Mas quando eles viram, através das festas e homenagens que eram feitas para eles,
porque toda semana, ou quase todo dia, a gente levava, a gente já, a gente já falava
com a pessoa: olha hoje a noite a turma vem aqui na tua casa, então eles
preparavam um jantar, um café, qualquer coisa. E eles viram que aqui a comida era
demais. Eles diziam: meu Deus quanta comida! Eles quase lá não, a comida toda
controlada, né? E aqui meu Deus, eles não podiam se conformar porque achavam
que a comida era muito, muito farta e não, não tinham, assim cuidado para não
botar fora e botam fora muita comida e aquilo não, eles achavam que aquilo né, era
demais! (Depoimento de dona Paula, 89 anos)
Os encontros entre os italianos e os descendentes de italianos naquela ocasião, foi a
prova viva das diferenças culturais entre os dois países, quando o imaginário era colocado em
discurso, mostrando o que pensavam encontrar, o que sentiram quando viram como era a
realidade dos descendentes de italianos da cidade e como se comportavam entre si. Da mesma
maneira, quando um grupo de descendentes de italianos foi para a Itália conhecer o país e
depois outro grupo foi para lá selar o Gemellaggio em Longarone, as diferenças eram
elaboradas e re-significadas entre eles, por cada um. As lembranças que guardavam de seus
familiares e as recordações de quem eles encontraram por lá, somadas ao que viam na Itália
era organizado de forma coletiva e individual, transformando os sentidos das experiências.
Assim mostrou-me dona Paula, quando me relatou como se sentiu em suas viagens para a
Itália e também quando alguns italianos vieram para o Sul de Santa Catarina.
Falando de sua surpresa ao chegar em Longarone e ser recepcionada por pessoas do
mesmo sobrenome, como sua prima Augusta, no encontro ocorrido há 15 anos atrás, quando
junto com o grupo de viagem dona Paula chegou na Itália, compreendi a importância que este
acontecimento teve em sua vida e também para quem participou desses fatos.
Que a gente não conhece nada e quando eu desci, e todo mundo começou a se
apresentar, dar o nome e a gente dava o nome e quando eu disse que eu era Damian,
aí uns dois, três me abraçaram, me levaram no colo, eles queriam me levar para a
casa deles, porque era Damian, eles tinha Damian muitos conhecido, porque ainda
lá, eu disse família Damian né, parentes da gente mesmo. Me levaram para casa,
me levou para casa dele, mas a Augusta então ela disse não, ela vai para a minha
casa e depois a Augusta esteve aqui mais duas ou três vezes, que eu me lembro
bem, que ela vinha se hospedar aqui em casa. Acho que mais de 20 dias nós
paramos em (...) Longarone, na província de Beluno. E ficamos lá... eu sempre
fiquei hospedada em casa da Augusta, que a Augusta é, é prima da gente. (...) Antes
nada. Nunca, nunca. Eu nunca, nem sabia que existia ainda esses Damiani lá. Sim,
eles são, são parentes da nona sim e ainda depois fiquei lá e fui conhecer então a
casa de onde a nona saiu, aonde a nona morava. É uma casa muito antiga, antiga
mesmo. Que a cozinha aqui da nona era igual a cozinha de lá, que ainda lá tem a,
como é que se diz, ainda tem a casa muito antiga com assim as repartições como
era naquele tempo, a cozinha como é que era, e era bem igual a esta da mãe. E
depois fui conhecendo né, ela me levava, na casa de Cézaro, então era a nona que, a
bisnona, a bisnona era de Cézaro. O nono era casado com uma de Cézaro. Ele era
Vicenzo de Cezaro. O Vicenzo Damiane, casado com a, ai meu deus, casado com
(silêncio) agora não me lembro, não me lembro como era o nome da bisnona.
Elisabetha! Elisabetha de Cezaro. O bisnono que era Vicenzo Damian era casado