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um bilhão de usuários em todo o mundo
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. Porém, como não perceber que toda essa
revolução tecnológica começou faz muito tempo, com as diversas formas que a linguagem
adquire no homem e para o homem? Se pudéssemos retirar o que é da linguagem das novas
tecnologias elas desapareceriam.
Do ponto de vista da linguagem podemos considerar essa revolução tecnológica,
que hoje tem seu expoente maior no computador e na rede internet, como uma revolução
tecnolingüística, como chama Sylvain Auroux
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, cujo ponto de partida é o código binário;
quer dizer que, ao invés de escrever a letra “a”, eu posso decidir por uma combinação de
“0” e “1” e, se optarmos por unidades de 8 dígitos, cada letra do alfabeto poderá ser
substituída por algo como, por exemplo, 00101101. Como se trata de dois dígitos, com oito
posições, podemos ter 256 combinações, permitindo a expressão não apenas do alfabeto,
como dos números, um lá menor de um timbre determinado, um ponto de cor numa tela, e
aumentando o tamanho da palavra digital essas possibilidades, como bem conhecemos,
tornam-se imensas. O essencial nesta lógica é que para ter dois sinais diferentes precisamos
ter uma variação. Esta variação se exprime graficamente como combinações de “0” e “1”,
mas pode ser representada concretamente como pólo negativo ou positivo em termos
magnéticos ou como variação de comprimento de ondas de luz e assim por diante. O
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Certamente existem muitas pessoas pobres que estão mais afastadas desta rede, mas que nem por isso
deixam de sentir seus efeitos, o que quer dizer que elas não estão excluídas, antes poderíamos dizer que elas
estão incluídas como desfavorecidas, somente recebendo os efeitos, maléficos ou benéficos, que a rede lhes
proporciona. Atualmente não existe a possibilidade, por exemplo, de uma determinada cidade ou país estar
fora dos efeitos das novas tecnologias digitais; mesmo que as pessoas não tenham acesso a estas tecnologias
elas sofrem seus efeitos, sejam eles econômicos, culturais ou psiquícos. Dentro desta necessidade
imprescindível de participação na rede digital, levantamos algumas dificuldades existentes, tais como: o alto
custo da tecnologia, o desconhecimento dos meios de inserção na rede digital, a falta de vias de acesso, a
desarticulação política entre as nações e grupos econômicos.
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As revoluções tecnolingüísticas são, segundo Sylvain Auroux (2001, p.289), três: “(...) a primeira revolução
tecnolingüísta foi a invenção da escrita, cujos efeitos foram amplificados com a criação da imprensa. A
segunda foi a gramatização das diferentes línguas do mundo, amplificada ela também pelo estabelecimento de
políticas lingüísticas nacionais e da alfabetização. Parece dificilmente contestável que sejamos
contemporâneos da terceira grande revolução nesse domínio, a do tratamento eletrônico da informação,
apresentada em linguagem natural. Trata-se verdadeiramente de uma mecanização das formas privilegiadas da
comunicação humana. Essa última revolução se apóia amplamente nas duas primeiras e vem, de certa
maneira, arrematá-las. Para se dar bem conta disso, convém compreender duas coisas:
- De um lado, o computador digital, no princípio de base de seu funcionamento, estende ao seu extremo limite
a exploração de uma propriedade fundamental da linguagem, o caráter discreto de suas unidades constitutivas,
propriedade justamente separada e sistematizada pela grafematização. De outro lado, as tecnologias
informáticas da linguagem utilizam tudo o que, nos produtos da gramatização, presta-se a um tratamento
automatizado (...)”.