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FHERNANDA RIBEIRO SMIDERLE
CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DE ALGUNS POLISSACARÍDEOS
PRESENTES NO BASIDIOMA DE Pleurotus pulmonarius E APLICAÇÕES
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
graduação em Ciências (Bioquímica) do
Departamento de Bioquímica e Biologia
Molecular, do Setor de Ciências
Biológicas, da Universidade Federal do
Paraná, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em
Bioquímica.
Orientador: Prof. Dr. Marcello Iacomini
Co-orientador: Dra. Elaine R. Carbonero
CURITIBA
2008
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FHERNANDA RIBEIRO SMIDERLE
CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DE ALGUNS POLISSACARÍDEOS
PRESENTES NO BASIDIOMA DE Pleurotus pulmonarius E APLICAÇÕES
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
graduação em Ciências (Bioquímica) do
Departamento de Bioquímica e Biologia
Molecular, do Setor de Ciências
Biológicas, da Universidade Federal do
Paraná, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em
Bioquímica.
Orientador: Prof. Dr. Marcello Iacomini
Co-orientador: Dra. Elaine R. Carbonero
CURITIBA
2008
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Aos meus pais Iry e Elma.
Ao meu irmão Filipe.
Pelo carinho, apoio e compreensão.
Mas, principalmente, por estarem
presentes na minha vida,
Como uma família da qual eu me
orgulho de fazer parte!
Amo muito vocês!
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos que participaram, de alguma forma, da
elaboração deste trabalho, em especial:
A Deus, por estar sempre ao meu lado e por permitir que esse sonho se
realizasse;
Aos meus pais, por me proporcionarem a oportunidade de me dedicar
aos estudos e também por sempre torcerem por minhas vitórias;
Aos meus orientadores, Prof. Dr. Marcello Iacomini e Dra. Elaine R.
Carbonero, pela orientação, pelos ensinamentos, dedicação, correções e pelas
cobranças que me fizeram ser uma pesquisadora mais dedicada e esforçada;
Aos professores Dr. Guilherme L. Sassaki e Dr. Philip A. J. Gorin pelas
conversas (científicas e descontraídas!), pelos ensinamentos e sugestões;
À aluna de iniciação científica, Lorena, por aceitar fazer um trabalho em
conjunto, pela dedicação, esforço, por estar sempre atenta aos nossos
ensinamentos e pelas conversas amigas;
Ao Filipe e Isabele, querido irmão e cunhada preferida e única, pelas
palavras amigas, sempre me incentivando e não me deixando desistir;
Ao Leonardo, meu namorado, pelo amor, companheirismo, pelas longas
conversas de incentivo e por tentar entender a bioquímica para poder
acompanhar meu raciocínio e minhas explicações;
Às amigas Ana Helena, Andréa, Dirce, Fernanda Simas e Caroline
Mellinger, grandes companheiras nos congressos, nos momentos alegres e
também nos momentos de desespero!;
Ao amigo Ricardo Wagner, pela disposição em me ajudar sempre que
precisei, pelos ensinamentos, pelo carinho, pelo bom humor e pelos abraços
apertados e reconfortantes;
A todos os meus amigos do laboratório E1, 247, 252 e laboratórios
anexos, pela amizade, pelos churrascos animados, pelas brincadeiras e
palavras de conforto;
A minha turma de mestrado, da qual sempre lembrarei com carinho de
todos os momentos bons e momentos difíceis que passamos;
Aos amigos Larissa Comarella, Lúcia Cristina e João Francisco Bento,
pela amizade sincera e pelas rápidas conversas no corredor, mas que sempre
me traziam alegrias;
Ao produtor de cogumelos Renato A. Yamasita, por ceder o material de
estudo;
Ao Prof. Adair R. S. dos Santos da UFSC e seus alunos, pelos ensaios
biológicos e pela prontidão para solucionar minhas dúvidas;
À Profa. Dra. Patrícia Stuelp Campelo, por me abrir as portas para
trabalhar com a pesquisa no laboratório de Carboidratos;
Ao Dr. Fábio R. Rosado, pelos ensinamentos sobre cultivo de cogumelos
(mesmo que eu não tenha conseguido cultivá-los!)
À Dra. Elaine R. Carbonero, Dr. Guilherme L. Sassaki e Dr. Miguel D.
Noseda, pelas análises de RMN;
À Rosane, Lauro e Andréia, pelas análises de GC-MS e GPC;
Aos coordenadores do curso de Pós-Graduação em Bioquímica e
Biologia Molecular e funcionários do Departamento;
A CAPES e Fundação Araucária, pelo apoio financeiro;
E a todos que me ajudaram de alguma forma, para que esta caminhada
chegasse ao seu destino. Obrigada!
A coisa mais importante neste mundo,
Não é onde nós nos encontramos,
Mas em que direção caminhamos.
Goethe
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo elucidar a estrutura química de alguns
polissacarídeos presentes no basidioma de Pleurotus pulmonarius, bem como
verificar os efeitos antinociceptivos e antiinflamatórios de uma manogalactana
isolada e, analisar alguns parâmetros nutricionais. O corpo de frutificação do
basidiomiceto seco, moído e deslipidificado foi submetido a extrações aquosas
(a frio e a quente) e alcalina (KOH 1%). Os extratos aquosos foram
primeiramente submetidos à precipitação com etanol, enquanto o extrato
alcalino foi submetido a adição de ácido acético até pH 5,0. Os extratos
polissacarídicos obtidos foram submetidos aos processos de purificação por
congelamento e degelo, precipitação com solução de Fehling, ultrafiltração e
diálise por membranas de diferentes porosidades, de maneira sequencial. A
partir destes processos foram purificadas e caracterizadas diferentes
estruturas. A fração MG obtida pela extração aquosa a frio apresentou-se pura
e composta por manose, galactose e O-metil-galactose. Análises
espectroscópicas e de metilação sugerem que essa molécula apresenta cadeia
principal constituída de 3-O-Me-α-
D
-Galp e α-
D
-Galp ligadas (16), sendo que
ambas as unidades podem estar substituídas em O-2 por terminais não
redutores de β-
D
-Manp. Esse polissacarídeo apresentou um efeito analgésico,
porém não demonstrou atividade antiinflamatória, quando avaliado em teste de
contração muscular induzida por ácido acético em camundongos. A fração
PHW obtida pela extração aquosa a quente, após tratamento com NaOH
apresentou glucose como principal componente monossacarídico. Os
espectros de RMN-
13
C e HMQC dessa fração apresentaram sinais
característicos de uma β-glucana-(13), substituída em O-6 por β-Glcp,
semelhante à lentinana. O extrato alcalino obtido foi tratado com solução de
Fehling, originando uma fração sobrenadante (SF-GLC) e uma fração
precipitada (PF-GLC) neste reagente. Ambas apresentaram espectros de
RMN-
13
C semelhantes e característicos de β-glucanas. Entretanto, a análise de
metilação mostrou que SF-GLC é composta por alto teor de ligações (13) e
(16), enquanto PF-GLC é composta principalmente por ligações (16). A
análise dos parâmetros nutricionais desse cogumelo mostrou que este é rico
em proteínas e aminoácidos essenciais apresentando baixos teores de lipídios.
Além disso, é uma boa fonte de minerais apresentando cálcio, magnésio,
cobre, zinco e manganês em sua composição.
Palavras-chave: Pleurotus pulmonarius, manogalactana, β-glucana e atividade
antinociceptiva.
ABSTRACT
The present object work is an elucidation of chemical structures of some
polysaccharides extracted from the fruiting bodies of Pleurotus pulmonarius,
besides their biological applications and nutritional value. The dried and milled
basidiomycete was submitted to aqueous extraction (cold and hot), and alkaline
extraction (1% KOH). The aqueous extracts were firstly submitted to ethanol
precipitation, and the alkaline extract was neutralized with acetic acid. The
resulting polysaccharide extracts were submitted successively to a freeze-
thawing process, precipitation with Fehling solution, ultrafiltration and dialysis
with membranes of different M
r
cut-offs. After these processes different
polysaccharides were characterized. Fraction MG, obtained from the cold water
extraction, was homogeneous and was composed of mannose, galactose and
O-methyl-galactose. Spectroscopic and methylation analysis suggest that this
molecule has a main chain composed of 3-O-Me-α-
D
-Galp e α-
D
-Galp (16)-
linked units, with both substituted at O-2 by β-
D
-Manp non-reducing end units.
This polysaccharide presented an analgesic effect, independently of an
inflammatory response, when analyzed by a test of abdominal constriction
induced by acetic acid in mice. Fraction PHW obtained via hot water extraction,
after treatment with NaOH, had glucose as its principal monosaccharide
component. The
13
C-NMR and HMQC spectra of this fraction contained signals
characteristic of a (13)-linked-β-glucan, substituted at O-6 by β-Glcp, similar
to lentinan. The alkaline extract was treated with Fehling solution giving rise to a
soluble (SF-GLC) and precipitated fraction (PF-GLC). Both fractions had similar
13
C-NMR spectra and they were characteristic of β-glucans. Although
methylation data showed that SF-GLC was composed of a high proportion of
(13) and (16) linkages, and PF-GLC was composed mostly of (16)
linkages. Analysis of the nutritional value of this mushroom showed that it is rich
in protein and essential amino acids, besides containing lower levels of lipids. In
addition, it is a good source of minerals such as calcium, magnesium, copper,
zinc and manganese.
Keywords: Pleurotus pulmonarius, mannogalactan, β-glucan and
antinociceptive effect.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Desenho esquemático das principais estruturas dos
cogumelos.......................................................................................
12
FIGURA 2 - Esquema do ciclo de vida dos basidiomicetos............................... 13
FIGURA 3 -
Esquema da estrutura da glucana isolada de Lentinus edodes
denominada lentinana.....................................................................
17
FIGURA 4 -
Esquema da estrutura de uma glucana isolada de Agaricus
brasiliensis (= Agaricus blazei).......................................................
17
FIGURA 5 -
Esquema da estrutura de uma fucoxilomanana isolada de Fomes
annosus e Polyporus pinicola.........................................................
19
FIGURA 6 - Esquema de fragmentos de manofucogalactanas extraídas de
basidiomicetos................................................................................
20
FIGURA 7 -
Fotos do basidioma de Pleurotus pulmonarius...............................
26
FIGURA 8 - Esquema geral das extrações do basidioma liofilizado de
Pleurotus pulmonarius....................................................................
37
FIGURA 9 - Esquema geral das etapas de purificação por congelamento e
degelo dos extratos obtidos de Pleurotus pulmonarius..................
39
FIGURA 10 - Perfil de eluição das frações PF-SCW e MG (solubilizadas em
nitrito de sódio 0,1 mol/l, contendo azida sódica) obtido por
HPSEC-MALLS...............................................................................
40
FIGURA 11 - Espectro de RMN-
13
C (A) da fração MG e RMN-
13
C (B) da fração
MG após hidrólise parcial com H
2
SO
4
(em D
2
O a 70 ºC) obtida
de P. pulmonarius...........................................................................
41
FIGURA 12 - Região anomérica dos espectros de RMN-
1
H (A) e HSQC (B) da
fração MG (em D
2
O a 70 ºC) obtida de P. pulmonarius.................
42
FIGURA 13 - Esquema Representativo da degradação de Smith (modificada)
realizada na amostra MG................................................................
44
FIGURA 14 - Derivados obtidos da degradação de Smith (modificada)
realizada na amostra MG................................................................
45
FIGURA 15 -
Espectro de RMN-
13
C da fração S-PHW (em Me
2
SO-d
6
a 70 ºC)
obtida de P. pulmonarius................................................................
47
FIGURA 16 - Espectro de HMQC da fração S-PHW (em D
2
O a 70 ºC) obtida
de P. pulmonarius...........................................................................
47
FIGURA 17 -
Estrutura da glucana obtida de P. pulmonarius..............................
48
FIGURA 18 - Perfil de eluição das frações SF-SK1, 30SF-SK1 e SF-GLC
(solubilizadas em nitrito de sódio 0,1 mol/l, contendo azida
sódica) obtido por HPSEC-MALLS.................................................
49
FIGURA 19 - Espectro de RMN-
13
C das frações SF-GLC (A) e PF-GLC (B)
(em D
2
O a 70 ºC) obtidas do basidioma de P. pulmonarius, após
extração alcalina.............................................................................
50
FIGURA 20 - Espectro de HMQC da fração SF-GLC (em D
2
O a 70 ºC) obtida
do basidioma de P. pulmonarius, após extração alcalina...............
51
FIGURA 21 - Efeito pela administração i.p. de MG (3-100 mg/kg) em contração
abdominal induzida por ácido acético (A), infiltração de leucócitos
(B) e extravasamento de Evans Blue (C) em camundongos..........
57
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 -
Estruturas de homopolissacarídeos extraídos do corpo de
frutificação de basidiomicetos..........................................................
18
TABELA 2 - Estruturas de heteropolissacarídeos extraídos do corpo de
frutificação de basidiomicetos..........................................................
21
TABELA 3 - Dados técnicos para análise de elementos minerais em
equipamento de absorção atômica..................................................
33
TABELA 4 -
Relação dos rendimentos das frações obtidas do basidioma de P.
pulmonarius.....................................................................................
38
TABELA 5 - Análise de metilação das frações MG e SM-MG obtidas do
basidioma de P. pulmonarius..........................................................
40
TABELA 6 - Análise da composição monossacarídica das frações bruta (SF-
SK1) e após ultrafiltrações...............................................................
49
TABELA 7 - Análise de metilação das frações SF-GLC e PF-GLC obtidas do
basidioma de P. pulmonarius, após extração alcalina.....................
52
TABELA 8 - Estruturas de diferentes glucanas isoladas de basidiomicetos....... 52
TABELA 9 -
Análise dos parâmetros nutricionais de P. pulmonarius..................
53
TABELA 10 -
Análise do conteúdo de minerais presentes em P. pulmonarius.....
54
TABELA 11 -
Análise do conteúdo de aminoácidos presentes em P.
pulmonarius.....................................................................................
