RESUMO
A cura parasitológica e clínica da doença de Chagas em pacientes tratados na
fase crônica é de avaliação complexa e quando observada, ocorre tardiamente
especialmente nos tratados na fase crônica. A definição da cura envolve o emprego de
vários exames clínicos e laboratoriais que necessitam ser repetidos por um período
longo de observação. O objetivo deste trabalho foi realizar uma avaliação
epidemiológica, clínica e laboratorial, antes e nove anos depois do tratamento etiológico
com benzonidazol, de pacientes com infecção chagásica crônica e apresentando
diferentes formas clínicas da doença. Trinta e um pacientes tratados em 1997 foram
avaliados, epidemiológica, clínica (anamnesis, exame físico, ECG, RX de tórax) e
laboratorialmente [hemocultura, PCR, sorologia convencional (ELISA, HAI) e não
convencional (pesquisa de anticorpos anti-tripomastigota vivo (AATV)]. Foi constatada
melhoria das condições de moradia de 51,7% dos pacientes. Do total de pacientes,
77,4% reconheceram os triatomíneos vetores da doença de Chagas e 70,9% deles
possuem algum parente vivo com doença de Chagas ou que tenha tido esta doença
como causa “mortis”. Dos pacientes tratados na forma indeterminada da doença, 95,5%
(21/22) se mantiveram na forma indeterminada e somente 4,5% (4/31) do total dos
pacientes apresentaram evolução clínica. Dos cinco pacientes tratados que apresentavam
inicialmente alguma forma clínica, três evoluíram clinicamente e dois permaneceram
clinicamente estáveis. Pós-tratamento, a hemocultura foi positiva em 9,6% (3/31) dos
casos sendo todos sintomáticos; a PCR foi positiva em 40% (12/30), negativa em 16,6%
(5/30) e oscilante em 43,4% (13/30) dos pacientes; as sorologias convencional e não
convencional, foram positivas em todas as amostras. A reação de ELISA
semiquantitativa comparada entre as amostras de soro de 18/31 pacientes obtidas antes e
nove anos pós-tratamento, apresentou queda sorológica significativa (p<0,05) dos níveis
de anticorpos nos pacientes que receberam tratamento na forma indeterminada da
doença. Não foi observada alteração significativa dos níveis de anticorpos em pacientes
que antes do tratamento apresentaram alterações eletrocardiográficas ou radiológicas
compatíveis com doença de Chagas. Não foi observada mudança significativa na
pesquisa de anticorpos anti-tripomastigota vivo avaliada pela reação de citometria de
fluxo, sete e nove anos após o tratamento. Foi demonstrado pela reação de ELISA
semiquantitativa que a diluição de soro 1:320 foi melhor para discriminar a queda
sorológica de anticorpos IgG anti-Trypanosoma cruzi em pacientes tratados com
benzonidazol. A variação de absorvância medida antes e nove anos após tratamento
confirmou que essa diluição foi melhor para avaliação precoce da eficácia terapêutica
na doença de Chagas. Embora as avaliações laboratoriais não tenham revelado nenhuma
cura parasitológica, cinco pacientes apresentaram dados laboratoriais (PCR e
hemocultura negativas e queda na reatividade sorológica observadas apenas naqueles
que apresentaram após tratamento, a forma indeterminada da doença) indicativos de
ação terapêutica. Os resultados sugerem que o tratamento impediu ou retardou a
evolução clínica da doença de Chagas em 95,5% (21/22) dos pacientes tratados com a
forma indeterminada da doença e em 40% (2/5) pacientes tratados com alguma forma
clínica da doença de Chagas. Em conjunto, estes resultados sugerem ainda, mesmo na
ausência de cura parasitológica comprovada, efeitos benéficos do tratamento uma vez
que o índice de evolução clínica dos pacientes tratados com a forma indeterminada da
doença foi muito baixo (0,5%/ano). Novas avaliações, com período maior de
acompanhamento, serão necessárias para melhor verificar a eficácia terapêutica.