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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Programa de Pós-Graduação em Parasitologia
Dissertação
Artrópodes e nematóides parasitos de
Columbina picui (Temminck, 1813) (Aves:
Columbidae) nos municípios de Pelotas e
Capão do Leão, RS, Brasil
Marco Antonio Afonso Coimbra
Pelotas, 2007
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2
Marco Antonio Afonso Coimbra
Artrópodes e nematóides parasitos de
Columbina picui (Temminck, 1813) (Aves:
Columbidae) nos municípios de Pelotas e
Capão do Leão, RS, Brasil
Pelotas, 2007
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-
Graduação em Parasitologia da
Universidade Federal de Pelotas, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Parasitologia.
Orientador: João Guilherme Werner Brum
Co-orientadora: Gertrud Müller
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3
Banca examinadora:
__________________________________________________
Prof. Dr. João Guilherme Werner Brum
Orientador e Presidente da Comissão
__________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Gertrud Müller
Co-orientadora e Membro da Comissão
__________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Elisabethe Aires Berne
Membro da Comissão
__________________________________________________
Prof. Dr. Carlos James Scaini
Membro da Comissão
__________________________________________________
Prof. Dr.ª Rosa Maria Massaro Paulsen
Membro da Comissão
4
Agradecimentos
Aos meus pais, pela vida, pelo apoio, incentivo e auxílio em todos os
momentos.
Aos meus irmãos Luis Antonio e Antoniela pelo incentivo e apoio sempre.
A minha esposa Carolina por tudo que ela representa e por sua ajuda desde o
início desta caminhada até a conclusão do trabalho.
Ao meu filho Joaquim, que possa compreender meus momentos de ausência.
Aos meus orientadores professor João Guilherme e professora Gertrud pela
amizade e orientação.
À família Scaglioni Dias pela hospitalidade e consentimento para a coleta de
parte dos animais em sua propriedade rural.
Aos tios, José, Israel, tia Nóris e primos Charles, Alessandra e Patrick pela
ajuda na coleta de alguns animais.
A coordenação do Programa de Pós-Graduação em Parasitologia pela
oportunidade.
Á coordenação do cleo de Reabilitação da Fauna Silvestre e Centro de
Triagem de Animais Silvestres da Universidade Federal de Pelotas (NURFS-
CETAS/UFPEL) pelo fornecimento de parte dos animais utilizados na dissertação.
Á médica veterinária Ana Paula pelo empréstimo de bibliografia.
Aos meus colegas de laboratório Cristiane, Tatiana, Rosa e Afonso pela ajuda
no desenvolver deste trabalho.
Ao colega Tiago Gallina pelo auxílio nas fotografias dos parasitos.
Aos professores e funcionários do Departamento de Microbiologia e
Parasitologia.
A todas as pessoas que de alguma forma colaboraram com minha formação
como ser humano.
5
"Um homem é verdadeiramente ético apenas
quando obedece a sua compulsão para
ajudar toda a vida que ele é capaz de
assistir, e evita ferir toda a coisa que vive”.
Albert Schweitzer (1875
-1965).
6
RESUMO
COIMBRA, MARCO ANTONIO AFONSO.
Artrópodes e nematóides parasitos
de
Columbina picui
(Temminck, 1813) (Aves: Columbidae) nos municípios de
Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.
2007. 68p. Dissertação (Mestrado)
Programa de Pós-Graduação em Parasitologia. Universidade Federal de Pelotas,
RS, Brasil.
Columbina picui (rolinha-picuí) é um pequeno columbídeo silvestre de hábito diurno
que vive em casais ou bandos em áreas abertas presente tanto no ambiente
silvestre como em centros urbanos, onde compartilha habitat com outras espécies
como Columba livia e Passer domesticus, responsáveis pela veiculação de diversos
patógenos. Sua alimentação é baseada em sementes e frutos que apanha no chão.
Ocorre no Brasil e outros países da América do Sul (Argentina, Uruguai, Chile,
Paraguai, Bolívia, Colômbia e Peru). O presente trabalho teve como objetivo
identificar a diversidade de artrópodes (Phthiraptera e Gamasida) e helmintos
parasitos de C. picui nos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil. Foram
examinadas 33 aves capturadas de acordo com licença do IBAMA
066/2006/DITEC-RS. Após eutanásia os animais foram lavados individualmente para
coleta de artrópodes. Para coleta de helmintos foram realizadas necropsias, onde os
órgãos foram individualizados e inspecionados no estereomicroscópio. Os
representantes da Ordem Phthiraptera e suas respectivas prevalências foram:
Columbicola passerinae (84,84%), Hohorstiella passerinae (21,21%) e
Physconelloides eurysema (3,03%). Entre os ácaros identificados Pellonyssus marui
foi o mais prevalente (30,30%), seguido por Ornithonyssus bursa (15,15%) e
Mesonyssus sp. (6,06%). C. passerinae, H. passerinae, P. eurysema têm seu
primeiro registro em C. picui no Brasil (Rio Grande do Sul). P. marui, O. bursa e
Mesonyssus sp. têm seu primeiro registro em C. picui no Brasil. Foram encontrados
apenas os nematóides: Ascaridia columbae (24,24%), Ornithostrongylus
quadriradiatus (15,15%) ambos no intestino delgado, Dispharynx nasuta no
proventriculo (6,06%) e moela (3,03%), Dispharynx sp. (3,03%) no proventrículo. Os
Nematoda: Dispharynx sp., Dispharynx nasuta, Ornithostrongylus quadriradiatus têm
seu primeiro registro em C. picui no Brasil. Ascaridia columbae tem seu primeiro
registro em C. picui no Rio Grande do Sul.
Palavras-chaves: Columbina picui. Columbidae. Gamasida. Phthiraptera. Nematoda.
7
Abstract
COIMBRA, Marco Antonio Afonso.
Arthropoda and Nematoda parasites
of
Columbina picui
(Temminck, 1813) (Columbiformes: Columbidae) in the
counties of Pelotas and Capão do Leão, State of Rio Grande do Sul, Brazil.
2007. 68p. Dissertation (Master) - Program of After-Graduation in Parasitology.
Federal University of Pelotas, RS, Brazil.
Columbina picui (picui ground-dove) is a small wild columbid of diurne habits that it
lives in couples or groups in open areas, gift in such a way in the wild environment as
in urban centers, where it shares habitat with other species as the responsible
Columba livia and Passer domesticus for the propagation of diverse pathogens. Its
feeding is based on seeds and fruits that catch in the soil. It occurs in Brazil and
other South-American countries (Argentina, Uruguay, Chile, Paraguay, Bolivia,
Colombia and Peru). The present work had as objective to identify the arthropods
(Phthiraptera and Gamasida) and helminths parasitic of C. picui in the counties of
Pelotas and Capão do Leão, RS, Brazil. Thirty and three deriving specimens of Picui
Ground Dove were captured and had been examined in accordance with the license
IBAMA - 066/2006/DITEC-RS. After the euthanasia, the animals were washed
individually for collection of arthropods. For collection of helminth were made the
necropsys, where the bodies were individually inspected in microscope
stereoscopic. The species of the Order Phthiraptera and its prevalences were:
Columbicola passerinae (84,84%), Hohorstiella passerinae (21,21%) and
Physconelloides eurysema (3,03%). Among the mites identified, Pellonyssus marui
was the most prevalent (30.30%), followed by Ornithonyssus bursa (15.15%) and
Mesonyssus sp. (6.06%). C. passerinae, H. passerinae, P. eurysema have its first
record in C. picui in Brazil (Rio Grande do Sul). P. marui, O. bursa and Mesonyssus
sp have its first register in C. picui in Brazil. Was found only Nematoda: Ascaridia
columbae (24,24%), Ornithostrongylus quadriradiatus (15,15%) both in the small
intestine, Dispharynx nasuta in proventricle (6,06%) and gizzard (3,03%), Dispharynx
sp (3,03%) in proventricle. Ascaridia columbae have the first register in C. picui in Rio
Grande do Sul and Ornithostrongylus quadriradiatus, Dispharynx nasuta and
Dispharynx sp., have the first register in C. picui in Brazil.
Key-words: Columbina picui. Columbidae. Gamasida. Phthiraptera. Nematoda.
