual do empreendimento com a rua,
e o bairro. Negando qualquer possibilidade de integração de seus futuros moradores com o bairro.
Fonte: Fotografia da autora.
A partir das colocações feitas, pode-se dizer que a beleza natural de Florianópolis
foi sem dúvida determinante no seu processo de desenvolvimento. Em função do
visível crescimento da cidade parece ser que os que aqui chegam não querem
mais abandonar um lugar com tantos atrativos. Mas pode-se perceber que esses
mesmos atrativos geram a concentração de elementos tanto positivos quanto
negativos, cujo desenvolvimento não pode ficar liberado ao acaso. Considera-se
então, que a qualidade de vida, que se pode chamar de “natural” na cidade,
precisa ser preservada, socorrida, corrigida, levando em consideração que, se as
áreas verdes são importantes para todos, representam ainda um papel mais
importante em Florianópolis, onde elas parecem fazer parte da identidade do
lugar (ver figura 61).
Figura 61.
Fonte: HERCÍLIO LUZ - UMA PONTE, Florianópolis: Tempo Editorial, 2002, p.159.
103
3. ESPAÇOS AO AR LIVRE
3.1 Sentido dos espaços verdes
É de conhecimento geral que a relação do ser humano com a natureza é vital
porque, ela é a principal definidora do conceito de vida. A partir do conhecimento
fundamental da História do ser humano, pode-se dizer que esta demonstra que as
diferentes civilizações estruturaram seu “mundo” a partir de sua forma de
entender a natureza.
Partindo-se da pesquisa apresentada no item 2.2.1, e assim tomando como
exemplo a cidade de Florianópolis, pode-se concluir que sua estrutura urbana se
formou a partir de sua relação com o mar: relação física por ser uma ilha;
produtiva, por ser o peixe um elemento importante de alimentação; e de
comunicação, por ser o mar a única possível antes da construção da primeira
ponte em 1926. É importante salientar que essa relação física foi assim aceita
pelos seus povoadores. Opção que outros povos, em condições similares,
negaram, como foi o caso dos gregos que, originários de uma terra praticamente
ilhada (o Peloponeso), deram as costas ao mar por sentirem-se mais ligados aos
valores da terra (STRICKLAD, 2003).
É necessário compreender também, partindo-se do estudo da história, que as
relações com o meio são variáveis: a Praça XV de Novembro de Florianópolis foi
traçada para constituir um eixo integrador de igreja-praça-mar, hoje totalmente
desvirtuado pela vegetação da Praça. Mas essa vegetação, principalmente se se
falar da figueira, é hoje o orgulho e a referência dos florianopolitanos. Conclui-se
que a sociedade atual se relaciona com a natureza de forma diferente do que a do
século XVIII, vendo nela outros valores (ver figura 62).
104
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Figura 62. Esquema representativo do eixo Igreja-Praça-mar existente na cidade de Florianópolis.
As relações com o meio variaram em função dos valores atribuídos à natureza ao longo dos anos
pelas diferentes sociedades.
Fonte: Esquema desenvolvido pela autora, 2004.
105
Observando-se o cotidiano da cidade verifica-se uma tendência progressiva à
valorização dos espaços verdes blicos, e atualmente, também aos espaços
verdes ligados ao dia-a-dia de cada um. Pode-se dizer então, que hoje, o valor da
presença da natureza em relação à habitação é essencial. Mas também se
considera que não se tratará de “qualquer valor natural”. Espaços significativos,
qualificados para atender as verdadeiras necessidades humanas (apresentadas
anteriormente na página 49) serão os indicados, sabendo que “....a qualidade do
habitar não é um dado da natureza, mas o resultado do projeto humano
(GRAVAGNUOLO in: Prefácio de Ética do Construir. BOTTA, 1996, p. 16).
Para Botta, o projeto habitacional deve sugerir uma série de relações espaciais
capazes de consolidar o direito à moradia como refúgio de valores constantes e
coletivos que ultrapassem os de utilização imediata. Para o autor, elementos
como o horizonte, o ciclo solar, a lua, as estrelas, são parte ativa da própria
habitação, a partir do momento em que o espaço torna-se fruição. Assim, ele
pergunta-se “Por que negar ao homem a possibilidade de viver e fruir estes
valores?” e, comentando o benefício que trazem: “...é bom sentirmo-nos em
harmonia e em diálogo com estes elementos e confrontar em continuidade o
espaço construído com os elementos exteriores” (BOTTA, 1996, p.35-36).
Transcreve-se a seguir um parágrafo do livro de Botta, por se considerar
fundamental:
O habitar reconquista assim os seus significados mais profundos e a
arte de construir pode ser instrumento de resistência à banalização que
se manifesta à nossa volta. A exigência primária do habitar propõe-se
como aspecto estrutural do viver e o como elemento de consumo ou
símbolo de status. O construir torna-se um ato fundamental, expressão
de uma exigência inerente ao homem, a de transformar uma condição
de natureza numa condição de cultura. (BOTTA, 1996, p.36).
Para Linch, “a paisagem urbana é algo a ser visto e lembrado, um conjunto de
elementos do qual esperamos que nos prazer” (In: La ville de demain.
POWELL, 2000, p.08). Partindo desse pensamento, considera-se o mesmo da
“paisagem comunitária” dos conjuntos habitacionais, que além de “lembrada”
deve gerar o “prazer” de viver para aqueles que a usufruem. De acordo com Botta
106
(1996, p.36), “...não se pode integrar o grupo de arquitetos que, punem duas
vezes as classes sociais com menor poder aquisitivo porque, primeiro lhes é
negada a habitação e...quando lhes é dada é uma casa feia”.
Entende-se perfeitamente esse alerta observando-se a oferta de habitações
destinadas para as classes sociais menos favorecidas. Moradias em conjuntos
habitacionais sem qualquer valor arquitetônico, seja o mesmo estético, espacial,
ambiental ou funcional. E, se isso se considera verdadeiro em relação à unidade
habitacional, pode-se dizer que se agrava ainda mais nos espaços externos, onde
muitas vezes, a realidade mostra que não são nem mesmo considerados.
Lamentavelmente, esses exemplos continuam a proliferar no espaço urbano da
cidade, que representa, segundo Lucini (1996), a simples somatória desses
produtos. Esta situação, segundo o autor, se deve à construção da moradia, como
um produto para o mercado, visando a maior lucratividade, onde os profissionais
que poderiam intervir para melhorar a situação acolhem essa alternativa,
respeitando as determinações dos promotores da habitação, fazendo uma mera
repetição tipológica em diferentes terrenos. Muda-se às vezes, como os exemplos
apresentados nas páginas 23 e 24, a composição de cores e acabamentos de
fachada, que “diferenciam” os conjuntos.
Infelizmente, dessa forma se acompanha o consumismo procurado pelas
construtoras, transformando o espaço destinado à habitação de pessoas em
espaço “mercadológico”, explorado de forma a ser vendável, incorporando para
isso um falso nível de status: “....não nos opomos suficientemente ao fato de
muitas casas apresentarem uma qualidade ínfima, onde certamente nenhum
arquiteto iria habitar” (BOTTA, 1996, p.36).
3.2 Espaços abertos: privativos e públicos de lazer
As áreas de lazer nos conjuntos de habitação, para satisfazer as necessidades
básicas das pessoas, comentadas, mesmo sendo privativas, porém comuns
aos moradores, deveriam suprir o deleite e os momentos de descanso das
famílias em sua moradia, com qualidade e segurança, ao contrário do que ocorre
107
na prática, na maioria dos casos, como nos exemplos da cidade de Florianópolis
das figuras 63 e 64. Como salienta Paulo Mendes da Rocha, você vive na
cidade”, onde a parte pública, segundo ele, “...deveria ser muito mais a sua casa
do que esse espaçozinho, cuja imagem querem vender ao pobre como algo ideal,
um índice de felicidade que deve ser perseguido” (REVISTA BRAVO, 2003, p.33).
Figuras 63 e 64: Vista do interior de alguns conjuntos habitacionais multifamiliares, em
Florianópolis, que evidenciam a falta de qualidade e segurança dos espaços destinados ao
convívio social e às “áreas verdesque, como mostra a figura 64, são áreas remanescentes que
configuram a passagem das ruas internas dos condomínios.
Fonte: Fotografias da autora, 2004.
108
Diante das visíveis carências dos atuais conjuntos habitacionais, pode-se dizer
que se torna ainda mais importante o valor dos espaços públicos que, quando
existem, brindados muitas vezes por espaços semi-privados, são extremamente
bem aproveitados, como é o caso do bairro Itacorubi na cidade de Florianópolis,
onde toda a vizinhança utiliza o parque da Universidade do Estado de Santa
Catarina UDESC, como área verde de lazer. Percebe-se em algumas visitas
realizadas ao parque que a troca humana é intensa principalmente nos finais de
semana, quando os moradores de diferentes condomínios e até de mesmos
condomínios conhecem-se nesse espaço, o que dificilmente acontece dentro do
espaço comunal (ver figura 65, 66, 67 e 68).
Figura 65 Vista de conjuntos habitacionais em Florianópolis desde o Parque da UDESC, utilizado
pelos moradores como espaço de lazer.
Fonte: Fotografia da autora, 2003.
109
Figura 66 e 67: Vista do Parque UDESC, ambas fotografias, utilizado pelos moradores do bairro.
Fonte: Fotografia da autora, 2004.
Figura 68: Vista do Parque da UDESC, nos fundos da Universidade, onde crianças brincam com
pipas.
Fonte: Fotografia da autora, 2004.
110
Espaços, lugares, estabelecem-se a partir de relações entre massas edificadas e
espaços, que devem seguir a devida proporção para que o lugar seja mesmo
convidativo, capaz de gerar relações de proximidade (SCHULZ, 1998), e provocar
as positivas modificações comportamentais das que se falou nas páginas 47 a 49.
Schulz (1998, p.91), ainda comenta que essa “proximidade” está relacionada com
o conceito de fechamento, razão pela qual os grandes espaços abertos não
favorecem a sociabilidade. Reafirma-se mais uma vez a importância da relação
entre a questão espacial e as alterações comportamentais, abordadas no primeiro
item deste capítulo (páginas 47 a 49).
111
4. ALGUNS DOS COMPONENTES E AGENTES DO SISTEMA DE
PROMOÇÃO E PRODUÇÃO DA HABITAÇÃO
4.1 Racionalização e os componentes e agentes do processo de
produção da habitação
A viabilização da produção habitacional de média e baixa renda não deve separar
os parâmetros qualitativos dos critérios de racionalidade e produtividade. Não é a
segregação das atividades e grupos sociais de rendas diferentes que garantirá
uma melhor funcionalidade e racionalidade urbana, ao contrário considerando os
custos de manutenção-reconstrução e os de infra-estrutura, nem a redução
qualitativa da construção aliada à localização marginal, que viabilizarão
economicamente a habitação para faixas de baixo poder aquisitivo (LUCINI,
1996).
Deve-se, segundo Lucini (1996), para uma nova alternativa tipológica buscar unir
a qualidade construtiva e ambiental à racionalidade econômica e de produção,
considerando essa nova alternativa diferente da comumente executada no Brasil:
individual, térrea e coletiva em altura.
Para Alfredo Sarli (1981), a racionalização do processo de produção da
habitação, não é apenas a racionalização do produto final e seu entorno, mas a
racionalização dos componentes deste sistema, descobrindo e atuando sobre as
causas que geram a inadequação da oferta com relação à demanda e
conseqüente crise habitacional.
112
4.2 Componentes e Agentes
Alfredo Sarli (1981), descreve o que considera como panorama geral do
comportamento de alguns dos componentes e agentes do sistema do processo
produtivo da habitação da seguinte forma:
A PROMOÇÃO Financiamento: o processo de promoção da habitação
inicia com a intervenção do promotor imobiliário público ou privado que:
- viabiliza um terreno;
- elabora um programa de desenvolvimento;
- contrata um projeto;
- administra as autorizações de desenvolvimento correspondente;
- assegura o capital de promoção: financiamento em curto e, ou longo
prazo para construção;
- contrata as obras de habilitação do terreno e construção da habitação;
- parte de um suposto conhecimento do mercado e das condições da
demanda (requerimentos sócio-econômicos e de espaço dos usuários)
para obtenção do programa inicial para construção;
- tanto o projeto quanto a construção obedece a uma pré-determinação
tecnológica cujo objetivo fundamental é o de aumentar a velocidade de giro
do capital de promoção e reduzir os custos, que são apropriados pelo
promotor privado e no caso do promotor público, reduzir os custos dos
subsídios diretos ou indiretos dos programas públicos de construção.
