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DANIELA MODNA
Aspectos ecológicos e econômicos do plantio de Pinus elliottii
Engelm var. elliottii como facilitadora da restauração de mata
ripária em região de Cerrado (Assis, SP, Brasil).
Tese apresentada à Escola de Engenharia
de São Carlos da Universidade de São
Paulo para obtenção do título de Doutora
em Ciências da Engenharia Ambiental
Orientadora: Dra. Giselda Durigan
São Carlos
2007
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE
QUE CITADA A FONTE.
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento
da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP
Modna, Daniela
M692e Aspectos ecológicos e econômicos do plantio de
Pinus elliottii Engelm var.elliottii como facilitadora da
restauração de mata ripária em região de Cerrado (Assis, SP,
Brasil) / Daniela Modna ; orientadora Giselda Durigan. –- São
Carlos, 2007.
Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação e Área de
Concentração em Ciências da Engenharia Ambiental -- Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.
1. Cerrado. 2. Custos de restauração. 3. Dinâmica da
comunidade natural. 4. Plantio de Pinus. 5. Recuperação de
matas ciliares. I. Título.
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FOLHA DE JULGAMENTO
Candidata: Licenciada DANIELA MODNA
Tese defendida ejUlr~m 29/11/2007 perante a Comissão Julgadora:
i/
i
Prof!!.D~. GIS~}\N (Orientadora)
«Instituto Florestal do Estado d'eSãoPaulo)
Prof Associado EVALD\
(Escola de Engenharia de
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SPINDOLA
~~ ~~
(Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho"/UNESP-Campus de Botucatu)
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( 'lversidade Federal de São Carlos/UFSCar)
.g.~. :3
Prof Dr. ANTONIO APARE IDO CARPANEZZI
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/EMBRAPA CNPF-PR)
Prof Associado GE
Presidente da{,
Ao meu pai Gilberto, que me ensinou a amar a Natureza;
À minha mãe Jane, que me ensinou a nunca desistir.
Expresso aqui meus agradecimentos àqueles que apoiaram a realização deste
estudo:
Prof. Assoc. Evaldo L. G. Espíndola, pelo apoio na continuidade do doutorado.
Dra. Giselda Durigan, toda minha gratidão pela amizade, por ter sido minha anfitriã
e, sobretudo, pela solicitude com que se empenhou como orientadora.
Dr. Antônio Carlos Galvão de Melo, grande amigo e incentivador, e sua família,
pela hospitalidade com que me recebeu em Assis.
Departamento de Botânica da Universidade Federal de São Carlos, pelo
aprendizado que me proporcionou.
Meu marido André Luís Masiero, o maior encorajador do meu crescimento pessoal
e profissional.
Pesquisador Marco Antônio de Oliveira Garrido, idealizador deste trabalho.
Viviane Soares Ramos, pelo fornecimento de figuras.
Wilson A. Contieri, Mitsuro Kawabata e Éliton Rodrigo da Silveira, Edivaldo
Furlan e Edson Damasceno que colaboraram na coleta de dados nas diferentes
etapas do estudo
.
Professores Dr. Marco Antônio Assis e Dr. João Juares Soares, pelas valiosas
contribuições dadas no Exame de Qualificação.
Minha família, fonte incessante de carinho e apoio.
“É preciso ter um caos dentro de si para
dar à luz uma estrela cintilante.”
Friedrich Nietzsche, Assim falou Zaratustra (1885)
RESUMO
MODNA, D. Espécies exóticas na restauração florestal: aspectos ecológicos e
econômicos do plantio de Pinus elliottii Engelm var. elliottii como pioneira em
região de cerrado, Assis, SP, Brasil. 2007. 171 p. Tese (Doutorado) – Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.
Os elevados custos de plantio e de manutenção de espécies nativas limitam a
restauração florestal no Brasil. Buscando reduzir custos e acelerar a recuperação de
vegetação ripária em região de cerrado, testou-se a utilização de espécie exótica de
rápido crescimento (Pinus elliottii var. elliottii) como facilitadora da regeneração
natural de espécies nativas lenhosas, no município de Assis, Estado de São Paulo,
Brasil. A exploração de madeira e resina de Pinus poderia gerar receitas aos
proprietários rurais e estimular ações de restauração com a compensação dos
custos de plantio. Três tratamentos com plantio de Pinus nos espaçamentos 3 x 3 m,
3 x 2 m e 2 x 2 m, mais um quarto tratamento com áreas sem plantio (controle),
foram instalados. Cada tratamento teve quatro repetições, em blocos ao acaso.
Foram alocadas 16 parcelas (18 x 12 m cada) paralelamente ao rio, distando 20 a 40
m da margem. A área experimental fora utilizada como pastagem por duas décadas.
Na ocasião do plantio (1995), predominavam gramíneas africanas. Plantas lenhosas
e estruturas subterrâneas existentes foram preservadas. Avaliou-se área basal,
cobertura de copas e sobrevivência das árvores plantadas, assim como composição
florística, estrutura e cobertura de copas das plantas lenhosas em regeneração
(altura mínima de 50 cm) em 1996, 1998, 1999, 2001 e 2006. Desejava-se verificar
se: 1) Pinus facilitaria a regeneração da comunidade nativa; 2) Pinus dificultaria a
regeneração da comunidade nativa ou 3) Pinus não alteraria a regeneração da
comunidade nativa. Até 2006, a densidade média de plantas lenhosas regenerantes
foi de 4923 ind.ha
-1
sob Pinus (maior quanto maior a densidade de Pinus) e de 3472
ind.ha
-1
no controle. Foram registradas 68 espécies lenhosas nativas em
regeneração na área experimental, pertencentes a 31 famílias. Houve correlação
positiva entre densidade das plantas regenerantes e densidade e área basal de
Pinus, e correlação negativa entre parâmetros estruturais de Pinus e cobertura do
terreno por gramíneas. Conclui-se que Pinus eliminou as gramíneas pelo
sombreamento, favorecendo indiretamente as plantas nativas. Até 2006, não se
constatou competição entre plantas nativas e Pinus pelos recursos do ambiente.
Houve maior proporção de plantas zoocóricas regenerantes no controle, e
correlação negativa entre proporção de regenerantes zoocóricos e parâmetros
estruturais de Pinus. Foram favorecidas por Pinus 40% das espécies regenerantes
e, 25%, prejudicadas. A sucessão deverá conduzir as duas situações a
comunidades distintas, especialmente em função da tolerância das espécies à
sombra, predominantes sob Pinus. A análise econômica do uso de Pinus elliottii
como facilitadora da regeneração natural demonstrou menores custos de plantio
(cerca de um terço dos custos de plantios mistos com espécies nativas),
compensados por um ano de exploração de resina. Porém, as técnicas usuais de
exploração podem danificar as plantas regenerantes do sub-bosque. Assim, a
restauração da comunidade nativa exige meios menos impactantes de exploração
dos plantios de espécies exóticas.
Palavras-chave: cerrado, custos da restauração, dinâmica da comunidade natural,
plantio de Pinus, recuperação de matas ciliares.
ABSTRACT
MODNA, D. Exotic species in forest restoration: ecological and economical
aspects of using Pinus elliottii Engelm. var. elliottii as pioneer in cerrado
region, Assis, SP, Brazil. 2007. 171 p. Thesis (Doctoral) – Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.
Among the obstacles to the native forests restoration in Brazil we find the high costs
of planting high diversity of native trees. Searching for reduction of costs and
vegetation recovery acceleration, the use of a fast growing exotic species (Pinus
elliottii var. elliottii) as pioneer was tested in a riparian area in the cerrado domain, at
Assis municipality, São Paulo State, Brazil. As observed in forest plantations with
exotic species in the same region, we expected the natural regeneration of native
species to occur under the planted exotic trees. In addition, the later exploitation of
the exotic species could bring some profit to the land owner, surpassing the
restoration costs, and thus stimulating forest restoration initiatives. Pinus was planted
in three different spacings (treatments): 3 x 3 m, 3 x 2 m and 2 x 2 m, and a fourth
treatment consisted of not planted plots (control). Every treatment had four
replications in randomized blocks, the 16 plots (18 x 12 m each) settled along the
stream, from 20 to 40m far from the margin. The experimental area had been used
as pasture for at least two decades, mostly covered by African grasses. Some native
species then existing were preserved when the Pinus trees were planted, in 1995,
without revolving the soil. Basal area, crown cover and survival of planted trees, as
well as floristic composition, density and crown cover of native species regenerating
in every plot (minimum height 50 cm) were assessed in 1996, 1998, 1999, 2001 and
2006. The aim was to verify if: 1) Pinus trees facilitating the regeneration of the native
species, 2) Pinus trees obstructing the evolution of the native community or 3) the
exotic species not affecting the native community. In 2006, density of the native
woody species regenerating was 4923 ind.ha
-1
under Pinus and 3472 ind.ha
-1
in the
control, from a total of 68 woody species (31 families) in the experimental area.
Density of the regenerating community was positively correlated to density and basal
area of Pinus. Thus, we concluded that Pinus eliminating grasses by shading (ground
cover by grasses was inversely correlated to Pinus structure), indirectly favored the
native woody species and are still not competing with them. The proportion of
zoochorous species was negatively correlated to the Pinus density, showing that the
exotic species does not attract animal seed dispersers. In the open areas (control),
the zoochory was relatively more frequent. Density of some species (40%) increasing
under Pinus and others (25%) decreasing or disappearing, which means secondary
succession should go toward different directions if under Pinus plantation or in open
areas. Analyzing the economical aspects of using Pinus as pioneer, we found that
planting costs corresponded to a third part of those of planting mixed stands with
native species. In addition, planting costs can be compensated by a single year of
resin exploitation. However, current techniques of resin extraction or timber
exploitation could cause considerable damages to the understory. Alternative
exploitation techniques of the exotic species must be encouraged if restoration of the
native community in the understory is expected.
Key words: community dynamics, Pinus plantation, restoration costs, riparian forest
restoration, savanna.
LISTA DE FIGURAS
1.1 – Localização da área experimental 38
1.2 – Gradiente do entorno da área experimental 39
1.3 – Pinus elliottii plantado em espaçamento 3X3m 39
1.4 – Esquema da distribuição dos tratamentos na área experimental 41
2.1 – Evolução do DAP (cm) das árvores de Pinus elliottii em diferentes espaçamentos
em plantio de restauração florestal em região de cerrado.
59
2.2 – Evolução da altura (m) de Pinus elliottii em diferentes espaçamentos em plantio
de restauração florestal em região de cerrado.
60
2.3 – Evolução da área basal (m
2
.ha
-1
) de Pinus elliottii em diferentes espaçamentos
em plantio de restauração florestal em região de cerrado.
60
2.4 – Evolução da área de copa (m
2
) de Pinus elliottii em diferentes espaçamentos em
plantio de restauração florestal em região de cerrado.
61
2.5 – Evolução da área basal do estrato regenerante ao longo de onze anos de
monitoramento após a instalação do experimento.
62
2.6 – Evolução de cobertura de copas do estrato regenerante ao longo de onze anos
de monitoramento após a instalação do experimento.
63
2.7 – Evolução do número de espécies por parcela ao longo de onze anos de
monitoramento após a instalação do experimento.
64
2.8 – Evolução da densidade de indivíduos em regeneração ao longo de onze anos de
monitoramento após a instalação do experimento.
65
2.9 - Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura sob plantio
experimental de restauração de floresta em região de cerrado (Pinus em espaçamento
2 x 2 m)
69
2.10 - Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura sob plantio
experimental de restauração de floresta em região de cerrado (Pinus em espaçamento
3 x 2 m) 70
2.11 - Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura sob plantio
experimental de restauração de floresta em região de cerrado (Pinus em espaçamento
3 x 3 m)
70
2.12 - Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura sob plantio
experimental de restauração de floresta em região de cerrado (Parcelas sem Pinus)
71
2.13 – Proporção entre densidade de indivíduos de diferentes hábitos sob Pinus
elliottii e nas parcelas controle
77
2.14 – Proporção entre densidade de indivíduos segundo a síndrome de dispersão
sob Pinus e nas parcelas controle
78
2.15 – Cobertura do piso sob Pinus elliottii em diferentes tratamentos em 2006 80
2.16 – “Ilha de regeneração”: crescimento agregado de Tapirira guianensis e outras
espécies
86
3.1 – Dinâmica populacional de Ilex affinis sob plantio de Pinus e em áreas abertas na
zona ripária em região de Cerrado
108
3.2 – Dinâmica populacional de Tibouchina stenocarpa sob plantio de Pinus e em
áreas abertas na zona ripária em região de Cerrado
109
3.3 – Dinâmica populacional de Miconia chamissois sob plantio de Pinus e em áreas
abertas na zona ripária em região de Cerrado
109
3.4 – Dinâmica populacional de Miconia albicans sob plantio de Pinus e em áreas
abertas na zona ripária em região de Cerrado
110
3.5 – Dinâmica populacional de Erythroxylum cuneifolium sob plantio de Pinus e em
áreas abertas na zona ripária em região de Cerrado
111
3.6 – Dinâmica populacional de Leandra lacunosa sob plantio de Pinus e em áreas
abertas na zona ripária em região de Cerrado
112
3.7 – Dinâmica populacional de Tocoyena formosa sob plantio de Pinus e em áreas
abertas na zona ripária em região de Cerrado
113
3.8 – Dinâmica populacional de Xylopia aromatica sob plantio de Pinus e em áreas
abertas na zona ripária em região de Cerrado
114
3.9 – Dinâmica populacional de Styrax pohlii sob plantio de Pinus e em áreas abertas
na zona ripária em região de Cerrado
114
3.10 – Dinâmica populacional de Senna rugosa sob plantio de Pinus e em áreas
abertas na zona ripária em região de Cerrado
115
3.11 – Dinâmica populacional de Erythroxylum deciduum sob plantio de Pinus e em
áreas abertas na zona ripária em região de Cerrado
116
3.12 – Dinâmica populacional de Ocotea corymbosa sob plantio de Pinus e em áreas
abertas na zona ripária em região de Cerrado
117
3.13 – Distribuição de Miconia chamissois e Ilex affinis em classes de altura (m) em
cada tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de recuperação
de floresta ripária em região de Cerrado
122
3.14 – Distribuição de Miconia albicans e Tibouchina stenocarpa em classes de altura
(m) em cada tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de
recuperação de floresta ripária em região de Cerrado
123
3.15 – Distribuição de Chamaecrista flexuosa e Cyathea delgadii em classes de altura
(m) em cada tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de
recuperação de floresta ripária em região de Cerrado
123
3.16. Distribuição de Ocotea corymbosa e Xylopia aromatica em classes de altura (m)
em cada tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de
recuperação de floresta ripária em região de Cerrado
123
3.17 – Distribuição de Styrax pohlii e Erythroxylum cuneifolium em classes de altura
(m) em cada tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de
recuperação de floresta ripária em região de Cerrado
124
4.1 – Resinagem em sistema fechado 166
LISTA DE TABELAS
1.1 – Fitofisionomias do Cerrado associadas às condições edáficas 23
1.2 – Características ambientais dos locais de origem de Pinus elliottii 31
2.1 - Distribuição das plantas lenhosas em regeneração por classes de altura, ao
longo de onze anos de monitoramento nos diferentes tratamentos de plantio
experimental em região de cerrado
67
2.2 - Variação temporal do Índice de diversidade de Shannon (H’) da vegetação nativa
em regeneração na área experimental
72
2.3 – Hábito, síndrome de dispersão e densidade das espécies observadas em
regeneração sob Pinus e nas parcelas controle aos onze anos após a instalação do
plantio experimental para restauração de floresta ripária em região de cerrado, Assis,
SP
73
2.4 – Matriz de correlações entre parâmetros estruturais da floresta plantada de Pinus
elliottii e do estrato regenerante em plantio experimental de restauração florestal em
região de cerrado
82
3.1 – Densidade das populações de espécies em regeneração sob Pinus e nas
parcelas controle ao longo de onze anos de experimento, e sua relação com a
presença de Pinus elliottii
100
3.2 – Relação das espécies mais abundantes na área experimental com as árvores
plantadas de Pinus elliottii
120
3.3 – Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em
zona ripária em Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que
ocorrem
127
4.1 – Custos de implantação de reflorestamento de Pinus elliottii 160
4.2 – Custos de implantação de reflorestamento de espécies nativas 161
4.3 - Potencial de rendimento bruto anual da exploração de resina de Pinus elliottii em
diferentes espaçamentos 163
4.4 - Potencial de rendimento bruto da exploração de madeira de Pinus elliottii em
diferentes espaçamentos aos onze anos após o plantio
164
5.1 – Confrontação das hipóteses com as conclusões do estudo
5.2 – Resultados de restauração de mata ripária de Cerrado considerando-se duas
possibilidades de intervenção
175
181
SUMÁRIO
Resumo 7
Abstract
9
Lista de figuras 11
Lista de tabelas 14
CAPÍTULO 1 - Introdução geral
1.1. A vegetação ripária natural do Cerrado
1.2. Aspectos relativos à restauração de florestas ripárias
1.3. A introdução do gênero Pinus no Brasil
1.3.1. Características da espécie Pinus elliottii
1.3.2. Pinus elliottii como espécie invasora
1.4. Histórico da pesquisa
1.5. Objetivos e hipóteses
1.5.1. Objetivo geral
1.5.2. Objetivos específicos
1.5.3. Hipóteses
1.6. Caracterização da área experimental
1.7. Delineamento experimental
1.8. Referências bibliográficas
20
21
25
30
31
32
33
34
34
35
36
36
40
42
CAPÍTULO 2 – Estrutura da comunidade vegetal nativa em regeneração sob
Pinus elliottii Engelm var. elliottii em região de cerrado
Resumo
2.1. Introdução
2.2. Material e métodos
48
49
49
56
2.2.1. Avaliação
2.2.2. Tratamento dos dados – análises estatísticas
2.2.3. Identificação das espécies
2.3. Resultados
2.3.1. Crescimento das árvores de Pinus elliottii
2.3.2. Estrutura da comunidade em regeneração natural
2.3.2.1. Área basal do estrato regenerante
2.3.2.2. Cobertura das copas do estrato regenerante
2.3.2.3. Número de espécies regenerantes
2.3.2.4. Densidade de indivíduos regenerantes
2.3.2.5. Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura
2.3.3. Diversidade de espécies em regeneração natural
2.3.4. Hábito e síndrome de dispersão das espécies do estrato regenerante
2.3.5. Cobertura do piso nos diferentes tratamentos
2.3.6. Análise de correlações de Pearson
2.4. Discussão
2.5. Conclusões
2.6. Referências bibliográficas
56
57
58
58
58
61
62
62
63
64
65
71
73
79
81
83
87
88
CAPÍTULO 3 – Dinâmica da regeneração de espécies nativas sob Pinus elliottii
Engelm var. elliottii em ambiente ripário de cerrado
Resumo
3.1. Introdução
3.2. Material e métodos
3.2.1. Avaliação das plantas lenhosas
3.2.2. Identificação das espécies
94
95
96
98
98
98
3.3. Resultados e discussão
3.3.1. Dinâmica populacional das espécies (1996 – 2006)
3.3.1.1. Ilex affinis
3.3.1.2. Tibouchina stenocarpa
3.3.1.3. Miconia chamissois
3.3.1.4. Miconia albicans
3.3.1.5. Erythroxylum cuneifolium
3.3.1.6. Leandra lacunosa
3.3.1.7. Tocoyena formosa
3.3.1.8. Xylopia aromatica
3.3.1.9. Styrax pohlii
3.3.1.10. Senna rugosa
3.3.1.11. Erythroxylum deciduum
3.3.1.12. Ocotea corymbosa
3.3.2. Distribuição das espécies em classes de tamanho e comparação de
desempenho de regeneração
3.3.3. Considerações sobre a ecologia das espécies analisadas
3.4. Conclusões
3.5. Referências bibliográficas
99
107
107
108
109
110
111
111
112
113
114
115
115
117
121
125
142
143
CAPÍTULO 4 – Viabilidade de conciliação entre exploração econômica e
restauração de ecossistema ripário
Resumo
4.1. Introdução
4.2. Material e métodos
4.2.1. Avaliação econômica da exploração de Pinus elliottii e seus possíveis
146
147
148
158
impactos ambientais
4.3. Resultados e discussão
4.3.1. Custo de implantação e manutenção de plantio de espécies nativas e
Pinus elliottii
4.3.2. Estimativas do rendimento da exploração da resina e madeira
4.3.3. Potenciais implicações da exploração do Pinus elliottii sobre a mata
ripária em regeneração
4.4. Considerações finais
4.5. Referências bibliográficas
158
159
159
162
165
167
169
CAPÍTULO 5 – Análise global da utilização de espécies exóticas em plantios
de restauração
5.1. Síntese dos resultados
5.2. Hipóteses X conclusões do estudo
5.3. O risco de contaminação biológica por Pinus
5.4. Limitações da legislação
5.5. Referências bibliográficas
173
174
174
180
182
184
CAPÍTULO 1
Introdução geral
21
1.1. A vegetação ripária natural do Cerrado
O Cerrado distribui-se pela maior parte do Brasil Central, abrangendo também
partes das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul, além de pequenas porções de
outros países da América do Sul (Oliveira-Filho e Ratter, 2002).
Além de ocupar proporções expressivas do território brasileiro (23%), o
Cerrado se destaca tanto pela sua enorme diversidade biológica como pela situação
de ameaça provocada pelo avanço de atividades antrópicas. Estes fatores
motivaram o reconhecimento internacional do bioma Cerrado como prioritário para
conservação em escala global (Myers et al., 2000).
O cerrado paulista, em particular, foi reduzido drasticamente para dar lugar a
pastagens e agricultura. Segundo Durigan et al. (2003), 93% da área originalmente
ocupada pela vegetação de cerrado do Estado de São Paulo foi desmatada. Esta
área, que correspondia a cerca de 14% do Estado, atualmente não ultrapassa 1%.
O Cerrado é uma formação savânica de origem muito antiga na escala
evolutiva, cuja origem foi decorrente de fatores climáticos, bióticos e pedológicos
(Ribeiro e Walter, 1998), e cuja vegetação seria resultante das adaptações
selecionadas:
pelo clima com estação seca bem característica;
pela ocorrência de fogo;
pela ação de animais (notadamente insetos e seres humanos); e
por aspectos concernentes à drenagem, à profundidade, à deficiência de
minerais e ao excesso de alumínio no solo.
22
Ab’Saber e Costa Júnior
1
(1950) apud Eiten (1972) afirmam que grande parte
do Brasil Central já foi totalmente coberta por vegetação semelhante à de cerrado
sensu stricto e cerradão. Uma série de mudanças climáticas favoreceu a expansão
de florestas úmidas sobre tais áreas, que eram originalmente mais secas, isolando a
área de domínio de cerrado nos planaltos entre a Floresta Amazônica e a Mata
Atlântica. Em resposta às modificações edafo-climáticas mencionadas, surgiram os
diferentes tipos de vegetação existentes na extensa área de domínio do Cerrado,
que foram detalhadamente descritas por Ribeiro e Walter (1998) e Oliveira-Filho e
Ratter (2002). Entre essas fitofisionomias se encontram formações florestais ripárias
(matas ciliares, matas de galeria, matas de brejo), cuja existência é especialmente
importante pela proteção que oferecem aos recursos hídricos.
As principais fitofisionomias da vegetação dentro da área de domínio do
Cerrado, bem como a associação delas com as condições edáficas, se encontram
na Tabela 1.1:
1
AB’SABER, A. N. e COSTA JR., M. Contribuição ao estudo do sudoeste goiano. Boletim Paulista
de Geografia, 4: 3-26, 1950.
23
TABELA 1.1 – Fitofisionomias do Cerrado associadas às condições edáficas; em
destaque, o tipo de vegetação que recobria originalmente a área
deste estudo (Modificada a partir de Oliveira-Filho e Ratter, 2002)
Fertilidade do solo Características do solo
Baixa Intermediária Alta
Solos altamente drenados e
com déficit hídrico sazonal
na superfície
Campo limpo;
Campo sujo; Campo
cerrado; Cerrado
sensu stricto;
Cerradão distrófico
Cerradão
distrófico; Mata
mesófila
semidecídua
Mata mesófila
decídua
(encostas)
Solos úmidos na maior
parte do ano
Cerradão distrófico;
Mata de vale
(mesófila perenifólia)
Cerradão
distrófico; Mata de
vale (mesófila
semidecídua)
Mata de vale
(mesófila
semidecídua ou
decídua)
Solos muito úmidos ou
encharcados
permanentemente (ao
longo de cursos d’água)
Mata ripária (perenifólia)
Solos com déficit hídrico ou
encharcados sazonalmente
Campos úmidos; veredas; campos rupestres
24
A vegetação associada à presença de corpos d’água pode receber diversas
denominações, de acordo com as diferenças estruturais, fisionômicas e florísticas
resultantes de distintas condições ambientais.
