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MARCOS MIETHICKI DA SILVA
O HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE:
a presença de Jorge Moreira na arquitetura da capital gaúcha
Dissertação apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação
em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Arquitetura
Arq. Cláudio Calovi Pereira, Ph.D.
Prof. Adjunto PROPAR/UFRGS
Orientador
Porto Alegre
2006
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Para
Jorge Machado Moreira
In memoriam
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AGRADECIMENTOS
Impossível relacionar todas as pessoas que colaboraram na realização deste trabalho. Sendo
assim, destaco apenas as que mais se fizeram presentes e peço perdão às demais:
Ao prof. Cláudio Calovi Pereira, pela oportunidade de desenvolver este projeto. Sua sabedoria
e modéstia o caracterizam como um verdadeiro mestre a se inspirar. Suas lições, sugestões e
apoio foram essenciais no desenvolvimento do trabalho.
Ao arq. Fabiano Mesquita Padão, pela colaboração na recuperação da história do Hospital de
Clínicas antes da atuação de Jorge Moreira, momento em que nossas pesquisas se cruzaram.
À profª. Elizabete Rodrigues de Campos Martins, pela recepção e atenção disponibilizadas no
Rio de Janeiro, assim como aos funciónarios do NPD, em especial à Cynthia Cavalcante.
À arqª. Vera Fabrício Carvalho, pelas informações para a montagem do trabalho após a
atuação de Jorge Moreira, incluindo sua memória que é a história viva desta edificação.
Ao arq. Cícero Alvarez, pela colaboração na busca de informações sobre a arquitetura da
escola carioca em Porto Alegre, na medida em que nossas pesquisas se aproximaram.
Aos professores Carlos Eduardo Dias Comas, Günter Weimer, José Artur D’Aló Frota, Luís
Henrique Hass Luccas, Roberto Luís Torres Conduru e Vera Lúcia Dutra Mascarello, pelos
materiais, informações e sugestões para o desenvolvimento do presente trabalho.
Aos demais professores do PROPAR, por terem contribuindo na formação de um novo
pesquisador e docente em arquitetura, em especial ao prof. Elvan Silva.
À secretária Rosita do PROPAR. Às bibliotecárias Carmen e Margarete e aos funcionários
João e Jaime da Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Às arquivistas Márcia e
Medianeira do Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS. Às funcionárias Ana e Adriana do
Arquivo da FMPA. À historiadora Berenice do Museu da UFRGS. Ao fotógrafo Clóvis do
HCPA. Aos arq. Valdir e Valéria, pela contribuição gráfica.
Ao arq. Augusto Pernau, amigo e colega de trabalho. À Cristina Beleza, namorada que me
mostrou a verdadeira beleza. E por último, mas não por isso menos importante, aos meus pais
e irmãos, que sempre me deram todo o apoio necessário para a realização deste trabalho.
Para mim, fazer arquitetura é idealizar a obra visando a
resolver, com intenção plástica, o problema proposto, de
acordo com a época, os materiais e as possibilidades
técnicas; analisando e considerando os fatores externos
que nela influem; respeitando imposições e hábitos do
meio; detalhando e articulando todos os elementos e
buscando sempre a verdade, quanto à sua finalidade e
função, tanto na forma como no uso dos materiais.
JORGE MACHADO MOREIRA
ARQUITETO
RESUMO
SILVA, M. M. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre: a presença de Jorge Moreira na
arquitetura da capital gaúcha. 2006. Dissertação de Mestrado em Arquitetura – Programa de
Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura (PROPAR) – Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2006.
A dissertação pretende registrar a história e analisar a arquitetura do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre. O projeto de Jorge Moreira foi pioneiro na cidade com a intenção de promover
a arquitetura moderna que obteve ampla repercussão na Europa entre as duas grandes guerras.
Concomitantemente, Moreira participou da maioria dos projetos desenvolvidos pelos
integrantes da escola carioca para a capital gaúcha. Após introdução contextual referente ao
advento da arquitetura moderna em Porto Alegre e a influência do arquiteto em sua difusão,
os três capítulos iniciais verificam os projetos realizados para o Hospital de Clínicas. O
primeiro capítulo recupera a história e a origem, identificando os estudos iniciais feitos na
década de 30, antes da atuação de Moreira. O segundo capítulo descreve e examina as três
versões do projeto produzidas pelo arquiteto entre 1942 e 1952. O terceiro capítulo apresenta
o projeto realizado em 1958 após o afastamento de Moreira, assim como o desfecho da
construção na década de 70. O quarto e último capítulo comenta os demais projetos
desenvolvidos pelo arquiteto para a cidade, considerando também o contexto da nova
arquitetura. A dissertação conclui que o complexo processo que retardou por décadas a
concretização do Hospital de Clínicas e as alterações ao projeto original que o desfiguraram,
impediram que o mesmo se tornasse um marco na promoção do novo estilo na capital gaúcha.
A arquitetura moderna em Porto Alegre não se difundiu por meio da atuação direta da escola
carioca na cidade, mas indiretamente pela influência exercida por sua linguagem sobre a
produção arquitetônica local. Pretende-se assim, auxiliar no conhecimento das referências que
foram absorvidas, transformadas ou rejeitadas na arquitetura porto-alegrense, compreendendo
a concepção, reconhecendo a relevância e investigando a repercussão do Hospital de Clínicas
em Porto Alegre.
Palavras-chave: Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Jorge Machado Moreira, arquitetura
moderna em Porto Alegre, arquitetura moderna brasileira, escola carioca.
ABSTRACT
SILVA, M. M. The Hospital of Clinics of Porto Alegre: the presence of Jorge Moreira in
the architecture of Porto Alegre. 2006. Master’s degree dissertation in Architecture - Program
of Research and Postgraduate degree in Architecture (PROPAR) - Federal University of Rio
Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2006.
The dissertation intends to register the history and to analyze the architecture of the Hospital
of Clinics of Porto Alegre. Jorge Moreira’s design was pioneer in the city in promoting the
modern architecture style that obtained wide repercussion in Europe between the two great
wars. Concomitantly, Moreira participated in most of the projects developed by the integrants
of the Carioca school for Porto Alegre. After defining the context regarding the arrival of
modern architecture in Porto Alegre and the architect's influence in its diffusion, the three
initial chapters verify the projects done for the Hospital of Clinics. The first chapter recovers
the history and the origin of the hospital, identifying the initial studies done in the decade of
30, before Moreira's participation. The second chapter describes and examines the three
versions of the project produced by the architect between 1942 and 1952. The third chapter
presents the project produced in 1958 after Moreira's removal, as well as the ending of the
construction in the decade of 70. The fourth and last chapter comments on the other projects
developed by the architect for the city, also considering the context of the new architecture.
The dissertation concludes that the complex process that delayed for decades the
materialization of the Hospital of Clinics and the alterations to the original project that
deformed it, turned impossible any major role of the building in the promotion of the new
style in Porto Alegre. The modern architecture in the city didn't spread by means of the direct
participation of the Carioca school in the city, but indirectly through the influence of its
language in the local architectural production. In this way, this work intends to help in the
knowledge of the references that were absorbed, transformed or rejected in the modern
architecture of Porto Alegre, understanding the conception, recognizing the relevance and
investigating the repercussion of the Hospital of Clinics in Porto Alegre.
Key-words: Hospital of Clinics of Porto Alegre, Jorge Machado Moreira, modern architecture
in Porto Alegre, Brazilian modern architecture, Carioca school.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: perspectiva sudeste do anteprojeto do Hospital de Clínicas de Porto Alegre –
1933 .................................................................................................................... 24
Figura 2: esquema do anteprojeto do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – 1933 ........ 24
Figura 3: Cidade Universitária de Porto Alegre no Campo da Redenção com
transcrição da legenda – 1937 ............................................................................ 29
Figura 4: terrenos analisados para a construção do Centro Médico – 1937 ..................... 34
Figura 5: esboço do terreno do Caminho do Meio – 1937 ............................................... 35
Figura 6: estudo para o terreno em Teresópolis – 1937 ................................................... 36
Figura 7: Campo da Redenção durante a Exposição do Centenário Farroupilha com o
terreno do Caminho do Meio demarcado [esquerda] – 1935 ............................. 38
Figura 8: jogo de pólo no terreno do Caminho do Meio – [194-?] .................................. 39
Figura 9: Centro Médico de Porto Alegre no terreno do Caminho do Meio – 1938 ....... 40
Figura 10: perspectiva nordeste do Centro Médico de Porto Alegre no terreno do
Caminho do Meio – 1938 ................................................................................... 41
Figura 11: perspectiva nordeste do Hospital de Clínicas de Porto Alegre no terreno do
Caminho do Meio – 1938 ................................................................................... 41
Figura 12: esquema comparativo dos estudos do arq. Pujol Jr. para o Hospital de
Clínicas de Porto Alegre – 1937-38 ................................................................... 42
Figura 13: perspectiva do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Bahia –
1938 .................................................................................................................... 43
Figura 14: perspectiva da Escola de Enfermagem da Faculdade de Medicina da Bahia
– 1939 ................................................................................................................. 43
Figura 15: assinatura da escritura de doação do terreno do Caminho do Meio para o
Hospital de Clínicas de Porto Alegre na presença do prof. Souza Campos
[direita] e dos arquitetos Jorge Moreira e Hélio Uchôa [esquerda] – 1940 ....... 46
Figura 16: perspectiva da Escola de Medicina do Rio Grande do Sul – [1940?] ............. 46
Figura 17: Plano Diretor da Cidade de Porto Alegre – Localização do Parque da Feira
Permanente e do Estádio Municipal – 1939-40 ................................................. 48
Figura 18: maquete da localização do Parque da Feira Permanente de Amostras
[acima] com o Parque Farroupilha [abaixo] e o terreno do Hospital de
Clínicas [esquerda] – [1940?] ............................................................................ 49
Figura 19: maquete das edificações do Parque da Feira Permanente de Amostras –
[1940?] ............................................................................................................... 49
Figura 20: terreno proposto para a construção do Centro Médico de Porto Alegre –
[1940?] ............................................................................................................... 50
Figura 21: vista sul da maquete do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 ........ 53
Figura 22: vista sudoeste da maquete do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 53
Figura 23: vista leste A da maquete do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 .. 54
Figura 24: vista leste B da maquete do Hospital de Clínicas – primeira versão –1942 ... 54
Figura 25: elevação perspectivada norte do edifício-sede do Ministério da Educação e
Saúde – 1937 ...................................................................................................... 54
Figura 26: elevação pespectivada sudoeste da maquete do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 54
Figura 27: esquema proporcional da planta do térreo do edifício-sede do Ministério da
Educação e Saúde – 1937 ................................................................................... 55
Figura 28: esquema proporcional da planta do térreo do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 55
Figura 29: planta de situação e cobertura do Hospital de Clínicas – primeira versão –
1942 .................................................................................................................... 59
Figura 30: planta do 1º pavimento da barra vertical, ponte e pilotis da placa horizontal
do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 ............................................. 62
Figura 31: planta do 2º pavimento da barra vertical, ponte e auditório do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 ...................................................................... 65
Figura 32: planta do subsolo da barra vertical e ponte do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 66
Figura 33: planta do 3º/11º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 68
Figura 34: planta do 12º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 69
Figura 35: planta do 13º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 70
Figura 36: planta do 14º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 70
Figura 37: planta do 15º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 71
Figura 38: planta do 1º pavimento da placa horizontal do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 72
Figura 39: planta do 2
o
pavimento da placa horizontal do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 ....................................................................................... 72
Figura 40: corte longitudinal AB do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 ...... 75
Figura 41: corte transversal CD do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 ........ 76
Figura 42: fachada sudoeste do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 .............. 77
Figura 43: fachada nordeste do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 .............. 77
Figura 44: cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Hospital de Clínicas –
assinando o Interventor Federal no Estado Gen. Cordeiro Farias – 1943 .......... 80
Figura 45: cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Hospital de Clínicas –
benção do Arcebispo Metropolitano Dom João Becker – 1943......................... 80
Figura 46: charge A do pórtico do Hospital de Clínicas – 1945 ...................................... 83
Figura 47: charge B do pórtico do Hospital de Clínicas – 1946 ...................................... 83
Figura 48: educação física durante a semana da pátria no terreno do Hospital de
Clínicas – 1944 ................................................................................................... 84
Figura 49: perspectiva leste A do Hospital de Clínicas – pré-estudo da versão
intermediária – [1946?] ...................................................................................... 85
Figura 50: perspectiva leste B do Hospital de Clínicas – pré-estudo da versão
intermediária – [1946?] ...................................................................................... 85
Figura 51: planta do 1º pavimento da barra vertical e ponte do Hospital de Clínicas –
versão intermediária – 1946 ............................................................................... 86
Figura 52: planta do 2º pavimento da barra vertical, ponte e auditório do Hospital de
Clínicas – versão intermediária – 1946 .............................................................. 87
Figura 53: planta do subsolo da barra vertical e ponte do Hospital de Clínicas – versão
intermediária – 1946 .......................................................................................... 88
Figura 54: planta do 3º/11º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas –
versão intermediária – 1946 ............................................................................... 89
Figura 55: planta do 12º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – versão
intermediária – 1946 .......................................................................................... 90
Figura 56: planta do 13º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – versão
intermediária – 1946 .......................................................................................... 90
Figura 57: planta do 14º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – versão
intermediária – 1946 .......................................................................................... 91
Figura 58: planta da cobertura e da casa de máquinas da barra vertical do Hospital de
Clínicas – versão intermediária – 1946 .............................................................. 91
Figura 59: Jorge Moreira [esquerda] no II Congresso Brasileiro de Arquitetos com
painel do Hospital de Clínicas [esquerda] – 1948 .............................................. 93
Figura 60: vista superior da maquete do Centro Médico com transcrição da legenda –
[1948?] ............................................................................................................... 94
Figura 61: estudo da planta de situação do Centro Médico – [1948?] ............................. 97
Figura 62: estudo da fachada sudoeste do Hospital de Clínicas – [1948?] ...................... 97
Figura 63: montagem do mapa atual com situação do Centro Médico ............................ 98
Figura 64: mapa da conformação atual da área do Campus Saúde da UFRGS ............... 98
Figura 65: planta de locação da barra vertical do Hospital de Clínicas – maio 1949 ...... 99
Figura 66: obras do Hospital de Clínicas – jun. 1949 ...................................................... 100
Figura 67: obras do Hospital de Clínicas – out. 1949 ...................................................... 100
Figura 68: obras do Hospital de Clínicas paralisadas – nov. 1951 .................................. 102
Figura 69: planta do 1º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – última
versão – 1952 ..................................................................................................... 105
Figura 70: planta do 2º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – última
versão – 1952 .....................................................................................................
106
Figura 71: planta do subsolo da barra vertical do Hospital de Clínicas – última versão
– 1952 ................................................................................................................. 107
Figura 72: planta do 3º/11º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas –
última versão – 1952 .......................................................................................... 108
Figura 73: planta do 12º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – última
versão – 1952 ..................................................................................................... 108
Figura 74: planta do 13º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – última
versão – 1952 ..................................................................................................... 108
Figura 75: planta do 14º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – última
versão – 1952 ..................................................................................................... 109
Figura 76: planta da cobertura e da casa de máquinas da barra vertical do Hospital de
Clínicas – última versão – 1952 ......................................................................... 110
Figura 77: corte transversal da barra vertical do Hospital de Clínicas – última versão –
1952 .................................................................................................................... 110
Figura 78: demolições da obra do Hospital de Clínicas – início 1953 ............................. 112
Figura 79: esquema da situação do Centro Médico – 1953 ............................................. 113
Figura 80: esquema em planta do Hospital de Clínicas – 1953 ....................................... 114
Figura 81: esquema em corte do Hospital de Clínicas – 1953 ......................................... 114
Figura 82: fachada da Escola de Enfermagem – 1951 ..................................................... 117
Figura 83: vista da maquete do Hospital de Tisiologia – 1952 ........................................ 117
Figura 84: planta geral do terreno do Centro Médico – 1952 .......................................... 119
Figura 85: planta do Centro Médico da Divisão de Obras da URGS – 1953 .................. 120
Figura 86: planta do terreno do Centro Médico – 1955 ................................................... 121
Figura 87: maquete do Centro Médico – 1953 ................................................................. 122
Figura 88: maquete do Centro Médico apresentada pelo reitor Paglioli ao governador
do estado Ernesto Dornelles – 1953 ................................................................... 122
Figura 89: maquete do Centro Médico apresentada pelo reitor Paglioli ao Presidente da
República Juscelino Kubitschek – 1957 ............................................................ 122
Figura 90: edifício da Faculdade de Farmácia – 1953 ..................................................... 123
Figura 91: edifício da Faculdade de Odontologia – 1958-60 ........................................... 123
Figura 92: mapa parcial do Plano Diretor de Porto Alegre com a extensão da rua
Ramiro Barcelos em destaque – 1959 ................................................................ 125
Figura 93: situação das estacas do Hospital de Clínicas – abr. 1953 ............................... 127
Figura 94: carga de prova das estacas do Hospital de Clínicas – nov. 1953 .................... 127
Figura 95: projeto estrutural do Hospital de Clínicas [trecho I – ala esquerda] – fev.
1953 .................................................................................................................... 128
Figura 96: vista noroeste da construção do Hospital de Clínicas – jul. 1954 .................. 128
Figura 97: vista nordeste da construção do Hospital de Clínicas – out. 1954 .................. 128
Figura 98: vista geral do Centro Médico – 1955 .............................................................. 129
Figura 99: vista sudoeste da construção do Hospital de Clínicas – out. 1955 ................. 130
Figura 100: vista nordeste da construção do Hospital de Clínicas – out. 1955 ................ 130
Figura 101: esquema de setorização do projeto do Hospital de Clínicas – 1958 ............. 131
Figura 102: vista norte da maquete do Hospital de Clínicas – 1958 ................................ 131
Figura 103: planta do 1
o
pavimento dos Blocos 1 e 2 do Hospital de Clínicas – 1958 ... 133
Figura 104: planta do 2
o
pavimento dos Blocos 1 e 2 do Hospital de Clínicas – 1958 ... 135
Figura 105: planta do subsolo do Bloco 1 do Hospital de Clínicas – 1958 ..................... 136
Figura 106: planta do 3
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de Clínicas – 1958 ............ 137
Figura 107: planta do 4
o
/10
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de Clínicas – 1958 ..... 137
Figura 108: planta do 11
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de Clínicas – 1958 .......... 137
Figura 109: planta do 12
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de Clínicas – 1958 .......... 138
Figura 110: planta do 13
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de Clínicas – 1958 .......... 138
Figura 111: planta da cobertura e casa de máquinas do Bloco 1 do Hospital de Clínicas
– 1958 ................................................................................................................. 138
Figura 112: planta do 1
o
pavimento do Bloco 3 do Hospital de Clínicas – 1958 ............ 139
Figura 113: planta do 2
o
pavimento do Bloco 3 do Hospital de Clínicas – 1958 ............ 140
Figura 114: planta do subsolo do Bloco 3 do Hospital de Clínicas – 1958 ..................... 141
Figura 115: estudo da fachada sudoeste do Hospital de Clínicas e Hospital Privado –
1958 ....... ............................................................................................................ 142
Figura 116: estudo da fachada sudeste do Hospital de Clínicas e Hospital Privado –
1958 ......... .......................................................................................................... 142
Figura 117: Plano Diretor do Centro Médico – 1959-60 ................................................. 143
Figura 118: vista leste da maquete do Centro Médico – 1959-60 .................................... 144
Figura 119: vista sul da maquete do Centro Médico – 1959-60 ...................................... 144
Figura 120: vista da maquete do Hospital Privado – 1959-60 ......................................... 145
Figura 121: vista da maquete da Maternidade – 1959-60 ................................................ 145
Figura 122: vista da maquete do Hospital de Neuroclínica – 1959-60 ............................ 146
Figura 123: vista da maquete da Faculdade de Medicina – 1959-60 ............................... 146
Figura 124: vista da maquete do Pavilhão Industrial – 1959-60 ...................................... 147
Figura 125: vista da maquete da Escola de Enfermagem – 1959-60 ............................... 147
Figura 126: vista da maquete do Hospital de Tisiologia – 1959-60 ................................. 148
Figura 127: vista da maquete da Capela – 1959-60 ......................................................... 148
Figura 128: perspectiva da praça do Centro Médico –1958 ............................................. 149
Figura 129: vista sul da construção dos Blocos 1 e 2 do Hospital de Clínicas – 1958 .... 150
Figura 130: vista oeste da construção dos Blocos 1 e 3 do Hospital de Clínicas – 1960 . 150
Figura 131: vista norte da edificação do Hospital de Clínicas – 1964 ............................. 151
Figura 132: pórtico da década de 40 com o Hospital de Clínicas ao fundo – [1964?] ..... 151
Figura 133: vista interna do hall de exposições no térreo do Bloco 1 da edificação do
Hospital de Clínicas – 1972 ............................................................................... 153
Figura 134: vista interna do corredor sudoeste de um dos pavimentos tipo do Bloco 1
da edificação do Hospital de Clínicas – 1972 .................................................... 153
Figura 135: vista geral do Centro Médico – [197-] .......................................................... 154
Figura 136: vista parcial do Centro Médico – [197- ] ...................................................... 155
Figura 137: propaganda do Cimentos Portland com perspectiva da Usina do
Gasômetro – 1936 .............................................................................................. 157
Figura 138: perspectiva da ponte sobre o rio das Antas – projeto vencedor da
construtora Dahne, Conceição & Cia – 1942 ..................................................... 157
Figura 139: perspectiva da ponte sobre o rio das Antas – projeto original do DAER –
1941 .................................................................................................................... 157
Figura 140: vista da maquete do projeto Paz – Vasco Prado de 1946.............................. 158
Figura 141: vista da maquete do projeto Altar da Pátria de Antônio Caringi – 1946 ...... 158
Figura 142: fachada do edifício administrativo da CAPF – 1940 .................................... 162
Figura 143: vista da maquete do abrigo São Vicente de Paula da Fundação Glasfira
Vargas – São Borja – 1941 ................................................................................. 163
Figura 144: projeto do Centro Cívico de Porto Alegre de Jorge Moreira – 1943 ............ 164
Figura 145: projeto do Centro Cívico de Porto Alegre de Arnaldo Gladosch – 1939-42 164
Figura 146: vista da maquete do edifício-sede da VFRGS – primeiro projeto – 1944 .... 165
Figura 147: vista da maquete do edifício-sede da VFRGS – segundo projeto – 1945 .... 165
Figura 148: fotomontagem com maquete do edifício Tracarril da CAPF – 1947 ............ 166
Figura 149: perspectiva do sanatório de tuberculosos do IAPB de Porto Alegre de
Jorge Moreira – 1951 ......................................................................................... 167
Figura 150: vista da maquete do instituto de tisiologia do IAPB de Porto Alegre dos
Irmãos Roberto – 1951 ....................................................................................... 167
Figura 151: vista da maquete do edifício da delegacia estadual do IAPFESP – 1965 ..... 168
LISTA DE ABREVIATURAS
arq.: arquiteto
av.: avenida
cel.: coronel
cf.: conferir
cm.: centímetro
dr.: doutor
eng.: engenheiro
gen.: general
m.: metro
n.: número
prof.: professor
s.d.: sem data
s.p.: sem página
sr.: senhor
urb.: urbanista
LISTA DE SIGLAS
ABI: Associação Brasileira de Imprensa
CAPF: Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários
CUB: Cidade Universitária do Brasil
DASP: Departamento Administrativo do Serviço Público
DAER: Departamento Autônomo de Estradas e Rodagens
ETUB: Escritório Técnico da Universidade do Brasil
FAU: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
FMPA: Faculdade de Medicina de Porto Alegre
FOMISA: Fomento Industrial S.A.
FPSP: Fundo de Pensões do Serviço Público
HCPA: Hospital de Clínicas de Porto Alegre
IAB: Instituto de Arquitetos do Brasil
IAPB: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários
IAPFESP: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e dos Servidores Públicos
IPE: Instituto de Previdência do Estado
JMM: Jorge Machado Moreira
MES: Ministério da Educação e Saúde
MoMA: Museu de Arte Moderna de Nova York
NPD: Núcleo de Pesquisa e Documentação
PROARQ: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
PROPAR: Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura
SNT: Serviço Nacional contra a Tuberculose
UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro
URGS: Universidade do Rio Grande do Sul
VFRGS: Viação Férrea do Rio Grande do Sul
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 17
1 AS ORIGENS DO HOSPITAL DE CLÍNICAS ....................................................... 21
1.1 A INICIATIVA ESTADUAL PARA O HOSPITAL DE CLÍNICAS ...................... 22
1.1.1 O concurso estadual para o projeto do Hospital de Clínicas ............................ 22
1.2 AS INICIATIVAS FEDERAIS PARA O HOSPITAL DE CLÍNICAS .................... 25
1.2.1 O prof. Souza Campos e o arq. Pujol Júnior ...................................................... 27
1.2.1.1 O estudo preliminar no Campo da Redenção ....................................................... 28
1.2.1.2 Os estudos nos terrenos do Caminho do Meio, Partenon e Teresópolis............... 33
1.2.1.3 A aquisição do terreno do Caminho do Meio ...................................................... 37
1.2.1.4 O anteprojeto no terreno do Caminho do Meio .................................................... 39
1.2.1.5 O final da primeira fase e trabalhos análogos do prof. Souza Campos ................ 42
1.2.2 O concurso federal para o projeto do Hospital de Clínicas ............................... 44
1.2.3 O prof. Souza Campos e os arq. Jorge Moreira e Hélio Uchôa ........................ 44
1.2.3.1 O Plano Diretor de Porto Alegre e o terreno para o Hospital de Clínicas ............ 47
1.2.3.2 O Memorial e o Programa para o Hospital de Clínicas ........................................ 50
2 O HOSPITAL DE CLÍNICAS DE JORGE MOREIRA ......................................... 53
2.1 A PRIMEIRA VERSÃO (1942) ................................................................................ 53
2.1.1 A planta de situação .............................................................................................. 59
2.1.2 As plantas da barra vertical ................................................................................. 61
2.1.3 As plantas da placa horizontal ............................................................................. 71
2.1.4 Os cortes do conjunto ............................................................................................ 74
2.1.5 As fachadas do conjunto........................................................................................ 76
2.1.6 Comentários relativos à primeira versão do projeto.......................................... 78
2.1.7 A solenidade de lançamento da pedra fundamental .......................................... 80
2.1.8 A morosidade burocrática e os problemas orçamentários ................................ 82
2.2 A VERSÃO INTERMEDIÁRIA (1946) .................................................................... 84
2.2.1 O plano arquitetônico do Centro Médico ........................................................... 92
2.2.2 O início das obras .................................................................................................. 99
2.2.3 A paralisação das obras ........................................................................................ 101
2.3 A ÚLTIMA VERSÃO (1952) .................................................................................... 104
2.3.1 O final de uma trajetória ...................................................................................... 112
3 O DESFECHO DO HOSPITAL DE CLÍNICAS ..................................................... 116
3.1 INTERVENÇÕES NO CENTRO MÉDICO ............................................................. 116
3.1.1 Intervenção federal ............................................................................................... 117
3.1.2 Intervenção estadual ............................................................................................. 118
3.1.3 Intervenção municipal .......................................................................................... 124
3.2 O REINÍCIO DAS OBRAS DO HOSPITAL DE CLÍNICAS................................... 126
3.3 O PROJETO DE OSCAR VALDETARO E ROBERTO NADALUTTI .................. 130
3.3.1 O Hospital de Clínicas (1958) ............................................................................... 131
3.3.2 O Plano Diretor do Centro Médico (1959-60) .................................................... 142
3.4 A CONCLUSÃO DAS OBRAS ................................................................................ 149
4 JORGE MOREIRA NA ARQUITETURA DA CAPITAL GAÚCHA
156
4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MODERNIDADE EM PORTO ALEGRE ............ 156
4.2 A PROMOÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA NA CIDADE ......................... 159
4.3 DEMAIS PROJETOS DE JORGE MOREIRA PARA PORTO ALEGRE .............. 161
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 169
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 172
ANEXO A - QUADRO CRONOLÓGICO DO HOSPITAL DE CLÍNICAS ................. 182
ANEXO B - DEPOIMENTO DE JORGE MACHADO MOREIRA .............................. 185
ANEXO C - EDITAL ESTADUAL DO HOSPITAL DE CLÍNICAS ........................... 187
ANEXO D - EDITAL FEDERAL DO HOSPITAL DE CLÍNICAS .............................. 189
ANEXO E - MEMORIAL E PROGRAMA DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS ............. 191
INTRODUÇÃO
Este trabalho faz parte de um esforço coletivo de reinterpretação da arquitetura moderna
brasileira realizado no Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura [PROPAR] da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS]. Iniciado nos anos 80 com a publicação
dos artigos de Carlos Eduardo Dias Comas, essa linha de pesquisa foi levada adiante por meio
de dissertações por ele orientadas, entre as quais, a de Cláudio Calovi Pereira (Os Irmãos
Roberto e a arquitetura moderna no Rio de Janeiro, 1993), orientador desta dissertação.
Posteriormente, foram defendidas as teses de doutorado de José Artur D’Aló Frota (El vuelo
del Fénix: la aventura de una idea: el movimiento moderno em tierras brasileñas , 1997) e de
Comas (Precisões brasileiras: sobre um estado passado da arquitetura e urbanismo
modernos, 2002).
Na década de 40 foram desenvolvidos projetos assinados por arquitetos radicados no Rio de
Janeiro, que traduzem a intenção de estabelecer os valores da arquitetura moderna produzida
pela escola carioca na capital do Rio Grande do Sul
1
. Esses projetos foram primeiramente
examinados em conjunto por Calovi Pereira em seu artigo Primórdios da arquitetura
moderna em Porto Alegre (2000). O presente trabalho se insere no contexto de uma pesquisa
do autor acima referido sobre a arquitetura do Rio Grande do Sul
2
. O Hospital de Clínicas de
Porto Alegre [HCPA] de Jorge Machado Moreira [JMM], atualmente vinculado a UFRGS, foi
o primeiro desses projetos. Destaca-se não somente por suas virtudes como composição e por
sua escala monumental, mas também por ser o único que foi construído. O objetivo desta
dissertação é o estudo da edificação do Hospital de Clínicas segundo os projetos de Jorge
Moreira, assim como os trabalhos que foram desenvolvidos antes e depois de sua atuação
direta entre 1942 e 1952. A narrativa prioriza o trabalho de Moreira, pois fez parte das
reformulações arquitetônicas e urbanísticas que a capital gaúcha sofreu durante a primeira
metade do século XX. O trabalho evidencia também o comprometimento do arquiteto com a
arquitetura moderna na cidade por meio de sua constante participação em outros projetos.
1
Destacam-se entre esses projetos o edifício-sede da Viação Férrea do Rio Grande do Sul [VFRGS] (Affonso
Eduardo Reidy e Jorge Machado Moreira, primeiro projeto 1944 e segundo projeto 1945) e o projeto do edifício-
sede do Instituto de Previdência do Estado [IPE] (Oscar Niemeyer, [1945?] ).
2
O processo de verticalização em Porto Alegre: e a contribuição da construtora Azevedo Moura & Gertum
(Patrícia Pinto Vianna, 2003) e A casa moderna em Porto Alegre: projetos residenciais de Edgar Albuquerque
Graeff (Carlos Henrique Goldman, 2003), são exemplos de dissertações orientadas por Calovi Pereira.
18
Ao resgatar o projeto do Hospital de Clínicas de Jorge Moreira pretende-se auxiliar na
compreensão do complexo contexto que engloba a introdução, afirmação e consolidação da
arquitetura moderna em Porto Alegre. “Recuperar seus registros e entender suas lições
resulta em extrair princípios válidos para o presente e o futuro” (Calovi Pereira, 2000: 68).
Dessa forma, a dissertação visa reunir a maior parte dos registros documentais do Hospital de
Clínicas em um único trabalho, assim como compilar uma síntese dos demais projetos do
arquiteto para a capital gaúcha. Essa compilação torna-se necessária para que se possa
estabelecer com precisão o valor histórico e a importância arquitetônica da obra desse
arquiteto na cidade. Ao preencher essa lacuna, pretende-se subsidiar também a formação de
uma consciência crítica sobre a arquitetura moderna produzida posteriormente em Porto
Alegre, pois sem “uma consciência crítica formada não existe avaliação correta da produção
arquitetônica. Conseqüentemente, a experiência realizada perde sua relevância específica
como Saber” (Czajkowski, 1986: 12).
Para auxiliar na compreensão do longo processo que envolveu o Hospital de Clínicas e os
demais projetos de Jorge Moreira para Porto Alegre foi desenvolvido um quadro cronológico
(Anexo A), onde se percebe que a participação do arquiteto fez-se presente na maior parte dos
projetos da escola carioca desenvolvido para a cidade. Entretanto, com exceção do Hospital
de Clínicas, esses projetos não foram construídos. Sendo assim, o trabalho pretende contribuir
também nas investigações de uma certa rejeição inicial na capital gaúcha da linguagem
arquitetônica desenvolvida no centro do país.
Enquanto se lançava a pedra fundamental do Hospital de Clínicas de Porto Alegre em 1943, a
arquitetura brasileira era reconhecida internacionalmente por meio da exposição Brazil
Builds: architecture new and old 1652-1942 patrocinada pelo Museu de Arte Moderna de
Nova York [MoMA]. Inicialmente, o catálogo da exposição apresenta a arquitetura antiga do
país, sendo que posteriormente, enfatiza na arquitetura moderna da produção carioca,
reconhecendo a influência de Le Corbusier sobre ela. Durante sua estadia no país em 1936, o
arquiteto franco-suíço prestou consultorias para os projetos da Cidade Universitária do Brasil
[CUB] e do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde [MES]. Uma equipe de
arquitetos brasileiros, da qual fazia parte Jorge Moreira, manteve intenso contato com Le
Corbusier para o desenvolvimento dos trabalhos. Embora a CUB não tenha sido executada,
por meio do MES surge o mais importante marco da arquitetura moderna brasileira.
19
A influência corbusiana “reflete-se acentuadamente” no projeto realizado pela equipe
brasileira para o edifício-sede do MES (Goodwin, 1943: 91). Entretanto, a transformação
dessa influência possibilitou a formação de uma nova linguagem “realizada com uma rapidez
inacreditável” pelos arquitetos radicados no Rio de Janeiro (Mindlin: 1999: 23). Outras obras
de “alta qualidade, concebidas dentro do mesmo espírito eram concomitantemente
construídas, formando um conjunto que testemunhava a profunda vitalidade da nova
arquitetura no país” (Bruand, 1998: 93). Sendo assim, o trabalho consiste essencialmente em
olhar especificamente para um exemplar desse passado, buscando não somente registrá-lo,
mas avaliá-lo. Conforme Edward Hallet Carr, se o objeto de estudo não for avaliado, como
saber o quê merece ser registrado? (Carr, 1961: 56).
Devido à compreensão que os arquitetos da escola carioca possuíam sobre a composição
arquitetônica, suas obras apresentam relações estreitas com a tradição clássica acadêmica
3
. Tal
como afirma John Summerson em seu livro A linguagem clássica da arquitetura: “a história
da linguagem clássica se fundia – de forma bastante ambígua – com o Movimento Moderno”
(Summerson, 1997: 1). Le Corbusier, maior referência dos arquitetos radicados no Rio de
Janeiro, admitiu retirar do “passado a lição de história, a razão de ser das coisas” (Le
Corbusier, 1978: 49). Cônscio dessas relações, Jorge Moreira produziu uma arquitetura “ao
mesmo tempo rigorosa e inventiva, como exemplifica o projeto do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre com a pureza austera do monobloco vertical e o inusitado das torres de serviço
independentes” (Conduru, 1999: 17-8).
A relação do Hospital de Clínicas com o edifício-sede do MES é comprovada pela menção às
soluções espaciais e formais retiradas de seu antecessor. Os “estilos se formam e apuram,
precisamente, à custa dessa repetição – que perdura enquanto se mantém as razões
profundas que lhe deram origem” (Costa, 1962: 33-4). Uma das indagações que o trabalho
pretende abordar, relaciona-se ao significado que o Hospital de Clínicas de Jorge Moreira teve
na arquitetura de Porto Alegre. Seria similar ao que o edifício-sede do MES exerceu no Rio de
Janeiro? Até que ponto o longo e complicado processo de sua materialização limitou a
repercussão da escola carioca na arquitetura da cidade?
De família gaúcha, Jorge Machado Moreira nasceu em Paris no dia 23 de fevereiro de 1904.
Aos três anos de idade retornou para Rio Grande, onde permaneceu até concluir o ginásio.
3
As relações da arquitetura moderna brasileira com a tradição acadêmica foram primeiramente estabelecidas por
Comas em artigos como Uma certa arquitetura moderna brasileira: experiência a re-conhecer (1987) e Lúcio
Costa: da atualidade do seu pensamento (1991).
20
Após uma rápida passagem por Porto Alegre, dirigiu-se para Montevidéu para iniciar os
estudos em arquitetura. Em 1927, mudou-se para o Rio de Janeiro reiniciando o curso de
arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, formando-se em 1932. Casou-se em 1957 com
a arquiteta Giuseppina Pirro. Faleceu no Rio de Janeiro em 17 de novembro de 1992. Entre
suas realizações mais importantes, destaca-se o período que foi arquiteto-chefe do Escritório
Técnico da Universidade do Brasil [ETUB] entre 1949 e 1962. Nessa época realizou o plano
geral da CUB localizada na Ilha do Fundão, projetando doze edificações das quais cinco
foram construídas. O arquiteto “pouco falava de si ou de seu trabalho e deixou apenas breves
registros biográficos” (Nicolaeff, 1993: 86), destacando-se seu depoimento em 1980 para a
enciclopédia Contemporary Architects (Anexo B).
Estudos mais aprofundados sobre a obra do arquiteto eram inexistentes até a realização da
exposição Jorge Machado Moreira, promovido pelo Centro de Arquitetura e Urbanismo do
Rio de Janeiro (1999). O catálogo dessa exposição apresenta um artigo intitulado Razão ao
cubo, onde a vida e a obra do arquiteto é analisada por Roberto Conduru. Em 2001, Paulo
Jardins de Moraes concluiu a dissertação de mestrado Por uma “nova arquitetura” no Brasil:
Jorge Machado Moreira (1904-1992) no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
[PROARQ] da Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ]. Moraes aborda a produção do
arquiteto identificando a matriz geradora de sua arquitetura além da influência corbusiana.
O livro Arquitetura Moderna em Porto Alegre de Alberto Xavier e Ivan Mizoguchi (1987),
permaneceu por quase duas décadas como a única obra que reúne expressivas construções
realizadas em estilo moderno na cidade. Todavia, Luís Henrique Haas Luccas defendeu a tese
de doutorado Arquitetura Moderna Brasileira em Porto Alegre no PROPAR em 2004. Luccas
buscou sintetizar contribuições esparsas sobre a produção gaúcha, ampliando e questionando
o quadro inicialmente estabelecido por Xavier e Mizoguchi pela inclusão de outros projetos.
Sendo assim, a presente dissertação se insere no esforço de mapear e interpretar o projeto do
Hospital de Clínicas e a presença de Jorge Moreira na arquitetura da cidade. Devido a
inexistência de um estudo sistemático sobre a edificação, existem muitas informações
desencontradas, tornando-se necessário a realização de uma ampla pesquisa historiográfica.
Dessa forma, conforme Paul Veyne, para a construção de uma narrativa histórica, deve-se
procurar inicialmente estabelecer a veracidade dos fatos, para posteriormente tentar explicar a
trama (Veyne, 1998: 169).
1 AS ORIGENS DO HOSPITAL DE CLÍNICAS
Os primeiros hospitais brasileiros foram organizados pelas Irmandades de Misericórdia,
recebendo o nome de Santa Casa de Misericórdia. A mais antiga é a Santa Casa de
Misericórdia de Santos, iniciativa de Braz Cubas em 1543, na então nascente vila de Santos
(Campos, 1943b: 23). As “Santas Casas eram os hospitais do Brasil”, sendo que o mesmo
poderia ser dito dos Hospitais de Beneficência, que possuíam “características iguais às das
Santas Casas” (Moreira, 1954: 345). Em 1803, foi criado em Porto Alegre o primeiro
hospital do estado do Rio Grande do Sul, a Santa Casa de Misericórdia, mas suas atividades
iniciaram somente em 1826 (Hassen, 1998: 82). A Faculdade de Medicina e Farmácia de
Porto Alegre foi criada em 25 de junho 1898, mediante a reunião da Escola de Farmácia,
criada em 1895, e pelo Curso de Partos, criado em 1897. Contudo, o último já utilizava as
dependências da Santa Casa
4
.
A edificação hospitalar é um dos programas mais complexos da arquitetura. Seu arranjo
impõe rígidas regras de planejamento dos ambientes, flexibilidade para adaptações às rápidas
inovações tecnológicas da medicina, racionalização dos percursos e a permanente
continuidade de expansão futura. Caso contrário, ficam sujeitos a se tornarem obsoletos em
um curto prazo de tempo. Inevitavelmente, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
passou por inúmeras adaptações e ampliações, principalmente devido às inovações científicas
do início do século XX. Com o intuito de ampliar a capacidade de atendimento hospitalar aos
enfermos pobres, aumentando conseqüentemente o número de alunos da Faculdade de
Medicina, surge a necessidade de construir uma edificação que fosse plenamente adaptado às
novas tecnologias e às exigências específicas de um hospital-escola:
Um hospital de ensino é bem diferente de um hospital comum. No primeiro caso
temos de considerar uma tríplice função: de assistência social, de ensino e de
investigação científica. Estes três setores em um conjunto eficiente devem dispôr de
areas próprias e areas comuns em equilíbrio conveniente e harmonioso. Só assim
poderão atender de modo eficaz às exigências do ensino clínico e pre-clínico [sic]
(Campos, 1938b: 24).
4
“De certa forma, a Santa Casa foi uma maternidade em que se deu à luz a Faculdade de Medicina. O Curso de
Partos ali começou por iniciativa de Protásio Alves e Dioclécio Pereira. Desde a fundação da Faculdade, um
acordo verbal com a Provedoria da Santa Casa consentiu que várias disciplinas tivessem lugar naquele
hospital” (Faculdade de Medicina. Notas e Informações. 1917: 11. Arquivo da Faculdade de Medicina – UFRGS
apud Hassen, 1998:83).
22
1.1 A INICIATIVA ESTADUAL PARA O HOSPITAL DE CLÍNICAS
Coube ao Governo Estadual a primeira idéia de construir um Hospital de Clínicas na cidade
de Porto Alegre. Em maio de 1931, o Interventor Federal no Rio Grande do Sul, Gen. Flores
da Cunha, após viagem feita à Capital Federal, manifestou a intenção de “iniciar a
construcção de um grande hospital de clínicas em Porto Alegre” [sic] (O destino, 1931: 14).
Sua proposta era utilizar a verba arrecadada pela Campanha do Mil Réis de Ouro, lançada em
outubro de 1930, cujo objetivo era arrecadar “contribuição espontanea de todos os
Brasileiros para reerguimento da situação financeira do Brasil” [sic] (O mil, 1930: 3).
A proposta recebeu amplo apoio dos professores da Faculdade de Medicina, pois
ambicionavam “melhorar seus serviços com installações contíguas e efficientes, uma vez que
bem consideram o elevado papel educativo de suas cattedras e não esquecem o alto valor dos
serviços que as escolas e seus hospitais prestam á comunidade” [sic] (Blessmann, 1931: s.p.).
Entretanto, ocorreram também manifestações opostas à sua realização. A Liga Rio-Grandense
contra a Tuberculose manifestou-se contrária ao destino do dinheiro da campanha, propondo
que a verba fosse investida para a construção de um Hospital de Tisiologia. “O Rio Grande, o
Estado modelar, para nossa infelicidade, não possue nem sequer uma choupana onde o
tuberculoso receba o carinho e a ternura dos seus irmãos” [sic] (Combate, 1931: 9).
1.1.1 O concurso estadual para o projeto do Hospital de Clínicas
Embora o decreto federal n. 20.530, de 17 de outubro de 1931, tenha transformado a
Faculdade de Medicina de Porto Alegre em uma instituição federal, a iniciativa de construir o
Hospital de Clínicas permaneceu em um primeiro momento com o Governo Estadual. Em 4
de janeiro de 1933, a Diretoria de Obras Públicas, da Secretaria de Estado dos Negócios das
Obras Públicas, divulga um edital de concorrência de anteprojetos para a edificação no jornal
A Federação
5
(Anexo C).
Conforme o edital, os “trabalhos deverão obedecer ás mais modernas normas de construcção
hospitalar” [sic] (Edital, 1933a: s.p.), demonstrando a intenção por parte dos organizadores
5
O edital estipula a data de 3 de abril de 1933 para a entrega dos anteprojetos, contudo, de“ordem superior fica
prorrogado o prazo para 4-8 p. v. a apresentação do ante-projeto para um hospital de clinicas nesta Capital”
[sic] (Edital, 1933b: 7). Todavia, provavelmente ocorreu um erro tipográfico, pois a última publicação do edital
ocorreu em 14 de agosto de 1933.
23
do concurso de incluírem na edificação as inovações advindas da modernidade. Embora o
edital não especifique o terreno para a construção, pois cabia aos interessados obterem
maiores informações junto aos organizadores do concurso, “parece estar assentada a
construcção do Hospital de Clinicas na Várzea
6
, em local proximo da Faculdade de
Medicina, a cujo estabelecimento servirá de complemento para o trabalho dos professores e
estudo dos alumnos” [sic] (Construcção, 1933: 7).
O objetivo era inaugurar um Hospital de Clínicas de 400 leitos juntamente com as
comemorações do Centenário da Revolução Farroupilha no Campo da Redenção em 1935
7
.
Esse acontecimento “marcou época na vida do Estado”, onde foram construídos diversos
pavilhões efêmeros
8
que revelam “grande unidade e sintonia com espírito moderno, tendo
exercido influência sobre prédios da cidade” (Xavier, 1987: 44). “Attendendo a essa
concorrencia, apresentaram ante-projetos duas firmas desta capital, cujas propostas foram
entregues pelo Governo do Estado, para estudos de ordem especial, á Faculdade de
Medicina” [sic] (Construcção, op. cit.: 7). Os trabalhos foram julgados por uma comissão
9
,
sendo localizada apenas o anteprojeto de Firmino F. Saldanha
10
, T. Brack e H. Mamede
(S.B.M.) com seu respectivo parecer de julgamento (figura 1 e 2).
6
“Em 23/2/1807, a Câmara se dirigiu ao governador da Capitania, o Chefe de Esquadra Paulo José da Silva
Gama, pedindo-lhe a doação da área então denominada ‘Várzea do Portão’, que correspondia a uma grande
planície alagadiça situada logo abaixo do primitivo portão da vila, e que servia para logradouro público e
conservação do gado trazido para o abastecimento local. (...) O documento de doação é explícito no sentido de
que era ‘para os utilíssimos e necessários fins de conservação de gados que matam nos açougues desta vila’. E
estabelecia que os respectivos terrenos não poderiam ser alienados sem expressa licença da Sua Alteza Real”
[sic] (Franco, 1992: 163-7). Em homenagem à libertação parcial dos escravos na cidade em 1884, a área passou a
ser designada de Campo da Redenção (Luz, 1999: 32).
7
Em 1930, o Campo da Redenção foi alvo de um projeto de ajardinamento do urb. francês Alfred Agache, que
embora não tenha sido implantado na íntegra, serviu de base para a Exposição do Centenário Farroupilha. “Parte
da área do parque com 25 ha (vinte e cinco hectares) recebeu preparação especial com 135.000m3 de aterro,
construídos sistemas de escoamento, abertas calçadas e amplas avenidas de acesso, assentados encanamentos
de água, gás e esgotos e, por fim, escavado o lago de 300 m de comprimento” (Luz, op. cit.: 34).
8
O pavilhão do estado de Pernambuco foi projetado por Luíz Nunes (Segawa, 1999: 62), arquiteto mineiro
formado pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, foi responsável pelo Movimento do Recife (1934-37),
“que de certo modo se teria tornado uma das figuras de proa da arquitetura brasileira, não tivesse falecido tão
jovem (...) liderou com Jorge Moreira a greve estudantil desencadeada em setembro de 1931, para protestar
contra a demissão de Lúcio Costa e dos professores por ele contratados” (Bruand, 1998: 77).
9
“A direcção desse estabelecimento, de posse dos referidos documentos, resolveu incorporar á commissão de
medicos já anteriormente designada pelo interventor federal, composta dos drs. Sarmento Leite, Annes Dias,
Guerra Blessmann, Ivo Corrêa Mayer e Sant Pastour, o professor Freitas e Castro, como especialista em
hygiene, afim de ultimatar os referidos estudos” [sic] (Construcção, 1933: 7) Cabe ressaltar que a comissão era
composta apenas por médicos, não havendo nenhum profissional da construção civil para julgar os trabalhos.
10
Firmino Fernandes Saldanha, gaúcho de Santana do Livramento, foi considerado um dos arquitetos de
destaque da escola carioca (Comas, 2002, v. 1: 289; Frota, 1997: 378). Participou da equipe da Cidade
Universitária do Brasil em 1936 sob a supervisão de Le Corbusier (Frota, op. cit.: 215), foi presidente do
Instituto de Arquitetos do Brasil na segunda metade da década de 40 (Serran, 2005: s.p.) e projetou o Hospital
dos Marítimos no Rio de Janeiro em 1955 (Mindlin, 1999: 180-1).
24
Figura 1: perspectiva sudeste do anteprojeto do Hospital de Clínicas
de Porto Alegre – 1933 (Ante-projéto, 1934: 10)
Figura 2: esquema do anteprojeto do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre – 1933 (Ante-projéto, 1934: 11)
A torre central de forma ovóide demarca o acesso principal e o eixo de simetria da
composição, embora nos blocos baixos ocorrem variações volumétricas com acessos
diferenciados para os laboratórios, anfiteatros e biblioteca. Definindo a circulação vertical da
edificação, a forma ovóide propicia a rotação das duas alas do bloco alto (ambulatórios no
25
térreo e clínicas nos demais pavimentos). A flexão rompe com sua linearidade e determina
uma sensação de movimento ao conjunto, fazendo com que se alinhe com tendências
expressionistas. As faixas horizontais das esquadrias e das lajes de entrepiso demarcam a
horizontalidade do conjunto, contrastando opacidade e permeabilidade. A redução da área do
último pavimento do bloco alto possibilita a existência de solários.
Conforme o parecer da comissão, embora o anteprojeto “obedeça ás modernas regras de
construção hospitalar” [sic] (Relatório n. 51, 1933: s.p.), a proposta não foi aceita. As
conclusões foram que a edificação excedia o terreno, seu custo era quase o dobro do que havia
sido estipulado, algumas dependências não possuíam iluminação e ventilação direta, existiam
problemas de conflito nas circulações, assim como a ausência de determinados ambientes
solicitados no programa (ibidem).
Deante disto examinou a comissao a possibilidade de serem sugeridas modificações
que não só alterando o custo da obra viéssem sanar varias faltas apontadas. Tal
cometimento porem não lhe parece possivel pois, para serem atendidas todas as
condições, seria necessario uma modificação radical, que transformaria
completamente o ante-projeto apresentado, alterando profundamente a concepção
tecnica de seu autor [sic] (ibidem).
Embora o anteprojeto de Firmino Fernandes Saldanha ainda não expresse a linguagem da
escola carioca, que iria manifestar-se nos próximos anos, verifica-se que o histórico do
Hospital de Clínicas contou com a participação de um importante arquiteto modernista antes
mesmo da atuação de Jorge Moreira. Devido à rejeição dos anteprojetos que participaram do
concurso estadual de 1933, a intenção de construir a edificação foi transferida para a esfera
federal, principalmente pelas subseqüentes alterações no sistema educacional do país.
1.2 AS INICIATIVAS FEDERAIS PARA O HOSPITAL DE CLÍNICAS
Em 14 de novembro de 1930, o Presidente da República Getúlio Vargas, criou pelo decreto
federal n. 19.402, uma Secretaria de Estado com a denominação de Ministério dos Negócios
da Educação e Saúde Pública. Conforme o segundo artigo do decreto, ficou a cargo desse
ministério os assunto relativos ao ensino, saúde pública e assistência hospitalar. Em 11 de
26
abril de 1931, o então Ministro Francisco Campos
11
estabeleceu “as bases das universidades
brasileiras” (Campos, 1940: 379) por meio dos decretos federais n. 19.850, 19.851 e 19.852.
O primeiro criou o Conselho Nacional de Educação, o segundo estabeleceu o Estatuto das
Universidades Brasileiras e o terceiro organizava a Universidade do Brasil (idem, ibidem:
435-6 e 502).
No ano de 1934, Gustavo Capanema assumiu a pasta do Ministério da Educação e Saúde. Em
seu discurso de instalação da Comissão
12
do Plano da Cidade Universitária, em 22 de julho de
1935, ao solicitar uma definição de como deveria ser a “universidade”, dizia que sua
concepção possuía um “sentido bem prático, que era o de estabelecer quantas escolas,
institutos etc. ela teria – o que tinha implicações práticas imediatas para o projeto
arquitetônico” (Schwartzman, 2000: 114). Uma das primeiras questões resolvidas pela
comissão foi a concentração em “um único «campus»” de todas as faculdades (Campos,
1940, op. cit.: 386). Em 5 de julho de 1937, Getúlio Vargas sancionou a lei federal n. 452, que
instituiu a Universidade do Brasil, cujo primeiro princípio era “fixar o padrão do ensino
superior em todo o país”, no qual o Hospital de Clínicas era definido como uma instituição
complementar (Schwartzman, op. cit.: 223 e 245).
Paralelo aos trabalhos da Comissão do Plano da Cidade Universitária, com o objetivo de
constituir subsídios para a elaboração do Plano Nacional de Educação, em janeiro de 1936,
um extenso e minucioso questionário foi distribuído “buscando a colaboração de professores,
estudantes, jornalistas, escritores, cientistas, sacerdotes e políticos” (idem, ibidem: 192). Os
membros do Conselho Nacional de Educação encaminharam o texto final do Plano Nacional
de Educação ao Ministro Capanema em maio de 1937, que o enviou ao Congresso para
aprovação. O plano estabelecia um “código da educação nacional” com o objetivo de
“formar o homem completo, útil à vida social, pelo preparo e aperfeiçoamento de suas
faculdades morais e intelectuais e atividades físicas” (ibidem: 198). A educação superior
recebeu espaço de destaque no Plano Nacional de Educação. Sua aprovação estruturaria o
funcionamento universitário em um nível superior ao Plano da Cidade Universitária (ibidem:
224). Entretanto, o texto do Plano Nacional de Educação não foi aprovado devido ao
11
Francisco Luís da Silva Campos era formado em direito pela Faculdade de Belo Horizonte, sendo deputado
federal por Minas Gerais e secretário da justiça antes do Governo de Vargas. “Ocupou a pasta da Educação e
Saúde (1930-1932) (...) Autor da carta outorgada por Vargas em 1937, ocuparia a pasta da Justiça até 1942”
(Lissovsky, 1996: 320).
12
Uma portaria do Governo Federal, de 19 de julho de 1935, nomeou “uma comissão encarregada de estudar o
problema da organização da Universidade do Brasil” (Campos, 1940: 380).
27
fechamento do Congresso em novembro de 1937, ficando o Ministério da Educação e Saúde
“livre para realizar o que bem entendesse, ou o que pudesse” (Schwartzman, op. cit.: 204).
O breve quadro estabelecido sobre a situação da educação no país é fundamental para a
compreensão do processo que envolve a construção do Hospital de Clínicas na capital gaúcha.
