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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM
AS VIVÊNCIAS DA FAMÍLIA NO RETORNO AO LAR
COM O PRIMEIRO FILHO
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, como requisito à
obtenção do título de MESTRE em
ENFERMAGEM.
CÁSSIA REGINA GOTLER MEDEIROS
Orientadora: Dra. Beatriz Regina Lara dos Santos
Porto Alegre, junho de 2001
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM
AS VIVÊNCIAS DA FAMÍLIA NO RETORNO AO LAR
COM O PRIMEIRO FILHO
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, como requisito à
obtenção do título de MESTRE em
ENFERMAGEM.
CÁSSIA REGINA GOTLER MEDEIROS
Orientadora: Dra. Beatriz Regina Lara dos Santos
Porto Alegre, junho de 2001
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BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profa. Dra. Beatriz Regina Lara dos Santos
Presidente
____________________________________________
Prof. Dr. Claus Dieter Stobaüs - PUCRS
Membro
____________________________________________
Profa. Dra. Ana Lúcia de Lourenzi Bonilha
Membro
____________________________________________
Profa. Dra. Nair Regina Ritter Ribeiro
Membro
Dedico este estudo à minha família, permanente fonte de
amor e incentivo, os quais permitiram-me chegar ao final
desta etapa.
iv
AGRADECIMENTOS
À professora Beatriz Regina Lara dos Santos, por sua imensa capacidade de
incentivo e motivão. A segurança e competência de sua orientação tornaram
possível a realização deste estudo, e a forma humana e acolhedora de se relacionar
transformaram este período em momentos agradáveis e enriquecedores.
À Coordenação, professores e funciorios do Programa de s-Graduação
da Escola de Enfermagem da UFRGS, pelo apoio recebido durante todo o curso.
Às colegas do curso de mestrado, pelos momentos de convincia e
aprendizagem, especialmente às amigas Simone Algeri e Andréia Gustavo.
Em especial, à minha grande amiga Jane Brum, que me incentivou e me
ajudou a iniciar esta jornada.
À minha sempre amiga Eliane Marques Vial, companheira na trajetória junto
às "famílias grávidas", com quem aprendi novos olhares ao ser humano.
À minha mãe, pela "substituição" no cuidado aos meus filhos e pelo auxílio
no levantamento dos dados das Declarações de nascidos vivos.
Ao meu pai, que me motivou com sua satisfação ao me ver perseguindo este
objetivo.
Aos meus iros, Mauro e André, por me emprestarem o conforto de seus
lares e sua convivência durante o curso, em especial, à minha ir nia, pela
paciência de ler meus manuscritos.
À minha prima Márcia Roismann, pela competente versão do Abstract desta
Dissertação.
À minha cunhada Adriane Bettio Gotler, pelas correrias” dos momentos
anteriores à apresentação desse estudo.
v
Ao meu companheiro, Edegar, e meus filhos, Jean, Felipe e Gabriela, por
segurarem a "barra" financeira e emocional.
Às bolsistas Adriana Aparecida Paz e Alessandra Mendonça Cesar, pelo
trabalho de transcreverem as fitas.
E, muito especialmente, as cinco famílias que participaram deste estudo,
proporcionando-me momentos de muita troca e crescimento.
“A chegada do primeiro bebê é um dos eventos mais
desafiadores da vida, talvez o mais desafiador. É uma
oportunidade para o crescimento pessoal e maturidade, bem
como uma oportunidade para promover o desenvolvimento e
ser responsável por outro ser humano”.
Brazelton (apud Berthoud e Cerveny, 1997, p. 59).
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................1
2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................5
2.1 FALANDO DE FAMÍLIA ...........................................................................5
2.2 FAMÍLIA EM FASE DE EXPANSÃO ...........................................................9
2.3 FAMÍLIA E O NASCIMENTO DO PRIMEIRO FILHO ................................... 11
2.4 INTERAÇÃO ENFERMEIRA E FAMÍLIA EM FASE DE EXPANSÃO ............... 14
3 METODOLOGIA ................................................................................... 20
3.1 Área Temática ................................................................................... 20
3.2 Questões Norteadoras ........................................................................ 20
3.3 Tipo de Estudo ................................................................................... 21
3.4 Contexto de Realização do Estudo ..................................................... 21
3.5 Procedimentos Metodológicos ........................................................... 23
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS .......................................................... 28
4.1 CONHECENDO AS FAMÍLIAS DO ESTUDO .............................................. 28
5 ANÁLISE DOS DADOS......................................................................... 77
5.1 DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS ............................................................. 77
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 124
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 131
ANEXOS .................................................................................................. 135
RESUMO
Esta é uma pesquisa do tipo qualitativo, que tem como objetivo conhecer as
vivências da família quando retorna ao lar após o nascimento do primeiro filho. No
Referencial Teórico, são abordados os seguintes temas: a família, a família em fase
de expansão, a família na situação do nascimento do primeiro filho e a interação da
enfermeira com a família nesta fase do ciclo vital. Os sujeitos deste estudo são cinco
famílias residentes em Erechim, intencionalmente escolhidas, a partir de alguns
critérios previamente estabelecidos. A metodologia utilizada é o estudo Descritivo-
exploratório. Para a coleta de dados, os instrumentos utilizados são a Entrevista
Semi-estruturada e a Observação Participante. Os dados são agrupados em seis
categorias preestabelecidas por cada questão norteadora, utilizando a análise de
conteúdo: Mudanças na família, Organização no cotidiano da família, Cuidado entre
os membros da falia, Sentimentos e percepções da família, Relações da família,
Necessidades da família. Foi possível constatar que os novos papéis desempenhados
pelos pais exigiram alguns ajustes e negociações, principalmente no que se referiu ao
papel paterno. A adaptação ao bebê foi considerada difícil, devido aos cuidados e
disponibilidade exigidos por este e ao aleitamento. A família extensa foi o principal
elemento de apoio para a família nuclear. As mães foram quem mais sentiram as
mudanças, tendo dificuldades para reorganizar seu cotidiano e preocupando-se com o
retorno ao trabalho. As dificuldades para o cuidado ao bebê relacionaram-se ao
choro, manipulação, higiene e aleitamento. O auxílio nas tarefas domésticas apareceu
como importante para a recuperação da mãe e para a tranqüilidade desta, neste
período. Muitos mitos e crendices populares estiveram presentes nas famílias. A
labilidade emocional apareceu nas es, justificada por elas devido ao estresse de
ficar todo o tempo disponível para o bebê e por se sentirem despreparadas e
surpresas com a situação vivenciada, tendo receio de não retomarem a vida anterior
ao nascimento do bebê. Os serviços de saúde negligenciaram as necessidades de
acompanhamento das famílias no s-parto, sendo procurados por elas somente em
caso de doença. Observou-se um bom relacionamento entre a família nuclear e a
extensa. As maiores necessidades observadas junto às famílias foram financeiras e de
educação em saúde. A maior fonte de informações que tiveram foi da rede de apoio
social. Percebeu-se a necessidade da educação anteciparia a fim de proporcionar
segurança e tranilidade para as famílias e prevenir inúmeras intercorrências através
do estabelecimento do vínculo destas famílias com a rede de saúde.
Palavras-chave: família, família em expansão, nascimento do primeiro filho, cuidado
de enfermagem domiciliar.
ABSTRACT
This is a qualitative research, which aims to unveil the life experiences of
families when they return home after the birth of their first child. The theoretical
model approaches issues related to the thematic area: the family, the family in the
expansion stage, the family in the position of the birth of their first child, and the
interaction of the nurse in this stage of the child‟s life. The subjects of this
investigation, intentionally chosen upon the criteria previously established, were five
families residing in Erechim. The design of this case study was descriptive
exploratory. Tools used for data collection were semi-structured interview and
participated observation. From data analysis through the content analysis, six
categories were established: changes in the family, organization of their daily
activities, care among family members, perception and feelings of the family, their
relationships, their needs. It was possible to verify that the new roles performed by
the parents required some adjustments and negotiations, especially in regards to the
paternal role. Due to the need for care, for parents‟ availability and for the nursing
required, the adaptation to the baby was considered difficult. The extended family
was the main component of support to the nuclear family. The mothers were the most
affected ones in regards to the changes, for they had difficulties in reorganizing their
daily routine and were concerned about their return to work. The difficulties in
relation to the babies were in regards to crying, handling, hygiene and nursing. The
assistance received by the mothers in domestic tasks was considered important for
their tranquillity and recovery during this period. Many myths and popular beliefs
were present in the families. The mothers showed emotional insecurity and this was
justified by them due to the stress of being available to the baby at all times. They
also felt unprepared and surprised with the situation experienced as well as feeling
uncertain of being able to resume their life prior to the babys birth. The health
services neglected general assistance to the family during the after-birth, being
present only in case of illness. A good relationship was perceived between the
nuclear and the extended family. The greatest needs observed in the families were in
health education and financial resources. The greatest source of information the
families had was from the social support system. It was noticed the need for prior
education as to provide assurance and tranquility for the families and prevent
countless conflicts/dissonancesthrough the establishment of a bond between these
families and the health system.
Key words: family, family in expansion, birth of the first child, nursing home care.
RESUMEN
Esta es una investigación del tipo cualitativa, que tiene por objetivo conocer
las experiencias de la familia cuando vuelve al hogar después del nacimiento del
primer hijo. En el Referencial Teórico son abordados los siguientes aspectos: la
familia, la familia en fase de expansión, la familia en la situación del nacimiento del
primer hijo y la interacción de la enfermera con la familia en esta fase del ciclo vital.
Los sujetos de este estudio son cinco familias que viven en Erechim,
intencionalmente elegidas, partiendo de algunos criterios previamente establecidos.
La metodología utilizada es el estudio Descriptivo-exploratorio. Para la coleta de
datos, las herramientas utilizadas son la Cita Medio estructurada y la Observación
Participante. Los datos son agrupados en seis categorías preestablecidas por
cualquier cuestión generadora, utilizando el análisis del contenido: Cambios en la
familia, organización del día a día de la familia, Cuidado entre los miembros de la
familia, sentimientos y percepciones de la familia, Relaciones de la familia,
Necesidades de la familia. Fue posible constatar que los nuevos papeles
desempeñados por los padres exigieron algunos ajustes y negociaciones,
principalmente en el que se refiere a al función del padre. La adaptación del nene fue
considerada difícil debido a los cuidados y disponibilidad exigidos por este y al
amamantamiento. La familia extensa fue el principal elemento de apoyo para la
familia nuclear. Las madres fueran las que más sintieron los cambios, teniendo
dificultades para ordenar su rutina y preocupándose con la vuelta al trabajo. Las
dificultades para el cuidado con el bebe se relacionan al lloro, manipulación, higiene,
amamantamiento. El auxilio en las tareas domésticas surgió como siendo muy im
portante para la recuperación de la madre y para la tranquilidad de ella durante este
periodo. Muchos mitos y creencias populares estuvieran presentes en las familias. La
labilidad emocional surgió en las madres, justificada por ellas debido al estrese de se
quedar todo el tiempo disponible con el bebe y por no se sintieron preparadas y
sorpresas con la situación vivida, teniendo miedo de no regresaren a la vida anterior
al nacimiento del bebe. Los servicios de salud no ayudaran en el acompañamiento de
las familias en el posparto, siendo procurados por ella lo en casos de enfermidad.
Se constató una buena relación entre la familia nuclear y la extensa. Las mayores
necesidades fueron observadas junto a la familia fueron de finanzas y de educación
en salud. La mayor fuente de informaciones que tuvieron fue de la red de apoyo
social. Se percibió la necesidad de educación anticipada, para así proporcionar
seguridad y tranquilidad para las familias y prevenir muchas ocurrencias por medio
del establecimiento del vínculo de estas familias con la red de salud.
Palabras llave: familia, familia en expansión, nacimiento del primer hijo, cuidado de
enfermería domiciliar
1 INTRODUÇÃO
Estar presente ao nascimento de um bebê é um momento que me desperta
profunda emoção, desde o período acadêmico, no decorrer dos estágios, até hoje.
Costumava observar o quanto a alegria das mães, com a chegada do filho,
vinha acompanhada de sentimentos ambíguos e apreensões. A própria chegada à
maternidade era cercada de medos e insegurança.
Em 1986, por ocasião de meu primeiro emprego como enfermeira, em um
hospital da cidade do interior, decidi que poderia fazer um trabalho de preparação
para essas mães, de forma que vivenciassem a chegada de seus filhos com menos
dificuldades.
Nessa época, em conjunto com uma psicóloga, organizei um curso para casais
com o objetivo de lhes preparar para o nascimento de seu filho, a partir da convicção
de que o trabalho deveria envolver o casal e não somente a mulher.
Começamos a realizar os cursos em entidades assistenciais, como a antiga
Legião Brasileira de Assistência (LBA) e o Serviço Social da Indústria (SESI),
concomitantemente, ministrávamos o curso em nível privado.
Quando iniciamos o trabalho, a psicóloga e eu, enfativamos a transmissão
de informações, preocupando-nos em não esquecer de nenhum aspecto que
considerávamos importante. Dividíamos o tempo dos encontros: em um primeiro
momento, abordávamos apenas os aspectos físicos e, após, os psicológicos. Com o
passar do tempo, fomos descobrindo que não poderíamos dissociar o físico do
emocional e integramos o trabalho, abordando os assuntos de forma conjunta,
conforme as carências do grupo, afinal, o ser humano é uma unidade, sendo esta
inclusa num contexto maior e indissociável que é a família. Também, percebemos
que não era a quantidade de informações que importava, mas sim as necessidades
manifestadas pelo grupo através de suas dúvidas e medos. Incluímos técnicas
vivenciais e dinâmicas de grupo para que essas necessidades aparecessem de forma
mais espontânea, permitindo a expressão de sentimentos.
A partir dessas experiências e acompanhando alguns casais no puerpério e,
também, mais tarde, quando o bebê estava maior, descobri que esses períodos são
muito complexos e acompanhados de grandes transformações familiares,
2
principalmente, quando se trata do primeiro filho. Segundo Ávila (1998), essas
transformações podem advir de diversas causas, entre elas: a mudança de identidade
dos progenitores ao assumirem novos papéis; a mudança na estrutura familiar; as
dificuldades oriundas do cuidado ao bebê; as intercorrências relacionadas à
amamentação; o excesso de visitas após o nascimento do bebê; as opiniões
contraditórias emitidas pela rede de apoio social em relação aos cuidados com o
recém-nascido e a puérpera; as dificuldades econômicas; os conflitos conjugais; os
desconfortos sicos apresentados pela puérpera. As transformações na estrutura e
dinâmica familiar advindas de uma ou mais causas ocasionam um grau considerável
de ansiedade e insegurança nos seus membros.
Na minha observação, nos cursos de pré-natal, normalmente, o período do
pós-parto é abordado de forma superficial, estando a ênfase maior dirigida à
preparação para o parto. Carraro (1997) considera o puerpério como um período de
tempo, muitas vezes, negligenciado na questão dos cuidados à mulher e sua família,
deixando-se de considerar uma importante fase de mudanças fisiológicas e
psicológicas. Ávila (1998, p. 64) também afirma que "pouco se informa às pessoas
grávidas sobre o período s-parto, o que faz com que se sintam ansiosas diante de
situações desconhecidas".
Vários autores têm pesquisado e escrito sobre cuidados com o recém-nascido,
amamentação, cuidados com a puérpera (Riesco e Tsunechiro, 1990; Pizzato e Poian,
1982; Moretti, 1993). No entanto, na minha percepção, a maioria tem centrado sua
atenção nos aspectos biomédicos desse cuidado. Igualmente, percebo que a
abordagem limita-se quase sempre ao binômio mãe e filho, não levando em conta a
estrutura familiar, a forma como ela organiza-se, seus conflitos e sua própria cultura.
Conforme Elsen e Marcon (1999), a família é a primeira responsável pelos cuidados
de saúde de seus membros, portanto, não basta assistirmos a um indivíduo
pertencente a ela, precisamos, sim, direcionar a assistência a toda família.
A importância das relações familiares na formação e desenvolvimento do ser
humano tem sido destacada por vários autores (Brazelton, 1988; Maldonado, 1989;
Winnicott, 1988). Assim, pelo que estudei e experienciei, tenho a convicção de que a
forma como a família organiza-se quando retorna ao lar com o recém-nascido, as
relações que se estabelecem, as mudanças no contexto, os sentimentos e os conflitos
3
interferem diretamente nos cuidados recebidos pelo recém-nascido e na saúde física e
emocional de todos os membros da família. Zagury, citado por Donoso (1997),
afirma que o nascimento do primeiro bebê é um fato, ao mesmo tempo, enternecedor,
maravilhoso, divino, todavia extremamente cansativo, restritivo e amedrontador.
Acredito que um estudo sobre as transformações que ocorrem na família com
a chegada do primeiro filho instrumentalizará os profissionais de saúde para a
detecção precoce e interveão em situações que, possivelmente, levariam a um
desequilíbrio na família e, por conseguinte, a um distúrbio sico e/ou emocional de
seus membros.
A família geralmente cria expectativas em torno da maternidade, como algo
maravilhoso, que traz alegrias, um be lindo e participante e um amor
arrebatador que tomará os pais imediatamente. Quando tais expectativas não se
confirmam e os pais não estão preparados para enfrentar as dificuldades do período
pós-parto, do tempo de adaptação ao novo membro da família e deste a ela, muitas
vezes, ocorre frustração e sentimento de culpa por parte dos pais. Conforme Ávila
(1998, p. 138), "o mito da maternidade aceito em nossa sociedade afirma que as
es devem sentir só amor e ternura pelo bebê, e ainda satisfação por se sacrificarem
a serviço do filho".
Acredito que a compreensão dessa dinâmica familiar possa auxiliar a
enfermeira a interferir preventivamente junto à família, preparando-a, durante o pré-
natal, para o que i enfrentar quando retornar ao lar com o primeiro filho,
prevenindo ou atenuando, dessa forma, imeros problemas que poderiam ocorrer
neste momento.
Na minha experiência, percebo que a maioria das mulheres, após o
nascimento do primeiro filho, volta ao serviço de saúde 30 a 40 dias após o parto,
algumas vezes, com algum problema instalado. Por isso, a importância de agirmos
preventivamente durante o pré-natal ou no puerpério imediato, preferencialmente no
domicílio. De acordo com Ávila (1998), é imprescindível o acompanhamento da
puérpera nos primeiros 15 dias após o parto. Vasconcelos (1997) afirma que as
condições que determinam a saúde e a doença ocorrem fora dos Centros de Saúde,
nas relações sociais e de produção, tal fato, entre outros, justifica a necessidade do
atendimento domiciliar.
4
Outrossim, este estudo poderá auxiliar na reflexão a respeito do preparo que
as enfermeiras necessitam para assistir às famílias num momento de grandes
transformações sociais geradas por questões econômicas e, conforme Biasoli-Alves e
Simionato-Tozzo (1998), por "um processo de modernização guiado por um ideal
„igualitário‟, onde homem e mulher percebem-se como diferentes pessoal e
idiossincraticamente, mas como semelhantes enquanto indivíduos". Essas
transformações, que estão alterando os papéis dentro da família, implicam em uma
rede de apoio que auxilie as famílias a vivenciarem a maternidade e paternidade da
melhor forma possível. Para que este apoio seja eficaz, é necessário que a enfermeira
conheça a implicação do contexto em que vivem as famílias sobre o processo saúde-
doença. Este conhecimento poderá orientar as ações de educação em saúde, que
devem respeitar a fase de desenvolvimento em que se encontra a família e o contexto
em que ela está inserida, objetivando sua autonomia. Segundo Gorini (2000), as
pessoas nem sempre residem próximas aos seus familiares ou amigos, por isso
manter-se independente é valorizar seu espaço e melhorar sua auto-estima. Dessa
forma, a auto-educação torna-se uma prioridade.
Assim, buscando subsídios para a atuação das enfermeiras junto a essas
famílias, resolvi desenvolver esta investigação com o objetivo de
Conhecer as vivências da família quando retorna ao lar após o nascimento do
primeiro filho.
Neste estudo não espero esgotar o tema, mas sim contribuir para que os
profissionais de saúde: lancem um olhar mais abrangente para as jovens famílias; que
considerem, no processo de cuidar, sua realidade, suas angústias e conflitos;
percebam a dinâmica de sua reorganização após o nascimento do primeiro filho; e,
principalmente, desenvolvam ações educativas que auxiliem a manutenção da saúde
e equilíbrio familiar.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
No que se refere à educação e saúde, Berthoud e Bergami (1997) dizem que o
nascimento do primeiro filho, embora pareça ser um processo biológico simples e
natural, culturalmente tornou-se, muitas vezes, um processo complexo e artificial
para o qual os casais parecem estar cada vez mais despreparados. Ainda segundo as
autoras, ajudá-los a compreender e acompanhar toda a trajetória do nascimento de
um bebê e as implicações desta em suas vidas e na vida familiar é assegurar uma
família mais feliz e ajustada.
Assim, optei por estabelecer como referencial teórico deste estudo, temas que
subsidiam a ação educativa à família em situação do nascimento do primeiro filho.
A fundamentação teórica é baseada em resultados de estudos e reflexões de
rios autores sobre: a família; a família em fase de expansão; a família na situação
do nascimento do primeiro filho e a interação da enfermeira com a família nesta fase
do ciclo vital.
2.1 FALANDO DE FAMÍLIA
Para falar em família na fase de expansão é preciso, primeiro, conceituar
família, visto que essa tem sofrido inúmeras transformações. De acordo com Centa e
Elsen (1999, p. 18):
"Estamos assistindo a troca de paradigmas e com ela a
modificação substancial da nossa percepção da realidade e
de valores. A sociedade pós-industrial é altamente tecnocrata
e organizada de forma global: onde as grandes
transformações estão modificando seus esquemas, metas e
valores, e também estão transformando as famílias, as quais,
muitas vezes, sentem dificuldades para adaptar-se e
acompanhar o ritmo acelerado do desenvolvimento em
curso”.
Boyd (1990, p. 185) define a família como "um sistema social composto de
dois ou mais indivíduos com um forte compromisso emocional e que vivem dentro
de um lugar comum" .
6
Fukui referenciado por Biasoli-Alves (1999) entende a família numa
perspectiva sociológica, por laços de sangue, adoção e aliança socialmente
reconhecidos.
Osorio (1996, p. 16) afirma que
"Família é uma unidade grupal onde se desenvolvem três
tipos de relações pessoais - aliança (casal), filiação
(pais/filhos) e consangüinidade (irmãos) - (...) a partir dos
objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger
a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de
suas identidades pessoais".
De acordo com esses conceitos, várias são as estruturas sociais que podem ser
classificadas como família. Segundo Osorio (1996), a estrutura e funções da família
estão vinculadas às mudanças de paradigma sociocultural, sendo, portanto, um
agrupamento humano cambiante. Devido a essas mudanças, observamos, hoje,
inúmeras configurações familiares como famílias reconstruídas (separações),
famílias monoparentais, famílias homossexuais e outras. No entanto, embora essas
configurações estejam presentes e necessitem ser olhadas com mais atenção, neste
estudo, centraremos nossa reflexão sobre a família nuclear.
Antes de falarmos a respeito da família nuclear, acreditamos necessário
tecermos alguns comentários a respeito de algumas características da atual família
brasileira, a fim de situarmos melhor o contexto deste estudo.
Conforme Goldani (1994), as famílias atuais apresentam maior diversificação
nos arranjos domésticos e estão diminuindo de tamanho. Os arranjos de maior
crescimento foram os de adultos vivendo e de famílias monoparentais. Esta
diversidade aumentou devido ao incremento no número de famílias reconstitdas.
Segundo a mesma autora, a participação de esposas e filhos no mercado de
trabalho e na renda familiar, promove uma redefinição de padrões de hierarquia e
sociabilidade. Entre 1960 e 1990, aumentou e participação feminina no mercado de
trabalho de cerca de l6% para 39%. Também, diminuíram as taxas de fecundidade e
a probabilidade de se casar como uma estratégia da população brasileira para
enfrentar a crise econômica. Uma grande parcela da população sofreu uma
deterioração em sua condição de vida, reflexo da ineficiência do setor público.
7
Goldani (1994, p. 10), deste modo, resume a atual situação da família, no que
segue:
“... mudaram as condições de reprodução da população,
mudaram os padrões de relacionamento entre os membros da
família, os modelos de autoridade estão em questionamento,
a posição relativa da mulher alterou-se profundamente, e até
mesmo a legislação redefiniu o conceito de família, em que
cabia um modelo de família legitimada pelo casamento
com predominância do poder paterno e marital masculino,
passa-se a algo mais próximo das práticas sociais vigentes”.
Segundo a autora, apesar dos maiores aumentos serem de famílias
monoparentais, ainda, predomina o casal com ou sem filhos. Cerca da metade das
famílias brasileiras estão em fase de expansão e/ou consolidação. Também, está
caindo a proporção de casais com filhos vivendo com parentes.
Goldani (1994, p. 21) afirma que aparece como fator de maior impacto nas
futuras mudanças da família a incorporação de novas tecnologias. Estas afetam a
mortalidade e a reprodução. "No campo dos direitos e responsabilidades, a igualdade
de gênero e oportunidades aparece como um dos fatores decisivos nas famílias
brasileiras do futuro."
Bilac (1995), falando de famílias em camadas médias, infere que a
mobilidade social, necessária ao progresso profissional, reforça o individualismo dos
homens, cujas carências são predominantes na relação conjugal e das crianças que
costumam ser o centro das atenções. A reprodução, nas famílias, parece depender
basicamente do poder de consumo de bens e serviços. Devido às precárias condições
oferecidas pelos serviços blicos de saúde e educação, a busca por serviços
privados é cada vez maior, aumentando consideravelmente os custos da reprodução.
Tal fato constitui forte estímulo ao trabalho feminino, somando-se à escolarização da
mulher e à presença da empregada doméstica. A reivindicação de individualismo
também para a mulher e de um padrão mais igualitário de relações entre os neros,
afirma a autora, pode estar por trás da elevação recente das taxas de separação e
divórcio no Brasil, nas camadas médias da população.
Segundo Castiel (1993, p.04), a família nuclear é composta pelo homem, a
mulher e os filhos, embora outras pessoas possam conviver com eles, enquanto a
8
família extensa constitui-se, "em um grupo difuso de parentes consangüíneos e pode
compreender diversas famílias nucleares".
Osorio (1996) considera que a família pode apresentar-se sob três formatos
básicos: nuclear, constitda por pai-mãe-filhos; a extensa, composta também por
outros membros que tenham quaisquer laços de parentesco e; a abrangente, que
inclui mesmo os não parentes que coabitem.
A família nuclear moderna é o tipo de organização familiar mais comum em
nossa sociedade ocidental, conforme Centa e Elsen (1999), está centrada nos filhos,
tem um provedor, mobilidade social e a forma de convívio depende da classe social,
encontrando-se, na classe média, o individualismo e, nas classes populares, a
solidariedade indispensável à sobrevivência.
Biasoli-Alves (1999) afirma que a grande mobilidade das gerações mais
novas que saem em busca de oportunidades de trabalho diminui a convivência da
família nuclear com a extensa, distanciando as pessoas de suas famílias de origem.
Isso torna a família nuclear solitária, mas, conforme Minuchi e Fishman (1990),
nunca se deve subestimar a influência da família extensa nas funções da família
nuclear. De acordo com estes autores, a família psicológica é sempre extensa, porque
a matriz psicológica que a família de origem imprimiu em nós persiste e modela a
relação com os outros.
Conforme Maldonado (1989), os estudos e pesquisas das últimas cadas
levam mais em conta a dinâmica familiar como um todo no entendimento dos
problemas do desenvolvimento emocional, inter-relacionando-a com fatores sociais e
econômicos.
Considerando, de forma geral, as funções da família, a encontramos como o
principal agente socializador das gerações mais novas. Conforme Biasoli-Alves
(1999, p. 02), "fazem parte da habilidade e competência da família o produzir,
organizar, dar forma e significado às relações entre seus membros". Essas funções
sofrem sempre a inflncia de macros variáveis do social. As relações produzidas
dentro da família irão gerar vínculos de apego, cuidado e lealdade intergeracional,
sendo a família considerada como um sistema de cuidados.
Segundo Delaney (citado por Elsen e Marcon, 1999, p. 22), a família
"Serve como zona de impacto e agente neutralizador entre os
indivíduos e a sociedade, fornece proteção psicossocial aos
9
seus membros, além de se constituir em um importante
veículo de transmissão de cultura, onde se incluem os
cuidados com a saúde".
Centa e Elsen (1999, p. 19) afirmam que "como agente socializador, a família
tem no amor e no apoio mútuo do casal a principal determinante da educação dos
filhos, a fim de poder desempenhar a importante tarefa de formar hábitos, atitudes e
valores". Gomes, citado por Santos (1996, b, p.78), diz que os profissionais da saúde
o podem considerar a socialização como vocação materna da mulher, pois enormes
conflitos e contradições são experimentados pelas mães, tanto de classe popular
como de classe média. Essas contradições encontram-se mediadas entre a "luta pela
manutenção dos laços afetivos e pela manutenção das condições materiais de vida".
Segundo Castiel (1993, p. 11), o que mais interessa hoje no grupo familiar
o é o seu caráter de organização econômica, "mas sua maior ou menor capacidade
de formação da personalidade de seus membros".
Campos, Urzúa e Polanco (1985) inferem que a família, como unidade
biopsicosocial, cumpre as seguintes funções sociais: reprodução, criação e
manutenção dos filhos, desenvolvimento de uma base emocional e transmissão de
condutas e valores. Diz que a família deve ser capaz de cumprir com sua função
social de formar indivíduos sãos física e psiquicamente.
Tendo feito essas considerações sobre os tipos de falias que serão
abordados, conceituarei a família em fase de expansão, principal objeto deste estudo.
2.2 FAMÍLIA EM FASE DE EXPANSÃO
Segundo Osorio (1996), a família insere-se num contexto evolutivo e possui
seu ciclo vital. Esse ciclo é dinâmico e, embora não possa estar rigidamente contido
num esquema, pode-se subdividi-lo nas seguintes fases: de expansão (formação do
casal, geração e criação de filhos), dispersão (saída dos filhos de casa) e substituição
(formação de novos núcleos familiares).
Falicov, citado por Cerveny e Berthoud (1997), diz que são três os critérios
para a construção de uma teoria do ciclo vital familiar: as mudanças no tamanho da
família; a composição por idades; e a posição profissional da pessoa ou pessoas que a
sustenta.
10
Dentro de cada uma das fases do ciclo vital da família, de acordo com Boyd
(1990), existem tarefas fundamentais para o funcionamento da família e para o seu
desenvolvimento. Dessa forma, acredito que a não adaptação à nova fase, poderá
resultar em não cumprimento das tarefas inerentes ao ciclo vital em que a família
encontra-se, conforme o referido acima por Boyd. De acordo com Ávila (1998), cada
casal vivencia e reage em consonância à sua história de vida a passagem da condição
de filhos para pais.
Segundo Santos (1996,a), a fase de expansão é a etapa do ciclo vital
relacionada com o nascimento e crescimento dos filhos. Também chamada por
Bergami e Berthoud (1997) fase de aquisição, sendo considerada por estes a primeira
fase do ciclo vital da família. Estes autores dizem que a tarefa de adquirir em todos
os sentidos, material, emocional e psicológico, predomina nesta fase. Dizem ainda,
que o processo de construção permeia esta fase, sendo que cada nova família vai
vivenciar de maneira diferente esta fase, de acordo com alguns fatores como: idade,
maturidade, experiências anteriores, redes de apoio social e familiar e outros.
Ferrari (1994, p. 516) afirma que o puerpério é a fase em que "se dão as
primeiras e mais importantes relações familiares e as primeiras marcas formativas da
personalidade de um indivíduo", aqui inicia-se a trajetória com a criança real. Refere
ainda que "os personagens de uma história de vida assumem novas roupagens sob a
forma de novas identidades e se encaminham rumo ao futuro”.
Na ótica de Haley (1991), o nascimento de uma criança representa a reunião
de duas famílias, criando avós, tias e tios. Os arranjos são revisados e haverá
influências na criação e educação da criança. Afirma que o filho aproxima o casal da
rede total de parentes, embora sejam agora mais individualizados como adultos.
Nessa perspectiva, concordo com Ferrari (1994), quando diz que é imperiosa
a necessidade de estudarmos o processo de maternidade e paternidade à luz de uma
nova ordem de conhecimentos, onde nos aproximamos mais dos ideais de
entendimento e atendimento ao casal e à família recém-formada, observando a
unidade biológico-relacional do ser humano.
11
2.3 FAMÍLIA E O NASCIMENTO DO PRIMEIRO FILHO
Conforme Salém citado por Monticelli (1997), o nascimento do primeiro filho
surge como uma situação privilegiada em que uma geração demarca fronteiras
simlicas e diferencia-se das gerações que lhe antecedem.
No entanto, para Boyd (1990), o nascimento do primeiro filho de um casal é
sempre um momento de crise que ocorre devido a uma situação nova que se ime,
pois é um período de transição no ciclo vital da família que poderá resultar em
confusão de papéis e exigide seus membros a adaptação aos novos papéis.
Conforme Bergami e Berthoud (1997), crise pode ser definida como um
período de desorganização temporária do funcionamento de um sistema, ficando a
família, neste momento, muito vulnerável.
Monticelli (1997) também afirma que os papéis sociais precisam ser
reorganizados com a incorporação de outra pessoa ao grupo. São mudanças
irreversíveis, pois a família jamais será a mesma, incluindo a família extensa, com o
que concorda Zagury (1994, p. 09), ao afirmar que "na verdade, ser pai ou mãe, é um
estado de espírito que surge e do qual tomamos real consciência após o
nascimento do primeiro filho".
Maldonado (1989, p. 21) contrapõe afirmando que "toda crise é uma
transição, mas nem toda transão se constitui numa crise". Diz que uma quebra
muito violenta de expectativa pode transformar uma transição em crise, quando, por
exemplo, a realidade revela-se muito diferente das fantasias construídas sobre ela.
Ávila (1998, p. 138) referencia esta posição ao afirmar que para a família grávida,
"passar do filho sonhado‟ para a realidade do „filho nascido‟, pode o ser tão fácil
como era esperado" .
Maldonado (1989, p. 95) destaca que ter um filho é "a passagem de uma das
transições existenciais mais relevantes do ciclo vital, especialmente no tocante às
modificações de identidade". Afirma também que o homem e a mulher são um todo e
uma parte em contínuo processo de comunicação e inter-relação, formando juntos
um novo sistema de funcionamento. Com a vinda de filhos, a complexidade da
família aumenta e, não raro, dificuldades conjugais já existentes intensificam-se.
Em consonância com Ávila (1998), a casa deixa de ser um lugar privado após
a alta hospitalar, principalmente no caso do primeiro filho, sendo freqüentada por um
12
pelotão de pessoas e a rotina da casa é toda alterada em função da chegada do bebê.
Afirma também que voltar para casa significa perder a proteção do hospital e
dedicar-se às obrigações que a maternidade impõe, exatamente em um momento de
carência e insegurança. Diminuem as comemorações e tomam relevo as
responsabilidades (Soifer, 1984). Para Maldonado (1989), as mudanças não se
referem apenas às variáveis psicológicas e bioquímicas, mas também às
socioeconômicas, que são fundamentais.
De acordo com Ávila (1998), neste período, se estabelecem sentimentos
ambíguos, a alegria pela chegada do bebê e a insegurança no cuidado deste. O filho
pode representar ganho, como a possibilidade de continuidade e amor, mas pode
representar a perda da liberdade.
Conforme a mesma autora, nossa sociedade deve entender como legítimos e
naturais os sentimentos contraditórios dos pais em relação ao filho nos dias que se
seguem ao parto e que possam permitir-se expressar e viver estes sentimentos a fim
de manterem uma relação saudável com seu filho. De acordo com Maldonado
(1989), o be ao nascer se constitui num enigma para os pais, pois representa
esperança de auto-realização e, simultaneamente ameaça expor as dificuldades ou
deficiências destes.
O individualismo da família nuclear de classe média acaba por gerar mais
insegurança, criando dificuldades para os jovens pais, que ficam à mercê dos
profissionais, e afastam-se das famílias de origem, perdendo assim um precioso
espaço. Maldonado (1989) afirma que a quase extinção da família extensa, mais as
dificuldades de comunicação entre as pessoas cria nculos superficiais e falta de
apoio comunitário. Com a diminuição do número de filhos das famílias e o
afastamento da família nuclear da família de origem, o convívio prévio dos pais com
bebês é quase inexistente, sendo a maternidade e a paternidade, às vezes, o primeiro
contato com um be. Como diz Ávila (1998, p.40), "hoje, homem e mulher crescem
sem terem tido a oportunidade de presenciar um parto ou alguém cuidando de recém-
nascidos como acontecia antigamente nas famílias numerosas". Conforme Pincus e
Dare (1981), quando a menina era educada para seu futuro papel materno, havia
menos mudanças em sua vida do que hoje, quando a mulher tem emprego ou
13
carreira. Isso acaba por envolver toda a família na mudança, pois o pai passa a
assumir novos papéis mais participativos em relação ao be.
