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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
ASSOCIAÇÃO DE MICELAS MISTAS DE SURFACTANTES
ANIÔNICOS COM O POLÍMERO HIDROFOBICAMENTE
MODIFICADO ETIL( HIDROXIETIL) CELULOSE (EHEC)
ALEXANDRE GONÇALVES DAL-BÓ
ORIENTADOR
PROF. Dr. EDSON MINATTI
CO-ORIENTADOR
PROF. Dr. DINO ZANETTE
Florianópolis, 08 de fevereiro de 2007.
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II
Alexandre Gonçalves Dal-Bó
ASSOCIAÇÃO DE MICELAS MISTAS DE SURFACTANTES
ANIÔNICOS COM O POLÍMERO HIDROFOBICAMENTE
MODIFICADO ETIL( HIDROXIETIL)CELULOSE (EHEC)
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em
Química no Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de
Santa Catarina
Florianópolis, 08 de fevereiro de 2007.
____________________________
Prof. Dr. Ademir Neves
Coordenador do Programa
BANCA EXAMINADORA
_______________________
Prof. Dr. Edson Minatti
Orientador
(UFSC)
__________________________ _______________________
Prof. Dr. Nito Ângelo Debacher Prof. Dr. Dino Zanette
(UFSC) Co-orientador
(UFSC)
______________________ _______________________
Prof. Dr. Sergio Duvoisin Jr. Prof. Dr. José Carlos Gesser
(UNISUL) (UFSC)
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III
AGRADECIMENTOS
Ao orientador professor Dr. Edson Minatti e ao co-orientador professor Dr.
Dino Zanette por toda dedicação, conhecimentos transmitidos e pela amizade
adquirida ao longo do tempo.
Aos professores Nito A. Debacher, Sergio Duvoisin Jr. e José C. Gesser
que participaram da Banca Examinadora.
Aos colegas e amigos dos laboratórios 205 e 305.
Aos colegas de Pós-Graduação.
Ao Jadir e a Graça pela amizade e serviços prestados.
A minha família por toda a confiança que foram em mim confinadas.
A minha querida namorada Emanuela Valério Mendes.
Aos meus amigos Ângelo Adolfo Ruzza “passarinho”, Arlindo Cristiano
Felippe, Davi da Silva, Rogério Laus e Zé Luis.
A todos os professores, que de alguma forma contribuíram para o meu
aprendizado.
Ao CNPq pelo suporte financeiro.
A Deus.
Meu Muito Obrigado
IV
LEMBRETES
(Carlos Drummond de Andrade)
Se procurar bem, você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida,
mas a poesia (inexplicável) da vida.
Dedico esta Dissertação a três
pessoas muito especiais em
minha vida: minha namorada
Emanuela e meus pais Ari e
Neide; as maiores fontes de
felicidade nessa minha vida...
V
ÍNDICE GERAL
Índice de Figuras........................................................................................................VIII
Índice de Tabelas...........................................................................................................XI
Abreviaturas.................................................................................................................XII
Resumo........................................................................................................................XV
Capítulo I
Introdução.............................................................................................................1
1.1. Surfactantes........................................................................................1
1.2. Micelas...............................................................................................4
1.3. Misturas de Surfactantes....................................................................7
1.4. Polímeros............................................................................................9
1.5. Celulose..............................................................................................9
1.6. Soluções Diluídas e Semi-Diluídas de EHEC..................................13
1.7. Interação Polímero-Surfactante........................................................14
1.8. Técnicas para Análise da Interação Polímero-Surfactante...............19
1.8.1. Tensão superficial............................................................19
1.8.2. Condutividade Elétrica e Concentração Micelar
Crítica (cmc)...................................................................21
1.8.3. Condutividade Elétrica de Complexos
Polímero-Surfactante......................................................22
1.8.4. Transmitância.................................................................23
1.8.5. Viscosidade.....................................................................24
Relevâncias e Objetivos......................................................................................26
Capítulo II
Parte Experimental.............................................................................................28
2.1. Materiais e Reagentes.....................................................................28
2.2. Equipamentos e Métodos Utilizados................................................29
VI
2.2.1. Método Turbidimétrico......................................................29
2.2.2. Método Viscosimétrico...................................................... 29
2.2.3. Método Tensiométrico........................................................29
2.2.4. Método Condutivimétrico....................................................30
2.2.5. Método Espectrofotométrico...............................................30
Capítulo III
Resultados e Discussões.....................................................................................31
3.1. Turbidimetria da EHEC...................................................................31
3.2. Determinação do Regime de Concentração da EHEC....................32
3.3.
Tensão Superficial...........................................................................33
3.3.1. Tensão Superficial de Misturas de SDS e EHEC...............33
3.3.2. Tensão Superficial de Misturas de SDoD e EHEC............35
3.3.3. Tensão Superficial de Misturas de SDS-SDoD e EHEC...36
3.3.4. Adsorção na Interface........................................................37
3.4. Condutividade Elétrica....................................................................38
3.4.1. Condutividade Elétrica de Misturas de SDS e SDoD na
Ausência de EHEC............................................................38
3.4.2. Grau de Ionizaçao de Misturas de SDS e SDoD na
Ausência de EHEC............................................................42
3.4.3. Comportamento Ideal para Mistura SDS e SDoD na
Ausência de EHEC............................................................44
3.4.4. Condutividade Elétrica de Misturas de SDS e SDoD na
Presença de EHEC............................................................45
3.4.5. Comportamento Ideal para Mistura SDS e SDoD na
Presença de EHEC............................................................48
VII
3.5. Medidas de psp Obtidas por Condutividade Elétrica e Tensão
Superficial.......................................................................................50
3.6. Variação da Concentração do Polímero EHEC em Fração Molar
Constante da Mistura SDS-SDoD...................................................51
3.7. Transmitância..................................................................................54
Capítulo IV
Conclusões..........................................................................................................59
Referências Bibliográficas..................................................................................60
VIII
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Estrutura do surfactante (SDoD). 1
Figura 2. Secção transversal de uma micela iônica esférica típica. 4
Figura 3. Equilíbrio de formação de micelas em solução. 5
Figura 4. Algumas técnicas utilizadas para determinação da cmc. 6
Figura 5. Representação do modelo de Stigter para a estrutura micelar. 7
Figura 6. Representação esquemática de uma solução contendo dois tipos de
surfactantes.
8
Figura 7. Estrutura da celulose in-natura e visualização das ligações de
hidrogênio que mantêm as cadeias adjacentes juntas.
11
Figura 8. Ilustração de reações típicas de obtenção de Éteres de celulose. 12
Figura 9. Representações dos regimes de concentrações. 14
Figura 10. Estrutura da etil(hidroxietil) celulose, EHEC. 16
Figura 11. Viscosidade reduzida vs. [SDS] em presença de diferentes [EHEC]. 17
Figura 12. Modelo de associação EHEC-SDS proposto por interpretação de
medidas de viscosidade.
17
Figura 13. Curva de tensão superficial vs. [surf.] mostrando a cmc. 20
Figura 14. Tensão superficial vs. Log da [surfactante] mostrando cac e psp na
presença de polímero.
20
Figura 15. Perfil de condutividade específica versus [surfactante] indicando a
cmc e formação de micelas.
22
Figura 16. Condutividade específica versus [surfactante] em presença de
polímero.
23
IX
Figura 17. Perfil de viscosidade reduzida em função das concentrações diluídas
de EHEC em 20 mM de tampão borato, pH 9.20.
32
Figura 18. Tensão superficial do SDS na ausência e em presença de EHEC. 34
Figura 19. Tensão superficial do SDoD na ausência e em presença de EHEC. 36
Figura 20. Tensão superficial na presença de EHEC em função da [surf.]
obtidos nas frações molares de SDS.
37
Figura 21. Condutividade específica vs. [SDoD] na ausência de EHEC 40
Figura 22. Condutividade específica vs. [SDS] na ausência de EHEC. 40
Figura 23. Condutividade específica vs. [SDoD + SDS] na ausência de EHEC. 41
Figura 24. Variação da cmc da mistura SDS-SDoD em função da fração molar
de SDoD mostrando o comportamento ideal da mistura.
44
Figura 25. Variação da composição monomérica das micelas mistas segundo a
teoria da solução ideal em função da fração molar de SDoD.
45
Figura 26. Condutividade específica em presença de 0,1% (m/v) de EHEC em
20 mM de tampão borato/NaOH, pH 9,2 a 25
0
C em função da [surf.]
obtidos para diferentes frações molares de SDS.
46
Figura 27. Variação da cac da mistura SDS-SDoD em função da fração molar
de SDoD em presença de 0,1% (m/v) de EHEC mostrando o
comportamento ideal da mistura.
49
Figura 28. Variação do psp da mistura SDS-SDoD, medidos por condutividade
elétrica e por tensão superficial em função da fração molar de
SDoD em 0,1 % (m/v) de EHEC.
50
Figura 29. Variação do primeiro e segundo ponto de inflexão, cac e psp, em
função da concentração de EHEC, obtidos para diferentes frações
molares de SDoD medido por condutividade elétrica.
52
Figura 30. Perfil de transmitância em presença de 0,1% (m/v) de EHEC em
função da [surf.] obtido para fração molar fixa 0,50 de SDoD.
54
X
Figura 31. Medida de transmitância e condutividade elétrica em função da
[SDS] em presença de 0,1% (m/v) de EHEC.
55
Figura 32. Variação da cac da mistura SDS-SDoD com a fração molar de
SDoD, em presença de 0,1% (m/v) de EHEC obtidos por
transmitância.
56
Figura 33. Medida de viscosidade reduzida e Transmitância em função da
[SDS] na presença de 0,2% EHEC em ambos os perfis.
57
Figura 34. Perfis de transmitância na ausência de EHEC em 20mM de tampão
borato/NaOH, pH 9.20, a 25 ºC em função da [surf.] obtidos para
SDS e SDoD.
58
XI
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Classificação e alguns exemplos de surfactantes. 3
Tabela 2. Aplicações comerciais de éteres de celulose. 12
Tabela 3. Grandeza e terminologia utilizadas na viscosimetria de soluções
diluídas.
25
Tabela 4. Parâmetros obtidos a partir dos perfis de tensão superficial para
misturas SDS-SDoD em presença de 0,1% (m/v) de EHEC.
38
Tabela 5. Parâmetros de micelização obtidos por condutividade elétrica
para misturas de SDS e SDoD na ausência de EHEC.
43
Tabela 6. Parâmetros de micelização obtidos por condutividade elétrica
para misturas de SDS e SDoD em presença de EHEC.
48
XII
ABREVIATURAS
EHEC Etil(hidroxietil) celulose
SDS Dodecilsulfato de Sódio
SDoD Dodecanoato de Sódio
SDeC Decanoato de Sódio
Surf. Surfactante
cmc Concentração Micelar Crítica
cac Concentração de Agregação Crítica
psp Ponto de Saturação do Polímero
DoTAB Brometo de Dodeciltrimetilamônio
CTAB Brometo de Cetiltrimetilamônio
cmc
A
Concentração Micelar Crítica do Surfactante A
cmc
B
Concentração Micelar Crítica do Surfactante B
cmc
Exp
Concentração Micelar Crítica Experimental para uma Mistura de Surf.
cmc
Ideal
Concentração Micelar Crítica segundo a Teoria da Solução ideal
χ Fração Molar
χ
A
Fração Molar do Surfactante A na Solução
χ
B
Fração Molar do Surfactante B na Solução
x Fração de Monômeros do Surfactante na Micela
x
A
Fração de Monômeros do Surfactante A na Micela
x
B
Fração de Monômeros do Surfactante B na Micela
DS
alquil
Grau de substituição de grupos alquil
MS
EO
Grau
de substituição molar de grupos óxido de etileno
vs. Versus
MC Metilcelulose
MHEC Metil(hidroxietil) celulose
MHPC Metil(hidroxipropil) celulose
HEC Hidroxietil celulose
HPC Hidroxipropil celulose
CMC Carboximetil celulose
XIII
c* Concentração crítica (overlap)
[η] Viscosidade intrínseca
w
M
Massa molar ponderal média
N
A
Número de Avogadro
R
g
Raio de giro
R
h
Raio hidrodinâmico
A
2
Segundo coeficiente virial
γ Tensão Superficial
PEO Poli(óxido de etileno)
Γ Excesso de surfactante na superfície
α Grau de Ionização
Λ
m
Condutividade molar
SI Sistema Internacional
Ohms
κ Condutividade Específica
S
1
Coeficiente Angular do Perfil de Condutividade Específica vs. [surf]
abaixo da cmc e/ou cac na presença de polímero
S
2
Coeficiente Angular do Perfil de Condutividade Específica vs. [surf]
entre a cac e o psp
S
3
Coeficiente Angular do Perfil de Condutividade Específica vs. [surf]
acima da cmc e/ou psp na presença de polímero
α
1
Grau de Ionização das Micelas (S
3
/S
1
)
α
2
Grau de Ionização dos Complexos Polímero-Surfactante (S
2
/S
1
)
P
0
Feixe de energia da Radiação Incidente
P Feixe de energia da Radiação Emergente
T Transmitância
η
red
Viscosidade Reduzida
[ ] Concentração em mol.L
-1
M Molaridade
mM Milimolar
BSA Albumina do Soro Bovino
XIV
PVP Poli(vinilpirrolidona)
λ Condutância Equivalente
λ
Na
+
Condutância Equivalente do Íon Sódio
λ
DS
-
Condutância Equivalente do Íon Dodecilsulfato
λ
DoD
-
Condutância Equivalente do Íon Dodecanoato
XV
RESUMO
As propriedades de misturas de etil(hidroxietil) celulose (EHEC) e
dodecanoato de sódio (SDoD) em solução tampão borato/NaOH, pH 9,20, a 25,0
0
C,
foram aqui investigadas por meio de medidas de tensão superficial, condutividade
elétrica e transmitância. Experimentos paralelos com misturas de EHEC e
dodecilsulfato de sódio (SDS) foram executados. Também foi investigada a formação
de micelas mistas do SDoD com o SDS na ausência e em presença de EHEC e frações
fixas da mistura de surfactantes variando a concentração de polímero.
