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róger albernaz de araujo
½ dia ½ noite
Tese apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Educação da
Faculdade de Educação da Univer-
sidade Federal do Rio Grande do
Sul, como requisito parcial para
obtenção do Título de Doutor em
Educação.
Orientador: Prof. Dr. Tomaz Tadeu
Porto Alegre
2007
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róger albernaz de araujo
½ dia ½ noite
Tese apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Educação da
Faculdade de Educação da Univer-
sidade Federal do Rio Grande do
Sul, como requisito parcial para
obtenção do Título de Doutor em
Educação.
Orientador: Prof. Dr. Tomaz Tadeu
Aprovada em 17 de agosto de 2007.
...............................................................
(Prof. Dr. Tomaz Tadeu – Orientador)
...............................................................
(Profa. Dra. Sandra Mara Corazza)
...............................................................
(Profa. Dra. Silvia Balestreri Nunes)
...............................................................
(Profa. Dra. Cláudia Perrone)
...............................................................
(Prof. Dr. Alexandre Henz)
agradecimentos
a
tomaz tadeu,
sandra corazza.
a silvia balestreri,
cláudia perrone e
alexandre henz.
aos
colegas de orientação e
de linha de pesquisa.
ao
programa de
pós-graduação em educação.
aos
amigos
paulinho, vera,
claudinha, jerri,
hugo, luciano,
marilu, márcio.
aos
meus pais,
irmã,
filhos
e esposa.
resumo
Uma educação por entre as linhas. Uma multiplicidade
de textos. Freqüências díspares e sonoridades singula-
res. Este é o jogo. Intercessores são secretamente con-
vocados. Gilles Deleuze e Félix Guattari. Samuel Beck-
ett. Antonin Artaud. Virginia Woolf. Henry Miller.
Franz Kafka. Maurice Blanchot. Friedrich Nietzsche. A
cada repetição uma diferença de intensidade. Linhas
que atravessam um tempo, uma vida, um pensamen-
to. E o jogo continua. Mais intercessores são chama-
dos. Clarice Lispector. Fernando Pessoa. Roland Bar-
thes. Mikhail Bakhtin. E outros tantos, mais imper-
ceptivelmente, quem sabe. E os conceitos? Talvez se
encontrem ali, transversalmente às linhas do texto.
Mal vistos? Mal ditos?
Palavras-chave: agenciamento, multiplicidade, educação,
escrita.
abstract
An education between the lines. A multiplicity of texts.
Mismatched frequencies and singular sonorities. This is
the name of the game. Intercessors are secretly sum-
moned. Gilles Deleuze and Félix Guattari. Samuel Beck-
ett. Antonin Artaud. Virginia Woolf. Henry Miller. Franz
Kafka. Maurice Blanchot. Friedrich Nietzsche. With each
repetition a difference of intensity. Lines which traverse
a time, a life, a thought. And the game goes on. New
intercessors are invited. Clarice Lispector. Fernando
Pessoa. Roland Barthes. Mikhail Bakhtin. And so many
others, more imperceptibly, who knows. And what about
the concepts? Maybe they can be found out there, cut-
ting the lines of the text. Ill seen? Ill said?
Key-words: assemblage, multiplicity, education, writing.
6
1
Cabeça pesada. Peso do mundo por sobre. Um si! Bu-
raco não tão bem fundo. Doía menos assim! Olhos
parados. Escondidas viagens da vida. Trilhas perdidas.
Finalidade qualquer!
Invisível sucumbia. Delírios sem pé. Sem cabeça! Le-
vavam pra longe. Cheiro de lírios. Céu de três luas. Sol
pouco brilho. Sem vermes. Sem fadas. Sem bruxas.
Espelhos. Malvadas. Encantados. Nada ! Vazio! Si-
lêncio. Tempo sem conta. Portas sem chaves. Fecha-
das! Olhos abertos!
11 de abril. Não certa data. muito por lá! Cerca
eletrificada. Nome vestiu número. Chamam um. Dois.
Três. Chamam aquele! Passam outros. Esse. Essa.
Outra. Rotina de dias. Ainda lá! Perdeu um desde uma
segunda. Na primeira uma coisa. Acesso de fúria. Tin-
ta vermelha. Quatro paredes. Teto. Sangue. Retas de
cima e retas de baixo. Outros traços, curvas órfãs des-
pidas. Letras borradas, vocábulos, uma adversativa
qualquer!
7
2
Pinga um pingo quente. Procura um
porto. Um ponto seguro. Esse dis-
tancia de um, de uma. Desfeita li-
nha desfia longe. Procura desafia
um horizonte. Um paraíso perdido.
Cidadela bem cercada. Suplica um
extravio. Cortesã de marés que va-
zam no vigor de ondas. Desfazimen-
to do branco inerte. Destituição de
um possível. Declive. Acontece! Isso!
Sem rito. Nascimento em morte sem
norte. Esse! Anunciado como contí-
nuo desdenha um compasso. As-
sim! Sem passo, dispersa em ritmo.
Nódoa composta em cidade na ponta
do avesso. Também ritmo e cida-
de.Ritmo (cidade). Desvario impre-
visto. Outro! Catatonia. Velocidade.
Catatonia e velocidade. Veloz cidade.
Catatoni(ci[veloci)dade])!
8
3
sensação desconforto vazia sala iconecontendo fora
eco ar fluxo vibra pressiona escuta resseca paladar
gosto saliva gosto virisíveis monstros invisíveis matéria
impura pura velocidade semluz produz dizduz cor i-
naudível véu longe passo prolifera roda gira evade ecoa
nuvem corpo gradiente cidade fluxo afasta desfaz longe
move mente anda tropeça trapaça tem indo sopra tro-
peça perto horizonte brecha intransponipossibilidade
sino sepulcro revolta maré onda anda pensa foge indo
pinga anda pinga quente sangue ar abala sobe salta
engasga rota traça troça troca enxota respira repinta
repisa nasce desgarra crava crema não filia ação tece
rito cria ação cuspe indo aborta acontece morte mente
vida desespero grito boca orelha fora ritmo indo borrão
avesso não lado indo acaso inventa trilha rasga cami-
nho afasta diminui afaga aponta acontece susto esco-
lha abelha cavalo trote vôo mapa torna ponta trança
fecha descobre abre fecha descalço passa chega outra
anda aguça deseja experimenta ar prova povoa anda
terra árido movediça tropical úmida virgem ensolarada
sorte indo zindo perde busca perde anda busca morde
morte anda busca infinitivo atrativo vassoura bruxa
magia fogueira vassoura magia compõe cria anda bus-
ca dispõe anda busca move conta anda indo volta
chora anda indo vida torna indo grita gira explode an-
da indo volta indo vai indo torna anda onda volta vai
indo onda volta anda
9
4
Um passo por vez. Uma correria ensandecida. Um
tombo. Esconderijo. Uma saída e uma armadilha. Vida
e morte. Sonho e sina. Noite e dia. Não tem receita!
Não tem caminho mais curto. Não tem paisagem mais
bela. Partes. Partes ao lado das partes. Faz parte. Faz-
se em parte. Tem parte. Essas também! Outras. Partes
que se encontram e se desencontram. Reencontros!
Quanto mais escuro talvez mais próximo. Acontecem.
Encontros! Mais distantes. Intensos! Talvez! Mais per-
didos. Alegres. Ou não! Chato seria, talvez rir o tempo
todo!
Viver! Degustar a tristeza! Saborear os espinhos! Viver
um idiota. Chorar insone de risos. Um bobo sem corte.
Parado! Sentado ao do degrau. Choro solto. Cabeça
à frente.
Quem sabe? Não se sabe. Quem sabe se desapareça! O
que se vai encontrar não importa! Não se trata disso!
Bate-se a porta. Beija-se um desejo de busca! Partida!
Uma porta à beira da calçada.
Desconhecido ilimitado de sabor! Não falta! Falta na-
da! Sobra. Vida. Essa quer um viver! À frente sem tra-
çado. Alguns traços. Rabiscos. Intenso derramado so-
bre olhos que cegam um pensamento pensado! Instan-
te em queda-livre. Precipícios de um desconhecido in-
forme. Parado!
10
5
Nebulosas retirantes. Molé-
culas oscilantes e constantes
variantes. Trajetórias aleató-
rias. Conflitos. Sinuosas
contravenções e outras ques-
tões e outros planos. Um a-
prender inacabado, anexo
incluso às criações e às cria-
turas que produz. Membrana
fina de um entre as partes.
Um tonto homem um tanto
mago um nato rato uma ma-
tilha lobo uma mistura-
monstro de um tudo e de um
nada que se embrenha em
fio a tudo impregnar.
11
6
Exageros não mudam as
coisas! Fala-se demais. Es-
cuta-se de menos e só com
os ouvidos! Poder-se-ia
movimentar os olhos! Ar-
riscar um outro olhar! Ex-
pandir as narinas! Procu-
rar novos aromas! Sabore-
ar novos sabores! Outras
cores. Coisas. Sons.
12
7
Conheço muita gente. Alguns escritores.
Músicos. Pintores. Uns poucos filósofos.
Houve um tempo que vinham me visitar
todo dia. Pelo menos dois ou três por vez.
As noites sempre foram mais solitárias.
Aproveitava e me acompanhava de livros.
Rabiscava algumas linhas e algumas car-
tas aos mais distantes. Tenho uma cheia.
Outra com alguns livros mesmos que leio e
releio. Precisaria de mais algumas gavetas!
Recebo cada vez menos. Menos tenho a
quem ouvir. Escrevo. Escrevo. Escrevo.
Leio. Leio. Leio. Escrevo. Leio. Leio e escre-
vo.
Faltam envelopes. Os endereços mudaram.
Entre um e outro escuto música. Poesias.
Vozes. Tenho tido alguns pensamentos in-
tricados, digo, fogem. Precisaria isso mais
bem aproximar. Essas coisas. Falar e es-
cutar. Sinto bem perto. Careço de ajuda
com esse isso. Difícil juntar as idéias. Pe-
daços pululam. Movimento em constantes
variáveis, muito pouco suficientemente
claro, não um suficientemente escuro.
Sei que tens. Tens tuas coisas. Teu traba-
lho. Teus. Teus amigos. Teus. Teus amo-
13
res. não tenho! Não tenho claro o que
tenho o quê. No que se pudestes emprestar
uma ajuda. Seria algo bem rápido. Uma
ajuda. Alguns minutos. Apenas uns pou-
cos. Uma xícara de chá. Uma dúzia ou du-
as de frases. Cinco ou seis palavras. Umas
escritas. Nada de espetacular. Um biscoito.
Um abraço. Um. Um aperto deo.
Estou certo que gostarias. Tenho a sensa-
ção que irias gostar. Acho que não poderi-
as. Que irias não poder e agradeço em si-
lêncio nas palavras que as gavetas conser-
vam.
14
8
Cedo. Tarde. Mesma cama. Mesmo
espaço. Entre um sobressalto escuta
vibrar. Um ronco e um mesmo abra-
ço. Pouso mesmo. Outro.
Amarela cortada em fatias espalha-se
à Luz. Persiana entreaberta em retas
de escuridão. Quarto perdido no oita-
vo de uma rua sem volta.
Mãos declinadas da sorte. Corpo caí-
do. Cabeça de lado. Olhos laqueados.
Luz amarela e bios molhados. Per-
sianas também. Dorme em um olhar
amarelo envolto em amarelas persia-
nas de amarelada luz. Dorme acor-
dado, sentado, torto em tanta retidão.
15
9
Esses o se afastam. Confun-
dem o permitido. Um corpo pen-
sa o impedimento de um último.
Necessidade. Passos pensam.
Pensamentos passam. Soltas
amarras e uma fresta aberta de
uma outra. voa entre desíg-
nios pronunciados.
Soletra-se uma entonação de ca-
da. Um encontro. Um que possa
desvendar um sentido das coisas
escondidas, mal entendidas, sol-
tas.
Final de tarde no mesmo quarto.
Um caminho e uma chave e uma
fuga. Quantas noites? Quantos
dias? Uma vida emborcada no
limbo de uma procura cinza.
Branco escuro na sombra de um
rio sem margens.
16
10
Tem uma que vem sempre em meio tom. Som
rouco que por vezes desafina.
Sim! Não! Quando?
Uma vida. Muito movimentada! Dias cada vez
mais curtos. Não satisfazem. Mais a fazer que o
tempo a permitir. Toda noite a cabeça deita. Ten-
ta uma análise do dia.
Escuto lamentos e repondo nada! Nada tenho a
dizer! Ela continua. Continua. Sussurra ao pé do
ouvido! Continua. Por que tenho a sensação de
que fala para ser repreendida? De onde vem? Por
que escuto essa voz?
Essa parece tão funda. Cheia de mágoas. Cheia
de dores. De onde vem? Ressoa grave. Sinto uma
flor e toco os espinhos! Não consigo parar de
escutar, e ela escuta um suspiro sequer.
17
11
Sem ter.
Contínua por entre.
Sem ponto.
Somente semente fluída.
Sem mente.
Poderia não ter nascido!
Sem pausa.
Delira!
Sem passo.
Pensa em ter nascido palavra
Sem rosto.
Sorri.
18
12
Pensava brumas de um pensamento às escuras.
Sombras de paisagens escondidas no beco da
próxima esquina. Caminho sem escolta. Andari-
lho de um sem chão qualquer.
Rasgou umas de cada noite. Rasuras de um ao
menos. Menos frase anoitecer! Deserto em fo-
lhas rodeadas por todos os lados. Cheiro fino
cintilante diante dessa enlouquecida de um o-
lhar vitrificado.
Isso! Foi isso! Dizem. Gritou um pouco. Sem
nexo. Um algo que não bem recorda. Dançou,
pulou, rolou. Acordado em Sainte-Anne! Não
um escritor! Menos daqueles loucos. Menos da-
queles que a posteridade encontra atrás das
portas! Menos daqueles em carne viva!
Foi ano após mês. 12 de abril. Explodiu em uma
incontida. Retorceu de dentro. Esvaziou!
19
13
Tentava! Quantos ensaios? Per-
guntas? Frases? Teses de vida?
Uma porta! Tudo mais de modo
vago. Distante. Pensava! Uma
terra. Geometria quadrilátera.
Um quarto de ângulos retos or-
namentados pelos passos de uma
descoberta. Uma redoma. Um
santuário. Um purgatório. Dese-
java fazer existir próximo. Tanto
real. Ao menos assim parece.
20
14
Divisões sucessivas, disjunções, gera-
tivos pedaços deixados pelo caminho.
Cortes aleatórios de um não quadro.
Quente mais longe, mais distante im-
perceptível um fio traz de volta. Ou-
tros deslizam, dissolvem, declinam
para quem sabe um dia encontrar.
E menos a rua que arranha os traços
comportados da calçada ao longo da
rua. Menos ainda a rostidade em li-
nhas contínuas e variáveis em infun-
dos fecundos.
Cada vez menos e ainda menos e me-
nos ainda. Paisagem que mistura a
rua e os traços a cada um novo olhar
e um outro. Antes e depois em um
mesmo passo que se alinha e corre e
corta intenso. Explode!
21
15
Presença impregnada do dia em
um começo de noite! Insano si-
lêncio, vazio, solidão. Ranhuras
cortam o corpo, rasuras de ima-
gens que fogem, sentado indo e
vindo ao balançar da cadeira. Um
olhar mira ao longe e não perce-
be tão perto. Travestida ansieda-
de sem nome. Sintoma de vida.
Vidraça embaçada e alguns pin-
gos de chuva. Um movimento.
Geladeira. Abrir a porta. Retor-
nar. Mais alguns passos. Banhei-
ro. Água no rosto. Corre. Um de-
licado enxugar. Sala. Acende um
cigarro. Um gole de café e um o-
lhar outra vez perdido, absorto
em nada. Uma fresta na janela e
um momento de céu de tom cin-
zento na quase noite que se des-
pede do dia que não vai.
22
16
Sinfonia de um viver. Tudo
em um tempo. Cada qual
em vários tempos. Em cada
parte. Em lugar algum. Pen-
samentos assombram lá no
segundo. Algo sempre por fa-
zer, por desfazer e refazer e
em um minuto aquele se
faz distante!
23
17
Conserva à distância. Sem vida baliza
um deslize. Cadência de espera. A por-
ta tem olhos. Olhos ternos a lhe ob-
servar. Não tem boca. Atenta a porta
insinua. Atraídos revezam. Olhos con-
servam distância. Um pequeno passo
transformaria a geografia e distorceria
a linha que aponta. Decomporia os
desígnios e denotaria um outro espa-
ço. Um outro tempo. Outros dias e di-
ferentes noites, talvez.
Não essa vez! Hoje! Não. Sorri em dia-
gonal com o espelho. Pouco tinha fei-
to. Pouco mais que ontem, suficiente
ponto de ter a fome diminuída. Fastio
de pensamentos. Indigestos alguns!
Pensava. Parado conseguira ir, vivo e
veloz. Um gole de água. Travesseiro
abraçado junto ao peito. Quatro horas.
Três minutos a mais. Sem passo qual-
quer. Deitado. Dormia.
24
18
Vida louca fugitiva,
enlouquecida brisa, discorre
sinuosa às margens
da solidão,
ansiosa tropeça, hesita
esticada um instante, excita
um desejo,
uma vida presente
tênue em tensão!
25
19
Intensos instantes em variantes
variáveis. Um impulso que faz al-
terar a freqüência e inventa uma
outra vida mais arriscada em um
pensamento riscado em traços.
Contínua variante que envolve tra-
jetos. Abraços. Uma vida inclinada
para um lado e para um outro.
Movimento de um intenso em con-
tato. Um e um e um! Quanto me-
nos mais e mais e mais. Corta um
corpo-vida que alastra e subsiste
por entre. Envolve sem desenvol-
ver. Dobra sem desdobrar. Espaço
em celeridade. Dobra que segue
dobra. Entre-dobra de um viver!
26
20
Não mais que um segundo.
Fugiu! Dói demais ser um!
Todo o resto tem tanto. Tan-
to que não cabe em si! Ru-
mores. Resíduos. Brilhos in-
formes. Realidade do dia an-
terior sucumbiu em um ins-
tante, sumiu no seguinte,
desapareceu no contorno da
promessa de não precisar
ser cumprida amanhã. Me-
nos ainda hoje que uma vida
caminha alegre.
27
21
Provavelmente estejas muito ocupado.
Digo por pensar que terias respondido
minhas cartas em caso contrário. As coi-
sas aqui continuam mesmas. Dias pas-
sam procurando noites e essas passam
procurando dias. Vejo desencontros! Es-
ses! Não tenho. Continuo sem ter com
quem falar sobre isso. Esse isso mesmo
que aquele de antes. Não outro. Não o
mesmo assim. Um outro isso talvez. Isso
desse isso tem me retirado o sono! Um
sono insone. Parece tão claro! Segundo
depois foge.
