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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS FÍSICAS E MATEMÁTICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
ESTUDO MECANÍSTICO DA REAÇÃO ENTRE HIDROXILAMINA E
ACETATOS DE ARILA
Deise Juliane Mazera
Florianópolis, dezembro de 2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS FÍSICAS E MATEMÁTICAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
ESTUDO MECANÍSTICO DA REAÇÃO ENTRE HIDROXILAMINA E
ACETATOS DE ARILA
Tese apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Química da Universidade Federal
de Santa Catarina, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Doutor em Química
Orgânica.
Doutoranda: Deise Juliane Mazera
Orientador: Prof. Dr. José Carlos Gesser, PhD.
Florianópolis, dezembro de 2007
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I
"O pensamento lógico pode levar
você de A a B, mas a imaginação
te leva a qualquer parte do
Universo"
Albert Einstein
II
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, prof. Dr. José Carlos Gesser que, com seu profundo conhecimento
científico, sua constante tranqüilidade e bom humor, transmitiu-me ensinamentos que
se farão presentes para sempre em minha vida.
A toda minha família, minha mãe Zair, meu pai José e meus irmãos Ana Cláudia,
Raquel, Miria e Édio.
Ao prof. Dr. Josefredo Pliego e professora Dr. Stella Pliego pela excelente orientação
em química teórica.
Ao professor Miguel Caro pelo auxílio na obtenção e análise de espectros de RMN.
A todos os meus amigos do LacBio, Andréia, Rodrigo, Rosane, Juan, Adriano, Robson,
Mariana, Dayane e Fabrício.
Aos meus amigos do Departamento de Química.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Química da UFSC.
Ao Departamento de Química da UFSC.
Aos funcionários da biblioteca setorial do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas da
UFSC.
Aos funcionários da central de análises do Departamento de Química da UFSC..
Ao CNPq pelo apoio financeiro.
A UFSC
E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho e
meu crescimento pessoal.
III
ÍNDICE ANALÍTICO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
1.1 REAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE ACILA EM SISTEMAS BIOLÓGICOS......1
1.2 REAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE ACILA EM ÉSTERES
CARBOXÍLICOS......................................................................................................6
1.2.1 Mecanismos de Hidrólise de Ésteres Carboxílicos ......................................8
1.3 DETERMINAÇÃO DE MECANISMOS EM REAÇÕES DE
TRANSFERÊNCIA DE ACILA...............................................................................11
1.3.1 Relações Lineares de Energia Livre ..........................................................11
1.3.1.1 A equação de Hammett....................................................................................11
1.3.1.2 A equação de Bronsted....................................................................................13
1.4 O EFEITO
α
............................................................................................................15
1.5 REAÇÃO DE ACETATOS DE ARILA COM HIDROXILAMINA ...........................19
1.6 MÉTODOS TEÓRICOS..........................................................................................22
1.6.1 Cálculos “ab initio” .....................................................................................22
1.6.1.1 Equação de Schrödinger..................................................................................23
1.6.1.2 Método de Hartree-Fock ..................................................................................24
1.6.1.3 Teoria do Funcional de Densidade (DFT) .....................................................25
1.6.1.4 Conjunto de funções de base..........................................................................26
1.6.1.5 Base mínima ou single-zeta.............................................................................27
1.6.1.6 Base dupla ou double-zeta (DZ).....................................................................27
1.6.1.7 Base triple-zeta-valence (TZ) ..........................................................................28
1.6.1.8 Funções de polarização ...................................................................................28
1.6.2 Efeito do Solvente......................................................................................30
1.6.2.1 Modelos teóricos................................................................................................30
1.6.2.2 Modelos Contínuos: Uma breve introdução..................................................30
1.6.2.3 Modelos contínuos: implementações, confiabilidade e comparações......32
2 OBJETIVOS.............................................................................................................................34
2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................34
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................34
3 JUSTIFICATIVAS...................................................................................................................36
4 PARTE EXPERIMENTAL.....................................................................................................38
4.1 MATERIAIS E EQUIPAMENTOS ..........................................................................38
IV
4.2 METODOLOGIA.....................................................................................................39
4.2.1 Preparação e Caracterização dos Ésteres Arílicos...................................39
4.2.2 Experimentos Cinéticos .............................................................................39
4.2.2.1 Reação de acilação (primeira etapa) .............................................................39
4.2.2.2. Reação de acilação em D
2
O ..........................................................................41
4.2.2.3 Cinética da transformação do intermediário O-acilado no
intermediário mais estável N-acilado...........................................................................42
4.2.3 Determinação da Quantidade inicial de N-acilhidroxilamina ......................43
4.2.4 Parâmetros de Ativação.............................................................................43
4.2.5 Experimentos de RMN...............................................................................44
4.2.5.1 Detecção da O-acilhidroxilamina ....................................................................44
4.2.5.2 Detecção dos possíveis produtos de substituição aromática
nucleofílica.......................................................................................................................44
4.2.6 Cálculos Teóricos ......................................................................................44
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................................46
5.1 SISTEMA ESTUDADO...........................................................................................46
5.2 ANÁLISE DA FORMAÇÃO DA O-ACILHIDROXILAMINA ..................................47
5.3 ANÁLISE DA REAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO AROMÁTICA NUCLEOFÍLICA
S
N
(AR) VERSUS SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA ACÍLICA S
N
(C)..................51
5.4 FORMAÇÃO DA N-ACILHIDROXILAMINA VERSUS FORMAÇÃO DA O-
ACILHIDROXILAMINA..........................................................................................57
5.5 ESTUDO CINÉTICO DA PRIMEIRA FASE DA REAÇÃO DOS ACETATOS
DE ARILA COM HIDROXILAMINA E IMPLICAÇÕES NO MECANISMO
REACIONAL. .........................................................................................................59
5.6 ESTUDO CINÉTICO DA PRIMEIRA FASE DA REAÇÃO DO ACETATO DE
2,4-DINITROFENILA E ACETATO DE FENILA COM DERIVADOS DA
HIDROXILAMINA E IMPLICAÇÕES NO MECANISMO REACIONAL................63
5.7 SOBRE O MECANISMO REACIONAL – COMPARAÇÃO COM DADOS DA
LITERATURA.........................................................................................................68
5.8 ESTUDOS DO EFEITO ISOTÓPICO CINÉTICO DO SOLVENTE. ......................70
5.9 PARÂMETROS DE ATIVAÇÃO ............................................................................71
5.10 CÁLCULOS “AB INITIO” ....................................................................................72
5.11 MECANISMO PROPOSTO E SUA CONSEQÜÊNCIA NA DISTRIBUIÇÃO
DOS PRODUTOS (GRUPOS DE SAÍDA DE pKA MAIOR QUE SEIS)...............79
V
5.12 MECANISMO PROPOSTO E SUA CONSEQÜÊNCIA NA DISTRIBUIÇÃO
DOS PRODUTOS (GRUPOS DE SAÍDA DE pKA MENOR QUE SEIS)..............83
6 CONCLUSÕES ........................................................................................................................85
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................86
8 ANEXOS...................................................................................................................................97
8.1 MAZERA, D. J.; GESSER, J. C.; PLIEGO, J. R. on the mechanism of
the reaction between aryl acetates and hydroxylamine. Arkivoc, v. 2007,
Part XV, p. 199-214, 2007. .................................................................................97
VI
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura da acetil coenzima A......................................................................................... 1
Figura 2: Ligação do antibiótico Vancomicina com o dipeptídeo terminal D-Ala-D-
Ala em bactérias grã-positivas e grã-negativas...........................................................................4
Figura 3: Repulsão entre a Vancomicina e a parede celular da bactéria devido a
modificação do aminoácido terminal D-alanina por D-lactato. ..............................................5
Figura 4: Diagrama de More O’ferrall para a reação de íons fenóxidos com
acetatos de fenila
17
.................................................................................................................................7
Figura 5: Logaritmo da velocidade relativa para a adição de metillítio a
benzofenonas substituídas em função dos valores de
σ
para os respectivos
fenóis............................................................................................................................................................12
Figura 6: Espécies nucleofílicas que podem apresentar o efeito
α
em processos
catalíticos....................................................................................................................................................15
Figura 7: Velocidade de reações de diferentes nucléofilos com acetato de p-
nitrofenila, em solução aquosa a 25
°
C, em função da basicidade do nucleófilo...........16
Figura 8: Diagrama de energia em função da coordenada de reação para uma
reação com formação de um intermediário tetraédrico............................................................ 18
Figura 9: Diferentes modelos, propostos por Jencks, para a formação da O-
acilhidroxilamina a partir do acetato de p-nitrofenila e hidroxilamina.................................20
Figura 10: Modelo proposto por Jencks para a decomposição, limitante da
velocidade, do intermediário da reação entre acetado de p-nitrofenila e
hidroxilamina.............................................................................................................................................21
Figura 11: Intermediário dipolar-iônico, proposto por Hengge, para a reação do
acetato de p-nitrofenila com hidroxilamina a pH 6,0. ................................................................22
Figura 12: Representação da orientação dos dipolos das moléculas do solvente
em torno do soluto..................................................................................................................................31
Figura 13: Molécula de água imersa em uma cavidade de esferas sobrepostas.
Solvatação pelo contínuo dielétrico. ................................................................................................32
Figura 14: Correlação entre valores de pK
a
teórico e experimental...................................... 33
Figura 15: Estrutura do complexo formado entre Fe
+3
é ácidos hidroxâmicos................. 42
Figura 16: Espectros de
13
C RMN para a reação entre acetato de fenila e
hidroxilamina em etanol deuterado. ................................................................................................. 48
Figura 17: Gráfico da constante de velocidade de pseudo-primeira ordem para a
reação da O-acilhidroxilamina com hidroxilamina em função da concentração
molar de hidroxilamina a 25,0
o
C,
µ
= 0,5 M ( KCl ) e pH 7,0.................................................50
VII
Figura 18: Possíveis formas de ataque da hidroxilamina através do átomo de
nitrogênio e/ou do átomo de oxigênio sobre o acetato de 2,4,6-trinitrofenila..................52
Figura 19: Espectros de
1
H RMN para o acetato de 2,4,6-trinitrofenila em CD
3
OD.......52
Figura 20: Espectro de
1
H RMN mostrando o sinal em 7,27 correspondente aos
hidrogênios aromáticos do 2,4,6-trinitrofenol...............................................................................53
Figura 21: Espectro de
1
H RMN para absorção dos hidrogênios aromáticos na
reação entre acetato de 2,4,6-trinitrofenila e hidroxilamina, em CD
3
OD........................... 54
Figura 22: Espectro de
1
H RMN para absorção dos hidrogênios metílicos na
reação entre acetato de 2,4,6-trinitrofenila e hidroxilamina, em CD
3
OD........................... 55
Figura 23: Possíveis compostos formados devido a ocorrência de reação de
substituição nucleofílica aromática entre hidroxilamina e acetato de 2,4,6-
trinitrofenila. ...............................................................................................................................................56
Figura 24: Estrutura do acetato de 2,4,6-trinitrofenila obtida por modelagem
molecular....................................................................................................................................................58
Figura 25: Constantes de velocidade de pseudo-primeira ordem para a reação de
hidroxilamina com acetato de fenila (A) e acetato de 2,4-dinitrofenila (B), a 25
°
C, pH 7 e
µ
= 0,5 M (KC)....................................................................................................................59
Figura 26: Gráfico de Bronsted para a reação de acetatos de arila substituídos
com hidroxilamina a 25
°
C, pH 7 e
µ
= 0,5 M (KCl)................................................................... 62
Figura 27: Gráfico de Bronsted para a hidrólise do acetato de 2,4-dinitrofenila a
pH 7,0 com
α
-nucleófilos a 25.0oC, força iônica 0,5M ( KCl ) e 0.01 M de tampão
fosfato. .........................................................................................................................................................66
Figura 28: Diagrama de More O´Ferral-Jencks para a reação de N-acilação da
hidroxilamina através de acetatos de arila com bons grupos de saída (pKa < 6).........68
Figura 29: Gráfico de Bronsted para a reação de acetatos de arila substituídos
com hidroxilamina através de seu átomo de nitrogênio (
z) e oxigênio (S) e para
a reação com íon hidróxido (
) a 25
o
C..........................................................................................69
Figura 30: Estados de transição mais estáveis (TS1O e TS1N) para a formação
do intermediário tetraédrico na reação da hidroxilamina com acetato de fenila
através de seu átomo de oxigênio, (A) e nitrogênio, (B)......................................................... 74
Figura 31: Estrutura dos complexos formados entre a hidroxilamina dipolar iônica
(NH
3
+
O
-
) e o intermediário tetraédrico neutro.............................................................................. 75
Figura 32: Estrutura do complexo formado devido a interação da hidroxilamina
dipolar iônica (
+
NH
3
O
-
) com o intermediário tetraédrico neutro............................................ 76
Figura 33: Estados de transição mais estáveis para a decomposição do
intermediário tetraédrico na reação da hidroxilamina com acetato de fenila
VIII
através de seu átomo de oxigênio (TS2O: Figura (A)) e nitrogênio (TS2N:
Figura (B)).................................................................................................................................................77
Figura 34: Diagrama de energia obtido para a formação da O-acilhidroxilamina
(
) e da N-acilhidroxilamina (z) a partir do acetato de fenila e hidroxilamina................ 79
I
X
ÍNDICE DE ESQUEMAS
Esquema 1: Biosíntese da acetil coenzima A. .................................................................................. 1
Esquema 2: Reações típicas da acetil coenzima A........................................................................ 2
Esquema 3: Reação envolvida nos passos iniciais da biosíntese de ácidos graxos......... 3
Esquema 4: Reação da Acetil coenzima A para produzir a Malonil Coenzima A na
biosíntese de ácido graxos.................................................................................................................... 3
Esquema 5: Reação da malonil coenzima A na biosíntese de ácido graxos........................ 3
Esquema 6: Mecanismo genérico de adição-eliminação em reações de
substituição nucleofílica em ésteres carboxílicos......................................................................... 6
Esquema 7: Formação do íon acílio na diazotação da benzamida. (R= radical
benzil)............................................................................................................................................................. 6
Esquema 8: Mecanismo da reação de aminólise de ésteres carboxílicos........................... 10
Esquema 9: Possível aumento da nucleofilicidade em nucleófilos do tipo
α
devido
ao efeito de ressonância. ..................................................................................................................... 17
Esquema 10: Formação da O e N-acilhidroxilamina a partir da reação de ésteres
carboxílicos com hidroxilamina.......................................................................................................... 19
Esquema 11: Formação da N-acilhidroxilamina através da reação de O-
acilhidroxilamina com hidroxilamina. ............................................................................................... 19
Esquema 12: Formação da N e O-acilhidroxilamina a partir do acetato de fenila e
hidroxilamina............................................................................................................................................. 34
Esquema 13: Reação de acetatos de arila com hidroxilamina formando O- e N-
acilhidroxilamina...................................................................................................................................... 46
Esquema 14: Reação da O-acilhidroxilamina com hidroxilamina formando N-
acilhidroxilamina...................................................................................................................................... 47
Esquema 15: Reação do bis(2,4-dinitrofenil)fosfato com derivados da
hidroxilamina............................................................................................................................................. 51
Esquema 16: Reação do acetato de fenila com hidroxilamina com a identificação
dos respectivos hidrogênios para a atribuição dos sinais em
1
H RMN.............................. 53
Esquema 17: Provável mecanismo envolvido na formação da O acilhidroxilamina a
partir do acetato de fenila e hidroxilamina..................................................................................... 80
Esquema 18: Provável mecanismo envolvido na formação da N acilhidroxilamina a
partir do acetato de fenila e hidroxilamina..................................................................................... 81
X
Esquema 19: Mecanismo proposto para a reação dos acetatos 1-3 com
hidroxilamina............................................................................................................................................. 81
Esquema 20: Mecanismo proposto para a reação dos acetatos 4-5 com
hidroxilamina............................................................................................................................................. 84
XI
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Classificação dos possíveis mecanismos para a hidrólise e formação de
ésteres........................................................................................................................................................... 9
Tabela 2: Número de funções obtidas para a molécula de H
2
O com a base STO-
3G.................................................................................................................................................................. 27
Tabela 3: Número de funções obtidas para a molécula de H
2
O com a base
Double-Zeta............................................................................................................................................... 28
Tabela 4: Número de funções obtidas para a molécula de H
2
O com a base TZ.............. 28
Tabela 5: Ésteres e nucleófilos utilizados para a investigação de reações de
acilação. ...................................................................................................................................................... 40
Tabela 6: Porcentagem de N-acilhidroxilamina formada em função dos substratos
analisados para a reação da hidroxilamina com acetatos de arila a 25 °C, pH 7,0
(tampão fosfato 0,01M)......................................................................................................................... 57
Tabela 7: Constantes de velocidade de segunda ordem k
2
(M
-1
.sec
-1
) e de terceira
ordem k
3
(M
-2
.sec
-1
) para a clivagem de acetatos de arila por NH
2
OH a 25 °C,
pH 7 e µ = 0,5 M (KCl)........................................................................................................................... 60
Tabela 8: Constantes de velocidade de segunda ordem, k
2N
(M
-1
.sec
-1
) e k
2O
(M
-
1
.sec
-1
), e de terceira ordem, k
3N
(M
-2
.sec
-1
) e k
3O
(M
-2
.sec
-1
), para a clivagem
de acetatos de arila por NH
2
OH a 25 °C, pH 7 e µ = 0,5 M (KCl)........................................ 61
Tabela 9: Constantes de velocidade de segunda ordem k
2
(M
-1
.sec
-1
) e
decompostas em ataque pelo nitrogênio (k
N
) e oxigênio (k
O
) para a clivagem do
acetato de fenila por nucleófilos derivados da hidroxilamina a 25 °C, pH 7 e µ =
0,5 M (KCl)................................................................................................................................................. 64
Tabela 10: Constantes de velocidade de segunda ordem k
2
(M
-1
.sec
-1
) e
decompostas para o ataque pelo nitrogênio (k
N
) e oxigênio (k
O
) na clivagem do
acetato de 2,4-dinitrofenila por nucleófilos derivados da hidroxilamina a 25 °C,
pH 7 e µ = 0,5 M (KCl)........................................................................................................................... 64
Tabela 11: Porcentagem de ataque pelo átomo de nitrogênio dos derivados de
hidroxilamina para o acetato de fenila e 2,4-dinitrofenila a 25 °C, pH 7,0 (tampão
fosfato 0,01M).
.......................................................................................................................................... 65
Tabela 12: Parâmetros de estrutura-reatividade para a reação entre derivados da
hidroxilamina, através do átomo de nitrogênio, e acetatos de arila com grupos de
saída de pKa menor que sete.
........................................................................................................... 67
Tabela 13: Parâmetros de ativação para a reação da hidroxilamina com acetatos
de arila substituídos................................................................................................................................ 71
XII
Tabela 14: Barreiras de energia livre de ativação (G
) em Kcal.mol
-1
e a 25 °C
para a formação do intermediário tetraédrico envolvido na reação de NH
2
OH
com acetato de fenila em água.......................................................................................................... 73
Tabela 15: Barreiras de energia livre de ativação (G
) em Kcal.mol
-1
e a 25
O
C
para a decomposição do intermediário tetraédrico envolvido na reação de
NH
2
OH com acetato de fenila em água*........................................................................................ 77
XIII
LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIAÇÕES
A
AC
1 - Hidrólise unimolecular catalisada por ácido com quebra da
ligação O-acil.
A
AC
2 - Hidrólise bimolecular catalisada por ácido com quebra da
ligação O-acil.
ADN - ácido desoxirribonucléico
Ad
N
-E(C) - Reação de adição eliminação no carbono carbonílico
Ala - alanina
A
AL
1 - Hidrólise unimolecular catalisada por ácido com quebra da
ligação O-alquil.
A
AL
2 - Hidrólise bimolecular catalisada por ácido com quebra da
ligação O-alquil.
B
AC
1 - Hidrólise unimolecular catalisada por base com quebra da
ligação O-acil.
B
AC
2 - Hidrólise bimolecular catalisada por base com quebra da
ligação O-acil.
B
AL
1 - Hidrólise unimolecular catalisada por base com quebra da
ligação O-alquil.
B
AL
2 - Hidrólise bimolecular catalisada por base com quebra da
ligação O-alquil.
BLYP - combinação dos funcionais de densidade de Becke e de Lee,
Yang e Parr
B3LYP - funcional de densidade que inclui termos de troca exatos no
funcional LYP
CD
3
OD - metanol deuterado
Coa - coenzima A
DMSO - dimetilsulfóxido
D
2
O - água deuterada
Ea - energia de ativação
GTO - orbital do tipo Slater
HF - Hartree Fock
IR - infravermelho com transformada de Fourier
XI
V
k
2
- constante de velocidade total de segunda ordem
k
3
- constante de velocidade total de terceira ordem
k
2N
- constante de velocidade de segunda ordem com ataque
somente pelo átomo de nitrogênio
k
2O -
constante de velocidade de segunda ordem com ataque
somente pelo átomo de oxigênio
k
3N -
constante de velocidade de terceira ordem com ataque somente
pelo átomo de nitrogênio
k
3O
- constante de velocidade de terceira ordem com ataque somente
pelo átomo de oxigênio
k
obs
- constante de velocidade total de pseudo-primeira ordem
Lac - lactato
PCM - modelo contínuo de polarização
pKa - recíproco do logaritmo da constante de acidez de um ácido
QM/MM - mecânica quântica/mecânica molecular
RMN
1
H - espectroscopia de ressonância magnética nuclear de hidrogênio
RMN
13
C - espectroscopia de ressonância magnética nuclear de carbono
13
SN
1
- substituição nucleofílica unimolecular
SN
2
- substituição nucleofílica bimolecular
S
N
(Ar) - substituição nucleofílica aromática
S
N
(C) - substituição nucleofílica acílica
S
N
(P) - substituição nucleofílica no fósforo
STO - Orbital do tipo Slater
TSAB - estado de transição para a conversão do Dímero A no Dímero
B
TS1O_nãocat - estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de oxigênio; sem
catálise.