Foram analisados parâmetros de associação obtidos a partir dos perfis de
condutividade elétrica e tensão superficial como concentração micelar crítica (cmc),
concentração de agregação crítica (cac), ponto de saturação do polímero (psp) e outras
características como a inclinação nos perfis de condutividade específica versus
[surfactante], o efeito da concentração do polímero nos parâmetros cac e psp. Em
todas as frações, ambos os surfactantes interagem com o polímero, sendo a interação
altamente influenciada pela composição dos agregados micelares, ou seja, pela fração
de cada surfactante na mistura.
Foi estudado o efeito da concentração do polímero nos parâmetros cac e
psp para reforçar que o processo de ligação dos surfactantes SDS e SDoD ao polímero
é fortemente cooperativo e que a mistura formada pelos surfactantes SDS e SDoD
define um sistema ideal. A transmitância, embora observe diferentes propriedades da
solução, qualitativamente indica resultados idênticos àqueles que à técnica de
viscosidade reduzida em função da [Surf.] tem apresentado, e também serviu como
suporte para os valores de cac encontrados na condutividade elétrica e tensão
superficial evidenciando que a mistura dos surfactantes SDS e SDoD comporta-se de
forma ideal em presença de EHEC.
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1. Surfactantes
Surfactantes é uma interessante classe de compostos amplamente estudada
devido a grande aplicabilidade industrial e científica. Desempenha funções em muitos
processos industriais, desde os mais simples, como lavagem de materiais até os mais
sofisticados como em microeletrônica. Na área científica são muito utilizados como
catalisadores de reações químicas (catálise micelar) entre várias outras aplicações. Tais
desenvolturas deve-se à capacidade de modificações das propriedades físico-químicas
que promovem quando em solução.
Os Surfactantes são agentes de superfície ativa (tensoativos), popularmente
conhecidos como sabão e detergente. Eles são moléculas anfifílicas cujas estruturas
moleculares caracterizam-se por apresentar, no mínimo, duas regiões distintas, uma
parte hidrofílica (polar) que tem afinidade com a água e uma outra hidrofóbica (apolar)
que tem afinidade com gorduras.
1-3
Como conseqüência destas características, algumas
destas substâncias atuam como agentes emulsificantes, dispersantes e/ou
solubilizantes.
O dodecanoato de sódio (SDoD) (Figura 1), exemplifica as características
ambíguas da estrutura molecular típicas de compostos tensoativos. Apresenta uma
longa cadeia alquílica, praticamente insolúvel em água, ligada covalentemente a o
grupo iônico carboxilato.
C
O
Na
O
Dodecanoato de sódio (SDoD)
"cauda" hidrofóbica
"cabeça" hidrofilica
Figura 1. Estrutura do surfactante (SDoD).
2
Os surfactantes têm a capacidade e a tendência de adsorverem-se em
interfaces ar-água, óleo-água, em polímeros produzindo estruturas ordenadas e em
sólidos conferindo melhoramento de propriedades de materiais para fins práticos e
industriais. Assim, em muitas formulações de produtos comerciais estão presentes
diferentes tipos de interfaces. Exemplos familiares são as tintas a base de água,
detergentes e materiais de limpeza. Sob o ponto de vista coloidal, eles formam
sistemas estruturalmente complicados porque podem conter em equilíbrio ambas as
interfaces, sólido-líquida (quando tem partículas de pigmento dispersas) e líquido-
líquida (látex). De qualquer forma, a tendência em acumular-se em interfaces é a
propriedade fundamental dos surfactantes.
4
Nas últimas décadas, o uso de tensoativos teve um aumento significativo
em praticamente todos os campos da Química Analítica, devido a suas características
em modificar diferentes propriedades reacionais associadas aos crescentes emprego
destes compostos nos mais variados produtos de forma natural ou sintética.
5
Assim, agregados formados por surfactantes tais como micelas, vesículas,
monocamadas e complexos polímero-surfactante são amplamente estudados porque
possuem interfaces anisotrópicas que separam uma região aquosa, portanto hidrofílica,
de uma região hidrofóbica cujas características são tipicamente de um óleo. O
relevante aspecto destas interfaces é de que elas podem controlar propriedades físicas e
induzir mudanças de reatividade química e biológica. Estes sistemas têm sido usados
com freqüência para mimetizar reações química-biológicas uma vez que,
essencialmente in vivo, as reações ocorrem em interfaces, e eles constituem sistemas
menos complexos do que membranas biológicas.
6
Os surfactantes são classificados conforme a natureza do grupo hidrofílico
em:
a) Catiônicos: Possuem a parte hidrofílica da molécula constituída por
um átomo ou grupo carregado positivamente.
b) Aniônicos: Apresentam na parte hidrofílica da molécula um átomo ou
grupo carregado negativamente.
3
c) Zwitteriônicos: A classe mais conhecida possui grupamentos com
características ácidas ou básicas e passam a ter o comportamento
aniônico ou catiônico dependendo do pH do meio.
d) Não-iônicos: Caracterizam-se por ter uma estrutura polar que interage
fortemente com a água, principalmente por ligações de hidrogênio.
Alguns exemplos de surfactantes, classificados de acordo com o grupo
polar, podem ser vistos na Tabela 1.
Tabela 1. Classificação e alguns exemplos de surfactantes.
Surfactante Fórmula Classificação
Brometo de dodeciltri-
Metilamônio (DoTAB)
CH
3
(CH
2
)
11
N
+
(CH
3
)
3
Br
-
Catiônico
Brometo de cetiltrimetilamônio
(CTAB)
CH
3
(CH
2
)
15
N
+
(CH
3
)
3
Br
Catiônico
Dodecilsulfato de sódio (SDS)
CH
3
(CH
2
)
11
SO
-
4
Na
+
Aniônico
Decanoato de sódio (SDeC)
CH
3
(CH
2
)
8
COO
-
Na
+
Aniônico
Propionato de N-alquil-N,N-
dimetil-β-alquilamônio
CH
3
(CH
2
) N
+
(CH
3
)
2
CH
2
CH
2
COO
-
Zwitteriônico
N-dodecil-N,N-dimetil-betaína
C
12
H
25
N
+
(CH
3
)
2
CH
2
COO
-
Zwitteriônico
Óxido de dodecil dimetilamina
CH
2
C
12
H
25
N
CH
2
O
Não-iônico
N-aquilfenol-m-polioxietileno
CH
3
(CH
2
)
n
-C
6
H
4
-O(CH
2
CH
2
O)
m
H
Não-iônico
4
1.2. Micelas
As moléculas de surfactante podem associarem-se formando uma variedade
de possíveis nano-estruturas dependendo da estrutura molecular, da concentração e da
composição do sistema.
7
A Figura 2 mostra uma secção transversal de uma micela
iônica esférica formada em meio aquoso.
ÁGUA
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Figura 2. Secção transversal de uma micela iônica esférica típica.
8
Micelas são agregados tipicamente coloidais nano-estruturadas. Em solução
diluída, os surfactantes iônicos atuam como eletrólitos fortes, porém, com o aumento
da concentração, observa-se bruscas mudanças de propriedades físicas da solução. Esta
concentração é definida como concentração micelar crítica (cmc).
1,5
Assim, a cmc
pode ser definida como a concentração máxima na qual o monômero é solúvel. A
partir, desta concentração os monômeros rearranjam-se espontaneamente de tal forma
que adquirem uma conformação termodinâmica estável e solúvel (Fig. 3).
1,2,5,7,9
Este
fenômeno deve-se à ação do efeito hidrofóbico, isto é, à alta organização das
moléculas de água que promovem a auto-associação das caudas hidrofóbicas dos
monômeros e, em conseqüência, a formação dos agregados.
10
Assim, micelas são
agregados coloidais formados por moléculas de surfactantes em equilíbrio com seus
monômeros resultando em conformações termodinamicamente estáveis.
9
5
Figura 3. Equilíbrio de formação de micelas em solução.
A cmc é, portanto, a menor concentração de surfactante na qual as micelas
se formam. Em contrapartida, a cmc é também vista como a solubilidade máxima em
água do monômero. Os valores da cmc dependem da hidrofobicidade da cadeia
hidrocarbônica, da carga do surfactante, da natureza da cabeça polar, do contra-íon, e
do tipo de concentração do eletrólito adicionado. Depende ainda da temperatura,
pressão e da concentração de aditivos iônicos e moleculares.
11,12
O número de
monômeros de surfactante que se agregam para formar as micelas é chamado de
número de agregação.
As micelas iônicas são globulares ou esféricas, quando em baixas
concentrações de sais e do surfactante, mas elas tornam-se semelhantes a bastões em
altas concentrações de sal e do surfactante. A transição entre as formas é uma
característica de micelas iônicas tanto de surfactantes aniônicos como catiônicos .
7
A formação de micelas pode ser detectada através de medidas da variação
de propriedades físicas em função da concentração do surfactante. As propriedades
mais utilizadas são tensão superficial, condutividade elétrica, espalhamento de luz, pH
pressão osmótica e solubilidade. A Figura 4 mostra um conjunto de gráficos
característicos de propriedades físicas usualmente utilizadas para determinar a cmc.
6
É importante salientar que a mudança de uma determinada grandeza física
na cmc, ocorre em uma faixa de concentração, mas é definida por um ponto do gráfico,
conforme a técnica aplicada para defini-lo (Figura 4).
Para surfactantes iônicos, a cmc decresce por um fator de dois por grupo
metilênico enquanto que, a dos não-iônicos decresce por fator de três. Em geral, os
não-iônicos têm valores de cmc proporcionalmente menores do que os iônicos porque
são menos solúveis em água.
T
u
r
b
i
d
e
z
Tensão Superficial
C
o
n
d
u
t
i
v
i
d
a
d
e
E
s
p
e
c
í
f
i
c
a
P
r
e
s
s
ã
o
O
s
m
ó
t
i
c
a
0,01M
0,02M
Concentração surfactante mol L
-1
0,0M
cmc
Figura 4. Algumas técnicas utilizadas para determinação da cmc.
Diversos são os modelos que descrevem a estrutura e o comportamento de
micelas. Dentre os mais aceitos destaca-se o modelo de Stigter (Figura 5). No modelo,
os monômeros organizam-se em forma esférica, onde todas as porções hidrofóbicas do
surfactante estão voltadas para o centro, formando o núcleo, e os grupamentos
hidrofílicos na superfície da esfera formando uma interface com a água. O diâmetro do
núcleo micelar varia com o tamanho da cauda do surfactante. Para o SDS é cerca de
3,6 nm.
1,5,13
A camada de Stern é formada pelas cabeças iônicas do surfactante e seus
respectivos (1-a)n contra-íons não dissociados. A camada de Stern compreende a parte
compacta da dupla camada elétrica que circunda a superfície externa da esfera micelar.
A camada de Gouy-Chapman seria a camada mais difusa que contém os contra-íons
remanescentes distribuídos, conforme o potencial iônico da superfície, até a água.
13
7
Camada de Gouy-Chapman
Camada de Stern
Interface Micelar
Núcleo Micelar
Figura 5. Representação do modelo de Stigter de estrutura micelar.
13
1.3. Misturas de Surfactantes
Misturas de surfactantes são encontradas em diversas aplicações práticas.
Dentre elas, destacan-se a área de cosméticos, a qual utiliza tal benefício da mistura
em prol da qualidade do produto final. Essas misturas podem ter duas origens:
primeiro, podem surgir durante o processo de fabricação do surfactante, uma vez que a
obtenção destes compostos isomericamente puros encarece o processo de produção.
Segundo esta mistura pode ser feita intencionalmente a fim de se obter um melhor
resultado para um determinado fim, uma vez que uma mistura de uma determinada
quantidade de surfactantes, que apresentam desempenho individual equivalente, pode
ser tão efetiva do que seria se usasse o triplo da mesma quantidade dos surfactantes
individuais. Tal efeito é denominado de sinergia.
14-17
Uma solução contendo mistura de surfactante é esquematicamente ilustrada
na Figura 6, onde os componentes são indicados por círculos de cores diferentes,
representado o grupo polar. A Figura 6 mostra uma micela mista, uma monocamada na
interface ar-solução e uma bicamada na interface sólido-solução. A distribuição de
cada surfactante na fase micelar e na fase monomérica depende da estrutura dos
surfactantes presentes, bem como, da composição total da solução. Uma vez que a
composição da fase micelar e monomérica é crucial para o comportamento do sistema,
a habilidade para se prever a composição do sistema, dada à composição total da
solução, é de fundamental importância.
