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RODRIGO ELIAS DE OLIVEIRA
AVALIAÇÃO DA LIBERAÇÃO DE MONÔMERO RESIDUAL,
ABSORÇÃO DE ÁGUA E POROSIDADE SUPERFICIAL EM RESINAS
ACRÍLICAS PARA PRÓTESE OCULAR
São Paulo
2008
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Rodrigo Elias de Oliveira
Avaliação da liberação de monômero residual, absorção de água e
porosidade superficial em resinas acrílicas para prótese ocular
Dissertação apresentada à Faculdade de
Odontologia da Universidade de São
Paulo, para obter o título de Mestre pelo
Programa de Pós-Graduação em
Odontologia.
Área de Concentração: Prótese Buco
Maxilo Facial
Orientador: Profa. Dra. Beatriz Silva
Câmara Mattos
São Paulo
2008
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Oliveira RE. Avaliação da liberação de monômero residual, absorção de água e
porosidade superficial em resinas acrílicas para prótese ocular [Dissertação de
Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.
São Paulo, ___/___/2008
Banca Examinadora
1) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura: __________________________
2) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura: __________________________
3) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura: __________________________
Dedico este trabalho a meus pais Antônio e Iraci,
Deuses capazes de doar anos de trabalho, horas de dedicação e
um amor infinito a um pequeno mortal que hoje, apenas lhes retorna
esta louvação
AGRADECIMENTOS
Minha enorme gratidão por indispensáveis professores que me conduziram
neste trabalho:
Professora Dra. Beatriz Silva Câmara Mattos
Guia neste caminho, por mim desconhecido, chamado “pesquisa científica”.
Sempre incansável e paciente conduziu-me até aqui. A ela serei eternamente
grato
Professor Dr. Fernando Neves Nogueira
Professor; Colega de turma; Amigo
Sempre disponível e com soluções tão eficientes e simples como seu ato de
sorrir. Obrigado pelo tempo compartilhado e pelas orientações sobre
metodologia científica
Professora Dra. Luciana Corrêa
Gentil e delicada, deixou-me totalmente à vontade em seu laboratório,
esclarecendo todas minhas dúvidas e alinhando este trabalho com eficiência e
sutileza, perfil de professor absoluto
Muito obrigado
Agradeço assim, aos departamentos aos quais estes professores são
vinculados: Depto. De Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilo Faciais, ao
Depto. De Estomatologia e ao Depto. Biomateriais e Biologia Oral, por me
disponibilizarem sua estrutura, indispensável ao desenvolvimento desta
pesquisa.
“No tengo muchas verdades,
prefiero no dar consejos,
cada cual por su camino,
igual va a aprender de viejo.
Que el mundo está como está
por causa de las certezas...”
Jorge Drexler
Oliveira RE. Avaliação da liberação de monômero residual, absorção de água e
porosidade superficial em resinas acrílicas para prótese ocular [Dissertação de
Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.
RESUMO
A necessidade do aprimoramento das técnicas de confecção de próteses
oculares que permitam satisfazer, com rapidez e excelência, a demanda de
atendimento de pacientes portadores de perdas do bulbo ocular, levou ao
desenvolvimento deste estudo comparativo no qual se avalia a porosidade
superficial, absorção de água e liberação de monômero residual de resinas
acrílicas. Foram estabelecidos quatro grupos de estudo, sendo cada grupo
composto por 15 corpos de prova: Grupo 1 - resina acrílica termo polimerizável
convencional / ciclo térmico convencional; Grupo 2 - resina acrílica termo
polimerizável em microondas / ciclo microondas; Grupo 3 - resina acrílica termo
polimerizável convencional / ciclo microondas; Grupo 4 - resina acrílica auto
polimerizável com cadeia cruzada / auto polimerização. A avaliação da
quantidade de monômero residual liberado foi realizada por meio de
espectrofotometria, durante o período de 11 dias. A determinação da absorção
de água baseou-se na diferença do peso apresentado pelos corpos de prova
nas condições experimentais seco e após submersão em água deionizada por
um período de 7 dias. A determinação da porosidade superficial foi calculada
sob a forma de porcentagem por área de superfície analisada, empregando-se
lupa estereoscópica para captação da imagem a ser processada pelo software
ImageLab 2000®. Submetendo-se os dados à análise estatística
ANOVA/TUKEY (p0,05) observou-se que a liberação de monômero residual
foi significantemente maior no primeiro dia para o Grupo 1, semelhante durante
todo o período para o Grupo 2, menor a partir do dia 8 para o Grupo 3 e
decrescente até o dia 8 para o Grupo 4. A liberação de monômero residual foi
semelhante para os Grupos 1 e 3, menor para o Grupo 2 e maior para o Grupo
4. A absorção de água foi semelhante para os quatro grupos de estudo. A
maior porosidade ocorreu no Grupo 2, sendo os Grupos 1 e 3 semelhantes
entre si. Concluiu-se que os ciclos térmicos de polimerização em água e em
microondas não interferiram na liberação de monômero residual da resina
acrílica termo polimerizável convencional. A liberação de monômero residual
variou em função do tipo de resina acrílica. O tipo de resina acrílica e o ciclo de
polimerização a que foram submetidas não interferiram na absorção de água.
Os ciclos térmicos de polimerização em água e em microondas não interferiram
na porosidade apresentada pela resina acrílica termo polimerizável
convencional. A porosidade superficial variou em função do tipo de resina
acrílica avaliada.
Palavras-Chave: prótese ocular, resina acrílica, monômero residual,
porosidade, absorção de água
Oliveira RE. Evaluation of residual monomer, water sorption and porosity by
acrylic resins used to eye prostheses [Dissertação de Mestrado]. São Paulo:
Faculdade de Odontologia da USP; 2008.
ABSTRACT
This comparative evaluation of porosity, water sorption and residual monomer
presented by acrylic resins was conducted, looking for excellence and rapidity
in the confection of eye prostheses. Four groups, comprising of 15 specimens
each, were established and submitted to polymerization cycles: Group 1 –
conventional heat polymerizing acrylic resin / conventional heat-polymerization
cycle; Group 2 – microwave acrylic resin / microwave cycle; Group 3 -
conventional heat polymerizing acrylic resin / microwave cycle; Group 4 –
cross-linked auto-polymerizing acrylic resin / auto-polymerizing process.
Residual monomer liberation was determined by spectrophotometry during 11
days period. Water sorption was calculated by weighting dried specimens and
weighting after 7 days of submersion in deionized water. Superficial porosity
was determined by percentage of area, in images processed by the software
ImageLab 2000®. Subjecting data to ANOVA/TUKEY test (p0,05) it was
observed that residual monomer liberation was higher in the first day for Group
1, similar during all the period for Group 2, lower after day 8 for Group 3 and
decreasing until day 8 for Group 4. Residual monomer liberation was similar to
Groups 1 and 3, lower for Group 2 and higher for Group 4. Water sorption was
similar to all groups. Group 2 displayed more superficial porosity, and Group 1
and 3 were similar regarding this test. In conclusion, conventional
polymerization and microwave processes did not interfere in residual monomer
liberation of conventional acrylic resin. The residual monomer liberation varied
according the type of acrylic resin. Microwave cycle provided similar or smaller
residual monomer liberation. The type of acrylic resin and the polymerization
cycle utilized did not modify water sorption. The conventional heat polymerizing
cycle and microwave cycle did not interfere in superficial porosity of
conventional heat polymerizing acrylic resin. The superficial porosity varied
according to the acrylic resin.
Keywords: eye prosthesis, acrylic resin, residual monomer, porosity, water
sorption
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ADA American Dental Association
& and
cm centímetro
Cia. companhia
Com. comércio
cm³ centímetros cúbicos
et al. e outro/outra
FOUSP Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
ºC graus Celsius
h hora
Inc. Incorporated
Ind. Indústria
Ltda. limitada
l litro
® marca registrada
menor igual a
µl microlitro
mm milímetro
ml mililitro
min minuto
nm nanômetro
N SIG não significante
N normal
número
p/ para
PVC poli cloreto de vinila
% por cento/porcentagem
Prod. produto
UVA raios ultravioleta A
rpm rotação por minuto
sig significância
SIG significante
S/A sociedade anônima
ton tonelada
¼ um quarto
p valor p
W watts
SUMÁRIO
p.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 13
2 REVISÃO DA LITERATURA ..............................................................
15
3 PROPOSIÇÃO ....................................................................................
36
4 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................
37
5 RESULTADOS.................................................................................... 52
6 DISCUSSÃO ....................................................................................... 62
7 CONCLUSÕES ................................................................................... 74
REFERÊNCIAS......................................................................................
75
ANEXOS.................................................................................................
81
13
1 INTRODUÇÃO
A Prótese Buco Maxilo Facial, assim como as demais especialidades
odontológicas, desenvolve-se dentro de um contexto multiprofissional e
interdisciplinar. A evolução do conhecimento relativo à prótese ocular fundamenta-se
em estudos etiológicos e epidemiológicos das perdas do bulbo ocular, nos conceitos
de crescimento craniofacial e acompanha a evolução tecnológica dos biomateriais.
O conhecimento e domínio dos biomateriais se tornaram indiscutíveis para a
realização de uma odontologia de excelência. Os polímeros orgânicos, notadamente
as resinas acrílicas possibilitaram no início do século passado uma evolução na
reabilitação protética intra e extra-bucal. Nesta evolução tecnológica as resinas
acrílicas foram sendo desenvolvidas, modificando-se sua estrutura ou acrescentando
agentes para que seus processos de polimerização utilizassem formas de energia
variadas, adequando-as à necessidade de cada situação clínica ou laboratorial.
Os processos convencionais de polimerização das resinas acrílicas
demandam a ativação química ou térmica, esta última dependente de uma fonte de
energia externa em forma de calor para que a reação de polimerização se complete.
Ciclos de polimerização foram criados e avaliados, variando-se o tempo e a
temperatura da água na qual é imersa a resina acrílica, de modo que a resina
acrílica termo polimerizável convencional proporcionasse as melhores propriedades
físicas dentro de um conceito de biocompatibilidade.
Ao mesmo tempo, a resina acrílica auto polimerizável, com algumas
propriedades físico-químicas e biocompatibilidade inferiores foi modificada
adicionando-se agentes para possibilitar o aumento do número de ligações cruzadas
entre os polímeros, com conseqüente aprimoramento de suas propriedades.
14
A popularização dos aparelhos de microondas, onde a geração de energia
térmica é decorrente do atrito entre as moléculas excitadas pelas ondas
eletromagnéticas, levou os pesquisadores a experimentarem esta fonte de calor para
a polimerização das resinas acrílicas. Surgem, no início da década de 80, trabalhos
analisando as propriedades físicas e químicas das resinas acrílicas polimerizadas
por esta fonte de energia, buscando estabelecer uma possível alternativa para a
confecção de próteses acrílicas. A partir de então, o mercado odontológico passou a
dispor de resinas acrílicas especificamente produzidas para o ciclo térmico utilizando
as microondas, com a vantagem de um menor tempo de processamento laboratorial
de suas próteses.
A constante busca pelo desenvolvimento de técnicas de confecção de
próteses oculares que permitam satisfazer com rapidez e excelência a demanda de
atendimento de pacientes portadores de perdas do bulbo ocular, levou ao
desenvolvimento deste trabalho. A avaliação comparativa da liberação de monômero
residual, porosidade superficial e absorção de água apresentadas por resinas
acrílicas processadas por diferentes ciclos de polimerização, deverá criar subsídios
para o estabelecimento de novas técnicas de processamento das resinas acrílicas
empregadas na confecção de prótese ocular.
15
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Prótese ocular
Estudando as próteses oculares confeccionadas com resina acrílica e
comparando-as com próteses oculares de vidro, Meissner (1960) relacionou as
vantagens das próteses em resina acrílica sobre as de vidro. Cita entre outras: a
maior resistência contra impactos sem fratura, uma superior adaptação e mobilidade,
permitem melhor individualização das próteses, grande facilidade em sua confecção
e maior estabilidade da superfície protética, lembrando que as próteses
confeccionadas em vidro são atacadas pelas secreções lacrimais.
