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UFG UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Estrutura da comunidade de aves em três áreas de
Cerrado, na região de Niquelândia - GO
Alexandre Cursino
Dissertação apresentada ao Departamento
de Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Goiás, como parte dos
requisitos para a obtenção título de Mestre,
no Programa de Pós Graduação em
Ecologia e Evolução.
Orientador: Dr. Carlos Eduardo R. de
Sant’Ana.
Co-orientador: Dr. Luis Mauricio Bini
Goiânia - GO
Dezembro / 2006
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ii
UFG UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Estrutura da comunidade de aves em três áreas de
Cerrado, na região de Niquelândia - GO
Alexandre Cursino
Dissertação apresentada ao Departamento
de Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Goiás, como parte dos
requisitos para a obtenção título de Mestre,
no Programa de Pós Graduação em
Ecologia e Evolução.
Orientador: Dr. Carlos Eduardo R. de
Sant’Ana.
Co-orientador: Dr. Luis Mauricio Bini
Goiânia - GO
Dezembro / 2006
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iii
O cientista que raciocina segundo o plano da
percepção dos sentidos é o que se acha mais
afastado do reconhecimento da verdade,
porque toma todas as ilusões produzidas pelos
sentidos como realidades e repele as
revelações de sua própria intuição. O filósofo,
incapaz de perceber a verdade, procura
adquiri-la por meio da inteligência, podendo
dela aproximar-se até certo ponto. Só aquele
que adquiriu a condição consciente da
verdade, reconhecendo-a por percepção
direta, a ela se acha intimamente unido e não
pode absolutamente enganar-se.
Prof. Henrique José de Souza
iv
AGRADECIMENTOS
Ao grande ser que foi conhecido pelo nome de Henrique José de Souza, por
fornecer-me as ferramentas indispensáveis para prosseguir, perseverantemente,
na busca da paz, da sabedoria e da justiça;
À minha esposa-irmã, Alcimara, por seu companheirismo, incentivo e, também,
por ter me aturado nos momentos mais críticos da elaboração desta dissertação
(ainda bem que é bióloga e entende bem essa vida doida);
Aos meus pais: Flávio Cursino e Maria Helena Cursino, meu eterno amor e
minha eterna gratidão, por terem criado as condições que favoreceram minha
formação fisica, psíquica e também espiritual.
Ao Kadu, por ter aceitado me orientar, pela boa disposição em receber-me em
sua residência para solucionar minhas dúvidas, pelo material gentilmente cedido
para que eu pudesse trabalhar em campo e, sobretudo, por ter-se revelado, além
de orientador, um amigo e um irmão na busca da transformação da vida energia
em vida consciência.
Ao prof. Luis M. Bini, por aceitar ser meu coorientador e pela prestatividade nas
valiosas correções e sugestões que foram feitas na dissertação, além do material
disponibilizado para as análises dos dados;
Ao prof. José Alexandre pelas indicações de análise dos meus dados para
trabalhos, ainda em execução, sobre macroecologia, e por ter aberto as portas,
juntamente com o prof. Bini, do laboratório de ecologia teórica;
Aos profs. Divino Brandão e Fernando Pedroni, por gentilmente aceitarem
participar da minha banca;
Ao prof. Paulo de Marco, pelas pertinentes sugestões para o capítulo dois;
v
Ao prof. Rogério Bastos, pela coordenação sempre profissional do projeto de
inventário da Biodiversidade em Niquelândia e pelo apoio na organização da
banca e da defesa da dissertação;
Ao amigo Neander Heming, por ter me auxiliado nas incursões realizadas por
estes cerrados da vida, armando/desmontando; armando/desmontando,
armando de novo/desmontando de novo as redes de neblina;
Ao José Borges, coordenador do setor de Meio Ambiente da Mineradora Anglo-
American CODEMIN, em Niquelândia-GO, e aos funcionários do setor de
transportes leves, Cleiton, Chiquinho (por ajudar a retirar, inclusive, alguns
espécimes da rede), Miltinho, Curió, Rolnei, Bombinha e Vicente; aos
funcionários do alojamento e do clube dos funcionários: Dna. Magdalena,
Magda e Genivaldo que nos receberam e deram toda a assistência, sempre com a
maior prestatividade e cordialidade, nas dependências da empresa.