7
8
Figura 6. Representação esquemática de uma solução contendo dois tipos de
surfactantes. As cores diferentes representam grupos polares diferentes.
7
Misturas de surfactantes que pertencem à mesma classe hidrofílica e
hidrofóbica possuem propriedades que podem ser previstas a partir de propriedades
dos componentes individuais. Tal mistura é chamada de sistema ideal. Considerando a
micela como uma “fase condensada” em equilíbrio com seu monômero dissociado,
considerado a “fase gasosa”, a cmc é considerada a pressão de vapor do sistema, sendo
este tratamento chamado de modelo da pseudofase.
18
Numa mistura binária formada pelos surfactantes A e B, a cmc da mistura
de um sistema ideal pode ser determinada pela fração molar de um dos componentes
da mistura (χ) e a cmc dos surfactantes individuais, conforme mostra a Equação.1.
(1)
Ideal
ABBA
BA
cmccmc
cmccmc
cmc
χχ
+
=
onde, cmc
Ideal
é a concentração micelar crítica segundo a teoria da solução ideal, cmc
A
e
cmc
B
é a concentração micelar crítica dos surfactantes A e B respectivamente, e χ
A
e
χ
B
é a fração molar do surfactante A e B respectivamente na solução.
9
A Equação 2 pode ser usada para estimar a composição das micelas mistas
que seguem a teoria da solução ideal. O parâmetro
x
A
refere-se a fração de monômeros
do surfactante A na micela.
(2)
Ideal
A
AA
cmc
cmc
x
χ
=
1.4. Polímeros
O primeiro contato do homem com os polímeros deu-se através de materiais
resinosos e graxas extraídas ou refinadas, durante a antigüidade, pelos os egípcios e
romanos que usavam esses elementos para carimbar, colar documentos e vedar
vasilhames. O termo polímero foi apresentado pela primeira vez em 1832 para
designar compostos de pesos moleculares múltiplos.
19, 20
A palavra polímero origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidade de
repetição). Assim, um polímero é uma macromolécula composta por muitas (dezenas
de milhares) unidades de repetição denominadas meros, ligados por ligação covalente.
Se somente uma espécie de monômero está presente na estrutura do polímero, este é
chamado de homopolímero. Se espécies diferentes de monômeros são empregadas, o
polímero recebe a denominação de copolímero.
13
Dependendo do tipo do monômero (estrutura química), do número médio
de meros por cadeia e do tipo de ligação covalente, podemos dividir os polímeros em
três grandes classes: Plásticos, Borracha e Fibras.
19, 20
1.5. Celulose
A celulose é o principal material estrutural das plantas, constitui o polímero
mais abundante naturalmente. Tem-se estimado que por fotossíntese 10
11
a 10
12
toneladas sejam sintetizadas anualmente dentre muitas formas puras.
21
A celulose é
uma substância fibrosa, resistente e insolúvel na água, encontrada na parede celular
protetiva das plantas, particularmente de hastes, caules, troncos, palhas, folhas de
10
milho e em todas as partes lenhosas dos tecidos vegetais.
21, 22
A madeira é composta
principalmente por celulose e outras substâncias poliméricas; o algodão puro é
formado em 95,0% de celulose. Celulose é homopolissacarídeo linear não ramificado
de 10.000 ou mais unidades de D-glicose unidas por ligações glicosídicas do tipo 1
4; isto a torna muito semelhante a amilose e às cadeias principais do glicogênio,
fazendo da celulose uma molécula rígida e longa. Entretanto há uma diferença muito
importante na celulose, às ligações 14 têm a configuração β, enquanto no
glicogênio, na amilose e na amilopectina as ligações são do tipo
α
. Está diferença
aparentemente sem importância entre as estruturas de celulose e da amilose resulta em
estruturas poliméricas com propriedades muito diferentes. Devido a geometria de suas
ligações
α
(1 4) as cadeias principais de D-glicose no glicogênio e no amido
tendem assumir uma conformação enrolada em hélice que favorece a formação de
grânulos densos, como observado em muitas células vegetais e animais. Já para
celulose que são unidas por ligações glicosídicas β (1 4) assumem conformação
alongada e agregam-se lado a lado formando fibrilas insolúveis. As ligações
α
do
glicogênio do amido são rapidamente hidrolisadas pela
α
-amilase intestinal dos
vertebrados e a glicose assim formada é absorvida e utilizada como combustível rico
em energia, por outro lado na celulose por apresentar ligações β não são hidrolisadas
pela
α
-amilase.
21, 22
Atualmente, a celulose é um dos polímeros mais utilizados pela indústria
em diversos processos, como na da fabricação de papel, de explosivos, de acetato de
celulose (tecidos) e na fabricação de filmes fotográficos.
21-24
A razão prática e comercial do uso provém do fato de ser naturalmente
abundante e de baixo custo. De outro lado, a celulose natural é insolúvel em água,
devido às grandes regiões cristalinas formadas via ligações de hidrogênio entre os
grupos hidroxilas que estão em cadeias poliméricas diferentes, como pode ser
observada na Figura 7. Por isso, a amplitude de seu uso fica limitada considerando que
a maioria dos processos e materiais comerciais é formulada em meio aquoso.
21-23
11
Figura 7. Estrutura da celulose in natura e visualização das ligações de hidrogênio
que mantêm as cadeias adjacentes juntas.
25
Para adapta-lá às condições aquosas e melhora sua aplicabilidade comercial
a solução é modificações químicas (Figura 8). Um caminho bastante utilizado é a
introdução de substituintes hidroxietil e etil às cadeias da celulose. Este processo é
utilizado pela Akzo Nobel Surface Chemistry AB, Suécia. Basicamente, consiste em
atacar a celulose in natura com NaOH para formação de grupos alcóxidos e, com isso,
as cadeias do polímero são forçadas a expandir-se ocorrendo, assim, a diminuição das
regiões cristalinas. Em conseqüência desta modificação química, a celulose torna-se
solúvel em água. Então, adiciona-se óxido de etileno e após, cloreto de etila sob alta
pressão e temperatura, resultando numa celulose solúvel em água, resistente a ataques
enzimáticos, químicos e com atividade superficial.
O grau de substituição, assim como o tipo e o tamanho dos substituintes,
influenciam nas propriedades do éter de celulose em solução, tais como solubilidade,
atividade na superfície e viscosidade.
DS
alquil
e MS
EO
definem o grau de substituição, onde DS
alquil
é o número
médio de substituintes alquil por a unidade de anidroglucose e MS
EO
, por outro lado, é
o número médio de substituintes do óxido do etileno por a unidade do anidroglucose.
12
O
HO
OH
O
C
CelO
R-Cl, NaOH
Cel-O-R
1
Alquilceluloses
R
1
:
CH
3
Metilcelulose
H
5
C
2
Etilcelulose
Carboximetil celulose
Celulose
O
R"
Hidroxialquil celuloses
Cel-O-CH
2
-CH-R
2
-
OH
Cel-O-CH
2
-COO
-
Na
+
Cl-CH
2
-COOH
NaOH
NaOH
NaOH
CN
Cel-O-CH
2
-CH
2
-CN
Cianoetilcelulose
Trifenilcelulose
(C
6
H
5
)
3
CCl
Cel-O-Si-R
3
-
-
CH
3
CH
3
Sililceluloses
Cl-Si(CH
3
)
2
R
3
,
NaOH
R
3
: H
3
C, C(CH
3
)
2
CH(CH
3
)
2
R
2
: H Hidroxietil celulose
H
3
C Hidroxipropil celulose
Figura 8. Ilustração de reações típicas de obtenção de Éteres de celulose.
21
A abundância na disponibilidade, eficiência econômica, manipulação fácil,
aplicação variada, baixa toxicidade, são algumas das razões de seu uso elevado. Uso
de celuloses modificadas, mundialmente, espande-se, e as aplicações podem ser
visualizadas na Tabela 2.
21
Tabela 2. Aplicações comerciais de éteres de celulose.
21
Tipos de Éteres de Celulose
a
Aplicações
MC MHEC MHPC EHEC HEC HPC CMC
Adesivos, cola de papel ++ ++ ++ ++
Tintas, Revestimentos ++ ++ ++ ++ ++
Compostos Cerâmicos ++ ++
Perfuração, Mineração ++
Filmes ++ ++ ++ ++
Papel ++ ++
Agricultura ++ ++ ++
Indústria de Alimentos ++ ++ ++
Indústria de Tabaco ++ ++ ++ ++ ++
Indústria Farmacêutica ++ ++ ++ ++ ++
Detergentes ++ ++ ++ ++
Cosméticos ++ ++ ++ ++ ++
a
MC, metilcelulose; MHEC, metil(hidroxietil) celulose; MHPC,
metil(hidroxipropil) celulose; EHEC, etil(hidroxietil) celulose; HEC, hidroxietil
celulose; HPC, hidroxipropil celulose; CMC, carboximetil celulose.
13
1.6. Soluções Diluídas e Semi-Diluídas de EHEC
De acordo com a literatura, existem três regimes dinâmicos de
concentração para uma solução polimérica: diluído e semi-diluído, Figura 9.
Basicamente, a diferença entre os regimes está relacionada às interações das
macromoléculas em solução.
26
Pode-se definir o regime diluído como sendo a concentração na qual a
probabilidade de existir interação entre as macromoléculas em solução é muito
pequena. Por sua vez, na transição deste regime para soluções mais concentradas, nas
quais ocorre interpenetração dos novelos poliméricos, o sistema passa por uma
concentração intermediária, denominada concentração crítica (c*), dependente da
massa molecular do polímero.
26
Não existe apenas uma definição para se obter c*; sendo assim, os valores
calculados podem diferir até por um fator de 10, em função da fórmula empregada.
29
][
1
*
][
η
η
=C
(3)
3
*
4
3
g
A
Rg
RN
wM
C
π
=
(4)
3
*
4
3
h
A
w
Rh
RN
M
C
π
=
(5)
wMA
C
A
2
*
1
2
=
(6)
A equação (3) relaciona-se à viscosidade intrínseca [η]. Nas duas equações
posteriores (4) e (5), os novelos poliméricos são considerados como sendo esferas
equivalentes, sendo
wM
a massa molar ponderal média, N
A
, o número de Avogadro,
R
g
, o raio de giro e R
h
, o raio hidrodinâmico; já para a equação (6), a c* pode ser
determinada a partir do segundo coeficiente virial (A
2
), conhecendo-se a massa molar
ponderal média do polímero.
26
14
Figura 9. Representações dos regimes de concentrações:
(a) regime diluído; (b)
transição entre o regime diluído e semi-diluído; (c) regime semi-diluído.
26
1.7. Interação Polímero-Surfactante
Nas ultimas décadas, a interação entre surfactantes iônicos e polímeros
neutros hidrossolúveis tem sido tema de intensa investigação com finalidade de
identificar em solução as propriedades físicas acompanhadas de possíveis mecanismos
que interpretem a associação dos surfactantes ao polímero.
27-34
Surfactantes aniônicos associam-se, fortemente, com polímeros e,
geralmente, o fenômeno inicia em concentrações menores do que quando na ausência
do polímero. A associação é vista como sendo um fenômeno induzido pelo
polímero.
30,35-38
Polímeros e surfactantes, em solução aquosa, associam-se para formar
complexos termodinamicamente estáveis, com propriedades físico-químicas diferentes
daquelas observadas em soluções micelares.
39
É de compreensão geral que a formação de micro-superfícies de agregados
que contêm anfifílicos é induzida primeiramente por efeitos hidrofóbicos dos
componentes. A organização de componentes no sítio ativo de enzimas, ligação e
organização local em superfícies de membranas biológicas, por exemplo, dependem
das interações específicas entre íons, moléculas e estas superfícies. O conhecimento da
composição e das propriedades micro-interfaciais tem trazido, já no passado,
entendimento e explicação de como surfactantes ou outro anfifílico controlam a
velocidade de reações químicas e a distribuição quantitativa de produtos.
38, 40
O estudo da formação de complexos entre polímeros e surfactantes encontra
particular interesse na área da pesquisa acadêmica, uma vez que é um modelo
15
mimético das associações e interações que acontecem in vivo entre proteínas e
membranas celulares.
À parte do interesse no uso como modelo de sistemas biológicos, a indústria
tem uma ampla aplicação de produtos comerciais onde polímeros e surfactantes estão
misturados para conferir propriedades adequadas de inúmeras formulações. Assim,
recentemente, as pesquisas têm enfocado os aspetos moleculares da interação para
entender diagramas de fase e as propriedades reológicas.
37, 38
A mais ampla aplicação
industrial é, sem dúvida, em emulsões de modo em geral, estendendo-se em
importantes áreas como em alimentos, tintas, cosméticos, têxteis e em microemulsões
como veículo para dissolver componentes com diferentes solubilidades e até para
recuperação terciária de petróleo.
37, 41
Estes efeitos, resultados da combinação de polímero e surfactante, são
sinergísticos, isto é, os dois componentes associados conferem aprimoramento de
propriedades para uso comercial. Por exemplo, a mistura promove a diminuição da
concentração micelar crítica quando comparada com o valor para o surfactante puro.