Em 28 de novembro de 1934, o decreto estadual n. 5.758, constitui a Universidade de Porto
Alegre, que deveria reunir a Faculdade de Direito com sua Escola de Comércio, a Escola de
Engenharia, a Escola de Agronomia e Veterinária, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
o Instituto de Belas Artes e a Faculdade de Medicina com suas Escolas de Odontologia e
Farmácia. Em 10 de março de 1936, o decreto estadual n. 769, criado pela lei federal n. 176,
de 6 de janeiro do mesmo ano, incorpora a Faculdade de Medicina à Universidade de Porto
Alegre, sendo a faculdade uma instituição federal cedida ao estado para fins didáticos.
Em meados de 1936, o então diretor da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, prof. Luiz
Francisco de Guerra Blessmann, durante viagem à Capital Federal, foi informado da
resolução do Ministro Capanema de “dotar a Faculdade com o Hospital de Clínicas, sendo
que em Outubro ou Novembro enviará um engenheiro do Ministerio que tomará as
providencias preliminares” [sic] (Ata n. 369, 1936: s.p.). Entretanto, somente no ano seguinte
Capanema convidou o prof. Souza Campos, técnico do Ministério da Educação e Saúde, para
realizar os primeiros estudos quanto ao Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de
Porto Alegre (Campos, 1945: 152).
1.2.1 O prof. Souza Campos e o arq. Pujol Júnior
Ernesto de Souza Campos
13
fez parte dos professores integrantes da Comissão do Plano da
Cidade Universitária do Brasil e foi diretor do Escritório do Plano da Universidade. Participou
do processo que envolveu os trabalhos dos arquitetos italianos Marcelo Piacentini e Vittorio
Mopurgo, do arquiteto franco-suíço Le Corbusier e da equipe de Lúcio Costa, da qual fazia
13
Ernesto de Souza Campos diplomou-se pela Escola Politécnica e pela Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (Prof., 1938: 302). “(...); autoridade a quem tem recorrido o Governo Federal para o estudo dos
mais complexos problemas referentes ao ensino superior, como a instalação da Universidade do Brasil numa
Cidade Universitária, os planos de um centro médico e construção de um hospital-escola para a Faculdade de
Medicina da Baía e outro para a Faculdade de Medicina de Porto Alegre” [sic] (Amaral, 1940: 4). Organizou
as universidades católicas de Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo durante sua gestão na pasta da Educação e
Saúde em 1946 (Lissovsky, op. cit.: 320). Sobre a atuação do prof. Souza Campos nos projetos da Cidade
Universitária do Brasil cf. (Schwartzman, 2000: 111-122) e (Campos, 1945: 135-149).
28
parte Jorge Moreira. Em colaboração com o arq. Hipólito Gustavo Pujol Júnior
14
, o prof.
Souza Campos também elaborou um estudo para a Cidade Universitária do Brasil na Quinta
da Boa Vista (Campos, 1945, op. cit.: 147).
No final de abril de 1937, o prof. Souza Campos desembarcou pela primeira vez em Porto
Alegre para estudar a localização do Hospital de Clínicas. No mês seguinte retornou à capital
gaúcha na companhia do arq. Pujol Júnior para elaborar os estudos (idem, ibidem: 152).
Entretanto, o prof. Souza Campos alterou a solicitação inicial para adequá-la ao padrão que o
Plano da Cidade Universitária do Brasil estabeleceria no próximo mês de julho pela lei federal
n. 452. Dessa forma, além do hospital, propôs um estudo preliminar para a Cidade
Universitária de Porto Alegre no Campo da Redenção.
1.2.1.1 O estudo preliminar no Campo da Redenção
O estudo preliminar da Cidade Universitária de Porto Alegre (figura 3), segue princípios
organizativos da tradição beaux-arts, conformando uma “Universidade-parque” (Campos,
1938a: 412). As edificações foram agrupadas no terreno em sete setores: Médico [1-7];
Administração Geral [8]; Filosofia, Ciências e Letras [9]; Engenharia e Arquitetura [10-13];
Ciências Jurídicas e Sociais [14-15]; Artes [16-18]; Educação [19]; e Educação Física [20-
22]. O estudo prevê a utilização total da área do Campo da Redenção, mantendo entre as
edificações existentes apenas os prédios da Faculdade de Medicina
15
e a recém construída
Escola Normal
16
. Na proposta, a Faculdade de Medicina passaria a abrigar a Faculdade de
Farmácia e a Escola de Odontologia (idem, ibidem).
14
Hipólito Pujol Júnior diplomou-se como eng. civil e arq. pela Escola Politécnica de São Paulo (Prof., 1938, op.
cit.: 302). Arquiteto-chefe nos estudos para a Universidade de São Paulo, desenvolveu com o prof. Souza
Campos trabalhos para a Faculdade de Medicina da Bahia e de Porto Alegre (Campos, 1940, op. cit.: 404-8),
assim como para a Universidade do Brasil no Rio de Janeiro (Campos,1945, op. cit.: 143-9).
15
Número 2 da legenda da figura 3, projeto de autoria de Theo Wiederspahn (Weimer, 1992: 95), teve sua pedra
fundamental lançada em 20 de setembro de 1911. “Os planos de construção, elaborados pelos Engenheiros
Rodolfo Ahrons e Manoel Itaqui, com base no edifício do Palácio de Justiça de Budapest, resultou em várias
alterações. O edifício, mescla do projeto de Sacati-Padoa, de Buenos Aires, e da planta do desenhista A. Trebbi
inspirada no palácio húngaro, foi inaugurado em março de 1924” (UFRGS, 1998: 37).
16
Número 19 da legenda da figura 3, projeto de autoria de Fernando Corona, atual Instituto de Educação Flores
da Cunha, projetada em 1934, teve sua construção concluída em agosto de 1935. “Foi o único prédio de caráter
permanente da Exposição Comemorativa do Centenário Farroupilha, pois foi projetado para abrigar a Escola
Normal e de passagem abrigou um de seus pavilhões (Canez, 1998: 66).
29
Figura 3: Cidade Universitária de Porto Alegre no Campo da
Redenção com transcrição da legenda – 1937 (Campos, 1938a: s.p.)
[sic]
LEGENDA:
CENTRO MEDICO
1 – FUTURA FACULDADE DE MEDICINA
2 – FACULDADE DE PHARMACIA E ESCOLA (ESTOMATOLOGICA E ODONTOLOGICA)
3 – ESCOLA E RESIDENCIA DE ENFERMEIROS
4 – HOSPITAL DE CLINICAS
5 – URGÊNCIA DO HOSPITAL DE CLINICAS
6 – CLINICA PROPEDEUTICA
7 – CLINICAS ESPECIALIZADAS
----------------
8 – REITORIA (ADMINISTRAÇÃO – BIBLIOTECA E GRANDE AMPHITHEATRO)
9 – FACULDADE DE PHILOSOPHIA – SCIENCIAS E LETRAS
A – SECÇÃO DE SCIENCIAS
B – SECÇÃO DE PHILOSOPHIA E LETRAS
C – MUSEU DE ETNOGRAFIA E HISTÓRIA NATURAL
10 – ESCOLA POLYTECHNICA
11 – LABORATORIO DE ELETROTÉCNICA – MECÂNICA E MÁQUINAS
12 – LABORATORIO DE RESISTENCIA DOS MATERIAIS
13 – ESCOLA DE ARCHITECTURA
14 – FACULDADE DE SCIENCIAS JURIDICAS E SOCIAIS
15 – FACULDADE DE SCIENCIAS POLÍTICAS E ECONÔMICAS
16 – ESCOLA DE BELLAS ARTES
17 – CONSERVATÓRIO DE MÚSICA
18 – THEATRO AO AR LIVRE
19 – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO PHYSICA
20 – STADIUM OLYMPICO
21 – PISCINA DE NATAÇÃO (POLO AQUATICO)
22 – PISCINA OLYMPICA E QUADRAS DE TENNIS
23 – LAGO RESERVATÓRIO (OCUPAÇÃO DO EXISTENTE)
24 – ESPELHO D’ÁGUA
30
A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras [9], era considerada pelo prof. Souza Campos
como o núcleo das organizações universitárias (Campos, 1938a, op. cit.: 412), sendo dessa
forma localizada como coroamento do eixo da composição, em uma edificação de escala
monumental que sugere o gesto de abraçar todos os setores. A Seção de Ciências [A] foi
disposta de modo a ficar o mais próximo possível do Setor de Engenharia e Arquitetura. Da
mesma forma, a Seção de Filosofia e Letras [B] foi disposta ao lado do Setor de Ciências
Jurídicas e Sociais. O Museu de Etnografia e História Natural [C], foi disposto na parte
central da edificação, fronteiriço a um espelho d’água. Contudo, no centro da composição da
Cidade Universitária, encontra-se o prédio da Reitoria [8], incorporando além da
administração, uma biblioteca e um anfiteatro central.
O Setor Médico, ou Centro Médico, apresenta o Hospital de Clínicas [4], com capacidade
entre 350 e 500 leitos, no terreno praticamente triangular limitado pela avenida João Pessoa e
pelas ruas Luís Englert e República. O hospital apresenta uma composição simétrica, cujo
eixo central coincide com os acessos principais. O projeto prevê a transferência da Faculdade
de Medicina [1], já instalada na época na edificação em forma de “V” [2], para uma nova
edificação em frente ao Hospital de Clínicas, sendo que no prédio desocupado passaria a ser
usado pela Faculdade de Farmácia e Odontologia. As duas edificações paralelas [7] ao eixo da
rua Sarmento Leite possibilitariam a expansão do hospital quando houvesse a necessidade,
absorvendo as Clínicas Especiais (idem, ibidem).
Todos os setores da Cidade Universitária contemplam o acesso de veículos que ocorre por
meio de um traçado viário predominantemente axial. A trama de circulações de pedestres faz
parte do planejamento paisagístico, que reduziu o lago [23] do projeto de Agache. Na medida
em que o projeto procura aproveitar algumas edificações pré-existentes, percebe-se
claramente, como no caso do Instituto de Educação [19], que certas questões não foram
plenamente resolvidas. A Reitoria é definida no centro da composição, mas fica posicionada
nos fundos do Instituto de Educação, demonstrando certa incoerência no projeto.
Conforme o esquema do conjunto completo, localizado na parte superior esquerda do plano
da Cidade Universitária, além da utilização da área do Campo da Redenção, o estudo propõe a
inclusão de um Parque Botânico-Zoológico, “sendo, este parque, uma extensão do Campo da
Redenção, quase do mesmo tamanho deste, limitado pela Avenida José Bonifácio, Caminho
31
do Meio
17
, Rua São Manuel, arroio Dilúvio
18
e Rua Vieira de Castro” (Macedo, 1973: 117). O
Parque Botânico-Zoológico compreende a então área denominada de Praça das Carretas
(Campos, 1938a, op. cit.: 410).
No entanto, o estudo preliminar “fazia tábua rasa de tudo quanto existia”, não tendo “a
menor importância a demolição da Igreja do Espírito Santo nem a absorção da Rua
Venâncio Aires...” (Macedo, 1973, op. cit.: 117). Diversas foram as manifestações contrárias
à localização da Cidade Universitária no Campo da Redenção, desde o leigo ao técnico. Um
cidadão declarou sua indignação em nota do jornal Correio do Povo: “Mas, ou eu estou
louco, ou perderam a memória os que esqueceram de que a Varzea, a tradicional Varzea da
cidade é um logradouro que não se pôde tocar desde que esse é o destino originário que lhe
deram. (...) Seria, sr. diretor, um (...) erro palmar de urbanismo” [sic] (As queixas, 1937: 7).
O urb. Ubatuba de Faria
19
propôs a implantação em outro local ao ser entrevistado pela
redação do mesmo jornal: “Sendo o hospital de clinicas a celula mater que dará origem á
futura villa Universitaria, temos que escolher um local que satisfaça as exigências requeridas
tanto pelo hospital como pela villa Universitária” [sic] (A localisação, 1937: 7).
O prof. Souza Campos não compreendeu as reações contrárias, principalmente por ter
encontrado no local as construções remanescentes da Exposição do Centenário Farroupilha de
1935, que lá permaneceram até 1939. Argumentando sobre sua proposta, o professor
declarou:
A área ocupada pelos edifícios universitários, esparsos no parque maior, seria
insignificante em relação à amplitude dos terrenos de acréscimo. Teria o parque
mais vida e melhor tratamento estetico e de jardinagem, além da imensa utilidade de
se formar uma cidade universitária quase no centro urbano. Seria êste talvez o mais
belo centro universitário do Brasil [sic] (Campos, 1945, op. cit.: 152).
Perante as dificuldades impostas, embora o estudo tivesse sido bem recebido pelos
professores da Faculdade de Medicina (Campos, 1938a, op. cit.: 410), o prof. Antonio Saint
17
Atual avenida Osvaldo Aranha por decreto de 14/11/1930. Estrada do Meio ou Caminho do Meio foi a
primeira denominação dessa avenida, como também da atual Av. Protásio Alves” (Franco, op. cit.: 302-3).
18
“Pequeno arroio, com cerca de 20 quilômetros de curso (...) marcou negativamente as zonas que atravessava.
(...) Um projeto de saneamento e regularização do Riacho já aparece no relatório do Intendente Otávio Rocha
relativo ao ano de 1925. (...) Entretanto, só depois de 1941, ano da grande enchente, e com ajuda do Governo
Federal, através do Departamento Nacional de Obras de Saneamento, foi possível executar o projeto do
Prefeito José Loureiro da Silva, aprovado pelo Decreto n. 73, de 19/3/1940, o qual previa, além da canalização
do Riacho, a abertura de duas avenidas marginais [atual av. Ipiranga] (idem, ibidem: 349-52).
19
O eng. Luiz Arthur Ubatuba de Faria realizou juntamente com o eng. Edvaldo Pereira Paiva, ambos
funcionários do município, importantes estudos para a cidade de Porto Alegre (Macedo, 1968: 112).
32
Pastous decidiu na reunião realizada em 14 de junho de 1937 na Câmara Municipal, retirar a
questão da localização da Cidade Universitária do Campo da Redenção, solicitando o retorno
à questão específica do Hospital de Clínicas, pois havia escolhido em passeio realizado com o
então Prefeito Alberto Bins, outro terreno para sua localização.
Entretanto, hoje pela manhã, foi uma especial gentileza do ilustre prefeito municipal,
eu tive oportunidade de, em sua companhia, fazer demorada visita a essa area da
cidade, que constitue objeto de cogitações especiaes do sr. prefeito municipal, de ser
desapropriado, para obedecer a um criterio de alto espirito de administração publica,
isto é, de ser realisado trabalho de saneamento da referida area e, ao mesmo tempo,
de sua utilisação, para a construção de um bosque popular e de um jardim botanico e
traçar as bases geraes, para a creação da futura villa universitaria [sic] (Saint
Pastous, 1937: 297).
No discurso do então presidente da Câmara Municipal, Jayme da Costa Pereira, realizado em
12 de julho de 1937, pode-se identificar com maior clareza qual terreno havia sido escolhido:
Esse terreno, como ficou sendo do nosso conhecimento, é o que fica situado logo á
entrada do Caminho do meio, extendendo-se para o lado da rua Sant’Anna, com uma
area bastante grande, mais do que sufficiente para o Hospital de Clinicas, ligado
ainda a um grande terreno que tem, aproximadamente, cerca de 70 hectares, no qual
o Sr. Prefeito projecta construir um bosque popular que servindo para a futura villa
universitaria, venha a ser, tambem, um jardim botanico [sic] (Pereira, 1937: 418).
Inconformado com as reações ao projeto no Campo da Redenção, o Presidente da República
Getúlio Vargas enviou um telegrama à Câmara Municipal de Porto Alegre, lido na sessão de
19 de junho de 1937. Vargas solicitava enfaticamente a aceitação da proposta do prof. Souza
Campos, pois fazia parte de um plano similar que incluía outras capitais estaduais:
Accusando recebimento vosso telegramma 13 corrente approveito ensejo esclarecer
construcção hospital clinicas essa capital faz parte plano elaborado com fim dotar
identico melhoramento Bahia e Districto Federal. Trata-se como é facil ver iniciativa
de grandes beneficios para ensino medico. Essa circnstancia justifica conveniencia
construcção se faça mais proximo Faculdade Medicina afim melhor attender
respectivos trabalhos. Tanto na Bahia, como nesta capital, nenhuma difficuldade
houve quanto escolha localisação promptamente obtida. Ao proceder estudos
indispensaveis technico ministerio enviado essa capital verificou ponto mais
aconselhavel para construcção era Campo Redempção não só porque satisfazia
objectivos acima referidos como ainda por não prejudicar parque destinado recreio
população; accresce ainda circunstancia ponderavel hospital integraria conjuncto
institutos ali já levantados que constituem verdadeira cidade universitaria. Professor
Saint Pastous que tão dedicadamente vem se interessando essa obra, informa-me
proprio prefeito não se opunha localisação escolhida. Governo Federal deseja
realisar esse importante melhoramento considera de maior interesse ensino medico e
seria lamentavel não encontrasse facilidade para leval-o a bom rumo. Estou certo,
comprehendendo alcance iniciativa, examinareis assumpto com superioridade de
33
vistas se impõe chegando assim a uma solução rapida e satisfatoria. Cordeaes
saudações – Getulio Vargas [sic] (Vargas, 1937: 443-4).
Mesmo mediante da solicitação do Presidente da República, os membros da Sociedade de
Engenharia redigiram uma carta de resposta à Vargas em 4 de agosto do mesmo ano, expondo
“os motivos pelos quaes tem se manifestado, tenaz e sistemáticamente, contra todas as
iniciativas que importem na utilisação de parte da Varzea para outro fim que não o de um
parque” [sic] (A localização, 1937: 178).
Por fim, a proposta da Cidade Universitária não foi aceita, obrigando o prof. Souza Campos a
reduzir o escopo de suas propostas, retornando somente à questão do Hospital de Clínicas e
do Centro Médico. “Reduzindo o ângulo dos nossos desejos tratamos então de cuidar apenas
do projeto do centro médico, naquela hora” (Campos, 1945, op. cit.: 152). Dessa forma,
novos terrenos foram alvo de estudos para a realização do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre.
1.2.1.2 Os estudos nos terrenos do Caminho do Meio, Partenon e Teresópolis
Em 16 de novembro de 1937, o prof. Souza Campos retorna à Porto Alegre na companhia do
arq. Pujol Júnior (Campos, 1938a, op. cit.: 417). Consoante ao pensamento do Ministro
Capanema, o prof. Souza Campos priorizava a idéia de escolher um terreno para a construção
do Centro Médico e não somente do Hospital de Clínicas, já que a realização ideal da Cidade
Universitária já não era mais possível (idem, ibidem: 418). Dessa forma, três novas áreas
foram analisadas, sendo alvos de esboços de urbanização: Caminho do Meio
20
, Partenon
21
e
Teresópolis
22
(figura 4). Todavia, antes de qualquer decisão do prof. Souza Campos e do arq.
Pujol Júnior, já havia prévia aprovação por parte dos professores da Faculdade de Medicina e
dos vereadores da Câmara Municipal pela escolha do terreno do Caminho do Meio (ibidem:
417).
20
“Terreno do ‘Caminho do Meio’ – local denominado Praça das Carretas, de propriedade de Oscar Freitas e
Castro e outros” (Pujol Júnior, 1938a: 427).
21
“Terrenos no Bairro ‘Parthenon’ – sobre a Avenida Matto Grosso, de propriedade da viuva Bastian, e
Archimedes Cavalcanti, Gastão de Oliveira e Schell” [sic] (idem, ibidem).
22
“Terrenos do Bairro ‘Teresopolis’ – entre a avenida deste nome e a rua José de Alencar, de propriedade de
D. Cypriana Mesquita, Dr. Joaquim Tibureio de Azevedo e Dr. Israel Baptista Soares da Silveira e Souza” [sic]
(ibidem).
34
Figura 4: terrenos analisados para a construção do Centro Médico –
1937 (Campos, 1938a: s.p.)
O primeiro terreno localizado no Caminho do Meio era denomiado de Praça das Carretas.
Possuía 200m. de frente para a av. Protásio Alves por 700m. de extensão até o arroio Dilúvio.
Sofria constantes alagamentos em épocas de cheias e limitava-se por construções nos dois
lados de sua maior dimensão. O prof. Souza Campos verificou a possibilidade de estender o
terreno até as ruas laterais D. Thereza
23
e São Manoel, o que ampliaria sua largura para 260m.
Entretanto, “o avanço até uma dellas, seria difficil de se obter, pelo custo elevado dos
terrenos na parte em questão” [sic] (Campos, 1938a, op. cit.: 414-5).
Posteriormente, o terreno sofreu modificações em suas dimensões, ficando com 262m. por
350m., impossibilitando a implantação do Centro Médico como era desejado pelo prof. Souza
Campos e pelo Ministro Capanema (idem, ibidem: 416-7). Em um rápido esboço para fins de
comparação entre os terrenos, o arq. Pujol Júnior viabilizou somente o Hospital de Clínicas
em uma edificação retangular com pátio interno anexando quatro alas laterais e uma projeção
em abside em sua face posterior (figura 5).
23
Atual rua Jacinto Gomes. “Tinha, então, o nome de Rua Dona Tereza, que foi mudado para o atual, em
homenagem a um ilustre médico porto-alegrense, Dr. Jacinto Luiz Gomes (1867-1937), após a sua morte”
(Franco, op. cit.: 226).
35
Figura 5: esboço do terreno do Caminho do Meio – 1937
(Campos, 1938a: s.p.)
Sobre esse terreno, o prof. Souza Campos alegou: “Não seria recommendavel localizar os
macissos constructivos mais importantes da cidade em um corredor estreito e apertado entre
habitações particulares, evidentemente de pequenas proporções” [sic] (Campos, 1938a, op.
cit.: 415).
O segundo terreno era conhecido com Chácara Bastian no Partenon
24
situado na Estrada do
Mato Grosso
25
, com 160m. de frente por 1.000m. de fundos, poderia ser adicionado a outro
terreno, totalizando 200m. por 1.000m. (idem, ibidem: 416). Embora o arq. Pujol Júnior tenha
afirmado que realizou “3 esboços de urbanisação local para cada terreno” [sic] (Pujol
Júnior, 1938a: 436), a análise do terreno no Partenon não foi publicada no respectivo livro,
impossibilitando constatar as conclusões definidas pela equipe de técnicos do Ministério da
Educação e Saúde.
Comparado com o primeiro terreno, o prof. Souza Campos concluiu que a qualidade do local
era superior, mas seu custo excedia “o valor da verba para isso destinada” (Campos, 1938a,
op. cit.: 425). Todavia, sua avaliação foi inferior ao terceiro terreno, comprovada
principalmente pelo desenvolvimento de um estudo mais elaborado.
24
“Dentro da divisão oficial dos bairros da cidade, que não tem muito apoio na tradição nem na toponímia
usual, o Partenon de hoje corresponde a desdobramentos mais recentes do antigo arrabalde do Partenon,
incluindo áreas, como a da Rua Dom João VI, em geral consideradas como pertencentes à Glória” (Franco, op.
cit.: 312).
25
Atual av. Bento Gonçalves pela lei de 24/3/1936. Na segunda metade do século XIX começa a nascer “o
Bairro Partenon, tendo como eixo central a Estrada do Mato Grosso” (idem, ibidem: 70-1).
36
Conforme estudo definido no terceiro terreno, o Centro Médico em Teresópolis (figura 6),
delimitava-se pelas ruas da Pacificação
26
, José de Alencar e por uma nova rua projetada, assim
como pela avenida Therezopolis
27
. Atualmente a área comporta o Estádio Olímpico do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Figura 6: estudo para o terreno em Teresópolis – 1937
(Campos, 1938a: s.p.)
Assim como o estudo preliminar para a Cidade Universitária no Campo da Redenção, o
projeto segue regras compositivas de inspiração beaux-arts. O Hospital de Clínicas proposto
apresenta o mesmo desenho da proposta no Caminho do Meio. Entre o hospital e a Faculdade
de Medicina, situa-se uma área para a prática de esportes, considerada pelo prof. Souza
Campos indispensável dentro de um Centro Médico, pois “é o médico o melhor auxiliar dos
exercicios athleticos. Uma associação se impõe desde logo: é a intima connexão dos esportes
com o departamento de biotypologia [sic] (Campos, 1938a, op. cit.: 422).
26
Atual rua Mariano Matos, por decreto n. 96 de 3/5/1940, “homenagem ao Brigadeiro José Mariano Matos,
fluminense que serviu como general e ministro da Guerra da República Rio-Grandense, tendo falecido no Rio de
Janeiro em 5/1/1865” (Franco, op. cit.: 261-2).
27
Atual av. Carlos Barbosa, pela lei de 6/7/1936, era “inicialmente um dos segmentos da Estrada da Cavalhada.
(...) Presta homenagem ao ex-presidente do Estado, Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, que governou o Rio Grande
do Sul entre 1908 e 1913, foi senador da República e faleceu em Jaguarão-RS, em 1933” (idem, ibidem: 99).
37
A conclusão final, tanto do prof. Souza Campos como do arq. Pujol Júnior, foi que o melhor
terreno era em Teresópolis. Possuindo área muito superior ao do Caminho do Meio, custava
exatamente o mesmo preço, possibilitando expansão futura. Era ainda um local alto e arejado,
qualidade importante ao ser confrontado com àquele terreno que era uma várzea. “A área do
terreno comporta um plano completo de Bloco Medico, em nada inferior aos que estão
projectados para a Bahia, S. Paulo e Rio de Janeiro” [sic] (Campos, 1938a, op. cit.: 423-4).
1.2.1.3 A aquisição do terreno do Caminho do Meio
Independente da conclusão do prof. Souza Campos e do arq. Pujol Júnior, a prévia decisão de
se construir o Hospital de Clínicas no terreno do Caminho do Meio já havia sido tomada pela
Faculdade de Medicina e pela Câmara Municipal (idem, ibidem, loc. cit.: 417). Em junho de
1938, o Governo Federal exarou um decreto declarando a área de utilidade pública para fins
de desapropriação. “Ontem, á noite, soube que o Presidente da Republica havia assinado o
decreto de desapropriação do terreno para o Hospital de Clinicas” [sic] (Ata n. 9, 1938:
s.p.). No mesmo ano o Interventor Federal no Rio Grande do Sul, Cel. Osvaldo Cordeiro de
Farias, dispôs a verba de mil e quinhentos contos de réis, não fazendo nenhuma restrição e
deixando a escolha do terreno “ao critério da Faculdade” (Ata n. 425, 1940: s.p.). Dessa
forma, o terreno do Caminho do Meio, chácara pertencente aos herdeiros de Antonio
Henrique da Fonseca, foi adquirido.
A herança da chácara pertencia às três filhas de Fonseca, sendo que a compra ocorreu
conseqüentemente em momentos distintos. Conforme documentos do Cartório do Registro de
Imóveis, da Segunda Zona de Porto Alegre, cujas cópias se encontram no arquivo do Hospital
de Clínicas de Porto Alegre, a “escritura de compra e venda da terça parte de um terreno
situado no Caminho do Meio com 262,50 x 758,70m. como adquirente o Estado do Rio
Grande do Sul” foram vendidas respectivamente em: 18 de junho de 1938 por Josefina
Henriqueta da Fonseca Vasconcellos; 6 de dezembro de 1938 por Aurora Fonseca Silva e
Alice Fonseca Silva de Souza Rego e Antônio Valentim de Souza Rego; 9 de janeiro de 1939
por Amérie do Carvalho Bastos e Clotilde da Silva Bastos e outros.
O Campo da Redenção era chamado de “Potreiro da Várzea há muito tempo” (Macedo,
1973, op. cit.: 98), onde “se viam animaes soltos, como si fosse um campo sem dono” [sic]
(Porto Alegre, 1940: 40). Dessa forma, a área adquirida para a construção do Hospital de
38
Clínicas, dada sua denominação de Praça das Carretas, provavelmente servia de
estacionamento dos carros de tração animal. Entretanto, as transformações da cidade estavam
propiciando melhorias na área, principalmente pela tentativa de ajardinamento do Campo da
Redenção, com a implantação parcial do projeto paisagístico de Agache e pelas reformulações
da área devido à Exposição do Centenário Farroupilha de 1935 (figura 7).
Figura 7: Campo da Redenção durante a Exposição do Centenário
Farroupilha com o terreno do Caminho do Meio demarcado
[esquerda] – 1935 (Paiva, 1943: s.p. fig. 56)
Além de servir de estacionamento de carretas, outras atividades eram exercidas da área antes
da compra do terreno, destacando-se o treinamento do corpo de bombeiros. Após sua
aquisição, tendo sido comprada a terça parte do terreno em 7 de dezembro de 1938
28
(A
construcção, 1938b: 6), a Prefeitura Municipal realizou movimentos de terra na área para o
preparo do campo de pólo
29
que foi “localizado provisoriamente nos terrenos do futuro
Hospital de Clínicas” (Paiva, 1943: 118) (figura 8).
28
A referida matéria do jornal estava se referindo na verdade à compra da segunda parte, sendo se que a data
correta da venda dessa terça parte ocorreu em 6 de dezembro de 1938.
29
“Também tem sede nesta capital a Liga de Polo Pôrto Alegrense. O polo é, ainda, o jôgo favorito do Pôrto
Alegre Country Clube” [sic] (Pimentel, 1945: 176).
39
Figura 8: jogo de pólo no terreno do Caminho do Meio – [194-?]
(Paglioli, 1964: 270)
Mediante a resolução da compra do terreno no Caminho do Meio para a localização do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o prof. Souza Campos retornou à cidade em 31 de
agosto de 1938, para realizar seu último trabalho em parceria com o arq. Pujol Júnior para a
capital gaúcha (A construcção, 1938a: 14).
1.2.1.4 O anteprojeto no terreno do Caminho do Meio
O plano do Centro Médico no Caminho do Meio (figura 9), novamente segue as regras
compositivas de inspiração beaux-arts. Um esquema axial é criado pela bissetriz da av.
Protásio Alves e da rua Jacinto Gomes, oportunizando uma perspectiva monumental ao
conjunto visto pelo visitante que se aproxima desde o centro da cidade. As edificações estão
dispostas simetricamente ao eixo, com o Hospital de Clínicas definindo o ponto focal ao
fundo.
Diferentemente do terreno no Caminho do Meio analisado anteriormente em 1937, o
anteprojeto retoma o comprimento inicial do terreno, estendendo-se até o arroio Dilúvio.
Entretanto, o Centro Médico foi projetado prevendo a utilização de áreas ainda a serem
desapropriadas nas ruas São Manoel e Jacinto Gomes. Dessa forma, o plano foi desenvolvido
sobre bases instáveis, sendo que esse problema permaneceria nos futuros projetos, assim
como na própria construção do hospital.
40
Figura 9: Centro Médico de Porto Alegre no terreno do Caminho do
Meio – 1938 (Campos, 1938b: 33)
Duas zonas distintas foram criadas por meio da extensão de uma rua sem nome, paralela à
linha máxima de inundações. Na parte do terreno, próxima ao arroio Dilúvio, foi localizado o
Setor de Esportes, e na outra, próxima a av. Protásio Alves, o Setor Médico. Essa disposição
seria retomada por Jorge Moreira em seu projeto para o Centro Médico da Faculdade de
Medicina de Porto Alegre
30
.
Ao contrário do estudo em Teresópolis, que previa uma nova edificação para a Faculdade de
Medicina, esse projeto não a contemplou devido à proximidade do terreno ao prédio da
faculdade já existente. Outra diferença é a inclusão de um Hospital de Pronto Socorro no
conjunto. Posteriormente, essa edificação passou para a responsabilidade da Prefeitura
30
Cf. vista superior da maquete do Centro Médico com transcrição da legenda – [1948?] (figura 60).
41
Municipal de Porto Alegre, que seis meses mais tarde planejaria sua construção no
entroncamento das avenidas Osvaldo Aranha, Protásio Alves e Venâncio Aires, não mais
fazendo parte do Centro Médico da Faculdade de Medicina de Porto Alegre
31
(Obras, 1939:
3).
Conforme a perspectiva do conjunto (figura 10), todas as edificações propostas apresentam-se
de forma escalonada, respeitando uma hierarquia altimétrica que culmina no Hospital de
Clínicas entre 12 e 13 pavimentos (figura 11). Os pavilhões anexos incorporam os “satélites
obrigatórios ou desejáveis. O hospital é o elemento central” (Campos, 1938b, op. cit.: 32). O
prof. Souza Campos definiu o anteprojeto como “uma composição magnífica” oferecendo
pela av. Osvaldo Aranha uma “vista perspectiva imponente (...) dando um aspéto de grande
nobreza” [sic] (idem, ibidem: 34). As edificações vinculam-se à linguagem art déco pelo uso
de uso de recortes, projeções e escalonamentos em disposição piramidal e simétrica.
Dentro de um programa descritivo flexível, foi estabelecido um Hospital de Clínicas para 450
leitos, com clínicas entre 24 e 18 leitos. Funcionalmente, o hospital foi dividido em seções de
administração, serviços clínicos gerais e departamentais, serviços técnico-científicos, ensino,
setor financeiro, serviços religiosos e funerários (ibidem: 35). Quanto aos serviços técnico-
científicos, esses foram discriminados pelo programa e localizado em duas edificações
separadas que constituem os laboratórios fronteiriços ao Hospital de Clínicas.
Figura 10: perspectiva nordeste do Centro Médico de Porto Alegre no
terreno do Caminho do Meio – 1938 (Campos, 1938b: 27)
Figura 11: perspectiva nordeste do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre no terreno do Caminho do Meio – 1938 (Campos, 1938b: 31)
31
O edifício do Pronto Socorro, realizado na década de 40, apresenta similaridade estilística com o projeto do
Hospital de Clínicas do arq. Pujol Júnior de 1938 (ambos vinculam-se à linguagem art déco).
42
Conforme esquema comparativo dos estudos desenvolvidos pelo arq. Pujol Júnior entre 1937
e 1938 (figura 12), pode-se perceber a influência beaux-arts nas plantas. Todos os desenhos
são simétricos mediante um eixo organizativo que demarca o acesso ao Hospital de Clínicas.
Entretanto, em seu último projeto, observa-se que a volumetria se aproxima muito mais da
arquitetura art déco, afastando-se da influência classicista típica da tradição beaux-arts. Tal
mudança estilística reflete o sucesso de uma linguagem mais identificada com a modernidade,
tanto em nível mundial como local (vide Exposição Farroupilha de 1935).
Figura 12: esquema comparativo dos estudos do arq. Pujol Jr. para o
Hospital de Clínicas de Porto Alegre – 1937-38 (Fonte: autor)
1.2.1.5 O final da primeira fase e trabalhos análogos do prof. Souza Campos
Os estudos realizados para Porto Alegre são análogos aos desenvolvidos pelo prof. Souza
Campos e pelo arq. Pujol Júnior em Salvador. O Hospital de Clínicas da Faculdade de
Medicina da Bahia segue as linhas arquitetônicas utilizadas pelo arquiteto em Porto Alegre:
inspiração beaux-arts em planta com estilização art déco (figura 13). Comprovando que o
prof. Souza Campos não se envolvia em questões estilísticas, a Escola de Enfermagem
32
(figura 14), foi desenvolvida em linhas modernas pelo arq. Evaristo de Sá em 1939 (Campos,
1940, op. cit.: 406-7). Entretanto, diferentemente do que ocorreria em Porto Alegre, ambas
edificações na Bahia foram projetadas sob a mesma supervisão, assim como as construções
foram concluídas em um curto prazo de tempo.
32
Conforme as intenções do Governo Federal por meio do Ministério da Educação e Saúde, “seria indispensável
a construção da Escola de Enfermagem paralela a do Hospital” tanto em Salvador como em Porto Alegre
(Campos, 1940, op. cit.: 407).
43
Figura 13: perspectiva do Hospital de Clínicas da Faculdade de
Medicina da Bahia – 1938 (Campos, 1940: s.p. fig. IV)
Figura 14: perspectiva da Escola de Enfermagem da Faculdade de
Medicina da Bahia – 1939 (Campos, 1940: s.p. fig. V)
Não foram encontradas as razões específicas pelas quais o Centro Médico no Caminho do
Meio do prof. Souza Campos com o arq. Pujol Júnior não foi executado. Presume-se apenas
que foram questões políticas que inviabilizaram sua realização. Conforme declaração do prof.
Campos para o conselho da Faculdade de Medicina durante a apresentação do anteprojeto:
Todos os fatores convergem para sua próxima realização. O terreno já está
adquirido. O Governo Federal põe grande empenho neste empreendimento. A
Faculdade está integralmente vinculada a êste plano, que surgiu, aliás por iniciativa
do egrégio professor Antonio Saint Pastous de Freitas. Ha verba destinada para êsse
fim. Nenhum obstáculo existe para que a Faculdade de Medicina de Porto Alegre
faça mais êste progresso, além das excelentes realizações que crearam o seu renome
[sic] (Campos, 1938b, op. cit.: 37).
É provável que, diferentemente do que ocorreu com o edifício-sede do Ministério da
Educação e Saúde
33
, a lei federal n. 125, de 3 de dezembro de 1935, tivesse que ser cumprida
nesse caso. Em seu artigo quinto, a lei estabelece: “Nenhum edifício público de grandes
proporções será construído sem prévio concurso para escolha do projeto respectivo” (Harris,
1987: 65). Sendo assim, um segundo concurso público, agora sob a iniciativa federal foi
realizado. Dessa forma, encerra-se a primeira fase da atuação do prof. Souza Campos no
projeto do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
33
Lei n. 193, de 17 de janeiro de 1936, cujo artigo primeiro, parágrafo dois, estabelece: “A construção do
edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública independe da observação da formalidade constante no
artigo 5 da Lei n. 125, de 3 de dezembro de 1935” (Harris, 1987: 65).
44
1.2.2 O concurso federal para o projeto do Hospital de Clínicas
Em 5 de janeiro de 1939, o Ministério da Educação e Saúde publicou no Diário Oficial da
União um edital de concorrência pública (Anexo D), assinado pelo superintendente do
Serviço de Obras Souza Aguiar em 31 de dezembro de 1938. O objetivo era a realização de
“ante-projetos do edifício para Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina e para
urbanização de todo o Centro Médico de Porto Alegre” [sic] (Ministério, 1939: 362). O edital
estabelecia que a concorrência pública ocorreria mediante a apresentação de dois anteprojetos:
um para “todo o Centro Médico de Porto Alegre (Faculdade de Medicina, Faculdade de
Farmácia, Faculdade de Odontologia, Escola de Enfermagem, Hospital de Clínicas, clínicas
especiais, instalações de educação física) e outro especialmente do Hospital de Clínicas,
parte integrante do aludido Centro Médico” (Ministério, op. cit.: 362). Pela primeira vez são
solicitadas edificações independentes para as escolas de Farmácia e a Odontologia, embora as
mesmas ainda estivessem vinculadas à Faculdade de Medicina. De certa forma, o edital
estabelecia as bases futuras para a separação desses cursos em faculdades autônomas.
O edital definia que os projetos seriam julgados “por uma comissão nomeada pelo ministro
da Educação e Saúde” (ibidem), determinando a data de 20 de fevereiro do mesmo ano para a
entrega dos trabalhos. A única informação disponível sobre o decorrer dessa concorrência
provém do prof. Souza Campos: “O projeto definitivo foi sujeito a concorrência pública
tendo sido recusado o único anteprojeto apresentado” (Campos, 1940, op. cit.: 407).
Não foram encontrados mais documentos que precisassem os motivos do fracasso desse
concurso, assim como dados do trabalho submetido a julgamento. Independente disso, o
projeto do Hospital de Clínicas retorna à supervisão do prof. Souza Campos, subordinado ao
Serviço de Obras do Ministério da Educação (idem, ibidem), de acordo com a vontade dos
professores da Faculdade de Medicina de Porto Alegre (Ata n. 425, op. cit.: s.p.).
1.2.3 O prof. Souza Campos e os arq. Jorge Moreira e Hélio Uchôa
Configurando sua segunda fase de envolvimento no projeto do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre, em 7 de março de 1940, o prof. Souza Campos retorna à capital gaúcha acompanhado
45
dos arquitetos Jorge Machado Moreira e Helio Uchôa Cavalcanti
34
, para tratarem do
“levantamento do futuro Hospital de Clinicas” [sic] (Em junho, 1940: 5). Os arquitetos
faziam parte desde 31 de janeiro de 1939, com Atílio Correio Lima e chefiados por Carlos
Leão, da equipe da Seção de Arquitetura da Universidade do Brasil sob a supervisão do prof.
Souza Campos e Inácio M. Azevedo do Amaral (Campos, 1940, op. cit.: 402).
Em depoimento ao jornal Correio do Povo, o prof. Souza Campos declarou: “Para dar maior
desenvolvimento aos trabalhos, o sr. ministro da Educação e Saúde Publica resolveu
designar dois architectos, os drs. Jorge Machado Ferreira
35
, que é, alias, filho do Rio Grande
do Sul, e Helio Uchôa Cavalcanti, para, sob a minha orientação
36
, estabelecer o plano geral”
[sic] (Em junho, op. cit.: 5). Jorge Moreira destacava-se pela participação na equipe de
projetistas do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde (1936-1944), tendo atuado
com Le Corbusier, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy e outros.
A intenção era a construção das “primeiras obras do conjuncto que constituirá o Centro
Médico ou Cidade Hospitalar” [sic] (ibidem). Entretanto, devido a falta de recursos materiais,
não era possível construir “simultaneamente, todas essas instituições, que fazem parte do
ensino medico propriamente dito, ou de seu elementos afins. No momento actual, porém, está
o Governo da República firmemente decidido a edificar o Hospital de Clínicas e a Escola de
Enfermagem” [sic] (ibidem). Sendo assim, a exemplo do que ocorreu com a Faculdade de
Medicina da Bahia, o arq. Evaristo de Sá, que havia projetado a Escola de Enfermagem em
Salvador, foi designado para projetar a Escola de Enfermagem de Porto Alegre (Campos,
1940, op. cit.: 407). Conforme as declarações do prof. Souza Campos, os “estudos para essas
duas instituições estão na sua phase final de execução do projecto definitivo. Já foram
estabelecidas alguns ante-projetos, de modo que podemos ter certeza de serem começadas as
construções no segundo semestre do corrente anno” [sic] (Em junho, op. cit.: 5).
No dia seguinte, em 8 de março de 1940, na presença do prof. Souza Campos, dos arquitetos
Jorge Moreira e Hélio Uchôa, do diretor da Faculdade de Medicina e demais representantes
governamentais (figura 15), era assinada a escritura de doação do terreno pelo Governo
34
O arquiteto Hélio Uchôa Cavalcanti realizou trabalhos com Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera em São
Paulo entre 1951 e 1955 (Mindlin, op. cit.: 206-14), na Fábrica de alimentos Duchen em São Paulo em 1950
(idem, ibidem) e o Hospital Sul América no Rio de Janeiro em 1952 (Bruand, op. cit.: 154).
35
Na edição do jornal Correio do Povo do dia seguinte, 8 de março de 1940, o sobrenome do arquiteto foi
retificado de Ferreira para Moreira.
36
Conforme proferiu o prof. Souza Campos, cabe ressaltar que o início do envolvimento de Jorge Moreira no
projeto do Hospital de Clínicas ocorreu sob sua orientação.
46
Estadual ao Governo Federal (A doação, 1940: 8). Dessa forma, ficava estabelecida
definitivamente a localização do Hospital de Clínicas no terreno do Caminho do Meio.
Nesse ínterim, a equipe da construtora Barcellos & Cia
37
. realizou um projeto para a Escola de
Medicina do Rio Grande do Sul
38
(figura 16), que seria “integrada por um Hospital de
Clínicas” (Schidrowitz, 1940: 658). Não são conhecidas as razões desse estudo, se ele foi
uma iniciativa por parte da construtora, que pretendia conquistar o cliente, ou se houve
alguma solicitação formal por parte da Faculdade de Medicina. Entretanto, esse projeto
simboliza o início de muitas intervenções externas que ocorreriam no Centro Médico.
Figura 15: assinatura da escritura de doação do terreno do Caminho do
Meio para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre na presença do prof.
Souza Campos [direita] e dos arquitetos Jorge Moreira e Hélio Uchôa
[esquerda] – 1940 (O Hospital, 1940: 7)
Figura 16: perspectiva da Escola de Medicina do Rio Grande do Sul –
[1940?] (Arquivo da Faculdade de Medicina)
Entre os pontos que a equipe do prof. Souza Campos veio esclarecer quanto ao projeto do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, um deles merece destaque, pois influenciou diretamente
na futura proposta desenvolvida por Jorge Moreira:
3º) combinar a urbanização do Centro Médico com a urbanização geral da cidade.
Dada a circumstancia de ter a Prefeitura local, muito avisadamente, mandado
proceder a um estudo rigoroso de toda a urbanisação da metropole, é evidente que o
novo nucleo que se vae formar, um dos mais importantes, teria necessariamente de
entrar em harmonia com a urbanisação visinha, de modo a não constituir um kisto
dentro do conjunto geral da cidade [sic] (Em junho, op. cit.: 5).
37
A empresa Barcellos & Cia. se instalou em Porto Alegre no ano de 1927 (Vianna, 2003: 50), tornando-se uma
importante construtora entre 1930 e 1940 (Weimer, 2004: 28).
38
O nome da edificação Escola de Medicina, encontrada tanto no Arquivo da Faculdade de Medicina como do
livro de comemoração do Bi-centenário da Colonização de Porto Alegre (Schidrowitz, 1940: 658), contraria a
denominação comum de Faculdade de Medicina, mas tudo indica que seja mesma instituição.
47
O estudo rigoroso de urbanização citado, refere-se aos trabalhos desenvolvidos pelo urb.
Arnaldo Gladosch
39
, contratado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre em 21 de dezembro
de 1938 (Paiva, op. cit.: 215-8), para o desenvolvimento do Plano Diretor da cidade.
1.2.3.1 O Plano Diretor de Porto Alegre e o terreno para o Hospital de Clínicas
Entre os estudos realizados por Gladosch entre março de 1939 e outubro de 1942, o plano
para a Localização do Parque da Feira Permanente e do Estádio Municipal (figura 17),
projetado em 18 de dezembro de 1939 e modificado em 19 de fevereiro de 1940, influenciou a
decisão da equipe do prof. Souza Campos quanto à forma do terreno para o Hospital de
Clínicas. A Feira Permanente objetivava expor os produtos industriais, agrícolas e comerciais
do Estado em função da comemoração do Bi-centenário da Colonização de Porto Alegre.
Contudo, o evento não chegou a ser realizado. Embora o Estádio Municipal conste no título
do estudo, ele não foi representado. O desenho do Parque Farroupilha
40
apresentado nesse
plano respeitou a proposta de Agache, mas as intervenções de Gladosch sobrepuseram
“curiosos recantos ou jardins” no plano do urb. francês (Luz, 1999: 48).
O plano previa a extensão do eixo monumental do Parque Farroupilha até o Parque da Feira
Permanente por meio da rua Santana. Dessa forma, o projeto criava um novo espaço de área
similar ao maior logradouro público da cidade. No plano permanecia a canalização do arroio
Dilúvio na av. projetada do Riacho
41
, possibilitando o saneamento da área. Entretanto,
conforme montagem da parte superior esquerda do plano, o terreno do Hospital de Clínicas
foi dividido aproximadamente em dois terrenos triangulares truncados de dimensões
diferentes devido à nova avenida projetada por Gladosch. Perpendicular ao ponto médio desse
novo logradouro, a av. Jerônimo de Ornelas passou a adquirir a função de rota perimetral,
conforme estudos viários da época (Paiva, op. cit.: 93). Sendo assim, a av. Jerônimo de
Ornelas passava a oferecer uma perspectiva monumental ao terreno do Hospital de Clínicas,
instigando Jorge Moreira a retirar partido dessa situação em seu projeto.
39
O urb. Arnaldo Gladosch havia trabalhado no plano para a cidade do Rio de Janeiro realizado pelo urb. francês
Alfredo Agache entre 1926 e 1930. Em Porto Alegre, Gladosch projetou diversas edificações de grande vulto,
como o edifício Sulacap em 1938 e o edifício Mesbla em 1944 (Xavier, 1987: 48 e 54).
40
Pelo decreto municipal de 19/9/1935, o Campo da Redenção passou a ser denominado de Parque Farroupilha
(Franco, op. cit.: 163-7).
41
Cf. nota 18.
48
Figura 17: Plano Diretor da Cidade de Porto Alegre – Localização do
Parque da Feira Permanente e do Estádio Municipal – 1939-40
(Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
O plano sobre o qual a equipe do prof. Souza Campos iniciou os trabalhos, tratava-se de um
estudo a ser aprimorado pelo urbanista. Contudo, do projeto definitivo de Gladosch foram
encontradas apenas as imagens da maquete do entorno imediato (figura 18) e do conjunto das
edificações da Feira Permanente de Amostras (figura 19). Por meio da maquete pode-se
observar que o terreno do parque proposto foi reduzido a uma área retangular, ainda que de
grande dimensão se comparado com o restante dos quarteirões circundantes. A área do
Hospital de Clínicas permaneceu com o formato inicialmente proposto, assim como o
conjunto central das edificações do Parque da Feira, mas os pavilhões laterais do estudo
inicial foram suprimidos.
49
Figura 18: maquete da localização do Parque da Feira Permanente de
Amostras [acima] com o Parque Farroupilha [abaixo] e o terreno do
Hospital de Clínicas [esquerda] – [1940?] (Paiva, 1943: s.p. fig. 63)
Figura 19: maquete das edificações do Parque da Feira Permanente de
Amostras – [1940?] (Paiva, 1943: s.p. fig. 64)
Embora não tenha sido encontrada documentação que comprove a autoria do projeto
arquitetônico das edificações que compõem o Parque da Feira Permanente de Amostras, ela
foi atribuída ao arquiteto Christiano de la Paix Gelbert
42
devido ao seu estilo arquitetônico
diferenciado das demais produções de Gladosch (Weimer, 1998a: 142). “Este projeto sofreu a
inspiração muito próxima da parte final da grande avenida monumental do projeto de Albert
Speer de reformulação de Berlim” (idem, ibidem: 142-3).
Depois de analisado o impacto resultante do Plano de Gladosch no terreno destinado à
construção do Hospital de Clínicas, a conclusão da equipe do prof. Souza Campos foi
favorável às modificações. No desenho do terreno proposto para a construção do Centro
Médico de Porto Alegre (figura 20), as permutas necessárias para a viabilização do formato
desejado foram discriminadas. Com a Prefeitura Municipal, previa-se a troca da área
necessária para a abertura da avenida projeta por dois terrenos: um aproximadamente
triangular truncado ao norte (próximo a av. do Caminho do Meio) e outro praticamente
triangular ao sul (próximo a av. do Riacho). Por fim, o Governo Federal necessitaria adquirir
duas faixas: uma retangular à leste (próxima à rua São Manoel) e outra trapezoidal à oeste
(próxima da av. Jerônimo de Ornelas).
42
Christiano de la Paix Gelbert era o arquiteto da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, tendo realizado os
principais edifícios da Exposição do Centenário Farroupilha de 1935 (Xavier, op. cit.: 44).
50
Figura 20: terreno proposto para a construção do Centro Médico de
Porto Alegre – [1940?] (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
No Memorial e Programa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Porto
Alegre (Anexo E), o prof. Souza Campos descreveu minuciosamente a necessidade das
desapropriações para a expansão do terreno com muitos dos argumentos anteriormente
utilizados na avaliação dessa área em 1937 e 1938
43
. A solicitação foi veemente para que o
terreno adquirisse a forma desejada: “Uma providência, pois, se impoe e eu a reclamo com
todo o ardor e convicto da sua absoluta necessidade: (...)” [sic] (Campos, [1940?]: s.p.).
Dessa forma, juntamente com a canalização do arroio Dilúvio, o terreno anteriormente não
recomendado pelo prof. Souza Campos, conforme sua avaliação em 1937, passaria a oferecer
boas condições para a localização do Centro Médico de Porto Alegre.
1.2.3.2 O Memorial e o Programa para o Hospital de Clínicas
43
Cf. Os estudos nos terrenos do Caminho do Meio, Partenon e Teresópolis (capítulo 1.2.1.2) e O anteprojeto
no terreno do Caminho do Meio (capítulo 1.2.1.4).
51
No mês seguinte à doação do terreno, em 5 de abril de 1940, o programa do Hospital de
Clínicas foi discutido na Capital Federal e aprovado pelos professores da Faculdade de
Medicina de Porto Alegre. Na época, o diretor dessa instituição, prof. Fernando Freitas de
Castro, declarou ao prof. Souza Campos: “Estou de pleno acôrdo com este plano e programa
que satisfaz plenamente os interesses da Faculdade” [sic] (Campos, 1943d: 11). Retornando
em 9 de abril de 1940 para a capital gaúcha, o diretor Freitas e Castro declarou suas
impressões quanto ao andamento dos trabalhos da equipe de técnicos do Ministério da
Educação e Saúde ao jornal Correio do Povo:
Quanto ao Hospital de Clinicas, deixei o projeto em pleno andamento e, dentro de
pouco tempo, estará prompto para abrir-se a concorrencia para a construcção. Tanto
o presidente da Republica como o ministro da Educação estão empenhados para que
a construcção comece o mais breve possivel. O projeto está sendo executado pelos
drs. Moreira e Uchôa, sob a orientação do dr. Souza Campos.
O Hospital de Clinicas, segundo o programma que ficou traçado, vae ser uma obra
monumental, um dos melhores até então construidos.
Tive opportunidade de examinar o programma elaborado, assertando com o dr.
Souza Campos os detalhes da construcção. Estou convencido de que virá melhorar,
consideravelmente, o ensino, dotado como está de todos os elementos necessarios á
sua efficiencia.
Ao mesmo tempo do Hospital de Clinicas se construirá a Escola de Enfermagem,
cujo projecto já foi concluido e que é um complemento do Hospital. A construcção
de ambos será no terreno já adquirido para este fim e que fica situado na entrada do
Caminho do Meio. Provavelmente será ampliado pela aquisição de mais uma certa
área [sic] (A construcção, 1940: 3).
Torna-se pertinente ressaltar que o diretor da Faculdade de Medicina relatou apenas ter
examinado o programa do Hospital de Clínicas, nada comentando sobre o aspecto do projeto
que estava sendo executado por Moreira e Uchôa. Quanto à Escola de Enfermagem, destacou
que o projeto já estava concluído, mas apenas o anteprojeto havia sido realizado (Campos,
1943c: 12). Infelizmente, em 18 de agosto de 1941, durante nova viagem à Capital Federal
para tratar, entre outras coisas, do Hospital de Clínicas, o prof. Freitas e Castro, juntamente
com o reitor da Universidade de Porto Alegre, prof. Ary de Abreu Lima, sofreram um
acidente aéreo na serra da Cantareira, entre Curitiba e São Paulo, perdendo a vida juntamente
com mais seis pessoas (O avião, 1941: 3). Segundo o prof. Souza Campos, caso esse acidente
não tivesse ocorrido, as obras do Hospital de Clínicas não tardariam a serem iniciadas
(Campos, 1945, op. cit.: 153).
52
Por meio da análise do Memorial e Programa do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Porto Alegre, observa-se que a intenção do prof. Souza Campos era apenas
nortear o projetista, oferecendo-lhe “inteira liberdade do traçado das plantas”, informando a
área aproximada dos elementos “sem entrar na determinação das dimensões, das unidades
em que tenha que ser subdividido o hospital” (Campos, [1940?], op. cit.: s.p.). O programa
mantém alguns conceitos elaborados no projeto do terreno do Caminho do Meio em 1938,
como por exemplo, a localização dos serviços técnico-científicos na parte de fora do hospital.
