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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação
Programa de Pós-Graduação em Desenho Industrial
Laboratório de Ergonomia e Interfaces
Dissertação de Mestrado
“Análise da percepção de desconforto/conforto
e antropometria em calçados femininos:
uma abordagem do design ergonômico”
Eunice Lopez Valente
Bauru - 2007
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i
Eunice Lopez Valente
“Análise da percepção de desconforto/conforto e
antropometria em usuárias de calçados femininos:
uma abordagem do design ergonômico”
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Desenho Industrial, na área de concentração “Desenho do
Produto”, linha de pesquisa “Ergonomia”, da Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” campus Bauru, como
exigência para a obtenção do título de Mestre em Desenho
Industrial.
Orientador: Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli
Bauru – 2007
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ii
BANCA DE AVALIAÇÃO
TITULARES
Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli orientador
PPGDI – FAAC – UNESP
Prof. Dr. José Carlos Plácido da Silva
PPGDI – FAAC – UNESP
Prof. Dr. Antonio Martiniano Fontoura
PPGD – UFPR
SUPLENTES
Profª. Drª. Marizilda dos Santos Menezes
PPGDI – FAAC – UNESP
Prof. Dr. Aluisio Otavio Vargas Ávila
IBTeC
iii
Dedico este trabalho aos meus pais, Darby Valente e Orliete Lopez Valente, que, com seu
amor incondicional, estiveram incansavelmente ao meu lado em todas as circunstâncias,
durante todo o tempo necessário para cumprir esta jornada.
iv
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por me dar forças para trilhar o caminho para
chegar a essa vitória. À minha irmã, Eneida Lopez Valente Parrilha, pelo seu
companheirismo em todos os momentos e por sua enorme ajuda e incentivo. E ao
meu tio Edmund Spieker, que possibilitou a compra do aparelho medidor de pés,
objeto imprescindível para realizar esta pesquisa.
Agradeço imensamente ao meu orientador, Luís Carlos Paschoarelli, que, além de
me ensinar os passos dessa carreira científica desde o início, teve paciência durante
o longo período que passamos juntos, tornou-se um amigo e assim terá para sempre
meu máximo respeito e admiração.
Meus agradecimentos às pessoas que me ajudaram no desenvolvimento desta
pesquisa: Ana Caroline Camillo Marcante, Josiane Vieira e Neliffer Horny Salvatierra;
aos colegas e às coordenações dos cursos de Design da Universidade Tuiuti do
Paraná; a todos que muito gentilmente responderam aos questionários; e a todos os
meus amigos que sempre estiveram ao meu lado colaborando para que este
trabalho se tornasse realidade.
Aos funcionários da secretaria da Pós-graduação em Desenho Industrial da UNESP,
Helder Gelonezi e Silvio Decimone, pelo sempre pronto atendimento e colaboração
durante todo o processo desse curso.
Em especial, ao Prof. Dr. José Carlos Plácido da Silva, Profª. Drª. Marizilda dos
Santos Menezes, Prof. Dr. Antônio Martiniano Fontoura e Prof. Dr. Aluísio Otávio
Vargas Ávila, por fazerem parte da minha banca examinadora.
A todos que colaboraram com esta pesquisa, direta ou indiretamente, cujos nomes
não estão escritos aqui.
v
RESUMO
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE DESCONFORTO/CONFORTO E
ANTROPOMETRIA EM USUÁRIAS DE CALÇADOS FEMININOS: UMA
ABORDAGEM DO DESIGN ERGONÔMICO
O design ergonômico estuda a relação entre os usuários e a tecnologia, objetivando
a melhoria das interfaces e usabilidade dos produtos. Os calçados são produtos que
interagem diariamente com seres humanos e objetivam proteger e adornar (através
da moda) a extremidade dos membros inferiores, cuja estrutura física e fisiológica
parece ser influenciada pelo uso de calçados com salto alto e suas dimensões. Este
estudo objetivou compreender como se dá a percepção de desconforto/conforto pelo
público feminino e analisar as características antropométricas das Extremidades dos
Membros Inferiores (EMIs) deste público. A metodologia atendeu aos aspectos
éticos; foram utilizados protocolos padronizados e equipamentos específicos
(Brannock) para a medição dos pés. Os resultados da abordagem perceptiva
indicaram que o desconforto está associado ao uso de calçados com salto alto, mas
o uso desse produto ainda é preferido pelas usuárias. Quanto aos aspectos
antropométricos, concluiu-se que as dimensões dos pés direito e esquerdo
apresentam diferenças estatisticamente significativas (p 0,01), reiterando a
necessidade de uma melhor adequação dimensional dos calçados aos parâmetros
antropométricos específicos para a população feminina brasileira.
Palavras-chave: percepção de desconforto/conforto; antropometria; calçados
femininos; design ergonômico.
vi
ABSTRACT
ANALYSIS ON THE PERCEPTION OF DISCOMFORT/COMFORT AND
ANTHROPOMETRY IN WOMEN’S FOOTWEAR USERS: AN ERGONOMIC
DESIGN APPROACH.
Ergonomic design studies the relationship between users and technology, aiming to
improve product interface and usability. Footwear is a product that has an influence
on human beings, and its purpose, by means of fashion, is to protect and to make
women’s feet more beautiful, whose physical and physiological structure seems to be
influenced by the use of high-heeled shoes and their dimensions. The study herein
aims to understand how women perceive discomfort and comfort as well as to
analyze their related to ends of the lower limbs (EMI) anthropomorphic features.
Methodology used is in compliance with ethical aspects; standard protocols and
specific equipment (Brannock) were used for feet measure purposes. Perception-
oriented approach results indicate that discomfort is associated with the use of high-
heeled shoes; nonetheless users still prefer to use them. Concerning
anthropomorphic features, conclusion is that right and left foot size present significant
statistical differences (p 0,01), reinforcing the need to better dimensionally fit
footwear to Brazilian women population anthropomorphic-related parameters.
Keywords: discomfort and comfort perception; anthropometry; women’s footwear;
ergonomic design.
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Salto Vermelho, séc. XVIII.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 78) .......................................................................... 10
Figura 2.2 – Salto Stiletto.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 121, 123) ................................................................ 11
Figura 2.3 – Saltos altos entram e saem da moda.
(Fonte: Petti e Tondin, 2005, p. 95) ................................................................. 12
Figura 2.4 – Salto Sabrina.
(Fonte: Steele, 1998)........................................................................................ 13
Figura 2.5-A – Réplica do pé humano; 2.5-B: Forma talhada em madeira; 2.5-C: Uma
forma para cada modelo de sapato.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 18-19).................................................................. 14
Figura 2.6 – Chinelo ou rasteira.
(Fonte: http://www.art-dept.com.) ..................................................................... 14
Figura 2.7 – Modelo Chanel, apresentado nesta versão com open-toe.
(Fonte: Senai, 2005, p. 35) .............................................................................. 15
Figura 2.8 – Escarpim ou escarpam, ainda chamado de modelo decotado.
(Fonte: Senai, 2005, p. 36)............................................................................... 15
Figura 2.9 – A sapatilha assemelha-se ao modelo decotado, porém os saltos são muito
baixos ou ainda podem estar ausentes.
(Fonte: Senai, 2005, p. 37) .............................................................................. 16
Figura 2.10 – O sapato plataforma assemelha-se ao modelo decotado, porém os saltos
são inteiriços.
(Fonte: Senai, 2005, p. 38) ............................................................................ 16
Figura 2.11 – Os tênis, ou calçados esportivos, são apontados como os mais confortáveis.
(Fonte: Steele, 1998, p. 173) ......................................................................... 17
Figura 2.12 – A sandália tradicional coroinha com pulseira no tornozelo, salto baixo.
(Fonte: Senai, 2005, p. 40) ............................................................................ 18
viii
Figura 2.13 – A sandália tradicional coroinha com pulseira no tornozelo, salto alto.
(Fonte: Senai, 2005, p. 41)............................................................................. 18
Figura 2.14 – A sandália de salto anabela.
(Fonte: Senai, 2005, p. 42). ........................................................................... 18
Figura 2.15 – A sandália plataforma apresenta uma compensação na parte anterior.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 419)....................................................................... 18
Figura 2.16 – Tamanco aberto, confeccionado com tiras, salto fino.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 57). ....................................................................... 19
Figura 2.17 – O tamanco com salto anabela.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 390) ...................................................................... 19
Figura 2.18 – O tamanco com salto plataforma, confortável ao caminhar.
(Fonte: www.art-dept.com). ........................................................................... 19
Figura 2.19 – A mule é uma espécie de chinelo de salto alto, porém muito sensual.
(Fonte: Senai, 2005, p. 46) ............................................................................ 20
Figura 2.20 – Modelo de bota de salto alto e bico fino, com cano comprido.
(Fonte: Senai, 2005, p. 50).).......................................................................... 20
Figura 2.21 – Modelo de bota de salto plataforma, com cano comprido.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 386-387). .............................................................. 21
Figura 2.22 – Modelo de bota de salto anabela, com cano comprido.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 336) ...................................................................... 21
Figura 2.23 – Sandália Pré-histórica – EUA.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 29) ........................................................................ 22
Figura 2.24 – Sandálias Egípcias, 2500 a.C.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 29) ........................................................................ 23
Figura 2.25 – Peruanas, séc. VI.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 28) ........................................................................ 23
Figura 2.26 – Sapatos de Lótus, séc. XVIII.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 312, 448)............................................................... 24
ix
Figura 2.27 – Deformação do pé de chinesas, decorrente do enfaixamento dos pés desde
a infância (chamados “pés de lótus”)
(Fonte: http://hvattum.net/index.php/2007/05/19/chinese-foot-binding/)......... 24
Figura 2.28 – Biqueiras curvas do séc. XII, proporcionais à classe social, chegavam a
medir mais de 60 cm do calcanhar até o fim da biqueira.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 181) ...................................................................... 25
Figura 2.29 – Sapatos sem distinção de direito e esquerdo, séc. XVI.
(Fonte:http//:www.sapatosonline.com.br)....................................................... 25
Figura 2.30 – Chapins, séc. XVI.
(Fonte: O’Keffe, 1996, p. 348) ....................................................................... 26
Figura 2.31 – Botas de salto médio, séc. XVIII.
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 310) ...................................................................... 26
Figura 2.32 – Estrutura óssea do pé humano, vista interna lateral.
(Fonte: http://www.gettyimages.com)............................................................. 29
Figura 2.33 – Estrutura óssea do calcanhar humano, vista em corte.
(Fonte: http://calcadodesportivo.com/biomecanica.htm) ................................ 29
Figura 2.34 – Estrutura óssea do pé humano.
(Adaptado de: http://calcadodesportivo.com/biomecanica.htm) ..................... 30
Figura 2.35 – Pé normal ou neutro, pé côncavo ou arcado e pé chato.
(Fonte: Adaptado de: http://calcadodesportivo.com/biomecanica.htm) .......... 30
Figura 2.36 – Pé com joanete, ilustração em vista interna e foto de deformação real.
(Fonte: Henning, 1989, p. 45)........................................................................ 31
Figura 2.37 – Peso corporal representado em suas porcentagens conforme altura do
salto.
(Fonte: Adaptada de Schmidt, 1995, p. 39-40) .............................................. 33
Figura 2.38 – Avaliação de mulheres utilizando saltos de 38 mm. Possibilidade de torção
na articulação do joelho e progressão da osteoartrite.
(Fonte: Kerrigan et al., 2005, p. 872). ........................................................... 33
Figura 2.39 – Os três sapatos usados no experimento: 10mm, 51mm e 76mm e a palmilha
em suas partes.
(Fonte: Yung-Hui & Wei-Hsien, 2004, p. 356)................................................ 34
x
Figura 2.40 – Medição do ângulo da coluna lombar.
(Fonte: Lee et al., 2001, p. 322)..................................................................... 35
Figura 2.41 – A relação entre fadiga muscular e estabilidade do pé durante a marcha com
salto alto e pé descalço.
(Fonte: Gefen et al., 2001, p. 58)................................................................... 36
Figura 2.42 – Pico de pressão em caminhada com o pé esquerdo com salto alto e salto
baixo. Mudança significativa para *p < 0,05.
(Fonte: Speksnijder et al., 2004, p. 19) .......................................................... 37
Figura 2.43 – Tempo de pressão integral em caminhada com o pé esquerdo com salto
alto e salto baixo. Mudança significativa para *p<0,05.
(Fonte: Speksnijder et al., 2004, p. 19) .......................................................... 37
Figura 2.44 – “O eterno dilema de toda amante de sapatos: o sapato perfeito num número
errado!
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 72) ........................................................................ 39
Figura 2.45 – Medidor de volumetria e medidor de pés.
(Fonte: McWorther, 2003, p. 88).................................................................... 40
Figura 4.1 – “Brannock Device® Foot-Measuring Device”. Aparelho medidor de pés
femininos.......................................................................................................... 49
Figura 4.2 – Foto do aparelho no momento inicial da medição, segurando o calcanhar
junto ao medidor. ............................................................................................ 51
Figura 4.3 – Foto do aparelho no momento da medição, realizando pressão sobre o maior
dedo do pé a fim de garantir a medida correta. ............................................... 51
Figura 4.4 – Deslizamento do ponteiro do comprimento do arco até a protuberância do
metatarso para conferência desta medida. ...................................................... 52
Figura 4.5 – Deslizamento da barra móvel da largura e leitura da letra na escala fixa......... 52
Figura 5.1 – Porcentagem do número de sujeitos que percebem algum tipo de desconforto
nos pés em conseqüência da percepção de diferença de tamanho de
calçados para pés direito e esquerdo. ............................................................. 54
Figura 5.2 – A percepção de diferenças varia de acordo com diferentes modelos. ............ 55
Figura 5.3 – Porcentagem do número de sujeitos que percebem algum tipo de desconforto
nos pés devido ao tamanho entre calçados menores e maiores. .................... 56
xi
Figura 5.4 – Porcentagem do número de sujeitos que percebem diferença de tamanhos
para pé direito e pé esquerdo, durante a compra. ........................................... 57
Figura 5.5 – Porcentagem do número de modelos que expressam a individualidade e o
próprio sentimento das entrevistadas. ............................................................. 58
Figura 5.6 – Porcentagem do número de modelos que expressam alívio e relaxamento
das entrevistadas. ........................................................................................... 59
Figura 5.7 – Porcentagem do número de modelos que expressam maior aborrecimento,
desprazer ou desconforto das entrevistadas. .................................................. 60
Figura 5.8 – Porcentagem da freqüência com que os sujeitos usam salto alto. .................. 61
Figura 5.9 – Porcentagem da relação entre altura do salto e percepção de desconforto. ... 62
Figura 5.10 – Porcentagem da relação do tempo de uso do salto alto e a percepção de
desconforto. .................................................................................................. 62
Figura 5.11a – Regiões do pé onde se há maior percepção de desconforto ao utilizar o
salto alto. .................................................................................................... 63
Figura 5.11b – Regiões do corpo humano onde há maior percepção de desconforto.