A PRODUÇÃO – Realizada pelas Empresas Construtoras Privadas: a
contratação das construções aciona o processo de produção da habitação
que:
- de acordo com a tecnologia escolhida e incluída no projeto, e segundo a
prática construtiva aceite, combina os fatores de produção: bens de capital
e força de trabalho para produzir as transformações necessárias aos
insumos da produção (materiais de construção, que provêm do setor
manufatureiro, componentes construtivos, maquinarias que provêm de
grandes empresas internacionais de produção de bens de capital e a força
de trabalho que provêm da população ativa, que na maior parte dos países
latino-americanos corresponde ao “setor informal” de produção de
113
habitações que não atua dentro das disposições legais urbanísticas e
sanitárias).
O PROMOTOR IMOBILIÁRIO
PÚBLICO Instituição oficial da habitação que possui as seguintes
funções, e atende aos setores de menor renda através de programas
subsidiados:
- investigação e avaliação do problema habitacional;
- formulação de políticas e planos;
- obtenção de recursos financeiros;
- aquisição de terras;
- elaboração dos projetos;
- contratação das obras de urbanismo e construção das habitações com
empresas construtoras privadas;
- venda ou aluguel das habitações;
- fornecimento de créditos para construir, melhorar ou ampliar a habitação;
- administrar e manter os conjuntos habitacionais;
- fornecimento de subsídios diretos ou indiretos.
PRIVADO O fornecimento do capital de promoção é feito por entidades
financeiras especializadas que viabilizaram a aparição dos Promotores
Imobiliários Privados, especializados em capital. São os entes financeiros e
os promotores privados que dirigem a oferta final e fixam as condições de
comercialização da habitação. A função desses promotores privados é:
- comprar ou adquirir uma opção de compra sobre o terreno;
- elaborar um programa;
- contratar um projeto;
- gerir o financiamento para construção e venda das habitações;
114
- contratar as obras de urbanismo e construção;
- alugar ou vender ao setor solvente da demanda.
A TERRA o processo de produção da habitação esta relacionado com o
caráter não reproduzível do solo urbano. Para iniciar cada novo ciclo de
produção é necessário um novo terreno, assim este se torna um obstáculo
que se repete a cada novo período, o que faz com que a produção
imobiliária não seja contínua somente em casos especiais e não seja
produzida em série:
- o valor da terra é determinado pelos promotores imobiliários e pelas
entidades financeiras, que valorizam a terra quando transformam seu uso
através das mudanças urbanas e funcionais do entorno, o que acelera o
processo inflacionário imobiliário, dos terrenos e da renda do solo
(valorização do solo);
- a especulação do solo é prejudicada quando este é público, porém as
relações políticas e os interesses privados podem mudar esta situação,
pois são eles que possuem o poder de influência e determinam o uso
público da terra. Desta forma, deve ser racionalizada a legislação para o
ordenamento territorial e urbanístico e regime de propriedade e uso do
solo, para que possamos falar em racionalização da produção de
habilitação.
O FINANCIAMENTO A habitação é uma “mercadoria” imobiliária cuja
produção o é em série, com longo período para pagamento total do
“produto”, do capital que virou mercadoria imobiliária (habitação), pela
população que somente pode pagá-la na medida em que ocorre seu
consumo, assim:
- o retorno do capital prolonga-se por uma boa parte da vida útil da
habitação (financiamento a longo prazo), o que representa uma
condicionante para a própria reprodução da habitação.
- o valor do produto final é muito alto com relação ao verdadeiro valor,
exclusivamente, da habitação;
- a produção da habitação é afetada pela incapacidade de poupança das
famílias, provocada pela crise generalizada e o processo inflacionário com
altos juros, que é necessária para que exista o financiamento a longo
prazo.
115
A EMPRESA CONSTRUTORA é o agente fundamental no processo de
produção da construção da habitação. O processo de trabalho manual e
heterogêneo na construção, o fato desta não poder ser produzida de forma
continua, e que a terra não pode ser reproduzida, condiciona a organização
da empresa e sua forma de adequação às características
permanentemente cambiantes da demanda:
- as variantes dos programas de construção limitam o processo de
industrialização e racionalização da construção das habitações, o que leva
à contratação de mão-de-obra temporal e à tercerização;
- o baixo nível organizativo das empresas devido à baixa média de vida
destas gera problemas na construção a nível tecnológico, produtivo e
conseqüentemente, nos custos;
- o maior custo gerado pelas deficiências administrativas é transferido ao
consumidor final e passa a formar parte do aumento permanente nos
valores de venda das habitações;
- na racionalização da produção deve-se considerar que os materiais o
podem ser em sua totalidade armazenados, o que faz com que o processo
de produção seja condicionado pelo abastecimento e entrega dos insumos
17
O USUÁRIO Consumidor final. A demanda solvente dos consumidores
finais da habitação não aumenta seu número em função, do lado da
demanda, da perda da capacidade aquisitiva das famílias e do processo
inflacionário generalizado que reduz a propensão à poupança, e do lado da
oferta em função do progressivo aumento do custo da habitação,
acompanhado da perda de qualidade e nível de satisfação da demanda:
- situação que origina uma oferta marginal de habitações inadequadas e
até fora do mercado formal. Assim, aumentam as ampliações improvisadas
para aluguel de quartos e a construção de favelas propiciadas às vezes
pelo próprio Estado que assume quase que integralmente o fornecimento
de habitações através de fortes subsídios e grandes recursos financeiros.
17
São os materiais e componentes necessários para a construção e o objeto de trabalho dentro do
processo de produção das edificações. O ciclo de produção é condicionado pelo pedido e
fornecimento oportuno dos insumos, já que estes não podem ser armazenados por seu volume,
vulnerabilidade ao meio ambiente e imobilização do capital produtivo (SARLI, 1981).
116
A partir das considerações de Sarli (1981), podem-se comparar suas definições
com as utilizadas corriqueiramente no meio da produção habitacional para os
agentes “especuladores”:
A INCORPORADORA (empresa que realiza o contrato para construção
das habitações em condomínio e vende em prestações as futuras
unidades) e OS EMPRESÁRIOS INVESTIDORES (responsáveis pelo bom
funcionamento da empresa que aplica capital na construção das
habitações com o fim de obter lucro) - como O FINANCIAMNTO E A
PROMOÇÃO;
A CONSTRUTORA (empresa que tem como fim a construção das
habitações) – como A PRODUÇÃO E AS EMPRESAS CONSTRUTORAS;
A IMOBILIÁRIA (empresa que se dedica à indústria da construção das
habitações e ao comércio de terrenos e habitações) como PROMOTOR
IMOBILIÁRIO PRIVADO.
Estes agentes constroem hoje, visivelmente, como destacado nas ginas 22 a
24, em função da oferta, do que é bem vendido no mercado da construção civil
para habitações de média e médio-baixa renda, para garantir a venda do produto
com o mínimo risco financeiro possível. E contratam, para o desenvolvimento do
projeto das moradias, um outro agente também integrante do processo produtivo
da habitação, o Arquiteto (apresentado no item 4.4).
4.3 Integração entre os agentes
O distanciamento evidenciado entre escritórios de projeto e o perfil da produção,
do desenvolvimento tecnológico e econômico que materializará as suas decisões,
acaba desvinculando-os de questões relevantes que definem os níveis de
condição de existência e de qualidade de vida da população, que é a essência do
trabalho do projetista, afirma Margaret Jobim (2001).
117
Para Melhado (2001), deve-se enfatizar uma mudança de postura e de métodos
adotados pelos agentes, e que dentro desse enfoque, no momento atual, “...a
iniciativa de mudança estaria principalmente nas mãos dos empreendedores, que
dão origem ao processo de produção do empreendimento, mas igulamente nas
daqueles que lhe dão forma: os profissionais de projeto”
4.4 O arquiteto e as soluções arquitetônicas
Pode-se, a partir dos dados apresentados nos itens anteriores, concluir que as
soluções arquitetônicas podem estar influenciadas e ligadas por uma série de
fatores derivados de outros campos de atuação.
Ao objetivo deste trabalho, a análise desses fatores não é relevante, mas ao
poderem apresentar, em muitos dos casos, elementos negativos para a
concepção dos projetos, em função dos interesses econômicos dos diferentes
grupos integrantes do processo de promoção e produção da habitação é
interessante que sejam considerados a partir das exigências dos componentes e
agentes do sistema, com o intuito de ampliar as possibilidades de um melhor
resultado arquitetônico.
Nesse contexto é importante destacar o papel do arquiteto. E para isto um breve
comentário sobre sua formação acadêmica torna-se importante.
4.4.1 Formação acadêmica – ensino e aprendizagem
Segundo os autores pesquisados, a seguir apresentados, o ensino no país, de
modo geral, apresenta um problema fundamental e comum: a falta de ensinar a
pensar. O ensino, a partir do pensamento de Grossi (1988), deveria ser um
processo educacional mais amplo que ultrapassasse o mero repasse de técnicas
e informações ou o simples adestramento para o exercício profissional do
arquiteto e urbanista.
118
Os métodos didáticos “prontos”, prenhes de regras e com metodologia
fechada... ...em nada ajudam a autonomia do aluno, confundem ensino
com adestramento ou com repasse de técnicas e também não refletem
sobre o método de ensino enquanto desenvolvimento pessoal, mas sim,
sobre quais elementos se funda o próprio exercício da arquitetura. Aqui
também se nota que um procedimento didático centrado nas energias
que mobilizam o aluno em seu processo pessoal de aprendizagem
supera essas dicotomias, na medida em que não são essas regras que
dão o significado maior à arquitetura (GROSSI, 1988).
Para Grossi (1988), o homem é o resultado de uma relação constante e profunda
entre individualidade e socialização e “...é no interstício do pessoal com o social
que se o aprendizado, na medida em que a mediação entre estas esferas é
que permite a um só tempo que o ser humano compreenda o mundo e nele atue”.
Deveriam ser considerados os contextos apontados pelo mesmo autor, que
segundo ele poderiam contribuir decisivamente para o ensino do projeto:
O contexto da memória é considerado como o patrimônio de experiências vividas.
E quando seu uso se faz apenas como retenção de fórmulas ou conteúdos,
utiliza-se apenas uma pequena e superficial parte de seu potencial (GROSSI,
1988).
O contexto de uma cultura dinâmica, recriada e transformada constantemente,
como geradora de um desejo de participação e um estímulo à contribuição
pessoal, que não pode ser desprezado pelas técnicas de ensino de projeto, por
ser a arquitetura, segundo o mesmo, uma das manifestações mais concretas da
cultura. “O aluno incentivado como agente da transformação cultural, reflete sobre
a obra que produz” (GROSSI, 1988).
A este respeito, o autor acrescenta que a educação deve partir de um processo
de renovação da cultura e não de perpetuação de idéias.
Se por um lado a cultura exerce um papel importante, por outro lado a
inserção social complementa o processo. As demandas sociais geram
nas pessoas energias internas de cooperação para a solução de
problemas e a sua conseqüente contribuição para o processo de
melhoria do mundo em que vivemos. Se esse é um ideal perene na
119
espécie humana, ele é especialmente latente na faixa etária onde
normalmente acontece o ensino de projeto (GROSSI, 1988).
Para Grossi (1988), “...essa energia latente não pode ser desperdiçada; deve ser
habilmente canalizada para o ensino-aprendizagem, pois se pode transformar em
diferencial de eficácia”.
Assim como para Grossi, também para Paulo Freire (2001), “...ensinar o é
transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua
construção”.
Igualmente as idéias de Celso Vasconcelos (1999), apontam no mesmo sentido,
quando ele sugere que:
O conhecimento não é transferido ou depositado pelo outro, nem é
inventado pelo sujeito, mas sim construído pelo sujeito na sua relação
com o mundo. Assim, um dos principais objetivos do professor é fazer
pensar, propiciar a reflexão crítica em sala de aula, pois esta poderá
assegurar uma aprendizagem efetiva (VASCONCELOS, 1999).
Para Freire (2001), o professor deve saber “pensar certo”:
Para isto, não se pode estar demasiado certo de suas certezas. Pensar
certo não significa estabelecer o seu pensamento como verdade
absoluta, mas sim estar aberto à discussão e à reflexão de suas
idéias/conhecimentos (FREIRE, 2001).
É de fundamental importância para Vicente Del Rio (1998), para o pensar e o
praticar arquitetura a relação entre criatividade e método. O autor atribui o
distanciamento da arquitetura de procedimentos científicos ao predomínio da
criatividade e subjetividade, presentes sempre no ato de projetar.
Não se trata de negar a criatividade no processo de projeto, mas de
admitir que ela pode ser desenvolvida pelo conhecimento, pelo
treinamento, e pela capacidade de compreensão dos fenômenos onde
esta imersa a arquitetura (DEL RIO, 1998).
