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Universidade Federal do Rio de Janeiro
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE UM
LUTEOVIRIDAE ASSOCIADO À DOENÇA AZUL DO
ALGODOEIRO E IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE
PATOGENICIDADE NA FAMÍLIA VIRAL ENVOLVIDOS
COM A SUPRESSÃO DE SILENCIAMENTO POR RNA
Régis Lopes Corrêa
2008
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CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE UM LUTEOVIRIDAE ASSOCIADO À
DOENÇA AZUL DO ALGODOEIRO E IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE
PATOGENICIDADE NA FAMÍLIA VIRAL ENVOLVIDOS COM A SUPRESSÃO
DE SILENCIAMENTO POR RNA
Régis Lopes Corrêa
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2008
Tese de Doutorado apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Ciências
(Microbiologia), Instituto de Microbiologia
Prof. Paulo de Góes, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Doutor em
Ciências (Microbiologia).
Orientadora
:
Dra. Maité Vaslin de Freitas Silva
Co-orientador
:
Dr. Peter Waterhouse
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ii
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE UM LUTEOVIRIDAE ASSOCIADO À
DOENÇA AZUL DO ALGODOEIRO E IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE
PATOGENICIDADE NA FAMÍLIA VIRAL ENVOLVIDOS COM A SUPRESSÃO
DE SILENCIAMENTO POR RNA
Régis Lopes Corrêa
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências
(Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em
Ciências (Microbiologia).
Aprovada por:
_______________________________
Presidente, Prof. Maité Vaslin de Freitas Silva
_______________________________
Prof. Davis Ferreira
_______________________________
Prof. Francisco Murilo Zerbini
_______________________________
Prof. Luciana Jesus da Costa
_______________________________
Prof. Renato de Oliveira Resende
_______________________________
Prof. Marcelo Bozza
_______________________________
Prof. Paulo Cavalcanti Gomes Ferreira
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2008
iii
Corrêa, Régis Lopes.
Caracterização Molecular de um Luteoviridae associado com a doença
azul do algodoeiro e identificação de fatores de patogenicidade na família
viral envolvidos com a supressão de silenciamento por RNA/ gis Lopes
Corrêa.- Rio de Janeiro: UFRJ/ IMPPG, 2008.
xi, 166f.: il.; 31 cm.
Orientador: Maité Vaslin de Freitas Silva
Tese (doutorado) UFRJ/ Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de
Góes/Programa de Pós-graduação em Ciências (Microbiologia), 2008.
Referências Bibliográficas: f. 140-161.
1. Doença azul do algodoeiro. 2. Cotton leafroll dwarf virus. 3.
Luteoviridae. 4. Polerovirus. 5. Luteovirus. 6. Enamovirus. 7. Silenciamento
gênico. 8. Supressão viral de silenciamento. 9. RNAi. 10. Potato leafroll
virus. 11. Pea enation mosaic virus-1. 12. Argonautes. 13. Arabidopsis
thaliana. I. Vaslin, Maité Freitas Silva. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro,
Microbiologia Prof. Paulo de Góes/Programa de Pós-graduação em Ciências
(Microbiologia). I
II. Título.
iv
RESUMO
CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE UM LUTEOVIRIDAE ASSOCIADO À
DOENÇA AZUL DO ALGODOEIRO E IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE
PATOGENICIDADE NA FAMÍLIA VIRAL ENVOLVIDOS COM A SUPRESSÃO DE
SILENCIAMENTO POR RNA
A família viral Luteoviridae é dividida nos gêneros Luteovirus, Polerovirus e
Enamovirus, todos apresentando genoma de RNA fita simples positiva. Nesse trabalho,
oligonucleotídeos degenerados foram desenhados com o intuito de identificar membros
desse grupo viral associados com a doença azul do algodoeiro. A doença azul é transmitida
pelo afídeo Aphis gossypii e causa danos à agricultura em diversas partes do mundo.
Reações de RT-PCR foram capazes de amplificar um fragmento em plantas doentes
utilizando-se oligos específicos para o gênero Polerovirus. A análise das seqüências obtidas
indica que o vírus, denominado Cotton leafroll dwarf virus (CLRDV), deve ser considerado
um membro definitivo do gênero Polerovirus. Para melhor entender a biologia dessa
família viral, uma busca por genes supressores de silenciamento por RNA foi realizada.
Silenciamento gênico é um mecanismo de controle da expressão gênica conservado em
diversos reinos biológicos e, em plantas, está associado com a defesa antiviral. Nenhuma
supressora foi encontrada no gênero Luteovirus. No entanto, a P0 do Enamovirus apresenta
atividade supressora, assim como já tinha sido observado para membros do gênero
Polerovirus. A expressão dessa proteína em Arabidopsis causa alterações no
desenvolvimento da planta que estão associados com redução nos níveis de pequenos
RNAs endógenos e aumento na concentração de seus alvos. Foi observado também que a
P0 interage com SKIP2 e que sua atuação depende de um domínio tipo F-Box. Dados
indicam que a proteína suprime a resposta antiviral através da indução da degradação de
genes importantes no processo, tais como Argonaute e Dicer.
Palavras-chave: doença azul do algodoeiro; Luteoviridae; RNAi; ubiqüitinação.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2008
v
ABSTRACT
MOLECULAR CHARACTERIZATION OF A LUTEOVIRIDAE ASSOCIATED WITH
COTTON BLUE DISEASE AND IDENTIFICATION OF FACTORS IN THE FAMILY
INVOLVED WITH SUPPRESSION OF RNA SILENCING
The family Luteoviridae is grouped in three genera: Luteovirus, Polerovirus and
Enamovirus and all members have positive single-stranded RNA genomes. In this work
degenerated primers were designed to identify members of this family associated with
cotton blue disease. Blue disease is transmitted by the aphid Aphis gossypii and causes
economically important losses in cotton crops around the world. Polerovirus-specific
primers were able to amplify part of the genome of a virus associated with this disease.
Sequence analysis indicates that the named Cotton leafroll dwarf virus (CLDV) should be
considered as a permanent member of the genus Polerovirus. To help understanding the
biology of this group of virus, a search for suppressors of RNA silencing in the family was
also done. Gene silencing is a conserved mechanism for controlling gene expression and in
plants is associated with viral defense. No suppressor was found in the genus Luteovirus.
However, the P0 from the Enamovirus proved to be a strong suppressor of silencing, as
already stated for P0s of the genus Polerovirus. Expression of the suppressor in
Arabidopsis induced several developmental problems that were associated with a reduction
in the levels of endogenous small RNAs and an increase in the level of their targets. It was
also observed that the action of P0 depends on the interaction with the SKIP2 through an F-
Box-like domain. It is proposed that the P0 protein from the Enamovirus group is able to
suppress gene silencing by targeting Argonaute and Dicers proteins for degradation.
vi
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Valdira e Walkyrio, por toda educação, apoio incondicional e
suporte para completar mais essa etapa acadêmica.
Aos meus irmãos, Marcelo e Milena, pela amizade, apoio e alegrias que trazem para
a minha vida.
À minha orientadora, Maité Vaslin, por ter-me “criado” desde os primórdios da
iniciação científica. Por todas as etapas e momentos vividos. Por todo conhecimento
transmitido, tanto profissional, quanto pessoal. Pela confiança em meu trabalho. Pela
oportunidade de trabalhar nesse belo projeto de tese. Pelo exemplo de determinação
profissional e de vida.
À Márcia Vidal pelo suporte teórico, técnico e financeiro nas fases iniciais do
projeto.
I would like to thank my supervisor Dr. Peter Waterhouse for the opportunity to join
his group at CSIRO. I am deeply indebted for all scientific, laboratorial and personal
support he gave me in Australia. His expertise and passion for science have influenced me
greatly.
Aos demais professores do LGMV Gilberto Sachetto, Márcia Margis, Márcio
Ferreira e Rogério Margis pelo suporte material e teórico, discussões e pelo constante
exemplo de amor e dedicação à ciência.
Ao Dr. Jean Araújo por disponibilizar o seqüenciador automático de DNA.
Aos doutores Jean Belot, Nelson Suassuna, Paulo Barroso e Pierre Silvie pela
colaboração e envio de plantas para o início do projeto da doença azul.
Aos grandes amigos que passaram na “família LGMV” ao longo desses quatro anos,
em especial para Alexandre, Adriana Arongaus (Adrianinha), Adriana Menezes
(Adrianinhaninha), Aline, Anna Cristina, Danilo, Elisson Romanel, Emília Pires, Érica
Duarte, Fabiano Salgueiro, Fátima, Felipe Karan, Fernanda Cruz (@hotmail.com), Graça,
Isabel, Itamar, Kelly, Lina, Luis, Mariana, Roberto, Tati, Vanessa Cardeal, Vinícius e
Yamá.
Aos técnicos do LGMV Fátima, Itamar e Luis por todo o imprescindível auxílio
laboratorial.
À Kelly por sua competência na administração do laboratório.
vii
À Tatiane Franca pela excelente companhia profissional e pessoal ao longo dos
quatro anos. Pelas conversas, minipreps, PCRs, clonagens etc. Pela continuação do estudo
da doença azul no Brasil. Por não levar a sério nenhuma das milhares de brincadeiras que
falava quase que diariamente. E, claro, pela oportunidade única de visitar o
internacionalmente conhecido “Palácio do 400”.
Ao grande companheiro Felipe Karam pela eterna disponibilidade em discutir
detalhadamente cada micro resultado da tese. Por todas as sugestões que contribuíram
significativamente para o aumento da qualidade do trabalho. Pela ajuda na busca da
resposta para a pergunta mais primordial de todo cientista brasileiro: “existe vida após o
doutorado?”.
Ao camarada Elisson Romanel pela amizade e por todas as discussões sobre
trabalho, ciência e filosofia.
I am deeply thankful to all members of CSIRO Plant Industry for availability to help
anytime I needed. The friendly and supportive atmosphere inherent to the whole Plant
Industry group contributed greatly to my personal and professional progress. My special
thanks go to Adriana Fusaro, Adriane Machado, Andrew Eamens, Carl Davis, Chris
Helliwell, Craig Wood, Donna Bond, Geoff Ellacott, Janice Norman, Judith Gaudron, Jean
Finnegan, John Watson, José Maria Barrero, Limin Wu, Liz Dennis, Louisa Matthew,
Mark Talbot, Masumi Robertson, Ming-Bo Wang, Niel Smith, Narayana Upadhyaya, Peter
Waterhouse and Rosemary White.
À Adriana Fusaro tenho profunda e eterna gratidão por toda ajuda que me deu para
concretizar o sonho de ir à Austrália. Pela força na adaptação ao novo país e ao novo
laboratório. Pelos momentos de alegria. Pelo consolo nos momentos de tristeza. Por me
ensinar grande parte das técnicas que aprendi na Austrália, incluindo “o grande mundo dos
pequenos RNAs”. Por acreditar e abraçar o projeto da P0. Pelos de experimentos de
northern blot, western blot, agro-infiltração, PCR em tempo real e imunoprecipitação que
realizou para a tese e para o artigo que será submetido. Pelo exemplo de ser humano e de
vida.
I am particularly grateful to Dr. Masumi Robertson for helping me with the yeast
two hybrid experiments; Shaun Curtin for providing protocols, plasmids, clones and
knowlodgment during all my stay in Australia; Dr. Craig Wood for providing protocols and
viii
tips for FLAG immunoprecipitation; Dr. Rosemary White and Dr. Mark Talbot for
excellent microscope support; Kerrie Ramm for teaching me how to bombard onion cells
with GFP and Geoff Ellacott for support with Arabidopsis work.
A los nuevos amigos aussie-hablantes que conocí en Austrália. Estoy muy
agradecido a Agustín Zsogon, José Maria Barrero, Juan Pablo, Lucía Yañez, Luciana
Porfírio, Marga Garcia, Maria Alonso, Hernano Alonso (Nano) y Salva Herrero por todos
los momentos mágicos que tuvimos juntos alli. Gracias por todas las conversaciones,
apoyo, viajes, fiestas, wine tastings, cafés, cenas, bailes, acrobacias, buen humor, la lengua
española y gallega, películas, cines, woolis, helados, pubs, canciones, salsa, cultura, Tato,
campings, patatas (o papas) de limón, abrazos, besos, palabras, en fin por todos los
capítulos compartidos en el gran libro de la vida. Amigos para siempre!
Aos amigos da vida, de todas as épocas: Alvim, Caroço, Claire, Guerra, Kátia,
Leco, Léo, Levedo, Patrícia, Roberta Rodrigues (Robertinha) e Rodrigo Barros. Obrigado
por todo apoio incondicional.
Aos amigos de caminhadas, por todas as conversas, por todos os desafios vencidos e
a serem vencidos. Em especial para Allyson, Ana Diório, Clara, Fernanda Mandarini,
Henrique Castelletti, João, José Luis, Luis Cristo, Paulo, Wanderley e Zélia.
ix
SUMÁRIO
Resumo iv
Abstract v
Lista de Abreviaturas 001
Lista de Figuras 002
Lista de Tabelas 004
Capítulo I 005
I.1 Introdução 006
I.1.1 Cultura do algodão 006
I.1.2 Doença azul 007
I.1.3 Família Luteoviridae 009
I.2 Objetivos 016
I.3 Material e Métodos 018
I.3.1 Propagação viral em casa de vegetação 018
I.3.2 Desenho de oligonucleotídeos 018
I.3.3 Amplificação do genoma viral por PCR 020
I.3.4 Clonagem dos fragmentos amplificados em vetores
pGEMT-Easy 020
I.3.5 Seqüenciamento de nucleotídeos 021
I.3.6 Análise das seqüências de nucleotídeos 021
I.3.7 Southern blot 022
I.3.8 Northern blot 023
I.4 Resultados 025
I.4.1 Reprodução dos sintomas da doença azul em
casa de vegetação 025
I.4.2 Identificação do Cotton leafroll dwarf virus (CLRDV), um
Polerovirus associado à doença azul do algodoeiro 027
I.4.3 Seqüências da proteína do movimento, polimerase e
região intergênica 035
I.4.4 Proteína de transmissão 036
x
I.4.5 Diagnóstico molecular da doença azul 038
I.4.6 Detecção por northern blot 041
I.5 Discussão e Perspectivas 044
I.6 Conclusões 050
Capítulo II 050
II.1 Introdução 052
II.1.1 Silenciamento gênico por RNA em animais 053
II.1.1.1 Via dos siRNAs em animais 054
II.1.1.2 Via dos microRNAs em animais 056
II.1.2 Silenciamento gênico em plantas 060
II.1.2.1 Silenciamento gênico pós-transcricional 062
II.1.2.1.1 Descoberta e indução 062
II.1.2.1.2 Manutenção da degradação 065
II.1.2.1.3 Amplificação e transitividade 067
II.1.2.2 Silenciamento gênico transcricional 068
II.1.2.3 Via de microRNAs 069
II.1.2.4 Via de tasiRNAs 072
II.1.2.5 Via de disseminação da RNAi 075
II.1.3 Supressão de silenciamento gênico 077
II.1.3.1 Identificação de supressores 078
II.1.3.2 Supressores de silenciamento bem caracterizados 079
II.1.3.2.1 HC-Pro 080
II.1.3.2.2 P19 081
II.1.3.2.3 2b 081
II.1.3.3 Supressores de silenciamento na família Luteoviridae 082
II.2 Objetivos 086
II.3 Material e Métodos 088
II.3.1 Obtenção das construções plasmidiais: clonagens
GATEWAY 088
II.3.2 Mutagênese via PCR 092
II.3.3 Agro-Infiltração em Nicotiana benthamiana 095
xi
II.3.4 Transformação de Arabidopsis thaliana 095
II.3.5 Northern blot 096
II.3.6 Detecção de pequenos RNAs 096
II.3.7 Co-Imunoprecipitação 098
II.3.8 Western blot 099
II.3.9 PCR em tempo real 100
II.3.10 Duplo híbrido em leveduras 102
II.3.11 Bombardeamento em célula de cebola 103
II.3.12 Microscopia ótica 104
II.3.13 Microscopia eletrônica de varredura 104
II.4 Resultados 106
II.4.1 Procura de novas proteínas supressoras de
silenciamento na família Luteoviridae 106
II.4.2 PEP0 atua como uma proteína F-Box 109
II.4.3 Expressão das supressoras PLP0 e PEP0 em
Arabidopsis thaliana 114
II.4.4 Supressoras PLP0 e PEP0 alteram acúmulo e
função dos pequenos RNAs 120
II.4.5 PLP0 e PEP0 desestabilizam AGO1 126
II.4.6 PEP0 interage com DCL1, AGO4, AGO6 e DRB5 128
II.4.7 PLP0 e PEP0 apresentam localização nuclear 130
II.5 Discussão e Perspectivas 133
II.6 Conclusões 142
Referências bibliográficas 144
1
LISTA DE ABREVIATURAS
A – adenina
b - base
C – citosina
cDNA – DNA complementar
Da - dalton
DNA – Ácido desoxirribonucléico
dNTP – desoxirribonucleotídeos trifosfato
EDTA – ácido etilenodianimotetracético
g – grama
G – guanina
k – quilo
L – litro
m - mili
M – molar
n – nano
N – qualquer nucleotídeo
nt – nucleotídeo
ºC – graus Celsius
p – pico
pb – par de base
PCR – reação da polimerase em cadeia
pH – potencial hidrogenionte
RNA – ácido ribonucléico
RPM – rotações por minuto
SDS – dodecil sulfato de sódio
T – timina
U – uracila
UV – ultravioleta
µ − micro
2
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1: Esquema do genoma dos gêneros Luteovirus, Polerovirus
e Enamovirus 012
Figura 2: Sintomas da doença azul do algodoeiro reproduzidos em casa
de vegetação via inoculação com o inseto transmissor
Aphis gossypii 026
Figura 3: Representação esquemática do genoma dos Polerovirus 028
Figura 4: Amplificação parcial do genoma do CLRDV 028
Figura 5: Alinhamento da seqüência de aminoácidos da CP do CLRDV com
CPs de outros Luteoviridae 032
Figura 6: Análise filogenética do CLRDV e outros membros da família
Luteoviridae 034
Figura 7: Filogenia com parte da proteína de transmissão (ORF5) do
CLRDV e demais membros da família Luteoviridae 037
Figura 8: Desenho de oligos específicos para o diagnóstico molecular
do CLRDV 039
Figura 9: Eficiência do diagnóstico molecular para a doença azul 040
Figura 10: Detecção do RNA genômico do CLRDV por Northern blot
em plantas apresentando sintomas da doença azul 042
Figura 11: Principais vias de silenciamento por RNA em plantas 061
Figura 12: Vetores de destino GATEWAY 091
Figura 13: Estratégia para a introdução de mutações pontuais na P0 do
Pea enation mosaic virus-1. 094
Figura 14: Identificação de possíveis proteínas supressoras de silenciamento
no gênero Luteovirus. 107
Figura 15: P0 do Pea enation mosaic virus-1 é uma supressora de
silenciamento gênico e atua através de um domínio tipo F-Box 108
Figura 16: Mutações pontuais no domínio F-Box da P0 do
Pea enation mosaic virus-1. 110
3
Figura 17: Infiltração de P0 do Pea enation mosaic virus-1 em
N. benthamiana 16c elimina siRNAs. 112
Figura 18: P0 do Pea enation mosiac virus-1 interage com SKIP2 de
Arabidopsis 113
Figura 19:
Alteração no desenvolvimento vegetal de plantas de Arabidopsis
thaliana transformadas com o gene P0 do Potato leafroll virus
116
Figura 20: Alteração no desenvolvimento vegetal de plantas de Arabidopsis
thaliana transformadas com o gene P0 do
Pea enation mosaic virus-1. 119
Figura 21: Acúmulo de pequenos RNAs em plantas de Arabidosis thaliana
expressando as supressoras P0 do Potato leafroll virus e P0 do
Pea enation mosaic virus-1 123
Figura 22: Acúmulo dos alvos dos pequenos RNAs em plantas de
Arabidopsis thaliana expressando as supressoras P0 do
Potato leafroll virus e P0 do Pea enation mosaic virus-1 124
Figura 23: Detecção do acúmulo de mRNA do gene AGO1 em plantas
transgênicas de Arabidopsis thaliana expressando P0 do
Potato leafroll virus ou P0 do Pea enation mosaic virus-1. 125
Figura 24: Avaliação da expressão das supressoras P0 do
Potato leafroll virus e P0 do Pea enation mosaic virus-1
no acúmulo de AGO1 127
Figura 25: Duplo híbrido em leveduras mostrando a interação de P0 do
Pea enation mosaic virus-1 com proteínas da via de silenciamento
por RNA 129
Figura 26: Bombardeamento de células de cebola com os genes
PLP0, PEP0 e PEP0LPP fusionados com a sequência
codificadora da GFP 131
Figura 27: Modelo proposto por Baumberger et al., 2007 para a
restrição dos Polerovirus ao floema 138
4
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Oligonucleotídeos desenhados para amplificar o genoma do vírus associado
com a doença azul do algodoeiro baseado no alinhameto completo de
membros da família viral Luteoviridae 019
Tabela 2: Identidade entre seqüências de aminoácidos do capsídeo (CP),
proteína do movimento (MP) e polimerase (RdRp) do CLRDV
e regiões correspondentes em outros luteovirus 031
Capítulo I
_________________________________________________________________________
INTRODUÇÃO
6
I.1 – Introdução
I.1.1 – Cultura do algodão
O algodão (Gossypium hirsutum L.) é uma planta dicotiledônea da família
Malvaceae de porte arbóreo ou herbáceo. indícios de que sua domesticação para
fabricação de tecidos se iniciou na índia, cerca de 3.500 anos atrás. Atualmente, a China, os
Estados Unidos e Índia são os maiores produtores, respondendo por mais de 60% da
produção mundial, segundo dados do departamento de agricultura Norte Americano. O
Brasil é o quinto maior produtor, logo após o Paquistão. O país também se encontra entre
os cinco maiores exportadores da fibra, atrás dos Estados Unidos, Uzbequistão, Índia e
Austrália.
A cotonicultura nacional iniciou-se no Nordeste e em seguida migrou para regiões
do Sudeste, especialmente no estado de São Paulo (Buainain & Batalha, 2007). Nos últimos
17 anos, no entanto, houve uma migração da atividade para áreas do cerrado, especialmente
no Centro-Oeste. Houve também, nas últimas décadas, uma grande mudança no perfil de
produção. O cultivo do algodão deixou de ser baseado na pequena propriedade e no regime
familiar, passando a ser realizado em grandes plantações, com áreas que se estendem de
100 a 3.000 hectares (Buainain & Batalha, 2007). Além disso, uma alta mecanização foi
introduzida, contando com o emprego de adubação, herbicidas, fungicidas, inseticidas e
reguladores de crescimento.
O cultivo do algodão no Brasil tem hoje um importante impacto sócio-econômico.
Estima-se, por exemplo, que na safra 2006/2007, o cultivo da planta represente 2.7% do
Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio nacional e irá gerar mais de 430 mil empregos
(Corrêa, 2007). Segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a
safra 2006/2007 deverá ser 40% maior do que a obtida no ano anterior e representaum
recorde para a produção brasileira, com exportações atingindo 470 mil toneladas de pluma.
Os estados de Mato Grosso, Bahia e Goiás são atualmente os maiores produtores
nacionais, somando sozinhos cerca de 90% de todo o algodão processado. Por ser
produzido prioritariamente em zonas de cerrado, diversas variedades de algodão adaptadas
a esse tipo de ambiente foram desenvolvidas. Entre elas, a ITA-90 é uma das mais
7
cultivadas (Freire, 1998). Esta variedade apresenta alta produtividade e fornece uma fibra
que atende padrões nacionais e internacionais de consumo. No entanto, a variedade
apresenta alta susceptibilidade a viroses e outros agentes infecciosos.
I.1.2 - Doença azul
Existem seis patógenos economicamente importantes nas plantações de algodão ao
redor do mundo, sendo quatro deles de origem viral (Cia & Salgado, 1997). As doenças do
algodoeiro reduzem sensivelmente a produtividade e geram de moderadas a graves perdas
econômicas. No Brasil, quatro doenças já foram relacionadas com viroses: o mosaico
comum, causado pelo Abutilon mosaic virus (AbMV), um Geminivirus transmitido por
mosca branca (Bemisia tabaci); o mosaico tardio, causado pelo Tobacco streak virus
(TSV), um Bromovirus; o vermelhão, causado pelo Cotton anthocyanosis virus (CAV) e o
mosaico das nervuras ou doença azul, cujo rus responsável ainda não havia sido
identificado até o início deste trabalho.
A doença azul é transmitida pelo pulgão Aphis gossypii e os sintomas caracterizam-
se pela redução do porte devido ao encurtamento dos entrenós, presença de mosaico/
amarelecimento nas nervuras, folhas rugosas e com curvatura nos bordos, enrolamento das
folhas em sua superfície inferior, associados a uma coloração verde-escura com tonalidade
azulada. A folha adquire uma consistência quebradiça ao toque e os órgãos florais e
frutíferos se reduzem em tamanho e número, podendo, em alguns casos, serem abortados
ou a planta apresentar esterilidade total (Cauquil & Vaissayre, 1971; Takimoto, 2003). A
gravidade dos sintomas depende em grande parte da idade de infecção e também do estado
fisiológico da planta (Takimoto, 2003; Michelotto & Busoli, 2006). Em casos extremos de
infecções precoces e intensas as plantas podem reduzir seu porte normal e tornarem-se
rasteiras (Cia & Salgado 1997).
A doença azul foi pela primeira vez descrita em campos de cultivo na República
Centro-Africana, em 1949 (Cauquil & Vaissayre 1971). Vinte anos mais tarde houve
relatos de severas perdas em várias regiões da África. Sintomas semelhantes aos
encontrados na África foram relatados também nas Filipinas em 1963, na Tailândia e no
Paraguai em 1977 (Halliwell e Cauquil, 1981), na Argentina, em diversas regiões da África
8
(Tchad, Camarões, Zaire, Benin) e na antiga União Soviética (Azerbaijão, Turquistão,
Armênia) (Cauquil, 1977). Ainda não se sabe ao certo, no entanto, quando a doença foi
detectada pela primeira vez no Brasil. Em 1937, uma doença do algodoeiro chamada de
mosaico das nervuras foi identificada (Costa & Foster, 1938). Posteriormente, em 1962, foi
detectada uma outra doença que apresentava sintomas parecidos com o mosaico das
nervuras, porém muito mais severos (Costa & Carvalho, 1962). Essa doença foi chamada
de mosaico das nervuras - Ribeirão Bonito, nome da cidade onde foi observada pela
primeira vez. Acreditava-se que a variante Ribeirão Bonito era uma forma mais virulenta da
mesma doença observada em 1937. Mais ou menos ao mesmo tempo, na cada de 60,
sintomas semelhantes foram observados em outros países da América do Sul, onde
receberam o nome de enfermedad azul” ou “mal de misiones”. No entanto, essas doenças
observadas na América apresentavam sintomas muito semelhantes aos descritos para a
doença azul no resto do mundo. Além disso, a transmissão ocorria através do mesmo vetor,
o pulgão Aphis Gossypii. Esses dados evidenciaram que as doenças observadas no
continente americano eram, na realidade, a mesma doença e que estavam fortemente
relacionadas com a doença azul identificada em campos africanos desde 1949.
A doença azul é um problema fitopatológico importante no Brasil, especialmente
pela utilização de variedades de algodão susceptíveis à virose, como as CNPA ITA-90 e
Deltapine Acala 90. Perdas severas decorrentes da doença foram relatadas no território
brasileiro e no Paraguai (Freire, 1998). Por exemplo, na safra 1997/1998 registrou-se uma
perda de 34 mil toneladas de pluma em função da doença. Reduções de até 90% na
produção por planta também foram observadas em algumas safras (Freire, 1998). A
forma de controle mais comumente adotada pelos agricultores é a redução das populações
de pulgões. Recomenda-se nunca permitir que a população dos insetos passe de 10% de
plantas infestadas nos primeiros 100 dias após a germinação das plantas. Em seguida,
recomenda-se manter as populações em torno de 30% de plantas infestadas, até o fim da
colheita. Dessa forma, mesmo não havendo surto da doença em determinadas safras, o
controle dos pulgões ocasionam um aumento no custo de produção. Outra estratégia
adotada é o uso de variedades de algodão com resistência natural à doença azul. Cultivares
nacionais e importadas resistentes à virose, tais como CEDRO, DeltaOpal e CD404, já
9
estão disponíveis no mercado. Além disso, recomenda-se o controle de plantas daninhas e a
rotação de culturas.
Os sintomas descritos para a doença azul são muito semelhantes aos sintomas
observados para viroses causadas por membros da família Luteoviridae. De fato, testes
sorológicos em plantas doentes apresentaram reação positiva para o Barley yellow dwarf
virus RPV (BYDV-RPV), Barley yellow dwarf virus PAV (BYDV-PAV) (Lenardon, 1994)
e para o Beet western yellows virus (BWYV) (Takimoto, 2003), três membros bem
caracterizados da família Luteoviridae.
I.1.3 – Família Luteoviridae
A família Luteoviridae é composta por vírus transmitidos por afídeos, todos
apresentando genoma de RNA fita simples com polaridade positiva, sem a presença de
cauda poli(A), encapsulados em uma partícula icosaédrica não envelopada e divididos em
três gêneros: Luteovirus, Polerovirus e Enamovirus (Mayo & Ziegler-Graff, 1996). Os
primeiros sintomas atribuídos a membros desse grupo foram relatados em plantas de batata
na Europa em 1790 (Harrison, 1999). Esses primeiros sintomas reportados possivelmente
foram causados pelo Potato leafroll virus (PLRV), o vírus tipo do gênero Polerovirus e um
dos mais bem caracterizados da família.
Uma das características mais peculiares desse grupo de vírus é a sua restrição ao
floema (Esau et al., 1967). As partículas acumulam-se principalmente no citoplasma das
células companheiras do vaso condutor e por esse motivo apresentam baixa concentração
na planta, tornando a purificação mais complexa. Assim, o desenvolvimento de anticorpos
para a detecção de membros da família ocorreu mais tarde do que para a maioria dos outros
grupos vegetais. Dados de sorologia, no entanto, permitiram um maior entendimento da
biologia desse grupo de rus. O primeiro desafio enfrentado foi a diferenciação dos
isolados envolvidos na doença do amarelecimento da cevada. Acreditava-se que a doença
era causada por um único vírus, que foi denominado de Barley yellow dwarf virus (BYDV).
Ficou claro mais tarde, no entanto, que o amarelecimento da cevada era causado por cinco
vírus diferentes, todos distinguíveis por sorologia. Os isolados receberam o nome RPV,
RMV, MAV, SGV e PAV (Miller & Rasochová, 1997). Em função da grande diferença
10
entre os isolados, o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV) decidiu trocar o
nome dos isolados RPV e RMV para Cereal yellow dwarf virus (CYDV) (Miller &
Rasochová, 1997). Hoje em dia os vírus BYDV-MAV, BYDV-SGV e BYDV-PAV são
classificados dentro do gênero Luteovirus e os vírus CYDV-RPV e CYDV-RMV estão
classificados no gênero Polerovirus.
No entanto, somente após a obtenção dos primeiros genomas completos, a
taxonomia e a biologia dos membros da família passaram a ficar mais claros. O primeiro
vírus da família a ter seu genoma todo seqüenciado foi o BYDV-PAV (Miller et al., 1988).
O rus apresenta um genoma com cerca de seis mil bases, possuindo cinco grandes fases
abertas de leitura, que foram denominadas com números de 1 a 5, comumente
representadas como ORF1 a ORF5 (ou P1 a P5, em se tratando das proteínas codificadas).