(Fonte: Adaptado de Corlett e Manenica, 1980) .......................................... 64
Figura 5.12 – Porcentagem do número dos sujeitos que indicaram diferentes níveis de
percepção para mostrar os aspectos do uso de salto alto: aborrecimento ou
desprazer. .................................................................................................... 65
Figura 5.13 – Porcentagem do número dos sujeitos que indicaram diferentes níveis de
percepção para mostrar os aspectos do uso de salto alto: alívio (facilidade)
e relaxamento. .............................................................................................. 65
Figura 5.14 – Porcentagem do número dos sujeitos que indicaram diferentes níveis de
percepção para mostrar os aspectos do uso de salto alto: desempenho no
caminhar. ...................................................................................................... 66
Figura 5.15 – Porcentagem do número dos sujeitos que indicaram diferentes níveis de
percepção para mostrar os aspectos do uso de salto alto: expressão da
individualidade ............................................................................................... 66
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Médias e Desvio-padrão do comprimento linear e comprimento pelo arco
dos pés, direito e esquerdo ......................................................................... 67
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS
AC – Área de Contato
CNS – Conselho Nacional de Saúde
d.p. – Desvio padrão
“E” – Margem de erro
EMG – Eletromiografia
EMI – Extremidade dos Membros Inferiores
FM – Força Máxima
IBTeC – Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçados e Artefatos
IEA – Internacional Ergonomics Association
ISO – International Organization for Standardization
PICD – Protocolo de Identificação de Coleta de Dados
PP – Pico de Pressão
“N” – Número total de indivíduos pesquisados
TPI – Tempo de Pressão Integral
TFI – Tempo de Força Integral
TC – Tempo de Contato
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
“Zα/2”Grau de confiança
σ” – Desvio padrão populacional
xiv
SUMÁRIO
SUMÁRIOSUMÁRIO
SUMÁRIO
Folha de rosto .............................................................................................................. i
Banca de Avaliação..................................................................................................... ii
Dedicatória ................................................................................................................ iii
Agradecimentos ......................................................................................................... iv
Resumo....................................................................................................................... v
Abstract ...................................................................................................................... vi
Lista de figuras.......................................................................................................... vii
Lista de tabelas ......................................................................................................... xii
Lista de abreviaturas .................................................................................................xiii
1 INTRODUÇÃO________________________________________________ 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA __________________________________ 3
2.1 DEFINIÇÕES_________________________________________________________3
2.2 MODA ______________________________________________________________6
2.3 CALÇADOS__________________________________________________________8
2.4 CALÇADOS FEMININOS E SALTO ALTO __________________________________9
2.4.1 Descrição e Tipologia dos Calçados Femininos _______________________14
2.4.2 Evolução Histórica dos Calçados __________________________________21
2.5 PROBLEMAS DE USO DE CALÇADOS FEMININOS ________________________28
2.5.1 Características das EMIs ________________________________________28
2.5.2 Problemas Fisiológicos Decorrentes do Uso de Calçados Femininos ______30
2.6 PERCEPÇÃO DA USABILIDADE DE CALÇADOS FEMININOS ________________32
2.7 PROBLEMAS DE DIMENSIONAMENTO DOS CALÇADOS FEMININOS _________38
2.8 PERCEPÇÃO DO DESCONFORTO/CONFORTO EM CALÇADOS _____________42
3 OBJETIVOS ________________________________________________ 46
xv
4 MATERIAIS E MÉTODOS ___________________________________ 47
4.1 QUESTÕES ÉTICAS__________________________________________________47
4.2 SUJEITOS __________________________________________________________47
4.3 MATERIAIS _________________________________________________________48
4.4 PROCEDIMENTOS ___________________________________________________49
4.4.1 Procedimentos para análise dos dados______________________________53
5 RESULTADOS ______________________________________________ 54
5.1 AVALIAÇÃO PERCEPTIVA_____________________________________________54
5.2 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA _______________________________________67
6 DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS __________________ 68
REFERÊNCIAS _____________________________________________ 72
GLOSSÁRIO ________________________________________________ 77
APÊNDICES ________________________________________________ 81
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) _______82
APÊNDICE B – Protocolo de Pesquisa – Aspectos Perceptivos A e B _______83
APÊNDICE C – Protocolo de Pesquisa – Aspectos Físicos ________________86
1
1 INTRODUÇÃO
Os calçados (ou sapatos) são complementos essenciais no modo de vida humano,
uma vez que têm por princípio a proteção da Extremidade dos Membros Inferiores
(EMI). Além desse aspecto funcional, esses produtos tornaram-se fundamentais, no
que refere à moda. Por esses motivos, os calçados femininos são atualmente
disponibilizados numa grande diversidade de formas e modelos, como, por exemplo,
escarpins, mules, botas, botinas, sandálias, chinelos, tamancos, tênis, e produzidos
numa grande variedade de materiais, técnicas de confecção, acabamentos, cores,
entre outros.
Os calçados femininos são capazes de dizer muito sobre uma mulher: indicam seu
caráter, nível social e financeiro, profissão e até mesmo a idade. A escolha de um
calçado feminino reflete o estado de espírito da consumidora, e usar determinado
tipo de calçado expressa suas emoções, pois cada estilo tem uma característica
própria.
Durante grande parte da história, os calçados mantiveram-se na obscuridade, mas, à
medida que as saias se tornaram mais curtas, eles passaram a ser, pela primeira
vez, o foco de uma vestimenta. Calçados de salto alto de veludo ou brocado de
seda, sapatos esportivos, botas de vinil, saltos plataforma surgiram nos pés das
mulheres como símbolos de prazer, imponência e status.
O humano é uma parte muito importante do corpo, o que exige grande atenção.
As mulheres os enfeitam de maneira às vezes exagerada, o que acaba por gerar
conseqüências prejudiciais à sua saúde.
Sendo um produto de interface com o humano, os calçados femininos devem ser
projetados a partir de parâmetros ergonômicos, com destaque para os aspectos
antropométricos e biomecânicos das EMIs, além da percepção de conforto pelas
usuárias. A ergonomia, em seus princípios metodológicos, pode contribuir no estudo
2
dessa interface, fornecendo parâmetros científicos para o design ergonômico desse
produto.
Portanto, esta pesquisa tem como propósito o estudo da influência da usabilidade de
calçados femininos, sob o ponto de vista perceptivo e antropométrico. Assim, o
estudo fundamenta-se nas definições do design, ergonomia, design ergonômico,
usabilidade, antropometria e moda, nas quais são apresentados e discutidos seus
aspectos correlacionais e suas influências no design de calçados femininos.
Em seguida, são apresentados os procedimentos metodológicos da pesquisa de
campo, com destaque para a definição dos sujeitos abordados, os materiais
utilizados e os mecanismos de abordagem.
Os resultados o apresentados, com detalhes de cada uma das variáveis
paramétricas (dimensionais) e não-paramétricas (percepção) abordadas,
proporcionando um importante conjunto de dados empíricos, os quais são utilizados
na discussão das hipóteses propostas neste estudo.
3
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 DEFINIÇÕES
Sendo os calçados objetos que traduzem a personalidade de seus usuários e,
simultaneamente, artefatos funcionais destinado à proteção física e fisiológica das
EMIs, seus projetos e sistemas produtivos são fundamentados por abrangentes
áreas do conhecimento.
Design, ergonomia, usabilidade e antropometria são algumas dessas áreas
envolvidas na produção calçadista que contribuem para que sua função de proteção
seja caracterizada. Mas também os aspectos relacionados à moda, cujas
influências antropológica, filosófica, social e cultural são expressas.
Assim, as definições sobre design, ergonomia, usabilidade, design ergonômico e
antropometria auxiliam no embasamento teórico desta pesquisa, uma vez que
apresenta relação direta com o objeto de estudo, e, por esta razão, estão aqui
demonstradas.
O termo design origina-se do inglês, tendo como base o latim designare, e significa
“demonstrar de cima”; ou então, design (designatio) é compreendido de forma geral
e abstrata (VAN DEN BOOM apud BÜRDEK, 2006). Para rdek (1997b), design é
uma área do conhecimento que não produz apenas realidades materiais, mas
especialmente preenche funções comunicativas.
Design industrial é definido por Löbach (2001) como “[...] toda atividade que tende a
transformar em produto industrial passível de fabricação, as idéias para a satisfação
de determinadas necessidades de um indivíduo ou grupo”, ou seja, é “[...] um
processo de adaptação dos produtos de uso, fabricados industrialmente, às
necessidades físicas e psíquicas dos usuários ou grupo de usuários” (p. 21).
4
Nesse sentido, ao considerar o denominado “processo de adaptação dos produtos
de uso” às necessidades de seus usuários, descrito anteriormente, pode-se
encontrar uma grande associação com outra área do conhecimento, envolvida com o
projeto da interface tecnológica: a ergonomia.
Iida (2005) define ergonomia como sendo o estudo da adaptação do trabalho ao
homem, entendendo que trabalho compreende todos os relacionamentos entre
homem e uma atividade produtiva. Segundo o International Ergonomics Association
IEA (2000), a ergonomia é a disciplina científica que estuda as interações entre o
homem e os outros elementos do sistema, possibilitando serem aplicadas teorias,
princípios, dados e métodos, na intenção de melhorar o bem-estar humano com
projetos. Os profissionais que atuam na ergonomia analisam o trabalho de forma
geral, incluindo os aspectos físicos, cognitivos, sociais, organizacionais, ambientais,
entre outros, e procuram torná-lo compatível com as necessidades, habilidades e
limitações dos seres humanos.
Algumas linhas teóricas, como, por exemplo, a área cognitiva ou organizacional,
procuram sustentar que a ergonomia trata da adequação dos aparatos tecnológicos
e sistemas produtivos às condições humanas, principalmente às consideradas
atividades ocupacionais e, nesse sentido, um termo mais específico e detalhado
passou a ser empregado na relação entre o homem e os objetos de uso: a
usabilidade.
Para Iida (2005), usabilidade significa “facilidade e comodidade no uso dos
produtos [...] os produtos devem ser “amigáveis”, fáceis de entender, fáceis de
operar e pouco sensíveis a erros.” (p. 320). A usabilidade tem como objetivo
principal o conforto, visando a eficiência dos produtos. Paschoarelli (2003) a entende
como sendo a “[...] maximização da funcionalidade de um produto em sua interface
com o usuário” (p. 4).
Russo e Moraes (2005) afirmam que o termo usabilidade é empregado para
designar a situação em que as pessoas, quando usam o produto, fazem-no rápida e
5
facilmente para aquilo que ele é proposto. A ISO (International Organization
Standardization) define usabilidade como sendo: “[...] a efetividade, eficiência e
satisfação com as quais usuários específicos atingem metas específicas em
ambientes particulares efetivamente, eficientemente, confortavelmente e de modo
aceitável” (ISO DIS 9241-11 apud JORDAN, 1998).
A partir de tais princípios, Paschoarelli (2003) propõe o termo design ergonômico,
cuja definição se expressa pela “aplicação do conhecimento ergonômico no projeto
de dispositivos tecnológicos, com o objetivo de alcançar produtos e sistemas
seguros, confortáveis, eficientes, efetivos e aceitáveis” (p. 8). Nesse sentido, o
design ergonômico pode ser entendido, então, como sendo o desenvolvimento de
projetos de produtos (equipamentos, postos de trabalho, objetos de uso cotidiano,
outros) e sistemas informacionais, cujo principal aspecto a ser considerado é o fator
humano, preocupando-se, de forma geral, com o bem-estar dos usuários.
Entre os mais diversos fatores humanos que influenciam no design ergonômico,
destaca-se a antropometria, cujo princípio fundamenta-se no estudo das dimensões
humanas e sua influência no projeto do entorno habitável.
A origem da antropometria está relacionada aos egípcios e gregos, que
observaram e estudaram a relação das diversas partes do corpo. O reconhecimento
dos diferentes tipos de formatos de corpos vem desde os tempos bíblicos, e o nome
de muitas unidades de medida que são usadas hoje em dia é derivado de elementos
do corpo humano. Na década de 1940, as produções em massa provocaram um real
interesse pelas medidas do homem, pois ali surgiram sistemas de trabalho em que o
desempenho humano se mostrou bastante complexo, e o desenvolvimento desses
sistemas dependia das dimensões antropométricas de seus operadores (PANERO e
ZELNIK, 1991; IIDA, 1991; SANTOS et al., 1997).
Pode-se dizer então que antropometria é o conjunto de técnicas utilizadas para
medir o corpo humano ou suas partes e tem resultado na análise quantitativa das
variações dimensionais do corpo. Pheasant (1996) enunciou que a antropometria
6
estuda as medidas físicas humanas, como dimensão, tamanho, capacidade e força
do ser humano; e Gomes Filho (2006) reitera que antropometria é a ciência que
estuda as medidas do corpo humano (sobretudo medidas lineares e periféricas), a
fim de estabelecer diferenças e proporções entre indivíduos e grupos de indivíduos.
As áreas do conhecimento conceituadas anteriormente auxiliam na compreensão
das necessidades físicas e fisiológicas das usuárias de calçados femininos,
entretanto, os aspectos psicossociais são compreendidos, principalmente, pela
caracterização da moda, cujas influências antropológica, filosófica, social e cultural
são amplamente exibidas.
2.2 MODA
Segundo Laver (1989), “foi na segunda metade do século XIV que as roupas, tanto
masculinas quanto femininas, adquiriram novas formas e surgiu algo que já se pode
chamar de moda” (p. 13). E, por volta de 1482, o termo mode começou a ser
referendado definitivamente como uma maneira coletiva de trajar. Afrancesado,
tornou-se sinônimo de façon”, ou jeito, cuja apropriação pela língua inglesa deu
origem à corriqueira expressão “fashion” (PALOMINO apud GARCIA, 2007).
Para Rech (2002), a moda compreende mudanças socioecológicas, psicológicas e
estéticas relacionadas à arquitetura, artes visuais, música, religião, política,
literatura, decoração, vestuário. De acordo com Montemezzo (2003), os produtos
destinados ao consumo, como o vestuário, denotam mudanças nos aspectos
sociais, econômicos, ambientais e mercadológicos. O design se encaixa na
condução do processo criativo e agrega-se no conjunto do desenvolvimento do
produto.