Inicialmente, o desenvolvimento do projeto esteve a cargo da equipe de arquitetos do Serviço
de Obras do Ministério da Educação e Saúde, mas posteriormente passou aos cuidados de
Jorge Moreira (Campos, 1943d, op. cit.: 12). Todavia, não foram encontrados documentos
que esclareçam essa transição, onde o prof. Souza Campos e o arq. Hélio Uchôa parecem sair
de cena. Se, a partir desse momento, a supervisão do projeto não permaneceu com o prof.
Souza Campos, isso finalizaria sua segunda fase de envolvimento com o Hospital de Clínicas.
Jorge Moreira considerava o planejamento hospitalar um dos programas mais “complexos que
se podem apresentar a um arquiteto”, sendo que o Hospital de Clínicas de Porto Alegre foi
“o primeiro projeto de um hospital” realizado pelo arquiteto (Moreira, 1954, op. cit.: 345-6).
Honestamente, devo dizer que fiquei sem saber por onde começar. Havia recebido
um programa do hospital, elaborado, com todos os programas, com a designação dos
diferentes compartimentos, com as respectivas dimensões e áreas. Mas aquilo não
era suficiente e, muito menos, para um principiante. (...)
Ví-me, assim, diante de um problema vastíssimo: tudo o que sabia de hospitais, de
ver, de ouvir falar e de ler, ocorreu-me imediatamente com todos os seus múltiplos
aspectos e numa certa desordem, porque não me foi possível, de início, por falta de
conhecimentos, determinar exatamente todos os serviços e o seu funcionamento,
bem como as ligações e interdependências das partes componentes de um hospital,
assim como fixar os esquemas de circulação. Então, dentro dêste autodidatismo que
os arquitetos brasileiros são obrigados a usar tão frequentemente, tratei de
estabelecer eu mesmo um programa. Custei um pouco até pôr tudo em ordem. Foi
um longo trabalho de pesquisa, de indagações e de estudo [sic] (idem, ibidem: 346).
O programa desenvolvido por Moreira não foi localizado, mas por meio da análise de seu
projeto, pode-se verificar relações diretas com o programa elaborado pelo prof. Souza
Campos. A disposição do Hospital de Clínicas em um monobloco, a localização dos serviços
técnico-científicos fora do monobloco, a localização estratégica da farmácia na saída do
ambulatório, o número de enfermarias e a designação das demais edificações que compõem o
Centro Médico, são alguns exemplos que permitem comprovar essa influência.
2. O HOSPITAL DE CLÍNICAS DE JORGE MOREIRA
Mediante as orientações estabelecidas pelo prof. Souza Campos no Memorial e Programa do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Porto Alegre (Campos, [1940?], loc. cit.:
s.p.), Jorge Moreira desenvolveu o projeto do Hospital de Clínicas em um terreno incerto,
dependente de desapropriações e da abertura de ruas. Tais incertezas configuraram um dos
maiores problemas enfrentados para a concretização da edificação. O arquiteto realizou em
uma década três versões do projeto que são analisadas neste capítulo, desconsiderando-se
estudos incompletos que não incorporaram alterações significativas.
2.1 A PRIMEIRA VERSÃO (1942)
44
O projeto foi concluído em 30 de julho de 1942 sob a chancela do Ministério da Educação e
Saúde. Projetado isoladamente no terreno destinado para o Centro Médico, em síntese, o
projeto caracteriza-se pela tensão estabelecida entre a grande diferença de altura de uma barra
vertical e uma placa horizontal, unidas por uma ponte que demarca o eixo de simetria da
edificação. Divergindo da simetria axial absoluta em alguns elementos pontuais, destaca-se o
auditório trapezoidal de cobertura abobadada acoplado à esquerda da ponte (figuras 21 a 24).
Figura 21: vista sul da maquete do Hospital de Clínicas – primeira
versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Figura 22: vista sudoeste da maquete do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
44
Algumas plantas e um corte foram redesenhados devido à impossibilidade de representação dos originais.
54
Figura 23: vista leste A da maquete do Hospital de Clínicas – primeira
versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Figura 24: vista leste B da maquete do Hospital de Clínicas – primeira
versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Para uma descrição mais objetiva dos elementos que compõem o projeto do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre [HCPA], torna-se pertinente realizar comparações com o edifício-
sede do Ministério da Educação e Saúde [MES] (figuras 25 a 28). Realizado sob a assessoria
de Le Corbusier por uma equipe de arquitetos brasileiros que incluía Jorge Moreira, sua
realização possibilitou o início da afirmação de uma linguagem arquitenica comum ao país.
“Exemplar de arquitetura moderna brasileira, o MESP afirma o seu enquadramento no
marco mais amplo da arquitetura ocidental e postula dialética a relação entre parte Brasil e
todo Ocidente” (Comas, 2002, v. 1: 139). Da mesma forma, o projeto do Hospital de Clínicas
de Jorge Moreira iniciou a tentativa de introduzir a expressão arquitetônica produzida pela
escola carioca na capital gaúcha.
Figura 25: elevação perspectivada norte do edifício-sede do Ministério
da Educação e Saúde – 1937 (Comas, 2002, v. 2: s.p.)
Figura 26: elevação pespectivada sudoeste da maquete do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
55
Figura 27: esquema proporcional da planta do térreo do edifício-sede
do Ministério da Educação e Saúde – 1937 (Fonte: autor)
Figura 28: esquema proporcional da planta do térreo do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Fonte: autor)
A barra vertical do HCPA [A] apresenta a mesma disposição tripartida do MES, “com base,
corpo principal e coroamento em versão moderna”
45
(Calovi Pereira, 2000, op. cit.: 59).
Ambos projetos apresentam na base da barra vertical colunas de ordem colossal
46
dispostas
em três fileiras longitudinais com intercolúnios de seis metros de eixo a eixo
47
. A distância
entre as três fileiras do MES é igual, estabelecendo assim uma linha coincidente com o eixo
central da edificação. No HCPA, as três fileiras de colunas da barra vertical estão espaçadas
de eixo a eixo entre si por intervalos de 7,5m. e 10m., não ocorrendo ocupação colunar do
eixo central. Enquanto o HCPA apresenta uma seqüência de 22 colunas de 8,6m. de altura, o
MES possui a metade do número de colunas com altura de dez metros. Desse modo, as
proporções do MES definem um perfil de maior verticalidade, enfatizando a altura da torre e
45
A barra vertical do Hospital de Clínicas apresenta a base com dois pavimentos (onde ocorrem os acessos
principais e a administração). O corpo principal constitui-se por 12 pavimentos, sendo composto pela
sobreposição de dez pavimentos (onde ocorrem as enfermarias nos nove primeiros e os alojamentos, cozinha e
refeitório no último) com a primeira faixa do coroamento de dois pavimentos (onde ocorrem o bloco cirúrgico e
as salas de aula). A segunda faixa do coroamento apresenta a área recreativa em um único pavimento.
46
Introduzidas na Renascença por Alberti, Michelangelo e Palladio, a “ordem ‘colossal’ é aquela que se eleva
do chão ou de uma base baixa e recobre completamente dois ou mais andares” (Summerson, 1997: 72). Desde
“então estabeleceu-se uma diferença essencial entre as proporções da arquitetura monumental e a dos edifícios
domésticos” (Rasmussen, 1986: 112-3).
47
O módulo utilizado no projeto é de dois metros (Moreira, 1954: 349). Como cada coluna possui um metro de
diâmetro, a distância entre os quadrantes das colunas corresponde a cinco metros.
56
de sua base colunar, enquanto o HCPA apresenta uma barra muito mais larga do que alta,
tendo como correspondência uma colunata mais baixa.
Embora não se trate de base aberta como ocorre no MES, que possui um vazio entre dois
sólidos funcionando como um pórtico, a colunata do HCPA denota permeabilidade e cumpre
a função de base em loggia indicativa do acesso principal. A entrada é valorizada pela
inclusão de uma grande marquise assimétrica
48
à composição, mais para a ala esquerda da
edificação, possibilitando inclusive abrigo veicular. Os dois projetos apresentam as linhas de
colunas exteriores recuadas em relação às fachadas do corpo principal da barra vertical.
Enquanto no HCPA a base se mantém recuada em toda sua extensão, no MES ocorre uma
inversão no lado esquerdo do térreo da barra vertical, cujas colunas exteriorizadas no lado
oposto passam para o interior do ambiente devido ao cruzamento com o auditório e as
exposições.
O corpo principal da barra vertical do HCPA configura-se pela justaposição de dez
pavimentos recobertos por grelha ortogonal (que incorporam um sistema de brise-soleil
49
nas
fachadas sudoeste e nordeste) com mais dois pavimentos (que compreendem o primeiro
estágio do coroamento em pano mural cego). O espaçamento vertical da grelha é de dois em
dois metros de eixo a eixo, correspondente ao utilizado na fachada norte
50
do MES. Dessa
forma, cada intercolúnio de seis metros representa três alvéolos da grelha. Entretanto,
horizontalmente ocorrem pequenas diferenças entre os dois projetos, sendo a grelha do HCPA
uma variação sobre o mesmo tema da utilizada no MES. No HCPA, as subdivisões
horizontais da grelha distanciam-se 3,9m. de eixo a eixo uma da outra, com um sistema de
brise-soleil formado por um único painel fixo rente à grelha. No MES a repetição ocorre a
cada 4,5m. e com três painéis móveis afastados da esquadria
51
. Sendo assim, os alvéolos da
grelha ortogonal do MES são mais esbeltos que os do HCPA, correspondendo a
predominância vertical daquele em relação à horizontalidade desse.
O coroamento da barra vertical do HCPA subdivide-se em dois estágios distintos: o primeiro
constitui a terminação do corpo principal da barra vertical em pano mural cego e o segundo
apresenta volumes de contornos não ortogonais dispostos no terraço. Todavia, o primeiro
48
Outra marquise de menor dimensão e para o acesso exclusivo da administração ocorre na ala direita.
49
Cf. Peixoto, 1994.
50
As fachadas norte e sul da barra vertical do MES são envidraçadas. Condizente com sua orientação no terreno,
somente a fachada norte apresenta a grelha.
51
A profundidade da grelha do HCPA corresponde aproximadamente à metade da utilizada no MES, com cerca
de 1,3 e 2m. respectivamente (do eixo da esquadria à borda da grelha).
57
estágio não se relaciona com o MES, mas com o edifício-sede da Associação Brasileira de
Imprensa [ABI], projeto de 1936 de Marcelo e Milton Roberto
52
, que culmina bandas
horizontais de brise-soleil com pano cego vazado por janela monumental. Na fachada
sudoeste do HCPA, um retângulo com brise-soleil vertical rompe o pano cego da terminação
da barra vertical replicando soluções utilizadas na ABI. Contudo, na fachada nordeste, o pano
cego foi perfurado por um conjunto de esquadrias de formato quadrado. A solução utilizada
no MES para a terminação do corpo principal da barra vertical consiste simplesmente em uma
platibanda.
O segundo estágio do coroamento retorna à solução do MES, com volumes diferenciados
recuados das empenas do corpo principal da barra vertical de “conotações náuticas” (Comas,
2002, v. 1, op. cit.: 131). Dois desses volumes do HCPA destacam-se do conjunto: o
reservatório e as cascas hiperbólicas. O primeiro replica a caixa d’água de forma amebóide
existente na esquerda da fachada norte do MES. O segundo realiza uma citação da Capela de
São Francisco de Assis, projeto de Oscar Niemeyer, pertencente ao conjunto da Pampulha que
estava sendo realizado. Os estágios que compõem o coroamento do HCPA não demarcam
eixo de simetria, exceto pelo reservatório amebóide que se encontra no centro da composição.
A simetria volta a ocorrer nas terminações laterais da barra vertical, pois após serem
finalizadas com empenas cegas como no MES
53
, cada lateral apresenta uma torre de
circulação vertical elipsoidal. Tais torres mantêm sua seção em toda sua altura, transmitindo
“conjuntamente com a clareza do embasamento e do ático, a idéia de um objeto acabado,
perfeito, ao qual não se poderiam adicionar acréscimos” (Luccas, 2004: 114).
A placa horizontal do HCPA [B] apresenta um perfil ascensional conferido por meio de
rampas que interligam dois blocos de larguras diferentes separados por pátio: o primeiro se
encontra assentado no solo [B1]
54
e o segundo se ergue sobre pilotis [B2]
55
. No bloco térreo
ocorrem as rampas que definem o perfil ascensional da placa, sendo que essas rampas são
suportadas por colunetas de altura variável devido à inclinação da rampa. O bloco elevado é
suportado por duas linhas de pilares retangulares arredondados nas extremidades e alinhados
com a colunata da base da barra vertical. Ambos os blocos da placa horizontal foram dotados
52
Cf. Calovi Pereira, 1993.
53
As empenas cegas do corpo da barra vertical do MES apresentam duas soluções distintas no encontro com a
colunata da base. No lado direito as colunas foram interiorizadas e no lado esquerdo as colunas foram
exteriorizadas, sendo inclusive duplicadas nas extremidades.
54
Corresponde ao ambulatório, ou seja, aos consulrios em suas diversas especialidades clínicas.
55
Corresponde aos serviços técnico-científicos, ou seja, ao setor de diagnóstico e tratamento.
58
de um sistema de sheds na cobertura, que juntamente com as rampas laterais, oportunizam a
coesão das partes formando visualmente um único volume. A placa horizontal segue a
simetria do conjunto da edificação, apresentando elementos excepcionais que divergem da
simetria absoluta, como o volume cilíndrico e as saliências nas extremidades.
Novas relações foram estabelecidas entre o MES e o HCPA nos elementos que compõem a
ligação entre a barra vertical e a placa horizontal [C]: o auditório trapezoidal de cobertura
abobadada e os consoles nas colunas que sustentam a ponte. Todavia, diferentemente do MES
que apresenta o acesso ao auditório em ambas laterais, no HCPA surge um pequeno passadiço
curvo ao fundo, estabelecendo outra ligação.
No projeto do HCPA não houve a interpenetração volumétrica existente no MES entre a barra
vertical e a placa horizontal. Essa separação talvez tenha sido inspirada no projeto do edifício-
sede da Prefeitura do Distrito Federal, de Affonso Eduardo Reidy de 1938, embora esse
projeto apresente duas ligações e o HCPA apenas uma, coincidente com o eixo de simetria da
composição. Conforme as Especificações do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina
de Porto Alegre, elaborado por Jorge Moreira, o HCPA dividi-se em “dois corpos: o hospital
(abrangendo o hospital e os serviços técnicos-científicos) e o ambulatório” [sic] (Moreira,
[1944?]: s.p.). Dessa forma, a edificação sem a presença do ambulatório [B1], adquire um
segundo eixo de simetria parcial entre a barra vertical [A] e os serviços técnico-científicos
[B2].
Aqui nota-se um distanciamento em relação ao arranjo final da sede do Ministério da
Educação e Saúde no Rio de Janeiro, onde conceitos como simetria, frontalidade e
axialidade são sugeridos de forma mais sutil através de um arranjo menos explícito
de volumes. Moreira demonstra uma preferência pela afirmação franca dos
princípios acadêmicos de composição, tal como havia revelado em seu primeiro
projeto para o concurso do Ministério (Calovi Pereira, 2000, op. cit.: 58).
A comparação entre os elementos que compõem o projeto o MES e do HCPA auxiliam na
constatação que o Hospital de Clínicas apresenta uma composição que emprega princípios
organizativos da tradição beaux-arts (simetrias, axialidades, hierarquias explícitas, seqüências
rítmicas etc.) com elementos de configuração moderna (pilotis, blocos abstratos, grelha
ortogonal, episódios dinâmicos constrastantes etc.) em montagem axial e predominantemente
simétrica. Contudo, alguns elementos pontuais destacam-se dos volumes principais ajudando
a dissimular a percepção de simetria. Sendo assim, a análise pormenorizada desses elementos,
59
designando-os mediante sua função em cada planta que compõem a edificação, torna-se
necessária para a melhor compreensão do projeto.
2.1.1 A planta de situação
A planta de situação e cobertura do Hospital de Clínicas (figura 29), indica que Moreira não
seguiu as bases do concurso federal realizado em 1939 que solicitava: um anteprojeto
específico para o Hospital de Clínicas e outro para a urbanização do Centro Médico com todas
as edificações que o compõe (Ministério, loc. cit.: 362). Não foram encontrados desenhos
pertinentes ao conjunto nesta primeira versão do projeto e a numeração de suas pranchas,
assim como suas especificações, não identificam a existência do Centro Médico. Contudo, o
arquiteto declarou ter realizado “um primeiro plano de conjunto, considerando os volumes
aproximados dos diversos edifícios” (Moreira, 1954, op. cit.: 348), como também declarou ter
elaborado um programa próprio (Moreira, 1954, loc. cit.: 346), sob as bases estabelecidas pelo
prof. Souza Campos no Memorial e Programa do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Porto Alegre (Campos, [1940?], loc. cit.: s.p.).
Figura 29: planta de situação e cobertura do Hospital de Clínicas –
primeira versão – 1942 (Fonte: autor, baseado no Acervo de JMM no
NPD – FAU/UFRJ)
60
Nas últimas declarações encontradas do prof. Souza Campos sobre o Hospital de Clínicas de
Porto Alegre (publicadas no ano de 1943 em uma seqüência de artigos na Revista Médico-
Social) ao descrever a situação das futuras edificações que compõem o Centro Médico,
apenas o Hospital de Clínicas foi descrito tendo o projeto concluído, sendo que as demais
edificações estavam apenas designadas no programa, exceto também pela Escola de
Enfermagem que havia sido realizado o anteprojeto pelo arq. Evaristo de Sá (Campos, 1943c,
loc. cit.: 12). “Considerando, porém, apenas o macisso projetado para o Hospital de Ensino,
teremos, naquele local, uma estrutura imponente e grandiosa, por si mesmo e pelo ambiente
circunvizinho” [sic] (Campos, 1943c, op. cit.: 12).
A orientação da edificação no terreno foi regida pela insolação pretendida nas enfermarias
para nor-nordeste
56
(NNE), a qual se aproximava da direção da av. Projetada (Moreira, 1954,
op. cit.: 348), resultando em 33° em relação ao norte. Dessa maneira, a fachada nobre do
Hospital de Clínicas se volta para a perspectiva monumental que a futura av. Jerônimo de
Ornelas oportunizaria (Calovi Pereira, 2000, op. cit.: 57). Sendo assim, o acesso principal de
pedestres e veículos para os médicos, enfermeiros, estudantes e visitantes [1], resultou na
extensão desse imponente eixo urbano para dentro do Centro Médico, fazendo com que o
Hospital de Clínicas se tornasse o foco perspectivo dessa avenida.
Outro importante fator considerado pelo arquiteto para a orientação da edificação foi a
localização do ambulatório (bloco térreo da placa horizontal) o mais próximo possível das
vias existentes de maior acesso na época: a av. Protásio Alves e a rua São Manoel. Mediante
isso, o acesso [2] e a saída [3] dos pacientes externos do ambulatório seria facilitado, evitando
“o movimento de doentes dentro do Centro Médico” (Moreira, 1954, op. cit.: 348).
Resultando em uma situação diagonal às duas vias consolidadas, o Hospital de Clínicas se
volta para a esquina nordeste, negando o arruamento existente
57
. Dessa forma, a edificação foi
simultaneamente disposta de forma tradicional e moderna. Em relação à cidade é tradicional,
por estar paralelo a av. Projetada, definindo seu caráter monumental por sua posição como
coroamento do eixo a ser definido pela av. Jerônimo de Ornelas. Contudo, também é
moderno, por apresentar outros aspectos: “a negação do quarteirão periférico, o tema da
56
Moreira considerou a melhor solução para as enfermarias do Hospital de Clínicas baseado no trabalho do eng.
Paulo Sá “que abrange o estudo das condições de orientação para 9 cidades” (Moreira, 1954, op. cit.: 348).
57
No levantamento aerofotogramétrico de Porto Alegre realizado entre 1939 e 1941, as avenidas Osvaldo
Aranha, Protásio Alves e Venâncio Aires, assim como as ruas São Manoel e Jacinto Gomes, já apresentavam a
configuração atual com inúmeros lotes ocupados. Da mesma forma, a av. Jerônimo de Ornelas se encontra no
levantamento como uma rua projetada.
61
edificação isolada em meio ao parque e a percepção serial e dinâmica do edifício, evitando a
frontalidade” (Calovi Pereira, 2000, op. cit.: 57).
Paralela à av. Projetada, Moreira criou uma rua interna de desembarque em frente à fachada
sudoeste do Hospital de Clínicas. Finalizada em um cul-de-sac de 20m. de raio à esquerda,
conecta-se à direita em outra rua interna que divide esta parcela do terreno
58
em duas partes:
um trapézio truncado à esquerda e um triângulo à direita. Essa rua interna se estende da av.
Projetada à rua São Manoel, configurando os acessos de serviço [4] do Centro Médico. Nesse
acesso ocorre a distribuição entre o estacionamento [5] (localizado sob o bloco da placa
horizontal erguido sobre pilotis) e ao acesso de serviço ao subsolo [6] (por meio de duas
rampas: uma de entrada, que desce diagonal entre a barra vertical e a placa horizontal, e outra
rampa de saída, que sobe paralela à rua interna descrita). O acesso das ambulâncias e a
entrada de pacientes que se dirigem de veículos ocorre pela av. Protásio Alves [7], abaixo do
auditório (no nível do subsolo da ponte) entre a barra vertical e a placa horizontal. Em seu
sentido contrário, une-se à saída do estacionamento no bloco erguida da placa horizontal.
As plantas do Hospital de Clínicas foram desenvolvidas mediante a separação existente entre
a barra vertical e a placa horizontal. Embora possuam equivalência de nível nos dois
primeiros pavimentos, ambas as partes ficaram restringidas em pranchas diferentes. Dessa
forma, inicialmente foram descritas as plantas da barra vertical e depois da placa horizontal. A
base da barra vertical é composta por dois pavimentos que se relacionam entre si, oferecendo
ao usuário um espaço de caráter público. Sendo assim, térreo e sobreloja foram inicialmente
apresentados para posteriormente ser analisada a planta do subsolo.
2.1.2 As plantas da barra vertical
A planta do primeiro pavimento da barra vertical, ponte e pilotis da placa horizontal (figura
30), apresenta uma exceção se comparada com as demais pranchas que constituem o projeto:
interrompendo a representação gráfica das rampas laterais que interligam as duas partes da
placa horizontal, o estacionamento situado no espaço articulado por pilotis da placa horizontal
(abaixo dos serviços técnico-científicos) foi representado juntamente com a barra vertical na
58
O terreno foi dividido aproximadamente em dois terrenos triangulares truncados de dimensões diferentes,
sendo que Moreira considerou apenas a parcela maior para o projeto do Hospital de Clínicas. Cf. O Plano
Diretor de Porto Alegre e o terreno para o Hospital de Clínicas (capítulo 1.2.3.1).
62
mesma prancha. A planta da barra vertical se organiza em um retângulo com cerca de
130x16m., articulado espacialmente por três fileiras longitudinais de colunas espaçadas de
eixo a eixo 7,5m. e 10m. Exceto pela colunata interna, as duas fileiras externas são compostas
por 22 colunas de um metro de diâmetro com espaçamento de seis metros de eixo a eixo
59
.
Essas colunas encontram-se 25cm. afastadas da base recuada, equivalente à mesma distância
que a respectiva colunata está recuada da projeção do corpo principal do edifício. Dessa
forma, somadas à largura da coluna, uma faixa de 1,5m. em toda a extensão da base cumpre a
função de base em loggia.
Figura 30: planta do 1º pavimento da barra vertical, ponte e pilotis da
placa horizontal do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942
(Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
A seqüência de colunas colossais de 8,6m. de altura ao longo de toda a extensão da base
amplia o efeito perspectivo dessa base em loggia. A indicação do acesso principal ocorre pela
simulação de um pórtico, que surge devido à permeabilidade visual de uma área envidraçada
na base, recuada em relação ao restante da fachada. Mesmo sendo essa permeabilidade mais
virtual do que real, a base colunar da barra vertical aparenta leveza em relação ao corpo
principal que sustenta. As torres elipsoidais, distantes em média cinco metros das empenas
cegas da planta retangular, contribuem com essa sensação de leveza, conferindo a impressão
que simulam gigantescos pilares que sustentam a edificação por compressão. Cada torre
elipsoidal configura o bloco de circulação vertical de serviço (independente do bloco de
59
Nos cinco intercolúnios centrais ocorrem pequenas variações nas distâncias devido às compensações
provenientes das juntas de dilatações da barra vertical.
63
circulação vertical central). Apresentando além da escada e de um elevador, um monta carga
para a roupa a ser lavada e um lavabo de serviço.
A indicação do acesso principal ao edifício [1] foi intensificada pelo posicionamento de uma
imponente marquise que se projeta sobre a via interna, oferecendo também abrigo veicular
60
.
Uma segunda marquise de menor porte propicia acesso exclusivo para a administração [2].
Essas duas marquises que ocorrem na fachada nobre do Hospital de Clínicas são assimétricas
em relação ao eixo da composição. Contudo, na fachada oposta, a passagem que possibilita a
ligação entre a barra vertical e a placa horizontal foi situada exatamente no eixo de simetria.
Essa ligação passa por um jardim coberto [3] e por um estacionamento, conectando-se a outro
volume amebóide
61
que possibilita acesso direto ao ambulatório
62
[4] (ou aos serviços técnico-
científicos por meio de uma escada. Os pilotis que elevam a ponte são colunas de 50cm. de
diâmetro (metade da dimensão das que suportam a barra vertical) e os pilotis do auditórios
replicam os do estacionamento. Além dessa passagem centralizada na planta retangular, a
fachada nordeste da barra vertical apresenta outra ligação entre a barra vertical e a placa
horizontal. Uma passagem diagonal [5] conduz ao acesso de serviço [6] situado entre a torre
elipsoidal e a planta retangular.
Conforme a planta de situação e cobertura apresentada anteriormente, o acesso e a saída do
ambulatório (bloco térreo da placa horizontal) não ocorrem no eixo da composição, pois
foram deslocados para as extremidades longitudinais de forma similar ao que ocorre na
fachada nobre do Hospital de Clínicas. Dessa forma, a ponte possibilita ligações internas entre
a barra vertical e a placa horizontal ao longo do eixo de simetria, mas externamente os acessos
são assimétricos. Sendo assim, evidencia-se novamente a simultaneidade organizativa da
forma tradicional e moderna. O eixo o Hospital de Clínicas é parcialmente experimentado,
pois os acessos foram dispostos de foram excêntrica, dissimulando a percepção do eixo pelo
usuário.
Com capacidade para 88 veículos, o estacionamento foi localizado no espaço articulado por
pilotis sob os serviços técnico-científicos, cujo acesso e saída ocorrem nas laterais [7]. Os
pilotis configuram-se por duas fileiras espaçadas 13m. de eixo a eixo, sendo que cada fileira
60
A marquise com abrigo veicular proposta por Jorge Moreira talvez tenha sido inspirada na marquise do
Cassino da Pampulha, projeto de Niemeyer contemporâneo ao Hospital de Clínicas.
61
A mesma forma com a mesma função foi colocada no térreo do edifício-sede do MES durante uma
modificação que prolongou o salão de exposições em mais um intercolúnio (Comas, 2002, v. 1, op. cit.: 132).
62
Cf. passagem [8] na planta do 1º pavimento da placa horizontal (figura 38).
64
apresenta 26 pilares retangulares arredondados nas extremidades, alinhados com os pilotis da
barra vertical, que possui dois intercolúnios a menos nas pontas. Observa-se que Moreira
demonstrou preocupação em coordenar a estrutura das duas alas retangulares do térreo (pilotis
da base do corpo principal da barra vertical e pilotis da placa horizontal) por meio da
repetição modular de ritmos colunares. Conforme descrição anteriormente apresentada, o
arquiteto concebeu um segundo eixo de simetria parcial na edificação, perpendicular ao eixo
dominante (Moreira, [1944?], op. cit.: s.p.).
Dois conjuntos de rampas conduzem os veículos ao subsolo: o primeiro localizado na direita
[8] e o segundo na esquerda da edificação [9]. A rampa diagonal que desce na direita conduz
ao espaço abaixo do acesso de serviço (entre o elemento que une a torre elipsoidal e a planta
retangular). A rampa que sobe ao térreo realiza uma primeira curva para se tornar paralela à
barra vertical e uma segunda curva, após cruzar a rua interna de serviço do Centro Médico,
tornando-se paralela a essa rua. Na esquerda da edificação, a rampa de baixo permite acesso
para as ambulâncias e a entrada de pacientes que se dirigem ao Hospital de Clínicas com
veículos. Após a realização do retorno, a rampa de cima une-se com a saída do
estacionamento.
O hall principal apresenta um saguão de dupla altura, que juntamente com a sobreloja, indica
um caráter público ao espaço. A condução ao segundo nível ocorre por meio de uma rampa
perpendicular
63
ao acesso principal do térreo, onde se encontra a marquise com abrigo
veicular. A rampa é definida por uma laje recortada, afastada das colunas internas igualmente
colossais que se projetam no vazio, possibilitando a ampliação perceptiva do saguão. Na
medida em que o usuário sobe a rampa, essa sensação de amplitude possibilita uma maior
contemplação de espaço, explorando assim, características de uma promenade architecturale.
Na direita do hall principal, lateralmente ao bloco de circulação vertical central (composto por
quatro elevadores que possuem sistema de abertura dupla das portas e por uma escada) um
balcão de formas curvas cumpre a função de informações do Hospital de Clínicas. A portaria
geral de controle localiza-se em um balcão em forma de “L” ao lado da escada central,
voltada para a passagem entre a barra vertical e a placa horizontal. Na esquerda do hall
principal se encontra uma farmácia, que ocupa aproximadamente a mesma área em planta da
63
Assim como no Cassino da Pampulha, a disposição da rampa que conduz à sobreloja ocorre
perpendicularmente ao acesso existente no térreo. Na medida em que se vai subindo a rampa, pode-se
contemplar o espaço criado no hall por meio do vazio com pé-direito duplo.
65
administração, pois na extremidade oposta ocorrem vestiários que atendem ao acesso de
serviço entre a torre elipsoidal e a planta retangular. A ala esquerda é protegida por um
sistema de brise-soleil vertical que se alonga ao segundo pavimento. A ala direita apresenta
painéis opacos abaixo de uma faixa fenestrada que confere permeabilidade visual.
A planta do segundo pavimento da barra vertical, ponte e auditório (figura 31), enfatiza a
separação entre a barra vertical e a placa horizontal. A passagem na extremidade superior da
ponte do corredor central [1] cumpre a função de ligar a barra vertical com o bloco sobre
pilotis da placa horizontal. Na ponte localizam-se os vestiários para os alunos e um pequeno
bloco cirúrgico contíguo ao palco do auditório, acoplado na esquerda da ponte. Por meio
disso, o auditório poderia, além de conferir espaço apropriado para a aula magna, ser também
um excelente local para conferências, possibilitando aos médicos palestrantes a realização in
loco de suas intervenções nos pacientes. O auditório trapezoidal de cobertura abobadada com
capacidade aproximada de 300 lugares apresenta o foyer ao fundo, conectado a um
passadiço
64
curvo que se liga à sobreloja da barra vertical, proporcionando a ampliação do
foyer.
Figura 31: planta do 2º pavimento da barra vertical, ponte e auditório
do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 (Acervo de JMM no
NPD – FAU/UFRJ)
A planta retangular do segundo pavimento da base da barra vertical foi alinhada na mesma
prumada do térreo, sendo que internamente, a laje da sobreloja está recuada em relação à
fachada nobre por meio de um recorte em frente ao bloco dos elevadores. Na ala esquerda da
64
As imagens da maquete não permitem a apreciação do passadiço, assim como também não foi representado
em projeção na planta do térreo ou na situação e cobertura, mas somente no subsolo. Contudo, cabe ressaltar que
o acesso à platéia poderia ter sido resolvido pela própria ponte (como ocorre no MES) o que conformaria solução
mais natural.
66
planta localiza-se a biblioteca sobreposta à farmácia no térreo, e na ala direita situam-se as
salas das diretorias, ou seja, uma extensão da administração do térreo. Hall principal no térreo
e sobreloja configuram um único espaço de caráter público que possibilita a distribuição para
ambientes distintos do Hospital de Clínicas, como auditório, biblioteca e sala da diretora.
Sendo assim, justifica-se seu tratamento especial que valoriza as múltiplas perspectivas
obtidas na medida em que se explora a promenade architecturale.
O mesmo sistema de brise-soleil existente na ala esquerda do andar inferior se prolonga até a
biblioteca e estende-se em direção à ala direita. Dessa forma, o sistema de brise-soleil
confecciona uma espécie de moldura envolvendo a permeabilidade vítrea existente no acesso
nobre, reforçando a simulação do pórtico. Externamente o sistema de brise-soleil confere
unidade aos dois pavimentos da base, unidade existente também na distribuição proporcional
dos ambientes sobrepostos em planta.
A planta do subsolo da barra vertical e ponte (figura 32), representa em parte um piso semi-
enterrado entre a barra vertical e a placa horizontal, cujo afloramento permite a iluminação e a
ventilação natural tanto na planta retangular como na ponte. O comprimento da planta
retangular é equivalente aos pavimentos que compõem a base. Entretanto, a largura foi
reduzida em quatro metros da fachada nobre, compondo um retângulo de 130x12m. Desse
modo, os blocos de fundações da colunata de baixo foram representados no desenho, assim
como a projeção do pavimento superior, mas na fachada oposta (devido ao afloramento) as
colunas já surgem desde então.
Figura 32: planta do subsolo da barra vertical e ponte do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
67
Um extenso corredor cobre toda a dimensão da planta retangular, permitindo acesso aos
depósitos, almoxarifados, casa de força, alojamento de serventes, rouparia etc., sendo que as
bombas e os reservatórios foram localizados no centro, em frente ao bloco de elevadores.
Outro extenso corredor se desenvolve ao logo da ponte [1], estendendo-se
65
pelo subsolo até o
ambulatório
66
(bloco térreo da placa horizontal) passando por baixo dos pilotis do
estacionamento. Ambos acessos veiculares por rampa já foram amplamente explicados,
faltando apenas descrever os ambientes acessados por essas rampas.
O sistema de rampas da ala direita [2] da barra vertical acessa os serviços de carga e descarga
dos materiais e equipamentos, assim como a saída dos cadáveres. Na extremidade direita,
após a torre elipsoidal, em um ambiente de planta aproximadamente quadrada, encontra-se a
central térmica, cuja ventilação ocorre por meio de uma grelha quadrada na laje do teto que se
projeta em um jardim existente no térreo. Nas rampas da ala esquerda [3] ocorre o acesso
veicular dos pacientes ao edifício protegido das intempéries por meio da projeção do auditório
trapezoidal que cria uma ampla área coberta. Um volume cilíndrico incorpora a recepção dos
pacientes que são conduzidos aos vestiários (localizados na ponte) para a colocação das
roupas de internação. Depois de admitidos, conforme o caso, os pacientes são deslocados pelo
corredor da ponte à placa horizontal, ou pelos elevadores à barra vertical.
Na planta do andar tipo, terceiro ao décimo primeiro pavimento da barra vertical (figura 33),
foi localizada as enfermarias, uma em cada ala da planta retangular. O pavimento se projeta
em balanço sobre a base, sendo que nas extremidades o balanço corresponde a um metro e nas
fachadas longitudinais em 1,5m., resultando em um retângulo de cerca de 132x19m.
Conforme a melhor orientação solar, os quartos que compõem as enfermarias foram dispostos
na fachada nordeste, e os serviços clínicos na fachada sudoeste
67
.
65
Cf. passagem [7] da planta do 1º pavimento da placa horizontal (figura 38) e as linhas tracejadas do corte
transversal CD (figura 41).
66
Cf. passagem [7] no sistema de rampas na planta do 1º pavimento da placa horizontal (figura 38).
67
Em um artigo intitulado Morfologia do hospital, o prof. Souza Campos analisou diversas maneiras de se
dispor uma enfermaria, sendo que sua conclusão foi utilizada por Jorge Moreira no desenvolvimento do Hospital
de Clínicas: “a fórma ideal e econômica é o prisma reto de base retangular, com corredor longitudinal, de eixo
excêntrico, enfermarias na face ótima e salas auxiliares na zona oposta” [sic] (Campos, 1942: 20-1).
68
Figura 33: planta do 3º/11º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
A circulação longitudinal que interliga ambas extremidades às torres elipsoidais é similar a
solução do subsolo. Ao longo da circulação de servidão encontram-se os serviços internos de
cada clínica como: exames e tratamentos (para os pacientes), copa e refeitório (para os
funcionários) e as salas dos professores, assistentes e alunos. Separada por uma sucessão de
shafts ocorre outra faixa de circulação, subdividida ao centro de cada ala pelo posto de
enfermagem, cujo balcão apresenta aproximadamente a forma de “V”. As enfermarias foram
dividas por sexo, sendo que cada uma possui quatro quartos de seis leitos, dois de três e dois
de isolamento (totalizando 32 leitos por pavimento). Mediante a repetição do pavimento tipo
em nove andares, o projeto contempla 18 especialidades clínicas com 576 leitos. Moreira
manteve o número de 18 enfermarias estabelecidas pelo prof. Souza Campos no Memorial e
Programa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Porto Alegre (Campos,
[1940?], loc. cit.: s.p.), mas a capacidade de leitos excedeu em quase 30% a previsão de 450
leitos.
A planta apresenta grelhas ortogonais de concreto armado com alvéolos de aproximadamente
dois metros no sentido horizontal (correspondente a três alvéolos por intercolúnio da base) por
quatro metros de altura. Conforme detalhe ampliado na planta do pavimento tipo, Moreira
aplicou um artifício no projeto em busca de um efeito na fachada que possibilitasse à grelha
uma expressão mais leve por meio do afilamento das lâminas verticais
68
. Entretanto, as
paredes cegas das extremidades da barra vertical não apresentam tal redução, assim como
avançam em relação à grelha, evidenciando uma moldura na qual está incorporada, mas
recuada. Em conjunto com a grelha em concreto armado para a proteção da incidência solar,
um único painel horizontal fixo configura o sistema de brise-soleil. Localizado acima da
68
Conforme detalhe ampliado do corte transversal CD (figura 41), as lâminas horizontais da grelha não sofrem
o respectivo afilamento existente nas lâminas verticais.
69
janela de correr, o painel se encontra afastado da esquadria para proporcionar a circulação de
ar na fachada. A borda externa do painel alinha-se com a borda externa da grelha ortogonal.
O décimo segundo pavimento da barra vertical (figura 34), representa o último pavimento
também protegido pela grelha. Dessa forma, esse andar se confunde com o pavimento tipo,
pois apresenta as mesmas características externas. Internamente a planta possui idêntico o
sistema de circulação horizontal de serviço entre as duas torres elipsoidais. Semelhante às
enfermarias, a ala esquerda da planta retangular permanece com um sistema de circulação
dupla separadas por shafts, incorporando os alojamentos das enfermeiras voltadas para a
fachada nordeste e os alojamentos das serventes para sudoeste. Na ala direita encontram-se a
cozinha e a despensa, assim como os distintos refeitórios que ocupam também parte da ala
central.
Figura 34: planta do 12º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
Décimo terceiro pavimento (figura 35) e décimo quarto pavimento (figura 36), definem ao
mesmo tempo a terminação do corpo principal da edificação e o primeiro estágio do
coroamento. Em ambos os andares a planta retangular ocupa as mesmas dimensões dos
pavimentos inferiores, ou seja, 132x19m. Entretanto, o pequeno avanço existente nas paredes
cegas das extremidades (conforme detalhe da planta do pavimento tipo) alinha-se em toda a
extensão do pano mural desse primeiro estágio do coroamento, conformando a parte superior
da moldura que incorpora a grelha. Assim como na base, esses dois pavimentos se integram
funcionalmente, apresentando áreas com pé-direito duplo. Dessa maneira, os respectivos
andares representam um segundo espaço de caráter monumental na edificação.
70
Figura 35: planta do 13º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Figura 36: planta do 14º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
A ala central destaca-se dentro do referido contexto monumental, pois nela projeta-se a laje
curvilínea do décimo quarto pavimento recuada em relação à fachada, acomodando uma
escada semicircular. Na ala esquerda, a integração entre os pavimentos ocorre por meio do pé-
direito duplo existente nas três salas de aula em forma de anfiteatro, assim como no museu de
planta retangular alongada. Na ala direita, onde se localizam seis salas cirúrgicas em forma de
“U” invertido, a integração entre os pavimentos ocorre de forma mais restrita, mas ainda
presente pelas galerias de observação do pavimento superior que acompanham o recuo da laje
curvilínea da ala central.
O primeiro estágio do coroamento apresenta discrepâncias entre os desenhos e a maquete,
cujas diferenças são notadas nos elementos agregados ao pano cego. Nos desenhos nota-se
uma maior diversidade de soluções como brise-soleil vertical e faixa envidraçada (fachada
sudoeste)
69
e esquadrias de tamanhos variados (fachada nordeste)
70
. A maquete apresenta uma
solução mais unitária, com uma faixa única de brise-soleil vertical na fachada sudoeste e duas
fitas similares de esquadrias na fachada nordeste. Externamente, as soluções utilizadas na
maquete denotam maior unidade formal, mas internamente, a área envidraçada da fachada
sudoeste possibilitava permeabilidade visual que resultava na ampliação do estreito vazio
69
Cf. fachada sudoeste (figura 42).
70
Cf. fachada nordeste (figura 43).
71
criado pelo recuo da laje do décimo quarto pavimento. Com a adoção de um sistema de brise-
soleil vertical, a permeabilidade visual passa a ser parcial, diminuindo a sensação de
ampliação do espaço, mas melhorando em muito a condição de conforto, tendo em vista sua
exposição solar.
Recuado em todas as laterais da planta retangular dos pavimentos inferiores, o décimo quinto
pavimento (figura 37), corresponde ao segundo estágio do coroamento. Mais elaborado
formalmente, esse pavimento destina-se à ala recreativa, embora apresente os alojamentos das
irmãs religiosas no retângulo alongado na ala esquerda. Nessa mesma ala está localizado
também o sistema de iluminação zenital das salas de aula e uma capela de forma trapezoidal.
Na ala direita foram localizados dois jardins: o primeiro é coberto por cascas hiperbólicas de
concreto armado e o segundo é descoberto limitando-se por um segmento de circunferência.
Na ala central um retângulo envolve o bloco de circulação vertical principal, sendo que acima
se encontra a casa de máquinas e o reservatório amebóide. As torres elipsoidais nas
extremidades passam a comportar a casa de máquinas e os reservatórios de sua respectiva
prumada, assim como uma área descoberta enclausurada.
Figura 37: planta do 15º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
2.1.3 As plantas da placa horizontal
O primeiro (figura 38) e o segundo pavimento da placa horizontal (figura 39), configuram
respectivamente o ambulatório e os serviços técnico-científicos do Hospital de Clínicas.
Embora haja essa separação entre os blocos, suas funções se interligam de tal forma que a
análise foi realizada conjuntamente para facilitar a compreensão dos dados.
72
Figura 38: planta do 1º pavimento da placa horizontal do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Figura 39: planta do 2
o
pavimento da placa horizontal do Hospital de
Clínicas – primeira versão – 1942 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
O bloco térreo corresponde ao ambulatório com suas diversas especialidades clínicas, como
pediatria, neurologia, urologia, ginecologia etc. O ambulatório incorpora também, salas para
pequenas cirurgias, salas de aula e pequenos laboratórios. “A função do ambulatório é muito
importante. Ali se faz medicina preventiva e se atende a um número de doentes muito mais
elevado do que o hospital” (Moreira, 1954, op. cit.: 350). Sua função foi muito considerada
na orientação do projeto no terreno, pois para o arquiteto, seus pacientes representados
“geralmente por indigentes” (idem, ibidem: 351), não deveriam ter acesso ao Centro Médico.
Moreira considerava o ambulatório como um corpo separado (Moreira, [1944?], loc. cit.: s.p.),
sendo que esses pacientes deveriam ter o acesso restringido às demais dependências. Dessa
forma, “a planta deve ser estudada de modo que a circulação seja muito simples e clara”
(Moreira, 1954, op. cit.: 351) evitando conflitos indesejáveis.
73
O bloco sobre pilotis corresponde aos serviços técnico-científicos
71
, ou seja, aos serviços de
diagnóstico e tratamento, como laboratórios, raio X, radioterapia etc. Sua localização sobre
pilotis se deve a questões funcionais, pois encontra-se “numa situação intermediária,
servindo aos doentes externos e internos, sem cruzamentos nem outras complicações de
circulação” (Moreira, 1954, op. cit.: 351). Localizado entre o ambulatório e as enfermarias,
as indicações do prof. Souza Campos no Memorial e Programa do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Porto Alegre (Campos, [1940?], loc. cit.: s.p.) foram consideradas
pelo arquiteto.
Composto por um engenhoso sistema de circulações periféricas aos blocos, oportunizando as
separações desejadas entre pacientes externos e internos (assim como dos médicos,
enfermeiros e estudantes) o ambulatório configura-se por um retângulo de 154x40m. separado
por pátio de 12m. de largura dos serviços técnico-científicos (que possui a metade da largura
do ambulatório). A entrada ocorre pela av. Protásio Alves [1], onde o paciente passa
inicialmente por uma triagem localizada logo no acesso. Depois de identificada sua
necessidade, por meio da circulação horizontal dos pacientes externos [2a], esse é conduzido à
sua respectiva especialidade clínica. Após a consulta, o paciente retorna à circulação
dirigindo-se à farmácia onde obtém sua medicação, motivo pelo qual fica próxima à saída
pela rua São Manoel [3].
O acesso e a saída são cobertos por uma única casca hiperbólica cujos comprimentos são
diferentes, sendo mais longo na entrada. A cobertura de acesso também apresenta diferença na
representação do edifício, pois nos desenhos ocorre uma derivação perpendicular e na
maquete é unidirecional. Excêntrico ao eixo de simetria da edificação, situado na ala direita
da circulação horizontal dos pacientes externos, encontra-se um volume cilíndrico que
corresponde aos sanitários do ambulatório. Superpostos conforme o sexo, os acessos ocorrem
pelo conjunto de rampas situadas no corredor de ligação.
Cada clínica possui salas de aula ao fundo, possibilitando o ensino aplicado diretamente sobre
os casos. Entretanto, se a situação do doente não puder ser resolvida em nível ambulatorial (e
o paciente necessitar de um exame específico) ele subirá a rampa [4], localizada próxima à
entrada, conduzindo-o aos serviços técnico-científicos (bloco sobre pilotis da placa
horizontal). Com a mesma lógica do ambulatório, a circulação horizontal dos pacientes
71
A planta apresentada resulta da ampliação de uma fotografia, pois esse foi o único desenho do projeto que não
foi encontrado, não sendo conhecidas as denominações específicas dos ambientes nem suas áreas exatas.
74
externos [2b] possibilita acesso às diversas salas de exames e tratamento, sendo que após
serem realizados, o paciente encaminha-se à rampa [5] que o conduzirá à mesma saída do
ambulatório. Dessa forma, não ocorrem cruzamentos entre a circulação dos pacientes externos
[2a] e [2b] com a circulação dos médicos, enfermeiros e estudantes [6a - 6b] que ocorre
paralela àquela circulação nos dois blocos. “É de tôda a vantagem haver duas circulações”
pois assim evita-se “confusões, facilitando muito o serviço” [sic] (Moreira, 1954, op. cit.:
351).
No ambulatório, contíguo a circulação dos médicos, enfermeiros e estudantes [6a], ocorrem
duas rampas que conduzem ao subsolo [7], cuja finalidade é a ligação subterrânea (ao longo
do eixo de simetria da edificação) até a ponte e conseqüentemente à barra vertical
72
. Outra
ligação ocorre no nível do térreo por meio da circulação [8] que conduz ao volume de forma
amebóide. Nesse ocorre a ligação direta como estacionamento ou com os aos serviços
técnico-científicos após subir as escadas. O único cruzamento possível entre os pacientes com
os médicos, enfermeiros e estudantes, ocorre na circulação [6b] dos serviços técnico-
científicos. Nessa circulação os pacientes internos possuem passagem pela circulação central
da ponte [9], que os conecta do segundo pavimento da barra vertical aos serviços de
diagnóstico e tratamento.
Novas discrepâncias entre as imagens da maquete e os desenhos são constatadas por meio das
rampas laterais do ambulatório que se erguem fixadas aos consoles intermediários das
colunetas de 30cm. de diâmetro. Diferentemente das colunas da ponte da edificação, que
apresentam colunas de altura constante, essas são variáveis, acompanhando a inclinação da
rampa. Dessa maneira, o efeito visual coerente demonstrado na maquete é diluído por uma
série de colunetas cujas alturas variáveis interrompem a livre continuidade espacial do perfil
em ascensão.
2.1.4 Os cortes do conjunto
O corte longitudinal AB (figura 40), seciona a barra vertical através da circulação horizontal
longitudinal que interliga ambas extremidades às torres elipsoidais. O corte evidencia a laje
72
Cf. passagem [1] da planta do subsolo da barra vertical (figura 32) e as linhas tracejadas do corte transversal
CD (figura 41).
75
plana de 60cm. existente nos pavimentos tipo, sendo que no piso do terceiro pavimento ela
possui um metro. A espessura diferenciada dessa laje corresponde à parte de baixo da moldura
na fachada, que juntamente com as paredes das extremidades e o primeiro estágio do
coroamento, englobam a grelha ortogonal do corpo principal. Outra laje que destoa da
espessura das demais ocorre no piso do décimo quinto pavimento, com 1,4m. Cada pavimento
tipo possui 3,3m. de pé-direito, que juntamente com a espessura da laje, corresponde aos
3,9m. de altura de eixo a eixo da grelha ortogonal. Na base pode ser observado o pé-direito
duplo de 8,6m.
73
existente no saguão principal, onde se visualiza a rampa de acesso ao
segundo pavimento. Entretanto, devido à posição que o corte foi realizado, a integração entre
os pavimentos do primeiro estágio do coroamento, resultando em um pé-direito de 6,5m., não
é visualizada.
Figura 40: corte longitudinal AB do Hospital de Clínicas – primeira
versão – 1942 (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
O corte transversal CD (figura 41), não seciona a edificação em seu eixo de simetria,
apresentando a ponte entre a barra vertical e a placa horizontal em vista. Nessa região de
ligação, observa-se o subsolo semi-enterrado da barra vertical e da ponte por meio do
rebaixamento do terreno em 1,5m., possibilitando a iluminação e a ventilação direta desses
ambientes. No corte são representadas as linhas tracejadas que simbolizam a conexão entre o
subsolo da barra vertical ao pavimento térreo do ambulatório. Observa-se também o sistema
sheds para a iluminação e ventilação da placa horizontal.
73
Pé-direito corresponde à altura da colunata da base.
76
Figura 41: corte transversal CD do Hospital de Clínicas – primeira
versão – 1942 (Fonte: autor, baseado no Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
Conforme detalhe ampliado, percebe-se o prolongamento da superfície inferior da laje
conformando a parte horizontal da grelha ortogonal. A pequena distância existente da borda
da parte horizontal da grelha à parte vertical da mesma, deve-se ao fato de que o corte
representou a prumada do pano cego da parede da extremidade da planta retangular do corpo
principal, que conforme detalhe da planta, avança formando a lateral da moldura da fachada.
Adicionado a essa, um painel fixo horizontal paralelo à laje, distante 60cm., configura o
sistema de brise-soleil. Esse painel do sistema de brise-soleil localiza-se no meio da janela
basculante rente ao teto. Dessa forma, essa janela basculante (juntamente com a janela de
correr inferior) forma um único conjunto de esquadria que permite um duplo sistema de
ventilação. Na terminação do corpo principal da barra vertical percebe-se o desaparecimento
da grelha ortogonal, substituída por pano envidraçado na mesma prumada da borda da grelha.
A linha que cruza na diagonal o volume da caixa d’água de forma amebóide no corte
longitudinal AB e na fachada sudoeste, representa uma escada que permite acesso à parte
superior do reservatório.
2.1.5 As fachadas do conjunto
A fachada sudoeste (figura 42), representa a perspectiva nobre do Hospital de Clínicas,
voltada para o eixo monumental criado pela av. Jerônimo de Ornelas. A fachada nordeste
77
(figura 43), compreende a perspectiva visualizada pelo vértice da av. Protásio Alves e rua São
Manoel. Embora ambas fachadas tenham sido analisadas com as plantas, os desenhos ainda
apresentam características dignas de nota.
Figura 42: fachada sudoeste do Hospital de Clínicas – primeira versão
– 1942 (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Figura 43: fachada nordeste do Hospital de Clínicas – primeira versão
– 1942 (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
A leve curvatura existente rente ao solo da base da fachada sudoeste cumpre a função de
compensar a diferença de nível criada pelo rebaixamento do terreno que possibilita o subsolo
semi-enterrado na fachada oposta e na ponte. Nas cascas hiperbólicas da cobertura, observa-se
um fechamento parcial por cobogós, assim como em uma abertura quadrada no centro do
volume amebóide central. As fachadas possibilitam observar também outras discrepâncias
entre os desenhos e a maquete. Assim como na plantas, as fachadas apresentam a ligação
78
entre o corpo principal da barra vertical e as torres elipsoidais com aberturas contínuas,
enquanto na maquete esses panos são absolutamente cegos. As fachadas identificam também
as duas juntas de dilatação no corpo principal da edificação, onde ocorre a duplicação da parte
vertical da grelha ortogonal. Todavia, as juntas não foram representadas na base nem
completamente no coroamento. As fachadas foram demarcadas pela maior espessura em dois
tramos verticais da grelha no centro da barra vertical (coincidente às laterais do volume
amebóide do reservatório). Moreira talvez tenha pensado em demarcar uma faixa vertical ao
centro em correspondência às torres das extremidades, e ou relacionar as juntas de dilatação
com a torre central de circulação vertical e reservatório superior.
2.1.6 Comentários relativos à primeira versão do projeto
A primeira versão do projeto do Hospital de Clínicas apresenta “pleno domínio da nova
linguagem criada pelo arquiteto e seus colegas de equipe no projeto do Ministério de
Educação e Saúde, e está entre as concepções mais inventivas e maduras de nossa
arquitetura na década de 40” (Nicolaeff, op. cit.: 88-9). Nessa versão, Moreira rompeu sua
estética rigorosa sendo mais ousado, mas tais “ousadias formalistas não são a regra, ao
contrário, são raras exceções” (Moraes, 2001: 173-4). Talvez essa ousadia tenha ocorrido
pelo fato de que o projeto do Hospital de Clínicas foi desenvolvido no período em que o
arquiteto dividia o escritório com os demais “companheiros da equipe do ministério”
(Conduru, op. cit.: 18). Nessa fase “estiveram mais próximos um do outro e
conseqüentemente desenvolveram um trabalho mais ou menos paralelo em suas investigações
formais” (Caixeta, 1999: 229). Sendo assim, muitos dos elementos que compõem a gramática
da escola carioca foram desenvolvidos concomitantemente, o que torna evidente a influência
de um arquiteto sobre o outro.