À Mineradora Anglo-American CODEMIN, em Niquelândia-GO, e à
FUNAPE Fundação de Amparo à Pesquisa, pelo financiamento do projeto de
inventário da biodiversidade.
vi
INDICE
LISTA DE TABELAS .......................................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... ix
RESUMO GERAL ................................................................................................ xi
GENERAL ABSTRACT ...................................................................................... xii
INTRODUÇÃO GERAL ...................................................................................... 01
ÁREAS DE ESTUDO ........................................................................................... 04
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 06
CAPÍTULO 1. Riqueza, abundância e composição da comunidade de aves
em três áreas de Cerrado, na região de Niquelândia GO
RESUMO .............................................................................................................. 08
ABSTRACT .......................................................................................................... 09
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10
METODOLOGIA ................................................................................................. 11
Levantamento qualitativo ou exaustivo .................................................... 11
Levantamento quantitativo ........................................................................ 11
Análises ..................................................................................................... 12
RESULTADOS .................................................................................................... 14
Riqueza de espécies levantamento qualitativo ....................................... 14
Freqüência de Ocorrência (FO%) ................................................ 20
Abundância relativa das espécies levantamento quantitativo ................ 21
A avifauna da região de Niquelândia em relação ao Bioma Cerrado ....... 25
Principais famílias ........................................................................ 25
Guildas alimentares ...................................................................... 27
Espécies endêmicas do Cerrado ................................................... 28
DISCUSSÃO ......................................................................................................... 29
Riqueza de espécies levantamento qualitativo ....................................... 29
Abundância relativa das espécies levantamento quantitativo ................ 30
A avifauna da região de Niquelândia em relação ao Bioma Cerrado ....... 33
CONCLUSÕES ..................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 36
ANEXOS ............................................................................................................... 40
vii
CAPÍTULO 2. Análise do tempo de amostragem da avifauna, utilizando a
metodologia de pontos fixos, em três áreas de Cerrado na região de
Niquelândia - GO.
RESUMO .............................................................................................................. 42
ABSTRACT .......................................................................................................... 43
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 44
METODOLOGIA ................................................................................................. 46
Análises ..................................................................................................... 46
RESULTADOS .................................................................................................... 48
Efeito do horário de amostragem .............................................................. 48
Efeito do número de campanhas ............................................................... 49
Efeito do número total de pontos amostrados por área ............................ 49
Estimativa da riqueza acumulada por tempo de amostragem no ponto ... 50
Eficiência de detecções nos pontos fixos ................................................. 52
DISCUSSÃO ........................................................................................................ 57
Efeito do horário de amostragem, do número de campanhas e do número
de pontos amopstrados por áreas .............................................................. 57
Estimativa da riqueza acumulada por tempo de amostragem no ponto ... 58
Efeito da eficiência de detecções nos pontos fixos ................................... 59
CONCLUSÕES .................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 64
ANEXOS .............................................................................................................. 67
LISTA DE TABELAS
Capitulo 1
Tabela I - Lista geral de espécies registradas em três áreas de Cerrado na reserva da Mineradora Anglo-
American -CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. (FO) Freqüência de ocorrência;
(IPA) Índice Pontual de Abundância; (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS)
Morro Seco; (D) Dieta. ...................................................................................................... 14
Tabela II. Número de espécies organizadas de acordo com a classe de freqüência de ocorrência durante o
levantamento qualitativo na reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em
Niquelândia GO, 2005 - 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e MS (Morro
Seco). ................................................................................................................................. 20
Tabela III. Principais famílias registradas, durante o levantamento qualitativo, em três áreas de Cerrado
na Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. (MB)
Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco; (Esp.) Espécies; (Ind.)