O conceito de moda surgiu em meados do século XIV e é muito usado quando
relacionado a roupas, embora Jones (2005) afirme que moda é uma forma
7
especializada de ornamentar o corpo, fazendo crer que todo elemento usado de
forma decorativa no corpo pode ser compreendido como produto de moda.
O estudo da vestimenta foi reconhecido como uma parte da antropologia, pois as
formas e os materiais do passado são como fontes de inspiração para novos estilos.
Nos séculos XVII e XVIII era a nobreza que ditava a moda, seguida e imitada pela
alta burguesia. Em 1858, Charles Frederick Worth foi considerado o primeiro estilista
de alta costura, por ter um estilo próprio de criar.
De acordo com Seeling (2000), a moda é um fenômeno do século XX e o que antes
existia eram apenas variados modos de vestir, que oscilavam conforme o país e a
classe. Bem mais tarde, surgiram as marcas, os costureiros e as suas criações,
enfim, a MODA.
Como fenômeno de linguagem, a moda não é apenas um instrumento de
documentação da passagem do homem sobre a Terra, mas sim a ferramenta
fundamental para que o homem conduza a indiferença, o isolamento e até mesmo a
morte, com a constituição de vínculos com os seres, os objetos e as instituições que
os envolve. “As roupas dançam nos cabides e depois envolvem os corpos humanos
num balé que aproxima, afasta e se recria todos os dias para embalar nosso modo
de vida em direção ao futuro” (GARCIA et al., 2007, p. 14).
Angel (apud GARCIA, 2007) declara: “[...] quem acredite que a moda é fútil e
frívola. Eu lhes digo que moda é comunicação” (p. 11); e Baitello completa (apud
GARCIA, 2007): “[...] comunicar é criar e manter vínculos” (p. 15). Outro autor que
reitera essa proposição é Laver (apud FISCHER-MIRKIN, 2001), ao afirmar que “[...]
as roupas nunca são frivolidade: significam sempre alguma coisa, e essa coisa está,
em grande parte, fora do controle das nossas consciências” (p. 13).
Para Gomes Filho (2006), fashion design é a especialidade ou área de atuação que
envolve a criação, o desenvolvimento e a confecção de produtos de moda e atinge
8
diversos segmentos de utilização, relacionados com o uso de objetos diretamente
sobre o corpo.
A moda se transforma a cada momento histórico, e, na maioria das vezes, o que se
pode constatar é o resgate de elementos de décadas passadas, os quais se moldam
em formas e cores diferentes, formando uma nova tendência a ser adotada. Isso se
confirma através de tecidos, materiais e texturas aplicados nos produtos de moda,
como roupas, acessórios, calçados. Nesse sentido, pode-se considerar que a moda
é cíclica.
2.3 CALÇADOS
Para a moda, os calçados representam um ícone da transformação, pois os modelos
podem evidenciar tanto passado quanto futuro. Os materiais utilizados para
confecção seguem a tendência de moda atual, bem como modelos, alturas e
formatos de salto.
Durante muito tempo, os calçados femininos estiveram escondidos debaixo do
volume dos saiotes e vestidos. Assim como antigamente, ainda hoje são tratados
como adornos reveladores, pois representam a mente feminina, com os mais
variados formatos, repletos de significados ocultos e implícitos.
Essa significação pode revelar uma atração indefinível por um par de sapatos,
fazendo aflorar fantasias pessoais. A sedução pela altura de um salto ou pelo brilho
das pedras encravadas no calçado leva a uma atração especial. E esse desejo não
tem nada a ver com a necessidade, pois a excitação está em colocar o em um
par novo, que provoca o encantamento e o charme, sensações que o calçado velho
não mais pode provocar. Nesse sentido, O’Keefe (1996) afirma que “[...] o dio
resulta da familiaridade e, quando um sapato começa a ficar confortável e feito ao
pé, perde sua qualidade de talismã” (p. 15).
9
Os tipos de calçados que as pessoas calçam acabam por evidenciar algumas pistas
sobre quem são elas. Para Fischer-Mirkin (2001), “[...] nossa escolha de sapatos
reflete nossa personalidade; eles divulgam se nos consideramos audaciosas ou
distintas, de espírito conservador ou livre [...] os sapatos comunicam nosso desejo
de um dado status social e estilo de vida, bem como proclamam nossa necessidade
de poder e sexo” (p. 191).
Conforme Puls (2003), a criação de calçados e a inovação caminham lado a lado
com a criatividade e com a percepção, que é um reflexo da evolução do tempo.
Atualmente, é natural que a preocupação com o produto moda, o calçado, esteja
ligada às condições econômicas e aos hábitos dos indivíduos, muito mais que as
propostas dos designers em oferecer novos estilos. Assim, a cultura determina como
será a produção dos calçados e o seu uso, como no caso dos calçados femininos de
salto alto, que seguem as regras da moda e, muitas vezes, acabam por entrar em
conflito com questões relacionadas ao conforto dos pés das usuárias.
2.4 CALÇADOS FEMININOS E SALTO ALTO
Quando se referem a calçados femininos, as mulheres geralmente se dividem em
dois grupos – aquelas que aceitam (“amam”) saltos e aquelas que os rejeitam
(“odeiam”). Saltos altos nos calçados femininos estão associados ao gênero, status,
sensibilidade feminina e moda. Muitas mulheres os consideram desconfortáveis, e
algumas feministas tendem a interpretá-los como símbolos de submissão feminina.
De modo simultâneo, profissionais da área da saúde alertam sobre os acidentes que
os saltos altos podem provocar, como deformações nos pés, torção nos tornozelos e
problemas nas costas. Por outro lado, apesar desses avisos, os calçados de saltos
altos ficam cada vez mais populares.
De acordo com O’Keefe (1996), “[...] as mulheres podem “enfiar” uns chinelos,
“calçar” uns tênis ou “pôr” uns sapatos mais confortáveis, mas “vestem-se” de saltos
altos” (p. 72). Portanto, esse público, mesmo não querendo que os pés fiquem
10
doloridos, é dominado pelo fascínio dos saltos altos que impele à aceitação (senão,
à adoração). Um calçado de salto alto pode tornar uma mulher mais ou menos
poderosa, pois, apesar do desconforto percebido, ela pode sentir satisfação.
O calçado de salto alto é um dos principais símbolos da feminilidade e, conforme
Mario Testino (apud STEELE, 1998), é “[...] uma das coisas que as mulheres podem
usar e os homens não [...] uma das coisas que diferencia os homens das mulheres”.
Entretanto, no passado, homens e mulheres usaram calçados de saltos altos. Luís
XIV, por exemplo, usou o chamado sapato de salto vermelho (Figura 2.1) o símbolo
da nobreza. Por outro lado, como a moda masculina foi subjugada, a partir do século
XVIII até os dias de hoje, o calçado de salto alto tornou-se importante apenas para
as mulheres, sendo associado à feminilidade. Como resultado, atualmente eles
assumiram um significado altamente erótico para muitos homens.
Figura 2.1 – Salto Vermelho, séc XVIII. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 78)
Quando uma mulher está “vestida” de saltos altos, é forçada a ter uma postura
diferenciada, pois seu centro de gravidade é deslocado para frente. A parte inferior
das costas se arqueia, a coluna e as pernas parecem se alongar e o peito projeta-se
para frente. A barriga das pernas e os tornozelos parecem mais bem torneados e a
curvatura inferior dos pés parece querer sair dos calçados. Assim, mesmo sem se
mover, a mulher calçando saltos altos transforma seu corpo, parecendo mais alta e
mais magra.
11
Os saltos altos conferem aos calçados características que fazem com que eles
sejam conhecidos por sua forma e altura. Eles o um tipo de ornamento que pode
ser anexado a uma grande variedade de diferentes calçados – sapatilhas, sandálias,
mules, botas e até nis. O salto alto clássico começa na parte de trás do com
7,5 cm do chão (medindo a parte interna do salto).
Para muitas pessoas, o termo “salto alto” significa um salto somente um pouco mais
extremo, um pouco mais fino. O salto fino chamado de stiletto (Figura 2.2) tende
a ser tanto mais alto e mais fino do que a maioria dos saltos altos. Também
conhecido como pontiagudo ou agulha, o salto fino é o mais apreciado pelas
mulheres. Conforme se encontra em fatos antropológicos, os calçados de salto alto
foram criados por Catarina de Médici, no culo XIV, quando ela se casou com
Henry II, da França. Ela pediu a um artesão que criasse modelos com variadas
alturas de saltos, os quais foram levados em seu enxoval. Por outro lado, a
tecnologia de criação do salto fino do chamado stiletto somente foi aperfeiçoada em
1950, no pós-guerra, quando os sapateiros italianos inseriram um suporte de aço
que preenchia quase todo o comprimento do salto, servindo de suporte para o peso
de uma mulher, e assim prevenindo uma possível a quebra. Apesar da fragilidade,
esse tipo de salto se tornou imensamente popular.
Figura 2.2 – Salto Stiletto. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 121, 123)
Com o passar do tempo, os saltos stiletto tornaram-se conhecidos mais pela sua
natureza erótica do que pela que sua habilidade de deixar as mulheres altas. Os
saltos stiletto são um artigo comum do fetiche. Depois de uma onda inicial de
popularidade nos anos 50 e no começo dos anos 60, eles ficaram esquecidos até o
começo dos anos 80, quando os saltos stiletto foram usados freqüentemente em
12
escritórios, com ternos femininos. O estilo sobreviveu nos anos 80, mas
desapareceu quase completamente durante os anos 90, quando profissionais e
universitárias usaram os calçados com saltos grossos e plataforma. Entretanto, o
fino salto stiletto ensaiou uma volta, principalmente após os anos 2000, quando as
mulheres jovens adotaram esse estilo para se vestir além do uso em escritórios ou
acrescentar um toque feminino ao casual way às calças jeans.
A popularidade dos saltos stiletto diminuiu nos anos 60 foram substituídos por
saltos rasos e subseqüentemente, plataformas, sapatilhas e calçados esportivos
(Figura 2.3). Isso se deu porque os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão
de juventude em todos os aspectos. Os jovens, influenciados pelas idéias de
liberdade da geração beat
1
, começavam a se opor à sociedade de consumo vigente.
O movimento, que na década de 1950 era recluso, passou a caminhar pelas ruas
nos anos 60 e influenciou novas mudanças de comportamento jovem, como a
contracultura e o pacifismo do final da década. Assim, a transformação da moda foi
radical. Foi da moda única, que passou a ter várias propostas; e a forma de vestir e
de calçar se tornou cada vez mais ligada ao comportamento. A moda não seguia
uma regra, o que representou claramente um sinal de liberdade. Entretanto, muitos
tipos de saltos altos que foram moda nessa época acabaram retornando na década
de 1990.
Figura 2.3 – Saltos altos entram e saem da moda. (Fonte: Petti e Tondin, 2005, p. 95)
1
Geração beat: "On the Road" [título do livro do beatnik Jack Keurouac, de 1957]
13
Os calçados de salto alto também se associam à sensação e percepção femininas, e
nesse sentido, são percebidos não somente como o mais sexy tipo de calçado, mas
também como o mais formal, em moda, e o mais prestigiado todas as outras
razões pelas quais as mulheres podem gostar dele.
O peso não é a única característica estilística significativa do salto. Comprimento e
forma são importantes também. O salto chamado Sabrina (Figura 2.4), que é um
salto do tipo fino, porém mais baixo e normalmente estilo carretel, é um dos que
mais influenciou o século XX. Lembrado por Steele (1998), Manolo Blahnik afirma
que “as mulheres que querem unir a feminilidade do salto fino com a relativa
facilidade de um salto baixo podem entrar em acordo escolhendo um salto Sabrina”
(p. 37).
Figura 2.4 – Salto Sabrina. (Fonte: Steele, 1998, p. 40)
Algumas mulheres há muito tempo, decidiram que o conforto é seu interesse
principal. Em muitos lugares, os calçados confortáveis são uma parte do estilo
casual. Obviamente, nem todos os calçados de salto alto são desconfortáveis, por
isso as sapatilhas confortáveis com salto médio são muito procuradas pelas
mulheres. O consenso geral, porém, é que os calçados com salto raso são os mais
confortáveis. Conseqüentemente, os saltos altos trazem a idéia implícita de que o
conforto não é a única consideração, pois, sob certas circunstâncias, o glamour vem
a ser mais importante. Inversamente, quando saltos rasos ou médios estão na moda,
os saltos altos parecem excessivos.
14
2.4.1 Descrição e Tipologia dos Calçados Femininos
O primeiro passo para se confeccionar um calçado é a criação da forma, que é uma
réplica do humano (Figura 2.5-A), normalmente talhada em madeira (Figura 2.5-
B). É ela que definirá o conforto do calçado, pois sua curvatura bem feita e a
distribuição o peso do corpo sobre o são essencialmente estudados. Para cada
modelo de calçado feminino, é necessária uma forma específica (Figura 2.5-C). E,
com a evolução da moda, é preciso estar atualizado sobre os tipos que mais
agradam o público feminino.
Figura 2.5-A: Réplica do pé humano; 2.5-B: Forma talhada em madeira; 2.5-C: Uma forma para cada
modelo de calçado. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 18-19)
Há uma grande variedade de calçados que estão eternizados no universo feminino e
são adorados pelas mulheres como símbolo de poder e sedução. Segundo Schmidt
(1995), a sandália chamada tipo chinelo ou “rasteira”, sem salto e na maioria das
vezes apresentada em formato de “dedos”, é chamada assim por conter duas tiras
que ficam entre o grande artelho e o primeiro dedo do pé. O bico da forma deve ter
um desenho assimétrico que acompanha a inclinação dos dedos (Figura 2.6).
Figura 2.6 – Chinelo ou rasteira. (Fonte: http://www.art-dept.com)
15
Conforme Schimdt (1995), o modelo Chanel é denominado assim por ter sido criado
por Coco Chanel. Inicialmente, a proposta era de um calçado com uma biqueira
preta, fechado na frente e com uma tira prendendo no calcanhar, aberto atrás.
Apresenta-se com saltos de variadas alturas, mas sempre nas versões fino, ou
stiletto (Figura 2.7).
