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1.1.2 - O século XIX/XX- A Unicausalidade das Doenças
“os infusórios invisíveis são ocasionalmente
daninhos, mas apenas, pelo que parece, matando
peixes em tanques, tornando a chuva turva,
produzindo cheiros desagradáveis e assustando
pessoas supersticiosas. É
improvável que eles causem malária, pragas e outras
doenças – e isso nunca foi
mostrado de modo seguro. [...]”
(EHRENBERG apud MARTINS, 1997, p.121)
Duas correntes de pensamento relacionadas à saúde predominavam no século
XIX: a miasmática, que considerava, grosso modo, as condições do ar como
propagadoras de doenças; e a teoria do contágio, em que o contato com contaminantes
(sejam eles organismos vivos ou não) poderia causar danos à saúde humana (COSTA e
TEIXEIRA, 1999).
A teoria dos miasmas que considerava que o mau cheiro provocava as doenças
surgiu no século XVIII, segundo Martins (1997), mas a aplicação destes conhecimentos
na Europa a fim de reduzir as doenças aconteceu no século XIX, quando um grupo de
médicos sanitaristas sugeriu intervenções para a redução da mortalidade de pessoas
2
. E
conseguiram reduzir bastante o quadro implantando soluções em higiene, promovendo a
saúde da população. Segundo o autor, os primeiros estudos científicos que relacionavam
as condições do ar e as doenças foram realizados pelo naturalista Joseph Priestley no
final do século XVIII. Houve um momento de confusão sobre o verdadeiro transmissor
das doenças, no qual os pesquisadores consideravam apenas o contágio, de um ser
humano para outro.
No mesmo período, foram estudados os parasitas intestinais que, segundo os
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As primeiras cidades modernas eram parte de um contexto moldado na engenharia sanitária, constituído
pelos moldes europeus de formação, em que o crescimento era visto como algo problemático. Em sua obra
História da Cidade, Benévolo (1993) elabora sobre a influência do contexto industrial na configuração da
cidade moderna, com o surgimento da periferia na Europa do século XIX, mostrando o sanitarismo como
pano de fundo para as reformas na cidade industrial. Nicolau Sevcenco (1998), em sua obra “A República:
Da Belle Epoque à Era do Radio” versa sobre a influência destes moldes na reconstrução do centro e porto
do Rio de Janeiro do início do século XX, a chamada Belle Époque. Foram agrupadas três dimensões de
reconstrução da cidade, nomeadas pelo presidente Rodrigues Alves, deveria ser implementada a reforma do
porto iniciada com o Engenheiro Lauro Muller, o saneamento, a cargo de Oswaldo Cruz e a nova
configuração da cidade, nos moldes de Paris, que seria feita pelo engenheiro urbanista Pereira Passos. Já Para
Marques (1998) o urbanismo teria se iniciado no Brasil com os trabalhos dos sanitaristas Saturnino de Brito e
Aarão Reis, entre 1890 e 1900.