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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO
CAMPUS DE BAURU
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
Bianca Giordana Zaniratto
A COMUNICAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM SITES NOTICIOSOS REGIONAIS
Bauru
2005
1
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Bianca Giordana Zaniratto
A COMUNICAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM SITES NOTICIOSOS REGIONAIS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Comunicação, da área de concentração em
Comunicação Midiática, da Faculdade de Arquitetura,
Artes e Comunicação da Unesp/campus de Bauru, como
requisito à obtenção do título de Mestre em Comunicação,
sob a orientação do Prof. Dr. Adenil Alfeu Domingos.
Bauru
2005
2
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Bianca Giordana Zaniratto
A COMUNICAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM SITES NOTICIOSOS REGIONAIS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação, da Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação, da Universidade Estadual Paulista, Unesp/campus de
Bauru, para a obtenção do título de mestre em Comunicação.
Banca Examinadora:
Presidente: Prof.º Dr.º Adenil Alfeu Domingos
Instituição: Unesp/Bauru
Titular: Prof.º Dr.º Maximiliano Vicente
Instituição: Unesp/Bauru
Titular: Prof.ª Dr.ª Linda Bulik
Instituição: Unimar/Marília
3
A meu pai e a todos que acreditaram, de coração, na
conclusão desta pesquisa.
4
AGRADECIMENTOS
Ao mestre Adenil Alfeu Domingos, pelos sábados e
domingos;
ao Edson, pela paciência e companheirismo;
ao professor Ricardo Nicola, pelo pontapé inicial;
aos professores e funcionários do programa;
aos legítimos amigos.
5
“Há homens que lutam um dia e são bons.
Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Porém, há os que lutam toda a vida.
Esses são os imprescindíveis."
Bertolt Brecht
6
RESUMO
O surgimento da internet e a possibilidade de produzir e
distribuir notícias pela rede mundial de computadores
provocou uma mudança nos parâmetros comunicacionais e
forçou uma adaptação dos veículos impressos, televisivos
e radiofônicos. Além de rever a produção e apresentação,
os veículos precisavam mostrar aos consumidores e
anunciantes que estavam no olho do furacão da internet.
Após o boom de novos espaços noticiosos nas redes
telemáticas, atrelados ou não a veículos já existentes em
outro suporte, houve uma depuração e permaneceram
somente os que souberam explorar as potencialidades do
novo meio ou que representam apenas uma vitrina de
baixo custo para outros veículos em suporte distinto.
Diante disso, e com o aparato teórico da semiótica
peirceana, objetiva-se fazer a análise de três sites
noticiosos regionais do interior do Estado de São Paulo,
dois dos quais pertencem a empresas que possuem
veículos impressos tradicionais nas cidades que circulam.
O trabalho tem como finalidade mostrar que, nesses dois
casos, percebe-se que a página virtual existe apenas para
mostrar que as empresas estão atentas aos avanços
tecnológicos. O conteúdo noticioso dos jornais impressos
é transposto integralmente e há elementos mínimos de
interatividade. Não existe interesse no investimento em
recursos humanos e tecnológicos para produzir conteúdo
específico e independente do impresso nem sequer para
comercializar os eventuais anúncios publicitários dos sites.
Assim, além de não tentar constituir um novo veículo, os
vícios do jornalismo impresso são transportados para a
rede. O terceiro site, como não tinha a estabilidade de uma
empresa midiática consolidada, veio à bancarrota por
causa da deficiência na comercialização dos espaços
pagos. Mesmo assim, durante a circulação da página, os
recursos possibilitados pela internet eram timidamente
usados, promovendo uma interatividade mínima com o
ciberleitor. Esses recursos deveriam ser maximamente
potencializado em sites noticiosos.
Palavras-chaves: informação, internet, sites regionais
noticiosos, interatividade, semiótica peirceana.
7
ABSTRACT
The arising of internet and the possibility of producing and distributing news through world
computers net caused a change on communication parameters and forced an adaptation of the
printed television and radiofonic vehicles. Besides reviewing both production and
8
presentation, these vehicles needed to let consumers and advertisers know that they were in
the eye of the internet hurricane. After the boom of new noticeable spaces on telematic nets,
linked or unlinked to already existing vehicles in other support, there was a cleanse and there
remained only the ones who were able to exploit the potentialities of the new means or that
represent but a window-shop of low costs to other vehicles. Regarding this, and with the
theoretical display of peircean semiotics, we can go through three regional news sites, in the
countryside of São Paulo state, two of which belong to companies that own the traditional
press vehicles in the cities where they diffuse. In both situations we notice that virtual pages
exist only to show that these companies are aware of the technological advances. The
noticeable content of the printed newspapers is totally transferred and there are minimal
ingredients of interactional elements. There is no interest in laying out on human or
technological means to produce a specific content that is independent of press, not even to
commercialize the possible adds of the sites. Therefore, besides not creating a new vehicle,
the well known vices of the press journalism are led to the net. The third site, not having the
steadiness of a solid midiatic company, came to bankruptcy because of the deficiency of the
paid and commercializing areas on the papers. Even so, in the meantime of a page
circulation, the sources provided by internet wer scarcely used, making a least interactivity
with the cyber reader, and such a source should be potentiated to the maximum in news sites.
Key words: information, internet, regional news sites , interactivity, peircean semiotics.
9
SUMÁRIO
Introdução
11
1. A internet e a produção de notícias
15
1.1. Início: de calculadoras gigantes a computadores de mão
16
1.2. Impacto: das transformações tecnológicas ao desafio das adaptações das mídias
19
1.3. Acesso: do analfabetismo digital aos programas de inclusão
23
1.4. Cibercultura: das comunidades virtuais à perda de privacidade
25
1.5. Cibercomunicação: do self media ao excesso de informação
32
1.5.1. Interatividade e usabilidade: prática e teoria
40
2. Sites noticiosos regionais: modismo, pioneirismo e reticências
43
2.1. Gazeta de Limeira
45
2.1.1. Reformulação
46
2.1.2. Usuários
49
2.1.3. Anunciantes
50
2.1.4. Dificuldades
51
2.1.5. Transposição de conteúdo x produção
52
2.2. Comércio do Jahu
54
2.2.1. Reformulação
55
2.2.2. Usuários
58
2.2.3. Anunciantes
59
2.2.4. Dificuldades
60
2.2.5. Transposição de conteúdo x produção
61
2.3. Lidebrasil
63
2.3.1. Reformulação
65
2.3.2. Usuários
67
2.3.3. Anunciantes
68
2.3.4. Dificuldades
69
2.3.5. Transposição de conteúdo x produção
70
3. Semiótica de Peirce e os sites noticiosos: paralelos
72
3.1. A Lei da Mente e o processo de criação de signos
80
3.1.1. A Lei da Mente e a Internet
82
3.2. Princípios básicos da teoria
84
3.2.1. O signo
84
3.2.2. O processo de percepção semiótica
86
3.2.2.1. Aplicação da teoria da percepção segundo a semiótica
88
3.2.3. Do hábito à instalação do novo
90
3.2.4. Primeiridade, secundidade e terceiridade
94
3.2.5. A relação signo/objeto
95
4. Leitura semiótica dos sites noticiosos regionais
98
4.1. Formas e layout
100
4.2. Planos e texturas
111
4.3. Estático e móvel
113
10
4.4. Cores
115
4.5. Ícones
118
4.6. Grafemáticos
119
4.7. Interação verbal e não-verbal
120
4.8 Interatividade e usabilidade
121
Considerações Finais
124
Referências Bibliográficas
128
11
INTRODUÇÃO
A
popularização da internet, após libertar-se de círculos restritos de uso, provocou mudanças
significativas no cotidiano das pessoas as quais estão inseridas no processo de avanço
tecnológico. Uma dessas transformações aconteceu na comunicação interpessoal e no modo de
consumir notícias.
O uso de microcomputadores conectados com o mundo possibilita acessar tanto a página de um
periódico local quanto a de um jornal de outro país. A potencialização da capacidade de acesso do receptor
acarretou mudanças nos veículos impressos, televisivos e radiofônicos, os quais tiveram que adaptar-se a
conviver com o novo, e inegavelmente concorrente, ambiente de mídia fomentado pelas redes telemáticas.
Sem que nos esqueçamos da questão do acesso à internet, a possibilidade de, além de ler uma notícia,
assistir um a vídeo, visualizar fotografias e obter infográficos sobre o mesmo assunto em um mesmo local, fez
com que veículos tradicionais buscassem novos papéis no universo informacional, além de lançá-los a uma
corrida pelo ciberespaço. Era necessário estar na internet, possuir um site.
Após fincar suas bandeiras no ciberespaço, os veículos comunicacionais perceberam a dificuldade em se
manter na internet, tanto em termos financeiros quanto de produção de conteúdo, e muitos desistiram da
investida. Sobreviveram aqueles que souberam aproveitar as potencialidades da rede ou os que a usam apenas
como uma vitrina de baixo custo para seus produtos midiáticos principais, desprezando ostensivamente as
ferramentas interativas e demais vantagens de um veículo on-line.
Diante disso, a rede e o conseqüente impacto causado em todas as esferas sociais e principalmente na
comunicação, apesar de já amenizado com o passar de quase uma década da popularização da internet, precisam
ser observados analiticamente e destrinçados. Na justificativa do professor André Lemos:
As redes telemáticas permitem que todos possam se conectar a todos, em um mesmo
ambiente, agora e em qualquer lugar, o que não era possível com as mídias clássicas. Os
impactos desta transformação estão em todas as áreas da cultura contemporânea e ainda
devem ser profundamente analisados (LEMOS in: PRADO, 2002, p. 123).
A proposta dessa pesquisa é verificar, depois de esboçada a trajetória e características
da internet, bem como sua influência na comunicação humana, se os sites ditos noticiosos,
vinculados ou não a outros tipos de mídia, usam a internet em todas as suas potencialidades,
12
ou seja, permitem que o ciberleitor possa consumir um produto genuinamente produzido para
veiculação via rede de computadores. Paralelamente, vamos analisar os signos presentes nos
sites que compõem o corpus do trabalho, com o auxílio da Semiótica de C.S. Peirce e qual a
função de cada um na elaboração da página on-line.
Para tanto, concentraremos os esforços analíticos em três
sites noticiosos do interior do Estado de São Paulo:
Gazeta de Limeira, da cidade de Limeira, Comércio do
Jahu, em Jaú, e Lidebrasil, cuja redação situava-se em
Rio Claro. O Lidebrasil foi uma iniciativa pioneira de se
produzir notícias regionais exclusivas para a internet.
Infelizmente, o site sobreviveu apenas três anos e cinco
meses e não conseguiu se manter principalmente devido à
dificuldade em fisgar anunciantes. Além disso, a falta de
dinheiro durante a circulação da página tolheu um
projeto gráfico mais avançado e a ampliação do uso de
ferramentas da rede, como o hipertexto. O Lidebrasil saiu
de circulação no decorrer da pesquisa, em agosto deste
ano.
Por outro lado, os sites da Gazeta de Limeira e do Comércio do Jahu pertencem a
empresas de mídia que possuem jornais impressos tradicionais nas cidades e microrregião que
circulam. Nesses casos, o espaço telemático nada mais é do que uma vitrina de exposição do
jornal impresso na internet, já que o conteúdo produzido para o impresso é simplesmente
transposto na rede e não há nem sequer elementos mínimos de interatividade. Há a
necessidade, portanto, de se investir em uma equipe de profissionais capacitados para
comercializar anúncios no site, produzir notícias exclusivas – com formato e linguagem
apropriados e principalmente com o uso de hipertexto -, e incrementar a apresentação gráfica
das páginas. Fazer com que o site seja uma via de comunicação on-line com o receptor e, a
partir disso, vislumbrar novos caminhos também para o veículo impresso.
Assim, na primeira parte da dissertação, traçamos a trajetória da internet, desde sua
criação, passando pelo impacto produzido pelas novas tecnologias na comunicação midiática
e conseqüentes adaptações das mídias tradicionais diante da web, a inquietante questão do
acesso e possíveis soluções, até o desenvolvimento da cibercultura - e todos os seus produtos -
13
e da cibercomunicação. A cibercomunicação, que por um lado possibilitou o self media, ou
seja, a explosão do esquema produtor/receptor, já que qualquer pessoa pode produzir e
veicular conteúdo, em contrapartida provocou um excesso de informação, cuja procedência e
veracidade, principalmente de espaços desvinculados de empresas e corporações de mídia já
estabelecidas, devem passar por crivo consistente do ciberleitor.
Na segunda parte, apresentamos os três sites escolhidos, desde as causas da criação,
reformulações, interface atual, ferramentas e conteúdo disponibilizados etc. Tentamos ainda
traçar um perfil dos usuários dos sites, a questão da dificuldade em se conquistar anunciantes,
principalmente no interior do Estado de São Paulo, e a transposição de matérias do veículo
impresso para a página on-line, no caso dos dois sites cujas empresas possuem jornais
impressos. Ainda há uma comparação gráfica entre os sites da Gazeta e do Comércio, a qual
possibilita constatarmos a semelhança na apresentação e layout desses espaços. As
informações contidas nesta parte foram obtidas por meio de entrevistas com Roberto Lucato,
proprietário da Gazeta de Limeira, Luiz Arato, responsável pelo projeto do site do Comércio
do Jahu, e Elaine Knothe, jornalista do Lidebrasil. As entrevistas foram padronizadas, com
perguntas abertas e inserção de pequenas indagações que surgiram no decorrer das conversas.
A terceira parte foi dedicada ao esboço da semiótica peirceana, teoria usada na análise
dos sites, com a explanação dos princípios básicos da teoria, quais sejam: o signo, o processo
de percepção semiótica, o processo de instauração de uma nova crença, as categorias
perceptivas e a relação signo/objeto. Além disso, foram traçados paralelos entre o
funcionamento da mente conforme Peirce e a internet, as quais possibilitam uma afecção
contínua em um tempo infinitesimal. No item Aplicação da teoria da percepção segundo a
semiótica, há uma comparação entre a Gazeta de Limeira impressa e o site da empresa.
Na quarta e última parte, os três sites foram observados analiticamente com o auxílio
da semiótica de Peirce. Analisamos diversas categorias, como formas e layout das páginas,
14
planos e respectivos signos constituintes, aplicação de textura, signos estáticos e móveis,
cores, ícones, parte verbal e interação com o não-verbal e finalmente a interatividade e
usabilidade nos sites. A razão e função de cada signo na página, bem como uma comparação
entre os espaços on-line.
15
1. A internet e a produção de notícias
D
esde seu surgimento, a internet representou, senão uma revolução na
comunicação humana, pelo menos um impacto nas vias comunicacionais e de
interação disponíveis até décadas atrás. Com as ferramentas disponíveis pela internet é
possível falar hoje com qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta, desde que conectada.
Entusiasmo à parte, também é preciso considerar os excluídos do processo, ou seja, as
pessoas que não tem meios, seja econômicos ou educacionais, para usufruir dos benefícios
informacionais, comerciais e comunicacionais da internet. No entanto, essa deficiência precisa
ser combatida juntamente com carências sociais: habitacionais, educacionais, de saúde e de
saneamento básico.
Em relação à produção jornalística, ou seja, para os veículos de comunicação
impressos, radiofônicos e televisivos, a rede representou um alerta e forçou a busca de
aprimoramento e adequação de papéis diante de um novo e forte competidor. Isso sem nos
esquecer, no entanto, do peso próprio dos suportes tradicionais e de usuários fidelizados e, por
outro lado, da dobradinha qualidade/credibilidade, facilmente colocada à prova em veículos
on-line.
Mesmo assim, a internet e seus sites noticiosos conquistam todos os dias,
principalmente entre os jovens, mais adeptos. Seja pela disponibilidade de acesso ou conteúdo
de consumo fácil, mais pessoas buscam informação, negócio e entretenimento no cibermundo.
O jornalismo difundido nas redes, inclusive de grandes portais
1
e empresas
consolidadas, precisa se definir em termos de linguagem e apresentação. O panorama torna-se
mais precário fora dos grandes centros urbanos, nas cidades do interior, onde sites que
divulgam notícias não passam de vitrina de outros veículos, principalmente jornais impressos
16
locais. Nessas cidades, não há uma cultura para internet e as deficiências abrangem desde
profissionais sem preparo até potenciais anunciantes sem conhecimento do novo ambiente
comunicacional.
1.1.Início: de calculadoras gigantes a computadores de mão
Décadas antes dos mais perspicazes visionários sonharem com o que poderia
aproximar-se da mais abrangente forma de comunicação humana, tal como hoje se configura
a internet, os computadores surgiram como gigantescas máquinas de calcular (a primeira delas
foi chamada de Eniac), as quais ocupavam vários andares de um edifício com suas
aparentemente inacabáveis extensões de fios e terminais para conexão.
Passados os decênios, atualmente conseguimos, por meio de um pequeno aparelho
eletrônico chamado celular, realizar ligações telefônicas, tirar fotografias, filmar, enviar
mensagens e até mesmo acessar a rede mundial de computadores e, por extensão, toda a gama
de possibilidades e serviços oferecidos.
Todavia, o embrião do que conhecemos por internet remete-nos aos Estados Unidos
no ano de 1969, quando o Departamento de Defesa dos Estados Unidos criou a extinta
Arpanet, um network para preservar, no caso de um ataque nuclear da antiga URSS, durante a
Guerra Fria, a troca de informações entre os centros tecnológicos e militares espalhados pelo
país. As conexões dessa rede eram independentes, de modo a se manter operantes mesmo
após eventuais ataques a um dos centros de comando.
A Arpa usava o confiável sistema de packet-switching para transmissão de dados a
longas distâncias, ou seja, a informação mandada à rede era dividida em pedaços menores (os
1
Portais são sites que, além da produção jornalística e anúncios comerciais, possuem uma ampla gama de
serviços, como e-mail, lista de discussões, acesso a outros sites entre outros.
17
packets), que eram enviados (ou roteados) de um computador (os hots) ao próximo, através do
network, até o destino. Cada pacote seguia uma trajetória distinta e o conjunto aglutina-se
novamente no endereço de entrega, integralizando os dados.
Já no ano de 1983, a Arpanet foi desmembrada em uma nova rede para fins militares e
de pesquisa, a Milnet. Também foi estabelecido que o protocolo usado seria o TCP/IP
(Transfer Control Protocol/Internet Protocol), criado em 1973 pelo matemático Vinton Cerf
juntamente com o engenheiro Robert Kahn
2
. As fontes de código desse protocolo são abertas,
ou seja, qualquer pessoa pode usá-las, característica que possibilitou a disseminação do uso da
ferramenta.
O sociólogo catalão Manuel Castells explica, em reportagem publicada no jornal
Estado de S. Paulo, em 5 de fevereiro de 2005, que o software livre funciona como um
alfabeto, que pode ser usado sem haver solicitação de permissão ou pagamento de taxas. “A
Internet desenvolve-se a partir de uma arquitetura informática aberta e de livre acesso desde o
início” (CASTELLS, in: MORAES, 2003, p. 258). O mesmo autor comenta ainda que a rede
foi idealizada e viabilizada por múltiplas pessoas e setores para que fosse um instrumento de
comunicação livre.
No entanto, o pontapé final para a configuração e popularização do sistema que é
usado hoje na internet foi a invenção, em 1990, pelo físico inglês Tim Berners-Lee, da world
wide web (www), a teia de alcance mundial. A tecnologia da web baseia-se nos princípios do
hipertexto (ver 1.5.), o qual permite a ligação entre textos e arquivos, bem como sua
disponibilização para as demais máquinas conectadas à rede. Na esteira das inovações, cada
documento recebia um endereço, composto por um identificador de hipertexto (http) e um
sinal de sua disponibilidade na web (www).
2
Segundo Vieira (2003), o governo norte-americano escolheu Cerf, matemático e professor da Universidade de
Stanford, para comandar a administração dos pontos da Arpanet espalhados pelo país. Em parceria com Robert
18
Desde seu surgimento, conforme Castells, a internet se desenvolve “a partir da
interação entre a ciência, pesquisa universitária fundamental, os programas de pesquisa militar
nos Estados Unidos – uma combinação curiosa – e a contracultura radical libertária”
(CASTELLS in: MORAES, 2003, p. 257). A pesquisadora Simone Pereira de Sá compartilha
da mesma opinião:
Por um lado, a instituição militar e suas estratégias de defesa; por outro, a contracultura
computacional utópica e libertária, que floresce na Califórnia, no Vale do Silício, tendo
como atores jovens interessados nesta nova tecnologia de comunicação e inseridos num
processo de inovação constante cujas descobertas são divulgadas gratuitamente,
impulsionando o desenvolvimento do computador pessoal como ferramenta amigável, a
ser utilizada por pessoas sem domínios formais do universo de programação (SÁ, in:
PRADO, 2002, p. 150).
É inegável que a estratégia de defesa transformou-se, em
um pouco mais de 30 anos, em uma verdadeira máquina
de guerra da comunicação mundial, capaz de provocar
mudanças contundentes na economia e política mundial
com pulsos eletrônicos. A rede de redes de computadores
cresceu para tantas direções tanto quanto foi possível e
ganhou vida própria. Embrionária nos EUA, não pertence
a nenhum estado, nação ou grupo e é alimentada a cada
instante, a partir de quantos pontos de conexão existir ao
redor do mundo. Configura-se como um processo em
contínua evolução, em desenvolvimento, que deve ser
analisado, examinado e estudado exaustivamente devido
às profundas transformações que provocou nas relações
Kahn, o pesquisador criou um pequeno mecanismo que permitiu a comunicação entre dois computadores,
quando ligados em rede.
19
humanas, seja na comunicação, interação e organização
social.
A Internet não é simplesmente uma tecnologia; é o meio de comunicação que constitui a
forma organizativa de nossas sociedades; é o equivalente ao que foi a fábrica ou a
grande corporação na era industrial. A Internet é o coração de um novo paradigma
sociotécnico, que constitui, na realidade, a base material de nossas vidas e de nossas
formas de relação, de trabalho e de comunicação (CASTELLS in: MORAES, 2003, p.
287).
A internet é uma rede flexível formada por outras infinitas redes de computadores,
onde instituições, empresas, associações e pessoas físicas produzem seus sites, home pages ou
blogs, apresentando-os e recheando-os de acordo com seus interesses, com textos, imagens,
vídeos, animações e sons. Sem contar a comunicação por meio de ferramentas diversas tais
como correio eletrônico (e-mail), salas de discussão on-line (chats), listas e fóruns,
geralmente organizados em comunidades virtuais ou grandes portais.
1.2. Impacto: das transformações tecnológicas ao desafio da adaptação das
mídias tradicionais
Quando observamos a trajetória dos instrumentos que foram responsáveis por avanços
significativos no processo de comunicação humana, desde o desenvolvimento da escrita,
passando pela impressão tipográfica de Johann Gutenberg e pela possibilidade de transmissão
de som e imagens a longas distâncias, até a rede mundial de computadores, para citar apenas
algumas evoluções, percebemos que o salto temporal entre as inovações reduz-se a cada
marco.
Antes, as pessoas conseguiam pelo menos conhecer e acostumar-se ao uso de cada
novidade. Já na contemporaneidade, a sensação reinante é de constante desatualização, dada a
20
incrível velocidade com que se atropelam os inventos e aprimoramentos, principalmente
quando tratamos da informática e da microeletrônica
3
.
As novas tecnologias da mídia, da imprensa de Gutenberg à eletrônica de hoje, sempre
foram demolidoras. (...) Anteriormente, as inovações de mídia se desenvolviam
lentamente, a intervalos de muitos anos, dando tempo para a adaptação das novas
técnicas às realidades sociais existentes. Agora, testemunhamos a convergência
simultânea de uma vasta gama de tecnologias de mídia. O período concedido para
selecionar suas implicações políticas e econômicas foi drasticamente reduzido
(DIZARD, 2000, p. 102).
Uma das razões da surpreendente rapidez, que também é uma das características da
rede, está no contínuo feedback dos usuários, que implica em sucessões incontáveis de inputs
e outputs em uma retroação febril, modificando, assim, a partir do intenso uso, a aplicação da
tecnologia cibernética.
Isso fez com que os meios de comunicação tradicionais sentissem o impacto e a
necessidade de se adaptar às novas tecnologias. Na opinião do estudioso Wilson Dizard
(2000, p.254), “a mídia tradicional enfrenta mudanças dolorosas à medida que se adapta às
tecnologias de ponta, às mudanças no público e aos desafios da internet e outros canais
informatizados”.
Cadeias consolidadas de jornais impressos e redes nacionais de rádio e de televisão
foram obrigados a descer do salto e reverenciar um novo, porém topetudo, desafiante: a mídia
digital dos bits e bytes. Ainda segundo Dizard (2000, p. 255), “a mídia deve lidar com a
convergência de muitas mídias novas, que estão chegando velozmente e com a urgência que
nos dá pouco tempo para avaliar a maneira como elas podem melhor se adaptar a um padrão
já complexo de mídia”.
3
Sem desconsiderar aqui a questão dos excluídos do processo de evolução tecnológica, que será tratada adiante
(ver 1.3).
21
A tendência é de aceleração contínua e não há dúvidas de que estamos cada vez mais
submersos em um ambiente no qual as máquinas de informação baseadas em computador
estão mudando a maneira como a informação é coletada, armazenada, produzida e difundida,
para enfocarmos, especificamente, o processo comunicacional.
Tal abalo exige posicionamentos e mudanças de estratégia operacional, principalmente
nos setores ligados à comunicação de massa, os quais, conforme Dizard (2000, p.30), “têm
geralmente sido lentos em explorar a internet e outros canais eletrônicos como um mercado
para seus produtos”. Apesar de, nos dias atuais – atentando-se para o fato de que o texto de
Dizard foi escrito há cinco anos, o que se configura tempo suficiente para certos dados
tornarem-se obsoletos em se tratando de contemporaneidade -, observarmos grandes
investimentos das empresas de mídia em relação à geração de novos produtos on-line.
A maioria das empresas midiáticas já adaptou (ou estão em processo de adaptação) as
operações para a realidade da internet, afirmação que pode ser comprovada pelo número de
sites de jornais impressos e revistas, os quais disponibilizam seu conteúdo na rede, bem como
de emissoras de rádio transmitindo sua programação e interagindo com os ouvintes no
universo on-line. Em relação à televisão, há limitações a serem transpostas no que diz respeito
à largura da banda de passagem, a qual precisaria ser expandida para possibilitar uma nítida
visualização de tela cheia.
Na Internet, a maior parte dos computadores conectados usa a rede telefônica, que foi
projetada para voz. Esta ocupa um espaço de banda de passagem muito pequeno. A
televisão utiliza - só para formar imagem – aproximadamente sete milhões e 200 mil
pontos que precisam ser transmitidos por segundo. Isso necessita de uma banda de
passagem muito grande. Então, para poder ser transmitido via internet, tudo isso tem
que ser reduzido e, conseqüentemente, perde-se em qualidade. Por isso tela cheia ainda
não tem bons resultados na rede
4
(informação verbal).
4
Dados e opiniões fornecidos pelo professor do curso de Rádio e Televisão da Unesp de Bauru e produtor de
televisão, Willians Cerozzi Balan, em entrevista concedida em maio de 2003 para um estudo proposto na
22
Os veículos tradicionais têm que se armar para enfrentar um potente competidor pelos
preciosos anunciantes, os quais representam uma das principais fontes de sustentação de
mídias como jornais impressos, revistas e emissoras de rádio e televisão. Na opinião de
Dizard (2000, p.39), a televisão e os demais veículos clássicos de comunicação são desafiados
pela internet e por outras tecnologias que oferecem opções mais amplas de serviços de
informação e entretenimento. “A convergência de serviços avançados de mídia – para
impressão, voz e vídeo – para um único circuito eletrônico levou as indústrias de mídia e de
telecomunicações a uma nova relação competitiva”.