Figura 2.7 – Modelo Chanel, apresentado nesta versão com open-toe
2
. (Fonte: Senai, 2005, p. 35)
O escarpim ou ainda escarpam caracteriza-se pela liberdade que traz ao dorso do
pé. São chamados “modelos decotados” e geralmente têm mais altura porque o pé é
mais alto no lado interno em três aspectos: joanete, arco longitudinal interno e o
tornozelo (SCHMIDT, 1995). É um calçado fechado na parte frontal e na parte
traseira, com salto médio ou alto e uma linha que se afina em direção ao bico. O
nome vem do diminutivo italiano para scarpa (sapato) – scarpino (Figura 2.8).
Figura 2.8 – Escarpim ou escarpam, ainda chamado de modelo decotado. (Fonte: Senai, 2005, p. 36)
2
Open-toe: dedo aberto, dedo à mostra.
16
As sapatilhas assemelham-se ao modelo decotado, podendo ser entendido como tal,
mas é um modelo característico do uso diário, sendo, por esse motivo,
confeccionado em materiais leves, que oferecem bastante conforto e liberdade de
movimentos (SCHMIDT, 1995). O solado não tem um modelo definido, mas sua
principal característica é a não-colocação de salto ou ausência total de salto (Figura
2.9).
Figura 2.9 – A sapatilha assemelha-se ao modelo decotado, porém os saltos são muito baixos ou
ainda podem estar ausentes. (Fonte: Senai, 2005, p. 37)
Os calçados fechados ainda apresentam mais uma versão do modelo decotado,
diferenciando-se nos saltos plataforma. São saltos inteiriços no calçado, geralmente
altos, e mostram que estes podem ser bastante confortáveis ao caminhar,
exatamente pela compensação do solado na parte frontal do calçado (Figura 2.10).
Figura 2.10 – O sapato plataforma assemelha-se ao modelo decotado, porém os saltos são inteiriços.
(Fonte: Senai, 2005, p. 38)
Os tênis, também chamados de calçados esportivos, são apontados como o tipo de
calçado mais confortável entre a maioria das pessoas. Hoje em dia, o tênis denota
muita tecnologia e status social. “Além de proteger os pés do frio, do calor e das
17
agruras do solo, o tênis protege e auxilia durante os movimentos realizados”.
(SCHIMDT, 1995, p. 282). Apresenta-se em diferentes formas, cores, tecidos,
texturas, alturas e solados (Figura 2.11).
Figura 2.11 – Os tênis, ou calçados esportivos, são apontados como os mais confortáveis. (Fonte:
Steele, 1998, p. 173)
Schmidt (1995) afirma que a sandália tradicional é a clássica sandália de tiras com
abertura no calcanhar e na lateral (Figura 2.12). uma série de modelos que se
referem ao termo tradicional, como os chamados canoinha com pulseira, por
exemplo (Figura 2.13). Também apresentam uma série de saltos diferentes: o salto
anabela é um salto inteiriço, baixo na frente do calçado, aumentando sua altura
conforme vai chegando na parte posterior do calçado (Figura 2.14). ainda outro
modelo de sandália clássica com pulseira no tornozelo, que apresenta uma variação
em seu salto plataforma. Esse salto é do tipo grosso e alto. Esse tipo de sandália
normalmente possui uma “plataforma” na parte anterior da sandália, compensando a
altura do salto, que quase sempre ultrapassa os 10 cm (Figura 2.15).
18
Figura 2.12 – A sandália tradicional canoinha com pulseira no tornozelo, salto baixo. (Fonte: Senai,
2005, p. 40)
Figura 2.13 – A sandália tradicional canoinha com pulseira no tornozelo, salto alto. (Fonte: Senai,
2005, p. 41)
Figura 2.14 – A sandália de salto anabela. (Fonte: Senai, 2005, p. 42)
Figura 2.15 – A sandália plataforma apresenta uma compensação na parte anterior. (Fonte: O’Keefe,
1996, p. 419)
19
Os tamancos abertos são uma variação das sandálias tradicionais, podendo ser
confeccionados no modelo clássico com tiras, chamado de tamanco aberto (Figura
2.16), ou com salto anabela, em que o salto tem variadas alturas, porém é inteiriço,
facilitando o caminhar (Figura 2.17), e ainda o salto plataforma, que também
apresenta-se inteiriço, mas há uma compensação na parte anterior do calçado,
fazendo com que fique mais confortável ao caminhar (Figura 2.18).
Figura 2.16 – O tamanco aberto, confeccionado com tiras, salto fino. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 57)
Figura 2.17 – O tamanco com salto anabela. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 390)
Figura 2.18 – O tamanco com salto plataforma, confortável ao caminhar. (Fonte: www.art-dept.com)
20
A mule é uma espécie de chinelo de salto alto, fechado na frente, porém aberto
atrás; atrai muitas mulheres por ser sensual, elegante e prática ao mesmo tempo.
Também tem alturas variadas de salto (Figura 2.19).
Figura 2.19 – A mule é uma espécie de chinelo de salto alto, porém muito sensual. (Fonte: Senai,
2005, p. 46)
Conforme Schmidt (1995), a característica principal das botas é a elevação lateral do
modelo, com altura variável, do tornozelo até o joelho; às vezes, acima dele. A bota
é caracterizada conforme altura e recursos de abertura do cano. Outro elemento que
pode diferenciar a bota é o tipo de salto, que pode ser fino (Figura 2.20), plataforma
(Figura 2.21) ou com salto anabela (Figura 2.22).
Figura 2.20 – Modelo de bota de salto alto e bico fino, com cano comprido. (Fonte: Senai, 2005, p. 50)
21
Figura 2.21 – Modelo de bota de salto plataforma, com cano comprido. (Fonte: O‘Keefe, 1996, p. 386-
387)
Figura 2.22 – Modelo de bota de salto anabela, com cano comprido. (Fonte: O’keefe, 1996, p. 336)
2.4.2 Evolução Histórica dos Calçados
Muitos problemas anatômicos observados no humano são conseqüências do uso
de calçados inapropriados, cujo design não considerou os aspectos fisiológicos do
mesmo. Essa desconsideração, muitas vezes, se deve ao fato de que a moda
prevaleceu diante dos aspectos de usabilidade dos calçados. Na observação da
evolução histórica e tecnológica dos calçados, pode-se verificar em quais momentos
a usabilidade e a moda estiveram prevalecendo.
22
Segundo O’Keeffe (1996), as sandálias tornaram-se objetos de uso do ser humano
praticamente desde as primeiras atividades da humanidade, sucedendo às peles de
animais enroladas em volta dos pés. No exemplo pré-histórico, é possível ver a base
formada por cordas trançadas de cânhamo ou capim e contornada por gramíneas ou
juncos (Figura 2.23). Alguns estudos mostram que pinturas paleolíticas em
cavernas da França e Espanha indicando a existência de calçados em 10.000
a.C. Eles eram feitos de couro macio para que os antigos pudessem atravessar
trilhas montanhosas. Kuttruff (apud NEWMAN, 2006), especialista têxtil da
Universidade do Estado de Louisiana, sobre as sandálias de fibra de até oito mil
anos encontradas, afirma que não se vêem duas iguais [...] e o desejo de usar algo
diferente, distintivo e decorativo ou seja, o instinto da moda vem de tempos
imemoriais”. Através de inscrições egípcias, chinesas e de civilizações emergentes
da época, percebe-se que eles, os “sapatos”, estiveram sempre presentes.
Figura 2.23 – Sandália Pré-histórica – EUA. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 29)
No Egito antigo, entre 3100 a.C. e 32 a.C., apenas os nobres usavam sandálias de
couro (Figura 2.24). Os faraós usavam calçados desse tipo adornados com ouro.
Cada civilização antiga terá criado uma versão para as sandálias, que se compõem
de uma sola dura, presa ao com correias. Com a evolução técnica, iniciou-se o
curtimento do couro com seiva de plantas (Figura 2.25) e, mais tarde, com sais de
cromo; tornando-se assim mais resistente e adequado para sua aplicação aos
calçados.
23
Figura 2.24 – Sandálias Egípcias, 2500 a.C. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 29)
Figura 2.25 – Peruanas, séc. VI. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 28)
Na China antiga, o costume de enrolar os pés em forma de lótus iniciou-se por volta
do final da dinastia dos Cinco Períodos (século X). Na época, as meninas eram
obrigadas a enrolar os pés com o propósito de impedir o seu crescimento, ou os
homens não as aceitariam como esposas, posteriormente.
O tamanho dos pés, então, influenciaria a vida inteira das mulheres chinesas
daquele tempo. Para fazer os pés de lótus, lavavam-se os pés, faziam-se as unhas,
passavam-se a pomada de alume e enfaixavam-se os pés com ataduras com cerca
de 10 centímetros de largura e de 3 a 4 metros de comprimento (Figura 2.26). Os
chineses cultuavam o “pé de lótus” ou “açucena”, e essa deformidade do pé, fosse
ela provocada por amarras ou outros meios, criava uma aura de erotismo.
Ainda que, mesmo na época, muitos achassem cruel esse costume, os chineses
consideravam o amarrado aristocrático e, ao mesmo tempo, infantil e erótico e
também o viam como símbolo do órgão genital masculino.
24
Figura 2.26 – Sapatos de Lótus, séc. XVIII. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 312, 448)
O costume de enrolar os pés de lótus causava muitos sofrimentos às mulheres
desde criança. Mas, para ter os "pés de lótus de ouro", considerados como o padrão
de beleza feminina pela sociedade feudal, tinham que suportar toda espécie de
dores. A chamada "beleza" custava a saúde. As meninas começavam a enrolar os
pés aos quatro ou cinco anos e então aos sete ou oito anos, tinham os pés
moldados. Para enfaixá-los, pressionavam quatro dedos contra a planta dos pés,
menos o dedão. Os pés, depois de muito tempo enfaixados, gangrenavam,
chegando até a apodrecer. Assim, poderiam ter essas partes amputadas. Com o
decorrer do tempo, o arco da planta tornava-se curto, o comprimento diminuía e o
peito do se sobressaia (Figura 2.27). A deformação provocava um grande
sofrimento às mulheres durante toda a vida.
Figura 2.27 – Deformação do pé de chinesas, decorrente do enfaixamento dos pés desde a infância
(chamados “pés de lótus”) (Fonte: http://hvattum.net/index.php/2007/05/19/chinese-foot-binding/)
Durante a história, o calçado passou por uma mudança de valores acentuada,
substituindo o caráter funcional pelo estético. Isso se constata a partir dos séculos XI
25
e XII, bem exemplificado, com o calçado com biqueira comprida, os quais eram
proporcionais à classe social dos usuários: quanto mais pontudo, maior o valor na
escala social. Possivelmente esse tipo de calçado causava desconforto em seus
usuários (Figura 2.28).
Figura 2.28 – Biqueiras curvas do séc. XII, proporcionais à classe social, chegavam a medir mais de
60 cm do calcanhar até o fim da biqueira. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 181)
Essa “imposição” é alternada no século XV, quando, na Inglaterra, Henrique VIII, por
possuir os pés largos e inchados, descobriu que os chinelos eram mais confortáveis,
e decretou a proibição do uso de calçados com pontas aguçadas (O’Keeffe, 1996).
Surge um novo desenho de calçado, cuja característica era a simetria, não havendo
distinção do direito ou esquerdo (Figura 2.29). O rei da Inglaterra, Eduardo I, em
1305, padronizou a numeração dos calçados. Ele decretou que se considerasse
como uma polegada a medida de três grãos secos de cevada alinhados. Os
sapateiros ingleses se entusiasmaram com a idéia e passaram a fabricar, pela
primeira vez na Europa, calçados em tamanho-padrão, baseando-se nos tais grãos
de cevada. Um calçado que medisse, por exemplo, 37 grãos de cevada era
conhecido como tamanho 37. No mesmo país, em 1642, o registro da primeira
produção seriada de calçados no mundo.
Figura 2.29 – Calçados sem distinção de direito e esquerdo, séc XVI. (Fonte:
http//:www.sapatosonline.com.br)
26
No século seguinte (XVI), o estilo e a forma dos calçados ganham importância e
somam-se às variações dos modelos femininos e masculinos; além disso, a função
de revelar a classe social foi alterada pela altura do salto e não mais pelo
comprimento do bico (Figura 2.30).
Figura 2.30 – Chapins, séc XVI. (Fonte: O’Keffe, 1996, p. 348)
Os séculos XVII e XVIII foram marcados por modelos usados pela aristocracia da
época. Suas principais características eram os enfeites, sempre sofisticados, e os
saltos altos. Eram utilizadas, muitas vezes, jóias como ornamentos. Ao final da
Revolução Francesa, os modelos sofrem outra mudança dramática, onde os saltos
desaparecem e as botinas de salto médio se impõem na moda feminina (Figura
2.31).
Figura 2.31 – Botas de salto médio, séc XVIII. (Fonte: O’Keefe, 1996, p. 310)
Com a Revolução Industrial, no início do século XVIII, os calçados passam a ser
produzidos em série; ainda não havia diferença visível entre os pés direito e
27
esquerdo, além de não haver uma variedade de tamanhos, o que causava graves
problemas aos seus usuários.
No século XX, novos materiais, técnicas e tecidos entram na produção, que vem a
ser distribuída entre design, modelagem, confecção. Na primeira metade desse
século, destacam-se vários estilistas que influenciaram o desenho de calçados
femininos, como, por exemplo, Coco Chanel, Elsa Schiaparelli, Paul Poiret,
Salvatore Ferragamo, André Perugia, Vivienne Westwood, Manolo Blahnik, Christian
Dior, Roger Vivier, Yves Saint Laurent.
Entretanto, um importante momento a ser ilustrado passa pela década de 1980,
quando surge um conjunto de atributos e traços de comportamento que vieram a
constituir um estereótipo comum na América, os chamados yuppies. Estes deixaram
de lado as causas sociais abraçadas pela geração anterior (hippies) e o desapego
pelos valores tradicionais, e passaram a valorizar bens materiais, especialmente
objetos da última moda, como grifes importantes, estilistas famosos, roupas caras e
calçados luxuosos.
Nesse mesmo período, com o boom da informática, as pessoas puderam acessar
com maior rapidez e facilidade as informações disponibilizadas na rede mundial de
computadores, a Internet. Isso gerou uma mudança de comportamento evidente na
forma de consumo, trazendo produtos novos e modernos, facilitando a divulgação e
a comunicação dos comerciantes e produtores. Isso deixou a moda em extrema
evidência não para a elite, mas também para a classe média, aumentando assim
o interesse por produtos de grife, como calçados, tanto os mais simples quanto
aqueles assinados por grandes estilistas.