8
Lista de Figuras
Figura A – Mapa de ocorrência na América do Sul de Columbina picui....................16
Figura B – Localização específica de Columbina picui..............................................16
Figura C – Casal de Columbina picui.........................................................................17
Figura D – Macho de Columbina picui.......................................................................17
Figura 1.1 – Macho de Hohorstiella passerinae (5x)..................................................33
Figura 1.2 – Genitália do macho de Hohorstiella passerinae (10x)...........................33
Figura 1.3 – Fêmea de Hohorstiella passerinae (5x).................................................34
Figura 1.4 – Terminália de fêmea de Hohorstiella passerinae (10x)..........................34
Figura 1.5 – Macho de Columbicola passerinae (5x).................................................34
Figura 1.6 – Fêmea de Columbicola passerinae (5x).................................................34
Figura 1.7 – Genitália do macho de Columbicola passerinae (10x)...........................35
Figura 1.8 – Terminália de fêmea de Columbicola passerinae (10x).........................35
Figura 1.9 – Fêmea de Physconelloides eurysema (5x)............................................35
Figura 1.10 – Mesonyssus sp. (20x)..........................................................................36
Figura 1.11 – Escudo estigmático de Mesonyssus sp. (40x).....................................36
Figura 1.12 – Pellonyssus marui (10x).......................................................................36
Figura 1.13 – Ornithonyssus bursa (10x)...................................................................37
Figura 2.1 Extremidade anterior de Ascaridia columbae com destaque dos lábios
(10x)...........................................................................................................................54
Figura 2.2 – Extremidade posterior do macho de Ascaridia columbae (10x).............55
Figura 2.3 – Macho de Ornithostrongylus quadriradiatus (20x).................................55
Figura 2.4 Bolsa copuladora do macho de Ornithostrongylus quadriradiatus
(20x)...........................................................................................................................56
Figura 2.5 – Extremidade posterior da fêmea de Ornithostrongylus quadriradiatus
(20x)...........................................................................................................................56
Figura 2.6 – Fêmea de Dispharynx nasuta................................................................56
Figura 2.7 – Detalhe da papila entre os cordões de Dispharynx nasuta (20x)..........57
Figura 2.8 – Extremidade posterior do macho de Dispharynx nasuta destacando os
espículos (20x)...........................................................................................................57
Figura 2.9 – Extremidade posterior do macho de Dispharynx nasuta, destacando
quatro papilas pré-cloacais e duas pós cloacais (40x)...............................................58
9
Figura 2.10 – Extremidade posterior do macho de Dispharynx nasuta, destacando as
quatro papilas pós-cloacais (40x)...............................................................................58
Figura 2.11 – Macho de Dispharynx sp. (10x)............................................................59
Figura 2.12 – Extremidade posterior do macho de Dispharynx sp., destacando os
espículos (20x)...........................................................................................................59
10
Lista de Tabelas
Tabela 1.1 Prevalência, abundância e intensidade média de Phthiraptera e
Gamasida em Columbina picui procedentes de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil
(n=33).........................................................................................................................37
Tabela 1.2 – Relação das espécies de Phthiraptera e razão sexual e etária em
Columbina picui nos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil................39
Tabela 1.3 Relação das espécies de Gamasida em Columbina picui nos
municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil .................................................40
Tabela 2.1 Prevalência, intensidade média e abundância por órgão dos
nematóides em Columbina picui, nos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS,
Brasil...........................................................................................................................60
Tabela 2.2 Relação das espécies de nematóides encontrados em Columbina picui
nos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil...........................................62
11
Sumário
1. Introdução...............................................................................................................13
1.1. Columbina picui (Temminck, 1813).....................................................................15
1.2. Taxonomia do hospedeiro...................................................................................17
1.3. Objetivo...............................................................................................................17
2. Material e Métodos.................................................................................................17
2.1. Hospedeiro..........................................................................................................18
2.2. Delineamento......................................................................................................18
2.2.1. Processamento da amostra..............................................................................18
2.2.1.1. Artrópodes.....................................................................................................18
2.2.1.2. Nematóides...................................................................................................19
2.2.3. Avaliações........................................................................................................19
2.2.3.1. Identificação de Phthiraptera.........................................................................19
2.2.3.2. Identificação de Gamasida............................................................................19
2.2.3.3. Identificação de Nematoda............................................................................20
2.2.4. Análise Estatística............................................................................................20
3. Referências............................................................................................................21
Artigo 1 – Artrópodes de Columbina picui (Temminck, 1813) nos municípios de
Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.........................................................................26
Resumo......................................................................................................................27
Abstract......................................................................................................................28
1. Introdução...............................................................................................................29
1.1. Objetivo...............................................................................................................31
2. Material e Métodos.................................................................................................31
3. Resultados e Discussão.........................................................................................33
3.1.Taxonomia dos artrópodes encontradas..............................................................33
4. Conclusões.............................................................................................................41
5. Referências............................................................................................................42
12
Artigo 2 – Nematóides de Columbina picui (Temminck, 1813) nos municípios de
Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.........................................................................47
Resumo......................................................................................................................48
Abstract......................................................................................................................49
1. Introdução...............................................................................................................50
1.1. Objetivo...............................................................................................................53
2. Materiais e Métodos...............................................................................................53
3. Resultados e Discussão.........................................................................................54
3.1. Taxonomia dos nematóides encontrados e respectivas localizações.................54
4. Conclusões.............................................................................................................63
5. Referências............................................................................................................64
Anexo 1 – Licença IBAMA..........................................................................................68
13
1. INTRODUÇÃO
Atualmente são conhecidas aproximadamente 1.500.000 espécies de
organismos vivos em todo o planeta e pelo menos, o dobro deste número ainda não
foi descrito basicamente insetos e outros artrópodes nos trópicos (MAY, 1992 apud
PRIMACK & RODRIGUES, 2001). O requisito básico para a conservação de
espécies é o conhecimento de existência das mesmas; observando por este ângulo,
é de extrema importância o investimento na pesquisa de base, relacionado a
inventários, taxonomia, ecologia e outros aspectos dos organismos vivos.
Os representantes da Ordem Columbiformes, popularmente conhecidos como
pombos, rolinha dentre outros, apresentam ampla distribuição mundial,
provavelmente originaram-se na região tropical do Velho Mundo, tendo migrado
cedo para as Américas. Os registros fósseis são escassos, sendo o mais antigo do
Mioceno Inferior (20 milhões de anos) na França (SICK, 1997). Atualmente, é
representada por uma família, Columbidae, que têm 310 espécies (POUGH et al.,
2003). Das 95 espécies que correm risco de extinção, 12 estão criticamente
ameaçadas, 14 ameaçadas, 35 pouco ameaçadas e 11 foram extintas. Dentre os
columbídeos ameaçados no mundo, 81% vivem em ilhas oceânicas. Vários fatores
colaboram para este processo, como redução de habitat, introdução de predadores
e competição por recursos com outras espécies (IUCN, 2004 apud CUBAS et al.,
2006). Segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), ocorrem 22
espécies de columbídeos silvestres, sendo que duas, Claravis godefrida (Temminck,
1811) (Pararu) e Columbina cyanopis (Pelzeln, 1870) (Rolinha-do-planalto) estão
criticamente em perigo de extinção (IBAMA, 2003; CBRO, 2006). No estado do Rio
Grande do Sul são registradas 13 espécies desta família (BENCKE, 2001).
Quanto ao habitat os columbídeos, freqüentam ambientes terrestres e/ou
arborícolas, em florestas densas de zonas temperadas e tropicais, florestas de
baixadas, cerrados, matas ciliares, campos abertos até áreas de deserto. Vivem
solitários, aos casais, em pequenos grupos ou bandos (DEL HOYO et al. 1997; EFE
et al. 2001; BELTON, 2004; CUBAS et al., 2006).
Os pombos, em alguns países, são importantes fontes de proteína animal
(Estados Unidos, Colômbia, México, Guatemala, Costa Rica), sendo, capturados
com essa finalidade. No nordeste brasileiro (Ceará) a carne dos mesmos é bem
14
apreciada, assim como os ovos (CUBAS et. al., 2006). O pombo-doméstico
(Columba livia) foi domesticado mais de 5000 anos e desde então é utilizado não
apenas para alimentação, como também para ornamentação, comunicação (pombo-
correio) e experimentação científica. No Rio Grande do Sul, assim como em outros
estados do Brasil, Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) (pomba-de-bando) e
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) (pomba-carijó) são responsáveis por danos
à agricultura, quando alimentam-se de grãos de importância agrícola (sorgo, soja,
entre outros) (BELTON, 2004).
Os columbídeos podem ser acometidos por diversas doenças infecciosas, das
quais podem ser disseminadores, são descritas 24 doenças bacterianas, 13 virais e
cinco enfermidades fúngicas. Entre as bacterianas destacam-se a salmonelose,
cujo agente causador é a Salmonella, que pode ser transmitida por diversos animais
causando intoxicação alimentar através da ingestão de alimentos contaminados
(NUNES, 2003; NADVORNY et. al., 2004). A psitacose ou ornitose causada pelo
microorganismo Chlamydophila psittaci, importante doença na saúde pública que é
transmitida por aves, através da inalação de partículas em aerosóis ao manipular
fezes secas durante a manutenção das aves. Os pombos são suscetíveis e
funcionam como reservatórios deste agente, principalmente o pombo-doméstico
(Columba livia); no homem a doença pode evoluir para pneumonia severa e caso
não seja diagnosticada corretamente, pode levar à morte (MOSCHIONI et al. 2001;
NUNES, 2003; CUBAS et al. 2006). NewCastle e Bouba aviária (ou varíola) são as
duas viroses de maior importância para avicultura mundial, tendo estas aves como
reservatórios e disseminadores (CUBAS et al., 2006). Cryptococcus neoformans
fungo leveduriforme capsulado de ocorrência cosmopolita, foi registrado no Rio
Grande do Sul por REOLON et al. (2004) onde sua presença foi confirmada através
do isolamento em amostras de fezes de pombos coletadas em praças públicas da
cidade de Porto Alegre. Este microrganismo é transmitido pela inalação de aerosóis
liberados no momento da manipulação com as fezes de pombos (NUNES, 2003). A
criptococose tem importância saúde humana, importante no caso de indivíduos
imunossuprimidos (FRIGERI et. al., 2001), como para a medicina veterinária
(KOMMERS et. al., 2005). Histoplasma capsulatum fungo saprófita causador de
histoplamose, infecção adquirida através da inalação de aerosóis liberados ao
manipular com fezes de pombos e/ou morcegos. A doença pode acometer pulmão e
15
outros órgãos, sendo importante no caso de indivíduos imunossuprimidos
(FORTALEZA, et. al., 2004).