55
LISTA DE SÍMBOLOS, ABREVIATURAS E SIGLAS
α - Alfa
β - Beta
µl - Microlitro
~ - Aproximadamente
13
C - Carbono treze
3-O-MeGal - 3-O-metil-galactose
Ac
2
O - Anidrido acético
AcOH - Ácido acético
CH
3
I - Iodeto de metila
CHCl
3
- Clorofórmio
cm - Centímetro
CuSO
4
- Sulfato de cobre
D
2
O - Óxido de deutério
DEPT - Distiortionless enhancement by polarization transfer
DMS - Dimetilsulfato
Fuc - Fucose
g - Grama
Gal - Galactose
GC-MS - Cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de
massa
Glc - Glucose
h - Hora
HCl - Ácido clorídrico
HMQC - Heteronuclear multiple quantum correlation spectroscopy
H
2
O - Água
HSQC - Heteronuclear single quantum coherence
H
2
SO
4
- Ácido sulfúrico
HPSEC-MALLS - Cromatografia de exclusão estérica acoplada à detecção
por índice de refração e espalhamento de luz
Hz - Hertz
i.p. - Intraperitoneal
IR - Índice de refração
J - Constante de acoplamento
kDa - Quilodaltons
kg - Quilograma
KOH - Hidróxido de potássio
M - Molar
Man - Manose
Me - Metil
Me
2
SO-d
6
- Dimetilsulfóxido deuterado
MeOH - Metanol
mg - Miligrama
min - Minuto
ml - Mililitros
mm - Milímetros
NaBH
4
- Borohidreto de sódio
NaB
2
H
4
- Borohidreto de sódio deuterado
NaIO
4
- Periodato de sódio
NaN
3
- Azida de sódio
NaNO
2
- Nitrito de sódio
NaOH - Hidróxido de sódio
nm - Nanômetro
p - Piranose
p/v - Peso/volume
pH - Potencial hidrogeniônico
ppm - Partes por milhão
RMN - Ressonância Magnética Nuclear
r.p.m. - Rotações por minuto
s.c. - Sub-cutânea
TFA - Ácido trifluoracético
v/v - Volume/volume
Xyl - Xilose
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11
1.1 REINO FUNGI.......................................................................................................11
1.1.2 BASIDIOMICETOS E SUAS CARACTERÍSTICAS............................................11
1.2 IMPORTÂNCIA COMERCIAL E ALIMENTAR DOS BASIDIOMICETOS..............14
1.3 GÊNERO PLEUROTUS........................................................................................15
1.4 POLISSACARÍDEOS DE BASIDIOMICETOS.......................................................16
1.4.1 Homopolissacarídeos.........................................................................................16
1.4.2 Heteropolissacarídeos........................................................................................19
1.4.3 Polissacarídeos de Basidiomicetos com Atividade Biológica.............................21
1.4.3.1 Atividade Antiinflamatória................................................................................23
1.4.3.2 Atividade Antinociceptiva.................................................................................24
2 OBJETIVOS............................................................................................................24
2.1 OBJETIVO GERAL ...............................................................................................24
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................................25
3 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................25
3.1 BASIDIOMICETO..................................................................................................25
3.2 PROCEDIMENTOS GERAIS DE EXTRAÇÃO......................................................26
3.2.1 Extração com Clorofórmio-Metanol....................................................................26
3.2.2 Extração Aquosa à Temperatura Ambiente........................................................26
3.2.3 Extração Aquosa a Quente ................................................................................27
3.2.4 Extração Alcalina................................................................................................27
3.3 PURIFICAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS..........................................................27
3.3.1 Separação dos Polissacarídeos por Congelamento e Degelo ...........................27
3.3.2 Purificação por Precipitação com Solução de Fehling .......................................28
3.3.3 Purificação dos Polissacarídeos por Ultrafiltração ou Diálise.............................28
3.4 ANÁLISE ESTRUTURAL DOS POLISSACARÍDEOS...........................................29
3.4.1 Hidrólise Ácida Total...........................................................................................29
3.4.2 Redução e Acetilação dos Produtos de Hidrólise...............................................29
3.4.3 Análise de Metilação dos Polissacarídeos .........................................................29
3.4.4 Degradação Controlada de Smith......................................................................30
3.4.5 Hidrólise Ácida Parcial do Heteropolissacarídeo................................................31
3.5 MÉTODOS ANALÍTICOS......................................................................................31
3.5.1 Cromatografia Gasosa Acoplada à Espectrometria de Massa (GC-MS)............31
3.5.2 Determinação da Homogeneidade por Cromatografia de Exclusão
Estérica Acoplada à Detecção por Índice de Refração e Espalhamento de Luz
(HPSEC-MALLS) ........................................................................................................31
3.5.3 Ressonância Magnética Nuclear........................................................................32
3.6 AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS NUTRICIONAIS.............................................32
3.6.1 Análise de Aminoácidos.....................................................................................32
3.6.2 Determinação de Cinzas....................................................................................33
3.6.3 Análise dos Elementos Minerais ........................................................................33
3.6.4 Determinação das Proteínas..............................................................................34
3.6.5 Determinação de Lipídeos..................................................................................34
3.6.6 Determinação dos Carboidratos Totais..............................................................34
3.7 ENSAIOS BIOLÓGICOS: ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA E
ANTIINFLAMATÓRIA in vivo.......................................................................................35
3.7.1 Animais...............................................................................................................35
3.7.2 Constrição Abdominal, Permeabilidade Capilar Peritoneal e Infiltração de
Leucócitos Causada por Injeção de Solução de Ácido Acético 0,6%..........................35
3.7.3 Análises Estatísticas ..........................................................................................36
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................37
4.1 EXTRATO AQUOSO À TEMPERATURA AMBIENTE..........................................39
4.2 EXTRATO AQUOSO A QUENTE .........................................................................46
4.3 EXTRATO ALCALINO...........................................................................................48
4.4 PARÂMETROS NUTRICIONAIS...........................................................................53
4.5 ENSAIO BIOLÓGICO DA MANOGALACTANA ISOLADA DE P.
pulmonarius.................................................................................................................56
5 CONCLUSÕES.......................................................................................................58
REFERÊNCIAS...........................................................................................................59
11
1 INTRODUÇÃO
1.1 REINO FUNGI
O reino dos fungos é um grupo bastante heterogêneo, sendo que os seus
representantes são encontrados em todos os ambientes. Eles são conhecidos
popularmente como bolores, mofos, cogumelos comestíveis e alucinógenos. São
seres eucarióticos, podendo apresentar-se sob a forma levuriforme, formar um
pseudomicélio ou constituir hifas, formando um micélio verdadeiro (ESPOSITO;
AZEVEDO, 2004).
Os fungos são os agentes mais importantes de degradação na Terra, visto
que degradam celulose e lignina com alta eficiência. A produção de biomassa em
um ecossistema florestal é, em grande parte, controlada por esses decompositores,
que determinam a taxa de nutrientes liberados e devolvidos para o meio
(ESPOSITO; AZEVEDO, 2004).
Esse reino é dividido em grupos menores, sendo que o filo Basidiomycota
agrupa os seus representantes mais desenvolvidos.
1.1.2 Basidiomicetos e suas Características
Os fungos pertencentes ao filo Basidiomycota, comumente conhecidos como
basidiomicetos, constituem um grupo bastante diverso, sendo os cogumelos e
orelhas-de-pau, as formas mais conhecidas. Eles apresentam, em sua maioria, uma
frutificação macroscópica, constituída por hifas modificadas que formam
pseudotecidos, os quais se diferenciam em píleo, estipe, lamelas, anel e volva
(Figura 1) (PUTZKE; PUTZKE, 1998).
12
Figura 1 – Desenho esquemático das principais estruturas dos cogumelos
O pseudotecido desses seres vivos é conhecido como micélio, o qual consiste
de hifas septadas, bem desenvolvidas e microscópicas, mas que podem ser
facilmente observadas quando formam a massa micelial. três tipos de micélio:
primário, secundário e terciário. O primeiro caracteriza-se pela germinação dos
esporos, formando hifas haplóides (Figura 2). O crescimento e encontro dessas hifas
geram uma hifa com dois núcleos separados, caracterizando o micélio secundário.
Inicia-se então um crescimento ordenado para formação do sistema reprodutor,
basidiocarpo, o qual ainda apresenta estruturas estéreis. Neste estágio, o micélio,
denominado terciário, inicia a formação de basídios, onde ocorre a cariogamia,
formando um único núcleo diplóide. Este núcleo sofre meiose gerando 4 núcleos
haplóides, os quais migram até o ápice de estruturas conhecidas como esterigmas
para formar os esporos e recomeçar o ciclo (PUTZKE; PUTZKE, 1998).
13
Figura 2 – Esquema do ciclo de vida dos basidiomicetos
FONTE:http://biosonialopes.editorasaraiva.com.br/navitacontent_/userFiles/File/SoniaLopes_
Powerpoints/Fungos.pps#261,6,Slide 6, acessado em: 12/12/2007.
O número de espécies de cogumelos existentes, deduzido pelo Dictionary of
the Fungi, totaliza pelo menos 14.000, sendo que esse valor pode ser superior
considerando que muitas espécies ainda não foram descritas. Além disso,
espécimes semelhantes morfologicamente estão reunidos em um mesmo grupo,
quando deveriam estar classificados como espécies biológicas diferentes. Estudos
de compatibilidade e seqüências moleculares entre esses fungos mostram que uma
única “espécie” pode agrupar 20 espécies distintas (WASSER, 2002). A partir
desses estudos, estima-se que existam 140.000 espécies de cogumelos no mundo,
das quais apenas 10% foram classificadas. Em relação a esse percentual, cerca de
2.000 espécies são comestíveis e 700 são conhecidas por possuírem significativas
propriedades farmacológicas, tais como atividade antitumoral, antiinflamatória,
antiviral, ativadora do sistema imune, entre outras (WASSER; WEIS, 1999). Esses
dados apontam o potencial apresentado pelos basidiomicetos tanto para fins
alimentícios quanto terapêuticos, sendo que ainda um vasto campo a ser
estudado.
14
1.2 IMPORTÂNCIA COMERCIAL E ALIMENTAR DOS BASIDIOMICETOS
A importância atribuída a esse grupo está relacionada à utilização de seus
representantes na alimentação e medicina popular desde tempos remotos
(ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELL, 1996; WASSER, 2002). No entanto, alguns
espécimes são considerados venenosos, fator que impediu, por vários anos, o
consumo de cogumelos em geral por populações com menor conhecimento sobre
fungos comestíveis (ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELL, 1996).
A familiarização com o consumo de basidiomicetos tornou-se evidente
quando se iniciou o cultivo de espécies como Lentinus edodes (= Lentinula edodes)
e Volvariella volvacea na China. Desde então, houve um crescimento no consumo
dessas iguarias e, consequentemente iniciou-se a produção comercial de algumas
espécies em países da Europa e nos Estados Unidos (ANKE, 1997). Japão, Taiwan
e Coréia são grandes produtores de cogumelos, entretanto, a China lidera a
produção, exportação e consumo desde 1978. As espécies mais cultivadas são:
Agaricus bisporus (Champignon), Lentinus edodes (Shiitake), Pleurotus spp.
(Shimeji), Auricularia spp., Tremella spp. e Flammulina velutipes (Enoki)
(CHANG, 2005). A espécie mais produzida nos Estados Unidos, Austrália e em
alguns países da Europa e Ásia é o Agaricus bisporus (ANKE, 1997), possuindo a
tecnologia de cultivo mais avançada, que mantém locais com temperatura, umidade
e ventilação controlados (ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELL, 1996). O Agaricus
brasiliensis (= Agaricus blazei), popularmente conhecido como cogumelo-do-sol, é
nativo do Brasil e foi exportado para o Japão pela primeira vez em 1965. Desde
então, esse basidiomiceto tem sido cultivado em larga escala neste país e na
Indonésia (MIZUNO et al., 1990a).
Estudos têm comprovado que o valor nutritivo dos cogumelos, apesar da
variabilidade apresentada entre as espécies estudadas, é considerado de qualidade
para uma dieta balanceada (MANZI et al., 1999). Altos teores de proteínas e fibras,
em conjunto com baixas taxas de lipídios tornam os cogumelos alimentos saudáveis,
podendo ser consumidos mesmo em dietas restritas, como para obesos ou pessoas
com hipercolesterolemia. Além disso, a presença de altos teores de potássio,
juntamente com baixos níveis de sódio, torna esses alimentos apropriados para
pessoas com hipertensão (MANZI et al., 1999; AGRAHAR-MURUGKAR;
SUBBULAKSHMI, 2005). Cálcio, ferro, zinco, magnésio e sforo também foram
15
observados em quantidades significativas em Lentinus edodes e Pleurotus spp.
(ÇAGLARIRMAK, 2007). Mdachi e colaboradores (2004) observaram que de 10
espécies de cogumelos estudados, 5 (Agaricus sp., Boletus pruinatus, Lactarius sp.,
Pleurotus sajor-caju e Boletinus cavipes) apresentaram de 2 a 7 aminoácidos
essenciais. Vitaminas do complexo B, ácido ascórbico e ácido fólico também
foram observadas em variedades de L. edodes, P. ostreatus e P. sajor-caju
(ÇAGLARIRMAK, 2007).
Outra importância atribuída aos basidiomicetos refere-se à capacidade
desses fungos em degradar celulose e lignina. Materiais orgânicos desperdiçados,
como subprodutos agrícolas e resíduos animais, o utilizados como substrato para
o cultivo de fungos, produzindo alimentos de boa qualidade, podendo ser
consumidos pelos humanos. Dessa maneira, os nutrientes são reciclados e retornam
para a cadeia alimentar (ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELL, 1996; ANKE, 1997).
1.3 GÊNERO PLEUROTUS
Os representantes do gênero Pleurotus pertencem à ordem Agaricales, a qual
é conhecida pela grande variedade na morfologia dos indivíduos e por reunir os
cogumelos propriamente ditos. Os termos cogumelo, basidioma e basidiocarpo são
sinônimos e referem-se à estrutura de reprodução dos indivíduos desse grupo
(LOPES, 1999). As hifas estão altamente organizadas na formação dos
basidiocarpos, os quais podem apresentar consistência membranosa até carnosa
(PUTZKE; PUTZKE, 1998). Os espécimes do gênero Pleurotus apresentam o
basidiocarpo em forma de conchas de ostras crescendo em camadas e, são
encontrados em troncos de árvores vivas. Eles dificilmente apresentam estipe e
quando apresentam, a mesma é diminuta. São facilmente encontrados no meio
ambiente, sendo que muitas espécies desse gênero são comestíveis
(ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELL, 1996).
Entre os trabalhos publicados sobre cogumelos do gênero Pleurotus,
encontram-se dados sobre valores nutricionais (ÇAGLARIRMAK, 2007; GUO; LIN;
LIN, 2007) e também sobre polissacarídeos extraídos dos mesmos. Essas moléculas
estão apresentando maior importância devido a algumas propriedades biológicas, as
quais serão descritas a seguir.
16
1.4 POLISSACARÍDEOS DE BASIDIOMICETOS
Polissacarídeos são polímeros de média a alta massa molecular, constituídos
por monossacarídeos conectados por ligações glicosídicas. Esses polímeros
diferenciam-se, principalmente, pelos monômeros constituintes, tipo de ligação,
comprimento da cadeia e número de ramificações (FREIMUND et al., 2003). Essas
macromoléculas, sintetizadas pelos seres vivos em geral, exercem diversas funções
no organismo como: armazenamento de energia (amido e glicogênio), estruturação
(celulose, quitina e peptideoglicano), além de atuarem como portadores de
informações, servindo como indicadores de endereçamento para algumas proteínas
e como mediadores para interações específicas entre as células e/ou matriz
extracelular (LEHNINGER; NELSON; COX, 2002).
