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Universidade Federal de Minas Gerais
Instituto de Geociências
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Severina Sarah Lisboa
DA MIGRAÇÃO À NÃO-MIGRAÇÃO:
O EXEMPLO DE PEQUENAS CIDADES DA ZONA DA MATA MINEIRA
Dissertação de Mestrado
Belo Horizonte - Minas Gerais
FEVEREIRO - 2008
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2
Severina Sarah Lisboa
DA MIGRAÇÃO À NÃO-MIGRAÇÃO:
O EXEMPLO DE PEQUENAS CIDADES DA ZONA DA MATA MINEIRA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação do Departamento de Geografia do Instituto
de Geociências da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Geografia.
Área de concentração: Organização do Espaço
Orientador: Prof. Ralfo Edmundo da Silva Matos
Belo Horizonte-MG
Departamento de Geografia da UFMG
2008
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Severina Sarah Lisboa
DA MIGRAÇÃO À NÃO-MIGRAÇÃO:
O EXEMPLO DE PEQUENAS CIDADES DA ZONA DA MATA MINEIRA
Belo Horizonte, 7 de fevereiro de 2008.
Banca Examinadora:
____________________________________________________
Prof. Ralfo Edmundo Matos (orientador) – IGC/UFMG
____________________________________________________
Profª. Doralice Barros Pereira – IGC/UFMG
____________________________________________________
Prof. Ronan Eustáquio Borges – DAH/UFV
4
Agradecimentos
À Deus, pela vida e pela força que possibilitou a realização deste trabalho.
À Universidade Federal de Minas Gerais, pela oportunidade de desenvolver esta pesquisa.
Ao professor Ralfo Edmundo Matos, pela dedicação de muitas horas na orientação das
atividades de reflexão e pesquisa.
Aos demais professores do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFMG.
A meus pais, Luiz Antônio Lisboa e Maura Regina da Silva Lisboa, grandes incentivadores
no decorrer da minha vida acadêmica.
Ao meu esposo, Uéverson de Queirós Silva, cuja presença, compreensão, apoio e
participação foram fundamentais para a conclusão deste trabalho.
Aos colegas que participaram desta etapa da minha vida acadêmica, manifestando atenção,
amizade e incentivo.
Aos estagiários envolvidos no trabalho de campo, especialmente à amiga Denise
Espíndola Moraes.
5
SUMÁRIO
Lista de Figuras............................................................................................................................ 7
Lista de Mapas............................................................................................................................. 7
Lista de Tabelas ........................................................................................................................... 8
Lista de Gráficos.......................................................................................................................... 8
RESUMO..................................................................................................................................... 9
ABSTRACT .............................................................................................................................. 11
INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 13
CAPÍTULO 1 – POPULAÇÃO EM MOVIMENTO NO ESPAÇO......................................... 30
1.1 – Espaços que Atraem, Espaços que Repelem........................................................ 30
1.2 – Bases Teóricas da Migração................................................................................ 32
1.3 – A Migração como Componente da Dinâmica Populacional................................. 38
1.3.1 – A importância da migração no crescimento demográfico.............................. 40
1.4 – A Migração no Brasil Contemporâneo ................................................................ 45
1.4.1 – A migração em Minas Gerais ....................................................................... 52
1.5 – Aspectos Relativos à Não-migração.................................................................... 57
CAPÍTULO 2 – FATORES E ESPAÇOS DA NÃO-MIGRAÇÃO ......................................... 60
2.1 – Fatores Determinantes da Migração e da Não-migração...................................... 60
2.2 – O Papel dos Fatores Objetivos ............................................................................ 65
2.3 – O Papel dos Fatores Subjetivos........................................................................... 67
2.3.1 – Contribuições da abordagem cultural ........................................................... 68
CAPÍTULO 3 – A DINÂMICA DEMOGRÁFICA NA ZONA DA MATA E AS PEQUENAS
CIDADES SOB INFLUÊNCIA DE VIÇOSA .......................................................................... 73
3.1 – Histórico demográfico da Zona da Mata Mineira ................................................ 75
3.2 – Pequenas cidades sob influência de Viçosa ......................................................... 81
3.2.1 – Aspectos Históricos ..................................................................................... 82
3.2.1 – Aspectos Econômicos .................................................................................. 83
3.2.3 – Aspectos Demográficos ............................................................................... 83
6
CAPÍTULO 4 – EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS RESULTANTES DO ESTUDO DE CASO.... 86
4.1 – Perfil da População Entrevistada......................................................................... 86
4.1.1 – Escolaridade ................................................................................................ 86
4.1.2 – Ocupação..................................................................................................... 87
4.1.3 – Tipo de residência........................................................................................ 88
4.2 – Fatores da Não-Migração.................................................................................... 88
A – Fatores Econômicos.......................................................................................... 89
B – Fatores Geoculturais.......................................................................................... 92
C – Fatores Culturais ............................................................................................... 95
4.3 – Análise Comparada de Resultados ...................................................................... 98
A – Comparação entre Cidades................................................................................ 98
B – Comparação entre Grupos Etários ..................................................................... 99
C – Comparação entre Sexos ................................................................................. 101
4.4 – Importância Relativa de Fatores Objetivos e Subjetivos .................................... 101
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 113
ANEXOS ................................................................................................................................. 117
Anexo 1 – Fatores de Pesquisa de Campo.................................................................. 118
Anexo 2 – Gráficos resultantes da abordagem à população migrante ......................... 119
Anexo 3 – Relatos de Experiências Migratórias......................................................... 120
Anexo 4 – Análise Comparada de Resultados por Cidade.......................................... 125
Anexo 5 – Análise Comparada de Resultados por Sexo ............................................. 128
Anexo 6 – Análise Comparada de Resultados por Grupos Etários.............................. 131
7
Lista de Figuras
Figura 1 – Formulário de pesquisa de campo................................................................... 26
Figura 2 – Pirâmide etária brasileira em 1960.................................................................. 43
Figura 3 – Pirâmide etária brasileira em 1970.................................................................. 43
Figura 4 – Pirâmide etária brasileira em 1980.................................................................. 44
Figura 5 – Pirâmide etária brasileira em 1990.................................................................. 44
Figura 6 – Pirâmide etária brasileira em 2000.................................................................. 44
Figura 7 – Pirâmide Etária de Minas Gerais em 1960 ...................................................... 54
Figura 8 – Pirâmide Etária de Minas Gerais em 1970 ...................................................... 55
Figura 9 – Pirâmide Etária de Minas Gerais em 1980 ...................................................... 55
Figura 10 – Pirâmide Etária de Minas Gerais em 2000 .................................................... 55
Figura 11 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 1960........................................ 76
Figura 12 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 1970........................................ 77
Figura 13 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 1980........................................ 77
Figura 14 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 1991........................................ 78
Figura 15 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 2000........................................ 79
Figura 16 – Praça central de Ervália-MG......................................................................... 94
Figura 17 – Praças da cidade de Piranga-MG .................................................................. 95
Figura 18 – Igreja Matriz de São Sebastião – Ervália-MG ............................................... 97
Lista de Mapas
Mapa 1 – A Zona da Mata no Estado de Minas Gerais..................................................... 74
Mapa 2 – Área de estudo................................................................................................. 81
8
Lista de Tabelas
Tabela 1 Porcentagem da População Economicamente Ativa por atividades econômicas
nas cidades de Ervália, Piranga e Teixeiras no ano 2000.................................................. 83
Tabela 2 População total, urbana e rural dos municípios de Ervália, Piranga e Teixeiras
em 1970, 1980 e 1991 ..................................................................................................... 84
Tabela 3 População total, urbana e rural, grau de urbanização e taxa líquida de migração
dos municípios de Ervália, Piranga e Teixeiras no ano 2000............................................ 85
Tabela 4 Comparação de freqüência de fatores econômicos em Ervália, Piranga e
Teixeiras ......................................................................................................................... 98
Tabela 5 Comparação de freqüência de fatores geoculturais em Ervália, Piranga e
Teixeiras ......................................................................................................................... 99
Tabela 6 – Comparação de freqüência de fatores culturais em Ervália, Piranga e Teixeiras.... 99
Lista de Gráficos
Gráfico 1 – Escolaridade da população não-migrante - 2007............................................ 87
Gráfico 2 – Fatores Econômicos segundo população não-migrante - 2007....................... 90
Gráfico 3 – Fatores Geoculturais segundo população não-migrante – 2007...................... 93
Gráfico 4 – Fatores Culturais segundo população não-migrante - 2007............................ 96
Gráfico 5 – Síntese de resultado de entrevistas a população migrante - 2007 ................. 103
Gráfico 6 – Síntese de resultado de entrevistas à população não-migrante - 2007........... 105
Gráfico 7 – Freqüência dos subgrupos dos fatores culturais - 2007 ................................ 106
9
RESUMO
O Brasil passou por diferentes períodos no que se refere à dinâmica
populacional, observando-se alterações quanto à importância relativa das variáveis
demográficas. A migração vivencia épocas de menor e de maior visibilidade, com
mudanças nos padrões migratórios, colaborando ora para processos de concentração, ora
de desconcentração espacial. Para se compreender essa dinâmica demográfica, é
importante conhecer os fatores que contribuem para a atração populacional para
determinadas áreas, que se configuram como locais de destino dos movimentos migratórios,
e também os fatores que concorrem para a fixação e retenção da população nos seus locais
de origem.
Durante muitos anos, a migração de pessoas de áreas rurais para urbanas
caracterizou os movimentos migratórios brasileiros. No entanto, a partir de 1980, as
migrações do tipo urbano-urbano m prevalecido e movimentos de migração de retorno
ganham importância. Além disso, percebe-se que parte da população opta por o migrar.
Neste contexto, além da migração, torna-se pertinente discutir e compreender a não-
migração, isto é, a permanência da população em suas localidades.
Este trabalho busca identificar nas pesquisas migratórias, os motivos
apontados como determinantes para os movimentos migratórios, sobretudo para a mudança
da população de pequenas cidades para centros urbanos maiores, comparando estas
informações com os resultados obtidos na área de estudo. Com maior ênfase, objetiva-se
identificar nas pequenas localidades os fatores que inibem a saída de população do seu
local de origem ou de moradia, que são associados aos seus aspectos positivos. As
localidades selecionadas como objeto de estudo são as pequenas cidades mineiras de
Ervália, Piranga e Teixeiras, que vivenciam o contexto de mudanças demográficas do
estado de Minas Gerais e da Zona da Mata mineira.
Para tanto, realizou-se levantamentos de dados quantitativos e qualitativos
através de trabalho de campo com aplicação de questionário a moradores migrantes e,
principalmente, não-migrantes das referidas localidades. Na consideração dos motivos que
contribuem para a o-migração são avaliados os grupos de fatores objetivos e subjetivos;
estes últimos estão subdivididos em fatores geoculturais (espaciais e paisagísticos) e
culturais (cultura esportiva, cívica, religiosa e comunitário-popular). A população migrante,
10
ou que possui significativa experiência migratória, também participa do levantamento de
fatores que determinam a opção por migrar ou por não migrar.
A realização do trabalho de campo permitiu identificar a contribuição que as
experiências migratórias trazem para compreensão da relevância dos fatores de ordem
econômica determinantes da migração. Estas experiências também permitem identificar os
fatores subjetivos envolvidos nos movimentos migratórios. A maior contribuição do
trabalho concentra-se, no entanto, na abordagem dos fatores subjetivos e identificação da
sua importância para compreender a não-migração. Ao final do trabalho torna-se possível
identificar os fatores de maior destaque apontados pela população residente nas áreas
urbanas das pequenas localidades mineiras investigadas. Também é possível verificar a
importância relativa conferida a fatores econômicos, geoculturais e culturais para a
migração e para a não-migração. Pode-se confirmar que a importância dos fatores
econômicos se destaca como os motivos que levam a população a migrar. Quando à o-
migração, os fatores de maior importância para fixação populacional são os subjetivos,
principalmente culturais.
Palavras-chave:
Migrações internas – Não-migração – Pequenas Cidades
Fatores Subjetivos – Geografia Cultural
11
ABSTRACT
The dynamic of the population in Brazil has passed by different periods.
Several changes happened in the importance of the demographic variables. The migration
has passed by periods of small and of larger visibility, with changes in the migratory
patterns, collaborating for concentration processes and desconcentration processes of the
population in the space. To understand the changes of the demographic dynamics it is
important to know the factors that contribute to the attraction of the population for certain
areas. These areas are configured as local of destiny of the migratory movements. It is also
important to know the factors that motivate the fixation or retention of the population in its
origin places.
For many years, the brazilian migratory movements has been marked by the
people that leaves the rural areas and migrates for urban areas. However, since 1980, the
migrations of the urban-urban type prevail and the migratory movements of return begin
becoming important. Besides, it is noticed that part of the population opts for not migrating.
In this context, besides studying the migration, it becomes pertinent to discuss and to
understand the no-migration, that is, the permanence of the population in its places.
This work identify in the migratory researches, the reasons that are determinant
for the migratory movements, mainly for the change of the population of small cities for
larger urban centers. Starting from this identification, this information is compared with the
results obtained in the study area. With larger emphasis, it is objectified the identification
at the small cities the factors that inhibit the exit of population of its origin place, these
factors are associated to its positive aspects. The places selected as study object are the
small cities of Ervália, Piranga and Teixeiras. These cities have passed by the demographic
changes of the state of Minas Gerais and of the Zona da Mata mineira.
This work has used researches of quantitative and qualitative data through field
work with questionnaire application at migrat inhabitants and, mainly, at no-migrants of
the cities. Among the reasons that contribute to the no-migration there are the groups of
objective and subjective factors. The subjective factors are subdivided in factors
geocultural (spatial and of the landscape) and cultural (sporting, civic culture, religious and
community-popular). The migrating population, or that it possesses significant migratory
12
experience, also participates of the research of factors that determine the option of
migrating or of not migrating.
The field work has allowed to identify the contribution that the migratory
experiences bring. These experiences contribute towards understanding the importance of
the factors economic as determinant of the migration. These experiences also allow
identify the subjective factors related to the migratory movements. The largest contribution
of the work is in the study of the subjective factors and in the identification of its
importance to understanding the no-migration. At the end of the work it is possible to
identify the factors frequently pointed for the resident population in the urban areas of the
small cities investigated. It is also possible to verify the relative importance of the
economic, geocultural and cultural factors to the migration and to the no-migration. It can
be confirmed that the largest importance of the economic factors are in the reasons that
take the population to migrate. In the case of the no-migration, the factors of larger
importance for fixation of the population are the subjective ones, mainly cultural.
Key words:
Internal migrations - No-migration - Small Cities
Subjective factors - Cultural Geography
13
INTRODUÇÃO
A dinâmica demográfica brasileira sofreu várias alterações no decorrer da sua
história, uma vez que é sensível às mudanças sociais e econômicas e está associada aos
componentes populacionais: natalidade, mortalidade e migração. A mobilidade da
população no espaço, ou mobilidade geográfica, representada pela componente migração, é
um tema diretamente relacionado à realidade humana, o que denota a importância de que
seja estudado. Segundo estudo realizado pela Organização das Nações Unidas, o interesse
em pesquisar a mobilidade populacional se dá, principalmente, devido à percepção dos
efeitos que exerce sobre a distribuição da população e por sua interação com outras
forças demográficas, bem como com outros aspectos das mudanças e das diferenciações
sociais e econômicas” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1980, p. 319).
A migração deve ser estudada por profissionais de várias áreas da ciência.
Muitos pesquisadores participam de esforços multidisciplinares (WEST, HAMILTON e
LOOMIS, 1980) em pesquisas sobre o tema. Oliveira e Stern (1980) destacam a
participação de economistas, demógrafos e sociólogos nos estudos migratórios, embora
reconheçam que sejam diferentes as perspectivas de compreensão da migração entre estes
profissionais. Greenwood (1980), ao promover uma revisão dos estudos sobre as
migrações nos Estados Unidos, acrescenta a participação dos geógrafos. Segundo ele, são
profissionais que vêm oferecendo contribuição a mais variada à literatura sobre a
migração interna” (GREENWOOD, 1980, p. 473).
Vários domínios das ciências sociais se imiscuem com certa intensidade no que
se refere ao estudo das migrações (MOURA, 1980, p. 11). Moura (1980) justifica essa
multidisciplinaridade; segundo ele, esse assunto por quase não ter uma essência própria,
não pode nem deve ser estudado de forma particularmente estanque(MOURA, 1980, p.
11). O autor afirma que, quanto à migração, seu objeto de interesse e tratamento não
podem ficar predominantemente restritos a uma especialidade científica” (MOURA, 1980,
p. 11). Assim, variadas contribuições de estudiosos de diversas abordagens científicas
possibilitam significativos avanços nos estudos dos movimentos migratórios.
No presente trabalho, são valiosas as contribuições de vários estudiosos,
principalmente daqueles cujas obras apresentam questões que associam os processos
migratórios às características dos migrantes e aos fatores que podem conduzi-los à decisão
14
de migrar ou não-migrar. Uma das contribuições é feita por Damiani (2001), que considera
a necessidade de migrar como característica da espécie humana. Por isso, segundo ela o
estudo da circulação ocupa um lugar importante na geografia humana(DAMIANI, 2001,
p. 51). A autora apresenta ainda a contribuição da geografia da população para os estudos
relativos aos movimentos migratórios, além da participação da geografia econômica e da
geografia regional.
A investigação dos processos migratórios contribui para a compreensão da
dinâmica demográfica e se associa às alterações por eles promovidas no espaço e na
constituição da população. Quando um contingente populacional deixa uma localidade e se
dirige a outra, mudanças espaciais e sociais são inevitáveis, principalmente quando se trata
do deslocamento de grande número de pessoas. Tanto o local que perde população, quanto
o que recebe os migrantes, reagem promovendo uma readaptação dos seus espaços e das
suas populações.
Ao apresentar as discussões contidas em vários trabalhos sobre processos
migratórios, Muñoz e Oliveira (1980) ressaltam algumas conseqüências dos movimentos
migratórios sobre as áreas de onde se origina a população migrante e sobre os locais de
destino. Para uma localidade em que ocorrem perdas populacionais, a migração pode ser
vista como um fator de equilíbrio para a estrutura social por operar como “válvula de
escape” para a população que não é assimilada pelas estruturas econômicas locais e sociais.
Ao mesmo tempo, a perda populacional pode representar diminuição de recursos humanos
valiosos para o desenvolvimento local, principalmente quando a saída de indivíduos em
idades ativas resulta em sobrecarga da população em idade inativa, causando uma queda do
nível de vida e intensificando ainda mais a migração. Ao examinar a migração interna na
Venezuela, Muñoz e Oliveira (1980) citam alguns fatos que constituem fatores de
desenvolvimento da região receptora de população e do empobrecimento da região de
origem. Um exemplo é a emigração de jovens e adultos, que constituem a população mais
capacitada e dinâmica. Quando são eles os que mais emigram, as zonas de emigração
perdem recursos, pois suportaram os dispêndios com a formação e a educação desses
emigrantes. Dessa forma, os movimentos migratórios podem, então, apresentar efeitos
perturbadores devido às diferenças importantes que provocam sobre as estruturas etárias
[...](MUÑOZ; OLIVEIRA, 1980, p. 598), levando até mesmo a uma estagnação da
economia local. no caso de transferência de o-de-obra ociosa ou subempregada, os
autores ressaltam que os efeitos da emigração podem ser positivos, pois ocorre a
diminuição da oferta de mão-de-obra para o trabalho, podendo acarretar melhorias salariais.
15
Quanto às conseqüências verificadas nos locais de destino da população,
Muñoz e Oliveira (1980) levantam a discussão sobre os efeitos do componente migratório
no crescimento das grandes cidades. Os autores mostram que a migração é significativa
para o crescimento dessas cidades, uma vez que, além de aumentar a população nelas
residente, exerce um efeito acumulativo sobre o crescimento natural da população das
cidades” (MUÑOZ; OLIVEIRA, 1980, p. 600).
Alguns efeitos negativos também são verificados nas cidades que recebem a
população migrante. Todaro (1980) destaca o problema do desemprego e do subemprego
urbanos diante da “[...] incapacidade da economia urbana de prover empregos
permanentes para a mão-de-obra(TODARO, 1980, p. 151) representada pela população
migrante, especialmente advinda dos crescentes fluxos de migrantes rurais que se dirigem
para os quadros urbanos. As conseqüências da migração de pessoas de áreas rurais
estagnadas para as áreas urbanas são observadas também por Singer (1980). Segundo o
autor, a população que abandona áreas de economias de subsistência estagnadas não se
insere completamente nas áreas e na economia urbana, que “[...] não provoca qualquer
elevação da demanda pelo produto da economia urbana (SINGER, 1980, p. 231). Os
migrantes que conseguem se inserir no mercado de trabalho remetem parte dos seus
ganhos para os familiares que permaneceram nas áreas de economia de subsistência ou em
outras áreas. E esses recursos serão utilizados para a compra de produtos da economia
local, reduzindo o volume da demanda efetiva da cidade. A parte dos migrantes que não
consegue se integrar na economia urbana reproduz na cidade traços da economia de
subsistência, assumindo atividades autônomas de serviços, por exemplo, vendedores
ambulantes ou carregadores, alterando os lucros que seriam obtidos pela economia urbana.
Um ponto outro de vista quanto aos efeitos das migrações nas áreas urbanas é
citado por Singer (1980). Para ele, o surgimento de populações marginais (ao menos do
ponto de vista das moradias) “[...] tem levado muitos investigadores a encarar as
migrações como um fenômeno social nefasto, cujas dimensões é preciso reduzir [...]
(SINGER, 1980, p. 233). O autor afirma que, reduzir a intensidade das migrações internas
por meio da limitação do ritmo de desenvolvimento, a fim de reduzir a intensidade das
migrações internas, o resolveria o problema da existência de populações marginais. O
autor considera esta idéia injustificável: nada (a não ser as aparências) justifica a noção
simplista de que a ‘marginalidade’ urbana decorre principalmente do número ‘excessivo’
de migrantes que se fixem nas cidades (SINGER, 1980, p. 235).
16
Durante muitos anos, no estudo dos movimentos populacionais foi analisada,
principalmente, a migração do tipo rural-urbana. No Brasil, como em outros países da
América Latina, as migrações de população residente nas áreas rurais em direção às áreas
urbanas se destacaram. Esse tipo de migração rural-urbana, que caracterizou uma das fases
das migrações internas no Brasil, cujas principais áreas de destino eram as grandes cidades
ou as metrópoles, foi denominado êxodo rural. No entanto, a partir da década de 1980, os
padrões migratórios brasileiros apresentaram grandes alterações, dentre elas a configuração
do caráter urbano-urbano dos movimentos (PACHECO; PATARRA, 1997). Esta pesquisa
está inserida neste novo contexto, em que as migrações ocorrem predominantemente entre
áreas urbanas. Pretende-se considerar essa nova realidade demográfica analisando-se o
caso de pequenas cidades
1
do estado de Minas Gerais. As migrações originadas nas áreas
rurais não serão analisadas, embora também possam apresentar resultados esclarecedores
sobre aspectos motivadores dos movimentos populacionais.
A migração pode ser entendida a partir de muitas realidades e amplitudes,
variando de escalas globais, quando são considerados os movimentos das populações entre
países, até escalas locais, cujos movimentos de população são limitados a espaços menores,
como um conjunto de municípios ou uma pequena região. Ao fazer referência às migrações
internacionais, Pierre George (1991) recorda que “a história da humanidade é feita de uma
longa sucessão de migrações entre as quais as mais antigas se perdem no desconhecido
dos tempos históricos [...]” (GEORGE, 1991, p. 101). Segundo o autor, aos geógrafos
compete o estudo das migrações contemporâneas que apresentam variabilidade e formas
diferentes. Dentre os tipos de migrações se encontram, por exemplo, as transferências de
população impostas por decisão política no final da Segunda Guerra Mundial, as migrações
temporárias de trabalhadores ligadas a uma complementaridade de oferta de força de
trabalho e de necessidade de mão-de-obra não especializada(GEORGE, 1991, p. 102) e
as grandes migrações internacionais e intercontinentais definitivas.
As migrações internas são as que se referem à mobilidade da população entre
as regiões, estados e municípios de um mesmo país. Segundo LEE (1980), esse tipo de
migração se mostra importante para o desenvolvimento social e econômico do país e o
reconhecimento desta importância tem estimulado a pesquisa, sendo cada vez maior o
1
A discussão a respeito das aglomerações populacionais que podem ser compreendidas como cidades e
outras que não devem ser assim consideradas é extensa e o presente trabalho o pretende se lançar nestas
reflexões. Adota-se a opção feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em que a cidade é
compreendida como a sede de um município que, no caso brasileiro, abrange realidades de características
demográficas e funcionais bastante variadas. Este País considera urbana toda sede de município (cidade) e
de distrito (vila), sejam quais forem suas características” (VEIGA, 2003, p. 31).
17
número de países que vêm publicando dados detalhados sobre migrações” (LEE, 1980, p.
114). As migrações internas podem ser analisadas de forma ampla, considerando a
realidade nacional. Também é possível estudar parte do país, ao selecionar uma área de
investigação. O recorte espacial da escala de análise é fundamental para que seja alcançado
o objetivo do estudo proposto por possibilitar um nível de detalhamento necessário e
adequado. Nesta pesquisa, ganham destaque as migrações internas e a escala de análise
utilizada privilegia a realidade de algumas cidades de Minas Gerais, localizadas na Zona da
Mata mineira, quais sejam: Ervália, Piranga e Teixeiras.
Na busca de empreender um estudo que contribua para a compreensão da
dinâmica demográfica brasileira, torna-se imprescindível a análise dos fatores responsáveis
por fixar a população em determinado espaço ou colocá-la em movimento. No entanto,
pouca ou nenhuma atenção era conferida ao estudo desses fatores. Após a afirmação de
Lee (1980) de que “[...] poucos estudos consideram os motivos da migração ou
assimilação dos migrantes nos locais de destino(LEE, 1980, p. 98), muitos avanços neste
sentido podem ser verificados. Os estudos que se dedicam aos fatores determinantes da
migração e da não-migração, sobretudo no contexto atual das migrações internas
brasileiras, podem ser ainda mais explorados, o que este trabalho se dedica a realizar.
Ao promover um esforço de compreensão dos fatores determinantes da
migração e da não-migração, de modo algum se pretende desprezar a importância dos
motivos de ordem econômica. A relevância destes fatores como causas da migração é
amplamente reconhecida. Muitos pesquisadores (RAVENSTEIN, 1980; SINGER, 1980)
apontaram satisfatoriamente o papel exercido por tais fatores na atração dos migrantes para
locais que oferecem melhores oportunidades econômicas. As principais causas da
migração o indicadas por Hicks (1932) como os diferenciais nos benefícios econômicos
líquidos, sobretudo os diferenciais de salários” (HICKS, 1932 apud GREENWOOD, 1980,
p. 473) entre localidades ou áreas diferentes. Martine e Peliano (1980) também se referem
à principal motivação para migrar como a busca por melhores oportunidades econômicas,
principalmente representadas pelas oportunidades de emprego diferentemente distribuídas
no espaço. Os fatores tipicamente econômicos são compreendidos, nesta pesquisa,
associados a outros aspectos, formando o grupo denominado fatores objetivos.
Como fatores objetivos consideram-se, em primeiro lugar, os que estão
diretamente relacionados a questões econômicas e à busca por melhoria da qualidade de
vida do migrante, tendo como exemplo a busca por emprego ou por mudança de emprego,
o acesso à energia elétrica, água tratada, rede de coleta de esgoto, educação e saúde. Outros
18
fatores, como distância das residências em relação aos estabelecimentos comerciais e de
serviços, expectativa de aumento da renda e alterações no custo de vida, também são
considerados como fatores objetivos.
Embora os fatores objetivos relacionados aos aspectos econômicos exerçam
grande importância e tenham sido identificados e analisados, os fatores de ordem
subjetiva o podem ser negligenciados. No entanto, eles são freqüentemente minimizados
e poucos estudos se dedicam a explorá-los e entendê-los como parte dos incentivos à
migração. Sugere-se que, além dos fatores de ordem objetiva (principalmente fatores
econômicos) como determinantes da migração e da não-migração, possam ser
considerados também os fatores subjetivos no estudo dos movimentos populacionais,
principalmente de pequenas para médias e grandes cidades.
Os aspectos subjetivos são aqueles relacionados às questões culturais,
paisagísticas, familiares, psicológicas, pessoais etc. e que normalmente apresentam maior
dificuldade de mensuração. Incluem itens relativos à cultura esportiva, comunitário-
popular, religiosa e cívica. Também são considerados subjetivos os fatores denominados
geoculturais, ou seja, relativos a aspectos físicos, espaciais e paisagísticos, por exemplo, a
beleza das paisagens naturais ou humanizadas
2
, a proximidade e o relacionamento com a
vizinhança, a identificação com monumentos ou trechos da cidade etc. Considerando os
fatores tipicamente culturais, as possibilidades são ainda maiores, podendo ser
considerada a cultura esportiva (jogos com amigos e prática de esportes), cultura
comunitário-popular (apego à família, participação em festas locais, confecção de
artesanato ou atividades de música ou teatro), cultura religiosa (participação em eventos
religiosos, por exemplo, festa do padroeiro da cidade) e cultura vica (participação em
associações de bairro, partidos políticos ou outras organizações).
Os aspectos subjetivos possuem grande importância na explicação da
permanência das pessoas nas pequenas cidades de origem ou de residência atual. Os fatores
econômicos, que promovem atração nos locais de destino e são muito importantes para as
migrações, não se apresentam como primordiais quando os habitantes de pequenas
localidades optam pela não-migração. Dessa forma, consideram-se os fatores subjetivos
como fundamentais para justificar a retenção e fixação de parte da população nas pequenas
2
A paisagem é um conceito chave na Geografia e a sua discussão está presente desde muito cedo dentro
desta ciência. De modo simplificado as paisagens naturais são constituídas por partes de um espaço que ainda
mantém muitas características naturais, onde a intervenção humana inexiste ou é muito restrita. As paisagens
humanizadas, ao contrário, o ambientes intensamente modificados pela ação humana, a exemplo das por
áreas urbanizadas e que, mesmo quando apresentam elementos da natureza, estes são dispostos pelo homem.
19
cidades, já que esses fatores podem indicar os benefícios que o habitante identifica na sua
localidade de residência e a valorização de características locais. O apego aos elementos,
pessoas e realidades familiares age de modo a inibir um possível movimento migratório.
Embora os fatores analisados estejam metodologicamente agrupados nestas
duas categorias, em alguns casos fatores tipicamente econômicos podem ser percebidos
pela população como subjetivos. Também os fatores psicológicos, por exemplo, podem
apresentar grande objetividade por serem decisivos no momento de optar ou não pela
migração. Os fatores subjetivos podem também ter fundamentação econômica, podendo
inclusive ser explicados por ela. A subjetividade da vida tranqüila, por exemplo, nas
pequenas cidades, pode estar diretamente associada aos custos necessários para investir em
segurança nas grandes cidades.
Algumas questões conduzem a se refletir sobre a abordagem dessa pesquisa e
se concretizam como direcionamento das atividades: o que realmente leva a população a
deixar as pequenas cidades e migrarem em direção a cidades maiores? Quais são os
motivos que as influenciam e que determinam a tomada de decisão? Entre os motivos
determinantes da migração e da o-migração, quais são de ordem econômica? Quais
podem ser considerados fatores subjetivos? Qual a importância relativa dessas duas
categorias de fatores?
Por que algumas pessoas migram das pequenas cidades e outras, embora
também em situações difíceis ou em busca de melhoria das condições de vida, não
migram? O que “prende” na localidade de origem ou de residência atual as pessoas que
optam por o migrar? Que tipo e quais os fatores contribuem para a permanência das
pessoas em seus locais de origem? Qual a importância de fatores objetivos e subjetivos
quando se faz opção por permanecer na localidade atual? Qual a importância relativa dos
fatores objetivos e subjetivos diante dos movimentos migratórios e diante da
permanência e fixação da população nos locais de residência? Como a análise desses
fatores pode contribuir para a compreensão da dinâmica populacional de uma dada
região?
