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MARCO AURÉLIO LIBERATO COSTA DA VEIGA
ESTUDO DA REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE
TIREOTROFINA MURINA PELO
ENDOCANABINÓIDE ENDÓGENO, ANANDAMIDA
Rio de Janeiro
2008
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MARCO AURÉLIO LIBERATO COSTA DA VEIGA
ESTUDO DA REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE
TIREOTROFINA MURINA PELO
ENDOCANABINÓIDE ENDÓGENO, ANANDAMIDA.
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia), Instituto de
Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências.
Orientação: Dra. Carmen Cabanelas Pazos de Moura.
Rio de Janeiro
2008
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FOLHA DE APROVAÇÃO
ESTUDO DA REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE
TIREOTROFINA MURINA PELO ENDOCANABINÓIDE
ENDÓGENO, ANANDAMIDA
MARCO AURÉLIO LIBERATO COSTA DA VEIGA
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Ciências Biológicas (Fisiologia), Instituto de Biofísica Carlos Chagas
Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em
Ciências.
Aprovada por:
Dra. Carmen Cabanelas Pazos de Moura – IBCCF/UFRJ
Dra. Doris Rosenthal – IBCCF/UFRJ
Dr. Luis Carlos Reis – UFRRJ
Dra. Patrícia Cristina Lisboa da Silva – UERJ
Dra. Vânia Maria Correa da Costa – IBCCF/UFRJ
Rio de Janeiro
2008
FICHA CATALOGRÁFICA
FICHA CATALOGRÁFICA
Rio de Janeiro
2008
VEIGA, MARCO AURÉLIO LIBERATO COSTA
ESTUDO DA REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE TIREOTROFINA
MURINA PELO ENDOCANABINÓIDE ENDÓGENO,
ANANDAMIDA
87f
Tese (Doutor em Ciências) UFRJ.
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.
Orientação: Dra. Carmen Cabanelas Pazos de
Moura
1. Anandamida 2. Tireotrofina 3. Hipotireoidismo 4. Hipertireoidismo
I. Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008)
Este trabalho foi realizado no Laboratório de Endocrinologia
Molecular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, sob a
orientação da professora Carmen Cabanelas Pazos de Moura, com
apoio financeiro concedido pelo CNPq Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico e FAPERJ - Fundação Carlos
Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.
DEDICATÓRIA
Aos meus maiores amores, minha
esposa Priscila, nossa filha e
nossa Biluca.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por conhecer e suprir todas as necessidades para a
realização deste trabalho.
A minha orientadora, Carmen Cabanelas P. Moura que, com seu
profissionalismo e inteligência, tornou-se um exemplo e estímulo de
profissional e pessoa a ser alcançada.
À minha esposa, Priscila Fialho Pesarini, por todo
companheirismo e amor.
Aos meus pais, Lauro e Silvia, e aos meus sogros, Angelo e
Carla, por me darem todas as condições e ferramentas para
realização deste trabalho.
À Karen de Jesus Oliveira, por toda paciência, amizade e alegria
que tornaram este trabalho possível e mais prazeroso (tudo, ainda
será pouco para agradecer-te!).
A todos do LEM, indistintamente, sem a mínima ajuda de cada um
tudo seria menos valoroso. Obrigado.
A todos componentes dos laboratórios da Dra. Denise Pires de
Carvalho e da Dra. Doris Rosenthal, por quem tenho sincera
admiração.
À profa. Dra. Cássia Thaïs B. V. Zaia, por ter me apresentado o
interessante mundo da pesquisa científica sendo a minha primeira
referência e exemplo profissional.
À Tatiana Valério pela hospitalidade que facilitou a conclusão do
trabalho e a todos amigos e familiares que compartilharam os
melhores e piores momentos durante este período.
E por fim, a quem com essencial amizade, encorajamento e
hospitalidade permitiu o início de tudo, Adriana Bechara .
Obrigado!
RESUMO
VEIGA, Marco Aurélio Liberato Costa. Estudo da regulação da secreção de
tireotrofina murina pelo endocananbinóide endógeno, anandamida. Rio de Janeiro,
2008. Tese Doutorado em Ciências Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Endocanabinóides estão envolvidos com a modulação de vários sistemas
biológicos, entre os quais os sistemas neuroendócrinos. Entretanto, não há informação
disponível a respeito da regulação do eixo tireotrofo-tireóide. Neste trabalho examinou-
se o efeito do canabinóide endógeno, anandamida, assim como do antagonista
sintético do receptor canabinóide, AM251, sobre a secreção de tireotrofina (TSH) e
dos hormônios tireoideanos. Ratos machos eutireoideos mostraram redução de 42%
(P<0,05) na concentração sérica de TSH duas horas após injeção única subcutânea
de anandamida (0,02mg/Kg PC) acompanhada pela redução de 28% (P<0,01) na
concentração sérica de tiroxina (T4), sem alterações significativas na concentração de
triiodotironina (T3). Nos tempos de 0,5 e 1 hora os hormônios citados não mostraram
qualquer alteração rica. Nos experimentos com modelos animais hipo- e
hipertireoideos, ratos hipotireoideos mostraram redução de 35% (P<0,01) no TSH
sérico duas horas após administração de anandamida, que, por sua vez, não teve
qualquer efeito no TSH de ratos hipertireoideos. Ambos os grupos, hipo- e
hipertireoideos, não apresentaram alteração na concentração sérica dos hormônios
tireoideanos induzida pela anandamida. Explantes de adenohipófises de animais
eutireoideos apresentaram redução de 65% na liberação de TSH para o meio de
incubação na presença de anandamida (10
-7
M). Entretanto, na concentração de 10
-
11
M, a anandamida estimulou (61%) a liberação de TSH neste sistema in vitro. O
antagonista do receptor canabinóide, AM251, estimulou (4,3 vezes - P<0,0001) a
secreção sérica de TSH, sem alteração nos hormônios tireoideanos, 1,5 hora após sua
administração sistêmica. Em conclusão, a anandamida é capaz de inibir agudamente a
liberação de TSH em ratos eu- e hipotireoideos, agindo, ao menos em parte, na
adenohipófise. Uma vez que o antagonista do receptor endocanabinóide, AM251,
provocou aumento na liberação de TSH, é possível sugerir que o sistema
endocanabinóide exerça in vivo, papel de regulador negativo sobre a secreção de
TSH.
ABSTRACT
VEIGA, Marco Aurélio Liberato Costa. Estudo da regulação da secreção de
tireotrofina murina pelo endocananbinóide endógeno, anandamida. Rio de Janeiro,
2008. Tese Doutorado em Ciências Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Endocannabinoids have been implicated in modulation of several biological
systems, among those the neuroendocrine system. However, no information is
available regarding the regulation of the thyrotroph-thyroid axis. Here we examined the
effect of the endogenous cannabinoid, anandamide, as well as those of the synthetic
cannabinoid receptor antagonist, AM251, on thyrotropin (TSH) and thyroid hormone
secretion. Euthyroid male rats showed a 42% decrease (P<0.05) in serum TSH, two
hours after a single subcutaneous injection of anandamide (0.02mg/kg BW)
accompanied by a 28% reduction (P<0.01) in serum thyroxine (T4), but no alteration in
serum T3. At earlier times (0.5 and 1 h) these serum hormones remained unchanged.
Hypothyroid rats also showed a 35% reduction in serum TSH, 2 hours after
anandamide injection, that had no effect on hyperthyroid rats. Both hypo- and
hyperthyroid rats had no modification of serum thyroid hormones induced by
anandamide. Anterior pituitaries explants from euthyroid rats had a 65% reduction in
TSH release in the presence of 10
-7
M anandamide in the incubation medium.
However, at 10
-11
M anandamide was able to stimulate TSH release (61%) in this in
vitro system. The cannabinoid receptor antagonist, AM251, was able to importantly
stimulate TSH secretion (4.3-fold increase in serum TSH), without changes in the
serum thyroid hormones, 1.5h after its systemic administration. In conclusion,
anandamide, an endogenous cannabinoid, has the ability to acutely inhibit TSH release
in eu- and hypohyroid rats, acting at least in part at the pituitary. Since the cannabinoid
receptor antagonist, AM251, increased TSH release, it is suggested that the
endocannabinoid system may exerts an in vivo role as negative regulator of TSH
secretion.
LISTA DE ABREVIATURAS
2-AG – 2-aracdonoilglicerol
ACTH – Hormônio adenocorticotrófico
AM251 – [N-(piperidina-1-il)-5-(4-iodofenil)-1-(2,4-diclorofenil)-4-metil-lH-
AMPc – Adenosina monofosfato cíclico
CART – Transcrito regulado por cocaína e anfetamina
CB1 – Receptor canabinóde tipo 1
CB2 – Receptor canabinóde tipo 2
cDNA – Ácido desoxirribonucléico do tipo complementar
CRH – Hormônio liberador de corticotrofina
D1 – Desiodase tipo 1
D2 – Desiodase tipo 2
D3 – Desiodase tipo 3
DMSO – Dimetil sulfóxido
ERK - Cinase regulada por sinal extracelular
EPM – Erro padrão da média
FAAH - Hidrolase de amida de ácido graxo
FAK – Cinase de adesão focal
FSH – Hormônio folículo estimulante
GH – Hormônio do crescimento
GIRK - Canais de influxo retificador de potássio acoplados a proteína G
GnRH - Hormônio liberador de gonadotrofina
ip – Intraperitoneal
IgG – Imunoglobulina G
KDa – Quilodalton
LH – Hormônio luteinizante
MAGL – Lípase de monoacilglicerida
MAPK – Proteína cinase ativada por mitógeno
µm - Micrômetro
MMI – Metimazol
NAPE – N-aracdonoil-fosfatidiletanolamida
NAT – N-aciltransferase
NMDA – N-metil-D-Aspartato
NPY – Neuropeptídeo Y
PKA – Proteína cinase A
PKC – Proteína cinase C
PLC – Fosfolipase C
PLD – Fosfolipase D
PVN – Núcleo paraventricular hipotalâmico
RNAm – Acido ribonucléico mensageiro
SREBP-1c – Proteína 1c regulador de esteróide
T3 – 3, 5, 3’ triiodotironina
T4 – 3, 5, 3’, 5 tetraiodotironina, tiroxina
TBG – Globulina ligadora de tiroxina
THC – delta-9-tetrahidrocanabiol
TNF – Fator de necrose tumoral
TR – Receptor para hormônio tireoideano
TRE – Elemento responsivo a hormônio tireoideano
TRH – Hormônio liberador de TSH
TRHR – Receptor do hormônio liberador de TSH
VR1 – Receptor vanilóide tipo 1
TSH – Hormônio estimulador da tireóide
TSHR – Receptor para TSH
TTR – Transtiretina
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Esquema de regulação do eixo tireoideano...................... 5
Figura 2 – Estrutura química da molécula delta-9-tetrahidrocanabiol
(THC)................................................................................................... 16
Figura 3 – Estrutura química da molécula de anandamida e 2-
aracdonoilglicerol................................................................................. 17
Figura 4 – Via de síntese de anandamida.......................................... 19
Figura 5 Moléculas com efeito inibitório sobre o transportador de
anandamida......................................................................................... 20
Figura 6 – Esquema de inativação da anandamida ........................... 21
Figura 7 – Esquema das principais vias sinalizadoras
desencadeadas pelo receptor CB1 ..................................................... 25
Figura 8 – Principais antagonistas dos receptores
endocanabinóides................................................................................ 27
Figura 9 – Esquema experimental com animais eutireoideos in vivo. 38
Figura 10 – Esquema experimental com animais hipertireoideos in
vivo ...................................................................................................... 39
Figura 11 – Esquema experimental com animais hipotireoideos in
vivo ...................................................................................................... 40
Figura 12 – Esquema ilustrando o procedimento para o experimento
in vitro com hemi-adenohipófises de animais eutireoideos................. 42
Figura 13 – Concentração sérica de TSH em animais eutireoideos .. 45
Figura 14 – Concentração sérica de T4 total em animais
eutireoideos ......................................................................................... 46
Figura 15 – Concentração sérica de T3 total em animais
eutireoideos ......................................................................................... 47
Figura 16 – Concentração sérica de TSH em animais
hipertireoideos..................................................................................... 48
Figura 17 – Concentração sérica de T4 total em animais
hipertireoideos..................................................................................... 49
Figura 18 – Concentração sérica de T3 total em animais
hipertireoideos..................................................................................... 50
Figura 19 – Concentração sérica de TSH em animais hipotireoideos 51
Figura 20 – Concentração sérica de T4 total em animais
hipotireoideos ...................................................................................... 52
Figura 21 – Concentração sérica de T3 total em animais
hipotireoideos ...................................................................................... 53
Figura 22 – Concentração sérica de TSH em animais eutireoideos
após AM251......................................................................................... 54
Figura 23 – Concentração sérica de T4 total em animais
eutireoideos após AM251.................................................................... 55
Figura 24 – Concentração sérica de T3 total em animais
eutireoideos após AM251.................................................................... 56
Figura 25 – Secreção basal de TSH a partir de hemi-adenohipófises
de animais eutireoideos....................................................................... 58
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Secreção de TSH a partir de hemi-adenohipófises de
animais eutireoideos............................................................................ 57
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO .............................................................................. 1
1.1 – Hormônio estimulador da tireóide (TSH).................................... 2
1.1.1 – Aspectos históricos.................................................................. 2
1.1.2 – Características gerais.............................................................. 3
1.2 – Eixo hipotálamo-hipófise-tireóide ............................................... 5
1.2.1 – Hormônio liberador de tireotrofina (TRH)................................ 6
1.2.2 – Hormônios tireoideanos........................................................... 7
1.3 – Regulação da secreção de TSH................................................. 10
1.3.1 – Alterações da concentração sérica de TSH............................ 10
1.3.2 – Outros reguladores da secreção de TSH................................ 11
1.4 – Anandamida................................................................................ 15
1.4.1 – Aspectos gerais e históricos.................................................... 15
1.4.2 – Síntese de anandamida........................................................... 18
1.4.3 – Inativação e liberação de anandamida.................................... 20
1.4.4 – Receptores e transdução de sinal........................................... 22
1.4.5 – Antagonismo sobre a ação do receptor endocanabinóide...... 26
1.4.6 – Ações no sitema nervoso ........................................................ 28
1.4.7 – Efeitos já descritos dos canabinóides no sitema endócrino e
metabólico ........................................................................................... 29
1.5 – Canabinóides e eixo tireoideano ................................................ 33
2 – OBJETIVO..................................................................................... 35
3 – MATERIAL E MÉTODOS.............................................................. 36
3.1 – Animais....................................................................................... 36
3.2 – Modelo hipertireoideo................................................................. 36
3.3 – Modelo hipotireoideo .................................................................. 36
3.4 – Experimentos in vivo................................................................... 37
3.4.1 – Administração de anadamida.................................................. 37
3.4.2 – Curso temporal do efeito de administração aguda de
anandamida em ratos eutireoideos ..................................................... 38
3.4.3 – Efeito da adminsitração aguda de anandamida em ratos
hiper- e hipotireoideos......................................................................... 39
3.4.4 – Administração do antagonista de anandamida – AM251........ 40
3.5 – Experimentos in vitro.................................................................. 41
3.6 – Radioimunoensaio para TSH ..................................................... 42
3.7 – Dosagem de T4 e T3 totais ........................................................ 43
3.8 – Análise estatística....................................................................... 44
4 – RESULTADOS OBTIDOS............................................................. 45
5 – DISCUSSÃO ................................................................................. 59
5.1 – Experimentos in vivo................................................................... 59
5.2 – Experimentos in vitro.................................................................. 65
6 – CONCLUSÃO................................................................................ 68
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. 69
1 – INTRODUÇÃO
Os hormônios secretados pela glândula tireóide são importantes
para o crescimento e desenvolvimento normal dos mamíferos. Quando
adultos, os hormônios tireoideanos, tiroxina (T4) e triiodotironina (T3),
mantêm os veis metabólicos estáveis através da regulação dos gastos
celulares de oxigênio, do peso corpóreo e do metabolismo intermediário.