Indivíduos. ...................................................................................................................... 26
Tabela IV. Organização trófica da avifauna em três áreas de Cerrado na reserva da Mineradora Anglo-
American - CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV)
Pedra Verde e (MS) Morro Seco. ...................................................................................... 27
Tabela V. Estudos comparativos de tempo de amostragem e total de espécies de aves, registradas durante
levantamentos qualitativos realizados em seis estados brasileiros. .................................... 29
Tabela VI. Número de espécies com maior abundância e freqüência de ocorrência máxima, por área de
estudo. Reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 -
2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco. .......................... 32
Capítulo 2
Tabela I. Estimativa da riqueza de espécies, considerando 15 e 20 min de amostragem por ponto fixo, em
três áreas de Cerrado, Niquelândia GO, 2005 - 2006. Os dados correspondem a 30 pontos
amostrados em cada área, com 100 permutações geradas pelo software EstimateSwin7.50
(COLWELL 2005). (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco.
................................................................................................................................................ 51
Tabela II. Eficiência de detecções de indivíduos e espécies, por hora de estudo, considerando 15 e 20
min de amostragem por ponto fixo, em três áreas de Cerrado, Niquelândia GO, 2005 - 2006.
Os dados correspondem a 30 pontos amostrados em cada área, com 100 permutações geradas
pelo software EstimateSwin7.50 (COLWELL 2005). (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra
Verde e (MS) Morro Seco. ................................................................................................... 53
Tabela III. Eficiência estimada na detecção de espécies para tempos de deslocamento de 20 min e 15
min, considerando um estudo hipotético de, em média, 227 min em três áreas de Cerrado,
Niquelândia GO, 2005 - 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro
Seco. .................................................................................................................................. 55
Tabela IV. Frequência de ocorrência das espécies em cada tempo de amostragem, durante o
levantamento quantitativo em três áreas de Cerrado na reserva da Mineradora Anglo-
American-CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. .......................................... 56
ix
Tabela V. Exemplo de ocorrência das espécies em cada um dos intervalos de amostragem, durante o
levantamento quantitativo, em três áreas de Cerrado na reserva da Mineradora Anglo-
American -CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. ............................................ 56
Tabela VI. Estudos comparativos de amostragens realizadas em área de Cerrado, durante levantamentos
quantitativos conduzidos em diferentes estados brasileiros. (NC-T) Número de campanhas
tempo; (A) Número de amostras; (C) Número de contatos e (E) Número de espécies. .... 57
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização das três áreas de estudo, com a localização dos pontos fixos de amostragem, na
reserva da Mineradora Anglo-American-CODEMIN, região de Niquelândia - GO. 2005
2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco. ............................... 05
Capitulo 1
Figura 1. Curva cumulativa do número de espécies de aves registradas no levantamento qualitativo, na
reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia - GO. (G) Geral; (MB)
Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro Seco ..................................................... 19
Figura 2. Comparação de registros visuais e auditivos da avifauna para as três áreas de Cerrado, na
reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia - GO. (MB) Mata da
Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco. .............................................................. 21
Figura 3. Ordenação decrescente dos Índices Pontuais de Abundância das espécies de aves registradas no
levantamento quantitativo, na Reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em
Niquelândia GO, 2005 - 2006. (G) Geral; (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS)
Morro Seco. ........................................................................................................................... 23
Figura 4. Variação do número de contatos/amostra (a) e do número de espécies (b) da avifauna nas três
áreas de estudo, durante o levantamento quantitativo, na reserva da Mineradora Anglo-
American - CODEMIN, em Niquelândia GO. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde;
(MS) Morro Seco. ................................................................................................................ 24
Figura 5. Similaridade de espécies (coeficiente de Jaccard) registradas em três áreas de Cerrado, na
reserva da Mineradora Anglo-American- CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 2006.
(MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro Seco. ....................................... 25
Figura 6. Representatividade de espécies das principais famílias registradas nas três áreas de estudo, com
relação à ocorrência total no Cerrado. Reserva da Mineradora Anglo-American- CODEMIN,
em Niquelândia GO, 2005 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro
Seco. (Col) Columbidae; (Pic) Picidae; (Pst) Psittacidae; (Tha) Thamnophilidae; (Thr)
Thraupidae; (Tyr) Tyrannidae; (Emb) Emberizidae e (Tro) Trochilidae. ............................ 27
x
Capítulo 2
Figura 1. Média do número de espécies e indivíduos de aves, nos cinco pontos fixos amostrados durante
a manhã. Levantamento quantitativo realizado em três áreas de Cerrado na região de
Niquelândia - GO. 2005 2006. ......................................................................................... 48
Figura 2. Número acumulado de espécies, com 100 permutações geradas pelo programa EstimateS
win7.50 (COLWELL 2005), para três áreas de Cerrado, na região de Niquelândia - GO. 2005 -
2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco (G) Geral. ........... 49
Figura 3. Número acumulado de espécies, por pontos fixos, com 100 permutações geradas pelo programa
EstimateS win7.50 (COLWELL 2005), na região de Niquelândia - GO. 2005 2006. (MB) Mata
da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro Seco; (G) Geral. .......................................... 50
Figura 4. Número acumulado de espécies, por tempo de amostragem nos pontos fixos, na região de
Niquelândia - GO. 2005 2006. Os dados correspondem a 30 pontos amostrados em cada área,
com 100 permutações geradas pelo software EstimateSwin7.50 (COLWELL 2005). (MB) Mata
da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro Seco; (G) Geral. .......................................... 51
Figura 5. Número estimado de detecções, por hora, de espécies (a) e indivíduos (b) com o aumento do
tempo de amostragem de 5 a 20 min, em três áreas de Cerrado, durante o levantamento
quantitativo na região de Niquelândia - GO. 2005 2006. O intervalo de confiança (IC
95%
) foi
obtido com base no erro padrão da média de espécies e indivíduos. O tempo de deslocamento
foi, em média, de 14,3 min na área MB (Mata da Barragem); 15,2 min na área PV (Pedra
Verde) e 16,2 min na área MS (Morro Seco). ....................................................................... 52
Figura 6. Eficiência esperada na detecção de espécies e indivíduos, por hora, em três áreas de Cerrado.
Niquelândia - GO. 2005 - 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro
Seco. O intervalo de confiança (IC
95%
) foi obtido com base no erro padrão da média de
espécies e indivíduos. ............................................................................................................ 54
xi
RESUMO GERAL
CURSINO, Alexandre. Universidade Federal de Goiás, dezembro de 2006. Estrutura
da comunidade de aves em três áreas de Cerrado, na região de Niquelândia - GO.
Orientador: Dr. Carlos Eduardo R. de Sant’Ana. Co-orientador: Dr. Luis Mauricio Bini.
O conhecimento da riqueza e abundância da avifauna em escala local é necessário para
o entendimento de sua relação com os padrões de riqueza e abundância existentes no
Cerrado. Este conhecimento, associado à padronização metodológica, é fundamental
para a comparação entre a avifauna em diferentes áreas. Os objetivos de nosso estudo
foram: conhecer e analisar a riqueza, abundância e a composição da avifauna em três
áreas de Cerrado e avaliar o efeito do tempo de permanência nos pontos fixos de
amostragem, na eficiência de detecções de espécies e indivíduos. Nosso estudo foi
realizado na reserva da Mineradora Anglo-American CODEMIN, situada na região de
Niquelândia-GO. Foram realizadas seis campanhas, entre os meses de outubro de 2005
e agosto de 2006. No levantamento qualitativo, foram registradas 156 espécies de aves,
distribuídas em 46 famílias, enquanto que no levantamento quantitativo foram
registradas 106 espécies. Até o final da segunda campanha, as detecções nas localidades
denominadas: Mata da Barragem (MB), Pedra Verde (PV) e Morro Seco (MS)
ultrapassaram 50% do total, e os dois primeiros pontos de amostragem foram
responsáveis, em média, por 70% do total de “novas” detecções. Verificou-se que não
houve diferença no número de detecções em 15 e 20 min de permanência no ponto,
tanto na estimativa de riqueza de “novas” espécies quanto para a média de espécies
detectadas. Houve correlação entre a freqüência de ocorrência e a abundância das
espécies, o que permitiu um melhor conhecimento das espécies residentes. As áreas
MB, PV e MS não diferiram tanto na proporção de espécies das famílias Tyrannidae e
Thraupidae quanto das espécies insetívoras e onívoras, mas interferiram na proporção
de indivíduos detectados. Foram identificadas duas espécies que são endêmicas no
Cerrado: o soldadinho, Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) e o bico-de-pimenta,
Saltator atricollis Vieillot, 1817, ambas na área MS. O baixo nível de endemismo
verificado na região exige medidas efetivas que promovam o estudo detalhado destas
espécies.