Para Sarquis e Marques (1969), existe por parte da grande maioria dos
profissionais, bastante desconhecimento com relação à avaliação sistemática do
120
entorno humano, no que se refere à arquitetura e ao planejamento urbano e
regional. Estes autores afirmam que o caráter fortemente experimental da
profissão, entre outros motivos, determinam um certo desprezo pelos trabalhos de
“...laboratório ou fundamentação psicológica, antropométrica ou matemática, que
separa cada vez mais o profissional ‘ativo’ do investigador”.
Antônio Fernandez Alba (In: SARQUIS, MARQUES, 1969), dispõe sobre o
assunto da seguinte forma:
As formas construtivas admitidas pelo costume estão sempre ligadas à
realidade econômica; enquanto esta realidade não se dispor a
programar orçamentos para a investigação arquitetônica, como faz com
as dispendiosas investigações tecnológicas, o campo de produção do
arquiteto não deixará de promover velhos ‘clichês’, talvez interessantes,
mas alheios ao autêntico sentido de imaginação social, tão necessário
para transformar nosso estereotipado entorno.
4.4.2 O papel e a prática do Arquiteto
Hoje em dia, o mercado imobiliário está produzindo arquitetura de duas
dimensões: planta e fachada. As fachadas são idênticas. Se você pegar
um prédio da periferia em qualquer cidade e um prédio produzido numa
área central, verá que são feitos da mesma forma. Não se trabalha a
base, então não há nenhuma relação com a rua. Os prédios mais
sofisticados têm guarita, que parece uma vitrine para porteiro. E a
portaria não tem vínculo com o prédio, mas também não precisa. ...Este
sistema está construindo cidades desumanas, sem carinho de um
prédio com o outro, sem diálogo. Os prédios são todos narcisos e
ninguém conversa com ninguém. Na arquitetura, o prédio precisa ter
lealdade com o outro ao lado, com a rua. Mesmo que o edifício vizinho
seja feio, que a rua não seja das mais bonitas. (PENNA, 2001).
A partir do problema de ensino apresentado no item anterior, sobre a “falta de
ensinar a pensar”, pode-se deduzir que propicia, de modo geral nas pessoas
assim como nos arquitetos, a falta de crítica, o que naturalmente leva ao
conformismo das situações. Neste sentido a maioria dos profissionais de
arquitetura acostuma-se com as exigências e vantagens favoráveis criadas pelo
121
mercado imobiliário, incorporadora e construtora (apresentados no item 4.2). Esta
situação leva à atual condição da produção arquitetônica nas cidades acima
descrita por Gustavo Penna (2001).
Geralmente, quando se fala em arquitetura a maioria das pessoas
acaba pensando em seguida em grandes obras dignas de fotografia
para as revistas especializadas, mas de fato, quantas boas idéias nesse
mundo de glamour se prestam a melhorar a qualidade de vida de quem
vive o caos das grandes cidades? E, em que medida o pensamento dos
arquitetos supera o formalismo e encontra uma maneira de tornar as
metrópoles menos intoleráveis para seus habitantes? Certamente,
mais soluções e inteligência entre o funcional e o estético, entre o
tradicional e a vanguarda, entre o caixote e a melancia. Mas é raro que
se pense nisso, e principalmente, que se cobre uma posição a respeito
(FREITAS; ALBUQUERQUE; KATO, in: Revista BRAVO, 2003, p.27).
Para o arquiteto mineiro Marcelo Carvalho Ferraz,
Um dos problemas nessa questão da degradação na vida das cidades
a violência também é mais um subproduto disso é justamente a falta
de comunicação dos arquitetos com os não-arquitetos, ou seja, com a
maioria das pessoas. É lógico que eu não culpo os arquitetos, isso é
um problema da sociedade como um todo, mas eles estão patinando
em questões pouco interessantes, pouco legítimas, ou relevantes um
pouco por causa da própria vaidade, e fazer uma coisa assim ou
assado, como se isso fosse estética”. “O arquiteto trabalha com uma
responsabilidade civil, com custo social alto, e muitas vezes se esquece
disso e cede ao apelo fácil do consumo, da tendência, do modismo.
(REVISTA BRAVO, 2003, p.28).
Com relação aos espaços externos, Penna deixa
...que os espaços internos e externos sejam equivalentes, contínuos,
porque somos um pais centrífugo. Precisamos tirar o calor de dentro de
casa. Temos que expandir nossos espaços num contínuo e dar ao
espaço externo o mesmo status de arquitetura [sublinhado da autora]
(PENNA, 2001).
122
5. O CAMINHO DAS SOLUÇÕES
EXEMPLIFICAÇÃO DOS CONCEITOS
A cidade primitiva surge como um todo perfeitamente organizado, reflexo da
sociedade que materializa. Como é o caso de Ur, a cidade da Mesopotâmia, da
qual se falou, considerada uma das primeiras formas urbanas extremamente
clara na expressão de sua personalidade, com limites precisos e setores
definidos, como o confirma a figura 69 (HISTÓRIA EM REVISTA, 1989).
Figura 69: Cidade de UR – Mesopotâmia.
Fonte: HISTÓRIA EM REVISTA 3000-1500 a.C. Editores de Time Life Livros Editora Cidade
Cultural: Rio de Janeiro, 1989, p.23.
123
Mas as cidades, como é de conhecimento comum, começam a crescer, primeiro
ordenadamente dentro da muralha, e depois, como no caso de Paris, através de
sete muralhas concêntricas que representam sucessivas “ampliações”.
Desta forma, pode-se dizer que a cidade acaba perdendo seus limites materiais, e
áreas bem menos caracterizadas começam a surgir, assim perdem-se
visivelmente as relações que estabeleciam sua qualidade inicial. Como se pode
entender hoje a partir do conhecimento da realidade, esse processo não
aconteceu somente em cidades muito antigas e amuralhadas. Com
características próprias de cada situação concreta, aconteceu de forma muito
parecida na maioria das cidades, gerando os mesmos problemas de difícil
solução.
Em artigo publicado na Revista Projeto, sobre o crescimento da cidade latina,
intitulado “Santo Domingo e Rio de Janeiro: o resgate da cidade latino-
americana”, Roberto Segre expõe que:
Na América Latina, o reflexo dos modelos do Primeiro Mundo incidiu
negativamente nas grandes capitais, com a destruição do centro
histórico tradicional, a expansão descontrolada dos subúrbios pobres
e ricos -, os condomínios fechados ou as ocupações irregulares dos
assentamentos precários da população de baixa renda, a prioridade do
transporte privado sobre o blico, o consumismo desenfreado, a
segregação social, funcional e formal dos espaços públicos e privados,
o abandono das tradições locais e a continuidade da malha urbana.
(REVISTA PROJETO, 2003).
A situação descrita por Segre, evidentemente o é exclusiva das “grandes
capitais”, que se identifica o mesmo processo, conforme estudo apresentado,
numa cidade como Florianópolis. Talvez nas cidades menores o processo ainda
não tenha chegado a uma etapa crítica como em outras capitais latino-
americanas, mas as evidências de que esse é o caminho que se começa a
percorrer são inquestionáveis.
124
5.1 Centro X Periferia
Verificou-se nos itens precedentes, que a forma com que se desenvolveu o
crescimento das cidades, propiciou a enorme expansão de suas fronteiras e
conseqüentemente o abandono e ruína do seu núcleo central.
Desta forma constata-se hoje, que de forma geral, o urbanismo do mundo inteiro
defende nestes momentos, como também foi colocado no decorrer do trabalho, a
contenção da periferia e a revalorização do centro da cidade.
A partir do desenvolvimento urbano analisado no panorama nacional, pode-se
comprovar a mesma tendência. Assim como também na cidade de Florianópolis
esta situação fica bem definida que, a sua escala e dentro de suas
particularidades, esta cidade faz parte dessa mesma problemática:
descaracterização do centro, periferias incontroladas e não significativas. Tudo o
que se evidencia com o tempo como altamente negativo.
Iniciam-se assim, estudos para novas soluções habitacionais no sentido de
alcançar a limitação periférica e a revalorização central. Assim, em 1984, em
Berlim falava-se que,
Após um largo período de divisão de funções e de um abandono de
determinados setores do centro da cidade como lugares residenciais, as
conseqüências sociais desoladoras desta evolução, aparecem
claramente e exigem uma reviravolta da situação. (EXPOSIÇÃO
INTERNACIONAL DE ARQUITETURA DE BERLIM, 1984, p.06).
Começa-se para este trabalho, portanto, a procura por respostas adequadas para
soluções habitacionais possíveis, primeiramente no centro da cidade e
posteriormente para a periferia, através de alguns exemplos apresentados.
Particularmente, a leitura da cidade de Florianópolis confirma o estabelecimento
dessas duas áreas com suas correspondentes tipologias, que se considera
exigem soluções diferenciadas, para conseguir alcançar um bom nível de
qualidade de vida aos seus moradores.
125
5.1.1 Soluções para o centro da cidade
Entende-se que a tendência, anteriormente descrita, em abandonar o centro
como lugar de residência não pode ser considerada como uma evolução urbana
natural, pois os prejuízos decorrentes dessa atitude são claros, principalmente
numa cidade com as características de Florianópolis. Os aspectos analisados até
o momento levam ao entendimento de que a pretensa atitude de gerar novos
lugares “melhores para viver” fora do centro desconhece e, pode-se dizer, muitas
vezes desrespeita valores culturais gerados num determinado meio por seus
habitantes. Por outro lado, a migração social, demolições e novas redes de infra-
estrutura são, antes de tudo, soluções caras.
Deduz-se a partir da convivência diária com a cidade, que a perda da função
residencial de seu centro elimina uma de suas razões fundamentais desde sua
origem, e sem a qual a “vida” da cidade fica comprometida. Uma cidade com
vocação turística como Florianópolis, precisa muito mais da vida e animação de
seu centro vinte e quatro horas por dia, pelo que se considera que a
diversidade de funções com tempos diferentes pode oferecer. Entende-se assim,
que essa pluralidade de funções é o que permite também o desenvolvimento do
habitar com maior qualidade.
A esse respeito, Renzo Piano comenta que:
...não são as dimensões dos edifícios ou das casas o que conta. É
verdade que elas também pesam, e como!, mas o que mais pesa é a
riqueza das funções. O fato de que, no mesmo lugar, na mesma praça,
existam pessoas que morem ali, que venham para divertir-se, que o
ao teatro ou ao cinema, a fazer compras, de visita, os turistas ao hotel,
ou que venham pessoas para trabalhar. Uma mistura de todas estas
funções no mesmo lugar, isto é a cidade. É essa intensidade que da a
dimensão humana à cidade. E é esta mistura que este século tem visto
degenerar. (Revista ARKINKA, n. 69, 2001, p.94).
E ainda, Marlo Trejos Hampf acrescenta:
O desafio é, portanto, criar espaços que valorizem as sinergias e a
vitalidade possibilitadas pela heterogeneidade. A sinergia produzida
126
pela mistura de atividades é o que permite aos indivíduos desenvolver
um senso de comunidade
18
.
Partindo dessas colocações considera-se o tema da revitalização do centro
extremamente complexo por integrar um grande número de questões
diferenciadas (questões que não representam o objeto deste trabalho). Mas
entende-se que a solução dos problemas habitacionais não está em construir
precipitadamente novos bairros, mas sim em completar e melhorar
cuidadosamente o patrimônio imobiliário existente. Assim, a partir das
observações realizadas sobre a proposta urbana de quarteirão fechado com pátio
interno no decorrer do trabalho, considera-se que esta solução é adequada à
recuperação do centro da cidade.
Neste sentido, em 1977, o Senado alemão afirmava que: “Conservar e
modernizar semais importante que construir e ampliar; a qualidade será mais
importante que a quantidade” (EXPOSITION INTERNACIONALE
D´ARCHITECTURE, Berlim, 1984, p.23).
É necessário salientar, que as tendências urbanísticas procuram hoje não
somente a diversidade funcional para o centro da cidade, como a diversidade de
tipos de moradia: a coexistência de diferentes níveis socioeconômicos como fator
não de integração social, mas também como elemento gerador da vitalidade
da cidade. É a variedade, a multiplicidade e o intercâmbio que podem permitir um
melhor nível de vida para todos, porque desse relacionamento é que surge a
riqueza espiritual, a moral, a confiança e a segurança, não de ilhas individuais
separadas por altos muros (Revista ARKINKA, n. 69, 2001).
Percebe-se, curiosamente, que em algumas áreas da cidade de Florianópolis
ainda subsiste essa integração de níveis de renda diferente, mas que,
rapidamente, a especulação imobiliária procura progressivamente eliminar os
pequenos proprietários em função da criação de grandes condomínios para
classes econômicas mais elevadas (verifica-se esta situação nas figuras
apresentadas das páginas 99 a 101).
18
www.vitruvios.com.br/arquitextos/arq047_00.asp.
127
Assim sendo, nota-se a importância da recuperação das áreas centrais, como
destaca o arquiteto francês Christian de Portzemparc,
...é importante criar passo a passo. Criar tanto quanto transformar.
