A partir de duas entrevistas transcritas e analisadas
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, observou-se que a forma verbal
preferencial para a expressão do aspecto progressivo no presente parecia ser a apontada pelo
segundo teste aplicado nesta dissertação, ou seja, a forma com o verbo estar no Presente do
Indicativo seguido do gerúndio do verbo principal. Essa observação vai ao encontro das
expectativas iniciais a respeito da expressão verbal desse aspecto.
Alguns trechos das duas entrevistas que evidenciam o uso da perífrase formada pelo verbo
estar no Presente do Indicativo com o gerúndio do verbo principal para a expressão do aspecto
progressivo são transcritos abaixo:
Entrevista 1:
SB: (...) Se o manejo do óculos é colocá-lo outra vez, já estou sendo o Jung. Da mesma maneira que
falo no telefone abraçado no telefone: “Oscar, Oscar, só você é capaz...” e não tô falando no
telefone. Outra hora eu largo o telefone na mesa e saio falando, sobre o papel que me negaram,
preferiram botar um ator mais novo, maquiado. Eu era velho demais pra fazer o papel do velho.
SB: (...) Tanto que agora eu fui convidado pra fazer uma novela que não vou poder fazer porque tô
fazendo o Jung e já tenho duas peças pra fazer o ano que vem. Então, eu não passei por esse
problema, mas eu conheço muitos atores que chegam aos 80 já... chegam aos 70!
SB: (...) Tá o ator falando: “Ah, doutor Jung, não sei o quê...” “Ah, meu filho, você não sabe que eu
pertenço...”
Entrevista 2:
BR: É, quando ele se candidata pela última vez, ele tá buscando o lugar certo, ele tá buscando o
lugar que tinha sido de João do Rio, quer dizer, que deveria sim ser ocupado, inclusive, por um
cronista (...)
BR: Então há um nicho de oposionistas, de homens de esquerda, que estão se organizando, e que
em 22 vão criar o Partido Comunista, né? o Partido Comunista do Brasil, como era no momento,
que serviu um pouco de apoio a ele. É a figura, por exemplo, de Lobato, de Monteiro Lobato.
BR: (...) Tanto que no final da vida, por exemplo, ele tá escrevendo, ele tem crônicas e pedaços de
romances publicados na Revista Souza Cruz, que é uma revista muito elegante, bonita, vale a pena
até ver, né? E ele é muito respeitado, sobretudo pelos colegas de imprensa, mais do que pelos
colegas de belas letras.
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Na primeira entrevista transcrita, o entrevistado foi um homem, carioca, com alta escolaridade e acima de 80 (oitenta)
anos de idade. Na segunda entrevista transcrita, as entrevistadas foram duas mulheres, ambas cariocas, com alta
escolaridade e entre 45 (quarenta e cinco) e 65 (sessenta e cinco) anos de idade.