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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Comportamento Sexual e Religiosidade:
Um Estudo com Jovens Brasileiros
Elder Cerqueira Santos
Porto Alegre
Março de 2008
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Comportamento Sexual e Religiosidade:
Um Estudo com Jovens Brasileiros
Elder Cerqueira Santos
Tese de Doutorado no Programa de Pós-graduação em Psicologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a orientação da
Profa. Dra. Sílvia Helena Koller
em co-orientação com Prof. Dr. Brian Wilcox,
University of Nebraska-Lincoln
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Março de 2008
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AGRADECIMENTOS
Ao iniciar os agradecimentos desta tese, resolvi relembrar como foram os meus
agradecimentos da dissertação de mestrado, quatro anos atrás. Ufa! Que boa
constatação, posso repetir todos os nomes que estavam lá e adicionar alguns mais
que agora fazem parte da minha vida acadêmica e pessoal. Assim agradeço a todos
que fazem parte dessa trajetória, mesmo que não tenham se dado conta do quanto
foram importantes no meu processo de doutoramento. Agradeço:
- À minha mãe, pessoa mais importante da minha vida, e apoio incondicional.
Obrigado por cada dia, cada telefonema, vindas à Porto Alegre, ida à Nebraska
(quem diria!). Momentos de extrema alegria compartilhados juntos!
- À toda minha família, tios, primos etc. Em especial à minha avó Maria do
Carmo, ao meu irmão Edmundo, minha cunhada Ceiça, meus sobrinhos
Gabriela e Alexandre e ao meu Tio Manoel.
- À Profa. Dra. Sílvia Koller, por ser uma orientadora maravilhosa e uma amiga
afetuosa. Admiro com orgulho o exemplo de humanidade e competência que
você nos dá. Obrigado pela GENEROSIDADE!
- Ao Prof. Dr. Brian Wilcox, co-orientador deste trabalho. Amigo que me acoheu nos
Estados Unidos com toda a atenção e disponibilidade. Obrigado por abrir as portas
do CCFL/UNL e pela importante experiência de trabalhar com vocês.
- À Profa. Dra. Marcela Raffaelli, que também me acolheu especialmente em
Nebraska, dedicando-se como uma co-orientadora e também tornando o meu estágio
nos Estados Unidos mais proveitoso e agradável.
- Aos meus amigos. São muitos nomes e cito apenas alguns que estiveram mais
próximos nessa jornada: Airi, Ana Karina, Fernanda Torres, Simone Paludo, Yuri,
Vicente, Andreína. Monise, Camila, Clara, Jan (“chefo”)... Especilamente aos
amigos Normanda e Lucas, verdadeiros “irmãos” pra todas as horas.
- Aos amigos que fiz em Nebraska (USA), Anderson e Tom. Especialmente ao Robb
Crouch, por todo o apoio emocional e profissional e por ter me emprestado e feito
parte da minha “família” americana.
- À minha turma do doutorado, colegas que se tornaram amigos e fazem parte da
minha inserção no Rio Grande do Sul.
- Aos alunos de graduação em Psicologia da UFRGS que participaram como
entrevistadores desta pesquisa.
- Aos cepianos!!! Todos vocês são como uma família. Obrigado pela parceria, festas,
trabalhos etc. Através da Carmen agradeço a todos vocês.
- Aos professores deste Programa de Pós-Graduação, que se dedicam ao ensino
público de altíssima qualidade. Obrigado pelo que aprendi com vocês. Especialmente
à dedicação da secretária Margareth.
- Aos professores desta banca: Prof. Dr. Jorge Sarriera, Prof. Dr. Maycoln Teodoro,
Profa. Dra. Ângela Coelho e especialmente à Profa. Dra. Débora Dell’Aglio pelo
trabalho de relatoria, mesmo interrompendo suas férias.
- À CAPES, pelas bolsas de doutorado no Brasil e nos Estados Unidos.
- À Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFRGS, pela dedicação especial na concessão
de bolsas e auxílios.
- À University of Nebraska at Lincoln (UNL), pelo aprendizado insetimável que tive
no meu estágio sanduíche.
- À todos os participantes deste estudo.
O autor
4
SUMÁRIO
Resumo ..................................................................................
09
Abstract ..................................................................................
10
CAPÍTULO I
Introdução ..................................................................................
11
1 Religiosidade/Espiritualidade ...............................
13
2 Religião e Saúde ...................................................
15
3 Comportamento de Risco Sexual..........................
23
3.1 Sexo Desprotegido............................................
24
3.2 Gravidez............................................................
24
4. Religião no Brasil.................................................
25
CAPÍTULO II
Método ..................................................................................
32
1 Delineamento........................................................ 32
2 Participantes..........................................................
32
3 Instrumento ...........................................................
32
4 Procedimentos
....................................................
33
4.1 Capacitação das Equipes .....
35
4.2 Amostragem ........................
35
4.3 Coleta de Dados .................. 37
CAPÍTULO III
Resultados ...................................................................................
39
1 Estudo I.................................................................. 39
1.1 Análises Descritivas..............
39
1.2 Religiosidade e Sexualidade..
55
2. Estudo 2.................................................................
68
2.1 Análise de Attrition...............
68
5
2.2 Análise Longitudinal.............
73
CAPÍTULO IV
Discussão ...................................................................................
80
1. Biosociodemográfico............................................ 80
2. Religiosidade.........................................................
84
3. Religiosidade e Sexualidade..................................
86
4. Estudo Longitudinal..............................................
91
5. Limitações.............................................................
93
CAPÍTULO V
Considerações Finais ..................................................
95
Referências ...................................................................................
99
Anexos
Anexo A. Questionário Utilizado na Pesquisa com
os Jovens Brasileiros.................................................
1007
Anexo B. Termo de Concordância............................
127
Anexo C. Termo de Consentimento..........................
128
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuição dos Indivíduos Brasileiros por Grau de Instrução,
segundo Religião Atual em 1998..........................................................
29
Tabela 2 Distribuição dos Indivíduos Brasileiros por Nível Socioeconômico,
segundo Religião Atual em 1998 .........................................................
30
Tabela 3 Categorização dos Itens do Questionário com Jovens Brasileiros das
Capitais: Campo Grande. Porto Alegre, Recife e São Paulo ................
34
Tabela 4 Diferenças de Gênero para Episódios, Idade e Parceiro(a) da
Primeira Relação Sexual de Jovens Brasileiros....................................
42
Tabela 5 História de Gravidez e Aborto entre Jovens Brasileiros de 14 a 24
anos ......................................................................................................
44
Tabela 6 Percentuais de Episódios de Gravidez entre Jovens de 14 a 24 anos
em Recife, Porto Alegre, São Paulo e Campo Grande..........................
45
Tabela 7 Percentual do Uso de Camisinha como Método para Evitar HIV entre
Jovens de Recife, Porto Alegre, São Paulo e Campo Grande ..............
45
Tabela 8 Diferenças de Gênero para os itens do Índice de Comportamento de
Risco Sexual entre Jovens Brasileiros .................................................
48
Tabela 9 Diferenças de Gênero para os Itens da Escala de Religiosidade para
Jovens Brasileiros..................................................................................
51
Tabela 10 Médias e Análise Fatorial para Escala de Religiosidade entre Jovens
Brasileiros.............................................................................................
52
Tabela 11 Níveis de Religiosidade de Jovens Brasileiros para Grupos por
Gênero, Idade e Cidade.........................................................................
53
Tabela 12 Freqüências e Percentuais para Comportamentos Sexuais de Jovens
Brasileiros nos Três Grupos de Nível de Religiosidade.......................
56
Tabela 13 Diferenças das Médias para Religiosidade e Grupos Religiosos
quanto ao Índice de Risco Sexual entre Jovens Brasileiros..................
58
Tabela 14 Correlações de Person entre as Variáveis de Religiosidade, Saúde e
Sexualidade para Jovens Brasileiros por Gênero ................................
60
Tabela 15 Regressão Logística dos Preditores para a Primeira Relação Sexual
de Jovens Brasileiros.............................................................................
61
Tabela 16 Regressão Linear Múltipla de Preditores para o Índice de Risco
Sexual de Jovens Brasileiros ................................................................
62
7
Tabela 17 Regressão Logística para os Preditores da Variável “Relação Sexual
Precoce” entre Jovens Brasileiros.........................................................
63
Tabela 18 Regressão Logística para os Preditores da Variável “Gravidez
Precoce” entre Jovens Brasileiros.........................................................
64
Tabela 19 Regressão Logística para os Preditores da Variável Uso de
Camisinha como Contraceptivo” entre Jovens Brasileiros...................
65
Tabela 20 Regressão Logística para os Preditores da Variável Uso de
Camisinha para Prevenção de HIV” entre Jovens Brasileiros..............
66
Tabela 21 Regressão Logística para os Preditores da Variável “Abuso
Extrafamiliar” entre Jovens Brasileiros.................................................
67
Tabela 22 Regressão Logística para os Preditores da Variável “Abuso
Intrafamiliar” entre Jovens Brasileiros..................................................
67
Tabela 23 Percentuais de Uso de Camisinha e Abuso Sexual para Egressos e
Remanescentes Questionados em T1....................................................
72
Tabela 24 Percentuais Comparativos de Egressos e Remanescentes para as
Diferentes Afiliações Religiosas em T1................................................
73
Tabela 25 Percentual e Freqüência de Virgens e Debutantes em T2 para Grupos
de Afiliação Religiosa. .........................................................................
75
Tabela 26 Regressão Logística para as Variáveis de Predição da Virgindade em
T2 para os Participantes Remanescentes...............................................
76
Tabela 27 Médias de Religiosidade em T1 e em T2 segundo o Comportamento
Sexual de Jovens Participantes Remanescentes....................................
77
Tabela 28 Análise de Regressão Linear para Preditores da Religiosidade em T2
entre Jovens Remanescentes.................................................................
78
Tabela 29 Percentuais para Razões Declaradas pelos Jovens Virgens sobre o
porquê não Tiveram Experiência Sexual...............................................
79
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Distribuição de fiéis por religião no Brasil........................................... 28
Figura 2 Trânsito religioso brasileiro entre católicos e protestantes de 1950 a
2000..................................................................................................
28
Figura 3 Distribuição da renda familiar dos jovens participantes do estudo I.....
40
Figura 4 Distribuição percentual segundo a série escolar dos jovens
participantes do Estudo I.......................................................................
40
Figura 5 Distribuição percentual da idade da primeira relação sexual para os
jovens brasileiros participantes do Estudo I ........................................
41
Figura 6 Hábito de uso de todo contraceptivo para jovens brasileiros de 14
a 24 anos ...............................................................................................
43
Figura 7 Percentual de jovens participantes segundo auto-declaração da
afiliação religiosa .................................................................................
49
Figura 8 Nível de religiosidade/espiritualidade de Jovens Brasileiros por
cidade.....................................................................................................
54
Figura 9
Nível de religiosidade/espiritualidade de Jovens Brasileiros por
afiliação religiosa..................................................................................
55
Figura 10 Situação dos jovens em T2 com relação ao vínculo escolar................. 69
Figura 11 Diferença percentual de participantes por gênero entre os grupos de
egressos e remanescentes......................................................................
70
Figura 12 Percentagem de jovens egressos e remanescentes que tiveram a
primeira relação sexual e gravidez........................................................
71
Figura 13 Percentual de jovens remanescentes segundo a condição de
experiência sexual.................................................................................
74
Figura 14 Percentual de jovens virgens e debutantes por gênero em T2...............
74
9
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi investigar a relação entre comportamentos sexuais de
risco e religiosidade entre jovens brasileiros de nível socioeconômico baixo. A
pesquisa foi dividida em dois estudos: transversal (em São Paulo, Porto Alegre,
Recife e Campo Grande) e longitudinal (em Porto Alegre). Participaram 4078 jovens
com idades entre 14 e 24 anos, 46,5% masculino e 53,5% feminino, vivendo em
situação de pobreza. Foi utilizado um instrumento auto-aplicável e confidencial de
109 questões. Os dados foram coletados em escolas e ONGs de forma coletiva.
Foram desenvolvidas duas escalas, uma medindo religiosidade e outra
comportamento de risco sexual (um indice composto por idade da primeira relação
sexual, uso de camisinha, uso de métodos contraceptivos, abuso sexual e gravidez).
A média de idade dos jovens participantes foi de 16,14 anos (SD=1,83) e não foi
encontrada diferença entre moças e rapazes. Os resultados indicam que 97,2% são
heterossexuais e 46,8% já tiveram a primeira relação sexual. A média de idade para o
debute sexual foi de 14,24 anos (SD=0,60). A média do escore de comportamento de
risco sexual foi de 0,60 (SD 0,60) com diferença significativa entre moças e rapazes
(t=8,99; p<0,001), com dia mais elevada para as moças (0,68 e 0,51). Em termos
de religiosidade, a maioria se auto-declarou como católicos (40,8%), seguidos por
aqueles que não têm uma religião (24,5%) e protestantes (20,5%). Houve uma
diferença significativa para o nível de religiosidade (t=11,47; p<0,001) entre moças e
rapazes, a dia do índice de religiosidade para eles foi de -0,21 (SD=1,03) e para
elas foi de 0,19 (SD=0,94). A amostra foi dividida em três grupos de religiosidade:
alta, média e baixa religiosidade. O grupo com alta religiosidade teve o maior indice
de comportamento sexual de risco (F=7,82; p<0,001). De seis indicadores de risco
sexual, somente a relação sexual foi associada ao nível de religiosidade (participantes
mais religiosos tenderam a atrasar a idade da primeira relação sexual). Dados
longitudinais revelaram que a experiência sexual tende a diminuir o nível de
religiosidade. Os resultados sugerem que, embora a religiosidade seja um fator de
proteção atrasando a primeira relação sexual, esta não se mantem como um fator de
proteção significativo após o debute sexual.
Palavras-Chave: Religiosidade; Comportamento Sexual de Risco; Juventude
Brasileira.
10
ABSTRACT
The aim of this research was to investigate the relationship between sexual risk
taking behavior and religiosity among poor youth in Brazil. The research was divided
into two studies: cross-sectional (in the cities of São Paulo, Porto Alegre, Recife and
Campo Grande) and longitudinal (in Porto Alegre). The research was conducted with
4078 young people, ages 14-24, 46.5 % males and 53.5% females, living in poor
social conditions. Data were collected using a confidential self-administered
questionnaire with 109 questions. Data collection was conducted in groups at schools
and non-governmental organizations (NGOs). Two scales were developed from the
data, the first measuring religiosity and the second measuring sexual risk taking
behavior (a composite of age of first sexual intercourse, condom use, contraception
method, sexual abuse and pregnancy). The mean age was 16.14 years old (SD 1.83)
and there is no age difference between males and females. Results indicate that
97.2% were heterosexual and 46,8% have had their first sexual intercourse. The
mean age for the sexual debut was 14.24 years old (SD 1.93). The mean score of
sexual risk taking behavior was 0.60 (SD 0.60) for the overall sample. A significant
difference was found between males and females (t=8.99; p<0,001), showing that the
girls have higher scores than the boys (0.68 and 0.51). Concerning religiosity, the
majority was catholic (40.8%), followed by people who do not have a religion
(24.5%) and protestants (20.5%). There was a significant gender difference for
religiosity (t=11.47; p<0.001), the mean for males was -0.21 (SD 1.03) and for
females was 0.19 (SD 0.94). The sample was divided into three groups of religiosity:
high, medium or low religiosity. The high religiosity group has the highest level of
sexual risk taking behavior (F=7.82; p<0.001). Of the six risk-taking indicators, only
sexual debut was associated with religiosity (respondents who were more religious
tended to delay sexual intercourse). Longitudinal data showed that experiencing
sexual intercourse decrease religiosity levels. The findings suggest that, although
religiosity plays a protective role delaying sexual debut, this is not a predictive
variable for sexual risk taking behavior among poor young people in Brazil, once
they are not abstinent.
Keywords: Religiosity; Sexual Risk taking Behaviour; Brazillian Youth.
11
CAPÍTULO I
Introdução
As investidas científicas do estudo das religiões apresentam um histórico de
tentativas de desvalorização desse campo, tentando afirmar que a crença religiosa ou
fé seriam patamares inferiores à ciência e revelariam um desconhecimento das causas
naturais dos fenômenos (Guerriero, 2005). Apenas recentemente houve um maior
interesse das ciências em investigar fenômenos religiosos/espirituais
1
como
manifestações de dinâmicas individuais e coletivas que influenciam diretamente nas
esferas subjetivas e sociais do ser humano.
Parte da literatura (Whitehead, Wilcox, & Rostosky, 2001), apoiada em
pressupostos atuais da psicologia positiva (Seligman & Csikszentmihalyi, 2001),
através de diversos enfoques teóricos, discute o papel positivo da
religiosidade/espiritualidade na vida das pessoas e na organização social. O
pressuposto básico é o de que colaboram no desenvolvimento de aspectos positivos,
ou seja, saudáveis, como a esperança, a fé, a auto-estima e o otimismo, entre outros.
A ligação entre o estudo das religiões e espiritualidade com a Psicologia tem
tido ênfase nas questões de saúde, especificamente na influência desta no processo de
cura e recuperação de doentes (Koenig, McCullough, & Larson, 2001). A
investigação desta temática com grupo jovens é ainda escassa. No entanto, dados
oriundos de levantamentos demográficos e de pesquisa em outras áreas do
conhecimento (como a Sociologia) vêm mostrando que os jovens estão intimamente
ligados ao fenômeno religioso, seja aderindo a este ou rechaçando-o. Recentemente
surgiu o interesse, mais especificamente para populações jovens, em cruzar as
variáveis religiosidade/espiritualidade com outros fatores da vida, como o uso de
drogas, agressividade e comportamentos sexuais, entre outros (Miller & Thoresen,
2003).
Os comportamentos sexuais, principalmente aqueles que expõem a população
de jovens ao risco de contrair doenças e engravidar precocemente, têm sido
especialmente relacionados à religiosidade em investigações nos últimos anos (Hardy
& Raffaelli, 2003; Whitehead, Wilcox, & Rostosky, 2001). Entre as principais
1
Uma definição e discussão sobre os conceitos de religiosidade e espiritualidade são expostas a
seguir.
12
hipóteses destes estudos está a idéia de que a religiosidade/espiritualidade tem sido
um fator protetivo para os comportamentos sexuais de risco. A religião aparece como
fator protetor, na medida em que adia o início da vida sexual e conduz a uma série de
comportamentos como a monogamia, que evitam doenças entre outros problemas
(Rostosky, Wilcox, Wright, & Randall, 2004). A religiosidade tem sido apontada
como responsável por comportamentos protetivos, como o uso de preservativo e
métodos contraceptivos entre os jovens (Whitehead, 2001)
O principal objetivo deste estudo é investigar comportamentos sexuais de
risco e religiosidade/espiritualidade de jovens de nível socioeconômico baixo, com
vistas a avaliar, também, fatores de proteção presentes neste contexto. Trata-se de um
estudo que visa a identificar aspectos relacionados à religiosidade/espiritualidade e
comportamentos sexuais de jovens brasileiros das cidades de Campo Grande, Porto
Alegre, Recife e São Paulo. Também, avaliar, longitudinalmente estes aspectos em
jovens da cidade de Porto Alegre, no intervalo de um ano. Considerando a
possibilidade de uma relação bidirecional entre religiosidade e sexualidade, também
será investigada a influência dos comportamentos sexuais para a adesão religiosa e
pressupostos espirituais dos jovens. Serão considerados como comportamentos
sexuais de risco todos aqueles sem uso de preservativo ou sem o poder de decisão
sobre o uso deste método. Assim será utlizado um indicador de comportamento
sexual de risco baseado na literatura (Raffaelli & Crockett, 2003; Rafaelli,
Zamboanga, & Carlo, 2005) e relatdo a seguir na seção de resultados. Tal indicador
considera o sexo sem uso de preservativo, início da vida sexual e episódios de
gravidez antes dos 13 anos de idade, assim como abuso sexual.
A base teórico metodológica deste estudo é a Abordagem Ecológica do
Desenvolvimento Humano, inicialmente proposta por Bronfenbrenner (1979/1996).
Atualmente, este é o referencial teórico-metodológico considerado por diversos
autores como o mais adequado para estudos com pessoas em desenvolvimento no seu
contexto natural. Segundo Bronfenbrenner (1979/1996, 1989, 1993, 1995), esta
abordagem privilegia uma visão saudável e contextualizada do desenvolvimento,
enfocando a pessoa e suas particularidades e o ambiente no qual está inserida. Tal
abordagem propõe a realização de estudos em ambientes naturais como forma de
obter dados mais próximos da realidade, porém, sem desprezar os outros ambientes
que também são relevantes no processo de desenvolvimento. Esta abordagem tem
13
sido amplamente utilizada em pesquisas com populações que vivenciam situações de
risco.
1 Religiosidade/Espiritualidade
Os construtos de religiosidade e espiritualidade, apesar de semelhantes em
alguns aspectos, não podem ser confundidos. Para Miller e Thoresen (2003), a
literatura científica ainda não é suficiente para propor uma definição operacional para
os termos religiosidade e espiritualidade. Segundo os autores, há problemas tanto em
considerar estes termos de forma agrupada como em separá-los por inteiro. Apesar
disso, a maioria dos estudos investiga a ambos de forma única, mesmo com a
ressalva de que a religiosidade está inserida numa esfera pública, enquanto a
espiritualidade refere-se à esfera privada do ser humano.
A religião faz parte, segundo Houtart (1994), das representações que os seres
humanos fazem do seu mundo e de si mesmos, sendo assim uma maneira de
construir a realidade, permeada por condições concretas e históricas dos atores
sociais. A definição do que é espiritualidade deve ser, portanto, considerada de forma
multidimensional. Por exemplo, o construto espiritualidade foi explicado por
Doswell, Kouyate e Taylor (2003) como uma tentativa de busca de sentido para a
vida, na qual, pensamentos, valores e ações são construídos. A espiritualidade
propicia uma visão de mundo que sentido aos acontecimentos do dia-a-dia e ao
modo de vida, e pode guiar uma rie de decisões sobre o que o ser humano pode
fazer ou não da sua vida. No entanto, assim como a Psicologia tem feito para outros
construtos imateriais como amor, paz e saúde, Miller e Thoresen (2003) defendem a
necessidade de operacionalização de espiritualidade. Por outro lado, religiosidade
parece ser mais fácil de definir, uma vez que a religião implica uma organização
social/institucional, em torno de crenças e práticas sobrenaturais. A religiosidade
pode ser vista fundamentalmente como um fenômeno social, enquanto a
espiritualidade como individual, mesmo levando em consideração o contexto. No
entanto, a religiosidade também pode ser explicada como um aspecto individual do
ser humano, uma vez que cada pessoa pode descrever a sua própria religiosidade.
Neste sentido, religiosidade e espiritualidade são considerados construtos que se
englobam e dividem algumas características (Doswell, Kouyate, & Taylor, 2003,
Miller & Thoresen, 2003).
14
Também é importante considerar que espiritualidade não é um atributo
dicotômico, que está presente ou ausente num indivíduo. Ela pode variar num
contínuo e ter alterações situacionais e contextuais. Fleck, Borges, Bolognesi e
Rocha (2003) salientam que este é um fenômeno muito amplo e difícil de avaliar, a
partir de critérios como a adesão institucional e a freqüência a cultos, como é
tradicionalmente feito em parte dos estudos. Tal fato implica uma dificuldade de
mensuração e uma necessidade de cuidado na elaboração de instrumentos que
investigam esta área.
A idéia de que a religião é uma forma de encarar o mundo e dar sentido à vida
vem sendo compartilhada por uma série de cientistas desde, ou antes mesmo de
Durkheim (Alves, 1997; Costa, 2001, entre outros). No entanto, cuidado especial
deve ser tomado ao investigar este campo no sentido de evitar julgamento de valores
e comparações entre o campo da ciência e religião. Como destacam Zamorra e
Kuenerz (2002), “a crença religiosa não se trata de um equívoco (...) mas trata-se de
uma forma de encarar o mundo, com seus critérios próprios de veracidade e
fidedignidade, pertinentes à fé” (p. 79). Não é possível, portanto, encarar tal leitura
do mundo como uma deficiência provocada por privação cultural ou
desconhecimento da ciência, uma vez que se trata de uma opção de fé profundamente
enraizada. Este ponto de vista é fundamental para que sejam evitados preconceitos,
uma vez que a população a qual se propõe investigar neste estudo encontra-se
sobremaneira privada de parte da produção científico-tecnológica dos meios
acadêmicos, tendo suas vidas baseadas em outros sistemas de crenças que devem ser
respeitados.
A religiosidade/espiritualidade pode ter uma influência importante nas
questões de saúde e comportamento humano (Koenig, McCullough, & Larson 2001).
Esta tem sido uma forma de coping que as pessoas acessam em momentos de
estresse e doença, conforme enfatizado por Miller e Thoresen (2003).
Em um estudo realizado no Brasil, Zamorra e Kuenerz (2002) analisaram as
bases de apoio formais e informais para moradores de favelas do Rio de Janeiro.
Destacaram a religião e a fé como bases de apoio para a manutenção das vidas das
famílias. A atuação das religiões nestas comunidades carentes aparece tanto formal
como informalmente. Do ponto de vista formal, a ação de instituições religiosas na
prestação de serviços básicos de atendimento à população foi destacada, como no
caso de escolas, postos de saúde, centros comunitários etc. Para as autoras, a base de
15
apoio informal se do ponto de vista da crença na religião, ou seja, nos aspectos
espirituais desenvolvidos na população. De fato, outros autores (Cerqueira-Santos,
Koller, & Pereira, 2004; Sadigursky & Oliveira, 1993, entre outros) apontam para o
aspecto positivo da religiosidade na vida das pessoas, a partir do desenvolvimento de
características como a esperança, o otimismo e outros aspectos ligados à Psicologia
Positiva.
Podem-se agrupar as formas de apoio recebidas através da religião em três
tipos: o apoio espiritual, que diz respeito aos aspectos teológicos propriamente ditos
(Alves, 1997); e dois tipos de apoio institucional: aquele no qual as igrejas oferecem
serviços à comunidade, como escolas, creches etc. (Cerqueira-Santos, 2001; Prandi
& Pierucci, 1996), e aquele que ocorre a partir da formação de um grupo de fiéis que
se configura como uma comunidade e forma uma rede de apoio social (Zamorra &
Kuenerz, 2002).
Nas comunidades carentes, por exemplo, as igrejas têm suprido lacunas em
ambos os campos de bases de apoio - formais e informais. Nos bairros pobres e
favelas existe uma notável carência de serviços básicos delegados ao poder oficial,
além de uma falta de espaços de sociabilidade para a formação de redes de apoio
sustentáveis. Whitehead (2001) destaca o papel institucional e social que a religião
pode adquirir em certas comunidades e a forma como esta atinge especialmente aos
jovens em áreas tipicamente consideradas como problemas que deveriam ser
encarados pelos governos.
2 Religião e Saúde
A inclusão da espiritualidade como fator de promoção para a saúde tem
ganhado destaque em estudos internacionais (Underwood & Teresi, 2002;
Whitehead, Wilcox, & Rostosky, 2001; entre outros). Portanto, a produção científica
na área abriu um vasto campo de investigações, que se estende desde a questão da
afiliação religiosa, como forma de inclusão numa rede de apoio social, até os estudos
sobre fé e cura (Doswell, Kouyate, & Taylor, 2003).
A relação entre saúde e religião foi, durante séculos, pouco debatida devido
ao simples pressuposto de que cada uma delas faz parte de esferas diferentes do
conhecimento (ciência e fé). No entanto, em outras épocas e em outras sociedades, a
saúde esteve muito ligada ao sagrado, como no caso do aparecimento de hospitais
como instituições de assistência ligados a ordens religiosas (Foucault, 1979), ou
16
através de rituais de cura em sociedades primitivas. Porém, a partir de mudanças
sócio-históricas, tais como a Revolução Industrial, estabeleceu-se um rompimento
destas áreas, pelo menos num aspecto conceitual.
Apesar da idéia de que a religiosidade tem influência na vida das pessoas,
para Miller e Thoresen (2003), a tradição positivista das ciências médicas não abria
espaço para o estudo científico desse fenômeno em relação à saúde. Havia a idéia de
que a religiosidade não poderia e não deveria ser estudada cientificamente. Tal tema
começou a fazer parte dos estudos científicos como uma variável, com foco em
outras questões, apenas como parte de levantamentos sociodemográficos. A partir da
década de 1990, houve aumento do interesse dos pesquisadores com conseqüente
repercussão na quantidade de publicações e na qualidade dos instrumentos de medida
para esta temática, sendo a maioria dos estudos oriundo dos Estados Unidos, e
analisando a questão com foco nas religiões ocidentais, principalmente as cristãs.
Os conflitos entre religiosidade e pensamento científico aparecem, como
explicam Sousa, Tillmann, Horta e Oliveira (2002), no “apego da cultura ocidental
por um pensamento linear (causalista e simplificador) e seu encantamento pelos
avanços tecnológicos e sua crença numa filosofia empirista. Em síntese, a adição
ocidental ao positivismo estrito. Esta relação configura um conjunto de condições
que, provavelmente, proporcionaram o isolamento e estimularam os conflitos entre
religiosidade e pensamento científico” (edição eletrônica). A Medicina e a
Psiquiatria, segundo Fleck, Borges, Bolognesi e Rocha (2003), têm tido,
essencialmente, duas posturas em relação ao tema da religiosidade: 1) negligência,
por considerar esses assuntos irrelevantes ou fora de sua área de interesse principal;
e, 2) oposição, ao caracterizar as experiências religiosas de seus pacientes como
evidências de psicopatologias diversas.