Durmo. Acordo ainda mais ignorante de
quando. Toda noite acordado. Cometas de
um lado pro outro. Vejo! As os não al-
cançam. Algo diferente acontece naquela
zona indeterminada entre olhos abertos
de visão clara e sono profundo que arras-
ta para uma terra sem chegada. Enxerga-
se. Não consigo precisar o quê. Com o
tempo talvez. Ou não! E continuam a in-
sinuar as vias. E continuam mesmo
quando não quero!
28
22
Livro sem capa.
Rosto sem nome.
Nome sem capa.
Livro sem rosto.
Um livro.
Sem capa.
Sem rosto.
Sem nome.
Um.
Um rosto.
Sem nome.
Sem capa.
Sem livro.
Um.
29
23
Sexta-feira. 13 de julho. Nada importa o ano, um nú-
mero. Nem bem sei o dia de hoje! Encontro-me senta-
da à beira da janela. O sol brilha e impõe uma quentu-
ra que abranda o frio do inverno. Estamos em julho!
Na televisão imagens transitam na composição de uma
cena cotidiana da novela da tarde. Estou em casa.
Tarde. Todos os dias passam assim. Quantas tardes
nestes últimos vinte anos. Tenho quarenta. Como pas-
sa o tempo! Parece que foi ontem! Estava sentada a
namorar. Sonhava com um príncipe encantado e o
cavalo branco. Tudo que poderia mudar minha vida!
Tenho um espelho em casa. Há tempos não olho pra
ele. Penteio os cabelos. Lavo os dentes. Não olho pra
ele. O espelho parece reservar um qdo que pas-
sou que prefiro não ver. Fico triste. Não olho! Minhas
tardes são tristes. O sol não esquenta minhas tardes.
Tardes frias distantes do sol!
Pergunto como seriam as coisas se tivesse feito outras
escolhas. Às vezes! Balanço a caba sem movimento
qualquer. Faço passar. Afinal, A vida é feita de esco-
lhas! Fiz as que cabiam. Devo arcar com as conse-
qüências! Agora, devo a elas! Não distancia a pergun-
ta! Essa continua a sussurrar ao ouvido: como seria se
tivesse tomado um outro caminho? Uma escolha! Um
rastro de dúvida. Tenho muitas dúvidas! Ninguém pra
conversar!
30
24
Pela vida se faz da morte um monstro. Da vida um
médico. Do sonho um ópio. Da diferença uma aberra-
ção. Da estabilidade uma paz. Da identidade um ideal.
Não se dorme. Não se pode. Primeiro fechar dos olhos
estão lá. Vêm. À noite pela sombra. Cobram sua parte!
Equilibrar um sistema diz a sentença proferida pelo
sistema. Não mais um. Espera-se um o. Aquele com
nome e telefone! Sempre ao centro que cerca a terra ao
seu redor. Preserva o corpo-vida. Determina. Realiza a
prostração e esquiva um verme. Um desejo discorda.
Silencioso discorda. Deseja! Escuridão. Contaminação
de um corpo-sacro-santo de claridade. Do sistema
planejado. Reversão do ideário. Esquecimento huma-
no.
Quente um sol aquece o corpo. Precisa ser debelado!
Dizem! Centros que rebatem um canto. Alta tempera-
tura sem controle. Um canto! Precipita queimar. Salta
em ossos pontiagudos. Carne humana. Disforme em
sinistra repulsa. Reserva à vida a morte dolente. Água
morna. Corpo reto. Promessa e fortuna mais à frente.
31
25
Morna. Temperatura do corpo. Àque-
la herança da carne e do sangue. Ne-
cessário! Dizem outros. Apagar o fo-
go! Aquecer o frio. Extinguir o gelo.
Preservar o corpo. Não um. Definir
um indefinível! Quanto esforço hu-
mano em nome dos direitos à vida.
Direitos humanos! Divinos? A morte
não liga! Pra ela a liga não liga. Man-
tém passagem pelo caminho. Um elo.
Entre a partida e a chegada. Entre a
vida e a morte. Sabe um que não fala.
Última parada se fará sua! Talvez a
primeira! Começa pela vida. Mesma
vida que mata um pouco a cada dia.
Também pela morte. Começa e per-
dura sinuosa, amante silenciosa.
32
26
Escutava no ar uma voz. Vozes revoando sem asas
em jalecos brancos. Olhos calmos. Pedras bran-
cas. Um canteiro negro. Cerco completo por todos
os lados!
Dizem teria um padrinho. Encantador um homem!
Quanto lhe presenteou um livro! Quantas praças!
Tardes quantas! Quanto entardecer! Não se es-
quecia do chá! Cinco horas exatas! Primeiro gole.
Aquele aos borbotões. Mesmo horário um movi-
mento de bochechas, um agrupar de lábios em
tom sonoro de gosto pleno. Poema a derramar ore-
lhas!
Não gostava de chá! Ele! Tentou as cinco, seis.
Onze. Onze e cinqüenta e nove e nem! Não perto
um ponto. Linhas. Umas de tempo emaranharam
dias e noites enojaram noites umas!
Teria uma madrinha. Dizem! Via pouco. Sempre
distante em casa no que passava. De não chá
também gostava! Boca em vermelhas frases sinu-
osas e um abusante andar! Arfava um nas ima-
gens recém colhidas! Ah! Escapavam gritar querer!
33
27
Tempo implicado. Corroído. Cala-
frios passam! Endurece a carne
humana. Gelo. Perigoso um frio in-
tenso beijando um corpo de frio en-
corpado. Caso em quê um abalo ex-
terno pode insinuar colidir. Sen-
tenciar um trincar dos músculos
intumescidos. Deflagrar um prelú-
dio. Ajoelhar em incontáveis peda-
ços de carne e derreter aos peda-
ços. Quadrados. Líquido a mais
vermelho corre sobre a carne.
Branca terra! Celestial sedenta em
funcionalidade santa. Essa não se
absteria de engolir. Deglutir. Ru-
minar cada saliência roçando os
beiços lambidos em um som co-
nhecido. E engoliria sem dó.
34
28
Uma pequena fresta sustenta a janela entreaberta. Ao
fundo a televisão ocupa um silêncio. Um movimento
de certo tom. Duas poltronas de espaldar alto assistem
solitárias a imagens que cintilam no noticiário. Pulula
uma linha de fumaça sinuosa. Um cigarro debruçado
em um cinzeiro de argila. Toda imagem desenhada ao
redor de uma antiga escrivaninha ancorada à parede.
Uma suave luz bem focada contorna duas mãos. Um
deliciar por entre cores de vários pincéis. Uma instân-
cia vida-noite.
Uma porta se abre. Uma porta se fecha. Pequenos
passos ritmados por um breve suspiro. Um anúncio.
Uma torneira aberta incita um fluxo. Contínuo que
pelo ralo trai o olhar. Esse não lhe pode acompanhar.
Interrompido. Outro som criado nos confins de um
dentro que torna a superfície na mistura de uma tosse
escarrada. Também se esvai. Execração de um ele-
mento indefinido que se faz sobra. Vai. Por usurpação.
Ocupa o mesmo caminho. Também se vai.
Debruçado próximo à janela um pincel na vertical ti-
linta em um pote de vidro. Encontro que faz ribombar
uma linha aguda de um tom. Uma recente estocada
embaralha o colorido em estilhaços que vazam. Com-
posições de ondas revolvidas em vários sons. Figuran-
tes deslocamentos a agenciar um intenso no ápice de
sua maquinação.
35
Na parede quadros. Derramam em pencas. Cor que
escorre pela parede em tom de rosa. Vestimenta solitá-
ria de um tom. À mesa uma caneta dança. Tinta
que derrama um que passa. Um apartamento. Noite.
Talvez não mais que um minuto. Talvez menos. Um
instante. A caneta acorda! Esfrega os olhos. Confusa.
Assustada. Retira-se do papel. Em suspenso palpita.
Afasta e vai. Resta um silêncio. Um vazio. Uma distân-
cia que esquece quando a janela se fecha. Dois olhos
reviram suas órbitas no fora e correm atrás das linhas
em vestes de palavras soltas. Elas lhe fogem!
Um jogo de ombros. Um tique. No trem que parte com
destino a um território vago desperta o pensamento
que se e em marcha. Encoberto por névoa úmida e
fosca. Não tem prazer em ouvir a própria voz que es-
creve! Sussurra! Pensamento tímido. Não acontece
com a mesma sensação que vibra nas palavras pro-
nunciadas boca a fora. Mais bem se faz em silêncio e
na solidão. Ensurdecer os ouvidos. Descarrilamento
no auge de uma apreensão afrouxada de tensão. Insti-
gar de um vazar dos líquidos salivares e das vibrações
auditivas que articulam e lubrificam a enxurrada de
afectos que se fazem proliferar em um por vir. Cir-
cunda e contamina. Incita e se excita. Isso que se am-
plia e explode nas franjas de um improvável. Troca de
cor e de tom. Invisível. Esse lhe decompõe. Um esse
indefinível. Sem corpo encarna uma intensa variação
do impossível e faz do esse um isso e do isso um esse
sem fim.
36
29
Muito barulho à volta. Bolas. Bicicletas. Zuni-
dos. Gritos. Mesmo tempo. Juntos! Ambiente
de pura anarquia. Não funciona em lembran-
ça. Tem vida. Muita vida. Saudade? Sim! Lem-
brança? Não! fora! se fora! Jazia e ia fo-
ra. Lembrança.
Jaz! No céu uma flecha de intensidade brilhan-
te! Colorida. Sonho real de um inaudível sono-
ro. Substâncias e fragrâncias. Conteúdos e ex-
pressões. Sonhos insones! Funcionar que con-
juga um alegre infinitivo sensível. Invisível!
Perde a noção tempo. Irrefreável. Individuação
de uma memória viva. Máquina de fabulação.
Pêlos ouriçam. Garganta resseca. Um inevitá-
vel sentir deságua no aroma infantil. Corte i-
nesperado. Cheiro de terra molhada! Sensação
deliciosa. Canto molhado de uma boca assim.
Uma tez de chuva escorre. Cabelos molhados
rasuram marcas na face. Pingos adornam um
canto do nariz. Invadem a língua extasiada.
Gosto salgado a temperar um beijo de vida!
Suor e água cristalina. Infinito deserto ao final
da rua calçada. Tem tempo. Tão agora! Quanto
tempo? Quanto passou? Passara? Tempo. Pas-
sou. Quanto? Passará!
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30
Tão próximo veste a cor de ontem.
Minuto apenas. Esse passou. Agora
faz. Um tempo. Gosto vivo de um
viver. Palavras tentam. Não tocam.
Tentam! Quadros não se fazem do
que foge. Talvez mais. Outra coisa.
Menos fixa. Passante! Daquelas
que evaporam. Não um quadro da-
queles mortos na parede. Parado!
Também desses! Com um pouco de
um outro que lhes tire do lugar.
Olhos que pisquem. Entreabertos
na claridade que empurra. Na pe-
numbra que sussurra. Um pouco
aqui. Outro mais ali. Ainda mais
além. Lá. Sobra. Um borrão que
sobra!
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31
Água no chuveiro se faz cruzar. Molha o cabelo e es-
corre pelo rosto. Escorrega ao lado do nariz e se esvai
por entre os lábios. Tomba ao tomar o chão e fazer
produzir um estrondo de cheiro com gosto de sal.
Mãos em direção aos ouvidos. Sacode a cabeça. Con-
trai as pálpebras. Sela os olhos. Aonde? Aonde ainda?
Um clarão e um zumbido percorrem o corpo da cabeça
aos pés. Espinha estraçalha. Pequenos ossos se mistu-
ram aos pingos que caem. Fragmentos vários. Pernas
afrouxam. Braços abrem. Descompassados. Mãos
mergulham. Pesadas. Puxam o corpo que verga. Des-
pencam. Cabeça acompanha. Cai inclinada. Beija o
chão. Corpo que cai. Clarão que escurece. Cheiro que
cessa. Zumbido que esvai. Um estrondo. Um gemido.
Um silêncio se vai.
Ainda ! Estendido em meio aos pingos. Não contém
seu curso. Mistura-se ao sangue que verte da fronte
estraçalhada no lóbulo esquerdo superior. Seria? A
posição não ajuda. Falta clareza. Entendimento. Uma
cena confusa. Uma cena! Necessidade de outro olhar.
Explicar. Invadir Confiscar o tempo. Transbordar. Im-
por aos olhos que saltam. No corpo um giro. Trezentos
e sessenta graus exatos. Órbita completa. Reconheci-
mento inevitável. Tudo muito liso. Reivindica. Rugas.
Algo que prenda. Que pare. Buracos. Chega! O corpo
já não agüenta. Esse já não.
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32
Primeiro a morte, depois a vida e novamente a
morte. Mesma partida. Mesma chegada. Por entre
a possibilidade aberta de reverter ao limite à im-
possibilidade de afastar a sorte. Mundo limitado
que de olhos abertos tem-se em vida. Vida vista
turva e ofuscada pela claridade do centro sol bri-
lhante nas alturas. Quanto mais longe alcança o
olhar menos se tem preciso um próximo passo.
Vê-se um distante perdido em quimeras. Bem não
se pisca e os pés enterram na lama. Sucumbem
aos buracos. Desenham-se mapas de um jardim
florido. Horizonte pretendido onde a palma do
toca o chão. Uma necessidade de olhar reto. Pare-
ce! Olhar de cabeça em pé. Peito pra fora! Barriga
encolhida! Ar de bravata! Passo firme! Ângulo
mesmo na abertura das pernas. Seqüente tres-
passar que leva à frente. Movimento estável. Alti-
vo. Clímax do perfeito pensante. Tudo reverte com
a noite que retira dos olhos a claridade que esse
tem por divina. Sem horizonte distante possível de
ser visto toma a horizontal. Fecha os olhos e dor-
me. Por fim! No fim de cada dia um noite pra des-
cansar dos passos. Diluir visões. Pouco de um vi-
vido! Pouco para um mínimo sorriso!
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33
Não interessava se planados e suaves
ou intricados em manobras radicais de
alta velocidade. Nada podia antecipar.
Exalando o gosto incontido de poder jo-
gar outras vezes afirmava o desejo de
poder criar outro viver na vida que lhe
detinha. Criar outros. Atravessar e ser
atravessado na composição de lances
inusitados. Misturar-se a vida. Cravar
as mãos na terra e amparar os pés em
pleno passo em direção ao limite. Lam-
buzar-se com os fluxos passantes que
lubrificam os corpos e se colocam em
jogo. Jogar com a vida sem espírito de
jogador. Sem espírito! Afirmar a inten-
sidade do desconhecido na afirmação
de um instantâneo desinteressado de
um resultado. Desinteressado do núme-
ro determinado. Desinteressado da o-
brigação de ser.
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34
Corta o céu um vento que acompanha a rua e assovia
ao se fazer passar. Árvores dançam alegres ao brilho
da lua no ritmo que envolve o ar. Ritmo frenético. Sin-
fonia dos espaços. Passos sem poder parar.
Mariposas noturnas em coreografia circense. Revoam
em torno ao luar do sol. Esgueiram-se à penumbra.
Sombra de sombras a bailar. Descarrila a procura de
um modo. De um lado ao outro batendo asas. Velozes
contornam os galhos. Movimentos espiralados. Plana-
dos. Rasantes. Folhas verdes agrupadas em porto se-
guro! Milhares em um informe desenho. Desenho vivo
que explode na claridade do ar!
Não bem ao longe. Ao largo. Tão pouco organizado que
se possa nomear lado. Um prédio. Antigo tem a ima-
gem de querer dançar. Mãos dadas ao vento. Amonto-
ado de concreto que ensaia alguns passos. Almeja ro-
dopiar. Ouriça as estruturas escuras. Construção es-
treita e muito alta, perfurada por pequenas aberturas
brancas. Salta! Um desenho claro e um isso que beira
um trágico!
Cada nova rajada penetra os poros. Negros. Emerge
em um semblante atual. Anuncia um desfalecimento.
Imagem grotesca faz passar uma sensação. Instante
que a qualquer instante retrairá todos os tecidos em
crise e sem prévio aviso acabará ao chão em amontoa-
do de tijolos. Ferros e pó. Muito pó!
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35
Duas mãos estendidas apontam por sobre a cabeça e
indicam a imensidão do céu. Unhas brancas arranham
a textura plástica. Pontiagudas. Escavam marcas na
placa acrílica. Lado de uma visão!
Espessas mãos espalmadas. Entre si uma arma apon-
tada em direção ao paraíso. Separados. Conjunto. Pul-
so. Braço. Antebraço. Articula-se em um contorno que
contrai o escapular! Expande a névoa que veste a pele
fria. No relance um ponto foge. Faz linha por fugir.
Escapa no traçado de um instante. Embaralha os o-
lhos. Faz descarrilar.
Quantos dedos em cada mão? Quantas mãos? Duas?
Afinal! Imagem escolhe na diferença de angulação que
aniquila! Um vulto insólito escapa por entre os dedos.
Jorra face abaixo. Lágrimas que ao distanciar do céu
angelical perdem-se na terra árida e anulam-se na
eternidade.
Declina de um esperado. Desacorda. Um instante igual
em ordem a tantos outros quaisquer. Passados. Futu-
ros. Tempo investido que subverte o anunciado. Natu-
reza emoldurada pela quebra da linearidade aguarda-
da. Infinitésimo fragmento. Deleite do prematuro. Por
mais que lhe façam encubar o corpo não lhe irão apri-
sionar isso que foge. Esse nasceu errante. Viscoso es-
corre e vaza.
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36
não eram horas quando com a boca seca de um
recém acordar se revirou por entre as cobertas. Esti-
cou as pernas e os braços. Um espasmo de preguiça.
Desdém um ar de quem tempera de descaso o nascer.
Mais um dia. Menos um. Quantos outros antes! Tidos!
Quantos outros! Por vir.
Imagem passava de baixo pra cima. Da esquerda pra
baixo. Diagonal torta. Difusa. Confusa! Repetição de
tantas outras! Preenchiam tanto os dias. Desde
tanto. Pensava!
Imagens retorcidas. Embaçadas. Traços indefinidos.
Risco em um contexto abstrato. Arranjos coletivos!
Fuga por mil cantos. Assombra a cultura! Assusta o
nome. Intenta contra um viver ao nomear vida!
Abre as pálpebras. Uma insignificante fresta. Lenta-
mente. Disfarça a claridade que cega. Pouco a pouco
faz o reconhecimento do corpo. Cumpre um rígido ri-
tual de cada nova velha manhã. Verificar cada órgão.