Imagens idealizadas da função materna e/ou paterna, divergentes entre as
famílias de origem, podem tornar-se outra fonte de conflitos e negociações (Bergami
e Berthoud, 1997). Dos jovens pais são cobrados comportamentos para os quais não
estavam preparados. Os papéis sociais feminino e masculino estão confusos e
indefinidos ficando o bebê em meio a estes conflitos. A mulher está dividida entre ter
filhos e manter-se no mercado de trabalho e o homem está sendo chamado para
auxiliar nas tarefas do lar e do cuidado com os filhos, funções para as quais não se
preparou. Estas mudanças poderão levar à depressão, tanto do pai quanto da mãe, por
isso, afirma Ávila (1998,p.143), "a família grávida precisa saber das vivências
emocionais que acompanham o pós-parto, para que cada pessoa possa colher as
ansiedades que venham ocorrer". Da mesma forma, Pincus e Dare (1981) inferem
que não é fácil ao casal sentirem segurança e reconhecerem seus sentimentos
confusos com as novas exincias, numa sociedade em que o nascimento de um bebê
é proclamado como um acontecimento maravilhoso e do qual esperam-se pais
radiantes de felicidade. O casal pode decepcionar-se ao ver que o filho tão sonhado
era diferente do "bebê real", que apenas chora, dorme e parece indiferente a tudo
(Ávila, 1998).
Maldonado (1989) comenta que ter um filho envolve modificações
existenciais profundas na família, tanto a nível prático quanto nos planos de vida.
Faz-se necessário algumas renúncias, que são temporárias, mas gera o temor de que
se perpetuem.
Associados aos conflitos emocionais encontram-se os desconfortos sicos
decorrentes do parto vaginal ou da cesárea, as dificuldades inerentes à amamentação,
a grande variação hormonal da mulher, as necessidades físicas do bebê, que acabam
por deixar toda a família esgotada e perplexa se não sabe como lidar com as
situações que se apresentam. Todos estão passando por uma fase de adaptação,
precisam conhecer-se, estabelecer um relacionamento que significará o tipo de
vínculo que terão no futuro, com o filho e entre o casal. Segundo Ávila (1998, p.157)
“A princípio, é natural que os pais achem difícil
compreender as necessidades do filho, mas aos poucos, com
a convivência, vão-se sintonizando com ele. O tipo e a
14
qualidade do relacionamento entre os pais e o bebê
dependem da história de vida dos pais, das suas
personalidades, das suas condições socioeconômicas e muito
do sentido que o filho tem para os pais e das circunstâncias
em que ocorre a gravidez.
As diversas triangulações que poderão estabelecer-se com o nascimento do
primeiro filho, vão determinar as vivências e as novas estruturas que se formarão daí
em diante naquela família (Bergami e Berthoud, 1997). Essas triangulações
caracterizam-se pela oposição de dois membros da família em relação ao terceiro,
por exemplo, a mãe muito unida ao filho, deixando o pai em segundo plano, ou a
e e o pai unidos, dando pouca atenção ao filho. Tais situações, muitas vezes,
geram conflitos que poderão agravar-se com o decorrer do tempo.
Como pode então, a enfermeira intervir preventivamente nesta fase tão
delicada da vida das pessoas?
2.4 INTERAÇÃO ENFERMEIRA E FAMÍLIA EM FASE DE EXPANSÃO
Tradicionalmente, a enfermagem tem ocupado-se dos indivíduos, ficando a
família, segundo Angelo (1999), restrita a ser receptáculo e fonte de informões.
Conforme Silva citado por Althoff (1999, p. 54), "há necessidade de realizar estudos
que visem aprofundar o conhecimento sobre o cotidiano das famílias e de investigar
a inflncia e os efeitos que uma atuação da enfermagem familial teria sobre o
cotidiano das famílias e em suas interfaces com o processo saúde-doença". Também
Goldenberg (1997) afirma que a família, poucas vezes, é tratada pelas enfermeiras
como uma entidade que necessita de cuidados não como contexto do paciente,
mas como centro de interesse em si mesma.
Elsen e Marcon (1999, p. 24) dizem que é praticamente impossível assistir o
indivíduo quando não se considera a família à qual ele pertence, bem como não basta
assisti-lo, mas mister se faz assistir à família. Para isso precisamos conhecer a
realidade da família, reconhecer que a cultura pessoal e profissional da enfermeira
pode ser diferente daquela da família. Na perspectiva de Elsen e Marcon, "o
enfermeiro precisa estar atento ao universo das relações familiares e à interação
global da família", bem como é necessário ouvi-la e estimular suas potencialidades.
15
Maldonado (1989), por sua vez, enfatiza que o nascimento de um filho é uma
experiência familiar, sendo preciso pensar não apenas em termos de mulher grávida,
contudo em família grávida.
Já Goldenberg (1997) considera a família um sistema e, como tal, seus
membros relacionam-se e interagem de tal forma que qualquer alteração em um deles
repercute em todos os demais.
Segundo Boyd (1990, p. 196), "durante o tempo de crise, as fronteiras do
sistema da família se acham mais permeáveis, e em conseqüência a família se acha
mais aberta a intervenção". Afirma, também, que valorizar os sinais de perigo do
sistema familiar durante os períodos de transão e a intervenção da enfermeira,
nesse momento, podem ser definitivos para ajudar a família a recobrar sua
estabilidade. O contato da enfermeira com a família inicia-se, muitas vezes, nesses
períodos.
Para trabalhar com famílias é preciso estar sensibilizado. Como infere Angelo
(1999, p. 08):
"Estar sensibilizado é ser capaz de reconhecer a família
como um fenômeno complexo que demanda apoio em tempos
de dificuldades, sobretudo na situação de doença, é
considerar a importância da família para o cuidado de
enfermagem e também a importância do cuidado da família
em suas experiências de saúde e doença, tendo como meta
promover um funcionamento pleno da família".
Ao refletir sobre qual o melhor ambiente para se assistir às famílias concordo
com Elsen e Marcon (1999), que dizem ser o domicílio, pois é nele que as pessoas
expressam mais facilmente suas crenças, práticas e valores sobre saúde e doença,
sendo que esta assistência é de caráter imprevisível, pois a situação vivida, no hoje e
agora, é que determina a necessidade do cuidado. Com o que concorda Soifer (1984)
ao afirmar que é fundamental a visita no domicílio, pelo menos durante os primeiros
dez dias após o nascimento de um bebê.
Ferrari (1994, p. 514) enfatiza que "a esfera afetivo-domiciliar vem perdendo
terreno para a esfera cognitivo-institucional", e tal fato acaba por afastar as avós e
outras mulheres que dariam apoio nesse momento.
Bergami e Berthoud (1997) afirmam que, em um momento no qual
vivenciamos tão grandes e profundas transformações, nunca se precisou tanto de um
16
trabalho junto à nova família que es nascendo simultaneamente com cada novo
bebê, afirma que os futuros pais precisam ser orientados na transição entre ser
cuidado e ser cuidador, assegurando uma família mais feliz e ajustada. Ávila (1998,
p. 138) diz que essencial que o profissional de saúde conheça, compreenda e
reconheça as vincias emocionais que acompanham o puerpério, para poder prestar
uma assistência mais completa e eficaz à família".
Conforme Ávila (1998, p. 160), o profissional de saúde pode acolher e apoiar
a família, levando-a a utilizar seus recursos interiores e desenvolver sua
autoconfiança para cuidar do filho. O profissional precisa entender e aceitar que os
pais estão tensos e necessitam de tempo para se ligar ao filho e construir um lugar
para ele, sem terem de perder o seu espaço. Destaca, ainda, que preciso que os
profissionais de saúde, os poticos e educadores se preocupem em nutrir as pessoas
que estão tão carentes de atenção e informação de melhores condições de vida e de
saúde integral". Assim teremos pais prontos para nutrir filhos de afeto e amor, com
isso desenvolvendo-se mais saudáveis e felizes.
Ferrari (1994, p. 513) assevera que todo ser humano nasce dentro de um
determinado contexto sociocultural e familiar, assim "mantendo interações com
todos os elementos e regras que pertencem a esse sistema". Porém, Monticelli (1997)
esclarece que na atualidade a maioria dos estudos que atuam no processo do
nascimento não tem levado em consideração a experiência das famílias e suas
vivências.
Segundo Maldonado (1989), quando se conhece melhor os fatores etiológicos
dos problemas emocionais e a formação de nculos através de sutis mecanismos de
interação e comunicação, tem-se mais possibilidades de desenvolver alternativas de
assistência em nível preventivo. A autora afirma que a orientação antecipatória tem o
objetivo de preparar a pessoa para enfrentar uma crise previsível de maneira mais
saudável.
Silva (1997, p. 254), referindo-se às questões da amamentação, que eu amplio
para todas as questões que se referem ao nascimento de um novo membro da família,
diz que preciso uma nova leitura da mulher e seu filho no contexto familiar e
social e redimensionar o discurso e ações institucionais". Ferrari (1994), referindo-se
ao puerpério, acredita que se deve trabalhar com o referencial do processo de
17
maternidade e paternidade, preocupando-se, sobretudo, com o processo de formação
da família.
De acordo com Santos (1996b, p. 80), o enfermeiro deve eleger referenciais
teóricos para assistir às famílias, reconhecendo suas possibilidades e limitações nessa
assistência. Tamm afirma que o cuidado à família deve ter por finalidade "a busca
e o incentivo à democracia nas relações familiares, a afirmação dos direitos à
cidadania e a melhoria da qualidade de vida de cada membro da família e desta como
um todo, a partir do contexto da própria família".
Para Nitschke (1999), o desconhecimento do mundo imaginal das famílias
gera um conflito a respeito do significado de ser saudável entre os profissionais de
saúde e as famílias que cuidam e são cuidadas. Esse fato faz com que muitos
problemas de saúde persistam, pois as propostas dos profissionais não têm
ressonância no quotidiano das famílias e vice-versa.
Alguns estudos relacionados ao tema desta investigação têm sido realizados
por enfermeiras. Monticelli (1997), através de uma prática assistencial baseada no
marco conceitual de abordagem cultural de Leininger, estudou o nascimento como
um rito de passagem, observando os ritos de cuidado desenvolvidos pelas mulheres e
como a compreensão desses ritos auxilia a enfermeira a compartilhar saberes e
práticas. Esse trabalho foi elaborado com mulheres que tiveram seus filhos em uma
maternidade pública e residiam em Florianópolis.
Riesco e Tsunechiro (1990) fizeram um estudo a fim de detectar os problemas
sentidos e vivenciados por 42 mães primíparas em relação ao cuidado do filho, após
a alta de uma maternidade-escola de São Paulo. Os dados foram obtidos através de
entrevista e centraram-se nos problemas relativos aos cuidados físicos, como
aleitamento, cólicas, coto umbilical e outros. Concluíram que os aspectos
psicossociais, pouco abordados, são igualmente relevantes nesse período de
adaptação da família, merecendo atenção dos profissionais da saúde. Também que
existem contradições entre procedimentos preconizados pela instituição e os
adotados pelas mães. Ainda, que seria de grande valia estender o acompanhamento
nos primeiros três meses de vida do bebê. Consideraram que deve-se buscar o
atendimento no domicílio, envolvendo todos os membros da constelação familiar e
realizar pesquisas que contribuam para essa assistência.
18
Donoso (1997) relata sua experiência, onde descreve suas dificuldades em
desempenhar seu novo papel como mãe, que até então era idealizado como perfeito.
Sugere uma possível relação entre o seu elevado grau de ansiedade e o
comportamento da filha nos primeiros meses de vida. Conclui que, ao analisar o
comportamento da criança, deve-se levar em consideração a conduta da família,
principalmente da e, sendo que a satisfação pessoal materna pode favorecer as
relações entre mãe e filho.
Em um estudo decorrente de um trabalho prático de assistência de
enfermagem a famílias com recém-nascidos, Boechs (1992) verificou a relação entre
as famílias de origem e o casal, bem como a influência desta na forma de cuidar do
recém-nascido. Foram famílias do estrato social baixo, nascidas e residentes na
cidade de Florianópolis. Concluiu com o estudo que existe uma íntima relação do
novo casal com a família de origem, sendo que as mulheres da família e até as
vizinhas auxiliam muito no cuidado ao recém-nascido e nos afazeres domésticos.
Esse auxílio faz com que alguns cuidados não sejam efetuados conforme orientados
na maternidade. Portanto, acredita que a enfermagem não pode desconsiderar tal
realidade e deve trabalhar a família como um todo, pois esse auxílio mútuo é
positivo.
Bonadio e Tsunechiro (1999) também fizeram um estudo preliminar
descritivo, focalizando a família e os seus membros na rede de apoio de gestantes.
Entrevistaram 30 gestantes atendidas no serviço de pré-natal de uma instituição
filantrópica da cidade de São Paulo. Concluíram que os membros da família são
importantes na rede de apoio da maioria das gestantes, embora nem todas tivessem
esse apoio. Sugerem estudos com outras abordagens metodológicas para esclarecer o
apoio familiar no processo gravídico-puerperal.
Haley (1991) aponta a importância de se realizar estudos que acompanhem o
processo de desenvolvimento das famílias, pois estas muitas vezes apresentam
dificuldades, manifestadas através de sintomas, em uma das etapas de seu ciclo vital.
O autor lembra que existe pouca informação sobre o ciclo de vida familiar, pois são
poucos os estudos longitudinais realizados nesta área.
19
Assim, passarei a descrever os aspectos metodológicos deste estudo, que
pretende trazer o objetivo de conhecer as vivências da família quando retorna ao lar
com o primeiro filho.
3 METODOLOGIA
Neste capítulo, serão explicitados a Área Temática, as Questões
Norteadoras, o Contexto de Realização do estudo, os critérios de escolha dos
Sujeitos e os Procedimentos Metodológicos para coleta, validação e análise dos
dados coletados, com o objetivo de conhecer as vivências da família quando retorna
ao lar após o nascimento do primeiro filho.
3.1 ÁREA TEMÁTICA
Considerando a família como a primeira responsável pelos cuidados de saúde
a seus membros e a importância das relações familiares na formação e
desenvolvimento do ser humano, percebe-se a importância de compreender a
dinâmica familiar após o nascimento do primeiro filho.
O tipo de organização familiar mais comum em nossa sociedade ocidental é a
família nuclear, composta de pai,e e filhos.
Os estudos realizados, na sua maioria, tem-se limitado aos aspectos
biomédicos e ao bimio mãe-filho, não levando em conta a estrutura familiar e o
seu contexto cultural. Acredita-se que a forma como a família organiza-se, após o
nascimento do primeiro filho, interfira na saúde física e emocional de todos os seus
membros e que a enfermeira pode atuar preventivamente neste momento de
transição.
Assim sendo, elegeu-se como área temática deste estudo:
As vivências da família no retorno ao lar com o primeiro filho
Quando falo em vivenciar, refiro-me aos sentimentos, mudanças no cotidiano,
cuidados entre os membros, conflitos, relações familiares, organização interna e rede
de apoio social.
3.2 QUESTÕES NORTEADORAS
De acordo com a área temática, esta pesquisa objetivou responder às
seguintes questões norteadoras:
- Que mudanças ocorrem na estrutura da família após o nascimento do
primeiro filho?
21
- Como a família organiza-se no seu cotidiano para enfrentar essas
mudanças?
- Como é realizado o cuidado entre seus membros?
- Quais os sentimentos percebidos e as relações que se estabelecem?
- Quais as principais necessidades que surgem após o nascimento do
primeiro filho?
3.3 TIPO DE ESTUDO
No intuito de atingir os objetivos propostos neste estudo, optei por realizar
uma abordagem qualitativa, pois, segundo André (1995), ela defende uma visão
holística dos fenômenos, levando em conta as interações e influências recíprocas de
todos os componentes de uma situação. Dentro dessa abordagem, utilizei o método
Descritivo-exploratório.
Conforme Parse, Coyne e Smith (1985), o propósito do método Descritivo é
investigar intensivamente a prática e a interação com o meio-ambiente de uma
determinada unidade social. Também segundo a autora, o estudo Exploratório é uma
investigação do significado de um evento da vida para um grupo de sujeitos.
Triviños (1990, p. 110) afirma que "o estudo descritivo pretende descrever
'com exatidão' os fatos e fenômenos de determinada realidade".
Visitei, para tanto, essas famílias em seus domicílios, em diferentes períodos,
dentro de um estudo longitudinal. "O planejamento longitudinal é o mais apropriado
quando a principal variável de estudo é o desenvolvimento humano", segundo
Dessen e Lewis (1998, p. 114).
3.4 CONTEXTO DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO
Realizei esta pesquisa em Erechim. É uma cidade de porte médio, com 87.893
habitantes, e dentre esses, 75.812 residem na área urbana. É o município lo da
Região do Alto Uruguai, sendo referência regional em termos de saúde. O Sistema de
Saúde é municipalizado, estando na Gestão Plena da Atenção Básica. Possui uma
rede de Unidades Básicas de Saúde (10) e dois hospitais. Um dos hospitais não
atende o Sistema Único de Saúde e o outro é um hospital blico que tem um índice
de ocupação pelo Sistema Único de Saúde de 95%. O hospital público chama-se
22
Hospital Santa Terezinha e ganhou, em 1999, o título de Hospital Amigo da Criança
(fornecido pela UNICEF). O outro é o Hospital de Caridade, que é uma fundação
filantrópica.
Erechim apresentou um coeficiente de natalidade, em 1999, de 18,10.
O coeficiente de mortalidade infantil em Erechim, no ano de 1999, foi 9,29,
sendo que, 82,6% dos óbitos foram por causas perinatais, como prematuridade,
anóxia intra-útero, eclâmpsia e aspiração meconial. O índice de mortalidade infantil
por causas perinatais no Brasil, em 1998, foi de 50%, portanto, esse índice em
Erechim é mais elevado que o índice brasileiro.
Nascem, em média, 148 crianças por mês e, dessas, 105, em média, nascem
no Hospital Santa Terezinha e as outras nascem no Hospital de Caridade.
Buscando descrever o perfil das parturientes que procuraram os Hospitais,
através das Declarações de Nascimentos de janeiro a junho de 2000, cheguei ao
seguinte resultado no Hospital Santa Terezinha: 49,54% tinham entre 20 a 29 anos,
26,14% entre 30 a 39 anos e 22,66% entre 10 a 19 anos. A União Consensual
representou 46,73% das parturientes e as casadas 40,18%. 5l,28% tinham de 4 a 7
anos de escolaridade, 21,79% estudaram por 8 a 11 anos, 14,11% tinham de 1 a 3
anos de estudo e 11,73% estudaram por 12 anos ou mais. O parto vaginal foi
realizado por 69,39% das parturientes. No que se refere à consultas pré-natal,
encontrei que 55,24% fizeram de 7 consultas a mais, 36,65% fizeram de 4 a 6
consultas, 6,82% de 1 a 3 consultas e 1,29% não fizeram consultas. Quanto à
ocupação destas mulheres, 66,42% eram Do Lar, e as outras dividiram-se entre 26
ocupações, com porcentagens muito pequenas. Pesquisando sua origem, constatei
que 30,46% eram provenientes dos bairros mais carentes da cidade (Progresso, Cristo
Rei, São Vicente de Paula, Presidente Vargas, Parque Lívia, Linho e Redenção), e
destas, 17,88% dos bairros Progresso e Cristo Rei. A zona rural representou 6,98%
das parturientes.
Quanto ao perfil das parturientes do Hospital de Caridade, encontrei o
seguinte quadro: 46,54% tinham de 30 a 39 anos e 45,9% tinham de 20 a 29 anos.
Quanto ao estado civil, 54% eram casadas, 27% eram solteiras e 18% tinham uma
união consensual. No que se refere a escolaridade encontrei que 70,46% tem 12 ou
mais anos de estudo e 20,77% estudaram por 8 a 11 anos. Foram realizadas
23
cesarianas em 77,21% dos casos. Quanto ao número de consultas pré-natal, 91,20%
fizeram 7 ou mais consultas. Encontrei ainda que 28,57% eram Donas de Casa,
14,93% trabalhavam no comércio, 12,33% eram professoras, 11,03% trabalhavam na
indústria e o restante dividiu-se em diversas outras profissões. No que se refere a
origem, verifiquei que 46,71% eram provenientes do Centro da cidade.
A grande dificuldade, na minha avaliação, para se estabelecer uma assistência
adequada às famílias é o pequeno número de enfermeiros que atuam na Rede, em
assistência direta ao usuário. A maioria dos enfermeiros não tem formação em Saúde
Coletiva, tendo a maior parte da sua vida profissional trabalhado em hospitais. Existe
muito pouca atenção domiciliar, restringido-se a solicitações de pacientes, s-alta
hospitalar, que necessitam de algum tipo de procedimento (sondas, curativos e
outros).
O atendimento nas Unidades é por livre demanda e não há agendamento. Em
duas Unidades, existe um trabalho com Grupo de Gestantes e está iniciando-se
Grupo de Acompanhamento a Bebês no primeiro ano de vida. É ainda uma atividade
bastante restrita, se comparada às necessidades de toda população e começou devido
à iniciativa de algumas enfermeiras que enfrentam dificuldades por falta de
transporte, recursos materiais e disponibilidade de tempo.
3.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.5.1 Entrada no campo
Encaminhei pedido para a Direção dos dois hospitais, solicitando autorização
para selecionar os sujeitos junto aos mesmos. A chefia de enfermagem dos hospitais
e das maternidades foram comunicadas da realização da pesquisa e de seus objetivos
(Anexo A).
O meu pedido foi prontamente atendido pelas duas instituições, sendo que o
Hospital de Caridade solicitou uma pia assinada do consentimento informado de
cada família (Anexo C)
Ao chegar aos Hospitais, conversei com as equipes de enfermagem,
explicando os objetivos do trabalho e solicitando seu apoio no sentido de comunicar-
me quando houvessem famílias dentro dos critérios estabelecidos na metodologia.
Foram receptivos e auxiliaram na seleção dos sujeitos. Apesar disso, eu mantive um
24
contato diário, por telefone, com a maternidade, devido aos diferentes turnos e o
pouco tempo de internação, quando se tratava de parto normal.
3.5.2 Seleção dos sujeitos
Busquei os sujeitos para este estudo junto às famílias que procuraram
atendimento nos Hospitais da cidade, no momento do nascimento de seus bebês.
A amostra foi intencional, selecionada a partir dos seguintes critérios: a
puérpera deveria ter entre 20 e 39 anos, ter no mínimo quatro anos de escolaridade,
residir com o pai do bebê em zona urbana, e a puérpera e o bebê terem alta juntos.
O número de sujeitos foi determinado pela saturação dos dados, que ocorre
quando os mesmos comam a repetir-se, sendo que trabalhei com cinco famílias.
A seleção das falias foi realizada em dois momentos. No primeiro,
utilizando o prontuário da puérpera, verifiquei o atendimento dos critérios idade,
local de residência, número de filhos e escolaridade. No segundo momento, utilizei
uma entrevista semi-estruturada (Anexo B), a fim de verificar os critérios de residir
com o pai do bebê e estar com alta concomitantemente com o filho.
Houve alguma dificuldade para encontrar os sujeitos para o estudo devido à
faixa etária escolhida. No hospital blico, muitas primíparas tinham menos de 20
anos e outras não residiam com o pai da criaa. Apenas uma família convidada não
aceitou fazer parte da pesquisa.
3.5.3 Aspectos éticos
De acordo com o Código de Ética em Pesquisa, previsto pelo Conselho
Nacional de Saúde (Brasil, 1996), as famílias foram previamente consultadas e
informadas sobre os objetivos a que se propôs este estudo, assinando o termo de
consentimento livre e informado, conforme modelo de Goldin (1997), para
participarem do mesmo, caso fosse de sua vontade, podendo, a qualquer momento,
desistir da participação (Anexo C).
3.5.4 Coleta de dados
O primeiro contato com as famílias escolhidas foi no hospital, no dia do
nascimento do primeiro filho.
25
Os próximos encontros foram no domicílio da família, de acordo com os
motivos já explicitados no referencial teórico, quando falamos sobre a interação
enfermeira e família em fase de expansão. Realizei quatro visitas, sendo que duas na
primeira quinzena e duas até o final do período puerperal, por volta do quadragésimo
dia s-parto. Procurei visitar as famílias em momentos em que o pai estivesse
presente. Em uma família, o pai participou de todas as visitas e em outra, o pai esteve
presente somente na entrevista.
Triviños (1990, p. 138) diz que "o pesquisador qualitativo, que considera a
participação do sujeito como um dos elementos de seu fazer científico", apoia-se em
técnicas e métodos que ressaltam sua implicação e da pessoa que fornece as
informações. Utilizei, portanto, para a coleta de dados, entrevista semi-estruturada e
observação participante, focalizando os vários membros familiares, a fim de estudar
a variedade de interações e relações dentro da família.
3.5.5 Observação participante
Conforme André (1995, p. 28), "a observação é chamada de participante
porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de interação
com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetado".
Triviños (1990, p. 138), afirma que esta técnica exige "atenção especial ao
informante, ao mesmo observador e às anotações de campo".
De acordo com Parse, Coyne e Smith (1985, p. 07), "observação é um método
direto ou indireto de recordar informações relativas aos objetivos do estudo".
Os dados observados foram registrados no Diário de Campo (Anexo D),
imediatamente após a observação.
Houve o cuidado de respeitar o espaço da família, entrando apenas nos
cômodos da casa em que fui convidada. Desta forma, em três casas ficamos na sala e
na cozinha e em duas entrei nos quartos.
A recepção das famílias sempre foi muito boa, demonstrando satisfação em
poder conversar suas vidas com um profissional da saúde. A relação de confiança
foi estabelecendo-se com o passar do tempo, quando percebiam a seriedade e o
objetivo do trabalho. Apesar disso, a dinâmica familiar era um pouco interrompida
26
durante a minha estada na residência, pois algumas famílias viam em mim uma visita
formal.
O período de coleta de dados foi de três meses. As observações duraram de
40 a 90 min, sempre no domicílio. Foram realizadas 20 observações com 31
participantes (pais, mães, avós, bebês, tias, primas, e outras visitas).
3.5.6 Entrevista
A Entrevista, de acordo com André (1995, p. 28), "tem a finalidade de
aprofundar as questões e esclarecer os problemas observados."
Conforme Triviños (1990, p. 146), a coleta de dados, na pesquisa qualitativa,
desenvolve-se em interação dinâmica, retroalimentando-se constantemente. Esse
autor infere que a entrevista semi-estruturada é privilegiada, pois valoriza a presença
do investigador e oferece muitas perspectivas para que o informante tenha a
liberdade e a espontaneidade necessárias à investigação. Afirma ainda que ela:
"...parte de certos questionamentos básicos, apoiados em
teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em
seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de
novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem
as respostas do informante".
Portanto, a entrevista foi realizada na última visita, no momento em que
percebi que se estabeleceu um relacionamento propício entre pesquisador e sujeitos.
Aconteceu com o casal, e em uma família, participou a avó materna, que mora com
eles, tendo sido onze os informantes. As entrevistas foram gravadas e transcritas para
a análise.
3.5.7 Análise dos Dados
Os dados coletados através da observação participante e da entrevista semi-
estruturada foram transcritos e analisados segundo a técnica de Análise de Conteúdo
(Bardin, 1977).
Após a organização e a leitura exaustiva dos dados, passei para a linguagem
do pesquisador, descrevendo cada família. As unidades de significado foram
codificadas pela letra F, seguida de um número, que identificou a família. Em
seguida, ou a letra E (entrevista), ou a letra O (observação), seguida de um número
27
que identifica qual a observação em que se encontra a unidade. No caso da
entrevista, ainda há outra letra que identifica o sujeito, M (mãe), P (pai) e A (avó).
Exemplificando:
"Antes nós namorávamos, saíamos de moto, agora vai ficar mais
difícil (F1.E.P).
Esta fala é da família um, da entrevista, e o sujeito é o pai.
Inicialmente, descrevi cada família com suas características e após, fiz uma
análise horizontal dos dados, agrupando em categorias preestabelecidas por cada
questão norteadora.
Durante a entrevista, solicitei que cada família escolhesse uma palavra que
simbolizasse o momento que estavam vivenciando, e usei esta palavra a fim de
identificá-las no decorrer da apresentação e análise dos dados.
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS
"Nosso mundo na enfermagem, sem uma concepção do
humano seria muito pequeno. Nossa chance de ampliá-lo nos
é dada pelas famílias que chegam até nós e que nos permitem
viver com elas um pouco de sua aventura. Assim, algum dia
poderemos nos lembrar destes encontros e contar histórias
de um lugar em que uma família pode descansar, outra que
tomou importantes decisões em sua vida ou ainda a que
reuniu suprimentos para prosseguir a sua jornada. Um lugar
em que alguém estava com a família em tempos difíceis"
(Angelo, 1999, p.14).
A fim de apresentar os dados encontrados neste estudo, achei importante
fazer uma descrição longitudinal de cada família, com suas características próprias,
pois cada família é única, apesar de estar vivenciando a mesma fase do seu
desenvolvimento. Esta análise longitudinal também objetivou a compreensão da
evolução de cada família durante o período do estudo. Neste primeiro momento,
também descrevi como deu-se a minha interação com cada família. Portanto, a
apresentação das famílias ficou assim subdividida: características da família, a
enfermeira interagindo com a família e as vivências da família.
4.1 CONHECENDO AS FAMÍLIAS DO ESTUDO
4.1.1 Família Um Família Mudança
Esta família escolheu esta palavra por acreditar que a vinda do filho
representou uma grande mudança na vida deles.
Quando fiz o primeiro contato com a família, no hospital Santa Terezinha,
estava presente somente a mãe e o bebê. Ela prontamente aceitou o convite para
participar da pesquisa. Disse que conversaria com o marido, mas que não haveria
problemas. Combinamos a data da primeira visita para um dia após a alta.
4.1.1.1 Características da família
O casal mora sozinho, numa casa de alvenaria, com uma estrutura muito boa,
bem arrumada e limpa. O quintal é grande e eles têm um carro.
29
A mãe tem 23 anos, curso superior incompleto, não estuda no momento e
deixou de trabalhar no terceiro mês de gestação, por escolha própria. Era comerciária
e não estava satisfeita com o trabalho. É a mais velha de três filhos.
O pai tem 25 anos, grau incompleto, o estuda no momento e é motorista
de caminhão. O caminhão não é dele e ele ganha por comissão. Tem uma renda
dia mensal de R$ 800,00. O pai viaja bastante, ficando, às vezes, até 15 dias fora,
mas não viajou na primeira semana de vida do bebê. Na segunda semana, retornou ao
trabalho normalmente.
O bebê é um menino que estava com três dias por ocasião da primeira visita.
Nasceu de parto normal, com 3.600 g. A e relatou que a gravidez foi planejada e o
bebê era muito esperado.
A avó materna mora em outra cidade e veio para ajudar a cuidar da puérpera e
do bebê. Pretendia ficar por um mês. Junto, veio uma netinha de um ano de idade,
que mora com ela. A avó queria levar a filha para a cidade onde mora, mas esta não
quis, achou que não seria necessário. No quinto dia de vida do bebê, a priminha teve
que ser hospitalizada, com vômito e diarréia. A família achou que poderia ser devido
ao ciúmes que ela estava sentindo do bebê, pois antes ela era o centro das atenções,
por ser a única neta. A avó e a netinha voltaram para casa quando o bebê estava com
14 dias.
A mãe fez o pré-natal em consultório particular, mas o parto foi feito pelo
SUS, com o médico de plantão, por medidas econômicas. O parto foi realizado com
episiotomia e transcorreu bem. A avó ficou junto na sala de pré-parto, mas o pai
sentiu-se mal e saiu da sala. A mãe achou muito boa a presença da avó com ela
naquele momento. Contaram que foram várias vezes ao hospital achando que estava
na hora do nascimento, pois não receberam orientações sobre o início do trabalho de
parto.
4.1.1.2 A enfermeira interagindo com a família
Realizei quase todas as visitas aos domingos, para permitir a participação do
pai. Visitei-os no 3º, 7º, 14º e 28º dias após o parto. Quando havia necessidade de
mudar o dia combinado, eles ligavam-me e avisavam. Pediram-me para que
pudessem ler o trabalho quando estivesse pronto.
30
Na primeira visita, o pai recebeu-me, de maneira muito simpática, mas não
participou da conversa. Fiquei na sala com a mãe, a a e o bebê. O pai ficou
cuidando da sobrinha no quarto. Nos outros encontros, ele participou todo o tempo,
fez muitas perguntas, demonstrando grande interesse em tudo que dizia respeito ao
bebê.
A família sempre me recebeu muito bem, mostrando-se disponível e
interessada. Disseram que eu ajudei a esclarecer muitas dúvidas, como demonstra
esta fala do pai."Ajuda que tu vem aí, também esclarecemos muita coisa... ficamos
bem até mais tranqüilos, aquele dia que tu falou que ia vir. Disse, óh, que legal"
(F1.E.P).
Esta família foi bastante questionadora, sempre havia várias perguntas e
escutavam as orientações com bastante atenção.
Orientei cuidados com a episiorrafia, prevenção de fissura mamilar,
características normais do be(eliminações, eructação e regurgitação, respiração,
bossas na cabeça, labilidade térmica), causas e cuidados com secreção ocular, o uso
do bico seco, cuidados com o coto umbilical, uso de medicamentos, vestuário,
cuidados com candidíase oral, métodos contraceptivos, hábitos alimentares da
família sempre a partir de questionamentos da própria família e/ou observação de
suas necessidades.
Como percebi que era importante para eles a confirmação de que estavam
cuidando adequadamente do bebê, reforcei os aspectos positivos deste cuidado.
Esta família estava sem vínculo com nenhum tipo de serviço de saúde, pois
foi atendida pelo plantão obstétrico do SUS e perdeu o vínculo com o obstetra que a
atendeu no pré-natal devido a um episódio de mal atendimento. Precisei falar várias
vezes sobre a necessidade da revisão ginecológica. Eles demonstraram resistência em
procurar o serviço de saúde também para algumas necessidades do bebê, como o uso
de Nitrato de Prata na cicatriz umbilical e tratamento de uma conjuntivite que o bebê
adquiriu.
Observei que eles estavam com dificuldade para identificar as causas de
choro do bebê, tentei demonstrar que o choro pode ter outros motivos além de fome e
dor. Para isso, acomodei o bebê no colo, cobri a luz dos olhos dele e ele adormeceu
em seguida.
31
Durante as visitas, permanecemos na sala e na cozinha. Como não me
convidaram para entrar nos quartos, não pude observar a organização do espaço para
o bebê, mas a mãe disse que o bebê dorme no berço, no quarto do casal.
Os pais disseram que este trabalho domiciliar é muito importante,
"principalmente com famílias de baixa renda, pois eles acham que estas famílias não
conseguem cuidar bem dos bebês” (F1.O2).
4.1.1.3 Vivências da família
Observei nesta família a formação de uma rede de apoio social e familiar. A
vinda da avó materna de outra cidade, junto com a neta, a participação da família de
origem do pai, a presença dos vizinhos, todos esses fatores provocaram uma
mudança considerável no cotidiano desta família.
O fato deles morarem sozinhos e o pai viajar por longos períodos fazia com
que a mãe tivesse bastante liberdade de horários, o que mudou bastante com a
presença do bebê. "A mãe não tinha horário para almoçar e a avó disse que agora
ela terá que organizar-se diferente” (F1.O1).
O pai relata que "antes nós namorávamos, saíamos de moto, agora vai ficar
mais difícil (F1.E.P.).
As viagens de trabalho do pai também o deixaram preocupado, pois"... ela
fica sozinha, às vezes, é difícil, que nem agora até os quarenta dias, assim que é
mais difícil" (F1.E.P.).
A adaptação ao bebê foi gradual, facilmente observável com o passar do
tempo. A mãe disse que:
"No início, foi meio estranho, é claro que a gente espera ele,
mas, até a gente se adaptar com ele assim,.. não foi muito
bem como nós imaginava, foi mais difícil, eu acho ... só
vendo assim pra gente ver como é que é... agora, cem
por cento” (F1.E.M.).
O pai também relatou que estava "muito melhor, bem melhor... a gente se
acostuma com ele e ele conhece nós, e nós conhecemos ele, é pessoa, é pequeno, vai
ter sua estrutura, sua cabeça, mas ele é bem legal (F1.E.P.).