Neste caso, é possível preparar formulações em concentrações menores resultando, por
conseguinte, em redução da quantidade de surfactante mínima necessária para sua
operacionalidade e com melhoramento prático de formulações. Como outro exemplo,
em formulações com polímeros solúveis em água, corantes e/ou aditivos, no entanto
insolúveis em água, podem ser usados quando em presença de surfactante porque o
complexo formado por ambos tem propriedades semelhantes às micelas aquosas do
surfactante, que são amplamente conhecidas que dissolvem substâncias insolúveis em
água.
Em razão de vários fatores a interação entre surfactantes iônicos, e
polímeros não-iônicos hidrossolúveis tem recebido especial atenção por causa das
características reológicas e decorrentes aplicações em processos industriais.
Questionamentos são feitos com relação á natureza da estabilidade da interação entre o
surfactante e o polímero. A mais “popular” interpretação refere-se ao caráter
hidrofóbico, tanto do surfactante como de seções da cadeia polimérica. Sabe-se, no
entanto, que somente hidrofobicidade não abrange todos casos, embora a literatura
tem, recentemente, relata diferentes modificações estruturais para deixar surfactantes e
16
polímeros com caráter cada vez mais hidrofóbico e, assim, explorar as
conseqüências.
29
A partir de um grande número investigado entre aqueles polímeros não-
iônicos derivados da celulose, sem dúvida, a celulose hidrofobicamente modificada,
EHEC, é a mais relevante e estudada para o controle reológicos em formulações de
cosméticos e em tintas a base de água. A estrutura da etil(hidroxietil) celulose é
ilustrada na Figura 10. A interação da EHEC com surfactantes aniônicos como o SDS,
tem sido extensivamente estudada; é governada por intrincadas forças entre as cadeias
e segmentos, agregação entre as cadeias e por forças eletrostáticas.
29,39-44
Figura 10. Estrutura da etil(hidroxietil) celulose, EHEC,
Mw
330.000g/mol,
Bermocoll E 230 FQ da Akzo Nobel Surface Chemistry AB, Suécia.
A EHEC tem sido alvo de muitos estudos reológicos, principalmente,
usando técnicas de viscosidade. A peculiaridade é a de apresentar efeito reológicos
sinergísticos, quando complexado com surfactantes, ocorrendo em concentrações de
surfactante relativamente baixas. Um exemplo é apresentado na Figura 11. Nota-se
que entre 2-6 mM de SDS, a viscosidade aumentada drasticamente e, após,
gradativamente diminui.
43
17
Figura 11. Viscosidade reduzida vs. [SDS] em presença de 0,25%, 0,20% e
0,1% de EHEC.
43
O modelo estrutural dos complexos EHEC-SDS sugerido, está
fundamentado em medidas de viscosidade e outras propriedades viscoelásticas de
soluções. Viscosidade e outras propriedades, já foram medidas em função das
concentrações do polímero e do SDS em várias temperaturas.
43, 45
Figura 12. Modelo de associação EHEC-SDS interpretada por viscosidade.
45
024681012
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Viscosidade Reduzida η
red
[SDS]
tot/mM
18
A interpretação estrutural da formação e modificação dos complexos
EHEC-SDS induzidas pelos efeitos das concentrações de polímero e do surfactante
assim são descritas:
(i) Na ausência de surfactante. Os domínios hidrofóbicos da cadeia
polimérica (Figura 12) são responsáveis por formar grupos associados entre as cadeias
formando microdomínios hidrofóbicos. Na prática, são responsáveis na contribuição
das propriedades dinâmicas e reológicas das soluções. Estas associações podem
acontecer intramolecularmente e neste caso o efeito sobre as propriedades da solução é
o da diminuição da viscosidade. Quando a associação ocorre entre moléculas forma,
em solução, uma rede “mais rígida” que aumenta com o aumento da concentração de
EHEC.
45
Este último fato justifica o aumento da viscosidade em baixas concentrações
de SDS (Figura 11).
43
(ii) Adição de SDS. Acima da concentração de agregação crítica (cac), a
estrutura predominante é aquela desenhada no centro na Figura 12.
45
A tendência é a
dos agregados micelares no complexo estabelecerem-se nas regiões mais hidrofóbicas,
portanto nos grupos associados, aumentar o número de ligações associadas por micelas
com o aumento da concentração de EHEC.
45
A viscosidade aumenta e chega num
máximo relacionado com o máximo de estabilidade das ligações cruzadas.
(iii) Concentrações altas de SDS. A viscosidade diminui porque as ligações
cruzadas começam a romperem-se, principalmente por efeito de repulsão eletrostática
originada pelo aumento dos agregados micelares na estrutura do complexo. Nesta
etapa, aparecem micelas regulares de SDS e o complexo, saturado, estabiliza-se sem
formação de ligações cruzadas.
45
19
1.8. Técnicas para Análise da Interação Polímero-Surfactante
1.8.1. Tensão superficial
Tensão superficial, ainda que uma técnica indireta é usada para obter
informações quantitativas no estudo de interações entre surfactantes e polímeros,
muitos fatores controlam a reatividade de tais sistemas como por exemplos a
hidrofobicidade.
10, 46
Por causa da baixa solubilidade do surfactante em água, quando ele é
adicionado à água, suas moléculas tentam arranjarem-se de modo a minimizar a
repulsão entre grupos hidrofóbicos e a água. Em conseqüência, os monômeros tendem
a se orientar na superfície de tal forma que os grupos polares do surfactante ficam na
solução aquosa, próxima da superfície, e os grupos apolares fiquem na interface ar-
água minimizando o contato com a água. Esta primeira forma de arranjo é uma
tentativa das cadeias alquílicas escaparem do efeito da repulsão da água,
estabelecendo-se na fase gasosa por que são mais solúveis nesta fase. Este fenômeno,
termodinamicamente espontâneo, gera diminuição na tensão superficial da água, pois
provoca uma desorganização das moléculas de água na sua superfície. Nota-se que
nesta propriedade dos anfifílicos estão baseados a maioria das aplicações deles na
indústria.
47
Acima da cmc, as micelas, ao contrário dos monômeros, ficam dispersas em
toda a solução, sem efeito adicional sobre a tensão superficial da solução.
1
A Figura 13
ilustra o comportamento da tensão superficial à medida que a concentração de
surfactante é aumentada.
20
cmc
Log da Concentração do Surfactante
micela
Adsorção Constante
Ar ou óleo
Água
Tensão superficial mNm
-1
Aumenta a adsorção
na superfície
Figura 13. Tensão superficial versus [surfactante] mostrando a definição da cmc de
um surfactante puro.
O método de tensão superficial demonstra um comportamento diferente
para surfactantes na presença de polímero essas diferenças podem ser visualizadas na
(Fig. 14).
T
1 (cac)
Tensão Superficial dinas.cm
-1
Log da Concentraçao de Surfactante
T
2 (psp)
Figura 14. Tensão superficial vs. Log da [surfactante] mostrando cac e psp
na presença de polímero.
Jones, em trabalho de grande impacto na área, estudou as propriedades do
sistema formado por poli(óxido de etileno) (PEO) e SDS.
48
Ele escreve a existência de
dois pontos de transição no gráfico da tensão superficial, em função da concentração
de surfactante a uma concentração fixa de polímero, resultando em três regiões de
comportamento distintos. O primeiro ponto de transição, T
1
, interpretada como sendo
21
o início da associação cooperativa entre o surfactante e o polímero, o segundo ponto,
T
2
, representa a concentração, na qual ocorre a saturação do polímero.
48
O primeiro ponto de transição, T
1
, atualmente é conhecido como
concentração de agregação critica (cac) e o segundo, T
2
, como ponto de saturação do
polímero (psp).
A medida de tensão superficial no equilíbrio γ(m), em função da
concentração de surfactante, pode ser usado para calcular a concentração máxima de
excesso de surfactante na superfície (Γ), a área mínima disponível por molécula de
surfactante na interface solução aquosa-ar (σ
Tens
) e a cmc do surfactante.
49-51
Os parâmetros, isto é Γ e σ, podem ser obtidos utilizando a equação de
adsorção de Gibbs, que na sua forma simplificada, pode ser escrita como:
Γ=
i
i
ddy
μ
i
(7)
Sendo: dy = a mudança na tensão superficial ou interfacial do solvente;
Γ
i
= a concentração de excesso na superfície de algum componente do
sistema e
i
= a mudança no potencial químico de algum componente do sistema.
1.8.2. Condutividade Elétrica e Concentração Micelar Crítica (cmc)
A condutividade é a medida da mobilidade das espécies iônicas em solução.
A condutividade de uma solução depende do número de íons presente. Para eletrólitos
fortes, a concentração de íons na solução é diretamente proporcional à concentração de
eletrólito adicionado à solução, enquanto que para eletrólitos fracos, a concentração de
íons na solução depende de seu equilíbrio de dissociação: a condutividade depende do
número de íons presente e, portanto, do grau de ionização, (α), do eletrólito. A
condutividade molar Λ
m
(expressa em S.cm
2
.mol
-1
) medida na solução de um eletrólito
fraco é, na verdade, a condutividade resultante da fração α da concentração total de
eletrólito adicionado mais a contribuição do agregado micelar.
52
22
A Figura 15 mostra um gráfico típico da condutividade específica versus
concentração molar de surfactante. Observa-se que a cmc é definida na concentração
do surfactante corresponde à repentina mudança do perfil de condutividade elétrica. O
aumento linear da condutividade abaixo da cmc, observado no perfil da Figura 15, é
característico de eletrólitos fortes e a inclinação depende da condutividade molar das
espécies em solução. Após a micelização, cada monômero adicionado contribui para a
formação de micelas.
As micelas iônicas, necessariamente não são totalmente ionizadas, mas
apenas uma fração α de íons fica livre na solução, comportamento esperado para um
eletrólito fraco. A brusca quebra do perfil na cmc é devido ao fato de que, no agregado
micelar formado, nem todos os monômeros estão ionizados e uma fração de contra-
íons permanece ligada. Observa-se que, acima da cmc, o incremento da condutividade
da solução para cada adição de surfactante é menor.
[Surfactante]
Condutividade Especifíca µScm
-1
cm c
Figura 15. Perfil de condutividade específica versus [surfactante] indicando a cmc a
formação de micelas.
1.8.3. Condutividade Elétrica de Complexos Polímero-Surfactante
Uma das formas de analisar a interação polímero-surfactante é através de
medidas de condutividade elétrica, através da qual é possível observar diferentes
regiões, que indicam mudanças de conformação na solução, relacionadas com a
interação do polímero com o surfactante. A Figura 16 ilustra um perfil clássico de uma
23
curva de condutividade elétrica versus concentração de surfactante na presença de
polímero. Diferentes regiões lineares são indicadas. Os dois pontos de descontinuidade
são conhecidos como cac e psp, respectivamente. A região localizada entre a cac-psp é
geralmente aceita e definida como a etapa de formação de agregados que encerra no
psp.
Condutividade Especifíca µScm
-1
cac
psp
Concentração do Surfactante
Figura 16. Condutividade específica versus [surfactante] em presença de polímero.
1.8.4. Transmitância
Para medidas de transmitância se utiliza um espectrofotômetro, que é um
equipamento que mede a transmitância e refletância de uma superfície ou amostra em
função do comprimento de onda.
A transmitância se utiliza do princípio de que quando radiação
eletromagnética passa por uma solução, em conseqüência das interações que há entre
fótons e átomos ou moléculas absorventes, faz com que a potência do feixe seja
atenuada de P
0
para P, num determinado comprimento de onda, onde P
0
é a potência
radiante do solvente, e P é a potência radiante do solvente mais o soluto.
53
0
P
P
T =
(8)
A transmitância freqüentemente está expressa como porcentagem:
%100%
0
x
P
P
T =
(9)
24
1.8.5. Viscosidade
Uma característica importante das soluções poliméricas é o aumento de
viscosidade em relação ao solvente puro, ou de soluções diluídas de pequenas
moléculas. Isto ocorre devido à grande diferença de tamanho entre as moléculas do
polímero e as moléculas do solvente, e pode ser significativo mesmo em concentrações
pequenas do polímero, especialmente para polieletrólitos e polímeros com alta massa
molecular.
54
A viscosidade de um sistema polimérico depende de vários fatores, tais
como peso molecular do polímero, tensão e velocidade de cisalhamento, temperatura e
natureza do solvente, no caso de soluções de polímero.
55
Quando o soluto é polimérico, tais medidas permitem obter informações a
respeito das dimensões da cadeia, do formato e tamanho da partícula de polímero
(volume hidrodinâmico), e de sua massa molecular. O cálculo de massa molecular não
é absoluto, uma vez que se faz necessário uma técnica secundária de caracterização de
massas moleculares, como espalhamento de luz. Contudo, em comparação a outros
métodos de caracterização de polímeros em solução (como osmometria e o próprio
espalhamento de luz), a utilização da viscosidade apresenta suas vantagens, pois é um
método simples, rápido, barato e aplicável a uma vasta faixa de massas moleculares.