Dentre os protozoários que ocorrem nos Columbiformes, Trichomonas
gallinae (Rivolta, 1878) é um flagelado que acomete a região superior do trato
digestório de columbídeos. A tricomoníase afeta a cavidade oral, faringe, esôfago,
inglúvio, seios nasais e até a conjuntiva (CUBAS op cit ). TORO et al. (1999) em
estudo sobre status sanitário de pombo-doméstico na cidade de Santiago, Chile,
detectaram a presença de T. gallinae em 11% (11) dos animais analisados.
Toxoplasma gondii (Nicolle & Manceaux, 1909), agente etiológico da toxoplasmose,
organismo cosmopolita que acomete diversas espécies de vertebrados, tendo os
felídeos como hospedeiros definitivos, onde ocorre a reprodução sexuada do
parasito. Os pombos, assim como outros hospedeiros, são responsáveis pela
manutenção do protozoário no ambiente, pois em seus tecidos encontra-se em
forma de cisto. Haemoproteus columbae Kruse, 1890, é um hemoparasito que
causa um quadro clínico discreto e baixa mortalidade (CUBAS et al. 2006).
RESENDE et al. (2001) relataram um surto de malária ocasionada por H. columbae
em pombos-correio (C. livia), caracterizado por um quadro agudo com mortalidade
de 3% ao dia em aves de aspecto saudável, podendo ocorrer um quadro crônico
com prostraçäo e fraqueza. O exame clínico das aves doentes evidenciou sinusite e
conjuntivite e à necropsia, traqueíte hemorrágica, aerossaculite, esplenomegalia,
nefromegalia e hepatomegalia com hemorragias. Exemplares do díptero hematófago
da família Hippoboscidae, Pseudolynchia canariensis (Macquart, 1840), foram
encontrados inseridos entre as penas dos indivíduos. Esfregaços de sangue
periférico e cardíaco e impressões de baço e fígado corados por Giemsa, permitiram
a visualização de inclusões intraeritrocitárias características de H. columbae.
1.1. Columbina picui (Temminck, 1813)
Columbina picui (Fig. C e D), popularmente conhecida como rolinha-picuí ou
rolinha-cinzenta, é um pequeno columbídeo de corpo acinzentado com uma curta
faixa negra nas coberteiras das asas. Apresenta uma destacada faixa longitudinal
branca na porção dorsal das asas, que contrasta com as rêmiges negras, além da
cauda branca com as penas centrais negras; o bico é negro e as patas são
avermelhadas. A íris apresenta três cores em forma de anéis, com coloração branca,
16
azul e carmim, e o anel perioftálmico branco. A espécie tem dimorfismo sexual,
sendo que somente os machos apresentam topo da cabeça cinza-azulado, as
fêmeas são mais pardas (EFE et al. 2001; BELTON, 2004).
As rolinhas-picui (C. picui) vivem em ambientes abertos com árvores
esparsas, geralmente em casais ou bandos. No momento de forragear podem ser
avistadas em bandos mistos, ou seja, com outras espécies, tais como, Columbina
talpacoti (Temminck, 1810) (Rolinha-caldo-de-feijão), Molothrus bonariensis (Gmelin,
1789) (Vira-bosta) e Passer domesticus (Linnaeus, 1758) (Pardal) (EFE et al. 2001).
A alimentação desta espécie consiste de sementes, inclusive espécies cultivadas
como o sorgo, e pequenos frutos, aproveitando também alimentos descartados pelo
homem (DEL HOYO et al., 1997; EFE et al. 2001; BELTON, 2004). No período
reprodutivo constroem ninhos simples em forma de tigela, com entrelaçamento de
gravetos e capim; põe dois ovos brancos, que são chocados pela fêmea e o macho
(EFE et al., 2001). Ocorre na América do Sul (Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai,
Bolívia, Colômbia, Peru e Brasil) (INFONATURA, 2005) (Figura A e B). No Rio
Grande do Sul ocorre em todo Estado, exceto naquelas áreas ao nordeste com mais
de 800m de altitude, sendo observada nas quatro estações do ano (BELTON, 2004).
Figura A – Mapa de ocorrência na América Figura B – Localização especifíca
do Sul de Columbina picui (Fonte: Infonatura). de Columbina picui (Fonte: Infonatura).
17
1.1. TAXONOMIA DO HOSPEDEIRO
Reino Animalia
Filo Chordata
Subfilo Vertebrata
Classe Aves
Ordem Columbiformes
Família Columbidae
Subfamília Columbinae
Gênero Columbina
Espécie C. picui
Figura C – Casal de Columbina picui, Figura D – Macho de Columbina picui.
Fonte: Mascarenhas, C. S. Fonte: Coimbra, M. A. A.
1.3. OBJETIVO
Identificar os artrópodes e nematóides parasitos de Columbina picui,
considerando os parâmetros de prevalência, abundância e intensidade média dos
parasitos encontrados dos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no Departamento de Microbiologia e Parasitologia
do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas (DEMP – IB - UFPEL).
18
2.1. HOSPEDEIRO
Foram examinados 33 exemplares de Columbina picui (rolinha-picuí) oriundos
dos municípios de Pelotas e Capão do Leão, Rio Grande do Sul, Brasil. Do total de
aves examinadas, 29 foram coletadas com uso de carabina de ar comprimido, e
posterior injeção de cloridrato de lidocaína a 2% no tronco cerebral, conforme
AMADO et al. (1994), três (03) foram doadas pelo Núcleo de Reabilitação da Fauna
Silvestre (NURFS) e Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) da
Universidade Federal de Pelotas onde vieram à óbito, e um (01) resultante de
atropelamento recente, não estando em processo de decomposição. As capturas
foram realizadas entre dezembro de 2006 e junho de 2007, de acordo com licença
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) sob o número 066/2006/DITEC-RS (Anexo 1).
2.2. DELINEAMENTO
O trabalho constou de estudo descritivo de 33 exemplares de Rolinha-picuí
(C. picui), oriundos dos municípios de Pelotas (31º46’19”S e 52º20’34”W) e Capão
do Leão (31º45’48”S e 52º29’02”W), Rio Grande do Sul, Brasil, com identificação de
artrópodes (Phthiraptera e Gamasida) e nematóides, além da investigação da
prevalência, abundância e intensidade média dos parasitos.
2.2.1. PROCESSAMENTO DA AMOSTRA
2.2.1.1. ARTRÓPODES
Para a coleta dos artrópodes, as aves eram banhadas individualmente em
baldes contendo água e detergente líquido, e o conteúdo do recipiente era tamisado
em malha de 150
µ
m. A lavagem consistia em deixar a ave em repouso por alguns
minutos na solução detergente e após massageá-la; posteriormente era realizado o
enxágüe em água corrente em um recipiente. A coleta de ácaros nasais foi realizada
segundo FAIN (1957) apud AMARAL & REBOUÇAS (1974), onde era feito um corte
da abertura da narina até os septos e posterior enxágüe do local, o material foi
19
peneirado em tamis com malha de 150µm. Os artrópodes foram acondicionados em
frascos de vidro contendo solução de álcool 70ºGL, para posterior identificação.
2.2.1.2. NEMATÓIDES
Para a coleta dos nematóides, as rolinhas foram submetidas à necropsia,
através de um corte longitudinal ventral da boca a cloaca, sendo inspecionados: o
globo ocular, o sistema respiratório (pulmões, traquéia), o sistema genito-urinário
(rins, ureter, testículos e ovários), fígado, trato digestório (boca, faringe, esôfago,
papo, pró-ventrículo, moela, intestino delgado, intestino grosso) e cavidade
abdominal. Cada segmento era individualizado, posteriormente aberto e lavado em
água corrente e as mucosas examinadas ao estereomicroscópio à procura de
endoparasitos. Os conteúdos foram lavados em tamis com abertura de malha
150
µ
m, para coleta de nematóides visualizáveis macroscopicamente; os parasitos
encontrados foram acondicionados em recipientes contendo álcool 70ºGL para
posterior identificação e contagem.
2.2.3. AVALIAÇÕES
2.2.3.1. IDENTIFICAÇÃO DE PHTHIRAPTERA
Os piolhos foram clarificados em salicilato de metila, montados entre lâmina e
lamínula, identificados e classificados conforme CLAY (1969), CICCHINO (1978),
CASTRO & CICCHINO (1992), PRICE & GRAHAM (1997), CLAYTON & PRICE
(1999) e PRICE et al. (1999).
2.2.3.2. IDENTIFICAÇÃO DE GAMASIDA
Os ácaros foram clarificados em lactofenol e montados entre lâmina e
lamínula e identificados conforme FLECHTMANN (1985) e RADOVSKY &
ESTÉBANES GONZALEZ (2001); os ácaros nasais foram identificados conforme
CROSSLEY (1952).
20
2.2.3.3. IDENTIFICAÇÃO DE NEMATODA
Os nematóides foram clarificados em lactofenol e montados entre lâmina e
lamínula e identificados conforme TRAVASSOS (1913), TRAVASSOS (1937),
YAMAGUTI (1961), PINTO et al. (1991), VICENTE et al. (1995), ZHANG et al.