A presença da amaterna deixou o casal tranqüilo, pelo fato de ser uma
pessoa calma e com bons conhecimentos, conforme pude perceber. Este apoio foi
32
muito valorizado por eles, principalmente na primeira semana, porque depois a mãe
sentiu-se em condições de cuidar do besozinha. Ela disse "eu não conseguia
nem me mexer direito, comigo e com ele também, porque eu, nos primeiros dias,
dava „mamá‟, porque ela trocava. na primeira semana” (F1.E.M.).
Da mesma forma, o apoio da família de origem do pai e da vizinha foi
considerado importante, apesar da mãe reforçar sempre que a ajuda deve ser
temporária, pois ela terá que dar conta de tudo sozinha.
"Qualquer coisa tem que chamar meu sogro, minha sogra,...
se precisa de alguma coisa tem que chamar eles..., mas, por
enquanto só, depois... eu prefiro eu que não adianta, não vai
ter sempre alguém, um dia vou ter que me virar sozinha com
a casa e tudo... nossa vizinha que também ajuda... de vez em
quando ela vem aqui, dá uma olhadinha nele...” (F1.E.M.).
A família valoriza o apoio familiar e social, mas percebe o excesso de visitas
como um incômodo. "Acham que vão receber muitas visitas hoje à tarde, pois não
vieram durante a semana, o que acharam muito bom” (F1.O2).
Observei que este apoio acompanhou a família até por volta do 20º dia s-
parto, quando a mãe sentiu-se em condições de cuidar do bebê e dos afazeres
domésticos. O pai também retornou ao seu ritmo normal de trabalho. A mãe disse
que o pai havia viajado toda semana e ela estava se virando bem com o bebê e a
casa” (F1.O4).
O cuidado com o bebê continua, tradicionalmente, sendo feito por mulheres,
neste caso a mãe e a avó, mas a família considera normal o pai ter maior dificuldade
em cuidar do bebê. O pai relatou que "... agora bem melhor. Agora eu sei mais,
fico com ele mais um pouquinho, eu era meio assim,... marinheirão de primeira
viagem, não sabia nada" (F1.E.P.). A mãe reforçou que que se pra mãe, eu penso
assim, que nem pra mim no início, foi meio difícil, imagina que nem pra ele, né"
(F1.E.M.).
Nas tarefas domésticas, observei que o pai auxilia quando pode, embora fique
bastante tempo no trabalho, sendo que considerou sua presença uma necessidade que
surgiu após o nascimento do bebê. “Que nem no meu caso, teria que tá mais
presente, antes que era tu, tu ficava em casa, era mais fácil...” (F1.E.P.). A mãe
disse que o pai ajuda nos afazeres domésticos, que deve ser muito difícil para quem
não tem ninguém para ajudar” (F1.O2).
33
A mãe sentiu como maior necessidade o auxílio nas tarefas domésticas,
achando que do beela dava conta, exceto na primeira semana, que necessitou de
um apoio maior: "... acho que é o serviço, daí vinha a mãe dele, às vezes, quando
tinha muita roupa para lavar, me ajudava no serviço... lavar as calçadas...”
(F1.E.M.).
Quando questionados sobre orientações que gostariam de ter recebido, o pai
imediatamente respondeu que
“Uma coisa que eu achei foi o choro. Um choro é uma
surpresa, porque, às vezes, não sabe o que ele tem. No início,
eu ficava com medo, imaginava, dois dias, três dias, pode
chorando de uma outra coisa... eu achei isso, que nem sabia
que as crianças chorava tanto assim” (F1.E.P.).
Percebi que o choro do be é um fator de ansiedade para os pais. "No início,
quando ele chorava, porque, se era fome, se era isso, ficava toda apavorada
(F1.E.M.) É claro... ele chorava o nenê (F1.E.P.). Era um pavor” (F1.E.M.).
A e relatou, na primeira visita, que
"ficaram perdidos numa tarde em que a avó saiu com a
netinha. O bebê chorava e eles não sabiam o que fazer.
Quando a avó chegou e o pegou, ele acalmou-se. Ela
perguntou porque não deram o seio e a mãe respondeu que
achou que como o bebê havia 'arrotado', não deveria dar o
seio novamente” (F1.O1).
Quando a família não encontrava motivo para o choro, optava por usar
remédio para licas, na tentativa de resolver o problema. "O bebê continuou
choramingando e eles resolveram dar gotas para cólica. Peguei-o no colo, cobri a
luz dos olhos dele e ele adormeceu em seguida. Falei que ele estava com sono”
(F1.O3).
Com o passar dos dias, os pais relataram que foram adquirindo segurança e
acreditam que o bebê sente esta segurança: "... agora a gente mais segura, então
ele mais calminho, a gente sente isso, agora no início a gente tava assim meio
apavorado, inseguro, ele também sentia insegurança” (F1.E.M). Na segunda visita,
enquanto estive por cerca de 80 min, "a e pediu duas vezes para o pai ir ver
como estava o bebê no quarto. Receia não ouvir o choro” (F1.O2).
A manipulação do bebê na troca de fraldas, principalmente no banho, foi
considerada como dificuldades para a mãe, que “ainda não trocou o bebê, a avó.
34
Espera que o coto umbilical caia antes da avó ir embora, por causa do primeiro
banho” (F1.O1). No entanto, o pai acredita que ...ficou mais fácil devido ao bebê
ser 'grande', não parecer tão frágil” (F1.O2).
Algumas dificuldades foram observadas com a mãe, como desconfortos com
a episiorrafia, ingurgitamento mamário e medo da evacuação, devido à sutura. Estas
dificuldades persistiram até por volta do 10º dia s-parto. Ela não recebeu
orientações profissionais para minimizá-las e seguiu instruções da avó, que lhe
indicou para que ela tome um laxante, mas ela tem medo” (F1.O1). Na segunda
visita, a mãe disse que estava usando a 'bombinha' para retirar o excesso de leite.
Observei, também, que até a minha última visita a mãe ainda não havia feito
revisão ginecológica, apesar de termos falado várias vezes no assunto. Reforcei
novamente, utilizando o argumento da necessidade de um método contraceptivo, ao
qual a mãe pareceu sensibilizar-se dizendo que “não quer descuidar-se, que outro
bebê neste momento seria muito difícil” (F1.O4).
A mãe contou-me, na segunda visita, que “ficou chateada com a obstetra
com a qual fez todo o pré-natal no consultório particular e quando ela a viu no
hospital nem a cumprimentou, pois fez o parto pelo SUS” (F1.O2).
Percebi que a família começou a se preocupar com a própria saúde, até em
função do filho. "A mãe disse que ele não se cuida, come muita fritura e ovos”
(F1.O4). Eles demonstraram interesse em receber orientações sobre bitos de vida e
saúde.
A família possui um conhecimento próprio, adquirido pela aprendizagem
social e pela leitura de alguns livros. A mãe disse que "... bastante amigas tem
nenê. Então mais ou menos já sabia com era o parto, cólica, febre, que sempre dá de
noite, essas coisas... a gente vai, pede para um, pede para outro, e vai aprendendo"
(F1.E.M.).
Muito pouco deste conhecimento, todavia, provém da rede de saúde,
comprovado pela observação de que a família "não tinha nenhuma orientação sobre
cuidados com fissura mamilar e nem sobre o puerpério e cuidados com o bebê, a
mãe achava que o parto e o cuidado com o bebê seria mais fácil do que está sendo”
(F1.O1). Como não receberam orientações sobre o início do trabalho de parto, a mãe
35
disse “terem ido rias vezes ao hospital achando que estava na hora do
nascimento” (F1.O2).
O próprio material educativo produzido pela rede de saúde, às vezes, chega
por acaso na família, como nesta situação em foco, cuja avó achou os folhetos com
orientações ao puerpério e cuidados com o bebê, por ocasião da internação da neta e
enviou para a filha. “A mãe achou ótimo o folheto, não sabia muitas coisas que
estavam ali” (F1.O2).
Verifiquei, através do relato da família, que muitas orientações são realizadas
em momento inadequado, sendo pouco aproveitadas. “A mãe falou que no hospital
falam muitas coisas, mas ela não conseguiu apreender muito, pois estava meio
atordoada” (F1.O1).
Durante as visitas realizadas à família, esta fez inúmeros questionamentos,
inclusive tentando confirmar se o que ouviram da rede de apoio social era
verdadeiro. “A mãe perguntou-me sobre obstrução nasal e disse que uma tia falou
que o bebê tinha uma carne crescida no nariz. Perguntou-me também se deveria
trocar o bebê à noite quando fizesse cocô, pois a vizinha disse que ficaria mal
acostumado” (F1.O3). Também apresentaram dúvidas sobre o volume uririo do
bebê, achando que estava muito baixo. Preocuparam-se na troca do be, pois havia
uma mancha rósea na fralda. O pai contou-me que
"diluíram um comprimido de Methergin e viram que a cor
era igual da mancha na fralda. a mãe não tomou mais a
medicação e não apareceu mais a mancha na fralda... Outras
dúvidas levantadas foram em relação ao uso de faixa
abdominal e moeda no coto umbilical, também sobre a
eructação e a regurgitação do bebê. ... Mostraram-me as
medicações que estão usando para o bebê, perguntando
sobre a dosagem do Sorine e sobre como dar as gotas para
cólicas” (F1.O2).
"A mãe perguntou-me sobre os 'caroços' que o bebê tinha na cabeça e disse
que o bebê transpira muito, principalmente à noite” (F1.O3).
Observei, na primeira visita, que o be estava com secreção ocular, que
persistiu até por volta do 15º dia, sendo que a mãe utilizou chá de camomila para
lavar o olho. A mãe disse, nesta visita, que pretende dar bico seco para o bebê, apesar
da orientação contrária da equipe do hospital. Também, na terceira visita, a mãe disse
que "a avó colocou um algodão com faixinha no coto umbilical porque estava
36
molhado” (F1.O3), mesmo tendo sido orientada em outra visita sobre o ser
adequado o uso da faixinha.
Na quarta visita, a mãe falou que "achava que o bebê estava com 'sapinho' e
perguntou-me o que era o 'sapinho‟” (F1.O4). Observei que o bebê estava usando o
bico seco.
Na primeira visita, observei, em uma troca do bebê realizada pela avó, o uso
de vários produtos industrializados, como leos umedecidos e óleo protetor.
Durante o período de convívio com esta família, percebi uma ótima interação
dos pais com o bebê. Eles demonstraram perceber os progressos e reações do bebê,
tendo curiosidade de saber sobre os sentidos do bebê, se ele escuta, qual a
abrangência visual. Percebem e respeitam o bebê como uma nova pessoa. O pai falou
que "às vezes, ele é chorãozinho, porque é o jeito dele... toda criança acho que é...
caminha na frente dele prá cá, prá lá, ele vai acompanhando assim, prá onde tu
anda ele vira” (F1.E.P.), e a mãe disse, por sua vez, que “chora um pouquinho a
gente pega ele ra. A gente larga ele começa chorar... ele quer participar”
(F1.E.M.).
Percebem o bebê como um ser bastante frágil, que necessita de muitos
cuidados. O pai disse que “é super frágil, qualquer mosquitinho faz mal prá ele”
(F1.E.P.). Por isso, têm muito cuidado com a higiene, a e disse que "...tô aqui
sempre em casa, mas cada vez que vou pegar ele lavo as mãos” (F1.E.M.).
Acreditam que se o bebê não fosse saudável seria bem mais difícil, o pai disse
que "se é uma criança doentinha, acho que é mais difícil, toda hora com febre, toda
hora tem que fazer isso, tem que fazer aquilo” (F1.E.P.).
O casal relatou mudanças, embora não considere que estas mudaas
tenham afetado muito seu relacionamento. Na opinião do pai, “muda umas coisas.
Sempre muda uma coisinha, mas não que afeta” (F1.E.P.). A mãe também falou
que "... mas eu acho que antes tava bem, e agora também, que tem um
integrante a mais na família” (F1.E.M.).
Disseram que surgiu algum conflito devido à insegurança do pai ao cuidar do
bebê sobrecarregando a mãe, que disse
“... tem que fazer alguma coisa, eu digo, segura ele um
pouquinho, ele chora, mas ele pega o nenê chorando e diz
pega aqui, pega aqui, pega aqui, apavorado... mas segura
37
ele! Acalma! Então tenho que largar do serviço, ele em casa,
pra mim pegar o nenê” (F1.E.M.).
Em relação a como estavam sentindo-se, a mãe disse que “eu adorando...
era bem o que eu sempre quis, agora então que veio e agora que a gente se
acertando com ele direitinho... no início é difícil(F1.E.M.). O pai falou que “pra
mim, tá louco, mais ainda que é guri, assim, sei lá, não porque se fosse menina, nada
a ver, mas eu tô bem contente, não vejo a hora de vir pra casa” (F1.E.P.).
4.1.2 Família Dois Família Aprendizado
Esta família escolheu a palavra aprendizado, pois relata estar aprendendo
todos os dias com a filha: ".... este primeiro mês está sendo um aprendizado muito
grande, cada dia que passa aprendo mais coisas com ela...” (F2.E.M.).
Conversei com o casal, no Hospital Santa Terezinha, convidando-os para
participar da pesquisa. Eles olharam-se, pensaram um pouco, e concordaram.
Combinamos a visita.
4.1.2.1 Características da família
A família reside em uma casa simples, mista (madeira e alvenaria), com infra-
estrutura básica, num terreno bem abaixo do vel da rua, a qual não tem saída.
Moram, na casa, o casal e a avó materna, que é aposentada e separada do marido.
Ficamos na cozinha durante todas as visitas.
O pai é motorista da prefeitura, tem 31 anos e uma renda de quatro salários
mínimos. Tirou licença paternidade na primeira semana. A mãe é vendedora de
assinatura de revista, tem 31 anos e uma renda de um sario nimo. Parou de
trabalhar quando teve o bebê, e pretende voltar a trabalhar três meses após o parto,
deixando o bebê sob os cuidados da avó. Tem dois irmãos e é a filha do meio.
Estudou até o 2º Grau.
A avó tem 62 anos, é aposentada, e ganha um salário mínimo, sendo,
portanto, a renda total da família de 6 salários mínimos. Tem outros dois netos que
residem em outra cidade.
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O be é uma menina, nascida a termo, de parto vaginal com episiotomia. O
pai disse que estavam pensando em ter filhos, mas a e disse que não foi uma
gravidez planejada.
O avô materno esteve presente em uma das visitas, mas o reside com eles e
o participou das conversas.
O pré-natal foi realizado em consultório particular, mas o parto foi feito pelo
dico de plantão, através do SUS. A mãe acha que foi muito bem atendida no
hospital.
O avô paterno faleceu no quarto dia de vida do bebê, em Porto Alegre, onde
havia submetido-se a uma cirurgia por câncer de pulmão. O pai relatou que esta
semana foi uma confusão.
4.1.2.2 A enfermeira interagindo com a família
O pai esteve presente em todas as visitas, sempre tentando marcar um horário
em que ele estivesse presente, pois fazia questão de participar, inclusive
desmarcando algumas atividades de lazer, apesar da minha insistência em trocar o
horário da visita, para que isto não fosse necessário.
Visitei-os à noite e no sábado à tarde, no 3º, , 14º e 29º dias. Sempre fui
muito bem recebida e eles participaram com interesse. Demonstraram curiosidade em
saber se as outras famílias eram parecidas com eles. Disseram que “agradecemos as
tuas visitas...conseguiu resolver bastante dúvidas que nós tínhamos, resolveu
bastante” (F2.E.M.).
Orientei cuidados com a amamentação, local adequado para o bebê dormir, o
uso de chás e açúcar, a importância da revisão ginecológica, vacinas, cuidados com a
puérpera (alimentação, lazer, ventilação, higiene), crenças a respeito do dia,
exercícios sicos, uso de outras alternativas para a cólica, antes da medicação,
sempre procurando respeitar o conhecimento da família e adequando-o ao científico.
A família aceitou minhas orientações quanto à alimentação e à higiene, até
com satisfação. A mãe disse que hoje a visita foi muito boa, pois livrou-se da dieta
com a minha orientação... disse que ainda não lavou o cabelo, que não agüenta
mais, amanhã vai lavar” (F2.O2).
39
A avó materna estava com problemas de saúde provavelmente relacionados à
menopausa, sobre os quais pudemos conversar e encaminhei-a ao ginecologista.
Conversamos sobre o vínculo família-bebê e a adaptação mútua, pois percebi
que esta família estava com dificuldades para estabelecer o apego. Também
conversamos sobre a importância da participação do pai.
Eles apresentaram dificuldades para organizar a rotina do bebê. Orientei que a
organização é importante, mas sem rigidez de horários.
Procurei reforçar cuidados positivos que a família estava realizando e
estimulei-os a ler os folhetos educativos do hospital, com o objetivo de que,
sentindo-se mais seguros e autoconfiantes pudessem interagir melhor com o be.
A família demonstrou curiosidade a respeito da entrevista gravada, então,
esclareci quais seriam as perguntas e que não precisavam preocupar-se com elas.
Esta mãe estava muito ansiosa com a situação que estava vivenciando e
percebi que ... ela distorcia algumas das minhas falas na tentativa de confirmar
seus sentimentos" (F2. O1).
A família recebeu apoio de uma prima que é auxiliar de enfermagem, esta
agiu com indiferença em relação à minha presença na residência, conversou com a
família e o dirigiu a palavra a mim em nenhum momento” (F2.O2). Interpretei esta
atitude como competição, pois ela detinha o maior conhecimento dentro da família,
até o momento em que eu comecei a interagir com a mesma. Procurei não contestar
suas informações e deixar a família optar sobre qual orientação deveria seguir.
Procurei estimular a mãe para passear a fim de quebrar a rotina, pois estava
muito esgotada e ela aceitou a sugestão com entusiasmo.
4.1.2.3 As vivências da família
Observei que nesta família o nascimento do bebê causou uma desorganização
considerável na sua rotina, afetando-os emocionalmente, principalmente a mãe, que
demonstrou nervosismo em quase todas as visitas. Na primeira visita, "a mãe estava
visivelmente nervosa, dizendo que não havia dormido desde que o bebê nascera e
que ela quer mamar o tempo todo” (F2.O1).
Na terceira visita, ainda, “a mãe disse estar tão atrapalhada que não
consegue mais organizar-se nas tarefas domésticas” (F2.O3).
40
A mãe referiu surpresa com a situação após o nascimento da filha,
demonstrando decepção quando diz, na entrevista, "... por ser a mãe, eu sou a que
mais estranho. Eu também estava acostumada com uma rotina. Eu não pensei que
fosse assim, sabe, nunca ninguém tinha me contado como é que é ser mãe
(F2.E.M.).
Na primeira visita, disse que “... parece que todos os problemas que não teve
durante a gestação, que foi ótima, teve no parto e vai ter agora” (F2.O1).
O pai concorda que houve a mudança dizendo que “... alguma coisa a gente
sente, porque estava acostumado com uma rotina diferente...” (F2.E.P.).
As maiores dificuldades observadas foram com o aleitamento e com a
disponibilidade de tempo que o be solicitou, a mãe relatou que
“... ela tem horário de mamar, de hora em hora, tem horário
para dar banho, hora para dormir. É uma adaptação, quem
está fazendo o horário dela é ela, não somos nós que fazemos
o horário. Conforme ela quer mamá ou alguma coisa, fico
sempre ao redor dela” (F2.E.M.).
Na primeira visita, também, a e disse que “sente como se a criança fosse
esganada, quer comer... não tem paciência quando o bebê adormece no peito
mamando um pouco. Quer que ela mame bastante e durma para doer o seio de
uma vez só” (F2.O1).
As dificuldades observadas com o aleitamento foram devido à grande
sensibilidade que a mãe tinha no mamilo, referindo muita dor, embora não tenha tido
fissuras. Tentou todas as alternativas que lhe foram ensinadas, tanto pelos
profissionais de saúde, como pela rede de apoio social. Na primeira visita, estava
usando pomada e casca de mao. Na segunda visita, o obstetra havia receitado
outra pomada, na terceira visita, estava usando um bico de silicone e, na última
visita, havia desistido de tudo, achando que o bebê estava tendo cólicas por engolir ar
devido ao bico de silicone. Disse que " ...ainda dói o mamilo, mas é suportável, é que
está acostumando-se” (F2.O4).
A livre demanda, conforme orientação dos profissionais e outras pessoas, foi
percebida pela mãe como inadequada e de difícil adaptação para ela.
"Não estou me adaptando ainda bem, sabe. Tem coisas que
ainda acho que é diferente, mas com o tempo vai passando.
Tipo isso, de mamar de hora em hora. Eu acho que não é
41
certo. Mas todo mundo fala que é certo, então para mim
também tem que ser certo. O que vou fazer?" (F2.E.M).
Na terceira visita, ela falou que "acha que não deve dar o seio com menos de
2 a 3 h, mesmo que o bebê chore” (F2.O3).
A mãe não fez nenhum tipo de preparo do seio para a amamentação, tendo
sido orientada apenas sobre banhos de sol, mas não os fez. Também demonstrou
impaciência com a demora da apojadura, observei, nesta ocasião, que “a mãe
acreditava que todos os problemas iam passar quando o leite descesse, pois achava
que o bebê ia mamar e dormir” (F2.O1).
O fato do bequerer mamar a curtos espaços de tempo trouxe insegurança
quanto à quantidade de leite: “A mãe disse que achava que tinha pouco leite, porque
ela continuava mamando de hora em hora, mas quando pesaram, ela tinha
aumentado bem de peso” (F2.O4). Na última visita, a mãe exclamou com
impaciência “... mas eu não tenho mais leite para dar para esta menina. Estou
dando leite a horas para ela. O que vou dar para ela?” (F2.E.M).
A família tentou dar bico seco para o bebê, mas este não aceitou. A mãe disse
“... não pega de jeito nenhum, já troquei, comprei, tem um estoque de bico. Cada um
que chega diz compra esse, compra aquele. Ela puxou por mim, eu não peguei bico”
(F2.E.M).
Observei que "todos tentavam consolá-la, dizendo que é normal algumas
dificuldades, mas a mãe não aceitava. O pai repetiu várias vezes que ela precisava
acalmar-se” (F2.O1).
Na percepção do pai, a mãe passava o nervosismo para o bebê, demonstrando
constrangimento com o comportamento da mãe.
Outra dificuldade referida pela mãe foi devido à descontinuidade do sono do
bebê e conseqüentemente dela. Disse que “o que a incomoda são as noites mal-
dormidas, apesar de estar conseguindo dormir um pouco durante o dia...” (F2.O3).
Estar muito tempo em casa, disponível para o bebê, também, foi difícil para a mãe,
que falou que “conta no calendário os dias, na expectativa de que passe logo esta
fase. Está sendo muito difícil para ela, não esperava que fosse assim, sente falta de
sair, tomar um ar. Diz que parece que o bebê suga ela inteira” (F2.O3).
42
Demonstra vontade de voltar a trabalhar logo, contando experiências de
outras mulheres, entre elas, a de sua chefe, que retornou ao trabalho em menos de
uma semana depois do parto, e que levava o bebê junto” (F2.O3).
Percebi na mãe o receio de não poder retomar a vida própria, anterior ao
bebê, ilustrada pelos comentários feitos por ela durante uma observação, contando a
história de uma amiga que “disse que depois que nasce o filho, a mulher nunca mais
vive para ela, só para os filhos” (F2.O1).
Na primeira visita a mãe relatou que o bebê estava dormindo na cama do
casal, pois ela sentia muito frio para levantar à noite. Orientei sobre os
inconvenientes e observei que, na segunda visita, o bebê estava dormindo no
bercinho.
Apesar das dificuldades relatadas pela família, eles foram acostumando-se à
mudança com o passar do tempo. A e disse, na última visita, que “... os primeiro
dois, três dias que foi difícil, depois eu peguei a rotina com a criança pequena. Por
enquanto tá bom, agora estou melhorando” (F2.E.M). A avó também relatou que “...
era um poço de desânimo quando ela chorava de cólica..., mas está passando.
Depois de 40 dias, , fica tudo bem melhor” (F2.E.A.).
Na segunda visita, observei que a mãe estava mais alegre e menos nervosa.
Ela disse que “... o leite veio e eles estavam contentes. Ela estava dormindo bem e o
mamilo tinha melhorado. Percebi que ela olhava o bebê com afeto e acariciava-a,
diferente da primeira visita” (F2.O2).
Apesar disso, ainda na última visita, percebi algumas dificuldades de
interação família-bebê, pois “ainda não se observa gestos de carinho da mãe, os
gestos parecem automáticos. O bebê ficou no colo do pai, mas começou a
choramingar e ele achou que não tinha jeito para pegar e deu o bebê para a avó”
(F2.O4).
Mesmo demonstrando estas dificuldades, o casal disse estar sentindo-se bem
como pais e que é uma boa experiência. A avó disse que “... estou meio perdida, mas
estou achando bom...eu estou meio destreinada, mas assim mesmo ela é minha
alegria, e me risada. Falo com ela, ela me conhece, risadinha
(F2.E.A).
43
A família relatou que, com o nascimento do bebê, surgiu a necessidade da
aquisição de alguns medicamentos, sendo que “... não sabem como os pobres cuidam
dos seus bebês, como compram as coisas necessárias, pois está difícil para eles, os
gastos com farmácia e médicos” (F2.O3).
Devido a estas dificuldades econômicas, também optaram por usar fraldas de
tecido, a partir da segunda semana de vida do bebê.
A família disse que não surgiram conflitos após o nascimento do bebê, porque
sempre deram-se bem. A mãe falou que
“... então quando tem problema a gente dialoga, conversa,
nós três, ele, eu e a mãe... então dificuldades assim, coisas
que aparecem, a gente resolveu. A não ser coisas que não
saibamos, aí a gente pergunta...” (F2.E.M).
Quanto ao relacionamento entre a mãe e o be, referindo-se ao aleitamento,
a mãe disse: “Nossa briga... é só essa a nossa encrenca” (F2.E.M).
Percebi dificuldades no vínculo através da manifestação da mãe, achando que
“o primeiro mês de vida do bebê vai ser sem graça, pois ele não reage” (F2.O1).
Em relação à participação do pai, também surgiu alguma divergência, como
mostra este diálogo entre a família. “Cuido um pouquinho às vezes, mas não tenho
muita prática” (F2.E.P). “Eu já falei pra ele, que tem que começar cuidar mais”
(F2.E.M.). “Quando ela chorava de cólica, no fim ele se arrancava para a cozinha,
deixava nós se virar” (F2.E.A.). “Três para cuidar também não” (F2.E.P). “Agora
ele está participando bem mais” (F2.E.M).
Na segunda visita, a mãe disse que “esta noite ia fazer ele ajudar, pois ela
não valia” (F2.O2).
A e e a avó disseram que o pai não ajuda muito por não ter jeito para pegar
o bebê. No entanto, o pai defendeu-se dizendo que “tem sempre feito o almoço”
(F2.O3).
Observei, também, que a avó havia feito alguma tentativa de passar a sua
experiência para a mãe. “A avó disse que ela nunca fez dieta e que havia dito isto
para a filha, mas havia muita conversa de comadre. A mãe disse que dentro de casa
também tinha conversa de comadre” (F2.O2). Frente às dificuldades demonstradas
pela mãe, a avó disse que sempre tinha dito como ia ser com um filho, mas a mãe
44
respondeu que “a mãe dizia assim, o dia que tu for mãe, tu vai saber como é difícil,
mas nunca me falou como é ter um filho” (F2.E.M).
Questionados sobre o tipo de ajuda que gostariam de ter recebido, a mãe falou
que “eu queria que alguém me dissesse que as coisas é assim. Alguma pessoa que
fosse mãe ... explicasse como é ter uma criança dentro de casa. Porque eu não tenho
experiência nenhuma, não sabia que iria ser assim...” (F2.E.M.).
A mãe enfatizou que essa orientação era o mais importante e foi o que
faltou a ela.
“Nos primeiros dias eu andava nervosa e tudo. Se tivesse
recebido as informações, eu tinha me preparado
psicologicamente, bem antes. Quando soube que era parto
normal, eu comecei preparar minha cabeça muito
tempo. Eu tinha medo, mas sabia que era uma hora que eu
tinha que passar, então na hora que começou a dar as
contrações, eu sabia que tinha que passar por aquilo. Então
me preparei antes. Se tivessem falado do problema do seio,
tinha me preparado. Agora eu fui pega de surpresa. Nasceu,
e começou tudo a complicar, comecei a desesperar”
(F2.E.M.).
A avó acredita que o importante é que o bebê tenha saúde, falou que “o
mamá não é problema. O problema seria se tivesse doença” (F2.E.A.).
O cuidado com a e e o bebê foi realizado principalmente pela avó, apesar
desta apresentar forte lombalgia por problemas na coluna. A mãe disse que se o
tivesse a avó, não sabe o que faria” (F2.O3).
Na última visita, a mãe relatou que trocava a fralda do bebê, mas ainda não
dava banho, só a avó.
Observei que a família utilizou medicamentos antiespasmódicos e analgésicos
com freqüência, quando o be por algum motivo choramingava.
Houve preocupações, por parte da mãe, quanto ao bebê ficar mal-acostumado
se embalado no colo, e também com a sua forma física, perguntando-me sobre o uso
de cinto abdominal.
A família também contou com o apoio de uma prima da mãe, que é auxiliar
de enfermagem e trabalha muito tempo em UTI Neonatal. A avó disse que “nos
primeiros dias, que não caía o umbiguinho, vinha dar banho, porque eu tinha medo
... Agora, de vez em quando, cada três dias, ela olha” (F2.E.A).
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Esta prima deu várias orientações contraditórias às do serviço de saúde, com
as quais algumas vezes a avó discordou, demonstrando insatisfação.
“A prima falou que deveriam dar um chá doce de
mamadeira, para enganar o bebê até o leite descer...
perguntou se eles haviam comprado mamadeira e chamou
atenção por não terem comprado. A avó insistiu no uso da
colher e ela achou absurdo dar de colher à noite, disse que
não era para dar muita bola para as ´psicologias`, pois o
peito dela iria ´rebentar`". (F2.O1).
A avó perguntou-me sobre os chás, gostaria de dar de colher para o bebê.
Quando falei sobre a inconveniência do açúcar, ela comentou que “... sempre deram
e nunca fez mal aos bebês. Comentaram que as crianças antigamente tinham menos
doenças, eram mais fortes” (F2.O1).
A prima disse que filhos dão muito trabalho e concordou com a e sobre
o querer mais filhos.
A mãe mostrou-se ambivalente em relação a ter outros filhos, “...disse que
não sabia se iam ter mais filhos, que o parto era muito dolorido...disse que no
próximo vai preparar-se melhor, que deve ser ruim um filho só, sem irmãos, ficam
muito mimados” (F2.O2).
A aacredita que a diversidade de palpites que chegam à família é um fator
negativo, comentou que cada vez que a mãe vinha da rua, trazia uma nova
conversa de comadre e que isto é ruim, confunde a cabeça, com tantas informações”
(F2.O3).
A família trouxe folhetos educativos do hospital, mas só leu após o meu
incentivo, achando várias informações que consideraram importantes. A mãe disse
que “este manual deveriam ter dado antes do nascimento. Não adianta depois que
nasce. Porque daí a gente já está preparado” (F2.E.M.).
A avó concordou dizendo que “se ela tivesse tido orientações antes, teria
evitado muita coisa” (F2.E.A).
Observei que esta família não recebeu orientações sobre o puerpério, vacinas,
preparo dos seios e da necessidade de revisão ginecológica. “A mãe criticou o
serviço de saúde por não tê-la orientado para fazer a vacina contra Rubéola quando
esteve lá, vacinando o bebê... criticou o obstetra, também, por não ter falado sobre a
vacina anti-tetânica” (F2.O3).
46
Os profissionais de saúde tamm dão orientações divergentes, que
confundem a família. A mãe relatou que
“quando eu fui tomar a injeção da rubéola, comecei a
conversar, daí falei do problema do seio. Daí elas me
mandaram passar mel e disseram que os médicos não falam
direito. Porque tem uma pomada que a gente passa no seio
uns dias antes, prepara o seio para não ter esse problema de
dor... Saí de lá indignada...” (F2.E.M).
Encontrei presente nesta família algumas crendices populares, como os
cuidados no dia, o uso da faixa umbilical, o receio de lavar o cabelo e a privação
de alguns tipos de alimentos. Perguntei porque achavam o dia perigoso, e eles
responderam que não sabem, todo mundo diz que é.
4.1.3 Família Três Família Céu Azul
A família justificou a escolha deste nome da seguinte forma: “Esses dias
estava em casa, pensando para mim, é tão grande, é tão imenso o que a gente sente
por um filho, que não tem como explicar. E o céu é imenso” (F3.E.M).
Contatei com esta família no Hospital de Caridade. Eles relutaram um pouco,
mas aceitaram participar, ressaltando que seria difícil a participação do pai devido ao
seu tipo de trabalho.
4.1.3.1 Características da família
O casal morava sozinho em um bairro um pouco distante do Centro, porém,
após o nascimento do bebê, mudaram-se temporariamente para o apartamento dos
avós maternos, pois acharam mais prático do que a avó ir para a casa deles. É um
apartamento amplo e central, onde mora também o irmão mais novo da mãe.
A mãe tem 30 anos, curso superior em Pedagogia e trabalha como auxiliar
administrativo em uma empresa. A sua renda é de 2 e 1/2 salários nimos. Pretende
abrir uma creche com uma amiga daqui a algum tempo. Passou bem durante a
gravidez, somente teve alguns epidios hipertensivos no final da gestação e achou
que foi porque incomodou-se no trabalho.
O pai é industrialista, trabalha em uma padaria que é da sua família, tem 23
anos e uma renda de três e 1/2 salários mínimos. Ele estuda à noite na Universidade e
trabalha o dia inteiro de sábado, o que dificultou sua participação na pesquisa. Ele
47
o interrompeu o trabalho após o nascimento do bebê. Por rias vezes,
desmarcamos as visitas e a entrevista devido à incompatibilidade de horários e a
presença de muitas pessoas visitando a família nos feriados e fins-de-semana.
O be é um menino, nasceu com 3.200 g, de parto cesáreo. A mãe não
queria fazer cesariana, mas o médico disse que o líquido amniótico estava meconiado
e não quis esperar a evolução do parto normal. A mãe tinha medo da recuperação,
mas está achando boa, não teve problemas.
A família fez o pré-natal e o parto em nível privado
1
. A gravidez o foi
planejada, a mãe estava fazendo uso de anticoncepcional oral. No entanto, a mãe
relata que, após passado o primeiro susto, o bebê foi muito esperado por todos. Disse
que o avô estava muito feliz, ligou para todo mundo para contar sobre o bebê e que o
pai começou a manifestar-se quando a barriga começou a crescer.
O casal não gosta da casa onde mora e pretendem mudar-se logo para uma
casa construída no terreno dos avós paternos, até que possam construir em outro
lugar. A família pretendia ficar na casa dos avós maternos até cair o coto umbilical,
mas acabaram ficando 33 dias.
4.1.3.2 A enfermeira interagindo com a família
Visitei a família no 4º, 11º, 14º e 41º dias após o nascimento, sempre na casa
dos avós maternos. Em três visitas, permanecemos na sala e na última na cozinha.
Não conheci a casa do casal e nem as outras depenncias da casa dos avós, mas a
e disse que o bebê dormia no carrinho ou na cama com ela.
O pai participou da entrevista, no último encontro, em um domingo à
tarde, embora eu tenha tentado marcar diversos horários diferentes para que ele
estivesse presente, mas a mãe não achou possível. A partir do 4º dia, o pai passou a
dormir na casa do casal, sozinho, para poder descansar melhor. Não pude observar a
relação do pai com o bebê, pois na única visita em que ele estava presente, o bebê
estava dormindo no quarto com os avós.
Durante a entrevista, os pais demonstraram bastante emoção ao falar no filho,
a mãe chorou várias vezes. Reforcei a normalidade destes sentimentos. Orientei
1
Este tipo de atendimento refere-se ao sistema em que o cliente paga diretamente ao médico.
48
sobre o uso de chás e água, o sono do bebê e a regurgitação, questionamentos feitos
pela mãe. Como esta família era bem informada, minha participação foi mais no
sentido de reforçar cuidados positivos e dizer que os sentimentos que estavam tendo
eram normais, próprios da etapa que estavam vivenciando.
Com esta família, não consegui sentir-me à vontade, as visitas foram bastante
formais e não conseguimos estabelecer um vínculo.
Esclareci à mãe sobre a entrevista, pois ela preocupou-se com o tipo de
pergunta que eu iria fazer.