TS1N_nãocat - estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de nitrogênio; sem
catálise.
X
V
TS1O_H
2
O - estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de oxigênio; com
catálise pela água
TS1N_H
2
O - estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de nitrogênio; com
catálise pela água
TS1O_NH
2
OH_O
b
- estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de oxigênio; com
catálise básica pelo átomo de oxigênio de uma segunda molécula
de hidroxilamina
TS1N_NH
2
OH_O
b
- estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de nitrogênio; com
catálise básica pelo átomo de oxigênio de uma segunda molécula
de hidroxilamina
TS1O_NH
2
OH_N
b
- estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de oxigênio; com
catálise básica pelo átomo de nitrogênio de uma segunda
molécula de hidroxilamina
TS1N_NH
2
OH_N
b
- estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de nitrogênio; com
catálise básica pelo átomo de nitrogênio de uma segunda
molécula de hidroxilamina
TS1O - estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de oxigênio; com
catálise básica pelo átomo de nitrogênio e ácida pelo átomo de
oxigênio, simultaneamente, por uma segunda molécula de
hidroxilamina.
TS1N - estado de transição obtido para a formação do intermediário
tetraédrico através do ataque pelo átomo de nitrogênio; com
catálise básica pelo átomo de nitrogênio e ácida pelo átomo de
oxigênio, simultaneamente, por uma segunda molécula de
hidroxilamina.
TS2O_nãocat - estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico O-acilado, sem catálise
XVI
TS2N_nãocat - estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico N-acilado, sem catálise
TS2O_H
2
O - estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico O-acilado, com catálise pela H
2
O
TS2N_H
2
O - estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico N-acilado, com catálise pela H
2
O
TS2O_NH
2
OH_O
ab
- estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico O-acilado, com catálise bifuncional pelo átomo de
oxigênio de uma segunda molécula de hidroxilamina
TS2N_NH
2
OH_O
ab
- estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico N-acilado, com catálise bifuncional pelo átomo de
oxigênio de uma segunda molécula de hidroxilamina
TS2O_NH
2
OH_N
ab
- estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico O-acilado, com catálise bifuncional pelo átomo de
nitrogênio de uma segunda molécula de hidroxilamina
TS2N_NH
2
OH_N
ab
- estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico N-acilado, com catálise bifuncional pelo átomo de
nitrogênio de uma segunda molécula de hidroxilamina
TS2O - estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico O-acilado, com catálise básica pelo átomo de oxigênio
e ácida pelo átomo de nitrogênio, simultaneamente, por uma
segunda molécula de hidroxilamina na forma dipolar iônica.
TS2N - estado de transição para a decomposição do intermediário
tetraédrico N-acilado, com catálise básica pelo átomo de oxigênio
e ácida pelo átomo de nitrogênio, simultaneamente, por uma
segunda molécula de hidroxilamina na forma dipolar iônica.
UV-VIS - ultravioleta-visível
H
#
- entalpia de ativação
S
#
- entropia de ativação
G
#
- energia livre de Gibbs de ativação
µ - força iônica do meio
σ - constante do substituinte
ρ - coeficiente de Hammett
XVII
α - coeficiente de Bronsted para uma reação catalisada por ácido
geral
β - coeficiente de Bronsted para uma reação catalisada por base
geral
XVIII
ABSTRACT
The reaction of aryl acetates and hydroxylamine produces O-acylhydroxylamine
and N-acylhydroxylamine, the latter being essentially observed for good leaving group
esters and the former for poor leaving esters. For both acylation reactions, kinetics
studies suggested a tetrahedral intermediate intervention for nucleofuges in a pKa
range of 1 to 9. Esters having leaving groups with a pKa value less than 6 react by a
rate-determining step inferred to be the tetrahedral intermediate formation, while
for esters having leaving groups with a pKa value higher than 6, the rate-limiting step
has been proposed to be the tetrahedral intermediate decomposition. General
bifunctional acid-base catalysis by a second hydroxylamine molecule was identified as
one of the components of the reaction for the intermediate collapse to products in the
poor leaving group ester.
XI
X
RESUMO
A reação de acetatos de arila com hidroxilamina produz a O-acilhidroxilamina e a
N-acilhidroxilamina, esta última sendo observada como produto para a reação de
ésteres com bons grupos de saída enquanto que a primeira é formada na reação de
ésteres com grupos de saída ruins. Para ambas as reações de acilação, estudos
cinéticos sugerem que a reação ocorre via formação de um intermediário tetraédrico
para nucleófugos contendo grupos de saída com pKa na faixa de 1 a 9. Ésteres tendo
grupos de saída com valores de pKa menor que 6 reagem por um mecanismo no qual
a etapa determinante da velocidade é a formação do intermediário tetraédrico,
enquanto que para aqueles com valores de pKa maior que seis a decomposição do
intermediário tetraédrico é proposta como etapa limitante da velocidade. Catálise ácida-
básica geral, por uma segunda molécula de hidroxilamina, foi identificada como um dos
componentes da reação para a decomposição do intermediário na série de ésteres com
grupos de saída ruins.
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 REAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE ACILA EM SISTEMAS BIOLÓGICOS
Em sistemas biológicos, algumas das reações mais importantes e conhecidas,
envolvendo a transferência de grupamento acila, ocorrem na biosíntese de compostos
como ácidos graxos, terpenos e esteróides através da participação de um tioéster, a
acetil coenzima A, Figura 1.
Figura 1: Estrutura da acetil coenzima A.
Sua formação ocorre em várias etapas a partir do ácido pirúvico, um
intermediário chave no metabolismo da glicose, e está resumido no Esquema 1.
1
Esquema 1: Biosíntese da acetil coenzima A.
Todos os passos individuais na biosíntese da acetil coenzima A são catalisados
por enzimas e a coenzima A atua como receptora do grupo acetil. A acetilação do
grupo sulfidril da coenzima A, um tiol, produz a acetil coenzima A.
Em algumas reações a acetil coenzima A age como agente de transferência de
acetila enquanto em outras reações o átomo de carbono α do grupo acetil é o sítio
reativo, Esquema 2.
1
S
O
H
N
H
N
O
O
OH
O
P
O
O
O
-
P
O
O
-O
O
O
P
O
OH
O
-
OH
N
N
N
N
+H
3
N
ácido pirúvico
coenzima A
acetil coenzima A
H
3
C
O
O
OH
+
CoASH
+NAD
+
H
3
C
O
SCoA
+
CO
2
+NADH
+H
+
2
Esquema 2: Reações típicas da acetil coenzima A.
Tioésteres, compostos do tipo RCOSR’, são melhores agentes para a
transferência de acila do que os ésteres carboxílicos, compostos do tipo RCOOR’, pois
a ligação entre o carbono e o enxofre em um tioéster é mais longa que em ésteres e a
delocalização do par de elétrons do enxofre no orbital π do grupo carbonila não é tão
pronunciada quanto nos ésteres.
Uma reação importante de transferência de acila, envolvendo a participação da
acetil coenzima A, ocorre nos passos iniciais da biosíntese de ácidos graxos, derivados
carboxílicos de moléculas alifáticas de cadeia longa, normalmente encontrados na
forma de triacilgliceróis tanto em plantas quanto em animais.
Ácidos graxos poliinsaturados são componentes estruturais da membrana
celular, sendo parte integrante de sua estrutura lipoproteica. São também precursores
de um grupo de substâncias denominadas eicosanóides; hormônios locais na
regulação de processos fisiológicos como, por exemplo, processos inflamatórios. Sua
biosíntese ocorre por intermédio da acetil coenzima A. Inicialmente há a transferência
do grupo acetil de uma molécula da acetil coenzima A para o grupo sulfidril de uma
certa espécie de proteína chamada “proteína acil transportadora”, Esquema 3.
1
H
3
C
O
SCoA
H
2
C
O
SCoA
H
3
C
O
Y
O
SCo
A
E
HY
E
+
Reação no
carbono
α
Reação de
Ad
N
-E
3
Esquema 3: Reação envolvida nos passos iniciais da biosíntese de ácidos graxos.
Uma segunda molécula da acetil coenzima A reage com dióxido de carbono (que
em pH fisiológico encontra-se na forma de bicarbonato) para formar a malonil coenzima
A, Esquema 4.
Esquema 4: Reação da Acetil coenzima A para produzir a Malonil Coenzima A na
biosíntese de ácido graxos.
Em uma outra etapa desta rota sintética, a Malonil Coenzima A reage através de
uma substituição nucleofílica acílica transferindo o grupo Malonil para uma proteína acil
transportadora, Esquema 5.
1
Esquema 5: Reação da malonil coenzima A na biosíntese de ácido graxos.
Depois da síntese de ambas as “unidades de construção” a “proteína acil
carregadora S-acetilada” e a “proteína S-malonil acil transportadora”, ocorre a formação
de uma ligação, através de uma condensação de Claisen, entre o átomo de carbono α
do grupo malonil e o carbono carbonílico do grupo acetil. A formação dessa ligação
carbono-carbono é acompanhada por uma decarboxilação. Os passos subsequentes
malonil
coenzima A
proteína
acil transportadora
proteína acil
transportadora S-malonil
OO
-
O SCoA
+
HS
OO
-
O SACP
HSCo
A
ACP
+
coenzima A
acetil
coenzima A
malonil
coenzima A
bicarbonato água
H
3
C
O
ScoA
+
HCO
3
-
O
O O
SCoA
+
H
2
O
H
3
C
O
SCoA
+
HS ACP
H
3
C
O
SACP
+
HS CoA
acetil
coenzima A
proteína acil
transportadora
proteína acil trans
portadora S-acetilada
coenzima
A
4
dessa rota sintética envolvem redução e desidratação. Sucessivas repetições da
mesma levam ao ácido graxo correspondente.
Isso exemplifica o papel fundamental de reações de transferência de acila em
reações biologicamente importantes.
Uma linha de pesquisa promissora, que também envolve reações de
transferência de acila, a partir de ésteres carboxílicos, é a preparação e análise da
atividade química e biológica de agentes nucleofílicos derivados da hidroxilamina
capazes de re-sensibilizar bactérias resistentes a Vancomicina. A Vancomicina é um
antibiótico ativo contra cocos Gram-positivos, estreptococos, Clostridium difficile e
Corynebacterium. É um antibiótico que afeta o metabolismo de construção da parede
celular das bactérias ligando-se na porção D-
Ala-D-Ala, um dipeptídeo terminal, Figura
2
.
2
Figura 2: Ligação do antibiótico Vancomicina com o dipeptídeo terminal D-Ala-D-Ala
em bactérias grã-positivas e grã-negativas.
A Vancomicina é considerada o último recurso para o tratamento de infecções
causadas por bactérias Gram-positivas, infelizmente, cepas de enterococos vêm
tornando-se altamente resistentes a este antibiótico.
3
N
N
O
O
O
O
O
O
OH
H
3
C
H O
H
2
N
H O
H O
C H
3
N
H
2
N
O
O
O
O
N
O
N
OH
H
H
H
N
O
H
H O
N
O H
O H H O
H O
O
C l
Cl
H
H
H
L - L i s N
N
O
O
O
O
D - G l u L- A l a
H
H
O
5
Muitas bactérias tornam-se resistentes a Vancomicina através da modificação
genética em micro-organismos, que como resultado passam a sintetizar o
depsipeptídeo D-
Ala-D-Lac ao invés do dipeptídeo D-Ala-D-Ala.
4
A modificação do
aminoácido terminal D-alanina por D-lactato introduz uma interação eletrostática
repulsiva no lugar da ligação de hidrogênio,
Figura 3; como conseqüência, a afinidade
da Vancomicina com a camada de peptidoglicano diminui em um fator de 1000 vezes.
5
Figura 3: Repulsão entre a Vancomicina e a parede celular da bactéria devido a
modificação do aminoácido terminal D-alanina por D-lactato.
Uma das estratégias que vêm sendo utilizadas para superar a resistência
bacteriana frente a Vancomicina envolve a síntese química de pequenas moléculas
capazes de clivar cataliticamente a ligação D-
Ala-D-Lac, uma reação de transferência
de acila. Esta metodologia baseia-se na hipótese de reduzir a concentração de
precursores de peptidoglicano contendo a unidade terminal modificada e assim re-
sensibilizar bactérias resistentes a vancomicina.
2
Outro exemplo importante é a reação de transferência de grupamento acila
mediada por lipases; A reação de acilação, pelo ácido octanóico, de hidroxilamina,
hidrazina e seus derivados catalisada pela lípase tem-se mostrado muito eficiente.
6,7
Interação
Repulsiva
N
N
O
O
O
O
O
O
OH
H
3
C
HO
H
2
N
HO
HO
CH
3
N
H
2
N
O
O
O
O
N
O
N
OH
H
H
H
N
O
H
HO
N
OH
OHHO
HO
O
Cl
Cl
H
H
L-Lis N
O
O
O
O
O
D-GluL-Ala
H
O
6
1.2 REAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE ACILA EM ÉSTERES CARBOXÍLICOS
O estudo das reações de substituição nucleofílica em centros carbonílicos é uma
linha de pesquisa muito explorada dada a importância do grupo funcional carbonila em
química e bioquímica, conforme visto anteriormente. Desde a descoberta de que na
hidrólise de ésteres alquílicos o oxigênio carbonílico faz troca isotópica, as reações de
transferência de acila tem sido analisadas sob o ponto de vista da formação de um
intermediário tetraédrico.
8
Hoje sabe-se que os mecanismos das reações de
substituição nucleofílica em ésteres carboxílicos ocorrem, em geral, pela adição do
nucleófilo ao grupamento carbonila envolvendo a formação de um intermediário
tetraédrico com posterior eliminação do grupo de saída, um processo de adição –
eliminação,
Esquema 6.
9
Esquema 6: Mecanismo genérico de adição-eliminação em reações de substituição
nucleofílica em ésteres carboxílicos.
Para reações de transferência de acila que envolvem ésteres com bons grupos
de saída, propõe-se que a formação de um intermediário tetraédrico ocorra por um
mecanismo
S
N
1 com a formação de um íon acílio (RCO
+
).
10
Todas as evidências
mostram que este tipo de mecanismo não ocorre quando os grupos acila possuem um
próton “lábil”.
10
Alguns exemplos para um mecanismo do tipo S
N
1 são apresentados na
hidrólise catalisada por ácido de 2,6-dimetilbenzoatos de metila substituídos na posição
4
11
, na hidrólise de cloretos de benzoíla
12,13,14,15
e na diazotação da benzamida,
Esquema 7.
16
Esquema 7: Formação do íon acílio na diazotação da benzamida. (R= radical benzil).
O
X
R
+
O
-
Nu
X
R
O
Nu
R
+
X
-
k
1
k
-1
k
2
k
-2
R
C
O
NH
2
+
NO
+
R
C
O
N
H
2
N
O
R
C
O
N N
OH
2
R
C
O
N
N
R
C
O
+
N
2
H
2
O
R
C
O
OH
+
H
+
Lenta
Rápida
Rápida
Muito Rápida
Rápida
7
Esses dois mecanismos, S
N
1 e a adição com posterior eliminação, representam
os dois extremos na formação e quebra das ligações com o nucleófilo e o nucleófugo e
são os mecanismos mais encontrados e por isso melhor estabelecidos.
Um terceiro mecanismo no qual a formação e a quebra das ligações com o
nucleófilo e o nucleófugo ocorrem simultaneamente também é possível. O “espectro
mecanístico” pode ser representado por um diagrama de energia livre, como aquele
demonstrado na
Figura 4 para a reação de íons fenóxidos com acetatos de fenila
17
.
Figura 4:
Diagrama de More O’ferrall para a reação de íons fenóxidos com acetatos de
fenila
17
.
Neste caso, um mecanismo
sincrônico, que não envolve a formação de um
intermediário mas de um único estado de transição para o qual a formação e a quebra
das ligações ocorrem simultaneamente e com a mesma extensão, é descrito por uma
coordenada de reação que une a extremidade inferior esquerda e superior direita deste
diagrama.
Já o caminho que descreve o mecanismo concertado, em que a quebra e a
formação de novas ligações embora ocorram simultaneamente mas não exatamente
com a mesma extensão, pode atravessar qualquer área deste diagrama; como o
β
lg
/β
eq
0
-1,0
1,0
R-CO-OY +
-
OX
R-
+
CO +
-
OX +
-
OY
C
O
OY
OX
R
-CO-OX +
-
OY
B
AC
2
SN1
sincrônico
β
nuc
/β
eq
#
β
lg
/β
eq
β
lg
/β
eq
0
-1,0
1,0
R-CO-OY +
-
OX
R-
+
CO +
-
OX +
-
OY
C
O
OY
OX
R
-CO-OX +
-
OY
B
AC
2
SN1
sincrônico
β
nuc
/β
eq
#
#
8
caminho que é representado pelo estado de transição identificado pelo símbolo #,
observado por Williams e colaboradores, Figura 4.
17,18
1.2.1 Mecanismos de Hidrólise de Ésteres Carboxílicos
De todas as reações de substituição nucleofílica acílica, a hidrólise de ésteres é
a mais estudada e melhor compreendida. A hidrólise de ésteres é usualmente
catalisada por ácidos ou bases. Ésteres são normalmente estáveis em meio aquoso
neutro, mas são clivados quando aquecidos com água na presença de ácidos ou bases
fortes. No último caso a reação é chamada de saponificação e resulta no sal do ácido
carboxílico. No caso da catálise ácida, a protonação do oxigênio carbonílico faz com
que o carbono carbonílico se torne mais eletrofílico e, desta forma, mais susceptível ao
ataque pelo nucleófilo. A hidrólise de ésteres também pode ser catalisada por íons
metálicos, enzimas e por nucleófilos.
19
Ingold classificou a hidrólise dos ésteres, catalisada por ácido ou por base em
oito possíveis mecanismos de acordo com os seguintes critérios:
(1) Catálise ácida ou básica;
(2) Reação unimolecular ou bimolecular e
(3) Clivagem O-acil ou O-alquil.
Todos os mecanismos são apresentados na Tabela 1 e são, essencialmente,
mecanismos do tipo S
N
1, S
N
2 ou tetraédrico. Os mecanismos catalisados por ácido são
reversíveis e também simétricos; neste caso a transferência de próton interna pode não
ocorrer diretamente, mas por meio do solvente.
19
As reações catalisadas por base não são reversíveis, já que nestas o produto de
hidrólise é o íon carboxilato correspondente e este é bastante estável.
As designações A, B, AC e AL referem-se a catálise ácida, básica, clivagem
acílica e alquílica, respectivamente.
Dos oito mecanismos, aqueles classsificados como B
AC
1 e A
AL
2 não são
observados com muita freqüência para a hidrólise de ésteres carboxílicos. Os
mecanismos mais comuns são o B
AC
2, para catálise básica, e A
AC
2 para catálise ácida,
ou seja, os dois mecanismos em que há a formação do intermediário tetraédrico.
Ambos envolvem a clivagem acil-oxigênio.
19
9
Tabela 1: Classificação dos possíveis mecanismos para a hidrólise e formação de
ésteres.
A
AC
1 S
N
1
R OR'
O
H
R
OR'
OH
R OHR'
O
R OH
OH
R
OH
O
lenta
R'OH
R
O
R
OH
2
O
Clivagem
Acílica e
Catálise
Ácida
A
AC
2
Intermediário
Tetraédrico
R OR'
O
H
R
OR'
OH
OH
2
HO
OR'
R
OH
HO
OHR'
R
R
OH
OH
R
OH
O
lenta
H
2
O
R'OH
lenta
A
AL
1 S
N
1
R
OR'
O
H
R
OR'
OH
lenta
R OH
O
R'
lenta
H
2
O
R'OH
2
H
R'OH
Clivagem
Alquílica
e
catálise
Ácida
A
AL
2 S
N
2
R OR'
O
H
R OR'
OH
R
HOR'
O
H
2
O
lenta
R OH
O
R'OH
2
H
R'OH
Clivagem
Acílica e
catálise
básica
B
AC
1 S
N
1
R OR'
O
lenta
R
O
OR'
OH
R
OH
O
OR'
R O
O
R'OH
10
Clivagem
Acílica e
catálise
básica
B
AC
2
Intermediário
Tetraédrico
R OR'
O
OH
-
lenta
R
OH
O
OR'
R
O
O
R'OH
O
-
R
OR'
OH
B
AL
1 S
N
1
R
OR'
O
lenta
R
O
O
R'
H
2
O
R'OH
2
OH
R'OH
Clivagem
Alquílica
e
catálise
básica
B
AL
2 S
N
2
R OR'
O
R O
O
R'OH
OH
A reação de aminas com ésteres segue o mesmo mecanismo que normalmente
ocorre para outras reações de substituição nucleofílica acílica. Um intermediário
tetraédrico é formado no primeiro estágio e dissociado no segundo, Esquema 8.
1
Esquema 8:
Mecanismo da reação de aminólise de ésteres carboxílicos.
O
R
R'O
R"NH
2
+
O
-
R
"RH
2
N
R'O
OH
R
"RHN
R'O
R"NH
2
O
R
"RHN
+
R'O
-
+
+
NH
3
R"
I)
II)
OH
R
"RHN
R'O
+
R'O
-
+
+
NH
3
R"
R'OH + NH
2
R"
III)
11
1.3 DETERMINAÇÃO DE MECANISMOS EM REAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE
ACILA
Químicos e Bioquímicos utilizam uma variedade de métodos clássicos para a
determinação de mecanismos de reações químicas, incluindo cinéticas, estudos de
estrutura-reatividade, efeitos de solventes e estereoquímicos. Porém, a ferramenta
mais comum, e provavelmente mais popular, para a determinação de mecanismos de
reação é a análise das relações lineares de energia livre como as descritas pelas
correlações de Bronsted e Hammett.