Ainda assim, observamos que são poucos os produtos on-line pertencentes a grupos
midiáticos detentores de veículos de comunicação em suportes tradicionais que conseguem
apresentar sites ou portais eficientes tanto em termos de interface, ou seja, apresentação
gráfica e disposição de elementos na página, quanto no que se refere ao conteúdo. Uma das
razões dessa perda de qualidade pode ser explicada tanto pela falta de profissionais gráficos e
comunicacionais competentes e atualizados no mercado, quanto pela reticência dos
anunciantes em apostar no novo suporte midiático.
Mesmo assim, as empresas precisam arriscar, já que, além das eventuais fatias de
publicidade (isso tratando-se de grandes corporações), há a perda de leitores, no caso de
jornais impressos e revistas, bem como de telespectadores, no caso da televisão. Dizard
(2000) aponta que, nos últimos anos da década de 90, a leitura de jornais diários por adultos
norte-americanos diminuiu de cerca de 80% para menos de 60% da população.
Previsões catastróficas sobre o declínio das velhas mídias, entretanto, são perigosas e
prematuras. Atentamo-nos para as idéias e palavras do guru canadense Marshall McLuhan, o
qual afirmava que “um novo meio nunca cessa de oprimir os velhos meios, até que encontre
para eles novas configurações e posições” (MCLUHAN, 2001, p. 41). Dizard (2000) também
disciplina de Tecnologias da Informação na Comunicação, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação
23
acredita que o futuro está na comunhão entre as gerações de mídias. “A sobrevivência vai
depender da habilidade de arquitetar estratégias práticas para produção e comercialização de
novos serviços de alta tecnologia via internet, bem como dos atuais canais de distribuição”
(DIZARD, 2000, p. 47).
Segundo as observações do pesquisador, cada vez mais, “a mídia de massa vê seu
futuro papel como o de um provedor eletrônico de produtos de informação e entretenimento”
(DIZARD, 2000, p. 56), já que as vias digitais de informação e entretenimento têm uma
surpreendente capacidade de manipular e distribuir uma ampla variedade de dados – texto,
vídeo, som e imagem - em escala planetária e tempo real. Diante do panorama, o professor
Dizard (2000) vê o receptor como maior beneficiário do processo:
Nenhuma tecnologia vai dominar. Cada uma possui suas características próprias, que
irão torná-la atraente aos consumidores individuais. Seja qual for a mistura de
tecnologias resultante, os setores de mídia tradicional vão fornecer uma grande parcela
dos produtos de vídeo, áudio e impressos que vão circular pelas redes avançadas. A
ponta de lança desses novos serviços serão os produtos interativos, dando aos
consumidores uma ampla escolha de como, quando e qual fonte de informação e
entretenimento será entregue em suas casas (DIZARD, 2000, p. 92).
1.3. Acesso: do analfabetismo digital aos programas de inclusão
Apesar de todas possibilidades tecnológicas e comunicacionais descortinadas pelo
desenvolvimento da internet, uma das questões mais urgentes para que todos esses benefícios
possam ser usufruídos pelas pessoas é o acesso. São milhões de pessoas ao redor do globo, as
quais estão à margem do processo e vêem, a cada dia, o abismo da diferença digital e
conseqüentemente social expandir e aprofundar-se de maneira intransponível. De acordo com
Castells, “a Internet está criando um mundo dividido entre os que têm e os que não têm
Internet” (CASTELLS in: MORAES, 2003, p. 265).
Midiática da referida universidade.
24
A continuar a atual tendência (a crescente divisão entre aqueles que têm acesso fácil
à informação e aqueles que são privados de informação mais ampla), os primeiros
dominarão totalmente os recursos de informação de que todos necessitamos para
sobreviver e prosperar, e os segundos se tornarão um lumpem proletariado pós-
industrial, relegados ao entretenimento irracional e outras trivialidades. (DIZARD,
2000, p. 15).
No topo da escala temos a elite tecnológica, que prospera porque sabe como usar os
novos recursos. Abaixo, fica a massa desprovida de conhecimentos, a qual carece de
habilidades e de recursos em lidar com as tecnologias de ponta. Como bem comentou o
jornalista Luís Victorelli
5
(informação verbal), em entrevista concedida na Universidade do
Sagrado Coração (USC), a tecnologia pela tecnologia não vale a pena. Ela precisa vir
acompanhada de condições de acesso. Seu uso tem que proporcionar ações totalizantes e não
excludentes. A centralização do conhecimento tecnológico assim como o acesso à informação
e seu controle separam cada vez mais as classes econômicas.
Justamente porque a tecnologia permite localizar-se e distribuir a partir de qualquer
ponto, o essencial para produzir conteúdo na Internet é ter informação e
conhecimento, o que traduz em pessoas que disponham de informação e
conhecimento, pessoas que estão concentradas nos grandes centros culturais e áreas
metropolitanas do mundo. (CASTELLS in: MORAES, 2003, p. 263/264).
Já que “o analfabetismo é causa e também efeito de
disparidades econômicas” (DIZARD in: MORAES, 2003,
p. 274), é preciso combatê-lo - tanto o digital quanto o
funcional - com o uso intensivo de tecnologias da
informação e comunicação. Promover a inserção de
segmentos excluídos na sociedade é tarefa para o governo
25
em parceria com a sociedade civil organizada. A
tecnologia precisa facilitar a trajetória inversa, ou seja,
fomentar iniciativas de inclusão digital para promover
uma inclusão social. De acordo com Sérgio Midilin,
presidente da Fundação Telefônica, “a inclusão digital visa
eliminar a distância que separa os ‘com’ e os ‘sem’
informação para disponibilizar e, especialmente, para
acessar e interpretar a informação” (MIDILIN, 2003,
p.16). Programas e iniciativas para viabilizar centros
comunitários de informática, assim como a aquisição de
máquinas e equipamentos e treinamento de profissionais
em escolas públicas, devem ser promovidos
incessantemente.
Dizard (2000) lembra que o acesso à informação é
indispensável para se prosperar, individual e
coletivamente, numa sociedade democrática mais
complexa, já que “pessoas sem acesso à Internet
apresentam uma fragilidade cada vez mais considerável no
mercado de trabalho” (CASTELLS in: MORAES, 2003, p.
265).
O analfabetismo digital é o entrave mais consoante
e precisa ser combatido de maneira emergencial. No
entanto, questões como custo de máquinas e equipamentos
5
Dados e opiniões fornecidos pelo jornalista Luís Victorelli em entrevista concedida em maio de 2003 para
monografia da disciplina de Tecnologias da Informação na Comunicação, do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Midiática.
26
modernos, de vias de conexão rápidas, dificuldade de
interação com interfaces gráficas e de busca de informação
representam barreiras, as quais não permitem um uso
pleno e eficiente dos benefícios e potencialidades da rede
e devem ser igualmente amenizadas, para não dizer
excluídas e soar utópico demais.
Menos grave, nem por isso menos preocupante, é a deficiência na apreensão do
conhecimento digital ou analfabetismo digital funcional. O assunto veio à tona na última
visita de Castells ao Brasil, em fevereiro último. Para o sociólogo catalão, a maioria da
população conectada digitalmente é “analfabeta digital funcional”. “Um dos piores aspectos
do software comercial
6
é a separação do acesso a uma extraordinária tecnologia e a nossa
capacidade pessoal, isso nos faz sentir idiotas todos os dias” (CASTELLS in: BOOP, 2005, p.
D5). No entanto, com o desaparecimento natural dos analfabetos digitais funcionais nas
próximas décadas haverá, vislumbra Castells, um “progresso enorme na humanidade”.
No entanto, não podemos nos esquecer ainda que a informação de qualidade não está
disponível gratuitamente na internet, os grande sites são megastores de vendas de produtos, as
bibliotecas digitais não substituem as boas bibliotecas universitárias e a falta de segurança
torna a navegação ainda pouco confiável.
1.4. Cibercultura: das comunidades virtuais à perda de privacidade
Mesmo que as observações de Dizard (2000) sobre o papel dos produtos
interativos não se concretizem plenamente e que esses produtos sejam disponibilizados
6
Software comercial é aquele desenvolvido por empresas e que não permite o acesso aos códigos da linguagem
de programação usada em seu desenvolvimento, também chamado de software de proprietário. Castells defende
o uso do software livre, ou seja, aquele cuja base de dados pode ser acessada por todos.
27
a uma pequena parcela economicamente abastada da população, é preciso desvendar
esse novo ambiente comunicacional, sendo a cibercultura uma de suas características
principais, cujo surgimento e desenvolvimento foi possibilitado pelas redes telemáticas.
Em um artigo sobre os aspectos da cibercultura, o professor André Lemos (2002)
a definiu como uma “cultura contemporânea que se estabelece como uma cultura de
redes, sendo a cibercultura fruto da sinergia
7
entre a sociabilidade contemporânea e as
novas tecnologias de base microeletrônica.” (LEMOS in: PRADO, 2002, p. 111).
Transportando isso para a esfera midiática, sinergia seria quando um tema é explorado
por meio de diversos produtos (como exemplo, podemos citar o filme “O Rei Leão”, da
Disney, que virou musical na Broadway, livros infantis, revistas para colorir, bonecos de
pelúcia, camisetas e utensílios domésticos para crianças).
Para Dizard (2000), as estratégias de sinergia, “um recurso inteligente de
marketing” (DIZARD, 2000, p. 34), dominam o ambiente da nova mídia. Vale ressaltar
ainda que tal recurso pode ser uma ferramenta potencialmente perigosa, ao concentrar
o poder e a riqueza da mídia nas mãos de um pequeno número de grandes empresas,
característica perene do universo das mídias tradicionais e que infelizmente a internet,
além de não combater, contribui para consolidar ainda mais.
Outra face deste movimento sinergético, bem salientado por Lemos, estaria no
compartilhamento de dados entre quantos computadores pessoais estiverem conectados
à rede. “A napsterização (palavra derivada do programa Napster, que foi criado em 1999
para transferência e download de arquivos MP3. A empresa responsável foi processada por
violação de copyright e o programa precisou ser retirado da internet) potencializa a
7
Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa , o vocábulo sinergia vem da
fisiologia e significa “o ato ou esforço coordenado de vários órgãos na realização de uma
função” ou “associação simultânea de vários fatores que contribuem para uma ação
coordenada”.
28
sinergia dos estoques de informações pessoais, ameaçando aqueles que sempre
dominaram a emissão” (LEMOS in: PRADO, 2002, p. 120). Em tese, é possível trocar
músicas, filmes, fotos, textos e experiências com qualquer lugar do globo terrestre.
Mesmo assim, atentamo-nos para o fato de a ausência de um filtro durante as interações
entre usuários favorecer, em determinadas situações, a desinformação.
Entusiasta, Lemos (2002) afirma que é preciso vislumbrar as potencialidades das redes
telemáticas na cultura contemporânea já que a cibercultura faz com que as conexões
generalizadas e práticas sociais se intensifiquem umas às outras. Fato comprovado na
diversidade de agrupamentos mediados por computador que temos atualmente. São milhares
de fóruns e listas de discussão sobre os mais diferentes e exóticos assuntos, salas de bate-papo
(os chats) para qualquer idade, vocação ou preferência sexual, bem como home pages
pessoais e, mais recentemente, a explosão dos blogs. “(...) a rede telemática planetária e os
diversos objetos estão ganhando, a cada dia, novas possibilidades de comunicação entre eles”
(LEMOS in: PRADO, 2002, p. 113). Como exemplo do movimento, o pesquisador coloca a
possibilidade de acesso à internet pelo celular, o celular no relógio de pulso, relógio de pulso
com tocador de arquivos em MP3, geladeira e TV com acesso à web, jaquetas com MP3 e
celular etc..
Essencialmente, a evolução da informática, com a
surpreendente miniaturização e o aumento da capacidade
de processamento, bem como das interfaces gráficas mais
práticas e agradáveis, aponta como única tendência a
ampliação do fluxo de informação. Na sociedade atual, é
imprescindível fazer parte do turbilhão formado pelos
fluxos hipervelozes de dados, mesmo que não se consiga
29
alcançar o núcleo, mas muitos permanecem excluídos do
processo (ver 1.5).
O filósofo francês Pierre Lévy (1999) supõe que a sensação de estranheza e de
exterioridade daqueles que tentam apreender o movimento contemporâneo das técnicas é
provocada pela alta velocidade de transformação da cibercultura, a qual, por sua vez, é
resultante do ‘impacto’ (vocábulo a seu ver inadequado) das novas tecnologias da informação
sobre a sociedade e a cultura. Mesmo para os mais ‘plugados’, é impossível acompanhar
ativamente todos os processos de mudanças, assim como a corrente da informação, pelos
quais passam as especialidades técnicas.
Nesse ponto, o papel da inteligência coletiva é essencial, uma vez que possibilita a
apropriação, por indivíduos ou grupos, de certas alterações tecno-sociais e afasta o temor da
exclusão do processo cibercultural. Lévy define o ciberespaço
8
como um ambiente propício,
um suporte para o surgimento de uma inteligência coletiva descentralizada e
desterritorializada. Tal ‘útero’, porém, gera um ciclo de retroalimentação febril, já que o
desenvolvimento das inteligências coletivas acelera ainda mais o ritmo das alterações tecno-
sociais (ver 2.3) e exige uma participação ativa nos espaços virtuais, sendo que a condenação
mínima para quem resistir ao processo é a exclusão digital.
Antes de analisarmos as comunidades virtuais, espaços ideais para o florescimento
da inteligência coletiva, trataremos de mais um dos aspectos da cibercultura: a explosão
da barreira relativista tempo/espaço, já que é possível navegar pela internet através do
tempo e projetar-se, simultaneamente, em inúmeros lugares diferentes. Segundo Castells
(2001, p.397), “localidades ficam despojadas de seu sentido cultural, histórico e
geográfico e reintegram-se em redes funcionais ou em colagens de imagens, ocasionando
um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares”.
30
O mesmo acontece com o tempo, “já que passado, presente e futuro podem ser
programados para interagir entre si na mesma mensagem” (CASTELLS, 2001, p.397).
“O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura,
que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente
transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai se tornando
realidade” (CASTELLS, 2001, p.398). A quebra cronológico-espacial foi um dos fatores
responsáveis pela implementação do novo “paradigma tecnológico” próprio das
sociedades informacionais e daquelas que estão em vias de tornarem-se informacionais.
No entanto, não podemos desconsiderar que essa ruptura pode acarretar, por outro
lado, uma perda da identidade, já que o indivíduo ficará despojado de dois parâmetros
essenciais para a construção desse conjunto próprio de características e encontrará
dificuldade para responder às seguintes perguntas: onde estou e quando estou.
Voltemos a atenção agora às comunidades virtuais as quais, de acordo com
Nicola (2004), são o único segmento da rede que pode ser considerado formativo, ou
seja, como a própria definição já diz, participa da formação do indivíduo e proporciona
o exercício da cidadania. “A experiência prova (o autor refere-se à comunidade virtual
The Well) as novas formatações e os usos do ciberespaço num contínuo exercício da
cidadania” (NICOLA, 2004, P. 84).
Grupos de pessoas com interesses comuns que se organizam paulatinamente,
comunicando-se através de e-mail, chats e websites. Como guetos, as comunidades
virtuais conseguem subverter os conceitos mercadológicos e usar a rede para integrar
profissionais ao redor do mundo, compartilhar documentos, comparar diferentes bases
de dados das organizações e promover fóruns de discussões. São espaços que não
precisam disputar nem agradar anunciantes e podem voltar-se inteiramente para o
8
Termo usado pela primeira vez por William Gibson na sua novela de ficção científica Neuromancer, editada
31
aprimoramento e crescimento do indivíduo. “(...) apesar de o cibercidadão
9
atentar para
seu site comunitário independentemente do apelo visual, porque se afeiçoa mais ao
caráter ideológico” (NICOLA, 2004, p.86).
Abrigos para o indivíduo que se refugia entre iguais e onde ele vai encontrar
conforto, apoio emocional, afeto e tudo que se encontra no lar doce lar. Estes
grupamentos seriam os novos espaços para o convívio com a diversidade e
complexidade da vida social contemporânea, a nova ágora desaparecida das
cidades concretas, onde o encontro com desconhecidos seria canalizado para a
construção do bem comum – seja a inteligência coletiva ou o espaço público
ampliado de matriz habermasiana (SÁ in: PRADO, 2002, p 153).
Conforme Teixeira Filho (2002), somente com a adoção da internet como meio de
comunicação ágil, flexível e de baixo custo, em larga escala pelas organizações e na vida
doméstica, foi possível a viabilização das comunidades virtuais. “Profissionais de uma área
específica passaram a poder trocar informações relevantes para o seu dia-a-dia, sobre suas
melhores práticas e a forma como estruturam seus processos e a compartilhar soluções para os
seus problemas mais comuns” (TEIXEIRA FILHO, 2002, p.65).
Já Castells, ao analisar a intensidade das relações estabelecidas no ciberespaço e
partindo do princípio de que as comunidades virtuais - mesmo ao gerar sociabilidade,
interações e redes de relações humanas - não são iguais às comunidades físicas, ressalta que
“o que acontece é que a Internet é capaz de criar laços fracos, mas não de estabelecer laços
fortes, em média, e é excelente para dar continuidade e para reforçar os laços fortes que se
criam a partir da relação física” (CASTELLS, in: MORAES, 2003, p. 274).
Nos sites de comunidades virtuais, além da gama de serviços sociais, existe
geralmente uma página de apresentação, convidando o usuário a navegar em uma das listas de
em 1984, na qual o herói liga um computador diretamente ao cérebro.
9
Indivíduo que não usa a rede apenas para aquisição de produtos ou serviços, antes, pratica a cidadania na
internet, por meio da troca de informações e interação com demais usuários.
32
discussão. Tais espaços propõem-se a formar a opinião do internauta que, de mero usuário da
internet, transforma-se em um cibercidadão
10
, ou seja, “um usuário preocupado em engajar-se
nas questões sociais e procura (que) interagir com os demais usuários por meio dos debates
em listas de discussões” (NICOLA, 2004, p.123).
Assim como Lévy (1999), “quanto mais pessoas tiverem acesso à internet, mais se
desenvolverão modos de sociabilidade” (LÉVY, 1999, P.41), também acreditamos que o
ciberespaço é um ambiente participativo, socializante e emancipador. A cibercidadania é
construída por meio dos fluxos de informação livres de interesses publicitários e que buscam
essencialmente o crescimento e o aprimoramento humano.
No entanto, nem tudo são flores no país da cibercultura, já que qualquer coisa que
façamos na rede pode ser detectada eletronicamente. Quem decide entrar na web está ciente
de que privacidade não é palavra de ordem. Casos de clonagens e roubos de dados pessoais,
principalmente de números de documentos e cartões de crédito, são freqüentes e crescem em
uma velocidade espantosa. Assim como invasões, pelos piratas da rede (os hackers), em base
de dados governamentais ou de instituições econômicas.
De acordo com André Lemos, a questão é um dos temas centrais da cibercultura, “já
que as novas tecnologias radicalizam a publicização do espaço privado e a privatização do
espaço público” (LEMOS in: PRADO, 2002, p. 117). Segundo o pesquisador, o controle de
informações privadas é feito por programas de vigilância que incluem setores policiais,
políticos e comerciais de diversos países. Iniciativas como os projetos Echelon e Carnivore
(este último pertencente ao FBI, dos EUA) mobilizam esforços internacionais para espionar e
interceptar ligações telefônicas, faxes, e-mails e qualquer tipo de mensagem ou transação que
navegam pelas redes eletrônicas.
10
“Em princípio, é costumeiro se referir aos usuários que acessam sites jornalísticos como ciberleitores em
potencial; àqueles que participam de comunidades virtuais como cibercidadãos; e os que navegam por todos os
hiperdocumentos apenas como cibernautas.” (NICOLA, 2004, P.123).
33
Castells também comenta sobre “o desaparecimento da privacidade através de um
mundo em que vivemos conectados à rede” (CASTELLS, in: MORAES, 2003, p. 282) e
constata que as tentativas de proteção à privacidade, pelo simples fato de estarmos
interligados em uma rede global, não obtêm êxito.
1.5. Cibercomunicação: do self media ao excesso de informação
Sem dúvida, o aparecimento da internet, assim como o desenvolvimento da
cibercultura, proporcionou mudanças no dia-a-dia das pessoas as quais estão inseridas - por
opção ou necessidade - no processo. Atualmente, para os incluídos digitais, seria difícil voltar
a viver sem a praticidade e o baixo custo de enviar mensagens via e-mail? E a comodidade de
pagar contas ou fazer compras por meio do acesso direto aos centros fornecedores em outras
cidades? Ou então prescindir visitas em lugares nunca antes sonhados?
11
Deste modo, a rede mundial de computadores também provocou transformações tanto
no processo comunicacional em si como no modo de produção da notícia da maioria dos
veículos de comunicação de massa. Numa redação de jornal ou mesmo em emissora de rádio,
além dos profissionais terem acesso a uma quantidade imensurável de páginas da web, as
quais tratam dos mais inimagináveis temas, eles podem retomar toda sua produção, com uma
base de dados digital. Tal recurso facilita o levantamento de dados em matérias passadas
assim como a busca de informações, muita vezes já levantadas e armazenadas, sem precisar
recorrer aos velhos e empoeirados arquivos de papel e favorece a produção de um texto
contextualizado ao usuário.
11
É importante lembrar que não queremos discutir a validade de excursões virtuais em comparação com viagens
reais.
34
Para os veículos grandes e tradicionais, antes de se tornar mais um canal de
divulgação, a internet apresentou-se como uma sedutora concorrente na guerra pelos
anunciantes (ver 1.2.). Passado o susto inicial e cientes da obrigatoriedade de inserção - caso
contrário estariam arriscados à bancarrota -, os empresários da comunicação começaram a
adaptar-se àquilo que se configuraria como um novo ambiente de mídia.
Assim, sob a luz das novidades, a mais nova coqueluche da comunicação viu a
proliferação de páginas jornalísticas e sites de veículos de comunicação impressos, bem como
de emissoras radiofônicas transmitindo programação via rede. Apesar de meramente
reproduzir, na maioria das vezes, o conteúdo dos veículos principais para as páginas virtuais e
sites, a simples existência de tais espaços já representa a abertura de um canal de
comunicação direta com o receptor. Já podemos ler uma matéria, expressar nossa opinião e
ainda discutir o assunto com outras pessoas (em listas e fóruns de discussões, comunidades
virtuais etc.). Segundo Simone Pereira de Sá, parte dos estudiosos que especulam a
comunicação mediada por computadores “percebem a Rede potencialmente como um novo
ambiente que configura o discurso dos outros veículos” (SÁ in: PRADO, 2002, p. 150).
Ainda assim, é preciso lembrar que, principalmente fora dos grandes centros, a
exploração eficiente da internet por outros veículos comunicacionais ainda engatinha. A
maioria dos sites colocados no ar são pobres em termos gráficos e apenas reproduzem as
reportagens produzidas para o impresso, radiofônico ou televisivo. Perceberemos, nas
entrevistas reproduzidas no capítulo 2, com três profissionais pertencentes a veículos de
comunicação que tentam inseri-los na rede, que faltam profissionais tanto para produzir
matérias para veiculação na internet quanto para vender anúncios. Isso potencializa a falta de
conhecimento e conseqüente reticência dos potenciais anunciantes em relação a veículos on-
line. As emissoras de rádio também reproduzem a programação, inclusive a parte jornalística,
35
pela rede. Já a transmissão televisiva pela internet necessita de uma expansão dos recursos
técnicos (ver 1.2.).
Em relação especificamente ao processo comunicacional, um dos principais impactos
introduzidos pela web foi a subversão do esquema de difusão um-todos, com um emissor
único e ‘todo-poderoso’ e a conseqüente massa de receptores, para a possibilidade da
comunicação todos-todos, ou seja, ‘virtualmente’, todos são emissores/receptores. Entusiastas
à parte, ressaltamos que tal possibilidade pode comprometer a qualidade do conteúdo, e
mesmo que haja apenas comunicação em vez de informação, ainda assim a libertação de um
único centro emissor representa uma quebra no sistema até então dominante do processo
comunicacional, principalmente midiático.
Mas conforme Dizard (2000), “a nova mídia, pelo contrário, dá a todos a oportunidade
de falar assim como de escutar. Muitos falam com muitos – e muitos respondem de volta”
(DIZARD, 2000, p.105). É a consolidação da self media, ou a ‘a mídia pelo indivíduo ou de
cada um’, em detrimento à mass media.
A simultaneidade e interatividade (hipertexto), assim como a descentralização, fazem da
Internet algo bem diferente das mídias de massa. Ela não é uma mídia, mas um (novo)
ambiente midiático, uma incubadora espontânea de instrumentos de comunicação, um
sistema auto-organizante criativo (LEMOS in: PRADO, 2002 p. 123).
Também para Lemos, “o ciberespaço fez com que qualquer um possa não só ser
consumidor, mas também produtor de informação, emissor” (LEMOS in: PRADO, 2002, p.
114). Lévy (1999) avalia que há um fluxo de informação tão grande onde todos são emissores
e receptores e, ao debater, convertem o espaço virtual em praça pública, local onde todos os
incluídos on-line têm voz.
Agora, é preciso entender a comunicação não como vetor (com um fluxo linear de
informação entre um emissor (E) e um receptor (R)), como foi estudada e compreendida de
36
forma quase homogênea desde os primeiros estudos e teorias fundamentalistas, mas como
uma rede intrincada e constante, onde o processo tornou-se horizontal e a sua produção,
descentralizada. “Tendências mais recentes vêm enfatizar o papel ativo dos receptores, a
natureza produtiva do consumo, as complexas mediações culturais” (FRANÇA in: PRADO,
2002, p. 62).
As novas tecnologias das comunicações podem ampliar e diversificar o controle da
informação, dando mais poder aos usuários individuais e aos grupos. (...) Um serviço
público de informação de última geração, fornecendo acesso universal, pode acrescentar
uma dimensão nova e dramática aos recursos de informação democráticos e à forma e
ao propósito da sociedade americana no novo século (DIZARD, 2000, p. 276).
Ainda com Dizard, a nova infra-estrutura de informação possibilita uma expansão sem
precedentes do grande número de vozes, ou seja, milhares de canais de informação de voz,
vídeo e impresso que se comunicam em um ritmo absurdamente frenético. “As tecnologias
digitais geram processos de comunicação que conectam usuário a usuário, gerando um fluxo
que, virtualmente, coloca todos em contato com todos” (LEMOS, in: PRADO, 2002 p. 122).
A descentralização do centro produtor, a liberdade de
acesso, bem como a possibilidade da concepção/difusão
de informação fez explodir a produção de conteúdo na
web. Com isso, as redes de comunicação experimentam
dinâmicas e velocidades completamente distintas de tudo
já visto anteriormente, seja no número de conexões ou no
volume e alcance das informações. É impossível mensurar
a quantidade de dados existentes na rede. Em uma
pesquisa de 1998, encomendada pela Universidade de
Princeton, estimava-se que a internet continha mais de
37
320 milhões de páginas de informação e entretenimento.
O mesmo estudo mostrou que mesmo o melhor mecanismo
de busca era capaz de identificar menos do que um terço
desse total. Atualmente, julga-se que este número já
ultrapasse os quatro bilhões de endereços. “A
comunicação em rede como processo horizontal, sem
fronteiras, grandemente espontâneo, não organizado,
resistente ao controle e à censura e diversificado na
finalidade e adesão” (SÁ in: PRADO, 2002, p. 150).