Trata-se de recosturar o tecido urbano, de casar a estrutura da cidade
tradicional, que deu provas de sua validade, e as qualidades próprias à
arquitetura moderna (jogos de luz, qualidade do habitat, etc.), é preciso
também re-introduzir uma parcela de sonho. (Revista ARCHITECTURE
FRANÇAISE, n. 42, 2001).
Diminuição de custos pela manutenção do existente, integração de funções: lojas,
bares, residências, indústrias, construção de equipamentos sociais e abertura de
espaços verdes que permeiem todos os serviços gerando encontros,
comunicação, animação, apresentam-se como um conjunto de valores
interessantes para qualquer cidade, inclusive para Florianópolis (EXPOSIÇÃO DE
ARUITETURA DE BERLIM, 1984).
Considera-se importante nesta etapa retomar alguns comentários sobre a
proposta do arquiteto Hugo Lucini para sua Tese de Doutorado (Habitação de alta
densidade e baixa altura, São Paulo: FAU-USP, 1996):
Uma solução que considera que a habitação deve ser válida para diferentes
faixas de renda baixa e média – através de uma solução de moradia baixa e de
alta densidade, implantada em áreas urbanas e não periféricas, garantindo o
direito à cidade também aos setores menos favorecidos, substituindo a
degradação e a segregação espacial por uma resolução de integração urbana
(LUCINI, 1996).
Para o autor, os princípios de intervenção para os novos assentamentos devem
seguir uma homogeneização das tipologias, a flexibilização dos usos, a inserção
na cidade, a permanência no tempo, uma racionalidade funcional produtiva, uma
construção compacta que defina a rua e um tio interno que defina o espaço
privado ou semiprivado.
Assim, a forma de edificação que responde a essas condicionantes e colabora
com a estruturação da cidade é a do quarteirão fechado que, de acordo com
128
Lucini, “responde a uma série de elementos positivos em relação à habitação e à
construção da cidade”.
Para a produção dessa alternativa tipológica devem ser consideradas as
características (plurifuncionalidade, maior economia sem perda de qualidade,
melhor adequação climática, maior concentração de áreas verdes, melhor escala
humana, maior segurança, melhor custo de manutenção, melhoria da qualidade
de vida, consideração das diversidades humanas, acessibilidade para o maior
número possível de pessoas) descritas por Lucini (1996) e apresentadas e
resgatadas neste trabalho nas páginas 48 a 50.
A solução considerada garante uma maior densidade, trazendo benefícios para
todos que a cidade, para ser tal, deve funcionar com uma densidade
suficientemente importante. Por outro lado, esta colabora na contemplação dos
objetivos dos agentes promotores e produtores da habitação (LUCINI, 1996).
Porém, esta deve ser acompanhada do objetivo de alcançar a menor altura
possível para as edificações, a fim de melhorar a qualidade da habitação e da
espacialidade urbana. Como afirmam Deilmann; Bickenbach e Pfiffer (1977, p.19),
“...fixando como objetivo a mínima altura dos edifícios que permite uma densidade
determinada: na igualdade de superfície construída, a forma fechada é a que
permite um menor número de pavimentos....”. As densidades populacionais mais
altas, segundo as comprovações de Lucini (1996) e Deilmann (1977), são
efetivamente obtidas mediante implantações fechadas em volta de um pátio.
Para que estas implantações com pátio interno considerem as necessidades
básicas do ser humano (comentadas na página 49), a densidade deve variar de
acordo com três fatores principais: a altura e o tamanho dos edifícios destinados à
habitação; a separação mantida entre eles para respeitar as condições de
ventilação, insolação e privacidade; e pelas áreas comunais abertas do conjunto
em sua totalidade. E deve ser finalmente determinada por três elementos: o
número de habitantes, as instalações sociais e os espaços não edificados
(AUZELLE, 1959).
129
É importante salientar também que a presença de serviços e comércio no nível
térreo dos edifícios, além de favorecer a integração com a rua, permite uma
permanência maior dos moradores em seu conjunto, o que favorece certamente
os contatos, desenvolvendo o sentido comunitário (LUCINI, 1996).
Por outro lado, o exemplo do estudo já apresentado do Plano Cerda, leva a
consideração de que a solução em “quarteirão fechado” não deve ser entendida
como única possibilidade: nos anos 70, Deilmann; Bickenbach e Pfeiffer fazem
uma classificação da grande variedade de soluções que conformam tios
“internos” como mostra o esquema da figura 70, desenvolvido por estes autores.
Figura 70: Tipos de formas de implantação.
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conj. residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona: Gustavo Gili, 1977, p.17.
As formas de “pente”, “a redents” e “em crescent” estão colocadas como
intermediárias entre a forma fechada e a linear.
130
Uma última questão a ser tratada em relação à tipologia apresentada como mais
adequada para as áreas centrais, é o visível problema, que atualmente atinge
todas as cidades e é impossível de desconsiderar: os estacionamentos.
Para que todo o significado do estudo realizado até o momento não seja anulado,
ressalta-se que a utilização do espaço aberto central deve ser sempre para o
desenvolvimento de laços e atividades comunitárias, ou seja, jamais se pode
pensar neste espaço como área de estacionamento de veículos.
É evidente que mesmo para faixas de renda menores, carros, motos e bicicletas,
precisam de uma área própria impossível de ser misturada com as outras funções
coletivas já apontadas.
As soluções existem, parciais, através de uma setorização espacial criativa dos
espaços para estacionamento, que elimine as enormes e áridas “praias”, hoje tão
comuns; ou como no caso da figura 71, onde o meio nível evita, de forma
econômica, os visuais desagradáveis que os estacionamentos apresentam; ou de
forma total, com soluções, se bem que mais dispendiosas, com resultados
superiores: garagens subterrâneas que podem estar total ou parcialmente
enterradas, localizadas geralmente sob as áreas abertas (DEILMANN;
BICKENBACH; PFEIFFER, 1977) (ver figuras 72 e 73).
Figura 71: Estudo de V. Gregotti. “Barrio Zen en Palermo”, Itália, 1969.
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conj. residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona: Gustavo Gili, 1977, p.68 e 52.
131
Figuras 72 e 73: Estudos de Oefelein, Freund e Schmock. “Proyecto de barrio residenial en la
Sonnenallee”, Berlin, Alemanha, 1975; Projeto de Conjunto residencial em Ruopigen-Littau, de
1971, respectivamente.
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conj. residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona: Gustavo Gili, 1977, p.68 e 52.
132
5.1.2 Soluções para a periferia
A cidade antiga, comentada, tinha limites precisos: uma muralha muito difícil de
ampliar. Mesmo quando essa muralha não existia, as civilizações tinham critérios
muito claros em relação ao número de habitantes da cidade, como no caso da
Grécia, onde os filósofos definiam com rigor a quantidade de pessoas que podiam
viver juntas de forma saudável, fundando novas cidades quando essa quantidade
era ultrapassada (PIANO, 2001).
Atualmente, o “progresso” tecnológico pensou poder resolver todos os problemas
do crescimento urbano, esquecendo que não é suficiente eliminar distâncias com
meios mecânicos para resolver problemas humanos (PIANO, 2001).
Assim, as cidades começam a estender-se sem limites, até mesmo sobre outras
cidades:
É esta idéia de crescimento sem limites a que fez explodir nossas
cidades, construindo as piores periferias, feitas de cimento mas sem as
estruturas nas quais uma sociedade se organiza e vive. É assim como
se chega a refletir sobre uma “arquitetura sustentável”. Na segunda pós-
guerra e até os anos sessenta, as cidades estouraram roubando espaço
ao campo e às comunidades próximas, gerando uma espécie de
conurbação continua. Finalmente, depois de tantos erros, começamos a
entender que o crescimento pode ser sustentável. Então,
começamos a raciocinar desde os anos oitenta, a respeito de como
construímos e a refletir sobre o fato de que, em lugar de fazê-las
explodir, deveríamos tentar implodir essas cidades, deveríamos tentar
reabsorver os vazios urbanos provocados pelo processo de
industrialização, na medida em que a cidade, ao crescer, fazia
necessária a mudança de lugar das atividades produtivas. (PIANO,
Revista ARKINKA, 2001, p.87).
Considerando os estudo realizado para a cidade de Florianópolis, pode-se dizer
que esses mesmos problemas, se bem que por motivos diferentes, também
acontecem nesta. A cidade tem outras particularidades já que, desde a sua
origem, não teve um verdadeiro desenvolvimento industrial, pelo que não
apresenta, naturalmente, grandes vazios urbanos produzidos pelas mudanças da
133
forma de produção. Porém, foi visto que o processo de abandono do centro
como lugar de residência e conquista de novos bairros perifércos, principalmente
pelas classes mais abastadas, é uma realidade.
Também pode ser vista, ainda na capital de Santa Catarina, do ponto de vista
urbanístico, a tendência dos bairros que começam sendo periféricos acabarem
praticamente integrados ao centro da cidade, constituindo uma unidade urbana.
Para esses bairros, considera-se também indicada a solução de quarteirões
fechados que integrem a rua, recuperando a continuidade do espaço urbano com
os mesmos valores considerados para o centro. Continuidade que, se pode
observar, os próprios conjuntos residenciais atuais prejudica: percorrendo-se a
rua principal de um destes bairros, observa-se que os trechos de animação, de
vitalidade da rua, são os formados pelo comércio ou serviço no andar térreo das
edificações. Alternam esses trechos os “vazios” constituídos (definidos na página
102) de vários metros de grades ou muros cegos sobre a rua, correspondentes
aos conjuntos habitacionais.
O fracasso da “vida comunitária” traduz a dificuldade de se estabelecer
uma coisa pública, partindo dos pressupostos da privacidade, da
individualização, da preeminência do regulamento (fruto da vida
contemplativa do legislador) e da necessidade de uma ordem única,
binária e transparente.
O projeto de fechamento contido na proposta do “Condomínio” da qual
faz parte também um clube para a vizinhança” é um caso de produção
dramática de uma identidade social. É preciso reinventar a vida pública,
os contatos, a confiança e tudo o mais, sem a “comunidade nas ruas”.
Escolhe-se então, produzi-la por meios institucionais que formalizam o
que não pode ser formalizado. O “Clube” seria aqui um tentativa de
instaurar a vida pública informal da “comunidade nas ruas”. (SANTOS,
1985, p.133).
Sintetizando o caminho das soluções abordadas até o momento, pode-se dizer
que sempre em primeiro lugar será apontada a utilização dos vazios urbanos
existentes como a melhor solução urbanística, recuperadora do tecido integrador
da cidade. Assim como a recuperação da vida da rua através dos conjuntos
134
plurifuncionais. Mas sabe-se que as cidades continuam a crescer, e deve-se
assim pensar em novas soluções, porque as formas de vida também mudam.
Soluções que não podem desarticular o tecido urbano que é o que significado
à cidade. Por isso, entende-se que, em áreas periféricas, soluções de blocos
implantados de forma aberta, que os integre à área urbanizada, podem ser boas
soluções, desde que consigam produzir resultados similares, do ponto de vista
espacial e social, aos da solução anteriormente mencionada.
A partir de todas as questões abordadas anteriormente, conclui-se que as formas
abertas capazes de desenvolver valores comunitários não têm, características
pré-determinadas, que os significados surgem de uma inter-relação entre
forma, uso e espaço. Para Candilis, Josic e Woods, “a forma dos edifícios, é
então determinada por dois aspectos: antes de tudo, pelo aspecto da vida que se
desenvolve dentro dos edifícios, e, depois, pelo aspecto das atividades da
comunidade que acontecem entre os imóveis” (JOEDICKE, 1968, p.17).
Como já se mencionou, o grande problema que uma solução aparentemente
lógica e adequada como o bloco de habitação rodeado de verde pode trazer,
responde a dois elementos fundamentais: a falta de diversificação funcional e a
falta de verdadeiros “lugares” de convivência.
A observação do cotidiano dos espaços semipúblicos e privados criados ao redor
dos blocos nos conjuntos habitacionais analisados, não estabelecem relações de
identidade, participação, sentido de apropriação do espaço, que gerem bem-estar
nas pessoas, tornando-os usufruíveis em todo momento.
Se o bloco se torna uma necessidade urbanística, considera-se possível
transformar essa solução até conseguir adequá-la aos anseios de uma vida
melhor.