Verificar a presença de um corpo. Presente respondia
um! Um corpo presente!
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Sempre nunca, nunca sempre, a nuca torce
subsume tensionada, nada e nunca e sem-
pre, nada torpe um corpo que sobe a super-
fície sucumbe à claridade que tinge os olhos
de um suspiro sempre nunca a nuca gira,
retorce, distorce, continua, continuam os o-
lhos e a nuca nadando a superfície turva,
tensão de um espaço tempo tensionado e
um tronco ereto que sustenta a superfície
santa do corpo santificado, tanta tensão,
sublimação e a superfície sustentam sempre
o nunca que jamais existiu e nas sombras
sucumbem sem sentido sem sensação sem
sombra sem clarão sem e sem e sem e ainda
assim diz sim ao que não tem, diz não ao
que detém e não confirma a coisa, dissimula
sempre e retorce distorce e continua e conti-
nuam os olhos e a nuca do dorso da cobra
sedenta, trincheira da taciturna terra sem-
pre nunca, sempre dia, sempre noite, nunca
dia, nunca noite, nuca atrás a frente os o-
lhos acima o céu, abaixo a terra e de tudo
todo minuto presente tem valia finalmente!
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38
eram horas! Mais que tempo de vestir-se. Acorda-
ra. Esticando o braço recolhia a toalha. Vermelha.
Esquerdo. Enxugava o corpo desde os pés. Passava
pelo pescoço. Braço. Antes os cabelos caídos ao ros-
to. Compridos. Um banho. Fizera bem. Voz alta. Pen-
sava. Uma velha canção. Cantarolava. Caminhava de
volta. Sempre uma volta! Quarto. Cama. Um quanto
mais perto. Aproximava. Aumentava o ritmo. Erguia
a voz. Intensa canção. Percorria a trilha. Até o rou-
peiro. Canto de garantia. Entrada do castelo. Salvo
retorno. Desde muito cantarolava. Funcionava. Re-
torno a salvo. Desde pequeno. Esse modo funciona-
va.
Camiseta branca. Espelho. Três passos. Pente na
mão. De um lado pro outro. Cabelos classificados.
Alguns de um lado. De outro os outros. Repartidos.
Ao lado. Esquerdo. Um suspiro. Leve. Três passos.
Cama. Meia do direito. esquerdo. Calças. Core-
ografia métrica. Cantarolava. Três passos. Espelho.
Rosto. Espelho. Rosto. Rosto. Rosto. Três passos.
Cantarolava. Três passos. Porta! Três passos. Pronto!
Fora. Lado de fora. Ficava o quarto. Porta fechada.
Olhar a frente. Escutava. Chamavam as horas. Oito.
Atrasado. Gole de café. Fatia de pão. Pronto. Três
passos. Espelho. Rosto. Mão direita. Maçaneta. Por-
ta. Três passos. Mais três. Porta. Giro do pulso. Di-
reito. Um pouco mais. Estaria fora!
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39
Prolifera sem se fazer conter. Co-
res. Sons distorcidos. Inaudíveis.
Imagens. Picam bolas. Sons. Mui-
tas bolas. Aqui e . Na parede.
Ricocheteiam. Parede molhada.
Brincam muitos gritos. Zunidos
alegres se encontram. Sem vida
dúvida! Sorriso de criança. Su-
or de tinta fresca. Quadro de tex-
tura mista. Desertos dançam em
um inaudível contorno de vida.
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40
Quatro horas. Madrugada. Sem sono an-
da de um lado a outro. Três passos. À di-
reita. Antes. Três à esquerda. Cantarola
pensamentos que não cessam. Intensos
proliferam em vozes simultâneas. Ruído.
Estômago retorce. Fome. Tem fome. Qua-
tro horas da manhã. Catatônico se apo-
dera do mundo. Sente-se veloz. Olhos
pouco enxergam. Retos e obtusos fitam
um nada na linha do horizonte. Dor. Ca-
beça dói. Estranheza. Percebe a falta de
algo. Um débito de associação ilimitada.
Pensa. Tempo perdura e perde ritmo. Ri-
tos e signos. Mitos. Gritam aos ouvidos.
Fecha os olhos. Próximo minuto. Mente!
Tempo todo. Toda parte. Muito. Mente
muito. Quer o que acha não pode. Desis-
te. Dorme. Sonha. Continua com sede.
Não aventura. Adormece com fome. Mor-
re mais um dia que não viu passar.
48
41
Linhas ínfimas adulteram uma definição. Detalhe faz
por onde se perder do olhar. Foge! Composto abstrato.
Foto antiga retirada de um empoeirado álbum de bibli-
oteca pública. Arte turva de contornos indefinidos.
Preto e branco. Tom sóbrio de uma figura austera de
muitos anos. Nebulosa. Envelhecida. Cansada prolife-
ra-se em atitude alva.
Tudo passa por entre os olhos. Momento. Carícia em
um sentido. Não antes tivera o cuidado de olhar. Não!
Daquele modo. Não! Tantos anos e antes mesmo de
nascer prédio ocupava esse espaço vertical! Tama-
nha visibilidade e não havia olhado assim. Sabia de
sua existência e não lhe havia reservado o menor cari-
nho. Nenhuma atenção.
Sincronia por entre tons de cinza em cimento cru. Sa-
liências e reentrâncias a cada metro quadrado de uma
distância atravessada por pontos negros. Corpo nu.
Definição imprecisa. Ar de um heterogêneo invulgar
em variação imperceptível. Uma geografia outra. Outro
olhar.
49
42
Viver pela intensidade dos pontos de atualiza-
ção nas linhas de passagem que rasga os cor-
pos. Destroços espalhados. Escorridos em ou-
tras linhas. Transformação da realidade dada.
Dado que ao rolar faz da impossibilidade da de-
terminação de um número de lados sua força
motriz na afirmação de um tempo livre. Outra
vez um desejo. Um viver diferente. Uma liber-
dade que as costas à negação! Procura que
se instaura na íris-pupila e impõe a visão de
uma potência de possibilidades elevadas à ené-
sima potência de outras possibilidades.
Arco-íris de encontros. Alegres e tristes. Aconte-
cimentos imanentes. Viver aberto à impossibili-
dade que se eleva e reinventa a raiz da equação.
Viver alastrado e rasteiro e daninho, algoz de
um caminho de um não-ser que jamais foi e se-
rá. Foge saltitando de folha em folha. Um quan-
to possa suportar um corpo a restar uma
sombra! . Quiçá uma leve composição anô-
mala de buracos acopláveis no limite da frontei-
ra de não mais nomear o ser do homem. Um
homem! Talvez uma brisa. Um sopro. Outra
coisa qualquer.
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43
Relógio. Não pára. Continua. Não pára! Resiste.
Por maior esforço. Mesmo imóvel. Calado. Pa-
rado. Continua. Aplaude o tempo. Tempo todo.
Respira. Dança ao ritmo do tempo. Continua.
Não pára.
Estômago contrai. Olhos piscam. Saliva um
gosto de escuro. Quarto escuro. Cantiga de pa-
lavras soltas na procura de alguma fresta. Um
cheiro de luz. Qualquer.
Quatro paredes. Um teto. Som escuro. Insípido.
Templo de todas as noites. Delira! Desenha ca-
minhos. Uma saída? Um mapa? Não! Uma toca.
Existe uma porta. Lá. Porta. Distante. Entre ela
distância separa. Anseia que abra. Distancia.
Um resquício de luz. Corpo revira. Procura um.
Outro. Porta. Outro ângulo. Continua!
Cada ponteiro um ritmo. Movimento viciado.
Cada um, um compasso. Obstinado. Segundo
atravessa o minuto. Ambos caçam a hora. Cir-
culam. Movimento uno. Três séries paralelas.
Convergem na linha tempo. Funcionam. A men-
te faz parte da órbita. Sobrepostas. Relógio. Gi-
ra ao som do tempo. Pensamentos emergem.
Fragmentos esvaem. Póstumos. Deslocados.
Resta pouco. Vazio. Quase nada. Tresloucados.
Continuam. Tique-taque. Tique-taque.
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44
Olhos se fecham. Abertos o enxer-
gam. Fechados não vêem. Uma saída.
Ensandecida procura. Senta. Toca o
chão. À beira da cama. Ponta dos de-
dos. Alonga. Ambiciona ficar em pé.
Deitar. Almeja ficar imóvel. Pelos den-
tes um calafrio. Passa. Sensação que
adormece a vida. Range. Pulsam os
ossos. Ouriçam os pêlos. Corpo lateja.
Lembrança. Nostalgia. Corpo despe-
daçado. Vaza. Sangue e suor. Olhos
fechados não podem esconder! Esqui-
na de uma vontade. Dobra na borda
de um incontido.
52
45
Tempo um. Enamorar. Beijar. Correr. Dançar.
Desfrutar do azar da sorte. Uma infinalidade!
Infidelidade! Palavras o às mesmas. Não
um quadro de palavras. Essas não contam.
Não dizem. Não querem dizer. Não um tanto
um quanto um desejo deseja! Também deseja.
Na intensidade esquarteja a possibilidade e a
necessidade. Dobra os joelhos e cai com o ros-
to fincado ao chão. Explode o acaso que gira o
mundo. Gira. Gira! Palavras giram! Giram pa-
lavras soltas ao léu!
Papel. Borrão. Tinta. Muita tinta. Mãos. Pés.
Boca. Movimento em instinto de criação. Pica
uma bola. Saltam olhos. Empurrão. Criança
corre. Grita. Vida e arte sem tensão. Fluxo.
Pernas. Braços. Tombo. Escorregão. Estilhaços
aqui e . Picam. Crianças. Picam. Gritos de
bola. Abraço. Sensação. Rosto e Corpo. Forças
se afirmam. Criam. Não negam. Conjugam.
Superam. Uma lembrança? Agora não! Outra
coisa. Uma nova série de linhas atravessadas
em outras. Possibilidades e impossibilidades.
53
46
Uma necessidade. Anatomia das partes.
Arritmia da dúvida. Esboço. Funciona-
mento de um todo. Boca escancarada.
Adequada dissimula querer engolir uma
parte. Sobressalta uma verdade com-
pulsiva de verificar a soma das partes.
Precisão que ronda a insinuar uma de-
sintegração. Sensação de que o corpo
pode a qualquer instante, sem prévio
aviso, ao acaso, desintegrar-se.
Sensação que surge desde a infância.
Nessa época conhecia em movimento
de sonhos. Somente, hoje, ao calor do
dia, esses, apareciam de olhos abertos.
Sucessivamente. Indo e vindo. Alterna-
dos. Assim!
54
47
tempo não saía do quarto. tempo não
saía. Tempo não. A porta. Essa! Não se abri-
a. Trancado. Restrito. Absorto. Incluso. Ja-
zia. Parede. Teto. Um giro dos olhos. Deita-
do. Tudo continuava. Encaixe perfeito. Ca-
bide. Roupeiro. Chinelos. Nada fugia. Tudo
pertencia. Travesseiro de espuma. Caneta
tinteiro. Teia no canto superior esquerdo.
Três eixos. Unidos. Teto. Parede vermelha.
Parede verde. Teto amarelo. Mundo fechado.
Ultimátum casulo. Única saída. Porta! Essa.
Aberta. Olhava e não via. Fugia. Fora do
quarto nada. Nada pontuaria. Pra que lado?
Ladearia um lado. Onde? Não sabia. Não
podia. Sem mapa. Tanto tempo. Agora.
Calafrio. Um grande suspiro. Costas. Nuca.
Virilha. Um abalo corria o corpo. Instinto.
Três passos. Discorria. Um minuto! Pequena
abertura. Compasso. Primeiro um. Esquer-
do. Outro depois. Suspeita. Direito. Oitenta
centímetros. Mais ou menos. Três passos
mais ou menos a oitenta centímetros. Uma
descoberta. Provaria do curso de fora. Cra-
vava os pés ao chão. Quarto puxava pelos
cabelos. Olhos projetavam à frente. Preto.
Branco. Um corredor desmesurado. Tantas
portas. Olhos. Quanto mais à frente. Muito
55
menos. Escasseava o ar. Faltava alcance.
Estrangulava. Nada se via. Longe. Sobressal-
to. Tudo longe. Três passos. Tudo possível.
Escancarado. Superfície desdobrada. Mais
três passos. Sempre três! Horizonte desfral-
dado. Duelo deflagrado. Forças invisíveis.
Em desatino engalfinham-se. Uma a usur-
par a outra. Outra a monopolizar uma. Mis-
tura. Duas atravessadas por uma terceira.
Três. Cortada por outra. Açambarcada por
uma. Passos. Compõem. Repõem. Dispõem.
Trindade de um eterno imperfeito. Tríade de
um infinito informado. Tríplice laureado sem
rei. Forças. Cores. Odores. Três passos. Dís-
pares. Intensos. Inapreensíveis. Sons.
56
48
Turbilhão. Uma passagem ímpar. Abso-
luta profusão. Pressentia. Não! Absti-
nha-se de definhar e crescer. Corredor
se iria deformar em muitos. Muitos
mais. Conjugados. Mais outros. Com-
posto híbrido. Cruzamento. Retas desfi-
guradas. Entrecruzadas. Misturados
pontos. Parábolas. Círculos. Órbitas es-
piraladas. Percursos impensados. Pro-
fanos. Múltipla composição de ferozes
forças múltiplas.
Um abraço. Tudo que lhe vinha à men-
te. Alguém. Ver sua a voz escutada. Um
de carne e osso. Um isso sem constran-
gimento de arriscar vocábulos ao vento.
Esse ouvir. Desejado. Tanto tempo en-
laçado ao silêncio. Perimetral daquele
compartimento. Incômodo zunido. Isso
o arremessaria nas ondas de uma sin-
fonia. Incomum musical. Uma vista.
Um beijo. Cobiça de uma vida viva. Um
contato. Um perfume. Uma paixão!
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49
Algumas têm vida própria! Não
esperam. Essas! Vão sem licen-
ça! Sem cuecas! Loucas! Um
tanto por todos os lados! Paredes
brancas. Uma fina em fila mar-
cada. Mesmo quadrante. Em ho-
rário! Superior! Mesma que es-
quecia sua dor no sono justo.
Fazia passar. Primeiro piscar
mais dez quilos pesados. Passa-
dos a olho! mãos distantes.
Colo desnudo. Cabelos doces.
Costas douradas!
58
50
Tem a imagem do pai. Recai ao colo. Rola den-
tro. Sala. Toma conta. Por mais que saiba uma
lembrança incorre e toma conta. Momento. Gira
um pensamento. Início de tarde. Muito frio. Na
janela o sol. Tímido faz-se perceber. Por mais
que queira não consegue debelar o frio. Queria.
Sol atinge. Não abafa. Sem pé. Sem cabeça. An-
da. Mesmo que nada cultive. Não chega. Invade.
Calafrio percorre, corre a espinha acima e abai-
xo. Expõe um sentido. Antecipa um momento.
Bem à frente um pai. Sem cruz. Sem ordem.
Nada divino. Sem licença qualquer. Sem qual-
quer outra possibilidade. Acontece.
Tempo! Os dois e tantos anos. A criança que foi
admite! Pouco lembra. Um tão sensível que as
palavras não dizem. Continua. Hoje divide mais.
Cabelos brancos. Medos e frustrações. Muito
amor. Respeito. Proximidade nunca assim. Olho
no olho. Hoje! Talvez antes não. Talvez não te-
nha tido tempo pra olhar. Uma vida cresce ins-
tantânea. Passaram dias e noites. Havia tanto a
inventar. Hoje ainda! Ainda há o que inventar.
59
51
Noite
sempre ela
cada dia sempre noite.
Tom que não cabe em notas
cria partitura subvertida
ritmo contratura.
Deitar seduzir arrebatar
acenar no mundo.
Despertar
brotar outro som
flamejar outra cor
negra noite e branca
gradiente vida.
Vida movimentar durar
inconter pronunciar um desejo
encobrir não.
Pulsar retinir noite
subtrair do dia
sem sono sem hora agora
saborear mastigar misturar
isso.
60
52
Respiração ofegante. Parado. Soleira da porta. Peque-
no som invade o tempo. Retira do lugar. Hesita. Pés
formigam. Aquecidos. Sapatos de camurça. Limite en-
tre o próximo na direção da névoa. Passo. Informe inci-
ta. Instante. Movimento de retorno a terra. Acolhida a
salvo.
Dúvida! Pulsa um pensamento. Intervém no tempo que
se instaura. Naquele exato. Naquele. Exatamente. Es-
se. Fração ínfima que abriga a impossibilidade cambi-
ante. Corta um som afiado em sobressaltos de volubi-
lidade. Ouriçados fios de cabelo. Energia em profusão.
Eretos. Abalo sísmico precipita a ruína de qualquer
instância de uma organização. Orgânico! Mantém à-
quele corpo. Esse. Curvado à frente. Levemente de pé.
Ainda!
Um calcanhar levanta exatos trinta graus. Impulsio-
nado pelo peso da cabeça inclinada à frente. Calca-
nhar. Produz um distanciamento de poucos centíme-
tros do chão. Preconiza uma atitude adiante. Maqui-
naria de cobiça. Ritmo dançante daquele ruído musi-
cal. Desce. Descompassada produção. Impelido. Colo-
car um adiante do outro. Incitado. Uma assusta
contra o rosto. Atrai um retornar. Oscilação pendular.
Corpo a alternar um ir e um ficar. Traço de um tempo
surdo. Não vez. Avassalador se apropria do baque.
Invade o corpo. Dita o cortejo de um fluxo.
61
Uma forma particular de composição das forças. Fron-
teira penetrada de um gosto de temor. Medo que ofere-
ce uma cavidade desconhecida. Aldeia de incertezas.
Lascas informes. Paradoxo pululante de uma percep-
ção de não mais ser capaz de percorrer a linha que
atravessa verticalmente. Desestabilização.
Um centro mantém. Gravidade de um corpo fixado
sobre os membros inferiores. Um bípede! Na contra-
mão uma voz. Interior. Sem palavra alguma. Escapa
um mistério. Risco ao falsear dos joelhos. Desmoronar
com as mãos achatadas ao solo. Oscilação regressiva.
Isso lhe poderia por dentro de alguma algema evoluti-
va. Novamente! Companhia dos animalejos não pen-
santes. Muito aquém do que poderia cobiçar.
algo fora. Algo sob a forma daquele som quase i-
naudível. Esse faz brotar calafrios e repuxar os mús-
culos da face. Apropriação de uma palpitação sonora
que enseja querer pular. Um curso de receio. Cortado
pela veleidade de ir além do que faz ver. Sem convocar
licença. Compartimentos selados pelo tempo e outros
que nem de longe denotam alvitre sequer. Corpo der-
ramado no gozo de um sorrir. Não se reprime em se-
guir um pouco mais. Um rasante estarrecedor experi-
menta o equívoco do momento. Um traçado ousado
risca além. Um som. Parece sempre existir um som a
provocar um ritmo. Um som mesmo quando só o si-
lêncio se faz ouvir!