O termo “mata-galeria” é tradicionalmente empregado para designar florestas
ao longo de pequenos rios (Ribeiro e Walter, 1998) e “formações florestais
ribeirinhas em regiões onde geralmente a vegetação de interflúvio não é de floresta
contínua” (Rodrigues, 2000; IBGE, 2004). Este último significado pode também ser
atribuído ao termo “floresta ripária” (IBGE, 2004).
O termo “mata ciliar” é mais abrangente, uma vez que é empregado pela
legislação brasileira para definir qualquer formação florestal às margens de corpos
d’água (Brasil, 1965). Ribeiro e Walter (1998) explicam que o termo se refere a
faixas estreitas de florestas algo decíduas presentes nas margens de rios mais
largos que aqueles circundados pelas matas de galeria.
“Floresta paludosa” ou “mata de brejo” se referem às florestas em terrenos
permanentemente encharcados (Rodrigues, 2000).
De toda forma, Rodrigues (2000) afirma que nem “mata-galeria”, nem “mata
ciliar” têm clareza de significado suficiente para serem empregados na nomenclatura
fitogeográfica. O autor propõe que a classificação das formações ribeirinhas
apresente informações sobre os tipos de vegetação e de ambiente.
Quanto à vegetação que é objeto do presente estudo, não seria possível
utilizar somente um termo para defini-la, uma vez que a área experimental apresenta
um mosaico de condições edáficas e florísticas. A maior parte da área de estudo
poderia ser descrita como uma “formação ribeirinha com influência fluvial sazonal
2
”,
uma vez que está sobre solo cujo lençol freático é elevado. Uma parte menor da
2
RODRIGUES, 2000.
25
área de estudo, porém, não sofre influência direta do rio nem do lençol freático, e
pode ser definida como “formação ribeirinha sem influência fluvial
3
”. Há que se
considerar também o fato de que a vegetação de interflúvio não se constitui em
floresta contínua. Em vista disso, será utilizado o termo “mata ripária” para referência
à vegetação de que trata o presente estudo.
A ocorrência de vegetação florestal ribeirinha no cerrado é determinada pela
disponibilidade de água no solo ao longo do ano. Alguns autores consideram que, no
cerrado, as formações florestais ribeirinhas são intrusões dos biomas Floresta
Amazônica e Mata Atlântica ao longo dos rios. Embora representem menos de 10%
da área total de domínio do Cerrado, elas apresentam interfaces com muitos tipos
de vegetação (Oliveira-Filho e Ratter, 2002). Funcionando como corredores
ecológicos entre fragmentos florestais, grande é sua importância do ponto de vista
da biodiversidade, pois possibilitam o fluxo gênico entre populações de espécies
animais e vegetais (Martins, 2001; Kageyama et al., 2003; Metzger
4
, 2003).
1.2. Aspectos relativos à restauração de florestas ripárias
A função da vegetação ao longo de cursos d’água é de fundamental
importância para a manutenção da qualidade ambiental. As matas ripárias
funcionam como filtros que retêm defensivos agrícolas, poluentes e sedimentos,
evitando seu transporte para os cursos d’água e o comprometimento da qualidade
3
RODRIGUES, 2000.
4
O autor ressalta que, para permitir efetivamente os fluxos biológicos entre áreas de vegetação não-ripária, a
mata ciliar deve ser larga o suficiente para comportar espécies não tolerantes a solos encharcados.
26
das águas, da fauna e da vida humana (Lima, 1989; Barrella et al., 2000; Martins,
2001).
Apesar de sua grande importância, as florestas existentes ao longo dos rios
foram quase totalmente dizimadas em boa parte do Brasil e hoje se considera sua
restauração como prioridade entre as estratégias para melhoria da qualidade
ambiental.
Rodrigues e Gandolfi (2000) apresentam extensa revisão sobre terminologia
para descrever os processos da restauração ecológica. A denominação proposta
pelos autores se baseia na magnitude do distúrbio sofrido pelo ambiente, bem como
nos objetivos pretendidos com a restauração
5
.
A restauração ecológica é descrita por Engel e Parrota (2003) como um
processo de recuperação de funções biológicas e ambientais que permitam a
manutenção da integridade ecológica de um ecossistema.
Quando ocorrem situações de degradação ambiental, medidas de reparação
devem ser tomadas para evitar a perda irreversível da capacidade do ecossistema
em se auto-sustentar. Tal perda resulta em grandes prejuízos, de ordem econômica,
social e ambiental, especialmente no que se refere à fertilidade do solo, à qualidade
das águas e à biodiversidade.
Diante da importância que se atribui à manutenção da integridade dos
ecossistemas, tanto a prevenção quanto a reparação de danos ambientais são
previstas pela legislação brasileira em várias esferas. O Código Florestal (Brasil,
1965; 1989; 2001) e a Política Nacional do Meio Ambiente (Brasil, 1981) prevêem e
5
Os autores se referem aos seguintes conceitos:
1) Restauração sensu stricto, quando a degradação é leve, e o ambiente tem condições de retornar
naturalmente às suas condições pré-distúrbio;
2) Restauração sensu lato, quando a resiliência do ambiente degradado o permite retornar a um
estado estável intermediário;
3) Reabilitação, quando o ambiente atinge estado estável após forte intervenção antrópica;
4) Redefinição, quando a área degradada é convertida em ambiente com características e usos
distintos daquele pré-degradação.
27
regulam tanto ações e instrumentos de prevenção e reparação ambiental, quanto a
conservação dos recursos ambientais.
Embora nos primeiros plantios de restauração de matas ripárias efetuados no
Brasil tenham sido utilizadas espécies nativas e exóticas (Nogueira, 1977; Pulitano
et al., 2004), a tendência atual da restauração ecológica é de reconstituição de
habitats por meio do uso exclusivo de espécies vegetais nativas, recomendação
seguida por vários autores (Barbosa, 2000; Kageyama e Gandara, 2000; Rodrigues
e Gandolfi, 2000; Martins, 2001; Kageyama et al., 2003).
Embora sejam amplamente recomendados, os plantios heterogêneos com
essências nativas enfrentam diversas dificuldades, que levam muitas vezes ao
insucesso da restauração. Tais dificuldades têm origem, muitas vezes, no uso
anterior que se fazia do solo e nas condições abióticas decorrentes desse uso. A
perda de nutrientes, a compactação do solo, as mudanças no microclima e a
remoção do banco de sementes figuram entre as principais causas para o baixo
êxito dos plantios com espécies nativas, que são em grande parte pouco adaptadas
a condições inóspitas do ambiente. Ademais, plantas nativas crescem lentamente e
exigem cuidados por tempo longo para que sobrevivam e cresçam. Há que se
considerar também que espécies nativas freqüentemente são mal utilizadas, por
desconhecimento de suas características.
O processo de regeneração da vegetação nativa em ambiente de cerrado
difere muito do que ocorre em florestas. Nas florestas tropicais, a sucessão
secundária se dá pela substituição de espécies até que seja atingido um estádio de
estabilidade florística e estrutural (Budowsky, 1970). No processo de regeneração da
vegetação de cerrado, as fisionomias mais abertas tendem a se adensar ao longo do
tempo (Eiten, 1972), sem que haja, necessariamente, um processo de substituição
28
de espécies. A chuva de sementes desempenha papel de maior importância nas
formações florestais, enquanto que, no cerrado, a reprodução vegetativa tem mais
sucesso após a ocorrência de perturbações (Hoffmann, 1998).
Em decorrência dessas peculiaridades, as técnicas de restauração de
vegetação de cerrado devem ser também distintas. Segundo Durigan (2003), as
técnicas de restauração de áreas degradadas de cerrado podem reunir-se em dois
grupos:
(1) criação de condições de regeneração natural, quando as estruturas
subterrâneas que permitem o rebrotamento não tiverem sido destruídas pelas
formas anteriores de uso do solo; e
(2) plantio, quando não há possibilidade de rebrota.
Os dois conjuntos de métodos podem ser ainda combinados nos casos em
que a brotação é lenta e a diversidade das espécies regenerantes é baixa.
Diante dessas constatações, é reforçada a tendência de se considerar o
plantio de árvores apenas como um primeiro passo rumo à restauração (Stanturf et
al, 2001). Partindo dessa premissa, o uso de espécies exóticas de rápido
crescimento passa a ser visto como uma alternativa para a formação de uma
estrutura florestal capaz de restabelecer a ciclagem de nutrientes e condições de
luminosidade que favoreçam o estabelecimento de espécies nativas no sub-bosque
em etapas posteriores (Kageyama et al., 1989; Lugo, 1992; Brown e Lugo, 1994;
Silva Jr. et al., 1995; Durigan e Silveira, 1999; D’Antonio e Meyerson, 2002, entre
outros).
Além de pesquisas voltadas diretamente ao uso de exóticas em plantios de
restauração, vários estudos têm sido efetuados sobre a regeneração natural das
espécies nativas sob florestas homogêneas de espécies exóticas plantadas com fins
29
comerciais. Alguns dos estudos se referem às florestas de eucalipto (Silva Jr. et al.,
1995; Durigan et al, 1997), mas a regeneração de espécies nativas sob floresta de
Pinus também tem sido constatada (Chapman e Chapman, 1996; Fimbel e Fimbel,
1996; Ashton et al., 1997; Harrington e Ewel, 1997; Geldenhuys, 1997).
Usualmente, as árvores de Pinus são plantadas em diferentes densidades e
espaçamentos, de acordo com o uso a ser feito das árvores plantadas. Ribaski e
Medrado (2005) descrevem a possibilidade de se plantar as árvores em faixas,
intercaladas com outro tipo de cultura. Admite-se que essa prática também seja
factível com o intuito de se permitir o plantio ou a regeneração natural de espécies
nativas entre as faixas de Pinus, favorecendo simultaneamente a restauração da
comunidade vegetal e a exploração comercial das árvores exóticas.
Pressupondo-se que os processos de regeneração natural da vegetação
nativa sob plantios de exóticas poderiam ser incorporados às técnicas de
restauração ecológica, realizou-se o plantio experimental de que trata o presente
estudo.
Quando da instalação do experimento (1995), não havia normas legais que
regulamentassem as técnicas de restauração de matas ripárias. O objetivo inicial do
experimento era testar a utilização de uma espécie exótica como facilitadora dos
processos de regeneração de espécies nativas.
As leis são modificadas à medida que os conhecimentos avançam e muda a
natureza das demandas sobre os recursos naturais. No caso da restauração de
florestas em áreas de preservação permanente, mudanças muito recentes nas leis
tornaram inaplicável o uso de espécies exóticas como facilitadoras da regeneração
de espécies nativas (na esfera federal, pela Resolução CONAMA 369 (28/03/2006)
e, no Estado de São Paulo, pela Resolução SMA 08, de 07/03/2007). Desse modo,
30
considera-se que os resultados do presente estudo, embora no momento não se
apliquem à restauração de áreas de preservação permanente diante das leis
vigentes, possam perfeitamente aplicar-se à recuperação das áreas de reserva
legal.
A geração de novos conhecimentos se presta, entre outras finalidades, a dar
suporte a modificações nas práticas vigentes, o que pode determinar, inclusive, a
adoção de novas normas jurídicas que abordem o assunto (no caso, a restauração
da cobertura vegetal).
1.3. A introdução do gênero Pinus no Brasil
Datam de 1906 as primeiras referências sobre a introdução de Pinus no Brasil
(Löfgren
6
apud Kronka et al, 2005). As pesquisas com o referido gênero se iniciaram
em 1936 e, a partir da década de 1950 foram implantados plantios comerciais. A
principal razão da introdução do gênero Pinus no Brasil foi a demanda por madeira
para o setor industrial (Kronka et al, 2005). A boa adaptação do gênero às condições
ambientais brasileiras, assim como seu crescimento rápido, suas dimensões
homogêneas e suas diversas aplicações favorecem o seu emprego em serrarias, no
setor moveleiro, nas indústrias químicas e de celulose e papel.
6
Löfgren, A. Notas sobre as plantas exóticas introduzidas no Estado de São Paulo. São Paulo: Revista
Agrícola, 1906. 238 p.
31
1.3.1. Características da espécie Pinus elliottii
A espécie é originária da região Sudeste dos Estados Unidos, e se distribui
pela parte sul dos Estados da Louisiana, Mississippi, Alabama, Geórgia, Carolina do
Sul e por toda Flórida (Kronka et al, 2005). As características ambientais dos locais
de origem de Pinus elliottii estão descritas na tabela a seguir:
Tabela 1.2 – Características ambientais dos locais de origem de Pinus elliottii
(adaptado de Kronka et al, 2005).
Solo Arenoso
Altitude Menor que 990 m
Precipitação média anual 1270 mm
Temperatura média anual 17,2º C (varia de 41º C a -18º C)
Clima Quente e úmido
Pinus elliottii possui duas variedades: var. elliottii e var. densa. Esta última,
por possuir crescimento mais lento e formato mais irregular, não é largamente
utilizada no Brasil (Shimizu e Medrado, 2005).
Pinus elliottii se desenvolve satisfatoriamente em locais com invernos frios e
chuvas bem distribuídas ao longo do ano, nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa
32
Catarina, Paraná (exceto no norte), e nas regiões serranas e do sul do Estado de
São Paulo (Kronka et al, 2005).
As espécies de Pinus são descritas como favoráveis à “formação de cobertura
protetora do solo e reconstituição de ambiente
propício à recomposição espontânea
da vegetação nativa em ambientes degradados” (Shimizu e Medrado, 2005).
A variedade utilizada no presente estudo (Pinus elliottii var. elliottii) foi
escolhida devido ao seu bom desempenho em ambientes ripários em região de
Cerrado (Durigan e Silveira, 1999), bem como pela sua alta produção de resina,
especialmente quando cultivada em locais com temperaturas médias mais altas
(Shimizu e Medrado, 2005).
Em áreas de interflúvio na região oeste do estado de São Paulo, com estação
seca no inverno, Pinus elliottii var. elliottii tem crescimento moderado, se comparado
a espécies do gênero Pinus oriundas de regiões tropicais.
1.3.2. Pinus elliottii como espécie invasora
O gênero Pinus é citado como o invasor mais comum em Unidades de
Conservação brasileiras, especialmente em ambientes com vegetação aberta. Pinus
elliottii está entre as espécies que mais freqüentemente invadem ambientes naturais,
no Brasil e no mundo (Zanchetta e Diniz, 2006).
As propriedades que fazem das espécies de Pinus potenciais invasoras são,
segundo Ziller e Galvão (2001):
Alta taxa de crescimento relativo;
33
Produção de grande número de sementes pequenas, de fácil dispersão;
Alta longevidade das sementes no solo;
Maturação precoce das plantas;
Floração e frutificação prolongadas;
Alelopatia;
Pioneirismo; e
Ausência de inimigos naturais.
A invasão do ambiente por espécie exótica – também chamada de
contaminação biológica – produz alterações na estrutura, na fisionomia e nos
processos ecológicos da comunidade, levando a perdas na biodiversidade
(Zanchetta e Diniz, 2006).
Zanchetta e Diniz (2006) relataram que Pinus elliottii tem obtido grande
sucesso em ocupar áreas alagadas de cerrado. Por ser esta uma característica
semelhante à de parte da área do presente estudo, reforça-se a necessidade de
monitoramento do potencial de invasão de P. elliottii.
1.4. Histórico da pesquisa
O presente estudo foi implantado em 1995, durante a vigência do convênio
entre o Instituto Florestal (Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo) e a
Agência de Cooperação Internacional do Japão (Japan International Cooperation
Agency – JICA).
34
O objetivo principal da parceria entre as entidades era desenvolver pesquisas
sobre recuperação florestal e prevenção de processos erosivos no solo e, assim,
contribuir para a conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos.
As pesquisas foram desenvolvidas na Bacia Hidrográfica do Médio
Paranapanema, nas regiões de Assis e Paraguaçu Paulista (SP).
A legislação ambiental brasileira é norteada pela necessidade de conservação
e preservação dos recursos naturais e a defesa dos interesses coletivos, enquanto
que o gerenciamento das propriedades rurais é dirigido pelas leis de mercado e
pelos interesses individuais. Diante deste conflito, viu-se a necessidade de produção
de conhecimentos voltados aos proprietários rurais e aos tomadores de decisões
das áreas ambientais, de modo a se reduzir a oposição entre duas realidades –
econômica e ambiental.
1.5. Objetivos e hipóteses
1.5.1. Objetivo geral
O objetivo geral do presente estudo foi verificar a possibilidade de utilização
de Pinus elliottii com a função de facilitadora da restauração florestal, reduzindo os
custos da restauração e acelerando os processos de recuperação da diversidade e
da biomassa vegetal.
35
1.5.2. Objetivos específicos
Avaliar o crescimento de Pinus elliottii var. elliottii em zona ripária e os
processos dinâmicos da comunidade em função da densidade e do
crescimento das árvores plantadas;
Analisar estrutura, composição, dinâmica, síndrome de dispersão e
diversidade da vegetação natural em regeneração sob a floresta de Pinus
elliottii ao longo dos anos;
Analisar as influências exercidas pela espécie exótica e pela cobertura do
solo sobre os processos de regeneração natural das plantas nativas;
Subsidiar a discussão sobre a viabilidade de utilização de espécies exóticas
como facilitadoras da recuperação florestal;
Investigar quais espécies nativas teriam êxito em cada uma das condições
experimentais e discutir as possíveis causas do sucesso ou fracasso das
referidas espécies; e
Analisar a viabilidade econômica da exploração comercial de Pinus elliottii em
ambiente ripário e discutir a possibilidade da coexistência desse tipo de
atividade com a recuperação de ambientes ribeirinhos.
36
1.5.3. Hipóteses
O estudo ecológico foi realizado de modo a verificar as seguintes hipóteses:
Hipótese 1: As árvores de Pinus elliottii modificam o ecossistema, de modo a
facilitar os processos de regeneração da vegetação nativa.
Hipótese 2: As árvores de Pinus elliottii modificam o ecossistema, de modo a
obstruir os processos de regeneração da vegetação nativa.
Hipótese nula: As árvores de Pinus elliottii não exercem influência sobre as
plantas nativas em regeneração.
1.6. Caracterização da área experimental
O plantio experimental foi realizado no ano de 1995, em propriedade
particular adjacente à Floresta Estadual de Assis, localizada no município de Assis,
SP (22
o
36' S e 50
o
22' W). A altitude média na área experimental é de 510 m e a
declividade da vertente é de aproximadamente 10%. A área experimental, com 3456
m
2
, situa-se à margem direita do córrego Barro Preto, afluente de 1
a
ordem do rio
Paranapanema (pela classificação de Horton), cerca de 2 km a jusante da nascente,
trecho em que a vazão oscila entre 27 e 185 L/s (E.A. Honda, comunicação
pessoal).
37
Embora estejam na zona de influência ripária, as parcelas experimentais
estão quase totalmente fora da Área de Preservação Permanente estabelecida pelo
Código Florestal.
A vegetação natural do interflúvio, anteriormente ao desmatamento, era do
tipo cerradão, com ocorrência de floresta paludícola (mata de brejo) e campo úmido
na zona ripária. Tal vegetação original foi substituída por pastagem de Urochloa
decumbens (Stapf) R.D. Webster (braquiária) cerca de 20 anos antes da instalação
do plantio experimental. Na zona ripária foram observadas, por ocasião da
instalação do experimento, diversas espécies arbustivas e arbóreas em regeneração
natural, que foram mantidas. Outras gramíneas africanas (Urochloa humidicola
(Rendle) Morrone & Zuloaga e Melinis minutiflora P. Beauv.), assim como capins
nativos, compartilhavam o espaço com U. decumbens na área experimental, que foi
cercada para exclusão do gado antes do plantio das árvores, em 1995.
Nas proximidades da área experimental existem fragmentos de cerradão
pertencentes à Floresta Estadual e à Estação Ecológica de Assis, unidades de
conservação administradas pelo Instituto Florestal. Essas áreas são fontes de
propágulos para a recolonização da área experimental.
O solo da área experimental é classificado como Neossolo Quatzarênico
Hidromórfico típico, distrófico, A moderado (EMBRAPA, 1999), e apresenta lençol
freático pouco profundo, às vezes superficial.
A área experimental encontra-se em região de transição entre dois tipos
climáticos – Cwa e Cfa, segundo a classificação de Köppen. A precipitação anual é
de cerca de 1400 mm, concentrada nos meses de verão e a temperatura média
anual é de 21,8ºC. A região é sujeita a geadas esporádicas, especialmente em
fundos de vales, como é o caso desta área experimental (Faria et al., 2004).
38
Á
rea
ex
erimental
Figura 1.1 – Localização da área experimental (foto aérea, 1994)
39
V
IV
III
I
II
Figura 1.2 – Gradiente da paisagem no entorno da área experimental: (I) plantio de Pinus elliottii, em
primeiro plano; (II) campo úmido; (III) Córrego do Barro Preto, com mata-galeria nas margens; (IV)
agricultura; (V) Floresta Estadual de Assis, ao fundo (Foto: Giselda Durigan, 2006).
Figura 1.3 – Pinus elliottii plantado em espaçamento 3 x 3 m (Foto: Giselda Durigan, 2006).
40
1.7. Delineamento experimental
O plantio experimental de Pinus elliottii var. elliottii foi feito em diferentes
espaçamentos (tratamentos), visando avaliar os efeitos da espécie, plantada em
diferentes densidades, sobre as espécies nativas em regeneração.
Os tratamentos testados foram:
A - Pinus elliottii var. elliottii plantado em espaçamento 2 x 2 m.
B - Pinus elliottii var. elliottii plantado em espaçamento 3 x 2 m.
C - Pinus elliottii var. elliottii plantado em espaçamento 3 x 3 m.
D - Controle (sem plantio).
Cada tratamento foi instalado com quatro repetições, em blocos ao acaso,
totalizando dezesseis parcelas, cada uma com área de 216 m
2
(18 m de
comprimento x 12 m de largura). Tais medidas tornaram as parcelas compatíveis
com os diferentes espaçamentos testados das árvores de Pinus. As parcelas (Fig.
1.4) foram dispostas linearmente, em faixa paralela ao curso d’água, de modo que
ocupassem a mesma posição topográfica em relação ao córrego. Todas as parcelas
situam-se entre 20 e 40m de distância da margem do córrego, além da zona de
encharcamento permanente do solo.
Em todos os tratamentos foram preservadas estruturas subterrâneas e
plântulas de espécies nativas em regeneração na ocasião do plantio das mudas de
Pinus elliottii.
A escolha do Pinus elliottii var. elliottii se baseou em resultados experimentais
anteriores, que mostraram o bom desempenho da espécie em zona ripária em
41
região de cerrado (Durigan e Silveira, 1999) e também no potencial de exploração
comercial da espécie. O material genético utilizado no plantio é originário de pomar
clonal selecionado pela alta produção de resina, cuja exploração pode trazer alto
retorno econômico sem implicar no corte das árvores.
Figura 1.4 – Esquema da distribuição dos tratamentos na área experimental
A área foi monitorada nos anos de 1996, 1998, 1999, 2001 e 2006.
Resultados parciais das medições e análises estruturais de 1998 a 2001 foram
publicados por Durigan et al. (2004) e apontam a necessidade de estudos
ecológicos de prazo mais longo para possibilitar análises conclusivas.
Os resultados apresentados no presente estudo se referem ao período de
onze anos desde o plantio das árvores de Pinus elliottii Engelm var. elliottii. O texto
foi dividido em capítulos, visando organizar a abordagem em temas distintos.
No capítulo 2 são abordados os aspectos estruturais e quantitativos
concernentes (1) à estrutura do povoamento formado pelas árvores de Pinus elliottii
42
em diferentes densidades, e (2) à estrutura do estrato regenerante formado por
espécies lenhosas nativas ribeirinhas nos diferentes tratamentos.
As análises efetuadas no capítulo 3 tratam dos aspectos dinâmicos e
quantitativos das populações de espécies lenhosas nativas em regeneração na área
experimental.
Por fim, no capítulo 4, são discutidas as possibilidades envolvidas na
exploração econômica de um plantio de Pinus elliottii nas condições presentes na
área experimental, considerando-se os efeitos dessa atividade na regeneração das
espécies nativas e nas funções ecológicas da vegetação recuperada.
