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Para esse autor, devido os efeitos profundos da atividade humana sobre todos os
ecossistemas, não é mais possível preservar a biodiversidade natural simplesmente
protegendo ecossistemas naturais da influência antrópica. A preservação da
biodiversidade natural é uma questão de manejo, tanto quanto o é a produção agrícola,
conforme demonstrado nos esforços em curso no sentido de restaurar habitats naturais,
trazer de volta espécies no limiar da extinção e proteger populações nativas de todos os
tipos.
Referindo-se ao Cerrado, que está diminuindo de tamanho a cada ano devido a
eliminação da vegetação nativa para dar lugar ao estabelecimento de monoculturas e
áreas de pastagens, (Anderson, 1989) propõe como alternativa viável a difusão dos
Sistemas Agroflorestais, que poderão contribuir para a proteção deste bioma. Sendo ou
não os Sistemas Agroflorestais o melhor meio para o manejo dos solos e dos recursos
do Cerrado pela produção familiar, o fato é que a procura por modelos de uso da terra
deveria fazer parte de um amplo programa de desenvolvimento que tenha o objetivo de
melhorar as condições sócio-econômicas de populações extrativistas sem comprometer
os recursos naturais dos quais dependem.
Referindo-se aos ecossistemas alterados pelo homem, Lusigi & Robertson
(1981), defendem que algumas formas de intervenção humana constituem importantes
fatores ecológicos que devem ser mantidos de maneira racional, caso se queira
perpetuar esses ecossistemas, pois, como afirma Gliessman (2000), em uma terra
ocupada por uma paisagem cultural, esforços para preservar nossa biodiversidade
remanescente não mais podem ter como foco principal as pequenas áreas de terra que
ainda são silvestres. As terras manejadas, particularmente as agrícolas, têm um enorme
potencial, ainda não explorado, capaz de sustentar uma diversidade de espécies nativas
e, assim, contribuir para a conservação da biodiversidade global.
Para contar com o apoio das populações locais, a conservação deve levar em
conta os hábitos culturais e as relações tradicionais entre os habitantes e o meio natural.
A planificação tem de se basear em uma avaliação dos fatores culturais, políticos, sócio-
econômicos e ecológicos; e a conservação deve considerar as necessidades humanas
locais (a curto e a longo prazos) e propor uma solução para a aparente contradição entre
ela e as exigências do desenvolvimento (LUSIGI & ROBERTSON, 1981).
Para Aragão et al. (2002) os recursos fitogenéticos são a grande arma que a
ciência dispõe para enfrentar as necessidades de alimentos, energia e fibra, e, desta
forma, têm que ser conservados. Referindo-se à devastação da Mata Atlântica, apontam
as causas da intensa erosão genética que ocasionou perdas irreversíveis de plantas
frutíferas nativas, citando os monocultivos do cacau, da cana-de-açúcar, do coqueiro e
dos citrus, a expansão desordenada da fronteira agrícola, o emprego da agricultura
tecnificada, a agropecuária extensiva, projetos de turismo, os desmatamentos
indiscriminados para exploração de madeira e para projetos agropecuários, o uso
indiscriminado das reservas do solo e da água, o emprego desordenado e indiscriminado
de queimadas, projetos de rodovias primárias e secundárias muito intensos e o
crescimento desordenados de áreas urbanas, ocasionaram de forma contínua a perda da
variabilidade genética de espécies frutíferas nativas e naturalizadas da região, como
mangaba, cajá, jaca, pequi, araticum, guabiroba, jabuticaba, entre várias outras.
Na Região Nordeste do Brasil, Pinto (1993) identifica vários ecossistemas que
vão desde as matas úmidas e matas estacionais, restinga, manguezal, cerrados litorâneo
e interiorano, campos, refúgios rupestres e caatingas, estas dominantes em área ocupada
e variações fisionômicas. Em todos esses, há na sua composição florística espécies que
produzem frutos comestíveis e, por extensão, sementes édulas e alimentares, que desde
a era pré-colombiana foram conhecidas e utilizadas pelos aborígenes; no entanto, a