A secreção tireoideana é estimulada pelo eixo hipotálamo-hipófise,
através do hormônio liberador de tireotrofina (TRH) e da tireotrofina
(TSH), respectivamente. Agindo em conjunto com o sistema nervoso
simpático, a atividade do eixo neuroendócrino hipotálamo-hipófise-
tireóide desempenha um papel central na regulação do metabolismo
corpóreo (revisão em Pinkney et al., 1998). Os endocanabinóides,
também têm um importante papel no controle do balanço energético e
controle do peso corpóreo (Di Marzo & Matias, 2005) e as interações
entre o eixo hipotálamo-hipófise-tireóide e os endocanabinóides são o
objeto do presente estudo.
Efeitos dos canabinóides sobre a função tireoideana foram
primeiramente descritos em 1965, quando experimentos com extrato de
Marijuana mostraram uma diminuição na captação e liberação de iodeto
marcado radioativamente em tireóide de ratos (Brown & Dobs, 2002).
Posteriormente, verificou-se que poderiam ser revertidos pela
administração exógena do hormônio estimulador da tireóide, sugerindo
existir um sítio de ação hipotalâmico/hipofisário para o principal agente
ativo da Marijuana denominado delta-9-tetrahidrocanabiol (THC) (revisão
em Brown & Dobs, 2002). A caracterização (Devane et al., 1988) e a
clonagem molecular (Matsuda et al., 1990) do receptor canabinóde tipo
1, denominado CB1, no sistema nervoso central de mamíferos
corroboraram a possibilidade de uma ação da THC sobre o eixo
tireoideano via hipotálamo.
Em 1992, Devane e colaboradores, mostraram a existência de uma
molécula de aracdoniletanolamida, denominada anandamida, sintetizada
endogenamente com afinidade pelos receptores CB1. Finalmente,
Gonzalez e colaboradores (2000) demonstraram a expressão do RNAm
para CB1 na hipófise anterior de ratos, tornando possível a hipótese de
ação da anandamida sobre o eixo tireoideano, via hipófise anterior.
Portanto, nós nos propomos neste trabalho, a investigar a ação
sistêmica da anandamida sobre a secreção de TSH em animais eu-,
hipo- e hipertireoideos, assim como sua ação local, a partir da incubação
de suas adenohipófises com anandamida.
1.1 – Hormônio estimulador da tireóide (TSH)
O hormônio estimulador da tireóide, ou tireotrofina, é o
principal regulador da secreção dos hormônios tireoideanos. É
sintetizado na adenohipófise e pertence a uma família composta por
outros hormônios glicoprotéicos, como o hormônio folículo-estimulante
(FSH) e o hormônio luteinizante (LH) (Larsen et al., 2007).
1.1.1 – Aspectos históricos
A história do TSH é extremamente antiga e tem início com as
observações feitas por Niépece, em 1851, de um controle exercido pela
glândula hipófise sobre a tireóide (citado em Morley, 1981).
Aron e colaboradores foram os primeiros a postular um controle
por retro-alimentação entre a hipófise e a tireóide. A terminologia
utilizada atualmente foi estabelecida por Hoskins em 1949. Até então, o
TSH era denominado como “substância estimuladora da tireóide” (citado
em Morley, 1981).
Por volta da metade da cada de 1960 o TSH foi purificado e, no
início da década seguinte, foi determinada a seqüência primária de
aminoácidos das subunidades do TSH (revisão em Grossmann et al.,
1997). Somente no final da década de 1980 foi atingida a clonagem dos
genes codificadores das subunidades α e β do TSH, assim como do seu
receptor, possibilitando um enorme avanço nos estudos sobre a
estrutura, regulação e ação do TSH (revisão em Weintraub et al., 2001).
1.1.2 – Características gerais
Com peso molecular de 28 a 30kDa, o TSH é uma glicoproteína
sintetizada e secretada a partir de células basófilas denominadas
tireotrofos, localizadas na adenohipófise. Os tireotrofos perfazem cerca
de 5% do total de células da adenohipófise e encontram-se
predominantemente na região ântero-medial da glândula (Morley, 1981).
O TSH é composto por duas subunidades distintas, glicosiladas,
ligadas não-covalentemente e denominadas alfa e beta. Quando livres,
ambas as subunidades o apresentam atividade. A subunidade alfa do
TSH apresenta a mesma seqüência da subunidade alfa das
gonadotrofinas (FSH e LH) com 92 aminoácidos e peso molecular de
aproximadamente 14kDa. A subunidade beta, por sua vez, com 118
aminoácidos e peso molecular aproximado de 15KDa, é estruturalmente
singular e responsável pela especificidade biológica e imunológica do
hormônio (Grossmann et al., 1997).
A molécula de TSH contém carboidratos ligados à seqüência
peptídica, nos resíduos de asparagina, que perfazem aproximadamente
15 a 22% de seu peso molecular (revisão em Morley, 1981). Estas
cadeias glicídicas são importantes para determinar a meia-vida do
hormônio até sua distribuição e os mecanismos de depuração que
modulam seus níveis na circulação (Weintraub et al., 2001).
O gene para o receptor de TSH (TSHR) foi clonado em 1989 e
codifica um peptídeo de 744 aminoácidos com peso molecular de
aproximadamente 100kDa. Pertencente à família dos receptores
acoplados à proteína G estimulatória, sua ligação com o TSH ativa a
enzima adenilato-ciclase, que, por sua vez, aumenta a concentração
intracelular de AMPc (adenosina monofosfatada cíclica) que é capaz de
ativar o sistema da via sinalizadora da Proteína Cinase A (PKA). Além
disso, a ligação do TSH com seu receptor pode ativar a via da
Fosfolipase C (PLC) (Nagayama & Nagataki, 1994).
As ações do TSH ocorrem sobre o funcionamento e crescimento
da glândula tireóide. Entretanto, a presença de receptores para TSH em
outros tecidos e tipos celulares sugere uma atividade extra-tireoideana
para este hormônio, porém, ainda está pouco esclarecida (revisão em
Weintraub et al., 2001).
As principais ações do TSH sobre a atividade tireoideana são:
promover a captação e organificação do íon iodeto, estimular a produção
de tireoglobulina e a secreção dos hormônios tireoideanos. Sobre o
crescimento glandular, o TSH promove hipertrofia e hiperplasia dos
tireócitos (Weintraub et al., 2001).
Jordan e colaboradores (1980) demonstraram que a secreção de
TSH, em ratos, apresenta uma variação circadiana ao longo de 24 horas.
Esta variação é caracterizada por um pico ximo de secreção no final
da manhã (entre 11 e 12 horas), enquanto o nadir ocorre no início da
noite, aproximadamente por volta das 20 horas. A amplitude desta
variação é de aproximadamente 34% ao longo de um dia.
Em seres humanos, a secreção de TSH apresenta um padrão
circadiano com seu zênite e nadir caracterizados por um pico máximo no
início da madrugada e um mínimo de secreção ao fim da tarde,
respectivamente. Além disso, a secreção de TSH obedece a um padrão
pulsátil com 2 a 6 horas de intervalo entre os picos que, durante a noite,
aumentam de freqüência e amplitude (revisão em Weintraub, et al.,
2001).
1.2 – Eixo hipotálamo-hipófise-tireóide
A regulação da atividade sintética e secretora da glândula tireóide
é exercida principalmente através do TSH e da disponibilidade de iodeto
no organismo que, por sua vez, é controlada basicamente através da
ingestão de iodo. Já a secreção e a síntese do TSH são reguladas
principalmente pelo estímulo do hormônio liberador de tireotrofina (TRH)
e pela inibição produzida pelos hormônios tireoideanos (Fig. 1). ainda
a regulação local (parácrina/autócrina) apresentada adiante (revisão em
Scalon, 2001).
Fig. 1 Esquema de regulação do eixo tireoidenao. SNC (Sistema Nervoso Central);
TRH (Hormônio Liberador de Tireotrofina); TSH (Tireotrofina); EGF (Fator de
Crescimento Epidermal); SP (Substância P); NB (Neuromedina B); NT (Neurotensina);
IL-1 (Interleucina –1) (adaptado de Pazos-Moura et al., 2003).
1.2.1 – Hormônio liberador de tireotrofina (TRH)
Embora a existência do TRH tenha sido primeiramente sugerida no
início da década de 1950, somente 15 anos mais tarde foi observado que
extrato hipotalâmico porcino apresentava capacidade de estimular a
secreção de TSH (revisão em Scalon, 2001).
O TRH é um tripeptídeo (piroglutamil-histidil-prolinamida) que,
como outros peptídeos mais complexos, é o resultado de clivagem pós-
traducional de uma molécula precursora maior. Tanto o TRH como sua
molécula precursora, denominada pró-TRH, são encontrados no corpo
celular de neurônios do núcleo paraventricular PVN (revisão em
Scalon, 2001).
A ação direta dose-dependente do TRH sobre a síntese e liberação
de TSH pelos tireotrofos é bem conhecida em estudos in vivo e in vitro. A
via de acesso do TRH para atingir os tireotrofos na adenohipófise se
através de sua liberação na circulação porta-hipofisária localizado na
eminência média.
O receptor de TRH (TRHR) pertence à família de receptores
acoplados à proteína G. Neste sistema, a ligação do TRH ao seu
receptor promove a ativação da fosfolipase C (PLC) que, via
diacilglicerol, ativa a proteína cinase C (PKC), enquanto através do
inositol 1,4,5-trifosfato, ocorre rápido aumento de cálcio (Ca
++
)
intracelular, o qual também ativa a PKC (revisão em Scalon, 2001).
A atividade dos neurônios que sintetizam TRH é influenciada ao
menos por dois fatores principais: aferências nervosas e pela
concentração dos hormônios tireoideanos. Enquanto vias aferentes
noradrenérgicas têm efeito estimulatório sobre a secreção de TRH, vias
mediadas por opiáceos endógenos têm efeito inibitório (Larsen et al.,
2007). Os hormônios tireoideanos, por sua vez regulam negativamente a
transcrição do gene codificador para TRH, assim como a secreção do
hormônio maduro (Hollenberg et al., 1995).
1.2.2 – Hormônios tireoideanos
Em seres humanos, a glândula tireóide secreta aproximadamente
vinte vezes mais T4 do que T3. Entretanto, uma quantidade substancial
de T4 é convertida a T3 em outros tecidos dando origem ao T3 sérico.
Esta conversão é catalisada pelas enzimas desiodase tipo I (D1) e/ou
tipo II (D2). A enzima desiodase do tipo III (D3) é responsável pela
desiodação no anel interno das iodotironinas originando rT3 a partir de
T4 e 3-3’T2 a partir de T3. A distribuição das desiodases é bastante
ampla e podem ser citados como exemplos de tecidos que expressam
D1: o fígado, o rim e a tireóide. A isoforma D2 ocorre em abundância na
hipófise, no tecido adiposo marrom e no cérebro (revisão em Bianco &
Kim, 2006).
Aproximadamente 99,98% do T4 e 99,7% do T3 circulam ligados a
proteínas plasmáticas que incluem a globulina ligadora de tiroxina (TBG),
a transtiretina (TTR) e a albumina, enquanto uma pequena fração
encontra-se ligada à lipoproteínas (Larsen et al., 2007). Desta forma, em
seres humanos, concentrações da ordem de 21 picomoles de T4 e 6
picomoles de T3 encontram-se livres e, portanto, com capacidade de
ligar-se aos seus receptores (revisão em Stockigt, 2001).
Pela característica lipofílica dos hormônios tireoideanos, admitia-se
que sua entrada no meio intracelular ocorresse por difusão, entretanto,
atualmente sabe-se que existem transportadores específicos para T3 e
T4 com relevante importância fisiológica. Entre os mais importantes
encontra-se o MCT8, que é um transportador aminoácido do tipo T,
pertencente à família de transportadores monocarboxilados e facilita o
transporte de T4, rT3 e T3. ainda, o transportador denominado
OATP1C1, específico para T4 e petencente à família de polipetídeos
transportadores de ânion orgânico (Larsen et al., 2007). A maioria dos
efeitos fisiológicos dos hormônios tireoideanos é mediada via receptores
nucleares de alta afinidade denominados de receptor de hormônio
tireoideano (TR). Existem dois genes descritos que codificam os
receptores para hormônios tireoideanos denominados de TRα e TRβ
(revisão em Jameson, 2001). O T3 apresenta atividade biológica
consideravelmente maior do que o T4 e sua ligação com o receptor
nuclear de hormônio tireoideano tem afinidade de 10 a 15 vezes maior do
que a afinidade pelo T4 (revisão em Jameson, 2001).