Castells (2001) também expressa sua opinião em relação ao tema, ao salientar que “o
fato de ser uma comunicação horizontal, de cidadão a cidadão, significa que eu posso criar
meu próprio sistema de comunicação na internet, posso dizer o que quiser, posso comunicá-
lo” (CASTELLS, 2001, p.342).
Sem dúvida, a recente febre dos blogs está sendo fundamental para consolidar tal
afirmação. Os blogs são páginas da web as quais começaram como diários pessoais e agora
abrigam conteúdos jornalísticos, científicos e até opinativos. Os blogs permitem que qualquer
pessoa exponha suas opiniões e relate acontecimentos, verossímeis ou fantasiosos. Há
registros de blogs cujo conteúdo algumas vezes já se antecipou aos grandes jornais ou contou
versões ou mesmo histórias que, por alguma razão, não puderam ser transcritas para as
páginas dos veículos tradicionais (vide o número de blogs de jornalistas que foram cobrir a
Guerra do Iraque e puderam transmitir impressões pessoais dos conflitos e da população
iraquiana).
Assim como uma infinidade de sites, tais espaços estabelecem uma forma de trabalho
voluntário em relação à distribuição e troca de informações. Segundo Rodrigues, “pela
facilidade com que se conseguem ferramentas para criação e manutenção de blogs, qualquer
38
um pode abrir uma janela na Rede - e de uma forma mais fácil e barata que a produção de um
site. Uma vez criado seu blog, está liberada sua linha direta com o mundo. (RODRIGUES,
2003, p.1).
Qualquer pessoa com uma linha telefônica pode se transformar em um porta-voz de sua
localidade, com um alcance de voz mais amplo do que se poderia pensar. Através do
uso das páginas da Web, serviços de correio eletrônico e grupos de notícias, o mesmo
indivíduo pode se tornar um panfleteiro (DIZARD, 2000, p. 258).
Conseqüentemente, cada usuário pode tornar-se
editor, ao navegar a seu bel-prazer pelos links e
hiperdocumentos, extinguindo, também, a figura do
gatekeeper (profissional selecionador dos assuntos que
estarão na pauta do veículo) na internet. A rede oferece
múltiplos sistemas de filtragem, por meio dos quais os
usuários podem escolher de acordo com os seus interesses.
Com o computador pessoal, o internauta tem a liberdade
de fazer e controlar a sua própria imprensa. A rede
aumentou imensuravelmente a área de abrangência do
leitor, ou seja, sua capacidade de acesso, já que podemos
conhecer e ler veículos de comunicação de grande parte
dos países, privilégio inviável antes do advento da web.
Novamente, temos que dar a mão à palmatória a
Marshall McLuhan, o qual anteviu, ainda na década de 60,
que máquinas de informação de última geração fariam do
homem comum seu próprio editor. O pesquisador Ricardo
39
Nicola (2001) comenta que o ciberleitor
12
pode ser, ao
mesmo tempo, produtor e receptor da notícia, destituindo
o editor tão-somente como o senhor da matéria
jornalística. Ocorre, então, uma libertação do indivíduo e
dos grupos da dependência da mídia centralizadora, já que
é possível selecionar, consumir, aprofundar, discutir com
demais usuários uma notícia ou fato jornalístico e interagir
com o “suposto” emissor (seja um indivíduo ou um
veículo).
Aliás, a interatividade (ver 1.5.1) é um dos grandes
triunfos da comunicação via redes telemáticas, já que
possibilita fluxos multidirecionais e simultâneos de
informação. “Desenvolvem-se tecnologias interativas
(cresce a internet, o universo on-line altera a prática e os
usos dos meios tradicionais, assistimos a um sistema de
informação operando em rede, etc.) e a interatividade entra
na ordem do dia.” (FRANÇA in: PRADO, 2002, p. 63).
Os pólos do processo comunicacional foram
descaracterizados e agora é “o lado mais fraco” que tem o
poder de escolher quando, como e quais serão as formas
de informação e entretenimento.
A mídia interativa (MI) oferece aos consumidores acesso a um amplo leque de serviços
que lhes permite controlar tanto o modo como o horário de recebimento de informação.
Essencialmente, MI é informação e entretenimento sob demanda (DIZARD, 2000, p.
37).
12
Segundo Nicola (2003), ciberleitor seria o usuário que ingressa nas redes eletrônicas em busca de notícias.
40
Como já explanamos no item 1.1., a tecnologia da rede está baseada nos princípios do
hipertexto
13
, o qual permite a ligação entre textos e arquivos. Os usuários apontam como uma
das principais desvantagens do consumo de notícias virtuais o cansaço provocado pela leitura
na tela do computador, o qual é muito maior quando comparado com o papel. Ao deparar-se
com um texto muito longo, até o mais acostumado ciberleitor fica arriscado a clicar no
temível “x” e fechar a janela de acesso ou navegar por outras páginas, já que seu
comportamento é naturalmente volátil na rede e os convites não param em nenhum momento
(os incansáveis pop-ups).
O ideal, ensinam os primeiros manuais para os que se arriscam a produzir textos para
web, é disponibilizar o texto sem precisar do uso da barra de rolagem vertical. Para tanto, o
produtor possui uma poderosa ferramenta de organização que é o hipertexto. Com ela, o texto
de apresentação pode ser dividido e colocado em diversos links (ligações), os quais servem
como complemento e podem ser acessados por palavras-chave. Tal aspecto torna a leitura um
exercício ativo e individual, onde cada um traça seu caminho através das várias possibilidades
de entrada. O hipertexto nasce da necessidade de ultrapassar as fronteiras e a ditadura da
linearidade escrita, exigindo a delimitação de um novo paradigma comunicacional.
Disperso, multilinear, aberto, polifônico a ser explorado através de um leitor ativo, num
processo de ‘leitura-navegação’ multilinear, associativo e cujos centros são móveis –
apontando para reconfigurações nos papéis do autor, do leitor e conseqüentemente da
própria concepção de texto e de leitura, caracterizando assim uma “mudança de
paradigma” onde é central a crítica às idéias de margem, centro, hierarquia e linearidade
(SÁ in: PRADO, 2002, p. 152).
Os links convidam a uma associação dinâmica, não-linear, onde cada entroncamento
representa geralmente um único conceito ou idéia, em analogia ao funcionamento do cérebro
13
De acordo com Vieira (2003) a palavra hipertexto foi cunhada pelo acadêmico norte-americano Theodor H.
Nelson. “Por hipertexto pretendo significar escrita não-seqüencial, um texto que se ramifica e permite escolhas
ao seu leitor e que preferencialmente deverá ser consultado em um monitor interativo” (NELSON apud VIEIRA,
2003, p. 7).
41
humano e suas redes neuronais, questão na qual não pretendemos nos aprofundar. Tais
entradas fazem do hipertexto uma estrutura em nós composta por ligações de idéias, que são
representados por textos, gráficos, animações, vídeo, imagens ou programação.
No entanto, toda essa infinita gama de informações, transmitida em diversos formatos
e acessada por meio de inúmeras entradas, resulta em um excesso de informação ou entropia.
Atualmente vivemos a paranóia da comunicação, já que precisamos estar consumindo 24
horas por dia e mesmo assim temos a nítida impressão de que a apreensão foi insuficiente. O
professor André Lemos fala da “orgia de signos” que preenchem nossa realidade cotidiana
deste início de século e da sensação de que estamos vivendo em meio a uma sociedade do
excesso.
Trata-se aqui do excesso de informação causado pela popularização global da Internet.
A sociedade contemporânea institui-se como uma disseminação virótica de dados
binários sob diversas formas: samplings musicais, vírus, pirataria, colagens digitais,
criando essa sensação de que estamos vivendo em meio a uma sociedade do excesso
(LEMOS in: PRADO, 2002, p. 115).
Reflexo da cibercultura, essa produção excessiva, não acumulativa e irracional de bits,
segundo o pesquisador, pode levar a uma perda de referencial e ocasionar a não-informação.
Dizard também alerta para a questão ao ressaltar que “o problema não é que não tenhamos
informação suficiente. O problema reside em outro lugar. As pessoas não sabem o que fazer
com a informação” (DIZARD, 2000, p. 273).
Assim, uma das conseqüências dessa massa de informações de caráter volátil, dessa
“matéria pronta a suportar todas as metamorfoses, todos os revestimentos, todas as
deformações” (LÉVY, 1999, p.103), é a perda de credibilidade. “Com a expansão dos canais
eletrônicos, as possibilidades de seu mau uso tornam-se mais sérias. A tecnologia gráfica dos
computadores atingiu um ponto em que podemos criar representações digitalizadas de pessoas
e eventos fictícios, mas que são virtualmente indistinguíveis da realidade” (DIZARD, 2000 p.
42
272). O internauta pode sentir-se a pessoa mais bem informada do mundo e estar levando
‘gato por lebre’. O cibermundo possibilita a busca direta e rápida de qualquer tipo de pauta ou
discussão, mas, muitas vezes, quando comparadas, as informações emergem de forma
desconexa e contraditória.
Ponto para os meios de comunicação tradicionais. Assim opina o sociólogo Castells ao
afirmar que as pessoas concedem mais confiança aos veículos impressos.
Porém, o problema essencial quando tudo está na Internet é de credibilidade, e é aí que
os meios de comunicação seguem desempenhando um papel essencial, pois as pessoas
tendem a dar maior credibilidade a La Vanguardia, ao New York Times, a El País ou a
El Periódico de Cataluña do que àquilo que Manuel Castells possa colocar na rede em
determinado momento (CASTELLS in: MORAES, 2003, p. 286).
1.5.1. Interatividade e usabilidade: teoria e prática
Uma das principais inovações e contribuições da
internet para a comunicação humana é a interatividade
permitida pela rede. A possibilidade de interação
simultânea entre quaisquer usuários que estejam
conectados subverteu paradigmas da comunicação bem
como do jornalismo.
Para Lippman (1975, apud BRAND, 1988), pesquisador do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT), pode-se definir interatividade como uma “atividade mútua e simultânea
da parte dos dois participantes, normalmente trabalhando em direção de um mesmo objetivo”
(LIPPMAN, 1975, p.52, apud BRAND, 1988, p.46). Nota-se que a tal definição está voltada
para a relação homem-homem e em nada lembra o esquema receptor/ativo-receptor/passivo,
43
consolidado pelos meios de comunicação de massa e estudado exaustivamente pelas Teorias
da Comunicação.
Um sistema interativo, segundo Lippman, possui interruptabilidade, que seria a
capacidade que cada um dos participantes tem de interromper o processo, granularidade
(menor elemento após o qual se possa interromper), degradação ociosa (para perguntas não
programadas pelo sistema) e não-default, ou seja, os participantes não podem ser guiados.
Um sistema interativo é formado por agentes intercomunicadores, onde cada um tem a
possibilidade de resposta simultânea, criativa e não-prevista. Ou seja, programas auto-
denominados interativos (como o Você Decide ou o Intercine, da Rede Globo de Televisão)
não passam de reativos (ou que possuem uma interação fraca), uma vez que deixam o receptor
escolher entre opções pré-determinadas.
De acordo com André Lemos, no artigo “Anjos interativos e a retribalização do
mundo”, a interatividade se divide em social (diálogo face a face), mecânica (analógica) e
eletrônica (digital). Interatividade, para ele, nada mais é do que uma forma de interação
técnica, de característica eletrônico-digital, e que se diferencia da interação analógica da
mídia tradicional.
Assim, como uma das principais ferramentas da internet, deveria estar presente em
sites jornalísticos. Para Lemos, um site verdadeiramente interativo precisa facilitar a
comunicação entre os seres humanos envolvidos no processo, no caso, entre os usuários e
entre estes e a equipe de produção, a fim de aproveitar ao máximo essa potencialidade do
meio.
A interatividade faz-se presente, de acordo com Steve Outing, colunista da revista
Editor&Publisher Interactive, quando o site fomenta fóruns de discussão, chats, disponibiliza
endereço eletrônicos dos repórteres, insere comentários do leitor ao final da matéria, fornece
ferramentas para produção de sites pessoais e espaço para divulgação de hobbies dos usuários,
44
bem como de nascimentos, casamentos e mortes, bem como permite o acesso a páginas de
grupos comunitários.
Outra ferramenta indispensável para sites em geral, incluindo-se páginas noticiosas, é
a usabilidade, definida como a facilidade no uso da interface e obtida por meio da Arquitetura
da Informação
14
. A usabilidade é alcançada com um sistema ágil, de resposta rápida, onde as
opções oferecidas sejam facilmente identificáveis e compreensíveis. Sites que tenham boa
usabilidade têm mais chances de fidelizar maior número de usuários.
No entanto, observamos que os sites noticiosos em geral, exceto grandes portais
jornalísticos ou sites de grandes veículos comunicacionais, não usam os elementos
interativos em sua totalidade, apresentando escassos recursos para que o usuário
interaja com ao centro produtor de notícias. Já a usabilidade é vista com mais atenção,
mesmo assim ainda há falhas nesse sentido que poderiam ser facilmente corrigidas se, na
concepção dos sites, fossem consideradas características visuais e de conteúdo, bem
como metas e objetivos a serem alcançados, e não exemplos de sites semelhantes ou
experiências anteriores da empresa criadora.
Os três sites noticiosos regionais escolhidos como objeto de análise desta pesquisa, a
serem apresentados no próximo capítulo, não fogem à regra e pecam em termos de
usabilidade e, principalmente, interatividade. Uma análise mais extensa será, por sua vez,
apresentada na parte 4.
14
A Arquitetura da Informação é usada para desenhar uma interface. Esse desenho é o que define a navegação e
a estruturação de seu conteúdo. Um bom planejamento de todos os fluxos de informação e das funcionalidades
de um site tornam o produto final muito mais usável e lucrativo.
45
2. Sites noticiosos regionais: modismo, pioneirismo e reticências
O
s três sites escolhidos para integrar o corpus desta pesquisa são os dos jornais
Gazeta de Limeira, situado na cidade de Limeira, Comércio do Jahu, em Jaú e
Lidebrasil, cuja sede ficava em Rio Claro. Os três municípios localizam-se no interior do
Estado de São Paulo. As duas primeiras páginas da web são extensões dos jornais impressos,
ambos quase centenários. O Lidebrasil foi uma iniciativa pioneira para a região, já que as
notícias eram exclusivamente produzidas para a internet. O site, porém, precisou ser tirado do
ar em agosto de 2005, dois anos e cinco meses após sua criação. Motivo: dificuldade em
vender espaços publicitários e conseqüente falta de dinheiro. Mesmo assim, optamos por
manter a entrevista e as análises como se o site ainda estivesse no ar.
Para traçar breve histórico desses sites, ajustes técnicos e adequações de produção
feitos após a colocação das páginas no ar, perfil do usuário, estratégia para conquista de
anunciantes, dificuldades enfrentadas, dinâmica de produção de notícias e uso das ferramentas
disponibilizadas pela rede, foram feitas entrevistas com pessoas intimamente ligadas aos sites,
desde o projeto até recentes modificações.
No caso do site da Gazeta de Limeira, o proprietário do jornal, Roberto Lucato, nos
forneceu as informações necessárias. No Comércio do Jahu, foi a vez de Luiz Arato, gerente
de projeto na época e, no Lidebrasil, conversamos com a jornalista responsável pelo conteúdo
veiculado no site, Elaine Knothe.
As entrevistas foram feitas entre os dias 12 e 19 de fevereiro de 2005, e padronizadas,
com perguntas abertas, nas quais o entrevistado discorria sobre o assunto abordado. No
decorrer das conversas, houve novos questionamentos individuais, os quais não ocasionaram
diferenças perceptíveis em comparação às demais entrevistas.
46
Podemos notar, em relação aos dois sites dos veículos impressos, Gazeta de Limeira e
Comércio do Jahu, que o surgimento da página on-line acompanhou a onda dos espaços
noticiosos na rede. Tempos depois de colocados na web, ambos passaram por reformulações
técnicas e visuais, as quais proporcionaram maior rapidez e facilidade de navegação do
usuário, além de uma interface mais agradável. No entanto, o conteúdo ainda é idêntico ao do
veículo impresso, ou seja, inadequado para internet, e o uso de ferramentas disponíveis na
rede é pouquíssimo explorado.
A deficiência em termos de conteúdo próprio, nos dois casos, pode ser decorrente da
falta de uma estratégia comercial agressiva para levantar capital e custear uma equipe de
produção independente do veículo impresso e voltada exclusivamente para o site. Os
entrevistados, no entanto, relatam que as dificuldades da questão começam no mercado de
trabalho, carente desde profissionais que dominem e vendam espaços publicitários em páginas
on-line até de agências de publicidade, as quais desprezam o potencial publicitário da rede no
interior do Estado de São Paulo.
Assim, o arrebanhamento de anunciantes, que também desconhecem as
potencialidades da rede, fica comprometido antes do primeiro contato. O fato pode explicar a
ausência de atenção dada ao assunto, principalmente nas empresas que possuem os veículos
impressos. A página on-line torna-se vitrina para os jornais diários e as ferramentas de
interatividade são explicitamente desprezadas.
No caso do Lidebrasil, possivelmente por não haver outras fontes de receita,
percebemos uma preocupação maior em termos de captação de verbas publicitárias. Mesmo
assim, a investida esbarra tanto no despreparo dos vendedores quanto na desconfiança dos
empresários. A jornalista responsável pela produção de conteúdo, Elaine Knothe, conta que os
escassos recursos inviabilizam um investimento maior em recursos humanos e técnicos.
47
A falta de verba dificulta também para os sites da Gazeta e do Comércio ampliar a
gama de leitores, ou melhor, ciberleitores, os quais poderiam diferenciar-se do público dos
veículos impressos e incrementar as atividades da empresa. Notamos que a questão é cíclica e
resulta em perda de qualidade e conseqüente não-fidelização de um público consumidor de
notícias e, porventura, de produtos anunciados.
Mesmo com as deficiências e eventuais falhas identificadas, percebemos que não há
um projeto a curto prazo para implementação de um site funcional e com conteúdo exclusivo,
principalmente nos casos da Gazeta e do Comércio. Parte-se do pressuposto de que o mercado
publicitário não está preparado para o veículo e permanece-se na inércia em relação à busca
de anunciantes, estratégia que, em caso de eficiente, poderia viabilizar o efetivo
funcionamento da página on-line.
Assim, o site é deixado em segundo plano e percebemos, na comparação das páginas
referentes aos jornais impressos (ver 2.2.1), semelhança em termos de apresentação gráfica e
disposição de colunas e elementos jornalísticos e publicitários ou empresariais, já que em
ambos os casos não há anunciantes e as propagandas são da própria empresa de comunicação.
2.1. Gazeta de Limeira
O site da Gazeta de Limeira (www.gazetadelimeira.com.br) está no
ar há oito anos e passou por uma reformulação em meados de 2003.
Atualmente, a página on-line disponibiliza, além das reportagens, as
colunas diárias e cadernos existentes na versão impressa. Há ainda a
48
capa do jornal impresso e links para os programas (Gazeta Esportiva e A
Hora da Notícia) que a empresa possui em parceria com mais duas
empresas de mídia local (uma emissora de rádio e outra de televisão) e
demais serviços. O jornal impresso começou a circular há 74 anos, em
1931.
De acordo com Roberto Lucato, diretor-gerente da Gazeta de Limeira, o site foi
elaborado devido à “própria corrente natural da época”, ou seja, durante o boom dos sites
jornalísticos de veículos impressos, especificamente jornais diários. No entanto, naquele
tempo, “não se tinha muita noção de como seria um site de jornal”. “Era o programador frio,
acostumado a fazer aquilo para outras áreas diante de um produto completamente diferente
dos demais que era o jornal informativo”. Lucato completa, mas evidencia um paradoxo
comum na época da explosão dos sites noticiosos: “ele saiu de uma maneira mais visando
atender o nosso leitor, que a gente não tinha noção de quem seria o leitor daquele jornal
(referindo-se ao site) que estava aparecendo”.
Possuir um site, durante a explosão das páginas da web pertencentes a mídias
informativas, mesmo desconhecendo seu papel ou o perfil do usuário, era condição
imprescindível para estar na moda. O tiro no escuro atingia também a parte comercial do
negócio, pois os proprietários das mídias impressas, pelo menos em um primeiro momento e
com raras exceções, não vislumbraram uma possível função comercial no recém-nascido
braço on-line. “(o site) Só acompanhou uma tendência. Se eles estão fazendo, então vamos
fazer também”.
2.1.1. Reformulação
49
A reformulação do site da Gazeta de Limeira aconteceu em julho de 2003, por causa
de um fato inusitado: “eu sair de férias em julho”, nas palavras de Roberto Lucato. Assim,
para cuidar dos negócios, mesmo longe da sede do jornal, o empresário adquiriu um notebook
e passou a acessar diariamente a página on-line da Gazeta. “Comecei a ver as falhas, onde
está isso, onde está aquilo. Então falei para o design do site: isso aqui está no tempo da pedra,
não tinha foto, não tinha a capa da edição impressa. Estava muito defasado”. Além disso,
Lucato afirma que as mudanças foram norteadas pelas mensagens com sugestões enviadas
pelos usuários do site.
Assim, a parte visual foi modernizada, com inserção de uma seção de destaques para
as reportagens, com disponibilização de foto, e a capa da versão impressa. Foram colocados
ainda links referentes aos cadernos do jornal, ou seja, suplementos semanais feminino, infantil
e de lazer. Hoje, ainda é possível acessar, por meio da página do jornal, as colunas, editoriais,
edições anteriores e demais programas midiáticos da empresa.
À direita, no site, além da capa impressa, estão: link do e-mail, enquete, indicadores
financeiros e previsão do tempo para a cidade. Já à esquerda, o usuário pode acessar os
cadernos, colunas e editoriais. Na seção intitulada serviços, é possível fazer anúncios nos
classificados, assinatura, participar de um fórum, obter informações sobre o “Prêmio Gazeta
de Literatura”, acessar os programas esportivos do grupo, verificar a localização dos radares
móveis na cidade e fazer consultas no Detran (Departamento Nacional de Trânsito). Há ainda
um link para o Procon, informações sobre postos médicos e plantões, dicas de filmes e loterias
(figura 1).
50
Figura 1: página inicial e de reportagem do site da Gazeta de Limeira do dia 29/10/2005.
Fonte: www.gazetadelimeira.com.br
.
Também é disponibilizado para o ciberleitor um banco de dados referente à produção
jornalística dos últimos três anos da edição impressa. O mecanismo de busca é eficiente, pois
rastreia tanto palavras existentes no título quando no texto jornalístico.
No início, a modernização provocou reações positivas por parte dos usuários, que
aprovaram as mudanças, segundo Lucato. Mas, para o próprio empresário, “ainda não está
ideal, não está aquilo que eu gostaria que fosse”. O empresário acha que o texto precisa ser
mais trabalhado (ver 2.1.5).
No entanto, nem todo o conteúdo do jornal é disponibilizado no site, mas esse corte
não afeta as notícias locais, pois, segundo Lucato, o jornalismo regional tem que valorizar os
acontecimentos locais já que “notícias nacionais e internacionais o usuário da internet já tem
onde quiser”.
A atualização da página, ou seja, a inserção das matérias que serão veiculadas na
edição impressa do dia seguinte é feita pelo setor de artes gráficas do jornal, que executa a
tarefa após o fechamento da edição impressa, por volta das 23h30. A manutenção é realizada
por uma empresa terceirizada, responsável pelo gerenciamento de acessos, banco de dados e
demais questões técnicas do site.
51
Após a reformulação, Lucato afirma que o número de acessos aumentou muito,
chegando “à marca surpreendente de quase um milhão e meio de acessos mensais”. Não há,
segundo o empresário, uma explicação pontual para o comportamento do usuário.
“Honestamente, não entendo. Eu falo com pessoas que realmente estão ligadas a sites, a
números e estatísticas de vários sites. Eu não vejo uma explicação. Porque, em termos de
divulgação, é o próprio jornal que se divulga, mas a gente faz a divulgação normal, não tem
um elemento agregado para divulgar mais o site. Então, não tem uma razão, a não ser, é claro,
o nome do jornal, a tradição e a qualidade das matérias à disposição no site. Mas, não tem
algo assim que me passe a idéia que se fez isso e estourou o site. Foi uma seqüência.”
Um dos grandes dilemas agora, para o empresário, principalmente devido ao número
surpreendente de acessos por mês, é saber “até que ponto o jornal vai suportar manter o site
aberto como está sem as outras áreas”, referindo-se à dificuldade de se desenvolver a parte
comercial do site, com venda de anúncios.
2.1.2. Usuários
O usuário do site tem entre 20 e 40 anos e, às vezes, é assinante da versão impressa. O
perfil é baseado em relatórios enviados pela empresa que gerencia os acessos. “É uma coisa
interessante: o pai é assinante e o filho entra no site. Várias vezes encontrava amigos e eles
me diziam que o filho, quando ele chegava à noite em casa, já antecipava alguma notícia.
Inicialmente, a gente pensa que quem acessa o site está em Bangladesh e não é assim. O
limeirense que vive aqui acessa muito o site. Ele está no escritório, vai ler sua caixa de
mensagens, dá um cliquizinho e vê a primeira página do jornal, mas ele pode ter o jornal
impresso na casa dele.”
52
Em relação aos links e cadernos mais acessados, Lucato declara que as colunas diárias,
assinadas por diversos colunistas, todos jornalistas, têm grande acesso. A parte esportiva,
“devido ao conglomerado que a Gazeta fez de mídia, envolvendo rádio e televisão para
divulgar o esporte”, também é bastante procurada pelos usuários. Em relação aos cadernos,
estão à frente o caderno de lazer (Lazer) e o suplemento feminino (Jornal da Mulher). “O
Lazer traz notícias que são consumidas pelo público mais jovem e o Jornal da Mulher é bem
acessado porque tem notícias de saúde e comportamento, que também são interessantes
inclusive para imprimir e guardar.”
2.1.3. Anunciantes
Apesar do número de acessos mensais e das investidas comerciais, não há anunciantes
na página on-line da Gazeta de Limeira. Para explicar a situação, Lucato afirma que falta
conhecimento em relação ao produto por parte do anunciante em potencial. “A gente percebe
assim: muita dificuldade da pessoa que não é do meio compreender o que é acesso, o que é
uma propaganda virtual, o que é um banner.” Além disso, as empresas locais, “não têm
interesse em se estruturar para fazer a venda virtual”, na opinião do empresário. “Nós até
pensamos em ter uma equipe independente para se fazer esse tipo de venda (referindo-se aos
anúncios on-line), mas como estava tão inviável, essa equipe iria ter um rendimento
desprezível e não iria ficar estimulada a vender o produto”.
Então, afirma Lucato, as barreiras vão desde o vendedor, que não estaria preparado
adequadamente para apresentar o produto, até o anunciante local, desprovido de uma cultura
de investimento na internet e que “não enxerga as potencialidades da rede”. “Limeira é uma
praça complicada. Eu não sei se é medo de exposição, se é receio. A questão é: como se criar
53
essa cultura, fazer esse anunciante tentar arriscar. O jornal não pode sobreviver apenas de uma
receita. Em regra, o jornal tem que ter várias fontes de receita, porque nem todas caminham
positivamente durante o ano. E aí que está o grande dilema: se você começar a ter os seus
assinantes virtuais, poderia criar uma fonte de receita para subsidiar essa equipe que possa ser
montada (referindo-se a parte de produção do conteúdo). Mas, por outro lado, em primeiro
lugar, pode derrubar o número de acessos violentamente. Em segundo lugar, uma equipe
grande, especializada, ou seja, formada por jornalistas, nãoqualquer garantia que o site vá
melhorar. Evidente que vai melhorar tecnicamente, mas em números, não há essa garantia.”
