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2.1 O processo de transição política no Brasil
No Brasil em 1974, sob o governo Geisel, inicia-se um processo de “distensão lenta,
gradual e segura” A proposta de liberação do regime é anunciada então pelo próprio regime
autoritário. Conforme Luciano Martins,
17
a tendência desta prática política, que não ofereceu
resistência por parte de seus dirigentes e oposição. Não estava apontada para uma democracia,
mas sim, para uma mera liberação política. Nesta mesma gênese de abertura do regime militar,
Walter de Góes,
18
descreve que a necessidade de mudar já se manifestava em meados dos anos de
1970, no auge do autoritarismo,
19
em que os êxitos econômicos, embora legitimassem o regime,
registraram os primeiros sinais de exaustão dentro do mesmo.
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Segundo Góes, três fatores
evidenciam esta posição. A primeira compreende a temática democrática dos discursos do
general Médici, na qualidade de candidato à presidência da república a partir de 1969. Um
segundo fator, estaria relacionado com ministro do gabinete civil da presidência, João Leitão de
Abreu,
21
quando em 1972, das suas conversações com o professor da Universidade de Harvard,
Samuel Huntington,
22
resulta a elaboração de um documento intitulado “Abordagem de
descompressão política”, a qual sugere a ampliação gradativa da participação política era
17
MARTINS, Luciano. A liberação do regime autoritário no Brasil. In: O’DONNEL, G.; SCHMITTER, L. (Org.)
Transições do regime autoritário: América Latina. São Paulo: p.122-148, 1988.
18
GÓES, Walter; ASPÁSIA, Camargo. O Drama da sucessão e a crise do regime. Rio de Janeiro: Nova fronteira,
1984.
19
O auge do autoritarismo refere-se quanto ao êxito econômico (1969-1973) baseado nas as altas taxas de
crescimento do produto interno bruto, com aceleração da mobilidade social e a configuração das forças armadas
contra as guerrilhas.
20
Ibid. p.126
21
O ministro Leitão de Abreu retornará ao cenário político em 1981, no comando do Gabinete Civil do governo
Figueiredo, substituindo o então, Golbery do Couto e Silva. Na historiografia não encontramos muitos trabalhos
destacando a importância deste personagem no processo de redemocratização do país. Em uma participação discreta,
mais importante, apoiou a candidatura de Tancredo Neves e, trabalhou em busca de soluções democráticas para o
processo de transição. Ver em: COUTO, Ronaldo Costa. História indiscreta da ditadura e da abertura: Brasil:
1964-1965. 4º ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
22
Entre os diversos trabalhos do Professor Huntington, esta o livro “A terceira Onda” (A terceira Onda:
democratização no final do Século XX. São Paulo: Ática, 1994), a qual é um exemplo da nova inflexão na
literatura que procura dar uma explicação aos processos de democratização que começaram a surgir na década de
1970, levando cerca de 30 países não democráticos a regimes democráticos. A explicação do autor não está baseada
em uma análise histórica, retoma em grande parte uma perspectiva estrutural, mas redimensionada. Neste trabalho
este cientista político destaca que no mundo moderno as possibilidades da democracia são identificadas como ondas
de democratização que surgem a partir do século XIX. Conforme o autor, essas ondas democráticas se sucedem uma
após outras intercaladas por ondas reversas que ocorrem em períodos específicos, sendo as transições de regimes não
democráticos para democráticos mais numerosas. A centralidade de sua análise reside na busca de uma correlação de
riquezas e democratização. Embora saliente que fatores econômicos não sejam determinantes para promover a
democratização, eles produzem um impacto significativo. Neste sentido, sua argumentação vem por demonstrar uma
correlação positiva de riquezas e de democratização. Portanto, é a permanecia desta riqueza a um longo prazo,
segundo Huntington, que promove um ambiente favorável à democratização.