Os receptores de hormônios tireoideanos, α e β, são codificados
por genes distintos localizados, em seres humanos, nos cromossomos
17 e 3, respectivamente. Em mamíferos, o rearranjo alternativo do
transcrito primário para o gene TRα resulta em, ao menos, dois produtos
protéicos distintos denominados TRα1 e TRα2. Em contraste, o rearranjo
alternativo do transcrito primário para o gene TRβ produz três formas
variantes, denominadas TRβ1, TRβ2 e TRβ3 (Cheng, 2005).
Estes receptores nucleares agem em genes específicos através de
seqüências nucleotídicas denominadas Elementos Responsivos ao
Hormônio Tireoideano (TRE). Um grande número de proteínas
adicionais, denominadas fatores de transcrição, participa na ação dos
receptores de hormônios tireoideanos, estimulando a transcrição gênica
de diferentes genes (denominadas coativadores) ou reprimindo a
atividade transcricional de diferentes genes (denominadas co-
repressores), ainda que no mesmo tecido (Cheng, 2005).
Em geral, as isoformas α e β dos receptores dos hormônios
tireoideanos são amplamente distribuídas, porém com padrões de
expressão distintos. A isoforma α1é predominantemente expressa no
coração, tecido ósseo e no cérebro, enquanto a isoforma β1 é mais
abundante no fígado, rim e tireóide. A expressão da isoforma β2 é
expressa na hipófise, hipotálamo, retina e ouvido interno, enquanto a
expressão da isoforma β3 ocorre principalmenteno coração e no rim
(Cheng, 2005).
Os hormônios tireoideanos exercem efeitos em virtualmente todos
os tecidos e suas ações fisiológicas podem ser divididas em três
categorias: efeitos sobre o desenvolvimento celular, sobre a
diferenciação celular e efeitos sobre as vias metabólicas.
Alguns dos mais importantes efeitos dos hormônios tireoideanos
ocorrem durante o desenvolvimento fetal e durante a primeira infância.
Muitos destes efeitos não podem ser revertidos por um tratamento
posterior a períodos denominados janelas do desenvolvimento”,
indicando que estes efeitos dependem da combinação com outros
fatores de diferenciação que podem não estar disponíveis em estágios
posteriores (revisão em Jameson, 2001).
Em adultos, os efeitos dos hormônios tireoideanos são
manifestados por ações que envolvem não apenas consumo de oxigênio,
mas também o metabolismo de proteínas, carboidratos, lipídios e
vitaminas. Os hormônios tireoideanos também podem alterar as taxas de
síntese e degradação de outros hormônios e fatores de crescimento,
podendo, assim, influenciar outras vias endócrinas (revisão em Jameson,
2001).
A principal regulação da síntese e secreção de TSH ocorre através
de retroalimentação negativa pelos hormônios tireoideanos na
adenohipófise. Além de diminuir o número de receptores para TRH nos
tireotrofos (DeLean et al., 1977), a expressão do RNAm codificador das
subunidades alfa e beta do TSH pode ser inibida, quase que
completamente, pelos hormônios tireoideanos, mesmo frente ao efeito
estimulatório do TRH (Gurr & Kourides, 1985). Este efeito inibitório é
exercido em grande parte pelo T3 formado a partir do T4 pela enzima
desiodase tipo 2 presente na adenohipófise (Larsen et al.,1981).
Além da adenohipófise, o próprio hipotálamo é um dos locais sobre
o qual os hormônios tireoideanos têm efeito inibidor. Assim, nos
neurônios do PVN, responsáveis pela síntese e secreção de TRH, os
hormônios tireoideanos inibem a expressão de RNAm codificador de pró-
TRH (Segerson et al., 1987).
1.3 – Regulação da síntese e secreção de TSH
1.3.1 – Alterações da concentração sérica de TSH
A concentração sérica de TSH pode apresentar-se anormalmente
alterada em situações de hipo- ou hipertireoidismo.
A diminuição da concentração de TSH pode ser causada
basicamente por aumento da concentração circulante de hormônios
tireoideanos, denominado hipertireoidismo primário, ou sem o
envolvimento dos hormônios tireoideanaos, denominado hipotireoidismo
central. Enquanto o aumento da secreção de hormônios tireoideanos
pode ser mais facilmente diagnosticado, o hipotireoidismo central pode
ser etiologicamente subdividido em hipotireoidismo central secundário,
quando deficiência de TSH de origem hipofisária, ou hipotireoidismo
central terciário, quando ocorre deficiência na secreção de TRH
hipotalâmico (revisão em Weintraub et al., 2001).
A situação oposta é o aumento na concentração de TSH que pode
ser causada, basicamente, pela diminuição ou ausência da inibição
causada pelos hormônios tireoideanos na hipófise e no hipotálamo, ou
devido ao aumento da atividade do próprio tireotrofo. A causa mais
comum de aumento de TSH é o hipotireoidismo primário devido à lesão
tireoideana. Tumores hipofisários que secretam TSH (adenoma
hipofisário secretor de TSH) são responsáveis por apenas 1% de todos
tumores encontrados na hipófise e são a causa mais comum de
hipertireoidismo secundário (revisão em Weintraub et al., 2001).
1.3.2 – Outros reguladores da secreção de TSH
Associada inicialmente à inibição do hormônio do crescimento, o
tetrapeptídeo somatostatina mostrou-se também capaz de inibir a
liberação de TSH in vivo e in vitro, através do aumento da proteína G
inibitória. Tal efeito encontrou confirmação no aumento da concentração
sérica de TSH quando a somatostatina endógena foi imunobloqueada. A
transcrição da subunidade β de TSH também é inibida pela dopamina e
pelo seu agonista, bromocriptina, via inibição da adenilatociclase. Tanto a
dopamina como a bromocriptina também inibem os picos noturnos e
diminuem sua amplitude de secreção. De maneira semelhante à
somatostatina, estes efeitos encontraram confirmação quando os
receptores de dopamina foram bloqueados pela metoclopramida (revisão
em Larsen et al., 2007).
Resultados obtidos com experimentos que investigaram a
influência das vias alfa-adrenérgicas sobre a atividade do eixo
tireoideano evidenciaram um efeito tônico e estimulatório destas vias
sobre a secreção de TSH. Em situações características de ativação alfa-
adrenérgica, como o frio ou a hipovolemia, o aumento da secreção de
TSH seria mediado por neurônios responsivos às terminações alfa2-
adrenérgicas localizados em neurônios secretores de TRH no PVN
(Moura & Moura, 2004).
As informações acerca dos efeitos dos hormônios sexuais sobre a
secreção de TSH são conflitantes. Apesar disto, aguardando a
publicação de mais trabalhos esclarecedores, o que se sabe é que a
administração de estrogênio em mulheres pós-menopausa causa o
aumento da secreção de TSH. Em ratas ovariectomizadas, o estrogênio
aumenta o conteúdo hipofisário de TSH e a intensidade da resposta ao
estímulo causado pelo TRH quando administrado em doses fisiológicas,
mas não quando em doses farmacológicas. Neste último caso, o que
observa-se é exatamente o contrário (Santos, 1995). Nenhum efeito foi
observado após a administração de progesterona em ratas castradas
(Moreira et al., 2000). Em relação ao efeito da testosterona, após sua
administração em ratos castrados, observa-se aumento na secreção de
TSH (Borges et al.,1998)
É conhecida a influência do estresse agudo sobre o eixo
tireoideano suprimindo o TSH sérico, apesar da concomitante diminuição
de triiodotironina sérica. O cortisol é o principal hormônio relacionado ao
estresse e inibe agudamente a secreção de TSH (Azukizawa et al.,
1979).
A leptina é um hormônio secretado principalmente pelos adipócitos
que aumenta o gasto energético e diminui a ingestão de alimentos
(Ahima et al., 2000). Durante o jejum, a supressão de TSH e da liberação
de TRH, apesar da diminuição dos hormônios tireoideanos, associa-se à
diminuição da leptina sistêmica, cuja administração pode reverter esta
supressão da função tireoideana. Tanto em ratos alimentados
eutireoideos, como em hipertireoideos, a administração aguda sistêmica
de leptina aumenta a secreção de TSH (Ortiga-Carvalho et al., 2002;
Veiga et al., 2004). Como a leptina é produzida na adenohipófise
(Morash et al., 1999), propôs-se somar à regulação exercida pela leptina
sistêmica um papel regulador parácrino/autócrino sobre a secreção de
TSH. Interessantemente, a incubação de hemi-adenohipófises dos
mesmos modelos animais na presença de leptina provoca uma
inesperada diminuição da secreção de TSH, resultado que é confirmado
pelo aumento na secreção de TSH durante a incubação de hemi-
adenohipófises dos mesmos modelos com antisoro anti-leptina (Ortiga-
Carvalho et al., 2002; Veiga et al., 2004).
Além de estimular fortemente o apetite, o neuropeptídeo Y (NPY)
inibe a secreção de TSH in vivo e este efeito, aparentemente, dá-se
através da modulação hipotalâmica sobre o TRH, uma vez que inúmeras
fibras secretoras de neuropeptídeo Y originadas no núcleo arqueado
projetam-se para neurônios secretores de TRH no núcleo paraventricular
(Chowdhury et al., 2004).
Finalmente, em relação a moduladores associados à situação
nutricional, estudos que relatam que o Transcrito Regulado por
Anfetamina e Cocaína (CART) diminui a secreção de TSH em cultura de
células hipofisárias (Baranowska et al., 2003). a orexina B,
diferentemente da orexina A, estimula a secreção de TSH quando
injetada no terceiro ventrículo (Jones et al., 2001).
Apesar de, em seres humanos, os efeitos da interleucinas sobre a
função tireoideana não estarem totalmente claros, em ratos,
evidências de que tanto a interleucina-1, quanto a interleucina-6 e o Fator
de Necrose Tumoral (TNF) inibem a secreção de TSH (revisão em
Larsen et al, 2007).
Substâncias sintetizadas localmente na hipófise e, possivelmente
no hipotálamo, assim como seus receptores, têm sido associados a
estudos realizados com a glândula isolada e os resultados obtidos, por
sua vez, sugerem um possível e relevante papel sobre a regulação local
de TSH. Entre tais substâncias encontram-se a leptina, a substancia P, o
neuropeptídeo Y, galanina, opióides endógenos, fatores de crescimento,
citocinas, peptídeos bombesina-símiles, entre outros (revisão em Pazos-
Moura et al, 2003).
Como regulador local da secreção de TSH destaca-se a
neuromedina B. Encontrada em grande concentração na hipófise, que
expressa seus receptores e onde ocorre sua ntese, em ratos, foi
detectada nos tireotrofos. uma relação direta entre a concentração
sérica de hormônios tireoideanos e de neuromedina B hipofisária; e uma
relação inversa entre neuromedina B e análogos da somatostatina que
inibem o TSH, como por exemplo, o octeotride. Situações experimentais
como o jejum e o diabetes mellitus, que se associam à redução da
liberação de TSH, apresentam elevação na concentração de
neuromedina B hipofisária, enquanto o frio e a administração de TRH
inibem sua expressão hipofisária. Todas estas modificações que
evidenciam uma relação inversa entre as concentrações de neuromedina
B e de TSH, confirmam uma estreita relação entre estas duas
substâncias. A imunoneutralização da neuromedina B endógena
aumenta a secreção de TSH por hipófises isoladas, comprovando o seu
efeito fisiológico. Este efeito é bem maior nas hipófises de animais
hipertireoideos, do que nas dos eutireoideos e está ausente nas hipófises
de animais hipotireoideos, mostrando que o aumento da neuromedina B,
que ocorre no hipertireoidismo, pode ter um papel na inibição do TSH,
nesta situação (revisão em Pazos-Moura et al, 2003). Em camundongos
knockout para receptores de neuromedina B, o TSH sérico basal
encontra-se ligeiramente elevado, mas a resposta do TSH ao TRH é
muito maior que nos animais selvagens (Oliveira et al., 2006).
1.4 – Anandamida
1.4.1 – Aspectos gerais e históricos
Preparações a partir de Cannabis sativa foram amplamente
utilizadas por seres humanos tanto para propósitos terapêuticos como
ritualísticos na antiguidade. Na China, local onde encontram-se os mais
antigos registros arqueológicos da relação entre seres humanos e a
planta de Cannabis sativa, uma lenda, segundo a qual, o imperador
chinês Sheng Nung 3000 anos A.C, tinha um abdômen transparente
que o permitia “ver” o efeito das plantas, e dentre estas, três plantas
medicinais eram consideradas as mais importantes para a cultura
daquela época, a éfedra, o ginseng e a Cannabis sativa (revisão em
Lambert & Fowler, 2005).
Denominada de “ma” ou “ta ma” em chinês, com significado de
“grande fibra” Cannabis sp. é descrita na farmacopéia chinesa desde 200
anos D.C., sendo utilizada por diferentes civilizações em uma variedade
de aplicações médicas, como por exemplo, a dor, estimulação do apetite,
náusea, febre, infecções e desordens ginecológicas. A primeira evidência
para o uso de Cannabis foi a descoberta de cinzas fossilizadas da planta,
junto ao corpo de uma mulher grávida em uma tumba próximo de
Jerusalém, no mesmo local moedas foram encontradas com datação de
315-392 anos D.C. (revisão em Lambert & Fowler, 2005).
Apesar do uso da Cannabis como agente terapêutico durante o
século XIX, sendo um dos seus proponentes o próprio médico particular
da rainha Victoria, Sir John Russel Reynolds, somente em 1964 ocorreu
a caracterização estrutural do principal princípio ativo responsável pelos
seus efeitos psicoativos da Cannabis. Gaoni & Mechoulam (1964)
identificaram o delta-9-tetrahidrocanabiol ou delta-1-tetrahidrocanabiol
(Fig. 2), dois nomes para a mesma molécula, dependendo do sistema de
numeração usado, cuja denominação química é (6αR,10αR)-6α,7,8,10α-
tetrahidro-6,6,9-trimetil-3-pentil-6H-dibenzo[b,d]piran-1-ol (revisão em
Lambert & Fowler, 2005).
Fig. 2 Estrutura química da molécula delta-9-tetrahidrocanabiol (THC) (Lambert &
Fowler, 2005).