Atualmente, no auge do processo industrial, onde a tecnologia da fabricação de
calçados encontra-se em estágio bastante elevado, percebe-se que muitos
problemas de usabilidade ainda são apontados por usuários de calçados. Os
estudos sobre essa evolução tecnológica e a moda aplicada ao design de calçados
têm sido interesse não apenas da comunidade científica na área da moda (que
28
emerge no Brasil atualmente), mas também do setor produtivo, o qual busca em
fundamentos teóricos e empíricos os requisitos para o design de seus produtos. Isso
reitera a necessidade de uma constante revisão no “estado da arte” dos aspectos de
usabilidade dos calçados femininos.
2.5 PROBLEMAS DE USO DE CAADOS FEMININOS
2.5.1 Características das EMIs
Do ponto de vista anatômico, a EMI humana é constituída pelo denominado “pé”, o
qual foi se caracterizando (na evolução humana) num elemento e sistema de apoio e
equilíbrio (neste último caso, associado às demais regiões anatômicas do corpo
humano) do corpo sobre o solo, mantendo-o ereto, além de ser a peça fundamental
do processo de locomoção do homem.
Segundo Pericé (1986), sua forma e sua estrutura interna lhe permite atuar como um
suporte ou pedestal para o corpo e, ao mesmo tempo, como um sistema de
alavancas que o impulsionam durante o ato de caminhar, correr, saltar, e um
elemento amortecedor dos impactos que recebe do solo. É talvez um dos
mecanismos vitais do corpo humano mais negligenciado, mas, ainda assim, capaz
de cumprir sua tarefa, mesmo sob as mais adversas condições e pressões, graças à
sua estrutura perfeita.
Ainda segundo esse autor, o é uma estrutura complexa, contendo 26 ossos (1/8
de todos os ossos do corpo humano), 33 juntas, 107 ligamentos, 19 músculos e
tendões, caracterizando uma estrutura única, a qual permite realizar apoio e vários
movimentos básicos para a locomoção humana (Figura 2.32).
29
Figura 2.32 – Estrutura óssea do pé humano, vista interna lateral. (Fonte:
http://www.gettyimages.com)
O tarso, parte posterior do pé, é constituído por sete ossos curtos, o qual suporta a
maior parte do peso corporal e, de modo simultâneo, se articula com os ossos da
perna, ajudando a distribuir o peso do corpo para a parte dianteira do e para o
calcanhar (Figura 2.33). O metatarso é a parte média do pé, composta por cinco
ossos longos chamados metatarsianos. E a parte anterior do é formada pelas
falanges, totalizando catorze ossos, que formam os dedos e constituem a parte mais
curta e mais larga do pé (Figura 2.34).
Figura 2.33 – Estrutura óssea do calcanhar humano, vista em corte.
(Fonte: http://calcadodesportivo.com/biomecanica.htm)
30
Figura 2.34 – Estrutura óssea do pé humano.
(Fonte: Adaptado de: http://calcadodesportivo.com/biomecanica.htm)
3
2.5.2 Problemas Fisiológicos Decorrentes do uso de Calçados Femininos
De acordo com Carrasco (1995), o apoio do pode ser caracterizado por três
classes: normais ou neutros, cuja impressão na superfície de apoio demonstra uma
ligação entre o antepé e o calcanhar; côncavo, ou arcado/supinado, cujo arco pode
ser tão acentuado que na sua impressão pode não ocorrer a ligação entre o antepé
e o calcanhar; e chato, ou também denominado de pronador excessivo,
caracterizado por apenas um pequeno arco impresso, tocando praticamente todo o
chão, tem a sola plana (Figura 2.35). O chato é o que mais sofre com calçados,
pois, muitas vezes, estes não são desenvolvidos para esse tipo de pé.
Figura 2.35 – Pé normal, pé côncavo e pé chato.
(Fonte: Adaptado de: http://calcadodesportivo.com/biomecanica.htm)
3
Com a nova nomenclatura anatômica, o osso perônio passou a chamar-se fíbula.
31
Outro problema anatômico comumente observado no humano é o joanete (ou
Hallux Valgus) (Figura 2.36), caracterizado por um desvio lateral do grande artelho,
causado pela contínua pressão exercida sobre o grande artelho lateralmente em
calçados estreitos e bicudos. O joanete é caracterizado como uma patologia, a qual,
muitas vezes, exige intervenção ortopédica ou cirúrgica. Saltos altos também
favorecem o desenvolvimento dessa deformidade, pois o antepé é forçado para a
ponta frontal estreita do calçado, provocando uma deformação ou acréscimo de osso
e o aumento da angulação da articulação do dedão.
Figura 2.36 – Pé com joanete, ilustração em vista interna e foto de deformação real. (Fonte: Henning,
1989, p. 45)
Observa-se, assim, que as EMIs apresentam particularidades físicas e fisiológicas
que devem ser compreendidas na observação dos parâmetros para o design
ergonômico de calçados femininos. Por outro lado, esses fatores o são
determinantes para compreender como se dá, plenamente, a relação entre as
usuárias e os calçados, exigindo-se analisar também os aspectos perceptivos desse
uso.
32
2.6 PERCEPÇÃO DA USABILIDADE DE CALÇADOS FEMININOS
A usabilidade de calçados é um fator decisivo no projeto desse produto, uma vez
que se faz uso do mesmo em grande parte do dia (normalmente, para as pessoas
que realizam atividades ocupacionais, pelo menos 1/3 do dia), além disso, por ser
muitas vezes considerado exclusivamente um elemento da moda, o mesmo precisa
apresentar características ergonômicas intrínsecas, independentemente da
variabilidade de tipos e modelos.
Alguns importantes estudos envolvendo a ergonomia e o design de calçados já
foram desenvolvidos no Brasil (MONTEIRO, 2000; e VAN DER LINDEN, 2004),
entretanto, entre os vários aspectos que ainda merecem atenção específica na
relação do design ergonômico de calçados, destacam-se a influência do salto alto na
usabilidade, principalmente em calçados femininos, e a adequação antropométrica.
Estudos na área clínica, biomecânica e ergonômica têm demonstrado a influência do
salto alto aplicados em calçados, nas condições fisiológicas e perceptivas dos
usuários.
Segundo Carrasco (1995), conforme se aumenta a altura do salto, altera-se a
distribuição da pressão corporal nos pés e o equilíbrio, prejudicando a segurança do
caminhar. Quando o se apóia no chão sem salto nenhum, o calcanhar suporta
uma carga de 57% do corpo e a região metatarsiana, 43%. Com o salto de 2 cm,
um equilíbrio de 50% do peso do corpo na parte anterior do e na parte posterior,
no calcanhar. Com o salto de 4 cm, o calcanhar suporta 43% do peso do corpo e o
metatarso 57%. Com um salto de 6 cm, 75% do peso do corpo ficará sobre a região
metatarsiana e 25% sobre o calcanhar. Com um salto de 10 cm ou maior,
praticamente toda a carga é suportada pela região anterior do pé. E é essa a região
mais afetada do pé feminino dentro de um calçado de salto alto (Figura 2.37).
33
Figura 2.37 – Peso corporal representado em suas porcentagens conforme altura do salto. (Fonte:
Adaptada de Schmidt, 1995, p. 39-40)
Kerrigan et al. (2001) realizaram um estudo sobre calçados femininos em sujeitos
com osteoartrite
4
de joelho, avaliando a influência do salto alto na torção do joelho, e
constataram que usuárias de salto alto apresentaram aumento na possibilidade da
torção, principalmente na região patelo-femural e medial do joelho, região anatômica
típica de mudanças degenerativas de articulações.
Outro estudo de Kerrigan et al. (2005) avaliou se mulheres utilizando calçados com
saltos de apenas 38 mm de altura (Figura 2.38) apresentavam probabilidade de
torção na articulação do joelho. Mesmo nesse caso, foi constatado um aumento
significativo nas torções de joelho, o que é relevante para o desenvolvimento e
progressão da osteoartrite dessa articulação. Portanto, o salto pode ser considerado
um problema grave, principalmente para mulheres portadoras de osteoartrite do
joelho.
Figura 2.38 – Avaliação de mulheres utilizando saltos de 38 mm. Possibilidade de torção na
articulação do joelho e progressão da osteoartrite. (Fonte: Kerrigan et al., 2005, p. 872)
4
A osteoartrite, antes conhecida como osteoartrose ou simplesmente artrose, corresponde a um grupo de problemas que
resulta em alterações anatômicas, com conseqüentes repercussões nas juntas (articulações) principalmente dos joelhos.
HELFENSTEIN, M. Osteoartrite. Disponível em: <http://www.msd-brazil.com/msdbrazil/patients/sua_saude/reumaticas/
osteoartrite/osteoartrite1.html#section_2>. Acesso em: 29 set. 2007.
34
Quanto à relação entre altura do salto e distribuição de pressão plantar, força de
impacto e percepção de conforto, Yung-Hui e Wei-Hsien (2004) realizaram um
estudo com dez mulheres saudáveis, utilizando calçados com saltos de 10 mm,
51 mm, e 76 mm (Figura 2.39). Os resultados indicaram que o aumento da altura do
salto tem correlação com o aumento da força de impacto e da percepção de
desconforto durante a caminhada. Eles observaram também que um apoio de
calcanhar para calçados de salto alto reduz a pressão no calcanhar e o impacto de
força; um suporte de arco inserido na palmilha reduz a pressão média no antepé; e o
uso de ambos os sistemas colabora no conforto percebido durante o uso.
Figura 2.39 – Os três calçados usados no experimento: 10 mm, 51 mm e 76 mm e a palmilha em
suas partes. (Fonte: Yung-Hui & Wei-Hsien, 2004, p. 356)
Outro estudo que compara diferentes alturas de salto foi desenvolvido por Lee et al.
(2001), utilizando três alturas (zero, 45 mm e 80 mm), com mulheres paradas, em
e andando. Quatro principais efeitos biomecânicos foram observados: com o
aumento do salto, a flexão do ângulo do tronco diminui significativamente. a
análise eletromiográfica da região da tíbia anterior e da lombar (Figura 2.40), bem
como o movimento vertical do centro do corpo, aumentaram significativamente
enquanto caminhavam com calçados de salto alto.
35
Figura 2.40 – Medição do ângulo da coluna lombar. (Fonte: Lee et al., 2001, p. 322)
Manfio (2003) identificou as alterações das características cinemáticas e da força
vertical durante a marcha descalça e com calçados de diferentes alturas de salto. A
amostra caracterizou-se por sujeitos que calçavam exclusivamente a numeração 35
(Sistema Francês) e usavam calçado de salto alto freqüentemente. A marcha foi
avaliada em cinco diferentes alturas de salto: zero, 5 mm, 25 mm, 55 mm e 85 mm.
Observou-se que as maiores alterações cinemáticas foram encontradas entre a
situação descalça, calçado sem salto e calçado de salto com 85 mm. Segundo a
autora, tais alterações devem ser consideradas no design e na fabricação do
calçado de salto, proporcionando assim maior conforto.
A relação entre fadiga muscular e estabilidade do durante a marcha com salto
alto foi avaliada por Gefen et al. (2001), através da análise da pressão plantar e da
eletromiografia EMG - (Figura 2.41). A estabilidade médio-lateral do foi
caracterizada medindo-se desvios médio-laterais no centro de pressão e
correlacionando esses dados com a fadiga nos músculos da panturrilha. Usuárias
habituais de calçados de salto alto demonstraram um desequilíbrio dos músculos da
perna em condições de fadiga, situação que é correlacionada com uma anormal
substituição lateral do centro de pressão com o pé no chão e pé com calçado.
36
Figura 2.41 – A relação entre fadiga muscular e estabilidade do pé durante a marcha com salto alto e
pé descalço. (Fonte: Gefen et al., 2001, p. 58)
Speksnijder et al. (2004) estudaram a pressão do pé, medida em dez mulheres
saudáveis, enquanto caminhavam com calçados de salto alto (59,1 mm) e salto
baixo (19,5 mm). O foi dividido em sete regiões. Para cada região os seguintes
parâmetros foram calculados: o pico de pressão (PP), tempo de pressão integral
(TPI), força máxima (FM), tempo de força integral (TFI), tempo de contato (TC) e
área de contato (AC). Em saltos altos, a carga foi reduzida no médio pé, e, sob o
calcanhar, a AC e FM caíram significativamente. Caminhar com calçados de salto
alto causou um aumento no pico de pressão de 30% no antepé central em
comparação com saltos baixos, onde TPI aumentou para 48%. No médio antepé
esses parâmetros aumentaram em 34% e 47% respectivamente. Um aumento de
salto alto mostra a correlação de PP para TPI no médio antepé e para PP no antepé
central (Figuras 2.42 e 2.43).
37
Figura 2.42 – Pico de pressão em caminhada com o pé esquerdo com salto alto e salto baixo.
Mudança significativa para *p < 0,05. (Fonte: Speksnijder et al., 2004, p. 19)
Figura 2.43 – Tempo de pressão integral em caminhada com o pé esquerdo com salto alto e salto
baixo. Mudança significativa para *p<0,05. (Fonte: Speksnijder et al., 2004, p. 19)
Apesar de a maioria dos estudos revisados até então apresentarem resultados que
condenam o uso de salto elevado, um estudo desenvolvido por Potério Filho (2003)
observou esse tipo de calçado, afirmando que o mesmo proporciona maior contração
muscular, o que aumenta em até 30% a eficiência do bombeamento do sangue.
Esse movimento, que ocorre por ação direta da contração muscular das pernas
38
atuando sobre as veias, faz com que o sangue retorne para o coração com maior
pressão, não permitindo a sua volta por ação das válvulas. Assim, enquanto a
pessoa anda, ocorre o bombeamento, e a pressão nas veias das pernas
permanece muito baixa, diminuindo a chance de aparecer qualquer edema
(infiltração de líquido semelhante ao soro sangüíneo).
Além disso, o autor afirma que o salto alto dos calçados corrige certos defeitos como
o pé chato, o genuvarum (deformação do membro inferior, caracterizada por um
desvio para fora da perna, com saliência do joelho para dentro), assim como o
conhecido joanete. Reitera ainda que as pessoas, permanecendo com o calcanhar
mais elevado, conseguem pressionar os pés para frente de forma a diminuir a
pressão nas veias e, ao final do dia, podem ficar sem dor ou edema; além disso, os
usuários assumem uma postura diferente e, com isso, acabam corrigindo possíveis
defeitos ortopédicos, uma vez que são obrigados a contrair os músculos da perna
com mais força. A coluna lombar é que vai absorver essa diferença, de modo a ficar
ereta.