62
53
Aperta os olhos e tenta melhorar o foco. Compulsão
intensa. Algo impõe uma aproximação. Nada parece
sair do lugar! Eterna sensação de distância. Tão pertos
e tão distantes. Tons repletos de quedas. Reflexos de
uma existência. Elementos contrários de uma só e
mesma composição. Naturezas avessas. Ambos na
direção de um ponto mais próximo e permanecem dis-
tantes!
Corre um líquido denso de um ponto mais alto ato-
car a terra. Prédio. Escorre em suor salgado dos olhos.
Malicioso. Tanta força e tão pouca disputa! Carrancu-
dos e tristes permanecem iguais.
Nem tanto! Ensaiam um algo. Desencadear um inusi-
tado, minúsculo instante de tensionamento composto
sem nome. Sem forma. Sem gosto. Diferente do sido
e por ter se cria.
Outro olhar e não mais iguais. Não mais iguais! Ensai-
am um sorriso. Um roçar que se cruza e se choca e se
faz voar em pedaços que adornam o ar. Envolvidos
dissolvem. Respingam no mar. Piscam. Desertos em
qualquer lugar. Entreabertos passeiam descalços.
Sussurram ir. Ir pra não voltar.
63
54
Mãos apoiadas às orelhas. Forma de concha a inten-
cionar uma condição de mais bem poder escutar. Ruí-
do voraz. Insinua provocar. Permanecem espalmadas.
Se fosse possível ter olhos o som estaria naquele ins-
tante a lhe fitar. Com toda veemência. Olhos semicer-
rados e bios entreabertos a propor uma experiência
deliciosa. Não seria plausível descartar. Um minuto.
Linha aguda de um fio de navalha a cortar aquele sem
medidas. Para fora. Para dentro. Alterna a sacudir sem
qualquer passo materializar.
Um súbito invade. Isso! Intempestivo surrupia o leme e
faz descarrilar uma rie temporal. Estilhos em mil
bocados. Põe-se a se arremessar até perder de vista
aquele lugar. Um inflar dos pulmões. Um ar que pene-
tra o corpo que se impõe a levitar. Olhos procuram
os pés. Terra firme! Cegos os pés acontecem por an-
dar. Compasso trôpego. À frente. Além. Fora do que
escurece os dias e congela as noites. Afasta da vida
cinza que só a memória faz acompanhar. Faz-se colorir
por aquele som em tal tom impronunciável. Descorti-
nar o verde da grama. Assoviar um perfume acima.
Mira do u brilhante. Sol imponente repleto em raios
dourados. Não mais se contêm! Pés. Fogem despenca-
dos em um fora que arrepia os pêlos.
64
55
Por mais que a música tenha efeito. Não desce o corpo
ouriçando os pêlos. Não pelo desejo que se pré-instala.
Não para todos! Uma relação platônica insinua ser
estabelecida. Para muitos! Escuta-se. Cantarola-se.
Emoção por entre a vibração de notas. Altas, baixas,
divergentes. Continua-se ao lado. Ainda de longe!
Sempre se quer próximo. Quase nunca se lhe pode
apertar a mão. Quando por vezes se percebe estar per-
to de muito essa já se foi à frente. sica. Tentativa
muito mais lenta. Descompasso! Sobra a marca, rastro
que fica no vazio que não se lhe pode acompanhar.
Efeitos! Delírios rítmicos em intensa variação e rumi-
nam-se os restos dos poucos tons que se arrisca.
A música tem um quê de saudade! Amigos? Aqueles de
anos. Foram! Longe estão. se está. Só! Imagens
revirando ao som do mundo que retorna eternamente.
Um toque do piano em pequenos passos em conformi-
dade com o delírio de um violoncelo que abre sua voz e
faz rodear a volta cada centímetro dentre as possibili-
dades que se esvaem na areia que desliza criando con-
tornos e reentrâncias de um desenho inusitado. Geo-
grafia da ampulheta. Grão a grão! Embala a matéria
desértica que conquista a superfície de uma forma.
Tempo. Compasso. Movimento. Informe. Infinito recur-
sivo. Faminto. Morde o não formado.
65
Caos da criação. Corre. Dobra um corpo. Engole a vida
ao sabor do ritmo. Perde um rosto. Pouco a pouco di-
minui. Troca a estrutura de contorno pele-carne. Bate
um coração a céu aberto. Bombeia sangue. Toca. Mú-
sica. Pulsa. Coração. Mistura. Terra e cosmos. Linhas
radiantes. Única composição. Corta o muro branco.
Rasga pilares e estruturas. Arrasta no cuo. Beira
seus passos.
Pensamento explode. Borrão sonoro. Gosto doce. Á-
gua. Sangue. Suor. Mãos dadas esfregam o sol. Lábios
ávidos comprimem. Vazam raios. Estilhaçam brilhos.
Boca entreabre. Violino corta. Rasga o peito. Crava sua
lança. Arranca a carne. Desnuda os ossos. Não pára.
Mais leve. Gira. Alterna. Deforma o compasso. Sus-
pende tempo e espaço. Quarta dimensão. Quinta. Ené-
sima medida. Infinita possibilidade de conexão. Um
novo sem nome, sem ontem e sem amanhã. Potência
instantânea. Sem ordem e sem medida. Música!
Quando termina a música?
Abrem-se os olhos! Coração se recolhe. Rosto refaz
seus traços. Sangue irriga. Carne! Ossos. Sustentam.
Vida. Continua. Sempre? Sempre retorna! Não a mes-
ma. Ritmo permanece. Silencioso. Fita a música que
afasta. O corpo que adormece. Abraça vida. Recomeça.
Diferente!
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56
Já não se faz tarde quando de perto,
vem desnudar a noite
já não tarde se faz à noite esgueirar.
Não tarde a noite já se faz espreitar
a tomar conta se faz no dia.
Observa o trem. Trem da vida!
Quem vem. Quem vai. Quem chega. Quem
sai.
O dia já mais não faz. O dia já se.
Está fora.
Já mais não!
Não já. Não dia. Não mais.
Ainda não noite.
Tudo começa.
Nada termina.
Tudo anda. Tudo volta.
Em volta.
Indetermina.
Ia via quem
vinha vindo via trem
vindo indo assim.
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57
Bem não se compõe e esvaem. Escorrem. Criam e re-
criam. Transformam transformando-se. Renascem!.
Outra coisa! Passa. Paisagem em queda livre. Descon-
trolada. Pensamentos. Vezes asas abertas. Vezes tone-
ladas aos bolsos. Olhos fechados. Bocas escancaradas.
Mãos espalmadas. Pés descalços. Mãos nos ouvidos.
Cabeça entre as pernas. Homem. Mulher. Triste. Ale-
gre. Impassível. Insano.
Um pouco de tudo. Nada de um todo. Mistura abstra-
ta. Fluxos. Instantes. Bloqueios. Glossolalias. Janelas
em espaços abertos. Um viver que insiste em beijar a
vida.
Cada meio-dia. Cada meia-noite! Sol e lua a gritar o
que não se pára para escutar. Sinfonias. Melodias.
Cânticos de ninar e lágrimas de sofrimento. Desaba-
fos. Esquisitices. Dores e ansiedade. Alegrias. Desejos.
Felicidade. Substâncias que circulam em partituras.
Melodias inacabadas. Quem não ouviu? Uma freqüên-
cia inesperada! Um grito! Um silêncio!
Traço simples. Marca de um rosto. Ruído silencioso
que estoura os tímpanos. Acontece. Alma viva e as-
sombração! Ponto. Reticências? Interrogação!
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58
Infância. Noites várias sem dormir. De um lado ao ou-
tro. Girava o quarto em uma desgraça inevitável. Es-
quivava de fechar os olhos. Podia ver os órgãos lhe
esquartejando as partes, arrancando-lhe pedaços e,
essa coisa tomaria corpo e ainda mais, aque nada
sobrasse. Nada! Nada bastante. Nada suficiente. Nada!
Nada Reconhecível.
Dessa não teria. Não teria sido dessa vez. De aparente
nada lhe havia sido extraído. Pensava em silêncio. Pés
pra fora. Preguiçosamente ensaiava levantar. Iria se
não fosse um cortante arrepio até a espinha. Um cho-
que a erigir os pêlos. Tudo a volta, o corpo abarcava os
sentidos de um sobrenatural, horror de um morto vivo
que ao deparar com o toque gelado do desespero, con-
gela a alma. Todas as luzes se apagam!
Volta à cama e sente o colchão afundar com o peso do
corpo em pelo menos o dobro de segundos antes. Face
ao medo que brotava de dentro pressentia saltarem os
olhos. Cabeça para trás. Estendido e imóvel. Olhos
cerrados. Respiração ofegante. Batimentos cardíacos
ritmados. Envolto em um lapso. Descompassado. Ali.
Um tempo. Nem à vida e nem à morte. Ali. Moléstia
fatal. Corroia as entranhas. Isso. Esse isso. Essas en-
tranhas. Corroíam o ser. Ser corroído por dentro. Per-
plexo! Até agora só os órgão externos lhe afligiam.
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59
Hoje se faz grande. Pica a bola. Corpo-mula não voa.
Coletivo de membros ordenados. Ritmados grunhidos
de desespero. Um peso do corpo maior. Braços por
sobre as pernas. Ainda maior. Cada vez mais. Ainda
mais. Modula. Impõe. Determina.
Uma bola. Uma cabeça. Uma criança. Gigante com
cabeça-mula. Cresce por entre a bola e uma criança.
Pica. Criança pica. Bola pica. Pica bola. Bicicleta cai.
Criança também. Um aro gira. Som do tempo. No meio
um par de olhos observa. Formula. Ao lado. Tinta. Pa-
pel. Gritos. Correria e desvario. Cabeça gira. Murcha a
bola. Movimento completo. Olhos na nuca. Um som
qualquer. Inaudível não escapa. Atravessa e prolifera.
Deforma e incomoda. Barulho de solidão. Um degrau
que abre a caixa vazia. Um passo incontido de um a-
braço a jogar-se no vazio. Explode!
Não tem corpo. Brinca. Ontem. Tão perto. tão lon-
ge. Uma criança dança sem rosto. Um sorriso corre.
Some. Uma criança. Uma Bola. Bicicleta. Tinta. Papel.
Permanece um borrão. Permanece um sorriso. Uma
lembrança? Ter-se na criança que pica a bola. Um de-
sejo! Correr. Brincar. Andar de bicicleta. Massagear
com as mãos em tinta o papel. Sorrir. Gritar. Jogar.
Brinca uma criança. Sempre uma criança. Por quê?
Nunca uma criança. Como? Não se torna. Escapa. Cria
uma fuga. Nada importa. Já foi!
70
60
Desenhou pelas paredes. Pulsão vesti-
da. Loucura! Loucos desvarios loucos!
Enfermeiras. Louras camas brancas.
Longas finas agulhas. Líquido ácido.
Carne superior quadrante. Direito! So-
no acordar mais cabeça dez quilos!
Meses dois! Espaço outro. Tempo es-
quecido. Um resto desfiado em amar-
ras. Desconhecido jardim. Outra lín-
gua! Homem!
Queria tomar chá! Mais ainda! Cinco.
Seis. Que fosse! Ainda queria. Cinco.
Seis. Despertar com um quê de não
sabe um que fez. Queria ainda! Com
um quê de que faz os que fazem um!
Mais ainda. Com um quê que desfa-
zem aonde jaz! E mais ainda mais.
Donde em um quê jaz um!
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61
Noite perdeu alegria. Surrupiaram
sua possibilidade de expor a lua.
Desacordados homens racionais.
Morte se conjuga. Noite deleita ra-
cionalidade pura. Noite escura. Dia
espúrio.
Tribos de canibais da noite. Servos
de Apolo. Narcisos da decadência
do mundo. Camelos do progresso.
Urbanos sem terra. Cautela! Teus
dias cada vez estão mais noite. Dia
vez cada mais. Tudo começa. Nada
termina. Tudo anda. Tudo volta.
Em volta.
O trem já vem!
Vem vindo indo assim
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62
Experimentava sensações cada vez
mais intensas. Cada dia mais alterna-
va realidade e fantasia! Resistia. Pen-
samentos permaneciam mais próxi-
mos.
Muitos movimentos. Corria água pelo
corpo e misturavam-se imagens de de-
lírios. Mãos dadas, realidade e fantasi-
a, na composição de um mesmo. Sabia
onde estava, reconhecia a mesma rua,
sentia os mesmos pés.
Imagens simultâneas compunham um
conjunto de olhos internos. Fora, tei-
mavam em atravessar o banheiro em
uma outra dimensão. Fabricavam coi-
sas. Realidade. Fantasia. Água! Escor-
ria pelo ralo. Corria pelo corpo. A vida
prosseguia.
73
63
Isso.
Esse.
Outro.
Assim.
Também.
Não esse e.
E esse isso não.
Não esse isso e outro.
Outro não isso e esse.
Esse e outro não isso e esse isso assim.
Assim outro isso não esse isso e outro sim.
Sim esse isso e não.
Não isso e sim esse outro isso assim.
Assim isso e isso.
Isso e também não outro isso.
Isso e esse e também.
Também assim esse isso outro.
Outro esse isso e sim.
Sim isso e esse sim.
Sim outro e isso sim.
Sim esse e outro assim.
Assim esse e isso e outro também.
Também esse e isso e outro sim e não também assim.
Assim também sim e não e também esse e isso e outro
também assim.
Assim sim também esse e isso e outro e não.
Talvez.
74
64
Pêlos ouriçam com o cheiro tirante dos trilhos. Parece
vir de longe. De longe aparece. Itinerante. Parece não
parar. O caipira derrete o ser que pariu no interior.
Não pára! Não pode! Vem de longe. O trem. O caipira.
Definitivamente vem! Trem. Parado o caipira parece
esperar. não mais tem hora. Corre a vida em ritmo
de demora. O começo não tem vista. Não tem berço.
Caipira. Ponto de parada. Ponto de chegada. Embar-
cado. Desembarcado. O trem do caos se alimenta. Faz
parte.
Pulsa coração. Cidade sem lugar. Herege. Elege aonde
ir. Genital. Relação estampada dolente. Dogmas. Ru-
gas e dobras.
Um sabor de fumaça deleita. Olhos vermelhos. O cai-
pira chora. Lágrima qualquer. Trem o ra. Faz
pausa. Sem parar, aceita o embarque. Cidade também.
O caipira olha. Tantos olhos nem uma voz. Cheiro for-
te. Muitos corpos. Todos. Cada um. Muitos. Ninguém.
Segue o trem. Não vem. Sempre vai. O caipira não.
Quantos a cada dia. não se faz dia. Muitos a cada
entrada de noite. Incontáveis a cada saída do dia. A
cada chegada de dia. Ainda não noite. Multidão não se
faz gente. Gente se tem em falta. Excessivo contato.
Gente sem tato. Dorme acordada. Balança pra lá. Sa-
code de cá. Ainda vai trem. Vai com a noite que vem.
Bate-estaca. Vem com o dia que vai. Foi mais um dia.
75
Outra lua esconde. Noite fria. Rostos laqueados. Es-
quinas suspeitas. Restos humanos. Tantos. Decoradas
calçadas. Andarilhos. Maltrapilhos. Tontos. Drogados.
Prostitutas. Travestis. Artistas do jogo da noite.
se faz noite. Tragédia urbana que a noite faz dia. O
dia também. Outra luz. Também. A noite acolhe o que
no dia se faz sobra. Dia escancara o que da noite se
tem em sobra.
76
65
Um sorriso malicioso. Um vício. Um ócio. Um quê de
estar vivo que se faz no que compõe. Distante. Muito
além. A deriva do esperado. Do que o mundo e as coi-
sas prometiam. Aprendeu a falar. Ainda criança. Fora.
Olhou as palavras. Alongadas. Revestidas de cor sóli-
da. Vezes essas impõem. Outras depõem. Fazem exis-
tir. Desistir.
Quanta intensidade colocada em camisa-de-força!
Quanta selvageria santificada pela sublimação da cul-
pa! Condenado a o ser pela crueldade que o ser lhe
impõe! Nasce morto! Um ser! Adestramento pela fala.
Cela de palavras-alma entranhadas na corrente de um
pensamento. Correm em sangue. Vermelho. Substân-
cia inodora e insípida. Do barro virgem resta à forma.
Potencialidade fértil. Nasceu em mão invertida.
O pai! Fizeram aprisionar os dedos entre os dentes.
Teoria da amputação das partes podres. Retiraram o
membro desregrado. Subjugaram a possibilidade da
escolha. Sentido posto. Pela direita a verdade! À es-
querda os dentes! Descarte do anômalo constituído
por origem. Roer as unhas. Mão esquerda. Resolução
recebida! Poderia desfrutar do deleite desajustado.
Mão direita. Reverenciaria as palavras-carrasco. Elas
se lhe apoderariam do que poderia. Chibatadas de tin-
ta. Paladar adornado pela saliva a moer pedaços de
um corpo amofinado.
77
66
Domingo. Bate vento. Quer entrar. Arranha vi-
draça. Vento. Dentro houve. Não vê. Cobertas
entrelaçam. Faz frio. Vidro. Corre pingo. Sere-
no. Olhar. Encontrar a manhã. Chegar. Longe.
Dia amanhecer. Perto. Pernas esfregar. Corpos
tocar. Cobertas acolher. Dois corpos. Beijo.
Pernas entrelaçar. Abraçar. Apertar. Fora. Faz
frio. Dentro. Corre pingo. Suor. Unha arranha
costas. Orelha mordida. Saliva encontra saliva.
Língua perdida. Cobertas caem. Mãos não pa-
ram. Contatar. Atritar. Respirar. Descompasso.
Desejar. Pulsa corpo. Pulsão. Lábios. Envolver
nuca. Dedos. Alastrar. Contornar seios. Mami-
los eretos. Toque. Um Dedo. Contornar. Primei-
ros suspiros. ngua. Encontrar mamilos.
Mãos. Contornar coxas. Corpos. Ouriçar pelos.
Entre mãos pulsar desejo. Boca. Não foge. Acei-
tar convite. Convidar. Invadir. Atrever. Deslizar.
Corpo. Crescer. Ocupar espaço. Começar dan-
ça. Boca. Subir. Descer. Membro. Rijo obedecer.
Odor. Tomar conta. Pudor. Não. Cabelos. Ba-
lançar. Rosto perseguir. Face. Boca. Procurar
beijo. Lamber. Saliência. Queixo. Pernas. Não
guardar espaço. Proliferar. Cruzar. Atravessar.