Até a década de 1980, o termo “canabinóide” representava um
grupo típico de diterpenos (C21) presentes na Cannabis sativa, assim
como seus ácidos carboxílicos, análogos e metabólitos. Apesar da
identificação do delta-9-tetrahidrocanabiol e de sua alta lipofilicidade, ou
seja, a possibilidade de atingir o meio intracelular de um grande número
de células, seu alvo celular não foi identificado por mais de 25 anos
(revisão em Lambert & Fowler, 2005).
Antes da identificação dos receptores canabinóides, vários ensaios
foram realizados em animais, sendo a maioria comportamental. Entre
alguns dos clássicos resultados, encontram-se a diminuição da
temperatura retal (hipotermia), a diminuição da locomoção causada pela
redução do campo de visão, a catalepsia no teste do “anel” ou da “barra”
e analgesia no teste da cauda (Martin, 1986).
Em 1988 estudos realizados por Devane e colaboradores
identificaram a presença de um receptor canabinóide no cérebro e, em
1990, foi divulgada a clonagem do receptor canabinóide (em rato) que
atua como um inibidor da adenilato-ciclase por acoplar-se a um membro
dos receptores acoplados à proteína G inibitória (Matsuda et al., 1990) e,
três anos mais tarde, um segundo receptor foi identificado com
homologia parcial, restrito às células do sistema imunológico (Munro et
al., 1993).
A nomenclatura atual destes dois receptores é CB1 e CB2,
respectivamente (Howlett et al., 2002). Com a identificação destes dois
receptores, deu-se inicio à busca por possíveis ligantes endógenos. Com
base no conceito de que o ligante endógeno apresentasse
liposolubilidade, dois metabólitos lipídicos foram isolados: o
aracdoniletanolamida, em extratos de cérebro de porco e batizado de
anandamida referindo-se aos termos ananda de origem sânscrita
significando felicidade e amida pela natureza química do composto e o 2-
aracdonoilglicerol (2-AG) (Fig. 3) (Devane et al.,1992).
Fig. 3 – Estrutura química da molécula de anandamida e 2-aracdonoilglicerol (adaptado
de Lambert & Fowler, 2005)
Além da anandamida e do 2-aracdonoilglicerol, vários outros
compostos endógenos têm sido isolados e compartilham a capacidade
de se ligar e ativar ao menos um dos dois receptores descritos. Estas
moléculas têm sido denominadas como endocanabinóides (Di Marzo et
al., 1999)
1.4.2 – Síntese de anandamida
Diferentemente dos transmissores clássicos como as monoaminas
e acetilcolina, os endocanabinóides não são armazenados, mas
sintetizados instantes antes de sua liberação, ou seja, sob demanda
(Fonseca et al., 2005).
A anandamida é formada pela clivagem de um precursor
fosfolipídico, o N-aracdonoil-fosfatidiletanolamida (NAPE). Este
precursor, por sua vez, é sintetizado pela enzima N-aciltransferase
(NAT), que catalisa a transferência do acido aracdônico a partir da
fosfatidilcolina para o grupamento fosfatidiletanolamina, requer a
presença de Ca
+2
e é regulada por AMPc, que aumenta a atividade da
NAT pela fosforilização da proteína cinase A (Cadas et al., 1996;
Piomelli, 2003). A liberação da anandamida a partir da molécula de N-
aracdonoil-fosfatidiletanolamida é catalisada por uma fosfolipase
especifica denominada Fosfolipase D (PLD), recentemente clonada (Fig.
4) (Okamoto et al., 2004).
Fig. 4 – Via de síntese de anandamida (adaptado de Piomelli et al., 2003)
Esta enzima (PLD), não tem homologia com as fosfolipases D
conhecidas e é classificada como um membro da família da
metalohidrolase de zinco. Sua presença é abundante no cérebro, rins e
testículos. A atividade da fosfolipase D específica para síntese de
anandamida é regulada pela despolarização de membranas neuronais ou
pela ativação dos receptores ionotrópicos glutamato N-metil-D-Aspartato
(NMDA), pelos receptores nicotínicos α7 neuronais (Stella & Piomelli,
2001; Piomelli, 2003) ou pelos receptores metabotrópicos dos principais
neurotransmissores, incluindo a dopamina, o glutamato e a acetilcolina
(Giuffrida et al.,1999; Varma et al., 2001; Kim et al., 2002).
1.4.3 – Inativação e liberação de anandamida
A sinalização dos endocanabinóides é interrompida por um
processo que pode ser composto por dois passos que incluem o
transporte para o interior celular seguido pela hidrólise por dois sistemas
enzimáticos específicos, ou independentemente do transporte para o
meio intracelular. Ambos os passos exercem uma regulação fina dos
níveis de endocanabinóides nos tecidos, permitindo a pida eliminação
da sinalização desencadeada por estas moléculas (Fonseca et al., 2005).
A captação de anandamida é mediada por um transportador que é
amplamente distribuído através de todo cérebro e funciona similarmente
a outros transportadores de lipídios facilitando a captação de
anandamida passivamente (Beltramo et al., 1997; Giuffrida et al., 2001);
apresenta especificidade e é saturável, podendo ainda ser
especificamente bloqueado por drogas como AM404, UCM707 e
AM1172 (Fig. 5) (Fonseca et al., 2005).
Fig. 5 Moléculas com efeito inibitório sobre o transportador de anandamida ( Fonseca
et al., 2004.
A degradação enzimática composta por duas enzimas específicas
incluí a Hidrolase de Amida de Ácidos Graxos (FAAH) e a Lípase de
Monoacilglicerida (MAGL). A FAAH pertence à família das hidrolases de
serinas e é uma enzima amplamente distribuída através do corpo com
altas concentrações no cérebro e no fígado. A FAAH pode degradar
muitas amidas de ácidos graxos, incluindo aciletanolaminas como a
anandamida. Embora a FAAH possa degradar o 2-aracdonoilglicerol, a
principal enzima responsável pela degradação desta molécula de
monoglicerídeo é a MAGL (Fig. 6) (Cravatt et al., 1996; Dinh et al., 2002).
Fig. 6 – Esquema de inativação da anandamida (Piomelli et al., 2003).
Ainda não há um consenso estabelecido sobre o processo de
liberação de anandamida (Lambert & Fowler, 2005). Estudos mostram
que a anandamida é encontrada em meio de incubação com neurônios e
no fluído intersticial cerebral, corroborando sua difusão facilitada através
das membranas (Di Marzo et al., 1994; Giuffrida et al., 1999; Walker et
al., 1999). Estudos fisiológicos trazem a interessante constatação de que
a anandamida é capaz de ativar receptores CB1 presentes nas
adjacências de axônios pós-sinápticos, podendo difundir-se a20 µm a
partir de sua célula de origem antes de ser degradada (Wilson & Nicol,
2001).
O fato de que a membrana plasmática contenha moléculas
precursoras da síntese de anandamida indica que esta possa deixar a
célula em que é sintetizada assim que é formada. Proteínas
extracelulares ligadoras de lipídios, como por exemplo, lipocalinas que
são altamente expressas no cérebro, podem facilitar a saída imediata da
anandamida recém sintetizada e auxiliar sua chegada às células-alvo.
Embora este cenário aguarde confirmação, ele pode ser um reflexo do
que ocorre na corrente sanguínea, onde o transporte da anandamida
seria feito, possivelmente, pela sua ligação reversível com a albumina
sérica (Beuckmann et al., 2000; Bojensen & Hansen, 2003).
1.4.4 – Receptores e transdução de sinal.
A existência de um receptor para canabinóide no cérebro,
denominado CB1, foi primeiramente demonstrado em 1988 (Devane et
al., 1988). Matsuda e colaboradores (1990) isolaram e clonaram o gene
codificante para o receptor CB1 no córtex cerebral de rato.
Subseqüentemente, Gerard e colaboradores (1991) clonaram o receptor
CB1 em seres humanos e observaram que sua seqüência apresentava
alta similaridade com o receptor CB1 identificado em rato.
Em 2000, Gonzalez et al., demonstraram a expressão do RNAm
para CB1 na hipófise anterior de ratos, tornando possível postular uma
ação da anandamida sobre a função tireoideana. Além da localização no
sistema nervoso central, nos neurônios periféricos e em células gliais, o
RNAm para o receptor CB1 foi também descrito em diversos outros
tecidos de seres humanos, felinos, ratos, camundongos, aves, anfíbios e
peixes (Pertwee, 2001), sendo a homologia bastante preservada ao
longo do processo evolucionário com identidade de aproximadamente 97
99% dos aminoácidos entre receptores CB1 de rato, camundongo e
seres humanos (Howlett et al., 1990). Entretanto, o vel de CB1 em
tecidos periféricos de seres humanos, é muito menor do que no sistema
nervoso central.
Logo após a descoberta do receptor CB1, um outro receptor
canabinóide, expresso perifericamente e denominado CB2, foi descrito
em um banco de cDNA proveniente de uma linhagem celular derivada de
leucemia humana promielocítica (Munro et al., 1993).
A forma CB2 do receptor canabinóide, também conhecido como
receptor canabinóide periférico, é expressa em macrófagos/monócitos da
zona marginal do baço, no córtex de linfonodos e na corona nodular das
placas de Peyer. A expressão dos veis de RNAm para o receptor CB2
em células e tecido imunológicos é 10 a 100 vezes maior do que a
expressão do receptor CB1 nas mesmas células ou tecidos (Lynn &
Herkenham, 1994).
Uma particularidade em relação à anandamida é que seus efeitos
podem se dar através da mediação de outros sistemas, especialmente os
mediados pelos Receptores Vanilóides tipo 1 (VR1), tanto por
mecanismos diretos como pela ação dos metabólitos derivados da
lipoxigenase (Zygmunt et al., 1999). Baseado em sua homologia, estes
receptores podem ser agrupados com canais para cálcio, que permitem o
influxo transiente em função do potencial de ação, em terminais nervosos
sensoriais (Howlett & Mukhopadhyay, 2000).
A relação entre os receptores vanilóides e os canabinóides foi
primeiramente demonstrada em 1999 por Zygmunt e colaboradores,
quando reportaram a capacidade da anandamida de ativar os canais
VR1 expressos em células HEK293, podendo ser esta ativação
bloqueada pela capsazepina, antagonista de VR1.
O receptor CB1 é o mais abundante receptor acoplado à proteína
G inibitória, com densidades entre 10–50 vezes maior do que clássicos
neurotransmissores, como por exemplo, a dopamina ou receptores
opióides (Howlett et al., 1990).
Endocanabinóides exibem distintas propriedades de ligação e
atividade sobre os receptores CB1 e CB2. A anandamida comporta-se
como agonista parcial tanto do receptor CB1 como do CB2, mas com
afinidade muito maior pelo receptor do tipo CB1 (Hillard et al., 1999;
Howlett et al., 2002). A afinidade da anandamida aos receptores CB1 é
de 4 a 30 vezes maior do que nos receptores CB2. Por outro lado, o 2-
aracdonoilglicerol é agonista tanto do receptor CB1 como do CB2 e tem
menos afinidade do que a anandamida por ambos os receptores (Stella
et al., 1997; Howlett et al., 2002).
Ambos receptores canabinóides desencadeiam sistemas de
transdução de sinal similares. A ativação do receptor canabinóide foi
inicialmente descrita como inibidora da formação de AMPc, através de
seu acoplamento com proteína G inibitória (Devane et al., 1998). Como
em outros receptores acoplados à proteína G inibitória, a ativação do
receptor CB1 diminui a condutância ao Ca
++
e aumenta a condutância ao
K
+
. ainda resultados que descrevem a possibilidade de que o
acoplamento tanto de receptores CB1, como de receptores CB2, poderia
desencadear a ativação de cascatas sinalizadoras como a da Proteína
Cinase Ativada por Mitógeno (MAPK), a da Fosfatidilinositol 3-Cinase, a
Quinase de Adesão Focal (FAK), a sinalização via ceramida e a
produção de óxido nítrico. A ativação da ERK e da FAK pode ser
simulada por inibidores de cinases dependentes de AMPc e é perdida
quando exposta a seus análogos (Fig. 7) (Derkinderen et al., 2003;
Hoffman et al., 2003).
Devem existir importantes diferenças entre os efetores que
medeiam a sinalização entre os receptores CB1 e CB2, uma vez que a
transfecção do receptor CB2 em células CHO não apresenta efeito sobre
as correntes iônicas de cálcio e potássio, apesar de se manter a
capacidade de inibir a adenilato-ciclase (Felder et al., 1995).
Outros estudos revelam que, sob certas condições, os receptores
CB1 podem estimular a formação de AMPc ao acoplar-se com proteína
G estimulatória (revisão em Reggio, 2002). Tais observações ilustram o
conceito básico de que receptores acoplados à proteína G podem agir
através de vários efetores distintos, e cada sistema efetor pode estar
designado para propósitos específicos (Howlett, 2004).
Fig. 7 Esquema das principais vias sinalizadoras desencadeadas pelo receptor CB1.
9-THC (delta-9-tetrahidrocanbinol); AC (Adenilato Ciclase); Gi (Proteína G Inibitória);
Gs (Proteína G estimulatória); ATP (Adenosina Trifosfato); cAMP (Adenosina
Monofosfato Cíclica) (Axelrod & Felder, 1998).
1.4.5 – Antagonismo sobre ação do receptor endocanabinóide.
Os estudos que vêm caracterizando as propriedades dos
receptores endocanabinóides também propiciaram a descoberta de
diversas moléculas que antagonizam o seu efeito ou agem como
“agonistas inversos” (Pertewee, 2005). Este conceito pode ser
compreendido como a capacidade do ligante desencadear o efeito
inverso ao do agonista quando ligado ao receptor. Alguns exemplos das
várias moléculas já descritas como antagonistas dos receptores
endocanabinóides são apresentadas na figura abaixo (Fig. 8)
Fig. 8 Principais antagonistas dos receptores endocanabinóides (Lambert & Fowler,
2005).
O antagonista denominado [N-(piperidina-1-il)-5-(4-iodofenil)-1-
(2,4-diclorofenil)-4-metil-lH-pirazol-3-carboxamida], ou simplesmente
AM251 é um agonista inverso que age preferencialmente via receptor
CB1 (Gatley et al., 1996).
Alguns resultados, obtidos com efeitos do antagonista AM251 via
receptor CB1, também reforçam o envolvimento deste receptor com o
metabolismo energético e com o sistema nervoso central. A
administração de AM251 suprime a ingestão de alimentos em ratos
(McLaughlin et al., 2003).
