jogar golf, como foi lembrado por uma migrante. A vida na China traz o aumento do
poder de compra, as viagens e todos os encontros questionam ao brasileiro qual é o lugar
de viver, aonde é a sua casa. Questionam as relações familiares porque ao mesmo tempo
em que se tem saudade, ao saírem do circuito familiar do dia-a-dia, os brasileiros
passaram a ser tratados de outro modo e a ter um relacionamento melhor com seus
familiares. Um migrante coloca que os brasileiros questionam aonde é melhor criar seus
filhos, pertos dos avôs no Brasil, ou num lugar aonde o mesmo vai conviver com diversas
culturas, num lugar onde tem segurança.
3.4.6 Se não é a China e não é o Brasil, então é aonde?
Nesta experiência de migração, os brasileiros têm sentimentos bastante ambíguos,
se questionando aonde é a sua casa. Como diz essa migrante:
As pessoas não vêm morar na China pelo amor ao país. A galera vai
para Europa para colher maçã, para limpar prato, só pelo amor a
Europa. A gente vem pela grana. Tu não tens uma paixão por conhecer
a cultura. No início tu até foges disso, mas depois as coisas começam a
se tornar interessantes. Só que a gente abdica de muitas coisas para
estar aqui. Fico pensando se realmente é a grana que me mantém
porque ela não compensa o que eu estou perdendo lá. Só que daí passo
quinze dias no Brasil, já estou louca para voltar pra China. Pra minha
casa, minha privacidade, minhas coisas, meu dia a dia. Mas quando
chego na China, fico deprê porque sei que está muito longe de eu ir
para o Brasil novamente. Às vezes, eu sinto como se eu não fosse de
lugar nenhum. No Brasil tem minha família, meus amigos, mas não tem
minha casa. E cada vez que eu vou para lá percebo que as pessoas não
mudam, envelhecem, mas não mudam. Daí penso, não quero essa vida
para mim e sei que se eu voltar a gente se acostuma a viver daquele
jeito, tipo alienado sabe. Mas quando chego na China, no fim de
semana falta o que fazer. Daí inventamos um carteado, reunimos os
amigos, comemos um churrasco, ou vamos no One for The Road (pub
inglês freqüentado por estrangeiros de várias nacionalidades em
Dongguan). E assim ficamos nessa de ter duas casas e às vezes não ter
nenhuma.