135
5.2 O caminho das soluções adotadas com o passar dos anos
Parte das primeiras respostas aos problemas habitacionais apresentados até o
momento surge pode-se dizer com a primeira geração de soluções dada por
Candilis, Josic e Woods, entre meados dos anos 50 e anos 60, e posteriormente
com o grupo de Deilmann, Bickenbach e Pfeiffer nos anos 70. Estes profissionais
apresentam soluções habitacionais principalmente por suas características, para
a periferia, pois não estão inseridas, nem respondem às exigências de um
sistema urbano central (JOEDICKE, 1968 e DEILMANN; BICKENBACH;
PFEIFFER, 1977). Estes grupos começam a recuperar a estrutura tentam
reproduzir em periferia o que posteriormente se traz para a cidade consolidada,
para a malha urbana, pelas questões que serão levantadas nos anos 80 e 90 pela
próxima geração de profissionais que defende o resgate do conceito da cidade
antiga: o retorno da periferia ao centro que passa pelas experiências em Dallas,
Seattle, Berlim, Rotterdam, Dublin, Lisboa, Barcelona, Canadá, algumas delas
apresentadas no item 5.2.2.
A seguir serão exemplificadas algumas destas soluções.
5.2.1 Experiências de meados da década de 50 às décadas de
60/70
5.2.1.1 Projetos desenvolvidos por Candilis, Josic e Woods
Para o escritório de Candilis, Josic e Woods, a articulação dos domínios público e
privado, assim como das áreas comunitárias e individuais, é a base da expressão
física de toda organização social (JOEDICKE, 1968).
A maior preocupação dos integrantes desse escritório deriva de um compromisso
ético com a sociedade que os leva a considerar que a atividade de construir não
significa criar “monumentos autônomos” e sim “envolver ambientes” (JOEDICKE,
1968, p.17). no final da década de 60, segundo Joedicke (1968, p.17), eles
afirmavam que o período dos edifícios “específicos”, caracterizados por uma única
136
função, implantados segundo um zoneamento ordenado e uma classificação
sistemática teria terminado.
Para o mesmo escritório (Idem, p.12), o verdadeiro resultado arquitetônico está no
desenvolvimento positivo da sociedade, sabendo que a estrutura da cidade
depende das atividades humanas e não de esquemas de organização
geométrica.
Segundo Joedicke (1968), os exemplos que se apresentam estão baseados em
quatro princípios que, de acordo com os autores, têm sua origem em arquiteturas
tradicionais de diferentes lugares do mundo, assim como em determinados
princípios compositivos. Aspectos que devem ser considerados nos conjuntos
habitacionais para que estes consigam atender aos requerimentos da qualidade
de vida. Para Candilis, Josic e Woods (Idem, p.21-42 e p.174-200) estes
princípios são:
A articulação de funções, de origem marroquino (interioridade);
A articulação dos limites do espaço, derivada do habitat muçulmano
(somatório de células);
A articulação dos volumes e dos espaços através de sistemas geométricos
de estruturas;
A articulação dos espaços público e privado através de sistemas orgânicos:
“Cluster” (claustro) e Stem” (centro linear de atividades que restabelece a
rua) para os privados, e “Stem e “Web” (estruturas contínuas, redes
circulatórias), para os públicos.
Concebendo-se a arquitetura como marco e estímulo das atividades humanas, é
compreensível que o ponto de partida da organização dos projetos deste
escritório, seja essa atividade e a forma como ela se desenvolve nas residências
e entre as residências. Ou seja, a forma dos edifícios é determinada por dois
aspectos fundamentais: a vida dentro do edifício e as atividades comunitárias que
se desenvolvem entre os imóveis (JOEDICKE, 1968).
137
Joedicke (1968) descreve que para estes profissionais, são os limites dos
edifícios os geradores do espaço externo (como se falou em relação ao
quarteirão fechado), articulados pelas volumetrias e pelas interpenetrações entre
estas e o espaço externo, como podem ser os terraços particulares,
intermediários entre o público e o privado.
Ainda, esses arquitetos, segundo Joedicke (1968), aprofundam seus estudos na
escala humana, que o se pode perder em função do grande número de
moradias de um conjunto. Para o escritório Candilis, Josic e Woods (JOEDICKE,
1968), a análise de soluções celulares e suas possibilidades de diversidade
permitem a existência de qualidades capazes de transformar espaços em
“lugares”.
Segundo Candilis, Josic e Woods, a variedade na distribuição e implantação de
grande número de unidades resolve o problema da pobreza monótona dos blocos
para um número elevado de moradias:
A organização de um grande número de elementos idênticos e aditivos
sem considerações sociológicas ou filosóficas claramente perceptíveis,
pode ser realizada estabelecendo uma hierarquia dos valores
atribuídos aos fatores financeiros, tecnológicos e estéticos que
determinam esta organização. Realizando a síntese desses fatores
diferentes, baseada em certa hierarquia de valores, conseguimos
resolver os problemas de vários conjuntos de casas econômicas.
(JOEDICKE, 1968, p.124).
E, ainda para eles, é fundamental: “...na agrupação de um grande número de
unidades, dar toda a importância necessária às considerações estéticas de escala
e massa” (Idem, p.118).
E ainda: “A compreensão do equilíbrio a conseguir entre áreas públicas e
privadas e o caráter dos diferentes graus de integração previstos, leva ao
desenvolvimento de sistemas e estruturas ‘orgânicas’ que completam os sistemas
geométricos” (Idem, p.174).
138
5.2.1.1.1 Exemplos
A planta do Conjunto Bagnols-sur-Cèze de 1955-61, construído na França,
mostrado nas figuras 74 e 75, oferece um exemplo de um conjunto habitacional
que se poderia definir como “semiaberto”. Destaca-se aqui o intento de
configuração de uma área interna conformada pelo conjunto edificado. Dentro de
uma grande área verde e de lazer foram implantados um centro comunal,
caminhos internos para pedestres e uma circulação externa, perimetral aos
edifícios, para os veículos.
Figura 74 e 75: Planta e vista aérea do Conjunto Bagnols-sur-Cèze de 1955-61.
Fonte: JOEDICKE, Jürgen. Candilis-Josic-Woods: Una década de arquitectura y urbanismo.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1968, p. 41 e 135.
Com relação ao conjunto habitacional em Aix-em-Provence, França, de 1961, as
figuras 76, 77 e 78 apresentam um exemplo da articulação entre grupos de
moradias, onde as unidades independentes articuladas entre si podem formar
vários tipos de implantação. O que garante, além da diversidade de implantação,
mobilidade e espaços mais orgânicos para o interior e exterior do conjunto. A
articulação entre moradias está criada pela circulação vertical e os valores
estéticos, assim como os funcionais do conjunto, mostram-se relevantes no
conjunto.
139
Figura 76 e 77: Vista do Conjunto e planta da unidade individual habitacional em Aix-em-Provence,
França, de 1961.
Fonte: JOEDICKE, Jürgen. Candilis-Josic-Woods: Una década de arquitectura y urbanismo.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1968, p.99.
Figura 78: Plano geral do Conjunto habitacional em Aix-em-Provence, França, de 1961.
Fonte: JOEDICKE, Jürgen. Candilis-Josic-Woods: Una década de arquitectura y urbanismo.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1968, p.133.
É válido destacar o exemplo dos conjuntos das cidades de Casablanca, Orán e
Sisi bel Abbès, do final da cada de 50 na Argélia, mostrados nas figuras 79, 80
e 81, respectivamente, que identificam uma rica variação volumétrica em suas
fachadas, essencial para a variabilidade urbana e, principalmente, para a
identidade de cada conjunto residencial.
140
Figura 79: Conjunto da cidade de Casablanca, do final da década de 50, na Argélia
Fonte: JOEDICKE, Jürgen. Candilis-Josic-Woods: Una década de arquitectura y urbanismo.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1968, p.76.
Figuras 80 e 81: Conjuntos das cidades de Orán e Sisi bel Abbès, na Argélia
Fonte: JOEDICKE, Jürgen. Candilis-Josic-Woods: Una década de arquitectura y urbanismo.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1968, p.129 e 83.
Finalmente, apresenta-se o projeto para Caem-Hérouville (ver figuras 82 e 83),
que foi objeto de um concurso em 1961, e no qual o dispositivo estrutural básico é
o centro linear de atividades ou “stem”, onde o pedestre tem prioridade absoluta.
Restabelece-se, assim, segundo os arquitetos, num projeto para a periferia o
141
valor da rua, “função prioritária e permanente do urbanismo”. Os carros devem
parar nos pontos indicados, liberando uma rede independente para os habitantes,
exclusivamente para pedestres. As circulações verticais, mecânicas, estão
localizadas em pontos estratégicos do conjunto (JOEDICKE, 1968, p. 178).
Figura 82: Articulação dos domínios público e privado. Concurso Caen-Hérouville de 1961, centro
linear – planta geral.
Fonte: JOEDICKE, Jürgen. Candilis-Josic-Woods: Una década de arquitectura y urbanismo.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1968, 156.
142
Figura 83: Articulação dos domínios público e privado. Concurso Caen-Hérouville de 1961, centro
linear – estacionamento de carros.
Fonte: JOEDICKE, Jürgen. Candilis-Josic-Woods: Una década de arquitectura y urbanismo.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA, 1968, p.178.
143
5.2.1.2 Projetos desenvolvidos por Deilmann, Bickenbach e
Pfeiffer
O livro “Conjuntos residenciales”, de Deilmann, Bickenbach e Pfeiffer (1977),
apresenta os resultados de uma pesquisa aprofundada sobre tipologias
habitacionais nos anos 70, na Alemanha.
Como esperavam Deilmann, Bickenbach e Pfeiffer (1977), as preferências das
pessoas pelo tipo de moradia, como o dissera Gropius muitos anos antes,
indicaram que a casa unifamiliar com áreas externas próprias ainda representava
a forma preferida pela maioria.
Outros estudos realizados por esses autores concluem também que os edifícios
em altura apresentam-se como “nocivos” em relação ao comportamento social,
assim como para a saúde física e mental de seus ocupantes. É essa tipologia que
também se torna mais dispendiosa pelas circulações verticais, por acabar criando
dificuldades de uso para crianças e idosos, principalmente. Dificuldades ainda de
contato visual e auditivo que impedem a dona de casa atarefada de cuidar dos
filhos que brincam nas áreas exteriores, o que provoca a permanência dos
mesmos em casa, desenvolvendo sua individualidade, falta de exercício,
isolamento, ausência de jogos e contatos humanos. Essa situação, de acordo
com a pesquisa dos autores, chega a criar problemas de comportamento que não
atingem somente as crianças (DEILMANN, BICKENBACH e PFEIFFER, 1977,
p.19).
Ainda, os estudos realizados por estes profissionais, revelam até um incremento
de doenças produzidas pelas correntes de ar que os edifícios altos geram, e até
pela impossibilidade de uso de eventuais terraços ou de abertura de janelas nos
andares superiores por causa do vento.
A forte sensação de anonimato, pelo excessivo número de apartamentos no
mesmo edifício, é mais uma característica negativa que levou esse grupo de
arquitetos a desenvolver soluções de altura média ou baixa e a perceber as
vantagens das soluções com pátio interno (DEILMANN, BICKENBACH e
PFEIFFER, 1977).
144
Ressalta-se a partir das conclusões obtidas pelo grupo de Deilmann, que as
características de implantação dos conjuntos residenciais exercem uma influência
direta e de grande importância em relação à qualidade dos espaços livres.
Este grupo (1977, p.21 a p.23), considera que todas as formas de implantação
(linear, molecular e fechada em torno de um pátio interior) e de tipos de edifícios,
apresentam algum problema. Porém, destaca a forma fechada em torno de um
pátio interior, pela sua importância como geradora de um “ambiente urbano”, que
pode desenvolver uma espacialidade interessante também em áreas suburbanas.
5.2.1.2.1 Exemplos
Apresentam-se vários exemplos do grupo de Deilmann que demonstram
separadamente as características que, consideram-se, deveriam ser
desenvolvidas em conjunto.
Nas figuras a seguir (ver figuras 84, 85) observa-se uma implantação variada que
permite a configuração de espaços abertos integrados às edificações. A riqueza
espacial e a diversidade de escalas são as que desenvolvem interessantes
valores comunitários.
Figuras 84 e 85: Estudo de H. Larsen. “Proyecto para un Concurso”, Dinamarca, 1974.
IMPLANTAÇÃO GERAL E AMPLIADA.
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conjuntos Residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona:Gustavo Gili, 1977, p. 89.
145
Um exemplo de diversidade espacial que trabalha com diferentes alturas no
mesmo conjunto, utilizando a tipologia perimetral com pátio interno (ver figuras 86
e 87). A diminuição progressiva da altura permite estabelecer uma relação à
escala humana com a rua.
Figuras 86 e 87: Projeto de Sert, Jackson and Ass.“Proyecto en Roosvelt Island”, New York, EUA,
1974. IMPLANTAÇÃO GERAL e VISTA DA MAQUETE.
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conjuntos Residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona: Gustavo Gili, 1977, p. 96-97.