Outro antagonista CB1, o SR141716A, também conhecido como
rimonabant, foi recentemente introduzido na terapêutica para tratamento
de síndrome metabólica, portanto, é relevante conhecer os efeitos
crônicos destes antagonistas CB1 sobre a função tireoideana.
1.4.6 – Ações no sistema nervoso
Após a descoberta da anandamida e de suas propriedades
canabimiméticas, os primeiros passos para se estabelecer possíveis
ações no sistema nervoso central foram dados no sentido de descobrir
os mecanismos de sua biossíntese e degradação. Estudos realizados
com ratos mostraram que a síntese e liberação de anandamida em níveis
basais no cérebro eram baixas se comparados à maioria dos
neurotransmissores. Apesar disso, como outros clássicos
neurotransmissores, a anandamida é liberada após despolarização da
membrana neuronal e influxo do cátion cálcio. Sua inativação ocorre
através de sua captação seguida por mecanismos de degradação
enzimática (Di Marzo et al., 1998).
Desde que descrita a expressão de CB1 no sistema nervoso
central de rato, vários estudos in vivo e in vitro têm reforçado o conceito
de que as principais funções dos endocanabinóides, ou do sistema
endocanabinóide, ocorram pelo controle sobre a atividade neural, em
geral diminuindo-a. Soma-se o fato de que muitos dos efeitos exercidos
por exo- e endocanabinóides m encontrado explicação graças à
presença de seus receptores em circuitos neuronais específicos (Pazos
et al., 2005). A distribuição do receptor CB1 no cérebro de rato é, sem
dúvida, a melhor conhecida entre todas as espécies animais estudadas,
graças a resultados auto-radiográficos, imunohistoquímicos e de
hibridização in situ (Herkenham et al., 1991; Tsou et al., 1998a; Mailleux
& Vanderhaeghen, 1992). Uma notável característica destes receptores é
sua atípica localização pré-sináptica durante diferentes estágios de
desenvolvimento de regiões e circuitos nervosos específicos no sistema
nervoso central, como por exemplo, na formação de córtex, hipocampo,
núcleos da base e cerebelo, o que sugere que o sistema
endocanabinóide possa desempenhar um importante papel na
transmissão sináptica (Berrendero et al., 1998; Herkenham et al., 1991).
Além da grande expressão dos receptores canabinóides no
sistema nervoso central, também a ampla distribuição de uma das
principais enzimas envolvidas na degradação da anandamida e do 2-
aracdonoilglicerol, a hidrolase de amida de ácido graxo (FAAH). Sua
expressão foi demonstrada em neurônios piramidais corticais e
hipocampais, além de células de Purkinje (Tsou et al., 1998b). É
importante notar que a localizaçã da FAAH, diferentemente da dos
receptores CB1, é pós-sináptica em diferentes circuitos neuronais,
revelando um papel complementar distinto do padrão de distribuição dos
receptores CB1 (Egertova et al., 1998). Como ocorre com outros neuro-
moduladores endógenos, a anandamida pode ter um sistema especifico
de inativação, estando a FAAH envolvida com o seu processo de
remoção da fenda sináptica para sofrer hidrólise intra-celular (Pazos et
al., 2005).
1.4.7 – Efeitos já descritos dos canabinóides no sistema endócrino e
no metabolismo
Na década de 1960, o aumento dramático do uso casual de
Marijuana levantou questionamentos acerca dos potenciais efeitos
adversos sobre a saúde dos seres humanos. Em 1972, Harmon e
Aliapoulios realizaram o primeiro estudo clínico sobre o impacto do uso
de Marijuana no sistema endócrino, associando-o inicialmente à
ginecomastia. Investigações posteriores demonstraram que a Marijuana
através de seu componente bioativo o delta-9-tetrahidrocanabiol e a
própria anandamida exerciam diversos efeitos em modelos experimentais
de vários sistemas hormonais, incluindo gônadas, prolactina, hormônio
do crescimento e tireóide, além de interagir com o controle do balanço
energético (Brown & Dobs, 2002).
Os receptores CB1, presentes em núcleos hipotalâmicos
envolvidos com a regulação do apetite, são ativados após uma breve
restrição alimentar, o que sugere uma possível ação da anandamida
sobre a regulação dos níveis de mediadores orexígenos e anorexígenos
(Di Marzo et al., 2001). De fato, o nível do Hormônio Liberador de
Corticotrofina (CRH), que também exerce efeito anorexígeno através de
sua ação no núcleo hipotalâmico paraventricular, está elevado em
camundongos knock-out para o receptor CB1, o que sugere uma ação
inibitória da anandamida sobre a expressão de CRH (Cota et al., 2003).
Em outros estudos, a anandamida mostrou uma ação inibitória via
CB1 sobre a secreção do CART em várias regiões do hipotálamo
envolvidas com a ingestão alimentar (Osei-Hyiaman et al., 2005; Verty et
al., 2006). Com base em resultados em que os endocanabinóides
estimulam a liberação de neuropeptídeo Y (NPY) no hipotálamo, sugere-
se que o seu efeito orexígeno também possa ser parcialmente exercido
através deste mediador (Verty et al., 2006; Gamber et al., 2005), muito
embora, receptores CB1 não estejam co-localizados com neurônios
secretores de NPY (Cota et al., 2003). Tal constatação indica que
mecanismos multi-sinápticos são requeridos para que a ativação de
receptores CB1 estimule a liberação de NPY (Matias & Di Marzo, 2006).
Em relação ainda aos efeitos metabólicos dos canabinóides,
receptores tipo CB1 encontram-se presentes em tecidos periféricos
envolvidos com o controle da homeostase energética. Tais tecidos
incluem: o intestino, o fígado, o tecido adiposo branco, a musculatura
esquelética e o ncreas (revisão em Matias & Di Marzo, 2006). Em
relação ao tecido adiposo branco, camundongos normais wild type têm
maior quantidade de massa adiposa e menor quantidade de massa
“magra” em comparação com animais knock-out para o receptor CB1. A
presença do receptor CB1 descrita no tecido adiposo branco está
acoplada à estimulação da atividade da enzima lipoproteína lípase. Tais
informações sugerem que o sistema endocanabinóide contribua para a
acumulação de gordura, agindo diretamente no tecido adiposo (Cota et
al., 2003).
No fígado, o receptor CB1 é expresso nos hepatócitos e estimula a
expressão de um importante fator de transcrição denominado Elemento
Ligante de Proteína 1c Reguladora de Esteróide (SREBP-1c), cujos os
alvos são a Acetil-Carboxilase 1 e a Ácido Graxo Sintase (Osei-Hyiaman
et al., 2005).
Recentemente, os endocanabinóides mostraram-se envolvidos na
regulação dos veis de insulina, assim como na captação e utilização de
glicose pelos tecidos. Em ilhotas de Langerhans isoladas foi demostrado
que a estimulação de receptores CB2 reduz a liberação de insulina,
enquanto a ativação sistêmica de receptores do tipo CB1 causa
intolerância à glicose in vivo (Juan-Pico et al., 2005).
A administração aguda de canabinóides interfeririu com o processo
normal de espermatogênese e diminuiu a concentração de testosterona
em ratos. Entretanto, em seres humanos, os resultados não são
consistentes (Brown & Dobs, 2002).
A administração aguda de delta-9-tetrahidrocanabiol em roedores
produziu significativa diminuição tanto das concentrações séricas de
testosterona como de gonadotrofinas devido à inibição dos pulsos
geradores de liberação de GnRH (Hormônio liberador de gonadotrofina)
(Murphy et al., 1998). Efeitos similares foram demonstrados em primatas.
Em macacos Rhesus, a administração de delta-9-tetrahidrocanabiol
causou redução de aproximadamente 65% nas concentrações séricas de
testosterona dentro de 1 hora (Smith et al., 1976). os efeitos crônicos
da administração de canabinóides o menos claros. Embora uma
diminuição dose-dependente do Hormônio Luteinizante (LH) seja
observada com a administração crônica de delta-9-tetrahidrocanabiol
(Collu et al., 1975), tal efeito mostra-se menos dramático do que o
observado com administração aguda (Symons et al., 1976) podendo
estar relacionado com o desenvolvimento de tolerância (Rosenkrantz &
Esber, 1980).
Os canabinóides, incluindo componentes da marijuana modulam a
atividade dos neurônios dopaminérgicos (Fernandez-Ruiz et al., 1992),
portanto alterando a secreção de prolactina. Estudos com modelos
animais demonstraram redução aguda nos veis de prolactina após a
administração de delta-9-tetrahidrocanabiol, tanto em roedores como em
primatas, e mostraram uma redução na concentração sérica de
prolactina de 84% em macacas ovariectomizadas e de 74% em
macacos, 30 a 90 minutos após uma única injeção de delta-9-
tetrahidrocanabiol (Smith et al., 1979; Bromley & Zimmerman, 1976)
Os canabinóides alteram o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
através da modulação exercida sobre a liberação de CRH tanto
diretamente, através de receptores CB1 presentes em neurônios
produtores de CRH no núcleo hipotalâmico paraventricular (Herkenham
et al., 1991), quanto indiretamente, por outras vias (Murphy et al., 1998).
Em vários estudos animais, a administração aguda de canabinóides
provocou aumento tanto do Hormônio Adrenocorticotrófico (ACTH), como
nos veis de glicocorticóides, respeitando um padrão dose-dependente;
aparentemente, trata-se de um efeito mediado pelo aumento da secreção
de CRH (Puder et al., 1982; Jackson & Murphy, 1997; Rodriguez de
Fonseca et al., 1992). Roedores submetidos à administração de um
agonista do receptor CB1 denominado HU-210 apresentam significativa
ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, porém, em altas doses
observa-se diminuição de ACTH e aumento de glicorticóides, sugerindo
uma rápida resposta de retroalimentação negativa desempenhada pelos
glicocorticóides (Martin-Calderon et al., 1998). Entretanto, rapidamente
desenvolve-se tolerância a estes efeitos durante administração crônica
(Rodriguez de Fonseca et al., 1992).
Estudos com seres humanos mostram diferentes efeitos da
marijuana e dos componentes canabinóides sobre eixo hipotálamo-
hipófise-adrenal. Similarmente aos efeitos em animais, observa-se
aumento de cortisol sérico após a administração de marijuana (Cone et
al., 1986). Entretanto, em contraste com estes resultados, nenhuma
alteração foi observada no ritmo de secreção de cortisol durante
administração crônica de delta-9-tetrahidrocanabiol através do fumo de
marijuana (Dax et al., 1989).
Um efeito inibitório dos canabinóides sobre a secreção de
Hormônio do Crescimento (GH), mediado pela estimulação de liberação
de somatostatina, foi observado (Rettori et al., 1988). Diminuições
agudas nas concentrações ricas de GH têm sido observadas com a
administração de agonistas de receptores canabinóides CB1 (HU-210 ou
THC68) em ratos (Martin-Calderon et al., 1998). Há poucos estudos
investigando o efeito da marijuana e de outros canabinóides sobre a
secreção de GH em seres humanos. Benowitz e colaboradores (1976)
relataram que a administração oral de delta-9-tetrahidrocanabiol bloqueia
a resposta secretória de GH induzida por hipoglicemia provocada por
insulina. Efeitos sobre a dinâmica secretora de GH pelo uso crônico de
marijuana são desconhecidos (Brown & Dobs, 2002).
1.5 – Canabinóides e eixo hipotálamo-hipófise-tireóide
O efeito dos canabinóides sobre a função tireoideana foi
primeiramente descrito em 1965, quando experimentos in vivo com
administração de extrato de Marijuana em ratos mostraram diminuição
liberação de produtos tireoideanos radiomarcados (Miras, 1965).
A administração aguda de delta-9-tetrahidrocanabiol em roedores
reduziu significativamente as concentrações séricas de T3, T4 e TSH por
mais de 6 horas (Hillard et al., 1984; Nazar et al., 1981). As
concentrações séricas de T3 e de T4 podem ser normalizadas pela
administração exógena de TSH, sugerindo que, através de um sítio de
ação hipotalâmico/hipofisário para delta-9-tetrahidrocanabiol, a
diminuição do TSH circulante pudesse ser a causa primária da redução
no T3 e T4 séricos (Nazar et al., 1981; Lomax, 1970).
Entretanto, com a administração crônica de delta-9-
tetrahidrocanabiol, o efeito supressivo dos canabinóides observado
agudamente desaparece, o que sugere o desenvolvimento de tolerância
(Hillard et al., 1984). Não dados acerca de efeitos dos canabinóides
sobre a função tireoideana em humanos.
Em relação ao efeito exercido pela administração exógena de TRH
sobre a secreção de TSH, a administração de delta-9-tetrahidrocanabiol
não produziu qualquer efeito (Hillard et al., 1984). Em 1998, Buckley e
colaboradores descreveram a presença de altos níveis de RNAm
codificador do receptor canabinóide CB1 nos estágios embriológicos
mais tardios do desenvolvimento da tireóide em ratos. Recentemente,
Porcella e colaboradores (2002) relataram a expressão do receptor CB1
em tireóide de ratos.
Assim, apesar de haver alguns estudos que investigaram o
envolvimento do delta-9-tetrahidrocanabiol através do receptor CB1
sobre a atividade tireoideana, nada se tem publicado acerca da ação da
anandamida, que é um ligante endógeno do receptor CB1 presente no
hipotálamo, na hipófise anterior e na própria tireóide.
Portanto, este trabalho propõe-se a contribuir para o entendimento
da ação do sistema endocanabinóide sobre a atividade do eixo hipófise-
tireóide, com foco sobre a secreção de TSH, T4 e T3.
2 – OBJETIVO
Geral:
Este trabalho tem como objetivo avaliar o efeito in vivo e in vitro da
anandamida modulando a secreção de TSH no eu- hipo- e
hipertireoidismo.
Específicos:
Avaliar o efeito sistêmico agudo da anandamida sobre a
concentração sérica de TSH, T4 e T3 em animais eu- hipo- e
hipertireoideos.
Avaliar o efeito in vivo do antagonista de receptor canabinóide
AM251, sobre a secreção de TSH, T4 e T3 em animais eutireoideos.
Avaliar o efeito in vitro da anandamida sobre a responsividade de
explantes adenohipofisários de animais eutireoideos na secreção de
TSH.