1.8. Referências bibliográficas
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CAPÍTULO 2
Estrutura da comunidade vegetal nativa em regeneração sob plantio de Pinus
elliottii Engelm var. elliottii em região de Cerrado
49
Resumo
O objetivo deste capítulo foi analisar aspectos estruturais da regeneração de
espécies lenhosas nativas sob plantio de Pinus elliottii Engelm em ambiente ripário
de Cerrado. Para verificar as hipóteses de favorecimento ou inibição da regeneração
natural pelo plantio de Pinus, foram analisados parâmetros estruturais das árvores
plantadas e da comunidade nativa em regeneração, a um, três, quatro, seis e onze
anos após a instalação do experimento. Os resultados mostraram que a
regeneração natural teve mais êxito sob Pinus elliottii do que nas parcelas controle,
uma vez que nessas últimas se observam plantas menores, em menor densidade e
diversidade. O favorecimento da regeneração pelo plantio de Pinus é indireto,
decorrente da redução da competição entre as plantas lenhosas nativas e as
gramíneas, que são eliminadas pelo sombreamento causado pelas árvores de Pinus
elliottii. Não se verificou, no período de estudo, competição por recursos do
ambiente entre as árvores de Pinus elliottii e as espécies nativas do sub-bosque. Em
condições semelhantes às experimentais, pode-se considerar que as árvores
plantadas de Pinus elliottii funcionam facilitadoras dos processos naturais de
regeneração da vegetação ripária nativa.
2.1. Introdução
O Cerrado é um dos biomas mais ameaçados do mundo, uma vez que possui
ampla biodiversidade e que menos de 3% de seu território se encontra protegido
(Myers et al., 2000; Machado et al., 2004). A principal ameaça ao Cerrado é a
50
expansão agrícola, que tem ocorrido nos últimos 40 anos no Brasil, e que já resultou
na perda de mais de 60% de sua área original (Machado et al., 2004). No Estado de
São Paulo, Durigan et al. (2003) relatam que a cobertura original da vegetação de
cerrado foi reduzida em 93%.
Não bastassem as perdas relativas à biodiversidade, observam-se também
prejuízos que incidem sobre os recursos abióticos, conseqüência do desmatamento
da vegetação ripária. Barbosa (2000) afirma que, no Estado de São Paulo, 600 mil
hectares de matas ciliares deveriam ser recuperados, de modo a obedecer às
determinações da legislação ambiental.
Como forma de proteção de parte dos ecossistemas, a legislação ambiental
brasileira (BRASIL, 1965) prevê a manutenção de áreas de preservação
permanente
1
e de reserva legal
2
em propriedades rurais. Entretanto, a receita
decorrente do uso da terra nas pequenas propriedades diminui quando são mantidas
as áreas de proteção, o que dificulta a subsistência dos proprietários e gera
problemas sócio-ambientais. Encontrar solução para esses problemas é um desafio
que tange a adequação ambiental das propriedades diante da legislação, e que
depende da realização de pesquisas científicas.
O Código Florestal (BRASIL, 1965) previa que plantios já estabelecidos de
espécies exóticas, consorciadas com espécies nativas, poderiam ser incorporados à
reserva legal de pequenas propriedades rurais familiares (art. 16, parágrafo 1º.).
Essa possibilidade foi reforçada, no Estado de São Paulo, pelo Decreto Estadual No.
50.889 (16/06/2006), em seu artigo 5º, parágrafo 3º, que estabelece que “a
1
Área de Preservação Permanente é definida como aquela “coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (BRASIL, 1965).
2
Por Reserva Legal, entende-se “área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de
preservação permanente, necessária ao uso sustentável aos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos
processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e flora nativas”
(BRASIL, 1965).
51
recomposição da área de reserva legal poderá ser realizada mediante o plantio
temporário de espécies exóticas como pioneiras, visando à restauração do
ecossistema original (...)”
3
.Diante disso, a investigação da viabilidade de utilização
de uma espécie com potencial de exploração econômica como um agente de
facilitação da regeneração da vegetação nativa assume grande importância. Desse
modo seria possível, ao mesmo tempo, recuperar a vegetação e possibilitar ganhos
econômicos para o proprietário. Os resultados dessa investigação serviriam tanto
para aplicação em propriedades rurais com fins econômicos quanto para subsidiar
projetos de recuperação de áreas degradadas.
O uso de espécies exóticas como “pioneiras” é justificado por vários estudos.
Em vista das dificuldades enfrentadas nos plantios com espécies nativas, a
utilização de espécies exóticas tem sido objeto de experimentação visando à
reabilitação do ecossistema e à facilitação dos processos de regeneração natural
subseqüente em diferentes regiões do mundo (Kageyama et al., 1989; Lugo, 1992a;
Brown e Lugo, 1994; Silva Jr. et al., 1995; Chapman e Chapman, 1996; Fimbel e
Fimbel, 1996; Harrington e Ewel, 1997; Geldenhuys, 1997; D’Antonio e Meyerson,
2002).
Embora o uso de espécies exóticas na restauração ambiental provoque
comoção entre ambientalistas e cientistas, há estudos que demonstram o êxito que
essas espécies obtêm em certas situações. Lugo (1992a) afirma que a vantagem
principal do uso de espécies arbóreas exóticas para reabilitar ambientes degradados
é a sua capacidade de sucesso na colonização e exploração destes ambientes, de
forma mais eficaz que as espécies nativas. Em muitos casos, à medida que as
3
São Paulo, 2006.
52
condições vão se tornando favoráveis, as espécies nativas iniciam a reocupação do
sub-bosque das árvores exóticas.
O plantio de espécies arbóreas adaptadas – nativas ou exóticas – para
acelerar a reabilitação de ambientes degradados previne o agravamento de danos
ambientais. Porém, para o sucesso da ação, a silvicultura das espécies deve ser
bem conhecida (Lugo, 1992a). Infelizmente, esses conhecimentos são insuficientes
em relação à maior parte das espécies vegetais nativas tropicais. Daí a maior
facilidade de produção de mudas e de cultivo de espécies exóticas mais conhecidas.
D’Antonio e Meyerson (2002) defendem que, embora algumas espécies
exóticas possam representar problemas para áreas protegidas, o seu uso com
parcimônia favorece o sucesso de projetos de restauração.
Em estudos que compararam monoculturas de árvores exóticas com florestas
nativas secundárias de mesma idade em Porto Rico, Lugo (1992b) não encontrou
anomalias nas funções ecológicas nas florestas dominadas por espécies exóticas.
Ao contrário, concluiu que estas podem contribuir para a recuperação da
biodiversidade em locais degradados onde a sucessão ecológica esteja
comprometida.
Kageyama e Gandara (2000), assim como Rodrigues e Gandolfi (2000),
defendem veementemente o uso de espécies nativas na restauração, mas admitem
o uso de exóticas em áreas muito degradadas, dada a sua maior habilidade em
ocupar ambientes inóspitos.
Diversos autores apontam a possibilidade do estabelecimento de vegetação
nativa no sub-bosque de algumas espécies do gênero Eucalyptus (Silva Jr. et al.,
1995; Durigan et al., 1997; Sartori et al., 2002). Silva Jr. et al. (1995) observaram o
favorecimento da regeneração da vegetação nativa sob E. grandis Hill ex Maiden,
53
que se estabeleceu em avançado estágio sucessional. Durigan et al. (1997)
verificaram que, embora a vegetação de cerrado se regenere sob plantio de E.
citriodora Hook, a densidade de espécies nativas tende a aumentar com a
eliminação das árvores exóticas.
Ashton et al. (1997) relataram o sucesso de Pinus caribaea como espécie
pioneira, favorecendo o crescimento de espécies nativas no sub-bosque que, em
condições naturais de sucessão, levaria muitos anos.
Em resumo, vários autores reforçam que, mais importante que tentar recriar
condições “originais”, é se criarem circunstâncias para que o ecossistema possa
manter suas características físicas (Lugo, 1992b; Stanturf et al., 2001; Engel e
Parrota, 2003). Para que as espécies vegetais e animais possam ocupar
determinado espaço e se desenvolver nele, é essencial a existência de recursos que
possam ser utilizados em seus processos vitais. Portanto, entende-se que na
restauração de um ecossistema, a recuperação e a manutenção da integridade de
tais recursos é uma etapa anterior ao restabelecimento da biodiversidade.
Diversos autores ressaltam as modificações que as plantações de árvores
exóticas promovem no ambiente, que podem ser positivas ou negativas.
Entre as modificações negativas, no caso de plantio do gênero Pinus em
região de Cerrado, destacam-se:
Alto consumo de água do solo em comparação com a vegetação de cerrado
(Lima et al. 1990);
Potencial de invasão (Richardson, 1998; Richardson e Rejmánek, 2004,
Zanchetta et al., 2006).
54
Outros autores destacam mudanças ambientais positivas decorrentes do
plantio de exóticas, que favorecem a regeneração de espécies nativas no sub-
bosque, tais como:
Redução de luminosidade (Ashton et al., 1997) e do calor (Geldenhuys, 1997)
excessivos, o que beneficia o crescimento de espécies nativas sob as árvores
exóticas;
Acúmulo de biomassa no solo (Fimbel e Fimbel, 1996), o que afeta
positivamente a presença de fauna (e a cadeia trófica) no sub-bosque
(Mboukou-Kimbatsa et al., 1998).
Promoção de abrigo ou poleiro para a fauna dispersora de sementes (Fimbel
e Fimbel, 1996; Chapman e Chapman, 1996);
Sombreamento promovido pelas árvores exóticas reduz as populações de
espécies competidoras (Kageyama et al., 1989; Fimbel e Fimbel, 1996;
Geldenhuys, 1997).
A essas alterações positivas mencionadas, referentes à recuperação da
biodiversidade, pode-se acrescentar a vantagem do Pinus em acumular biomassa
rapidamente, em comparação com plantios de essências nativas em região de
Cerrado (Melo e Durigan, 2006), com eficácia cerca de seis vezes superior no
seqüestro de carbono e, portanto, na mitigação do efeito-estufa.
O presente estudo foi realizado em plantio experimental de Pinus elliottii
Engelm. var. elliottii, em diferentes espaçamentos, na zona ripária de um pequeno
córrego, localizado próximo ao limite sul da área de domínio do Cerrado.
55
O objetivo geral foi verificar a viabilidade de utilização de Pinus elliottii como
espécie facilitadora dos processos de restauração da vegetação natural em região
de Cerrado. Para tanto, foram testadas as seguintes hipóteses:
1) As árvores de Pinus elliottii produzem modificações no ambiente que
favorecem o crescimento de espécies nativas no sub-bosque;
2) As árvores de Pinus elliottii provocam modificações no ambiente que
prejudicam as plantas em regeneração;
3) A comunidade regenerante sob as copas de Pinus elliottii difere daquela que
se desenvolve nas parcelas controle, sem plantio da espécie exótica.
Partiu-se da premissa de que as árvores de Pinus elliottii, ao crescerem
rapidamente, ofereceriam sombra e abrigo para animais dispersores de sementes,
podendo, com isso, favorecer a regeneração. Por outro lado, o crescimento rápido
das árvores exóticas poderia prejudicar a regeneração de espécies nativas pela
competição por recursos do meio.
56
2.2. Material e métodos
2.2.1. Avaliação
O experimento foi monitorado após um, três, quatro, seis e onze anos, a
contar da data de plantio. Foi avaliado o crescimento das árvores plantadas e das
espécies lenhosas nativas em regeneração natural, tendo sido registrados para cada
indivíduo:
Altura total, medida com régua telescópica graduada em centímetros (cm), a
partir da altura mínima de 50 cm;
Diâmetro da copa, tomado com trena, anotando-se a média entre o maior e o
menor diâmetro da copa para cada planta, para cálculos de superfície; e
DAP (diâmetro à altura do peito, tomado a 1,30m acima do nível do solo, com
suta).
Efetuadas as medições, os tratamentos foram comparados ao longo do
tempo em termos de:
Área basal da floresta plantada e das espécies em regeneração natural (m
2
.ha
-1
);
Superfície das copas da floresta plantada e das espécies em regeneração natural
(porcentagem do terreno coberta pela projeção das copas);
Densidade da floresta plantada e das plantas em regeneração natural
(indivíduos.ha
-1
);
Número de espécies em regeneração natural;
57
Diversidade da comunidade em regenerão, estimada pelo índice de Shannon
(Magurran, 1988), calculado em base neperiana; e
Distribuição dos regenerantes em classes de altura.
Visando a compreensão dos processos de regeneração natural, avaliou-se a
porcentagem de cobertura da superfície do solo nas parcelas na ocasião da última
medição (em fevereiro de 2006), baseando-se em Braun-Blanquet (1950). Foi feita
uma estimativa visual da cobertura em porcentagem, tendo sido consideradas as
seguintes possibilidades de cobertura: gramíneas, acículas, pteridófitas (Lycopodium
sp e Dicranopteris sp) e terra nua.
2.2.2. Tratamento dos dados – análises estatísticas
Para verificar a existência de diferenças significativas entre as variáveis das
árvores de Pinus, foi aplicado o testes de variância ANOVA (p = 5 %). Em vista da
grande variância nos dados médios referentes às espécies nativas em regeneração
natural, foi aplicado o teste de Tukey aceitando-se as diferenças a um nível de
probabilidade de 10%, em vez das probabilidades de 1 e 5% usualmente adotadas
em experimentos controlados.
Foi analisada também a existência de correlações (Pearson) entre as
variáveis de Pinus e do estrato regenerante.
58
2.2.3. Identificação das espécies
As espécies nativas em regeneração observadas no experimento foram
identificadas em campo ou coletadas para identificação posterior, por comparação
com exemplares da coleção botânica da Estação Ecológica de Assis, com auxílio de
literatura especializada ou, ainda, mediante consulta a especialistas. A classificação
taxonômica das espécies foi feita segundo Angiosperm Phylogeny Group II – APG II
(Souza e Lorenzi, 2005). Cada espécie amostrada foi caracterizada, ainda, quanto
ao hábito e quanto à síndrome de dispersão dos diásporos, em função de
características observadas em campo ou, então, com base em literatura
especializada (Durigan, 1989; Carmo e Morellato, 2000; Pinheiro e Ribeiro, 2001;
Batalha e Martins, 2004; Durigan et al., 2004a), como ferramenta complementar para
a interpretação dos resultados.
2.3. Resultados
2.3.1. Crescimento das árvores de Pinus elliottii
As análises estatísticas efetuadas mostraram que, aos onze anos após o
plantio, as árvores de Pinus elliottii apresentaram ligeira redução no crescimento em
DAP (Fig. 2.1 – F = 12,013; p = 0,0039) no plantio mais adensado, indicando que
pode ter se iniciado a competição por recursos do meio, conforme previsto por
59
Durigan et al. (2004b). A altura das árvores (Fig. 2.2 – F = 2,016; p = 0,1955) teve
valores semelhantes em todos os tratamentos.
As diferenças observadas entre os tratamentos em área basal (Fig. 2.3 – F =
201,862; p = 0,000) e superfície de copas (Fig. 2.4 – F = 6,022; p = 0,0466) aos onze
anos são decorrentes da diferença de densidade, uma vez que a diferença no
tamanho das árvores é muito pequena entre os tratamentos.
0
2
4
6
8
10
12
14
1996 1998 1999 2001 2006
DAP médio (cm)
2 x 2
3 x 2
3 x 3
a
a
a
a
a
a
a
b
b
Figura 2.1 – Evolução do DAP médio (cm) das árvores de Pinus elliottii em diferentes espaçamentos em
plantio de restauração florestal em região de Cerrado. Letras diferentes sobre as colunas dentro de um
mesmo ano indicam diferença significativa entre tratamentos a 5% de probabilidade.
60
0
10
20
30
1996 1998 1999 2001 2006
Área basal (m
2
.ha
-1
)
2 x 2
3 x 2
3 x 3
a
a
a
a
aa
a
b
c
Figura 2.2 – Evolução da altura média (m) de Pinus elliottii em diferentes espaçamentos em plantio de
restauração florestal em região de Cerrado. Letras diferentes sobre as colunas dentro de um mesmo ano
indicam diferença significativa entre tratamentos a 5% de probabilidade.
0
10
20
30
1996 1998 1999 2001 2006
Área basal (m
2
.ha
-1
)
2 x 2
3 x 2
3 x 3
a
a
a
a
aa
a
b
c
Figura 2.3 – Evolução da área basal (m
2
.ha
-1
) de Pinus elliottii em diferentes espaçamentos em plantio de
restauração florestal em região de Cerrado. Letras diferentes sobre as colunas dentro de um mesmo ano
indicam diferença significativa entre tratamentos a 5% de probabilidade.
61
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
1996 1998 1999 2001 2006
Superfície de copas (m
2
)
2 x 2
3 x 2
3 x 3
a
bb
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
Figura 2.4 – Evolução da área de copa (m
2
) de Pinus elliottii em diferentes espaçamentos em plantio de
restauração florestal em região de Cerrado. Letras diferentes sobre as colunas dentro de um mesmo ano
indicam diferença significativa entre tratamentos a 5% de probabilidade.
2.3.2. Estrutura da comunidade em regeneração natural
Em geral, observou-se evolução estrutural do estrato regenerante ao longo do
tempo de monitoramento para todos os parâmetros analisados, em todos os
tratamentos.
Na análise comparativa entre tratamentos aos onze anos, verifica-se que não
houve diferença significativa a 10% de probabilidade, para os parâmetros área basal
(Fig.2.5 – F = 1,055; p = 0,4073), superfície de copas (Fig. 2.6 – F = 0,9293; p =
0,5417) e número de espécies por parcela (Fig. 2.7 – F = 0,119; p = 0,9468). Porém,
a densidade de plantas em regeneração (Fig. 2.8 – F = 2,283; p = 0,1358) foi maior
no plantio de Pinus elliottii com mais alta densidade (espaçamento 2 x 2 m) do que
no controle.
62
2.3.2.1. Área basal do estrato regenerante
As plantas em regeneração apresentaram valores crescentes de área basal
ao longo dos anos em todas as condições experimentais (Fig. 2.5).
0
1
2
3
4
5
6
1996 1998 1999 2001 2006
Área Basal (m
2
.ha
-1
)
2x2
3x2
3x3
Controle
a
a
a
a
aa
a
a
a
a
a
a
a
a
Fig. 2.5 – Evolução da área basal do estrato regenerante ao longo de onze anos de monitoramento após a
instalação do experimento. Letras diferentes sobre as colunas dentro de um mesmo ano indicam
diferença significativa entre tratamentos a 10% de probabilidade.
2.3.2.2. Superfície de copas do estrato regenerante
Como conseqüência do crescimento e aumento da densidade de plantas em
regeneração, verificou-se o aumento dos valores de superfície de copas ao longo de
todo o período de monitoramento.
63
O estrato regenerante apresentou menores valores de superfície de copas
nas parcelas controle, evidenciando que a presença do Pinus elliottii proporcionou
melhores condições ambientais ao desenvolvimento da comunidade vegetal nativa,
em relação às áreas sem plantio. Dados os elevados coeficientes de variação,
porém, as diferenças não são significativas a 10% de probabilidade.
0
30
60
90
120
150
1996 1998 1999 2001 2006
Superfície de copas (m
2
)
2x2
3x2
3x3
controle
a
a
a
a
a
a
a
aa
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
Fig. 2.6 – Evolução de superfície de copas do estrato regenerante ao longo de onze anos de
monitoramento após a instalação do experimento. Letras diferentes sobre as colunas dentro de um
mesmo ano indicam diferença significativa entre tratamentos a 10% de probabilidade.
2.3.2.3. Número de espécies regenerantes
O número médio de espécies em regeneração por parcela aumentou, de
modo geral, em todos os tratamentos, ao longo do tempo. As parcelas controle
apresentaram redução nos valores dessa variável entre 1999 e 2001, possivelmente
64
devido à geada muito severa registrada no ano 2000. Em todo o período de estudo,
foi registrado um número maior de espécies em regeneração nas parcelas com
plantio de Pinus elliottii, em comparação com as parcelas controle. Também, neste
caso, as diferenças não são significativas a 10% de probabilidade.
0
5
10
15
20
1996 1998 1999 2001 2006
mero de espécies
2x2 3x2 3x3 Controle
a
a
aa
a
a
a
a
a
a
a
a
a
aa
a
a
a
a
a
Fig.2.7 – Evolução do número médio de espécies por parcela ao longo de onze anos de monitoramento
após a instalação do experimento. Letras diferentes sobre as colunas dentro de um mesmo ano indicam
diferença significativa entre tratamentos a 10% de probabilidade.
2.3.2.4. Densidade de indivíduos regenerantes
A única variável estrutural do estrato regenerante estatisticamente diferente
entre tratamentos foi a densidade das plantas em regeneração, mais elevada quanto
maior a densidade das árvores de Pinus elliottii (Fig. 2.8).
65
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade (ind.ha
-1
)
2x2 3x2 3x3 Controle
ab
ab
b
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
aaa
a
a
Fig. 2.8 – Evolução da densidade de indivíduos em regeneração ao longo de onze anos de
monitoramento após a instalação do experimento. Letras diferentes sobre as colunas dentro de um
mesmo ano indicam diferença significativa entre tratamentos a 10% de probabilidade.
Em 2006, a densidade das plantas em regeneração nas parcelas com Pinus
elliottii foi de 4923 indivíduos por hectare, valor próximo do mínimo considerado
suficiente por Carpanezzi (2005) para assegurar a sucessão em áreas restauradas,
que é de 0,5 planta.m
-2
aos 10 anos após o plantio
4
.
2.3.2.5. Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura
Pela análise da distribuição dos indivíduos regenerantes em classes de altura
(Tab. 2.5) verifica-se que, para todos os tratamentos, houve aumento de densidade
para todas as classes. Entretanto, nas classes de menor tamanho, o aumento foi
4
Este valor é adotado para florestas ombrófilas, considerando-se espécies com altura mínima de 50
cm.
66
maior quanto maior a densidade das árvores de Pinus elliottii. Nas parcelas controle,
o número de indivíduos na menor classe de tamanho (abaixo de 1 metro de altura)
praticamente não se alterou nos últimos oito anos. Não se vê crescimento nas taxas
de germinação e no estabelecimento de novos indivíduos nas parcelas sem Pinus
elliottii.
67
Tabela 2.1 – Distribuição das plantas lenhosas em regeneração por classes de altura, ao longo de onze anos de monitoramento
nos diferentes tratamentos de plantio experimental em região de Cerrado (continua).
Tratamentos
2x2
3x2 3x3 Controle
Classes de
altura (m)
1996 1998 1999 2001 2006 1996 1998 1999 2001 2006 1996 1998 1999 2001 2006 1996 1998 1999 2001 2006
0,50-0,99 25 83 80 57 244 41 47 46 28 172 33 127 117 65 165 16 82 104 92 104
1,00-1,49
13 35 44 44 134 20 27 32 40 106 12 40 49 67 102 16 33 48 69 99
1,50-1,99 9 15 13 22 60 2 5 12 21 58 5 7 20 33 51 8 15 21 28 61
2,00-2,49 0 0 6 15 23 0 2 0 4 24 2 3 3 7 20 0 3 4 7 17
2,50-2,99 0 1 2 4 14 1 1 3 4 7 1 1 3 3 11 1 1 2 3 9
3,00-3,49 0 0 0 2 16 0 0 1 1 10 0 0 0 0 6 0 1 2 1 2
3,50-3,99 0 0 0 1 3 0 0 0 1 1 0 0 0 1 9 0 0 0 1 1
4,00-4,49 0 0 0 0 3 0 0 0 0 3 0 0 0 0 4 0 0 0 0 2
4,50-4,99 0 0 0 0 2 0 0 0 0 3 0 0 0 0 5 0 0 0 0 1
5,00-5,49 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 2
5,50-5,99 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 2 0 0 0 0 1
6,00-6,49 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0
6,50-6,99 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Tratamentos
2x2 3x2 3x3 Controle
Classes de
altura (m)
1996 1998 1999 2001 2006 1996 1998 1999 2001 2006 1996 1998 1999 2001 2006 1996 1998 1999 2001 2006
7,00-7,49 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
7,50-7,99
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
8,00-8,49 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
8,50-8,99 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0
68
Tabela 2.1 – Distribuição das plantas lenhosas em regeneração por classes de altura, ao longo de onze anos de monitoramento
nos diferentes tratamentos de plantio experimental em região de Cerrado (conclusão).
69
Houve inclusão de novas classes de tamanho ao longo do tempo para todos
os tratamentos, indicando que a comunidade tende a continuar crescendo em altura.
Nos últimos cinco anos, a altura dos indivíduos de maior tamanho praticamente
dobrou.
Figura 2.9 - Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura sob plantio experimental de
restauração de floresta em região de Cerrado (Pinus em espaçamento 2 x 2 m)
70
Figura 2.10 - Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura sob plantio experimental de
restauração de floresta em região de Cerrado (Pinus em espaçamento 3 x 2 m)
Figura 2.11 - Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura sob plantio experimental de
restauração de floresta em região de Cerrado (Pinus em espaçamento 3 x 3 m)
71
Figura 2.12 - Distribuição das plantas em regeneração por classes de altura sob plantio experimental de
restauração de floresta em região de Cerrado (Parcelas sem Pinus)
2.3.3. Diversidade de espécies em regeneração natural
A Tabela 2.2 mostra a variação temporal dos valores de Índice de Diversidade
de Shannon (H’) em cada condição experimental:
72
Tabela 2.2 – Variação temporal do Índice de diversidade de Shannon (H’) da
vegetação nativa em regeneração na área experimental.