(2004).
2.2.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os parâmetros avaliados foram prevalência, abundância e intensidade média
de parasitismo, segundo MARGOLIS et al. (1982), sendo utilizado o programa
Microsoft Excel 2003.
PREVALÊNCIA
P = Nº total de animais parasitados com uma deterninada x 100
Nº total de animais examinados
ABUNDÂNCIA
A = Nº total de parasitos coletados da espécie
Nº total de animais examinados
INTENSIDADE MÉDIA
IM = Nº total de parasitos coletados da espécie
Nº total de hospedeiros positivos para a espécie
21
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Parasitology, v. 90, n. 5, p. 1133-1138, 2004.
26
ARTIGO 1
Artrópodes parasitos de
Columbina picui
(Temminck, 1813) (Columbiformes:
Columbidae) nos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil
27
RESUMO
COIMBRA, Marco Antonio Afonso.
Artrópodes parasitos de
Columbina picui
(Temminck, 1813) (Columbiformes: Columbidae) nos municípios de Pelotas e
Capão do Leão, RS, Brasil.
2007. 69f. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-
Graduação em Parasitologia. Universidade Federal de Pelotas, RS.
Columbina picui (rolinha-picuí) é um pequeno columbídeo silvestre de hábito diurno
que vive em casais ou bandos em áreas abertas presente tanto no ambiente
silvestre como em centros urbanos, onde compartilha habitat com outras espécies
como Columba livia e Passer domesticus responsáveis pela veiculação de diversos
patógenos. Ocorre no Brasil e outros países da América do Sul (Argentina, Uruguai,
Chile, Paraguai, Bolívia, Colômbia e Peru). O presente trabalho teve como objetivo
identificar os artrópodes (Phthiraptera e Gamasida) parasitos de C. picui nos
municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil. Foram examinados 33
exemplares de rolinha-picuí oriundos destes municípios, capturados de acordo com
a licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) número 066/2006/DITEC-RS. Para coleta dos artrópodes foi
realizada a lavagem da superfície externa do corpo e da cavidade nasal. Os
parasitos foram conservados em frascos contendo solução de álcool 70ºGL. Após,
os piolhos foram clarificados em salicilato de metila e os ácaros em lactofenol, sendo
examinados entre lâmina e lamínula, ao microscópio óptico. Os representantes da
Ordem Phthiraptera encontrados e suas prevalências foram: Columbicola passerinae
(84,84%), Hohorstiella passerinae (21,21%), Physconelloides eurysema (3,03%). Os
ácaros encontrados nas aves e suas respectivas prevalências foram: Pellonyssus
marui (30,30%), Ornithonyssus bursa (15,15%) e Mesonyssus sp. (6,06%). C.
passerinae, H. passerinae, P. eurysema têm seu primeiro registro no estado do Rio
Grande do Sul e em Columbina picui no Brasil. P. marui, O. bursa, Mesonyssus sp
têm seu primeiro registro em C. picui, no Brasil.
Palavras-chaves: Columbina picui. Inschnocera. Amblycera. Gamasida.
28
ABSTRACT
COIMBRA, Marco Antonio Afonso.
Arthropods
parasites of
Columbina picui
(Temminck, 1813) (Columbiformes: Columbidae) in the counties of Pelotas and
Capão do Leão, State of Rio Grande do Sul, Brazil.
2007. 67f. Dissertation
(Master) Program of After-Graduation in Parasitology. Federal University of
Pelotas, RS, Brazil.
Columbina picui (Picui Ground Dove) is a small wild columbid of diurne habits that
lives in couples or groups in opened areas, gift in such a way in the wild environment
as in urban centers, where it shares habitat with other species as Columba livia and
Passer domesticus, responsible for the propagation of diverse pathogens. It occurs in
Brazil and other South-american countries (Argentina, Uruguay, Chile, Paraguay,
Bolivia, Colombia and Peru). The present work had as objective to identify the
arthropods (Phthiraptera and Gamasida) parasites of C. picui in the counties of
Pelotas and Capão do Leão, RS, Brazil. Thirty and three specimens were examined
of picui ground dove deriving of these captured counties in accordance with the
license of the Brazilian Institute of the IBAMA, number 066/2006/DITEC-RS. For
collection of the arthropods was made the washing of the external surface of the
body and the nasal cavity. The parasites had been conditioned in bottles contend
alcohol solution 70ºGL. After, the lice had been clarified in salicylate of metila and the
mites in lactophenol, later mounted in microscope slides. The species of the Order
Phthiraptera found and its prevalences were: Columbicola passerinae (84,84%),
Hohorstiella passerinae (21,21%) and Physconelloides eurysema (3,03%). The mites
found in the birds and its respectives prevalences were: Pellonyssus marui (30,30%),
Ornithonyssus bursa (15,15%) and Mesonyssus sp. (6,06%). C. passerinae, H.
passerinae and P. eurysema have its first register in the state of Rio Grande do Sul
and in Columbina picui in Brazil. P. marui, O. bursa, Mesonyssus sp. have its first
register in C. picui in Brazil.
Key words: Columbina picui. Ischnocera. Amblycera. Gamasida.
29
1. INTRODUÇÃO
Columbina picui (Temminck, 1813), popularmente conhecida como rolinha-
picuí ou rolinha-cinzenta, é um pequeno columbídeo de corpo acinzentado com uma
curta faixa negra nas coberteiras das asas. Possui uma destacada faixa longitudinal
branca na porção dorsal das asas, que contrasta com as rêmiges negras, além da
cauda branca com as penas centrais negras. O bico é negro e as patas são
avermelhadas. A íris apresenta três cores em forma de anéis com coloração branca,
azul, e carmim e o anel perioftálmico branco. A espécie possui dimorfismo sexual,
sendo que as fêmeas são mais pardas que os machos, os quais apresentam topo da
cabeça cinza-azulado (EFE et al., 2001; BELTON, 2004).
Vivem em ambientes abertos com árvores esparsas, geralmente em casais ou
bandos. No momento de forragear podem ser avistadas em bandos mistos, ou seja,
com outras espécies, tais como, Columbina talpacoti (rolinha-caldo-feijão), Molothrus
bonariensis (vira-bosta) e Passer domesticus (pardal) (EFE et al., 2001). A
alimentação consiste de sementes, inclusive espécies cultivadas, como o sorgo, e
pequenos frutos, aproveitando também alimentos descartados pelo homem (DEL
HOYO et al., 1997; EFE et al. 2001). A espécie ocorre na América do Sul
(Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Peru e Brasil)
(INFONATURA, 2005). No Rio Grande do Sul ocorre em todo Estado, exceto
naquelas áreas ao nordeste com mais de 800m de altitude, sendo observada nas
quatro estações do ano (BELTON, 2004).
São registrados até o momento, parasitando C. picui, os artrópodes da Classe
Insecta, Ordem Phthiraptera, Subordem Amblycera: Hohorstiella passerinae Hill &
Tuff, 1978, e Subordem Ischnocera: Columbicola passerinae (Wilson, 1941) e
Physconelloides eurysema (Carriker, 1903) na Argentina e Bolívia, Columbicola
baculoides e Columbicola macrourae, de acordo com CICCHINO (1978), CASTRO &
CICCHINO (1992), CLAYTON et al. (1999), PRICE et al. (1999) e PHTHIRAPTERA
(2007).
PRICE et al. (1999) e CLAYTON & PRICE (1999), também registraram à
ocorrência de C. passerinae e P. eurysema parasitando Columbina passerina, C.
minuta e C. talpacoti. HILL & TUFF (1978), citaram a ocorrência de H. passerinae
em C. passerina e C. inca.
30
No Brasil, ONIKI (1999) relatou P. eurysema e C. passerinae parasitando C.
talpacoti no estado do Mato Grosso. RODA & FARIAS (1999) registraram, em
Pernambuco, a ocorrência de C. passerinae em C. talpacoti e C. minuta. VALIM et
al. (2004) citaram C. passerinae, H. passerinae e P. eurysema parasitando C.
talpacoti no estado do Rio de Janeiro.
GONZALES et al. (2004), estudando a fauna parasitária de Zenaida auriculata
(Des Murs, 1847) na província de Nuble, Chile, registraram a prevalência de
endoparasitos e ectoparasitos. Os artrópodes identificados correspodem a: Falculifer
isodontus (55,7%), Diplaegidia columbae (73,2%), Amblyomma sp. (5,1%),
Columbicola baculoides (64,7%), Bonomiella sp. (8,5%), Hohostiella sp. (4,7%) e
ácaros da família Trombiculidae (6,8%).
VALIM et al. (2004) analisando os níveis de enzootia por ectoparasitos em C.
talpacoti (Temminck, 1810), oriundas do município de Duque de Caxias, Rio de
Janeiro, encontraram parasitos das ordens: Diptera, Phthiraptera, e Acaridida. Foi
encontrada a espécie de díptero, Microlynchia pusilla (Speiser, 1902)
(Hippoboscidae), com prevalência de 25%; os malófagos estavam presentes com
duas Subordens: Ischnocera - Columbicola passerinae (Wilson, 1941),
Physconelloides eurysema (Carriker, 1903), ambos com 50% de prevalência e
Amblycera: Hohorstiella passerinae Hill & Tuff, 1978 com 17%. Dentre os ácaros
foram encontrados Byersalges talpacoti (Cerný, 1972), Pterophagus lomatus Gaud &
Barré, 1992, Manolichus sp. Gaud & Mouchet, 1959, Diplaegidia columbigallinae
(Cerný, 1972), com 100%, 8%, 75%, 50% de prevalência, respectivamente.