20,21,22,23,24,25,26
1.3.1 Relações Lineares de Energia Livre
Relações lineares de energia livre são observações empíricas que podem ser
obtidas, quando o perfil da superfície de energia potencial de uma reação não é muito
alterado; como por exemplo, quando se varia um substituinte na estrutura do substrato.
O coeficiente angular, obtido a partir das relações lineares de energia livre entre as
constantes de velocidade e efeitos de substituintes, está relacionado à estrutura do
estado de transição.
As relações lineares de energia livre mais comumente utilizadas são as
correlações de Bronsted e Hammett.
1.3.1.1 A equação de Hammett
A correlação de Hammett,
equação (1), é uma ferramenta química que envolve
cinética e equilíbrio químico. Ela faz a correlação entre a velocidade de muitas reações
de derivados de fenila
para e meta substituídos (logk
x
), e os valores das diferenças de
pKa do ácido benzóico com e sem um substituinte x .
27
logk
x
= ρ(logKa
X
– logKa
H
) + logk
H
= ρσ + logk
H
( 1 )
Nesta equação logk
H
refere-se ao logaritmo da constante de velocidade para
reações de derivados fenila não substituídos e logKa
X
– logKa
H
ou σ, também
12
conhecido como constante do substituinte, refere-se à diferença entre o pKa do ácido
benzóico substituído e o não substituído. Esses últimos valores são encontrados
tabelados na literatura.
27
O valor de
ρ, para uma determinada reação, é uma medida de sua sensibilidade
a mudanças no substituinte. Um valor de
ρ positivo indica que substituintes retiradores
de elétrons aumentam a velocidade da reação enquanto um valor negativo indica que
esses substituintes diminuem a mesma. Além disso, o valor de
ρ é também uma
medida da mudança na carga do sistema; relativamente àquela presente na
dissociação do ácido benzóico, para a qual
ρ é definido como 1 e a mudança na carga
do grupo carboxila é –1.
Como exemplo, a
Figura 5 ilustra a correlação de Hammett para a adição de
metillítio a benzofenonas substituídas.
28
Neste experimento o valor de ρ encontrado foi
de 0,94; que é muito próximo ao valor encontrado para a reação padrão de dissociação
do ácido benzóico.
Figura 5: Logaritmo da velocidade relativa para a adição de metillítio a benzofenonas
substituídas em função dos valores de
σ
para os respectivos fenóis. Reações
feitas em dietiléter a 0
°
C.
Portanto o estado de transição deve ser estabilizado por substituintes retiradores
de elétrons e desestabilizado por substituintes doadores de elétrons. Isso indica a
13
formação de uma carga parcial negativa, próxima a um, no estado de transição do
passo limitante da reação.
1.3.1.2 A equação de Bronsted
Relações lineares de energia livre também são observadas em uma reação de
transferência de próton envolvendo um substrato e um ácido ou base,
equações (2) e
(3),
respectivamente. Estas equações tambémo conhecidas como equações de
Bronsted.
logk
HA
= -αpKa
HA
+ C (2)
logk
B
= βpKa
HB
+ C (3)
Nestas equações, logk
HA
refere-se ao logaritmo da constante de velocidade para
reações de um determinado substrato, catalisadas por ácidos que apresentam
diferentes pKas (pKa
HA
). Já logk
B
, refere-se ao logaritmo da constante de velocidade
para reações de um determinado substrato catalisadas por bases, também
apresentando diferentes pKas (pKa
B
) e C representa uma constante.
27
Em um gráfico do logaritmo da constate de velocidade para a reação de
transferência de próton em função do pKa do ácido ou base, os coeficientes angulares
são denominados como
α e β conforme a reação apresente catálise ácida ou básica
geral, respectivamente. Estes coeficientes angulares comparam a mudança na energia
do estado de transição, relativamente aos reagentes, com mudanças na reação de
dissociação ácida, ou básica.
27
Bases também podem agir como nucleófilos, através da doação de um par de
elétrons para um centro eletrofílico. Formalmente, este processo pode envolver a
adição ou remoção de uma unidade de carga e, com isto, há uma correlação entre o
logaritmo da constante de velocidade (logk
Nu
) e o valor de pKa do ácido conjugado do
nucleófilo (pKa
Hnu
) conforme demonstrado na equação (4).
logk
Nu
= β
Nu
pKa
HNu
+ C (4)
14
O coeficiente de correlação, β
Nu
, também pode ser utilizado para extrair
informações a respeito do mecanismo da reação em questão.
27
Neste caso, β
Nu
mede
o grau de formação da ligação entre o nucleófilo o sítio eletrofílico.
Pode-se também observar uma correlação entre o logaritmo da constante de
velocidade (logk
lg
) e o valor de pKa do ácido conjugado do nucleófugo (
pKa
Hlg
). Neste
caso, analisa-se a reação com um único nucleófilo e um substrato com diferentes
grupos de saída e obtém-se um coeficiente de correlação, denominado
β
lg
, equação
(5)
.
logk
lg
= β
lg
pKa
Hlg
+ C (5)
O valor
β
lg
pode ser interpretado como a medida da extensão da quebra da
ligação entre o grupo de saída e um sítio eletrofílico. Estas relações são chamadas de
equações extendidas de Bronsted. Se a estrutura do nucleófilo é bruscamente variada,
como, por exemplo, de íons carboxilatos para aminas, pode ocorrer uma quebra nesta
correlação.
27
Como exemplo da aplicabilidade das correlações de Bronsted, podemos afirmar
que a distinção entre um mecanismo concertado e um associativo por etapas
(formação do intermediário tetraédrico), para uma reação de substituição nucleofílica
acílica, pode ser obtida pelo estudo do efeito do substituinte sobre o nucleófilo. A maior
ou menor basicidade do nucleófilo comparada com aquela do grupo de saída refletirá
diferentes coeficientes de Bronsted, pois este é função das diferenças eletrônicas dos
dois estados de transição. Uma mudança na etapa determinante da velocidade,
refletida em uma mudança no coeficiente de Bronsted, poderá ocorrer quando a
basicidade do nucleófilo e do grupo de saída forem similares. Este método não pode
ser aplicado com precisão se os nucleófilos têm estruturas diferentes daquela do grupo
de saída porque, neste caso, não se pode prever o pKa em que ocorre a mudança no
passo determinante da velocidade. Conseqüentemente, a ausência de uma inflexão
não necessariamente excluirá um mecanismo por etapas. Então deve-se escolher
nucleófilos com basicidade abaixo e acima daquela do grupo de saída para que seja
observada uma quebra no gráfico de Bronsted em um mecanismo por etapas. Este
método tem sido aplicado em reações de transferência dos grupos sulfuril
29
, fosforil
30,
31
, sulfonoil
32
e acetil
33
.
15
1.4 O EFEITO α
O planejamento e síntese de agentes nucleofílicos altamente reativos é uma das
“peças chaves” para desenvolvimento da química e bioquímica. Neste contexto, o
chamado “efeito
α” tem sido amplamente empregado.
34
Trata-se de um fenômeno
observado freqüentemente em compostos que contém um átomo eletronegativo com
um par de elétrons não compartilhado adjacente ao átomo nucleofílico. Isto produz uma
reatividade nucleofílica mais alta do que seria esperado para um nucleófilo com o
mesmo valor de pKa. Alguns exemplos típicos de nucleófilos detentores deste efeito
incluem hidroxilamina, hidrazina, o ânion hipoclorito, ácidos hidroxâmicos, oximas,
hidroperóxidos, nitrito e sulfito,
Figura 6.
35
Figura 6: Espécies nucleofílicas que podem apresentar o efeito
α
em processos
catalíticos.
Um dos mais interessantes e conclusivos trabalhos nesta área foi realizado por
Jencks e Carrioulo
36
na clivagem nucleofílica do acetato de p-nitrofenila. Apesar da
nucleofilicidade da maioria nucleófilos aumentar linearmente com o aumento do pKa
(como esperado pela lei de Bronsted), muitos nucleófilos que possuem pares de
elétrons desemparelhados sofrem um desvio positivo e significativo desta correlação,
Figura 7.
Dentre esses, podemos citar o íon hidroperóxido, hidrazina e hidroxilamina.
Para certos nucleófilos o aumento na reatividade é maior que 10
3
ou 10
4
vezes.
Nucleófilos do tipo
RO NH
2
R
C
O
N
R
O
-
ONO
-
R
2
NNH
2
C
N
O
-
-
O
S
O
-
O
XY
Cl O
-
RO O
-
16
Figura 7: Velocidade de reações de diferentes nucléofilos com acetato de p-nitrofenila,
em solução aquosa a 25
°
C, em função da basicidade do nucleófilo. GEE:
éster etílico de glicina;
GLY: glicina; GG: glicilglicina; IM: imidazol; AHA:
ácido acetohidroxâmico;
BHA: ácido n-butilhidroxâmico; CH: ânion
clorohidreto.
Um aumento de velocidade semelhante ao anteriormente descrito, e também
atribuído ao efeito
α, foi apresentado por Bruice e colaboradores
37
para a clivagem
nucleofílica do acetato de fenila por hidrazinas.
O efeito
α é também muito significante em sistemas biológicos. A hidroxilamina e
a hidrazina, por exemplo, atacam bases nucleicas no
DNA muito mais eficientemente
do que a amônia, resultando na transformação do
DNA em sua forma não natural.
38
Apesar de muitos estudos serem realizados para compreender as origens do
efeito
α em termos de fatores físico-químicos como polarizabilidade e ligações de
17
hidrogênio ainda há muitas incertezas nesse contexto.
39,40,41,42
Além disso, não é bem
certo se esse efeito é aplicável quando trata-se de reações envolvendo substratos
pouco reativos.
Nesse contexto, cientistas associam a alta reatividade destes “nucleófilos
α” a
diferentes fatores. Em alguns casos especula-se que o fato do átomo adjacente ao
centro nucleofílico ter pouco ou nenhum substituinte proporciona um impedimento
estéreo relativamente pequeno a estes compostos; em outros, como na alta reatividade
do ânion hidroperóxido, por exemplo, a alta polarizabilidade do átomo de oxigênio é
interpretada como o fator determinante da reatividade.
35
É provável que o átomo eletronegativo que está na posição
α, com o seu par de
elétrons livres, contribua diretamente para o aumento da nucleofilicidade de alguns,
senão todos, destes nucleófilos. A explicação proposta, mais freqüentemente, para o
efeito
α é a de que os pares de elétrons sobre os átomos na posição α aumentam a
nucleofilicidade pelo aumento da densidade eletrônica efetiva no centro da reação.
Pode-se ainda argumentar que a remoção parcial dos elétrons de Y no nucleófilo
X-Y,
Esquema 9, por doação ao substrato S durante o ataque nuclefílico, no caminho
que leva ao estado de transição, cria uma deficiência eletrônica sobre Y. Esta
deficiência eletrônica pode ser compensada pela doação eletrônica de X. O resultado
será um aumento na densidade eletrônica efetiva no substrato e, conseqüentemente,
na nucleofilicidade de X-Y.
43
Esquema 9: Possível aumento da nucleofilicidade em nucleófilos do tipo
α
devido ao
efeito de ressonância.
Conforme o exposto, podemos facilmente perceber que o desenvolvimento de
nucleófilos altamente reativos requer, em princípio, a compreensão dos fatores que
governam a origem do efeito
α e, concomitantemente, o esclarecimento de vários
aspectos ainda obscuros, discutidos anteriormente. Nesse sentido, o presente trabalho
fornece resultados que contribuem na investigação de reações de vários nucleófilos
detentores do efeito
α.
Uma contribuição significativa neste tema é dada por Nomura e colaboradores
44
que descrevem os resultados de estudos sistemáticos sobre a clivagem nucleofílica de
XYS L
δ
+
XYS L
δ
-
18
4-nitro e 4-metil benzoatos tendo ambos grupos de saída arílicos e alquílicos. Como
nucleófilo
α foi utilizado, dentre outros, peróxido de hidrogênio. Foi demonstrado que o
efeito
α ocorre expressivamente somente na clivagem de substratos que possuem
grupos de saída “bons”. Já para a clivagem de ésteres alquílicos esse efeito não foi
observado. Esses resultados foram associados com diferenças na posição do estado
de transição do passo determinante da velocidade no curso da coordenada de reação.
No caso de reações em que ocorre a formação de um intermediário tetraédrico,
Figura 8, substratos com grupos de saída bons apresentarão uma cinética de reação
controlada pela eficiência do ataque nucleofílico, logo o efeito
α será evidente.
Figura 8: Diagrama de energia em função da coordenada de reação para uma reação
com formação de um intermediário tetraédrico.
Neste mesmo tipo de reação, quando o grupo de saída é ruim, a formação do
intermediário tetraédrico ocorrerá em uma etapa de pré-equilíbrio e sua concentração
não será afetada pela habilidade do nucleófilo ao exercer o efeito
α; assim, a cinética
da reação será governada pela quebra deste intermediário tetraédrico.
Há ainda a possibilidade da reação ocorrer via um mecanismo concertado, sem
a formação de um intermediário tetraédrico. Neste caso, segundo os autores, os
argumentos para a origem do efeito
α não deverão ser modificados.
Grupos de
saída ruíns
Grupos de
saída bons
F
Coordenada de Reação
O
OR
X
O
OOH
X
+
-
OR
+
-
OOH
X
O
-
OR
OOH
X
O
-
OR
OOH
19
1.5 REAÇÃO DE ACETATOS DE ARILA COM HIDROXILAMINA
Em 1958, Jencks
45
descobriu que a reação de acetato ou benzoato de p-nitro
fenila com hidroxilamina em solução aquosa ou alcoólica, em pH neutro, forma
inicialmente, como produto majoritário, um composto instável identificado como O-
acilhidroxilamina,
Esquema 10a, além de uma quantidade menor de N-
acilhidroxilamina também chamada de ácido hidroxâmico,
Esquema 10b.
B= grupo de saída
Esquema 10: Formação da O e N-acilhidroxilamina a partir da reação de ésteres
carboxílicos com hidroxilamina.
Foi observado que a O-acilhidroxilamina não produz nenhuma coloração com
cloreto férrico e reage rapidamente com hidroxilamina concentrada para formar a
correspondente N-acilhidroxilamina,
Esquema 11. Nesse mesmo trabalho também foi
mostrada a formação de quantidades variáveis de O-acilhidroxilamina com outros
agentes acilantes.
Esquema 11: Formação da N-acilhidroxilamina através da reação de O-
acilhidroxilamina com hidroxilamina.
A acilação da hidroxilamina sobre o átomo de oxigênio ao invés do átomo de
nitrogênio, que normalmente é muito mais nucleofílico, mereceu atenção especial em
trabalhos subseqüentes realizado por Jencks
46
. Nestes, foram apresentados dados
cinéticos para a acilação da hidroxilamina que resultaram na N e O-acilhidroxilamina, e
para a posterior reação da O-acilhidroxilamina com hidroxilamina para formar N-
(10a)
(10b)
R
O
B
HONH
2
+
R
O
NHOH
+
B
-
BH
R
O
B
H
2
NOH
+
R
O
ONH
2
+
B
-
BH
R
O
ONH
2
HONH
2
+
R
O
NHOH HONH
2
+
20
acilhidroxilamina. A partir destes dados cinéticos, Jencks conclui que a reação inicial do
acetato de
p-nitrofenila com hidroxilamina é bimolecular e ocorre através da forma
neutra da hidroxilamina na faixa de pH de 6 a 8. Jencks postulou um mecanismo em
múltiplas etapas para a reação mostrada no Esquema 10a, mas não determinou a
etapa limitante da velocidade. Neste trabalho três mecanismos foram propostos caso a
etapa limitante da velocidade fosse a formação do intermediário tetraédrico:
(I) ataque da hidroxilamina na forma dipolar iônica, com ligação de hidrogênio
entre o grupo amônio da hidroxilamina e a carbonila do éster. Esta ponte de
hidrogênio aumentaria a polarização e a reatividade da carbonila, Figura 9a;
(II) ataque do grupo hidroxil neutro promovido por ligação de hidrogênio com o
grupo amino. O ataque do átomo oxigênio é favorecido tanto pela alta
eletronegatividade do oxigênio quanto pela polarização da carbonila, Figura
9b;
(III) ataque da hidroxilamina com assistência básica geral intramolecular
concertada pelo grupo amino e ligação de hidrogênio entre o oxigênio
carbonílico e o grupo amino parcialmente protonado, Figura 9c.
R= acetil, B= p-nitrofenil.
Figura 9: Diferentes modelos, propostos por Jencks, para a formação da O-
acilhidroxilamina a partir do acetato de p-nitrofenila e hidroxilamina.
(a):
ataque da hidroxilamina na forma dipolar iônica;
(b): ataque pelo grupo
hidroxil neutro e
(c): ataque da hidroxilamina com assistência básica geral.
Nesse mesmo trabalho
46
, Jencks propôs que, caso a etapa limitante da
velocidade fosse a decomposição do intermediário tetraédrico, o grupo amino deveria
exercer um efeito de aceleração da velocidade de O-acilação da hidroxilamina através
de uma interação específica entre o mesmo e o grupo carbonila do éster. Isto porquê a
alta nucleofilicidade do grupo OH não poderia ser atribuída a uma característica
intrínseca do oxigênio levando-se em conta que a alquilação da hidroxilamina ocorre
a
b
c
N
H
H
H
O
O
B
R
δ
δ
N
H
H
O
O
B
R
δ
δ
H
N
H
H
O
O
B
R
δ
δ
H
δ
21
sobre o átomo de nitrogênio. Jencks ainda propôs que deveria ocorrer um alinhamento
entre a molécula de hidroxilamina e o éster, de acordo com a Figura 10, em que
grupos de saída, com aumento da capacidade elétron doadora através de efeitos
indutivos ou de ressonância, favoreceriam esse alinhamento com o conseqüente
ataque preferencial na carbonila através do átomo de oxigênio. Segundo Jencks, isso
explicaria o aumento na razão O para N acilação observada em ésteres com grupos de
saída como função do aumento na característica elétron doadora, ou seja, grupos de
saída piores.
B= grupo de saída
Figura 10: Modelo proposto por Jencks para a decomposição, limitante da velocidade,
do intermediário da reação entre acetado de p-nitrofenila e hidroxilamina.
A reação da hidroxilamina com O-acilhidroxilamina, ao contrário de sua reação
com o acetato de
p-nitrofenila, apresentou uma velocidade máxima em pH 6,2 e
proporcional a concentração de hidroxilamina em uma potência maior que 1; além de
uma aceleração da velocidade com a adição de tampão fosfato. Considerando estes
efeitos, Jencks sugeriu que esta reação está sujeita a catálise ácida geral pelo íon
hidroxilamônio e por fosfato. Para a reação do acetato de
p-nitrofenila com
hidroxilamina não foi observada catálise ácida geral sugerindo que a molécula de
hidroxilamina atua como um ácido tão bem quanto uma base nesta reação.
Com o objetivo de propor uma etapa determinante da velocidade e a estrutura
do estado de transição na reação de transferência de acila do acetato de
p-nitrofenila
para hidroxilamina, Cleland e Hengge
47
estudaram efeitos isotópicos cinéticos para esta
reação a pH 6,0 e 12,0. O efeito isotópico do solvente também foi medido a pH 7,5 e
12,0. Os resultados obtidos levaram os autores a sugerir que deve ocorrer uma
mudança no mecanismo entre os pHs 6,0 e 12,0: o ataque da hidroxilamina na forma
neutra e na forma do oxiânion, devem ocorrer em pH baixo e alto respectivamente. O
fato de não observarem quantidades significativas do produto N-acilado fez com que os
autores descartassem o ataque pelo átomo de nitrogênio em ambas as regiões de pH.
Segundo os autores, a formação da O-acilhidroxilamina, em pH 6,0, se dá através da
formação de um intermediário tetraédrico neutro, originado a partir do ataque do grupo
R
O
-
B
+
H
O
-
N
+
H
H
22
hidroxil da hidroxilamina neutra com concorrente transferência de próton para o átomo
de nitrogênio vizinho, produzindo, assim, o intermediário dipolar-iônico mostrado na
Figura 11. Eles sugeriram que o nucleófilo deve ser facilmente expelido na reação
reversa e que, portanto, a decomposição deste intermediário tetraédrico deveria ser a
etapa limitante da velocidade. Conseqüentemente o grupo amino deveria contribuir
para a reatividade do grupo hidroxila por agir como uma base geral intramolecular e
também por polarizar eletrofilicamente o grupo carbonila. Hengge ainda propôs que o
estado de transição para a quebra do intermediário exibe considerável clivagem da
ligação com o grupo de saída.
Figura 11:
Intermediário dipolar-iônico, proposto por Hengge, para a reação do acetato
de p-nitrofenila com hidroxilamina a pH 6,0.
A pH 12,0 Hengge propôs que a reação ocorre através de um ataque concertado
do ânion da hidroxilamina e saída do
p-nitrofenolato, com um estado de transição que é
mais adiantado do que aquele observado na análoga reação com íon hidróxido.
48
1.6 MÉTODOS TEÓRICOS
1.6.1 Cálculos “ab initio”
Uma das maiores realizações intelectuais ocorridas no século XX foi o
desenvolvimento da mecânica quântica,
49,50
que concedeu ao ser humano
fundamentos necessários ao estudo e melhor entendimento do comportamento dos
sistemas químicos. Com este desenvolvimento, surge uma nova abordagem para a
química: a química quântica, que através da resolução da equação de Schrödinger,
possibilita a descrição de sistemas atômicos e moleculares.
51
OO
2
N
O
CH
3
O N
+
H
H
H
23
1.6.1.1 Equação de Schrödinger
A descrição do movimento dos núcleos e elétrons é descrita de forma altamente
precisa pela equação de Schrödinger, equação (6):
ˆ
H
EΨ= Ψ
(6)
Nesta equação, Ψ é a função de onda, E é a energia associada a esta função e
o termo
ˆ
H
é o operador matemático (hamiltoniano) de Ψ com respeito às coordenadas
de cada elétron. A equação de Schrödinger não tem solução analítica para sistemas
moleculares, mas pode ser resolvida por métodos aproximados.