Ficou claro que o genoma é dividido em duas partes distintas, separadas por uma região
intergênica. A região 5apresenta genes que codificam as proteínas não estruturais e a 3’
contém os genes codificantes de proteínas estruturais (Figura 1). A região 5 contém as
ORFs sobreopstas 1 e 2 e apresenta alta similaridade com genes envolvidos na replicação
em membros do gênero Carmovirus, da família Tombusviridae, fornecendo a primeira
evidência de que a família teria surgido de um evento de recombinação (Miller et al.,
1988). Em seguida, a obtenção dos genomas do BWYV (Veidt et al., 1988) e do PLRV
(van der Wilk et al., 1989), contribuiu ainda mais para o entendimento taxonômico e
evolutivo da família. Em linhas gerais, os dois novos genomas obtidos apresentavam uma
organização muito parecida com a do BYDV-PAV (Figura 1). No entanto, algumas
diferenças foram observadas. Os dois vírus apresentam um gene extra na porção 5 do
genoma e este foi denominado de ORF0 (ou P0). Observou-se que a ORF0 apresenta alta
sobreposição de seqüência com a ORF1 e, assim como ocorre com o BYDV-PAV, a ORF1
dos novos genomas também está sobreposta com a ORF2. No entanto, o bloco 5’ do
genoma dos dois novos vírus apresenta similaridade com genes de replicação dos
Sobemovirus e não com os Carlavirus, como observado para o vírus da cevada. Assim,
ficou evidente que os três vírus eram muito semelhantes na região 3’ do genoma, mas que
apresentavam diferenças evolutivas importantes na porção 5’. Em seguida, o
seqüenciamento completo do genoma do RNA1 do Pea enation mosaic virus (PEMV-1)
mostrou que o mesmo tem uma organização muito semelhante à observada para o BWYV e
11
para o PLRV, apresentando uma ORF0 e possuindo genes de replicação semelhantes aos
Sobemovirus (Demler & Zoeten, 1991). A principal diferença estrutural observada foi a
ausência da ORF4, presente no genoma dos três rus seqüenciados até aquele momento
(Figura 1). O PEMV-1, no entanto, apresenta características biológicas fundamentais que o
diferencia dos demais rus. A principal delas é o fato do rus conseguir sair do floema
durante a infecção viral. Além disso, o rus é capaz de ser transmitido mecanicamente e
está sempre associado com um outro RNA, comumente denominado de PEMV-2. Análise
do genoma do RNA2 do PEMV mostrou que este apresenta similaridade com membros do
gênero Umbravirus (Demler et al., 1993). Foi observado ainda que os dois RNAs são
replicados de forma independente, mas que o encapsulamento do RNA2 depende de
produtos gênicos do RNA1 e que os dois RNAs são necessários para a evasão do floema e
para a transmissão mecânica (Demler et al., 1993). Acredita-se, portanto, que os RNAs1 e 2
do PEMV apresentem uma relação de simbiose durante a infecção viral.
Apesar de todas as diferenças genômicas e biológicas observadas nesses vírus, todos
eram agrupados em um único táxon denominado Luteovirus. Em 1997, no entanto, o ICTV
decidiu criar a família Luteoviridae e a dividiu nos atuais gêneros Luteovirus (tendo o
BYDV-PAV como rus tipo), Polerovirus (tendo o PLRV como vírus tipo) e Enamovirus
(apresentando apenas o PEMV-1 como membro) (D’Arcy & Mayo, 1997). Já foram
observados também alguns vírus que são recombinantes entre os gêneros Luteovirus e
Polerovirus (Rathjen et al., 1994; Maia et al., 2000; Moonan et al., 2000; Domier et al.,
2002; Siepen et al., 2005). Nesses casos, recomendou-se usar os genes de replicação (ORF1
e ORF2) como critério para classificação. rus que apresentassem genes semelhantes ao
Carmovirus seriam considerados como Luteovirus e os que apresentassem genes de
replicação semelhante aos Sobemovirus seriam considerados como Polerovirus.
12
Figura 1: Esquema do genoma dos gêneros Luteovirus, Polerovirus e
Enamovirus. ORF0 Supressora de silenciamento gênico; ORF 1 e ORF2 Polimerase;
ORF3 Proteína do capsídeo; ORF4 Proteína de movimento; ORF3 e ORF5 Proteína
de transmissão. Adaptado de http://www.scri.sari.ac.uk/TiPP/documents/luteo.pdf (último
acesso em março de 2006).
- Genoma com P0
- RNA com VPg
- Polimerase é tipo Sobemovirus
- Região intergênica com 200 nts
- P1 e P2 com muita sobreposição
- Genoma sem P0
- RNA sem VPg
- Polimerase é tipo Carmovirus
- Região intergênica com 100 nts
- P1 e P2 com pouca sobreposição
- Genoma como Polerovirus, mas:
- Sem P4
- Dependente de Umbravirus
13
Estudos funcionais dos genes presentes na família Luteoviridae evidenciaram
fascinantes mecanismos de regulação gênica. Trabalhos recentes mostraram que a proteína
PO dos Polerovirus é uma forte supressora de silenciamento gênico, um mecanismo
genético de defesa anti-viral (Pfeffer et al., 2002). A ORF1 codifica uma proteína com
função de helicase e a proteína P2 apresenta domínios picos das polimerases de RNA
dependente de RNA. Na região de interseção entre os genes, no entanto, existe uma
seqüência rica em uracila que promove uma mudança de fase de leitura dos códons do
RNA (Prüfer et al., 1992). Assim, a síntese protéica inicia-se na ORF1, troca de fase na
região de interseção e passa a sintetizar a ORF2, criando uma proteína de fusão envolvida
na replicação viral (Brault & Miller, 1992; Reutenauer et al., 1993). Logo após a ORF2
existe uma região intergênica que apresenta cerca de 100 nucleotídeos em Luteovirus e 200
nucleotídeos em Polerovirus e Enamovirus. Essa região apresenta seqüências regulatórias
que iniciam a síntese de um RNA subgenômico contendo as ORFs 3, 4, 5, todas
codificantes de proteínas estruturais (Tacke et al., 1990; Dinesh-Kumar et al., 1992). A
ORF3 codifica a proteína do capsídeo viral, a única envolvida na morfogênese viral
(Reutenauer et al., 1993). Dentro do gene do capsídeo existe uma outra fase aberta de
leitura denominada de ORF4. Esse gene é traduzido em taxas muito mais elevadas do que a
própria CP (Tacke et al., 1990; Dinesh-Kumar et al., 1992) e acredita-se que a proteína
resultante esteja envolvida no movimento viral célula a célula ou que seja parte da estrutura
VPg observada na região 5’ do RNA dos Polerovirus e Enamovirus (van der Wilk et al.,
1989; Tacke et al. 1991). Observou-se também que algumas vezes o códon de término do
gene do capsídeo não é lido, gerando uma proteína de fusão com a ORF5 geralmente
denominada de RTD (“Readthrough Domain”) que está envolvida na transmissão do vírus
por afídeos (Brault et al., 2000; Brault et al., 2002).
Uma outra característica que distingue os membros da família Luteoviridae das
demais famílias de vírus vegetais é a alta especificidade pelo vetor de transmissão e a
restrita gama de hospedeiros. Quando adquiridos pelo inseto, os Luteoviridae circulam, mas
não replicam no vetor. Por esse motivo a transmissão é dita circulativa e não propagativa.
Inicialmente os vírus são sugados e transportados para o lúmen do trato digestivo do inseto,
atravessam as células do tubo digestivo com a ajuda de proteínas bacterianas chamadas
GroEl, se acumulam nas glândulas salivares e em seguida são injetados no floema vegetal
14
(Gray & Gildow, 2003). Estima-se que 30 minutos após da aquisição viral em uma planta
infectada, os insetos estejam aptos a transmití-los para outras plantas. A especificidade
da transmissão ocorre em duas etapas: primeiro no reconhecimento da proteína GroEl e em
seguida no acesso do rus às células das glândulas salivares. Especula-se que
possivelmente a RTD viral possa interagir de forma específica com genes presentes na
membrana das células salivares. Um trabalho recente comparando insetos transmissores e
não transmissores de um isolado de BYDV-PAV indicou que possivelmente apenas um
gene do inseto pode estar envolvido nessa interação (Burrows et al., 2007).
Assim como observado para os membros da família, a transmissão da doença azul
do algodoeiro ocorre de forma circulativa o-propagativa. O vetor da doença, Aphis
gossypii, é transmissor de outras luteoviroses, como as causadas pelo Cucurbit aphid-borne
yellows virus (CABYV), um Polerovirus. Além disso, os sintomas de enrolamento de folha
são muito parecidos com os desenvolvidos pelo PLRV em barata e o amarelecimento de
nervuras semelhante ao provocado pelo BWYV em diversas plantas. As semelhanças
biológicas entre as doenças, aliadas aos resultados preliminares de sorologia indicam
fortemente, portanto, que a doença azul esteja associada com um vírus da família
Luteoviridae.
Capítulo I
_________________________________________________________________________
OBJETIVOS
16
I.2 – Objetivos
A primeira parte deste trabalho de tese teve como objetivo geral identificar e
caracterizar molecularmente o vírus responsável pela doença azul do algodoeiro. Os
objetivos específicos foram:
Propagar a doença azul do algodoeiro em casa de vegetação;
Desenhar oligonucleotídeos degenerados para a amplificação de regiões
conservadas no genoma dos membros dos gêneros Luteovirus e Polerovirus;
Amplificar, clonar e seqüênciar parte do genoma viral, compreendendo parte dos
genes coficadores da polimerase e da proteína de transmissão, toda a região
codificadora do capsídeo viral e proteína do movimento e toda a região intergênica;
Determinar a relação filogenética com demais membros da família Luteoviridae;
Analisar filogenia com seqüências amplificadas;
Desenvolver kit diagnóstico através de RT-PCR e hibridação com sonda molecular;
Capítulo I
_________________________________________________________________________
MATERIAL
E
MÉTODOS
18
I.3 – Material e Métodos
I.3.1 – Propagação viral em casa de vegetação
Plantas de algodão (Gossypium hirsutum L) cultivar CNPA ITA 90 da safra
2003/2004 apresentando sintomas típicos da doença azul foram coletadas em campo no
município de Primavera do Leste, Mato Grosso, e enviadas pelo pesquisador Paulo
Augusto Vianna Barroso (CNPA Embrapa Algodão Campina Grande PB). Pulgões
(Aphis gossypii) coletados em plantas apresentando sintoma característico da doença azul
foram utilizados como fonte para a transmissão do vírus para plantas jovens de algodão da
mesma cultivar, crescidas e mantidas em casa de vegetação. Estas plantas foram
acompanhadas diariamente para a observação do aparecimento de sintomas e evolução da
doença. A casa de vegetação utilizada é fechada por vidros e totalmente vedada, tendo a
temperatura ajustada a 28 ± 2
o
C e mantida constante por compressores.
Para a propagação da doença, plantas doentes foram infestadas por pulgões não
infectados durante dois dias para a aquisição viral. Cerca de dez pulgões infectados foram
transferidos para cada planta jovem da variedade CNPA ITA 90. Os insetos foram mantidos
nestas plantas por dois dias e em seguida eliminados através da pulverização do inseticida
Orthene. Plantas infectadas foram mantidas em isolamento dentro de caixas de madeira,
vidro e telado de voil.
I.3.2 – Desenho de oligonucleotídeos
Com o objetivo de verificar a existência de luteovirus e/ou polerovirus associados à
doença azul, genomas de membros da família Luteoviridae foram obtidos no GeneBank
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov) e suas seqüências alinhadas através do programa ClustalW.
Os genomas utilizados nos alinhamentos para membros do gênero Luteovirus foram:
Soybean dwarf virus (SbDV), NC 003056; Bean leafroll virus (BLRV), NC 003369; Barley
yellow dwarf virus-PAV (BYDV-PAV), NC 004750; Barley yellow dwarf virus-PAS
(BYDV-PAS), NC 002160; Barley yellow dwarf virus-GAV (BYDV-GAV), NC 004666;
Barley yellow dwarf virus-MAV (BYDV-MAV), NC 003680; Os genomas utilizados nos
19
alinhamentos para membros do gênero Polerovirus foram: Turnip yellows virus (TYV), NC
003743; Beet mild yellowing virus (BMYV), NC 003491; Beet chlorosis virus (BChV), NC
002766; Beet western yellows virus (BWYV), NC 004756; Cucurbit aphid-borne yellows
virus (CAbYV), NC 003688; Potato leafroll virus (PLRV), NC 001747; Cereal yellow
dwarf virus-RPV (CYDV-RPV),NC 004751; Cereal yellow dwarf virus-RPS (CYDV-RPS),
NC 002198. Os alinhamentos foram analisados e as seqüências com maiores veis de
conservação foram selecionadas para o desenho de iniciadores degenerados. As seqüências
de todos os oligos desenhados para amplificar o genoma viral estão listadas na Tabela 1.
Tabela 1: Oligonucleotídeos desenhados para amplificar o genoma do rus associado
com a doença azul do algodoeiro baseado no alinhameto completo de membros da
família viral Luteoviridae.
Oligo Seqüência Degeneração Região do genoma
LUTF TTTTTAGAGGGGCTCTGYDCCGMCTCYGGTT
24x Polimerase
LUTR TGTTGGTCRAAKCKRCTVGCATC 48x Polimerase
PLF ACDGAYTGYTCYGGTTTYGACTGG 48x Polimerase
PLR TCTGAWARASWCGGCCCGAASGTGA 32x CP
PL2F AACAATTAGGTTTTAAAGTCGAGG 0x Polimerase
PL2R TTCTACCCACGACCGTATTCAT 0x CP
PL4F TGCGACAAATAGTTAATGAATACGGT 0x CP
o3R GTCTACCTATTTBGGRTTNTGGAA 24x CP
P1-2F GGCTTCGGSTGGCCCMAGTTCGG 4x Polimerase
PL3R ACDCTCCAGTCRAAACCRGAGCA 12x Polimerase
CPstF TTTAGGGTCACAATTCGGTGCCA 0x CP
o5R CCRTAHGARACRGCRTARTTRTA 192x RTD
Bases degeneradas estão representadas pelas letras R (A ou G), Y (C ou T), M (A ou C), K
(G ou T), S (G ou C), W (A ou T), H (A, C ou T), H (A, C ou T), B (G, T ou C), V (G, C
ou A), D (G, A ou T) e N (A, T, C ou G). A última letra no nome do oligo indica sua
orientação: F são os oligos anelando em regiões 5’ e R indica o oligonucleotídeos reverso,
que anela na região 3’ do DNA. O grau de degeneração de cada oligo é dado.
20
I.3.3 – Amplificação do genoma viral por PCR
Folhas de plantas infectadas na casa de vegetação apresentando sintomas da doença
azul foram maceradas na presença de nitrogênio líquido e em seguida o RNA total foi
extraído através do kit de purificação RNeasy (Qiagen Co.), seguindo as recomendações do
fabricante. O RNA extraído foi quantificado através de leitura da densidade ótica (D.O.) em
espectrofotômetro e gel de agarose. O cálculo da concentração de RNA foi feito utilizando-
se um valor padrão onde 1 D.O. equivale a 40 µg de RNA.
Para a síntese de cDNA, cerca de 3 µg de RNA total foram misturados com 5 µM de
oligonucleotídeo reverso, L de dNTP 10 mM e água até atingir o volume de 10 µL. A
mistura foi aquecida a 70 ºC por 10 minutos, colocada diretamente no gelo e em seguida
foram adicionados 200U de transcriptase reversa Superscript II (Invitrogen), 20 mM de
DTT, 1X de tampão da primeira fita, em um volume final de 20 µL. A reação foi realizada
por 2 horas a 45 ºC e em seguida a enzima foi desnaturada a 70ºC por 15 minutos. A reação
de PCR foi realizada com 2 µL do cDNA sintetizado, 1X de tampão da Taq polimerase,
2,5U de Taq polimerase, 2 µM de cada oligonucleotídeo, 1,5 mM de MgCl
2
e 0,2 mM de
dNTP, em um volume final de 50 µL. O programa utilizado para a ciclagem foi: 95 ºC por
5 minutos, 95 ºC por 1 minuto, temperatura de anelamento dos oligonucleotídeos por 1
minuto, 72 ºC por 2 minutos, repetir ciclagem por 40 vezes e finalmente uma polimerização
por 10 minutos a 72 ºC.
I.3.4 – Clonagem dos fragmentos amplificados em vetores pGEMT-Easy
As seqüências amplificadas foram ligadas em vetores pGemT-Easy (Promega). Para
isso, 5 µL da reação de PCR foram misturados com 5 ng de vetor, 1X de tampão de ligação
e 3U de T4 DNA ligase, em um volume final de 30 µL. A ligação foi realizada por oito
horas a 16 °C e em seguida precipitada por 3 horas à -80 ºC com 20 ng de glicogênio, 0,2X
de NaCl 5 M e 2,5X de etanol absoluto. O precipitado foi centrifugado por 30 minutos a
12000 rpm, lavado duas vezes com etanol 70% e ressuspenso em 10 µL de água estéril.
O DNA ligado foi transformado em células competentes de Escherichia coli XL1
através de eletroporação (25 µF, 200 e 1,80 kV, Biorad) e em seguida as bactérias foram
21
plaqueadas em meio LB sólido (bactotriptona 10 g/l, extrato de levedo 5 g/l, NaCl 10 g/l,
pH 7,2, agarose 0,8%) contendo ampicilina (50 mg/ml), 20 µl de IPTG (1M) , 100 µl de
X-gal 20 mg/mL e 80 µl de LB quido. Bactérias eletro competentes da cepa XL1 foram
preparadas de acordo com o descrito em Maniatis et al. (1989). A mini-preparação
plasmidial seguiu os procedimentos descritos por Feliciello & Chinali (1993). O DNA
plasmidial precipitado foi ressuspenso em cerca de 100 µL de água e quantificado em gel
de agarose. A confirmação da clonagem foi feita pela digestão dos vetores extraídos com a
enzima EcoRI (Invitrogen).
I.3.5 – Seqüenciamento de nucleotídeos
Cerca de 200 ng de DNA plasmidial foram utilizados para o seqüenciamento através
do método de terminação por di-deoxi nucleotídeos. O DNA foi misturado com 0,5 µM de
iniciador específico, 3,5 µL de tampão de seqüenciamento e 1 µL de “BigDye” (mistura
contendo dNTPs livres, dNTPs marcados com fluorescência e Taq polimerase), em um
volume final de 10 µL. A reação foi ciclada nas seguintes condições: 95 °C por 2 minutos;
25 repetições de 95°C por 45 segundos, 50 °C por 30 segundos e 60 °C por 4 minutos. Em
seguida foram adicionados 10 µL de água, 2 µL de NaCl 5M e 50 µL de etanol absoluto. A
reação foi precipitada por 8 horas a -20 °C, centrifugada a 4 °C por 45 minutos a 4000 rpm,
lavada com etanol 70% e ressuspensa em 10 µL de água.
Para garantir fidelidade de seqüência, de três a seis clones de cada fragmento,
oriundos de diferentes reações de PCR, foram seqüenciados em ambas as direções, através
dos oligonucleotídeos T7 e M13 que anelam no vetor. A reação foi processada pelo
pesquisador Jean Luiz Araújo (Embrapa Agrobiologia Seropédica RJ) através de um
seqüenciador automático MegaBACE.
I.3.6 – Análise das seqüências de nucleotídeos
As seqüências das regiões amplificadas por RT-PCR foram inicialmente
comparadas com todas as seqüências depositadas no GeneBank, EMBL e DDBJ usando o
programa BLAST (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST). Em seguida, seqüências
22
correspondentes à região amplificada de diferentes membros da família Luteoviridae foram
alinhadas através do programa ClustalW (http://www.ebi.ac.uk/clustalw) e em
posteriormente analisadas no programa MEGA2 (http://www.megasoftware.net) para a
reconstrução filogenética. Os vírus analisados foram: Chickpea stunt disease associated
virus (CpSDaV), Y11530; Groundnut rosette assistor virus (GRAV), AF195828; Tobacco
vein distorting virus, AM411003; Pea enation mosaic virus-1, NC_003629 e todos os
demais citados no ítem I.3.2. Árvores filogenéticas foram feitas através do método de
Neighbor-joiningcom 3000 mil réplicas, usando-se a opção p-distancecomo matriz e
pairwise deletion para a eliminação de gaps no alinhamento. As deduções das
seqüências de aminoácido foram feitas pelo pacote de ferramentas de bioinformática do
BCM (http://searchlauncher.bcm.tmc.edu/seq-util/seq-util.html). A estimativa dos pesos
moleculares das proteínas foi feita pelas ferramentas disponibilizadas pelo Instituto Suíço
de Bioinformática (SIB), através do site: http://br.expasy.org/tools/pi_tool.html. O cálculo
das identidades entre as seqüências foi realizado através do programa GeneDoc
(http://www.nrbsc.org/gfx/genedoc/index.html).
I.3.7 – Southern blot
O DNA amplificado total foi eletroforeticamente separado em gel de agarose 0,8%,
com tampão de corrida TAE 0,5X e posteriormente fotografado no transiluminador e a
posição do marcador molecular foi anotada. Em seguida este foi transferido para um
recipiente de plástico e agitado, suavemente, em 2-3 volumes (50 100 ml) de solução de
depurinação (0,25 M de HCl) por 7 minutos. A solução foi decantada, o gel foi lavado em
água destilada e agitado novamente com uma solução de desnaturação (0,5 M de NaOH,
1,5 M de NaCl) por 30 minutos, trocando a solução duas vezes. Após decantação da
solução e lavagem do gel em água destilada, uma última agitação foi feita em uma solução
de neutralização (3 M de NaCl, 0,5 M Tris-HCl, pH 7,4) por 30 minutos, trocando a
solução duas vezes.
A solução e o gel foram novamente decantados e lavados, respectivamente, e o
aparato de transferência foi montado, utilizando-se filtro de nylon (Hybond N/ Amersham),
3-6 folhas de papel 3 MM e papel toalha ou jornal até atingir uma altura de 8 cm. O tampão
23
SSC 20X (3 M NaCl, 0,3 M citrato de sódio, pH 7,0) foi utilizado como carreador, por
cerca de 16 horas. O aparato foi em seguida desmontado, o filtro foi lavado em 3X SSC e
depois o DNA foi fixado à membrana por exposição à UV (GS Gene Linker UV
Chamber).
As pré-hibridações foram feitas a 65 ºC por 2 horas, utilizando-se uma solução de
hibridação contendo tampão fosfato 0,5 M, SDS 7% e EDTA 1 mM. Seguiu-se uma
hibridização de 20 horas a 65º C com sondas correspondentes a CP ou a polimerase viral
marcadas radioativamente através de “random primer” (PerkinElmer) com αdCTP
32
,
previamente purificada em coluna de Sephadex G50 (Sigma) e desnaturada a 95º C por 10
minutos. As lavagens foram realizadas com 3X SSC, 1% SDS; 1X SSC, 1% SDS e 0,1X
SSC, 1% SDS. As membranas foram expostas a filmes Kodak X AR (Kodak) por tempo
variado em freezer a – 80º C.
I.3.8 – Northern blot
O diagnóstico viral foi realizado com experimentos de northern blot. Cerca de 30
µg de RNA total foram misturados com 2,5 µL de MOPS 10X, 5 µL de formaldeído 37%,
12,5 µL de formamida e 1 µg de brometo, atingindo um volume final de 26 µL. Em seguida
as amostras foram aquecidas por 15 minutos a 55 ºC e aplicadas em um gel de agarose 1,2
%, contendo 1X MOPS e 3% de formaldeído. A migração do RNA em gel foi feita por 4
horas a 80 V, em tampão de corrida MOPS 1X.
Após o rmino da eletroforese, o gel foi colocado em uma ponte de transferência
com SSC 20X e um filtro de náilon (Hybond N/Amersham) sobre ele. Sobre o filtro
colocou-se 3-6 folhas de papel 3 MM e, por cima,rias camadas de papel toalha ou jornal
até atingir uma altura de 8 cm. Colocou-se por cima de tudo uma placa de vidro com um
peso e deixou-se transferindo por aproximadamente 16 horas. O aparato foi desmontado, o
filtro foi lavado em 3X SSC e depois o RNA foi fixado à membrana por exposição ao UV
(GS Gene Linker UV Chamber). A pré-hibridação, a hibridação e as lavagens seguiram o
mesmo protocolo descrito nos experimentos de Southern blot do item III.7.
Capítulo I
_________________________________________________________________________
RESULTADOS
25
I.4 – Resultados
I.4.1 – Reprodução dos sintomas da doença azul em casa de vegetação
Pulgões coletados em plantas de algodão com sintomas da doença azul de fazendas
de cultivo do município de Primavera do Leste (Mato Grosso) foram transferidos para
plantas saudáveis CNPA ITA 90 em casa de vegetação; e, em seguida, eliminados através
do inseticida orthene. Durante a primeira passagem foi possível observar sintomas típicos
da doença, tais como encurtamento dos entrenós, folhas rugosas e com curvatura nos
bordos, enrolamento das folhas em sua superfície inferior, associados a uma coloração
verde-escura com tonalidade azulada (Figura 2). Os primeiros sintomas da doença foram
observados aproximadamente 15 dias após a inoculação viral, caracterizando-se
principalmente pelo enrolamento das folhas (Figura 2B). As folhas jovens cresciam com
fenótipo de enrolamento e, com o tempo, passavam a apresentam sintomas de
amarelecimento das nervuras, muito comum em infecções associadas com membros da
família Luteoviridade (Figura 2D). As fases mais tardias da infecção, cerca de 15 dias após
o inóculo, caracterizaram-se por escurecimento das folhas e uma drástica redução no porte
das plantas (Figura 2E).
26
Figura 2: Sintomas da doença azul do algodoeiro reproduzidos em casa de vegetação
via inoculação com o inseto transmissor Aphis gossypii. A Folha expandida de uma
planta sadia; B Sintomas de enrolamento de folha em planta infectada; C Folha jovem
sadia; D Folha jovem apresentando sintoma de amarelecimento das nervuras; E
Sintoma de nanismo em fases tardias de infecção, aproximadamente 30 dias após a
inoculação viral (plantas 1, 2, 3), ao lado de uma planta sadia (planta 4).
1 2 3 4
27
I.4.2 Identificação do Cotton leafroll dwarf virus (CLRDV), um Polerovirus
associado à doença azul do algodoeiro
Com o objetivo de verificar a existência de luteovirus e/ou polerovirus associados à
doença azul, os genomas completos dos membros sequenciados da família Luteoviridae
foram obtidos no GeneBank e suas seqüências nucleotídicas alinhadas através do programa
ClustalW. O alinhamento dos membros do gênero Luteovirus, realizado com os vírus
SbDV, BLRV, BYDV-PAV, BYDV-PAS, BYDV-GAV, BYDV-MAV, mostrou duas
regiões conservadas, ambas na polimerase (ORF2). Assim, foram desenhados dois
iniciadores nessa região, chamados de LUTF, com 31 bases e degeneração de 24 vezes e
LUTR, com 23 bases e degeneração de 48 vezes (Tabela 1). O par amplificaria um
fragmento de aproximadamente 700 pares de base do gene da polimerase viral. No entanto,
os testes realizados em RNA total de plantas doentes não apresentaram resultados positivos,
indicando a ausência de membros desse gênero associados à doença (dados não mostrados).
Os genomas completos de oito membros do gênero Polerovirus foram alinhados:
TYV, BMYV, BWYV, BChV, CABYV, PLRV, CYDV-RPV, CYDV-RPS. A análise do
alinhamento indicou a existência de regiões conservadas e, com isso, oligonucleotídeos
específicos para esse gênero (PLF e PLR), foram desenhados (Tabela 1; Figura 3). O oligo
PLF anela no início do gene da polimerase (OFR2) e o oligo PLR em uma região
conservada na região central do gene da proteína capsidial (Figura 3). Dessa forma, o
fragmento amplificado pelo par PLF/PLR teria cerca de 1100 bases, compreendendo parte
do gene da polimerase, toda a região intergênica e parte do gene da CP. A análise do
produto de amplificação em gel de agarose mostrou a existência de bandas com o tamanho
esperado em três plantas infectadas quando amplificadas com os oligonucleotídeos
específicos para Polerovirus (Figura 4A, painel superior). Algumas bandas de baixa
intensidade de tamanhos não esperados foram observadas na planta não infectada utilizada
como controle. No entanto, experimentos de Southern blot usando uma sonda específica
para o gene do capsídeo viral mostraram que essas bandas eram amplificações
inespecíficas, possivelmente resultado da degeneração dos oligos (Figura 4A, painel
inferior).
28
Figura 3: Representação esquemática do genoma dos Polerovirus. As posições de
anelamento dos oligos desenhados para amplificar segmentos do genoma do vírus
associado à doença azul do algodoeiro estão indicadas por setas. ORF 1 e ORF2
Polimerase; ORF3 Proteína do capsídeo; ORF4 Proteína de movimento; ORF3 e ORF5
– Proteína de transmissão.
Figura 4: Amplificação parcial do genoma do CLRDV. A Produto de amplificação
obtido pelo par de oligos PLF/PLR. O fragmento amplificado contém parte dos genes
codificadores da polimerase e do capsídeo viral e toda a região intergênica. Painel superior:
gel de agarose corado com brometo de etídio; Painel inferior: Southern blot hibridado com
sonda específica para a CP viral. B – Amplificação da seqüência completa do gene
codificador da CP viral com os oligos PL4F e o3R. Painel superior: gel de agarose corado
com brometo de etídio; Painel inferior: Southern blot hibridado com sonda específica para a
CP viral. Inoc – Plantas inoculadas com o vírus; Ni – Planta não inoculada.
29
Os fragmentos amplificados foram clonados em pGEMT-Easy e três a seis clones
de cada amplicon foram seqüenciados. Após os primeiros resultados de seqüenciamento,
que gerou seqüências correspondentes às extremidades do fragmento amplificado, oligos
internos PL2F e PL2R, com seqüências específicas do vírus, foram desenhados para o
seqüenciamento completo do fragmento (Tabela 1; Figura 3). Como esperado, a análise das
seqüências mostraram que os amplicons apresentam alta similaridade com membros do
gênero Polerovirus. Dos 1.058 nucleotídeos obtidos, 612 tinham identidade com o gene da
polimerase viral, 187 com a região intergênica e 259 bases com o gene da capa protéica. As
seqüências foram depositadas no GeneBank sob os meros de acesso AY758560 e
AY758561.
Com o intuito de melhor analisar o vírus identificado, os oligonucleotídeos PL4F
(não degenerado) e o3R (degenerado) foram desenhados para a amplificação de todo o gene
da capa protéica (ORF3) (Tabela 1; Figura 3). Um fragmento de 606 bases foi amplificado,
clonado e seqüenciado (Figura 4B, painel superior). Experimentos de Southern blot
utilizando o gene da proteína capsidial marcado radioativamente mostraram que a banda
amplificada no experimento de PCR realmente corresponde a parte do genoma viral.
A dedução da seqüência de aminoácidos indicou que a proteína da CP, com 201
aminoácidos, tem um peso molecular de aproximadamente 22.3 kDa. A análise de
seqüência indicou que a mesma apresenta 92% de identidade com a CP do Chickpea stunt
disease associated virus (CpSDaV), um membro ainda não classificado da família
Luteoviridae (Tabela 2). O CpSDaV é um vírus endêmico da Índia que infecta leguminosas
(Reddy & Kumar, 2004). Análise do alinhamento mostrou que os rus apresentam apenas
nove substituições de aminoácido. No entanto, somente parte da seqüência do gene do
capsídeo do CpSDaV está disponibilizada no banco de dados do NCBI. Dessa forma, ainda
não é possível precisar corretamente o grau de parentesco entre esses dois vírus.
Identidades significativas foram obtidas com outros membros do gênero Polerovirus, tais
como TYV (79%), BMYV (78%), BChV (78%) e BWYV (78%) (Tabela 2). Os critérios de
taxonomia da família Luteoviridae dizem que se dois rus apresentam similaridade de
seqüência na CP inferior a 90%, estes já podem ser considerados como membros de
espécies diferentes (Van Regenmortel et al., 1997). O vírus associado com a doença azul
30
apresenta identidade abaixo de 90% com todos os membros definitivos da família e,
portanto, deve constituir-se de uma nova espécie.
Em função dos sintomas observados em campo o vírus foi denominado Cotton
leafroll dwarf virus (CLRDV). Um alinhamento da seqüência de aminoácido de membros
da família mostrou que os resíduos expostos na superfície da CP do PLRV (Terradot et al.,
2001) e do BWYV (Brault et al., 2003) também estão conservados na capa protéica do
CLRDV, indicando que são potencialmente imunogênicos (Figura 5).
A análise filogenética do CLRDV mostrou que o rus se encontra, junto com o
CpSDaV, em um clado fortemente suportado que contém todos os rus de beterraba e
também o TYV (Figura 6A). O rus se encontra claramente, portanto, no ramo específico
dos Polerovirus.