Em relação à suposta concorrência entre as versões impressa e on-line, o empresário
afirma que, em um primeiro momento, o site concorre com a edição impressa. Em seguida,
porém, declara que, baseado em leituras de conferências internacionais sobre o assunto,
principalmente material norte-americano, a internet não interfere na dinâmica de circulação
do jornal. “O jornal não perdeu mercado, não perdeu leitor, não perdeu absolutamente nada.
Ele agregou valor. Então, quando a gente fala de penetração é isso: é você estar em Limeira,
pegar seu carro, ir a um bairro de periferia e encontrar a Gazeta em um balcão de bar. É você
ter um estudante que o pai não assina o jornal, porque tem uma situação financeira que não
permite, mas ele precisa fazer um trabalho de escola e pega alguma coisa no site, ele usa o site
para fazer a pesquisa. A Gazeta é um nome, você vai fixando esse nome, essas informações
vão penetrando e isso faz com que o jornal mantenha sua fertilidade.”
Mesmo assim, com a parte comercial insípida, Lucato diz que é vantajoso manter um
site, porque o custo é baixo, “baixíssimo”. “A Gazeta é um mini-provedor, a gente tem muitas
pessoas que tem e-mail grátis pelo próprio site, tem esses serviços”.
2.1.4. Dificuldades
54
Além da ausência de anunciantes, Lucato argumenta que outra dificuldade é a
impossibilidade atual de incrementar o site, por exemplo, disponibilizando na página matérias
feitas para a televisão ou para o rádio (nos programas em que a Gazeta produz em parceria
com outras empresas de mídia), apropriadamente editadas para a versão on-line. “Tudo é
complicado, porque você tem que colocar isso no site, aí começa a encarecer. Você tem que
ter uma placa, programa, a própria televisão também tem que trabalhar com a mesma
linguagem. Precisa de alguém para separar aquela matéria, porque ninguém vai querer rever o
programa pelo computador”.
A narração de determinados gols, referentes principalmente aos jogos dos dois times
locais, já pode ser acessada por meio do site. No entanto, segundo o empresário, o material
não está editado e não fornece demais informações relativas à partida. “Alguém ter que fazer
o gerenciamento dos gols, até quando vão ficar disponíveis para baixar, quais momentos,
fazer a edição. Hoje, por exemplo, está jogado. Você vai lá, clica, tem um ponto: bola para
fulano. Não tem isso: esse jogo aconteceu no dia tal, a Inter (Internacional de Limeira, um dos
times locais) ganhou, o Galo (Independente, o outro time da cidade) ganhou. Simplesmente
não tem.” Ainda em relação à parte esportiva, uma das metas é disponibilizar as imagens dos
jogos via internet, concretizando, assim, uma convergência midiática possibilitada e
característica da internet.
2.1.5. Transposição de conteúdo x produção
No entanto, para que essa convergência midiática possa usufruir de todos os recursos
em potencial da rede e, conseqüentemente, oferecer ao usuário um produto característico das
mídias on-line, é preciso, na opinião de Lucato, “um jornalista específico para produção de
conteúdo on-line”, responsável pelo texto, edição, forma de apresentação etc.
55
Atualmente, todas as reportagens veiculadas na versão impressa, são transpostas na
íntegra no site da Gazeta. Às vezes, os textos recebem cortes somente em razão do aspecto
técnico e nunca por causa da adequação necessária da linguagem, tamanho, formato e uso de
ferramentas próprias da rede.
Indagado sobre como vê a questão da transposição das matérias produzidas para a
versão impressa, Lucato declara não estar contente nem com a exposição visual, já que o
tamanho da fonte, em sua opinião, deveria ser maior. “Não está legal nossa letra, ela tem que
ser um pouco maior e, para você aumentar a letra, o que tem que fazer? Compactar a matéria.
Aí entra nessa área que a gente está falando (a questão da transposição), não dá para ficar
rolando a barra, pois o leitor vai embora. O edital que escrevo tem cerca de 50 linhas. Se eu
colocar em um site um texto desse tamanho, fica imenso, a pessoa pára na metade e não lê.”
Sobre a interatividade no site, Lucato diz que percebe esse diálogo produtor-receptor
principalmente no link do programa esportivo televisivo. “O usuário sugere, ou pede alguma
coisa, principalmente nas mídias ligadas ao rádio e à televisão que estão vinculadas ao jornal.
No caso de jornal, aparecem sugestões de matérias, pequenos textos em relação a uma notícia
da versão impressa.”
No entanto, a falta de banco de dados para atender às solicitações dos usuários e a
própria linguagem usada pelos internautas problematiza, para o empresário, ainda mais a
efetivação da interatividade na página on-line. “O internauta é um ser diferenciado, ele é
folgado. Ele te pede o mundo e você tem que entregá-lo com poucas palavras. Ele faz umas
sugestões que são até pertinentes, mas que a gente não tem ainda em termos de banco de
dados, porque não tem estrutura para ter o tal do banco de dados. Outro problema é a
56
linguagem: o internauta tem dificuldade em escrever. O internauta habitual fica com essa
linguagem (referindo-se ao internetês
15
) que não dá para decodificar e colocar no jornal”.
Além disso, os comentários dos usuários necessitam de uma edição prévia antes da
veiculação (procedimento inicialmente não usado), pois, para Lucato, mensagens com
linguajar chulo e palavrões são freqüentes. “Isso passou a constar, em uma época, no próprio
site, para todo mundo ter acesso. Ficou um negócio complicado, porque você está expondo a
difamação, injúria e calúnia para todo mundo.” Mesmo assim, a versão impressa mantém um
espaço intitulado “Assim Pensa o Internauta”, destinado a publicar textos de autoria de
usuários do site.
Um retrocesso em termos de interatividade aconteceu na reformulação do site já que
antes, ao final de cada reportagem, constava o nome do jornalista responsável pelo texto, com
um link para o e-mail pessoal do autor. Atualmente, todos os e-mails enviados à redação, por
meio do site, são destinados ao e-mail geral da Gazeta e respondidos, na maioria das vezes,
pelo editor-chefe.
2.2. Comércio do Jahu
O Comércio do Jahu é um veículo impresso que possui 93 anos, ou seja, está em
circulação desde 1912. O site do Comércio - www.comerciodojahu.com.br
- entrou no ar em
março de 2001. De acordo com Luiz Arato, gerente de projeto na época, o site começou a ser
idealizado em 1999, e a idéia foi amadurecendo durante o ano de 2000. Ele foi desenvolvido
por uma empresa especializada em websites e provedores de internet, que hoje cuida da
manutenção da página.
15
O internetês ficou conhecido como a linguagem praticada na internet, principalmente pelos jovens, que
simplificam as palavras quase apenas às consoantes e, na opinião de especialista, atrapalha o aprendizado.
57
A estrutura inicial do site, de acordo com Arato, foi baseada em outros sites já
existentes, principalmente noticiosos, que “a gente foi adaptando para a nossa proporção”.
Para explicar a razão do desenvolvimento de um site, o gerente afirma, assim como o
empresário Roberto Lucato, que “na época, era necessário ter um site para complementar o
conceito de mídia, mesmo sendo mídia impressa”. Ele complementa: “todo mundo queria ter
alguma coisa de internet. Depois houve aquele filtro. O boom aconteceu e depois a queda da
maioria dos sites por falta de acesso” (figura 2).
Figura 2: página inicial e de reportagem do site do Comércio do Jahu do dia 29/10/2005.
Fonte: www.comerciodojahu.com.br
.
2.2.1. Reformulação
O site do Comércio do Jahu, desde a concepção, passou por três reformulações. As
duas primeiras afetaram apenas a interface, ou seja, foram apenas gráficas, com ajustes de
posição de seções, notícias, botões e eliminação de setores que se tornaram obsoletos. Na
última mudança, que aconteceu no segundo semestre de 2004, além do visual, a página
recebeu uma nova ferramenta de gerenciamento. “A antiga tinha sido desenvolvida com um
conceito que já estava saturado, não conseguia lidar com o volume de informações, que estava
58
muito grande. Essa ferramenta atual é muito melhor. Ferramenta de banco de dados. A parte
gráfica, na verdade, é mais simples, o importante é o que está por trás, que ninguém vê”,
afirma Arato.
A implementação da última reformulação durou cerca de quatro meses e, além da nova
ferramenta de banco de dados, alterou-se, novamente, a parte gráfica, o que, na opinião do
gerente, pode gerar problemas técnicos e reações negativas da parte dos usuários. “Às vezes, a
mudança gráfica dá algumas incompatibilidades com o sistema de banco de dados. E, depois,
tem sempre aquela questão: o que se fizer em termos de aspecto gráfico não vai agradar a
todos.”
Mas a reformulação era necessária ainda para atualizar o site e padronizá-lo às demais
páginas jornalísticas existentes na rede. “O grande segredo da internet é que tudo seja mais ou
menos padronizado. As pessoas já estão acostumadas mecanicamente a acessar as seções e
não ter que ficar pensando onde é que está o que. Evita a pessoa ter que personalizar um ato
mecânico em uma tela. É comum isso, entra em site hoje, não que seja igual, mas a estrutura é
igual de todos”, declara Arato. Uma das coqueluches da última mudança foi a incorporação de
uma ferramenta de busca, por meio da qual o usuário pode “ver, em segundos, quantas
notícias for a partir do argumento que ele foi procurar. Ferramenta que não tem preço, atualiza
a notícia, faz histórico, acompanhamento.”
O novo sistema de busca, porém, faz a pesquisa apenas com palavras ou expressões
que constem no título da matéria ou do artigo, diferentemente da ferramenta anterior, que
fazia a busca considerando todas as palavras existentes no texto.
Realmente, quando comparados, os sites da Gazeta e do Comércio têm apresentação
gráfica e layout de seções semelhantes (figura 3). O menu de seções à esquerda, os destaques
à direita, espaço para banners publicitários no alto e à direita e as notícias principais ao
centro.
59
Figura 3: páginas iniciais dos sites da Gazeta de Limeira e Comércio do Jahu, ambos do dia 24/07/05.
Fonte: www.gazetadelimeira.com.br
; www.comerciodojahu.com.br.
Além de todas as seções do jornal – local, variedades e esportes -, o site oferece ao
ciberleitor, inclusive, de assuntos nacionais com reportagens adquiridas de agências de
notícias (o Comércio compra material da Agência Estado, do Grupo Estado). As duas colunas
sociais do impresso também podem ser acessadas pela página on-line e, após a última
reformulação, as fotos podem ter a visualização aumentada e serem salvas em computadores
pessoais. “Esse poder documental fotográfico, em site, é fundamental”, afirma Arato. Já a
seção de classificados, por outro lado, não está implementada no site porque não houve o
desenvolvimento de uma política comercial própria. As notícias locais, regionais e a coluna
diária de política local são as seções mais visitadas, seguidas das colunas sociais.
As matérias do dia são disponibilizadas no site, atualmente, no meio da manhã, entre
10h e 11h, com disparo automático. No início, o disparo ocorria à 0h. “Mas, com aquela
famosa cisma de que a mídia web contaminaria a impressa, pediram para fazer às 12h.
60
Operacionalmente foi melhor, porque o responsável pela tarefa pode atualizar durante a
manhã”, diz o gerente. Arato afirma que não vê problema em se atualizar o site apenas na
manhã do dia seguinte à produção do jornal, porque “tudo é uma questão de costume”. “Quem
visita o site sabe que lá pelas 10h, 11h está disparado”.
A atualização é feita por uma pessoa, diferentemente do conceito inicial, já que o site
foi desenvolvido para que cada editor carregasse a página com as próprias notícias, após o
crivo do editor-chefe. Apesar do treinamento técnico dos funcionários, na prática, no entanto,
o procedimento não surtiu resultados e, segundo Arato, a solução encontrada foi designar uma
pessoa para a tarefa. “A gente optou por usar uma alta tecnologia de banco de dados para
diminuir o tempo de atualização do site. Hoje, atualiza-se um site com cerca de dez seções,
com muita informação, em uma hora e meia.”
A empresa acompanha o número de acesso ao site por meio de relatórios enviados pela
empresa responsável pela concepção e manutenção da página. O registro e acompanhamento
são obrigatórios ainda por causa da parceria estabelecida com o UOL (Universo On-line). O
site foi hospedado no portal após três meses de existência. A média mensal de acessos, no
período entre outubro de 2004 a fevereiro de 2005, ficou em aproximadamente 4.604
entradas. Novembro foi o mês que registrou mais acessos, com 6.887. Já fevereiro, até por ser
menor em número de dias, ficou com 2.191 entradas (figura 4).
Mês Média Diária
Visitas
Total Mensal
Visitas
Fevereiro/05 136 2.191
Janeiro/05 148 4.608
Dezembro/04 182 5.658
Novembro/04 229 6.887
Outubro/04 193 3.679
Total
23.023
Figura 4: números de acesso ao site do Comércio do Jahu.
Fonte: Empresa Neobiz.
61
2.2.2. Usuários
Arato informa que a grande maioria dos usuários do site são pessoas da própria cidade,
inclusive assinantes, e que residem em Jaú. A página é procurada também por pessoas da
cidade que residem em outras localidades e até em outros países. O gerente cita, ainda,
aqueles que não assinam o jornal impresso por “birra política” e buscam a informação na web.
“O nosso jornal tem um tamanho que não é grande (geralmente são 12 páginas). Então, é
entregue bem cedo e tem que circular pela casa. A pessoa dá uma rápida passada pela
primeira página, deixa o jornal em casa, porque tem uma utilidade grande na parte publicitária
- ofertas do dia nos mercados e classificados -, e de entretenimento, com horários de filmes,
programação de televisão e bastidores do show bizz. No trabalho, a maioria tem acesso a um
terminal (de internet), consulta uma ou outra coisa que tem mais interesse”, fala o gerente.
Os próprios geradores da notícia, principalmente políticos, também são, na visão de
Arato, grandes usuários da ferramenta do banco de dados do site, para busca e arquivamento
de material.
2.2.3. Anunciantes
O site do Comércio do Jahu, assim como o da Gazeta, não possui anunciantes. Os
banners publicitários da página são usados para exibir produtos e telefones da própria
empresa. Apesar da potencialidade, o gerente explicita que o braço on-line do veículo
impresso não tem caráter comercial. “Muitos acham que basta botar aquele famoso banner. O
que acontece: nos sites que não têm propósito plenamente comercial ou acham que tem, eles
vendem o banner só para pagar o custo. Se a gente for colocar na ponta do lápis o quanto
62
precisa ser ressarcido pela via do banner, pela parte comercial (...).” Também não há seção de
classificados no site, nem sequer os do jornal impresso são transpostos.
Arato afirma que pela quantidade de acessos, o perfil do cliente, do anunciante e do
ciberleitor, chegou-se à conclusão de que as vendas de publicidade no site não atingiriam um
padrão comercial “como o UOL”. “Não ia ter eficácia o anúncio. Para a gente vender um
espaço publicitário que não dê retorno, a gente não vende”. Além disso, pela tradição quase
secular do jornal impresso, a parte comercial do site, nas palavras do gerente, “não poderia ser
infantil, não profissional”.
Assim, pelo panorama previamente esboçado e visualizando uma eventual reticência
por parte dos anunciantes, a parte comercial do site foi deixada de lado desde o princípio. Sob
a alegação de “evitar a pecha de não funcionar”, a possibilidade de conquistar anunciantes foi
barrada pelas análises preliminares e apontada como realidade apenas para grandes portais
noticiosos.
Além disso, segundo Arato, há uma ausência de produtos adequados para anunciar via
rede, principalmente quando se trata de uma página sem tradição comercial, e uma
incompatibilidade técnica para atualização de anúncios. “Se for produto promocional em um
site que não tem tradição comercial, não tem jeito. Poderia sim, uma imobiliária, revenda de
automóveis etc. Imagina anunciar supermercado, oferta do dia (...). O web (referindo-se ao
site) teria que ser consultado de hora em hora, todo dia, para ver essas atualizações, o que até
tecnicamente não iria dar certo. Teria que ser como o UOL, que pode ter a promoção do dia
porque a quantidade de acessos é de milhões de pessoas. A gente teria que ter uma tradição,
uma quantidade de acessos muito grande e, na verdade, a disseminação de acesso web na
população não é grande, porque a maioria não usa alta velocidade, usa discado.”
2.2.4. Dificuldades
63
Com a inexistência de produtos e de anunciantes para a página, e os custos técnicos,
para manutenção, e de pessoal, para atualização, além de não gerar lucro, o site fica
condenado ao ostracismo. Uma das maneiras de tentar driblar essas barreiras, para Arato,
seria viabilizar uma produção jornalística própria para a web, para iniciar o investimento na
parte comercial. “Porque a parte comercial significa, na linguagem da web, clicks. Quanto
mais clicks, maiores são as chances de o usuário acessar um banner comercial e aí, perante o
anunciante, o jornal oferece leitor e o site oferece clicks, ou seja, ciberleitores. Para valorizar
a parte comercial, quanto mais tempo ele passar no site, ou sentir necessidade de voltar,
melhor.”
Já a suposta concorrência entre o jornal impresso e o site, geralmente apontada como
uma das causas para a falta de investimentos apropriados no braço on-line, “é bobagem”, para
Arato. “Tenho certeza que não (em relação ao fato do site do jornal supostamente atrapalhar a
mídia impressa). Primeiro, porque nada substitui o caráter documental e o porte. O jornal você
põe na mão, enfia debaixo do braço, vai na loja, a pessoa vai reivindicar na Prefeitura. O porte
físico é muito atrativo. Como os classificados, o cara risca, leva junto”, afirma.
A independência em relação ao receptor nos dois tipos de mídia é comprovada pela
não-variação no número de assinantes do jornal impresso após a criação do site. “Na verdade,
expressamente, chegaram a duas assinaturas canceladas pelo argumento de que estavam
vendo no website. A gente tem cancelamentos de outras naturezas, agora, dizer que não vai
assinar o jornal porque existe o site, não. Lembrando a parte publicitária, que o site não
possui”, diz Arato.
2.2.5. Transposição de conteúdo x produção
64
Como no site da Gazeta, as seções e reportagens são transpostas integralmente do
jornal impresso para o site do Comércio do Jahu. A interatividade, entendida como ação
contínua com o ciberleitor, segundo o gerente, já foi usada no site, em forma de quizz e
enquetes, mas não surtiram resultado. “Usávamos quizz, aquelas perguntinhas, mas
observando a quantidade de acessos, a gente viu que a validade era tão ínfima, que
chegamos à conclusão que não valia a pena ter.”
Já a interatividade, na parte jornalística, traduzida pelo contato produtor da
notícia-receptor, e uso de links nos textos não são explorados no site. “Não há edição de
nada, a íntegra da mídia escrita está gravada no site”, afirma o gerente Arato. Além da
seção “Fale Conosco”, que possibilita o envio de e-mails para a redação do jornal
impresso, sempre respondidos pelo editor-chefe, não há listas de discussões (os
chamados fóruns) nem chats para conversas on-line com jornalistas, editores ou
entrevistados.
No entanto, a página on-line do Comércio foi concebida para ser um portal (site
que reúne uma ampla gama de assuntos e serviços) e para haver links em determinadas
palavras-chaves que nomeiam times de futebol, repartições públicas e autarquias
municipais. “Para sermos um portal, precisaríamos ter maior número de acessos e parte
comercial. Além disso, o portal não é como um jornal, em um ciberjornal a notícia já é
produzida para a mídia impressa, no portal tem que ser produzido material exclusivo,
conteúdo exclusivo, então tem que ter uma equipe que precisa ser custeada, não pode
entrar no orçamento da mídia impressa”, diz Arato.
Nesse ponto, o gerente é convicto ao afirmar que a empresa deveria ter seguido a
filosofia original e “investido em pessoal fixo para website”. “Assim, com certeza, acho
que o conteúdo poderia ir além da mídia impressa, não só no complemento de notícias,
mas no uso de links, no sentido de aumentar a quantidade de informação aderida àquela
notícia.” Assim, complementa Arato, as consultas ao site, naturalmente, aumentariam e
haveria uma valorização da parte comercial. “Porque a gente só funciona com verba.”
2.3. Lidebrasil
Foi justamente a questão das verbas que tirou o site do Lidebrasil –
www.lidebrasil.com.br
– do ar em agosto de 2005, dois anos e cinco meses após sua
implementação. A página, da cidade de Rio Claro, foi uma experiência inovadora na
região em termos de jornalismo on-line desvinculado de grupos midiáticos que possuem
outros veículos. A bancarrota do projeto evidencia, uma vez mais, que os potenciais
anunciantes do interior do Estado de São Paulo desconhecem as potencialidade da
internet, bem como a inexistência de profissionais preparados para comercializar esses
espaços e o descaso de agências publicitárias locais com o cibermundo. Mesmo com o
fim da circulação da página na internet, optamos por preservar a entrevista feita com a
jornalista responsável, Elaine Knothe, realizada meses antes do término do projeto, com
os verbos no tempo presente.
A página é feita por quatro pessoas, que cuidam da parte jornalística, comercial e
editoração. A idéia inicial para a criação do site foi da jornalista Elaine Knothe,
responsável pela produção dos textos noticiosos. O objetivo era preencher uma lacuna
deixada pelos veículos da imprensa local, principalmente durante a tarde, em relação ao
intervalo entre o acontecimento e a chegada da notícia ao receptor. “Os jornais
impressos circulam de manhã, a emissora de televisão local tem um noticiário de manhã
65
e as rádios dedicam parte da programação da manhã aos noticiários. Mas, a partir do
meio-dia e até o começo da noite, quando entra no ar o próximo noticiário da TV local,
não havia notícias para Rio Claro. Levando em conta também que o que estivesse
acontecendo na cidade durante o dia seria publicado nos jornais somente no dia
seguinte. A gente queria poder adiantar isso para a população”, afirma Elaine.
As negociações entre o grupo formador duraram cerca de três meses, tempo
suficiente para colocar o site no ar de forma experimental, um mês antes da efetivação e
início da divulgação da nova página, em fevereiro de 2002. O site foi feito por uma
empresa especializada em elaboração de páginas para internet, que é responsável
também pela manutenção da página.
O objetivo era fornecer material jornalístico durante o dia inteiro, com pequenas
notas, em um site leve, sem introdução ou imagens pesadas, cujo acesso fosse rápido
(figura 5). “A gente pensou em uma maneira de disponibilizar as notícias de forma com
que as pessoas ficassem presas ao noticiário, por isso o Lide tem aquelas notícias umas
atrás das outras, colocando os horários que as notícias entram no ar, que é para as
pessoas saberem que, pelo menos, de hora em hora, elas terão informação diferente”,
declara a jornalista. Atualmente, o intervalo entre as notícias é menor, a cada meia hora
ou menos uma notícia é colocada no ar.
Figura 5: página inicial do site Lidebrasil do dia 24/04/05.
Fonte: www.lidebrasil.com.br.
No entanto, nas primeiras semanas de funcionamento do site, a equipe constatou
que a concepção original deveria ser repensada, já que relatórios apontavam que a
maior parte dos usuários acessava a página durante a manhã. “Na verdade, a gente
acabou tendo que repensar a história toda, pois aquilo que tínhamos pensado, colocar o
site para funcionar com maior rapidez durante a tarde para preencher um espaço, não
surtiria efeito. Então, começamos a incrementar o noticiário na parte da manhã.”
Uma particularidade dos primeiros meses de funcionamento do site foi a relação
estabelecida com os jornais impressos locais. A princípio, os veículos usavam,
diariamente, material do Lidebrasil, com o devido crédito. No entanto, provavelmente
após perceberem que a página ganhava projeção, inclusive com a divulgação no jornal, e
que, com isso, poderia tornar-se uma concorrente tanto em termos de anunciantes
quanto de usuários, os veículos impressos prescindiram o uso das notícias do site. “A
gente não teve nem pretensão de chegar perto do jornal. A intenção nossa realmente era
poder fornecer informações para que a população tivesse acesso e talvez com uma maior
66
velocidade que os jornais não têm, não por falta de competência, somente pelo sistema,
tipo de mídia, no qual o processo todo é mais lento”, afirma Elaine.
O jornal impresso mais antigo de Rio Claro é centenário e os dois veículos
existentes na cidade possuem sites, porém, na opinião da jornalista, “os jornais
impressos não podem ir muito a fundo nas questões do noticiário na internet, pois
podem comprometer a edição impressa do dia seguinte”.
2.3.1. Reformulação
Assim, além da mudança na rotina da redação e dinâmica de produção de
reportagens, as quais ficariam concentradas na parte da manhã, o Lidebrasil incluiu
uma página de cultura, com informações sobre eventos locais e dicas para o final de
semana, e ainda inseriu áudio em determinadas matérias. O recurso foi viabilizado por
meio de uma parceria com a Rádio Cultura da cidade, que fornece a gravação das
entrevistas. Um trecho então é selecionado, editado e disponibilizado junto ao texto
escrito em formato de pop-up
16
, podendo ser acessado pelo software Windows Media
Player. A parceria com a empresa radiofônica viabilizou a veiculação de dois boletins
diários feitos pelo Lidebrasil durante a programação da emissora.
A parte imagética da página também foi incrementada, em relação ao início do
projeto, já que atualmente as fotografias podem ser visualizadas, por meio de um link,
em tamanho maior do que na página inicial. “A gente achava que as fotos que
colocávamos no site, embora de boa resolução, tinham o tamanho pequeno. Por isso, os
usuários não conseguiam ver detalhes, visualizar direito, nem reconhecer pessoas”,
declara Elaine. Além das fotografias das reportagens especiais, o site traz fotografias de
eventos culturais e de lazer da cidade.
Já na parte comercial, principalmente por não haver referência na cidade
relativa a site noticioso, os banners, a princípio colocados abaixo das notícias em todas as
páginas, tiveram que ser realocados ao lado das notícias. “Percebemos que as pessoas
tinham certa dificuldade em visualizar. A gente então passou a colocar os banners, que
são pequenos, ao lado das notícias e estamos tentando comercializar.”
O Lidebrasil, além das reportagens especiais com fotos e média de 15 matérias
produzidas diariamente, traz informações sobre cultura, saúde, lazer, indicadores
econômicos, horóscopo e informações sobre pontos turísticos de Rio Claro e cidades da
região, com fotografias. Há ainda uma página chamada “Sala Vip”, com a programação
noturna do final de semana e fotos de eventos e festas recentes, e a “Espaço
Empresarial”, destinada à divulgação dos projetos sociais desenvolvidos na cidade (a
jornalista comenta que o espaço não é usado pela classe empresarial, mas afirma que a
causa está na dificuldade em se montar uma equipe de venda que direcione a questão).
Em relação à dinâmica de produção da redação, as matérias começam a ser
produzidas por volta das 6h30, com a previsão do tempo, seguem com o noticiário
policial, o qual é feito em parceria com a Rádio Cultura, e passam para os
acontecimentos e eventos do dia na cidade. “A gente dá um jeito de aproveitar tudo.
Absolutamente tudo o que a gente acha interessante vira notícia. Vem muito material
das assessorias de comunicação tanto de órgãos públicos quanto privados, empresas, e
pessoas da cidade e região, via e-mail, fax e telefone”, declara a jornalista. A produção
estende-se até as 18h, mas “caso haja informação”, o noticiário segue noite adentro.
16
Pop-ups são aquelas janelas, usadas principalmente para anúncios publicitários, que abrem e ficam piscando
durante a exibição de determinadas páginas ou portais. Há recursos para não permitir a abertura desses pop-ups.
67
A jornalista desloca-se para o local dos fatos apenas em casos de grande
repercussão ou quando há movimentação. Elaine cita uma greve de trabalhadores em
uma empresa local e a morte de um médico famoso como exemplos de matérias que
necessitaram da cobertura in loco para registro fotográfico.