3 – MATERIAL E MÉTODOS
Todos os protocolos experimentais foram previamente submetidos
e aprovados pelo Comissão de Avaliação da Utilização de Animais em
Pesquisa (CAUAP) do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
3.1 – Animais
Foram utilizados ratos machos Wistar com, aproximadamente, 3
meses de idade e peso corpóreo entre 270 e 300g. Os animais foram
mantidos em ambiente controlado com ciclo claro/escuro de 12 horas
cada, temperatura em torno de 24
O
C e acesso à água e ao alimento ad
libitum.
3.2 – Modelo hipertireoideo
O modelo hipertireoideo foi obtido através da administração diária
de solução de tiroxina (T4 L-Thyroxine, Sigma USA) na dose de 10µg
para cada 100g de peso corpóreo, injetado subcutaneamente no volume
de 0,3mL, durante 6 dias. O T4 foi previamente solubilizado em solução
NaOH 0,05M e posteriormente diluído em solução salina obtendo-se uma
concentração final de NaOH de 0,004M.
3.3 – Modelo hipotireoideo
Para obtenção do modelo hipotireoideo, os animais foram tratados
com metimazol (MMI Methimazole, Sigma USA) que inibe a síntese
de hormônios tireoideanos, na concentração de 0,03% na água de beber
durante 21 dias.
3.4 – Experimentos in vivo
A primeira etapa consistiu em determinar o curso temporal do
efeito do endocanabinóide endógeno anandamida sobre a concentração
sérica de TSH em animais normais. Após esta etapa, os experimentos in
vivo direcionaram-se para os efeitos da anandamida sobre a
concentração sérica de TSH em animais hiper- ou hipotireoideos.
Finalmente, investigamos o efeito da administração do antagonista
seletivo de anandamida (AM251) sobre a concentração sérica de TSH
em animais normais.
3.4.1 – Administração de anandamida
Utilizou-se nos experimentos in vivo anandamida - (N-(2-
Hidroxietil)-5z,8z,11z,14z-eicosatetraenamida, (C22H37NO2),
proveniente da empresa Tocris Cookson Inc. (Missouri, USA), com peso
molecular de 347,54, fornecida pré-dissolvida em etanol anidro na
concentração de 5mg/mL. Minutos antes da administração, diluiu-se esta
solução na proporção de 1:150 em veículo composto por salina
(0,9%):propileno glicol:etanol na proporção de 2:1:1, respectivamente, de
modo que a concentração de anandamida injetada intraperitonealmente
foi de 0,02mg/Kg de peso corporal em 0,2mL.
Levando-se em consideração um volume sangüíneo de
aproximadamente 30mL para um rato de 300g, estimamos que esta dose
seja equivalente a uma molaridade circulante inicial de aproximadamente
9,7x10
-7
M.
3.4.2 Curso temporal do efeito de administração aguda de
anandamida em ratos eutireoideos
Para determinar o curso temporal do efeito da anandamida sobre a
concentração sérica de TSH em ratos eutireoideos, quatro grupos foram
utilizados.
Um grupo denominado controle (C) recebeu uma injeção de dose
de 0,2mL de veículo - salina (0,9%):propileno glicol:etanol na proporção
de 1:2:1, respectivamente, intraperitonealmente, enquanto três grupos
receberam uma injeção de 0,2mL de anandamida na dose 0,02mg/Kg de
peso corporal, por via intraperitoneal.
Os grupos que receberam anandamida foram sacrificados por
decapitação 0,5; 1 e 2 horas após a administração de anandamida, seu
sangue foi coletado a partir do tronco e imediatamente resfriado para
posterior centrifugação e armazenamento do soro a -20
o
C.
O grupo que recebeu veículo teve seus animais reagrupados em
três subgrupos de mesmo n. Então, cada subgrupo com 1/3 dos animais
que receberam veículo, foi sacrificado por decapitação, imediatamente
após o sacrifício dos grupos que receberam anandamida nos diferentes
tempos (Fig. 9). Seu sangue foi coletado da mesma forma e recebeu o
mesmo tratamento que os grupos que receberam anandamida.
Fig. 9 – Esquema experimental com animais eutireoideos in vivo.
3.4.3 Efeito da administração aguda de anandamida em ratos
hiper- e hipotireoideos
A dose, volume, solubilização e via de administração do veículo
para o grupo controle e da solução de anandamida para os grupos
experimentais hiper- ou hipotireoideos foram as mesmas previamente
descritas para os experimentos com os animais eutireoideos. Os
experimentos com animais hiper- ou hipotireoideos foram realizados em
datas distintas.
Após a indução do hiper- ou hipotireoidismo, conforme
previamente descrito, os animais submetidos a um dos dois tratamentos
(hiper- ou hipotireoidismo) foram divididos em dois subgrupos que
receberam veículo (grupo controle - C) ou anandamida (grupos
experimentais – Hiper ou Hipo).
O tempo de sacrifício foi determinado em 2 horas após a
administração do veículo (grupo controle - C) ou anandamida (Hiper ou
Hipo), de acordo com os resultados obtidos com os experimentos
realizados previamente com os grupos eutireoideos para determinação
do curso temporal.
Para o experimento com animais hipertireoideos a dose de veículo
ou de anandamida foi administrada no sétimo dia após o início do
tratamento com tiroxina (6 dias de tratamento com tiroxina) (Fig. 10).
Fig. 10 – Esquema experimental com animais hipertireoideos in vivo.
Para o experimento com os grupos hipotireoideos a dose de
veículo ou de anandamida foi administrada no vigésimo segundo dia
após o início do tratamento com metimazol (21 dias de tratamento com
metimazol) (Fig. 11).
Fig. 11 – Esquema experimental com animais hipotireoideos in vivo.
3.4.4 – Administração do antagonista de anandamida – AM251
O antagonista do receptor CB1 denominado N-(piperidina-1-yl)-5-
(4-iodofenil)-1-(2,4-diclorofenil)-4-metil-1H-pirazole-3-caboxamida,
(C22H21Cl2IN4O), ou apenas AM251, com peso molecular de 555,24 foi
adquirido da empresa Tocris Cookson Inc. (Missouri, USA). Fornecido na
forma liofilizada, o mesmo foi ressuspendido em solução composta de
etanol:DMSO:salina na proporção 1:14:5, respectivamente, de modo que
a concentração de AM251 injetada intraperitonealmente foi de 1,7mg/Kg
de peso corporal, com molaridade circulante inicial teórica para um rato
de 300g estimada em 3x10
-5
M, em 0,2mL.
Os animais que receberam AM251 foram sacrificados 90 minutos
após a dose administrada. O grupo controle (C), cuja dose administrada
não conteve AM251, apenas a solução de etanol, DMSO e salina; teve
seus animais sacrificados imediatamente após o grupo que recebeu
anandamida. Com o objetivo de minimizar os efeitos das variações
circadianas, bem estabelecidas pela literatura, sobre a secreção de TSH,
os experimentos foram realizados de modo que os animais não fossem
sacrificados após as 12:00 horas.
3.5 – Experimentos in vitro
Nestes experimentos foi avaliada a resposta secretora de TSH a
partir de hemi-adenohipófises de animais eutireoideos incubadas na
ausência ou presença de anandamida em três diferentes molaridades.
Da mesma maneira que nos experimentos in vivo, os animais
foram sacrificados por decapitação. Seu sangue foi coletado a partir do
tronco, processado para obtenção do soro que foi armazenado a -20
o
C
para posterior dosagem de TSH.
As hipófises foram dissecadas descartando-se a neurohipófise e
separando cada hemi-adenohipófise para incubação em 1 mL de meio
Krebs-Ringer bicarbonato pH 7,4, contendo bacitracina 0,1% (Sigma,
EUA). O meio de incubação foi mantido a temperatura de 37
o
C, em
atmosfera carbogênica (95% de O
2
e 5% de CO
2
) em banho-maria do
tipo Dubnoff.
Após 30 minutos de pré-incubação, o meio de incubação foi
trocado por meio fresco com o mesmo volume, contendo ou não
anandamida. Utilizou-se, nos experimentos in vitro, anandamida (N-(2-
Hidroxietil)-5z,8z,11z,14z-eicosatetraenamida, (C
22
H
37
NO
2
), proveniente
da empresa Tocris Cookson Inc. (Missouri, USA), com peso molecular de
347,54kD, fornecida na concentração de 10mg/mL em Tocrisolve™
(Tocris Cookson Inc. Missouri, USA). Minutos antes da administração,
diluiu-se esta solução em e meio de incubação Krebs-Ringer na
proporção de 1:300.000 para obtermos a primeira molaridade (10
-7
M) a
partir da qual foram feitas as diluições (10
-9
M e 10
-11
M).
As adenohipófises provenientes de animais eutireoideos foram
divididas em quatro grupos: incubadas na ausência (Controle +
Tocrisolve™) ou presença de anandamida nas concentrações de 10
-11
M,
10
-9
M e 10
-7
M, com volume de incubação de 1mL.
Após 2 horas de incubação, uma alíquota de 100µL foi retirada
para avaliação do TSH basal, conforme mostra a figura a seguir (Fig. 12).
Fig. 12 Esquema ilustrando o procedimento para o experimento in vitro com hemi-
adenohipófises de animais eutireoideos.
3.6 – Radioimunoensaio para TSH
As concentrações de TSH séricas e do meio de incubação foram
determinadas através de radioimunoensaio para TSH murino (método do
duplo anticorpo) como previamente descrito (Ortiga, 1992).
Os padrões de referência para construção de uma curva padrão, o
anticorpo anti-TSH murino obtido a partir de coelho (primeiro anticorpo) e
o TSH purificado para iodação foram gentilmente fornecidos pelo
National Hormone Pituitary Program – NHPP (Bethesda, USA).
O TSH foi marcado com iodo radioativo (
125
I) pelo método da
cloramina T (Chard, 1987). Após a ligação do radioisótopo, separou-se o
TSH das moléculas não marcadas e do radioisótopo livre pelo método da
cromatografia de filtração em gel de poliacrilamida (Bio-Gel P-60, Bio-
Rad, USA).
A curva padrão foi construída com valores conhecidos de TSH e
variaram entre 0,18 a 11,64 ng/mL.
O ensaio consiste em incubar as amostras ou os padrões durante
2 horas em tampão PBS/BSA pH 7,6 com o primeiro anticorpo (diluição
final por tubo de ensaio de 1 : 1.500.000). Após esta primeira etapa,
adiciona-se o volume equivalente a 10.000 cpm/tubo de TSH ligado ao
radioisótopo e mantém-se a reação em temperatura ambiente pelas
próximas 24 horas, quando então, precipita-se os complexos antígeno-
anticorpo pela adição do segundo anticorpo (IgG de cabra contra IgG de
coelho) junto com 5% de polietilenoglicol (Polietilenoglicol 6.000, Isofar) e
posterior centrifugação (1900xg a 4
o
C durante 30 minutos).
Após desprezar o sobrenadante, a radioatividade no tubo foi
determinada em um cintilador de fase sólida (Compugama LKB, 1282 -
Wallac) com especificidade centrada em torno da energia do
125
I.
O limite mínimo de detecção de TSH para todos os ensaios foi de
0,18 ng/mL. O coeficiente de variação intra-ensaio dos experimentos foi
de 8,8%.
3.7 – Dosagem de T4 e T3 totais
A determinação da concentração sérica de T4 e T3 totais foi
realizada com kit comercial (T4 ou T3 MAb da ICN Pharmaceuticals
Costa Mesa, CA USA) baseado no princípio de radioimunoensaio de
fase sólida com anticorpo específico aderido à parede do tubo. O limite
mínimo de sensibilidade informado pelo fabricante é de 0,76 µg/dL para
T4 e 25 ng/dL para T3.
Todas as amostras comparadas foram dosadas dentro de um
mesmo ensaio. O coeficiente de variação intra-ensaio foi de 3,1% para
T4 e 4,4% para T3.
3.8 – Análise estatística
Todos os valores são expressos como média ± erro padrão da
média (EPM) em ng/mL.
O TSH sérico dos animais eutireoideos empregados no
experimento denominado “curso temporal”, foi analisado com o emprego
do teste Kruskal-Wallis, seguido pelo pós-teste de comparação múltipla
de Dunn, enquanto o T4 e o T3 foram analizados por Análise de
Variância (ANOVA) univariado bicaudal seguido do teste de comparação
múltipla de Dunnett.
Análise de Variância (ANOVA) univariado bicaudal seguido do
teste de comparação múltipla de Dunnett também foram aplicados para
determinar a significância do TSH secretado para o meio de incubação
proveniente dos resultados dos experimentos in vitro.
Teste Mann-Whitney foi empregado para os resultados de TSH,
enquanto teste “t” não-pareado foi utilizado para análise de T4 e T3
obtidos a partir dos experimentos in vivo com animais hiper- ou
hipotireoideos que receberam anandamida e a partir do experimento in
vivo com animais eutireoideos que receberam AM251.
Ambos os testes foram efetuados através do programa GraphPad
versão 3.02 da Prism Software. A hipótese nula foi descartada quando
p<0,05.
4 – RESULTADOS OBTIDOS
Conforme mostra a figura abaixo (Fig. 13) a administração de
anandamida (0,02mg/Kg peso corporal) causou significativa (p<0,05)
diminuição (42%) na concentração de TSH sérico de ratos eutireoideos,
2 horas (1,2±0,12 ng/mL) após sua administração, em comparação com
o grupo controle (2±0,25 ng/mL). Entretanto, nenhuma alteração
significativa na concentração sérica de TSH foi observada nos grupos
sacrificados 0,5 hora (1,6±0,2 ng/mL) ou 1 hora (1,6±0,23 ng/mL) após
administração de anandamida.
TSH sérico em animais eutireoideos as
administração aguda de anandamida
C 0.5 1 2
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
*
Tempo (h) após administração de anandamida
TSH (ng/mL)
Fig. 13 Concentração sérica de TSH em animais eutireoideos; 0,5 (n=10); 1 (n=9) e 2
horas (n=11) após administração aguda (ip) de anandamida na concentração de
0,02mg/kg peso corporal ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na
proporção de 1:2:1, respectivamente, no grupo controle C (n=11). Valores expressos
como média ± EPM. *p<0,05 x C.