LINARDI & GUIMARÃES (2000) reportaram a ocorrência do sifonáptero
Hectopsylla psittaci, Frauenfeld 1860, nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul e São Paulo, parasitando algumas espécies de aves, dentre elas Columba livia,
Gmelin, 1789.
Pesquisas sobre ácaros nasícolas parasitos de aves são escassas. No Brasil,
a maior parte dos estudos ocorreu entre as décadas de 40 e 70 por pesquisadores
do Instituto Biológico de São Paulo, destacando-se os trabalhos de CASTRO (1948),
PEREIRA e CASTRO (1949), AMARAL (1968), AMARAL e REBOUÇAS, (1974).
Recentemente, no Rio Grande do Sul, MASCARENHAS e BRUM (2006),
MASCARENHAS et al. (2006), PAULSEN, (2006), SINKOC (2006) e
MASCARENHAS et al. (2007a) e MASCARENHAS et al. (2007b) têm citado várias
espécies de ácaros nasais parasitos de aves silvestres.
31
WILSON (1966) descreveu uma espécie de ácaro nasícola, Mesonyssus, e
citou a ocorrência de outras espécies parasitando columbídeos na Ásia e Estados
Unidos, entre os quais relatou Mesonyssus columbae e Mesonyssus melloi em
associação com C. livia no Texas.
AMARAL (1968) citou uma lista de espécies de ácaros nasais de aves do
Brasil, onde relatou a ocorrência de várias espécies de Mesonyssus. Em
columbiformes, o autor relatou: M. zenaidurae em Leptotila rufaxilla; M. cunhai e M.
alexfaini em L. verreauxi; M. melloi em C. livia, sendo que todas as citações são para
o estado de São Paulo.
Ornithonyssus bursa tem hábito hematófago e está distribuído nas regiões
tropicais do mundo parasitando galinhas, pombos, pardais e diversas espécies de
aves. Quando em intensas infestações, causa desconforto a ave que em alguns
casos abandona o ninho (FLECHTMANN, 1985). Este ácaro foi relatado causando
dermatites alérgicas em seres humanos (SEMENAS & ROCHA, 1998; RIBEIRO et
al., 1992).
Pellonyssus marui foi registrado por RADOVSKY & ESTABANES-
GONZALES (2001) no México, parasitando outros representantes de
Columbiformes: C. inca (Lesson, 1847), C. passerina (Linnaeus, 1758) e Leptotila
verreauxi (Bonaparte, 1855) e Passeriformes: Hirundo rustica Linnaeus, 1758 e
Campylorhynchus gularis Sclater, 1861.
1.1. OBJETIVO
Identificar os artrópodes parasitos de Columbina picui, considerando os
parâmetros de prevalência, abundância e intensidade média dos parasitos
encontrados nas cidades de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Foram examinados 33 exemplares de C. picui (rolinha-picuí) oriundos dos
municípios de Pelotas e Capão do Leão, Rio Grande do Sul, Brasil. Do total de aves
examinadas, 29 foram capturadas com uso de carabina de ar comprimido, e
posterior injeção de cloridrato de lidocaína a 2% no tronco cerebral conforme
AMADO et al. (1994), três (03) foram doadas pelo Núcleo de Reabilitação da Fauna
32
Silvestre (NURFS) e Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) da
Universidade Federal de Pelotas onde vieram à óbito, e um (01) resultante de
atropelamento recente, não estando em processo de decomposição. As capturas
foram realizadas entre dezembro de 2006 e junho de 2007, de acordo com licença
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) sob o número 066/2006/DITEC-RS (Anexo 1).
Os animais foram transportados para o Departamento de Microbiologia e
Parasitologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas (DEMP
IB – UFPEL), local onde foi realizado o trabalho.
Para a coleta dos artrópodes, as aves foram banhadas individualmente em
baldes contendo água e detergente líquido, e o conteúdo do recipiente tamisado em
malha de 150µm. A lavagem consistia em deixar a ave em repouso por alguns
minutos na solução detergente e após massageá-la; posteriormente era realizado o
enxágüe em água corrente em um recipiente. A coleta de ácaros nasais foi realizada
segundo FAIN (1957) apud AMARAL & REBOUÇAS (1974), onde era feito um corte
da abertura da narina até os septos e posterior enxágüe do local, o material foi
peneirado em tamis com malha de 150
µ
m. Os artrópodes foram acondicionados em
frascos de vidro contendo solução de álcool 70ºGL, para posterior identificação.
Os piolhos foram clarificados em salicilato de metila, montados entre lâmina e
lamínula, identificados e classificados conforme CLAY (1969), CICCHINO (1978),
CASTRO & CICCHINO (1992), PRICE & GRAHAM (1997), CLAYTON & PRICE
(1999) e PRICE et al. (1999).
Os ácaros foram clarificados em lactofenol e montados entre lâmina e
lamínula e identificados conforme FLECHTMANN (1985) e RADOVSKY &
ESTÉBANES GONZALEZ (2001). Os ácaros nasais foram identificados conforme
CROSSLEY (1952).
Os exemplares foram catalogados e depositados na coleção de artrópodes do
Laboratório de Entomologia do DEMP-IB-UFPEL.
Os parâmetros avaliados foram prevalência, abundância e intensidade média
de parasitismo, segundo MARGOLIS et al. (1982), sendo utilizado para os cáculos o
programa Microsoft Excel 2003.
33
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 33 exemplares examinados, 84,84% estavam parasitados por
Phthiraptera e 42,42% por Gamasida. Dentre os malófagos encontrados,
Columbicola passerinae foi a mais prevalente (84,84%), seguida por Hohorstiella
passerinae (21,21%) e Physconelloides eurysema (3,03%). Os ácaros encontrados
foram: Pellonyssus marui, Ornithonyssus bursa e Mesonyssus sp. , com as
respectivas prevalências 30,30%, 15,15% e 6,06% (Tabela 1.1).
3.1. Taxonomia dos artrópodes encontrados
Filo Arthropoda
Classe Insecta
Ordem Phthiraptera
Subordem Amblycera
Família Menoponidae
Gênero Hohorstiella
Espécie H. passerinae (Fig. 1.1, 1.2, 1.3 e 1.4)
Figura 1.1
– Macho de Hohorstiella
passerinae
(5x).
Figura 1. 2
Genitália do macho de
Hohorstiella passerinae
(10x).
34
Subordem Ischnocera
Família Philopteridae
Gênero Columbicola
Espécie C. passerinae (Fig. 1.5, 1.6, 1.7 e 1.8).
Figura1. 3
– Fêmea de Hohorstiella
passerinae
(5x).
Figura 1. 4
– Terminália de fêmea de
Hohorstiella passerinae (10x).
Figura 1. 5
– Macho de Columbicola
passerinae (5x).
Figura 1. 6
Fêmea de
Columbicola passerinae (5x).
35
Gênero Physconelloides
Espécie P. eurysema (Fig. 1.9)
Figura 1. 7
– Genitália do Macho
de Columbicola passerinae (10x).
Figura 1. 8
– Terminália de fêmea de
olumbicola passerinae (10x).
Figura 1. 9
– Fêmea de Physconelloides
eurysema (5x).
36
Classe Arachnida
Sub-classe Acari
Ordem Gamasida
Família Rhinonyssidae
Gênero Mesonyssus (Fig. 1.10)
Família Macronyssidae
Gênero Pellonyssus
Espécie P. marui (Fig. 1.12)
Figura 1.10Mesonyssus sp. (20x).
Figura 1.12
Pellonyssus marui
(10x).
Figura 1.11
– Escudo
estigmático de Mesonyssus sp.
(40x).
37
Gênero Ornithonyssus
Espécie O. bursa (Fig. 1.13)
Tabela 1.1
Prevalência, abundância e intensidade média de Phthiraptera e
Gamasida em Columbina picui procedentes de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil
(n =33).
Ordem Táxons Prevalência
(%)
Abundância Intensidade
média
Phthiraptera Columbicola passerinae 84,84 10,09 11,89
Hohorstiella passerinae 21,21 0,67 3,14
Physconelloides eurysema 3,03 0,06 2
Gamasida
Pellonyssus marui 30,30 1,18 3,9
Ornithonyssus bursa 15,15 0,18 1,2
Mesonyssus sp. 6,06 0,06 1
Os gêneros Columbicola, Hohorstiella e Physconelloides (Phthiraptera)
presentes nas rolinhas do estudo são de ampla distribuição geográfica, porém
restritos aos membros da Ordem Columbiformes. Desta forma, os achados
corroboram com os citados por PRICE et al. (2003).
Das 29 aves positivas para Phthiraptera, sete apresentaram infestação dupla
(C. passerinae e H. passerinae); apenas uma das aves apresentou infestação tripla
(C. passerinae, H. passerinae e P. eurysema). Não houve infestação dupla entre H.
passerinae e P. eurysema (Tabela 1.2).
Figura 1.13
Ornit
honyssus bursa
(10x).