2.3.2. Usuários
O usuário do Lidebrasil tem entre 20 e 40 anos e mora em Rio Claro e cidades
vizinhas. As informações constam de relatórios fornecidos pela empresa que faz a
locação do site. Além do perfil das pessoas que acessam a página, os relatórios apontam
o número, cidades, dias e horários de acessos. Os documentos indicam ainda os links
mais acessados. Atualmente, de acordo com a jornalista, as médias diárias ficam entre
700 e 800 acessos. “Mas já tivemos picos de 1,2 mil a 2 mil na época das eleições,
precisamente na segunda-feira após a votação, quando cobrimos a apuração junto com a
Rádio Cultura”, afirma Elaine.
A cada quatro ou cinco meses, no entanto, a média de acessos vem aumentando
de 20% a 30%. “A gente acompanha de perto o relatório, principalmente por causa do
lado comercial, e espera que seja uma escalada contínua”, declara a jornalista.
Nos finais de semana, de acordo com relatórios enviados pela empresa
responsável pela locação do site, a “Sala Vip” é a campeã de acessos. “Acredito que seja
porque traz as informações dos barzinhos, com as fotos das pessoas que freqüentam a
noite”, arrisca Elaine. As fotografias podem ser copiadas para computadores pessoais.
Numa tentativa de ampliar o universo de usuários, o Lidebrasil pretendia fazer (o
projeto seria colocado em prática em abril ou maio deste ano, mas não foi
implementado) um trabalho de inclusão digital e conseqüente divulgação do site voltado
para a 3ª idade. “Eles ouvem muito a rádio falar sobre o Lidebrasil e querem saber o
que é, como ele funciona e para que existe”, diz a jornalista. O curso seria ministrado
em sala pública, com computadores usados em programa estadual de inclusão digital, e
gratuito.
Elaine acredita que os ciberleitores do site são leitores dos jornais impressos
locais (além dos dois jornais diários, Rio Claro conta com um semanário), já que “uma
mídia complementaria a outra”. Outra questão, ressaltada pela jornalista, refere-se ao
formato e tamanho das matérias. “O Lide, por se tratar de jornal da internet, não traz
reportagens muito longas, já que as pessoas não ficam na frente do computador para ler
uma matéria que tenha duas ou três páginas.”
2.3.3. Anunciantes
O site do Lidebrasil contava, na época da entrevista, com uma carteira de sete a
oito anunciantes permanentes. No entanto, a dificuldade em se conseguir novos
anunciantes e conseqüente falta de patrocínio é uma constante em noticiário da internet
no interior do Estado de São Paulo. “Os anunciantes estão muito acostumados com
jornais impressos, rádio e televisão. Esse veículo para eles é uma coisa diferente, eles não
sabem direito como funciona”, afirma Elaine.
A jornalista acredita que a reticência não deva ser apenas creditada ao potencial
anunciante, mas também à escassez de profissionais para efetuar a venda da publicidade
nas páginas on-line. “Os vendedores hoje estão totalmente bitolados nos jornais, rádios e
televisão. Eles não sabem vender o site. Eles não vendem para a internet. Para isso
precisa ter técnica e conhecimento.”
68
O despreparo estende-se ainda às agências de publicidade que, na visão de Elaine,
“não se preocupam muito em transformar aquilo que estão passando para o jornal
impresso em algo também aproveitável para o site”. Assim, “é preciso começar a incutir
essa mentalidade em todas as partes envolvidas: agências, classe empresarial etc.”.
2.3.4. Dificuldades
Seja pela falta de uma equipe preparada, desconhecimento dos anunciantes ou
descrédito das agências de publicidade, a principal dificuldade do site é comercializar os
banners publicitários e a conseqüente falta de verbas publicitárias.
Mas a falta de dinheiro não chega a ser alarmante, já que os custos de criação e
manutenção de um site são baixos quando comparados às mídias tradicionais como
veículos impressos, emissoras de rádio e de televisão. “Essa é uma das grandes
vantagens que a gente também tem em cima dos outros veículos. Os jornais gastam
tinta, papel, máquinas. Têm que ter uma gráfica. As rádios precisam de concessão, de
equipamentos caríssimos. Nós que lidamos com a internet, não. Precisamos basicamente
de um computador ligado à rede, só”, declara Elaine. Ela afirma que os custos da
empresa, além dos encargos legais, se resumem à locação do site, combustível e telefone.
O Lidebrasil, por enquanto, não é deficitário e a próxima meta é a formação de
uma equipe de vendas para tentar conquistar anunciantes e angariar verbas
publicitárias. A remodelação da página de classificados, vista como uma estratégia de
marketing, está sendo viabilizada com o apoio de um empresário. Os anúncios serão
gratuitos, mas o objetivo é comercializar banners de empresas correlatas aos itens
oferecidos. Por exemplo, na página de automóveis, o site anuncia produtos como
revendedores, pneus, mecânicos etc..
2.3.5. Transposição de conteúdo x produção
O site Lidebrasil, ao contrário dos outros dois sites analisados, não tem como
carro-chefe um veículo impresso. As reportagens são produzidas exclusivamente para a
página on-line. A jornalista usa textos curtos, “uma tela, no máximo, para o leitor não
ter que rodar”.
Em relação à linguagem, é semelhante à de um texto impresso, porém mais
enxuta. “(...) a própria filosofia do site é você não estender a notícia, dar a informação.
Terminou a informação, terminou o texto, não tem por que você ficar se estendendo. Se
tiver alguma outra coisa, volta depois”, diz Elaine.
O retorno da pauta ao noticiário, com informações novas ou complementares à
matéria anterior, é chamado de desdobramento, característica do noticiário para
internet. “(...) é diferente do jornal, que é obrigado a colocar tudo naquela edição. Nós
não, temos o dia todo para trazer todas as informações que a gente quiser.”
Nos outros sites analisados, a transposição de conteúdos do jornal impresso e a
ausência de uma equipe específica para produção de conteúdo on-line impossibilitam o
uso desse recurso.
Outra ferramenta pouco explorada pelos sites da Gazeta de Limeira e do
Comércio do Jahu é a interatividade com o usuário, usada diariamente pela jornalista
do Lidebrasil para afinar o contato com o usuário, trocar opiniões, identificar e corrigir
falhas, receber sugestões e, finalmente, fidelizar o ciberleitor. “Converso todos os dias
com pessoas que lêem o Lide. Essa troca é fabulosa”, declara.
69
O uso de links como hipertextos é ainda pouco explorado nas matérias do
Lidebrasil, mas já foi usado timidamente no início da página. Atualmente, não há links
devido a uma falha técnica, a qual seria consertada pela empresa responsável pela
manutenção do site.
A ferramenta (uso de links) é necessária, de acordo com Elaine, pois possibilita a
veiculação de uma maior quantidade de informação de uma forma menos cansativa ao
leitor. “Quem quiser se aprofundar, clica na palavrinha, que traz mais informações
sobre aquilo”, explica.
70
3. Semiótica de Peirce e os sites noticiosos: paralelos
A
semiótica de Charles Sanders Peirce
17
encara todos os tipos possíveis de
interação entre mentes como produtoras de semiose ou ação dos signos, que,
por sua vez, são produtores tanto de imanências como de transcendências. As imanências
pertencem aos objetos; as transcendências estão no seu poder de gerar o novo. Desse modo, a
semiótica trata da interação de mentes e de objetos como meio de comunicação.
Na verdade, Peirce não construiu uma teoria de análise de discurso. Ele elaborou uma
teoria da percepção-cognição dos signos pelo homem. Posteriormente, estendeu suas idéias
para uma fisiossemiótica
18
, segundo preceitos de sua cosmologia. Foi assim que ele passou a
ver tudo como semiótica. O que faremos é adaptar alguns de seus preceitos teóricos na análise
seguinte. Peirce passou por várias fases em sua construção teórica. Em seus últimos textos, ele
trata a semiótica como um princípio lógico de modo que semiótica e lógica tornaram-se
sinônimos.
La lógica será definida aquí como semiótica formal. Se dará una definición de signo que
no se refiere al pensamiento humano más de lo que lo hace la definición de una línea
como el lugar que ocupa una partícula, parte a parte, durante un lapso de tiempo. A
saber, un signo es algo, A, que pone a algo, B, su signo interpretante determinado
creado por él, en la misma clase de correspondencia con algo, C, su objeto, en la que él
mismo está con C. A partir de esta definición, junto con la definición de “formal”,
deduzco matemáticamente los principios de la lógica. También hago una revisión
histórica de todas las definiciones y concepciones de la lógica y muestro no meramente
que mi definición no es novedosa, sino que mi concepción no-psicológica de la lógica
ha sido sostenida virtualmente de forma bastante general, aunque no ha sido
generalmente reconocida (PEIRCE, 1902) .
17
Charles Sanders Pierce (1839-1914), estudioso das mais diversas áreas do saber humano (matemática,
química, física, astronomia, biologia, geologia, entre outras), cujas preocupações com as leis e a organização
geral do pensamento, das ações e da sensibilidade humanas o levaram a postular, como fundamento da lógica,
uma teoria geral dos signos, também chamada de semiótica.
18
Peirce considerava que a interação acontece entre animais, plantas, células, ou seja, entre qualquer tipo de
organismo vivo, o que permite falarmos então de uma zoossemiótica, biossemiótica, fisiossemiótica.
71
Para Peirce (CP 4.157), há três categorias de ser: idéias de sentimentos, atos de reação e
hábitos. Os hábitos são a respeito de idéias de sentimentos ou a respeito de atos de reação. O
conjunto de todos os hábitos a respeito de idéias de sentimentos constitui um grande hábito
que é o Mundo, enquanto o conjunto de hábitos a respeito de atos de reação constitui um
segundo grande hábito que é outro Mundo. O primeiro é o Mundo Interior, o mundo das
formas de Platão
19
. O outro é o Mundo Exterior, ou universo da existência. A mente do
homem estaria adaptada à realidade do ser. Um site seria um ser no mundo exterior ou
universo dos existentes. Assim, a mente humana faz associações interiores baseadas em
hábitos do mundo interior, onde estão as idéias. Mas também fazem associações com o
mundo dos existentes, baseados em hábitos do Universo.
Peirce chamou a primeira de associação por semelhança e explica que não é a
semelhança que causa a associação, mas é a associação que constitui a semelhança. Assim,
uma idéia de sentimento é como ela é em si mesma, sem quaisquer elementos ou relações.
Um site, portanto, como idéia de sentimentos, é uma espécie de abstração feita da observação
de todos os sites experimentados por um navegador como uma espécie de idéia genérica tanto
quanto uma mancha de vermelho em si mesma não se assemelha a outra mancha de vermelho,
mas deixa um sentimento de vermelho no mundo das idéias. De fato, quando falamos de uma
mancha vermelha, não é da idéia de sentimentos que estamos falando, mas de um conjunto de
tais idéias. Essa unificação no mundo interior é o que constitui o que apreendemos e a que
denominamos sua semelhança. Nossas mentes estão consideravelmente adaptadas ao mundo
interior, segundo Peirce, onde as idéias de sentimentos atraem-se umas às outras em nossas
mentes e no curso de nossa experiência no Mundo Interior, desenvolvendo conceitos gerais,
chamados qualidades sensíveis. Assim, criamos um conceito interior de site, que são
associações abstraídas em nossos pensamentos, tendo por base os atos de reação da interação
do mundo interior com o exterior denominado associações por contigüidade.
Para esse semioticista, somente atos de reação podem ser contíguos. Ser contíguo é
estar próximo no espaço e em um só tempo. Somente um ato de reação por preencher um
espaço por ele mesmo. A mente humana, por sua adaptação instintiva ao Mundo Exterior
representa as coisas como estando no espaço, o qual é sua representação intuitiva da
conjunção de reações, ou seja, um centro de forças. Assim sendo, Peirce assegura que esse
19
O mundo das formas de Platão é formado pelas realidades permanentes, ideais e originais a partir das quais são
construídas cópias concretas imperfeitas e corruptíveis. Assim, cada cadeira em nosso familiar mundo de objetos
é meramente uma imitação, ou "sombra", da Cadeira Ideal. A analogia do filósofo é um ataque aos nossos
hábitos de pensamento. Fonte: http://www.geocities.com/Athens/4539/socrates/a_caverna.htm.
72
modo duplo de associação de idéias, por semelhança e por contigüidade é que produz formas
de linguagem, como as classes de palavras denominando coisas que significam ou querem
dizer qualidades que não são senão “fotografias” compostas de idéias de sentimentos, tais
como os verbos, adjetivos e substantivos.
Entendemos então que o embate da mente com o que a ela se faz estranhar, seja da
própria imaginação ou proveniente do mundo exterior, é capaz de abalar ou reforçar atos de
conduta. Do jornal impresso ao jornal on-line há forças de associação tanto por semelhança
quanto por contigüidade. As de semelhança fizeram a mente humana ligar, por exemplo, as
funções e objetivos do jornal impresso com o webjornal. No entanto, há também o
imprevisível, causador da surpresa que exerce a primeira função, ou seja, abalar nossos
hábitos, enquanto que a verificação experimental de nossas hipóteses explicativas sobre a
realidade, em nosso caso, o webjornal, reforça os nossos hábitos sobre ele. Assim sendo,
nossa mente por si só é incapaz de mudar os hábitos de modo involuntário, o que não significa
simples inconsciência, porém intervenções que a modificam em suas convicções vindas do
mundo exterior.
Conforme Peirce (CP 5.478), há três acontecimentos que causam mudanças de hábitos.
Primeiro, não são atos da mente nos quais as mudanças do hábito acontecem, mas
experiências forçadas sobre ela, em que a surpresa é eficiente na quebra de associações de
idéias. Em segundo lugar, cada nova insistência que é levada à experiência e que suporta uma
indução reforçará aquelas associações de idéias como hábito interior levando o homem a crer
nas conclusões indutivas. Testando idéias, sobre os webjornais, a mente humana tende a
confirmar suas mudanças de hábitos. Por último, nenhuma nova associação, nenhum hábito
inteiramente novo é criado por experiência involuntária. Desse modo, portanto, o
aparecimento do jornal on-line é conseqüência de uma complexa associação de signos já
73
existentes anteriormente no mundo das idéias, advindos da interação mundo interior-exterior
relativa ao jornal impresso. O novo hábito, o jornal on-line, é produto desse passado existente
como signo de sentimentos no mundo das idéias e do novo como caracterizador do jornal on-
line. São as representações gerais que dizem respeito à inteligibilidade desses dois fenômenos
cuja eficiência distintiva depende das conseqüências práticas que a mente experimenta e
produz associações de semelhança e contigüidade.
O seguinte exemplo, dado por Peirce (CP 4.500), é esclarecedor:
Já se fez notar que a massa de tinta na folha por meio da qual diz-se que um grafo está
“inscrito” não é falando estritamente, um símbolo, mas somente uma réplica de um símbolo
da natureza de um índice. Não deixemos que se esqueça que o valor significativo de um
símbolo jaz em sua regularidade, enquanto que a força de um índice consiste no fato
existencial que o conecta a seu objeto, de modo que a identidade do índice consiste num
fato existencial ou coisa. Quando símbolos como as palavras, são usados para construir uma
asserção, essa asserção relaciona-o a alguma coisa real. Ele não deve professar fazer isso,
mas deve realmente fazê-lo. De outro modo, ela não poderia ser verdadeira e, menos ainda,
falsa. Suponhamos que uma testemunha faça um juramento com toda a formalidade legal
de que fulano de tal cometeu um assassinato. Ela não fez, contudo uma asserção a não ser
que o nome fulano de tal denote alguma pessoa existente. Um nome, ou melhor, as
ocorrências de um nome, devem estar existencialmente conexas com a pessoa existente.
Portanto, nenhuma asserção pode constituir-se somente a partir de puros símbolos. Com
efeitos, os puros símbolos são imutáveis e não são eles que são unidos pelas sintaxes das
sentenças, mas suas ocorrências, suas réplicas (PEIRCE CP 4.500).
A partir das idéias acima expostas, pode-se depreender que os diferentes sites não são
senão réplicas em si mesmas. Os símbolos que os identificam individualmente (relativos aos
sites analisados neste trabalho: Gazeta de Limeira, Comércio do Jahu e Lide Brasil) são
nomes próprios que possuem uma relação de indicialidade com os sujeitos a que eles se
referem, não sendo mais simples réplicas. O símbolo tende, portanto, a generalizar e não
indicar um site específico. Enquanto a réplica é um substantivo simples, ou seja, um conceito
sem referente. Ambos são símbolos, pois são produtos sígnicos. O objeto do símbolo é uma
representação geral eminentemente produto interior da mente sob a forma de um hábito
intelectual, ou seja, idéias que, devido à sua proximidade e afeição, formam, ao longo do
tempo, representações possíveis como qualidades de sentimentos, ou formas de qualidades
74
sensíveis. A percepção de suas réplicas, contudo, dada a forma imagética especial que
adquire, é capaz de trazer à tona aquelas idéias como experiência (perceber é experimentar),
provocando, pelo elemento surpresa, modificações nas associações e, se tiver sucesso em
confirmar antevisões, reforçam as associações já formadas. É dessa associação originária da
mente, sintetizando idéias antes associadas, que nascem conceitos gerais. Um site noticioso é
então um símbolo por ser um conceito geral. Individualizado, um site passa a ter um referente
específico.
O signo geral do objeto é assumido com tendo uma função significativa mesmo sem
nenhuma relação imediatamente causal. A razão guarda espontaneidade, mas encontra, na
réplica, razão suficiente para produzir o conceito geral do objeto; em nosso caso, a definição
de webjornal
20
como conceito geral do objeto. O conceito formado será também atribuído à
réplica, percebida como um sujeito adequado a ele.
Concluindo, a idéia genérica de webjornal já está interiorizada na mente como signo
de qualidades sensíveis, produto de uma série de operações associativas da mente em relação
a ela mesma com conceitos anteriormente apreendidos e de contigüidades relacionais entre
esse mesmo conceito anterior com as novidades impostas pelo suporte do ecrã
21
do
computador, que passou a dar novas nuanças à idéia de jornal impresso. Assim sendo, há um
conceito geral de webjornal já impregnando em nossa mente interior onde as idéias são
simples qualidades não aplicadas a uma réplica, pois elas se tornaram simples possibilidades
de aplicação. Individualmente, quando essas qualidades forem aplicadas a um site noticioso
específico, existirá sob esse conceito uma relação de contigüidade entre conceito e objeto.
Assim, identificamos os sites de modo individual, como existentes no mundo exterior dos
objetos.
20
Jornal veiculado na internet.
21
Ecrã ou écran seria um quadro branco onde se projeta a imagem dum objeto; tela de cinema. (FERREIRA,
Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa. RJ: Nova Fronteira, 1995.)
75
Peirce tratava a apreensão dos objetos pela mente como sendo a relação entre três
entidades: objeto, gerador do signo, signo como seu intermediário, que não deixava de ser um
objeto e o interpretante, ou signo novo, como produto dessa relação que, em si mesmo, era um
novo objeto, também potencialmente gerador de novos signos e novos interpretantes. Desse
modo, o signo triádico de Peirce jamais desfaz essa trilogia. Para ele, todo objeto é um signo
sem deixar de ser objeto; todo signo é um objeto sem deixar de ser signo; e, todo interpretante
é um objeto, trazendo em si um signo, pelo menos em potência, podendo se realizar quando
apreendido por uma mente que o interprete. Assim sendo, o ícone, signo cuja base é a
similaridade, estaria presente como base de todos os signos. Essa base, ou fundamento, trata-
se dos qualisignos, apreendidos como sensações. Essas sensações não estão ainda
necessariamente ligadas ao objeto. Podem existir em potência, como, por exemplo, uma
sensação de vermelho qualquer. Quando essa sensação se liga a um objeto, temos uma relação
diádica, ou de secundidade, em que o quali (primeiridade), ligou-se a um objeto, por exemplo,
a maçã vermelha. Portanto, toda secundidade tem como fundamento uma primeiridade. O
símbolo, por sua vez uma terceiridade, traz em si tanto a primeiridade dos qualis, quanto a
secundidade dos existentes como entidades singulares, de modo contíguo, relacionando dois
existentes, além de generalizar uma idéia produzida culturalmente, como, por exemplo, a
maçã vermelha como símbolo do amor.
Peirce, assim, vê um mesmo objeto sob diferentes estágios de percepção, de modo
calidoscópio, que nascem na intuição, passam pela sensação e chegam às leis e simbolizações.
Uma palavra, em sua materialidade fônica ou gráfica, é vista em primeiridade como objeto
que é; em secundidade, ela nos remete a um referente e, em terceiridade, ela associa em nossa
mente este objeto a um conceito apreendido também do mesmo modo. Assim sendo, nossa
memória guarda essas relações que, em um momento propício de comunicação -
primeiridade, secundidade e terceiridade -, aparecem de modo contundente nos símbolos. É
76
preciso observar ainda que Peirce entenda que pensamos com diagramas, como se fossem
esquemas das nossas percepções. Diante de uma imagem icônica, como uma fotografia do
presidente da República no jornal, comparada a uma charge dessa mesma pessoa, diríamos
que a segunda é tão referencial quanto à primeira, pois o esquemático é que fica como ícone
dessa imagem em nossa memória. Peirce prova essa esquematização icônica quando, na Lei
da Mente
22
, mostra que ao nos recordarmos de alguém vestido de vermelho em tempos
passados, não nos recordamos das nuanças dessa cor, mas sim da sua base genérica. Uma
criança, aprendendo a linguagem, desenha esquematicamente as pessoas: uma redondidade é a
cabeça; uma triangularidade é o corpo; linhas retas representam os membros.
Os sites noticiosos usam, por exemplo, o desenho de um envelope para sugerir
correspondência via e-mail com o usuário. Conforme a aplicação da teoria de Peirce, esse
signo, em primeiridade, é o ícone do envelope (semelhança); o índice de correspondência; e, o
símbolo convencional criado pela linguagem da web e que se tornou usual como uma lei
globalizadora desse signo. Portanto, a idéia de ícone, índice e símbolo, em Peirce, são estágios
da apreensão de um mesmo objeto, vistos como semelhança, contigüidade e generalização.
Esses três estágios, considerados como categorias fenomenológicas da apreensão dos objetos,
trouxeram a Peirce a base de toda sua teoria dos signos e do pensamento. Aliás, para ele,
podemos raciocinar de modo abdutivo, ou seja, em primeiridade, com pensamentos ainda
cheios de incógnitas; em secundidade, ou de modo indutivo, como raciocínio que se serve de
indícios para chegar a uma causa; e, em terceiridade – de modo dedutivo -, como conclusão
evidente ou lei. Peirce considerava o pensamento abdutivo como o principal deles, capaz de
produzir o novo e destruir os hábitos. Assim, quando nos deparamos, em um site, com um
signo desconhecido, a abdução começa a procurar respostas, em experiências passadas, de
22
O artigo A Lei da Mente é o terceiro artigo de uma série de cinco e foi veiculado no
segundo volume da coleção The Monist (1892), na qual o autor se autodenominava
‘monista’, ou seja, Peirce afirmava que havia se libertado dos pressupostos nominalistas.
77
modo indutivo procurando entre as possibilidades dadas pela abdução a melhor maneira de
chegar a uma resposta racional para uma idéia. Quando essa conclusão acontece, estamos
chegando na instalação de um novo hábito. Portanto, os jornais on-line estão produzindo um
novo tipo de texto informativo, impondo novos hábitos de leitura, a um novo tipo de público
alvo, que procura na internet as informações que outrora eram recebidas apenas por meio do
jornal impresso, rádio ou televisão. Todo esse processo se dá por meio de signos em semiose
constante. Não se trata de uma visão psicológica do processo de produção, veiculação e
recepção de signos, mas antes de uma lógica subjacente a todo o processo de comunicação em
que A, B e C estão em interação por afecção.
A interação por afecção que Peirce coloca na Lei da Mente como um processo de
comunicação é tão abrangente que qualquer objeto em interação com uma mente qualquer
está produzindo interação por afecção. Essa comunicação extrapola, portanto, a simples
comunicação antropomórfica para atingir uma espécie de comunicação que permita falar de
zoossemiótica, biossemiótica, fisiossemiótica
23
etc. Neste âmbito, o homem seria mais uma
célula interagindo com a natureza e a mente, em um processo de afetabilidade mútua.
3.1. A Lei da Mente e o processo de criação de signos
Esse fluxo vai gerar o que Peirce nomeou de consciência contínua e garantir a
criação de signos por meio de processos semióticos infinitos
24
. Tal consciência ocupa espaço
e se autoconstrói em um tempo presente, porém, infinitesimal, ou seja, imensurável. O
presente é formado, meio a meio, pela presentificação de idéias passadas (que já não são as
mesmas) e pela antecipação do futuro (elementos inferenciais). O mesmo acontece com o
espaço já que, como afirma Peirce, há uma conexão imediata entre as partes da mente que
estão, infinitesimalmente, próximas umas as outras. Assim, os signos não são estanques e sim
dinâmicos, pois um signo remete a outro, que remete a outro ad infinitum.
23
Ver nota 16.
24
Este é o conceito filosófico do sinequismo ou continuísmo, o qual estabelece a afetabilidade de idéias.
peculiares em um processo de conexão contínua e ininterrupta, sendo que todas elas pertencem a uma idéia geral.
78
Como bem explica a professora Lúcia Santaella (1983), o próprio processo de
compreensão e interpretação dos signos existentes garante a produção de novos elementos, “o
significado, portanto, é aquilo que se desloca e se esquiva incessantemente. O significado de
um pensamento ou signo é outro pensamento” (SANTAELLA, 1983, p. 52).
Considerando-se esse processo de produção de signos permanente, Peirce
considerava que o tiquismo, que seria o acaso, o imprevisto, e estaria relacionado à
primeiridade (o estágio inicial da percepção), teria que dar lugar a uma cosmologia
evolutiva, onde tudo é mente, podendo ser, esta última, definida como a ação de uma coisa
sobre outra. Portanto, em toda matéria há mente.
A idéia geral, formada pela afetação das idéias peculiares, seria a fonte para um
fenômeno particular da consciência, o da personalidade, em um processo de subjetivação,
onde as partes possuem certas semelhanças, já que a personalidade é considerada por Peirce
como conexão ou coordenação de idéias.
A consciência contínua ocupa tempo, esclarece Peirce, e uma idéia passada pode
afetar uma idéia futura, sendo que o inverso não acontece. A direção única faz com que o
passado esteja de maneira ipso facto presente na percepção direta, ou seja, presentificado, e
o futuro seja antecipado, sendo que o momento presente seria metade passado presentificado
e metade futuro inferencial (novas idéias). “Uno de los rasgos más señalados de la ley de la
mente es el de dar al tiempo uma dirección definida de flujo del pasado al futuro” (PEIRCE,
1988, p. 261).
Vale ressaltar que uma idéia, uma vez passada, se foi para sempre e toda suposta
ocorrência da mesma já será uma nova idéia. O presente está relacionado com o passado por
uma série de passos reais infinitesimais, isto é, imensuráveis. A consciência também é, assim,
desdobrada de forma infinitesimal. Suas partes próximas se afetam mutuamente, assim como
está havendo afetabilidade entre mentes. “La palabra infinitesimal es simplemente la forma
latina de lugar infinitésimo, es decir, es um ordinal formado de infinitum como centesimal lo
es de centum” ( PEIRCE, 1988, p.260).