Diversos polissacarídeos já foram isolados de basidiomicetos, como glucanas,
heterogalactanas, heteromananas, entre outras (SCHEPETKIN; QUINN, 2006).
Essas moléculas são divididas em dois grupos: os homopolissacarídeos e os
heteropolissacarídeos. Os primeiros são polímeros formados apenas por um tipo de
monossacarídeo, enquanto os últimos são formados por mais de um tipo.
1.4.1 Homopolissacarídeos
Dentre os principais homopolissacarídeos isolados estão as glucanas, que
apresentam cadeias principais formadas por unidades de α- e/ou β-Glcp ligadas
(13), (16) e/ou (14). Sendo frequentemente encontradas β-glucanas com
cadeias ligadas (13), substituídas em O-6 por terminais não-redutores de
β-
D
-Glcp, diferenciando-se apenas na proporção das substituições (Figuras 3).
Essas glucanas já foram descritas para Pleurotus ostreatus (YOSHIOKA et al.,
1985), Boletus erythropus (CHAUVEAU et al., 1996), Pleurotus eryngii,
Pleurotus ostreatoroseus (CARBONERO et al., 2006) e Flammulina velutipes
(SMIDERLE et al., 2006). Também foram isoladas glucanas lineares do corpo de
frutificação de Armillaria mellea (FRASER; LINDBERG, 1967), contendo ligações
β-(13), e também β-glucanas ligadas (16) do basidioma de Agaricus brasiliensis
(MIZUNO et al., 1990b). Deste basidiomiceto também foi isolada uma glucana com
cadeia linear formada por unidades de β-Glcp alternando ligações (16) e (13)
17
(MIZUNO et al., 1990a) e estruturas com cadeias principais ligadas (16), e com
ramificações laterais, como representada na figura 4 (DONG et al., 2002). Diversas
outras estruturas similares às citadas foram isoladas de vários basidiomicetos,
sendo que esses polissacarídeos diferenciam-se apenas em relação ao
comprimento das cadeias laterais e massa molecular (ZHANG et al., 2007).
Figura 3 – Esquema da estrutura da glucana isolada de Lentinus edodes denominada lentinana
Figura 4 – Esquema da estrutura de uma glucana isolada de Agaricus brasiliensis (= Agaricus blazei)
Um polissacarídeo incomum foi descrito para Ganoderma resinaceum, o qual
apresentou uma β-glucana com ligações (13), parcialmente substituída em O-6 por
cadeias laterais de β-
D
-Glcp substituídas em O-4 a cada dois resíduos da cadeia
principal (AMARAL et al., 2008).
Além das glucanas, outros homopolissacarídeos foram isolados e
caracterizados por Rosado e colaboradores (2002) que descreveram para Pleurotus
ostreatoroseus, um exopolissacarídeo caracterizado como α-manana, com ligações
(16) e substituída em O-2, por cadeias laterais de diferentes tamanhos, as quais
podem apresentar substituições em O-2 ou O-3. Os mesmos autores também
isolaram outro exopolissacarídeo denominado α-galactana (14)-ligada,
parcialmente metilada na posição O-3, na proporção de 2:1. Uma galactana linear,
também metilada em O-3, contendo ligações (16), foi extraída do corpo de
frutificação de P. eryngii e P. ostreatoroseus (CARBONERO et al., 2007), sendo a
proporção de α-Gal e α-Me-Gal igual a 3:1. Os exemplos citados corroboram com a
3)-
β
-
D
-Glcp-(1
3)-
β
-
D
-Glcp-(1
3)-
β
-
D
-Glcp-(1
6
1
β-
D
-Glcp
6)-
β
-
D
-Glcp-(1
6)-
β
-
D
-Glcp-(1
6)-
β
-
D
-Glcp-(1
3
1
β-
D
-Glcp-(13)-β-
D
-Glcp
18
diversidade de homopolissacarídeos existentes, extraídos de basidiomicetos. A
tabela 1 apresenta um resumo das estruturas mencionadas.
Tabela 1 – Estruturas de homopolissacarídeos extraídos do corpo de frutificação de basidiomicetos
ESPÉCIE CADEIA PRINCIPAL OBSERVAÇÕES REFERÊNCIA
β-
D
-Glcp-(16)(13)
Estrutura não detalhada
MIZUNO et al.,
1990a
Agaricus brasiliensis
(= Agaricus blazei)
β-
D
-Glcp-(16)
Substituída em O-3 por
dissacarídeos de β-
D
-Glcp-
(13)-ligados
DONG et al., 2002
Armillaria mellea
β-
D
-Glcp-(13)
Linear
FRASER;
LINDBERG, 1967
Boletus erythropus
β-
D
-Glcp-(13)
Substituída em O-6 por β-
D
-
Glcp a cada 3 unidades da
cadeia principal
CHAUVEAU et al.,
1996
Flammulina
velutipes
β-
D
-Glcp-(13)
Similar a Lentinana
SMIDERLE et al.,
2006
Fomes annosus
β-
D
-Glcp-(13)(16)
Estrutura não detalhada
AXELSSON et al.,
1971
Ganoderma
resinaceum
β-
D
-Glcp-(13)
Substituída em O-6 por
cadeias de β-
D
-Glcp ligadas
(14)
AMARAL et al.,
2008
Laetiporus
sulphureus
β-
D
-Glcp-(13)
Linear
ALQUINI et al.,
2004
Lentinus edodes
α-
D
-Glcp-(13)
Linear
ZHANG; ZHANG;
CHENG, 2000
β-
D
-Glcp-(13)
Substituída em O-6 por β-
D
-
Glcp a cada 3 unidades da
cadeia principal
CARBONERO et
al., 2006
Pleurotus eryngii
α-
D
-Galp-(16)
Parcialmente metilada em
O-3
CARBONERO et
al., 2007
β-
D
-Glcp-(13)
Substituída em O-6 por β-
D
-
Glcp a cada 3 unidades da
cadeia principal
CARBONERO et
al., 2006
α-
D
-Galp-(16)
Parcialmente metilada em
O-3
CARBONERO et
al., 2007
α-
D
-Galp-(14)
Parcialmente metilada em
O-3 (Exopolissacarídeo)
Pleurotus
ostreatoroseus
α-
D
-Manp-(16)
Substituída por cadeias de
α-
D
-Manp ligadas (12) ou
(13) (Exopolissacarídeo)
ROSADO et al.,
2002
Pleurotus ostreatus
β-
D
-Glcp-(13)
Similar a Lentinana
YOSHIOKA et al.,
1985
α-
D
-Glcp-(13)(16)
Proporção das ligações
(13) e (16) = 2,5:1
Termitomyces
eurhizus
α-
D
-Glcp-(16)
Linear
MONDAL et al.,
2004
19
1.4.2 Heteropolissacarídeos
Devido ao grande interesse em polissacarídeos bioativos como as β-glucanas,
poucos relatos sobre heteropolissacarídeos de basidiomicetos. Entretanto
podem-se citar alguns exemplos de estruturas variadas.
foram extraídas fucoxilomananas de basidiomas de Ganoderma lucidum,
Fomes annosus e Polyporus pinicola, sendo que o polímero isolado de G. lucidum
apresenta uma cadeia formada por unidades de
D
-Manp ligadas (14), sendo
totalmente substituída em O-3 por grupos de 4-O-
L
-Fucp-
D
-Xylp (MIYAZAKI;
NISHIJIMA, 1982). Os polissacarídeos descritos para as outras duas espécies
apresentam cadeia de β-
D
-Manp-(13), totalmente substituída em O-4 pelo grupo
2-O-α-
L
-Fucp-β-
D
-Xylp (AXELSSON et al., 1971; AXELSSON; BJÖRNDAL;
LINDBERG, 1969), como demonstrado na figura 5.
Figura 5 Esquema da estrutura de uma fucoxilomanana isolada de Fomes annosus e Polyporus
pinicola
Polissacarídeos contendo apenas xilose e manose foram caracterizados para
as espécies Armillaria mellea e Flammulina velutipes, sendo que ambos o
constituídos de uma cadeia de α-
D
-Manp-(13). Em A. mellea as unidades da
cadeia principal estão substituídas em O-4 por grupos de
α-
D
-Xylp (14)-ligados (BOUVENG; FRASER; LINDBERG, 1967), enquanto para
F. velutipes, há substituições em O-4 a cada dois segmentos da cadeia principal, por
terminais não-redutores de β-
D
-Xylp, di- ou trissacarídeos de β-
D
-Xylp (13)-ligadas
(SMIDERLE et al., 2006).
3)-
β
-
D
-Manp-(1
3)-
β
-
D
-Manp-(1
3)-
β
-
D
-Manp-(1
3)-
β
-
D
-Manp-(1
3)-
β
-
D
-Manp-(1
4 4 4
1 1 1
β-
D
-
Xylp β-
D
-
Xylp β-
D
-
Xylp
2 2 2
1 1 1
α-
L
-
Fucp α-
L
-
Fucp α-
L
-
Fucp
20
Fucogalactanas de Ganoderma applanatum (USUI; IWASAKI; MIZUNO,
1981) e Fomes annosus (AXELSSON et al., 1971) apresentam cadeias principais de
α-
D
-Galp-(16), substituídas em O-2 por terminais não-redutores de α-
L
-Fucp, em
diferentes proporções.
Polissacarídeos contendo galactose, manose e fucose também foram
caracterizados para Ganoderma applanatum (USUI; IWASAKI; MIZUNO, 1981),
Fomitella fraxinea (CHO et al., 1998), Laetiporus sulphureus (ALQUINI et al., 2004) e
Flammulina velutipes (SMIDERLE et al., 2008). Esses polímeros apresentavam uma
cadeia principal constituída por unidades de α-
D
-Galp (16)-ligadas, substituídas
em O-2 pelo grupo 3-O-
D
-Manp-
L
-Fucp ou, em alguns casos, por terminais
não-redutores de α-
L
-Fucp e/ou α-
D
-Manp. A figura 6 ilustra fragmentos das
estruturas citadas para cada uma das espécies.
Figura 6 – Esquema de fragmentos de manofucogalactanas extraídas de basidiomicetos
Alguns polissacarídeos podem ser característicos de determinados grupos de
basidiomicetos. Como exemplos, podem ser citados homo e heteropolissacarídeos
naturalmente metilados presentes em cogumelos do gênero Pleurotus
(JAKOVLJEVIC et al., 1998; ROSADO et al., 2002; CARBONERO et al., 2007). Uma
manogalactana parcialmente O-metilada foi descrita por Rosado e colaboradores
(2003), presente em P. ostreatus e P. ostreatoroseus. A mesma é constituída por
unidades de α-
D
-Galp e 3-O-Me-α-
D
-Galp ligadas (16), sendo parcialmente
substituídas em O-2 por resíduos de β-
D
-Manp. Os heteropolissacarídeos citados
estão reunidos na tabela 2.
Apesar de haver poucos trabalhos sobre a caracterização de
heteropolissacarídeos, recentemente o interesse por essas moléculas tem
6)-
α
-
D
-Galp-(1
6)-
α
-
D
-Galp-(1
6)-
α
-
D
-Galp-(1
2 2 2
1 1 1
α-
L
-
Fucp α-
D
-Manp α-
L
-
Fucp
3
1
α-
L
-
Fucp
21
aumentado devido a algumas propriedades que estas têm demonstrado.
Polissacarídeos contendo manose, glucose e galactose têm se apresentado
bioativos (ZHANG et al., 2007), sendo suas propriedades descritas mais
detalhadamente no item 1.4.3.
Tabela 2 – Estruturas de heteropolissacarídeos extraídos do corpo de frutificação de basidiomicetos
1.4.3 Polissacarídeos de Basidiomicetos com Atividade Biológica
O dado mais antigo sobre a utilização de fungos como medicamentos é um
tratado médico indiano datado de 3.000 a.C. (ROWAN; SMITH; SULLIVAN, 2003).
Países como China e Japão utilizam principalmente Ganoderma lucidum e
Lentinus edodes muitos anos, tanto para o consumo quanto para finalidades
ESPÉCIE CADEIA PRINCIPAL OBSERVAÇÕES REFERÊNCIA
Armillaria mellea
α-
D
-Manp-(13)
Substituição em O-4 pelo
dissacarídeo 4-O-α-
D
-Xylp-α-
D
-
Xylp
BOUVENG;
FRASER;
LINDBERG, 1967
α-
D
-Galp-(16)
Substituição em O-2 por unidades
de α-
L
-Fucp, α-
D
-Manp ou pelo
dissacarídeo 3-O-α-
D
-Manp-α-
L
-
Fucp
SMIDERLE et al.,
2007
Flammulina velutipes
α-
D
-Manp-(13)
Substituição em O-4 por unidades
de β-
D
-Xylp, di ou trissacarídeos
de β-
D
-Xylp-(13)
SMIDERLE et al.,
2006
α-
D
-Galp-(16)
Substituição em O-2 por unidades
de α-
L
-Fucp
Fomes annosus
β-
D
-Manp-(13)
Substituição em O-4 pelo
dissacarídeo 2-O-α-
L
-Fucp-β-
D
-
Xylp
AXELSSON et
al., 1971
Fomitella fraxinea
D
-Galp-(16)
Substituição em O-2 pelo
dissacarídeo 3-O-
D
-Manp-
L
-Fucp
CHO et al., 1998
α-
D
-Galp-(16)
Substituição em O-2 pelo
dissacarídeo 3-O-α-
D
-Manp-α-
L
-
Fucp
Ganoderma
applanatum
α-
D
-Galp-(16)
Substituição em O-2 por unidades
de α-
L
-Fucp
USUI; IWASAKI;
MIZUNO, 1981
Ganoderma lucidum
D
-Manp-(14)
Substituição em O-3 pelo
dissacarídeo 4-O-
L
-Fucp-
D
-Xylp
MIYAZAKI;
NISHIJIMA, 1982
Laetiporus sulphureus
α-
D
-Galp-(16)
Substituição em O-2 por unidades
de α-
L
-Fucp, α-
D
-Manp ou pelo
dissacarídeo 3-O-α-
D
-Manp-α-
L
-
Fucp
ALQUINI et al.,
2004
Pleurotus
ostreatoroseus e
Pleurotus ostreatus
3-O-Me-α-
D
-Galp e
α-
D
-Galp-(16)
Substituição em O-2 por unidades
de β-
D
-Manp
ROSADO et al.,
2003
Polyporus pinicola
β-
D
-Manp-(13)
Substituição em O-4 pelo
dissacarídeo 2-O-α-
L
-Fucp-β-
D
-
Xylp
AXELSSON;
BJÖRNDAL;
LINDBERG, 1969
22
medicinais. Após a descoberta da penicilina, em 1929, os fungos se tornaram
conhecidos mundialmente como fontes ricas em antibióticos e outros compostos
bioativos (MORADALI et al., 2007; ZHANG et al., 2007). Em 1957, Lucas e
colaboradores isolaram uma molécula de Boletus edulis que apresentou significativo
efeito inibitório do crescimento de células tumorais de sarcoma S-180 (LUCAS et al.,
1957). A partir dessa data, outros autores publicaram trabalhos relatando atividades
de substâncias extraídas de basidiomicetos como inibidoras de adenocarcinoma 755
e leucemia L-1210 (ZHANG et al., 2007).