38
Das 14 aves positivas para Gamasida, duas apresentaram infestação dupla
por P. marui e O. bursa (Tabela 1.3). A baixa intensidade parasitária de ambos,
provavelmente esteja relacionada com o fato de que os mesmos são ácaros
nidícolas, presentes em maior número no ninho das aves. Apenas uma das aves
(macho) capturadas, apresentou uma grande infestação por P. marui (27 ácaros),
indicando que o animal estava no período reprodutivo, pois tanto o macho quanto à
fêmea de C. picui, participam no cuidado com a prole, conforme EFE et. al. (2001).
Duas rolinhas estavam parasitadas por ácaro nasal, o qual foi identificado
como Mesonyssus sp.; cada ave estava parasitada com apenas um exemplar
(Tabela 1.3).
A espécie de Mesonyssus encontrada em C. picui é semelhante à M.
zenaidurae descrita por CROSSLEY (1952), parasitando Zenaidura macroura e
Columbigallina passerina no México; características de quetotaxia e o formato de
escudo estigmático (Fig. 1.11) são as principais diferenças.
39
Tabela 1.2 – Relação das espécies de Phthiraptera, razão sexual e
etária em Columbina picui
nos municípios de Pelotas e Capão Leão,
RS, Brasil.
Columbicola
passerinae
Hohorstiella
passerinae
Physconelloides
eurysema
Hospedeiro
Sexo
M F N M F N M F N
1 M - 1 3 - - - - - -
2 M - 2 5 - - - - - -
3 M 1 6 12 2 4 - - - -
4 M - - 1 - - - - - -
5 M - - 2 - - - - - -
6 F - 1 - - - - - - -
7 M - - 1 - 1 - - - -
8 F 1 1 3 - 2 - - - -
9 F - - - - - - - - -
10 M 4 2 11 - - - - - -
11 M - - - - - - - - -
12 F - - - - - - - - -
13 M - - - - - - - - -
14 M 2 - - - - - - - -
15 M 1 5 17 - - - - - -
16 M 3 4 1 - - - - - -
17 M 15 11 86 - - - - - -
18 F 1 - - - - - - - -
19 M - - 13 - - 5 - - -
20 M 1 - - - - - - - -
21 M 2 5 12 - - - - - -
22 M - 1 3 - - 2 - - -
23 F - - - - - - - - -
24 M - 1 5 - - - - - -
25 M 1 - - - - - - - -
26 M - 1 - 2 1 2 - - -
27 M 2 - 5 - - - - - -
28 F 2 - 4 1 - - - 1 1
29 M 5 6 16 -
- -
- - -
30 M 1 1 1 -
- -
- - -
31 M - - 1
- - -
- - -
32 M - - 1
- - -
- - -
33 M 13 7 21 - - - - - -
Total 54
55
224
5
8
9
-
1
1
Legenda: M – macho, F – fêmea e N – ninfa.
40
Tabela 1.3 – Relação das espécies de Gamasida em Columbina
picui nos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.
Hospedeiro
Sexo
Pellonyssus
marui
Ornithonyssus
bursa
Mesonyssus.
sp.
1
M
1
- -
2
M
-
- -
3
M
1
- -
4
M
27
- -
5
M -
2 1
6
F - -
-
7
M - -
1
8
F - - -
9
F - - -
10
M - - -
11
M
3 1
-
12
F
1 1
-
13
M
-
- -
14
M
2
- -
15
M - - -
16
M - - -
17
M - - -
18
F - - -
19
M
1
- -
20
M
1
- -
21
M - - -
22
M -
1
-
23
F - - -
24
M - - -
25
M - - -
26
M -
1
-
27
M
1
- -
28
F
1
- -
29
M - - -
30
M - - -
31
M - - -
32
M - - -
33
M - - -
Total
39 6 2
41
4. CONCLUSÕES
Os representantes da Ordem Phthiraptera: Columbicola passerinae,
Hohorstiella passerinae e Physconelloides eurysema bem como os ácaros
Ornithonyssus bursa, Pellonyssus marui e o ácaro nasal Mesonyssus sp. têm seu
primeiro registro em Columbina picui no Brasil.
As três espécies da Ordem Phthiraptera têm suas ocorrências registradas
pela primeira vez no estado do Rio Grande do Sul.
Os gamasídeos Pellonyssus marui e Ornithonyssus bursa têm seu primeiro
registro parasitando Columbina picui no Brasil.
Pellonyssus marui têm seu primeiro registro para o território brasileiro.
O ácaro nasal Mesonyssus sp. têm seu primeiro registro no estado do Rio
Grande do Sul e parasitando Columbina picui no Brasil.
42
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47
ARTIGO 2
Nematóides parasitos de
Columbina picui
(Temminck, 1813) nos municípios de
Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil
48
RESUMO
COIMBRA, MARCO ANTONIO AFONSO.
Nematóides parasitos de
Columbina
picui
(Temminck, 1813) (Columbiformes: Columbidae) nos municípios de
Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.
2007. 68p. Dissertação (Mestrado)
Programa de Pós-Graduação em Parasitologia. Universidade Federal de Pelotas,
RS.
Columbina picui (rolinha-picuí) é um pequeno columbídeo silvestre de hábito diurno
que vive em casais ou bandos em áreas abertas presente tanto no ambiente
silvestre como em centros urbanos, onde compartilha habitat com outras espécies
como Columba livia (pombo-doméstico) e Passer domesticus (pardal) responsáveis
pela veiculação de diversos patógenos. Sua alimentação é baseada em sementes e
frutos que apanha no chão. Ocorre no Brasil e outros países da América do Sul
(Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia, Colômbia e Peru). O presente trabalho
teve como objetivo identificar os helmintos parasitos de C. picui nos municípios de
Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil. Foram examinados 33 exemplares de rolinha-
picuí oriundos destes municípios capturados de acordo com a licença do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) número
066/2006/DITEC-RS. Cada ave foi necropsiada tendo suas estruturas (globo ocular,
sistema respiratório, sistema genito-urinário, fígado, trato digestório, e cavidade
abdominal), individualizadas e analisadas ao estereomicrocópico em busca de
helmintos. Os parasitos foram fixados em solução de álcool 70ºGL. Após,
clarificados em lactofenol e montados entre lâmina e lamínula para identificação.
Foram encontrados os seguintes apenas representantes de Nematoda, com as
prevalências de: Ascaridia columbae (24,24%), Ornithostrongylus quadriradiatus
(15,15%) no intestino delgado, Dispharynx nasuta no proventrículo (6,06%) e moela
(3,03%), e Dispharynx sp. (3,03%) no proventrículo. A. columbae tem seu primeiro
registro em C. picui no estado do Rio Grande do Sul e O. quadriradiatus, D. nasuta e
Dispharynx sp. têm seu primeiro registro em C. picui no Brasil.
Palavra-chave: Columbina. Ascaridia, Ornithostrongylus, Dispharynx, Nematoda.
49
ABSTRACT
COIMBRA, MARCO ANTONIO AFONSO.
Nematodes of
Columbina picui
(Temminck, 1813) (Columbiformes: Columbidae) in the counties of Pelotas and
Capão do Leão, RS, Brazil. 2007. 68f. Dissertation (Master) Program of After-
Graduation in Parasitology. Federal University of Pelotas, RS, Brazil.
Columbina picui (picui ground-dove) is a small wild columbíd of diurne habits that
lives in couples or groups in opened areas, gift in such a way in the wild environment
as in urban centers, where it shares habitat with other species as the Columba livia
(pigeon-domestic servant) and Passer domesticus (sparrow) responsible for the
propagation of diverse pathogens. Its feeding is based on seeds and fruits that catch
in the soil. It occurs in Brazil and other South-American countries (Argentina,
Uruguay, Chile, Paraguay, Bolivia, Colombia and Peru). The present work had as
objective to identify helminths parasitic of C. picui in the counties of Pelotas and
Capão do Leão, RS, Brazil. Thirty and three specimens of Picui Ground Dove were
captured, had been examined in accordance with the license of the IBAMA, number
066/2006/DITEC-RS. Each bird was autopsied taking their structures (eyeball,
respiratory system, genito-urinary system, liver, digestive deal, and abdominal cavity)
its individualizades and analyzed agencies in steromicrocope in search of
endoparasites. The parasites had been fixed in alcohol solution 70ºGL. After, clarified
in lactofenol and mounted in microscope slides. They had been found following the
Nematoda, with the prevalences of: Ascaridia columbae (24,24%), Ornithostrongylus
quadriradiatus (15.15%) in the small intestine, Dispharynx nasuta in proventricle
(6,06%) and gizzard (3,03%), and Dispharynx sp (3.03%) in the proventricle.
Ascaridia columbae have the first register parasitizing C. picui in state of Rio Grande
do Sul e Ornithostrongylus quadriradiatus, Dispharynx nasuta and Dispharynx sp.
have the first register in C. picui in Brazil.
Keys-words: Columbina. Ascaridia. Ornithostrongylus. Dispharynx. Nematoda.