O vocabulário arquitetônico incluía colunas colossais, auditórios trapezoidais, reservatórios
amebóides, cascas hiperbólicas, entre outras coisas. Cabe registrar que uma das contribuições
de Moreira nessa gramática surgiu com o projeto do Hospital de Clínicas: a torre de
circulação vertical elipsoidal. Embora sua forma e sua função inspire-se em “uma idéia
contida no projeto corbusiano para o Centrosoyus” (Conduru, op. cit.: 18), Moreira a
79
desenvolveu exteriorizando-a completamente
74
do corpo da edificação como um elemento
autônomo. A partir do Hospital de Clínicas os arquitetos da escola carioca incorporaram a
torre elipsoidal
75
no léxico de sua linguagem. As torres elipsoidais podem ser ligadas a
precedentes acadêmicos, tais como as torres cilíndricas que acomodam alas convergentes.
Exemplos disso no Rio de Janeiro incluem a Biblioteca Nacional (Hector Pepin, 1905) e o
Teatro Municipal (Francisco de Oliveira Passos, 1904), que encerram barra frontal entre
volumes cilíndricos. Contudo, nas versões subseqüentes do Hospital de Clínicas, as torres são
retiradas do projeto, demonstrando uma maior contenção formal do arquiteto, ou talvez
restrições orçamentárias. “Moreira demonstra uma preferência pela afirmação franca dos
princípios acadêmicos de composição, tal como havia revelado em seu primeiro projeto para
o concurso do Ministério (1935)” (Calovi Pereira, 2000, op. cit.: 58).
Conforme artigo do prof. Souza Campos sobre a evolução dos hospitais, no Brasil “a
orientação da construção hospitalar em monobloco já ganhou raízes e vem imprimindo este
conceito em todos os planos atuais” (Campos, 1943a: 17). O projeto de Jorge Moreira se unia
a uma série de outros projetos que foram desenvolvidos com o partido em monobloco,
ratificando a eficiência dessa solução e comprovando a influência do Memorial e Programa
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Porto Alegre elaborado pelo prof.
Souza Campos (Campos, [1940?], loc. cit.: s.p.). Conforme pode ser verificado na análise do
projeto de Moreira, além do monobloco, outras indicações do memorial e do programa foram
seguidas pelo arquiteto, como a separação dos serviços técnico-científicos e a disposição
interna do ambulatório e das enfermarias.
Todavia, o envolvimento profissional entre o prof. Souza Campos e o arq. Jorge Moreira, ao
que tudo indica, não parece ter sido harmonioso. Embora o arquiteto tenha recebido um
programa, o mesmo alegou a necessidade de desenvolver outro (Moreira, 1954, loc. cit.: 346).
Esse trabalho “poderia ter sido poupado, se tivesse recebido de fato um programa e se
houvesse tido um consultor” (idem, ibidem: 347). Para o arquiteto, a figura do consultor
enquadrava-se dentro das “condições ideais” para a realização de qualquer projeto hospitalar
(ibidem). Entretanto, conforme o artigo Projeto de Hospital, o prof. Souza Campos comenta
74
O projeto desenvolvido por Jorge Moreira para o edifício Tapir em 1939, representa uma experiência anterior
na exteriorização da circulação vertical do corpo principal da edificação. Contudo, o volume não possui forma
elipsoidal e ainda permanece vinculado ao corpo principal da edificação.
75
As torres elipsoidais surgem nos blocos residenciais de menor porte do conjunto de Pedregulhos de Reidy; no
edifício Copan de Niemeyer; no Hospital Sul América de Niemeyer e Uchôa; no primeiro projeto para a
reconstrução do bairro de Hansaviertel em Berlim de Niemeyer etc.
80
que em um projeto hospitalar “o arquiteto não pode dispensar a cooperação do orientador”,
sendo que a “falta de articulação entre tais elementos tem acarretado graves inconvenientes,
no desenvolvimento e terminação de projetos” (Campos, 1944: 7-8). Não é possível precisar
se indiretamente o prof. Souza Campos estava se referindo ao arq. Jorge Moreira, mas o fato
concreto é que o projeto do Hospital de Clínicas necessitou de revisões para solucionar
problemas financeiros e funcionais.
2.1.7 A solenidade de lançamento da pedra fundamental
Em 17 de junho de 1943, em uma grande cerimônia no terreno do Caminho do Meio, ocorreu
a solenidade de lançamento da pedra fundamental do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Entre as inúmeras autoridades que participaram do evento, destacam-se o Interventor Federal
no Estado, Gen. Osvaldo Cordeiro Farias (representando o Presidente da República Getúlio
Vargas), o diretor da Faculdade de Medicina, prof. Raul Moreira (representando o Ministro
Gustavo Capanema) e o Arcebispo Metropolitano Dom João Becker (figuras 44 e 45). Assim
como Vargas e Capanema não participaram da cerimônia, o prof. Souza Campos e o arq.
Jorge Moreira também não estavam presentes.
Figura 44: cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Hospital
de Clínicas – assinando o Interventor Federal no Estado Gen. Cordeiro
Farias – 1943 (Foi, 1943 :7)
Figura 45: cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Hospital
de Clínicas – benção do Arcebispo Metropolitano Dom João Becker –
1943 (Há, 1996: 3)
81
Embora a imprensa local não tenha publicado nenhuma imagem
76
do projeto, os discursos dos
participantes durante a solenidade evidenciaram seu conhecimento, tanto do projeto do
Hospital de Clínicas como das futuras edificações do Centro Médico:
(...) será construído, inicialmente, de um monobloco de 15 andares (...) Obedecendo
a modernas linhas de construção norte-americanas, o monobloco terá, de futuro, uma
série de anexos destinados à Maternidade, Pavilhão de Psiquiatria, Medicina Legal,
Escola de Enfermagem, Centro Acadêmico, o que o colocará entre os maiores e
melhores do continente americano (Terá, 1943: 4).
Com previsão de sua “imediata construção, pois a concorrência indispensável já foi aberta
na capital do país”, o Hospital de Clínicas foi orçado em “quantia superior a trinta milhões
de cruzeiros”, conforme “projeto elaborado pelo arquiteto Jorge Machado Moreira” (Foi,
1943: 7). Embora o número de leitos tenha excedido quase 30% do que havia sido
estabelecido pelo prof. Souza Campos no Memorial e Programa do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Porto Alegre (Campos, [1940?], loc. cit.: s.p.), a área do projeto
praticamente triplicou, fazendo com que o custo se elevasse
77
.
Em outubro de 1943, quatro meses após o lançamento da pedra fundamental, o então diretor
da Faculdade de Medicina (após retornar de uma viagem da Capital Federal) declarou que o
custo da edificação havia sido fixado em 42 milhões de cruzeiros (Serão, 1943: 10), quantia
mais condizente com o aumento proporcional da área, ao contrário dos 30 milhões alegados
na solenidade de lançamento da pedra fundamental (Foi, op. cit.: 7). Com o pleno aval do
Governo Federal, a previsão era que as obras seriam iniciadas imediatamente, mas para isso
estava sendo enviada para votação a liberação de verba de seis milhões de cruzeiros. As
palavras do prof. Raul Moreira demonstram que, ao menos, os maiores interessados na
76
Mediante as informações pesquisadas, a primeira publicação de uma imagem do projeto do Hospital de
Clínicas de Jorge Moreira na imprensa local ocorreu somente em 4 de novembro de 1947, devido à premiação no
VI Congresso Pan-Americano de Arquitetura em Lima (Hospital, 1947: 14).
77
O projeto de Moreira apresenta área de aproximadamente 60.000m² (considerando as áreas cobertas abertas do
estacionamento e jardim existentes na planta do primeiro pavimento da barra vertical, ponte e pilotis da placa
horizontal) contra os 22.000m² estimados pelo prof. Souza Campos no Memorial e Programa do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Porto Alegre (Campos, [1940?], loc. cit.: s.p.). Da mesma forma, o custo
estimado pelo programa havia sido fixado em doze mil contos de réis, que mediante a mudança da moeda em
novembro de 1942, transformou-se em doze milhões de cruzeiros. Entretanto, deve ser considerada também a
desvalorização monetária entre os três anos que separam a realização do programa da solenidade de lançamento
da pedra fundamental.
82
questão não apresentavam resistência alguma ao projeto de Jorge Moreira
78
, informando sua
aprovação e ansiando sua construção o mais rapidamente possível.
Com efeito, o magnífico projeto e a planta do notável monobloco de concreto que se
erguerá onde hoje é o Campo de Polo, para exaltação do adiantamento científico e
médico do nosso Estado, - já foram ambos aprovados pela Secretaria de Obras do
Ministério das Obras Públicas.
Será, sem dúvida, o maior e mais moderno hospital de Clínicas do Brasil e quiçá, da
América do Sul, cumprindo ressaltar mais uma vez o incondicional apoio do
presidente da República a esta obra. Tem sido graças ao empenho do sr. Getúlio
Vargas, com o qual nos sentimos profundamente honrados, que a edificação do
Hospital de Clínicas está a um passo da realidade esplendida de amanhã [sic] (Serão,
op. cit.: 10).
2.1.8 A morosidade burocrática e os problemas orçamentários
Embora existisse o empenho direto por parte do Governo Federal, ao que tudo indica, a verba
inicial não foi liberada e o projeto do Hospital de Clínicas foi encaminhado ao Presidente
Vargas somente em setembro do ano seguinte (Blessmann, 1947: s.p.). Dessa forma, em
outubro de 1944 ocorreu a liberação de somente 350 mil cruzeiros para realizar apenas as
especificações do aludido projeto (Vianna: 1951: 4), ou seja, um ano após a aprovação na
Secretaria de Obras do Ministério das Obras Públicas o projeto seria a recém especificado.
Mediante a liberação da verba, Jorge Moreira iniciou a realização das Especificações do
Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, cujo objetivo principal era
determinar “os materiais a serem usados” e “os locais de suas aplicação” [sic] (Moreira,
[1944?], op. cit.: s.p.).
A única construção que se sucedeu, em um curto prazo de tempo (em relação ao lançamento
da pedra fundamental) foi “o erguimento de um sóbrio pórtico, com elegante inscrição, e de
um muro, assinalando os limites da área hospitalar. Depois disso, a grama continuou
calmamente a crescer...” (Leal, 1946: 73). O lento processo que envolvia o início da
construção da edificação passou a ser ridicularizado pelos estudantes da Faculdade de
Medicina, comparando-o a uma doença prolongada: “Enquanto isso, o plano de construção
78
Cf. As origens do Hospital de Clínicas (capítulo 1), onde foi verificado que a resistência do povo gaúcho ao
Hospital de Clínicas ocorreu devido à sua localização no Campo da Redenção, sendo que após a escolha do
terreno do Caminho do Meio, não foram mais encontradas informações de nenhuma rejeição por parte da
população, muito menos ao projeto de Jorge Moreira.
83
foi atacado de violenta infecção, provàvelmente produzida pelo temível virus da burocracia,
que o obrigou a recolher-se a uma das enfermarias do Ministério da Educação” [sic] (Leal,
op. cit.: 73). Na seção Crítica e Humorismo da Revista do Centro Acadêmico de Medicina,
Farmácia e Odontologia, duas charges foram publicas sobre o tema (figuras 46 e 47).
Figura 46: charge A do pórtico do Hospital de Clínicas – 1945
(Critica, 1945: 61)
Figura 47: charge B do pórtico do Hospital de Clínicas – 1946
(Critica, 1946: 69)
A primeira representa o diálogo entre dois burros em frente ao pórtico: “Burro mais novo –
Dizem que vão construir um hospital aqui... Burro mais velho – Não te assustes meu filho; teu
bisavô teve as mesmas preocupações...” (Critica, 1945: 61). A segunda ridiculariza as mais
diversas e pitorescas atividades que passaram a ser realizadas na área em questão, como:
demonstrações de ginástica durante a Semana da Pátria (figura 48), feira de frutas e verduras,
instalação de parque de diversões. “E, nos dias de semana, são pacatos muares os que gozam
a delícia do verde capim...” (Leal, op. cit.: 73). Não somente charges eram realizadas como
forma de protesto, mas versos também faziam parte das críticas: “A verba já foi votada. /
Vimos dela? Quasi nada. / É o aluno pedinchão? / Mas frizamos estes pontos / Não se
assinam dez mil contos / Pra construir um portão” [sic] (Russowsky, 1946: 71).
As especificações do projeto foram suspensas pelo Departamento Administrativo do Serviço
Público [DASP], por julgarem “excessiva a estimativa feita para a construção
(42.000.000,00)” (Blessmann, 1947, op. cit.: s.p.). Diferentemente do que havia ocorrido no
edifício-sede do MES, onde “dois meses após o início da construção, o custo do edifício
ultrapassou o orçamento previsto, que fora subestimado” (Harris, op. cit.: 142), a estimativa
de custos do Hospital de Clínicas impediu sua construção. Enquanto no Ministério da
Educação e Saúde a “astúcia política de Capanema salvou o edifício dos inquéritos de
84
orçamento” (Harris, op. cit.: 168), com o fim do Estado Novo em 1945
79
ocorreu a
subseqüente falta de apoio de Vargas e Capanema. Dessa forma, o DASP solicitou ao
arquiteto “uma modificação no projeto de modo a conseguir uma redução de 10.000.000,00
de cruzeiros” (Blessmann, 1947, op. cit.: s.p.).
Figura 48: educação física durante a semana da pátria no terreno do
Hospital de Clínicas – 1944 (Pimentel, 1945: 389)
2.2 A VERSÃO INTERMEDIÁRIA (1946)
Em 23 de abril de 1946, quatro anos após a elaboração do primeiro projeto, Jorge Moreira
concluiu uma nova versão do Hospital de Clínicas (ainda sobre a chancela do Ministério da
Educação e Saúde). Denominado, pelo próprio arquiteto nos selos das pranchas, como um
estudo, nesse foram realizadas modificações apenas na barra vertical e na ponte. A versão foi
desenvolvida apenas em planta, sendo que as duas perspectivas existentes não correspondem
exatamente ao que foi alterado, simbolizando serem apenas pré-estudos (figuras 49 e 50).
Ambas perspectivas apresentam a subtração das torres elipsoidais da barra vertical e a
diminuição do primeiro estágio do coroamento, fazendo com que o corpo principal da
edificação seja finalizado por uma platibanda. Essas duas alterações demonstram a intenção
do arquiteto de aproximar ainda mais o Hospital de Clínicas das soluções adotadas no
edifício-sede do MES. A primeira perspectiva mantém as diversas volumetrias do segundo
estágio do coroamento, enquanto a segunda não representa nenhum volume na cobertura. Da
79
Embora em 1946 o prof. Souza Campos tenha assumido a pasta do Ministério da Educação e Saúde, sua
atuação parece não ter agregado esforços quanto ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, limitando-se na
organização das “novas unidades autônomas do Paraná, Bahia e de Recife, e as universidades católicas de
Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo” (Lissovsky, op. cit.: 320).
85
mesma forma, a primeira mantém um único sistema de rampas para o acesso ao subsolo na ala
direita da edificação, enquanto a segunda perspectiva ficou incompleta, não representando a
nova solução adotada de rampas paralelas. As duas mantêm o mesmo número de andares,
sendo que ocorreu a subtração de um pavimento da primeira versão. Por fim, nenhuma das
perspectivas apresentam o aumento em um intercolúnio de cada extremidade da barra vertical.
Figura 49: perspectiva leste A do Hospital de Clínicas – pré-estudo da
versão intermediária – [1946?] (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
Figura 50: perspectiva leste B do Hospital de Clínicas – pré-estudo da
versão intermediária – [1946?] (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
A planta do primeiro pavimento da barra vertical e ponte (figura 51), não mais representa o
estacionamento abaixo dos serviços técnico-científicos como ocorre na primeira versão.
Entretanto, a ponte permanece representada
80
, sendo que no espaço do jardim coberto da
versão anterior, surge um compartimento com escada para acesso de assistentes e estudantes.
Na ausência da representação da placa horizontal, não se sabe se esse compartimento substitui
a escada inserida no volume de forma amebóide existente no estacionamento da primeira
versão, ou se ambos passam a coexistir. Contudo, é possível afirmar que essa escada permite
acesso tanto ao segundo pavimento como ao subsolo. A planta da barra vertical permanece
organizada em um retângulo que é ampliado pela a retirada das torres elipsoidais, ocorrendo o
aumento de um intercolúnio em cada ala da edificação, resultando em uma planta de cerca de
142x16m. Dessa forma, as seqüências externas de 22 colunas da versão anterior foram
substituídas por 24 pilares retangulares arredondados nas extremidades, de formato igual aos
utilizados no estacionamento da placa horizontal da primeira versão. Tais pilares permanecem
80
A representação da ponte no primeiro pavimento é parcial, não sendo possível afirmar se as colunas da versão
anterior permanecem ou se foram suprimidas, assim como se o jardim coberto deixa de existir.
86
recuados em relação à projeção do corpo principal do edifício, mantendo a faixa de 1,5m. em
toda a extensão da base em loggia.
Figura 51: planta do 1º pavimento da barra vertical e ponte do
Hospital de Clínicas – versão intermediária – 1946 (Acervo de JMM
no NPD – FAU/UFRJ)
Com a retirada das torres elipsoidais houve conseqüentemente a eliminação de dois
elevadores e duas escadas de serviço. Como compensação, no bloco de circulação vertical
central, foram acrescidos os dois elevadores perdidos. Contudo, as escadas não foram
relocadas, restando apenas uma para atender toda a barra vertical. Dessa maneira, a eficiência
da circulação interna de um hospital desse porte certamente seria comprometida,
principalmente pela concentração em um único ponto da circulação vertical social e de
serviço.
A imponente marquise que demarca o acesso principal da edificação permanece inalterada,
mas a marquise de menor dimensão, que permite acesso exclusivo à administração na
primeira versão, foi retirada, pois nessa ala da edificação ocorrem agora somente os vestiários
dos funcionários. Reflexo ainda da subtração das torres elipsoidais, o conjunto de rampas que
conduz ao subsolo na ala direita da barra vertical foi relocado. Sendo assim, paralelamente à
passagem do subsolo, no térreo foi aberto o último intercolúnio para acesso veicular,
possibilitando a entrada dos funcionários. A ala esquerda passa a abrigar a biblioteca,
integrada a um arquivo público no segundo pavimento por meio de escada e vazio interno ao
ambiente. Essa ala permanece sendo protegida por um sistema de brise-soleil vertical que se
alonga ao segundo pavimento. Na ausência de desenhos complementares, não é possível
precisar se a ala direita mantém os painéis opacos da primeira versão.
Na ala central da edificação ocorrem modificações substanciais que prejudicaram a qualidade
do espaço arquitetônico. A área envidraçada contínua à marquise não mais se encontra
87
recuada em relação ao restante da planta retangular, diminuindo a percepção da simulação do
pórtico clássico da versão anterior. A ampla rampa de acesso à sobreloja foi substituída por
uma escada situada no mesmo lugar. O bloco de circulação vertical central foi relocado entre
a primeira e a segunda fileira de colunas, ocorrendo a inversão do hall principal do edifício
para a parte posterior dos elevadores, interrompendo a integração contínua com o vestíbulo de
entrada existente na versão anterior. Da mesma forma, o recorte na laje da sobreloja em frente
aos elevadores deixa de existir, resumindo a amplitude visual perceptiva do pé-direito duplo a
um simples vazio. Tais modificações foram suficientes para causar certa perda da imponência
do espaço público da edificação, amenizando as características existentes na primeira versão
da promenade architecturale e da percepção do espaço.
A planta do segundo pavimento da barra vertical, ponte e auditório (figura 52), representa o
auditório e o passadiço curvo de ligação do foyer ao saguão da mesma forma e disposição da
versão anterior. A ponte mantém basicamente as mesmas funções da primeira versão,
permanecendo o corredor central que interliga o segundo nível da barra vertical com os
serviços técnico-científicos. As linhas dos pilares retangulares arredondados nas extremidades
permanecem recuadas em relação à planta retangular, mantendo-se a integração desses dois
pavimentos na formação da base da edificação. Contudo, o sistema de brise-soleil vertical não
ocorre mais em toda a extensão da planta retangular, pois na ala central o fechamento avança,
interrompendo sua continuidade. Na ala esquerda o arquivo clínico se integra à biblioteca
térrea e na ala direita a administração muda apenas sua distribuição interna.
Figura 52: planta do 2º pavimento da barra vertical, ponte e auditório
do Hospital de Clínicas – versão intermediária – 1946 (Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
O subsolo da barra vertical e ponte (figura 53), permanece representando um piso semi-
enterrado, propiciando iluminação e ventilação natural aos espaços internos. O comprimento
88
da planta retangular segue o aumento de um intercolúnio, mas diferentemente da versão
anterior, sua largura mantém a mesma dimensão do térreo. O mesmo ocorre na ponte, que
passa a apresentar utilização à direita do eixo de simetria da edificação. Ambos sistemas de
rampas de acesso ao subsolo permanecem inalterados, exceto pelo deslocamento em um
intercolúnio na ala direita. A extensa circulação interna que une as extremidades da edificação
permanece, mas a organização da planta ocorre de forma mais livre, menos compartimentada
que a primeira versão. As funções são praticamente as mesmas, exceto pela farmácia que foi
relocada do térreo para a ala esquerda da planta retangular.
Figura 53: planta do subsolo da barra vertical e ponte do Hospital de
Clínicas – versão intermediária – 1946 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
A planta do terceiro ao décimo primeiro pavimento da barra vertical (figura 54), permanece
englobando o mesmo número de pavimentos da primeira versão, representando igualmente
duas enfermarias por andar. Compondo o andar tipo da edificação, mantém as mesmas
projeções em relação à base que a versão anterior, oportunizando a distinção entre a base e o
corpo principal. Dessa forma, a planta retangular passa a apresentar as dimensões de
144x19m. Os quartos permanecem voltados para a fachada nordeste e os serviços clínicos
para a fachada oposta. Contudo, somente nas extremidades da planta retangular os serviços
estão diretamente ligados à fachada sudoeste, pois as circulações horizontais longitudinais,
que estavam separadas por shafts na primeira versão, foram afastadas. Sendo assim, a galeria
de serviço passa a ocorrer rente à fachada interna do Centro Médico.
89
Figura 54: planta do 3º/11º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – versão intermediária – 1946 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
A função didática que um hospital-escola possui passa a ser mais considerada, sendo que cada
enfermaria apresenta uma sala de aula em frente ao posto de enfermagem. Foram incluídas
também salas para seminário e salas de estudo na ala central. Todos os quartos passaram a ser
padronizados (três leitos) sendo que o número de leitos convencionais permanece inalterado,
embora os leitos de isolamento tenham sido desconsiderados. O projeto permanece com 18
especialidades clínicas, mas com a redução da capacidade total para 540 leitos.
A grelha ortogonal, que anteriormente caracterizava ambas fachadas, permanece somente na
face nordeste, possuindo as mesmas dimensões e características da versão anterior. Mantém-
se inclusive o afilamento das lâminas verticais para a obtenção de uma expressão mais leve na
fachada. Na elevação oposta, interna ao Centro Médico, passa a existir um sistema de brise-
soleil vertical, similar ao encontrado no térreo e no segundo pavimento. Contudo, esse
acompanha a projeção do pavimento, ficando mais avançado em relação ao sistema de brise-
soleil da base.
Nesse estudo de 1946, Moreira suprimiu o décimo segundo pavimento da versão anterior,
sendo que suas funções (alojamentos, cozinha e refeitórios) são relocadas para o décimo
quarto pavimento. Dessa forma, o décimo segundo (figura 55) e décimo terceiro pavimento
(figura 56), são análogos ao décimo terceiro e décimo quarto pavimentos da versão anterior,
configurando o bloco cirúrgico, as salas de aula e o museu. Todavia, externamente esses
pavimentos não configuram mais o primeiro estágio do coroamento como na versão anterior,
pois ambos sistemas de proteção da incidência solar do pavimento tipo (grelha ortogonal e
brise-soleil vertical) se estendem até o décimo quarto pavimento, fazendo com que o corpo
principal da edificação seja homogêneo, finalizado em uma platibanda.
90
Figura 55: planta do 12º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – versão intermediária – 1946 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
Figura 56: planta do 13º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – versão intermediária – 1946 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
Da mesma maneira que externamente esses dois pavimentos não mais demarcam um estágio
específico do coroamento, internamente o caráter monumental existente na versão anterior
deixa de existir pela retirada do recuo da laje curvilínea e da escada semicircular na face
sudoeste (elementos que integravam os pavimentos visualmente em conjunto com o pé-direito
duplo). O único vazio ainda existente ocorre apenas no museu, que concentrado na
extremidade da ala esquerda, apresenta melhor condição geométrica que o retângulo alongado
da versão anterior. O número de salas de aula permanece igual, mas a forma de anfiteatro é
alterada para retângulos. A quantidade de salas cirúrgicas se mantém, assim como seus
formatos, mas a orientação foi alterada para que a galeria de observação passasse a ocorrer na
fachada nordeste.
O décimo quarto pavimento da versão intermediária (figura 57), abrigar as funções do décimo
segundo e do décimo quinto pavimento da primeira versão. Os volumes diversificados
recuados das empenas da planta retangular, que conforma o segundo estágio do coroamento
da versão inicial, não mais ocorrem, resultando na ocupação total do pavimento.
Externamente apresenta as mesmas características dos demais andares do corpo principal da
edificação, permanecendo dos sistemas de proteção da incidência solar (grelha ortogonal e
brise-soleil vertical). As cascas hiperbólicas e o volume amebóide deixam de existir, mas a
capela de formato trapezoidal permanece, embora agora confinada. O jardim coberto também
91
desaparece, sendo que o descoberto se fragmenta em pátios enclausurados. O sistema de
iluminação zenital não é mais necessário, pois a nova orientação das salas de aula do andar
inferior possibilitou o recebimento de iluminação direta pela fachada sudoeste.
Figura 57: planta do 14º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – versão intermediária – 1946 (Acervo de JMM no NPD –
FAU/UFRJ)
A planta da cobertura e da casa de máquinas (figura 58), apresenta a platibanda recuada em
relação aos sistemas de proteção da incidência solar do corpo principal do edifício. O
reservatório não é mais configurado pelo volume de forma amebóide, mas por um volume
retangular inserido dentro de uma volumetria que apresenta um chanfro
81
em uma das laterais.
Figura 58: planta da cobertura e da casa de máquinas da barra vertical
do Hospital de Clínicas – versão intermediária – 1946 (Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
As modificações propostas apresentam ganhos e perdas ao serem comparadas com a primeira
versão, tanto em aspectos funcionais como estéticos. A subtração das torres elipsoidais
diminuiu a eficiência da circulação vertical da edificação, retirando do projeto o elemento
mais inusitado que representava uma colaboração direta do arquiteto na gramática da escola
carioca. Os espaços de caráter monumental foram prejudicados e até eliminados, onde ocorreu
a diminuição da percepção do pé-direito duplo no hall principal da base e a supressão do hall
do primeiro estágio do coroamento (que englobava o bloco cirúrgico e salas de aula). A
redução do espaço de recreação do último pavimento transformou jardins em pátios e
81
No projeto da Prefeitura do Distrito Federal de Reidy, encontra-se na cobertura um volume de geometria em
planta similar ao proposto nessa versão intermediária do projeto do Hospital de Clínicas.
92
eliminou áreas descobertas, suprimindo também elementos típicos da linguagem da
arquitetura moderna, como as cascas hiperbólicas e o volume amebóide. Entretanto, a
ampliação da área do subsolo, a valorização de espaços de estudo nas enfermarias e a maior
atenção às questões de insolação, representam melhorias significativas dessa versão.
Alterações como a supressão do coroamento em dois estágios e a retirada da marquise de
menor dimensão, conferem maior unidade ao edifício, embora à custa de um certo
empobrecimento plástico (principalmente pela eliminação de qualquer marcação do
coroamento). As alterações das colunas por pilares retangulares arredondados nas
extremidades representam provavelmente uma opção que favorece a solução estrutural do
vigamento transversal.
Embora as modificações no projeto tenham sido realizadas, o objetivo de reduzir os custos
não foi plenamente alcançado. “Feita a redução, quando foi ultimada a revisão, o
encarecimento progressivo do material e da mão de obra, um ano depois acarretava apenas
uma diferença para menos da estimativa anterior de 2.000.000,00 de cruzeiros mais ou
menos” (Blessmann, 1947, op. cit.: s.p.). Em 1947, o diretor da Faculdade de Medicina (Luiz
Francisco de Guerra Blessmann), o reitor da Universidade do Rio Grande do Sul [URGS]
(Armando Pereira de Câmara), o Prefeito de Porto Alegre (Gabriel Pedro Moacyr) e o
Governador do Estado (Walter Só Jobim), realizaram por meio de uma carta conjunta, um
pedido formal ao Presidente da República (Eurico Gaspar Dutra), solicitando que no ano de
1948 fosse liberada a verba para a construção do Hospital de Clínicas (idem, ibidem). A
resposta veio por telegrama em 30 de agosto de 1947:
Tenho prazer comunicar vs vg de ordem do sr ministro vg ter sido autorizada
hontem assinatura ajuste com Sociedade Brasileira Estacas Franki para execução
fundações Hospital Clinicas pt Rogo providencias sentido desembaraço terreno a
fim possam serviços ser iniciados segunda quinzena setembro com possível
comparecimento sr ministro assistir colocação primeira estaca pt [sic] (Rios Filho,
1947: s.p.).
Sendo assim, baseado em um estudo de Jorge Moreira, foi iniciada a construção do Hospital
de Clínicas, fato que causará grandes inconvenientes no andamento das obras.
2.2.1 O plano arquitetônico do Centro Médico
93
Nenhum dos registros encontrados do Centro Médico, do qual faz parte o Hospital de Clínicas
de Porto Alegre, possuem indicação de data, impossibilitando a precisão cronológica de sua
realização. Embora o arquiteto tenha declarado que concebeu um plano de conjunto
concomitantemente ao projeto da edificação do hospital (Moreira, 1954, loc. cit.: 348),
conforme poderá ser observado, o plano de conjunto localizado é posterior. Detalhes do
desenho do Centro Médico não coincidem exatamente com a solução utilizada na planta de
situação da primeira versão (1942) e a edificação do Hospital de Clínicas nela registrada
aproxima-se muito mais da versão intermediária (1946).
Tudo indica que o plano de conjunto para o Centro Médico só foi formalizado em um
momento posterior à definição da primeira versão do projeto do Hospital de Clínicas. O plano
do Centro Médico pôde receber data provável devido a uma imagem do II Congresso
Brasileiro de Arquitetos realizado em Porto Alegre em 1948
82
(figura 59). Moreira expõe um
painel sobre o Hospital de Clínicas onde em sua parte inferior consta o Centro Médico (figura
60)
83
, mas são as perspectivas da primeira versão que se encontram na parte superior do
painel. Devido à inexistência de um plano de conjunto na relação dos desenhos da primeira
versão e das posteriores modificações do arruamento, supõe-se que uma versão mais
elaborada do Centro Médico foi realizado somente para a exibição no respectivo congresso,
pois um dos principais objetivos desse evento era a divulgação dos princípios da Carta de
Atenas na capital gaúcha (II Congresso, 1949: s.p.).
Figura 59: Jorge Moreira [esquerda] no II Congresso Brasileiro de
Arquitetos com painel do HCPA [esquerda] – 1948
(II Congresso, 1949: s.p.)
82
Cf. A promoção da arquitetura moderna na cidade (capítulo 4.2).
83
Da esquerda para a direita: Jorge Moreira, Riopardense de Macedo, Ubatuba de Faria e Edgar Graeff .
94
Figura 60: vista superior da maquete do Centro Médico com
transcrição da legenda – [1948?] (Arquivo do HCPA) [sic]
1-HOSPITAL DE CLÍNICAS 6-Auditório 10-Centro de Estudantes
2-Clínicas Especializadas 7-Faculdade de Medicina 11-Ginásio
3-Clínica Neurológica 8-Faculdade de Farmácia 12-Estádio
4-Serviços Gerais e Odontologia 13-Tennis e Basket-ball
5-Necrotério 9-Escola de Enfermagem 14-Piscina
O plano do conjunto foi estudado de acôrdo com o que estabelecia o Plano Diretor
de Pôrto Alegre, que previa uma avenida – Avenida Projetada – ligando a Avenida
do Riacho e Avenida Venâncio Ayres.
Na elaboração do plano do conjunto não podiam deixar de ser consideradas as
desapropriações julgadas indispensáveis, dada a importância da obra que ali se iria
realizar, bem como ao necessário desenvolvimento do Centro Médico. Assim, foram
previstas as desapropriações da faixa correspondente à Rua São Manoel e da parte
compreendida entre o terreno do hospital, a Avenida Projetada e as Avenidas
Venâncio Ayres e Protásio Alves.
Essas desapropriações, entretanto, não foram feitas em tempo e, se as primeiras
ainda são possíveis, as últimas são agora quasi impraticáveis, devido à valorização
acrescida pelas construções na rua recentemente aberta. Agrava ainda essas
condições o prolongamento aprovado da Rua Ramiro Barcellos.
Foi aproveitada a área desmembrada, em consequência da abertura da Avenida
Projetada, para a localização da Escola de Enfermagem e do Centro de Estudantes –
com alojamentos, refeitório, biblioteca, clube, salão de festas, ginásio, campos de
esporte e piscina.
95
O plano do Centro Médico, se comparado com os desenhos anteriores
84
resultantes do estudo
do Plano Diretor de Gladosch, apresenta diferenças representadas pelas letras [A, B e C]. Em
[A] observa-se que, ao contrário da situação da primeira versão, a av. Jerônimo de Ornelas
não mais se prolonga dentro do terreno, sendo que em frente à fachada nobre da edificação foi
localizada uma praça interna ao Centro Médico. No texto existente junto à legenda da
maquete, Moreira identifica que a desapropriação solicitada na faixa do terreno [B] seria
praticamente impossível, fazendo com que a mesma não mais fosse considerada no plano do
Centro Médico. Em [C] verifica-se que a bifurcação da av. Protásio Alves, proposta no plano
de Gladosch e considerada na planta de situação da primeira versão, não mais ocorre,
aproximando-se do traçado urbano que se consolidou.
A exemplo do anteprojeto no terreno do Caminho do Meio do prof. Souza Campos e do arq.
Pujol Júnior de 1938
85
, o Centro Médico de Jorge Moreira também foi dividido em um setor
médico e outro de esportes. O primeiro foi concentrado no terreno de maior dimensão e o
segundo no menor. O Hospital de Clínicas [1] permanece na mesma localização da primeira
versão, mas em sua fachada nobre (sudoeste) foi localizada uma praça, cuja configuração de
trapézio e seus caminhos convergentes em direção à edificação acentuam “a proeminência
física e simbólica do Hospital” (Comas, 2002, v. 1, op. cit.: 283). A praça situa-se entre a rua
de serviço existente
86
na primeira versão e uma nova rua interna, paralela a essa, que se
interliga com o acesso das ambulâncias e a entrada de pacientes que se dirigem de veículos
pela av. Protásio Alves
87
. Contudo, antes dessa ligação ocorrer, a nova rua interna cruza com a
rua de desembarque em frente à fachada nobre, onde um volume praticamente quadrado na
ala esquerda da barra vertical encobre um trecho dessa rua, que é finalizada por um cul-de-sac
retangular no lugar do circular da primeira versão.
Na esquerda da praça encontra-se isolada a edificação das Clínicas Especializadas [2], que de
certa forma replica a solução do Hospital de Clínicas por meio da tensão estabelecida pela
diferença de altura entre uma barra vertical (retângulo maior) e uma placa horizontal
(retângulo menor). Todavia, os volumes paralelos encontram-se defasados entre si, mas ainda
unidos por uma ponte que se projeta, formando uma marquise em frente ao retângulo menor.
Na direita da praça foram localizadas as demais edificações, que em sua grande maioria
84
Cf. Plano Diretor da Cidade de Porto Alegre – 1939-40 (figura 17) e o terreno proposto para a construção do
Centro Médico de Porto Alegre – [1940?] (figura 20).
85
Cf. Centro Médico de Porto Alegre no terreno do Caminho do Meio – 1938 (figura 9).
86
Cf. acesso [4] da planta de situação e cobertura da primeira versão – 1942 (figura 29).
87
Cf. acesso [7] da planta de situação e cobertura da primeira versão – 1942 (figura 29).
96
representam fragmentos de rédents. A edificação da Clínica Neurológica [3] aproxima-se da
forma de “Z” com ângulos retos inscrita em um retângulo desenhado pelo tratamento de piso.
“Com a ajuda do tratamento de piso, os elementos da composição se tornam edifícios-
quarteirão, ainda que de porte distinto” (Comas, 2002, v. 1, op. cit.: 283).
O edifício dos Serviços Gerais [4], também denominado de Pavilhão Industrial, representa um
bloco que engloba funções “que não necessitam, obrigatoriamente, ficar dentro do hospital,
como sejam: lavanderia, oficinas, almoxarifado geral, alojamento de subalternos, garagem
88
,
etc.” (Moreira, 1954, op. cit.: 348). Localizado próximo da rua São Manoel, para facilitar a
entrada e a saída dos materiais, “a solução adotada oferecerá também a vantagem de não
complicar a vida do Hospital com o movimento que resultará do serviço de outras
unidades
89
(idem, ibidem). A edificação é composta, assim como as Clínicas Especializadas,
por dois volumes paralelos, mas esses não estão defasados entre si.
O Necrotério [5] configura-se por um pequeno quadrado interligado por uma ponte a um
retângulo de maior proporção que faz parte de uma grande edificação, a qual engloba
diferentes faculdades. Da mesma forma, interliga-se nesse prédio um Auditório [6]
trapezoidal, formalizado pela exteriorização da estrutura. A barra vertical paralela mais
próxima do Hospital de Clínicas representa a Faculdade de Medicina [7], sendo que na outra
barra paralela está localizada a Faculdade de Farmácia e Odontologia [8]. Ao que tudo indica,
a barra perpendicular provavelmente reúne funções afins de caráter mais público entre essas
faculdades. Ambas possuem pequenas formas trapezoidais ao longo da barra paralela,
provavelmente representando pequenos auditórios.
Localizada na extremidade mais aguda do terreno menor, a Escola de Enfermagem [9] é a
única edificação do setor médico implantada no setor de esportes. Não foram encontrados
registros que comprovem se essa única barra vertical possui relação com o anteprojeto
desenvolvido pelo arq. Evaristo de Sá concomitantemente ao Hospital de Clínicas sob a
orientação do prof. Souza Campos (Campos, 1943c, loc. cit.: 12). Relacionando-se com as
demais edificações do Centro Médico, alinha-se ao Centro dos Estudantes [10] que retoma a
utilização da barra e placa. Exceto pelo Ginásio [11], que mantém relações de paralelismo ou
88
Garagens para as ambulâncias e os carros de serviço, pois além do estacionamento coberto abaixo dos serviços
técnico-científicos, outro descoberto seria “determinado por estudos posteriores” (Moreira, 1954, op. cit.: 358).
89
As outras unidades referidas por Jorge Moreira são as demais edificações que compõem o Centro Médico e
que necessitam desse tipo de serviço como as clinicas neurológicas, especializadas etc. (idem, ibidem).
97
ortogonalidade com as demais edificações, o Estádio [12], as Quadras [13] e a Piscina [14]
estão dispostos de forma oblíqua, paralelos à hipotenusa do triângulo que conforma a terreno.
O estudo da planta de situação (figura 61) e o estudo da fachada do Hospital de Clínicas
(figura 62), indicam (juntamente com a ampliação do esquema em planta do Hospital de
Clínicas localizada na parte inferior direita da maquete do Centro Médico
90
) modificações em
relação à versão intermediária (1946), comprovando que o projeto da edificação permaneceu
em desenvolvimento.
Figura 61: estudo da planta de situação do Centro Médico – [1948?]
(Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Figura 62: estudo da fachada sudoeste do Hospital de Clínicas –
[1948?] (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
90
Cf. vista superior da maquete do Centro Médico com transcrição da legenda – [1948?] (figura 60).
98
Em planta percebe-se a adição de novas ligações entre a barra vertical e a placa horizontal,
uma em cada extremidade e outra no fundo do auditório. Igualmente perceptível na fachada,
observa-se o surgimento de um volume retangular que se projeta na ala esquerda da base,
interrompendo a leitura da colunata. Esse volume possui um jardim em sua cobertura, assim
como no último pavimento também surgem outros jardins. O número de pavimentos e de
intercolúnios permanecem iguais aos da versão intermediária, mas o último intercolúnio no
térreo da ala direita não é mais aberto. Outra modificação ocorre pela supressão da marquise
da entrada principal. O mesmo se dá com o sistema de brise-soleil vertical, que devido à sua
retirada, evidencia a fachada envidraçada. Por meio dessas alterações, parece manifestar-se a
intenção de Moreira em relacionar a fachada sudoeste do HCPA com a fachada sul do
edifício-sede do MES.
A inviabilidade de concretização do Centro Médico foi explicada pelo próprio arquiteto no
texto que acompanha a legenda da maquete. O prolongamento da rua Ramiro Barcelos
91
mudaria drasticamente a forma do terreno (figuras 63 e 64), fazendo com que as edificações
não mais se relacionassem com a av. Projetada, paralela à orientação desejada para o Hospital
de Clínicas. Dessa forma, as edificações do conjunto perderiam um eixo organizativo
importante, ficando evidente a negação de quarteirões e alinhamentos por meio da disposição
oblíqua dos edifícios, evitando a frontalidade (Calovi Pereira, 2000, loc. cit.: 57).
Figura 63: montagem do mapa atual com situação do Centro Médico
(Fonte: autor, baseado em Thofehrn, 1986: 26 e no Arquivo do
HCPA)
Figura 64: mapa da conformação atual da área do Campus Saúde da
UFRGS (Thofehrn, 1986: 26)
91
O prolongamento da rua Ramiro Barcelos, entre a “Av. Protásio Alves para o lado do arroio Dilúvio, começou
a fazer-se ao final da década de quarenta” (Franco, op. cit.: 347).
99
2.2.2 O início das obras
Mediante a pressão exercida pelas autoridades locais ao Presidente da República Eurico
Gaspar Dutra, as obras do Hospital de Clínicas iniciaram em 9 de outubro de 1947
(Blessmann, [1948?]: 15). Foram utilizados os estudos de Jorge Moreira realizados no ano
anterior, conforme a solicitação do DASP para redução de custos (Blessmann, 1947, op. cit.:
s.p.). O estaqueamento foi realizado pela empresa Estacas Franki, sendo concluído em 1948,
conforme informações do então diretor da Faculdade de Medicina (Vianna, 1951, op. cit.: 4).
Em 25 de janeiro de 1949, ocorre a concorrência pública para a execução dos blocos de
fundação, cintas e paredes do subsolo da barra vertical do Hospital de Clínicas, tendo sido
selecionada a Companhia Constructora Nacional S. A.
92
(Hospital, [1951?]: s. p.). Em 28 de
março de 1949, foi firmado o registro do contrato no Tribunal de Contas, sendo que o início
dos trabalhos ocorreu em 22 de abril do mesmo ano (ibidem). Contudo, somente em maio de
1949 foi produzida a planta de locação da barra vertical do Hospital de Clínicas (figura 65),
ainda sob a chancela do MES, mas sem a anotação de autoria de um responsável técnico.
Figura 65: planta de locação da barra vertical do Hospital de Clínicas
– maio 1949 (Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
92
A Companhia Constructora Nacional S. A., cuja matriz era no Rio de Janeiro, possuía um escritório em Porto
Alegre, assim como filiais nos estados da Bahia, São Paulo e Paraná.
100
A planta identifica a manutenção dos estudos iniciados na versão intermediária (1946), cujas
torres elipsoidais foram subtraídas, restringindo a barra vertical a um único bloco retangular.
O prolongamento da rua Ramiro Barcelos modificou o arruamento do Centro Médico,
conforme projeção demarcada na planta de locação. Modificou-se também a disposição da
barra vertical no terreno, pois sua locação não está centrada no eixo da av. Jerônimo de
Ornelas, anteriormente considerado por Jorge Moreira. Não havendo responsável técnico
mencionado na planta de locação, é possível que essa tenha sido enviada à obra sem o crivo
de Moreira.
A orientação da edificação em relação ao norte sofreu uma pequena alteração, sendo que os
33° pretendidos inicialmente foram reduzidos para 30°. A planta de locação identifica
também a existência de um elemento que não foi representado na primeira versão do projeto,
mas que consta no plano para o Centro Médico: uma praça retangular alongada na
extremidade da av. Jerônimo de Ornelas. Originária do Plano Diretor de Gladosch, a praça
possibilitaria a abertura do ângulo de visão da fachada nobre (sudoeste) do Hospital de
Clínicas.
As obras seguiam em ritmo normal, como pode ser verificado pela evolução da construção em
imagens tomadas com quatro meses de diferença (figuras 66 e 67). A primeira demonstra a
escavação concluída e na segunda podem ser observadas as fundações e as paredes do
subsolo. A conclusão dos trabalhos da Companhia Constructora Nacional ocorreu em 4 de
novembro de 1949 (Hospital, [1951?], op. cit.: s. p.).
Figura 66: obras do Hospital de Clínicas – jun. 1949 (Acervo de JMM
no NPD – FAU/UFRJ)
Figura 67: obras do Hospital de Clínicas – out. 1949 (Acervo de JMM
no NPD – FAU/UFRJ)
101
2.2.3 A paralisação das obras
Somente após praticamente um ano da conclusão dos trabalhos da Companhia Constructora
Nacional, em 17 de outubro de 1950, foi realizada outra concorrência pública com o objetivo
de executar a estrutura de concreto armado da barra vertical do Hospital de Clínicas (Hospital,
[1951?], op. cit.: s. p.). Novamente a mesma empresa foi selecionada, sendo firmado o
registro do contrato no Tribunal de Contas em 5 de dezembro de 1950 (ibidem). O contrato
estabelecia também a realização do projeto estrutural, sendo que em 19 de fevereiro de 1951,
foram apresentadas ao Ministério da Educação e Saúde “os primeiros desenhos (plantas) em
escala conveniente” (ibidem). Contudo, conforme depoimento de um dos engenheiros da
Companhia Constructora Nacional em maio do mesmo ano, embora tenham sido “prestadas
todas as minúcias ao Ministério da Educação e Saúde” (Vianna, 1951, op. cit.: 4), as obras
ainda não haviam sido iniciadas porque dependiam da aprovação do ministro. Embora
estivesse sendo realizado o trabalho referente à elaboração do projeto estrutural, as obras
permaneciam paralisadas desde o final de 1949, fato que desencadeou um processo de
hostilidade por parte da imprensa local iniciado em abril de 1951:
Depois de largos anos de trabalho, com dotações orçamentárias ridículas, vêem-se
agora construídos apenas os alicerces e a estrutura do primeiro dos quatorze
pavimentos. (...) Atualmente tudo está paralisado, isso porque o Ministério da
Educação, que financia o utilíssimo empreendimento, ainda não distribuiu a verba
necessária para a conclusão da estrutura de concreto (Continua, 1951: 3).
Os integrantes do Centro Acadêmico Sarmento Leite da Faculdade de Medicina iniciaram no
mês seguinte uma série de passeatas e atos públicos junto à população, reivindicando o
reinício das obras do Hospital de Clínicas. Sucederam-se inúmeros apelos das autoridades
locais, principalmente por parte da direção da Faculdade de Medicina (Vianna, 1951, op. cit.:
4). Em 16 de maio de 1951, ocorreu uma reunião entre a Companhia Constructora Nacional e
o Ministério da Educação e Saúde no “sentido de promover o início dos trabalhos” (Hospital,
[1951?], op. cit.: s. p.), sendo que em 25 do mesmo mês, saiu uma ordem de serviço da
Divisão de Obras do ministério (ibidem). Todavia, as obras não foram reiniciadas,
continuando apenas a realização do projeto estrutural. Sendo assim, em 16 de junho de 1951,
foi apresentado “o desenho relativo aos Blocos de Fundação do Poço de Elevadores”
(ibidem), pois os trabalhos realizados na primeira concorrência contemplaram apenas as
fundações periféricas da planta retangular da barra vertical.
102
Em agosto de 1951, uma comissão do Centro Acadêmico Sarmento Leite dirigiu-se à Capital
Federal encarregada de negociar o reinício definitivo das obras. O retorno de Getúlio Vargas à
Presidência da República provavelmente facilitou a negociação, pois o próprio presidente
declarou à comissão que: “Não mais serão paralizadas as obras do Hospital de Clinicas”
[sic] (Não mais, 1951: 3). Dessa forma, a Companhia Constructora Nacional agiu com
presteza, reiniciando imediatamente a construção, “completando até o teto do subsolo”
(figura 68), quando os trabalhos foram interrompidos “em dezembro de 1951, face as
modificações introduzidas no projeto” (Paglioli, 1964: 275).
Figura 68: obras do Hospital de Clínicas paralisadas – nov. 1951
(Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Cabe relembrar que as obras foram iniciadas em 1947 mediante um estudo de Jorge Moreira
que permaneceu em evolução, conforme pôde ser verificado na análise do Centro Médico.
Como o Ministério da Educação e Saúde autorizou o início das obras baseada ùnicamente
num anteprojeto, advieram os inconvenientes da orientação sem projeto, pois o
estaqueamento e as fundações estavam em desacôrdo com o plano posteriormente
apresentado” [sic] (idem, ibidem: 276).
Aconteceu que esse anteprojeto não continha, na sua estrutura, os encanamentos de
luz, de água, de gás, etc., pois que não constavam na planta fornecida. Os elevadores
não estavam adaptados a um serviço hospitalar, e outros inconvenientes, de igual
importancia, faziam parte do referido anteprojeto [sic] (Severas, 1952: 4).
Se as paralisações anteriores ocorreram pela falta de repasse de verbas do Ministério da
Educação e Saúde, essa última ocorreu por solicitação de Jorge Moreira, tendo em vista o
desenvolvimento do estudo que resultou na última versão do projeto. Dessa forma, em
103
meados de 1952, Moreira conseguiu autorização para dinamitar parte da construção,
objetivando adequá-la ao projeto. O fato transferiu a hostilidade por parte da imprensa
(anteriormente direcionada ao Ministério da Educação e Saúde) para o arquiteto:
Ah! incompreensível natureza humana! Tudo porque o senso estético do autor do
projeto de construção sentiu-se ferido, desde que, planejado em outra época, o
Hospital estaria em desacôrdo com as linhas aerodinâmicas do momento. E, a fim de
que êle seja reformado e adaptado à época atual, é necessário dinamitar a parte
central, onde, em vez de seis elevadores, serão instalados apenas quatro. (...) Senso
estético ferido, vaidade insatisfeita ou apenas capricho, levou o autor do projeto a
conseguir do Presidente a dinamitação do Hospital de Clínicas e sua substituição por
algo mais moderno [sic] (Dieckmann, 1952: 8).
É provável que a repercussão desses fatos tenham influenciado na transferência das
obrigações contratuais do MES “no tocante à construção do Hospital de Clínicas Médicas de
Porto Alegre” para a URGS em 22 de julho de 1952 (Passarinho, 1969: 40). No mês seguinte
assume a reitoria da universidade o dr. Elyseu Paglioli
93
, o qual logo após ter assumindo o
cargo, viajou para a Capital Federal com o intuito de resolver a questão “sobre o já «famoso»
Hospital de Clínicas, a «sinfonia inacabada» da Avenida Protásio Alves e que tantos
comentários tem motivado, ultimamente, nas páginas da imprensa metropolitana” (Severas,
op. cit.: 4).
Inicialmente, o reitor Paglioli ouviu individualmente os responsáveis pelo Hospital de
Clínicas. “O projetista, o Ministério da Educação e Saúde, o DASP, e o Diretor da Cia.
Constructora Nacional deveriam depôr ou fornecer subsídios para solução do caso” [sic]
(Paglioli, op. cit.: 276). Consideravam o arquiteto Jorge Moreira “insubstituivel e em vez de
condená-lo pela sua inércia, dizem, sorrindo, que ele sofre do «delirio do ótimo»
94
. Eu
[Paglioli] penso que ele sofre mas é do «delirio do péssimo», pois que nunca chega a realizar
o seu objetivo” [sic] (Severas, op. cit.: 4). Depois de ouvir todos os responsáveis
individualmente, o reitor Paglioli solicitou uma reunião com todos os responsáveis no
ETUB
95
, onde se travou acalorada discussão, pois o reitor confrontou os depoimentos
individuais uns aos outros, o que não foi aceito com simpatia (Paglioli, op. cit.: 276).
93
O dr. Elyseu Paglioli assumiu a reitoria da URGS agosto de 1952, permanecendo até 64. Respeitado médico e
professor da Faculdade de Medicina, realizou diversas obras para a ampliação da estrutura física da universidade.
94
“Esse ‘espírito detalhista’ determinava um tempo de projeto e construção mais lento do que o usual, o que
irritava sobremaneira a clientela, gerando relações profissionais tensas” (Conduru, 1999: 23).
95
Jorge Moreira era arquiteto-chefe do ETUB desde 1949 (Moraes: 2001: 166).
104
A conclusão foi a seguinte: o projetista estava incumbido do projeto, desde 16 anos
96
passados e, não só não o havia concluído ainda, como autorizara o início da obra
com o seu anteprojeto, exigindo depois a demolição, com a proposição de um nôvo
plano; o DASP também responsável, havia sido omisso no caso; o Diretor da
Faculdade, diante de tais dificuldades, não conseguira favorecer o andamento,
embora fôsse êsse o seu desejo; o Ministério da Educação e Saúde autorizara o
comêço da obra sem projeto e a Comp. Constructora Nacional aceitou o trabalho
também sem projeto [sic] (Paglioli, op. cit.: 276-7).
Mediante a transferência da responsabilidade da construção para a URGS, desde 22 de julho
de 1952, o reitor impôs a “substituição do arquiteto, a liberação do Ministério da Educação e
Saúde de suas atribuições e a cooperação efetiva do DASP e da Comp. Construtora” (idem,
ibidem). Paglioli procurou no mesmo dia o Presidente Vargas solicitando a ratificação de suas
imposições, as quais foram verbalmente aceitas, pois “no dia seguinte o arquiteto foi
procurá-lo e não foi recebido” (ibidem). Mesmo assim, Moreira finalizou o estudo iniciado
em 1946 resultando na última versão do arquiteto para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
2.3 A ÚLTIMA VERSÃO (1952)
97
De acordo com as solicitações do reitor Paglioli, observa-se pelo selo das pranchas que a
chancela do projeto foi realmente alterada do MES para o DASP. Da mesma forma, o nome
de Jorge Moreira não está mais registrado no selo como nas versões anteriores, apresentando
apenas sua assinatura no campo do responsável técnico. O projeto apresenta a data de 24 de
outubro de 1952, ou seja, pouco tempo após a intervenção do reitor da URGS, indicando certa
urgência do arquiteto em demonstrar seu interesse em desenvolvê-lo.
O projeto é uma finalização da versão intermediária (1946) que permaneceu em
desenvolvimento, conforme pôde ser verificado na apresentação do Centro Médico. Ele
apresenta apenas a barra vertical da edificação e foi representado somente em planta (como a
versão intermediária) exceto pela existência de um corte transversal. Sendo assim, somente a
primeira versão (1942) contemplou o Hospital de Clínicas em sua totalidade, com barra
vertical, placa horizontal e ponte em um conjunto completo de desenhos. Contudo, a
inexistência de algumas partes, somada ao acréscimo do volume
98
incorporado na fachada
96
O período de 16 anos de projeto que o reitor Paglioli se refere, inclui desde o ano de 1936 (quando ainda
estava sob a responsabilidade do prof. Souza Campos e do arq. Pujol Júnior) sem a presença de Jorge Moreira.
97
As plantas e o corte transversal foram redesenhados devido à impossibilidade de representação dos originais.