Anos de monitoramento
Tratamentos 1996 1998 1999 2001 2006
2 X 2 1,89 2,34 2,16 2,41 2,57
3 X 2 2,27 2,40 2,52 2,73 2,38
3 X 3 2,09 2,42 2,61 2,62 2,56
Controle 1,73 1,90 1,84 1,71 2,31
De modo geral, os valores do índice de diversidade foram maiores nos
tratamentos com plantio de Pinus elliottii. Os menores valores têm sido registrados
nas parcelas controle. Todos os valores obtidos até onze anos após a instalação dos
tratamentos foram inferiores ao valor de 2,94 obtido por Durigan & Leitão Filho
(1995) em mata ciliar nativa na mesma condição ambiental.
Os valores referentes à diversidade foram incluídos para permitirem
comparação com os valores das medições anteriores, embora se saiba que o índice
utilizado (Shannon) não seja o mais adequado para amostras pequenas, como é o
caso do presente estudo.
Assim, as comparações entre tratamentos e destes com a vegetação natural
mencionada devem ser vistos com cautela.
73
2.3.4. Hábito e síndrome de dispersão das espécies do estrato regenerante
Aos onze anos após a instalação do plantio experimental, foram registradas,
na área como um todo, 59 espécies lenhosas (pertencentes a 28 famílias), das quais
32 eram espécies arbóreas, 21 arbustivas, três subarbustivas e três fetos
arborescentes (Tab. 2.3).
Tabela 2.3 – Hábito, síndrome de dispersão e densidade das espécies observadas
em regeneração sob Pinus e nas parcelas controle aos onze anos após
a instalação do plantio experimental para restauração de floresta ripária
em região de Cerrado, Assis, SP (continua)
Densidade
(ind.ha
-1
)
Espécie
Hábito
Síndrome
de dispersão
Pinus
Controle
Aegiphila lhotskiana Cham. A z 8 0
Aeschynomene selloi Vogel a z 0 12
Annona dioica A.St.-Hil. a z 4 0
Baccharis dracunculifolia DC. a an 0 58
Banisteriopsis stellaris (Griseb.) B.Gates a an 69 12
Byrsonima intermedia A.Juss. a z 12 12
Calophyllum brasiliense Cambess. A z 31 0
Campomanesia adamantium (Cambess.) O.Berg. a z 8 0
74
Tabela 2.3 (continuação) – Hábito, síndrome de dispersão e densidade das espécies
observadas em regeneração sob Pinus e nas parcelas controle aos onze
anos após a instalação do plantio experimental para restauração de
floresta ripária em região de Cerrado, Assis, SP
Densidade
(ind.ha
-1
)
Espécie
Hábito
Síndrome
de dispersão
Pinus
Controle
Cecropia pachystachya Trécul A z 8 23
Cestrum sendtnerianum Mart. a z 4 58
Chamaecrista flexuosa (L.) Greene a z 85 174
Copaifera langsdorffii Desf. A b 42 0
Cyathea atrovirens (Langsd. & Fisch.) Domin f.a. an 77 58
Cyathea cf. pungens (Willd.) Domin f.a. an 50 0
Cyathea delgadii Sternb f.a. an 181 0
Daphnopsis racemosa Griseb. A z 8 12
Erythroxylum campestre A.St.-Hil. a z 4 0
Erythroxylum cuneifolium (Mart.) O.E.Schulz a z 85 12
Eugenia aurata O.Berg. A z 15 0
Eugenia punicifolia (Humb.; Bonpl. & Kunth) DC. A z 8 0
Gochnatia barrosii Cabrera a an 19 0
Ilex affinis Gardn. A z 239 718
Ilex brasiliensis (Spreng.) Loes. A z 4 12
Jacaranda caroba (Vell.) A.DC. a an 42 0
Leandra eichleri Cogn. s z 23 69
Leandra lacunosa Cogn. s z 12 35
75
Tabela 2.3 (continuação) – Hábito, síndrome de dispersão e densidade das espécies
observadas em regeneração sob Pinus e nas parcelas controle aos onze
anos após a instalação do plantio experimental para restauração de
floresta ripária em região de Cerrado, Assis, SP
Densidade (ind.ha
-1
)
Espécie
Hábito
Síndrome
de
dispersão
Pinus
Controle
Lippia velutina Schauer a z 8 12
Machaerium acutifolium Vogel A an 46 12
Miconia albicans (Sw.) Triana a z 498 174
Miconia chamissois Naudin a z 1948 1412
Miconia fallax DC. a z 4 0
Miconia ligustroides (DC.) Naudin A z 39 12
Miconia stenostachya DC. a z 8 23
Myrcia bella Cambess. A z 62 0
Myrcia multiflora (Lam.) DC. A z 12 23
Ocotea corymbosa (Meisn.) Mez A z 120 35
Ouratea spectabilis (Mart.) Engl. A z 8 0
Pera obovata Bail. A z 42 0
Persea venosa Nees & Mart. ex Nees A z 39 23
Persea willdenovii Kosterm. A z 12 12
Pinus elliottii Engelm A an 15 35
Piper aduncum L. a z 0 23
Prunus myrtifolia (L.) Urban A z 4 23
Psychotria anceps Kunth A z 0 12
Rapanea gardneriana Mez A z 39 23
76
Tabela 2.3 (conclusão) – Hábito, síndrome de dispersão e densidade das espécies
observadas em regeneração sob Pinus e nas parcelas controle aos onze
anos após a instalação do plantio experimental para restauração de
floresta ripária em região de Cerrado, Assis, SP
Densidade (ind.ha
-1
)
Espécie
Hábito
Síndrome
de
dispersão
Pinus
Controle
Rapanea umbellata (Mart.) Mez A z 35 0
Schefflera vinosa (Cham & Schltdl.) Frodin
& Fiaschi
A z 12 0
Senna rugosa (G.Don.) H.S.Irwin &
Barneby
a b 42 0
Siparuna guianensis Aubl. A z 8 23
Solanum paniculatum L. a z 8 0
Stryphnodendron obovatum Benth. A b 23 0
Styrax camporum Pohl A z 31 0
Styrax pohllii A. DC. A z 127 35
Tapirira guianensis Aubl. A z 23 35
Tibouchina gracilis (Bonpl.) Cogn. s an 4 23
Tibouchina stenocarpa (DC.) Cogn. A an 313 104
Tocoyena formosa (Cham & Schltdl.) K.
Schum.
a z 46 12
Vochysia tucanorum Mart. A an 69 69
Xylopia aromatica (Lam.) Mart. A z 220 46
Legenda: A – arbórea; a – arbustiva; s – subarbustiva; f.a. – feto arborescente; z – zoocórica; an –
anemocórica; b – barocórica.
77
Embora a maior parte das espécies seja de hábito arbóreo, a grande maioria
dos indivíduos em regeneração pertence a espécies de porte arbustivo. Sob os
plantios de Pinus elliottii as espécies arbustivas corresponderam a 2883
indivíduos.ha
-1
(59%) contra 1667 indivíduos.ha
-1
(34%) de hábito arbóreo (Fig.
2.13).
Pinus
1667
34%
2883
59%
308
6%
39
1%
Controle
1287
37%
2024
57%
58
2%
127
4%
Subarbustos
A
rbustos
Á
rvores Fetos arborescentes
Figura 2.13 – Proporção entre densidade de indivíduos de diferentes hábitos sob Pinus elliottii e nas
parcelas controle em 2006
Nas parcelas controle, as espécies arbustivas somaram 2024 indivíduos.ha
-1
(57%). As espécies arbóreas totalizaram 1287 indivíduos.ha
-1
nesta condição
experimental (37%).
78
Pinus
3942;
80%
31; 1%
42; 1%
885;
18%
Controle
3078;
89%
371;
11%
A
nemocoria
A
utocoria
Barocoria
Zoocoria
Figura 2.14 – Proporção entre densidade de indivíduos segundo a síndrome de dispersão sob Pinus e
nas parcelas controle em 2006.
Analisando-se os indivíduos em regeneração quanto à síndrome de dispersão
(Fig. 2.14), verifica-se que predomina a zoocoria, tanto sob Pinus elliottii quanto nas
parcelas controle. Porém, a proporção de indivíduos de espécies zoocóricas é
superior nas parcelas controle, indicando que a ação da fauna como facilitadora da
regeneração não parece ser favorecida por Pinus elliottii.
Do mesmo modo que há grande variação na composição florística entre
diferentes florestas, também há variação na proporção entre as síndromes de
dispersão. A forma de dispersão dos diásporos
5
no ambiente diz muito sobre as
adaptações das espécies às pressões seletivas impostas pelo meio. O
conhecimento da biologia de dispersão das espécies é fundamental para subsidiar o
manejo adequado dos ambientes (Pinheiro e Ribeiro, 2001).
5
Diásporo é definido como a parte da planta (semente ou fruto) que é dispersa pelo ambiente a partir da planta-
mãe (Pijl, 1982).
79
A dispersão de diásporos por animais é comum entre as espécies lenhosas
dos ambientes tropicais (Renner e Feil, 1993). A anemocoria é mais comum em
ambientes secos, como cerrado sensu stricto (Oliveira e Moreira, 1992), enquanto
que a zoocoria ocorre mais freqüentemente em ambientes úmidos, como as matas-
galeria (Howe e Smallwood, 1982; Fenner, 1985). A explicação para esta diferença
se deve ao fato de que as sementes que dependem de animais teriam mais sucesso
em ocupar habitats com mais recursos disponíveis aos dispersores (Pijl, 1982),
como é o caso das matas-galeria. Além disso, os sistemas de dispersão aleatórios,
que têm água ou vento como agentes, teriam dificuldades para superar as barreiras
impostas pelas árvores nos ambientes fechados de florestas (Schupp, 1995).
Na área do presente estudo, a proporção encontrada de espécies zoocóricas,
tanto para as parcelas controle (89%) quanto sob P. elliottii (80%) é elevada, mais
próxima dos valores citados por Durigan (1989) para as espécies mais abundantes
em mata ciliar em região de cerrado (95%) do que em cerradão (35%).
2.3.5. Cobertura do piso nos diferentes tratamentos
Há diferenças consideráveis no tipo de cobertura do terreno entre os
diferentes tratamentos aos onze anos após a instalação do experimento (Fig. 2.15).
Quanto maior a densidade das árvores de P. elliottii e, conseqüentemente, a área
basal e a biomassa das árvores plantadas, menor a cobertura de gramíneas, que,
reconhecidamente, têm sido mencionadas como um dos principais obstáculos à
80
restauração (Filgueiras, 1990; D´Antonio e Vitousek, 1992; Klink, 1996; Pivello et al.
1999; Hoffmann et al., 2004; Martins et al., 2004).
Com a diminuição da cobertura de gramíneas, surgem áreas sem vegetação
(terra nua ou acículas) e outras formas de cobertura vegetal, como pteridófitas
(Lycopodium sp e Dicranopteris sp), que parecem oferecer menor competição com
as plantas lenhosas nativas.
2 x 2
21%
2%
77%
3 x 2
19%
5%
76%
3 x 3
37%
3%
57%
3%
Controle
93%
1%
6%
Gramíneas Pteridófitas
A
cículas Terra nua
Figura 2.15 – Cobertura do piso sob Pinus elliottii em diferentes tratamentos em 2006
81
2.3.6. Análise de correlações de Pearson
Os resultados da análise de correlações entre as variáveis obtidas para os
diferentes tratamentos (Tab. 2.4) apontam para um favorecimento da regeneração
natural pelas árvores de P. elliottii, pois quanto maior a densidade das árvores
plantadas, maior o número de espécies e de indivíduos de espécies lenhosas
nativas em regeneração.
82
Tabela 2.4 – Matriz de correlações entre parâmetros estruturais da floresta plantada
de Pinus elliottii e do estrato regenerante em plantio experimental de
restauração florestal em região de cerrado (RN = regeneração natural).
Parâmetros
estruturais
Área
basal P.
elliottii
Densidade
P. elliottii
Superfície
de copas
RN
Riqueza
RN
Densidade
RN
% Espécies
zoocóricas
Densidade P.
elliottii
0.955 1 --- --- --- ---
Cobertura de
copas RN
0.421 0.416 1 --- --- ---
Riqueza RN 0.302 0.353 0.317 1 --- ---
Densidade
RN
0.514* 0.566* 0.631** 0.122 1 ---
% Espécies
zoocóricas
-0,416 -0,510* -0,347 -0,589** -0,306 1
Cobertura
por
gramíneas
-0,876** -0,852** -0,526* -0,268 -0,420 0,601**
** = correlações significativas a 1% de probabilidade
* = correlações significativas a 5% de probabilidade
Algumas correlações são óbvias, tais como: densidade de P. elliottii x área
basal de P. elliottii e densidade de regenerantes x Superfície de copas de
regenerantes. Outras correlações são indiretas, como é o caso de cobertura por
gramíneas x porcentagem de espécies zoocóricas em regeneração. Esta correlação
83
dá a impressão de que a presença de gramíneas favorece a ação da fauna
dispersora. Porém, os dados de densidade dos regenerantes apresentados
anteriormente mostram que o número de regenerantes zoocóricos não é maior nas
parcelas controle, que são predominantemente cobertas por gramíneas.
As correlações que fazem sentido ecológico e, portanto, devem ser
consideradas são as seguintes:
Correlação positiva entre a densidade dos regenerantes e parâmetros
estruturais (área basal e densidade) das árvores de P. elliottii;
Correlação negativa entre a cobertura do piso por gramíneas e parâmetros
estruturais (área basal e densidade) das árvores de P. elliottii;
Correlação negativa entre a densidade de P. elliottii e a proporção de
indivíduos de espécies zoocóricas em regeneração;
Correlação negativa entre cobertura de gramíneas e superfície de copas das
plantas lenhosas em regeneração natural.
2.4. Discussão
O crescimento das árvores de Pinus elliottii, se comparado ao crescimento
desta espécie em regiões de clima mais apropriado, foi lento. Os valores de DAP
médio foram consideravelmente inferiores aos 20,8 cm registrados em Santa
Catarina por Schneider e Finger (1994) e, mesmo no espaçamento mais adensado,
a área basal foi inferior aos 32,7 m
2
ha
-1
encontrados por aqueles autores.
Se, sob o ponto de vista da receita potencial decorrente da exploração da
madeira, este pode ser um resultado desfavorável, este crescimento lento pode ter
84
sido benéfico para a ação das árvores de Pinus como facilitadoras da regeneração
natural das espécies nativas, pois um crescimento mais vigoroso poderia ter
desencadeado competição.
Analisando-se os tratamentos com plantio de P. elliottii em comparação com
as parcelas sem plantio da espécie exótica, verifica-se que o processo de
regeneração tem sido melhor sob as árvores plantadas.
Apesar da grande variação dos valores médios entre os tratamentos para
área basal e superfície de copas dos regenerantes (Figs. 2.5 e 2.6), as diferenças
não foram estatisticamente significativas, mesmo a 10% de probabilidade, pois a
variância e o desvio-padrão são muito elevados. Este fato é comumente observado
em amostragem de comunidades vegetais naturais, e pode ter sido exacerbado pelo
número pequeno de repetições de cada tratamento.
O número de plantas em regeneração, onze anos após a instalação dos
tratamentos, foi maior sob as árvores de Pinus em todos os espaçamentos (em
média, 4923 indivíduos por hectare), se comparados com o controle (3472
indivíduos por hectare). Duas possíveis explicações foram elencadas para os
resultados observados mediantes os pressupostos iniciais:
1. Ao oferecer abrigo e poleiro, as árvores de P. elliottii poderiam ter atraído a
fauna dispersora de sementes e, assim, favorecido a regeneração natural.
Porém, a observação de plantas zoocóricas sob P. elliottii em menor
proporção e a correlação negativa entre parâmetros estruturais de P. elliottii e
porcentagem de plantas zoocóricas refutam esta hipótese. Ou seja, a fauna
não tem sido especialmente atraída por P. elliottii e nem tem sido
proporcionalmente mais importante como agente de dispersão nas áreas
com plantio da espécie exótica em comparação com as áreas controle.
85
2. O sombreamento por P. elliottii, ao ocasionar a redução da cobertura do piso
pelas gramíneas, reduziria a competição destas com as plântulas das
espécies lenhosas e, assim, facilitaria a regeneração. A análise dos tipos de
cobertura do piso nos diferentes tratamentos, reforçada pela elevada
correlação negativa entre parâmetros estruturais de P. elliottii e cobertura por
gramíneas comprova essa hipótese. Ficou evidente que as árvores de P.
elliottii favorecem a regeneração indiretamente, por suprimirem as gramíneas
que, como já mencionado, dificultam a regeneração. O baixo incremento de
plantas regenerantes nas menores classes de tamanho das parcelas controle
reforça esta constatação.
Uma das hipóteses aventadas ao se iniciar o experimento – de que as árvores
de P. elliottii prejudicariam a regeneração natural – não se confirmou. A densidade
de indivíduos regenerantes foi maior sob as árvores de P. elliottii do que nas
parcelas controle. A correlação positiva entre os parâmetros estruturais de P. elliottii
e a densidade de regenerantes comprovou que, até onze anos após o plantio, a
maior densidade da espécie exótica favoreceu o processo de regeneração natural.
Provavelmente, a eliminação das gramíneas foi mais rápida nos plantios mais
densos e, por isso, a regeneração aumentou.
Se, por um lado, o processo de regeneração tem sido mais lento nas parcelas
controle, por outro, a maior proporção de indivíduos de espécies zoocóricas (Fig.
2.14) merece ser analisada cuidadosamente. Embora os dados não permitam
visualizar a distribuição espacial dos indivíduos, foram observadas nas parcelas
controle verdadeiras “ilhas de regeneração” proporcionadas por espécies arbóreas
nativas que cresceram rapidamente e forneceram alimento e poleiros, exercendo
atração aos animais dispersores de sementes. Tapirira guianensis (espécie
86
ornitocórica) destacou-se nessa função, o que resultou em alta agregação dos
regenerantes nas parcelas controle. De fato, tal agregação em áreas abertas já foi
observada por outros autores (Howe e Smallwood, 1982), uma vez que nesses
ambientes há poucas opções de pouso e abrigo para as aves.
FIGURA 2.16 – “Ilha de regeneração”: crescimento agregado de Tapirira guianensis e outras espécies
(Foto: Giselda Durigan, 2006)
Resultados de outros plantios experimentais, realizados na mesma bacia
hidrográfica, mostraram que a densidade e a riqueza de regenerantes são
diretamente proporcionais à densidade de espécies zoocóricas plantadas (Santos et
al, no prelo). Esses resultados e as observações do presente estudo sugerem que,
ainda que o plantio de P. elliottii tenha favorecido a regeneração das espécies
nativas, provavelmente o plantio com espécies zoocóricas poderia trazer resultados
ainda melhores do ponto de vista de restauração da biodiversidade. Porém, sabe-se
87
que os custos de plantio e manutenção de espécies nativas são mais elevados e
que, do ponto de vista de proteção aos recursos abióticos, as espécies nativas, por
crescerem mais lentamente, são menos eficientes que aquelas do gênero Pinus em
região de cerrado (Durigan e Silveira, 1999; Melo e Durigan, 2006).
2.5. Conclusões
As árvores de Pinus elliottii favoreceram o desenvolvimento estrutural da
comunidade vegetal nativa no sub-bosque, durante um período de onze anos
de monitoramento após o plantio.
O favorecimento da regeneração natural pelas árvores de P. elliottii foi
decorrente da supressão das gramíneas pelo sombreamento, à medida que
se adensaram as árvores plantadas.
Aos onze anos após o plantio, a competição por recursos do ambiente entre
as árvores de P. elliottii e as plantas nativas não parece estar sendo limitante
para a comunidade lenhosa em regeneração.
A comunidade regenerante sob as copas de P. elliottii difere estruturalmente
daquela que se desenvolve nas parcelas controle, nas quais a densidade, a
superfície de copas e a diversidade são inferiores.
As árvores de P. elliottii não favorecem a ação da fauna dispersora de
sementes.
A utilização de P. elliottii com a função de pioneira na recuperação da
vegetação nativa é viável em condições semelhantes às da área
88
experimental, favorecendo os processos naturais de regeneração e
restabelecendo rápida proteção aos recursos abióticos.
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CAPÍTULO 3
Dinâmica da regeneração de espécies vegetais nativas sob Pinus
elliottii Engelm var. elliottii em ambiente ripário de região de
Cerrado
95
Resumo
O presente capítulo tratou da análise dos aspectos dinâmicos da regeneração de
espécies lenhosas nativas sob plantio de Pinus elliottii Engelm em diferentes
espaçamentos, em ambiente ripário de Cerrado no município de Assis, SP.
Analisou-se a dinâmica das populações de plantas lenhosas em regeneração ao
longo dos onze anos de monitoramento, após a instalação do experimento. Os
resultados mostraram que as árvores plantadas de Pinus elliottii têm favorecido o
aumento populacional de 40% das espécies lenhosas nativas. Para 25% das
espécies observadas, a presença do P. elliottii causou redução na população.
Aproximadamente 35% das espécies parecem ser indiferentes à presença das
árvores de P. elliottii. Observou-se que a comunidade em regeneração sob as
árvores plantadas difere daquela em formação nas parcelas controle (sem plantio). A
distribuição das espécies mais abundantes em classes de tamanho demonstrou que,
aos onze anos após a instalação do experimento, a comunidade em regeneração
sob Pinus elliottii apresenta estágio mais avançado de desenvolvimento estrutural do
que à plena luz e na presença de gramíneas, situação em que as plantas lenhosas
crescem mais lentamente. Constataram-se diferenças na densidade de regeneração
das espécies lenhosas entre as duas condições experimentais. Sob Pinus elliottii, a
maioria das espécies apresenta maior densidade de indivíduos, tendência que tem
se mantido ao longo do período de observações.
96
3.1. Introdução
É sabido que espécies vegetais exóticas comerciais podem cumprir o papel
de facilitadoras da regeneração das espécies nativas (Lugo, 1992; Brown e Lugo,
1994; Silva Jr. et al., 1995; Chapman e Chapman, 1996; Fimbel e Fimbel, 1996;
Ashton et al.,1997; Durigan et al., 1997; Harrington e Ewel, 1997; Geldenhuys, 1997;
D’Antonio e Meyerson, 2002; Sartori et al., 2002). Tendo isto sido amplamente
discutido no capítulo anterior, e considerando o que ali se concluiu, este capítulo
aborda os aspectos dinâmicos da regeneração natural das espécies nativas no sub-
bosque de Pinus elliottii.
As modificações ocorridas no ambiente ao longo do tempo produzem efeitos
na manutenção das populações vegetais, cujas estruturas exibem indícios de
eventos passados (Schiavini et al., 2001).
Os estudos de dinâmica de populações permitem investigar a auto-
sustentabilidade da comunidade por meio da compreensão dos processos pelos
quais as populações passam para se adaptar às modificações ocorridas no
ambiente ao longo do tempo. Com base nesses estudos, pode-se projetar o futuro
de populações e/ou comunidades, bem como identificar as etapas de
desenvolvimento em que os indivíduos são mais suscetíveis às pressões de seleção
(Mantovani, 1989; Watkinson, 2005).
As análises aqui efetuadas tratam das espécies lenhosas nativas em
regeneração em plantio experimental efetuado na zona ripária de um córrego em
região de Cerrado, durante os onze anos subseqüentes ao plantio das árvores de
Pinus elliottii em diferentes espaçamentos.
97
As seguintes questões nortearam as análises efetuadas neste capítulo:
1. Haveria diferença na densidade de regeneração das espécies lenhosas
nativas entre as duas condições experimentais (plantio de Pinus elliottii e área
controle)?
2. Quais espécies (ou grupos de espécies) teriam mais sucesso em cada uma
das condições?
3. Quais seriam as possíveis causas do sucesso ou fracasso das referidas
espécies?
Diante dessas questões, foram testadas as seguintes hipóteses:
1. As árvores de Pinus elliottii exercem influência sobre as populações de
espécies nativas em regeneração;
2. A influência do Pinus elliottii pode ser negativa para algumas espécies e
positiva para outras.
3. Em termos florísticos, a comunidade em regeneração sob Pinus elliottii será
distinta da comunidade em regeneração nas áreas abertas.
Hipótese nula: as árvores de Pinus elliottii não exercem influência sobre as
espécies nativas em regeneração.
98
3.2. Material e métodos
3.2.1. Avaliação das plantas lenhosas em regeneração
O experimento foi monitorado após um, três, quatro, seis e onze anos, a
contar da data do plantio. Foram avaliadas as alterações na densidade e na
distribuição dos indivíduos entre classes de tamanho para todas as espécies,
aprofundando-se as análises para as espécies mais abundantes.
