3.5. A Al Qaeda e o “Terrorismo em Rede”
52
Com os atentados de 11 de setembro de 2001, o grupo terrorista Al Qaeda
inaugurou uma nova forma de manifestação terrorista: o terrorismo em rede. Neste
início de século, quatro atentados chocaram o mundo por sua crueldade: o de 11
de setembro de 2001 (em Nova York e Washington – Estados Unidos), o de 11 de
março de 2004 (em Madri – Espanha), o de Beslan (Ossétia do Norte) cujo nefasto
desfecho ocorreu em 3 de setembro de 2004 e os atos ocorridos em Londres
(Inglaterra) em 7 de julho de 2005
53
. Os atentados sofridos pelos Estados Unidos,
52
A organização do espaço geográfico através das redes eliminou a necessidade de fixar as
atividades políticas, econômicas e até terroristas, em determinados lugares. Isso vale para o
grande número de atividades que podem ser executadas a partir de qualquer parte do mundo,
bastando que esses locais estejam conectados. O espaço geográfico hoje tende a se tornar um
meio técnico-cientifico informacional, impregnado pela tríade ciência, técnica e informação, o que
resulta em uma nova dinâmica territorial (Santos, 1996a). Até pouco tempo, a superfície do planeta
era utilizada de acordo com divisões produzidas pela natureza ou pela história, chamadas de
regiões. Essas regiões correspondiam à base da vida econômica, cultural e política. Atualmente,
devido ao processo das técnicas e das comunicações, a esse território se sobrepõe um território
das redes que, em primeira análise, fornece a impressão de ser uma realidade virtual. Mas, ao
contrário do que se possa imaginar, não se trata de um espaço virtual. Para Castells (2002, p.565):
“redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades e a difusão da lógica de redes
modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de
experiência, poder e cultura”. Assim, as redes são realidades concretas, formadas por pontos
interligados, que tendem se a espalhar por toda a superfície mundial, ainda que com desigual
densidade, conforme os continentes e países. Santos (1996b, p.215) afirma que “a existência das
redes é inseparável da questão do poder”. Essas redes se constituem na base da modernidade e
na condição necessária para a plena realização da economia global. Elas formam e constituem o
veículo que permite o fluxo das informações, que são hoje o mecanismo vital da globalização.
Moreira (2006) aduz que a organização em rede vai mudando a forma de conteúdo dos espaços
deixando-os simultaneamente mais fluídos e as distâncias perdem seu sentido físico diante do
novo conteúdo social do espaço. Antes de mais nada, é preciso se estar inserido num lugar, para
se estar inserido na geopolítica da rede. Uma vez localizado na rede, pode-se daí puxar a
informação, disputar-se primazias e então jogar-se o jogo do poder. Enfim, a informação se torna a
matéria-prima essencial do espaço-rede. Nesse cenário é que emerge a expressão “Terrorismo em
Rede”, utilizada por Haesbaert (2002b). Para o geógrafo, o grupo Al Qaeda possui em sua
estrutura bases ou “células” de uma organização ilegal – e a flexibilidade das redes com seus
fluxos de várias ordens. Parte desta agilidade se deve ao acesso às redes técnico-informacionais
contemporâneas e aos investimentos mantidos pelo grupo, especialmente em setores ilegais da
economia. Pelo seu caráter mais difuso, fragmentado e descontínuo (mas nunca desarticulado) no
espaço geográfico, o terrorismo da Al Qaeda constitui um dos âmbitos ilegítimo do processo de
globalização. Cabe ressaltar que as conexões de uma rede como a da organização de Bin Laden
vincula os territórios mais excluídos do movimento globalizador, como os do interior do
Afeganistão, até centros do capitalismo mundial como Manhattan.
53
No dia 30 de junho de 2007, o governo britânico elevou o nível de alerta terrorista para "crítico”
após o impacto de um carro em chamas contra um terminal do aeroporto de Glasgow, no sul da
Escócia. A polícia escocesa afirmou que o ataque foi "um ato terrorista claramente vinculado" aos
dois carros-bomba localizados pelas autoridades inglesas em Londres na sexta-feira (29/06). O
"alerta crítico" não era acionado no Reino Unido desde 7 de julho de 2005, quando um atentado
85