Uma mente excitada vai se propagando e excitando as demais e nesse processo as
noções relativistas de tempo e espaço são quebradas, pois a lei da mente não tem um sentido
mecânico. A mente, para Peirce, é um espaço virtual infinitamente complicado e que não se
reduz, portanto, a uma temporalidade cronológica. O mesmo acontece com o espaço, que,
sendo igualmente contínuo, “se sigue que tiene que haber uma comunidad inmediata de sentir
entre las partes de la mente infinitesimalmente cerca unas de otras” (PEIRCE, 1988, p.263).
Segundo Santaella (1983), ao falarmos dos processos de comunicação entre
máquinas, não temos de nos referir às peculiaridades da consciência humana.
(...) hoje, quase 100 anos transcorridos, essa insistência de Peirce em
generalizar a noção de signo a ponto de não ter de referi-la à mente
humana não soa mais como formalismo excêntrico, mas soa mais como
antecipação, visto que, com o advento da Cibernética, tal necessidade se
patenteou histórico e concretamente (SANTAELLA, 1983, p.57).
3.1.1. A Lei da Mente e a internet
79
A rede mundial de computadores tem como princípio primordial a interligação de
equipamentos e homens, que formam um fluxo infinito de energia ao redor do mundo. Ao
imaginarmos tal processo, é inegável que nos deparamos com o conceito de consciência
contínua de Peirce, formada pela constante comunicação entre as idéias peculiares. Em
ambas as situações, há a subversão das leis da física que regem o tempo e o espaço tal qual
estamos acostumados no dia-a-dia. Os elementos temporais e espaciais estão presentes e
vivos, porém, de uma maneira infinitesimal, isto é, imensurável para parâmetros conhecidos.
Na internet, assim como na consciência contínua, existe a possibilidade virtual de unir
passado e futuro e estar em espaços infinitesimalmente inimagináveis. A consciência pode ser
desdobrada, assim como seus conteúdos, e Peirce atenta-se para o papel essencial deste
movimento na manutenção e criação de novos signos. Assim, a dinamicidade dos signos é
garantida.
O processo de afetabilidade ocorre mais rapidamente na web, já que uma máquina
pode conectar-se a centenas, em poucos segundos. Por conseqüência, o fluxo contínuo
também é incrementado com mais velocidade, o que gera uma maior quantidade de
elementos no processo de subjetivação, isto é, na relação entre a idéia geral e a
personalidade enquanto fenômeno da consciência. A personalidade permite uma
autoconsciência imediata momentânea (infinitesimal) e tem a possibilidade de se apoderar de
uma quantidade maior de elementos, por meio de coordenação ou conexão de idéias. Tudo
isso funciona como um catalisador para o ciclo.
O professor Muniz Sodré (2002) afirma que qualquer tipo de interação virtual nada
mais é do que fragmentos da nossa própria personalidade. Esta, por sua vez, seria um
fenômeno de nossa consciência, como já foi explicitado anteriormente. Sodré diz que
qualquer tipo de interação virtual nada mais é do que fragmentos da nossa própria
personalidade, ou seja, não podemos fingir aquilo que não somos. Todas as características
refletem traços implícitos da nossa personalidade ou desejos. Quando um internauta, por
exemplo, está em uma sala de conversação e alguém lhe pede para descrever suas
características físicas e emocionais, ele sempre vai responder usando elementos verídicos ou
desejos pessoais.
Assim, a rede mundial de computadores apresenta-se, atualmente, como a
materialização da ambientação temporal, espacial e cognitiva desenvolvida pelo pensador.
Tecnicamente, o espaço virtual da internet concretiza a afetabilidade das idéias, oferecendo
condições objetivas de realização da autoconsciência, no sentido de uma subjetividade que se
autoconstrói em um tempo vivo. Assim, essa autoconsciência encontra-se presente em cada
intervalo infinitesimal de um tempo virtualizado.
Para Lévy (1999), a virtualidade é o traço distintivo da nova face da informação.
Segundo ele, virtual é tudo aquilo que não está no plano material, ou seja, é o real em
potência. “É virtual toda entidade “desterritorializada”, capaz de gerar diversas
manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem, contudo estar
ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular” (LÉVY, 1999:47). O virtual não se
contrapõe ao real e sim ao atual. “O virtual não substitui o ‘real’, ele multiplica as
oportunidades para atualizá-lo” (LÉVY, 1999:88), ou seja, o conteúdo da rede é digital e
passível de inúmeras possibilidades de atualizações e manifestações.
Já o sociólogo espanhol Manuel Castells (2001)
registra que todas as formas de comunicação são
baseadas na produção e consumo de sinais. Não há
80
separação entre “realidade” e representação simbólica,
ou seja, é a construção da virtualidade real. “Portanto, a
realidade, como é vivida, sempre foi virtual porque
sempre é percebida por intermédio de símbolos
formadores da prática com algum sentido que escapa a
sua rigorosa definição semântica” (CASTELLS,
2001:395). Toda realidade é percebida de maneira
virtual.
3.2. Princípios básicos da teoria
3.2.1. O signo
De modo mais contundente, tratemos de alguns princípios básicos da teoria semiótica
peirceana, a qual considera que tudo é signo, formado de objeto, signo e interpretante, como
se viu antes.
Um signo pode ser definido como um meio para a comunicação de uma forma. [...]
como um meio, o signo está em uma relação essencialmente triádica com o objeto que o
determina e com o interpretante que ele determina. Aquilo que é comunicado a partir do
objeto através do signo, para o interpretante, é uma forma; vale dizer, não é nada como
um existente, mas é um poder, é o fato que alguma coisa aconteceria sob certas
condições (PEIRCE, 1931-1935, CP 5.488).
A definição acima confirma a forma diagramática que subjaz sob o símbolo. O objeto
é considerado sempre em relação a uma mente que o interpreta. Mas, Peirce dispensa a
intencionalidade própria das teorias da linguagem verbal e admite que a afetabilidade entre
objetos possa se dar mesmo sem a existência de um cérebro, aceitando a comunicação entre
81
mentes não humanas, como a comunicação entre as abelhas, ou mesmo das células do DNA,
ou ainda entre os cristais. Devemos lembrar que Peirce não era propriamente um lingüista,
mas sim, um físico, químico e matemático, que considerava o homem como um signo entre
signos. Em suas próprias palavras, ele assegura que nossa existência (provada pela ocorrência
da ignorância e do erro) é produto de tudo que está presente a nós como manifestação
fenomenológica. Isso não impede, segundo Peirce, que seja também a manifestação de algo
fora de nós. Completa Peirce esse pensamento com a seguinte metáfora: “(...) do mesmo
modo que um arco-íris é, ao mesmo tempo, uma manifestação tanto do sol quanto da chuva”.
E conclui: “Quando pensamos, então nós mesmos, tal como somos naquele momento,
aparecemos como um signo” (PEIRCE, 1992, p.38).
Assim, Peirce não coloca o homem diante do universo para ex-plicá-lo, antes, porém,
como parte im-plicada. O homem não é, na semiótica peirceana, uma mente privilegiada
diante das demais. É uma célula dentro de um contexto maior, onde tudo está em afecção
contínua e em eterno devir. Por isso, ele considera o universo em expansão, inclusive a
própria semiosfera que é o aparecimento do signo novo. O ciberjornal é uma prova evidente
dessa sua intuição.
Se para os lingüistas o objeto é extralingüístico, sendo o signo diádico formado pelo
significante (parte material) e pelo significado (parte ideológica) de modo psíquico, para
Peirce é o objeto que determina toda cadeia de interpretantes. Por isso, a escolha da teoria
peirceana para tratar dos jornais on-line como objetos produtos de semiose. Eis a definição de
signo peirceano: “O signo representa alguma coisa, seu objeto. Coloca-se no lugar desse
objeto, não sob todos os aspectos, mas com referência a um tipo de idéia que tenho, por vezes,
denominado o fundamento do representamen” (PEIRCE, 1992, p.94).
Representamen não é um substituto, mas um objeto-signo que relaciona um existente
com um novo existente produzido como seu interpretante. Não em todos os aspectos, mas em
82
um ground ou fundamento, ou ainda, o aspecto que o signo apreendeu do objeto representado.
Assim, um pedaço de um pano verde pode servir para alguém estudar sua geometria ou para
observar as suas cores. Em um site noticioso, o representamen é um signo complexo formado
por signos menores. Segundo a gestáltica
25
, trata-se de um texto com fundo e forma. A forma
se dá em planos: de fundo, intermediário e de frente. O plano de fundo, geralmente, em uma
página impressa é branco e as demais partes contrastam cores do negrito do grafemático com
o colorido das imagens fotográficas ou semelhantes como os infográficos e charges, por
exemplo. No ciberjornal, o plano de fundo pode ser colorido e os demais planos obedecem a
princípios gestálticos da legibilidade e clareza, embora esses princípios nem sempre tenham
uma funcionalidade semiótica e estética, já que financeiramente há inviabilidade de
consecução do produto. Percebemos que, nos jornais on-line que serão analisados, esse
princípio deixa muito a desejar, pois quase ainda não há retorno financeiro para sua
viabilidade. Assim sendo, os webjornais que analisamos mostraram falta de recursos para
implementação de um design mais ousado de suas páginas, tanto no que tange ao conteúdo,
quanto ao estético e funcional
26
.
3.2.2. O processo de percepção semiótica
A teoria peirceana de percepção classifica como percepto todos os estímulos que o
corpo recebe do mundo exterior, ou seja, tudo o que nos é imposto pela presença de estímulos,
o que Peirce denominou de objetos dinâmicos. O percepto torna-se percipuum quando o
25
Trata-se de uma teoria da forma concebida por psicólogos alemães, que “considera os fenômenos psicológicos
como totalidades organizadas, indivisíveis, articuladas, isto é, como configurações” (HOUAISS, 2001). Apesar
de parecer incongruente ligar a semiótica com gestáltica, interessa-nos, porém, buscar meios analíticos capazes
de nos revelar nuanças dos ciberjornais de modo esclarecedor, já que Peirce admitia uma psicologia científica,
baseada em experiências laboratoriais, como o fizeram os gestaltistas.
26
Gostaríamos de ressaltar a falta de disciplinas especializadas nos cursos de graduação de Jornalismo, as quais
atentassem para esse novo tipo de profissional da Comunicação Social. Há uma defasagem, nesse pormenor,
entre as academias e a prática da profissão como realidade da infoera.
83
objeto dinâmico é interpretado. Como Peirce não separa signo de objeto, dentro do signo
haverá então o objeto interpretado, denominado objeto imediato. O primeiro objeto imediato é
chamado de juízo perceptivo. A “realidade”, até esse ponto, é percebida em primeiridade,
sensoriamente, embora ainda cheia de incógnitas. Diante de um site, essa primeiridade é o
contato imediato com a tela do computador e a sua respectiva imediata representação no signo
apreendido. Nesse instante, estamos diante das qualidades inerentes ao mesmo: formas, cores
e texturas. Quando o navegador percebe esses qualis, identifica imediatamente o site, ou seja,
ele constitui um sinsigno, ou signo singular. Como esse sinsigno traz características que
permitem identificá-lo como tal, estamos diante de um legisigno, ou seja, um signo-lei, que
conceitua o site e permite ao seu intérprete identificar qualis generalizantes, comuns a todos
os sites e as diferenças dos mesmos como individualidades ou sinsignos. Assim, todos os sites
trazem em si características que o identificam como tal e diferenças que os individualizam.
Para Peirce, um signo gera outro de modo infinito, fenômeno que esse semioticista
denomina de semiose. Assim sendo, todo novo signo traz em si elementos que se remetem a
experiências anteriores e signos novos que caracterizam o novo objeto. Quando qualquer
navegador se deparar com um site jornalístico na internet, vai verificar características do
jornal impresso que se conservam no jornal on-line e novos qualis que identificarão o
ciberjornal. Portanto, todo novo signo tem elementos provindos das experiências anteriores
que continuam no signo novo, permitindo sua identificação. Inferimos, ao ler o texto de
Rosenthal
27
(2001), o qual trata de Peirce, que os elementos que permanecem como memória
recente são chamados de poneceptos, cuja interpretação são os ponecipuuns; os elementos
27
It is a difficult question whether the serial principle permits us to draw sharp lines of demarcation between the
percept and the near anticipation, or say the antecept, and between the percept and the recent memory (may I be
permitted to call this the ponecept . . . or whether the percept is at once but an extreme case of an antecept and an
extreme case of a ponecept. Or rather- I beg the reader's pardon for my awkwardness of statement--the precise
question is not about percept, antecept, and ponecept, but about percipuum, antecipuum, and ponecipuum, the
direct and uncontrollable interpretations of percept, antecept, and ponecepto (ROSENTHAL, 2001, disponível
em digitalpeirce.fee.unicamp.br/p-perros.htm).
84
novos são os anteceptos os quais indicam o que há de novo no signo interpretado e são
chamados então de antecipuuns.
Santaella (1998) nos mostra que:
A percepção é determinada pelo percepto, mas o percepto só pode ser conhecido
através da mediação do signo, que é o julgamento da percepção. Para que esse
conhecimento se dê, o percepto deve, de algum modo, estar representado no signo.
Aquilo que representa o percepto, dentro do julgamento perceptivo, é o Percipuum,
meio mental de ligação entre o que está fora e o juízo perceptivo, que já é fruto de
uma elaboração mental. Os Julgamentos de percepção são inferências lógicas,
elementos generalizantes que pertencem à terceiridade e que fazem com que o
percipuum se acomode a esquemas mentais e interpretativos mais ou menos
habituais (SANTAELLA, 1998, P. 64-65).
3.2.2.1. Aplicação da teoria da percepção segundo a semiótica
Passemos a uma incursão mais acurada de análise comparativa entre um jornal
tradicional impresso (figura 6) em suporte de papel e um outro veiculado via web tendo como
suporte a tela do computador (figura 7). Trata-se da Gazeta de Limeira, que faz parte do
corpus selecionado para este trabalho.
Figura 6: 1ª página da versão impressa da Gazeta de Limeira do dia 26/06/05
85
Figura 7: página inicial do site da Gazeta de Limeira em 25/06/05
Ao analisarmos as duas figuras, verificamos que há elementos que se mantiveram
quando da criação da página on-line e elementos novos. Prioritariamente, o logotipo do nome
do jornal foi mantido, pois se trata da marca de um produto de consumo. Assim, tanto o leitor
quanto o ciberleitor fixarão o mesmo logo, ou seja, a mesma marca. É importante observar
ainda que a cor predominante – azul – também é a mesma tanto no site quanto no impresso,
assim como o slogan “Teus olhos nos acontecimentos”. O conteúdo, com ressalvas quanto às
diferentes necessidades e considerando a ausência de equipe própria de produção, também é o
mesmo, mas não deveria ser.
Já as diferenças entre as interfaces iniciam-se pelo suporte, já que o jornal impresso
usa o papel, manuseável, e a página da web apóia-se em impulsos e equipamentos eletrônicos
que resultam em estímulos sensoriais em uma tela de computador. A disposição das
reportagens e de elementos também muda de um suporte para outro: a página do jornal é
diagramada em cinco colunas, onde os textos, fotografias e anúncios devem ser dispostos
harmoniosamente.
Já na internet, a página da Gazeta de Limeira possui prioritariamente um espaço
central (que se configura a fovia do olhar, ou seja, local de entrada da visão do usuário) e duas
86
colunas, localizadas à esquerda e à direita da tela. Além disso, na coluna à esquerda, há
serviços e elementos exclusivos do site, como acesso aos sites de órgão de trânsito, de defesa
do consumidor etc. O ciberleitor pode ainda responder a uma enquete, cujo resultado é
divulgado semanalmente no veículo impresso, mas só pode ser usada via internet. Além disso,
por meio do site da Gazeta, o usuário pode criar, gratuitamente, um correio eletrônico.
Quando uma das notícias do menu é clicada, o ciberleitor tem acesso ao texto que, porventura,
é acompanhado por um registro fotográfico do acontecimento.
A tipologia e o tamanho das letras também são diferentes no site e no impresso: na
internet, apesar de a letra ter um padrão mais arredondado e assim, mais agradável
visualmente, é menor do que aquelas que compõem as reportagens no jornal de papel. Uma
simulação revela que a letra usada no site tem tamanho de dois milímetros, o que torna a
leitura cansativa, principalmente feita no monitor do computador. Seria possível alterar a
tipologia bem como ampliar o tamanho, mas o usuário precisaria mudar a configuração da
exibição ou transportar o texto para um programa de edição.
3.2.3. Do hábito à instalação do novo
Para Peirce, tudo que é hábito, praticamente paralisa a ação dos signos e, o
pensamento, que é movido por eles, entra em êxtase. Para tanto, instalar a dúvida onde há
crença é provocar a quebra do hábito para instalar um novo hábito. Essas idéias, Peirce
desenvolveu em um texto chamado “A fixação das crenças” (1877). Sua leitura sugere-nos
que a satisfação ideal produzida por uma crença bem fundada, assim como a necessária luta
para sair da dúvida, mediante um inquérito rigoroso e científico, acontece com a tranqüilidade
das incertezas, oposições e divergências que nos proporcionam uma orientação dos nossos
desejos e uma configuração de nossas ações. Assim sendo, o hábito de tomar o café da manhã
acompanhando no jornal impresso as notícias do dia anterior ganha uma variação: o desjejum
agora pode ser feito em frente a um site noticioso. Portanto, um novo hábito está sendo
paulatinamente instalado. Isso não significa que um suporte vai substituir o outro. Há, na
leitura do jornal impresso, características diferentes das dos jornais on-line (ver 3.2.2.1.).
A nova crença que está sendo produzida é que ambos serão leituras complementares.
A satisfação que a crença produzirá no leitor é um índice relativamente seguro da aquisição de
87
um hábito mental que determinará o seu modo de atuar em relação a esses dois modos de
manter-se informado. A rapidez com que a web pode veicular informações quase em tempo
real contrasta com o jornal diário que somente informa no dia posterior o fato acontecido.
Esse leitor terá agora um meio de comparar informações veiculadas por esses dois suportes
diferentes, checando a veracidade da informação dada em ângulos diferentes. Tudo isso prova
que a informação está sendo, cada vez mais, um produto à venda e, sem fronteiras definidas
com o aparecimento da tecnologia que nos envolve de modo ciberespacial. Se a dúvida sobre
os acontecimentos que envolvem a sua própria vivência provoca no leitor um mal-estar e uma
inquietação interior da qual ele tenta libertar-se para alcançar um estado de crença que lhe
devolva a satisfação e a harmonia, necessárias para a ação, lendo as notícias dos jornais,
quanto mais meios de checagem o leitor tiver a sua disposição e mais possibilidades de
certificar-se do acontecido, mais satisfação ele pode obter. Toda a investigação informativa é
uma luta pela conquista da crença, ultrapassando a irritação provocada pela dúvida. Não se
trata de uma crença científica, provada em laboratório, mas sim de conhecer os
acontecimentos que envolvem sua própria sobrevivência. Por isso, a notícia do jornal sempre
deverá estar pautada na ética e no rigor da pesquisa e checagem dos fatos.
Quando se tratar de informações científicas, que o jornal deve também veicular, a
satisfação plena de um estado de consenso também deve ser a tônica da informação dada.
Para Peirce (1877), “uma vez que a crença é uma regra para a ação, cuja aplicação conduz a
outras dúvidas e outros pensamentos, ao mesmo tempo em que é um ponto de chegada, é
também um novo ponto de partida para o pensamento”. Por isso, a informação científica deve
ser meticulosamente checada antes de ser veiculada.
Peirce assegura que:
(…)a luta começa com a dúvida e termina com a cessação da dúvida. Assim, o único
objeto do inquérito é a fixação da opinião. Podemos imaginar que isso não é suficiente,
88
e que não buscamos apenas uma opinião mas igualmente uma opinião verdadeira. Mas
se se submeter essa imaginação a um teste, ela revelar-se-á sem fundamento; de fato,
assim que uma crença sólida é atingida nós ficamos completamente satisfeitos, seja essa
crença verdadeira ou falsa (PEIRCE 1877, p59-74).
O objetivo do jornal é informar, fornecendo elementos para a formação da opinião
pública. Essa opinião, baseada na visão veiculada pelo veículo, é que produz uma crença
sólida. O contrário faz com que o veículo informativo caia no ostracismo por provocar
crenças infundadas. Há um contrato fiduciário
28
entre a fonte informativa e o leitor que o leva
a acreditar que essa fonte produz informações verídicas. A quebra do contrato faz com que o
leitor perca seu crédito de fé e deixe de ler o jornal, indo em busca de outros veículos. O
hábito de consumir determinado tipo de informação está, portanto, inteiramente ligado à
crença do leitor e do juízo que ele faz do produto que adquire. Essa satisfação alimenta a
crença e confirma o hábito. A mudança de veículo, porém, pode estar ligada também à
facilidade de aquisição da informação, como acontece com o webjornal. Logicamente, que
nem todos têm acesso a esse tipo de informação por não possuir meios financeiros de adquirir
o suporte. O jornal impresso ainda hoje é considerado um veículo de fácil aquisição em
relação aos equipamentos necessários para consumo de notícias via internet. Outro aspecto a
ser considerado é o da criatividade: os veículos impressos dificilmente apresentam
transformações em seu layout, ou mesmo em suas seções, que conservam tradicionalmente
disposição e espaços imutáveis. Muitos leitores têm o hábito de ler o jornal de trás para frente,
pois não lhes interessa as primeiras notícias tanto quanto lhe apetecem as notícias e
entretenimentos veiculados nas últimas páginas. Isso produz o hábito de encontrar uma
mudança de conteúdo das informações e uma iteratividade de formas. Esse hábito faz com
que o leitor passe pelas informações, quase que de modo superficial. Possivelmente,
28
De acordo com Greimas e Courtés (1989), um contrato fiduciário é uma relação de fé, estabelecido a partir do
momento em que o enunciatário recebe o enunciado (as notícias) e crê na sua veredicção.
89
questionar esse mecanismo de leitura, implementando dúvidas sobre esses hábitos, pode levar
tanto produtor como receptor das notícias, a desfazer esse mecanismo em busca de uma
reformulação da estrutura do jornal. Esse fato pode se tornar realidade se percebermos que o
jornal on-line tem características próprias e outras advindas do jornal impresso, mas que uma
interação entre esses dois suportes poderá fazer com que seus layouts possam sofrer
transformações.
Assim sendo, se tudo que é hábito tende a estagnar, de certo modo, o pensamento, a
instalação da dúvida poderá propiciar um questionamento sobre esses dois tipos de suportes
noticiosos, a fim de que haja uma busca criativa de aperfeiçoamento dos mesmos. Não nos
esqueçamos que o jornal impresso dependia de uma tecnologia mecanizada que o computador
coloca em xeque. Desse modo, a produção do jornal impresso não está mais atrelada a uma
máquina de corte do papel como antigamente e não é por acaso que os manuais de redação
jornalística insistem que o que puder informar em imagens não deve ser feito com palavras.
Essa nova era de produção de informação faz com que o número de profissionais que lidam
com a parte gráfica e artística (estética) dos produtos seja superior aos responsáveis pelo
conteúdo das veiculações. Em outras palavras, instaurar a dúvida é destruir o hábito e instalar
um novo. Assim, Peirce trata da fixação das crenças. Assim também, pensamos que o jornal
impresso e o on-line poderão interagir de modo a modificar-se mutuamente seus quali-signos.
3.2.4. Primeiridade, secundidade e terceiridade
Tratemos agora das categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade, em relação
aos objetos que ora analisamos. Primeiridade é o “modo de ser daquilo que é tal como é,
positivamente e sem referência a qualquer outra coisa” (CP 8.328); as típicas idéias e
primeiridade são qualidade de feeling ou mera aparência (CP 8.329). Assim sendo, o ecrã de
90
um webjornal deve estar previamente preparado para despertar o interesse imediato do
receptor, a fim de que ele se conecte com o mesmo por empatia. A facilidade de percorrer e
de usar as diferentes possibilidades sugeridas deve ser previamente preparada para que o
usuário desse site sinta-se confortavelmente capaz de usá-lo.
Em um segundo momento, esse ciberleitor toma conhecimento da presença do
webjornal como um existente. Para Peirce, esse é um momento de secundidade, “o modo de
ser daquilo que é, tal como é, com respeito a um segundo, mas sem observar qualquer
terceiro” (CP 8.328). A secundidade é o esforço como ação e reação entre mente e objeto.
Nesse instante, o objeto se impõe como um existente ou estímulo exterior com seus
qualisignos (formas, cores, texturas), constituindo-se um sinsigno (signo singular), com
características individualizadoras: ser um site noticioso com as mesmas características de um
jornal impresso, mas em um outro suporte. Além disso, comparando webjornais, o usuário
percebe também qualidades intrínsecas em cada um deles. Desse modo, o receptor pode
generalizar e constituir legisignos como leis capazes de definir e generalizar o webjornal.
Assim sendo, esse usuário chega à terceiridade, momento em que “aparece o sentido
de categoria” (CP 1.328). A terceiridade torna-se evolução, mediação e lei, a ponto de
constituir um hábito de pensamento: ele se torna apto a identificar de imediato as páginas
noticiosas dentro ciberespaço. Se, a primeiridade caracteriza-se pelas idéias de potencialidade,
acaso, liberdade, originalidade, presentidade e qualidade de feeling; se, a secundidade
caracteriza-se pela ação e reação, pelo existente, pela força mecânica, pela luta e pela relação
entre signos, a terceiridade vai se transformar em lei geral, representação e mediação. Assim
sendo, podemos comparando webjornais, chegar a uma definição do mesmo, desde que essa
definição seja testada em experiências futuras e revele a verdade do que afirma. É o que
pretendemos demonstrar em nosso trabalho. Para tanto, selecionamos três sites noticiosos.
91
3.2.5. A relação objeto/signo
Peirce entende que a relação do objeto com o que foi representado no signo pode ser
vista em três instâncias. Quanto à primeiridade, a relação signo/objeto se faz baseada na
similaridade. Assim, o ícone é a melhor representação da primeiridade. Essa categoria pode
ainda ser subdividida em hipoícones que seriam a primeiridade da primeiridade como sendo a
imagem; a secundidade da primeiridade, como sendo o diagrama e a terceiridade dessa
primeiridade como sendo a metáfora. O elemento profundo que liga todas essas instâncias do
ícone é exatamente a semelhança. Desse modo, uma fotografia existente no ciberespaço não
deixa de ser um diagrama do que está nela representado. Quando se atenta para a relação entre
o representado e o referente de modo a se perceber identidades e semelhanças, esse instante
de percepção confunde de tal maneira esses dois pólos da representação que é comum dizer-
se, por exemplo, que uma determinada pessoa está na foto do jornal. Quando se atenta, porém,
que a foto é uma representação dessa pessoa, atenta-se para dois existentes deixando de ser
então semelhança para ser dois objetos em relação. Nesse instante, deixamos a primeiridade
como iconicidade e adentramos o relacional indicial desses dois existentes. Estamos agora em
secundidade. Por isso, a secundidade, para Peirce, trata da contigüidade, em que dois signos
se remetem reciprocamente sem que a similaridade seja o ponto de relação. Portanto, entende-
se que a fotografia é um existente que representa de modo contíguo o objeto que aparece
representado nesse signo.
