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organizacional, atividades e transações que em tempo anterior eram executadas por unidades
empresariais distintas. Antes, o comércio de bens de consumo diário era constituído por
formatos e modelos tradicionais de loja: padaria, mercearia, açougue, leiteria, quitanda, etc.
Neste segmento varejista, faziam parte, pequenos comércios, lojas especializadas e
comerciantes independentes. A junção de categorias de produtos, como é vista nos
supermercados de hoje, ainda não era expressiva, o máximo que acontecia era a combinação
entre mercearia e açougue. De modo que, o consumidor era obrigado a percorrer diferentes
estabelecimentos para adquirir tudo aquilo que necessitava (LEPSCH, 2001). Entretanto, com
o advento destas novas formas de comércio, permitiu-se uma racionalização nos gastos de
circulação da mercadoria, e “reduziram significativamente os custos no sistema de vendas ao
consumidor” (PINTAUDI, 1981, p. 28). Além de permitir que o consumidor realizasse um
volume maior de compra de uma só vez. De início, estes tipos de estabelecimento comercial
surgiram principalmente nas grandes cidades.
Nesta época, para acelerar o giro de capital, os comerciantes adotaram certas técnicas
de venda para atrair consumidores de todas as classes sociais e, consequentemente, vender
seus produtos mais rapidamente. O capital assim obtido proporcionou uma economia de
velocidade. Para o desenvolvimento deste setor foi fundamental a criação de novos
equipamentos, de planejamento organizacional e de métodos de controlar os fluxos de saída e
entrada de mercadoria.
Também, tiveram apoio do poder público indiretamente, que investiu na construção de
linhas de trens e metrôs urbanos para auxiliar o transporte, o emprego de facilitadores
urbanos
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, como praça, rotatória e grandes avenidas, para atender à circulação de pessoas que
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Todo e qualquer equipamento urbano que ao se modificar materializa a produção no espaço geográfico. Este
contribui para a eficiência da circulação, acelera o consumo e, assim, atende a uma necessidade, física e
estrutural, na reprodução do capital dos estabelecimentos privados. Os facilitadores urbanos são um dos vasos
importantes para a difusão das territorialidades, assunto que será debatido na próxima seção (seção 5, capítulo 2).
Este mecanismo é constituído por acordos políticos tendo como contrapartida a instituição pública, na figura do
prefeito ou por um contrato entre a empresa privada e a prefeitura para melhorar a viabilidade ao acesso à
mercadoria. Como exemplo: No caso de Franca, interior do Estado de São Paulo, a prefeitura teve que investir,
em 2006, na adequação do canal do Córrego dos Bagres, a fim de evitar enchentes que atingiam a Avenida José
Barbosa Sobrinho; o redimensionamento de uma rotatória que dá acesso simultâneo às avenidas Antônio
Barbosa, Doutor Alonso, Ademar Pólo Filho e José Barbosa Sobrinho; além da construção de uma alça para a
Rodovia Candido Portinari, para atender às exigências da rede varejista Wal-Mart; ou em Vitória, capital do
Espírito Santo, onde a empresa da Wal-Mart cedeu parte do terreno que havia comprado para a reforma e a
construção do prolongamento da Avenida Jair Etienne Dessaune, além de custear melhorias no entorno do
supermercado para a comunidade local e removeu o ponto de ônibus da frente da prefeitura e passou para a
frente do estabelecimento aumentando a área do ponto. “Quanto ao impacto no trânsito na região, na cidade de
Vitória, o Wal-Mart vai investir R$ 710 mil na melhoria das vias no entorno do empreendimento” (MINGO,
2004, p. A10). Ambos os casos não estavam nos planos das prefeituras inicialmente. Estes vieram à tona após a
divulgação do interesse da companhia em se instalar nas respectivas cidades.