Indecente abraço. Incandescente movimento.
Instintivo. Infinitivo. Encaixe. Coxas. Roçar co-
xas. Membro. Deslizar mundo. Adentrar. Ven-
tre. Acolher. Acariciar. Mover. Exalar sumo. Vi-
78
da. Subir. Descer. Colar. Pele. Fechar. Olhos.
Morder. Lábios. Suspirar. Mãos delicadas. A-
pertar. Comprimir. Imagens. Sons. Cheiro. Rit-
mo. Aumentar. Ritmo. Subir. Descer. Aumen-
tar. Ritmo. Descer. Subir. Aumentar. Ritmo.
Suspirar. Suor. Tesão. Membro. Excitação.
Ventre. Ritmo. Subir. Descer. Correr. quido.
Correr. Invadir. Corpo. Tomar conta. Tempo.
Espaço. Clarão. Intensidade. Pura. Insanidade.
Delírio. Ritmo. Subir. Descer. Corpo. Prolongar.
(Re)ter. Ritmo. Devagar. Mais devagar. Mãos.
Acariciar. Respirar. Buscar. Compasso. Beijo.
Suave. Olhos. Brilho. Abrir. Lábios. Tocar. Le-
vemente. Tocar. Trocar olhares. Sorriso. Afago.
Bate o vento. Inverno. Cobertas. Afastam a luz.
Dia. Frio. Domingo. Frio não entra. Corpos. Ta-
pados se abraçam. Prazer. Desejo. Permanece.
Não vai. Abraçar. Abarcar. Abraço. Tapados.
Uno. Dois. Cabeça aos pés. Domingo. Êxtase
Adormece. Frio. Não. Nesse quarto. Não. Dese-
jo. Dobra. Retorna. Domingo.
79
67
Um vulto desliza suspenso no tempo. Inebriado pela
oscilação do ambiente a se construir e destruir veloz-
mente à volta. De um lado ao outro se traçam rabiscos
que cada novo passo ocupa-se em apagar os rastros.
Senhor do domínio conquistado. Resta um corpo está-
tico acompanhado da percussão de um coração em
absoluto descompasso. A girar dança em torno de seu
próprio eixo a auscultar irrequieto o diagnóstico silen-
cioso do mal congênito que lhe impetra o convívio diá-
rio com aquele véu de solidão. Sobrepondo os pontei-
ros de um tempo. Usurpa o instante. Entrincheirados
olhos curiosos retiram daquela cena os resíduos dis-
formes. Borrões e cacos de imagens indiscerníveis.
Entrevêem um mínimo ponto negro que se faz multi-
plicar. Percebem o estilhaçar de luzes em profusão
desordenada. Inspiram a céu aberto as fragrâncias que
auferem sabores ao desespero de preencher um qua-
drilátero claustrofóbico. Escutam o grito grunhido de
quem se faz prisioneiro de uma coreografia secreta.
Observam um ponto! Desprovido de ângulos retos.
Ignorante de uma estrutura retilínea. Livre de uma
linearidade homogênea codificada. Errante que erige
escalas por entre tons coloridos que encontram o êxta-
se no desnudar de um arco-íris. Etéreo. Repica recur-
sivo por entre as quatro retas que lhe abraçam em
cerco. Sorri. Seu fim já tem destino anunciado. No que
lhe vira as costas. Sacode os ombros e saboreia o limi-
te das possibilidades que enamoram um encontro.
80
68
Ultimamente as coisas crescem para os
lados. Fazem crescer! As idéias correm de
um para o outro. Constelações de ima-
gens. Sorriem. Acenam. Falam juntas.
Levanto. Tento alcançá-las. Fogem.
Quando permano deitado tenho a sen-
sação de projetar em direção a elas. A
pressão do ar aumenta. Os músculos
contraem o corpo. De olhos fechados en-
xergo outro isso desse momento suspen-
so. Diminui a gravidade. A necessidade.
Tem-se outro plano. Múltiplas vozes. So-
pros aos ouvidos multiplicados.
Deves estar ocupado com outras coisas
mais tuas! Caso tenhas um tempo venhas
me visitar. Tenho saudades de escutar
tua voz! Se o puderes escreve. Tenho
saudades de te ler. Tenho tão pouco.
81
69
Um tempo. Deveria estar piorando! Queda em direção
à cama. Sentia algo a consumir o fígado. Algo a extrair
um pedaço. Pânico! Nunca antes assim sentido!
Como poderia? Como averiguar se realmente estavam
faltando partes? Como checar as partes internas? Es-
curo! Visão insignificante. o podia. Não podia no
escuro de dentro enlaçar algo claro!
Músculos. Síncope extrema. Contraiam. Abaixo. Quase
perfurando o colchão. Situação que era posta. Atordo-
ado permanecia. Movimento último. Desespero! Levan-
ta as mãos. Buscar. Direção aos olhos. Buscar uma
forma de ao entreabrir ver as mãos.
Sem qualquer esforço. Via. Estavam lá. As os esta-
vam à frente dos olhos. Friccionava. Tentava. Tateava
um convencimento. Convencer-se de que era nada
além de um sonho. Decididamente um sonho! Com o
quê não lembrava! Acontecia sempre. Tempo mais
próximo. Recentemente, cada vez mais acontecia.
Uma sensação de alívio começava percorrer o corpo. O
pesadelo se fora! Respiração distorcida. Suor frio. Ca-
misa molhada. Dor nos braços e nas pernas. Corpo
com mais toneladas. Cabeça mais leve. Pensava. Pode-
ria arriscar um sorriso.
82
70
Tão perto. Tão longe. Pouco importa se. Mui-
to menos para onde. Não tem lugar. Vai ou
se vem. Mágica. Vêem? Momento químico.
Alquímico. Quer prolongar. Fazer. Mãos se
arranham de leve. Encostam. Roçam. Sabor
de um gosto. Beijo. Faz sonhar sem ter sido.
Informe deserto. Cria. Possibilidade. Gosto.
Abre fendas. Condições. Não cabem! Inequa-
ção. Indeterminada. Rosto. Derivada. Desafia
o desejo a se desdobrar. Limite. Quer-se o
toque. Medo. Atualizar. Perder. Retroceder.
Mais um giro do ponteiro. Mais um tempo.
Instante. Outro além. Outro aquém. Um re-
vide. Dois corpos. Dançarinos de uma mes-
ma sinfonia perdida. Dividida.
Grita o corpo. Contrai a alma. Vibra. Quer. O
corpo. Não tem certeza. A alma. Necessita. A
vida. Tudo. Agora. Tudo. Sem um toque se-
quer. Agora se quer?
Pulmão. Bombeia ar. Sangue. Rio abaixo de-
ságua. Não pode conter. Segue! Vazão de
sentidos desordenados. Vaza! Alteram um
quadro contido. Fazem derramar. Coração
bate. Descompassado sem parar. Mãos mo-
lhadas. Esfregam. Uma na outra sem querer
secar. Cabeça. Movimenta para trás. Cabe-
83
los. Revoltos revoam. Devir-lagarta? Um sus-
piro. Olhos se fecham. Olhos se abrem. Um
novo velho olhar. A borboleta sorri! Conti-
nuum perfeito. Par feito. Movimento qual-
quer. Aproximar. Ainda não! Cedo! Prolongar!
Mais! Beijar? Quero! Medo. Muito medo! De
terminar? De perder esse gosto de beijo sem
beijar! Divina terra. Doce gosto. Fenda. Ver-
melho a incendiar. Sabor. Queima. Razão
ferve. Dilui. Fogo. Esconde-se e some no ar.
84
71
Falava da primeira! Não havia vozes! 13
de abril. Uma primeira! Não lembra bem
um dia. sabe de ouvir! Entre 14 e 15.
Alguém disse. Mês de maio. Não ouvia
vozes! Dizia não.
Elas passavam! Agarravam pêlos. Pelos
cabelos, pelos testículos! Levavam a pas-
sar! Qualquer sem negação! Cadeados em
lugar de lados. Rodeados muros cadea-
dos. Cadeados em um lugar rodeado de
lados por todos os lados. Cadeados rode-
ados por muros por todos os lados! Cada
um, outra regra. Muitas chaves! Negra
branca nuvem terra!
85
72
Ao longo do caminho leves pegadas insinuam passos
na areia que o vento não se furta em levar. Por entre
uma linha imaginária que no horizonte se esforça em
unir o céu com a terra atravessam dois olhos assusta-
dos. Fazem esforço em aprender aquele momento que
grão a grão teima em fugir sem palavra sequer. Duas
pernas magras se unem a sombra fina. Perpendicu-
larmente, essa esguia e aventureira se antecipa aos
passos e se joga à frente. O corpo se faz colorir com o
sol a derramar às costas.
Do noroeste arranca passagem um vento suave que ao
insinuar sua presença acaricia a nuca. Enrola-se pelo
pescoço até que salgado penetra as narinas e aquecido
se desfaz. Abandona aquele corpo através dos lábios
entreabertos a beijar um mar de águas verdes. Ondas
de um delicioso assoviar. Um odor de maresia que per-
fuma as entranhas e cobre cada pedaço de um nue
corpo. Carícia e deleite. Um mar. Um menino. Um mi-
lagre. Obra de sutil beleza a preencher um instante de
vida. Uma foto faria retirar o encanto e aprisionar pela
eternidade sem perfume, sem calor, sem cor aquele
instante de essência indizível. Restaria apenas um
espectro, um momento irreproduzível, apenas uma
representação. Cópia pálida que de longe poderia fazer
lembrar o que só nesse instante se fazia alastrar.
86
73
As palavras nem de longe ar-
ranham o que a íris aprende
e a pele transpira. Essas vêm
distantes. Atrasadas. Caçam
a coisa que dobra, desdo-
bram um tempo, estraçalham
um espaço, perdem-se na
margem que some.
87
74
Pode ficar quanto queira. Ninguém
lembra ou reclama. Por onde passou
não sabem que foi. as calçadas
lhe têm mais perto nos passos que
fogem. Essas não diriam o que a rua
confia. Essas não! Olham de canto!
Pés sem entender do que escutam.
Sobem e descem. Pulam de um lado.
Pulam de outro. Mesmo rumo de
volta nas costas de uma noite ainda
mais dia. Mais uma noite para es-
quecer um dia.
88
75
Um menino. Um milagre. Um mar. Estático um
menino observa. Alimenta a experiência com o
que dela verte. Sem expectativas, sem projeções,
sem finalidades. Não lhe interessa para que sir-
va se é que se lhe serviria para algo. Um fluxo
de vida se faz pelo fluir de um mundo que en-
volve um corpo. Toma uma mente e ocupa um
pensamento que explode em pura energia.
O menino se mantém parado. Assim se a si-
tuação a perceber. À margem pulula uma inten-
sidade das linhas que fazem compor àquele ins-
tante de gradientes. Energia. Cada inflar dos
pulmões abastece uma cadência cardíaca e im-
pulsiona uma máquina-menino-mar. Engen-
dramento de forças que compõem um instante
singular. Não um menino e tão pouco um mar.
Mistura que surge atravessada por todas as
partes. Partes possíveis. Partes potentes. Im-
possíveis. Essas mesmo transparecendo imper-
ceptíveis se fazem em um lance. Um menino.
Um mar. Um sorriso. Um vento. Uma vida.
89
76
basta por base por
que basta base que por
basta por pós propor por
propor por base basta
propor se por são se por
por se propor pré por se por
pré por se são se
pro por se são se
são?
pré por se são
pré pose são?
pro por se são
pro pose são?
Não?
90
77
Entre o sensível e o intencionado um
abismo se compõe. O que seria um
simples sorriso toma corpo e aparece
em um alvoroço que de dentro adolesce
até não mais tocar. Um tanto que esca-
pa e irrompe sem nada dizer. Um ingê-
nuo olhar desnuda e fascina. Um raiar
de mãos faz alastrar um suor frio. Um
pisar desvenda mistérios e impulsiona a
um espaço aberto de vibração que não
se pode batizar. Um balanço que que-
bra a espinha e exala o calor de um to-
que. Ainda no mesmo lugar. Olhos en-
torpecidos a fixar o nada e delirar por
um minuto seguinte. Suspense de um
instante que sopre a porta. Reversão do
momento ainda estéril de uma relação.
Linha fecunda esticada sinuosa em po-
der jogar com as possibilidades futuras
mesmo sem palavra sequer pronunciar.
Um devaneio que faz correr a mente.
Uma imagem entrecortada que pronun-
cia uma passagem. Uma impossibilida-
de que se instaura em um outdoor que
diz não. Não pode ser! Fantasia. Feti-
che! Invenção? Mas tudo se coloca tão
claro!
91
78
Acreditava quando jovem que
o tempo se encarregaria de
amenizar a insegurança de vi-
ver. O tempo passou. Conti-
nuava a mesma. Mais velha.
Esperava ainda a mágica de
um conto de fadas. Algo que
pudesse vir a se apossar do
seu caminho. Sonho de um
em meio ao era uma vez! So-
nhos com um viveram felizes
para sempre! Sonhos com a
fada! Com o príncipe e com o
cavalo!
92
79
Não se pode perceber como as coisas podem evadir
tanto. Quando se consegue um tanto essas estão a
perfurar a língua. Um dizer não se faz contido. Muito
menos compõe um pensado. Ocupa a deriva. Foge ao
controle. Um submergir. Um grande oceano de ondas
a chacoalhar. Procura-se um olhar à frente. Uma
porção de terra para aportar.
Os olhos ressentem uma expressão preocupada. Um
tom vacilante e lúgubre toma cômputo. Um medo de
não mais voltar. Vira a cabeça à esquerda. Travessei-
ro por sobre o rosto. Cinge os olhos. Vislumbra lagos
calmo a enfeitiçar os sonhos. Joga fora o dia, ignora
a noite, aguarda um sono que apreenda os sentidos.
Sair dali na direção de terras menos úmidas e tene-
brosas. Menos dolorosas! Um bálsamo que venha cu-
rar as feridas abertas e serenar a vida. Um suspiro!
Pernas estendidas. Repousa.
Imóvel a morte se põe a aplaudir o drama interior do
corpo entorpecido pelo sono. Um semblante tão cal-
mo. Menos um dia. A morte improvisa. Avizinha! As-
sentada no tempo. Indolente! Confia ao destino mais
um dia. Adivinha. Sorri em poder vir passar. Quando
não importa. Nem a porta. Fechada. Aberta. Sem ho-
ra marcada.
93
80
Lembrança a crescer pelo meio.
Perdido e estranho faz distanciar a
forma e diluir o momento. Como
prolongar? Fazer fugir mais um
pouco. Mais um instante. Ainda
não ir. Escorrer. Perder. Chegar.
Voltar. Uma criança sonha em cres-
cer. Um adulto tem saudade da cri-
ança que ficou. Menor. Agora uma
lembrança. Confusão. Desespero.
Medo. Ainda mais solidão!
94
81
Algo em alguma medida separa os olhos que
se esmeram em observar a vibração das par-
tes. Sonham abertos com o entrechoque de
corpos a assoviar uma canção de melodia
grave. Ritmada. Forma lenta incita dar pas-
sagem a um grito de dor que ao invadir o si-
lêncio sem palavra sequer pronuncie a com-
posição de uma realidade inédita. Outro ins-
tante. Um clique de uma engrenagem que se
move e faz acoplar em outra que explode no
virar da página ainda em branco. Essa nun-
ca em branco dissimula branquitude. Um
pensamento que toma o leme e termina de
desenhar e colorir. Inadvertidamente. Cria
um povo pelo exercício do esquecimento que
esquarteja a lembrança. Não uma casa. Um
ser. Menos humano. Menos ainda outro su-
jeito. Apenas pontos! Brilhantes! Dançam
sob reflexo da luz perfumada e se vêem en-
cobertos em suas próprias sombras. Essas
também a bailar. Sombras no entremeio de
um movimento singular.
95
82
Olha-se para os lados. Mesmos ruídos
tomam espaço. Ao redor os mesmos
móveis. Mesmas pernas em sapatos
mesmos nas mesmas calçadas. Mesmas
coisas a fazer. Coisas que não podem
ser praticadas. Coisas que não devem
ser perpetradas. A cada instante se ou-
ve o tom taciturno que atavia a cor da
solidão. Mesmos problemas de A-Z. De
pra cá. De um quê sem o porquê.
Sem um tempo de ida morre e não mos-
tra. Mesmas dores. Úlceras. Dermatites.
Seborréia. Angina. Onomatopéia. Sinu-
site. Gangrena. Metáfora. Sermão de
graça. Crítica. Discurso. Vaidade. Não
sim. Alguma poesia! Sim e não. Pouco
do que se poderia poder. Menos do que
se poderia criar.
96
83
Contração de um bio.
Superior. De tal sorte len-
ta. Um tique. Encontro de
um sorriso. Turvo. rias
vezes. Tremelicar sem
controle. Encontro de um
sorriso. Explode! Vida de-
volvida em efeito! Feito
que devolve a vida!
97
84
O mar continua e o menino tam-
bém. Cada qual reverberando seus
passos. Espaço infinitesimal. Tempo
criado em um arranjo de promoções
dessemelhantes. Cada qual na mira
de um horizonte à espreita. Tentativa
da fuga dos agravos de um consenso.
Afirmam! Por este ponto de passagem
afirmam. Por ele compõem um brilho
que se faz no desencadear de uma e-
terna procura. Linha de composição
que a vida arrisca ao avizinhar-se da
possibilidade de uma morte mais pró-
xima. Possibilidade de driblar as ex-
pectativas. Jogar com um viver eleva-
do a enésima potência de uma redes-
coberta. Porta longe. Porta perto.
Permanece aberta.
98
85
Um tempo sugere não querer cooperar. Não passa e
por não passar faz tudo permanecer onde está. Uma
boca em um descerrar antecipa algo entre um abrir e
fechar. Tremor revelando o torpor que exala na sala
vazia. A distância se ergue menor. Avassaladora exten-
são. Um tanto que nem de chegada nem de partida se
tolera ver. No ar um aroma amarelo salgado de suor e
saliva misturam-se ao ruído irrequieto de uma matilha
a comemorar a presa. Um véu azul reconquista o rosto
e manifesta o encanto do dorso desnudo e sedento do
aproximar de um abraço.
Um luminoso aponta por sobre a caba. Farol de acrí-
lico cintilante faísca a brisa de um sorriso que desfila
absorto a serenar um olho no olhar. Barulho e silêncio
alternam suas partes lado a lado em um todo que deli-
ra e se põe ao lado. Rasga. Uma gota de suor lido
gaseifica no toque com o chão ardente. Um som de
antiácido corrói o estômago banhado em vinho tinto.
Delicadamente cítrico e um tanto adocicado de buquê
irresistível denuncia o receio do momento extremo.