31
Chickpea stunt disease associated virus (CpSDaV), Y11530; Turnip yellows virus (TYV),
NC 003743; Beet mild yellowing virus (BMYV), NC 003491; Beet chlorosis virus (BChV),
NC 002766; Beet western yellows virus (BWYV), NC 004756; Groundnut rosette assistor
virus (GRAV), AF195828; Cucurbit aphid-borne yellows virus (CAbYV), NC 003688;
Cereal yellow dwarf virus-RPV (CYDV-RPV),NC 004751; Cereal yellow dwarf virus-RPS
(CYDV-RPS), NC 002198; Potato leafroll virus (PLRV), NC 001747; Soybean dwarf virus
(SbDV), NC 003056; Tobacco vein distorting virus, AM411003; Bean leafroll virus
(BLRV), NC 003369; Barley yellow dwarf virus-PAV (BYDV-PAV), NC 004750; Barley
yellow dwarf virus-PAS (BYDV-PAS), NC 002160; Barley yellow dwarf virus-GAV
(BYDV-GAV), NC 004666; Barley yellow dwarf virus-MAV (BYDV-MAV), NC 003680;
Pea enation mosaic virus-1, NC_003629
32
33
Figura 5: Alinhamento da seqüência de aminoácidos da CP do CLRDV com CPs de
outros Luteoviridae. Regiões em preto significam resíduos que estão presentes em todos os
vírus do alinhamento. Colunas no alinhamento com menos de 100% de conservação e com
mais de 60% estão representadas em cinza. Os resíduos E109, E170, D173, E176 e D177,
presentes na superfície da CP, estão destacados. Cotton leafroll dwarf virus (CLRDV),
AY758560; Chickpea stunt disease associated virus (CpSDaV), Y11530; Turnip yellows
virus (TYV), NC 003743; Beet western yellows virus (BWYV), NC 004756; Beet mild
yellowing virus (BMYV), NC 003491; Beet chlorosis virus (BChV), NC 002766; Potato
leafroll virus (PLRV), NC 001747; Cereal yellow dwarf virus-RPS (CYDV-RPS), NC
002198; Cereal yellow dwarf virus-RPV (CYDV-RPV), NC 004751; Cucurbit aphid-borne
yellows virus (CAbYV), NC 003688; Groundnut rosette assistor virus (GRAV),
AF195828; Sugarcane yellows virus (ScYV), NC 000874; Tobacco vein distorting virus,
AM411003; Bean leafroll virus (BLRV), NC 003369; Soybean dwarf virus (SbDV), NC
003056; Barley yellow dwarf virus-GAV (BYDV-GAV), NC 004666; Barley yellow dwarf
virus-MAV (BYDV-MAV), NC 003680; Barley yellow dwarf virus-PAV (BYDV-PAV),
NC 004750; Barley yellow dwarf virus-PAS (BYDV-PAS), NC 002160; Pea enation
mosaic virus-1, NC_003629
34
Figura 6: Análise filogenética do CLRDV e outros membros da família Luteoviridae. A
Filogenia com a CP do CLRDV e outros Luteoviridae. B Filogenia da parte C-terminal
da polimerase do CLRDV e outros Luteoviridae. As filogenias foram realizadas através de
Neighbor joinning, distância p, com 1000 replicatas. Chickpea stunt disease associated
virus (CpSDaV), Y11530; Turnip yellows virus (TYV), NC 003743; Beet western yellows
virus (BWYV), NC 004756; Beet mild yellowing virus (BMYV), NC 003491; Beet
chlorosis virus (BChV), NC 002766; Potato leafroll virus (PLRV), NC 001747; Cereal
yellow dwarf virus-RPS (CYDV-RPS), NC 002198; Cereal yellow dwarf virus-RPV
(CYDV-RPV), NC 004751; Cucurbit aphid-borne yellows virus (CAbYV), NC 003688;
Groundnut rosette assistor virus (GRAV), AF195828; Sugarcane yellows virus (ScYV),
NC 000874; Tobacco vein distorting virus, AM411003; Bean leafroll virus (BLRV), NC
003369; Soybean dwarf virus (SbDV), NC 003056; Barley yellow dwarf virus-GAV
(BYDV-GAV), NC 004666; Barley yellow dwarf virus-MAV (BYDV-MAV), NC 003680;
Barley yellow dwarf virus-PAV (BYDV-PAV), NC 004750; Barley yellow dwarf virus-PAS
(BYDV-PAS), NC 002160; Pea enation mosaic virus-1, NC_003629
35
I.4.3 – Seqüências da proteína do movimento, polimerase e região intergênica
A seqüência da ORF4 (ou MP, de “Movement Protein”) do CLRDV, região
possivelmente codificadora de uma proteína responsável pelo movimento viral de célula a
célula, também foi obtida. Essa proteína é expressa através de uma fase aberta de leitura
existente dentro da seqüência da CP (Figura 1). No CLRDV a seqüência traduzida
apresenta 174 aminoácidos e um peso molecular estimado de 19,8 kDa. Em geral, a MP dos
Luteovirus e Polerovirus apresentam peso estimado de 17 kDa e 19 kDa, respectivamente.
Dessa forma, o peso estimado para a MP do CLRDV está em acordo com o observado para
os membros do gênero Polerovirus. Além disso, a análise da seqüência mostrou que, assim
como na região da CP, a MP do CLRDV também apresenta identidades mais altas com
membros do gênero Polerovirus, tais como TYV, BMYV, BChV e BWYV (Tabela 2).
Os 612 nucleotídeos obtidos da ORF2 viral codificam 203 aminoácidos da região
C-terminal da polimerase (RdRp). A análise das identidades indica que ORF2 do CLRDV
está mais relacionada com membros do gênero Polerovirus do que com membros do gênero
Luteovirus (Tabela 2). Na filogenia, a seqüência agrupa com o TYV, um membro do
gênero Polerovirus, confirmando, dessa forma, os dados de identidade (Figura 6B). No
entanto, não foi possível determinar o grau de parentesco dessa região do CLRDV com o
CpSDaV, pois somente parte da seqüência da CP está depositada no Genebank para esse
vírus. Com o intuito de melhor analisar a região da polimerase viral, os oligos P1-2F e
PL3R foram desenhados para clonar e seqüênciar regiões acima do fragmento inicialmente
obtido pelo par de oligos PLF/PLR (Tabela 1; Figura 3). O oligo P1-2F apresenta
degeneração de quatro vezes e foi desenhado alinhando-se apenas os rus mais
relacionados com o CLRDV na região da polimerase: TYV, BMYV, BWYV e CABYV
(Tabela 1; Figura 3; Figura 6B). O oligo PL3R foi feito baseando-se apenas na seqüência
do próprio CLRDV. No entanto, uma degeneração de 12 vezes foi introduzida nesse oligo
para cobrir a diversidade de nucleotídeos observada dentro dos clones obtidos para o vírus.
Vale ressaltar, no entanto, que as mudanças de nucleotídeos observadas em diferentes
clones do CLRDV não promoveram alteração na seqüência de aminoácidos nessa região
(dados não mostrados). Assim, foi possível seqüênciar mais 714 nucleotídeos do gene da
polimerase viral, obtendo-se toda a região da ORF2 não sobreposta com a ORF1 e mais 40
36
bases da região de sobreposição entre as ORF1 e ORF2. As análises de identidade e
filogenia com o novo fragmento corroboraram os dados obtidos para o fragmento C-
terminal da polimerase (dados não mostrados).
A região intergênica entre a ORF2 e a ORF3 também foi obtida. Membros do
gênero Luteovirus, em geral, apresentam uma região intergênica de 100 nucleotídeos e
membros do gênero Polerovirus de aproximadamente 200 nucleotídeos. No CLRDV essa
seqüência apresenta 187 nucleotídeos e, dessa forma, corrobora os dados obtidos para a CP,
MP e RdRp, indicando que o vírus é um membro típico do gênero Polerovirus.
I.4.4 – Proteína de transmissão
Uma região de 620 nucleotídeos do gene da proteína de transmissão viral (ORF5)
foi obtida com os oligos CPstF e o5R (Tabela 1; Figura 3). A análise da seqüência no
programa BLAST mostrou que a ORF5 do CABYV, um vírus também transmitido pelo
Aphis gossypii, é a mais próxima da ORF5 obtida para o CLRDV (dados não mostrados).
Esse resultado poderia indicar que as proteínas codificadas por esses genes estariam sob
pressão seletiva para permitir a sua transmissão pelo pulgão. A análise da filogenia dessa
região mostrou, como esperado, que o CLRDV agrupa com o CABYV e ambos estão em
um clado muito bem suportado que inclui também os vírus Sugarcane yellow leaf virus
(ScYLV) e Chickpea chlorotic stunt virus (CpChSV) (Figura 7). Esse clado, no entanto,
está fora do grupo contendo os demais membros do nero Polerovirus. Esse resultado
indica, portanto, que as proteínas de transmissão dos vírus ScYLV, CpChSV, CABYV e
CLRDV são muito semelhantes entre si e estatisticamente diferentes dos demais membros
do gênero. No entanto, não evidências de que ScYLV e CpChSV sejam transmitidos
pelo Aphis gossypii.
37
Figura 7: Filogenia com parte da proteína de transmissão (ORF5) do CLRDV e
demais membros da família Luteoviridae. A filogenia foi realizada através de Neighbor
joinning, distância p, com 1000 replicatas. Turnip yellows virus (TYV), NC 003743; Beet
western yellows virus (BWYV), NC 004756; Beet mild yellowing virus (BMYV), NC
003491; Beet chlorosis virus (BChV), NC 002766; Potato leafroll virus (PLRV), NC
001747; Cereal yellow dwarf virus-RPS (CYDV-RPS), NC 002198; Cereal yellow dwarf
virus-RPV (CYDV-RPV), NC 004751; Cucurbit aphid-borne yellows virus (CAbYV), NC
003688; Sugarcane yellows virus (ScYV), NC 000874; Soybean dwarf virus (SbDV), NC
003056; Barley yellow dwarf virus-GAV (BYDV-GAV), NC 004666; Barley yellow dwarf
virus-MAV (BYDV-MAV), NC 003680; Barley yellow dwarf virus-PAV (BYDV-PAV),
NC 004750; Barley yellow dwarf virus-PAS (BYDV-PAS), NC 002160; Carrot red leaf
virus (CRLV), NC 006265; Chickpea chlorotic stunt virus (CpChSV), NC_008249.
TYV
BW YV
BMYV
BChV
CYDV RPS
CYDV RPV
SbDV
PLRV
CRLV
BYDV GAV
BYDV MAV
BYDV PAS
BYDV PAV
ScYLV
CpChSV
CLRDV
CAbYV
100
100
100
100
100
100
100
50
100
99
74
47
30
100
0.05
38
I.4.5 – Diagnóstico molecular da doença azul
A análise do alinhamento das seqüências do capsídeo obtidas dos diversos clones
do CLRDV permitiu a elaboração de um par de oligos específico para esse vírus. As
regiões utilizadas para o desenho dos oligos CPF e CPR estão destacadas na figura 8. As
seqüências selecionadas para os oligos não estão conservadas nos demais membros da
família. Buscas com o programa BLAST confirmaram a especificidade dos oligos
desenhados, pois não foram encontradas identidades significativas com outros membros da
família Luteoviridae e nem com seqüências do genoma de algodão (dados não mostrados).
Para testar a eficiência da detecção, RNAs totais de plantas doentes provenientes de
Cascavel (Paraná) foram extraídos e amplificados. Os vírus existentes nessas plantas
tinham sido trazidos de Primavera do Leste (MT) e estavam sendo propagados mais de
dois anos na estação experimental da Coodetec, uma cooperativa central de pesquisa
agrícola criada pela Organização de Cooperativas do Estado do Paraná. As reações de RT-
PCR foram capazes de amplificar o vírus de forma eficiente e específica (Figura 9). Os
fragmentos amplificados foram clonados e seqüenciados. As análises confirmaram que os
amplicons tratavam-se do mesmo vírus amplificado em plantas oriundas de Primavera do
Leste (dados não mostrados).
39
Figura 8: Desenho de oligos específicos para o diagnóstico molecular do CLRDV. Os
genes da CP dos Luteoviridae foram alinhados com a CP do CLRDV. Regiões em cinza
representam resíduos com conservação entre 60% e 100% entre membros. Alinhamento foi
realizado com o programa Multalign e analisado no GeneDoc. As regiões usadas para
desenhar os oligos de ida e volta específicos para o CLRDV estão marcados em azul e
vermelho, respectivamente.
40
Figura 9: Eficiência do diagnóstico molecular para a doença azul. Amplificação por
RT-PCR da CP viral a partir de RNA total extraído de plantas inoculadas a partir de
material apresentando sintomas típicos da doença azul coletado em Primavera do Leste e
mantidas em casa de vegetação em Cascavel, PR. 1- Lambda DNA digerido com PstI; 2 a
7- Plantas sintomáticas para doença azul do algodoeiro; 8- Controle negativo (planta sadia).
41
I.4.6 – Detecção por northern blot
Experimentos de northern blot foram realizados em plantas sadias e em plantas com
30 dias após a infecção. Duas bandas foram observadas nos RNAs totais extraídos de
plantas infectadas, possivelmente correspondendo aos RNAs genômicos e sub-genômicos
(Figura 10). Nenhuma banda foi observada nos RNAs extraídos de plantas não infectadas.
42
Figura 10: Detecção do RNA genômico do CLRDV por Northern blot em plantas
apresentando sintomas da doença azul. Inoc – plantas doentes, 30 dias após a inoculação.
Ni plantas sadias. 30 µg de RNA total foram aplicados em cada pista e hibridados com
um fragmento correspondendo a CP viral.
Capítulo I
_________________________________________________________________________
DISCUSSÃO
E
PERSPECTIVAS
44
I.5 – Discussão e Perspectivas
Nesse trabalho foi realizada a caracterização molecular de um vírus associado com a
doença azul do algodoeiro, uma doença economicamente importante no Brasil e em
diversas regiões produtoras do mundo. Os sintomas apresentados pelas plantas em campo e
testes sorológicos prévios (Takimoto, 2003) indicavam que o vírus poderia pertencer à
família Luteoviridae. Membros dessa família são classificados em três neros: Luteovirus,
Polerovirus e Enamovirus. Vírus pertencentes ao primeiro grupo infectam apenas plantas
monocotiledôneas e apenas um único rus é encontrado no gênero Enamovirus,
apresentando este uma biologia significativamente diferente dos demais membros.
Membros do gênero Polerovirus são os mais abundantemente encontrados em plantas
cultivadas e podem infectar tanto monocotiledôneas, quanto dicotiledôneas. Portanto, vírus
desse gênero eram os principais candidatos a estarem envolvidos com a doença azul. Em
acordo com essa hipótese, oligonucleotídeos degenerados específicos para Polerovirus
foram capazes de amplificar um vírus em plantas de algodão doentes. O vírus identificado
foi denominado de Cotton leafroll dwarf virus (CLRDV) e as análises das seqüências do
gene da capa protéica e parte da polimerase indicam que ambas apresentam identidade com
membros do gênero Polerovirus. Esses dados, portanto, excluem a possibilidade de ser um
vírus recombinante entre os gêneros Luteovirus e Polerovirus, como observado para
outros membros da família (Rathjen et al., 1994; Maia et al., 2000; Moonan et al., 2000;
Domier et al., 2002; Siepen et al., 2005). Dessa forma, o CLRDV deve ser considerado
como um membro definitivo do gênero Polerovirus.
Trabalhos anteriores já tinham tentado, sem sucesso, identificar membros da família
Luteoviridae em plantas apresentando sintomas da doença azul (Takimoto, 2003; Takimoto
et al., 2003). Esses testes iniciais foram realizados com oligonucleotídeos desenvolvidos no
início da década de 90 por Robertson et al. (1991). Na época em que foram desenvolvidos,
existiam poucos membros da família seqüenciados e, dessa forma, as degenerações
introduzidas nos oligos não seriam suficientes para cobrir grande parte da diversidade
observada hoje na família. Assim, os oligos desenvolvidos por Robertson et al., 1991
dificilmente conseguiriam amplificar o CLRDV. De fato, a divergência entre os membros
dos três gêneros observada hoje é tão alta que o desenho de um par de oligos capaz de
45
amplificar qualquer membro da família se torna praticamente inviável. Por essa razão, no
presente trabalho optou-se em desenhar iniciadores específicos para cada um dos gêneros.
A seqüência da CP do CLRDV apresentou identidade de 92% com a seqüência
parcial da CP do Chickpea stunt disease associated virus (CpSDaV) depositada no
Genebank, indicando que ambos poderiam ser considerados como isolados do mesmo
vírus. Os critérios de demarcação de espécies na família Luteoviridae são baseados em
grande parte nas identidades da CP e da polimerase (Van Regenmortel et al., 1997). Vírus
com identidade maior do que 90% na CP são considerados como a mesma espécie. No
entanto, existem casos de vírus que apresentam alta identidade em uma região do genoma e
baixa em outra. É o observado, por exemplo, para os vírus Beet western yellows virus
(BWYV) e Beet mild yellows virus (BMYV). Ambos apresentam alta identidade na
seqüência da CP e em demais regiões da parte 3’ do genoma e por esse motivo foram
considerados por muito tempo como membros da mesma espécie. Com o seqüenciamento
completo dos dois genomas observou-se, no entanto, que a porção 5’ dos mesmos são
muito divergentes, indicando que poderiam ter sido originados de eventos de recombinação
entre membros do gênero Polerovirus (Guilley et al., 1995). Em função das divergências
observadas, os dois vírus foram considerados como membros de espécies diferentes. A
seqüência parcial do gene da CP do CpSDaV foi obtida em plantas de grão de bico
apresentando nanismo na Índia, mas, até o momento, a seqüência do gene da polimerase
para esse vírus ainda não foi depositada em bancos de dados genéticos. Portanto, com os
atuais dados, ainda não é possível saber se o CLRDV e o CpSDaV são vírus diferentes ou
isolados da mesma espécie. O seqüenciamento total do genoma dos dois vírus será de
grande importância para resolver essa questão taxonômica. Os 2.739 nucleotídeos obtidos
nesse trabalho estão servindo de base para o projeto de mestrado da aluna Yamá Castilho
que tem como objetivo o seqüenciamento e a análise de todo o genoma do CLRDV.
A análise da ORF5 do CLRDV, codificadora da proteína responsável pela
transmissão por afídeos, apresentou alta identidade com o Curcubit aphid-borne yellows
virus (CABYV) (Figura 7). Ambos os vírus são transmitidos pelo pulgão Aphis gossypii e
sabe-se que os membros da família Luteoviridae apresentam uma alta especificidade por
seus insetos transmissores (Gray & Gildow, 2003). Dessa forma, a semelhança observada
entre as duas proteínas pode ser atribuída a uma adaptação para que consigam interagir com
46
proteínas do Aphis gossypii. Esses dados indicam, portanto, que o desenho de
oligonucleotídeos degenerados na região da ORF5 poderia ser uma interessante estratégia
para determinar a existência de membros da família Luteoviridae associados com doenças
que são transmitidas por insetos comumente associados a esse grupo de vírus.
Em um trabalho anterior, anti-soros desenvolvidos contra três membros da família
Potyviridae, um membro do gênero Carlavirus e quatro da família Luteoviridae (BWYV,
PLRV, ScYLV e BYDV-PAV) foram utilizados em extratos de plantas de algodão
apresentando sintomas típicos da doença azul (Takimoto, 2003). Os experimentos de
ELISA apresentaram resultados negativos para todos os rus, exceto por um fraco sinal
positivo para BWYV. Os oligos PLF/PLR usados no presente trabalho apresentam
diversidade suficiente para amplificarem qualquer membro do gênero Polerovirus. No
entanto, durante o processo de identificação do agente causal da doença azul, apenas um
vírus foi encontrado. Somados, esses resultados indicariam que a doença azul deve estar
associada com apenas um rus, o CLRDV. No entanto, a análise mais extensiva realizada
em nosso laboratório evidenciou que três dos cerca de 50 isolados do CLRDV encontrados
até agora apresentam diversidade suficiente para serem considerados como outra espécie
(Silva, 2008). Esses isolados foram identificados em plantações de algodão em Presidente
Olegário (MG), Primavera dos Leste (MT) e Campo Verde (MT) na safra 2006/2007. Os
isolados apresentam a seqüência da CP muito similares ao isolado do CLRDV identificado
originalmente em Primavera do Leste. No entanto, a identidade da polimerase desses novos
isolados com o CLRDV é de apenas 70%. Em geral, vírus da mesma espécie na família
Luteoviridae apresentam identidade na região da polimerase maiores que 85%. Dessa
forma, as diferenças estruturais entre esses vírus se assemelham muito às observadas entre
os vírus BWYV e BMYV: conservação das proteínas estruturais e divergência nas
proteínas não estruturais. Os resultados indicam fortemente que os novos isolados surgiram
de um evento de recombinação do CLRDV com algum outro membro ainda não
identificado do gênero Polerovirus e, portanto, devem ser considerados como uma segunda
espécie associada à doença azul do algodoeiro. No entanto, como a maior parte das plantas
analisadas não apresenta esse isolado recombinante e ainda assim desenvolvem sintomas da
doença, possivelmente o segundo vírus não é fundamental para a patogenicidade.
47
Atualmente, o diagnóstico da doença azul é realizado somente através da
sintomatologia. Como os sintomas não são claros no início da doença, os produtores, em
geral, não são capazes de eliminar plantas infectadas nesse estágio, podendo resultar em
grandes perdas. Portanto, métodos de diagnósticos que sejam capazes de detectar o vírus
com alta sensibilidade, como RT-PCR, teriam uma grande importância para o controle da
doença azul. Além disso, o teste poderia ser utilizado para a detecção de plantas que servem
como reservatório para o vírus nos períodos entre as safras. Uma vez detectadas, essas
plantas poderiam ser eliminadas, evitando assim, a transmissão para culturas de algodão. A
obtenção da seqüência parcial do CLRDV possibilitou o desenho de oligos específicos
(CPF e CPR) que podem ser utilizados para o diagnóstico molecular do vírus. Além disso,
experimentos de northern blot também foram capazes de identificar o vírus de forma
eficiente. Foi concluído recentemente por nosso grupo um projeto com o objetivo de
caracterizar a diversidade do CLRDV em diferentes áreas produtoras do Brasil (Silva,
2008). Os oligos CPF e CPR foram capazes de amplificar cerca de 50 isolados virais,
provenientes dos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e do Distrito
Federal, confirmando, dessa forma, a reprodutibilidade e a sensibilidade do ensaio de
diagnóstico desenvolvido. Além disso, um método de diagnóstico economicamente mais
viável, baseado em ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay), também está sendo
desenvolvido pelo grupo (Correa et al., 2007). Os experimentos foram iniciados nessa tese
de doutorado (dados não mostrados) e estão sendo conduzidos atualmente pelo aluno de
mestrado Alexandre Alberto Queiroz de Oliveira. A proteína do capsídeo viral foi clonada
pela tecnologia Gateway e em seguida transferida para vetores de expressão em bactérias e
plantas. As proteínas serão purificadas em seguida utilizadas para a produção de anticorpos
contra o vírus.
Até a década de 70, a doença azul do algodoeiro não era considerada como um fator
limitante na produção, pois grande parte dos agricultores usava cultivares nacionais
resistentes a esse patógeno. No entanto, a virose passou a ser um problema
economicamente importante após a introdução de variedades dos Estados Unidos e da
Austrália, ambas sensíveis à doença (Freire, 1999). Recentemente, os agricultores deixaram
de usar variedades sensíveis, como a ITA-90, e passaram a usar outras apresentando
resistência ou tolerância à doença azul, tais como Cedro, Delta Opal, CD406 e CD408. Nas
48
safras de 2005/2006 e 2006/2007, no entanto, sintomas típicos da doença azul foram
observados em campos de plantas teoricamente resistentes à virose. Essas plantas, muito
frequentemente estavam rodeadas por plantas apresentando sintomas atípicos da doença,
tais como folhas murchas e avermelhadas. Este mesmo padrão sintomático foi registrado
também em variedades sensíveis, como a FM966. Testes moleculares foram capazes de
identificar o CLRDV associado com as variedades Delta Opal, Cedro, CD406 e ST474 em
duas cidades do estado de Goiás (Silva, 2008). A análise de seqüência mostrou que o vírus
apresenta as seqüências dos genes da CP e da polimerase muito semelhantes às obtidas no
isolado original do CLRDV, sendo, portanto, da mesma espécie. Duas hipóteses foram
elaboradas para explicar a possível quebra de resistência. Como algumas plantas também
apresentaram sintomas de folhas avermelhadas, uma possível explicação seria a co-infecção
com outro rus. Experimentos em casa de vegetação e em campo mostraram que em
muitos casos a infecção mista pode potencializar a patogenicidade dos rus. Por exemplo,
a co-infecção de plantas de tabaco com Potato virus X (PVX, Potexvirus) e membros do
gênero Potyvirus causa um sinergismo caracterizado pelo aumento expressivo dos sintomas
e elevação da concentração do PVX de 3 a 10 vezes em folhas sistêmicas (Pruss et al.,
1997). Estudos recentes apontam que as proteínas supressoras de silenciamento gênico, um
mecanismo envolvido na defesa anti-viral, possuem papel fundamental nesse processo
(Voinnet, 2005a). Assim, a co-infecção do CLRDV com um outro grupo de vírus capaz de
suprimir o sistema de defesa de forma mais eficiente poderia promover uma quebra da
resistência no algodoeiro. Nos Polerovirus, a proteína P0 é uma supressora de
silenciamento gênico (Pfeffer et al., 2002). Assim, uma outra hipótese para explicar a
quebra de resistência poderia ser uma modificação nessa proteína, permitindo um escape
mais eficiente do sistema de degradação vegetal. Dessa forma, o estudo da ação de
proteínas supressoras de silenciamento gênico em membros da família Luteoviridae seria
de grande importância para o melhor entendimento da relação vírus-hospedeiro.
Capítulo I
_________________________________________________________________________
CONCLUSÕES
50
I.6 – Conclusões
A cultura do algodão é uma das mais antigas da humanidade e está entre os
negócios que mais geram empregos ao redor do planeta. A doença azul do algodoeiro foi
inicialmente observada na República Centro-Africana, em 1949, e em seguida encontrada
também em diversos outros países da África, Ásia e América. A doença é transmitida pelo
afídeo Aphis gossypii e representa um problema econômico para as plantações de algodão
no cerrado brasileiro. No capítulo I dessa tese foi realizada a caracterização molecular do
agente causal da doença. As principais conclusões obtidas foram:
1) Sintomas observados em campo podem ser reproduzidos de forma efetiva em
experimentos em casa de vegetação através da infecção com pulgões Aphis gossypii
virulíferos.
2) A doença está associada a um novo vírus que foi denominado de Cotton leafroll
dwarf virus.
3) O novo vírus identificado apresenta as regiões 5’ e 3’ do genoma semelhantes a
membros do gênero Polerovirus, família Luteoviridae e, dessa forma, deve ser
classificado como um membro definitivo desse gênero.
4) O diagnóstico viral pode ser realizado de forma efetiva com oligos específicos para
o capsídeo viral.
5) Sondas moleculares específica para o gene da CP são capazes de detectar o vírus
associado com a doença.
Capítulo II
_________________________________________________________________________
INTRODUÇÃO
52
II.1 – Introdução
Silenciamento gênico por RNA é um termo genérico aplicado a diversos
mecanismos celulares que estão envolvidos na regulação da expressão gênica através da
degradação específica de RNA mensageiros (mRNAs). O mecanismo foi inicialmente
identificado em plantas, entretanto, alguns anos mais tarde, foi encontrado e
extensivamente estudado em diferentes organismos, incluindo mamíferos, nematóides,
insetos, protozoários, fungos e leveduras (Chapman & Carrington, 2007). Em plantas, o
mecanismo foi inicialmente denominado de co-supressão ou silenciamento gênico pós-
transcricional (“post-transcriptional gene silencing PTGS), em fungos de quellinge
em animais de interferência por RNA (RNAi). Estudos genéticos e bioquímicos mostraram
que a via de degradação é altamente conservada entre os diferentes reinos biológicos,
evidenciando sua importância evolutiva.
A principal molécula envolvida na via do silenciamento por RNA é a fita dupla de
RNA (dsRNA). A demonstração de que essa molécula é a responsável por disparar o
processo de degradação em nematóide (Fire et al., 1998) e em plantas (Waterhouse et al.,
1998) forneceu fortes evidências de que se tratava de um mecanismo de regulação
conservado entre os eucariotos. De fato, a importância da descoberta rendeu o prêmio
Nobel de Medicina de 2006 para os americanos Andrew Fire e Craig Mello, pelos trabalhos
realizados em Caenorhabditis elegans. Em seguida, a descoberta da existência de pequenos
RNAs interferentes ou siRNAs (“short interfering RNAs”) de 21 a 26 nucleotídeos em
sistema vegetal (Hamilton & Baulcombe, 1999) e animal (Hammond et al., 2000)
demonstrou ainda mais a conexão entre os dois sistemas de degradação. A caracterização
posterior de diversos genes conservados permitiu a elaboração de um modelo simplificado
para o silenciamento gênico. Tornou-se claro que o mecanismo atua de forma seqüencial.
Inicialmente uma dsRNA é reconhecida por uma endonuclease celular chamada Dicer que,
com o auxílio de proteínas ligantes de dsRNA DRB (“dsRNA Binding”), promove sua
degradação em intervalos de 21 a 26 nucleotídeos, gerando os siRNAs (Hamilton &
Baulcombe, 1999; Hammond et al., 2000; Zamore et al., 2000). Os siRNAs são então
incorporados em um complexo enzimático denominado RNA-induced silencing complex”,
ou RISC (Hammond et al., 2000; Tang, 2005). No complexo RISC existem enzimas
53
denominadas Argonautes (AGO) que têm a função de degradar mRNAs que possuem
similaridade de seqüência com o siRNA que está incorporado ao complexo (Fagard et al.,
2000; Liu et al., 2004; Baumberger & Baulcombe, 2005).
Cada grupo de organismo apresenta um diferente número de enzimas atuantes na
via de silenciamento. Esse variado repertório permitiu uma grande diversificação funcional
ao longo da evolução. A origem e a estrutura do dsRNA determinam, em geral, que via de
silenciamento será disparada na célula. Existem, por exemplo, genes endógenos nos
organismos que geram transcritos de RNA apresentando estruturas imperfeitas de fita
dupla, comumente conhecidas como RNAs em forma grampo. Esses RNAs são
processados por enzimas da via de silenciamento, gerando pequenos RNAs de 21 a 24
nucleotídeos conhecidos como microRNAs (Bartel, 2004). Os microRNAs, ao entrarem na
RISC, promovem a regulação de genes importantes para o desenvolvimento. O
silenciamento gênico pode funcionar também como um mecanismo de defesa contra vírus
(Voinnet, 2005a). Em uma infecção, os vírus produzem intermediários replicativos ou de
estrutura que apresentam estruturas perfeitas de fita dupla de RNA. Esse dsRNA, assim
como o gerado por genes endógenos, é reconhecido e degradado pela maquinaria celular de
silenciamento, controlando a infecção viral. Na mosca Drosophila melanogaster, por
exemplo, existem duas Dicers. Uma está envolvida no reconhecimento e processamento de
microRNAs e a outra atua em estruturas de dsRNA perfeitas, como as geradas por vírus ou
elementos transponíveis (Kavi et al., 2005). Em Arabidopsis thaliana, uma planta modelo,
existem quatro Dicers, cinco DRBs e dez AGOs, indicando a existência de uma complexa
rede de degradação mediada por RNA (Brodersen & Voinnet, 2006).
II.1.1 – Silenciamento gênico por RNA em animais
Em animais foram descritas quatro vias de silenciamento gênico por RNA, sendo
as mais estudadas as vias de siRNAs (comumente chamada de RNAi) e a via dos
microRNAs. Existe também uma via de pequenos RNAs oriundos de seqüências repetitivas
que estão associados com o remodelamento de cromatina (Matzke & Birchler, 2005). Mais
recentemente descobriu-se uma nova classe de pequenos RNAs que se associam a um tipo
de Argonaute exclusiva de animais chamada de PIWI. Esses RNAs, denominados piRNAs
54
(“PIWI-interacting RNAs”), são ligeiramente maiores que os siRNAs e estão envolvidos na
manutenção e no desenvolvimento de células tronco e na repressão da atividade de
transposons (Klattenhoff & Theurkauf, 2008).
II.1.1.1 – Via dos siRNAs em animais
Muito do que se sabe hoje sobre a bioquímica do silenciamento é proveniente de
estudos realizados em modelos animais, especialmente na mosca Drosophila. Logo após a
descoberta dos siRNAs em extratos de células S2 de Drosophila, um grande esforço foi
feito para melhor entender a estrutura dessas pequenas moléculas. Observou-se que a
degradação da dsRNA ocorre em intervalos de 21-23 nucleotídeos e que os siRNAs
produzidos apresentam uma estrutura de dupla fita, com um fosfato na região 5` e dois
nucleotídeos não pareados na região 3` (Elbashir et al., 2001).
As características dos primeiros siRNAs estudados indicavam que eles estavam
sendo gerados pela ação de uma RNase do tipo III. Como esperado, ao mesmo tempo em
que os siRNAs estavam sendo caracterizados, o grupo liderado por Gregory Hannon
conseguiu isolar uma RNaseIII de classe III em extratos de células S2 que tinham ação de
degradação de dsRNA (Bernstein et al., 2001). Essas proteínas caracterizam-se por
apresentarem domínios de ligação a dsRNA (dsDRB) e os domínios do tipo PAZ (Piwi,
Argonaute, Zwille) e helicase, também encontrados nas proteínas Argonautes. Em função
de sua ão no processo de silenciamento, os autores a chamaram de Dicer e denominaram
o primeiro alelo encontrado em Drosophila de Dicer-1 (ou DCR-1). Hoje se sabe que a
clivagem pela Dicer necessita da ação conjunta de proteínas ligantes de dsRNA (DRBs).