Apresentando também diferentes alturas e uma solução combinada para as
garagens e as áreas abertas, o corte do conjunto residencial en Köln-Chorweiler,
na Alemanha, apresenta um resultado qualitativo em termos de sua
espacialidade, que ganha pela diferença de tamanho dos volumes e pelo recuo
progressivo das fachadas que suavizam a altura do edifício, assim como pela
diminuição desta através do “solo criado” sobre a garagem para a área aberta,
verde e de lazer, integrada às habitações (ver figura 88).
Figura 88: Projeto de Boehm. “Conjunto residencial en Köln-Chorweiler”, Alemanha. CORTE
Fonte: DEILMANN; BICKENBACH; PFEIFFER. Conjuntos Residenciales: en zonas centrales,
suburbanas y periféricas. Barcelona: Gustavo Gili, 1977, p. 118.
146
5.2.2 Experiências das décadas de 80/90
A partir de 1982, data em que surge a proposta pioneira do concurso “50 idéias
para recuperar Madri”, aparecem várias iniciativas, as quais, segundo o urbanista
espanhol Eduardo Leira, procuram,
...resgatar fragmentos perdidos da cidade, descobrir as oportunidades
latentes em funções obsoletas, valorizar a rua, a praça e os vazios
urbanos, mudar a imagem das áreas poluídas esteticamente pela
iniciativa privada e transformar o anonimato da periferia. ...irreais ou
utópicas, realistas ou pragmáticas, elas representam o desejo do
urbano gerado na população, nas autoridades e nos profissionais,
contraposto ao egoísmo identificado com a elaboração introvertida do
projeto do prédio isolado. A malha da cidade é formada pelas
arquiteturas, mas estas têm que dialogar com o contexto, para que o
espaço privado do prédio não agrida nem submeta o espaço público,
centro da vida social da comunidade
19
.
5.2.2.1 Exemplos
5.2.2.1.1 Berlim – Kreuzberg (década de 80)
A recuperação e renovação urbana podem ser apreciadas na área urbana de
Kreuzberg, na cidade de Berlim.
As figuras a seguir apresentam o concurso realizado por Álvaro Siza para a
remodelação da área da Schlesisches Tor (estação de metrô), em um setor
central de Berlim Kreusberg. Face à deterioração da área em questão, a
Exposição de Arquitetura prevê uma renovação Urbana baseada em: manter e
melhorar os imóveis de habitação existentes; melhorar a oferta de espaços verdes
e de terrenos livres; melhoramento dos equipamentos sociais dentro dos velhos
imóveis, e manutenção das butiques e cafés existentes (ver figuras 89 e 90)
19
Disponível no site http://www.mfom.es/publicaciones/cgi-bin/indi?NR=478&Us=107
147
Figuras 89 e 90: O projeto de Siza evita as demolições e realiza um complemento discreto nos
vazios existentes. As butiques próximas à estação de metrô são mantidas e um edifício novo de
habitação de 5 andares em ângulo, marca a esquina do quarteirão. Medidas de transformação e
reconstrução valorizam o espaço interior do mesmo.
Fonte: EXPOSIÇÃO DE ARUITETURA DE BERLIM. Catálogo. Concurso de reabilitação da área
ao redor da Schlesisches Tor. 1984, p.54-55.
5.2.2.1.2 Lugano (final da década de 80)
O arquiteto Mario Botta reage ao quadro desesperador oferecido pela cidade de
Lugano onde trabalha e que, para ele, representa
...tudo o que a cultura ‘urbanísticanos últimos vinte, trinta anos, soube
ou pode realizar, ou seja, um conjunto de prédios novos que por si
possuem até uma certa dignidade construtiva, mas que se apresentam
no conjunto com toda a desolação própria de uma urbanização caótica
e indiferenciada. São volumes de sete pisos que se adensam no
território com a única finalidade (se de finalidade espacial se pode falar)
de uma frente construtiva oposta à outra, uma fachada contra outra
fachada. (BOTTA, 1996, p. 41-42).
No Conjunto Habitacional Residencial de Novazzano, 1988–1992, do próprio
Botta (ver figuras 91 e 92), o arquiteto procurou transferir as experiências
desenvolvidas na construção unifamiliar ao âmbito coletivo. Destaca-se esse
conjunto por suas características ambientais, espaciais, volumétricas e funcionais.
148
Figuras 91 e 92: Croquis Conjunto residencial Novazzano-Chiasso, 1988-1992.
Fonte: BOTTA, Mario. Ética do Construir. Lisboa: Ed. 70, 1996, p.37 e 39.
5.2.2.1.3 Dallas – Victoty District (1987-2010)
Dallas parece representar hoje todos os problemas identificados por Jane Jacobs
(2003), em seu livro Morte e vida nas grandes cidades”: um bairro de negócios
subdesenvolvido, tomado por arranha-céus, rodeado por faixas de antigas
indústrias degradadas e por agrupamentos de conjuntos residenciais esparsos,
ocupados por uma população de baixo poder aquisitivo, constituindo uma barreira
entre a cidade e as luxuosas periferias (POWELL, 2000).
O plano diretor de Koetter Kim para o Victory District, baseia-se numa análise da
cidade que revela que Dallas possuía, de fato, uma estrutura urbana mais
complexa e mais interessante do que se podia imaginar. O setor central está
constituído por uma série de usos diferenciados que não estão interligados: o
setor de negócios (o West End, atualmente tombado), o Market Center e o Arts
District que, com suas 24 hectares será o maior bairro cultural dos Estados
Unidos. A finalidade do projeto é interligar estes setores para dar unidade ao
centro de Dallas. “Victory District representa uma das últimas grandes ocasiões
de estruturar a vida e a paisagem de uma grande cidade americana” considera
Koetter Kim. A proposta visa criar um entorno variado: escritórios, residências,
pequenos comércios, lazer, hotéis – no qual o pedestre seja prioritário. Seu
elemento base é uma ilha urbana que respeita a rua, concebida como um lote a
149
construir que liberdade ao possível promotor para subdividir ou combinar os
lotes em função de suas próprias necessidades. O projeto propõe uma malha de
espaços públicos abertos em toda a área; ruas de diferentes larguras, quase
sempre com comércios no térreo e alturas de densidades variáveis. Misturam-se
edifícios residenciais de três andares com torres de escritórios. Exige-se das
fachadas sobre a rua, uma divisão em três partes: base, meio e topo; o que
resulta, de forma geral, numa arquitetura sólida, que recria a rua. O projeto está
fundamentalmente sustentado pela idéia de que a rua tradicional é realmente a
base da vida urbana (POWELL, 2000) (ver figuras 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100).
Figuras 93 e 94: Anel de áreas industriais degradadas e ferrovias que rodeiam Dallas; O American
Airlines Center Plaza libera um generoso espaço público com praças de alimentação.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.26 e 27.
Figuras 95 e 96: O projeto de Koetter Kim interliga espaços diferentes gerando a
plurifuncionalidade.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.26 e 27.
150
Figuras 97 e 98: Na primeira figura a fragmentação da cidade é o resultado da construção de
linhas de trem no século XIX e de estradas no séc. XX. Os “vazios” gerados pelos trilhos do trem
são preenchidos por serviços (ver eixos “verdes”); e na segunda figura o bloco urbano tradicional é
fundamental no projeto.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.27 e 29.
151
Figuras 99 e 100: A escala dos edifícios varia, mas os materiais impostos pedra e tijolo assim
como a rua clássica estão na base do projeto.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.28.
5.2.2.1.4 Seattle – Projeto de renovação do centro (1997 até hoje)
O fechamento de duas grandes lojas abalou a cidade no início dos anos 90, mas
a partir de 1998, inicia-se o renascimento do centro a partir da união do poder
público com os empreendedores privados (graças à organização do projeto Paul
Schell escolhido em 1997) (POWELL, 2000).
Procurando a rehabilitação do centro e a limitação do desenvolvimento das
periferias, os investimentos dirigiram-se para o desenvolvimento da cultura e do
lazer. O estádio de futebol para 72.000 pessoas, de Ellerbe Becket; um outro de
beisebol; edifícios de escritórios; o Museu de Arte de Robert Venturi; uma nova
biblioteca, de Rem Koolhaas; um reagrupamento de serviços administrativos
realizado pela Hewitt Architects; são apenas alguns dos exemplos destes
investimentos. O mercado imobiliário em plena expansão determinou preços
altíssimos para as residências mas o prefeito gerou possibilidades para a
construção de conjuntos de baixa renda no centro da cidade. Cerca de 2000
unidades estão sendo construídas. A multiplicidade de atividades é combinada
com os espaços públicos e privados, procurando evitar os guetos”. Seattle
precisava de novos monumentos como referências, porém, não se deixou de
restaurar e renovar o existente (POWELL, 2000) (ver figuras 101 e 102).
152
Figura 101: Vista geral do projeto.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.31.
Figura 102: Edifícios de escritórios
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.36.
153
5.2.2.1.5 Dublin – Temple Bar (1991-2000)
Temple Bar cobre 14 ha próximas ao parlamento irlandes, e o mais importante
deste projeto é que ele é a primeira etapa de uma tentativa de repovoar o centro
da cidade. As políticas imobiliárias anteriores eliminaram praticamente a metade
da população. Pelas estratégias dos anos 60 este bairro estava condenado à
morte devido à construção de ligações de circulação. Porém, sua vitalidade
natural aliada ao uso que o baixo custo dos imóveis abandonados pela indústria
têxtil favoresceu, começaram a surgir pequenos empreendimentos culturais:
pequenos teatros e galerias de arte. Isto determinou um concurso em 1987 cujo
vencedor foi o Grupo 91 (grupo de 8 escritórios irlandeses). A finalidade do
concurso era a de renovar o máximo número possível de imóveis existentes e de
construir novos nos espaços livres ainda disponíveis. Estava prevista a
conservação da diversidade de usos, colocando ênfase na preservação do
desenvolvimento cultural, principalmente da indústria do cinema em plena
expansão; a criação de restaurantes, lojas e um aumento do número de
habitantes de 300 para pelo menos 3.000 pessoas. O projeto gira em torno de
espaços públicos. Procura-se preservar a rede de ruas históricas criando ligações
com o restante da cidade que o bairro estava-se transformando num verdadeiro
“gueto”. Lamentavelmente, do ponto de vista habitacional, a realidade não parece
atingir as metas propostas. A realização de uma comunidade onde coexistiriam
diferentes níveis sociais, também não parece muito realista. Torna-se difícil
manter edifícios com aluguéis baixos em uma área que, pelo seu sucesso
urbanístico, transformou-se em uma área para turistas com uma imagem a ser
preservada, impossível de ser sustentada pela população de baixa renda
(POWELL, 2000) (ver figuras 103, 104, 105 e 106).
154
Figura 103 e 104: Ambas figuras apresentam o Centro do Cinema Irlandês: recuperação de antiga
casa da reunião Quaker (religião) do século XVIII, restaurada, que ocupa uma posição central.
Fonte: POWELL, Kenneth. La Ville de Demain. China: Seuil, 2000, p.60.
Figura 105 e 106: O conceito arquitetônico de O’Donnell e Tuomey inscreve-se numa tradição que
pode ser considerada racionalista.
Fonte: POWELL, Kenneth. La Ville de Demain. China: Seuil, 2000, p.64.
155
5.2.2.1.6 Berlim – Postdamer Platz (1991-2000)
A Postdamer Platz foi praticamente arrasada durante a guerra. Com a construção
do muro de Berlim ela se transformou numa espécie de vazio. Depois da
demolição do muro, surge um problema: num plano simbólico, o lugar tinha um
significado especial (POWELL, 2000).
Segundo Powell (2000), em 1991 realiza-se um concurso cujo vencedor foi a
empresa Hilmer e Sattler. O projeto vencedor propunha uma solução regular,
bastante tradicional. A participação de Renzo Piano a partir de 1992, que altera
sutilmente o Plano Diretor, lugar a um conjunto visualmente diversificado, que
procura equilibrar espaços públicos e privados. A idéia principal foi a de integrar
os diferentes quarteirões propostos através de galerias comerciais cobertas,
iluminadas zenitalmente como as do séc. XIX, criando um vasto espaço público
no coração do lugar. Como para Piano, a modernização não deve tirar o caráter
de uma cidade, ele criou um bairro denso, inteiramente revestido em cerâmica, o
que lhe conferiu um caráter especial. Utilizando o bloco clássico de imóveis
urbanos, ele combina negócios com habitação e lazer (ver figuras 107, 108, 109).
Figura 107: Plano Diretor. Galerias cobertas entre edifícios.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.40.
156
Figura 108: Quarteirões residenciais com multiplicidade de usos.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.41.
Figura 109: Áreas residenciais em azul.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.41.