51
A equação de Schrödinger independente do tempo para um sistema com n
elétrons e
m núcleos pode ser escrita pela equação (7):
(,) (,)
H
Rr E RrΨ=Ψ
(7)
R representa as coordenadas dos m núcleos e r as coordenadas dos n
elétrons.
61
Tendo em vista que estão presentes termos eletrônicos e nucleares, é
necessário considerá-los separadamente para simplificar os cálculos. A aproximação
de Born-Oppenheimer considera a separação entre movimentos nucleares e
eletrônicos pelo fato do movimento nuclear ser muito mais lento do que o eletrônico.
Desta forma, os elétrons criam uma energia potencial efetiva para o movimento dos
núcleos
50
. O Hamiltoniano pode ser descrito pela equação (8):
ˆˆ ˆ
() (,)
núcleos elétrons
H
TRH Rr=+
(8)
E a função
Ψ representada pela equação (9):
núcleos elétrons
(R,r)= (R) (R,r)
ψ
θφ
(9)
Mesmo com essa separação de variáveis, percebeu-se que a equação de
Schrödinger não tem solução analítica para sistemas moleculares, e neste caso faz-se
24
uso de métodos aproximados que são baseados em teoremas matemáticos. Esses
métodos são chamados “
ab initio”
52
, e permitem obter soluções precisas da equação
de Schrödinger.
Os cinco métodos
ab initio mais usados são: Método de Hartree-Fock, Teoria de
Perturbação de Moller-Plesset, Método CI (Configuration Interaction), Teoria Coupled-
Cluster, Teoria do Funcional de Densidade (DFT).
Além desses, existem também os métodos aproximados que permitem a
inclusão de parâmetros empíricos a fim de simplificar os cálculos. Esses métodos são
chamados de semi-empíricos
52
e são menos precisos e confiáveis devido essa inclusão
de parâmetros.
1.6.1.2 Método de Hartree-Fock
No método de Hartree-Fock, cada elétron movimenta-se sob a ação de um
campo médio resultante da presença dos demais elétrons.
A utilização do método de Hartree-Fock implicou no uso do método de campo
autoconsistente (SCF)
53
, que é capaz de obter soluções para as funções de onda do
sistema a partir de uma função tentativa. Essa função tentativa é obtida a partir de uma
estimativa inicial da função de onda, a qual é aperfeiçoada iterativamente até convergir.
Devido à existência de sistemas moleculares com um número maior de elétrons, foi
necessária a inclusão das equações de Roothaan no método Hartree-Fock. Essa
inclusão permitiu a representação das funções de onda através de um conjunto de
funções de base.
54
Esse conjunto de funções de base permite uma descrição mais
adequada dos orbitais moleculares para cálculos computacionais e será apresentado
com mais detalhes posteriormente.
Ao considerarmos um sistema real, onde os elétrons interagem um com os
outros de forma instantânea, podemos perceber que o método Hartee-Fock não é o
ideal para se fazer previsões químicas. Essa evidência induz a um erro entre a energia
exata do sistema e a e obtida pelo método de Hartee-Fock. A diferença entre essas
energias é chamada de energia de correlação (
E
corr
), e é representada pela equação
(10):
corr exata HF
EEE∆=
(10)
25
Em conclusão, o método de Hartree-Fock é uma excelente abordagem inicial e é
amplamente utilizado para se determinar geometrias. Sua função é responsável por
99% da energia total de um sistema.
51
1.6.1.3 Teoria do Funcional de Densidade (DFT)
Em 1927, Thomas e Fermi propuseram uma abordagem diferente e simples para
a obtenção da energia eletrônica de um sistema poliatômico. Ao invés de utilizar
funções de onda que possuem 3N coordenadas (N igual ao número de elétrons) eles
utilizaram a densidade eletrônica (
ρ), que é definida em 3 dimensões. Desta forma, eles
reduziram o número de integrais utilizadas para descrever um sistema, proporcionando
redução de recursos computacionais. Neste caso, a energia total (E) de um sistema é
descrita como um funcional da densidade eletrônica (
ρ), como mostra a equação (11):
(11)
O primeiro termo da equação é a energia cinética, o segundo termo é a energia
potencial de interação elétron-núcleo e o terceiro termo é a energia potencial de
repulsão elétron-elétron.
51
Por cerca de 30 anos, a aproximação de Thomas e Fermi não despertou muito
interesse na comunidade científica, provavelmente por falta de rigor matemático. No
entanto, na década de 60, Hohenberg e Kohn publicam trabalhos mostrando que existe
um funcional da densidade eletrônica para uma molécula no estado fundamental. A
energia de troca (E
troca
) foi incluída nesse modelo, pois elétrons com mesmo spin ficam
mais separados, e a energia tende a cair. Desta forma, o efeito da troca que está ligado
ao spin é adicionado na equação (11) para se obter a energia total, levando a um
funcional da forma
51
:
(12)
Os funcionais diferem pelos dois últimos termos, chamados funcionais de troca e
correlação, e os nomes são compostos conforme os funcionais usados. Por exemplo, o
funcional de troca de Becke recebe o símbolo B e o de correlação de Lee, Yang e Parr
o termo LYP. A combinação destes dois funcionais é denominada BLYP. Outro
E[
ρ
] = T
Ne
[
ρ
]+ V
Ne
[
ρ
] + V
ee
[
ρ
]
E
Ne
[
ρ
] = T
Ne
[
ρ
]+ V
Ne
[
ρ
] + V
ee
[
ρ
] + E
troca
[
ρ
] + E
corr
[
ρ
]
26
funcional muito popular é o B3LYP, que inclui termos de troca exatos no funcional
BLYP. Esse funcional tem proporcionado melhores resultados em cálculos na química
computacional. Nesse sentido, podemos mencionar o trabalho de Gonzales e
colaboradores
55
, reportado em 2001. Dos diversos funcionais utilizados, concluiu-se
que o funcional híbrido B3LYP é superior na descrição de estados de transição para
reações S
N
2.
A grande disseminação da utilização da DFT em laboratórios de pesquisa se
deve à introdução direta da correlação desde o início dos cálculos e à obtenção de
resultados superiores quando comparados ao método HF. O ganho computacional
também é bem maior quando comparados a outros métodos correlacionados.
51
1.6.1.4 Conjunto de funções de base
O maior problema a ser resolvido no modelo Hartree-Fock está na escolha das
funções matemáticas a serem utilizadas para representar os orbitais de Hartree-Fock.
Uma das sugestões mais importantes a esse método foi formalizada por J.J.Roothaan
através da técnica que ficou popularizada como o método da combinação linear de
orbitais atômicos ou funções de base. Em outras palavras, orbitais atômicos e
moleculares podem ser obtidos como combinação linear de funções de base. Embora o
modelo de Hartree-Fock-Roothaan tenha se tornado computacionalmente atrativo, para
ser utilizado adequadamente impõem a solução de questões de caráter técnico, tais
como:
Quais funções matemáticas podem ser utilizadas como conjuntos de base?
Quantas funções de base devem ser utilizadas para representar adequadamente
o sistema em estudo?
51
As tentativas para obter uma solução para estas questões têm sido objeto de
diversas revisões na literatura. Normalmente três critérios são considerados para
nortear a escolha com relação ao tipo e número de funções de base:
As funções de base devem levar em consideração a facilidade de ajuste com
relação ao sistema em que está sendo utilizado, bem como propiciar a obtenção
de propriedades físicas compatíveis com as observadas experimentalmente,
caso a aproximação de Hartree-Fock-Roothaan seja suficiente para representar
adequadamente a distribuição eletrônica.
27
mero de funções de base a ser utilizado deve corresponder ao de uma série
completa, ou tão próximo desta quanto possível. Em outras palavras, o cálculo
Hartree-Fock não deveria apresentar dependência significativa com relação ao
número de funções de base.
A escolha pelo tipo e número de funções de base também é norteada por um
aspecto puramente computacional: a determinação de todas as integrais
necessárias ao cálculo de qualquer propriedade do sistema deve ser obtida sem
grande dificuldade.
51
Existem diversos tipos de conjuntos de funções de base e a seguir serão
relatados alguns.
1.6.1.5 Base mínima ou single-zeta
Cada orbital atômico até a camada de valência é representado por apenas 1
função de base (gaussiana); por exemplo, a base STO-3G
Ao analisarmos a molécula de água com essa base temos um total de sete
funções como mostrado na Tabela 2.
51
Tabela 2: Número de funções obtidas para a molécula de H
2
O com a base STO-3G.
Átomo Configuração Número de funções
H 1s
1
1 função s
H 1s
1
1 função s
O 1s
2
2s
2
2p
4
2 funções s
3 funções p (p
x
, p
y
, p
z
)
1.6.1.6 Base dupla ou double-zeta (DZ)
Cada orbital de valência é representado por duas funções de base, mas cada
orbital interno continua a ser representado por apenas uma função de base para a
água. A Tabela 3 nos fornece um total de 13 funções ao se utilizar esse tipo de base.
51
Comparando-se essa base com a single-zeta melhores resultados são obtidos quando
comparados aos experimentais; por exemplos, as bases 6-31G e 3-21G
28
Tabela 3: Número de funções obtidas para a molécula de H
2
O com a base Double-
Zeta.
Átomo Configuração Número de funções
H 1s
1
2 funções s
H 1s
1
2 funções s
O 1s
2
2s
2
2p
4
1 função s (orbital interno)
2 funções s (orbital de valência)
6 funções p (p
x
, p
y
, p
z
) (valência)
1.6.1.7 Base triple-zeta-valence (TZ)
Cada orbital de valência é representado por 3 funções e os orbitais internos são
obtidos pela combinação de funções GTO, com exceção do hidrogênio. Com esta
base, são obtidas 19 funções de base para a água (Tabela 4). Como exemplo temos a
base 6-311G.
Pople e colaboradores
56
desenvolveram esse tipo de base para vários elementos
da tabela periódica. Eles também verificaram a dependência entre as funções
gaussianas e os resultados obtidos para diversos sistemas.
Tabela 4: Número de funções obtidas para a molécula de H
2
O com a base TZ.
Átomo Configuração Número de funções
H 1s
1
3 funções s
H 1s
1
3 funções s
O 1s
2
2s
2
2p
4
1 função s (orbital interno)
3 funções s (orbital de valência)
9 funções p (p
x
, p
y
, p
z
) (valência)
1.6.1.8 Funções de polarização
As funções de polarização auxiliam na descrição das distorções da nuvem
eletrônica em ambiente molecular, importantes na descrição das ligações químicas, e
correspondem a funções adicionais com momento angular diferente daquele
apresentado pela base original. Por exemplo, para o átomo de carbono uma função de
29
base convencional incluiria apenas funções de base do tipo s e p. A inclusão de
funções de polarização corresponderia a inclusão de funções do tipo d, f, g, etc.
53
O número de funções de polarização empregado em cálculos Hartree-Fock em
geral é reduzido, embora sua influência seja significativa na tendência de determinadas
propriedades moleculares. Para átomos do 2
o
e 3
o
períodos da tabela periódica as
funções de base mais freqüentemente empregadas na literatura utilizam de uma a três
funções de polarização do tipo d.
53
1.6.1.9 Funções difusas
Um outro conjunto de funções usualmente incluído em cálculos moleculares é o
das funções difusas. Ao contrário das funções de polarização que alteram
significativamente diversas propriedades moleculares, este conjunto é normalmente
necessário para o cálculo de propriedades de ânions. As funções de base são
freqüentemente desenvolvidas em sistemas atômicos neutros. Quando são utilizadas
em sistemas aniônicos, a nuvem eletrônica desses sistemas apresenta uma tendência
à expansão, além do que, a descrição do comportamento deste elétron adicional não
ser contemplada na obtenção do conjunto de base atômica.
Uma vez que a facilidade com que a distribuição eletrônica tem de expandir-se
está diretamente relacionada ao conjunto de base utilizado, pode-se verificar que o
conjunto de base original deve ser aumentado na região de valência, ou seja, devem
ser incluídas funções de base do mesmo tipo das funções já existentes, mas com
expoentes que descrevam melhor a região de valência.
53
O termo + na base 6-31+G(d), por exemplo, indica a presença de funções
difusas no cálculo.
51
30
1.6.2 Efeito do Solvente
1.6.2.1 Modelos teóricos
Ao analisar-se a química e a bioquímica, pode-se perceber que parte
considerável das reações envolvidas ocorre em fase líquida. Há muito sabe-se da
importância do solvente na condução de reações químicas, o qual afeta a velocidade
das reações e determina a formação dos produtos.
57,58,59,60,61
Desta forma, modelos
teóricos capazes de incluir o efeito que o meio exerce nas reações são de grande valor.
Os modelos teóricos do solvente podem ser classificados em três categorias:
Modelo do Contínuo Dielétrico
62
simulação de líquidos com potenciais obtidos da
combinação Mecânica Quântica/Mecânica Molecular (QM/MM)
63
, e o Modelo baseado
na Teoria de Equações Integrais para líquidos
64
. Dentre estes modelos, podemos
destacar o modelo em que o solvente é considerado um dielétrico contínuo que
circunda o soluto
53
. Este é muito difundido ao se estudar reações em solução devido à
sua praticidade, e por considerar várias propriedades importantes na interação soluto-
solvente, como:
A constante dielétrica;
A distribuição de cargas no soluto;
Tamanho e forma da cavidade.
51
1.6.2.2 Modelos Contínuos: Uma breve introdução
Deve-se considerar que a interação do soluto com o meio ocorre através de
forças intermoleculares
53
, como:
Eletrostáticas;
Dispersão;
Repulsão de troca.
Usualmente, as forças eletrostáticas são as mais importantes, enquanto os
termos de dispersão e repulsão tendem a se cancelar. Ao inserir-se um soluto A, com
carga negativa, em um solvente X, as moléculas do solvente se orientam em torno do
soluto. Isto pode ser visto na Figura 12, onde pode se verificar que os dipolos que
31
representam as moléculas do solvente estão orientados eletrostaticamente em torno
do soluto.
51
Figura 12:
Representação da orientação dos dipolos das moléculas do solvente em
torno do soluto.
No modelo contínuo, o solvente é considerado como constituído por um contínuo
de dipolos pontuais. Cada ponto no espaço tem um vetor de polarização (
ρ
r
) por
unidade de volume, como mostra a equação (13):
1
x
i
V
ρ= <µ >
r
(13)
V o volume da região e µ
x
, o momento de dipolo da molécula do solvente.
51
Além da constante dielétrica do solvente e da distribuição de cargas no soluto, é
necessário definir outras propriedades da interação soluto-solvente, como o tamanho e
a forma da cavidade do soluto. O tamanho da cavidade deve ser definido
empiricamente e é geralmente baseado no desvio da energia livre de solvatação
teórica e experimental. Na Figura 13 temos as cavidades obtidas através de esferas
centradas nos átomos para a molécula de água. Nota-se que as esferas se sobrepõem
de modo a fornecer as cavidades de forma realistas.
51
A
A
- q
ε
ε
32
Figura 13: Molécula de água imersa em uma cavidade de esferas sobrepostas.
Solvatação pelo contínuo dielétrico.
1.6.2.3 Modelos contínuos: implementações, confiabilidade e comparações.
O modelo contínuo é uma aproximação, onde moléculas explícitas do solvente
são representadas por um contínuo dielétrico. Para funcionar adequadamente, é
necessário a introdução de um certo empirismo, que se traduz na definição da
cavidade do soluto, a qual varia conforme o solvente
53,65
. Para solventes não aquosos,
uma parametrização adequada das cavidades para descrever íons não podia ser feita
até recentemente, devido à ausência de dados experimentais de energia livre de
solvatação de íons orgânicos nestes solventes. Entretanto, em um trabalho recente
66
,
Pliego e Riveros divulgaram pela primeira vez dados extensos de solvatação de íons
orgânicos em dimetilsulfóxido (DMSO). Em seguida, eles fizeram a primeira
parametrização de um modelo contínuo, o PCM (Polarizable Continuum Model), para
descrever a solvatação de ânions em DMSO
65
. A parametrização foi validada no
cálculo de pK
a
de compostos orgânicos
67
e os resultados mostraram que a mesma é
adequada para estudar reações ânion-molécula em DMSO,
59,68
ou seja, mostraram a
confiabilidade do modelo contínuo para este solvente. A Figura 14 mostra a correlação
entre os valores de pK
a
teóricos e experimentais para 41 ácidos orgânicos com
diferentes grupos funcionais, onde o hidrogênio ionizável está ligado ao carbono,
oxigênio, nitrogênio, enxofre ou flúor.
33
Figura 14: Correlação entre valores de pK
a
teórico e experimental.
Ao abordarmos os modelos contínuos nesta seção, mencionamos acima o
modelo contínuo PCM desenvolvido por Tomasi e colaboradores
69,70,71,72,73,74
, mas
podemos citar outros exemplos que também fazem uso desse formalismo, como: o
modelo de Chipman
75
, o modelo SMx desenvolvido por Cramer, Truhlar e
colaboradores
76,77,78
, entre outros. Esses modelos diferem na forma de tratar o
problema eletrostático e na definição da cavidade, assim como no tratamento da
densidade de carga do soluto. Dentre estes modelos, o PCM é o mais utilizado por ser
mais sofisticado e realista. A cavidade do soluto está relacionada com o raio do átomo,
o potencial eletrostático é obtido através do modelo das cargas aparentes da superfície
e a densidade de carga é calculada por métodos
ab initio.
51
0 1020304050
0
10
20
30
40
50
pK
a
(teórico)
pK
a
(experimental)
34
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Propor um mecanismo para a reação de acetatos de arila substituídos com
hidroxilamina, Esquema 12 e, com isso, contribuir para a compreensão das diferentes
formas de ataque nucleofílico da hidroxilamina pelo átomo de oxigênio e pelo átomo de
nitrogênio.
Contribuir para o esclarecimento dos fatores envolvidos na alta reatividade da
hidroxilamina, nas reações de transferência de acila em aril ésteres.
X = H; 4-Cl; 4-nitro; 2,4-dinitro ou 2,4,6-trinitro
Esquema 12: Formação da N e O-acilhidroxilamina a partir do acetato de fenila e
hidroxilamina.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Sintetizar diferentes acetatos de arila;
Identificar o intermediário O-acilado através de técnicas de RMN;
Determinar a quantidade de O e N-acilhidroxilamina formada em função
da estrutura do substrato;
Determinar as constantes cinéticas das reações de acetatos de arila com
derivados de hidroxilamina utilizando técnicas de espectroscopia no UV-
Vis;
Determinar as constantes cinéticas da reação de O-acilhidroxilamina com
hidroxilamina utilizando técnicas colorimétricas;
O
O
X
+
NH
2
OH
HO
X
O
ONH
2
O
NHOH
+
+
O-acilhidroxilamina N-acilhidroxilamina
35
Determinar parâmetros termodinâmicos de ativação e estudar o efeito
isotópico do solvente (D
2
O) para a reação de acetatos de arila com
hidroxilamina;
Para a reação de hidroxilamina com os acetatos de arila, investigar se há
a ocorrência de substituição nucleofílica no anel aromático.
Analisar a reação de acetatos de arila com hidroxilamina através de
estudos teóricos de cálculos
“ab initio”.
36
3 JUSTIFICATIVAS
A compreensão de mecanismos de reações de transferência de acila é uma
linha de pesquisa muito explorada devido a importância do grupo funcional carbonila
tanto em processos biológicos quanto em aplicações sintéticas.
O planejamento e a síntese de agentes nucleofílicos altamente reativos é uma
das “peças chaves” para o desenvolvimento da química e bioquímica. Na detoxificação
química, por exemplo, o uso de nucleófilos estáveis e que produzam clivagem
quantitativa de ligações fosfato vem sendo estudado
43
. Nesse contexto, a utilização de
nucleófilos detentores do efeito
α como a hidroxilamina, devido a sua alta reatividade,
vem sendo amplamente empregados. Desta forma, a compreensão dos efeitos
responsáveis pela ambigüidade do ataque da hidroxilamina, um nucleófilo
α, torna-se
muito importante.
Sabe-se que, em condições apropriadas, acetatos de arila reagem com a
hidroxilamina para formar a N e O-acilhidroxilamina conforme o Esquema 12. Mas,
apesar de sua importância, ainda existem muitas divergências quanto ao mecanismo
envolvido nessa reação.
Encontram-se, na literatura, algumas especulações e postulações de
mecanismos de reações de acetatos de arila com diferentes nucleófilos, porém esses
resultados são dispersos e, muitas vezes, divergentes. Como exemplo, podemos citar:
1. Em 1958 Jencks
46
postulou um mecanismo em múltiplas etapas para a
formação da O-acilhidroxilamina a partir do acetato de
p-nitrofenila e da
hidroxilamina mas não determinou o passo limitante da velocidade. Neste
mesmo trabalho, Jencks sugeriu que esta reação não está sujeita a
catálise pela hidroxilamina.
2. Somente em 1997, Hengge
47
propôs que o passo limitante da velocidade
deveria ser a decomposição do intermediário tetraédrico e que a reação
não estaria sujeita a catálise; no entanto, em 1960 os trabalhos de Jencks
e Carrioulo
79
demonstraram que a maioria das reações de aminas com
acetato de fenila se dá através de um mecanismo envolvendo catálise
básica geral por uma segunda molécula da própria amina nucleofílica. A
glicina, a amônia e a glicilglicina, por exemplo, reagem com o acetato de
fenila desta maneira. Já na reação da N,N-dimetilamina e da N-butilamina
além de observar-se este mesmo tipo de catálise básica geral, também
37
observa-se a ocorrência de catálise básica específica, enquanto que na
reação da metoxiamina somente catálise ácida geral é observada.