4.1.3.3 As vivências da família
O casal disse que foram para a casa dos avós porque precisavam de ajuda,
pois eles não tinham experiência nenhuma. A mãe disse “ter medo de ficar sozinha à
noite com o bebê... que por ele ser tão pequeno tem medo de pegar, de mexer”
(F3.O1).
Disseram que a chegada do bebê foi uma alegria enorme, o só para eles,
mas para todas as pessoas de seu relacionamento. A mãe falou que “todo mundo
ficou paparicando, pegando bastante” (F3.E.M). O pai disse que “todos queriam
saber como está o bebê(F3.E.P.).
Acreditam que a adaptação à chegada do bebê não foi difícil. A mãe disse que
“... a gente fica nervoso antes dele nascer. Ficamos
pensando, meu Deus, será que a gente vai conseguir se
adaptar? É bem fácil, bem como dizem: o instinto de pai e de
mãe funciona mesmo... eu pude perceber, agora, esta semana
que fui para casa, sem a e para estar junto, para trocar,
dar banho. Fácil, fácil, não é difícil” (F3.E.M).
A mãe relatou alguma dificuldade para realizar outras atividades, mas não
preocupa-se com isto, acha que a casa fica para depois, primeiro o be.
Na opinião do pai, falando sobre a adaptação
“...agora com o tempo a gente vai ver como é que vai ser,
que alguma coisa mudou. algumas coisas, é difícil de
explicar, é de dentro do coração que a gente sente diferente.
Pelas palavras assim é difícil traduzir (F3.E.P).
O pai falou sobre seu sentimento em relação a ser pai. “É uma coisa muito
boa, é uma alegria enorme. Saber que tem um filho que tem que cuidar. Tu vai lá,
49
antes de fazer uma coisa, você pensa, tem uma criança. Até no meu caso eu estou
pensando que penso antes no meu filho...” (F3.E.P).
No momento em que o pai falava sobre o seu sentimento, a mãe emocionou-
se e começou a chorar, depois falou “eu sou uma manteiga derretida. Qualquer
coisinha estou chorando, às vezes, estou amamentando ele, e nem acredito, choro,
daí ele me olha...” (F3.E.M).
Falaram para ela que poderia ser depressão, mas ela disse que “a gente sabe
quando é depressão. Não é, não tem nada a ver com depressão, é emoção mesmo,
era uma coisa que a gente esperou tanto...” (F3.E.M).
A mãe também relatou que “...agora entendia o que era ser coruja, que
sempre quis ser mãe e não cansava de olhar o bebê” (F3.O1).
Na primeira visita, a mãe falou “... sentir-se estranha sem a barriga, de poder
pegar o bebê com a mão” (F3.O1).
A mãe relatou o sentir muita mudança na rotina, apenas sente mais
responsabilidade. “Disse que eles não costumavam sair muito, que os amigos todos
tem filhos, então não estão sentindo muita diferença” (F3.O3).
No entanto, a mudança ficou explícita nesta fala da mãe sobre como está
sentindo-se:
“A gente se cobra muito mais... a gente pensa duas vezes
antes de qualquer coisa, de ir em algum lugar, vê se para
ir ou não. Pensamos nele, antes tinha nós dois, ir ou não ir
não tinha problema nenhum. Agora tem ele, tudo em função
dele, não sei se é normal por ser o primeiro filho, porque
está no início. A gente fica bitolada a ele” (F3.E.M).
A adisse que se sente renovada: “...dizem que ela ficou avó, mais velha,
ela diz que renovou-se, começou de novo” (F3.O1), “...disse que por ela teria tido
mais filhos, ela perdeu uma menina que faleceu após o nascimento” (F3.O3).
Na terceira visita, a mãe disse que planejava voltar para casa na outra semana,
pois o pai estava perguntando quando voltariam. No entanto, acabaram ficando
mais, cerca de 15 dias. No dia desta visita, 14º dia após o nascimento, a mãe trocou o
bebê pela primeira vez e disse que ...sentiu-se muito bem, mais segura, mais mãe”
(F3.O3). Também justificou o fato de ficar mais tempo na casa da mãe devido à
cesariana, “pois se ficar sozinha terá que fazer o serviço e o almoço, e não quer
fazer esforço” (F3.O2).
50
A e referiu ter medo de manusear o coto umbilical e demonstrou ser algo
que a assustava. Igualmente, assustou-se com o vômito do bebê. “A mãe disse que o
bebê vomitou e ela estava sozinha no quarto, assustou-se e gritou pela mãe”
(F3.O2).
O primeiro banho de imersão do bebê foi dado pela avó, com a ajuda da mãe.
A presença da avó foi um fator de segurança, sendo colocado pela mãe como
necessidade importante.
“Eu queria a mãe perto de mim o tempo inteiro... Eu tinha
medo de dar mamá e ele se afogar, dele dormir e se afogar e
eu não ouvir ... No início eu queria a mãe perto de mim,
qualquer coisinha eu chamava ela, não conseguia fazer as
coisas sozinha” (F3.E.M).
Na última visita, ainda, persistiam estes medos. A mãe disse “qualquer
coisinha pulo da cama, o pai diz: calma, não é assim. Sabe, a gente fica com aquele
medo, que vai acontecer alguma coisa com ele, e a gente não ouve, a gente fica com
aquele receio de noite...” (F3.E.M).
Relataram necessidades financeiras. A mãe falou que ...a gente sabe que
criar ele não é fácil, é pediatra, é remédio todo mês. Esta semana eu fiz plano de
saúde para nós. Até então foi tudo particular... é difícil para dois, imagina para
mais uma criança” (F3.E.M).
Os pais m expectativa de poder fazer o melhor pelo filho. Tu tens que dar
do bom e do melhor para ele, pelo menos vamos tentar” (F3.E.M).
O casal afirmou não terem tido nenhum tipo de conflito após o nascimento do
bebê. O pai disse que “a relação mudou com a vinda do nenê, mudou um pouquinho,
mas praticamente escomo era antes” (F3.E.P).
A e referiu-se ao livro que leu durante a gestação, dizendo que
“...naquele livro fala muito isso. O pai se sente excluído,
porque a atenção é toda para o nenê. Procuro dar atenção
para os dois, não esquecer o marido, os amigos, a família
mais próxima. Pode se excluir em função de uma criança,
tem que sabe acompanhar tudo direitinho, levar a vida que a
gente levava antes. Agora com o nenê, tem que saber
encaixar com a nossa vida, claro, com algumas
modificações, mas não de isolar-se” (F3.E.M).
51
Quanto ao relacionamento mãe-bebê, ela disse rindo “acho que ele me
ama....ele resmungava, eu tinha ido tomar banho. Daí eu vim aqui na sala e peguei
ele, pronto, parou. sente o cheiro da mãe, agora ele conhece a voz,...até o pai
ele já conhece...” (F3.E.M).
A e falou sobre a relação do pai com o bebê. “Todas as tardes ele sai do
serviço e vem para casa uma olhadinha... beija o nenê e esquece a mulher”
(F3.E.M).
O pai reforçou que
“eu estou gostando muito dessa criança que veio... mudou,
mudou bastante coisa na minha vida... não tem muitas
palavras a dizer.... Às vezes, eu pego ele no colo, ele uma
resmungada, será que vai chorar, vai querer a mãe dele.
eu insisto mais um pouco, embalo ele, beijo ele, daí ele
acalma, às vezes dorme, às vezes não, chora, é mamá. É uma
coisa que ainda eu não posso fazer. Mais tarde, quando tiver
a mamadeira, daí ele vai aceitar a mamadeira do pai dele”
(F3.E.P).
O cuidado com a mãe e o be foi feito pela avó e, após a família retornar
para casa, a mãe diz que cuida do bebê sozinha. Quanto à ajuda do pai, a mãe falou
“é, de noite o pai ajuda, ele está pesado... pego no colo dorme que nem um anjo,
bota no bercinho, resmunga, então tu cansa... às vezes eu procuro nem acordar o
pai, porque no outro dia ele trabalha, eu não” (F3.E.M).
A mãe disse que , às vezes, consegue descansar durante o dia e que é bem
cansativo o cuidado ao be. “É bem puxado, agora no início, não vou dizer, porque
é, é puxado, para cansar também, mas tem seu lado compensador e bastante...
(F3.E.M).
A avó aceitou bem as orientações profissionais dadas no hospital sobre
cuidados com o bebê e a puérpera, disse que as coisas mudam com o tempo, é bom
informar-se... é tudo diferente, mais simples”(F3.O1). Porém, resistiu um pouco na
questão de dar ou o chás para o bebê. A e disse que levou no pediatra e ele
disse que não era para darmos nada para o bebê, o peito. Ficamos com pena,
coitadinho, será que ele não fica com sede?” (F3.O2) A avó então disse que sempre
deu para os filhos dela e que a bisavó havia perguntado pelo telefone se
estavam dando chá” (F3.O2).
52
A família pretende deixar o bebê com a avó, quando a mãe voltar a trabalhar,
porém, o avô falou que a avó vai cuidar do bebê para a e trabalhar, mas que a
responsabilidade é dos pais, ela vai ser só a babá” (F3.O3).
A mãe falou que não precisaram de nenhuma ajuda além da avó, que não
trabalha fora e pode ajudar. Acharam que foram muito bem atendidos pelos dicos
e hospital.
A família sente-se apoiada pelo pediatra, que lhes falou para ligarem a
qualquer hora que precisassem. A mãe disse que “...ele vai orientar mais alguma
coisa, tudo o que a gente tem que fazer...ele vai orientando aos poucos (F3.E.M).
Observei, na primeira visita, que o bebê estava um pouco ictérico, mas a
família já havia feito contato com o pediatra e este havia examinado o bebê,
orientando para que o deixassem na claridade.
A mãe buscou informar-se sobre a fase que estavam passando através da
literatura e também conversando com outras pessoas, disse que até agora não tiveram
dificuldades maiores para saber se faltou alguma orientação, somente passaram por
um episódio em que não sabiam o que fazer com o bebê.
“Teve uma noite que ele chorou bastante... deu um nervoso,
era o segundo dia que estava em casa, só estava nós três. Ele
chorava, chorava, berrava... daí ele disse para ligar para o
pediatra e explicar o que estava acontecendo... daí era onze e
meia da noite eu liguei para o pediatra. Daí ele mandou dar
umas gotinhas e se não passasse era para ligar para ele.
Passou era duas e meia ... nessas horas a gente sente
dificuldade. Não que não tivesse noção, porque a gente sabe
que criança quando chora e se chora é porque tem alguma
coisa...” (F3.E.M).
Outra dúvida relatada foi quanto ao sono do bebê. Acharam que “ele dormia
muito e tentavam acordá-lo, mas ele ficava bravo, pensaram que pudesse ser devido
ao remédio espasmo-luftal (F3.O2). À noite, o bebê dormia numa cama de casal
com a mãe, enquanto eles estavam na casa dos avós. Devido a isso, a mãe não
dormia direito, pois não se mexia com medo de machucar o bebê, chegando a ficar
doída” (F3.O3).
A mãe relatou que no hospital deram leite em Nan para o bebê, pois
acharam que ele estava com fome e que ela não tinha colostro. Ela disse que foi uma
decisão da ´enfermeira`(F3.O1).
53
Observei, através do relato da mãe, que o avô foi bem participativo. Ela disse
que “o avô cuida do bebê, fica tempo com ele no colo. Foi junto registrar o bebê e
não gostou por não precisar a assinatura dele no documento” (F3.O2). Ela também
disse que “o avô está muito feliz, levanta de noite para olhar o bebê” (F3.O3).
Algumas crendices foram relatadas pela rede de apoio, como quando a
empregada disse que quando o vômito é coalhado é porque o bebê está crescendo.
A mãe achou graça da crendice” (F3.O2).
A e disse que “receberam visitas a toda hora e que achou muito cansativo,
o telefone não parava de tocar e ela não conseguia descansar” (F3O3).
A expectativa da mãe é de ter mais um filho daqui a uns 4 anos.
A mãe quis deixar uma mensagem para outros pais. “Só que amem os filhos...
se tem cuide com carinho, com amor, é teu pedacinho que está ali crescendo...
(F3.E.M).
4.1.4 Família Quatro Família Maravilhoso
Esta família descreveu o primeiro mês com o be como maravilhoso,
escolhendo esta palavra para defini-lo. A mãe relatou “se eu soubesse que era assim,
que não era difícil ter um nenezinho, tinha feito antes, nem tinha demorado cinco
anos, já teria feito no primeiro ano” (F4.E.M).
Conversei com esta falia no Hospital Santa Terezinha, estavam a mãe, o
bebê e uma tia. A mãe demorou um pouco para entender a minha proposta e ficou
um pouco insegura, mas a tia entendeu e explicou para ela. Ela aceitou e
combinamos a primeira visita, apesar de demonstrar preocupação em me receber
devido às condições da casa onde reside.
4.1.4.1 Características da família
A família mora em um porão de alvenaria, com duas peças e um banheiro,
bastante simples e úmido. O acesso à casa é difícil, nos fundos de outra casa, por
uma estradinha de terra, na descida. A casa é muito limpa e um pouco desarrumada
devido ao pouco espaço. Na sala, que também é cozinha tem uma cama de solteiro.
O casal queixou-se, em várias visitas, das condições da casa. Disseram que é muito
úmida e não conseguem comprar tinta para pintá-la. Gostariam de se mudar, mas não
54
tem para onde ir. A mãe precisa deixar o bebê com outras pessoas para poder lavar
roupa, que é fora, nos fundos da casa.
A mãe é empregada dostica e trabalhou até a última semana de gestação.
Disse que lavou vidros, móveis e paredes antes de sair de laudo, para deixar tudo em
ordem. Tem 26 anos e recebe um salário mínimo. Percebi que não conhecia os seus
Direitos Trabalhistas em relação à gestação. Estudou até a série do grau. Fez o
pré-natal na Unidade Básica de Saúde do seu bairro e a cirurgia foi feita pelo obstetra
de plantão. Ela disse que não teve dilatação e que "judiaram" bastante dela antes de
resolverem fazer a cesariana, mas por várias vezes ela repetiu que já esqueceu da dor
que sentiu.
O pai tem 25 anos, é auxiliar de instria em uma empresa montadora de
ônibus e recebe 2 salários mínimos. Gostaria de sair do emprego, pois onde trabalha
tem muita poeira e ele acredita que está fazendo mal para a sua saúde, além disso,
chega em casa coberto de poeira, com cheiro forte, não pode chegar perto do bebê
antes de tomar banho e trocar toda roupa. Disse que tinha voltado a estudar no SESI,
mas parou porque ficou envergonhado por não enxergar no quadro, e não tinha
dinheiro para comprar o óculos. Tirou licença paternidade por cinco dias. Ele não
esteve presente somente na terceira visita e sempre participou da conversa.
O bebê é uma menina e o casal afirma que nasceu uns dez dias antes do dia
em que esperavam, mas é saudável. Disseram que foi uma gravidez planejada e que
queriam muito um filho.
4.1.4.2 A enfermeira interagindo com a família
Visitei-os no 4º, 7º, 17º e 31º dia de vida do bebê. Eles sempre receberam-me
muito bem, demonstrando satisfação com as minhas visitas. Preocuparam-se sobre a
gravação, pois acharam que seria com imagens, mas como expliquei que seria só voz
ficaram tranilos. Convidaram-me para visi-los não para pesquisar, mas para
-los.
A mãe demonstrou várias vezes preocupação sobre a minha percepção da sua
casa, pelo fato de ser bastante simples.
Tendo o cuidado de não entrar em conflito com suas crenças e mitos, orientei
sobre: o ingurgitamento mamário e a retirada manual do leite, a adaptação do bebê ao
55
ambiente externo, respiração, eliminações e alimentação do bebê, inconvenientes do
bebê dormir na cama do casal, revisão ginecológica, vacinas, crenças sobre o sétimo
dia, cuidados com o coto umbilical, uso de pomada e lavagem de fraldas para
prevenir assaduras, o recomendações do uso de talco, ingurgitamento mamário do
bebê e cuidados, o que fazer quando o bebê engasga-se.
A família disse que o sentiu necessidade de orientações, porque sempre
quando tinha que perguntar alguma coisa, a senhora vinha. Eu perguntava para a
senhora...(F4.E.M).
Com o consentimento da mãe, examinei a sutura da cesariana, e orientei sobre
sinais de infecção e cuidados. Conversamos sobre a necessidade de limitar o serviço
doméstico para poder recuperar-se bem da cirurgia, pois a e tinha uma
preocupação excessiva com a limpeza da casa. Também conversamos sobre a relação
com o pai do bebê e a importância de dar atenção a ele também e manter algumas
atividades que faziam antes.
Reforcei a importância da revisão ginecológica e o vínculo com a Unidade de
Saúde. Também ressaltei a relação e o vínculo que eles tem com o bebê, dizendo que
afeto faz bem, que não deixa o bebê mimado, pois foi uma preocupação que eles
manifestaram.
Orientei a mãe sobre seus direitos trabalhistas, pois ela desconhecia-os.
Também orientei a leitura dos folhetos educativos que trouxeram do hospital.
A família falou-me sobre suas dificuldades financeiras e seus planos para o
futuro.
Apesar de ser a família com menor condição econômica, foi a que mais
manifestou sua satisfação com o nascimento do bebê.
4.1.4.3 Vivências da família
O casal relatou que ficaram muito felizes com a chegada do bebê, que foi
tudo muito tranqüilo, mas que deu um pouquinho de trabalho. A mãe disse que fica
diferente, porque antes era acostumada sozinha, agora com o bebê, eu até nem
acredito que tenho ela... aqui sozinha, um pouquinho de trabalhinho de noite,
para a mãe dela, eu gosto, já se acostumei com ela” (F4.E.M).
56
O pai acha que a vida deles "mudou para melhor. Agora com esta 'coisinha'
em casa, toda hora eles querem pegar, olhar, beijar. Está achando fácil porque o
bebê não é chorão. Achava que ia ter mais choro em casa” (F4.O2).
Observei que havia muitas bonecas e bichos de pelúcia em cima da cama e
perguntei se eram do bebê. A mãe disse que não, que eram dela, mas que agora não
precisava mais, tinha uma boneca de verdade e mais bonita” (F4.O1). Havia um
bom vínculo mãe-bebê, "ela o beija e chama de princesinha. Disse que à noite fica
um pouco brava quando ela não dorme, mas em seguida a beija muito” (F4.O3).
A família recebeu a ajuda de uma cunhada, que veio do interior e ficou na
primeira semana com eles. Na segunda semana, a avó materna também passou
alguns dias com eles, mas a mãe disse que “ela é doente, então deixou-a mais para
segurar o bebê”( F4.O3).
Na primeira visita, a mãe relatou que
“havia ficado sem trocar o bebê da noite anterior até as 10
horas do outro dia, até que veio a cunhada, pois tinha medo
de trocar por causa do coto umbilical. A cunhada, então,
disse que iria ficar junto e faria ela trocar o bebê para
perder o medo” (F4.O1).
Na segunda visita, a mãe ainda estava insegura e disse que
"o bebê estava com cocô, mas não trocava porque tinha
medo de trocar a faixa. Disse que todo mundo diz que tem
que usar a faixa e ela tem medo de deixar sem, por causa do
grampo. Ofereci-me para ajudá-la, mas ela disse que havia
combinado com uma tia e que ela iria incomodar-se
(F4.O2).
Na terceira visita, ainda estavam vindo as tias para dar banho no bebê, porque
ela disse que “um dia ela foi dar, mas demorou muito e o bebê ficou todo roxinho”
(F4.O3).
O pai disse que sempre tem um para cuidar e a e complementou dizendo
que se eu precisar sair eu posso deixar na avó, deixar na sogra... eles cuidam, por
que é rapidinho, sempre querem a menina ali, eu deixo um pouco...” (F4.E.M).
A mãe contou que foram visitar parentes outro dia e que "não gosta que a
sobrinha de cinco anos pegue o bebê, porque ela aperta ele e passa a mão na
cabeça. Falou para a sobrinha que se ela machucasse o bebê, ela iria sangrá-
la”(F4.O3).
57
Sobre o cuidado com ela ppria, a mãe relatou que
“falaram para não erguer peso, ficar na cama. que o
era para ficar na cama. A mulher que veio fazer o
curativo, ela disse que era para caminhar, para não criar
gases na barriga. Eu não fiquei na cama, nem no primeiro
dia que vim. Eu fui fazer o serviço da casa. Não tinha
ninguém para fazer! E quando a minha cunhada também
tinha que me ajudar, eu ficava com vergonha, pagar eu não
podia pagar, então eu ajudava, porque ficava com vergonha.
Ela deixou as crianças largadas, também tem que trabalhar.
Depois que ela foi embora, sabe de uma coisa, de erguer
peso ou não? Eu erguia, tinha que fazer o serviço” (F4.E.M).
Observei que “ela acredita que o frio da geladeira possa fazer-lhe mal, pois
não chega muito perto” (F4.O3).
Na segunda visita, a mãe disse que “havia feito curativo na Unidade de
saúde, pois tinha secreção em um ponto e achava que um deles tinha aberto. Disse
que marcou revisão com o médico só no final do mês, nos 40 dias” (F4.O2).
Na terceira visita, a e havia feito revisão com a enfermeira da UBS,
retirado os pontos, feito as vacinas no bebê e nela. Falou-me sobre as orientações
recebidas da enfermeira. “Acredita que se não se cuidar muito no primeiro não
precisacuidar-se nos outros filhos” (F4.O3). Observei que havia um bom nculo
com a Unidade de saúde, a mãe relatou que “a enfermeira atendeu-a e conversou
bastante com ela” (F4.O4).
Observei que a e preocupava-se bastante com o serviço da casa, disse que
“andava cansada, que lavou vidros, guarda-roupa, armários, geladeira...”
(F4.O3). Disse também que tem muita roupa por causa do bebê e que o pai não ajuda
muito, fica com o bebê à noite, quando chega do serviço.
Em todas as observações, sempre tinha uma ou mais pessoas visitando a
família e a mãe relatou que “está zonza de não dormir, que qualquer resmungo do
bebê ela está acordada, que antes tinha um sono pesado e agora acorda por
qualquer coisa. Disse que não descansa durante o dia porque sempre tem visita
(F4.O2).
Falando sobre seu sentimento como pai, ele disse “estou nas nuvens, bastante
feliz. O que eu puder dar para ela, vou conseguir dar para ela, é a única” (F4.E.P).
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O casal disse que a maior necessidade que sentiram com o nascimento do
bebê foi financeira, devido aos gastos com remédios. Como ela nasceu antes do
prazo previsto, eles estavam sem dinheiro no momento. O pai falou que
“no fim do mês, nós calculava, depois do dia 20, recebo vale.
Daí o cara tem dinheiro. Ou no final do mês, o cara
recebe salário. tem dinheiro também. que ela nasceu
antes e daí apertou bastante, e não tem para quem pegar
dinheiro, não tem isso” (F4.E.P.).
A mãe relatou, na primeira visita, que estava com 'caroços' no seio e que
estava tomando chá de funcho para o leite descer”(F4.O1). Na segunda visita, ela
também queixou-se que "o seio estava muito cheio e dolorido, dizendo que iria dar
de mamar para outro bebê. Não havia sido orientada sobre a retirada manual do
leite” (F4.O2). Apesar da orientação do hospital que é „Amigo da Criança‟, a família
estava tentando fazer com que o bebê chupasse o bico seco.
Observei que a mãe "assusta-se com pequenas reações do bebê, como
tremores. Ela também colocou o bebê para dormir na cama dela por medo que ele
vomite” (F4.O1). Contou-me que
"assustou-se outro dia, pois deixou o bebê na cama para ir
tomar banho e quando voltou ele estava todo vomitado.
Pensou que poderia morrer e agora cuida mais, põe um
travesseiro nas costas para ele não virar-se. Enquanto
conversávamos, o bebê engasgou-se e ela assustou-se e
ergueu-o. Disse que tem muito medo quando ele se
engasga”(F4.O3).
O pai brincou dizendo "que se o bebê chorar à noite, dará umas palmadas
nele. A mãe disse que se ele bater no bebê, 'atora' os dedos dele, depois
complementou dizendo que ele não mata nem barata, nunca bateu nela" (F4.O1).
A família tem sua forma própria de lidar com os conflitos, a mãe disse que
“nós nunca brigamos, porque assim quando eu estou brava, ele fica quieto. Ele
nunca briga comigo, sou sempre eu que brigo. Eu canso de falar sozinha e paro...
tem dias que a gente está nos nervos, eu digo às vezes para ele, ele fica quieto...”
(F4.E.M). Observei que a pouca ajuda do pai no serviço doméstico é causa de
irritação para ela, dizendo que “o pai não ajuda e ela fica com vontade de bater
nele” (F4.O1).
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O pai disse que não cuida mais do bebê porque saio de manhã e volto às
6, às vezes, às oito, às vezes às 10. Hoje era para ficar até às 10, não fiquei”
(F4.E.P).
Eles acreditam que a relão deles está melhor do que antes, a mãe disse que
eu e ele nunca brigamos, porque senão nem tinha bebê... senão não adianta, porque
tem pai e mãe que fazem filho, depois deixa jogado, ficam brigando, o nenê fica
rejeitado” (F4.E.M).
A e contou-me que
"outro dia, o pai estava bicudo porque queria ir em um
aniversário e ela dizia que tinha muito serviço e não queria
ir. resolveu deixar tudo e sair com ele e o bebê. Disse que
antes não tinha tempo porque trabalhava fora e agora não
tem tempo porque tem que cuidar do bebê” (F4.O3).
A mãe disse, na última visita, que agora está se entendendo bem com a filha,
que
“já sei trocar, consigo dar banho, ela está grandinha,
peguei prática. Antes, no começo, meu Deus, morria de medo
de trocar, tudo era sufoco. Ás vezes tinha que chamar a tia
para trocar, porque ela era molinha. Depois, um dia, eu
precisei que viessem trocar e não vinham. Sabe, Deus vai me
ajudar, eu mesmo vou trocar a minha filha. Eu não pedi para
ninguém para fazer, é a minha filha, ...vou me virar. Eu me
virei sozinha” (F4.E.M).
O pai também disse que “eu olho ela trocar, eu fico de olho, porque o dia
que precisar trocar eu já sei” (F4.E.P).
As diversas reações e reflexos do bebê são interpretados pela mãe à sua
maneira. Ao perceber o reflexo de preensão, a mãe disse ...ela agarra nas minhas
mãos, ela não é burra... agarram, ela tem um medo de cair, será porque ela tem
medo quando coloco na banheira?” (F4.E.M). Os espasmos musculares fizeram a
e falar que de tanto olhar e beijar o bebê, acha que está colocando quebrante
nele, pois ele puxa a boca e faz caretas” (F4.O4).
Na segunda visita, que foi no sétimo dia de vida do bebê,
"a mãe recebeu-me dizendo para entrar e fechar logo a
porta, porque era o sétimo dia e o bebê não podia pegar
vento. Não tirou o bebê do quarto durante toda visita. Disse
que não sabia porque que o timo dia era perigoso, mas
todo mundo diz que é e o pai dela sempre cuidou deles no
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sétimo dia e ela ia cuidar, pois tinha esta filha. Quando o
pai chegou ela mandou ele olhar o bebê e ficar com ele no
quarto, pois podia vomitar. Ela recém havia olhado, mas
insistiu para que ele fosse” (F4.O2).
Na terceira visita, a mãe disse que "o bebê estava com uns 'caroços' no peito
e pediu-me para olhar. Ela disse que o pediatra falou para não apertar, mas a avó
disse que se não apertar ela não vai ter bico depois. Disse que as pessoas deixam ela
tonta com todas as coisas que dizem” (F4.O3).
Na última visita, o casal relatou que
"o bebê esteve gripado e o levaram na Unidade de saúde
para consultar com a pediatra. Fizeram nebulização toda
semana e usaram descongestionante nasal. O pai precisou
faltar ao serviço para levar o bebê ao médico e comprar
remédios. A pediatra solicitou um RX, pois a mãe disse que o
bebê vomitava muito. O RX revelou um pouco de refluxo
gastroesofágico e os pais ficaram preocupados com a
compra do remédio, pois custa caro” (F4.O4).
O casal demonstrou preocupação em relação a necessidades que surgirão,
como roupas e leite. Disseram que não poderão comprar porque a mãe parando de
trabalhar ele não poderá pagar tudo sozinho. A mãe disse que “...não vou deixar o
bebê com ninguém, porque não cuidam que nem a gente... Agora se eu voltar a
trabalhar..., se a patroa não quer mais, melhor para mim, se ela me querer vou dar
os trinta dias” (F4.E.M). "Também não conseguiram comprar a cadeirinha para por
no carro e não sabem como vão viajar, pois podem ser multados" (F4.O4).
A família disse que o sentiu necessidade de orientações, porque sempre
quando tinha que perguntar alguma coisa, a senhora vinha. Eu perguntava para a
senhora...(F4.E.M).
Apesar desta fala da mãe, observei que havia inúmeras pessoas dando
opiniões para a família e que estas, às vezes, eram seguidas e outras vezes não, e que
as minhas orientações e também as de outros profissionais de saúde eram analisadas
com o mesmo crédito que as orientações leigas. Uma troca do bebê, feita pela mãe e
uma tia, observada na segunda visita, ilustra este fato:
“Eu falei que agora não usavam mais álcool iodado, mas sim
este remédio azul (corante duplo) que colocaram no hospital,
e que não precisava usar mais nada. A mãe disse que ia usar
graxa provada e elas colocaram. No curativo anterior, a
61
cunhada tinha colocado azeite. A mãe disse estar confusa,
que cada pessoa mandava colocar algo diferente... Disse que
no hospital falaram para não usar nada, mas os parentes
dizem para usar e ela quer que caia logo aquilo, que não
gosta nem de olhar. Colocaram a graxa e uma gase. Em
seguida, enrolaram com uma faixa” (F4.O2).
Esta mesma tia
falou para dar uma gota de graxa provada com o chá, mas
a mãe disse que tinha um cheiro horrível e que não iria dar.
Também a tia enrolou o bebê com os braços para dentro,
bem firme, dizendo que era bom para o “umbigo”, mas após
ela ir embora a mãe desenrolou dizendo que o bebê não
gostava de ficar preso” (F4.O2).
O pai falou que as pessoas assustaram muito a e, principalmente em
relação ao parto. Ele acha que não deveriam fazer isso. Ela falou
“fui apavorada aquele dia, começou me dar as dorzinha,
estava tão assustada! De tanto que falaram. Já ganhei a
menina e nem sei que dor era, que falavam que era tanta dor,
que subia pelas paredes. Estava apavorada antes de ganhar
o nenê, queria ter ganhado o nenê. Eu morria de medo, de
tanto que assustavam, tudo parente” (F4.E.M).
A mãe disse que nunca conversou com a equipe de saúde da Unidade sica
sobre estes medos e que gostaria de ter participado do grupo de gestantes e do
Planejamento Familiar, mas não pôde porque trabalhava. Eu gostaria de ter ido, a
gente aprende. Até ensinavam como é que tem que fazer com o nenê e tudo. Eu não
podia ir nenhuma vez, porque não tinha hora para chegar em casa, era noite
(F4.E.M).
No hospital, também, a mãe disse que não recebeu orientações sobre o bebê,
falou que eles falaram que era para levar com 15 dias ao Posto. Nem deu 15 dias,
nós levamos ao Posto para fazer a vacina, e tudo. isso de cuidado. Ninguém me
falou o que tinha que fazer. Acho que pensaram que eu sabia tudo” (F4.E.M). Ela
estava orientada também para retirar os pontos em dez dias e fazer a vacina contra
Rubéola (F4.O1). A mãe relatou que "ia pedir para alguém levar o bebê para
vacinar porque não tem coragem, ela é muito pequenina” (F4.O1).
62
A mãe explicou ao pai que "aquilo que fizeram no hospital quando
colocaram o do bebê no papel, não era o teste do pezinho e que eles precisavam
fazê-lo” (F4.O1).
Observei que eles haviam trazido folhetos educativos do hospital e perguntei
o que acharam. A mãe disse que
“ajudou bastante. Ali diz que não pode passar talco, perfume
no nenê e eu não sabia. Secar bem as dobrinhas do nenê...
Até lavar a roupa com sabonete, nunca ia lavar com isso. Diz
também que era para colocar uma colher de vinagre branco.
Ainda não coloquei, lavo com sabão de côco ou glicerina.
Mas também alguma coisa que a gente não sabia, que no
livrinho explica. Esses dias ele leu primeiro e estava me
dizendo, depois li eu. deixei ali em cima para quando eu
quero tirar uma vida, pego o livrinho para ler”
(F4.E.M).
O casal pretende ter mais um filho, um menino, a mãe disse que "seu sonho é
ter um casal” (F4.O1).
4.1.5 Família Cinco Família Felicidade-Responsabilidade
Esta família escolheu estas duas palavras. A mãe disse que escolhia a palavra
felicidade, pois o filho " é uma inspiração, mas é felicidade, todo dia tu acorda às
vezes de mal humor, mas tem ali o teu filho" (F5.E.M). O pai disse que juntaria a
isto, a responsabilidade, pois " tu tem que se entregar para o teu filho, tu tem que
estar ali, tu tem que estar presente, porque ele precisa de ti, ele é totalmente
dependente” (F5.E.P).
Conversei com esta família no Hospital de Caridade. Estavam os pais e a a
paterna. Eles concordaram em participar da pesquisa. Combinamos a data da
primeira visita, que depois teve que ser adiada em função da presença de muitas
visitas na casa.
4.1.5.1 Características da família
Eles moram na casa dos avós paternos, pois estão juntando material para
construir sua casa nos fundos do terreno dos avós. É uma casa de alvenaria, boa, com
bastante espaço. Tem um quarto para o casal, com banheiro privativo. Arrumaram
63
um espaço para o bebê neste quarto. Nesta casa moram, além dos avós, um sobrinho
do pai, de 13 anos, que foi criado pelos avós.
O pai tem 28 anos, é Representante Comercial e tem uma renda por comissão
de aproximadamente R$ 1.200,00. Ele tirou folga na primeira semana para ficar junto
à mãe e ao bebê.
A mãe tem 33 anos, o trabalha no momento e tem dois cursos superiores
incompletos. Gostaria de recomeçar o estudo, mas tem dificuldade financeira. Ela
tem distúrbio do pânico e usava antidepressivo há seis anos. Parou de usar a
medicação, assim que soube que estava grávida e o pretende usar enquanto estiver
amamentando.
O bebê é um menino, nasceu de cesariana, um pouco antes do tempo,
segundo a mãe, devido a alterações na pressão arterial. Todo o atendimento pré-natal
e ao parto foi feito em nível particular, com exceção de alguns exames laboratoriais
que foram realizados pelo SUS. Disseram que se sentiram muito inseguros quando
hospitalizaram para o parto, pois foram feitos vários exames para verificar as
condições do bebê, e os médicos demoraram um pouco para decidir por fazer a
cesariana.
Os pais disseram que esta gravidez o foi planejada, que se assustaram no
início, pois chegaram até a pensar em o ter filhos. O pai estava desempregado no
momento e preocupou-se, mas depois disseram que aceitaram bem a gravidez.
4.1.5.2 A enfermeira interagindo com a família
Visitei a família no 5º, 14º, 24º, 35º dias após o nascimento. O pai esteve
presente na primeira visita e nas duas últimas. Participou bastante nas conversas e na
entrevista. Esta família esteve sempre muito à vontade com a minha presença,
inclusive convidando-me a entrar no quarto, dizendo que eu era de casa. Os avós
também participaram, sendo que o avô contou-me um pouco de sua vida e de seus
problemas de saúde. Deu-me presentes, produtos de sua plantação de verduras
hidropônicas.
O pai falou
"... essa pesquisa da tua parte ela é sensacional, porque...
nos livros todos que a gente leu, você tem profissionais
falando sobre isto. Ótimo, excelente, agora, tu ler uma coisa
64
que realmente uma pessoa passou aquilo, viveu, e está te
passando, uma coisa bem natural, o que é realmente, e na
nossa língua, que é mais fácil de absorver, eu acho que é
fundamental” (F5.E.P).
Ele disse ainda que
"aceitou participar da pesquisa não pela troca, mas
principalmente porque achou extremamente importante o
meu trabalho, acha muito bom que pais menos preparados
sejam informados, não imagina como seria se ele fosse pai
mais novo, pelos 17 anos. Acha que agora estava
preparado e mesmo assim é difícil, imagina se não estivesse”
(F5.O4).
Os questionamentos da família foram sobre as vacinas, cuidados para o bebê
o asfixiar-se com a regurgitação e hidratação do bebê. Conversamos também sobre
a inconveniência de freqüentar locais com aglomeração de pessoas e realizar visitas a
pessoas doentes com o bebê e sobre hábitos alimentares da família.
Reforcei a orientação de outros profissionais, como a psiquiatra e o pediatra.