98
Cf. volume quadrado no esquema ampliado do Hospital de Clínicas na figura 60, estudo da planta de situação
do Centro Médico (figura 61) e estudo da fachada do Hospital de Clínicas (figura 62).
105
nobre da edificação, dificultam a compreensão do conjunto, principalmente nas questões
referentes aos acessos e articulações dos elementos.
A planta do primeiro pavimento da barra vertical (figura 69), demonstra mudanças
significativas na base. Toda a ala esquerda da planta passa a ser configurada por pilotis aberto,
no qual consta um jardim coberto que suprime todo o espaço monumental existente no hall
principal da edificação das versões anteriores. A colunata colossal é ampliada mais uma vez
em um intercolúnio em cada extremidade, fazendo com que o comprimento da barra vertical
se equipare ao da placa horizontal existente nas versões anteriores. A ala direita retoma a
utilização de colunas nas linhas externas, mas na ala esquerda e nos pontos de apoios das
diversas ligações entre a barra vertical e a placa horizontal, permanecem os pilares
retangulares arredondados nas extremidades. A linha interna apresenta colunas em toda a
extensão, exceto nas extremidades
99
onde foi utilizado o pilar retangular arredondado. Além
da presença dessas duas variações, diversas colunetas são necessárias para sustentar as três
pontes agora existentes. Dessa forma, não ocorre uma uniformidade da aplicação dos pilotis,
resultando em uma coordenação desarmônica de colunas de vários tipos e dimensões.
Figura 69: planta do 1º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
A marcação em projeção da planta possibilita apreciar que o volume acoplado na fachada
nobre (anteriormente retangular) apresenta-se agora chanfrado em sua extremidade direita
100
.
A projeção igualmente inclinada da ala esquerda representa um vazio interno criado pelo
segundo pavimento no respectivo volume. Sua dimensão é bastante ampliada, ocupando o
bloco central de circulação vertical em parte da ala direita da planta. Contudo, essa planta não
representa o volume acoplado na fachada nobre em sua totalidade, sendo possível conjecturar
que tenha ocorrido à transferência da área de caráter mais pública da edificação para esse
99
No edifício-sede do MES essa solução foi aplicada na base da lateral leste, mas duplicando as colunas em cada
ponta, mantendo uma no centro.
100
Cf. esquema em planta do Hospital de Clínicas – 1953 (figura 80), cuja planta permite compreender a
dimensão do volume acoplando em frente à fachada nobre (sudoeste).
106
volume. Por meio das projeções das ligações entre a barra vertical e o bloco horizontal,
verifica-se que elas realmente foram ampliadas em quantidade. Nas extremidades elas são
alargadas, igualando-se à ponte central na qual que acopla o auditório, mas o passadiço de
ligação ao auditório é mantido com a mesma largura, porém retificado.
O bloco central de circulação vertical retoma o posicionamento da primeira versão, ou seja,
encontra-se alinhado à colunata interna. Da mesma forma, é retomado também o número de
quatro elevadores. As circulações verticais de serviço dispostas nas extremidades,
anteriormente retiradas pela subtração das torres elipsoidais, consistem em outra
reconsideração que retoma a primeira versão. Havendo agora dois elevadores de serviço em
cada extremidade, totalizam-se três escadas e oito elevadores. A faixa da base em loggia
permanece somente na ala direita, onde é retomada a função administrativa existente da
primeira versão. Apresentando uma planta livre a ser definida, o fechamento ocorre somente
por painéis de vidro, inexistindo o sistema de brise-soleil vertical.
A planta do segundo pavimento da barra vertical (figura 70), apresenta o mesmo fechamento
da planta do térreo, mantendo a mesma prumada recuada em relação às linhas de estrutura
externas, que sustentam a laje do pavimento por meio de consoles intermediários. O volume
acoplado na fachada nobre mantém o mesmo fechamento de painéis de vidro, inclusive para o
vazio existente em seu interior. As ligações entre a barra vertical e a placa horizontal também
apresentam o mesmo tipo de fechamento, inclusive no passadiço de ligação ao auditório. A
ala direita mantém a administração e a ala esquerda une biblioteca e arquivo no mesmo andar.
Ambos espaços igualmente configuram-se por planta livre a ser definida.
Figura 70: planta do 2º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Como o subsolo da barra vertical (figura 71) não representa nenhum dos sistemas de rampas
de acesso veicular existentes nas versões anteriores, é impossível descrever inclusive se esse
acesso permanece ou não nesta versão do projeto. O piso semi-enterrado é mantido na ala
107
esquerda, cujo fechamento ocorre por meio dos mesmos painéis de vidro existentes na base da
edificação. Na ala direita o piso se integra com a ponte central e o espaço entre a barra vertical
e a placa horizontal, indicando a unificação no subsolo entre os dois corpos principais da
edificação. Nesse pavimento, todos os pilares e colunas do térreo assumem a forma quadrada,
exceto pela linha central, onde pilares em forma de “H” realizam a descida das instalações nos
espaços vazios. A planta não apresenta discriminação pormenorizada das funções, sendo que
todo o pavimento é descrito como serviços gerais, apresentando novamente planta livre a ser
definida.
Figura 71: planta do subsolo da barra vertical Hospital de Clínicas –
última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado no Acervo de JMM no
NPD – FAU/UFRJ)
A planta do terceiro ao décimo primeiro pavimento da barra vertical (figura 72), continua
configurando o andar tipo. As mesmas circulações horizontais longitudinais desenvolvidas na
versão intermediária são mantidas, adequando-as apenas à retomada dos blocos de circulações
verticais nas extremidades. Permanecem duas enfermarias por andar, sendo que ambas são
subdividas conforme o sexo. Cada enfermaria possui dois quartos de seis leitos, seis de três e
cinco de dois, conformando enfermarias de 40 leitos e ampliando o número total para 720
101
.
A função didática é reduzida pela retirada das salas de aula. Fazendo parte do corpo da
edificação, o andar permanece projetado em relação à base, com a mesma grelha ortogonal na
fachada nordeste já verificada anteriormente. Na fachada sudoeste da edificação, o sistema de
brise-soleil da versão intermediária é substituído por esquadrias com quatro divisões verticais
no mesmo espaçamento dos intercolúnios, fazendo a galeria de serviço perder sua proteção da
insolação. O estudo da fachada apresentado com o Centro Médico
102
já demonstrava essa
alteração, evidenciando a intenção do arquiteto de relacionar essa fachada do HCPA com a
fachada sul do edifício-sede do MES.
101
Os quartos de dois leitos são denominados de isolamento, mas é provável que tenha ocorrido um engano
tipográfico, o que baixaria o número de leitos de cada enfermaria para 35 e o número total para 630 leitos.
102
Cf. estudo da fachada do Hospital de Clínicas – [1948?] (figura 62).
108
Figura 72: planta do 3º/11º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
O décimo segundo (figura 73) e décimo terceiro pavimento (figura 74), apresentam poucas
alterações se comparados com a versão intermediária, permanecendo suas vinculações como
andares complementares funcionalmente. Externamente, são mantidas as características do
andar tipo, cuja grelha ortogonal da fachada e as esquadrias completam a formação do corpo
principal da edificação. Bloco cirúrgico e salas de aula são mantidos, mas o museu
103
(que
ocupava a ala esquerda dos dois andares) cede lugar para o departamento de fotografia no
andar inferior e para o departamento de serviço social no andar superior. Dessa maneira,
perde-se o único espaço que mantinha o pé-direito duplo e os elementos que integravam
visualmente os dois andares. Sendo assim, nenhum local desses pavimentos apresenta mais o
caráter monumental existente na primeira versão.
Figura 73: planta do 12º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
Figura 74: planta do 13º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
103
O museu não foi localizado na barra vertical, sendo desconhecida sua permanência ou não na edificação.
109
As salas de aula mantêm a forma retangular, sendo que a orientação é novamente alterada,
privando-as da incidência solar direta. Reflexo do aumento do número de leitos, o bloco
cirúrgico é ampliado para oito salas. Como novidade, três salas de televisão são implantadas
em frente às salas de observação do bloco cirúrgico no décimo terceiro pavimento. Sinal das
novas tecnologias implantadas em hospitais, as salas de televisão selarão futuramente o fim da
utilização das salas de observações, pois oferecem melhores condições de visualização nos
detalhes cirúrgicos. “Aliás, ainda não sabemos qual será exatamente a contribuição da
televisão nos hospitais de ensino, mas, do que já conhecemos é possível prever que ela será
muito valiosa” (Moreira, 1954, op. cit.: 356).
O décimo quarto pavimento (figura 75), apresenta alterações que o diferenciam externamente
do corpo da edificação. Na fachada nordeste surgem varandas cujas separações estão
alinhadas com o intercolúnio da estrutura. Dessa forma, metade da marcação vertical da
grelha ortogonal desaparece e um peitoril surge alinhado com a borda externa
104
. Na fachada
oposta as divisões verticais das esquadrias também desaparecem, mantendo-se apenas os
montantes alinhados com o intercolúnio da estrutura que suportam grandes panos de vidro.
Por meio dessas diferenciações, talvez o arquiteto objetivasse recuperar o primeiro estágio do
coroamento perdido da primeira versão. O pavimento permanece totalmente ocupado, sendo
que houve um aumento da ala recreativa por meio da retirada da cozinha e dos refeitórios
105
.
Os alojamentos são ampliados ao longo da fachada nordeste, a capela passa para a ala
esquerda da edificação, sendo sua forma alterada para um retângulo. Os jardins permanecem
configurando pátios enclausurados e o estar dos doentes ocupa dois lugares distintos nas
extremidades da planta. Por fim, surge um auditório com a mesma forma da capela.
Figura 75: planta do 14º pavimento da barra vertical do Hospital de
Clínicas – última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado no Acervo de
JMM no NPD – FAU/UFRJ)
104
Cf. estudo da fachada do Hospital de Clínicas – [1948?] (figura 62), onde já se encontra presente a intenção
do arquiteto em realizar certa distinção desse pavimento do corpo da edificação.
105
Cozinha e refeitórios também não foram localizados na barra vertical, sendo provável o remanejo para a placa
horizontal da edificação.
110
A planta da cobertura e da casa de máquinas (figura 76), apresenta dois volumes retangulares
distintos, sendo um praticamente quadrado na ala esquerda e outro extremamente alongado,
integrando as casas de máquinas do bloco central às da ala direita. Nesse encontram-se
também a subestação e as máquinas do ar condicionado central. As platibandas nas fachadas
longitudinais não são mais recuadas como na versão intermediária, sendo deslocadas para a
borda do pavimento. Os vazios, correspondentes aos jardins do pavimento inferior, são
mantidos, sendo os únicos locais que mantém chanfros conforme a versão anterior.
Figura 76: planta da cobertura e da casa de máquinas da barra vertical
do Hospital de Clínicas – última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado
no Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
O corte transversal (figura 77), foi a única representação encontrada afora as plantas.
Representando somente a barra vertical, desconsidera as ligações existentes na base. Sendo
assim, o corte interrompe sua representação nas juntas de dilatação que separam a barra
vertical das demais construções acopladas. A pouca altura se deve ao fato de que os
pavimentos que configuram o andar tipo foram representados uma única vez. No detalhe
ampliado, verifica-se que tanto os planos superiores como os inferiores da laje se prolongam,
não mais conformando um painel horizontal como na primeira versão
106
. Entretanto, o corte
não mostra se as esquadrias permanecem com o mesmo sistema de báscula anterior.
Figura 77: corte transversal da barra vertical do Hospital de Clínicas –
última versão – 1952 (Fonte: autor, baseado no Acervo de JMM no
NPD – FAU/UFRJ)
106
Cf. corte transversal CD do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 (figura 41).
111
O sistema estrutural apresenta maior diversidade de soluções se comparado com o corte
transversal da primeira versão. No subsolo é utilizado um sistema de viga-pilar e no térreo
fôrmas de caixão perdido. Entre a base e o corpo da edificação existe um andar técnico que
permite a concentração e a visitação às instalações. O andar tipo apresenta um rebaixo na laje
nas áreas que concentram os serviços, mantendo um pé-direito mais alto na enfermaria e na
circulação horizontal junto à fachada nobre (sudoeste) da edificação. Por fim, novamente a
técnica de caixão perdido é utilizada nos andares superiores, possibilitando maior
flexibilidade na realização dos diversos desníveis existentes nesses pavimentos.
Embora essa última versão do projeto contemple apenas a barra vertical, os desenhos
permitem a compreensão do conjunto por meio da representação inicial dos elementos que se
unem à base da edificação. Os ganhos quanto à funcionalidade são inegáveis, como por
exemplo, a retomada das circulações verticais de serviço e a ampliação do número de leitos e
salas cirúrgicas. Contudo, as perdas estéticas são mais significativas, como a inserção de um
volume na fachada nobre da edificação e as novas ligações entre a barra vertical e a placa
horizontal. O volume acoplado anulou a apreciação da colunata colossal anteriormente
existente, perdendo-se a constituição da base em loggia na fachada nobre da edificação. As
demais ligações entre a barra vertical e placa horizontal (embora não ocorram no térreo),
dificultam a percepção da separação entre os dois corpos principais, fazendo com que
visualmente esses se mesclem e o auditório trapezoidal seja praticamente ocultado.
Representado a conclusão de um trabalho cuja revisão iniciou na versão intermediária, o
projeto demonstra claramente uma maior simplificação formal por conta do próprio arquiteto,
que na busca de resolver problemas de ordem financeira e funcional, depreciou esteticamente
a edificação. Dessa forma, a descrição de Calovi Pereira sobre o Hospital de Clínicas que foi
construído pode ser perfeitamente utilizada para sintetizar os deméritos dessa última versão:
O esquema compositivo simétrico é então abandonado: o bloco mais baixo passa a
interpenetrar a parte vertical, conformando uma base que envolve quase que a
totalidade do térreo, isolando a barra alta do contato direto com o espaço aberto.
Como conseqüência, toda possibilidade de leitura do volume alto como forma
integral (com base, corpo e coroamento) foi perdida. O prejuízo mais visível ocorre
no tratamento das elevações do volume vertical, que perde a seqüência de colunas
colossais no térreo, as grelhas de protão solar nas duas faces, o coroamento
diferenciado em dois níveis e as torres laterais de circulação. Dessa forma, o extenso
volume perde toda a sua articulação plástica, tornando-se monótono e pouco
expressivo. O emprego de colunas de dupla altura com consoles estruturais na nova
base do edifício funciona como resquício do vocabulário arquitetônico que
caracterizava o projeto original (Calovi Pereira, 2000, op.cit.: 59-60).
112
2.3.1 O final de uma trajetória
A solicitação de Moreira para dinamitar a obra era necessária para adequá-la as alterações
existentes no projeto da última versão. Embora tenha ocorrido ampla manifestação contrária
por parte da imprensa local, provavelmente colaborando na transferência da construção do
MES para a URGS (Passarinho, loc. cit.: 40), não “havia outra solução, senão atender às
exigências técnicas e proceder à demolição total de ambas as alas no que dizia respeito às
fundações” (Paglioli, op. cit.: 277). Dessa forma, no início do ano de 1953, realizou-se a
demolição de parte da construção (figura 78), “ou melhor, um terço da obra já realizada,
para não agravar a situação, continuando uma construção viciada e irremediável, no futuro”
(Severas, op. cit.: 4). “O comentário geral, em decorrência disto, é que a construção do
Hospital de Clínicas começava com uma demolição de si próprio” (Hassen, op. cit.: 89).
Figura 78: demolições da obra do Hospital de Clínicas – início 1953
(Paglioli, 1964: 278)
As exigências do reitor Paglioli quanto à transferência da responsabilidade da construção
foram apenas parcialmente cumpridas. O MES realmente foi liberado de suas atribuições e a
Companhia Constructora Nacional retomou a construção, ou melhor, a demolição da obra.
Todavia, o DASP, que por meio de sua Divisão de Edifícios Públicos, que havia ficado
responsável pela continuidade do projeto (Paglioli, op. cit.: 279), desrespeitou o compromisso
mantendo o arquiteto Jorge Moreira no desenvolvimento do projeto.
113
Em abril de 1953, durante uma palestra realizada no I Curso de Planejamento de Hospitais
107
,
Jorge Moreira realizou comparações entre o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e o Hospital
de Clínicas da Universidade do Brasil
108
. “São dois projetos grandes, (...) ainda não
completados (...) que estamos construindo” (Moreira, 1954, op. cit.: 347-52). “Em ambos já
estão sendo construídas as estruturas sem as instalações, mas os estudos feitos e as
providências tomadas permitirão fazê-las oportunamente, sem nenhum prejuízo para a sua
perfeita execução e eficiência” (idem, ibidem: 352). Sendo assim, verifica-se que após a
realização da última versão (assinada pelo arquiteto em 1952) ele admitiu que ainda estava
desenvolvendo o projeto.
Durante essa palestra, o arquiteto realizou diversos desenhos
109
ilustrando ambos hospitais.
Embora esquemáticos, eles apresentam informações que merecem serem registradas. O
esquema da situação (figura 79), corresponde ao Centro Médico apresentado em 1948
110
.
Entretanto, a rua interna paralela ao Hospital de Clínicas, que terminava em um cul-de-sac, se
estende até a av. Protásio Alves, e o acesso de ambulâncias e pacientes por essa avenida não
ocorre mais. Mas o que mais chama a atenção é a permanência da rua Projetada A, quando em
1949 já se verificava na planta de locação
111
a extensão da rua Ramiro Barcelos.
Figura 79: esquema da situação do Centro Médico – 1953
(Moreira, 1954: 347)
107
No livro Planejamento de Hospitais, organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil em 1954, encontra-se
compilados as palestras e os debates realizados no respectivo curso em São Paulo, de 13 a 17 de abril de 1953.
108
O Hospital de Clínicas da Universidade do Brasil faz parte da Cidade Universitária da Universidade do Brasil
localizada na Ilha do Fundão no Rio de Janeiro.
109
Os desenhos se referem à última versão de 1952.
110
Cf. vista superior da maquete do Centro Médico – [1948?] (figura 60).
111
Cf. planta de locação da barra vertical do Hospital de Clínicas – maio 1949 (figura 65).
114
Os esquemas em planta e em corte (figuras 80 e 81), possibilitam visualizar o conjunto da
edificação, confirmando algumas suposições realizadas na análise da última versão do projeto,
assim como compreender outras. Verifica-se a permanência do auditório trapezoidal; a
dimensão, a forma chanfrada e a sustentação por pilotis do volume
112
acoplado à fachada
nobre; e a permanência na placa horizontal do mesmo sistema de circulações separadas entre
pacientes externos e internos, assim como dos médicos, enfermeiros e estudantes. A base da
barra vertical, antes definida por colunata, praticamente desaparece com o grande aumento
das dimensões do volume térreo diante da fachada nobre (sudoeste). Isso evidencia que a
solução finalmente construída por outros arquitetos já havia sido prevista pelo próprio
Moreira.
Figura 80: esquema em planta do Hospital de Clínicas – 1953
(Moreira, 1954: 350)
Figura 81: esquema em corte do Hospital de Clínicas – 1953
(Moreira, 1954: 348)
Sendo assim, verifica-se que Moreira continuou desenvolvendo o projeto mesmo após a
solicitação de seu afastamento pelo reitor Paglioli. No Acervo de Jorge Machado Moreira
[JMM] no Núcleo de Pesquisa e Documentação [NPD] da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo [FAU] da Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ], encontram-se projetos
incompletos entre 1953 e 1955, que possuem o mesmo selo do DASP utilizado na última
versão
113
. Nesses documentos não consta a autoria do arquiteto, sendo possível que os técnicos
112
Um anteprojeto incompleto e sem data existente no Acervo de JMM no NPD, identifica no volume um
parking na extremidade esquerda, um pátio no centro e um hall principal na direita juntamente com outro pátio.
113
Cabe relembrar que na última versão do projeto atribuída a Jorge Moreira (1952) também não consta o nome
do arquiteto impresso no selo, mas somente sua assinatura no campo em aberto para o responsável técnico.
115
do DASP tenham desenvolvido o projeto baseando-se na versão pré-existente de 1952.
Igualmente é possível que Moreira ainda supervisionasse o desenvolvimento do projeto, pois
somente em 1958
114
outros arquitetos assumem o encargo. Entre as alterações verificadas
nesses projetos incompletos, destaca-se retificação do chanfro do volume acoplado à fachada
nobre da edificação, a retirada do auditório trapezoidal e o aumento do número de ligações
entre a barra vertical e a placa horizontal.
Independente de todas as alterações desenvolvidas por Jorge Moreira, a preferência do
arquiteto pela primeira versão do projeto do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (1942)
torna-se evidente pelas premiações que o projeto recebeu mesmo após já terem sido realizadas
alterações com vistas à execução. A primeira versão foi enviada para o VI Congresso Pan-
americano de Arquitetos em Lima (1947), recebendo o prêmio de honra (Hospital, 1947, op.
cit.: 14). No LIV Salão Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro (1949), Moreira recebeu
medalha de ouro igualmente com a primeira versão do projeto. “O projeto de construção
daquele hospital, de autoria do jovem arquiteto conterraneo, Jorge Machado Moreira,
constitui obra de arrojada envergadura e faz juz ao renome da moderna arquitetura
brasileira, tão louvada nos grandes centros culturais do mundo” [sic] (Premiado, 1949: 5).
Inclusive em publicações internacionais, como no livro A decade of contemporary
architecture, de Siegfried Giedion (1951), é apresentada a primeira versão do projeto
(Giedion, 1951: 194).
A arq. Sylvia Moreira
115
, sobrinha de Jorge Moreira, declarou que o tio negava verbalmente a
autoria do projeto do Hospital de Clínicas em execução. Demonstrando grande ressentimento
ao passar pelas obras durante suas visitas à cidade para rever a família, negava-se a olhar para
a construção e declarava repetidamente: Isso não é meu! Isso não é meu!”. Embora não seja
possível precisar quando Jorge Moreira foi definitivamente afastado, o fato é que após mais
de uma década o projeto não havia sido concluído, a obra estava sendo demolida para se
adequar às modificações de sua última versão e as alterações subseqüentes (realizadas por
outros arquitetos a partir de 1958) foram desenvolvidas sem a sua consultoria.
114
Cf. O projeto de Oscar Valdetaro e Roberto Nadalutti (capítulo 3.3).
115
Entrevista concedida ao autor em 15 de novembro de 2004.
3 O DESFECHO DO HOSPITAL DE CLÍNICAS
Concomitantemente à paralisação das obras do Hospital de Clínicas em 1951 e as demolições
em 1953, foram desenvolvidos outros projetos para as demais edificações do Centro Médico.
Realizados tanto pelo Governo Federal como pela Divisão de Obras da URGS, os projetos
desconsideraram o plano realizado por Jorge Moreira, comprovando a descontinuidade entre o
projeto original e seu posterior desenvolvimento. A transferência da responsabilidade da
construção do MES para a URGS em 1952 alterou definitivamente a condução do processo,
tanto para a edificação do Hospital de Clínicas como para o plano geral e suas respectivas
edificações que compõem o Centro Médico. As intervenções foram realizadas sem a
autorização do arquiteto, mas a improbabilidade da realização de seu plano já havia sido
constatada, principalmente pelos novos arruamentos que dividiam o terreno. Embora tenham
sido desenvolvidos outros projetos, esses nunca chegaram a ser implantados na íntegra,
resultando em um Centro Médico que segue diretrizes diferentes.
3.1 INTERVENÇÕES NO CENTRO MÉDICO
Desde o início dos trabalhos do prof. Souza Campos e do arq. Pujol Júnior para a realização
do Centro Médico, sempre houveram intervenções no plano de conjunto a ser seguido. As
diretrizes do Governo Federal estabeleciam a construção da Escola de Enfermagem
juntamente com o Hospital de Clínicas (tanto em Salvador
116
como em Porto Alegre
117
) sendo
que o arq. Evaristo de Sá desenvolveu os dois projetos. No plano local a construtora Barcellos
& Cia propôs a Escola de Medicina
118
. Contudo, nenhum desses projetos parecem terem sido
considerados por Jorge Moreira em seu Centro Médico. Embora não foram encontrados dados
sobre a coordenação entre esses projetos na década de 40, percebe-se que na década seguinte
eles permaneceram sendo desenvolvidos, tanto pela esfera federal como estadual.
116
Cf. perspectiva da Escola de Enfermagem da Faculdade de Medicina da Bahia – 1939 (figura 14).
117
O prof. Souza Campos alegou a realização de um anteprojeto para a Escola de Enfermagem de Porto Alegre
pelo arq. Evaristo de Sá em 1939, mas esse trabalho não foi localizado.
118
Cf. perspectiva da Escola de Medicina do Rio Grande do Sul – [1940?] (figura 16).
117
3.1.1 Intervenção federal
A Escola de Enfermagem (figura 82) e o Hospital de Tisiologia (figura 83), constituem
intervenções federais de origens diferentes para o Centro Médico, embora tenham sido
realizadas enquanto Moreira ainda desenvolvia a última versão do projeto do Hospital de
Clínicas sob a chancela do MES e depois do DASP. Concluído em 10 de fevereiro de 1951,
pelo Serviço Especial de Saúde Pública, é provável que essa Escola de Enfermagem não
possua relação com o projeto do arq. Evaristo de Sá da década anterior, pois resta apenas uma
fachada no Arquivo da Faculdade de Medicina de Porto Alegre [FMPA] sem discriminação
de autoria do projeto. Reivindicado desde a primeira iniciativa de construção do Hospital de
Clínicas pelo Governo Estadual em 1931, o Hospital de Tisiologia foi solicitado pelo Serviço
Nacional contra a Tuberculose [SNT] ao Governo Federal. Embora o projeto encontrado no
Arquivo da FMPA seja de 18 de agosto de 1953, igualmente sem autoria discriminada,
imagens da maquete já circulavam pela imprensa local em setembro do ano anterior.
Figura 82: fachada da Escola de Enfermagem – 1951
(Arquivo da FMPA)
Figura 83: vista da maquete do Hospital de Tisiologia – 1952
(Arquivo da FMPA)
Devido somente à existência da fachada da Escola de Enfermagem, pouco pode ser descrito
sobre o projeto. Entretanto, é possível perceber a utilização de elementos da linguagem
moderna como base parcial em pilotis, auditório como um volume independente e panos
horizontais envidraçados. A fachada identifica também uma rampa na base articulada por
pilotis e o coroamento recuado nas laterais do corpo do edifício. O projeto do Hospital de
Tisiologia foi desenvolvido pelo próprio SNT com capacidade para 60 leitos, o qual ficaria à
disposição dos professores e alunos na URGS (Hospital, 1952: 3). Igualmente com um
auditório exteriorizado da edificação, mas com forma e disposição distintas sobre pilotis, o
projeto apresenta empenas cegas em um corpo sem coroamento, exceto pelo volume da casa
de máquinas e reservatório superior. Uma laje de leve projeção no último pavimento avança
sobre a fachada realizando uma singela marcação.
118
Aparentemente, ambos projetos foram desenvolvidos na Capital Federal, sem que seja
identificada a localização específica no terreno para as edificações
119
. Dessa forma, os demais
projetos que acompanhariam o Hospital de Clínicas no Centro Médico estavam sendo
desenvolvidos sem que pudesse ser identificada uma coordenação de conjunto. Após a
transferência da responsabilidade da construção do Hospital de Clínicas do MES para a
URGS em 1952, a localização dessas edificações passou a ser decidida pela Divisão de Obras
da universidade. Os projetos realizados pelo Governo Federal (Escola de Enfermagem e
Hospital de Tisiologia) passaram a configurar situações diferentes nos estudos realizados para
o Centro Médico. Sendo assim, novos projetos foram realizados pela Divisão de Obras
ampliando ainda mais o quadro das intervenções no terreno.
3.1.2 Intervenção estadual
A planta geral do terreno (figura 84), encontrada no Arquivo da Sub-Prefeitura do Campus
Saúde, apresenta o Hospital de Clínicas na esquerda e o Hospital de Tisiologia ao centro.
Embora não há atribuição de responsabilidade técnica na planta, no selo é mantida a sigla do
MES. Verifica-se também a existência de um visto do reitor Paglioli, em 4 de dezembro de
1952. Dessa maneira, comprova-se que logo após a última versão do projeto de Moreira, a
URGS passou a tomar as decisões quanto ao Centro Médico, pois o Hospital de Clínicas havia
ficado sob o encargo do DASP.
119
A realização de projetos arquitetônicos pelo Governo Federal sem considerar com atenção o terreno era
prática corrente naquela época. Como exemplo pode ser citado o caso da Faculdade de Arquitetura da URGS,
que na década de 50, recebeu um projeto que não se adaptou “ao terreno a que fôra destinada a construção, por
insuficiência de área [sic] (Paglioli, 1964: 122).
119
Figura 84: planta geral do terreno do Centro Médico – 1952 (Arquivo
da Sub-Prefeitura do Campus Saúde)
No desenho constam apenas a barra vertical do Hospital de Clínicas e uma primeira
possibilidade de implantação do Hospital de Tisiologia na parte central superior do terreno,
sendo apresentado o prolongamento da rua Dona Eugênia para acessar essa edificação. O
arroio Dilúvio permanece com seu traçado original, não sendo retificado ainda. Da mesma
forma, a rua Ramiro Barcelos é representada incompleta, sem suas delimitações constituídas.
Uma faixa paralela à rua São Manoel permanece demarcada, representando os terrenos que
ainda necessitavam ser desapropriados.
No ano seguinte, uma planta um pouco mais elaborada, mas também sem atribuição de
responsabilidade técnica, representa o Centro Médico da Divisão de Obras da URGS (figura
85) alterando a localização do Hospital de Tisiologia [9] (agora mais próximo a av. Ipiranga)
e incluindo a Escola de Enfermagem [8] (próxima ao encontro da av. Jerônimo de Ornelas
com a rua Ramiro Barcelos). O Hospital de Clínicas [1] foi representado com o volume
acoplado à fachada nobre (sudoeste) retificado, não mais chanfrado como na última versão do
projeto de Jorge Moreira. Sendo assim, os desenhos incompletos encontrados no Acervo de
JMM no NPD, realizados pelo DASP entre 1953-55
120
, eram provavelmente de conhecimento
da URGS.
120
Cf. O final de uma trajetória (capítulo 2.3.1).
120
Figura 85: planta do Centro Médico da Divisão de Obras da URGS –
1953 (Arquivo da Sub-Prefeitura do Campus Saúde)
1-Hospital de Clínicas 6-Faculdade de Odontologia
2-Hospital Privado 7-Serviço Industrial
3-Maternidade 8-Escola de Enfermagem
4-Neuroclínica 9-Hospital de Tisiologia
5-Faculdade de Medicina 10-Faculdade de Farmácia
O plano retoma a situação da primeira versão do projeto de Jorge Moreira
121
apenas pelo
prolongamento da av. Jerônimo de Ornelas até se encontrar com o Hospital de Clínicas.
Mediante a extensão da rua Ramiro Barcelos pouco pode ser identificado com o plano do
Centro Médico de Moreira
122
, exceto pelos fragmentos de rédents encontrados no Hospital
Privado [2] (Clínicas Especializadas para Moreira), Maternidade [3] e Neuroclínicas [4]. A
Faculdade de Medicina [5] e Odontologia [6] foram separadas em edificações distintas, mas
próximas, onde se mantém a relação de barra vertical com placa horizontal. A edificação do
Serviço Industrial [7] (Serviços Gerais no Centro Médico de Jorge Moreira) permanece, mas
sua localização foi invertida para a outra extremidade da barra vertical do Hospital de
Clínicas. A Faculdade de Farmácia [10] indica a primeira edificação do Centro Médico
realizada por uma equipe de arquitetos locais.
O prolongamento da rua Ramiro Barcelos pode ser observado até se encontrar com a av.
Ipiranga, antecipando-se à própria Prefeitura Municipal, que irá solicitar sua extensão (ao
menos oficialmente) somente no Plano Diretor do Município de 1959
123
. Outra modificação
121
Cf. planta de situação e cobertura do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 (figura 29).
122
Cf. vista superior da maquete do Centro Médico – [1948?] (figura 60).
123
Cf. mapa parcial do Plano Diretor de Porto Alegre com a extensão da rua Ramiro Barcelos em destaque –
1959 (figura 92).
121
no traçado viário proposto nesse plano se refere à extensão da rua Felipe de Oliveira,
dividindo o terreno em duas partes desiguais.
O plano permaneceu em desenvolvimento, sendo que algumas edificações já haviam sido
fixadas no terreno definitivamente. Dessa forma, a planta do Centro Médico de 1955 (figura
86), igualmente sem atribuição de responsabilidade técnica, representa as únicas edificações
que tiveram suas obras ao menos iniciadas
124
. Conforme as fichas cadastrais da Sub-Prefeitura
do Campus Saúde, apenas as fundações da Escola de Enfermagem foram executadas, sendo
que no início da década de 60 foi proposto seu aproveitamento para uma capela
125
. As obras
do Hospital de Tisiologia foram iniciadas em 1953, paralisadas pouco tempo depois, sendo o
projeto revisto na década de 60 para a mesma função
126
. A construção da Faculdade de
Farmácia iniciou em 1954 e foi concluída em 1958.
Figura 86: planta do terreno do Centro Médico – 1955 (Arquivo da
Sub-Prefeitura do Campus Saúde)
As geometrias de orientações diferentes, o posicionamento aleatório no terreno e o próprio
estilo arquitetônico distinto, expressa a falta de uma visão de conjunto na implementação do
Centro Médico. Mesmo assim, com uma pequena variação apenas na disposição de algumas
edificações, o plano de 1953 foi transformado em uma maquete (figura 87), que o reitor
Paglioli apresentava ao longo dos anos, sucessivamente para as autoridades que visitavam a
124
Na parte inferior esquerda da planta pode ser verificado o armazém da Campal S.A., estabelecimento de
Manoel Antônio Vargas, filho de Getúlio Vargas, cuja construção efêmera por dois anos foi construída no
terreno do Centro Médico mediante concessão do reitor Paglioli (Vargas, 1952: s.p.).
125
Cf. vista da maquete da Capela – 1959-60 (figura 127).
126
Cf. vista da maquete do Hospital de Tisiologia – 1959-60 (figura 126).
122
URGS. Entre essas se destacam o Governador do Estado Ernesto Dornelles e o Presidente da
República Juscelino Kubitschek (figura 88 a 89).
Figura 87: maquete do Centro Médico – 1953 (Algumas, 1960: 15)
Figura 88: maquete do Centro Médico apresentada pelo reitor Paglioli
ao governador do estado Ernesto Dornelles – 1953
(Espíndola, 1979: 67)
Figura 89: maquete do Centro Médico apresentada pelo reitor Paglioli
ao Presidente da República Juscelino Kubitschek – 1957
(Palavras, 1957: 31)
Dentro do período de construção do Hospital de Clínicas, a Faculdade de Farmácia (figura 90)
e a Faculdade de Odontologia (figura 91), foram as únicas intervenções no Centro Médico
123
desenvolvidas por arquitetos formados em Porto Alegre. A Faculdade de Farmácia foi
projetada por Lincoln Ganzo de Castro
127
e Flávio Figueira Soares
128
em 1953, sendo premiada
com a Menção Honrosa no I Salão Pan-Americano de Arte em Porto Alegre em 1958 (Xavier,
op. cit.: 107). A Faculdade de Odontologia foi projetada pelo arq. Emil Bered
129
em nível de
anteprojeto em 1958, sendo concluída em 1960, ano que foi premiada com Medalha de Prata
no I Salão de Arquitetura do Rio Grande do Sul (idem, ibidem: 159).
Figura 90: edifício da Faculdade de Farmácia – 1953
(Xavier, 1987: 106)
Figura 91: edifício da Faculdade de Odontologia – 1958-60
(Xavier, 1987: 158)
O projeto da Faculdade de Farmácia apresenta estrutura independente, possibilitando a
aplicação da fachada livre. A edificação é marcada pela horizontalidade da marcação das
esquadrias em contraste com a verticalidade da circulação que contém, além da escada e do
elevador, os sanitários em patamares alternados. Situadas nas duas laterais da edificação, as
torres de circulação vertical emolduram os pavimentos principalmente por se estender sobre a
cobertura, unificando-se em um único volume. A edificação apresenta um sistema de brise-
soleil vertical na fachada oeste, sendo que nas demais faces o prolongamento externo das lajes
de entrepiso possibilita a proteção e reforça a horizontalidade da edificação. Projetada
inicialmente com quatro pavimentos, a predominância horizontal foi rompida pelo acréscimo
de mais dois durante sua construção. O terraço-jardim, proposto sobre a base da edificação em
pilotis, também foi alterado, sendo fechado posteriormente. Realizado mais de uma década
após a primeira versão do projeto de Jorge Moreira para o Hospital de Clínicas, a Faculdade
de Farmácia destaca-se pelo maior conservadorismo plástico e pela independência em relação
à estética sugerida no projeto de Moreira.
127
Faculdade de Arquitetura da URGS em 1953 (Universidade, 2002: 245).
128
Faculdade de Arquitetura da URGS em 1952 (Luccas, 2004: 217).
129
Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre em 1949 (Universidade, 2002, op. cit.: 245).
124
A Faculdade de Odontologia não consta no plano do Centro Médico de 1953, pois sua
elaboração é posterior, mas ainda se enquadra no período de construção do Hospital de
Clínicas. A edificação configura-se pela tensão da diferença de altura entre uma barra vertical
e uma placa horizontal que se organiza em torno de um pátio. A sobreposição entre esses
elementos ocorre de forma defasada, possibilitando a configuração de pilotis em uma parte da
barra vertical. A fachada sudoeste da barra vertical possui um sistema de brise-soleil vertical
contínuo em toda a altura da edificação. Na fachada nordeste, a proteção ocorre por um
conjunto de lâminas horizontais rentes às esquadrias. O volume da circulação vertical,
composto por dois elevadores e uma escada, apresenta-se exteriorizado do corpo da
edificação, sendo parcialmente inclinado em planta. Conforme as fichas cadastrais da Sub-
Prefeitura do Campus Saúde, as obras da edificação iniciaram em 1961, foram paralisadas em
1963 e reiniciadas em 1965, sendo finalizadas em 1968.
Conforme os arquitetos Bered, Castro e Soares
130
, no momento que os projetos eram entregues
à Divisão de Obras da URGS, alterações eram realizadas sem consulta prévia aos autores.
Dessa forma, pode-se observar a inclusão de um auditório trapezoidal separado do corpo da
edificação da Faculdade de Farmácia conforme o plano de 1953 (que acabou não sendo
executado). Segundo os arquitetos, eles não possuíam conhecimento do plano de conjunto
para o Centro Médico, sendo que a Faculdade de Farmácia teve sua orientação estabelecida
por questões de insolação e direção dos ventos, enquanto a Faculdade de Odontologia
considerou a estrutura do Hospital de Clínicas que estava em construção.
3.1.3 Intervenção municipal
O prolongamento da rua Ramiro Barcelos foi iniciado no final da década de 40 mediante
convênio assinado com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que em troca de uma área de
aproximadamente dois hectares, providenciaria a terraplanagem na parte sul do terreno,
próximo ao arroio Dilúvio (Paglioli, op. cit.: 267). Entretanto, as obras não foram concluídas,
ficando incompletas por muitos anos do eixo da av. Jerônimo de Ornelas em direção às
extremidades do terreno. Dessa forma, os limites do terreno necessitaram ser delineados por
meio de uma cerca de arame farpado, que teve que passar sobre ruas pré-existentes de um
loteamento clandestino que se erguia no terreno (idem, ibidem: 272-3). Por meio da lei
130
Entrevistas concedidas ao autor em 16 de setembro, 7 e 19 de outubro de 2004 respectivamente.
125
municipal n. 2.046, de 30 de dezembro de 1959, que instituiu o Plano Diretor de Porto Alegre
e fixou normas para sua execução, pôde-se verificar pela parcela do mapa do plano (figura 92)
a intenção de abertura da rua. Embora o mapa seja de 1959, torna-se pertinente observar que o
Centro Médico foi representado conforme o plano do Centro Médico de 1953. Além do
Hospital de Clínicas, permanece a Escola de Enfermagem, o Hospital de Tisiologia e a
Faculdade de Farmácia, não sendo representada ainda a Faculdade de Odontologia, pois
estava sendo projetada. Verifica-se também a permanência da extensão da rua Felipe de
Oliveira, dividindo do Centro Médico em partes desiguais.
Figura 92: mapa parcial do Plano Diretor de Porto Alegre com a
extensão da rua Ramiro Barcelos em destaque – 1959
(Porto Alegre, 1964: s.p.)
Em um relatório ao Prefeito José Loureiro da Silva, em 22 de maio de 1960, o engenheiro da
Secretaria Municipal de Obras e Viação avaliou a faixa de terreno da URGS, propondo a
permuta da área que seria ocupada pela abertura da rua Ramiro Barcelos, por terrenos e
serviços de saneamento ou terraplanagem. No final do relatório observa-se que embora a
Prefeitura Municipal se interessasse pela extensão do respectivo trecho da rua, essa já havia
sido considerada
131
“na urbanização daquêle local, conforme tivemos oportunidade de
constatar nas plantas que examinamos quando da visita que realizamos as obras do Hospital
131
Cf. planta do Centro Médico da Divisão de Obras da URGS – 1953 (figura 85).
126
de Clínicas” [sic] (Haetinger, 1960: s.p.). Como resultado, a lei municipal n. 2.411, de 22 de
agosto de 1962, autorizou o município a doar ao patrimônio da URGS terrenos na rua Gomes
Jardim, na av. Desembargador André da Rocha e sobras de lotes no terreno praticamente
triangular resultantes da divisão que a curva da rua Ramiro Barcelos realizaria no terreno do
Centro Médico próximo à av. Ipiranga.
3.2 O REINÍCIO DAS OBRAS DO HOSPITAL DE CLÍNICAS
Em meados de 1952, Jorge Moreira solicitou a demolição de parte da construção para adequá-
la a última versão do projeto. Iniciadas em 1953, após um período conturbado que resultou na
transferência da responsabilidade da construção do Hospital de Clínicas do MES para a
URGS, fez-se necessário a realização de um novo estaqueamento. Todavia, outro problema
causou nova paralisação da obra. As estacas que permaneceram haviam subido 15cm. do seu
nível original (figura 93), “fenômeno que foi motivo de sérias apreensões, tanto da parte de
Estacas Franki como da Comp. Constructora Nacional” (Paglioli, op. cit.: 277). Não
confiando na solidez do estaqueamento, a construtora não quis prosseguir os trabalhos. Sendo
assim, foi realizado um teste de carga de prova no final do ano de 1953 (figura 94). O
processo durou praticamente todo o ano de 1953, resultando na assinatura de um termo de
responsabilidade entre as empresas. Mediante isso, no início de 1954 a Companhia
Constructora Nacional retomou a execução da obras (idem, ibidem: 279). Na medida em que a
construtora realizava a construção, o DASP ficara incumbido de desenvolver os projetos
conforme acordo firmado com o reitor Paglioli (ibidem, loc. cit.: 276-7).
127
Figura 93: situação das estacas do Hospital de Clínicas – abr. 1953
(Arquivo da FMPA)
Figura 94: carga de prova das estacas do Hospital de Clínicas – nov.
1953 (Arquivo da FMPA)
Ao DASP foi atribuído o desenvolvimento dos projetos arquitetônico e de instalações, sendo
que a Companhia Constructora Nacional, além da construção, ficou responsável pelo
desenvolvimento do projeto estrutural da barra vertical. Embora um projeto estrutural
132
tivesse sido realizado pela construtora devido à concorrência pública do final de 1950, por
causa das alterações referentes à última versão de Moreira, um novo projeto foi necessário.
Dessa maneira, em 1953 a construtora realizou outro projeto estrutural que difere do projeto
arquitetônico de Moreira apenas pela subtração do décimo quarto pavimento. Para a
apresentação das pranchas, a barra vertical foi sertorizada em três alas: central, direita e
esquerda. Contudo, as alas das extremidades foram subdivididas em dois trechos: I e II.
A prancha do trecho I da ala esquerda (figura 95) sintetiza o andar tipo
133
da edificação,
conforme a última versão de Moreira. A grelha ortogonal respeita o afilamento das lâminas
verticais e um negativo
134
na laje cria uma marcação horizontal em cada entrepiso. Mais ao
centro do desenho, encontra-se a caixa dos elevadores e o vazio que comporta a escada. Na
fachada oposta verifica-se um console no meio da viga para acoplar os montantes das
esquadrias da fachada envidraçada e as colunas cedem lugar para uma seqüência de pilares
retangulares na extremidade esquerda do pavimento.
132
No Acervo de JMM no NPD encontra-se o projeto estrutural realizado pela Companhia Constructora
Nacional em 1951, referente à estrutura de concreto armado da barra vertical do Hospital de Clínicas.
133
Cf. planta do 3º/11º pavimento da barra vertical do Hospital de Clínicas – última versão – 1952 (figura 72).
134
Cf. corte transversal da barra vertical do Hospital de Clínicas – última versão – 1952 (figura 77).
128
Figura 95: projeto estrutural do Hospital de Clínicas [trecho I – ala
esquerda] – fev. 1953 (Arquivo do HCPA)
A construção da barra vertical seguiu o projeto realizado pela Companhia Constructora
Nacional, sendo realizada em um ritmo normal (figuras 96 e 97). Exceto pela subtração de um
único andar, a estrutura dessa parte da edificação seguiu as determinações do projeto da
última versão de Jorge Moreira. Ao ter “uma frente de mais de 150 metros, é êste o maior
monobloco de concreto armado do Sul do país” [sic] (Estrutura, 1957: 47).
Figura 96: vista noroeste da construção do Hospital de Clínicas – jul.
1954 (Arquivo do HCPA)
Figura 97: vista nordeste da construção do Hospital de Clínicas – out.
1954 (Arquivo do HCPA)
129
No início de 1955, a estrutura da barra vertical estava praticamente concluída, faltando
somente parte dos últimos pavimentos (figura 98). A vista geral do Centro Médico identifica
também o processo de abertura da rua Ramiro Barcelos: do eixo da av. Jerônimo de Ornelas
para as extremidades do terreno. Próximo da av. Protásio Alves a rua é interrompida por um
conjunto de edificações e próxima da av. Ipiranga ela se extingue em uma ruela em frente à
construção do Hospital de Tisiologia. Na face oposta do terreno, verificam-se ao longo da rua
São Manoel os lotes que ainda não haviam sido desapropriados, sendo que ao fundo desses,
encontra-se em construção a Faculdade de Farmácia.
Figura 98: vista geral do Centro Médico – 1955 (Estrutura, 1957: 38)
O ritmo das obras prosseguia normalmente até que no final de 1955, a estrutura da barra
vertical estava completa (figuras 99 e 100). Contudo, o DASP ainda não havia concluído os
projetos que lhes haviam sido incumbidos. “Mensalmente íamos ter com o Diretor e este,
cortezmente, nos recebia e afirmava que no próximo mês tudo estaria concluído. A obra se
ressentia no seu ritmo, até que chegou a crise de paralização por falta de projeto” [sic]
(Paglioli, op. cit.: 279). “A falta de projeto retardou a obra nos anos de 1956 a 1958” (idem,
ibidem: 282), mas a Companhia Constructora Nacional permaneceu executando nesse período
as alvenarias internas do andar tipo da barra vertical conforme os projetos incompletos
desenvolvidos pelo DASP, mediante nova concorrência pública (Companhia, 1956: s.p.).
130
Figura 99: vista sudoeste da construção do Hospital de Clínicas – out.
1955 (Arquivo do HCPA)
Figura 100: vista nordeste da construção do Hospital de Clínicas – out.
1955 (Arquivo do HCPA)
Devido ao não cumprimento pelo DASP do compromisso firmado quando ocorreu a
transferência da responsabilidade da construção do Hospital de Clínicas do MES para a
URGS em 1952, o reitor Paglioli decidiu abandoná-lo e contratar uma empresa especializada
em construção hospitalar. Dessa forma, a empresa paulista Fomento Industrial S.A.
[FOMISA] “veio, então, suprir essa falha” (Paglioli, op. cit.: 282), sendo que o “têrmo de
convênio só foi assinado em janeiro de 1958” [sic] (idem, ibidem: 279).
3.3 O PROJETO DE OSCAR VALDETARO E ROBERTO NADALUTTI
O projeto da empresa FOMISA foi desenvolvido pelos arquitetos Oscar Valdetaro
135
e
Roberto Nadalutti
136
, cujo convênio firmado estabelecia que além do Hospital de Clínicas
fosse realizado também o projeto de um Hospital Privado e do Pavilhão Mecânico (ibidem:
279). O trabalho foi iniciado imediatamente após o contrato com a realização do levantamento
daquilo que já havia sido construído. Concomitantemente, o consultor hospitalar José Gabriel
Borba desenvolveu um estudo de organização da edificação, buscando conservar “o máximo
das paredes já anteriormente levantadas” (Borba, 1959: VI). Posteriormente a realização dos
projetos estabelecidos pelo contrato, um Plano Diretor para o Centro Médico foi proposto
pelos arquitetos, mas permanecendo apenas em nível de anteprojeto.
135
“Arquiteto mineiro radicado no Rio de Janeiro, onde concluiu seu curso, Oscar Valdetaro foi autor de
inúmeras obras hospitalares, tendo sido responsável, no Rio Grande do Sul, entre outras, pelo Plano Diretor da
Cidade Universitária de Santa Maria (Xavier, op. cit.: 168).
136
O arquiteto projetou com Valdetaro o Hospital Santa Mônica de Belo Horizonte (Corona, 1972: 263).
131
3.3.1 O Hospital de Clínicas (1958)
O projeto do Hospital de Clínicas foi dividido em três blocos (figura 101 e 102)
137
. O Bloco 1
representa a barra vertical cuja estrutura já havia sido construída, sendo essa dividida em três
alas: central, direita e esquerda. O Bloco 2 configura o volume acoplado à fachada nobre da
edificação. O Bloco 3 corresponde à junção das pontes com a placa horizontal, sendo dividido
em sete trechos: de A a E para as pontes e F e G para a placa horizontal.
Figura 101: esquema de setorização do projeto do Hospital de Clínicas
– 1958 (Arquivo do HCPA)
Figura 102: vista norte da maquete do Hospital de Clínicas – 1958
(Arquivo do HCPA)
O projeto segue as indicações dos últimos trabalhos assinados por Jorge Moreira. Contudo, o
projeto demonstra que alguns itens dos projetos incompletos desenvolvidos pelo DASP, entre
1953-55
138
, também foram considerados pelos arquitetos Valdetaro e Nadalutti: a retificação
do chanfro do volume acoplado à fachada nobre da edificação, a retirada do auditório
trapezoidal e a ampliação do número de ligações entre a barra vertical e a placa horizontal.
Mesmo com a estrutura da barra vertical construída, o que determinou imposições claras aos
arquitetos, a manutenção das dimensões em planta dos dois volumes horizontais reforçam a
hipótese da consideração dos projetos anteriores.
A faixa da base em loggia da barra vertical (Bloco 1) na fachada nobre da edificação já havia
sido prejudicada pelo próprio arquiteto Jorge Moreira desde a inclusão do volume acoplado
139
(Bloco 2). Este apresenta uma galeria coberta em toda sua extensão, onde ocorrem os acessos
137
Cf. vista sul do Hospital de Clínicas na vista sul da maquete do Centro Médico – 1959-60 (figura 119).
138
Cf. contexto das notas 112 e 113 em O final de uma trajetória (capítulo 2.3.1).
139
Cf. estudo da planta de situação do Centro Médico – [1948?] (figura 61) e estudo da fachada do Hospital de
Clínicas – [1948?] (figura 62).
132
que foram concentrados nesse bloco. Uma das grandes diferenças deste projeto encontra-se na
retirada da sustentação por pilotis aberto
140
, tanto do Bloco 2 como nas pontes (Bloco 3 –
trechos A a E). Por meio dessa alteração, toda a edificação passa a ficar plenamente assentada
do solo, impossibilitando a permeabilidade visual oferecida pelos pilotis, fazendo com que o
Hospital de Clínicas se torne uma massa única e pesada. Essa sensação é ampliada
principalmente pela inexistência da nítida separação entre os Blocos 1 e 3, embora isso
também já ocorresse nas revisões do trabalho de Moreira. A volumetria da placa horizontal
(Bloco 3 – trechos F e G) passa a ter dois pavimentos com um subsolo, sem a existência de
rampas laterais que delineavam o perfil ascendente desse bloco.
Em ambas fachadas longitudinais do Bloco 1 foram realizadas alterações que
descaracterizaram completamente as intenções de Moreira. Na fachada nordeste os negativos
derivados do prolongamento da laje que constitui a parte horizontal da grelha ortogonal
141
foram preenchidos, marcando horizontalmente a fachada e alterando a percepção da grelha.
Embora na estrutura da fachada sudoeste os consoles
142
para a sustentação dos montantes das
esquadrias que formariam a fachada envidraçada existissem, foram propostos peitoris de
alvenaria nas janelas, definindo a marcação horizontal nessa fachada também. Dessa forma, a
ausência do sistema de brise-soleil, das básculas e das janelas desde o piso
143
, previstas por
Moreira, determinou o empobrecimento desta fachada.
O programa manteve-se praticamente inalterado, concentrando as distintas funções em cada
bloco, como nos projetos anteriores. Devido à prévia construção da estrutura, o Bloco 1 sofre
poucas alterações, mantendo na essência a mesma distribuição. Com a subtração do décimo
quarto pavimento durante a execução da estrutura do Bloco 1, a ala recreativa deixou de
ocorrer na edificação, exceto por uma sala de jogos infantil no décimo segundo pavimento do
Bloco 1. Cozinha e refeitórios, que não mais constavam nos últimos trabalhos de Moreira,
foram retomados no térreo do Bloco 3, assim como o museu, que também foi reconsiderado
no décimo terceiro pavimento do Bloco 1.
Os acessos à edificação foram concentrados no Bloco 2, não mais existindo a entrada e a saída
independente para os ambulatórios pela rua São Manoel
144
. Devido ao aumento de ligações
140
Cf. esquema em corte do Hospital de Clínicas – 1953 (figura 81).
141
Cf. detalhe ampliado do corte transversal da barra vertical do Hospital de Clínicas – 1952 (figura 77).
142
Cf. projeto estrutural do Hospital de Clínicas [trecho I – ala esquerda] – fev. 1953 (figura 95).
143
Cf. detalhe ampliado do corte transversal CD do Hospital de Clínicas – 1942 (figura 41).
144
Cf. esquema em planta do Hospital de Clínicas – 1953 (figura 80).
133
entre os Blocos 1 e 3, o auditório passa para o interior do Bloco 2, cujo posicionamento separa
o acesso para o ambulatório do acesso social. O Bloco 3 mantém, além do programa, a lógica
de separação das circulações entre pacientes externos e internos, assim como dos médicos,
enfermeiras e estudantes. Todavia, a distribuição é distinta, sendo essa a parte deste projeto
que mais se distancia dos trabalhos anteriores.
A planta do primeiro pavimento dos Blocos 1 e 2 (figura 103), demonstra que a unificação
espacial identificada em volume também ocorre no plano. A faixa da base em loggia na ala
direita do Bloco 1 permanece, mas perde sua função para a galeria coberta disposta na face do
Bloco 2 [1]. Os acessos à edificação foram concentrados nessa galeria, sendo que o do
ambulatório ocorre mais à esquerda [2] e o acesso principal mais à direita [3]. Dessa forma, o
auditório tem a função de dividir o Bloco 2 em dois grande espaços, um para a recepção e
registro dos pacientes e outro para o saguão nobre da edificação. Esse tipo de solução
fragmenta as unidades volumétricas do edifício, tornando-as irreconhecíveis na experiência do
espaço interno.