Palavras-chave: avifauna, cerrado, comunidade, metodologia.
xii
GENERAL ABSTRACT
CURSINO, Alexandre. Universidade Federal de Goiás, December, 2006. Bird’s
community structure in three areas of Cerrado, Niquelândia, Goias state. Advisers:
Dr. Carlos Eduardo R. de Sant’Ana and Dr. Luis Mauricio Bini.
The knowledge of avifauna’s richness and abundance in local scale are necessary for the
understanding of his relationship with the richness patterns and existent abundance in
the Cerrado. This knowledge, associate to the methodological standardization, is
fundamental for the comparison among the avifauna in different areas. The aim of this
survey was: to know and to analyze the richness, abundance and the composition of the
avifauna in three Cerrado areas and to evaluate the effect of the point counts
permanence in the efficiency of species and individuals detections. The survey was
conducted in the Mineradora Anglo-American CODEMIN reservation, Niquelândia,
Goias state. There were six visits, between October, 2005 and August, 2006. In the
qualitative survey, 156 bird species were registered, distributed in 46 families, while in
the quantitative survey 106 species were registered. Until the end of the second visit, the
detections for the areas “Mata da Barragem (MB)”, “Pedra Verde (PV)” and “Morro
Seco (MS)” crossed 50% of the total, and the first two point counts were responsible, on
average, for 70% of the total of "new" detections. There was no difference between 15
and 20 min counting time, neither for richness estimate of "new" species nor for the
average detected species. There was strong correlation between the occurrence
frequency and the abundance of the species, what allowed a better knowledge of
residence level of the same ones. The areas MB, PV and MS didn't have interference
neither for species proportion of the families Tyrannidae and Thraupidae nor insetivores
and omnivores species, but they interfered in the detected individual’s proportion. This
study identified two species that are endemic in Cerrado: the helmeted-manakin,
Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) and the black-throated, Saltator atricollis
Vieillot, 1817, both in the area MS. The low endemism level verified in the area
demands effective measures to promote the detailed study of these species.
Key words: avifauna, cerrado, community, methodology
1
INTRODUÇÃO GERAL
O Cerrado abrange 2 milhões de km
2
no Brasil Central, representando cerca de
23% do território nacional. Em termos de dimensões, ele é superado apenas pela
Floresta Amazônica, com 3,5 milhões de km
2
(RATTER et al. 1997, RIBEIRO & WALTER
1998).
Num esforço de identificar os mais importantes hotspots de biodiversidade,
MYERS et al. (2000) classificaram o Cerrado brasileiro entre os 25 mais importantes
hotspots terrestres. A Biodiversidade do Cerrado é composta de aproximadamente 10
mil espécies de plantas, 161 espécies de mamíferos, 837 espécies de aves, 120 espécies
de répteis e 150 espécies de anfíbios. Atualmente, a situação do Bioma é grave, pois em
algumas estimativas, somente 20% da vegetação original permanece intacta, com 1,2%
dela convertida em áreas de proteção ambiental (MYERS et al. 2000, MARRIS 2005,
SILVA 1995).
