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(2004, p. 133-134), a cultura é “um campo de produção de significados no qual os diferentes
grupos sociais, situados em posições diferenciais de poder, lutam pela imposição de seus
significados à sociedade mais ampla”.
No entendimento de cultura, é importante destacar o papel dos significados uma vez
que “eles organizam e regulam as práticas sociais, influenciam nossas condutas e
conseqüentemente têm efeitos reais, práticos” (HALL, 1997, p. 3). Os significados são
produzidos por diversas instâncias sociais – família, mídia, escola, igreja, hospital – e
artefatos culturais – programas de TV, novelas, revistas, jornais, anúncios publicitários,
campanhas de saúde, e músicas, por exemplo –, e circulam através de diferentes processos ou
práticas culturais; portanto, os significados não são constantes e fixos, nem preexistentes; são
fluidos, múltiplos, transitórios e incertos (HALL, 1997; SILVA, 2004). Tais sistemas de
significação ensinam costumes, valores, hábitos, atitudes, crenças, maneiras de perceber a si,
de ser e de agir como mulheres e homens, entre outros atributos sociais que, ao serem
inscritos nos corpos, constituem as pessoas e as identidades de gênero, sexuais, raciais,
religiosas, profissionais, de classe social, de mãe/pai, filha/o, esposa/o, entre outras.
Nessa perspectiva, é nas práticas culturais engendradas em relações de poder
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que os
sujeitos, a partir das suas representações, instituem os modos de compreender a si mesmos e o
mundo que os cerca. Na perspectiva dos Estudos Culturais, em suas vertentes pós-
estruturalistas, as representações não espelham a realidade, ou seja, o mundo “real” tal como
ele é em sua “essência”. Representação, neste contexto, é o modo de produção de significados
através da linguagem – sons, palavras escritas, linguagem oral, imagens eletrônicas, imagens
impressas, notas musicais, objetos, gestos, expressões corporais – que, ao representarem os
signos – modelos, objetos, desenhos, sons, símbolos, imagens –, dão sentido aos nossos
pensamentos, sentimentos, ações, valores, a nossa identidade – quem somos e a que grupo
pertencemos (HALL, 1997).
Mulheres e homens aprendem desde muito cedo a ocupar e/ou a reconhecer seus
lugares na sociedade, e para tanto um investimento significativo é posto em ação, uma vez
que a família, a escola, a mídia, a igreja, o hospital, entre outras instâncias sociais, atuam
nesse processo, desempenhando papel importante nessa complexa rede que (con)forma e
governa nossos corpos e nossas vidas. Segundo Louro,
todas essas instâncias realizam uma pedagogia, fazem um investimento que,
freqüentemente, aparece de forma articulada, reiterando identidades e
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Utilizo poder numa perspectiva foucaultiana, ou seja, como uma relação de ações sobre ações – algo que se
exerce, que se efetua e funciona em rede. Nessa rede, os indivíduos não só circulam, mas estão em posição de
exercer o poder e de sofrer sua ação e, conseqüentemente, de resistir a ele (FOUCAULT, 2003a; 2006a).