157
5.2.2.1.7 Rotterdam – Kop van Zuid (1987-2010)
Este projeto segue não somente a mistura de atividades como a integração do
novo bairro com o centro da cidade, procurando, além disso, uma arquitetura de
alta qualidade. Como em Londres, Nova York ou Génova, a mudança de cnicas
de carga nos portos liberou quilômetros de trapiches. Depois de várias tentativas,
em 1980, começou-se a entender o setor como uma extensão do centro de
Rotterdam que poderia conservar a qualidade desse centro em relação a um
urbanismo comercial e residencial. Aldo Rossi, Ungers e outros haviam
sugerido soluções para Kop van Zuid. Mas foi o Plano Diretor de Rem Koolhaas
de 1987 que, revisado em 1991, serviu de base para a reconstrução, prevendo ao
redor de 5.300 unidades residenciais, 370.000 m² de escritórios e 90.000 m²
destinados a indústrias leves, educação e lazer. Ao contrário de outros lugares, o
Plano Diretor elaborou grandes exigências, reservando liberdade apenas
suficiente para investidores. Trata-se de um plano que utiliza, da melhor forma
possível as possibilidades espaciais do setor e de seu entorno, que pelo seu
programa, adapta-se perfeitamente à economia e ao mercado imobiliário de
Rotterdam; e que combina em suas realizações, o caráter rio nos negócios
porém audacioso de Rotterdam. Um primeiro problema foi a comunicação do
setor com o centro da cidade, o que foi resolvido pela espetacular ponte Erasmus
que não somente melhorou as comunicações como se transformou no símbolo do
renascimento do lugar. Se bem o grande número de edifícios importantes traduz a
eficácia de um setor economicamente poderoso, as grandes questões sociais e
econômicas foram consideradas, a partir das exigências do mercado. As 600
casas e apartamentos do bairro de Landtong comportam unidades de
aluguel.Também existem áreas para famílias próximas de escolas e outros
equipamentos afins. Kop van Zuid constitui um verdadeiro prolongamento do
centro da cidade e não um bairro isolado (POWELL, 2000) (ver figuras 110, 111 e
112).
158
Figura 110: Transformação dos trapiches obsoletos em uma extensão do centro de Rotterdam.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.115.
Figura 111: Ponte Erasmus inaugurada em 1996, elemento fundamental na infra-estrutura de
comunicações que liga Kop van Zuid ao centro de Rotterdam.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.118.
159
Figura 112: Habitações “Hillekop 3” da Mecanoo Architects
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.120.
5.2.2.1.8 Lisboa – Reconstrução do bairro do Chiado (1988-2000)
O incêndio de 1988 não destruiu um simples bairro, mas o que se considera o
“coração” da cidade. Álvaro Siza foi chamado para sua reconstrução. Mesmo
considerado o coração da cidade, o bairro tinha, antes do incêndio, começado
um processo de degradação. Os habitantes e grandes lojas do séc. XIX o
estavam abandonando. Os fast-foods eram os únicos estabelecimentos novos.
Depois de restaurar o que ainda se podia e de destruir o que não oferecia
segurança, Siza partiu da idéia de que o caráter histórico do lugar deveria ser
preservado ou recriado. O ponto crítico parecia ser o caráter fechado dos
quarteirões. Era necessário torná-los mais abertos, mais permeáveis e aumentar
no mínimo em 30% seu uso residencial. Era necessário também, abrir vias de
descongestionamento para integrar o Chiado ao tecido urbano (o que neste caso
significavam rampas, escadas pela topografia da área). Para Siza, o problema era
favorecer as atividades humanas e não fazer “esteticismo”. Assim, por trás das
fachadas reconstruídas, como a da antiga loja Grandella, edifício de 1900, a
reestruturação foi radical. No Chiado, Siza colocou a compreensão da topologia e
160
da história no centro de seu programa urbano, aliando conservação e novidade,
para criar um bairro realmente habitável (POWELL, 2000) (ver figuras 113 e 114).
Figura 113: O projeto utiliza os vazios deixados pelo fogo e reestrutura edifícios por trás de
fachadas históricas como forma de aumentar o número de residentes.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.82.
Figura 114: O imóvel de habitação Camara Chaves é a prova da vontade de preservar as
fachadas históricas onde fosse possível assim como de salientar a polivalencia do lugar.
Fonte: POWELL, K. La ville de demain . China: Seuil, 2000, p.85.
161
5.2.2.1.9 Amsterdam – Ijburg (previsão para finalização 2012)
Um exemplo totalmente contemporâneo é o que corresponde à cidade insular de
Ijburg, formada por sete ilhas, que está sendo construída para permitir o
crescimento de Amsterdam. No ano de 2012 está previsto que a “Nova Veneza”
terá uma população de 45.000 pessoas. Por enquanto, estão habitadas 450
moradias:
a diferença de muitos bairros novos construídos nos anos noventa, as
moradias de Ijburg terão um caráter diferente: as moradias de alto nível
estarão ao lado das vivendas sociais, os chalés na água se encontram
junto a casas geminadas e os edifícios modernos à beira dos canais, ao
lado de complexos de casas adaptadas para pessoas idosas ou com
necessidades especiais. (REVISTA HOLLAND-HORIZON, n.2, 2004,
p.13).
Aparece também aqui a diversidade social, assim como de formas e composição
edilícia (ver figura 115).
Figura 115: Vista de Ijburg.
Fonte: REVISTA HOLLAND-HORIZON, n.2, 2004, p.12.
Com fé nesse espírito mundial, renovador e humano, é que esperamos que
Florianópolis entre nesta reviravolta da forma de entender a arquitetura e a
sociedade, e que nossas habitações coletivas possam ser pensadas de acordo
com a dignidade que corresponde ao seu objetivo.
162
6. CONCEITOS DIRETIVOS DE EMBASAMENTO:
RESGATE DAS PRINCIPAIS IDÉIAS
Apresenta-se, como finalização deste capítulo, a síntese do conjunto de idéias,
derivadas da pesquisa realizada, que nortearão as conclusões realizadas também
a partir desta.
O tipo de intervenção que, para sua execução, necessita modificar
completamente as características locais, não naturais, como também
humanas, não favorece nem aos usuários, nem à paisagem do bairro nem
da cidade, independentemente do nível socioeconômico;
Uma habitação sustentável deve apresentar características de equilíbrio
em todos os sentidos: social, moral, econômico, político, ecológico, além
de apresentar um sentido estético e criativo, em suas soluções e que
também beneficie as relações de vizinhança com a população e o entorno
edificado colaborando com a variedade de usos da cidade;
A necessidade de fazer renascer a habitação como geradora de valores:
lugar de encontros, de intercâmbios de idéias, de vivências familiares, de
conceitos de vida; agregar valores, não destruí-los;
A necessidade de criação de “lugares” que desenvolvam o sentido de
identidade, participação e apropriação;
A necessidade de segurança garantida através da vitalidade da rua com a
sustentação das relações de vizinhança aliada à variedade de usos,
tipologias e classes sociais;
As áreas verdes comunais na habitação devem desenvolver os valores
sociais o da identidade, da segurança, assim como de relacionamento com
a natureza. As áreas verdes podem ser elementos de bem-estar e de
163
mudança social, a partir da consideração da espacialidade como
“estimulante” para este objetivo;
A individualidade e a coletividade integram-se e complementam-se, ambas
devem ser consideradas no espaço da habitação coletiva;
A maior preservação possível do ambiente construído existente, evitando
demolições e conseqüentes novas construções, procurando manter as
edificações preservadas no melhor estado habitável possível. Em outras
palavras, evitar a reconstrução incentivando à renovação;
O estabelecimento de padrões mínimos de qualidade, aliados aos
interesses privados;
O respeito pelo usuário como ser humano integral cuja satisfação deve ser
alcançada proporcionando-lhe muito mais do que um teto;
A consideração do problema da habitação e suas áreas verdes como um
problema da cidade e não como um problema pontual. Os espaços
externos não são áreas residuais, nem na cidade, nem na habitação e
devem fazer parte do projeto;
A qualidade da habitação não depende exclusivamente de problemas de
especulação imobiliária, mas também da qualidade da produção
arquitetônico-urbanística;
Mudar a situação atual sem diminuir as expectativas econômicas dos
investidores, e superando as expectativas dos usuários.
Em definitivo, acredita-se na possibilidade de transformação de realidades,
mediante a melhora qualitativa da habitação, através das idéias expostas no
trabalho.
164

1. CONCLUSÕES
Ao longo deste trabalho, deu-se valor à vida e, portanto, ao seu dinamismo, sua
diversidade e aos valores de integração social. A procura desses valores deve
encaminhar as soluções para os conjuntos residenciais multifamiliares;
Se o paradigma é a cidade em seu surgimento porque desde os primórdios ela
revelou-se como o lugar das oportunidades, do bem-estar, do crescimento e do
desenvolvimento cultural entre outros, nos conjuntos residenciais urbanos estas
mesmas qualidades devem estar presentes assim como também nos conjuntos
que necessariamente continuarão surgindo nas periferias;
A cidade se faz a si mesma lentamente. E nesse “se fazer” estão naturalmente
incluídas a adaptabilidade e a transformabilidade. A cidade é um continuo
acontecer e ali está a sua riqueza. Não se pretende dizer com isso que ela não
deva obedecer a diretrizes ordenadoras, mas sim que estas diretrizes deveriam
ser estabelecidas de forma que respeitassem a sua cultura, a forma de ser de
seus cidadãos, e que possibilitassem que a cidade continue contando suas
histórias escritas no desenho de seu tecido;
Se, no Brasil, no problema da habitação, quem dita as leis é a especulação,
pode-se certamente reverter essa situação, vistas as realidades existentes em
outras sociedades. Boas soluções podem surgir, não somente para cumprir com
as responsabilidades em relação à habitação, mas também para contemplar as
necessidades dos investidores;
As soluções habitacionais não podem limitar-se somente a sugestões de caráter
arquitetônico/urbanístico, que, as mudanças têm que partir dos seres
humanos;
165
As características de implantação dos conjuntos residenciais exercem uma
influência direta e de grande importância em relação à qualidade dos espaços
livres;
O fechamento atual de conjuntos habitacionais no país parece mais uma
expressão de individualismo do que de segurança. A eliminação das “muralhas”
que fecham estes condomínios, e que se consideram necessários por uma falsa
segurança, obviamente não resolveria por si o problema de integração com o
espaço público. A própria distribuição dos blocos, de forma repetitiva e ilimitada
nega a existência de relacionamentos comunitários e urbanos;
Consideram-se como “Vazios Construídos”, o fechamento perimetral dos
Conjuntos multifamiliares, que é feito em função de uma falsa idéia de
segurança, os isola física, espacial e socialmente do passeio, da rua e da
cidade, gerando um “vazio” que se chama de construído por ser gerado pelo
conjunto edificado. Se, ao contrário, este perímetro fosse aberto ao passeio,
através de bancas, lojas, bares, restaurantes, etc, o local certamente seria bem
utilizado e não tão perigoso;
A rua deve ser repensada para recuperar seus valores em toda sua extensão,
não somente nos trechos de animação e vitalidade formados pelo comércio ou
serviço no andar térreo das edificações, mas também, nos trechos dos “vazios”
constituídos existentes;
A monotonia dos conjuntos multifamiliares (antigos e novos) e a carência de
condições espaciais geradora de verdadeiros “vazios construídos”, em cidades
como Florianópolis, devem ser substituídas pela pluralidade: mistura de faixas
de renda e de funções em primeiro lugar, para que a diversidade da cidade
original se mantenha dando vida ao sítio, e qualidade arquitetônica capaz de
criar uma espacialidade e uma visualidade estimulantes;
Os problemas urbanísticos ultrapassam em muito os planejamentos
profissionais. É o ser humano quem tem que mudar. E o momento mostra o
reconhecimento desta necessidade de mudança, ao menos por alguns pioneiros
166
que procuram formas para essas mudanças. São aqueles que reconhecem o
valor das “formas” como indutoras de atitudes e tipos de vida;
A renovação urbana e a complementação dos vazios urbanos apresentam-se,
como a solução para o centro da cidade desde o ponto de vista socioeconômico,
e até como forma de revitalização do centro e de integração social;
As formas fechadas ao redor de um pátio, alinhadas em relação à rua, ajudam a
consolidar um “ambiente urbano” e estruturam os centros das cidades. Portanto,
entende-se que esta solução define um caminho possível para o centro das
cidades Brasileiras, assim como para os múltiplos bairros que estão
consolidados e organizados ao redor de um núcleo central;
Um elemento importante da solução perimetral comtio interno, em relação ao
favorecimento do desenvolvimento de laços comunitários, está na possibilidade
da volumetria construída definir claramente os espaços de uso comunitário,
gerando assim um sentido de apropriação por parte do usuário, que o estimulará
a usá-los. Evitam-se, assim, os grandes espaços indefinidos, os quais, ao
transformarem-se em “terra de ninguém”, eliminam os valores capazes de criar
o sentido de convivência;
No Brasil, a realidade oferece constantemente casos especiais, que determinam
situações que devem ser enfrentadas para solucionar problemas da habitação e
da cidade. Mesmo em casos especiais, as alternativas devem sempre surgir
sem deixar de considerar os espaços exteriores pela sua significação;
A diversidade de funções pode compensar os valores dos terrenos, tornando
assim o empreendimento interessante para os investidores. o se pode
desconhecer sua relação com a cidade, que implica na resolução de
problemas circulatórios, na integração de construções novas e na criação de
novos serviços, como poderiam ser os estacionamentos;
Para os agentes produtores da habitação: promotores, investidores,
construtores em princípio, a relação mais importante parece ser a de capital
investido/lucro. Nesse sentido, é fundamental o desenvolvimento da
167
responsabilidade social, o reconhecimento da importância de uma mudança de
postura das pessoas em relação a uma maior consciência dos problemas reais
da sociedade. Existem também vários outros elementos a considerar:
Parte-se geralmente da hipótese que qualquer melhoria nas soluções mínimas
para a habitação é cara, ou seja, diminui os lucros. o individualismo
consegue justificar essa hipótese. O desenvolvimento da consciência social
deve levar à procura de caminhos nos quais a colaboração de todos minimize os
custos de uma melhor qualidade na produção da habitação. Neste sentido,
alguns países têm demonstrado que as parcerias entre instituições públicas e
privadas podem dar certo;
Em relação às exigências administrativas, torna-se necessária uma revisão dos
Planos Diretores, assim como do Código de Obras, principalmente em relação
ao cumprimento dos mesmos. A legislação existente no país, estabelece
exigências mínimas em relação a quantidades, mas não o faz em relação à
qualidade. Os metros quadrados exigidos de superfície, ou ventilação, ou
insolação, não garantem a qualidade dos espaços. Por outro lado, a análise de
projetos e de obras deveria manter uma fiscalização muito mais firme. Seria
também necessário, que as áreas verdes fossem consideradas com maior
exigência, através de índices que considerem horas de insolação, proporções
(dimensões mínimas), etc;
A falta de exigências do usuário, não está relacionada com suas verdadeiras
necessidades e, sim, com a sua convicção de não poder alcançar a satisfação
dessas necessidades. A homogeneidade na falta de qualidade dos múltiplos
conjuntos que se constroem para uma determinada faixa econômica
acostumaram o usuário a pensar que, pelo que pode pagar, teria direito a
exigir o que lhe é apresentado. Ele pode até sentir que o “play-ground” não tem
insolação suficiente, porém se questionado, afirmará que seu conjunto possui
uma boa área destinada às crianças;
Considera-se a importância dos espaços abertos para os conjuntos
habitacionais multifamiliares desde vários pontos de vista:
168
a. como um direito de todos os seres humanos pela influência que têm sobre
sua vida;
b. de forma visual: a visualização e a sensação de contato com a natureza é
absolutamente necessária para o ser humano;
c. pela carência de espaços que permitam esta percepção nos conjuntos
habitacionais, e até mesmo, nas casas unifamiliares, que leva as pessoas
a parques ou qualquer tipo de espaço comunitário aberto próximo;
d. em relação à saúde física: estes espaços significam ar, sol, sombra,
exercício;
e. em relação ao bem-estar psicológico: se antigamente a muralha da cidade
a isolava da natureza muitas vezes agressiva, gerando a proteção do
espaço construído, hoje, o “bosque de cimento” obriga cada vez mais a
procurar a natureza;
f. pelo desenvolvimento de valores sociais, comunitários, de solidariedade,
imprescindíveis para uma vida completa do ser humano.