Brown (1970) enumerou os requisitos necessários para uma prótese ocular
adequada citando a necessidade da duplicação da cor natural, do tamanho, da
convexidade e da posição, tendo como referência o globo ocular saudável. Enfatizou
as vantagens de uma prótese individual bem confeccionada sobre as próteses de
estoque, sendo elas, a boa mobilidade decorrente de uma melhor adaptação e a
possibilidade de obtenção de nuances de cores individuais, o que proporciona um
aspecto mais natural e adequado aos tecidos remanescentes.
Chalian, Drane e Standish (1972) relataram as vantagens das próteses de
resina acrílica sobre as de vidro, citando a facilidade do ensino dessa técnica aos
profissionais, a fragilidade das próteses confeccionadas em vidro e o efeito da
lágrima sobre a superfície dessas próteses que as torna ásperas, assim podendo
causar irritação aos tecidos da cavidade anoftálmica
16
Rode (1975) desenvolveu um processo de confecção de uma prótese ocular
mais leve, realizando uma avaliação de sua eficácia em relação à mobilidade, além
de averiguar uma possível permeabilidade e contaminação da mesma por fungos no
seu interior. As próteses oculares confeccionadas de acordo com a técnica proposta
pelo autor não apresentaram penetração de líquidos, nem mesmo em situações de
pressão forçada, bem como não apresentaram fungos em seu interior.
Em seu trabalho, Benson (1977) descreveu uma técnica de confecção de
prótese ocular utilizando a resina acrílica como material de eleição. Nesta técnica o
autor propôs a modelagem do padrão de cera fazendo adaptações manuais
diretamente na cera que envolvia uma esfera metálica levada à cavidade, em
substituição à técnica de moldagem prévia da cavidade anoftálmica. Enfatiza a
necessidade de um acabamento minucioso do padrão de cera e um polimento
esmerado.
A busca por processos mais rápidos e simples de confecção de uma prótese
ocular fez com que Rezende (1978) sugerisse a utilização de resina acrílica auto
polimerizável contendo cadeias cruzadas. Empregou a resina acrílica Orto Clas®,
para a confecção da esclera de uma prótese ocular, de modo a acelerar o processo
de confecção devido ao menor tempo para polimerização desta resina. Mesmo
utilizando resina acrílica termo polimerizável convencional para a confecção da
camada final, de modo a garantir uma baixa liberação de monômero residual, o
tempo total de confecção desta prótese foi menor do que aquele despendido no
processo convencional em que se utiliza resina acrílica termo polimerizável em toda
a prótese.
Carvalho (1979), preocupado com o fato do peso das próteses oculares
maiores pudesse provocar uma depressão gradativa das pálpebras inferiores e
17
conseqüentemente uma diminuição da mobilidade e da estética das próteses
oculares, desenvolveu um protocolo de confecção de prótese ocular oca. Este
protocolo possibilitou uma diminuição do peso total da prótese, sem entretanto
alterar as vantagens existentes nas próteses convencionais em resina acrílica.
Descrevendo os vários objetivos de uma prótese ocular e detalhando a
técnica por ele utilizada na confecção destas próteses, Oliveira (1982) insere a
resina acrílica na mufla, sob pressão, na fase borrachosa. Utiliza como processo de
polimerização um ciclo térmico onde a mufla é mantida à 75°C por 12 horas para
polimerização da prótese em resina acrílica.
Dias (1986) avaliou a liberação de monômero residual de três tipos de resina
acrílica incolor. Foram testadas a resina acrílica de auto polimerizável de cadeia
cruzada Orto Clas®, a resina acrílica auto polimerizável Jet® e a resina acrílica
termo polimerizável Clássico®. Após os testes comparativos, o autor não observou
diferença significante entre os grupos quanto ao monômero liberado.
Mattos (1987), em estudo sobre a prevalência das perdas ou atrofias do bulbo
ocular, realizado no Ambulatório da Disciplina de Prótese Buco Maxilo Facial da
FOUSP no período de janeiro de 1976 a dezembro de 1985, constatou 558 casos,
tendo observado que a faixa mais freqüentemente atingida foi a de 11 a 20 anos, a
etiologia traumática apresentou-se como a mais prevalente e as perdas oculares
incidiram mais no gênero masculino do que no feminino.
Dias (1994) avaliou a mobilidade da prótese ocular leve, confeccionada
conforme uma prótese ocular convencional mas contendo poliestireno expandido em
seu interior, comparando-a com prótese ocular convencional em um grupo de 20
pacientes. O autor não observou diferença significativa entre os grupos estudados.
Fountain, Goldberger e Murphree (1999) observaram o crescimento das
18
cavidades anoftálmicas de crianças submetidas à enucleação unilateral devido ao
tumor retinoblastoma. Todas as crianças do grupo de estudo receberam implantes
no momento da enucleação, com tamanho variando entre 15 e 19mm de diâmetro.
Foram registradas medidas lineares, tanto no lado operado como no lado são. A
comparação dos dados não apresentou diferença estatisticamente significante,
demonstrando que a instalação imediata de implantes de diâmetro adequado após a
enucleação possibilita um crescimento equilibrado da face destes pacientes.
O volume ideal de uma prótese ocular foi estudado por Kaltreider (2000) que
observou um valor médio de 2,2ml nos casos de próteses oculares confeccionadas
para pacientes que possuíam implantes oculares de diâmetros entre 14 e 22mm. A
ocorrência de ptose palpebral foi maior nos pacientes com próteses oculares de
maior volume. Segundo o autor, pacientes adultos submetidos à enucleação do
globo ocular não deveriam receber implantes de diâmetro menor que 20mm e
crianças deveriam receber o maior implante possível, diminuindo assim o volume
das próteses oculares.
Sá Lima, Alfenas e Claro (2002) apresentaram o caso clínico de um bebê de 4
meses com microftalmia congênita. O paciente recebeu uma prótese expansora
confeccionada em resina acrílica termo polimerizável, que foi reembasada a cada 7
dias durante 4 semanas. O objetivo desta expansão foi preparar a cavidade
anoftálmica para receber posteriormente uma prótese ocular adequada. Próteses
oculares foram então confeccionadas e substituídas periodicamente, de acordo com
o crescimento facial do paciente.
Coas, Neves e Rode (2005) apresentaram um levantamento de pacientes
assistidos em serviços oftalmológicos vinculados a duas universidades do estado de
São Paulo, portadores de perda ou atrofia do globo ocular. Os autores observaram
19
que dos 238 casos registrados, 57,14% corresponderam à etiologia traumática,
36,13% à patológica e apenas 5,04% eram de origem congênita. Relataram ainda
que 61,76% dos pacientes eram do gênero masculino, 42,01% tinham entre 21 e 40
anos e 66,38% dos casos correspondiam a enucleação.
O caso clínico apresentado por Chaudhry, Memon e Ahmad (2006) referia-se
a um paciente que utilizava prótese ocular há 50 anos e desenvolveu um carcinoma
espinocelular na cavidade anoftálmica, sido tratado com excisão cirúrgica e
radioterapia. Em função deste caso clínico os autores recomendaram um exame
regular dos cotos cirúrgicos e manutenção freqüente das próteses oculares, de
modo que possa ser eventualmente estabelecido um diagnóstico precoce destes
tumores.
Dezessete pacientes portadores de enucleação unilateral do globo ocular
foram estudados por Gaia et al. (2006). Por meio de exames radiológicos antero-
posteriores, realizados na posição de Waters-Waldron, foi estabelecido o diâmetro
de ambas as cavidades orbitárias. Os exames foram escaneados e analisados
empregando-se o software ImageLab 2000®. As cavidades orbitárias
correspondentes ao lado submetido à enucleação apresentaram-se 8,43% menores
do que aquelas do lado são, denotando uma assimetria óssea facial significativa.
Com o objetivo de caracterizar o perfil do paciente infantil atendido no setor
de Prótese Ocular do Ambulatório da Disciplina de Prótese Buco Maxilo Facial da
FOUSP durante o período de 1988 a 2003, Mattos et al. (2006) realizaram um
levantamento onde, num total de 124 crianças registradas, 64 (51,62%) delas
pertenciam à faixa etária de 0 a 7 anos e 60 (48,38%) à faixa de 8 a 13 anos, sendo
59 meninas e 65 meninos. Quanto à etiologia das perdas houve significativa
diferença segundo as faixas etárias consideradas, tendo sido observada uma
20
prevalência de distúrbios congênitos e patológicos entre 0 e 7 anos e de trauma
entre 8 e 13 anos, ocorrendo três vezes mais trauma em pacientes masculinos que
nos femininos para a faixa etária de 8 a 13 anos.
Kawabata (2006), avaliando a estabilidade de cor da esclera em prótese
ocular após ensaio de envelhecimento acelerado por exposição a raios UVA,
encontrou como resultado que o lápis aquarelável amarelo e vermelho e o pigmento
cerâmico vermelho apresentaram estabilidade de cor clinicamente aceitável. Entre
as duas cores básicas de resina acrílica termo polimerizável para esclera, a de cor
n°2 apresentou maior estabilidade de cor.
2.2 Materiais dentários
Skinner (1962) apresentou as principais características das resinas acrílicas
utilizadas em odontologia, com descrições minuciosas da física e da química das
reações de polimerização destas resinas. A formação de cadeias cruzadas nos
polímeros acrílicos é, pelo autor, definida como uma união química entre moléculas
lineares de polímeros formando uma rede tridimensional. O autor enfatizou a
importância do emprego da menor quantidade possível de monômero, apenas o
suficiente para molhar as partículas do polímero, pois assim obtém-se uma resina
acrílica com menor contração de polimerização e um menor tempo de trabalho.
Considerou ainda que devido ao fato da polimerização ser uma reação exotérmica, a
temperatura interna da resina acrílica no interior das muflas pode ultrapassar 100°C.
Ao ultrapassar esta temperatura o monômero do interior da massa plástica pode
21
entrar em ebulição, formando bolhas no interior da resina acrílica em regiões de
maior espessura. Já nas áreas mais finas a temperatura da resina acrílica consegue
se dissipar com maior facilidade, pois o gesso é melhor condutor térmico do que a
resina e dissipa esta energia para fora da massa plástica, evitando assim a formação
de bolhas superficiais na resina acrílica.
Em janeiro de 1976 entra em vigor a Especificação n°12 da ADA (1975) para
polímeros acrílicos. Nesta especificação foram estabelecidos os requisitos
necessários para uma resina acrílica ser considerada adequada à utilização como
material odontológico. Entre eles encontram-se relacionados: não apresentar bolhas
ou poros na superfície quando observada sem o auxilio de um instrumento de
ampliação de imagem, estabilidade de sua cor, ser passível de polimento e sorção
de água dentro de limites estabelecidos.
Kimura et al. (1983) realizaram estudos com o objetivo de aplicar as
microondas durante o desenvolvimento das fases de polimerização das resinas
acrílicas. Concluíram que a energia eletromagnética de um forno de microondas
acelerava consideravelmente o processo inicial de polimerização, demandando
menor tempo entre as fases arenosa, filamentosa e plástica, além de homogeneizar
melhor a massa acrílica. Observaram que o processo de polimerização em
microondas também era possível com próteses que possuíssem estrutura metálica,
não relatando fraturas ou alterações visíveis tanto nos dentes como na base das
próteses totais.
Kimura, Teraoka e Saito (1984) avaliaram comparativamente a adaptação das
próteses polimerizadas em ciclo térmico convencional e próteses polimerizadas em
microondas. Este estudo demonstrou que a adaptação das resinas acrílicas
polimerizadas em microondas foi melhor que aquela do grupo convencional.
22
Observando a propagação da energia sob a forma de temperatura nas muflas, os
autores constataram que no grupo controle, representado pelo ciclo térmico
convencional, a temperatura origina-se externamente e vai se propagando através
do gesso para o interior da mufla, apresentando uma diferença muito grande entre a
temperatura das bordas da mufla e a de seu interior. As muflas empregadas no ciclo
de polimerização em microondas apresentaram esta diferença de temperatura bem
menor e com propagação em sentido contrário, ou seja, iniciando no interior da
mufla e propagando-se para fora.