Fustiga a passagem no impulso que intenta lhe impe-
dir de ficar bêbado de um beijo vermelho escarlate.
Olhos fechados. Boca encharcada. Mãos espalmadas.
Atmosfera presa aos pulmões no empenho de um mer-
gulho fatal. Um suspiro. Uma suspeita. Muitas outras.
Todas estilhaçam aos cacos. Um roçar incontido a-
nuncia o encontro de um lábio com o outro em uma
99
leve fricção que assovia. Suave vivo sonoro de sabor
brilhante injeta uma mistura de salivas afetuosas em
um inominável desejo.
O tom da paixão toma conta e por entre o calor das
cores vivas compõe a imagem da atualização dos flu-
xos que se cortam em um instante. Delirantes esca-
pam exalando o rastro do perfume que incita um re-
torno à aproximação. Surge. O esgotamento do sensí-
vel empurra para inevitabilidade de um afastamento.
Excesso que retira o ar e potencializa uma pressão que
anuncia explodir aquele instante. Ascensão do segun-
do seguinte que faça criar um indizível. Force preen-
cher todas as variáveis do possível até que reste ape-
nas o impossível no vazar de um sorriso que grite um
sim a vida.
100
86
Uma sensação de alívio anunciava a posse do corpo.
Estômago não concordava. (Des)sintonia com o cére-
bro! Um ronco sonoro. Chegava aos tímpanos. Trom-
beta do final dos tempos. Apocalipse! Remetia às en-
tranhas. Ronco. Fígado. Poderiam lhe ter retirado. Es-
tar corroído. Novo colapso! Inércia. Agonia extrema.
Outro momento.
Estava em crise. A vida estava! Tão jovem. Pensava.
Cérebro. Um movimento. Apenas o rebro movimen-
tava. Criava um modo de economizar suas forças. Hi-
bernava o corpo. Fazia circular desconexos múltiplos
pensamentos simultâneos. Uma multidão! Invadia a
mente. Não o bastante invadia o quarto um enxame a
zunir. Zumbido. Som estridente. Tremia a cama maci-
ça. Pequeno móvel tremia. Tremia e fazia tremer a ca-
ma. Estava à beira de sucumbir. Um Choque. Cérebro.
Som ao patamar de eletrocutar o cérebro. Cozinhar. O
que se ainda restava em vida. Espasmo! Um espasmo!
Último suspiro de vida. Pensamento louco. Logrado.
Restaria mais nada. Uma imagem distante. Ínfima
lembrança. O desfalecimento se encarregaria de fazer
esquecer.
Permanecia a tremer. Tremia e fazia tremer a cama
maciça. Instrumento satânico. Desacomodava. Jazigo
moribundo. Último torrão restante. Último antes de
um inevitável.
101
87
Um menino retorna ao caminho.
Caminha. Passo após passo. Afasta.
Uma breve parada. Uma caba que
gira. Um último olhar. Não se des-
pede. Prossegue. Escolhe deixar vi-
ver. Esquece a lembraa e na íris a
cor faísca vida. Faz viver. Próximo
passo. Próxima linha. Caminha. A-
fasta. Prossegue. Sem rima inventa
uma vida viver!
102
88
Adorava os desenhos animados de Walt Disney! Quan-
do criança adorava! Cinderela. Branca de Neve. Gata
Borralheira. Tenho o quanto eles acariciaram minha
vida! Hoje, um modelo de vida, de família dos relacio-
namentos amorosos. Tenho vontade de esquecer. Fre-
qüentemente. Mais a frente. Expectativas! Conjectu-
ras. Hoje talvez matasse Walt Disney. Essa mensagem
açucarada! Induziu a fabricar tantos castelos de papel
crepom! Como fico amarga! Cobro tantas atitudes que
não tenho. Acho que sou um discurso silencioso. Ra-
bugento e silencioso! Sei o que gostaria de ser. De fa-
zer! Parece tão distante. Quase um sonho. Como é
bom sonhar! Minha vida mais parece um pesadelo!
Acho que já disse isso! Ou algo parecido com isso!
não vejo mais desenhos animados. Eles me soam
infantis. Tenho filhos. Dois. Um casal. Lindos! Adoram
desenhos. Vêem inclusive os da minha época. Tenho
saudades dos tempos de criança. não espero mais
o príncipe encantado. As esperanças não mesmas.
Casei. Há muito tempo. Vinte anos. Passou tão rápido.
Teria de fazer na ponta do lápis as contas. Nunca gos-
tei de matemática! A professora o ajudava. Nem um
pouco! Recordo daquele rosto sisudo. Os cálculos es-
pelhavam sua cara!
103
89
Aparente mesma coisa. Espinha dobra. Uma vidraça
muito longe embaralha a vista. Tudo longe muito.
Trem continua indo. Sete palmos. Muitos trilhos. Sem
intuito. Multidão de corpos. Enterrados mortos. Vivos
retornam. Tumba no alto do morro do mesmo mundo.
Muita dor. Sono. Ressentimento.
Dos trilhos não pode afastar. Toupeiras a atravessar
castelos de pedra. Cidades se fazem em quadros. Ca-
beças oscilam. Sono sobressalta e abandona o corpo.
Balbúrdia de uma pluralidade de vozes. Mudas. Cada
qual um desenho. Uma intensidade. Singulares reali-
dades. Mesmo banco. Distantes formas. Distintas
tensões. Tamanha confusão.
Quantas luzes. Noite da cidade mundana. Signos.
Proliferam guetos. Noite clara. Escuros becos. Noite
se faz clara. Tão clara! Olhar não vê. Não pode. Olhar
não tem. Clara. Noite. Noite clara olhar não vê. Longe
um sobrevôo. Precipita calma. Inércia. Resguardo.
Longe tudo resguarda. Acalma. Movimento. Olhar
não vê. Perto. Tudo move. Tudo se move. O prédio. O
carro. O trem. O caipira. Também. Menos. Bem me-
nos. Olhar não vê. Perto. Nem assim. Parece longe.
Longe de perto. Isso assim parece! Olhar não vê.
A estação. Não mexe. Mexe trem. O caipira. O tempo.
O olhar. Não mexe estação. Será? Não parece. Se bem
que. Não! Sei que. A estação. Ela. Mexe. Será? Parece.
104
Se mal que. Sim. Não se que. A estação. Ela. Agora
não. A estação. Ela. Não interessa agora. Trem. Caipi-
ra. Que vem. Quem vai. A estação não anda. Será?
Talvez. Não mexe isso! Trilhos. Tudo nos trilhos. Inte-
ressa o trem. O caipira. O trem nos trilhos. O caipira.
Também. Menos o que mexe. Menos o que anda. Me-
nos a estação.
Todo dia. Toda noite. Noite e dia. Dia e noite. Todo dia
e toda noite. Repete o trem. Vai. Vem. Vai e vem. O
caipira. Também. A estação. Não sei. Essa parece fi-
car. Permanece de onde não sai. Pra onde não vai. De
onde não vem. O caipira. Também. Não pára. O trem.
Todo dia vai. Todo dia vem. O caipira. Também. A
estação. Não. O caipira. Também. Nem sempre. Qua-
se sempre. Sempre que fica. Não vai. o vem. Fica.
O caipira também. Fica. Na estação. A estação fica. O
caipira fica. Fica na estação. O trem vai. O caipira.
Também. Vai. O caipira. Vai com o trem. A estação
fica. O trem vai e vem. O caipira também. Vai. Vem.
Fica. Vive também.
O trem é sonoro. Dia-a-dia vai e vem carregando em
cada apito o ritmo acelerado que tem. A vida tem. O
trem carrega quem vai. Também. Quem vem. A sinfo-
nia se faz nos acordes sem pauta. Atritar com o ferro
dos trilhos. Faiscar em purpurinas polvilhadas ao
rosto. Palhaço que quase em lágrimas ao abrir das
cortinas se põe a sorrir.
105
Nem toda cidade canta. Nem todo palhaço sorri. Nem
toda música faz alegrar. A cidade chora. Também!
Maior parte do tempo chora! O trem vem e vai. Leva
em seu leito o que pelo caminho encontrar. Um ritmo
frenético frágil de acompanhar. Uma batida seca.
Marcação de compasso. Um agudo alto. Distorce e se
afina. Desafina. Disposição. Cansaço. Vem e vai. Vai e
vem.
106
90
Um bocado escondia por entre as linhas!
Dizem. Escrevia sem! Nem desconfiavam!
Tinha sempre um ponto esticado. Achava
bem. Caneta e papel. Cadeira à tarde no
fim de onde fugir! De onde voltaria sem
castigo, esquecido de onde pensaram
nunca sair. Quanto entardecer! Amigos!
Cores! Lugares!
Corria que brincava!
Bebia que amava!
Dobrava a capa por sobre o branco!
Mesmo banco. Se quisesse fugiria! Volta-
ria sem que notassem um passo! Passa-
riam os dias! Passariam ao lado, por bai-
xo! Menos doeria assim! Dizem que as-
sim diria. Que dizia! Calado. Dia em que
nunca voltou. Dizem. Noite em que nun-
ca partiu! Contam.
107
91
A relação do sensível e do concreto faz entrelaçar um
percurso nebuloso que impede uma determinação ab-
soluta. Nenhuma relação pode ser dada como toda.
Pode? Quaisquer postulados que permeie um entre-
cruzar de mais de um têm-se retirantes cada vez que
lhe querem dominar! Cada série interpretada e tradu-
zida. Cada rie estabelecida não bem assume uma
forma demarca uma localização. Ocupa uma função
específica e esvai-se em um fluxo mutante que defor-
ma a forma que subsume. Agride a fronteira das terras
mais longínquas e erige um diferencial da especificida-
de em um derramamento que se faz desembaraçar.
Composição de um evento afirmativo. Luz cósmica que
faz do corpo leve pluma a dançar no espaço ilimitado
que se descortina sequioso de um fragmento de con-
tenda. Uma explosão das partes determinadas que
desencadeie o êxtase que uma vida a cada dia prome-
te. Êxtase que a noite abaliza e o amanhecer seguinte
cobre de esperança. Um milagre? A eterna espera do
divino instante em que as coisas se encaixem. Final-
mente se encaixem e em algum sentido se possa pro-
duzir em um viver.
108
92
Uma boca o faculta derramar som
sequer. Comprometida com tudo que
lhe acerca essa teme dizer o que não
arranja compor em um sensível.
Trava a língua ao ponto de o si-
lêncio surgir. Nada tem a ngua a
dizer. Não o quer. Sabe essa que não
pode. Também sabe essa que aquele
silêncio denuncia um algo que não
pode conter. Incontida a palavra fo-
ge. Rola campo a fora. Serelepe.
Conclama todas as luzes e aguarda
os aplausos.
109
93
Olhos piscam e são recapturados ao espaço-tempo que
reclama sua presença. Sucumbem no fechar e abrir
que alterna o lugar. Imagens do pensamento que aos
pedaços descarrilam esvaindo-se no destino em queda
precipício abaixo. Sensação de vivido. Mistura com as
teias da lembrança que querem conter o fluxo e re-
constituir a cópia. A memória sobressai adúltera da
coisa. Lágrimas. Derrama por entre o drama do esteli-
onato da razão que deseja. Lágrimas. Desesperada-
mente deseja controlar o vivido. Estende. Classifica.
Arquiva. Burocracia imagética profere até parir um ser
a partir da lei aclamada que deve se fazer impender.
Os olhos não discernem a geografia que abarca a-
quele instante. Um movimento orbital. Uma diminui-
ção de velocidade. Um tanto que as múltiplas imagens
cedam ao apelo plausível de uma representação estáti-
ca. Identificação passível. Entendimento presumível.
Quadro a quadro.
Na contramão daquela visão confusa pés descalços
beijam o piso frio espalmados a olhos nus. Geografia
delineada de um desejo incrédulo. Amordaçados. Idéia
recorrente dos olhos. Poder deixar cair às pálpebras e
declarar paixão eterna aos sonhos de uma noite sua-
vemente adormecida.
110
94
Serena vomita as trompas. Sepulta
os tímpanos. Sela a boca Respira
um inferno vivo de olhos abertos
por dias vermelhos. Dilatadas pupi-
las de uma vida. Sem dúvidas! Ópio
das respostas prontas. Sobressaltos
de discursos. Verdades relativas.
Rebuscadas pilastras. Cerco imutá-
vel. Cores em linhas. Um certo as-
segurado e um errado afastado em
discurso. Coloridas linhas. Traços.
Sabores. Ritmos. Amores. Coluna
de concreto. Vida amedrontada in-
clina e não torce; fissura e não
quebra. Retém em mar aberto a
tangente da composição de um.
Três. Dois. Um. Desenho abstrato.
Alternar rítmico. Um ato. Olhos fe-
chados. Fechar e abrir os olhos. A-
cordada.
111
95
Outro instante de silêncio. Um vácuo. Suga toda a vi-
da. Transborda um momento. Um olhar que tranca.
Pára. Um foco que pressiona a cena ao limite da lou-
cura. Loucura que separa um ato do absurdo. Uma
piscadela. Um esfregar das mãos. Um estampido em
contraponto. Ritmo. Pernas descarrilam e dobram por
sobre os joelhos. Projetam o corpo à frente. Rostos en-
trechocam. Um beijo. Estilhaços. Livre e selvagem.
Resvala em visco úmido. Beijo em prosa.
Apagar todas as luzes e alçar ao lado um tempo-
espaço de um ineditismo que ultrapasse qualquer limi-
te de um imaginável. Nesse corte abissal tudo se dis-
solve em acanhadas imagens. Entre o claro e o escuro
a vida pisca, pulsa e envolve. Imagens que levam no
seu rastro um beijo e pelas marcas esquartejam o cé-
rebro do inteligível. Sensação toma o leme. Desprovida
da finalidade de ir a lugar algum atropela o que se fizer
postar a sua frente. Faz-se passar. Resta como resul-
tante pura um fluxo incontido. Resultante desprovida
de modos e de conteúdos. Desertora dos espaços e
amante do tempo vivo. Sem amarras. Sem passado.
Incauto que nasce bastardo e pela simpatia desdém da
coroa.
Tudo que emerge mais caro não cabe na gramática que
aprisiona os verbos mais liquefeitos. A palavra nem de
longe acerca os sentidos e avizinha as sensações que
112
fazem de algum modo um ser. Um tanto. Tão reles
espaço. Um quê de não-tempo que nunca foi. Cala!
Retira-se de cena. Aconchega-se na folha branca de
capa densa. Entre todas as outras palavras de sua
espécie. Dorme! Na verdade hiberna na espera de ser
despertada por um ser militante de algum ideal que
lhe torne novamente audível. Pronunciável. Assimilável
ao ponto de poder vestir-se de festa e desfilar como
verdade.
Agora, não! Um beijo. Uma noite que se abre. Um a-
braço. Um dia que não existe. Línguas. Mais existe
nada. Mãos. Agora apenas noite! Pescoço. Encontro
das partes que enxota. Orelhas. Agora se faz parte. Um
todo. quido. Composição das partes. Carne. Estrela
brilhante no céu da noite enluarada de um verão apai-
xonado!
113
96
Um rosto tem mais rugas
que as ruas que desfa-
zem e refazem as curvas.
De volta pra praça onde
em preces suplica que a
morte lhe abrace. Um
beijo. Uma última vez!
114
97
Não se quer mais os ruídos do mundo. Vão pra
bem longe! Mariposas desbotadas revoando a es-
preitar os dias! Silêncio. Projeta-se uma boca sem
gramática. Órfãs palavras destituídas de língua e
de voz. Solidão. Segredo surdo de não mais care-
cer escutar. Boca pra beijar sem palavras as cas-
catas de lânguidos sussurros. Derramar sem a-
marras um incauto de viver nu a céu aberto.
Desligar a televisão. Apagar as luzes. Trancar as
janelas. Todas as portas. Assentar o corpo além.
Lacrar tudo e atirar as chaves fora. Pisar sem lu-
gar. Uma quadra afasta o ontem. Do mês passa-
do uma que o se um fim. Poucos minutos
restam. Mãos se enrolam. Modelam a face parti-
da no espelho. Mil pedaços. Espalhados no quin-
tal de tanto cansaço recheiam um espaço. Não
muda o rosto. Caem as máscaras. Essas tornam
a se instalar! No carro pernas estendem. Acelera-
dor e freio. Tempo alternado. Espaço alterado.
Pisca-pisca para um lado. Pisca-pisca para outro.
Curvas dentro de curvas em linha reta. Tortos
desvios levam de volta. Ponto do qual sequer se
partiu.
115
98
Não esperava. Invenção do acaso. Inevitabilidade pre-
sente. De um que sempre acontece. Oferece um de sua
compleição. Ar fazia acolher. Uma leve brisa. Tocava
rosto. O corpo. Afagava. Algum vestígio de vida. Pre-
sente. Um em última promessa. Um fio. Corda desdo-
brada. Das profundezas emergia. Desconforto. Depres-
são. Desespero. Forças que desde há tanto rondavam
a alma. Medo. Forças que desfiguravam o corpo.
Aventurava um olhar. Esquadrinhava no quarto. Uma
figura. Rastreava todos os centímetros quadrados. Á-
rea de clausura! Ânsia. Veleidade. Vômito. Ansiedade.
Fundar com um anjo branco! Salvar-se! Necessidade.
Nada podia. Torturados sentidos. Olhar. Sonoras on-
das. Cessado silêncio. Longínquo além. Retornava.
Salve! Certa medida de paz. Desespero. Fé de um mo-
mento único. Um Caminho. Uma verdade. Uma vida.
Amém!
Palavras inaudíveis. Balbuciava. Pretendia uma prece.
Apertava a visão na direção de um infinito interior.
Outra forma. Abria Mais adiante. Movimento de conju-
gação do divino. Deveria emanar das preces! Um novo
olhar. Jogava-se. Surpresa! Fora pego pela figura.
Sombra. Sobrevoava o quarto. Forma. Contraste. Cla-
ridade. Dia ensolarado. Lado de fora. Um esbarrão do
olhar. Inerte. As coisas lhe haviam colocado em surto.
Ainda degustava. Efeitos. Encontros. Sintomas.
116
99
esculpidas palavras escor-
rem pelos dedos, matéria
informe, barro úmido, pe-
daços esparsos, perdidos
no peso imposto no corpo,
garras de uma queda, ine-
vitável textura que mãos de
olhos fechados desviam,
brilhos que estilhaçam
chispas sem sentido, peda-
ços dissecados na composi-
ção de um isso sem molde
ao longe, sem rosto, olhar
perdido sorriso de costas,
aplaude
117
100
Não sei por que mudam tanto os nomes das coisas! Só
pra complicar! Minha vida não muda. Ela passa. Esse
tempo também passou!
