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conforme Santos (2002), a globalização afeta a vida econômica, política e cultural, as relações
interpessoais e até a subjetividade dos indivíduos, de uma maneira ou de outra.
Os meios de comunicação de massa assumem posição de ferramentas para todo o
movimento de globalização. A eles se atribui o dinamismo com que são vencidas fronteiras,
culturas, idiomas, religiões, regimes políticos, diversidades e desigualdades sócio-econômicas
e hierarquias raciais:
Em poucos anos, na segunda metade do século XX, a indústria cultural
revoluciona o mundo da cultura, transforma radicalmente o imaginário de
todo o mundo. Forma-se uma cultura de massa mundial, tanto pela difusão
das produções locais e nacionais como pela criação diretamente em escala
mundial. São produções musicais, cinematográficas, teatrais, literárias e
muitas outras, lançadas diretamente no mundo como signos mundiais ou da
mundialização (IANNI, 1999, p.94).
O papel da mídia no processo globalizante merece atenção especial. Suas inter-
relações com a globalização, aspectos ideológicos, econômicos e retóricos serão analisados
posteriormente, no capítulo 2. Entretanto, vale colocar aqui que, sem um sistema de mídia
global, estaria dificultada a construção das novas dinâmicas mundiais, sejam elas culturais,
políticas, sociais ou econômicas.
É sobre os aspectos econômicos, ainda segundo Held e McGrew, que as
diferenças entre o pensamento cético e globalista aumentam. Para os céticos, não há a
globalização da economia, mas sim, uma internacionalização em que os vínculos entre
determinados países se acentuam, excluindo outras nações; e não há um padrão de economia
global:
Até entre os Estados da OCDE, que são sem dúvida as mais interligadas de
todas as economias, as tendências contemporâneas sugerem apenas um grau
limitado de integração econômica e financeira. (Feldstein e Horioka, 1980;
Neal, 1985; Zevin, 1992; Jones, 1995; Garrett, 1998). Seja no tocante às
finanças, à tecnologia, ao trabalho ou à produção, os dados não confirmam a
existência ou a emergência de uma economia global única (Hirst e
Thompson, 1999). Até as empresas multinacionais, conclui-se, continuam
predominantemente cativas dos mercados nacionais ou regionais, ao
contrário de sua imagem popular de “capital móvel” (Tyson, 1991; Ruigrok
e Tulder, 1995) (HELD e McGREW, 2001, p.50-51).