2.7 PROBLEMAS DE DIMENSIONAMENTO DOS CALÇADOS FEMININOS
O dimensionamento de calçados se durante as etapas de desenvolvimento e
modelagem do projeto do produto, e normalmente baseia-se em padrões e normas
antropométricas. Apesar das várias possibilidades de padronagens e tamanhos,
muitos calçados ainda são mal dimensionados, ou então, apresentam configuração
inadequada, principalmente se considerado o ponto de vista antropométrico.
Segundo O’Keefe (1996), 88% das mulheres compram calçados um número abaixo
do que deveriam usar, e pouco importa se são práticos ou confortáveis. Normalmente
não assentam como uma luva, não se ajustam aos contornos naturais do pé, mas
entre fantasia e realidade, as mulheres não hesitam em preferir a futilidade ao
conforto (Figura 2.44).
39
Figura 2.44 – “O eterno dilema de toda amante de sapatos: o sapato perfeito num número errado!”
(Fonte: O’Keefe, 1996, p. 72)
Particularmente no caso do público feminino, Phelan (2002) afirma que as mulheres
fazem loucuras quando aderem a modismos, e arcam com um elevado custo físico
ao usar calçados que ditam as regras da moda. Uma mulher é capaz de tentar se
espremer de um tamanho 39 para 38, para convencer os outros e ela mesma que
tem pés pequenos. Os pés, assim como qualquer região anatômica do corpo
humano, seguem os mesmos princípios de variabilidade dimensional, prescritas pela
teoria antropométrica. Além disso, por se constituírem a “base” de toda estrutura
corporal humana, podem apresentar grande variabilidade individual, dependendo
das condições biomecânicas às quais estão submetidos.
McWhorter et al. (2003) investigaram os efeitos da caminhada e da corrida e a
volumetria do pé, bem como o relacionamento entre tamanho do pé medido e
tamanho do calçado preferido. Foram realizadas avaliações dimensionais antes e
após atividades físicas, bem como do calçado utilizado. Uma frágil e positiva
correlação foi notada entre mudanças de volume durante a atividade sica, e a
diferença de medição entre o tamanho do e o tamanho do calçado. Os resultados
também demonstraram que realmente uma diferença de medição entre tamanho
de calçado e tamanho de pé, sendo maior para o volume do depois da corrida
(Figura 2.45).
40
Figura 2.45 – Medidor de volumetria e medidor de pés. (Fonte: McWorther, 2003, p. 88)
Manfio e Ávila (2003) realizaram um estudo abordando os parâmetros
antropométricos do pé, de uma amostra de 1.296 sujeitos do gênero feminino, na
faixa etária entre 18 e 60 anos. Observou-se que, em média, somente 35% do
sujeitos calçam a numeração correspondente ao comprimento do pé. A variabilidade
encontrada demonstra a importância da fabricação de calçados em perfis
antropométricos diferenciados, sendo necessários, no mínimo, três deles para
atender aproximadamente 53% da amostra e, no mínimo, quatro perfis para atender
a aproximadamente 67% da amostra, porém o mero de perfis não precisa ser
necessariamente o mesmo para todos os intervalos de comprimento do pé.
No que refere a levantamentos antropométricos para constituição de base de dados,
Reichert (1999) fez uma revisão dos principais estudos antropométricos existentes
no mundo todo, concluindo que nem todos foram bem desenvolvidos.
No estudo espanhol, participaram 222 sujeitos (147 mulheres e 75 homens),
Reichert (1999) mostra que foram levantadas 17 variáveis, a partir de fita métrica e
esquadro traçante; o estudo francês objetivou estabelecer um método
internacional de medição dos pés que resultasse em dados para a construção de
qualquer tipo de calçado (chinelo, sapato ou bota), em qualquer parte do mundo,
então denominado de Mondopoint. Esse estudo baseia-se no conhecimento do
41
descalço e do em função do crescimento, apresentando gamas de tamanhos de
calçados quanto à aplicação industrial.
O estudo húngaro foi desenvolvido entre 1965 e 1970, sendo utilizado um
equipamento, constituído de várias câmeras fotográficas, dispostas em três planos
ortogonais. Ao disparar o flash, cada uma dessas câmeras produz um negativo da
parte frontal, inferior e lateral do projetado, sendo que os dados levantados foram
tratados por um método indireto e a leitura das fotos feita por um leitor de curvas.
No Brasil, pode-se destacar o estudo desenvolvido por Lacerda (1984), o qual teve
como proposição conhecer a morfologia do pé. O pesquisador procurou explorar
todos os pontos anatômicos que compõem a sua superfície irregular e assimétrica
dos pés, sendo selecionados 33 pontos, em função dos quais se definiu um total de
96 variáveis antropométricas. Os resultados da pesquisa contribuíram de modo
expressivo no setor industrial de formas, calçados e meias. Outro estudo encontra-
se em andamento, sendo desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), no Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC),
cujo objetivo final é produzir melhorias no conforto do calçado.
Nesse aspecto, Zaro et al. (2005) desenvolveram a primeira norma brasileira para
avaliar conforto em calçados (normas NBR 14834 a 14840). Nessas normas estão
relatadas, entre outros parâmetros biomecânicos, a medição de temperatura,
distribuição de pressão plantar, primeiro pico de força e índice de peso aceitável,
concentração de calçados e ângulo de pronação. Critérios subjetivos também foram
contados, como “sensação ao toque”, ajuste dimensional ao pé, sensação de
segurança em caminhadas e sensação de umidade.
42
2.8 PERCEPÇÃO DE DESCONFORTO/CONFORTO EM CALÇADOS
A maioria das abordagens do design ergonômico depende da percepção de uso por
parte dos usuários de um determinado produto, e essa percepção é decorrente de
alguns critérios de avaliação. De acordo com Paschoarelli (2003), os principais
critérios utilizados na avaliação de um produto são o desconforto (critério negativo) e
o conforto (critério positivo).
Segundo Ferreira (1999), o desconforto é definido pela “falta de conforto”, ou o
contrário de conforto. para Iida (2005), o conforto não apresenta uma definição
precisa, e depende da área de estudo em que é aplicado.
Do ponto de vista operacional, a primeira definição de conforto foi proposta em um
estudo de Hertzberg, que afirmou ser o conforto a “ausência de desconforto”
(LUEDER, 1983).
Para Noyes (2001), conforto é um estado mental que ocorre nas ausências de
desconforto, e a única maneira de avaliá-lo é por meio da declaração do indivíduo
sobre o quão confortável ele se sente.
A partir desta proposição, Jordan (2000) afirma que os produtos percebidos como
confortáveis são aqueles que proporcionam sensações prazerosas a seus usuários.
Ao considerar o conforto a partir do uso de calçados, pode-se argumentar que
calçado confortável é aquele que não expõe os pés a enfermidades ou deformações,
mas isto não garante a caracterização e a definição desse conceito. O conforto
pode ser definido de várias maneiras, por ser uma variável qualitativa. Iida (2005)
define-o como “uma qualidade ergonômica do produto”, e que esse é um atributo
valorizado pela usuária.
Van der Linden e Guimarães (2004), após coleta de expressões e definições,
propuseram a definição de conforto como “uma sensação prazerosa de bem-estar
43
físico e psicológico. O conforto é, também, uma condição de bem-estar com
ausência de dor, desconforto e estresse, definida a partir de uma sensação de
desconforto”.
De acordo com Slater (1985), o conforto apresenta uma natureza multidimensional,
resultante de três dimensões: física, fisiológica e psicológica.
Os aspectos físicos correspondem à interação com o ambiente e seus efeitos nas
dimensões fisiológica e psicológica. Assim, enquanto os aspectos fisiológicos do
conforto estão relacionados ao funcionamento do corpo humano, envolvendo ações
de regulação involuntárias, os aspectos psicológicos referem-se ao conforto mental e
estão associados a questões como auto-imagem, identidade e individualidade.
Além da falta de consenso quanto à definição de “conforto”, também não existe uma
condição objetiva e precisa para se mensurar o conforto, tornando necessário o uso
de averiguações para se saber o quão confortável o indivíduo se sente em relação a
determinado produto (SANDERS & MCCORMICK, 1993).
Segundo Borg (2000), a utilização de métodos para avaliar subjetivamente tarefas e
usos de objetos tornou-se um procedimento comum em abordagens ergonômicas,
uma vez que as cargas de atividades “[...] são estudadas não somente com métodos
fisiológicos, mas também com estimativas de percepção” (p. 81), sendo seus
resultados um “[...] importante sinal de uma carga real ou objetiva” (p. 82).
Em estudos sobre avaliação de conforto, Drury e Cury (1982) citam o uso de escalas
que avaliam o eixo conforto/desconforto. Eles utilizam-se de escalas binárias
(comfortable/uncomfortable), com um ponto médio entre os dois conceitos extremos
(uncomfortable/medium/comfortable) e avaliação com sete pontos, indicando
conforto no ponto máximo.
44
Van der Linden (2004) afirma que, admitindo-se o eixo conforto/desconforto com o
ponto intermediário indicando um estado de indiferença (nem conforto, nem
desconforto), a avaliação do conforto ou desconforto deve ser procedida
considerando toda a sua dimensão. Assim, respostas como “pouco confortável” não
indicam um estado de desconforto”.
De acordo com Iida (2005), as avaliações subjetivas devem considerar medidas de
“sentimento” ou “percepção”, já que dependem do julgamento e repertório individuais
dos avaliados. Assim, devem ser utilizadas para tal fim as escalas de percepção.
No sentido de não serem definidas as variáveis em que as pessoas se baseiam para
determinar o conforto, Iida (2005) indica que uma avaliação subjetiva deve ser
utilizada quando se pretende avaliar se um produto é confortável ou não.
Deve ser observado ainda que “[...] a importância da aparência e a atitude diante de
riscos em geral são determinantes no processo de avaliação do conforto e do risco
no uso de calçados [...]” (VAN DER LINDEN, 2004).
Para Metzger (1994), são quatro os componentes que podem definir o nível de
conforto percebido:
Ausência de queixas físicas: Os estímulos sicos não devem causar distúrbios,
aborrecimentos ou desprazer. No caso da percepção de uso de calçados pelo
público feminino, deve-se considerar os aspectos negativos (desconforto) como,
por exemplo, os esforços necessários para manter uma postura de equilíbrio
biomecânico, principalmente no caso dos calçados de salto alto; além das
pressões percebidas em algumas regiões anatômicas das EMIs, entre outros
fatores.
Tranqüilidade: Refere-se ao grau de alívio (facilidade) e relaxamento (redução de
constrangimentos físicos e psicológicos) com que as atividades são realizadas.
Também quanto à percepção de uso de calçados pelo público feminino, devem ser
45
considerados os aspectos positivos (conforto) como, por exemplo, o alívio durante
o uso de um calçado que proporcione relaxamento. Nesse caso, destacam-se os
chinelos tipo rasteira, quando utilizados nas atividades de lazer.
Eficiência: Relaciona-se com o desempenho objetivo, no qual as funções são
atendidas de modo pleno para as atividades consideradas especificamente. Por
exemplo, pode-se citar o tênis, quando utilizado para as atividades de caminhada.
Individualidade: Inclui a necessidade de expressar o próprio sentimento. Baseia-se
nesse caso, nos aspectos antropológicos e, conseqüentemente, envolve os
aspectos culturais, uma vez que esse critério representa a condição do usuário
diante de sua situação particular e social.
46
3 OBJETIVOS
Este estudo apresenta como objetivo geral investigar as influências da usabilidade
de diferentes tipos de calçados femininos, por meio da análise perceptiva (uso de
salto alto) e antropométrica (adequação dimensional dos calçados) observada na
avaliação ergonômica dos calçados.
Como objetivos específicos, destacam-se:
Revisar a literatura pertinente aos assuntos design, ergonomia,
antropometria, moda, calçado feminino e percepção de usabilidade.
Avaliar os aspectos perceptivos de conforto, em usuárias de
calçados femininos.
Realizar um levantamento antropométrico, com a finalidade de
verificar a existência de diferenças entre os pés direito e esquerdo,
junto ao público feminino.
Discutir os resultados das avaliações, com base nos fundamentos
teóricos.
47
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 QUESTÕES ÉTICAS
Considerando as características da abordagem deste estudo, o qual envolve a
participação de sujeitos, optou-se pela aplicação de um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A), baseado nos princípios do Conselho
Nacional de Saúde, através da Resolução 196/96 CNS; e da “Norma ERG-BR
1002, do código de Deontologia do Ergonomista Certificado” (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE ERGONOMIA, 2003). Sendo assim, todos os sujeitos participantes
foram informados dos procedimentos, tendo concordado, preenchido e assinado
seus respectivos TCLEs.
4.2 SUJEITOS
A título de validação da amostragem estatística, optou-se por considerar a estimativa
amostral descrita por Triola (1998, p. 151). Nesse caso, foram considerados como
universo desta pesquisa, os estudantes universitários matriculados nos cursos de
graduação da Universidade Tuiuti do Paraná Campus Sidney Rangel Santos
(Barigui Curitiba, PR), os quais totalizam aproximadamente 5.000 indivíduos.
Desses, cerca de 50% são do gênero feminino, o que significa perto de 2.500
indivíduos, portanto, para efeito de amostragem, considerou-se este como sendo o
“N”. Além disso, foi considerado um desvio padrão populacional σ de 0,50; um
valor crítico estabelecido a partir do grau de confiança “Zα/2” de 1,645; e uma
margem de erro “E” de 5%. Assim, o tamanho da amostra obtido foi de 244 sujeitos
do gênero feminino.
O recrutamento desses indivíduos deu-se por meio aleatório, havendo, entretanto,
como critérios de exclusão os seguintes princípios: idades abaixo de 18 anos e
48
acima de 30 anos; o-usuárias de calçados com salto; o não-aceite em participar
do estudo.
Assim, os sujeitos da pesquisa se caracterizam por indivíduos adultos, do gênero
feminino, com idade média de 20,90 anos (d.p. 2,52 anos; amplitude 18-30 anos),
todos residentes em Curitiba e Região Metropolitana (PR). Além disso, tais
indivíduos apresentam peso dio de 56,57 kg (d.p. 7,72 kg); e estatura média de
1,65 m (d.p. 0,06 m), sendo que tais variáveis foram obtidas de forma nominal.
4.3 MATERIAIS
As abordagens aplicadas neste estudo previam o uso de materiais específicos,
dependendo da forma e circunstância da coleta de dados.