Em Drosophila, a DRB atuante recebe o nome de R2D2 (Liu et al., 2003). Em humanos, as
DRBs participantes recebem o nome de TRBP (“Human immunodeficiency virus
transactivating response RNA-binding protein”) (Chendrimada et al., 2005) e PACT (Lee
et al., 2006b).
Aproximadamente ao mesmo tempo em que a enzima Dicer foi descoberta, o
mesmo grupo conseguiu isolar um complexo enzimático associado aos siRNAs que
apresentava atividade de nuclease em extratos de lulas S2 de Drosophila (Hammond et
al., 2000). No entanto, até hoje não existe um consenso de quais o as proteínas
55
componentes do complexo induzido por RNA, que foi denominado RISC. Desde sua
descoberta, complexos variando de 140 a 550 kDa, contendo diferentes grupos de
proteínas, foram isolados. No entanto, a única molécula encontrada em todos os
complexos já purificados até hoje é a Argonaute e, por esse motivo, é considerada um
marco da formação da RISC. De fato, a importância dessa molécula no complexo foi
confirmada com a descoberta de que a Argonaute é a única nuclease responsável pela
degradação dos mRNAs via siRNAs, tanto em Drosophila quanto em humanos (Liu et al.,
2004).
Inicialmente acreditava-se que o processo de produção dos siRNAs, via Dicer, era
totalmente independente da montagem e da ação da RISC. No entanto, a observação de que
a introdução de siRNAs artificiais, feitos em laboratório, em culturas de células
funcionavam na presença de Dicer, indicou fortemente que os dois processos poderiam
estar acoplados (Doi et al., 2003). Além disso, observou-se a interação de Dicers com
Argonautes em diferentes organismos (Hammond et al., 2001; Tabara et al., 2002; Tahbaz
et al., 2004) e também que a entrada dos siRNAs na RISC necessitava das DRBs, proteínas
que sabidamente interagem com as Dicers (Tabara et al., 2002; Liu et al., 2003). Assim,
atualmente, acredita-se que a formação da RISC ocorre de forma seqüencial e integrada
com a ação da Dicer.
A fita do siRNA que será ativa, ou seja, a que promoverá a degradação dos mRNAs,
recebe o nome de “fita guia” e a outra, que será degradada, recebe o nome de “fita de
passagem”. A escolha de qual fita será a guia e de qual será degradada depende em grande
parte da estabilidade termodinâmica do siRNA (Khvorava et al., 2003; Schwarz et al.,
2003; Preall et al., 2006). A fita que possuir uma região 5’ menos estável será a fita
selecionada como guia. Produtos de degradação da fita de passagem, contendo nove bases,
foram identificados em extratos de Drosophila (Matranga et al., 2005). Observou-se
também que a degradação da fita de passagem depende da presença da fita guia e que a
degradação é mediada pela Ago2 de Drosophila. Além disso, foi mostrado que o processo
de clivagem da fita de passagem pela Ago2 é por si só, um fenômeno importante para a
montagem da RISC (Matranga et al., 2005; Kim et al., 2007).
Os conhecimentos obtidos sobre os siRNAs nos últimos anos possibilitaram o
surgimento de diversas aplicações tecnológicas, especialmente na área de genômica
56
funcional (revisado em Hannon & Rossi, 2004). Como a RNAi mostrou-se um potente
processo de regulação da expressão, sua primeira aplicação foi no estudo da função gênica.
A repressão específica da expressão de um gene poderia produzir um fenótipo semelhante
ao obtido com mutantes defectivos. A grande vantagem no uso da RNAi seria a ausência
dos demorados tratamentos para a obtenção de mutantes. No entanto, a tecnologia foi
utilizada experimentalmente também para descobrimento de drogas, tratamento contra
vírus, como o HIV (Jacque et al., 2002), HBV (McCaffrey et al., 2003) e HCV (Randall et
al., 2003) e estima-se, inclusive, que pode ser uma ferramenta contra o câncer e outras
doenças genéticas (Hannon & Rossi, 2004).
II.1.1.2 – Via dos microRNAs em animais
A descoberta da existência de microRNAs foi feita pelo grupo do americano Victor
Ambros no nematóide C. elegans (Lee et al., 1993). O grupo observou que um gene do
verme chamado lin-4, mesmo não codificando proteínas, estava envolvido na regulação da
expressão do gene lin-14. Análises mais detalhadas da expressão de lin-4 mostraram que o
gene acumulava na célula em duas formas: um RNA pequeno, em torno de 22 nucleotídeos
e um outro, um pouco maior, de 61 bases. Observaram ainda que o RNA maior apresentava
uma estrutura em forma de grampo e que possivelmente era o precursor do RNA menor.
Como lin-4 promovia uma redução nos níveis protéicos de lin-14, mas não afetava o
acúmulo de seu RNA, especulou-se que o mecanismo de repressão estava baseado no
pareamento de RNA entre os dois genes, inibindo a tradução.
Os dados observados para o sistema lin-4 / lin-14 foram considerados por muito
tempo como um mecanismo de regulação raro na natureza. No entanto, com a descoberta
dos siRNAs anos mais tarde (Hamilton & Baulcombe, 1999; Hammond et al., 2000),
diversos laboratórios iniciaram projetos para a clonagem e identificação de pequenos RNAs
em diferentes organismos. Esforços iniciais de seqüenciamento de pequenos RNAs
conseguiram identificar centenas de novos pequenos RNAs semelhantes aos observados
originalmente pelo grupo de Victor Ambros (Lagos-Quintana et al., 2001; Lau et al., 2001;
Lee & Ambros, 2001). Dessa forma, ficou evidente que essas pequenas moléculas
reguladoras oriundas de estruturas em forma de grampo eram mais comuns do que se
57
pensava. Para diferenciá-las dos siRNAs já caracterizados, a nova classe de RNA foi
chamada de microRNA (miRNA).
Alguns miRNAs identificados encontram-se dentro de íntrons de outros genes
(Lagos-Quintana et al., 2003; Aravin et al., 2003). No entanto, muitos miRNAs foram
observados em regiões do genoma com baixa concentração de genes e, portanto,
apresentam seus próprios elementos regulatórios (Lagos-Quintana et al., 2001; Lau et al.,
2001). E, em alguns casos, existem regiões com conjuntos de microRNAs relacionados
lado a lado, atuando como uma unidade policistrônica (Lagos-Quintana et al., 2001; Lau et
al., 2001; Aravin et al., 2003; Wienholds et al., 2005; Bentwich et al., 2005). O maior
conjunto de microRNA identificado até o momento localiza-se no cromossomo 9 do
genoma humano e apresenta 54 genes, todos envolvidos na formação da placenta.
A análise de outros microRNAs seqüenciados revelou que muitos deles são
conservados mesmo entre espécies distantemente relacionadas (Lagos-Quintana et al.,
2003). A conservação de seqüência foi utilizada, então, para a elaboração de diversos
algoritmos computacionais para a identificação de novos genes. A estratégia in silico
permite a identificação de microRNAs pouco expressos, sendo portanto uma
complementação dos esforços de clonagem.
Diversos grupos iniciaram também pesquisas para elucidar o processo de
transcrição e regulação dos microRNAs. As observações iniciais logo mostraram que os
genes são regulados ao longo do desenvolvimento e que apresentam também uma alta
especificidade por determinados tecidos (Lagos-Quintana et al., 2002; Wienholds et al.,
2005). Esses dados indicavam que os microRNAs são regulados por seqüências
promotoras. O transcrito primário produzido foi denominado de pri-microRNA e, em geral,
apresenta cerca de mil pares de base (Lee et al., 2002). A observação de que os pri-
microRNAs apresentam estruturas cap, cauda poli(A) e que sua produção é reprimida pela
ação de inibidores de polimerase II forneceram fortes evidências de que esses genes
estavam sendo regulados de maneira muito semelhante aos RNAs mensageiros celulares
(Lee et al., 2004; Cai et al., 2004). No entanto, trabalhos posteriores mostraram que
microRNAs localizados próximo a RNAs transportadores (tRNAs) ou seqüências
repetitivas tipo Alu ou tipo MWIR (“mammalian-wide interspersed repeat”) são transcritos
pela polimerase III e não pela polimerase II (Borchert et al., 2006). O pri-microRNA
58
produzido é, em seguida, clivado por uma RNaseIII de classe II chamada Drosha, gerando
uma estrutura com cerca de 70 nucleotídeos conhecida como pré-microRNA (Lee et al.,
2003). O pré-microRNA é transportando para o citoplasma por um gene denominado
exportin-5 (Yi et al., 2003) e em seguida reconhecido pela enzima Dicer (Grishok et al.,
2001; Hutvágner et al., 2001; Ketting et al., 2001; Knight & Bass, 2001).
A clivagem inicial pela enzima Drosha é feita no núcleo e tem a participação de
proteínas ligantes de dupla fita de RNA (Han et al., 2004; Landthaler et al., 2004). O
processamento define uma extremidade do miRNA, liberando um pré-microRNA que
apresenta uma região 5’ com monofosfato e uma 3’ com 2 nucleotídeos não pareados,
assim como observado nos siRNAs (Lee et al., 2003). Essa estrutura é reconhecida pela
enzima Dicer que cliva e libera um microRNA maduro, apresentando duas fitas de RNA,
ambas com 5’ fosfato e 3’ com dois nucleotídeos não pareados (Lee et al., 2003). Assim
como ocorre na clivagem pela Drosha, a Dicer também atua na presença de DRBs
(Chendrimada et al., 2005; Förstemann et al., 2005; Saito et al., 2005; Lee et al., 2006b).
De cada transcrito de microRNA produzido pela célula, somente um microRNA maduro é
produzido. A dupla fita de microRNA gerada é comumente descrita como
miRNA:miRNA*, sendo a primeira a fita ativa, que entrará no complexo RISC e a segunda,
a fita estrela, que será descartada e degradada. Alguns trabalhos de clonagem e
seqüenciamento de microRNAs conseguiram identificar as fitas miRNA*, no entanto,
sempre em veis muito mais baixos do que os observados para as fitas ativas (Lagos-
Quintana et al., 2002; Aravin et al., 2003). A escolha de qual fita entrará na RISC segue os
mesmos princípios para a entrada dos siRNAs, ou seja, a fita que apresentar a região 5’ com
menor estabilidade termodinâmica será selecionada para a entrada no complexo. A outra
será degradada via Ago2 (Khvorova et al., 2003; Schwarz et al., 2003; Matranga et al.,
2005).
A regulação da expressão de genes mediada por miRNAs pode ocorrer de duas
maneiras: inibição da tradução, como observado originalmente por Lee e colaboradores
(1993) ou então por degradação do RNA mensageiro. O nível de pareamento entre o
microRNA e o mRNA alvo é o maior determinante de qual o processo de regulação irá
ocorrer, assim como observado também na regulação via siRNAs (Hutvágner & Zamore,
2002; Zeng et al., 2002; Zeng & Cullen, 2003; Doench et al., 2003). O processo de
59
clivagem ocorre entre os nucleotídeos 10 e 11 do microRNA e, após efetuado, o miRNA
continua ativo para interagir com outros mensageiros (Hutvágner & Zamore, 2002). Em
humanos, a clivagem ocorre através de Ago2, assim como ocorre na via de siRNAs. Em
Drosophila, no entanto, a degradação mediada por microRNAs é realizada por Ago1,
contrastando com o observado na via de siRNA (Miyoshi et al., 2005). No entanto, dos
microRNAs de animais analisados até hoje, a maior parte atua via inibição da tradução
(Hutvagner & Zamore, 2002). Observou-se também que os nucleotídeos 2 a 8 são
fundamentais para o reconhecimento do RNA mensageiro alvo. De fato, os resíduos de 2 a
8 são os mais conservados dentro dos miRNAs homólogos nos metazoários (Lewis et al.,
2003; Lim et al., 2003). No entanto, as regiões não conservadas da região 3’ dos miRNAs
também são importantes para a degradação dos alvos (Leaman et al., 2005). Alguns grupos
utilizaram essas características de pareamento para o desenvolvimento de algoritmos para a
identificação dos alvos dos microRNAs (Enright et al., 2003; Lewis et al., 2003; Stark et
al., 2003). Com isso, centenas de alvos de microRNAs já foram caracterizados em animais,
evidenciando o papel desses genes em diversos fenômenos biológicos, tais como: tempo do
desenvolvimento, morte celular, proliferação celular, hematopoiese, desenvolvimento
neural, segmentação e inclusive na defesa anti-viral (Ambros, 2004; Leaman et al., 2005;
Simon-Mateo & Garcia, 2006; Triboulet et al., 2007).
Assim, embora os microRNAs maduros apresentem a mesma constituição química
dos siRNAs, existe uma grande diferença na forma como são produzidos e processados. Os
microRNAs são originados de genes endógenos com estruturas de dupla fita em forma de
grampo. Em geral, existem pareamentos imperfeitos nessa estrutura, mesmo dentro da
região onde está localizado o miRNA. Após o processamento do grampo, apenas um
microRNA é gerado e este atua in trans, ou seja, regula expressão de genes não
relacionados com a molécula geradora. Os siRNAs são originados de dsRNA perfeitos, de
origem viral ou endógena (transposons, por exemplo). Vários siRNAs são originados de
uma mesma molécula degradada. A atuação dos siRNAs ocorre in cis, ou seja, degrada
moléculas relacionadas ao seu precursor. Se, por exemplo, um siRNA se originou a partir
de um intermediário de replicação viral, então o pequeno RNA gerado vai atuar
preferencialmente em RNAs virais, reduzindo sua concentração na célula.
60
II.1.2 – Silenciamento gênico em plantas
Em Arabidopsis thaliana, planta modelo para estudos em genética vegetal, existem
quatro genes relacionados à enzima Dicer de Drosophila (chamadas de Dicer-Like1 a
Dicer-Like4, ou DCLs), seis genes relacionados com RNAs polimerase dependentes de
RNA (RDR1 a RDR6) e dez Argonautes (AGO1 a AGO10). Essa ampla gama de genes
permitiu uma diversificação das vias de silenciamento gênico ao longo do processo
evolutivo em plantas. Atualmente já foram identificadas pelo menos seis vias distintas,
sendo as mais estudadas: silenciamento gênicos pós-transcricional (PTGS ou co-supressão),
silenciamento gênico transcricional (TGS), microRNAs, tasiRNAs (“trans-acting small
interfering RNAs”) e a via envolvida na disseminação do silenciamento. Existe também
uma via mediada por siRNAs endógenos chamados de nat-siRNAs (“natural antisense
small interfering RNAs”) que está envolvida na resposta a fatores abióticos, como a
tolerância ao sal (Borsani et al., 2005). As vias de microRNA, tasiRNA, TGS e PTGS estão
esquematicamente representadas na Figura 11. Muitos genes ainda não foram plenamente
caracterizados em plantas e outras vias ainda podem ser descobertas.
61
Figura 11: Principais vias de silenciamento por RNA em plantas. A- microRNAs ao serem
transcritos geram transcritos que apresentam estrutura em forma de grampo. Essas estruturas são
degradadas pela enzima DCL1, contando com a participação da DRB1 e da HEN1. O duplex de
microRNA formado pode ser usado para a degradação de mRNAs ou genes TAS, ambos os
processos mediados por AGO1. B - Os genes TAS ao serem degradados são convertidos em
dsRNAs por RDR6 e em seguida degradados por DCL4, com a participação dos genes DRB4 e
HEN1, gerando tasiRNAs. A degradação dos alvos dos tasiRNAs pode ser feita tanto por AGO1,
quanto por AGO7. C - Seqüências repetitivas no genoma são reconhecidas e degradadas por DCL3,
gerando siRNAs que promovem a metilação da cromatina através de AGO4, DRM1/2 e DRD1 e
PolIVb. D - Genomas virais ao replicarem geram dsRNAs que são preferencialmente reconhecidas
por DCL4 e DCL2. Os siRNAs gerados, chamados de primários, atuam diretamente na degradação
de RNA mensageiros virais. No entanto, a degradação dos RNAs virais pelo complexo RISC
contendo AGO1, os siRNAs primários podem ser recrutados por uma RDR6 para servirem como
iniciadores da síntese de novas dsRNA. Essas moléculas são degradadas novamente pelas Dicers e
geram os siRNAs secundários, amplificando o sinal de silenciamento.
A B
C
D
62
II.1.2.1 – Silenciamento gênico pós-transcricional
II.1.2.1.1 – Descoberta e indução
O silenciamento gênico pós-transcricional em plantas foi a primeira forma de
degradação mediada por RNA observada pela ciência (Lindbo & Dougherty, 2005).
Evidências diretas do mecanismo foram descritas no clássico trabalho publicado por
americanos e holandeses em 1990 (Napoli et al., 1990). Na tentativa de alterar a cor das
flores de petúnia, os pesquisadores introduziram por transgenia cópias adicionais do gene
que codifica a enzima chalcona sintase, uma participante chave na pigmentação em plantas.
O intuito era aumentar a coloração púrpura das flores, no entanto, os autores observaram
plantas com níveis variados de pigmentação, incluindo plantas em que as flores eram
totalmente brancas, sem a presença de pigmentos. Ficou claro que o transgene introduzido
tinha sofrido um processo de repressão e este processo, de alguma forma, passou a afetar
também o gene endógeno correlato. Por essa razão, o mecanismo recebeu o nome de co-
supressão. Experimentos posteriores mostraram que na co-supressão existe uma alta
transcrição do transgene no núcleo, mas o mRNA não é acumulado no citoplasma. Foi
sugerido, então, que um mecanismo de regulação pós-transcricional poderia estar envolvido
nesses processos. Essa regulação seria dependente de seqüência e somente o gene alvo e
possíveis homólogos dentro da célula entrariam na rota de degradação (Dougherty & Parks,
1995).
A primeira hipótese elaborada para tentar explicar o fenômeno especulou que a
planta poderia, de alguma forma, detectar níveis anormais de mRNA no citoplasma. Dessa
forma, se a quantidade do transcrito ultrapassasse os limites de tolerância, um processo de
degradação a nível pós-transcricional seria desencadeado (Dougherty & Parks, 1995;
Elmayan & Vaucheret, 1996). Esse modelo recebeu o nome de quantitativo ou do limiar,
pois leva em consideração o nível de RNA mensageiro no citoplasma.
Um outro modelo para explicar o PTGS foi elaborado e recebeu o nome de modelo
qualitativo ou do RNA aberrante. Neste, a degradação dos RNAs citoplasmáticos seria
iniciada não por ter sido atingida uma quantidade limite dos transcritos, mas por esses
apresentarem alguma anormalidade, sendo considerados aberrantes (Sijen et al., 1996).
63
Grande parte dos casos de PTGS existente em plantas ocorre quando os transgenes são,
propositadamente ou não, inseridos no genoma da planta em cópias repetidas ou invertidas
(Dougherty & Parks, 1995). Alguns autores alegam, portanto, que essas anormalidades na
estrutura do transgene estariam ocasionando a formação dos RNAs aberrantes (Sijen et al.,
1996). A hipótese qualitativa encontrou grande suporte quando mais tarde foi observado
que tanto em plantas quanto em animais o silenciamento é disparado por dsRNA
(Waterhouse et al., 1998; Fire et al., 1998). Experimentos mostraram que plantas contendo
transgenes em repetições invertidas ou expressando mutuamente, em uma mesma planta,
transgenes senso e anti-senso disparam o silenciamento de forma muito mais eficiente do
que transgenes senso ou anti-senso isoladamente (Waterhouse et al., 1998). Em seguida, o
mesmo grupo mostrou que a introdução de estruturas de dupla fita de RNA em forma de
grampo chamadas de hpRNAs (“hairpin RNAs”) permite uma alta indução de RNAi em
células vegetais (Smith et al., 2000). Esses experimentos evidenciaram que possivelmente a
dupla fita de RNA poderia ser um tipo de RNA aberrante e que esta seria a responsável
pelo disparo de silenciamento em grande parte dos experimentos de transgenia obtidos na
década de 90. No entanto, análises recentes dos componentes da via de RNAi indicam que
o mecanismo também pode ser iniciado por uma via dependente de concentração de RNAs
(Axtell et al., 2006).
A descoberta de que estruturas em forma de grampo disparam RNAi de forma
eficiente levou ao desenvolvimento de diversos vetores que tem como finalidade a
repressão específica da expressão de genes nas plantas (Wesley et al. 2001; Helliwell &
Waterhouse, 2005; Watson et al., 2005). Estima-se que mais de três mil laboratórios em
todo mundo já tenham utilizado essa tecnologia para estudos de função gênica (Peter
Waterhouse, comunicação pessoal).
Uma questão que permanecia em aberto, no entanto, era como o silenciamento
poderia ser disparado em sistemas transgênicos em que uma seqüência senso a um gene
endógeno era introduzida no genoma, como no famoso trabalho com petúnias (Napoli et
al., 1990). Especulava-se que nesses casos haveria a ação de uma RNA polimerase
dependente de RNA (RDR) que teria como função sintetizar a dupla fita de RNA a partir de
um molde de fita simples. Em 1998, o gene dessa enzima foi isolado e caracterizado em
plantas de tomate, entretanto sua função até então não tinha sido correlacionada com o
64
silenciamento (Schiebel et al., 1998). Posteriormente, diversos grupos encontraram
mutantes defectivos em PTGS cujos genes relacionados apresentavam homologia com a
RDR de tomate (Dalmay et al., 2000; Mourrain et al., 2000). Existem seis RDRs em
Arabidopsis e parece existir uma especialização na função dessa classe de proteínas. Por
exemplo, plantas mutantes para RDR6 apresentam alta sensibilidade ao vírus Cucumber
mosaic virus (CMV), mas não aos vírus Tobacco rattle virus (TRV) e Tobacco mosaic
virus (TMV) (Dalmay et al., 2001). A mesma enzima mostrou-se importante para o
combate viral em regiões meristemáticas (Schwach et al., 2005). Em contrapartida,
mutantes de tabaco na RDR1 apresentam susceptibilidade aumentada ao TMV (Xie et al.,
2001). As RDRs podem atuar na presença ou na ausência de iniciadores (Schiebel et al.,
1993). Acredita-se que a atividade independente de iniciador possa estar envolvida na
produção de dsRNA a partir de transgenes tipo senso e também de RNAs virais durante a
infecção. Essas enzimas seriam dispensáveis, no entanto, nos casos em que o silenciamento
fosse induzido diretamente por uma dsRNA, como nos vetores utilizados para genômica
funcional expressando hpRNAs. Em acordo com essa hipótese, foi demonstrado que o
funcionamento da RNAi em plantas expressando hpRNAs não é afetado em mutantes RDR
(Béclin et al., 2002). Nesse caso, o transgene por si já produz o dsRNA indutor e o papel de
síntese de dsRNA das RDRs teria um papel limitado.
Dessa forma, especulou-se que os vírus vegetais poderiam ser reconhecidos como
estruturas aberrantes e com isso seriam alvo de polimerização pelas RDRs, induzindo uma
resposta de silenciamento na planta. Além disso, o próprio processo replicativo do vírus
poderia produzir dsRNA e, com isso, disparar silenciamento gênico mesmo sem a
participação de RDRs. A indução de silenciamento pela replicação viral foi denominada de
VIGS (“virus-induced gene silencing”) e essa propriedade também já foi bastante explorada
na área de genômica funcional (Watson et al., 2005). No entanto, recentemente foi
mostrado que a estrutura secundária em forma de grampo dos RNAs de fita simples dos
vírus são mais fortes indutores de silenciamento do que os próprios intermediários de
replicação (Molnár et al., 2005). Vírus de DNA também podem desencadear uma resposta
de silenciamento em plantas (Akbergenov et al., 2006; Moissiard & Voinnet, 2006). Nesse
caso, a dsRNA poderia ser produzida tanto por estruturas secundárias do RNA viral
65
expresso, quanto pelos RNAs transcritos de regiões sobrepostas do genoma circular
(Moissiard & Voinnet, 2006; Blevins et al., 2006).
II.1.2.1.2 – Manutenção da degradação
A descoberta de que em animais os siRNAs são produzimos por uma RNAseIII
levou diversos grupos a buscarem um similar da Dicer de Drosophila em plantas. A
primeira Dicer de plantas foi identificada em um estudo que visava buscar genes maternais
envolvidos na embriogênese em Arabidopsis (Golden et al., 2002). O gene encontrado,
chamado inicialmente de SIN1 (“short integuments1”) apresenta similaridade com outros
dois mutantes previamente encontrados: SUS1 (“suspensor1”) e CAF1 (“carpel factory1”).
O grupo observou, no entanto, que o gene também apresenta homologia com a recém
descoberta Dicer de Drosophila (Golden et al., 2002) e, em função disso, passou a ser
chamado de Dicer-Like1 (ou DCL1) (Schauer et al., 2002).
Uma análise mais detalhada de Dcl-1, no entanto, mostrou que a mesma não está
envolvida na via de siRNAs (Finnegan et al., 2003). Além disso, observou-se que no
genoma de Arabidopsis existem mais três Dicers (Finnegan et al., 2003). As novas Dicers
identificadas foram nomeadas de Dicer-Like2 a Dicer-Like4 (ou DCL2 a DCL4). Mais
tarde, observou-se que os genomas de populus e de arroz apresentam cinco e seis genes
Dicer-like, respectivamente (Margis et al., 2006), evidenciando uma alta diversidade desses
genes em plantas.
Com uma grande quantidade de Dicers existentes, ficou evidente que as plantas
deveriam ter várias vias de silenciamento e que as Dicers atuariam de forma especializada.
A primeira tentativa de classificar as quatro Dicers de Arabidopsis nas vias de
silenciamento conhecidas até então indicou que DCL2 seria a principal Dicer envolvida na
resposta contra o Turnip crinkle virus (TCV) (Xie et al., 2004). Experimentos posteriores
mostram que DCL4 é a responsável por clivar dsRNA gerados a partir de transgenes em
forma de grampo (Dunoyer et al., 2005). No entanto, a disponibilidade de mutantes
simples, duplos, triplos e quádruplos das Dicers de Arabidopsis evidenciaram que o sistema
de regulação é bem mais complexo e, em muitos casos, atua de forma hierárquica (Gasciolli
66
et al., 2005; Akbergenov et al., 2006; Bouché et al., 2006; Blevins et al., 2006; Deleris et
al., 2006; Fusaro et al., 2006; Henderson et al., 2006; Moissiard & Voinnet, 2006; Dunoyer
et al., 2007). Experimentos com mutantes múltiplos mostraram que, na realidade, a via de
degradação de transgenes em forma de grampo regulados por fortes promotores é a mesma
via de combate antiviral (Bouché et al., 2006; Deleris et al., 2006; Fusaro et al., 2006).
Tanto vírus, quanto hpRNAs são preferencialmente degradados pela DCL4, gerando
siRNAs de 21 nucleotídeos. Na ausência de DCL4, a DCL2 atua, gerando siRNAs de 22
nucleotídeos. Na ausência de DCL4 e DCL2, os rus e hpRNAs são processados pela
DCL3, gerando siRNAs de 24 nucleotídeos. Existem evidências de que a DCL1 também
poderia ter uma pequena participação na degradação viral e de transgenes na ausência das
demais Dicers (Bouché et al., 2006; Blevins et al., 2006). As vias de degradação de
hpRNAs e vírus são diferentes, no entanto, quando os transgenes são expressos por
promotores endógenos, mais fracos do que o 35S do Cauliflower mosaic virus (CaMV),
usualmente utilizado em experimentos de transgenia. Transgenes fracamente expressos são
degradados preferencialmente pela DCL4. No entanto, na ausência de DCL4, a DCL3 é a
principal atuante e não a DCL2, como observado para vírus e transgenes regulados pelo
promotor 35S (Dunoyer et al., 2007). Observou-se ainda que os siRNAs gerados pelas
DCLs 1, 2 e 3 são funcionais no RISC apenas quando estão presentes em altas
concentrações, como usualmente ocorre em transgenes com fortes promotores ou em
infecções virais (Dunoyer et al., 2007). Evidências recentes indicam também que DCL1
possivelmente atua na RNAi como se fosse uma Drosha animal (Dunoyer et al., 2007). A
enzima faz uma clivagem inicial, facilitando depois o acesso para as demais Dicers.
Mostrou-se também que a proteína do capsídeo do TCV possui uma atividade inibitória de
DCL4. Para esse vírus, portanto, DCL2 é a principal Dicer atuante, o que poderia explicar
os resultados iniciais observados por Xie e colaboradores (2004) (Bouché et al., 2006;
Deleris et al., 2006). Outro fato interessante é que as Dicers de plantas apresentam
localização nuclear (Xie et al., 2004). A replicação de vírus vegetais no citoplasma celular
indica um possível redirecionamento das Dicers durante o processo infeccioso (Waterhouse
& Fusaro, 2006).
Ao contrário do que ocorre em animais, pouco se sabe sobre a composição de
RISCs em plantas. Arabidopsis possui dez genes relacionados com Argounautes, no
67
entanto, mutações no gene Ago1 geram plantas com deficiência nas vias de silenciamento
citoplasmático (resposta antiviral e transgenia) e na via nuclear de microRNAs (Morel et
al., 2002; Vaucheret et al., 2004). Esses resultados indicam que, apesar do grande número
de genes, a AGO1 deve ser a única participante nessas duas vias de silenciamento. A
descoberta de que AGO1 é capaz de clivar mRNAs via siRNAs confirmou sua importância
na atividade do complexo RISC vegetal (Baumberger et al., 2005; Qi et al., 2005).
II.1.2.1.3 – Amplificação e transitividade
Em plantas e em nematóides existe um mecanismo de amplificação do
silenciamento dependente de RDR. Nesse mecanismo, os siRNAs primários produzidos
pelas degradação direta da dsRNA pelas Dicers podem servir de iniciadores para que as
RDRs sintetizem mais dsRNA a partir de moldes de RNA fita simples. As novas dsRNAs
sintetizadas são em seguida degradadas, gerando mais siRNAs, sendo esses chamados de
secundários. Dessa forma, uma molécula de siRNA teria o potencial de produzir diversos
dsRNAs, fazendo com que um número ainda maior de mRNAs sejam alvo de degradação.
Durante uma infecção viral existe uma alta concentração de RNAs em função do rápido
processo replicativo. Dessa forma, acredita-se que o mecanismo de amplificação seja de
grande importância na defesa antiviral.
A amplificação do silenciamento em plantas e nematóides gera uma conseqüência
conhecida como transitividade. O fenômeno foi observado em experimentos de indução de
silenciamento por transgenia (Voinnet et al., 1998; Vaistij et al., 2002). A indução de
silenciamento utilizando-se apenas parte de um gene alvo, muitas vezes gera siRNAs
secundários que são complementares a regiões do alvo que não estão presentes na molécula
indutora. Por exemplo, ao silenciar um genes que apresente os domínios A, B e C com
siRNAs direcionados apenas para o domínio B, muitas vezes os siRNAs secundários
também apresentavam complementaridade aos domínios A e C. Nesse caso, as RDRs de
plantas estariam utilizando os siRNAs primários como iniciadores e sintetizando dsRNAs,
tanto no sentido 5’, quanto no sentido 3’ do gene alvo. A transitividade, no entanto, nunca
foi observada em genes endógenos. Uma explicação possível seria uma preferência das
68
RDRs por RNAs aberrates, ou seja, sem cap e poli(A) e esses poderiam ser mais facilmente
gerados em sistemas de transgenia do que no processo transcricional com reguladores
endógenos (Wassenegger & Krczal, 2006; Axtell et al., 2006).
II.1.2.2 – Silenciamento gênico transcricional
O silenciamento gênico transcricional (TGS) consiste em uma repressão na
atividade gênica através da inibição de promotores. Hoje, sabe-se que o processo ocorre
através da metilação de DNA e histonas por pequenos RNAs e que está envolvido no
controle de transposons e no remodelamento de cromatina. Por essa razão, também é
conhecido pelo nome de RdDM (“RNA-directed DNA Methylation) (Huettel et al., 2007).
Experimentos recentes de seqüenciamento identificaram centenas de milhares de
pequenos RNAs diferentes em plantas e cerca da metade deles estão associados com
seqüências repetitivas e transposons (Henderson et al., 2006; Lu et al., 2006; Rajagopalan
et al., 2006; Zhang et al., 2006; Kasschau et al., 2007; Vaughn et al., 2007). Esses
experimentos evidenciam, portanto, a importância desse tipo de regulação na célula.
Plantas mutantes na via RdDM revelaram a participação de diferentes tipos de genes
neste processo, em especial metiltransferases, enzimas modificadoras de histonas, proteínas
remodeladoras de cromatina e algumas proteínas envolvidas na via de RNAi (
Ziberman et
al., 2003; Chan et al., 2004; Zheng et al., 2006). Foi descoberta recentemente em plantas
uma quarta DNA polimerase que também está envolvida no processo de metilação no DNA
mediado por RNA (
Herr et al., 2005; Kanno et al., 2005; Onodera et al., 2005; Pontier et
al., 2005)
. Observou-se que ela é codificada por três genes em Arabidopsis e forma dois
complexos distintos: DNA polimerase IVa (ou PolIVa) e DNA polimerase IVb (ou
PolIVb). Até hoje, no entanto, pouco se sabe sobre sua função na RdDM.