Finalmente demonstrou-se, neste mesmo trabalho, que a reação da
hidroxilamina com acetato de fenila ocorre através de catálise ácida e
básica geral, simultaneamente, porém o mecanismo pelo qual ela ocorre
não foi completamente determinado.
3. Para a reação do acetato de
p-nitrofenila com íons fenolatos o trabalho de
Buncel em 1989
80
sugere que a reação ocorre por etapas; com a
formação de um intermediário tetraédrico. Já outros trabalhos como de
Williams em 1987
17
e os de Jencks
81
em 1993 sugerem que esta mesma
reação ocorre por um caminho concertado.; resultados referendados por
Hengge em 1994
48
em seus estudos da reação do acetato de p-
nitrofenila com nucleófilos como OH
-
, fenolatos, (CF
3
)
2
CHO
-
e oxiânios
alifáticos.
Como visto, a maior parte dos dados experimentais apresentados na literatura
atual não mostra convergência, dificultando a compreensão do mecanismo envolvido
na reação dos acetatos de arila substituídos com hidroxilamina e, conseqüentemente,
impossibilitando uma abordagem minuciosa dos fatores responsáveis pela
ambigüidade do átomo nucleofílico (oxigênio ou nitrogênio) na hidroxilamina. Além
disso, um estudo teórico mecânico-quântico minucioso dos vários caminhos desta
reação não aparece na literatura.
Portanto, a análise dos parâmetros cinéticos e termodinâmicos, conjugados com
o estudo mecânico quântico do sistema reacional composto por hidroxilamina e
acetatos de arila, é importante para que se determine o mecanismo envolvido no
processo e, com isto, se compreenda os fatores responsáveis pela ambigüidade do
ataque nucleofílico da hidroxilamina.
38
4 PARTE EXPERIMENTAL
4.1 MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
A hidroxilamina, N-metilhidroxilamina, N,N-dimetilhidroxilamina e O-
metilhidroxilamina foram utilizadas com grau de pureza 98%, ou mais, com procedência
da Aldrich, sem tratamento prévio. O acetato de fenila e os fenóis
p-Nitrofenol, p-
clorofenol,
2,4-dinitrofenol e 2,4,6-trinitrofenol, de procedência Acros, com alto grau de
pureza, foram utilizados sem purificação prévia. Ácido clorídrico, FeCl
3
.6H
2
O, hidróxido
de sódio, KCl e o fosfato de potássio monobásico (com grau de pureza maior que
99%), de procedência Nuclear, também foram utilizados como fornecidos
comercialmente. O anidro acético 99,5%, PA, de procedência Sigma, também foi
utilizado sem tratamento prévio. Acetonitrila, utilizada como cosolvente na preparação
de soluções estoques, no caso de substratos com baixa solubilidade em água, era de
grau espectroscópico e fornecida pela Sigma. Já os solventes deuterados (etanol 99%
deuterado e metanol 99,5% deuterado) foram obtidos da Aldrich.
A água usada para
preparação das soluções estoques, utilizadas para os experimentos cinéticos, foi
bidestilada.
As cinéticas foram acompanhadas em um espectrofotômetro HP8452A UV-Vis
para reações lentas (
t
1/2
10 s), e com um espectrofotômetro de fluxo detido (stopped-
flow
) Photophysics, modelo SX.18MV, para reações rápidas (t
1/2
< 10 s); ambos
equipados com um banho termostatizador da Microquímica MQBTC 99-20.
As análises de Infravermelho foram realizadas em um equipamento FT Perkin
Elmer, modelo 16 PC; as de
1
H NMR e
13
C NMR com um espectrofotômetro de
Ressonância Magnética Nuclear 200 MGHz Multiprobe Brucker. Todos pertencentes a
Central de Análises do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa
Catarina.
Os cálculos das constantes de velocidade foram feitos com um programa Origin
5.0, número serial G43S5-9478-7055154.
Os cálculos computacionais foram realizados no Laboratório de Química Teórica
e Computacional do Departamento de Química da UFSC. Para os cálculos
ab initio em
fase gasosa utilizou-se o programa Gaussian 98
82
, para os cálculos PCM o programa
Gamess.
83
Os cálculos ab initio foram feitos com a utilização de dois computadores:
39
1. AMD ATHLON XP 2600 com 1GB de memória RAM DDR2, operando sob o
sistema Red Hat Linux;
2. AMD ATHLON XP 2100 com 512 MB de memória RAM DDR2 e com o
sistema operacional Windows 98.
Para a gerar as matrizes descritoras de cada sistema molecular, fez-se uso da
interface gráfica do programa “Chem3D Ultra Versão 7.0” e para visualização das
mesmas utilizou-se o programa “Molden versão 3.8”.
4.2 METODOLOGIA
4.2.1 Preparação e Caracterização dos Ésteres Arílicos
Os ésteres arílicos foram preparados a partir da reação do anidrido acético com
o correspondente fenol
84a
, recristalizados a partir de uma mistura de éter etílico/hexano
e caracterizados por seus respectivos pontos de fusão e análises espectrais como UV-
Vis, IR e
1
H NMR.
Os pontos de fusão obtidos foram 80-82
°C (literatura
84b
= 79-80) para o acetato
de p-nitrofenila, 73
°C (literatura
84c
= 72-73) para o acetato de 2,4-dinitrofenila e 95 °C
(literatura
84d
= 96) para o acetato de 2,4,6-trinitrofenila. Já o acetato de p-clorofenila foi
obtido na forma de óleo e foi caracterizado por IR
84e
.
4.2.2 Experimentos Cinéticos
4.2.2.1 Reação de acilação (primeira etapa)
As reações de acilação em H
2
O foram investigadas para os ésteres e nucleófilos
apresentados na Tabela 5.
40
Tabela 5: Ésteres e nucleófilos utilizados para a investigação de reações de acilação.
Éster Estrutura
Nucleófilos
utilizados
(1): Acetato de fenila
O
O
NH
2
OH, CH
3
NHOH,
(CH
3
)
2
NOH, NH
2
OCH
3
(2): Acetato de p-clorofenila
O
O
Cl
NH
2
OH
(3): Acetato de p-nitrofenila
O
O
NO
2
NH
2
OH
(4): Acetato de 2,4-dinitrofenila
O
O
NO
2
NO
2
NH
2
OH, CH
3
NHOH,
(CH
3
)
2
NOH, NH
2
OCH
3
(5): Acetato de 2,4,6-
trinitrofenila
O
O
O
2
N
NO
2
O
2
N
NH
2
OH
Essas reações foram seguidas espectrofotometricamente a 25 ± 0.1
°C e
iniciadas por adição de quantidades necessárias de uma solução estoque 0,03 M do
substrato (em acetonitrila), a três mililitros de uma solução estoque do nucleófilo
tamponada e com concentração variando de 10
-3
a 10
-1
M; de modo que a
concentração final do éster na cubeta manteve-se na ordem de 10
-5
M. A concentração
do nucleófilo foi mantida suficientemente grande para garantir condições de pseudo-
primeira ordem para cinéticas sob estudo. A força iônica foi mantida constante em 0,5M
(KCl). As soluções foram tamponadas pelo sistema tampão fosfato, utilizando-se uma
solução de fosfato de potássio monobásico 0,01 M com pH ajustado para 7,0.
As reações foram acompanhadas monitorando-se o aparecimento dos fenolatos
correspondentes, nos comprimentos de onda 270, 280, 310, 260 e 355 nm para o
acetato de fenila,
p-clorofenila, p-nitrofenila, 2,4-dinitrofenila e 2,4,6-trinitrofenila
respectivamente. Todas as soluções estoques foram preparada pouco tempo antes do
uso e transferida para a cubeta de quartzo por seringas Hamilton.
As constantes de velocidade observadas de pseudo-primeira ordem (
k
obs
) foram
obtidas através da equação (14) sendo que cada constante de velocidade representa a
média de três experimentos.
41
ln(A
- A
t
) = - k
obs
t + C (14)
As constantes de velocidade de segunda, k
2
, e terceira ordem, k
3
para os
ésteres 1-3, Tabela 5, foram obtidas através dos coeficientes de uma função polinomial
que descreve a dependência da constante observada, k
obs
, em função da
concentração do nucleófilo. Utilizou-se de quatro a cinco concentrações diferentes do
nucleófilo.
Porém, para a hidroxilamina e N-metilhidroxilamina, tanto a reação catalisada
quanto a não catalisada pode ocorrer através de dois processos: o ataque pelo átomo
de nitrogênio ou pelo átomo de oxigênio; faz-se, portanto, necessária a separação
dessas constantes para a análise de ambas as reações.
Como todas as constantes de velocidade foram obtidas sob condições de
pseudo-primeira ordem, as contribuições dos distintos processos que as compõem são,
portanto, aditivas.
35
Desta forma, fez-se o desmembramento utilizando-se os valores
experimentais das porcentagens de ataque pelo átomo de nitrogênio e oxigênio.
35
Assim, desmembrou-se os valores de k
obs
em k
obsN
e k
obsO
para todas as
reações, catalisadas ou não, que seguem o caminho de ataque pelo nitrogênio e
oxigênio, respectivamente.
Em seguida fez-se um gráfico dos valores de k
obsN
e k
obsO
em função da
concentração da hidroxilamina o que resultou em uma função polinomial de segunda
ordem e, a partir deste, obteve-se os valores das constantes de segunda e terceira
ordem para o ataque pelo nitrogênio, k
2N
e k
3N
, respectivamente, e para o ataque pelo
oxigênio, k
2N
e k
3N
.
Para os ésteres 4 e 5, Tabela 5, foram obtidas somente as constantes de
segunda ordem (k
2N
e K
2O
), já que para esses não foi observada catálise. O
procedimento utilizado foi o mesmo descrito acima.
4.2.2.2. Reação de acilação em D
2
O
Essas reações foram realizadas somente para a hidroxilamina e os acetatos de
arila apresentados na Tabela 5. De modo geral, usou-se a mesma metodologia
empregada para as reações de acilação em H
2
O, conforme descrito no item 4.2.2.1,
42
porém, neste caso, as soluções de hidroxilamina foram preparadas em D
2
O e o pH de
cada solução ajustado para pD 7,0 (pH 6,6) com NaOD e DCl, conforme necessário.
4.2.2.3 Cinética da transformação do intermediário O-acilado no intermediário mais
estável N-acilado
Termostatizou-se, a 25
°C, 50 mL de uma mistura reacional tamponada a pH
7,0 (0,01 M de fosfato) com concentração de hidroxilamina variando de 0,05 a 2 M e
com força iônica 0,5 M de KCl. A esta solução adicionou-se o substrato gerando uma
concentração de 7 x 10
-4
M do mesmo. A formação da N-acilhidroxilamina, ao longo do
curso da reação, foi acompanhada através da formação de um complexo entre a
mesma e Fe
+3
.
A estrutura do complexo colorido proveniente da complexação de ácidos
hidroxâmicos com Fe
+3
é apresentada na Figura 15.
Figura 15:
Estrutura do complexo formado entre Fe
+3
é ácidos hidroxâmicos.
Este complexo absorve em 540 nm e já foi utilizado por Lipmann e Tuttle
85
para
a análise de ácidos hidroxâmicos. Desta forma, detectou-se e quantificou-se a
formação da N-acilhidroxilamina, um ácido hidroxâmico, através da medida da
absorção deste complexo por uma modificação do procedimento de Lipmann e Tuttle
85
,
conforme descrito a seguir.
Alícotas de 3mL da mistura reacional, termostatizadas a 25
o
C, foram coletadas
em intervalos de tempo apropriados; sendo a reação interrompida pela adição de 0,5
mL de uma solução ácida de FeCl
3
.6H
2
O a 10%, preparada para uma concentração
final de 0,2 N de HCl, e 0,5 mL de uma solução de HCl/H
2
O 50% (v/v). A absorbância
foi medida a 540 nm e aumentou linearmente com a concentração de N-
OO
OO
Fe
3+
C
N
R
H
C
HN
H
N
C O
R
O
R
43
acilhidroxilamina dentro da faixa de utilização do espectrofotômetro. As constantes de
velocidade foram determinadas seguindo-se o procedimento descrito no item 4.2.2.1.
4.2.3 Determinação da Quantidade inicial de N-acilhidroxilamina
A reação inicial da hidroxilamina com ésteres arílicos gera, num processo rápido,
os produtos de O-acilação e N-acilação. Posteriormente, numa reação mais lenta, o
produto de O-acilação reage com a hidroxilamina, presente em excesso no meio
reacional, formando o produto N-acilado, mais estável.
As quantidades relativas de N- e O-acilação que são formadas na primeira fase
da reação da hidroxilamina com os ésteres arílicos, apresentados na Tabela 5, foram
estimadas utilizando-se a metodologia empregada no item 4.2.2.3 acima. Neste caso,
no entanto, monitorou-se a absorção do complexo entre Ferro e N-acilhidroxilamina
formada
somente no início da reação de converção do intermediário O-acilado para o
N-acilado.
Este monitoramento foi feito a diferentes intervalos de tempo e, em seguida, fez-
se a extrapolação dos três primeiros pontos (obtidos através dos tempos iniciais) para o
tempo zero. Por comparação desse valor colorimétrico obtido no tempo zero com o
valor obtido no tempo infinito (depois da conversão total do intermediário O-acilado no
produto N-acilado), determina-se a quantidade final de N-acilhidroxilamina obtida.
4.2.4 Parâmetros de Ativação
Os parâmetros de ativação foram obtidos somente para a reação da
hidroxilamina com os acetatos de arila apresentados na Tabela 5. A metodologia
empregada foi a mesma que a usada para as reações de acilação em H
2
O, item
4.2.2.1, com exceção de variações na temperatura da reação que ocorreram de 15 a
35
°C.
44
4.2.5 Experimentos de RMN
4.2.5.1 Detecção da O-acilhidroxilamina
A presença da O-acilhidroxilamina foi detectada através do monitoramento da
reação do acetato de fenila com hidroxilamina, em etanol deuterado, por
13
C NMR.
Primeiramente preparou-se uma solução de hidroxilamina em etanol deuterado. A
neutralização da mesma foi feita com NaOD. Em seguida juntou-se uma quantidade
determinada desta solução com outra de acetato de fenila em etanol deuterado,
obtendo-se quantidades equimolares de ambos os reagentes, hidroxilamina e acetato
de fenila. Acompanhou-se esta reação por
13
C NMR em um período de 24 horas.
4.2.5.2 Detecção dos possíveis produtos de substituição aromática nucleofílica.
A observação da ocorrência de reações de substituição nucleofílica no anel
aromático, S
N
(Ar), paralelamente a reação de substituição nucleofílica acílica, foi
investigada por espectrometria de ressonância magnética nuclear de hidrogênio para a
reação de hidroxilamina com acetato de 2,4,6-trinitrofenila. Preparou-se uma solução
de hidroxilamina em CD
3
OD e neutralizou-se a mesma com carbonato de potássio. O
excesso de sal foi eliminado por filtração com um sistema de microfiltragem. A esta
solução, já no tubo de RMN, adicionou-se o acetato de 2,4,6-trinitrofenila mantendo-se
uma relação molar hidroxilamina/acetato de 2,4,6-trinitrofenila de 2:1. A aquisição dos
espectros de RMN foi feita em intervalos de tempo determinados. Para atribuição de
sinais fez-se necessária a aquisição de espectros de
1
H RMN do 2,4,6-trinitrofenol e do
acetato de 2,4,6-trinitrofenila na solução previamente preparada de hidroxilamina em
CD
3
OD e somente em CD
3
OD, respectivamente.
4.2.6 Cálculos Teóricos
As geometrias moleculares e suas respectivas freqüências harmônicas foram
obtidas em nível HF/6-31G(d). As energias eletrônicas foram calculadas nos níveis
45
B3LYP/6-311+G(2df,2p). O modelo PCM (polarizable continuum model)
69,70,73
foi
utilizado para calcular a energia livre de solvatação (cavidade do solvente 1.2).
46
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 SISTEMA ESTUDADO
Com o intuito de contribuir com a discussão do mecanismo da reação de
acetatos de arila substituídos com hidroxilamina nosso grupo tem estudado esta reação
através de métodos teóricos e experimentais.
O estudo tem como objetivo propor explicações para distribuição dos produtos
N- e O-acilados em função de modificações estruturais do substrato, fato ainda não
totalmente esclarecido na literatura corrente.
A reação dos acetatos de arila 1-5, Tabela 5, com hidroxilamina pode ser
descrita por duas etapas ou fases distintas:
A primeira fase corresponde a reação rápida entre o acetato de arila e a
hidroxilamina para produzir o fenol correspondente e uma mistura de N e
O-acilhidroxilamina, Esquema 13, com composição dependente da
estrutura do substrato;
X = H; 4-Cl; 4-nitro; 2,4-dinitro ou 2,4,6-trinitro
Esquema 13: Reação de acetatos de arila com hidroxilamina formando O- e N-
acilhidroxilamina.
A segunda fase ocorre sob concentração de hidroxilamina moderada ou
temperaturas elevadas e corresponde a reação da O-acilhidroxilamina
com hidroxilamina para formar a mais estável N-acilhidroxilamina,
Esquema 14.
O
O
X
+
NH
2
OH
HO
X
O
ONH
2
O
NHOH
+
+
O-acilhidroxilamina N-acilhidroxilamina
47
Esquema
14: Reação da O-acilhidroxilamina com hidroxilamina formando N-
acilhidroxilamina.
5.2 ANÁLISE DA FORMAÇÃO DA O-ACILHIDROXILAMINA
Sabe-se que muitos agentes acilantes, como acetatos e benzoatos, reagem com
hidroxilamina em solução aquosa, em pH neutro, ou em solução alcoólica para formar a
O-acilhidroxilamina e a N-acilhidroxlamina
45
. No presente trabalho a formação da O e
N-acilhidroxilamina a partir dos ésteres 1-5, Tabela 5, foi analisada e quantificada via
técnica colorimétrica de complexação da N-acilhidroxilamina com FeCl
3
, como será
demonstrado adiante. No entanto, a observação da formação da O-acilhidroxilamina,
que não absorve no ultravioleta e nem complexa com FeCl
3
, também foi analisada
através do monitoramento da reação do acetato de fenila com hidroxilamina, em etanol
deuterado, por
13
C NMR. A escolha de etanol deuterado como solvente foi feita devido
a boa solubilidade tanto do substrato, acetato de fenila, quanto da hidroxilamina no
mesmo. Sendo assim, a reação pôde ser realizada em concentrações típicas para as
análises de
13
C NMR. O conjunto de condições usadas para a análise de
13
C NMR foi
reproduzido para a espectroscopia de UV-Vis. Assim, através desta técnica, observou-
se que nos 10 minutos iniciais da reação todo o éster já havia sido consumido e,
conseqüentemente, todo o fenol liberado.
As regiões dos espectros correspondentes à absorção dos carbonos
“quaternários” estão representadas na Figura 16.
NH
2
OH
+
R
O
ONH
2
NH
2
OH
+
R
O
NHOH
48
Figura 16:
Espectros de
13
C RMN para a reação entre acetato de fenila e hidroxilamina
em etanol deuterado: (a) após 10 minutos de reação, (b) após 3 horas de
reação, (c) após 7 horas de reação e (d) após 24 horas de reação.
O carbono “quaternário” do fenol, produzido na reação do acetato de fenila com
hidroxilamina, conforme Esquema 13, aparece em torno de 151 ppm.
Pode-se observar ainda dois sinais em torno de 170 e 157 ppm. Amida e
ésteres absorvem nessa região sendo que os últimos possuem um deslocamento um
pouco maior. Portanto, devido a sua fraca intensidade e posição de absorção em
campo relativamente alto, esses sinais em 170 e 157 ppm são atribuídos aos carbonos
carbonílicos das espécies O-acilhidroxilamina e N-acilhidroxilamina, respectivamente,
evidenciando, desta forma, a formação do intermediário O-acilado. Além disso, os
espectros de
13
C RMN como função do tempo são reveladores: pode-se observar,
partindo-se da Figura 16a em direção a Figura 16c, um aumento na intensidade da
(a)
ppm (t1)
140150160170
0
50
10
15
20
25
30
35
169.9
157.2
151.0
ppm (t1)
140150160170180
0
50
10
15
20
169.9
157.2
151.0
(b)
ppm (t1)
140150160170180
0
10
20
30
40
170.1
157.4
151.2
(c)
(d)
ppm (t1)
140150160170180190
0
50
10
15
20
25
30
170.2
157.4
151.2
170,0
157,0
151,0
170,0
157,0
151,0
170,0
157,0
151,0
170,0
157,0
151,0
49
absorção do pico em 157 ppm as custas da redução do sinal em 170 ppm. Resultado
este que deve estar indicando a transformação da espécie O-acilada na mais estável
N-acilada. Após 24 horas, Figura 16d, provavelmente alguma N-acilhidroxilamina já
tenha sofrido um processo de degradação fazendo com que a relação entre a
intensidade do pico em 170 e 157 ppm comece novamente a aumentar.
Uma outra técnica empregada para a determinação da espécie intermediária O-
acilhidroxilamina é a análise da velocidade de formação da N-acilhidroxilamina a partir
dos diferentes ésteres arílicos. Essa análise deve ser feita sob as condições
experimentais em que a O-acilhidroxilamina formada na primeira fase da reação
(liberação do fenol) reaja com mais hidroxilamina formando a N-acilhidroxilamina.
A Figura 17 representa os valores de constantes de velocidade de pseudo-
primeira ordem, em relação a hidroxilamina, obtidos para a
segunda fase da reação,
ou seja, para a reação da O-acilhidroxilamina com hidroxilamina a partir de acetatos de
arila substituídos. Essas constantes de velocidade são obtidas através de técnicas
colorimétricas que tornam possível o acompanhamento da formação da N-
acilhidroxilamina a partir da absorção, em 540 nm, de um complexo formado entre a
mesma e Fe
3+
, conforme descrito no item 4.2.2.3. Observa-se que, em média, as
constantes de velocidade obtidas são independentes da estrutura do substrato de
partida, o que indica que os parâmetros cinéticos obtidos representam unicamente a
reação de transformação do intermediário O-acilado no produto mais estável N-acilado,
o que está de acordo com os resultados obtidos a partir dos experimentos de RMNC
13
,
conforme descrito anteriormente.
