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ordem estabelecida. Elas lançam a possibilidade para depois retomar os papéis tradicionais a
que a mulher sempre esteve atrelada. Nas entrevistas isto foi também demarcado, já que
enquanto algumas admitem que a mulher ainda não conquistou o seu espaço, que ainda está
submetida a um regime onde o homem é dominador, que ainda há um longo caminho a ser
percorrido (como Olívia e Carolina), outras defendem o discurso de que a mulher já está em
um outro lugar (Adriana e Duda):
Nós ainda estamos em uma sociedade extremamente patriarcal,
machista, centralizada, as mulheres continuam precisando lutar para
demonstrar coisas, mostrar que conseguem. (...) Tu vê agora, em época de
eleição, em ano partidário, 20% de cotas no partido pra manter candidatas.
A grande maioria das mulheres não quer ser candidata!! (...) As mulheres
gostam de participar, participam demais, mas sempre numa visão meio
subliminar da coisa. As testas de ferro são poucas!! São poucas as mulheres
que vão à frente pra tomar a iniciativa, pra superar as diferenças. (Olívia)
Trabalho como advogada desde a época da faculdade. E trabalho em
um mundo muito masculino. Extremamente masculino, machista e
preconceituoso! As três coisas ao mesmo tempo. Uma profissão que prega
muito a imagem, o comportamento, principalmente, então as mulheres são
muito segregadas: salário, postura, credibilidade. O homem é dominador
ainda na nossa área, na advocacia. (...) Eu ainda sou privilegiada, mas a
questão salarial pra mulher advogada é muito complicada. O salário
geralmente não é igual ao de um advogado homem e, além disso, quando tu
faz uma entrevista de trabalho, a primeira coisa que te perguntam é: tu tem
namorado ou é casada? Tem interesse em engravidar? Qual é a tua
disponibilidade de horários? A gente tem uma data marcada, depois que tu
engravida, parece que não tem como trabalhar. (Carolina)
Eu acho que, se a gente for comparar, acho que está muito melhor. É
uma grande conquista a gente poder trabalhar, não ter que depender
financeiramente de alguém, ser dona do próprio nariz, acho que isso é uma
grande conquista que a gente adquiriu nas últimas décadas. Só que é
engraçado... (...) A mulher consegue ter prestígio na vida profissional, ser
uma vencedora, consegue tudo que ela quer, o salário que ela quer, o
trabalho, o apartamento, enfim...(...) Mas o homem que a gente ainda vê por
aí parece que não está conseguindo acompanhar a mulher que a gente se
tornou hoje em dia. (Adriana)
Eu acho que nós, mulheres, da nossa geração, nós podemos nos dar ao
luxo de ser exigentes. Sabe? Porque a gente conquistou tanta coisa, os
nossos antepassados, nossas avós, nossas mães, conquistaram tantas coisas,
né? As mulheres podem ser exigentes!! (...) Ás vezes a mulher quer ser
mulherzinha, aquela coisa de fazer comidinha pro namorado, pro marido, e
eu acho isso legal às vezes. Mas a gente é, mas a gente é porque a gente,
poxa, a gente tem diploma, a gente trabalha, a gente faz, e vai pra rua, faz as
mesmas coisas que os homens!! (...) Eu acho que tanto o homem quanto a
mulher mudou. Claro, não todos, nem todas, mas acho que essa visão tá... é
um caminho que está se abrindo. (Duda)