Estudando a adaptação de diferentes tipos de resina acrílica e processos de
polimerização, Takamata et al. (1989) constataram que a resina acrílica termo
polimerizável em ciclo de polimerização de uma hora em água apresentou o pior
resultado. Com resultados satisfatórios encontraram as resinas acrílicas com
polimerização ativada a partir da luz como fonte de energia, as resinas acrílicas para
ciclo térmico rápido de 20 minutos em água fervendo e a resina acrílica termo
polimerizável por microondas. Entretanto, as resinas acrílicas auto polimerizáveis e a
resina acrílica Acron MC® específica para microondas, apresentaram os melhores
resultados.
Sanders, Levin e Reitz (1991) compararam a adaptação da base de prótese
total confeccionada com três resinas acrílicas diferentes, duas para ciclo térmico
convencional e uma específica para microondas, submetendo-as aos seus
respectivos ciclos de polimerização. O resultado indicou uma pequena diferença
significante entre os grupos, sendo a adaptação da base proporcionada pelo método
de polimerização em água quente ligeiramente superior. Segundo os autores, não
foram observadas diferenças clínicas relevantes entre os tipos de resina acrílica
avaliados ou mesmo em função do método de polimerização utilizado.
23
Analisando a distorção das próteses conforme o ciclo de polimerização, Al-Hanbali,
Kelleway e Howlett (1991) compararam a resina acrílica Acron®, submetendo-a a
polimerização em ciclo térmico convencional e em aparelho de microondas e a
resina acrílica Acron Rapid® em ciclo térmico rápido. Após a polimerização inicial, os
corpos de prova foram reembasados e polimerizados conforme o mesmo processo
inicialmente empregado. As diferenças observadas nas distorções provocadas pelos
diferentes ciclos de polimerização foram significativas, sendo que o grupo de estudo
com a resina acrílica polimerizada por microondas apresentou a menor distorção
quando comparado aos outros dois grupos.
Dyer e Howlett (1994) estudaram a estabilidade dimensional de resinas
acrílicas, avaliando sete pontos de adaptação entre o corpo de prova e a base. O
grupo de estudo composto por resina acrílica polimerizável em água a 100°C por 22
minutos foi comparado ao grupo de resina acrílica processada em forno de
microondas por 3 minutos a 500W. A adaptação dos corpos de prova nas bases foi
similar para os dois grupos de estudo após a polimerização inicial prevista. Dando
continuidade ao trabalho foram executados reparos nos corpos de prova
empregando-se resina acrílica para microondas nos dois grupos de estudo. Neste
segundo teste encontraram diferença significativa nas condições pré e pós reparo
para os dois grupos, observando distorções entre a base e os corpos de prova em 5
dos 7 pontos analisados.
Rached e Del Bel Cury (2001) realizaram um estudo comparativo da força de
resistência à flexão empregando corpos de prova confeccionados em resina acrílica
convencional e corpos de prova confeccionados com este mesmo material,
seccionados e reparados com resina acrílica para microondas, variando os
tratamentos químicos na superfície das partes a serem unidas. Os autores
24
encontraram diferença na força de união de acordo com os distintos tratamentos de
superfície realizados. Observaram diferença entre os corpos de prova tratados e o
grupo controle de resina acrílica para microondas. Entretanto não foi constatada
diferença estatisticamente significante entre grupo constituído pela resina acrílica
convencional e os grupos do mesmo material reparados com resina acrílica
específica para microondas.
Silva et al. (2002) estudaram a influência de pigmentos intrínsecos e
filamentos na resistência à flexão de uma resina acrílica específica para microondas,
dividindo os corpos de prova em 5 grupos, sendo 4 deles contendo diferentes
materiais para caracterização da resina acrílica e um grupo controle sem
incorporação de filamentos ou pigmentos. Os autores não encontraram diferença
significante na resistência à flexão entre os grupos de estudo, bem como entre estes
e o grupo controle.
Rawls (2005) relatou as características da resina acrílica que permitiram seu
grande emprego e popularidade na área odontológica. Dentre os principais atributos
citados estão a compatibilidade biológica, as propriedades físicas e estéticas
adequadas, a estabilidade química, o baixo custo do material, bem como a
praticidade de seu processamento laboratorial.
Phoenix (2005) discorreu sobre as resinas acrílicas utilizadas para a
confecção de bases de prótese total, considerando a importância de uma proporção
apropriada de monômero e polímero para a obtenção de menor contração
volumétrica e linear e, conseqüentemente, de uma prótese bem adaptada. A
utilização de microondas como fonte de energia para a polimerização das resinas
acrílicas foi revista, evidenciando-se a vantagem de um tempo menor de
25
polimerização quando comparadas aos ciclos convencionais, sem haver
comprometimento das qualidades necessárias a uma prótese adequada.
2.3 Liberação de Monômero Residual, Absorção de Água e Porosidade
Superficial
Sugerindo ser a liberação do monômero residual a causa de reações
alérgicas, Smith e Bains (1956) procuraram determinar um método para avaliar
quantitativamente o monômero liberado pela resina acrílica das próteses
odontológicas. Segundo os autores o monômero residual pode ser detectado e
quantificado por meios físicos e químicos. Consideraram a halogenação pelo bromo,
obtido através de solução de 0,01N de brometo de potássio diluídos em ácido
acético a 50%, como o melhor método quantitativo, tendo o método em que se utiliza
raios ultravioleta apresentado a menor acuidade.
Lamb, Ellis e Priestley (1982) estudaram a liberação de monômero residual de
uma resina acrílica auto polimerizável, verificando esta liberação em água a cada 24
horas por meio de um espectrofotômetro com comprimento de onda ultravioleta de
210nm. Os autores observaram que a curva de liberação do monômero decresce até
se tornar praticamente estável a partir do 14° dia do experimento.
A necessidade de estudos mais aprofundados para se relacionar os materiais
odontológicos aos processos de hipersensibilidade foi enfatizada por Bastiaan
(1982), ao considerar que alguns produtos, como o monômero das resinas acrílicas,
podem sensibilizar o paciente causando reações como eczemas tanto em pele como
26
em mucosas. O autor alertou sobre o fato de que pelo menos 0.5% de monômero
residual pode ser liberado após a polimerização das resinas acrílicas. Acrescentou
que reações alérgicas podem ser desenvolvidas frente a outros produtos também
presentes nas resinas acrílicas, como a hidroquinona, o próprio polímero, o peróxido
de benzoíla e até mesmo os pigmentos utilizados.
Lamb, Ellis e Priestley (1983) estudaram a liberação de monômero residual
em função da variação de temperatura para polimerização das resinas acrílicas auto
polimerizáveis. Os resultados foram favoráveis ao método com temperatura inicial
em torno de 22°C e temperatura de 55°C para a finalização da polimerização,
produzindo uma resina acrílica com menor quantidade de monômero residual e
liberação mais rápida desta substância. No que diz respeito à proporção pó/líquido,
encontraram uma melhor qualidade de resina acrílica ao empregar uma relação
maior de pó/líquido. Os autores relataram que uma resina acrílica armazenada em
água, a uma temperatura com cerca de 50°C, libera o monômero residual em
aproximadamente 6 dias, enquanto que se armazenada a 37°C esta liberação
demanda aproximadamente 25 dias.
Verificar a porosidade das resinas acrílicas polimerizadas em microondas foi o
objeto de estudo de Reitz, Sanders e Levin (1985). Após alguns testes variando a
potência do aparelho de microondas, os autores ajustaram o tempo de exposição
até atingir um resultado em que as resinas acrílicas polimerizadas em microondas e
em ciclo térmico convencional, apresentassem qualidades similares. Os autores
observaram que as porosidades superficiais são menos freqüentes que as internas,
detectadas somente quando os corpos são abertos, mas que podem ser
minimizadas com a aplicação de uma potência de 90W ao invés de 400W e um
tempo de 6,5 min em lugar de 2,5 min.
27
De Clerck (1987) estudou a influência do volume de resina acrílica no tempo
de polimerização em microondas, partindo do princípio de que ao dobramos a
quantidade de alimentos no forno de microondas devemos aumentar em 80% o
tempo de cozimento. Os resultados observados não concordaram com esta
premissa, mostrando que quando aumentamos a quantidade de resina acrílica a ser
processada, não há necessidade de exceder 8 minutos, pois este período se torna
suficiente para uma adequada polimerização. As resinas acrílicas polimerizadas em
microondas e aquelas processadas em ciclo térmico convencional não apresentaram
diferenças significativas com relação às propriedades físicas testadas. A quantidade
de monômero residual liberada pela resina acrílica polimerizada em microondas
mostrou ser menor quando comparada àquela da resina acrílica convencional. O
autor explicou este fato como sendo decorrente de um tempo mais longo de
polimerização, o que pode ser facilmente regulado no aparelho de microondas.
Um estudo comparativo entre os processos de polimerização de resina
acrílica foi executado por Al Doori et al. (1988) onde testaram a porosidade, a
presença e liberação de monômero residual através de cromatografia e o peso
molecular das resinas acrílicas polimerizadas. O processo em microondas foi
eficiente na polimerização das resinas acrílicas. Os resultados encontrados
indicaram uma igualdade em relação ao peso molecular encontrado nos diferentes
processos de polimerização. Apesar de apresentarem um índice de conversão
satisfatório, os valores mínimos atingidos em ciclo de polimerização convencional
não foram alcançados com o processo por microondas. Observaram a ocorrência de
porosidade quando corpos de resina acrílica com mais de 3mm de espessura foram
polimerizados em microondas.
28
O trabalho comparativo de Levin, Sanders e Reitz (1989) avaliou a dureza, a
porosidade e resistência à flexão de diferentes resinas acrílicas. O resultado
encontrado para o grupo de estudo constituído por resina acrílica para microondas,
com corpos de prova com dimensões de 25x12x2,5mm não apresentou diferença
significativa quando comparado ao grupo controle confeccionado com resina acrílica
termo polimerizável. Em um segundo teste, em que foram empregados corpos de
prova mais espessos (3x1x1cm), os autores observaram resultado diferente, sendo
necessário ajustar a potência e o tempo de polimerização para atingir resultados
similares entre os grupos.
Comparando três tipos de resina acrílica, sendo duas delas especificas para
microondas e uma para ciclo térmico convencional, Alkhatib et al. (1990) estudaram
a porosidade, dureza e resistência a flexão em diferentes ciclos de polimerização e
corpos de prova com diferentes espessuras de resina acrílica. A resina acrílica
polimerizada em ciclo térmico convencional não apresentou porosidade em
nenhuma das espessuras estudadas, assim como a resina acrílica processada em
microondas. A resina acrílica convencional polimerizada em ciclo de microondas
apresentava porosidade a partir de 3mm de espessura. O ciclo de baixa potência e
alto tempo de polimerização conferiu à resina acrílica convencional porosidade
aceitável até a espessura de 9mm.
Estudando 23 tipos e marcas comerciais distintas de resinas acrílicas,
Harrison e Huggett (1992) testaram diferentes ciclos de polimerização utilizando
calor seco ou calor úmido, avaliando a liberação de monômero residual de cada
grupo. Os melhores resultados foram encontrados ao ser utilizado o ciclo longo de
polimerização com 7 horas a 70°C e 1hora a 100°C, tendo as 23 resinas acrílicas
apresentado pouca variação entre elas. Os autores relataram que os ciclos curtos de
29
polimerização não são adequados, pois aumentaram significativamente, segundo a
análise através de cromatografia gasosa, a quantidade de monômero residual
liberado após a polimerização.
Ilbay, Güvener e Alkumru (1994) estudaram uma resina acrílica convencional
variando os ciclos de polimerização em microondas a que ela foi submetida.
Analisaram as propriedades de dureza, resistência a flexão, solubilidade e absorção
de água. Valores mais adequados foram encontrados quando o processo de
polimerização era desenvolvido por um tempo de 3 min e a uma potência de 550W,
resultados estes condizentes com a especificação da American Dental Association.