50
Figura 17:
Gráfico da constante de velocidade de pseudo-primeira ordem para a
reação da O-acilhidroxilamina com hidroxilamina em função da
concentração molar de hidroxilamina a 25,0
o
C,
µ
= 0,5 M ( KCl ) e pH 7,0.
Ao estudar a reação de O-acetilhidroxilamina com hidroxilamina Jencks
46
observou que a velocidade desta reação em um dado pH não é proporcional a
concentração de hidroxilamina livre, mas sim aproximadamente proporcional ao
produto da concentração desta pelo íon hidroxilamônio. Este resultado, dentre outros,
levaram o autor a propor que esta reação está sujeita a catálise ácida geral pelo íon
hidroxilamônio. Na análise de nossos resultados observou-se que as constantes de
velocidade de pseudo-primeira ordem obtidas não são proporcionais ao produto
[NH
2
OH].[NH
3
OH
+
] o que sugere, diferentemente dos resultados obtidos por Jencks a
pH 6,5 para o acetato de p-nitrofenila, que em pH 7 não há apreciável catálise ácida
geral pelo íon hidroxilamônio. Porém isso não exclui a possibilidade da existência
dessa catálise em pHs inferiores já que o pKa da hidroxilamina em torno de 6 confere a
existência de uma maior quantidade de sua forma catiônica neste pH.
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20
0
10
20
30
40
acetato de fenila
acetato de p-Clorofenila
acetato de p-nitrofenila
acetato de 2,4-dinitrofenila
acetato de 2,4,6-trinitrofenila
kobs x 10
5
( s
-1
)
NH
2
OH ( M )
51
5.3 ANÁLISE DA REAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO AROMÁTICA NUCLEOFÍLICA S
N
(AR)
VERSUS SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA ACÍLICA S
N
(C).
Sabe-se que acetatos de arila reagem com a hidroxilamina através de
substituição nucleofílica acílica, S
N
(C), liberando o fenol correspondente.
45
No entanto,
a investigação da ocorrência de substituição nucleofílica no anel aromático,
principalmente para ésteres com átomos de carbono aromáticos muito ativados como o
acetato de 2,4-dinitrofenila e 2,4,6-trinitrofenila, é muito importante. Bunton e
colaboradores
86
, por exemplo, demonstraram que o bis(2,4-dinitrofenil)fosfato pode
reagir com derivados metilados da hidroxilamina (N-metil, N,N-dimetil e O-
metilhidroxilamina) tanto por substituição nucleofílica no fósforo (S
N
(P)), quanto por
substituição nucleofílica aromática, conforme Esquema 15.
Esquema
15: Reação do bis(2,4-dinitrofenil)fosfato com derivados da hidroxilamina.
Neste mesmo trabalho, os autores demonstraram que a metilação no oxigênio
inibe fortemente o ataque da O-metilhidroxilamina sobre o átomo de fósforo
promovendo, conseqüentemente, a substituição nucleofílica aromática neste substrato.
Para a hidroxilamina, no entanto, Bunton e colaboradores
87
não observaram a
ocorrência de substituição nucleofílica aromática.
52
No presente trabalho, investigou-se a possibilidade da reação entre
hidroxilamina e acetato de 2,4,6-trinitrofenila ocorrer via substituição nucleofílica
aromática paralelamente a substituição nucleofílica no carbono carbonílico, Figura 18.
Este estudo foi feito através de técnicas de espectrometria de ressonância magnética
nuclear de hidrogênio.
Figura 18:
Possíveis formas de ataque da hidroxilamina através do átomo de
nitrogênio e/ou do átomo de oxigênio sobre o acetato de 2,4,6-
trinitrofenila.
As Figuras 19 e 20 apresentam os picos de absorção dos espectros de
1
H RMN
do acetato de 2,4,6-trinitrofenila e do 2,4,6-trinitrofenol, respectivamente.
Figura 19:
Espectros de
1
H RMN para o acetato de 2,4,6-trinitrofenila em CD
3
OD. (a) =
sinal dos hidrogênios aromáticos, 7,63 ppm (H
a
em Esquema 16). (b) =
sinal dos hidrogênios metílicos, 0,86 ppm (H
e
em Esquema 16).
(a) (b)
O
O
H
3
C
NH
2
OH
O
2
N NO
2
NO
2
S
N
(
C
)
S
N
(Ar)
53
A Figura 19(a) apresenta o sinal em 7,63 dos hidrogênios aromáticos
equivalentes, H
a
, Esquema 16. A Figura 19(b) apresenta o pico de absorção em 0,87
dos hidrogênios metílicos do éster H
e
,ambos atribuídos a partir do espectro do acetato
de 2,4,6-trinitrofenila puro, Esquema 16.
Esquema 16:
Reação do acetato de fenila com hidroxilamina com a identificação dos
respectivos hidrogênios para a atribuição dos sinais em
1
H RMN.
A Figura 20 apresenta o espectro de
1
H RMN mostrando o sinal em 7,27
correspondente aos hidrogênios aromáticos do 2,4,6-trinitrofenol, H
b
no Esquema 16,
também atribuído a partir do 2,4,6-trinitrofenol puro.
Figura 20:
Espectro de
1
H RMN mostrando o sinal em 7,27 correspondente aos
hidrogênios aromáticos do 2,4,6-trinitrofenol.
H
a
O
2
N NO
2
NO
2
H
a
O
C O
H
e
H
e
H
e
+
NH
2
OH
C
O
H
c
H
c
H
c
ONH
2
C
O
H
d
H
d
H
d
ONH
2
+
H
b
NO
2
NO
2
O
2
N
HO H
b
+
54
Tanto os sinais do acetato de 2,4,6-trinitrofenila, quanto os do 2,4,6-trinitrofenol
serão utilizados para efeito de comparação com os espectros obtidos para a reação
entre hidroxilamina e acetato de 2,4,6-trinitrofenila.
CD
3
OD foi usado como solvente para o estudo da reação de transacilação
empregando-se a técnica de RMN, e os espectros obtidos em três intervalos de tempo:
no momento em que os reagentes foram misturados (aproximadamente cinco minutos),
após quarenta e cinco minutos e 24 horas de reação, conforme apontado na Figura 21
e Figura 22.
A mudança nos sinais de absorção ao longo do curso desta reação pode ser
visualizada nas Figuras 21 e 22. A Figura 21 representa os sinais obtidos na faixa
espectral de absorção dos hidrogênios aromáticos e a Figura 22 na faixa dos
hidrogênios metílicos.
Figura 21:
Espectro de
1
H RMN para absorção dos hidrogênios aromáticos na reação
entre acetato de 2,4,6-trinitrofenila e hidroxilamina, em CD
3
OD. (a) início da
reação; (b) 45 minutos de reação; e (c) 24 horas de reação.
No início da reação, Figura 21(a), observa-se somente sinais próprios dos
hidrogênios aromáticos do reagente acetato de 2,4,6-trinitrofenila (sinal em 7,606 ppm
– equivalente ao sinal padrão deste reagente na Figura 19(a) igual a 7,63 ppm) e de
(a) (c)
(b)
55
algum 2,4,6-trinitrofenol formado nestes primeiros cinco minutos de reação (sinal em
7,229 ppm – muito próximo ao sinal padrão deste produto, Figura 20, igual 7,27 ppm).
A diferença de absorção entre os sinais observados para a mistura reacional e os
valores padrões para os compostos puros, pode ser atribuída à diferenças na
polaridade do meio como função das diferentes espécies presentes na mistura
reacional. Após 40 minutos de reação observa-se, através da Figura 21(b), que o sinal
correspondente aos hidrogênios aromáticos do acetato de 2,4,6-trinitrofenila, em 7,583
ppm, torna-se menos intenso do que o sinal dos hidrogênios aromáticos do 2,4,6-
trinitrofenol, em 7,310 ppm, evidenciando a formação deste último às custas do
primeiro. A Figura 21(c) mostra a presença de um único sinal em 7,26 ppm, referente
aos hidrogênios aromáticos do 2,4,6-trinitrofenol, evidenciando então que, após 24
horas de reação em CD
3
OD, não há a presença de acetato de 2,4,6-trinitrofenila e de
nenhum outro produto, com hidrogênios aromáticos, referente a reação do mesmo com
hidroxilamina
.
Figura 22:
Espectro de
1
H RMN para absorção dos hidrogênios metílicos na reação
entre acetato de 2,4,6-trinitrofenila e hidroxilamina, em CD
3
OD. (a) início da
reação; (b) 45 minutos de reação e (c) 24 horas de reação.
(a) (b) (c)
56
A Figura 22(a), também correspondente aos cinco primeiros minutos de reação,
apresenta os sinais em 0,842 e em 0,268 correspondes aos hidrogênios metílicos do
acetato de 2,4,6-trinitrofenila e aos hidrogênios metílicos da O-acilhidroxilamina ou N-
acilhidroxilamina formada no início da reação, respectivamente. Depois de 45 minutos
de reação, é possível observar, Figura 22(b), o sinal em 0,819ppm, correspondente
aos hidrogênios metílicos do acetato de 2,4,6-trinitrofenila, e o surgimento de um sinal
em 0,396 ppm que, por comparação com o espectro da Figura 22(a), foi atribuído a O-
acilhidroxilamina e os sinais em 0,254 ppm correspondem aos hidrogênios metílicos da
e N-acilhidroxilamina. Após 24 horas de reação, Figura 22(c), observa-se somente os
sinais em 0,35 e 0,199 ppm correspondentes a O-acilhidroxilamina e N-
acilhidroxilamina evidenciando, mais uma vez, a ausência de acetato de 2,4,6-
trinitrofenila e caracterizando o término da reação.
A análise dos sinais dos hidrogênios ligados a nitrogênio e/ou oxigênio é
dificultada devido a troca com deutério.
É evidente que a reação da hidroxilamina com acetato de 2,4,6-trinitrofenila
através de substituição nucleofílica aromática S
N
(Ar), conforme Figura 18, deveria
originar qualquer um dos compostos representados pela Figura 23.
Figura 23:
Possíveis compostos formados devido a ocorrência de reação de
substituição nucleofílica aromática entre hidroxilamina e acetato de 2,4,6-
trinitrofenila.
Esses compostos, uma vez originados, deveriam apresentar sinais no espectro
de
1
H RMN, referentes a absorção de seus hidrogênios aromáticos, H
a
e/ou H
b
conforme Figura 23. A Figura 21, como já discutido acima, demonstra claramente que
na região em que aparecem os hidrogênios aromáticos, observa-se sinais apenas
provenientes do reagente acetato de 2,4,6-trinitrofenila e do produto 2,4,6-trinitrofenol,
nenhum outro sinal é observado. Conseqüentemente, a reação da hidroxilamina com
acetato de 2,4,6-trinitrofenila, via substituição nucleofílica aromática, deve ser
descartada. Como este substrato é mais ativado e, portanto, mais susceptível a este
NHOH
NO
2
H
a
NO
2
H
a
O
2
N
ONH
2
NO
2
H
b
NO
2
H
b
O
2
N
57
tipo de reação do que o acetato de 2,4-dinitrofenila, conclui-se que este último, da
mesma forma, não deve reagir com hidroxilamina via substituição nucleofílica
aromática em paralelo a substituição nucleofílica acílica.
5.4 FORMAÇÃO DA N-ACILHIDROXILAMINA VERSUS FORMAÇÃO DA O-
ACILHIDROXILAMINA
A porcentagem de N-acilhidroxilamina formada na reação apresentada no
Esquema 13, relativamente ao valor final de N-acilhidroxilamina, obtida após a
conversão do produto O-acilado no mais estável N-acilado, Esquema 14, é
apresentado na Tabela 6.
Tabela 6: Porcentagem de N-acilhidroxilamina formada em função dos substratos
analisados para a reação da hidroxilamina com acetatos de arila a 25
°C,
pH 7,0 (tampão fosfato 0,01M).
* Valores de pKa do grupo de saída
** Porcentagem de N-acilhidroxilamina formada na primeira etapa da reação, Esquema 13, em relação
ao valor total de fenol liberado.
Éster Estrutura pK
a
88*
N-acilhidroxilamina**(%)
(1): Acetato de fenila
O
O
9,64 3,7 ± 0,1
(2): Acetato de p-clorofenila
O
O
Cl
9,2 1,5 ± 0,2
(3): Acetato de p-nitrofenila
O
O
NO
2
7,16 16 ± 0,3
(4): Acetato de 2,4-
dinitrofenila
O
O
NO
2
NO
2
4,0 53 ± 3,3
(5): Acetato de 2,4,6-
trinitrofenila
O
O
O
2
N
NO
2
O
2
N
0,38 47 ± 2,3
58
Como mostrado na Tabela 6, a N-acilação apresenta uma importante variação
com a natureza do agente acilante variando de 53%, com o acetato de 2,4-dinitrofenila,
até uma pequena quantidade para o acetato de p-clorofenila (1,5%). Esta dependência
com a estrutura do substrato sob a distribuição do produto pode ser atribuída ao
aumento da característica elétron-retiradora do nucleófugo ao longo da série de
acetatos de arila 1-5. A interrupção na tendência do grau de N-acilação para o acetato
de 2,4,6-trinitrofenila é notória: como os resultados apresentados na Tabela 6 são uma
média de 3 experimentos e, desde que nenhuma substituição nucleofílica aromática foi
detectada o acetato de 2,4,6-trinitrofenila, a distribuição do produto,neste caso, pode
ser atribuída a alguma característica estrutural do éster que influencia a eletrofilicidade
do carbono carbonílico. Estudos de modelagem molecular do acetato de 2,4,6-
trinitrofenila mostraram que o grupo carbonila é perpendicular ao anel aromático,
Figura 24.
Figura 24:
Estrutura do acetato de 2,4,6-trinitrofenila obtida por modelagem molecular.
A falta de planaridade diminui a conjugação do anel aromático com o grupo
carbonila reduzindo a habilidade dos grupos nitros para retirar elétrons do sistema
π da
carbonila reduzindo, conseqüentemente eletrofilicidade deste.. A reação do cloreto de
benzoíla
45
, um reagente com um excelente nucleófugo, e hidroxilamina forma 96% do
produto N-acilado e pode ser utilizado como um dado adicional para nossa
interpretação já que a alta reatividade deste derivado de ácido carboxílico é
normalmente atribuída ao poder elétron retirador do átomo de cloro e a sua excelente
nucleofugicidade.
59
5.5 ESTUDO CINÉTICO DA PRIMEIRA FASE DA REAÇÃO DOS ACETATOS DE
ARILA COM HIDROXILAMINA E IMPLICAÇÕES NO MECANISMO REACIONAL.
Como detalhado na seção 4, estudou-se a cinética da
primeira fase da reação
entre hidroxilamina e os éteres 1-5, apresentados na Tabela 5. Observou-se que os
mesmos apresentam diferentes comportamentos cinéticos sendo que, na medida em
que o pKa do nucleófugo reduz, a reatividade do substrato aumenta. Isto é o esperado
uma vez que, nesta direção, o nucleófugo torna-se um melhor grupo de saída.
Observou-se ainda que os ésteres 1-3, Tabela 5, não apresentam uma relação
linear entre a constante de velocidade (k
obs
) e a concentração da hidroxilamina, tendo
desvios positivos da linearidade; portanto, estas constantes de velocidade não são de
primeira ordem em relação a hidroxilamina. A Figuras 25 (A) ilustra esse
comportamento cinético para o acetato de fenila. Esses resultados indicam que a
hidroxilamina tem uma participação que vai além daquela restrita ao ataque
nucleófilico.
Figura 25:
Constantes de velocidade de pseudo-primeira ordem para a reação de
hidroxilamina com acetato de fenila
(A) e acetato de 2,4-dinitrofenila (B),
a 25
°
C, pH 7 e
µ
= 0,5 M (KCl).
0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 0.20
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.00 0.05 0.10 0.15 0.20
-1
0
1
2
3
4
5
6
7
( B )
k
obs
(s
-1
)
[ NH
2
OH ] (M)
(A)
k
obs
(s
-1
)
[NH
2
OH] (M)
60
Por outro lado, os ésteres 4-5, Tabela 5, apresentam relação linear entre a
constante de velocidade (k
obs
) e a concentração da hidroxilamina e, portanto, essas
constantes de velocidade, k
2
, são de primeira ordem em relação a hidroxilamina A
Figura 25(B), (inserto na Figura 25) ilustra esse comportamento cinético para o
acetato de
2,4-dinitrofenila. Esses resultados são usados para inferir que a
hidroxilamina atua somente como nucleófilo na reação com esse grupo de ésteres.
Desta forma, os dados cinéticos claramente separam a série de arilésteres
estudada (1 a 5) em dois grupos: um reagindo através de ataque nucleofílico direto por
uma única molécula de hidroxilamina (acetato de 2,4-dinitrofenila e 2,4,6-trinitrofenila),
e o outro demandando uma segunda molécula de hidroxilamina para que a reação se
complete (acetato de p-nitrofenila, p-clorofenila e fenila).
Para os ésteres 1-3, a constante de velocidade observada foi decomposta em
uma constante de velocidade de segunda ordem, k
2
– primeira ordem em relação ao
substrato e primeira ordem em relação a hidroxilamina; e outra de terceira ordem, k
3
,
primeira ordem em relação ao substrato e segunda ordem em relação a hidroxilamina.
Para os ésteres 4 e 5 obteve-se somente a constante de velocidade de segunda
ordem, devido a ausência de catális. Essas constantes estão apresentadas na Tabela
7.
Tabela 7: Constantes de velocidade de segunda ordem k
2
(M
-1
.sec
-1
) e de terceira
ordem k
3
(M
-2
.sec
-1
) para a clivagem de acetatos de arila por NH
2
OH a 25
°C, pH 7 e µ = 0,5 M (KCl).
Éster
pKa
88*
k
2
x 10
3
(M
-1
.sec
-1
)
a
k
3
x 10
3
(M
-2
.sec
-1
)
a
(1) 9,64 7,52 ± 0,02 81,4 ± 0,2
(2) 9,2 29,3 ± 0,2 90,2 ± 0,2
(3) 7,16 151,3 ± 0,1 6165 ± 2
(4) 4,0 32700 ± 20 ---
(5) 0,38 62200 ± 300 ---
* valores de pKa do grupo de saída
a: corrigido para a concentração de nucleófilo livre.
Os valores obtidos para as constantes de velocidade já desmembradas em
ataque pelo oxigênio e nitrogênio são apresentados na Tabela 8. A forma como foi feito
61
esse desmembramento encontra-se detalhado na seção 4.2.2.1. Nessa tabela, k
2N
e
k
2O
representam as constantes de velocidade de segunda ordem para a formação da N
e O-acilhidroxilamina, respectivamente, enquanto k
3N
e k
3O
representam as constantes
de velocidade de terceira ordem para a formação da N e O-acilhidroxilamina.
Tabela 8: Constantes de velocidade de segunda ordem, k
2N
(M
-1
.sec
-1
) e k
2O
(M
-1
.sec
-
1
), e de terceira ordem, k
3N
(M
-2
.sec
-1
) e k
3O
(M
-2
.sec
-1
), para a clivagem
de acetatos de arila por NH
2
OH a 25 °C, pH 7 e µ = 0,5 M (KCl).
Éster
k
2N
x 10
3
(M
-1
.sec
-1
)
a
k
2O
x 10
3
(M
-1
.sec
-1
)
a
k
3N
x 10
3
(M
-2
.sec
-1
)
a
k
3O
x 10
3
(M
-2
.sec
-1
)
a
(1)
0,280
± 0,006
7,24 ± 0,02 3,01 ± 0,6
78,40 ± 0,02
(2)
0,440
± 0,006 28,9 ± 0,4 1,35 ± 0,02
88,80 ± 0,04
(3)
24,2
± 0,5
127,1 ± 0,3 986,4 ± 0,2
5178 ± 3
(4)
17330
± 40 15370 ± 20
--- ---
(5)
29230
± 60 32960 ± 30
--- ---
a: corrigido para a concentração de nucleófilo livre.
O gráfico de Bronsted, para a reação dos acetatos de arila com hidroxilamina, é
mostrado na Figura 26.
62
Figura 26:
Gráfico de Bronsted para a reação de acetatos de arila substituídos com
hidroxilamina a 25
°
C, pH 7 e
µ
= 0,5 M (KCl). 1: acetato de fenila, 2: acetato de p-
clorofenila,
3: acetato de p-nitrofenila, 4: acetato de 2,4-dinitrofenila e 5: acetato de
2,4,6-trinitrofenila.
Neste gráfico a linha pontilhada representa apenas a tendência dos pontos.
Observa-se que a tendência na velocidade seguida para os ésteres 4 e 5 é diferente
daquela observada para os ésteres 1,2 e 3, o que resulta numa inflexão na correlação
de Bronsted, que ocorre em torno de pKa 6, o que, conforme discutido na seção
1.3.1.2, é indicativo de mudança na etapa determinante da velocidade e formação de
um intermediário tetraédrico. Em seu trabalho
47
, Hengge também propôs a existência
de um intermediário para a reação da hidroxilamina e acetato de p-nitrofenila em baixo
pH.
O gráfico demonstra que substratos com grupos de saída com pKa inferiores a 6
apresentam uma velocidade de reação menos dependente da nucleofugicidade dos
grupos de saída do que aqueles substratos com grupos de saída com pKas maiores
que 6.