Praticamente imune ao descaso do campo científico, a relação entre religião e
saúde consolidou-se através de práticas curativas alternativas (medicinas paralelas;
Laplantine, 1991; Laplantine & Rabeyron, 1991). Como observa Cerqueira-Santos
(2001), o crescente número de práticas de saúde em rituais religiosos parece
caracterizar o campo da saúde pública de países como o Brasil, no qual a Medicina
oficial parece distante de atender às demandas da população.
Apesar de ainda manter o aparente afastamento, atualmente, são
desenvolvidas pesquisas que cruzam estas duas variáveis - religião e saúde - e tentam
debater as relações de influências, algumas vezes apontadas como mútuas, destas
17
duas áreas. Fleck, Borges, Bolognesi e Rocha (2003), a partir de uma revisão de
estudos empíricos, ressaltaram que uma associação positiva entre saúde e
religiosidade em 50% dos casos e negativa apenas em 25% deles. Alguns estudos
indicam a religiosidade como sendo um fator protetor para suicídio, abuso de drogas
e álcool, comportamento delinqüente, satisfação marital, sofrimento psicológico e
alguns diagnósticos de psicoses funcionais. Além disto, também foram encontradas
associações entre a religiosidade e menor tempo de internação, assim como aumento
de um sentimento de esperança para doentes crônicos, como portadores do HIV
(Bagley, 1997; Carvalho, 2005; Doswell, Kouyate, & Taylor, 2003; James, 2000;
entre outros).
Alguns estudos que correlacionam aspectos saudáveis do ser humano com a
religiosidade têm mostrado resultados ambíguos. Bagley e Mallick (1997) revisaram
estudos sobre auto-estima e religiosidade e não encontraram correlação positiva entre
estas variáveis. Em alguns casos, o sentimento despertado pela religiosidade de um
doente está relacionado a uma idéia de punição e desmerecimento diante do mundo
espiritual no qual ele crê. É perfeitamente possível pensar em efeitos negativos da
religiosidade para a saúde. No entanto, poucas bases empíricas para afirmações
precisas, e as anotações científicas sobre esta idéia vão pouco além da hipótese de
que a religiosidade pode estar associada a desordens como depressão, ansiedade,
dependência e intolerância (Miller & Thoresen, 2003).
Relacionando os possíveis efeitos negativos da intervenção religiosa na vida
sexual dos jovens, Whitehead (2001) relata que ao analisar um programa religioso
pró-abstinência, apesar de encontrar uma taxa maior de jovens abstinentes no grupo
religioso, também constatou que estes mesmos jovens usavam menos preservativos e
métodos contraceptivos na sua primeira relação sexual. Não ter premeditado ou
pensado na possibilidade de ter uma relação sexual pré-marital pode deixar o jovem
despreparado numa situação ocasional, fato que deve ocorrer com freqüência.
A religião, quando se trata de aspectos psicológicos, muitas vezes, pode
interferir negativamente na vida dos seres humanos, uma vez que envolve valores
morais que, se não respeitados na íntegra, colocam as pessoas numa posição de
desviante e/ou pecador. Portadores de HIV, por exemplo, como mostra o estudo de
Carvalho (2005), vivem na religião momentos de autopunição e culpabilidade
extremamente significativos, que podem abalar seu bem-estar psicológico.
18
A partir de concepções que atingem o campo da moral e ética, esboça-se
outra forma de influência religiosa na vida das pessoas, até mesmo nas suas práticas
de saúde. No campo da saúde sexual, estas relações são ainda mais complicadas, uma
vez que para pessoas religiosas os comportamentos sexuais são intimamente
monitorados e controlados por regras, como, por exemplo, a proibição do sexo antes
do casamento e do uso de métodos anticoncepcionais (inclusive camisinha). Por
exemplo, Rodrigues (2003) destaca que parece haver um hiato entre o
comportamento sexual de muitas mulheres católicas e as orientações doutrinárias
desta Igreja. No entanto, estas mulheres não se sentem insatisfeitas com a sua
religião e conseguem viver e superar uma aparente incongruência. Práticas sexuais
amplamente combatidas pela Igreja Católica, como o uso de métodos contraceptivos,
da camisinha e o sexo sem fins reprodutivos (apenas pelo prazer) fazem parte da vida
sexual de parte expressiva das mulheres sexualmente ativas no Brasil e no mundo. O
mesmo vale para os homens, que ainda contam com uma relativa “liberdade sexual”
alimentada pela cultura patriarcal, que admite a infidelidade e as aventuras sexuais
como forma de expressão da masculinidade.
Para alguns fiéis de algumas religiões, como os católicos, os comportamentos
institucionalmente normatizados parecem ser bem mais flexíveis. Nestas, a
flexibilidade acontece não pela aceitação “a vistas grossas” das ditas transgressões,
mas pela maior coerência com orientações para a vida moderna, tais como a
aceitação do uso de métodos contraceptivos (Rodrigues, 2003). No entanto, entre os
evangélicos a normatização de uma conduta, inclusive sexual, pode ser expressa de
forma bem mais rígida, uma vez que a conduta é extremamente valorizada para a
condição de fiel (Alves, 1997).
Na tradição religiosa reavaliada, conforme afirma Rodrigues (2003), a mulher
“assume valores do Catolicismo enquanto cristianismo, mas reinterpreta as questões
referentes à sexualidade, aproximando seus conceitos aos valores da modernidade”
(p. 36). Aparece aí uma espécie de jogo que mantém o bem-estar psicológico e
ameniza o sentimento de culpa relacionado à atividade sexual, que foi historicamente
inculcado pela teologia cristã. Na mesma linha, Mardones (1996) relaciona a postura
feminina neste campo com a modernização da sociedade e o acesso a novas
tecnologias (inclusive no campo da saúde sexual). As verdades absolutas pregadas
pela Igreja Católica podem agora ser questionadas e a sexualidade encarada como
desvinculada da reprodução. Além disso, Rodrigues (2003), retomando a questão,
19
insere o fato de que até mesmo a idéia de amor para as mulheres modernas é
incongruente com o que a Igreja Católica propõe, uma vez que a possibilidade de um
recasamento e de um novo amor após a falência de um relacionamento o parece
caber na idéia do “até que a morte os separe”.
De modo semelhante pode ser analisada a prática sexual antes do casamento,
que atinge, principalmente, a população jovem. Estudos sociodemográficos revelam
que tais práticas na adolescência m sido cada vez mais comuns. Há, ainda, uma
tendência de que os jovens de nível socioeconômico mais baixo iniciem a vida sexual
mais cedo (Ministério da Saúde, 2002; Taquette, Vilhena, & Paula, 2004; Waystaff,
Delameth, & Havens, 1999). Tais fatos contrariam as idéias religiosas dominantes no
Brasil sobre o assunto.
Há uma série de fatores que está acelerando o início da vida sexual dos jovens
em escala quase mundial, como apontam Doswell, Kouyate e Taylor (2003). Três
aspectos são destacados: 1) maior permissividade da sociedade contemporânea para
os comportamentos sexuais; 2) influência dos pares sexualmente ativos (pressão
do grupo); e, 3) foco da mídia no sexo cada vez mais precoce. A ineficácia de
projetos de intervenção a longo prazo também pode ser enfatizada, que estes
tendem a demonstrar resultados imediatos.
Dados da World Health Organization (WHO, 2005) destacam que os jovens
dos países em desenvolvimento, muitos deles com culturas fortemente influenciadas
por religiões, apresentam altas taxas de gravidez precoce e doenças sexualmente
transmissíveis. No Brasil, por exemplo, os comportamentos de risco sexual entre
jovens vêm sendo tratados como um problema urgente de saúde pública (Taquette,
Vilhena, & Paula, 2004). Dados epidemiológicos nacionais revelam um aumento
considerável da prevalência de DSTs entre adultos jovens, assim como da taxa de
fecundidade para esta faixa etária (Ministério da Saúde, 2002).
Segundo o Ministério da Saúde (2002), no Brasil, é difícil afirmar o número
de casos de DSTs entre jovens, uma vez que nem todas estas doenças são
obrigatoriamente notificadas e existem problemas na notificação de HIV (Dell’Aglio,
Cunningham, Koller, Cassepp-Borges, & Leon, 2007). No entanto, Taquette,
Vilhena, e Paula (2004) chamam a atenção para o grau de vulnerabilidade ao qual os
jovens estão expostos, uma vez que uma série de fatores biológicos e psíquicos
compõem um quadro de maior exposição a riscos.
20
Além da idade, estudos como o de Waystaff, Delameth e Havens (1999)
indicam o baixo nível socioeconômico e a baixa escolaridade como aspectos
diretamente ligados aos comportamentos de risco sexual. A idéia de pauperização
das DSTs tem sido sustentada embora haja crescente demanda de estudos e
intervenções específicas para esta população.
Apesar da literatura apontar a baixa idade do início da vida sexual e a
variabilidade de parceiros como tendo uma correlação positiva com a contaminação
por DSTs, o estudo de Taquette, Vilhena e Paula (2004), realizado no Brasil, não
encontrou tal correlação. O uso infreqüente de preservativo, a baixa escolaridade e o
uso de drogas lícitas e ilícitas foram as variáveis encontradas no estudo que
apresentaram correlação positiva com DSTs. Outro fator que deve ser considerado na
análise dos comportamentos sexuais são as questões de gênero. Antunes, Peres,
Paiva, Stall e Hearst (2002) defendem que algumas normas culturais nas quais são
educados(as) os meninos e meninas continuam pondo-os(as) em situações de
vulnerabilidade.
Resultados descritos por Toneli e Vavassori (2004), entre jovens estudantes
de escolas públicas e privadas no Sul do Brasil, mostram a manutenção de um padrão
duplo de comportamento sexual, no qual a iniciação precoce dos homens é
estimulada e a das mulheres é coibida. Na iniciação sexual para jovens de níveis
sociais mais baixos e mais altos tem havido a descrição freqüente sobre a utilização
de serviços de prostituição na primeira relação sexual (13,6% para jovens de escolas
particulares e 3,7% para aqueles de escolas públicas). Na rede pública, o número de
jovens que se inicia sexualmente com a própria namorada é consideravelmente maior
que o da rede privada (37% e 24,2% respectivamente). Um dado alarmante deste
estudo revela que 26,5% dos meninos de escolas públicas e 13,4% da escola
particular não usaram camisinha na sua última relação sexual.
Na população americana de afrodescendentes, os jovens apresentam maior
índice de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis (Doswell, Kouyate,
& Taylor, 2003). Tal fato é questionado, com base na hipótese de que os programas
de prevenção a comportamentos sexuais de risco não levam em conta algumas
questões culturais. Por isto, atingem de maneira mais fraca esta parcela da população.
Da mesma forma, podem existir grupos no Brasil com os quais isso também
acontece.
21
Em uma revisão de estudos americanos, Rostosky, Wilcox, Wright e Randall
(2004) encontraram um considerável declínio na freqüência a serviços religiosos
durante a adolescência, com destaque para os meninos e para os brancos. No entanto,
o mesmo estudo aponta que a importância que os adolescentes dão à religiosidade
permanece durante estes anos. A afiliação religiosa é expressa como um preditor do
comportamento sexual de risco, atrasando a primeira experiência sexual,
principalmente para os fiéis de religiões fundamentalistas. Além do mais, a
freqüência a atividades religiosas também se mostrou um preditor na mesma direção,
porém, somente em amostras femininas. Rostosky e colaboradores levantam a
hipótese de que pode o ser a freqüência a atividades religiosas em si que
provocaria um efeito na vida sexual dos jovens, mas o apoio social disponível
quando um jovem se engaja num grupo religioso.
Em iniciativas religiosas para a abstinência sexual uma limitação evidente.
A maioria dos estudos não deixa claro se a variável preponderante para a manutenção
da virgindade é a recomendação religiosa ou a influência grupal, pois os jovens
engajados nestas comunidades compartilham experiências com pares que comungam
de uma mesma ideologia.
Além do mais, a relação entre religiosidade e sexualidade deve ser pensada
como uma via de mão dupla (Hardy & Raffaelli, 2003). Nesta associação
bidirecional, a religião também funciona como uma força de controle social que
provê conseqüências negativas para os comportamentos sexuais, desde a punição
divina até a desaprovação do grupo imediato. Para que os indivíduos diminuam a
força da dissonância cognitiva, eles devem alterar os seus comportamentos ou seus
pensamentos que estão em oposição” (p. 732). Com esta afirmação, Hardy e Raffaelli
propõem também a possibilidade de o jovem manter o seu comportamento sexual em
detrimento dos ideais religiosos. Esta situação vem sendo revelada em alguns estudos
americanos (Wilcox, Rostosky, Randal, & Wright, 2001) e têm sido pouco
investigada no Brasil. Há controvérsias se a religiosidade prediz significativamente a
freqüência de relações sexuais no último ano. Para Benda e Corwyn (1997, citados
por Hardy & Raffaelli, 2003) o efeito é negativo, embora para Hardy e Raffaelli
(2003) este resultado não seja corroborado.
A espiritualidade pode ser uma importante variável para a promoção da saúde
e a prevenção do comportamento sexual precoce (Doswell, Kouyate, & Taylor,
2003). Jovens podem desenvolver mecanismos de auto-regulação para a promoção
22
de comportamentos positivos, por exemplo, evitando comportamentos sexuais de
risco em situação de tentação ou pressão do grupo. Algumas ações que visam à
proteção de jovens diante de comportamentos de risco sexual podem partir tanto do
nível comunitário quanto individual. A religião pode assim atuar em ambos, uma vez
que proporciona a formação de um grupo no qual o jovem é inserido e no qual
vivencia aspectos positivos e, por outro lado, apoio para o desenvolvimento do
senso de auto-regulação.
James (2002) propõe a relação entre religiosidade e auto-estima. Apesar das
hipóteses teóricas e revisão de outros estudos, o autor não encontrou correlações em
seus dados com jovens americanos de 14 a 18 anos. O mesmo estudo encontrou
correlação positiva entre auto-estima e apoio familiar, assim como religiosidade e
apoio familiar, indicando que jovens mais religiosos percebem mais positivamente o
apoio que recebem da sua família. No entanto, tal estudo apresenta limitações uma
vez que investigou estes aspectos em uma amostra muito pequena (menos de cem
estudantes). Porém, Murk (1995) destaca que relação evidente entre baixa auto-
estima e comportamentos sexuais de risco. O contexto social colabora
significativamente para a formação da auto-estima, sendo que a religião seria um dos
componentes correlacionados positivamente com a auto-estima.
A religiosidade foi apontada como um aspecto que atua indiretamente na vida
dos jovens através dos seus pais. Smith (2003), apoiado por uma revisão de estudos,
defende a hipótese de que a adesão religiosa dos pais aumenta a expectativa moral e
a supervisão sobre os comportamentos dos filhos, resultando numa redução de
exposição a riscos. A religião pode, então, influenciar a vida das pessoas de forma
multifatorial, sendo que a formação de uma rede social e a consolidação de normas
morais devem estar presentes. Tais normas desenvolvem-se no sentido de ditar
valores sobre o que é certo ou errado, bom ou ruim, bem ou mal, digno ou indigno
etc., que orientam e motivam as ações humanas. Tais valores, portanto, direcionam a
maneira como os desejos humanos podem ser julgados e guiados para caminhos tidos
como positivos. Smith enfatiza que quanto mais jovem for o adolescente, maior o
controle exercido pelos pais.
Em estudo empírico, Tonelli e Vavassori (2004) notaram que construtos
como fidelidade e virgindade até o casamento são amparados por noções morais e
familiares, principalmente para os jovens de religiões pentecostais. Foi possível
23
identificar no discurso dos jovens, alguns valores morais que apóiam
comportamentos preventivos.
Nos Estados Unidos, a maioria dos adolescentes declara-se religiosa e
considera que os ensinamentos e tradições religiosas influenciam na sua tomada de
decisão sobre comportamentos sexuais (Whitehead, 2001). De uma maneira geral, as
comunidades religiosas guiam e protegem jovens durante o momento de passagem
pela adolescência, promovendo programas da saúde para o adolescente e reduzindo a
exposição a riscos, inclusive atividade sexual precoce. No entanto, uma aparente
divisão entre as iniciativas religiosas e dos órgãos da saúde sobre a forma como
trabalham, para a questão da sexualidade adolescente. De forma mais marcante,
enquanto as instituições religiosas pregam a abstinência e baseiam-se em preceitos
morais e regras de conduta impostas por leis espirituais, os programas de saúde
preocupam-se com a noção de redução de danos, considerando as mudanças atuais
nas condutas sexuais dos jovens. No entanto, as duas iniciativas não deixam de ser
complementares e deve ser reconhecido o sucesso de algumas iniciativas religiosas,
inclusive com evidências empíricas sobre a redução da taxa de natalidade entre
adolescentes participantes de alguns programas. Portanto, programas de saúde devem
considerar as iniciativas religiosas e estar ciente de que os jovens não fazem uma
distinção clara entre saúde e religião.
A questão da religião pública e privada também deve ser levada em conta,
como garantem Rostosky, Wilcox, Wright e Randall (2004). Algumas pesquisas têm
o dado sobre o que o jovem faz do ponto de vista religioso, porém, não como
afirmar que a freqüência a cultos e a afiliação não passam de uma obrigação imposta
pelos pais. Novos estudos devem ter outros tipos de medidas que testem esta hipótese
com mais rigor.
3 Comportamento de Risco Sexual
A definição dos comportamentos de risco sexual tem sido polêmica na
literatura científica, pondo em discussão variáveis como idade, número de parceiros e
métodos de proteção (seja para gravidez ou DST’s). Segundi Li e colaboradores
(2000) o comportamento sexual de risco compreende o sexo desprotegido (ato de
manter relações sexuais sem o uso de preservativo) e o fato de ter múltiplos parceiros
sexuais. Xavier (2005) destaca a discussão desta definição e aponta estudos
defendendo apenas o não uso de preservativo como um comportamento de risco.
24
3.1 Sexo Desprotegido
Apesar da indefinição sobre os comportamentos sexuais de risco,há
concordância de que o sexo desprotegido é a variável presente em todas as
definições
2
. No entanto, os dados têm mostrado que dois terços da população
mundial não se protege durante o ato sexual. O estudo de Xavier (2005) destaca que
parte expressiva desta população é formada por adolescentes,que tem apresentado
início da vida sexual cada vez mais cedo.
Os dados sobre HIV/AIDS no Brasil, por exemplo, revelam que vem
acontecendo uma tendência de feminilização, juvenilização, pauperização e
interiorização da epidemia (Ministério da Saúde, 2003). Ou seja, jovens
heterossexuais e pobres, principalmente do sexo feminino, vêm apresentando
maiores índices de prevalência para a contaminação pelo HIV e manifestação da
AIDS.
Entre as mulheres HIV positivas, por exemplo, a principal forma de infecção
é através de relações estáveis, com parceiros fixos (Paiva et al., 2003). Os autores
constataram em pesquisa nacional que, entre os brasileiros sexualmente ativos a
partir de 14 anos, apenas 14,5% fazia uso consistente de preservativo, sendo maior
esta porcentagem entre jovens de 14 a 25 anos (28,3%).
3.2 Gravidez
Além das DST’s, a gravidez também pode ser considerada como uma
conseqüência inesperada do sexo sem proteção. Segundo o Anuário Estatístico de
Saúde no Brasil (2001), cerca de 23% dos nascimentos registrados no pais foram de
mães entre 15 e 19 anos, havendo diferenças regionais para esta taxa. No entanto, as
discussões encontradas na literatura são cautelosas ao considerar este episódio como
um comportamento de risco para a vida dos adolescentes (Heilborn et al., 2002,
2003).
Como afirmam Dias e Gomes (1999), a gravidez pode gerar um momento de
crise no ciclo de vida familiar, tanto por suscitar questionamentos sobre a educação
dos filhos por parte dos pais, quanto por denunciar a vivência da sexualidade
adolescente. Além do mais, as conseqüências a partir de um episódio de gravidez na
2
Para discussão sobre esta classificação ver Xavier (2005).
25
adolescência podem provocar uma reorganização do projeto de vida dos jovens
envolvidos neste episódio e nas suas famílias. A discussão sobre a prevalência de
episódios negativos ou positivos após a gravidez tem se tornado polêmica, com
argumentos que chegam a considerar este episódio como um gerador de situação
protetiva para certas jovens (Heilborn et al., 2003). Questões controversas têm sido
discutidas neste sentido, analisando-se a relação dos adolescentes-pais com suas
famílias, escola, trabalho e outras dimensões da vida.
De maneira mais consistente, um indicador negativo relacionado à gravidez
na adolescência é a maior chance episódios de aborto provocado (Pereira et al.,
2000). Havendo uma relação direta entre a idade da primeira gravidez e a
probabilidade de experimentar um aborto. Além do mais, deve-se considerar que
para a população empobrecida o acesso ao posto de saúde é restrito, o que pode
expor a adolescente a uma gestação mal acompanhada e ao aborto espontâneo.
Antes mesmo de considerar as conseqüências do nascimento de uma criança
para uma mãe ou pai adolescente, neste estudo, o foco é dado à situação de risco
colocada a partir da relação sexual sem preservativo. Dessa forma, os episódios de
gravidez também são considerados como um indicador de comportamento de risco
sexual, por indicar um episódio de sexo sem proteção.
Neste estudo, investiga-se a relação entre o comportamento sexual e uma
variável que vem se tornando polêmica, ora tratada como geradora de situações de
risco, ora como influência de proteção, a religiosidade/espiritualidade (apontado
anteriormente). Neste sentido, é fudamental ententer o quadro religioso brasileiro, no
qual os jovens deste estudo estão inseridos.
4 Religião no Brasil
O Brasil, desde sua colonização, foi conhecido e identificado como um “país
católico”. Tal atribuição foi amplamente divulgada antes mesmo da realização de
contagens rigorosas para determinação de estatísticas. De fato, como o passar dos
anos, não parecia haver dúvidas de que o número de católicos no Brasil representava
a maioria da população. No entanto, mesmo após a oficialização de um regime de
governo laico, o título de país católico perdura apoiado em levantamentos
estatísticos.
26
O surgimento de novas religiões no Brasil não começou de uma hora para
outra. Segundo Carvalho (1994), a variedade de formas que a religião passou a
assumir surgiu de uma pluralidade cultural geradora de diferenças. O Brasil passou
por três momentos de mudanças religiosas. O primeiro momento foi o da Colônia,
quando os portugueses introduziram o catolicismo entre os índios (que possuíam
suas religiões). No segundo momento, houve a entrada do espiritismo com a doutrina
Kardecista e, no terceiro momento, foi introduzida a corrente esotérica.
A divisão nestes três momentos compreende espaços temporais extensos da
história da religião no Brasil. No período colonial, a Igreja Católica era a religião
oficial do Estado brasileiro, deixando de ter este status no final do século XIX.
Porém, no início do século XIX, com a chegada dos imigrantes estrangeiros, o
protestantismo apontou no Brasil. As religiões afro-brasileiras apresentaram um
desenvolvimento paralelo, que teve seu auge no fim do século XIX, com o final da
escravidão, quando os escravos fixados nas cidades começaram a ter suas
manifestações mais difundidas. Gaarder (2000) marca o surgimento da Umbanda na
década de 1920 no Rio de Janeiro, trazendo uma idéia de “sincretismo” que concorda
com as idéias de Carvalho (1994) que ressalta ser esta uma forma de incorporação de
valores das religiões presentes, ou seja, uma espécie de novidade mas com a
permanência das tradições. O Kardecismo foi introduzido no Brasil durante a
segunda metade do século XIX, mais ou menos na mesma época em que os cultos
africanos se popularizaram.
Para Carvalho (1994) a terceira corrente - a esotérica, pode estar sendo vivida
agora, como um fenômeno da modernidade. Nobre (1997) concorda com Carvalho e
salineta que estas práticas pretendem oferecer a possibilidade da felicidade, da
saúde e da paz, numa época marcada por profundas contradições” (p. 25). Ou seja,
elas se mostram como uma possibilidade de responder aos problemas do ser humano
de hoje.
Segundo algumas idéias atuais, a sociedade brasileira está movendo-se para
um quarto momento - o da privatização da fé”, com a religião pagã. Boff e Betto
(1994) afirmam que este momento é uma consolidação de uma prática comum à
história das religiões, tendo em vista que a religião sempre foi paga. A própria igreja
católica, principalmente no período colonial brasileiro, quando esta se constitui como
um forte aparelho hegemônico, propiciador da instalação do capitalismo agrário na
Brasil, colocou-se a serviço dos grandes latifundiários, expulsando posseiros e índios
27
de suas terras e proletarizando pequenos proprietários. Hoje, a Igreja Católica busca
um movimento oposto ao apresentado, principalmente com a criação das pastorais e
com as mudanças internas na política social. Trata-se exatamente da tal
“privatização” apontada por Frei Beto, em que ser fiel de uma igreja pressupõe uma
relação de troca com benefícios e sacrifícios materiais.
Os reflexos da revolução tecnológica, com seus paradoxos e dilemas, também
penetram no campo das religiões (Queiroz, 1996). Duas correntes de pensamento
discutem a fé e as práticas religiosas. Uma delas defende o afastamento de Deus e de
outros valores como pátria, família etc., por parte dos seres humanos, assim como a
preocupação com outros temas como a sexualidade, a loucura etc. Para a outra
corrente, a em Deus torna-se uma busca psicológica que “não desemboca em
nenhum ser transcendente” (p.98). A salvação estaria na mente do ser humano e nele
mesmo. Assim com esta busca, a religião passa a ser consumida no cinema, na
literatura, em feiras místicas, tornando o mundo cada vez mais encantado.
Todos estes fatores contribuíram para um fenômeno migratório religioso, em
que cultos tradicionais, como o catolicismo, são abandonados em busca de novos
credos e novas formas de expressar o sagrado. Este é o caso das religiões
neopentecostais e do movimento carismático da Igreja Católica, que se reestruturou
para “manter o rebanho” .
Os últimos censos do IBGE (2000, 1991) vêm mostrando uma mudança no
campo religioso brasileiro (Figura 1 e Figura 2). Antoniazzi (2003) destaca três
pontos do Censo 2000 que marcam essas mudanças no país: 1) diminuição da
porcentagem de católicos, de 83,8% (1991) para 73,8% (2000); embora em números
absolutos, os católicos tenham aumentado de 121,8 milhões (1991) para 125 milhões
(2000); 2) aumento da porcentagem de evangélicos, de 9,05% (1991) para 15,45%
(2000), em números absolutos, de cerca de 13 milhões para 26 milhões; e, 3)
aumento dos que se declaram "sem religião", que passam de 4,8% da população
(1991) para 7,3% (2000), ou de 7 milhões para 12,3 milhões.
28
74%
15%
7%
1,30%
0,30%
0,90%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Católicos
Protestantes
Sem Religião
Espiritas
Afro-Brasileiros
Outras
Figura 1. Distribuição de fiéis por religião no Brasil (Fonte: IBGE, 2000)
94% 3%
83% 8%
74% 15%
0% 20% 40% 60% 80% 100%
1950
1991
2000
Católicos Protestantes
Figura 2. Trânsito religioso brasileiro entre católicos e protestantes de 1950 a 2000
(Fonte: IBGE, 2000)
Como expresso na Figura 2, os católicos foram os que mais perdem fiéis em
números absolutos no quadro do trânsito religioso brasileiro (Almeida & Montero,
2001), apesar de se manterem como o maior grupo religioso do país. Das mudanças
esboçadas e observadas nos últimos anos, destaca-se a expansão das igrejas
evangélicas no cenário nacional. Um dado mais específico revela que este avanço
29
ocorreu mais expressivamente nas classes mais populares, principalmente pelo
crescimento dos evangélicos pentecostais e neopentecostais nas periferias dos centros
urbanos (Almeida & Montero, 2001; Cerqueira-Santos, Koller, & Pereira, 2004).
Com relação à faixa etária, os mais jovens e os mais velhos são os que mais
se mantêm na mesma religião. Entre 25 e 41 anos, o trânsito é maior entre religiões
(Almeida & Montero, 2001). Jovens com idade inferior a 25 anos tendem a manter a
religião herdada dos pais. Segundo dados do Ministério da Saúde (1998), os jovens
brasileiros entre 16 e 25 anos apresentam os seguintes percentuais para afiliação
religiosa: 68,3% católicos, 12,0% pentecostais, 4,7% protestantes históricos, 1,2%
Kardecistas, 0,4% afro-brasileiras, 1,6% outras e 11,4% sem religião.
Em um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde (1998), as relações
entre religião, nível socioeconômico e escolaridade (ver Tabelas 1 e 2) revelam que a
maioria dos pentecostais é formada por pessoas com nível fundamental incompleto e
de renda baixa e salientam, ainda, que as pessoas sem religião apresentam maior
nível de escolaridade e concentram-se nas classes A e C. Entre aqueles que declaram
uma religião, os Kardecistas são os de maior escolaridade e renda.
