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nova e rígida divisão sexual do trabalho: “los hombres a la producción y las mujeres a la
reproducción” (DÍAZ & MENDEL, 2002, p. 33). No entanto, é necessário relativizar tal
par dicotômico, visto que estes não são estanques e que as conquistas de direitos pelas
mulheres, bem como as mudanças no mercado de trabalho, proporcionaram alterações nos
modos de vida dos sujeitos.
Por outro lado, pode-se pensar que há uma necessidade de classificar os sujeitos
conforme suas ações no desempenho de suas posições sociais a partir da dicotomia
trabalhador x vagabundo, entendendo, tal como Durkheim & Mauss (1981), que o
procedimento que consiste em classificar os seres, os acontecimentos, os fatos do mundo,
se dá segundo um modelo construído socialmente. No que diz respeito aos gêneros
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,
Butler (2003a) coloca que a “nomeação é, ao mesmo tempo, o estabelecimento de uma
fronteira e também a inculcação repetida de uma norma” (p. 161). Desta maneira, tem-se o
estabelecimento de contornos, limites e restrições. Ou seja, se o pai não tem um emprego,
é o que então? Um vagabundo? Que masculinidade é produzida para este pai quando ele
não corresponde aos atributos normatizados para homens em nossa sociedade?
As questões, levantadas anteriormente suscitam a pergunta central dessa
dissertação: quais são as masculinidades produzidas nos contextos familiares nos quais
quem provê o sustento é a mãe? Pretende-se analisar, por meio do enunciado
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do prover,
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Butler enfatiza que o gênero implica os significados culturais que são, sobretudo, performativos. Entende-
se aqui performatividade como não sendo um ato singular, pois esta é sempre uma reiteração “de uma norma
ou conjunto de normas, além disso, este ato não é primariamente teatral; de fato, sua aparente teatralidade é
produzida na medida em que sua historicidade permanece dissimulada”. (BUTLER, 2002, p.167).
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Foucault (1984) define enunciado como "uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades
possíveis e que faz com que [essas unidades e estruturas] apareçam, com conteúdos concretos no tempo e no
espaço" (p. 99). E ainda, "um enunciado não tem diante de si [...] um
correlato (ou uma ausência de
correlato, assim como uma proposição tem um referente (ou não) ou um nome próprio que designa um
indivíduo (ou ninguém). Está antes ligado a um 'referencial' que não é constituído de 'coisas', de 'fatos', de
'realidades' ou de 'seres', mas de leis de possibilidade, de regras de existência para os objetos que aí se
encontram nomeados, designados ou descritos, para as relações que aí se encontram afirmadas ou negadas. O
referencial de um enunciado [...] define as possibilidades de aparecimento e de delimitação do que dá à frase
o seu sentido, à proposição o seu valor de verdade" (ibid, p. 104).