Sou feliz. Juro! Tenho momentos de tristeza. Quem
não tem? Não se pode ser feliz todo tempo. Tem-se que
depositar esperança no futuro! A fé remove monta-
nhas!
Mentira!
Minto. Desabusadamente! O mundo mente. Sempre. O
tempo todo. Se falasse o que penso! O que sinto! Seria
a mais pura heresia!
Loucura!
Devo me controlar. Encarar a vida como ela é. Carre-
gar minha cruz. Desfrutar o que a vida oferece. Viver é
uma dádiva! Estou cansada dessas baboseiras. Não sei
mais o que faço! Cada pensamento rouba outro peda-
ço. Definho a cada pensamento que passa.
Os muros ficam cada vez mais altos. Tentei dar a vol-
ta. Porta fechada! Arrisquei um lado. Direito. Outro.
Esquerdo. Depois. Portas fechadas! Espero uma fresta.
Espreito. Quem sabe um dia! Uma noite.
118
101
No altar voa a voz mais sagrada! Ouvidos
sangrados de sublimação. Escutam a boca
que engole. Digerem espinhos em fragrân-
cias de flor! Demônio da vida. Cheiro de a-
mor. Receio. Sacode o rabo. Pisca. Verte em
água sólida o viscoso que escorre todos os
dias! Tomem cuidado! Profere. Cada vez
mais volúvel enrijece as pernas. Os quadris.
Veste de vez o ardil em desprovido pensar.
Induz aos contornos do céu donde cobiça-
ram fosse o lugar!
Não sabem bem o que escutam, mal o que
dizem não sentem. Cientes de palavra se-
quer, menos se soubessem mais adiantaria
de nada! Não pára! Sem nome. Troca de la-
do. Dias se escondem das noites.
Trêmulo no gelo destila. Superfície transpa-
rente em lago álgido. Refresca a dor. Oferta
uma cruz. Dedos mastigados em um minuto
próximo. Gagueja um mundo pra em um go-
le esquecer. Desce garganta abaixo!
Resto de água sobra. Agridoce tempero en-
torpece uma língua. Sabor alheio! Engole
um cão que destroça em derramar um gosto.
Esconde de onde, esconde o cheiro, o gosto e
o lugar.
119
102
Fecha os olhos, trava
a língua, arrolha
os ouvidos, fecha
a língua, os ouvidos
trava, os olhos
arrolha, trava
arrolha fecha, os ouvidos
os olhos, trava
passará paixão, passos
passam passos, passadas
passarão!
120
103
Passa um ônibus. Pra onde o diz. Enigma
revolve um que não tem querer. Vai. Sem
pensar embarca. Não mais voltar. Nem um
adeus! Até logo! Olhos abertos. Um sorriso
nem se sabe de onde. Canção de fugir! Deixa
nada pra trás.
Ai de quem morreu de olhos abertos na es-
quina onde os filhos atravessaram o marido
e onde a mulher atravessou o olhar! Vento
de um suspiro. Dor desbotada. Foi. Despo-
jada. Esqueceu! Que o disse. Ouviu que.
Desfiou! Língua solta. Apodreceu tempo.
Tempo atrás.
Não se sabe o se que é. Vai-se. Pra onde! Se
de onde não veio sabe! Composição disso.
Isso sem contorno. Entre. Entorno. Alegra.
Erva. Margem. Retorno. Partes.
Isso foge! Isso faz fugir!
121
104
Crianças esperam no colégio. Crianças esperam! Um
marido em casa. Um patrão no trabalho. No trabalho
um marido não espera um patrão em casa. Toca um
zumbido! Refúgio dos confins de um medo. Destila aos
poucos. Delicado e atrevido lambe os beos e arregala
os olhos. Urra que volte! Não se quer ir! Não se pode.
Mais. Menos. Já não há tempo.
Pára! Sem parar continua. Bate a porta. Três passos.
Fecha os olhos. Tira os sapatos. Pára. Para poder con-
tinua! Pressão cozinha fronte. Óleo coruscante dilata.
Instante! Pinga suor. Descalços pés borbulham. Calça-
da fora. Essa insinua. Esses também.
Na cozinha muda nada. Hora. Está na hora! Crianças!
Rua atravessa o tempo. Atravessa a rua. Olha de lado.
Cega. Tateia um parapeito no inferno. Doem as costas.
Peito. Cabeça gira. Última parada?
Dissolve na rua entre duas calçadas! Um olhar. Passa.
Tudo passa! Uma vida deseja viver essa vida. Não ou-
tra! Agora! Um máximo que o eu não possa! Um algo!
Dentro ferve carne falecida! Faz crítica de nascença.
Intenta esquecer. Imagens. Febre chispante. Sobrevo-
am rasantes idéias. Pensamentos. Norte. Sul. Por aqui
volta pra casa. Um dia mais próximo que ontem. Afago
da morte! Um dia mais morto. Um século mais distan-
te. Mais distante que ontem!
122
105
venta, vento não,
vento não vem,
via, vento não se
vê, vem vindo, asso
via, não venta, in
venta vento uma
via, vento vem vindo
ver-se, vem o vento sem
ver-se, vem o verso, vindo,
reverso, verso, contínuo único
do universo, vem o verso no
vento, verso indo, vento zindo
,vento no verso zunindo, vento
venta, vento sim, venta na via
no verso, ventania indo venta
no verso, venta ventania zunindo,
123
106
Tem um viver que se dramatiza na falta! Pensa. Re-
pensa. Diz coisas. Não diz o que quer. Não diz o que
sente. Muito menos faz! Acompanha o fechar e o abrir
dos lábios. No espelho pronuncia as palavras que já
não cabem. Faz do reflexo um personagem. Divaga em
tardes solitárias. Longas pernas cruzadas. Sensação
de cada manhã! Demasiado corpo quente. Ressente de
um corpo. Vida comportada. Vestes longas em tardes
frias. Dias.
Noite cala! Faz preces à espera. Sem noção do que
passa fabula delírios. Pernas em relação aberta. Aque-
cem a superfície fria. Encobrem passantes. Um rosto.
Esse sorri esconder-se. Nuca retorce. Uma volta. Duas.
Três. sossega ao distender suas fibras. Reclina a
cabeça ao colo que lhe torna a casa.
Gira a sala. Permanece estática. Absorta. Pequenos
movimentos de duração infinita. Pernas esticam cru-
zadas. Pés. Unhas vermelhas cintilantes. Conectar as
partes. Palma do cria linhas que espalham. Língua
solta absorvida em presa nua. Escorrega quente em
suor frio.
124
107
Mundo surge. Dedos cruzados. Dedos re-
pletos de bocas multiplicadas. Línguas de
esmalte vermelho. Revolvem a descer mon-
tanha acima e afundar na garganta devas-
sa. Enlaçam-se quadros mal focados. Ao
lado correm. Por entre tons descompassa-
dos. Respiração na percussão de um agu-
do. Desnudar de um anseio incontido. So-
lidão cotidiana travestida de pecado. Sorri-
so vestido em olhos cerrados.
Tapete florido dobrado em verso. Covil de
saliências. Reentrâncias. Delicadas flores
em uivos de contentamento. Encantos
mundanos. Ressurreão dos mortos peca-
dos. Gargalhadas. Firmamento aberto. Á-
gua. Terra. Sal. Vida que passa rente aos
ossos. Sorriso delituoso. Êxtase de um o-
cioso ato.
125
108
A palavra se apresentou a ele crucificada.
Coberta da necessidade de ser dada em
uma ordem sensata. Sem um sumo de pe-
cado. Na mão direita uma caneta-prego.
Essa lhe adentrou a mão Esquerda, rom-
peu a pele. Santo prego. Bem e mal. Uma
garantia. Necessidade de um ser bom! Di-
vidiu o mundo ao meio. Conduziu.
Uma lembrança dos tempos de escola ante
aos olhos. Contada a esmo pro filho. Uma
mais real passagem. Ainda uma lembran-
ça. Pobre pai! Politicamente apropriado
pela intervenção da mão professor. Alma
santificada pelo poder do profeta da no-
ção. Descortinava o caminho da verdade e
da vida. Lembrança. Discursa nas ondas
de uma repulsa!
126
109
Se dez anos compusessem um século seriam
muitos os que nasceriam adultos e poucos
os que viveriam um dia. Se a esquina fosse a
linha reta compreendida entre dois pontos já
não mais se poderia dobrar aquela que reve-
la o novo diante de olhos cansados com a vi-
são de um horizonte distante. Nada menos
exato que a metade entre duas partes! De
um lado e de outro algo deixou de ser onde
passou um dia.
Medida das coisas. Procura. Normas e pro-
cedimentos. Fabrica-se. Escalas. Caminhos
de farelos de pão. Vielas soltas ao largo da
estrada. Adereços. Fantasias. Somem ao
primeiro sopro de vento. Somem pelo abrir
de uma boca voraz. Massa informe a alimen-
tar um corpo. Corpo tem fome. Um corpo.
Inefavelmente faminto. Corpo.
127
110
Sofrimento legado de muito tempo. Estabelece como
impossibilidade fechar os olhos e abraçar o sono. Pés.
Fogem. Alheios aos desejos que atormentam os olhos.
Desconhecem que dentre as necessidades básicas con-
figuradas àquele corpo foi retirada a possibilidade de
adormecer. Cansados da claridade permanente alter-
nando as horas entre o sol e a lua. Os olhos emendam
a noite e o dia. não diferenciam a coruja e o rouxi-
nol na linha reta segmentada de precisas vinte e qua-
tro horas a cada martírio.
Os olhos desconfiam dos pés que andam embalados
pelo vento da aproximação desejante. Uma montanha
se interpõe. Obsta inalar o perfume de um viver dife-
rente. Faz emergir um espectro que abriga a ausência
da possibilidade de um descanso da racionalidade
humana. Determina à sublimação as realidades cria-
das pelo antagonismo do desconhecimento mútuo. Os
olhos e os pés fluem em uma intensiva variação na
composição da unicidade de um mesmo ato. Suas li-
nhas não se atravessam a não ser pelo ruído dos pas-
sos em fuga. Duas realidades e uma mesma composi-
ção.
128
111
Contava de um a dez. Vivia! Cantava preces ao mila-
gre. Um anjo viera. Vislumbrava. Reflexo de um sol
projetado. Um socorro! Semblante distorcido. Uma
mão. Horrendo demônio. Besta maldita. Viera. De vez
as sombras. Levar. Ainda vivia. Ele viera. De vez levar
seu corpo ao caminho das sombras. Prodígio maior!
Anjo corpo-mãe corporificado na figura materna. O
Controle lhe fugia. Engolia o assombro a seco em um
latejo cardíaco da proclamação de um infarto.
Éden. Jardim prometido no próximo passo. Caminho
de um lugar divino! Pensava. Súbito. Explode diante
do peito um som brusco. Tímpano excitado por um
grito estridente. Golpe uno. Perdera! Encontrara! Sen-
tada à beira da cama sua e! Terra firme. Presente
em carne e osso. Ordenava que levantasse naquele
exato momento. Estava mais que hora.
Minutos. Hora. Escola. Dever. Na hora. Vinte minutos.
Não outra forma. Não! Relegar que a vida começara a
tomar curso novamente. Inevitável imagem. Peso. Gra-
vidade. Força potente a curso. Dirimia o transe. Reali-
dade. Quase se havia aniquilado. Confusão permane-
cia efervescente. Há tanto o acompanhava, mas nunca
a provara assim tão real e prolongada. Um espasmo.
Nunca tão assim intenso. Nunca tão longo e tão inten-
so e tão real assim.
129
112
De um ele pouco podia dizer. Quase na-
da. Escrevia o tempo inteiro, dormindo e
acordado. Acontece que não derramava
sempre tinta sobre os pensamentos e o
que restava era nada mais do que peque-
nos borrões de lembrança a tornarem-se
mais ausentes a cada passo. Um tanto
que tomavam asas e sumiam sem adeus.
Por vezes um beijo da noite. Esse aprovei-
ta a retirada do dia em suas vestes de
claridade. Trombam batalhões de demô-
nios chegados de todos os cantos! Uma
vida como ela é. Essa deixa de ser. Resva-
la por labirintos sem silhueta. Sem en-
trada e vidraças. Sem passagem de volta.
Sem mágicas alumiadas. Experimenta
outra visão.
130
113
Entre o salto e o solavanco um grande vácuo
derrama sua bílis! Grita ao tomar a boca seca.
Chora múltiplas amarguras calada. Muita a-
gonia carregar a carne podre que esconde os
ossos! O que lhe deixa mais inebriado sobres-
salta em um silêncio Não necessidade de mo-
vimento qualquer. Pirueta do ar que invade o
corpo e foge sem deixar pegada. Pena que se
possa desfrutar pouco desses encontros ór-
fãos! Longe dos outros. Ignorantes de um eu!
Tenta. Não acontece pelo desejo! Tenta tanto
que a fronte denuncia e latejante bombeia o
sangue em uma torrente perdida de pontos
brilhantes em uma longa colcha escura. Espa-
ço preenchido. Poderia esquecer-se do tempo!
Não ter lugar! Esconder o corpo no armário
dos fundos! Esquecer de vez do que não sabe.
Do que sabe. Seguir. Passar. Fugir. Viver.
131
114
Tem um aqui que fica toda tarde de mãos es-
tendidas voltado pro rio. Todas as tardes
sempre em um minuto exato. Em outros dias
que não sejam naquele imediato e em certo
momento, não lembro de ter escutado essa
voz. Um som sequer. Um mínimo gemido.
Todas as tardes sempre em um minuto exa-
to. Fala! Fala! Fala! Quando o sol deita na
margem do rio e revela sua face enrubescida
pela presença da lua escondida a distância.
Quando os pássaros assumem os ramos das
árvores em compasso de espera pela noite
que chega. Quando as mariposas revoam
sem direção ou caminho. Quando os mais
diversos sons dispersam-se arrastados pelo
vento. Esse de pernas finas e costas pouco
largas. Esse ergue sua voz. Palavras talhadas
em prata e ouro. Fala! Fala! Fala em deus.
Com deus. Em ser. Em ser deus.
132
115
Doce criação. Eterna partida. Chegada
de todos os tempos. Burgo sem plágio e
abrigo. Corre no espaço infinito. Senta-
da. Pára e espera. Calada no canto.
Caminho desce a calçada. Definha. Rola
na sarjeta barrenta. Pula acordada. Não
espera um destino. Ignora o torpor do
seu beijo. Ignora o furor que leva consi-
go. Margem adversa ao leito da história
nomeada abominável despedida. Parti-
lha da febre suada. Lágrimas lambidas
pingam ao chão. Serena no buraco da
vida. Esquecida. Descalça no sol da ter-
ra. Noite de chuva. Aguda. Rasga o
cheiro doce da lua. Sem meias palavras.
Sem visão investida. Solitária aguarda.
Impercebida.
133
116
Tem tempo que não ouve! Pra baixo. Pra cima.
Mesmas teias. Mesmo canto. Forma e textura.
Mesmas. Compostura e paladar. Pessoas! Coi-
sas! Angústias mesmas. Cansou de ouvir o
tempo praguejar da vida! Fica sentado em um
que circula ao redor. Língua remói o sono que
foge. Fio de neblina. Primeiro. Tosse cuspida.
Dor diluída. Fosca de querer pensar. Páginas
em branco. Uma palavra seria a ruína! Diz tan-
to que repete a morte! Boca aberta agarra a
língua. Ouvidos indesejáveis! Deseja que lhe
retirem os tímpanos. Essas asas atrofiadas que
nunca imaginaram poder voar! No fundo que-
ria poder escutar!
Não quer mais as imagens do mundo. Quer o
vazio de uma solidão. Órfã de língua e de voz!
Solidão de um tempo estendido. Lugar sem lu-
gar. Língua sem boca. Divina deusa louca dei-
tada de pernas abertas na escada do altar! Não
tem interruptor na sala que o dia ilumina e a
noite contamina em suspiros de luar! Não tem
trancas. Não tem portas. Nem calendário do
ano. Mudaram-se todos!
134
117
O ponto é que não sou. Não se
trata de ser. Queria dizer uma
palavra pra acabar com isso.
Esse isso não deixa. Passa!
Se um dia receberes essas li-
nhas talvez não me possas mais
falar. Não te ressintas com isso,
também eu não consigo. Leres o
que escrevo me basta. Basta o
que escrevo!
135
118
Roam os dedos. Cuspam as tripas. Trans-
pirem o sangue sem sono da cratera farta
de hélio. Balão febril por sobre ombros vas-
tos de tão largo. Descarrilem a fuligem e o
cinza de abril. Outubro vermelho. Dezem-
bro vinte e cinco. Dancem as bruxas em
puro branco celeste sutil. Rasguem as rou-
pas. Finquem as asas. Anjos devassos de
um outono sem passos. Passem os santos.
Os doces pecados. Cuspam na páscoa. In-
sensata cantiga de roda. Historinha de can-
tos de fadas. Lingeries ofuscantes. Sete oi-
tavos. Um terço. Uivos de feras devassas.
Pernas roliças. Doces semblantes. Seios ro-
sados. Corpos suados. Juízos apodrecidos.
Sorrisos lisos. Delírios. Desejos oitantes.
Prazeres sem senso. Suspensos no tempo.
Sem pai. e e sobrinho. Esquece da hora.
Esgota o possível. Sem volta retorna nas
cordas do grito. Sem rota arrota um inex-
primível suspiro.
136
119
Se os olhos demandassem um dizer di-
riam diante de toda claridade de seu
olhar que todo esse alvoroço revela a
agonia de uma vida privada em des-
cansar. Sina de não poder sonhar. Por
efeito entristecer e definhar rondando
noite e dia sobre a clausura de pés. Es-
ses fazem emoldurar a dor de não
poder deitar. Os pés diriam palavra se-
quer e de imediato se colocariam em
fuga. Irromperia o espaço ínfimo e se
arriscariam no ilimitado de um desco-
nhecido. Um raio de intensidade poten-
te a correr sem direção prévia. Sensível
ao calor e ao tecido. Novas cores a des-
carrilar frente aos olhos. Outras for-
mas. Outros sons e outros odores.
137
120
assim outubro no mar de maio
montanhas em julho
abril em setembro nas montanhas do mar
dezembro de outubro
meio de maio do mês
de um janeiro de meio
ao fim de setembro de março
março de um dia sem fim
sexta-feira de junho
primeiro ou segundo
trinta quem sabe
um outro dia agosto assim
138
121
um
zigue
um
zague
lado
direito
esquerdo
passa
centro
corre
acima
abaixo
ricocheteia
ricocheteia
ricocheteia
quatro
cantos
um
dois
três
quatro
cantos
sem círculos
redondo
um foi.
foi.