Tabela 1
Distribuição dos Indivíduos Brasileiros por Grau de Instrução, segundo Religião
Atual em 1998
Grau de Instrução
Religião Atual
Analfabeto
Fundamental
Incompleto
Fundamental
Completo
Médio
Completo
Superior
Católica 6,9 44,4 21,7 17,0 10,0
Protestantismo
Histórico
9,1 41,8 24,1 20,8 4,2
Pentecostal 5,0 65,2 18,0 9,1 2,8
Espírita
Kardecista
12,9 25,4 42,7 18,9
Afro-Brasileira 41,6 21,1 4,3 33,0
S/ Religião 4,5 46,6 21,4 14,3 13,1
Outra 4,2 44,4 30,8 16,3 4,3
Total 6,3 46,0 21,7 16,7 9,4
Fonte: Ministério da Saúde (1998)
30
Tabela 2
Distribuição dos Indivíduos Brasileiros por Nível Socioeconômico, segundo Religião
Atual em 1998
Estrato Socioeconômico
Religião Atual
A B C D E
Católica 4,6
22,3
33,0
29,9
10,3
Protestantismo Histórico
3,0
17,9
36,3
39,1
3,7
Pentecostal 1,5
8,9 47,3
38,5
3,8
Espírita Kardecista 3,6
58,4
29,9
7,0 1,1
Afro-Brasileira 36,9
22,2
40,9
S/ Religião 7,1
17,0
44,4
25,7
5,7
Outra 1,1
31,4
35,6
27,7
4,2
Total 4,2
21,3
35,9
30,3
8,3
Fonte: Ministério da Saúde (1998)
Apesar da importância dos dados estatísticos para a compreensão do campo
religioso brasileiro, tal fenômeno revela aspectos complexos que põem em questão
alguns dados que podem ser analisados somente quantitativamente. Além de ser
conhecido como um país católico, o Brasil também é conhecido por sua
multiplicidade cultural, o que também exerce seus reflexos no sistema de crenças da
população. Isto significa que uma mesma pessoa pode sentir-se pertencente a mais de
uma religião, fato que não é levado em consideração em dados do IBGE (2000),
como aponta Antoniazzi (2003). Segundo estudo do CERIS (2002), 25% das pessoas
numa amostra representativa das regiões metropolitanas brasileiras revelam que
freqüentam mais de uma religião e acreditam em pressupostos teológicos de ambas.
A desinstitucionalização da religião, como é apontada pelo IBGE (2000), pode ser
um reflexo desse fenômeno, pois revela aumento do número de pessoas que
acreditam em Deus à sua moda”, sem adesão fixa a um único modelo filosófico-
religioso. A composição de uma prática religiosa com base em referências variadas
tem sido amplamente investigada pelas Ciências Sociais. Este fenômeno está longe
de apontar para um crescimento do ateísmo, mas atesta a composição de um
repertório simbólico particular que dispensa a afiliação religiosa (Almeida &
Montero, 2001).
A devoção, dentro da religiosidade brasileira, é um pico exemplo de
manifestação religiosa que pode ocorrer de forma desinstitucionalizada (Pereira,
2003). Por exemplo, um devoto pode ter crenças que o correspondem
necessariamente aos ensinamentos da sua igreja. Tais crenças, que se mantêm
31
marginais à instituição religiosa, geram um leque de comportamentos por parte do
crente, que julga ser merecedor ou não de uma bênção. Dessa forma, o crente pode
criar o seu próprio sistema de valores, para o qual o seu comportamento poderá ser
julgado como certo ou errado. A igreja católica brasileira tolera de maneira informal
a devoção popular, assim como tolera comportamentos teoricamente reprováveis e,
assim, estabelece uma relação de faz-de-conta com os seus fiéis, sustentando um
pacto amigável, como no caso do uso de preservativos, dos recasamentos, do
controle da natalidade e outros comportamentos sexuais. Tal “clima” torna possível
ao fiel auto-intitular-se católico. Além disso, os ritos religiosos são marcos de
história na vida pessoal e social dos fiéis, como o matrimônio, o batizado etc., que
são intimamente ligados à igreja católica. Segundo Almeida e Montero (2001), não
por acaso, mesmo aqueles que se encontram na categoria sem-religião freqüentam
algum serviço religioso, mesmo que seja uma vez ao ano ou até ao mês.
Do ponto de vista sociológico (Benedetti, 1994; Prandi & Pierucci, 1996;
Rolim, 1994) não é possível afirmar um enfraquecimento da religião na vida social.
Não dúvidas de que a urbanização e o crescimento das cidades têm seu papel na
remodelação das relações sociedade-religião, mas, como parte desse fenômeno, são
encontrados exemplos pontuais (em classes sociais distintas) de reavivamento
religioso, como o fenômeno esotérico na classe média escolarizada e o avanço das
igrejas neopentecostais nas periferias pobres. Estas últimas tornaram-se símbolos da
periferia contemporânea, pois dificilmente encontra-se um bairro pobre no Brasil
sem uma igreja neopentecostal, uma academia de ginástica e uma locadora de
videogames, ícones da cultura periférica a partir dos anos 90.
Diante do quadro religioso brasileiro e considerando os dados sobre a
sexualidade dos jovens em situação de risco social no país (DSTs, gravidez precoce
etc.), este estudo se propõe a investigar a relação entre sexualidade e religiosidade
para jovens entre 14 e 24 anos. Os jovens participantes eram moradores de
comunidades de nível sócio-econômico baixo de quatro capitais brasileiras.
32
Capítulo II
MÉTODO
1 Delineamento
Esta tese está composta por dois estudos.
O Estudo I consistiu em uma pesquisa de caráter exploratório descritivo que
teve como objetivo investigar a relação entre religiosidade e comportamento sexual
de jovens de nível socioeconômico baixo de quatro capitais brasileiras: Porto Alegre,
Recife, São Paulo e Campo Grande
3
. O Estudo II teve caráter longitudinal e avaliou
as mesmas variáveis no tempo 1 (T1) e no tempo 2 (T2) entre jovens de Porto
Alegre, com o objetivo de testar a hipótese de uma relação bi-direcional entre
sexualidade e religiosidade.
2 Participantes
Participaram do Estudo I 4078 jovens de ambos os sexos em situação de risco
social de quatro capitais brasileiras: Porto Alegre, Recife, São Paulo e Campo
Grande. No Estudo II, participaram 223 jovens de Porto Alegre que participaram do
Estudo I e foram acessados um ano após a primeira coleta de dados. Os jovens
tinham idades entre 14 e 24 anos, moradores de comunidades de nível sócio-
econômico baixo, e freqüentavam escolas públicas. Também participaram do estudo
jovens que não estavam na escola, mas que freqüentavam instituições de
atendimento (ONGs, centros comunitários, etc.). Comunidade de nível sócio-
econômico baixo foi definida a partir de indicadores do IBGE descritos no
procedimento de amostragem para a seleção do local de moradia. Dados
biosociodemográficos dos participantes o apresentados na seção de Resultados
desta tese.
3 Instrumentos
Foi utilizado um questionário para levantamento de fatores de risco e
proteção, produzido para o estudo “Juventude Brasileira” (Koller, Cerqueira-Santos,
3
Para a realização da coleta de dados, contou-se com a parceria dos professores J’aims Ribeiro
(UFPE) para coleta em Recife e São Paulo e Ângela Coelho (UCDB) para coleta em Campo Grande,
que fazem parte do projeto “Juventude Brasileira”.
33
Morais, & Ribeiro, 2004). O instrumento consiste em 109 questões de múltipla
escolha (ver Anexo A), que investiga aspectos sobre a caracterização bio-sócio-
demográfica dos participantes, assim como sobre as temáticas de educação, saúde
(incluindo drogas e sexualidade), trabalho, violência, lazer, religiosidade, rede de
apoio social, humor, auto-estima, e auto-eficácia. O instrumento foi aplicado na
íntegra, porém, para esta tese, foram utilizados apenas dos dados referentes às
seguintes categorias: dados bio-sócio-demográficos, saúde, sexualidade e
espiritualidade (ver Tabela 3). O instrumento foi respondido individualmente e o
tempo de preenchimento foi, em média, de uma hora e meia. Os itens do questionário
foram categorizados por aspectos biosociodemográficos e teóricos que embasam o
estudo, de acordo com as bases teóricas da Psicologia Positiva (Seligman &
Csikszentmihalyi, 2001) e Abordagem Ecológica do Desenvolvimento Humano
(Bronfenbrenner, 1979/1996, 1989, 1993, 1995), conforme apresentado na Tabela 3.
34
Tabela 3
Categorização dos Itens do Questionário com Jovens Brasileiros das Capitais:
Campo Grande, Porto Alegre, Recife e São Paulo
Categoria Aspectos investigados Número dos itens
Identificação pessoal 1, 2, 3, 4, 5
Fatores econômicos
6, 10, 15, 16, 17,
18, 19, 53e, 53g,
61, 62, 81g
Dados
Biosociodemográficos
Habitação
11, 12, 15, 16,17,
18, 44e, 53c
Auto-avaliação 23, 44
Episódios de doença 24, 25, 26
Saúde/Qualidade de
Vida
Avaliação do serviço 27, 28
Orientação sexual 29, 66u, 66v, 88c
Experiências 30, 31, 44c
Prevenção contracepção/Aids 32, 33, 43
Sexualidade
Gravidez
34, 35, 36, 37, 38,
41, 66aa
Educação Vida escolar
45, 46, 47, 48, 50,
51, 53, 54
Comportamentos de
Risco
Sexualidade
Prevenção
contracepção/Aids
32, 33, 43
Emocional
80a, 80b, 80d, 80f,
80k, 80l, 82, 89b
Física
80c, 80e, 80g, 82,
89b
Violência
intrafamiliar
Sexual 80h, 80i, 80j, 82
Emocional
81 a, 81b, 81d,
81f, 81k, 81l, 89q
Física
81c, 81e, 81g, 89q
Violência
comunidade
Sexual 81h, 81i, 81j
Exposição a risco
Sexualidade
Prevenção
contracepção/Aids
32, 33, 43
Fatores de Proteção Espiritualidade
90, 91, 92, 93,
103k, 105n
35
4 Procedimentos
4.1 Capacitação das equipes
As equipes de pesquisa foram compostas por cerca de oito a doze
colaboradores, profissionais graduados da Psicologia ou estudantes da Graduação de
cada cidade. Todos os integrantes das equipes receberam treinamento teórico,
metodológico e ético prévio à coleta de dados. Durante a execução da pesquisa, as
equipes foram permanentemente monitoradas e orientadas pela coordenação local.
Os co-coordenadores locais acompanharam toda a coleta e mantiveram reuniões
sistemáticas com a equipe para resolução de questões e encaminhamentos
necessários. A co-coordenação de cada capital teve, também, um permanente contato
com a coordenação geral e as demais capitais, durante a realização da coleta.
4.2 Procedimento de Amostragem
4.2.1 Estudo I
Para abordar jovens em nível socioeconômico baixo foram verificados os
indicadores das condições sócio-demográficas de cada uma das quatro capitais. Para
Porto Alegre e Recife foram utilizados os indicadores: rendimento do chefe da
família, características educacionais da população residente (grau de instrução do
chefe de domicílio, grau de instrução por faixa etária, nível de acessibilidade a
equipamentos educacionais públicos – escolas e creches), situação do domicílio (tipo
de construção), existência de água encanada e rede de esgoto, com base nos dados do
IBGE (IBGE, 2000). Para São Paulo foi utilizado, além destes indicadores o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH), uma vez que a Prefeitura Municipal
disponibiliza estes índices por bairro. As Prefeituras Municipais de Porto Alegre e
Recife fornecem Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) apenas para a cidade
como um todo e não por bairros (Porto Alegre = 0,865; Recife = 0,797). Os jovens
de Campo Grande estavam vinculados a um projeto social governamental da
Prefeitura Municipal da Cidade, que capacita para o trabalho apenas aqueles que
comprovam renda familiar compatível com o nível socioeconômico baixo.
Para composição da amostra e definição dos bairros e distritos em Porto
Alegre e em Recife foram utilizados os seguintes critérios para determinar nível
socioeconômico baixo: 1) rendimento médio dos chefes de domicílio (zero a dois
36
salários mínimos); 2) características educacionais da população residente (grau de
instrução do chefe de domicílio, grau de instrução por faixa etária, nível de
acessibilidade a equipamentos educacionais públicos – escolas e creches); 3) situação
do domicílio (tipo de construção), existência de água encanada e rede de esgoto; 4)
condições de saúde da população local (susceptibilidade a doenças de veiculação
hídrica, índice de contaminação por zoonoses). Bairros que apresentaram índices
abaixo dos dez por cento do valor total da cidade foram escolhidos a princípio. No
Recife compuseram a amostra apenas bairros localizados nos dois mais baixos decis
do conjunto de critérios assinalados anteriormente.
Em Porto Alegre, foram listados 27 bairros, de todas as regiões da cidade, que
se enquadraram nos critérios de corte descritos. A partir deste número foi feito um
cálculo para obter a proporção de bairros por regiões geográficas da cidade (centro,
norte, sul e leste)
4
. Assim, 47% dos bairros localizaram-se na zona sul, 31% na zona
norte e 22% na zona leste. A partir deste número, foi feito um sorteio de dez bairros
segundo a proporção para cada zona da cidade.
Em São Paulo, para composição da amostra, foi utilizado como critério o
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH - Municipal) da cidade de São
Paulo/SP, como via de identificação de bairros e distritos com baixo nível de
desenvolvimento humano e social (IDH < .50), além dos indicadores utilizados nas
outras duas capitais com relação às condições sócio-demográficas: rendimento do
chefe da família, características educacionais da população residente (grau de
instrução do chefe de domicílio, grau de instrução por faixa etária, nível de
acessibilidade a equipamentos educacionais públicos escolas e creches), situação
do domicílio (tipo de construção), existência de água encanada e rede de esgoto, com
base nos dados do IBGE (IBGE, 2000). Para cada bairro foi comparado o IDH aos
indicadores socioeconômicos utilizados em Porto Alegre e Recife.
A partir de duas listas de escolas (Municipais e Estaduais), encontradas nos
sities das respectivas Secretarias de Educação, foram relacionadas as escolas que
atendem a cada bairro sorteado. Foi, então, realizado um novo sorteio para selecionar
uma escola para cada bairro. Dessa forma, foram listadas dez escolas. Em média, em
cada escola cerca de 100 jovens participaram. No entanto, esse número sofreu
4
A região oeste de Porto Alegre é ocupada pelo Rio Guaíba, uma vez que esta divisão é feita tendo o
centro comercial da cidade como referência.
37
variações uma vez que algumas escolas possuíam apenas o ensino fundamental (5
ª
a
8
ª
rie), enquanto que outras possuíam até o Ensino Médio.
Em cada escola e instituição participantes do estudo foi feita uma visita
prévia a fim de explicar o objetivo da pesquisa, assim como para agendar o dia e as
turmas mais adequadas para a aplicação do instrumento. Procurou-se contemplar
turmas dos três turnos (manhã, tarde e noite), por se tratarem, possivelmente, de
perfis diferenciados. Evitou-se selecionar turmas com características extremas, como
a "melhor" ou "pior" da escola. Em algumas escolas, mais de uma turma foi agrupada
numa sala para a aplicação do questionário, uma vez que participantes na faixa etária
desejada encontravam-se distribuídos por várias séries da escola. Tanto nas escolas
como nas instituições, foi utilizado um termo de ciência no qual a direção deu
autorização para a realização da pesquisa (ver Anexo B).
4.2.2 Estudo II
Foram listados os nomes de todos os alunos que participaram do Estudo I em
Porto Alegre e, a partir desta lista, cada escola foi visitada para a localização dos
participantes (turma na qual se encontrava, situação da matrícula etc.). Todos aqueles
que foram localizados nas dez escolas de Porto Alegre foram convidados a participar
da segunda etapa do estudo. Foram realizadas visitas em cada escola durante um
período de duas semanas a fim de aumentar a probabilidade de encontrar os alunos
infreqüentes.
4.3 Procedimentos de Coleta de Dados - Estudos I e II
A aplicação do instrumento, nos dois estudos, foi realizada em salas com uma
média de 30 participantes. As equipes de pesquisa foram formadas sempre por um
psicólogo responsável e por cerca de quatro colaboradores, estudantes da Graduação
do curso de Psicologia. Todos os integrantes da equipe receberam treinamento
teórico, metodológico e ético previamente. Inicialmente, era lido o “Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido” (Anexo C) para participação no estudo, quando
era apresentado o objetivo da pesquisa. Também foi dada uma breve explicação
sobre o preenchimento do questionário e, então, a aplicação era iniciada.
Os aspectos éticos que garantem a integridade dos participantes deste estudo
foram assegurados. Além da utilização do termo de consentimento individual, foi
dada a garantia de sigilo das informações pessoais, assim como foi disponibilizada a
38
assistência do grupo de pesquisa, caso algum participante necessitasse de apoio
psicológico provocado pela lembrança negativa de algum dos aspectos investigados
(Resolução n. 016/2000, CFP). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UFRGS (Protocolo n. 2005/466).
39
Capítulo III
RESULTADOS
A seção de resultados para esta tese está dividida em três partes. Inicialmente,
é apresentada uma análise descritiva concernente ao Estudo I (estudo transversal), na
qual estão exploradas as variáveis de interesse: dados demográficos, religiosidade e
sexualidade. Em seguida, estão apresentadas análises de correlação e regressões
visando a explorar as relações entre as mesmas variáveis. Finalmente, estão
apresentados, na parte três, os resultados do Estudo II, com a análise dos dados
longitudinais para a amostra da cidade de Porto Alegre
5
.
1 Estudo I
1.1 Análises descritivas
As análises para este estudo se referem a dados de 4078 participantes
entrevistados nas quatro capitais e cpm idades entre 14 e 24 anos. Dessa forma,
46,5% (n=1897) dos participantes eram do sexo masculino e 53,5% (n=2181) do
sexo feminino. Quanto ao local onde viviam, 27,6% (n=1124) eram de Recife, 24,0%
(n=977) de Porto Alegre, 25,1% (n=1024) de São Paulo e 23,4% (n=953) de Campo
Grande.
A idade média para a amostra total foi de 16,14 anos (SD=1,83). Não houve
diferença significativa (t=2,29; p=0,022) entre as médias de idades para rapazes
(16,21; SD=1,86) e para moças (16,08; SD=1,80). Dividindo-se a amostra em dois
grupos etários, considerando a maioridade penal brasileira (18 anos), 91,5% dos
participantes estava na faixa entre 14 e 18 anos, enquanto, 8,5% encontra-se entre 19
e 24 anos. A maioria se auto-declarou branco (42,7%, n=1700), seguidos de 32,4%
(n=1287) de pardos e 17,9% (n=711) de negros. Os solteiros formam a maioria da
amostra, com 94,1% dos participantes. As Figuras 3 e 4 mostram a distribuição da
amostra segundo a renda familiar e escolaridade dos participantes.
5
Devido a influência de tamanho da amostra, para as análises bivariadas do Estudo 1, são
considerados resultados significativos aqueles com p<0,001; já no estudo dois, é considerado p<0,05.
40
ACIMA
DE R$
1200
R$ 1001-
1200
R$ 801-
1000
R$ 601-
800
R$ 501-
600
R$ 401-
500
R$ 301-
400
R$ 201-
300
R$ 101-
200
R$ 0-100
Renda Mensal Familiar
20
15
10
5
0
Percentual
Figura 3. Distribuição da renda familiar dos jovens participantes do Estudo I
0.7
2.5
4.2
7.8
22.7
27.9
20.9
13.3
0
5
10
15
20
25
30
4a série
5a série
6a série
7a série
8a série
1o ano
2o ano
3o ano
Figura 4. Distribuição percentual segundo a série escolar dos jovens
participantes do Estudo I
a) Sexualidade
Cerca de 97,2% (n= 3494) dos participantes se declararam heterossexuais;
1,2% (n=43) homossexuais; 0,8% bissexuais (n=29); e 0,8% (n=28) transexuais. Do
41
total da amostra, 1828 participantes (46,8%) disseram ter tido a primeira relação
sexual. A idade média da primeira relação sexual foi de 14,24 anos (SD=1,93, ver
Figura 5). Quatro pessoas (0,2%) relataram ter tido a primeira relação sexual aos dois
anos de idade, o que foi desconsiderado nas análises.
222120191817161514131211109876
Idade
30
25
20
15
10
5
0
Percentual
Figura 5. Distribuição percentual da idade da primeira relação sexual para os
jovens brasileiros participantes do Estudo I
Cerca de 3,1% (n=104) dos participantes afirmaram ter passado por ao menos
uma situação de sexo forçado em casa ou na comunidade. Não houve diferença
significativa entre moças e rapazes neste item, apesar de um maior número de
episódios envolvendo participantes do sexo feminino, 3,4% (n=63) delas sofreram
abuso sexual, enquanto 2,8% (n=41) deles relataram a mesma experiência (χ
2
=1,03;
p=0,308). Também não foi encontrada diferença na idade dia da primeira relação
sexual comparando-se o grupo geral (masculino e feminino) que foi abusado (13,95
anos; SD=1,91) com aquele que não sofreu abuso (14,26 anos; SD=1,89; t=1,03;
df=46; p=0,305), indicando que a maior parte dos abusos ocorreu após a puberdade.
No entanto, foram encontradas diferenças para o parceiro da primeira relação sexual
entre os grupos de abusados e não abusados. um maior número de parentes como
42
parceiro da primeira relação sexual para aqueles que foram abusados, indicando que
o abuso foi intrafamiliar. A idade média da primeira relação com parente foi de 12,51
anos (SD=2,12), enquanto para namorado(a) foi de 14,6 anos (SD=1,69) e para
amigo(a) foi de 13,75 anos (SD=1,84).
As diferenças de gênero para primeira relação sexual estão na Tabela 4.
Houve uma diferença significativa entre moças e rapazes para aqueles quetiveram
a primeira relação sexual e para a idade da primeira relação. Mais rapazes tiveram
relação sexual e, entre estes, a idade média aparece mais baixa. Para a amostra geral,
o principal perceiro(a) da primeira relação sexual foi o(a) namorado(a) com 62,6%
(n=1126), seguido de amigo(a) 27,5% (n=495) e parente 4,6% (n=82).
Tabela 4
Diferenças de Gênero para Episódios, Idade e Parceiro(a) da Primeira Relação
Sexual de Jovens Brasileiros
Masculino
Feminino
Total χ
2
/t p
Já teve a primeira relação sexual
62,0% 33,7% 46,8%
312,75
<,001
Idade da primeira relação sexual
13,79 14,94 14,24 13,04 <,001
Parceiro* – Namorado(a) 47,0% 86,9% 62,6%
Amigo(a) 40,6% 7,1% 27,5%
Parente 7,0% 0,7% 4,6%
Marido/esposa 0,5% 3,6% 1,7%
* Nota: χ
2 =
355,92; p<0,001.
b) Contracepção
Para aqueles que já tiveram a primeira relação sexual, foram realizadas
análises sobre contracepção, gravidez e prevenção de DST’s. Quanto ao uso de
métodos anticoncepcionais, 11,2% (n=190) disseram nunca usar e 16,9% (n=287)
usam às vezes, enquanto 71,9% (n=1218) disseram sempre usar ao menos um
método contraceptivo. Houve diferença significativa entre moças e rapazes para o
uso de métodos anticoncepcionais (χ
2
=38,25; p<0,001), revelando que o uso destes
métodos é mais consistente entre elas (ver Figura 6). A pergunta sobre o uso de
métodos incluia qualquer método (camisinha inclusive), no entanto, esta questão foi
específica para o uso como forma de contracepção, ou seja, se usa camisinha como
método anticoncepcional.
43
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Nunca Às vezes Sempre
Masculino
Feminino
Figura 6. Hábito de uso de método contraceptivo para jovens brasileiros de
14 a 24 anos
Especificamente sobre o uso de preservativo masculino como todo
contraceptivo, encontrou-se uma diferença significativa entre moças e rapazes.
Noventa e cinco vírgula quatro porcento dos rapazes e 84,8% das moças informaram
que usam preservativo (χ
2
= 53,01; p<0,001). No entanto a resposta a este item não
significa que o uso é regular. Estes dados sugerem que as moças usam outros tipos de
métodos contraceptivos (como pílula ou DIU), uma vez que mais de 90% delas
disseram usar contraceptivos. No entanto, este dado revela que as participantes do
sexo feminino informam protegerem-se mais contra gravidez indesejada, mas nem
sempre se protegem contra DST’s e HIV.
Foi realizada uma análise de qui-quadrado a fim de verificar a diferença entre
gêneros para o uso de métodos contraceptivos não naturais (camisinha, pílula, DIU),
nomeados aqui de métodos médicos, uma vez que estes são os métodos não
recomendados por algumas religiões, ou seja, excluindo-se apenas o método de
“tabela”. Encontrou-se que entre aqueles que tiveram relação sexual, 30,3% (554)
fazem uso destes métodos, havendo uma diferença significativa (χ
2
=310,7; p<0,001)
entre moças (54,1% usam) e rapazes (15,2% usam). Porém, nenhum participante
relatou a “tabela” como de uso exclusivo, ou seja, estes fazem, mesmo que
esporadicamente, uso de métodos médicos.
44
c) Gravidez
As informações sobre gravidez foram coletadas considerando as respostas
dadas por participantes de ambos os sexos. uma diferença ampla na variável
gênero para as respostas concernentes a estes itens, uma vez que os rapazes o têm
todas as informações precisas sobre suas parceiras ou podem omitir este tipo de
dado, ou mesmo, desconhecer sobre sua paternidade. Dessa forma, dos 917 rapazes
que já tiveram experiência sexual e responderam a este item, 8,8% afirmaram ter
engravidado uma moça, 88,3% disseram que não e 2,8% não sabem. Para as 697
moças, 17,9% disseram ter passado por história de gravidez, 81,2% não
engravidaram e 0,9% não sabem. A Tabela 5 mostra o número de gravidez para a
amostra total de jovens que já tiveram a primeira relação sexual (n=1443). Nota-se
que a soma do número de relatos de aborto (natural - 55 ou provocado - 14) e de
filhos vivos (122) é menor do que o número de episódios de gravidez (203), o que
sugere uma lacuna de informações sobre 12 episódios de gravidez.
Tabela 5
História de Gravidez e Aborto entre Jovens Brasileiros de 14 a 24 anos
Nenhum(a) Uma Duas Três ou mais
História de gravidez*
84,9% (1315)
10,1% (157)
1,8% (28) 1,3% (18)
Fillhos vivos 31,7% (57) 54,4% (98) 11,7% (21)
2,3% (3)
Abortos naturais _______ 83,9% (47) 8,9% (5) 5,4% (3)
Abortos provocados _______ 52,9% (9) 17,6% (3) 11,8% (2)
Nota: * 1,9% responderam “não sei”
Uma ANOVA (F=1,13; df=2, 1440; p=0,323) revelou que o houve
diferença na idade média da primeira relação sexual para os grupos de jovens que
tiveram história de gravidez (14,49 anos; SD=1,9), que nunca tiveram história de
gravidez (14,28 anos; SD=1,8) e aqueles que não sabem sobre suas histórias de
gravidez (14,26 anos; SD=2,1). A mesma análise de variância foi realizada
considerando-se apenas o grupo do sexo feminino (n=1443). Nesta, encontrou-se
uma diferença significativa para a idade média da primeira relação sexual (F=4,47;
df=2, 614; p=0,012), sendo as jovens que passaram por algum episódio de
gravidez as que apresentam menor idade média absoluta (14,61 anos; SD=1,88),
enquanto aquelas que não passaram por episódio de gravidez apresentam idade
45
média de 14,99 anos (SD=1,38). As jovens que não sabem sobre episódios de
gravidez apresentam média de 16 anos (SD=2,00).
No entanto, encontrou-se diferença significativa para história de gravidez
entre os jovens das diferentes cidades (χ
2
=35,31; 1614; p<0,000). Sendo Recife a
cidade com maior percentual de jovens com história de gravidez, seguida por São
Paulo, Porto Alegre e Campo Grande, consecutivamente (ver Tabela 6).
Tabela 6
Percentuais (Freqüências) de Episódios de Gravidez entre Jovens de 14 a 24 anos
em Recife, Porto Alegre, São Paulo e Campo Grande
Recife Porto Alegre São Paulo Campo
Grande
Total
Com história
de gravidez
18,6% (79) 11,7% (55) 14,4% (55) 5,0% (17) 12,8% (206)
Sem história
de gravidez
79,0% (335) 86,4% (407) 83,2% (317) 93,8% (317) 85,3% (1376)
Não sabe 2,4% (10) 1,9% (9) 2,4% (9) 1,2% (4) 2,0% (32)
Nota: χ
2
=35,31; p<0,000
d) Prevenção de DST’s e HIV/AIDS
O uso de camisinha masculina como método para evitar DST’s e HIV/AIDS
também foi explorado. Assim como método contraceptivo, o uso da camisinha como
preservativo também apresentou diferença de gênero seguindo o mesmo padrão no
qual o uso é maior para rapazes (74,6%) do que para moças (39,6%), (χ
2
=466,01;
p<0,001). Também houve diferença no uso de camisinha entre os participantes das s
cidades pesquisadas (ver Tabela 7).