Dentre os compostos bioativos isolados de macrofungos, encontram-se
terpenóides, ácidos graxos, proteínas, lectinas, mas principalmente polissacarídeos
e proteínas glicosiladas. β-glucanas, comuns em basidiomicetos, apresentam
atividade imuno-estimulatória (grifolana), antitumoral (lentinana), antiviral e
antimicrobiana (esquizofilana), sendo essas moléculas isoladas, primeiramente de
Grifola frondosa, Lentinus edodes e Schizophyllum commune, respectivamente.
Polissacarídeos complexados a peptídeos (PSP) ou a proteínas (PSK - krestin)
também apresentam os mesmos efeitos, sendo ambos isolados de Trametes
versicolor (= Coriolus versicolor). As moléculas citadas estão sendo
comercializadas e utilizadas em terapias contra o câncer (SCHEPETKIN; QUINN,
2006; MORADALI et al., 2007; ZHANG et al., 2007).
A atividade antitumoral de polissacarídeos de basidiomicetos estende-se
também aos heteropolissacarídeos como as heteromananas e heteroglucanas,
sendo que as diferenças encontradas na atividade são extremamente dependentes
da solubilidade, tamanho, ramificações e forma das moléculas utilizadas
(SHAH et al., 2007). Estudos demonstraram que lentinana e esquizofilana, ambas
com alta massa molecular, o eficientes apenas quando administradas via
intravenosa e intraperitoneal. A administração intravenosa de β-glucana-(16)
extraída de Agaricus brasiliensis demonstra atividade antitumoral mais eficaz do que
quando aplicada oralmente. Entretanto, após hidrólise branda da mesma molécula,
formando fragmentos com massa molecular de 10 kDa, o efeito antitumoral torna-se
significativo, quando administrado via oral (SMITH; SULLIVAN; ROWAN, 2003).
Percebe-se que há diversos trabalhos relacionando a estrutura polissacarídica
com a sua atividade antitumoral (WASSER; WEIS, 1999; MORADALI et al., 2007;
ZHANG et al., 2007), em contra partida alguns estudos têm mostrado que essas
moléculas extraídas de basidiomicetos podem apresentar outros efeitos, tais como
23
atividade antiinflamatória e antinociceptiva (PARK et al., 2005). Entretanto, ainda se
sabe pouco sobre esses efeitos e a maioria dos trabalhos são realizados com
extratos polissacarídicos, ignorando qual molécula está sendo responsável pela
atividade (LIN et al., 2006; DORE et al., 2007).
1.4.3.1 Atividade Antiinflamatória
Os organismos vivos possuem mecanismos adaptativos para responder a
estímulos agressivos no sentido de manter o equilíbrio homeostático. Nos
vertebrados, esta resposta inclui uma série de alterações bioquímicas, fisiológicas e
imunológicas, as quais são denominadas inflamação. Lesões aos tecidos desses
animais estimulam a liberação de mediadores químicos conhecidos como citocinas
pró-inflamatórias, as quais desencadeiam o processo inflamatório no sentido de
restringir as conseqüências e a extensão do dano tecidual. As conseqüências
podem ser locais ou generalizadas, sendo o aumento da permeabilidade capilar e a
migração de leucócitos para os tecidos, os efeitos mais observados (VOLTARELLI,
1994).
Em experimentos biológicos realizados com camundongos, pode-se induzir o
processo inflamatório causando injúria aos tecidos, seguido de avaliação do
aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos e da migração dos leucócitos. A
administração de drogas como dexametasona e indometacina, anteriormente a
essas lesões, diminui esse efeitos mostrando uma atividade antiinflamatória
(VINEGAR et al., 1979).
Extratos ricos em β-glucanas e outros polissacarídeos obtidos de Geastrum
saccatum (DORE et al., 2007) e Ganoderma tsugae (LIN et al., 2006) apresentaram
efeito antiinflamatório, reduzindo a migração de leucócitos e a liberação de
mediadores pró-inflamatórios. Esses estudos fornecem informações importantes de
como essas moléculas podem ser utilizadas para outros tratamentos, entretanto
faltam informações sobre a estrutura e o mecanismo de ação desses
polissacarídeos.
24
1.4.3.2 Atividade Antinociceptiva
Outro efeito que pode ser avaliado pelo modelo de experimentação biológica
citado acima é a atividade antinociceptiva. A liberação de alguns mediadores pró-
inflamatórios como prostaglandinas e bradicininas provoca uma resposta sensorial
dolorosa denominada hiperalgesia. Isso ocorre porque, na presença desses
mediadores, os nociceptores (receptores específicos para dor) são sensibilizados,
causando sensações dolorosas mesmo com estímulos de mínima intensidade.
Como essas sensações não podem ser diretamente examinadas em animais, as
respostas observadas após os estímulos são dadas pelo comportamento dos
mesmos (QUINN, 2002).
Um método comumente empregado em função de sua simplicidade para
execução e sensibilidade, tanto para avaliação dos efeitos antiinflamatórios como
antinociceptivos é a reação de contração muscular induzida por ácido acético em
camundongos. Esse experimento foi descrito como modelo típico para processos
que envolvem dor e inflamação. As drogas capazes de inibir a liberação de
prostaglandinas, como indometacina, por exemplo, podem atuar como analgésicas,
sendo utilizadas como controle em testes de avaliação dos efeitos antinociceptivos
de outras moléculas (VINEGAR et al., 1979; BRUNTON, 2001; TJØLSEN; HOLE,
1997).
Estudos mostraram que o extrato metanólico obtido de Inonotus obliquus
(PARK et al., 2005) e que o polissacarídeo PSP isolado de Trametes versicolor
(CHAN; YEUNG, 2006) apresentaram efeito analgésico quando avaliados pelo teste
de contração muscular induzida por ácido acético. Entretanto não muitas
informações sobre esse efeito e sobre as moléculas envolvidas na atividade
analgésica.
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
O presente trabalho teve como objetivo geral caracterizar estruturalmente
polissacarídeos extraídos do basidioma de Pleurotus pulmonarius e verificar
25
possíveis atividades biológicas relacionadas a essas estruturas, bem como avaliar
as características nutricionais desse cogumelo.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para alcançar o objetivo geral, as seguintes estratégias foram propostas:
a) Obter os polissacarídeos do basidioma através de extrações aquosas e
alcalina;
b) Purificar as frações polissacarídicas obtidas, utilizando diferentes
metodologias;
c) Caracterizar estruturalmente os principais polissacarídeos isolados,
utilizando métodos químicos e técnicas analíticas de RMN e GC-MS;
d) Avaliar os parâmetros nutricionais do cogumelo em estudo como o teor de
cinzas e minerais, carboidratos, lipídeos, proteína e aminoácidos;
e) Avaliar possíveis efeitos antiinflamatórios e antinociceptivos dos
polissacarídeos isolados.
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 BASIDIOMICETO
O corpo de frutificação de Pleurotus pulmonarius (Figura 7), fornecido pelo
produtor Renato A. Yamasita, foi cultivado na Fazenda Bom Jesus das Araucárias,
município de Reserva, Paraná. Este município localiza-se na região dos Campos
Gerais a uma altitude de 850 metros (24°39'05'' Sul ; 550'40'' W-GR), apresentando
clima subtropical úmido mesotérmico, com verões frescos (média de 22 ºC) e
invernos com geadas freqüentes (< 18 ºC) (PORTAL DE SERVIÇOS E
INFORMAÇÕES DO GOVERNO DO PARANÁ, 1995).
26
Figura 7 – Fotos do basidioma de Pleurotus pulmonarius
FONTE: http://www.naturfoto.cz/hliva-plicni-fotografie-6322.html, acessado em: 12/12/2007.
3.2 PROCEDIMENTOS GERAIS DE EXTRAÇÃO
3.2.1 Extração com Clorofórmio-Metanol
O material fresco (~2 kg) foi limpo e liofilizado, gerando 200 g em massa, que
após trituração em moinho (granulação entre 0,1-20 mm), foi deslipidificado em
Soxhlet, com uma solução de clorofórmio-metanol (4:1, v/v), a 60 ºC, durante
3 horas, por 3 vezes (MACHADO et al., 1994). Esse procedimento forneceu um
extrato de compostos apolares e um resíduo I que passou por processos
seqüenciais de extração descritos a seguir.
3.2.2 Extração Aquosa à Temperatura Ambiente
O resíduo I originado da deslipidificação foi submetido a extrações aquosas
(x7, 3.000 ml cada) à temperatura ambiente, sob agitação mecânica, por 6 horas.
Após cada etapa, o material foi centrifugado (8.500 r.p.m., 15 min, 25 ºC) para
separação do extrato aquoso (extrato aquoso I) e do material residual (resíduo II).
Os extratos obtidos foram reunidos e concentrados sob pressão reduzida até
pequeno volume e precipitados com etanol (3:1, v/v). O precipitado etanólico (CW),
após centrifugação (8.500 r.p.m., 20 min, 10 ºC), foi dialisado (12-14 kDa) contra
água corrente por 20 horas e liofilizado.
27
3.2.3 Extração Aquosa a Quente
O resíduo II foi submetido a extrações aquosas sob refluxo em banho de água
fervente, por 6 horas (x7, 3.000 ml cada). O material obtido a cada extração foi
filtrado e reunido, gerando um extrato aquoso II e um resíduo III. Esse extrato foi
concentrado, sob pressão reduzida apequeno volume e precipitado com etanol
(3:1, v/v). A fração polissacarídica (HW) foi recuperada através de centrifugação
(8.500 r.p.m., 20 min, 10 ºC), dialisada (12-14 kDa) contra água corrente por 20
horas e liofilizada.
3.2.4 Extração Alcalina
O resíduo III foi tratado com solução de hidróxido de potássio a 1%
(KOH 1%), sob refluxo em banho com água fervente, na presença de borohidreto de
sódio (NaBH
4
) para evitar degradação das cadeias polissacarídicas (x7, 1.000 ml
cada). O extrato alcalino obtido foi filtrado e após adição de ácido acético (AcOH) até
pH 5,0, verificou-se a formação de um precipitado. Essa fração foi separada por
centrifugação (8.500 r.p.m., 15 min, 25 ºC) e ambas as frações: insolúvel
(I5-K1) e solúvel (S5-K1) em pH 5,0 foram dialisadas (12-14 kDa) contra água
corrente, por 48 horas, e liofilizadas. O extrato alcalino propriamente dito é a soma
dessas frações, entretanto, a fração I5-K1 não foi utilizada no presente trabalho e,
para facilitar o entendimento, a fração S5-K1 será denominada K1.
3.3 PURIFICAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS
3.3.1 Separação dos Polissacarídeos por Congelamento e Degelo
Os extratos aquosos (CW e HW) e a fração solúvel em pH 5,0 (K1) foram,
separadamente, solubilizados em água destilada e submetidos ao processo de
congelamento, seguido por descongelamento à temperatura ambiente, repetidas
vezes. As frações solúveis em água fria (SCW, SHW e SK1, respectivamente) foram
separadas das frações insolúveis (PCW, PHW e PK1, respectivamente) por
centrifugação (8.500 r.p.m., 30 min, 4 ºC). Esse processo foi repetido até que o
28
sobrenadante aquoso não apresentasse mais precipitado por congelamento e
degelo (GORIN; IACOMINI, 1984).
3.3.2 Purificação por Precipitação com Solução de Fehling
As frações solúveis em água fria, obtidas da extração aquosa a frio e da
extração alcalina (SCW e SK1, respectivamente) foram submetidas à precipitação
com solução de Fehling (JONES; STOODLEY, 1965). Esta solução consiste em
duas soluções (A e B), sendo a solução A composta por tartarato de sódio e
potássio e KOH (173,0 g + 125,0 g / H
2
O q.s.p. 500 ml, respectivamente), enquanto
B consiste de sulfato de cobre 5.H
2
O (CuSO
4
) (55,7 g / H
2
O q.s.p. 500 ml).
As frações submetidas a este procedimento foram solubilizadas
primeiramente na solução A (30 50 ml), seguida da adição de igual volume da
solução B. Após intensa agitação, o material foi mantido sob refrigeração por
12 horas.
O precipitado formado foi separado por centrifugação (8.500 r.p.m., 15 min,
25 ºC). As frações obtidas (precipitado e sobrenadante) foram neutralizadas com
AcOH concentrado, dialisadas contra água corrente (~48 horas; 12-14 kDa) e
deionizadas por resina Dowex na forma catiônica. Em seguida, todas as frações
foram dialisadas (~24 horas; 12-14 kDa) e liofilizadas.
3.3.3 Purificação dos Polissacarídeos por Ultrafiltração ou Diálise
As frações PF-SCW e SF-SK1, após apresentarem perfil heterogêneo por
HPSEC (item 3.5.2), foram submetidas à ultrafiltração em membranas de
polietersulfona com limites de exclusão de 500 kDa, 30 kDa e/ou 10 kDa (Millipore
®
).
As ultrafiltrações foram realizadas por um sistema de filtração (modelo 16249,
Sartorius) acoplado a um cilindro de ar comprimido (CARBONERO, 2005). Também
foram utilizadas membranas de diálise com limite de exclusão de 16 kDa, em diálise
fechada contra água destilada.
29
3.4 ANÁLISE ESTRUTURAL DOS POLISSACARÍDEOS
3.4.1 Hidrólise Ácida Total
Uma alíquota de cada fração (~1,0 mg) foi tratada com 1,0 ml de TFA (ácido
trifluoracético) 2 M, durante 8 horas, a 100 ºC, ou TFA 1 M a 100 ºC, overnight
(12-15 h) (CORRADI DA SILVA et al., 1993). Decorrido o tempo de hidrólise, o ácido
foi eliminado das amostras por evaporação asecura à temperatura ambiente. Os
produtos hidrolisados foram reduzidos e acetilados, conforme o item 3.4.2.
3.4.2 Redução e Acetilação dos Produtos de Hidrólise
Os produtos de hidrólise foram reduzidos com borohidreto de sódio (NaBH
4
) à
temperatura ambiente, pH 9-10, por 15 horas (WOLFROM; THOMPSON, 1963a).
Após esse período, as amostras reduzidas foram tratadas com resina catiônica
(pH 7,0), filtradas e levadas à secura sob pressão reduzida. O ácido bórico formado
foi eliminado por co-evaporação com metanol, na forma de borato de trimetila.