Demonstrei a forma de pegar o bebê em decúbito ventral e fazer massagem
no abdômen para aliviar as licas. Examinei a cicatriz umbilical a pedido da mãe e
verifiquei que estava bem.
Conversamos sobre formas de manter o aleitamento quando ela retornar ao
trabalho, sobre a necessidade de sair um pouco de casa para espairecer e sobre a
normalidade de sentir-se triste e com vontade de chorar. Também conversamos sobre
a relação pais e filhos e a importância do diálogo e da participação.
Os assuntos quase sempre foram os de interesse da família e, às vezes, eu
aproveitava alguns momentos para reforçar aspectos que eu observava como
importantes.
4.1.5.3 As vivências da família
O casal relatou que se definiram mesmo como família no momento em que
saíram do hospital. O pai disse que
“assim que tu sai do hospital é que tu tem certeza que a tua
família está realmente constituída, porque a insegurança é
total... e aquele frio na barriga, no estômago, tu sente a
tua adrenalina ir em cima, agora é nós três e o mundo”
(F5.E.P).
65
A e concordou dizendo que
"no hospital tu fica meio achando ainda que o constituiu
família, porque sempre tem alguém, ou seja, principalmente
as enfermeiras que estão lá direto, as visitas. Mas a partir do
momento que a gente fica sozinho, os dois mais o bebê, é o
momento que a gente vem para casa...” (F5.E.M).
Apesar desta insegurança relatada pelo pai, ele disse que a chegada em casa
foi muito feliz. “Agora é maravilhoso porque a partir do momento que tu põe ele
para dentro da tua casa, ali tu viu que completou o ciclo que tu estava esperando”
(F5.E.P). A mãe reforça dizendo que nunca vai esquecer a chegada em casa,
"a avó paterna esperando... estava um dia meio chuvoso,
tinha um vento, e ela estava esperando ali fora com tudo
arrumado, o quartinho todo prontinho, esperando ele com o
maior carinho, todo mundo na maior felicidade, o primo, o
avô paterno...”(F5.E.M).
O pai disse que a presença da avó paterna foi boa, trouxe segurança. Ele falou
que "... a gente procurou fazer tudo sozinho, não precisar de auxílio, mas
precisando, a gente sabe que está lá” (F5.E.P). Ele também disse "estar mais
tranqüilo por estarem morando com a avó, assim ela não ficará sozinha, pois ele
viaja bastante” (F5.O1).
A mãe falou que "a avó ajudava a cuidar um pouco, mas que os antigos tem
outras idéias, querem fazer do jeito deles, está dando chá de funcho para ela e diz
que se o bebê vira os olhos está com quebrante” (F5.O1).
A mãe justificou a não participação da avó materna por esta estar
incapacitada, devido a ser portadora do Mal de Alzheimer. Disse que isto a deixa
bastante triste, pois tem certeza de que ela estaria ali se pudesse. Quanto ao avô
materno, a mãe disse que ele liga, mas não se envolve. O casal acha que o be
aproximou as famílias, o pai falou que "depois que ele nasceu, não queria saber mais
se tinha aquele problema ou não tinha (F5.E.P). A mãe disse que "parece tão
pequeno o problema perto de uma coisa tão enorme que é... (F5.E.M). O pai
reforçou dizendo que “estávamos acostumados a viver só nós na nossa casa, agora a
gente está abrindo mão disso, que é construir o nosso lugar (F5.E.P).
66
A e disse que "sempre tem vindo visitas e tem bastante palpite,
principalmente dos mais velhos. Tem que escutar e ficar quieta, principalmente com
o sogro, que diz que criou vários. Ela diz que as coisas mudaram” (F5.O2).
O pai aconselhou aos pais que forem ter o primeiro filho a ler, assistir vídeos,
inteirar-se dos assuntos, mas ele disse que mesmo assim "não adianta, quando ele
nasce é diferente... quando nasceu é aquele baque” (F5.E.P). Disse que o bebê é
bonzinho, “a gente não tem noção de como seria se ele fosse um garoto que
chorasse, com problemas de saúde..." (F5.E.P). O pai acha que teria sido muito
complicado se não tivessem lido,
"porque a gente dependeria de uma pessoa para nos fazer
isso, ou a gente iria pagar um preço, e ele principalmente
pagar o preço, porque pessoas inexperientes, sem
conhecimentos, eu acho que a pessoa fica muito mais
insegura e fica com medo também, e isso transmite, porque
tu vai fazer uma coisa e não sabe” (F5.E.P).
O casal acredita que o fato deles terem conversado bastante com a barriga da
e, tenha influenciado na calma do bebê. O pai disse "não precisa ser aquela coisa
assim, doentia, ficar pensando na barriga, falando com ela, mas um momentinho
que tu tem, uma, duas vezes por dia... espontâneo, quando sentir vontade”
(F5.E.P).
A mãe falou que acha que o pai está muito mais preparado do que ela, porque
ela fica muito estressada quando o bebê chora, não dorme, "a gente fica em ponto de
bala” (F5.E.M). O pai justifica dizendo que "acho que a e é assim... se o bebê
chora parece que aquilo está acontecendo praticamente com ela mesma” (F5.E.P).
A mãe procurou consolar-se com exemplos de outros bebês, para verificar que é
normal que aconteça isso.
A família cria alternativas próprias para cuidar do bebê. O pai disse que
"agora mesmo ele está no travesseiro com o nosso cheiro, que a gente providenciou
e virou ele de barriguinha para baixo e isso ajuda na cólica” (F5.E.P). A mãe falou
"ele sente o cheiro da gente e fica mais seguro, eu noto isso” (F5.E.M). Também
acharam melhor acostumá-lo com algum som, para não ficar no silêncio, pois
acham que depois ficam brabos com qualquer barulho. Colocam uma música
clássica, bem baixinha para ele dormir.
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O pai relatou que a adaptação é difícil, que todo o dia é uma adaptação. Ele
disse que
"nós três estamos nos adaptando, porque teu relacionamento
muda, tua vida muda, por mais que tu não queira, a gente
está procurando manter nossa vida como era antes, na
medida do possível, mas não dá, a gente tem que abrir mão
de muitas coisas, horários, a gente tem que ter horários,
então é uma adaptação total... a tua relação de marido e
mulher muda, é até uma coisa que tu abre mão e nem nota...
mas eu acho que não uma cobrança... a gente ter que
estar fazendo amor a toda hora, ou normal como era antes...
ele é tão legal, e depois tu se envolve tanto que isso te
completa o outro lado” (F5.E.P).
A e disse que
“a adaptação não é entre os três, é com todo o resto da
família, existem outros parentes e outras crianças envolvidas,
e a gente nota que assim, que nem a minha sobrinha tem
ciúmes, ela tem dois anos, é um toco de gente e tem ciúmes.
Ela não deixa mais a mãe dela pegar o bebê, não deixa o pai
dela pegar...” (F5.E.M).
Na primeira visita, a mãe disse que "está achando este momento mais fácil e
melhor do que imaginava e que ela pretende voltar a trabalhar daqui a três meses...
que hoje está fácil, com fralda descartável e lenços umedecidos" (F5.O1).
Na segunda visita, ela falou que "pretende voltar a trabalhar daqui a 4 meses
e perguntou como faria com o aleitamento, pois o local é distante... disse que vão ter
que contratar alguém para ajudar em casa quando ela for trabalhar" (F5.O2).
Também disse que "uma amiga convidou-a para sair hoje, mas ela estava pensando.
A sogra disse que cuida do bebê, mas ela tem medo que ele chore...disse que ficar só
em casa vai estressando” (F5.O2).
Na terceira visita, ela contou que viajaram com o pai, ela e o bebê. O pai foi
trabalhar e ela foi visitar uma amiga que tem um bebê de três meses. Disse que "é
bom sair, que ficar muito em casa está estressante" (F5.O3).
O casal percebe o desenvolvimento do bebê com satisfação. O pai disse que
maravilhoso porque cada dia vai ficando mais ativo, vai melhorando os reflexos,
pescoço, o corpinho dele está ficando mais duro” (F5.E.P). Eles vão descobrindo os
gostos do bebê, disseram que ele adora banho e o peito é o momento que ele mais
68
gosta. A mãe falou sobre o peito que era "não só pela fome como é um calmante para
ele(F5.E.M).
A família está contente por ela estar amamentando, o pai disse que
"o aleitamento materno é tudo que a gente queria, por mais
que ele requer um sacrifício grande da mãe, é aquela coisa
de 3 em 3 horas votem que estar a disposição dele para
mamar, não trabalhar, praticamente é impossível manter um
emprego, não existe patrão no mundo que... se tu for dono
do teu negócio...e mesmo assim é uma concessão que tu faz, é
uma troca” (F5.E.P).
O pai contou que foi muito difícil para eles a demora da apojadura, que os
profissionais explicavam como era, mas de uma forma muito seca e eles não ficavam
convencidos. Acharam que faltou o lado humano do profissional, o pai disse que
"claro é muito difícil, é o cotidiano, mas cada pessoa que
está lá é uma pessoa, é um momento novo para ele, é único ...
tu vê que as horas vão passando, a criança está chorando... e
tu que não vem nada e ele fica brabo e tu começa a ficar
ansioso e tu começa a entrar na onda 'meu filho vai morrer
de fome' ... por sorte tinha uma enfermeira que disse 'acalma,
é assim'... isso é uma coisa que o casal se apavora, o
aleitamento... é muito mais prático você tacar um Nan, então
eu acho essencial os pais terem esta paciência e fazer o nenê
sugar” (F5.E.P).
Um amigo deles chegou a sugerir que o pai sugasse para descer o leite. O pai
disse ainda que "...fui até indelicado uma hora...tu deixa até de ser educado quando
chega um momento... que tu solta as unhas mesmo, por mais que tu não queira, eu já
estava com vontade de mandar a mulher a... e deixar eu ir atrás de comida para o
meu filho” (F5.E.P).
A família ficou um dia a mais no hospital esperando o leite descer. O pai
disse que "pediram para que fosse dado Nan, e acompanhou a 'enfermeira' para ver
se estava dando mesmo... agora que veio o leite estão tranqüilos” (F5.O1).
O pai acha que a mãe é muito possessiva com o bebê, não gosta que as
pessoas o peguem. Ele disse
"isso às vezes me incomoda... claro que eu não gosto que
qualquer estranho, qualquer pessoa... que também a gente
não pode exagerar neste sentimento, porque as pessoas que
estão pegando ele são da família, mas ela vai ter que
69
trabalhar este lado, até porque assim que ela começar a
trabalhar, ela vai ter que por uma pessoa para cuidar dele e
aí vai complicar se ela continuar, eu acho” (F5.E.P).
A mãe concordou, acha que ela vai ter que trabalhar este sentimento, pois vai
acabar atrapalhando sua vida conjugal e com outras pessoas, ela disse que
“não tinha problema com ninguém, hoje qualquer coisa eu
estouro, eu mudei, eu sinto que sou uma pessoa mais
nervosa, mais quieta. Na gravidez, eu estava meio assim
nervosa, mas não muito, mas depois que ele nasceu sim, eu
fiquei bem mais possessiva”(F5.E.M).
Na segunda visita, a mãe contou-me que
"foi à consulta da psiquiatra e ela perguntou se a mãe o
tinha ciúmes do bebê. Ela disse que sim, que tem ciúmes
quando os outros pegam o bebê e quando sai um pouco para
ir ao médico fica louca, pensando se ele está bem, se não
está chorando, a psiquiatra disse que isto é normal, é assim
mesmo” (F5.O2) .
Na quarta visita, observei que “a mãe estava um pouco contrariada na sala
com o bebê e o avô. Este disse que gostava de brincar com o bebê, fazendo cócegas
nas axilas para ver como ele reage. Ela disse que ele machucava o bebê” (F5.O4).
O pai disse que eles procuram conversar, "claro que a gente às vezes se bica
um pouco, mas a gente procura na frente dele parecer um pouco mais calmo... ele
está vindo, ele está se adaptando, qualquer voz um pouco mais alta ele muda o
aspecto” (F5.E.P).
O casal relatou que surgiram conflitos, principalmente pelo fato da mãe estar
estressada por ficar só dentro de casa, cuidando do bebê. A mãe disse que
"eu não estou mais vivendo, claro eu estou vivendo em
função dele, mas eu, ajudar financeiramente, construir a
nossa casa e eu estou aqui dentro de casa o dia inteiro”
(F5.E.M). O pai também falou que " não é fácil além de ir
para fora trabalhar e voltar... e depois tu tens as tuas
prioridades, fora o bebê, é claro, que é voltar a trabalhar,
voltar ao teu estudo, voltar a tua vida de novo”(F5.E.P).
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A e disse que apareceram divergências, "agora, por causa do nenê, porque
um quer mais que o outro, não competição, em absoluto, cuidar mais que o outro,
zelar, mas fica o medo que o outro esteja fazendo algo errado” (F5.E.M).
Quanto à relação do casal, o pai relatou que mudou, pois decidiram não ter
relações sexuais nos últimos meses de gravidez e também respeitar a 'antiga
quarentena'. Ele disse que
"agora a vida do casal muda, tu tem que estar consciente
disso, o marido principalmente, que eu acho que geralmente
o homem se liga mais em sexo que a mulher, até pelo próprio
momento que a mulher está passando também e a gente tem
que ter mais paciência... ele (o bebê) te completa esta
parte..., mas tu acaba de pensar em você mesmo, e quando tu
te toca está vivendo só em função dele” (F5.E.P).
A e, falando sobre o seu sentimento, disse
"no momento que tu é mãe, tu te sente plena, porque saiu de
dentro de ti, tu que gerou, ficou nove meses, teve aquele
vínculo todo que não tem explicação, eu quero explicar para
o pai isso, mas não tem explicação ... é enorme o que eu sinto
hoje, só que não pode ser uma coisa doentia...” (F5.E.M).
Quanto às necessidades que surgiram após o nascimento do bebê, o pai disse
que "é das coisas básicas para o uso dele, aí tu vê a fralda, o hipoglós, o talquinho e
essas necessidades que a gente tem porque o financeiro que mexe com a gente. A
casa muito pouco teve que se adaptar a ele...” (F5.E.P). A mãe complementou
dizendo que a necessidade do saber também surgiu. Disse que leram muito,
assistiram deos, pois "o saber é muito importante, porque não vai ficar ligando
para o pediatra toda hora e tal, que era o que eu gostaria, ter o pediatra dentro de
casa 24 horas (F5.E.M). A mãe também falou em ler sobre o puerpério para não
ficar assustada.
Uma preocupação relatada pelos pais foi sobre o vestuário do bebê, disseram
que tinham dúvidas sobre o que vestir no bebê para ele não sentir frio, pois o clima é
muito instável. Na quarta visita, eles disseram que “estavam usando roupa demais
no bebê, e ele estava cheio de brotoejas, agora estão usando menos... (F5.O4).
Também não sabiam se era necessário dar água para o bebê ou não.
71
A família disse que tiveram um atendimento muito bom no hospital, acham
que foi porque era em nível particular, pois acreditam que
“na rede pública, eles não têm esse tempo todo, no caso que
eu estou falando é ali, na hora do parto, as enfermeiras... é
porque elas tinham tempo para conversar com a gente,
explicar. Como é bom a segurança, tinha uma enfermeira,
ela está 30 anos dentro do Hospital, essa senhora passou
uma segurança para a gente, ela pegava esse bebê com tanto
amor, com tanto carinho, conversou com a gente, olha, eu
acho que vale mais que muita coisa. aquele lado humano
e a experiência dela foi tudo” (F5.E.P).
A mãe relatou que o seu maior medo era da anestesia, pois tem Asma e é
alérgica. Ela gostaria de ter sido orientada, saber o que poderia ou não acontecer.
Recebeu um formurio perguntando se havia gostado da entrevista que o anestesista
fez antes, pedindo os seus problemas de saúde, e ela disse que nunca foi feita esta
entrevista.
O pai falou que
"ficaram frustrados, pois combinaram que ele entraria na
sala de parto e, na hora, o anestesista não permitiu, a mãe
pedia por ele e eles diziam que ele estava vindo... ela tem
síndrome do pânico e a psiquiatra e o pediatra estavam
viajando no dia da cesariana” (F5.O1).
A e disse que
“nunca vai esquecer quando outro pediatra, que ela nem
conhecia, chegou, colocou as mãos no seu rosto e disse para
ela ficar calma que ia correr tudo bem. Os outros médicos
mal conversavam com ela. O pediatra disse que eles
acostumam com o ambiente e esquecem do paciente”
(F5.O1).
O pai falou ainda, que “o que compensou por não ter entrado na sala de
parto foi o fato de ter pego o bebê e acompanhado todos os cuidados no berçário”
(F5.O1).
Outra orientação que a família acredita que faltou foi sobre amamentação.
Disseram que no hospital foi ótimo, mas antes leram que era importante, "mas
como proceder, como cuidar do teu seio, como estimular, sugar o seio, e aí que está,
foi um fator que causou complicações a mais, que não precisaria” (F5.E.M).
72
Os pais trouxeram para casa folhetos de orientações do hospital e disseram
que foi ótimo.
O cuidado do bebê foi feito quase que exclusivamente pelo casal, a avó
paterna apenas deu alguns banhos. O pai participou ativamente deste cuidado. A mãe
disse que
"ele é diferente de vários pais que eu convivi e tal,... ele
trabalha, tem as coisas dele, mas ele participa, ele muda, ele
banho, coisa que até hoje eu não fiz, ele já deu dois
banhos... no hospital ele ajudou em tudo enquanto eu tinha
os pontos... existem pais que ficam por trás da mãe, ficam
esperando acontecer, e ele não, ele fez tudo e faz” (F5.E.M).
Na segunda visita, a e contou-me que “o coto umbilical caiu antes de
ontem e ontem todos deram banho no bebê. A sogra que segurou e os outros ficaram
junto e tiraram foto” (F5.O2).
“A e nunca tinha tido contato com bebês, mas o pai acompanhou a
criação de um sobrinho que mora com os avós paternos” (F5.O1).
O avô paterno disse que “eu faria uma ótima pesquisa, pois eles eram um
prato cheio, o filho dele era uma 'mãe' e fez mais em cinco dias do que ele em 39
anos” (F5.O1).
O pai relatou que observou tudo no hospital, a forma como os profissionais
cuidavam do bebê. Ele perguntava, aí elas paravam e ensinavam, disse que as
enfermeiras preocupavam-se com o aleitamento, mas quando ele solicitou elas se
prontificaram a ensinar as outras coisas. Ele falou que
"elas não trocam na tua frente, elas levam, eu acho que para
lavar, por isso eu não acho muito legal, o melhor seria se
elas trocassem na frente da gente, e no primeiro dia tu fica
meio assim, parece que saiu da tua frente e tu fica opa,
para aí, seria mais gostoso se elas fizessem aqui” (F5.E.P).
Na segunda visita, a mãe disse que
“perguntou ao pediatra se não havia uma maneira do bebê
mamar menos de noite, mas não tem jeito. Embora seja ela
que levanta, mama e troca à noite, o pai acorda e fica
cansado para trabalhar no outro dia, ela consegue descansar
um pouco, dorme após o almoço” (F5.O2).
73
Também falou que o pediatra proibiu-a de comer frutos cítricos, pouco feijão,
embutidos e carne de porco, disse que os cítricos dão cólica no bebê. Ela achou que
ontem tomou suco de laranja e o bebê teve mais cólica.
Observei, nesta visita, que o bebê começou a se contorcer e eliminar gases.
Ela tentou acalmá-lo, passando a mão na barriga, mas não conseguindo, passou um
pouco de funchicória no dedo e deu para ele chupar, disse que "isto acalma em
seguida, que usa também espasmo-luftal, que também faz um bom efeito... disse que
tem receio de virá-lo de barriga para baixo” (F5.O2). Observei, também, que o bebê
estava chupando um bico seco.
A e disse que “o que mais a preocupa é o medo que ele vomite e engula,
contou que outro dia deitou-o após o mama e após ter arrotado, e quando voltou ele
estava todo vomitado” (F5.O2).
Na terceira visita, a mãe contou-me que outro dia levaram um susto.
"Foram dar banho no bebê sozinhos e acha que colocaram o
bebê na água e estava muito fria. Ele começou a chorar,
ficou vermelho e depois todo roxo. Assustaram-se muito, mas
logo ele voltou ao normal. Colocaram na água de novo e
aconteceu de novo. Ligaram para o pediatra e ele disse que
era para soprar no rosto do bebê e se precisar dar uma
palmada na nádega, que isto acontecia porque eles ficaram
inseguros e o bebê percebe, que se eles deixarem isto vai se
repetir" (F5.O3).
Na quarta visita, o casal disse que
"levaram o bebê ao pediatra porque ele continua se
„afinando‟ e eles ficam muito assustados, que sempre que ele
assusta-se ou sente dor, fica roxo e se „afina‟. O pediatra
disse para eles não se assustarem que nenhuma criança
morreu por causa disto, que parece que ele não respira, mas
ele respira sim e vai parar de fazer isso. O pai disse que
sentiu-se mais seguro, mas a mãe continua a apavorar-se
com a reação do bebê” (F5.O4).
A e falou sobre a relação com o bebê, que
"fico pensando à noite quando eu estou acordada... que não
pode ser esta relação dos primeiros meses, depois do
terceiro, quarto s, eu penso que vai ser mais tranqüila
para mim... agora eu tenho muito medo, pois ele já fica mais
durinho para dar banho... eu até pensei hoje quando o pai
74
estava dando banho 'o pai que aproveite para dar bastante
banho que eu só vou dar depois dos três meses'" (F5.E.M).
O pai falou que
"ela pensa que o bebê é de vidro e eu não penso igual a
ela... tu pode mexer com ele, tu pode virar ele... a primeira
vez que eu peguei ele, acho que era no segundo dia... deu um
medo, ele era molinho... e como saber pegar é importante, no
início eu ficava parecendo que estava carregando 100 quilos
de peso, tu fica tenso” (F5.E.P).
"Observei uma boa interação da mãe com o bebê, ela o beija e olha bastante
para ele” (F5.O2).
Os cuidados com a mãe foram realizados pelo pai e pela avó paterna, mas eles
relataram que ela não exigiu muito, pois a recuperação foi excelente. Na primeira
visita, a mãe disse que “estava com a pressão um pouco alta ainda, e os pés
edemaciados, mas havia conversado com a médica, se não baixar a pressão até
amanhã, começará a tomar Aldomet por um tempo. O pai verifica sua pressão
diariamente” (F5.O1).
Na segunda visita, a e disse que “sua pressão está baixando, mas está
usando Aldomet e Clorana. Está com menos edema e perdendo peso. Disse que a
obstetra falou que o remédio não fará mal para o bebê” (F5.O2).
Na terceira visita, a mãe falou que estava bem, que a pressão já estava normal
e estava tomando a medicação em dias alternados, estava emagrecendo bem. Disse
que "em casa, estavam todos gripados e que a sogra evitava pegar o bebê e ela
estava usando uma fralda em forma de máscara para amamentar” (F5.O3).
Falou também que a psiquiatra disse que o Equilid a ajudaria, já que ela o
pode usar outro tipo de medicação. A e disse
"estar bem, mas de vez em quando tem vontade de chorar.
Outro dia o pai chegou em casa e perguntou o que ela tinha,
parecia estar brava. Ela disse que não sabia o que era. Ele
disse que eles tem um filho lindo, saudável, uma relação
boa... Ela disse que ele sai, conversa com as pessoas e ela
fica 24 horas com o bebê... é o medo, o tempo inteiro
pensando e cuidando, será que ele vai ficar bem, não vai
afogar-se, vai virar-se, vai ter alguma coisa, está
quentinho?” (F5.O3).
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Nesta visita, conversamos sobre anticoncepção e ela disse-me que pretende
usar o DIU, pois não quer mais filho, que é difícil, quer poder dar tudo que ele
precisar. Falou que "gostaria de mudar-se, que é difícil ficar na casa dos outros, está
porque precisa, mas acha que todos ficam sem intimidade” (F5.O3).
O pai achou importante frisar, na entrevista, que por ser representante
comercial, ele pode dispor de mais tempo para a família, mas que os pais não devem
se culpar por ter que trabalhar, porque alguém tem que ganhar dinheiro na casa, mas
daí, à noite, "procurar ficar um bom tempo com os dois, com o bebê e a esposa,
porque a mulher fica bastante sensível, principalmente ali dias antes e dias depois
de ganhar, ela está à flor da pele” (F5.E.P).
O casal preocupou-se em fazer vários exames no pré-natal e acharam que isso
alivia bastante. Fizeram pesquisa de alterações genéticas, ecografias, principalmente
devido a ela estar usando medicamentos antidepressivos no início da gestação.
Usaram o Sistema Único de Saúde para fazer alguns exames, e o pai disse que "não
fomos tão maltratados, mas uma coisa, eles são práticos e 'Oi, bom dia, boa
tarde, o que você precisa', eles não vem com toda aquela psicologia, mas o que é
importante, eles te dão o exame” (F5.E.P).
A família fez também as vacinas e o teste do pezinho pelo Sistema Único de
Saúde, pois o pediatra disse para eles que era bom e eles disseram que estavam com
dificuldades financeiras. O pai disse que “dá pena,... mas precisa, pensou se
acontece alguma coisinha ele é tão indefeso, e um se acontecer alguma
coisa e tu não faz” (F5.E.P). O pai também falou que
"eles tiveram toda a atenção de médicos e outros
profissionais, mas acha que se fossem atendidos através do
SUS não teriam a mesma atenção. Sentiram a diferença
quando foram fazer o teste do pezinho na Unidade Básica de
Saúde. Acharam que o atendimento não tem a mesma
qualidade...” (F5.O4).
O pai falou, ainda, sobre a vinda do bebê, que
"...ele veio para ficar e unir as pessoas, principalmente a
família e para ser amado. Então é uma responsabilidade com
certeza, eu acho que todo o casal tem que estar ciente disto,
planejando ou não planejando o nenê, a partir do momento
que decidiu ter, pensa que daí para frente tu vai ter que ter
responsabilidade, desde barriga até o resto da tua
76
vida...acho até como seria complicado tu ter mais de um
filho, porque é claro que tu vai tentar dar o mesmo amor, o
mesmo carinho, mas..." (F5.E.P).
Conversamos sobre a relação pais e filhos, da importância do diálogo e
participação na construção do relacionamento para prevenir problemas na
adolescência, pois o pai disse que "não sabe como será quando o filho for
adolescente e começar a sair à noite. Disse que agora sabe porque os pais não
dormem à noite quando os filhos saem” (F5.O4).
A e disse que
" vale a pena ter um filho, muda a rotina, muda o cotidiano,
mas ele é uma celebração, é uma vitória... A gente sabe
que a personalidade das crianças e adultos... eu acho que
isto vem desde berço, não recebem segurança, não
recebem carinho, as crianças são espancadas ou com
palavras, ou não são cuidadas, eles sentem esta necessidade
e depois se tornam não indivíduos marginais, mas
inseguros...são diferentes das crianças que são tratadas com
carinho e eu acho isto... nós estamos babando por ele"
(F5.E.M).
5 ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo, apresento as Categorias preestabelecidas pelas questões
norteadoras, com os respectivos temas que emergiram da análise dos dados.
Quadro 1 - Categorias e temas da análise dos dados
Categoria
Mudanças na família
Organização no cotidiano da família
Cuidado entre os membros da família
Sentimentos e percepções da família
Relações da família
Necessidades da família
5.1 DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS
5.1.1 Mudanças na família
Esta categoria refere-se às mudanças que ocorreram na família após o
nascimento do primeiro filho e inclui três temas, que são a mudança de papéis, a
adaptação ao bebê e a participação da rede de apoio.
5.1.1.1 Mudança de papéis
Com a inserção de um novo membro na família, os papéis anteriores ao
nascimento do bebê mudaram, pois, neste momento, os filhos passaram para a
condição de pais. Esta mudança exigiu alguns ajustes e negociações, principalmente
no que se referiu à participação do pai no cuidado ao bebê.
Papalia e Olds (2000) dizem que a maior parte dos pais não se envolve tanto
quanto as mães na vida das crianças, embora acreditem que deveriam se envolver.
78
Eles passam mais tempo brincando com os bebês do que os alimentando ou fazendo
sua higiene. Monticelli (1997) afirma que mesmo quando os pais estão presentes
durante a licença paternidade, eles permanecem distante na maior parte do tempo,
o participando no cuidado ao bebê e não sendo incluídos, pelas mulheres, neste
cuidado.
Confirmando estes autores, os dados encontrados mostraram que a maior
participação dos pais foi no auxílio nas tarefas domésticas, ficando o cuidado ao bebê
mais ao encargo da mãe e outras mulheres da família extensa. Esta participação foi
valorizada pelas mães, como mostra esta fala, cuja mãe diz que "o pai ajuda nos
afazeres domésticos, e deve ser muito difícil para quem não tem ninguém para
ajudar” (F1.O2).
No entanto, a maioria das mães achou pouca a participação do pai, embora
achem normal ele não cuidar muito do bebê, demonstrado pela declaração da mãe.
que se pra mãe, eu penso assim, que nem pra mim no início, foi meio difícil,
imagina que nem pra ele, né” (F1.E.M).
Lamb (apud Papalia e Olds, 2000), em seus estudos, concluiu que os homens
podem ser igualmente sensíveis e responsivos, apesar da crença comum de que as
mulheres têm predisposição biológica para o cuidado de bebês.
A pouca participação do pai provocou conflitos em alguns momentos,
exemplificado pelos seguintes relatos:
Eu já falei pra ele, que tem que começar cuidar mais” (F2.E.M.).
Quando ela chorava de cólica, no fim ele se arrancava para a cozinha,
deixava nós se virar (F2.E.A).
Esta noite ia fazer ele ajudar, pois só ela não valia” (F2.O2).
Segundo Papalia e Olds (2000), o fato de que a maioria dos maridos não
contribui igualitariamente com as tarefas domésticas e com o cuidado dos filhos pode
ser fonte de estresse, uma vez que a maioria das mães agora trabalha pela
remuneração.
A justificativa por não haver maior participação do pai foi devido ao trabalho,
como mostram estes relatos:
“é, de noite o pai ajuda, ele está pesado... pego no colo
dorme que nem um anjo, bota no bercinho, resmunga, então
79
tu cansa... às vezes eu procuro nem acordar o pai, porque no
outro dia ele trabalha, eu não” (F3.E.M).
“saio de manhã e volto às 6, às vezes às oito, às vezes às
10. Hoje era para ficar até às 10, não fiquei” (F4.E.P).
"não é fácil, além de ir para fora trabalhar e voltar...e depois
tu tens as tuas prioridades, fora o bebê, é claro, que é voltar
a trabalhar, voltar ao teu estudo, voltar a tua vida de novo”
(F5.E.P).
Frone, Russell e Barnes, citados por Papalia e Olds (2000, p. 424), dizem que
"homens e mulheres que trabalham parecem igualmente afetados pelo estresse
fisiológico e psicológico, seja devido ao trabalho que interfere na vida familiar ou o
contrário".
De acordo com Ávila (1998), são poucas as mulheres que conseguem pedir
ou aceitar a ajuda do pai nos cuidados ao filho no pós-parto. A autora também afirma
que o ambiente o acolhedor e a falta de assistência aos sentimentos do homem
colaboram para que este fique indiferente à mulher e ao filho.
Mesmo assim eles demonstraram interesse em participar do cuidado ao bebê.
"Eu olho ela trocar, eu fico de olho, porque o dia que precisar trocar eu sei”
(F4.E.P).
De acordo com Pincus e Dare (1981), o pai passa a assumir novos papéis,
mais participativos em relação ao bebê.
Um dos pais teve participação intensa em todos os cuidados. Nesta família,
o houve a presença da avó materna por motivo de doença, somente alguma
participação da avó paterna. A e desta família disse que
"ele é diferente de vários pais que eu convivi e tal, ...ele
trabalha, tem as coisas dele, mas ele participa, ele muda, ele
banho, coisa que até hoje eu não fiz, ele já deu dois
banhos... no hospital ele ajudou em tudo enquanto eu tinha
os pontos... existem pais que ficam por trás da mãe, ficam
esperando acontecer, e ele não, ele fez tudo e faz” (F5.E.M).
Este pai quis orientar os outros pais em relação à participação paterna,
falando que é preciso procurar ficar um bom tempo com os dois, com o bebê e a
esposa, porque a mulher fica bastante sensível, principalmente ali dias antes e dias
depois de ganhar, ela está à flor da pele” (F5.E.P).
80
Em consonância com Papalia e Olds (2000), o laço mãe-bebê não é o único
laço significativo formado pelos bebês. Os pais são especialmente importantes, pois
confortam e brincam dando-lhes senso de segurança.
Maldonado (1997) diz que o pai pode assumir duas posições: ou participar de
forma ativa ou sentir-se marginalizado e rejeitado na relação diádica materno-filial.
Seibel (1992) refere que uma situação familiar confusa em termos de papéis
pode tornar a criança alvo das frustrações dos adultos, sendo até origem de maus
tratos.
5.1.1.2 Adaptação ao bebê
Ávila (1998) diz que pode não ser tão fácil como o esperado, passar do 'filho
sonhado' para a realidade do 'filho nascido'.
Confirmando esta afirmação, quatro das cinco famílias do estudo relataram
que a adaptação ao bebê foi difícil.
"No início, foi meio estranho, é claro que a gente espera ele
mas, até a gente se adaptar com ele assim,.. não foi muito
bem como nós imaginava, foi mais difícil, eu acho ... só
vendo assim pra gente ver como é que é... agora, cem
por cento" (F1.E.M).
Apenas uma considerou a adaptação fácil e justificou esta facilidade devido
ao instinto materno e paterno,
... a gente fica nervoso antes dele nascer. Ficamos
pensando, meu Deus, será que a gente vai conseguir se
adaptar? É bem fácil, bem como dizem: o instinto de pai e de
mãe funciona mesmo... eu pude perceber, agora, esta semana
que fui para casa, sem a e para estar junto, para trocar,
dar banho. Fácil, fácil, não é difícil” (F3.E.M).
No entanto, apesar desta afirmação, esta foi a família que dependeu por maior
tempo do apoio da família extensa, morando na casa dos avós maternos por cerca de
35 dias.
As dificuldades de adaptação tiveram por motivo principalmente as
exigências de cuidados com o bebê, como horários, aleitamento e higiene,
demonstrado pela fala da mãe da família Maravilhoso:
81
“já sei trocar, consigo dar banho, ela está grandinha,
peguei prática. Antes, no começo, meu Deus, morria de medo
de trocar, tudo era sufoco. Ás vezes tinha que chamar a tia
para trocar, porque ela era molinha. Depois, um dia, eu
precisei que viessem trocar e não vinham. Sabe, Deus vai me
ajudar, eu mesmo vou trocar a minha filha. Eu o pedi para
ninguém para fazer, é a minha filha, ...vou me virar. Eu me
virei sozinha” (F4.E.M).
A adaptação ao be não foi relacionada somente à família nuclear, também a
família extensa passou por este processo, de acordo com a percepção da mãe da
família Felicidade-Responsabilidade que falou que
"a adaptação não é entre os três, é com todo o resto da
família, existem outros parentes e outras crianças envolvidas,
e a gente nota que assim, que nem a minha sobrinha tem
ciúmes, ela tem dois anos, é um toco de gente e tem ciúmes.
Ela não deixa mais a mãe dela pegar o bebê, não deixa o pai
dela pegar...” (F5.E.M).
Este relato confirma Maldonado (1989), quando diz que o nascimento de um
filho é uma experiência familiar, sendo preciso pensar não apenas em "mulher
grávida", mas em "família grávida".
As famílias consideraram o período inicial mais difícil, a adaptação foi
gradual, como mostram as falas:
“... os primeiro dois, três dias que foi difícil, depois eu
peguei a rotina com a criança pequena. Por enquanto
bom, agora estou melhorando” (F2.E.M).
“... era um poço de desânimo quando ela chorava de cólica...
mas está passando. Depois de 40 dias, aí, fica tudo bem
melhor” (F2.E.A.).
Segundo Ávila (1998), é natural que a princípio haja dificuldades para os pais
compreenderem as necessidades do filho, mas, com a convincia, vão-se
sintonizando com ele. A mesma autora ainda diz que os pais estão tensos e
necessitam de tempo para se ligar ao filho e construir um lugar para ele, sem terem
de perder o seu espaço.
82
5.1.1.3 Participação da rede de apoio
Biasoli-Alves e Simionato-Tozzo (1998) dizem que as transformações, que
estão alterando os papéis dentro da família, implicam em uma rede de apoio que
auxilie as famílias a vivenciarem a maternidade e paternidade da melhor forma
possível.
Poli e Zagonel (1999) afirmam que a família desempenha alguns papéis para
ajudar a mulher e seu filho, e que essa relação, muitas vezes, torna-se até obrigatória
em algumas famílias.