Tabela 7
Percentual do Uso de Camisinha como Método para Evitar HIV entre Jovens de
Recife, Porto Alegre, São Paulo e Campo Grande
Local Total
Recife Porto Alegre
São Paulo Campo Grande
Não usa
48.3%
38.2% 45.0% 43.0% 43.8%
(1648)
Usa 51.7%
61.8% 55.0% 57.0% 56.2%
(2113)
Nota: χ
2
=21,15; p<0,001
46
Quanto aos aspectos de cuidados de saúde, os jovens foram questionados
sobre freqüência de visitas ao médico, episódios de hospitalização e utilização do
posto de saúde da comunidade. Dos que responderam (n=3682) a estas questões,
19,2% (n=567) disseram não ter ido ao médico nenhuma vez no último ano e 26,1%
(n=961) disse não utilizar o posto de saúde da comunidade. No entanto, 17,5%
(n=519) passaram por pelo menos um episódio de hospitalização no último ano.
e) Comportamento de Risco Sexual – Exposição à Situação de Risco
A fim de explorar os dados sobre os comportamentos de risco sexual vividos
pelos jovens da amostra, optou-se pela criação de um índice representativo do grau
de exposição a estes comportamentos. Seguiram-se recomendações da literatura
sobre a conceituação de risco sexual, para a qual um comportamento isolado o
pode ser avaliado com risco ou não (Xavier, 2005). A opção pela criação de tal
escore possibilitou a condução de análises específicas que serão mostradas a seguir.
Apesar disso, também o conduzidas algumas análises exclusivas para os
comportamentos que formam o escore.
O índice de risco sexual foi criado seguindo-se as recomendações adotadas
nos estudos de Raffaelli e Crockett (2003) e Rafaelli, Zamboanga e Carlo (2005),
baseados em ampla revisão internacional. Tal escala considera eventos indicadores
de que os jovens passaram ou ainda passam por situações que implicam um
comportamento de risco. Neste estudo foram considerados tais indicadores:
- Auto-relato de abuso sexual (dois itens): o primeiro indicador a ser
considerado foi o sexo forçado (dois itens um para abuso no ambiente da
rua e outro para abuso dentro da própria casa), uma vez que esta se configura
como uma situação na qual a vitima encontra-se completamente vulnerável
ao agressor e perde sua decisão de uso de métodos protetivos contra
DSTs/AIDS (não importando a idade da vitima). Foi considerado o auto-
relato dos respondentes que tiveram duas questões distintas (casa e
comunidade) para relatar estas experiências. foi considerado sexo com
intercurso uma vez que investigou-se a transmissão de DSTs, porém, não se
desconsiderou que o número de crianças/adolescentes abusados pode ser bem
maior quando computadas outras formas de abuso sexual (sexo oral,
47
manipulação corporal etc.) como investigado amplamente (ver Furniss, 1993;
Koller, 1999; Narvaz, 2005).
- Iniciação sexual antes dos 13 anos de idade: A iniciação sexual precoce
também é um dos indicadores de abuso sexual. Considerou-se que a idade da
iniciação por si não indicaria abuso, portanto, foi definida como menor de 13
anos por considerar o nível de desenvolvimento da criança como
incompatível para o sexo com pleno consentimento, assim como, indicações
da literatura sobre a idade média da puberdade entre adolescentes brasileiros
(Outeiral, 1994; Zimerman, 1999). A literatura internacional relata, ainda,
que o sexo no período pré-pubere expõe os adolescentes a um maior risco de
contração do HIV e DST’s por estes se encontrarem numa fase de maior
absorção genital. Apesar de discussão sobre o abuso sexual envolver outras
variáveis, como idade do parceiro, o código penal brasileiro (Delmanto Jr.,
Delmanto, & Delmanto, 2006) determina esta idade como ad juris para a
constatação do abuso.
- Não uso de camisinha (dois itens): Foram consideradas duas respostas para
o uso de camisinha, à questão sobre método anticoncepcional e àquela como
meio de evitar AIDS. Estas foram as questões mais diretas sobre
comportamento de risco sexual, porém, foram considerados somente aqueles
participantes que tiveram a primeira relação sexual, a fim de garantir o
acesso ao comportamento e não à intencionalidade.
- Episódio maternidade/paternidade antes dos 14 anos: Um episódio de
maternidade/paternidade é considerado como um indicador de que o/a
adolescente fez sexo sem preservativo, ou seja, passou por episódio de
exposição ao risco de DST. A idade de 14 anos foi escolhida com base na
estimativa de idade da relação sexual (13 anos ou menos). Para este item,
foram excluídos os casos de aborto, uma vez que foram obtidas as idades
dos participantes com filhos nascidos vivos.
A Tabela 8 apresenta as diferenças de gênero para cada item que compõe o
índice de risco sexual. Houve diferença significativa apenas para o uso de camisinha
e para o sexo precoce, sendo os rapazes o grupo com maior percentual para sexo
precoce e as moças com mais baixo percentual para o uso de camisinha nos dois itens
investigados.
48
Tabela 8
Diferenças de nero para os Itens do Índice de Comportamento de Risco Sexual
entre Jovens Brasileiros
Indicadores Masculino
n (%)
Feminino
n (%)
Total
n (%)
χ
2
(p)
Abuso sexual em casa 40 (2,8) 61 (3,3) 101 (3,1) 0,84 (0,35)
Abuso sexual na rua 26 (1,8) 16 (0,9) 42 (1,3) 5,40 (0,02)
Não usa camisinha
(HIV/AIDS)
452 (25,4) 1196 (60,4) 1648
(43,8)
466,01
(<0,001)
Não usa camisinha
(Contraceptivo)
42 (4,4) 108 (15,8) 150 (9,2) 61,08 (<0,001)
Maternidade/Paternidade
antes dos 14 anos
7 (15,9) 6 (8,0) 13 (10,9) 1,78 (0,18)
Sexo precoce 407 (39,8) 101 (15,1) 508 (30,1) 116,62
(<0,001)
Para a criação do índice de comportamento de risco sexual foi considerado
um ponto para cada indicador de exposição a risco. Assim, cada participante obteve
um escore variando de zero (0), que indica nenhum comportamento de risco, a 6
(seis) que indica todas as situações possíveis, podendo portanto o índice alcançar um
total de 6 (seis). pontos. A média do índice de comportamento de risco sexual nesta
amostra foi de 0,60 (SD=0,60), o havendo participantes com escore maior que 4.
Houve diferença significativa entre os gêneros (t=8,99, df=4076; p<0,001), sendo
que as moças apresentaram um índice maior que os rapazes, 0,68 e 0,51
respectivamente. Também houve diferença significativa para cidades (F=10,13;
df=3, 4074; p<0,001), sendo Campo Grande a cidade que apresentou menor índice
(0,51; SD=0,57) e diferenciou-se de todas as outras cidades, que formam somente um
sub-grupo homogêneo de médias similares, Porto Alegre (0,59; SD =0,60), São
Paulo (0,63; SD=0,61) e Recife (0,65; SD=0,59).
f) Religiosidade
As análises para os itens envolvendo religiosidade o apresentadas
considerando dois aspectos, a afiliação religiosa e a religiosidade/espiritualidade
49
(como definida na introdução desta tese). É apresentado aqui a criação da escala para
a mensuração do constructo religiosidade/espiritualidade por considerar esta criação
um dos resultados deste estudo.
Para a identificação da afiliação a um grupo religioso específico, os
participantes foram questionados sobre a que religião pertencem. Obtiveram-se
respostas de 3785 participantes da amostra total, sendo os percentuais de afiliação
religiosa apresentados na Figura 7. O número de católicos representou a maioria
(43,9%), seguido pelos evangélicos (21,1%). Destaca-se o amplo percentual de
pessoas que dizem “acreditar em Deus, mas não têm uma religião” (24,3%) e o
reduzido número de pessoas “que não acreditam em Deus” (2,1%).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Não acredita em Deus
Não tem religião
Católico
Protestante
Evangélico
Espírita
Umbandista
Candomblé
Outro
Figura 7. Percentual de jovens participantes segundo auto-declaração da afiliação
religiosa
Houve diferença na auto-identificação como evangélico ou protestante, no
entanto, não foram obtidos dados exclusivos para esta diferença, uma vez que há uma
certa indefinição para a constituição destes dois grupos. Tradicionalmente o grupo
que denomina-se como protestante refere-se aos protestantes históricos (Batistas,
Luteranos, Metodistas, entre outras); sendo os evangélicos formado pelas religiões
pentecostais e neopentecostais como a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja
Internacional da Graça, entre outras (Santos, Koller, & Nobre, 2004). No entanto, os
50
próprio participantes o foram absolutamente restringentes quanto a estas
denominações, havendo uma certa confusão entre os grupos religiosos.
O grupo formado por umbandistas e adeptos do candomblé são os únicos que
representam as religiões afro-brasileiras, mesmo assim, com percentuais baixos.
Estes grupos, assim como os espíritas, podem estar sub-representados nesta amostra,
pois (trata-se de grupos para os quais alguns fiéis não apresentam afiliação identitária
Almeida & Montero, 2001; Antoniazzi, 2003; Rodrigues, 2003). Por exemplo, é
estimado que um considerável número de pessoas que se autodenominam católicos
também participa dessas religiões como culto extra-oficial (Almeida & Montero,
2001).
g) Criação da Escala para a Dimensão “Religiosidade/Espiritualidade”
Com base em estudo anterior baseado na realização de entrevistas com
membros de diferentes religiões e pesquisadores da área
6
, foram obtidos dados para a
primeira etapa da construção da escala de religiosidade/espiritualidade. As
entrevistas foram realizadas informalmente sem roteiro preestabelecido, que buscou
capturar os principais pontos envolvidos na relação fiel-religião. Foram encontrados
dois focos no discurso dos entrevistados: a vinculação institucional e a
crença/espiritualidade (Cerqueira-Santos, Koller, & Wilcox, 2008).
Foram desenvolvidos itens com base nas entrevistas e a partir de ampla
revisão da literatura (nacional e internacional) e com base em recomendações do
estudo da WHO sobre qualidade de vida no Brasil (Fleck, Borges, Bolognesi, &
Rocha, 2003). Seguiu-se a hipótese teórica de (Koenig, McCullough, & Larson,
2001) para o qual o constructo Religiosidade/Espiritualidade” deve ter
representação única, ou seja, somente um fator para a escala. A primeira versão foi
composta por sete itens em forma de escala Likert variando de 1 (concordo
inteiramente) a 5 (discordo inteiramente). A versão final da escala foi apresentada a
três pesquisadores para revisão e passou por um teste piloto com 30 jovens. A Tabela
9 apresenta os dados descritivos para cada item da escala após aplicação para a
amostra total deste estudo e da diferença significativa entre gêneros encontrada para
todos os itens da escala de religiosidade.
6
Agradecimento especial às psicólogas Normanda Araujo, Raquel Panzini, Fernanda Torres Carvalho
e alunos de graduação da UFRGS pelas entrevistas e revisão dos ítens da escala.
51
Tabela 9
Diferenças de Gênero para os Itens da Escala de Religiosidade para Jovens
Brasileiros
M (SD) t(df)*
Total Masculino
Feminino
A religião tem sido importante
para vida
3,30
(1,52)
3,16
(1,54)
3,42
(1,49)
4,99
(3480)*
Freqüenta encontros religiosos
2,73
(1,44)
2,57
(1,42)
2,85
(1,46)
5,71
(3435)*
Costuma ler escrituras sagrada
ou fazer orações
2,93
(1,43)
2,65
(1,39)
3,15
(1,42)
10,39
(3441)*
Costuma agradecer a deus
3,87
(1,26)
3,61
(1,34)
4,08
(1,14)
11,28
(3502)*
Pede ajuda a deus para
resolver os problemas
3,95
(1,22)
3,70
(1,31)
4,15
(1,10)
10,99
(3457)*
escrituras ou ora quando
em dificuldade
3,37
(1,43)
3,04
(1,46)
3,64
(1,36)
12,44
(3441)*
Busca ajuda de sua inst relig
quando em dificuldade
2,56
(1,50)
2,37
(1,46)
2,71
(1,52)
6,67
(3411)*
Nota: *<0,001
A análise fatorial exploratória da escala de religiosidade/espiritualidade foi
feita com o método de extração dos componentes principais e rotação Varimax. O
modelo final indica a utilização de somente um fator. O índice de Kaiser-Meyer-
Olkin confirmou a adequação do modelo para um fator (KMO = 0,858), com
variância explicada de 57% (ver Tabela 10).
52
Tabela 10
Alphas e Comunalidades da Análise Fatorial para Escala de Religiosidade
entre Jovens Brasileiros*
alpha
h2
A religião tem sido importante para vida ,711
,506
Freqüenta encontros religiosos ,728
,529
Costuma ler escrituras sagrada ou fazer orações ,800
,640
Costuma agradecer a Deus ,780
,608
Pede ajuda a deus para resolver os problemas ,774
,599
Lê escrituras ou ora quando em dificuldade ,804
,647
Busca ajuda de sua inst relig quando em dificuldade
,680
,462
Nota: * Extraction Method: Principal Component Analysis
Após realizar uma análise de fidedignidade (Cronbach) da escala criada,
obteve-se um alpha de 0,873, o que indica que o uso do fator único como escala para
avaliação dos níveis de religiosidade pode ser considerado adequado. O mesmo teste
também mostrou que nenhum ítem deve ser retirado da escala.
A fim de aprimorar as análises sobre religiosidade, foram criados três grupos
com base na escala de nível de religiosidade – baixo, médio e alto. Tais grupos foram
criados utilizando-se o critério do percentil 0.33, que divide a amostra válida em três
partes iguais. Alguns resultados para gênero, local e faixa etária estão apresentados
na Tabela 11.
53
Tabela 11
Níveis de Religiosidade de Jovens Brasileiros e Diferenças entre Grupos por
Gênero, Idade e Cidade
Religiosidade
Baixa Média Alta
Teste
Gênero
Homens
583
(41,9%)
442
(31,8%)
365
(26,3%)
Mulheres
429
(25,6%)
574
(34,2%)
675
(40,2%)
χ
2
=106,89;
p<0,001
Idade 14-18 anos
939
(32,8%)
955
(33,3%)
970
(33,9%)
19-24 anos 73 (35,8%)
61 (29,9%)
70 (34,3%)
χ
2
=1,21;
p=0,546
Local Recife
185
(24,1%)
256
(33,3%)
328
(42,7%)
Porto Alegre
403
(48,8%)
258
(31,3%)
164
(19,9%)
São Paulo
250
(33,6%)
253
(34,0%)
241
(32,4%)
Campo
Grande
177
(24,1%)
249
(33,9%)
308
(42,0%)
χ
2
=179,75;
p<0,001
Encontrou-se diferença significativa para gênero, sendo as mulheres as que
apresentam maior percentual para alta religiosidade e menor percentual para baixa
religiosidade. Também houve diferença significativa para as cidades, com Recife e
Campo Grande com padrões semelhantes de alta religiosidade e Porto Alegre com o
menor percentual para alta religiosidade e maior para baixa religiosidade (ver Tabela
11).
Para confirmar a diferença de religiosidade entre as cidades, foi realizada
uma Analise de Variância com o índice de religiosidade (variável contínua).
Constatou-se diferença significativa entre as cidades do estudo para o nível de
religiosidade. Campo Grande foi a cidade que apresentou maior nível de
religiosidade (0,241), seguida por Recife (0,238), São Paulo (-0,014) e Porto Alegre
(-0,385), como exposto na Figura 8.
54
Também utilizando o escore de nível de religiosidade, encontrou-se diferença
significativa entre homens e mulheres (t=11,47; df=3341; p<0,001). Os homens
apresentaram dia de -0,21 (SD=1,03) e as mulheres tiveram média de 0,19
(SD=0,94).
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
Recife
Porto Alegre
São Paulo
Campo Grande
Figura 8. Nível de religiosidade/espiritualidade de jovens brasileiros por
cidade (F=73,41; df=3, 3068; p<0,001)
Considerando-se que o nível de religiosidade pode variar entre as diferentes
afiliações religiosas, também foi realizada uma análise de variância a fim de verificar
estas diferenças (ver Figura 9). Assim, Protestantes e Evangélicos foram os que
apresentaram maior índice de religiosidade (0,757 e 0,652 respectivamente). O grupo
de católicos apareceu na média (0,006) e os grupos dos que não tinham religião e dos
que não acreditavam em Deus apareceram com os menores escores (-,534 e -1,374
respectivamente).
55
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
Nao acredita
em deus
Não tem
religião
Católico
Protestante
Evangélico
Espírita
Umbandista
Candombé
Outro
Figura 9
Nível de religiosidade/espiritualidade de jovens brasileiros por afiliação religiosa
Baseando-se na análise apresentada na Figura 9 e na justificativa teórica de
que alguns grupos religiosos compartilham similaridades (Almeida & Montero,
2001), optou-se por analisar os três grandes grupos. Assim, uniram-se os grupos sem
religião com não acredita em Deus (uma vez que todos os que o acreditam em
Deus também não têm religião) e protestantes com evangélicos. Dessa forma, para as
análises a seguir, apresentam-se os seguintes grupos: 24,5% (999) sem religião,
40,8% (1663) católicos, 20,5% (838) protestantes/evangélicos, e 14,2% (578) outras
religiões.
1.2 Religiosidade e Sexualidade
Nesta seção o apresentadas as análises das relações entre religiosidade e
sexualidade, assim como com outras variáveis de “confusão” para o entendimento
dessa relação (por exemplo: gênero, idade, acesso ao serviço de saúde). Partindo-se
da sub-divisão em três grupos relativo ao nível de religiosidade (alto, médio e baixo),
a Tabela 12 apresenta os dados para aspectos comparativos relacionados à
sexualidade entre estes grupos.
56
Destacou-se que a única diferença significativa encontrada foi o fato de já ter
tido a primeira relação sexual, sugerindo que a religiosidade pode atrasar a idade
para este acontecimento, ou seja, aqueles que informaram ter nível de religiosidade
baixa apresentaram freqüências mais altas no item “já ter tido relação sexual”. No
entanto, notou-se que os percentuais para os comportamentos sexuais foram
semelhantes para todos os grupos uma vez que a primeira relação sexual havia
ocorrido.
Tabela 12
Freqüências e Percentuais para Comportamentos Sexuais de Jovens Brasileiros nos
Três Grupos de Nível de Religiosidade
Religiosidade
Baixa Média Alta
Teste
Já teve relação sexual
537
(40,5%)
449
(33,8%)
341
(25,7%)
χ
2
=84,56
p<0,001
Camisinha para prevenir
HIV/AIDS
498
(41,0%)
413
(34,0%)
303
(25,0%)
χ
2
=2,96
p=0.227
Camisinha como contraceptivo
428
(39,7%)
371
(34,4%)
278
(25,8%)
χ
2
=0,656
p=0,720
Métodos contraceptivos
(médicos)
146
(36,0%)
151
(37,2%)
109
(26,8%)
χ
2
=5,18
p=0,075
Gravidez
47 (39,8%) 43 (36,4%) 28 (23,7%)
χ
2
=1,58
p=0,812
Nota: análises realizadas para as respostas “sim” em cada um dos ítens.
Ao realizar um teste t para avaliar a diferença para o nível de religiosidade
entre os grupos de jovens com e sem experiência sexual (n=3377), foi observado que
houve diferença na média para os grupos de jovens quetiveram experiência sexual
e para os abstinentes (t=9,97; df=2972; p<0,001). Sendo os abstinentes os mais
religiosos, com média 0,16 (SD=0,97) e os que tiveram relação com média igual a
-0,19 (SD=1,00). Também se encontrou diferença entre estes dois grupos (não-
virgens e abstinentes) em termos de afiliação religiosa (χ
2=
85,20; p<0,001), havendo
um percentual maior dos que tiveram relação sexual (n=1328) entre as pessoas
57
sem religião (54,4%), seguido dos católicos (46,5%) e dos protestantes/evangélicos
(32,6%).
Verificando-se as diferenças das médias (ANOVA) do índice de
comportamento sexual de risco para cada grupo de nível de religiosidade, encontrou-
se diferença significativa (F=7,82; df=2, 730; p<0,001), sendo os mais religiosos os
que apresentaram maior índice de comportamentos de risco (0,67; SD=0,59),
seguidos dos que apresentaram nível médio de religiosidade (0.59; SD=0,60) e dos
com baixo nível de religiosidade (0,57; SD=0,59).
Houve diferença significativa na ANOVA, analisando grupos religiosos
(afiliação religiosa) e média do índice de comportamento sexual de risco (F=9,93;
df=2, 730; p<0,001). Através de análise a posteriori de Tukey, encontrou-se um
valor maior na dia do escore de índice de comportamento de risco sexual para os
protestantes/evangélicos (M=0,68; SD=0,57), seguidos daqueles que o tinham
religião (M=0,59; SD=0,60) e dos católicos (M=0,57 SD=0,58). Entre os religiosos, a
diferença foi encontrada entre protestantes/evangélicos versus católicos e sem
religião. Tal resultado é consistente uma vez que protestantes formam o grupo com o
maior percentual de pessoas com alto nível de religiosidade e estes têm maior escore
no índice de comportamento sexual de risco. A Tabela 13 mostra as diferenças das
médias e permite visulalizar os dados sobre o grupo de alta religiosidade e os
protestantes/evangélicos que se diferenciam dos outros grupos.
58
Tabela 13
Diferenças das Médias para Religiosidade e Grupos Religiosos quanto ao Índice de
Comportamento de Risco Sexual entre Jovens Brasileiros
Religião
Diferença da
Média
SD p
Sem religião Católicos ,01833 ,02363
,718
Protestantes/Evangélicos
-,09118(*) ,02766
,003
Católicos Sem religião -,01833 ,02363
,718
Protestantes/Evangélicos
-,10951(*) ,02501
,000
Protestastes/Evangélicos
Sem religião ,09118(*) ,02766
,003
Católicos ,10951(*) ,02501
,000
Religiosidade
Baixa Média -,02038 ,02607
,714
Alta -,09704(*) ,02592
,001
Média Baixa ,02038 ,02607
,714
Alta -,07667(*) ,02589
,009
Alta Baixa ,09704(*) ,02592
,001
Média ,07667(*) ,02589
,009
Nota: *A diferença da média é significativa em p<0,05.
As análises de correlação apresentadas na Tabela 14 revelam alguns dados
significativos e diferenças para as relações entre as variáveis entre gêneros. São
destacados os principais achados das análises de Correlação de Pearson. Não houve
correlação significativa entre o índice de comportamento de risco sexual e o vel de
religiosidade para ambos os gêneros. No entanto, para os rapazes a relação entre
comportamento sexual de risco e religiosidade foi na direção positiva e mais alta,
sinalizando uma tendência para que estes apresentem maior comportamento de risco
sexual.
Apesar das análises anteriores (descritivas do índice de comportamento de
risco sexual, p. 41) apontarem para o fato de que os jovens de Campo Grande
apresentaram menor escore para o tal índice (0,51), não houve correlação
significativa entre o índice de comportamento de risco sexual e o fato de morar em
Campo Grande, apesar de a relação ser em direção negativa, ou seja, os jovens desta
cidade tendem a apresentar menos envolvimento em comportamento de risco sexual
do que aqueles que vivem nas outras cidades pesquisadas.
Ainda na Tabela 14, a análise de Correlação de Person mostrou uma
correlação forte entre idade e o índice de comportamento de risco sexual para ambos
os gêneros (masculino r=-0,097; p<0,01; feminino r=-0,084; p<0,01). Tal resultado
59
indica que o aumento da idade está correlacionado com a diminuição da média no
índice de comportamento de risco sexual.
Quanto à religiosidade, não houve correlação entre o fato de não ter uma
religião e o índice de comportamento de risco sexual, para ambos os gêneros. No
entanto, houve correlação negativa para o fato de ser católico e positiva para
protestantes, sendo estas mais fortes para o grupo de mulheres. A religiosidade tem
correlação significativa com um maior número de variáveis para o gênero masculino
do que para o gênero feminino. Por exemplo, visitas ao médico e uso do posto de
saúde apareceram como significativas somente para os participantes do gênero
masculino. Morar em Campo Grande foi uma variável positivamente correlacionada
com o nível de religiosidade para as moças, mas não para os rapazes (ver Tabela 14).
Houve uma correlação negativa entre o nível de religiosidade e o fato de não
ter uma religião; e uma correlação positiva entre religiosidade e ser
protestante/evengélico. O fato de ser católico não caracterizou correlação
significativa com o nível de religiosidade (ver Tabela 14).
Ainda na Tabela 14, testando-se uma possível correlação entre a média do
índice de risco sexual e o acesso ao serviço de saúde, verificou-se que, apenas para as
participantes do gênero feminino, houve uma correlação negativa entre estas duas
variáveis. Tal resultado sugere que a ida ao posto de saúde deve diminuir a chance de
exposição aos comportamentos de risco sexual. Ainda quanto aos cuidados de saúde,
apenas para os rapazes, houve uma correlação significativamente positiva entre o
nível de religiosidade e o fato de ir ao médico e uso do posto de saúde.
60
Tabela 14. Correlações de Pearson entre as Variáveis de Religiosidade, Saúde e Comportamento de Risco Sexual para Jovens Brasileiros por
Gênero
Feminino
Masculino
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 M (SD)
1 Risco sexual
,032 -,011 -,084(**) -,013 ,042 ,015 -,067(**) ,004 -,067(**) ,073(**)
0,68 (0,59)
2 Religiosidade ,048
,066(**) ,001 -,019 ,028 ,039 ,030 -,330(**) -,037 ,347(**)
0,19 (0,94)
3 Campo Grande
-,002 ,035
-,059(**) ,156(**) -,022 ,021 -,015 -,094(**) ,174(**) -,108(**)
1,72 (0,83)
4 Idade
-,097(**) ,082(**) -,071(**)
-,010 -,044 ,054(*) ,035 ,021 -,018 ,000
16,08
(1,80)
5 Renda Familiar
,007
-
,094(**)
,123(**) -,009
,036 -,017 -,167(**) -,044 ,065(**) -,032
5,11 (2,44)
6 Visitas Médicas
,011 ,092(**) ,043 -,072(**) ,032
,192(**) ,112(**) -,034 ,025 ,005
2,33 (1,47)
7 Hospitalização
,031 ,074(*) -,045 ,027 -,096(**) ,267(**)
,060(*) ,021 -,035 ,020
0,29 (0,77)
8 Uso Posto de Saúde
-,003 ,086(**) -,024 ,005 -,078(**) ,127(**) ,085(**)
-,031 ,025 ,001
1,77 (0,41)
9 Sem Religiao
-,001
-
,368(**)
-,083(**) -,005 -,091(**) -,014 ,040 -,054(*)
-,568(**) -,326(**)
1,23 (0,42)
10 Católicos
-,054(*) ,008 ,121(**) -,018 ,130(**) ,030 -,063(*) ,030 -,633(**)
-,592(**) 1,50 (0,50)
11 Protestantes/Evangélicos
,066(**) ,402(**) -,050(*) ,027 -,052(*) -,020 ,030 ,025 -,385(**) -,471(**)
1,25 (0,43)
Masculino – M(SD) 0,51
(0,59)
-0,21
(1,03)
1,74
(0,83)
16,21
(1,86)
5,37
(2,49)
1,93
(1,43)
0,32
(0,81)
1,69
(0,46)
1,34
(0,47)
1,43
(0,49)
1,22
(0,41)
Nota: As variáveis categóricas foram codificadas com o escore mais alto indicando feminino; Campo Grande (versus outras cidades); uso do posto de saúde, sem religião
(versus católicos e protestantes); católicos (versus sem religião e protestantes); protestantes (versus sem religião e católicos)
* Correlação é significativa em p<0.05 (2-tailed).
** Correlação é significativa em p< 0.01 (2-tailed).
61
61
A Tabela 15 apresenta os resultados de uma regressão logística, examinando
os preditores para a primeira relação sexual. Foram investigadas, num primeiro
modelo, as variáveis: gênero (maior valor para feminino) e idade. A variância
explicada para este modelo foi de cerca de 20% (R
2
=0,20), mostrando que tanto sexo
como idade predizem a primeira relação sexual de maneira significativa. Ser do
gênero feminino e mais jovem apresentou menor probabilidade de ter a primeira
relação sexual.
Num segundo modelo para a mesma análise de regressão foram adicionadas
as variáveis: religiosidade, protestante (maior valor para protestantes versus sem
religião e católico) e católico (maior valor para católicos versus sem religião e
protestante). Ainda na Tabela 15 nota-se que a variância explicada foi aumentada no
segundo modelo, passando para 23% (R
2
=0,23). Houve diminuição da força de
predição da variável idade, com a adição de predição significativa para religiosidade
e o fato de ser protestante.
Tabela 15
Regressão Logística dos Preditores para a Primeira Relação Sexual de Jovens
Brasileiros
Nota: **p<.001 *p<.05
Modelo 1 Modelo 2
Variável
B SE B
Odds
ratio
IC
95%
B SE B
Odds
ratio
IC
95%
Gênero
-
1.20**
.085 3,33
2,82-
3,93
-
1.11**
.09 3,04
2,56-
3,61
Idade
.39** .029 ,67
0,64-
0,71
.41* .03 ,66
0,62-
0,70
Religiosidade
-.21** .05 1,23
1,12-
1,36
Protestante
-.65** .13 1,91
1,47-
2,50
Católico
-.05 .11 1,05
0,85-
1,29
Nagelkerke
R
2
,20 ,23
-2 log
3266,29
3180,5
62
O modelo final para a primeira relação sexual sugere que ser homem e mais
velho funciona como preditor para aumentar as chances de ter tido a primeira relação
sexual. Em complemento, o fato de ser mais religiosos e ser protestante parece
diminuir a propabilidade de ter tido a primeira relação sexual.