Os alditóis formados foram acetilados com uma mistura de anidrido acético
(Ac
2
O)/piridina (1:1, v/v), overnight, à temperatura ambiente (WOLFROM;
THOMPSON, 1963b). Os acetatos de alditóis formados foram extraídos com
clorofórmio e a piridina residual presente neste extrato foi removida através de
sucessivas adições de solução de sulfato de cobre 5% (m/v). Após remoção total da
piridina, a fração clorofórmica foi desidratada com sulfato de sódio anidro e filtrada
por algodão. Após secura, os acetatos de alditóis isolados foram analisados por
cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa (GC-MS).
3.4.3 Metilação dos Polissacarídeos
As frações polissacarídicas purificadas (MG, S-PHW, SF-GLC e PF-GLC; 10
20 mg) foram metiladas pelos métodos de Ciucanu e Kerek (1984) ou
Haworth (1915).
No primeiro método, uma alíquota de cada amostra pura (MG; 10 20 mg) foi
solubilizada em 1,0 ml de dimetilsulfóxido (Me
2
SO). Em seguida foi adicionado
hidróxido de sódio (NaOH) seco e triturado (4:1 de carboidrato) e 1,0 ml de iodeto de
30
metila (CH
3
I). A amostra foi mantida sob agitação por 30 40 min e deixada em
repouso. Após 24 horas, o material foi neutralizado com AcOH concentrado em
banho de gelo e dialisado (8 kDa) contra água corrente, por 48 horas e liofilizado.
Esse procedimento foi repetido para garantir a metilação total dos polissacarídeos.
No segundo todo, uma alíquota do material (S-PHW, SF-GLC e PF-GLC;
20 mg) foi solubilizada em água destilada, tratada com NaBH
4
(~12 h), dialisada
(12-14 kDa) contra água corrente e liofilizada. Em seguida, a amostra foi solubilizada
em uma solução (3,0 ml) de NaOH 40% (p/v), a qual foi mantida sob agitação
constante, sendo adicionado 0,5 ml de dimetilsulfato (DMS), por 6 vezes, a cada 30
min. Após essa etapa, a reação foi mantida sob agitação overnight. Decorrido esse
período, o material foi dialisado (~24 horas; 8 kDa) e liofilizado. O material
remanescente foi solubilizado novamente em NaOH 40% para iniciar um novo ciclo
de metilação. Após o segundo ciclo, a amostra foi metilada pelo método de Ciucanu
e Kerek.
Os polissacarídeos parcialmente O-metilados obtidos foram hidrolisados com
ácido fórmico 45% a 100 ºC, por 10 - 15 horas (STORTZ; CASES; CEREZO, 1997).
O ácido presente na amostra foi removido por liofilização. Em seguida, os resíduos
per-O-metilados formados foram reduzidos com NaB
2
H
4
e acetilados (item 3.4.2)
para serem analisados por GC-MS.
3.4.4 Degradação Controlada de Smith
Alíquotas dos polissacarídeos (MG e S-PHW; 100 - 150 mg) foram
solubilizadas em água e acrescidas de periodato de sódio (NaIO
4
) aatingir uma
concentração final de 0,05 M. Cada solução foi mantida por 72–96 horas, sob
agitação, na ausência de luz. O material oxidado foi deixado em diálise (12-14 kDa)
contra água corrente durante 24 horas. A solução foi reduzida com NaBH
4
(pH 9-10)
por 24 horas, neutralizada com ácido acético concentrado e dialisada (8 kDa) contra
água corrente por ~48 horas (ABDEL-AKHER et al., 1952).
Depois de liofilizadas, alíquotas das amostras reduzidas foram submetidas à
hidrólise ácida total (item 3.4.1), metilação (item 3.4.3) e/ou hidrólise ácida parcial.
Para este experimento, a amostra reduzida foi submetida a uma hidrólise branda
com TFA, pH 2,0 a 100 ºC, por 30 min, sob refluxo. A solução foi neutralizada e
dialisada contra água destilada em recipiente fechado, utilizando-se membranas
31
com limite de exclusão de 2 kDa. O material retido na membrana de diálise foi
analisado por GC-MS e RMN-
13
C (itens 3.5.1 e 3.5.3).
3.4.5 Hidrólise Ácida Parcial do Heteropolissacarídeo
Uma alíquota da fração MG (200 mg), amostra pura obtida da extração
aquosa à temperatura ambiente, foi tratada com 1,0 ml de H
2
SO
4
0,16 M a 100 ºC,
por 3 horas. Em seguida, a amostra foi neutralizada com NaOH 1%, dialisada
(~12 horas; 8 kDa) e liofilizada. A fração resultante foi analisada por RMN-
13
C.
3.5 MÉTODOS ANALÍTICOS
3.5.1 Cromatografia Gasosa Acoplada à Espectrometria de Massa (GC-MS)
As análises de GC-MS foram realizadas em cromatógrafo a gás VARIAN,
modelo 3.300 acoplado a um espectrômetro de massa de marca FINNIGAN MAT,
modelo ITD 800 e Varian Saturn 2000R, equipados com colunas capilares de sílica
fundida (30 m x 0,25 mm d. i.) revestidas DB 225. As injeções nas colunas foram
feitas partindo-se de 50 ºC (mantida por 1,0 min), seguindo-se de um aumento
gradual de 40 ºC/min até 215 ºC (acetatos de alditóis parcialmente O-metilados) ou
220 ºC (acetatos de alditóis), sendo mantida isotermicamente até o final da análise.
Hélio ultra puro foi usado como gás de arraste, a um fluxo de 1,0 ml/min.
3.5.2 Determinação da Homogeneidade por Cromatografia de Exclusão Estérica
Acoplada à Detecção por Índice de Refração e Espalhamento de Luz
(HPSEC-MALLS)
Para as análises de homogeneidade, as amostras foram solubilizadas em
uma solução de nitrito de sódio (NaNO
2
) contendo azida de sódio (NaN
3
) para uma
concentração final de 1,0 mg/ml. As amostras solúveis foram filtradas em membrana
de acetato de celulose 0,22 µm (Millipore). Estas foram aplicadas em cromatógrafo
de exclusão estérica de alta pressão (HPSEC) Waters equipado com detector de
índice de refração diferencial, modelo Waters 2410, e com detector de espalhamento
de luz em multiângulos WYATT TECHNOLOGY, modelo DAWN DSP-F. Foram
32
utilizadas, em série, 4 colunas de gel permeação WATERS com limites de exclusão
de 1x10
6
, 4x10
5
, 8x10
4
e 5x10
3
Da.
3.5.3 Ressonância Magnética Nuclear
Os espectros de RMN-
13
C, RMN-
13
C-DEPT,
1
H/
13
C HMQC e HSQC foram
realizados em espectrômetro BRUKER, modelo Avance-DRX-400.
As análises foram realizadas a 50 ºC ou 70 ºC, com as amostras de
polissacarídeos (~40 mg), solubilizadas em D
2
O (óxido de deutério) ou Me
2
SO-d
6
(dimetilsulfóxido deuterado), dependendo da solubilidade. Os deslocamentos
químicos das amostras solúveis em D
2
O foram expressos em ppm (δ) relativos aos
sinais de
13
C e
1
H da acetona em δ 30,20 e 2,22, respectivamente, e aos sinais de
Me
2
SO-d
6
em δ 39,70 (
13
C) e 2,40 (
1
H), para as amostras solúveis no mesmo.
Apenas para a manogalactana, os deslocamentos químicos foram expressos em
ppm (δ) relativos à acetona em δ 32,77 (
13
C) e 2,21 (
1
H) de acordo com o DSS
(2,2-Dimetil-2-silapentano-3,3,4,4,5,5-d
6
-5-sulfonato de sódio; δ = 0,0 para
13
C e
1
H)
(IUPAC).
3.6 AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS NUTRICIONAIS
Tendo em vista que o cogumelo em estudo é comestível, decidiu-se avaliar
seu conteúdo nutricional, sendo alguns desses experimentos realizados no
laboratório de Química de Carboidratos (análise de aminoácidos) e os demais
resultados, foram obtidos em colaboração com o laboratório de Análises Ambientais
da PUC-PR.
3.6.1 Análise de Aminoácidos
Uma alíquota (1,0 mg) da amostra bruta da extração aquosa (CW) foi
hidrolisada com HCl (200 µl), a 100 ºC, por 20 horas. Após evaporação do ácido, foi
adicionada uma solução de metanol:HCl (1:4, v/v, 200 µl), deixando-se por 20 min, a
100 ºC. Os derivados obtidos foram acetilados com anidrido acético (100 µl),
metanol (50 µl) e piridina (50 µl), por 1 hora, a 100 ºC. Esses derivados foram
33
analisados por GC-MS, sendo as fragmentações obtidas identificadas por padrões
de aminoácidos.
3.6.2 Determinação de Cinzas
As cinzas foram determinadas pelo método de incineração. Uma alíquota dos
cogumelos liofilizados (3 g) foi adicionada a um cadinho de porcelana, sendo levada
a uma capela para carbonização da amostra em chapa elétrica. Em seguida, a
amostra foi incinerada a 550 ºC, na mufla, até a obtenção de cinzas claras
(2-3 horas). Após essa etapa, a amostra foi pesada, obtendo-se o valor total de
cinzas.
3.6.3 Análise dos Elementos Minerais
A determinação dos elementos minerais Al, Si, Ca, Mg, Cr, Zn, Fe, Mn, Cd,
Ni, Cu (STANDARD METHODS, 1998) foi realizada em espectrofotômetro de
absorção atômica modelo 250 Plus, Varian, com chama de C
2
H
2
e N
2
O, a partir de
resíduo mineral fixo, digerido com água régia até dissolução total, sendo
posteriormente levado ao aparelho para leitura nas condições técnicas especificadas
na tabela 3.
Tabela 3 – Dados técnicos para análise de elementos minerais em equipamento de absorção atômica
Elemento
Comprimento
de onda (nm)
Largura da
fenda (nm)
Tipo de
chama
Faixa de
Calibração (ppm)
Corrente da
lâmpada (mA)
Supressor de
ionização
Cd 228,8 0,5 C
2
H
2
0,5 – 2,0 6 -
Cr 357,9 0,2 C
2
H
2
0,5 – 2,0 7 -
Cu 324,7 0,5 C
2
H
2
0,5 – 2,0 4 -
Fe 248,3 0,2 C
2
H
2
1,0 – 1,0 5 -
Ni 232,0 0,2 C
2
H
2
0,5 – 2,0 4 -
Zn 213,9 1,0 C
2
H
2
0,5 – 2,0 5 -
Mn 279,5 0,5 C
2
H
2
0,5 – 2,0 5 -
Al 309,3 10,5 N
2
O 1-10 10 KNO
3
Ca 422,7 0,5 N
2
O 1-10 10 SrCl
K 766,5 1,0 C
2
H
2
1-10 5 SrCl
Mg 285,2 0,5 N
2
O 1-10 4 SrCl
2
34
3.6.4 Determinação das Proteínas
Foi utilizado 0,1 g da amostra de cogumelos liofilizados. Inicialmente foi
realizada a digestão da amostra, em balão de digestão, com a adição de 1,0 g da
mistura catalítica (CuSO
4
e K
2
SO
4
) e 5,0 ml de H
2
SO
4
concentrado. O balão foi
aquecido de 50 - 400 ºC em um período de 30 min. A mistura foi resfriada e, após
diluição com H
2
O (10 ml), o balão com a amostra foi conectado ao destilador de
Kjeldahl, sendo adicionada quantidade suficiente de solução de NaOH 50% até
alcalinização completa (cor marrom escura). A destilação foi realizada até obtenção
de 50 ml de solução, a qual foi coletada em um Erlenmeyer contendo ácido bórico
4% (10 ml) e 5 gotas de indicador misto (vermelho de metila + verde de bromo
cresol). Em seguida, foi realizada uma titulação da amostra destilada, utilizando
como agente titulante uma solução de H
2
SO
4
0,02 N. O teor de proteína bruta foi
calculado da seguinte maneira:
% de proteína = V* x 2,8 x 10
4
x fc x Fc x 100
Peso em grama de amostra
V*= Volume gasto na titulação da amostra
fc= Fator de correção da solução de ácido sulfúrico 0,02 N
Fc= Fator de conversão
3.6.5 Determinação de Lipídeos
Essa análise foi realizada com o auxílio de Soxlet, utilizando éter de petróleo
como solvente para 5,0 g de amostra de cogumelos liofilizados. A extração foi
realizada durante 6 horas, seguida de evaporação do solvente em estufa por 30 min
e pesagem do material obtido.
3.6.6 Determinação dos Carboidratos Totais
Os polissacarídeos presentes na amostra de cogumelos liofilizados foram
hidrolisados (5,0 g em 5,0 ml de H
2
O), pela adição de HCl (5,0 ml), a 100 ºC,
produzindo exclusivamente monossacarídeos redutores. A solução foi neutralizada
35
com NaOH 30 %. Em um Erlenmeyer, foram adicionados 5,0 ml das duas soluções
de Fehling (A e B) e 50 ml de H
2
O destilada. Essa mistura foi levada à ebulição
provocando a redução quantitativa dos íons cúpricos da solução de Fehling a óxido
cuproso. Utilizou-se a amostra contendo açúcares redutores como agente titulante
até o aparecimento de um precipitado vermelho como indicador do ponto de
viragem.
3.7 ENSAIOS BIOLÓGICOS: ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA E ANTI-
INFLAMATÓRIA in vivo
Os ensaios biológicos foram realizados pelo professor Adair Roberto Soares
dos Santos e colaboradores, no Departamento de Ciências Fisiológicas, situado no
Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
3.7.1 Animais
Os camundongos machos Swiss (25-35 g) foram mantidos em sala
climatizada (23 ± 2 ºC) em ciclos de claro-escuro de 12 h, com água e ração
ad libitum. Os animais foram acondicionados no laboratório por, no mínimo, 2 h
antes dos testes e utilizados uma única vez para os experimentos. Os ensaios
tiveram aprovação do Comitê de Ética e foram desenvolvidos de acordo com as
normas vigentes sobre cuidados com animais utilizados em laboratório e sobre ética
em experimentos sobre dor em animais conscientes (ZIMMERMANN, 1983). O
número de animais e intensidade dos estímulos dolorosos utilizados foram o mínimo
necessário para demonstrar efeitos consistentes dos tratamentos testados.
3.7.2 Constrição Abdominal, Permeabilidade Capilar Peritoneal e Infiltração de
Leucócitos Causada por Injeção de Solução de Ácido Acético 0,6%
As constrições abdominais foram induzidas de acordo com procedimentos
descritos previamente (LUCENA et al., 2007), resultando em contração do músculo
do abdômen juntamente com distensão dos membros posteriores em resposta à
injeção intraperitoneal (i.p.) de ácido acético (0,6%). Inicialmente, os animais foram
tratados por injeção intravenosa de solução corante Evans Blue 2,5% (10,0 ml/kg),
36
utilizado como marcador da permeabilidade capilar peritoneal. Após 1,0 h, os
camundongos receberam a amostra a ser testada (3,0-30,0 mg/kg, i.p.) ou
dexametasona (2,0 mg/kg, s.c.) ou indometacina (10,0 mg/kg, i.p.), como controles
positivos. A injeção da solução de ácido acético foi administrada após 30 min para
os animais tratados com a amostra testada e com indometacina e, após 4,0 h para
os animais tratados com dexametasona. Os animais controle negativo receberam
um volume similar de solução salina (10,0 ml/kg, i.p.), usado para diluir a amostra.