A concentração sérica de T4 total dos animais eutireoideos que
receberam anandamida (0,02mg/Kg peso corporal) esteve
significativamente (p<0,01) diminuída (28%) no grupo sacrificado após 2
horas (3,2±0,43 µg/dL) em comparação com o grupo controle (C)
(4,5±0,1 µg/dL). Entretanto, nenhuma alteração significativa na
concentração sérica de T4 total foi observada nos grupos sacrificados 0,5
hora (4,1±0,33 µg/dL) ou 1 hora (4,1±0,17 µg/dL) após administração de
anandamida, conforme mostra a figura a seguir (Fig. 14).
T4 sérico dos animais eutireoideos após
administração aguda de anandamida
C 0.5 1 2
0
1
2
3
4
5
*
Tempo (h) após administração de anandamida
T4 (
µ
g/dL)
Fig. 14 Concentração sérica de T4 total em animais eutireoideos 0,5 (n=7); 1 (n=7) e
2 horas (n=9) após administração aguda (ip) de anandamida na concentração de
0,02mg/kg peso corporal ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na
proporção de 1:2:1, respectivamente, no grupo controle C (n=11). Valores expressos
como média ± EPM. *p<0,01 x C.
A concentração sérica de T3 total dos animais eutireoideos que
receberam anandamida (0,02mg/Kg peso corporal), não apresentou
alteração significativa em nenhum dos distintos tempos de sacrifício (0,5h
54,9±5,93; 1h 62,4±3,61 e 2h 55,1±4,67 ng/dL) quando
comparados com o grupo controle (C) (70,3±4,54 ng/dL), conforme
mostra a figura a seguir (Fig. 15).
T3 sérico dos animais eutireoideos após
administração aguda de anandamida
Controle 0,5 1 2
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tempo (h) após administração de anandamida
T3 (ng/dL)
Fig. 15 Concentração sérica de T3 total em animais eutireoideos 0,5 (n=6); 1 (n=7) e
2 horas (n=6) após administração aguda (ip) de anandamida na concentração de
0,02mg/kg peso corporal ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na
proporção de 1:2:1, respectivamente, no grupo controle C (n=11). Valores expressos
como média ± EPM.
Conforme mostra a figura abaixo (Fig. 16), a administração de
anandamida (0,02mg/Kg peso corporal) não causou qualquer alteração
na concentração de TSH sérico de ratos hipertireoideos 2 horas
(0,3±0,06 ng/mL) após sua administração, em comparação com o grupo
controle hipertireoideo que recebeu veículo (0,4±0,13 ng/mL). O gráfico
representa apenas os valores detectáveis, uma vez que 5 amostras do
controle e 4 amostras do grupo que recebeu anandamida encontravam-
se abaixo do limite mínimo de detecção (0,18 ng/mL).
TSH sérico dos animais hipertireoideos as
administração aguda de anandamida
Controle Anandamida
0.00
0.18
0.2
0.4
0.6
0.8
TSH (ng/mL)
Fig. 16 Concentração rica de TSH em animais hipertireoideos (n=7) 2 horas após
administração aguda (ip) de anandamida na concentração de 0,02mg/kg peso corporal
ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na proporção de 1:2:1,
respectivamente, no grupo controle – C (n=9). Valores expressos como média ± EPM.
A concentração sérica de T4 total dos animais hipertireoideos que
receberam anandamida (0,02mg/Kg peso corporal) não apresentou
alteração 2 horas após sua administração (8,1±0,4 µg/dL) quando
comparados com o grupo controle hipertireoideo que recebeu veículo
(7,9±0,44 µg/dL), conforme mostra a figura que segue (Fig 17).
T4 sérico dos animais hipertireoideos após
administração aguda de anandamida
Controle Anandamida
0.0
1.5
3.0
4.5
6.0
7.5
9.0
T4 (
µ
g/dL)
Fig. 17 Concentração rica de T4 total em animais hipertireoideos (n=10) 2 horas
após administração aguda (ip) de anandamida na concentração de 0,02mg/kg peso
corporal ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na proporção de
1:2:1, respectivamente, no grupo controle C (n=9). Valores expressos como média ±
EPM.
A concentração sérica de T3 total dos animais hipertireoideos que
receberam anandamida (0,02mg/Kg peso corporal) não apresentou
alteração 2 horas após sua administração (154,8±9,96 ng/dL) quando
comparados com o grupo controle hipertireoideo que recebeu veículo
(132,2±9,13 ng/dL), conforme mostra a figura abaixo (Fig. 18).
T3 sérico dos animais hipertireoideos após
administração aguda de anandamida
Controle Anandamida
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
T3 (ng/dL)
Fig. 18 Concentração sérica de T3 total em animais hipertireoideos (n=9) 2 horas
após administração aguda (ip) de anandamida na concentração de 0,02mg/kg peso
corporal ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na proporção de
1:2:1, respectivamente, no grupo controle C (n=6). Valores expressos como média ±
EPM.
Conforme mostra a figura que segue (Fig. 19), a concentração
sérica de TSH esteve significativamente (p<0,01) diminuída (35% de
redução) no grupo hipotireoideo (27,5±2,1 ng/mL) sacrificado 2 horas
após administração de anandamida (0,02mg/Kg peso corporal) em
comparação com o grupo controle hipotireoideo que recebeu veículo
(42±3,39 ng/mL).
TSH sérico dos animais hipotireoideos após
administração aguda de anandamida
Controle Anandamida
0
10
20
30
40
50
*
TSH (ng/mL)
Fig. 19 Concentração rica de TSH em animais hipotireoideos (n=8) 2 horas após
administração aguda (ip) de anandamida na concentração de 0,02mg/kg peso corporal
ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na proporção de 1:2:1,
respectivamente, no grupo controle C (n=9). Valores expressos como média ± EPM.
*p<0,01 x C.
A concentração sérica de T4 total dos animais hipotireoideos que
receberam anandamida (0,02mg/Kg peso corporal) não apresentou
alteração 2 horas após sua administração (2,6±0,14 µg/dL) quando
comparados com o grupo controle hipotireoideo que veículo (2,6±0,15
µg/dL), conforme mostra a figura a seguir (Fig. 20).
T4 sérico dos animais hipotireoideos após
administração aguda de anandamida
Controle Anandamida
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
T4 (
µ
g/dL)
Fig. 20 Concentração sérica de T4 total em animais hipotireoideos (n=10) 2 horas
após administração aguda (ip) de anandamida na concentração de 0,02mg/kg peso
corporal ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na proporção de
1:2:1, respectivamente, no grupo controle C (n=8). Valores expressos como média ±
EPM.
A concentração sérica de T3 total dos animais hipotireoideos que
receberam anandamida (0,02mg/Kg peso corporal) não apresentou
alteração 2 horas após sua administração (27,2±1,46 ng/dL) quando
comparados com o grupo controle hipotireoideo que veículo (25,2±0,26
ng/dL), conforme mostra a figura abaixo (Fig. 21).
T3 sérico dos animais hipotireoideos as
administração aguda de anandamida
Controle Anandamida
0
5
10
15
20
25
30
T3 (ng/dL)
Fig. 21 Concentração sérica de T3 total em animais hipotireoideos (n=10) 2 horas
após administração aguda (ip) de anandamida na concentração de 0,02mg/kg peso
corporal ou veículo (solução salina - 0,9%:propileno glicol:etanol) na proporção de
1:2:1, respectivamente, no grupo controle C (n=9). Valores expressos como média ±
EPM.
Conforme mostra a figura que segue (Fig. 22) a administração do
antagonista de receptor CB1, AM251 (1,7mg/Kg peso corporal) causou
significativo (p<0,0001) aumento (4,3 vezes) na concentração de TSH
sérico de ratos eutireoideos, 1,5 hora (6,6±1,25 ng/mL) após sua
administração, em comparação com o grupo controle eutireoideo que
recebeu veículo (1,5±0,21 ng/mL).
TSH sérico em animais eutireoideos 1,5h após
administração de AM251
C AM251
0.0
1.5
3.0
4.5
6.0
7.5
9.0
*
TSH (ng/mL)
Fig. 22 Concentração sérica de TSH em animais eutireoideos após AM251; (n=10)
1,5 hora após administração (ip) de AM251 na concentração de 1,7mg/kg peso corporal
ou veículo (solução etanol:DMSO:salina na proporção 1:14:5, respectivamente), no
grupo controle – C (n=9). Valores expressos como média ± EPM. *p<0,0001 x C.
A concentração sérica de T4 total dos animais eutireoideos que
receberam AM251 (1,7mg/Kg peso corporal) o apresentou alteração
1,5 hora após sua administração (4,9±0,17 µg/dL) quando comparados
com o grupo controle eutireoideo que recebeu veículo (4,8±0,08 µg/dL),
conforme mostra a figura que segue (Fig 23).
T4 sérico dos animais eutireoideos após
administração aguda de AM251
Controle AM251
0
1
2
3
4
5
6
T4 (
µ
g/dL)
Fig. 23 Concentração sérica de T4 total em animais eutireoideos (n=10) 1,5 hora
após administração aguda (ip) de AM251 na concentração de 1,7mg/kg peso corporal
ou veículo (solução etanol:DMSO:salina na proporção 1:14:5, respectivamente), no
grupo controle – C (n=9). Valores expressos como média ± EPM.
A concentração sérica de T3 total dos animais eutireoideos que
receberam AM251 (1,7mg/Kg peso corporal) o apresentou alteração
1,5 hora após sua administração (71,5±7,05 ng/dL) quando comparados
com o grupo controle eutireoideo que recebeu veículo (72,4±5,57 ng/dL),
conforme mostra a figura abaixo (Fig. 24).
T3 sérico dos animais eutireoideos após
administração aguda de AM251
Controle AM251
0
10
20
30
40
50
60
70
80
T3 (ng/dL)
Fig. 24 Concentração sérica de T3 total em animais eutireoideos (n=8) 1,5 hora após
administração aguda (ip) de AM251 na concentração de 1,7mg/kg peso corporal ou
veículo (solução etanol:DMSO:salina na proporção 1:14:5, respectivamente), no grupo
controle – C (n=9). Valores expressos como média ± EPM.
Os valores de TSH secretados no meio de incubação com hemi-
adenohipófises de animais eutireoideos foram significativamente (p<0,05)
alterados pela anandamida adicionada ao meio de incubação nas
concentrações de 10
-11
M (aumento de 61%) e 10
-7
M (diminuição de
65%), em comparação ao Controle incubado na presença de meio puro.
Nenhuma alteração foi observada em relação ao grupo cuja
concentração de anandamida presente no meio foi de 10
-9
M, conforme
mostra a figura a seguir (Fig. 25). Os valores de todos os grupos estão
expressos na Tabela 1.
Tabela 1 – Secreção de TSH a partir de hemi-adenohipófises de animais
eutireoideos incubadas sem anandamida (Controle n=14) ou com anandamida
(10
-11
M n=12; 10
-9
M n=12 e 10
-7
M n=12) por duas horas. Os valores são
expressos como média ± EPM.
Grupo
(Molaridade)
Controle 10
-11
10
-9
10
-7
TSH
(ng/mL)
170,5±19,18 274,5±40,48
214,7±36,94
59±6,92
Efeito da anandamida sobre a secreção basal de TSH
de hemi-adenohipófises de animais eutireoideos
C -11 -9 -7
0
60
120
180
240
300
360
*
*
Molaridade da solução de anandamida (10
x
)
TSH (ng/mL)
Fig. 25 Secreção basal de TSH a partir de hemi-adenohipófises de animais
eutireoideos incubadas sem anandamida (Controle n=14) ou com anandamida (10
-11
M
n=12; 10
-9
M n=12 e 10
-7
M n=12) por duas horas. Os valores são expressos como
média ± EPM. *p<0,05 x C.
5 – DISCUSSÃO
5.1 – Experimentos in vivo
Após a descrição do efeito do delta-9-tetrahidrocanabiol como
inibidor do eixo tireoideano, reduzindo a concentração de TSH,
somaram-se as descobertas da presença do receptor CB1, ativado pelo
delta-9-tetrahidrocanabiol, na hipófise e a descoberta de um análogo
endógeno, capaz de ativar o mesmo receptor, que é a anandamida.
Com nenhum dado na literatura acerca do efeito da anandamida
sobre a concentração de TSH sérico, partimos em busca de qual tempo
seria razoável para observarmos alguma alteração, caso essa existisse.
Portanto, desenhamos um curso temporal com base em dados obtidos
em nosso laboratório com outras drogas testadas previamente e
aproximando-nos das informações obtidas com as investigações de
Scorticati e colaboradores (2004) e Wenger e colaboradores (1997), que
acompanharam a ação da anandamida durante 150 e 180 minutos após
sua administração no hipotálamo e intraperitoneal, respectivamente, e o
trabalho de Porcela e colaboradores (2002) que investigaram o efeito de
um agonista preferencial do receptor CB2 (WIN55,212-2) 4 horas após
sua administração. Wenger e colaboradores (1997), por utilizarem
anandamida via intraperitoneal e com tempos de sacrifício de 45, 90 e
180 minutos para os seus grupos, foi o que mais se aproximou dos
nossos objetivos e nos auxiliou na escolha dos tempos de sacrifício no
presente trabalho.
Com relação à concentração da dose administrada
intraperitonealmente, usamos a metodologia aplicada por Wenger e
colaboradores (1997) para investigar o efeito, também sistêmico da
anandamida, porém sobre o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal com foco
na secreção de ACTH. Com esta dose (0,02mg/Kg peso corporal) os
autores observaram aumento na concentração sérica de ACTH dentro de
45 e 90 minutos com retorno à concentração basal em 180 minutos.
Em paralelo, no mesmo estudo de Wenger e colaboradores (1997),
o mesmo curso temporal foi observado para a imunoreatividade de FOS,
um marcador de atividade transcricional nuclear, nos neurônios
parvocelulares do PVN. Os resultados mostraram imunoreatividade para
FOS no PVN, indicando a ativação de FOS, após 45 minutos com pico
após 90 minutos da admistração de anandamida. Os autores sugeriram
que a anandamida injetada por via sistêmica poderia estar atuando via
CRH, ou seja, ativando o eixo adrenal com a participação hipotalâmica.