139
122
Cabeça inclinada.
Joelhos dobrados.
Escuto.
Digo nada.
140
123
Essa de todo dia, de toda noite. Passa. Vezes sem ser
vista. Vida! Uma sem nomes. Sem futuro! Sem lem-
brança! Alturas. Experiências inesquecíveis. Outras?
Nada além da margem serena de um rio. Ondas? Ou-
tras? Outras ondas revolvendo o papel branco. Nem
tão branco! Esse monstro nem tão branco. Engole as
palavras que não se escrevem! Antagônicas e seme-
lhantes, linhas se cruzam, retorcidas compõem ema-
ranhados, derramam entranhas ao largo. Distantes tão
próximas! Pernas cruzadas, dedos cansados, boca res-
sequida. Olhos vermelhos. Marejados olhos de estra-
nheza e, ainda nem se saiu! Nem bem se sabe aonde
se vai! Como se pode voltar? Como se faz para sair?
Um corte! Incisivo. Vertical e afiado. Romper os laços.
De um lado ao outro! Outra vez de outro lado. Mais
um, outro e mais. Um bisturi? Seria pouco! Talvez,
uma guilhotina. Uma que sulque logo abaixo do queixo
até a nuca! Que faça rolar fora! Um piano toca uma
última nota! E nada mais!Linha de sangue. Ramifica-
ção em mil tentáculos. Procurar um ponto. Ponto? Não
tem ponto! Está extinto! Extinguiu-se! Não existe pa-
rada! Linhas! E mais linhas! Linhas que escapam. Li-
nhas que voltam. Estrada à beira da estrada! Geogra-
fia intensiva. Um piano toca. Toca uma última. Nada
mais!
141
124
Saíram todos!
Ficaram somente as paredes.
Olhos abertos.
Visão contínua.
Um negro vazio tão cheio!
142
125
O pai. Esse da terra. Que tem sono. Que tem fome.
Que tem filhos. Passa pelo filtro. Também. Parte fica.
Parte prevalece. Encaminhado a fazer parte desse to-
do. Todos batizam mundo. Mesmo sem saber se passa.
O tempo persiste. Mesmo sem perceber o que prati-
cam. O que dizem. Herança humana. Determina os
passos. Compreende os espaços. Modula. Amortiza a
velocidade. Vida em quadros concretos. Visíveis. Está-
veis. Obriga a semelhança pela verdade dita do pai de
todos. Promulga a necessidade. Revela. Cobra a condi-
ção de ser. Ser como o pai. Ter como o pai. Ter-se! Re-
cusar o demônio. Terço! Esquivar das garras afiadas
da escuridão. Fugir do incógnito. Do ilícito. Adulterar?
Não. Cultuar os anjos. Deve. Rezar a cada noite. Deve.
Cada refeição. Penhorar sempre os convites da vida.
Deve. Viver de cabeça ao centro. Nunca abaixo em di-
reção ao abismo do inferno. Deve. Sempre acima. Ve-
nerar o ser superior ao qual deve a vida. Deve! Deve!
Deve!
O pai da terra passa a existir. Esse! Sem direito de
escolha recebe uma designação. Isso! Ganha uma fa-
mília. Cresce. Civilizado! Trabalha. Domicílio. Consti-
tui raiz. Filhos. Casal de preferência. Isso. Espelha
imagem do pai. Da mãe. Obrigação dada a priori. Es-
colha? Perpetuar a casta. Prosseguir na obra divina.
Sustentar a vida viva. Sentença! Essa. Cultivar o re-
banho em seu caminho. Onde? Pai não sabe. Muitas
143
vezes não sabe. Disfarça saber. Por ser. Por ser pai!
Um pai deve! Deve ser resignado. Deve ser cordato.
Deve ser afetuoso. Deve ser responsável.
Um pai deve ser! Deve o ser! Deve ao ser! Deve! Ser pai
é estar em débito! Ser é estar em bito antes. Dívida
com o que se espera que ele deva ser. O pai da terra
devedor do pai do céu. Filho do pai. O pai do filho da
terra também pai. Ele perpetra no filho um ser devedor
também. Assim o tempo espera. Essa vida segue. As-
sim deve o ser. Assim deve ser. Ser que deve ao ser!
Deve permanecer devendo! Assim disse o pai! Assim
sempre foi e será! Será? Memória gravada em prata e
ouro. Caleidoscópio de opiniões.
144
126
Outro movimento. Experimenta
desfiar a memória solidificada.
Quando lembra cria vida. Projeta
em muro branco. Enlaça qua-
dros perdidos. Produz continui-
dade. Pontos negros. Extrai gos-
to. Cheiro. Cor. Um borrão de
lembrança. Produz. Máquina de
deformar o passado. Não refaz.
Cada quadro pintado. Presente!
Vivo! Deformado. Faz viver. Não
recupera. Reverbera. Extrai. Cria
um momento. Sem fim esperado.
Sem enredo. Evapora.
145
127
Os olhos insistem em antecipar o
perigo e nomear as impossibili-
dades que a língua grita em pa-
vor extremo. Sustentam as ré-
deas e delimitam o espaço do
possível. Os pés espreitam um
piscar dos olhos. Uma brecha de
poder pisar fora dos trilhos e
com o sol às costas e a lua como
estrela correrem mundo afora a
experimentar o gosto de um viver
que não separe o dia e a noite.
Misturar forças. Furar os olhos.
Criar um novo olhar.
146
128
Anilada noite clara, louca nave, en-
canto calmo, Insana névoa, alva rou-
ca.
Sete salmos, neve clara, nódoa incau-
ta, insano texto.
Decano pretexto perdido. Enceto sexto
sábado. Retirantes retas roubadas,
templo quadrilátero tracejado, que-
bradas ranhuras, rasuras, rastilhos.
Linda louca noite, tresloucada, admi-
rada permanece inerte, repousa en-
torno, passa.
Riscos, ruínas, rabiscos, retirantes
roubadas, sete salmos, neve escura,
noite. Rua noturna, louca neve em
canto calvo, incauto insano pasto, in-
sólito quadrado quebrado.
Sexto sábado setembro, traços, risos,
reticências, linda leve linha louca.
Tracejados.
147
129
Parcas palavras, rasuradas
pobres e perdidas, procuram
passagem entre. Apressados
fecham a porta, passam
a chave, atravessam
a tranca. Pela janela
caem, queda livre
uma oitava, abaixo
um suspiro. Salivadas
sílabas silvas, procuram
passagem entre, parcas
palavras.
148
130
Tem um zumbido crônico no ouvido es-
querdo. Agudo e contínuo vibra o tempo
inteiro. Quando fala piora um pouco.
Uma percussão ao fluir de palavras en-
trecortadas. Na verdade não escuta tudo
que diz. Escuta pouco. Muito pouco! Es-
cuta aos pedaços. Incompletos junto às
coisas como pode. Pura loucura faz sen-
tido. Provoca algum mal entendido. Tam-
bém evita que escute tudo. Tem mais
graça assim. Sente. Pode fazer o que quer
com isso. Ninguém fica bravo. sabem
como funciona. Abusa. Brinca. Faz piada
com isso. Vive deslizando nas linhas de
um silêncio intercalado. Ruídos de pala-
vras que não incomodam tanto. Pelo
que entende, parece que fala assim tam-
bém, mas, isso não tem como afirmar.
Diz pelo que dizem. Pelo que consegue
escutar do que dizem.
149
131
Tem tentado escrever. Por vezes as palavras parecem
mais próximas. Correm de um lado pro outro. Fogem.
Retornam. Sente que brincam. Sorriem. Por outras
essas se escondem. Carrancudas. Pesadas. Choram
em rostos quadrados.
Também tem dessas. Bate na parede do fundo. Rebate
na da frente. Tenta a todo quebrar esses cantos.
Palavras giram no mesmo lugar. Essas parecem imitar
a sina. Batem umas nas outras. Abraçam-se. Empur-
ram-se. Arrancam os pedaços umas nas outras. Can-
sadas recuam. Selvagens avançam. Escuta-se um so-
noro que ecoam. Cheiro de linhas queimadas. Conju-
gam um particípio pesado. Conectam um futuro in-
tempestivo. Um presente infinitivo intensivo.
Mesmo caladas escuta-se um sussurro. Os gritos. Ca-
da uma tem uma voz. Cada qual um tom em acorde.
Partitura de vozes em tinta escorrida. Não se domina
essa língua! Tenta-se traduzir as imagens que pintam.
Não se consegue um bastante. Um traço. Um rabisco.
Acontece! E se foram. Fugiram!
Essas palavras têm cores. Vermelhas brilhantes. Ver-
des opacas. Enredam-se, entrelaçam-se, compõem-se
em retas mais longas e círculos cada vez mais redon-
dos.
150
Uma tese? Por entre essas linhas? Por entre essas pa-
lavras que fazem linhas? Por entre essas que passam?
Passa uma educação? Isso não pára! Sólido viscoso.
Líquido gasoso.
Vozes sem som se fazem escritas e fogem da fala a
margem da tinta. Colam nos pilares erguidos. Assu-
mem a cor que lhes cabe. Escorrem em pingos. Res-
pingam nos cantos. Mancham a parede vazia. Enxova-
lham uma magna escritura prescrita. Mesmo tempo.
Sempre um mesmo passo! Nem bem uma. Outra. Não
bem outra. Uma. Palavras-máquina. Acontecem! E se
foram. Fugiram!
Desorganizadas dessem o mastro e escorrem em zi-
guezague de um lado ao outro, paredes espelhadas,
inclinados telhados, tijolo a tijolo compõem suas mar-
cas. Racham por onde. Colam as vidraças. Passam.
Correm onde não grudam. Grudam onde não correm.
Não morrem. Deliram entre vozes. Brancas na negri-
tude da noite. Negras na claridade do dia. Negritude e
claridade. Brancas e negras. Meia-noite. Meio-dia. E se
foram. Fugiram!
151
132
Pingos de chuva. Prédios. Cal-
çadas. Respingos. Pedaços de
vida e de morte. Mais dia bem
noite quem sabe. Mais noite
bem diga um sorriso. Olhos
nos mares de maio. Terra no
deserto de um grito.
152
133
Prédios, calçadas, embaçadas vidraças, fuligem
solta misturada no ar. Cheiro de combustível
dos carros passantes. Som das buzinas, frena-
gens, rumores. Um viandante maltrapilho esbra-
veja delírios. Velha senhora em passos duros
juntando as pernas em sobre passo no sinal do
cruzamento. Sirene da escola e da polícia, a am-
bulância e o caminhão de lixo, a médica ao celu-
lar e o camelô e alguns importados, o bêbado às
quatro da tarde, a transeunte de cabelos com-
pridos e bíblia embaixo do braço, o motorista de
táxi, o jovem de gravata, a moça de saia curta, o
ponto do ônibus brotando filas por todos os la-
dos, o silêncio do guarda com apito na boca, a
estação rodoviária indo e vindo de ônibus sem
saber pra onde, o elevador que subiu, o celular
que toca, a menina de mão dadas com a mãe
que também é sogra parada em frente à vitrine,
o pintor no andaime do topo do mundo, um avi-
ão cruzando o céu de outubro, um pardal no fio
telefônico entre outros mil revoando a volta do
calçamento, o tormento do pai que o salário
foi, do hilário tombo do boy, os papéis espalha-
dos na sarjeta, no chão a criança que chora no
shopping, a criança que ri com o tostão, o res-
taurante lotado, a assembléia em louvor de deus
e dos homens, aleluia!
153
134
Aqui tem muitas coisas estranhas. Di-
go, por que me surpreendo com que ve-
jo. Com o que ouço. Alguns andam da
direita para esquerda sem parar. Ou-
tros cruzam esse caminho da esquerda
para direita. Por vezes se chocam. Ca-
em. Levantam. Seguem. Não param!
Sem falar em outros que sobem pelas
paredes. Quer dizer, tentam. Caem
também. Levantam. Sobem outra vez!
Uma loucura isso! Tem um que fica
sempre em um canto. Olhos parados.
Mãos trêmulas. Um pé. Direito. Faz
marcação de um ritmo. Por sobre um
esquerdo. Não fala o dia inteiro. Exatas
cinco horas. Diz sempre um mesmo tex-
to. Voz baixa. Olhos arregalados. Mão
direita amassando a esquerda. Esquer-
da apertando a direita. Um sopro. Vê-se
o calor da saliva quente espirrando em
palavras. Fechem os olhos! Fechem a
boca! Tampem os ouvidos! Apertem o
nariz! Assim! Continuem assim! Mais
um pouco! Podem um pouco mais! Voz
baixa. Tom contínuo. Mesmo tom. For-
te. Certeiro. Rasga o ar. Mais ainda! Es-
queçam o ar! Não digam! Boca fechada!
Olhos fechados! Espremidos! Contraí-
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dos! Sem branco! Esqueçam! Esque-
çam! Branco! Sem preto! Sem pranto!
Esqueçam! Sem pensamento! Desli-
guem! Tentem! Outra vez! Continuem!
Tentem! Mais um pouco! Mais! Mais!
Um pouco mais! Sem cor! Sem preto!
Sem branco! Limite! Não! Ainda não!
Não! Ainda não limite! Um pouco mais!
Um pouco mais! Mais! Estiquem! Isso!
Estiquem isso! Mais um instante. Um
instante mais. Em pé! Fiquem em pé!
Não inclinem! Não caiam! Estiquem!
Um pouco mais! Não dobrem os joelhos!
Não dobrem! Sustem isso! Sustentem o
corpo! Um pouco mais! Sustentem!
Mais! Não! Não! Não! Não caiam! Olá!
Estão aí? Olá! Ouvem? Podem ouvir?
Ver? Olá! Digam algo! Levantem! Algum
cheiro? Podem sentir? Respirem! Respi-
rem! Outra vez! Falhou outra vez! Sem-
pre falha! Sempre no retorno! Sempre
falha no retorno! Se pudessem! Se pu-
dessem retornar! Se retornassem! Uma.
Apenas uma. teria essa. Somente
essa. Somente essa uma. Uma única.
Pergunta única. Anda. Passo por passo.
Direção do quarto. Fecha a porta. Deita.
Dorme.
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Língua sustenta uma voz. Voz de um estado. Maior.
Investido de verdade. Grávido de normas e procedi-
mentos. Normas que organizam o espaço. Procedimen-
tos que cercam as fronteiras e mantém seguros os ca-
minhos que garantem uma chegada. Uma língua mai-
or. Língua rege o movimento do vento. Organiza os
teoremas e a moralidade. Desenvolve o conhecimento.
A inteligência e a sociabilidade. Vem sempre do norte
pro sul. Do oeste pro leste em direção da fronteira com
o mar. Renega o deserto. Os mangues. A estepe. Um
mundo sem rotas a sol aberto.
Essa tem bem perto as palavras que cabem e o papel
que lhes cabe. Língua! Tem bem perto o espaço que
deve ser ocupado. Sabe o que deve. Sabe sempre.
Sempre sabe o que deve! Bem.
Do sul para o norte explode uma língua em fuga. Si-
multaneamente. Sobe caçando o superior da margem.
Uma língua-linguagem a rebater nas paredes. Fala
disso dentro do isso. Isso que mantém a outra. Falta
de gravidade celeridade de sobra. Escorrega no liso.
Traça o oeste no leste. Rasuras. Traçados de um de-
serto fértil. Desertificação urbana. Envolve e apaga.
Sobe pela direita. Desce pela esquerda. Cresce pelo
meio. Multiplica divisões de um horizonte. Mesmos
pontos. Outras tangentes. Novas trajetórias. Uma nova
lua no mesmo sol.
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136
Imagens deformadas e inconformadas em um cotidia-
no sempre ali! Uma espera de descoberta. Desejos!
Sempre eles! Esconder às sombras. Esconder-se? Tudo
se esconde! Para aparecer depois? Também! Um sol.
Estrelas e um céu azul. Cobertas e labirínticos frag-
mentos de pequenas instâncias de tempo de um viver.
Mostrar e esconder.
Um território vago por entre a filosofia e a arte que
antes de fincar uma bandeira procura içar velas e par-
tir rumo a um ilimitado. Uma literal loucura? Intem-
pestiva? Vestida de corpos. Esses desafiam inundar
todos os espaços. Muitos mares! Montanhas? Abismos!
Parques e praças. Provocações. Terremotos. Uma ava-
lanche de sensações a despencar bem em frente aos
olhos. Um entretom de um pensamento do impensado.
Abertura de crateras. Essas expõem os ossos e o san-
gue de um pensamento. Esse que na diferença se deli-
cia de um sabor. Pensamento de uma impessoalidade
criadora. Pensamento da possibilidade de um distan-
ciamento. Descoberta ameaçadora de que o timão
nunca esteve às mãos. Descoberta de que a deriva se
faz instaurar na realidade mais viva! Mesmo que dela
se imponha a fuga! Imensidão aberta em um precipício
logo abaixo dos pés! Um pequeno ponto sem luz. Bri-
lho de um universo ofuscante! Linhas. Linhas. Linhas.
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Por entre. Nos entremeios. Um suor gasoso.
Alastrar de pensamentos! Entranhas de sé-
ries. Possibilidades e impossibilidades. Vi-
brantes potentes variantes viventes. Aconte-
cem! Um pensamento alegre. Viva o desejo!
Doce procura! Dolorido movimento! Proble-
matizar! Proliferar! Respirar a vida!
Um final! Quase sem fôlego. Sequer se pode
medir um quanto ainda se pode! Tempo todo!
Um final tem uma cor de fantasia! Um sinal
que não termina! Adorna e não compõe. Pinta
e não tem cor. Solta um sopro que empurra o
horizonte a frente cada vez que se quer agar-
rá-lo! Vontade de ir além! Além do limite!
Mais um passo! Outro escorregão!
Um final sem chegada. Somente à partida
dada até um dado quanto. Um quanto o cor-
po puder resistir. Um quanto se puder dan-
çar. Mesmo que a música não toque! Que
não toque mais! Que jamais tenha tocado!
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Um ponto. Sempre já. Sempre lá.
antes da linha. Não como pa-
rada. Como partida. Põe-se.
Ponto a espera de ser esticado.
Tensionado um tanto. Ainda
mais um pouco. Um tanto que
irrompa em traços. Cada qual
uma distância. Cada outro traje-
to. Uma instância. Um ponto.
Sempre lá. Catatônico. Em silên-
cio. Desejoso. Ainda que de cos-
tas para margem. Desejoso. Es-
pera. A espreita. Cruzado com
outros. Emaranhado. Ponto de
entrada. Limite do limite. Final.
Onde tudo começa. Outra vez.
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tessitura criação escritura
criatura ilimitada indefinida
foge espreita dobra corta ex-
plode continua vida viva
continuum delir de um viver
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