A identificação e análise dos fatores determinantes da migração e da não-
migração
3
constituem o objetivo geral deste trabalho e serão implementadas a partir do
3
A não-migração de que trata este trabalho é caracterizada pela permanência das pessoas residentes em
determinada localidade, enquanto os fatores de atração dos locais de origem agem levando parte da
20
registro da avaliação feita por migrantes e não-migrantes das características da sua
realidade local (sua cidade). Ao investigar esses fatores, coloca-se em destaque a
importância dos fatores subjetivos, sem desconsiderar os motivos objetivos identificados
como de significativa importância para a compreensão das causas que conduzem às
migrações internas. A investigação dos fatores determinantes da migração foi
consideravelmente discutida pela bibliografia sobre demografia, embora tenha recebido
maior investimento em um período cujas características migratórias eram diferentes das
atuais, em que a migração rural-urbana era predominante. Sendo assim, dedica-se mais
intensamente a análise dos motivos da não-migração.
Um dos objetivos específicos deste trabalho é o levantamento das causas dos
movimentos migratórios tradicionalmente apontadas pelos estudos demográficos. Para isso,
foi elaborada uma lista de motivos apontados pelos estudiosos como causadores ou
incentivadores da decisão de migrar ou de não-migrar. A partir desta lista, e considerando
os possíveis fatores a serem encontrados na realidade dos moradores de pequenas cidades,
foram elaborados os itens que constituem a metodologia do levantamento realizado no
trabalho de campo.
No levantamento e análise dos fatores da migração, os fatores relativos à não-
migração receberam atenção especial. A identificação desses fatores está relacionada à
forma como a população avalia a sua realidade local, aos aspectos que são considerados
positivos da localidade a ponto de inibir um movimento migratório. Embora alguns
habitantes das cidades pequenas também desejem melhorar sua situação econômica e
qualidade de vida, fatores que contribuem, direta ou indiretamente, para a sua opção por
não migrar.
Após a identificação dos fatores que influenciam a migração e a não-migração,
busca-se verificar o nível de importância conferido a fatores objetivos e subjetivos nos dois
casos. Em seguida à enumeração dos motivos apontados pelas respostas dos migrantes e
não-migrantes vê-se a necessidade de avaliar o peso dos principais fatores determinantes,
destacando a classificação em fatores objetivos e subjetivos. Assim, busca-se avaliar a
importância dos dois grupos de fatores (objetivos e subjetivos) e dos três subgrupos
(econômicos, geoculturais e culturais) quanto à influência e incentivo a migração,
identificando-se o papel que eles exercem na mobilidade geográfica da população.
população a migrar. A o-migração é então a fixação ou permanência da população nos seus locais de
origem ou de residência atual, sendo estes locais, no caso deste trabalho, pequenas cidades.
21
As atividades da pesquisa buscam investigar a realidade da população migrante
e não-migrante das pequenas cidades escolhidas a fim de lançar um pouco de luz sobre o
tema e contribuir brevemente para os estudos demográficos a respeito da migração e dos
seus fatores determinantes, sobretudo ao se tratar de uma abordagem que privilegia a
análise dos fatores motivadores da não-migração, com destaque para a atenção conferida
aos fatores subjetivos.
As cidades de Ervália, Piranga e Teixeiras, em Minas Gerais, constituem o
objeto de estudo da pesquisa. Optou-se por realizar o trabalho de campo em três
localidades para se observar realidades parcialmente diferentes. A escolha destas cidades
foi motivada, principalmente pelos seguintes aspectos: localização, número de habitantes e
dinâmica populacional. Quanto à localização, elas foram escolhidas por serem próximas a
cidade onde reside a autora. Assim, foi possível ir a campo quantas vezes fossem
necessárias, o que proporcionou uma investigação mais detalhada. Quanto ao segundo
aspecto, as cidades estudadas têm entre dez e vinte mil habitantes. Foram escolhidas
pequenas cidades porque elas são entendidas como realidades que favorecem a
investigação dos fatores determinantes da não-migração, uma vez que seus habitantes são
atraídos pelas localidades de maior porte e, no entanto, uma parcela deles faz opção por
não-migrar. O número de habitantes foi considerado um dos critérios de seleção a fim de
que as localidades de porte muito pequeno fossem evitadas, uma vez que esse fato poderia
indicar pouca ou nenhuma dinamicidade econômica.
Considerando a dinâmica populacional, foram selecionadas cidades que não
estavam sofrendo perdas populacionais significativas, mas que apresentassem certa
dinamicidade. Dessa forma, seriam evitadas como campo de pesquisa cidades tipicamente
expulsoras de população, nas quais seria mais difícil encontrar habitantes que o desejam
migrar ou que optam pela não-migração. Nessas três cidades estudadas, optou-se, ainda
pela realização das pesquisas com a população migrante e não-migrante residente nas áreas
urbanas
4
, desconsiderando as áreas rurais. A realização do trabalho em áreas urbanas se
justifica pela maior relevância das migrações urbanas no contexto das características
4
A realização das pesquisas nas áreas urbanas visa abordar apenas a migração do tipo urbana-urbana e a
realidade da não-migração no espaço urbano. A adoção deste critério também facilita o levantamento das
informações no decorrer do desenvolvimento do trabalho de campo, que nas áreas urbanas as residências
são mais próximas e acessíveis. Embora se reconheça um longo debate a respeito de o que é o urbano no
Brasil’, não é objetivo deste trabalho adentrar neste tipo de reflexão. Dessa forma, para as análises do
presente trabalho, as áreas urbanas o consideradas como as sedes dos municípios que compreendem as
cidades e são delimitadas pelo perímetro urbano.
22
migratórias atuais. O foco de investigação, entretanto, manteve-se, principalmente, nos
habitantes não-migrantes.
Os procedimentos metodológicos consistiram-se, inicialmente, na leitura de
estudos de pesquisadores que se dedicam ao tema das migrações, a fim de estabelecer uma
base para o trabalho, tanto em nível teórico, quanto no que se refere às informações
específicas sobre as migrações internas brasileiras e as causas ou fatores determinantes dos
movimentos populacionais apontados pelos autores. Após a análise bibliográfica, iniciou-
se o trabalho de campo com levantamento de informações qualitativas e quantitativas, por
meio da aplicação de questionários e do contato direto com as pessoas entrevistadas (que
responderam aos questionários).
Os aspectos qualitativos do trabalho de campo se encontram contemplados na
presença dos fatores subjetivos que influenciam a opção pela migração e na possibilidade
de ampliação do contato com as pessoas entrevistadas, conhecendo suas trajetórias
migratórias, o que promoveu um enriquecimento das informações. Utilizou-se uma
metodologia que não visa observar rigorosamente as exigências do ponto de vista
estatístico, devido à peculiaridade do objetivo da pesquisa, embora requisitos básicos para
seleção da amostra e análise dos resultados tenham sido observados. Alguns parâmetros
importantes foram considerados, a fim de ser mantida a representatividade da população
envolvida na coleta de dados: observou-se certo rigor no que se refere ao número de
questionários aplicados em cada cidade, de forma que o número de pessoas entrevistadas
por grupo de idade fosse representativo da realidade local. Sendo assim, as três cidades
(Ervália, Piranga e Teixeiras) foram igualmente analisadas. Foram abordados grupos de
moradores segundo faixas etárias: grupo 1 (entre 15 e 29 anos), grupo 2 (entre 30 e 49 anos)
e grupo 3 (acima de 50 anos), observando-se a proporcionalidade do número de
questionários aplicados em cada faixa etária em relação à porcentagem de habitantes nas
respectivas faixas etárias da população total de cada cidade. Os habitantes com idade
inferior a 15 anos o foram considerados. Dentre as 176 (cento e setenta e seis) pessoas
consideradas como não-migrantes que participaram da pesquisa mediante a aplicação dos
questionários nas três cidades, 80 (oitenta) são do sexo masculino e 96 (noventa e seis) do
sexo feminino.
Além disso, a partir da aplicação dos questionários, avaliou-se a freqüência em
que cada um dos fatores foi selecionado pelos entrevistados, sendo realizada uma análise
quantitativa dos resultados. Foi possível avaliar a freqüência em que cada fator foi citado
23
pelas respostas dos questionários, porém a avaliação a respeito do significado que cada
fator apresenta para os migrantes e não-migrantes não pode ser quantificada com a mesma
precisão.
Os questionários aplicados foram elaborados pelo grupo envolvido na
pesquisa
5
a partir de experiências acumuladas em outros trabalhos, reflexões propiciadas
por estudos migratórios de outros autores e reflexões a respeito das possíveis situações a
serem encontradas em campo. São utilizadas cartas contendo diferentes fatores que podem
interferir na opção pessoal pela migração ou pela não migração. Ao definir as palavras que
compõe cada carta, não se pretende esgotar a interpretação, mas buscar entender a
realidade que leva cada indivíduo a selecionar as cartas. Algumas realidades que se
pretende perceber estão abaixo indicadas, no entanto as possibilidades de interpretação são
inúmeras já que se trata de uma avaliação pessoal.
Moradia: a facilidade de aquisição de unidades habitacionais devido a preços acessíveis
e menor ação de especulação imobiliária, boa localização das residências, acesso à locação
de imóveis etc.
Transporte: qualidade, disponibilidade e preço dos transportes, tanto internamente à
cidade quanto o transporte intermunicipal, qualidade das vias de acesso etc.
Água, Luz e Esgoto: satisfação quanto à porcentagem de atendimento, ao valor cobrado e a
qualidade dos serviços prestados.
Emprego: facilidade de obtenção de empregos, qualidade das condições de trabalho,
necessidade de formação profissional etc.
Alimentação: disponibilidade de alimentação variada e de qualidade, com preços
acessíveis, venda de produtos naturais etc.
Perto de tudo: distâncias das áreas residenciais em relação aos centros comerciais e de
serviços e aos locais de trabalho, possibilidade de não ter gastos com transporte para
deslocamento entre áreas da cidade etc.
Tudo é barato: avaliação da população quanto ao custo de vida local etc.
5
O presente trabalho se insere num projeto de pesquisa mais abrangente, coordenado pelo professor Ralfo
Matos, do qual faz parte e recebe apoio. O projeto de pesquisa tem como título Desigualdades sócio-
espaciais e descentralização territorial no Brasil Atual e recebe financiamento da FINEP (Financiadora de
Estudos e Projetos). A metodologia de pesquisa de campo aqui desenvolvida e utilizada baseou-se em análise
de bibliografia referente às migrações e recebeu contribuições de pesquisadores envolvidos no projeto. Após
ser utilizada nesta dissertação a metodologia terá a sua aplicação ampliada e aperfeiçoada em trabalho de
campo do projeto de pesquisa mencionado. O objeto de estudo da pesquisa a ser realizada constitui-se de um
grupo de cidades médias brasileiras, buscando entender a importância destas localidades no atual contexto de
desenvolvimento nacional.
24
Heranças de família: os bens materiais herdados podem diminuir gastos para a
sobrevivência e incentivar a permanência no local, além do apego afetivo a esses bens etc.
Bom salário: relação entre o valor pago aos trabalhadores pelas atividades realizadas,
dependendo do nível de formação e os gastos associados ao custo de vida local etc.
Aposentadoria: a aquisição da aposentadoria pode interferir nas possibilidades de
migrar ou não-migrar, o fim vínculo com o local de trabalho, o tempo livre para dedicação
a outras atividades etc.
Bom atendimento a saúde: o maior ou menor gasto com a saúde, associado a qualidade
do atendimento público local, a necessidade de tratamentos especiais etc.
Boa escola: para famílias que possuem membros em idade escolar, a qualidade e o
atendimento educacional podem definir o local de moradia etc.
Rio, córrego, lago, represa; Mata, bosque, parque, jardim; Serra, colina; Céu, pôr do sol, nascer
do sol; Noite e estrelas: o conjunto desses aspectos naturais associados às realidades locais podem
estar associados ao apego da população à localidade de residência, assim como a valorização da
proximidade da natureza, a busca por melhor qualidade de vida etc.
Bela vista, paisagens: a valorização da beleza natural ou das características artificiais locais etc.
Praça, rua, avenida: a construção de vias de circulação e praças, o uso delas também como
local de lazer e entretenimento etc.
Prédio importante: apego a locais históricos, culturais ou de importante representação local etc.
Trecho da cidade: admiração ou apego a uma parte específica da cidade, associada a locais
residenciais, de trabalho, de lazer etc.
Casa onde nasceu: ligação com as próprias raízes, também em sentido espacial etc.
Vizinhança e amigos: proximidade de residência dos vizinhos associada às relações sociais etc.
Bom Clima: adaptação ao tipo climático local, realização de atividades específicas, saúde etc.
Jogos com amigos; Futebol e outros esportes: a prática esportiva associada à relação social etc.
Vida tranqüila: menor preocupação com a violência, gastos mínimos com segurança etc.
Festas juninas e carnaval; Festa típica e outras festas: participação em eventos gerais e
específicos das cidades, considerando a dinâmica local de convivência nesses eventos etc.
Apego à família: a presença/ausência de familiares contribui para permanência ou abandono do
local de residência etc.
Barraquinhas; Artesanato: envolvimento em atividade manual, venda de produtos artesanais etc.
Passeios e pescarias: uso da área da cidade ou do município para momentos de lazer etc.
Bares, Restaurantes: estabelecimentos freqüentados individualmente ou em grupo, diversão, etc.
Danças, cantorias; Atividade de teatro/música: participação em grupos artísticos ou culturais,
presença nas apresentações em momentos de diversão etc.
Padroeiro da cidade; Festas da Igreja: participação em atividades, festas e grupos religiosos etc.
25
Associação de bairro; Organização (ONGs, sindicatos ou outra); Partido político: participação
ativa em reuniões ou projetos de organizações específicas etc.
Clube: participação em clubes de laser ou de entidades assistenciais etc.
Após a realização de algumas entrevistas-piloto, foram feitas readaptações
metodológicas, assim como foram introduzidas sugestões de profissionais de outras áreas.
Os habitantes das localidades que contribuíram com o desenvolvimento do trabalho
responderam a algumas perguntas diretas, selecionaram as cartas que lhes foram
apresentadas e que compõem o questionário e, quando desejaram compartilhar suas
experiências migratórias, acrescentam informações espontaneamente.
Os questionários utilizados no trabalho de campo foram aplicados a moradores
nos domicílios de diferentes áreas
6
das cidades selecionadas. Para garantir a
heterogeneidade da amostra, optou-se pela aplicação de questionários em áreas e bairros
variados das cidades, tendo início nos domicílios de uma rua central e dirigindo-se às áreas
periféricas.
Antes de iniciar os questionamentos que compõem o perfil da pessoa
entrevistada e a aplicação do questionário, algumas informações foram solicitadas a fim de
agrupar a população abordada em migrante e não-migrante. Nesta etapa, foram
identificadas a naturalidade, o local de origem (quando se trata de migrante) e o tempo de
residência na localidade.
A abordagem dos migrantes e não-migrantes foi feita em duas etapas que
podem ser acompanhadas pelos campos do formulário de pesquisa de campo (ver Figura 1).
Na primeira etapa foi feita uma entrevista com o objetivo de identificar o perfil geral do
indivíduo. Foram feitas perguntas diretas sobre a escolaridade, ocupação e renda
aproximada do entrevistado. Na segunda etapa em que se investiga o que denominamos de
percepção hierarquizada individual, é aplicado o questionário propriamente dito, buscando-
se informações específicas sobre os fatores da migração e da não-migração. No campo
especificações, se desejar, o participante pode indicar algum complemento ou justificativa
para a seleção de cada carta dos três grupos de fatores.
6
Inicialmente a idéia era segmentar as cidades em uma área central e duas áreas periféricas (uma próxima
a região central e outra mais distante) para realização de análises comparativas e para garantir
representatividade de moradores de todas as áreas. No entanto, com o início dos levantamentos percebeu-se
que devido ao pequeno tamanho das cidades a adoção deste critério seria inviável, sendo difícil a
identificação das duas áreas periféricas e em alguns casos amesmo a identificação de uma área central e
uma periférica.
26
Figura 1 – Formulário de pesquisa de campo
PERFIL DO ENTREVISTADO
Sexo
:
G
:
Nome
:
Idade
:
Rua
:
Escolaridade:
Casa Própria: S
 N 
Ocupação:
Renda SM:
PERCEPÇÃO HIERARQUIZADA INDIVIDUAL
PERCEPÇÃO Ordem Especificação
1º:
2º:
Econômicos
3º:
1º:
2
º
:
Geoculturais
3
º
:
1
º
:
2
º
:
Culturais
3º:
1º:
2º:
Final
3º:
Na segunda etapa da entrevista, utilizou-se um procedimento metodológico em
que três grupos de cartas são apresentados ao entrevistado (ver Anexo 1 - Fatores de
Pesquisa de Campo). No primeiro grupo de cartas um conjunto de fatores econômicos;
no segundo, fatores geoculturais e, no terceiro, fatores culturais. Cada grupo de cartas
possui uma em branco, caso seja necessário acrescentar algum fator considerado relevante
pelo entrevistado e que não esteja contemplado nas cartas previamente disponibilizadas.
Apresenta-se ao entrevistado um grupo de cartas por vez, contendo itens que constituem os
fatores de percepção da realidade local. A seleção das cartas é feita hierarquicamente,
conforme importância conferida a cada fator. O entrevistado identifica entre os fatores
apresentados de cada grupo os três considerados mais importantes ou agradáveis na sua
localidade, apontando, assim, os fatores que influenciam sua decisão de permanecer na
cidade. Da mesma maneira, foram apresentados os grupos de cartas em que constavam os
fatores econômicos, geoculturais e culturais. Ao final da apresentação de todos os
conjuntos de cartas, foram mostradas ao entrevistado as três cartas de cada grupo por ele
escolhidas (como as mais significativas da localidade). Em seguida foi solicitado a ele que
fizesse uma nova seleção de três cartas dentre as pré-selecionadas, podendo ser escolhidas
cartas de qualquer grupo. Assim, foi elaborada uma hierarquia final dos fatores,
identificando-se a importância conferida a cada um dos três grupos de fatores, conforme
freqüência dos fatores e dos grupos de fatores selecionados.
27
Paralelamente à aplicação de questionários à população não-migrante, foi
realizada uma investigação abordando pessoas residentes nas cidades analisadas menos
de 10 anos, que são considerados migrantes. Também participaram desta etapa da pesquisa
outros moradores que, embora sejam naturais das pequenas cidades, possuem alguma
experiência migratória e fizeram o movimento de migração de retorno, sendo entendidos
neste trabalho como parte da própria migração. O objetivo das entrevistas a essas pessoas
foi complementar o grupo de fatores determinantes da migração tradicionalmente
apontados por estudos migratórios. Neste caso, a abordagem se volta especialmente para a
realidade de pequenas cidades e busca perceber a importância relativa dos diferentes tipos
de fatores como determinantes da migração. Esta etapa da pesquisa foi feita através de
perguntas diretas relativas à experiência migratória pessoal e familiar e as falas dos
entrevistados foram gravadas
7
. Foram entrevistadas 20 (vinte) pessoas que possuem
significativa experiência migratória; como a maior parte dos entrevistados realizou a
migração juntamente com a família, perfazendo um total de 67 (sessenta e sete) migrantes.
As análises relativas aos fatores selecionados pela população migrante, representadas pelos
gráficos confeccionados, se encontram disponíveis ao final do trabalho (ver Anexo 2
Gráficos da abordagem à população migrante).
Algumas considerações são lançadas por Singer (1980) numa crítica que se
dirige às pesquisas que utilizam procedimentos metodológicos cuja unidade de análise é o
indivíduo ou a família e que arrolam e discutem as verbalizações dos migrantes quanto
aos motivos que os teriam levado a migrar(SINGER, 1980, p. 236). Para o autor, estas
pesquisas estariam comprometidas na fidedignidade das respostas, porque a migração
interna é um processo social em que a unidade de análise não se concentra no indivíduo,
mas no grupo de migrantes. Além disso, a migração possui causas estruturais que
impelem determinados grupos a se pôr em movimento” (SINGER, 1980, p. 236).
A reflexão sobre a crítica de Singer (1980) leva a diferenciar os objetivos do
trabalho aqui proposto e a realidade do processo de migração interna considerado por esse
autor. A migração a que se refere Singer (1980) é aquela em que um grande número de
pessoas deixa uma área de origem e se dirige a outra de destino, particularmente se
7
Na abordagem aos moradores migrantes buscou-se identificar o perfil geral do entrevistado e de sua
unidade familiar, a escolaridade do chefe da família, o local de origem e o(s) destino(s) da(s) migração(ões),
os motivos para migrar, as mudanças advindas do movimento migratório, a possibilidade de realização de
outra mudança de localidade. As situações encontradas foram variadas, assim como os motivos que
conduziram à migração.
28
tratando dos movimentos migratórios de caráter rural-urbano. Esse tipo de migração teria
entre seus determinantes motivos estruturais que justificariam a saída de muitos migrantes
de suas localidades. Esses motivos estariam bastante relacionados aos processos que se
desenvolvem na realidade local, proporcionando alterações que se configuram como
fatores de repulsão que conduzem a processos migratórios de grande escala.
Na proposta do presente trabalho, prioriza-se a discussão do tipo de migração
que prevalece atualmente, de caráter urbano-urbano, que é bastante diferente do contexto
de grandes fluxos migratórios entre regiões e estados em que se situa o trabalho de Paul
Singer (1980). Portanto, nesta pesquisa, não se pode considerar o grupo que migra como
unidade de análise, pois ganham importância os motivos individuais. Sendo assim, para o
trabalho que aqui se empreende, a metodologia dedicada a abordagens individuais,
considerando o indivíduo como unidade de análises, é adequada aos objetivos a que se
propõe. Além disso, cabe lembrar que, embora a identificação dos motivos individuais que
conduzem à migração esteja presente, esse trabalho não se concentra nesta etapa, mas
avança na identificação e análise dos motivos gerais que contribuem para a não-migração.
Nos estudos em que se concentra atenção em fatores qualitativos relacionados
à migração e não-migração, verificam-se algumas dificuldades específicas deste tipo de
pesquisa. Uma das dificuldades, segundo Muñoz e Oliveira (1980) é que as razões para
migrar indicadas pelas pessoas são pouco precisas, para reconstituir a tomada de decisão,
por isso são necessários estudos no local de origem da migração e não apenas no local de
destino. A investigação feita por meio de perguntas nos locais de destino são limitadas por
serem as respostas racionalizações feitas pelos migrantes a posteriori, podendo haver
algumas distorções. É preciso, ainda, saber se a decisão de migrar é individual ou grupal, e
identificar razões que levam à escolha do local de destino (MUÑOZ; OLIVEIRA, 1980). A
possibilidade de que haja distorções devido à parcialidade e aos erros contidos nas
respostas apresentadas pelos entrevistados é salientada por Brigg (1980). Por isso, a autora
sugere que a interpretação das respostas seja cuidadosa. Tendo em vista a identificação das
dificuldades da pesquisa migratória qualitativa, busca-se refletir sobre a influência que
essas observações possam manifestar nos resultados das pesquisas de campo empreendidas
e sobre as possibilidades de minimizar a ocorrência destas distorções.
A respeito dos procedimentos metodológicos adotados para investigar as
causas determinantes dos deslocamentos migratórios, Elizaga (1980) aponta que os mais
freqüentes consistem em indagar diretamente às pessoas quais motivos elas tiveram para
migrar. Entretanto, este procedimento apresenta como limitação o fato de a informação ser
29
resultado de uma avaliação do migrante sobre as alternativas com as quais passa a se
defrontar” ao invés de ser propriamente o reflexo de uma realidade objetiva(ELIZAGA,
1980, p. 563). Uma alternativa interessante sugerida pelo autor é a investigação simultânea,
nas áreas de origem e de destino, da percepção dos entrevistados sobre alguns fatores
freqüentemente mencionados entre os motivos (oportunidades de emprego, veis de
salários) (ELIZAGA, 1980, p. 563), comparando o contraste entre as respostas obtidas
em áreas de atração e de repulsão. A proposta lançada pelo autor é parcialmente aceita.
Neste trabalho não foram realizadas entrevistas comparativas com os moradores de áreas
de atração e repulsão, principalmente devido ao fato de o objetivo principal ser a
identificação dos fatores relacionados à não-migração; mas os entrevistados são indagados
a respeito de como avaliam a realidade da localidade na qual habitam. Nos questionários
estão inseridos fatores que incentivam os processos migratórios e outros itens de ordem
subjetiva que têm maior potencial de contribuir para a permanência da população na
localidade.
Na definição da metodologia a ser adotada, foram consideradas as dificuldades
anteriormente citadas, apresentadas por diversos pesquisadores a respeito da abordagem
por meio de entrevistas com a população. Para minimizar as limitações desse procedimento,
a composição das cartas contidas nos questionários usados nas entrevistas recebeu atenção
criteriosa. Muitas alterações e reavaliações foram feitas para permitir a obtenção de um
resultado mais significativo e condizente com a realidade, investigando fatores citados por
estudiosos da migração, agrupando fatores semelhantes e adequando as cartas de acordo
com os elementos presentes na realidade da população que participou da pesquisa. De
modo geral, considera-se que os procedimentos metodológicos utilizados o adequados
aos objetivos propostos.
30
CAPÍTULO 1 – POPULAÇÃO EM MOVIMENTO NO ESPO
1.1 – Espaços que Atraem, Espaços que Repelem
A realidade das migrações suscita reflexões a respeito dos espaços que atraem
e que repelem população e das características que conferem a algumas áreas estas
condições; enquanto algumas localidades são tipicamente áreas de origem de processos
migratórios, outras são espaços para onde se destina a população migrante. O que faz com
que uma área seja atraente e que outra tenha elementos que incentivam a “expulsão” da
população? Alguns espaços se configuram com características que contribuem para a
atração populacional, devido a diversos aspectos que chamam a atenção de potenciais
migrantes. Outras áreas são dotadas de características que funcionam como fatores de
repulsão da população que neles habita. Quando se trata de um espaço onde os indivíduos
viveram vários anos da vida e com o qual se identificam, é preciso considerar que os
aspectos negativos relativos a este espaço promovem uma verdadeira repulsão à população,
tornando-a capaz de migrar, romper os laços de união com o espaço e deixar o lugar com o
qual se identifica. Estes aspectos negativos normalmente estão associados à maior oferta de
atrativos oferecidos por um outro espaço, onde é favorecida uma perspectiva de melhoria
de vida.
No Brasil, alguns espaços podem ser citados como tipicamente capazes de
atrair ou repelir população. Os ciclos econômicos brasileiros tornam possível visualizar a
atratividade desses espaços. Verifica-se que a população se desloca no sentido de
acompanhar as áreas de economia próspera e quanto maior a prosperidade verificada em
um local, maior é o número de migrantes que chegam a ele devido a seu poder de atração.
O período da mineração em Minas Gerais, por exemplo, foi responsável pela vinda de
grande contingente de migrantes de várias partes do país em busca das vantagens
econômicas que este ciclo podia propiciar. Em período mais recente, verifica-se que as
fronteiras agrícolas e as áreas industriais do país exercem o mesmo papel das áreas dos
ciclos econômicos anteriores. As áreas de fronteira agrícola são alvo para migrações de
pessoas em busca de terra e de outras que vêem uma oportunidade de crescimento
econômico a partir do desenvolvimento de determinada atividade agropecuária. As cidades
31
grandes e médias, sobretudo da região Sudeste, são espaços que atraem população de áreas
rurais, de outras cidades menores e menos prósperas e de outras regiões, devido às
atividades industriais e à identificação por parte dos migrantes de possibilidades de
melhoria da qualidade de vida. Durante muito tempo, as metrópoles apresentaram
crescimento populacional significativo, em parte decorrente dos movimentos migratórios.
Certamente, a concentração industrial nas cidades é um elemento de atração
populacional. No entanto, Singer (1980) chama a atenção para o fato de que também as
iniciativas governamentais contribuem para intensificar as migrações. Isso ocorre, pois os
investimentos governamentais propiciam a concentração de atividades econômicas em
determinadas áreas, promovendo e acentuando a atração espacial por elas exercida.
Portanto, o crescimento demográfico de cidades baseado nas migrações é afetado por
decisões governamentais, através da política de desenvolvimento (POTENGY, 1980). O
processo de desenvolvimento, de modo geral, ajuda a direcionar as áreas de origem e
destino de movimentos migratórios, assim como o volume das migrações, por contribuir
para a configuração de espaços de atração e repulsão populacional, o que justifica a
concentração de pessoas nas grandes cidades (BALAN, 1980).
Algumas áreas rurais podem se configurar como espaços que repelem a
população, principalmente quando se apresentam com certo grau de estagnação ou são
marcadas por características como alto grau de concentração de propriedades, mecanização
das atividades agrícolas e precariedade nas condições de trabalho. Estas características
constituem fatores de expulsão populacional, originando movimentos migratórios. Além
desses fatores, a violência no campo, a dificuldade de utilização de técnicas de trabalho
rudimentares e a impossibilidade por parte dos pequenos proprietários de competição com
a produção alcançada por grandes produtores também aumentam o fator repulsivo dessas
áreas. Da mesma forma que ocorre com áreas rurais, algumas cidades podem possuir
características que levem seus moradores a buscar melhores oportunidades em outros
espaços, por exemplo, a deficiência de estabelecimentos educacionais e falta de emprego
para a população.
Com a alteração substancial verificada nos padrões de crescimento
populacional no Brasil, Matos (2005) chama a atenção para a realidade verificada nos
movimentos migratórios, os quais ganham novas dinâmicas, inaugurando novos espaços de
atração populacional, diferentes dos anteriores. O autor destaca o surgimento de novos
tipos de movimentos populacionais:
32
[...] englobando migrações em direção às regiões litorâneas dos
estados, composta principalmente por indivíduos da terceira idade; as
migrações para as cidades médias, devido principalmente à
intensificação dos investimentos por parte das empresas que fogem
das deseconomias de aglomeração características dos grandes centros
urbanos, mas também em função do aumento da violência urbana nas
grandes cidades; e as migrações de trabalhadores com alta
qualificação que se deslocam em direção aos grandes centros urbanos
em busca de empregos com elevada remuneração e de um ambiente
cosmopolita integrado ao consumo mundial (este último movimento
está intimamente relacionado aos impactos das transformações
ocorridas nos países centrais sobre o Brasil) (MATOS, 2005, p. 126).
As cidades litorâneas, cidades médias e grandes centros se configuram no
início do século XXI como espaços de atração de segmentos populacionais distintos.
Novos espaços de repulsão também são identificados, como as áreas de economias de
aglomeração, das quais algumas empresas buscam se distanciar, investindo em cidades
médias; e as áreas muito violentas e poluídas, particularmente as grandes cidades (MATOS,
2005). A identificação dos espaços que atraem e repelem população e das características
que conferem esta atração/repulsão contribui para o conhecimento dos processos
migratórios e dos fatores relativos à mobilidade da população no espaço, além de também
abrir espaço para a compreensão dos fatores que levam à permanência de pessoas em
pequenas cidades.
1.2 – Bases Teóricas da Migração
A literatura sobre as migrações apresenta grande variedade de discussões e
posicionamentos. Segundo Salim (1992), não se pode identificar unanimidade quanto ao
conceito de migração e quanto a outros conceitos importantes usados nos estudos dos
processos migratórios. A falta de uma teoria compreensiva ou de um marco de referência
sistemático para orientar, organizar e avaliar as investigações também foi apontada por
Elizaga (1980). Segundo o autor, uma explicação para a falta de consenso quanto ao
conceito de migração e quanto à existência de uma teoria migratória é que o migrante não é
susceptível de uma definição unívoca, como ocorre com outras situações demográficas
(nascimentos, óbitos). O migrante e a migração são passíveis de rias definições, em
função de muitos elementos como, por exemplo, o tempo de permanência no local de
33
residência e a distância percorrida no trajeto da migração. Os sociólogos manifestam maior
preocupação com as teorias adotadas nos estudo das migrações. Para eles, a teoria
norteadora dos estudos migratórios deveria levar em conta as inter-relações dos fatores
demográficos, econômicos, sociais e psicológicos que intervêm nas diversas fases do
processo migratório” (ELIZAGA, 1980, p. 550).
