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raízes, a dualidade bem e mal (enquanto a árvore eleva os ramos ao sol, como
adoração, a serpente espera por sua presa para matá-la).
Segundo Cirlot (1984: 5), a redução ou especialização extrema do sentido de
um símbolo costuma ter como conseqüência a degradação do significado, tornando-
o uma insignificância alegórica ou atributiva. No instante em que resumimos a
análise do símbolo da serpente e da árvore ao fato de as serpentes se aninharem
junto às árvores, estamos apenas utilizando uma constatação para explicar, sem
mencionar elementos referentes à relação interna entre os símbolos.
É certo que, ao explicarmos o simbólico, sempre resta algo intraduzível. Isso
ocorre porque, como já mencionado anteriormente, o símbolo aponta para algo que
está ausente, representando-o, mas sem apreender todas as suas possibilidades. Um
símbolo, como afirma Lurker (1997: 657), não é composto de formações rígidas,
que podem ser facilmente e precisamente delimitadas, mas mutáveis e, em muitos
casos, ambíguas. De fato, ordena significados análogos, cada um em um certo nível,
ou seja, revela diferentes sentidos simultaneamente. Segundo Hampate (apud
Chevalier 2001: XXIV), na lenda fula
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de Kaydara, o velho mendigo (o iniciador)
diz a Hammadi (o peregrino, em busca de conhecimento): “Ó meu irmão! Aprende
que cada símbolo tem um, dois, vários sentidos. Esses significados são diurnos ou
noturnos. Os diurnos são favoráveis, e os noturnos, nefastos”.
Tendo como base essa multiplicidade de sentidos de um símbolo, entende-se
que cada representação simbólica funciona como o centro de uma teia, que está
ligado a diversas outras teias com seus respectivos centros. R. de Becker (apud
Chevalier 2001: XXII), diz algo semelhante quando afirma que o símbolo pode ser
comparado a um cristal que reflete de maneiras diversas uma luz, conforme a faceta
que a recebe. Nesse sentido, Todorov (Chevalier, 2001: XXIV) considera que no
símbolo é produzido um fenômeno de condensação, ou seja, um significante
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Os Fulani, Fula ou Phoulah, são um grupo étnico nômade que compreende várias populações espalhadas
pela África Ocidental, desde a Mauritânia a noroeste até aos Camarões a leste. A língua fula (também
chamada peulem francês e fulani em inglês), é falada entre 10 e 16 milhões de pessoas e tem um status de
língua oficial na Mauritania, Senegal, Mali, Guiné, Burkina Faso, Níger, Nigéria, e Camarões.