Figura 103: planta do 1
o
pavimento dos Blocos 1 e 2 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
O saguão nobre possui dupla altura indicando seu caráter público, reforçado pela
possibilidade da área ser utilizada também para exposições. Embora a escada de acesso à
sobreloja esteja perpendicular ao acesso, sua proximidade ao mesmo induz a imediata
ascensão rumo ao auditório e biblioteca, abreviando desde cedo a experimentação do nível do
térreo e as possibilidades de uma promenade architecturale. Tanto externamente como
internamente, as colunas, colunetas e pilares retangulares arredondados nas extremidades com
134
diferentes dimensões estabelecem uma coordenação desarmônica, principalmente na linha de
interpenetração dos blocos. À direita do saguão existem agências bancárias, centrais
telefônicas e sanitários, sendo que o bar desse espaço mais público fica à direita dos
elevadores. Na outra lateral dos elevadores estão os vestiários para estudantes e nas
extremidades do Bloco 1 ocorrem a rouparia central à direita e salas de exames à esquerda,
denunciando também a interpenetração funcional do Bloco 3 no Bloco 1. Dessa forma,
verifica-se que a falta de harmonia não corre somente em nível estético, mas também
funcional, pois funções públicas e funções hospitalares alternam-se sem limites de separação
entre os blocos.
Uma porta na extremidade direita do Bloco 1 [4] prevê a ligação com o Hospital Privado, que
se encontra nessa lateral da edificação
145
. Sendo assim, outra interpenetração é proposta,
desqualificando ainda mais a autonomia das partes que compõem a edificação do Hospital de
Clínicas. Todas as passagens ao fundo do Bloco 1 estabelecem ligações com o primeiro
pavimento do bloco 3
146
. Na passagem [5] ocorre a ligação com a cozinha (trecho A), em [6]
com a lavagem (trecho B), em [7] com os refeitórios (trecho C) e em [8] com os vestiários dos
enfermeiros e auxiliares (trecho D). As últimas duas passagens estabelecem ligações
independentes entre médicos, enfermeiros e estudantes [9] dos pacientes [10] para a triagem
(trecho E) do ambulatório (trechos F e G).
A planta do segundo pavimento dos Blocos 1 e 2 (figura 104), mantém a mesma prumada das
paredes do andar inferior. No Bloco 2, sobre a galeria externa do térreo, ocorre o foyer do
auditório, contido em uma faixa retangular paralela à escada de acesso à sobreloja. No outro
lado do auditório encontram-se a biblioteca e o arquivo, sendo que na extremidade do bloco
estão situadas partes dos quartos para as residências médicas. Na ala direta do Bloco 2
localiza-se a administração e na ala esquerda, alinhado com o auditório, os vestiários dos
médicos. A passagem para o Hospital Privado [1] também permanece nesse andar. Nos
trechos A a D, interligados pelas passagens [2 a 6], ocorrem os laboratórios específicos dos
serviços técnico-científicos no segundo pavimento do Bloco 3
147
, com exceção do trecho E
que representa a continuidade dos quartos da residência médica ligados pela passagem [7]. O
145
Cf. estudo da fachada sudoeste do Hospital de Clínicas e Hospital Privado – 1958 (figura 115) e estudo da
fachada sudeste do Hospital de Clínicas e Hospital Privado – 1958 (figura 116).
146
Cf. planta do 1
o
pavimento do Bloco 3 do Hospital de Clínicas – 1958 (figura 112).
147
Cf. planta do 2
o
pavimento do Bloco 3 do Hospital de Clínicas – 1958 (figura 113).
135
trecho central (C) apresenta duas ligações [4 e 5], pois a primeira vincula-se à circulação geral
dos pacientes e a segunda estabelece ligação interna aos laboratórios daquele trecho.
Figura 104: planta do 2
o
pavimento dos Blocos 1 e 2 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
Embora a representação da planta do subsolo do Bloco 1 (figura 105), sugira que apenas nas
extremidades existam ligações com o subsolo do Bloco 3
148
, na verdade elas ocorrem diversas
vezes ao longo de toda sua extensão, inclusive nos vazios entre os trechos A a E. Para
compensar a altura que o piso semi-enterrado
149
mantinha em relação ao térreo, pois a
estrutura já havia sido construída, foi necessário um aterro para nivelar o terreno com o térreo
dos Blocos 1 e 2. Em toda a extensão da parte inferior da planta verifica-se contrafortes
estruturais, exceto na parte central onde existem os reservatórios e a central de bombas. A
planta distribui funções basicamente de serviços gerais, como almoxarifados, depósitos e
central de calefação. Entretanto, em sua extremidade direita localiza-se o museu, cujo espaço
que era tratado no projeto de Moreira (exceto na última versão) de forma monumental, mais
se parece com um mero depósito.
148
Cf. planta do subsolo do Bloco 3 do Hospital de Clínicas – 1958 (figura 114).
149
Nas versões anteriores o piso é semi-enterrado para possibilitar iluminação e ventilação direta ao pavimento,
não sendo mais necessário neste projeto pela existência dos vazios entre os trechos A e E do Bloco 3.
136
Figura 105: planta do subsolo do Bloco 1 do Hospital de Clínicas –
1958 (Arquivo do HCPA)
As alvenarias internas executadas entre 1956 e 1958, antes da contratação da empresa
FOMISA, foram realizadas principalmente entre o terceiro e o décimo primeiro andar, ou
seja, o andar tipo do projeto de Moreira. Conforme orientação do consultor hospitalar (Borba,
loc. cit.: VI), os arquitetos Valdetaro e Nadalutti procuraram interferir o mínimo possível
nessas alvenarias pré-existentes. Contudo, dos nove pavimentos que formam o andar tipo
(contendo as enfermarias), o terceiro e o décimo primeiro são os que sofreram as maiores
alterações para se adequarem às novas especificidades. O terceiro pavimento (figura 106),
representa a enfermaria particular com banheiros internos nos apartamentos. Do quarto ao
décimo pavimento (figura 107), ocorrem as enfermarias padrão, conformando o atual andar
tipo. O décimo primeiro pavimento (figura 108), configura a enfermaria obstétrica.
Independente dessas modificações internas, não ocorre nenhuma distinção entre esses
pavimentos externamente, sendo com que os mesmos permaneçam fazendo parte do corpo da
edificação em conjunto com o décimo segundo e o décimo terceiro pavimento.
A enfermaria particular apresenta as maiores modificações na distribuição interna, pois a
circulação de serviço rente à fachada nobre da edificação é fechada para a ampliação no
número de quartos, mantendo apenas a circulação central. Os apartamentos apresentam seis
classes distintas, mas o número de leitos não é discriminado, impossibilitando sua contagem.
A função didática na enfermaria particular é suprimida, mas nas demais ocorrem salas de aula
em forma de anfiteatro em cada lateral do hall dos elevadores, mantendo-se as salas para
professores e assistentes. A enfermaria padrão sofre menos interferência, permanecendo as
duas circulações, assim como o posicionamento dos serviços e dos quartos que são
padronizados com três leitos cada, totalizando 39 por enfermaria incluindo a observação. Na
ausência do número de leitos da enfermaria particular e desconsiderando a enfermaria
obstétrica, a capacidade da edificação é de 546 leitos. A enfermaria obstétrica apenas
subdivide os quartos da enfermaria padrão, permanecendo idêntica no restante.
137
Figura 106: planta do 3
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
Figura 107: planta do 4
o
/10
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
Figura 108: planta do 11
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
O décimo segundo (figura 109) e a do décimo terceiro pavimento (figura 110), apresentam
novamente pequenas alterações por também possuírem parte das alvenarias realizadas. As
vinculações como andares complementares permanecem, sendo as salas de aula mantidas e as
salas cirúrgicas ampliadas para 11 unidades devido à concentração da esterilização no
pavimento superior, ao lado das salas de observações que foram conseqüentemente reduzidas.
Na extremidade da ala esquerda é retomada parte da ala recreativa com uma sala de jogos
infantil e uma sala de estar dos professores. O museu também foi retomado nessa mesma ala,
mas ocupando somente o pavimento superior.
138
Figura 109: planta do 12
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
Figura 110: planta do 13
o
pavimento do Bloco 1 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
A subtração do décimo quarto pavimento, onde ocorria a ala recreativa nos últimos trabalhos
de Moreira, deve-se ao projeto estrutural realizado pela Companhia Constructora Nacional
para a construção do Bloco 1, não sendo de responsabilidade dos arquitetos Valdetaro e
Nadalutti. Dessa maneira, a planta da cobertura (figura 111), apresenta somente as casas de
máquinas e os reservatórios em volumes independentes, pois os vazios para os jardins da ala
recreativa no pavimento inferior deixaram de existir. As platibandas permanecem nas
extremidades das bordas configurando mais uma marcação horizontal, que juntamente com os
peitoris das janelas da fachada sudoeste e os fechamentos dos negativos das lajes da grelha
ortogonal da fachada nordeste, contribuem na ilusão óptica restritiva na altura da edificação.
Figura 111: planta da cobertura e casa de máquinas do Bloco 1 do
Hospital de Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
Embora o Bloco 3 apresente significativas modificações, o esquema básico mantém relações
diretas com a placa horizontal da primeira versão do projeto de Jorge Moreira
150
, pois a lógica
150
Cf planta do 1º pavimento da placa horizontal do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 (figura 38) e
planta do 2
o
pavimento da placa horizontal do Hospital de Clínicas – primeira versão – 1942 (figura 39).
139
do sistema de separação das circulações entre pacientes de médicos, enfermeiros e alunos
permanece (sendo resolvida apenas de maneira diferente) dentro de uma volumetria que
mantém as mesmas dimensões. O primeiro (figura 112) e o segundo pavimento do Bloco 3
(figura 113), mantém a vinculação funcional entre ambos, permanecendo o ambulatório e os
serviços técnico-científicos nos respectivos pavimentos, sendo que esses são sobrepostos e a
rampa que os interliga é interiorizada. Externamente, uma série de colunetas de ordem
colossal com consoles intermediários contorna todo o bloco e o sistema de iluminação e
ventilação por sheds é substituído por vazios. A unificação dos acessos e as respectivas
atividades que ocorrem nos trechos A a E foram identificadas nas plantas do primeiro e
segundo pavimento dos Blocos 1 e 2
151
. Contudo, resta informar que a cozinha (trecho A) e a
lavagem (trecho B) são interligadas por passadiço no meio dos respectivos trechos,
apresentando além da ligação direta, as atividades de dietética e nutrição.
Figura 112: planta do 1
o
pavimento do Bloco 3 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
151
Cf. passagens [5 a 10] da planta do 1
o
pavimento dos Blocos 1 e 2 do Hospital de Clínicas – 1958 (figura
103) e passagens [2 a 7] da planta do 2
o
pavimento dos Blocos 1 e 2 do Hospital de Clínicas – 1958 (figura 104).
140
Figura 113: planta do 2
o
pavimento do Bloco 3 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Arquivo do HCPA)
A passagem [1] indica o local onde ocorre a triagem para a respectiva consulta. Conforme a
necessidade, o paciente externo dirige-se ao respectivo consultório por meio das circulações
horizontais [2a]. Se para a prescrição médica não for necessário o serviço laboratorial, o
paciente retorna à circulação em direção à farmácia que se encontra no trecho F, entre os
elevadores e a escada do respectivo vazio. Depois de adquirida a medicação, o paciente
retorna ao ponto inicial, pois a saída [3] ocorre no mesmo local da entrada do ambulatório, o
que pode causar certo tumulto devido a grande quantidade de pessoas em direções opostas.
Caso o paciente necessite do serviço laboratorial, ele deverá subir a rampa [4] em direção aos
serviços técnico-científicos localizados nos segundo pavimento do Bloco 3, que utiliza todos
os trechos exceto o (E), o qual representa a continuidade dos quartos da residência médica.
Com o mesmo esquema de distribuição do pavimento inferior, o paciente se desloca pela
circulação horizontal [2b] ao respectivo laboratório. Concluído o exame, desce a rampa [5]
em direção a saída. No ambulatório a circulação dos médicos, enfermeiros e estudantes [6a] é
separada da circulação dos pacientes externos [2a]. Nos serviços técnico-científicos, a
circulação dos médicos, enfermeiros e estudantes [6b] mantém a separação dos pacientes
externos [2b], mas não dos pacientes internos que também a utilizam.
A planta do subsolo do Bloco 3 (figura 114), apresenta basicamente áreas disponíveis (trechos
A a E) e estacionamento (trechos F e G), pois conforme relato do reitor Paglioli, a utilização
do subsolo não estava prevista: “O projeto mandava aterrar a área total, após feitura das
141
sapatas, sendo necessário para isso repor a terra retirada e conseguir mais atêrro vindo de
longe para completar o enchimento até o nível do piso” [sic] (Paglioli, op. cit.: 280). Dessa
forma, verifica-se que o projeto de Valdetaro e Nadalutti sofria modificações durante a
construção, fazendo com que os desenhos fossem constantemente revisados
152
. O acesso
veicular ocorre por uma rampa lateral pela esquerda [1], cuja ligação permite cruzar o bloco
integralmente [2] até a saída para a outra rampa na direita [3]. Todavia, a passagem [4]
possibilita acesso ao estacionamento e a passagem [5] a sua subseqüente saída.
Figura 114: planta do subsolo do Bloco 3 do Hospital de Clínicas –
1958 (Arquivo do HCPA)
Conforme convênio firmado com a URGS, paralelamente ao projeto do Hospital de Clínicas,
a empresa FOMISA deveria desenvolver também os projetos do Hospital Privado e do
Pavilhão Mecânico. As plantas do primeiro e do segundo pavimento dos Blocos 1 e 2 do
Hospital de Clínicas representam na extremidade direita as ligações em ambos os andares com
o Hospital Privado
153
. Os estudos da fachada sudoeste e sudeste de ambas edificações (figura
115 e 116), foram as únicas fachadas encontradas que reúnem em um mesmo desenho os três
blocos do Hospital de Clínicas
154
.
152
Os arquitetos Valdetaro e Nadalutti realizaram diversas revisões nos projetos, sendo as últimas de 1963.
153
Cf. passagem [4] da planta do 1
o
pavimento dos Blocos 1 e 2 do Hospital de Clínicas – 1958 (figura 103) e
passagem [1] da planta do 2
o
pavimento dos Blocos 1 e 2 do Hospital de Clínicas – 1958 (figura 104).
154
O projeto de Valdetaro e Nadalutti não está completo no Arquivo do HCPA, pois além das fachadas não
foram encontrados também os respectivos cortes da edificação.
142
Figura 115: estudo da fachada sudoeste do Hospital de Clínicas e
Hospital Privado – 1958 (Arquivo do HCPA)
O Hospital Privado está localizado na respectiva lateral da ala direita do Hospital de Clínicas,
mas a ligação entre ambos não é representada, pois além do projeto, sua própria posição seria
revista, fixando seu eixo no mesmo sentido do Hospital de Clínicas, conforme o Plano Diretor
do Centro Médico proposto por Valdetaro e Nadalutti entre 1959 e 1960.
Figura 116: estudo da fachada sudeste do Hospital de Clínicas e
Hospital Privado – 1958 (Arquivo do HCPA)
3.3.2 O Plano Diretor do Centro Médico (1959-60)
O Plano Diretor do Centro Médico (figura 117), realizado Valdetaro e Nadalutti entre 1959 e
1960, segue o mesmo programa estabelecido pela planta do Centro Médico da Divisão de
Obras da URGS de 1953
155
. Durante a realização desse trabalho, a construção da Faculdade de
Farmácia já havia sido terminada, o Hospital de Tisiologia estava com a obra paralisada na
estrutura, a Escola de Enfermagem possuía apenas suas fundações realizadas e a construção
155
Cf. planta do Centro Médico da Divisão de Obras da URGS – 1953 (figura 85).
143
da Faculdade de Odontologia iniciava-se. Além do programa semelhante
156
, as edificações
seguem a mesma orientação do plano de 1953, cujo conjunto proposto mantém o mesmo
sentido do Hospital de Clínicas, sendo abandonada a solução em fragmentos de rédents. A
conformação do terreno mantém a proposição do plano de 1953. Entretanto, a rua Felipe de
Oliveira não mais se prolonga dividindo o Centro Médico e a faixa de terreno dependente das
desapropriações ao longo da rua São Manoel não é mais representada, viabilizando acessos
também por essa rua. Uma parcela praticamente triangular foi criada pela inflexão que a rua
Ramiro Barcelos realiza ao se encontrar com a av. Ipiranga, sendo previsto para essa área uma
central de tratamento de esgoto. A av. Jerônimo de Ornelas permanece estendendo-se em
direção ao Hospital de Clínicas, terminando em uma rua interna paralela ao edifício que faz a
conexão às demais vias internas do Centro Médico.
Figura 117: Plano Diretor do Centro Médico – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
1-Hospital de Clínicas 6-Faculdade de Odontologia 11-Capela
2-Hospital Privado 7-Serviço Industrial
3-Maternidade 8-Escola de Enfermagem
4-Neuroclínica 9-Hospital de Tisiologia
5-Faculdade de Medicina 10-Faculdade de Farmácia
As vistas leste e sul da maquete do Centro Médico (figura 118 e 119), permitem a
visualização do conjunto de suas edificações. Conforme convênio entre a empresa FOMISA e
a URGS, o Plano Diretor de Valdetaro e Nadalutti não fazia parte do contrato inicial,
ocorrendo provavelmente outro contrato adicional. Contudo, a concepção das demais
156
O programa distingue-se apenas pela inclusão de uma Capela.
144
edificações foi desenvolvida apenas em nível de anteprojeto
157
, sendo que a maior parte dos
edifícios configura-se pela tensão estabelecida entre a diferença de altura de uma barra
vertical com uma placa horizontal, procurando estabelecer relações diretas com a edificação
do Hospital de Clínicas.
Figura 118: vista leste da maquete do Centro Médico – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
Figura 119: vista sul da maquete do Centro Médico – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
157
No Arquivo da FMPA encontram-se os anteprojetos em planta das demais edificações proposta por Valdetaro
e Nadalutti para o Centro Médico.
145
O Hospital Privado (figura 120) compõe-se de uma barra vertical sobre uma placa horizontal
de um único pavimento, com dois pátios internos, onde ocorrem as clínicas especializadas. A
base da barra vertical apresenta pilotis, sendo que na fachada sudoeste existe uma grande
marquise para o desembarque ao serviço de urgência. As ligações no primeiro e no segundo
pavimento com o Hospital de Clínicas ocorrem pela lateral da barra vertical. A distribuição
interna dos apartamentos do segundo pavimento é idêntica ao do pavimento tipo, mas suas
fachadas apresentam colunas colossais. Do terceiro ao sétimo pavimentos ocorrem novamente
apartamentos, configurando o pavimento tipo. Na cobertura foi localizada a ala recreativa do
hospital, proposta de Jorge Moreira para o Hospital de Clínicas não executada. A fachada
nordeste da placa vertical apresenta a mesma grelha ortogonal utilizada no Hospital de
Clínicas, assim como na fachada sudoeste também foi aplicada a mesma solução de
esquadrias. Dessa forma, verifica-se que os arquitetos buscaram relacionar ao máximo
possível essas duas edificações.
A Maternidade (figura 121) apresenta uma barra vertical que se conecta à placa horizontal por
meio de duas ligações na fachada sudoeste. Na fachada oposta ocorre uma pequena marquise
trapezoidal replicando a solução existente na primeira versão do Hospital de Clínicas de Jorge
Moreira, onde ocorre a recepção e a administração. A placa horizontal possui um pavimento
onde estão localizados os consultórios. A base da barra vertical é recuada em todo seu
perímetro apresentando pilotis nas fachadas longitudinais. No segundo pavimento se
encontram o serviço laboratorial e o centro obstétrico. O andar tipo ocorre do terceiro ao
quinto pavimento apresentando os quartos, serviços e salas de aula. Faixas horizontais
formadas pelos peitoris dos pavimentos demarcam a horizontalmente da fachada.
Figura 120: vista da maquete do Hospital Privado – 1959-60 (Arquivo
do HCPA)
Figura 121: vista da maquete da Maternidade – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
146
O Hospital de Neuroclínica (figura 122) apresenta a placa horizontal sob praticamente toda a
barra vertical, exceto em sua extremidade direita, onde a defasagem propicia pilotis formados
por três colunas. A placa horizontal possui um pavimento que incorpora os serviços gerais,
serviços auxiliares, ambulatórios e a administração. O segundo e o terceiro pavimento são
idênticos entre si, compreendendo a psiquiatria para homens e mulheres respectivamente. O
quarto e o quinto pavimento também são idênticos entre si, mas apresentam funções distintas
complementares, neurologia e neurocirurgia respectivamente. O sexto pavimento novamente
compreende a neurocirurgia, mas sua organização interna é diferente do pavimento inferior. A
edificação também apresenta marcações horizontais nas fachadas formadas pelos peitoris das
esquadrias.
A Faculdade de Medicina (figura 123) retoma o tema da placa horizontal em somente uma das
fachadas da barra vertical. Com 11 pavimentos, é a segunda edificação mais alta do conjunto
após o Hospital de Clínicas. A placa horizontal com um único pavimento abrange as cadeiras
de anatomia, dependências dos alunos, imprensa, museu e almoxarifados. Colunas colossais
demarcam a base da barra vertical onde ocorre a biblioteca e uma área para exposições. A
placa horizontal interpenetra na barra vertical, mas o espaço criado acima dela pelas colunas
colossais as identifica, evitando que o conjunto se torne um único corpo. Um grande vazio
sobre as exposições do térreo amplia a percepção desse efeito internamente. Os demais
pavimentos da barra vertical, do segundo ao décimo, apresentam as cadeiras básicas de cada
ano com seus respectivos laboratórios e salas de aula. Embora a fachada da barra vertical
apresente uma marcação predominantemente horizontal, ela é formada por brise-soleil
vertical entre as faixas de entrepiso.
Figura 122: vista da maquete do Hospital de Neuroclínica – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
Figura 123: vista da maquete da Faculdade de Medicina – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
147
O Pavilhão Industrial (figura 124) tem a finalidade de atender a todas as edificações do Centro
Médico, pois dada “a proximidade dos edifícios e a necessidade de atendimento a todos, de
assistência a pràticamente igual, considerou-se mais econômico e eficiente centralizar todos
esses serviços num só órgão” [sic] (Paglioli, op. cit.: 293-4). Constitui-se de quatro volumes
independentes, cuja unidade é estabelecida por meio de galerias subterrâneas que os interliga.
No volume quadrado em planta se encontra a central térmica e no volume retangular o
reservatório subterrâneo, lavanderia, vestiários, depósitos e salas da manutenção. As garagens
e as oficinas se encontram no volume sob arcos abatidos e o reservatório na torre cilíndrica.
De certo modo, esse conjunto parece tentar recuperar um pouco da diversidade formal
existente na primeira versão do projeto de Jorge Moreira, relacionando os arcos abatidos com
as cascas hiperbólicas e a torre cilíndrica com as torres elipsoidais.
A Escola de Enfermagem (figura 125) foi alvo de outro estudo, sendo desconsiderado o
projeto anterior
158
e a estrutura que havia sido construída no início da década de 50. Nesse
anteprojeto a edificação apresenta a placa horizontal de um pavimento em somente uma das
fachadas e com a metade da extensão da barra vertical. A conexão ocorre somente pelas
extremidades da placa horizontal, cujo vazio propicia internamente a separação dos blocos e a
distinção entre os pilotis de base aberta e base fechada. As salas de aula ocorrem na placa
horizontal e a cozinha, refeitório e administração no térreo da barra vertical. Nessa última
constam também os alojamentos, sendo que o segundo pavimento destina-se aos auxiliares de
enfermagem e os demais (do terceiro ao quinto) aos enfermeiros. A fachada apresenta um
sistema de brise-soleil vertical contínuo em toda a altura da edificação.
Figura 124: vista da maquete do Pavilhão Industrial – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
Figura 125: vista da maquete da Escola de Enfermagem – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
158
Cf. fachada da Escola de Enfermagem – 1951 (figura 82).
148
O Hospital de Tisiologia (figura 126) também foi alvo de outro estudo, cuja estrutura do
projeto anterior chegou a ser iniciada na década de 50 sendo interrompida pouco tempo
depois
159
. “Essa obra foi até o penúltimo andar com sua estrutura, estando a última lage
apenas com madeiramento e ferro” [sic] (Paglioli, op. cit.: 290). Não foi encontrado o
anteprojeto desenvolvido para o Hospital de Tisiologia pelos arquitetos Valdetaro e Nadalutti,
mas estando a estrutura praticamente concluída, é provável que tenha sido considerada a
construção conforme o projeto original desenvolvido em 1952 pelo SNT. Contudo, nesse
projeto não é mais considerado o auditório exteriorizado de forma diferenciada existente no
projeto antecessor.
A Capela (figura 127) aproveita as fundações da Escola de Enfermagem que haviam sido
iniciadas na década de 50. Possui um único pavimento com uma nave central e duas laterais.
A dupla linha de colunas internas proporciona fachadas livres cujas paredes foram articuladas
para melhor aproveitamento acústico. O estudo apresenta uma cobertura plana obtida por
meio de vigas invertidas e um pano mural
160
que intercepta a capela após a sacristia, criando
uma área com pilotis. O acesso principal é marcado por duas colunas que propiciam um
espaço coberto fora do interior do edifício. Embora a capela se diferencie das demais
edificações por sua linguagem arquitetônica distinta, uma grande cruz latina é proposta na
lateral da entrada, reforçando a diferenciação do programa dentro do Centro Médico.
Figura 126: vista da maquete do Hospital de Tisiologia – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
Figura 127: vista da maquete da Capela – 1959-60
(Arquivo do HCPA)
159
Cf. vista da maquete do Hospital de Tisiologia – 1952 (figura 83).
160
A Capela diferencia-se dos demais projetos pela utilização de recursos formais do Neoplasticismo, como o
deslizamento entre os planos verticais.
149
O tema da barra vertical em contraste com a placa horizontal foi explorado com diferentes
possibilidades pelos arquitetos Valdetaro e Nadalutti, realizando na maior parte das
edificações para o Centro Médico variações sobre esse tema. Marcações horizontais nas
fachadas longitudinais e panos cegos nas laterais também constituem um recurso utilizado
com freqüência. Conforme a perspectiva da praça do Centro Médico (figura 128), na qual a
Faculdade de Medicina encontra-se à esquerda, Neuroclínica e Maternidade à direita e
Faculdade de Farmácia ao fundo, percebe-se que além de soluções urbanas para o conjunto,
os arquitetos procuraram dar uniformidade às edificações por meio de um tratamento
paisagístico.
Figura 128: perspectiva da praça do Centro Médico – 1958
(Arquivo da FMPA)
3.4 A CONCLUSÃO DAS OBRAS
À medida que os projetos de Valdetaro e Nadalutti estavam sendo apresentados, as obras do
Hospital de Clínicas eram retomadas (figuras 129 e 130) e a “partir de 1959 já não havia
mais problema de projeto e por isso a obra passou a um ritmo mais aceitável” (Paglioli, op.
cit.: 279). Contudo, as críticas quanto à demora da conclusão das obras não cessavam.
Durante a Parada dos Bixos em 1959, desfile com os calouros da URGS realizado no início
de cada ano, os estudantes de medicina “vestiram um ‘alemão’, dois metros de altura, de
oficial nazista que se pôs a desfilar em passo de ganso portando um cartaz no qual dizia:
Mein Führer ordena: construam o Hospital de Clínicas, nem que seja no Bom Fim!
161
(Weimer, 2002: 138-9).
161
Bom Fim é um tradicional bairro de judeus em Porto Alegre.
150
Figura 129: vista sul da construção dos Blocos 1 e 2 do Hospital de
Clínicas – 1958 (Hassem, 1998: 90)
Figura 130: vista oeste da construção dos Blocos 1 e 3 do Hospital de
Clínicas – 1960 (Acervo do Museu Joaquim Felizardo – Fototeca
Sioma Breitman)
“Há anos e anos que o pôrto-alegrense tinha se acostumado a ver aquêle esqueleto de ferro,
há pouco tempo que as paredes foram terminadas, parecendo totalmente sem vida” [sic]
(Lisboa, 1962: 33). Muitos foram os motivos que ainda retardaram as obras, pois em 1963, os
arquitetos Valdetaro e Nadalutti realizaram sucessivas revisões mediante as mais diversas
solicitações ou necessidades. Atrasos nas concorrências públicas, falta de materiais, demora
na execução e falta de recursos, configuram outros graves problemas enfrentados na
construção (Paglioli, op. cit.: 282).
O Hospital de Clínicas encontrava-se com a parte externa da edificação praticamente
concluída em 1964 (figura 131), mas internamente ainda muito precisava ser feito. Durante
toda a construção permaneceu erguido o pórtico realizado na década de 40 (figura 132),
representando “um símbolo da luta (que agora chega ao fim) para fazer funcionar um dia o
sonhado hospital de Clínicas de Pôrto Alegre” [sic] (Matias, 1971: 21). Contudo, o fim ainda
estava longe de acontecer: “Considerado o grande ‘Elefante Branco’ de P. Alegre, cercado
de pessimismo e descrédito, o Hospital de Clínicas continua uma incógnita para a maioria da
população” (Braga, 1966: 28). Em 1966, a obra ainda não estava plenamente concluída
devido a constantes problemas: “As verbas têm sido restringidas com freqüência, fato que
não só atrasa a construção, mas duplica as despesas, pois a cada interrupção da obra, seu
custo se altera extraordinariamente” (idem, ibidem: 30). Entretanto, a construção já não era
mais o problema principal, pois a maior preocupação passou a ser o equipamento: “Quantos
anos ainda serão necessários para que o nosocômio seja equipado?” (ibidem: 28).
151
Figura 131: vista norte da edificação do Hospital de Clínicas – 1964
(Braga, 1966: 28-9)
Figura 132: pórtico da década de 40 com o Hospital de Clínicas ao
fundo – [1964?] (Hassen, 1998: 88)
Em 2 de abril de 1968, sob o reitorado do professor José Fonseca Milano, é feita solenidade
simbólica de inauguração do HCPA, com a presença do presidente da República, Arthur da
Costa e Silva” (Hospital, 2000: 13). Essa inauguração passou para o folclore médico, pois os
assessores do presidente
trouxeram de avião, sem ele saber, leitos, instrumentos cirúrgicos e dezenas de
equipamentos de Brasília para que a inauguração ocorresse como se, pelo menos,
parte do hospital gaúcho já estivesse pronta. É que havia só um esqueleto do prédio
do Clínicas. Costa e Silva voltou a Brasília num avião, sem saber que em outro
seguiam as mesmas camas e instrumentos hospitalares, para desolação das
autoridades e médicos gaúchos (Mitchell, 1990: 29).
Em 17 de junho de 1968, uma comissão foi designada pelo então reitor da URGS, Eduardo
Farraco, com a finalidade de opinar sobre os procedimentos e diretrizes necessárias para o
prosseguimento das obras e planejar o funcionamento definitivo do Hospital de Clínicas.
Foram analisadas as descontinuidades na orientação do empreendimento, as modificações
parciais nos projetos sem a compatibilidade com o conjunto, a deterioração das instalações
executadas etc., sendo que mediante a falta de recursos: “as alternativas seriam a
perpetuação e o agravamento da situação reinante, o abandono da idéia, ou a destinação da
obra para outros fins” (Farraco, 1978: 39). A própria definição jurídica foi questionada pela
comissão, sendo sugerida sua alteração “como Fundação ou autarquia autônoma, de modo
que sua vida orçamentária e financeira se processasse independentemente da Universidade”
(idem, ibidem).
152
Em 2 de agosto do mesmo ano, outra comissão presidida pelo prof. Rubens Maciel foi
designada pelo reitor para “planejar e coordenar a execução das obras do Hospital de
Clínicas e a implantação dos respectivos serviços” (Farraco, op. cit.: 39). Devido à
complexidade dos problemas analisados e levantados, a questão foi encaminhada ao então
Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Gonçalves Passarinho, que determinou o Aviso
Ministerial n. 659-BSB, em 22 de dezembro de 1969. O aviso estabeleceu plena delegação de
competência ao reitor para tomar as decisões cabíveis para que fossem feitas com urgência a
“ultimação dos serviços que se fizerem necessários ao término das obras civis e das
instalações ainda não executadas, além das providências de mister, no concernente à
organização do hospital e conseqüente destinação de suas áreas” (Passarinho, op. cit.: 40).
Conseqüentemente, em 02 de setembro de 1970, “o presidente da República, Emílio
Garrastuzu Médici, assina a lei 5.604, que cria o HCPA como uma Empresa Pública de
Direito Privado
162
vinculada ao Ministério da Educação” (Hospital, 2000, op. cit.:13). No dia
30 do mesmo mês, a portaria n. 1.260, designa um novo grupo de trabalho para implantar os
serviços, sendo contratado entre professores, médicos e enfermeiros, a arq. Vera Fabrício
Carvalho
163
, que coordena as alterações arquitetônicas necessárias a partir de então. No ano
seguinte, em 16 de julho de 1971, o estatuto do Hospital de Clínicas é aprovado pelo decreto
n. 68.930. “Finalmente, o Hospital tem as condições necessárias para dar início a seu efetivo
funcionamento. Em 26 de agosto, acontece a primeira reunião do Conselho Diretor, sob a
Presidência do professor Milton Dias” (ibidem).
Em 2 de fevereiro de 1972, ocorre o primeiro atendimento ambulatorial na especialidade de
endocrinologia (Histórico, 2002: s.p.), em 15 de março o primeiro atendimento de
radiodiagnótisco (Farraco, op. cit.: 42) e em 23 de maio a primeira internação de nefrologia
(Histórico, op. cit.: s.p.). Embora alguns setores estivessem entrando em funcionamento,
muitos deles permaneciam sem uso e inacabados internamente (figuras 133 e 134), os quais
permaneceram nesse estado por muitos anos até serem reformulados. O presente trabalho não
analisará as subseqüentes modificações e adaptações internas que ocorreram (e ainda
ocorrem), pois além de sobrecarregar a pesquisa e extrapolar a delimitação temporal
determinada, elas praticamente não causaram descaracterizações no hospital. Pelos mesmos
motivos também não serão analisadas as demais edificações construídas no Centro Médico.
162
Conforme o reitor Farraco, o “Hospital de Clínicas foi, assim, a primeira instituição do País a assumir tal
forma jurídica, ‘uma peculiaridade pouco depois adotada pelos Correios e Telégrafos’ (Rodrigues, 1985: 38).
163
Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre em 1951 (Universidade, 2002, op. cit.: 245).
153
Figura 133: vista interna do hall de exposições no térreo do Bloco 1 da
edificação do Hospital de Clínicas – 1972 (Arquivo do HCPA)
Figura 134: vista interna do corredor sudoeste de um dos pavimentos
tipo do Bloco 1 da edificação do Hospital de Clínicas – 1972
(Arquivo do HCPA)
Mediante a análise de todos os projetos realizados para o Hospital de Clínicas, constata-se que
não é justo atribuir todas as descaracterizações da edificação construída apenas aos que nela
trabalharam após o afastamento de Jorge Moreira. Conforme pôde ser verificado, tomando
por base a última versão do projeto de Moreira, não são muitas as distinções com o edifício
construído, sendo a marcação horizontal em ambas fachadas da barra vertical e a solução da
placa horizontal
164
as que mais se destoam. Contudo, se a edificação construída for comparada
com a primeira versão de Moreira, inúmeras são as diferenças: a tensão entre a diferença de
altura é anulada pela interpenetração da placa horizontal na barra vertical; a placa horizontal
teve suas características externas totalmente reformuladas; na barra vertical a disposição
tripartida não mais ocorre; a base em loggia na fachada nobre da edificação foi perdida pela
inclusão de um volume acoplado (mesmo tendo sido mantidas as colunas colossais, elas
passaram a apresentar diferentes formas e espessuras); a grelha ortogonal e as esquadrias na
fachada envidraçadas foram desconfiguradas pela marcação horizontal nas fachadas; o
primeiro estágio do coroamento foi transformado em uma mera platibanda e o segundo
estágio do coroamento foi suprimido, fazendo com que fosse perdida as diversas volumetrias
na cobertura (típicas da linguagem da escola carioca).
164
Cabe ressaltar que Jorge Moreira não desenvolveu mais a parte do projeto referente à placa horizontal do
Hospital de Clínicas. Entretanto, verifica-se que as ligações nas extremidades já fazem parte da evolução do
projeto desde seus estudos após a versão intermediária. Considerando que os projetos realizados pelo DASP
entre 1953 e 1955 podem ter sido supervisionados por Moreira, e que esses solucionam essa parte especifica do
projeto de forma semelhante a que foi executada, talvez realmente seja a marcação horizontal das fachadas a
única grande diferenciação do trabalho do arquiteto. Cf. contexto da nota 138 em O Hospital de Clínicas (1958)
(capítulo 3.3.1).
154
O Centro Médico de Jorge Moreira já havia sido inviabilizado pelas alterações no arruamento
e pela introdução de diferentes projetos tanto por parte do Governo Federal como pela URGS.
Do Plano Diretor de Valdetaro e Nadalutti teve construído somente o Pavilhão Industrial, pois
o projeto do Hospital Privado e os anteprojetos das demais edificações nunca tiveram as obras
iniciadas. Dessa forma, em um primeiro momento, as únicas edificações construídas no
Centro Médico eram o Hospital de Tisiologia, a Faculdade de Farmácia e a Faculdade de
Odontologia (figura 135). O Hospital de Tisiologia nunca funcionaria como tal, sendo
adaptado no início da década de 70 para as salas de aula do Ciclo Básico da UFRGS. No final
da mesma década foi reformulado para a Escola de Enfermagem e no início da década de 80
para a Faculdade de Medicina. Atualmente abriga o Restaurante Universitário 2 e o Instituto
de Psicologia. A estrutura onde havia sido proposta a Capela tornou-se a marcenaria do
Hospital de Clínicas por muitos anos e a sua função atual engloba a Sub-Prefeitura do
Campus Saúde. A Escola de Enfermagem permaneceu em um prédio que havia sido
reformado e adaptado entre 1954 e 1956 na av. Protásio Alves (em um dos terrenos
desapropriados na faixa da rua São Manoel) sendo posteriormente deslocada para outra
edificação construída no Centro Médico. A Faculdade de Medicina permaneceu em seu antigo
prédio no Campus Centro, sendo que na década de 90 recebeu nova sede em frente ao
Hospital de Clínicas.
Figura 135: vista geral do Centro Médico – [197-]
(Arquivo da FMPA)
155
Até o funcionamento efetivo do Hospital de Clínicas, muitos anos já haviam passado, e as
influências arquitetônicas que Porto Alegre recebia extrapolavam o âmbito da escola carioca.
Novos estilos que denunciavam uma crise resultante da “diversificação formal e deformação
sintática com sintomas do esgotamento” da arquitetura moderna passaram a surgir na cidade
(Luccas, op. cit.: 245). O Planetário
165
da UFRGS, em primeiro plano na vista parcial do
Centro Médico (figura 136), exemplifica essa fase. No segundo plano na imagem encontram-
se respectivamente o Ciclo Básico, a Faculdade de Odontologia e o Hospital de Clínicas.
Figura 136: vista parcial do Centro Médico – [197-]
(Arquivo do HCPA)
A constatação de dez arquitetos
166
porto alegrenses ao apontaram em 1958 o Hospital de
Clínicas “quase por unanimidade como a obra mais importante de arquitetura do Estado”
(Muito, 1958: 46-51), evidencia as virtudes do projeto original de Jorge Moreira e ao mesmo
tempo, o prejuízo que a arquitetura da cidade teve pela oportunidade perdida:
Lamentavelmente o projeto do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e o plano do
Campus Médico Universitário de Jorge Moreira não se materializaram em sua
integridade. Embora suas modificações não inviabilizassem que o hospital se
tornasse uma escola para as áreas médicas, elas inviabilizaram sim, o que seria uma
verdadeira escola de arquitetura moderna para os arquitetos gaúchos, que perderam a
oportunidade de conviver in loco com um exemplar direto da vanguarda
arquitetônica moderna brasileira (Silva, 2004: 121).
165
Projeto de Fernando Gonzalez e Walter Bered de 1971 (Xavier, op. cit.: 248-9).
166
Irineu Breitman, Carlos Fayet, Edgar Graeff, Emil Bered, Demétrio Ribeiro, Moacir Moogen Marques, Luís
Fernando Corona, Luís Carlos Cunha, Cláudio Luís Araújo e João Vallandro.
4. JORGE MOREIRA NA ARQUITETURA DA CAPITAL GAÚCHA
A “primeira experiência de Arquitetura Moderna em Pôrto Alegre começa na construção do
Hospital de Clínicas” [sic] (Corona, 1966: 35), iniciando o processo da promoção da
arquitetura da escola carioca na cidade: “a arquitetura plenamente moderna, já claramente
consciente e imbuída das posições doutrinárias e estilísticas da arquitetura moderna
européia dos anos 20 e 30, só encontra espaço definitivo (e ainda assim com resistência) no
final dos anos 40 e início dos anos 50” (Fiore, 1992: 127). Sendo assim, os dez anos de
envolvimento de Jorge Moreira com o projeto do Hospital de Clínicas (1942 e 1952)
englobam as primeiras influências recebidas no contexto gaúcho por parte da escola carioca,
assim com o início da produção porto-alegrense conforme essa linguagem.
4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MODERNIDADE EM PORTO ALEGRE
Os pavilhões da Exposição do Centenário Farroupilha em 1935 forneceram “uma amostra
das vertentes modernas disponíveis no momento” (Calovi Pereira, 2000, op. cit.: 49).
Contudo, eles se alinhavam com tendências menos radicais, como o art déco e o
expressionismo:
O proto-racionalismo, assim chamado por alguns críticos, ou pré-modernismo,
caracterizou-se pela intenção de simplificação e redução da linguagem arquitetônica,
principalmente à geometria e à abstração, muito embora essa fosse feita de maneira
ambígua, pois ao mesmo tempo que os arquitetos desse período combatiam a
academia de Beaux-Arts e o decorativismo Art Nouveau, apresentavam em seus
projetos uma restauração de matriz neo-academicista-classicista (Conde, 1985: 44).
A população porto-alegrense não vivenciava apenas o surgimento de novos estilos, mas
experimentava também símbolos que a modernidade trazia, representada principalmente pelo
processo de verticalização das edificações. “Há, igualmente, um simbolismo intrínseco nestes
elementos, evidenciado, em 1928, pela chaminé da Usina do Gasômetro [figura 137]. Nela,
há uma explícita representatividade do anseio pelo vertical, tornando-se referência no Brasil
e na América Latina” (Vianna, 2003: 31).
157
Figura 137: propaganda do Cimentos Portland com perspectiva da
Usina do Gasômetro – 1936 (Vianna, 2003: 31)
Contudo, a ânsia não era somente pela verticalidade, mas principalmente pelas grandes
estruturas que as novas tecnologias ofereciam. Embora não seja em Porto Alegre, a ponte
sobre o rio das Antas (entre Bento Gonçalves e Veranópolis) exemplifica que nem todos os
gaúchos demonstravam resistência à modernidade. Definida como a “maior e a mais arrojada
realização da engenharia nacional” (A maior, 1943: 10), a ponte idealizada pelo eng. gaúcho
Erik Pagh (figura 138), da construtora Dahne, Conceição & Cia
167
, venceu a concorrência
pública aberta pelo Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem [DAER] em 1941. O
edital estabelecia que poderia ser apresentado “propostas baseadas no projeto oficial [figura
139] ou em projetos originais” (Edital, 1941: 11).
Figura 138: perspectiva da ponte sobre o rio das Antas – projeto
vencedor da construtora Dahne, Conceição & Cia – 1942
(A maior, 1943: 10)
Figura 139: perspectiva da ponte sobre o rio das Antas – projeto
original do DAER – 1941 (Concurrencia, 1942: 1)
Com um projeto em arcos paralelos de 186m., sem apoios intermediários como no projeto
original, seria “a maior da América e a terceira do mundo” (A maior, op. cit.: 10). Conforme
167
Com “forte presença no mercado imobiliário de Porto Alegre entre 1929 e 1943 (...) Para efeitos externos,
era a mais forte concorrência da firma Azevedo Moura & Gertum, mas de fato, ambas estava cartelizadas e
dividiam entre si as obras mais importantes do período” (Weimer, 2004, op. cit.: 51).
158
o eng. Paulo Aragão Bozano, diretor de Obras e Viação de Porto Alegre, essa “arrojada obra
de engenharia de inestimável valor estético, arquitetônico e paisagístico, que honrará a
engenharia riograndense, uma brilhante solução para vencer um dos grandes obstáculos ao
tráfego rodoviário e a conquista econômica do sólo riograndense” [sic] (A maior, op. cit.:
10). Adversidades como a ruptura do cimbramento estenderam a construção por um período
de dez anos (1942 e 1952) causando o afastamento da construtora, a revisão do projeto e a
contratação de outra empresa para a realização da obra. Todavia, em “linhas gerais o novo
projeto, de Antonio A. Noronha, é análogo ao primeiro” (Vasconcelos, 1993: 104-8).
Se na engenharia a modernidade vinha obtendo certa aceitação, nas artes plásticas não haveria
de ser diferente. O concurso promovido pelo jornal Correio do Povo em 1946, para o
Monumento do Expedicionário, demonstrou a iniciativa do escultor Vasco Prado
168
em
produzir uma obra mais engajada com a modernidade: o projeto Paz (figura 140). Entretanto,
Antônio Caringi
169
ficou em primeiro lugar com o projeto Altar da Pátria
170
(figura 141).
Fernando Corona
171
e Vasco Prado ficaram em segundo e terceiro lugares respectivamente.
Figura 140: vista da maquete do projeto Paz de Vasco Prado – 1946
(O projeto, 1946: 24)
Figura 141: vista da maquete do projeto Altar da Pátria de Antônio
Caringi – 1946 (Proclamado, 1946: 8)
168
“Escultor, desenhista e gravador. Uruguaiana, RS, 1914 – Porto Alegre, RS, 1998. (...) Considerado um dos
mais importantes escultores gaúchos contemporâneos, realizou quase uma centena de individuais no País e em
diversas cidades de Europa e América” (Rosa, 2000: 478).
169
“Escultor. Pelotas, RS, 1905 – Pelotas, RS, 1981. É conhecido no RGS como autor dos grandes monumentos
cívicos e alegorias históricas. (...) É de sua autoria O Laçador, escultura em bronze situada à entrada de Porto
Alegre e que é o logotipo da cidade, serviu-lhe de modelo o folclorista Paixão Cortes” (idem, ibidem: 91).
170
O projeto Altar da Pátria foi construído no Parque Farroupilha, no início da rua Santana. Único por ter dois
pórticos iguais, não hierarquizando conseqüentemente nenhum dos dois, conduz o observador a fixar o ponto
focal na escultura da Deusa da Guerra, situado entre os pórticos (Macedo, 1973: 123).
171
“Fernando Corona, autor de uma variada, numerosa e instigante produção arquitetônica, destacando
principalmente aquelas obras produzidas em Porto Alegre no período de transição, afirmação e consolidação
da arquitetura moderna. Fernando Corona, arquiteto autodidata, escultor, escritor, foi ainda um dos
promotores do ensino de Arquitetura no estado, como docente do Instituto de Belas Artes” (Canez, op. cit.: 17).
159
Todos os participantes realizaram projetos inspirados no Arco do Triunfo, pois o próprio
Vasco Prado participou do concurso com dois trabalhos distintos, sendo que o segundo
projeto se identificava com as linhas tradicionais. Perante isso, percebe-se certa resistência
por parte do artista em assumir a linguagem moderna, mas ao mesmo tempo, sua atitude
incitava as pessoas a se alinharem com os novos tempos. O projeto Paz constitui-se de um
arco parabólico de 37m. de vão com seção retangular representando o simbolismo bíblico do
arco-íris: “uma promessa de paz após anos de lutas e temores pelo destino e pela vida dos
que nelas participaram” (Macedo, 1973, op. cit.: 125). Sob o arco, uma escadaria piramidal
de base quadrada conduz a uma pira de fogo simbólico, e ao lado, um grande bloco com
iluminação zenital comporta um museu da guerra.
Esses exemplos são suficientes para demonstrar que, concomitantemente ao projeto do
Hospital de Clínicas, verifica-se que em áreas afins da arquitetura, parte da produção gaúcha
se identificava com a modernidade. Em um “Estado periférico de um país periférico, é
compreensível que novas concepções estéticas se manifestem com atraso” (Fiore, op. cit.:
127). Cabe ressaltar que o mesmo eng. Bozano, diretor de Obras e Viação de Porto Alegre,
que alegou apreciar a qualidade estética da ponte em arco sobre o rio das Antas, foi também
um dos responsáveis pela rejeição ao projeto de Oscar Niemeyer para o Instituto de
Previdência do Estado [IPE]
172
, pois “não achava o estilo próprio para a avenida Borges de
Medeiros pois iria destoar das construções ao lado” (Corona apud Canez, 1998: 44). Dessa
forma, constata-se que a resistência ao moderno não era absoluta, mas específica a algum tipo
de modernidade, resistência essa que Jorge Moreira contribuiu para ser rompida.
4.2 A PROMOÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA NA CIDADE
Demétrio Ribeiro
173
atribuiu três fatores para a promoção da arquitetura moderna no Rio
Grande do Sul: “projetos vindos de fora, fundação do ensino da arquitetura no Estado e
fundação do Departamento local do Instituto de Arquitetos do Brasil” (Ribeiro, 1987: 26).
Jorge Moreira atuou diretamente nesse processo: realizou a maior parte dos projetos da escola
carioca destinados para Porto Alegre, fez parte do quadro de professores do Curso de
172
Cf. contexto da nota 1 na Introdução.
173
Faculdade de Arquitetura de Montevidéu em 1943 (Universidade, 2002, op. cit.: 245).
160
Arquitetura do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre
174
e participou da criação do Instituto
de Arquitetos do Brasil [IAB]
175
.
Entre os fatores de promoção da arquitetura moderna na cidade atribuídos por Demétrio
Ribeiro, pode ser adicionada a realização do II Congresso Brasileiro de Arquitetos em Porto
Alegre, entre 20 e 27 de novembro de 1948, pois teve ampla repercussão entre os gaúchos.
Novamente a presença de Jorge Moreira foi fundamental, pois ajudara a realizar o evento
como diretor geral
176
. A primeira edição do congresso havia ocorrido em São Paulo, três anos
antes. Porto Alegre encontrava-se no foco das atenções naquele momento, demonstrando a
preocupação e a vontade por parte dos arquitetos modernos em apresentar e realizar a
arquitetura moderna no sul do país. Diversas matérias jornalísticas publicadas na imprensa
local no mês anterior à realização do evento como A arquitetura em Porto Alegre de Aldo
Obino
177
já prenunciavam o congresso:
A escola de Lucio Costa está consagrada no Rio Grande do Sul na zona missionária
como o Museu Federal das Missões. Oscar Niemeyer fez um projeto na sua tecnica e
estilo peculiar para a avenida Borges de Medeiros, que esbarrou com o plano diretor
da cidade (...) já tivemos projeto de monumento congenere como o do Vasco Prado
para o Expedicionário (...) hospitais como o em vias de conclusão à
Independência
178
(...). A nossa cidade está crescendo e procurando assimilar a
experiência propria. Houve, sem duvida, predominio do espirito tecnico longe do
estetico. O engenheiro sem o arquiteto [sic] (Obino, 1948: 8).
Em Será realizado em Porto Alegre o 2º Congresso Brasileiro de Arquitetura, o arq. Eduardo
Corona, então secretário do IAB no Rio Grande do Sul declarou que:
174
Designado para lecionar a cadeira de Grandes Composições de Arquitetura, repassou a disciplina para
Demétrio Ribeiro, pois em 1949 assumiu como arquiteto-chefe no ETUB para a realização da Cidade
Universitária do Brasil na Ilha do Fundão, “Apesar de não assumir a cátedra regularmente, Jorge Moreira vem
várias vezes a Porto Alegre dar palestras no curso e sua obra tem bastante influência neste” (Fiore, 1992: 233).
175
Jorge Moreira ajudou na criação do IAB, sendo“um ferrenho defensor da regulamentação do exercício
profissional de sua categoria. Sua ação se estendia das questões específicas de sua área profissional aos
problemas que afetam toda a sociedade: participou de júris de avaliação de projetos e profissionais, ministrou
cursos e conferências, integrou comissões de desenvolvimento da política habitacional do governo e de
preservação da paisagem natural e do espaço construído da cidade” (Conduru, op. cit.: 21).
176
“Comissão Executiva: presidente – F. F. Saldanha; vice-presidente – Eduardo Kneese de Mello, E. Corrêa,
Icaro de Castro Mello, Tasso Corrêa; diretor geral – Jorge Machado Moreira; secretário – Leo de Moraes” (II
Congresso, 1949: s.p.).
177
“Crítico de arte. Porto Alegre, RS, 1913. (...) Escreveu durante cinqüenta anos no Correio do Povo, cobrindo
globalmente a área de artes naquele importante meio de comunicação” (Rosa, op. cit.: 67).
178
Projeto de Fernando Corona de 1943. “No final da década de sessenta, o Hospital do Médico passou por uma
rigorosa intervenção arquitetônica que manteve apenas a sua estrutura a ponde de ser impossível reconhecer o
edifício original. Hoje, de propriedade da Presidência Social, chama-se Hospital Presidente Vargas” (Canez,
op. cit.: 113). A intervenção foi realizada por David Léo Bondar e Iveton Porto Torres (Xavier, op. cit.: 210-11).
161
A escolha de Porto Alegre para séde desse conclave nos foi imposta por ser esta
capital a mais necessitada entre todas de um impulso e de um esclarecimento, no que
se refere ao aspecto arquitetonico. Porto Alegre, nesse particular, está atrazadissima.
É uma cidade em camara lenta. Tudo chega em último lugar. Precisamos mostrar ao
povo portoalegrense o que é a nova arquitetura, o que já se fez no Brasil, qual é a
nova realidade técnica. É urgente evitar-se que a nossa cidade seja vitima, como tem
sido, dos mais recentes monstrengos construidos em nosso país. (...) Por isso, a
capital gaúcha é um caso que merece a maior atenção dos arquitetos brasileiros que,
estou certo, hão de lhe dar toda a sua atenção e apontar o caminho mais certo a seu
progresso [sic] (Corona, 1948: 10).
Uma das finalidades do congresso era “realizar uma exposição de arquitetura e urbanismo”
com projetos da nova arquitetura de todo o país (II Congresso, op. cit.: s.p.). A exposição
ocorreu no auditório Caldas Júnior do jornal Correio do Povo. Entre os projetos apresentados
destacaram-se os projetos de Jorge Moreira para o HCPA
179
, o edifício-sede da Viação Férrea
do Rio Grande do Sul [VFRGS] e o edifício Tracarril, principalmente por serem destinados
para a capital gaúcha. Da Capital Federal destacaram-se o conjunto residencial Pedregulho e o
projeto para o desmonte do Morro Santo Antônio, ambos de Reidy.
Em A moderna arquitetura brasileira em revista no auditório do ‘Correio do Povo’,
Oswaldo Goidanich
180
evidencia os projetos destinados à capital gaúcha como
“alviçareiros motivos de satisfação para a nossa cidade. Eles representam o início
da renovação arquitetônica de Porto Alegre e urge que sejam concretizados” [sic]
(Goidanich, 1948: 3).
Moreira contribuiu intensamente nessa renovação arquitetônica da capital gaúcha, sendo ele o
arquiteto da primeira geração da arquitetura moderna brasileira que mais produziu projetos
para a cidade.