As resinas acrílicas auto polimerizáveis de ligação cruzada foram testadas por
Arima, Murata e Hamada (1995) quanto às características de resistência à flexão,
módulo de elasticidade, absorção de água. Estas resinas foram comparadas a
outras resinas acrílicas auto polimerizáveis sem ligação cruzada, igualmente
utilizadas para reembasamento, e a um grupo controle composto por resina acrílica
convencional. O grupo de estudo contendo resina acrílica auto polimerizável com
ligação cruzada apresentou maiores valores nos testes de resistência à flexão e
módulo de elasticidade, além de uma menor absorção de água.
Kanerva, Jolanki e Estlander (1997) citam que o exame utilizado para avaliar
a hipersensibilidade aos metacrilatos, acrilatos e epóxi-acrilatos baseia-se em testes
de contato realizados pela aplicação de adesivos contendo 30 substâncias
potencialmente alergênicas. Em levantamento dos resultados deste teste realizados
de 1985 a 1995, observaram que o metil-metacrilato situava-se em 8° lugar na
relação de substâncias comumente associadas à reações de sensibilidade,
representando 7,4% de todas as reações de sensibilidade observadas no período.
Verran e Maryan (1997) estudaram a diferença da adesão de C. albicans em
30
diferentes superfícies, com o intuito de comparar a retenção destes microorganismos
em superfícies lisas e rugosas de resina acrílica e silicone. Seus resultados não
apresentaram uma diferença significativa na colonização por C. albicans das
superfícies lisas de resina acrílica e de silicone. Entretanto encontraram valores
significantemente maiores na colonização da superfície rugosa da resina acrílica
quando comparada aos materiais com superfície lisa. Segundo os autores, é
conhecido o fato das rugosidades serem um fator de retenção de microorganismos
nas superfícies, por protegerem os mesmos da ação mecânica para a limpeza desta
superfície.
Estudando a aderência in vitro de C. albicans às superfícies de materiais
convencionais utilizados para base de próteses totais e materiais do tipo resiliente,
Radford et al. (1998) observaram que independentemente do material utilizado, a
adesão destes microorganismos se mostrava maior em superfícies rugosas do que
em superfícies lisas.
Radford, Challacombe e Walter (1999) apresentaram um levantamento sobre
a relação entre a rugosidade na superfície de próteses totais e a adesão in vivo e in
vitro de C. albicans e de placa bacteriana. Relataram que a superfície rugosa
facilitou, in vivo, o desenvolvimento de placa bacteriana, justificando que uma
superfície rugosa disponibiliza uma área maior de contato e um meio mais abrigado
para esta placa bacteriana, dificultando a remoção destes microorganismos. Os
autores consideraram que são necessários mais estudos in vitro para avaliar as
variáveis individuais quanto à aderência destes microrganismos.
Em um estudo comparativo, Blagojevic e Murphy (1999) avaliaram o
monômero residual liberado pelas resinas acrílicas, comparando diferentes marcas
comerciais e os ciclos de polimerização a que estas foram submetidas. Os autores
31
comentam que as resinas acrílicas termo polimerizáveis convencionais são
comumente escolhidas como grupo controle nestes estudos. Relataram que as
resinas acrílicas termo polimerizáveis convencionais e as resinas acrílicas
específicas para microondas apresentaram o dobro de monômero residual nos
grupos polimerizados em microondas quando comparados aos grupos polimerizados
pelo ciclo térmico convencional e que a liberação de monômero residual foi
significativamente reduzida quando se aplicou microondas em resinas acrílicas auto
polimerizáveis.
Afirmando que um baixo grau de conversão de monômero para polímero nas
resinas acrílicas pode influenciar as propriedades físicas e a biocompatibilidade das
próteses, Bartoloni et al. (2000) estudaram 3 resinas acrílicas formuladas para serem
empregadas em diferentes ciclos de polimerização. Os resultados foram muito
similares entre a resina acrílica específica para microondas e a resina acrílica
convencional. Embora a resina acrílica termo polimerizável de rápida polimerização
em água fervente tenha apresentado valores de conversão ligeiramente menores do
que as duas resinas anteriormente citadas, os autores consideram improvável que a
maior quantidade de monômero residual presente pudesse clinicamente
desencadear irritações ou efeitos alérgicos na mucosa.
Comparando as resinas acrílicas Acron MC® e Onda Cryl®, ambas
específicas para polimerização em microondas, Del Bel Cury, Rached e Ganzarolli
(2001) comentaram o fato da resina Onda Cryl® ter uma relação pó/líquido maior
que a resina AcronMC® e ter um processo de polimerização com menor energia
inicial. Estes aspectos, segundo os autores podem ter sido responsáveis pela menor
liberação de monômero residual observada na resina Onda Cryl®.
32
Comparando a resina acrílica convencional Paladon® e a resina acrílica
específica para microondas Acron MC®, Yannikakis et al. (2002) analisaram os
efeitos da polimerização em microondas sobre a porosidade destas resinas. O grupo
controle, formado pela resina Paladon® polimerizada por ciclo térmico em água, não
apresentou nenhum poro, independente de sua espessura ou superfície analisada.
Os autores demonstraram que a variação no ciclo de polimerização não alterou a
porosidade. Os fatores que alteraram significativamente a porosidade foram o tipo de
resina acrílica e a espessura dos corpos de prova. A porosidade encontrada nos
corpos de prova confeccionados com resina Acron MC® foi extremamente baixa. Os
piores resultados foram obtidos no grupo de estudo confeccionado com resina
Paladon® e polimerizado em microondas.
Oliveira et al. (2003) estudaram a influência da posição das muflas e o
número de muflas polimerizadas ao mesmo tempo na quantidade de monômero
residual e na porosidade da resina acrílica polimerizada em microondas. Os autores
não encontraram diferença significativa entre os grupos de estudo para o teste de
porosidade, desenvolvido por meio da contagem do número de poros. Segundo os
autores, a quantidade de monômero residual foi afetada pelo posicionamento das
muflas no interior do aparelho de microondas.
A liberação de monômero residual de uma resina acrílica específica para
microondas foi estudada por Azzarri, Cortizo e Alessandrini (2003), analisando os
efeitos da variação da potência e do tempo de polimerização nesta liberação.
Utilizaram o comprimento de onda de 254nm em espectrofotômetro para
determinação dos valores de liberação de monômero residual, tendo observado que
esta liberação variou conforme a potência empregada e principalmente de acordo
com o tempo de exposição no ciclo de polimerização.
33
Alterando o ciclo de polimerização da resina acrílica Onda Cryl®, Vasconcelos
et al. (2003) diminuíram o tempo total de polimerização indicado pelo fabricante,
eliminando um período de pausa. As propriedades analisadas foram a resistência à
flexão, a microdureza superficial e a porosidade. Os valores encontrados, quando
comparados com o grupo controle polimerizado pela técnica recomendada pelos
fabricantes, apresentaram resistência à flexão e microdureza superficial
semelhantes. Quanto à porosidade, o grupo de estudo apresentou valores menores
que o grupo controle. Os autores concluíram que o ciclo alternativo por eles sugerido
permitiu uma polimerização com a mesma qualidade do ciclo indicado pelo
fabricante.
Botega et al. (2004) estudaram a variação do tempo de polimerização em
função do número de muflas utilizadas simultaneamente em um forno de microondas
para uma polimerização padrão da resina acrílica específica para microondas
AcronMC®. Os parâmetros utilizados para a comparação foram o monômero
residual liberado em água, a dureza Knoop e a porosidade dos corpos de prova.
Segundo os autores, a polimerização no mesmo tempo experimental de mais de
uma mufla no forno é possível desde que seja compensado o tempo de exposição
das muflas às microondas, alterando assim o tempo total de polimerização.
Encontraram para os grupos de estudo submetidos com 450 W de potência, os
seguintes valores: uma mufla: 3min; duas muflas: 4,5 min; quatro muflas: 8,5 min;
seis muflas: 13 min. Os autores não observaram diferença no número de poros por
área analisada, independente da quantidade de muflas durante a polimerização.
Utilizando uma resina acrílica convencional, Lai et al. (2004) compararam a
influência dos níveis de energia utilizados na polimerização em microondas. O grupo
controle com resina acrílica Optilon-399® foi processado em ciclo térmico
34
convencional e nos grupos de estudo foram alterados tanto a potência como o
tempo de exposição. Os autores consideraram que a polimerização em microondas
é eficiente, mas que as variações entre a potência e o tempo de polimerização
influenciaram consideravelmente as propriedades das resinas acrílicas. A presença
de porosidade nas resinas acrílicas polimerizadas em microondas é diretamente
proporcional ao nível de energia utilizado, sendo necessário ajustá-lo com o objetivo
de diminuir a níveis mínimos a porosidade das resinas acrílicas polimerizadas por
este método.
A Resina acrílica Onda Cryl®, específica para microondas foi estudada por
Compagnoni et al. (2004), para avaliar se os distintos ciclos de polimerização
afetariam a porosidade dos corpos de prova. Um grupo controle foi formado pela
resina acrílica termo polimerizável Clássico®. Os poros foram calculados pela
diferença de peso entre os corpos de prova secos e hidratados, não tendo sido
encontrada diferença significante entre os grupos estudados.
Quatro materiais hipoalergênicos para base de prótese total foram estudados
por Pfeiffer e Rosenbauer (2004) e comparados com um grupo controle composto
por uma resina acrílica convencional. Os autores avaliaram a liberação de
monômero residual, absorção e solubilidade em água de cada grupo de estudo. Nos
testes de absorção e solubilidade, todos os grupos de estudo apresentaram valores
semelhantes entre si. Quanto à liberação de monômero residual, todos os grupos de
estudo apresentaram valores menores que o grupo controle, sendo que dois deles,
Microbase® e Promysan®, não apresentaram nenhuma liberação de monômero
residual.
Bayraktar et al. (2006) estudaram a influência dos processos de polimerização
e do tempo de estoque das próteses dentárias na liberação de monômero residual.
35
Três tipos de resinas acrílicas distintas e os ciclos de polimerização térmico, em
microondas e auto polimerizável foram utilizados nestes grupos de estudo. O tempo
de estoque em água após a polimerização também foi objeto de estudo. Formados
seis grupos de estudo, as soluções resultantes da liberação de monômero residual
foram submetidas à leitura em espectrofotômetro, utilizando–se um comprimento de
onda de 220nm. 0s autores observaram que o melhor resultado foi apresentado pela
resina acrílica convencional após um dia de estocagem em água. Para a resina
acrílica auto polimerizável, a imersão em água a 60°C durante a polimerização e a
permanência por 1 dia em água à temperatura ambiente foi o mais indicado para a
liberação total do monômero residual. Acrescentaram que, a resina acrílica
específica de microondas atingiu o nível mais baixo de liberação de monômero
residual após 1 mês em água.
A adaptação interna, porosidade, dureza, resistência ao impacto e à flexão
das resinas utilizadas para base de prótese total foram avaliadas por Ganzarolli et al.
(2007). Três tipos de resinas, uma termo polimerizável convencional, uma específica
para microondas e uma resina injetável foram estudadas. A resina injetável
apresentou a melhor adaptação interna, principalmente após 30 dias, com
porosidade, resistência a flexão e resistência ao impacto semelhantes aos outros
dois grupos estudados. O grupo de estudo formado pela resina acrílica convencional
apresentou a menor porosidade e também a menor resistência à flexão e ao
impacto. Segundo os autores, estes dados não concordam com a afirmação de que
a porosidade e a resistência à flexão e ao impacto são inversamente proporcionais.