Para as análises efetuadas neste capítulo, os três tratamentos com plantio
de Pinus elliottii foram agrupados e comparados com as parcelas controle. Para
evitar que o número superior de parcelas sob Pinus afetasse os resultados, todas as
análises foram conduzidas em dados médios por hectare.
3.2.2. Identificação das espécies
As espécies nativas em regeneração observadas no experimento foram
identificadas em campo ou coletadas para identificação posterior, por comparação
com exemplares da coleção botânica da Floresta Estadual de Assis, pelo uso de
literatura especializada, ou ainda, mediante consulta a especialistas. A classificação
das espécies em famílias foi feita segundo a Angiosperm Phylogeny Group II – APG
II (Souza e Lorenzi, 2005).
99
3.3. Resultados e discussão
Trinta e uma famílias (resultando em 68 espécies nativas) já foram
observadas na área experimental ao longo de 11 anos (Tabela 3.1.). Três famílias e
dez espécies desapareceram da área experimental no mesmo período.
A família Melastomataceae (com nove espécies e nenhuma desaparecida)
vem apresentando desempenho notável no processo de regeneração na área em
estudo. Os indivíduos desta família somados totalizam perto de 60% dos indivíduos
em regeneração contabilizados em 2006. Miconia chamissois é a espécie com maior
êxito de regeneração.
A família Fabaceae é representada por seis espécies, sem que nenhuma
tenha desaparecido.
A família Myrtaceae já foi representada por oito espécies, das quais três
desapareceram.
A família Lauraceae já teve cinco espécies na área experimental, mas na
última avaliação, aos onze anos, foram registradas somente três.
Na tabela a seguir (3.1), foi relacionada a densidade de indivíduos de cada
espécie em regeneração com a presença ou a ausência de Pinus com base nas
observações ao longo dos 11 anos do experimento. Desta forma, pode-se analisar
se a espécie exótica estaria influenciando o desenvolvimento das espécies nativas.
100
Tabela 3.1. Densidade das populações de espécies em regeneração sob Pinus e
nas parcelas controle ao longo de onze anos de experimento, e sua
relação com a presença de Pinus elliottii (continua)
Densidade (indivíduos.ha
-1
)
1996 1998 1999 2001 2006
Espécie
P C P C P C P C P C
Relação
com
P. elliottii
Aegiphila lhotzkyana Cham. 0 0 0 0 0 0 4 0 8 0 Ind
Aeschynomene selloi Vogel 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 Pre
Annona dioica A.St.-Hil. 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 Ind
Baccharis dracunculifolia DC. 19 23 8 23 4 12 4 58 0 58 Pre
Banisteriopsis stellaris (Griseb.)
B.Gates
12 12 0 0 27 12 35 12 70 12 Fav
Blepharocalyx salicifolius (Kunth)
O.Berg
0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 Ind
Bredemeyera floribunda Willd. 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 Ind
Byrsonima intermedia A.Juss. 0 0 8 12 15 12 12 12 8 23 Pre
Calophyllum brasiliense
Cambess.
0 0 0 0 0 0 4 0 31 0 Fav
Campomanesia adamantium
(Cambess.) O.Berg
4 0 4 0 0 0 4 0 8 0 Ind
Cecropia pachystachya Trécul 8 23 12 23 19 23 23 23 8 23 Ind
Cestrum sendtnerianum Mart. 4 0 12 58 12 58 12 46 4 58 Pre
Chamaecrista flexuosa (L.)
Greene
0 0 0 0 0 0 0 0 85 174 Pre
Clethra scabra Pers. 4 0 0 0 4 0 4 0 0 0 Ind
101
Tabela 3.1. (continuação) Densidade das populações de espécies em regeneração
sob Pinus e nas parcelas controle ao longo de onze anos de
experimento, e sua relação com a presença de Pinus elliottii
Densidade (indivíduos.ha-1)
1996 1998 1999 2001 2006
Espécie
P C P C P C P C P C
Relação
com
P. elliottii
Copaifera langsdorffii Desf. 4 0 8 0 12 12 8 0 42 0 Fav
Cyathea atrovirens (Langsd. &
Fisch.) Domin
0 0 0 0 0 0 0 0 77 58 Ind
Cyathea cf. pungens (Willd.)
Domin
0 0 0 0 0 0 0 0 50 0 Fav
Cyathea delgadii Sternb 0 0 0 0 0 0 0 0 181 0 Fav
Daphnopsis racemosa Griseb. 4 0 0 12 0 12 0 12 8 12 Ind
Erythroxylum campestre A.St.-Hil. 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 Ind
Erythroxylum cuneifolium (Mart.)
O.E.Schulz
31 0 27 0 27 0 50 0 89 12 Fav
Erythroxylum deciduum A.St.-Hil. 0 0 4 0 15 0 8 0 0 0 Ind
Eugenia aurata O.Berg 0 0 8 0 8 0 8 0 15 0 Fav
Eugenia blastantha (O.Berg)
D.Legrand
0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 Ind
Eugenia punicifolia (Humb.; Bonpl.
& Kunth) DC.
0 0 12 0 12 0 15 0 8 0 Ind
Gochnatia barrosii Cabrera 12 0 15 0 15 0 23 0 19 0 Fav
102
Tabela 3.1. (continuação) Densidade das populações de espécies em regeneração
sob Pinus e nas parcelas controle ao longo de onze anos de
experimento, e sua relação com a presença de Pinus elliottii
Densidade (indivíduos.ha
-1
)
1996 1998 1999 2001 2006
Espécie
P C P C P C P C P C
Relação
com
P. elliottii
Ilex affinis Gardn.
123 185 255 370 247 463 320 726 239 718
Pre
Ilex brasiliensis
(Spreng.) Loes.
0 0 4 0 4 0 8 0 4 12 Pre
Jacaranda caroba
(Vell.) A.DC.
0 0 0 0 0 0 8 0 42 0 Fav
Kielmeyera coriacea
Mart.
0 0 0 0 0 0 4 0 0 0 Ind
Leandra eichleri Cogn. 0 0 15 0 31 12 0 0 23 69 Pre
Leandra lacunosa
Cogn.
0 0
181 208 170 359 127 324
12 35 Pre
Lippia velutina Schauer 0 0 0 0 0 0 0 0 8 12 Ind
Machaerium acutifolium
Vogel
0 0 8 0 3 0 8 0 46 12 Fav
Miconia albicans (Sw.)
Triana
104
93
135 81 147
46 62 23
498 174
Fav
Miconia chamissois
Naudin
0 0
505 694 251 984 382 868 1948 1412
Ind
Miconia fallax DC. 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 Ind
103
Tabela 3.1. (continuação) Densidade das populações de espécies em regeneração
sob Pinus e nas parcelas controle ao longo de onze anos de
experimento, e sua relação com a presença de Pinus elliottii
Densidade (indivíduos.ha
-1
)
1996 1998 1999 2001 2006
Espécie
P C P C P C P C P C
Relação
com
P. elliottii
Miconia ligustroides (DC.) Naudin 8 0 15 12 8 12 12 12 39 12 Fav
Miconia stenostachya DC. 0 0 0 0 0 0 0 0 8 23 Pre
Myrcia bella Cambess. 4 0 23 0 19 0 15 0 62 0 Fav
Myrcia guianensis DC. 15 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Ind
Myrcia multiflora (Lam.) DC. 0 0 4 0 0 0 4 0 12 23 Ind
Ocotea corymbosa (Meisn.) Mez 4 0 8 0 19 0 8 0 120 35 Fav
Ocotea velozziana (Meisn.) Mez 0 0 0 12 0 0 0 0 0 0 Ind
Ouratea spectabilis (Mart.) Engl. 0 0 8 0 4 0 4 0 8 0 Ind
Pera obovata Bail. 15 0 23 0 27 0 27 0 42 0 Fav
Persea willdenovii Kosterm. 0 0 4 0 4 12 0 12 12 12 Ind
Persea venosa Nees & Mart. ex
Nees
0 12 4 0 4 0 8 0 39 23 Ind
Pinus elliottii Engelm 0 0 0 0 0 0 0 0 15 35 Pre
Piper aduncum L. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 23 Pre
Protium heptaphyllum (Aubl.)
Marchand
0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 Pre
Prunus myrtifolia (L.) Urban 0 0 0 0 0 0 4 12 4 23 Pre
Psychotria anceps Kunth 4 0 15 0 12 12 8 0 0 12 Pre
104
Tabela 3.1. (continuação) Densidade das populações de espécies em regeneração
sob Pinus e nas parcelas controle ao longo de onze anos de
experimento, e sua relação com a presença de Pinus elliottii
Densidade (indivíduos.ha
-1
)
1996 1998 1999 2001 2006
Espécie
P C P C P C P C P C
Relação
com
P. elliottii
Rapanea gardneriana (A. DC.)
Mez
4 0 8 0 12 12 12 0 39 23 Ind
Rapanea umbellata (Mart.) Mez 0 0 0 0 0 0 0 0 35 0 Fav
Sapium obovatum (Klotzsch) ex.
Müll. Arg.
0 0 4 12 0 0 0 0 0 0 Ind
Schefflera vinosa (Cham &
Schltdl.) Frodin & Fiaschi
8 0 12 0 15 0 15 0 12 0 Fav
Senna rugosa (G.Don.) H.S.Irwin
& Barneby
8 0 31 0 42 0 42 0 42 0 Fav
Siparuna guianensis Aubl. 0 0 0 0 0 12 0 0 8 23 Pre
Solanum paniculatum L. 8 0 8 0 8 0 8 0 8 0 Ind
Stryphnodendron obovatum
Benth.
4 0 8 0 12 0 8 0 23 0 Fav
Styrax camporum Pohl 0 0 31 0 27 0 0 0 31 0 Fav
Styrax pohlii A. DC. 31 12 12 23 12 35 50 35 131 35 Fav
Tapirira guianensis Aubl. 12 12 19 35 23 35 23 35 23 35 Ind
Tibouchina gracilis (Bonpl.) Cogn. 0 0 0 0 0 0 0 0 4 23 Pre
105
Tabela 3.1. (conclusão) Densidade das populações de espécies em regeneração
sob Pinus e nas parcelas controle ao longo de onze anos de
experimento, e sua relação com a presença de Pinus elliottii
Densidade (indivíduos.ha
-1
)
1996 1998 1999 2001 2006
Espécie
P C P C P C P C P C
Relação
com
P. elliottii
Tibouchina stenocarpa (DC.)
Cogn.
96 69 123 93 131 58 100 46 312 104 Fav
Tocoyena formosa (Cham. &
Schltdl.) K. Schum.
39 0 46 0 39 0 46 0 62 12 Fav
Vochysia tucanorum Mart. 0 0 0 12 0 12 0 12 69 69 Ind
Xylopia aromatica (Lam.)
Mart.
58 12 89 35 104 35 100 23 224 46 Fav
Legenda: P = sob Pinus; C = parcelas controle; Ind = indiferente; Pre = prejudicada; Fav = favorecida
Foram consideradas favorecidas pela presença de Pinus elliottii:
as espécies que apresentaram 10 ou mais indivíduos por hectare
exclusivamente sob P. elliottii;
as espécies que, presentes tanto sob Pinus quanto nas parcelas controle,
apresentaram mais que o dobro da densidade de indivíduos sob a espécie
exótica (considerando-se a densidade mínima de 10 indivíduos.ha
-1
).
Da mesma forma, foram classificadas como prejudicadas pela presença de
P. elliottii:
106
as espécies que apresentaram 10 ou mais indivíduos por hectare
exclusivamente nas parcelas controle;
as espécies que, presentes tanto sob Pinus quanto nas parcelas controle,
apresentaram mais que o dobro da densidade de indivíduos nas parcelas sem
P. elliottii (considerou-se também a densidade mínima de 10 indivíduos.ha
-1
).
As espécies que se desenvolveram em ambas as condições experimentais
em densidades pouco discrepantes entre si, ainda que tenham desaparecido, foram
consideradas como indiferentes à presença de P. elliottii.
Dentre as 69 espécies observadas no experimento, 24 tiveram seu
crescimento favorecido pelo Pinus elliottii, 17 foram prejudicadas e 28 se
desenvolveram indiferentemente à presença da espécie exótica.
Considerando que o efeito do P. elliottii é variável entre espécies, é de se
supor que, em longo prazo, a proporção entre espécies nativas na comunidade será
consideravelmente diferente sob as árvores de P. elliottii em comparação com as
áreas abertas, sem plantio. Sete dentre as dez espécies com maior número de
indivíduos na comunidade são favorecidas pela presença de P. elliottii. Diante disso,
pode-se afirmar que as espécies favorecidas pelo P. elliottii tendem a adquirir maior
importância na comunidade. Por outro lado, as espécies nativas que são
prejudicadas pela espécie exótica tendem a diminuir em importância relativa ou
desaparecer com o tempo sob as árvores plantadas.
107
3.3.1. Dinâmica populacional das espécies (1996 – 2006)
Efetuou-se análise da dinâmica populacional das espécies mais abundantes
na área experimental ou com variações populacionais acentuadas, considerando-se
as cinco medições realizadas na área em estudo ao longo de onze anos.
A caracterização das espécies com base em tolerância à sombra, à umidade
do solo ou à geada, porte e fisionomia em que ocorrem e demais atributos baseou-
se em Durigan e Nogueira (1990); Correia et al. (2001); Ribeiro e Walter (2001) e
Durigan et al (2004a).
3.3.1.1. Ilex affinis
Ilex affinis tem porte arbóreo, ritmo de crescimento moderado e ocorrência
comum em ambientes de cerrado e mata galeria. Esta espécie tem preferência por
áreas inundáveis e é resistente a geadas (Durigan et al., 2004a). A preferência desta
espécie por ambientes abertos fica evidenciada na Fig. 3.1, que mostra maior
densidade de indivíduos nas parcelas controle, enquanto que sob Pinus a densidade
encontra-se praticamente estabilizada desde 1998.
108
Ilex affinis
(
Pinus
)
0
250
500
750
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-1)
Ilex affinis
(Controle)
0
250
500
750
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-1)
Figura 3.1. Dinâmica populacional de Ilex affinis sob plantio de Pinus e em áreas abertas em zona ripária
em região de Cerrado
Junto com Miconia chamissois, I. affinis vem apresentando os maiores valores
de densidade de indivíduos na área experimental desde o início do experimento.
3.3.1.2. Tibouchina stenocarpa
Tibouchina stenocarpa é uma espécie arbórea versátil que ocorre comumente
em diversas fisionomias de cerrado (campos, cerrado sensu stricto, cerradão e
ambientes ripários). Tem ritmo de crescimento moderado e preferência por solo
úmido (Durigan et al., 2004a). Não tolera geada nem sombra, mas, no presente
experimento, tem crescido mais freqüentemente sob Pinus elliottii, com população
crescente à medida que aumenta o sombreamento pela árvore exótica (Fig. 3.2). A
redução na densidade registrada em 2001 foi, provavelmente, conseqüência da
geada severa do ano 2000, uma vez que a espécie não tolera baixas temperaturas.
109
Tibouchina stenocarpa
(
Pinus
)
0
100
200
300
400
500
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha
-
1
)
Tibouchina stenocarpa
(Controle)
0
100
200
300
400
500
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha
-
1
)
Figura 3.2. Dinâmica populacional de Tibouchina stenocarpa sob plantio de Pinus e em áreas abertas em
zona ripária em região de cerrado
3.3.1.3. Miconia chamissois
Miconia chamissois tem porte arbustivo, ritmo de crescimento moderado e
ocorrência comum e exclusiva em áreas inundáveis de cerrado. É tolerante à
sombra e intolerante à geada (Durigan et al., 2004a). Até o monitoramento de 2001,
a população teve maior densidade de indivíduos nas parcelas controle, tendência
que se reverteu em 2006.
Miconia chamissois
(
Pinus
)
0
500
1000
1500
2000
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Miconia chamissois
(Controle)
0
500
1000
1500
2000
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha
-
1
)
Figura 3.3. Dinâmica populacional de Miconia chamissois sob plantio de Pinus e em áreas abertas em
zona ripária em região de cerrado
110
Embora não tenha sido observada na primeira avaliação, Miconia chamissois
tem apresentado, desde 1998, os maiores valores de densidade de indivíduos em
ambas as formas de tratamento, ou seja, tanto nas áreas abertas quanto sob Pinus
elliottii.
3.3.1.4. Miconia albicans
Miconia albicans tem porte arbustivo, ritmo de crescimento moderado e é
conhecida como uma espécie altamente adaptada aos solos álicos do cerrado,
sendo comum sua ocorrência nesse ambiente. É tolerante à sombra e intolerante à
geada (Durigan et al., 2004a). A população de Miconia albicans (Fig. 3.4) tem sido
sistematicamente superior sob as árvores de Pinus elliottii, em comparação com as
áreas abertas (controle). Essa diferença vem se acentuando ao longo do tempo, o
que comprova o favorecimento desta espécie pelo sombreamento oferecido pela
espécie exótica.
Também para esta espécie a geada severa do ano 2000 provavelmente é o
fator que explica a redução da população registrada em 2001.
Miconia albicans
(
Pinus
)
0
100
200
300
400
500
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Miconia albicans
(Controle)
0
100
200
300
400
500
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Figura 3.4. Dinâmica populacional de Miconia albicans sob plantio de Pinus e em áreas abertas
em zona ripária em região de cerrado
111
3.3.1.5. Erythroxylum cuneifolium
Erythroxylum cuneifolium tem porte arbustivo, ritmo de crescimento lento e
ocorrência comum em cerrado e mata-galeria. É indiferente à umidade do solo,
tolerante à sombra e à geada (Durigan et al., 2004a). Embora abundante sob o
plantio de Pinus elliottii, a espécie foi observada nas parcelas controle somente em
2006, onze anos após a instalação do experimento (Fig. 3.5).
Erythroxylum cuneifolium
(
Pinus
)
0
25
50
75
100
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Erythroxylum cuneifolium
(Controle)
0
25
50
75
100
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Figura 3.5. Dinâmica populacional de Erythroxylum cuneifolium sob plantio de Pinus e em áreas abertas
em zona ripária em região de cerrado
3.3.1.6. Leandra lacunosa
Esta espécie é um subarbusto de ampla distribuição geográfica, de ocorrência
comum em zona ripária.
A população de Leandra lacunosa na área experimental (Fig. 3.6) apresentou
crescimento em uma fase intermediária das observações, principalmente nas
parcelas controle (sem sombreamento), mas vem decrescendo nos últimos sete
112
anos. Não se sabe se isso vem ocorrendo por se tratar de uma espécie de ciclo de
vida curto ou se a população vem sendo prejudicada por algum fator ambiental ou
agente biológico específico, como praga ou doença.
Leandra lacunosa
(
Pinus
)
0
90
180
270
360
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Leandra lacunosa
(Controle)
0
90
180
270
360
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Figura 3.6. Dinâmica populacional de Leandra lacunosa sob plantio de Pinus e em áreas abertas em zona
ripária em região de cerrado
3.3.1.7. Tocoyena formosa
Tocoyena formosa tem porte arbustivo, ritmo de crescimento moderado, e é
comumente encontrada no cerrado. Tolera geada, mas não sombra (Durigan et al.,
2004a). Apesar disso, a densidade da espécie tem sido superior sob Pinus elliottii,
tendo sido registrada nas parcelas controle somente no último ano de
monitoramento, em 2006 (Fig. 3.7).
113
Tocoyena formosa (Pinus)
0
10
20
30
40
50
60
70
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Tocoyena formosa
(Controle)
0
10
20
30
40
50
60
70
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Figura 3.7. Dinâmica populacional de Tocoyena formosa sob plantio de Pinus e em áreas abertas em
zona ripária em região de cerrado
Considerando-se que o tamanho da população sob Pinus elliottii encontra-se
praticamente estável desde a avaliação inicial, há dez anos, supõe-se que os
indivíduos (ou pelo menos suas estruturas subterrâneas) já existiam no local antes
do plantio das árvores de Pinus elliottii e sobreviveram ao sombreamento.
3.3.1.8. Xylopia aromatica
Xylopia aromatica é uma espécie arbórea de ritmo de crescimento moderado,
comum em solos secos de cerrado. É tolerante a geadas e intolerante à sombra
(Durigan et al., 2004a). Apesar disso, tem apresentado maior crescimento
populacional sob Pinus (Fig. 3.8), ou seja, a espécie tem sido beneficiada, direta ou
indiretamente, pela presença das árvores de Pinus elliottii.
114
Xylopia aromatica
(
Pinus
)
0
50
100
150
200
250
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Xylopia aromatica
(Controle)
0
50
100
150
200
250
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Figura 3.8. Dinâmica populacional de Xylopia aromatica sob plantio de Pinus e em áreas abertas em zona
ripária em região de cerrado
3.3.1.9. Styrax pohlii
Styrax pohlii tem porte arbóreo, ritmo de crescimento lento e ocorrência
exclusiva em solos úmidos de Cerrado. Tolera geada, mas é considerada intolerante
à sombra (Durigan et al., 2004a). Apesar disso, teve maior crescimento populacional
sob Pinus elliottii, enquanto a população nas parcelas controle permanece estável
(Fig. 3.9). Esta espécie tem sido, portanto, direta ou indiretamente beneficiada pelo
sombreamento.
Styrax pohlii
(
Pinus
)
0
50
100
150
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Styrax pohlii
(Controle)
0
50
100
150
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Figura 3.9. Dinâmica populacional de Styrax pohlii sob plantio de Pinus e em áreas abertas em zona
ripária em região de cerrado
115
3.3.1.10. Senna rugosa
Senna rugosa é uma espécie arbustiva comum em ambientes de cerrado
sensu stricto e em áreas perturbadas e bordas de cerradão, indiferente à umidade
do solo. Tem ritmo de crescimento moderado e é descrita como intolerante a geadas
e à sombra (Durigan et al., 2004a). Apesar da intolerância à sombra, a espécie foi
observada exclusivamente sob Pinus elliottii (Fig. 3.10), com população crescente.
Senna rugosa
(
Pinus
)
0
10
20
30
40
50
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Senna rugosa
(Controle)
0
10
20
30
40
50
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-
1)
Figura 3.10. Dinâmica populacional de Senna rugosa sob plantio de Pinus e em áreas abertas na zona
ripária em região de cerrado.
3.3.1.11. Erythroxylum deciduum
Trata-se de uma espécie arbórea, de crescimento lento e ocorrência comum
em áreas inundáveis de cerrados e florestas. É tolerante à sombra e a geadas
(Durigan et al., 2004a). A população de Erythroxylum deciduum contava com poucos
indivíduos e foi suprimida da área experimental. Não se pode afirmar que isso tenha
116
ocorrido devido à presença de Pinus elliottii, pois a população pode ter sido atacada
por praga ou doença.
Erythroxylum deciduum
(
Pinus
)
0
5
10
15
20
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha-1)
Erythroxylum deciduum
(controle)
0
5
10
15
20
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha
-1
)
Figura 3.11. Dinâmica populacional de Erythroxylum deciduum sob plantio de Pinus e em áreas abertas
na zona ripária em região de cerrado.
Além de Erythroxylum deciduum, foi constatado o desaparecimento de várias
outras espécies na área experimental. São elas: Protium heptaphyllum, Clethra
scabra, Sapium obovatum, Ocotea velloziana, Blepharocalyx salicifolius, Eugenia
blastantha, Myrcia guianensis, Kielmeyera coriacea e Bredemeyera floribunda.
Essas espécies (com exceção das duas últimas) são típicas de zona ripária. No caso
de Kielmeyera coriacea e Bredemeyera floribunda, seu desenvolvimento
provavelmente foi inviabilizado pelo sombreamento das árvores de P. elliottii, uma
vez que essas espécies geralmente ocupam fisionomias abertas de cerrado. O
desaparecimento das espécies de zona ripária pode ser explicado pelos mesmos
fatores aventados para E. deciduum. Quase todas essas espécies eram
representadas por apenas um indivíduo sob Pinus elliottii, com exceção de M.
guianensis (4 indivíduos sob Pinus) e de O. velloziana (4 indivíduos nas parcelas
controle).
117
3.3.1.12. Ocotea corymbosa
Esta é uma espécie arbórea de crescimento moderado e ocorrência comum
em diversas fitofisionomias, indiferente à sombra e à umidade do solo, sendo,
porém, suscetível à geada (Durigan et al., 2004a). Prova disso é a redução na
população, ainda que pequena, constatada na figura 3.12, entre os anos 1999 e
2001 (houve uma geada severa na área experimental em 2000).
Ocotea corymbosa
(
Pinus
)
0
40
80
120
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha
-1
)
Ocotea corymbosa
(controle)
0
40
80
120
1996 1998 1999 2001 2006
Densidade de indivíduos (ind.ha
-1
)
Figura 3.12. Dinâmica populacional de Ocotea corymbosa sob plantio de Pinus e em áreas abertas na
zona ripária em região de cerrado.