A terceiridade se dá quando dois objetos se remetem entre si devido a uma
convencionalidade. Agora, há três elementos em interação: o objeto que gerou o signo; o
signo gerado por ele e um conceito cultural como valor que se agregou a esses signos. Como
todo objeto é um signo para Peirce, todo signo é possuidor de significação potencial como
objeto em seu poder de imanência; mas, também, todo signo é capaz de ir além de si mesmo e
gerar um novo signo como seu interpretante. Desse modo, os interpretantes gerados não
deixam de ser signos com seus objetos e passíveis de gerar novos signos. A isso Peirce
denomina semiose. Para Queiroz (2002), signo e semiose são praticamente sinônimos, pois
ambos são produtos de relação. Trata-se de uma relação lógica entre abstrações na forma de
três correlatos: o signo é o primeiro termo; o objeto é o segundo e o interpretante o terceiro,
que é determinado pelo objeto como uma determinação do signo pelo objeto:
Signo é um padrão, um arranjo de itens, qualidades, eventos e qualquer coisa que é
signo, de qualquer natureza, pode ser abstraído na forma desse padrão; (...) infere-se que
esse padrão é irredutivelmente triádico como sendo signo/objeto/interpretante; (...)
infere-se que os termos dessa relação são definidos conforme a posição que ocupam
relativamente aos outros termos (QUEIROZ 2002, p.48-49).
Infere-se, portanto que a semiose é produto intrínseco dessa tríade. Se Peirce assegura
que signo é qualquer coisa que depende de ser interpretada como signo, a natureza sígnica é
definida na medida em que se trata um objeto como potencialmente gerador de significações.
Chegamos então à inferência que qualquer componente de um webjornal é portador de
significação, pois pode ser interpretado como um signo e gerar interpretantes. Desse modo, os
ícones, os índices e os símbolos são determinados pelo ponto de vista da mente que interpreta,
podendo o mesmo objeto ser visto em primeiridade, secundidade e terceiridade. Isso provoca
diferentes leituras, desde a mais superficial em que apenas existe um juízo perceptivo do que
se está apreendendo pelos sentidos, até um juízo argumentativo, quando, então, procura-se
92
definir os porquês do que se percebe. Se o processo de percepção iniciou-se em um
interpretante imediato emotivo que deslizou para um interpretante imediato energético,
produzindo associações, para atingir um momento lógico, como conseqüência chega-se então
ao interpretante final. Esse interpretante, porém, não significa o fim da semiose, pois ela é
infinita. Significa antes, que esse interpretante final pode ser remático, carregado ainda de
incógnitas, de hipóteses e de possibilidades a serem testadas. A partir disso, desliza-se para
um interpretante mais aprofundado ou dicisigno como relacional, ou seja, o interpretante final
em secundidade em que se colocam dois signos em relação como, por exemplo, em uma
oração com sujeito e predicado. O nível mais complexo e racional de interpretante é o
argumentativo que, em termos lógicos, trata-se do silogismo, em que premissas conduzem a
um pensamento conclusivo em termos de orações subordinadas entre si (figura 8).
Signo em relação a ele
mesmo
Signo em relação ao seu
objeto
Signo em relação a seu
interpretante
Primeiridade Qualisigno Ícone Remático
Secundidade Sinsigno Índice Dicente
Terceiridade Legisigno Símbolo Argumento
Figura 8: quadro de classificação dos signos baseado na semiótica peirceana
Qualquer webjornal pode ser interpretado desses três modos: como simples juízo
perceptivo ou interpretante imediato, como interpretante dinâmico e como interpretante final.
Concluímos, portanto, que a teoria de Peirce é extremamente lógica e suas categorias
faneroscópicas, como o pensador costumava tratá-las, são progressivas, iniciando de modo
intuitivo e sensitivo para chegar a uma racionalidade, ainda que ideal. Assim, também,
agiremos nas análises dos sites escolhidos. Entendemos que essas páginas devem ser
programadas de modo reflexivo pelos seus produtores para que sejam adentradas de modo
praticamente emotivo pelos usuários.
93
4. Leitura semiótica dos sites noticiosos regionais
T
omaremos agora os sites destinados ao corpus de análise, a fim de, imanentemente, analisar os
seus qualisignos, em uma perspectiva argumentativa. Trata-se, portanto, de uma análise
consensual, cujo objetivo é produzir um conceito capaz de definir o webjornal regional.
Um site é uma comunicação visual. Suas imagens e
módulos verbais - conteúdo textual - têm valoração
diferente, segundo o contexto em que estão inseridos,
conseqüentemente passando informação diferente. No
entanto, pode-se detectar que a comunicação é feita tanto
de modo causal quanto intencional. Causal é a
comunicação feita sem a intenção explicitamente
determinada, como, por exemplo, uma nuvem em uma
fotografia lembrando chuva, ou intencional, quando essa
mesma nuvem não está na foto de modo ocasional. Sendo
assim, essa mesma nuvem negra pode conotar uma
situação de perigo, de tempestade iminente, devido ao
conteúdo dos seus signos, como, por exemplo, no caso de
uma guerra. Desse modo, a comunicação causal pode ser
interpretada ou não, enquanto que a intencional necessita
dessa interpretação para o entendimento da informação.
Não podemos esquecer que a comunicação visual tem que ser funcional, ou seja, comunicar com
rapidez e eficiência de modo sintético. Por isso, a infografia
29
, recurso comum em páginas dos jornais impressos
e revistas, agora encontra na internet uma possibilidade de expansão. Nas páginas on-line, a funcionalidade es
atrelada à usabilidade, a qual, como já visto no capítulo 1, exige um planejamento tanto estético como
pragmático. O jornalismo prima pelo segundo, enquanto a arte, pelo primeiro. Um site pode combinar linhas
harmônicas e possuir estética, não com o objetivo de simples adorno, mas sim como objeto de informação.
Quando acessamos uma página noticiosa, primeiramente percebemos que se trata de um jornal on-line.
Para isso, é preciso que conheçamos a rede, a estrutura de um site e que já tenhamos um contato anterior com
sites noticiosos. Igualmente, é preciso que o usuário perceba que as características dos noticiários se diferem de
acordo com o suporte, ou, em tese, deveriam diferir. Nessa fase, não há leitura crítica, apenas apreensão de
elementos como cores, formas, disposição, textura.
29
Infografia é o uso de infográficos, ou seja, recurso usado na apresentação de notícias, principalmente por
revistas especializadas e jornais impressos, o qual usa ícones e pequenos textos para diagramar a informação e
complementar a notícia.
94
Na análise semiótica dos três sites escolhidos, pretendemos identificar todas as categorias de signos
existentes nas páginas on-line e a provável razão de estarem ali em todos os níveis de apreensão definidos por
Peirce, quais sejam, primeiridade, secundidade e terceiridade. A teoria peirceana não pode ser entendida como
um conjunto de elementos estanques e compartimentalizados. Na predominância da primeiridade há resquícios
de secundidade e terceiridade; na predominância da secundidade ficam incorporadas as idéias de sentimentos da
primeiridade nos atos de reação da secundidade e resquícios da terceiridade; na terceiridade esses três elementos
juntam-se de modo equânime. As categorias de apreensão se imbricam e o que determina sua classificação não é
senão a predominância de um desses ângulos. Essa consideração de predominância determinará então a
classificação ora realizada. Como a teoria de Peirce está centrada no falibilismo
30
, a pesquisa feita será apenas
uma verdade momentânea que se espera ser a melhor explicação consensual do corpus em análise.
É preciso considerar o sentido da trajetória do design/produtor do site, que está na terceiridade, até a
apreensão pelo usuário, a qual acontece em primeiridade e apenas depois ruma para a terceiridade também em
termos de predominância. Não temos, contudo, a pretensão de esgotar as possibilidades de análise, mas
escolhemos elementos que entendemos pertinentes para a pesquisa em questão, ou seja, aqueles que provocam
uma funcionalidade na nossa leitura crítica desses sites.
4.1. Formas e layout
Estar diante de um site noticioso, ou não, é deparar-se com um sinsigno, capaz de incorporar os
qualisignos que estão potencialmente no mundo das idéias de sentimentos e que constituem a primeiridade
peirceana. Essas idéias passam a servir de base capaz de constituir o objeto, considerado, então, em sua
generalização, ou seja, como legisigno. Este se trata de uma abstração, por inferência, de objetos semelhantes.
Assim, um site noticioso em relação a outro possui qualisignos generalizantes, mas também individualizantes,
que passam, então, a caracterizar cada sinsigno de modo peculiar. Esses qualisignos caracterizadores podem ser
vistos na forma e na disposição de modo sinestésico, ou seja, por meio do olhar.
30
De acordo com o falibilismo de Peirce, a verdade passa a ser compreendida como a sustentação de uma
proposição cuja veracidade depende da correção compreendida como sustentação de uma proposição cuja
veracidade depende da correção lógica da argumentação feita com base em juízos perceptivos. Ou seja, enquanto
nenhuma outra percepção descobrir que a proposição é falsa, ela será entendida como verdadeira. Na há certeza,
nem verdades absolutas, elas estão sempre em processo e, por isso, jamais acabadas.
95
Em relação à forma, o site do Comércio do Jahu possui os seguintes sinsignos caracterizadores: seu
formato retangular, no ecrã, é subdividido em retângulos menores, onde estão inseridas as quatro colunas
principais, além do cabeçalho. A página de entrada, onde estão as chamadas das principais reportagens locais,
das páginas de variedades, de esportes e da cobertura nacional do jornal impresso, dos textos dos articulistas e
dos destaques da edição impressa, contém os links para todas as seções do jornal e está dividida em quatro
grandes colunas. Desse modo, percebe-se que um sinsigno pode conter outros sinsignos dentro de si (figura 9).
Figura 9: página inicial do site do Comércio do Jahu acessado no dia 31/10/05 às 20h17 com
conteúdo relativo ao jornal impresso distribuído no dia 30.
Assim, por exemplo, na primeira coluna à esquerda, o usuário tem acesso às seções do jornal (Capa,
Opinião, De Fonte Limpa (coluna política diária), Local/Região, Variedades, Psiu (coluna social), Esportes,
Classificados, Geral (cobertura nacional), Cidades (matérias divididas pelas 11 cidades da microrregião de Jaú) e
finalmente Link (coluna social com mote jovem).
Ainda nessa coluna, logo abaixo, é possível ver a charge da edição impressa do jornal. A charge,
independentemente de o jornal impresso ser colorido ou preto-e-branco, é sempre colorida no site. Com difícil
visualização na página inicial, principalmente devido às dimensões do quadro onde está inserida, o tamanho da
charge é aumentado com um clique do mouse e a conseqüente abertura de uma janela, a qual permite uma
perfeita visualização das partes verbal e não-verbal da charge devido a uma resolução de alta qualidade. Esse
processo de semiose, em que um signo sugere outro, ou mesmo gera outro, é o princípio da semiótica de Peirce,
para quem a semiose está em expansão e sempre existirá um signo que antecede outro, e a geração de novos
signos será sempre considerada como uma progressão em direção ao novo signo, de modo infinito.
Um dos recursos de semiose pode ser notado na reprodução de um fato pelo seu ícone em uma
fotografia. Ela também está em processo de semiose dentro do site, pois seu processo de zoom serve também
como signo gerador de importância de observação de signos. Ao processo de ampliação da foto, dentre as
possibilidades de semiose de um signo, temos uma hierarquização de idéias: a possibilidade de ampliação de
uma foto permite, ao navegador do site, uma observação mais detalhada do mesmo, de modo que há uma nova
possibilidade de leitura nessa mesma ampliação.
Desse modo, também, no site em análise, o plano de fundo da janela da fotografia que se amplia tem
uma cor azul profundo, da qual emergem páginas do jornal impresso, como marcas d’água, em uma
96
superposição de signos, de maneira polifônica e dialógica. Trata-se de uma indicialidade em que dois objetos
existentes passam a ocupar o mesmo espaço e o mesmo tempo, também de modo polifônico e dialógico, em uma
relação de contigüidade, o que caracteriza a secundidade peirceana. A primeira coluna à esquerda é finalizada
com a assinatura e o slogan do criador da página, a empresa Neobiz, cujo slogan é “mundo digital, resultado
real”.
A próxima coluna, como signo, integra, com sua vizinha à direita, os dois espaços centrais e principais,
onde estão as chamadas para as reportagens, também como relações indiciais. O primeiro signo da segunda
coluna à esquerda é impreterivelmente a fotografia publicada na capa da edição impressa. Pode não haver
relação entre a fotografia e a principal reportagem (manchete) da cobertura local/regional, caracterizando outra
indicialidade remissiva, mas na maioria das edições o não-verbal faz referência ao verbal, tanto no impresso
quanto no site. A chamada da matéria está alocada ao lado direito da fotografia e abre a terceira coluna do site.
Também podem acontecer casos como no dia 1º de novembro de 2005, quando a manchete do site (reportagem
sobre o aumento da tarifa do transporte público de Jaú) não acompanhou o jornal impresso, cuja matéria
principal foi uma ação movida pela Procuradoria de Justiça do Estado de São Paulo contra a cobrança de tributo
relativo à iluminação pública do município de Bocaina, vizinho a Jaú.
Também em um processo de semiose, o enunciador do site do Comércio do Jahu interage considerando
o conhecimento compartilhado que idealiza, em um momento de discurso, ou seja, em sua enunciação, que seu
enunciatário possua. Essa mesma notícia dirigida a um público diferente não seria redigida da mesma maneira.
Desse modo, entende-se que há marcas de enunciação dentro do enunciado dado no ecrã do site que permite ao
analista do mesmo caracterizar o navegador idealizado pelo sujeito enunciador. Essas idéias nascem da Teoria da
Enunciação de Émile Benveniste e foram melhores sedimentadas na semiótica francesa de Greimas e Courtés
(1989).
Ainda na segunda coluna, logo abaixo da foto, estão os destaques da seção Esportes, onde se inserem a
cobertura esportiva local e nacional, e a seção Opinião, com textos editoriais e opinativos que são veiculados na
edição do jornal impresso da qual o site transposiciona o conteúdo. Abaixo desses quadros, com os sinsignos que
são, estão a data de publicação dos textos e as duas primeiras linhas da reportagem, que funcionam como uma
espécie de chamada de capa do site. No final de cada seção há um link intitulado Leia Mais, por meio do qual o
usuário tem acesso ao texto. Os nomes das colunas também funcionam como links para outros textos da seção.
Na página de leitura dos textos, o ciberleitor tem as opções de voltar para a página inicial do site, ver
outras matérias armazenadas no mesmo ou, ainda, tem a opção de enviar a matéria a um amigo. Na última opção,
97
abre-se uma nova janela e são solicitados nomes e endereços eletrônicos de emitente e destinatário. Caracteriza-
se, assim, uma das qualidades novas dos sites noticiosos advindos do aparecimento do hipertexto que a internet
passou a oferecer aos seus usuários. Desse modo, esse novo veículo de informação, não só é modelizado pela
moderna tecnologia, como também passa a influenciar o jornal impresso e demais veículos anteriores já que a
idéia de links começa a ganhar espaço na impressa escrita, principalmente em revistas que procuram inovar em
seu layout.
A próxima e penúltima coluna do site do Comércio do Jahu contém três seções – Local/Região,
Variedades e Geral -, as quais seguem o mesmo padrão das duas seções da coluna vizinha e que foram descritas
acima, com as respectivas datas de publicação das reportagens, as duas primeiras linhas dos textos e o link para
acessar os textos. O destaque da seção local e regional geralmente relaciona-se com a foto e é a manchete da
edição impressa. Esses sinsignos aparecem também em outras páginas da internet com esse mesmo processo de
informação jornalística, mostrando, assim, qualisignos identificadores potenciais dos webjornais.
A quarta coluna, considerando o sentido de leitura esquerda-direita, diferencia-se das demais, já que o
retângulo delimitador contém um fundo idêntico ao da janela da charge, com capas do jornal impresso em
marcas d’água, porém em um azul bem mais suave, evanescente. Mais da metade da coluna é preenchida por um
segundo retângulo, de fundo azul acinzentado, subdividido em três partes, e que contém destaques da reportagem
local (novamente a reportagem que foi manchete em uma das seções da edição impressa), o segundo texto
opinativo da edição impressa (a página 2 do Comércio do Jahu geralmente traz dois textos de articulistas) e uma
reportagem nacional (comprada para a edição impressa da agência Estado). Abaixo na coluna estão três
retângulos menores, os quais piscam ininterruptamente para informar aos usuários as mudanças nos números de
telefones do jornal. Os três quadros contêm figuras e possuem cores fortes: o primeiro e o último são azul escuro
e o do meio é vermelho.
O cabeçalho, cujo pano de fundo é idêntico ao da janela da charge, tem quase a metade esquerda tomada
pelo logotipo do jornal com a data atualizada e não a data de publicação do jornal impresso que contém as
reportagens veiculadas naquele momento no site. Ao lado do logo estão três quadros de publicidade do próprio
jornal. Atualmente, o primeiro espaço está destinado à divulgação da promoção de Natal do jornal impresso, com
sorteio de brindes aos assinantes, com direito de acesso ao regulamento da promoção após um clique do mouse
sobre o quadro. O segundo retângulo adverte ao usuário a mudança do telefone da seção de Classificados do
Comércio do Jahu. Ambos usam recursos em flash que permitem o movimento ininterrupto e o conseqüente
98
desvio de atenção do navegador para o local. Ao contrário dos vizinhos, o último espaço da parte superior direita
do cabeçalho é estático, mas remete novamente à edição impressa com um imperativo “Assine Já!”.
Abaixo dos três quadros do cabeçalho, como sinsignos constitutivos de um signo maior, vem um menu
horizontal com cinco links: pesquisa, assinatura, publicidade, a empresa e contato. Exceto o link denominado
publicidade, cujo conteúdo não está disponível de acordo com a mensagem após o clique, os demais estão ativos.
Na pesquisa, o conteúdo do jornal impresso, disponível desde as edições impressas em 2001 (ano de criação da
página on-line) até a última edição publicada, está digitalizado e pode ser acessado e copiado para outros
computadores. Os textos estão divididos por seções. No entanto, uma deficiência da atual ferramenta de busca é
considerar apenas o título da reportagem ou artigo, o que pode dificultar e aumentar o tempo das buscas.
Os links assinatura e contato abrem janelas com campos a serem preenchidos, cujos objetivos já estão
esclarecidos na palavra escolhida do link. Nesse contato, o usuário pode enviar um e-mail para a redação, parte
comercial ou balcão de classificados para anunciar produtos no jornal impresso. Percebe-se, assim, que ainda
não há o hábito de colocar classificados nos sites noticiosos analisados.
No link sobre a empresa, o usuário toma conhecimento do lema e dos principais tópicos da história do
jornal impresso, cuja primeira edição circulou em 1908. A história está dividida em décadas. Essa coluna
permanente é exclusividade da página on-line, já que seria inviável publicar, em toda edição impressa, a história
do veículo, por ser redundante e ocupar espaço do factual imediato, objeto primeiro do jornal impresso.
Façamos uma incursão no qualisigno estético desse veículo. A harmonia da disposição formal do site,
que tem interface gráfica agradável e usabilidade eficiente - não desconsiderando as deficiências tecnológicas e
as inadequações de conteúdo -, com espaços devidamente delimitados e seções bem arranjadas espacialmente,
somente é quebrada pelos movimentos ininterruptos do conteúdo dos quadros usados para divulgação dos
telefones e promoção do jornal.
Entre os últimos links e o término da página, delimitada pelo ano de criação do site (2001) e um aviso
sobre a questão dos direitos reservados, há um grande espaço vazio, preenchido apenas pela cor de fundo. Esse
espaço vazio passa a ser um signo a ser lido, pois seu fundo permanece em azul dando a sensação da
possibilidade de inserção de novos signos noticiosos sobre ele. Esteticamente, não há um porque desse vazio,
mas ele possibilita um adentramento do imaginário do leitor nesse espaço, como sendo um modo de permitir
uma co-autoria entre enunciador e enunciatário onde agirá o imaginário deste, já que esse espaço não foi
preenchido com informações pelo sujeito enunciador. Funcionalmente, percebemos que o espaço inicia-se
exatamente onde há a quebra na tela, ficando na parte inferior da página e sendo visualizada apenas após o
99
acionamento da barra de rolagem vertical. Possivelmente, o espaço foi desprezado devido a essa impossibilidade
de visualização inicial.
O site da Gazeta de Limeira, assim como a página on-line do Comércio do Jahu, está disposto em
quatro colunas. Na extrema esquerda, primeiramente, estão os links com os principais “canais” da página, ou
seja, suplementos semanais do jornal impresso – Lazer Mais, Jornal da Mulher e Gazetinha (infantil) -,
reportagens e colunas da edição diária, anúncios classificados e notícias de edições anteriores. Já na primeira
coluna, percebemos que o site da Gazeta oferece mais opções ao usuário, já que até possibilita o acesso aos
classificados, serviço não disponível no caso do site de Jaú (figura 10).
Figura 10: página inicial do site da Gazeta de Limeira do dia 07/11/05
Detalhe: link para a autoprodução de anúncios classificados
Em relação aos suplementos semanais, cada link abre uma nova janela, onde o ciberleitor tem acesso ao
conteúdo da última edição impressa veiculada – reportagens e colunas fixas -, bem como das edições relativas a
um ano. Na janela do Lazer Mais, o usuário pode optar por receber correspondências eletrônicas com os
destaques da semana, informar-se sobre novelas, programação de filmes e destaques na televisão ou participar de
uma enquete. A enquete da semana do dia 8 de novembro de 2005 perguntava ao navegador qual é o melhor tipo
de programa para o final de semana, com possibilidade de acompanhar o resultado da votação e ferramenta que
permite apenas um voto por máquina (computador). As janelas dos suplementos Jornal da Mulher e Gazetinha
100
têm disposição e signos semelhantes, cada uma inserida na respectiva temática. A janela do Lazer tem
ferramenta de busca específica. Os ciberleitores do Gazetinha podem acessar jogos, história e charadas (figuras
11 e 12).
Figura 11: janelas dos suplementos semanais do Lazer Mais e do Jornal da Mulher da Gazeta
de Limeira do dia o dia 07/11/05
Figura 12: janela dos suplemento semanal da Gazetinha do dia o dia 07/11/05
No link Classificados é possível buscar veículos, imóveis, eletrônicos, telefones, serviços, empregos e
animais. Logo abaixo, o usuário pode fazer e enviar o anúncio pela internet. A cobrança é feita em casa e o
anúncio tem prazo de 48 horas para ser publicado. O serviço está disponível somente para moradores da cidade
de Limeira, embora o jornal impresso circule em outros municípios da microrregião. Na seção de Serviços é
oferecida assinatura do jornal impresso, o regulamento de um prêmio anual de literatura promovido pelo jornal e
a possibilidade de enviar um e-mail para o jornal ou para o programa semanal televisivo Segunda Esportiva, que
a empresa mantém com outra empresa de mídia local. No entanto, o link Fórum, que possibilitaria uma
interatividade por meio da comunicação on-line com o usuário, simplesmente não funciona. Do mesmo modo, o
link que indica onde os radares móveis estariam localizados diariamente também não cumpre a função, mas
alega que a Prefeitura não teria divulgado a programação do equipamento.
Ainda na primeira coluna à esquerda, estão os links para os sites da Secretaria de Segurança Pública do
Estado de São Paulo, com o mote de consulta sobre eventuais multas e conseqüente pontuação na carteira de
habilitação, Secretaria de Saúde de Limeira, um canal de defesa do consumidor, onde o usuário divulga sua
101
crítica (a única existente no espaço data de 2003), programação semanal dos cinemas locais e resultado das
últimas loterias.
A próxima coluna já faz parte do espaço principal do site e, como na página do Comércio, é aberta com
uma fotografia (ver 2.2.1.), a qual pode estar ou não relacionada com a manchete do site, e a respectiva legenda.
Abaixo não há mais separação entre as duas colunas principais. O espaço é ocupado pelo quadro intitulado
Especial e pelos links das principais reportagens da edição impressa vigente. Nesse caso, o usuário acessa a
matéria pelos títulos. Ao final, no link “Mais notícias”, as notícias podem ser acessadas por editorias (Geral,
Polícia, Internacional, Local, Editorias e Esportes). Na seção Especial estão novamente os links para os
programas Segunda Esportiva e a Hora da Notícia (programa radiofônico diário que o jornal produz em parceria
com uma emissora de rádio da cidade), para os classificados e suplementos semanais do jornal impresso.
A terceira coluna a partir da esquerda é composta pelas duas principais reportagens da edição impressa.
No caso do site da Gazeta, a matéria é apresentada por um título e uma pequena chamada de quatro a cinco
linhas e o link está nas palavras “Leia mais”, após a chamada.
Na quarta e última coluna estão o e-mail da Gazeta – a empresa funciona como miniprovedor e oferece
o serviço gratuitamente ao usuário -, a enquete semanal, inclusive com resultados parciais (diferente da enquete
no caderno Lazer Mais), a capa da versão impressa, índices econômicos (o fechamento das bolsas de valores e
do dólar) e a previsão do tempo e temperatura para Limeira, cujo quadro é um link para o site de uma empresa
meteorológica.
Acima no site está o espaço que ocupa toda a largura da página e funciona como cabeçalho, com o
logotipo do jornal, data e ferramenta de pesquisa. No final da página está o endereço completo e telefone da sede
do jornal e o nome da empresa criadora e mantenedora do site. A empresa mantém um espaço entre o cabeçalho
e as duas colunas principais, o qual se alterna entre um quadro com o nome do jornal, slogan e endereço do site e
outro com a publicidade da empresa criadora da página.
Percebemos que o site da Gazeta, em relação à página do Comércio, aproveita melhor o ecrã, pois há
apenas uma pequena faixa vazia entre o final da última seção e o término da página, como os portais e sites
maiores, que praticamente não têm lacunas. Por outro lado, o site de Jaú foi projetado para ser inteiramente
visualizado sem o uso da barra de rolagem vertical, o que não é o caso da Gazeta, cuja página necessita do uso
da barra.
O ecrã do site do Lidebrasil está dividido em dois quadros principais, quais sejam, uma coluna à
esquerda e o espaço onde convivem as notícias e os anúncios publicitários. Acima estão o nome da empresa,
102
logotipo e o slogan “o caminho mais curto entre a notícia e o leitor”, data, endereço da página
(www.lidebrasil.com.br
) e os links Espaço Empresarial, Turismo, Classificados, Sala Vip e Cultura. Ainda no
cabeçalho, há a frase chamariz: “Ofertas de primeira no classificados Lidebrasil”, mas a página nunca
conseguiu, durante os cerca de dois anos e meio que circulou na internet, implementar o serviço. O Espaço
Empresarial (ver 2.3.1.) também não atingiu o objetivo primordial de ser um espaço a ser usado pelos
empresários locais e regionais para divulgação das empresas e atividades. Como não havia equipe de vendas, a
divulgação paga na página não despertou o interesse da classe. O Turismo trazia informações e fotografias dos
principais pontos de Rio Claro e região, como Analândia e Corumbataí. O conteúdo é fixo. Na Sala Vip, os
freqüentadores da noite podem visualizar e copiar as fotografias e informar-se sobre os eventos. Finalmente, no
link Cultura o ciberleitor tem acesso à agenda cultural local, inclusive com programação de cinemas. Todos os
links abrem janelas à parte.
O cabeçalho e a coluna à esquerda fundem-se em um fundo acinzentado ilustrado por linhas e o
endereço eletrônico da página em diversas tipologias e tamanhos, como marcas d´água, assim como o nome da
empresa e o logo novamente, no final da coluna.
Diferentemente do fundo escuro, o espaço onde estão as matérias e anúncios é branco, o que realça os
anúncios coloridos, as fotografias jornalísticas e os horários e chamadas das matérias.
Figura 13: página inicial do site Lidebrasil em 26/04/2005
4.2. Planos e texturas
103
A confecção de um site qualquer é feita por camadas. Assim sendo, é possível identificar três planos no
site do Comércio do Jahu: o de fundo, o intermediário e o primeiro. O de fundo é composto por uma tonalidade
de azul mais forte na primeira coluna da esquerda, um azul cinzento nas duas colunas do meio e o fundo
ilustrado com marcas d’água de capas da edição impressa do jornal, mais claro na última coluna à esquerda e
mais escuro no cabeçalho acima. O plano intermediário é formado por tonalidades de azul cinzento dos
retângulos onde estão inseridos os nomes das seções em contraste às cores fortes dos retângulos destinados à
divulgação dos telefones do jornal.