36
3 PROPOSIÇÃO
Este estudo se propõe a avaliar a resina acrílica termo polimerizável
convencional, termo polimerizável para microondas e auto polimerizável com ligação
cruzada, submetendo-as a diferentes ciclos de polimerização para observação das
seguintes propriedades:
liberação de monômero residual
absorção de água
porosidade superficial
37
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Material
4.1.1 Corpos de Prova
Aparelho de microondas - Sanyo - modelo EM-904 TGR
Aparelho de ultrassom T14 – Thornton Inpec Eletrônica S/A
Broca Tungstênio PM 1509 – Edenta fabricante de instrumentos
rotatórios odontológicos
Espátula metálica n°36 - Duflex/SSWhite do Brasil
Gesso pedra especial tipo IV na cor salmão - Durone®
Gral de borracha e espátula para gesso
Isolante para resinas Isolacril – Asfer Indústria Química Ltda.
Lixas d’água modelo T223 - abrasivo óxido de alumínio, granulações
240, 400 e 600 - Norton Abrasivos– grupo Saint-Gobain Ltda.
Máquina de bancada para Lixamento e Polimento – Struers S/A
Micro-motor e peça-reta – Kavo do Brasil Ind. e Com. Ltda.
Mufla total em latão sem parafusos nº6 – Translux – Uraby Artigos
Odontológicos
Mufla plástica para microondas – OndaCryl - Artigos Odontológicos
Clássico Ltda.
38
Padrão em metal latão - 25mm de diâmetro por 4mm de altura
Pedra montada branca n°5 – Jon Comércio de Produtos Odontológicos
Ltda.
Pincel número 3 - Tigre®
Polimerizadora automática – Riguetto & Cia Ltda.
Pote de vidro para manipulação de resina acrílica
Placa Getom para polimerização – Techno Máquinas Indústria e
Comércio Ltda.
Prensa de bancada Prensa Forte® – Promeco Ind. Eletro Ind. Eletro
Mecânica Ltda.
Prensa Hidráulica VH – 4 ton. – Midas Dental Prod. Ltda.
Resina acrílica auto polimerizável com ligação cruzada Orto Clas® -
Artigos Odontológicos Clássico Ltda.
Resina acrílica termo polimerizável Clássico® – cor n°1 para esclera -
Artigos Odontológicos Clássico Ltda.
Resina acrílica termo polimerizável em microondas Onda Cryl® – cor
n°1 para esclera - Artigos Odontológicos Clássico Ltda.
Vaselina filtrada neutra – Sidepal Industrial e Comercial Ltda.
4.1.2 Liberação de Monômero Residual
Água destilada
39
Cubeta de 1ml em cristal para espectrofotômetro
Estufa de secagem e esterilização – Fanem Ltda.
Espectrofotômetro – DU-800 - Beckman Coulter Inc.
Filme plástico de PVC – Rolopack – MKM Filmes Flexíveis e
Embalagens
Filtro Milli-Q - água deionizada - Millipore Indústria e Comércio Ltda.
Frasco de 17ml em vidro âmbar
Frasco Becker de 250ml
Frasco Eppendorff de 2ml
Pinça n°317 – Duflex/SSWhite do Brasil
Pipeta de 5ml em vidro
Pipeta de 10ml em vidro
4.1.3 Absorção de Água
Água destilada
Balança de precisão – modelo Adventurer – Ohaus S/A
Dissecador de vidro – Labcamp Comércio de Artigos Odontológicos
Estufa de secagem e esterilização – Fanem Ltda.
Frasco Becker de 250ml
Pinça n°317 – Duflex/SSWhite do Brasil
Sílicagel azul (1/4mm) P.A. - Synth – Labsynth Produtos para
Laboratório Ltda.
40
Toalha de papel absorvente – Snob/Santher – Fábrica de Papel Santa
Therezinha S/A
4.1.4 Porosidade Superficial
Agitador de mesa Kline - Nova Ética
Câmera digital – Hyperhad color vídeo camera – Sony Brasil Ltda.
Computador Pavilion 7360 - Intel Pentium – Hewlett-Packard
Development Company
Frasco Becker de 250ml
Lupa Estereoscópica Citoval 2 – Carl Zeiss / Jena
Pinça n°317 – Duflex/SSWhite do Brasil
Software IMAGELAB 2000®
Solução de Violeta Genciana a 1% - marca Laborclin®
Toalha de papel absorvente – Snob/Santher – Fábrica de Papel Santa
Therezinha S/A
41
4.2 Métodos
Para produzir os corpos de prova nas dimensões previamente definidas,
foram confeccionados padrões em latão que fornecessem corpos de prova
padronizados com o volume de 6cm³ e dimensões de 25mm de diâmetro por 4mm
de espessura, biselados nas bordas de modo a facilitar o processo de demuflagem.
Foram confeccionadas 5 unidades destes padrões em latão, de modo a
serem incluídos nas 3 muflas referentes a cada grupo, quer fossem elas plásticas ou
metálicas. Desta forma obteve-se um conjunto de 15 elementos para cada grupo de
estudo.
No delineamento deste trabalho, foram estabelecidos os seguintes grupos de
estudo:
Grupo 1: resina acrílica termo polimerizável convencional, polimerizada em
ciclo térmico em água.
Grupo 2: resina acrílica termo polimerizável por microondas, polimerizada por
microondas.
Grupo 3: resina acrílica termo polimerizável convencional, polimerizada por
microondas.
Grupo 4: resina acrílica auto polimerizável com ligação cruzada, auto
polimerizada à temperatura ambiente.
42
4.2.1 Corpos de prova
A inclusão dos padrões metálicos com 25mm de diâmetro e 4mm de
espessura e 6cm³ nas muflas metálicas e plásticas seguiu a metodologia utilizada
por Kawabata (2006).
Os cinco padrões em latão foram dispostos sobre uma placa de vidro, após
serem devidamente vaselinados para facilitar a remoção na demuflagem, deixando a
base do corpo de prova em formato tronco-cônico apoiada na placa. A contra-mufla,
também vaselinada, foi colocada sobre a placa, sendo o gesso pedra especial, já
espatulado conforme as indicações do fabricante, vertido sobre os padrões e a
tampa da contra-mufla posicionada sobre este conjunto. Após a presa final, o gesso
foi isolado para que então, a base da mufla fosse preenchida com mais uma porção
de gesso. Fechada, a mufla foi levada a uma prensa de bancada e comprimida até
que as suas partes se encontrassem, assim permanecendo até o final da
cristalização. Esta seqüência técnica foi repetida para cada uma das três muflas de
cada grupo, quer fosse ela plástica ou metálica. As muflas metálicas foram utilizadas
para a acrilização da resina dos Grupos 1 e 4, enquanto que as muflas plásticas
foram utilizadas nos Grupos 2 e 3.
A resina acrílica do Grupo 1 foi proporcionada e manipulada segundo as
instruções do fabricante, utilizando um pote de vidro, 14ml de monômero e 42ml de
polímero, mantendo-se assim uma proporção pó/líquido de 3/1 em volume.
A mistura foi homogeneizada com a utilização de uma espátula metálica n°36,
aguardando-se até que a resina se encontrasse na fase pegajosa, de acordo com
Kawabata (2006), de modo a que fosse possível vertê-la nas muflas, previamente
43
isoladas. A opção por vertê-la nesta fase e não na fase plástica comumente indicada
se deu pelo fato da fase pegajosa favorecer o escoamento do material, diminuindo
assim a possibilidade de incorporação de bolhas durante a prensagem. As muflas
foram deixadas sobre a bancada de trabalho aguardando para que o ciclo de
polimerização atingisse a fase plástica, adequada para a prensagem. Levadas à
prensa hidráulica, as muflas foram submetidas a uma força de 1,25 toneladas, com o
objetivo de eliminar as possíveis bolhas causadas por um inadequado escoamento
do material. Após a remoção da prensa hidráulica, as muflas metálicas foram
colocadas em placas Getom, deixadas repousar por 10 minutos, mantendo-se a
pressão sobre as muflas durante todo o ciclo de polimerização.
Foi utilizado o ciclo de polimerização descrito por Skinner (1962), onde se
eleva a temperatura da água da polimerizadora até 74ºC, mantendo-a nesta
temperatura por 120 minutos. Após este período, elevou-se a temperatura da água à
100ºC, assim permanecendo por mais 60 minutos para a finalização do ciclo. Após o
término, as muflas foram retiradas da polimerizadora e deixadas sobre a bancada
por 30 minutos à temperatura ambiente, para então serem submersas em água por
15 minutos.
Os corpos de prova do Grupo 2 foram confeccionados com a resina acrílica
especifica para microondas e de acordo com a seqüência técnica descrita para o
Grupo 1, variando apenas no que diz respeito ao ciclo de polimerização e à
utilização de muflas plásticas, já que neste grupo a resina foi processada em
aparelho de microondas. O ciclo de polimerização em aparelho de microondas com
800W de potência máxima, consistiu em aquecer uma mufla por vez, durante 3
minutos empregando-se 40% da potência máxima do aparelho (320 W), deixar
descasar por 4 minutos, para depois finalizar a polimerização com mais 3 minutos a
44
90% da potência máxima (720 W). Após a polimerização, as muflas esfriaram a
temperatura ambiente por 30 minutos, acrescidos de mais 15 minutos em água.
Os corpos de prova do Grupo 3 foram confeccionados com resina acrílica
termo polimerizável convencional, manipulada conforme a técnica acima descrita,
incluídos em muflas plásticas, sendo submetidos ao mesmo ciclo de polimerização
em microondas descrito para o Grupo 2.
Os corpos de prova do Grupo 4 foram confeccionados com resina acrílica
auto polimerizável com ligação cruzada, mantendo-se o processo de manipulação e
a etapa de inclusão acima descritos. O Grupo 4 diferiu entretanto na proporção de
monômero e polímero utilizados, já que o fabricante preconiza uma relação
pó/líquido de 2,5/1 em volume, não sendo submetidas a qualquer fonte de calor
externo. Após o processo de prensagem, as muflas aguardaram por 20 minutos sob
pressão para finalizar a polimerização química.
Após a demuflagem, os corpos de prova foram submetidos ao processo de
acabamento e polimento com a utilização de um micro-motor e peça reta em baixa
rotação, sendo removidos os excessos e rebarbas com uma broca de Tungstênio
PM 1509 e realizado o acabamento com pedra montada branca. O polimento foi
executado em uma politriz horizontal, a uma velocidade de 250 rpm, utilizando
subseqüentemente as lixas d’água com a granulometria de 320, 400 e 600, sob
irrigação constante e lavagem com água entre as diferentes lixas empregadas. Ao
final do processo, os corpos de prova passaram por uma limpeza complementar
utilizando um aparelho de ultra-som, imersos em água destilada por 2 minutos. A
partir desta etapa, todas as manipulações dos corpos de prova foram executadas
utilizando uma pinça clínica, a fim de evitar a contaminação com resíduos
provenientes da pele do operador.
45
Figura 4.1 – Corpos de prova com medidas padronizadas e acabamento final
4.2.2 Liberação de Monômero Residual
Os corpos de prova de cada grupo de estudo foram colocados em frascos de
vidro âmbar. Os frascos foram preenchidos com 10 ml de água deionizada
utilizando-se uma pipeta de 10ml, e vedados com filme plástico de PVC para evitar a
evaporação do monômero residual liberado na água. Os frascos foram mantidos em
estufa à temperatura de 37ºC. A cada 24 horas, foi coletada uma amostra de 2ml
utilizando-se uma pipeta de 5 ml, desprezando-se a solução restante. Após serem
lavados por 1 segundo com água destilada, os corpos foram recolocados nos
frascos âmbar, acrescentando-se 10 ml de água deionizada e levados novamente à
estufa. Este procedimento se repetiu por 11 dias para os 15 corpos de prova de
cada grupo, sendo que soluções coletadas foram armazenadas em frascos tipo
Eppendorff de 2ml para posterior análise.
46
O aparelho espectrofotômetro foi calibrado com diluição conhecida de
monômero na faixa de raios ultravioleta, com o comprimento de onda de 206nm,
dentro do patamar de 200 a 216nm, considerado o mais adequado por Oliveira
(2003) (Anexos A,B e C). Uma curva de diluição padrão foi estabelecida para
posteriormente comparar os valores obtidos pelo espectrofotômetro e obter a
diluição correta das soluções resultantes da liberação de monômero em cada frasco.