Observei, neste trabalho, que todas as famílias encontraram a maior parte do
apoio necessário na família extensa, com forte presença da avó materna, conforme
mostram os exemplos:
"O cuidado com a e e o bebê foi realizado principalmente
pela avó, apesar desta apresentar forte lombalgia por
problemas na coluna. A mãe disse que se não tivesse a avó,
não sabe o que faria'” (F2.O3).
"O cuidado com a mãe e o bebê foi feito pela avó, e após a
família retornar para casa a mãe disse que cuidou do bebê
sozinha” (F3.O4).
Onde a avó não representou o principal papel de apoio foi por motivo de
doença. Neste caso, outras pessoas assumiram este papel, como as cunhadas e tias, de
acordo com as observações de que
"A família recebeu a ajuda de uma cunhada, que veio do
interior e ficou na primeira semana com eles. Na segunda
semana a avó materna também passou alguns dias com eles,
mas a mãe disse que 'ela é doente, então deixou-a mais para
segurar o bebê' .Na terceira visita ainda estavam vindo as
tias para dar banho no bebê, porque ela disse que 'um dia ela
foi dar, mas demorou muito e o bebê ficou todo roxinho”
(F4.O3).
Conforme Boechs (1992, p. 167), "o aprendizado materno é entendido como
algo intimamente ligado à transmissão de experiências vividas e provadas por
mulheres da família. A mãe da gestante ou puérpera aparece como autoridade
enfática".
Monticelli (1997) também afirma que sua vivência e a revisão de literatura
mostram que o cuidado com as crianças e sua introdução na cultura são sempre
83
tarefas de competência feminina e que a principal referência é, sem exceção, a avó
materna. Somente na impossibilidade desta, por doença ou falecimento, outras
mulheres assumem o apoio, como observado na família Mudança, onde "O cuidado
com o bebê continua, tradicionalmente, sendo feito por mulheres, neste caso a mãe e
a avó, mas a família considera normal o pai ter maior dificuldade em cuidar do
bebê” (F1.O1).
Somente em uma família, o pai assumiu o papel de principal apoio, onde "o
cuidado ao bebê foi feito quase que exclusivamente pelo casal, a avó paterna apenas
deu alguns banhos” (F5.O4).
Estes dados não confirmam a afirmação de alguns autores (Maldonado, 1989;
Biasoli-Alves, 1999) quando falam que o individualismo da falia nuclear afasta as
famílias de origem deixando os jovens pais à mercê dos profissionais.
De acordo com Haley (1991), o nascimento de uma criança representa a
reunião de duas famílias, criando avós, tias e tios, havendo inflncias na criação e
educação da criança.
Na maioria das famílias, a rede de apoio instalou-se no domicílio do casal,
apenas uma família mudou-se para a resincia dos avós maternos, dizendo que
"foram para a casa dos avós porque precisavam de ajuda, pois eles não tinham
experiência nenhuma” (F3.O1).
Conforme Maldonado (1989), com a diminuão do número de filhos das
famílias, o convívio com bebês é quase inexistente, sendo a paternidade e a
maternidade, às vezes, o primeiro contato com um bebê.
A permanência constante da rede de apoio variou entre 15 a 35 dias, como
observei na família Mudança, onde
"este apoio acompanhou a família até por volta do 20º dia
pós-parto, quando a mãe sentiu-se em condições de cuidar
do bebê e dos afazeres domésticos. O pai também retornou
ao seu ritmo normal de trabalho. A mãe disse que 'o pai
havia viajado toda semana e ela estava se virando bem com o
bebê e a casa‟” (F1.O4).
Este dado confirma a afirmação de Ávila (1998), quando diz que é
imprescindível o acompanhamento da puérpera nos primeiros 15 dias após o parto,
pois é o período em que estão presentes as maiores necessidades de apoio.
84
A família que necessitou de apoio por mais tempo foi a que se mudou para a
casa dos avós maternos, apesar de ser a que teve maior acesso à rede de saúde
privada, comprovado pela observação de que "na terceira visita, a mãe disse que
planejava voltar para casa na outra semana, pois o pai já estava perguntando
quando voltariam. No entanto, acabaram ficando por mais 15 dias" (F3.O3).
Os dados deste tema são coincidentes com os achados dos estudos de Boechs
(1992) e Bonadio e Tsunechiro (1999).
Rocha (1999) cita o apoio da família, marido e amigos como fatores
importantes na prevenção da depressão pós-parto.
Ávila (1998) tamm afirma que se a mãe da puérpera, ou outra pessoa,
desempenha um papel adequado, protegendo-a e apoiando-a, as suas angústias
diminuem.
Confirmando estes autores, a presença da avó materna ou paterna foi sentida
como um fator de segurança e tranqüilidade para a maioria das famílias, como
demonstram os exemplos:
“Eu queria a mãe perto de mim o tempo inteiro... Eu tinha
medo de dar mamá e ele se afogar, dele dormir e se afogar e
eu não ouvir ... No início eu queria a mãe perto de mim,
qualquer coisinha eu chamava ela, não conseguia fazer as
coisas sozinha” (F3.E.M).
"O pai disse que a presença da avó paterna foi boa, trouxe
segurança. Ele falou que '... a gente procurou fazer tudo
sozinho, não precisar de auxílio, mas precisando, a gente
sabe que es lá'” (F5.E.P). Ele também disse “estar mais
tranqüilo por estarem morando com a avó, assim ela não
ficará sozinha, pois ele viaja bastante” (F5.O1).
Também o apoio recebido por outros familiares e amigos foi referido por
quatro das cinco famílias do estudo, como importante. A mãe reforça dizendo que
nunca vai esquecer a chegada em casa,
"a avó paterna esperando... estava um dia meio chuvoso,
tinha um vento, e ela estava esperando ali fora com tudo
arrumado, o quartinho todo prontinho, esperando ele com o
maior carinho, todo mundo na maior felicidade, o primo, o
avô paterno...” (F5.E.M).
85
Este dado confirma o estudo de Bonadio e Tsunechiro (1999), onde
concluíram sobre a importância dos membros da família na rede de apoio às
gestantes.
Ziegel e Cranley (1985, p. 439) dizem que "a literatura sobre maus-tratos à
criança sugere claramente que as mães que não recebem apoio afetivo de outras
pessoas estão mais sujeitas à inadaptação à maternidade".
Seibel (1992) também afirma que um contexto social deficiente pode
oportunizar situações de maus tratos.
Apesar de acharem bom e valorizarem o apoio familiar e social, todas as
famílias sentiram-se incomodadas, em determinado momento, com a presença de
muitas pessoas em casa, pois dificultava o descanso da puérpera. Esta afirmação está
ilustrada pelas seguintes observações: "Acham que vão receber muitas visitas hoje à
tarde, pois não vieram durante a semana, o que acharam muito bom" (F1.O2).
“Receberam visitas a toda hora e achou muito cansativo, o telefone não parava de
tocar e ela não conseguia descansar” (F3.O3).
"Em todas as observações, sempre tinha uma ou mais
pessoas visitando a família, e a mãe relatou que „está zonza
de não dormir, que qualquer resmungo do bebê ela está
acordada, que antes tinha um sono pesado e agora acorda
por qualquer coisa. Disse que não descansa durante o dia
porque sempre tem visita‟” (F4.O2).
Conforme Ávila (1998), a casa deixa de ser um lugar privado após a alta
hospitalar, sendo freqüentada por um "pelotão" de pessoas.
Além do aspecto descanso, as famílias sentiram dificuldades com os palpites
das visitas, que as deixava confusas e até assustadas, como mostram os relatos:
"Disse que as pessoas deixam ela tonta com todas as coisas que dizem” (F4.O3)
“Fui apavorada aquele dia, começou me dar as dorzinha,
estava tão assustada! De tanto que falaram. Já ganhei a
menina e nem sei que dor era, que falavam que era tanta dor,
que subia pelas paredes. Estava apavorada antes de ganhar
o nenê, queria ter ganhado o nenê. Eu morria de medo, de
tanto que assustavam, tudo parente” (F4.E.M).
"Sempre tem vindo visitas e tem bastante palpite,
principalmente dos mais velhos. Tem que escutar e ficar
quieta, principalmente com o sogro, que diz que criou vários.
Ela diz que as coisas mudaram” (F5.O2).
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Maldonado (1997) afirma que o ambiente que cerca a relação mãe-filho
contribui para melhorar ou piorar a qualidade da reatividade, pois um ambiente
turbulento e crítico aumenta a ansiedade materna e a inquietação do bebê.
Observei um episódio em que houve divergência entre a avó materna e uma
prima que estava dando apoio para a família.
“A prima falou que deveriam dar um chá doce de
mamadeira, para enganar o bebê até o leite descer...
perguntou se eles haviam comprado mamadeira e chamou
atenção por não terem comprado. A avó insistiu no uso da
colher e ela achou absurdo dar de colher à noite, disse que
não era para dar muita bola para as ´psicologias`, pois o
peito dela iria ´rebentar‟” (F2.O1).
Ávila (1998) diz que os palpiteiros e curiosos são capazes de desorientar e
atormentar o casal neste momento frágil e tenso.
A descrão deste tema mostra que, ao mesmo tempo em que a rede de apoio
exerce um papel positivo e fundamental para a família, pode representar, em alguns
momentos, inmodo e confusão se a família é muito insegura e despreparada para
enfrentar a fase pela qual está passando, que é o nascimento do primeiro filho.
5.1.2 Organização do cotidiano da família
Nesta categoria está descrito de que forma a família reorganizou seu cotidiano
após o nascimento do primeiro filho, no âmbito doméstico e no âmbito público.
5.1.2.1 No âmbito doméstico
Conforme Ávila (1998), cada casal vivencia e reage em consonância à sua
história de vida, a passagem da condição de filhos para pais.
Todas as famílias relataram mudaas em suas vidas, algumas relacionadas
ao cotidiano, como percebe-se nesta observão de que
“o fato deles morarem sozinhos e o pai viajar por longos
períodos, fazia com que a mãe tivesse bastante liberdade de
horários, o que mudou bastante com a presença do bebê. A
mãe não tinha horário para almoçar e a avó disse que agora
ela terá que organizar-se diferente” (F1.O1).
87
Outras, ao sentimento de aumento de responsabilidade, conforme este relato
da família Céu Azul:
“A gente se cobra muito mais... a gente pensa duas vezes
antes de qualquer coisa, de ir em algum lugar, vê se para
ir ou não. Pensamos nele, antes tinha nós dois, ir ou não ir
não tinha problema nenhum. Agora, tem ele, tudo em função
dele, não sei se é normal por ser o primeiro filho, porque
está no início. A gente fica bitolada a ele” (F3.E.M).
Soifer (1984) diz que, após a família voltar para casa, diminuem as
comemorações e tomam relevo as responsabilidades.
Em uma família, esta mudança provocou uma crise, que, conforme Bergami e
Berthoud (1997), é uma desorganização temporária do funcionamento de um
sistema, ficando a família bastante vulnerável.
“Observei que nesta família o nascimento do bebê causou
uma desorganização considerável na sua rotina, afetando-os
emocionalmente, principalmente a mãe, que demonstrou
nervosismo em quase todas as visitas” (F2.O1).
Pincus e Dare (1981) dizem que, quando a menina era educada para seu
futuro papel materno, havia menos mudanças em sua vida do que hoje, quando a
mulher tem emprego ou carreira. A dificuldade com esta mudança aparece tamm
neste depoimento onde a mãe disse que "eu não estou mais vivendo, claro, eu estou
vivendo em função dele, mas eu, ajudar financeiramente, construir a nossa casa... e
eu estou aqui, dentro de casa o dia inteiro” (F5.E.M).
Estes achados reafirmam as idéias de Bergami e Berthoud (1997), de que a
mulher está dividida entre ter filhos e manter-se no mercado de trabalho e o homem
está sendo chamado para auxiliar nas tarefas no lar e no cuidado com os filhos,
funções para as quais não se preparou.
Conciliar as atividades domésticas com o cuidado ao bebê foi uma
dificuldade relatada pela família Aprendizado, onde “a mãe disse estar tão
atrapalhada que não consegue mais organizar-se nas tarefas domésticas” (F2.O3).
Conforme Donoso (1997), as mães podem ter dificuldade em reorganizar suas
vidas após o nascimento dos bebês.
88
Observei que todas as mães sentiram necessidade de auxílio nas tarefas
domésticas, sendo que para a mãe da família Mudança, esta representou a maior
necessidade surgida após o nascimento do bebê "... acho que é o serviço, daí vinha a
mãe dele, às vezes, quando tinha muita roupa para lavar, me ajudava no serviço...
lavar as calçadas...” (F1.E.M).
As tarefas domésticas foram também motivo de preocupação para algumas
es, que tentavam "dar conta" de tudo, ficando, muitas vezes, esgotadas, como a
e da família Maravilhoso que falou que andava cansada, lavou vidros,
guarda-roupa, armários, geladeira...” (F4.O3).
Conforme Branden (2000), algumas mulheres acham que poderão reassumir
todas suas atividades imediatamente. Essas expectativas podem dificultar a
adaptação materna. Diz o autor, ainda, que quando a mãe precisa ser auto-suficiente
é necessário que ela estabeleça prioridades.
Duas famílias demonstraram preocupação em que a adaptação ao bebê o
interferisse muito no relacionamento do casal e nos hábitos de vida anteriores,
embora achem difícil que isto aconteça, conforme demonstram as falas:
"nós três estamos nos adaptando, porque teu relacionamento
muda, tua vida muda, por mais que tu não queira, a gente
está procurando manter nossa vida como era antes, na
medida do possível, mas não dá, a gente tem que abrir mão
de muitas coisas, horários, a gente tem que ter horários,
então é uma adaptação total... a tua relação de marido e
mulher muda, é até uma coisa que tu abre mão e nem nota...
mas eu acho que não uma cobrança... a gente ter que
estar fazendo amor a toda hora, ou normal como era antes...
ele é tão legal, e depois tu se envolve tanto que isso te
completa o outro lado” (F5.E.P).
“... naquele livro fala muito isso. O pai se sente excluído,
porque a atenção é toda para o nenê. Procuro dar atenção
para os dois, não esquecer o marido, os amigos, a família
mais próxima. Pode se excluir em função de uma criança,
tem que saber acompanhar tudo direitinho, levar a vida que
a gente levava antes. Agora com o nenê, tem que saber
encaixar com a nossa vida, claro, com algumas
modificações, mas não de isolar-se” (F3.E.M).
De acordo com Bergami e Berthoud (1997), com o nascimento do primeiro
filho, poderão estabelecer-se triangulações, caracterizadas pela oposição de dois
89
membros da família em relação ao terceiro, por exemplo, a mãe muito unida ao filho,
deixando o pai em segundo plano.
Monticelli (1997) afirma que as mudanças são irreversíveis, que a família
jamais será a mesma, pois os papéis sociais precisam ser reorganizados com a
incorporação de “outra pessoa” ao grupo.
O pai da família Mudança relatou que, após o nascimento do bebê, surgiu a
necessidade de estar mais presente em casa. “Que nem no meu caso, teria que
mais presente, antes que era só tu, tu ficava em casa, era mais fácil...” (F1.E.P) .
Neste momento, as famílias também começaram a refletir sobre o número de
filhos que terão. Algumas não querem mais filhos, pois acham que a condição
econômica não permite, como a família Felicidade-Responsabilidade que relatou que
"pretende usar o DIU e que não quer mais filho, que é difícil, quer poder dar tudo
que ele precisar (F5.O3).
Este dado confirma Bilac (1995), quando diz que a reprodução, nas camadas
dias, parece depender basicamente do poder de consumo de bens e serviços. Silva
(1997) também afirma que a possibilidade de engravidar novamente é avaliada com
base no julgamento das condições de cuidar da criança, conforme a condição
econômica e social.
Outras famílias pensam em ter mais um filho, apesar das dificuldades
financeiras, como a família Maravilhoso que “pretende ter mais um filho, um
menino, a mãe disse que 'seu sonho é ter um casal‟” (F4.O1).
A experiência do parto e o trabalho para cuidar do bebê, também foram
avaliados na decisão de ter ou não outros filhos, conforme a afirmação “... disse que
não sabia se iam ter mais filhos, que o parto era muito dolorido... para o próximo
filho vai preparar-se melhor, porque deve ser ruim ter um filho só, sem irmãos, o
filho fica muito mimado” (F2.O2).
5.1.2.2 No âmbito público
Este tema fala da organização da família no que diz respeito ao trabalho fora
do ambiente doméstico. Encontrei algumas modificações logo após o nascimento do
bebê, em relação ao trabalho dos pais, mas as alterações mais significativas disseram
respeito ao trabalho das mães.
90
Com exceção de um pai, os outros quatro não trabalharam durante a primeira
semana de vida do bebê. Dois eram autônomos e decidiram não trabalhar e dois eram
empregados e tiraram a licença paternidade. O pai que não interrompeu o trabalho
era proprietário de uma padaria. Após este período, todos retornaram normalmente às
suas atividades laborais.
Apenas dois pais relataram preocupação em relão a deixar a e sozinha
quando fossem viajar a trabalho, conforme este relato"... ela fica sozinha, às vezes é
difícil, que nem agora até os quarenta dias, assim que é mais difícil” (F1.E.P).
O mesmo, porém, não ocorreu com as mães. Principais cuidadoras dos bebês,
exerceram o seu direito à licença-maternidade, mas manifestaram preocupação em
relação ao retorno ao trabalho, como mostra os seguintes relatos: “...não vou deixar o
bebê com ninguém, porque não cuidam que nem a gente... Agora se eu voltar a
trabalhar..., se a patroa não quer mais, melhor para mim, se ela me querer vou dar
os trinta dias” (F4.E.M).
"... pretende voltar a trabalhar daqui a quatro meses e
perguntou como faria com o aleitamento, pois o local é
distante... disse que vão ter que contratar alguém para
ajudar em casa quando ela for trabalhar” (F5.O2).
Silva (1997) afirma que as mães percebem que a criaa limita e dificulta sua
inserção na força formal de trabalho, principalmente se não tem quem ajude a cuidar
do filho.
Estes relatos comprovam Gomes, citado por Santos (1996b), quando fala na
contradição experimentada pelas mães, entre a luta pela manutenção das condições
materiais e pela manutenção dos laços afetivos.
5.1.3 Cuidado entre os membros da família
Como foi realizado o cuidado entre os membros da família após o nascimento
do primeiro filho é o que trata esta categoria, com os seguintes temas: cuidados com
o bebê, cuidados com a puérpera e mitos e crendices populares.
91
5.1.3.1 Cuidados com o bebê
Ávila (1998) afirma que o nascimento do primeiro filho é uma situação de
ambigüidade, onde as alegrias são contrabalançadas pela insegurança no cuidado ao
filho e as exigências deste cuidado.
Observei que todas as famílias utilizaram medicamentos para licas, mesmo
sem ter certeza de que este era o motivo do choro do bebê. Na família Aprendizado,
que era a mais ansiosa, na tentativa de acalmar o be, o uso foi inadequado, pelo
excesso, como mostra a observação de que "a família utilizou medicamentos
antiespasmódicos e analgésicos com freqüência, quando o bebê por algum motivo
choramingava” (F2.O2).
Esta outra observação também exemplifica o exposto acima: "O bebê
continuou choramingando e eles resolveram dar gotas para cólica. Peguei-o no
colo, cobri a luz dos olhos dele e ele adormeceu em seguida. Falei que ele estava
com sono, que nem sempre o motivo do choro é cólicas” (F1.O3).
Conforme Riesco e Tsunechiro (1990), as mães necessitam de esclarecimento
e repouso para reduzir suas próprias tensões e aceitar aslicas do bebê como
comuns e normais, podendo assim acalmar o filho. Necessita, também, de apoio da
família, amigos e assistência de enfermagem.
Apesar de todas as famílias terem sido orientadas sobre os inconvenientes do
bico seco
2
em relação à amamentação, quatro das cinco famílias do estudo
ofereceram o bico seco para o bebê, conforme estes relatos: "A mãe disse, nesta
visita, que pretende dar bico seco para o bebê, apesar da orientação contrária da
equipe do hospital" (F1.O3)."Apesar da orientação do hospital que é ´Amigo da
Criança`, a família estava tentando fazer com que o bebê chupasse o bico seco”
(F4.O2).
Esta atitude pareceu-me estar relacionada ao efeito calmante do bico seco,
evitando a sucção constante do mamilo pelo bebê, dando "uma folga" para a mãe.
Riesco e Tsunechiro (1990) constataram, em seu estudo, que 92,4% das mães
ofereceram bico seco para o filho e dizem que este assunto merece ser abordado com
as mães, pois 38,5% delas ofereceram a chupeta no dia em que chegaram em casa.
2
Também conhecido como chupeta ou bico
92
Mesmo assim, todas as famílias estavam amamentando seus bebês até o
momento da minha última visita.
Um cuidado em que todas as famílias dependeram da rede de apoio familiar,
foi o primeiro banho de imersão do bebê, sendo que quatro banhos foram realizados
pela avó e um pela tia, como exemplifica a observação de que “o primeiro banho de
imersão do bebê foi dado pela avó, com a ajuda da mãe” (F3.O2).
As famílias preocuparam-se em proteger o bebê, através de cuidados de
higiene e demonstraram ter conhecimento de formas para evitar alguns contágios, de
acordo com os seguintes depoimentos: "...tô aqui sempre em casa, mas cada vez que
vou pegar ele, lavo as mãos” (F1.E.M). "... em casa, estavam todos gripados e a
sogra evitava pegar o bebê, e ela estava usando uma fralda em forma de máscara
para amamentar” (F5.O3).
A maioria das famílias, inicialmente, colocou o bepara dormir na cama do
casal, pois sentiram-se mais seguras com o bebê mais próximo. As observações
abaixo ilustram este dado: "Ela também colocou o bebê para dormir na cama dela
por medo que ele vomite” (F4.O1).
noite, o bebê dormia numa cama de casal com a mãe,
enquanto eles estavam na casa dos avós. Devido a isso a mãe
não dormia direito, pois 'não se mexia com medo de
machucar o bebê, chegando a ficar doída‟” (F3.O3).
Uma família relatou que o fato do bebê dormir junto com o casal facilitava o
cuidado. Na primeira visita, a mãe relatou que o bebê estava dormindo na cama do
casal, pois ela sentia muito frio para levantar à noite” (F2.O2).
Após minha orientação, sobre os inconvenientes desta atitude, constatei que
todos os bebês passaram a dormir em berço próprio.
Observei que a supervisão ao bebê é constante e, em algumas famílias, chega
a ser até obsessiva como mostram os relatos: "Quando o pai chegou ela mandou ele
olhar o bebê e ficar com ele no quarto, pois podia vomitar. Ela recém havia olhado,
mas insistiu para que ele fosse” (F4.O2)."... a mãe pediu duas vezes para o pai ir ver
como estava o bebê no quarto. Receia não ouvir o choro” (F1.O2).
Monticelli (1997) diz que as mulheres do seu estudo consideram o período de
vida do bebê, que vai até no máximo até quarenta dias, como liminar, colocando a
93
puérpera e o recém-nascido numa situação de margem e necessitando de especiais
precauções, porque é uma situação de transição e perigo.
Uma família realizou algumas formas diferentes de cuidar do bebê, do que a
maioria, constatando que o resultado foi bom. Agora mesmo ele está no travesseiro
com o nosso cheiro, que a gente providenciou e virou ele de barriguinha para baixo
e isso ajuda na cólica(F5.E.P). Ele sente o cheiro da gente e fica mais seguro, eu
noto isso” (F5.E.M).
Maldonado (1997) fala dos estudos realizados por MacFarlane, que
comprovam que o recém-nascido consegue reconhecer a mãe pelo cheiro, concluindo
ser importante promover um intercâmbio entre mãe e be por todas as vias
sensoriais.
Esta mesma família acredita que o fato deles terem conversado com o bebê
antes do nascimento tenha influenciado para o bebê ser calmo. "Não precisa ser
aquela coisa assim, doentia, ficar só pensando na barriga, falando com ela, mas um
momentinho que tu tem, uma, duas vezes por dia... espontâneo, quando sentir
vontade” (F5.E.P).
Maldonado (1997) cita estudos realizados por Feijoo e Decasper, que
comprovam que os fetos reagem a sons conhecidos, diminuindo os batimentos
cardíacos.
Papalia e Olds (2000, p. 154) dizem que estudar as emoções dos bebês é um
desafio. O choro do bebê expressa zanga, medo, solidão ou desconforto? Vai
demorar muito até que o bebê possa nos dizer”.
Uma das dificuldades relatadas por algumas famílias foi entender o motivo do
choro do bebê, demonstrada pelos seguintes relatos:
"ficaram perdidos numa tarde em que a avó saiu com a
netinha. O bebê chorava e eles não sabiam o que fazer.
Quando a avó chegou e o pegou, ele acalmou-se. Ela
perguntou porque não deram o seio e a mãe respondeu que
achou que como o bebê havia 'arrotado', não deveria dar o
seio novamente” (F1.O1).
“Teve uma noite que ele chorou bastante... deu um nervoso,
era o segundo dia que estava em casa, só estava nós três. Ele
chorava, chorava, berrava... daí ele disse para ligar para o
pediatra e explicar o que estava acontecendo... daí era onze e
meia da noite eu liguei para o pediatra. Daí ele mandou dar
umas gotinhas e se não passasse era para ligar para ele.
94
Passou era duas e meia... nessas horas a gente sente
dificuldade. Não que não tivesse noção, porque a gente sabe
que criança quando chora e se chora é porque tem alguma
coisa...” (F3.E.M).
Conforme Ziegel e Cranley (1985), o choro pode criar nos pais uma sensação
de impotência e até mesmo de nico. Mesmo um período curto de choro pode
parecer interminável. Maldonado (1997) afirma que as mães, em geral, sentem-se
culpadas e incompetentes com bebês que não conseguem ser facilmente acalmados,
dificultando o relacionamento entre a mãe e o bebê. Esta sensação aparece nestas
falas: "No início quando ele chorava, porque, se era fome, se era isso, ficava toda
apavorada (F1.E.M) É claro... ele chorava o nenê (F1.E.P) Era um pavor
(F1.E.M).
Outra dificuldade que todas as famílias referiram foi na manipulação e
higiene do bebê, como mostram estas observações: "ainda não trocou o bebê, a
avó. Espera que o coto umbilical caia antes da avó ir embora, por causa do primeiro
banho” (F1.O1).
"... ela pensa que o bebê é de vidro e eu não penso igual a
ela... tu pode mexer com ele, tu pode virar ele... a primeira
vez que eu peguei ele, acho que era no segundo dia... deu um
medo, ele era molinho... e como saber pegar é importante, no
início eu ficava parecendo que estava carregando 100 quilos
de peso, tu fica tenso” (F5.E.P).
Percebi que a maioria das es tinham medo de manipular o coto umbilical,
de acordo com as seguintes observações: "Havia ficado sem trocar o bebê da noite
anterior até as 10 horas do outro dia, até que veio a cunhada, pois tinha medo de
trocar por causa do coto umbilical” (F4.O1). "A mãe referiu ter medo de manusear
o coto umbilical e demonstrou ser algo que a assustava” (F3.O2).
Segundo Riesco e Tsunechiro (1990), o cuidado umbilical é foco de
ansiedade para a maioria das mães, sendo que sugerem aos profissionais o estudo do
significado cultural do coro e da cicatriz umbilical. Monticelli (1997) tamm
encontrou, em seus estudos, que o umbigo nunca é encarado com naturalidade, é
sempre envolto por perigo e medos e, quando a queda o acontece logo, uma certa
aflição toma conta das mulheres.
95
O aleitamento também foi um fator de dificuldade para quase todas as
famílias, devido às complicações e a disponibilidade de tempo exigida das mães,
como mostram os relatos abaixo:
"As dificuldades observadas com o aleitamento foram devido
à grande sensibilidade que a mãe tinha no mamilo, referindo
muita dor, embora não tenha tido fissuras. Tentou todas as
alternativas que lhe foram ensinadas, tanto pelos
profissionais de saúde, como pela rede de apoio social. Na
primeira visita, estava usando pomada e casca de mamão.
Na segunda visita, o obstetra havia receitado outra pomada,
na terceira visita, estava usando um bico de silicone e, na
última visita, havia desistido de tudo, achando que o bebê
estava tendo cólicas por engolir ar devido ao bico de
silicone. Disse que '... ainda dói o mamilo, mas é suportável,
e que está acostumando-se‟” (F2.O4).
"... tu que as horas vão passando, a criança está
chorando... e tu que não vem nada e ele fica brabo e tu
começa a ficar ansioso e tu começa a entrar na onda 'meu
filho vai morrer de fome' ... por sorte tinha uma enfermeira
que disse 'acalma, é assim'... isso é uma coisa que o casal se
apavora, o aleitamento... é muito mais prático você tacar um
Nan, então eu acho essencial os pais terem esta paciência e
fazer o nenê sugar” (F5.E.P).
“... o seio estava muito cheio e dolorido, dizendo que iria dar
de mamar para outro bebê. Não havia sido orientada sobre a
retirada manual do leite” (F4.O2).
Silva (1997) diz que alguns desconfortos são esperados como ocorrência
natural da amamentação, mas como provocam sofrimento, podem ter influência na
continuidade desta, principalmente o ingurgitamento mamário e fissuras mamilares.
A autora refere, também, que a amamentação pode fazer com que a mulher sinta-se
limitada na sua liberdade de fazer outras tarefas e também sinta necessidade de
descanso, pois tem que interromper o sono para alimentar seu filho, sentindo-se,
portanto, prejudicada.
Zagury, citada por Donoso (1997), afirma que o nascimento do primeiro be
é extremamente cansativo, restritivo e amedrontador, embora enternecedor,
maravilhoso e divino. Diz ainda que, nos primeiros meses do be, os pais vivem
“caindo pelas tabelas", aguardando os momentos em que o bebê adormece para lhes
dar um momento pessoal.
96
O cansaço das mães por estarem disponíveis todo o tempo para o bebê
aparece nos seguintes depoimentos: “o que a incomoda são as noites mal-dormidas,
apesar de estar conseguindo dormir um pouco durante o dia...” (F2.O3). “É bem
puxado, agora no início, não vou dizer, porque é, é puxado, dá para cansar também,
mas tem seu lado compensador e bastante...” (F3.E.M).
Para Branden (2000), a privação de sono é uma das causas da oscilação de
humor da puérpera.
Ávila (1998) infere que o filho pode representar ganhos como a possibilidade
de continuidade e amor, mas pode representar a perda da liberdade.
As queixas da mãe da família Aprendizado basearam-se principalmente no
fato do bebê solicitar o peito com muita freqüência e, no início, ela acreditava que
"todos os problemas iam passar quando o leite descesse, pois achava que o bebê ia
mamar e dormir” (F2.O1).
A livre demanda, conforme orientado por profissionais e outras pessoas, foi
percebida por ela como inadequada e de difícil adaptação.
"Não estou me adaptando ainda bem, sabe. Tem coisas que
ainda acho que é diferente, mas com o tempo vai passando.
Tipo isso, de mamar de hora em hora. Eu acho que não é
certo. Mas todo mundo fala que é certo, então para mim
também tem que ser certo. O que vou fazer?” (F2.E.M).
Segundo Silva (1997), as mães podem achar que o filho está solicitando o
peito com uma freqüência maior do que a esperada por elas, interpretando este
comportamento como insatisfação e achando que o período de sono não deveria ser
menor do que duas horas. Esta afirmação foi confirmada por estes relatos: "Na
terceira visita, ela falou que 'acha que não deve dar o seio com menos de 2 a 3 h,
mesmo que o bebê chore‟” (F2.O3). "A mãe disse que achava que tinha pouco leite,
porque ela continuava mamando de hora em hora, mas quando pesaram, ela tinha
aumentado bem de peso” (F2.O4).
De acordo com Branden (2000), o conceito pessoal da mãe pode girar em
torno da sua capacidade de alimentar seu filho e lidar com seu choro e quando o
recém-nascido fica irritável e a alimentação não vai bem, a mãe sente que fracassou.
Diz ainda que o tempo necessário para cuidar do bebê pode parecer-lhe assoberbante.
97
5.1.3.2 Cuidados com a puérpera
De acordo com Ávila (1998), associados aos conflitos emocionais,
encontram-se os desconfortos físicos decorrentes do parto, as dificuldades inerentes à
amamentação, as necessidades físicas do bebê, a grande variação hormonal da
mulher, que acabam por deixar toda a família esgotada e perplexa.
As maiores necessidades de cuidado sentidas pelas puérperas foram durante
os primeiros dez dias, devido aos desconfortos físicos e adaptação às exigências do
bebê, como demonstra este relato de que
“algumas dificuldades foram observadas com a mãe, como
desconfortos com a episiorrafia, ingurgitamento mamário e
medo da evacuação, devido à sutura. Estas dificuldades
persistiram até por volta do 10º dia pós-parto” (F1.O1).
Este dado confirma Ávila (1998) quando diz que é imprescindível o
acompanhamento da puérpera nos primeiros 15 dias após o parto.
Segundo Branden (2000, p. 412), "o conforto é essencial à recuperação e
adaptação da paciente ao novo papel de mãe no período pós-parto".
Porém, em três famílias, a orientação que as mães tiveram foi para procurar o
serviço de saúde apenas para vacinar o bebê e a puérpera, 15 dias após o parto.
Quando assim procederam, algumas antes dos 15 dias, devido ao meu
encaminhamento, não foi realizado revisão pediátrica e nem obstétrica, com exceção
de uma, que foi atendida diretamente pela enfermeira da Unidade Básica de Saúde.
A necessidade do uso de medicamentos pela mãe, foi um fator de
preocupação para a família Felicidade-Responsabilidade, que avaliou risco-benefício,
conforme esta observação: "Sua pressão está baixando, mas está usando Aldomet e
Clorana. Está com menos edema e perdendo peso. Disse que a obstetra falou que o
remédio não fará mal para o bebê" (F5.O2).
Esta puérpera utilizava psicofármacos antes da gestação e, no momento,
estava avaliando, juntamente com a psiquiatra, a necessidade do seu uso em virtude
da amamentação."Falou que a psiquiatra disse que o Equilid a ajudaria, que ela
não pode usar outro tipo de medicação” (F5.O3).
Rocha (1999) afirma que, apesar do desejo da mãe de amamentar o seu filho,
também o receio de que os medicamentos possam prejudicar a criança, e que este
98
é um tema importante, que tem merecido revisões periódicas a respeito do seu efeito
sobre o neonato.
A necessidade de realizar o serviço doméstico e o pouco auxílio recebido,
impediu que algumas mulheres tivessem o repouso necessário à recuperação s-
parto, como mostra este relato
“falaram para não erguer peso, ficar na cama. que o
era para ficar na cama. A mulher que veio fazer o
curativo, ela disse que era para caminhar, para não criar
gases na barriga. Eu não fiquei na cama, nem no primeiro
dia que vim. Eu fui fazer o serviço da casa. Não tinha
ninguém para fazer! E quando a minha cunhada também
tinha que me ajudar, eu ficava com vergonha, pagar eu não
podia pagar, então eu ajudava, porque ficava com vergonha.
Ela deixou as crianças largadas, também tem que trabalhar.
Depois que ela foi embora, sabe de uma coisa, de erguer
peso ou não? Eu erguia, tinha que fazer o serviço” (F4.E.M).
Branden (2000) afirma que algumas mulheres que recebem pouca ajuda e
precisam ser auto-suficientes necessitam ser orientadas a fim de estabelecer
prioridades e metas razoáveis, pois suas necessidades de sono e repouso são maiores.
5.1.3.3 Mitos e crendices populares
Em quatro das cinco famílias pesquisadas, os mitos e as crenças populares
estiveram presentes, com maior ênfase nas duas famílias com menor renda, como
demonstra esta observação:
"Encontrei presente nesta família algumas crendices
populares, como os cuidados no dia, o uso da faixa
umbilical, o receio de lavar o cabelo e a privação de alguns
tipos de alimentos. Perguntei porque achavam o dia
perigoso, e eles responderam que não sabem, todo mundo diz
que é” (F2.O2).
Para Monticelli (1997), os ritos com alimentação e higiene são mais do que
simples cuidado com o corpo da mulher, são ritos que traduzem a cultura do próprio
grupo, onde os alimentos são cheios de símbolos afetivos e sociais.
Essa autora diz que as mudanças culturais o se deram de forma definitiva,
a mudança é gradual. Hoje não se usa mais o enfaixamento total do corpo da criança,
mas permanece o uso do "cinteiro", que continua aquecendo o umbigo, que é
99
considerado "quente", como demonstra esta observação: "a avó colocou um algodão
com faixinha no coto umbilical porque estava molhado” (F1.O3).