Assim, após o isolamento e a caracterização de diversos genes envolvidos no
processo de metilação, um modelo começou a ser elaborado (Matzke & Birchler, 2005;
Huettel et al., 2007). O processo poderia ser dividido em duas grandes partes: indução,
mediada por siRNA e manutenção, independente de siRNA. Assim como ocorre em
qualquer uma das vias de RNAi, o processo é induzido por uma dsRNA. Nesse caso, a
molécula pode ser gerada a partir de repetições invertidas no genoma ou de transposons,
69
possivelmente com a participação da PolIVa. A enzima transcreveria RNAs dos loci alvos e
estes, em seguida, seriam convertidos em dupla fita de RNA por RDR2, uma RNA
polimerase dependente de RNA. DCL3 reconheceria o dsRNA e com ajuda de uma
proteína ligante de dsRNA ainda não identificada, levaria a degradação em siRNAs de 24
bases. Esses siRNAs entrariam em complexos RISC contendo AGO4 ou AGO6 que
recrutariam metiltranferases, remodeladores de cromatina e enzimas modificadoras de
histona para o DNA alvo. Em seguida a metilação seria mantida por MET1, DDM1, HDA6
e reforçado por metilação em histonas.
II.1.2.3 – Via de microRNAs
Em geral, os microRNAs de plantas são muito parecidos com os microRNAs de
animais. No entanto, existem algumas diferenças importantes, especialmente na biogênese
e no modo de ação (Jones-Rhoades et al., 2006).
Os primeiros microRNAs de plantas foram descobertos como a maioria dos
microRNAs de animais: através de projetos de clonagem e seqüenciamento de pequenos
RNAs (Llave et al., 2002; Mette et al., 2002). Após a clonagem dos primeiros miRNAs,
observou-se que estes apresentam um precursor primário maior e mais complexo do que o
observado nos miRNAs de animais (Bonnet et al., 2004). Programas que incluíam as
peculiaridades de estrutura dos microRNAs de plantas foram desenvolvidos e com isso um
número ainda maior de genes foram identificados, especialmente em Arabidopsis e arroz
(Bonnet et al., 2004; Jones-Rhoades & Bartel, 2004; Wang et al., 2004; Adai et al., 2005;
Sunkar & Zhu, 2004; Lu et al., 2005b).
Os primeiros dados genômicos evidenciaram que os miRNAs de plantas, ao
contrário do observado para os de animais, estão em sua grande maioria localizados em
regiões intergênicas e, com isso, apresentando seus próprios elementos regulatórios. A
biogênese segue os mesmos princípios básicos observados para animais, mas apresentam
algumas diferenças. Por exemplo, o processamento do pri-microRNA e do pré-microRNA é
realizado pela mesma enzima. Em plantas, a enzima Dicer-Like1 (DCL1) atua somente no
núcleo e possui a atividades equivalentes as da Drosha nuclear e da Dicer citoplasmática de
animais (Park et al., 2002; Kurihara & Watanabe, 2004). O processo de clivagem do pré-
70
microRNA, assim como acontece em animais, é realizado com a participação de uma
enzima ligante de dsRNA. Em plantas, a enzima é chamada de HYL1 (“hyponastic
leaves1”) e mutações no gene produzem os mesmos defeitos no desenvolvimento que são
também observados em mutantes para o gene Dcl1 (Han et al., 2004b; Vazquez et al.,
2004a; Kurihara et al., 2006). A clivagem é realizada também com a participação do gene
Serrate, mas sua função exata no processo ainda não foi descoberta (Yang et al., 2006).
Após a clivagem, um complexo miRNA:miRNA* é formado e em seguida metilado pela
proteína HEN1, aumentando sua estabilidade (Park et al., 2002; Boutet et al., 2003; Yu et
al., 2005). O processo ocorre em corpos especializados do núcleo (Fang & Spector, 2007;
Song et al., 2007). Esses locais, no entanto, diferem dos corpos de Cajal, local onde ocorre
o processamento de microRNAs em animais. Por serem induzidos pela DCL1, esses corpos
foram batizados de corpos-D (“D-bodies, onde ‘D’ significa Dicer) (Fang & Spector,
2007). O transporte para o citoplasma é realizado pela proteína HST (“hasty”), um
homólogo da Exportin-5 de animais (Park et al., 2005).
Depois de produzidos e processados, os miRNAs entram em um complexo RISC
contendo AGO1 (Vaucheret et al., 2004; Baumberger & Baulcombe, 2005; Qi et al., 2005).
Pouco se sabe sobre o mecanismo de entrada dos miRNAs no RISC, no entanto, acredita-se
que siga os mesmos mecanismos observados para a entrada de siRNAs e miRNAs no RISC
de animais. Ao contrário do observado em animais, os miRNAs de planta, em geral, atuam
preferencialmente por degradação de mRNAs e não por inibição da tradução. Observou-se
que a degradação ocorre entre as bases 10 e 11 do miRNA e que o processo é mais eficiente
quando existe um pareamento perfeito nas primeiras oito bases do miRNA com o alvo
(Mallory et al., 2004; Parizotto et al., 2004; Vaucheret et al., 2004). Em muitos casos, a
região 5’ do RNA alvo degradado é rapidamente usada como molde por uma polimerase
dependente de RNA para a síntese de dsRNA e em seguida é degrada em siRNAs
(Ronemus et al., 2006). A região 3’ também é degradada, no entanto, tem uma meia vida
alta o suficiente para que seja detectável por cnicas como northern blot e RACE-PCR
(“Rapid Amplification of cDNA EndsPCR”).
Em função do alto pareamento, a identificação dos alvos dos miRNAs de plantas foi
realizada de forma muito mais eficiente e rápida do que em animais (Rhoades et al., 2002).
A maior parte dos alvos encontrados são fatores de transcrição, muitos envolvidos no
71
desenvolvimento e na identidade de órgãos (Kidner & Martienssen, 2005). No entanto,
alvos não relacionados com fatores de transcrição também foram encontrados. Entre eles,
pode-se destacar proteínas do tipo F-box (Jones-Rhoades & Bartel, 2004) e até genes da
própria via de microRNA, tais como DCL1, regulada pelos miRNAs 162 (Xie et al., 2003)
e 838 (Rajagopalan et al., 2006) e AGO1, regulada pelo miRNA168 (Vaucheret et al.,
2004). Projetos de identificação de microRNAs em diversos grupos vegetais evidenciaram
que muitos estavam presentes antes do surgimento das plantas terrestres (Floyd &
Bowman, 2004; Arazi et al., 2005; Axtell & Bartel, 2005; Talmor-Neiman et al., 2006;
Axtell et al., 2007; Barakat et al., 2007). Recentemente identificou-se microRNAs na alga
unicelular Chlamydomonas reinhardtii (Molnar et al., 2007; Zhao et al., 2007). Os genes
encontrados apresentam precursores e forma de atuação muito parecidos com os miRNAs
de plantas. No entanto, possuem pouca conservação de seqüência. Especulou-se, dessa
forma, que os microRNAs surgiram antes dos primeiros organismos multicelulares (Molnar
et al., 2007; Zhao et al., 2007). Além disso, descoberta de microRNAs conservados entre
plantas e animais evidenciou que um tipo de regulação via microRNA possivelmente
existia nos ancestrais dos eucariotos (Arteaga-Vazquez et al., 2006). No entanto, alguns
miRNAs não conservados entre plantas com flores também foram identificados (Lu et
al., 2005b; Fahlgren et al., 2007). Dessa forma, acredita-se que novos genes de microRNAs
possam ter surgido mesmo após a separação dos grandes grupos de plantas. Um modelo
hipotético para o surgimento e evolução de novos miRNAs foi proposto (Allen et al.,
2004). Nessa hipótese, os microRNAs seriam formados a partir da duplicação de segmentos
de seus genes alvos. Inicialmente um gene ou parte de um gene codificador de proteínas
sofre uma duplicação, formando uma estrutura de grampo com pareamento quase perfeito.
Essa estrutura passa então a produzir siRNAs. Mutações na região do grampo fariam com
que a estrutura passasse a produzir siRNAs especiais, com pouca similaridade aos seus
alvos. siRNAs desse tipo foram identificados em Arabidopsis, como o siRNA
ASRP1729. Novos eventos de mutação fariam com que o grampo fosse mais
eficientemente reconhecido pela DCL1 do que pelas demais DCLs, passando a gerar, dessa
forma, um tipo de microRNA primitivo. Esses miRNAs, por serem mais recentes, seriam
muito mais parecidos aos seus alvos na região do grampo do que os miRNAs mais antigos.
Muitos microRNAs o conservados entre os grandes grupos de plantas, como o
72
miRNA161 e o miRNA163, apresentam essa característica. Ao longo do processo
evolutivo, no entanto, novas mutações seriam introduzidas até que praticamente só a região
do miRNA maduro teria similaridade com os alvos, como geralmente é observado nos
miRNAs conservados nas plantas. Duplicações dessas seqüências dariam origem às
diversas famílias de miRNAs frequentemente observadas nos genomas.
As características dos microRNAs de plantas foram utilizadas também no
desenvolvimento de ferramentas para genética funcional. Foram desenvolvidos sistemas
onde um segmento de 21 nucleotídeos é inserido em um vetor que, quando expresso,
formará um RNA com estrutura similar a um pré-microRNA (Alvarez et al., 2006; Schwab
et al., 2006). Este RNA será processado pela DCL1 e a seqüência de 21 nucleotídeos
introduzida funcionará como um microRNA, sendo, portanto, uma excelente ferramenta
para silenciar genes em plantas. A grande vantagem dos chamados microRNAs sintéticos
ou artificiais é a alta especificidade de degradação. Nos modelos antigos, um longo dsRNA
é clivada em diferentes tipos de siRNAs. Alguns desses, no entanto, podiam silenciar genes
parecidos com os alvos. Clivagens inespecíficas são problemáticas especialmente quando o
gene alvo faz parte de uma família multigênica. No sistema de microRNAs, no entanto,
apenas um tipo de pequeno RNA é produzido e, com isso, pode-se escolher uma região de
21 nucleotídeos que não seja conservada em genes similares ao alvo.
II.1.2.4 – Via de tasiRNAs
Os pequenos RNAs conhecidos como trans-acting siRNAs” (ou tasiRNAs) são
encontrados apenas em plantas (Peragine et al., 2004; Vazquez et al., 2004b), algas (Zhao
et al., 2007) e nematóides (Lee et al., 2006a). Os tasiRNAs apresentam características
únicas e pode-se dizer que são híbridos funcionais entre siRNAs e microRNAs. Sua
geração ocorre pela degradação de dsRNAs perfeitos por DCL4, assemelhando-se,
portanto, com os siRNAs. No entanto, os tasiRNAs atuam in trans, ou seja, degradando
seqüências que são diferentes das que deram origem ao pequeno RNA (Peragine et al.,
2004).
A biogênese dos tasiRNAs apresenta peculiaridades que os distinguem dos demais
pequenos RNAs. Sua formação pode iniciar pela transcrição de genes nucleares chamados
73
TAS. Esses genes são expressos, mas não apresentam nenhuma fase aberta de leitura.
Transcritos com essas características foram descobertos tempos em projetos de
seqüenciamento de ESTs (“Expressed Sequence Tags”) e eram considerados como pseudo-
genes, ou seja, um DNA que é transcrito, mas que não tem informação para a síntese de
proteínas. Descobriu-se, no entanto, que os genes TAS possuem sítios de clivagens para
microRNAs (Allen et al., 2005;
Yoshikawa et al., 2005). Uma vez clivados, os transcritos
são convertidos em um longo dsRNA pela enzima RDR6 (Peragine et al., 2004). Esse
dsRNA com pareamento perfeito é então clivado por DCL4 em pequenos RNAs de 21
nucleotídeos, gerando os tasiRNAs (Dunoyer et al., 2005; Gasciolli et al., 2005; Xie et al.,
2005). Nesse processo também a participação da proteína ligante de dsRNA DRB4
(Nakazawa et al., 2007). Ao contrário do que ocorre com os siRNAs normais, DCL4 cliva
o dsRNA do gene TAS somente em uma fase. Ou seja, a DCL4 inicia a clivagem do
dsRNA sempre no mesmo ponto e, com isso, os tasiRNAs produzidos a partir de um tipo
de dsRNA apresentam todos a mesma fase (Allen et al., 2005; Yoshikawa et al., 2005).
Durante algum tempo não se sabia ao certo o que determinava a clivagem seqüencial e em
fase do dsRNA. Hoje se sabe, no entanto, que a clivagem do microRNA determina um
registro de leitura e processamento do dsRNA. DCL4 inicia sempre o processamento a
partir da região onde ocorreu a clivagem pelos microRNAs (Allen et al., 2005; Yoshikawa
et al., 2005
). Uma vez produzidos, esses tasiRNAs em fita dupla de 21 bases são metilados
por HEN1 (Li et al., 2005) e em seguida introduzidos no complexo RISC contendo AGO7
(Adenot et al., 2006; Fahlgren et al., 2006).
O panorama de geração desses pequenos RNAs tornou-se mais complexo, no
entanto, com a descoberta de que genes codificadores de proteínas, quando clivados por
microRNAs, também poderiam entrar na via de tasiRNAs (Howell et al., 2007). Dessa
forma, a degradação de um mRNA por um microRNA, em alguns casos poderia levar a
formação de pequenos RNAs em fase que iriam degradar outros mRNAs através de AGO7.
Em outros casos, no entanto, mRNAs alvos de miRNAs não entrariam nessa via de
pequenos RNAs em fase (Lu et al., 2005a). Além disso, a via de geração de tasiRNAs
através de RDR6 também pode ser acionada pelos próprios tasiRNAs, ao clivarem seus
alvos (Howell et al., 2007). Ficou claro, dessa forma, que existe uma complexa e
interligada rede de geração de pequenos RNAs atuantes in trans, envolvendo a participação
74
de microRNAs, genes TAS, mRNAs e também os próprios tasiRNAs. Um grupo mostrou
que o número de sítios de clivagens de microRNAs ou de um tasiRNAs em um alvo,
codificador de proteínas ou não, é o principal determinante de qual via será acionada
(Axtell et al., 2006). Por exemplo, se existe apenas um tio de clivagem de microRNA em
um gene TAS ou em um mRNA, esses alvos não serão geradores de tasiRNAs. No entanto,
se existirem dois sítios de clivagem nos alvos, para um mesmo microRNA ou para dois
microRNAs independentes, a via de geração de pequenos RNAs em fase é acionada. Foi
mostrado ainda que a clivagem em um ponto do alvo e o recrutamento do complexo RISC
em outro, mesmo não havendo clivagem no segundo, é suficiente para dar início à
formação dos tasiRNAs (Axtell et al., 2006). Os autores especularam ainda que mutações
aleatórias em RNAs que retirassem a proteção cap no 5’ ou a cauda poli(A) poderiam
contribuir para a entrada dessas seqüências na via de pequenos RNAs. Esses eventos raros e
aleatórios de clivagem dupla de RNAs aumentariam de freqüência com o aumento da taxa
de transcrição. Dessa forma, especulou-se que genes altamente expressos, ou transgenes
sob fortes promotores ou ainda RNAs oriundos de infecções virais estariam mais sujeitos a
entrarem na via de tasiRNAs do que RNAs com taxas normais de transcrição (Axtell et al.,
2006). Assim, a ativação da via de pequenos RNAs induzida por dupla clivagem de
mensageiros, mediada por eventos estocásticos ou por microRNAs ou tasiRNAs, daria um
suporte genéticos à antiga hipótese quantitativa do silenciamento, que prediz que o
mecanismo é disparado pelo acúmulo excessivo de RNAs no citoplasma vegetal
(Dougherty & Parks, 1995; Elmayan & Vaucheret, 1996). Assim, as hipóteses quantitativa
e qualitativa para disparo do silenciamento que foram inicialmente elaboradas seriam
complementares e não contrastantes. O excesso de transcrito aumentaria a chance de
formação de RNAs com dois sítios de clivagem, fazendo com que RDR6 produzisse um
dsRNA que iria disparar todo o processo. No entanto, nos casos em que os transgenes eram
introduzidos de uma maneira em que seu RNA transcrito já apresentava uma forma de
dsRNA, o processo seria disparado mesmo que os mesmos não apresentassem alta taxa de
transcrição.
Assim como ocorre com os microRNAs, os tasiRNAs têm como alvos preferenciais
genes envolvidos no desenvolvimento, muitos deles fatores de transcrição (Peragine et al.,
2004; Vazquez et al., 2004b; Allen et al., 2005). tasiRNAs originados do gene TAS3, por
75
exemplo, degradam os genes ARF3 e ARF4, envolvidos na transição da fase vegetativa
para a fase reprodutiva e também no estabelecimento de polaridade na folha (Adenot et al.,
2006; Fahlgren et al., 2006; Garcia et al., 2006; Hunter et al., 2006). Muitos dos tasiRNAs
identificados até hoje o conservados nas plantas com flores (Allen et al., 2005) e alguns
foram identificados em musgos (Axtell et al., 2006; Talmor-Neiman et al., 2006a) e
algas (Zhao et al., 2007), evidenciando que sua função reguladora do desenvolvimento tem
um papel tão importante quanto a desempenhada pelos microRNAs.
II.1.2.5 – Via de disseminação da RNAi
Uma das características mais peculiares do silenciamento gênicos em plantas é a sua
capacidade de se disseminar para outros tecidos. O espalhamento pode ocorrer tanto
sistemicamente, seguindo o fluxo do floema e atingindo regiões meristemáticas, quanto em
curta distância, envolvendo a passagem de célula a célula (Mlotshwa et al., 2002; Voinnet,
2005b).
A disseminação a longa distância do silenciamento é dependente de RDR6
(Schwach et al., 2005). No entanto, essa molécula não está envolvida na movimentação
célula a célula, indicando que os dois processos seguem vias genéticas distintas (Himber et
al., 2003). Análises de plantas de Nicotiana benthamiana indicaram que RDR6 atua como
uma receptora do sinal sistêmico de silenciamento em regiões meristemáticas. O modelo
proposto indica que um sinal sistêmico é produzido em regiões indutoras de uma forma
independente de RDR6 e este seria recepcionado e amplificado em células do meristema
através de RDR6 (Schwach et al., 2005). Pouco se sabe, até hoje, sobre quais seriam os
outros componentes genéticos do processo e qual ou quais seriam as moléculas
sinalizadoras. Adredita-se que os sinalizadores sistêmicos podem ser longas moléculas de
dupla fita de RNA ou então pequenos RNAs gerados de uma forma independente de Dicer
(Brosnan et al., 2007; David Baulcombe, comunicação pessoal).
Grande progresso tem sido feito recentemente, no entanto, para o entendimento do
processo de disseminação a curta distância. Os resultados obtidos indicam que as plantas
têm uma via de silenciamento distinta que está envolvida na produção e no transporte de
moléculas sinalizadoras de silenciamento célula a célula. Inicialmente observou-se que
76
siRNAs de 21 nucleotídeos produzidos por DCL4 são as moléculas responsáveis pela
disseminação (Dunoyer et al., 2005). Estudo posteriores com mutantes defectivos em
diferentes etapas das vias de silenciamento evidenciaram que genes atuantes nas vias de
hpRNAs (DCL2, DCL3, DCL4, DRB4), microRNAs (DCL1, HEN1) e metilação (RDR2,
NRPD1a, NRPD2a) estavam trabalhando em conjunto para a produção e transporte dos
siRNAs sinalizadores (Dunoyer et al., 2007; Smith et al., 2007). No modelo proposto,
DCL1 atuaria como se fosse uma Drosha, promovendo uma clivagem inicial do dsRNA
indutor e facilitando seu acesso às demais Dicers. O dsRNA pré-processado por DCL1 seria
então degradado preferencialmente por DCL4, gerando siRNAs de 21 bases. Essa clivagem
seria facilitada por DRB4, uma ligante de dsRNA. Na ausência de DCL4 ou DBR4, haveria
um acesso hierárquico pelas Dicers 3, 2 e, em pequena escala, por DCL1. No entanto, as
Dicers 3, 2 e 1 atuariam somente na presença de um forte indutor, produtor de dsRNA em
altas concentrações. Os pequenos RNAs gerados seriam metilados por HEN1 e em seguida
parte seria transportada para um complexo RISC contendo AGO1 e outra parte seria
transportada via plasmodesmas para células vizinhas através de RDR2 e NRPDa1. Ao
chegar às células vizinhas, uma parte entraria novamente no complexo RISC e outra seria
transportada para outra célula, promovendo assim, uma diluição dos siRNAs ao se
movimentarem entre as células. Essa diluição poderia explicar o fato do movimento célula
a célula ser observado apenas em 13 a 15 células de distancia da célula que recebeu o
indutor primário (Dunoyer et al., 2005).
A disseminação do silenciamento tem um impacto muito forte em infecções virais.
Uma vez dentro da célula, a maquinaria de silenciamento promove a degradação viral
preferencialmente por DCL4. Os siRNAs produzidos promovem a redução da concentração
viral na célula infectada, através da degradação dos RNAs virais de fita simples via RISC-
AGO1, e também migram para células vizinhas, tentando conter os vírus apenas em locais
próximos às células inicialmente infectadas. Ao mesmo tempo, um sinal sistêmico ainda
desconhecido é gerado e diretamente transportado via floema para as células
meristemáticas, onde é recepcionado e amplificado pela ação de RDR6. Dessa forma, as
novas folhas produzidas após o início da infecção ficam livres de partículas virais. O
sistema hierárquico das Dicers dependente de concentração também tem um papel
importante nesse processo. Hoje é sabido que os vírus apresentam proteínas capazes de
77
suprimir diferentes etapas da via de silenciamento (Ding & Voinnet, 2007). A maior parte
das supressoras estudadas até hoje, ou inibem diretamente a DCL4 ou então evitam que os
siRNAs por ela gerados atuem no RISC (Bouché et al., 2006; Deleris et al., 2006; Lakatos
et al., 2006). Dessa forma, DCL2 e DCL3 poderiam ter acesso para produzir siRNAs de 22
e 23 nucleotídeos que, por estarem em alta concentração em função do elevado número de
cópias virais, estariam aptos a entrarem na RISC e promoverem a degradação viral. Nessa
situação, as plantas conseguiriam sobrepujar a infecção apenas se o sinal sistêmico de
silenciamento conseguisse chegar às células meristemáticas antes da infecção viral.
II.1.3 – Supressão de silenciamento gênico
Desde os primeiros experimentos evidenciando a existência de silenciamento em
plantas, muitos pesquisadores especularam que este mecanismo poderia ter surgido como
sistema natural de defesa contra infecções virais (revisado por Lindbo & Dougherty, 2005).
A posterior descoberta de que o dsRNA é o desencadeador da via forneceu ainda mais
evidências para essa hipótese. Cerca de 90% dos vírus que infectam plantas apresentam seu
genoma constituído de RNA (Mayo, 1999) e, portanto, seriam produtores em potencial
desse tipo de estrutura durante o processo replicativo. No entanto, mesmo com esse potente
mecanismo antiviral, as plantas continuam acometidas por infecções virais, muitas vezes
severas. Dessa forma, especulava-se que os vírus possivelmente deveriam ter desenvolvido
mecanismos de contra defesa. Não foi de grande surpresa para a comunidade científica,
portanto, quando começaram a ser descobertos vírus que apresentavam proteínas
supressoras de silenciamento (Voinnet, 2005a).
A primeira evidência da existência de proteínas virais supressoras de PTGS surgiu
da observação de interações sinérgicas entre o vírus Potato virus Y (PVY), um Potyvirus, e
outros rus não relacionados (Pruss et al., 1997). Os experimentos mostraram que o PVY
possue um determinante de patogenicidade que permite o aumento do acúmulo de outros
vírus, como o Potato virus X (PVX). Mais tarde, a natureza desse determinante de
patogenicidade foi determinada por três grupos independentes (Anandalakshmi et al., 1998;
Brigneti et al., 1998; Kasschau & Carrington, 1998). Observou-se que a proteína
78
multifuncional HC-Pro (“Helper-Component-Proteinase”) dos membros do gênero
Potyvirus é uma forte supressora de silenciamento, atuando tanto em silenciamento
induzido por transgenes, quanto por vírus (VIGS). Após essas descobertas iniciais,
inúmeras outras proteínas supressoras foram encontradas em vírus de plantas. As proteínas
identificadas, no entanto, não são evolutivamente e nem funcionalmente relacionadas,
indicando que o mecanismo de supressão viral surgiu diversas vezes na natureza.
II.1.3.1 – Identificação de supressores
Entre as estratégias utilizadas para identificar proteínas supressoras, as mais comuns
envolvem experimentos de expressão transiente, ensaios de reversão de silenciamento e
ensaios com transgenes estáveis.
O sistema de expressão transiente (agro-infiltração) foi o mais utilizado até hoje, em
especial em plantas de Nicotiana benthamiana 16C (Ruiz et al., 1998). Essa linhagem
expressa o gene marcador GFP (“Green Fluorescent Protein”) sob controle do forte
promotor 35S e, portanto, apresenta coloração fluorescente quando iluminada com lâmpada
ultravioleta. No entanto, a infiltração de mais transcritos de GFP (mGFP) ou de um
transcrito de GFP em forma de grampo (hpGFP) através da bactéria Agrobacterium
tumefaciens leva a um disparo de silenciamento contra os genes GFP. As agrobactérias são
patógenos naturais de plantas e por apresentarem a capacidade de introdução de um
fragmento de DNA, o T-DNA, no genoma vegetal, são muito frequentemente utilizadas
para produção de plantas transgênicas e também para expressar genes de forma transiente,
como no caso dos experimentos com GFP na planta 16C. A infiltração de agrobactéria em
plantas aciona o sistema de silenciamento contra os genes deste patógeno, como uma
resposta de defesa (Dunoyer et al., 2006). Dessa forma, a infiltração de agrobactéria
carreando o gene da GFP na linhagem 16C, dispara silenciamento dessa seqüência na
região inoculada e, com isso, os transcritos de GFP da bactéria e do transgene são
degradados, gerando uma região avermelhada sob iluminação ultravioleta. O mecanismo de
degradação é inibido, no entanto, através da co-infiltração de mGFP ou hpGFP com um
gene codificante de uma proteína supressora de silenciamento. Nesse caso, observa-se uma
79
forte região fluorescente no tecido infiltrado, resultado da expressão do transgene da planta
e também da GFP extra que foi introduzida pela bactéria. O mesmo tipo de ensaio pode ser
feito, no entanto, em plantas selvagens de Nicotiana benthamiana.
O método de reversão de silenciamento consiste em infectar vírus em plantas
transgênicas que estejam silenciadas para um gene marcador qualquer. A própria planta
16C foi utilizada para essa finalidade (Ruiz et al., 1998). Nesse caso, plantas 16C com
até três semanas de idade são infiltradas com mGFP ou hpGFP através de agrobactéria. O
silenciamento local dos transcritos de GFP se espalha para outros tecidos e cerca de uma
semana após a infiltração ocorre um silenciamento sistêmico, em toda a planta, não sendo
mais possível detectar fluorescência sob luz ultravioleta. Após a indução sistêmica do
silenciamento as plantas são inoculadas com vírus e, caso estes apresentem uma proteína
supressora, os tecidos infectados voltam a expressar GFP. Infecção das plantas com formas
mutantes do rus poderia indicar qual ou quais as proteínas envolvidas na supressão (Ruiz
et al., 1998). O sistema de identificação por expressão estável de transgenes, em geral, é
utilizado para confirmar a ação de uma proteína supressora. Plantas transgênicas
expressando as supressoras candidatas são cruzadas com plantas transgênicas silenciadas
para genes marcadores, como GFP ou GUS -glucuronidase). A progênie é então
analisada para verificar se o silenciamento foi suprimido nas plantas apresentando os dois
transgenes (Anandalakshmi et al., 1998; Brigneti et al., 1998; Kasschau & Carrington,
1998).
II.1.3.2 – Supressores de silenciamento bem caracterizados
Grande parte das proteínas virais supressoras de silenciamento identificadas até hoje
são consideradas como determinantes de patogenicidade ou determinantes de gama de
hospedeiros (Brigneti et al., 1998; Voinnet et al., 1999). A grande diversidade de estruturas
e modo de ação, no entanto, são as características mais interessantes destas proteínas.
Atividade de supressão foi encontrada em proteínas estruturais e não estruturais e
diversas estratégias de supressão já foram identificadas: inibição da ntese de siRNAs
(Bouché et al., 2006; Deleris et al., 2006), inibição da entrada dos siRNAs na RISC
(Lakatos et al., 2006; Mérai et al., 2006), inibição dos sinais locais ou sistêmicos de
80
silenciamento (Voinnet et al., 2000; Guo & Ding, 2002; Hamilton et al., 2002) e, mais
recentemente, mecanismos de degradação de proteínas da via através de ubiqüitinação
(Pazhouhandeh et al., 2006; Baumberger et al., 2007; Bortolamiol et al., 2007) e inativação
da síntese de dsRNA (Glick et al., 2008). Alguns vírus apresentam mais de uma supressora,
cada uma atuando em uma etapa diferente da via de silenciamento. Por exemplo, o Citrus
tristeza virus, um Closterovirus, apresenta três tipos de supressores diferentes (Lu et al.,
2004). As proteínas mais bem caracterizadas até hoje são a HC-Pro dos Potyvirus, a P19
dos Tombusvirus, a 2b dos Cucumovirus e a P0 dos Polerovirus.
II.1.3.2.1 – HC-Pro
A proteína HC-Pro foi a primeira supressora identificada e umas das primeiras a
serem caracterizadas. No entanto, até recentemente havia pouco consenso de como é a ação
da proteína na via de silenciamento. A análise da atividade de HC-Pro em diferentes
modelos experimentais levou a formulação de diversas hipóteses. Uma delas previa que
HC-Pro seria capaz de atuar em tecidos com silenciamento previamente estabelecido
(Anandalakshmi et al, 1998; Brigneti et al, 1998; Voinnet et al, 1999; Llave et al, 2000).
Outro modelo indicou que HC-Pro poderia estar suprimindo silenciamento através da
ligação com uma proteína relacionada com calmodulina (Anandalakshmi et al, 2000). Já foi
sugerido também que HC-Pro poderia estar inibindo a ação de Dicer (Mallory et al, 2001;
Dunoyer et al, 2004) ou do complexo RISC (Chapman et al., 2004).
Recentemente, no entanto, foi demonstrado que HC-Pro tem atividade de ligação a
pequenos RNAs dupla fita de 21 nucleotídeos, mas não de 19 ou 24 nucleotídeos (Lakatos
et al., 2006; Mérai et al., 2006). Dessa forma, especulou-se que, na realidade, HC-Pro se
liga aos siRNAs gerados a partir do genoma viral impedindo que os mesmos entrem no
complexo RISC. Por serem quimicamente indistinguíveis, a proteína também é capaz de se
ligar ao duplex de microRNA:microRNA*. No entanto, é pouco provável que os
microRNAs tenham uma atividade antiviral relevante em plantas. Dessa forma, acredita-se
que a inibição da via de microRNAs seja um efeito secundário da atividade supressora.
Esse efeito poderia explicar as anormalidades no desenvolvimento observadas em plantas
de Arabidopsis expressando HC-Pro (Kasschau et al., 2003; Dunoyer et al., 2004).
81
Explicaria também o excessivo acúmulo de microRNA* nessas plantas. Assim, hoje se
acredita que parte dos sintomas observados em infecções virais naturais podem estar
associados com uma desregulação acidental de outras vias de pequenos RNAs existentes
em plantas (Silhavy & Burgyán, 2004). A atuação das supressoras nas vias endógenas de
pequenos RNAs poderia explicar, portanto, o motivo pelo qual essas proteínas estão
frequentemente associadas com a severidade das infecções virais, sendo muito
frequentemente denominadas de determinantes de patogenicidade.
II.1.3.2.2 – P19
A proteína supressora P19 dos Tombusvirus também é uma das mais bem estudadas
e caracterizadas. Assim como observado para HC-Pro, a atuação de P19 parece estar
associada com o seqüestro de siRNAs, impedindo que os mesmos sejam incorporados no
complexo RISC (Silhavy et al., 2002; Vargason et al., 2003; Chapman et al., 2004;
Dunoyer et al., 2004; Lakatos et al., 2004). De fato, recentemente observou-se que o
seqüestro e a inativação de siRNAs é uma estratégia de supressão adotada por diferentes
grupos virais (Lakatos et al., 2006; Mérai et al., 2006).