Com o espectrofotômetro já calibrado e a curva de diluição obtida, as soluções
estocadas nos frascos tipo Eppendorff foram transferidas para cubetas de cristal e
levadas ao espectrofotômetro para a leitura da concentração de monômero. O teste
referente à liberação de monômero residual em água, realizado no aparelho de
espectrofotometria, forneceu dados em números absolutos, o que possibilitou o
desenvolvimento de um gráfico (Anexo D).
Figura 4.2 - Gráfico da diluição padrão
A análise deste gráfico, obtido a partir de soluções previamente definidas com
diferentes concentrações de monômero acrílico diluído em água, permitiu o
desenvolvimento da seguinte fórmula:
47
y = 0,027x - 0,441
R² = 0,999
Nesta fórmula os dados fornecidos pelo espectrofotômetro foram convertidos
em microlitros (µl) de monômero em litro (l) de solução aquosa, onde x é o valor
fornecido pelo espectrofotômetro e y o valor de diluição. A razão desta reta (R²) é o
valor 0,999 acima relacionado, nos conferindo uma confiabilidade muito próxima dos
100%.
Figura 4.3 – Coleta da solução e análise do monômero residual em spectrofotômetro
4.2.3 Absorção de Água
Na seqüência experimental, os mesmos corpos de prova foram utilizados para
avaliar a absorção de água. Neste teste os corpos de prova foram posicionados
48
sobre papel absorvente dentro de um dissecador contendo sílica gel para remoção
da umidade local. Após o processo de desidratação, por um período de 24 horas em
estufa a 37ºC, os corpos de prova foram removidos do dissecador e pesados em
uma balança de precisão. Uma vez obtidos estes dados, os corpos de prova de cada
grupo de estudo foram submersos em água deionizada dentro de frascos Becker,
sendo estes mantidos em estufa à 37ºC por um período de 7 dias. Retirados da
imersão e secos levemente em papel absorvente, com o intuito de remover a água
superficial, os corpos de prova foram pesados novamente na mesma balança de
precisão. Desta forma a absorção de água foi estabelecida pela diferença de peso
em gramas dos corpos de prova nas condições experimentais seco e hidratado.
Figura 4.4 – Dissecador em estufa a 37°C e pesagem para averiguar a absorção de água
49
4.2.4 Porosidade Superficial
Para a avaliação da porosidade superficial, os corpos de prova de cada grupo
de estudo foram submersos em solução de violeta genciana a 1% dentro de frascos
Becker e mantidos por um período de 30 minutos sobre um agitador de mesa. A
submersão em violeta genciana teve por objetivo pigmentar os microporos
superficiais. Retirados da solução, lavados em água destilada corrente por 1
segundo e secos em papel absorvente, os corpos de prova foram levados à lupa
estereoscópica. Neste equipamento, que proporciona um aumento de 20 vezes,
foram capturadas as imagens de cinco áreas em cada corpo de prova.
Figura 4.5 – Áreas observadas para análise da porosidade superficial
50
Uma câmera digital embutida na lupa estereoscópica enviou as imagens para
um computador, de modo a serem processadas pelo software ImageLab 2000®. Os
poros foram evidenciados na imagem captada sob a forma de pontos arroxeados,
em contraste com o material de coloração branca das resinas acrílicas para esclera.
O Grupo 4, confeccionado com resina acrílica auto polimerizável com ligação
cruzada não foi submetido a esta análise, uma vez que sendo incolor, a ausência de
contraste não possibilitaria a captação da imagem pelo software ImageLab 2000®.
Figura 4.6 – Imagem captada pela câmera digital embutida na lupa estereoscópica
O software processou as imagens captadas, gerando uma análise percentual
das áreas escuras correspondentes aos poros pigmentados pela violeta genciana
em relação às áreas claras.
51
Figura 4.7 – Tela de apresentação do software ImageLab 2000
Os dados coletados nos testes de liberação de monômero residual, absorção
de água e porosidade superficial foram tabulados e submetidos à análise estatística
ANOVA/TUKEY (p0,05).
52
5 RESULTADOS
Os resultados obtidos neste trabalho experimental são apresentados de
acordo com os testes desenvolvidos. Para melhor entendimento, reafirma-se
inicialmente a composição dos grupos experimentais:
Grupo 1: Resina acrílica termo polimerizável convencional / ciclo térmico em água;
Grupo 2: Resina acrílica termo polimerizável para microondas / ciclo térmico em
aparelho de microondas;
Grupo 3: Resina acrílica termo polimerizável convencional / ciclo térmico em
aparelho de microondas;
Grupo 4: Resina acrílica auto polimerizável com ligação cruzada / auto polimerização
à temperatura ambiente.
5.1 Liberação de monômero residual
Os resultados relativos ao teste de liberação de monômero residual são
apresentados na Tabela 5.1, de acordo com o período experimental previsto.
53
Tabela 5.1 – Média e desvio padrão da liberação de monômero residual em µl/l
Dia
Grupo 1 2 3 4 6 8 9 10 11
1
42,40
(+/- 2,95)
23,98
(+/- 1,62)
22,28
(+/- 1,21)
22,88
(+/- 1,40)
23,56
(+/- 1,82)
23,95
(+/- 1,63)
24,42
(+/- 1,66)
23,37
(+/- 1,51)
22,81
(+/- 1,30)
2
16,61
(+/- 0,55)
16,50
(+/- 0,19)
16,64
(+/- 0,18)
17,53
(+/- 2,01)
20,00
(+/- 1,98)
18,85
(+/- 1,39)
18,47
(+/- 0,95)
18,42
(+/- 0,61)
19,54
(+/- 3,04)
3
33,29
(+/- 1,49)
34,30
(+/- 9,55)
32,48
(+/- 1,07)
24,37
(+/- 8,77)
28,68
(+/- 2,01)
25,51
(+/- 1,75)
19,74
(+/- 0,69)
21,56
(+/- 2,82)
21,12
(+/- 2,29)
4
123,89
(+/-2,71)
72,60
(+/- 7,70)
55,03
(+/- 8,47)
47,58
(+/- 6,24)
45,44
(+/- 3,75)
26,08
(+/- 2,04)
23,84
(+/- 4,59)
21,13
(+/- 2,13)
22,19
(+/- 2,37)
O Grupo 1 apresentou maior liberação de monômero residual nas primeiras
24 horas. Após este período, houve uma queda de aproximadamente 45% na
quantidade de monômero residual liberado, mantendo-se neste patamar até o final
do experimento.
O Grupo 2 foi o grupo que liberou a menor quantidade de monômero residual
nas primeiras 24 horas. Esta liberação manteve-se abaixo de 20µl/l por todo o
período experimental.
O Grupo 3 demonstrou, nas primeiras 24 horas, menor liberação de
monômero residual do que o Grupo 1, mas duas vezes superior àquela do Grupo 2
para este mesmo período.
O Grupo 4 apresentou uma liberação de monômero residual superior nas
primeiras 24 horas, tendo liberado cerca de três vezes mais monômero residual que
o Grupo 1 e o Grupo 3 e sete vezes mais que o Grupo 2. Observou-se que a
diminuição na quantidade de monômero liberado foi acentuada até o dia 3,
mantendo-se em declínio por praticamente todo experimento. Após o dia 8 os
valores observados aproximaram-se daqueles apresentados pelos outros três
grupos.
54
A Figura 5.1 proporciona uma visão comparativa da liberação de monômero
residual.
Figura 5.1- Liberação de monômero residual
Os resultados da análise estatística ANOVA/TUKEY (p0,05) a que foram
submetidos os dados observados nos diferentes grupos ao longo do período
experimental são aqui apresentados individualmente para cada grupo e
comparativamente entre os grupos.
A Tabela 5.2 demonstra que para Grupo 1 ocorreu uma diferença
estatisticamente significante apenas entre o dia 1 e os demais dias do período
experimental.
55
Tabela 5.2 - Análise estatística ANOVA/TUKEY - Liberação de monômero residual – Grupo 1
Dia
Dia 1 2 3 4 6 8 9 10 11
1 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001*
2 0,0001* 1 1 1 1 1 1 1
3 0,0001* 1 1 1 1 1 1 1
4 0,0001* 1 1 1 1 1 1 1
6 0,0001* 1 1 1 1 1 1 1
8 0,0001* 1 1 1 1 1 1 1
9 0,0001* 1 1 1 1 1 1 1
10 0,0001* 1 1 1 1 1 1 1
11 0,0001* 1 1 1 1 1 1 1
* sig. = p0,05
A variação na liberação de monômero residual do Grupo 2, apresentada na
Tabela 5.3, não foi estatisticamente significante em todos os intervalos de tempo
considerados.
Tabela 5.3 - Análise estatística ANOVA/TUKEY - Liberação de monômero residual – Grupo 2
Dia
Dia 1 2 3 4 6 8 9 10 11
1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 1 1 1 1 1 1 1 1
3 1 1 1 1 1 1 1 1
4 1 1 1 1 1 1 1 1
6 1 1 1 1 1 1 1 1
8 1 1 1 1 1 1 1 1
9 1 1 1 1 1 1 1 1
10 1 1 1 1 1 1 1 1
11 1 1 1 1 1 1 1 1
p0,05
Entretanto, a observação da Tabela 5.4, referente ao Grupo 3, estabelece que
a liberação diária de monômero residual foi significantemente menor a partir do dia
8.
56
Tabela 5.4 - Análise estatística ANOVA/TUKEY - Liberação de monômero residual – Grupo 3
Dia
Dia 1 2 3 4 6 8 9 10 11
1 1 1 0,3106 0,4732 0,6302 0,0009* 0,0138* 0,0074*
2 1 1 0,122 0,2221 0,3379 0,0002* 0,0031* 0,0015*
3 1 1 0,5287 0,6744 0,8347 0,0031* 0,0394* 0,0224*
4 0,3106 0,122 0,5287 0,8897 1 0,9995 1 1
6 0,4732 0,2221 0,6744 0,8897 0,8757 0,9332 0,9767 0,8999
8 0,6302 0,3379 0,8347 1 0,8757 0,9807 1 0,9998
9 0,0009* 0,0002* 0,0031* 0,9995 0,9332 0,9807 1 1
10 0,0138* 0,0031* 0,0394* 1 0,9767 1 1 1
11 0,0074* 0,0015* 0,0224* 1 0,8999 0,9998 1 1
* sig. = p0,05
A análise estatística do Grupo 4, apresentada na Tabela 5.5, aponta uma
redução significante na liberação diária de monômero residual, com exceção da
liberação observada entre os dias 3 e 4 e a partir do dia 8.
Tabela 5.5 - Análise estatística ANOVA/TUKEY - Liberação de monômero residual – Grupo 4
Dia
Dia 1 2 3 4 6 8 9 10 11
1 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001*
2 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001*
3 0,0001* 0,0001* 0,7191 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001*
4 0,0001* 0,0001* 0,7191 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001*
6 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001*
8 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 1 0,9982 1
9 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 1 1 1
10 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,9982 1 1
11 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 1 1 1
* sig. = p0,05
A análise estatística da variação da liberação de monômero residual entre os
grupos de estudo demonstra que ocorre diferença estatisticamente significante entre
57
os grupos estudados, excetuando-se os Grupos 1 e 3 que não demonstram
diferença entre si.
Tabela 5.6 – Análise estatística ANOVA/TUKEY. Liberação de monômero residual
nos grupos de estudo
Grupo
Grupo 1 2 3 4
1
0,000* 0,8626 0,000*
2
0,000* 0,000* 0,000*
3
0,8626 0,000* 0,000*
4
0,000* 0,000* 0,000*
* sig. = p0,05
5.2 Absorção de água
A absorção de água é representada neste trabalho pela diferença de peso em
gramas observado nas condições experimentais seco e hidratado. Os dados obtidos
através da pesagem dos corpos de prova de cada grupo de estudo nas etapas
previstas proporcionaram a média e o desvio padrão apresentados na Tabela 5.7.