Os grafemas (letras) do logo do jornal, bem como a data e as palavras que não constituem links, as datas
abaixo das seções, o título e textos das reportagens e a palavra Seções da primeira coluna à esquerda, integram
esse plano do meio. Apesar de não abrirem outras páginas ou janelas, ou seja, não serem links, o fato de o
conteúdo verbal e não-verbal dos quadros piscar sem parar - os telefones do jornal e ilustrações - joga esses
elementos para um primeiro, digamos, primeiríssimo, plano. O efeito do movimento contínuo desvia a atenção
do usuário para elementos do jornal impresso da mesma empresa, porém exteriores ao site. Percebemos a mesma
ocorrência nos sites da Gazeta de Limeira e no Lidebrasil. Na Gazeta, o quadro que alterna a propaganda do
próprio jornal impresso/site com o anúncio da empresa criadora da página e o link para a Secretaria de Segurança
Pública são os únicos elementos em movimento. No Lidebrasil, são as propagandas que piscam sem parar, cujos
quadros são preenchidos com cores fortes e destoantes das cores dos demais elementos da página.
Reparemos que o primeiro plano, no caso do site do Comércio do Jahu, que compete pela atenção
primeira do usuário com os pisca-piscas, é formado pela fotografia, charge, links Leia Mais abaixo da chamada
das reportagens, o que permite acesso a seções, à esquerda, e o dos destaques da última coluna no sentido
esquerda-direita. Na Gazeta, a capa da versão impressa da edição vigente, por ser diariamente colorida, insere-se
no primeiro plano. Consideremos ainda que o grafemático é o elemento último colocado sobre os demais planos.
Poderíamos dizer que se trata de um sobreplanos. Esse elemento é que se altera invariavelmente em sua essência
a cada atualização da edição. Os demais planos tendem a permanecer como um qualisigno identificador do site,
cuja tendência é ser imutável. Nos demais sites, exceto pelos sinsignos próprios, não há diferenças significativas
em relação aos planos.
Já a textura aparece, na página de Jaú, além das naturalmente existentes na fotografia e na charge, no
fundo feito com marcas d´água das capas da edição impressa e um efeito luminoso nos links das seções da
primeira coluna à esquerda. No Lidebrasil, o próprio logotipo, insinuando um alto-relevo, e o nome da empresa
em marca d’água também garantem o efeito.
104
A lisibilidade do suporte, como plano de fundo, contrasta com a sensação de auto-relevo das letras e das
fotos como se esses elementos fossem se destacando do fundo, vindo em direção ao usuário. Esse auto-relevo
produz a sensação de destacar-se do fundo do ecrã, transformando-se em perceptos que se impõem à percepção
desse navegador, como elementos a serem lidos como produtores de significação potencial. Servindo-nos aqui de
uma premissa da semiótica greimasiana, esses elementos estimuladores perceptuais estão carregados
potencialmente de sentido. É o que chamamos de efeito de sentido, conseguido com o verbal, e de efeito de real,
em se tratando das imagens em geral, especialmente nas fotografias, as quais tendem a ser um simulacro do real.
4.3. Estático e móvel
Exceto pelos quatro quadros que anunciam os telefones do jornal impresso e atualmente o que divulga a
promoção de Natal destinada aos assinantes do jornal, todos os demais elementos do site do Comércio do Jahu
são estáticos. Esse nível profundo semântico – estaticidade versus dinamicidade – produz como efeito de sentido
modos de leitura da página. Elementos em movimento atraem mais do que elementos estáticos. Desse modo,
percebemos que a importância primordial do site em questão é atrair o ciberleitor para ser assinante do jornal
impresso, colocando a funcionalidade da página da web mais como uma publicidade do veículo impresso do que
um veículo on-line noticioso. A prioridade dada à busca do novo assinante é, portanto, a principal função do site
do Comércio do Jahu.
O mergulho do olhar na página de Jaú é intencionalmente dirigido aos quadros que informam a
mudança dos telefones do jornal - dois deles referem-se ao novo telefone do PABX, com o texto: “Mudou.
Nosso telefone PABX agora é... 3602-2100”, e outros dois ao telefone da seção de classificados do jornal
impresso, cuja parte verbal é: “Classificados 36022101”. Um dos quadros do telefone dos classificados está no
cabeçalho e o outro entre os dois com o telefone do PABX, na coluna da extrema direita. Fica demonstrada, uma
vez mais, a prioridade do site aos discursos publicitários referentes à venda dos serviços do jornal impresso, ou
seja, a página na web está a serviço do jornal impresso.
Os movimentos do quadro referente à promoção de Natal são mais lentos, o que permite às figuras e
logotipos das empresas que oferecem prêmios se sobreporem entre si e provocarem um efeito mais suave de
percepção imediata, em relação ao movimento intermitente da publicidade analisada acima. Mesmo assim,
somente pelo fato de estar em movimento, esse quadro também concorre pela prioridade da entrada do olhar na
página, atraindo de modo especial a atenção do ciberleitor. Por outro lado, a totalidade dos elementos
105
informativos como fotografia, charge, links para as reportagens e seções do jornal são estáticos. Essa tendência
de se privilegiar com movimento elementos comerciais pode ser observada nos portais e sites noticiosos em
geral. No entanto, no caso do site do Comércio do Jahu, por não haver propaganda de outras empresas que
ajudariam a custear a página, os quadros com os telefones do próprio jornal ganharam movimento, em
detrimento às reportagens e destaques noticiosos.
Como já dito no item anterior, no site da Gazeta, os únicos signos com movimentos trazem uma
propagando do jornal e da empresa criadora da página e o link para o site do Detran (Departamento Estadual de
Trânsito), por meio da página da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. No Lidebrasil, os
anúncios publicitário, além das cores vivas que se destacam, ganharam movimento intermitente. Nos três sites,
portanto, o recurso do movimento, o qual tentar atrair a fovia
31
do olhar do ciberleitor, é disponibilizado para
propagandas, seja de anunciantes ou do veículo impresso da empresa, nos dois casos em que há jornais
impressos. O conteúdo jornalístico textual e fotográfico – mesmo que colorido - é, assim, deixado em segundo
plano
4.4. Cores
A cor é um signo dos mais significativos em todo discurso existente na mídia. Especialmente nos sites
noticiosos, as cores adquirem funcionalidades expressivas. Em geral, determinada cor passa a representar o
veículo em que está inserida. Trata-se de um qualisigno que todas as páginas noticiosas da web possuem e que se
transforma em indicialidade das mesmas. No site do Comércio do Jahu, é a azulidade como essência dessa cor e
não suas nuanças que o identificam como individualidade entre os demais. Na página da Gazeta, também temos
o azul, porém em menor quantidade, devido à predominância de branco ao fundo. Já o Lidebrasil trabalha mais o
colorido, com amarelo, vermelho, azul e verde – principalmente na publicidade -, e cinza, azul, preto e branco na
parte noticiosa.
No site do Comércio, desde o plano de fundo, até o preenchimento dos retângulos maiores e menores
tudo é azul, exceto a fotografia, charge, o fundo do quadro com o telefone dos classificados do jornal e algumas
letras do nome da empresa que desenvolveu o site. A cor azul, além de ser a cor do logotipo do jornal impresso –
nas edições coloridas -, dá uma sensação de seriedade e credibilidade, convenientes ao jornalismo. Esse valor
106
acrescido ao azul é produto da simbologia cultural. Por isso que as companhias aéreas se servem muito dessa
cor, pois no imaginário coletivo ela demonstra segurança e tranqüilidade. No entanto, a cor no site em questão é
usada à exaustão. A Teoria Semiótica peirceana considera que o que guardamos de uma cor como sensação ou
idéias de sentimentos é uma essencialidade da mesma e não suas diferenças tonais. Por isso, o Comércio do Jahu
ser caracterizado em sua essência pela cor azul.
Ainda na página do Comércio, quanto ao vermelho, presente no fundo dos quadros com o telefone dos
classificados, sua essencialidade está ligada no imaginário coletivo com as idéias de coragem, paixão, vigor e em
anúncios publicitários com a idéia de calor e energia, que instigam a mente à ação. Isso justifica uma vez mais os
conceitos acima mencionados sobre o discurso publicitário persuasivo desse site.
No contraste entre o azul e o vermelho no mesmo espaço e lidos quase ao mesmo tempo, esta última cor
tende a atrair mais a atenção do usuário. No geral, em se tratando de peso das cores espalhadas neste site, o
colorido da fotografia e da charge acaba por reequilibrar o site ao amenizar a dominância monocromática.
Em relação às cores das letras do site do Comércio, o azul continua presente nos títulos, data da
publicação das reportagens e textos, links de seções e ‘Leia Mais’. As letras do logotipo do jornal, nome da
cidade, data, e links alocados no cabeçalho, bem como as dos quadros em movimento, vêm em branco. Em
vermelho, apenas algumas letras do nome da empresa responsável pelo desenvolvimento e manutenção do site.
As regiões retangulares cujo fundo é preenchido por um azul claro e um azul acinzentado, usado para destacar os
quadros das seções, competem com os retângulos vermelhos no momento da percepção. Vimos, no entanto, que
a vermelhidão antecipa-se à azulidade. Isso não impede, porém, que esta última torne-se a característica
cromática fundamental da página pela proporcionalidade quantitativa da mesma em detrimento ao vermelho.
Quando acessamos o site da Gazeta de Limeira, também percebemos, em primeiridade, uma
predominância do azul. Porém, o uso da cor e suas nuanças na página não é tão exaustivo e o branco, ao fundo
das duas colunas principais, suaviza o resultado final. Em colorido estão a fotografia, capa da edição impressa,
quadro de anúncios e ícones da seção de destaques – acesso aos outros programas midiáticos do grupo e
suplementos semanais do jornal -, e dos links para o serviço de consulta de pontuação na habilitação, horário de
funcionamento dos postos de saúde de Limeira, programação de cinema e defesa do consumidor. O grafemático
da página inicial do site mescla preto e azul.
31
Fovia seria o primeiro elemento visto pelo receptor em uma página de jornal e revista ou em um site. O fato de
o leitor, no caso específico de veículos impressos, geralmente direcionar o olhar primeiramente às páginas
ímpares faz com que o preço da publicidade nesses espaços seja maior do que em páginas pares.
107
Os suplementos semanais, que são acessados em janelas que se abrem a partir dos links no site, possuem
cores diversas, em tonalidade suaves, quase pastéis. O Lazer Mais acompanha a predominância cromática do
azul na página, o Jornal da Mulher trabalha com o amarelo e o verde, e a Gazetinha com tonalidades do verde,
porém um pouco mais fortes, o que favorece a sensação de lúdico do espaço. As fotografias e ícones dos
suplementos também são coloridas.
Já a página do Lidebrasil promove uma sensação de sentimentos de uma página mais escura, devido ao
tom forte de cinza ao fundo do cabeçalho e da coluna à esquerda. Ainda no cabeçalho, o vermelho do logo da
empresa e o slogan em um quadro amarelo contrastam com o fundo. O colorido forte dos quadros publicitários,
com destaque para o amarelo, azul e verde, também faz o contraste com o fundo branco do espaço central. As
fotos são coloridas e as letras, pretas e azuis.
Percebemos que a cor, supostamente um elemento secundário, é de extrema importância na fixação e
lembrança do site. Um jogo de cores harmônico promove uma sensação de sentimentos de conforto e o
ciberleitor tende à fidelização. Por outro lado, sites com predominância monocromática ou com cores fortes
cansam o usuário e, conseqüentemente, diminuem o tempo de permanência na página. Dos três sites em análise,
a Gazeta de Limeira apresenta o melhor equilíbrio de cores, com fundos azul e branco e elementos coloridos
distribuídos no ecrã.
O azul, qualisigno que no âmbito jornalístico passa a sensação de seriedade e credibilidade, é a cor mais
usada nos dois sites originados a partir de veículos impressos que já seguiam a predominância da cor, inclusive
no logotipo das empresas. O Lidebrasil, por estar desvinculado de demais veículo, deixa a azulidade de lado e
aposta em tons fortes.
4.5. Ícones
As figuras existentes no site do Comércio do Jahu se restringem a uma charge, fotografias, que seria a
primeiridade do ícone, e ícones esquemáticos. A charge e a fotografia da página inicial, ambas coloridas, são as
mesmas publicadas na capa e contracapa da edição impressa vigente e fazem parte do conteúdo jornalístico da
página on-line. A fotografia, porém, não tem legenda, o que eventualmente pode dificultar o estabelecimento da
relação, por parte do usuário, entre a mesma e a notícia. É possível ainda acessar as fotografias publicadas nas
últimas colunas sociais, inclusive de edições passadas, as quais podem ser copiadas para computadores pessoais
108
ou enviadas via e-mail. Essas estão devidamente legendadas, com a identificação das pessoas. As fotografias das
colunas anteriores são visualizadas pela ferramenta de pesquisa do site e todas podem ser copiadas.
Já os ícones, presentes nos quadros dos telefones e no espaço referente à promoção de Natal,
representam uma telefonista, uma pessoa ao telefone e ilustram a premiação da promoção natalina. Também são
coloridos, sendo que os ícones da telefonista, assim como os da promoção, têm recurso para desaparecer, no
primeiro caso, e se alternar, no quadro da promoção.
No site da Gazeta de Limeira, o uso de ícones é maior, como no caso do clássico ícone de envelope para
identificar o e-mail. O ícone sugere correspondência e, em primeiridade, é o ícone do envelope, por semelhança,
índice de correspondência (na secundidade, em contigüidade) e símbolo convencional criado e generalizado pela
linguagem da rede. Assim funcionam os demais ícones da página, como duas máscaras (símbolo do teatro) para
o link do Lazer Mais, onde o ciberleitor confere dicas de cinema e programa-se culturalmente, ou a cruz
vermelha – índice de emergência – no link que contém as informações sobre postos de saúde da cidade. Na
Gazeta, as fotografias tanto jornalísticas quanto sociais não abrem em tamanho maior, mas podem ser igualmente
copiadas pelo usuário.
O uso de ícones, no Lidebrasil, restringe-se aos espaços publicitários, basicamente com os logotipos das
empresas anunciantes. As fotografias, que, nos últimos meses de circulação, possuíam melhor qualidade em
relação ao início do site, podiam igualmente serem usadas pelo ciberleitor.
4.6. Grafemático
O verbal, exceto a parte fixa como logotipo e nomes das seções, é transposto do jornal impresso no caso
da Gazeta de Limeira e Comércio do Jahu. Neste último, as chamadas usadas no site são as duas primeiras linhas
do texto no jornal impresso. Todos os textos, jornalísticos, sociais, de articulistas e notícias nacionais, são
idênticos aos produzidos e veiculados nas páginas impressas de ambos os jornais.
A prática, já discutida anteriormente, é comum principalmente em sites do interior do Estado de São
Paulo os quais foram originados a partir de veículos impressos. Como não há equipe de produção exclusiva para
a página da web, o conteúdo do jornal é copiado para a rede. Mais grave que o tamanho das reportagens, na
maioria das vezes inadequadas para serem colocadas em texto corrido no ciberespaço, é a ausência de
ferramentas cibernéticas, com as quais se poderia pelo menos amenizar as inadequações da transposição. O uso
de links e hipertextos serviria para quebrar a matéria e incrementá-la com informações adicionais. Além disso, a
109
leitura das reportagens torna-se ainda mais cansativa se considerarmos o tamanho das letras, minúsculas quando
transportadas para um programa de editor de texto. O ideal em termos de web seria o desdobramento do assunto,
noticiado em vários textos seqüenciais.
O recurso de desdobramento é usado no site do Lidebrasil. Na página, os textos são produzidos para a
circulação exclusiva na internet e há um cuidado maior com o tamanho das notícias. A maioria das informações
é levada ao leitor em textos curtos, quase notas. Já os assuntos com mais repercussão local ganham destaque no
site, com espaço maior e fotografia. Mesmo assim, o uso de links, que teve início em fase de testes, foi logo
deixado de lado devido a deficiências técnicas e não voltou a ser usado até o fim da circulação da página. Na
ocasião da entrevista com a jornalista responsável, Elaine Knothe, em fevereiro deste ano, o problema estaria
sendo resolvido. Elaine reconhece a necessidade do uso de hipertexto em sites noticiosos e afirma que o link é
uma ferramenta básica no webjornalismo.
4.7. Interação verbal e não-verbal
As fotografias veiculadas nos jornais impressos tendem a ilustrar e, eventualmente, complementar a
notícia. Nos sites analisados não é diferente, principalmente pelo fato de as fotos, assim como os textos, serem os
mesmos dos veículos impressos. No Comércio, geralmente, a fotografia da página na web pertence à matéria
principal, que foi manchete do jornal. No site da Gazeta, a foto nem sempre faz referência à notícia ao lado, mas
impreterivelmente vem acompanhada de um texto-legenda, abaixo.
No Lidebrasil, nas pautas que ganham fotografia, ou seja, que mereceram o criterioso deslocamento da
equipe para o local do fato, também há a interação entre o verbal e o não-verbal.
Nos sites analisados, os ícones dialogam com os serviços ou links que ilustram, como, no caso da
página da Gazeta de Limeira, a cruz vermelha para indicar postos de saúde e duas máscaras de teatro no link do
suplemento semana de lazer e cultura do jornal. No Comércio, há o desenho de uma telefonista no quadro que
informa a mudança do telefone do jornal.
4.8. Interatividade e usabilidade
110
Dos elementos interativos propostos por Steve Outing
32
(item 1.5.1.), constatamos que nem mesmo os
mais simples, como endereços eletrônicos dos repórteres, estão presentes nos sites analisados. O que dizer então
de itens como adicionar comentários de usuários à dos críticos profissionais, construir interatividade nas
histórias, incentivando o envolvimento ativo e on-line do público, ou mesmo contratar um especialista para
discutir com os visitantes da página.
Constatamos, assim, nos sites da Gazeta de Limeira e Comércio do Jahu, cujas empresas possuem o
veículo impresso, a mera transposição das notícias produzidas para a edição impressa, como já dito
anteriormente. Nos dois casos, não há preocupação imediata em implementar melhorias em tais espaços virtuais
nem sequer buscar anunciantes. Os sites servem como vitrina do produto impresso. A questão da interatividade e
da existência de elementos que a concretizem é deixada de lado, esquecida. A busca do estreitamento de laços
com o leitor, via rede, parece não despertar a atenção dos proprietários.
Já no Lidebrasil, espaço com produção voltada
exclusivamente para veiculação na internet, a
interatividade é tratada com maior atenção, mas ainda
assim, por falta de recursos, os principais elementos que
caracterizariam uma relação interativa com o ‘outro
lado’, como existência de fóruns de discussão, chats,
inserção de comentários dos leitores ao final das matérias
entre outros, inexistem no site.
Sem dúvida, a inserção de elementos demanda
investimentos tecnológicos e humanos os quais acarretam
custos. No entanto, nota-se uma negligência dos
proprietários de veículos de comunicação regionais e,
especificamente das páginas da Gazeta de Limeira e do
Comércio do Jahu, em manter um espaço na internet
realmente interativo, o qual explore todas as
potencialidades da rede.
Portanto, nos sites analisados, o jornalismo regional que
se pratica na internet, quando não é cópia do veículo
principal da empresa de mídia, ainda está em um estágio
embrionário. Em nenhum deles há a preocupação de se
estabelecer uma efetiva interação com o internauta, a não
ser por meio da troca não-simultânea de mensagem,
geralmente contendo críticas ou sugestões de pautas. A
falta de profissionais para comercializar os espaços
publicitários nos sites e produzir textos adequados faz
com que os potenciais anunciantes não sejam contatados e
convencidos a investir na rede. Isso aumenta o
desconhecimento e desconfiança dos mesmos em relação
à publicidade em sites e sedimenta a inoperância das
32
Colunista da revista Editor&Publisher Interactive, o qual propôs uma lista de elementos que concretizam a
interatividade em sites.
111
páginas. Além disso, os ciberleitores não criam um hábito
de consumo de notícias regionais pela internet e migram
para portais noticiosos nacionais e internacionais.
Diante da situação, a consciência dos proprietários
precisa ser despertada no sentido de formar uma equipe
de profissionais preparada para apresentar um produto
eficiente e, a partir disso, estabelecer um público cativo e
fiel, com devida formação de uma consciência de consumo
de notícias regionais on-line, as quais deverão possuir,
indistintamente, características próprias e recursos
interativos.
Em termos de usabilidade, apesar de os sites da
Gazeta e Comércio serem de fácil navegação, tais espaços
não foram concebidos considerando as necessidades,
metas e objetivos a serem alcançados por um novo
produto. Antes, basearam-se em páginas noticiosas pré-
existentes. Mesmo assim, até pela padronização de layouts
de sites com conteúdo midiático, o usuário consegue
acessar notícias, pesquisar no arquivo digital e usar
demais serviços. No Lidebrasil, percebemos que a
concepção do projeto gráfico demandou maior cuidado, e
por ter menos links, também é de fácil manuseio.
112
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A comunicação da informação em sites noticiosos
regionais, especificamente nas páginas que foram criadas
a partir de veículos impressos, principalmente no interior
do Estado de São Paulo, não concretizam o princípio de
interatividade midiática possibilitado pela internet.
A mera transposição de conteúdos produzidos para serem
consumidos no suporte impresso minimiza e despreza
todas as mudanças trazidas pela rede na comunicação
midiática. O ciberleitor não precisa da internet para ver
repetidas as notícias do jornal impresso que recebe
diariamente em casa ou pode comprar na banca. Um site
dito noticioso deveria, antes, representar uma via direta,
on-line, com os produtores de conteúdo, por meio da qual
os usuários sugeririam pautas, teceriam sugestões e
comentários a respeito de matérias veiculadas,
contatariam outros ciberleitores e dialogariam com
especialistas participantes de fóruns de discussão.
No entanto, ao navegarmos no cibermundo limitado dos
três sites escolhidos, Gazeta de Limeira, Comércio do
Jahu e Lidebrasil, notamos que há uma quase ausência de
elementos interativos. No caso do Comércio e da Gazeta,
nem sequer os endereços eletrônicos dos jornalistas
constam no site. O fato precisa ser denunciado e suas
causas, quaisquer que sejam, combatidas.
As entrevistas do capítulo 2 explicitam que a deficiência
inicia-se no dilema: tenho que conseguir anunciantes para
produzir conteúdo específico ou vice-versa? Os
proprietários dos veículos impressos que possuem sites,
bem como os responsáveis por pequenas páginas
noticiosas, como no caso do Lidebrasil, angustiam-se ao
constatar que não há profissionais competentes para
comercializar banners publicitários virtuais. O mercado
carece de equipes de vendas especializadas neste novo
ambiente de mídia. As agências de publicidade, por sua
vez, nem sequer oferecem material e disponibilidade para
criar anúncios para sites. Essa engrenagem sedimenta a
desconfiança dos potenciais anunciantes, condenando-os
ao desconhecimento da internet como espaço publicitário,
além de desperdiçar a oportunidade de fidelizar no site
um público diferenciado do jornal impresso.
O procedimento de se transportar o texto do jornal impresso ipsis litteris para a página da web, sem
adequar a linguagem nem sequer a apresentação do mesmo, provoca a inércia de toda a estrutura. Os textos
longos feitos para o suporte de papel, os quais poderiam ser desdobrados ou divididos em hipertextos, são
inadequados para o consumo via tela do computador.
113
Nas palavras de Nicola (2003):
Levando-se em conta, ainda, a natureza tecnológica do mundo on-line, outro
aspecto inquietante é o desconhecimento de muitos profissionais de comunicação sobre a
Web como mídia, formulando conceitos e projetos desvinculados do sistema, graças a
um modismo tecnicista mercadológico. Na esteira deles, posicionamentos e práticas
distanciados dessa realidade ampliam a distância entre mito e realidade (NICOLA,
2003, p. 148).
A padronização dos sites, com layout e apresentação semelhante de seções e serviços, bem como o
destaque para signos exteriores da web, geralmente pertencentes ao veículo impresso, evidenciam o papel do
espaço virtual para a empresa. No site do Comércio, por exemplo, os quadros sobre a mudança de telefone da
empresa são vermelhos e piscam ininterruptamente, disputando com o conteúdo jornalístico a atenção do
usuário.
Além disso, constatamos que não houve um projeto gráfico, na ocasião da concepção do site, tanto no
Comércio quanto na Gazeta, que considerasse as necessidades e objetivos de cada empresa na internet. A
investida foi feita tomando-se como base outros sites noticiosos já existentes, pois era preciso apenas delimitar
espaço na rede, independente da qualidade do produto. Não é o caso do site do Lidebrasil, cuja interface e
conteúdo eram voltados para a demanda local e procuravam atender os anseios do público-alvo, mas que,
mesmo assim, não conseguiu se manter e precisou sair de circulação. Isso demonstra que, quando se almeja
qualidade, é preciso estar preparado para enfrentar a rede ou, como nos sites originados a partir de jornais
impressos, tratá-la como reles modo de exposição, transposicionando, além do conteúdo, os vícios do jornal
impresso para a web.
Fazer da internet uma vitrina de jornais impressos, subvertendo potencialidades imanentes desse meio,
diminui a capacidade da rede de concretizar a consciência contínua de C.S. Peirce, a qual nos é apresentada no
texto A Lei da Mente. Peirce defende que uma mente excitada vai se propagando e excitando as demais mentes.
Durante o processo, as noções relativistas de tempo e espaço são quebradas, pois a lei da mente não tem um
sentido mecânico, antes, a mente é um espaço virtual infinitamente complicado e que não se reduz, portanto, a
uma temporalidade cronológica. O fluxo gera uma consciência contínua e garante a criação de signos por meio
de processos semióticos infinitos. Portanto, quando a interatividade com o usuário é escassa, nos sites, não há
uma efetiva concretização do processo de afetabilidade, e a geração de novos signos fica comprometida.
114
É preciso desafiar e, acima de tudo, investir na rede, pelo menos na realidade do corpus analisado. Ver a
internet como um ambiente de mídia capaz de incrementar os produtos da empresa oferecidos aos usuários e,
eventualmente, cativar um público consumidor de notícias via web. Trabalhar a linguagem das matérias e a
apresentação das notícias na página, que não pode ser a mesma de um veículo impresso. Fazer do site um atalho
para o feedback do leitor, tanto da web quanto do impresso. Expandir a gama de serviços oferecidos, tendo a
interatividade como carro-chefe. Promover fóruns de discussão relativos a assuntos locais e atuais, convidando
especialistas a dialogar com usuários e, assim, valorizar o espaço telemático.
A incrementação de conteúdos e serviços atrai o usuário, que naturalmente navega por mais tempo pelo
site, aumentando as chances de atingir a terceiridade, ou seja, perceber os legisignos, símbolos e interpretantes
argumentativos existentes na página e tão-somente conhecidos pelo criador ou em uma observação analítica.
Uma página sem atrativos leva o usuário a fazer apenas uma rápida incursão, a qual não permite o alcance da
terceiridade. Nesse estágio inicial, há apenas a apreensão das cores, linhas e formas.
Em contrapartida, ao permitir a concretização da terceiridade, o ciberleitor, além de sentir-se
devidamente informado em termos de notícias regionais via rede, terá elementos para oferecer sugestões e
contribuições efetivas, tanto para o site quanto para o jornal impresso, que também pode ter seu conteúdo e
layout melhorados com a intensa comunicação com o ciberleitor.
115
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