Também os autores Muñoz e Oliveira (1980) discutem essa questão e afirmam
que não foram produzidas, até a cada de 1980 formulações teóricas integradas, de
modo a orientar as investigações(MUNOZ; OLIVEIRA, 1980, p. 581). Eles consideram
que o que se tem desenvolvido o esquemas teóricos analíticos setoriais (MUÑOZ;
OLIVEIRA, 1980, p. 581) que vêm servindo de orientação para uma boa parte dos
trabalhos. Oliveira e Stern (1980), ao analisar estudos demográficos realizados no México,
indicam que, acerto ponto, é possível dizer que as investigações vêm sendo realizadas,
na maioria dos casos, sem se recorrer às teorias ou aos marcos teóricos e, mais
precisamente, que são resultantes das exigências impostas por considerações de ordem
prática (OLIVEIRA; STERN, 1980, p. 251).
Salim (1992) afirma que também não há consenso quanto à definição de vários
termos auxiliares dos estudos migratórios, por exemplo, migrante, mobilidade populacional
e correntes migratórias. Quanto à identificação e definição da população considerada
migrante, Elizaga (1980) recorda que, apesar de haver concordância na desconsideração de
trabalhadores estacionais como migrantes, o mesmo não se pode dizer com relação aos
estudantes e aos grupos populacionais que vivem em alojamentos para operários. Há vários
tipos de mobilidade populacional e que se distinguir o que é a migração e eliminar o
que se chama de movimentos migratórios e não são(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 1980, p. 319). As situações dos tipos de mobilidade espacial como os
movimentos contínuos dos nômades e dos trabalhadores migratórios, para os quais não
existe residência durante período prolongado, como também os deslocamentos
temporários [...] (LEE, 1980, p. 100) não são incluídas, segundo o autor, entre os
deslocamentos migratórios. Lee (1980) trata da questão referente à voluntariedade do ato
migratório. Para ele, as migrações forçadas, tais como os movimentos dos refugiados da
Segunda Guerra Mundial [...] (LEE, 1980, p. 99), não têm sido agrupadas juntamente
com as chamadas migrações livres. Como migrações livres entende-se o deslocamento
populacional no espaço, realizado segundo a vontade e decisão própria dos migrantes.
Embora estes possam ser muito influenciados pelos aspectos negativos da localidade de
moradia, continuam tendo a possibilidade de escolha, o que não ocorre nas migrações
34
forçadas, quando a migração é entendida como a única forma de garantir a sobrevivência, o
que normalmente ocorre em casos de guerras e perseguições.
A migração, suas causas e conseqüências, assim como outras questões
referentes aos processos migratórios, são interpretadas de formas diferentes, de acordo com
as correntes de pensamento ou linhas teóricas. Essa ressalva a respeito dos enfoques ou
marcos conceituais ligados aos estudos migratórios é feita por autores como Salim (1992) e
Oliveira e Stern (1980). Também Singer (1980) constrói alguns comentários sobre o
assunto ao defender a posição que assume teoricamente.
Oliveira e Stern (1980) consideram que o processo de migração interna adquire
significado ao ser situado dentro do processo mais geral de transformação sócio-econômica.
No caso de países da América Latina, essa transformação se refere à mudança de uma
estrutura social agrária para uma estrutura industrial. Dentro deste contexto, os autores
distinguem dois enfoques ou marcos conceituais que procuram esclarecer a situação da
migração interna: o enfoque da modernização e o enfoque histórico-estruturalista. No
enfoque da modernização, a migração interna é visualizada como um dos “processos
fundamentais da ‘mobilização social’, que constitui o eixo principal para a transformação
de sociedades ‘tradicionais’ em sociedades ‘modernas’” (OLIVEIRA; STERN, 1980, p.
253). Este enfoque estaria associado a uma abordagem teórica mais ampla, que é a teoria
neoclássica (BRAGA, 2006). Já no enfoque histórico-estrutural, a migração interna poderia
ser vista como uma conseqüência do processo de desenvolvimento capitalista das
sociedades, adquirindo características específicas segundo as modalidades desse
processo” (OLIVEIRA; STERN, 1980, p. 253).
Os mesmos marcos conceituais são identificados por Singer (1980). Após
introduzir em seu trabalho várias propostas para estudos demográficos futuros, ele chama a
atenção para a existência de um volume considerável de pesquisas sobre as migrações em
países não desenvolvidos, embora, a maior parte delas apresente fundamentos teóricos
diferentes dos por ele propostos. Singer (1980) adota o marco teórico que procura
determinar as características históricas específicas do fenômeno da migração interna no
contexto do desenvolvimento, isto é, o marco histórico-estruturalista. Os fundamentos da
teoria da modernização encaram as migrações essencialmente como parte integrante de
um processo de modernização(SINGER, 1980, p. 235), o que leva a enfoques que não
consideram o caráter histórico do fenômeno migratório nem os seus condicionantes de
classes. A abordagem do autor busca “revelar o significado das migrações na constituição
de uma economia capitalista. [...]” (SINGER, 1980, p. 235).
35
Ao buscar marcos teóricos para estudos migratórios, Salim (1992) elabora uma
revisão crítica de estudos sobre o assunto, a fim de identificar seus limites e possibilidades.
O autor adota a expressão tronco teóricopara classificar as diversas correntes teóricas e
apresenta três destes troncos: modelos neoclássicos contemporâneos, perspectiva
histórico-estrutural e mobilidade da força de trabalho. De acordo com os modelos
neoclássicos contemporâneos, os movimentos populacionais correspondem à mobilidade
geográfica dos trabalhadores devido aos desequilíbrios espaciais dos “fatores de produção
(terra, capital e recursos naturais). Esses fatores, portanto, influenciam a magnitude dos
fluxos migratórios. A migração é vista como fenômeno positivo, por possibilitar
transferência de excedentes populacionais, e como conseqüência das diferenças regionais,
a migração tem papel decisivo na eliminação dessas mesmas diferenças, atuando como
fator corretivo dos desequilíbrios sócio-econômicos no espaço” (SALIM, 1992, p. 123). É
recusada a idéia de que a desigualdade estrutural causa imperfeição e por isso, entende-se
que uma “propensão ‘natural’ da força de trabalho ao movimento, logo que a
diferenciação social se manifesta a nível do espaço” (SALIM, 1992, p. 123). A força de
trabalho é considerada capital humano e caracteriza-se como um dos fatores de produção
de mobilidade extremada com oferta e demanda, então os diferenciais de salários
configuram-se como fator básico de migração. Salim conclui que nesse tronco teórico
verifica-se que os estudos da migração pressupõem o cálculo racional e a livre decisão
dos indivíduos, ou seja, a mesma lógica locacional das firmas” (SALIM, 1992, p. 124). As
características deste enfoque teórico parecem coincidir com o enfoque da modernização.
O tronco teórico da análise histórico-estrutural está enraizado na tradição do
materialismo histórico e a migração, não como um ato soberano do indivíduo ou soma
de escolhas individuais, mas como fenômeno social em que a unidade é a corrente ou fluxo
composto por classes sociais ou grupos socioeconômicos. A migração é movida pela
desigualdade regional e ocorre geralmente para redimensioná-la, muitas vezes no sentido
de propiciar uma desigualdade ainda maior. Essa abordagem enfatiza a visão da estrutura
como um todo, isso é, as condições estruturais de nível social, econômico e político que
contextualizam a dinâmica populacional tornam possível ou definem a natureza e direção
dos fluxos migratórios. Diferentes movimentos da população explicam-se pelas mudanças
no âmbito da estrutura da produção. Percebe-se a tendência de dimensionar a migração
pelo aspecto econômico sem considerar processos macrossociais importantes, como os de
natureza social e cultural. A mobilidade do trabalho é vista como determinada por fatores
estruturais e a migração redistribui a força de trabalho segundo as necessidades específicas
36
do processo de acumulação (SALIM, 1992). Enquanto no tronco teórico dos modelos
neoclássicos contemporâneos a migração é reduzida ao nível do comportamento individual,
na análise histórico-estrutural a generalidade e a abrangência da unidade de análise são
concebidas em termos de classes ou de grupos socioeconômicos.
No tronco teórico da mobilidade da força de trabalho, o foco de análise é a
relação capital/trabalho. A migração deixa de ser conseqüência ou reflexo do espaço
transformado e passa a atuar como agente de transformação. Segundo esta linha teórica,
segmentos da população deslocam-se no espaço porque este se estrutura de forma a
colocá-los em movimento(SALIM, 1992, p. 131) e assim a força de trabalho adquire a
característica da mobilidade. A mobilidade se liga à produtividade e à expansão física do
capital, apresentando-se como condição e conseqüência do desenvolvimento das forças
produtivas(SALIM, 1992, p. 131) as quais exercem um papel essencial no processo de
acumulação.
A abordagem neoclássica o é considerada uma proposta adequada para o
estudo dos movimentos migratórios nos países subdesenvolvidos (BRAGA, 2006) por ser
outra a realidade destes quando comparada a dos países desenvolvidos, por exemplo, no
aspecto econômico. A característica de dependência econômica dos países
subdesenvolvidos faz aflorar questões históricas não contempladas pelas antigas
matrizes de análise” (BRAGA, 2006, p. 79). A partir das limitações das propostas da teoria
neoclássica com o enfoque da modernização, a análise sob a perspectiva histórico-
estrutural ganha destaque na busca de [...] compreender a migração como conseqüência
dos processos de desenvolvimento na sociedade capitalista, distinguindo certas
características estruturais de momentos históricos específicos (BRAGA, 2006, p. 79).
Apesar de representar um avanço em relação à compreensão proposta pela abordagem
neoclássica, Braga (2006) sugere que a corrente histórico-estrutural apresenta expressivo
grau de determinismo econômico, o que acaba por enfraquecer certas considerações
importantes do movimento migratório, pois a vinculação de todas as explicações ao
processo de acumulação do capital tornam os fluxos invariavelmente mais importantes
que os indivíduos(BRAGA, 2006, p. 80).
Embora seja difícil compatibilizar as diferentes correntes teóricas que se
dedicam ao estudo das migrações, Salim (1992) afirma que a dificuldade de definição da
migração não se constitui obstáculo à produção científica sobre o assunto, ao contrário, é
um estímulo aos estudos migratórios e ao aprofundamento dos debates. Apesar das
divergências, os enfoques sobre a migração são consensuais ao estabelecer que os fluxos
37
migratórios originam-se no desequilíbrio espacial de natureza econômica, o qual produz
diferenciais de renda e de emprego, por exemplo, entre as áreas de origem e destino
(SALIM, 1992). Singer (1980) compartilha desta idéia ao mostrar que as disparidades
“explicam” a migração. O autor chega a considerar a criação de desigualdades regionais
como o motor principal das migrações internas que acompanham a industrialização nos
moldes capitalistas e explica como o processo de industrialização favorece a concretização
das disparidades no espaço:
[...] qualquer processo de industrialização implica numa ampla
transferência de atividades (e, portanto, de pessoas) do campo às
cidades. Mas, nos moldes capitalistas, tal transferência tende a se dar
a favor de apenas algumas regiões em cada país, esvaziando as
demais. Tais desequilíbrios regionais são bem conhecidos e se
agravam quando as decisões locacionais são tomadas tendo por
critério apenas a perspectiva da empresa privada (SINGER, 1980, p.
222).
Um histórico dos estudos migratórios no Brasil é apresentado brevemente por
Pacheco e Patarra (1997). Os movimentos migratórios internacionais intensos no país no
final do século XIX e início do século XX não teriam suscitado formulações teóricas
sistemáticas. A teoria da migração” de Everett Lee, em 1966, pretendia mostrar uma
generalização da migração ocorrida em todas as sociedades urbano-industriais, enquanto
outros estudos teóricos surgiram, significativos do ponto de vista quantitativo, mas com
caráter descritivo, preocupavam-se com a quantificação dos movimentos migratórios
(PACHECO; PATARRA, 1998). Também surgiram enfoques de caráter menos
mecanicista, considerando a força e motivação da decisão individual, que estabeleceram
tipologias capazes de circunscrever o fenômeno migratório, porém permaneceu o caráter
descritivo. ainda o enfoque de âmbito econômico. Pacheco e Patarra (1997) apresentam
as considerações de Bongue (1959) de que se podia verificar uma tendência criticável de
generalizações apoiadas em evidências empíricas escassas e ocasionais” (PACHECO;
PATARRA, 1997, p. 453); a teorização se reduzia a uma sistematização de dados
quantificáveis, e as variáveis consideradas nos estudos migratórios estariam sempre
limitadas às aparências dos fenômenos migratórios (BONGUE, 1959 apud PACHECO;
PATARRA, 1997).
Salienta-se que a reflexão sobre os movimentos migratórios passou por
alterações a partir da colaboração de estudiosos que tiveram como ponto de partida o
estudo de situações concretas em países em processo de industrialização, particularmente
na América Latina (PACHECO; PATARRA, 1997, p. 453), dentre os quais se destaca
38
Singer, com a abordagem histórico-estruturalista. Embora muito adequada ao momento
analisado, em que se verificava um intenso êxodo rural, os autores chamam a atenção para
o fato de que esta proposta afasta qualquer análise da dimensão psicológica como fator de
incentivo ou não à migração, preserva um alto grau de generalização, apresenta um caráter
excessivamente economicista, e que a formulação geral deixava pouco espaço para as
especificidades históricas de cada situação” (PACHECO; PATARRA, 1997, p. 454).
Mesmo após muitas discussões sobre a migração, não uma idéia única de
como defini-la. Neste trabalho, entende-se a migração como mobilidade espacial de
pessoas que implica necessariamente mudança de residência de uma unidade
administrativa para outra. Ao se considerar a unidade administrativa de origem e de destino
do fluxo populacional, pode-se analisar a migração utilizando-se unidades de análise de
várias escalas como a internacional, nacional, regional ou local. No entanto, faz-se uma
ressalva à migração do tipo campo-cidade, que não pressupõe necessariamente mudança de
unidade administrativa, embora seja comum que os migrantes deixem suas residências no
campo e tenham como destino outro município, que não aquele a que pertence a área rural
de origem. O deslocamento migratório pressupõe ainda uma distância percorrida e
determinado tempo de residência na nova localidade. Quando se trata de migração de longa
distância, é comum que ela seja realizada por etapas, em que o migrante reside
temporariamente em uma localidade entre a de origem e aquela a que se destina. O
migrante pode também estar residindo no local atual um longo período de tempo ou
apenas recentemente. Caso o tempo de residência de um migrante em uma localidade seja
superior a dez anos, é comum que entre os pesquisadores ele o seja mais considerado
como migrante, mas seja tratado como um residente local. Além disso, o deslocamento
migratório pode ser realizado individualmente, pela família, por alguns grupos ou grandes
contingentes populacionais, tendo como destino a mesma área ou áreas diferentes.
1.3 – A Migração como Componente da Dinâmica Populacional
A compreensão da dinâmica demográfica passa pela investigação das suas
componentes principais: natalidade, mortalidade e migração. As alterações demográficas
ocorrem à medida que as taxas ou padrões desses componentes são alterados. Segundo
39
Bideau (1984), diversos fatores sociais, biológicos, fisiológicos e culturais podem
influenciar a resposta demográfica da população, causando mudanças súbitas (advindas de
guerras, peste) ou graduais (resultantes da adaptação da população aos recursos
disponíveis). Quando um evento que contribui para dizimar a população, como
episódios de fome, peste ou guerra, é conferido ao componente mortalidade um papel
explicativo de maior peso para a compreensão dos processos demográficos.
Embora os três componentes demográficos atuem de forma complementar e
sejam igualmente importantes, em alguns momentos históricos um deles pode se destacar.
Por exemplo, os padrões de crescimento derivados de uma população que apresente
fecundidade alta ou baixa, assim como as alterações nesses padrões, podem ser importantes
para explicar suas características demográficas. Vários são os elementos que contribuem
para alteração no número de nascimentos: tradições locais, inclusão dos filhos como mão-
de-obra familiar, dificuldades financeiras, idade ao se casar etc. Da mesma forma, a
contribuição demográfica advinda da mortalidade pode se apresentar de formas diferentes
de acordo com o número de óbitos, sendo-lhe atribuído maior ou menor importância no
que se refere à influência exercida sobre a dinâmica demográfica da população. O número
de óbitos pode ser influenciado por condições médico-sanitárias, violência, restrição
alimentar etc.
Assim como a natalidade e a mortalidade podem representar maior
contribuição para a compreensão do comportamento demográfico em contextos específicos,
as alterações migratórias também são significativas para a sociedade. Destaca-se a relação
direta existente entre os processos migratórios, a realidade sócio-econômica e os demais
componentes da dinâmica demográfica. A migração não pode ser compreendida
separadamente dos demais componentes demográficos, como destaca Greenwood (1980),
que ela tanto influencia como, por sua vez, é influenciada por muitos fatores
demográficos e sociais, assim como por variáveis mais nitidamente econômicas
(GREENWOOD, 1980, p. 498). Segundo Salim (1992), a migração é um componente
demográfico relacionado às condições históricas das mudanças sociais, econômicas,
estruturais etc; sendo um importante mecanismo de reprodução ou alteração numérica da
sociedade. A migração pode mediar ou refletir processos que incidem sobre outros
componentes demográficos, como a fecundidade e mortalidade, assim como podem agir
diretamente sobre relações de classe que determine a formação e composição do
mercado de trabalho de uma região [...]” (SALIM, 1992, p. 119). Ainda a respeito das
potencialidades de atuação da migração na realidade sócio-econômica e nas variáveis
40
demográficas, Elizaga (1980) acrescenta que os demógrafos, ao se referirem ao movimento
migratório, tratam-no como [...] uma das variáveis fundamentais que atua sobre a
redistribuição espacial da população e sobre as alterações que se verificam nas estruturas
demográficas dos distintos segmentos geográficos de cada país” (ELIZAGA, 1980, p. 545).
1.3.1 – A importância da migração no crescimento demográfico
Cabe aqui mostrar como a migração se torna fundamental para a compreensão
da dinâmica demográfica brasileira, sobretudo a partir da queda das taxas de mortalidade
seguida pela queda da natalidade. A natalidade e a mortalidade verificadas no Brasil
tiveram relevância no período que antecede a transição demográfica por contribuírem de
maneira mais perceptível para a configuração demográfica, embora a migração interna
estivesse presente. A partir de certo momento, no Brasil, a migração ganha maior destaque
devido à estabilidade ou ao equilíbrio entre as primeiras componentes demográficas. Por
isso, é a partir da transição demográfica que a migração ganha também mais visibilidade.
Graham e Holanda Filho (1980) identificaram a diferenciação do peso exercido pelos dois
componentes de crescimento urbano, a migração e o crescimento vegetativo, destacando o
primeiro, considerando marcante crescimento da importância da migração como
componente do crescimento urbano [...] (GRAHAM; HOLANDA FILHO, 1980, p. 758).
Após a constatação da ocorrência do processo de transição demográfica em
todos os países da América Latina, verifica-se a existência de questionamentos quanto à
duração desse processo e à data do seu início.
Na literatura atual ainda persiste uma forte tendência a identificar o
declínio da fecundidade dos últimos 20 anos com a própria transição,
principalmente quando se trata da vertente que analisa a transição
demográfica sob a ótica da fecundidade, ou a situar o fenômeno a
partir dos anos 50, quando por transição é compreendida também a
evolução da mortalidade (PATARRA, 1994, p. 29).
Para se compreender a transição demográfica brasileira adota-se como
referência e marco para o início desse processo a queda da mortalidade. A
aproximadamente a década de 1950, as taxas de natalidade e de mortalidade se mantiveram
relativamente altas. A partir desse período, verificou-se declínio na taxa de mortalidade,
fato muito associado aos avanços da medicina. Consequentemente, a diferença entre o
41
número de pessoas nascidas acrescentadas à população total e aquelas que faleciam
(contribuindo para diminuir o contingente populacional) se acentuou. Com isso, verificou-
se enorme crescimento populacional, que chegou a ser considerado como uma “explosão
demográfica”. Este período foi interpretado por neomalthusianos
8
como perigoso, pois,
para eles a partir daí se verificaria um processo de contínuo e desenfreado crescimento
populacional (PATARRA, 1994).
A queda da mortalidade está associada a melhorias na condição de vida geral
da população, pois essas melhorias contribuíram para o aumento da expectativa de vida.
Diniz (2002) identifica dois dos argumentos que justificam essa queda da mortalidade. Um
deles é o enfoque do desenvolvimento, segundo o qual a redução das doenças infecto-
contagiosas [...] ocorreu antes das grandes descobertas médicas(DINIZ, 2002, p. 32).
Neste caso, a contribuição central para a diminuição da mortalidade teria sido a elevação
da renda e o avanço das condições de moradia e nutrição; a melhoria da nutrição teria tido
a maior influência no declínio da mortalidade infantil e na elevação da esperança de vida e
ainda a importância do efeito do crescimento da renda na redução da mortalidade. Somente
numa fase posterior à elevação do padrão de vida, a medicina teria contribuído em grande
escala para a redução da mortalidade. o enfoque médico argumenta que a redução da
mortalidade ocorreu após uma série de inovações médicas(DINIZ, 2002, p. 32). Esses
dois enfoques se combinam existindo a possibilidade de entendê-los como complementares,
“[...] criando um esquema flexível que permite diferentes combinações de diferentes pesos
para cada determinante da mortalidade (DINIZ, 2002, p. 32). Cabe ainda destacar a
contribuição da educação para a prevenção e o controle das doenças.
Apesar de o crescimento populacional brasileiro ter sido inicialmente
entendido como explosivo, percebe-se que as taxas de natalidade tendem a acompanhar o
declínio anterior das taxas de mortalidade, seguindo em direção ao alcance de um
equilíbrio demográfico. Segundo Wood e Carvalho (1994), após um período com taxa de
fecundidade alta e constante no Brasil, o ritmo da transição da fecundidade alta para a
fecundidade baixa representou o evento demográfico mais significativo da história do país.
A natalidade foi diminuindo devido à mudança de comportamento quanto à fecundidade,
em decorrência de vários fatores, por exemplo: aumento significativo do uso de métodos
8
O termo neomalthusianismo surge das idéias de Thomas Malthus. Trata-se de uma leitura acerca do
crescimento populacional que se concentra nos aspectos negativos desse crescimento em países pobres,
tratando-a como explosão demográfica. Esta idéia trás implícita a realidade da distribuição desigual de
recursos e população no espaço. Os neomalthusianos entendem que a pobreza e o subdesenvolvimento
seriam gerados pelo grande crescimento populacional.
42
anticoncepcionais, adaptação de estratégias de sobrevivência familiar a partir da
diminuição da renda per capita familiar e ascensão da economia urbano-industrial
(levando à migração do campo para a cidade) e participação da mulher no mercado de
trabalho (WOOD; CARVALHO, 1994). Segundo os autores, diversos indicadores do
desenvolvimento socioeconômico mostram que o Brasil se tornou uma sociedade
crescentemente urbana, com base industrial em expansão e população de nível educacional
mais alto e sujeita a taxas de mortalidade mais baixas. Como conseqüência, a população
ajustou o seu comportamento reprodutivo ao crescimento da economia e às transformações
estruturais que acompanharam o processo de desenvolvimento.
Ao elaborar uma análise da dinâmica demográfica brasileira no decorrer do
século XX, Berquó (2001) identifica quatro fases marcantes. Segundo a autora, no século
passado o país teve sua população aumentada enormemente, embora este crescimento
populacional não tenha ocorrido em ritmo uniforme. No início do século, até
aproximadamente 1940, houve um crescimento populacional significativo, justificado pela
elevada contribuição da migração estrangeira, sobretudo até 1920, e pelas altas taxas de
natalidade e mortalidade. A partir de 1930, o crescimento vegetativo passa a ser a variável
demográfica mais relevante para a dinâmica demográfica e para o crescimento
populacional devido à diminuição da migração estrangeira. No período de 1940 a 1960, o
elevado crescimento da população é associado à manutenção das altas taxas de natalidade e,
principalmente, à queda da mortalidade, o que pode ser verificado pelo aumento de mais de
10 (dez) anos na expectativa de vida da população. Entre 1960 e 1980, houve a redução do
crescimento populacional, devida principalmente à queda da fecundidade, considerada o
fator responsável por essa etapa da transição demográfica. A partir de 1960 o ritmo de
crescimento anual da população começou a desacelerar, associado ao declínio da
fecundidade. Enquanto isso, a mortalidade manteve o ritmo descendente do período
anterior. A partir de 1980, o papel da queda da fecundidade continuou decisivo na redução
do crescimento da população, pois houve diminuição ainda mais acentuada no crescimento
populacional em decorrência da drástica redução da fecundidade. Em última análise a
autora identifica que, no decorrer do século XX, “[...] as mulheres no Brasil reduziram a
sua prole, em média, em 5,5 filhos, enquanto houve um ganho de 35 anos na expectativa
de vida dos brasileiros” (BERQUO, 2001, p. 17).
Essas alterações populacionais afetaram diretamente e de forma significativa a
estrutura etária da população, passando-se de uma pirâmide de base larga e forma
triangular que caracteriza regimes demográficos de altas taxas de fecundidade e
43
mortalidade para uma pirâmide etária mais uniforme, típica de regimes de grande redução
na fecundidade (BERQUO, 2001). A autora salienta ainda que os níveis e tendências da
mortalidade e fecundidade apresentaram variações sociais e regionais.
A pirâmide etária é um instrumento importante para a compreensão da
estrutura etária da população, pois facilita a visualização do contingente populacional
dividido por sexo e por grupos de idade
9
. A observação das pirâmides etárias que se
seguem permite acompanhar visualmente a queda da fecundidade nas décadas de 1960 a
2000 (ver Figuras 2 a 6). Percebe-se uma mudança gradativa do primeiro para último caso;
evolui-se de uma representação notadamente em formato triangular, com a base da
pirâmide (que representa a população mais jovem) larga, para uma pirâmide etária mais
uniforme, no decorrer das décadas.
Figura 2 – Pirâmide etária brasileira em 1960
-4,32
-2,37
7,86
7,13
6,08
5,31
4,62
3,87
3,23
2,86
2,26
1,89
1,51
1,1
0,98
0,56
0,88
0,75
8,00
7,37
6,12
4,95
3,63
3,21
2,82
0,56
1,02
1,17
1,58
1,99
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70 ou +
H M
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
Figura 3 – Pirâmide etária brasileira em 1970
7,35
7,46
6,37
5,65
4,57
3,58
3,08
2,78
2,42
1,87
1,56
1,21
0,95
0,65
0,96
7,48
7,30
6,37
5,36
4,33
3,40
3,00
2,66
2,45
1,92
1,59
1,24
0,96
0,64
0,84
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70 ou +
H M
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
9
As pirâmides etárias o instrumentos de análise da população que informam o mero de pessoas por
sexo e faixas etárias. Na base das pirâmides está representada a população jovem e no topo a população idosa.
44
Figura 4 – Pirâmide etária brasileira em 1980
6,91
6,16
5,98
5,75
4,91
4,06
3,28
2,72
2,42
1,97
1,75
1,34
1,07
0,86
1,28
7,04
6,30
6,01
5,60
4,73
3,87
3,17
2,62
2,37
1,92
1,70
1,32
1,00
0,83
1,06
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70 ou +
H
M
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
Figura 5 – Pirâmide etária brasileira em 1990
5,33
5,9
5,74
5,02
4,48
4,29
3,66
3,41
2,84
2,21
1,93
1,62
1,4
1,05
1,711,59
0,93
1,24
1,49
1,69
2,16
2,62
3,22
3,57
3,92
4,37
5,13
5,80
6,13
5,55
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70 ou +
H
M
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
Figura 6 – Pirâmide etária brasileira em 2000
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
4,40
4,45
4,69
4,88
4,43
3,85
3,45
3,64
3,45
2,97
2,46
1,99
1,56
1,34
1,06
0,83
1,14
6,57
4,55
6,73
6,17
4,38
3,73
2,36
2,05
2,80
2,23
2,31
1,65
1,36
1,17
1,43
0,82
0,67
-10
-8 -6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
0
-
4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45
-
49
50
-
54
55
-
59
60-64
65-69
70-74
75-79
80 ou +
H
M
45
O maior destaque que tem tomado a questão migratória em vários âmbitos no
final do século XX, como destacam Pacheco e Patarra (1997), se deve à tendência de
convergência dos níveis de fecundidade e mortalidade [...]” (PACHECO; PATARRA,
1997, p. 445). Segundo os autores, a partir dessa convergência, a migração apresenta maior
expressividade, pois tornam-se mais nítidas as disparidades da alocação da população
no espaço e suas mudanças, em função de movimentos migratórios intensos, variados e em
crescente diversidade [...]” (PACHECO; PATARRA, 1997, p. 445). Dessa forma, a
migração como dimensão da dinâmica demográfica se torna crucial, pois as alterações
numéricas e da estrutura etária da população são devidas mais aos movimentos migratórios
do que às taxas de natalidade e mortalidade, que estas se apresentam relativamente
baixas e estáveis quando comparadas a períodos anteriores.
1.4 – A Migração no Brasil Contemporâneo
No período que antecede a década de 1930, verificava-se no Brasil grande
importância das imigrações internacionais, decorrentes de uma política migratória
caracterizada pela substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho do imigrante
assalariado, principalmente europeu (PACHECO; PATARRA, 1997). A primeira
constituição brasileira, outorgada por D. Pedro I em 1824, reconheceu a importância da
colônia alemã de São Leopoldo devido à presença dos migrantes. Segundo Vainer (1995),
o surgimento do estado nacional brasileiro é contemporâneo à instituição da imigração
como questão de Estado. A persistência da escravidão constituía um forte obstáculo aos
projetos de intensificar a migração para o Brasil, no entanto “a escassez relativa e o
aumento do preço do escravo, decorrentes da proibição do tráfico negreiro a partir de
1850 suscitaram [...] uma transferência de ‘braços’ [...] (VAINER, 1995, p. 41-42). A
falta de mão-de-obra para a expansão da produção cafeeira torna-se uma questão nacional
de grande importância, determinando os ritmos e modalidades de transição do trabalho
escravo para o trabalho livre (VAINER, 1995).
O ponto culminante das migrações européias em direção ao Brasil ocorreu nas
duas últimas décadas do século XIX. Em 1930 surgiram as primeiras restrições à imigração
estrangeira no país, momento em que os movimentos migratórios internos se
46
intensificavam. A política imigratória adotada pelo Conselho de Imigração e Colonização
em 1940 indicava a necessidade de “[...] evitar os elementos indesejáveis e os de difícil
assimilação, e promover a entrada de boas correntes migratórias em harmonia com a
expansão econômica do país” (VAINER, 1995, p. 44). Segundo Vainer (1995) o Estado,
neste contexto, se esforça para atender às seguintes necessidades: econômica (“braços
adestrados e disciplinados”), eugênica (“doses crescentes de sangue branco”) e formação
de um povo nacional (construção de um povo nacionalmente unificado e integrado sob
padrões culturais homogêneos) (VAINER, 1995).
