129
aulas; alguns conteúdos, como as reações orgânicas, são vistas superficialmente, não
tendo tempo para estudar mecanismos.
Segundo a professora, sua escola tem uma clientela elitizada, os alunos não se
importam em aprender os conteúdos, pagam para ter um certificado de ensino médio
que o habilita a cursar a universidade, como é possível verificar no depoimento a
seguir:
É uma clientela muito diversificada e numa maturidade quase que
nenhuma por ser uma escola elitizada; dificilmente você consegue
sensibilizar esses alunos. Eles já chegam, numa segunda-série, eles
chegam a ter contato com a química orgânica, eles já chegam com
aquele temor da química, falam que química é o fim do mundo, é muito
difícil, e vai, você fala ‘não, química orgânica é assim, é muito fácil e tal’,
mas não tem jeito, eles já vem com aquele bloqueio mesmo. Por mais
que você tenta tal, tentar as coisas bem simples, o que pra mim de
repente é tão óbvio pra eles é uma monstruosidade. E também, além de
ter essa clientela, o interesse, o aluno tem muito daquilo ali ó ‘onde eu
vou usar isso, onde é que eu vou usar isso, pra que, que eu preciso
saber disso?’ então ele questiona muito a química, fala ‘professora, eu
vou fazer direito, onde é que eu vou usar isso?’. Diferente do aluno que
tem idéia, vamos supor, que já viu, já pesquisou, que vai fazer medicina,
quer fazer bioquímica, farmácia, fazer alguma coisa mesmo na área de
saúde mesmo, nessa área, então ele já tem um interesse maior. Mas
numa escola elitizada onde a maioria, e assim, eu acredito, já tem o
emprego garantido, que já tem um consultório pronto esperando por ele,
ou não tem nenhuma preocupação, ele vai fazer uma faculdade, ele
pode entrar na faculdade se ele tiver como já na segunda-série, ele não
tá muito interessado com isso, e até mesmo porque eu acho que a
própria grade curricular do ensino médio não auxilia nesse sentido. Os
alunos cursa simplesmente porque tem que cursar, tem que fazer ensino
médio. E agora está acabando mais ainda, porque ele nem chega a
concluir o terceiro ano, chega na segunda-série ele já tá fazendo o
vestibular, ele passa, entra com mandado de segurança, ele já vai
cursar” (NADIR, escola particular).
A disciplina em sala de aula, com turmas superlotadas, dificulta o trabalho
docente e denota que o professor tem pouca autoridade, além da profissão ser muito
desvalorizada. O professor Marcos atribui esta indisciplina ao Estatuto do menor:
A principal dificuldade em sala de aula é a pouco disciplina dos alunos.
Ele não tem disciplina. Praticamente desconhece limites. Graças a que?
Graças à questão do menor, ele dá excesso de direitos e pouco dever.
Então geralmente, ó, em sala de aula tem pouco interesse, a sala é
superlotada, e a disciplina que raramente, por exemplo, que o aluno
coloca em prática. Isso dificulta muito o trabalho. O professor pode ter a
melhor vontade de trabalhar, mas ao deparar com a indisciplina ele
perde a vontade, ele desanima, ele fica simplesmente o que? Pra baixo!
O que tá faltando principalmente é o interesse, a vontade de aprender.
Às vezes, se você vai falar, por exemplo, em sala de aula sobre a
importância de ter, adquirir o conhecimento, o aluno fala, “ah, não
adianta nada, o traficante não sabe nada, ele ganha dinheiro, o
professor mestrado, o engenheiro, o médico, eles falam, é desse