A população de Ocotea corymbosa se manteve razoavelmente baixa e
estável até a medição de 2001. Na medição de 2006, porém, foi observado um salto
na densidade de indivíduos desta espécie, que pela primeira vez se desenvolveu
nas parcelas controle. Observa-se o favorecimento que P. elliottii exerce sobre
Ocotea corymbosa.
As espécies Tibouchina stenocarpa, Xylopia aromatica, Styrax pohlii,
Tocoyena formosa e Senna rugosa são mencionadas na literatura como intolerantes
118
à sombra, mas, surpreendentemente, apresentaram maior crescimento populacional
sob os plantios de Pinus elliottii que nas parcelas controle. Diante dessa
constatação, foram estabelecidas as seguintes explicações possíveis para o
observado:
1 – As referidas espécies não toleram solo encharcado. As árvores de P.
elliottii promovem a interceptação e a evapotranspiração de grande parte da água
das chuvas, fazendo com que o solo sob as árvores fique mais seco (Lima et al.,
1990), criando condições mais adequadas ao crescimento destas espécies nativas
nas áreas sob P. elliottii do que nas parcelas controle;
2 – As espécies em questão são zoocóricas, e as árvores de Pinus funcionam
como poleiros para aves dispersoras de suas sementes;
3 – O sombreamento promovido pelo plantio de P. elliottii reduziu ou eliminou
gramíneas que competiam com espécies lenhosas regenerantes, favorecendo o
desenvolvimento das referidas espécies no sub-bosque, apesar da menor
disponibilidade de luz;
4 – A classificação das espécies como intolerantes à sombra está incorreta.
A primeira explicação pode ser descartada pelo fato de que apenas duas das
espécies em discussão serem intolerantes a solos úmidos (Xylopia aromatica e
Tocoyena formosa). Se a explicação fosse verdadeira, somente essas duas
espécies teriam sido beneficiadas, o que não é verdadeiro.
À primeira vista, a segunda explicação serviria para todas as espécies em
discussão, exceto de Tibouchina stenocarpa, que é anemocórica. No entanto, no
Capítulo 2 foi demonstrado que não há diferença significativa entre a proporção de
espécies zoocóricas e anemocóricas no sub-bosque de Pinus elliottii e nas parcelas
119
controle (p. 75). Portanto, não se pode afirmar que a presença da espécie plantada
favorece a atração de fauna dispersora.
A terceira explicação é corroborada pelos resultados do Capítulo 2, que
indicam forte correlação negativa entre a presença de Pinus elliottii e a cobertura do
solo por gramíneas (p. 81). Nas análises estatísticas (Teste de Tukey aplicado a
10% de probabilidade), foi encontrada diferença significativa entre o número de
indivíduos nas parcelas controle e naquelas com P. elliottii em espaçamento 2 x 2 m
(com maior densidade, maior sombreamento e, conseqüentemente, menor cobertura
por gramíneas). Para este grupo de espécies, a competição com as gramíneas
parece ser o fator limitante à regeneração e estabelecimento de plântulas.
De qualquer forma, a classificação dessas espécies como intolerantes à
sombra deve ser revista, pois a falta de luz não leva, necessariamente, à sua
eliminação da comunidade, pelo menos no prazo em que foi desenvolvido o
presente estudo (onze anos) e no nível de sombreamento oferecido pelas árvores de
P. elliottii.
Para as duas espécies do gênero Miconia (M. albicans e M. chamissois), tem
sido observado crescimento populacional em ambas as condições. O maior aumento
populacional de M. albicans sob Pinus elliottii, entretanto, indica que a espécie está
sendo beneficiada pela presença de P. elliottii, provavelmente pela redução da
competição com as gramíneas.
Ilex affinis tem tido maior crescimento populacional nas áreas controle.
Parece que as gramíneas não têm prejudicado tal espécie e a menor disponibilidade
de luz parece limitante o crescimento de sua população sob P. elliottii.
120
Tabela 3.2 – Relação das espécies mais abundantes na área experimental com as
árvores plantadas de Pinus elliottii.
Relação com
P. elliottii
Ambiente Espécie Causas prováveis do sucesso na
área experimental
Miconia albicans
Supressão de gramíneas
Xylopia aromatica
Supressão de gramíneas
Cerrado
Erythroxylum cuneifolium
Supressão de gramíneas
Styrax pohlii
Supressão de gramíneas
Tibouchina stenocarpa
Supressão de gramíneas
Cyathea delgadii
Sombreamento pelo Pinus
Favorecidas
Mata-
galeria
Ocotea corymbosa
Sombreamento pelo Pinus;
supressão de gramíneas
Cerrado
Chamaecrista flexuosa
Sombreamento excessivo
Prejudicadas
Mata-
galeria
Ilex affinis
Sombreamento excessivo
Indiferente
Mata-
galeria
Miconia chamissois
Adaptação às condições ambientais
Além das espécies consideradas anteriormente, foi observado um notável
aumento populacional de Cyathea delgadii e Chamaecrista flexuosa. A dinâmica
121
populacional destas espécies não foi analisada porque o surgimento delas na área
experimental foi detectado somente na última medição.
A maioria das espécies mais abundantes observadas na última medição vem
obtendo sucesso na ocupação da área experimental desde o início do experimento.
A presença de Pinus elliottii favoreceu três espécies típicas de cerrado com
preferência por solos secos ou indiferentes à umidade do solo (Miconia albicans,
Xylopia aromatica, Erythroxylum cuneifolium). Também foram beneficiadas pela
presença das árvores exóticas quatro espécies típicas de matas-galeria: Styrax
pohlii, Tibouchina stenocarpa, Cyathea delgadii e Ocotea corymbosa. Ilex affinis
(espécie heliófita exclusiva de mata-galeria) e Chamaecrista flexuosa (típica de
cerrado) se desenvolveram com mais sucesso nas parcelas controle, enquanto que
Miconia chamissois (típica de mata-galeria) se mostrou indiferente ao P. elliottii.
As espécies que não tiveram êxito em se estabelecer na área experimental,
em sua maioria, eram típicas de área ripária e cada uma contava com apenas um
indivíduo sob Pinus elliotti. A atribuição de seu desaparecimento à presença das
árvores exóticas exige, pois, cautela.
3.3.2. Distribuição das espécies em classes de tamanho e comparação de
desempenho de regeneração
A análise da distribuição dos indivíduos das espécies mais abundantes entre
classes de tamanho permite que se presuma o futuro das populações na área em
estudo.
122
O gráfico na forma de J invertido revela um padrão de distribuição
característico de comunidades maduras estruturalmente (Schiavini et al., 2001). A
existência de um grande número de plântulas e jovens resulta em melhores chances
de altas taxas de recrutamento, assegurando a persistência da espécie na
comunidade em longo prazo.
Foram analisadas as populações que apresentaram o melhor desempenho de
regeneração no último monitoramento que, acredita-se, seja o momento que
representa a comunidade no estádio de desenvolvimento mais avançado desde a
implantação do experimento. Os resultados nos gráficos apresentados a seguir
apresentam, em números proporcionais, a comparação entre as classes de tamanho
observadas sob Pinus e no controle:
Miconia chamissois
0
20
40
60
80
100
0.5-0.9 1.0-1.4 1.5-1.9 2.0-2.4 2.5-2.9 3
Altura (m)
Número de indiduo
s
Pinus
Controle
Ilex affinis
0
5
10
15
20
25
0.5-0.9 1.0-1.4 1.5-1.9 2.0-2.4 2.5-2.9 3.0-3.4
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Figura 3.13. Distribuição de Miconia chamissois e Ilex affinis em classes de altura (m) em cada
tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de restauração de floresta ripária em
região de cerrado, Assis, SP
123
Miconia albicans
0
5
10
15
20
25
0.5-
0.9
1.0-
1.4
1.5-
1.9
2.0-
2.4
2.5-
2.9
3.0-
3.4
3.5-
3.8
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Tibouchina stenocarpa
0
4
8
12
0.5-
0.9
1.0-
1.4
1.5-
1.9
2.0-
2.4
2.5-
2.9
3.0-
3.4
3.5-
3.9
4.0-
4.4
4.5-
4.9
5.0-
5.4
5.5-
5.6
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Figura 3.14. Distribuição de Miconia albicans e Tibouchina stenocarpa em classes de altura (m) em cada
tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de restauração de floresta ripária em
região de cerrado, Assis, SP
Chamaecrista flexuosa
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0.5 - 0.7 0.8 - 1.0 1.1 - 1.3
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Cyathea delgadii
0
1
2
3
4
5
6
7
8
0.5 -
0.9
1.0 -
1.4
1.5 -
1.9
2.0 -
2.4
2.5 -
2.9
3.0 -
3.3
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Figura 3.15. Distribuição de Chamaecrista flexuosa e Cyathea delgadii em classes de altura (m) em cada
tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de restauração de floresta ripária em
região de cerrado, Assis, SP
Ocotea corymbosa
0
2
4
6
0.
5
-0.9
1
.0-1
.
4
1.
5
-
1
.
9
2.
0
-2.4
2
.5
-
2
.
9
3.
0
-
3
.
4
3.
5
-
3
.
9
4.
0
-4.4
4
.5-4
.
9
5.
0
-
5
.
4
5.
5
-5.9
6
.0
-
6
.
2
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Xylopia aromatica
0
1
2
3
4
0
.5-
0.
9
1
.0
-1.4
1
.5-
1.9
2.0-2.4
2
.5-
2.
9
3
.0-
3.4
3
.5-3.
9
4
.0-4.4
4
.5-
4.
9
5.0-5.
4
5
.
5-5.9
6
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Figura 3.16. Distribuição de Ocotea corymbosa e Xylopia aromatica em classes de altura (m) em cada
tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de restauração de floresta ripária em
região de cerrado, Assis, SP
124
Styrax pohlii
0
1
2
3
0.5-
0.9
1.0-
1.4
1.5-
1.9
2.0-
2.4
2.5-
2.9
3.0-
3.4
3.5-
3.9
4.0-
4.4
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Erythroxylum cuneifolium
0
1
2
3
0.5-0.9 1.0-1.4 1.5-1.9 2.0-2.4 2.5-2.8
Altura (m)
Número de indivíduo
s
Pinus
Controle
Figura 3.17. Distribuição de Styrax pohlii e Erythroxylum cuneifolium em classes de altura (m) em cada
tratamento onze anos após a instalação do plantio experimental de restauração de floresta ripária em
região de cerrado, Assis, SP
Miconia chamissois apresenta curva em J invertido em ambos os tratamentos,
indicando que o atual sucesso na ocupação do ambiente provavelmente persistirá
no futuro. O mesmo se observa nas populações de Miconia albicans e Tibouchina
stenocarpa, embora esta última tenha tido baixo recrutamento nas parcelas controle.
A pteridófita arborescente Cyathea delgadii foi observada exclusivamente sob
Pinus elliottii. Sua presença foi constatada somente no último monitoramento e,
ainda assim, a curva de sua população se apresenta como J invertido. As
observações de campo permitiram evidenciar que o ambiente sob P. elliottii tem sido
intensamente modificado em relação à luminosidade, o que pode explicar o
surgimento desta espécie na área de estudo.
A população de Chamaecrista flexuosa também surgiu na área de estudo
entre 2001 e 2006. Por se tratar de uma espécie de pequeno porte, a curva da
população apresenta poucas classes de tamanho, mas já apresenta estabilidade,
especialmente à plena luz.
As populações de Ilex affinis e Erythroxylum cuneifolium apresentam
distribuição instável em classes de tamanho, com emergência de indivíduos jovens
limitada provavelmente pelo sombreamento e pelas gramíneas. Xylopia aromatica e
125
Styrax pohlii atualmente apresentam curvas que tendem ao J invertido sob Pinus
elliottii. A julgar pelo crescimento da densidade de indivíduos, é esperado que a
curva das populações das referidas espécies assumam esse formato em um futuro
próximo.
Na população de Ocotea corymbosa não há indivíduos nas maiores classes
de tamanho, o que é compreensível já que se trata de uma espécie arbórea com
ritmo de crescimento moderado. O indivíduo mais alto provavelmente já estava na
área experimental antes de se iniciar o experimento.
Tanto na análise da distribuição em classes de tamanho quanto na análise de
dinâmica das espécies mais importantes ao longo do período de estudo, percebeu-
se que espécies de diferentes fisionomias de cerrado (e não apenas de ambientes
ripários) estão entre as que têm surgido nas últimas avaliações. Essa observação
corrobora a afirmação de diversos autores (Correia et al., 2001; Schiavini et al.,
2001) de que as matas de galeria apresentam grande heterogeneidade espacial.
Esses ambientes possuem mosaicos de condições ambientais e variações
especialmente referentes à topografia e às características do solo. Sabe-se que
estas são determinantes da composição de espécies.
3.3.3. Considerações sobre as classificações sucessional e ecofisiológica das
espécies analisadas
No cerrado, Durigan et al. (2004b) observaram que, sob plantios de espécies
exóticas ou nativas em áreas de cerrado distantes da zona ripária, a regeneração é
126
mais lenta em comparação com áreas simplesmente abandonadas. Os autores
explicam que isso ocorre devido à competição por água e luz entre as árvores
plantadas e as plantas em regeneração. No entanto, no experimento que originou o
presente estudo, muitas das espécies em regeneração sob Pinus elliottii são típicas
do cerrado. A localização da área experimental garante disponibilidade de água e,
portanto, a competição por este recurso não deve ser limitante.
Características de espécies vegetais e dos habitats que ocupam são descritas
por diversos autores (Durigan e Nogueira, 1990; Correia et al., 2001; Ribeiro e
Walter, 2001; Durigan et al., 2004a). Entretanto, conforme observado por Ribeiro e
Walter (2001), ainda faltam critérios que permitam a padronização de espécies em
“exclusivas” ou “indiferentes” para determinados habitats. Na Tabela 3.3., a seguir,
verifica-se que grande parte das espécies observadas na área experimental é típica
de mata-galeria.
127
Tabela 3.3 – Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em Assis, SP,
suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem (continua)
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na
área experimental
ANACARDIACEAE
Tapirira guianensis
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ampla distribuição; ocorrência
comum; grande capacidade de adaptação.
Solo úmido; dique, centro e borda; indiferentes a
áreas inundáveis; intolerante a geadas; tolerante a
sombra; heliófila
1
.
Pinus e Controle
ANNONACEAE
Annona dioica
Hábito arbustivo; ocorrência variável; ritmo
lento de crescimento.
Cerrado; solo seco; intolerante a sombra. Pinus e Controle
Xylopia aromatica
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; solo seco; tolerante a geadas; intolerante a
sombra.
Pinus e Controle
AQUIFOLIACEAE
Ilex affinis
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; preferência por áreas inundáveis;
intolerante a sombra; tolerante a geadas.
Pinus e Controle
Ilex brasiliensis
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento lento;
ocorrência variável.
Cerrado; exclusiva de áreas inundáveis; tolerante a
sombra; heliófila
2
.
Pinus e Controle
1
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
2
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
128
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na área
experimental
ARALIACEAE
Schefflera vinosa
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; solo seco; intolerante a sombra e a
geadas.
Pinus
ASTERACEAE
Baccharis
dracunculifolia
Hábito arbustivo; Ritmo de crescimento
rápido; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; indiferentes a umidade do solo;
intolerante a sombra; tolerante a geadas.
Pinus e Controle
Gochnatia barrosii
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
rápido; ocorrência comum.
Cerrado; indiferentes a umidade do solo;
intolerante a sombra; tolerante a geadas.
Pinus
BIGNONIACEAE
Jacaranda caroba
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; solo seco; intolerante a sombra. Pinus e Controle
129
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na área
experimental
BURSERACEAE
Protium
heptaphyllum
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; dique aluvial; preferência por áreas
inundáveis; tolerante a sombra e a geadas.
Desaparecida
CLETHRACEAE
Clethra scabra
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência variável.
Cerrado e floresta; preferência por áreas inundáveis;
tolerante a sombra e a geadas; heliófila
3
.
Desaparecida
CLUSIACEAE
Calophyllum
brasiliense
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; dique e centro
4
; exclusivas de áreas
inundáveis; tolerante a sombra e a geadas; heliófila
5
.
Pinus e Controle
Kielmeyera
coriacea
Hábito arbóreo. Cerrado; preferência por solos secos; intolerante a
sombra.
Desaparecida
3
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
4
Segundo Schiavini et al. (2001), o centro é um dos microhabitats das zonas ripárias, de posição intermediária entre o rio e a borda da floresta. O solo é hidromórfico de
textura argilosa, com altos teores de matéria orgânica e alumínio e ocorrência de inundações periódicas.
5
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
130
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos
fatores ambientais
Ocorrência na área
experimental
CYATHEACEAE
Cyathea atrovirens
Hábito arborescente. Floresta; tolerante a sombra. Pinus e Controle
Cyathea delgadii
Hábito arborescente. Floresta; tolerante a sombra.
Pinus
Cyathea cf. pungens
Hábito arborescente. Floresta; tolerante a sombra. Pinus e Controle
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum
campestre
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
lento; ocorrência rara.
Cerrado; solo seco; intolerante a sombra;
tolerante a geadas.
Pinus e Controle
Erythroxylum
cuneifolium
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
lento; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; indiferente a umidade do
solo; tolerante a sombra e a geadas.
Pinus
Erythroxylum
deciduum
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
lento; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; preferência por áreas
inundáveis; tolerante a sombra e a geadas;
heliófila
6
.
Desaparecida
6
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
131
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na área
experimental
EUPHORBIACEAE
Pera obovata
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; indiferente a umidade do solo;
tolerante a sombra e a geadas; heliófila
7
.
Pinus
Sapium
obovatum
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência variável.
Cerrado e floresta; preferência por áreas inundáveis;
intolerante a sombra (pioneira); tolerante a geadas.
Desaparecida
FABACEAE – CAESALPINIOIDEAE
Chamaecrista
flexuosa
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; indiferente a umidade do solo; intolerante a
sombra; tolerante a geadas.
Pinus e Controle
Copaifera
langsdorffii
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; dique aluvial; exclusivas de áreas
não inundáveis; tolerante a sombra e a geadas;
heliófila
8
.
Pinus e Controle
7
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
8
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
132
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos
fatores ambientais
Ocorrência na área
experimental
FABACEAE – CAESALPINIOIDEAE
Senna rugosa
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; indiferentes a umidade do solo;
intolerante a sombra e a geadas.
Pinus
FABACEAE – FABOIDEAE
Aeschynomene selloi
9
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
rápido; ocorrência variável.
Cerrado; intolerante a solos úmidos e à
sombra.
Controle
Machaerium
acutifolium
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; indiferentes a umidade do solo;
intolerante a geadas.
Pinus e Controle
FABACEAE – MIMOSOIDEAE
Stryphnodendron
obovatum
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento lento;
ocorrência comum.
Cerrado; solo seco; intolerante a sombra e a
geadas.
Pinus
9
Informações baseadas em observações na área experimental.
133
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na área
experimental
LAMIACEAE
Aegiphila
lhotskyana
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
rápido; Ocorrência comum.
Cerrado; intolerante a solo úmido; intolerante a sombra
e a geada.
Pinus e Controle
LAURACEAE
Ocotea
corymbosa
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado e floresta; indiferentes a umidade do solo;
tolerante a sombra; intolerante a geadas; heliófila
10
.
Pinus e Controle
Ocotea
velloziana
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência variável.
Cerrado e floresta; preferência por áreas inundáveis;
tolerante a sombra; heliófila
11
.
Desaparecida
Persea venosa
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência rara.
Cerrado; exclusivas de áreas inundáveis; tolerante a
sombra e a geadas.
Pinus e Controle
Persea
willdenovii
Hábito arbóreo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência variável.
Cerrado e floresta; preferência por áreas inundáveis;
tolerante a sombra e a geadas; heliófila
12
.
Pinus e Controle
10
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
11
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
12
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
134
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos
fatores ambientais
Ocorrência na área
experimental
MALPIGHIACEAE
Banisteriopsis
stellaris
Hábito arbustivo Cerrado; intolerante a sombra. Pinus e Controle
Byrsonima
intermedia
Hábito arbustivo; Ritmo de crescimento
lento; Ocorrência comum.
Cerrado; indiferentes a umidade do solo;
intolerante a sombra; tolerante a geadas.
Pinus e Controle
MELASTOMATACEAE
Leandra eichleri
13
Hábito subarbustivo; ritmo de crescimento
moderado.
Cerrado; exclusiva de terrenos úmidos,
suscetível a geadas, heliófita.
Pinus e Controle
Leandra
lacunosa
14
Hábito subarbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado e Floresta; preferência por solos
úmidos; umbrófila
15
.
Pinus e Controle
Miconia albicans
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; indiferentes a umidade do solo;
tolerante a sombra; intolerante a geadas.
Pinus e Controle
13
Informações baseadas em observações na área experimental.
14
Informações baseadas em observações na área experimental.
15
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
135
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na área
experimental
MELASTOMATACEAE
Miconia
chamissois
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; exclusivas de áreas inundáveis; tolerante
a sombra; intolerante a geadas.
Pinus e Controle
Miconia fallax
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência variável.
Cerrado; indiferentes a umidade do solo; tolerante
a sombra; intolerante a geadas.
Pinus e Controle
Miconia
ligustroides
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
moderado; Ocorrência comum.
Cerrado; indiferentes a umidade do solo; tolerante
a sombra; intolerante a geadas; heliófila
16
.
Pinus e Controle
Miconia
stenostachya
Hábito arbustivo; ritmo de crescimento
moderado; ocorrência comum.
Cerrado; indiferentes a umidade do solo; tolerante
a sombra; intolerante a geadas.
Pinus e Controle
Tibouchina
gracilis
Hábito subarbustivo. Cerrado; preferência por solo úmido. Pinus e Controle
Tibouchina
stenocarpa
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
moderado; Ocorrência comum.
Cerrado e floresta; preferência por solo úmido;
intolerante a sombra (pioneira) e a geadas.
Pinus e Controle
16
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
136
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos
fatores ambientais
Ocorrência na área
experimental
MYRSINACEAE
Rapanea gardneriana
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
e ocorrência moderados.
Cerrado e floresta; preferência por solo úmido;
tolerante a geada; umbrófila
17
.
Pinus e Controle
Rapanea umbellata
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
moderado; Ocorrência comum.
Cerrado e floresta; preferência por solo úmido;
tolerante a geada; umbrófila
18
.
Pinus e Controle
MYRTACEAE
Blepharocalyx
salicifolius
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
moderado.
Floresta; tolera inundação; umbrófila
19
.
Desaparecida
Campomanesia
adamantium
Hábito arbustivo; Ritmo de
crescimento moderado; Ocorrência
comum.
Cerrado; indiferente a umidade do solo; tolerante
a geada; intolerante a sombra.
Pinus
17
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
18
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
18
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
137
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na área
experimental
MYRTACEAE
Eugenia aurata
Hábito arbóreo; Ritmo lento de
crescimento; Ocorrência comum.
Cerrado; indiferente a umidade do solo; tolerante a
geada; intolerante a sombra.
Pinus
Eugenia
blastantha
Hábito arbóreo; Ritmo lento de
crescimento; Ocorrência rara.
Floresta; preferência por solo úmido; umbrófila
20
.
Desaparecida
Eugenia
punicifolia
Hábito arbóreo; Ritmo lento de
crescimento; Ocorrência comum.
Cerrado; indiferente a umidade do solo; intolerante a
geada; intolerante a sombra.
Pinus
Myrcia bella
Hábito arbóreo; Ritmo lento de
crescimento; Ocorrência variável.
Cerrado; indiferente a umidade do solo; intolerante a
geada; tolerante a sombra; heliófila
21
.
Pinus
Myrcia
guianensis
Hábito arbóreo; Ritmo lento de
crescimento; Ocorrência comum.
Cerrado e floresta; indiferente a umidade do solo;
tolerante a sombra.
Desaparecida
Myrcia
multiflora
Hábito arbóreo; Ritmo lento de
crescimento; Ocorrência comum.
Cerrado e floresta; indiferente a umidade do solo;
tolerante a geada; umbrófila
22
.
Pinus e Controle
20
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
21
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
138
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos
fatores ambientais
Ocorrência na área
experimental
OCHNACEAE
Ouratea
spectabilis
Hábito arbóreo; Ritmo lento de crescimento;
Ocorrência comum.
Cerrado; indiferente a umidade do solo;
intolerante a geada e a sombra.
Pinus
PIPERACEAE
Piper aduncum
Hábito arbustivo; Ritmo de crescimento
rápido; Ocorrência comum.
Floresta; preferência por solo úmido; umbrófila
23
.
Controle
POLYGALACEAE
Bredemeyera
floribunda
Hábito arbustivo; Ritmo de crescimento
moderado; Ocorrência comum.
Cerrado; indiferente a umidade do solo;
intolerante a geada e a sombra.