Em seguida, os animais foram mantidos individualmente em cilindros de vidro de
20,0 cm de diâmetro e, as constrições abdominais foram contadas cumulativamente
durante um período de 20 min. A atividade antinociceptiva foi expressa como
redução do número de contrações abdominais (por exemplo, a diferença entre o
controle negativo e animais pré-tratados com amostra testada, dexametasona ou
indometacina). Imediatamente após o teste, os camundongos foram sacrificados por
deslocamento cervical e a cavidade peritoneal foi exposta e lavada com 1,0 ml de
salina + heparina estéril (25 IU/ml) e o volume foi coletado com pipetadas
automáticas. A contagem dos leucócitos totais foi realizada com o auxílio de câmara
de Neubauer e microscópio óptico, após diluição do fluido peritoneal coletado com
solução de Türk (1:20). Uma alíquota do fluido coletado (700 µl) foi centrifugada a
1.000 r.p.m. por 10 min e a absorbância do sobrenadante foi lida a 550 nm com
analisador de ELISA. A permeabilidade capilar peritoneal induzida por ácido acético
foi expressa em relação ao extravasamento do corante Evans Blue (µg/ml), de
acordo com a curva padrão obtida por Lucena e colaboradores (2007).
3.7.3 Análises Estatísticas
Os resultados foram expressos como a dia ± desvio padrão, exceto os
valores de ID
50
(por exemplo, a dose de amostra testada reduzindo a constrição
abdominal, permeabilidade capilar peritoneal e respostas da infiltração de leucócitos
por 50%, em relação ao valor do controle), os quais se apresentaram como
significados geométricos acompanhados pelos seus respectivos limites de confiança
de 95%. Os valores de ID
50
foram determinados por regressão dos experimentos
individuais, com o auxílio do software de regressão linear GraphPad (Graph Pad
software, San Diego, CA, USA). A significância estatística das diferenças entre os
37
Pleurotus pulmonarius
Seco (200 g)
Compostos
Apolares
Resíduo I
Extrato Alcalino 1%
Extrato Aquoso I
Deslipidificação
CHCl
3
-
MeOH 4:1
H
2
O fria (3 L, 7x), sob agitação, 6 h
KOH 1%, 100ºC, sob refluxo, 6 h
Resíduo II
H
2
O quente (3 L, 7x), sob refluxo, 6 h
Resíduo III
Extrato Aquoso II
Resíduo IV
grupos foi detectada por ANOVA seguida pelo teste de Newman-Keuls. Um valor de
p < 0,05 foi considerado significante.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O corpo de frutificação de Pleurotus pulmonarius (~2,0 kg) foi limpo e
liofilizado, sendo o teor de água presente neste cogumelo igual a, aproximadamente,
91%. Partindo-se de 200 g do material seco, foi realizada uma extração com
clorofórmio-metanol (4:1 v/v), a fim de remover moléculas apolares presentes no
mesmo, sendo o rendimento dessa fração apolar igual a 3,7%. As extrações foram
desenvolvidas conforme descrito anteriormente (Material e Métodos), na seguinte
ordem: extração aquosa à temperatura ambiente, extração aquosa a 100 ºC e
extração alcalina a 100 ºC (Figura 8).
Figura 8 – Esquema geral das extrações do basidioma liofilizado de Pleurotus pulmonarius
Ambos os extratos aquosos foram filtrados em algodão, separadamente,
concentrados em rota-evaporador e precipitados com etanol (3:1 v/v). Os
precipitados etanólicos denominados, respectivamente, por CW e HW foram
liofilizados e fracionados como descrito. O extrato alcalino, após adição de ácido
acético, centrifugação e diálise, foi liofilizado, resultando em duas frações, sendo
que apenas a fração solúvel em pH 5,0 (K1) foi utilizada. Os rendimentos dos
38
extratos obtidos e das frações seguintes estão relacionados na tabela 4. O alto teor
de polissacarídeos na fração CW em comparação com a fração HW deve-se,
provavelmente às repetidas extrações com água fria, antes de iniciar as extrações a
100 ºC. O maior rendimento para as extrações à temperatura ambiente favorece a
purificação das moléculas isoladas, devido à grande solubilidade das mesmas. A
extração alcalina apresentou maior quantidade de polissacarídeos, pois esta
removeu moléculas mais fortemente aderidas à parede celular do fungo.
Tabela 4 – Relação dos rendimentos das frações obtidas do basidioma de P. pulmonarius
Rendimento
(1)
Fração / Extrato
g %
Compostos apolares
7,4 3,7
CW 13 6,5
SCW 12,1 6,0
SF-SCW 1,6 0,8
PF-SCW 1,6 0,8
PCW 0,5 0,2
HW 7,4 3,7
SHW 5 2,5
PHW 1,2 0,6
K1 26,8 13,5
I5-K1 4,5 2,2
SK1 18,0 9,0
SF-SK1 3,2 1,6
PF-SK1/PF-GLC 0,2 0,1
PK1 4,4 2,2
(1) Baseado no peso seco das frações.
Os extratos polissacarídicos obtidos de cada extração (CW, HW e K1) foram
submetidos ao processo de congelamento e degelo, representado na figura 9, e aos
demais procedimentos de purificação, quando necessários.
39
Precipitação com EtOH 3:1
Ou
Adição AcOH (pH 5,0) e diálise
Extrato Alcalino 1%
Extrato Aquoso I
Extrato Aquoso II
SCW
PCW
CW
SHW
PHW
HW
SK1
PK1
K1
Congelamento e Degelo
Precipitação com Fehling
I5-K1
SF-SCW
PF-SCW
SF-SK1
PF-SK1
Figura 9 Esquema geral das etapas de purificação por congelamento e degelo dos extratos obtidos
de Pleurotus pulmonarius
4.1 EXTRATO AQUOSO À TEMPERATURA AMBIENTE
A fração resultante da primeira extração aquosa, denominada CW, após o
congelamento e degelo, gerou uma fração solúvel (SCW) e uma fração insolúvel
(PCW) em água fria. Esta última não foi analisada no presente trabalho devido ao
baixo rendimento (Tabela 4).
A fração SCW foi tratada com solução de Fehling separando a mesma em
uma porção solúvel (SF-SCW) e outra insolúvel (PF-SCW) nesta solução. Este
tratamento foi repetido para a fração insolúvel (PF-SCW) para garantir melhor
separação por esse procedimento. Apesar disso, quando analisada por HPSEC-
MALLS e GC-MS, esta fração ainda apresentava-se heterogênea, como pode ser
observado na figura 10, sendo composta por fucose (1,7%), xilose (1,5%), manose
(27,1%), 3-O-metil-galactose (14,9%), galactose (46,9%) e glucose (7,9%). O
derivado 3-O-Me-galactose foi confirmado, por GC-MS, pela presença dos
fragmentos 130 e 190 m/z, após hidrólise, redução com borohidreto de sódio
deuterado (NaB
2
H
4
) e acetilação.
Dessa forma, essa fração foi purificada por ultrafiltração em membranas de
500 kDa e 30 kDa, sendo que o material eluído por ambas as membranas,
denominado MG (0,4%), apresentou um perfil homogêneo por HPSEC (Figura 10),
com uma massa molar de aproximadamente 2,39 x 10
4
Da.
40
Figura 10 Perfil de eluição das frações PF-SCW e MG (solubilizadas em nitrito de dio 0,1 mol/l,
contendo azida sódica) obtido por HPSEC-MALLS
A fração MG, após analisada por GC-MS, apresentou manose (31,6%),
3-O-Me-galactose (12,9%) e galactose (55,5%), enquanto as análises de metilação
(Tabela 5) deste polímero indicaram um polissacarídeo com cadeia principal
composta por unidades de galactose e 3-O-Me-galactose, unidas por ligações
(16), altamente substituídas em O-2 por terminais não redutores de manose.
Tabela 5 – Análise de metilação das frações MG e SM-MG obtidas do basidioma de P. pulmonarius
Mol%
Acetatos de alditóis
parcialmente O-
metilados
(1)
MG SM-MG
Tipo de ligação
(2)
2,3,4,6-Me
4
-Man
36,0
-
Manp-(1
2,3,4-Me
3
-Gal
28,7
54,0
6)-Galp-(1
3,4-Me
2
-Gal
35,3
46,0
2,6)-Galp-(1
(1) Analisado em GC-MS após metilação, hidrólise ácida total, redução (NaB
2
H
4
) e acetilação.
(2) Baseado nos derivados acetilados parcialmente O-metilados.
Essa fração também foi analisada por RMN-
13
C (Figura 11a),
1
H (Figura 12a)
e HSQC (Figura 12b). O espectro de HSQC apresentou sinais na região anomérica
em δ 103,9/4,84; 101,0/5,18 e 100,6/5,19; 100,4/5,03, correspondentes aos C1/H1
das unidades de manose, galactose 2,6-di-O-substituída e galactose
6-O-substituída, respectivamente. O experimento de RMN-
13
C-DEPT apresentou a
MG
PF
-
SCW
41
inversão do sinal em δ 69,1, confirmando a presença de CH
2
ligado (dado não
apresentado).
As configurações glicosídicas foram confirmadas pelos valores de
1
H,
13
C e
da constante de acoplamento J
C-1,H-1
, observados no HSQC acoplado. Sendo a
configuração β para as unidades de manose sugerida pelo sinal de H-1 em campo
alto (δ 4,84), estando de acordo com o valor da constante igual a 160 Hz (PERLIN;
CASU, 1969). Os sinais de H-1 em campo baixo (δ 5,19; 5,18 e 5,03) mostram uma
J
C-1,H-1
igual a 170 Hz, indicando configuração do tipo α para as unidades de Galp e
3-O-Me-Galp, confirmada pelos sinais de C-1 em campo mais alto no RMN-
13
C.
O sinal observado em δ 79,4 refere-se ao C-2 das unidades de galactose
2,6-di-O-substituídas, confirmando a substituição em O-2 pelos terminais não
redutores de manose. Sinais em δ 58,7/3,48 e 59,0/3,51 confirmam a presença do
grupo metil na molécula, juntamente com o sinal em δ 81,4/3,58 referente ao C3/H3
das unidades de Me-Gal 6-O-substituída. Também foi possível fazer os seguintes
assinalamentos para as unidades de β-
D
-manp: δ 72,8 (C-2); 75,5 (C-3);
69,4 (C-4); 78,6 (C-5); 63,6 (C-6).
A correlação das áreas na região anomérica do espectro de RMN-
1
H confirma
a proporção de 1,23 α-
D
-Galp 6-O-substituída para 1,00 α-
D
-Galp
2,6-di-O-substituída, estando de acordo com os dados de metilação.
Figura 11 Espectro de RMN-
13
C (A) da fração MG e RMN-
13
C (B) da fração MG após hidrólise
parcial com H
2
SO
4
(em D
2
O a 70 ºC) obtida de P. pulmonarius
100
80
90
700
60
0
ppm
79,4
81,4
75,5
63,6
59,0
103,9
100,6
100,4
80,6
78,6
101,0
58,7
75,9
72,8
72,0
69,4
69,1
A
42
B
100
80
90
700
60
0
ppm
79,2
81,4
75,7
63,3
62,6
71,5
58,3
73,0
72,2
71,0
70,5
100,8
103,9
68,4
Figura 11 Espectro de RMN-
13
C (A) da fração MG e RMN-
13
C (B) da fração MG após hidrólise
parcial com H
2
SO
4
(em D
2
O a 70 ºC) obtida de P. pulmonarius (continuação)
Figura 12 – Região anomérica dos espectros de RMN-
1
H (A) e HSQC (B) da fração MG (em D
2
O a 70
ºC) obtida de P. pulmonarius
Para obter mais informações sobre a cadeia principal dessa manogalactana,
uma alíquota (200 mg) da amostra MG foi submetida a uma hidrólise parcial
(subitem 3.4.5), que após analisada por RMN-
13
C apresentou um espectro com
sinais de menor intensidade, referentes às unidades de β-
D
-Manp e, sinais mais
intensos correspondentes a α-
D
-Galp e a 3-O-Me-α-
D
-Galp (Figura 11b). Confirmou-
A
2,6
)-Galp-(1
6
)-Galp-(1
Manp-(1
ppm
4.8
4.9
5.0
5.1
5.2
ppm
99.0
99.5
100.0
100.5
101.0
101.5
102.0
102.5
103.0
103.5
104.0
104.5
105.0
105.5
106.0
106.5
B
2,6
)-Galp-(1
6
)-Me-Galp-(1
Manp-(1
6
)-Galp-(1
43
se a presença das unidades de manose como terminais não redutores, ligados a
uma cadeia principal composta por galactose e 3-O-Me-Galp.
Considerando que as substituições podem estar ocorrendo tanto nas
unidades de galactose, como 3-O-Me-Galp, uma alíquota da amostra MG (150 mg)
foi submetida a uma oxidação com periodato de sódio (NaIO
4
), seguida de redução
com borohidreto de sódio (NaBH
4
). Esse procedimento, quando seguido de uma
hidrólise branda, degrada moléculas que apresentam hidroxilas vicinais, como é o
caso de polissacarídeos com ligações (12), (14) e (16). Entretanto, a molécula
em estudo apresenta, em sua cadeia principal, algumas unidades de galactose
substituída por um grupo metil na posição O-3, sendo esse fragmento resistente à
oxidação com NaIO
4
(Figura 13 e 14). Verificando-se essa propriedade, optou-se por
fazer uma metilação e derivatização em uma alíquota (20 mg) da amostra oxidada e
reduzida (SM-MG) para análise em GC-MS (DONG et al., 2002). Esse procedimento
permitiu observar que algumas unidades de 3-O-Me-Galp estavam substituídas em
O-2 por terminais não redutores de manose na proporção de 1,2:1,0 (Me-Gal não
substituída:Me-Gal substituída). Esse resultado também mostrou que, de acordo
com a quantidade de manose presente na molécula (31,6%), apenas ~6% está
substituindo as unidades de Me-Gal, enquanto 26% está ligado às unidades de
galactose. Esses dados podem ser melhor observados na figura 13. Os resultados
observados corroboram para uma manogalactana com uma cadeia principal
composta por unidades de 3-O-Me-α-
D
-Galp e α-
D
-Galp (16)-ligadas, sendo que
ambas as unidades podem estar substituídas em O-2 por terminais não redutores de
β-
D
-Manp.