Até recentemente, o Cerrado foi considerado de interesse científico minoritário
e, nos últimos 35 anos, mais da metade do Bioma original foi transformado em área
agrícola e a estimativa é de que, até 2030, ele tenha desaparecido (MARRIS 2005).
Assim, a principal ameaça para a biodiversidade é a redução da grande diversidade de
habitats e ecossistemas existentes no Cerrado (KLINK & MACHADO 2005). Em razão
disso, governos estaduais, como o de Goiás, estão trabalhando para a criação de áreas
protegidas e ampliação e consolidação da rede existente de unidades de conservação,
particularmente, com o objetivo de se estabelecer corredores ecológicos e também
promovendo o envolvimento da sociedade civil, por exemplo, com a execução da
Agenda 21 de Goiás (KLINK & MACHADO 2005).
Seminários de consulta foram promovidos pelo MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
(2004) entre os anos de 1998 e 2000 para identificar as áreas e ações prioritárias para a
conservação da biodiversidade nos principais biomas brasileiros. Em março de 1998, o
encontro realizado em Brasília (com a participação da Fundação Pró-Natureza;
Conservação Internacional do Brasil; Fundação Biodiversitas e Universidade de
Brasília) definiu as ações prioritárias para a conservação da Biodiversidade do Cerrado
e do Pantanal.
2
As áreas consideradas prioritárias foram classificadas em: de extrema
importância biológica; muito alta importância biológica; alta importância biológica e
insuficientemente conhecida. A região que compreende o município de Niquelândia
GO foi considerada de extrema importância biológica, sendo recomendado o manejo
intensivo da biodiversidade, além da criação de unidades de conservação.
Do total de espécies que ocorrem no Bioma, 36 são endêmicas, um número
relativamente baixo se comparado, por exemplo, com a Amazônia e a Mata Atlântica,
com 263 e 188 espécies endêmicas, respectivamente (MARINI & GARCIA 2005). Além
da degradação dos habitats, a captura excessiva é uma das principais ameaças para a
avifauna (MARINI & GARCIA 2005) e, considerando o baixo nível de endemismo
existente no Cerrado, associado à escassez de áreas de proteção ambiental, o estudo das
comunidades passa a ter uma aplicação prática que é a de embasar propostas de
preservação da avifauna (ANJOS 2001, GOERCK 2001).
As informações sobre riqueza e abundância de aves, associadas às
fitofisionomias do Cerrado, por exemplo, obtidas por meio da aplicação de
metodologias qualitativas e quantitativas associadas, contribuem para o conhecimento
da composição da avifauna (LYRA-NEVES et al. 2004). A frequência com que as
espécies ocorrem num determinado ambiente, por exemplo, associada a sua abundância,
fornece uma boa indicação do grau de associação da avifauna com as diferentes
fitofisionomias. Além disso, a organização das espécies de acordo com sua abundância
permite a visualização de padrões que refletem adaptações da avifauna às condições
bióticas e abióticas (ANJOS 1996).
A definição da metodologia empregada é de fundamental importância na
condução de determinado estudo, pois as diferenças nas condições locais muitas vezes
exigem algumas adaptações para que a amostragem possa refletir ao máximo a estrutura
existente na comunidade (ANJOS 1996). A eficácia da metodologia para cada situação
fornece informações que auxiliam na compreensão da dinâmica temporal e espacial das
diferentes comunidades (RALPH et al.1995, ANJOS 2001). Entretanto, a padronização da
metodologia deve levar em consideração os aspectos particulares de cada
fitofisionomia, para que ela possa corresponder a sua finalidade de obter uma
amostragem que represente com maior fidelidade a composição da comunidade
estudada.
Para obtenção dos dados de abundância e para estudar o efeito do habitat na sua
variação, tem sido largamente utilizada a metodologia de pontos fixos em regiões
3
temperadas (PURCELL et al. 2005). No Brasil, o método sofreu adaptações sugeridas por
VIELLIARD & SILVA (1990) e é utilizado para detectar variações da avifauna no decorrer
dos anos, permitindo a comparação entre os diferentes tipos de fitofisionomias (BIBBY
et al. 1997).
