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1. INTRODUÇÃO
A preservação excepcional e peculiar de um espécime de rauissuquídeo,
coletado no ano de 2003 no município de Dona Francisca, RS, Brasil gerou vários
questionamentos sobre seu modo de vida, causas de sua morte e processos envolvidos
na sua fossilização. Alguns destes aspectos vêm sendo estudados, isoladamente e em
conjunto, por alunos de Mestrado e Doutorado do Setor de Paleovertebrados da
UFRGS.
A presença, neste exemplar, de um crânio quase completo, mas
representado por elementos - quase todos - desarticulados, levou às seguintes perguntas:
- “Como estavam dispostos os ossos do crânio deste animal quando em vida?”; -
“Poderiam tais elementos apresentar mobilidades entre si?”; ou ainda: - “Como esta
eventual mobilidade teria sido utilizada pelo animal?”
A utilização de princípios da mecânica para explicar a resposta de
estruturas biológicas a determinados estímulos consiste no estudo da biomecânica. Sua
aplicação à paleontologia tem se mostrado eficiente, contribuindo com novas
interpretações comportamentais e morfofuncionais de grupos extintos.
Estudos relacionados à mobilidade intracraniana, ou cinetismo craniano,
são relativamente comuns para grupos de vertebrados viventes, tais como peixes,
lagartos (Frazzetta, 1962; Metzger, 2002), serpentes, aves (Bock, 1964; Meekangvan et
al., 2006), e anfíbios [e.g. cecílias (Summers & Wake, 2005)]. Alguns destes estudos
apresentam importantes aspectos funcionais, que podem relacionar hábitos de vida
específicos com tipos determinados de mobilidade entre os ossos do crânio. A
possibilidade de cinetismo craniano também tem sido considerada em estudos
paleontológicos de grupos como dinossauros terópodes (McClelland 1993 apud
Rayfield 2005a; Mazzetta et al. 1998; Currie et al. 2003; Rayfield 2004, 2005a, 2005b),
ornitópodes (Norman & Weishampel 1985), aves do Cretáceo (Buhler, Martin &
Witmer, 1988), crocodilomorfos do Mesozóico (Walker, 1990) e, inclusive,
rauissuquídeos (Chatterjee, 1985; Gower, 1999).
O grupo dos rauissuquídeos (=Rauisuchia Bonaparte, 1982, sensu
Gower, 2000), devido ao escasso e fragmentário registro de seus espécimes, não
apresenta ainda uma relação filogenética consensual e, dependendo do autor, é
considerado como sendo mono-, para- ou polifilético (Gower, 2000). Tal grupo