Desaparecida
ROSACEAE
Prunus myrtifolia
Hábito arbóreo; Ritmo lento de crescimento;
Ocorrência variável.
Cerrado e floresta; preferência por solo úmido;
tolerante a geada; umbrófila
24
.
Pinus e Controle
22
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
23
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
24
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
139
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos
fatores ambientais
Ocorrência na área
experimental
RUBIACEAE
Psychotria anceps
25
Arvoreta; ritmo de crescimento moderado;
ocorrência rara.
Cerrado; exclusiva de terrenos úmidos; tolerante
à geada e à sombra.
Controle
Tocoyena formosa
Hábito arbustivo; Ritmo de crescimento
moderado; Ocorrência comum.
Cerrado; indiferente a umidade do solo; tolerante
a geada; Intolerante a sombra.
Pinus e Controle
SIPARUNACEAE
Siparuna
guianensis
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
moderado; Ocorrência comum.
Cerrado e floresta; indiferente ao regime hídrico;
tolerante a sombra; intolerante a geadas.
Pinus e Controle
SOLANACEAE
Cestrum
sendtnerianum
Hábito arbustivo; Ritmo de crescimento
moderado; Ocorrência comum.
Floresta; indiferente a umidade do solo;
umbrófila
26
.
Pinus e Controle
25
Informações baseadas em observações na área experimental.
26
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
140
Tabela 3.3. (continuação) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na área
experimental
SOLANACEAE
Solanum
paniculatum
Hábito arbustivo; Ritmo de crescimento
rápido; Ocorrência comum.
Cerrado e floresta; indiferente a umidade do solo;
Intolerante a sombra.
Pinus e Controle
STYRACACEAE
Styrax
camporum
Hábito arbóreo; Ritmo lento de
crescimento; Ocorrência variável.
Cerrado; indiferente a áreas inundáveis;
intolerante a geadas e a sombra.
Pinus e Controle
Styrax pohlii
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
lento; Ocorrência variável.
Cerrado; exclusiva de solo úmido; intolerante a
sombra; tolerante a geada; heliófila
27
.
Pinus e Controle
THYMELAEACEAE
Daphnopsis
racemosa
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
lento; Ocorrência rara.
Cerrado e floresta; exclusiva de solo úmido;
tolerante a sombra.
Pinus e Controle
27
Durigan e Leitão-Filho, 1995.
141
Tabela 3.3. (conclusão) Espécies em regeneração sob plantio para recuperação de floresta ripária em zona ripária em
Assis, SP, suas características biológicas e do ambiente em que ocorrem
Espécie Características biológicas Ambiente de ocorrência e resposta aos fatores
ambientais
Ocorrência na área
experimental
URTICACEAE
Cecropia
pachystachya
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
rápido; Ocorrência comum.
Cerrado e floresta; borda
28
; preferência por solo
úmido; intolerante a sombra (pioneira).
Pinus e Controle
VERBENACEAE
Lippia velutina
Hábito arbustivo. Cerrado; preferência por solos secos.
Pinus e Controle
VOCHYSIACEAE
Vochysia
tocanorum
Hábito arbóreo; Ritmo de crescimento
lento; Ocorrência comum.
Cerrado; dique aluvial
29
; indiferente a umidade do
solo; suscetível a geada; intolerante a sombra.
Pinus e Controle
(Baseado em Durigan e Leitão-Filho, 1995 e Durigan et al., 2004a)
28
Segundo Schiavini et al. (2001), a borda é um dos microhabitats das zonas ripárias, em que a mata-galeria faz limite com o cerrado; o lençol freático é pouco profundo, sem
ocorrência de inundações. O solo tem textura argilosa-arenosa.
29
Segundo Schiavini et al. (2001), o dique aluvial é um dos microhabitats das zonas ripárias, em que há maior proximidade da água, solo formado pela deposição aluvial, bem
drenado e de textura arenosa.
142
3.4. Conclusões
As árvores de Pinus elliottii vêm exercendo influência positiva sobre 40% das
espécies lenhosas nativas, o que resulta em seu aumento populacional. Para 25%
das espécies já observadas, no entanto, a presença do P. elliottii acarretou redução
na população. Aproximadamente 35% das espécies parece não sofrer influência da
espécie exótica.
A existência de espécies favorecidas e outras prejudicadas pela presença de
P. elliottii conduzirá a comunidade por caminhos distintos em termos de sucessão
ecológica, ou seja, a comunidade que está se regenerando sob as árvores plantadas
será diferente da comunidade que se formaria na ausência delas.
A distribuição das espécies mais abundantes em classes de tamanho
demonstrou que, sob Pinus elliottii, após 11 anos de experimento, a comunidade em
regeneração apresentou-se em estágio mais avançado de desenvolvimento
estrutural do que à plena luz e na presença de gramíneas. Nesta condição, as
plantas lenhosas cresceram mais lentamente.
Foram constatadas diferenças na densidade de regeneração das espécies
lenhosas entre as duas condições experimentais. Sob Pinus elliottii, a maioria das
espécies apresenta maior densidade de indivíduos, tendência que tem se mantido
ao longo do período de observações. Investigações de prazo mais longo, no entanto,
são necessárias.
143
3.5. Referências bibliográficas
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CAPÍTULO 4
Viabilidade de conciliação entre exploração econômica e
restauração do ecossistema ripário
147
Resumo
Um dos principais obstáculos à restauração de matas ciliares em larga escala tem
sido o aspecto econômico, envolvendo o alto custo de plantio e a impossibilidade de
retorno econômico. No presente capítulo foram analisados aspectos econômicos da
restauração florestal de área ripária em ambiente de Cerrado, comparando-se
plantios de Pinus elliottii var. elliottii em diferentes espaçamentos, em Assis, SP, com
plantios convencionais de espécies nativas. Discutiram-se também possíveis
impactos da exploração econômica do plantio de P. elliottii sobre a vegetação nativa
em regeneração no sub-bosque. O estudo baseou-se em pesquisa bibliográfica de
métodos e custos de (1) plantios de Pinus e de espécies nativas para restauração,
(2) produção de madeira e resina a partir de Pinus elliottii e do valor econômico dos
produtos resultantes da exploração das árvores de P. elliottii. As análises efetuadas
indicam que os custos referentes ao plantio de P. elliottii, dependendo do
espaçamento entre as árvores, representam de 26 a 38% do custo inicial de
implantação de espécies nativas com 2000 mudas por hectare. O retorno do
investimento de implantação de P. elliottii dar-se-ia logo no primeiro ano de
exploração da resina nos espaçamentos mais adensados. A exploração da madeira
das árvores exóticas constituir-se-ia em receita adicional. Entretanto, a exploração
de Pinus pelas técnicas usuais pode resultar em prejuízo aos processos de
regeneração da vegetação nativa sob Pinus elliottii. As técnicas de exploração,
portanto, precisam ser revistas em busca do impacto mínimo. Desde que as técnicas
de exploração econômica não comprometam o desenvolvimento das espécies
nativas no sub-bosque, o uso de exóticas como facilitadoras da restauração pode
ser recomendado com a finalidade de reduzir custos e estimular iniciativas de
recuperação florestal que não dependam de recursos públicos.
148
4.1. Introdução
A utilização de espécies exóticas de valor comercial em plantios visando à
recuperação ambiental é assunto controvertido, pois envolve aspectos jurídicos
(regulamentação da restauração florestal), econômicos (redução de custos da
restauração e possibilidade de exploração comercial das árvores plantadas) e
ambientais (impacto da exploração sobre a comunidade vegetal em recuperação).
Os reflorestamentos com fins comerciais são uma alternativa viável para
terras subutilizadas, de baixa fertilidade ou degradadas, uma vez que os gêneros de
espécies arbóreas mais comumente cultivados no Brasil (Pinus e Eucalyptus)
apresentam bom desenvolvimento em condições inóspitas. Além de serem uma
importante opção para o uso da terra sob o ponto de vista econômico, o aumento da
oferta de produtos florestais a partir de florestas cultivadas reduz a pressão sobre as
matas nativas remanescentes, trazendo benefícios para a conservação dos recursos
naturais.
Quando se trata de áreas de preservação permanente, todavia, as leis
vigentes não permitem o corte das árvores nativas e nem das que venham a ser
plantadas.
A impossibilidade de exploração comercial das árvores que são plantadas em
áreas de preservação permanente tem sido apontada pelos proprietários rurais
como um forte desestímulo às iniciativas de plantio (Azevedo, 2000). Para esta
autora, os elevados custos de plantio e manutenção são o maior obstáculo à
recuperação de florestas em larga escala ao longo dos cursos d’água, com
149
essências nativas. Ademais, há também a impossibilidade de retorno do capital
investido nessas operações.
O Código Florestal de 1965 levou em conta esses custos ao determinar que a
recuperação florestal em áreas de preservação permanente desmatadas fosse feita
com recursos públicos, sendo o proprietário indenizado pela perda de área de cultivo
(Art. 18º):
Art. 18º - Nas terras de propriedade privada, onde seja necessário o
florestamento ou o reflorestamento de preservação permanente
1
, o Poder
Público Federal poderá fazê-lo sem desapropriá-la, se não o fizer o
proprietário.
§ 1º - Se tais áreas estiverem sendo utilizadas com culturas, de seu valor
deverá ser indenizado o proprietário;
(...)
A Política Agrícola (Lei Federal No. 8171/1991) determina a concessão de
crédito rural para atividade de preservação do ambiente (art. 48, parágrafo III), assim
como “o fornecimento de mudas de espécies nativas e/ou ecologicamente
adaptadas, produzidas com a finalidade de recompor a cobertura florestal” (art. 103,
parágrafo IV) e “o apoio técnico-educativo no desenvolvimento de projetos de
preservação, conservação e recuperação ambiental” (art. 103, parágrafo V).
Estes dispositivos, no entanto, não são aplicados e, em geral, os custos de
restauração têm sido de responsabilidade dos proprietários das terras.
Machado (2006) cita a opinião de diversos juristas em se desobrigar o Poder
Público a indenizar os proprietários rurais pela preservação das Áreas de Proteção
Permanente (APP) privadas. Tais juristas consideram que os proprietários usufruem
1
Conforme o art. 2º do Código Florestal e a MP 2166-67/2001, são consideradas de preservação permanente a
vegetação natural descrita a seguir: ao longo de rios ou qualquer curso d’água; ao redor de lagos e nascentes;
no topo de morros; nas encostas com acentuada declividade; nas restingas, associadas a dunas e mangues; nas
bordas de tabuleiros; em altitudes superiores a 1800 metros. O Poder Público pode ainda declarar de
preservação permanente a vegetação natural destinada a: evitar erosão; proteger rodovias e ferrovias; defender
o território nacional; proteger sítios de excepcional beleza, valor científico ou histórico; proteger fauna e flora em
extinção; manter áreas indígenas e assegurar bem-estar público (art. 3º).
150
dos serviços ambientais gerados pelas APPs e, portanto, é desnecessário o
pagamento de indenização. Por outro lado, entretanto, o mesmo autor, referindo-se
ao art. 18º do Código Florestal, afirma que “ainda que não esteja textualmente
previsto no Código Florestal, é de se entender que possam ser cobradas do Poder
Público as despesas efetuadas para implantar as florestas ou executar o
reflorestamento”. Acrescenta-se a isso o fato de que a recuperação de florestas ao
longo dos cursos d’água é de interesse coletivo, o que gera controvérsias sobre se é
socialmente justo que somente o proprietário arque com os custos de adequação
conforme as leis ambientais.
É possível que os proprietários rurais tenham conhecimento das
conseqüências do desmatamento, especialmente nas áreas de preservação
permanente. Entretanto, pesa sobre eles o cumprimento da função social e
econômica das propriedades rurais, e isso se confronta com o fato de os recursos
naturais serem de difícil avaliação econômica. Essa questão, junto com todas as
implicações de se dificultar a permanência do homem no campo, põe em dúvida a
validade do argumento dos juristas que são contra o pagamento de indenizações.
Soma-se a isso a alteração da versão original do Código Florestal (Brasil, 1965) pela
Lei Federal No. 7803, de 1989. Dessa forma, a faixa mínima de vegetação de
preservação permanente aumentou de cinco para 30 metros, sem que nenhuma
facilidade para a restauração de florestas nessas áreas tenha sido criada por parte
do Poder Público (Melo, 2005).
Por essas razões, a possibilidade de que os plantios de restauração ofereçam
alguma forma de retorno do capital investido, ainda que temporariamente, tem sido
discutida no âmbito de políticas ambientais e foi a motivação para a instalação do
plantio experimental de que trata o presente estudo, realizado em Assis, SP. A
151
justificativa para isso é de que, com a possibilidade de exploração econômica, os
proprietários se sintam mais estimulados a recuperar a cobertura florestal em Áreas
de Preservação Permanente e Reserva Legal.
A exploração econômica de ambientes ripários toca em um ponto nevrálgico
da questão da conservação e preservação ambientais. O Código Florestal de 1965
(art. 3º, parágrafo 1º) determina a impossibilidade de supressão das florestas e
demais formas de vegetação natural nas Áreas de Preservação Permanente (APPs),
uma vez que se destinam à manutenção de recursos bióticos e abióticos locais. A
Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal No. 9605/1998, art. 38º) prevê multa e/ou
prisão para destruição ou dano à APP.
Porém, a Medida Provisória 2166-67/2001, que trata da revisão do Código
Florestal, abre uma exceção para pequenas propriedades, quando diz que a
supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente pode ser autorizada
pelo órgão ambiental competente em caso de utilidade pública ou interesse social
(artigo 3º). Tal autorização é encarada como exceção e considera a inexistência de
alternativa técnica e locacional. As atividades de manejo agroflorestal sustentáveis
em pequenas propriedades rurais familiares caracterizam uma situação de interesse
social, uma vez que a Constituição Federal (artigo 5º, XXIII) determina que as
propriedades devem cumprir função social, assim descrita no art. 186:
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigências estabelecidos
em lei, aos seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação
do meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e
trabalhadores.
152
À medida que surgem dúvidas sobre a legalidade desta ou daquela atividade,
são modificadas as leis e, no caso das áreas de preservação permanente, foi
instituída recentemente a Resolução CONAMA 369 (28/03/2006), que trouxe clareza
quanto às atividades que são permitidas nessas áreas e em quais circunstâncias.
Enquanto esta norma estiver vigente, será permitido o cultivo intercalar em
plantios de restauração e, também, a exploração de produtos não madeireiros das
plantas contidas nas áreas de preservação permanente. Desta forma, abre-se uma
possibilidade de geração de alguma receita a partir de manejo sustentável ou cultivo
temporário das áreas em restauração, que podem se constituir em mecanismos de
estímulo para que os proprietários plantem árvores por iniciativa própria.
Porém, a mesma norma ressalta a impossibilidade de plantio de espécies
exóticas nessas áreas.
No que diz respeito às áreas de reserva legal, a Medida Provisória 2166-
67/2001 estabelece que, nas pequenas propriedades rurais familiares, espécies
exóticas frutíferas, ornamentais ou industriais podem ser computadas, desde que
estejam consorciadas com espécies nativas.
A reserva legal (RL) é uma porção da propriedade rural destinada ao uso
sustentável dos recursos naturais, conservação e reabilitação dos processos
ecológicos, conservação da biodiversidade e abrigo e proteção da fauna e flora
nativas. A RL é uma área distinta da APP. Assim como no caso da APP (e pelo
mesmo motivo), a RL também não resulta em pagamento de indenização do Estado
ao proprietário. O único benefício ao proprietário pela não utilização dessas áreas é
que tanto APP quanto RL são isentas de imposto territorial rural, conforme a Lei
Federal No. 8171/1991 – Política agrícola (Brasil, 1991).
153
Embora a obrigatoriedade da recuperação de matas ciliares não esteja
expressa no Código Florestal, pode-se considerar que esta ação seja desejável para
atender ao disposto no artigo 225 da Constituição Federal:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
O parágrafo 1º do mesmo artigo 225 novamente diz que “incumbe ao poder
público:
I - Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas”.
...
O art. 4º da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal No. 6902/1981)
prevê “imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados”.
Em síntese, a recuperação da vegetação nas áreas de preservação
permanente pelo proprietário é obrigatória apenas quando e onde tiver havido
autuação por danos ambientais.
Não sendo obrigatória por lei, mas desejável em qualquer circunstância,
pode-se considerar que qualquer forma efetiva de estímulo ao plantio seja benéfica
e deva ser permitida, ainda que não satisfaça ao ideal esperado do ponto de vista da
conservação da biodiversidade. Qualquer tipo de floresta, submetida ou não a
manejo, exerce proteção aos recursos abióticos (solo e água). No entanto, é
discutível a validade do manejo e da exploração florestal do ponto de vista biológico,
uma vez que pode retardar os processos de regeneração da vegetação nativa.
154
A possibilidade de manejo de florestas em áreas de preservação permanente
deve ser analisada separadamente nos casos de florestas plantadas ou para
vegetação nativa existente.
Sabe-se que tanto o extrativismo quanto o desmatamento resultaram na
diminuição das melhores matrizes genéticas de determinadas espécies nativas,
notadamente aquelas de maior interesse econômico. A produção comercial dessas
espécies, mediante manejo sustentado, embora possível, depende ainda de
avanços em pesquisas (Santos e Sousa-Silva, 1992).
Santos e Sousa-Silva (1992) afirmam que a utilização econômica direta dos
produtos das matas-galeria em larga escala é inviável. Isso se deve, segundo os
autores, à fragilidade e à baixa capacidade de suporte desse ambiente, uma vez que
as espécies têm crescimento lento e a suscetibilidade à erosão é alta. Além disso,
as espécies madeireiras são pouco abundantes naturalmente; há grande variação
de diâmetro nas populações, o que dificulta a exploração comercial em larga escala.
Há ainda o agravante da inacessibilidade, uma vez que a maior parte das matas-
galeria são áreas de preservação permanente (APP). Os referidos autores
recomendam uma exploração econômica muito criteriosa das espécies de mata-
galeria, de pequena escala e apenas como alternativa de complementação de renda
familiar.
O manejo das florestas que vierem a ser plantadas, porém, deve ser
analisado sob outro ponto de vista: o plantio sempre trará ganhos de biodiversidade
quando feito em áreas desmatadas. O manejo comercial pode diminuir os ganhos
esperados em biodiversidade, mas ainda assim o ecossistema estará em melhores
condições do que se não houvesse plantio. Os impactos decorrentes do manejo
155
serão dependentes das espécies cultivadas e, especialmente, do manejo a ser
aplicado.
Nilsson (1989) defende a restauração de matas ciliares com espécies nativas
de valor econômico: apícolas, fruteiras, palmitos, ornamentais e medicinais.
Entretanto, a autora não menciona qual o investimento necessário e nem o retorno
econômico desse empreendimento ou sequer implicações sobre a biodiversidade.
O Brasil está entre os grandes produtores e exportadores mundiais de alguns
produtos de origem florestal, tais como celulose, papel e resina. Devido à redução
do ritmo de plantios florestais nas duas últimas décadas, há expectativa de déficit de
madeira para o mercado interno nos próximos anos (Dossa, 2005). Isto certamente
significará aumento da pressão sobre as florestas nativas remanescentes e torna
urgente a adoção de políticas que incentivem plantios florestais em áreas impróprias
para agricultura convencional.
O aprimoramento de técnicas de exploração de produtos florestais e sua
prática são necessários para reduzir perdas, minimizar danos ecológicos e
assegurar a produção contínua. Entretanto, é dependente da realização de
pesquisas e da adoção de políticas públicas (Bentes-Gama, sem data).
Além de ser boa fonte de madeira e resina (Garrido et al, 1998), Pinus elliottii
é uma espécie que cresce satisfatoriamente em ambientes ripários (Durigan e
Silveira, 1999). Destaca-se também a demanda crescente por esses produtos no
mercado, além da geração de emprego e renda advindos das atividades
relacionadas à silvicultura de P. elliottii (Neves et al., 2001).
A resina obtida das árvores de Pinus elliottii é composta por hidrocarbonetos
de cadeia longa e tem diversas aplicações industriais. Por meio de destilação, são
obtidos o breu (parte sólida) e a terebintina (porção volátil). A terebintina é formada
156
por compostos aromáticos e utilizada na composição de fragrâncias, desinfetantes,
inseticidas, produtos farmacêuticos, entre outros. O breu é composto por ácidos
resínicos e é empregado na fabricação de colas, adesivos, tintas, borrachas,
emulsificantes, cosméticos, gomas de mascar, sabões etc.
A principal vantagem da resinagem é a possibilidade de antecipação de
receitas ao proprietário (Figueiredo Filho et al., 1992). Entretanto, a extração da
resina compromete a condução da seiva elaborada e de minerais, o que resulta na
redução do crescimento em diâmetro das árvores (Gurgel e Faria, 1978). A
qualidade da madeira de florestas resinadas, porém, não sofre qualquer dano,
segundo Garrido et al. (1998).
A extração da resina consiste na remoção periódica (quinzenal) de parte da
casca da árvore (2 x 20 cm) e aplicação de aproximadamente 2 g de pasta
estimulante à base de H
2
SO
4
. Na base da árvore é fixado um saco plástico (35 x 25
x 0,2 cm) com arame. Quando o saco se enche, a resina é transportada em latas de
20 L e acondicionada para transporte em tambores de 200 L. Os sacos permanecem
nas árvores por toda a safra e são trocados no inverno, quando a produção de
resina é menor. A safra dura nove meses (Garrido et al., 1998).
A resinagem é iniciada após oito anos da implantação da floresta.
Usualmente, as árvores selecionadas para a extração da resina são aquelas com
DAP maior que 16 cm. Uma árvore pode ser explorada, em média, por 16 anos
(Garrido et al., 1998).
O que está em análise no presente estudo é o balanço entre ganhos e
possíveis perdas decorrentes da exploração comercial de árvores plantadas na zona
ripária, no que concerne à realidade de pequenas propriedades rurais.
157
O modelo em análise trata da utilização de uma espécie exótica produtora de
resina como pioneira, cuja exploração não implica o corte das árvores, que seria
efetuado apenas quando a regeneração de espécies nativas no sub-bosque for
suficiente para recobrir a área e oferecer a proteção ambiental esperada ao solo, à
água e à biodiversidade.
Os capítulos anteriores do presente estudo demonstraram que as árvores de
Pinus elliottii exercem adequadamente a função de pioneiras, ao permitirem o
desenvolvimento acelerado da vegetação nativa, e, sobretudo, cumprindo a função
de proteção esperada da cobertura florestal, uma vez que acumulam biomassa mais
rapidamente do que a vegetação nativa em regeneração natural a céu aberto.
Neste capítulo pretende-se desenvolver uma análise econômica do plantio
efetuado, para verificar se:
1. Os custos de plantio com Pinus elliottii são inferiores aos custos de plantio de
essências nativas.
2. A exploração de resina das árvores plantadas pode cobrir os custos de plantio
e manutenção das árvores, eliminando o fator custo como obstáculo ao
reflorestamento de matas ciliares.
3. A exploração de resina pode ultrapassar os custos de plantio e manutenção,
gerando lucros para o proprietário a partir de um determinado período de
tempo.
4. A exploração de resina e de madeira pode acarretar prejuízos ao
ecossistema, que a tornam inviável em plantios visando à recuperação da
mata ciliar.
158
4.2. Material e métodos
O plantio experimental, realizado no ano de 1995 em região de Cerrado no
município de Assis (SP), encontra-se detalhadamente descrito nos capítulos
anteriores deste estudo. A área experimental está parcialmente fora da área de
preservação permanente estabelecida por lei, mas as condições ambientais locais
evidenciam que se trata de zona ripária, com influência da presença do curso d’água
nas proximidades. Cria-se, assim, uma situação peculiar em que, ao tratar da
recuperação de uma área de reserva legal, a floresta estará, ao mesmo tempo,
oferecendo proteção aos recursos hídricos.
4.2.1. Avaliação econômica da exploração de Pinus elliottii e seus possíveis
impactos ambientais
As estimativas de rendimento oriundo da exploração das árvores de Pinus
foram feitas com base em pesquisa bibliográfica e no crescimento das árvores nos
diferentes espaçamentos do plantio experimental. Levantaram-se as seguintes
informações:
métodos e custos envolvidos em plantios de espécies nativas para
restauração;
métodos e custos envolvidos na produção de madeira e resina a partir de
Pinus elliottii para cada um dos espaçamentos da área experimental;
159
valor econômico dos produtos resultantes da exploração das árvores de P.
elliottii;
possíveis impactos ambientais causados pela exploração de florestas
plantadas.
A estimativa de volume das árvores de Pinus elliottii nos diferentes
tratamentos foi feita aplicando-se as equações volumétricas mencionadas por Leite
et al. (2006).