58
Tabela 5.7 - Média e desvio padrão da absorção de água em gramas
Grupo
1 2 3 4
Seco
2,021
(+/- 0,063)
2,041
(+/- 0,074)
2,144
(+/- 0,065)
1,947
(+/- 0,078)
Hidratado
2,037
(+/- 0,062)
2,056
(+/- 0,075)
2,155
(+/- 0,067)
1,970
(+/- 0,086)
Hidratado-Seco
0,016
(+/- 0,004)
0,015
(+/- 0,005)
0,011
(+/- 0,003)
0,023
(+/- 0,037)
A menor média de peso em gramas ocorreu para o Grupo 4, a maior para o
Grupo 3 e os Grupos 1 e 2 apresentaram valores intermediários, nas condições
experimentais seco e hidratado. Ao mesmo tempo, o Grupo 4 apresentou a maior
absorção de água, o Grupo 3 a menor enquanto os Grupos 1 e 2 permaneceram
com valores intermediários.
A Figura 5.2 possibilita uma visualizão comparativa da quantidade de água
absorvida nos diferentes grupos experimentais.
Figura 5.2 – Gráfico da absorção de água
59
A absorção de água mostrou ser semelhante para todos os grupos de estudo,
não demonstrando diferença significativa após a análise dos dados pelo teste
ANOVA/TUKEY (p0,05).
Tabela 5.8 - Análise estatística ANOVA/TUKEY - Absorção de água
Grupo
Grupo 1 2 3 4
1
0,9977 0,8425 0,7736
2
0,9977 0,9192 0,6636
3
0,8425 0,9192 0,2923
4
0,7736 0,6636 0,2923
p0,05
5.3 Porosidade Superficial
Os valores abaixo correspondem à média e ao desvio padrão apresentados
pelos Grupos 1, 2 e 3 quando submetidos ao teste de porosidade superficial,
lembrando que o Grupo 4 não pode ser avaliado devido à transparência dos seus
corpos de prova. Estes valores representam a porcentagem da área de poros
encontrados na superfície dos corpos de prova em relação à área total avaliada.
60
Embora tenham sido efetuadas leituras de cinco áreas para cada corpo de
prova, para a realização dos cálculos foram consideradas apenas três áreas,
eliminando-se assim os valores mais discrepantes de modo que as médias e os
desvios padrão não apresentassem grandes distorções. Na Tabela 5.9 observa-se
que os valores apresentados pelos grupos 1 e 3 são bastante semelhantes, ambos
menores que aquele referente ao Grupo 2.
Tabela 5.9 - Média e desvio padrão da porosidade em porcentual de área
Grupo
1 2 3
0,244%
(+/- 0,079)
0,456%
(+/- 0,107)
0,297%
(+/- 0,087)
O Gráfico 5.3 proporciona um visão comparativa da porosidade superficial
apresentada pelos diferentes grupos.
Figura 5.3 Porosidade superficial
61
A análise estatística dos dados relativos à porosidade superficial aponta que
não ocorreu diferença estatisticamente significante entre o Grupo 1 e o Grupo 3,
podendo-se considerar que estes grupos apresentaram porosidade superficial
semelhante. Todavia a porosidade superficial apresentada pelo Grupo 2 mostrou ser
estatisticamente maior quando comparada àquelas dos Grupos 1 e 3.
Tabela 5.10 - Análise estatística ANOVA/TUKEY - Porosidade superficial.
Grupo
Grupo 1 2 3
1
0,0002* 0,3485
2
0,0002* 0,0055*
3
0,3485 0,0055*
* sig. = p0,05
62
6 DISCUSSÃO
O conceito de que a reabilitação protética deva ser desenvolvida dentro de
um contexto multiprofissional e interdisciplinar expandiu a área de conhecimento
relativa à prótese ocular, de modo que seus fundamentos sejam embasados em
estudos etiológicos e epidemiológicos das perdas do bulbo ocular e acompanhem a
evolução tecnológica dos biomateriais.
Estudos como os de Meissner (1960) e Chalian, Drane e Standish (1972)
relacionaram as vantagens das próteses oculares confeccionadas em resina acrílica
sobre as de vidro, elegendo a resina acrílica como o melhor material para a
reabilitação protética das perdas do bulbo ocular. A literatura apresenta relatos sobre
o desenvolvimento de técnicas de confecção de próteses em resina acrílica,
abordando os aspectos de estética, modelagem do padrão de cera e processo de
polimerização (BROWN, 1970; BENSON, 1977; OLIVEIRA, 1982). A ocorrência de
ptose palpebral decorrente do peso exercido por próteses oculares maiores,
confirmada por Kaltreider (2000), suscitou os trabalhos de Rode (1975), Carvalho
(1979) e Dias (1994) nos quais se propõe protocolos para confecção de próteses
oculares ocas e mais leves confeccionadas em resina acrílica.
A preocupação sobre a demanda de atendimento para confecção prótese
ocular e o perfil do paciente com perda do bulbo ocular determinou estudos sobre a
prevalência destas perdas em Ambulatórios de Prótese Buco Maxilo Facial. Mattos
(1987) e Coas, Neves e Rode (2005) observaram uma prevalência da etiologia
traumática sobre a patológica, bem como do gênero masculino sobre o feminino.
Embora em ambos os estudos a etiologia congênita tenha correspondido apenas a
63
de cerca 5% dos casos, há que se considerar também a maior incidência de trauma
em faixas etárias mais jovens, fato evidenciado em levantamento realizado por
Mattos et al. (2006).
O comprometimento do crescimento orbitário decorrente da perda do bulbo
ocular, confirmado por Gaia et al. (2006) demanda, segundo Fountain, Goldberger e
Murphree (1999) não apenas a confecção de sucessivas próteses oculares que
acompanhem o crescimento facial, como também a instalação imediata de implantes
intrabulbares de diâmetro adequado. Os casos de anoftalmia ou microftalmia
congênita, como descrito por Sá Lima, Alfenas e Claro (2002), requerem inicialmente
a instalação de uma prótese expansora com aumentos progressivos, de modo a
adequar a cavidade para a posterior confecção de sucessivas próteses oculares ao
longo do crescimento.
A obrigatoriedade de revisões e substituições periódicas das próteses
oculares, mesmo em pacientes adultos, é imposta, segundo Chaudhry, Memon e
Ahmad (2006), pela necessidade de controle das estruturas anatômicas residuais da
cavidade anoftálmica. Não apenas a alteração dos tecidos da cavidade anoftálmica,
com conseqüente perda da adaptação da prótese ocular e prejuízo estético,
determina as trocas periódicas de uma prótese ocular. A prótese ocular sofre um
processo de deterioração de sua condição estética em função da alteração de cor da
esclera e dos pigmentos empregados em sua caracterização, como foi descrito por
Kawabata (2006).
A constante procura por processos mais rápidos de confecção de prótese
ocular que satisfizessem os requisitos de biocompatibilidade motivou os trabalhos de
Rezende (1978) e Dias (1986). Esta linha de pesquisa encontra prosseguimento
neste trabalho, onde se avalia os aspectos de liberação de monômero residual,
64
porosidade superficial e absorção de água nas resinas acrílicas submetidas a
diferentes ciclos de polimerização.
O conhecimento das propriedades físicas e químicas das resinas acrílicas
empregadas como biomateriais em odontologia (SKINNER, 1962) foi fundamental
para o estabelecimento da Especificação 12 para polímeros acrílicos da American
Dental Association (ADA, 1975). Posteriormente, a possibilidade da utilização do
calor seco, proporcionado pela energia gerada pelas microondas para a
polimerização das resinas acrílicas, levou ao desenvolvimento de um tipo específico
de resina.
Ao estudo de Kimura et al. (1983) sobre o menor tempo necessário às fases
iniciais de polimerização da resina acrílica submetida ao ciclo microondas, seguem-
se os trabalhos comparativos com resinas acrílicas convencionais de Kimura,
Teraoka e Saito (1984), Takamata et al. (1989), Sanders, Levin e Reitz (1991), Al-
Hanbali, Kelleway e Howlet (1991) e Dyer e Howlett (1994) sobre distorção e
adaptação observadas dentro de diversas condições experimentais.
A inexistência de diferença significativa na resistência à flexão apresentada
pelas resinas acrílicas convencionais e as resinas acrílicas específicas para
microondas, estabelecida por Rached e Del Bel Cury (2001) e Silva et al. (2002),
vem reforçar a utilização destas resinas acrílicas na confecção de próteses
odontológicas. O tempo de processamento laboratorial, reduzido quando se
emprega as microondas como fonte de energia para a polimerização de resinas
acrílicas, assume um caráter diferencial importante na escolha da técnica
laboratorial, uma vez que não ocorre perda das propriedades físicas, químicas e
mecânicas consideradas necessárias a uma prótese adequada (PHOENIX, 2005).
65
A variação do tempo de polimerização e da potência das microondas
aplicadas às resinas acrílicas foi amplamente estudada por inúmeros pesquisadores,
buscando encontrar padrões adequados de polimerização (ILBAY; GUVENER;
ALKUMRU, 1994; AZZARI; CORTIZO; ALESSANDRINI, 2003; OLIVEIRA et al.,
2003; BOTEGA et al., 2004). Os Grupos 2 e 3 deste trabalho foram polimerizados
em microondas utilizando o ciclo sugerido pelo fabricante da resina Onda Cryl®,
seguindo o mesmo princípio de polimerização empregado no ciclo térmico
convencional sugerido por Phoenix (2005). Neste sistema aplica-se uma temperatura
inicial acima dos 60°C, para decompor o peróxido de benzoíla que atua como
iniciador da reação, e após este período a temperatura é elevada fornecendo mais
energia para finalizar o processo de polimerização.
Como descrito na metodologia, a polimerização dos corpos de prova foi
realizada colocando-se uma mufla de cada vez no aparelho de microondas,
evitando-se assim a necessidade de adequar a potência e o tempo de polimerização
devido a presença de mais de uma mufla por vez no aparelho de microondas, como
evidenciado por Botega et al. (2004).
6.1 Monômero Residual
A determinação da liberação de monômero residual presente nas resinas
acrílicas configura-se um teste importante devido à possibilidade de uma reação de
hipersensibilidade ao monômero acrílico (SMITH; BAINS, 1956), reação que pode se
manifestar sob a forma de eczemas, tanto em pele como em mucosa (BASTIAAN,
66
1982). A hipersensibilidade aos metacrilatos avaliada por Kanerva, Jolanki e
Estlander (1997) por meio de testes de contato, apontou o metil-metacrilato em 8º
lugar na relação das substâncias associadas às reações de sensibilidade,
correspondendo a 7,4% delas. Estas constatações levaram ao desenvolvimento de
materiais hipoalergênicos para a confecção de prótese odontológica, que ao serem
comparativamente avaliados por Pfeiffer e Rosenbauer (2004), não apresentaram
liberação de monômero residual.
Estes aspectos, igualmente importantes para a confecção de próteses
oculares, foram considerados por Rezende (1978) ao indicar que a camada final da
prótese ocular fosse confeccionada em resina acrílica termo polimerizável, alegando
que a resina acrílica Orto Clas® poderia apresentar uma maior liberação de
monômero residual.
Nos dados obtidos neste trabalho para os Grupos de estudo 1 e 3,
confeccionados com resina acrílica termo polimerizável, a liberação de monômero
residual foi similar, sendo os únicos grupos que não apresentaram diferenças
estatisticamente significantes entre os quatro grupos estudados. Este resultado
sugere que o processo empregado para a polimerização da resina acrílica termo
polimerizável convencional, quer fosse ele ciclo térmico em microondas ou ciclo
térmico convencional, não interferiu na liberação de monômero residual.
Resultados diferentes foram observados por Al Doori et al. (1988) e Blagojevic
e Murphy (1999) para quem as resinas acrílicas auto polimerizáveis processadas
com microondas apresentaram maior liberação de monômero residual quando
comparadas àquelas submetidas ao ciclo térmico convencional. Entretanto De Clerk
(1987), ao estabelecer uma avaliação comparativa empregando testes químicos,
observou uma liberação de monômero residual significativamente menor para a
67
resina acrílica polimerizada em microondas. Estas divergências podem ser
decorrentes da variação nas marcas comerciais das resinas acrílicas e na
metodologia empregada em cada um dos estudos experimentais.