Os movimentos populacionais que caracterizavam a migração interna do
período após 1930 estão vinculados às transformações econômicas, sociais e políticas
vividas pela sociedade brasileira. Inicialmente, as migrações tinham como principal destino
São Paulo, estado que exercia grande atratividade, devido ao seu desenvolvimento
industrial e à expansão de sua agricultura. A dinâmica de acumulação cafeeira estava sendo
superada e substituída pela acumulação baseada nas atividades industriais, iniciando-se o
processo de industrialização brasileira. Esse processo promoveu alterações na base
econômica brasileira, pois ao “[...] redefinir as articulações da economia, passou a
provocar, no meio rural tanto situações de expulsão de população como situações de
incorporação no segmento urbano [...]” (PACHECO; PATARRA, 1997, p 454). Segundo
Pacheco e Patarra (1997), os efeitos migratórios de tais processos foram bastante
diversificados, dentre os quais identificam-se as migrações das áreas rurais para as cidades,
constituição dos movimentos em direção às fronteiras agrícolas e intensificação das
migrações sazonais, decorrentes do descontínuo processo de assalariamento da mão-de-
obra rural.
As características da migração brasileira no período em que os movimentos
populacionais internos ganharam destaque são apresentadas por Graham e Holanda Filho
(1980). Segundo os autores, a migração inter-regional no Brasil teria aumentado entre 1920
e 1940, permanecido constante nos anos 1940, intensificado-se na década de 1950 e
arrefecido nos anos de 1960. O desenvolvimento industrial paulista a partir de 1930 tem
grande importância por provocar intenso deslocamento de nordestinos para São Paulo. Os
autores também destacam a intensificação da migração de fronteira”, associada ao
desenvolvimento do estado do Paraná e posteriormente de Goiás e Mato Grosso, fazendo
com que a migração entre áreas rurais representasse um aspecto importante dos
movimentos populacionais entre as regiões brasileiras neste período. Quanto às migrações
de caráter rural-urbano, Graham e Holanda Filho (1980) as apresentam como típicas de
47
fases inicias de crescimento econômico de uma nação(GRAHAM; HOLANDA FILHO,
1980, 743), o que estaria ocorrendo no Brasil.
A partir da percepção da intensidade dos movimentos migratórios de áreas
rurais para espaços urbanos, Pacheco e Patarra (1997) chamam a atenção para as
contribuições da abordagem de Singer:
Para este autor, o processo de substituição de importações implicava
numa reestruturação dos setores básicos da economia, ou seja, o setor
de subsistência, o de exportação e o de produção para o mercado
interno, reestruturação esta que tinha na redistribuição da população
no espaço uma contrapartida constitutiva e imprescindível.
(PACHECO; PATARRA, 1997, p. 453).
No contexto de transformações na economia do país, as áreas rurais estagnadas
ou em transformação são responsáveis pela liberação de excedentes populacionais para
serem recebidos como trabalhadores urbano-industriais. Esta interpretação das migrações
internas relaciona o crescimento populacional e a concentração urbano-industrial. O grande
fluxo migratório analisado era uma etapa particular do desenvolvimento das sociedades
latino-americanas, dando origem ao conhecido êxodo rural (PACHECO; PATARRA,
1997). De qualquer forma, ocorre uma mudança no padrão migratório no Brasil
contemporâneo acompanhado de uma expressiva redistribuição da população nos espaços
nacionais.
O processo de redistribuição da população brasileira desde os anos de 1960 foi
analisado por Pacheco e Patarra (1997), que destacaram as idéias de Martine, segundo as
quais a redistribuição populacional deste período abrangia duas dimensões
complementares, a inter-regional e a rural-urbano (PACHECO; PATARRA, 1997, p.
455). Forças centrífugas conduziam a população às áreas de fronteira agrícola, e forças
centrípetas faziam com que ela se concentrasse em grandes aglomerados urbanos, o que era
percebido através de desenvolvimentos regionais distintos e desiguais. Segundo os autores,
os anos de 1970, aproximadamente, foram marcados pela falência das fronteiras agrícolas
como áreas de atração e de fixação populacional e as áreas metropolitanas se tornaram o
destino dos principais fluxos migratórios. Após a cada de 1980, algumas cidades médias
da região Sudeste se tornaram importantes como destino dos movimentos migratórios
(PACHECO; PATARRA, 1997).
A mudança nos destinos das migrações no Brasil se relaciona ao processo de
distribuição da população brasileira identificado por estudos realizados até a década de
1970, que destacavam o crescente e intenso movimento de concentração, considerado sob
48
vários âmbitos. Segundo Baeninger (2000) este movimento se caracteriza por:
concentração da migração, com a predominância do fluxo para o Sudeste; concentração do
processo de urbanização, com a enorme transferência de população do campo para a
cidade, quando cerca de 15,6 milhões deixaram as áreas rurais nesse período (MARTINE,
1994 apud BAENINGER, 2000); e, concentração da população, manifestada no processo
de metropolização. A partir das alterações no espaço brasileiro, fica claro que esse período
foi marcado pela concentração das atividades econômicas (principalmente industriais) e
conseqüente concentração da população destacando-se a região Sudeste, o estado e a
cidade de São Paulo.
Os anos de 1970 marcaram o ápice do processo de concentração populacional
na região Sudeste, sobretudo em São Paulo. Neste contexto, Pacheco e Patarra (1997)
indicam que as causas determinantes das migrações seriam representadas pelas “[...]
mudanças na estrutura agrária e no desenvolvimento econômico das cidades de cada
região (PACHECO; PATARRA, 1997, p. 456). Nesta década, a migração rural-urbana
que atingiu grande intensidade, chegando a alcançar a cifra de 15,6 milhões de pessoas,
estava associada ao processo de modernização agrícola. No entanto, esta mesma década
convivia com sinais que indicavam desconcentração da atividade econômica e
conseqüentemente desconcentração populacional (PACHECO; PATARRA, 1997).
No estudo das migrações não se pode deixar de fazer referência à ligação direta
entre os movimentos populacionais e o processo de urbanização e desenvolvimento
econômico do país, principalmente no que se refere aos movimentos migratórios mais
recentes. O padrão de urbanização verificado no Brasil nas últimas décadas do século
passado foi marcado por pido crescimento e, como a população se desloca
preferencialmente para áreas urbanas, esse crescimento levou à concentração da população.
Assim, a urbanização colaborou para a emergência de grandes metrópoles e também para a
expansão de uma diversificada rede urbana nacional (BAENINGER, 1999). Outra
conseqüência desse processo de urbanização, segundo Baeninger (2000), foi a
complexidade e diversificação dos deslocamentos populacionais. Isso porque o acelerado
processo de urbanização experimentado pelas regiões brasileiras, em seu conjunto nas
últimas décadas, vem redefinindo aspectos importantes do processo de distribuição
espacial da população brasileira (BAENINGER, 2000, p. 1). Segundo a autora, essa
mudança nos movimentos migratórios tem propiciado a expansão dos espaços da migração,
através da incorporação de novas áreas de absorção populacional.
49
Outro aspecto diretamente relacionado à migração é a heterogeneidade espacial
da economia brasileira. Esta heterogeneidade pode ser considerada como uma herança
histórica da forma de ocupação do território (PACHECO; PATARRA, 1997) e também
contribui para a concentração populacional. As desigualdades econômicas que estimulam
as migrações são associadas por Balán (1980) ao desenvolvimento regional e aos
desequilíbrios e relações entre as regiões. No entanto, o autor considera que o lócus do
processo de desenvolvimento esnas cidades, onde se encontram radiados os interesses
dos setores dinâmicos e onde se dão os processos de decisão (BALÁN, 1980).
A respeito dos processos de concentração e desconcentração da população no
espaço, Matos (1995) comenta sobre os fatores que conduzem à formação de estruturas
espaciais concentradas. A princípio, é importante considerar a distribuição diferenciada de
recursos naturais e populacionais no espaço. A distribuição desigual de recursos naturais
poderia contribuir para a “[...] cristalização diferenciada de vantagens comparativas inter-
regionais(MATOS, 1995, p. 2). Da mesma forma, a população pode ser vista como um
recurso capaz de induzir a concentração da produção e assim atrair mais população. No
entanto, esse processo de atração da população não se desenvolve indefinidamente,
havendo um limite para a concentração populacional. Os problemas gerados pelas intensas
aglomerações populacionais acabam por exercer um papel de repulsão de novos migrantes
e a população perde seu potencial de atrair mais população, passando a funcionar como
aspecto repulsor.
As cidades são apresentadas como áreas fundamentais dentro dessa discussão,
pois elas são condicionantes do crescimento econômico, devido ao oferecimento de infra-
estrutura para as atividades, ao mesmo tempo que atraem para si outros fatores econômicos
que favorecem, assim, o desenvolvimento das economias de aglomeração devido às
vantagens aglomerativas. Matos (1995) destaca o papel fundamental exercido pela
migração interna: é indiscutível a importância da migração, em termos econômicos, como
um fator chave da formação dos mercados de trabalho e de consumo, colaborando
diretamente para o processo de concentração espacial (MATOS, 1995, p. 28). A
mobilidade populacional brasileira iniciada nas primeiras décadas do século passado teria
ocorrido a partir de alterações estruturais no interior da economia e do surgimento das
condições básicas para a expansão modernizadora da região Sudeste. Segundo o autor, a
migração pode ser considerada o principal componente explicativo do crescimento
acelerado de muitos centros urbanos no Brasil. Apesar de as vantagens aglomerativas
serem uma realidade nas grandes cidades, há que se considerar a quebra da tendência
50
aglomerativa quando as vantagens o conseguem encobrir os problemas advindos de uma
concentração excessiva. Há, portanto, um limite a partir do qual a concentração
populacional se torna insuportável.
Embora tenha sido verificado um período de intensa concentração industrial e
populacional no Brasil, informações sobre o desempenho industrial mostram que a
“desconcentração” a partir da Grande São Paulo continuou tendo dois sentidos: o restante
da periferia nacional, como a região Norte, Centro-oeste, Bahia, Minas Gerais, Paraná; e o
interior de São Paulo (PACHECO; PATARRA, 1997). Verifica-se uma reestruturação
territorial no país, iniciada pela diminuição do crescimento das metrópoles. Essa
reestruturação é definida por alguns autores, por exemplo Redwood (1984), como reversão
da polarização por Diniz (1993) como desenvolvimento poligonal (restrito a um polígono
delimitado por alguns pontos na região centro-sul). Segundo Matos (2005), “[...] áreas de
máxima centralidade vêm perdendo expressão demográfica, enquanto outros espaços
emergem participando de uma espécie de reestruturação territorial (MATOS, 2005, p.
78). Outras expressões também são utilizadas por autores variados ao se referirem a esse
período como, por exemplo, deseconomias de aglomeração, descentralização econômica e
desindustrialização. Atividades econômicas, principalmente industriais, são redirecionadas
para cidades do interior dos estados, especialmente de São Paulo, levando a uma
redistribuição populacional devido ao oferecimento de empregos nessas cidades. Com isso,
as cidades secundárias apresentam crescimento econômico e populacional mais
significativo do que as áreas metropolitanas, que continuam a crescer, embora em ritmo
menos acelerado.
As peculiaridades do processo de descentralização econômica baseado na
relocalização industrial podem ser identificadas a partir de estudo mais detalhado. Está
claro que houve uma redistribuição das indústrias, no entanto essa redistribuição pode ter
ocorrido apenas com alguns tipos de indústrias, enquanto outros tipos tenderiam a
permanecer nas grandes cidades devido à necessidade de mão-de-obra especializada ou
outros fatores. inclusive alguns comentários a respeito de uma possível reconcentração
industrial a partir dos espaços deixados pelas primeiras indústrias. A questão é abordada
por Matos (2005):
[...] Se paralelamente à desconcentração demográfica também se
um processo similar de descentralização econômica, pode-se argüir
sobre que setores estariam perdendo expressão ou deixando as
metrópoles e quais os que se mantêm atrelados aos atributos de
centralidade das grandes cidades (MATOS, 2005, p. 78).
51
Nas cadas de 70 e 80, houve uma desconcentração industrial de São Paulo,
evidenciada por vários autores, advinda do investimento do governo em incentivos e infra-
estrutura, da formação de deseconomias de aglomeração na área metropolitana e da
formação de economias de aglomeração em outras regiões, no processo de unificação do
mercado nacional. Redwood (1984) identifica alguns fatores de incentivo à
desconcentração econômica e populacional: o aumento da poluição, do crime e da
marginalidade, aumento dos custos da terra e do trabalho e do custo de vida das grandes
cidades, na medida do seu crescimento. Paralelamente à diminuição da importância das
metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, verifica-se o aumento da importância das
metrópoles regionais na economia do país. Essa desconcentração econômica no Brasil é
associada também à intervenção do Estado. Algumas metas e investimentos públicos como,
por exemplo, o projeto de interiorização do desenvolvimento nacional expresso pelo Plano
de Metas
10
permitiram o incremento de novas áreas industriais.
As características migratórias a partir dos anos 80 apontam para a existência de
novos padrões, verificando-se uma significativa diversidade de situações de deslocamentos
populacionais e uma forma muito distinta com que essa diversidade se manifestou no
território nacional (PACHECO; PATARRA, 1997). Houve transformações acentuadas nos
volumes, fluxos e características dos movimentos migratórios no Brasil neste período.
Segundo os autores, verifica-se uma nítida inversão da tendência ocorrida na Região
Metropolitana de São Paulo, que, conforme dados do Censo Demográfico de 1991 passou
de um saldo migratório positivo de aproximadamente 2,5 milhões de pessoas para um
saldo migratório negativo de 700 mil pessoas(PACHECO; PATARRA, 1997, p. 458).
Paralelamente, hoje, identificam-se níveis mais baixos de crescimento populacional das
áreas metropolitanas (em parte, associados à queda da fecundidade), maior incidência de
migrações intra-regionais e de curta distância e aumento dos níveis de migração de retorno.
Todas estas alterações estariam justificando a idéia de que maior equilíbrio na
distribuição populacional e que os motivos que levam a essas alterações nos padrões
migratórios podem estar relacionados à maior integração do país à economia mundial.
Talvez, por isso mesmo, evidencia-se a tendência de maior crescimento de cidades dias
e configuração de periferias no entorno de centros urbanos maiores.
10
O Plano de Metas foi criado em 1956, durante o governo de Juscelino Kubitschek no Brasil. Dentre as
alterações verificadas a partir da proposta de 31 (trinta e uma) metas, destaca-se o incentivo ao processo de
integração do território nacional através da construção da cidade de Brasília que passa a ser a nova capital, e
da unificação do país, favorecendo o contato entre regiões até então mais isoladas através dos investimentos
em meios de transporte, principalmente rodoviários.
52
Várias alterações substanciais nos padrões de crescimento populacional no
Brasil são identificadas por Matos (2005). Os dados demográficos da década de 1960
mostravam os migrantes como protagonistas do processo de expansão urbana e da
dinâmica de redistribuição da população no espaço, como informa Matos (2002),
principalmente devido à redução gradativa da fecundidade. A partir dos anos 1970, as
migrações internas deixam de ser majoritariamente de tipo campo-cidade (MATOS,
2002, p. 50) e os movimentos de caráter urbano-urbano crescem até se tornarem mais
significativos em quase todo o território. Movimentos do tipo campo-cidade perdem a
primazia a favor de um padrão mais disperso de tipo urbano-urbano, apoiado na presença
de redes urbanas densas e em expansão(MATOS, 2002, p. 51). Verifica-se também uma
alteração no perfil dos migrantes que se deslocam como resultado do processo de
desconcentração espacial iniciado na década de 1970. Estes migrantes exibem melhor
qualificação em função da sua origem urbana. No desenvolvimento de um trabalho de
pesquisa, Matos (2002) buscou comprovar a hipótese de que
[...] os trabalhadores migrantes integrantes dos fluxos de
desconcentração populacional são significativamente mais experientes
para o trabalho urbano e mais instruídos que os demais trabalhadores
migrantes, operando, portanto como vetor de redinamização dos
mercados de trabalho em termos de qualificação ocupacional, e
contribuindo, em alguma medida, para a redução das disparidades
regionais (MATOS, 2002, p. 52).
Nas décadas precedentes, excedentes populacionais alimentaram fortes
movimentos migratórios em direção às grandes metrópoles e áreas de fronteira de recursos,
mas agora os movimentos da população no espaço ganharam outras dinâmicas. Atualmente,
Matos (2005) identifica novos movimentos populacionais: em direção a regiões litorâneas
dos estados, para as cidades dias, considerando ainda que de fato, as décadas de 1980
a 1990 marcaram a emergência de novas territorialidades que influíram nos movimentos
migratórios” (MATOS, 2005, p. 126).
1.4.1 – A migração em Minas Gerais
Os estados do Nordeste e Minas Gerais herdaram contingentes populacionais
expressivos em determinados períodos econômicos vivenciados pelo Brasil (PACHECO;
53
PATARRA, 1997). Isso ocorreu, sobretudo, por estas áreas terem sediado os ciclos
econômicos mais importantes do país até a metade do século XIX. Posteriormente, essa
população aos poucos foi emigrando da região Nordeste e do estado de Minas Gerais.
Estes locais, então, ficaram conhecidos por perderem população devido ao grande número
de pessoas que se dirigiram para áreas mais dinâmicas do país. O estado de Minas Gerais
foi um dos que mais se destacou durante muito tempo dentre os que perderam população
no Brasil.
Após 1930, segundo Pacheco e Patarra (1997), a região Nordeste e o estado de
Minas Gerais transformaram-se em áreas tipicamente expulsoras de população. A esse
respeito, Matos (2005) salienta que o dinamismo dos principais centros do Sudeste, as
fronteiras agrícolas em expansão e as decorrentes dificuldades econômicas internas foram
importantes fatores que explicam a emigração mineira ao longo do século XX” (MATOS,
2005, p. 177). O autor acrescenta como possível contribuição para a condição emigratória
mineira o fato de o estado ter experimentado grande acúmulo de população, especialmente
ao longo do século XIX. Com expressivos estoques populacionais e vivenciando a perda
do dinamismo econômico no fim do século XIX, seria de se esperar a liberação de grandes
grupos populacionais. A respeito das justificativas das perdas populacionais verificadas no
estado de Minas Gerais, Matos (2005) destaca:
Nas primeiras décadas do século XX, com a intensificação do
processo de industrialização e urbanização, aumentaram as saídas de
migrantes rumo ao estado de São Paulo e, um pouco depois, rumo às
fronteiras agrícolas do norte do Paraná e do Centro-Oeste. Se de um
lado, a pujança econômica paulista operava como um fator de atração
populacional, de outro a decadência de determinadas regiões mineiras
mostrava-se patente, sobretudo nas áreas rurais (MATOS, 2005, p.
177).
O estado de São Paulo e, sobretudo sua Região Metropolitana, apresentaram
em meados do século XX a posição de principais áreas receptoras de emigrantes de Minas
Gerais (MATOS, 2005). Na década de 1970, verificou-se o ponto culminante dos grandes
volumes migratórios brasileiros e São Paulo apresentou o maior saldo migratório da
história brasileira, com um ganho de mais de 3,5 milhões de pessoas. Nesta década, Minas
Gerais “[...] apresentava um arrefecimento de suas perdas populacionais, o que se
refletia na redução do saldo negativo. [...] Essa tendência de redução se confirmou com os
dados de 1980 [...]” (MATOS, 2005, p. 178).
O contingente populacional que deixou os municípios mineiros e se dirigiu a
outras áreas, principalmente ao estado de São Paulo, pode ser visualizado na análise das
54
pirâmides etárias das duas unidades da federação. A pirâmide etária mineira em 1960 (ver
Figura 7) demonstra uma estrutura populacional muito próxima à nacional para o mesmo
período (ver Figura 2), com grande natalidade verificada pela largura da sua base e pela
forma triangular.
Figura 7 – Pirâmide Etária de Minas Gerais em 1960
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
Quando se compara as informações anteriores à estrutura populacional
representada pela pirâmide etária de Minas Gerais em 1970 (ver Figura 8), se pode notar
que uma diminuição da população localizada na base da pirâmide e nas faixas etárias
dos 25 aos 50 anos. A diminuição da população nas faixas etárias superiores indica a
população que deixa o estado através dos movimentos migratórios, enquanto o
estreitamento da base da pirâmide demonstra que o estado acompanha a tendência nacional
de queda da fecundidade, acrescentando-se também a diminuição relativa dos nascimentos
devido a perda de população em idade fértil. A pirâmide etária de Minas Gerais em 1980
(ver Figura 9) permite visualizar a permanência de pequena alteração nas faixas etárias da
população jovem, assim como o avanço do processo de envelhecimento da população. A
pirâmide etária representativa do estado de Minas Gerais no ano 2000 apresenta a
composição mais recente da população (ver Figura 10), com destaque para a queda ainda
maior nas taxas de natalidade, o que se verifica a partir da diminuição da base da pirâmide.
8,49
7,56
6,19
5,05
4,32
3,15
3,02
2,42
2,29
1,98
1,6
1,1
1,02
0,54
0,64
8,84
7,94
6,30
4,86
4,07
3,42
3,03
2,62
2,30
2,14
1,70
1,24
1,09
0,48
0,60
-10
-
8
-6
-
4
-2
0
2
4
6
8
10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25
-
29
30-34
35
-
39
40-44
45-49
50
-
54
55-59
60
-
64
65-69
70 ou +
H
M
55
Figura 8 – Pirâmide Etária de Minas Gerais em 1970
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
Figura 9 – Pirâmide Etária de Minas Gerais em 1980
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005
Figura 10 – Pirâmide Etária de Minas Gerais em 2000
4,44
4,62
4,90
5,16
4,67
4,02
3,92
3,82
3,32
2,73
2,19
1,76
1,52
1,24
0,93
0,61
0,68
4,59
4,77
5,05
5,28
4,75
3,95
3,78
3,66
3,22
2,62
2,09
1,61
1,36
1,06
0,76
0,48
0,45
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70-74
75-79
80 ou +
H M
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005
6,7
6,2
6,12
6,05
4,99
3,89
3,09
2,66
2,39
1,99
1,71
1,31
1,08
0,89
1,23
6,77
6,24
6,21
5,95
4,94
3,81
3,03
2,56
2,36
1,97
1,68
1,29
1,01
0,85
1,03
-10 -8
-
6
-4 -2
0
2
4
6
8
10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25
-
29
30-34
35-39
40
-
44
45-49
50-54
55
-
59
60-64
65-69
70 ou +
H
M
7,32
7,38
6,77
5,93
4,5
2
3,45
2,96
2,78
2,35
1,83
1,57
1,2
0,96
0,63
0,85
7,44
7,51
6,81
5,66
4,23
3,20
2,82
2,61
2,33
1,82
1,56
1,21
0,94
0,61
0,75
-
10
-
8
-
6
-
4
-
2
0
2
4
6
8
10
0
-
4
05 9
10 14
15-19
20
-
24
25-29
30
-
34
35-39
40-44
45-49
50-54
55
-
59
60-64
65
-
69
70 ou +
H
M
56
Recentemente, pesquisas mostraram uma alteração da histórica perda
populacional em Minas Gerais, estabelecendo-se novos padrões nas trocas populacionais
envolvendo os estados de Minas Gerais e São Paulo. Isso ocorre principalmente quando o
estado de São Paulo passa pelo processo de desconcentração espacial das atividades
industriais e de população (MATOS, 2005). Este aspecto é comentado por Baeninger
(2000), ao analisar detalhadamente os fluxos populacionais entre os dois estados. Nos anos
de 1970, se podia identificar um incipiente processo de reversão emigratória da área,
sendo que 35,6% dos migrantes de Minas Gerais estavam retornando ao estado. Nota-se
que o processo de desconcentração das atividades econômicas que marcava o período de
1970 e 1980 beneficiou Minas Gerais, [...] podendo ter contribuído, nesse período,
para a absorção de sua população natural, bem como para atração e, inclusive, refluxo de
população” (BAENINGER, 2000, p. 4).
A notoriedade do aumento da capacidade de retenção de população pelo Estado
de Minas Gerais nas últimas décadas é destacada por Garcia e Miranda Ribeiro (2005).
Segundo os autores, a migração de retorno tem representado um papel importante no
cenário geral das migrações no Brasil, conforme pesquisas realizadas na região Nordeste e
no estado do Paraná. Para analisar os efeitos diretos da migração de retorno em uma
unidade da federação, considera-se “[...] todo o natural que tenha retornado a esta unidade
da federação (UF) no decênio anterior à do censo utilizado como fonte de dados
(GARCIA; MIRANDA RIBEIRO, 2005, p. 160).
No caso do estado de Minas Gerais, Garcia e Miranda Ribeiro (2005)
verificaram que dos 465 mil imigrantes decenais recenseados em 1980, cerca de 167 mil
(36%) eram retornados, ou seja, naturais de Minas Gerais que retornaram ao Estado no
decênio anterior. Dos quase 800 mil imigrantes decenais recenseados em 1991, cerca de
47,5% (381 mil, aproximadamente) eram retornados, e em 2000, a proporção de retornados,
dentre os migrantes decenais é próxima à observada em 1991, de cerca de 45% (426 mil
dos 950 mil imigrantes) (GARCIA; MIRANDA RIBEIRO, 2005)
11
.
11
Os autores também chamam a atenção para as conseqüências diretas no aumento da população do
estado advindas da migração de retorno. No decênio 1970/1980, 30 (trinta) mil crianças que nasceram em
Minas Gerais foram resultado da migração de retorno, ou seja, o filhos de mulheres que retornaram neste
período. Entre 1981 e 1991, este número subiu para 55 mil crianças e, no período seguinte, entre 1991 e 2000,
foram quase 46 mil crianças. Apesar de o número de mulheres retornadas ter crescido entre 1991 e 2000, a
razão criança-mulher diminuiu, o que explica a queda no número de crianças nascidas no decênio anterior ao
censo 2000. Isso não aconteceu no decênio 1981/1991, porque o número de mulheres retornadas, observado
em 1991, era muito maior que o número observado em 1980, o que compensou a queda da razão entre
crianças e mulheres (GARCIA e MIRANDA RIBEIRO, 2005).
57
Através das análises numéricas da população migrante no estado de Minas
Gerais, Garcia e Miranda Ribeiro (2005) demonstram o aumento crescente da capacidade
do estado de reter população. Pela primeira vez em décadas, o volume de pessoas que
adentram nas alterosas mineiras foi, durante a década de 90, superior ao das que saíram,
resultando num salto migratório positivo (GARCIA; MIRANDA RIBEIRO, 2005, p.
174). Nesse sentido, é nítida a intensificação dos volumes de entrada de pessoas nesta
unidade da federação, pois houve aumento significativo da imigração em Minas Gerais,
uma vez que o número de migrantes duplicou, entre 1980 e 2000. Tendo em vista a
migração de retorno verificada no estado de Minas Gerias nas últimas décadas e a reversão
da tendência à perda populacional, vivenciada durante muito tempo, são necessárias
algumas reflexões sobre a permanência ou fixação da população nas cidades de origem ou
de residência, aqui denominada não-migração. Por isso, a identificação e análise dos
fatores que contribuem para a decisão de não migrar constituem importante instrumento
para compreensão da dinâmica demográfica do estado.
1.5 – Aspectos Relativos à Não-migração
As reflexões sobre o crescimento da população brasileira e, principalmente,
sobre a participação dos movimentos migratórios mais recentes na alteração das
características da dinâmica demográfica sinalizam a importância que pode ser conferida à
não-migração. Esta, também se apresenta como realidade no país e devido as recorrentes
alterações nos padrões demográficos a análise e identificação dos fatores determinantes
adquirem potencial explicativo para a compreensão mais ampla da organização da
população no espaço.
Partindo de alguns pontos anteriormente colocados sobre os deslocamentos
migratórios, cabe fazer alguns questionamentos que buscam elucidar a participação da não-
migração na dinâmica demográfica.
As áreas rurais brasileiras se configuraram como importantes espaços de
liberação de excedentes de população durante importante período dos movimentos
migratórios. A migração do tipo campo-cidade era justificada pelo crescimento
populacional decorrente da caracterização da dinâmica demográfica, que ainda não havia
58
passado pelo processo de transição demográfica. No entanto, fica claro que os padrões
migratórios se alteraram, constituindo-se principalmente de fluxos do tipo urbano-urbano.
Com relação ao crescimento populacional, a transição demográfica se completou e o
crescimento atual apresenta-se como baixo e estável, não gerando os chamados excedentes
populacionais.
Se a liberação de população de áreas rurais para as cidades esgotou-se e este
fator explicativo chave das migrações tende a desaparecer, isso pode dar origem a um
outro momento em que passa a predominar a não-migração?
Se não excedentes populacionais, seja porque a transição demográfica
brasileira se completou ou, até porque quem tinha de migrar migrou, como explicar a
permanência nos lugares dos que não migraram?
A população, vista como um recurso que pode induzir a concentração da
produção e assim atrair mais população, contribuiu para elevar o crescimento das grandes
cidades brasileiras. No entanto, verifica-se que este potencial de atração o se desenvolve
permanentemente, podendo surgir novas tendências. As intensas aglomerações
populacionais acabaram por gerar problemas que passaram a inibir movimentos
migratórios em áreas de intensa emigração.
Quais as conseqüências da intensa aglomeração populacional para a
permanência da população em suas localidades de origem, destacando-se, neste contexto, a
importância da não-migração?
Depois de uma intensa concentração populacional associada à concentração da
atividade industrial, a dinâmica demográfica passa a experimentar um processo de
desconcentração. Os grandes centros, especialmente São Paulo, não apresentam mais
crescimento demográfico acentuado, como se verificou no período de concentração. As
cidades do interior, especialmente as cidades médias, passam a ser alvo do processo de
desconcentração. A redistribuição da população no espaço passa a ocorrer privilegiando as
cidades secundárias que apresentam crescimento econômico mais significativo, inclusive
se constituindo como movimentos de migração de retorno.
Em que medida o processo de desconcentração inibe a migração para os
grandes centros urbanos, incentivando a permanência da população em localidades
menores? Poderia este processo de desconcentração populacional estar relacionado
também à não-migração?
59
Alguns fatores podem ser enumerados e entendidos como causa da alteração de
tendências migratórias e motivadores da desconcentração e redistribuição demográfica
verificada no Brasil, como a
[...] escassez de postos de trabalho em grandes centros urbanos e
surgimento concomitante de oportunidades econômicas em
localidades menores [...], piora das condições de vida das famílias, em
face de aumentos do custo de moradia, (preço de terrenos, impostos,
aluguéis etc), crescentes constrangimentos nos deslocamentos
residência-trabalho, aumento da violência e criminalidade etc
(MATOS, 2002, p.51).
ainda outros aspectos associados à desconcentração demográfica, por
exemplo, o aumento da poluição, da marginalidade, aumento do custo de vida de modo
geral.
Enfim, muitas são as questões e perguntas que se abrem com as mudanças aqui
apontadas. Afinal, qual é, por exemplo, a força dos fatores anteriormente enumerados nos
movimentos migratórios de retorno? De outro lado, como a o-migração contribui para a
redistribuição populacional e em que medida a desconcentração populacional afeta a
tendência de não-migração?
60
CAPÍTULO 2 – FATORES E ESPAÇOS DA NÃO-MIGRAÇÃO
2.1 – Fatores Determinantes da Migração e da Não-migração
A identificação e análise dos fatores que contribuem ou determinam os
movimentos migratórios, no contexto dos atuais movimentos da população no espaço
brasileiro, apresenta importância significativa, uma vez que a maior parte dos estudos e
investigações realizados sobre estes fatores se refere aos períodos históricos em que as
características migratórias eram distintas. Os estudos relativos aos movimentos migratórios
no Brasil são abundantes, no entanto, a não-migração o tem recebido atenção das
pesquisas científicas. A diminuição da perda populacional e a realidade da migração de
retorno no estado de Minas Gerais sinalizam também para a necessidade de compreensão
dos fatores que contribuem para a permanência da população nas localidades deste estado.