4.3. Resultados e discussão
4.3.1. Custo de implantação e manutenção de plantio de espécies nativas e
Pinus elliottii
Considerando-se os diferentes espaçamentos das árvores de Pinus elliottii na
área experimental, os cálculos dos custos referentes ao plantio resultaram em
valores entre R$ 885,15 (3 x 3 m) e R$ 1301,85 (2 x 2 m) (Tabela 4.1).
160
Tabela 4.1 – Custos de implantação de reflorestamento de Pinus elliottii
Valores por espaçamento do plantio de Pinus elliottii
(metros)
2 x 2 3 x 2 3 x 3
Número de mudas/ha 2500 1666 1111
Mudas (preço unitário de R$
0,30)
R$ 750,00 R$ 499,80 R$ 333,30
Mão-de-obra de plantio
(R$/ha)
2
551,83 551,83 551,83
TOTAL/ha 1301,85 1051,65 885,15
O plantio de Pinus elliottii na área experimental não exigiu nem o preparo do
solo para receber as mudas, nem a realização da sua manutenção, o que poderia
reduzir ainda mais os custos de plantio, especialmente no espaçamento 3 x 3 m.
Para fins de comparação de custos, foi feita uma cotação relativa ao plantio
de espécies nativas para fins de restauração, conforme a Tabela 4.2:
2
O custo referente ao plantio de Pinus elliottii foi de US$ 283/ hectare (Fundação Florestal, 1994), e convertido
para R$ segundo cotação do Dólar de junho de 2007 (US$1 = R$ 1,95). Não foram obtidos valores diferenciados
para o plantio sob diferentes espaçamentos.
161
Tabela 4.2 – Custos de implantação de reflorestamento de espécies nativas
(considerando-se 2000 mudas/ha)
3
Custo dos itens necessários Custo/ha (R$)
Mudas em sacos plásticos (R$ 1,50)
4
3000,00
Preparo do solo (7,8 homens/dia/hectare) 156,00
Plantio (9 homens/dia/hectare) 180,00
Mão-de-obra
5
Manutenção (6,3 homens/dia/hectare) 126,00
TOTAL/ha 3462,00
Não estão descritas na Tabela 4.2 as despesas referentes à manutenção e ao
replantio de mudas que devem se estender por cerca de 24 meses subseqüentes ao
plantio inicial, conforme recomendação da Resolução SMA 08/2006 (São Paulo,
2006).
Comparando-se os custos das duas modalidades de reflorestamento,
constata-se que a implantação de árvores de Pinus elliottii representa entre 26 e
38% do custo correspondente ao plantio de espécies nativas. A diferença de custos
entre o uso de Pinus e espécies nativas permite que, com o mesmo investimento,
seja implantada uma área com Pinus três vezes maior que a que se plantaria com
espécies nativas.
3
A recomendação desta densidade é dada por Barbosa (2000) e Kageyama e Gandara (2000). Barbosa (2000)
afirma que esta densidade é indicada para área reflorestada que não tenha sofrido intensa degradação.
4
Fundação Florestal, 2005.
5
Valores de mão-de-obra necessária segundo Fundação Florestal (1995); Os valores de diárias de
trabalhadores rurais considerados foram de R$ 20,00 (Fundação Florestal, 2006a).
162
4.3.2. Estimativas do rendimento da exploração de resina e madeira
Além de representar economia considerável na implantação de plantios de
restauração, o plantio de Pinus elliottii pode se constituir em uma importante fonte de
receitas ao proprietário rural, seja pela exploração da resina ou da madeira. Em seu
estudo, Neves et al. (2001) concluem que a exploração de resina em pequenas
propriedades rurais é uma atividade viável, lucrativa e promissora.
Garrido et al. (1998) afirmam que a produção anual média de resina por
árvore de Pinus elliottii é de 1,48 kg.
Figueiredo Filho et al. (1992) afirmam que a resinagem é mais lucrativa que a
exploração da madeira, desde que os custos de produção não excedam US$ 0,50
anuais por árvore.
Na Tabela 4.3 é apresentada uma síntese da estimativa de potenciais
rendimentos proporcionados pela exploração da resina de Pinus elliottii.
163
Tabela 4.3 - Potencial de rendimento bruto anual da exploração de resina de Pinus
elliottii em diferentes espaçamentos
Espaçamento
2 x 2 m 3 x 2 m 3 x 3 m
Número de árvores/ha 2188 (TS =
87,5%)
1625 (TS =
97,5%)
950 (TS =
85,5%)
Produção média de resina
(kg/ha/ano)
6
3238 2405 1406
Potencial de rendimento bruto
(R$/ha/ano)
7
3180,41 2362,05 1380,89
TS = Taxa de sobrevivência
6
Foi considerada a produção média anual de 1,48 kg/árvore/ano citada por Garrido et al. (1998).
7
Foi considerado o preço da tonelada de goma-resina de R$ 982,14 (US$ 491,07), segundo Fundação Florestal
(2006b).
164
Tabela 4.4 - Potencial de rendimento bruto da exploração de madeira de Pinus
elliottii em diferentes espaçamentos aos onze anos após o plantio
Espaçamento
2 x 2 m 3 x 2 m 3 x 3 m
Número de árvores/ha 2500 1666 1111
Produção de madeira (m
3
/ha)
8
68,8 45 38,4
Potencial de rendimento bruto (R$/ha)
9
3581,04 2342,25 1998,72
Segundo Garrido et al. (1998), as árvores de Pinus elliottii podem ser cortadas
aproximadamente aos 23 anos de idade, quando a produção de resina declina.
Assim, o proprietário poderia explorar o plantio de P. elliottii por cerca de 16 anos,
uma vez que a resinagem se inicia sete anos após o plantio.
Aos onze anos após o plantio na área experimental deste estudo,
considerando-se as quatro safras possíveis de resina a esta idade, as árvores
plantadas teriam gerado receita cerca de 10 vezes superior ao investimento do
plantio. Se cortadas as árvores, haveria ainda a receita adicional proveniente da
madeira (Tabela 4.4), possibilitando a obtenção de lucro.
Uma vez que áreas destinadas à preservação permanente ou reserva legal
não poderiam ser utilizadas para agricultura ou pecuária, não podem ser incluídos
nas análises econômicas os custos de oportunidade
10
.
8
O cálculo da produção de madeira em m
3
/ha baseou-se na equação volumétrica citada por Leite et al. (2006).
Os valores se referem ao ano de 2006.
9
O preço do m
3
empilhado de madeira considerado foi de R$ 52,05 (US$ 26,69), segundo Fundação Florestal
(2006c).
165
Incluídos nos cálculos os juros vigentes pela taxa SELIC (12% no corrente
ano), os custos do plantio dobrariam após sete anos. Ainda assim, a receita
proveniente do primeiro ano de exploração de resina superaria os custos do plantio,
acrescidos dos juros, nos espaçamentos 2 x 2 e 3 x 2 m. Para o espaçamento 3 x 3
m, os custos seriam totalmente cobertos no segundo ano de exploração de resina.
A decisão sobre o momento adequado para cessar a exploração de resina ou
eliminar as árvores de Pinus poderia, então, ser tomada com base nos aspectos
ecológicos, de modo a permitir a continuidade dos processos naturais de
regeneração da vegetação nativa.
4.3.3. Potenciais implicações da exploração do Pinus elliottii sobre a mata
ripária em regeneração
A principal crítica que se faz à exploração do Pinus elliottii nas condições
observadas nesse estudo é em relação à integridade da vegetação nativa em
regeneração. Foi demonstrado que as árvores de P. elliottii favorecem a
recuperação do ambiente ripário (capítulos 2 e 3). Entretanto, a extração de resina
de Pinus elliottii envolve intensa circulação de pessoas no sub-bosque, o que
ocasionaria o pisoteio das plantas em regeneração e a compactação do solo. O
corte das árvores de Pinus elliottii também promoveria danos à vegetação
regenerante. Tais impactos são previsíveis, mas carecem ser estudados
quantitativamente.
10
Segundo o dicionário Houaiss (2002), custo de oportunidade se refere a “aquela que se considera não como
valor absoluto, mas como igual a uma segunda melhor oportunidade de benefícios que, no entanto, não foi
aproveitada”.
166
Podem ser buscadas, também, alternativas de exploração menos agressivas
às plantas nativas em regeneração. Aoki e Cruz (1998) descrevem o método de
resinagem em sistema fechado (Fig. 4.1), que permite maior rendimento que o
método de estrias. Este método consiste na instalação de garrafas PET (ou canos
de PVC acoplados a sacos plásticos) em orifícios nas árvores de Pinus elliottii, e a
resina flui para o interior das garrafas.
Figura 4.1 – Resinagem em sistema fechado (fonte: Aoki e Cruz, 1998).
As vantagens desse método são: redução das perdas da parte volátil da
resina; obtenção de resina livre de impurezas; possível aumento da longevidade das
árvores para resinagem; eliminação da necessidade de refazer estrias nas árvores;
redução da aplicação de estimulantes. Essas duas últimas vantagens da resinagem
por sistema fechado possibilitam redução da mão-de-obra, que, além de ser
economicamente interessante, também reduziria o pisoteio das plantas do sub-
bosque.
167
Em relação à exploração da madeira, sabe-se que esta operação envolve
intensa circulação de pessoas e máquinas na área, fato que implicaria na destruição
da vegetação em regeneração no sub-bosque. Para minimizar o impacto da retirada
da madeira sobre a vegetação nativa em regeneração, o corte das árvores precisaria
ser direcionado para a borda da faixa de plantio e a retirada da madeira deveria ser
manual.
A exploração parcimoniosa tanto da resina quanto da madeira é
imprescindível para que sejam causados os menores danos possíveis ao sub-bosque
regenerante. Para tanto, seria necessária assistência técnica aos proprietários e
orientação específica aos trabalhadores envolvidos nas operações.
Outro ponto a ser discutido é quanto às mudanças que a retirada das árvores
de Pinus elliottii promoveriam nas condições físicas que determinam a composição da
comunidade regenerante. Com base nisso, faz-se necessária a continuidade das
investigações para que se determine quantitativamente a intensidade de impacto
resultante da exploração das árvores plantadas de Pinus elliottii sobre as plantas
nativas do estrato regenerante.
4.4. Considerações finais
Dependendo da densidade do plantio na área de estudo, a exploração
renderia entre R$ 3180,41 e R$ 1380,89 anuais em resina a partir do 8º. ano, e de
R$ 3581,04 a R$ 1998,72 em madeira caso as árvores fossem cortadas aos onze
168
anos. O retorno do investimento de implantação dar-se-ia logo no primeiro ano de
exploração de resina.
A utilização de Pinus elliottii como espécie facilitadora da regeneração natural
em plantios de restauração florestal compensa os custos de plantio, desde que se
possa explorar economicamente ao menos sua resina, independentemente do
espaçamento de plantio.
Uma vez que a exploração de resina e de madeira pelas técnicas usuais
implica em impacto sobre a vegetação natural em regeneração, esta possibilidade
pode resultar em prejuízo aos processos de restauração da vegetação nativa sob
Pinus elliottii. As técnicas de exploração, portanto, precisam ser revistas em busca
do impacto mínimo.
Tais impactos precisam ser quantificados e, caso coloquem em risco a
comunidade em regeneração, devem determinar a suspensão da exploração a partir
da liquidação do investimento na restauração.
Recomenda-se o uso do método de resinagem por sistema fechado, descrito
por Aoki e Cruz (1998). Dessa forma, o proprietário poderia complementar seus
rendimentos com a extração de resina, permitindo a contínua regeneração das
espécies nativas do sub-bosque, até o momento em que as árvores plantadas
prejudicassem as nativas por exercerem competição. A partir daí, a morte por
anelamento das árvores de Pinus elliottii seria recomendada.
Em condições semelhantes às da área experimental, considera-se que a
exploração de resina das árvores de Pinus elliottii plantadas como facilitadora pode
compensar os custos de plantio e gerar receita adicional ao proprietário rural. Desde
que as condições ambientais da área de plantio e as técnicas de exploração das
árvores plantadas não comprometam o desenvolvimento das espécies nativas no
169
sub-bosque, o uso de Pinus elliottii como espécie facilitadora pode ser recomendado
com a finalidade de reduzir custos e estimular iniciativas de recuperação florestal
que não dependam de recursos públicos.
4.5. Referências bibliográficas
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(45), p. 28.
CAPÍTULO 5
Análise global da utilização de espécies exóticas em plantios de
restauração
174
5.1. Síntese dos resultados
O presente estudo teve como objetivo geral testar a viabilidade de utilização
de uma espécie introduzida (Pinus elliottii) em plantios visando à restauração da
vegetação ripária, tanto do ponto de vista ecológico quanto econômico.
As análises efetuadas foram compartimentadas em diferentes capítulos, com
objetivos específicos e hipóteses relacionados com a recuperação da estrutura e
diversidade da comunidade vegetal, da dinâmica da regeneração ao longo do tempo
e dos custos de implantação e receitas provenientes.
5.2. Hipóteses x conclusões do estudo
Na Tabela 5.1, as hipóteses inicialmente colocadas são confrontadas com as
conclusões obtidas para cada tópico analisado.
175
Tabela 5.1 – Resultados de restauração de mata ripária em região de Cerrado considerando-se duas possibilidades de intervenção
(comparação dos dados de fevereiro de 2006)
Fatores abordados no estudo Cenário 1: Pasto abandonado Cenário 2: Plantio de Pinus elliottii
Número médio de espécies nativas
em regeneração
16 19
Densidade de indivíduos em
regeneração (indivíduos.ha
-1
)
3472 4923
Recrutamento de indivíduos (entre
0,5 e 0,9 m)
104 244
Diversidade (H’) 2,31 2,57
Categoria de espécies em
regeneração
Heliófitas sensíveis à presença de
gramíneas (Chamaecrista flexuosa e
Ilex affinis)
Ombrófilas (Cyathea delgadii e Ocotea corymbosa) e espécies
de cerrado sensíveis à presença de gramíneas (Miconia
albicans, Styrax pohlii, Xylopia aromatica, Tocoyena formosa,
Tibouchina stenocarpa e Erythroxylum cuneifolium)
Custos e receitas
ø
Possibilidade de explorar Pinus e cobrir os gastos de plantio
176
Na Tabela 5.2 é apresentada uma síntese dos resultados, agrupadas em dois
cenários: 1) isolamento e abandono da área de pastagem para que ocorram
processos naturais de regeneração e 2) plantio de Pinus elliottii como facilitadora,
visando a acelerar a regeneração (apresentou-se aqui apenas o resultado obtido no
plantio mais adensado, que gerou os melhores resultados).
Com base nesses dados, verifica-se que o plantio de Pinus facilitou a
reestruturação da comunidade vegetal nativa e a recuperação da diversidade, além
de se vislumbrar benefícios econômicos decorrentes do manejo das árvores
plantadas.
177
Tabela 5.2 – Confrontação das hipóteses com as conclusões do estudo (continua)
Hipóteses Conclusões
Pinus elliottii produz mudanças no ecossistema que
favorecem processos de regeneração da vegetação nativa
A presença de P. elliottii favoreceu a supressão da população de gramíneas e,
indiretamente, facilitou a regeneração das plantas lenhosas nativas, cuja
densidade foi diretamente proporcional à densidade de árvores plantadas de
Pinus.
A comunidade regenerante sob as copas de Pinus elliottii
difere estruturalmente daquela que se desenvolve nas
parcelas controle, sem plantio da espécie exótica
A comunidade em regeneração sob Pinus tem maior densidade e plantas de
maior porte, demonstrando desenvolvimento estrutural mais avançado em
comparação com a comunidade nas parcelas sem sombreamento.
Pinus elliottii oferece sombra e abrigo para animais
dispersores de sementes, podendo, com isso, favorecer a
regeneração natural
Esta hipótese não se confirmou, uma vez que a proporção de indivíduos de
espécies cuja dispersão de sementes é zoocórica foi semelhante sob Pinus e nas
parcelas controle.
178
Tabela 5.2 – (continuação) Confrontação das hipóteses com as conclusões do estudo
Hipóteses Conclusões
O crescimento rápido de Pinus elliottii pode
comprometer a regeneração das espécies
nativas pela competição por recursos no meio
Até onze anos após o plantio, não foi observada competição entre P. elliottii e a comunidade
em regeneração, uma vez que a regeneração das espécies nativas ocorreu em maior
densidade de indivíduos sob o plantio mais denso de Pinus.
Pinus elliottii tem influência positiva para o
crescimento de algumas espécies e negativa
para outras
Observou-se a influência positiva (ingresso na comunidade ou aumento de densidade)
de P. elliottii sobre 34% das espécies, negativa (extinção na comunidade ou redução na
densidade) sobre 31% das espécies e indiferente para 31% das espécies, resultado que
corroborou esta hipótese.
Comunidade em regeneração sob Pinus será
diferente em termos florísticos daquela nas
parcelas controle
A composição florística da comunidade em regeneração sob P. elliottii difere das
parcelas controle, pela maior abundância relativa de espécies tolerantes à sombra sob as
árvores exóticas plantadas.
179
Tabela 5.2 – (conclusão) Confrontação das hipóteses com as conclusões do estudo
Hipóteses Conclusões
Implantação de Pinus elliottii é mais barata que
plantio de essências nativas
A implantação de P. elliottii representa cerca de um terço do custo da implantação
de espécies nativas.
Exploração de resina de Pinus elliottii pode cobrir
gastos de implantação e gerar lucro
A cobertura dos custos do plantio de P. elliottii se dá logo no primeiro ano de
exploração de resina.
Exploração de Pinus elliottii pode causar
prejuízos ao ecossistema e sua prática
incompatível com objetivos da restauração
A exploração tanto de resina quanto de madeira envolve ações danosas sobre a
vegetação em regeneração no sub-bosque. A compatibilidade das atividades econômicas
com a restauração da vegetação em regeneração deve ser estudada.
180
5.3. O risco de invasão pelo Pinus
Segundo Temple (1995), quanto maior a complexidade do ecossistema, maior
sua capacidade de resistir a contaminações biológicas. O risco de invasões de
ambientes naturais por espécies exóticas ou oportunistas é inerente às alterações
no regime natural de perturbações no ecossistema. Portanto, uma vez que o
ambiente é exposto a mudanças diferentes das que ocorrem historicamente, são
criadas condições para que espécies resistentes às novas perturbações ocupem o
lugar daquelas que não se adaptaram (Hobbs e Huenneke, 1995). Qualquer
ambiente, mesmo o mais protegido, corre o risco de ser invadido, especialmente
diante de mudanças globais. Tentar restabelecer o equilíbrio o mais rapidamente
possível pode ser de grande ajuda para prevenir outras invasões como, no caso em
estudo, das gramíneas, que se mostraram mais prejudiciais à comunidade do que a
presença de Pinus elliottii, que, nesses onze anos, favoreceu a regeneração das
plantas nativas e não proliferou como espécie invasora.
O fato de Pinus elliottii ter características de espécie invasora possibilita sua
função de facilitadora da regeneração. Do contrário, a espécie não teria tido êxito em
recobrir a área tão rapidamente. P. elliottii é uma espécie em que o crescimento, o
sombreamento e a deposição de acículas conduzem à supressão de gramíneas.
Estas características não interferiram negativamente no crescimento da comunidade
nativa. É possível que outras espécies de Pinus, de crescimento mais vigoroso,
produzissem resultados diferentes.
Não se pode desprezar a possibilidade de espécies exóticas invadirem
ecossistemas naturais e prejudicarem seu equilíbrio. Por outro lado, devem-se
181
considerar os benefícios que estas espécies podem promover em determinadas
circunstâncias.
Exemplo disso é o caso deste estudo, em que a supressão das gramíneas por
sombreamento pelas árvores de P. elliottii criou condições de facilitação da
regeneração da comunidade nativa. A presença de gramíneas mostrou-se um fator
limitante à regeneração da vegetação lenhosa nativa, dado o baixo recrutamento de
novos indivíduos observado nas parcelas predominantemente cobertas por
gramíneas.
A dificuldade de o ecossistema se restabelecer após perturbações
semelhantes às ocorridas na área experimental indica também que a decisão de
manutenção da vegetação natural, onde ainda exista, é evidentemente a mais sábia.
Decisões sobre o uso de espécies exóticas como facilitadoras da restauração
florestal devem ser tomadas considerando-se os cenários possíveis ao se intervir ou
não no ambiente.
Sabe-se que P. elliottii tem reconhecido potencial de invasão de ambientes
naturais, especialmente quando se trata de fitofisionomias abertas e solos com boa
disponibilidade hídrica (Ziller e Galvão, 2001; Zanchetta e Diniz, 2006). Assim, os
resultados obtidos no presente estudo não devem ser generalizados sem restrições,
devendo-se evitar o plantio de espécies exóticas potencialmente invasoras próximo
a Unidades de Conservação e de outros ambientes naturais predispostos à
contaminação biológica.
Estudos semelhantes, com a utilização de outras espécies com potencial de
exploração econômica como facilitadoras da restauração devem ser incentivados,
como forma de tornar a restauração de florestas mais atraente para os proprietários
rurais, desencadeando iniciativas voluntárias de recuperação florestal. Prioridade
182
deve ser dada, neste caso, a espécies que não apresentem potencial de
contaminação biológica.
5.4. Limitações da legislação
A utilização de espécies exóticas em plantios de restauração de matas
ripárias, que foi objeto deste estudo, encontra obstáculos diversos nas leis vigentes.
Tais leis, em última análise, se não impedem, pelo menos dificultam não só a
exploração, mas o próprio plantio das árvores exóticas, sem que haja argumentos
científicos consistentes para respaldar a proibição.
A principal limitação da legislação que trata desta matéria advém da
impossibilidade de exploração e do não reconhecimento da possibilidade de
conciliação de conservação e utilização sustentável das florestas localizadas em
Áreas de Preservação Permanente. Assim, os proprietários rurais se vêem
obrigados a arcar com os custos de manutenção ou recomposição da vegetação
natural, ação que traz benefícios à sociedade como um todo pela conservação da
biodiversidade e serviços ambientais, sem vislumbrarem qualquer benefício
monetário que possa advir da preservação ou restauração.
As leis, tendo como meta o ideal de resgatar a biodiversidade original por
meio dos plantios de restauração e preservá-la intocada para a posteridade, ignoram
as premissas do desenvolvimento sustentável economicamente viável,
ambientalmente correto e socialmente justo – e ignoram também que o manejo pode
ser necessário e benéfico à restauração e manutenção de florestas em faixas
183
ciliares que estarão permanentemente sob pressão das atividades econômicas na
vizinhança.
Em síntese, o que se defende são leis mais flexíveis, que tenham como meta
o restabelecimento de cobertura florestal em áreas muito mais amplas, ainda que se
utilizem técnicas menos ortodoxas de restauração e que o manejo seja permitido,
desde que não comprometa a existência das florestas.
Diante da necessidade de restauração da vegetação natural ao longo dos
corpos d’água, dos elevados custos e dificuldades técnicas para executá-la com
espécies nativas em algumas situações, deveria ser considerada a possibilidade de
discussão de alternativas viáveis entre os proprietários de terra e os órgãos
fiscalizadores e consultivos que tratam de questões ambientais.
A realidade sócio-econômica do pequeno proprietário rural não pode ser
desconsiderada em nome do temor de se abrirem precedentes legais para abusos
por parte de grandes proprietários de terras. Esse temor evidencia somente a
dificuldade que o Estado tem de fazer valer a lei igualmente para todos os cidadãos,
o que é inaceitável e deve ser combatido. A proposição de alternativas
economicamente viáveis de restauração poderia permitir que a recuperação
ambiental viesse a ser efetivamente colocada em prática em maior escala e com
maior adesão voluntária dos proprietários rurais do que ocorre hoje. A observância e
o cumprimento da legislação levariam a população a acreditar no poder do Estado
em favorecer os interesses e necessidades da maioria.
184
5.4. Referências bibliográficas
HOBBS, R.J.; HUENNEKE, L.F. Disturbance, Diversity, and Invasion: Implications for
Conservation. In: Ehrenfield, D. (Ed.) Readings from Conservation Biology:
Plant Conservation. Society for Conservation Biology and Blackwell Science, pp.
208-221, 221p, 1995.
TEMPLE, S. The Nasty Necessity: Eradicating exotics. In: Ehrenfield, D. (Ed.)
Readings from Conservation Biology: Plant Conservation. Society for
Conservation Biology and Blackwell Science, pp. 183-185, 221p, 1995.
ZANCHETTA, D.; DINIZ, F.V. Estudo da contaminação biológica por Pinus spp em
três diferentes áreas na Estação Ecológica de Itirapina (SP, Brasil). Revista do
Instituto Florestal, 18:1-14, 2006.
ZILLER, S.R.; GALVÃO, F.A. A degradação da estepe gramíneo-lenhosa no Paraná
por contaminação biológica de Pinus elliottii e Pinus taeda. Floresta, Curitiba,
32(1):42-47, 2001.
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