4.3 DEMAIS PROJETOS DE JORGE MOREIRA PARA PORTO ALEGRE
O primeiro projeto de Jorge Moreira para Porto Alegre ocorreu em 1940, ano em que se
dirigiu à cidade com o prof. Souza Campos para tratar sobre o terreno para a construção do
Hospital de Clínicas
181
. Seu último trabalho na capital gaúcha ocorreu em 1965, sendo assim,
verifica-se que por 25 anos o arquiteto buscou promover a arquitetura moderna da escola
179
Cf. O plano arquitetônico do Centro Médico (capítulo 2.2.1).
180
“Pintor e animador cultural. Porto Alegre, RS, 1916 – Porto Alegre, RS, 1995. (...) Figurou em coletivas da
Galeria da Casa das Molduras e Correio do Povo. (...) Passou a dedicar-se ao jornalismo e foi responsável
pelas atividades da Galeria do Touring Club, na década de 70, em Porto Alegre, cidade onde também exerceu a
função de presidente da Ospa” (Rosa, op. cit.: 387).
181
Cf. O prof. Souza Campos e os arq. Jorge Moreira e Hélio Uchôa (capítulo 1.2.3).
162
carioca por meio de sua produção arquitetônica. Ao todo são dez projetos, sendo que dois não
foram encontrados: o edifício administrativo do Fundo de Pensões do Serviço Público [FPSP]
de 1941 e o edifício-sede e Divisão Médica da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos
Ferroviários [CAPF] de 1954.
O edifício administrativo da CAPF
182
de 1940 (figura 142), representa um projeto contido em
relação à linguagem da escola carioca. Embora não seja conhecido o local para sua realização,
a edificação faz frente e fundos para duas vias que são interligadas por uma ruela interna que
transpassa a base da edificação. Essa transposição talvez tendo sido inspirada no projeto da
ABI dos Irmãos Roberto de 1936. A composição tripartida da fachada faz-se presente e a cor
escura da base contribui para sua marcação da base, diferenciando-a do corpo, pois ambos
estão na mesma prumada. As esquadrias do hall da circulação vertical dividem
simetricamente a edificação, apresentando no andar tipo uma sala em cada lateral. Embora
não seja um coroamento elaborado, o recuo do último pavimento cria dois terraços e a
continuação em altura da casa de máquinas e reservatórios contribuem em sua distinção.
Figura 142: fachada do edifício administrativo da CAPF – 1940
(Acervo de JMM no NPD – FAU/UFRJ)
O abrigo São Vicente de Paula, da Fundação Glasfira Vargas
183
de 1941 (figura 143),
configura dentre esses projetos, o único que não foi destinado para Porto Alegre, mas para
São Borja. Todavia, cabe realizar seu registro, principalmente por ter sido o único desses
182
No Acervo de JMM no NPD encontra-se o projeto completo da edificação.
183
Os comentários sobre esse projeto são tecidos apenas com base na respectiva vista da maquete.
163
projetos que foi construído, embora tenha sofrido alterações (Moreira, 1999: 160). O projeto
mescla soluções tradicionais com modernas, provavelmente por se tratar de uma cidade no
interior do estado do Rio Grande do Sul, em plena Campanha Gaúcha, onde a tradição ainda é
muito forte e a resistência ao moderno em geral é evidentemente mais incisiva. Desde o
abrigo veicular, verifica-se a inversão do telhado e a utilização de pilotis em uma faixa de
circulação que conforma uma extensa varanda em forma de “L”. Acoplada a essa varanda,
ocorre uma edificação anexa com telhado de duas águas. Desconsiderando-se a varanda, a
edificação configura-se com o formato de “T”. Em ambas as laterais ocorrem duas grandes
áreas abertas, sendo piscina ou lago de um lado e jardim ou horta de outro.
Figura 143: vista da maquete do abrigo São Vicente de Paula da
Fundação Glasfira Vargas – São Borja – 1941 (Moreira, 1999: 160)
Paralelamente ao lançamento da pedra fundamental do Hospital de Clínicas em 1943
184
, Jorge
Moreira realizou um estudo para o Centro Cívico de Porto Alegre (figura 144). A área já
havia sido alvo de um estudo de Arnaldo Gladosch
185
durante a realização de seus trabalhos
para a cidade entre 1939 e 1942 (figura 145). Todavia, o projeto de Gladosch utiliza área
menor, não interferindo em duas quadras com face para a av. Borges de Medeiros como fez
Moreira.
Para a localização dos edifícios destinados à administração estadual, cuja
construção, com o tempo, se tornará necessária, escolhemos a praça Mal. Deodoro
(Matriz), onde já se acham situados o Palácio do Gôverno, Catedral Metropolitana, o
Forum, etc. e que passará a constituir, então, o que poderemos denominar um
“Centro Cívico” [sic] (Paiva, op. cit.: 154).
184
Cf. A solenidade de lançamento da pedra fundamental (capítulo 2.1.7).
185
O projeto de Gladosch para o Novo Centro Cívico Administrativo Estadual foi publicado em Um plano de
urbanização (Paiva, 1943: 43).
164
Figura 144: projeto do Centro Cívico de Porto Alegre de Jorge
Moreira – 1943 (Moreira, 1999: 106)
Figura 145: projeto do Centro Cívico de Porto Alegre de Arnaldo
Gladosch – 1939-42 (Paiva, 1943: s.p. fig. 28)
Os projetos propõem uma ruptura com o tecido urbano constituído arrasando diversas quadras
e desconsiderando inclusive edificações históricas como o Teatro São Pedro e o então prédio
gêmeo do Tribunal de Contas. Entretanto, em ambos os trabalhos são mantidos a Catedral
Metropolitana e o Palácio do Governo. É visível o contraste entre a proposta de teor
acadêmico de Gladosch e a proposição de linhas modernistas de Moreira, que retoma a tensão
estabelecida entre a grande diferença de altura entre uma barra vertical e uma placa
horizontal, revelando “pleno domínio na passagem para a escala urbana, com os edifícios
funcionando como elementos de ruptura do tecido existente para instauração de uma nova
ordem espacial” (Conduru, op. cit.: 18).
Em 1944, uma concorrência pública para o anteprojeto da sede da VFRGS foi aberta, sendo
atribuído a Jorge Moreira e a Eduardo Reidy a primeira classificação
186
(figura 146). Contudo,
“em virtude de ponderações e entendimentos com a Prefeitura Municipal, tendentes a incluir
o edifício no ‘Plano Diretor’ da metrópole, foi abandonada a localização primitiva”
(Caixeta, op. cit.: 250). Dessa forma, um novo projeto foi desenvolvido no ano seguinte em
outro terreno (figura 147). Todavia, “retornou-se o propósito de construir o edifício sobre o
primeiro terreno ficando o assunto pendente de um financiamento adequado” que nunca
ocorreu (idem, ibidem: 251).
186
A segunda classificação foi para o anteprojeto da equipe da construtora gaúcha Azevedo Moura & Gertum
(Comas, 2002, v. 1, op. cit.: 288).
165
Figura 146: vista da maquete do edifício-sede da VFRGS – primeiro
projeto – 1944 (Moreira, 1999: 108)
Figura 147: vista da maquete do edifício-sede da VFRGS – segundo
projeto – 1945 (Instituto, 2000: 73)
O primeiro projeto foi realizado na av. Farrapos esquina com a rua Barros Cassal, cujo partido
foi desenvolvido em forma de “U” em planta e com elevação tripartida. A base configura-se
por pilotis cujas colunas colossais encontram-se recuadas, a permeabilidade visual é parcial e
a inclinação no terreno foi regulada pela diminuição da altura das colunas. O corpo é
constituído por nove pavimentos, que na fachada de menor dimensão apresenta um sistema de
brise-soleil vertical. A outra fachada configura-se por esquadrias amplamente envidraçadas. O
coroamento apresenta dois pavimentos recuados do corpo, que incorporam auditório com
cobertura em abóbada e reservatórios elipsoidais.
O segundo projeto
187
foi desenvolvido para o terreno onde atualmente se encontra a Estação
Mercado da Trensurb, no centro da cidade. A implantação comprova que, para a existência de
área verde em frente ao edifício, o Mercado Público deveria se destruído, “algo impensável
hoje em dia mas talvez admissível naqueles momentos de afirmação da arquitetura moderna”
(Calovi Pereira, 2000, op. cit.: 65). Dessa forma, assim como na proposta para o Centro
Cívico, o projeto desconsidera o tecido histórico constituído. A planta é configurada por
hexágono alongado e a elevação é tripartida. A base possui colunas colossais recuadas em
relação ao corpo de 20 pavimentos, apresentando um sistema de brise-soleil vertical com
esquadrias amplamente envidraçadas. O coroamento permanece recuado em relação ao corpo,
apresentando auditório trapezoidal sob cobertura inclinada ao lado de cascas hiperbólicas.
187
Conforme Jorge Czajkowski, Jorge Moreira admitiu que o segundo projeto para a VFRGS foi desenvolvido
apenas por Eduardo Reidy (Conduru, op. cit.: 32).
166
O edifício Tracarril da CAPF de 1946 (figura 148), foi projetado na av. Borges de Medeiros
esquina rua José Montaury, no centro da cidade. A edificação posiciona-se em diagonal ao
edifício Guaspari
188
, à esquerda da imagem. A edificação também apresenta a tripartição da
fachada. Na base a estrutura encontra-se recuada do alinhamento, formando uma galeria
coberta. Térreo e sobreloja apresentam uso comercial e o corpo, de 14 pavimentos, salas para
aluguel com planta livre. Uma grelha ortogonal configura o corpo, definida horizontalmente
pelos bordos das lajes e verticalmente pela estrutura. Embora simplificado, o coroamento
ocorre pelo volume do reservatório e casa de máquinas que segue a forma elíptica da escada.
O projeto deu entrada na prefeitura, em 23 de abril de 1947, sendo encontrado no Arquivo
Municipal da Prefeitura Municipal de Porto Alegre pelo projeto n. 12.800 do microfilme n.
136 de 1947 (Weimer: 1998b: 92).
Figura 148: fotomontagem com maquete do edifício Tracarril da
CAPF – 1947 (Moreira, 1999: 115)
O tema hospitalar se repete com dois projetos no mesmo terreno para Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Bancários [IAPB]: o Sanatório de Tuberculose de Jorge Moreira
de 1950 (figura 149) e o Instituto de Tisiologia dos Irmãos Roberto de 1951 (figura 150). Os
motivos para a realização de dois projetos quase que simultaneamente são desconhecidos,
sendo possível a realização de um concurso público de idéias.
188
“O edifício Guaspari (...) projetado em 1936 por Fernando Corona, tem essa luz própria que condensa o
espírito da década de trinta, cujo maior acontecimento foi a Exposição Comemorativa do Centenário
Farroupilha, em 1935” (Canez, op. cit.: 54).
167
Figura 149: perspectiva do sanatório de tuberculosos do IAPB de
Porto Alegre de Jorge Moreira – 1950 (Moreira, 1999: 127)
Figura 150: vista da maquete do instituto de tisiologia do IAPB de
Porto Alegre dos Irmãos Roberto – 1951 (Xavier, 1987: 29)
Os projetos são dispostos em um vasto terreno acidentado acessado por estrada sem nome que
possui ligação com a então Estrada Geral da Cavalhada. Jorge Moreira retoma a tensão entre a
diferença de altura de uma barra vertical e uma placa horizontal. Contudo, assenta a barra
sobre fragmentos da placa e pilotis. No projeto dos Irmãos Roberto
189
a solução é horizontal
em um bloco sobre pilotis levemente curvo e desalinhado em sua prumada, fazendo com que
os três andares possam receber iluminação zenital, possivelmente inspirado no Hotel da
Pampulha de Niemeyer de 1940. Ambos apresentam elementos típicos utilizados até então
pela linguagem da escola carioca, como a grelha ortogonal, a casta hiperbólica utilizada por
Moreira e o auditório trapezoidal de cobertura abobadada aplicado pelos Irmãos Roberto.
A delegacia estadual do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e dos
Servidores Públicos
190
[IAPFESP], projeto de 1965 em terreno desconhecido (figura 151),
evidencia claramente a disposição tripartida da fachada. A base recuada, inclusive nas
empenas cegas laterais, apresenta uma seqüência de colunas colossais na frente de dois
pavimentos que alteram a permeabilidade visual entre o opaco à direita e o permeável à
esquerda. O segundo pavimento da base é parcialmente permeável pela utilização de um
sistema de brise-soleil vertical. A marcação reticulada na fachada emoldura o sistema de
brise-soleil vertical em cada módulo do corpo da edificação que possui 12 pavimentos
alinhados na mesma prumada. No coroamento, uma extensa laje contínua eleva-se sobre
pilotis pelas extremidades e por um volume fechado no centro da composição (igualmente
recoberto pelo mesmo sistema de brise-soleil).
189
O projeto dos Irmãos Roberto para o Instituto de Tisiologia foi publicado na edição especial Brésil em
L’Architecture d’Aujourd’hui (Sanatorium, 1952: 96-7).
190
Os comentários sobre esse projeto são tecidos apenas com base na respectiva vista da maquete.
168
Figura 151: vista da maquete do edifício da delegacia estadual do
IAPFESP – 1965 (Moreira, 1999: 28)
Os distintos projetos de Jorge Moreira para Porto Alegre apresentam soluções utilizadas no
Hospital de Clínicas. A elevação tripartida foi proposta em praticamente todos seus projetos,
inclusive no edifício administrativo da CAPF. A tensão perceptiva entre a diferença de altura
de uma barra vertical e uma placa horizontal ocorre no Centro Cívico e no sanatório do IAPB.
No primeiro projeto para a VFRGS e no edifício Tracarril observa-se na cobertura
reservatórios de forma elíptica que causam a impressão da ocorrência de torres internas à
edificação, solução oriunda da primeira versão do projeto do HCPA. A base recuada com a
utilização de colunas colossais, também está presente nos dois projetos para a VFRGS, assim
como na delegacia do IAPFESP, que retoma inclusive a fenestração horizontal entre térreo e
mezanino. A grelha ortogonal do edifício Tracarril foi um dos elementos que permaneceu no
projeto do HCPA em todas as versões do arquiteto. O sistema de brise-soleil vertical que
recobriu a fachada nobre do HCPA em sua versão intermediária encontra-se nos projetos da
VFRGS e a fachada envidraçada da última versão do HCPA é aplicada no segundo projeto da
VFRGS. As empenas cegas da barra vertical, que passa a aparecer após a retirada das torres
elipsoidais do HCPA em sua segunda versão, ocorre no segundo projeto da VFRGS.
Entretanto, a solução da delegacia do IAPFESP replica inclusive o negativo existente na base.
O volume amebóide da primeira versão do HCPA também existe no sanatório do IAPB, assim
como a utilização de cascas hiperbólicas que culminam na cobertura do segundo projeto da
VFRGS. Essa amostra é suficiente para demonstrar que a linguagem da escola carioca foi
amplamente utilizada pelo arquiteto em seus projetos para Porto Alegre, fazendo de Moreira o
maior promotor da arquitetura moderna na cidade, em que pese quase nada de seus projetos
ter sido construído.
CONCLUSÃO
Por meio da análise do Hospital de Clínicas de Jorge Moreira, pôde-se verificar a relevância,
tanto da obra em si como da atuação do autor, na promoção da arquitetura moderna em Porto
Alegre. A primeira versão do arquiteto apresenta inegáveis virtudes compositivas baseadas na
síntese entre a disciplina compositiva da tradição clássica e as liberdades figurativas da
arquitetura moderna. Moreira demonstra com sua produção arquitetônica, que “o sistema
clássico de proporções não é de todo contraditório aos princípios formais do racionalismo”
(Conduru, op. cit.: 31), comprovando que “é mais acertado procurar inspirações nas obras já
feitas e nas boas idéias alheias” do que empregar formas que “faltam espontaneidade,
objetividade e mesmo razão de ser, não atendendo às finalidades funcionais nem às
estéticas” (Moreira, 1955: 62).
Warchavchik evidenciou no manifesto Acerca da Arquitetura Moderna a necessidade do
arquiteto “estudar a architectura classica para desenvolver seu sentimento esthetico e para
que suas composições reflictam o sentimento de equilibrio e medida, sentimentos proprios à
natureza humana” [sic] (Warchavchik, 1925). Jorge Moreira fez parte dessa geração de
arquitetos, cuja instrução e treinamento acadêmico permitiu “manipular elementos
arquitetônicos, planos e volumes de modo a tornar o princípio de montagem da arquitetura
contemporânea compatível com o sentido de solidez da arquitetura tradicional” (Conduru,
op. cit.: 28). Dessa maneira, ao se olhar para a produção da “linguagem modernista
‘clássica’” brasileira (Cavalcanti, 2001: 11), pretende-se identificar o sistema compositivo
aplicado na arquitetura moderna, buscando “reconhecê-las e reconhecendo-as, reconhecer em
algumas delas um passado que pode bem iluminar um presente e ajudar a construir um
futuro” (Comas, 1987: 28).
Não se trata de restabelecer o vocabulário arquitetônico utilizado pela escola carioca, mas de
retomar os princípios básicos da boa composição, pois conforme Edward Hallet Carr, sobre o
curso dos acontecimentos históricos, “ninguém de sã consciência jamais acreditou num tipo
de processo que avançasse numa linha reta contínua sem reversos, nem desvios (...) Além
disso, seria imprudente supor que, após uma retirada, o avanço seria retomado do mesmo
ponto ou seguindo a mesma linha” (Carr, op. cit.: 149). A arquitetura contemporânea tem que
170
ser diferente da arquitetura do passado, e essa distinção deve ser estabelecida pelas formas,
materiais e técnicas construtivas. Contudo, as virtudes compositivas subjacentes às formas
necessitam permanecer. “A arquitetura moderna brasileira, consagrada ao sol como a ave
‘Fênix’, com sua divina plumagem de sua natureza mítica, ainda espera um renascer” (Frota,
1997: 5).
“Jorge Machada Moreira foi um dos últimos arquitetos brasileiros a praticar uma
arquitetura filiada inteiramente à doutrina da ‘Nova Arquitetura’” (Moraes, op. cit.: 234). Se
o edifício-sede do MES “é considerado o ponto inicial de uma arquitetura moderna de feitio
brasileiro” (Segawa, 1998: 92), então o Hospital de Clínicas teria sido um marco da
arquitetura moderna em Porto Alegre, caso tivesse sido construído conforme o projeto inicial.
Segundo a expectativa da época, a “construção desse bloco magnífico muito há de contribuir
para transformar o panorama arquitetônico de Porto Alegre” (Goidanich, op. cit.: 3).
Conforme Demétrio Ribeiro
191
, “o atraso da construção do Hospital de Clínicas foi
determinante para a arquitetura em Porto Alegre”, palavras que corroboram na verificação
da importância do papel da edificação na promoção da linguagem arquitetônica da escola
carioca na cidade.
A transformação não seria somente na arquitetura, mas no urbanismo também. O Centro
Médico de Jorge Moreira seria pioneiro na divulgação dos princípios da Carta de Atenas,
incluindo uma nova visão de cidade. Sua realização certamente causaria questionamentos às
diretrizes estabelecidas por Gladosch, realizadas entre 1939 e 1942, e anteciparia a realização
de um efetivo plano diretor para Porto Alegre. Embora possua uma escala menor que os
projetos da Cidade Universitária do Brasil de Le Corbusier e de Lúcio Costa, dos quais Jorge
Moreira participou da equipe, o Centro Médico não seria menos importante na capital gaúcha,
pois estimularia a transformação das novas áreas que surgiam concomitantemente à
construção do Hospital de Clínicas. As demais edificações do Centro Médico, que seriam
projetadas dentro de um conjunto moderno, potencializariam ainda muito mais a promoção da
linguagem da escola carioca na cidade.
Se a arquitetura moderna brasileira foi capaz de “estimular as experiências em curso tanto no
Velho quanto no Novo Mundo” (Benevolo, 1976: 711), não haveria de ser diferente em Porto
Alegre. As opiniões divergentes do eng. Bozano, diretor de Obras e Viação da Prefeitura
Municipal de Porto Alegre, quanto à ponte sobre o rio das Antas e o projeto do edifício-sede
191
Entrevista concedida ao autor em 6 de setembro de 2002.
171
do IPE, demonstram que a explicação de uma “forte resistência por parte dos engenheiros
locais” invocando “princípios estéticos e de respeito às tradições, questões climáticas e
outros argumentos” (Ribeiro, 1987, op. cit.: 26), talvez não seja tão reducionista. É evidente
que opiniões contrárias à modernidade existiam, inclusive em áreas afins à arquitetura como,
por exemplo, no Monumento do Expedicionário. Contudo, o projeto do Hospital de Clínicas
não foi alvo de nenhuma rejeição declarada por parte dos gaúchos, exceto no período de
atuação do prof. Souza Campos com o arq. Pujol Júnior. Da mesma forma, os relatórios da
VFRGS demonstram que foi a escolha do terreno para o segundo projeto que motivou
desentendimentos com a Prefeitura Municipal, sendo que após retornarem ao primeiro
terreno, foi por falta de financiamento que nenhum dos projetos foi executado.
Se “essa arquitetura era considerada subversiva pelos elementos mais conservadores do
meio cultural” (Ribeiro, 1983: 41), então os projetos da escola carioca serviram para romper
com esse conservadorismo parcial. Caso tivessem sido executados ainda na década de 40,
comporiam um panorama singular de arquitetura moderna na capital gaúcha. Sendo assim, a
cidade perdeu uma oportunidade de antecipar o processo de modernização por meio dos
exemplares diretos da escola carioca. De toda maneira, não “foi possível aos arquitetos
modernistas radicados no Rio de Janeiro materializar de forma significativa sua concepção
de arquitetura no solo gaúcho. A influência da escola carioca veio a ser revelada
posteriormente na obra de arquitetos locais como Graeff, Fayet, Canarim, Mendonça e
Bered” (Calovi Pereira, 2000, op. cit.: 68).
Tal fato não anula a importância do legado de Jorge Moreira à arquitetura gaúcha, dentre o
qual o projeto do Hospital de Clínicas adquire posição primordial. A sobriedade moderna de
sua organização compositiva, o impacto de sua escala monumental na cidade ainda
provinciana, o ineditismo de sua linguagem arquitetônica e as inovações sugeridas por sua
implantação não-tradicional, constituem contribuições de valor perene ao cenário local, que
não podem ser esquecidas. Recuperar tais lições foi o principal propósito desse trabalho.
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PROCLAMADO, ontem, o resultado do juri. Correio do Povo. Porto Alegre, p. 8, 7 ago.
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XAVIER, Alberto; MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São Paulo:
Pini, 1987.
ANEXO A - QUADRO CRONOLÓGICO DO HOSPITAL DE CLÍNICAS
183
Hospital de Clínicas
(projetos e obras)
Centro Médico
(projetos e obras)
Jorge Moreira
(demais projetos)
1931 Intenção da construção de um
hospital-escola por parte do
Governo Estadual
1933 Concurso Estadual pela Secretaria
dos Negócios das Obras Públicas
- - - - - - - - - - - - - - -
Projeto de Saldanha, Brack e
Mamede
1937 Intervenção do MES com a vinda
do prof. Souza Campos para Porto
Alegre
- - - - - - - - - - - - - - -
Análise dos terrenos: Caminho do
Meio, Partenon e Teresópolis
Estudo da Cidade Universitária no
Campo da Redenção de Pujol Jr.
- - - - - - - - - - - - - - -
Estudo do Centro Médico no
Teresópolis de Pujol Jr.
1938 Vinda do prof. Souza Campos e do
arq. Pujol Jr. a Porto Alegre
Projeto do Centro Médico no
Caminho do Meio de Pujol Jr.
1939 Concurso Federal pelo MES
[
PROJETO NÃO ENCONTRADO]
Concurso Federal pelo MES
[PROJETO NÃO ENCONTRADO]
1940 Doação do terreno pelo Governo
Estadual
- - - - - - - - - - - - - - -
Vinda do prof. Souza Campos e
dos arq. Jorge Moreira e Hélio
Uchôa à Porto Alegre
Anteprojeto para a Escola de
Enfermagem de Evaristo de Sá
(ano provável)
[
PROJETO NÃO ENCONTRADO]
- - - - - - - - - - - - - - -
Projeto para a Escola de Medicina
da construtora Barcellos & Cia
(ano provável)
Projeto do edifício administrativo
da CAPF
1941 Projeto do abrigo São Vicente de
Paula da Fundação Glasfira Vargas
(São Borja)
- - - - - - - - - - - - - - -
Projeto do edifício administrativo
do FPSP
[PROJETO NÃO ENCONTRADO]
1942 Primeira versão do projeto de JMM
*
1943 Cerimônia de lançamento da pedra
fundamental
Projeto do Centro Cívico de Porto
Alegre
1944 Primeiro projeto do edifício-sede
da VFRGS
1945 Segundo projeto do edifício-sede
da VFRGS
1946 Segunda versão do projeto de JMM
**
1947 Início das obras
- - - - - - - - - - - - - - -
Prêmio de Honra no VI Congresso
Pan-americano de Arquitetos em
Lima
(primeira versão de JMM)
Projeto do edifício Tracarril da
CAPF
1948 Projeto do CM de JMM
(ano provável)
1949 Medalha de Ouro no LIV Salão
Nacional de Belas Artes no RJ
(primeira versão de JMM)
1950 Projeto do Sanatório de
Tuberculose para o IAPB
1951 Paralisação da obra
- - - - - - - - - - - - - - -
Publicação no livro A decade of
contemporary architecture de
Siegfried Giedion
(primeira versão de JMM)
Projeto da Escola de Enfermagem
(autoria desconhecida)
184
HCPA
(projetos e obras)
CM
(projetos e obras)
JMM
(demais projetos)
1952 Terceira versão do projeto de JMM
***
- - - - - - - - - - - - - - -
Transferência da responsabilidade
da construção do MES para a
URGS
Projeto do Hospital de Tisiologia
(autoria desconhecida)
- - - - - - - - - - - - - - -
Estudos do CM pela Divisão de
Obras da URGS
1953 Demolição parcial das obras
- - - - - - - - - - - - - - -
Afastamento de JMM
(ano provável)
- - - - - - - - - - - - - - -
Projetos incompletos do DASP
Início das obras do Hospital de
Tisiologia
- - - - - - - - - - - - - - -
Início das obras da Escola de
Enfermagem
(ano provável)
- - - - - - - - - - - - - - -
Projeto da Faculdade de Farmácia
de Lincoln Castro e Flávio Soares
- - - - - - - - - - - - - - -
Estudos do CM pela Divisão de
Obras da URGSe
1954 Reinício das obras
- - - - - - - - - - - - - - -
Projetos incompletos do DASP
Início das obras da Faculdade de
Farmácia
Projeto do edifício-sede e Divisão
Médica da CAPF
[PROJETO NÃO ENCONTRADO]
1955 Conclusão da estrutura da barra
vertical
- - - - - - - - - - - - - - -
Projetos incompletos do DASP
Estudos do CM pela Divisão de
Obras da URGS
1956 Redução do ritmo das obras
1958 Contratação da empresa FOMISA
- - - - - - - - - - - - - - -
Projeto de Valdetaro e Nadalutti
Projeto do Hospital Privado e do
Pavilhão Industrial de Valdetaro e
Nadalutti
- - - - - - - - - - - - - - -
Conclusão da obra da Faculdade de
Farmácia
- - - - - - - - - - - - - - -
Anteprojeto da Faculdade de
Odontologia de Emil Bered
1959 Projeto do CM de Valdetaro e
Nadalutti
1960 Projeto do CM de Valdetaro e
Nadalutti
- - - - - - - - - - - - - - -
Projeto da Faculdade de
Odontologia de Emil Bered
1961 Início das obras da Faculdade de
Odontologia
1964 Obra civil praticamente concluída Conclusão externa da obra do
Pavilhão Industrial
1965 Edifício da Delegacia Estadual do
IAPFESP
1968 Inauguração simbólica
- - - - - - - - - - - - - - -
Comissão para planejar o
funcionamento definitivo
Conclusão da obra da Faculdade de
Odontologia
1969 Início dos trabalhos da equipe
chefiada pela arq. Vera Fabrício
Carvalho nas reformas e
adaptações internas necessárias
para funcionamento definitivo
1970 Lei n. 5.604
1971 Decreto n. 68.930
1972 Primeiros atendimentos
Documentação encontrada:
* planta de situação; plantas dos pavimentos; cortes; fachadas; fotografias da maquete (barra vertical e placa horizontal)
** plantas dos pavimentos; perspectivas (barra vertical)
*** plantas dos pavimentos; corte transversal (barra vertical)
ANEXO B - DEPOIMENTO DE JORGE MACHADO MOREIRA
186
Depoimento elaborado para a enciclopédia Contemporary architects, Londres, St. James Press, 1980.
Iniciei minha vida profissional em 1932, integrando no movimento – do qual começara a participar
ativamente como estudante – para implantação de uma nova arquitetura, conforme vinha ocorrendo
em muitos países, como conseqüência da campanha mundial movida pelos Congressos Internacionais
de Arquitetura Moderna, os CIAM, desde 1928. O movimento na Escola Nacional de Belas Artes,
onde eu fazia o curso de arquitetura, teve início em 1931, quando Lúcio Costa nomeado diretor,
empenhou-se em reformar o ensino, “implantando a nova maneira de conceber, projetar e construir”.
Gregori Warchavchik, pioneiro da arquitetura contemporânea no Brasil, então contratado como
professor, exerceu grande influência nos estudantes, contribuindo para seu interesse e entusiasmo pela
iniciativa de Lúcio Costa. A vinda de Frank Lloyd Wright ao Rio de Janeiro, naquele ano, e a ação
aqui desenvolvida, foi importante para consolidar esse movimento.
Concluído o curso, fui trabalhar numa companhia construtora. Senti imediatamente dificuldades para
fazer arquitetura como passara a entendê-la. Decidi, então, subordinar minha permanência à liberdade
de projetar. Aceita a condição, pude exercer a profissão como desejava, durante o tempo em que lá
permaneci. A exigência de liberdade para projetar mantenho até hoje. Ela não traduz o propósito de
impor meu ponto de vista. Procuro, através do diálogo com o cliente, achar a solução adequada que
atenda às suas aspirações, sem contudo fazer concessões contrárias aos princípios que, como arquiteto,
me cabem defender. Esse critério nunca foi motivo para abandonar um trabalho. Encontro sempre
argumentos para justificar minhas opiniões, fazendo o cliente compreender que estou agindo em
defesa de seus interesses. Em 1937 passei a ter meu escritório de arquitetura.
Na minha vida profissional tive o privilégio de conhecer pessoalmente Frank Lloyd Wright, Walter
Gropius, Richard neutra, Mies van der Rohe, Marcel Breuer, Kenzo Tange e Phillip Johnson. De
maior significação, porém, foi o contato mantido com Le Corbusier, em 1936, quando veio ao Rio de
Janeiro a convite do Ministro da Educação e Saúde. Teve grande importância o convívio, durante
cerca de três semanas, que com ele tiveram os arquitetos do grupo encarregado de projetar o edifício
do ministério, do qual eu fazia parte, e que influiu decisivamente em minha formação profissional.
Nos anos decorridos desde aquela época, nossa arquitetura tem sentido as conseqüências da evolução
das condições sociais, políticas e econômicas do país, que se refletiram na maneira de exercermos a
atividade profissional. Não influíram, entretanto, em meu modo de sentir a arquitetura e de considerar
sua importância. Para mim, fazer arquitetura é idealizar a obra visando a resolver, com intenção
plástica, o problema proposto, de acordo com a época, os materiais e as possibilidades técnicas;
analisando e considerando os fatores externos que nela influem; respeitando imposições e hábitos do
meio; detalhando e articulando todos os elementos e buscando sempre a verdade, quanto à sua
finalidade e função, tanto na forma como no uso dos materiais. Dou toda assistência à construção para
que a obra seja realizada tal como a imaginara e, quando concluída, o cliente sinta seu desejo satisfeito
e eu minha tarefa corretamente cumprida. Preocupo-me com a ambiência da obra projetada e sua
significação no contexto em que será inserida; construída, passa a constituir um elemento da paisagem
urbana, cuja harmonia deve ser assegurada. Por essa razão, todo arquiteto deve ter preocupação
urbanística. De acordo com esse princípio, tenho procurado, através de uma participação bastante
ativa, colaborar no estabelecimento de regulamentações e normas urbanísticas que estruturem a cidade
e orientem seu desenvolvimento, sem prejuízo da paisagem natural e dos testemunhos materiais de sua
história, cujos remanescentes nos cabem preservar.
Espero que lutas e decepções, próprias da vida profissional, nunca me façam esmorecer nem
abandonar os ideais que me animam e sempre se atualizam, para melhor servir à arquitetura e à
profissão, em qualquer atividade e em qualquer circunstância.
Jorge Machado Moreira
Moreira, 1999: 12-3.
ANEXO C - EDITAL ESTADUAL DO HOSPITAL DE CLÍNICAS
188
Secretaria de Estado dos Negocios das Obras Publicas
Directoria de Obras Publicas
De ordem do Snr. Dr. Secretário de Estado dos Negocios das Obras Publicas, faço publico que no dia
3 de Abril proximo vindouro, ás 15 horas, serão recebidas nesta Directoria, ante-projectos para um
hospital de clinicas nesta Capital.
Os trabalhos deverão obedecer ás mais modernas normas de construcção hospitalar. Os documentos
graficos, taes como plantas, córtes, alçados deverão ser feitos nas escalas usuaes e serão
acompanhados de um memorial descritivo e justificativo.
Deverão ser previstos os seguintes Serviços; Laboratorios e Enfermarias:
Clinica propedeutica medica, com ambulatorio.
Clinica dermatologica e sifiligrafica, com ambulatorio.
Clinica neurologica, com ambulatorio.
Clinica oto-rino-laringologica, com ambulatorio.
Clinica oftalmologica, com ambulatorio.
Treis clinicas cirurgicas, com ambulatorio.
Clinica tropical.
Terapeutica clinica.
Quatro clinicas medicas com dois ambulatorios.
Clinica urologicas, com ambulatorio.
Clinica obstetrica, com ambulatorio.
Clinica ginecologica, com ambulatorio.
Clinica pediatrica cirurgica, com ambulatorio.
Clinica pediatrica medica, com ambulatorio.
Clinica odontologica e estomatologica.
Eletroradiogogia e fisioterapia, com ambulatorio.
Instituto anatomico e biologico com:
a-Departamento anatomico e anatomo-patologico.
b-Departamento microbiologico escrologico.
c-Quimica
Pharmacia
Administraçao
Quatro anfiteatros
Cosinha
Lavanderia
Um laboratorio central e um para cada clinica
Hospital para 400 leitos
As enfermarias terão de 20 a 25 leitos, não devendo ser reunidos mais de 10 leitos em cada sala.
Deverão ser previstos em cada unidade clinica:
sala de espera; pequena cosinha; guarda roupa; laboratorio de rotina; dependencias dos assistentes;
sala de pesquizas; quartos de isolamento; alêm das outras dependencias imprescindiveis a unidade
clinica.
Nos ambulatorios de cada unidade clinica haverá corredor de silencio.
As clinicas cirurgicas deverão ser agrupadas.
Os concurrentes não terão direito a indenisação alguma pelos ante-projetos, os quaes serão devolvidos
apos o julgamento, com excepção do que fôr acceito o qual ficará de propriedade do Estado, tendo
porém, o seu autor preferencia na elaboração do projecto definitivo.
Os interessados encontrarão nessa Directoria todos os esclarecimentos necessarios.
Porto Alegre, 4 de Janeiro de 1933
Theophilo Borges de Barros – Director.
Edital, 1933a: s.p. [sic].
ANEXO D - EDITAL FEDERAL DO HOSPITAL DE CLÍNICAS
190
Ministério da Educação e Saúde
Serviço de Obras
De concorrência pública, para ante-projetos do edifício para Hospital de Clínicas da Faculdade de
Medicina e para urbanização de todo o Centro Médico de Porto Alegre.
1- Fica aberto, nesta data, um concurso de dois ante-projetos, sendo um de todo o Centro Médico de
Porto Alegre (Faculdade de Medicina, Faculdade de Farmácia, Faculdade de Odontologia, Escola de
Enfermagem, Hospital de Clínicas, clínicas especiais, instalações de educação física) e outro
especialmente do Hospital das Clínicas, parte integrante do aludido Centro Médico.
2- Os concorrentes entregarão seus trabalhos em invólucros fechados e lacrados, levando apenas por
uma divisa com a qual serão assinados também os desenhos. Os invólucros, virão acompanhados
também de um envelope, levando externamente a mesma divisa do invólucro e contendo o nome e o
enderêço do autor e o número da carteira profissional.
3- No Serviço de Obras, instalado no 3º andar do edifício do Ministério, sito á avenida Graça Aranha,
serão encontrados diariamente das 11 ás 17 horas os elementos necessários á confecção dos ante-
projetos. Os desenhos exigidos constarão de plantas de cada pavimento e da cobertura; cortes
longitudinais e transversal; desenho das fachadas e perspectiva do conjunto.
4- A escala das plantas, cortes e fachadas do edifício do Hospital de Clínicas será de 1:100 e o ante-
projeto de urbanização do Centro Médico terá as plantas na escala de 1:500.
5- Nenhum concorrente poderá apresentar variantes de um mesmo projeto, mas poderá apresentar mais
de um projeto.
6- Os trabalhos serão apresentados ás 14 horas do dia 20 de fevereiro próximo futuro no Serviço de
Obras, mediante recibo.
7- Os trabalhos não premiados serão devolvidos aos seus autores, que os procurarem até 15 dias
depois de publicado o julgamento. Findo este prazo, os concorrentes que os não tiverem procurado
perderão o direito aos mesmos.
8- Nos ante-projetos classificados poder-se-á exigir que sejam feitos pelo autor as modificações que
forem julgadas convenientes pelo Ministério da Educação e Saúde.
9- O concurso será julgado por uma comissão nomeada pelo ministro da Educação e Saúde.
10- Os premios serão conferidos de conformidade com a classificação conferida pela Comissão.
11- O concorrente classificado em 1º lugar receberá o prêmio de 25:000$000; em 2º lugar, o prêmio de
15:000$000 e em 3º lugar, o prêmio de 10:000000.
12- O Govêrno, caso as condições de preço sejam satisfatórias, contratará, com o autor do ante-projeto
classificado em 1º lugar, a execução do projeto do Hospital de Clínicas, cuja execução deverá iniciar-
se em 1939.
13- A Comissão si não julgar idôneos os trabalhos, poderá deixar de classificá-los.
Serviço de Obras, 31 de dezembro de 1938. Ed. Sousa Aguiar, superintendente.
Ministério, 1939: 362 [sic].
ANEXO E - MEMORIAL E PROGRAMA DO HOSPITAL DE CLÍNICAS
192
HOSPITAL DAS CLINICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE
O Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Porto Alegre
faz parte do conjunto de um centro
medico em cuja composição devem entrar os seguintes elementos:
I. Hospital das Clinicas
– Bloco central.
II. Escola de Enfermagem
.
III. Edificio dos laboratorios e administração
.
IV. Um bloco futuro para obstetricia e ginecologia.
V. Um bloco futuro para quando as outras clinicas especializadas (dematologia, sifiligrafia,
oftalmologia, oto-rino-laringologia, molestias tropicais, urologia) saírem do bloco central.
VI. Um pavilhão para psiquiatria e (futuro) neurologia.
VII. Edificio para a futura Escola de Farmacia e Odontologia, quando esta se desmembrar da
escola médica.
VIII. Praça de esportes.
Para localização deste centro médico de ensino
ou cidade hospitalar ha um terreno adquirido pelo
Governo do Estado do Rio Grande do Sul e doado ao Governo da União por escritura publica lavrada
no dia 8 de março de 1940.
O terreno situado na Avenida Protasio Alves, no local anteriormente chamado de Caminho do Meio ou
praça das carretas, mede, nessa avenida, cerca de 265 metros de frente. Tem de profundidade
aproximadamente 700 metros. Para os fundos alonga-se ate a divisa irregular formado pelo trajeto
sinuoso do arroio Diluvio. Estando este riacho em vias de retificação, o seu letto será deslocado
afastando-se para alem da divisa ora mencionada. Era condição indispensavel esta modificação de
regimen de tal curso dagua que filiforme nas secas cresce e se avantaja nas enchentes derramando suas
aguas em extensas zonas marginais.
Eis a razão do não aproveitamento desta area de terreno, nua de construções, não obstante a sua
proximidade do centro urbano. E, pela mesma razão, são aí mesquinhas as casas existentes lançadas
em lotes minguados que margeiam as ruas existentes.
A area doada à Faculdade, com a cláusula de que nele só poderão ser erigidas as edificações da escola
médica tem, atualmente, uma só frente voltada para a avenida Protasio Alves. Despida de habitações
está encravada entre duas zonas ocupadas por mesquinhos casebres, geralmente de madeira, surgidos a
despeito das inundações e dos mosquitos abundantes na região.
As obras de saneamento que se vão agora processando com regularidade e presteza protegerão o
terreno, livrando-o do flagelo anual do tempo das aguas. Não impedem, porém, a condição decorrente
desta circunstancia, isto é, a presença, nas visinhanças de pequenos lotes sobre os quais se acumulam
casinholas, com todo seu cortejo de dependencias indesejaveis, muros arruinados e as indefectiveis
bandeirolas de roupa lavada expostas ao sol.
Contando apenas com sua face anterior aberta para a Avenida Protasio Alves está assim o terreno
forrado, de um lado e de outro por tão desordenada e pouco apreciavel visinhança, tendo, ao seu fundo
continuidade com as glebas marginais do Diluvio.
Espetaculo pouco recomendavel resultará desta mesquinha moldura para o monumental conjunto do
centro médico. Um ligeiro esquma demonstra esta situação.
193
Impõe-se, pois, a necessidade de extender as desapropriações até a rua São Manuel, de um lado e, pelo
menos, na parte mais anterior, do outro.
Solicitamos sempre esta providencia, como medida a ser empreendida pelos governos estadual,
municipal ou federal. Além das exigencias de carater urbanistico que impõem esta solução ha, ainda, a
necessidade, não menos imperiosa de facultar acessos livres, para o centro médico, por outra via que
não a avenida principal. O mais elementar espirito de previdencia seria suficiente para apontar esta
necessidade. Um outro fator, porém, infervem na solução deste problema. Resulta do plano diretor da
cidade, cujas diretrizes urbanisticas vem sendo traçadas pela prefeitura, com a ajuda de um técnico
para esse fim, por ela contratado.
O esquema anexo demonstra a situação:
1. Avenida Protasio Alves
2. Rua São Manuel
3. Rua D. Tereza
4. Rua Venancio Aires
5. Avenida Oswaldo Aranha
6. Parque Farroupilha ou Campo
da Redenção
7. Terreno da Faculdade
Em vermelho a avenida projetada
e que atravessa o terreno quasi
em diagonal.
O plano diretor quer traçar uma avenida que percorrendo o terreno em caminho da Avenida Oswaldo
Aranha divide-o em dois pedaços de tamanho desigual e de forma irregular. Na figura a avenida está
traçada em vermelho. A gleba maior que faceia a Avenida Protasio Alves tem a morfologia
aproximada de um trapezio. Corresponde a cerca de dois terços da area total. Na figura está indicada
com a letra (a). A gleba menor assume a forma triangular, tendo um dos seus lados no riacho Diluvio.
Está marcada com a letra (b). A avenida projetada tendo a vantagem de abrir uma nova frente para o
terreno traz o grave inconveniente de seccioná-lo em duas porções desiguais e irregulares. Fixada esta
diretriz terá o centro medico que se distribuir de um lado e do outro da via publica projetada, ficando
cortado em dois sectores fronteiriços. Em sua composição e distribuição o “campus” medico terá de
obedecer às condições impostas por este traçado. Diminuido na sua area, já de si exigua, pelo terreno
que tem de dispensar para a passagem da nova arteria; comprometido pela irregularidade da forma nos
dois sectores em que é dividido; apertado pelas tenazes das construções que se estendem ao longo da
rua São Manuel e D. Tereza – não se pode dizer que esta area corresponda ao valor e imponencia das
edificações que nela serão erigidas.
Uma providencia, pois, se impoe e eu a reclamo com todo o ardor e convicto da sua absoluta
necessidade: consiste na desapropriação de toda a faixa de casebres que se extende pela rua São
Manuel e mais o trecho compreendido entre Protasio Alves, Venancio Aires e a avenida projetada.
Com esta providencia o terreno ficará desafogado, adquirindo excelentes condições. Apezar da forma
irregular terá a imensa vantagem
de ser, em sua gleba maior, rodeado, em todas as suas faces por
avenidas e ruas, a saber; Ave. Protasio Alves, avenida projetada, rua São Manuel. O triangulo de area
menor terá uma frente para a via traçada. Esta é a melhor solução
para o caso. Eu não me dispenso de
solicitar, ainda uma vez, que esta dever ser a medida adotada, para beneficio, atual e futuro, do
conjunto que aí se vae implantar. Ponho nisso todo o meu empenho. Quem deverá ou poderá fazer a
aquisição desta nova area? O Estado, a Municipalidade, a União? Não me cabe opinar sobre este
ponto. Insisto porem nesta questão
. Si não houver possibilidade de resolvê-la como está indicado e
atendendo a fáto de que a municipalidade precisará de faixa de terreno para a abertura da avenida
projetada e de outra – que tambem restringe o terreno na sua area – para alargamento da avenida
Protasio Alves – uma solução apreciavel pode ser encontrada. Consiste na permuta de terrenos com a
194
Prefeitura. Esta, recebendo as duas zonas necessarias para a abertura da avenida projetada e
alargamento da Protasio Alves (Caminho do Meio), dará em troca as duas zonas indicadas em azul no
esquema acima, ao longo de São Manuel e junto a Venancio Aires. Si o balanço das areas fôr
desfavoravel à União penso que o governo federal nada mais deve pedir por ter sido o terreno doado
pelo Estado do Rio Grande do Sul. Si, ao contrario couber a municipalidade a desvantagem na
barganha poderá a Uniao acrescentar ao seu quinhão o “quantum satis” na gleba menor, do triangulo
(b). De qualquer forma é indispensavel expandir a gleba maior
avançando-a até as ruas São Manuel e
Vanancio Aires e livrando-a dos casebres que nestes trechos se erguem.
Desprezados estes alvitres, mesmo assim no terreno doado e alterado pela urbanização municipal,
pode ser construido o centro médico e principalmente o Hospital das Clinicas. Terá, porém, este
conjunto condições desfavoraveis que não mais se corrigirão Por outro lado a bela metropole rio
grandense perderá a excepcional oportunidade de ter – com este grupo de grandes construções – um
recanto maravilhoso que dará – sem duvida – uma nota singular e magnifica no traçado da sua zona
urbana. Que melhor atestado do grau de cultura de um país, de um estado, de um municipio do que
este de possuir e exibir um centro de estudos bem organizado, bem colocado, bem edificado, bem
mantido, bem dirigido? Não será um grande centro de atração e de orgulho para a cidade? Deverá ser
disposto desordenadamente, sem uma composição harmoniosa? Será admissivel que em um local onde
a administração federal vae inverter agora cercadde 15.000 contos, que subirá ao dobro no decorrer
dos anos, que , neste ponto, não se façam os beneficios exigiveis, de acordo com o valor e dignidade
da obra?
Estas perguntas vêm-me ao correr da pena e são aqui lançadas para reforcar argumentos pois não
duvido que qualquer das soluções apontadas encontre eco e apoio. Estas ou outras que resolvam o
problema de melhor modo.
Apontados estes diversos aspectos da questão do terreno passo a desenvolver o programa do Hospital
das Clinicas.
HOSPITAL DAS CLINICAS
O hospital foi programado de modo a constituir na hora atual um unico bloco capaz de conter todas as
catedras de clinica da Faculdade, excluidas a obstetricia e a psiquiatria.
conterá este mono bloco 18 clinicas.
Considerada a dotação de 12.000:000$000 concedida para esta obra o numero de leitos não pode ser
muito elevado. Admitiu-se, pois, as seguintes bases, após entendimento com o diretor e professores da
Faculdade:
14 clinicas de 26 leitos cada uma 364 leitos
4 clinicas de 20 leitos cada uma 80 leitos
Observação de doentes 6
leitos
450
A seguinte enumeração das clinicas que serão contidas neste bloco determina, quais as de 26 leitos e
quais as de 20.
I – Clinicas de 26 leitos
As clinicas de 26 leitos, em numero de (14) quatorze, foram assim consideradas:
A – Clinicas médicas (8).
1
a
) Clinica propedeutica médica 26
2
a
) Primeira clinica médica 26
3
a
) Segunda clinica médica 26
4
a
) Terceira clinica médica 26
5
a
) Quarta clinica médica 26
6
a
) Clinica neurologica 26
7
a
) Clinica pediatrica médica 26
8
a
) Clinica terapeutica 26 208
195
B – Clinicas cirurgicas (6).
1
a
) Clinica propedeutica cirurgica 26
2
a
) Primeira clinica cirurgica 26
3
a
) Segunda clinica cirurgica 26
4
a
) Clinica cirurgica infantil e
ortopedica 26
5
a
) Clinica ginecologica 26
6
a
) Clinica urologica 26 156
II – Clinicas de 20 leitos
As clinicas de 18 leitos em numero de (4) quatro, são as seguintes:
A – Clinicas médicas (8).
1
a
) Clinica de molestias tropicais e infecciosas 18
2
a
) Clinica dermatologica e sifilografica 18
3
a
) Clinica oftalmologica 18
4
a
) Clinica otorinolaringologica 18 72
Como compensação ao numero de leitos de cada clinica haverá um serviço de ambulatorio que abranja
24 doentes para cada clinica de 26 leitos e 30 para cada clinica de 20.
Nestas condições cada clinica terá à sua disposição 50 doentes, entre internados e externos.
Por outro lado tanto as clinicas de 26 como as de 20 serão dotadas de dois serviços um de homens e
outro de mulheres. Estes serviços poderão ser constituidos de modo que cada um tenha 50% do
numero de leitos.
Poderemos, porém, admitir que a distribuição seja desigual cabendo 2/3 para o sexo masculino e 1/3
para o feminino. Para o ensino esta ultima solução é preferivel pela circunstancia dos homens se
prestarem melhor ao exame de estudantes que neles têm de empregar os metodos propedeuticos de
inspeção, palpação e escuta.
Figurarei as duas possibilidades.
Antes, porém, é mister fixar o tipo de enfermarias.
Esta tem de conter um numero pequeno de leitos,
como adição de um quarto de isolamento ou silencioso, pelo menos. Adotando o tipo de 6 leitos no
maximo, com subdivisão de 3 e 1, teremos o ótimo, sob o ponto de vista hospitalar. Ha, entretanto, um
aumento de area, por leito, em relação a outro tipo mais economico em que o numero de leitos poderá
subir até nove.
Figurarei os dois casos, de enfermarias de 6,3,1 e de enfermarias de 9,6 e 1, tanto em relação a
hipotese de 50% para cada sexo, como nadde 2/3 + 1/3.
I – 50% para cada sexo
50% para cada sexo
6 leitos no maximo 9 leitos no maximo
A – Clinica de 26 leitos
A – Clinica de 26 leitos
Homens 6+6+1=13 Homens 9+3+1=13
Mulheres 6+6+1=13
Mulheres 9+3+1=13
26 26
B – Clinica de 20 leitos
B – Clinica de 20 leitos
Homens 6+3+1=10 Homens 9+1=10
Mulheres 6+3+1=10
Mulheres 9+1=10
20 20
II – 2/3 Homens e 1/3 Mulheres
2/3 Homens e 1/3 Mulheres
6 leitos no maximo 9 leitos no maximo
A – Clinica de 26 leitos
A – Clinica de 26 leitos
Homens 6+6++3+1=16 Homens 6+9+1=16
Mulheres 6+3+1= 10
Mulheres 9+1= 13
26 26
196
B – Clinica de 20 leitos B – Clinica de 20 doentes
Homens 6+6+1=13 Homens 9+3+1=13
Mulheres 6+1= 7
Mulheres 6+1= 7
20 20
Para permitir as diferenças de areas entre as clinicas de 26 e de 20 leitos estas ultimas podem passar
para os pavimentos superiores. Dest’arte o edificio sofrerá uma restrição em suas dimensões na sua
parte mais alta ou estes excessos de area terão outra aplicação.
O arranjo das clinicas nos diversos andares poderá obedecer aos criterios seguintes:
a) Colocação de duas clinicas em cada pavimento
, de modo a permitir boa independencia a cada uma
delas, por meio de um hall central que as separe e as una.
b) Distribuição das clinicas de modo a localizar as quatro de menor numero de leitos
em pavimentos
sobrepostos aos das clinicas de 26 leitos.
c) Disposição das clinicas nos varios andares de modo a permitir que para o futuro haja uma só clinica,
em cada pavimento, com o duplo numero de leitos atual, saindo as clinicas especializadas para outro
edificio que será então costruido.
d) Sistematização das clinicas de modo a haver alternancia
dos pavimentos medicos e cirurgicos,
condição que permite um duplo pé direito para as salas operatorias, como será exposto mais adiante.
e) Colocação das salas operatorias uma sobre as outras, em sentido vertical
, afim de que correspondam
aos andares das clinicas a que tenham de servir.
f) Situação dos serviços técnicos cientificos
nos andares inferiores aos das clinicas de maneira a
facilitar acesso aos doentes de ambulatorio.
g) Posição das cosinhas e dormitorios ao alto, evitando-se cheiro fumaça e moscas
h) Administração, recepção de doentes e observação ao nivel do terreo.
i) Salas de aula de facil comunicação com o hospital e ambulatorios.
j) Ambulatorios em sentido horizontal ou vertical
k) Disposição dos serviços auxiliares (side rooms) de cada clinica, de modo que alguns sejam privados
e outro, ao contrario, sejam comuns às duas clinicas de cada andar.
Com estas bases o arranjo pode ser feito de acordo com o seguinte esquema:
Cosinhas, dormitorios
4 clinicas Clinica molestias tropicais Clinica dermatologica e sifiligrafica
de 20 Clinica otorinolaringologica Clinica oftalmologica
leitos Clinica pediatrica médica Clinica neurologica
Clinica ginecologica Clinica urologica
Terceira clinica medica Quarta clinica medica
14 clinicas Primeira clinica cirurgica Segunda clinica cirurgica
de 26 Primeira clinica medica Segunda clinica médica
leitos Clinica propedeutica cirurgica Cirurgia infantil e ortopedica
Clinica propedeutica médica Terapeutica clinica
Serviços técinicos cientificos
Administração
Recepção, etc.
Clinicas médicas
Clinicas cirurgicas
Por este esquema as quatro clínicas menores, de 20 leitos, ficam acima das outras, as clinicas medicas
e cirurgicas se alternam e existem duas clinicas por andar. O plano permite que futuramente saiam do
bloco central as clinicas especializadas
, ocupando, então, as clinicas gerais, um andar inteiro.
Asdistribuição passará a ser feita segundo o plano que se vae seguir para o que é indispensavel prever
dois andares futuros
.