A estrutura de cristalografia da P19 ligada a siRNAs foi obtida e revelou que a
proteína interage preferencialmente com siRNAs de 21 nucleotídeos, mas também é capaz
de ligar-se com pequenos RNAs um pouco maiores ou menores (Vargason et al., 2003; Ye
et al., 2003). No entanto, ao contrário de HC-Pro, P19 se liga a pequenos RNAs mesmo que
estes não apresentem uma estrutura típica de siRNAs, ou seja, com um fosfato 5’ e dois
nucleotídeos não pareados na região 3’. Plantas transgênicas expressando P19 também
apresentam defeitos severos no desenvolvimento e acumulam microRNA*, indicando que,
assim como HC-Pro, a proteína também interfere acidentalmente em outras vias endógenas
de pequenos RNAs endógenas (Chapman et al., 2004; Dunoyer et al., 2004).
II.1.3.2.3 – 2b
A proteína 2b dos Cucumovirus foi a segunda supressora viral identificada (Brigneti
et al., 1998) e as evidências experimentais iniciais indicavam que a proteína estava
82
bloqueando a produção do sinal de espalhamento do silenciamento (Guo & Ding, 2002). A
expressão de 2b em plantas, no entanto, permitiu um maior entendimento de sua ão na
via. Observou-se que plantas expressando o supressor apresentavam defeitos no
desenvolvimento (Zhang et al., 2006a). Esses defeitos correlacionam-se com o acúmulo das
fitas guia e de passagem dos microRNAs e também dos alvos dos microRNAs. Dessa
forma, 2b não interfere na produção dos microRNAs, mas sim com a sua função.
Especulou-se, portanto, que a supressora poderia estar inibindo a ação de AGO1, proteína
responsável pela atividade de degradação no RISC das vias de siRNAs virais e de
microRNAs. Essa hipótese foi comprovada por experimentos de imunoprecipitação,
observando-se a interação de 2b com o domínio PAZ de AGO1 (Zhang et al., 2006a).
Observou-se também uma redução no acúmulo de tasiRNAs nas plantas expressando 2b,
possivelmente pela inibição da clivagem dos genes TAS pelos microRNAs.
Assim, 2b estaria suprimindo o silenciamento pela inibição da principal proteína
envolvida na RISC de plantas, AGO1. Experimentos iniciais realizados com 2b indicaram
que o supressor está envolvido na repressão do sinal de disseminação do silenciamento,
tanto de célula a célula, quanto a nível sistêmico (Guo & Ding, 2002). Recentemente, no
entanto, observou-se que as proteínas Argonautes não estão envolvidas na geração do sinal
de disseminação de célula a célula (Baumberger et al., 2007). Sendo assim, possivelmente a
2b deve atuar também em outras vias de silenciamento. Dados recentes indicam que a 2b do
Tomato aspermy virus, um rus do gênero Cucumovirus, é capaz de se ligar aos siRNAs e
também a longos dsRNAs (dados não publicados discutidos em Diaz-Pendon et al., 2007).
Assim, uma ação dupla de 2b permitiria que o vírus replicasse eficientemente nas células
infectadas pela inibição de AGO1 e, além disso, evitaria a disseminação do silenciamento
através da ligação com pequenos RNAs.
II.1.3.3 – Supressores de silenciamento na família Luteoviridae
A família Luteoviridae apresenta três gêneros distintos: Luteovirus, Polerovirus e
Enamovirus. Atividade supressora de silenciamento foi observada na proteína codificada
pela ORF0 (ou P0) de três membros do gênero Polerovirus: Beet western yellows virus
(BWYV), Cucurbit aphid-borne yellows virus (CABYV) e Potato leafroll virus (PLRV)
83
(Pfeffer et al., 2002). Nunca foi reportado na literatura, no entanto, atividade supressora em
membros dos outros dois gêneros da família.
Experimentos com a P0 do BWYV (BWP0) em Nicotiana benthamiana 16C
mostraram que essa proteína é uma forte supressora de silenciamento local, mas não
interfere na produção do sinal de disseminação sistêmico (Pfeffer et al., 2002). Mostrou-se
também que a atividade supressora elimina siRNAs quando plantas 16C são co-infiltradas
com transcritos de GFP (sGFP) (Pfeffer et al., 2002), mas não quando o indutor é uma
dupla fita de GFP (hpGFP) (Baumberger et al., 2007; Bortolamiol et al., 2007).
O papel de P0 na supressão do silenciamento ficou mais claro quando se mostrou
que a proteína atua na via de ubiqüitinação como se fosse uma F-box, levando a proteólise
de alvos (Pazhouhandeh et al., 2006). Estudos com duplo brido em leveduras mostraram
que a BWP0 e a P0 do CABYV (CAP0) interagem in vivo e in vitro com a proteína
codificada pelo gene SKIP2 (AT5g42190) de Arabidopsis thaliana. O gene SKIP2 é um
homólogo do gene SKIP1 de leveduras e codifica uma proteína que está envolvida na via
de ubiqüitinação através do complexo SCF (SKIP1_Cullin1_F-box_RBX1). A proteína
SKIP1 se liga a CULLIN1 e a uma proteína com domínio F-box. As proteínas F-box, por
sua vez, se ligam a proteínas alvos que são então ubiqüitinadas por uma enzima conjugante
de ubiqüitina E2 e em seguida degradadas no proteasoma 26S (Petroski & Deshaies, 2005).
O sistema de degradação é muito conservado e, de fato, foi observado que CAP0 é capaz de
interagir tanto com a SKIP2 de plantas, quanto com a SKIP1 de leveduras (Pazhouhandeh
et al., 2006). Proteínas P0 que apresentam mutações pontuais em sítios conservados do
domínio F-box, no entanto, não interagem com SKIP2.
O único membro do gênero Enamovirus, o Pea enation mosiac virus 1 (PEMV-1),
também apresenta uma proteína P0. Essa proteína, no entanto, é cerca de 200 nucleotídeos
maior e possui identidade de seqüência de apenas 5 a 10% com a P0 dos membros do
gênero Polerovirus. Esse vírus, em associação simbiótica com o RNA de um Umbravirus
(PEMV-2), é capaz de sair do floema e ser transmitido mecanicamente. Membros do
gênero Luteovirus não apresentam P0 e são biologicamente indistinguíveis dos Polerovirus,
exceto pelo fato de infectarem apenas monocotiledôneas. Dessa forma, a identificação e a
caracterização de proteínas supressoras de silenciamento por RNA nesses dois grupos de
84
vírus seriam de grande importância para o melhor entendimento da biologia da família viral
Luteoviridae.
Capítulo II
_________________________________________________________________________
OBJETIVOS
86
II.2 – Objetivos
A segunda parte desta tese teve como objetivo geral identificar e caracterizar novas
proteínas supressoras de silenciamento gênico na família Luteoviridae. Os objetivos
específicos foram:
Clonar todos os genes do Barley yellow dwarf virus PAV (BYDV-PAV) em
vetor de expressão de plantas e testar a atividade de supressão de silenciamento
de cada uma das proteínas codificadas pelo vírus.
Clonar a ORF0 do Pea enation mosaic virus-1 (PEMV-1) e verificar se a
proteína codificada apresenta ação de supressão;
Determinar se a P0 do PEMV-1 atua como uma proteína F-Box;
Determinar possíveis alvos de ação das proteínas P0 de Polerovirus, usando o
modelo PLRV, e de Enamovírus, usando o PEMV-1;
Capítulo II
_________________________________________________________________________
MATERIAL
E
MÉTODOS
88
II.3 – Material e Métodos
II.3.1 – Obtenção das construções plasmidiais: clonagens GATEWAY
As clonagens dos genes para expressão em plantas ou em leveduras foram
realizadas através da tecnologia de GATEWAY (invitrogen).Como clones de entrada para
foram utilizados os plasmídios pDONR-201 ou o plasmídio p-ENTR-D-TOPO, ambos da
Invitrogen. Para a clonagem via pDONR-201, dois pares de oligos foram desenhados para
cada construção. O primeiro par de oligo contém cerca de 20 bases específicas do gene e
mais parte do sítio de recombinação do fago lambda, necessário para a recombinação. O
segundo par de oligos possui toda a seqüência do sítio de recombinação do fago lambda. As
reações de PCR com oligos gene específicos foram feitas com 2,5 unidades de Pfu
(Promega), tampão de reação 1X, 0,5 µM de cada oligo, 0,2 mM de dNTPs e 2 µL de
cDNA ou 100 ng de DNA plasmidial. O DNA foi desnaturado a 95 °C por 5 minutos e em
seguida foram realizadas 33 ciclagens de 94 °C por 45 segundos, temperatura de
anelamento (TM) dos oligos por 45 segundos e 72 °C de um a dois minutos. A
amplificação foi finalizada com uma extensão de 5 minutos a 72 °C. A visualização do
produto de amplificação foi feita através de eletroforese em gel de agarose 1,2% em TAE
0,5X (0,02 M Tris-acetato, 0,5 mM EDTA). O fragmento correspondente ao gene foi
cortado do gel e purificado com o “QIAquick Gel Extraction Kit” (Invitrogen Co.),
seguindo recomendações do fabricante. O fragmento sacado foi utilizado para uma segunda
reação de PCR. Essa etapa é realizada com oligos correspondentes a toda região de
recombinação do fago Lambda e tem como objetivo introduzir toda a seqüência AttB1 e
AttB2 nas bordas e 3` do fragmento amplificado, respectivamente. Para tanto, 10 µL do
fragmento sacado foram misturados com 2,5 unidades da polimerase Pfu (Promega),
tampão de reação 1X, 1 µM de cada oligo, 0,2 mM de dNTPs. O DNA foi desnaturado a 95
°C por 1 minuto e em seguida foram realizadas 5 ciclos de 94 °C por 15 segundos, 40 °C
por 30 segundos e 72 °C por um minuto. Uma novo ciclo com 20 etapas foi realizada com
94 °C por 15 segundos, 55 °C por 30 segundos e 72 °C de um a dois minutos, dependendo
do tamanho do fragmento. A amplificação foi finalizada com uma extensão de 5 minutos a
72 °C. Novamente a visualização do produto de amplificação foi feita através de
89
eletroforese em gel de agarose 1,2% em TAE 0,5X e o fragmento correspondente ao
amplicon foi cortado do gel e purificado com o “QIAquick Gel Extraction Kit”, seguindo
recomendações do fabricante. Em seguida os fragmentos amplificados foram recombinados
para o plasmídeo de doação (pDONR 201 Invitrogen). As reações BP foram realizadas
com 40 ng de PCR purificado, 75 ng de pDONR 201, 1X do tampão de reação e 1 µL da
recombinase BP (Invitrogen), em um volume final de 5 µL. A reação foi incubada por 3
horas a 25 °C e em seguida foi misturada por mais 10 minutos com 1 µL de proteinase K a
37 °C. Cerca de 2 µL das reações foram transformadas em E. coli XL1 Blue ou DH5α por
eletroporação e em seguida espalhadas em meio LB lido contendo 25 µg/mL de
canamicina.
Para a clonagem via pENTR-D-TOPO, a seqüência “CACC” foi adicionada na
frente de todos os oligos de descida (forward). As reações de PCR foram realizadas com 2
µL de DNA plasmidial (100 ng) ou cDNA, 2,5 unidades da polimerase Pfu (Promega), 1X
de tampão da Pfu polimerase, 0,5 µM de cada oligo e 0,2 mM de dNTPs, em um volume
final de 50 µL. O programa utilizado para a ciclagem foi: 95 ºC por 5 minutos, ciclagem de
40 vezes a 95 ºC por 1 minuto, temperatura de anelamento dos oligonucleotídeos por um
minuto, 72 ºC por um ou dois minutos (dependendo do tamanho do fragmento) e uma
polimerização final por 10 minutos a 72 ºC. A visualização do produto de amplificação foi
feita através de eletroforese em gel de agarose 1,2% em TAE 0,5X (0,02 M Tris-acetato,
0,5 mM EDTA). O fragmento correspondente ao gene foi cortado do gel e purificado com o
“QIAquick Gel Extraction Kit” (Invitrogen), seguindo recomendações do fabricante. A
reação TOPO foi realizada por 15 minutos a temperatura ambiente com 1 µL de PCR
purificado (5 10 ng), 0,5 µL de solução salina contendo 1,2 M de NaCl e 0,06 M de
MgCl
2
, 0,5 µL de vetor, em um volume final de 3 µL. Toda a reação foi misturada com
cerca de 30 µL de bactéria TOP10 (Invitrogen) termo competente. A reação foi
inicialmente mantida por 30 minutos em gelo, depois por 30 segundos a 42 ºC e transferida
para o gelo novamente. Em seguida foram adicionados 125 µL de meio SOC (2% triptona,
0,5% extrato de levedura, 10 mM NaCl, 2,5 mM KCl, 10 mM MgCl
2
, 10 mM MgSO
4
, 20
mM glicose), as bactérias foram agitadas a 220 rpm por uma hora a 37 ºC e em seguida
espalhadas em meio LB sólido contendo 25 µg/mL de canamicina.
90
As reações LR foram realizadas com 100 ng de plasmídeo de destino (Figura 11),
50 ng de plasmídeo de entrada (pDONR-201 ou pENTR-D-TOPO), 1X do tampão de
reação e 1 µL da recombinase LR (Invitrogen), em um volume final de 5 µL. As reações
foram incubadas por 2 horas a 25 °C e em seguida misturadas por mais 10 minutos com 1
µL de proteinase K a 37 °C. Cerca de 2 µL de cada reação foram usados para transfomar E.
coli XL1 Blue ou DH5α por eletroporação; após o que as bactérias foram selecionadas em
meio LB sólido contendo antibiótico apropriado. Os protocolos para produção de células
competentes, transformação e mini-preparação plasmidial estão descritos na parte I.3.4
desta tese.
Os genes do BYDV-PAV e do PLRV foram amplificados a partir de plasmídios
contendo clones totais ou parciais dos rus, gentilmente cedidos pelo Dr. Peter
Waterhouse. Os genes de Arabidopsis DCL1, DCL2, DCL3 e DCL4 foram clonados por
restrição no p-ENTR-D-TOPO pelo técnico Niel Smith do CSIRO, Canberra, Austrália.
Esses clones de entrada foram utilizados para a recombinação com os plasmídios de
destino. Os demais genes de Arabidopsis (DRB1, DRB2, DRB3, DRB4, DRB5, AGO1,
AGO2, AGO4, AGO6, AGO7, SKIP2, SGS3) foram amplificados a partir de cDNAs. As
reações de síntese de cDNAs foram feitas através do mesmo protocolo descrito na parte
I.3.3. Os genes do BYDV-PAV (PAV P1-P2, PAV P3, PAV P4, PAV P3-P5) foram
transferidos com o códon de término para o vetor pBART::FLAG, gerando os vetores
pBART-PAVP1-P2, pBART-PAVP3, pBART-PAVP4, pBART-PAVP3-P5. Os genes,
portanto, não apresentam fusão com o FLAG. A P0 do PLRV foi transferida para os vetores
pBART::FLAG, pArt27::HA, pArt::GFP e pAS2-1, gerando os vetores pBART-PLP0,
pHA-PLP0, pGFP-PLP0, pBD-PLP0, respectivamente. Os genes de Arabidopsis SKIP2,
DRB1, DRB2, DRB3, DRB4, DRB5, AGO1, AGO2, AGO4, AGO6, AGO7, SGS3 foram
transferidos para o vetor pBART::FLAG, gerando os vetores pBART-SKIP2, pBART-
DRB1, pBART-DRB2, pBART-DRB3, pBART-DRB4, pBART-DRB5, pBART-AGO1,
pBART-AGO2, pBART-AGO4, pBART-AGO6, pBART-AGO7 e pBART-SGS3. Os
genes de Arabidopsis DCL1, DCL2, DCL3, DCL4, DRB1, DRB2, DRB3, DRB4, DRB5,
AGO1, AGO2, AGO4, AGO6, AGO7, SGS3 foram transferidos para o vetor pACT2,
gerando os vetores finais pAD-DCL1, pAD-DCL2, pAD-DCL3, pAD-DCL4, pAD-DRB1,
pAD-DRB2, pAD-DRB3, pAD-DRB4, pAD-DRB5, pAD-AGO1, pAD-AGO2, pAD-
91
AGO4, pAD-AGO6, pAD-AGO7, pAD-SGS3. Os mapas de todos os vetores de destino
utilizados nesta parte da tese estão esquematicamente representados na figura 11. Os
vetores pBART::FLAG, pArt27::HA e pArt::GFP foram construídos pelo aluno de
doutorado do CSIRO Shaun Curtin. Os vetores Clontech pAS2-1 e pACT2 foram
adaptados para a tecnologia GATEWAY pela pesquisadora do CSIRO Masumi Robertson
(Robertson, 2004). Os vetores contendo o gene marcador GFP sob controle do promotor
35S (35S-GFP) ou fusionado com o vírus Potato virus X (PVX-GFP) foram gentilmente
fornecidos pelos doutores Peter Waterhouse e Olivier Voinnet, respectivamente.
92
Figura 12: Vetores de destino GATEWAY. A vetor para expressão em plantas
pBART::FLAG. Utilizado em experimentos de transformação de plantas, expressão
transiente e co-imunoprecipitação. B vetor para expressão em plantas pART27::HA.
Utilizado para expressão transiente e co-imunoprecipitação. C vetor não binário
pART::GFP para fusão com GFP. Utilizado para experimentos de localização sub-celular
das supressoras em células de cebola. D vetor para duplo híbrido em leveduras pAS2-1
(Clontech). Utilizado para a fusão das supressoras com o domínio de ligação ao DNA da
GAL4 (GAL4 BD). E - vetor para duplo híbrido em leveduras pACT2 (Clontech Co.).
Utilizado para a fusão de genes vegetais com o domínio de ativação da GAL4 (GAL4 AD).
II.3.2 – Mutagênese via PCR
Mutações pontuais foram introduzidas na P0 do Pea enation mosaic virus-1 (PEP0),
com o intuito de verificar se sua atividade está envolvida com a presença de um domíneo
tipo F-Box íntegro. As versões mutantes da PEP0 (PEP0P, PEP0LP, PEP0LPP) foram
geradas por PCR, através de oligos sobrepostos (Figura 12). Para a geração do mutante
PEP0P, a seqüência da PEP0 selvagem foi amplificada com os oligos PEP0TPF (5’
CACCATGCACGGAATTGAGCAG 3’) e PEP0LPR (5’
AGAAGGTGAGCAAGTCCAATT 3’) e em seguida com os oligos PEP0AF
(5’ATGGACATGGCCCAATTGGACTTGCTCACCTTCTCAATGCCAATTGCTAATA
CA 3’) e PEP0R (5’ CTAGAAGAAGTTATCAAGATC 3’). Os produtos amplificados
foram purificados, misturados em um mesmo tubo e usados como molde para a
amplificação com os oligos PEP0TPF e PEP0R. Para a geração do mutante PEP0LP, a
seqüência da PEP0 selvagem foi amplificada com os oligos PEP0TPF e PEP0AAR (5’
GTCCAATTGGGCCATGTCCATCCAGATGTTGTTAGGAAGTGCCCAGTATGA 3’) e
em seguida com os oligos PEP0PF (5’ AACAACATCTGGATGGACATG 3’) e PEP0R.
Os produtos amplificados foram purificados, misturados em um mesmo tubo e usados
como molde para a amplificação com os oligos PEP0TPF e PEP0R. Para a geração do
mutante PEP0LPP, a seqüência da PEP0 selvagem foi amplificada com os oligos
PEP0TPF e PEP0AAR e em seguida com os oligos PEP0AF e PEP0R. Os produtos
amplificados foram purificados, misturados em um mesmo tubo e usados como molde para
93
a amplificação com os oligos PEP0TPF e PEP0R. As reações de PCR foram realizadas com
a enzima Pfu (Promega) e a seguiram o mesmo protocolo descrito no item II.3.1. Em
seguida os fragmentos amplificados foram clonados em vetores pENTR-D-TOPO, como
descrito no item II.3.1. As mutações foram confirmadas através de seqüenciamento, como
descrito em I.3.5.
94
Figura 13: Estratégia para a introdução de mutações pontuais na P0 do Pea enation
mosaic virus-1. As setas representam o local e o sentido de polimerização dos oligos
desenhados. As bases modificadas introduzidas nas seqüências dos oligos estão realçadas
em vermelho. Os resíduos de aminoácidos conservados do domínio F-box da P0 estão
destacados em amarelo. Mutantes PEP0P foram obtidos pela amplificação da PEP0
selvagem através dos oligos PEP0TPF e PEP0LPR e em seguida com os oligos PEP0AF e
PEP0R. Os produtos amplificados foram usados como molde para a amplificação com os
oligos PEP0TPF e PEP0R. Mutantes PEP0LP foram obtidos pela amplificação da PEP0
selvagem com os oligos PEP0TPF e PEP0AAR e em seguida com os oligos PEP0PF e
PEP0R. Os produtos amplificados foram usados como molde para a amplificação com os
oligos PEP0TPF e PEP0R. Mutantes PEP0LPP foram obtidos pela amplificação da PEP0
selvagem com os oligos PEP0TPF e PEP0AAR e em seguida com os oligos PEP0AF e
PEP0R.
95
II.3.3 – Agro-Infiltração em Nicotiana benthamiana
Infiltrações via Agrobactéria em Nicotiana bethamiana foram realizadas com o
intuito de verificar a atividade supressora de proteínas virais e também para a realização de
experimentos de co-imunoprecipitação. As construções de interesse foram transformadas
através de eletroporação (25 µF, 200 e 1,80 kV, Biorad) em Agrobacterium tumefaciens
cepa GV3101. Após dois dias de crescimento a 28 °C, uma colônia isolada foi retirada com
o auxilio de um palito estéril e transferida para um pré-inóculo contendo 5 ml de LB e os
antibióticos Rifampicina (100 µg/mL), Gentamicina (40 µg/mL) e as resistências dos
plasmídios introduzidos. O pré-inóculo foi agitado a 220 rpm por 20 horas a 28 °C, em
seguida diluído em 50 mL de LB contendo os mesmos antibióticos, MES (10 mM) e
acetosiringona (20 µM) e então agitado a 28
0
C por mais 20 horas. As bactérias foram
sedimentadas e ressuspensas em uma solução contendo MES (10 mM), cloreto de magnésio
(10 mM) e acetosiringona (100 µM) até atingirem a densidade ótica de 1. As bactérias
foram deixadas por pelo menos duas horas a temperatura ambiente e em seguida infiltradas
na parte de baixo das folhas de Nicotiana benthamiana linhagem 16c, gentilmente cedidas
pelo Dr. Olivier Voinnet, com o auxílio de uma seringa de 3 mL sem agulha. As plantas
foram mantidas a 24 °C em casa de vegetação.
II.3.4 – Transformação de Arabidopsis thaliana
Plantas de Arabidopsis thaliana ecotipo Columbia foram transformadas com a s
supressoras através da cnica de “Floral Dip”. As plantas foram germinadas em potes de
terra até atingirem a fase de florescimento. Os primeiros ramos florais foram cortados para
a estimulação de novos botões florais secundários. Cepas de Agrobacterium tumefaciens
GV3101 foram transformadas com genes de interesse em vetor binário através de
eletroporação (25 µF, 200 e 1,80 kV, Biorad). Colônias isoladas foram crescidas em 100
mL de LB líquido contendo antibióticos apropriados por dois dias em seguida sedimentadas
através de centrifugação por 15 minutos a 6000 RPM. As bactérias foram ressuspensas em
solução contendo 5% de sacarose e 0,05% de Vac-In-Stuff Silwet L-77 (OSi Specialties
Inc). As flores de Arabidopsis foram gentilmente mergulhadas e agitadas por cerca de 5
96
segundos na solução de Agrobactéria e cobertas com plástico por um ou dois dias. Uma
semana depois, as plantas foram novamente mergulhadas em solução de agrobactéria, para
garantir máxima eficiência de transformação. As plantas foram mantidas em casa de
vegetação e as sementes foram coletadas cerca de um mês após a infiltração, quando se
iniciou a secagem das mesmas. Para a descontaminação, as sementes foram mantidas por 4
horas em ambiente fechado na presença de uma solução contendo 100 mL de água sanitária
e 3 mL de ácido clorídrico concentrado (~10 M). Foram em seguida distribuídas em placas
com meio MS (sacarose 30 g/L; mio-inositol 100 mg/L; glicina 2 mg/L; ácido nicotínico
0,5 mg/L; piridoxina-HCl 0,5 mg/L; tiamina-HCl 0,1 mg/L; Na
2
EDTA.2H
2
O 37,3 mg/L;
FeSO
4
.7H
2
O 27,8 mg/L; Bacto Agar 0,7%; pH 5,8) contendo 200 µg/mL de timentina e
antibiótico apropriado para a seleção das plantas transformadas.
II.3.5 – Northern blot
Ensaios com sondas moleculares foram realizados com o objetivo de detectar o
acúmulo dos RNAs alvos de pequenos RNAs endógenos. RNAs totais de Arabidopsis
thaliana e Nicotiana benthamiana foram extraídos através de Trizol (Invitrogen Co.),
seguindo especificações do fabricantes. Os géis de northern blot para a detecção de RNAs
de alto peso molecular foram feitos seguindo o protocolo descrito em I.3.8.
II.3.6 – Detecção de pequenos RNAs
Os géis de detecção de pequenos RNAs foram feitos através da corrida de RNA
total de Arabidopsis thaliana ou Nicotiana benthamiana em poliacrilamida. Os RNAs
foram extraídos com Trizol (Invitrogen Co.), seguindo as recomendações do fabricante,
exceto pelo fato da precipitação com isopropanol ter sido feita por 8 horas na temperatura
de – 20 °C. Os RNAs foram inicialmente quantificados em espectrofotômetro e em seguida
analisados em géis de agarose. As bandas dos pequenos RNAs foram visualmente
analisadas e as correções para que estivessem em quantidades homogêneas foram feitas.
Os géis foram preparados misturando-se 8,25 mL de acrilamida 40% (Biorad Co.),
2,2 mL de 10X TBE (890 mM tris-base; 890 mM ácido bórico; 20 mM EDTA), 4,95 mL de
97
água destilada e 9,6 g de uréia. A solução foi resfriada a 4 °C e em seguida polimerizada
pela adição de 132 µL de persulfato de amônia 10% e 11 µL de TEMED (Invitrogen).
Cerca de 40 µg de RNA total foram concentrados para 6 µL e em seguida adicionou-se 18
µL de tampão de formamida (10 mL de formamida, 1 mg de azul de bromo fenol e 1 mg de
xileno). A amostra foi aquecida por dois minutos a 95 °C e aplicada no gel. A corrida foi
realizada a 60 V por cerca de 15 horas em aparato Protean II” (Biorad Co.) contendo 1X
TBE (8,9 mM tris-base; 8,9 mM ácido bórico; 2 mM EDTA). Após a corrida o gel foi
retirado, lavado com TBE 0,5X e usado para montar o aparato de transferência, que
consistiu de: espuma protetora, duas folhas de papel 3 MM ou uma folha “Trans-Blot
15X20” (Biorad), gel, membrana Hybond-N (Amersham), duas folhas de papel 3 MM ou
uma folha “Trans-Blot 15X20” (Biorad) e espuma protetora. A transferência ocorreu a 60 V
por uma hora em TBE 0,5X a 4 °C. Após transferência o aparato foi desmontado e a
membrana foi fixada em aparelho “Crosslinker” (Biorad).
As pré-hibridações foram feitas a 38 ºC por 4 horas, utilizando-se uma solução de
hibridação contendo tampão fosfato 125 mM, SDS 7%, NaCl 250 mM e formamida 50%.
Seguiu-se uma hibridização de 16 horas a 38º C com sondas radioativamente marcadas.
Duas lavagens de 45 minutos foram realizadas a 38 ºC com a solução 2X SSC, 0,1% SDS.
As membranas ainda úmidas foram colocadas em sacos plásticos selados, expostas por
cerca de cinco dias e reveladas através do aparelho Phosphoimager FLA-5000 (Fujifilm).
As sondas para a detecção de siRNAs nas infiltrações em Nicotiana benthamiana
foram preparadas através de random primer (PerkinElmer) ou por transcrição in vitro.
Para random priming, o fragmento da GFP foi sacado do vetor pGEMT-Easy por restrição
e 50 ng em 12 µL foram aquecidos a 95 ºC por 5 minutos. Adicionou-se 6 µL do random
primer buffer”, 6 µL de dDTP (dNTP sem dCTP), 5 µL de α-dCTP
32
e 1 µL de Klenow. A
reação foi realizada por uma hora a 37 ºC, o volume final foi elevado para 50 µL, em
seguida o material foi purificado em colunas de Sephadex G-50 (Amersham) e desnaturado
a 95 ºC por 5 minutos antes de ser adicionado na solução de hibridação.
As reações de transcrição in vitro foram feitas com as enzimas T7 ou SP6 na
presença de UTP marcado radioativamente. A transcrição ocorreu com 200 ng de DNA
plasmidial linearizado na presença de tampão de transcrição 1X, 10 mM de DTT, 40 U de
inibidor de RNase “RNase Block II” (Stratagene), 2.5 mM dos ribonucleotídeos ATP, GTP
98
e CTP, 1 mM de ribonucleotídeo UTP, 40 µCi de α-dUTP
32
e 20 U de T7 polimerase ou
SP6 polimerase (Fermentas), em um volume total de 20 µL. A reação foi realizada por uma
hora a 37 ºC, adicionou-se 40U de inibidor de RNase “RNase Block II” (Stratagene) e após
mais uma hora de incubação a 37 ºC foi realizada uma precipitação com 10 µL de acetato
de amônia 7,5M e 75 µL de etanol. A mistura foi mantida por 10 minutos em gelo e em
seguida centrifugada a 14000 RPM por 15 minutos. Uma segunda precipitação foi realizada
adicionando-se ao sedimentado 100 µL de TE, 50 µL de acetato de amônia e 375 µL de
etanol. Após 10 minutos no gelo a mistura foi centrifugada e ressuspensa em 20 µL de água
ou TE. Após a precipitação, foram adicionados 300 µL de solução de carbonato (NaHCO
3
80 mM; Na
2
CO
3
120 mM) e a mistura foi incubada a 60 ºC pelo tempo necessário para a
redução da sonda para um tamanho médio de 50 nucleotídeos. O tempo necessário foi
calculado através da fórmula t = (Li Lf)/(Li.Lf.0,11), onde t é tempo em minutos, Li é o
tamanho inicial do fragmento, Lf é o tamanho final (50 bases) e 0,11 a taxa de clivagem em
mil bases por minuto. Após a clivagem por carbonação, foram adicionados 20 µL de
NaOAc 3M (pH 5) e em seguida todo o volume foi adicionado na solução de hibridação.
As sondas para detecção de microRNAs e tasiRNAs foram preparadas através da
transferência de fósforo radioativamente marcados para oligonucleotídeos através da
polinucleotídeo quinase (PNK) do fago T4. Para tanto, 3 pmoles de oligo foram misturados
com 1X de tampão da PNK, 10 µL de γ-ATP
32
(10 µCi/µL), 10 U de T4 PNK, em um
volume final de 20 µL. A reação foi incubada por uma hora a 37 ºC e em seguida
precipitada através da adição de 40 µL de água, 240 µL de acetato de amônia 5M e 750 µL
de etanol gelado. A mistura foi mantida por 30 minutos em gelo e o precipitado foi
sedimentado através de centrifugação a 14000 RPM por 20 minutos a 4 ºC. O sedimentado
foi lavado uma vez com etanol 70% e ressuspenso em 100 µL de TE (Tris-EDTA).
II.3.7 – Co-Imunoprecipitação
Experimentos de co-imunoprecipitação foram realizados com o intuito de verificar a
interação das supressoras com SKIP2 e possíveis outras proteínas-alvo de Arabidopsis
thaliana. Após infiltradas em Nicotiana bethamiana como descrito no item II.3.3, cerca de
1 g de folha foram maceradas em nitrogênio líquido em seguida foram adicionados 5 mL de
99
tampão de lise (Tris-HCl 50 mM, pH 7,4; NaCl 150 mM; EDTA 1 mM; Triton X100 1% e
50 µL de inibidor de protease Sigma, P9599). Após sonicar 4 vezes por 15 segundos a 100
W, o material foi sedimentado por centrifugação a 20.500 g por 40 minutos a 4 ºC. O
sobrenadante foi retirado e adicionou-se mais 50 µL de inibidor de protease. Uma alíquota
de 1 mL do sobrenadante foi incubada com 20 µL de resina anti-FLAG lavada (Ezview
anti-FLAG M2 agarose, Sigma) por 2 horas a 4 ºC com leve agitação. A resina foi
sedimentada por centrifugação a 8200 g por 30 segundos a 4 ºC e lavada com 1 mL de
tampão de lise e, em seguida, lavada por duas vezes de 5 minutos com tampão LNDET
(LiCl 0,25 M; NP40 1%; ácido deoxicólico 1%, EDTA 1 mM; Tris-HCl 10 mM, pH 8) a 4
ºC. A resina foi incubada a 95 ºC por 5 minutos em 50 µL de tampão de corrida SDS-
PAGE (Tris-HCl 0,125 M, pH 6,8; SDS 4%; glicerol 20%; mercaptoetanol 2%; 0,002%
azul de bromo fenol). Entre 10 e 15 µL foram aplicados em géis de SDS-PAGE.