Antes de identificar os motivos que tradicionalmente são apontados como
determinantes da migração e da não-migração, é importante recordar que os fatores que
retêm e os que atraem ou repelem as pessoas não são compreendidos exatamente nem pelo
cientista social, nem pelas pessoas diretamente afetadas(LEE, 1980, p 101). Isso ocorre
porque a decisão entre migrar e o-migrar está envolvida em uma reflexão sobre fatores
econômicos, sociais, psicológicos etc. A decisão de emigrar “[...] parece ser a resultante
de uma acumulação de muitos temores e esperanças, da interação de muitas forças
coletivas” (BRIGG, 1980, p. 631).
Lee (1980) atenta para a realidade de “[...] nunca ser possível especificar a
série exata de fatores que estimulam ou inibem a migração de uma pessoa” (LEE, 1980, p.
100). Geralmente, a possibilidade mais próxima que se alcança é a exposição de alguns
fatores que são de especial importância para um grupo considerável de pessoas. Por isso, a
investigação, por mais criteriosa que seja o elucida todos os aspectos no que se refere às
decisões em jogo. Apesar disso, as pesquisas a respeito dos fatores da migração e da não-
migração não deixam de ser importantes para a compreensão da dinâmica migratória de
uma sociedade e de suas alterações demográficas.
Ravenstein (1980) teve sua atenção atraída para o assunto dos movimentos
migratórios a partir da idéia de quea migração parece ocorrer sem qualquer lei definida”
61
(RAVENSTEIN, 1980, p. 25). O autor deu início a vários estudos questionando esta idéia,
que posteriormente o levaram à publicação do trabalho “As Leis da Migração”. Nesta obra,
o autor demonstra a grande influência que os fatores econômicos exercem sobre a decisão
de migrar da população.
Ao pensar nas causas ou motivos da migração, cabe considerar a referência
feita aos fatores de atração e repulsão da população, importantes na análise dos processos
migratórios e amplamente discutidos na literatura demográfica. Os fatores de atração estão
ligados ao potencial ou poder de atração exercido pelas características da localidade de
destino, gerando no pensamento dos indivíduos a idéia de que a vida em tal localidade
seria melhor, mais fácil ou de maior qualidade. Já os fatores de repulsão estão relacionados
ao local de origem e são formados por um grupo de acontecimentos ou características
dominantes nesta localidade que tornam a vida mais difícil, repelindo a população, ou seja,
conduzindo-a à decisão de migrar. As oportunidades de emprego no local de origem
podem ser citadas como importante fator de atração e a remuneração como importante
fator de expulsão. Uma situação seria as boas oportunidades de emprego no local de
destino, e a má remuneração na localidade de origem.
Em alguns momentos, esses fatores de atração e de repulsão recebem
denominação diferente, sendo chamados de fatores positivos e negativos dos locais de
origem e de destino da população (LEE, 1980). Embora se utilizem denominações
diferentes, elas são entendidas com o mesmo significado apresentado anteriormente. Os
fatores positivos estariam associados ao local de destino, conferindo potencial e qualidades
para atrair população, enquanto os fatores negativos estariam relacionados à qualidade
de vida e a outras características negativas no local de origem, que funcionam como
incentivo à saída de população.
Os fatores de repulsão foram estudados por Singer (1980) e apresentados em
dois grupos: fatores de estagnação e fatores de mudanças. Estes dois grupos são compostos
por fatores que agem repelindo a população de seu local de origem, principalmente em se
tratando da migração de áreas rurais para urbanas. Porém, a forma como agem no espaço
se verifica claramente diversa, apresentando sentidos opostos. Os fatores de mudança
agem no espaço em decorrência da introdução de relações de produção capitalistas nestas
áreas, acarretando [...] a expropriação de camponeses, a expulsão de agregados,
parceiros e outros agricultores não proprietários, tendo por objetivo o aumento da
produtividade do trabalho (SINGER, 1980, p. 223), cuja conseqüência é a redução do
nível de emprego no local. os fatores de estagnação, se manifestam sob a forma de
62
uma crescente pressão populacional sobre uma disponibilidade de áreas cultiváveis
(SINGER, 1980, p. 224). Esta limitação de terras cultiváveis pode decorrer de insuficiência
física de terra aproveitável, bem como pela monopolização de grande parte das
propriedades pelos grandes proprietários através da concentração de terras.
Os fatores de expulsão, segundo Singer (1980), definem as áreas de onde se
originam os fluxos migratórios, mas são os fatores de atração que determinam a orientação
desses fluxos e as áreas às quais eles se destinam. Sendo assim, a atuação conjunta dos
fatores de atração e expulsão define e configura os movimentos migratórios. O autor
considera que a demanda por força de trabalho gerada por empresas industriais e por
expansão dos serviços, proporcionando oportunidades econômicas, consideradas como o
mais importante fator de atração.
Muñoz e Oliveira (1980) compartilham da idéia de analisar as causas da
migração em termos de expulsão e de atração populacional. A migração resulta da ação
recíproca desses dois aspectos e do equilíbrio de forças expulsoras prevalecentes no campo
e de forças atrativas atuantes nas cidades (no caso da migração rural-urbana). O grau de
desenvolvimento de uma região ou de um centro urbano exerce uma atração poderosa no
que concerne à decisão de migrar(MUÑOZ; OLIVEIRA, 1980, p. 584), no entanto esta
decisão também está associada à prevalência de elementos de expulsão nas áreas de origem,
sendo a migração resultante de uma causalidade recíproca destes dois grupos de fatores
(MUÑOZ; OLIVEIRA, 1980).
Embora, de modo geral, possam ser identificados os fatores relacionados aos
locais de origem e destino que atuam como atração ou repulsão da população, em algumas
situações esses fatores podem agir de forma inversa, dependendo da população que com
eles interage. Os fatores apresentam relatividade, tendo resultados diversos em decorrência
de diferentes interesses, faixa etária e necessidades dos migrantes. Um fator específico
pode exercer a função de atração para alguns migrantes e não ter a mesma ação quando o
migrante apresentar outro perfil. Elizaga (1980) aponta que condições em que,
dependendo do ‘fator pessoal’, ou mesmo de sua vinculação com o ciclo vital do indivíduo,
poderiam ser considerados como estímulos ou obstáculos(ELIZAGA, 1980, p. 562). A
identificação e o posicionamento diante das características e possibilidades dos lugares de
origem e destino dependem da reflexão pessoal, das informações disponíveis, dos contatos
pessoais e das expectativas dos indivíduos. O fato de que uma pessoa seja solteira, por
exemplo, facilita os deslocamentos, enquanto famílias com filhos viveriam situação
adversa à migração (ELIZAGA, 1980). A rede de vinculações também atua no sentido de
63
favorecer o movimento migratório, uma vez que diminui a preocupação dos migrantes com
relação às condições a serem encontradas no local de destino.
Os fatores determinantes dos deslocamentos são identificados na análise
microdemográfica, segundo razões ou motivos declarados pelos migrantes (econômicos,
sociais, psicológicos) e outras condições objetivas que intervém na decisão de migrar
(distância, informação, contatos pessoais) (ELIZAGA, 1980). Na decisão se faz um
balanço entre aspectos positivos e negativos que envolvem o ato de migrar ou não migrar.
Essa decisão é também um processo psicológico complexo e às vezes a decisão é tomada
sem o predomínio do uso da razão, considerando-se aspectos relativos a preferências
pessoais, impressões a respeito dos locais de destino etc, o que leva o componente racional
a ter menor importância do que o não-racional. Além da complexidade envolvida na
decisão, Lee (1980) acrescenta que a opção por migrar ou não nunca é feita de maneira
completamente racional.
As causas da migração, segundo Muñoz e Oliveira (1980), devem ser
procuradas não apenas na análise dos locais de origem e destino; o processo migratório
também deve ser analisado em suas múltiplas relações com o processo de desenvolvimento
nacional. As causas da migração que estão relacionadas com os fatores de atração e
repulsão são compreendidas como estruturais. as causas individuais referem-se às
motivações que impelem as pessoas a migrar. Para uma identificação correta das causas
individuais da migração, afirma-se ser necessário levar em conta o contexto social em que
as mesmas se reproduzem, que as motivações respondem às condições existentes nas
áreas de origem/destino (MUÑOZ; OLIVEIRA, 1980).
Alguns fatores afetam a maioria das pessoas igualmente, por exemplo, o clima,
quando ameno atrai e quando insalubre afasta a população. Outros fatores terão ações
distintas em pessoas diferentes, como por exemplo, a disponibilidade de um bom sistema
escolar, que atrai população com filhos em idade escolar e não interfere na decisão de
pessoas sem filhos, que ficarão indiferentes diante deste aspecto (LEE, 1980). Fatores ou
características das áreas de origem e de destino dos movimentos migratórios podem ser
considerados fundamentais na avaliação de determinado grupo de pessoas e pode não ter a
mesma ação em outro grupo, e até mesmo chegar a ter ação contrária, por se tratar de
pessoas distintas
12
.
12
Além da migração delimitada através dos fatores de atração e repulsão, Lee (1980) chama a atenção
para o fato de que nem todas as pessoas que migram chegam a tal decisão por si mesmas [...]” (LEE, 1980,
64
Alguns autores elaboraram um trabalho de identificação dos fatores
determinantes para a migração (ELIZAGA, 1980; BRIGG, 1980 e SINGER, 1980),
definindo um grande grupo de possibilidades para estes fatores. Um dos levantamentos é
promovido por Elizaga (1980), que agrupa os fatores segundo razões de natureza
econômica e de natureza sociocultural. Os motivos para a migração que apresentam maior
destaque são a busca de trabalho” e por “níveis melhores de remuneração”. Em seguida,
surgem as razões de ordem sociocultural como, por exemplo, melhoria nos níveis de
educação e motivos familiares. Por último, levantam-se os motivos de ordem pessoal e
psicológica, como insatisfação no local de residência, atração exercida pela vida da cidade
etc. Estes últimos estão freqüentemente associados às razões econômicas e sociais
(ELIZAGA, 1980).
no trabalho de Brigg (1980), as causas que influenciam a migração são
agrupadas em razões relacionadas ao trabalho e razões de caráter pessoal ou social. Dentre
os motivos relacionados ao trabalho, situa-se o deslocamento a fim de buscar ou aceitar
emprego, devido à prevalência de falta de emprego no local de origem e perspectiva de se
obter melhor emprego no local de destino, com maior remuneração, maiores oportunidades
de afirmação e condições mais favoráveis de trabalho. Outras razões que não estão
diretamente relacionadas ao trabalho são listadas a seguir: o desejo de elevar o nível da
educação, próprio ou da família; casamento (especialmente no caso das mulheres); desejo
de reunir-se a parentes que residem no local; prestação de serviço militar; oportunidades
de diversão, novidades; maiores e melhores oportunidades de serviços educacionais,
culturais e cívico-religiosos, como colégios, bibliotecas, teatros, igrejas e instalações
esportivas; maior e melhor disponibilidade de serviços de bem estar social, como hospitais,
asilos e bancos; proteção em caso de catástrofes naturais e falecimento de membro da
família; melhor segurança; tensões sociais e de classes, violência rural; clima; libertação de
domínio exercido pelos mais velhos e do controle muito estrito existente nas zonas rurais;
tensões pessoais; prestígio; maiores oportunidades de consumo (BRIGG, 1980, 631). A
decisão de migrar ou não resulta da acumulação de temores e esperanças relacionadas às
possibilidades de mudança, da interação de muitas forças coletivas. Em alguns, casos as
razões econômicas parecem ser as mais importantes nas áreas menos desenvolvidas de um
país, nas áreas mais avançadas, outros fatores parecem prevalecer no incentivo aos
processos migratórios.
p. 103), como por exemplo, as crianças que são levadas pelos pais, as esposas que acompanham seus
cônjuges e os idosos dependentes de familiares.
65
Vários trabalhos de pesquisa aprofundaram a discussão sobre os fatores que se
relacionam diretamente aos movimentos migratórios, investigaram suas causas ou motivos,
analisaram os seus fatores determinantes, mas quase nada foi dedicado à compreensão dos
fatores da permanência da população nas localidades de origem ou de residência atual. A
inversão de tendência ou sinal de alguns dos fatores que estimulam a migração poderia ser
suficiente para a explicação da o-migração. O presente trabalho tenta discutir alguns dos
fatores que contribuem para a não-migração, iniciando a reflexão a partir dos movimentos
migratórios. A ausência de trabalhos direcionados a esse tipo de problematização,
evidentemente, torna mais difícil essa tarefa.
Para contribuir com as discussões apresentadas, alguns elementos da geografia
cultural serão assinalados com vistas à compreensão da não-migração. O esforço
empreendido é apenas inicial, havendo ainda muito que investigar, com relação às
possibilidades de associação entre a dinâmica demográfica e a abordagem cultural. O
suposto é que esta área do conhecimento pode contribuir para alcançar o objetivo que se
empreende devido ao fato de que os fatores subjetivos adquirem maior visibilidade quando
se trata da não-migração, enquanto fatores objetivos, principalmente relativos a aspectos
econômicos se mostram mais importantes para compreender os movimentos migratórios.
2.2 – O Papel dos Fatores Objetivos
Inicialmente, cabe recordar que a decisão de migrar, normalmente tomada de
forma individual (ou familiar), traz implícita a expectativa de melhoria. Neste contexto, os
motivos econômicos são apontados como predominantes sobre os demais (MATA, 1980),
e a perspectiva de aumento dos rendimentos e de possibilitar maior acesso à educação
formal são elementos decisivos para a mudança do campo para a cidade ou de cidades
menores para centros urbanos maiores.
É evidente que os fatores objetivos recebem atenção privilegiada dentro dos
estudos migratórios quando se investiga as causas ou motivos da migração, sendo consenso
entre os autores o fato de que os aspectos econômicos se destacam entre os motivos
indicados pelos migrantes como determinantes do seu movimento migratório. A procura de
melhores oportunidades sócio-econômicas é geralmente apresentada como o principal
66
componente da motivação para migrar. Entende-se que os migrantes respondem,
principalmente, às oportunidades reais ou esperadas de emprego espacialmente
diferenciadas, uma vez que através delas é que poderiam realizar suas aspirações de bem-
estar socioeconômico (MARTINE; PELIANO, 1980, p. 913).
Ao elaborar um levantamento de fatores determinantes da migração, Elizaga
(1980) diz que nas pesquisas realizadas na América Latina e em outras partes do mundo,
a maioria das razões aparecem como sendo de natureza econômica, tanto a vel dos
migrantes masculinos, como dos femininos (não-dependentes)” (ELIZAGA, 1980, p. 562).
Segundo o autor, a maioria dos migrantes identifica como causa da migração a “busca de
trabalho” e a consecução de “níveis melhores de remuneração”. De modo geral, pode-se
dizer que com marcante uniformidade, 2/3 das respostas dadas por migrantes
independentes corresponderam a razões econômicas” (ELIZAGA, 1980, p. 562).
Um segundo grupo de motivos, considerando a ordem de importância, o os
de natureza sociocultural (como melhoria da educação e motivos familiares). Quando a
investigação questiona a respeito de motivos psicológicos (insatisfação, atração pela vida
da cidade etc.), uma complexidade maior dos fatores apresentados e estes
freqüentemente se superpõem às razões econômicas e sociais (ELIZAGA, 1980), o que não
nos ajuda muito, pois uma certa tautologia acaba por comparecer entre os fatores de difícil
classificação a favor da dimensão econômica.
É verdade que a opção pela migração surge relacionada a um conjunto de
fatores variados, voltados à melhoria das condições de vida, e os aspectos econômicos são
essenciais nessa discussão. Segundo Brigg (1980), a decisão de emigrar resulta de um
acumulo de inseguranças e expectativas, e da interação de muitas forças envolvidas nessa
reflexão. Segundo a autora, em alguns casos a importância dos fatores econômicos adquire
maior visibilidade, havendo diferenciação dos locais em que cada tipo de fator se destaca,
que as razões econômicas parecem ser as mais importantes nas áreas menos
desenvolvidas de um país, ao passo que, nas mais avançadas, outros fatores parecem
prevalecer (BRIGG, 1980, p. 631).
Na identificação das causas e motivos da migração, Oliveira e Stern (1980)
apontam que, no caso específico das migrações internas, percebe-se que os movimentos
migratórios são realizados em grupos de pessoas que propiciam um caráter coletivo às
migrações. Quanto à análise dos fatores determinantes das migrações, os autores
confirmam as conclusões das pesquisas anteriores, em que as respostas dos entrevistados
se dividem em dois grupos. O primeiro apresenta como causa da migração a motivação
67
econômica relacionada à procura de trabalho, de melhoria das condições de vida etc.; e o
segundo grupo informa que a migração é realizada a fim de acompanhar o esposo e a
família, que geralmente migram por motivos econômicos, conferindo importância ainda
maior aos fatores econômicos (OLIVEIRA; STERN, 1980).
2.3 – O Papel dos Fatores Subjetivos
Segundo Elizaga (1980), os investigadores sociais atribuem com freqüência
papel casual dominante nos movimentos migratórios aos fatores econômicos. No entanto, o
autor chama a atenção para a realidade de que isso não significa desconhecer a
interveniência dos fatores sociais, culturais e psicológicos, mas atribuir-lhes papel de
menor importância” (ELIZAGA, 1980, p. 560).
Ao comentar sobre a metodologia das pesquisas que investigam os fatores
determinantes da migração, Brigg (1980) salienta que, além da possibilidade de distorções
nas pesquisas migratórias advindas da parcialidade e dos erros contidos nas respostas dos
entrevistados, o uso de pesquisas que contêm questões fechadas inevitavelmente limitam
as respostas, levando a destacar os elementos econômicos (BRIGG, 1980, p. 631), e
conseqüentemente os elementos subjetivos são menos percebidos. Com isso, admite-se que
os fatores objetivos, principalmente de ordem econômica, possuem maior potencial
explicativo para determinação dos movimentos migratórios. Insiste-se, no entanto, na
consideração também da importância dos fatores subjetivos como motivos que levam a
população a migrar.
Tendo em vista essas considerações, o presente trabalho empreende um esforço
no sentido de não minimizar a importância dos fatores subjetivos, a fim de que eles
compareçam mais claramente em pesquisas de campo. A idéia é, inclusive, discutir a
migração por meio da não-migração, sem diminuir a importância dos fatores subjetivos.
Utiliza-se também uma metodologia de pesquisa que favorece a identificação dos fatores
não econômicos como motivos migratórios, para amenizar o problema identificado por
Brigg (1980) nos trabalhos de campo.
Além da consideração do significado dos fatores o econômicos para a
migração, destaca-se, sobretudo, a importância que deve ser conferida aos fatores
68
subjetivos quando se trata da explicação da permanência da população em suas localidades
de origem ou moradia atual, isto é, como fatores da não-migração. Portanto, na
investigação dos fatores da não-migração, a importância conferida a fatores objetivos e
subjetivos sofre uma inversão.
Os processos relacionados aos aspectos culturais também devem ser entendidos
como parte integrante dos fatores que motivam os habitantes de uma localidade a optarem
pela migração ou pela não-migração. Essa realidade é destacada por Lee (LEE, 1980 apud
BRAGA, 2006) ao apresentar que “a diversificação cultural também pode exercer
influência, na medida em que gera particularidades que, ora provocam repulsão, ora são
incentivos à fixação de migrantes” (BRAGA, 2006, p. 78).
2.3.1 – Contribuições da abordagem cultural
Ao introduzir alguns elementos da geografia cultural capazes de contribuir para
as reflexões a respeito da não-migração, cabe destacar as alterações que começam a afetar
os estudos culturais conduzidos pelos geógrafos a partir do início da década de 1970,
apontadas por vários autores (CLAVAL, 2001; COSGROVE, 1999; CORREA, 1999). Os
resultados da geografia cultural desenvolvida durante a primeira metade do século XX,
segundo Claval (2001), são apaixonantes, mas permanecem limitados. Segundo o autor,
estes estudos mostram a diversidade das paisagens, dos campos, dos sistemas agrícolas,
dos tipos de habitat rural, dos traçados das cidades, da arquitetura vernacular e das
construções monumentais (CLAVAL, 2001, p. 35), mas ao mesmo tempo apresentam
incapacidade para esclarecer a dinâmica dos comportamentos humanos.
As mudanças verificadas no interior da geografia cultural, segundo Cosgrove
(1999), associam-se às conexões desta disciplina com outras no interior das ciências
humanas. O autor indica que muitos dos estímulos para a nova geografia cultural tiveram
origem na convergência teórica e metodológica entre disciplinas humanísticas, tais como
a história, a filosofia, e do estudo das línguas e das ciências sociais, as quais sustentam o
amplo campo dos estudos culturais” (COSGROVE, 1999, p. 17). Os conceitos geográficos
também são alcançados pela nova geografia cultural, alguns deles, como o conceito de
paisagem, são reestruturados e redescobertos (HOLZER, 1999).
69
As transformações no campo da geografia cultural são entendidas por Correa
(1999) como um ressurgimento da disciplina. O principal motivo das alterações ocorridas
advém da “[...] consciência de que a cultura reflete e condiciona a diversidade da
organização espacial e sua dinâmica(CORREA, 1999, p. 51). Sendo assim, a dimensão
cultural torna-se necessária para a compreensão do mundo. Segundo Claval (2001), a
transformação verificada nos estudos culturais repousa sobre uma mudança completa de
atitudes e nasceu da constatação de que as realidades refletem a organização social do
mundo [...]” (CLAVAL, 2001, p. 39), que a vida dos grupos humanos e suas atividades
jamais podem ser consideradas como puramente materiais. Associando esta reflexão ao
trabalho proposto, pode-se inferir que os motivos que influenciam a população em sua
permanência ou em seus movimentos migratórios não são também unicamente materiais
ou econômicos, mas envolvem outras dimensões da vida desses grupos de pessoas.
A vida dos seres humanos é entendida por Claval (2001) como a expressão de
processos cognitivos, de atividades mentais, de trocas de informação e de idéias e as
relações dos homens com o meio ambiente e com o espaço tem uma dimensão psicológica
e sociopsicológica(CLAVAL, 2001, p. 39). O autor acrescenta que essas relações nascem
das sensações que as pessoas experimentam e das percepções a elas ligadas e se
manifestam através de práticas e habilidades que não são completamente verbalizadas,
“mas que resultam de uma atividade mental; estruturam-se pelas preferências,
conhecimentos e crenças que são o objeto de discursos e de uma reflexão sistemática
(CLAVAL, 2001, p. 39). Além disso, as relações dos indivíduos e grupos com o meio
ambiente com o qual estão envolvidos e com o espaço no qual estão inseridos buscam a
satisfação de necessidades variadas, não somente as necessidades relativas a aspectos
materiais e objetivos. Além de proteger-se do meio ambiente, extrair dele energia,
alimentos e matéria-prima, os seres humanos buscam também
afirmar seu ser social por meio das redes de que participam (é o
registro propriamente social); construir sua identidade por meio do
sentido dado as coletividades as quais estão ligados e aos lugares que
elas habitam o registro psicossocial); interrogar-se sobre o
significado da presença humana no mundo [...], a natureza, a
sociedade e as paisagens por meio das quais essas entidades se
exprimem (CLAVAL, 2001, p. 40).
Segundo Claval (2001), a geografia humana ganha em profundidade adotando essa
perspectiva sobre as relações entre os homens e o meio ambiente, que seu propósito não
é mais partir do espaço e da paisagem para entender como eles se diferenciam
70
regionalmente. De agora em diante, trata-se de compreender como a vida dos indivíduos
e dos grupos se organiza no espaço, nele se imprime e nele se reflete” (CLAVAL, 2001, p.
40). A nova abordagem cultural faz desaparecer muitas das limitações anteriormente
presentes. Além disso, ela modifica a perspectiva global da geografia humana, que ela
não tem mais por finalidade simplesmente descrever a diversidade da Terra, inventariar
os tipos e paisagem [...] e explicar as formas de organização do espaço que nela se
envolveram(CLAVAL, 2001, p. 42). A partir de então, a geografia humana passa a
[...] interrogar os homens sobre a experiência que têm daquilo que os
envolve, sobre o sentido que o a sua vida e sobre a maneira pela
qual modelam os ambientes e desenham as paisagens para neles
afirmar sua personalidade, suas convicções e suas esperanças
(CLAVAL, 2001, p. 42).
As discussões recentes no interior da Geografia Cultural podem contribuir para
as análises as quais o presente trabalho se dedica, especialmente em face da insuficiência
dos fatores econômicos objetivos na explicação da migração e não-migração em
determinados contextos temporais e espaciais. Na verdade, as pesquisas que abordam
assuntos relacionados aos movimentos migratórios conquistaram espaço nos estudos
demográficos e geográficos, em detrimento de análises relativas à retenção populacional,
ou seja, à não-migração. Esta, quando é percebida, fica restrita a pequenos comentários no
interior das abordagens da migração.
Um dos motivos que justifica esta situação é o fato de que no interior dos
estudos demográficos não se dispõe de ferramentas como as que a abordagem cultural da
Geografia dispõe, sobretudo a partir das suas transformações mais recentes. Boa parte dos
instrumentos utilizados nos estudos migratórios se constituem de métodos quantitativos,
apoiados por informações numéricas e estatísticas a respeito a exemplo das relativas a
aspectos econômicos. Em contrapartida, os fatores subjetivos contam com poucas
ferramentas e evidências empíricas, e mesmo no caso de se empreender uma tentativa de
análise nestes moldes, os resultados podem se apresentar carregados de subjetivismos
13
.
Portanto, além da consideração dos fatores econômicos, convém enfrentar a
subjetividade na análise dos fatores de conotação geocultural, particularmente aqueles
13
Sem desconhecer esses riscos a pesquisa aqui apresentada busca, num esforço ainda inicial, introduzir
possibilidades de análises culturais em estudos de geografia da população. O trabalho envolve um vel de
análise quantitativa, sem o qual não se pode interpretar os resultados associados às contribuições da
abordagem cultural. A busca pela compreensão do fenômeno da o-migração conduz a caminhos apontados
como novos e promissores em face da associação de conhecimentos pouco usuais e de métodos de análise,
não obstante as limitações existentes.
71
associados a aspectos geográficos e paisagísticos, que se relacionam de alguma maneira
com os investimentos afetivos da população nas paisagens e nos lugares. Quanto ao
entendimento da paisagem e da relação do homem com ela, Claval (2004) chama a atenção
para o fato de que “o geógrafo não estuda mais apenas a paisagem como realidade
objetiva (CLAVAL, 2004, p. 52). Segundo o autor, verifica-se hoje uma preocupação
com a maneira como a paisagem se apresenta carregada de sentido, investida de
afetividade por aqueles que vivem nela ou que a descobrem (CLAVAL, 2004, p. 52).
Como exemplo desta abordagem, o autor apresenta os seguintes questionamentos:
O que faz as pessoas sonharem com as praias, com o sol, com os
mares do sul e os coqueiros? Com os picos cobertos de neve, com a
pureza cristalina do gelo, com o perfume revigorante dos abetos ou
das especiarias? Com os grandes e longínquos horizontes nos quais,
por vezes, se descobrem campos de altitude? O que impulsiona os
astecas a se retirarem para o deserto? Por que eles procurariam meios
tão hostis à vida? Por que a mesma fascinação é encontrada em muitos
jovens citadinos? (CLAVAL, 2004, p. 52)
A partir da análise das paisagens, Claval (2004) comenta que o geógrafo pode
ler o que as pessoas quiseram dizer através da forma como elas organizam um espaço ou o
constroem. Reconhecendo os sinais e se apoiando nos aspectos carreados de valores que
guiam as escolhas das pessoas, é possível identificar a significação profunda das paisagens
(CLAVAL, 2004). Ao propor este tipo de interpretação, o autor entende que as novas
abordagens da Geografia Cultural não se contentam em descrever o ambiente no qual os
homens vivem e trabalham; “[...] o que se procura compreender são as relações complexas
que se estabelecem entre os indivíduos e os grupos, o ambiente que eles transformaram, as
identidades que ali nascem ou se desenvolvem(CLAVAL, 2004, p. 71). Este caminho é
entendido como uma das formas reais para se compreender o mundo.
As contribuições da abordagem cultural permitem introduzir nos estudos
populacionais e, em especial, na pesquisa a respeito da não-migração, novos elementos de
discussão, conferindo maior importância aos fatores subjetivos. Dessa forma, identificam-
se as possibilidades da participação dos fatores geoculturais e culturais como motivos que
contribuem para que a população permaneça em sua localidade. Os fatores geoculturais
(rios, matas, serras, paisagens, monumentos e prédios importantes, praça, vizinhança,
clima etc.) representam realidades carregadas de significação, associadas ao cotidiano da
população residente nas localidades, especialmente nas pequenas cidades. Os locais com
paisagens ricas em elementos naturais podem ser utilizados pelas pessoas como áreas de
lazer, recreação e descanso, criando assim uma relação agradável da população com os
72
lugares. As paisagens humanizadas também se apresentam significativas para as pessoas
por representarem a forma como elas se apropriam do espaço a fim de satisfazer suas
necessidades materiais e não-materiais. As áreas públicas e privadas construídas, como a
presença de prédios importantes e monumentos, podem participar desse processo de
concretização das materialidades humanizadas.
Os fatores culturais, não raro imbricados com os geoculturais, se
razoavelmente identificados, podem permitir a percepção da presença de elementos
simbólicos que favorecem a união entre a população e os lugares, e isso afeta a capacidade
dos lugares de reter população. Esses fatores são potencialmente contrários aos
econômicos, quando entendidos como motivadores da resistência da população à
emigração. Mesmo que a atratividade dos aspectos econômicos favoráveis em outra
localidade possa atrair a população, influenciando-a no sentido da realização do
movimento migratório, quando o identificados elementos que unem as pessoas aos
lugares por elas habitados, estes funcionarão como forças contrárias à migração.
O lugar pode ser entendido como a parte do espaço efetivamente apropriado
pelas pessoas para a vida, para a satisfação de suas várias necessidades simbólicas,
identitárias e materiais. Sendo assim, abrange locais de trabalho, residência, lazer etc. Em
seu contato com os lugares, as pessoas criam uma relação que demonstra sua familiaridade
com o espaço e com seus elementos constituintes. Esta relação pessoal, influenciada por
fatores culturais, acaba agindo como fator de resistência ao movimento migratório. Para
que uma pessoa efetive a emigração, os fatores de atração da localidade de destino,
normalmente de âmbito econômico, precisam superar esta relação pessoal que a população
tem com o espaço, particularmente com os lugares de vivência cotidiana.
A opção pela migração ou não-migração está envolvida na avaliação de uma
série de fatores de diferentes naturezas. Além disso, em cada área existem inúmeros
elementos que atuam no sentido de reter as pessoas em seu interior ou de atraí-las para si, e
ainda outros fatores que tendem a expulsá-las (LEE, 1980). Para que se estabeleça a
migração, é preciso que o saldo dos fatores que agem a favor do deslocamento (em sua
maioria, fatores econômicos) seja suficientemente forte para vencer a inércia natural da
população (LEE, 1980) e a importância dos fatores geoculturais e culturais.
73
CAPÍTULO 3 – A DINÂMICA DEMOGRÁFICA NA ZONA DA MATA
E AS PEQUENAS CIDADES SOB INFLUÊNCIA DE VIÇOSA
As cidades selecionadas para desenvolvimento do trabalho de campo se
localizam em Minas Gerais, estado que durante muito tempo se configurou como perdedor
de população, sobretudo em decorrência dos fluxos migratórios para São Paulo. Entretanto,
atualmente verifica-se uma tendência inversa: no estado de Minas deixa de se constituir
como área de perda populacional. Neste contexto, alguns aspectos relativos aos motivos
que contribuem para a permanência da população no estado e nas suas respectivas
localidades podem ser investigados a fim de contribuir para o entendimento da dinâmica
demográfica do estado. Associada à reversão da tendência de contínua perda de população
em Minas Gerais, verificada através da diminuição no volume de emigrantes, depara-se
com a realidade dos movimentos migratórios de retorno, para a qual os fatores de retenção
populacional ou fatores da não-migração também apresentam significativa importância.