Numa segunda etapa de análises de regressão, foi realizada uma regressão
linear, examinando os preditores para o índice de risco sexual. Num primeiro modelo
foram investigadas as variáveis: gênero, idade e visita ao posto de saúde (maior valor
para sim”). Baseou-se nas correlações apresentadas anteriormente (Tabela 14), para
as quais, os cuidados de saúde parecem desempenhar uma relação significativa com
religiosidade entre os participantes do sexo masculino. O objetivo foi investigar a co-
influência da variável “uso do posto de saúde” com religiosidade para a predição de
risco sexual (ver Tabela 16).
Tabela 16
Regressão Linear Múltipla de Preditores para o Índice de Comportamento de Risco
Sexual de Jovens Brasileiros
Modelo 1 Modelo 2
Variável B SE B Beta
B SE B Beta
Idade -,03** ,01 -,09
-,03**
,01 -,09
Gênero ,18** ,03 ,15
,17** ,02 ,14
Uso do Posto de Saúde -,07* ,03 -,05
-,07* ,03 -,05
Religiosidade
,03* ,01 ,04
Católico
-,05 ,03 -,04
Protestante
,04 ,04 ,03
R
2
,03 ,04
F 29,54**
17,87**
R
2
ajustado ,03 ,04
Nota: **p<,001 *p<,05
No primeiro modelo (ver Tabela 16), foi encontrada uma relação significativa
para gênero, idade e posto de saúde, porém, com uma baixa variância explicada de
3% (R
2
=0,03). No segundo modelo, incluindo-se as variáveis de religiosidade, o
houve alteração significativa na variância explicada (R
2
=0,04), no entanto, a variável
religiosidade desempenha influência significativa no índice de comportamento de
63
risco sexual. Assim, o modelo final revelou que ser mais jovem, ser mulher, usar
menos o posto de saúde e ser mais religioso, funcionam como preditores para maior
índice de comportamentos sexuais de risco.
A fim de analizar a influência da cada variável do modelo preditor para o
índice de risco sexual (Tabela 16) para os comportamentos sexuais de forma isolada,
foram realizadas seis diferentes análises de regressão apresentadas nas Tabelas 17 a
22. Foram utilizados os mesmos modelos para cada análise realizada. Gênero e idade
foram as variáveis que obtiveram mais influência para os comportamentos sexuais de
risco de forma geral. Os resultados para cada comportamento sugerem que a relação
sexual precoce apresenta como preditores significativos o gênero do participante, a
idade e o acesso ao posto de saúde, com variância explicada de 17% no segundo
modelo (ver Tabela 17). O nível de religiosodade e a afiliação religiosa o
apareceram como preditores deste comportamento. Os preditores indicaram
participantes do gênero feminino, mais velhos e com menos acesso ao posto de saúde
com maior peso para a variância explicada quanto à iniciação sexual.
Tabela 17
Regressão Logística para os Preditores da Variável “Relação Sexual Precoce” entre
Jovens Brasileiros
Variável B SE B Odds Ratio R
2
Modelo 1 ,16
Gênero 1,18** ,17 3,26
Idade ,32** ,05 1,37
Pto. de Saúde 0,38* ,16 1,47
Modelo 2 ,17
Gênero 1,18** ,17 3,26
Idade ,32** ,05 1,37
Pto. de Saúde 0,38* 0,17 1,47
Religiosidade ,05 ,08 1,05
Católico -,07 ,17 ,94
Protestante ,08 ,24 1,08
Nota: **p<,001 ; *p<0,05
64
A Tabela 18 apresenta o modelo preditor de “Gravidez Precoce”, indicando
que apenas a idade mostrou-se como uma variável significativa de modo positivo
(maior idade, maior o índice de gravidez). O modelo final apresentou uma variância
explicada alta de 72%, sem interferência significativa da religiosidade e afiliação
religiosa.
Tabela 18
Regressão Logística para os Preditores da Variável “Gravidez Precoce” entre Jovens
Brasileiros
Variável B SE B Odds Ratio R
2
Modelo 1 ,55
Gênero ,50 1,18 1,65
Idade 1,22* 0,56 3,38
Pto. de Saúde 2,25 1,28 9,46
Modelo 2 ,71
Gênero ,86 1,68 2,37
Idade 2,42* 1,22 11,22
Pto. de Saúde 5,98 3,55 396,04
Religiosidade -2,46 1,78 ,09
Católico 4,00 3,21 54,70
Protestante -1,20 2,00 ,30
Nota: **p<,001; *p<0,05
O comportamento do uso de camisinha foi analisado para as duas perguntas
separadamente: uso como método contraceptivo e uso para prevenção de HIV. As
Tabelas 19 e 20 apresentam as regressões logísticas com dois modelos de preditores
para estes comportamentos. No caso da camisinha como contraceptivo (Tabela 19),
apenas gênero e idade revelaram-se preditores significativos nesta amostra,
apresentando um quadro no qual os participantes do gênero feminino e aqueles mais
jovens apareceram como preditores negativos para o uso de preservativo como
método de contracepção. O modelo final teve como variência explicada 10%. No
caso do uso da camisinha, como forma de prevenção ao HIV, o modelo final, além
da idade e gênero apresentou o acesso ao posto de saúde, o nível de religiosidade e o
fato de ser protestante como preditores significativos, explicando 24% da variância
65
para o modelo 2. Neste caso, a variável idade apareceu de forma inversa à análise
anterior, mostrando que quanto mais velho, maior a prevalência do uso de camisinha
para prevenção ao HIV. Da mesma forma, o acesso ao posto de saúde também foi um
preditor positivo para este comportamento. A religiosidade apareceu como uma
variável de influência negativa para o uso de camisinha contra o HIV, no entanto, e
curiosamente, o fato de ser protestante teve uma relação positiva para este
comportamento.
Tabela 19
Regressão Logística para os Preditores da Variável “Uso de Camisinha como
Contraceptivo” entre Jovens Brasileiros
Variável B SE B Odds Ratio R
2
Modelo 1 ,10
Gênero -1,34** ,27 ,26
Idade -,21** ,05 ,80
Pto. de Saúde ,17 ,31 1,19
Modelo 2 ,10
Gênero -1,34** ,28 ,26
Idade -,22** ,05 ,80
Pto. de Saúde ,17 ,31 1,19
Religiosidade ,01 ,14 1,01
Católico -,02 ,30 ,98
Protestante -,31 ,40 ,73
Nota: **p<,001; *p<0,05
66
Tabela 20
Regressão Logística para os Preditores da Variável “Uso de Camisinha para
Prevenção de HIV” entre Jovens Brasileiros
Variável B SE B Odds Ratio R
2
Modelo 1 ,20
Gênero -1,55** ,09 ,21
Idade ,23** ,03 1,26
Pto. de Saúde ,28* ,10 1,32
Modelo 2 ,24
Gênero -1,50** ,10 ,22
Idade ,25** ,03 1,28
Pto. de Saúde ,29* ,11 1,34
Religiosidade -,19** ,05 ,83
Católico ,11 ,11 1,11
Protestante ,64** ,14 0,53
Nota: **p<,001; *p<0,05
Um outro componente do índice de risco sexual foram os casos de abuso
sexual (intrafamiliar e extrafamiliar). Os casos de abuso sexual também passaram por
regressões logísticas, considerando-se o abuso extra e intrafamiliar. O modelo final
para a variável de “abuso extrafamiliar” (Tabela 21) apresentou variância explicada
de apenas 5%, tendo como varíavel preditora significativa apenas a idade do
participante, indicando uma tendência para os participantes mais jovens. no caso
de “abuso intrafamiliar” (Tabela 22), a variância explicada foi menor (2%), porém,
as variáveis significativas no modelo final foram o acesso ao posto de saúde e a
religiosidade, ambos relacionados de maneira negativa ao abuso.
67
Tabela 21
Regressão Logística para os Preditores da Variável “Abuso Extrafamiliar” entre
Jovens Brasileiros
Variável B SE B Odds Ratio R
2
Modelo 1 ,04
Gênero ,67 ,43 1,95
Idade -,22* ,09 ,80
Pto. de Saúde ,24 ,44 1,28
Modelo 2 ,05
Gênero ,70 ,44 2,00
Idade -,22* ,09 ,80
Pto. de Saúde ,26 ,44 1,30
Religiosidade -,19 ,24 ,83
Católico ,79 ,51 2,21
Protestante ,33 ,60 1,39
Nota: **p<,001; *p<0,05
Tabela 22
Regressão Logística para os Preditores da Variável “Abuso Intrafamiliar” entre
Jovens Brasileiros
Variável B SE B Odds Ratio R
2
Modelo 1 ,01
Gênero ,05 ,25 1,06
Idade -,03 ,07 ,97
Pto. de Saúde -,79* ,35 ,45
Modelo 2 ,02
Gênero ,15 ,25 1,16
Idade -,02 ,07 ,98
Pto. de Saúde -,76* ,35 ,47
Religiosidade -,28* ,15 ,76
Católico ,03 ,32 1,03
Protestante ,25 ,40 1,28
Nota: **p<,001; *p<0,05
68
A seqüência de análises de regressão apresentadas nas Tabelas acima revela
que a religiosidade atua de maneira pontual no comportamento sexual dos jovens
investigados. Enquanto contribui para o atraso do início da vida sexual, pode ter se
tornado um fator de risco após a primeira experiência sexual. Dentre os
comportamentos de risco que fazem parte do índice de comportamento de risco
sexual utilizado neste estudo, revelou-se a influência negativa da religiosidade para o
não uso de preservativo como método para prevenir HIV.
2. Estudo 2
2.1 Análise de Attrition
Este estudo foi realizado com delineamento longitudinal e contou com a
participação de uma parcela dos jovens de Porto Alegre que responderam ao
questionário no Tempo 1 (T1) da pesquisa. A Figura 10 mostra que dos 1024
participantes de T1 obteve-se informação sobre 729 jovens, sendo que 293
continuam na escola e foram convidados a participar da segunda etapa da pesquisa.
Dessa forma, dos 1024 participantes desta cidade, 223 jovens aceitaram o convite
para participar novamente em T2 (um ano após a primeira coleta). Alguns casos que
omitiram informações sobre identificação dos questionários em T1, tais como gênero
e idade, foram excluídos e o n final de T2 foi 204 jovens. Não foram obtidos dados
sobre 248 jovens por falta de identificação nos questionários em T1, uma vez que os
procedimentos éticos permitiam que estes não revelassem seus verdadeiros nomes,
inviabilizando a localização nas listas de matrículas das escolas.
69
Figua 10. Situação dos jovens em T2 com relação ao vínculo escolar (n=729)
Dos jovens que permaneceram na escola em T2 (n=293), nem todos
participaram do estudo, pois alguns o foram encontrados, apesar de matriculados,
porque o estavam freqüentando as aulas. O grupo de estudantes não encontrados
na escola, formado por 70 jovens, sugere possível evasão ao longo do ano (uma vez
que os dados foram coletados no segundo semestre). O número de evadidos da
escola, entre T1 e T2, em um ano de intervalo revelou-se alarmante (19.9%). Parte
deles, 23,5% dos participantes concluíram o ensino fundamental e o continuaram
na escola, retratando assim, também, o abandono dos estudos formais por parte dos
jovens, pois não houve pare estes casos informação de pedido de transferência.
Inicialmente, foram realizadas comparações entre o grupo de jovens que
participaram somente em T1 (grupo nomeado como egressos”) e para aqueles que
continuaram no estudo em T2 (grupo nomeado de “remanescentes”), foram
realizados testes t e de Qui-quadrado para as medidas em T1 (tempo no qual todos
foram respondentes) considerando-se variávéis como: idade, gênero,
comportamentos sexuais e religiosidade. Por exemplo, considerando-se a variável
“idade”, compararam-se as respostas dos “remanescentes” versus “egressos” em T1.
Assim, verifica-se a influência da variável investigada em T1 para a continuidade no
estudo, caracterizando os dois grupos.
40.2
19.9
23.5
12.5
3.8
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Continua na escola
Evadiu
Concluiu 1
Concluiu 2
Transferido
70
O grupo de jovens remanescentes apresentou idade média de 15,40 anos
(SD=1,31), mais baixa do que o grupo egresso, que teve média de 16,20 anos
(SD=1,83). Tal dado é coerente com o fato de que os mais velhos foram justamente
os que devem ter concluído o ensino fundamental e médio, portanto, saíram da escola
e consequentemente do estudo em T2.
A Figura 11 mostra os resultados que indicam a diferença de gênero entre os
grupos de egressos e remanescentes, na qual foram considerados os dados de 977
participantes com respostas válidas. Entre os remanescentes houve uma maior
participação de jovens do gênero feminino, mostrando uma inversão significativa na
proporção de participantes por gênero entre T1 e T2 (χ
2
=11,05; p<0,001). Esse dado
revela uma perda de participantes mais elevada para o nero masculino e está de
acordo com o esperado para a população escolar no Brasil, que diz que os jovens do
gênero masculino tendem a sair da escola mais cedo do que as do gênero feminino.
Tal dado revelou-se na dificuldade de acesso a estes participantes em T2.
Figura 11.
Diferença percentual de participantes por gênero entre os grupos de egressos e
remanescentes (n=977)
a) Sexualidade
A idade média da primeira relação sexual foi significativamente mais baixa
(t=-2,59; df=481; p=0,01) para os remanescentes (M=13,71; SD=1,58) do que para os
50.3
49.7
37.3
62.7
0
10
20
30
40
50
60
70
Egressos
Remanescentes
Masculino
Feminino
71
egressos (M=14,23; SD=1,68). Porém, considerou-se a hipótese de um efeito de
memória, pois, sendo os jovens remanescentes mais jovens, pode ter havido uma
tendência em reportar-se ao passado mais recente (lembrança da idade da primeira
relação sexual). No entanto, os resultados da Figura 12 revelaram que o número de
jovens que teve a primeira relação sexual antes de T1 foi proporcionalmente menor
entre os remanescentes (χ
2
=15,42; p<0,001), indicando que no processo de perda de
participantes houve maior perda de jovens não-virgens.
Do mesmo modo, observou-se que um menor número de jovens
remanescentes que haviam tido episódios de gravidez antes de T1 (χ
2
=4,86;
p=0,08), indicando, portanto, perda de participantes que estiveram grávidas no
passado. Possivelmente, a saída de participantes mais velhos do estudo foi uma
variável de interferência para este resultado. A Figura 12 apresenta os percentuais
para primeira relação sexual e episódios de gravidez (vinte participantes o
responderam).
Figura 12.
Percentagem de jovens egressos e remanescentes que tiveram a primeira relação
sexual (n=957) e gravidez (n=471)
Considerando-se os outros comportamentos que compõem o índice de
comportamento de risco sexual (ver Tabela 23), houve diferença significativa apenas
para o uso de camisinha, nas duas modalidades: como contraceptivo e para evitar
57.1
42.9
13
85
2
41.5
58.5
4.2
94.4
1.4
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Egressos
Remanescentes
Já teve relação sexual
Nunca teve relação
sexual
Já esteve grávida
Nunca esteve grávida
Não sabe
72
HIV. Enquanto os remanescentes reportaram maior uso de camisinha como forma de
evitar HIV, os egressos reportaram maior uso quando o objetivo foi a contracepção.
Estes dados foram coerentes com a variável “idade” e com os episódios de gravidez
para os egressos, pois indicam que os mais velhos têm o mesmo padrão para tais
variáveis. Não houve diferença significativa para os casos de abuso sexual extra e
intrafamiliar (p>0,05).
Tabela 23
Percentuais de Uso de Camisinha e Abuso Sexual para Jovens Egressos e
Remanescentes Questionados em T1
Egressos (n)
Remanescentes (n)
χ
2
(p)
Não usa Camisinha – HIV 36% (265) 47% (88) 8,11 (,004)
Não usa camisinha – Contracepção
10% (40) 0% (0) 8,48 (,004)
Abuso intrafamiliar 3% (22) 2,21% (4) 0,46 (,50)
Abuso extrafamiliar 0,7% (5) 0% (0) 1,31 (,25)
b) Religiosidade
Não foi encontrada diferença significativa para o vel de religiosidade dos
participantes em T1 entre os dois grupos (t=1,00; df=822; p=0,31). Os jovens
egressos tiveram média de -0,40 (SD=0,97) no índice de religiosidade composto
pelos sete ítens sobre religiosidade/espiritualidade (ver p. 53), enquanto os jovens
remanescentes tinham média de -0,32 (SD=1,03) quando foram questionados pela
primeira vez (em T1). A Tabela 24 apresenta os percentuais para afiliação religiosa,
considerando-se os três grandes grupos religiosos em análise (Sem Religião,
Católicos e Protestantes). Não houve diferença significativa entre os grupos (p>0,05).
No entanto, percebe-se uma perda maior de participantes sem religião (entre T1 e
T2), seguidos pelos protestantes, com moderado aumento na proporção de católicos.
73
Tabela 24
Percentuais Comparativos de Jovens Egressos e Remanescentes para as
Diferentes Afiliações Religiosas em T1
Egressos (n)
Remanescentes (n)
χ
2
(p)
Sem Religião 34,5% (228)
29,1% (50) 1,80 (,18)
Católicos 47,8% (316)
55,2% (95) 3,01 (,08)
Protestantes/Evangélicos
17,7% (117)
15,7% (27) 0,38 (,54)
Entre os jovens remanescentes (n=172), houve diferença significativa para as
médias de religiosidade entre T1 e T2 (t= 4,98; df=54; p<0,001). Mostrando que a
média de religiosidade aumentou para a amostra total de remanescentes, passando de
-0,31 (SD=1,05) para 0,01 (SD=0,99). Ou seja, os mesmos participantes obtiveram
médias do índice de religiosidade mais altas um ano depois da primeira aplicação do
instrumento.
2.2 Análise Longitudinal
Nesta seção estão apresentados os resultados das análises apenas para os
remanescentes, ou seja, os dados longitudinais. Comparou-se dados nos dois
momentos do estudo longitudinal (T1 e T2), a fim de verificar diferenças em
variáveis específicas (gênero e idade) a partir da condição sexual (vírgens e não-
virgens) e religiosa. Assim, primeiramente, os remanescentes foram divididos em
três grupos: Grupo 1 Virgens”, aqueles que eram virgens em T1 e continuaram
virgens até T2; Grupo 2 – “Debutantes”, aqueles que eram virgens em T1 e perderam
a virgindade até T2; e, Grupo 3 “Não Virgens”, aqueles que não eram virgens
em T1. A Figura 13 apresenta os percentuais para cada um destes grupos. A maioria
dos participantes não era virgem em T1 (41,7%), e 21,1% tiveram a primeira
experiência sexual no intervalo de um ano entre T1 e T2.
74
Figura 13. Percentual de jovens remanescentes segundo a condição de experiência
sexual (n=199)
Não houve diferença significativa intragrupo segundo o gênero do
participante quanto aos percentuais de virgens e debutantes (ver Figura 14). No
entanto, observa-se, na comparação entre grupos (por nero), um percentual maior
de virgens para o gênero feminino e um percentual maior de debutantes para o
gênero masculino.
57.1
42.9
65.9
34.1
0
10
20
30
40
50
60
70
Masculino Feminino
Virgens
Debutantes
Figura 14. Percentual de jovens virgens e debutantes por gênero em T2
(n=116; χ
2
=2,83; p=0,09)
37.2
21.1
41.7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Virgens
Debutantes
Não eram virgens
75
Houve diferença significativa (p=0,02) para a idade média entre os grupos de
virgens e debutantes, sendo estes mais velhos (M=16,56 anos, SD=1,63), que os
virgens (M=15,99 anos, SD=1,03). A média do índice de religiosidade para o grupo
que se manteve virgem foi de 0,31 (SD=0,84), numericamente mais alta que a do
grupo debutante, 0,17 (SD=0,94), no entanto, um teste T revelou que esta diferença
não foi significativamente diferente (p=0,45).
A Tabela 25 apresenta os percentuais de virgens e debutantes em cada uma
das afiliações religiosas. A diferença foi significativa apenas para o grupo “sem
religião”. O maior percentual de católicos na categoria “virgens” foi
proporcionalmente de acordo com o maior número de participantes desta afiliação
religiosa na amostra, no entanto, não houve diferença significativa.
Tabela 25
Percentual e Freqüência de Jovens Virgens e Debutantes em T2 para Grupos
de Afiliação Religiosa
Virgens Debute χ
2
(p)
Sem Religião 17,7% (11)
40,0% (14)
5,80 (0,02)
Católicos 56,5% (35)
48,6% (17)
0,56 (0,45)
Protestantes/Evangélicos
25,8% (16)
11,4% (4) 2,83 (0,09)
Para os participantes remanescentes, foi realizada uma análise de regressão
logística, a fim de identificar preditores da experiência sexual no período entre T1 e
T2. Dessa forma, foi incluído na análise apenas o grupo de participantes virgens em
T1. A variável de desfecho (virgindade em T2) foi codificada com maior valor para o
debute sexual (ver Tabela 26). No primeiro modelo, foram inseridas como preditores
as variáveis gênero, idade e acesso ao posto de saúde. Tal modelo teve variância
explicada de 17%, mas somente a idade foi um preditor significativo, indicando que
o aumento de idade contribui para a situação de debute sexual. No modelo final para
foram inseridas as variáveis, religiosidade, católico (versus protestantes e sem
religião) e protestantes (versus católicos e sem religião). Este modelo revelou que
apenas a idade do participante e o fato de ser Católico foram preditores significativos
da primeira experiência sexual, com variância explicada para o modelo final de 28%.
A idade aparece como preditor positivo, ou seja, o aumento da idade aponta para
76
aumento da possibilidade de debute sexual; enquanto o fato de ser católico aparece
com um preditor negativo, diminuindo a chances de debute sexual. Não houve peso
significativo para o nível de religiosidade como preditor do debute sexual.
Tabela 26
Regressão Logística para as Variáveis de Predição da Virgindade em T2 para os
Participantes Remanescentes
Modelo 1
Modelo 2
Variável B SE B Odds
ratio
IC 95% B SE
B
Odds
ratio
IC 95%
Gênero
,14 ,65 1,15
,32-
4,11
,40 ,70 1,49
,38-
5,87
Idade
,37*
,26 2,09
1,25-
3,50
,79* ,28 2,20
1,27-
3,79
Pto. de Saúde
,87 ,61 2,38
,73-
7,82
,85 ,65 2,35
,66-
8,40
Religiosidade
-,12 ,33 ,89
,47-
1,69
Católico -
1,52*
,68 ,22
,06-
0,82
Protestante
-1,21 ,92 ,30
,05-
1,81
Nagelkerke
R
2
0,17 0,28
-2 log 89,73
82,77
A fim de analisar a hipótese da relação bidirecional do comportamento
sexual, ou seja, o fato de escores de religiosidade serem alterados a partir de
mudanças no comportamento sexual. Foram realizadas análises tendo como foco a
variável “nível de religiosidade”. A partir dos grupos de remanescentes (Virgens,
Debutantes e Não Virgens) foi feito um levantamento comparando-se a dia do
nível de religiosidade em cada um dos três grupos de experiências sexuais diferentes
nos dois tempos do estudo (Tabela 27). As análises revelam um aumento no nível de
77
religiosidade entre T1 e T2 para todos os grupos, porém esta diferença foi
significativa apenas para os grupos de Virgens e Debutantes. Estes resultados
sugerem que outras variáveis, além da experiência sexual, podem estar atuando para
as alterações no nível de religiosidade.
Tabela 27
Médias de Religiosidade em T1 e em T2 segundo o Comportamento Sexual de
Jovens Participantes Remanescentes
Religiosidade T1
Religiosidade T2
t; df; p
Virgens -,03 ,29 3,78; 54; <,001
Debute -,30 ,27 3,88; 35; <,001
Não Virgens
-,50 -,33 1,62; 68; =,11
Foi realizada uma análise de regressão linear a fim de verificar as variáveis
preditoras do vel de religiosidade em T2 (Tabela 28). No primeiro modelo, foram
inseridas como preditores as variáveis nero, idade e religiosidade em T1. Este
modelo teve variância explicada de 49%, apresentando como variáveis preditoroas
significativas o gênero e a religiosidade em T1. Participantes do gênero feminino e
aqueles com maiores índices de religiosidade em T1 aumentam a probabilidade de
altos índices de religiosidade em T2. No modelo final, foi inserida a variável
experiência sexual. O modelo final apresentou variância explicada de 50%, tendo
como preditores significativamente relevantes o nível de religiosidade em
T1(positivamente) e a experiência sexual (negativamente). Ou seja, os jovens mais
religiosos em T1 e os que se mantiveram virgens entre T1 e T2, apresentam maiores
chanches de índices de religiosidade mais altos.
78
Tabela 28
Análise de Regressão Linear para Preditores da Religiosidade em T2 entre Jovens
Remanescentes
Modelo 1 Modelo 2
Variável B SE B Beta B SE B Beta
Gênero
,29* ,12 ,14 ,24 ,12 ,12
Idade
-,03 ,03 -,05 -,02 ,03 -,04
Religiosidade
T1
,62** ,06 ,65 ,60** ,06 ,63
Esperiência
Sexual
-,14* ,07 -,12
R
2
,50 ,51
F 50,77 39,87
R
2
ajustado ,49 ,50
Nota: Gênero (valor mais alto para feminino), Experiência sexual (valor mais alto
para não virgens) *p<0,05; **p<0,001
Apenas para o grupo de virgens, foram realizadas análises para o item do
instrumento que questionava sobre as razões para se manterem virgem. O objetivo
principal deste item foi investigar se haveria influência da religião neste
acontecimento. Foram feitas comparações para as respostas de participantes do
gênero masculino e feminino, havendo diferença significativa apenas para a idade
adequada” e “falta de oportunidade” (Tabela 29). As jovens do gênero feminino
apresentaram percentual maior justificando a falta de experiência sexual, por o ter
idade adequada para tal atividade, enquanto os rapazes alegam com maior freqüência
a falta de oportunidade.
79
Tabela 29
Percentuais para Razões Declaradas pelos Jovens Virgens sobre o porquê não
Tiveram Experiência Sexual
Masculino (n) Feminino (n) χ
2
(p)
Religião 23,3% (7) 20,0% (13) ,14 (,71)
DSTs 43,3% (13) 31,3% (20) 1,31 (,25)
Grupo 20,0% (6) 12,5% (8) ,91 (,34)
Oportunidade 46,7% (14) 17,2% (11) 9,09 (,003)
Idade adequada 16,7% (5) 53,1% (34) 11,18 (,001)
Parceiro adequado 56,7% (17) 69,8% (44) 1,56 (,21)
Outro 10,0% (3) 8,2% (5) 0,82 (,78)
Apenas 23,3% dos rapazes e 20% das moças indicaram a religião como um
fator que colaborou para a manutenção da virgindade. A Tabela 29 mostra os
percentuais para as outras categorias, a saber: medo de contrair DST, influências do
grupo social, falta de oportunidade, não ter a idade adequada, não ter encontrado o(a)
parceiro(a) adequado(a). O maior percentual para ambos os gêneros foi o fato de não
ter encontrado o(a) parceiro(a) adequado(a).
80
Capítulo IV
DISCUSSÃO
Este capítulo está dividido em cinco partes, com discussão sobre os temas:
dados sócio-demográficos; religiosidade; a interação da variável religiosidade com
sexualidade; análise do estudo longitudinal; e, limitações desta tese.
1. Dados Biosociodemográficos
Este estudo mostrou um número mais reduzido de jovens participantes do
gênero masculino. Este dado está de acordo com os dados do Ministério da Educação
(Censo Escolar, 2006). Este tem apontado expectativas diversas para a diferença no
nível de escolarização por nero no Brasil. Tem havido mais alunos do gênero
feminino matriculados nas escolas públicas estaduais e municipais. O fato de contar
com 91,5% dos participantes na faixa entre 14 e 18 anos, também é coerente com a
idade da escolarização para a população geral, explicando o difícil acesso aos jovens
entre 19 a 24 anos, que já estão fora da escola.
Quanto à orientação sexual, houve um número maior de declarações por parte
dos participantes como heterossexuais. O número reduzido de participantes que se
declararam homossexuais pode ser encarado como um viés do instrumento de coleta
de dados, uma vez que a aplicação coletiva (nas salas de aula) pode ter intimidado os
participantes quanto à esta questão, ainda tabu. Além do mais, a faixa etária
investigada pode ainda apresentar uma auto-definição inconsistente e não totalmente
formada quanto à sua orientação sexual. Neste estudo, obteve-se apenas 1,2% dos
participantes declarando-se homossexuais, quando à expectativa nacional seria de
cerca de 10% da população brasileira, distribuídos como 54% gays, 28% como
lésbicas, 17% como bissexuais e 1% como outros (Censo GLS, 2000). A falta de
representatividade destes grupos, por orientação sexual, no presente estudo o
permitiu realizar análises específicas. Além do mais, a opção de não utilizar a
orientação sexual como variável independente baseou-se em prudência, pois alguns
jovens podem ter se confundido com a terminologia, uma vez que, em várias escolas,
durante a aplicação, alguns participantes revelaram desconhecer tais termos e
solicitaram explicações para a equipe de pesquisa. A falta de conhecimentos básicos
e formalizados sobre tal temática tão crucial no desenvolvimento sexual informa
81
como o assunto sexualidade é tratado dentro das escolas. Jovens, cuja atividade
sexual foi iniciada, não apresentaram conhecimentos mínimos sobre terminologias
da área, necessitando de apoio da equipe de pesquisa para responder ao instrumento
utiliizado.