Pelo mesmo motivo, continuam a ser usados "remédios caseiros", como o
óleo de cozinha. No caso da família Maravilhoso, também o uso de graxa provada.
Esta família recebeu-me, na segunda visita, dizendo
“Para entrar e fechar logo a porta, porque era o sétimo dia e
o bebê não podia pegar vento. Não tirou o bebê do quarto
durante toda visita. Disse que não sabia porque que o sétimo
dia era perigoso, mas todo mundo diz que é e o pai dela
sempre cuidou deles no sétimo dia e ela ia cuidar pois
tinha esta filha” (F4.O2).
De acordo com Monticelli (1997), o sétimo dia após o parto é um marco
importante para as mulheres de seu estudo, pois tem um significado especial de risco,
que provém de más experiências familiares anteriores. Os cuidados com o bebê e a
puérpera são redobrados e embora sejam de caráter profilático, mantém a identidade
coletiva entre os membros da família. Pela minha experiência, este hábito está
relacionado ao Tétano neonatal, também conhecido como o “mal dos sete dias”.
Segundo Monticelli (1997), a lógica do quente/frio existe em rias culturas,
parecendo vincular-se aos princípios Hipocráticos. Acredita-se que a invasão de
excessivo calor ou frio ao organismo possa originar enfermidades, e a mulher no
período puerperal está num estado "quente", não lhe sendo permitido o contato com o
frio. A “lavação” da cabeça está também associada ao conceito do quente/frio.
Encontrei esta lógica na família Maravilhoso, que "acredita que o frio da
geladeira possa fazer-lhe mal, pois não chega muito perto” (F4.O3). A mãe desta
família acredita também que "se não cuidar-se muito no primeiro não precisará
cuidar-se nos outros filhos” (F4.O3).
Esta crença parece ser a mesma que, no cotidiano da atuação em saúde
coletiva, escuto a respeito dos riscos de lavar a cabeça durante a menstruação. "Se
lavar desde o início não tem problema”.
Uma das mães fez o seguinte relato: "de tanto olhar e beijar o bebê, acha que
está colocando quebrante nele, pois ele puxa a boca e faz caretas” (F4.O4).
Em consonância com Monticelli (1997), as famílias acreditam que os recém-
nascidos, por serem frágeis, são susceptíveis ao sobrenatural, às bruxarias. Neste
100
caso, a própria mãe acredita que possa estar colocando "quebrante"
3
na filha por
admirá-la demais.
O uso de chás caseiros permanece presente nas famílias, que relutam em não
oferecê-los ao bebê, principalmente as avós, apesar das orientações da rede de saúde,
conforme exemplificam as seguintes observações:
"levou no pediatra e ele disse que não era para dar nada
para o bebê, o peito. Ficaram com pena,' coitadinho, será
que ele não fica com sede?' A avó então disse que sempre
deu para os filhos dela e que a bisahavia perguntado
pelo telefone se já estavam dando chá” (F3.O2).
"A avó perguntou-me sobre os chás, gostaria de dar de
colher para o bebê. Quando falei sobre a inconveniência do
açúcar, ela comentou que '... sempre deram e nunca fez mal
aos bebês. Comentou que as crianças antigamente tinham
menos doenças, eram mais fortes‟” (F2.O1).
Em alguns momentos, as crenças populares, divergentes das orientações dos
profissionais de saúde, deixaram a família confusa sobre qual orientação seguir,
como mostra esta observação “o bebê estava com uns 'caroços' no peito e a e
pediu-me para olhar. Ela disse que o pediatra falou para não apertar, mas a avó
disse que se não apertar ela não vai ter bico depois” (F4.O3).
Conforme Monticelli (1997, p.69), "dois sistemas de cuidado à saúde: o
popular e o profissional. Estes dois sistemas têm seus valores e práticas próprias e
pode ocorrer discordâncias entre eles, em algumas sociedades". Ainda segundo a
autora, para a enfermagem desenvolver sua prática é preciso conhecer o cuidado
cultural. Estas discordâncias entre os sistemas aparecem nesta observação
“Eu falei que agora não usavam mais álcool iodado, mas sim
este remédio azul (corante duplo) que colocaram no hospital,
e que não precisava usar mais nada. A mãe disse que ia usar
graxa provada e elas colocaram. No curativo anterior, a
cunhada tinha colocado azeite. A mãe disse estar confusa,
que cada pessoa mandava colocar algo diferente... Disse que
no hospital falaram para não usar nada, mas os parentes
dizem para usar e ela quer que caia logo aquilo, que não
gosta nem de olhar. Colocaram a graxa e uma gaze. Em
seguida, enrolaram com uma faixa” (F4.O2).
3
Espécie de feitiço que faria o bebê ter espasmos faciais
101
Observei que a opção por seguir a orientação profissional ou a popular esteve
muito ligada ao tipo de interação que a família tinha com o serviço de saúde.
Monticelli (1997), em sua pesquisa, também concluiu que as mulheres abandonam o
acompanhamento profissional, caso a interação não tenha sido a esperada.
5.1.4 Sentimentos e percepções da família
Esta categoria refere-se aos sentimentos e percepções que surgiram na família
após o nascimento do primeiro filho e inclui os temas sentimentos e percepções em
relação ao momento vivido, em relação ao bebê e em relação ao atendimento do
Sistema de Saúde.
5.1.4.1 Em relação ao momento vivido
Ávila (1998) infere que o padrão mais característico da primeira semana, após
o parto, é a labilidade emocional, onde alternam-se a euforia e a depressão, que em
alguns casos pode ser intensa. Burroughs (1995) também afirma que são comuns as
mudanças de humor durante o período puerperal, causadas pelo declínio hormonal e
pela insegurança e conflito sobre o papel materno.
Em duas famílias, as mães relataram mudança de humor e, em uma família,
eu percebi essa alteração. A mãe da família Céu Azul falou que “eu sou uma
manteiga derretida. Qualquer coisinha estou chorando, às vezes estou amamentando
ele, e nem acredito, choro, daí ele me olha...” (F3.E.M).
A mãe da família Felicidade-Responsabilidade descreveu a alteração desta
forma:
"... não tinha problema com ninguém, hoje qualquer coisa eu
estouro, eu mudei, eu sinto que sou uma pessoa mais
nervosa, mais quieta. Na gravidez eu estava meio assim
nervosa, mas não muito, mas depois que ele nasceu sim, eu
fiquei bem mais possessiva” (F5.E.M).
Ela atribui esta alteração ao estresse de ficar todo o tempo disponível para o
bebê, como mostra este relato
"ela disse estar bem, mas de vez em quando tem vontade de
chorar. Outro dia o pai chegou em casa e perguntou o que
ela tinha, parecia estar brava. Ela disse que não sabia o que
era. Ele disse que eles tem um filho lindo, saudável, uma
102
relação boa... Ela disse que ele sai, conversa com as pessoas
e ela fica 24 horas com o bebê...” (F5.O3).
Branden (2000) assevera que a tristeza da maternidade é uma alteração
transitória de humor, caracterizada por crises de choro, fadiga e baixa auto-estima,
que ocorre em geral nos primeiros 10 dias após o parto e é autolimitada em 50 a 80%
das puérperas.
Na família Aprendizado, a mãe relatou que conta no calendário os dias, na
expectativa de que passe logo esta fase. Está sendo muito difícil para ela, não
esperava que fosse assim, sente falta de sair, tomar um ar. Diz que parece que o
bebê suga ela inteira” (F2.O3).
Conforme Maldonado (1997), a responsabilidade de assumir novas tarefas e a
limitação de algumas atividades anteriores são algumas das causas da labilidade
emocional.
Esta mãe ainda referiu sentir-se surpresa e decepcionada com a situação
“....por ser a mãe, eu sou a que mais estranho. Eu também
estava acostumada com uma rotina. Eu não pensei que fosse
assim, sabe, nunca ninguém tinha me contado como é que é
ser mãe" (F2.E.M). Disse também que “...parece que todos
os problemas que não teve durante a gestação, que foi ótima,
teve no parto e vai ter agora" (F2.O1).
De acordo com Maldonado (1997), muitas vezes, ocorre desapontamento e a
sensação de que "não era isso que eu esperava", junto com a idéia de não ser capaz
de enfrentar a nova situação.
Ela acredita que estava despreparada para a situação, pois não foi orientada,
de acordo com esta fala
“nos primeiros dias eu andava nervosa e tudo. Se tivesse
recebido as informações, eu tinha me preparado
psicologicamente, bem antes. Quando soube que era parto
normal, eu já comecei preparar minha cabeça a muito tempo.
Eu tinha medo, mas sabia que era uma hora que eu tinha que
passar, então na hora que começou a dar as contrações, eu
sabia que tinha que passar por aquilo. Então me preparei
antes. Se tivessem falado do problema do seio, tinha me
preparado. Agora eu fui pega de surpresa. Nasceu, e
começou tudo a complicar, comecei a desesperar” (F2.E.M).
103
Maldonado (1989) diz que a orientação antecipatória tem o objetivo de
preparar a pessoa para enfrentar uma crise previsível de maneira mais saudável.
Afirma ainda que, quando a pessoa sabe o que vai encontrar e como lidar com as
dificuldades, enfrentando uma situação crítica de antemão, estará psicologicamente
mais preparada para suportar a tensão real.
Em duas famílias, observei que as mães sentiram-se ansiosas para retornar ao
trabalho, demonstrando até um certo receio de que isto não fosse possível.
"Percebi na mãe o receio de não poder retomar a vida
própria, anterior ao bebê, ilustrada pelos comentários feitos
por ela durante uma observação, contando a história de uma
amiga que 'disse que depois que nasce o filho, a mulher
nunca mais vive para ela, só para os filhos‟” (F2.O1).
Maldonado (1989) diz que ter um filho envolve algumas renúncias, que são
temporárias, mas geram o temor de que se perpetuem.
Todos os pais relataram ter sentido mudanças importantes, conforme mostram
os seguintes relatos: "...alguma coisa a gente sente, porque estava acostumado com
uma rotina diferente...(F2.E.P). "não adianta, quando ele nasce é diferente...
quando nasceu é aquele baque” (F5.E.P).
“...agora com o tempo a gente vai ver como é que vai ser,
que alguma coisa mudou. algumas coisas, é difícil de
explicar, é de dentro do coração que a gente sente diferente.
Pelas palavras assim é difícil traduzir (F3.E.P).
Zagury (1994, p.09) diz que na verdade, ser pai ou mãe, é um estado de
espírito que surge e do qual tomamos real consciência após o nascimento do
primeiro filho”.
Kitzinger, citado por Maldonado (1997), afirma que o nascimento pode ser
vivido como uma amputação, pois, muitas vezes, o filho é sentido como parte do
corpo da mãe, como ilustram estes depoimentos: "Na primeira visita, a mãe falou '...
sentir-se estranha sem a barriga, de poder pegar o bebê com a mão‟” (F3.O1).
"acho que a mãe é assim... se o bebê chora parece que aquilo está acontecendo
praticamente com ela mesma” (F5.E.P).
A família Felicidade-Responsabilidade falou sobre seu sentimento em relação
ao aleitamento materno, demonstrando acreditar que vale a pena amamentar, embora
104
existam rios fatores dificultadores neste processo, como a disponibilidade da mãe e
a dificuldade em se manter no mercado de trabalho.
"O aleitamento materno é tudo que a gente queria, por mais
que ele requer um sacrifício grande da mãe, é aquela coisa
de 3 em 3 horas você tem que estar a disposição dele para
mamar, não trabalhar, praticamente é impossível manter um
emprego, não existe patrão no mundo que... se tu for dono
do teu negócio... e mesmo assim é uma concessão que tu faz,
é uma troca” (F5.E.P).
Outro sentimento que apareceu foi a preocupação com o aspecto corporal da
e, conforme a observação de que "A mãe da família aprendizado preocupou-se
com a sua forma física, perguntando-me sobre o uso de cinto abdominal” (F2.O2).
Branden (2000) diz que, após o parto, a auto-imagem da paciente pode
alterar-se intensamente devido ao aumento do peso e a redução do nus muscular,
fazendo com que ela sinta-se deselegante.
O nascimento do bebê, para algumas avós, significou renovação, pois elas
reviveram o nascimento de seus próprios filhos, como mostra esta fala “...dizem que
ela ficou avó, mais velha, ela diz que renovou-se, começou de novo” (F3.O1).
5.1.4.2 Em relação ao bebê
As famílias percebem o bebê como um ser bastante frágil, como mostra este
relato da família Mudança: É super frágil, qualquer mosquitinho faz mal pra ele"
(F1.E.P).
Por isso, sentem medo ao manuseá-lo. A mãe disse ter medo de ficar sozinha
à noite com o bebê... que por ele ser tão pequeno tem medo de pegar, de mexer
(F3.O1).
A maioria das famílias tem medo que o bebê asfixie-se com seu próprio
vômito, tendo sido esta a maior causa de preocupação para elas, como mostram estas
observações: "A mãe disse que o bebê vomitou e ela estava sozinha no quarto,
assustou-se e gritou pela avó” (F3.O2).
"Contou-me que assustou-se outro dia, pois deixou o bebê na
cama para ir tomar banho e quando voltou ele estava todo
vomitado. Pensou que poderia morrer e agora cuida mais,
põe um travesseiro nas costas para ele não virar-se.
Enquanto conversávamos, o bebê engasgou-se e ela
105
assustou-se e ergueu-o. Disse que tem muito medo quando
ele se engasga” (F4.O3).
"o que mais a preocupa é o medo que ele vomite e engula,
contou que outro dia deitou-o após o mama e após ter
arrotado, e quando voltou ele estava todo vomitado”
(F5.O2).
Observei que as famílias ficam em constante estado de alerta, principalmente
as mães, o que as deixa bastante esgotadas, como demonstram os seguintes relatos:
"... é o medo, o tempo inteiro pensando e cuidando, será que ele vai ficar bem, não
vai afogar-se, vai virar-se, vai ter alguma coisa, está quentinho?” (F5.O3). “...
qualquer coisinha pulo da cama, o pai diz: calma, não é assim. Sabe, a gente fica
com aquele medo, que vai acontecer alguma coisa com ele, e a gente não ouve, a
gente fica com aquele receio de noite...” (F3.E.M).
Estes relatos confirmam os achados de Monticelli (1997), o qual assevera que
as famílias de seu estudo consideram que o recém-nascido está num estado liminar e
permeado por perigos potenciais, exigindo muitas ações de proteção e prevenção.
A família Felicidade-Responsabilidade comentou sobre a preocupação com o
filho no futuro, “não sabe como será quando o filho for adolescente e começar a sair
à noite. Disse que agora sabe porque os pais não dormem à noite quando os filhos
saem” (F5.O4).
O casal também preocupou-se em fazer vários exames no pré-natal e achou
que isso alivia bastante a ansiedade. "Fizeram pesquisa de alterações genéticas e
ecografias, principalmente devido a ela estar usando medicamentos antidepressivos
no início da gestação” (F5.O4).
Conforme Maldonado (1997, p.55), "a impossibilidade de ver o bebê dentro
da barriga aumenta a ansiedade referente ao seu desenvolvimento, originando
desejos ou até mesmo sonhos de transparência da barriga" que permitiriam a
visualização do feto.
O autor, ainda, afirma que ter filhos sadios representa, em nível emocional,
ganhar um prêmio. O homem e a mulher conseguem acreditar na capacidade de
merecer e produzir um filho saudável.
Os pais sentiram-se satisfeitos devido ao bebê ter saúde, pois acreditam que
seria muito difícil cui-lo se não fosse saudável, demonstrado pelos depoimentos:
106
"se é uma criança doentinha, acho que é mais difícil, toda hora com febre, toda hora
tem que fazer isso, tem que fazer aquilo” (F1.E.P). “o mamá não é problema. O
problema seria se tivesse doença” (F2.E.A). "a gente não tem noção de como seria
se ele fosse um garoto que chorasse, com problemas de saúde..." (F5.E.P).
Os pais perceberam a inflncia do seu estado emocional sobre o bebê,
conforme o relato de que "... agora a gente mais segura, então ele mais
calminho, a gente sente isso, agora no início a gente tava assim meio apavorado,
inseguro, ele também sentia insegurança” (F1.E.M).
Conforme Maldonado (1997), a criança comporta-se de acordo com os
padrões e regras do grupo familiar, qualquer mudança em um membro da família tem
repercussão sobre os outros.
Donoso (1997), tamm, acredita que o estado emocional da mãe influencia o
desenvolvimento da criança, inclusive dos aspectos orgânicos.
Também perceberam com satisfação o desenvolvimento do bebê e a forma
como ele reagiu a estímulos, como nos relatos: Às vezes ele é chorãozinho, porque
é o jeito dele...toda criança acho que é... caminha na frente dele prá cá, prá lá, ele
vai acompanhando assim, prá onde tu anda ele vira” (F1.E.P). "é maravilhoso
porque cada dia vai ficando mais ativo, vai melhorando os reflexos, pescoço, o
corpinho dele está ficando mais duro” (F5.E.P).
Maldonado (1997) afirma que os pais aumentam sua autoconfiança quando
percebem as manifestações do desenvolvimento saudável do bebê, pois revivem seu
próprio desenvolvimento, podendo reconstruir e atingir assim um novo nível de
integração.
A maioria descreveu seus sentimentos em relação ao bebê como alegria,
amor, felicidade, carinho e responsabilidade:
“É uma coisa muito boa, é uma alegria enorme. Saber que
tem um filho que tem que cuidar. Tu vai lá, antes de fazer
uma coisa, você pensa, tem uma criança. Até no meu caso eu
estou pensando que penso antes no meu filho...” (F3.E.P).
“... estou nas nuvens, bastante feliz. O que eu puder dar para
ela, vou conseguir dar para ela, é a única” (F4.E.P).
Silva (1997) diz que o sentimento de responsabilidade resulta da percepção de
que os pais têm que suprir as necessidades e desejos dos filhos.
107
Estes sentimentos, como pais, fez com que as famílias passassem a
preocupar-se com outras crianças, despertando a solidariedade e desejando que eles
estejam presentes nas outras famílias, pois perceberam o amor como fundamental ao
desenvolvimento das crianças.
"... vale a pena ter um filho, muda a rotina, muda o
cotidiano, mas ele é uma celebração, é uma vitória... A gente
já sabe que a personalidade das crianças e adultos... eu acho
que isto vem desde berço, não recebem segurança, não
recebem carinho. As crianças são espancadas, ou com
palavras, ou não são cuidadas, eles sentem esta necessidade
e depois se tornam não indivíduos marginais, mas
inseguros... são diferentes das crianças que são tratadas com
carinho e eu acho isto... nós estamos babando por ele”
(F5.E.M).
“A mãe quis deixar uma mensagem para outros pais. '...Só
que amem os filhos...se tem cuide com carinho, com amor, é
teu pedacinho que está ali crescendo...‟ (F3.E.M).
A família extensa também participou desta alegria, como aparece nas falas:
“... estou meio perdida, mas estou achando bom...eu estou meio destreinada, mas
assim mesmo ela é minha alegria, e me risada. Falo com ela, ela já me
conhece, risadinha” (F2.E.A). "A mãe falou que 'todo mundo ficou
paparicando, pegando bastante‟” (F3.E.M). O pai disse que “todos queriam saber
como está o bebê” (F3.E.P).
Apesar dos sentimentos acima predominarem, também, apareceram outros
sentimentos, como a impaciência, exemplificado por estes relatos: "... sente como se
a criança fosse esganada, quer comer... não tem paciência quando o bebê
adormece no peito mamando um pouco. Quer que ela mame bastante e durma
para doer o seio de uma vez só” (F2.O1). "Na última visita, a mãe exclamou com
impaciência '... mas eu não tenho mais leite para dar para esta menina. Estou dando
leite a horas para ela. O que vou dar para ela?‟” (F2.E.M).
Como destaca Maldonado (1997), as características do recém-nascido
provocam diferentes reações nas mães, que por sua vez, influenciam o padrão de
reações do bebê. Um bebê irrequieto e voraz pode fazer com que sua mãe sinta-o
como insatisfeito e insaciável, sugando-a, esgotando-a e privando-a de coisas
importantes. É um sistema circular em constante fluxo dinâmico.
108
O ciúmes, por parte da mãe, também, foi um sentimento encontrado em duas
famílias, como mostram as seguintes observações: "Não gosta que a sobrinha de
cinco anos pegue o bebê, porque ela aperta ele e passa a mão na cabeça. Falou para
a sobrinha que se ela machucasse o bebê, ela iria sangrá-la” (F4.O3).
"... foi à consulta da psiquiatra e ela perguntou se a mãe não
tinha ciúmes do bebê. Ela disse que sim, que tem ciúmes
quando os outros pegam o bebê e quando sai um pouco para
ir ao médico fica louca, pensando se ele está bem, se não
está chorando, a psiquiatra disse que isto é normal, é assim
mesmo” (F5.O2).
Duas famílias referiram sentir pena de vacinar o bebê, preferindo não estar
presente neste momento: “... ia pedir para alguém levar o bebê para vacinar porque
não tem coragem, ela é muito pequenina” (F4.O1). "dá pena,... mas precisa,
pensou se acontece alguma coisinha ele é tão indefeso, e um se acontecer
alguma coisa e tu não faz” (F5.E.P).
Acredito que este sentimento, associado à iia de fragilidade do bebê, possa
contribuir para o adiamento do início do esquema vacinal em algumas famílias.
5.1.4.3 Em relação ao atendimento do sistema de saúde
Constatei que, após o parto, a rede de saúde representou uma pequena parcela
do apoio às famílias. Duas delas puderam contar com a orientação do pediatra e uma
família buscou ajuda na Unidade Básica de Saúde do seu Bairro.
Para a família Felicidade-Responsabilidade, a estrutura hospitalar representou
segurança e apoio, como mostra a observação de que
"a família ficou um dia a mais no hospital esperando o leite
descer. O pai disse que 'pediram para que fosse dado Nan, e
acompanhou a 'enfermeira' para ver se estava dando
mesmo... agora que veio o leite estão tranqüilos” (F5.O1).
Ávila (1998) afirma que voltar para casa significa perder a proteção do
hospital e dedicar-se às obrigações que a maternidade impõe, exatamente em um
momento de carência e insegurança.
109
Esta família foi a que mais falou a respeito do apoio institucional, relatando
sua percepção em relação aos profissionais que os atenderam durante o ciclo
gravídico-puerperal. Algumas não foram positivas, como as seguintes:
"O pai contou que foi muito difícil para eles a demora da
'descida do leite', que os profissionais explicavam como era,
mas de uma forma muito seca e eles não ficavam
convencidos. Acharam que faltou o lado humano do
profissional, o pai disse que 'claro é muito difícil, é o
cotidiano, mas cada pessoa que está é uma pessoa, é um
momento novo para ele, é único‟” (F5.O4).
"... fui até indelicado uma hora...tu deixa até de ser educado
quando chega um momento... que tu solta as unhas mesmo,
por mais que tu não queira, eu estava com vontade de
mandar a mulher ... e deixar eu ir atrás de comida para o
meu filho” (F5.E.P).
Maldonado (1997) afirma que um dos fatores sicos para a decisão e
continuidade da amamentação é a postura da equipe de saúde, oferecendo apoio e
informação à família.
Outras percepções foram positivas, ressaltando o lado humano dos
trabalhadores em saúde, como aparece nestes depoimentos:
"nunca vai esquecer quando outro pediatra, que ela nem
conhecia, chegou, colocou as mãos no seu rosto e disse para
ela ficar calma que ia correr tudo bem. Os outros médicos
mal conversavam com ela. O pediatra disse que eles
acostumam com o ambiente e esquecem do paciente"
(F5.O1).
"Como é bom a segurança, tinha uma enfermeira, ela está há
30 anos dentro do Hospital, essa senhora passou uma
segurança para a gente, ela pegava esse bebê com tanto
amor, com tanto carinho, conversou com a gente, olha, eu
acho que vale mais que muita coisa. aquele lado humano
e a experiência dela foi tudo” (F5.E.P).
“... a enfermeira atendeu-a e conversou bastante com ela”
(F4.O4).
Esta falia também falou de sua frustração com a atitude autoritária de
alguns profissionais no hospital.
“Ficaram frustrados, pois combinaram que ele entraria na
sala de parto, e na hora o anestesista o permitiu. A mãe
pedia por ele e eles diziam que ele estava vindo... ela tem
110
síndrome do pânico e a psiquiatra e o pediatra estavam
viajando no dia da cesariana” (F5.O1).
Ávila (1998) afirma que geralmente a equipe prepara tudo para que a cirurgia
corra bem, mas se esquece que a mulher precisa sentir-se amparada e apoiada neste
momento, e da companhia de um ente querido, como a de seu companheiro, que a
traniliza esegurança. A autora diz ainda que a parturiente precisa ser respeitada
e ouvida nos seus sentimentos, opções e vontades, pelas pessoas que a cercam, e não
apenas de companhia. Que a sociedade necessita adotar uma potica de saúde e uma
formação acadêmica que objetive a assistência integral do ser humano, investindo em
treinamento humanizado e melhor remuneração, a fim de ter profissionais
capacitados e não apenas profissionais que esvaziam úteros grávidos.
A humanização do atendimento não ocorre em todos os setores da mesma
forma, uns estão mais desenvolvidos do que outros, como mostra este depoimento do
pai "o que compensou por não ter entrado na sala de parto foi o fato de ter pego o
bebê e acompanhado todos os cuidados no berçário” (F5.O1). As atitudes parecem
estar vinculadas às características pessoais do profissional de saúde e não a uma
filosofia do serviço.
Nos seguintes relatos, fica clara a percepção que a família tem do
atendimento pelo SUS, que foi usado de forma complementar ao atendimento
privado, apenas por necessidade financeira. Acreditam que a menor qualidade do
atendimento justifica-se pela falta de tempo dos profissionais, que tem que atender
uma demanda maior do que no serviço privado: "... na rede pública eles não tem esse
tempo todo, no caso que eu estou falando é ali, na hora do parto, as enfermeiras... é
porque elas tinham tempo para conversar com a gente, explicar” (F5.E.P). "não
fomos tão maltratados, mas uma coisa, eles são práticos e 'Oi, bom dia, boa
tarde, o que você precisa', eles não vem com toda aquela psicologia, mas o que é
importante, eles te dão o exame” (F5.E.P).
"O pai também falou que eles tiveram toda a atenção de
médicos e outros profissionais, mas acha que se fossem
atendidos através do SUS não teriam a mesma atenção.
Sentiram a diferença quando foram fazer o teste do pezinho
na Unidade Básica de Saúde. Acharam que o atendimento
não tem a mesma qualidade...” (F5.O4).
111
Observo que esta opinião sobre a qualidade do atendimento no SUS, já está
presente no senso comum, sendo considerada até como natural para grande parte das
pessoas. Acreditam que para que o atendimento tenha qualidade, é necessário que
seja pago diretamente, o por meio de impostos. Qualquer atendimento obtido é
considerado como "lucro".
Algumas famílias utilizaram remédios caseiros para tentar solucionar os
problemas do bebê, antes de procurar ajuda profissional, de acordo com esta
observação. "Na primeira visita, o bebê estava com secreção ocular, que persistiu
até por volta do 15º dia. A mãe utilizou chá de camomila para lavar o olho do bebê
(F1.O3).
Outras famílias têm vínculo com o pediatra devido ao atendimento recebido
na sala de parto, bem como pelas condições financeiras para manter o atendimento
privado, procurando logo seu auxílio, como mostra a observão de que "na primeira
visita, o bebê estava um pouco ictérico, mas a família havia feito contato com o
pediatra e este havia examinado o bebê, orientando para que o deixassem na
claridade" (F3.O1).
Algumas, ainda, procuram a Rede Básica de Saúde próxima à sua residência,
para intercorrências clínicas, como a família Maravilhoso que relatou que "o bebê
esteve gripado e o levaram na Unidade de saúde para consultar com a pediatra.
Fizeram nebulização toda semana e usaram descongestionante nasal” (F4.O4).
Conforme Monticelli (1997), existem diferentes tipos de interação entre o
sistema popular e o sistema profissional de saúde, e que a natureza desta interação é
que determina quem as famílias procuram quando necessitam atendimento em saúde.
Percebi, também, que as condições financeiras direcionam o tipo de atendimento
procurado pela família.
Observei que, assim como a busca de apoio para o cuidado ao bebê dependeu
do tipo de interação com os serviços de saúde, o cuidado à puérpera seguiu a mesma
linha. As famílias que tinham algum tipo de interação procuraram os serviços de
saúde, públicos ou privados, como mostram as seguintes observações: "... havia feito
curativo na Unidade de saúde, pois tinha secreção em um ponto e achava que um
deles tinha aberto. Disse que marcou revisão com o médico no final do mês, nos
40 dias” (F4. O2).
112
"estava com a pressão um pouco alta ainda, e os pés
edemaciados, mas havia conversado com a médica, se não
baixar a pressão até amanhã, começará a tomar Aldomet por
um tempo. O pai verifica sua pressão diariamente” (F5.O1).
Outras buscaram os conselhos populares, normalmente da própria família,
como demonstra esta observação de que "ela não recebeu orientações profissionais
para suas dificuldades e seguiu instruções da avó” (F1.O1).
Com exceção das duas famílias que receberam atendimento de saúde privado,
as outras procuraram o serviço de saúde para revisão ginecológica pós-parto somente
após minha orientação, pois não haviam sido encaminhadas.
Carraro (1997) considera o puerpério como um período, muitas vezes,
negligenciado pelos profissionais de saúde, na questão dos cuidados à mulher e sua
família.
A família Mudança, apesar da minha insistência, não havia feito a revisão até
o nosso último encontro.
"Observei, também, que até a minha última visita a e
ainda não havia feito revisão ginecológica, apesar de termos
falado várias vezes no assunto. Reforcei novamente,
utilizando o argumento da necessidade de um método
contraceptivo, ao qual a mãe pareceu sensibilizar-se dizendo
que não quer descuidar-se, que outro bebê neste momento
seria muito difícil” (F1.O4).
Esta família relatou que "ficou chateada com a obstetra com a qual fez todo o
pré-natal no consultório particular e quando ela a viu no hospital nem a
cumprimentou. Ela acha que foi porque fez o parto pelo SUS” (F1.O2).
Observei que esta família ficou sem vínculo com os serviços de saúde, o que
pode ter dificultado a procura pelos serviços, pois não buscou atendimento nem para
a puérpera e nem para o bebê.
5.1.5 Relações da família
Esta categoria é composta por três temas, a interação com o bebê, o
relacionamento do casal e o relacionamento da família nuclear com a família extensa,
e fala sobre as relações da família após o nascimento do primeiro filho.
113
5.1.5.1 Interação com o bebê
Ziegel e Cranley (1985) dizem que o nculo mãe-filho está profundamente
relacionado ao progresso da mãe nas fases de aceitação e participação. Nesse
momento, a mulher sente-se mais "mãe", assumindo maior responsabilidade pelo
cuidado ao filho.
Esta afirmação está ilustrada na observação de que "no 14º dia após o
nascimento, a mãe trocou o bebê pela primeira vez e disse que '... sentiu-se muito
bem, mais segura, mais mãe‟(F3.O3).
Na maioria das famílias, observei uma boa interação com o bebê, como
demonstram estes relatos: “acho que ele me ama... ele resmungava, eu tinha ido
tomar banho. Daí eu vim aqui na sala e peguei ele, pronto, parou. sente o cheiro
da mãe, agora ele conhece a voz,... até o pai ele conhece...” (F3.E.M). “ela o
beija e chama de princesinha. Disse que à noite fica um pouco brava quando ela não
dorme, mas em seguida a beija muito” (F4.O3).
De acordo com Branden (2000), a interação depende da habilidade mútua de
enviar, receber e interpretar corretamente as mensagens.
Os pais, apesar de se sentirem um pouco excluídos, esforçam-se por
estabelecer o vínculo com o bebê, conforme esta fala:
“Eu estou gostando muito dessa criança que veio... mudou,
mudou bastante coisa na minha vida... não tem muitas
palavras a dizer... Às vezes, eu pego ele no colo, ele uma
resmungada, será que vai chorar, vai querer a mãe dele.
eu insisto mais um pouco, embalo ele, beijo ele, daí ele
acalma, às vezes dorme, às vezes não, chora, é mamá. É uma
coisa que ainda eu não posso fazer. Mais tarde, quando tiver
a mamadeira, daí ele vai aceitar a mamadeira do pai dele”
(F3.E.P).
Papalia e Olds (2000) dizem que parece que chegaram ao fim os tempos em
que se diminuia a contribuição do pai no desenvolvimento de seus filhos e que as
descobertas das pesquisas salientam a importância do mesmo. Afirma que os pais
estabelecem laços íntimos com seus bebês logo após o nascimento, tomando-os nos
braços orgulhosos.
Na família Aprendizado, observei uma certa dificuldade de interação, que
pareceu melhorar na segunda visita, mas voltei a observar na última visita ainda
114
não se observa gestos de carinho da mãe, os gestos parecem automáticos. O bebê
ficou no colo do pai, mas começou a choramingar e ele achou que não tinha jeito
para pegar e deu o bebê para a avó” (F2.O4).
Percebi dificuldades no vínculo, através da manifestação da mãe, dizendo que
"o primeiro mês de vida do bebê vai ser sem graça, pois ele não reage” (F2.O1).
Conforme Ávila (1998), para o casal, constatar que o filho tão sonhado é uma
criaturinha que apenas chora, dorme, exige atenção e parece indiferente a tudo, pode
provocar decepção e perplexidade.
Branden (2000) afirma que quanto mais atento e responsivo for o bebê, maior
será a interação com os pais e que os bebês difíceis de consolar são menos agradáveis
de interagir. Diz que os pais devem ser orientados sobre os tipos de temperamento do
bebê e como lidar com cada um. Afirma, ainda, que é fundamental a sensibilidade
dos pais aos sinais do recém-nascido para desenvolver sua relação com o bebê.
Seibel (1992) diz que onde o apego ou o nculo e-filho foi deficiente ou
inexistente, poderá acontecer situações de maus-tratos. Diz que a e está passando
por uma "crise do desenvolvimento", tendo que superar novos desafios, e isto pode
desencadear conseqüências sadias ou patológicas.
5.1.5.2 Relacionamento do casal
Conforme Branden (2000, p. 488):
"O nascimento de um membro novo na família desencadeia
algumas alterações no relacionamento do casal. As
demandas constantes de cuidados por parte do recém-
nascido podem restringir a liberdade do casal, interferir com
sua privacidade, alterar suas relações sexuais e provocar
alterações gerais no seu estilo de vida. Além disso, a
paciente pode ter expectativas de papéis às quais o
companheiro não pode - ou não quer - atender".
Todas as famílias relataram que houve algumas mudanças, mas que estas não
afetaram muito o relacionamento do casal, como demonstram os seguintes relatos:
"Na opinião do pai 'muda umas coisas. Sempre muda uma
coisinha, mas não que afeta'(F1.E.P). A mãe também falou
que “... mas eu acho que antes tava bem, e agora também, só
que tem um integrante a mais na família” (F1.E.M).
115
“A relação mudou com a vinda do nenê, mudou um
pouquinho, mas praticamente está como era antes” (F3.E.P).
As mudanças que pude observar ou que foram relatadas, disseram respeito à
divisão de tempo e atenção entre os pais e o bebê, bem como no tocante ao
relacionamento sexual, exemplificado nestas falas: “Todas as tardes ele sai do
serviço e vem para casa dá uma olhadinha...beija o nenê e esquece a mulher”
(F3.E.M). "A mãe contou-me que 'outro dia o pai estava bicudo porque queria ir em
um aniversário e ela dizia que tinha muito serviço e não queria ir. Aí resolveu deixar
tudo e sair com ele e o bebê‟” (F4.O3).
"... agora a vida do casal muda, tu tem que estar consciente
disso, o marido principalmente, que eu acho que geralmente
o homem se liga mais em sexo que a mulher, até pelo próprio
momento que a mulher está passando também e a gente tem
que ter mais paciência... ele (o bebê) te completa esta parte...
mas tu acaba de pensar em você mesmo, e quando tu te toca
está vivendo só em função dele” (F5.E.P).
Ziegel e Cranley (1985) dizem que a mãe passa a maior parte do tempo com o
bebê e parece excluir o pai. Ela fica temporariamente com pouco interesse em outras
atividades e a relação sexual fica prejudicada devido à episiotomia recente e à fadiga.
Conforme Branden (2000, p. 489), "o nascimento do bebê costuma alterar a
relação sexual do casal. A freqüência e o desejo de ter relações sexuais diminuem no
período pós-parto".