A área de estudo localiza-se na mesorregião da Zona da Mata mineira
14
(ver
Mapa 1 Localização da Zona da Mata no Estado de Minas Gerais), possui 142
municípios e está subdividida em oito microrregiões.
O nome Zona da Mata foi escolhido, pois havia uma densa cobertura florestal
nas condições originais da região. O padrão de exploração verificado ao longo de sua
ocupação com o desenvolvimento de atividades agropecuárias acarretou contínuas
derrubadas das matas, que eram, então, substituídas pelas culturas que viriam a ser
tradicionais na região, pelos cafezais e, posteriormente, por pastos e outras lavouras. A
vegetação nativa era a floresta tropical, na verdade, expansão da Mata Atlântica das
regiões serranas da vertente leste para o interior. Atualmente as matas encontram-se
bastante reduzidas, localizadas principalmente em pequenas manchas e capoeiras nas
encostas íngremes.
14
O estado de Minas Gerais está dividido nas seguintes mesorregiões: Vale do Rio Doce, Zona da Mata,
Zona Metropolitana, Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Norte de Minas, Sul de Minas, Centro-oeste de
Minas, Vale do Jequitinhonha, Noroeste de Minas, Vale do Mucuri e Campo das Vertentes. A Zona da Mata
está localizada a sudeste do estado, limitando-se com os estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro e com
outras regiões de Minas Gerais.
74
Mapa 1 – A Zona da Mata no Estado de Minas Gerais
Fonte: Malha Municipal Digital 2001. IBGE
A primeira expedição a penetrar a região o fez com o objetivo de procurar
metais e pedras preciosas, sem obter sucesso. O local era habitado por tribos indígenas
dos grupos Coropós, Coroados, Purís, Miritís e Botocudos (GIOVANINI, 2006). A partir
da metade do século XVIII a ocupação da região ganhará mais ímpeto, que se verifica
o início da decadência da exploração aurífera na Região Central. Em 1805 a região
atualmente denominada Zona da Mata possuía alguns núcleos de povoamento que
foram estabelecidos em duas frentes distintas. A primeira delas diz respeito aos ranchos
e fazendas estabelecidos ao longo do Caminho Novo, cujos habitantes se originaram dos
mais variados lugares, atraídos pela prosperidade da extração de ouro(GIOVANINI,
2006, p. 104). A segunda frente de ocupação “... associa-se aos migrantes oriundos da
Região Central, que fundaram propriedades de subsistência nas porções central e norte
da região(GIOVANINI, 2006, p. 104), e foi intensificada a partir da crise da mineração
na segunda metade do século XVIII.
A Zona da Mata passou por um período de ocupação mais intensa associada à
expansão da cultura cafeeira. A partir de 1809 os migrantes passaram a se dirigir
diretamente da Região Central e do Sul para a Zona da Mata, o que faria com que a
população aumentasse significativamente, em curto espaço de tempo (GIOVANINI,
2006, p. 104).
Os municípios que integram a Zona da Mata têm como base uma economia
tradicionalmente apoiada na atividade agropecuária, que alimenta agroindústrias. Vale
Escala: 1:14000000
75
ressaltar também a presença de lavouras de subsistência, onde se destacam as culturas de
arroz, milho e feijão. Algumas lavouras comerciais merecem especial destaque, como a
do café, cultura tradicional da região. A mesorregião também apresenta potencial para o
turismo ecológico devido a características naturais como montanhas, clima, cachoeiras, à
presença de pequenas cidades de gente hospitaleira, além de unidades de conservação,
dentre as quais estão o Parque Nacional do Caparaó, Parque Estadual de Ibitipoca e
Parque Estadual da Serra do Brigadeiro.
A rede urbana tem Juiz de Fora como a principal cidade, devido a sua atuação
como tradicional centro econômico e populacional da região, que se destaca pelo
crescimento demográfico, pela importância cultural, educacional, industrial, comercial e
de prestação de serviços. Destaca-se ainda a presença da Universidade Federal de Juiz de
Fora, que contribui para sua importância na rede urbana. Existem outros centros urbanos
regionais de importância como as cidades de Viçosa, Ponte Nova, Ubá, Manhuaçu,
Muriaé, Leopoldina e Cataguases.
3.1 – Histórico demográfico da Zona da Mata Mineira
A pesquisa sobre a dinâmica populacional da Zona da Mata elaborado por
Paiva e Toma (2005) entende a região como um espaço tipicamente de emigração desde o
início do século XX e durante os anos subseqüentes. Segundo os autores, à medida que os
setores da agropecuária e da cafeicultura, que se apresentam como bases da economia
regional, passaram por um processo de desaquecimento, assistiu-se à estagnação da região.
A Zona da Mata constituiu-se, neste período como um “[...] cenário da evasão
populacional em função da falta de desenvolvimento de atividades compensatórias na
absorção de mão-de-obra(PAIVA; TOMA, 2005, p. 214). Dessa forma, a região liberou
população através de movimentos migratórios em direção a áreas economicamente mais
dinâmicas.
A respeito das áreas de destino dos movimentos populacionais originados na
Zona da Mata, Paiva e Toma (2005) destacam que, na segunda metade do século XX,
tendo em vista a proximidade espacial e o baixo nível de capitalização dos trabalhadores
rurais da região, supõe-se que, como em outras áreas do estado de Minas Gerais,
76
[...] as evasões populacionais ocorridas na região da Zona da Mata a
partir de fins da década de 1960 e início de 1970, predominaram em
direção aos centros urbanos nacionais como São Paulo e Rio de
Janeiro, contribuindo com a expansão dos índices de urbanização.
(PAIVA; TOMA, 2005, p. 215).
A análise das pirâmides etárias da Zona da Mata permite visualizar, dentre
outros aspectos, a ocorrência de perda populacional na região. A pirâmide representativa
da década de 1960 (ver Figura 11) apresenta uma forma triangular com base larga e um
intenso estreitamento em direção ao topo.
Figura 11 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 1960
8
7,32
6,26
5,4
4,06
3,78
2,9
2,83
2,08
2,04
1,42
1,3
0,86
0,84
0,82
1,43
1,17
1,36
1,65
1,48
2,23
2,10
2,05
2,36
3,60
4,38
6,17
6,73
8,25
6,57
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70 ou +
H
M
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
Quando se observa a estrutura etária da população na década de 1970 (ver
Figura 12) percebe-se que ocorre uma “[...] distribuição em proporções bastante
semelhantes para as faixas de 30 a 59 anos, indicando ter ocorrido forte evasão
populacional na década de 60, atingindo principalmente, naquela época, a população
entre 20 a 44 anos” (PAIVA; TOMA, 2005, p. 221). A evasão populacional percebida pelo
estreitamento das faixas da população entre 20 e 29 anos demonstra que a migração ocorre
a partir da maioridade da população. A queda de natalidade inicia-se no período, e é
parcialmente responsável pelo estreitamento da base da pirâmide. A região acompanha a
tendência nacional de começo do declínio das taxas de fecundidade, provavelmente
incrementada pela perda da população em período fértil constituída pelas pessoas que
migraram, tanto homens quanto mulheres.
77
Figura 12 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 1970
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
Durante a década de 1970 as taxas de natalidade na Zona da Mata
permaneceram estáveis, o que pode ser observado na pirâmide etária de 1980 (ver figura
13) através da pequena diferença entre as faixas etárias próximas à base. No entanto, um
nível de emigrações menor do que o verificado na década anterior é percebido,
identificando-se “[...] as variações entre as faixas de 20 a 34 anos relativamente menos
acentuadas do que as variações observadas na pirâmide de 1970 (PAIVA; TOMA, 2005,
p. 228). Este aspecto mostra que ao longo da década de 1970 as emigrações não atingiram
os mesmos níveis, indicando que já havia certa retenção de população na região da Zona da
Mata.
Figura 13 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 1980
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
7,02
7,25
7
6,12
4,47
3,28
2,12
2,12
1,97
1,92
1,88
1,84
1,19
1,15
1,11
1,43
1,17
1,36
1,65
1,91
2,23
1,90
2,05
2,36
2,96
4,38
6,17
6,73
7,19
6,57
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
0-4
5 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35-39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70 ou +
H
M
5,8
5,45
5,85
5,58
4,99
3,82
3,82
2,64
2,45
2,45
2,03
1,64
1,33
1,13
1,35
1,43
1,17
1,36
1,65
1,95
2,23
2,16
2,05
2,36
3
,67
4,38
6,17
6,73
6,07
6,57
-10
-8
-6 -4
-2
0
2
4 6
8
10
0
-
4
05 9
10 14
15-19
20-24
25
-
29
30-34
35
-
39
40-44
45-49
50-54
55-59
60-64
65-69
70 ou +
H
M
78
Na pirâmide etária de 1990 (ver Figura 14), percebe-se um formato mais
regular, se distanciando bastante da forma triangular verificada na década de 1960. A
população encontra-se mais envelhecida e com significativo contingente populacional em
idade economicamente ativa. As faixas etárias de 20 a 44 anos apresentam variações
pequenas, indicando que no decorrer da cada de 80 a emigração diminuiu o seu ritmo,
conseqüentemente a retenção populacional neste período passa a ser mais significativa.
Figura 14 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 1991
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
A pirâmide etária da Zona da Mata no ano 2000 (ver Figura15) confirma a
tendência verificada em períodos anteriores no que se refere à estabilidade da população.
Não ocorre acréscimo nas faixas etárias da população economicamente ativa, mas também
não se verifica estreitamento advindo da emigração, como o percebido na pirâmide
etária de 1970. A partir da observação desse aspecto, entende-se que a situação econômica
e social da região, acrescida a outros fatores, tende a incentivar a permanência da
população em suas localidades, havendo diminuição da emigração.
5,23
5,48
5,53
4,97
4,73
4,54
4,12
3,44
2,83
2,18
1,92
1,81
1,66
1,29
0,89
1,43
1,17
1,36
1,65
1,84
2,23
2,04
2,05
2,36
4,43
4,38
6,17
6,73
5,47
6,57
-10
-
8
-6
-
4
-2
0
2
4
6
8
10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35
-
39
40-44
45-49
50-54
55-59
60
-
64
65-69
70 ou +
H
M
79
Figura 15 – Pirâmide etária da Zona da Mata mineira em 2000
Fonte: PAIVA e TOMA, 2005.
Paiva e Toma (2005) identificaram uma nova tendência na dinâmica migratória
da Zona da Mata mineira, em que a inversão na perda populacional está associada à
diminuição da atratividade exercida pelos grandes centros urbanos nas décadas de 1980 e
1990. A partir de então, a região passou por um processo de redinamização econômica em
resposta aos fatores negativos existentes nos grandes centros como a falta de empregos
formais, os baixos salários, o subemprego e o deterioração do nível de vida urbano. Neste
contexto, “[...] poderia ocorrer a valorização de alternativas de ocupação econômica
dentro da própria região, promovendo o estancamento das evasões populacionais
(PAIVA; TOMA, 2005, p. 216). As novas alternativas poderiam estar associadas a
[...] reativação econômica de atividades microrregionais históricas que
permaneceram latentes durante o processo de industrialização e/ou na
criação e desenvolvimento de novas atividades para as quais a região
oferece potencial, levando assim a uma redinamização local (PAIVA;
TOMA, 2005, p. 216)
Os autores identificam que a população de regiões como a Zona da Mata
mineira encontrou como alternativa econômica a reativação de vocações históricas
microrregionais e/ou a criação de novas atividades que se tornam satisfatoriamente
rentáveis face às potencialidades microrregionais. Esta dinâmica econômica trouxe, por sua
vez, “[...] a retenção populacional, levando à redução de uma tendência de emigração ou
de evolução nula da população regional(PAIVA; TOMA, 2005, p. 216). Paiva e Toma
(2005) salientam que:
4,20
4,41
4,70
4,92
4,39
3,81
3,85
3,83
3,42
2,86
2,34
1,91
1,69
1,47
1,18
0,78
0,86
4,30
4,54
4,83
5,08
4,55
3,74
3,71
3,73
3,34
2,73
2,20
1,71
1,51
1,27
0,96
0,62
0,56
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
0-4
05 9
10 14
15-19
20-24
25-29
30-34
35
-
39
40
-
44
45
-
49
50-54
55-59
60-64
65-69
70-74
75-79
80 ou +
H
M
80
[...] é possível atestar o processo de retenção da População
Economicamente Ativa na região da Zona da Mata Mineira e inferir
que este processo está ligado a uma tendência de reativação,
remodelação e expansão de atividades locais, como a cafeicultura, o
gado de leite, a fruticultura, a olericultura, a silvicultura, a criação de
aves e suínos pelo sistema de integração, e os setores de mineração,
industrial, comercial, de prestação de serviços e de educação, nos
núcleos urbanos regionais (PAIVA; TOMA, 2005, p. 232).
Além dos aspectos mencionados como potencialidades regionais, outras
iniciativas podem ser citadas: a presença de empresas processadoras de alimentos, como a
PIF-PAF Alimentos e Sucos Tial em Visconde do Rio Branco; a presença e a expansão da
Universidade Federal de Viçosa, e o crescente surgimento de instituições particulares de
ensino; o pólo moveleiro de UBÁ, indicando grande movimentação da atividade
econômica microrregional; a usina de açúcar e álcool Jatiboca, na microrregião de Ponte
Nova etc. (PAIVA; TOMA, 2005).
Fica claro o papel dos aspectos econômicos que são apontados por Paiva e
Toma (2005), como responsáveis pela reversão da tendência de perda populacional na
Zona da Mata, e mais recentemente, pelos movimentos migratórios de retorno. As duas
realidades estão associadas à redinamização da economia local e a perda gradativa da
atratividade exercida por grandes centros urbanos, provavelmente relacionada ao processo
de desconcentração industrial e populacional, envolvendo grandes centros urbanos, a
exemplo da cidade e metrópole de São Paulo.
Além destes aspectos econômicos, cuja importância é claramente percebida e
destacada, cabe buscar compreender uma parcela da história demográfica da Zona da Mata
de Minas Gerais não elucidada no trabalho de Paiva e Toma (2005). Embora a região tenha
vivenciado um período de perdas populacionais, acompanhando a tendência do próprio
estado de Minas Gerias, é fato que uma parte significativa da população não migrou,
mesmo vivenciando a retração econômica e sendo influenciada pelos mesmos fatores de
atração e repulsão da população que efetivou o movimento migratório. Também pode-se
inferir que a migração de retorno não deve ser justificada somente pela melhoria das
condições econômicas regionais e desconcentração dos grandes centros, mas também
estaria associada a relação das pessoas com a região de origem em período anterior à
emigração.
Fatores de outras naturezas, que não a econômica, podem contribuir para
justificar esta nova realidade da permanência da população e estar relacionados a aspectos
subjetivos como: apego às relações pessoais e afetivas com familiares e amigos,
81
necessidade de busca por local que apresente segurança e tranqüilidade, valorização das
paisagens naturais e humanizadas típicas das pequenas localidades da região, busca pela
diminuição do custo e melhoria da qualidade de vida, necessidade de manifestações
culturais e apreço ao lugar de origem.
3.2 – Pequenas cidades sob influência de Viçosa
As oito microrregiões da Zona da Mata recebem os nomes das cidades mais
importantes que as compõe, sendo elas: Cataguases, Juiz de Fora, Manhuaçu, Muriaé,
Ponte Nova, Ubá e Viçosa. As cidades selecionadas para realização do trabalho de campo
estão entre os vinte municípios que se localizam na microrregião de Viçosa (ver Mapa 2
Localização da área de estudo). As três cidades escolhidas são Ervália, Piranga e Teixeiras
e estão em destaque no mapa a seguir.
Mapa 2 – Área de estudo
Fonte: Malha Municipal Digital 2001.
A cidade de Viçosa é conhecida pela produção científica e tecnológica da
Universidade Federal de Viçosa e sua influência cultural representa por si um fator de
desenvolvimento regional. Além da presença da UFV, o ensino superior também conta
com instituições particulares de ensino. As cidades selecionadas para realização da
Escala: 1:3500000
82
pesquisa se campo (Ervália, Piranga e Teixeiras) se localizam próximas à cidade de Viçosa
que se caracteriza como subcentro regional, que atrai residentes de municípios vizinhos,
que se deslocam com freqüência para usufruir da infra-estrutura e estabelecimentos
comercias e de serviços existentes em Viçosa.
A presença da Universidade Federal de Viçosa exerce uma influência
significativa na dinâmica demográfica regional devido ao seu potencial de atração
populacional. A instituição atende muitos estudantes da região através dos 38 (trinta e oito)
cursos em nível de graduação por ela oferecidos, além de 30 (trinta) programas de pós-
graduação. A atratividade exercida pela universidade influencia os movimentos
migratórios, sobretudo de população jovem que migra para Viçosa em busca de formação
profissional. Este aspecto pode ser considerado como um dos fatores de fixação da
população em Viçosa e nas cidades do seu entorno, devido ao papel que assume na rede
urbana local.
3.2.1 – Aspectos Históricos
O município de Ervália teve origem no antigo povoado de Capela Nova, tendo
sido também denominado São Sebastião dos Aflitos. Acredita-se que esta última
denominação tenha sido atribuída ao lugar devido à falta de recursos e ao seu isolamento
em relação aos centros mais desenvolvidos. O povoado cresceu ao redor de uma capela
construída em terras doadas por um fazendeiro, em função de um pequeno comércio de
produtos da região, onde também ocorriam vendas e trocas de animais e contratação de
mão-de-obra. Em 1938, tornou-se município, com território desmembrado de Viçosa. A
atual denominação de Ervália data de 1943.
A origem da cidade de Teixeiras remonta aos meados do séc. XIX. Naquela
época, Antônio Serafim Teixeira construiu uma capela dedicada a Santo Antônio em sua
propriedade. O povoado ficou conhecido como Santo Antônio dos Teixeiras e cresceu
lentamente em torno da capela. No final do século, a presença da estrada de ferro
Leopoldina facilitou o escoamento de sua produção agrícola, dando grande impulso ao
município e acelerando o seu crescimento. Em 1883, Santo Antônio dos Teixeiras foi
elevado à categoria de distrito do município de Viçosa e em 17 de dezembro de 1938
emancipou-se com o nome de Teixeiras.
83
O surgimento do município de Piranga ocorreu em meados do século XVII,
quando o bandeirante João de Siqueira Afonso e seu grupo aportaram na região, à procura
de ouro e pedras preciosas. O local passou a se chamar Guarapiranga devido à presença de
uma espécie de pássaro com penas vermelhas. O nome Piranga - que significa "vermelho" -
mais tarde substituiu Guarapiranga. Em 1718, o povoado que ali se formou torna-se distrito.
No século seguinte, em 1868, passa de vila à categoria de cidade, emancipando-se de
Mariana.
3.2.1 – Aspectos Econômicos
No que diz respeito às atividades econômicas desenvolvidas nos municípios
cuja população das áreas urbanas foi analisada, maior destaque pode ser conferido ao setor
primário. Considerando a População Economicamente Ativa (PEA) verifica-se que grande
parte da população se dedica a atividades agropecuárias, de extração vegetal e pesca (ver
tabela 1).
Tabela 1 – Porcentagem da População Economicamente Ativa por atividades econômicas nas
cidades de Ervália, Piranga e Teixeiras no ano 2000
Município
Agropecuário,
extração vegetal e
pesca
Industrial
Comércio de
Mercadorias
Serviços
Ervália
57,0 10,6 9,9 22,5
Piranga
66,8 11,1 5,4 16,7
Teixeiras
35,9 16,0 10,4 37,7
Fonte: Elaboração a partir de dados do IBGE (2000).
No desenvolvimento das atividades agrícolas destacam-se as culturas
tradicionais da região como a produção de café, feijão e milho. Na pecuária se concentra a
criação de gado bovino, suíno e galináceo.
3.2.3 – Aspectos Demográficos
As pequenas localidades selecionadas possuem população entre 10 (dez) e 20
(vinte) mil habitantes (ver Tabela 2) e sofreram algumas alterações populacionais nas
últimas décadas.
84
Tabela 2 – População total, urbana e rural dos municípios de Ervália, Piranga e Teixeiras em
1970, 1980 e 1991
Município Ano População Total
População
Urbana
População
Rural
Grau de
urbanização
1970 13.183 3.264 9.919
24,8
1980 13.339 3.548 9.791
26,6
Ervália
1991 15.551 5.034 10.517
32,4
1970 16.575 2.894 13.681
17,5
1980 15.923 3.155 12.768
19,8
Piranga
1991 16.332 3.860 12.472
23,6
1970 8.709 2.879 5.830
33,1
1980 8.584 3.828 4.756
44,6
Teixeiras
1991 10.024 5.352 4.672 53,4
Fonte: IBGE. Laboratório de Estudos Territoriais (Leste)/UFMG
Observando-se a evolução demográfica da população residente nos municípios
de Ervália, Piranga e Teixeiras, evidencia-se que o crescimento populacional é pequeno
nas três localidades. No caso do município de Piranga, observa-se uma diminuição da
população total na cada de 1980 e uma recuperação na década seguinte, sendo mais
significativa, neste contexto, a perda de população residente na área rural. O mesmo pode
ser verificado quanto à população total de Teixerias. O município de Ervália manteve-se
com pequeno acréscimo no seu número de habitantes no decorrer do período analisado.
Percebe-se ainda que as localidades analisadas apresentam um valor significativo da
população residente nas áreas rurais em relação à população total dos municípios. Não
obstante o gradativo aumento na taxa de urbanização dos três municípios desde a década
de 1970, a parcela da população residente no campo se mantém significativa, indicando a
permanência da concentração das atividades econômicas no setor agropecuário.
Embora a cidade de Teixeiras seja numericamente menor em termos de
população que as demais localidades, sua proximidade em relação à Viçosa (12 km) deve
auxiliar a explicação de seu maior grau de urbanização. Os moradores da área urbana de
Teixeiras encontram certa facilidade para trabalhar em Viçosa devido à proximidade
geográfica e à atratividade deste centro urbano regional, realizando diariamente um
deslocamento de tipo pendular. A distância dos demais municípios em relação à Viçosa (32
km de Ervália e 62 km de Piranga) dificulta ou impede esse deslocamento diário devido a
maior duração da viagem e aumento dos custos com transporte. Além disso, cabe destacar
a relação dessa cidade com a cidade de Mariana, que diminui atratividade exercida por
Viçosa.
85
Diante disso, não causa surpresa o fato de os municípios de Ervália e Piranga
terem a maior parte de suas populações residindo no campo (ver Tabela 3). No caso do
município de Teixeiras da população reside nas áreas urbanas, alcançando um grau de
urbanização de 62,3%.
Tabela 3 – População total, urbana e rural, grau de urbanização e taxa líquida de migração
dos municípios de Ervália, Piranga e Teixeiras no ano 2000
Município
População
Total
População
Urbana
População
Rural
Grau de
urbanização (%)
Taxa Líquida de
Migração a.a. –
(TLM) 95/00 (‰)
Ervália 17018 7560 9458 44,4 -4
Piranga 17010 5079 11931 29,9 -10
Teixeiras 11149 6949 4200 62,3 8
Fonte: IBGE. Laboratório de Estudos Territoriais (Leste)/UFMG
Quanto à dinâmica migratória recente dos municípios, confirmando as
tendências acima apontadas, verifica-se que as taxas líquidas de migração entre os anos de
1995 e 2000 indicam que uma perda de população nos municípios de Ervália e Piranga,
sendo mais significativa neste último. No caso de Teixeiras a taxa líquida de migração
evidencia que a imigração é maior que a emigração no município. Este fato também pode
estar associado à proximidade em relação à cidade de Viçosa. Enquanto a cidade de
Teixeiras mostra ganho de população decorrente da imigração, as demais localidades ainda
mantêm uma pequena perda populacional.
Embora não haja ganhos significativos de população, as perdas também não
são grandes, o que justifica a investigação dos fatores que levam a população a migrar ou
não-migrar. Além disso, foram encontrados casos de migrantes que realizaram movimento
de retorno, ainda que os casos não sejam muito numerosos.
86
CATULO 4 – EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS RESULTANTES
DO ESTUDO DE CASO
4.1 – Perfil da População Entrevistada
O conjunto da população entrevistada é heterogêneo. Antes de iniciar a análise
dos resultados obtidos através da análise das informações obtidas no trabalho de campo,
dedica-se a identificar o perfil geral da população entrevistada. Estes dados foram
informados pela população na primeira parte da entrevista, antes de iniciar a aplicação do
questionário. As informações sobre renda da população não foram contabilizadas, pois
parte dos entrevistados não quis ou não soube informar.
4.1.1 – Escolaridade
Quanto à escolaridade da população não-migrante, verificou-se grande
variação nos níveis educacionais (ver Gráfico 1). Entre os participantes do trabalho de
campo, a maior parte concluiu o ensino médio (35%), em seguida encontra-se a população
que não completou o ensino fundamental (25%). Além disso, 5% da população que foi
entrevistada representam os analfabetos
15
, enquanto 7% concluíram curso superior e 3%
possui algum tipo de formação em nível de pós-graduação.
15
A realização do trabalho de campo considerou a aplicação dos questionários a pessoas com baixa
escolaridade e sem alfabetização por constituírem parte efetiva da população. No entanto, verificou-se
dificuldade na compreensão e interpretação dos fatores apresentados pelos questionários, o que gerou
dificuldades com relação ao tempo necessário para abordagem de cada participante. Apesar disso, a pequena
porcentagem de analfabetos e as estratégias adotadas no trabalho de campo tornaram possível a análise dos
dados sem comprometimento dos resultados.
87
Gráfico 1 – Escolaridade da população não-migrante - 2007
5%
25%
20%
6%
7%
2%
35%
Analfabetos
Ensino Fundamental Incompleto
Ensino Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Ensino Superior
Pós-Graduação
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
No que se refere aos dados da população migrante, buscou-se obter informação
referente à escolaridade do chefe da família. A maior parte dos entrevistados informou que
o chefe da família possui baixa escolaridade (entre a série do ensino fundamental).
Poucos concluíram cursos técnicos e superiores, além de ter sido identificado um chefe de
família analfabeto. Alguns migrantes ainda estão estudando e migraram com o objetivo de
aperfeiçoar sua formação e aumentar os anos de estudo. O grau de escolaridade tem
influência diretamente nas possibilidades de emprego desses migrantes na área de destino.
As pessoas que apresentam número menor de anos de estudo terão possibilidades mais
restritas de encontrar um emprego que possibilite a ascensão social almejada no momento
em que se decide migrar. Alguns dos migrantes entrevistados realizaram a migração de
retorno para as localidades de origem por não terem alcançado o objetivo de melhorar a
remuneração, o que pode estar associado, entre outras justificativas, à baixa qualificação da
mão-de-obra.
4.1.2 – Ocupação
Associado ao levantamento da escolaridade da população não-migrante,
obteve-se informações a respeito da sua ocupação. Do total de pessoas entrevistadas,
percebe-se que a ocupação em atividades como balconistas, estudantes e comerciantes se
destacam, comparecendo com freqüência de 11%, em cada caso. A seguir encontram-se os
aposentados (9%), as donas de casa (7%), domésticas (6%) e professores (6%). As demais
88
ocupações comparecem com freqüência igual ou inferior a 3%: agricultores, secretários,
trabalhadores autônomos, costureiras, cabeleireiros, taxistas, motoristas, pedreiros,
trabalhadores da área da saúde etc. As ocupações enumeradas são, em sua maior parte,
empregos urbanos, embora as atividades e a população rural representem grande
importância nos municípios que compõe a área de estudo. Este fato se justifica pela
realização das pesquisas em áreas urbanas, associadas às novas tendências migratórias de
caráter urbano-urbano; como não foi realizado trabalho de campo nas áreas rurais, não foi
possível maior participação das profissões típicas deste ambiente de trabalho.
4.1.3 – Tipo de residência
A população entrevistada também foi ser questionada a respeito do tipo de
imóvel em que residia. Por meio desta informação é possível concluir que 70% das pessoas
possuem casa própria, enquanto apenas 30% residem em imóveis alugados ou cedidos. O
mesmo pode ser verificado, tanto com relação à população não-migrante como àqueles que
são migrantes.
4.2 – Fatores da Não-Migração
As análises realizadas a partir da pesquisa de campo na área de estudo em
busca dos fatores determinantes da não-migração o apresentadas a seguir. Faz-se uma
abordagem paralela da importância dos fatores locais para a população migrante e não-
migrante. Os fatores que foram selecionados com maior freqüência são destacados e
justificando a presença de cada um deles, a partir de comentários dos habitantes locais que
participaram da pesquisa. Os procedimentos metodológicos adotados foram os mesmos na
abordagem da população migrante e não-migrante. Sendo assim, foram identificados os
fatores positivos das localidades, escolhidos pelos dois grupos de população, separando-se
os fatores em seus respectivos grupos: econômicos, geoculturais e culturais.
Os fatores selecionados são entendidos como aspectos que motivam a
população a permanecer nas localidades de residência atual, sendo então considerados
como fatores que incentivam a o-migração. Estes mesmos fatores podem também ser
89
compreendidos como motivos de atração para a população que migra de outras áreas para
estas localidades e para o retorno dos que migraram. Ao serem questionados sobre os
aspectos positivos mais significativos da localidade em que residem, os migrantes e não-
migrantes foram convidados a escolher os principais motivos que poderiam contribuir para
a sua permanência no local. Dessa forma, identifica-se os fatores que teriam maior peso no
momento de decisão entre uma possível migração e a não-migração, e que contribuem para
a fixação da população nas pequenas localidades.
A população não-migrante das cidades de Ervália, Piranga e Teixeiras recebeu
maior atenção do que a população migrante na pesquisa de campo. Isso se deve, em
primeiro lugar, ao objetivo voltado para a investigação dos fatores da não-migração.
Acrescenta-se o fato de que os migrantes, nestas localidades, representam pequena parcela
da população, tendo sido difícil localizá-los no decorrer da pesquisa de campo. Além disso,
para a população não-migrante, foi possível seguir o plano de trabalho elaborado, a fim de
alcançar a proporcionalidade dos números de questionários aplicados em cada faixa etária
aos números reais da população local. O mesmo não pôde ser realizado no caso da
população migrante. Sendo assim, cabe relativizar as diferenças nas comparações entre os
resultados das populações migrante e não-migrante.
As informações sobre os fatores da o-migração obtidas nas entrevistas feitas
à população migrante não são computadas com o mesmo rigor estatístico utilizado na
análise de resultados de abordagem da população não-migrante. Nos comentários
referentes à presença dos fatores de maior freqüência, estarão presentes informações
obtidas junto aos migrantes e não-migrantes. No caso dos resultados relativos à população
não-migrante, utiliza-se a elaboração de gráficos referentes às freqüências em que cada
fator comparece, enquanto os gráficos representativos da opinião da população migrante
foram anexados ao final do trabalho (ver Anexo 2), devido ao pequeno número de
entrevistados.
A – Fatores Econômicos
Na abordagem dos fatores determinantes da migração percebe-se a participação
dos motivos de ordem objetiva, representada pelos fatores econômicos, como sendo
fundamentais para a população que faz opção por migrar. No decorrer do desenvolvimento
da pesquisa de campo, em busca dos fatores da não-migração, este grupo de fatores
90
apresentou também significativa participação, ao serem identificados os aspectos positivos
das pequenas cidades analisadas. Apesar da representatividade dos fatores econômicos,
cabe destacar que, enquanto algumas razões são mais significativas para atrair a população
para os movimentos migratórios em direção a centros urbanos maiores, outros são os
fatores econômicos positivos identificados nas pequenas cidades, que por sua vez atuam
inibindo a migração.
A existência de empregos que oferecem boa remuneração se constitui como um
dos principais motivos que incentivam a migração. No entanto, ela pode ser percebida
como um fator neutro ou inexpressivo nas pequenas cidades, uma vez que apenas 2% dos
entrevistados não-migrantes consideram que as cidades oferecem bons salários e somente
um entrevistado migrante considera seu salário satisfatório. No entanto, outros fatores
econômicos são avaliados como positivos pela população não-migrante, como moradia e
proximidade dos estabelecimentos comerciais e de serviços, e compareceram com maior
freqüência nas respostas dos questionários aplicados à essa população (ver Gráfico 2).