44
Figura 13 – Esquema Representativo da Degradação de Smith (modificada) realizada na amostra MG
CH
2
O
CH
2
O
O
CH
2
O
CH
2
O
O
CH
2
O
CH
2
O
C
O
O
O
O
CH
2
O
CH
2
O
O
O
O
CH
2
O
CH
2
OH
Me
Me
Me
Me
Me
O
Me
O
O
O
O
O
O
O
O
O
Me
Me
Me
Me
Me
Me
Me
Me
Me
O
Me
O
Me
a
HOH
2
C O
HOH
2
C
O
OH
HOH
2
C O
HOH
2
C
O
OH
HOH
2
C O
HOH
2
C
O
C
O
O
OH
OH
HOH
2
C O
HOH
2
C
O
O
O
OH
HOH
2
C O
HOH
2
C
OH
O
O
Me
Me
a
OHC O
OHC
O
OH
OHC O
OHC
O
OH
OHC O
OHC
O
C
O
O
OH
OH
OHC O
OHC
O
O
O
OH
OHC O
OHC
OH
O
O
Me
Me
a
O
O
OH
OH
OH
OH
O
O
OH
OH
OH
OH
O
O
OH
OH
C
O
O
OH
OH
O
O
OH
OH
OH
O
O
OH
O
OH
OH
OH
OH
O
Me
O
Me
a
IO
4
NaBH
4
Metilação
Hidrólise, Redução e Acetilação
1
2
3
4
5
1
6
H
2
H
2
H
2
H
2
O
O
O
O
Derivados de acetatos de alditóis
parcialmente O-metilados
45
Figura 14 – Derivados obtidos da Degradação de Smith (modificada) realizada na amostra MG
Estruturas semelhantes foram descritas para Pleurotus ostreatus e Pleurotus
ostreatoroseus (JAKOVLJEVIC et al., 1998; ROSADO et al., 2003). A presença do
grupo metil ligado aos polissacarídeos parece ser característica do gênero
Pleurotus, observando que α-galactanas parcialmente metiladas com cadeias
lineares similares à cadeia principal do polímero caracterizado no presente trabalho
também foram isoladas de P. eryngii e P. ostreatoroseus (CARBONERO et al.,
2007). Este último, quando cultivado em meio líquido, produz α-galactanas lineares
e, parcialmente metiladas, sendo as unidades (14)-ligadas (ROSADO et al., 2002).
Heteropolissacarídeos com a mesma cadeia principal, porém sem substituição por
grupos metil e com diferentes componentes nas cadeias laterais, foram isolados de
Armillaria mellea, Flammulina velutipes e Laetiporus sulphureus (FRASER;
LINDBERG, 1967; SMIDERLE et al., 2007; ALQUINI et al., 2004). Também foi
descrita uma heterogalactana parcialmente metilada para a espécie
Armillaria mellea. Entretanto, a estrutura desse polímero não é detalhada
(BOUVENG; FRASER; LINDBERG, 1967).
Derivados originados
do fragmento 1
Derivados originados
dos fragmentos 2 e 6
Derivado originado do
fragmento 3
Derivados originados
do fragmento 4
Derivado originado do
fragmento 5
CH
2
OMe
CHOAc
CH
2
OMe
CHOAc
CH
2
OMe
CH
2
OAc
CHOAc
CH
2
OMe
CHOAc
CHOAc
CH
2
OMe
CH
2
OAc
CHOAc
CH
2
OMe
CHOAc
CH
2
OMe
CHOAc
CHOAc
CHOMe
CHOMe
CHOAc
CH
2
OAc
CHOAc
CHOMe
CHOMe
CHOMe
CHOAc
CH
2
OAc
46
4.2 EXTRATO AQUOSO A QUENTE
A fração polissacarídica (HW) originada da extração aquosa a quente foi
fracionada pelo processo de congelamento e degelo originando duas novas frações:
solúvel (SHW) e insolúvel (PHW) em água fria.
A fração PHW, composta por xilose (2,4%), manose (4,6%), galactose (3,2%)
e glucose (89,8%), apresentava consistência de gel, sendo, portanto, realizado um
tratamento com hidróxido de sódio 2% (NaOH), a 80 ºC, por 2-3 horas. Esse
procedimento facilita a re-solubilização da amostra em água, devido a uma provável
descomplexação das moléculas presentes na mesma. Após neutralização com ácido
acético e diálise (~12 horas; 12-14 kDa), o material foi submetido novamente ao
processo de congelamento e degelo originando uma fração sobrenadante
S-PHW (0,4%) e uma fração precipitada P-PHW (0,04%). A fração S-PHW
apresentou glucose como principal componente monossacarídico, e a análise de
metilação apresentou os seguintes derivados metilados: 2,3,4,6-Me
4
-Glc (20%),
2,4,6-Me
3
-Glc (58%) e 2,4-Me
2
-Glc (22%). Esses resultados sugerem a presença de
uma glucana ramificada, a qual apresenta ligações (13) e (16).
Foram realizados experimentos de RMN-
13
C e HMQC (Figura 15 e 16,
respectivamente), cujos espectros mostraram sinais referentes aos de uma
β-glucana. O espectro de HMQC apresentou sinais na região anomérica em
δ 103,0/4,44 e 103,0/4,15 referentes às unidades de β-
D
-Glcp-(13)-ligadas e
β-
D
-Glcp 3,6-di-O-substituídas, respectivamente. A configuração β das unidades de
glucose é dada pelos sinais de C-1 em campo baixo, característicos das β-glucanas.
Os sinais em δ 86,0; 86,2 e 86,5 correspondem ao C-3 ligado das unidades da
cadeia principal. Sinais de -CH
2
livre (δ 60,8; 60,9; 61,2) e -CH
2
substituído (δ 68,3)
também foram observados, confirmando os dados de metilação quanto à presença
de substituição em O-6. Tendo como objetivo elucidar a cadeia principal dessa
molécula, a fração S-PHW (150 mg) foi submetida ao procedimento de degradação
controlada de Smith. Foi realizado um RMN-
13
C do material resistente, o qual
apresentou apenas seis sinais referentes à cadeia principal: δ 102,9 (C-1);
86,2 (C-3); 76,4 (C-5); 72,9 (C-2); 68,5 (C-4) e 61,0 (C-6). Os resultados observados
sugerem a presença de uma β-glucana com cadeia principal ligada (13), sendo as
47
unidades de β-
D
-Glcp substituídas em O-6, a cada três unidades da cadeia principal,
por terminais não redutores de β-
D
-Glcp, caracterizando um polissacarídeo similar a
lentinana (Figura 17).
Figura 15 – Espectro de RMN-
13
C da fração S-PHW (em Me
2
SO-d
6
a 70 ºC) obtida de P. pulmonarius
Figura 16 – Espectro de HMQC da fração S-PHW (em D
2
O a 70 ºC) obtida de P. pulmonarius
86,5
86,2
86,0
76,6
76,4
76,1
74,8
73,6
72,8
61,2
60,8
103,0
72,6
60,9
70,3
68,5
103,0/4,15
103,0/4,44
86,5;86,2/3,41
76,4/3,19
76,6/3,05
74,8/3,42
72,6/3,24
73,6/3,00
70,3/3,04
68,5/3,20
68,3/3,98
68,3/3,48
60,9/3,62
60,9/3,40
48
c)
n
Figura 17 – Estrutura da β-glucana obtida do basidioma de P. pulmonarius
β-Glucanas são comumente encontradas em basidiomicetos. Estruturas muito
semelhantes a esta foram descritas para Flammulina velutipes (SMIDERLE et al.,
2006) e Pleurotus ostreatus (YOSHIOKA et al., 1985). Polissacarídeos com a
mesma cadeia principal, mas substituídos em O-6 por terminais não redutores de
β-
D
-Glcp, a cada duas unidades da cadeia principal, também foram extraídos de
Boletus erythropus (CHAUVEAU et al., 1996), P. eryngii e P. ostreatoroseus
(CARBONERO et al., 2006). Lentinana é um polissacarídeo constituinte da parede
celular do basidioma e do micélio de fungos. É uma molécula com alta massa
molecular, solúvel em água, resistente ao calor e a pH ácido, mas lábil em pH
básico. Sua conformação em tripla-hélice sugere que este é um fator importante
para seu efeito bioativo (ROWAN; SMITH; SULLIVAN, 2003). Pesquisadores têm
observado que esse polímero demonstra um efeito antitumoral, mas não age
diretamente sobre as células cancerígenas. Ao contrário de outras moléculas
bioativas, a lentinana ativa diferentes tipos de resposta do sistema imune do
hospedeiro, provocando a diminuição de tumores (WASSER; WEIS, 1999; ROWAN;
SMITH; SULLIVAN, 2003; ZHANG et al., 2007).
4.3 EXTRATO ALCALINO
A fração K1 obtida da extração alcalina (KOH 1%) foi submetida ao
procedimento de congelamento e degelo, obtendo-se uma fração solúvel (SK1) e
uma fração insolúvel (PK1) em água fria. Ambas apresentaram-se compostas por
aproximadamente 90,0% de glucose, sendo SK1 escolhida para a purificação,
devido a maior solubilidade em H
2
O. Iniciou-se o tratamento com solução de Fehling,
49
o qual foi repetido por 3 vezes para garantir que houvesse total separação das
frações sobrenadante (SF-SK1) e precipitado (PF-SK1) de Fehling.
A fração SF-SK1 apresentou um perfil heterogêneo quando analisada por
HPSEC-MALLS, sendo, portanto, submetida ao processo de ultrafiltração por
membranas de 300 kDa, 30 kDa e 10 kDa, sequencialmente. A amostra eluída
(SF-GLC) pelas três membranas foi dialisada em membrana de 16 kDa e apresentou
perfil de eluição homogêneo por HPSEC-MALLS. A figura 19 apresenta o perfil de
eluição da amostra SF-SK1, da amostra eluída pela membrana de 30 kDa
(30SF-SK1) e da amostra purificada (SF-GLC). Análises de GC-MS (Tabela 6),
HPSEC-MALLS (Figura 18) e RMN-
13
C (Figura 19A) sugerem que a fração SF-SK1
é composta por glucanas com estruturas similares, as quais apresentam massas
molares diferentes.
Figura 18 Perfil de eluição das frações SF-SK1, 30SF-SK1 e SF-GLC (solubilizadas em nitrito de
sódio 0,1 mol/l, contendo azida sódica) obtido por HPSEC-MALLS
Tabela 6 – Análise da composição monossacarídica das frações bruta (SF-SK1) e após ultrafiltrações
Composição Monossacarídica (%)
(1)
Frações Rendimento %
Xyl Man Gal Glc
SF-SK1 1,6 Tr.
(4)
3,3 Tr.
(4)
96,0
30SF-SK1
(2)
0,6 Tr.
(4)
4,0 2,0 93,0
10SF-SK1
(3)
0,2 - Tr.
(4)
Tr.
(4)
97,0
(1) Analisado em GC-MS após hidrólise ácida total, redução e acetilação.
(2) Fração SF-SK1 eluída pela membrana de 30 kDa.
(3) Fração 30SF-SK1 eluída pela membrana de 10 kDa.
(4) Traços.
SF-SK1
30SF-SK1
SF-GLC
50
A fração PF-SK1 mostrou-se composta por 90,0% de glucose, sendo
posteriormente denominada PF-GLC. Devido ao seu baixo rendimento (Tabela 4),
PF-GLC não foi submetida a novos processos de purificação.
Analisando os espectros de RMN-
13
C das frações SF-GLC e PF-GLC é
possível notar que ambos apresentam os mesmos sinais (Figura 20), sugere-se,
entretanto, que são moléculas diferentes considerando que apenas PF-GLC
precipita quando tratada com solução de Fehling. Pode-se observar que ambas são
constituídas por ligações (13) e (16), devido à presença dos sinais em δ 84,8 e
84,6 e sinais em δ 68,9 e 68,7, respectivamente.
Figura 19 – Espectro de RMN-
13
C das frações SF-GLC (A) e PF-GLC (B) (em D
2
O a 70 ºC) obtidas do
basidioma de P. pulmonarius, após extração alcalina
84,8
75,0
75,8
73,1
72,7
60,9
69,8
102,9
73,6
68,9
68,3
A
84,7
74,8
75,6
73,0
72,5
60,7
68,7
102,7
73,4
69,7
68,2
B
51
Os sinais em δ 102,9 e 102,7, referentes ao C1 das unidades de glucose,
sugerem configuração do tipo β. O espectro de HMQC (Figura 20) da fração SF-GLC
confirmou esses dados, além de mostrar a sobreposição de sinais na região
anomérica (102,5/4,78; 102,5/4,56; 102,9/4,73 e 102,9/4,53), caracterizando uma
molécula ramificada. Os sinais de CH
2
livre (δ 60,8/3,93; 60,8/3,76) e
CH
2
(δ 68,9/3,87) substituído também foram assinalados.
Figura 20 Espectro de HMQC da fração SF-GLC (em D
2
O a 70 ºC) obtida do basidioma de P.
pulmonarius, após extração alcalina
Foi realizada análise de metilação (Tabela 7) das frações SF-GLC e PF-GLC,
tornando possível uma comparação mais detalhada sobre a estrutura dessas
moléculas. A glucana presente na fração SF-GLC apresentou maior proporção de
ligações (13) que a glucana presente em PF-GLC, demonstrado pela presença
dos derivados 2,4,6-Me
3
-Glc e 2,4-Me
2
-Glc. Além disso, PF-GLC contém mais
ligações (16), sendo parte dessas unidades substituídas também em O-2,
O-3 ou O-4. Sendo assim, esta fração deixa mais expostas as hidroxilas vicinais
102,5/4,78
102,5/4,56
102,9/4,73
102,9/4,53
84,9/3,76
73,2/3,37
75,6/3,53
74,9/3,64
72,9/3,64
69,8/3,47
68,2/3,56
69,8/3,63
60,8/3,76
60,8/3,93
68,9/3,87
52
presentes nas unidades monossacarídicas (16)-ligadas, facilitando a formação de
complexos com o cobre.
Tabela 7 Análise de metilação das frações SF-GLC e PF-GLC obtidas do basidioma P.
pulmonarius, após extração alcalina
Mol%
Acetatos de alditóis
parcialmente O-
metilados
(1)
SF-GLC PF-GLC
Tipo de ligação
(2)
2,3,4,6-Me
4
-Glc
12
20
Glcp-(1
2,4,6-Me
3
-Glc
23
7
3)-Glcp-(1
2,3,4-Me
3
-Glc
41
54
6)-Glcp-(1
2,4-Me
2
-Glc
23
9
3,6)-Glcp-(1
3,4-Me
2
-Glc
-
8
2,6)-Glcp-(1
2,3-Me
2
-Glc
-
2
4,6)-Glcp-(1
(1) Analisado em GC-MS após metilação, hidrólise ácida total, redução e acetilação.