Os resultados apresentados no nosso trabalho demonstram que a
anandamida é capaz de diminuir a concentração sérica de TSH em ratos
normais 2 horas após a sua administração sistêmica. Resultado este,
claramente apoiado pelos efeitos já descritos por Hillard e colaboradores
(1984) para a ação do delta-9-tetrahidrocanabiol que em doses de
3mg/Kg de peso corporal ou maiores causaram a supressão dose-
dependente da concentração sérica de TSH. Os mesmos autores
também investigaram o curso temporal da ação da dose de 10mg/Kg de
peso corporal de delta-9-tetrahidrocanabiol e observaram efeito inibitório
a partir de 15 minutos que se mostrou estatisticamente significativo até 3
horas após a administração. A mesma dose também causou redução das
concentrações séricas dos hormônios tireoideanos, observada com
significância estatística 3 e 6 horas após a administração de delta-9-
tetrahidrocanabiol para T3 e apenas 6 horas após a administração para
T4.
O efeito da anandamida sobre o TSH independe do efeito
supressor que o T4 exerce sobre o TSH, uma vez que o próprio T4
encontra-se diminuído nos mesmos grupos experimentais sacrificados
após 2 horas da administração de anandamida. Em um estudo prévio
realizado por Porcella e colaboradores (2002) foi observado que a
administração do agonista CB1 e CB2, WIN55,212-2, causou a
diminuição da concentração sérica de T3 e T4 livres 4 horas após sua
administração. O mesmo estudo mostrou a presença de receptores CB1
na tireóide e sugere o seu envolvimento na mediação do efeito inibitório
causado pelo agonista WIN55,212-2 sobre a secreção dos hormônios
tireoideanos. Portanto, estes autores sugeriram que o agonista atuaria
diretamente sobre a tireóide, mesmo porque o encontraram alterações
na concentração sérica de TSH no tempo estudado (4h). Entretanto, o
nos passa desapercebido, o fato da droga WIN55,212-2 ser um agonista
preferencial CB2 e, apesar de administrado em concentração distinta
(superior) em relação ao presente trabalho, possui propriedades de
distribuição e degradação distintas da anandamida. Nosso estudo, no
entanto, sugere que a ação primária seria no hipotálamo/hipófise, já que
encontramos concomitantemente TSH e T4 diminuídos. É possível que a
redução de T4 que se sucede à diminuição de TSH leve à normalização
do TSH, que foi observada no tempo de 4 horas no trabalho acima
citado.
Entretanto, aguardamos novos resultados para o esclarecimento
se o efeito sistêmico aqui observado deve-se à ação da anandamida
sobre a hipófise ou sobre o hipotálamo.
Além de verificar o efeito da anandamida em animais normais, os
resultados obtidos trazem informação acerca do efeito da anandamida
em animais com o estado tireoideano alterado. Em animais
hipertireoideos, a administração sistêmica de anandamida 2 horas antes
do sacrifício não foi capaz de alterar a concentração sérica de TSH. Por
outro lado, em animais com hipotireoidismo, a anandamida administrada
sistemicamente, 2 horas antes do sacrifício, causou diminuição
significativa da concentração sérica de TSH.
Como é sabido, os hormônios tireoideanos causam tanto a
diminuição da síntese e da secreção de TRH, assim como a diminuição
da síntese e da secreção de TSH. No hipertireoidismo, o excesso de
hormônio tireoideano intensifica o efeito inibitório sobre a síntese e
secreção de TRH, assim como sobre a síntese e secreção de TSH. Essa
inibição hipotalâmica e hipofisária exercida pelos hormônios tireoideanos
pode explicar a ausência do efeito inibidor da anandamida sobre a
concentração de TSH sérico observada no hipertireoidismo.
durante o hipotireoidismo, os resultados comprovam que o
aumento de TSH sérico, devido à ausência do efeito supressor dos
hormônios tireoideanos, pode ser inibido significativamente pela
administração sistêmica de anandamida 2 horas antes do sacrifício.
Assim como com os animais eutireoideos, verificou-se a
concentração de hormônios tireoideanos (T4 e T3 totais) não apenas
para o acompanhamento do resultado do tratamento em si (hiper- ou
hipotireoidismo), mas também para verificar se a supressão de TSH
sérico induzida pela anandamida, observada no hipotireoidismo poderia
coincidir com alguma alteração de hormônio tireoideano. Porém,
nenhuma alteração de T3 ou T4 totais foi observada, quer seja no
hipertireoidismo ou no hipotireoidismo. No hipertireoidismo, portanto, a
anandamida não é capaz de agir aditivamente ao T4, que é o mais
potente inibidor da secreção de TSH.
O efeito inibitório da secreção de TSH pela anandamida na
situação de hipotireoidismo é extremamente relevante. Primeiro, porque
revela a potência do efeito da anandamida, que o efeito inibitório pode
ser exercido na deficiência de hormônios tireoideanos, que é o fator mais
relevante para aumentar a secreção de TSH. Além disto, esta
constatação corrobora a hipótese de que o sítio de ação da anandamida
nos animais hipotireoideos dê-se, de fato, na adenohipófise/hipotálamo,
que a droga anti-tireoideana utilizada para induzir o hipotireoidismo
bloqueia a biossíntese hormonal tireoideana.
O mecanismo pelo qual os canabinóides endógenos podem
modificar a secreção de TSH não podem ser totalmente esclarecidos
pelo presente estudo. Outros trabalhos (Scorticati et al., 2003; Scorticati
et al., 2004; De Miguel et al., 1998) mostraram que vários
neurotransmissores atuantes no hipotálamo são alterados em resposta à
administração de canabinóides. A concentração de dopamina no
hipotálamo médio-basal e na hipófise anterior aumenta dentro de 90
minutos após injeção intracerebroventricular única de anandamida,
associada à inibição na liberação de prolactina (Scorticati et al., 2003). À
medida que a dopamina age como um inibidor tanto de prolactina como
de TSH (Weintraub et al., 2001), é possível propor um mecanismo
indireto pelo qual a anandamida possa inibir tanto a liberação de
prolactina como de TSH promovendo o aumento da secreção de
dopamina.
Podemos ainda, aventar a hipótese de que o próprio TRH diminua
em função da ação direta, ou não, da anandamida e que esta diminuição
de TRH seja responsável pela diminuição da concentração sérica de
TSH observada no eu- e no hipotireoidismo. Corroborando esta hipótese,
podemos citar os resultados obtidos por Wenger e colaboradores (1997),
que mostram a depleção do conteúdo de CRH em neurônios da
eminência média após a administração intraperitoneal da mesma dose
de anandamida e com efeito temporal similar ao observado no presente
estudo.
Em nosso último experimento in vivo, testamos um possível efeito
sistêmico que o antagonista preferencialmente da forma CB1 do receptor
endocanabinóide, denominado AM251, exerceria sobre a concentração
de TSH sérico. A quase inexistência de dados previamente publicados
nos obrigou, novamente, à escolha de um tempo de sacrifício após a
administração de AM251 baseado nos resultados obtidos com os
experimentos realizados com a anandamida. No trabalho de Gatley e
colaboradores (1996) observa-se que após a administração intravenosa
de AM251 marcado radioativamente, a radioatividade devido à captação
cerebral atinge nível ximo dentro de 1 hora e retorna ao valor basal
8 horas após a administração. Além disso, como os resultados com a
anandamida foram observados com os grupos sacrificados 2 horas após
a sua administração, o tempo escolhido para o sacrifício após a
administração de AM251 foi de 1,5 hora. Em relação à concentração de
AM251 a ser administrada, calculamos a molaridade circulante inicial
teórica para um rato de aproximadamente 300g em 3x10
-5
M.
O resultado comprovou que, diante da inibição sistêmica da ação
desencadeada pelo receptor CB1 de endocanabinóide, causada pelo
AM251, houve aumento significativo da concentração de TSH sérico. Tal
observação tem relevante interesse, que pode ser uma evidência para
o papel fisiológico do endocanabinóide, no sentido de exercer inibição
tônica sobre a secreção de TSH.
A concentração de hormônios tireoideanos (T4 e T3 totais) foi
dosada para verificar se a supressão de TSH sérico observada no
experimento com o antagonista AM251 poderia coincidir com alguma
alteração de hormônio tireoideano, porém, nenhuma alteração de T3 ou
T4 totais foi observada. Portanto, a ação do antagonista parece também
ocorrer via eixo hipotálamo-hipofisário.
O AM251 não é apenas um antagonista neutro, mas um agonista
inverso, ou seja, é capaz de desencadear o efeito inverso ao do agonista
quando ligado ao receptor. Esta constatação também pode explicar o
efeito causado pelo AM251 sobre a concentração sérica de TSH, efeito
este, inclusive de maior magnitude se comparado à resposta
desencadeada pela anandamida. O estudo realizado por Scorticati e
colaboradores (2004) também mostrou que enquanto a anandamida
diminui a concentração sérica de LH dentro de 30 e 90 minutos, a
administração de AM251 esteve associada a um aumento de LH sérico
após 90 minutos, muito mais expressivo do que o efeito inibitório da
própria anandamida.
Além disso, tanto a anandamida como AM251 agem
preferencialmente via receptor endocanabinóide CB1. Portanto, o efeito
estimulatório sobre a secreção de TSH observado com o AM251
corrobora a hipótese de que o efeito da anandamida também ocorra via
CB1.
Consideramos ainda, a possibilidade de que o Iodo presente na
estrutura química da molécula de AM251 pudesse ter algum
envolvimento na síntese/secreção de T3 e T4. Entretanto, os resultados
das dosagens séricas dos hormônios tireoideanos no experimento com
AM251 não mostraram qualquer alteração, nos permitindo supor que o
houve liberação de Iodo da molécula de AM251 que pudesse alterar per
se a secreção de hormônios tireoideanos.
Conscientes de que o efeito inibidor da anandamida e estimulador
do AM251, administrado sistemicamente, sobre a concentração sérica de
TSH possam ocorrer indiretamente, acreditamos na possibilidade de que
tais ações dêem-se, pelo menos em parte, diretamente na adenohipófise,
baseados nos resultados obtidos in vitro, que serão discutidos a seguir.
5.2 – Experimentos in vitro
Com o objetivo de investigar o efeito local da anandamida sobre a
adenohipófise de ratos, regulando a liberação de TSH, experimentamos
a incubação de hemi-adenohipófises com distintas concentrações de
anandamida. Com base nos resultados de dois trabalhos publicados
investigando o efeito in vitro de anandamida (Scorticati et al., 2003 e
Scorticati et al., 2004), ainda que não tenha sido utilizado tecido
hipofisário, mas sim hipotalâmico, direcionamos nossos experimentos
para concentrações coincidentes com os dados publicados e
experimentos realizados em nosso laboratório. Entretanto, em relação
ao tempo de incubação, enquanto os trabalhos publicados optaram por
30 e 60 minutos de incubação, nossa experimentação optou por 120
minutos de incubação com anandamida.
Interessantemente, nossos resultados mostraram que a incubação
de hemi-adenohipófise com anandamida na concentração de 10
-7
M foi
capaz de inibir significativamente a secreção de TSH. Tal resultado,
corrobora a possibilidade de que o efeito inibitório da anandamida,
administrada sistemicamente, possa dever-se ao seu efeito direto na
adenohipófise, uma vez que, a estimativa da concentração de
anandamida empregada sistemicamente levando-se em conta o volume
sanguíneo dos animais, foi semelhante à empregada no experimento in
vitro. Não podemos, entretanto, precisar o quanto e em quanto tempo a
degradação da anandamida influencia a sua distribuição nos tecidos,
nem tão pouco, quais efeitos seus metabólitos são capazes de
desencadear.
Ainda que a ação inibitória possa envolver outras células
adenohipófisárias e outros mediadores locais que ajam no sentido de
provocar a inibição de TSH observada por nós tanto in vivo como in vitro,
a presença de receptores CB1 na hipófise (Gonzales et al., 2000) permite
a sugestão de que a própria anandamida possa agir sobre os tireotrofos,
o que espera futura comprovação. No trabalho realizado por Scorticati e
colaboradores (2004), seus resultados foram observados com
concentrações de anandamida no meio de incubação que variaram de
10
-11
a 10
-5
M e o efeito inibitório da anandamida sobre a secreção de
LHRH ocorreu apenas na concentração de 10
-9
M, corroborando nossa
visão de que o efeito obtido em nossos experimentos não se deve a
citotoxicidade. Portanto, é possível que o efeito in vivo da anandamida
seja realizado, pelo menos em parte, por atuação hipofisária. Entretanto,
não como descartar com o presente trabalho que ocorra também
efeitos hipotalâmicos, que deverão ser alvo de futuros estudos.
Observa-se ainda, que na concentração de 10
-11
M de anandamida
no meio de incubação, houve um aumento na concentração de TSH
secretado. Esta observação pode ser uma evidência que a anandamida
tenha, a exemplo de outros sinalizadores extracelulares, efeito sinoidal,
que se caracteriza por padrão de resposta dose-dependente não
diretamente proporcional, podendo variar com aumento ou diminuição da
resposta, alternadamente, ainda que apenas se aumente a concentração
do estímulo. O mesmo efeito, também bimodal, foi observado
recentemente por Genn e colaboradores (2004) com a ação da
anandamida sobre a ansiedade e mostra que em doses baixas a
anandamida exibe efeito ansiolítico e em doses altas efeito ansiogênico.
6 – CONCLUSÃO
O endocanabinóide endógeno, anandamida, administrado por via
sistêmica, tem efeito agudo inibidor sobre a secreção de TSH em animais
eutireoideos.
Na ausência do efeito repressor dos hormônios tireoideanos sobre
a secreção de TSH, o efeito da anandamida persiste, mas não é
detectado quando o TSH foi suprimido pelo excesso de hormônios
tireoideanos.
O agonista inverso de receptores endocanabinóides do tipo 1,
AM251, administrado por via sistêmica, tem efeito agudo estimulador
sobre a secreção de TSH em animais eutireoideos, o que sugere a
participação do sistema endocanabinóide endógeno no controle da
secreção de TSH, provavelmente via receptor CB1.
O mecanismo parece envolver, pelo menos em parte, atuação
direta na adenohipófise, que esta responde à incubação com
anandamida, em concentrações similares às empregadas in vivo com
diminuição da secreção de TSH.
Entretanto, ainda resta por esclarecer se participação
hipotalâmica no efeito in vivo e qual o significado do efeito estimulador da
secreção de TSH observado em glândulas incubadas com concentrações
menores de anandamida.
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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