Algumas famílias disseram ter havido alguns conflitos entre o casal, a maioria
motivado pelo excesso de tarefas da mãe e a pouca participação do pai, de acordo
com os seguintes relatos: "... tem que fazer alguma coisa, eu digo, segura ele um
pouquinho, ele chora, mas ele pega o nenê chorando e diz pega aqui, pega aqui,
pega aqui, apavorado... mas segura ele! Acalma! então tenho que largar do serviço,
ele em casa, pra mim pegar o nenê” (F1.E.M). “... o pai não ajuda e ela fica com
vontade de bater nele” (F4.O1). "O casal relatou que surgiram conflitos,
principalmente pelo fato da mãe estar estressada por ficar só dentro de casa,
cuidando do bebê” (F5.O4).
116
Branden (2000) afirma que devido à sensação de maior responsabilidade, o
pai pode sentir-se estimulado a trabalhar mais, enquanto a mãe pode querer que ele
fique por perto para ajudar a cuidar do bebê.
A família Responsabilidade-Felicidade disse que um dos motivos de conflito
entre o casal foi a atitude possessiva da mãe em relação ao bebê.
"Isso às vezes me incomoda...claro que eu não gosto que
qualquer estranho, qualquer pessoa... que também a gente
não pode exagerar neste sentimento, porque as pessoas que
estão pegando ele são da família, mas ela vai ter que
trabalhar este lado, até porque assim que ela começar a
trabalhar, ela vai ter que por uma pessoa para cuidar dele e
aí vai complicar se ela continuar, eu acho” (F5.E.P).
5.1.5.3 Relacionamento da família nuclear com a extensa
Conforme já foi visto nas outras categorias, os avós representam um papel
muito importante para o equilíbrio das famílias. O relacionamento com eles na
maioria das famílias foi muito bom, como mostra esta observação: “o avô cuida do
bebê, fica tempo com ele no colo. Foi junto registrar o bebê e não gostou por não
precisar a assinatura dele no documento” (F3.O2). "Ela também disse que 'o avô
está muito feliz, levanta de noite para olhar o bebê (F3.O3).
Observei apenas alguns episódios de conflito, quando as mães acharam que a
interferência dos avós não foi positiva ou não correspondeu às suas expectativas,
demonstrados pelas seguintes observações:
"Frente às dificuldades demonstradas pela mãe, a avó disse
que sempre tinha dito como ia ser com um filho, mas a e
respondeu que 'a mãe dizia assim, o dia que tu for mãe, tu vai
saber como é difícil, mas nunca me falou como é ter um
filho” (F2.E.M).
"... a mãe estava um pouco contrariada na sala com o bebê e
o avô. Este disse que gostava de brincar com o bebê, fazendo
cócegas nas axilas para ver como ele reage. Ela disse que ele
machucava o bebê” (F5.O4).
A família Felicidade-Responsabilidade relatou que o bebê aproximou a
família extensa. “Depois que ele nasceu, não queria saber mais se tinha aquele
problema ou não tinha” (F5.E.P). A mãe disse que “parece tão pequeno o problema
perto de uma coisa tão enorme que é... (F5.E.M). O pai reforçou dizendo que
117
“estávamos acostumados a viver nós na nossa casa, agora a gente está abrindo
mão disso, que é construir o nosso lugar” (F5.E.P).
Haley (1991) diz que os arranjos familiares são revisados quando nasce uma
criança e que haverá influências na criação e educação dela. Afirma que o filho
aproxima o casal da rede total de parentes, embora sejam agora mais
individualizados como adultos.
5.1.6 Necessidades da família
Nesta categoria, onde estão descritas as necessidades sentidas pela família
após o nascimento do primeiro filho, estão incluídos dois temas: aspectos financeiros
e educação em saúde.
5.1.6.1 Aspectos financeiros
Todas as famílias relataram terem aumentado as necessidades financeiras
após o nascimento do bebê, sendo que estas necessidades trouxeram algumas
dificuldades, como mostram os depoimentos: “... não sabem como os pobres cuidam
dos seus bebês, como compram as coisas necessárias, pois está difícil para eles, os
gastos com farmácia e médicos” (F2.O3).
das coisas básicas para o uso dele, tu a fralda, o
hipoglós, o talquinho e essas necessidades que a gente tem
porque o financeiro que mexe com a gente. A casa muito
pouco teve que se adaptar a ele...” (F5.E.P).
A família Maravilhoso disse que para eles esta foi a maior necessidade
sentida, devido à compra de remédios.
"Como ela nasceu antes do prazo previsto, eles estavam sem
dinheiro no momento. O pai falou que 'no fim do mês, nós
calculava, depois do dia 20, recebo vale. Daí o cara tem
dinheiro. Ou no final do mês, o cara já recebe salário. Já tem
dinheiro também. que ela nasceu antes e daí apertou
bastante, e não tem para quem pegar dinheiro, não tem
isso‟” (F4.E.P).
O fato da mãe parar de trabalhar também influenciou muito na renda familiar.
"O casal demonstrou preocupação em relação à necessidades que surgirão, como
118
roupas e leite. Disseram que não poderão comprar porque a mãe parando de
trabalhar ele não poderá pagar tudo sozinho” (F4.O4).
Uma das famílias optou por comprar um plano de saúde privado: “...a gente
sabe que criar ele não é fácil, é pediatra, é remédio todo mês. Esta semana eu fiz
plano de saúde para nós. Até então foi tudo particular...já é difícil para dois,
imagina para mais uma criança” (F3.E.M).
Bilac (1995) afirma que devido às precárias condições oferecidas pelos
serviços blicos de saúde e educação, a busca por serviços privados é cada vez
maior, aumentando consideravelmente os custos da reprodução. Diz também que tal
fato constitui um forte estímulo ao trabalho feminino.
Mesmo com dificuldade, algumas famílias procuram o atendimento privado,
pois não confiam no atendimento público, muitas vezes, prestado pelo mesmo
profissional. Outras utilizam um atendimento misto, recorrendo ao sistema público e
ao sistema privado, como no caso das famílias que fizeram o pré-natal no consultório
particular e o parto pelo SUS. Também aquelas que fizeram o pré-natal no
consultório particular e os exames laboratoriais pelo SUS.
Como observei, algumas famílias ficam sem opções, pois não têm condições
de manter um plano privado, o sistema de saúde público não cobre suas necessidades
e a e não pode trabalhar, pois não tem quem cuide do bebê. A estrutura de creches
é muito deficiente no município.
5.1.6.2 Educação em saúde
Berthoud e Bergami (1997) dizem que ajudar os casais a compreender e
acompanhar toda a trajetória do nascimento de um bebê e as implicações desta em
suas vidas e na vida familiar é assegurar uma família mais feliz e ajustada.
De todas as necessidades das famílias, a que apareceu com maior ênfase foi a
de educação em saúde. No decorrer das visitas, pude perceber a grande carência de
informações que as famílias têm sobre os mais variados aspectos, principalmente a
respeito das características normais do bee sobre o aleitamento, como mostram as
seguintes observações:
" não tinha nenhuma orientação sobre cuidados com fissura
mamilar e nem sobre o puerpério e cuidados com o bebê, a
mãe achava que o parto e o cuidado com o bebê seria mais
fácil do que está sendo” (F1.O1). "Como não receberam
119
orientações sobre o início do trabalho de parto, a mãe disse
'terem ido várias vezes ao hospital achando que estava na
hora do nascimento‟” (F1.O2).
“... eles falaram que era para levar com 15 dia ao Posto.
Nem deu 15 dias, nós levamos ao Posto para fazer a vacina,
e tudo. Só isso de cuidado. Ninguém me falou o que tinha que
fazer. Acho que pensaram que eu sabia tudo” (F4.E.M).
"Outra orientação que a família acredita que faltou foi sobre
amamentação. Disseram que no hospital foi ótimo, mas antes
só leram que era importante, 'mas como proceder, como
cuidar do teu seio, como estimular, sugar o seio, é que
está, foi um fator que causou complicações a mais, que não
precisaria‟” (F5.E.M).
Conforme Berthoud e Bergami (1997), o nascimento do primeiro filho,
embora pareça ser um processo biológico simples e natural, culturalmente, tornou-se,
muitas vezes, um processo complexo e artificial, para o qual os casais parecem estar
cada vez mais despreparados.
Mesmo em famílias que foram atendidas pelo setor privado, observei
deficiência de orientações. A maior fonte de informações que eles tiveram foi através
de leituras feitas por iniciativa própria e através da rede de apoio familiar, como
demonstram estes depoimentos:
"O pai acha que teria sido muito complicado se não tivessem
lido, 'porque a gente dependeria de uma pessoa para nos
fazer isso, ou a gente iria pagar um preço, e ele (o bebê)
principalmente pagar o preço, porque pessoas inexperientes,
sem conhecimentos, eu acho que a pessoa fica muito mais
insegura e fica com medo também, e isso transmite, porque
tu vai fazer uma coisa e não sabe‟” (F5.E.P).
"... o saber é muito importante, porque não vai ficar ligando
para o pediatra toda hora e tal, que era o que eu gostaria, ter
o pediatra dentro de casa 24 horas” (F5.E.M).
Maldonado (1997) diz que nossa sociedade ainda o se deu conta das
dificuldades da gravidez e, por isso, não oferece o apoio necessário. Afirma ainda
que na maioria das sociedades primitivas e rurais isso não acontece, pois oferecem
rios rituais de transição e ajuda por meio de mulheres mais velhas e experientes e
os papéis são bem definidos.
120
A família Mudança relatou que gostaria de ter sido orientada sobre o choro do
bebê e fez imeros outros questionamentos sobre eliminações, higiene, cuidados
com o coto, uso de medicações e características do bebê.
"Uma coisa que eu achei foi o choro. Um choro é uma
surpresa, porque às vezes não sabe o que ele tem. No início
eu ficava com medo, imaginava, dois dias, três dias, pode
chorando de uma outra coisa... eu achei isso, que nem sabia
que as crianças chorava tanto assim” (F1.E.P).
A e da família Aprendizado falou que
“eu queria que alguém me dissesse que as coisas é assim.
Alguma pessoa que fosse mãe ... explicasse como é ter uma
criança dentro de casa. Porque eu não tenho experiência
nenhuma, não sabia que iria ser assim... enfatizou que essa
orientação era o mais importante e foi o que faltou a ela”
(F2.E.M).
Sua fala foi reforçada pela avó materna, que disse que se ela tivesse tido
orientações antes, teria evitado muita coisa(F2.E.A).
Maldonado (1997) cita Janis, que considerou a orientação antecipatória como
uma 'vacina emocional', enfatizando que a situação deve ser apresentada em seus
detalhes reais, que os aspectos difíceis ou dolorosos não devem ser negados e, ao
mesmo tempo, deve-se permitir a livre expressão dos sentimentos de angústia e
temor, mostrando uma maneira de enfrentar a situação dentro de uma perspectiva de
otimismo realista.
Conforme Ávila (1998), para prestar uma assistência eficaz à família, é
preciso que o profissional de saúde compreenda e reconheça as vivências emocionais
do puerpério.
A presença de um profissional de saúde no domicílio foi vista como
possibilidade de confirmar ou não o que ouviam da rede de apoio social."A mãe
perguntou-me sobre obstrução nasal e disse que uma tia falou que o bebê tinha uma
carne crescida no nariz. Perguntou-me também se deveria trocar o bebê à noite
quando fizesse cocô, pois a vizinha disse que ficaria mal acostumado” (F1.O3).
De acordo com Elsen e Marcon (1999), é no domicílio que as pessoas
expressam mais facilmente suas crenças, práticas e valores sobre saúde e doença.
121
Algumas famílias receberam folhetos educativos no hospital e acharam muito
bons, conforme esta fala
“ajudou bastante. Ali diz que não pode passar talco, perfume
no nenê e eu não sabia. Secar bem as dobrinhas do nenê...
Até lavar a roupa com sabonete, nunca ia lavar com isso. Diz
também que era para colocar uma colher de vinagre branco.
Ainda não coloquei, lavo com sabão de côco ou glicerina.
Mas também alguma coisa que a gente não sabia, que no
livrinho explica. Esses dias ele leu primeiro e estava me
dizendo, depois li eu. deixei ali em cima para quando eu
quero tirar uma vida, pego o livrinho para ler”
(F4.E.M).
Outras deixaram os folhetos de lado e leram após o meu incentivo,
achando que as informações eram importantes, mas “este manual deveriam ter dado
antes do nascimento. Não adianta depois que nasce. Porque daí a gente está
preparado” (F2.E.M).
Na família Mudança, os folhetos chegaram por acaso em suas mãos, quando a
avó materna encontrou-os em outra ocasião que esteve no hospital.
Percebi que estes folhetos precisam ser trabalhados pela equipe de
enfermagem, junto com as famílias, não basta deixá-los sobre a mesa, no quarto. No
entanto, é necessário perceber o momento adequado para levar informações à mãe,
pois "a mãe falou que no hospital falam muitas coisas, mas ela não conseguiu
apreender muito, pois estava meio atordoada” (F1.O1).
Burroughs (1995) infere que, na primeira fase as o parto, chamada por
Rubin de “fase do aceitar”, que, dura durante os dois primeiros dias, a mãe aceita os
cuidados e apoio dos outros e pode estar com sua capacidade de concentração em
novas informações reduzidas. Nesta fase, talvez, a enfermagem precise repetir as
informações. É uma fase de passividade e dependência.
Neste momento, as outras pessoas da família poderiam ser orientadas.
O alojamento conjunto não foi aproveitado como um espaço educativo, como
mostra o relato de que
"elas não trocam na tua frente, elas levam, eu acho que para
lavar, por isso eu não acho muito legal, o melhor seria se
elas trocassem na frente da gente, e no primeiro dia tu fica
meio assim, parece que saiu da tua frente e tu fica opa,
para aí, seria mais gostoso se elas fizessem aqui” (F5.E.P).
122
A família teve consciência de que este seria um momento em que eles
poderiam aproveitar para aprender cuidados com o bebê.
Ziegel e Cranley (1985) afirmam que os pais terão mais oportunidade de
aprender, se puderem cuidar do seu filho no hospital, sob orientação de uma
enfermeira.
Algumas famílias tomaram a iniciativa de solicitar informações no período da
hospitalização. Esta atitude não partiu espontaneamente da equipe de enfermagem.
"O pai relatou que observou tudo no hospital, a forma como
os profissionais cuidavam do bebê. Ele perguntava, elas
paravam e ensinavam, disse que as enfermeiras
preocupavam-se com o aleitamento, mas quando ele solicitou
elas se prontificaram a ensinar as outras coisas (F5.O4).
Ávila (1998) diz que o profissional de saúde pode acolher e apoiar a família,
levando-a a utilizar seus recursos interiores e desenvolver sua autoconfiaa para
cuidar do filho.
Riesco e Tsunechiro (1990) afirmam que um dos aspectos positivos do
sistema de alojamento conjunto é a possibilidade de educação da mãe sobre os
cuidados com o bebê, através de orientações teórico-práticas. No caso do dado
encontrado neste estudo, eu incluo também o pai e os avós como receptores
importantes destas orientações.
As famílias perceberam as falhas existentes no serviço, quando o atendimento
recebido não supriu suas necessidades.
"A mãe relatou que o seu maior medo era da anestesia, pois
tem Asma e é alérgica. Ela gostaria de ter sido orientada,
saber o que poderia ou não acontecer. Recebeu um
formulário perguntando se havia gostado da entrevista que o
anestesista fez antes, pedindo os seus problemas de saúde, e
ela disse que nunca foi feita esta entrevista” (F5.O4).
A necessidade de trabalhar impede, muitas vezes, que as famílias aproveitem
algumas poucas oportunidades educativas que são oferecidas pela Rede Básica de
Saúde, mas que seguem horários convenientes ao serviço,o à clientela.
"A mãe disse que nunca conversou com a equipe de saúde da
Unidade Básica sobre estes medos e que gostaria de ter
123
participado do grupo de gestantes e do Planejamento
Familiar, mas não pode porque trabalhava. ' Eu gostaria de
ter ido, a gente aprende. Até ensinavam como é que tem que
fazer com o nenê e tudo. Eu não podia ir nenhuma vez,
porque não tinha hora para chegar em casa, era noite‟”
(F4.E.M).
Algumas informações não adequadas são fornecidas às famílias, por
profissionais de saúde, causando confusão e pouco auxílio, como mostra este relato
“quando eu fui tomar a injeção da rubéola, comecei a
conversar, daí falei do problema do seio. Daí elas me
mandaram passar mel e disseram que os médicos não falam
direito. Porque tem uma pomada que a gente passa no seio
uns dias antes, prepara o seio para não ter esse problema de
dor... Saí de lá indignada...” (F2.E.M).
As famílias buscaram orientações a fim de se preparar para a vinda do bebê.
Todas trocaram informações com pessoas que já tiveram filhos e três delas, também,
procuraram informar-se através da literatura, como mostram os seguintes exemplos:
" ... bastante amigas tem nenê. Então mais ou menos sabia como era o parto,
cólica, febre, que sempre dá de noite, essas coisas... a gente vai, pede para um, pede
para outro, e vai aprendendo” (F1.E.M).
"A mãe buscou informar-se sobre a fase que estavam
passando através da literatura e também conversando com
outras pessoas e disse que até agora o tiveram
dificuldades maiores para saber se faltou alguma
orientação” (F3.O4).
Estes dados confirmam a opinião de Boyd (1990), quando diz que a família
acha-se mais aberta a intervenção durante o tempo de crise, quando as fronteiras do
sistema da família estão mais permeáveis.
Portanto, esta fase é muito rica para que a enfermeira possa interagir com a
família, promovendo a educação em saúde e estabelecendo vínculos que poderão
auxiliar em outras fases do seu ciclo vital. É importante que a interação possa iniciar
durante o pré-natal ou até mesmo antes da concepção.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, procurei ampliar o enfoque normalmente dado ao binômio mãe-
filho no período puerperal, para a família, no contexto domiciliar, a fim de subsidiar
o cuidado de enfermagem à família em expansão, através do conhecimento de suas
vivências quando retornam ao lar com o primeiro filho.
Para alcançar esse objetivo, utilizei um estudo qualitativo e o método
descritivo-exploratório. Acredito que a metodologia escolhida respondeu às questões
do estudo, mesmo que não tenha esgotado o tema, o qual poderá ser revisto através
de outros olhares e métodos.
A ótima acolhida de quase todas as famílias, bem como a relação que se
estabeleceu foram fatores que facilitaram a coleta de dados e mostraram a
importância da presença do profissional de saúde no domicílio, principalmente em
períodos de transição familiar, como é o caso do nascimento do primeiro filho.
Essa presença ainda não faz parte da rotina dos serviços de saúde, apesar de
algumas tentativas isoladas e do Programa de Saúde da Família (Brasil, 1994). Até
mesmo o atendimento pós-parto, na maioria dos serviços, não tem uma rotina
preestabelecida, ficando a família sem vínculo com o sistema de saúde quando
retorna para casa.
As mudanças na família, após o nascimento do primeiro filho, apareceram
com evincia na pesquisa.
Os novos papéis desempenhados pelos pais exigiram alguns ajustes e
negociações, principalmente no que se referiu ao papel paterno. Embora, ainda,
acredite-se que os pais tenham mais dificuldade no cuidado ao bebê, as mães, de
maneira geral, solicitaram sua participação e eles responderam positivamente a essa
solicitação. A atividade profissional do pai foi o principal fator que limitou sua
participação. Considero que os profissionais de saúde têm um importante papel no
estímulo dessa participação e, também, na não exclusão do pai do ciclo gravídico-
puerperal.
A adaptação ao be foi considerada difícil, principalmente devido aos
cuidados e disponibilidade exigidos pelo bebê e ao aleitamento. As maiores
dificuldades foram no período inicial e a adaptação foi gradual, envolvendo toda a
125
família, inclusive a extensa. Considero que a orientação antecipatória poderia
diminuir as dificuldades dessa adaptação, uma vez que as famílias estariam melhor
preparadas para as exigências do momento, prevenindo complicações.
A família extensa representou o principal papel de apoio para a família
nuclear, com ênfase na avó materna, principal cuidadora da puérpera e do bebê neste
período. A permanência da rede de apoio, junto à família, variou de 15 a 35 dias, a
maioria no domicílio da família nuclear. Todas valorizaram muito esse apoio,
considerando-o imprescindível, apesar de terem sentido-se incomodadas, às vezes,
com a presença de muitas pessoas em casa. Também, perceberam-se confusas e
inseguras com a infinidade de palpites da rede de apoio.
Novamente, como na questão da adaptação, a família beneficiar-se-ia estando
orientada, pois poderia sentir-se mais segura para optar pela melhor forma de agir em
relação ao "bombardeio" de opiniões que a cerca. Essas orientações, na medida do
possível, devem incluir as avós e os pais, tendo em vista o papel preponderante
exercido por eles nesse momento. Orientar a família para poder limitar as visitas e
garantir um ambiente tranqüilo no domicílio, também deve ser um tema incluído na
educação em saúde para a família em expansão.
A organização do cotidiano da família, após o nascimento do bebê, sofreu
mudanças, principalmente no âmbito doméstico. Foram as mães que mais sentiram
essas mudanças, pois interromperam suas vidas profissionais e passaram a ficar
disponíveis 24 h para o bebê. Sentiram necessidade de auxílio nas tarefas dosticas
e dificuldades para reorganizar seu cotidiano. O casal demonstrou preocupação em
o perder seu espaço em função do bebê. Acredito ser importante orientar as
famílias de que este é um momento transitório e que não se vai perpetuar.
Na organização no âmbito público, também, foram as mães que mais
preocuparam-se com o seu futuro retorno ao trabalho, em relação a conciliar trabalho
e amamentação e também com quem deixar o bebê. Os pais preocuparam-se em ter
que deixar a mãe sozinha com o bebê quando fossem trabalhar.
Percebe-se a ineficiência do apoio social para as mães que trabalham fora do
lar. A quase inexistência de creches, principalmente, próximas ao local de trabalho
que permitam à mãe manter a amamentação e a ineficiência do transporte público na
cidade, dificultam o retorno ao trabalho e, às vezes, até impedem esse retorno.
126
Novamente, a avó materna surge como opção para cuidar do bebê enquanto a mãe
trabalha.
A maneira com que a família cuida dos seus membros e as dificuldades para
realizar este cuidado apareceram no estudo, principalmente em relação aos cuidados
com o bebê. O choro do bebê foi um fator ansiogênico para os pais que tiveram
dificuldades para entender o motivo do mesmo, utilizando, muitas vezes
desnecessariamente, medicamentos antiespasmódicos. Dificuldades na manipulação
e higiene do bebê, principalmente do coto umbilical e do banho, ficaram
demonstradas. As famílias também mostraram estar despreparadas para prevenir ou
lidar com as complicações do aleitamento materno, bem como desconhecer a
fisiologia do mesmo. Esse fato trouxe problemas que poderiam ter sido evitados com
a educação em saúde.
As famílias mantiveram uma supervisão constante ao bebê, muitas vezes até
exagerada, devido ao grande receio de que algo pudesse acontecer a ele.
Assustavam-se com reações e reflexos normais do recém-nascido, demonstrando
desconhecê-los. Esse fato, mais a disponibilidade permanente solicitada pelo
aleitamento, deixou as es bastante cansadas e irritáveis, sendo uma das causas da
sua oscilação de humor. Considero que as características do recém-nascido normal
devam ser incluídas nos programas de educação em saúde, a fim de tranilizar as
famílias, na medida em que elas possam identificar se o que o seu bebê apresenta é
normal ou não.
As necessidades de cuidado pela puérpera foram sentidas principalmente nos
primeiros dez dias e relacionaram-se aos desconfortos físicos, devido à episiorrafia
ou à recuperação pós-cirúrgica da cesariana e às complicações mamárias. O auxílio
nas tarefas domésticas apareceu como importante para a recuperação e tranqüilidade
neste período. Acredito que a família deva ser orientada sobre a necessidade de
organizar-se em relação a quem vai ajudá-la após o nascimento do bebê.
As famílias que foram atendidas pelo SUS não tiveram nenhum tipo de
encaminhamento ou assistência à puérpera, com exceção de uma, que procurou
espontaneamente pelo serviço. Percebo este fato como uma grande falha nos serviços
de saúde, que não tem o atendimento à puérpera normatizado.
127
Muitos mitos e crendices populares estiveram presentes nas famílias, como o
perigo do dia, o uso da faixa umbilical, o receio de lavar o cabelo, o medo do frio,
os "quebrantes". Constatei que o uso de chás caseiros é um hábito forte entre as
famílias, mesmo sendo contrário a recomendação dos profissionais de saúde. As
famílias ficaram confusas em relação a seguir as orientações profissionais ou
populares e sua decisão esteve muito ligada ao tipo de interação da família com o
sistema de saúde. Acredito que o vínculo do usuário com o serviço de saúde, que
respeite seus saberes, possa aproximar o sistema profissional do popular, tornando
esta interação mais resolutiva.
Os sentimentos e percepções da família foram bastante intensos após o
nascimento do primeiro filho. Em relão ao momento que estavam vivendo,
apareceu a labilidade emocional das mães, que foi justificada por elas devido ao
estresse de ficar todo o tempo disponível para o bebê, por se sentirem despreparadas
e surpresas com a situação vivenciada e pelo receio de não retomarem a vida anterior
ao bebê. Os pais também relataram terem sentido mudanças importantes no seu
cotidiano. A satisfação em poder amamentar e a preocupação com o aspecto corporal
também foram sentimentos evidenciados. Para algumas avós, o nascimento dos netos
foi percebido como uma renovação, um "começar de novo".
Novamente apareceu a necessidade de preparar a família sobre as vivências
que a esperam e sobre a normalidade dos sentimentos gerados por elas, para que não
sintam-se culpadas por não sentirem somente felicidade com o nascimento do bebê.
As falias perceberam o bebê com um ser frágil e por isto sentiram medo de
manuseá-lo e também de que algo de ruim pudesse acontecer, principalmente a
asfixia pelomito.
Os pais sentiram-se satisfeitos por terem filhos saudáveis e também
felicidade e responsabilidade com a presença do bebê. Perceberam a influência do
seu estado emocional sobre o bebê e sua reação a diferentes estímulos. A família
extensa também participou destes sentimentos. A impaciência com o bebê mais
irrequieto, assim como o ciúmes em relação a ele foram sentimentos encontrados.
Na percepção da família sobre o atendimento do sistema de saúde, encontrei
aspectos positivos, como a atitude humanizada de alguns profissionais e aspectos
negativos, como posturas autoritárias e frias de outros profissionais. A percepção de
128
que o atendimento pelo SUS é de qualidade foi encontrada, ao mesmo tempo em
que isto é considerado por eles como normal e justificável devido à falta de tempo
dos profissionais. A falta de vínculo com o serviço de saúde e o fato do hospital não
encaminhá-los para a continuidade do acompanhamento pós-parto fizeram com que
as famílias não o procurassem. Somente as famílias que receberam atendimento
privado fizeram revisão pós-parto e consulta de puericultura.
Estes achados mostram que os serviços de saúde estão negligenciando as
necessidades de acompanhamento das famílias no pós-parto, encaminhando-as
unicamente para a vacinação após 15 dias, onde o atendimento fica restrito a vacina.
As famílias ficam "soltas" e seguem quase que exclusivamente as orientações do
sistema popular de saúde. O serviço de saúde é procurado somente nos casos de
doenças e algumas complicações com o bebê ou com a mãe. Também revelam a
continuidade da relação de submissão usuário-profissional, em que as decisões deste
último são mantidas através de uma postura autoritária, que não leva em
consideração as necessidades da família.
Na questão das relações da família após o nascimento do primeiro filho,
surgiu a interação com o bebê, que na maioria das famílias foi muito boa. Os pais,
em alguns momentos, ficaram um pouco excluídos da relação com o bebê. Na
família em que houve dificuldade na interação, esta deu-se em virtude das
características do temperamento do bebê e da dificuldade de adaptação da mãe ao
momento. É importante que a enfermeira possa estar atenta a estas dificuldades, para
poder auxiliar a família a estabelecer o vínculo com o bebê.
As famílias relataram que houve modificações no relacionamento do casal,
mas que não foram muito intensas. As maiores modificações observadas foram na
divisão de tempo e atenção entre os pais e o bebê, bem como no relacionamento
sexual. A maioria dos conflitos que surgiram foram motivado por excesso de tarefas
da mãe e pouca participação do pai.
O relacionamento da família nuclear com a extensa foi muito bom e
importante para o equibrio das famílias. Observei poucas situações de conflitos,
causadas por divergências quanto ao cuidado com o bebê. De maneira geral, o
nascimento do bebê aproximou as famílias.
129
Dois aspectos foram observados quanto às necessidades da família após o
nascimento do bebê. O primeiro diz respeito aos aspectos financeiros, que foram
relatados por todas as famílias. A necessidade de medicamentos e a preocupação pelo
fato da mãe ter que parar de trabalhar, diminuindo a renda familiar, num momento
em que as despesas estão aumentando, foram citadas. Algumas famílias compraram
planos de saúde privados e outras ficaram sem opções, pois o sistema blico não
atendeu a todas suas necessidades, ferindo um de seus princípios, que é a
integralidade.
O segundo aspecto que surgiu com ênfase foi a necessidade de educação em
saúde. Foram observadas diversas carências de informações, que poderiam ter
proporcionado segurança e tranqüilidade para as famílias, prevenindo inúmeras
complicações. A maior fonte de informações que tiveram foi através de livros e da
rede de apoio social. Muito pouca orientação veio da rede de saúde, mesmo da
privada. As famílias referiram que gostariam de ter sido orientadas e que acharam
bom ter um profissional de saúde na sua casa para poderem falar sobre suas vidas
e dificuldades. Também acharam bons os folhetos educativos entregues no hospital,
após terem sido estimuladas por mim a lê-los, mostrando a necessidade de que sejam
trabalhados pela equipe de enfermagem, observando o momento certo para fazê-lo,
devido às condições da mãe após o parto. O alojamento conjunto é um espaço que
precisa ser aproveitado para ações educativas, que devem incluir as avós e os pais.
A partir dos resultados desta investigação, algumas considerações podem ser
feitas a respeito do cuidado à família em expansão.
Este cuidado deve iniciar, se possível, antes mesmo da concepção, através do
planejamento familiar, entendido não somente como métodos de contracepção, mas
de preparação para a maternidade e a paternidade.
A orientação antecipatória a respeito das vincias do puerpério deve fazer
parte dos programas de assistência pré-natal, adaptando-se os mesmos para que o pai
e os avós possam participar. Estas orientações têm que transcender a dimensão
biológica, incluindo a psicológica e a social. Embora acredito que a orientação em
grupos seja mais eficaz, a individual também é importante, tendo em vista que nem
todas as famílias dispõem de tempo para participar de grupos educativos.
130
Os serviços de saúde precisam olhar com mais atenção para esta fase do ciclo
de vida familiar, organizando formas de atenção a fim de não deixarem a família
desamparada neste período. Uma das formas seria estruturar a contra-referência da
família, do hospital para a Unidade Básica de Saúde, com sistema de agendamento.
As instituições de saúde precisam repensar o cuidado humanizado à família
no ciclo gravídico-puerperal, principalmente no que se refere à educação continuada
de seus profissionais.
A responsabilidade por estimular as famílias a se tornarem sujeitos no
processo de reprodução, adquirindo autonomia e assegurando o seu direito a um
atendimento humano e digno, deve fazer parte da atuação da enfermeira junto a elas.
Uma formação acadêmica que inclua o referencial teórico de assistência à
família, principalmente no âmbito domiciliar é essencial para que as outras
considerações possam realizar-se. Nesta questão, destaco o respeito ao espaço
domiciliar, que o deve jamais ser invadido, mas sim compartilhado com a família,
valorizando seus saberes e suas práticas.
O vínculo da família com os profissionais de saúde, obtido através da
confiança e interação, facilita as ações educativas e a continuidade do
acompanhamento.
A expectativa desta pesquisadora é que estas reflexões possam subsidiar o
cuidado às famílias e a formação de novos profissionais, bem como estimular outros
pesquisadores a aprofundarem este tema, acompanhando as famílias em fases
posteriores a deste estudo.
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Médicas, 1984.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais. 3.ed. São Paulo:
Atlas, 1990.
VASCONCELOS, E. M. Educação popular nos serviços de saúde. 3. ed. São
Paulo: Hucitec, 1997.
134
WINNICOTT,W. D. Textos selecionados: da pediatria à psicanálise. 3 ed. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1988.
ZAGURY, T. Onde se aprende a ser pai e mãe?. Revista de Educação AEC, v. 23,
n. 93, out./dez., 1994.
ZIEGEL, E. E.; CRANLEY, M. S. Enfermagem obstétrica. 8.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1985.
ANEXOS
Anexo A
SOLICITAÇÃO PARA REALIZAR A COLETA DE DADOS
Ilmo. Presidente do Hospital Santa Terezinha
Prezado Senhor
Ao cumprimentá-lo, cordialmente, vimos, através deste, solicitar a sua
permissão para realizarmos uma entrevista a algumas puérperas do Hospital
Municipal Santa Terezinha, com o objetivo de selecionar famílias para participarem
de uma Pesquisa Acadêmica que faz parte do curso de Mestrado em Enfermagem
que estou realizando junto à Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O objetivo desta pesquisa é conhecer as vivências da família quando
retorna ao lar com o primeiro filho, e terá continuidade no domicílio após esta
seleção inicial feita no hospital.
Esta pesquisa pretende subsidiar o atendimento à saúde das famílias nesta
fase do seu ciclo vital.
Todas as famílias serão informadas dos objetivos do estudo, terão seu
anonimato garantido e assinarão um consentimento informado, podendo desistir da
participação no momento em que desejarem.
Certos de seu interesse em ações que possam vir a qualificar a assistência à
saúde da comunidade, desde já agradecemos e despedimo-nos, aguardando resposta.
Atenciosamente,
Drª. Beatriz R. L. dos Santos
Enfª. Cássia R. G. Medeiros
Orientadora
Mestranda
Anexo B
ENTREVISTA INICIAL PARA A SELEÇÃO DOS SUJEITOS
Prontuário
Data
___/___/___
Idade
Escolaridade
Endereço
QUESTÕES:
1. A senhora e seu bebê receberam alta?
2. A senhora reside com quem?
Anexo C
CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO
O estudo " As vivências da família no retorno ao lar com o primeiro filho",
pretende descrever as vivências da família nesta fase de sua vida. De que forma ela
organiza-se, quais as mudanças que ocorrem, que tipo de apoio social que recebem.
Estão previstas algumas visitas na casa da família, em torno de 4, mais uma
visita inicial ainda no hospital. A família será entrevistada, observada, e a entrevista
será gravada, para o qual solicitamos autorização.
O estudo orientará os profissionais de saúde sobre a melhor forma de auxiliar
as famílias que estão recebendo seu primeiro filho.
A falia poderá esclarecer dúvidas que tiver em relação à saúde do recém-
nascido.
Se forem detectadas situações que precisem de atendimento, a família será
encaminhada à Unidade Básica de Saúde.
As pesquisadoras responsáveis por este projeto de pesquisa são a enfermeira
mestranda CÁSSIA R. GOTLER MEDEIROS e a orientadora Profª. Drª. BEATRIZ
R. LARA DOS SANTOS, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Fone: 321-4582.
Pelo presente Consentimento Livre e Informado, declaro que fui esclarecido,
de forma clara e detalhada, sem ser obrigado, sobre os objetivos e a forma como
minha família participará desta pesquisa.
Fui igualmente informado:
- da garantia de receber resposta a qualquer pergunta relacionada com a
pesquisa;
- da liberdade de deixar de participar do estudo, sem que isto traga
qualquer dificuldade para minha família;
- da segurança de que não serei identificado e que se manterá o anonimato
e a privacidade da minha família.
139
Data:_____/_____/____
Nome: __________________________
________________________________
Assinatura do/a representante da família
______________________________
Assinatura da pesquisadora
Anexo D
DIÁRIO DE CAMPO
Família
Nº da observação: Dia da semana: Hora: Nº de dias pós-parto:
Observações:
Anexo E
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA FAMÍLIA:
Endereço
Estrutura da família
Membros-parentesco em
relação ao RN
Idade
Renda
Instrução
Ocupação
Anexo F
ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM A FAMÍLIA
- Como foi a chegada do bebê em casa?
- Como a família está adaptando-se com a chegada do bebê?
- Como vocês estão sentindo-se neste momento em relação a ser pai e mãe?
- Quais as necessidades que surgiram após o nascimento do bebê?
- Tiveram algum problema ou conflito neste momento?
- Quem está fazendo e como está sendo realizado o cuidado ao bebê e à puérpera?
- Que tipo de ajuda você gostaria de receber neste momento?
- Quem está ajudando a família neste momento?
- Como estão as relações entre mãe/pai, mãe/filho e pai/filho?
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