(2) Baseado nos derivados acetilados parcialmente O-metilados.
Os polissacarídeos mais isolados de basidiomicetos são β-glucanas com
ligações (13) e (16), podendo apresentar alternância entre essas ligações ou se
diferenciar de acordo com a cadeia principal (13) ou (16)-ligadas. Glucanas em
configuração α também já foram descritas embora as primeiras sejam as mais
estudadas. As massas moleculares também podem variar, mostrando que há grande
diversidade com relação ao tamanho e conformação desses polissacarídeos
(ZHANG et al., 2007). A tabela 8 descreve as características de algumas glucanas
isoladas.
Tabela 8 – Estruturas de diferentes glucanas isoladas de basidiomicetos
(1)
BASIDIOMICETO CADEIA PRINCIPAL RAMIFICAÇÃO
M
w
Lentinus edodes
(13)-β-
D
-glucana (16)-β-
5 x 10
5
Pleurotus tuber-regium
(13)-β-
D
-glucana (16)-β-
2 x 10
5
Auricularia aurícula
(13)-β-
D
-glucana
Linear -
Armillariella tabescens
(16)-β-
D
-glucana
Linear -
Poria cocos
(13)-β-
D
-glucana (16)-β-
1 x 10
5
Poria cocos
(13)-β-
D
-glucana (12)-β-
1 x 10
5
Armillariella tabescens
(13)-α-
D
-glucana
Linear -
Amanita muscaria
(16)-α-
D
-glucana (14)-α-
-
Agaricus blazei
(16)-β-
D
-glucana (14)-α-
-
Agaricus blazei
(13)-α-
D
-glucana (16)-β-
-
(1) Dados retirados de ZHANG et al., 2007.
53
Os dados obtidos para as frações estudadas (SF-GLC e PF-GLC) sugerem
que ambas apresentam unidades de β-
D
-Glcp ligadas (13) e (16), em diferentes
proporções. Sugere-se que a fração PF-GLC apresenta uma conformação que deixa
mais expostas as hidroxilas vicinais das unidades de β-
D
-Glcp-(16)-ligadas,
permitindo a precipitação com solução de Fehling. A fração SF-GLC é constituída
por uma β-glucana com alto teor de ligações (13), sugerido pela presença dos
derivados 2,4,6-Me
3
-Glc (23%) e 2,4-Me
2
-Glc (23%).
4.4 PARÂMETROS NUTRICIONAIS
Tendo em vista que P. pulmonarius é um cogumelo comestível, seu conteúdo
nutricional foi avaliado (IAL, 2005), revelando que esse basidiomiceto apresenta
teores de carboidratos, proteínas e cinzas em altas concentrações, sendo esses
valores semelhantes aos resultados obtidos por Manzi e colaboradores (1999). Além
disso, o baixo teor de lipídeos faz dos cogumelos em geral, alimentos mais
saudáveis (Tabela 9). Esses resultados estão de acordo quando comparados com
outras espécies de Pleurotus (GUO; LIN; LIN, 2007).
Tabela 9 – Análise dos parâmetros nutricionais de P. pulmonarius
Quantidade em %
Nutriente
P. pulmonarius Pleurotus spp.
(2)
Carboidratos Totais
(1)
54 46-59
Proteínas
(1)
14,7 15-30
Lipídeos
(1)
1,8 2-7
Cinzas
(1)
6,3 4-6
Umidade 91 82-91
(1) Quantificação baseada no peso seco.
(2) Baseado em GUO; LIN; LIN, 2007.
O alto teor de cinzas na amostra sugere a presença de minerais, os quais
foram analisados e estão descritos na tabela 10.
54
Tabela 10 – Análise do conteúdo de minerais presentes em P. pulmonarius
Elemento mineral Quantidade (mg/kg)
(1)
Cálcio
6,24 ± 0,4
Cobre
0,22 ± 0,111
Magnésio
13,15 ±1,46
Manganês
0,14 ± 0,111
Zinco
0,91 ± 1,111
Silício
0,55 ± 0,4
Alumínio
< 0,50 ± 0,151
Cromo < 0,20
Ferro < 0,29
Cádmio < 0,50
Niquel < 0,10
(1) Analisado por absorção atômica, STHANDARD METHODS, 1998.
Alguns dos minerais encontrados destacam-se pela importância e quantidade
observada. Dentre eles podem ser citados, principalmente, cálcio e magnésio. O
cálcio, além de principal constituinte do esqueleto, exerce importantes ações
fisiológicas, sendo essencial para a integridade funcional dos sistemas nervoso e
muscular. O cálcio é necessário para a transmissão nervosa e a função cardíaca
normal. As contrações rítmicas e o relaxamento do miocárdio dependem das
concentrações apropriadas de lcio, sódio, potássio e magnésio no fluido
extracelular. Também está associado a algumas proteínas presentes no
citoesqueleto, estrutura de grande importância para a manutenção da forma e
movimentos celulares (ANGELIS, 1979; BRODY, 1994).
A quantidade diária de magnésio necessária ao corpo humano é 4,5 mg/Kg.
Este é o mais abundante dos cátions bivalentes intracelulares. O magnésio ativa
várias enzimas, tais como a fosfatase alcalina e enzimas que utilizam ATP, sendo
necessário a mais de 300 processos biológicos, incluindo a contração muscular,
transporte através de membranas, ativação de aminoácidos, geração e transmissão
dos impulsos nervosos, entre outros (ANGELIS, 1979).
Outros minerais encontrados, apesar de presentes em pequenas
quantidades, o essenciais ao organismo, como zinco que, no organismo, está
associado à anidrase carbônica, enzima que mantém o equilíbrio entre gás
carbônico e ácido carbônico nos eritrócitos; cobre, que por sua vez intervêm na
síntese do heme e na atividade de enzimas ferro-porfirino-protéicas, no metabolismo
55
da glicose e da liberação de energia, na formação de fosfolipídios para a
mielinização das paredes dos nervos, na manutenção da pigmentação e na
formação da elastina do tecido conectivo (ANGELIS, 1979).
O teor de proteínas desse basidiomiceto mostrou-se alto, portanto foi
realizada análise para determinação dos aminoácidos constituintes dessas proteínas
(Tabela 11). A partir desses resultados, foi possível observar a presença de seis
aminoácidos essenciais: isoleucina, leucina, lisina, fenilalanina, treonina e valina. A
ingestão desses aminoácidos torna-se importante, uma vez que eles não são
sintetizados pelo organismo nem armazenados como tais, mas são metabolizados
ou incorporados em proteínas que apresentam diversas funções no organismo
(ANGELIS, 1979).
Tabela 11 – Análise do conteúdo de aminoácidos presentes em P. pulmonarius
Aminoácido Mol %
(1)
Alanina 9,3
Glicina 3,7
Valina 5,0
Isoleucina 0,8
Leucina 12,7
Treonina 6,6
Prolina 8,6
Asparagina/ Aspartato
(2)
27,6
Glutamina / Glutamato
(2)
15,3
Fenilalanina 9,6
Tirosina 0,6
Lisina 0,3
(1) Hidrolisado e acetilado para análise em GC-MS.
(2) Valores detectados em conjunto.
Os nutrientes analisados podem variar conforme o substrato utilizado para o
cultivo do cogumelo. Bonatti e colaboradores (2004) observaram que tanto para
P. ostreatus quanto para P. sajor-caju houve diferenças em alguns dos parâmetros
nutricionais avaliados, quando o cultivo ocorreu em arroz ou em banana como
substratos. Quando cultivados em banana, o teor protéico de ambos os cogumelos
aumentou de 13 para, aproximadamente, 17 g/%. A quantidade de cinzas também
variou, apresentando maior quando o cultivo foi realizado em arroz
(+ 0,45-0,55). A taxa de lipídios diminuiu para P. ostreatus ( 0,35) e aumentou para
P. sajor-caju (+ 0,27) quando cultivados em banana. Esses dados mostram que o
56
valor nutricional dos basidiomicetos pode variar de acordo com o substrato utilizado,
sendo de grande importância levar em consideração as condições de cultivo quando
se deseja avaliar parâmetros nutricionais ou utilizar este basidiomiceto para
complementação ou fonte nutricional.
4.5 ENSAIO BIOLÓGICO DA MANOGALACTANA ISOLADA DE P. pulmonarius
Considerando que os polissacarídeos isolados de basidiomicetos estão sendo
bastante estudados com relação às suas propriedades antitumorais e que outros
efeitos que podem ser atribuídos a essas moléculas, como citado anteriormente
(item 1.4.3), optou-se por avaliar as propriedades antinociceptiva e antiinflamatória
da manogalactana isolada no presente trabalho. Para isso, foi utilizado o método de
reação de contração muscular induzida por ácido acético, com o qual é possível
verificar ambos os efeitos.
Esse método consiste na administração de ácido acético (0,6% i.p.) aos
camundongos, causando lesão aos tecidos e desenvolvimento de uma resposta
inflamatória e dolorosa. A sensação dolorosa é observada através das contrações
abdominais exercidas pelos camundongos logo após a injeção de ácido. Sendo que
o efeito analgésico nos animais tratados é dado pela diminuição do número dessas
contrações durante um período de 20 min.
A resposta inflamatória é avaliada tanto pelo aumento na permeabilidade
capilar peritoneal, quanto pela migração de leucócitos à cavidade peritoneal. Após o
experimento, os animais foram sacrificados e a cavidade peritoneal foi exposta a fim
de observar o extravasamento do corante e fazer a contagem de leucócitos
presentes no tecido.
A administração da amostra de polissacarídeos MG (3-30 mg/kg, i.p.) 30 min
antes da injeção de ácido acético, causou uma inibição dose-dependente à resposta
nociceptiva induzida pelo ácido. A dose necessária para inibir 50% das contrações
(Dose efetiva 50 – ID
50
) foi de 16,2 (14,7-17,7) mg/kg, sendo a inibição de 93 % para
uma dose de 30 mg/kg. Os controles positivos dexametasona (2 mg/kg, s.c.) e
indometacina (10 mg/kg, i.p.) inibiram o número de contrações em 30 e 92 %,
respectivamente (Figura 21a). Pode-se observar que a maior dose de MG inibiu
maior quantidade de contrações que a indometacina.
57
Com relação à atividade antiinflamatória, MG (3-30 mg/kg) e indometacina
(10 mg/kg, i.p.) não inibiram a infiltração de leucócitos (migração de células totais)
induzida pelo ácido administrado, sendo que a dexametasona (2 mg/kg, s.c.) reduziu
a migração em 92 % (Figura 21b). A manogalactana testada e a dexametasona
também não reduziram a permeabilidade capilar peritoneal (extravasamento de
Evans Blue), enquanto a indometacina a inibiu em 82 % (Figura 21c). Esses
resultados são coerentes, sabendo-se que a dexametasona inibe a liberação de
citocinas pró-inflamatórias que podem atrair leucócitos para os tecidos
(quimiocinese) e, a indometacina inibe a produção de prostaglandinas, as quais
aumentam a permeabilidade capilar (VINEGAR et al., 1979).
Figura 21 Efeito pela administração i.p. de MG (3-100 mg/kg) em contração abdominal induzida por
ácido acético (A), infiltração de leucócitos (B) e extravasamento de Evans Blue (C) em camundongos
Sal C Dexa Indo 3 10 30
0
20
40
60
MG-PP mg/kg, i.p.
Acetic Acid (0.6%, 450 µ
µµ
µl, i.p.)
***
***
**
***
Number of Writhes
#
A
Sal C Dexa Indo 3 10 30
0
1
2
3
4
5
MG-PP mg/kg, i.p.
Acetic Acid (0.6%, 450 µ
µµ
µl, i.p.)
***
Total Leukocytes (x 10
5
)
#
B
Sal C Dexa Indo 3 10 30
0.0
2.5
5.0
7.5
Acetic Acid (0.6%, 450 µ
µµ
µl, i.p.)
MG-PP mg/kg, i.p.
Evan's Blue Dye (
µ
µ
µ
µ
g/ml)
***
#
C
Os resultados são expressos como a média ± desvio padrão; n = 6-8 animais por grupo. **P < 0.01,
***P < 0.001 vs. controle (C), e
#
P < 0.001 vs. salina (Sal), ANOVA seguido por Teste de Newman-
Keuls.
Esses dados indicam que o tratamento intraperitoneal com a manogalactana
isolada de P. pulmonarius promoveu inibição acentuada e dose-dependente da
resposta nociceptiva induzida pela administração de ácido acético, ou seja, o
polissacarídeo obtido apresentou efeito analgésico, porém não induziu resposta
antiinflamatória. Ainda não se sabe qual o mecanismo de ação do polissacarídeo
testado, entretanto sugere-se que seja diferente dos mecanismos de ação da
dexametasona e da indometacina, pois estas atuam sobre os mediadores
pró-inflamatórios, o que não foi observado para a manogalactana.
poucos relatos sobre polissacarídeos com atividade antiinflamatória e
analgésica, entretanto, deve-se considerar a diversidade de estruturas
Nº. de Contrações
Leucócitos Totais
(x10
5
)
Evans Blue (
µ
g/ml)
Ácido Acético
(0,6%, 450
µ
l, i.p.)
Ácido Acético
(0,6%, 450
µ
l, i.p.)
Ácido Acético
(
0,6%, 450
µ
l, i.p.)
58
polissacarídicas existentes em basidiomicetos e, que muitas delas apresentam
efeitos biológicos diversos (ZHANG et al., 2007), podendo-se ampliar o estudo sobre
as aplicações dessas moléculas.
5 CONCLUSÕES
Os resultados obtidos para os extratos aquosos I e II e extrato alcalino
provenientes do basidioma de Pleurotus pulmonarius sugerem as seguintes
estruturas para os polissacarídeos isolados:
a) Manogalactana com uma cadeia principal composta por unidades de
3-O-Me-α-
D
-Galp e α-
D
-Galp (16)-ligadas, sendo que ambas as
unidades podem estar substituídas em O-2 por terminais não redutores de
β-
D
-Manp.
b) β-glucana com cadeia principal ligada (13), sendo as unidades de
β-
D
-Glcp substituídas em O-6, a cada três unidades da cadeia principal,
por terminais não redutores de β-
D
-Glcp.
c) Duas β-glucanas com diferentes proporções de ligações (13) e (16),
sendo que ambas apresentam o mesmo espectro de RMN-
13
C, mas
reagem diferentemente à precipitação com solução de Fehling.
A avaliação nutricional realizada mostra que esse cogumelo é uma fonte de
nutrientes de boa qualidade, considerando o alto teor de proteínas e aminoácidos
essenciais e, minerais como cálcio e magnésio, além de baixas taxas de lipídios.
Por fim, a manogalactana isolada no presente trabalho apresentou um efeito
analgésico, mas não apresenta resposta antiinflamatória, quando avaliada em teste
de contração muscular induzida por ácido acético.
59
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