A média de idade da primeira relação sexual para os participantes deste
estudo, 14,24 anos (SD=1,93; ver Figura 5), está abaixo dos índices apontados pelo
Ministério da Saúde (2005), para a população nacional, que é entre 15 e 16 anos.
Este dado está de acordo com a previsão da redução da idade para a primeira relação
sexual e confirma a tendência apontada por outros estudos que hipotetizam uma
cultura de liberação sexual mais precoce (Szwarcwald, Júnior, Pascom, & Júnior,
2004). No entanto, o estudo de Taquette, Vilhena e Paula (2004) não apoia a hipótese
de que a baixa idade da primeira relação sexual esteja ligada à maior exposição aos
comportamentos de risco, como a inconsistência no uso de camisinha. Para as
autoras, adolescentes de todas as idades envolvem-se em sexo sem proteção num
mesmo padrão.
Parte da literatura internacional vem defendendo a idéia de que a vida sexual
dos adolescentes na atualidade tem sido influenciada pelos novos padrões de infância
criados pela sociedade (Doswell, Kouyate, & Taylor, 2003). Para os autores, a
iniciação sexual precoce é reflexo da infância da pressa”, na qual fases são
transpostas e jovens são pressionados a entrar na vida adulta cada vez mais cedo.
Como aponta Elkind (2001), as crianças e adolescentes vestem-se como adultos,
assistem filmes e programas de TV para adultos, e, consequentemente, querem se
comportar como adultos, o que inclui o início de uma vida sexual. Além disso, a
baixa idade para primeira relação sexual pode estar associada ao nível
socioeconômico dos jovens, corroborando estatísticas do WHO (2005) e do
Ministério da Saúde (2005), assim como a hipótese defendida por Waystaff,
Delameth e Havens (1999), que sugerem que a população empobrecida está mais
vulnerável aos comportamentos sexuais de risco, principalmente o sexo precoce e a
baixa frequência do uso de camisinha. Os dados também confirmam a diferença de
gênero, apoiando a hipótese de que, apesar dos avanços quanto à cultura de gênero
brasileira, ainda observa-se a manutenção da divergência cultural na forma como
moças e rapazes lidam com a sua vida sexual (Antunes, Peres, Paiva, Stall, & Hearst,
2002). Tradicionalmente, meninos são mais encorajados a iniciar a vida sexual mais
cedo do que as meninas e de forma mais aberta.
82
Parte dos casos de início precoce de vida sexual, no entanto, sugerem um
aspecto preocupante relativo aos índícios de abuso sexual. Os casos relatados neste
estudo apresentam números alarmantes. Considerando-se que a legislação brasileira
(ECA, 1990), que aponta o sexo com crianças (menores de 13 anos) como abuso
sexual e crime ad juris, os casos presumidos deste estudo por indicação de vida
sexual antes dos 13 anos de idade ultrapassam 10% da amostra. No entanto,
comparando-se este resultado com os relatos espontâneos de abuso (questões 80 e
81), foram encontrados apenas 3,1% de casos. Surpreendentemente, ao contrário do
esperado, não houve diferença significativa para gênero do participantes nos relatos
de abuso. Estudos anteriores (Leal & Leal, 2002) e estimativas nacionais (OIT, 2005)
apontam que os casos de abuso sexual devem ser mais frequentes envolvendo
vítimas do gênero feminino. O número de meninos que passaram por abuso sexual
foi relativamente alto. Tal revelação que induz à premissa de ocorrência do evento
pode ter sido mais freqüente, porque neste estudo este foi questionado de maneira
indireta. Ou seja, o participante informou que teve uma relação sexual antes dos 13
anos de idade. Possivelmente, o mesmo menino que respondeu que teve experiência
sexual antes dos 13 anos não teria dito que sofreu abuso sexual. Tradicionalmente, há
um menor auto-relato de abuso entre os meninos, uma vez que a cultura machista
banaliza as experiências sexuais masculinas colocando estas vítimas na condição de
sujeito da experiência sexual.
O percentual de jovens que informaram usar algum tipo de método
anticoncepcional foi alto para a faixa etária, em comparação com estimativas do
Ministério da Saúde (2005) (ver Figura 6). As participantes do gênero feminino
relataram um uso mais elevado destes todos, uma vez que alguns destes é de
aplicação exclusivamente feminina, como a pílula anticoncepcional. Estudos
mostram que a percepção da capacidade de decisão e negociação sobre o sexo seguro
é mais baixa entre as mulheres (Antunes et al., 2002). O poder implícito dados aos
homens sobre o uso de camisinha, por exemplo, quase que exclui essa alternativa
dentre as opções de contracepção oferecidas. A mulher passa, então, a utilizar os
mecanismos que dependem apenas da sua iniciativa eo envolve negociação com o
parceiro.
Houve uma diferença específica de nero nos percentuais de uso de
camisinha (Tabelas 7 e 8). Participantes relataram maior uso deste método, uma vez
que o uso do preservativo ainda tende a ser resultado da iniciativa masculina
83
(Almeida et al., 2003). O fato dos rapazes usarem preservativo prioritariamente como
método para evitar HIV/AIDS também é coerente, que, culturalmente, a
responsabilidade pela gravidez é maior para as mulheres. No entanto, estas parecem
estar fazendo uso de outros métodos anticoncepcionais de responsabilidade
exclusivamente feminina, como a pílula ou o DIU. Alerta-se para o fato de que o uso
de preservativo como todo contraceptivo é maior em todas as análises, o que
demonstra uma maior preocupação relacionada à gravidez quando comparada à
prevenção de HIV/AIDS. Para os jovens deste estudo, a gravidez pode ser um
problema mais explícito e real, enquanto o HIV/AIDS permanece como distante para
a vida deles, uma vez que não faz parte da esfera pública das suas vidas, mantendo-se
a falta de percepção da vulnerabilidade e a idéia de imunidade.
Dados sobre a gravidez na adolescência vêm mostrado um aumento na taxa
de fecundidade para esta população quando comparada a de mulheres adultas,
especialmente nos países mais pobres, como é o caso da América Latina. No Brasil,
estima-se que aproximadamente 20-25% do total de mulheres gestantes são
adolescentes, apontando que uma em cada cinco gestantes é adolescente, com idade
entre 14 e 20 anos de idade (Santos Júnior, 1999).
Aquino e colaboradores (2003), em estudo multicêntrico no Brasil,
encontraram que a prevalência de gravidez antes dos 18 anos de idade (maioridade
legal brasileira) foi relatada por 8,9% dos homens e 16,6% das mulheres. O mesmo
estudo relata, no entanto, que a maior parte dos episódios de gravidez para esta
população aconteceu no contexto de um relacionamento afetivo, sendo maior o relato
masculino sobre a gravidez de uma parceira eventual do que um relato feminino
sobre esta situação. Destaca-se neste estudo o fato de que a ocorrência de uma
gravidez antes dos vinte anos variou inversamente com a renda e a escolaridade.
Para além da gravidez propriamente dita, a dicussão em questão coloca em
foco uma alteração no ciclo de desenvolvimento destes adolescentes pais e mães, a
partir do nascimento da criança. Ou seja, considera-se aqui uma reflexão a longo
prazo do fenônemo da gravidez na adolescência.
Segundo Heilborn et al. (2002), analisar o impacto da gravidez nas trajetórias
escolar e profissional dos adolescentes, requer um exercício de relativização destas
instâncias nas vidas destes jovens dos diferentes níveis socioeconômicos. O
fenômeno do prolongamento da juventude não parece ter impacto mais amplo para
este grupo social, economicamente empurrados para uma trajetória de subsistência e
84
relações com a escola. Além do mais, uma análise destas variáveis deve contemplar o
histórico e o retrato da situação referenta à relação destes jóvens com a escola e o
trabalho.
Alguns estudos têm questionado a abordagem da sexualidade na adolescência
como uma situação de exposição a riscos (conforme mencionado por Aquilo et al.,
2003). Dessa forma, as consequências negativas apontadas para a gravidez na
adolescência são postas em questão, quando argumenta-se que a saída da escola e a
mudançca da trajetória profissional são fatos precedentes à maioria dos casos de
adolescentes grávidas. Aquino e colaboradores (2003) sugerem que a gravidez na
adolescência seja vista de múltiplas formas (risco, proteção, desejada, indesejada
etc), uma vez que esta é vivida pelos adolescentes de maneiras variadas.
Neste estudo, o foco na possibilidade de exposição ao risco sexual faz
entender que um episódio de gravidez indesejada indica a realização de um ato
sexual sem nenhum tipo de proteção, evidenciando esta prática como um
comportamento de risco também para as DST e HIV/AIDS. Afinal, dados do
Ministério da Saúde (2005) indicam para uma incidência elevada destas doenças em
populações mais pobres, jovens e heterossexuais, exatamente o alvo deste estudo.
2. Religiosidade
Apesar de encontrar um maior número de jovens que se declararam como
católicos, o percentual para este grupo é menor do que os indicadores do CENSO
(IBGE, 2000), para o qual mais de 70% dos brasileiros são católicos. Este dado
revela uma peculiaridade para essa faixa etária e grupo social, como vem apontando
a literatura (Almeida & Montero, 2001). Segundo os autores, jovens de nível socioe-
conômico baixo formam a população que mais muda de religião no Brasil,
questionando a religião dos seus pais e buscando respostas em outras afiliações.
Além do mais, deve-se considerar que, tradicionalmente no Brasil, o índice de auto-
afirmação como católicos é maior, mesmo que esta religião não seja de fato
praticada. Parte da explicação para isto encontra-se no fato de que a religiosidade faz
parte da cultura brasileira e tornou-se introjetada na identidade construída para
aqueles que foram educados em famílias tradicionalmente católicas, uma vez que são
batizados e iniciados nesta religião. Como esperado, os jovens apresentaram alto
percentual de respostas “sem religião”, confirmando a idéia de que nesta fase um
85
maior afastamento das religiões institucionalizadas e maior trânsito religioso
(Almeida & Montero, 2001).
O índice de religiosidade/espiritualidade, criado a partir dos dados deste
estudo, foi satisfatório e atende à recomendação teórica internacional de considerar
estas dimensões como uma medida única (Koenig, McCullough, & Larson, 2001).
As diferenças encontradas para este índice entre as diversas afiliações religiosas
apontaram que, realmente, uma distinção entre elas. Os participantes que se auto-
declararam católicos formam um espécie de “linha de base” no gráfico do nível de
religiosidade, refletindo uma tendência nacional (ver Figura 9). No Brasil, a
facilidade de auto-declaração como católico miscigena este grupo de tal forma que
torna difícil uma caracterização quanto ao nível de religiosidade. Como esperado, o
grupo de protestantes/evangélicos demonstrou mais alto vel de religiosidade, uma
vez que são religiões baseadas na prática (orações, cultos, escrituras e rituais
sagrados).
O baixo nível de religiosidade informado pelos participantes de religiões afro-
brasileiras pode ser explicado por algumas peculiaridades da escala utilizada. Um
vez que os ítens questionam aspectos não usuais destas religiões como compósitos no
índice de nível de religiosidade, como a leitura de escrituras sagradas e a oração, o
que não é, usualmente, praticado por eles em leituras especifícas de literatura desta
religião. No entanto, a utilização de uma medida de religiosidade oriunda de um
índice composto parece mais eficaz para avaliar religiosidade, do que a tentativa de
redução de aspectos isolados, como frequência a cultos, o que é bastante comum em
estudos internacionais. Além do mais, tradicionalmente, os praticantes das religiões
afro-brasileiras costumam viver o sincretismo religioso de forma mais intensa, o que
pode ter influenciado tal resultado. Por exemplo, é frequente para tais adeptos a auto-
declaração como católico e a prática do candomblé (Almeida & Monteiro, 2002).
Notadamente, as religiões afro-brasileiras ainda ocupam uma posição
desprivilegiada, atuando como prática “alternativa” para muitas pessoas e com uma
imagem social ainda vinculada à herança escravocrata brasileira de “marginal).
Alguns dados são fundamentais para compreender o processo de busca de
adesão e pertencimento religioso: o aumento do número de indivíduos pertencentes
às religiões evangélicas e dos que se declaram sem religião, e a queda no número de
católicos. Mais precisamente, esta compreensão deve ser feita focalizando a
população-alvo deste estudo de jovens entre 14 e 24 anos.
86
Estudos internacionais recentes revelam uma diminuição dos níveis de
religiosidade para adolescentes (ver Rostosky et al., 2004). Apesar do fato de que os
jovens continuam afirmando acreditar em Deus, os estudos norte-americanos
revisados por Rostosky e colaboradores revelam que a afiliação religiosa de forma
mais institucionalizada deve estar sofrendo mudanças.
No Brasil, apesar da escassez de estudos quantitativos sobre o tema, a
configuração parece semelhante com o quadro norte-americano. A religiosidade na
adolescência, assim com outras esferas da vida, passa por uma série de
questionamentos, no entanto, apesar dos conflitos com as instituições religiosas,
parece que os adolescentes brasileiros continuam na sua maioria acreditando em
Deus. Apesar disso, as investigações internacionais ainda são imprecisas ao tentar
estabelecer as relações entre idade e nível de religiosidade (Rostosky et al., 2004).
3. Religiosidade e Sexualidade
Os dados transversais que investigaram a relação entre religiosidade e
sexualidade revelaram que a religiosidade pareceu atuar na vida sexual dos jovens
deste estudo, elevando a idade da primeira relação sexual. No entanto, verificando-se
o grupo de jovens que tiveram a primeira relação sexual, os mais religiosos são
aqueles que apresentam médias mais elevadas no índice de risco sexual, expondo-se
mais a comportamentos de risco. Ou seja, apesar da religião atrasar o ínicio da vida
sexual, atuando como possível fator de proteção, uma vez que o jovem inicia sua
vida sexual, seus comportamentos sexuais tendem a ser de maior risco.
Os dados apoiam a hipótese de que religiosidade está negativamente
associada à experiência sexual, ou seja, encontrou-se um menor número de jovens
com alto nível de religiosidade no grupo sexualmente experiente (Tabelas 15 e 16).
Tal dado aponta para o fato de que apesar de encontrar um menor número de jovens
com alta religiosidade no grupo sexualmente experiente, aqueles que se engajam em
experiências sexuais apresentam padrões de comportamento semelhantes. Ou seja, os
jovens tendem a ter a primeira experiência sexual na mesma faixa etária, mas em
proporções diferentes quanto ao número de religiosos e não-religiosos.
Para Doswell, Kouyate e Taylor (2003), tais aspectos devem ser analisados a
partir de duas perspectivas básicas, uma que investigue tal influência do ponto de
vista social e outra que focaliza em dimensões individuais. Do ponto de vista social,
considera-se as igrejas ou qualquer afiliação religiosa, como comunidades que
87
formam uma rede social em torno de ideologias específicas, assim, o pertencimento
grupal pode gerar uma tendência ao comportamento adotado pelo grupo. Entre estes
comportamentos está o de abstinência. Doswell, Kouyate e Taylor (2003) levantam
ainda duas dimensões individuais que podem ser influenciadas pela religiosidade,
quais sejam, auto-regulação e independência. Para os autores, o desenvolvimento
dessas duas dimensões provocariam alterações comportamentais que podem regular
aspectos da sexualidade, como a abstinência.
A discussão sobre estes aspectos torna-se mais polêmica quando se questiona
a efetividade dos programas religiosos pró-abstinência. Como já investigado em
estudos internacionais (Whitehead, Wilcox, & Rostosky, 2001), várias tentativas
religiosas mostraram-se ineficazes, expondo jovens à desinformação e gerando
situações de risco pós-debute sexual. Dessa forma, levanta-se a hipótese de que a
religião, do ponto de vista grupal, pode atuar “na contramão” dos pressupostos de
prevenção de AIDS/DSTs e gravidez do ponto de vista das políticas públicas. No
Brasil, tal contradição parece ainda mais explícita, uma vez que as campanhas de
prevenção têm um poder massivo e universal.
Para grupos de diferentes afiliações religiosas, os Protestantes/Evangélicos
são aqueles que apresentam maiores índices de comportamento sexual de risco. Tal
dado parece ser contraditório, uma vez que, justamente este grupo caracteriza-se
como religiões “baseadas na conduta”, ou seja, precisam seguir uma série de padrões
de comportamento para serem e se sentirem aceitos no grupo religioso (igreja). No
entanto, como visto anteriormente, os Protestantes/Evangélicos são os que
apresentam maior nível de religiosidade, corroborando a informação de que o maior
nível de religiosidade está correlacionado positivamente ao maior índice de risco
sexual.
A ética protestante, com o apoio da idéia de pecado, herdada do catolicismo,
coordena os comportamentos numa lógica de gravidade das ações. Assim, transgredir
a uma norma tem certa gravidade, com conseqüente punição divina, porém,
transgredir a duas normas aumenta a gravidade da situação. Do ponto de vista
prático, isto significa que se o sexo ocasional e fora das bençãos do matrimônio é
algo pecaminoso, planejar esta ação deve ser algo de profundo tormento. Neste
sentido, antecipar a possibilidade de ocorrência de um ato sexual, como possuir um
preservativo na bolsa, como algo preventivo, ou seja, planejar o ato sexual seria algo
88
inconcebível para um adolescente fiel a este grupo. Lógica totalmente inversa à idéia
de prevenção.
Para Westgate (1996), entre as dimensões da religiosidade está o
desenvolvimento de um sistema de valores que orienta as ações das pessoas e que
está baseado em fatores externos ou internos. A religião, na condição de referencial
de apoio cultural, entra numa negociação que passa por estas duas esferas de valores
(internos e externos) e provoca um embate com a libido e os desejos naturais do
desenvolvimento sexual desta fase da vida. O sexo é, então, encarado como uma
tentação, da qual o jovem deveria fugir. Como aponta Júnior (2003), quanto mais
desenvolvido este sistema de valores religiosos, mais é gerada uma situação que leva
os fiéis a atitudes dogmáticas, rígidas e dependente. A religiosidade pode, portanto,
estar ligada tanto à saúde como à doença.
Os dados aqui relatados revelam que o grupo de católicos usam camisinha
num padrão não diferenciado do grupo sem religião (Tabelas 19 e 20). A princípio,
tal dado aparenta uma contradição, uma vez que o catolicismo tem pressupostos
claros e contrários sobre o uso de tal todo. Na verdade, o fato de fazer sexo fora
da relação matrimonial já se configuraria como uma transgressão em si.
Estudos internacionais revelam resultados opostos, nos quais católicos têm
um padrão de comportamento sexual mais rígido e coerente com sua religião (ver
Whitehead, Wilcox, & Rostosky, 2001). Os dados deste estudo corroboram a idéia de
um “catolicismo brasileiro”, cujas regras o flexibilizadas pelos próprios fiéis que
julgam não haver contradição entre seus comportamentos e os ditames da sua igreja.
A naturalização do planejamento familiar entre casais católicos, por exemplo, com
uso de camisinha e lulas anticoncepcionais, abre espaço para a tolerância a estes
comportamentos, a despeito das recomendações oficiais. O que parece ser mais
complicado para aqueles fiéis das religiões baseadas na conduta, notadamente, os
evangélicos neopentecostais.
Analisando o fenômeno da “flexibilidade” católica, Rodrigues (2000) levanta
a idéia de uma “migração” interna. Para a autora, pode existir a possibilidade de
permanência na mesma afiliação religiosa com um contínuo fluxo de mudanças de
concepções sobre a própria religião, o que permitiria a auto-afirmação como
religioso sem o necessário compromisso com os valores institucionais. Tal fato,
configura-se como um fenômeno marcadamente católico brasileiro, como
investigado no seu estudo com mulheres católicas feministas. Segundo Rodrigues,
89
mulheres que percebem a possibilidade de contradição, repensam a sua religião, ou
seja, para elas dar “novos significados à orientação religiosa, é possível elaborar uma
identidade religiosa alternativa para vivenciar sua espiritualidade” (ed eletrônica).
No entanto, além das considerações do ponto de vista do processo individual
de conciliação com a religo, deve-se lembrar da construção histórica temporal que
permite tal tipo de ponderação entre espiritualidade e religiosidade. O desgaste de
certas religiões no Brasil e o surgimento de novas possibilidades de expressão
alimentam o leque de opções na relação entre fiel e igreja. Num país de maioria
católica, o hiato entre a vida social e religiosa parece crescente, abalando as relações
também no nível individual. Como Rodrigues (2000) aponta:
“O que é interessante de ressaltar é que mesmo conscientes da necessidade
de mudanças no Catolicismo sobre as questões da sexualidade em relação às suas
realidades, e que sua conduta não é aceita pela Igreja como lícita, em nada o fato
interfere em sua identificação com católicas, e a maioria declarando-se católica
praticante. Assim, a religião passa de uma esfera social a uma dimensão pessoal e
individual para essas mulheres” . (ed eletrônica).
Marques (2000), em sua revisão sobre o assunto, aponta ponderações sobre as
diferenças da religiosidade intrínseca e extrínseca. A autora encontrou em diversos
estudos que a religiosidade intrínseca está mais fortemente relacionada a resultados
positivos na saúde dos fiéis, como menor depressão, altos veis de força egóica e
comportamento social integrado. Por outro lado, aqueles com religiosidade
extrínseca tendem a apresentar alta ansiedade, sentimento de fraqueza e mal
ajustamento, entre outros problemas. Segundo o autor, os altos níveis de
religiosidade, em especial a extrínseca, podem também estar relacionados a conflitos
com as questões de saúde. Seu estudo indica que os evangélicos (altamente
extrínsecos) apresentam significativos distúrbios de saúde quando avaliados pelo
questionário geral de saúde. No entanto, a espiritualidade, que está relacionada à
religiosidade intrínseca, parece estar relacionada a bons níveis de saúde no mesmo
questionário.
Considera-se que outras variáveis podem estar implicadas nesta relação entre
religiosidade e sexualidade. Por exemplo, nível educacional e socioeconômico são
estreitamente ligados aos comportamentos sexuais de risco (Xavier, 2000). Neste
90
estudo, como partiu-se de uma amostra delimitada quanto a estas variáveis, optou-se
pela investigação de hipóteses teóricas já desenvolvidas, que abordam gênero, idade,
afiliação religiosa e cuidados com a saúde (Whitehead, Wilcox, & Rostosky, 2001).
A regressão logística para a primeira relação sexual confirma que o fato de
ser mais religioso e ser protestante (grupo de mais alto nível de religiosidade) são
preditores que diminuem a probabilidade de ter relação sexual (Tabela 15). A
regressão linear múltipla de preditores para o índice de risco sexual (Tabela 16)
revelou uma influência positiva do uso do posto de saúde para promover
comportamentos de proteção. A utilização do posto de saúde diminui a dia no
índice de risco sexual. Este fato é coerente com o esperado sobre prevenção em DST
e HIV/AIDS, assim como contracepção, pois espera-se um maior nível de
informação e orientação sobre tais assuntos.
Um questionamento pertinente sobre este tipo de resultado é se as pessoas
que desenvolvem a sua espiritualidade também m maior ou melhor atenção ao
cuidados de saúde, uma vez que a espiritualidade implicaria um processo de
valorização da vida. Como encontrou Marques (2000), em revisão, parece que as
pessoas com espiritualidade desenvolvida cultivam bons hábitos de saúde e
comportamento que proporcionam um bem-estar físico e psicológico.
Ainda a análise de regressão linear para preditores do índice de risco sexual,
mostra que maior o nível de religiosidade, maior a chance de envolvimento com
algum comportamento sexual de risco. A religiosidade parece ter mais influência no
comportamento de “uso de camisinha contra HIV/AIDS, porém, não é um preditor
significativo para o uso de camisinha como método contraceptivo. Assim, jovens não
diferem quando ao uso de camisinha como preservativo devido ao nível de
religiosidade, corroborando a idéia de que a gravidez na adolescência parece ser um
problema real para todos os jovens, independente da sua crença.
O dado positivo levantado aqui é o da adesão do jovem ao uso do
preservativo como forma de contracepção, mesmo que este seja contraditório às
crenças religiosas. Conclui-se que a religiosidade mostrou-se como um fator
influente para o início da vida sexual, uma vez que um número significativamente
menor de jovens religiosos têm experiência sexual, e como um fator neutro para o
uso de preservativo e métodos contraceptivos. O que reitera a necessidade e a
importância das campanhas para o uso de preservativo especificamente dirigidas à
esta faixa etária. No entanto, ressalta-se o poder que as religiões baseadas na conduta
91
têm sobre o comportamento destes jovens, gerando um processo de dissonância que
pode culminar numa situação de risco.
4. Estudo II
O Estudo II desta tese revelou a interação longitudinal da religiosidade com a
sexualidade, investigando-se como jovens de diferentes religiosidades comportaram-
se sexualmente ao longo de um ano. Também foi possível investigar o efeito dessa
relação no caminho contrário, ou seja, como as mudanças no comportamento sexual
provocaram (ou não) alterações no nível de religiosidade dos participantes.
O primeiro dado alarmente encontrado no Estudo II diz respeito ao problema
do attrition, ou seja, o número de participandes que foram perdidos ao longo de um
ano de intervalo (Figura 10). De 1024 jovens portoalegrenses em T1, apenas 293
estavam matriculados nas escolas em T2, sendo que 19,9% do total evadiu. Este
número está muito acima da estatística de evasão nacional (Censo Escolar, 2005). Há
uma clara diferença proporcional na evasão de acordo com gênero do participantes
(Figura 11), corroborando os dados nacionais que revelam uma tendência de alunos
do gênero masculino interromperem os estudos mais precocemente, principalmente
nas comunidades de nível socioeconômico mais baixo.
No entanto, de acordo com o Ministério da Educação, o número de jovens
com baixa escolaridade vem caindo. Dados distribuídos pelo Ministério da Educação
mostram que, em 1996, eram 12,2 milhões - 47,9% da população entre 14 e 24 anos
fora da escola. Em 2002, eram 10,9 milhões (O Estado de São Paulo, 22/01/2008).
Especificamente para as participantes do gênero feminino, percebeu-se que um
número notadamente maior de jovens que tiveram gravidez abandonaram a escola
(Figura 12). Tal dado indica que a gravidez em idade escolar pode ser um dos fatores
de afastamento das jovens dos estudos formais. Tal dado é coerente com estimativas
do Ministério da Educação (Censo Escolar, 2005) e reacende a discussão sobre a
gravidez como episódio de risco em si, uma vez que o afastamento da escola implica
uma reavaliação de perspectivas de vida pessoal e profissional.
Comparando-se os grupos de egressos e remanescentes, nota-se que não
houve diferença entre estes quanto ao nível de religiosidade (Tabela 24). Ou seja, a
religiosidade não parece ter sido um fator para manter ou afastar os jovens da escola.
Neste sentido, a hipótese colocada por Zamora e Kuenerz (2002), de que a
religiosidade seria uma forte base de apoio para jovens em situação de risco, no
92
sentido de mantê-los vinculados às instituições escolares, não pode ser confirmada
por este estudo. No entanto, não descarta-se a possibilidade de uma diferença na
forma (qualidade) da vinculação entre os jovens e a escola mediada pela participação
religiosa, como propõem as autoras. Em algumas comunidades de periferias
brasileiras não é incomum encontrar iniciativas religiosas que tentam dar suporte aos
jovens no desenvolvimento dos seus projetos educacionais, por exemplo.
No período entre T1 e T2, um número maior de participantes do gênero
masculino teve a sua primeira relação sexual (debute), indicando uma diferença de
gênero para esta situação (Figura 14). Tal diferença era esperada quando
considera-se os padrões culturais da iniciação sexual no Brasil (já comentado
anteriormente). O fato de ser católico mostrou-se como um forte preditor para que os
jovens virgens se mantivessem virgens entre T1 e T2. No entanto, ser protestante não
funcionou como um preditor significativo para a manutenção da vrigindade. Ou seja,
justamente os protestantes, grupo com maior nível de religiosidade, teve maior
probabilidade de iniciação sexual no intervalo de um ano. Além do mais, como razão
auto-declarada para a manutenção da virgindade, a religão aparece de forma discreta,
com cerca de 20% para ambos os gêneros.
De acordo com Thornton e Camburn (1989), os comportamentos sexuais
influenciados pela religiosidade são muito mais um resultado de uma pressão grupal
do que de normas diretamente ditadas pela religião. Assim, o seguimento da regra de
abstinência seria uma convenção grupal que vai além dos ditames da afiliação
religiosa. Portanto, mesmo católicos e protestantes tendo regras claras sobre a
abstinência sexual pré-marital, talvez, grupos específicos encarem estas regras de
maneiras diferenciadas. A hipótese de Thornton e Camburn é coerente com os
resultados encontrados neste estudo e com as reflexões sociológicas sobre a
religiosidade brasileira (Almeida & Montero, 2001).
Mais uma vez, deve-se considerar que o grupo de católicos é formado por
uma parcela bastante heterogênea, devido à facilidade de auto-declaração como tal,
sem a real necessidade de afiliação institucional concreta. Como dito anteriormente,
o grupo que se auto-declarou como católico demonstra uma maior adaptabilidade dos
seus comportamentos aos pressupostos religiosos. Reafirmando a idéia de que a
identificação com uma determinada religião pode acontecer após e subordinada às
atitudes e comportamentos pregressos dos jovens.