50
1. INTRODUÇÃO
Columbina picui (Temminck, 1813), popularmente conhecida como rolinha-
picuí ou rolinha-cinzenta, é um pequeno columbídeo de corpo acinzentado com uma
curta faixa negra nas coberteiras das asas. Possui uma destacada faixa longitudinal
branca na porção dorsal das asas, que contrasta com as rêmiges negras, além da
cauda branca com as penas centrais negras. O bico é negro e as patas o
avermelhadas. A íris apresenta três cores em forma de anéis com coloração branca,
azul, e carmim e o anel perioftálmico branco. A espécie possui dimorfismo sexual,
sendo que os machos apresentam o topo da cabeça cinza-azulado e as fêmeas não,
além delas serem mais pardas. Vivem em ambientes abertos em casais ou bandos,
sendo que durante a alimentação composta de grãos e frutos podem ser observados
junto a outras espécies como, Columbina talpacoti (Temminck, 1810) (rolinha-caldo-
de-feijão), Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) (vira-bosta) e Passer domesticus
(Linnaeus, 1758) (pardal) (EFE et al., 2001, BELTON, 2004). O conhecimento sobre
nematóides parasitos de aves no Brasil conta com expressivo número de
publicações, graças a trabalhos como o realizado por COSTA et al. (1986),
VICENTE et al. (1995) e FREITAS et. al. (2002). No entanto, centenas de espécies
de aves até o momento não foram examinadas em relação aos seus parasitos
(ONIKI et al., 2002). As informações existentes sobre a helmintofauna de C. picui no
Brasil até a realização do presente trabalho eram de TRAVASSOS (1913) que
registrou a espécie como hospedeira de Ascaridia columbae e VICENTE et al.
(1995) registraram o parasitismo dos nematóides Ornithostrongylus iheringi,
Ornithostrongylus sp. Travassos, 1914 e Ascaridia sp. Dujardin, 1845 em C. picui.
GIOVANNONI & MALHEIRO (1952) estudando os helmintos de Columba livia
Gmelin, 1789, registraram nas 100 necropsias realizadas, nematóides das espécies
Ascaridia columbae (Gmelin, 1789) em 57 pombos, Capillaria columbae (Rudolphi,
1819) em quatro aves e Tetrameres confusa Travassos, 1917 em um indivíduo. O
trematódeo Paratanaisia bragai (Santos, 1934) foi encontrado alojado nos rins e vias
urinárias de um único animal.
FREIRE (1968) estudou a fauna parasitária de C. livia no Rio Grande do Sul e
observou a presença de helmintos do filo Nematoda: A. columbae e
51
Ornithostrongylus quadriradiatus (Stevenson, 1904) Travassos, 1914 no intestino
delgado, T. confusa no proventrículo e C. columbae no intestino delgado.
FEDERMAN et al. (1973), estudando a ocorrência de parasitos em 11
pombos-domésticos (C. livia) em Minas Gerais, encontraram A. columbae (45,4%) e
C. columbae (18,9%) no intestino delgado.
MARTINS JUNIOR & FREITAS (1975), estudando os helmintos de C. livia na
cidade de Brasília e em outras regiões do estado de Goiás, encontraram
Brachylaima (Mazzantii) mazzantii (Travassos, 1927), Raillietina (Skrjabinia) bonini
(Mégnin, 1889), A. columbae, Dispharynx spiralis (Molin, 1858) e Tetrameres
fissipina (Diesing, 1860).
COSTA et al. (1986) analisando nove espécimes de C. livia encontraram os
trematódeos B. (M.) mazzantii no intestino delgado e P. bragai nas vias urinárias; os
cestóides Raillietina (Raillietina) allomyodes (Kotlan, 1921), Raillietina (Skrjabinia)
bonini e Raillietina sp. no intestino delgado. Os nematóides C. columbae, O.
quadriradiatus e A. columbae no intestino delgado, além de Dispharynx spiralis, T.
confusa e T. fissipina no proventrículo.
SILVA et al. (1990), realizando 55 necropsias de C. livia no município de São
Gonçalo, Rio de Janeiro, relataram 35 (63,6%) aves parasitadas por helmintos. Entre
os nematóides, foram encontrados D. spiralis no proventrículo (2,8%) e C. columbae
no ceco (25,7%), O. quadriradiatus no intestino delgado (2,8%), A. columbae no
intestino delgado (11,4%). Os trematódeos, B. (M.) mazzantii no intestino delgado
(25,7%) e P. bragai nas vias urinárias (42,9%). O cestóide R. (S.) bonini no intestino
delgado (45,7%).
VICENTE et al. (1995), na revisão sobre nematóides de aves no Brasil
registraram 14 espécies para Ascaridia: A. amblyoma, A. brasiliensis, A. columbae,
A. galli, A. hermafrodita, A. lineata, A. magalhaesi, A. numidae, A. ornata, A.
orthocerca, A. pintoi, A. pterophora, A. sergiomeirai, e A. serrata. Para
Ornithostrongylus são citadas seis espécies: O. almeidai, O. fariai, O. iheringi, O.
minutus, O. quadriradiatus, O. salobiensis e para Dispharynx Railliet, Henry & Sisoff,
1912, são descritas quatro espécies: D. capitata, D. crassissima, D. magnilabiata e
D. spiralis.
A ocorrência de Ascaridia em C. picui no Brasil foi apontada por VICENTE et
al. (1995) sem a determinação da espécie, enquanto TRAVASSOS (1913) citou C.
52
picui como hospedeira de A. columbae no Brasil, no entanto, não fez menção à
procedência do animal.
De acordo com URQUHART et al. (1998), O. quadriradiatus é hematófago
podendo medir até 2,5cm, sendo o papo e o intestino delgado de pombos os órgãos
preferenciais, onde infecções leves podem causar enterite, anemia e em casos de
infecções maciças morte do animal.
ADRIANO et al. (2001) registraram pela primeira vez em Zenaida auriculata
Des Murs, 1847, o trematódeo Brachylaima mazzantii (Travassos, 1927) Dollfus,
1935 no município de Junqueirópolis, São Paulo.
JUNQUEIRA et al. (2002) analisando a helmintofauna em C. livia no município
de Juiz de Fora, Minas Gerais, registraram as seguintes espécies, respectivamente,
com seus índices de prevalência, intensidade média de parasitismo, e órgãos
parasitados: 73,3% e 48,3 intestino delgado para A. columbae, 46,7% e 41,9,
intestino delgado, Capillaria sp. Zeder, 1800, 83,3% e 41,7 Railietina spp., intestino
delgado, 23,3% e 94,3 , rins, Paratanaisia sp.
Segundo FORTES (2004) A. columbae mede até 95 mm e sendo
encontrado no intestino delgado e algumas vezes no esôfago, proventrículo, moela,
fígado e ocasionalmente cavidade abdominal de aves. Em grandes infecções pode
causar lesões na mucosa intestinal ocasionando apatia, perda de apetite, diarréia e
emagrecimento do hospedeiro.
GONZALES et. al. (2004) estudando a fauna parasitária de Zenaida auriculata
(Des Murs, 1847) na província de Nuble, Chile, registraram a prevalência dos
endoparasitas Killigrewia delafondi (9,4%), Railleitina sp. (1,7%), Echinostoma sp.
(0,9%), Heterakis gallinarum (0,4%).
PINTO et al. (2004b) relataram primeiro registro do trematódeo Paratanaisia
bragai em Columbina talpacoti (Temminck, 1810) proveniente da área suburbana da
cidade do Rio de Janeiro. Os autores encontraram baixa prevalência (10%), mas alta
intensidade de infecção considerando que foram coletados em um dos rins, 116
exemplares do parasito.
Dispharynx parasita o proventrículo de aves domésticas não-aquáticas e tem
como hospedeiro intermediário, crustáceos terrestres, em altas infecções pode
ocasionar reação nodular no órgão, com excessiva produção de muco segundo
URQUHART et al. (1998).
53
Segundo GOBLE & KUTZ (1945) apud DUARTE & DOREA (1987) D. nasuta
(Rudolphi, 1819) Stiles & Hassall, 1920, mostra identidade morfológica com D.
spiralis, razão legitima para considerar estas espécies como sinonímias.
1.1. OBJETIVO
Identificar os helmintos parasitos de Columbina picui, considerando os
parâmetros de prevalência, abundância e intensidade média dos parasitos
encontrados nas cidades de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Foram examinados 33 exemplares de C. picui (rolinha-picuí) oriundos dos
municípios de Pelotas e Capão do Leão, Rio Grande do Sul, Brasil. Do total de aves
examinadas, 29 foram capturadas com uso de carabina de ar comprimido, e
posterior injeção de cloridrato de lidocaína a 2% no tronco cerebral conforme
AMADO et al. (1994), três (03) foram doadas pelo Núcleo de Reabilitação da Fauna
Silvestre (NURFS) e Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) da
Universidade Federal de Pelotas onde vieram à óbito neste setor, e um (01)
resultante de atropelamento recente, não estando em processo de decomposição.
As capturas foram realizadas entre dezembro de 2006 e junho de 2007, de acordo
com licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) sob o número 066/2006/DITEC-RS (Anexo 1).
Os animais foram transportados para o Departamento de Microbiologia e
Parasitologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas (DEMP
IB – UFPEL), local onde foi realizado o trabalho.
Para a pesquisa de helmintos as aves foram submetidas à necropsia, através
de um corte longitudinal ventral, da boca à cloaca, sendo inspecionados: o globo
ocular, o sistema respiratório (pulmões, traquéia), o sistema genito-urinário (rins,
ureter, testículos e ovários), fígado, trato digestório (boca, faringe, esôfago, papo,
pró-ventrículo, moela, intestino delgado, intestino grosso) e cavidade abdominal.