197
Neles serão alojadas duas clinicas gerais (4
a
clinica médica e clinica médica). Ficará este bloco central,
assim, com todas as clinicas gerais, em numero de 11. Dest’arte, os andares de clinica, considerados
no esquema anterior, em numero de 9, para conter as 18 clinicas (na base de duas por pavimento)
passarão a 11, pela construção futura de dois pavimentos necessarios, previstos no calculo da estrutura
de concreto armado. Neste caso, a distribuição das clinicas passará a ser a seguinte:
11 Quarta clinica médica – Pavimento futuro
10 Terceira clinica médica
9 clinica pediatrica médica
8 Cirurgia infantil e ortopedica
7 Segunda clinica medica
6 Segunda clinica cirurgica
5 Primeira clinica médica
4 Primeira clinica cirurgica
3 Terapeutica clinica
2 Clinica propedeutica cirurgica
1 Clinica propedeutica médica
Nestas bases os quatro andares cirurgicos serão mantidos de modo que não haverá alterações no setor
operatorio. Os andares de clinica medica tambem não sofrerão alteração, aumentando, apenas o
numero de leitos, e algumas instalações acessorias.
Para outro blocos sairão as seguintes clinicas, às quais se juntarão as clinicas psiquiatrica e obstetrica.
Clinica molestias tropicais
‘’ dermatologica e sifiligrafica
‘’ neurologica
‘’ ginecologica
‘’ urologica
‘’ otorinolaringologica
‘’ oftalmologica
Os blocos futuros poderão, então, ser assim constituidos:
a) Clinica de mulheres
compreendendo a ginecologia e obstetricia
b) Clinica psiquiatrica e neurologica
c) Clinica de molestias tropicais, dermatologia e sifiligrafia, urologia, otorinolaringologia,
oftalmologia.
Eis a razão.porque, no inicio deste memorial foi especificado que na urbanização geral do terreno é
indispensavel contar com outro elementos construtivos, isto é, que além do local para o Hospital das
Clínicas (Bloco central), Escola de Enfermagem, edificio dos laboratorios e administração, idem para
a futura Escola de Farmacia e Odontologia, praça de esportes ha que cuidar de prever a localização
futura dos seguintes satelites:
1) Um bloco futuro para a Clinica de Mulheres (obstetricia e ginecologia)
2) Um bloco para as clinicas especializadas de dermatologia, oftalmologia, otorinolaringologia,
molestias tropicais e urologia.
3) Um pavilhão de psquiatria e neurologia.
Estas considerações dão o delineamento de um plano futuro pelo qual as clinicas de Porto Alegre
poderão alcançar numero de leitos equivalentes ao das Faculdades de São Paulo e Rio de Janeiro. Esta
composição não altera, entretanto, o projeto atual do hospital que pode ser modelado como se nunca
tivesse de sofrer alteração. Em outras palavras, a previsão expansionista aqui assinalada em nada
prejudicará o plano atual do Hospital das Clinicas. As unicas condições a serem estabelecidas agora
são a de prever dois pavimentos futuros, no calculo da estrutura e aparelhar a urbanização de maneira
198
a poderem ser, mais tard , implantados os blocos satelites em harmonia estetica e de funcionamento
com o bloco central ora em projeto.
Feitas estas considerações passarei a descriminar as bases gerais para o programa do hospital.
BASES GERAIS DO PROGRAMA
A Faculdade de Medicina compreende , no minimo, quatro elementos essenciais.
I. Hospital de Ensino e seus satelites
II. Ambulatorio
III. Escola de Enfermagem
IV.. Bloco dos laboratorios, administração, e seus complementos.
Com exceção da Escola de Enfermagem, os outros tres elementos podem ser contidos em um
monobloco, abrigando-se “under the same roof”.
A Escola de Enfermagem, no que diz respeito aos seus dormitorios, vida social e aulas fundamentais
não deve de forma alguma entrar neste conjunto.
A enfermaria sujeita ao trabalho exaustivo e penoso de atender aos doentes necessita de um ambiente
diverso para seu repouso e vida social. Proximo do hospital, pela comodiadade das comunicações,
deve este edificio dele se distanciar quanto possivel e quanto possivel ficar livre de sua vista.
As outras partes do conjunto – Faculdade de Medicina – podem ser agrupados em um só aranhá-céo.
Ha que considerar porem os argumentos que fazem pender a balança para a constituição de pelo
menos dois blocos, um abrangendo o hospital e ambulatorio, outro laboratorios e administração. O
argumento mais valioso concerne as dotações orçamentarias.
Um grande monobloco capaz de conter todos estes elementos representaria um custo avultado,
superior, talvez a 25.000:000$000, para o caso de Porto Alegre. Tal soma obrigaria, sem duvida, a um
pedido de redução de custo que prejudicaria, de modo fatal, toda a obra. É preferivel pois separar este
complexo em duas partes, uma compreendendo o hospital e ambulatorio, outra, a administração e
laboratorios.
Segundo argumento reside na nossa organização de ensino
pela qual os alunos, nos primeiros anos,
frequentam os cursos de laboratorio e nos ultimos as clinicas. Sendo assim é preferivel desafogar o
hospital da frequencia de estudantes que não sendo chamados às clinicas só irão, com sua presença,
complicar a disciplina hospitalar, deficultando, tambem, o problema dos acessos, transportes, etc.
Considerarei, pois, separadamente, cada um dos quatro elementos, acima mencionados, começando
pelo Hospital de Ensino.
HOSPITAL DE ENSINO
As considerações anteriores já demonstraram a razão de se tornar necessario, no estudo do conjunto
urbanistico do “campus”, admitir um bloco central, representando o hospital que se var agora erigir e
mais tres edificios futuros, para a Clinica de Mulheres, para as clinicas especializadas e para o
pavilhão de psiquiatria e neurologia.
Admitindo a possibilidade de expansão,futura, como já foi descrito, pelo expurgo das clinicas
especializadas, do bloco central, não obstante este fáto, o estudo do referido bloco central é
apresentado de modo a poder funcionar, como tal, indefinidamente, caso tal ampliação, em bloco
satelites, não se possa realizar no futuro. Este é o criterio que orienta o programa que se vae seguir:
funcionamento atual perfeito, ampliação futura prevista e posta em bõa harmonia com a atual
edificação.
HOSPITAL DE ENSINO – BLOCO CENTRAL
O hospital é considerado como subdividido funcionalmente nas seguintes secções.
199
a) Administração hospitalar e serviços gerais.
b) Serviços clinicos gerais
c) Serviços clinicos departamentais
d) Serviços técnicos-cientificos (em parte localizados fóra do hospital no bloco dos laboratórios)
e) Serviços de ensino
f) Serviços religiosos
g) Serviços funerarios (ligados com a secção de anatomia patologica do bloco dos laboratorios)
h) Circulação geral.
A Administração hospitalar
é representada por tres elementos:
a) administração técnica – direção médica
b) administração economica – superintendencia
c) administração da enfermagem – direção (subdiretoria) da Escola de Enfermagem.
Tais serviços administrativos, sobretudo os da direção economica – superintendencia – precisam gozar
de independencia e facil acesso, principalmente para os funcionarios leigos, encarregados de trabalhos
de burocracia pura.
A direção da Escola de Enfermagem deve ter mais estreito contato com outras dependencias privativas
de enfermeiras, dentro do hospital. Esta direção está em conexação com os serviços instalados no
edificio da Escola de Enfermagem que lhe são subordinados.
Os serviços gerais podem ser subdivididos em dois grupos, um (almoxarifado, serviços de
conservação, etc) nos andares inferiores, outro (cosinhas, refeitorios, dormitorios) nos pavimentos
mais altos.
A secção de Serviços Clinicos Gerais
abrange as seguintes subsecções:
a) Admissão e recepção de doentes.
b) Observação de doentes com 6 leitos
c) Serviços gerais de ambulatorio (vide ambulatorios).
Os Serviços Clinicos Departamentais
compreendem as cadeiras de clinica da Faculdade. As
instalações desta catedras compoem-se de cinco subsecções
1) Enfermarias e anexos
2) Estação privada
3) Estação comum a duas clinicas
4) Administração departamental
5) Ambulatorio (vide ambulatorio).
A subsecção de enfermarias
conterá leitos para homens e leitos para mulheres, distribuidos em
unidades de enfermaria de pequeno numero de doentes e com quartos de isolamento para cada sexo.
As instalações sanitarias serão tambem fracionadas de modo a evitar grande curso de doentes nos
corredores. Estas enfermarias deverão ser dispostas de modo a ocuparem a melhor posição no que diz
respeito a orientação heliotermica e anemoscopica. A face de orientação menos feliz será aproveitada
para os serviços auxiliares (side rooms), a saber: sala da enfermeira, rouparia, copa, refeitorio, e estar,
despejo.
A estação
compreenderá duas partes: uma comum as duas clinica do andar e outra privativa de cada
clinica.
A estação comum
será composta de dois elementos capazes de conter serviços técnicos que podem ser
comuns às duas clinicas do andar: laboratorio, raio X.
A estação privada
terá uma sala de exame médico, outra para tratamento ou curativo, com gabinete
anexo de esterilização de ferros e outra para endoscopia.
A administração departamental
compor-se-à de gabinetes para o professor, sala para os assistentes,
secretaria e arquivo, vistiario e sanitarios. Para as duas clinicas do andar haverá um seminario – sala de
aula, com capacidade para 20 alunos.
200
O ambulatorio será descrito mais adiante.
Todas as clinicas e suas diversas secções ou subsecções devem ser bem sistematizadas de modo que
cada sector goze de maior independencia possivel. Tais setores assim como as salas que as compoem,
precisam ser grupados de acordo com suas afinidades.
Os Serviços técnicos cientificos
precisam ter facil acesso não só para as clinicas do hospital como para
os doentes externos de ambulatorio. As clinicas que melhor relação devem ter com tais serviços são as
propedeuticas medica e cirurgica
e a terapeutica clinica. De preferencia as secções de fisiodiagnostico
devem corresponder à propedeutica médica e as fisioterapia à terapeutica clinica.
A secção de farmacia
exige um posição no edificio que facilite a entrega de medicamentos para o
distribuidor dos ambulatorios e facilite a remessa de material terapeutico às clinicas dos diversos
andares. O distribuidor de medicamentos
do ambulatorio deve ser colocado de modo que a sua sala de
espera coincida com a saida dos doentes externos.
Quanto aos laboratorios
existirão no bloco central apenas algumas dependencias ou “postos” de
colheita e distribuição do material para exame. Nestes “postos” poderão ser realizados alguns exames
ligeiros, mas de regra
, todo o material colhido será enviado, conforme a sua natureza, para as cadeiras
de microbiologia, parasitologia, anatomia patologica, quimica fisiologica, fisiologia
. Nestas existirão
técnicos encarregados dos exames de rotina
de bacteriologia, parasitologia, etc.; medicos
especializados nestes trabalhos que funcionarão em intima cooperação com tais catedras e sob a
direção geral e controle dos respectivos professores. As vantagens dai decorrentes são imensas. Em
primeiro lugar evitar-sé-à a incrivel condição de que o homem de laboratorio deve ser ao mesmo
tempo bacteriologista, parasitologista, anatomo patologista, citologista, quimico, etc. Tal condição se
emparelha com a do medico que, ao mesmo tempo, queira ser clinico, cirurgião, oculista,
otorinolaringologista, dermatologista, ortopedista, neurologista, obstetra, psiquiatra, etc. Possivel, nos
lugares onde ha falta de recursos, esta situação não pode ser admitida nos grandes centros e
principalmente em uma escola medica.
A universalidade de conhecimentos que se quer exigir do homem de laboratorio
, na pratica, apezar dos
assuntos enquadrados sob tal titulo, fazerem parte de muitas catedras distintas (microbiologia,
parasitologia, anatomia patologica, histologia, quimica fisiologica, fisiologia, farmacologia) tem dado
causa a um certo descredito em que vem caindo as praticas laboratoriais.
Si é admissivel que exames ligeiros, de orientação,possam ser praticados nos pequenos laboratorios
anexos às catedras, não deve ser permitido, à luz dos conhecimentos atuais
que os trabalhos de rotina
ou de confirmação não sejam afetos a técnicoseespecializados nos grandes ramos das investigações
científicas.
Estes devem trabalhar nas proprias catedras da Faculdade,
aproveitando as suas instalações, seu
material de controle
(coleção de culturas, museu anatomopatologico) suas fontes bibliograficas e,
principalmente, o contato
, a cooperação do professor e seus assistentes de ensino, no esclarecimento d
casos dificeis.
Teremos, então, em cada catedra de laboratorio duas secções, uma de ensino
e outra de rotina, ambas
sob a direção do professor, podendo, cada uma delas, desenvolver trabalhos de pesquiza de acordo
com as possibilidades existentes. Na nova fase em que vae entrar a Faculdade de Medicina de Porto
Alegre, com seu hospital novo, sua Escola de Enfermagem, não devemos pretender que seus trabalhos
técnicos de laboratorios fiquem sujeitos aos azares de exames superficiais empreendidos em cada
catedra, por amadores, estudantes ou noviços, moços de sete instrumentos, não ou mal remunerados e
que por todas estas razões, não poderão tratar os problemas como eles o dever ser.
Quanto tempo, quanta pratica, quanto estudo, quanta observação, quanto exame comparativo, quanta
bibliografia, quanto material de coleção, que corantes bem doseados e ajustados, que aparelhos bem
controlados, que técnica afinada e precisa, enfim, quantas precauções e conhecimentos são exigiveis
para um simples exame morfologico do sangue
. Nas mãos habeis e experimentadas de um citologista
quantas informações preciosas pode ter o clinico com esta só indicação. Entretanto, neste capitulo,
quanto exame mal feito, quanta indicação errada, quantas más consequencias para os doentes, por falta
de olho educado que só pode resultar de anos de observação e de experienica. Todavia não ha quem
não se julgue capaz de fazer exame quantitativos e qualitativos desta natureza. Si os erros pudessem
ser controlados e revelados... E os exames bacteriologicos realizados em laboratorios onde, não raro,
201
mal se divisa uma estufa ou um centrifugador manual. Quem prepara os meios de cultura, quem
determina o seu P.H., quem verifica a qualidade e dosagem dos assucares empregados, e emfim, toda
uma serie de trabalhos técnicos delicados de que depende essencialmente o resultado do exame? Não
importa. Ha um encarregado do laboratorio e por isto sems exames devem estar certos.
Devemos ainda acentuar que, entre nós, por falta da visinhança das catedras de clinica e de laboratorio,
por ausencia de trabalhos em comum entre estes dois ramos da medicina, que deviam constituir um só,
ha um divorcio entre clinicas e laboratoristas que levam uns e outros a proclamar nada saberem do que
se passa no outro campo ... às vezes até considerado com inimigo. Dai resulta a pouca possibilidade do
clinico em pezar e interpretar os resultados oriundos do laboratorio. E ... assim vamos marchando.
Que diremos então dos exames histopatologicos realizados por aqueles que nesta pratica mal têm
tempo de aprender o manejo do microtomo.
Não, já é tempo de entrarmos em outra rota. Para isso renovam-se as instalações, para esse fim a União
tira dos seus cofres mais de uma dezenas de milhar de contos em favor da escola médica do Rio
Grande. Dinheiro mil vezes bem empregado, mas dinheiro que deve ser mil vezes bem aproveitado.
Exames bacteriologicos devem ser feitos por bacteriologistas bem experimentados, de longo curso,
como os histopatologicos por anatomo patologistas de vulto e assim por adiante, com auxilio de
técnicos leigos, que se não podem multiplicar.
Mesmo, entre os especialistas de grande classe, quanta vez o problema demanda muita perseverança,
estudo e colaboração dos seus auxiliares.
Haverá, porém, escola ou hospital, do tipo desse que se vae erigir em Porto Alegre, capaz de ter, em
cada clinica, um bacteriologista, um anatomopatologista, um quimico, etc.e mais os técnicos
indispensaveis – tudo isto para 18 ou 25 doentes?
Qual seria a soma necessaria para manutenção de uma tal instituição?
Outro argumento, porem, surge e é de vulto, em favor da tese que defendermos. É que, a par do auxilio
prestado pelas catedras de laboratorio ao hospital, este fornece, em troca material precioso, material
verdadeiro
, para o ensino pratico dos cursos fundamentais. O estudante irá manipular não um material
longamente confinado em tubos de ensaio que se lhe apresenta como fruto artificial e sim um material
natural que ele sabe ter sido colhido nas clinicas, correspondendo a um caso em evolução ou final, do
qual existe a historia nos arquivos da Faculdade. Esté é o ensino ativo, o ensino verdadeiro
despido de
artificialismo ou de figuras livrescas dos quais os alunos guardam a penosa impressão do desinteresse
com que ouviram os observaram a fria imagem de um cliché.
Em resumo, convem acentuar que com o criterio aqui exposto o hospital envez de ter 18 “homens de
laboratorio”, um para cada clinica, com os respectivos auxiliares, todos do tipo “faz tudo”, todos mal
remunerados, obrigados, pela sua capacidade (não podem ser omniscientes) e pelo tempo de que
podem dispor a exames sumarios e não raro incompletos ou errados, terá, esse hospital-escola, pelo
menos um bom bacteriologista
, um bom anatomopatologista, um bom parasitologista, um bom
citologista
, um bom quimico, um bom fisiologista, cada um deles trabalhando nas cadeiras
correspondentes do curso fundamental, usando suas instalações e a cooperação técnica, cientifica e
bibliografica que ali deve existir. Funcionarios contratados para os exames de rotina deles não se
poderão eximir. Feita esta breve justificativa do entrozamento indispensavel entre a clinica e o
laboratorio, sobre cujo tema já tenho, por muito, dissertado e escrito, passo a desenvolver outros
pontos do programa.
Bloco operatorio
.
Nos estudos preliminares para o projeto, executados sob minha supervisão na Secção Técnica do
Serviço de Obras, do Ministerio da Educação e Saude, foram estabelecidas varias hipoteses para o
bloco operatorio. Versaram essencialmente sobre a posição deste bloco no hospital, em sentido
horizontal ou em sentido vertical. No primeiro caso todas as salas operatorias ocupariam um inteiro
pavimento. Todos os doentes, medicos, estudantes e auxiliares teriam de se transportar para este
pavimento nas horas de trabalho operatorio. Para este tipo foram aventadas tres hipoteses. O tipo
vertical é determinado pela superposição das salas operatorias, de modo queelas correspondam aos
diversos andares de clinica cirurgica.
202
Em ambos os casos pode haver centralização do sistema esterilizador, pois, no ultimo caso, ficará ele
sobreposto à ultima sala, sendo o material transportado por meio de monta carga. Neste posto
centralizado poderá ainda ser instalado o arsenal cirurgico, com transporte mecanico. Haverá ainda
espaço para preparação de material cirurgico. A canalização para agua quente ou esterilizada é
simplificada. Não haverá transporte vertical dos operados e operador por elevadores que constituem
um elemento de constante contato
com o exterior. O doente sae do seu leito é transportado para a sala
operatoria, no mesmo andar e regressa sem este choque e contato com os meios de transporte vertical.
Evitar-se-à o congestionamento dos elevadores e do hall do andar operatorio, no momento, em que
todos professores, seus auxiliares, doentes, alunos tenham que alcançar ou deixar o pavimento
cirurgico.
Admitindo duas colunas por andar, teremos para 8 departamentos cirurgicos 4 andares, a saber:
Clinica otorinolaringologica + Clinica oftalmologica
Clinica ginecologica + Clinica Urologica
Primeira clinica cirurgica + Segunda Clinica cirurgica
Clinica propedeutica cirurgica + Cirurgia infantil e ortopedica.
Para cada andar poderá haver uma sala cirurgica comum às duas clinicas. E naturalmente uma sala
asetica.
As operações seticas podem ser feitas nas duas salas de curativos de cada clinica, uma para secçào de
homens ou outra para secção de mulheres.
Neste caso, tais salas de curativos terão, cada uma, uma sala anexa de esterilização de ferros e pequena
galeria de observação para 20 alunos.
Com isto se tem a vantagem de cada clinica dispor de uma sala asetica em horario determinado, 8 às
10, para uma e 10 às 12 para outra, todos os dias e ter, além disso, duas boas salas de curativos que
podem funcionar, para operações seticas a qualquer hora.
Colocando tais salas seticas a uma boa distancia da sala asetica evita-se o transito de casos superados
nas vias de comunicação para a sala cirurgica limpa.
No meu entender, não se deve cogitar propriamente de salas seticas e aseticas, pois todo o centro
operatorio deve ser considerado como expurgado de contaminação. Que diremos de um caso setico
que se vá complicar com germens provenientes de outros existentes na sala contaminada?
Por isso boa razão tem o professor Gudin de quer, para cada sala operatoria, a esterilização integral.
Admitindo o tipo Gudin, já consagrado em alguns hospitais do Brasil, da Argentina e da França, não é
possível ter em conta a existencia de salas seticas, as de curativo servindo para casos especiais.
Como economia de construção e de manutenção o tipo a adotar será este
a) uma sala operatoria para duas clinicas de cada andar, com os horarios de 8 às 10 e 10 às 12 ou
alternancia de dia da semana.
b) duas salas de curativos por clinica de cada andar, com gabinete de esterilização de lavabo e galeria
de observação.
Outra hipotese pode ser formulada do seguinte modo:
a) uma sala operatoria para duas clinicas do andar, com uma sala menor anexa, esta ultima para os
casos seticos.
b) uma ou duas salas de curativos, por clinica, porém, do tipo ordinario, sem os anexos acima
apontados.
Neste caso há a vantagem de ter todo o material esterilizado ao alcance facil das duas salas cirurgicas,
mas há o grave inconveniente do trabalho comum de doentes limpos e sujos. Parece-me mais facil
transportar o material esterilizado, uma vez ou outra, para as salas admitidas como seticas do que este
contato, na secção setica de doentes contaminados, todos os dias. Prover duas ou mesmo uma só sala
operatoria por clinica será imensamente caro, como construção, instalação e custeio. Dar uma sala
cirurgica para 12 doentes ou mesmo para 25 não é compatível com a organização da economia
hospitalar, mormente em nosso caso, cujo orçamento total já está fixado em 12.000:000$000, isto é em
base inferior a 30 contos por leito.
203
Uma sala operatoria pode permitir cinco operações por dia ou 125 por mês, tomando em conta 25 dias
uteis. Esta avaliação não resulta de estatisticas extrangeiras e sim do que tem ocorrido em hospitais
nossos, dentro da nossa maneira de agir. Tomemos, entretanto, um horario menos rigido. Adotemos a
base de quatro
operações por dia, para cada sala cirurgica.
Um leito pode dar uma, duas e até tres operações
por dia em media, dependendo isto, naturalmente de
modo por que são mobilizados os doentes e da possibilidade de sua transferencia para hospitais de
convalescentes ou de cronicos. Outro fator que influe na permanencia maior ou menor do doente no
hospital é o custo da diaria. Nos hospitais gratuitos a tendencia do doente é ficar tempo mais longo;
mas de custo elevado diminue esta tendencia por motivo financeiro. Na Santa Casa, tanto quanto tenho
podido apurar, o rendimento de 1 leito é de uma operação por mês, em geral. O caso de duas
operações por leito e por mês é todavia frequente.
No primeiro caso, cem leitos podem ser servidos por uma unica sala operatoria.
Realmente, uma sala operatoria permitindo quatro operações por dia, em 25 dias uteis teremos 100
operações. Cem leitos dando cem operações por mês é claro que o rendimento de uma unica sala é
suficiente para tal lotação.
Tomando em conta, a possibilidade de uma energica renovação que produza duas operações por leito
teremos que uma sala cirurgica dará para 50 leitos. Sendo 48 os leitos de cada andar temos um
ajustamento folgado, principalmente tomando-se em consideração o auxilio dado pela salas de
curativos, nos casos seticos.
Examinados estes casos passarei a outras considerações. A maior importancia tem de ser dada ao
problema da orientação helioscopica e anemoscopica. Esta questão é capital na elaboração do projeto
dos edificios e da urbanização geral do “campus”.
Sobretudo, em Porto Alegre, é preciso ter conta do minuano
e do pampeiro, considerando os males
que deles decorrem.
Em meu livro “Estudos sobre o Problema Universitario
”, ha um trabalho da lavra do engenheiro
Guilherme Lira que deve ser consultado e completado com outros informes fornecidos pelo
observatorio e estações meterologicas locais.
PROGRAMA PORMENORIZADO DO HOSPITAL – BLOCO CENTRAL
I. Este programa está delineado admitindo a construção pelo sistema de unidade, de modo a constituir
um bom conjunto na fatura do arcabouço de concreto armado e a permitir remodelações futuras sem
afetar a estabilidade da construção e sem exigir obras de reforço ou adaptação.
Para inteira liberdade do traçado das plantas darei apenas a area aproximada de cada elemento, sem
entrar na determinação das dimensões, da unidades em que tenha de ser subdividido o hospital. É
problema a ser definido por ocasião da confecção das plantas. Assim finalizado o programa pode-se
ter uma ideia da area total e portanto do custo provavel da obra.
II. Divisão funcional do Hospital em secções
A – Administração.
1 – clinica
2 – economia – superintendencia
3 – de enfermagem.
B – Serviços clinicos gerais
C – Serviços clinicos departamentais
D – Serviços Técnicos Cientificos
E – Serviços de ensino
F – Serviços economicos
G – Serviços de alojamento
H – Serviços de cadaveres, necropsia, experimentação
204
I – Serviços religiosos
J – Circulação
DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA
Antes de pormenorizar o programa é de toda a conveniencia estabelecer padrões para as diversas
clinicas. Neste sentido as clinicas serão grupadas em tres tipos:
Padrão A – Clinicasmedicas – com 26 leitos
Padrão B – Clinicas cirurgicas – com 26 leitos
Padrão C – Clinicas especializadas, com 20 leitos
O padrão A
compreende as seguintes clinicas medicas, em numero de 8, com 26 leitos, cada uma.
1 – Clinica propedeutica médica
2 – Segunda clinica medica
3 – Primeira clinica medica
4 – Quarta clinica médica
5 – Terceira clinica médica
6 – Clinica pediatrica médica e higiene infantil
7 – Clinica terapeutica
8 – Clinica neurologica
O padrão B
abrange 6 clinicas cirurgicas, com 26 leitos, cada uma.
1 – Clinica propedeutica cirurgica
2 – Primeira clinica cirurgica
3 – Segunda clinica cirurgica
4 – Clinica cirurgica infantil e ortopedica
5 – Clinica urologica
6 – Clinica ginecologica
O padrão C
refere-se a 4 clinicas especiais, com 20 leitos cada uma.
1 – Clinica otorinolaringologica
2 – Clinica oftalmologica
3 – Clinica dermatologica
4 – Clinica de molestia tropicais
PADRÃO A – CLINICAS MEDICAS
8 de 26 leitos cada uma
De acordo com as bases anteriormente estabelecidas, estas clinicas são as seguintes, distribuidas duas
a duas por pavimento, a saber:
2 – Clinica pediatrica médica + Clinica neurologica
2 – Terceira clinica médica + Quarta clinica médica
2 – Primeira clinica médica + Segunda clinica médica
2
– Clinica propedeutica médica + Terapeutica clinica
8
Composição de cada clinica
Dimensões Areas aproximadas
Internas Parciais Totais de
Aproximadas Secção
205
m.l. m2 m2
1 – Enfermarias – Homens
1 de 6 leitos 6,0 x 6,5 39,00
1 de 6 leitos 6,0 x 6,5 39,00
1 de 1 leito (isolamento) 3,0 x 3,0 9,00
Sanitarias (W.C., mictorios,
banheiras, lavabos) 3,5 x 6,0 21,00
Rouparia e despejo 3,0 x 3,0 9,00
Estar e refeitorio 3,0 x 3,0 9,00 126,00
2 – Enfermarias - Mulheres
1 de 6 leitos 6,0 x 6,5 39,00
1 de 6 leitos 6,0 x 6,5 39,00
1 de 1 leito (isolamento) 3,0 x 3,0 9,00
Sanitarias (W.C., bidets,
banheiras, lavabos) 3,5 x 6,0 21,00
Rouparia e despejo 3,0 x 3,0 9,00
Estar e refeitorio 3,0 x 3,0 9,00 126,00
3 – Parte comum
às enfermarias de
homens e mulheres
Enfermeira chefe 3,0 x 3,0 9,00
Copa 6,0 x 3,0 18,00 27,00
4 – Estação privativa da
clinica
homens e mulheres
Sala de exames 3,0 x 3,0 9,00
Endoscopia 3,0 x 3,0 9,00
Tratamento 3,0 x 3,0 9,00 27,00
5 – Estação comum
a 2 clinicas
Laboratorio 3,0 x 3,0 9,00
Salas de técnica (raios X,
Eletro cardiografo) 6,0 x 3,0 18,00
Espera 3,0 x 3,0 18,00 36,00
Seminario 6,0 x 3,0 18,00
6 – Administração departamental
Gabinete do professor 3,0 x 3,0 9,00
Sala de assistentes 3,0 x 3,0 9,00
Secretaria e arquivo 3,0 x 3,0 9,00
Vestiario 3,0 x 3,0 9,00
Sanitarias 3,0 x 3,0 9,00 45,00
387
Para saber o valor exato de uma 36
clinica, excluída a parte comum
temos de descontar a area da m2
estação comum 351,00
Total das clinicas do padrão A
m2
206
Clinica pediatrica médica 351,00
Clinica neurologica 351,00 m2
Estação comum 36,00 738,00
Terceira clinica médica 351,00
Quarta clinica médica 351,00 m2
Estação comum 36,00 738,00
Primeira clinica médica 351,00
Segunda clinica médica 351,00 m2
Estação comum 36,00 738,00
Clinica propedeutica médica 351,00
Terapeutica clinica 351,00 m2
Estação comum 36,00 738,00
2.952,00
Esta area não inclue o espaço ocupado por halls e corredores. Juntando-se 30% para tal fim a area total
destas clinicas será de 3.841m2,00
PADRÃO B – CLINICAS CIRURGICAS
6 de 26 leitos cada uma
Neste padrão são incluidas as seguintes clinicas cirurgicas, distribuidas duas a duas por pavimento:
2 – Clinica ginecologica + Clinica urologica
2 – Primeira clinica cirurgica + Segunda clinica cirurgica
2
– Clinica propedeutica cirurgica + Cirurgia infantil e ortopedia
6
Composição de cada clinica
Dimensões Areas aproximadas
Internas Parciais Totais das
Aproximadas Secção
m.l. m2 m2
1 – Enfermarias – Homens
1 de 6 leitos 6,0 x 6,5 39,00
1 de 6 leitos 6,0 x 6,5 39,00
1 de 1 leito 3,0 x 3,0 9,00
Sanitarias (W.C., mictorios,
banheiras, lavabos) 3,5 x 6,0 21,00
Rouparia e despejo 3,0 x 3,0 9,00
Estar e refeitorio 3,0 x 3,0 9,00 126,00
2 – Enfermarias - Mulheres
Idem 126,00
3 – Parte comum às subsecções
de homens e mulheres
Enfermeira chefe 3,0 x 3,0 9,00
207
Copa 6,0 x 3,0 18,00 27,00
4 – Estação privativa
da clinica
homens e mulheres
Sala de exames 3,0 x 3,0 9,00
Endoscopia 3,0 x 3,0 9,00
Curativos homens c/ galeria 6,0 x 3,0 18,00
Esterilização e lavabos 3,0 x 3,0 9,00
Curativos mulheres c/ galeria 6,0 x 3,0 18,00
Esterilização e lavabos 3,0 x 3,0 9,00 72,00
5 – Estação comum
às duas clinicas
Laboratorio 3,0 x 3,0 9,00
2 salas de técnica 6,0 x 3,0 18,00
Espera 3,0 x 3,0 9,00 36,00
6 – Secção operatoria comum a
duas clinicas
Sala operatoria 4,0 x 4,0 16,00
Gabinete de observação 4,0 x 2,0 8,00
Sala de anestesia 3,0 x 2,0 6,00
Sala de repouso 3,0 x 2,0 6,00
Lavabos 2,0 x 2,0 4,00
Esterilização 3,0 x 2,0 6,00
Gesso 3,0 x 3,0 9,00 49,00
7 – Administração departamental
Gabinete do professor 3,0 x 3,0 9,00
Sala de assistentes 3,0 x 3,0 9,00
Secretaria e arquivo 3,0 x 3,0 9,00
Vestiario 3,0 x 3,0 9,00
Sanitarias 3,0 x 3,0 9,00 45,00 395,00
481,00
Para saber a area de cada
clinica, excluída a parte comum,
é preciso descontar o valor da estação
comum (36m2,00) mais o da secção
operatoria (40m2,00) = 86
Total das clinicas do padrão B
m2
Clinica ginecologica 395,00
Clinica urologica 395,00
Estação comum 36,00 m2
Secção operatoria comum 49,00 875,00
Primeira clinica cirurgica
Segunda clinica cirurgica
Parte comum 875,00
Clinica propedeutica cirurgica
Cirurgia infantil e ortopedica
208
Parte comum 875,00
Total 2.625,00
Este algarismo figura a area util sem o espaço para circulação. Juntando mais 30% teremos
3.412m2,00
PADRÃO C – CLINICAS ESPECIALIZADAS
4 de 20 leitos cada uma
Compreende as clinicas
2 – Clinica otorinolaringologica + Clinica oftalmologica
2
– Clinica dermatologica + Clinica de molestias tropicais
4
São duas médicas e duas cirurgicas, as primeiras serão chamadas Ca. e as segundas Cb.
Composição de cada clinica Ca. (medica)
Dimensões Areas aproximadas
Internas Parciais Totais por
Aproximadas Secção
m.l. m2 m2
1 – Enfermarias – Homens
1 de 6 leitos 6,0 x 6,5 39,00
1 de 3 leitos 6,0 x 3,0 18,00
1 de 1 leito 3,0 x 3,0 9,00
Sanitarias 6,0 x 3,0 18,00
Estar e refeitorio 3,0 x 3,0 9,00 93,00
2 – Enfermarias - Mulheres
Idem 93,00
3 – Parte comum
às subsecções de
homens e mulheres
Enfermeira chefe 3,0 x 3,0 9,00
Copa 6,0 x 3,0 9,00
Rouparia e despejo 3,0 x 3,0 9,00 27,00
4 – Estação privativa
da clinica
Exames 3,0 x 3,0 9,00
Técnica 3,0 x 3,0 9,00
Tratamento 6,0 x 3,0 18,00 36,00
5 – Estação comum
às duas clinicas
Laboratorio 3,0 x 3,0 9,00
2 Salas de técnica 6,0 x 3,0 18,00
Espera 3,0 x 3,0 9,00 36,00
209
6 – Administração departamental
Gabinete do professor 9,00
Sala de assistentes 9,00
Secretaria e arquivo 9,00
Vestiario 9,00
Sanitarias 9,00 45,00
330,00
Subtraindo a parte comum 36
294m2,00
o valor exato da parte privativa
de cada clinica, sem a circulação é de
Composição de cada clinica Cb.
Dimensões Areas aproximadas
Internas Parciais Totais
Aproximadas
1 – Enfermarias – Homens
Identico ao tipo Ca. 93,00
2 – Enfermarias - mulheres
Idem 93,00
3 – Parte comum
às subsecções de
Idem 27,00
4 – Estação privativa
da clinica
Exames 3,0 x 3,0 9,00
Técnica 3,0 x 3,0 9,00
Curativos c/ galeria 6,0 x 3,0 18,00
Esterilização e lavabos 3,0 x 3,0 9,00
45,00
5 – Estação comum
às duas clinicas
Laboratorio 3,0 x 3,0 9,00
2 Salas de técnica 6,0 x 3,0 18,00
Espera 3,0 x 3,0 9,00
36,00
6 – Secção operatoria
Sala operatoria (uma para oftalmologia
e outra para otorinolaringologia, em
virtude das diferenças essenciais) 4,0 x 4,0 16,00
Galeria de observação 4,0 x 2,0 8,00
Anestesia 3,0 x 2,0 6,00
Repouso 3,0 x 2,0 6,00
Lavabos (comuns) 2,0 x 2,0 4,00
Esterilização (comum) 3,0 x 2,0 6,00 46,00
7 – Administração departamental
Identico ao tipo Ca.
210
Descontando a parte comum 45,00
das duas clinicas, no valor 385,00
de 36m2,00, temos 36,00
349,00
Total das clinicas do padrão C
Clinica otorinolaringologica 349
Cb. Clinica oftalmologica 349 m2
Estação comum 36
734,00
Clinica dermatologica 294
Ca. Clinica molestias tropicais 294 m2
Parte comum 36
624,00
1.368,00
Esta area não inclue a circulação. Se quizermos ter uma idea, incluindo galerias e hall temos de juntar
mais 30% ou 411 – 1368 + 411 = 1.779
.
Total geral das 18 clinicas
Sem circulação
Com circulação
m2 m2
Padrão A – 8 2.952,00 3.841,00
Padrão B – 6 2.625,00 3.412,00
Padrão C – 4
1.368,00 1.779,00
18 6.945,00 9.032,00
PROGRAMA GERAL PARA O PROJETO
m2 m2 m2
A – Administração
1. Hospitalar
Sala de espera 13,50
Diretor clinico 13,50
Secretaria 13,50
Dactilografia e arquivo 27,00 67,50
2. Economica
Sala de espera 13,50
Superintendente 13,50
Auxiliar 13,50
Dactilografia e arquivo 27,00
Contadoria 27,00
Tesouraria 27,00
Expediente 27,00
Informações e correio 13,50
Central telefonica; microfonia 27,00
Comando, aviso luminoso e
Sonoros 13,50
Sanitarias 13,50
211
Vestiarios 13,50 229,50
3. de Enfermagem
Gabinete diretoria 13,50
Gabinete assistente 13,50
Secretaria e arquivo 27,00
Dactilografia 27,00
Vestiarios 13,50
Sanitarias 13,50 108,00 405,00
Total da administração 405,00
B – Serviços clinicos gerais
1. Admissão doentes
Gabinete medico 13,50
Exames clinicos homens 27,00
Exames clinicos mulheres 27,00
Vestiario – 4 cabines 27,00
Registro 13,50
Serviço social 27,00
Deposito provisorio 13,50
Rouparia 13,50
Banheiros homens 13,50
Banheiros mulheres 13,50
Chuveiros 13,50
Sanitarias 13,50
Enfermeiro 13,50 229,50
2. Observação
Enfermaria homens 27,00
Enfermaria mulheres 27,00
Enfermaria crianças 13,50
Isolamento 13,50
Enfermaria 13,50
Copa e serviço 13,50
Sanitarias 13,50 121,00 351,00 351,00
Total dos serviços clinicos gerais
C – Serviços clinicos departamentais
Vide padrões
Clinica do padrão A 2.952,00
Clinica do padrão B 2.625,00
Clinica do padrão C 1.368,00 6.945,00
Total dos serviços clinicos departamentais 6.945,00
D – Serviços técnicos cientificos
1. Secção de fisiodiagnostico
a) Parte geral
212
Espera doentes 27,00
Espera doentes em macas 27,00
Sala dos técnicos 13,50
Gabinete dos medicos 27,00
Enfermeiro da secção 13,50
Preparação doentes 27,00
Vestiario 27,00
Exames clinicos 13,50
Secretaria e arquivo da secção 27,00
Copa da secção 13,50
Sanitarias 13,50
Serviço 13,50 243,00
b) Parte especial
A. Serviço central de
radiodiagnostica
1. Exames aparelho digestivo 27,00
Cabine comando anexa 13,50
2. Exames pulmão e coração 27,00
Cabine comando anexa 13,50
Interpretação entre as 2 cabi-
nes de comando mencionadas 13,50
3. Exames esqueleto 27,00
Cabine comando anexa 13,50
4. Exames ginecologicos e
urologicos 27,00
Cabine comando anexa 13,50
Camara escura entre as 2 cabi-
nes de comando citadas 13,50 189,00
B. Serviços central de
electrocardiografia
Electrocardiografo (com isola-
Mento eletrico) 27,00
Camara escura 13,50
Interpretação 13,50 54,00 486,00
2. Secção de fisioterapia
a) Parte geral
Espera doentes 27,00
Espera doentes em macas 27,00
Gabinete dos medicos 27,00
Sala dos técnicos 13,50
Enfermeiro da secção 13,50
Preparação de doentes 27,00
Vestiario 27,00
Exames clinicos 27,00
Secretaria e arquivo da secção 27,00
Copa da secção 13,50
Sanitaria 13,50
Serviço 13,50 256,00
b) Parte especial
A. Serviço de radiodiagnostica
Técnica 27,00
213
Serviço 13,50 40,50
B. Serviço de fototerapia
Ultravioleta 27,00
Infra vermelho 13,50
Serviço 13,50 54,00
C. Serviço de curietergia
Cabines 27,00
Repouso 13,50
Serviço 13,50 54,00
D. Serviço de electroterapia
Técnica e aplicações 40,50
Serviço 13,50 54,00
E. Serviço de hidroterapia
Banhos medicinais 27,00
Duchas comuns 27,00
Duchas escosseza 27,00
Massagens 27,00
Banho a vapor 13,50
Vestiario 13,50
Sanitarias 13,50
Serviço 13,50 162,00
F. Serviço de mecano e
massoterapia
Sala de maquina 54,00
Serviço 13,50 67,50 688,50
3. Secção de metabolismo basal
Espera de doentes 13,50
Gabinete de medicos 13,50
Enfermeira 13,50
Salas de metabolismo 27,00
Enfermaria 1 leito homens 13,50
Enfermaria 1 leito mulheres 13,50
Copa e refeitorio 13,50
Registro e arquivo 13,50 121,50 121,50
4. Postos de laboratorio
, em
coneção com as catedras do
curso fundamental
Espera de doentes 27,00
Colheita de material 13,50
Técnicos da secção 13,50
Gabinete de medicos 13,50
Sala de bacteriologia 13,50
Sala de parasitologia 13,50
Sala de histopatologia 13,50
Sala de bioquimica 13,50
Sala de citologia 13,50
Sanitarias 13,50
Serviço 13,50 175,50 175,50
214
5. Secção de fotografia, micro-
fotografia e desenho
Gabinete do fotografo 13,50
Arquivo 27,00
Atelier fotografico 13,50
Sala de desenho 27,00
Preparo diapositivos 13,50
Camara escura 13,50 108,00 108,00
6. Farmacia
Laboratorio galenico 40,50
Laboratorio quimico 40,50
Preparação empolas 13,50
Capelas e esterilização 13,50
Deposito de vidros 13,50
Deposito de drogas 13,50
Deposito de acidos 13,50
Expediente 27,00
Distribuição 27,00
Gabinete do farmaceutico 13,50
Vestiario 13,50
Plantão 13,50
Secretaria e arquivo 27,00 270,00 270,00
Total dos serviços técnicos cientificos 1.849,50
E – Serviços de Ensino
1. Secção de professores
, junto
as salas de aula ou pelo menos
junto ao anfiteatro geral
Sala de estar 27,00
Sala de leitura 27,00
Sanitarias e vestiario 13,50 67,50
2. Secção de alunos
proxima
ao respectivo hall de entrada
Sala de estar 27,00
Sala de leitura 27,00
Vestiarios 54,00
Sanitarias rapazes 13,50
Tolletes moças 13,50
Repouso moças 13,50 175,50
3. Secção de funcionarios
Bedeis 13,50
Vestiario bedeis 13,50
Vestiario serventes 27,00
Sanitarias 13,50 40,50
4. Anfiteatro clinico para 180
alunos
215
Vestibulo 27,00
Sala preparação anexa 13,50
Espera 13,50
Anfiteatro dois andares area
pavimento e do vasio 351,00
Sanitarias 13,50 418,50
5. Sala de preleções
3 salas para 60 alunos 202,50 202,50
6. Biblioteca
junto à secção de
professores
Gabinete do bibliotecario 13,50
Sala geral de leitura 40,50
Catalogação 27,00
Encadernação 13,50
Deposito de livros 135,00
Sala de revistas 13,50
Sanitarias 13,50 256,50
7. Arquivo observações clinicas
Encarregado 13,50
Arquivo 27,00 40,50 1.201,50
F – Serviços economicos
1. Almoxarifado
Encarregado 13,50
Deposito 54,00 67,50
2. Cosinha
Caldeirões e fogões 135,00
Cosinha especial 27,00
Preparação 54,00
Copa 54,00
Despensas 54,00
Frigorifico 27,00
Deposito de carrinhos 13,50
Registro 13,50
Chefe da Cosinha 13,50
Enfermeira encarregada 13,50
Vestiario 13,50
Sanitarias 13,50 432,50
3. Refeitorios
a) Pessoal superior:
Refeitorio de medicos 27,00
Refeitorio de estagiarios 40,50
Refeitorio de irmãs ou
enfermeiras 40,50
b) Pessoal subalterno:
216
Refeitorio de serventes
homens 27,00
Refeitorio de serventes
mulheres 27,00
Sanitarias pes. superior 13,50
Sanitarias enfermeiras 13,50
Sanitarias serventes 13,50 202,50
4. Rouparia
Encarregada 13,50
Deposito de roupa 54,00
Oficina de costura 54,00
Reparo de roupa 27,00
Sanitarias 13,50 162,00
5. Desinfectorio
Encarregado 13,50
Material a ser desinfectado 27,50
Autoclaves 54,00
Quarto formol 13,50
Forno 13,50
Deposito 13,50
Sanitarias 13,50 149,00
6. Lavanderia
Encarregada 13,50
Roupa suja - entrada 27,00
Separação 27,00
Sala de maquina 54,00
Secada 13,50
Saida roupa limpa 27,00
Sanitarias 13,50 175,50
7. Oficinas
Colchoaria 54,00
Marcenaria 27,00
Mecanica 13,50
Vidraria e pintura 13,50
Deposito 13,50
Sanitarias 13,50 135,00
8. Central termica
Caldeiras e condensador 54,00
Foguista 13,50
Combustivel 13,50 81,00
9. Reservatorios hidraulicos
Reservatorio inferior e prefiltro
(150 mil litros) fora do predio
Reservatorio superior de
30 mil litros 27,00
Bombas e comando 13,50
217
Esterilização para bebedouros 13,50 54,00
10. Central eletrica
Transormadores – quatro geral
Chave automatica de controle
de fase 27,00
Gerador de emergencia 27,00
Acumulador de emergencia 13,50
Oficina electrotecnica 13,50
Encarregado 13,50
Sanitarias 13,50 108,00 1.566,00
G – Alojamento
a) Pessoal superior
1. Medicos
Dormitorios para medicos (4) 54,00
Estar e leitura 27,00
Copa 13,50
Sanitarias 13,50 108,00
2. Estagiarias
Boxes para estagiarias
2 por clinica = 36 202,50
Sanitarias 13,50 216,00
3. Irmãs ou enfermeiras
Boxes para 10 54,00
Estar e leitura 27,00
Sanitarias 13,50 94,50
a) Pessoal subalterno
Dormitorio homens (10) 54,00
Dormitorio mulheres (10) 54,00
Sanitarias homens 13,50
Sanitarias mulheres 13,50 135,00 553,50
H – Serviços de cadaveres
necropsica e experimentação
Necroterio provisorio até ser
o cadaver removido para o ne-
croterio posto fora do predio 27,50
Frigorifico para cadaveres 13,50
Sala de autopsia 27,00
Sala auxiliar 13,50
Técnica 13,50
Experimentação cadaveres 27,00
Técnica anexa 13,50
Sanitarias 13,50 148,50 148,50
I – Serviços religiosos
218
Capela 54,00
Sacristia 13,50 67,50 67,50
TOTAL 13.087,50
RESUMO DO PROGRAMA
A – Administração
1. Hospitalar 67,50
2. Economica 229,50
3. Enfermagem 108,50 405,00
B – Serviços clinicos gerais
1. Admissão 229,00
2. Observação 121,00 351,00
C – Serviços clinicos departamentais
Padrão A 2.952,00
Padrão B 3.625,00
Padrão C 1.368,00 6.945,00
D – Serviços técnicos cientificos
1. Secção de fisio diagnos-
tico 486,00
2. Secção de fisioterapia 688,50
3. Secção de matabolismo 121,50
4. Postos de laboratorio 175,50
5. Fotografia e desenho 108,00
6. Farmacia 270,00 1.849,50
E – Serviços de ensino
1. Secção professores 67,50
2. Secção alunos 175,50
3. Secção funcionarios 40,50
4. Anfiteatro 418,50
5. Sala de preleções 202,00
6. Biblioteca 256,50
7. Arquivo 40,50 1.201,50
F – Serviços economicos
1. Almoxarifado 67,50
2. Cosinhas 432,00
3. Refeitorios 202,50
4. Rouparia 162,00
5. Desinfetorio 149,00
6. Lavanderia 175,50
7. Oficinas 135,00
8. Central termica 81,00
219
9. Reservatorios hidraulicos 54,00
10. Central eletrica 108,00 1.566,00
G – Alojamento
553,50
H – Serviço de cadaveres
148,50
I – Serviços religiosos 67,50
13.087,50
Circulação 30% 3.926,25
Hall, etc. 486,25
Area do hospital
, excluidos ambulatorios 17.500,00
______
Em tempo
Houve omissão do Serviço Odonto-
logico que deveria figurar nos
Serviços clinicos gerais.
Composição:
Gabinete dentario 27,00
Sala de técnica 13,50
Sala do Cirurgião dentista 13,50
Gabinete de Raio X e camara
Escura 27,00 81,00
30% de circulação 24,30
17.605,30
AMBULATÓRIO
Cada Clinica precisa de um serviço de ambulatorio para os dois sexos. A base estabelecida foi tomada,
considerando a frequencia de 24 doentes para as clinicas de 26 leitos e 30 doentes para as de 20.
Haverá, assim, para cada clinica um numero de 50 doentes, entre internos e externos. Seria
antieconomico construir um ambulatorio para cada clinica, por isso que tais serviços não precisam
funcionar para cada clinica todas as manhãs, de todos os dias. Basta que o ambulatorio, de cada
clinica, esteja apto a funcionar nas horas e nos dias que os estudantes a possam frequentar.
Repito, ainda uma vez, que o hospital que se pretende construir não é um hospital de assistencia
publica: é um hospital de ensino. Admite doentes externos e internos que tão sómente interessem ao
ensino. Não o fará mesmo quando houver vagas, desde que o doente não ofereça interesse para o aluno
ou para o curso. Não é função do governo federal manter hospital de assistencia geral nos Estados. Se
constroe este é exclusivamente para beneficiar o ensino na Faculdade de Medicina de Porto Alegre que
é uma instituição federal. Não há, pois, inconveniente em que uma dada unidade de ambulatorio
seja
utilizada para mais de uma clinica. Si a verba destinada à construção para cada clinica exclusivamente.
A verba, porém, está fixada: 12.000:000$000 para o conjunto hospital e ambulatorio.
Figurarei, pois, no programa o tipo de cooperação
. Mais tarda, si novas verbas surgirem e houver,
assim, mais dinheiro para construção e manutenção poderá, talvez, ser adotado o tipo egoistico
de um
ambulatorio por catedra. Na hora atual, tendo em vista o custo da construção e manutenção e
atendendo-se a que o ensino em nada é prejudicado com uso de mais de uma clinica, por unidade, - o
tipo simbiotico, de cooperação
é o indicado.
Nestas condições o ambulatório é previsto para a seguinte combinação em que, em geral, duas clinicas
funcionarão, nasmesma unidade construtiva
, uma tendo o horario de 8 às 10 e outra das 10 às 12, com
um dia para homens e outro para mulheres.
220
Sómente as clinicas oftalmologica, otorinolaringologica, urologica e ginecologica, pela sua natureza,
terão instalações privativas.
O arranjo será o seguinte:
I – Clinicas do padrão A
a) Uma unidade de ambulatorio para a 1
a
e a 2
a
clinica médica
b) Uma unidade de ambulatorio para a 3
a
e a 4
a
clinica médica
c) Uma unidade de ambulatorio para a clinica propedeutica medica e clinica pediatrica
d) Uma unidade de ambulatorio para as clinicas neurologica e terapeutica
Total = 4 unidades de ambulatorio
II – Clinicas do padrão B
a) Uma unidade de ambulatorio para a 1
a
e a 2
a
clinica cirurgica
b) Uma unidade de ambulatorio para a propedeutica e cirurgias infantil e ortopedia
c) Uma unidade de ambulatorio para a clinica urologica
d) Uma unidade de ambulatorio para as clinica ginecologica
Total = 4 unidades de ambulatorio
III – Clinicas do padrão C
a) Uma unidade de ambulatorio para a dermatologia e molestias tropicais
b) Uma unidade de ambulatorio para a clinica oftalmologica
c) Uma unidade de ambulatorio para a clinica otorinolaringologica
Total = 3 unidades de ambulatorio
RESUMO
4 ambulatorios: clinicas do padrão A
4 ambulatorios: clinicas do padrão B
3
ambulatorios: clinicas do padrão C
11
PROGRAMA PARA OS AMBULATORIOS
1 – Serviços gerais de ambulatorio
Espera para admissão 27,00
Registro geral e fichario 27,00
Gabinetes de exame 27,00
Enfermaria 13,50
Salas de isolamento 13,50
Distribuição de medicamentos
em coneção com a farmacia 27,00
Espera de medicamentos 27,00
Sanitarias 113,50
Portaria do ambulatorio 13,50 289,00
Centro cirurgico
do ambulatorio
Sala de espera 13,50
Sala cirurgica 13,50
Esterilização 13,50
221
Lavabos 13,50
Preparação anestesia 13,50
Repouso (1 leito) 13,50
Medico de plantão 13,50
Posto de laboratorio 27,00
Salas de aula para pequenas
Salas de aula para pequenas demonstrações
4 de 27,00 108,00
Sanitarias para todo o serviço 27,00
Copa geral 13,50 270,00 559,00
2 – Unidade de ambulatorio para as clinicas padrão A
Espera 27,00
Exames clinicos – 2 boxes 27,00
Tratamento 27,00
Sala privativa da clinica 1 13,50
Sala privativa da clinica 3 13,50
Enfermeira 13,50
Medicos 13,50
4 unidades de 135,50 540,00
3 – Unidades de ambulatorio para as clinicas simbioticas do padrão B
Espera 27,00
Exames clinicos e 2 boxes 27,00
Tratamento 27,00
Sala privativa da clinica A 13,50
Sala privativa da clinica B 13,50
Enfermeiro 13,50
Medicos 13,50
2 unidades de 135,50 270,00
4 – Ambulatorio clinica urologica
Espera 27,00
Exames clinicos 27,00
Tratamento 40,50
Enfermeiro 13,50
Medico 13,50 121,50
5 – Ambulatorio clinica ginecologica
Idem 121,50
6 – Unidades ambulatorio clinica dermatologica e moléstias tropicais
Espera 27,00
Exames clinicos 27,00
Tratamento 27,00
Enfermeiro 13,50
Medico 13,50
Sala privativa clinica A 13,50
Sala privativa clinica B 13,50
135,00 135,00
222
7 – Ambulatorio oftalmologico
Espera 27,00
Exames clinicos 27,00
Tratamento 27,00
Técnica 27,00
Enfermeiro 13,50
Medico 13,50 135,00
8 – Ambulatorio otorinolatingoloco
135,00
TOTAL DOS AMBULATORIOS
1 Serviços gerais 559,00
2 – Ambulatorios clinicas padrão A 540,00
3 – Ambulatorios clinicas padrão A 270,00
4 – Ambulatorios simbioticos padrão B 121,50
5 – Ambulatorios clinica urologica 121,50
6 – Ambulatorios clinica ginecologica 135,00
7 – Ambulatorios clinica oftalmologica 135,00
8 – Ambulatorios clinica otorinolaringologica 135,00
Total 2016,00
Circulação 30% 564,80
2490,80
AREA TOTAL
Hospital de ensino 17.640,00
Ambulatorios 2.490,80
20.130,00
Praticamente - 20.000,00
Dez por cento para espessura de paredes,
ajustamento arquitetonico 2.000,00
22.000,00
Na base de 550$000 o metro quadrado - 12.100:000$000
Campos, [1940?] [sic].
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