93
Quanto à hipótese bidirecional, investigando-se a influência da experiência
sexual para a alteração no nível de religiosidade, confirmou-se que perder a
virgindade é um preditor para a diminuição do nível de religiosidade (Tabela 28). Ou
seja, confirma-se a hipótese de que a resolução da dissonância entre sexualidade e
religiosidade está no caminho da diminuição dos níveis de religiosidade, o que é
coerente com a discussão proposta por Hardy e Raffaelli (2003).
Para Alvito (2001), a religião dá um sentido para a existência e para os
acontecimentos da vida, pois tenta explicar o mundo de uma forma segundo a qual o
acaso não existe. Percebe-se que os jovens deste estudo têm a
religiosidade/espiritualidade como uma dimensão de importância nas suas vidas,
porém, ao contrário do corolário defendido por Alvito, a explicação do mundo e a
noção de acaso parce ser flexibilizada e acomodada à realidade vivenciada.
Tais análises levam cada vez mais a considerar que a ordem simbólica
desempenha um papel ativo no ordenamento do mundo social. Mas também que a
vivência do mundo social forma uma nova ordem simbólica do campo religioso.
Como salienta Neves (1984):
“A visão religiosa não pode ser entendida apenas ao vel de sua
atualização institucional a igreja -, mas ela perpassa vários domínios
sociais, constituindo uma teoria”, uma forma de conhecer e conceber o
mundo que absorve grande parte dos atos cotidianos dos devotos.” (p. 50)
5. Limitações
Entre as limitações deste estudo, considera-se a hipótese de que a expectativa
social para estas questões tenha gerado vieses nas respostas. Assim, alguns jovens
podem ter respondido sobre o uso de preservativo aquilo que consideram correto,
mas que não necessariamente corresponda aos seus comportamentos. No entanto, os
dados estão próximos do encontrado em outros estudos brasileiros que indicam a
baixa idade da primeira relação sexual e inconsistência no uso de preservativo
(Almeida et al., 2003).
Não foi questionado sobre o uso de preservativo na última relação sexual, o
que daria um dado mais preciso. No entanto, as respostas sobre uso de preservativo
são um indicador do bito de uso a partir do relato do participante, o que não
garante que o comportamento aconteça de fato. Além do mais, não foi questionado
94
sobrea idade do parceiro da primeira relação sexual, o que seria mais um indicador
de ocorrência de abuso sexual.
O baixo número de participantes que se auto-declararam homossexuais está
de acordo com este tipo de metodologia (uso de questionário), uma vez que intimida
participantes, no ambiente escolar e em idade de afirmação sexual, a revelar sua
orientação. No entanto, os casos que afirmaram homossexualidade ou bissexualidade
representam uma parcela de participantes que, mesmo nesta faixa etária, revelam
uma identidade não exclusivamente heterossexual.
Quanto à religiosidade, não foi dada a opção para mais de uma religião, o que
é comum no Brasil. Assim, segue-se a tendência de afirmar o catolicismo como
afiliação, mesmo que tenha outra afiliação religiosa, como costumam fazer alguns
espíritas e adeptos dos cultos afro-brasileiros.
A decisão de ter a escola como local base para a busca de participantes em T1
e relocalização em T2, pode ter causado um problema de viés para os dados
longitudinais, uma vez que, os jovens com maior probabilidade de episódios de risco
podem estar fora da escola (jovens que passaram por episódios de gravidez ou que
tiveram HIV/Aids, por exemplo). Os dados do Estudo II corroboram esta hipótese,
pois houve maior número de casos de evasão entre os jovens que engravidaram antes
de T1. Assim, dados sobre gravidez o subestimados neste estudo, umas vez que é
possível que parte dos jovens que tenham passado por esta experiência entre T1 e T2
não está vinculada ao sistema educacional.
95
Capítulo V
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entender o papel da religiosidade/espiritualidade na vida dos jovens de nível
socioeconômico baixo não é tarefa cil. A maneira singular como esta população se
manifesta, explicitada pelo grande trânsito religioso e pela adaptação de crenças e
valores morais, torna a análise ainda mais complicada. Entretanto, o universo
religioso dessa população parece estar diretamente ligado à sua vida cotidiana,
através de um código ideológico compartilhado pelo grupo social, seja ele o grupo
formado pela população empobrecida ou pelos adolescentes e jovens em geral.
De acordo com Koenig (2001), existem quatro razões para a associação entre
religião e saúde: 1) crenças religiosas provêm uma visão de mundo que dá sentido às
experiências, seja positivo ou negativo; 2) crenças e práticas religiosas podem evocar
emoções positivas; 3) as religiões fornecem rituais que facilitam e santificam as
maiores transições da vida; e, 4) crenças religiosas, como agentes de controle social,
dão direcionamento e estrutura para os tipos de comportamento socialmente
aceitáveis. É nesta última categoria que a pergunta de estudo desta tese em enquadra.
No entanto, esta exige um entendimento da realidade social da população investigada
e de algumas peculiaridades do campo religiosos brasileiro.
No Brasil, a religião não parece mais ditar os comportamentos dos seus fiéis
como fora anos atrás ou como acontece em outros países. A flexibilidade da
religiosidade brasileira dá aos jovens a possibilidade de escolher a religião que mais
se adapta ao seu estilo de vida. Notadamente, é na juventude que ocorre grande parte
do trânsito religioso no Brasil, ou seja, jovens fazem opções religiosas, muitas vezes
separando-se da afiliação de origem familiar. Principalmente após a secularização da
sociedade brasileira e da crescente perda de hegemonia da Igreja Católica, mais
práticas religiosas diversas surgem como um amplo mercado da fé. Neste mercado, a
oferta de respostas para problemas cotidianos torna-se um dos atrativos principais
das chamadas novas religiões (notadamente pentecostais e neopentecostais),
extremamente populares nas periferias das grandes cidades e entre as classes
populares e de baixa escolaridade. Dessa forma, a questão da vivência da sexualidade
encaixa-se neste contexto de forma dupla, tanto como aspecto de saúde como
96
96
concepções de cunho moral - duas esferas da vida das pessoas que são marcadamente
exploradas pelas novas teologias.
Assim, tenta-se entender como se dá a relação entre o ponto de vista religioso
sobre o exercício da sexualidade e o comportamento de fato. Neste sentido, vale
lembrar de outro fator, a chamada dupla moral sexual brasileira, na qual o discusso
do que é ou não é correto (permitido) não parece coerente com as práticas vigentes.
O Brasil é conhecido como um país sexualizado, na música, na televisão e no
comportamento diário das pessoas, especialmente nas classes populares. No entanto,
a sexualização da cultura brasileira, com um certo nível de normalização de
comportamentos sexuais, parece esconder o lado sério da temática. Via de regra, não
se fala de sexo dentro das famílias e das escolas e, em geral, nas religiões, o sexo é
abordado como algo recusável e indiscutível. Neste sentido, pergunta-se como se
a formação da sexualidade dos jovens num contexto cultural como o apresentado no
Brasil da atualidade. O que os jovens brasileiros consideram normal ou desviante do
ponto de vista do desenvolvimento sexual? E mais, a partir de que concepção de
valores de vida o jovens tiram tais conclusões?
Como apontaram Sheeran, Abrams, Abraham e Spears (1993), a literatura
internacional sobre a relação entre religiosidade e sexualidade mostra dados
inconsistentes para esta relação, além de problemas metodológicos na investigação
deste fenômeno, como a predominancia de estudos transversais que não permitem
análises bidirecionais. Frank e Kendall (2001) sugerem que tanto aspectos físicos
como psicológicos são fortemente relacionados às crenças religiosas, apesar das
contradições nas investigações empíricas. No entanto, tais crenças são parte de um
sistema cultural, ou seja, esta relação deve ser considerada de forma diferenciada em
estudos internacionais, uma outra lacuna considerável neste campo de estudo no
Brasil.
De modo geral, os dados desta tese sugerem que os jovens de nível
socioeconômico baixo no Brasil têm um comportamento sexual contraditoriamente
influenciado pelas normas religiosas, uma vez que estas atuam como proteção
somente até o momento que os jovens experienciam o sexo pela primeira vez. Tal
dado é coerente com parte da literatura científica em religiosidade brasileira, que
aponta para um tendência de afastamento de valores religiosos para a juventude
(Queiroz, 1996). Ou seja, na dissonância provocada entre a manifestação da
97
97
sexualidade e as recomendações religiosas, parece que a subordinação da moral
religiosa tem sido mais comum entre estes jovens.
Segundo Almeida e Montero (2001), a maneira como a religiosidade no
Brasil é vivida, especialmente para a maioria católica, torna as relações entre religião
e vida privada mais flexíveis. Dessa forma, a vivência religiosa não pressupõe
necessariamente o seguimento rígido de regras e condutas de comportamento, salvo
algumas exceções. Além do mais, como apontam Antoniazzi (2003) e Pereira (2003),
o afastamento da instituição religiosa proporciona a formação de uma vivência
religiosa/espiritual peculiar, como é o caso daqueles que “acreditam em Deus, mas
não têm religião”. Nesta vivência, as regras são criadas como idiossincrasias,
incluindo-se as idéias sobre comportamento sexual e contracepção.
Para os jovens brasileiros, as novas relações com a religiosidade propiciam
um ambiente mais confortável para exercer a sexualidade. Jovens conseguem
conciliar religião e sexo mais do que as gerações precendentes. Soma-se a isso o fato
de que, do ponto de vista da esfera pública, o sexo pode fazer parte da vida cotidiana
destes jovens muito mais do que a religião, uma vez que a sexualidade no Brasil está
fortemente presente na mídia e artes em geral.
O fato de os dados deste estudo não estarem de acordo com achados
internacionais, principalmente norte-americanos (Whitehead, Wilcox, & Rostosky,
2001), levanta a discussão da diferença cultural implicada na vivência da
religiosidade e da sexualidade. Em culturas como a norte-americana a religião parece
estar mais arraigada a valores tradicionais, porém, a auto-declaração como não
religioso mostra-se mais fácil. De forma semelhante, a maneira como estas duas
culturas lidam com a sexualidade também mostra-se muito diferenciada, por
exemplo, a ênfase que é dada ao uso de preservativo e ao controle da natalidade no
Brasil pode provocar um efeito de naturalização dessas questões. Dessa forma, o
Brasil gera um ambiente favorável a uma possível diminuição de dissonância entre
sexo e religião, ao contrário dos Estados Unidos, onde estes são dois temas bastante
contraditórios (Hardy & Rafaelli, 2003).
Deve-se considerar a força que as campanhas educativas sobre o uso do
preservativo têm no Brasil. Como destacam Almeida, Aquino, Gaffikin e Magnani
(2003), ao que parece, as estratégias de prevenção do HIV/AIDS no país estão
promovendo uma difusão do uso de preservativo em grupos populacionais diversos,
98
98
mesmo que isso signifique um confronto a certos valores tanto grupais, como os
religiosos.
Os dados relatados e discutidos nesta tese revelam um reflexo da relação
singular que a sociedade brasileira formou entre religião e sexualidade na tentativa
de preencher um hiato formado pelo discusso oficial sobre estas práticas. A
configuração atual do campo religioso e a posição dos jovens neste permitem um
releitura da fé, que passa por uma esfera individualizada e subverte a ordem
institucional com certa facilidade. No dilema entre o desejo e o dever, a sexualidade
dos jovens emerge com força catalizada pela naturalização do sexo na cultura
brasileira e encontra um campo religioso maleável e propício a reinterpretações que
se adequam às suas vidas.
Neste estudo, fica evidente a necessidade de considerar a investigação da
religiosidade a partir de uma pluralidade de manifestações e da idealização religiosa
provocada pelo sincretismo brasileiro. Neste sentido, seria mais coerente falar em
termos de “religiosidades” uma vez que a diversidade do campo e a tendência à
individualização da são tão marcantes no desempenho da religiosidae entre os
jovens brasileiros.
Ao investigar o papel da religiosidade/espiritualidade nas vidas das pessoas e
comunidades, é importante lembrar a razão da existência destas crenças e
importância de tais na manutenção e equilíbrio das ações e relações pessoais. Como
destacam Zamora e Kuenerz (2002), a crença religiosa não possui uma causa pela
simples razão de ser. Para as autoras, a religião:
“Não pode ser encarada como um erro cognitivo, não uma
inadequação social resultante de um ensino precário, de problemas
emocionais, de privação cultural ou de quaisquer outras formas
etnocêntricas como os pobres e culturalmente diferentes têm sido
explicados e (mal) “compreendidos”. Mas trata-se da afirmação de
uma forma de encarar o mundo, com seus critérios próprios de
veracidade e fidedignidade, pertinentes à fé.” (p. 79)
99
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ANEXO A
QUESTIONÁRIO UTILIZADO NA PESQUISA COM OS JOVENS BRASILEIROS NAS CAPITAIS
CAMPO GRANDE, PORTO ALEGRE, RECIFE E SÃO PAULO
DATA: NOME DO ENTREVISTADOR: LOCAL DA ENTREVISTA:
NOME: _________________________ TELEFONE: __________________
1. Sexo: a. ( ) Masculino b. ( ) Feminino 2. Idade: ________
3. Cidade/Estado onde nasceu: _______________________
4. Cor: a. ( ) Branca b. ( ) Negra c. ( ) Parda d. ( ) Amarela e. ( ) Indígena
5. Estado Civil:
a. ( ) Solteiro b. ( ) Casado c. ( ) Divorciado d. ( ) Separado e. ( ) Viúvo f. ( )Outros
6. Quem sustenta financeiramente a sua casa? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Eu
b. ( ) Pai
c. ( ) Mãe
d. ( ) Irmão/Irmã
e. ( ) Meu/Minha Companheiro(a)
f. ( ) Padrasto/Madrasta
g. ( ) Outros. Quem? _________
7. O seu pai está vivo?
a. ( ) Sim b. ( ) Não c. ( ) Não sei
8. A sua mãe está viva?
a. ( ) Sim b. ( ) Não c. ( ) Não sei
9. Onde seus pais nasceram? Marque com X:
Pai
Mãe
a. Capital desse estado onde você mora
b. Interior desse mesmo estado
c. Capital de outro estado
d. Interior de outro estado
e. Outro país
f. Não sei
10. Qual é o grau de instrução de seu pai e da sua mãe? Marque com X:
Pai
Mãe
a. Sabe ler, mas não foi à escola
b. Analfabeto
c. Fundamental incompleto (1º grau)
d. Fundamental completo (1º grau)
e. Médio incompleto (2º grau)
f. Médio completo (2º grau)
g. Superior incompleto (universitário)
h. Superior completo (universitário)
i. Não sei
108
11. Quem mora na sua casa? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Pai
b. ( ) Mãe
c. ( ) Padrasto
d. ( ) Madrasta
e. ( ) Irmãos
f. ( ) Avô
g. ( ) Avó
h. ( ) Tios
i. ( ) Pais adotivos
j. ( ) Filho(s)
k. ( ) Companheiro(a)
l. ( ) Outros:_________________________
12. Com relação à idade das pessoas que moram com você, quantas possuem:
Uma pessoa
Duas pessoas Três pessoas Quatro ou mais pessoas
Até 5 anos
Entre 6 e 14 anos
Entre 15 e 24 anos
Entre 25 e 40 anos
Acima de 40 anos
13. Você morava em alguma outra cidade imediatamente antes de morar onde mora hoje?
a. ( ) Não, sempre morei aqui (Se marcar essa alternativa, pule para a questão 15)
b. ( ) Morei no interior do mesmo estado
c. ( ) Morei na capital de outro estado
d. ( ) Morei no interior de outro estado
e. ( ) Morei em outro país
14. Se você se mudou, por que foi? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Busca de uma melhor condição financeira (trabalho para você ou para seus pais)
b. ( ) Para estudar
c. ( ) Para receber melhor assistência médica
d. ( ) Transferência de emprego(sua ou dos seus pais)
e. ( ) Para casar
f. ( ) Nâo sabe/Não se lembra
g. ( ) Outro Qual? ___________________
15. Quantos quartos tem sua casa? ________
16. Quantos banheiros tem sua casa? _______
17. De que material a sua casa é construída?
a. ( ) Alvenaria (tijolo)
b. ( ) Madeira
c. ( ) Papelão
d. ( ) Amianto, barro
e. ( ) Outro Qual? _____________
18. Marque quais serviços que sua casa possui:
a. ( ) Água encanada
b. ( ) Energia elétrica
c. ( ) Rede de esgoto
d. ( ) Telefone
109
e. ( ) Internet
f. ( ) Coleta de lixo
19. Qual a média da renda mensal familiar do seu domicílio?
a. ( ) R$ 0-100
b. ( ) R$ 101-200
c. ( ) R$ 201-300
d. ( ) R$ 301-400
e. ( ) R$ 401-500
f. ( ) R$ 501-600
g. ( ) R$ 601-800
h. ( ) R$ 801-1.000
i. ( ) R$ 1.001-1.200
j. ( ) Acima de R$ 1.200
Se você tem algum tipo de deficiência, responda as questões abaixo. Se não, passe para a
pergunta número 23:
20. Que tipo de deficiência você tem?
a. ( ) Visual
b. ( ) Auditiva
c. ( ) Física
d. ( ) Outra Qual?_________________
21. Há quanto tempo você convive com esta deficiência?
a. ( ) Desde que nasci
b. ( ) Há mais de três anos
c. ( ) De um há três anos
d. ( ) De um ano pra cá
22. Sua deficiência foi causada por:
a. ( ) Problemas na gestação
b. ( ) Acidente Qual? ____________________
c. ( ) Doença Qual? ______________________
d. ( ) Outro Qual? ________________________
23. Por favor, marque X para como você avalia:
Muito ruim
Ruim
Nem ruim nem boa Boa
Muito boa
a. A sua saúde
b. A sua qualidade de vida
c. A sua aparência física
24. Por favor, marque o número correspondente a quantas vezes no último ano, você:
b. Foi ao médico 0
1
2
3
4 ou mais Não lembra
c. Esteve hospitalizado 0
1
2
3
4 ou mais Não lembra
d. Faltou ao trabalho ou escola por estar doente 0
1
2
3
4 ou mais Não lembra
25. Você tem alguma doença crônica (diabetes, AIDS, câncer, insuficiência renal, outra)?
a. ( ) Sim Qual?______________
b. ( ) Não
26. Você precisa tomar algum remédio todos os dias? (exceto pílula anticoncepcional)
a. ( ) Sim Qual? ______________
110
b. ( ) Não
27. Você utiliza os serviços do posto de saúde da sua comunidade?
a. ( ) Sim
b. ( ) Não (Se você não utiliza, pule para a questão 29)
c. ( ) Não há posto de saúde
28. Como você avalia os serviços do posto de saúde da sua comunidade? Marque com X a
sua resposta:
Muito ruim
Ruim
Regular
Bom
Muito bom
a. Quanto à localização
b. Quanto à facilidade de receber atendimento
c. Quanto à qualidade (profissionais, infra-estrutura)
29. Qual a sua orientação sexual?
a. ( ) Heterossexual
b. ( ) Homossexual
c. ( ) Bissexual
d. ( ) Transexual
30. Você já teve sua primeira relação sexual?
( ) Sim Com que idade? _______
( ) Não (Se não, pule para a questão 43)
31. Se sim, com quem foi?
a. ( ) Namorado(a)
b. ( ) Amigo(a)
c. ( ) Marido/Esposa
d. ( ) Parente Qual? __________________
e. ( ) Outro Qual? ___________________
32. Você ou sua parceira utilizam algum método para evitar filhos?
a. ( ) Nunca (Pule para a questão 34)
b. ( ) Às vezes
c. ( ) Sempre
33. Qual método você usa para evitar filhos? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Esterilização feminina
b. ( ) Pílula anticoncepcional
c. ( ) Espuma ou geléia vaginal
d. ( ) Injeções anticoncepcionais
e. ( ) Diafragma
f. ( ) DIU
g. ( ) Camisinha
h. ( ) Tabela, ritmo, calendário
i. ( ) Coito interrompido
j. ( ) Esterilização masculina
k. ( ) Outros métodos _________________
34. Quantas vezes você esteve grávida - ou a sua parceira (namorada, esposa)?
a. ( ) 1
b. ( ) 2
c. ( ) 3
d. ( ) 4
111
e. ( ) 5
f. ( ) 6 ou mais
g. ( ) Nenhuma (Pule para a questão 43)
h. ( ) Não sei
35. Quantos filhos estão vivos hoje? ________
.
36. O que aconteceu com os outros filhos?
Quantos? (escreva o número)
a. Sofreram aborto natural
b. Sofreram aborto provocado
c. Morreram no parto
d. Morreram entre 0 e 1 ano
e. Morreram com mais de 1 ano
37. Qual a sua idade quando teve seu primeiro filho nascido vivo? ________ anos
38. Você teve algum(a) filho(a) portador(a) de deficiência?
a. ( ) Sim Quantos? ________ De que tipo? _______________
b. ( ) Não
c. ( ) Não sei
39. Quantos filhos moram com você hoje? ________
40. Com quem seus filhos moram?
a. ( ) Comigo
b. ( ) Com o pai/mãe
c. ( ) Avôs/Avós
d. ( ) Outro parente
e. ( ) Abrigos
f. ( ) Família adotiva
g. ( ) Não sei
41. Se você ou sua parceira já esteve grávida, marque X na sua resposta:
Discordo
Nem concordo nem discordo Concordo
a. Esse foi um importante momento da minha vida
b. A gravidez foi desejada
c. Eu me senti envergonhado(a)
d. A gravidez foi motivo de preocupação
e. Escondi a gravidez
f. Eu me senti orgulhoso(a)
g. Perdi o emprego, por causa da gravidez
h. Eu me casei
i. Fui obrigado(a) a casar
j. Comecei a trabalhar, por causa da gravidez
k. Parei de estudar, por causa da gravidez
42. Se você já foi mãe ou pai, marque X na sua resposta:
Discordo Nem concordo
nem discordo
Concordo
a. Esse foi um importante momento da minha vida
b. Comecei a trabalhar para criar meu(s) filho(s)
c. Abandonei os estudos para trabalhar
e. Gostaria de ter outro(s) filho(s)
112
f. O nascimento da criança mudou a minha dinâmica de vida
g. Abandonei os estudos para cuidar do bebê
h. Minha família ajuda financeiramente a meu(s) filho(s)
i. Minha família ajuda com a criação de meu(s) filho(s)
43. Qual método você usa para evitar AIDS? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Não tenho relações sexuais
b. ( ) Faço exames médicos freqüentes
c. ( ) Uso camisinha
d. ( ) Não compartilho seringas
e. ( ) Não beijo na boca
f. ( ) Não faço sexo oral
g. ( ) Tomo cuidados de higiene
h. ( ) Não faço nada para me prevenir
i. ( ) Outro Qual? __________________________
44. Sobre a sua qualidade de vida, marque com um X o seu grau de satisfação com:
Muito
insatisfeito
Insatisfeito Nem satisfeito
nem insatisfeito
Satisfeito Muito
satisfeito
a. Você mesmo
b. Suas relações pessoais (amigos,
parentes, conhecidos, colegas)
c. Sua vida sexual
d. O apoio que recebe dos amigos
e. As condições do local onde mora
45. Você já estudou ou estuda em escola?
a. ( ) Estudo ______ série
b. ( ) Nunca estudei (Se marcar esta opção, pule para a questão 55)
c. ( ) Estudei até a _____ série (Se marcar esta opção, pule para a questão 53)
46. Qual o turno em que você freqüenta a escola?
a. ( ) Manhã
b. ( ) Tarde
c. ( ) Noite
d. ( ) Integral
47. Quantas vezes por semana, em média, você vai à aula?
a. ( ) 1
b. ( ) 2
c. ( ) 3
d. ( ) 4
e. ( ) 5
48. Você recebe bolsa/auxílio (bolsa escola, bolsa alimentação, etc.)? (marque mais de uma
se for o caso)
a. ( ) Não recebo bolsa
a. ( ) Bolsa escola
b. ( ) Bolsa alimentação
c. ( ) Bolsa de estudo
d. ( ) Agente Jovem
e. ( ) Crédito educativo
f. ( ) Outra __________________
113
49. Como você avalia a qualidade da sua escola?
a. ( ) Muito ruim
b. ( ) Ruim
c. ( ) Razoável
d. ( ) Boa
e. ( ) Muito boa
50. Você já foi reprovado?
a. ( ) Não
b. ( ) Uma vez
c. ( ) Duas vezes
d. ( ) Três vezes
e. ( ) Quatro vezes
f. ( ) Cinco vezes
g. ( ) Seis vezes ou mais
51. Você já foi expulso de alguma escola?
a. ( ) Sim Por quê?_____________________________
b. ( ) Não
52. Por favor, marque com X a sua opinião sobre os seguintes fatos:
Na escola... Discordo
Nem concordo
nem discordo
Concordo
a. Eu me sinto bem quando estou na escola
b. Gosto de ir para a escola
c. Gosto da maioria dos meus professores
d. Gosto da maioria dos amigos que tenho na escola
e. Meus estudos têm uma grande importância para mim hoje
f. Meus estudos têm uma importância pra mim no futuro
g. Meus pais ou familiares incentivam muito os meus estudos
h. Quero continuar meus estudos nessa escola
i. Posso contar com meus professores ou alguém da equipe escolar
(orientador, coordenador)
j. Confio na maioria dos meus professores
k. Se precisar, sei que posso contar com a ajuda dos amigos
l. Confio nos amigos da escola
m. Tenho muito desejo de fazer uma faculdade
n. Minha realização pessoal envolve fazer uma faculdade
o. Considero-me um bom estudante
p. Sei que tenho condições de entrar numa universidade
q. Só quem vai à escola particular pode entrar na universidade
r. Para alcançar o que sonho preciso estudar muito
(Se você está estudando e respondeu as perguntas acima, pule para a questão 55)
53. Se você não está estudando agora, por que parou? (marque mais de uma resposta se for o
caso)
a. ( ) Não gostava, ia mal na escola
b. ( ) Mudei de moradia (cidade, bairro, etc.)
c. ( ) Saí de casa
d. ( ) Não tinha vaga
e. ( ) Precisei trabalhar
f. ( ) A escola era longe
g. ( ) Não tinha dinheiro para comprar material, uniforme, etc.
114
h. ( ) Fui expulso(a)
i. ( ) Já conclui os estudos
j. ( ) Por ser deficiente
k. ( ) Não lembro
l. ( ) Outro. Qual?_________________
54. Há quanto tempo parou de estudar?
a. ( ) Não me lembro
b. ( ) Até 6 meses
c. ( ) Mais de 6 meses até 1 ano
d. ( ) Mais de 1 ano até 2 anos
e. ( ) Mais de 2 anos até 5 anos
f. ( ) Mais de 5 anos
55. Você trabalha ou trabalhou nos últimos 12 meses?
a. ( ) Sim
b. ( ) Não
56. Marque mais de um item se for o caso:
Atualmente, você...
a. ( ) Não trabalha e não está procurando trabalho
b. ( ) Não trabalha e está procurando trabalho
c. ( ) Trabalha com carteira assinada
d. ( ) Trabalha sem carteira assinada
e. ( ) Trabalha por conta própria
f. ( ) Faz ãbicosã
g. ( ) Realiza trabalhos voluntários (sem pagamento/remuneração)
h. ( ) Ajuda nas atividades de sua própria casa (sem pagamento/remuneração)
i. ( ) Trabalha para outra pessoa, mas não ganha nada com isso
57. Que palavra tem o mesmo significado da palavra trabalho para você? ______________
58. Que palavra tem um significado oposto ao significado da palavra trabalho? __________
59. Marque com um X, qual é a sua opinião sobre as seguintes questões relacionadas ao
trabalho:
Discordo
Nem concordo
nem discordo
Concordo
a. Trabalho é qualquer atividade que exija força, energia ou esforço
para ser feita
b. Trabalho é qualquer atividade que produz algo útil à nossa vida ou
à vida de outras pessoas
c. O trabalho é algo difícil, duro e penoso, mas temos obrigação de
fazer, porque Deus disse que devemos ganhar o pão com o suor do
nosso rosto
d. Trabalho é uma colocação numa empresa, com carteira assinada
e. O trabalho é aquilo que mostra que uma pessoa é digna e honrada
f. O trabalho de uma pessoa é um produto que se pode vender
g. É o trabalho de uma pessoa que diz quem ela é para os outros
h. É o trabalho que mostra que uma pessoa tem saúde física e mental
i. Trabalhar é ter idéias
j. Trabalho é aquilo que se faz para ganhar dinheiro
115
Caso não esteja trabalhando, pule para a questão 66.