Enquanto a boa remuneração constitui-se como um fator de atração para as grandes
cidades, as condições de moradia e acesso a diferentes locais da cidade são mais positivos
nas pequenas cidades, destacando-se como seus fatores positivos.
Gráfico 2 – Fatores Econômicos segundo população não-migrante - 2007
16%
16%
14%
12%
11%
5%
4%
4%
3%
2%
4%
3%
6%
Moradia
Perto de Tudo
Boa Escola
Alimentação
Bom Atendimento a Saúde
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Heranças de Família
Aposentadoria
Tudo é Barato
Bom Salário
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Comparando-se os aspectos econômicos selecionados pela população não-
migrante apresentados no gráfico anterior e os resultados obtidos das pesquisas com a
91
população migrante, percebe-se que os fatores que apresentaram maior freqüência são
muito semelhantes nos dois casos, com pequenas alterações na freqüência em que foram
escolhidos. Isso demonstra que os referidos elementos da realidade local são realmente os
mais significativos do ponto de vista econômico, sendo citados pelos diferentes grupos da
população. Os migrantes compõe esses fatores aos encontrados em outras cidades, devido à
sua experiência migratória, enquanto a população não-migrante seleciona esses fatores sem
ter vivenciado experiências diferentes das locais. Os resultados indicam que os principais
fatores econômicos positivos das pequenas cidades da área de estudo são:
“Moradia”: as condições de acesso à moradia são consideradas satisfatórias
pela população não-migrante, embora encontrem dificuldades para adquirir a casa
própria. Mesmo assim, pessoas com baixo poder aquisitivo conseguem, aos poucos,
adquirir ou construir sua residência. Além disso, devido ao pequeno porte das
localidades, nenhum bairro é tão distante que impossibilite o acesso às diferentes áreas
das cidades. A população migrante considera o acesso à habitação mais fácil nestas
localidades, devido aos baixos preços dos imóveis, quando comparados aos locais de
residência anteriores, onde a atuação da valorização/desvalorização dos terrenos é mais
intensa, e devido aos preços acessíveis dos aluguéis nestas cidades. A facilidade de
acesso à moradia pode ser confirmada, que 70% dos entrevistados possuem
residência.
“Perto de Tudo”: o pequeno tamanho das cidades em termos de área e de
volume de população, muitas vezes é entendido pelos habitantes como um fator
negativo, quando, por exemplo, é associado à diminuição da oferta de produtos e
serviços e à monotonia da vida local. No entanto, a proximidade das residências e
principalmente dos estabelecimentos de comércio e serviços supera a idéia inicial e
permite que este elemento seja entendido como um fator positivo. Este fator econômico
também foi selecionado por pessoas que passaram pela experiência de migrar para
um centro urbano maior, onde as distâncias relativas entre as residências e as áreas de
comércios e serviços são maiores, o que aumenta o tempo e os custos dos
deslocamentos. No caso das pequenas cidades, é dispensável o uso de meios de meios
de transporte internamente, já que as residências se localizam “perto de tudo”.
“Boa Escola”: as escolas das cidades, além de serem estabelecimentos
educacionais onde está matriculada a maior parte das crianças e adolescentes da
localidade, são locais onde esempregada uma parcela da população. De modo geral,
92
os entrevistados consideram a educação oferecida nestes estabelecimentos como
satisfatória e, nestes casos, as escolas se constituem como importantes fatores de
fixação populacional. Entre os migrantes que se originam de áreas rurais, a educação
oferecida pelos estabelecimentos públicos é considerada de boa qualidade,
principalmente quando comparada às escolas de áreas rurais. Além dos
estabelecimentos públicos de ensino, parte da população destaca a importância da
presença de escolas particulares.
“Alimentação”: a qualidade da alimentação oferecida é considerada
satisfatória devido à variedade no consumo de vegetais e outros produtos disponíveis
nas localidades. A percepção da alimentação como fator positivo das pequenas
localidades também foi destacada pela população migrante.
“Bom Atendimento à Saúde”: o atendimento à saúde foi citado como um
aspecto positivo das cidades, tanto no que se refere ao atendimento nos centros de
saúde, como no direcionamento de pacientes para outros locais, quando necessitam de
tratamento indisponível na cidade. No entanto, foram feitos comentários com relação a
variações na qualidade do atendimento e instabilidade dos serviços públicos de saúde
devido a mudança dos governantes eleitos pela população.
B – Fatores Geoculturais
Os fatores geoculturais selecionados pelos migrantes e não-migrantes também
apresentaram ordem de importância e freqüências semelhantes. Sendo assim, os resultados
abaixo indicam a porcentagem com que os principais aspectos positivos do ponto de vista
geocultural das pequenas cidades foram selecionados (ver Gráfico 3).
93
Gráfico 3 – Fatores Geoculturais segundo população não-migrante – 2007
23%
18%
12%
9%
8%
7%
5%
5%
4%
3%
1%
2%
3%
Vizinhança e Amigos
Bom Clima
Casa Onde Nasceu
Noite e Estrelas
Praça, Rua, Avenida
Bela Vista, Paisagens
Céu, Pôr do sol, Nascer do sol
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Trecho da Cidade
Serra, Colina
Prédio Importante
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Os principais fatores geoculturais que se destacaram na avaliação da população
entrevistada, tanto migrantes como não-migrantes são:
“Vizinhança e Amigos”: grande destaque é conferido ao aspecto relativo à
presença de vizinhos e amigos. Este fator é entendido tanto do ponto de vista da
proximidade do local de residência, quanto no que se refere aos relacionamentos entre
os entrevistados e seus vizinhos. Observando-se, por este aspecto, se pode visualizar
uma significativa importância dos fatores geoculturais para motivação da o-
migração. No caso da população migrante, a presença de pessoas conhecidas e,
principalmente dos vizinhos, representa um aspecto ainda mais significativo, pois é
entendida como fator positivo para se optar pela residência nas pequenas cidades, onde
o contato com as pessoas e a amizade são mais expressivos, quando comparados às
realidades vivenciadas em algumas das experiências migratórias em grandes centros
urbanos.
“Bom Clima”: os aspectos climáticos agradáveis aparecem como segundo
fator de ordem geocultural que inibe a migração. Este fator está associado também às
pequenas mudanças verificadas no espaço natural das cidades, quando comparadas às
áreas urbanas de maior porte, em que a alteração provocada pelas atividades humanas é
mais significativa e acaba por interferir no microclima dessas cidades. Também entre
os migrantes, as características climáticas das pequenas cidades são consideradas
agradáveis. Eles acrescentam como aspecto positivo o fato de não serem comuns os
alagamentos em períodos chuvosos e os longos períodos de seca.
94
“Casa Onde Nasceu”: muitas pessoas entrevistadas se referem à presença da
casa onde nasceram como um forte à não-incentivo à migração. Neste caso, o apego a
um lugar demonstra também a identificação que com ele se construiu, o que não ocorre
com qualquer lugar, mas com um lugar específico com o qual se tem uma relação
específica. No caso dos migrantes, também se verifica a importância da casa ou local
onde nasceu, sendo este fator indiretamente mencionado dentre os motivos da migração
de retorno.
“Noite e Estrelas”: embora a noite e as estrelas estejam presentes em outros
locais, parte dos entrevistados fez referência à noite na localidade em que reside, assim
como a contemplação das estrelas; para as pessoas entrevistadas é diferente observar a
noite e as estrelas em outra cidade.
“Praça, Rua, Avenida”: alguns trechos das cidades foram citados como partes
com as quais as pessoas se relacionam e criam laços de familiaridade, o que ocorre
principalmente com as praças, que se constituem como ponto de encontro e área de
lazer de alguns grupos sociais.
Figura 16 – Praça central de Ervália-MG
Fonte: http://www.panoramio.com/photo/5376143.
“Bela Vista, Paisagens”: a paisagem natural representada pelas áreas não
desmatadas e locais com presença de rios e cachoeiras são indicados como atrativos
das cidades pequenas. No que se refere às paisagens humanizadas, receberam maior
atenção as praças e áreas de festas.
95
Figura 17 – Praças da cidade de Piranga-MG
Fonte: http://picasaweb.google.com.br/piranga/PirangaFotosDaCidade/photo#506051.
A importância conferida pela população não-migrante e migrante aos
elementos geoculturais e os comentários elaborados no decorrer do trabalho de campo
sinalizam que, além dos fatores econômicos, este outro grupo de fatores também adquire
importância explicativa da permanência da população nas pequenas localidades. Os
aspectos analisados, sob o ponto de vista da localização espacial ou da consideração de
elementos físicos, indicam a existência de forte relação afetiva com o lugar, mais do que o
que é possível inferir por meio de abordagens econômicas e do ponto de vista material.
Assim, percebe-se a necessidade de avançar para uma investigação que considere também
os aspectos não-materiais como afirmação social através das redes sociais, construção de
identidade (CLAVAL, 2001).
C – Fatores Culturais
Na análise referente aos fatores culturais, o resultado com relação à freqüência
com que cada elemento comparece segundo, abordagem da população não-migrante está
representada a seguir (ver Gráfico 4).
96
Gráfico 4 – Fatores Culturais segundo população não-migrante - 2007
3%
3%
5%
6%
6%
8%
10%
10%
17%
18%
2%
2%
2%
2%
2%
1%
1%
1%
1%
Apego à Família
Vida Tranquila
Festas da Igreja
Festas Juninas e Carnaval
Futebol e Outros Esportes
Festapica e Outras Festas
Passeios e Pescarias
Padroeiro da Cidade
Jogos com Amigos
Bares, Restaurantes
Clube
Partido Político
Organização (ONGs, Sindicatos ou outra)
Danças, Cantorias
Artesanato
Associação de Bairro
Barraquinhas
Atividade de Teatro/Música
Outro
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Dentre os fatores culturais apresentados para seleção, os que mais se
destacaram na percepção da população migrante e não-migrante são:
“Apego à Família”: a importância da presença familiar pode ser mensurada a
partir da freqüência em que este fator foi selecionado, apresentando-se como o mais
freqüente entre os fatores culturais. Dessa forma, entende-se que o principal motivo de
ordem cultural que inibe a migração é a presença da família no local de origem. Os
habitantes que compõem a população migrante que retornaram aos municípios
entenderam a volta para o convívio familiar como um dos grandes motivos e benefícios
deste movimento migratório
“Vida Tranqüila”: a tranqüilidade típica da maior parte das pequenas cidades,
poucas vezes interrompida, apresenta grande destaque entre os fatores culturais. Este
aspecto atrai a população de outras cidades, e age com grande força na permanência da
população nestas localidades. A situação tranqüila das pequenas cidades exige dos
habitantes menor preocupação com a segurança própria e da família, quando
comparada à grande insegurança dos centros urbanos maiores, experiência vivenciada
pela população que retornou dessas áreas.
97
“Festas de Igreja”: o aspecto da religiosidade presente nas cidades analisadas
se mostra significativo, já que 10% da população não-migrante entrevistada apresentam
este fator como primordial para sua vida na localidade. Quando associado ao fator
“Festa do Padroeiro” acrescenta-se ainda 5% da freqüência de respostas voltadas para
aspectos religiosos. No caso da população migrante a freqüência destes fatores também
se destaca e os motivos religiosos totalizam freqüência de quase 10%.
Figura 18 – Igreja Matriz de São Sebastião – Ervália-MG
Fonte: http://www.panoramio.com/photo/5376109.
“Festas Juninas e Carnaval” e “Festas Típicas e Outras Festas”: embora
presentes em outras localidades as festas juninas e o carnaval nas localidades
analisadas foram considerados aspectos positivos, associados às especificidades locais
e à dinâmica da participação das pessoas nestes eventos. O mesmo se verifica quanto às
festas típicas e a outros tipos de festas, atentando para a permanência da população nas
pequenas cidades.
“Futebol e Outros Esportes”: a presença dos grupos de amigos que se reúnem
para praticar esportes, principalmente o futebol, é citada por algumas pessoas,
reafirmando a importância dos aspectos não-materiais.
98
4.3 – Análise Comparada de Resultados
Além da análise geral dos resultados referentes a cada grupo de fatores,
envolvendo o conjunto dos três municípios, é possível comparar a freqüência dos
diferentes fatores, segundo grupos diferentes compostos pelo conjunto da população
entrevistada. Numa primeira iniciativa de análise comparada, destaca-se a realidade das
pessoas residentes em cada uma das três localidades analisadas, identificando as
semelhanças e diferenças na percepção da população local. De modo geral, um
equilíbrio nas freqüências dos fatores identificados nas cidades de Ervália, Piranga e
Teixeiras.
A – Comparação entre Cidades
Ao se promover a comparação dos resultados relativos aos fatores econômicos
segundo as três localidades, verifica-se que as tendências de que alguns fatores (como
“Moradia”, “Bom atendimento à saúde” e “Boa escola”) se destaquem permanece,
principalmente no caso das cidades de Ervália e Piranga. A cidade de Teixeiras apresenta
maior diversidade nos resultados, sendo as freqüências entre os fatores econômicos mais
equilibrada. As maiores diferenças de freqüência se manifestam nos fatores Moradia”,
“Perto de tudo”, “Boa escola” e “Bom atendimento à saúde” (ver Tabela 4), chegando a
8%.
Tabela 4 – Comparação de freqüência de fatores econômicos em Ervália, Piranga e Teixeiras
CIDADES Moradia Perto de tudo Boa escola
Bom atendimento
a saúde
Ervália 16% 19% 17% 15%
Teixeiras 19% 15% 14% 11%
Piranga 13% 14% 12% 7%
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
A análise do grupo de fatores geoculturais mostrou a mesma situação quando
comparados os resultados das três cidades, apresentando freqüências semelhantes para as
cidades de Ervália e Teixeiras, com destaque para os fatores “Vizinhança e amigos”, “Bom
clima” e “Casa onde nasceu”. A percepção dos moradores esteve melhor distribuída no
99
caso de Piranga, em relação aos fatores geoeconômicos apresentados. As maiores
diferenças se manifestaram nos seguintes fatores: “Vizinhança e amigos”, “Bom clima”,
“Serra, colina” e “Noite e estrelas” (ver Tabela 5).
Tabela 5 – Comparação de freqüência de fatores geoculturais em Ervália, Piranga e Teixeiras
CIDADES
Vizinhança e
amigos
Bom clima Serra, colina Noite e estrelas
Ervália 28% 20% 4% 5%
Teixeiras 24% 25% 1% 11%
Piranga 17% 9% 9% 8%
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Os fatores culturais apresentaram resultados mais próximos entre as três
localidades, indicando uma tendência de valorização de alguns aspectos específicos da
realidade das três cidades, como o Apego à família” e a “Vida tranqüila”. Ainda assim,
encontram-se diferenças em termos da freqüência relativa de alguns atrativos mencionados
pelos entrevistados (ver Tabela 6).
Tabela 6 – Comparação de freqüência de fatores culturais em Erlia, Piranga e Teixeiras
CIDADES Apego à família Vida tranqüila
Festa típica e
outras festas
Futebol e outros
esportes
Ervália 16% 13% 10% 6%
Teixeiras 23% 19% 3% 7%
Piranga 17% 18% 4% 11%
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
B – Comparação entre Grupos Etários
Considerando os três grupos de idade
16
dos entrevistados, é possível
estabelecer comparação entre os resultados de freqüência obtidos em cada caso. Nos
fatores econômicos percebe-se que o fator Moradia” é analisado segundo uma mesma
perspectiva, apresentando valores semelhantes (freqüência de 19% para o grupo 1, 14%
para o grupo 2 e 16% para o grupo 3), o mesmo sendo verificado quanto ao fator “Bom
16
Grupo etário 1 (15 a 29 anos); grupo etário 2 (30 a 49 anos) e grupo etário 3 (acima de 50 anos).
100
atendimento à saúde (9%, 14% e 11% para os grupos etários 1, 2 e 3, respectivamente).
os fatores “Aposentadoria” e Boa escola apresentam padrões diferentes associados às
diferentes faixas etárias. Enquanto uma evidente diminuição da avaliação da
aposentadoria nas localidades analisadas por parte da população das faixas etárias menores
(grupos de idade 1 e 2), a população idosa considera este fator como um dos aspectos que
contribui para a permanência no local de residência atual; esse fator não foi citado entre
pessoas do grupo1, apresentou 3% de freqüência no grupo 2 e 8% no grupo 3. Uma
situação inversa foi percebida com relação do fator “Boa escola”, indicando que este
aspecto é considerado mais definitivo para a população jovem, representada por estudantes
ou pelos pais de crianças e adolescentes, e menos importante para os idosos. Este fator
alcançou freqüência de 18%, 16% e 9% entre pessoas dos grupos 1, 2 e 3, respectivamente.
Com relação aos fatores geoculturais, as áreas de lazer e encontro como as
representadas pelo fator Praça, rua e avenida” receberam maior destaque da população
dos grupos etários 1 e 3 (8% e 10% de freqüência, respectivamente), enquanto apenas 5%
da população do grupo etário 2 indicou a presença destes locais como fator positivo das
localidades. O fator “Casa onde nasceu” (freqüência de 12% para o grupo 1, 16% para o
grupo 2 e 8% para o grupo 3) manifestou importância principalmente no caso dos dois
primeiros grupos etários, que estes locais não existem mais para boa parte da população
idosa. O fator “Bom clima” apresentou-se muito importante para as três faixas etárias, cuja
freqüência é de 16%, 19% e 20%, respectivamente para os grupos etários 1, 2 e 3.
A análise dos resultados dos fatores culturais apresenta disparidades que
indicam a vivência da população de cada faixa etária. O fator “Futebol e outros esportes”
apresentou maior freqüência entre a população adulta do grupo de idade 2 (10%), sendo
seguido pelo grupo 1 (8%). Este fator é citado por último pela população idosa (4%),
podendo ser, parcialmente, resultado da maior dificuldade, para a prática de exercícios e
atividades que exigem grande esforço físico nessa faixa etária. O fator “Festas de Igreja” e
“Festa do padroeiro” apontam para uma religiosidade maior da população do terceiro
grupo etário (alcançando freqüência de 4%, 12% e 16%, para o primeiro fator e 2%, 5% e
9% para o segundo fator, para os grupos etários 1, 2 e 3, respectivamente). Resultado
inverso pode ser observado no que diz respeito ao fator “Festas juninas e carnaval” que
manifestaram freqüência de 15%, 9% e 4%, respectivamente para os três grupos de idade.
O fator “Vida tranqüila” alcançou alta freqüência no caso dos três grupos etários, sendo
considerado importante pelo conjunto da população (freqüência de 16%, 19% e 14%
respectivamente nos grupos de idade 1, 2 e 3.
101
C – Comparação entre Sexos
Comparando-se os resultados da população masculina e feminina, depara-se
com uma situação que evidencia as formas diferentes de interpretações da realidade,
distintas preocupações e valorização de aspectos singulares do cotidiano. A comparação
entre as freqüências dos fatores econômicos entre homens e mulheres indica resultados
muito próximos, sendo encontradas variações entre 1 e 3%. As alterações mais
significantes foram verificadas nos seguintes fatores: “Bom atendimento a saúde” (10%
para os homens e 13% para as mulheres) e “Aposentadoria” (5% e 2%, para homens e
mulheres, respectivamente).
Nos fatores geoculturais, as diferenças nas freqüências estão entre 1 e 4%,
sendo as mais significativas nos seguintes fatores: “Vizinhança e amigos” (26% para os
homens e 22% para as mulheres); “Casa onde nasceu” (14% para os homens e 11% para as
mulheres) e “Noite e estrelas” (6% para os homens e 11% para as mulheres). A
comparação entre freqüências dos fatores culturais manifestou maior nível de discrepância
em alguns fatores e pouca alteração em outros, chegando a 12%. Percebe-se que, para os
homens, tem grande importância o fator “Futebol e outros esportes” (15%), e para as
mulheres este fator é pouco significante, pois apresenta apenas 3% de freqüência. Verifica-
se também que o “Apego a família” é mais importante para as mulheres (19%) do que para
os homens (11%), embora estes também sejam apegados à família.
4.4 – Importância Relativa de Fatores Objetivos e Subjetivos
A não-migração vem manifestando importância cada vez maior diante das
atuais características migratórias brasileiras. Neste contexto, as pesquisas de campo
realizadas no presente trabalho permitem refletir a respeito dos principais fatores que
inibem as migrações e que contribuem para reter a população nas pequenas cidades. Nas
localidades que compõe o objeto de estudo verifica-se que grande parte da população não
possui experiência migratória e dentre estes, a maioria não tem planos de mudar de suas
cidades para outros locais. Sendo assim, a maior parte da população analisada é composta
por não-migrantes e apenas uma pequena parte é migrante ou possui experiência migratória.
102
Este fato permite chamar a atenção para a não-migração com mais insistência, por se tratar
da realidade mais comum de pequenas cidades da Zona da Mata mineira.
Através da apresentação dos dados a respeito da percepção da população não-
migrante em relação aos três grupos de fatores, é possível visualizar os elementos de maior
destaque no interior de cada grupo e as respectivas freqüências em que foram selecionados
pela população e ainda apresentar algumas informações qualitativas sobre a importância
destes fatores, captadas no decorrer da pesquisa. Uma análise mais elucidativa, no sentido
de compara os resultados das populações migrante e não-migrante pode ser realizada. Para
que se possa visualizar a importância relativa de cada grupo de fatores é preciso avaliar a
freqüência dos fatores que foram citados na última etapa do questionário, quando todos os
elementos selecionados no interior de cada grupo de fatores têm a mesma condição de
serem escolhidos. Desta forma, pode-se perceber a importância relativa de cada grupo de
fatores no caso dos dois grupos de população abordados.
A migração para as pequenas cidades que compõe a área de estudo é
determinada por alguns tipos específicos de movimentos migratórios, que apresentam
características distintas, assim como diferentes fatores determinantes. Destaca-se a
presença de movimentos migratórios de retorno que confirmam as observações a respeito
da inversão da tendência de perda populacional em Minas Gerais (GARCIA; MIRANDA
RIBEIRO, 2005) e na região da Zona da Mata mineira (PAIVA; TOMA, 2005).
Uma parcela da população ainda realiza os movimentos tradicionais que
caracterizam as migrações do tipo campo-cidade. Estes migrantes deixam as áreas rurais e
passam a residir nas cidades, realizando o êxodo rural. A maior parte das migrações deste
tipo tem origem em áreas do próprio município, embora alguns casos de migrantes vindos
de áreas rurais de outros municípios mineiros tenham sido identificados. Um outro tipo de
migração realizada pelos habitantes das cidades pesquisadas se direciona para áreas
urbanas dos grandes centros, entre eles Belo Horizonte e São Paulo. Esse movimento
migratório é realizado por pessoas que vêem na mudança para as grandes cidades uma
alternativa para a melhoria da condição de vida. Como a escolaridade desses migrantes é
pequena, o que dificulta sua inserção no mercado de trabalho, e os grandes centros vêm
expulsando população, uma parcela dessa população irá compor o contingente
populacional dos retornados.
O estudo de caso sugere que os fatores determinantes dos movimentos
migratórios são diferentes caso da população migrante e não-migrante. Os fatores objetivos,
com destaque para os econômicos, são determinantes para as pessoas que tiveram a
103
experiência de deixar as pequenas cidades e migrar para cidades maiores. Sendo assim,
embora residentes nas pequenas cidades, suas experiências migratórias foram motivadas
por fatores econômicos. O mesmo se pode inferir com relação à população que realiza o
êxodo rural, que buscam nas pequenas cidades empregos, melhoria de salários, acesso a
educação e saúde etc. No entanto, no caso dos migrantes que realizam a migração de
retorno e dos que buscam a pequena cidade após vivenciar a realidade da cidade grande, os
aspectos econômicos deixam de ser os mais importantes. Os fatores determinantes deste
tipo de movimento migratório são majoritariamente subjetivos. A preocupação com a
situação econômica não se ausenta, mas é relegada a segundo plano, uma vez que o
principal objetivo é a busca por melhor qualidade de vida, tranqüilidade, proximidade da
família etc. Neste caso, alguns migrantes consideram que a migração alcançou seu objetivo,
mesmo quando houve redução da renda familiar.
O gráfico a seguir (ver Gráfico 5) sintetiza as informações relativas aos
agrupamentos dos fatores selecionados pelos imigrantes habitantes das pequenas cidades
pesquisadas. Estes fatores podem ser considerados como motivos que contribuíram para a
decisão de migrar para as localidades onde os habitantes adquiriram experiência migratória
ou como motivos que conduziram à decisão de retornar aos pequenos municípios, no caso
dos migrantes retornados. Para a população que compõe os migrantes vindos de outras
localidades do estado de Minas Gerais ou de outra unidade da federação, estes fatores
constituem-se como motivos que incentivam a migração para as pequenas cidades.
Gráfico 5 – Síntese de resultado de entrevistas a população migrante - 2007
40%
36%
24%
Fatores Econômicos
Fatores Geoculturais
Fatores Culturais
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
104
Percebe-se, inicialmente que os resultados para os três grupos de fatores
apresentam diferentes freqüências. Os fatores econômicos, grupo que constitui os fatores
objetivos
17
, foram considerados de características positivas mais importantes (40%). A
freqüência deste grupo de fatores poderia ser ainda mais significativa, caso a população
migrante entrevistada fosse composta apenas por migrantes não retornados. A presença de
migrantes que realizaram o movimento de retorno tende a promover uma valorização
maior dos aspectos não econômicos das pequenas cidades.
Os fatores geoculturais apresentam freqüência de 36% nas respostas dos
entrevistados e os fatores culturais respondem por 24% das respostas. Considerando-se que
estes dois grupos compõem os fatores subjetivos, ao serem somados os valores de
freqüência a eles referentes, verifica-se que nas respostas dos entrevistados, os fatores
subjetivos apresentam-se mais significativos que os fatores objetivos. Enquanto 60% dos
aspectos positivos das localidades se concentram no grupo dos fatores subjetivos
(geoculturais e culturais), 40% das respostas se concentram entre os fatores objetivos
(econômicos)
18
.
A análise das informações obtidas junto à população não-migrante permite
concluir que os três grupos de fatores assumem proporções diferentes, quando comparado
aos resultados referente à população migrante. Este fato sinaliza para a importância de
outros fatores, entendidos como aspectos que contribuem para a permanência da população
nas pequenas localidades (ver Gráfico 6).
17
Os fatores geoculturais podem ser considerados também objetivos ou híbridos, dada a fisicalidade que
acompanha cada carta selecionada.
18
Se considerarmos que os fatores geoculturais são também culturais, conclui-se pela sua predominância
(60%) em reação aos fatores econômicos.
105
Gráfico 6 – Síntese de resultado de entrevistas à população não-migrante - 2007
31%
27%
42%
Fatores Econômicos
Fatores Geoculturais
Fatores Culturais
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo
(2007).
Observando-se o gráfico anterior, percebe-se que os fatores econômicos ainda
apresentam freqüência maior que os fatores geoculturais, como se verificou nas
respostas correspondentes a população migrante (Gráfico 5). A freqüência relativa aos
fatores econômicos na percepção da população migrante era de 40%, tendo alcançado
apenas 31% nas respostas da população não-migrante. O contrário se verifica no contexto
dos fatores geoculturais que representavam 36% das respostas, mas no segundo caso
passam a corresponder a 27%.
A grande alteração ocorreu na freqüência dos fatores culturais, que passou de
24% no caso da população migrante para 42% das respostas dos não-migrantes. Ao se
pensar na análise dos resultados da população não-migrante , considerando apenas a
classificação dos fatores em dois grupos, objetivos e subjetivos, o primeiro deles
comparece com freqüência de 31%, enquanto os fatores subjetivos assumem 69% das
respostas. Houve um aumento da importância relativa dos fatores subjetivos, em face do
aumento da participação dos fatores culturais.
Considerando a relevância dos fatores culturais, cabe analisar a diferença das
freqüências em que os fatores dos seus quatro subgrupos
19
foram selecionados pela
população. Internamente aos fatores culturais, também se percebe que há predominância da
escolha de fatores segundo subgrupos específicos. O gráfico 7 apresenta esta diferenciação,
considerando os questionários aplicados à população não-migrante. Os resultados relativos
à população migrante seguiram a mesma tendência da população não-migrante,
19
Os fatores econômicos encontram-se subdivididos nos seguintes grupos: cultura esportiva, cultura
comunitário-popular, cultura religiosa e cultura cívica.
106
apresentando freqüências muito próximas, o que dispensa sua apresentação. Percebe-se
nitidamente a predominância de fatores do subgrupo da cultura comunitário-popular
20
,
havendo quase uma sobreposição dos resultados nos dois grupos da população. Salienta-se
que, em parte, este resultado pode se associar à diferença do número de itens que compõe
cada subgrupo, indicando também uma importância maior conferida pela população a este
grupo de fatores.
Gráfico 7 – Freqüência dos subgrupos dos fatores culturais - 2007
11%
65%
15%
9%
Cultura Esportiva
Cultura Comunitário-popular
Cultura Religiosa
Cultura Cívica
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo
(2007).
Analisando-se as informações obtidas, evidencia-se que a importância relativa
dos fatores econômicos, geoculturais e culturais não são idênticas nos casos da população
migrante e não-migrante. Percebe-se que no primeiro caso os fatores econômicos se
destacam, enquanto que no segundo, os elementos culturais atingem percentuais maiores
que os verificados no primeiro caso. De forma geral, pode-se considerar que os fatores
econômicos ainda são vistos como prioritários para a população que faz opção pela
migração, enquanto a não-migração é determinada principalmente por fatores culturais,
que compõe aspectos mais subjetivos e de maior dificuldade de mensuração. Os aspectos
geoculturais são mais valorizados pela população imigrante, que possui parâmetro de
comparação entre a realidade das pequenas localidades onde residem e a situação das
localidades de onde vieram.
Considerando a classificação dos fatores objetivos e subjetivos, percebe-se que,
em relação a população não-migrante e, mesmo entre a população migrante, os números
favorecem os fatores subjetivos. Dessa forma, através dos resultados analisados, confirma-
20
Os itens que compõe o subgrupo da cultura comunitário-popular o:
Vida Tranqüila; Festas Juninas e
Carnaval, Festa pica e Outras Festas, Apego à Família, Barraquinhas, Artesanato, Passeios e Pescarias,
Bares, Restaurantes, Danças, Cantorias, Atividade de Teatro/Música.
107
se que, além dos motivos econômicos, a população migrante também considera os fatores
geoculturais e culturais para decidir pela migração. Além disso, confirma-se a imensa
participação dos fatores subjetivos, sobretudo dos fatores culturais, para a definição da
não-migração nas cidades analisadas.
108
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao ser avaliada a importância dos fatores objetivos e subjetivos como
determinantes dos movimentos migratórios, confirma-se a predominância dos elementos
econômicos no processo de decisão dos migrantes, o que havia sido indicado por meio
de estudos migratórios. Os fatores econômicos são particularmente marcantes no caso da
população que migra de cidades pequenas em direção a grandes centros urbanos, o que
pode ser comprovado na análise das experiências migratórias (ver Anexo 3). Além de
confirmar a decisão de migrar como fundamentalmente baseada em aspectos econômicos,
é possível perceber através deste trabalho que a importância conferida aos fatores objetivos
pela população migrante é maior, em comparação com a importância a eles atribuída pela
população não-migrante.