II.3.8 – Western blot
O acúmulo de proteínas foi analisado através de SDS-PAGE seguido da hibridação
com anticorpos. Os géis de SDS-PAGE foram polimerizados em duas partes: o gel de
separação na parte inferior e o gel de aplicação na superior. Os géis de separação foram
polimerizados com 2,5 mL de Tris-HCl 1,5 M, pH 8,8; 50 µL de SDS 20%; 50 µL de
persulfato de amônia 10%, 10 µL de TEMED e quantidades variáveis de água e acrilamida
40% (Biorad) para obter concentrações variando de 7% a 15%. O gel de aplicação foi feito
com 1,25 mL de Tris-HCl 0,5 M, pH 6,8; 25 µL de SDS 20%; 25 µL de persulfato de
amônia e 10 µL de TEMED e quantidades varáveis de água e acrilamida 40% (Biorad) para
obter concentrações variando de 3% a 5%. O tecido vegetal (0,01 g) foi misturado com 100
µL de tampão de corrida (Tris-HCl 0,125 M, pH 6,8; SDS 4%; glicerol 20%;
mercaptoetanol 2%; 0,002% azul de bromo fenol), aquecido a 90 ºC por 10 minutos,
resfriado em gelo por 1 minuto, agitado brevemente em vortex e depois centrifugado a
14000 RPM por 5 minutos a temperatura ambiente. Cerca de 20 µL de amostra foram
aplicadas e a migração correu em cubas “mini-protean” (Biorad) a 150 V por cerca de 2
horas em tampão contendo 3 g/L de Tris, 14,4 g/L de glicina e 1 g/L de SDS. Foi utilizado
o Prestained Bench Marker Molecular Weight(Invitrogen Co.) como marcador de peso
100
molecular. Em seguida os géis ou foram corados com azul de coomassie ou transferidos
para membrana PVDF. A coração com azul de coomassie ocorreu por cerca de 2 horas e as
lavagens foram feitas com solução contendo 50% de metanol e 10% de ácido acético, por
tempo variado.
Para a transferência, a membrana foi ativada por 5 minutos em metanol e em
seguida utilizada para montar o aparato de transferência, que consistiu de: espuma
protetora, duas folhas de papel 3 MM ou uma folha “Trans-Blot” (Biorad), gel, membrana
PVDF (Millipore), duas folhas de papel 3 MM ou uma folha “Trans-Blot” (Biorad) e
espuma protetora. A transferência ocorreu a 100 V por uma hora em tampão de
transferência (Tris-HCl 25 mM; glicina 192 mM; metanol 20%) a 4 °C. Após transferência
o aparato foi desmontado e a membrana foi diretamente bloqueada por cerca de 10 horas
em solução contendo 5% de leite em em TBS 1X (Tris-HCl 10 mM pH 7,4; NaCl 150
mM) a 4 °C. Em seguida a membrana foi lavada duas vezes com TBS 1X e o anticorpo
primário, anti-FLAG (Sigma) ou anti-HA (Sigma), foi adicionado em solução contento
0,1% de leite em em TBS 1X, em uma diluição de 10000 vezes. A solução foi agitada
por cerca de 2 horas a temperatura ambiente e em seguida lavada por quatro vezes de 5
minutos com TBS 1X, com leve agitação. Finalmente o anticorpo secundário anti-Mouse
(Promega) contendo uma peroxidase foi adicionado 5000 vezes diluído em uma solução
contendo 0,1% de leite em em TBS 1X. A reação foi realizada por uma hora a
temperatura ambiente em seguida lavada por quatro vezes de 5 minutos com TBS 1X, com
leve agitação. A membrana foi revelada com o kit “Western Lighting with Enhanced
Luminol” (PerkinElmer).
II.3.9 – PCR em tempo real
Experimentos de PCR em tempo real foram realizados para detectar o acúmulo de
genes alvos de microRNAs em plantas de Arabidopsis thaliana expressando ou não as
proteínas supressoras. Antes de iniciar a síntese de cDNA para as reações de PCR em
tempo real, os RNAs totais extraídos de folhas de Arabidopsis thaliana foram tratados com
DNase. Para tanto, 50 µg de RNA total foram misturados com 50 U de DNase RQ1
(Promega), 400 U de inibidor de RNase “RNasin” (Promega) e tampão RQ 1X, em um
101
volume final de 400 µL. Em seguida a reação foi lavada através da coluna do kit Rneasy
(Qiagen). Para tanto, a reação foi separada em dois tubos de 200 µL e adicionou-se em cada
um 700 µL de tampão RLT, 7 µL de mercaptoetanol e 500 µL de etanol. A mistura foi
aplicada em dois lotes em duas colunas RNeasy Mini Spin Column (coluna rosa)
diferentes e centrifugadas a 15 segundos a 10000 RPM. Adicionou-se 500 µL de tampão
RPE, centrifugou-se por 15 segundos e logo em seguida por mais 2 minutos. Os RNAs
foram liberados das colunas pela aplicação de 30 µL de água no centro das mesmas, sendo
coletados em tubos de microcentrífuga por centrifugação de um minuto a 10000 RPM. Uma
segunda alíquota de 30 µL foi aplicada em cada coluna. No final, os RNAs eluídos de cada
uma das colunas foram juntados, resultando em um volume final de 120 µL para cada
amostra de RNA total inicialmente tratada com DNase. Os RNAs tratados foram
quantificados por espectrofotômetro e 5 µg utilizados para a síntese de cDNA, seguindo o
mesmo protocolo descrito no item I.3.3. As amostras de cDNA foram diluídas 25 vezes e 5
µL foram misturados com 10 µL de “SYBR Green JumpStart Taq Ready Mix” (Sigma Co.)
e 0,2 µM de cada oligo, em um volume final de 20 µL. Foram realizadas três reações
independentes para cada par de oligos na máquina Rotor-Gene 3000 (Corbett
Robotics). As
configurações usadas foram: 72 well rotor”, normal speed”, channel FAM/SYBR”. As
ciclagens foram: 95 °C por 5 minutos, 45 vezes a 95 °C por 15 segundos, 60 °C por 15
segundos, 72 °C por 30 segundos, uma polimerização final de um minuto a 72 °C. Em
seguida a temperatura foi reduzida a 55 °C por 5 minutos e então elevada para 99 °C,
esperando 5 segundos a cada grau de elevação. Os dados foram analisados pelo programa
existente no Rotor-Gene 3000, usando a opção de comparação quantitativa.
Os oligos utilizados para a amplificação dos genes Dcl1, Arf6, Arf8, Cuc1, Myb33,
Ago1, Phavoluta e Arf3 foram: DCL1F (5’ GCAGAGGTATTATCGATGTCTATGG 3’),
DCL1R (5’ TGGAGGGTTCAACATCAACA 3’), ARF6F (5’
AGCTCAAGGCCTCTTTTTCC 3’), ARF6R (5’ TCGAAGGCCAATTAGAAGACC 3’),
ARF8F (5’ TGCTATCGAAGGGTTGTTGG 3’), ARF8R (5’
ACGTCCTTCTCCATGATCTCC 3’), CUC1F (5’ CCTCCGCTAAGGATGAATGG 3’),
CUC1R (5’ AATGTATGAAAGCTCGCATCG 3’), MYB33F (5
CCAGATAGCCATACCCCTACG 3’), MYB33R (5’ CAGAGTGTGGAGGAGATGACG
3’), AGO1F (5’ CCTTTACCAGGCCTCATTGG 3’), AGO1R (5’
102
GGAGGTGGACCTTCTTCTGG 3’), PHAVOLUTAF (5’
GATTTCAGCGACCTTCATGG 3’), PHAVOLUTAR (5’
TTCCTTTGCAAGGCTACAGG 3’), ARF3F (5’ TGCAAGACCTTATGGAAACCA 3’),
ARF3R (5’ TCCCTGTCTCTGAGGGGATT 3’). Todos os oligos foram desenhados entre
os sítios de clivagem dos seus respectivos pequenos RNAs, portanto, amplificando somente
os transcritos que não foram alvo de clivagem pela via de silenciamento.
II.3.10 – Duplo brido em leveduras
Os experimentos de duplo híbrido foram realizados através de co-transformação dos
vetores contendo genes fusionados com o domínio de ligação ao DNA ou com o domínio
de ativação da GAL4 (item II.3.1; Figura 11) na cepa AH109 de levedura. A cepa AH109
apresenta quatro genes marcadores sob regulação de promotores ativados por GAL4:
ADE2, HIS3, MEL1 e LacZ. Os dois primeiros permitem o crescimento das leveduras em
meios de cultura sem a presença dos aminoácidos adenina e histidina, respectivamente.
MEL1 e LacZ codificam os genes α-galactodidase e β-galactosidase, respectivamente e
permitem uma detecção visual dos clones positivos.
A co-transformação foi realizada segundo o descrito no manual do kit BD
Matchmaker (Clontech Co.). Uma colônia de AH109 com menos de quatro semanas e
apresentando de 2 a 3 mm de tamanho foi lançada em 3 mL de meio YPDA (peptona 20
g/L; extrato de levedura 10 g/L; adenina hemisulfato 0,03 mg/L; glicose 0,2%; pH 6,5) em
tubos de 15 mL. A célula foi agitada vigorosamente em vortex em seguida incubada a 220
RPM por 8 horas a 30 °C. A pré-cultura lançada foi diluída aplicando-se 5 µL de células
em 50 mL de YPDA em um frasco de 250 mL. A cultura foi mantida sob agitação de 250
RPM a 30 °C até atingir a densidade ótica entre 0,15 e 0,3 (cerca de 20 horas de
crescimento). As células foram centrifugadas por 5 minutos a 700 x g a temperatura
ambiente, ressuspensas em 100 mL de YPDA e mantidas sem agitação a 30 °C por 3 a 5
horas, até atingir a densidade ótica entre 0,4 e 0,5. Uma nova centrifugação a 700 x g foi
realizada por 5 minutos a temperatura ambiente, seguindo-se de uma lavagem do sedimento
com 60 mL de água deionizada. Após centrifugação a 700 x g por 5 minutos a temperatura
ambiente, as células foram ressuspensas em 3 mL de 1.1X TE/LiAc (Tris-EDTA 1.1X; 110
103
mM LiAc), separadas em dois tubos de microcentrífuga e centrifugadas por 15 segundos a
14000 RPM. Cada um dos sedimentos foi ressuspenso com 600 µL de 1.1X TE/LiAc. Para
a transformação, 50 µL de células foram misturadas com 250 ng de cada um dos DNAs, 50
µg de DNA de esperma de salmão desnaturado e 500 µL de solução PEG/LiAc (PEG 3350
40%; Tris-HCl 1X; LiAc 100 mM). A mistura foi agitada em vortex e incubada a 30 °C por
30 minutos, com agitação por vortex cada 15 minutos. Foi adicionado 20 µL de DMSO e
incubou-se por 20 minutos a 42 °C, agitando em vortex a cada 5 minutos. As células foram
centrifugadas a 14000 RPM por 15 segundos, ressuspensas em 1 mL de YPDA e incubadas
a 30 °C por 90 minutos, com agitação a cada 15 minutos. Foram mais uma vez
centrifugadas por 15 segundos a 14000 RPM, ressuspensas em 1 mL de água e 200 µL
foram espalhados em placas contendo meio SD (mistura de bases nitrogenadas sem
aminoácidos da Difco, glicose e mistura de aminoácidos requerida) sem leucina e sem
triptofano para a seleção dos dois plasmídeos introduzidos. Três colônias de cada
transformante foram lançadas em meio SD líquido sem leucina e triptofano, crescidas sob
agitação por 1 dia a 30 °C, misturadas com quantidades iguais com solução de glicerol 65%
e mantidas em -80 °C. Para o teste de interação, os estoques em glicerol foram distribuídos
em placas contendo meio SD sem leucina, triptofano, histidina e adenina e crescidos por 4 a
8 dias a 30 °C ou 21 °C.
II.3.11 – Bombardeamento em célula de cebola
Com o intuito de verificar a localização sub-celular das supressoras, células de
cebola foram bombardeadas com as construções pGFP-PLP0, pGFP-PEP0 e pGFP-LPP.
As partículas de ouro usadas para bombardeamento (1,04 mg de partículas de 5 µm e 1,04
mg de partículas de 1,5 3 µm para cada construção) foram inicialmente lavadas duas
vezes com 200 µL de etanol absoluto e em seguida com 200 µL de água em tubos de
microcentrífuga previamente revestidos com silicone e em seguida . Em cada lavagem, as
partículas foram agitadas em vortex e centrifugadas a 6000 RPM por 15 segundos. O
sedimento foi ressuspenso em 25 µL de água, adicionou-se 2,5 µg de plasmídeo, 17 mM de
espermidina, 1 M de cloreto de cálcio e centrifugou-se por 10 segundos. O sedimento foi
lavado com 100 µL de etanol absoluto e em seguida ressuspenso em 30 µL de etanol. Os
104
bombardeamentos foram realizados a 900 psi em aparelho Biolystic Gun (Biorad), modelo
PDS-1000. As cebolas bombardeadas foram mantidas no escuro por 24 horas e em seguida
analisadas sob microscópio confocal Leica SP2.
II.3.12 – Microscopia ótica
Os cotes histológicos para microscopia ótica foram feitos através do aparelho
Vibratome Series 1000 (The Vibratome Company). Para tanto, folhas de Arabidopsis
thaliana foram embebidas em agarose 5% e seccionados a 100 µm de espessura. Em
seguida os tecidos foram clareados em etanol 100% por tempo variado e corados em
solução de azul de toluidina 0,05%.
II.3.13 – Microscopia eletrônica de varredura
As amostras de folhas de Arabidopsis thaliana usadas na microscopia eletrônica de
varredura foram fixadas por 3 horas em formaldeído 4% preparado com 50 mM de PIPES.
Após lavagem por 3 vezes de 10 minutos com PIPES 50 mM, as amostras foram
desidratadas em uma série de passagens em etanol diluído em água, iniciando em 10% e
aumentando a concentração de 10 em 10% até chegar a etanol 100%, permanecendo 30
minutos em cada solução. Os tecidos foram então secos através de CO2 líquido, cobertos
com partículas de ouro (20 nm) e visualizados a 15 kV no microscópio eletrônico de
varredura JEOL 6400.
Capítulo II
_________________________________________________________________________
RESULTADOS
106
II.4 – Resultados
II.4.1 Procura de novas proteínas supressoras de silenciamento na família
Luteoviridae
Para a identificação de novas supressoras de silenciamento gênico na família viral
Luteoviridae, todas as fases abertas de leitura do BYDV-PAV, vírus tipo do gênero
Luteovirus e a ORF0 do PEMV-1, vírus tipo do gênero Enamovirus, foram clonadas em
vetores de expressão de plantas.
Os genes do BYDV-PAV foram co-infiltrados com o gene que codifica a proteína
marcadora GFP (mGFP) em plantas transgênicas de Nicotiana benthamiana expressando
GFP (linhagem 16c). Os resultados de infiltração, no entanto, mostraram que o produto de
fusão da polimerase (P1-P2), o capsídeo viral (P3) e as proteínas de movimento (P4) e
transmissão (P3-P5) o apresentam atividade de supressão nas condições analisadas
(Figura 14).
A atividade supressora da P0 do PEMV-1 (PEP0) foi inicialmente testada em
experimentos de co-infiltração com um vetor expressando o genoma do Potato virus X
fusionado com GFP (PVX-GFP) em plantas de N. benthamiana selvagens. Especulou-se
que se a PEP0 fosse capaz de suprimir o PTGS, o rus poderia replicar mais, resultando
em um maior acúmulo de GFP visível. A co-infiltração do PVX-GFP com a PEP0 resultou
em um aumento significativo dos níveis de GFP quando comparados com a infiltração do
mesmo com o vetor vazio (Figura 15D). O aumento de intensidade de GFP foi observado
também na co-infiltração do PVX-GFP com a P19 do Tomato bushy stunt virus (Figura
15B) e a P0 do PLRV (Figura 15C), usados como controles. Esse resultado indicou
fortemente, portanto, que a P0 dos Enamovirus é uma supressora de silenciamento gênico,
assim como a P0 dos Polerovirus.
107
Figura 14: Identificação de possíveis proteínas supressoras de silenciamento no gênero
Luteovirus. O gene GFP foi co-infiltrado em plantas N. benthamiana 16c com diferentes
construções. A - vetor vazio (pBART:FLAG), como controle negativo; B - P19 do Tomato
bushy stunt virus, como controle positivo; C Polimerase (ORF1 e ORF2) do BYDV-
PAV; D – Capsídeo (ORF3) do BYDV-PAV; E - Proteína de movimento (ORF4) do
BYDV-PAV; F Proteína de transmissão (ORF3 e ORF5) do BYDV-PAV. Fotos foram
tiradas sob luz ultravioleta 5 dias após a infiltração.
108
Figura 15: P0 do Pea enation mosaic virus-1 é uma supressora de silenciamento gênico
e atua através de um domínio tipo F-Box. Plantas de N. benthamiana foram co-infiltradas
com plasmídeos contendo a seqüência codificadora do PVX fusionado com a seqüência da
proteína marcadora Green flourescent Protein(PVX-GFP) e diferentes construções. A
vetor vazio (pBART:FLAG), como controle negativo; B - P19 do Tomato bushy stunt
virus; C - P0 do PLRV; D - P0 do PEMV-1; E - PEP0P; F - PEP0LP; G - PEP0LPP.
Fotos tiradas 5 dias após a infiltração. H Detecção dos níveis de GFP por northern blot
nos tecidos infiltrados com PVX-GFP e vetor (Vec), P19, PLP0 (PL), PEP0 (PE), PEP0P
(P), PEP0LP (LP) e PEP0LPP (LPP). As bandas observadas representam os RNAs
genômicos e sub-genômicos do PVX. A sonda molecular foi feita a partir da seqüência do
gene da GFP através da marcação com P
32
.
109
II.4.2 – PEP0 atua como uma proteína F-Box
Apesar de estar na mesma posição do genoma, a ORF0 dos Enamovirus é cerca de
200 nucleotídeos maior do que a ORF0 dos Polerovirus e as identidades entre elas variam
apenas entre 5 a 10% (dados não mostrados). No entanto, das seqüências de aminoácidos
revelou que a PEP0 apresenta um domínio do tipo F-Box conservado, indicando que apesar
das diferenças observadas, ambas possivelmente atuam através do mesmo mecanismo
(Figura 16). O domínio tipo F-Box observado nos Luteoviridae consiste em
LPXX(L/I)(X)
10-13
P, onde L é leucina, P é prolina, I é isoleucina e X qualquer aminoácido.
Para determinar a importância desse domínio para a atividade de supressão da PEP0, três
tipos de mutações pontuais foram introduzidas (Figura 16). Na primeira mutação, chamada
de PEP0P, a prolina no final do domínio foi trocada por uma alanina. Na mutação
PEP0LP, os dois primeiros resíduos de leucina e prolina do domínio foram substituídos
por duas alaninas. No mutante PEP0LPP, todos os três aminoácidos mais conservados
foram mudados para alaninas. As construções mutadas foram introduzidas em vetores de
expressão de plantas e em seguida utilizadas em testes de supressão de silenciamento.
Inicialmente os genes foram co-infiltrados com PVX-GFP em N. benthamiana selvagem.
Os resultados mostraram que as mutações simples e duplas introduzidas na PEP0 não
afetam a capacidade supressora da proteína (Figuras 15E e 15F). No triplo mutante
PEP0LPP, todavia, a proteína não foi mais capaz de suprimir (Figura 15G). Os RNAs
totais dos tecidos infiltrados foram extraídos, amplificados por RT-PCR, clonados em
pGEMT-Easy e seqüenciados. A análise das seqüências obtidas confirmou a presença das
mutações introduzidas na PEP0 (dados não mostrados). Os dados de fluorescência foram
confirmados molecularmente através de northern blot para detecção do acúmulo de mRNA
da GFP (Figura 15H).
110
Figura 16: Mutações pontuais no domínio F-Box da P0 do Pea enation mosaic virus-1.
Três versões mutantes da PEP0 foram geradas. Na PEP0LP os resíduos de leucina e
prolina no início do domínio foram trocados para alanina. Na PEP0P, o resíduo de prolina
no final do domínio foi convertido em alanina. Na PEP0LPP os três aminoácidos mais
conservados foram trocados para alanina. Wt – Tipo selvagem.
111
Com o objetivo de confirmar os resultados obtidos nas infiltrações com o PVX-
GFP, as construções selvagens e mutadas da PEP0 foram transientemente expressas em
plantas N. benthamiana da linhagem 16c (Figura 17). Essas plantas expressam GFP e
disparam silenciamento da mesma quando infiltradas com mais transcritos de GFP (mGFP)
ou com dupla fita de RNA da GFP (hpGFP). A co-infiltração de mGFP com PEP0, no
entanto, impediu o disparo da degradação e, dessa forma, confirmou a atividade supressora
desta proteína. Além disso, os ensaios com as versões alteradas da PEP0 indicaram mais
uma vez que o domínio F-Box é importante para sua atividade. Géis para detectar RNAs de
alto e baixo peso molecular foram feitos e mostraram que na presença de PEP0, assim
como ocorre para os Polerovirus, uma redução drástica no acúmulo dos siRNAs no
tecido infiltrado (Figura 17H).
Os experimentos indicam, portanto, que a PEP0 é uma supressora de silenciamento
que depende de um domínio tipo F-Box intacto para que exerça sua função. Proteínas do
tipo F-Box em geral interagem com uma proteína do complexo de ubiqüitinação que, em
leveduras, é denominada de SKIP1. Com o objetivo de verificar se a PEP0 interage com a
proteína SKIP2, o homólogo de SKIP1 presente em Arabidopsis, experimentos de co-
imunoprecipitação foram realizados. Para tanto, SKIP2 fusionado com o peptídeo FLAG
(SKIP2-FLAG) foi co-expresso com a supressora PEP0 fusionada com o peptídeo de
hemaglutinação do vírus influenza (PEP0-HA) em plantas de N. benthamiana selvagens.
Os resultados mostraram que a proteína PEP0-HA co-purificou com a proteína SKIP2-
FLAG, mas não com a proteína FLOWERING LOCUS C (FLC-FLAG), usada como
controle (Figura 18). Dessa forma, os dados indicam que existe uma ligação específica da
supressora dos Enamovirus com SKIP2.
112
Figura 17: Infiltração de P0 do Pea enation mosaic virus-1 em N. benthamiana 16c
elimina siRNAs. Plantas foram co-infiltradas com gene da GFP e diferentes construções. A
- vetor vazio (pBART:FLAG); B - P19; C - P0 do PLRV; D - P0 do PEMV-1; E - PEP0P;
F - PEP0LP; G - PEP0LPP. Fotos foram tiradas sob lâmpada de ultravioleta 5 dias após
a infiltração. H Northern blot para detecção de RNAs de alto (mRNA) e baixo (siRNA)
da GFP nos tecidos infiltrados. A sonda molecular foi feita a partir da seqüência do gene da
GFP através da marcação com P
32
. rRNA RNA total dos tecidos infiltrados corado com
brometo de etídeo. Foi utilizado como controle uma sonda contra o gene constitutivo em
plantas U6.
113
Figura 18: P0 do Pea enation mosiac virus-1 interage com SKIP2 de Arabidopsis.
Plantas de Nicotiana benthamiana selvagens foram infiltradas com PEP0 fusionado com o
peptídeo de hemaglutinação do rus influenza (PEP0-HA) e com SKIP2 ou FLC
fusionados com o peptídeo FLAG (Sigma). Extratos das plantas infiltradas com as
construções indicadas no painel por “X” foram imunoprecipitados com resinas anti-FLAG
e analisados em experimentos de western blot com anticorpos secundários contra os
peptídeos HA (gel superior) e FLAG (gel inferior).
114
II.4.3 – Expressão das supressoras PLP0 e PEP0 em Arabidopsis thaliana
Em plantas existem diversas vias de silenciamento gênico e, dessa forma, alguns
dos genes envolvidos no processo podem atuar em mais de uma rota de degradação.
Portanto, a desestabilização de um gene ou um subproduto de alguma etapa de uma via
pode ter como efeito secundário a interferência em outra via relacionada. A expressão de
supressoras de silenciamento em plantas pode, assim, indicar se a proteína atua em alguma
etapa do silenciamento que é compartilhada com outra via. De fato, foi observado que a
expressão de diversas supressoras virais em plantas leva ao desenvolvimento de fenótipos
muito parecidos aos observados nos sintomas da infecção. Em geral, supressoras que
causam problemas no desenvolvimento vegetal têm como alvo componentes da via de
silenciamento que também atuam nas vias de microRNAs e/ou tasiRNAs. Com o intuito de
melhor entender a ação das supressoras da família Luteoviridae, plantas de Arabidopsis
thaliana foram transformadas com os genes PLP0 e PEP0 sob controle do promotor 35S do
CaMV.
Diversos tipos de fenótipos foram observados em plantas expressando a P0 do
PLRV. Em função da gravidade das alterações observadas, os fenótipos foram divididos em
quatro tipos (Figura 19). Plantas do fenótipo tipo 1, o mais brando, apresentam folhas
normais e são férteis (Figura 19B, 19C, 19I). No entanto, essas plantas apresentam graves
alterações nas ramificações dos eixos florais. Em muitos casos os eixos se fundem (Figura
19B, 19C, 19K) e, às vezes, crescem de forma espiralada (Figura 19C). Cortes histológicos
evidenciam uma distribuição irregular dos feixes vasculares nos eixos florais dessas
plantas, quando comparado com plantas do tipo selvagem (Figura 19J, 19K). Plantas do
tipo 2 apresentam eixos florais, flores e sementes normais. No entanto, desenvolvem folhas
alongadas e retorcidas (Figura 19D). Plantas com o fenótipo 3, o mais frequentemente
observado, apresentam um aspecto geral extremamente alterado (Figura 19E). As flores
dessas plantas, em sua grande maioria, são estéreis e apresentam deformidades variadas
(Figura 19I). As folhas em geral são enroladas e serradas e algumas apresentam fusão
parcial das laterais, formando um tubo que se abre no topo (Figura 19G). Plantas do tipo 4
apresentam graves alterações no desenvolvimento. Possuem porte reduzido, não
desenvolvem flores e apresentam folhas enroladas e serradas (Figura 19F, 19H, 19I).
115
Experimento de northern blot indicou que a severidade dos fenótipos observados está
correlacionada com o vel de acúmulo do transgene no citoplasma, indicando que quanto
mais expressa, maiores são os defeitos causados pela PLP0 no desenvolvimento.
116
117
Figura 19: Alteração no desenvolvimento vegetal de plantas de Arabidopsis thaliana
transformadas com o gene P0 do Potato leafroll virus. A Planta do tipo selvagem (wt).
B e C – Plantas apresentando o fenótipo 1. Plantas apresentam graves alterações nas
ramificações dos eixos florais. Em muitos casos os eixos se fundem e, às vezes, crescem de
forma espiralada. D Planta apresentando o fenótipo 2, com folhas alongadas. E Planta
apresentado o fenótipo 3, com folhas enroladas e serradas e algumas apresentam fusão
parcial das laterais, formando um tubo que se abre no topo. F Planta apresentando o
fenótipo 4, com porte reduzido, sem flores e folhas enroladas e serradas. G Folha de uma
planta selvagem (primeira da esquerda para a direita) ao lado de diferentes tipos de folhas
observadas nas plantas PLP0 tipo 3. H - Folha de uma planta selvagem (primeira da
esquerda para a direita) ao lado de diferentes tipos de folhas observadas nas plantas PLP0
tipo 4. IFlores observadas nos diferentes tipos de fenótipos obtidos. J Corte histológico
de um eixo floral selvagem. K Corte histológico no eixo floral de uma planta
apresentando fenótipo do tipo I. L Northern blot para detectar os níveis de expressão dos
transgenes nas plantas obtidas. Sondas correspondentes ao gene PLP0 foram feitas com
CTP marcado com P
32
.
A expressão da P0 do PEMV-1 também acarretou na geração de plantas com
defeitos drásticos no desenvolvimento. No entanto, os fenótipos não se parecem com
nenhum dos quatro observados para as plantas expressando a PLP0. No início do
desenvolvimento, as folhas cotiledonares das plântulas expressando PEP0 apresentam uma
curvatura para cima bastante peculiar (Figura 20O). Em plantas do tipo selvagem essa
curvatura é, em geral, para baixo (Figura 20P). Conforme crescem, as plantas adquirem
folhas enroladas e dobradas sobre si mesmas (Figura 20B). Quando atingem a idade de
cinco a seis semanas, as folhas passam a apresentar pronunciadas protuberâncias ou
enações, comumente observadas em plantas hospedeiras infectadas pelo vírus PEMV-1
(Figura 20D). Análises das plantas com microscópio eletrônico de varredura mostraram que
as protuberâncias apresentam células com tamanhos normais no topo (Figura 20G), porém,
atipicamente longas na base (Figuras 20F, 20G, 20H). As plantas permanecem sempre no
estágio vegetativo de desenvolvimento, não desenvolvendo flores.
118
Plantas de Arabidopsis thaliana também foram transformadas com as versões
mutadas da PEP0. Plantas expressando PEP0P apresentam fenótipos muito parecidos com
os obtidos para a PEP0. No entanto, três tipos de fenótipos foram observados nas plantas
expressando a PEP0LP. Uma das plantas obtidas, denominada como tipo 1, apresenta
morfologia muito parecida com plantas do tipo selvagem (Figura 20J). A ausência de
alterações no desenvolvimento, no entanto, pode estar correlacionada com o pouco
acúmulo do transcrito no citoplasma, indicando que o transgene está silenciado nessa planta
(Figura 20R). Plantas classificadas como tipo 2 apresentam fenótipos mais brandos quando
comparados com plantas expressando a PEP0 (Figura 20K). As folhas apresentam uma
concavidade para cima, mas não foram observados os fenótipos de enrolamento e
dobramento (Figura 20M). As plantas apresentam flores normais, no entanto, desenvolvem
siliquas pequenas, com deformidades e com poucas sementes (Figura 20N). Plantas
PEP0LP do tipo 3 apresentam os mesmos fenótipos observados na expressão da
supressora sem as mutações. Finalmente, todas as linhagens transgênicas obtidas com a
PEP0LPP apresentam fenótipos semelhantes às plantas de Arabidopsis do tipo selvagem,
apesar dos altos níveis de transcrição do transgene (Figura 20Q, 20R). Esse resultado indica
mais uma vez, portanto, que a alteração no domínio F-Box dessa proteína afeta sua
capacidade de interferência nas vias de pequenos RNAs (Figura 20Q).
119
120
Figura 20: Alteração no desenvolvimento vegetal de plantas de Arabidopsis thaliana
transformadas com o gene P0 do Pea enation mosaic virus-1. A – Planta do tipo
selvagem. B-H - plantas transgênicas PEPO, B Fenótipo observado em plantas com até 4
semanas. C Fenótipo observado em plantas com mais de 4 semanas. D Detalhe da
folhas de uma planta com seis semanas mostrando a existência de diversas protuberâncias.
E, F, G, H Microscopia eletrônica de varredura. E Folha de uma planta do tipo
selvagem. F Detalhe de uma protuberância na folha de uma planta expressando PEP0. G
Análise em detalhe da protuberância indicada pela seta em F. H – Base da folha
expressando PEP0. I Planta expressando PEP0P. J Planta do tipo 1 expressando
PEP0LP. K - Planta do tipo 2 expressando PEP0LP. L - Planta do tipo 3 expressando
PEP0LP. M - Folhas de plantas PEP0LP tipos 2 e 3 comparadas com uma folha da
planta selvagem. N Siliquas observadas em plantas PEP0LP tipo 2. O Fenótipo tipo 3
comumente observados em plântulas expressando PEP0, PEP0P ou PEP0LP. P
Plântula do tipo selvagem. Q Planta expressando PEP0LPP. R Detecção dos veis
dos transcritos nas diferentes plantas transformadas com P0 do PEMV-1. T1 Plantas com
fenótipo 1. T2 Plantas com fenótipo 2. T3 Plantas com fenótipo 3. T4 Plantas com
fenótipo 4. Sondas correspondentes ao gene PEP0 foram feitas com CTP marcado com P
32
.