O coeficiente angular deste gráfico revela que para os ésteres com bons grupos
de saída, aqueles com pKa menor que seis, o processo de quebra da ligação para a
expulsão do grupo de saída é incipiente,
β
LG
= 0,0627 e 0,0915 para k
2N
e k
2O
,
0246810
-4
-3
-2
-1
0
1
2
1
2
5
4
3
3
1
2
logk2N
logk2O
logk
2
(M
-1
.s
-1
)
pKa (YPhOH)
63
respectivamente e, portanto, a barreira de energia necessária para alcançar o estado
de transição é atribuída ao processo de formação da ligação com o nucleófilo durante a
formação do intermediário tetraédrico. Por outro lado, para aqueles ésteres com grupos
de saída ruins, pKa maior que seis, a quebra da ligação com o grupo de saída é
avançada,
β
LG
= 0,804 e 0,444 para k
2N
e k
2O
, respectivamente, indicando um estado de
transição tardio na coordenada de reação.
Apesar de, aparentemente, os valores das constantes de velocidade para o
acetato de 2,4-dinitrofenila (éster 4) não desviarem significativamente de uma linha reta
que poderia ser desenhada para os grupos de saída ruins, a magnitude do efeito
isotópico do solvente (SKIE) que foi encontrada para a reação deste éster está na
mesma faixa que a encontrada para a reação do acetato de 2,4,6-trinitrofenila, ver
seção 5.8; o que nos impele a classificá-lo entre os ésteres com grupos de saída ruins.
Por conseguinte, propõe-se que para todos os ésteres a reação envolve a
formação de um intermediário tetraédrico e que para aqueles ésteres com bons grupos
de saída, pKa menor que 6, a etapa determinante da velocidade é a formação do
intermediário enquanto para ésteres com grupos de saída ruins, pKa maior que 6, a
etapa limitante da velocidade é a decomposição do mesmo.
Além disso, pode-se excluir a formação de um íon acílium durante a reação já
que, para os ésteres com bons grupos de saída, e portanto mais susceptíveis a reagir
via formação dos mesmos, o baixo valor de
β
LG
(0,0915) na reação de N-acilação
demonstra que o grupo de saída ainda é um componente da estrutura do estado de
transição proposto.
5.6 ESTUDO CINÉTICO DA PRIMEIRA FASE DA REAÇÃO DO ACETATO DE 2,4-
DINITROFENILA E ACETATO DE FENILA COM DERIVADOS DA
HIDROXILAMINA E IMPLICAÇÕES NO MECANISMO REACIONAL.
Os valores das constantes de velocidade de segunda ordem para a reação do
acetato de fenila e 2,4-dinitrofenila com
α nucleófilos (hidroxilamina, N-
metilhidroxilamina, N,N-dimetilhidroxilamina e O-metilhidroxilamina) são apresentados
nas Tabelas 9 e 10, respectivamente.
64
Tabela 9: Constantes de velocidade de segunda ordem k
2
(M
-1
.sec
-1
) e decompostas
em ataque pelo nitrogênio (k
N
) e oxigênio (k
O
) para a clivagem do acetato
de fenila por nucleófilos derivados da hidroxilamina a 25
°C, pH 7 e µ = 0,5
M (KCl).
Nucleófilo pKa
a
k
2
aparente
(M
-1
.sec
-1
)
k
2
(M
-1
.sec
-1
)
b
K
2N
(M
-1
.sec
-1
)
b
K
2O
(M
-1
.sec
-1
)
b
hidroxilamina
5,94 69,60 x 10
-4
75,18 x 10
-4
2,78 x 10
-4
72,40 x 10
-
4
N-metilhidroxilamina
6,18 5,99 x10
-4
6,89 x 10
-4
2,76 x10
-5
6,61 x 10
-4
N,N-
dimetilhidroxilamina
5,20 1,74 x 10
-4
1,76 x 10
-4
0 1,76 x 10
-4
O-metilhidroxilamina
4,62 1,19 x 10
-4
1,20 x 10
-4
1,20 x 10
-4
0
a: constantes de dissociação obtidas da database de referência padrão NIST versão 6.0.
b: corrigido para a concentração de nucleófilo livre.
Tabela 10: Constantes de velocidade de segunda ordem k
2
(M
-1
.sec
-1
) e decompostas
para o ataque pelo nitrogênio (k
N
) e oxigênio (k
O
) na clivagem do acetato de
2,4-dinitrofenila por nucleófilos derivados da hidroxilamina a 25
°C, pH 7 e µ
= 0,5 M (KCl).
Nucleófilo pKa
a
k
2
aparente
(M
-1
.sec
-1
)
k
2
(M
-1
.sec
-1
)
b,€c
k
N
(M
-1
.sec
-1
)
b,c
k
O
(M
-1
.sec
-1
)
b,c
hidroxilamina
5,94
30,08
± 0,01
32,70 17,33 15,37
N-metilhidroxilamina
6,18
36,64
± 0,02
42,13 25,28 16,85
N,N-
dimetilhidroxilamina
5,20 5,14± 0,01
5,23 0 5,23
O-metilhidroxilamina 4,62
1,19
± 0,03
1,19 1,19 0
a: constantes de dissociação obtidas da database de referência padrão NIST versão 6.0.
b: corrigido para a concentração de nucleófilo livre.
c: as constantes de velocidade são derivadas de k
2
aparente e tem o mesmo erro.
65
Os valores de constantes de velocidade total de segunda ordem, k
2
, foram
desmembrados para as constantes de velocidade devido ao ataque pelo nitrogênio, k
N
,
e pelo oxigênio, k
O
, considerando as contribuições relativas de cada uma dessas duas
reações. Isso foi feito utilizando-se os valores experimentais de porcentagem de ataque
pelo nitrogênio apresentados na Tabela 11 .
Tabela 11: Porcentagem de ataque pelo átomo de nitrogênio dos derivados de
hidroxilamina para o acetato de fenila e 2,4-dinitrofenila a 25
°C, pH 7,0
(tampão fosfato 0,01M).
Éster NH
2
OH MeNHOH Me
2
NOH MeONH
2
(1): acetato de fenila
4
4
0 100
(4): acetato de 2,4-dinitrofenila
53
60
0 100
* Porcentagem de ataque pelo átomo de nitrogênio na primeira fase da reação, Esquema 12, em relação
ao valor total de fenol liberado.
O gráfico de Bronsted obtido para a reação desses nucleófilos através de seu
átomo de nitrogênio (logk
N
) com acetato de 2,4-dinitrofenila e para a reação desse
substrato com aminas cíclicas secundárias é apresentado na Figura 27.
Os resultados para nucleófilos do tipo α, foram obtidos no presente trabalho
enquanto aqueles para o íon hidróxido são provenientes da literatura.
89
Observa-se que
tanto os
α nucleófilos quanto as aminas cíclicas seguem uma relação de Bronsted, ou
seja, há uma relação linear entre as constantes de velocidade e o pKa do nucleófilo.
Os valores de
β
NU
obtidos a partir dos coeficientes angulares desse gráfico foram de
0,86 e 0,51 para os nucleófilos
α e para as aminas cíclicas secundárias,
respectivamente. Isso indica que para substratos situados na primeira região do gráfico
de Bronsted (acetato de 2,4-dinitrofenila e 2,4,6-trinitrofenila) há uma alta extensão da
formação da ligação entre o nucleófilo
α e o centro eletrofílico no estado de transição e
a mesma é mais avançada quando comparada com as aminas cíclicas secundárias.
Desta forma
β
NU
é um parâmetro que indica um estado de transição tardio na
coordenada de reação destes ésteres com hidroxilamina; o que é o esperado,
considerando a alta nucleofilicidade da hidroxilamina.
66
Figura 27:
Gráfico de Bronsted para a hidrólise do acetato de 2,4-dinitrofenila a pH 7,0
com
α
-nucleófilos a 25.0oC, força iônica 0,5M ( KCl ) e 0.01 M de tampão
fosfato ( 7 = O-metilhidroxilamina, 8 = Hidroxilamina, 9 = N-
metilhidroxilamina ) e com aminas
alifáticas secundárias a força iônica 0,2
M e 0,01 M de tampão borato ou fosfato ( 6 = íon piperazínio, 5 = 1-
formilpiperazina, 4 = morfolina, 3 = 1-(
β-hidroxilmetil)piperazina, 2 =
piperazina, 1 = piperidina ).
A posição do estado de transição na coordenada de reação pode ser melhor
visualizada através de um mapa de reação, um diagrama de More O’ Ferrall-Jencks. As
coordenadas deste diagrama,
α
lg
e α
Nu
, foram obtidas a partir das equações (15) e
(16) e estão apresentadas na Tabela 12.
α
lg
= β
lg
/ β
Eq
(15)
α
Nu
= β
Nu
/ β
Eq
(16)
Nestas equações α
LG
, e α
Nu
, também chamados coeficientes de similaridade,
comparam uma mudança no processo sob investigação (o sistema desconhecido) com
aquele de um processo padrão (o sistema conhecido). No caso do tratamento
envolvendo as relações de Bronsted, o coeficiente de similaridade mede a extensão
456789101112
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
7
9
8
6
5
2
3
4
1
log k
N
(M
-1
s
-1
)
pKa do nucleófilo
67
com a qual o estado de transição assemelha-se ao produto quando comparado com os
reagentes.
β
lg
representa o coeficiente angular para a região do gráfico de Bronsted
obtido para a reação da hidroxilamina com acetatos de arila com bons grupos de saída
(
leaving group), Figura 26, e β
Nu
é o coeficiente angular para o gráfico de Bronsted
obtido para a reação do acetato de 2,4-dinitrofenila com nucleófilos derivados da
hidroxilamina, Figura 27.
β
Eq
representa a soma entre β
lg
e β
Nu
, equação (17).
β
Eq
= β
lg
+ β
Nu
(17)
Tabela 12: Parâmetros de estrutura-reatividade para a reação entre derivados da
hidroxilamina, através do átomo de nitrogênio, e acetatos de arila com
grupos de saída de pKa menor que sete.
β
lg
β
Nu
β
Eq
α
lg
α
Nu
0,12 0,81 0,93 0,13 0,87
O diagrama de More O´Ferral-Jencks obtido a partir destes resultados está
apresentado na Figura 28.
Neste diagrama a ordenada representa o grau de formação da ligação entre o
nucleófilo e o substrato (
α
Nu
) e a abscissa representa o grau de quebra de ligação entre
o substrato e o grupo de saída (
α
Lg
) no estado de transição. A linha reta tracejada
indica a região do mapa de reação onde o estado de transição para um mecanismo
sincrônico deveria estar localizado. Mecanismos que ocorrem em etapas, através da
formação de intermediários, terão seu estado de transição descrito por regiões
próximas aos vértices superior esquerdo ou inferior direito.
O ponto apresentado neste gráfico,
, representa o grau de formação e quebra
das ligações entre o nucleófilo e o grupo de saída do substrato, respectivamente, no
estado de transição para a reação de N-acilação da hidroxilamina através de acetatos
de arila com bons grupos de saída (pKa < 7). Com isto, observa-se que o estado de
transição para o sistema em questão apresenta alta formação da ligação com o
nucleófilo e baixa quebra de ligação com o grupo de saída, o que corrobora com a
suposição de um estado de transição que envolva a formação de um intermediário
tetraédrico já que neste a ligação com o grupo de saída deve estar pouco estirada.
Além disso, devido ao alto grau de formação da ligação entre o nucleófilo e o substrato,
68
a estrutura do estado de transição para essa reação deve aproximar-se muito a
estrutura do intermediário tetraédrico.
Figura 28:
Diagrama de More O´Ferral-Jencks para a reação de N-acilação da
hidroxilamina através de acetatos de arila com bons grupos de saída (pKa
< 6).
5.7 SOBRE O MECANISMO REACIONAL – COMPARAÇÃO COM DADOS DA
LITERATURA
A Figura 29 apresenta resultados de constantes de velocidade de segunda
ordem para a clivagem dos acetatos de arila, apresentados na Tabela 5, com
hidroxilamina (um nucleófilo
α) através de seu átomo de oxigênio e nitrogênio, bem
como com o íon hidróxido (um nucleófilo “normal”), sendo este obtido da literatura.
90
NH
2
OH +
O
O
X
O
O
X
+ NH
2
OH +
OH
ArO
NHOH
CH
3
O
NHOH
HO
X
+
69
012345678910
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
1
2
log k
OH
log k
2O
(NH
2
OH)
log k
2N
(NH
2
OH)
log (K
N
, k
O
ou k
OH
-
) (M
-1
s
-1
)
pKa do grupo de saída
Figura 29:
Gráfico de Bronsted para a reação de acetatos de arila substituídos com
hidroxilamina através de seu átomo de nitrogênio (
z) e oxigênio (S) e para
a reação com íon hidróxido (
) a 25
o
C. 1: fenilacetato, 2: 4-
clorofenilacetato,
3: 4-nitrofenilacetato, 4: 2,4-dinitrofenilacetato e 5:
2,4,6-trinitrofenilacetato.
Como discutido na seção 1.3, a basicidade do grupo de saída do substrato
determina a sensibilidade do sítio eletrofílico ao nucleófilo
α: para os acetatos de arila
sob estudo é esperado que o íon hidróxido (pKa 15,7) seja muito mais reativo do que a
hidroxilamina (pKa 6,0), e isto é o observado para ésteres com pKa maior que seis,
Figura 29. No entanto, conforme demonstrado na figura em questão, a diferença na
reatividade entre os dois nucleófilos diminui conforme a habilidade do nucleófugo
aumenta o que está de acordo com resultados obtidos por Nomura.
44
Estes resultados contribuem para a especulação do mecanismo da reação de N
e O-acilação: para os ésteres 4 e 5 (acetato de 2,4 e 2,4,6-trinitrofenila) o efeito
α é
muito mais relevante do que para os ésteres 1 a 3 (acetato de fenila, p-cloro e p-
nitrofenila) já que para os primeiros a hidroxilamina é quase tão reativa quanto o íon
hidróxido, uma condição esperada somente se o passo limitante da velocidade for
70
dependente da nucleofilicidade do nucleófilo. Isto fornece uma evidência adicional na
suposição de que para os ésteres 4 e 5 o passo limitante da velocidade envolve a
formação de um intermediário tetraédrico; enquanto que para os éteres 1 a 3, a etapa
determinante da velocidade está associada a quebra deste intermediário. Isto está de
acordo com as sugestões feitas anteriormente.
5.8 ESTUDOS DO EFEITO ISOTÓPICO CINÉTICO DO SOLVENTE.
Estudos de efeito isotópico cinético do solvente (SKIE) mostraram efeitos
isotópicos (k
H2O
/k
D2O
) inversos (0,7-0,8 ± 0,01) para substratos situados na primeira
região do plote de Bronsted, ou seja, para os que possuem grupos de saída com pKa
menores que 6. Já o efeito é normal (1,4 – 1,5
± 0,01) para a segunda região do plote
de Bronsted, aquela com substratos que possuem grupos de saída com pKa maiores
que 6, efeito também observado por Jencks e Carrioulo.
36
Este efeito isotópico normal, para substratos com grupos de saída com pKa
maior que 6, pode ser explicado devido a existência de catálise bifuncional na etapa
determinante da velocidade que, nos estudos aqui apresentados, é atribuída a
decomposição do intermediário tetraédrico. Os resultados experimentais obtidos e,
como será demonstrado posteriormente, nossos estudos teóricos, demonstram que o
ataque da hidroxilamina sobre esses acetatos é de segunda ordem em relação a
hidroxilamina. Apesar de que uma maior magnitude no efeito isotópico cinético do
solvente deveria ser esperado para uma transferência de próton na etapa determinante
da velocidade, nós podemos considerar que, como posteriormente também
demonstrado por modelagem molecular, a formação e a quebra da ligação com o
próton é pequena no estado de transição o que deve acarretar uma menor magnitude
do mesmo.
Já o efeito isotópico inverso obtido para os substratos que possuem grupos de
saída com pKa menores que 6 pode ser explicado levando-se em conta que, neste
caso, a etapa determinante da velocidade deve ser a formação do intermediário
tetraédrico e que portanto a maior nucleofilicidade da hidroxilamina deuterada deve ser
importante. Catálise bifuncional provavelmente não deve estar ocorrendo para este
grupo de substratos uma vez que além do efeito isotópico inverso obtido, observa-se
também uma correlação linear entre as constantes de velocidade obtidas e a
71
concentração da hidroxilamina. Este efeito isotópico idêntico obtido para o acetato de
2,4-dinitrofenila e 2,4,6-trinitrofenila corrobora na suposição de que ambos devem
reagir com hidroxilamina por um mesmo mecanismo.
5.9 PARÂMETROS DE ATIVAÇÃO
Na Tabela 13 estão apresentados os parâmetros de ativação obtidos através de
gráficos de Arrhenius das constantes de velocidade em função do inverso da
temperatura que variou de 15 a 35 °C. Os valores de energia de ativação, obtidos para
cada substrato, foram constantes nesta faixa de temperatura e representam uma média
de cinco experimentos. Essa constância nos valores de energia de ativação exclui uma
mudança na etapa determinante da velocidade com variações de temperatura.
Tabela 13: Parâmetros de ativação para a reação da hidroxilamina com acetatos de
arila substituídos.
Substrato
Parâmetro
(1) (2) (3) (4) (5)
Ea (KJ/mol) 30,5 30,0 31,0 32,2 23,3
H
#
(Kcal/mol)
6,72 6,58 6,82 7,11 4,98
S
#
(cal/mol.K)*
-43,79 -42,88 -35,56 -29,04 -33,98
G
#
(Kcal/mol)
19,78 19,36 17,42 15,77 15,11
* A 25 °C. (1) Acetato de fenila; (2) Acetato de p-clorofenila; (3) Acetato de p-nitrofenila; (4) Acetato de
2,4-dinitrofenila e (5) Acetato 2,4,6-trinitrofenila
Como o esperado, na medida em que aumenta a reatividade do éster (indo-se,
na série estudada, do acetato de fenila para o acetato de 2,4,6-trinitrofenila) observa-se
uma redução no
G
#
e, conseqüentemente, um aumento na espontaneidade da
reação.
Para a série de substratos com pKa do grupo de saída maior que 6 (acetato de
fenila,
p-Clorofenila e p-nitrofenila), os valores de S
#
são menores do que para aquela
série com pKa do grupo de saída menor que 6 (acetato de 2,4-dinitrofenila e 2,4,6-
72
trinitrofenila), sugerindo uma menor organização no estado de transição para essa
última série. Isto pode ser explicado considerando-se que, para essa série, não há
intervenção de um processo termolecular no qual uma segunda molécula de
hidroxilamina poderia agir como catalisador no estado de transição, o que está de
acordo com resultados cinéticos.
Pelos resultados obtidos pode-se perceber que apesar do acetato de
p-
nitrofenila ser mais reativo que o acetato de fenila e
p-Clorofenila os valores de H
#
são
praticamente constantes para esses três substratos, isso nos leva a crer que a
velocidade destas reações é determinada principalmente por fatores entrópicos.
5.10 CÁLCULOS “AB INITIO”
Para auxiliar no processo de elucidação do mecanismo da reação entre acetatos
de arila e hidroxilamina, a reação entre acetato de fenila e hidroxilamina foi estudada
por cálculos computacionais
“ab initio”. As conclusões obtidas para esse substrato
podem ser extrapoladas para toda a série de acetatos de arila com pKa do grupo de
saída maior que seis, uma vez que os dados experimentais comprovam que os
mesmos reagem por um mesmo mecanismo.
Resultados experimentais, discutidos na seção 5.5, revelaram que a reação da
hidroxilamina com acetatos de arila de pKa maior que 6, substratos 1-3 na Tabela 5,
ocorre com a participação de uma segunda molécula de hidroxilamina atuando como
catalisador. Apesar dessa evidência experimental, estudou-se todos os caminhos
possíveis para a reação do acetato de fenila com hidroxilamina, desde o não catalisado
até o catalisado por água e por hidroxilamina sendo que a reação desta foi analisada
em diferentes orientações, tanto para o ataque nucleofílico quanto para a catálise.
As barreiras de energias livres encontradas para cada caminho estão
apresentadas na Tabela 14.
De modo geral, os resultados obtidos para a formação do intermediário
tetraédrico demonstram que a menor barreira de energia obtida e a que mais se
assemelha ao resultado experimental é aquela representada por TS1O eTS1N (entrada
5 na Tabela 14) com os valores de 18,60 e 17,42 Kcal.mol
-1
, respectivamente. Pode-se
observar que esses valores divergem pouco do valor experimental de 18,99 e 19,05
Kcal.mol
-1
(entrada 6 na Tabela 14) e portanto podem ser utilizados como modelo para
73
a reação em questão. Desta forma, os resultados indicam que o processo catalisado
por uma molécula de hidroxilamina é o que leva ao estado de transição, tanto para o
ataque pelo nitrogênio quanto pelo oxigênio. Isto vem de acordo com os resultados
experimentais alcançados.
Tabela 14: Barreiras de energia livre de ativação (
G
) em Kcal.mol
-1
e a 25 °C para a
formação do intermediário tetraédrico envolvido na reação de NH
2
OH com
acetato de fenila em água.
Barreira de energia livre de ativação (
G
,
Kcal.mol
-1
, 25 °C)
O-acilação
*
N-acilação
*
TS1O_nãocat 48,61 TS1N_nãocat 49,94
TS1O_H
2
O 37,38 TS1N_H
2
O 30,67
TS1O_NH
2
OH_O
b
35,14 TS1N_NH
2
OH_O
b
34,56
TS1O_NH
2
OH_N
b
28,44 TS1N_NH
2
OH_N
b
24,85
TS1O
18,60 TS1N 17,42
Experimental : 19,78
* TS1O_nãocat e TS1N_nãocat são os estados de transição (ET) obtidos para a formação do
intermediário tetraédrico através do ataque pelo átomo de oxigênio e nitrogênio respectivamente, sem
catálise; TS1O_H
2
O e TS1N_H
2
O com catálise pela água; TS1O_NH
2
OH_O
b
e TS1N_NH
2
OH_ O
b
com
catálise básica pelo átomo de oxigênio de uma segunda molécula de Hidroxilamina; TS1O_NH
2
OH_N
b
e
TS1N_NH
2
OH_N
b
com catálise básica pelo átomo de nitrogênio de uma segunda molécula de
Hidroxilamina; TS1O e TS1N com catálise básica pelo átomo de nitrogênio e ácida pelo átomo de
oxigênio, simultaneamente, por uma segunda molécula de hidroxilamina.