56
Vários métodos para medir a viscosidade de sólidos e líquidos já foram
propostos. A medida de viscosidade de líquidos, em geral, é bastante simples, e
comumente a medida baseiam-se:
(i) na resistência ao escoamento através de um capilar;
(ii) na rotação de um cilindro concêntrico imerso no liquido;
(iii) na retenção do tempo de queda de uma esfera através de um liquido
viscoso.
As grandezas e terminologia utilizadas estão resumidas na Tabela 3.
25
Tabela 3. Grandeza e terminologia utilizadas na viscosimetria de soluções diluídas.
Termo
Comum
Nome Proposto
pela IUPAC
a
Símbolo e Definição Unidade
Viscosidade
Relativa
Razão
Viscosimétrica
o
rel
t
t
=
η
adimensional
Viscosidade
específica
o
o
relesp
t
tt )(
1
==
ηη
adimensional
Viscosidade
Reduzida
Número
Viscosimétrico
c
esp
red
η
η
=
dL/g
Viscosidade
inerente
Número Logaritmo
Viscosimétrico
c
rel
iner
)ln(
η
η
=
dL/g
Viscosidade
Intrínseca:
Número Limite
Viscosimétrico
)(lim)(lim][
*
00
redesp
c
iner
c
η
η
η
=
=
dL/g
a
International Union of Pure Applied Chemistry
26
RELEVÂNCIA E OBJETIVOS
Vários aspectos em soluções aquosas de EHEC na presença de um
surfactante iônico foram descritos na literatura usando diferentes técnicas como
condutividade, espalhamento de luz estático e dinâmico, equilíbrio de diálise,
fluorescência, calorimetria, viscosidade e tensão superficial.
33
Porém, a maioria destas
investigações foi conduzida em soluções moderadamente concentradas, nas quais a
dinâmica do polímero são afetadas. Estudo em regime diluído utilizando misturas de
surfactantes aniônicos SDS e SDoD, são inexistentes.
A proposta principal deste trabalho é a de investigar interação em regime
diluído e verificar a idealidade da mistura dos surfactantes SDS e SDoD, monitorar e
interpretar a variação dos parâmetros como cac e psp, indicados por perfis de
condutividade elétrica, tensão superficial e transmitância UV-Vis em relação aos
parâmetros de micelizaçao de misturas de SDS e SDoD na ausência e na presença de
EHEC em condição básica, em 20 mM de tampão borato/NaOH, pH 9,20, a 25,0
0
C.
A vantagem de utilizar as técnicas clássicas de tensão superficial e
condutividade elétrica reside no fato que elas já foram largamente utilizadas para
outros sistemas compostos de misturas de polímeros neutros e surfactantes aniônicos.
Assim, as formas e características dos perfis serão utilizadas para visualizar a
capacidade de interação dos surfactantes bem como complementar a discussão no
processo completo de ligação e desadsorção. A técnica de condutividade elétrica é
extremamente sensível às variações do conteúdo iônico da solução acompanhada de
mudanças estruturais, enquanto a variação da tensão superficial, embora uma medida
físico-química da interface ar-água, está diretamente em equilíbrio com o interior da
solução. Desta forma, embora observem diferentes propriedades em distintas regiões
da solução, elas complementam-se nas conclusões. Já a transmitância, embora observe
diferentes propriedades da solução, serve como suporte na discussão dos valores
encontrados por condutividade elétrica e tensão superficial.
27
Assim este trabalho pretende-se aplicar as técnicas acima relacionadas
para:
(i) Verificar se o sistema formado pela mistura SDS e SDoD
comporta-se de forma ideal em regime diluído;
(ii) Estudar sistemas formados por misturas de SDS e SDoD a fim de
determinar se há formação de agregados mistos de polímero e os surfactantes;
(iii) Caracterizar o efeito da concentração do polímero nos parâmetros
de ligação, concentração crítica de agregação e ponto de saturação do polímero;
(iv) Determinar o grau de ionização dos agregados micelares ligados
no complexo, os efeitos da concentração do polímero e da variação da fração dos
surfactantes.
28
CAPÍTULO II
PARTE EXPERIMENTAL
2.1. Materiais e Reagentes
O dodecilsulfato de sódio (SDS), com pureza de 99%, têm procedência da
Sigma e foi utilizado sem purificação prévia. O surfactante dodecanoato de sódio
(SDoD), foi preparado a partir de seu respectivo ácido carboxílico com pureza de 99%,
de procedência da Sigma, foi dissolvido em etanol absoluto, neutralizado com solução
padrão de NaOH e utilizado após recristalização em acetona.
A EHEC é proveniente da Bermocoll E 230FQ, lot nº 14770, doada pela
Akzo Nobel, Surface Chemistry AB, Suécia. A amostra apresenta um grau de
substituicão de grupos etil DS
etil
de 0,9–1,0 por unidade de anidroglucose e, de uma
substituição molar de grupos óxido de etileno, de MS
EO
1,9–2,2, por unidade de
anidroglucose. A massa molar da EHEC, determinada por espalhamento de luz é de
330.000 g/mol. O polímero tem um grau de polidispersidade (M
w
/M
n
) abaixo de 2.
Os parâmetros de micelização das misturas de SDS e SDoD foram
determinados na ausência e em presença de diferentes concentrações de EHEC, em
condições de 20 mM de tampão borato/NaOH, pH 9,2, a 25,0
0
C.
As soluções estoques do tampão foram preparadas a partir de água
deionizada Milli-Q e ácido bórico (Vetec). O pH das soluções eram ajustadas para
9,20 utilizando uma solução de NaOH padrão.
As soluções estoques de EHEC eram preparadas dissolvendo o polímero
com solução tampão, sob agitação suave, durante 9-12 horas em (%m/v). Após as
soluções prontas, eram centrifugadas a 4500 rpm durante 25-30 minutos e filtradas
com filtros 0,45 µm (Sartorius). Esta solução era usada para preparar aquelas contendo
SDS e SDoD. Esta técnica permitiu, durante as titulações condutivimétricas, manter a
29
concentração de EHEC constante e, nas medidas tensão superficial e transmitância,
soluções livres de partículas em suspensão.
2.2. Equipamentos e Métodos Utilizados
2.2.1. Método Turbidimétrico
Os experimentos, de determinação da temperatura de turbidez da EHEC,
foram realizados através de observação visual em frascos com tampa de teflon
previamente lacrada. As amostras, contendo a celulose foram pré-aquecidas acima da
temperatura de turbidez por cinco minutos e deixadas resfriar à temperatura ambiente,
seguido de um tempo de espera para alcançar o equilíbrio térmico. Foi utilizado um
banho de água da Schott CT 52 para controlar a temperatura.
2.2.2. Método Viscosimétrico
Nas medidas de viscosidade para determinação do c
*
da EHEC, utilizou-se
um viscosímetro com leitor automático de viscosidade da SHOTT AVS 350 acoplado
a um capilar Cannon-Fenske n
0
75 (tempo de escoamento do solvente 129 s),
termostatizado a 25,0°C por um banho de água da Schott CT 52. As viscosidades
relativas foram obtidas a partir da Eq. (η/η
o
= t/t
o
) onde t corresponde ao tempo de
escoamento da amostra e t
o
da solução 20 mM de tampão borato/NaOH, pH 9,20 ( t
o
, =
129,0 s a 25
o
C).
2.2.3. Método Tensiométrico
As medidas de tensão superficial foram feitas utilizando um tensiômetro da
KRUSS GMBH, modelo K 8, com escala de divisão de 0,1 mN/m, equipado com um
anel de Pt-Ir-20 e frasco termostatizado que continha a amostra. Foram usados
volumes de 10,00 mL de solução do correspondente surfactante, previamente
30
preparados para cada medida. A temperatura foi mantida a 25,0°C através de um
termostato.
2.2.4. Método Condutivimétrico
A aquisição de dados foi feita por meio de uma bureta semi-automática da
Metrohm Herisau tipo Multi-Bürette, modelo E-485, com capacidade para 20 mL, e
um um condutivímentro modelo 170 da ATI-ORION. A obtenção dos parâmetros de
concentração micelar crítica dos surfactante SDS e SDoD, bem como a concentração
de agregação crítica e o ponto de saturação do polímero, das soluções contendo EHEC
e surfactante, foram determinados como sendo os pontos de inflexão no perfil de
condutividade elétrica em função da concentração de surfactante.
2.2.5. Método Espectrofotométrico
As medidas de transmitância foram feitas utilizando um espectrômetro UV-
Vísivel da Hp modelo 8452A diode array com cubeta de quartzo da Sigma C-9417
Lot 71H0911 termostatizada, sendo que para cada fração da mistura de SDS e SDoD
em 0,1% (m/v) de EHEC, fez-se medidas de transmitância em função da concentração,
num comprimento de onda fixo de 450 nm a 25,0°C, controlada a temperatura por
intermédio de um banho termostatizado acoplado ao sistema.
31
CAPÍTULO III
RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Turbidimetria da Etil(hidroxietil) Celulose
Com respeito à separação de fase provocada pelo aumento da temperatura,
os derivados de celulose apresentam uma característica diferenciada. Enquanto para a
maioria dos compostos a solubilidade aumenta com o aumento da temperatura, os
derivados de celulose modificados tendem a separar fase em temperaturas mais
elevadas. A água é o solvente mais comum, onde este efeito é observado.
43
Recentemente, estudos realizados em solventes orgânicos polares mostraram
propriedades semelhantes. A temperatura, na qual ocorre separação de fase, é
denominada de “ponto de turvamento” por causa do aumento drástico da turvação da
solução.
43
As interações são responsáveis por efeitos na mudança soluto-soluto,
soluto-solvente, como também solvente-solvente. Então, medidas de turbidimetria
provêem uma ferramenta experimental útil, para estudar tais fenômenos.
A amostra Bermocoll E 230FQ, quando em 0.1 % (m/v) de EHEC em
20mM de borato pH 9,2, exibe um ponto de turvamento em 65,5
o
C. Este valor
encontrado está de acordo com o que tem sido descrito na literatura.
33, 43
A EHEC
apresenta uma vasta faixa de temperatura de turbidez, compreendida entre 28 a 70
0
C.
Esta faixa de temperatura está associada a muitos fatores tais como a hidrofobicidade,
estrutura dos substituintes, massa molar do polímero, presença ou ausência de sal.
33, 43
Na presença de surfactantes aniônicos, os valores de temperatura de turbidez, acima da
cac, tendem aumentar, melhorando a utilização da mistura para determinados
processos e formulações.
32
3.2. Determinação do Regime de Concentração da Etil(hidroxietil)
Celulose
O conhecimento do regime de concentração, adotado na investigação de
uma solução polimérica, é tão importante quanto o conhecimento da concentração,
tendo em vista que, na passagem de um regime para outro, ocorrem mudanças
drásticas nas propriedades da solução.
29
A Figura 17 mostra um perfil de viscosidade reduzida em função da
concentração de EHEC nas temperaturas de 20 e 25
0
C. Os resultados mostram que a
viscosidade varia linearmente em função da concentração. Maiores fundamentos e
detalhes sobre viscosidade foram descritos na Introdução nos (Itens 1.7 e 1.8.5).
Através da extrapolação dos perfis de viscosidade e utilizando a equação (3), obteve-se
o parâmetro c* cujos valores a 20
0
C e 25
0
C, foram de 0,21% e 0,31% (m/v),
respectivamente. Estes resultados estão em acordo com aqueles já obtidos por
Lindman e Holmberg.
33,43
Figura 17. Perfil de viscosidade reduzida em função das concentrações diluídas de
EHEC em 20 mM de tampão borato, pH 9,2, a (]) 20 ºC e (
) 25 ºC.
Para a EHEC, c* varia dentro de uma faixa de 0,2 a 0,4 % (m/v). Estes
valores podem ser alterados em função do aumento da temperatura, da técnica que está
sendo utilizada e do grau de substituição na cadeia de celulose dos grupos etil e óxido
de etileno.
33
3.3. Tensão Superficial
3.3.1. Tensão Superficial de Misturas de SDS e EHEC
Historicamente a tensão superficial é uma das técnicas mais populares para
determinação da cmc de tensoativos.
57
Diferentemente da técnica de condutividade
elétrica, que acompanha uma propriedade da solução, a tensão superficial avalia uma
propriedade da superfície, na interface ar-água. Maiores detalhes sobre a técnica, estão
descritos na Introdução (Item 1.8.1).
O polímero EHEC mostra uma forte dependência de adsorção na superfície
ar-água em relação ao tempo. O tempo necessário para atingir o equilíbrio entre as
formas monoméricas na superfície e na água, pode variar desde alguns minutos até
horas. Este fato está associado à flexibilidade do polímero e aos grupos substituintes
provenientes das modificações químicas que, dependendo da polaridade, apresentam
diferentes tendências em adsorverem-se na interface, com mudanças na conformação
de suas cadeias. Os grupos etilas têm propriedades hidrofóbicas, portando tendem a
“escapar da água”, enquanto que os grupos oxietilênicos, mais hidrofílicos, por serem
mais hidratados tendem ficar no interior da solução. Por medidas de tensão superficial
dinâmica na interface ar-líquido recentemente Nahringbauer estudou o tempo de
dependência de adsorção do sistema EHEC-SDS, e identificou o inicio da associação
cooperativa através da mudança de adsorção dinâmica em torno de 2,0 mM.