Cada segmento foi individualizado, aberto, e lavado em água corrente. As mucosas
foram examinadas ao estereomicroscópio. Os conteúdos lavados em tamis com
abertura de malha 150µm, para coleta de nematóides. Os parasitos encontrados
54
foram acondicionados em recipientes contendo álcool 70ºGL para posterior
identificação e contagem.
Os nematóides foram clarificados em lactofenol e montados entre lâmina e
lamínula para identificação conforme TRAVASSOS (1937), YAMAGUTI (1961),
PINTO et al. (1991), VICENTE et al. (1995), ZHANG et al. (2004).
Os parâmetros avaliados foram prevalência, abundância e intensidade média
de parasitismo, segundo MARGOLIS et al. (1982), sendo utilizado o programa
Microsoft Excel 2003.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 33 exemplares de C. picui examinados, 14 (42,42%) estavam
parasitados. Os nematóides encontrados foram: Ascaridia columbae,
Ornithostrongylus quadriradiatus, Dispharynx nasuta e Dispharynx sp.
(Tabela 2.1).
3.1. Taxonomia dos nematóides encontrados e respectivas localizações.
Filo Nematoda
Classe Secernentea
Ordem Ascaridida
Família Ascaridiidae
Gênero Ascaridia
Espécie A. columbae (Fig. 2.1, 2.2)
Localização: Intestino delgado.
Figura 2.1
Extremidade anterior do
Ascaridia columbae
com destaque dos lábios
(10x).
55
Ordem Strongylida
Família Trichostrongylidae
Gênero Ornithostrongylus
Espécie O. quadriradiatus (Fig. 2.3, 2.4, 2.5)
Localização: Intestino delgado.
Figura 2.2
Extremidade posterior de
macho de Ascaridia columbae (10x).
Figura 2.3
– Macho de Ornithostrongylus quadriradiatus
(20x).
56
Ordem Spirurida
Família Acuariidae
Gênero Dispharynx
Espécie D. nasuta (Fig. 2.6, 2.7, 2.8, 2.9, 2.10)
Dispharynx sp. (Fig. 2.11, 2.12)
Localização: Proventrículo e moela.
Figura 2.4
Bolsa copuladora do macho
de
Ornithostrongylus quadriradiatus
(20x).
Figu
ra 2.5
Extremidade posterior da
fêmea de
Ornithostrongylus quadriradiatus
(20X).
Figura 2.6
– Fêmea de Dispharynx nasuta (10x).
57
Figura 2.7
– Detalhe da papila entre os cordões de Dispharynx nasuta
(20x)
.
Figura 2.8
– Extremidade posterior do macho de Dispharynx nasuta,
destacando os espículos (20X).
58
Figura 2.9
– Extremidade posterior do macho de Dispharynx nasuta destacando
quatro papilas pré-cloacais e duas pós-cloacais (40x).
Figura 2.10
Extremidade posterior do macho de Dispharynx nasuta
destacando
quatro papilas pós-cloacais (40x).
59
Figura 2.12
Extremidade posterior do macho de Dispharynx
sp.
destacando os espículos (20x).
Figura 2.11
– Macho de Dispharynx sp. (10x)
60
Tabela 2.1 – Prevalência, intensidade média e abundância por órgão dos nematóides
encontrados em Columbina picui, nos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil
(n=33).
Táxons Órgão Prevalência
(%)
Intensidade
média
Abundância
Ascaridia columbae Intestino delgado 24,24 2,88 0,7
Ornithostrongylus quadriradiatus Intestino delgado 15,15 8 1,21
Dispharynx nasuta Proventrículo 6,06 16 0,97
Dispharynx nasuta Moela 3,03 7 0,21
Dispharynx sp. Proventrículo 3,03 1 0,03
Todos os nematóides encontrados não apresentam especificidade parasitária.
A. columbae, O. quadriradiatus, D. nasuta e Dispharynxforam descritos em Gallus
gallus (Linnaeus, 1758) (galinha), Meleagris galopavo, Linnaeus, 1758 (peru),
Columba livia Gmelin, 1789 (pombo-doméstico), Pavo cristatus Linnaeus, 1758
(pavão), Phaisanus colchicus Linnaeus, 1758 (faisão) (FREITAS, 1957; DUARTE &
DOREA, 1987; SILVA et al., 1990; VICENTE et. al. 1995, PINTO et al., 2004c), no
entanto, com exceção de A. columbae (TRAVASSOS, 1913), as demais espécies
foram encontradas pela primeira vez em C. picui no Brasil. De acordo com os dados
obtidos foi observado à associação parasitária entre Ascaridia columbae e
Ornithostrongylus quadriradiatus, no intestino delgado de C. picui.
Todos os exemplares de A. columbae e O. quadriradiatus foram encontrados
no intestino delgado conforme descrito por FREIRE, 1968; FEDERMAN et. al.
(1973); COSTA et. al.(1986); SILVA et. al. (1990); VICENTE et. al. (1995),
URQUHART et al. (1998); JUNQUEIRA et. al. (2002).
O exemplar de Dispharynx sp. e a maioria (31) dos espécimes de D. nasuta
estavam presentes no proventrículo de C. picui, mesmo órgão parasitado em outras
aves descritos por COSTA et. al.(1986), DUARTE & DOREA, 1987 e VICENTE et.
al. (1995). No entanto, alguns (7) exemplares de D. nasuta localizavam-se na moela
da mesma ave; como o parasitismo deste órgão, pela espécie citada, não foi
observado por outros autores, infere-se que seja em função da grande quantidade
de nematóides no proventrículo.
Dispharynx sp. e D. nasuta foram encontrados no proventrículo de uma das
aves, observando-se o órgão edemaciado e com grande quantidade de muco,
patologia também descrita por URQUHART et al. (1998).
61
Como a ocorrência de A. columbae em C. picui no Brasil, quanto ao município
e/ou Estado, não foi esclarecida por TRAVASSOS (1913), registra-se sua presença
neste hospedeiro pela primeira vez para o Rio Grande do Sul.
Não existem dados em relação à prevalência, intensidade média e/ou
abundância de nematóides em C. picui no Brasil. Os dados existentes são sobre
prevalência e/ou abundância em Columba livia e, no entanto, oscilam bastante de
uma região para outra do País (GIOVANNONI & MALHEIRO, 1952; FEDERMAN et.
al., 1973; SILVA et. al., 1990; JUNQUEIRA et al., 2002).
A presença de somente nematóides nas aves analisadas, provavelmente
esteja relacionada com a dieta, que é composta basicamente por sementes e frutos.
O número reduzido de artrópodes e moluscos presentes na dieta destas aves
reduziria a possibilidade das mesmas infectarem-se com trematódeos, acantocéfalos
e cestóides. Segundo CINTRA et al. (1990), em estudo sobre a dieta de Columbina
talpacoti (rolinha-caldo-de-feijão) no Cerrado, foram encontrados 49 ítens diferentes
entre sementes de plantas nativas e exóticas (73,5%), fragmentos de grãos
cultivados (8,2%), detritos de terra e areia (4,1%), caramujos (2%), casca de ovo
(2%), insetos (2%) e fragmentos não identificados (2%). De acordo com SICK
(1997), na época de reprodução, Zenaida auriculata (avoante) também se alimenta
de moluscos (gastrópodes) e diplópodes sugerindo a necessidade de suprimento de
proteína animal e cálcio. Nos espécimes de C. picui necropsiados foram
encontrados no papo e moela sementes e frutos, além destes, em um exemplar foi
encontrado um inseto (coleóptero) no papo e em outro, um molusco (gastrópode),
observações que corroboram com CINTRA et al. (1990) para C. talpacoti.
Na tabela 2.2 visualiza-se as espécies de nematóides e o número de
exemplares em cada hospedeiro. Das 33 rolinhas necropsiadas, 26 (78,79%) eram
machos, dos quais oito (34,61%) estavam parasitados. Das sete (21,21%) rolinhas
fêmeas examinadas, quatro (57,14%) estavam parasitadas.
62
Tabela 2.2 – Relação das espécies de nematóides encontrados em C. picui
nos municípios de Pelotas e Capão do Leão, RS, Brasil.
Hospedeiro
Sexo
A. columbae D. nasuta
Dispharynx sp
O. quadriradiatus
1
M
7
- - -
2
M - - - -
3
M - - - -
4
M - - - -
5
M - - - -
6
F - - -
27
7
M - - - -
8
F - - - -
9
F
1
- - -
10
M
4
- - -
11
M
-
- - -
12
F
1
- - -
13
M
-
- - -
14
M
1
- - -
15
M - - - -
16
M - - - -
17
M - - - -
18
F - - - -
19
M
1
- - -
20
M - - - -
21
M - - -
1
22
M - - -
4
23
F - - - -
24
M - - - -
25
M - - - -
26
M - - - -
27
M - - -
2
28
F
7
- - -
29
M
- 38 1
-
30
M
- -
- -
31
M
1 -
- -
32
M
- 1
- -
33
M
- -
- -
Total
23 39 1 40
63
4. CONCLUSÕES
Os nematóides Dispharynx nasuta, Dispharynx sp. e Ornithostrongylus
quadriradiatus têm seu primeiro registro parasitando C. picui no Brasil.
A ocorrência de Ascaridia columbae é registrada pela primeira vez em C. picui
no Rio Grande do Sul.
É registrada pela primeira vez a associação parasitária de Ascaridia columbae
e Ornithostrongylus quadriradiatus, no intestino delgado de C. picui.
64
5. REFERÊNCIAS
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68
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