O Grupo 2, formado pelos corpos de prova confeccionados com resina
acrílica específica para microondas Onda Cryl® e processados em microondas
apresentou a menor liberação de monômero residual. Reitz, Sanders e Levin (1985),
ao empregarem corpos de prova com dimensões semelhantes às deste estudo
observaram que a resina acrílica para microondas apresentou uma liberação de
monômero residual semelhante à da resina acrílica convencional. Estes autores
justificaram o fato pela possível ebulição interna do monômero com conseqüente
redução da quantidade de monômero residual após a polimerização final. Outra
possibilidade é relacionada com a maior proporção pó/líquido da resina Onda Cryl®
utilizada neste estudo, 3/1 em volume, pois como observaram Lamb, Ellis e Priestley
(1983), uma alta proporção pó/líquido fornece uma resina de melhor qualidade. A
proporção da resina Onda Cryl® é quase o dobro da proporção da resina Acron
MC®, resina esta mais utilizada nos trabalhos aqui revistos. Esta comparação entre
as duas marcas comerciais citadas foi apresentada por Del Bel Cury, Rached e
Ganzarolli (2001), demonstrando valores favoráveis à resina Onda Cryl®.
A liberação de monômero residual observada no Grupo 4, correspondente à
resina acrílica auto polimerizável Orto Clas® com ligação cruzada, foi pelo menos 3
vezes maior do que nos outros grupos de estudo nas primeiras 24 horas. Esta
observação é corroborada por Phoenix (2005) ao afirmar que a resina acrílica auto
polimerizável apresenta de 3 a 5% de monômero residual, enquanto que a termo
polimerizável convencional apresenta somente de 0,2% a 0,5% de monômero.
Diferentemente, Dias (1986) empregando o processo de titulação proposto por Smith
68
e Bains (1956), observou que a liberação de monômero residual da resina acrílica
Orto Clas® não foi diferente quando comparada àquela da resina acrílica termo
polimerizável e da resina acrílica auto polimerizável Jet®.
Os resultados apresentados confirmam uma estabilidade na liberação do
monômero residual por volta do 8°dia após a polimerização para todos os grupos de
estudo. Isto indica que todas as resinas acrílicas utilizadas neste estudo, assim
como os ciclos de polimerização aos quais foram submetidas, são aceitáveis como
materiais e técnicas de processamento para a confecção de uma prótese. O período
experimental estabelecido neste trabalho teve como referência o tempo de 14 dias
para a estabilização da liberação de monômero residual sugerido por Lamb, Ellis e
Sanders (1982). Entretanto, os resultados foram apresentados apenas até o 11º dia,
uma vez que a partir de então as variações na liberação de monômero residual
mantiveram-se estáveis para todos os grupos experimentais.
O tempo necessário para a liberação de monômero residual é um dado
importante, pois de acordo com Lamb, Ellis e Sanders (1982) cada material e técnica
de processamento devem receber tratamento individualizado após a polimerização
de modo a fornecer uma prótese em condições ideais de uso. A possibilidade de
liberação de monômero residual após a polimerização sugere que a prótese ocular
seja armazenada em água até o momento de sua instalação clínica.
69
6.2 Absorção de Água
Segundo Anusavice (1998), a absorção de água é uma característica das
resinas acrílicas que exerce um efeito significante nas propriedades mecânicas e
dimensionais destes polímeros. Por difusão, a água se aloja entre os polímeros da
resina acrílica, afastando-os e, conseqüentemente expandindo levemente a massa
plástica da resina acrílica. Esta pequena expansão volumétrica de aproximadamente
1% gera uma expansão linear de 0,3%, expansão esta que praticamente anula a
contração resultante da polimerização da resina acrílica.
A absorção de água foi avaliada em função do peso em gramas apresentado
pelos corpos de prova nas condições experimentais seco e hidratado. O desvio
padrão observado para todos os grupos na condição experimental inicial seco ficou
restrito a um centésimo, denotando um padrão adequado na obtenção da massa dos
corpos de prova de cada grupo de estudo.
A metodologia empregada neste estudo estabeleceu que os corpos de prova
fossem levemente secos em papel absorvente antes da pesagem da fase hidratado,
de modo que fosse possível determinar a absorção de água, fenômeno este definido
como penetração e fixação de substâncias no interior de um corpo.
Os quatro grupos de estudo avaliados apresentaram resultados semelhantes
quanto à absorção de água dentro do período experimental. A diferença não
significante entre os quatro grupos confere aos três tipos de resina acrílica,
independentemente do ciclo de polimerização a que foram submetidas, uma
similaridade quanto a esta propriedade.
70
Ilbay, Güvener e Alkumru (1994), polimerizando a resina acrílica convencional
em diferentes ciclos de microondas, condição semelhante a do Grupo 3 deste
estudo, observaram que uma potência de 550W durante 3 minutos levou a uma
absorção de água condizente com a especificação da ADA (1975).
Apesar de não ter ocorrido diferença significante nos diversos grupos de
estudo, observou-se que o Grupo 4, composto por resina auto polimerizável de
ligação cruzada, apresentou a maior absorção de água, o que se contrapõe aos
resultados observados por Arima, Murata e Hamada (1995).
Os resultados observados por Pfeiffer e Rosenbauer (2004) em estudo
comparativo sobre absorção de água em que empregaram materiais hipoalergênicos
e resina acrílica termo polimerizável convencional, apontaram, assim como os
valores aqui apresentados, similaridade entre os grupos de resina acrílica
estudados.
É importante considerar que Compagnoni et al. (2004) compararam o peso de
corpos de prova de resina acrílica termo polimerizável para microondas e resina
acrílica termo polimerizável convencional nas condições experimentais seco e
hidratado para a determinação da porosidade. Entretanto, apesar de empregarem
uma metodologia diferente, seus resultados vão de encontro aos observados neste
estudo sobre a absorção de água, uma vez que não encontraram diferença
significante entre os grupos estudados.
71
6.3 Porosidade Superficial
A polimerização das resinas acrílicas é uma reação exotérmica onde o
aumento da temperatura pode causar a ebulição do monômero reagente, gerando
assim bolhas no interior da massa plástica. Nas situações em que o corpo acrílico se
apresenta com pouca espessura, o calor gerado pode ser conduzido para fora da
superfície da resina e se dissipar pelo revestimento de gesso que o circunda,
evitando o aparecimento de poros superficiais (PHOENIX, 2005).
A presença de porosidade superficial encontrada nas próteses
confeccionadas em resina acrílica tem sido objeto de estudo e normatização.
Segundo a ADA (1975), em sua especificação n.°12, uma resina acrílica adequada
não pode apresentar poros visíveis sem auxílio de um instrumento de ampliação de
imagem. Entretanto, Verran e Maryan (1997), Radford et al. (1998) e Radford,
Challacombe e Walter (1999) comprovaram que mesmo as microporosidades são
capazes de alojar microorganismos como bactérias e fungos, aumentando a área de
contato para o desenvolvimento de placa bacteriana e dificultando a higienização da
prótese.
A metodologia empregada neste estudo determinou que as muflas seriam
processadas individualmente no forno de microondas a fim de evitar a necessidade
de ajuste do tempo de polimerização, uma vez que Botega et al (2004)
estabeleceram que esta variável interfere na porosidade da resina acrílica.
Anusavice (1998) afirma que espaços presentes tanto na superfície como no
interior da massa acrílica podem comprometer as propriedades físicas das resinas
acrílicas. Entretanto Ganzarolli et al. (2007) apontaram exatamente o oposto,
72
observando uma relação inversamente proporcional entre a porosidade e a
resistência à flexão e ao impacto.
Levin, Sanders e Reitz (1989) observaram que corpos de prova
confeccionados com resina acrílica específica para microondas e com espessura de
1cm necessitaram de ajuste na potência e no tempo de polimerização para que a
porosidade se aproximasse daquela apresentada pelos corpos de prova em resina
acrílica termo polimerizável convencional. A necessidade de ajustar o tempo e a
potência aplicados no processo de polimerização em microondas da resina acrílica
termo polimerizável também foi observada por Alkhatib et al. (1990), obtendo uma
resina acrílica com uma porosidade satisfatória mesmo em corpos de prova com até
9 mm de espessura.
Autores como Oliveira et al (2003) e Botega et al. (2004) avaliaram a
porosidade superficial empregando diferentes metodologias, todas elas baseadas
em contagem manual do número de poros presentes em uma determinada área,
independente do tamanho destes poros. A metodologia empregada neste trabalho
para a verificação da porosidade superficial é bastante precisa, uma vez que a
análise computadorizada executa a somatória da área de todos os poros presentes
na superfície, gerando uma avaliação percentual da área de poros em relação à
área total examinada.
É importante lembrar que o Grupo 4, confeccionado com resina acrílica auto
polimerizável incolor com ligação cruzada não foi submetido à análise da porosidade
superficial uma vez que a ausência de contraste não permitiria a captação da
imagem a ser processada pelo software ImageLab 2000®.
Apesar de Alkhatib et al. (1990) observarem a ausência de porosidade
superficial em seu trabalho com resina acrílica termo polimerizável, o Grupo 1,
73
considerado como controle neste trabalho apresentou a menor porosidade
superficial, correspondendo a uma área de 0,24% da superfície.
A porosidade superficial do Grupo 2 apresentou-se significativamente maior
que aquelas dos grupos compostos pela resina acrílica termo polimerizável
convencional, sendo aproximadamente duas vezes maior quando comparada ao
Grupo1. A maior porosidade apresentada pela resina acrílica termo polimerizável
específica para microondas, foi igualmente observada por Ganzarolli et al. (2007) e
Levin, Sanders e Reitz (1989).
O Grupo 3 apresentou uma porosidade intermediária quando comparado a
dos outros dois grupos. Apesar de apresentar o valor de 0,29% superior ao 0,24%
do Grupo 1, esta diferença não foi considerada significativa. Este resultado discorda
das observações de Yannikakis et al. (2002) para quem maiores porosidades
ocorreram ao submeter a resina acrílica termo polimerizável convencional ao ciclo de
polimerização em microondas. Entretanto é importante considerar que segundo
Vasconcelos et al. (2003) a porosidade é dependente do ciclo de polimerização em
microondas instituído, o que dificulta a comparação de resultados obtidos em
diferentes estudos.
Os resultados deste estudo deverão substanciar o desenvolvimento de
técnicas alternativas para a polimerização das resinas acrílicas empregadas em
prótese ocular de modo que se proporcione rapidez e excelência ao atendimento de
pacientes portadores de perdas do bulbo ocular.
74
7 CONCLUSÕES
Os ciclos térmicos de polimerização em água ou em microondas não
interferiram na liberação de monômero residual apresentada pela resina
acrílica termo polimerizável convencional.
A liberação de monômero residual variou em função do tipo de resina acrílica.
O tipo de resina acrílica e o ciclo de polimerização a que elas foram
submetidas não interferiram na absorção de água pelos corpos de prova.
Os ciclos térmicos de polimerização em água ou em microondas não
interferiram na porosidade superficial apresentada pela resina acrílica termo
polimerizável convencional.
A porosidade superficial variou em função do tipo de resina acrílica avaliada.
1
De acordo com Estilo Vancouver. Abreviatura de periódicos segundo base de dados MEDLINE.
75
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81
ANEXO A – Curva para avaliação do comprimento de onda ultravioleta na calibração
do espectrofotômetro – 200 a 600nm
82
ANEXO B - Curva para avaliação do comprimento de onda ultravioleta na calibração
do espectrofotômetro – 200 A 300nm
83
ANEXO C - Curva para avaliação do comprimento de onda ultravioleta na calibração
do espectrofotômetro – 200 A 220nm
84
ANEXO D – Curva de diluição padrão efetuada no espectrofotômetro para obtenção
de formula de conversão
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