35
Por
causa deste fato, neste trabalho, em todas as medidas de tensão superficial, as soluções
contendo EHEC foram mantidas em repouso de, no mínimo, 60 minutos antes de
serem usadas.
Assim, a Figura 18 mostra o perfil de tensão superficial do SDS em solução
tampão, na ausência em presença de 0,1% de EHEC. Observa-se que em baixas [SDS],
a celulose atua como um tensoativo em soluções aquosas reduzindo a tensão
superficial da água-ar de 72 dinas cm
-1
para aproximadamente 50 dinas cm
-1
(veja as
Figuras 18 e 19 em baixas concentrações de SDS e SDoD).
34
-4,0 -3,5 -3,0 -2,5 -2,0 -1,5
35
40
45
50
55
60
65
70
Tensão Superficial, dinas cm
-1
log[SDS], M
cmc
psp
cac
C
1
Figura 18. Perfis de tensão superficial do SDS (
) na ausência em presença de ()
0,1% (m/v) EHEC, em 20 mM de tampão borato, pH 9,2.
Em relação a Figura 18, ressaltam-se as seguintes informações:
1. Em presença de polímero as diferentes regiões são interpretadas em
termos de interações entre polímero e o surfactante. Inicialmente em baixas
concentrações de surfactante, ocorre só atuação como monômeros na superfície ar-
líquido os grupos polares do surfactante ficam na solução aquosa, próximo à superfície
minimizando o contato com a água, o polímero atua minimizando a repulsão entre as
cabeças dos surfactantes ocorrendo assim adsorção constante do tensoativo na
superfície até ocorrer à saturação da superfície ar-líquido.
58-62
2. O início da associação cooperativa do SDS é alcançado com saturação da
superfície, formando complexos EHEC-SDS, é indicado pelo primeiro ponto de
inflexão da curva, cac, que ocorre no inicio do platô em 2,5 mM de SDS.
3. O platô, que representa a região da cac a C
1
, ocorrendo em
44 dinas cm
-1
,
mostra uma etapa na qual a concentração do SDS na interface ar-água, é mantida
constante, à medida que se adiciona SDS a solução, cuja a extensão do platô depende
da concentração do polímero.
62-66
35
4. No final do platô, C
1
4,4 mM, inicia-se uma nova etapa de
concentração monomérica na superfície, a tensão superficial diminui, e o processo de
associação termina no segundo ponto de descontinuidade, aqui chamado de psp.
46, 48
5. O psp, que na Figura 18 ocorre em 7,6 mM de SDS, representa a
concentração na qual ocorre a saturação das cadeias do polímero EHEC por
monômeros de SDS.
46,54
6. Em concentrações acima do psp, os valores de tensão superficial (γ
2
)
quando na ausência e em presença de EHEC, são idênticos e constantes (Tabela 4).
Este fato é forte indicação de que, acima do psp, todo SDS adicionado forma micelas
livres que estão em equilíbrio com o complexo EHEC-SDS.
7. Na ausência do polímero, a cmc ocorre em 5,7 mM de SDS com valor de
tensão superficial de 38,5 dinas cm
-1
, muito próximo aos valores quando em presença
de EHEC (Tabela 4).
3.3.2. Tensão Superficial de Misturas de SDoD e EHEC
Observar-se que o primeiro ponto de transição, tanto na Figura 18 como na
Figura 19, ocorre abaixo da cmc. Este fato é interpretado como sendo um efeito de
estabilização dos agregados micelares ligados a EHEC. Enfatiza-se que, em presença
de polímero, o fato do primeiro ponto de descontinuidade ocorrer abaixo da cmc, tem
sido usado como critério de estabilização termodinâmica e critério e/ou evidência
experimental da associação cooperativa de micelas ao polímero formando complexos
polímero-surfactante.
30
A Figura 19 mostra o perfil de tensão superficial do SDoD, na ausência
em presença de 0,1% (m/v) de EHEC. Para a solução de SDoD em 27,0 dinas cm
-1
ocorre a cmc em 22,0 mM. Com a adição de 0,1% de EHEC, a cac ocorre em 16,6
mM com um valor de tensão superfcial de 31,0 dinas cm
-1
e o psp acontece em 28,0
mM numa tensão superficial de 27,8 dinas cm
-1
. Observa-se que os valores obtidos por
tensão superficial, com e sem EHEC, são idênticos aos obtidos por condutividade
elétrica (Tabela 6).
36
Nota-se que, acima do psp a tensão superficial é constante e é próxima ao
valor encontrado quando na ausência de polímero. Este resultado implica que acima do
psp ocorre somente a formação de micelas regulares de SDoD em equilíbrio com o
complexos EHEC-SDoD, comportamento idêntico ao do SDS.
-3,0 -2,5 -2,0 -1,5
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
Tensão Superficial, dinas cm
-1
log [SDoD], M
cmc
cac
psp
Figura 19. Perfis de tensão superficial do SDoD na ausência (
) e em presença de
0,1% (m/v) de EHEC (
) em 20 mM de tampão borato, pH 9,2.
3.3.3. Tensão Superficial de Misturas de SDS-SDoD e EHEC
A Figura 20 mostra o efeito da fração molar 0,5 da mistura de SDS e SDoD
no perfil de tensão superficial. Observa-se que, no psp a tensão superficial, quando a
solução tem somente SDS é de 38,5 dinas cm
-1
.
Já quando a mistura tem frações iguais
dos surfactantes, a tensão superficial diminui para 33,7 dinas cm
-1
e o psp cai para
15,0 mM. Acima deste valor a tensão superficial é constante utilizando o mesmo
argumento acima aplicado para soluções de SDS e SDoD, conclui-se que, acima do
psp, ocorre formação de micelas livres e mistas de SDS-SDoD. O fato de que a tensão
superficial, acima do psp, ser menor do que quando em SDS puro, indica que o SDoD
37
tem atividade na superfície ar-água maior que do SDS, portanto, em princípio, é um
tensoativo mais eficiente.
-3,0 -2,5 -2,0 -1,5
30
35
40
45
50
C
1
cac
psp
psp
Tensão Superficial, dinascm
-1
log [Surf.], M
cac
C
1
Figura 20. Perfis de tensão superficial na presença de 0,1% (m/v) de EHEC em 20
mM de tampão borato, pH 9,2, em função da [surf.] obtidos nas frações
molares de SDS de (
) 1,0 e () 0,5.
3.3.4. Adsorção na Interface
Os estudos da adsorção dos surfactantes na interface ar-solução, na presente
dissertação, foram feitos medindo-se a tensão superficial, γ, das soluções, em função
da concentração do surfactante, utilizando-se um tensiômetro de anel.
A concentração de excesso de monômeros de surfactante na superfície é
uma medida útil da efetividade de adsorção do surfactante, já que ela é o valor máximo
que a adsorção pode atingir.
Os gráficos de tensão superficial permitem estimar a área molecular
ocupada por uma molécula de surfactante na interface ar-água. A área do monômero
do surfactante pode ser descrita como o grau de empacotamento e de orientação das
moléculas de surfactantes na interface ar-água indicando, então, a efetividade da
adsorção na interface ar-água do surfactante.
46, 47, 49-51
2
1
ΝΓ
=w
(10)
38
onde N é o número de Avogrado e Γ
2
é o excesso de superfície, expresso por número
de moles m
-2
, definido pela equação 11.
C
y
R ln
1
2
Δ
Δ
Τ
=Γ (11)
Tabela 4. Parâmetros obtidos a partir dos perfis de tensão superficial para misturas
SDS-SDoD em presença de 0,1% (m/v) de EHEC em 20 mM de tampão
borato, pH 9,2, a 25 ºC.
EHEC
(% m/v)
χ
SDoD
cmc
(mM)
cac
(mM)
cmc/cac
(dinas cm
-1
)
10
-6
Γ
(mol m
-2
)
w
2
.molécula
-1
)
psp
(mM)
psp
(dinas cm
-1
)
0 1,0 22,0 27,0 7,1 23,4
0 0,0 5,7 38,5
0,1 1,0 16,6 31,6 6,88 24,1 28,0 27,8
0,1 0,75 6,3 39,2 3,22 51,4 22,0 31,0
0,1 0,50 4,8 39,0 2,68 62,1 15,0 33,7
0,1 0,25 3,0 41,0 2,56 64,9 10,8 36,0
0,1 0,0 2,5 41,0 2,29 72,6 7,6 38,5
Em acordo com os resultados da Tabela 4, a concentração superficial Γ
diminui com o incremento da fração de SDS na mistura. A área ocupada por cada
molécula na superfície é maior quando a mistura é mais rica em SDS. Este
comportamento provavelmente deve-se a maior exclusão estérica e elétrica promovida
pelas cabeças do surfactante SDS, uma vez que o íon sulfato é maior e possui uma
densidade de carga maior que os íons carboxilatos.
3.4 Condutividade Elétrica
3.4.1 Condutividade Elétrica de Misturas de SDS e SDoD na Ausência
de EHEC
A condutividade é uma propriedade largamente empregada no estudo sobre
interação entre polímeros e surfactantes iônicos. Tem sido usada ainda para estimar o
grau de ionização (α) de micelas iônicas, assim como para estudar e complementar os
39
processos de associação de micelas iônicas e mistura de surfactantes a polímeros
neutros hidrossolúveis.
38, 67, 68
O efeito da hidrofobicidade do contra-íon nas interações
de surfactantes aniônicos com PEO e Albumina do Soro Bovino (BSA), foram
estudados por Zanette e colaboradores, usando condutividade elétrica e sondas
cinéticas.
69
Recentemente, Zana usou a técnica para estender a discussão sobre o efeito
da hidrofobicidade de contra-íons de diferentes surfactantes do tipo dodecilsulfatos
com PEO.
70
Os resultados de condutividade serão apresentados usando perfis de
condutividade elétrica vs. [surfactante], na ausência e na presença de 0,1% (m/v) de
EHEC, variando a concentração de EHEC em frações molares fixas de SDoD. Este
último trabalho foi desenvolvido para complementar o efeito da concentração do
polímero nos parâmetros de ligação, cac e psp.
Em soluções aquosas de surfactante na ausência de polímero, o perfil da
curva de condutividade elétrica vs. [Surfactante] apresenta duas regiões lineares e uma
inflexão relacionada com o inicio do processo de micelização (cmc).
A Figura 21 mostra o perfil condutividade específica vs. [SDoD] na
ausência de EHEC. Em baixas [SDoD], observa-se que, à medida que a concentração é
aumentada, a condutividade elétrica aumenta, linearmente, até atingir a cmc no ponto
de inflexão em 23 mM de SDoD. O valor de cmc, encontrada por condutividade
elétrica, é bem próxima àquele obtido por tensão superficial (Tabela 4) e é similar ao
encontrado por Karlstrom e colaboradores.
71
E por Merril e Getty, que utilizaram
outras técnicas como UV-Visível.
72
Acima da cmc, cada monômero adicionado contribui para a formação de
micelas. A brusca quebra do perfil na cmc é devido ao fato de que, no agregado
micelar formado, uma fração de contra-íons permanece ligada. A linearidade acima da
cmc é forte indicação de que os agregados micelares que se formam possuem
propriedades interfaciais idênticas. As inclinações, indicadas por S
1
e S
3
,
correspondem aos coeficientes angulares das regiões lineares abaixo e acima da cmc,
respectivamente.
40
0 10203040
1000
1500
2000
2500
3000
[SDoD], mM
Condutividade específica, μ Ω
−1
cm
-1
cmc
S
1
S
3
Figura 21. Perfil de condutividade especifica vs. [SDoD] em 20 mM de tampão
borato/NaOH, pH 9,2.
A Figura 22 mostra o comportamento de condutividade especifica para o
SDS.
0 5 10 15 20 25
750
1000
1250
1500
Condutividade específica, μ Ω
−1
cm
-1
cmc
[SDS],mM
S
1
S
3
Figura 22. Perfil de condutividade especifica vs. [SDS] em 20 mM de tampão
borato/NaOH, pH 9,2.
41
Em baixas concentrações Fig. 22, há um aumento linear da condutividade
até atingir cmc em torno de 5,7mM, este comportamento é característico de eletrólitos
fortes e a inclinação depende da condutividade molar das espécies em solução, isto é,
do contra-íon e do radical orgânico.
O valor de cmc do SDS é bastante similar ao encontrado por tensão
superficial (Tabela 4). É menor do que em água pura que, dependendo do método
utilizado, varia de 8,0 a 8,5 mM por causa do efeito salino do tampão.
75
O aumento da
força iônica blinda forças de repulsão eletrostáticas existentes entre os grupos
carregados na camada de Stern. Este fenômeno favorece a micelização do surfactante
ocorrendo em concentrações mais baixas, além de induzir crescimento dos agregados
micelares.
13, 31
A Figura 23 mostra perfis de condutividade elétrica em diferentes frações
molares de SDS e SDoD na ausência de EHEC. A partir da Figura 23 foram obtidos os
valores de cmc
exp
para mistura dos surfactantes e o grau de ionização micelar (α
1
) cujo
valores são apresentados na Tabela 5.