Buscando entender a importância dos fatores econômicos considerados como
aspectos que funcionam como estímulo para a permanência da população nas pequenas
cidades, cabe ainda acrescentar algumas reflexões propostas por Martins (2002). O autor
não entende a migração como uma forma de exclusão dos migrantes, seja antes ou após o
movimento migratório, como ela é muitas vezes compreendida. Segundo ele, verifica-se o
uso abusivo da noção de exclusão como se ela explicasse absolutamente tudo
(MARTINS, 2002, p. 119) e ao abordar a questão das migrações é preciso refletir sobre a
inconveniência conceitual e os equívocos desse conceito(MARTINS, 2002, p. 120). A
migração demonstra exatamente o contrário da exclusão, que ela nada mais é do que a
busca da população pela inclusão ou reinclusão no sistema capitalista. Para que se esteja
incluído no sistema é preciso ser consumidor. Considerando desta forma, a migração pode
ser entendida como uma dos mecanismos de buscar inserção no sistema.
O capitalismo, segundo Martins (2002), busca incluir cada ser humano
tornando-o membro da sociedade capitalista e, para tanto, ele promove o desenraizamento,
destruindo as relações sociais tradicionais, muitas vezes excluindo as pessoas de ambientes
nos quais elas estavam inseridas. O capitalismo insere as pessoas na sociedade capitalista
transformando-as em produtores e consumidores de mercadorias, reduzindo tudo a
mercadoria, inclusive a força de trabalho. Ao tornar uma pessoa proprietária apenas de sua
força de trabalho, seja ela comprada ou não, o capitalismo promove seu desenraizamento
109
(MARTINS, 2002). Agindo assim, o capitalismo motiva as pessoas a buscarem, de forma
prioritária, a satisfação de suas necessidades materiais e econômicas, em detrimento da
atenção à satisfação de suas outras necessidades. Ao final deste processo, Martins (2002)
entende que “é própria da sociedade capitalista a tendência de destruir as relações sociais
que não sejam relações capitalistas” (MARTINS, 2002, p. 120).
Neste contexto, um trabalhador a procura de trabalho é uma pessoa que está
procurando a reinclusão na sociedade através do meio mais seguro para que o expropriado
e desenraizado tenha uma inserção estável nas relações sociais (MARTINS, 2002). Um
migrante, que se desloca da localidade onde mantém suas relações cotidianas, e o faz por
estar em busca de emprego e melhoria de renda em outro local, pode ser tipicamente
considerado como uma pessoa em busca de inclusão mais promissora no sistema capitalista.
Atualmente, e cada vez mais, o tempo necessário para reincluir o excluído está ficando
cada vez mais longo, acentuando os problemas sociais. Analisando a busca por melhorias
econômicas, Martins (2002) entende que o problema, portanto, não está na exclusão. O
grave problema social e político está na inclusão” (MARTINS, 2002, p. 123). Para
repensar a situação brasileira o autor considera se necessário “discutir as formas de
inclusão, o preço moral e social da inclusão [...]” (MARTINS, 2002, p. 124).
A o-migração, neste contexto de busca pela melhoria econômica e social, é
apresentada pelo autor como uma forma de limitar a busca pela inserção no sistema
capitalista, constituindo-se, assim, como uma das modalidades de resistência (MARTINS,
2002). A migração, para o autor, representa uma estratégia normal na sociedade capitalista,
em que a busca pela inclusão envolve deslocamentos espaciais, enquanto a não-migração
aparece como um fenômeno que não é normal:
[...] é normal na sociedade moderna a migração. O que não é normal é
a não migração. O sujeito que nunca saiu do lugar dele para ir para
outro lugar para se reajustar neste ciclo de exclusão/inclusão, não é
normal. Normal é quem migra (MARTINS, 2002, p. 126).
Embora tais idéias sejam bastante discutíveis, que o capitalismo também
invade os espaços rurais e tradicionais, os não-migrantes, ao não optarem pela migração
assumiriam inconscientemente uma estratégia de resistência a esta busca por inserção nas
áreas centrais do sistema capitalista. Dessa forma, a população não-migrante manteria
relações sociais o estritamente capitalistas, inclusive valorizando fatores subjetivos em
detrimento dos fatores objetivos (econômicos). Neste âmbito associa-se a existência de
outras realidades e necessidades humanas, que não especificamente materiais, como aponta
110
Claval (2001), que a realidade dos grupos humanos e as atividades por eles exercidas
envolvem outras dimensões da vida. Além da necessidade material, as pessoas apresentam
necessidade de afirmar seu papel social, construir sua identidade, interrogar-se sobre o
significado da presença no mundo (CLAVAL, 2001).
A migração é apresentada por Martins (2002) como uma forma de promover a
separação das pessoas da satisfação das necessidades não materiais no ambiente em que
estavam acostumadas a vivenciar, em nome da busca pela inclusão no sistema
21
.
O que é próprio e característico desta sociedade, e do predomínio que
nela das leis de mercado sobre quaisquer outras leis sociais, é o
dezenraizamento, a destruição das relações sociais tradicionais e,
portanto, a exclusão das pessoas em relação aquilo que elas eram e
aquilo que elas estavam acostumadas a ser (MARTINS, 2002, p. 120).
Quando passam pelo dezenraizamento por se separarem da realidade não
material vivenciada nas localidades de origem, os migrantes muitas vezes tentam
reproduzir esta realidade nos seus locais de origem. Neste sentido, o autor recorda os locais
de destino de populações migrantes, em que, muitas vezes se verifica a reconstrução de
realidades semelhantes às dos locais de origem. O autor cita que na cidade de São Paulo se
verifica uma curiosa migração de ritos, de componentes culturais, sons, ritmos, sabores
etc., das culturas de origem de que as pessoas foram desenraizadas(MARTINS, 2002, p.
135). Assim, Martins (2002) manifesta a existência de um “transplante cultural”, quando se
verifica um apego àquilo que a mudança de localidade e de vida está tentando destruir ou
isolar.
A população não-migrante, ao contrário, é menos afetada por este processo de
desenraizamento, por não se lançar prioritariamente à busca de melhorias econômicas e,
assim, por uma melhor inserção no sistema capitalista. Cabe associar essa realidade da
não-migração aos fatores que contribuem para a fixação da população em seus locais de
origem. Ao conferir grande valor a convivência familiar, aos hábitos culturais das
localidades de origem, as suas características naturais e amesmo às suas potencialidades
econômicas, o o-migrante escapa deste processo que promove o desenraizamento das
pessoas. Ao optar pela não-migração o interesse econômico deixa de prevalecer, mas
proporciona a existência de condições de vida com menor satisfação das necessidades de
21
Associado a ação promovida pelas forças capitalistas, como descrito por Martins (2002), não se pode
negligenciar a ação conjunta dos fatores de expulsão, vivenciados, sobretudo no meio rural, como salienta
Singer (1980). Esses fatores de expulsão são agravados pelo processo de desenvolvimento do capitalismo,
mas sua existência não se restringe ao contexto estritamente capitalista.
111
consumo moderno, mas acena para o desenvolvimento suportado por necessidades não
materiais com a preservação de vínculos das pessoas com os seus lugares de origem. Sendo
assim, a não-migração, associada a valorização dos fatores subjetivos locais, contribui
potencialmente para a manutenção dos hábitos e culturas que podem se perder nos quadros
de busca pela inserção nos contextos de modernização e urbanização atuais quando a busca
da inserção no sistema capitalista ocorre através dos movimentos populacionais.
A relação que cada pessoa mantém com o lugar onde reside, no qual satisfaz
diferentes necessidades sinaliza para a familiaridade com outras pessoas, manifestada
através dos laços sociais, e com os objetos e realidade locais. Nesta participação efetiva na
realidade local, considera-se que haja um enraizamento da população no local onde reside,
promovido pela vivência cotidiana. Ao refletir sobre os lugares, dentre eles as pequenas
cidades, não se pode apenas pensar em uma porção do espaço identificada pelas relações
que mantém a sobrevivência da sociedade. Cabe acrescentar que, além dessa realidade
objetiva, depara-se com um investimento por parte da população que reside nestas áreas,
dotando-as de sentido e de racionalidades próprias na medida em que vivem nelas e se
reproduzem. Ao serem questionados a respeito dos fatores positivos de suas localidades, as
pessoas entrevistadas buscam na memória essa relação com os seus lugares, e por meio
deste suporte, deixaram transparecer a importância dos fatores subjetivos, especialmente
dos fatores culturais, para a manutenção da vida nestas cidades.
Além disso, certas áreas ou porções do espaço são objeto de um investimento
afetivo mais profundo do que outras(CLAVAL, 2004, p. 52), por sediarem atrativos de
grande importância simbólica, como as igrejas, os museus, as praças e as áreas de lazer. A
individualidade destes lugares a partir das relações das pessoas com o espaço faz com que,
mesmo havendo paisagens semelhantes em outros locais, seja impossível reproduzir a
relação dos sujeitos com este novo espaço, não sendo ele dota-lo do mesmo sentido. Os
espaços se configuram ainda como locais de registros históricos de momentos vividos nos
lugares, definidos pelas relações que são estabelecidas também no tempo.
Apesar da possibilidade de várias reflexões propiciadas pelo trabalho
desenvolvido a respeito dos fatores determinantes da não-migração e da migração, outras
discussões podem ser implementadas a partir dos dados coletados e das informações
obtidas, que não foram aqui apresentadas por não representarem objetivo da discussão
proposta. Outros aspectos, no entanto não puderam ser alcançados, como, por exemplo, a
compreensão e a visão da migração a partir da análise da não-migração nas cidades
investigadas. As discussões e possibilidades de análise o foram aqui esgotadas. O
112
mesmo se pode dizer com relação à temática abordada, cabendo ainda muitos
investimentos no sentido de contribuir para a compreensão mais efetiva da não-migração.
Ainda merece investimentos a investigação sobre a relação entre a dinâmica demográfica e
as relações do homem com a parcela do espaço geográfico representada pelos lugares que
ocupa e com os quais convive.
Por último, mas não menos importante, convém sublinhar a importância no
Brasil de oportunidades de financiamento à pesquisa acadêmica disponibilizadas por
agências como o CNPq
22
e a FINEP
23
. Sem elas ficaria limitado o desenvolvimento da
pesquisa “Desigualdades socioespaciais e descentralização territorial” sediada no
Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG na qual estou inserida e
que aglutina mais de vinte pesquisadores, professores e alunos, de várias instituições de
ensino superior do país. Sem os recursos da FINEP não seria possível pôr à prova a
metodologia de pesquisa estruturada pelo Professor Ralfo Matos, explorar suas
potencialidades, verificar suas limitações e contribuir para o seu aperfeiçoamento.
22
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é uma agência do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) destinada ao fomento da pesquisa científica e tecnológica e à
formação de recursos humanos para a pesquisa no país.
23
A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) promove e financia a inovação e a pesquisa científica e
tecnológica em empresas, universidades etc.
113
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117
ANEXOS
118
Anexo 1 – Fatores de Pesquisa de Campo
FATORES ECONÔMICOS
1. Moradia
2. Transporte
3. Água, Luz e Esgoto
4. Emprego
5. Alimentação
6. Perto de Tudo
7. Tudo é Barato
8. Heranças de Família
9. Bom Salário
10. Aposentadoria
11. Bom Atendimento a Saúde
12. Boa Escola
13. Outro
FATORES GEOCULTURAIS
1. Rio, Córrego, Lago, Represa
2. Mata, Bosque, Parque, Jardim
3. Serra, Colina
4. Céu, Pôr do sol, Nascer do sol
5. Noite e Estrelas
6. Bela Vista, Paisagens
7. Praça, Rua, Avenida
8. Prédio Importante
9. Trecho da Cidade
10. Casa Onde Nasceu
11. Vizinhança e Amigos
12. Bom Clima
13. Outro
FATORES CULTURAIS
A - CULTURA ESPORTIVA
1. Jogos com Amigos
2. Futebol e Outros Esportes
B - CULTURA COMUNITÁRIO-POPULAR
3. Vida Tranqüila
4. Festas Juninas e Carnaval
5. Festa Típica e Outras Festas
6. Apego à Família
7. Barraquinhas
8. Artesanato
9. Passeios e Pescarias
10. Bares, Restaurantes
11. Danças, Cantorias
12. Atividade de Teatro/Música
C - CULTURA RELIGIOSA
13. Padroeiro da Cidade
14. Festas da Igreja
D - CULTURA CÍVICA:
15. Associação de Bairro
16. Organização (ONGs, Sindicatos ou outra)
17. Partido Político
18. Clube
19.
Outro
119
Anexo 2 – Gráficos resultantes da abordagem à população migrante
Fatores Econômicos - 2007
11%
8%
6%
6%
10%
17%
4%
4%
1%
5%
13%
11%
4%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Fatores Geoculturais - 2007
9%
1%
1%
2%
7%
13%
7%
2%
2%
7%
23%
15%
11%
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Serra, Colina
Céu, Pôr do sol, Nascer do sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhança e Amigos
Bom Clima
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Fatores Culturais - 2007
6%
6%
14%
9%
7%
16%
2%
3%
6%
7%
1%
2%
7%
1% 3%
2%
5%
1%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranqüila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Barraquinhas
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Atividade de Teatro/Música
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Organização (ONGs, Sindicatos etc)
Partido Político
Clube
Outro
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
120
Anexo 3 – Relatos de Experiências Migratórias
Visando identificar os fatores importantes que atraíram estes migrantes para as
pequenas localidades e incentivam a sua permanência no local, desenvolveu-se uma etapa
complementar à pesquisa. Após compreender os fatores positivos das localidades sob o
ponto de vista deste grupo da população composto por 67 (sessenta e sete indivíduos) que
compõem 20 (vinte) famílias, dedicou-se a investigar os motivos apontados como causas
dos movimentos migratórios realizados e as diferentes situações dos migrantes nestas
localidades.
Considerando a origem dos migrantes entrevistados, mais da metade tem suas
raízes nas mesmas localidades onde foram entrevistados. Em alguns casos os próprios
entrevistados nasceram na cidade, em outros, os pais ou avós são naturais do local e um
número menor de pessoas que se mudou, tem a família do cônjuge como natural da cidade.
Esse fator caracteriza tipicamente a migração de retorno dos mineiros que voltam de
cidades do próprio estado e de outros estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná) e
confirmam as conclusões dos trabalhos de Garcia e Miranda Ribeiro (2005), sobre o
movimento migratório de retorno no estado de Minas Gerais, e de Paiva e Toma (2005), a
respeito da dinâmica demográfica da Zona da Mata mineira. Percebe-se através das
realidades dos entrevistados que a opção de voltar para a localidade de origem ou de
residência dos pais e familiares está sempre presente quando vivenciam algum problema na
cidade de destino da migração
24
.
Verificou-se ainda alguns casos de migrantes de origem rural (do mesmo
município ou de municípios próximos) se dirigindo a área urbana das cidades. Este fato
confirma as informações do crescimento gradativo do grau de urbanização nas três
localidades investigadas e da diminuição da população rural ou seu menor crescimento
quando comparada ao crescimento urbano.
As pessoas que realizaram migração de retorno para as pequenas cidades
tiveram sua experiência migratória em localidades de maior porte: Viçosa, Belo Horizonte,
cidades do estado de São Paulo e Mato Grosso. Acrescenta-se ao número dos migrantes
24
Como exemplo desta realidade pode-se citar a seguinte situação, encontrada entre os casos
entrevistados na cidade de Piranga: uma família migrou de Piranga, cidade natal da esposa, para Belo
Horizonte. Após 10 anos de residência na capital o casal se separou. Para vencer a situação a esposa decidiu
voltar com os filhos para a localidade de origem, onde conta com o apoio dos pais. No entanto, o contato com
uma cidade maior cria uma expectativa para migrar novamente, quando as condições forem mais favoráveis.
121
desse tipo de migração, os acompanhantes que não são naturais da mesma localidade, logo
não o retornados, como cônjuges e filhos. É o caso de pessoas que se casam e tem filhos
nas cidades para onde migraram e que retornam acompanhados pelos membros da família,
não naturais da mesma cidade.
Em todos os casos os migrantes buscam melhorar suas condições de vida
através dos motivos que conduzem à migração. As pessoas que se mudaram para outra
localidade sozinhas ocupam faixas etárias mais jovens (entre 15 e 30 anos), alguns estão
em busca de formação profissional e outros em busca de emprego. A maior parte dos
entrevistados possui experiência migratória com apenas uma cidade diferente da localidade
de origem, havendo alguns casos em que várias migrações foram realizadas, indo e
voltando, para um mesmo local.
Os motivos que levaram a mudança de localidade são muito variados e
dependem da faixa etária e da condição do migrante. Como visto anteriormente, Elizaga
(1980) entende que os motivos para migrar podem ser relativos e dependem do fator
pessoal; um mesmo motivo pode ser considerado estímulo ou obstáculo para a migração.
Na metade dos casos a motivação central da migração se refere à busca por melhoria das
condições de vida, principalmente com relação à procura por emprego e melhor
remuneração.
Dentre as vinte famílias que participaram desta etapa das investigações, duas
demonstraram maior preocupação com a qualidade de vida, no sentido de valorizar fatores
como tranqüilidade e menor violência, em detrimento da preocupação com a condição
financeira. Estas famílias tiveram experiência com centros maiores onde as realidades
encontradas sinalizam um fator de expulsão, embora a qualidade dos empregos possa
exercer atratividade, como indicou Matos (2002) ao fazer referência à escassez de postos
de trabalho, piora nas condições de vida das famílias, aumento da violência e criminalidade
como motivos para inversão da tendência de aglomeração populacional nos grandes
centros urbanos. Embora a renda dessas famílias tenha diminuído com a vinda para uma
localidade menor essas pessoas consideram que o movimento migratório alcançou seu
objetivo.
Duas outras famílias apresentaram como motivo para a migração as melhores
oportunidades encontradas na localidade de residência atual, quando comparadas às
condições de vida no local de origem da migração. Neste caso, o uso do termo
oportunidades inclui possibilidades de emprego, acesso à educação e aos serviços de saúde,
possibilidade de ascensão social, acesso a produtos e serviços variados, proximidade de
122
outras cidades etc. Além disso, as oportunidades a que se referem estes migrantes são
avaliadas em comparação com a realidade vivenciada na área de origem (um deles veio da
área rural da própria cidade e outro da área urbana de um município ainda menor que a
cidade para onde migrou).
Nos demais casos migratórios, várias situações se apresentaram como
justificativas para a migração: motivo religioso
25
, saudades dos familiares residentes nas
pequenas localidades (principalmente os pais), separações familiares, tratamento de
saúde
26
e motivos políticos
27
.
Também foram encontrados casos típicos de decepção com a experiência
migratória quando esta se dirigiu para um centro maior. Nestes casos a migração teve
como fator determinante a atratividade exercida pelos grandes centros urbanos e a idéia de
que a vida seria mais fácil numa cidade maior que oferece muitas oportunidades
28
.
Em quase todos os casos verificou-se que já havia um contato anterior dos
migrantes no local de destino do movimento migratório. A maior parte dos migrantes
contou com apoio de familiares. Quando se trata de pessoas que se dirigiram das pequenas
cidades para centros maiores, muitas vezes havia algum familiar residindo no local de
destino, em muitas situações, um irmão. Para os casos de migração de retorno, o apoio
familiar também se mostrou importante, ganhando destaque a participação dos pais. Outras
vezes a pessoa com quem os migrantes tinham contato se constituía de amigos, conhecidos
ou colegas de trabalho. A importância de se ter um conhecido na área para onde se realiza
a migração é destacada por Elizaga (1980), que a existência de uma rede de vinculações
25
Uma família entrevistada na cidade de Ervália atribui seu movimento migratório ao motivo religioso.
Eles são missionários de uma igreja protestante e migram com o objetivo de disseminar a sua e trabalhar
na evangelização. Além da cidade de Ervália, a família manifesta o desejo de migrar indefinidamente para
várias localidades impelida pelo mesmo objetivo, e, se possível percorrer o mapa do Brasil(informação
verbal). Gravações de pesquisa de campo realizadas na cidade de Ervália-MG.
26
Dois casos entre os entrevistados alegaram motivo de saúde para a realização do movimento
migratório. No primeiro deles, trata-se de dificuldade de acesso a tratamento na localidade de residência
anterior (Mato Grosso), o que conduziu ao movimento migratório de retorno, da família, natural da cidade de
Ervália. No segundo caso a preocupação com a saúde de um dos membros da família levou seus membros a
migrarem da zona rural do município para a área urbana, onde é mais fácil o acesso às unidades de saúde.
27
Membros de uma família migraram da cidade de Viçosa com o objetivo de apoiar a candidatura de
um amigo a prefeito da cidade de destino, tornando-se assessores em sua campanha política. Paralelo a este
motivo, buscou-se uma melhoria das condições financeiras da família ao ocupar essa função.
28
Em uma das experiências frustradas, uma jovem migrou para São Paulo, contando com o apoio de
uma irmã que morava na cidade. Ela residiu em o Paulo durante três anos e se refere a sua experiência
da seguinte forma: “Fui por curiosidade, todo mundo falava, diziam que São Paulo era muito bom...
Procurei um emprego, melhorar de vida, porque eles falavam que era tudo fácil... Mas, fácil não é não.
Pra mim foi ilusão, foi tudo ilusão, eu prefiro ficar aqui. A vida piorou, nossa!..., piorou muito, muito, muito.
Achei ruim quase tudo, mudar não alcançou o objetivo, por isso eu voltei(informação verbal). Gravações
de pesquisa de campo.
123
é uma das condições objetivas que intervém na decisão de migrar. O autor apresenta os
contatos pessoais dos migrantes com pessoas residentes nos locais de destino como um dos
importantes fatores que conduzem à concretização do movimento migratório. A rede de
vinculações na qual se apóia a população migrante apresenta uma atuação favorável ao
movimento migratório, que seu principal papel é diminuir a preocupação dos migrantes
com relação às condições a serem encontradas no local de destino, ao encaminhamento ao
mercado de trabalho e local de residência. Somente em três situações os migrantes
entrevistados demonstraram não ter nenhum contato prévio no local para onde foi realizada
a migração
29
.
A alteração da renda a partir da migração também representa um aspecto
importante na compreensão do processo migratório. A metade dos entrevistados afirmou
que houve melhoria na renda familiar, quase todos entendem que a mudança de localidade
alcançou o seu objetivo. No caso dos demais migrantes a renda não apresentou alteração
ou piorou e nestas situações a maior parte deles considera que a migração não serviu a seus
objetivos. Em alguns casos o objetivo central da migração não era a melhoria das
condições financeiras, o que não elimina a possibilidade de ter sido alcançado também este
benefício. Quando o motivo norteador da migração não era econômico, os objetivos foram
considerados alcançados. Um dos migrantes entrevistados destacou ainda que embora os
rendimentos tenham diminuído, considera-se que a renda tenha aumentado, já que o custo
de vida diminuiu; com gastos menores, não importa que tenha havido diminuição nos
salários. Este fator (aumento do custo de vida nos grandes centros urbanos) também foi
considerado por Matos (2002) como um fator de expulsão em relação às cidades de maior
porte, devido ao aumento do custo de moradia, (preço de terrenos, impostos, aluguéis etc.),
acrescido dos gastos com transporte e segurança.
A propensão para a realização de um novo movimento migratório também foi
questionada. A metade dos entrevistados informa seu desejo de migrar novamente. Em
alguns casos de população não natural das pequenas cidades que migrou para elas, verifica-
se o desejo de realização de migração de retorno, já que consideram não ter alcançado o
objetivo ao migrar. Mesmo entre os migrantes que tiveram seus objetivos alcançados,
29
O primeiro caso de migrantes que não tinham nenhum contato com familiar ou conhecido no local de
destino da migração se refere à família de missionários; embora um contato anterior pudesse facilitar a
instalação e adaptação ao novo local, este fator não se manifestou imprescindível, devido ao objetivo
religioso da migração. No segundo caso, uma família migrou para uma das pequenas cidades a partir de um
anúncio de emprego para o qual um dos membros da família foi contratado. Sendo assim, o contato com
algum conhecido não se manifestou imprescindível, visto que os migrantes possuíam condições de se
estabelecerem na cidade. No último caso, um jovem migrou da área rural para a área urbana do mesmo
município, onde tinha vários conhecidos, embora não tenha recorrido a ajuda deles para se estabelecer.
124
verifica-se que ainda permanece o desejo de retornar para o local de origem. Outros
entrevistados manifestam o desejo de buscar outros locais onde possam se aperfeiçoar
profissionalmente, continuar os estudos ou acompanhar os filhos que vão estudar em outras
localidades. O desejo de efetuar um novo movimento migratório se direciona
prioritariamente para centros urbanos maiores que os locais de residência atual.
125
Anexo 4 – Análise Comparada de Resultados por Cidade
FATORES ECONÔMICOS:
Ervália/MG - 2007
16%
6%
3%
3%
12%
19%
3%
3%
1%
2%
15%
17%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
Teixeiras/MG - 2007
19%
7%
4%
6%
11%
15%
2%
4%
3%
3%
11%
14%
1%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
Piranga/MG- 2007
13%
5%
9%
5%
13%
14%
5%
7%
3%
5%
7%
12%
2%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
126
FATORES GEOCULTURAIS
Ervália/MG - 2007
1%3%
4%
3%
5%
7%
8%
2%
5%
12%
28%
20%
2%
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Serra, Colina
Céu, Pôr do sol, Nascer do sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhaa e Amigos
Bom Clima
Outros
Teixeiras/MG 2007
7%
11%
7%
6%
1%
3%11%
24%
25%
1%
1%
3%
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Serra, Colina
Céu, Pôr do sol, Nascer do sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhaa e Amigos
Bom Clima
Outros
Piranga/MG - 2007
7%
6%
9%
5%
8%
11%
8%
2%
4%
12%
17%
9%
2%
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Serra, Colina
u, Pôr do sol, Nascer do sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhaa e Amigos
Bom Clima
Outros
127
FATORES CULTURAIS
Ervália/MG - 2007
4%
6%
13%
9%
10%
16%
2%
6%
2%
2%
6%
13%
3%
2%
1%
4%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranqüila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Danças, Cantorias
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Organização (ONGs, Sindicatos ou outra)
Partido Político
Clube
Outro
Teixeiras/MG - 2007
19%
11%
3%
23%
1%
1%
6%
2%
1%
1%
4%
12%
2%
1%
2%
2%
3%
7%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranqüila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Barraquinhas
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Atividade de Teatro/Música
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Organização (ONGs, Sindicatos ou outra)
Partido Político
Clube
Outro
Piranga/MG - 2007
2%
18%
10%
4%
17%
3%
2%
6%
5%
3%
3%
5%
3%
2%
4%
2%
1%
11%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranqüila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Danças, Cantorias
Atividade de Teatro/Música
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Organização (ONGs, Sindicatos ou outra)
Partido Político
Clube
Outro
128
Anexo 5 – Análise Comparada de Resultados por Sexo
FATORES ECONÔMICOS
Homens - 2007
16%
6%
7%
6%
13%
16%
4%
3%
5%
10%
14%
1%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo
(2007).
Mulheres - 2007
16%
6%
5%
4%
13%
16%
3%
3%
2%
2%
13%
16%
1%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo
(2007).
129
FATORES GEOCULTURAIS
Homens – 2007
5%
5%
3%
5%
6%
5%
7%
1%
3%
14%
26%
19%
1%
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Serra, Colina
Céu, Pôr do sol, Nascer do sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhança e Amigos
Bom Clima
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo
(2007).
Mulheres – 2007
5%
2%
2%
6%
11%
8%
8%
2%
4%11%
22%
18%
1%
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Serra, Colina
Céu, r do sol, Nascer do sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhança e Amigos
Bom Clima
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo
(2007).
130
FATORES CULTURAIS
Homens - 2007
3%
15%
16%
12%
5%
11%
2%
1%
5%
3%
1%
2%
6%
8%
2%
3%
3%
2%
1%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranqüila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Barraquinhas
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Danças, Cantorias
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Partido Político
Clube
Outro
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo
(2007).
Mulheres - 2007
19%
13%
7%
19%
3%
7%
3%
3%
9%
1%
2%
1%
3%
2%
1%
1%
1%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranqüila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Barraquinhas
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Danças, Cantorias
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Partido Político
Clube
Outro
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo
(2007).
131
Anexo 6 – Análise Comparada de Resultados por Grupos Etários
FATORES ECONÔMICOS
Grupo Etário 1 - 2007
19%
5%
6%
6%
13%
16%
2%
3%
2%
0%
9%
18%
1%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Grupo Etário 2 - 2007
14%
6%
3%
6%
13%
16%
3%
3%
2%
3%
14%
16%
1%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Grupo Etário 3 - 2007
16%
7%
7%
1%
11%
14%
5%
7%
3%
8%
11%
9%
1%
Moradia
Transporte
Água, Luz e Esgoto
Emprego
Alimentação
Perto de Tudo
Tudo é Barato
Heranças de Família
Bom Salário
Aposentadoria
Bom Atendimento a Saúde
Boa Escola
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
132
FATORES GEOCULTURAIS
Grupo Etário 1 - 2007
5%
2%
1%
6%
12%
6%
8%
1%
4%
12%
26%
16%
1%
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Serra, Colina
u, Pôr do sol, Nascer do sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhança e Amigos
Bom Clima
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Grupo Etário 2 - 2007
6%
4%
4%
4%
7%
7%
5%
1%
2%
16%
24%
19%
1%
Rio, Córrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque, Jardim
Serra, Colina
u, Pôr do sol, Nascer do sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhança e Amigos
Bom Clima
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
Grupo Etário 3 - 2007
3%
5%
3%
6%
6%
7%
10%
2%
5%
8%
24%
20%
1%
Rio, rrego, Lago, Represa
Mata, Bosque, Parque,
Jardim
Serra, Colina
Céu, Pôr do sol, Nascer do
sol
Noite e Estrelas
Bela Vista, Paisagens
Praça, Rua, Avenida
Prédio Importante
Trecho da Cidade
Casa Onde Nasceu
Vizinhança e Amigos
Bom Clima
Outros
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
133
FATORES CULTURAIS
Grupo Etário 1 - 2007
8%
16%
15%
9%
16%
5%
3%
2%
1%
4%
1%
6%
2%
4%
1%
1%
2%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranqüila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Barraquinhas
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Danças, Cantorias
Atividade de Teatro/Música
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Organização (ONGs, Sindicatos)
Partido Político
Clube
Outro
Grupo Etário 2 - 2007
10%
19%
9%
5%
19%
4%
1%
12%
2%
3%
5%
1%
3%1%
2%
2%
2%
1%
2%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Barraquinhas
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Danças, Cantorias
Atividade de Teatro/Música
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Organização (ONGs, Sindicatos)
Partido Político
Clube
Outro
Grupo Etário 3 - 2007
14%
4%
5%
20%
9%
16%
9%
4%
1%
1%
4%
1%
2%
1%
2%
4%
2%
2%
Jogos com Amigos
Futebol e Outros Esportes
Vida Tranila
Festas Juninas e Carnaval
Festa Típica e Outras Festas
Apego à Família
Barraquinhas
Artesanato
Passeios e Pescarias
Bares, Restaurantes
Danças, Cantorias
Atividade de Teatro/Música
Padroeiro da Cidade
Festas da Igreja
Associação de Bairro
Organização (ONGs, Sindicatos)
Partido Político
Clube
Outro
Fonte: Informações obtidas em trabalho de campo (2007).
2
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da UFV
T
Lisboa, Severina Sarah, 1981-
L769d Da migração à não-migração: o exemplo de pequenas
2008 cidades da Zona da Mata Mineira / Severina Sarah Lisboa.
– Belo Horizonte, MG: UFMG, 2008.
133f. : il. (algumas col.); 29cm.
Inclui anexos.
Orientador: Ralfo Edmundo da Silva Matos.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de
Minas Gerais.
Referências bibliográficas: f. 113-116.
1. Geografia da população. 2. Migração interna -
Ervália (MG). 3. Migração interna - Piranga (MG).
4. Migração interna - Teixeiras (MG). 5. Migração
interna - Aspectos sociais. I. Universidade Federal de
Minas Gerais. II.Título.
CDD 22.ed. 304.832308624
Livros Grátis
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