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da experiência anterior, pois “[...] essa experiência é o material com o qual se erige seus
edifícios da fantasia
27
” (VIGOTSKY, 2003, p.17).
Entretanto, a experiência, o vivido também se apóia na fantasia, pois é a imaginação
que permite o planejamento de atividades, “é precisamente a atividade criativa do homem [leia-
se ser humano] o que faz dele um ser projetado para o futuro, um ser que contribui ao criar e
que modifica seu presente
28
” (VIGOTSKY, 2003, p.9), tendo em vista que a imaginação
permite ao sujeito ampliar suas experiências, sendo capaz de imaginar o não vivido nem
experienciado, não ficando fechado no estreito círculo de sua experiência.
Além disso, a imaginação permite o enlace emocional, de maneira que as imagens da
fantasia servem para recriar nossos sentimentos e emoções, pois é como se a emoção elegesse
imagens, idéias, impressões congruentes com os sentimentos, “as imagens da fantasia também
são linguagem interior para nossos sentimentos selecionando determinados elementos da
realidade e combinando-os de tal maneira que responda a nosso estado interior de ânimo e não
a lógica exterior destas imagens próprias
29
” (VIGOTSKY, 2003, p.21). Este é um dos motivos
pelo qual a imaginação é tida como ferramenta para não somente expressar sentimentos e
emoções, mas fundamentalmente recriá-los.
Desta forma, o sujeito, partindo da experiência vivida, do real, via imaginação, associa
e dissocia estas experiências e este real, separando-os, subdividindo-os, comparando-os com
outras e agrupando-as, extraindo alguns traços e acrescentando outros, realizando trocas, pois
“[...] constituem processos que se movem, trocam, vivem, morrem e neste movimento reside a
garantia de suas trocas sob a influência de fatores internos, deformando-os e reelaborando-
os”
30
(VIGOTSKY, 2003, p.32). Esse processo dá elementos para a objetivação da imaginação,
por meio da produção de objetos, que finaliza o espiral da atividade criativa do sujeito.
Cabe salientar que, ao objetivar a imaginação, ao materializá-la, o sujeito intervém no
mundo, modificando-o com o produto de sua atividade criativa e também transformando a si
mesmo durante este processo. Bakhtin (2003, p.4) pondera que
são igualmente assim todos os vivenciamentos criadores ativos: estes
vivenciam o seu objeto e a si mesmos no objeto e não no processo de seu
27
“[…] la primera y principal ley a que se subordina la función imaginativa […] la actividad creadora de la
imaginación se encuentra en relación directa con la riqueza y la variedad de la experiencia acumulada por el
hombre, porque esta experiencia es el material con el que erije sus edificios la fantasía” (VIGOTSKY, 2003,
p.17).
28
“Es precisamente la actividad creadora del hombre la que hace de él un ser proyectado hacia el futuro, un ser
que contribuye a crear y que modifica su presente” (VIGOTSKY, 2003, p.9).
29
“Las imágenes de la fantasía prestan también lenguaje interior a nuestros sentimientos seleccionando
determinados elementos de la realidad y combinándolos en tal manera que responda a nuestro estado interior del
ánimo y no a la lógica exterior de estas propias imágenes” (VIGOTSKY, 2003, p.21).
30
“[…] constituyen procesos que se mueven, cambian, viven, mueren y en este movimiento reside la garantía de
sus cambios bajo la influencia de factores internos, deformándolos e reelaborándolos” (VIGOTSKY, 2003, p.32).