Para a coleta dos dados pessoais, aspectos físicos e perceptivos, utilizou-se um
Protocolo de Identificação e Coleta de Dados – (PICD) (APÊNDICE B), caracterizado
por um “formulário”, havendo espaço para preenchimento de dados pessoais, além
dos aspectos físicos (peso, estatura e numeração de calçado) e perceptivos. Esse
último tópico caracterizou-se por dez questões de múltipla escolha, relatando sobre
tamanho, desconforto/conforto e expressão de individualidade de calçados; uso,
desconforto/altura e tempo/altura de salto de calçado. Além disso, foi disponibilizado
um mapa dos pés (esquerdo e direito) a fim de possibilitar o registro de regiões de
desconforto pelos sujeitos; e um diagrama do corpo humano, baseado no Diagrama
de Desconforto de Corlett e Manenica (1980), permitindo a indicação de regiões de
desconforto quando do uso de calçados de salto maior de 4 cm. Por fim, esse
protocolo apresentava quatro questões aplicadas com o uso de uma escala de
categoria, baseado nos princípios de Metzger (1994).
Um segundo protocolo foi utilizado para anotar os valores dimensionais obtidos na
abordagem antropométrica (APÊNDICE C).
49
Foram utilizados ainda dois equipamentos “Brannock Device® Foot-Measuring
Device” (Números de Série 206714 e 206715) (Figura 4.1), especialmente para a
medição dos pés humanos, particularmente o comprimento do pé, o comprimento do
arco (em escala calibrada para confirmação do comprimento do pé), e a barra da
largura (em escala calibrada para confirmação do comprimento do pé, do arco e
conseqüentemente o tamanho do calçado).
Figura 4.1 – “Brannock Device® Foot-Measuring Device”. Aparelho medidor de pés femininos.
Além dos protocolos e do equipamento anteriormente descrito, também foi utilizado
um computador, o software de análise estatística de dados (Excell, Versão XP
Professional), o software editor de texto (Word, versão XP Professional); e o
software Statistic (Versão 5.5 – 1984/2000).
4.4 PROCEDIMENTOS
Os procedimentos adotados na abordagem dos sujeitos foram previamente
planejados, havendo anteriormente um pré-teste com 20 indivíduos. Foi selecionada
50
uma turma de alunas e então esses protocolos foram entregues às usuárias, sendo
assim preenchidos. Com esse protocolo inicial, foi possível identificar suas falhas e
assim o mesmo foi modificado para facilitar a organização das atividades de coleta
de dados e a revisão dos próprios protocolos.
Todo levantamento deu-se no campus da universidade supracitada. Primeiramente,
foi esclarecido aos coordenadores dos cursos os objetivos e as características do
estudo. Com o aval de cada coordenador, realizou-se a abordagem nas salas de
aulas, havendo, previamente, a autorização dos professores presentes naquele
momento. Em seguida, foi feito um esclarecimento para as turmas de alunos, e após
observar aqueles que manifestaram interesse em participar da pesquisa, houve a
entrega do TCLE, o qual foi devidamente lido, aceito, preenchido e assinado.
Na seqüência, houve a distribuição do PICD àqueles indivíduos que assinaram o
TCLE. Após o preenchimento do mesmo, os PICDs foram recolhidos e os sujeitos,
individualmente, dirigiram-se até o local de coleta de dados. Na ocasião, foi
solicitado para que os mesmos retirassem seus calçados, se mantivessem eretos
(em ), e apoiassem seus pés no medidor “Brannock Device® Foot-Measuring
Device”, sendo primeiramente o direito e, em seguida, o esquerdo. A usuária
deve estar com o peso do corpo igual sobre ambos os pés para assegurar que o
que está sendo medido esteja tão esticado quanto espalhado ao tamanho máximo.
Também foi assegurado que as meias utilizadas durante a medição estivessem
confortáveis, encostadas nos dedos do (sem puxar os dedos do para trás)
para obter uma medida exata.
Assim posicionada a usuária, a barra da largura deve ser ajustada em sua posição
mais larga e o indicador do comprimento do arco deve ser deslizado para trás,
fazendo com que o pé assim o pé se encaixe facilmente no aparelho.
Após a usuária colocar o calcanhar na posição indicada para o referido pé (direito ou
esquerdo), era necessário certificar-se de que o calcanhar estava posicionado
51
corretamente, ou seja, encostado na parte traseira aparelho, segurando o tornozelo
da usuária e o aparelho juntos, como ilustrado na Figura 4.2.
Figura 4.2 – Foto do aparelho no momento inicial da medição, segurando o calcanhar junto ao
medidor.
Na seqüência, realizou-se a pressão sobre os dedos do pé de encontro à base do
aparelho e observou-se a linha reta sob o dedo do mais comprido (não
necessariamente o dedão) para ler o comprimento do pé (Figura 4.3).
Figura 4.3 – Foto do aparelho no momento da medição, realizando pressão sobre o maior dedo do pé
a fim de garantir a medida correta.
Após o registro do comprimento e mantendo o mesmo posicionamento do pé,
realizou-se o deslizamento do ponteiro do comprimento do arco (A), até a junção de
52
esfera do pé, ou, mais precisamente, até a protuberância do metatarso, próximo à
articulação do grande artelho (primeiro dedo - B), possibilitando obter a medida do
arco (Figuras 4.4).
Figura 4.4 – Deslizamento do ponteiro do comprimento do arco até a protuberância do metatarso para
conferência desta medida.
Na seqüência, era deslizada a barra móvel da largura até a extremidade externa da
região metatársica do (Figura 4.5), e, com o maior valor obtido nas variáveis
anteriores (comprimento do ou comprimento do arco), era realizada a leitura da
letra que melhor ajuste apresentava na escala fixa da barra da largura (Figura 4.5b).
Para cada letra, foi correspondido um valor em uma escala crescente (“A3”
correspondeu ao valor “1”; “A2” correspondeu ao valor “2”; “A” correspondeu ao valor
“3”; “B” correspondeu ao valor “4”; “C” correspondeu ao valor “5”; “D” correspondeu
ao valor “6”; “E” correspondeu ao valor “7”; “E2” correspondeu ao valor “8”; e “E3”
correspondeu ao valor “9”. Em nenhum dos sujeitos houve a ocorrência do índice
“E4”). A partir dos valores numéricos, realizou-se a tabulação e o procedimento para
análise dos dados.
Figura 4.5 – Deslizamento da barra móvel da largura e leitura da letra na escala fixa.
53
Cada um dos pés, direito e esquerdo, foi medido seguindo-se os mesmos
procedimentos. Na ocasião, foi necessário o auxílio de duas estagiárias para a
realização da coleta dimensional, posicionando-se uma no chão, junto ao do
sujeito e com o aparelho, e a outra com o protocolo a ser completado com as
medidas do do mesmo. Assim, faziam um trabalho em conjunto até terminar com
o contingente de sala de aula. É importante destacar que ambas colaboradoras
haviam sido previamente treinadas com todos os materiais e procedimentos
utilizados no estudo.
4.4.1 Procedimentos para análise dos dados
Ao término da abordagem em cada turma de alunos, os protocolos eram revisados e
submetidos para a tabulação. Os dados tabulados foram analisados através de uma
análise estatística descritiva, e foi aplicado um teste t de Student
5
(p 0,05), a fim de
verificar a ocorrência de diferenças estatisticamente significativas entre as
dimensões dos pés direito e esquerdo dos indivíduos.
5
Teste t de Student é um teste estatístico. O que se divide é a diferença entre as duas médias que se deseja comparar pelo
desvio padrão comum às amostras a que elas se referem. Portanto, o valor resultante dessa divisão indica quantas vezes a
distância que vai de uma média à outra contém a distância representada pelo valor do desvio-padrão: t = (m
1
- m
2
) / s.
54
5 RESULTADOS
5.1 AVALIAÇÃO PERCEPTIVA
A percepção da diferença de tamanho entre os calçados para os pés direito e
esquerdo pelos sujeitos abordados, em porcentagem, são apresentados na Figura
5.1.
Figura 5.1– Porcentagem do número de sujeitos que percebem algum tipo de desconforto nos pés em
conseqüência da percepção de diferença de tamanho de calçados para pés direito e esquerdo.
Observa-se que pouco mais da metade (54,51%) dos sujeitos não percebe
diferenças entre os calçados para os pés direito e esquerdo; aproximadamente 14%
percebem diferenças sendo maior o esquerdo que o direito ou maior o direito que o
esquerdo e 17,21% percebem que esse aspecto é indiferente, pois varia de acordo
com o modelo.
A percepção de diferenças entre os calçados dos pés direito e esquerdo pode variar
de acordo com diferentes modelos (Figura 5.2). Observa-se que os modelos com
maior porcentagem de indicação de percepção de diferenças de tamanho entre os
pés direito e esquerdo são a bota de salto alto e bico fino (46,85%), o escarpim
(45,05%) e os tênis (36,94%).
55
Figura 5.2 – A percepção de diferenças varia de acordo com diferentes modelos.
56
Quanto à percepção de desconforto nos pés, em conseqüência da percepção de
diferença de tamanho de calçado entre os pés direito e esquerdo, observou-se que
aproximadamente 28% dos sujeitos não percebem diferença e mais da metade
percebe diferença, particularmente quando a percepção refere-se a um calçado
menor (Figura 5.3).
Figura 5.3 – Porcentagem do número de sujeitos que percebem algum tipo de desconforto nos pés
devido ao tamanho entre calçados menores e maiores.
Nesse caso, ao perceber a diferença de tamanho entre os calçados para os pés
direito e esquerdo, enquanto está experimentando o mesmo durante a compra,
aproximadamente 60% dos sujeitos compram o calçado com maior numeração
(Figura 5.4).
57
Figura 5.4 – Porcentagem do número de sujeitos que percebem diferença de tamanhos para pé
direito e pé esquerdo, durante a compra.
Quanto à individualidade e o próprio sentimento, observou-se que os calçados que
mais expressam essas condições são o tênis (57,79%), a bota plataforma (34,43%)
e o escarpim (32,38%), seguido de outros (Figura 5.5).
Quanto à sensação de alívio (facilidade) e relaxamento (redução de
constrangimentos físicos e psicológicos) durante as principais atividades diárias
(Figura 5.6), observou-se que os modelos calçados que mais expressam essas
condições são o tênis (85,25%), a rasteirinha (40,16%) e a bota plataforma
(36,07%), seguido de outros. quanto à sensação de aborrecimento, desprazer ou
desconforto em usar calçado durante as principais atividades diárias (Figura 5.7),
observou-se que os modelos calçados que mais expressam essas condições são a
sandália de salto alto (48,36%), a bota de salto alto e bico fino (44,67%) e o
escarpim (36,89%), seguido de outros.
58
Figura 5.5 – Porcentagem do número de modelos que expressam a individualidade e o próprio
sentimento das entrevistadas.
59
Figura 5.6 – Porcentagem do número de modelos que expressam alívio e relaxamento das
entrevistadas.
60
Figura 5.7 – Porcentagem do número de modelos que expressam maior aborrecimento, desprazer ou
desconforto das entrevistadas.
61
Quanto à freqüência de uso de calçados de salto alto, aproximadamente 44%
utilizam ocasionalmente, 40% freqüentemente e 16% diariamente (Figura 5.8).
Figura 5.8 – Porcentagem da freqüência com que os sujeitos usam salto alto.
quanto à relação entre altura do salto e a percepção de desconforto, observou-se
que os maiores índices são para os saltos com 10 cm de altura ou mais, ou
aproximadamente ¾ dos sujeitos (Figura 5.9). E quanto ao tempo decorrido de uso
de calçado de salto até a percepção de desconforto, a maioria (43,03%) indicou
mais de duas horas (Figura 5.10).
62
Figura 5.9 – Porcentagem da relação entre altura do salto e percepção de desconforto.
Figura 5.10– Porcentagem da relação do tempo de uso do salto alto e a percepção de desconforto.
63
Quanto à percepção de desconforto nas EMIs para as usuárias de calçados com
salto alto, os mapas da região plantar e dorsal dos pés apresentam uma maior
concentração no antepé, na região metatarsiana e nas falanges, no mediopé, em
uma concentração menor e ainda apresenta alguns pontos de desconforto no
retropé, na região do calcâneo. na face dorsal da representação do humano,
observa-se uma concentração da indicação de desconforto no antepé, na região
metatarsiana e na região da extremidade das falanges (Figura 5.11a).
Figura 5.11a – Regiões do pé onde se há maior percepção de desconforto ao utilizar o salto alto.
Já quanto à percepção de desconforto nas regiões do corpo humano indicadas pelas
usuárias de calçados com salto alto, destacam-se a região lombar (nas costas) com
42% e a região logo abaixo dos joelhos, nas pernas direita com 44% e perna
esquerda com 42% (Figura 5.11b).
64
Figura 5.11b – Regiões do corpo humano onde há maior percepção de desconforto. (Fonte: Adaptado
de Corlett e Manenica (1980)
Quanto aos quatro componentes para definir o nível de conforto, descritos por
Metzger (1994), os sujeitos indicaram diferentes níveis de percepção para indicar os
aspectos do uso de salto alto: nível de aborrecimento ou desprazer (Figura 5.12);
nível de alívio ou relaxamento (Figura 5.13); nível de desempenho no caminhar
(Figura 5.14) e expressão da individualidade (Figura 5.15).
Com relação à questão 16, foi sugerido, como melhoria para o desenho de um
calçado de salto alto pela maioria das usuárias que responderam a esse quesito,
que fosse observado o conforto interno, na forração, principalmente na parte frontal,
do calçado. Uma palmilha com material anatômico que pudesse fixar o ao
calçado aparece com freqüência elevada como sugestão. quanto ao problema
antropométrico, sugeriu-se a numeração intermediária, pois é um problema
recorrente nas usuárias de calçado de salto alto.
65
Figura 5.12 – Porcentagem do número dos sujeitos que indicaram diferentes níveis de percepção
para mostrar os aspectos do uso de salto alto: aborrecimento ou desprazer.
Figura 5.13 – Porcentagem do número dos sujeitos que indicaram diferentes níveis de percepção
para mostrar os aspectos do uso de salto alto: alívio (facilidade) e relaxamento.
66
Figura 5.14 – Porcentagem do número dos sujeitos que indicaram diferentes níveis de percepção
para mostrar os aspectos do uso de salto alto: desempenho no caminhar.
Figura 5.15 – Porcentagem do número dos sujeitos que indicaram diferentes níveis de percepção
para mostrar os aspectos do uso de salto alto: expressão da individualidade.