0102030
500
1000
1500
2000
2500
3000
Condutividade específica, μ Ω
−1
cm
-1
[surfactante], mM
A
B
C
D
E
F
cmc
S
1
S
3
Figura 23. Perfis de condutividade específica (em escala relativa, exceto para a curva
F) em função da [surf.] na ausência de EHEC em 20 mM de tampão
borato/NaOH pH 9,2, a 25
0
C obtidos para diferentes frações molares de
SDoD: (A) 1,0; (B) 0,75; (C) 0,6; (D) 0,5; (E) 0,25 (F) SDS puro. As setas
indicam a cmc.
42
3.4.2 Grau de ionização de Misturas de SDS e SDoD na Ausência de
EHEC
Embora existam várias técnicas para o cálculo do grau de ionização de
micelas iônicas, a mais simples é a condutimétrica, cujo método consiste na razão
entre a inclinação da região linear acima (S
3
) e abaixo (S
1
) da cmc. A medida e o
conhecimento de α são importantes porque estão relacionados com o conteúdo de
contra-íons ligados na superfície da micela e com a densidade de carga, portanto, das
propriedades físico-químicas da interface micelar.
O grau de ionização micelar é uma medida da fração de contra-íons
dissociados. Para micelas iônicas, temos um centro formado pelas cadeias alquílicas
dos surfactantes, rodeado por uma camada parecida com uma solução concentrada de
eletrólito. Essa região, camada de Stern consiste dos grupos polares do surfactante, os
contra-íons associados e a água interfacial.
51
Além da camada de Stern, temos os contra-íons remanescentes, que
presenciam duas forças opostas: atração eletrostática ás micelas, e colisões térmicas,
que tendem a dispersá-los. O equilíbrio resultante dessas forças opostas origina a dupla
camada elétrica, cuja extensão no espaço pode ser considerável, diminuindo com o
aumento da força iônica do meio.
51
A partir das medidas de condutividade, foi possível calcular os valores do
grau de dissociação, pelo método de Frahm, α Frahm.
51
O método de Frahm assume
que as condutividades abaixo e acima da cmc são causadas exclusivamente pelos
contra-íons do surfactante. Esse método resulta em valores de α maiores do que os
calculados pelo método de Evans, pois não leva em consideração a contribuição das
seguintes espécies para condutividade: (i) o íon hidrofóbico do surfactante, abaixo da
cmc, (ii) a da micela (um macro-íon) acima da cmc.
51
No cálculo do grau de dissociação pelo método de Frahm, utilizou-se a
Equação reproduzida.
α
1
= S
3
/ S
1
(12)
43
O valor de α
1
0,39 encontrado para solução de SDS na ausência de
polímero, apresenta boa concordância com os dados da literatura.
54, 74,76
Observa-se
que, com o aumento da fração molar de SDoD, há um aumento nos valores de α
1
,
indicando que o SDoD é mais ionizável que o SDS.
Nota-se que os valores dos coeficientes angulares S
1
listados na Tabela 5
são praticamente independentes da composição da mistura dos surfactantes. Estes
resultados são consistentes com os valores da condutância equivalente limite do ânion
dodecilsulfato (λ
DS
-
24,0 Ω
-1
cm
2
mol
-1
) e do ânion dodecanoato (λ
DoD
-
22,0 Ω
-1
cm
2
mol
-
1
).
38
A variação da cmc para simular o comportamento das micelas mistas de
SDS-SDoD, foi aqui tratada aplicando a teoria da solução ideal (ver Introdução 1.3).
Aplicou-se a teoria da solução ideal para o sistema SDS-SDoD,
determinando-se a composição das micelas mistas, ou seja, a fração molar de cada
surfactante na micela a partir da Eq. (2) e a cmc ideal da Eq. (1). Verificou-se que este
tratamento foi apropriado a esse sistema (Fig. 24 e 25).
Tabela 5. Valores de cmc
ideal
, cmc
exp
, composição das micelas mistas e dos
coeficientes lineares para misturas SDS-SDoD obtidos a partir dos perfis
da Figura 23.
χ SDoD
cmc
ideal
(mM)
cmc
exp
(mM)
χ SDoD
na
micela
(Ideal)
χ SDoD
na
micela
(Exp)
S
1
S
3
α
1
0 5,70 5,7 0 0 59,0 23,0 0,39
0,25 7,02 6,8 0,076 0,074 58,5 27,0 0,46
0,4 9,14 9,1 0,199 0,198 58,1 28,2 0,48
0,5 10,4 10,3 0,271 0,269 59,9 27,9 0,46
0,75 13,1 13,2 0,426 0,430 59,0 28,6 0,48
1,0 23,00 23,0 1,0 1,0 58,0 26,5 0,46
44
3.4.3 Comportamento Ideal para Mistura SDS e SDoD na Ausência de
EHEC
A Figura 24 mostra a variação da cmc em função da variação da fração
molar na mistura de SDS e SDoD na ausência de EHEC. Observa-se que os valores
experimentais estão de acordo com os valores esperados para uma mistura ideal,
determinados pela equação 1, onde a cmc
ideal
é a cmc da mistura. Este, fato, já era
previsto, pois os surfactantes possuem o mesmo contra-íon, grupo hidrofóbico sem
ramificações série homóloga de 12 e 11 carbonos e
finalmente, os valores similares
entre os coeficientes angulares S
1
.
(1)
SDoDSDSSDSSDoD
SDoDSDS
Ideal
cmcχ cmcχ
cmccmc
cmc
+
=
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00
4
8
12
16
20
24
χ
SDoD
cmc, mM
Figura 24. Variação da cmc da mistura SDS-SDoD em função da fração molar de
SDoD, em tampão borato 20 mM, pH 9,20 a 25,0 °C. Os valores de cmc
experimental (
) e segundo a teoria da solução ideal (linha pontilhada).
A Equação 2 foi usada para estimar a composição das micelas mistas na
forma de fração molar dos monômeros em qualquer mistura. A partir da equação,
pode-se determinar a composição micelar, observada na (Fig. 25). Na Figura 25, há
45
indicação da composição de uma micela formada a partir de uma mistura dos
surfactantes com χ
SDoD
0,78. As micelas formadas têm x
SDS
= 0,5, um valor maior do
que na mistura original, sugerindo que as micelas formadas são sempre enriquecidas
pelo surfactante de menor cmc.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
Fração Molar de SDoD na Micela Mista
χ
SDoD
Figura 25. Variação da composição monomérica das micelas mistas segundo a teoria
da solução ideal (linha pontilhada) e experimental (
) em função da fração
molar de SDoD. As linhas continuas, representam o equilíbrio de
composição entre a solução e a fase micelar.
3.4.4. Condutividade Elétrica de Misturas de SDS e SDoD na Presença
de EHEC
Na presença de polímero, diversos estudos com os sistemas PEO-SDS,
PEO-SDS-SDoD, PVP-SDS, EHEC-SDS e EHEC-SDoD demonstram a existência de
três regiões, ligadas por duas quebras, de acordo com a interpretação clássica dada a
este perfil.
38,74-81
A Figura 26 mostra os perfis de condutividade elétrica em diferentes
frações molares da mistura SDS-SDoD em presença de 0,1% de EHEC. Na presença
do polímero EHEC e misturas dos surfactantes, os perfis de, condutividade elétrica
46
exibem um comportamento análogo dos sistemas acima mencionados. A primeira
quebra representa o início da associação cooperativa entre o polímero e o surfactante,
(cac) e, a segunda quebra, à saturação do polímero por moléculas de surfactante, (psp).
São características ainda duas regiões lineares (i) abaixo da cac, (ii) acima do psp, e
uma região entre (iii) cac-psp que tem a linearidade dependente do sistema e das
circunstâncias experimentais.
74
0 10203040
1000
1500
2000
2500
3000
3500
S
3
S
2
Condutividade específica, μ Ω
−1
cm
-1
[Surfactante], mM
E
D
C
B
A
psp
cac
S
1
Figura 26. Perfis de condutividade específica (em escala relativa, exceto para a curva
A) em presença de 0,1% (m/v) de EHEC em 20 mM de tampão
borato/NaOH, pH 9,2 em função da [surf.] obtidos para diferentes frações
molares de SDS: (A) 1,0; (B) 0,75; (C) 0,5; (D) 0,25; (E) SDoD puro. As
setas indicam a cac e as linhas pontilhadas indicam o (psp).
Como a adição de um polímero neutro, como no caso o EHEC, numa
solução contendo um surfactante, não interfere significativamente na condutividade
elétrica da solução, então, mudanças no perfil de condutividade indicam interação.
Assim, em todas as frações estudadas (Fig. 26), observam-se semelhantes perfis
indicando que o SDS e o SDoD interagem com o polímero.
47
(i) A primeira região linear ocorre em concentrações abaixo da cac. A
Tabela 6 lista os valores dos coeficientes angulares S
1
que são, praticamente,
independentes da composição da mistura, obtidos na ausência e na presença de EHEC.
Considerando o limite de exatidão da técnica, este fato indica que, abaixo da cac, a
principio o modelo da mistura é formado por monômeros de surfactante e do polímero
não ocorrendo nenhum processo de ligação específica e somente na cac, inicia a
ligação cooperativa sobre o polímero.
(ii) A acima do psp o S
3
, é interpretado como sendo uma região onde
somente micelas livres de surfactantes são formadas em equilíbrio dinâmico com
complexos formados até o psp. Uma forte evidência para esta conclusão provém do
fato que, acima do psp, os valores S
3
para complexos EHEC-SDS-SDoD são muito
semelhantes aos valores obtido na ausência de EHEC (Tabela 5).
(iii) A região localizada entre os pontos de descontinuidade, cac-psp, é
definida como uma etapa de formação de agregados com diferentes características das
micelas mistas de SDS-SDoD. É notável que linearidade dessa região dependa das
condições experimentais, principalmente do aumento concentração do polímero, onde
ocorre efeito sinergístico causado pelo processo de ligação e desadsorção.
80
A Tabela 6 resume os parâmetros das misturas do polímero com SDS e
SDoD obtidos por condutividade elétrica em 0,1% de EHEC. Salienta-se que esta
concentração está abaixo do (c* 0,31 %) do polímero nas condições experimentais
(Fig. 17).
Os parâmetros α
1,
e α
2
foram determinados pelo método da inclinação, ou
seja, as razões entre S
3
/S
1
e S
2
/S
1
estimados a partir das regiões lineares dos perfis
condutivimétricos. Estas razões, obtidas a partir do mesmo perfil, têm sido atribuídas
ao grau de ionização de micelas regulares (α
1
)
,
e ao grau de ionização do complexo
polímero-surfactante (α
2
). Observa-se que os valores de α
2
são maiores que os de α
1
indicando que os agregados micelares nos complexos EHEC-SDS-SDoD são mais
ionizados do que micelas regulares, embora os valores dependem da fração molar.
48
Resultados semelhantes foram obtidos para complexos PVP-SDS e PEO-SDS por
Zana e para complexos PEO-SDS-SDoD por Zanette e Frescura.
38,82
Os valores de grau de ionização (α
1
) para complexos EHEC-SDS-SDoD
(Tabela 6) são muito semelhantes aos valores obtidos para as misturas de SDS e SDoD
na ausência de EHEC (Tabela 5), evidenciando que o segundo ponto de
descontinuidade encontrado no perfis de condutividade elétrica é o inicio da saturação
polimérica.
Tabela 6. Valores de cac, psp e coeficientes angulares da região linear abaixo da cac
(S
1
),
entre a cac e o psp (S
2
) e acima do psp (S
3
) dados em unidades de Ω
-1
cm
2
mol
-1
obtidos dos perfis da Figura 26 em presença de 0,1% (m/v) de
EHEC. Os valores de α
1
e α
2
foram determinados a partir das razões S
3
/
S
1
e S
2
/ S
1
, respectivamente.
EHEC
(% m/v)
χ
SDoD
cmc
(mM)
cac
(mM)
psp
(mM)
S
1
S
2
S
3
α
1
α
2
0,0 1
a
5,7 59,0 23,0 0,39
0,0 1
b
23,0 58,0 26,5 0,46
0,1 0 2,3 62,5 36,3 23,6 0,38 0,58
0,1 0,15 2,5 8,3 62,4 39,7 24,2 0,39 0,64
0,1 0,25 3,0 10,5 59,1 37,6 25,6 0,43 0,64
0,1 0,5 4,2 14,7 58,5 39,7 26,6 0,45 0,68
0,1 0,75 6,3 20,5 58,3 41,6 27,2 0,47 0,71
0,1 0,85 8,3 22,5 56,7 43,4 26,8 0,47 0,77
0,1 0,88 9,3 23,2
0,1 0,92 10,5 24,4 58,8 46,7 27,5 0,47 0,79
0,1 0,95 11,0 25,0 58,0 28,0 0,48
0,1 1,00 15,5 27,0 56,8 26,1 0,46
a
valor de cmc do SDS em 20mM de tampão borato/NaOH.
b
valor de cmc do SDoD em 20mM de tampão borato/NaOH.
3.4.5. Comportamento Ideal para mistura SDS e SDoD na presença de
EHEC
A idealidade da mistura EHEC-SDS-SDoD pode ser identificada, através
dos valores de cac, conforme mostra a Figura 27. Pode-se perceber também, que os
valores de cac são todos menores do que as respectivas cmc quando considerados as
49
mesmas frações da mistura, indicando que há um processo associativo polímero-
surfactante tanto em relação ao SDoD-EHEC quanto ao SDS-EHEC.