A vida atual dificulta as relações sociais “por falta de tempo”. O que não
significa que se devam eliminar os lugares que possam favorecer os
encontros;
g. pela possibilidade das crianças voltarem a brincar ao ar livre, a recuperar a
criatividade em suas brincadeiras, a ter amigos, em lugar de permanecer
isoladas na frente da televisão ou do computador;
h. pelo prazer diário de retornar ao lar, lugar que possibilita o reencontro
consigo mesmo e com seus familiares.
Considera-se o espaço verde como um espaço “construído”, ou seja, ele precisa
ser conformado pelas edificações em sua volta e cuidadosamente elaborado
para cumprir com as finalidades acima relacionadas;
169
No projeto de um conjunto residencial multifamiliar que atenda aos aspectos
importantes destacados em relação às áreas livres, devem ser considerados:
a. Os conhecimentos técnicos que viabilizem melhores soluções, e mais
econômicas: não podem existir soluções equivocadas que utilizem a
mesma planta em situações diversas, que não considerem a orientação,
as proporções, as formas, a criação de uma espacialidade capaz de gerar
sensações estimulantes. Nada disso torna “mais cara” uma construção;
b. As áreas exteriores, não podem ser consideradas de forma isolada dentro
do conjunto habitacional;
c. As habitações não podem continuar sendo apenas a imagem de
necessidades criadas artificialmente e projetadas a partir da imposição de
uma implantação, do número e tipos de habitações, e através de uma
padronização de idéias econômicas para obtenção do maior lucro, e não
da melhor forma de vida possível;
Em todos os sistemas sociais e culturais é possível comprovar que os fatores
econômicos, em relação à produção habitacional, têm tido sempre a mesma
conseqüência primária: impedir as inovações possíveis, estereotipar plantas e
favorecer a concentração irregular de moradias, ignorando as verdadeiras
necessidades dos seres humanos. A solução do problema não é simples: o fator
econômico não depende exclusivamente das exigências de lucro; a realidade
econômica dos usuários, problemas políticos ou institucionais são outros tantos
fatores que incidem nas soluções urbanas e arquitetônicas. Mas a mudança tem
que acontecer e ela não é impossível, como o testemunham tantas tentativas
em andamento no País, assim como importantes exemplos estrangeiros;
Entender que nem sempre o lucro imediato é o melhor lucro é também um
elemento a ser compreendido e considerado;
A questão habitacional, para a faixa de renda média e medio-baixa não esta
sendo proposta pela maioria dos arquitetos. Em função de que este profissional
não esta treinado para resolver questões econômicas para os edifícios de
170
caráter social em função de sua formação. A figura do arquiteto acaba sendo um
entrave para estas soluções no Brasil. Sua formação acadêmica faz com que
este se insira na sociedade de maior poder aquisitivo, propondo soluções para
esta faixa de renda, soluções do “poder”: solução formal de destaque. Também
propicia o desenvolvimento da economia na tecnologia e não com as tipologias.
Assim, a opção de quarteirão fechado com pátio interno o é uma alternativa
do arquiteto brasileiro.
Desta forma considera-se que hoje o arquiteto não é a figura ou fator do cambio
nem da decisão.
Entende-se que o problema do ensino é um problema geral de formação
cultural. Em todos os sentidos e da forma mais ampla a questão mais
preocupante, e influenciadora de atitudes, na educação é a falta de ensinar a
pensar. Hoje tudo vem pronto, no colégio ou na faculdade, ao invés de um livro
se para ler uma apostila, um resumo. O professor digere previamente a
informação e a entrega pronta ao aluno que somente a assimila, mas não a
interpreta, não a pensa. No exercício da profissão, especificamente na
arquitetura, a situação hoje aparentemente não muda: o arquiteto sente-se
despreocupado e até aliviado, quando a empresa construtora contratante
forneça o programa pronto e não exija que pense, por exemplo, numa melhor e
mais rentável, solução, pois “a receita do bolo” deu certo e o necessita ser
modificada. Assim facilita-se o trabalho do arquiteto que acaba considerando a
solução, esteriotipada, apropriada.
Na formação arquitetônica isto não é diferente, mas a pesar do arquiteto não ser
formado para trabalhar por exemplo, com tipologias sociais, como comentado
durante o trabalho, esta formação não seria necessária se o que se aprendesse
na faculdade fosse, antes de tudo, a PENSAR. Desta forma o arquiteto seria
capaz sim de propor soluções neste sentido (tipologias sociais), o que hoje não
se verifica;
Um único referencial incentiva a procura de caminhos que revitalizem o que
sempre se considerou um “valor”: as novas formas de viver não fazem as
171
pessoas mais felizes, e parece óbvio que o fim mais claro do ser humano é a
procura da felicidade;
Propor soluções que ajudem a recuperar valores perdidos ou, pelo menos
esquecidos, que a história confirma como aparentemente fundamentais para o
homem, deve ser um objetivo concreto para os profissionais da área;
Também nas cidades do Brasil pode-se desenvolver uma mudança na forma de
entender a arquitetura e a sociedade, e assim as habitações coletivas possam
ser pensadas de acordo com a dignidade que corresponde ao seu objetivo;
Enquanto a transformação social esperada, não se concretiza, o se pode
deixar de pensar em “pequenas soluções”. Considera-se que existe a
possibilidade de criar incentivos para acabar com a triste monotonia da
paisagem urbana formada pela repetição intensa das mesmas fórmulas
obsoletas, que demonstraram a impossibilidade de oferecer um mínimo de
qualidade de vida.
É essencial procurar compreender que com esta falta de preocupação com os
valores da arquitetura, estar-se-á sempre mantendo o desestímulo no usuário, o
que não lhe permitirá tomar uma consciência clara de seus direitos e, assim,
colocar um freio numa especulação que só pensa obter lucro, construindo
quantidade, sem entender o resultado positivo que podem ter as soluções com
qualidade;
Com as questões apontadas no trabalho, não se pretende solucionar problemas,
mas apenas demonstrar que eles existem, e que podem ser solucionados, o que
dependerá da seriedade com que consideremos nossas atividades e nossas
responsabilidades;
A ignorância da realidade nunca produzirá soluções. Assim, questionando e
sugerindo possíveis alternativas, que têm o respaldo do urbanismo mundial,
talvez, esteja-se colocando um grão de areia no sentido de uma nova e melhor
realidade, embasada numa melhor qualidade de vida;
172
“Viver bem” é o que importa, independentemente das características dos
diferentes grupos sociais ou etários. As soluções para chegar a essa condição,
com certeza não são fáceis, mas devem partir, como se apresenta no decorrer
do trabalho, da noção de que não existem soluções genéricas ou milagrosas, e
que nunca se pode perder de vista nem o contexto histórico nem os marcos da
economia e da política;
Gostaríamos de salientar que a arquitetura não é, em definitivo, um problema
econômico. Soluções verdadeiramente arquitetônicas dependem de um
conhecimentos crítico; estas devem e podem reunir os mesmos valores em
qualquer faixa econômica de atuação.
173
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1. OBRAS, ARTIGOS, CATÁLOGOS E REVISTAS CITADOS
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1.4.6 HABITARE
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HABITARE, ano 4, 2004.
1.4.7 HOLLANDHORIZON
Ijburg: Cidade satélite no lago Ij. HOLLANDHORIZON, 2 Ministério Holandês para assuntos
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1.4.8 PROJETO
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científicos. Curitiba: Editora da UFPR, 2000.
1

CONJUNTOS RESIDENCIAIS VISITADOS
A seguir apresentam-se os Conjuntos Residenciais Multifamiliares que foram
visitados na cidade de Florianópolis, com a intenção de registrar observações no
local e obter, de maneira informal, a partir de seus usuários o conhecimento sobre
o cotidiano destas pessoas nos espaços comuns e públicos dos conjuntos.
1. CONJUNTO RESIDENCIAL VERDE VALE
Bairro Itacorubi
Fotografia da autora, 2004
2
2. CONJUNTO RESIDENCIAL TARUMÃ
Bairro Itacorubi
Fotografia da autora, 2004.
3. CONJUNTO RESIDENCIAL STELLA MARIS
Bairro Itacorubi
Fotografia da autora, 2004.
3
4. CONJUNTO RESIDENCIAL GREEN PARK
Bairro Itacorubi
Fotografia da autora, 2004.
5. CONJUNTO RESIDENCIAL ILHA DO ARVOREDO
Bairro Itacorubi
Fotografia da autora, 2004.
4
6. CONJUNTO RESIDENCIAL SAINT ETIENNE
Bairro Itacorubi
Fotografia da autora, 2004
7. CONJUNTO RESIDENCIAL ITACORUBI
Bairro Itacorubi
Fotografia da autora, 2004
5
8. CONJUNTO RESIDENCIAL PORTO DA TRINDADE
Bairro Trindade
Fotografia da autora, 2004
9. CONJUNTO RESIDENCIAL VILLAMARES
Bairro Trindade
Fotografia da autora, 2004
6
10. CONJUNTO RESIDENCIAL ARQUIPÉLAGO
Bairro Trindade
Fotografia da autora, 2004
11. CONJUNTO RESIDENCIAL ROZANE
Bairro Trindade
Fotografia da autora, 2004
7
12. CONJUNTO RESIDENCIAL BAÍA DO SOL
Bairro Agronômica
Fotografia da autora, 2004
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