A Figura 30 representa a estrutura dos estados de transição obtidos para o
caminho de menor energia na etapa de formação do intermediário tetraédrico O e N-
acilado da reação em questão
(TS1O e TS1N, entrada 5 na Tabela 14). Observa-se
que uma segunda molécula de hidroxilamina está atuando como um catalisador
bifuncional simultaneamente. O anel cíclico de sete membros, formado em ambos os
tipos de ataque, é uma estrutura que confere um formato parcialmente dipolar iônico
para a hidroxilamina e é favorecido entropicamente quando comparado com os outros
caminhos dessa reação.
74
1
.
6
0
1.23
1
.
6
6
0.98
C
1
O
1
O
3
N
1
O
4
N
2
H
2
O
2
1.00
1
.
5
9
1.37
1.21
H
1
H
2
C
1
O
1
N
2
N
1
O
4
O
3
1
.
5
1
H
1
(A) (B)
Figura 30:
Estados de transição mais estáveis (TS1O e TS1N) para a formação do
intermediário tetraédrico na reação da hidroxilamina com acetato de fenila
através de seu átomo de oxigênio, (
A) e nitrogênio, (B). As distâncias das
ligações são apresentadas em angstrons.
As transformações ao longo da coordenada de reação revelaram um fenômeno
bastante interessante: a existência de dois complexos de coordenação na reação de
trans-acilação. Durante a decomposição do primeiro estado de transição, o próton
hidroxílico da hidroxilamina catalisadora (hidrogênio H
2
) é transferido para o oxigênio
carbonílico do substrato (O
1
) e o próton hidroxilíco da hidroxilamina nucleofílica
(hidrogênio H
1
) é transferido para nitrogênio da hidroxilamina catalisadora (N
1
) para
gerar um complexo formado pela hidroxilamina dipolar iônica (
+
NH
3
O
-
) e o intermediário
tetraédrico neutro. A minimização de energia desse complexo para as reações de O-
acilação e N-acilação resultaram nas estruturas apresentadas na Figura 31 e, para
facilitar a discussão, serão aqui chamadas de
O-acyl-
DímeroA e
N-acyl-
DímeroA,
respectivamente.
75
Figura 31:
Estrutura dos complexos formados entre a hidroxilamina dipolar iônica
(NH
3
+
O
-
) e o intermediário tetraédrico neutro. (A) O-acilação levando a
formação do
O-acyl-
DímeroA e (B) N-acilação levando a formação do
N-acyl-
DímeroA. As distâncias das ligações são apresentadas em angstrons.
O
Dímero A sofre uma rotação horária de 41,3 graus ao longo do eixo definido
pelos átomos de oxigênio aniônico e nitrogênio catiônico (ligação O
4
-N
1
na Figura 31)
resultando na formação do
O-acyl-
DímeroB e
N-acyl-
DímeroB, Figura 32. Neste novo
rearranjo, o grupo amônio passa a interagir mais intensamente com o oxigênio fenólico
do nucleófugo tornando mais eficiente a liberação do fenol na decomposição do
intermediário tetraédrico.
Esta rotação reorienta o hidrogênio H
1
mudando sua interação do oxigênio da
hidroxilamina, na reação de O-acilação, por exemplo, com para o oxigênio fenólico do
nucleófugo. Esta reorientação pode ser melhor visualizada comparando-se as ditâncias
de ligação d
H1-O3
= 1.94Å e d
H1-O2
= 3.13Å antes e após a rotação em questão, d
H1-O3
=
2.68Å e d
H1-O2
= 2.06Å. Esta mudança estrutural é acompanhada simultaneamente por
um decréscimo na ligação ente o carbono carbonílico e o oxigênio da hidroxilamina
(d
O3-C1
= 1.41Å e d
O3-C1
= 1.40Å no DímeroA e DímeroB, respectivamente) e um
aumento na ligação entre o carbono carbonílico e o oxigênio fenólico do grupo de saída
(d
O2-C1
= 1.41Å e d
O2-C1
= 1.43Å no DímeroA e B, respectivamente). Esta mudança
estrutural também é observada na interconversão do
N-acyl
DímeroA para
N-
acyl
DímeroB.
2
.
6
2
1.72
2.70
1
.
4
6
H
1
H
2
O
4
N
1
C
1
O
2
N
2
O
1
O
3
1.94
3
.
1
3
1.71
1
.
4
1
H
1
H
2
O
4
N
1
O
3
N
2
C
1
O
2
O
1
2.17
(A) (B)
76
Figura 32:
Estrutura do complexo formado devido a interação da hidroxilamina dipolar
iônica (
+
NH
3
O
-
) com o intermediário tetraédrico neutro. (A) Reação de O-
acilação para formar
O-acyl-
DímeroB e (B) Reação de N-acilação para formar
N-acyl-
DímeroB. A distância das ligações estão em angstrons.
A interconversão dos dímeros origina um novo estado de transição denominado
TSAB, para a interconversão dimérica, que não pode ser obtido a partir dos dados
cinéticos. Os valores obtidos para as barreiras de energia na passagem por esse
estado de transição foram de 17,66 e 18,78 Kcal.mol
-1
a 25
o
C para os Dímeros O e N
acilados, respectivamente. Isto indica que o rearranjo para a expulsão do grupo de
saída é favorecido por 1,12 Kcal.mol
-1
para o intermediário O-acilado quando
comparado com o N-acilado. Sendo assim, como será discutido mais detalhadamente
adiante, este é mais um fator que contribui na distribuição dos produtos formados para
a reação dos acetatos de arila com grupos de saída relativamente ruins.
Reafirmando os resultados experimentais, os cálculos teóricos mostram que o
passo determinante da velocidade para a O e N-acilação é a decomposição do
intermediário tetraédrico passando através de um segundo estado de transição, TS2,
para o qual as barreiras de energia livre de ativação são dadas na Tabela 15.
Comparando-se a barreira de energia para o estado de transição estudado
teoricamente com aquele obtido experimentalmente, observa-se que TS2O
e TS2N
(entrada 5 na Tabela 14) são os melhores representantes para esse estado de
transição. A Figura 33 apresenta a estrutura desses estados de transição.
2.68
2.06
1.74
1.40
H
1
O
2
C
1
O
4
N
1
O
3
H
2
1.73
2.05
2.69
1.46
H
1
H
2
O
2
C
1
O
3
N
2
O
4
N
1
O
1
N
2
O
1
(A)
(B)
77
Tabela 15: Barreiras de energia livre de ativação (G
) em Kcal.mol
-1
e a 25
O
C para a
decomposição do intermediário tetraédrico envolvido na reação de NH
2
OH
com acetato de fenila em água*.
Barreira de energia livre (
G
, Kcal.mol
-1
, 25 °C)
O-acilação
*
N-acilação
*
TS2O_nãocat 29,25 TS2N_nãocat 21,06
TS2O_H
2
O 24,02 TS2N_H
2
O 12,94
TS2O_NH
2
OH_O
ab
23,62 TS2N_NH
2
OH_O
ab
12,43
TS2O_NH
2
OH_N
ab
21,78 TS2N_NH
2
OH_N
ab
14,67
TS2O
18,99 TS2N 19,46
Experimental: 19,78
* TS2O_nãocat e TS2N_nãocat são os estados de transição (ET) obtidos para a decomposição
do intermediário tetraédrico O-acilado e N-acilado, respectivamente, sem catálise; TS2O_H
2
O
e TS2N_H
2
O com catálise pela água; TS2O_NH
2
OH_O
ab
e TS2N_NH
2
OH_ O
ab
com catálise
bifuncional pelo átomo de oxigênio de uma segunda molécula de Hidroxilamina;
TS2O_NH
2
OH_N
ab
e TS2N_NH
2
OH_N
ab
com catálise bifuncional pelo átomo de nitrogênio de
uma segunda molécula de Hidroxilamina; TS2O e TS2N com catálise básica pelo átomo de
oxigênio e ácida pelo átomo de nitrogênio, simultaneamente, por uma segunda molécula de
hidroxilamina na forma dipolar iônica.
Figura 33:
Estados de transição mais estáveis para a decomposição do intermediário
tetraédrico na reação da hidroxilamina com acetato de fenila através de seu
átomo de oxigênio (
TS2O: Figura (A)) e nitrogênio (TS2N: Figura (B)).
1
.
7
0
1
.
7
0
1
.
5
5
1.25
1.01
O
2
H
1
N
1
C
1
O
1
O
3
N
2
O
4
H
2
1.26
1.53
1
.
6
2
1
.
7
3
1.05
1.01
O
2
C
1
O
3
N
2
H
1
N
1
O
4
O
1
H
2
(A)
(B)
78
Como pode ser visto nesta etapa, que envolve a decomposição do intermediário
tetraédrico, uma segunda molécula de hidroxilamina atua como um catalisador ácido
geral promovendo uma transferência de um próton de seu átomo de nitrogênio, N
1
,
para o oxigênio fenólico do grupo de saída, O
2
. Em ambos os casos, o estado de
transição é tardio. Porém, a transferência de próton para a reação de N-acilação é mais
avançada (d
O2-H1
= 1.62Å) do que para a O-acilação (d
O2-H1
= 1.70Å) e o prototopismo é,
provavelmente, uma das forças motrizes para a quebra da ligação C-O que envolve a
partida do nucleófugo. A quebra da ligação C-O também é mais avançada para a
formação do composto N-acilado (d
C1-O2
= 1.70Å – O-acil e d
C1-O2
= 1.73Å – N-acil),
Figura 33.
A Figura 34 representa os diagramas de coordenada de reação, obtidos para a
formação da O-acilhidroxilamina e N-acilhidroxilamina. A etapa para a formação do
intermediário tetraédrico, representada por
TS1O e TS1N para o intermediário O e N-
acilado, respectivamente, é mais favorável para a N-acilação do que para a O-acilação
por 1,18 Kcal.mol
-1
; um resultado esperado uma vez que o átomo de nitrogênio possui
maior reatividade intrínseca do que o oxigênio.
46
No entanto a etapa de decomposição do intermediário tetraédrico, representada
por
TS2O e TS2N para o intermediário O e N-acilado, respectivamente, é mais
favorável para a O-acilação do que para a N-acilação por 0,47 Kcal/mol. Portanto um
processo de equilíbrio entre reagentes e intermediário tetraédrico deve ser mais
pronunciado para o ataque através do átomo de nitrogênio da hidroxilamina do que
através do átomo de oxigênio. Além disso, o maior valor de barreira de energia livre
para o TS2N do que para o TS2O, sugere que o N-acilintermediário deve retornar ao
material de partida mais rapidamente do que decompor a produtos. Contrariamente o
O-acilintermediário, uma vez formado, deve se decompor a produto muito mais
facilmente levando a distribuição observada experimentalmente de 97% de formação
de O-acilhidroxilamina.
Como esta etapa é a limitante da velocidade, conforme mostra a Figura 34, o
produto O-acilado deve ser produzido em maior quantidade, justificando o observado
experimentalmente.
79
1234567
-25
-20
-15
-10
-5
0
16
18
20
Dímero B
Dímero A
TSAB_N
TSAB_O
CH
3
CONHOH + PhOH
CH
3
COONH
2
+ PhOH
CH
3
COOPh + NH
2
OH
TS2N
TS2O
TS1N
TS1O
G (kcal.mol
-1
)
Coordenada da reação
Figura 34: Diagrama de energia obtido para a formação da O-acilhidroxilamina () e
da N-acilhidroxilamina (
z) a partir do acetato de fenila e hidroxilamina.
5.11 MECANISMO PROPOSTO E SUA CONSEQÜÊNCIA NA DISTRIBUIÇÃO DOS
PRODUTOS O E N-ACILADOS PARA A REAÇÃO DA HIDROXILAMINA COM
ACETATOS DE ARILA 1-3, (GRUPOS DE SAÍDA DE pKA MAIOR QUE SEIS).
Um esquema mecanístico mais detalhado para a reação do acetato de fenila
com hidroxilamina levando a formação da O e N-acilhidroxilamina é apresentado no
Esquema 17 e 18, respectivamente. Além disso, uma proposta mecanística mais geral,
baseada em todas as conclusões obtidas através de resultados experimentais e
teóricos para a reação dos acetatos de arila 1-3 com hidroxilamina é apresentada no
Esquema 18.
Conforme demonstrado anteriormente, essa reação deve ocorrer via formação
de um intermediário tetraédrico. Se assumirmos que este intermediário tetraédrico está
em equilíbrio com o material de partida então, apesar do ataque mais eficiente do
80
átomo de nitrogênio comparado com o de oxigênio, o produto final presente em
maiores proporções deverá ser o O-acilado, desde que o intermediário tetraédrico N-
acilado retorne a regentes mais rapidamente do que se decompõe a produtos.
A formação do intermediário tetraédrico através do ataque pelo oxigênio e
nitrogênio é representada por k
f
O
e k
f
N
, respectivamente, Esquema 19. A
decomposição do mesmo para regentes é representada por
k-
f
O
e k-
f
N
para os
intermediários O e N acilados, respectivamente, e para produtos é representada pela
constante de velocidade k
D
O
.
C
O
OPh
O
NH
2
H
2
N
O
H
H
2NH
2
OH
C
O
OPh
O
NH
2
H
2
N
O
H
H
C
O
O
O
NH
2
H
2
N
O
H
Ph
Dímero A
TS AB
TS1
C
O
O
NH
2
H
2
N
O
H
Dímero B
Ph
O
C
O
O
NH
2
H
2
N
O
H
Ph
O
H
TS2
δ
δ
OH
NH
3
OH
2
O
NH
2
O
O
Ph
O
slow
H
H
Esquema 17:
Provável mecanismo envolvido na formação da O acilhidroxilamina a
partir do acetato de fenila e hidroxilamina; neste observa-se catálise
bifuncional por uma segunda molécula de hidroxilamina.
81
C
O
OPh
NH
OH
HN
O
H
H
2NH
2
OH
C
O
OPh
HN
OH
H
2
N
O
H
H
C
O
OH
NH
OH
H
2
N
O
H
Ph
Dímero A
TS AB
TS1
C
O
NH
OH
H
2
N
O
H
Dímero B
Ph
HO
C
O
HN
OH
H
2
N
O
H
Ph
O
H
TS2
δ
δ
OH
NH
2
OH
N
H
OH
O
O
Ph
O
slow
Esquema 18:
Provável mecanismo envolvido na formação da N acilhidroxilamina a
partir do acetato de fenila e hidroxilamina; neste observa-se catálise
bifuncional por uma segunda molécula de hidroxilamina.
OAr
O
2 NH
2
OH
O
NH
2
O
ArOH
N
H
OH
O
ArOH
NH
2
OH
OAr
OH
ONH
2
NH
2
OH
NH
2
OH
Ar= fenila, p-clorofenila, p-nitrofenila
k
f
O
k-
f
O
k
f
N
k-
f
N
k
D
O
k
D
N
ataque O
ataque N
.
NH
3
O
+NH
2
OH
OAr
OH
NHOH
.
NH
3
O
+NH
2
OH
Esquema 19:
Mecanismo proposto para a reação dos acetatos 1-3 com hidroxilamina.
82
Os resultados experimentais e teóricos evidenciam a ocorrência de catálise
bifuncional por uma segunda molécula de hidroxilamina para os acetatos de arila 1-3, o
que deve facilitar as transferências de próton na formação e decomposição do
intermediário tetraédrico. Os resultados de cálculos teóricos, seção 5.10, demonstram
que, na etapa de formação do intermediário tetraédrico, esta catálise deve ocorrer por
uma molécula de hidroxilamina na forma neutra enquanto que na etapa de
decomposição do mesmo, a hidroxilamina catalisadora deve estar atuando na forma
dipolar iônica, Esquema 19.
Esses mesmos resultados teóricos, demonstram que para o acetato de fenila e,
provavelmente, para os acetatos 1-3, de pKa maior que seis, a barreira de energia para
a formação do intermediário tetraédrico é menor para o ataque através do átomo de
nitrogênio do que através do átomo de oxigênio sendo de 17,42 e 18,60 Kcal.mol
-1
,
respectivamente. Isto não é surpreendente uma vez que, como já mencionado, o átomo
de nitrogênio normalmente mostra-se mais nucleofílico que o de oxigênio.
46
No entanto, observa-se que, para estes ésteres, a maior parte do produto
formado é aquele proveniente do ataque pelo átomo de oxigênio sendo assim, outros
fatores devem influenciar a distribuição do mesmo.
Os resultados teóricos também mostram que a barreira de energia para a
decomposição do intermediário tetraédrico O-acilado é menor que para o intermediário
N-acilado, 18,99 e 19,46 Kcal.mol
-1
, respectivamente. E ainda comprovam, de acordo
com os resultados experimentais, que essa é a etapa determinante da velocidade.
Portanto, apesar da formação do intermediário tetraédrico O-acilado
provavelmente ocorrer em menor grau do que o N-acilado, sua decomposição para
produtos, que é o fator determinante, deve ser mais acentuada que a do último. O
mecanismo proposto para essa reação, Esquema 19, pode ser utilizado para uma
melhor compreensão.
Para os acetatos de arila com bons grupos de saída, a velocidade de
decomposição do intermediário tetraédrico N-acilado para o material de partida, k-
f
N
,
Esquema 19, deve ser muito maior do que a velocidade de decomposição do mesmo
para produtos, k
D
N
. Já a velocidade de decomposição do intermediário tetraédrico O-
acilado para reagentes, k-
f
O
, deve ser pouco maior que sua decomposição a produtos
k
D
O
, Esquema 19. Isto é evidenciado pelas barreiras de energia obtidas nos processos
de decomposição dos intermediários tetraédricos O e N acilados tanto para reagentes,
quanto para produtos, Figura 34.
83
Do exposto acima compreende-se a razão da quantidade majoritária de produto
O-acilado obtida na reação do acetato de fenila, p-clorofenila e p-nitrofenila com
hidroxilamina.
5.12 MECANISMO PROPOSTO E SUA CONSEQÜÊNCIA NA DISTRIBUIÇÃO DOS
PRODUTOS O E N-ACILADOS PARA A REAÇÃO DA HIDROXILAMINA COM
ACETATOS DE ARILA 4-5 (GRUPOS DE SAÍDA DE pKA MENOR QUE SEIS).
Para este grupo de substratos os cálculos “
ab initio” não foram totalmente
elucidados, portanto não pôde-se obter o perfil energético ao longo do curso reacional.
No entanto sabe-se, a partir dos resultados experimentais, que há a formação de um
intermediário tetraédrico e que a formação deste é a etapa determinante da velocidade.
Além disso, verificou-se experimentalmente que essa reação ocorre sem a intervenção
de uma segunda molécula de hidroxilamina agindo como catalisador.
Desta forma, qualquer mecanismo proposto deve ser semelhante aquele
mostrado no Esquema 20. Para essa série de substratos, na etapa de formação do
intermediário tetraédrico, o perfil energético provavelmente deve apontar para uma
barreira de energia menor no caminho que leva ao intermediário N-acilado do que para
aquele O-acilado, formando-se uma quantidade maior do primeiro. Conseqüentemente,
k
f
O
deve ser menor que k
f
N
. Além disso, conforme demonstrado experimentalmente, a
decomposição deste intermediário para produto é mais rápida que sua formação ou
que seu retorno para reagentes, o que não é surpreendente considerando que estes
intermediários possuem bons grupos de saída. Sendo assim, k
D
O
e k
D
N
devem ter
valores mais elevados do que k-
f
N
e k-
f
O
. Portanto, uma vez formado, o intermediário
tetraédrico deve ir a produtos obtendo-se uma grande quantidade de produto N-acilado,
como visto anteriormente.
84
OAr
O
NH
2
OH
O
NH
2
O
ArOH
N
H
OH
O
ArOH
NH
2
OH
OAr
OH
ONH
2
NH
2
OH
NH
2
OH
Ar= 2,4-dinitrofenila, 2,4,6-trinitrofenila
k
f
O
k-
f
O
k
f
N
k-
f
N
k
D
O
k
D
N
ataque O
ataque N
OAr
OH
NHOH
Esquema 20:
Mecanismo proposto para a reação dos acetatos 4-5 com hidroxilamina.
85
6 CONCLUSÕES
Neste trabalho propõe-se um mecanismo em múltiplas etapas para a reação de
hidroxilamina com uma série acetatos de arila: acetato de fenila, p-clorofenila, p-
nitrofenila, 2,4-dinitrofenila e 2,4,6-trinitrofenila. Os resultados cinéticos obtidos
separam esta série de ésteres em dois grupos distintos: i) o primeiro reagindo através
de um ataque nucleofílico direto da hidroxilamina e ii) o segundo ocorrendo através da
participação de duas moléculas de hidroxilamina, uma atuando como nucleófilo e a
outra atuando como catalisador. A análise dos resultados cinéticos, através de
correlações de energia livre, indica a formação de um intermediário tetraédrico bem
como uma mudança na etapa determinante da velocidade para essa reação. O efeito
isotópico cinético do solvente é utilizado para analisar a importância do processo de
transferência de próton reafirmando a suposição de um passo determinante da
velocidade envolvendo a formação e a quebra do intermediário tetraédrico para grupos
de saída bons e ruins, respectivamente. Uma comparação entre a sensibilidade da
estrutura dos ésteres e o poder nucleofílico do íon hidróxido e da hidroxilamina foi
também usada para identificar o passo limitante da velocidade. Um mapa de
coordenada de reação obtido através de cálculos
ab initio suporta as conclusões
obtidas através dos métodos experimentais e sugere que a distribuição dos produtos
O
e N-acilados é proveniente de um processo de equilíbrio entre reagentes e
intermediário tetraédrico.
86
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