(1)
SDoDSDSSDSSDoD
SDoDSDS
Ideal
cacχ cacχ
caccac
cac
+
=
Os pontos experimentais, neste caso, também mostram uma boa
concordância com a curva que representa um sistema ideal (linha pontilhada), obtida
através da equação 1 modificada, substituindo a cmc
ideal
pela cac
ideal
, e cmc
SDS
pela cac
do sistema SDS-EHEC, e a cmc
SDoD
pela cac SDoD-EHEC, indicando a idealidade do
sistema. A presença de EHEC na mistura não afeta a interação entre as moléculas dos
surfactantes, o que pode indicar que os dois surfactantes interagem de forma
semelhante com o polímero.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
[Surfactante], mM
χ
SDoD
Figura 27. Variação da cac da mistura SDS-SDoD com a fração molar de SDoD, em
presença de 0,1% (m/v) de EHEC em 20 mM de tampão borato/NaOH, pH
9,2 a 25
0
C. Os valores de cac experimental (), segunda a teoria da
solução ideal (linha pontilhada).
50
Notem que, tanto as misturas em presença como na ausência de polímero,
comportam-se idealmente. É interessante observar que as misturas comportam-se
semelhantemente às misturas de SDS-SDoD e PEO, indicando que o processo de
associação, embora com um polímero estruturalmente bastante diferente, é
semelhante.
38
3.5 Medidas de psp Obtidas por Condutividade Elétrica e Tensão
Superficial
Os valores de psp, obtidos dos perfis de condutividade elétrica e tensão
superficial em presença de 0,1% de EHEC (Tabelas 4 e 6), são representados na Figura
28.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
0,00
0,01
0,02
0,03
[Surfactante], M
χ
SDoD
Figura 28. Variação do psp da mistura SDS-SDoD, medidos por condutividade
elétrica (
), e por tensão superficial () em função da fração molar de
SDoD em 0,1 % (m/v) de EHEC em 20 mM de tampão borato/NaOH, pH
9,2.
51
Em todas as frações, ambos os surfactantes interagem com o polímero,
sendo a interação altamente influenciada pela composição dos agregados micelares, ou
seja, pela fração de cada surfactante na mistura. Nota-se que os valores de psp
encontrados por ambas as técnicas são semelhantes variando linearmente com o
aumento da fração molar de SDoD.
As relações lineares obtidas, tem sido usadas para prever a saturação do
polímero pelo surfactante para diferente sistemas, especialmente para misturas como
PEO-SDS, PVP-SDS e PEO-SDoD.
38, 78
Nota-se que as relações lineares obtidas pelas
equações 13 e 14 para as técnicas de condutividade elétrica e tensão superficial
respectivamente são semelhantes demonstrando que ambas as técnicas, embora
observem diferentes propriedades em regiões distintas da solução, estão eindicando o
mesmo fenômeno de saturação polimérica pelos surfactantes.
[SDS + SDoD]
t
= (0,0212)χ
SDoD
+ 0,0048 (13)
[SDS + SDoD]
t
= (0,0210)χ
SDoD
+ 0,0062 (14)
As correlações lineares para os dois perfis são 0,997 e 0,990 para as
equações 13 e 14 respectivamente.
3.6. Variação da Concentração do Polímero EHEC em Fração Molar
Constante da Mistura SDS-SDoD
Mantendo as frações molares fixas da mistura dos surfactantes SDS-SDoD,
a Fig. 29A mostra que a cac é independente da concentração do polímero. Este fato
indica a existência de uma interação cooperativa do surfactante ao polímero que
depende apenas da atividade do monômero do surfactante. O psp mostra uma
dependência direta da concentração de EHEC.
52
Figura 29. Variação do primeiro e do segundo ponto de inflexão, (A) cac (B) psp,
medida por condutividade elétrica em função da concentração de EHEC
em 20 mM de tampão borato/NaOH, pH 9,2, obtidos para diferentes
frações molares de SDoD: (
) 1,0; (_) 0,5; () 0,25.
As determinações condutivimétricas variando-se a concentração de EHEC
em misturas de SDS e SDoD nas frações molares de SDoD 1,0; 0,5 e 0,25, mostram
um aumento linear do psp com o aumento da concentração de EHEC, (Figura 29 B).
Este resultado é mais uma evidencia da ligação entre os surfactantes ao polímero. A
53
inclinação das curvas é de 0,0309, 0,0202 e 0,0216 para as frações molares 1,0; 0,5 e
0,25 respectivamente. Uma relação linear entre as concentrações totais de surfactante e
o psp é dada pelas Equações 14, 15 e 16, para as frações molares 1,0; 0,5 e 0,25
respectivamente.
[SDoD]
t
= 0,0309[EHEC] + 0,024(M) (14)
[SDS + SDoD]
t
= 0,0202[EHEC]+ 0,011(M) (15)
[SDS + SDoD]
t
= 0,0216[EHEC] + 0,0062(M) (16)
As correlações lineares para os três perfis são 0,996, 0,995 e 0,999 para as
frações molares 1,0; 0,5 e 0,25 respectivamente.
Os dados apresentados até aqui permitem algumas conclusões
fundamentais:
(i) a mistura de SDS-SDoD, comporta-se de forma ideal tanto na ausência
como na presença do polímero EHEC;
(ii) mesmo em regime de concentração acima c* ou não (Figura 29A), a cac
não mostra alteração evidenciando ausência de ligação específica;
(iii) o segundo ponto de descontinuidade, denotado por psp, encontrado nos
perfis de condutividade elétrica e tensão superficial, depende linearmente da
concentração de polímero (Figura 29B) e aumenta também de forma linear com o
aumento da χ
SDoD
(Figura 28).
54
3.7. Transmitância
A técnica espectrofotométrica foi utilizada pela primeira vez, para
caracterizar o sistema EHEC-SDS, em trabalhos conduzidos previamente no Polissol.
83
Os resultados obtidos por esta técnica vão ao encontro aos obtidos por viscosimetria
e ambos são relevantes no estudo da reologia de mistura de polímeros
hidrofobicamente modificados e surfactantes aniônicos.
As medidas de transmitância foram investigadas na ausência e na presença
de 0,1% (m/v) de EHEC em função da [surf.] para diferentes frações molares da
mistura de surfactantes SDS e SDoD e em 0,2% (m/v) de EHEC em função da [SDS].
A Figura 30 mostra que a diminuição da transmitância coincide com a cac obtida pelas
técnicas de condutividade elétrica e tensão superficial (Tabelas 4 e 6), sendo portanto,
mais um indício de que as interações polímero-surfactantes iniciam na cac. A Figura
31 visualiza com maior clareza este fato.
0 5 10 15 20 25 30 35 40
70
80
90
100
Transmitância %
[surfactante] mM
cac
psp
Figura 30. Perfil de transmitância em presença de 0,1% (m/v) de EHEC em função da
[surf.] obtidos na fração molar fixa de 0,50 de SDoD. A linha continua
indica a cac e psp obtidos por condutividade elétrica.
55
As Figuras 30 e 31 também mostram que o pspo coincide com a
recuperação da transmitância máxima, sugerindo uma hipótese de que entre a cac e o
psp há um equilíbrio adsorção-desadsorção dos agregados micelares com o polímero
fazendo com que a partir de certa concentração de surfactantes, o processo de
desadsorção se torne favorecido, antes de atingir o psp, fazendo com que a viscosidade
diminua e a transmitância aumente.
0 5 10 15 20 25
1000
1250
1500
1750
2000
[SDS] mM
Condutividade Específica, μ Ω
−1
cm
-1
psp
60
70
80
90
100
S
3
S
2
Transmitância %
cac
S
1
alta
viscosidade
Figura 31. Medida de transmitância (
) e da condutividade elétrica () em função da
[SDS] em presença de 0,1% (m/v) de EHEC, em 20 mM de tampão
borato/NaOH, pH 9,2 a 25
0
C.
Os valores da [SDS] coincidentes com inicio da diminuição da
transmitância em função da fração molar da mistura em presença de 0,1% (m/v) de
EHEC estão resumidos na Figura 32, onde mostra que a variação da cac tem um
comportamento análogo aos dados obtidos por condutividade elétrica e tensão
superficial, estando de acordo com os valores de cac
ideal
,obtidos através da equação 1
modificada.
56
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
[Surfactante], mM
χ
SDoD
Figura 32. Variação da cac da mistura SDS-SDoD com a fração molar de SDoD, em
presença de 0,1% (m/v) de EHEC obtidos por transmitância. Os valores de
cac experimental (
), segunda a teoria da solução ideal (linha pontilhada).
Observa-se na Figura 33 que, em baixas concentrações de SDS (inferior à 2
mM), a transmitância é máxima e a viscosidade não sofre alteração. Este fato está
associado aos domínios hidrofóbicos da cadeia polimérica, que são responsáveis por
formar grupos associados entre as cadeias formando microdomínios hidrofóbicos, na
prática, são responsáveis na contribuição das propriedades dinâmicas e reológicas das
soluções.
43, 45, 78
Estas associações podem acontecer intramolecularmente e, neste caso,
o efeito sobre as propriedades da solução é a de diminuição da viscosidade e aumento
na transmitância da solução. Em condutividade elétrica e tensão superficial essa
associação não tem efeito significativo nessas concentrações de surfactante.
43, 45, 78
Quando a associação ocorre entre moléculas de polímero, forma-se em
solução uma rede, “mais rígida”, que aumenta com o aumento da concentração de
EHEC veja Figura 12.
43, 45
Este fato justifica o aumento da viscosidade em baixas
concentrações de SDS e a diminuição da transmitância. O mínimo de transmitância
que está em torno de 3 - 3,5 mM de SDS, coincide com o máximo de viscosidade
reduzida. Este máximo está associado com a interação hidrofóbica entre os agregados
micelares e as regiões hidrofóbicas do polímero (grupos associados). O aumento da
concentração de EHEC aumenta o número de ligações associadas por micelas, pois
aumenta as regiões hidrofóbicas. A variação da concentração de polímero não causa,
57
contudo, efeito sobre a cac, afetando somente região entre os pontos de
descontinuidade, cac-psp.
Acima da cac, com aumento da concentração de SDS, a viscosidade
diminui e transmitância aumenta. Este fato evidência que as ligações cruzadas
começam a se romper, principalmente por efeito de repulsão de carga existentes nos
complexos micelares.
Figura 33. Viscosidade reduzida vs. [SDS] e transmitância vs. [SDS] em presença de
0,2% (m/v) de EHEC.
78
A Figura 34 mostra perfis de transmitância em função da [surf.] obtidos
para os surfactantes SDS e SDoD. Estes experimentos foram realizados como forma
de acompanhar a transmitância e mostrar que diminuição observada nas Figuras 30 e
31, está associada somente com a interação entre os surfactantes com os
microdomínios hidrofóbicos do polímero EHEC.
024681012
0
400
800
1200
[SDS], mM
Viscosidade reduzida, η
red
0
20
40
60
80
100
Transmitância, %
58
010203040
90
95
100
Transmitância %
[Surfactante], mM
Figura 34. Perfis de transmitância na ausência de EHEC em 20 mM de tampão
borato, pH 9,2, a 25 ºC, em função da [surf.] obtidos para SDS (
) e
SDoD (
).
59
CAPÍTULO IV
CONCLUSÕES s
Tanto por condutividade elétrica como por tensão superficial, conclui-se
que a mistura formada pelos surfactantes SDS e SDoD trata-se de um sistema ideal,
mostrado através da variação da cmc quanto da cac.
O segundo ponto de descontinuidade das curvas de condutividade elétrica e
tensão superficial (psp), na presença de 0,1% (m/v) de EHEC variam linearmente em
todas as frações dos surfactantes, sendo a interação influenciada pela composição dos
agregados micelares, ou seja, pela fração de cada surfactante na mistura.
Através da condutividade elétrica em frações fixas da mistura de SDS-
SDoD demonstrou-se que a concentração de agregação critica, não depende da
concentração de EHEC implicando que o processo de associação da mistura de
surfactante SDS-SDoD ao polímero é fortemente cooperativo.
O psp mostra uma dependência linear com a variação da concentração de
EHEC, análogo comportamento de sistemas como PEO-SDS e EHEC-SDoD já
obtidas por Zanette e colaboradores.
74, 78
Os graus de ionização das micelas e dos complexos com o polímero
determinados indicam que os agregados são mais ionizados em misturas ricas de
SDoD. O polímero não demonstra influência no grau de ionização abaixo da cac e
acima do psp, mas sim apenas na faixa entre cac-psp.
A diminuição da transmitância das soluções observadas com o uso do
método espectrofotométrico na região da cac vai ao encontro com o comportamento
reológico destas misturas, que em conjunto com os valores de cac, obtidos por
condutividade elétrica e tensão superficial, são evidências de que a mistura dos
surfactantes SDS e SDoD comporta-se de forma ideal sendo um indício de que as
interações polímero-surfactantes iniciam somente na cac. A técnica
espectrofotométrica mostrou-se, então, uma boa ferramenta para a investigação de
misturas de éteres de celulose com misturas de surfactantes aniônicos.
60
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