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O planejamento e execução deste projeto por parte do Departamento de
Estado traz à tona uma sutileza bastante interessante. Aqui, começa o abandono da
idéia de não-intervenção, tão defendida em 1958. Durante aquele ano, os
americanos tentaram ao máximo se comportarem como meros espectadores dos
eventos políticos em Cuba. O seu peso político nas decisões daquele instante foi
reduzido ao menor denominador possível.
Em 1959, o momento era diferente, e uma nova postura precisava ser criada
diante de um novo regime que assumia um país tradicionalmente aliado, e de
grande importância história e estratégica. Foram quatro meses de estudos, análises
e percepções, onde Castro não conseguia atender às demandas para passar no
“teste” feito pelo Departamento de Estado. Tornava-se necessário, a partir disso,
rever alguns pressupostos e buscar uma postura mais proativa nas relações com
Cuba.
Mas, ao mesmo tempo, o Departamento sabia que meramente retirar Castro
do poder não era uma alternativa para o momento. A oposição em Cuba era fraca, o
líder era popular e o governo Eisenhower estava muito enfraquecido no plano
interno. Enfraquecido pela vexatória derrota nas eleições legislativas de 1958, pelas
denúncias de corrupção e pelos fracassos na Guerra Fria
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. Os congressistas
democratas e boa parte da imprensa criticavam bastante o presidente pela falta de
êxitos na política externa e pela crise interna na questão racial, que explodia nas
escolas e universidades dos estados do Sul naquele exato momento.
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Todos esses fatores, tão diversos entre si, retiravam a possibilidade do uso da
força militar em um futuro imediato. Dessa forma, os Estados Unidos iriam usar
outras ferramentas como uma maneira de tentar “moldar” Castro e seu governo.
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Nas eleições de 1958 para a renovação do Congresso, os Democratas ficaram com uma confortável maioria
de 283 congressistas, contra 154 Republicanos. Essa confortável vantagem colaborou para que Eisenhower
ficasse com uma margem de manobra ainda menor de governabilidade. Para piorar, em 1959 o avião espião U2
foi derrubado sobre solo soviético, e o piloto americano sendo capturado e preso, gerando um grande mal estar
diplomático entre os dois países. Por fim, um dos assessores mais ligados ao presidente, Sherman Adams foi
retirado do cargo diante das acusações de recebimento de propina por parte de um empresário da Nova
Inglaterra. Entre um dos “mimos recebidos”, estava um casaco de pele de Vicuña, animal parente da lhama.
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Em 1957, a chamada “Decisão Brown” foi aprovada na Suprema Corte, onde, a velha legislação racista do
sul, conhecida como Jim Crow, estava abolida. Assim, foi dado aos negros o direito de freqüentar as escolas dos
brancos, o que gerou uma série de violentos protestos no sul, principalmente no Arkansas. A União utilizou
tropas do exército para efetivar a decisão do Supremo, o que gerou um imenso desgaste político de Eisenhower
na região.