60. Que meio de transporte utiliza para ir ao trabalho? (marque mais de uma resposta se for o
caso)
a. ( ) A pé
b. ( ) Carro ou motocicleta particular
c. ( ) Transporte coletivo (ônibus, trem, metrô etc.)
d. ( ) Uso o transporte da empresa onde trabalho
e. ( ) Bicicleta
f. ( ) Não preciso me deslocar para ir ao trabalho
g. ( ) Uso outro meio de transporte Qual? ___________________________
61. Qual a sua renda mensal média?
a. ( ) R$ 0-100
b. ( ) R$ 101-200
c. ( ) R$ 201-300
d. ( ) R$ 301-400
e. ( ) R$ 401-500
f. ( ) R$ 501-600
g. ( ) R$ 601-800
h. ( ) R$ 801-1.000
i. ( ) R$ 1.001-1.200
j. ( ) Acima de R$ 1.200
62. Você recebe algum tipo de auxílio do seu trabalho (vale refeição, cesta básica, vale
transporte)?
a. ( ) Sim
b. ( ) Não
63. Nos últimos 30 dias sobrou algum dinheiro do que você ganhou com o seu trabalho?
a. ( ) Sim
b. ( ) Não
64. Como você recebe seu pagamento?
a. ( ) A cada dia trabalhado
b. ( ) Semanalmente
c. ( ) Quinzenalmente
d. ( ) Mensalmente
e. ( ) Não tem regularidade
f. ( ) Não recebo pagamento
65. Quantas horas por dia você dedica ao trabalho? _________ horas
66. Marque com X a sua opinião sobre a influência de cada uma das características abaixo
para que, na sociedade atual, uma pessoa possa conseguir um trabalho:
Atrapalha Não interfere Ajuda
a. Ser casado
b. Ser solteiro
c. Ser branco
d. Ser indígena
e. Ser mestiço
f. Ser negro
g. Ser oriental
h. Saber ler e escrever
116
i. Ter o ensino fundamental completo (1o grau)
j. Ter o ensino médio completo (2o grau)
k. Ter um curso de nível superior completo (universitário)
l. Estar estudando
m. Estar sem estudar
n. Morar perto do local de trabalho
o. Ter experiência de trabalho anterior
p. Ter a indicação de um amigo
q. Ser indicado por uma instituição (igreja, ONG)
r. Ter filhos
s. Ter alguma deficiência (física, visual, auditiva, mental)
t. Ser homem
u. Ser mulher
v. Ter feito algum curso profissionalizante
w. Saber lidar com computadores e informática
x. Saber outro idioma além do português
y. Ser heterossexual
z. Ser homossexual
aa. Ser jovem
bb. Ser idoso
cc. Gozar de boa saúde
dd. Ter dentes bem cuidados
ee. Estar grávida
ff. Ter cumprido o serviço militar obrigatório
gg. Ter todos os documentos
hh. Ter conta bancária
ii. Ter uma religião
jj. Usar roupas novas e bem cuidadas
kk. Mostrar que precisa de trabalho
ll. Mostrar que tem competência
67. Com relação ao seu trabalho atual, marque com X a sua opinião para as seguintes frases:
No trabalho... Discordo
Nem concordo
nem discordo
Concordo
a. Eu estou sempre aprendendo coisas novas
b. Se eu continuar nesse trabalho, sei que vou passar o resto da vida
fazendo a mesma coisa
c. Eu tenho boas relações com os meus colegas
d. Eu sinto que trabalho demais
e. Minhas tarefas são desafiadoras e variadas
f. Eu trabalho nesse lugar porque preciso, mas não tenho interesse e
nem gosto do que faço
g. Meus horários são inconvenientes
h. Eu sei que não vou ser posto na rua de uma hora pra outra
i. Tenho que fazer muita coisa para as quais eu não estou preparado
j. As pessoas dão valor ao meu trabalho
k. Eu tenho que fazer as coisas como meus chefes mandam, não
posso sugerir inovações
l. Eu estou satisfeito com o que ganho
m.Eu sinto vergonha do meu trabalho
n. Eu tenho segurança e conforto
117
68. Marque com um X, a sua opinião sobre o que você espera de seu trabalho:
Eu gostaria que meu trabalho me oferecesse... Discordo Nem concordo
nem discordo
Concordo
a. Oportunidades de aprender coisas novas
b. Possibilidade de crescimento profissional
c. Boas relações com os colegas
d. Mesma quantidade de horas de trabalho por dia
e. Horários mais convenientes
f. Possibilidade de pensar, tomar decisões, sugerir e criar
g. Garantia de satisfação pessoal
h. Garantia de não perder o trabalho de uma hora pra outra
i. Ter tarefas para as quais sinto segurança para realizar
j. Saber que as outras pessoas acham meu trabalho bom
k. Dar sugestões e perceber que são aceitas
l. Possibilidades de ganhar bem
m. Possibilidades de ter orgulho do que faço
n. Um local limpo, seguro e confortável para trabalhar
69. Marque sim ou não para cada item em cada uma das colunas:
Caso já tenha experimentado algumas das drogas citadas,
responda a essas duas colunas:
Tipo de droga Já experimentou De um ano pra cá, usou? De um mês pra cá, usou?
Vinho ou cerveja ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Outra bebida alcoólica ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Cigarro comum ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Maconha ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Haxixe ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Cola ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Loló ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Lança ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Cocaína ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Crack ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Remédios ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Chás ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
Outra ___________ ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não
70. De um mês pra cá, quantos dias você fez uso das drogas abaixo? Marque com X:
Tipo de droga Todos ou quase todos os
dias (20 dias ou mais)
Alguns dias
(4 a 19 dias)
Poucos dias
(1 a 3 dias)
Não usou
a. Bebida alcoólica
b. Cigarro comum
c. Drogas ilícitas (maconha, cocaína,
crack, etc.)
71. Se você usa ou já usou drogas (incluindo cigarro e álcool), qual é o motivo? (marque
mais de uma resposta se for o caso) (Se não usa nenhum tipo de droga, pule para a questão
76)
a. ( ) Não sei
b. ( ) Acho legal, gostoso, divertido
c. ( ) Para me sentir mais solto (desinibido)
d. ( ) Para me sentir mais forte e corajoso
118
e. ( ) Porque é fácil conseguir
f. ( ) Porque os meus amigos usam
g. ( ) Para esquecer a tristeza e os problemas
h. ( ) Outro. Qual? ____________________
72. Qual dessas drogas você já tentou parar de usar? (marque mais de uma resposta se for o
caso)
a. ( ) Bebida alcoólica
b. ( ) Cigarro comum
c. ( ) Drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack, etc.)
d. ( ) Nunca tentei parar de usar (pule para a questão 75)
73. Alguém ajudou você nessa tentativa? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Tentei sozinho
b. ( ) Tentei com um amigo/grupo de amigos
c. ( ) Alguém da igreja
d. ( ) Alguém de instituição (educador, assistente social)
e. ( ) Alguém do hospital ou posto de saúde
f. ( ) Alguém da família
g. ( ) Outros _____________________
74. Se você parou de usar drogas ilícitas, qual o motivo? (marque mais de uma resposta se
for o caso)
a. ( ) Não sei
b. ( ) A família é contra
c. ( ) Amigos, namorado(a) são contra
d. ( ) Por causa da religião
e. ( ) Por medo da polícia
f. ( ) Por causa da saúde
g. ( ) Medo de viciar
h. ( ) Usou e passou mal
i. ( ) Outro Qual? ____________________
75. Como você consegue (conseguiu) as drogas (ilícitas) que você usa (usou)? (marque mais
de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Pedi/ganhei de alguém
b. ( ) Comprei pessoalmente
c. ( ) Pedi para outra pessoa comprar
d. ( ) Outros Qual?_________________________
76. Se você nunca usou drogas ilícitas, por que você nunca usou? (marque mais de uma
resposta se for o caso)
a. ( ) Não sei
b. ( ) A família é contra
c. ( ) Amigos, namorado(a) são contra
d. ( ) Por causa da religião
e. ( ) Por medo da polícia
f. ( ) Por causa da saúde
g. ( ) Medo de viciar
h. ( ) Outro Qual? _____________________
77. Você já tentou se matar?
a.( ) Nunca tentei. (Se você nunca tentou, passe para a questão 80).
b.( ) Já tentei Quantas vezes? ______
119
78. Se você já tentou se matar, como foi? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Com faca, tesoura, canivete
b. ( ) Com revólver
c. ( ) Enforcado
d. ( ) Com substâncias químicas (remédios, venenos)
e. ( ) Provocando acidente com vculo
f. ( ) Queda provocada
g. ( ) Com fogo
h. ( ) Outro Qual?___________________
79. Por que você tentou se matar? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Falta de sentido para viver
b. ( ) Desilusão amorosa
c. ( ) Dificuldades financeiras
d. ( ) Por causa do vício em drogas
e. ( ) Por problemas na família
f. ( ) Outro Qual?___________________
80. Marque com que freqüência, utilizando a escala de 1 a 5 a seguir, ocorrem estes fatos:
Nunca
Muito raramente Raramente Freqüentemente Muito freqüentemente
1 2 3 4 5
Alguém com quem eu moro ou morei já...
(durante toda a sua vida)
Freqüência Quem? (mãe, pai, irmão,
amigo, padrasto, madrasta, tios,
etc.)
a. Gritou comigo e me deu bronca exagerada
b. Fez ameaças de me bater
c. Me deu de fato um soco, tapa, empurrão
d. Me ameaçou com um objeto (pedaço de madeira, ponta de
cigarro, etc.)
e. Me agrediu com objetos (pedaço de madeira, ponta de
cigarro, etc.)
f. Me ameaçou com arma (faca, revólver)
g. Me agrediu com arma (faca, revólver)
h. Tentou mexer no meu corpo, me beijar à força
i. Mexeu de fato no meu corpo, me beijou à força
j. Teve relação sexual forçada comigo
k. Me ameaçou de castigo
l. Me deu de fato um castigo
81. Marque com que freqüência, utilizando a escala de 1 a 5 a seguir, ocorrem estes fatos:
Nunca
Muito raramente Raramente
Freqüentemente Muito freqüentemente
1 2 3 4 5
Na minha comunidade ou em outros locais por onde eu
ando (escola, igreja, centros comunitários, locais de festa,
etc.), alguém... (durante toda a sua vida)
Freqüência Quem? (por exemplo: professor,
amigo, desconhecido, etc.)
a. Gritou comigo e me deu bronca exagerada
b. Fez ameaças de me bater
c. Me deu de fato um soco, tapa, empurrão
d. Me ameaçou com objeto (pedaço de madeira, ponta de
cigarro, etc.)
120
e. Me agrediu com objeto (pedaço de madeira, ponta de
cigarro etc.)
f. Me ameaçou com arma (faca, revólver)
g. Me agrediu com arma (faca, revólver)
h. Tentou mexer no meu corpo, me beijar à força
i. Mexeu de fato no meu corpo, me beijou à força
j. Teve relação sexual forçada comigo
k. Me ameaçou de castigo
l. Me deu de fato um castigo
82. Marque com X a sua opinião sobre os fatos seguintes:
Em minha casa... Discordo
Nem concordo nem discordo Concordo
a Gosto de ficar sozinho(a)
b Sinto-me seguro com a minha família
c Fico à vontade
d Tenho medo de receber ameaças
e Tenho privacidade
f O ambiente é pesado
g Há muitas brigas e discussões
h Fico com medo de ser cobrado
i É melhor do que ficar na rua
j Presencio situações de alcoolismo
k Há pessoas que são ãde luaã
l As pessoas me acolhem com carinho
m As pessoas são indiferentes à minha presença
n Há divisão das tarefas domésticas
o Encontro o apoio do qual necessito
p Há respeito mútuo entre as pessoas
q As pessoas dão atenção ao que falo
r Alguém quer mandar mais do que os outros
s As pessoas se ajudam mutuamente
83. Em geral, como você descreveria a segurança da sua comunidade?
a. ( ) Muito insegura
b. ( ) Insegura
c. ( ) Mais ou menos segura
d. ( ) Segura
e. ( ) Muito segura
f. ( ) Não sei
84. Qual dessas situações você encontra/vivencia no local onde você mora? (marque mais de
uma resposta se for o caso)
a. ( ) Tráfico de drogas
b. ( ) Batidas policiais
c. ( ) Assaltos, roubos
d. ( ) Tiroteios
e. ( ) Nenhuma das anteriores
85. Você já sofreu alguma violência por parte da polícia?
a. ( ) Não
b. ( ) Sim. De que tipo? __________________________________
Quando foi? __________________________________
121
86. Em sua opinião, quais são as razões principais para os adolescentes cometerem atos de
violência? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Problemas na família
b. ( ) Busca de identidade e respeito
c. ( ) Busca de proteção
d. ( ) Busca de pertencimento ao grupo
e. ( ) Busca de melhor condição financeira
f. ( ) Outro Qual?___________________
87. Qual o seu maior medo? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Perder algum familiar ou alguém que ama muito
b. ( ) Morrer
c. ( ) Sofrer algum acidente
d. ( ) Sofrer violência
e. ( ) Não ter emprego
f. ( ) Ficar sozinho
g. ( ) Outro. Qual?___________________
88. Marque com um X a coluna referente à sua resposta para cada item:
Nunca Às vezes Sempre
a. Sofro preconceito por morar onde moro (bairro, vila)
b. Acho que tenho desvantagens por conta do meu sexo (homem/mulher)
c. Sou discriminado por minha orientação sexual (heterossexual, homossexual,
bissexual, transexual)
d. Sofro preconceito racial (por conta da minha cor)
e. Sinto que estou em desvantagem por estudar em escola pública
f. Sofro discriminação por conta da profissão dos meus pais
g. Já passei por preconceito por causa da minha classe socioeconômica
h. Sofri preconceito por causa da minha religião
i. Já estive em desvantagem por conta da minha aparência física
j. Sofro discriminação por ser deficiente
89. Marque com um X a coluna referente à sua resposta para cada item:
Sim
Não
a. Nasci com uma deficiência
b. Vivencio violência dentro da minha casa
c. O nível econômico da minha família baixou de uma hora para outra
d. Alguém em minha casa está desempregado
e. Meus pais se separaram
f. Já estive internado em instituição (abrigos, FEBEM, orfanato, etc.)
g. Já fugi de casa
h. Já fui menino(a) de rua
i. Já dormi na rua
j. Já fui preso
k. Alguém da minha família está ou esteve preso
l. Sofri algum acidente que me trouxe alguma deficiência
m.Alguém muito importante pra mim faleceu
n. Passei fome
o. Já me envolvi com tráfico de drogas
p. Já morei com pessoas diferentes das que moro hoje
q. Vivencio violência na minha comunidade
r. Já tive problemas com a justiça
90. Você acredita em Deus (poder, espírito, inteligência ou força superior)?
122
a. ( ) Sim
b. ( ) Não
c. ( ) Não sei
91. Com relação à sua religião/doutrina/crença, você se considera...
a. ( ) Não acredito em Deus (ateu)
b. ( ) Sem religião (mas acredito em Deus)
c. ( ) Católico
d. ( ) Protestante
e. ( ) Evangélico
f. ( ) Espírita
g. ( ) Umbandista
h. ( ) Candomblé
i. ( ) Outro _______________________
92. Marque com um X a sua opinião em cada item:
Nem um pouco Pouco
Nem muito
nem pouco
Muito
Bastante
a. A religião/espiritualidade tem sido importante
para a minha vida
b. Costumo freqüentar encontros religiosos
c. Costumo ler escrituras sagradas ou fazer
orações no meu dia-a-dia
d. Costumo agradecer a Deus pelo que acontece
comigo
e. Peço ajuda a Deus para resolver meus
problemas
f. Costumo ler escrituras sagradas ou fazer
orações quando estou em momentos difíceis
g. Busco ajuda da minha instituição religiosa
(igreja, templo, etc.) quando estou em dificuldades
93. Se você já buscou ajuda em alguma organização religiosa, de que tipo foi? (marque mais
de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Espiritual
b. ( ) Emocional
c. ( ) Material
d. ( ) Não busquei
94. O que você gosta de fazer em suas horas de lazer? (marque mais de uma resposta se for o
caso)
a. ( ) Trabalhar
b. ( ) Estudar
c. ( ) Praticar esportes
d. ( ) Brincar
e. ( ) Passear
f. ( ) Assistir TV
g. ( ) Ouvir ou tocar música
h. ( ) Desenhar/pintar/artesanato
i. ( ) Namorar
j. ( ) Descansar
k. ( ) Navegar na Internet
l. ( ) Festas
m. ( ) Nada
n. ( ) Outros __________
123
95. Você tem amigos(as)?
a. ( ) Sim
b. ( ) Não
96. De onde são seus amigos(as)? (marque mais de uma resposta se for o caso)
a. ( ) Não tenho amigos
b. ( ) Escola
c. ( ) Bairro
d. ( ) Rua
e. ( ) Internet
f. ( ) Outros Quais? ___________
97. Você tem um melhor amigo (a)?
a. ( ) Sim Do mesmo sexo que eu ( )
De sexo diferente do meu ( )
b. ( ) Não
98. Que tipo de apoio amigos(as) devem dar uns aos outros? (marque mais de um se for o
caso)
a. ( ) Emocional
b. ( ) Material
c. ( ) Espiritual
d. ( ) Nas atividades (de casa, da escola)
e. ( ) Social (participar em festas, momentos de lazer, pertencer a grupos)
f. ( ) Outro Qual? ___________________
99. Que tipo de apoio você recebe dos seus amigos(as)? (marque mais de uma resposta se for
o caso)
a. ( ) Não tenho amigos
b. ( ) Emocional
c. ( ) Material
d. ( ) Espiritual
e. ( ) Para fazer minhas tarefas (de casa, da escola)
f. ( ) Social
g. ( ) Não posso contar com eles
100. Que tipo de apoio você dá para os seus amigos(as)? (marque mais de uma resposta se
for o caso)
a. ( ) Não tenho amigos
b. ( ) Emocional
c. ( ) Material
d. ( ) Espiritual
e. ( ) Para fazer as suas tarefas (de casa, da escola)
f. ( ) Social
g. ( ) Não podem contar comigo
101. Qual é o nível de confiança que você tem nas seguintes instituições?
Nenhum
Baixo
Médio
Alto
a. Justiça
b. Polícia
c. Prefeitura
d. Governo estadual
e. Governo federal
f. Organização comunitária
124
g. Vizinhança
h. Conselho tutelar
i. Amigos
j. Escola
k. Família
l. Posto de saúde
102. Qual o nível de ajuda você espera receber dos grupos a seguir?
Nenhum
Baixo
Médio
Alto
Família
Vizinhos
Amigos
Liderança religiosa/grupo
Liderança comunitária
Polícia
Prefeitura
Colegas de trabalho
103. Marque com um X a importância que as seguintes afirmações têm pra você:
Mínima Pouca
Nem muita
nem pouca
Muita Máxima
a. Preservar e respeitar a vida humana
b. Garantir o direito de ter bens materiais sem que
ninguém mexa neles
c. Falar a verdade
d. Ter boas relações com familiares e amigos
e. Amar e ter relacionamentos
f. Obedecer às autoridades
g. Garantir que as pessoas vivam mais e melhor
h. Cumprir as leis e regras da sociedade
i. Manter a palavra e cumprir promessas e contratos
j. Lutar para que todos tenham seus direitos
respeitados
k. Amar e servir a Deus (poder, espírito, inteligência
ou força superior)
l. Agir conforme manda a consciência
m. Punir quem age de forma errada
104. Marque com um X a coluna correspondente à sua opinião sobre as seguintes
afirmações:
Nunca Às vezes Sempre
a. Eu me sinto pertencente à minha comunidade
b. As pessoas no meu bairro são honestas e posso confiar nelas
c. Eu me sinto seguro na minha comunidade
d. Minha comunidade tem melhorado nos últimos cinco anos
e. Eu posso contar com meus vizinhos quando preciso deles
f. Eu posso contar com meus parentes quando preciso deles
g. Eu posso contar com alguma organização comunitária quando preciso
h. Eu posso contar com alguma organização do governo quando preciso
i. Trabalho como voluntário em alguma organização religiosa ou ONG
j. Eu posso contar com pessoas amigas
k. As pessoas amigas podem contar comigo
125
105. Marque com um X na coluna correspondente à sua opinião sobre as seguintes
afirmações:
Discordo Nem concordo
nem discordo
Concordo
a. Sinto que sou uma pessoa de valor como as outras pessoas
b. Estou procurando um sentido para a minha vida
c. As situações difíceis da vida não me derrubam
d. Eu acho que sou uma pessoa bem humorada
e. Eu preciso receber mais atenção
f. Eu me sinto triste
g. Minha vida tem um significado muito claro
h. Eu gostaria de ter mais respeito por mim mesmo(a)
i. Eu me sinto excluído de oportunidades por ser deficiente
j. Eu gosto de brigar
k. Eutenho lembranças negativas da minha infância
l. Eu sou feliz
m. Sinto-me tão deprimido(a), que nada poderia me alegrar
n. Eu espero ajuda de Deus para melhorar de vida
o. Eu gosto de ajudar as pessoas
p. Eu me sinto calmo, tranqüilo
q. Eu tenho facilidade para fazer amigos
r. Eu me sinto em desvantagem por ser deficiente físico
s. Eu espero que as pessoas me ajudem a melhorar de vida
t. Eu não gosto de lembrar do meu passado
u. Parei de estudar/trabalhar por causa da minha deficiência
v. Eu sou divertido
w. Eu penso que serei feliz no futuro
x. Eu sinto vergonha de ser do jeito que sou
y. Eu tenho muitas coisas na vida para agradecer
z. Eu me considero uma pessoa criativa
aa.Tive ajuda de instituições para superar desvantagens e limitações
da deficiência
bb. Eu me preocupo com o meu futuro
cc. Às vezes, eu penso que não presto para nada
dd. Eu entendo o significado da minha vida
ee. Eu sou irritado
ff. Sou capaz de fazer tudo tão bem como as outras pessoas
gg. Eu faço as mudanças acontecerem na minha vida
hh. Levando tudo em conta, eu me sinto um fracasso
ii. Eu sou feliz, mesmo sabendo que tenho problemas
jj. Eu sei o que eu preciso fazer para atingir os meus objetivos
kk.Às vezes, eu me sinto inútil
ll. Sinto-me incapaz para atividades cotidianas, por ser deficiente
mm. Eu acho que tenho muitas boas qualidades
nn. Eu tenho motivos para me orgulhar na vida
oo. Eu sofro preconceitos por ser deficiente
pp. De modo geral, eu estou satisfeito(a) comigo mesmo(a)
qq. Eu estou satisfeito(a) com a minha vida
rr. Eu me sinto incapaz para trabalhar, porque sou deficiente
ss. Eu gosto da minha vida
tt. Eu sou infeliz, embora não tenha muitas razões para isto
uu. Eu tenho uma atitude positiva com relação a mim mesmo(a)
vv. Eu tomo a iniciativa para fazer mudanças na minha vida
126
ww. Tenho destaque na minha comunidade, porque sou deficiente
109. O que você gostaria que acontecesse de bom na sua vida? _______________________
Questões inseridas em T2
110. Qual a religião da sua mãe? _______________________________
111. Qual a religião do seu pai? ________________________________
112. Sobre a religiosidade da sua família, marque com um X a coluna correspondente à sua
opinião:
Nem um
pouco
Pouco
Nem muito
nem pouco
Bastante
Muito
a. Meus pais costumam seguir
preceitos religiosos
[ ] [ ] [ ] [ ] [ ]
b. Na minha casa a religião é algo
valorizado
[ ] [ ] [ ] [ ] [ ]
c. Meus pais incentivam que eu siga a
religião deles
[ ] [ ] [ ] [ ] [ ]
d. Na minha casa há liberdade para que
cada um escolha a sua religião
[ ] [ ] [ ] [ ] [ ]
e. Meus pais querem que eu siga as
regras da religião deles
[ ] [ ] [ ] [ ] [ ]
f. A religião dos meus pais não
influencia na minha vida
[ ] [ ] [ ] [ ] [ ]
113. Se você ainda não teve sua primeira relação sexual, marque as opções que melhor
justificam este fato. (marque mais de uma se for o caso)
[ ] a. Sigo recomendações da minha religião (não fazer sexo antes do casamento etc.)
[ ] b. Tenho medo de pegar doenças sexualmente transmissíveis
[ ] c. Não quero me sentir “diferente” em relação ao meu grupo (não quero ter fama de
“galinha” ou ser mal visto na minha comunidade)
[ ] d. Não tive oportunidade
[ ] e. Acho que não tenho a idade adequada
[ ] f. Não encontrei a pessoa certa
[ ] g. Outro. Qual? ______________________________________
127
ANEXO B
TERMO DE CONCORDÂNCIA DA INSTITUIÇÃO
Estamos realizando uma pesquisa que tem como objetivo investigar fatores de risco
e proteção junto a jovens de 14 a 24 anos. Para tanto solicitamos autorização para realizar
este estudo, nessa instituição. Também será utilizado um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para cada participante (em anexo).
A coleta de dados deverá envolver a aplicação de um questionário que deveser
respondido individualmente por cerce de 1000 jovens em dez escolas de Porto Alegre. Os
participantes do estudo serão claramente informados de que sua contribuição é voluntária e
pode ser interrompida em qualquer etapa, sem nenhum prejuízo. A qualquer momento, tanto
os participantes quanto os responsáveis pela Instituição poderão solicitar informações sobre
os procedimentos ou outros assuntos relacionados a este estudo. Todos os cuidados serão
tomados para garantir o sigilo e a confidencialidade das informações, preservando a
identidade dos participantes bem como das instituições envolvidas. Os procedimentos
utilizados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da ética na Pesquisa com Seres Humanos
conforme a Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos
procedimentos utilizados oferece riscos à dignidade do participante. Todo o material desta
pesquisa ficará sob responsabilidade dos pesquisadores no Instituto de Psicologia da UFRGS
e após sedestruído. Dados individuais dos participantes coletados no processo de pesquisa
não serão informados às instituições envolvidas ou aos familiares, mas deverá ser realizada
uma devolução dos resultados, de forma coletiva, para a escola.
Através deste trabalho, esperamos contribuir para o esclarecimento de algumas
questões relativas às vivências de jovens brasileiros em seu cotidiano de vida. No futuro,
essas informações poderão ser usadas em benefício de outros jovens.
Agradecemos a colaboração dessa Instituição para a realização desta atividade de
pesquisa e colocamo-nos à disposição para esclarecimentos adicionais. O pesquisador
responsável por esta pesquisa é o Psicólogo Doutorando Elder Cerqueira Santos sob
supervisão da Profª Dra. Sílvia H. Koller, do Curso de Pós-graduação em Psicologia do
Desenvolvimento do Instituto de Psicologia, UFRGS. Caso queiram contactar com a equipe,
isto poderá ser feito pelo telefone (51) 3316-5150.
______________
Data
__________________________________
Psicólogo Elder Cerqueira Santos – CRP 07/12972
Concordamos que os jovens, que estudam nesta instituição, participem do presente estudo.
Data ____/____/____
_______________________________
Responsável pela Instituição
128
ANEXO C
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PESQUISA: FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO DE JOVENS EM CAMPO GRANDE, RECIFE,
SÃO PAULO E PORTO ALEGRE
COORDENADORA: SÍLVIA H. KOLLER
1. Natureza da pesquisa: Você é convidado a participar desta pesquisa, que tem como finalidade
investigar aspectos gerais sobre a vida de jovens brasileiros.
2. Participantes da pesquisa: Aproximadamente 3000 jovens brasileiros que residem em Campo
Grande, Porto Alegre, Recife e São Paulo.
3. Envolvimento na pesquisa: Ao participar deste estudo você deve permitir que um membro do grupo
de pesquisa deste projeto entreviste você. As entrevistas podem ser em sua escola, centro comunitário
ou instituição, em sala previamente determinada. É previsto um único contato com cada participante,
que deve durar mais ou menos uma (1) hora. Como se trata de um tema que pode trazer algumas
lembranças e sentimentos talvez desconfortáveis, será oferecido ao final da entrevista um espaço para
você falar livremente o que quiser. Você tem a liberdade de se recusar a participar e pode, ainda, se
recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para você. No
entanto, solicitamos sua colaboração em completar o roteiro de perguntas que lhe ser· solicitado,
garantindo assim o melhor resultado para a pesquisa. Sempre que quiser você poder· pedir mais
informações sobre a pesquisa. Poderá entrar em contato com o coordenador da pesquisa Dra. Sílvia H.
Koller através do telefone (51) 3316-5150.
4. Sobre as entrevistas: As entrevistas serão marcadas com antecedência. Será pedido que você
forneça algumas
informações básicas e que responda a um roteiro de perguntas de múltipla escolha ou escolha simples
sobre vários aspectos de sua vida.
5. Riscos e desconforto: A participação nesta pesquisa não traz complicações legais, talvez, apenas, a
lembrança de alguns eventos diante da tem·tica que ser· abordada. Os procedimentos utilizados nesta
pesquisa obedecem aos Critérios da ética na Pesquisa com Seres Humanos conforme a Resolução n.
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos utilizados oferece riscos sua
dignidade.
6. Confidencialidade:Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. As
gravações e os relatos de pesquisa serão identificados com um código, e não com o seu nome. Apenas
os membros do grupo de pesquisa terão conhecimento dos dados.
7. Benefícios:Ao participar desta pesquisa você não deverá ter nenhum benefício direto. Entretanto,
esperamos que este estudo traga informações importantes sobre as questões relativas às vivências de
jovens brasileiros em seu cotidiano de vida. No futuro, essas informações poderão ser usadas em
benefício de outros jovens.
8. Pagamento: Você não tenenhum tipo de despesa por participar desta pesquisa, bem como nada
ser· pago por sua participação.
Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta
pesquisa.
Portanto, preencha os itens que seguem:
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu
interesse em participar da pesquisa.
____________________________________ _________________________________
Nome do participante da pesquisa Local e Data
__________________________________________________________________________
___
Assinatura da participante da pesquisa
____________________________________________
Sílvia H. Koller
Coordenadora do Projeto
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