67
5.2 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA
Com relação à avaliação antropométrica, os resultados quanto ao comprimento
linear dos pés e comprimento pelo arco dos pés, direito e esquerdo, podem ser
observados na Tabela 01.
PÉ DIREITO PÉ ESQUERDO
N = 244
Comprimento
linear do pé
Comprimento
pelo arco do pé
Comprimento
linear do pé
Comprimento
pelo arco do pé
MÉDIA
23,977 * 24,262 ** 23,891 * 24,115 **
D.P.
1,001 1,262 1,355 1,355
* - p = 0,001616 ** - p = 0,002343
Tabela 01 – Médias e Desvio-padrão do comprimento linear e comprimento pelo arco dos pés, direito
e esquerdo.
A análise estatística (teste t de Student) apontou que houve diferença significativa
(p = 0,001616) entre as variáveis do comprimento linear dos s direito e esquerdo;
e também houve diferença significativa (p = 0,002343) entre as variáveis do
comprimento pelo arco dos pés direito e esquerdo. Os valores obtidos por meio da
barra móvel da largura, uma vez tabulados e analisados estatisticamente, também
apontaram que há diferença significativa (p = 0,004747) entre os pés direito e
esquerdo para essa variável. Esses valores indicam que, do ponto de vista
antropométrico, há uma diferença entre o pé direito e esquerdo dentro de uma
amostra da população feminina, uma vez que, nas duas possibilidades de avaliação
antropométrica do comprimento dos pés (linear e pelo arco), a análise estatística
reiterou que essa diferença é significativa.
68
6 DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O design ergonômico, associado a outras áreas do conhecimento, busca
compreender a relação entre usuários e dispositivos tecnológicos de um sistema,
com o objetivo de melhorar os parâmetros projetuais e, conseqüentemente, a
usabilidade de produtos. Dentre os produtos de uso imprescindível para as
atividades cotidianas contemporâneas, e que ainda foram pouco estudados quanto à
sua interface com os usuários, destacam-se os calçados.
Os calçados são produtos cujas funções relacionam-se à proteção das EMIs e à
associação de valor estético ao vestuário de um determinado grupo de indivíduos.
Se específicos para a população feminina, a função estética parece sobressair-se à
função de proteção, e isto é amplificado quando o calçado feminino apresenta salto
alto.
O pé é uma estrutura especial do corpo humano, responsável pelo apoio corporal e
mecanismo da marcha, sendo muitas vezes comprometido por algumas patologias
diretamente relacionadas com o uso de calçados. Observa-se também, que a
evolução histórica desse produto caracteriza-se por uma alternância morfológica, ora
atendendo aos aspectos de usabilidade e ora atendendo aos aspectos da moda.
Estudos biomecânicos indicam que o calçado de salto alto pode causar problemas
fisiológicos e que, além disso, não um adequado dimensionamento do produto ao
tamanho dos pés do público feminino brasileiro.
Este estudo procurou compreender como se a percepção de uso de calçados
pelo público feminino e analisar as características antropométricas das EMIs desse
público.
Após a aplicação dos procedimentos metodológicos e análise dos resultados, pode-
se ponderar que a percepção das usuárias é um fator preponderante para o
conhecimento do nível de usabilidade do produto, que, associado ao conhecimento
69
fisiológico e biomecânico das EMIs, pode contribuir expressivamente para o design
ergonômico de calçados femininos.
Nesse sentido, avaliou-se neste estudo a percepção das usuárias quanto à diferença
de tamanho entre os calçados para o direito e esquerdo, verificando-se que essa
diferença é observada por aproximadamente 1/3 das usuárias. Essa diferença é
mais percebida quando do uso da bota de salto alto/bico fino, escarpim e tênis, os
quais se caracterizam por serem “fechados”, o que pode estar influenciando essa
percepção. Também se constatou que a percepção de desconforto é maior se o
tamanho do calçado é menor que o pé, o que reitera as condições descritas
anteriormente, se os calçados forem fechados. Esses índices parecem influenciar a
opção pela compra de calçados um número maior, quando há a percepção de
diferença entre os pés direito e esquerdo.
Quanto à expressão de individualidade, verifica-se que o tênis é o mais indicado,
seguido da bota plataforma e do escarpim. Nota-se também que, com relação à
percepção de alívio e relaxamento, o tênis é o mais indicado. Isso ocorre em função
do tipo de sujeitos pesquisados, um grupo de usuárias jovens (18 a 30 anos),
universitárias, que faz uso do tênis para a sua principal atividade diária: o estudo.
Por outro lado, a indicação de percepção de desconforto é maior para a sandália de
salto alto e a bota de salto alto/bico fino. Observa-se também que a percepção de
desconforto apresenta uma relação com o tamanho do salto (Figura 5.9), e com o
tempo de uso (Figura 5.10). Nesse sentido, pode-se afirmar que esses resultados
indicam que os calçados de salto alto influenciam expressivamente a percepção de
desconforto por parte desse grupo de usuárias. Esse resultado é corroborado por
alguns estudos biomecânicos que indicam que o uso de calçados com salto alto
pode gerar distúrbios físicos e fisiológicos (RESSIO, 1999; KERRIGAN et al., 2001;
GEFEN et al., 2002; LEE et al., 2001).
Por outro lado, o presente estudo informa que aproximadamente 40% do grupo de
indivíduos pesquisados utiliza freqüentemente calçados de salto alto. Isso indica que
70
o uso desse tipo de calçado é bem aceito pelas usuárias, o que parece corroborar
com Monteiro e Moraes (2005) quando afirmam que “[...] as demandas da moda e do
conforto, na maioria das vezes, não parecem ser compatíveis” (p. 54).
Quanto à percepção de desconforto na região plantar dos pés femininos, observou-
se neste estudo, uma maior concentração de pontos no antepé (região metatarsiana
e falanges). Schimdt (1995), Carrasco (1995) e Speksnijder et al. (2004) também
encontraram elevados valores de pressão nessas regiões anatômicas, durante o uso
de salto alto, e indicam que essa condição pode causar diferentes problemas
fisiológicos, comprometendo o desempenho e o conforto durante o uso do produto.
Com relação à percepção de desconforto nas regiões do corpo humano, as usuárias
indicaram a região lombar e as pernas como as mais desconfortáveis. Esse
resultado corrobora estudos realizados por Lee et al. (2001), os quais apontam que
os calçados com salto alto induzem a uma diminuição significativa da flexão do
tronco e um aumento na tensão muscular da região da tíbia anterior e da lombar.
Na análise dos quatro componentes que definem o nível de conforto proposto por
Metzger (1994), os resultados obtidos com este estudo indicam, de modo geral, que
a maioria das usuárias aponta médio desprazer, pouco relaxamento, médio
desempenho no caminhar e elevada expressão da individualidade, o que reitera os
resultados discutidos anteriormente, quando constatado que as usuárias preferem
prioritariamente atender as tendências de moda, abrindo mão do conforto.
A opinião das usuárias para a melhoria do desenho dos calçados com salto alto
envolve a aplicação de forrações internas e o uso de palmilhas, o que é indicado por
Yung-Hui e Wei-Hsien (2004) como alternativas para o aumento do conforto dos
calçados, bem como a necessidade de estudos de design de calçados femininos
que considerem numerações intermediárias, o que não é comum no Brasil.
Com relação às variáveis antropométricas, este estudo concluiu que diferença
entre os pés esquerdo e direito da população pesquisada, uma vez que a análise
71
estatística apontou diferenças significativas (p 0,01). Possivelmente, esse
resultado indica que a numeração intermediária poderia contribuir expressivamente
para uma melhor adequação dos calçados ao tamanho dos pés das usuárias. Neste
caso, pode-se constatar a demanda para estudos antropométricos que apresentem
parâmetros específicos da população feminina brasileira.
Por fim, pode-se concluir que este estudo analisou uma problemática recorrente na
usabilidade de calçados femininos, utilizou a metodologia disponível para o mesmo
de modo satisfatório, e demonstrou uma condição arbitrária, relacionando moda e
desconforto. Isso reafirma que estudos na área do design ergonômico são
necessários para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos.
72
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77
GLOSSÁRIO
André Perugia Datas desconhecidas. Desenhista de sapatos. Nascido em Nice,
na França; fez sapatos à mão. Durante a década de 1920, confeccionou calçados
para Poiret e depois para Givenchy. Sempre com alto nível de artesanato.
Artelho extremidade inferior, saliente e arredondada dos ossos da perna, na
articulação com o pé.
Brocado Suntuoso tecido de jacquard com estampa em relevo, geralmente flores
ou figuras, muitas vezes feita de linha de seda dourada ou prateada. Desde meados
do século XIX, o brocado é associado a roupas de noite.
Charles Frederick Worth – (1825-1895). Estilista. Foi para Paris em 1845. Era
chamado “pai da alta-costura” e dominou o cenário da moda desde a crinolina em
meados do século XIX até a anquinha e as novas linhas delgadas do século XX.
Christian Dior (1905-1957). Estilista francês. Trabalhou com Pierre Balmain e foi
bastante famoso. Teve sua própria confecção e marca. Criou seu estilo e suas
coleções são conhecidas e usadas até hoje.
Cinemática – que se refere aos movimentos mecânicos.
Coco Chanel – (1883-1971). Estilista. Nascida Gabrielle Bonheur Chanel. Ficou
muito conhecida por sua personalidade forte e grande criatividade. Influenciou
enormemente a alta-costura francesa, bem como em sapatos abertos e bolsas
utilizando correntes douradas. Criou o chamado estilo Chanel e, na década de 1960,
tornou-se símbolo de elegância tradicional. O estilo perdura até hoje.
78
Eletromiografia tem como objetivo analisar a atividade muscular através da
averiguação do sinal elétrico que emana do músculo.
Elsa Schiaparelli (1890-1973). Estilista italiana. Era divertida, irreverente, chique,
ultrajante em suas coleções. O Cubismo e o Surrealismo influenciaram suas
criações. Ao fundir arte com moda, ela ofereceu às mulheres uma nova opção de
vestir. A cor rosa-choque foi criada por ela.
Escarpim Lançado em meados do século XIX, o escarpim é um sapato fechado,
com salto baixo ou médio e uma linha que se afina em direção ao bico. É muito
usado desde seu lançamento, embora a cada década a moda dite o tipo e altura do
salto.
Falanges – cada um dos ossos que compõem os dedos da mão e do pé, em geral.
Hubert de Givenchy Estilista francês. Contratado por Schiaparelli e depois abriu
seu próprio negócio em 1952. Seu nome é ligado a Jacqueline Onassis e Audrey
Hepburn, pois desenhou o figurino para a Bonequinha de Luxo.
Manolo Blahnik (1943). Estilista de sapatos francês. Em 1971, mudou-se para
Londres e, durante aquela década, vendeu seus sapatos em loja própria. Cria
sapatos para Calvin Klein, Yves Saint-Laurent entre outros. É conhecido pela
utilização de couro colorido, adornado com desenhos graciosos e fluidos. É um
influente criador de sapatos, de fama internacional.
Metatarso – é a parte média do pé, composta por cinco ossos longos.
Mule Palavra francesa que designa um chinelo de quarto com salto, usado desde
a década de 1940.
Osteoartrite conhecida como osteoartrose ou simplesmente artrose; corresponde
a um grupo de problemas que resulta em alterações anatômicas, com conseqüentes
repercussões nas juntas (articulações) principalmente dos joelhos.
79
Panturrilha – barriga da perna.
Paul Poiret (1879-1944). Estilista francês; foi seguidor de Worth. Usou diversos
tipos de tecidos da época, assim como adornos de pele, lenços e toucados.
Promoveu o uso de calças do tipo odalisca sob túnicas.
Roger Vivier (1913-1998). Estilista francês de calçados. Foi convidado por muitos
fabricantes famosos para desenhar seus modelos. Trabalhou com Dior. Transformou
mules do século XVIII em sapatos toalete, em sapatilhas e em botas para o dia.
Criou diversos tipos de calçados, aplicou diversos tipos de materiais; é chamado de
mestre não conformista do artesanato.
Salto agulha salto alto e fino que surgiu na Itália durante a década de 1950. Era
feito de náilon e plástico, que freqüentemente recobriam um interior de metal.
Conhecido como salto stiletto.
Salvatore Ferragamo (1898-1960). Estilista de sapatos. Italiano, começou cedo o
ofício. Na década de 1920 fez sandálias com tiras amarradas em volta dos
tornozelos. Em 1938 ele afirma ter criado o salto Anabela, solas de plataforma e o
apoio de metal para os saltos altos. Fez experiências com cortiça, renda, bordado,
ráfia, conchas de caracol, seda crua, tiras finas, tafetá, cânhamo-de-manilha e
náilon. Era um inovador.
Sapato anabela sapato com sola em formato de cunha. Desde seu lançamento,
na década de 1930, esse calçado varia em altura e estilo.
Sapato raso lançado no final da década de 1950 e início da de 1960; possuía um
recorte no lugar do salto e a sola prolongada.
Tarso parte posterior do pé, constituída por sete ossos curtos, a qual suporta a
maior parte do peso corporal e, de modo simultâneo, se articula com os ossos da
perna.
80
Vivienne Westwood (1941). Estilista inglesa. Sua loja representou uma cultura
jovem urbana anárquica e era conhecida por diversos nomes; vendia roupas de
couro e borracha ao público punk, servidão e fetichismo. Conhecida por seus
“exageros”, criou calçados com plataformas enormes, botas de pernas largas. Nada
se “ajusta” no sentido tradicional da palavra. Utiliza padrões ousados e cores
sombrias e produz novas dimensões da moda.
Yves Saint-Laurent (1936). Estilista árabe. Foi contratado por Dior e assumiu sua
maison. Criou o trapézio, jaquetas de couro preto, suéteres de golas rolê. Lançou o
smooking feminino, o terninho e o blazer. Fez grande número de mulheres usar
calças. Revolucionou a moda.
81
APÊNDICES
APÊNDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ............................ 82
APÊNDICE B Protocolo de Pesquisa – Aspectos Perceptivos A e B ............................ 83
APÊNDICE C Protocolo de Pesquisa – Aspectos Físicos.............................................. 86
82
APÊNDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
83
APÊNDICE B Protocolo de Pesquisa – Aspectos Perceptivos (A)
84
APÊNDICE B1 Protocolo de Pesquisa – Aspectos Perceptivos (B)
85
APÊNDICE B2 Protocolo de Pesquisa – Aspectos Perceptivos (B)
86
APÊNDICE C Protocolo de Pesquisa – Aspectos Físicos
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