II.4.4 Supressoras PLP0 e PEP0 alteram acúmulo e função dos pequenos
RNAs
Muitos dos pequenos RNAs endógenos, tais como microRNAs e tasiRNAs estão
envolvidos na regulação de genes importantes para o desenvolvimento. Dessa forma, os
fenótipos observados nas plantas expressando as supressoras PEP0 e PLP0 sugerem que
essas proteínas poderiam estar interferindo na geração e/ou função desses reguladores do
desenvolvimento. Para testar essa hipótese, o acúmulo de diferentes pequenos RNAs foi
analisado em experimentos de northern blot realizados com plantas transgênicas PLP0
apresentando os quatro tipos de fenótipo, e com a P0 do PEMV integra, PEP0, e
apresentando as deleções do domínio F-Box (Figura 21). As plantas foram analisadas com
5 semanas após a germinação e os dados mostram que os microRNAs 159 e 168
apresentam uma leve redução no seu acúmulo nas plantas transgênicas, quando comparados
121
com os níveis dos mesmos nas plantas selvagens do ecotipo Columbia. Além disso, a
redução está negativamente correlacionada com a severidade dos fenótipos. Por exemplo, o
miR159 acumula mais nas plantas PLP0 com fenótipos brandos (tipos 1 e 2) do que nas
plantas severamente afetadas (tipos 3 e 4). No entanto, mesmo nas plantas apresentando
poucos defeitos no desenvolvimento, o miR159 acumula menos do que em plantas do tipo
selvagem. Esse tipo de correlação foi observado também nas plantas PLP0 para o miR166.
O mesmo não pode ser dito, entretanto, para o acúmulo desse microRNA nas plantas PEP0,
onde verificou-se que somente quando a proteína supressora está em sua forma não mutada
pode se observar uma alteração mais acentuada nos níveis do microRNA166.
O acúmulo de um tasiRNA (siR2141) e um siRNA originado de um retroelemento
(Copia1) também foi analisado. Em geral, esses dois pequenos RNAs pouco alteraram sua
concentração nas plantas transgênicas. No entanto, uma leve redução no acúmulo é
observada nas plantas com fenótipos mais severos (PLP0 tipo 4 e PEP0).
Para determinar se as supressoras estariam interferindo com a função dos pequenos
RNAs, os níveis de alguns alvos dessas moléculas foram analisados por PCR em tempo real
(Figura 22). Pouca ou nenhuma variação foi observada no acúmulo dos genes MYB33 e
DCL1, alvos dos microRNAs 159 e 162, respectivamente. No entanto, um aumento no
acúmulo de transcritos nas plantas transgênicas foi observado para os genes CUC1,
PHAVOLUTA, ARF8, AGO1 e ARF3, alvos dos microRNAs 164, 166, 167, 168 e do
tasiR2141, respectivamente. O retrotransposon Copia1 apresenta aumento de concentração
em plantas expressando PEP0, mas está em níveis normais em plantas expressando a PLP0.
Com o objetivo de confirmar os dados de PCR em tempo real, um experimento de
northern blot foi realizado para detectar o acúmulo de mRNA do gene AGO1. Os dados
confirmaram o aumento de acúmulo de AGO1 nas plantas expressando as supressoras
(Figura 23). Foi observado também um aumento no acúmulo desse mensageiro nas plantas
expressando PEP0P e PEP0LP tipos 2 e 3. Em contrapartida, os níveis de transcritos
AGO1 estão semelhantes ao do tipo selvagem em plantas expressando a proteína não
funcional PEP0LPP, indicando que o acúmulo desse gene está correlacionado com a
severidade dos fenótipos observados (Figura 23). Em conjunto, esses dados sugerem,
portanto, que pelo menos parte dos fenótipos observados nas plantas transgênicas
122
expressando as supressoras PLP0 e PEP0 podem ser atribuídos a uma desregulação das vias
endógenas de pequenos RNAs.
123
Figura 21: Acúmulo de pequenos RNAs em plantas de Arabidopsis thaliana
expressando as supressoras P0 do Potato leafroll virus e P0 do Pea enation mosaic
virus-1. Acúmulo dos microRNAs 168, 166 e 159, do tasiRNA2141 e de siRNAs oriundos
de um retroelemento (Copia1) foram detectados através de sondas radioativas. Foi utilizado
como controle uma sonda contra o gene constitutivo em plantas U6.
124
Figura 22: Acúmulo dos alvos dos pequenos RNAs em plantas de Arabidopsis thaliana
expressando as supressoras P0 do Potato leafroll virus ou P0 do Pea enation mosaic
virus-1. Os alvos de seis microRNAs (Myb33, Dcl1, Cuc1, Phavoluta, Arf8 e Ago1), um
tasiRNA (Arf3) e um retroelemento (Copia1) foram analisados em experimentos de PCR
em tempo real. Barras verticais representam os desvios padrão entre três réplicas
experimentais. Nos eixos “Y” estão plotadas as concentrações relativas dos RNAs em cada
uma das plantas plotadas no eixo dos “X”.
125
Figura 23: Detecção do acúmulo de mRNA do gene AGO1 em plantas transgênicas de
Arabidopsis thaliana expressando P0 do Potato leafroll virus ou P0 do Pea enation
mosaic virus-1. RNA total de plantas transgênicas foram extraídos, separados em géis
desnaturante de agarose, transferidos para membranas de nailon e hibridados com sonda
específica para o gene AGO1 marcada com P
32
(painel superior). O RNA ribosomal corado
com brometo de etídio foi utilizado como controle (painel inferior). PLP0T1 – Planta
transformada com P0 do Potato leafroll virus apresentando fenótipo do tipo 1. PLP0T2
Planta transformada com P0 do Potato leafroll virus apresentando fenótipo do tipo 2.
PLP0T3 Planta transformada com P0 do Potato leafroll virus apresentando fenótipo do
tipo 3. PLP0T4 Planta transformada com P0 do Potato leafroll virus apresentando
fenótipo do tipo 4. PEP0 Planta expressando P0 do Pea enation mosaic virus-1. P -
Planta expressando P0 do Pea enation mosaic virus-1 com mutação simples no domínio
tipo F-Box. LPT1 - Planta expressando P0 do Pea enation mosaic virus-1 com mutação
dupla no domínio tipo F-Box e apresentando fenótipo do tipo 1. LPT2 - Planta
expressando P0 do Pea enation mosaic virus-1 com mutação dupla no domínio tipo F-Box
e apresentando fenótipo do tipo 2. LPT3 - Planta expressando P0 do Pea enation mosaic
virus-1 com mutação dupla no domínio tipo F-Box e apresentando fenótipo do tipo 3. LPP
- Planta expressando P0 do Pea enation mosaic virus-1 com mutação tripla no domínio tipo
F-Box.
126
II.4.5PLP0 e PEP0 desestabilizam AGO1
Os dados obtidos nos experimentos de PCR em tempo real e northern blot
mostraram que os pequenos RNAs endógenos de Arabidopsis podem não estar funcionando
corretamente quando as supressoras PLP0 e PEP0 estão presentes nas células, sugerindo
uma possível não funcionalidade do complexo RISC. Com o objetivo de verificar esta
hipótese foram realizados experimentos para testar se as supressoras poderiam estar
degradando na proteína AGO1, a principal nuclease da RISC envolvida nas vias de
microRNA e siRNA viral.
Experimentos de co-infiltração em Nicotiana benthamiana mostraram que a
presença de PLP0 fusionada com o peptídeo de hemaglutinação do rus influenza (PLP0-
HA) é capaz de eliminar a expressão de AGO1 fusionada com o peptídeo FLAG (AGO1-
FLAG) (Figura 24A). Esse dado sugere, portanto, que a PLP0 pode estar promovendo a
degradação de AGO1. Ensaios de co-infiltração mostraram também que a AGO1-FLAG
continua sendo degradada pela PLP0-HA mesmo na presença de um inibidor de
proteasoma, evidenciando, assim, que o mecanismo deve atuar por outra via. O mesmo tipo
de experimento foi realizado também com a supressora PEP0 fusionada com peptídeo HA
(PEP0-HA) (Figura 24B). No entanto, foi observada apenas uma redução nos níveis de
AGO1-FLAG na presença de PEP0-HA e não uma eliminação como acontece com a
supressora dos Polerovirus. Além disso, os dados de co-infiltração mostraram que a
redução nos níveis de AGO1-FLAG mediada pela PEP0 é dependente de proteasoma,
contrastando mais uma vez com a atividade da PLP0.
127
Figura 24: Avaliação da expressão das supressoras P0 do Potato leafroll virus e P0 do
Pea enation mosaic virus-1 no acúmulo de AGO1. AGO1 fusionada com peptídeo FLAG
(AGO1-FLAG) e P19 foram co-infiltrados em plantas de Nicotiana benthamiana com as
supressoras fusionadas com peptídeo HA. A Experimentos com a P0 do Potato leafroll
virus. B Experimentos com a P0 do Pea enation mosaic virus-1. Os ensaios foram feitos
na presença ou ausência do inibidor de proteasoma MG132 ou de DMSO, usado como
controle negativo. A supressora P19 foi usada para aumentar o nível de expressão das
proteínas infiltradas.
128
II.4.6 – PEP0 interage com DCL1, AGO4, AGO6 e DRB5
Ensaios de co-infiltração sugerem que AGO1 é um alvo de degradação das
proteínas PLP0 e PEP0. No entanto, se AGO1 fosse a única proteína alvo das supressoras,
esperar-se-ia que as plantas transgênicas obtidas nesse trabalho apresentassem fenótipos
semelhantes aos observados em mutantes para o gene AGO1. No entanto, as plantas
expressando PLP0 ou PEP0 apresentam fenótipos que variam significativamente dos
descritos para esse mutante (dados não mostrados). De fato, as plantas expressando as
supressoras não apresentam fenótipos semelhantes a nenhum mutante simples de genes
caracterizados nas vias de silenciamento por RNA (dados não mostrados), indicando que
possivelmente existem múltiplos alvos.
Com o intuito de detectar outros alvos em potencial das supressoras, experimentos
de duplo híbrido em leveduras foram realizados. Para tanto, as supressoras PLP0, PEP0 e
PEP0LPP foram fusionadas com a seqüência codificadora do domínio de ligação ao DNA
do gene GAL4 e os genes da via de silenciamento por RNA AGO1, AGO2, AGO4, AGO6,
AGO7, DCL1, DCL2, DCL3, DCL4, DRB1, DRB2, DRB3, DRB4, DRB5 e SGS3 foram
fusionados com a seqüência codificadora do domínio de ativação da GAL4. A análise do
crescimento das leveduras a 21 °C em placas contendo quatro tipos de marcadores mostrou
que a supressora PEP0 interage com DCL1, AGO4, DRB5 e, mais fracamente, com AGO6
(Figura 25). As interações com AGO6, DCL1 e DRB5 foram perdidas, no entanto, no
mutante PEP0LPP. A versão não funcional da PEP0 também apresentou uma redução
drástica na interação com AGO4. Todas as interações observadas com PEP0 e PEP0LPP
foram perdidas, no entanto, quando as leveduras foram cultivadas a temperatura de 30 °C
(dados não mostrados).
129
Figura 25: Duplo híbrido em leveduras mostrando a interação de P0 do Pea enation
mosaic virus-1 com proteínas da via de silenciamento por RNA. Leveduras foram
cultivadas a 21 °C em meios contendo seleção para os plasmídeos (sem triptofano e
leucina) (A) e em meios contendo seleção para os plasmídeos e para possíveis interações
(meio sem triptofano, leucina, histidina e adenina) (B). Como controle, os vetores vazios
contendo as seqüências codificadoras dos domínios de ligação ao DNA (BD) ou o de
ativação (AD) da GAL4 foram co-transformados com os genes testados da via de
silenciamento por RNA.
130
II.4.7 – PLP0 e PEP0 apresentam localização nuclear
Três das quatro proteínas que interagem com PEP0 (DCL1, AGO4, AGO6)
apresentam localização nuclear na célula. Dessa forma, para poder interagir com essas
proteínas, a PEP0 deveria ter o mesmo tipo de localização subcelular. Para testar essa
hipótese, os genes PLP0, PEP0 e PEP0LPP foram fusionados com a seqüência
codificadora da proteína marcadora GFP, gerando as construções PLP0-GFP, PEP0-GFP e
LPP-GFP. Os plasmídeos gerados foram transformados através de bombardeamento em
células de cebola e em seguida analisados em microscópio confocal. As imagens obtidas
indicam que as três construções codificam proteínas que se acumulam preferencialmente no
núcleo celular (Figura 26). A mesma localização foi observada também para as versões
mutantes PEP0P e PEP0LP (dados não mostrados). Esses dados indicam, portanto, que
as supressoras possuem como alvos proteínas da via de silenciamento por RNA que
apresentam localização nuclear.
131
Figura 26: Bombardeamento de células de cebola com os genes PLP0, PEP0 e
PEP0
LPP fusionados com a sequência codificadora da GFP. A Células de cebola
bombardeadas com GFP livre. B – Células bombardeadas com a P0 do Potato leafroll virus
fusionada com GFP. C Células bombardeadas com a P0 do Pea enation mosaic virus-1
fusionada com GFP. D Células bombardeadas com o triplo mutante não funcional da P0
do Pea enation mosaic virus -1 fusionada com GFP.
Capítulo II
_________________________________________________________________________
DISCUSSÃO
E
PERSPECTIVAS
133
II.5 – Discussão e Perspectivas
Neste trabalho, supressores de silenciamento na família viral Luteoviridae foram
identificados e caracterizados. Para tanto, todas as fases abertas de leitura do Barley yellow
dwarf virus-PAV (BYDV-PAV), membro tipo do gênero Luteovirus e a ORF0 do Pea
enation mosaic virus-1 (PeMV-1), único membro do gênero Enamovirus, foram clonadas e
analisadas. Nenhuma supressora foi encontrada no BYDV-PAV (Figura 14), no entanto,
observou-se que a P0 do PeMV-1 (PEP0) apresenta forte atividade de supressão de
silenciamento por RNA (Figura 15; Figura 17).
Membros do gênero Luteovirus apresentam biologia muito parecida com os
membros do gênero Polerovirus, exceto pelo fato dos primeiros infectarem apenas plantas
monocotiledôneas e os segundos infectarem também dicotiledôneas. Ambos os vírus são
restritos ao floema e transmitidos especificamente por afídeos (Mayo & Ziegler-Graff,
1996). Sabe-se que a P0 dos Polerovirus apresenta uma atividade de supressão de
silenciamento por RNA (Pfeffer et al., 2002) e acredita-se que a mesma seja fundamental
para o escape da defesa antiviral promovida pelo hospedeiro (Baumberger et al., 2007).
Membros do gênero Luteovirus não apresentam a P0 e, portanto, devem apresentar uma
estratégia alternativa para escaparem do sistema de degradação por silenciamento em
tecidos floemáticos. No entanto, as proteínas da polimerase, capsídeo, de movimento e de
transmissão não apresentam atividade supressora quando testados em plantas de Nicotiana
benthamiana (Figura 14). Três hipóteses poderiam explicar os resultados negativos obtidos
para os genes do BYDV-PAV. Já foi observado na literatura que alguns vírus necessitam de
mais de uma proteína para suprimirem a defesa vegetal. Por exemplo, o Citrus tristeza virus
apresenta três genes envolvidos na supressão de silenciamento (Lu et al., 2004). A HC-Pro,
uma das supressoras virais mais estudadas, apresenta maior capacidade de supressão
quando atua em conjunto com a proteína auxiliar P1 existente na região 5’ dos Potyvirus
(Pruss et al., 1997). Experimentos de co-infiltração com diferentes combinações de genes
poderiam determinar, dessa forma, se o BYDV-PAV necessitaria de mais de uma proteína
para sua atividade de supressão. Outra possibilidade interessante seria a existência de uma
supressora de silenciamento específica de monocotiledôneas. Apesar do silenciamento por
RNA ser um mecanismo conservado em diversos reinos biológicos, algumas diferenças
134
entre plantas monocotiledôneas e dicotiledôneas foram observadas. Por exemplo, em
arroz, um modelo de estudo em monocotiledôneas, foram identificadas duas Dicers a mais
do que em Arabidopsis, sendo uma delas específica do grupo das monocotiledôneas
(Margis et al., 2006). Como os Luteovirus infectam apenas monocotiledôneas, sua possível
supressora poderia atuar em um gene específico desses hospedeiros. A existência de uma
supressora específica de monocotiledôneas poderia explicar, inclusive, a restrição dos
Luteovirus a plantas desse grupo. Para testar essa hipótese seria necessário, portanto, o
desenvolvimento de um sistema de detecção de atividade supressora em uma planta
monocotiledônea. Alternativamente, membros do gênero Luteovirus poderiam escapar do
sistema de degradação vegetal mesmo sem apresentarem uma proteína que atue
especificamente na supressão de silenciamento por RNA. foi observado, por exemplo,
que os Adenovirus suprimem silenciamento através da transcrição de RNAs subgenômicos
que apresentam estruturas secundárias semelhantes a microRNAs (Andersson et al., 2005).
Membros desse grupo sintetizam RNAs subgenômicos em uma quantidade alta o suficiente
para saturar o sistema de degradação celular e, com isso, diminuem a degradação do RNA
viral genômico. A expressão do RNA subgenômico de Luteovirus em sistema vegetal
poderia elucidar se esse tipo de estratégia também se aplica aos vírus desse grupo.
A P0 do PeMV-1, em contrapartida, apresenta forte atividade supressora em sistema
de agro-infiltração em plantas de Nicotiana benthamiana (Figura 15; Figura 17). Observou-
se que a mutação dos três resíduos mais conservados do domínio F-Box gera uma proteína
sem capacidade de supressão (Figura 15G). A troca de um ou dois desses aminoácidos, no
entanto, não provoca alteração detectável na atividade da proteína (Figura 15E; Figura
15F). Esses dados contrastam com os previamente obtidos para membros do gênero
Polerovirus, onde foi observado que a troca dos dois aminoácidos iniciais LP por alaninas
é suficiente para abolir a atividade dessas supressoras (Pazhouhandeh et al., 2006). Além
disso, experimentos de co-imunoprecipitação mostraram que a P0 dos Enamovirus, assim
como dados obtidos para os Polerovirus (Pazhouhandeh et al., 2006), também se liga com
SKIP2 de Arabidopsis, um homólogo de SKIP1 de leveduras envolvido na via de proteólise
(Figura 18). Dessa forma, as supressoras devem atuar através do direcionamento de
proteínas da via de silenciamento para a degradação via ubiqüitinação.
135
Plantas transgênicas expressando as diferentes formas de PEP0 e também a P0 do
Potato leafroll virus (PLRV), membro tipo do gênero Polerovirus, apresentam drásticos
defeitos no desenvolvimento. Outros pesquisadores já tinham observado que a expressão da
P0 do PLRV (PLP0) em batata gera defeitos no desenvolvimento muito semelhantes aos
observados em infecções naturais do vírus (Van der Wilk et al., 1997). Apesar das
proteínas PLP0 e PEP0 terem produzido fenótipos muito diferentes quando expressas em
plantas, os dados indicam que as duas supressoras estariam interferindo com proteínas
importantes para a regulação do desenvolvimento. Plantas de Arabidopsis com mutações
em genes das vias de microRNAs e/ou tasiRNAs também apresentam graves defeitos no
desenvolvimento (Telfer & Poethig, 1998; Lu & Fedoroff, 2000; Chen et al., 2002; Morel
et al., 2002). Em contrapartida, plantas com mutações em genes que atuam exclusivamente
nas vias de siRNAs raramente apresentam esses tipos de defeitos (Dalmay et al., 2000;
Mourrain et al., 2000; Zilberman et al., 2003; Xie et al., 2004). Dessa forma, genes que
atuam nas vias de repressão viral e nas vias de microRNA ou tasiRNA, tais como DCL1,
DCL4, Argonautes e DRBs seriam os principais candidatos a serem alvos das supressoras.
A análise do perfil molecular mostrou que os níveis de microRNAs, tasiRNAs, siRNAs
endógenos e os alvos desses pequenos RNAs estão afetados nas plantas expressando ambas
as supressoras (Figura 21; Figura 22; Figura 23). Existe nessas plantas uma tendência para
a redução nos níveis dos pequenos RNAs e um aumento no acúmulo do mRNA dos alvos,
quando comparados com uma planta do tipo selvagem.
Assim como observado nas plantas expressando PLP0 ou PEP0, mutantes AGO1 de
Arabidopsis apresentam níveis de microRNAs iguais ou levemente menores do que plantas
selvagens. Além disso, alguns dos alvos dos pequenos RNAs também acumulam mais
nesses mutantes (Vaucheret et al., 2004). Observou-se ainda que quanto mais severamente
afetada a AGO1, maior o efeito na acumulação dos alvos (Vaucheret et al., 2004). Por
exemplo, o gene MYB65, alvo do miRNA159, acumula 31.7 vezes mais no mutante nulo
ago1-3 do que em plantas do tipo selvagem. O mesmo gene, no entanto, acumula apenas
1.3 e 1.7 vezes mais do que no selvagem em mutantes hipomórficos ago1-27 e ago1-26,
respectivamente. Além disso, é sabido que a AGO1 atua tanto na via de resposta antiviral
(Morel et al., 2002; Zhang et al., 2006), quanto na via de microRNAs (Vaucheret et al.,
2004). Dessa forma, essa proteína seria a principal candidata a ser o alvo das supressoras
136
durante o processo de infecção. De fato, experimentos de co-infiltração em N. benthamiana
mostraram que as supressoras PLP0 e PEP0 desestabilizam a expressão de AGO1 (Figura
24). A PLP0 abole completamente a expressão da proteína e a repressão atua mesmo na
presença de um inibidor de proteasoma (Figura 24A). A PEP0, em contrapartida, apenas
reduz o acúmulo de AGO1 e essa ação parece ser dependente de proteasoma (Figura 24b).
Além disso, experimentos de co-imunoprecipitação conduzidos por Adriana Fusaro, no
CSIRO, Austrália mostraram que ambas as supressoras se ligam com AGO1 (comunicação
pessoal). Esses resultados sugerem, portanto, que as proteínas PLP0 e PEP0 interagem com
AGO1 e a direcionam para um complexo de degradação. Indicam ainda que a supressora
dos Polerovirus apresenta uma maior afinidade por essa proteína do que a dos Enamovirus.
Resultados similares foram recentemente publicados com outros vírus do grupo dos
Polerovirus (Baumberger et al., 2007; Bortolamiol et al., 2007). Observou-se que a P0 do
Beet western yellows virus (BWYV) também se liga (Bortolamiol et al., 2007) e degrada a
AGO1 (Baumberger et al., 2007; Bortolamiol et al., 2007) e que essa ação ocorre de forma
independente de proteasoma (Baumberger et al., 2007). Plantas expressando a P0 do
BWYV (BWP0), assim como observado para a expressão das supressoras PLP0 e PEP0,
apresentam fortes defeitos no desenvolvimento, redução nos níveis de microRNAs,
tasiRNAs e aumento no acúmulo em alguns dos alvos desses pequenos RNAs (Bortolamiol
et al., 2007).
Os dados de duplo híbrido em leveduras mostraram que a PEP0 possivelmente
também interage com as proteínas DCL1, AGO4, AGO6 e DRB5. Experimentos de co-
imunoprecipitação estão sendo realizados no CSIRO para confirmar a interação dessas
proteínas com a supressora. Nenhuma interação foi observada, no entanto, para a PLP0. A
ausência de resultados positivos para essa proteína pode estar relacionada com a fraca
interação entre os genes. Trabalhos anteriores tentaram identificar os alvos das
supressoras de Polerovirus por duplo híbrido e também não obtiveram sucesso
(Pazhouhandeh et al., 2006; Bortolamiol et al., 2007). Além disso, os dados observados
com a PEP0 só foram obtidos quando as leveduras foram crescidas a 21 °C, corroborando a
hipótese de que a interação entre as proteínas ocorre fracamente em células de leveduras,
até mesmo com a supressora do PeMV-1. Essa fraca interação poderia explicar também
porque foram obtidos resultados negativos para a interação da PEP0 com AGO1 por duplo
137
híbrido, apesar de a supressora estar desestabilizando a expressão dessa proteína (Figura
24) e ter interagido com AGO1 em experimentos de co-imunoprecipitação (Adriana Fusaro,
comunicação pessoal).
Dentre as proteínas identificadas por duplo híbrido, a DRB5 foi a que apresentou
interação mais forte com a supressora do PeMV-1. A DRB5 é uma das cinco proteínas
ligantes de dsRNA existente em Arabidopsis. Sabe-se que a DRB1 de Arabidopsis, também
conhecida como HYL1, atua em conjunto com a DCL1 para a geração dos microRNAs
(Han et al., 2004; Vazquez et al., 2004a). Sabe-se também que a DRB4 atua junto com a
DCL4 para a geração de tasiRNAs (Nakazawa et al., 2007). Acredita-se, portanto, que as
outras DRBs também atuem na produção de pequenos RNAs juntamente com Dicers, no
entanto, nenhuma atividade específica foi atribuída ainda para as DRB2, DRB3 e DRB5.
Observou-se também interação com as AGO4 e AGO6, ambas envolvidas na via de
metilaçao (Zilberman et al., 2003; Zheng et al., 2006).
A recente observação de que a P0 do BWYV, um Polerovirus, desestabiliza
diferentes tipos de Argonautes (AGO1, AGO2, AGO4, AGO5, AGO6 e AGO9) levou a
proposição de um modelo para explicar a restrição desse grupo de rus ao floema vegetal
(Baumberger et al., 2007; Figura 27). Ao serem injetados pelos insetos no floema vegetal,
haveria produção de siRNAs primários originados dos Polerovirus, que, no entanto, não
seriam efetivos, pois a RISC estaria inativa devido à degradação de proteínas Argonautes
mediada pela supressora. Em conseqüência, a via de geração de pequenos RNAs
secundários dependente de RDR6 não seria acionada, pois esta depende da ação da AGO1
(Beclin et al., 2002; Figura 11). A inibição da síntese de siRNAs secundários explicaria
porque a supressão pela P0 dos Polerovirus não elimina siRNAs em experimentos de agro-
infiltração quando o indutor é uma dsRNA (Baumberger et al., 2007; Bortolamiol et al.,
2007), mas elimina quando o indutor é um mRNA (Figura 17H; Pfeffer et al., 2002). No
primeiro caso, os siRNAs que se acumulam são siRNAs primários, originados diretamente
da degradação da dsRNA introduzida via DCL4, sem a participação de Argonautes. No
segundo caso, no entanto, a necessidade de ativação da via de geração de siRNAs
secundários, processo dependente de RDR6 e AGO1.
138
Figura 27: Modelo proposto por Baumberger et al., 2007 para a restrição dos
Polerovirus ao floema. Vírus são inoculados no floema vegetal e em seguida as dsRNAs
produzidas são reconhecidas por enzimas Dicers da planta, gerando os siRNAs primários.
Esses, no entanto, não conseguem atuar, pois o complexo RISC está inibido pela
degradação de proteínas Argonautes mediada pela supressora P0, uma das primeiras
proteínas a serem traduzidas a partir do genoma viral. No entanto, os siRNAs primários
podem migrar para células vizinhas antes que o vírus seja capaz de codificar a sua
supressora. Com isso, a ampliação do sinal de silenciamento pela produção de siRNAs
secundários via RDR6 e AGO1 nessas células, restringindo o vírus às células inicialmente
infectadas.
139
Assim, os Polerovirus seriam capazes de suprimir silenciamento localmente no
tecido infectado, pois impediriam a ação de clivagem da AGO1, principal proteína
envolvida no processo de silenciamento induzido por vírus (Morel et al., 2002; Zhang et
al., 2006a). No entanto, como as Argonautes não estão envolvidas na produção do sinal de
disseminação de silenciamento célula a célula (Baumberger et al., 2007), este continuaria
sendo produzido e, com isso, restringindo os vírus nos tecidos inicialmente infectados.
O Enamovirus PeMV-1, no entanto, consegue sair das células floemáticas em
infecções simbiônticas com o Pea enation mosaic virus-2 (PeMV-2), um Umbravirus.
Fatores encontrados nos dois vírus são importantes para a infecção sistêmica em plantas
hospedeiras (Demler et al., 1993). Dessa forma, o complexo infeccioso PeMV-1/PeMV-2
deve apresentar mecanismos que evitam a degradação dos dois vírus fora dos tecidos
floemáticos. Foi observado que a P0 do Polerovirus BWYV degrada preferencialmente os
motivos PAZ e N-terminal da proteína AGO1 (Baumberger et al., 2007). Esse domínio
também está presente em proteínas Dicers (Margis et al., 2006). Sabe-se também que a
DCL4 está envolvida na geração do sinal de silenciamento a curta distância (Dunoyer et al.,
2005) que, segundo o modelo proposto por Baulcombe e colaboradores (Baumberger et al.,
2007), é o principal mediador da restrição dos Polerovirus ao floema. Dessa forma, a saída
do PeMV-1 de células floemáticas poderia ser explicada por um redirecionamento da
atividade de sua supressora para a degradação de proteínas Dicers e não somente
Argonautes, como ocorreria nos Polerovirus. Uma preferência por degradação de Dicers
poderia explicar, por exemplo, o motivo da PEP0 ter apenas diminuído os níveis de AGO1
em experimentos de co-infiltração, contrastando com a eliminação dessa proteína mediada
pela P0 de Polerovirus (Figura 24; Baumberger et al., 2007). A interação da PEP0 com
DCL1 em experimentos de duplo híbrido poderia ser um outro indicativo desse
redirecionamento de atividade, embora uma ação em DCL4 explicaria melhor o modelo de
evasão do floema proposto. Além disso, uma ação conjunta em Argonautes e Dicers
poderia explicar os fenótipos mais drásticos observados em plantas expressando PEP0,
quando comparados com os observados em plantas expressando PLP0 (Figura 19; Figura
20). Uma forma direta de testar essa hipótese seria a verificação da interferência da PEP0
no acúmulo de siRNAs primários, pois esses são gerados diretamente por DCL4.
Experimentos em plantas 16C mostraram que a PEP0 reduz os níveis de siRNAs quando o
140
silenciamento é induzido pela seqüência senso de GFP (Figura 17). Nesse caso, no entanto,
a maior parte dos siRNAs gerados são siRNAs secundários, originados pelo processo de
amplificação do silenciamento mediado por RDR6 e AGO1 (Figura 11). Uma ação de
PEP0 em AGO1 seria suficiente, portanto, para explicar os dados observados.
Experimentos de agro-infiltração estão sendo conduzidos por Adriana Fusaro no CSIRO
para verificar o efeito de PEP0 no acúmulo de siRNAs primários originados em
experimentos de indução de silenciamento em plantas 16C por uma dupla fita de GFP. Já
foi observado que a P0 do BWYV não interfere no acúmulo desses siRNAs primários
(Baumberger et al., 2007; Bortolamiol et al., 2007). No entanto, os níveis desses pequenos
RNAs deveriam reduzir na presença da PEP0, caso a proteína tenha uma ação nas Dicers,
em especial na DCL4, principal atuante em silenciamento induzido por dsRNA (Fusaro et
al., 2006).
Capítulo II
_________________________________________________________________________
CONCLUSÕES
142
II.6 – Conclusões
Silenciamento gênico é um mecanismo de controle da expressão gênica existente
em diversos reinos biológicos e, em plantas, está associado com a defesa antiviral. Vírus
apresentam proteínas com capacidade de supressão do sistema de defesa vegetal. No
capítulo II dessa tese foram realizadas a busca e a caracterização de proteínas supressoras
de silenciamento gênico em vírus pertencentes à família Luteoviridae. As principais
conclusões obtidas foram:
1) As proteínas da polimerase, capsídeo, movimento e transmissão do Barley yellow
dwarf virus-PAV (BYDV-PAV), membro tipo do gênero Luteovirus, não
apresentam capacidade de supressão local em plantas de Nicotiana benthamiana.
2) A ORF0 do Pea enation mosaic virus-1 (PEMV-1), único membro do gênero
Enamovirus, codifica uma proteína capaz de suprimir silenciamento induzido por
genes na orientação senso em plantas de Nicotiana benthamiana.
3) A P0 do PEMV-1 (PEP0) se liga com SKIP2 de Arabidopsis thaliana e depende de
um domínio F-Box intacto para exercer sua atividade supressora.
4) A atividade de supressão da PEP0 elimina os pequenos RNAs interferentes
secundários.
5) A expressão da PEP0 ou da P0 do Potato leafroll virus (PLRV), membro tipo do
gênero Polerovirus, em Arabidopsis thaliana acarreta graves defeitos no
desenvolvimento que estão associados com uma redução nos níveis de pequenos
RNAs endógenos e com um aumento nos níveis dos alvos dos mesmos.
6) Tanto a PEP0 quanto a P0 do PLRV (PLP0) desestabilizam a expressão de proteína
ARGONAUTE1 (AGO1) de Arabidopsis thaliana. Ao contrário do observado para
PLP0, a ação da PEP0 é dependente de proteasoma.
7) A PEP0 apresenta interação com as proteínas DCL1, AGO4, AGO6 e DRB5 em
experimentos de duplo híbrido.
8) PLP0 e PEP0 apresentam localização nuclear em células de cebola.
REFERÊNCIAS
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