Assim, os estudos da comunidade de aves, tais como realizados recentemente
em região de Mata Atlântica e em vegetação de Caatinga (MARSDEN et al. 2003,
SANTOS 2004) são importantes em termos conservativos e estudos desta natureza em
regiões de Cerrado devem também ser incentivados.
Considerando estes aspectos, os objetivos gerais de nosso estudo foram:
conhecer e analisar a riqueza, abundância e a composição da avifauna em três áreas de
Cerrado da Mineradora Anglo-American-CODEMIN, na região de Niquelândia-GO, e
avaliar o efeito do tempo de permanência nos pontos fixos de amostragem na eficiência
de detecções de espécies e indivíduos, por hora de estudo.
4
ÁREAS DE ESTUDO
Nosso estudo foi realizado em três áreas de Cerrado da Mineradora Anglo-
American CODEMIN, situadas na região da Serra da Mesa, a 45 km do município de
Niquelândia-GO a 14º09’34”S e 48º20’06”W (Figura 1). As áreas de estudo possuem,
ao todo, 496 ha. A pluviosidade média é de 1.400 mm e o clima da região é quente
(clima de Köppen Aw), caracterizado por um período de chuvas, de outubro a abril, e
outro de seca, de maio até setembro. A temperatura média na região, no período de
chuvas, é de 27ºC e no de seca é de 25ºC. A umidade relativa do ar no período de
chuvas é de 77% e no período de seca é de 51% (EINTEN 1994, SOUZA 2003).
Área denominada “Mata da Barragem” (MB)
Está localizada nas imediações da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, a
14
o
08’95” de latitude sul e 48
o
20’08” de longitude oeste, com 488 metros de altitude.
A área é caracterizada por presença de mata ciliar, com deciduidade na época
seca, e está situada nas imediações das instalações da mineradora. Em alguns pontos, a
mata é substituída por cerrado sentido restrito, que predomina nas partes mais altas de
morros circunvizinhos.
Área denominada “Pedra Verde” (PV)
Está situada a 14
o
11’03” de latitude sul e 48
o
21’08” de longitude oeste, com 496
metros de altitude.
Esta área é formada por cerrado sentido restrito, e possui pequenos córregos
intermitentes que permanecem secos durante a maior parte do ano. A área possui
também um pequeno um campo limpo úmido.
Área denominada “Morro Seco” (MS)
Está situada a 14
o
12’20” de latitude sul e 48
o
22’52” de longitude oeste, com 610
metros de altitude. É caracterizada por um mosaico de fitofisionomias: vereda; baixa
representatividade de cerrado denso e maior reprersentatividade de cerrado rupestre,
5
sendo estas duas últimas, subdivisões do cerrado sentido restrito. As denominações
fitofisionômicas utilizadas seguiram RIBEIRO & WALTER (1998).
Figura 1. Localização das três áreas de estudo, com a localização dos pontos fixos de amostragem, na
reserva da Mineradora Anglo-American-CODEMIN, região de Niquelândia - GO. 2005
2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco.
6
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8
CAPÍTULO 1
Riqueza, abundância e composição da comunidade de aves em três
áreas de Cerrado, na região de Niquelândia - GO
Resumo. O conhecimento da riqueza e abundância da avifauna em escala local é
necessário para o entendimento de sua relação com os padrões de riqueza e abundância
existentes no Cerrado, que possui 837 espécies de aves, ou seja, 49% do total das
espécies que ocorrem no Brasil. O objetivo de nosso estudo foi conhecer a riqueza,
abundância e composição da avifauna em três diferentes áreas de Cerrado, relacionando
a ocorrência das principais famílias, estrutura trófica e o grau de endemismo, registrados
localmente, com os padrões existentes no Cerrado. O estudo foi realizado na Reserva da
Mineradora Anglo-American CODEMIN, em Niquelândia-GO. Foram realizadas seis
campanhas bimestrais, entre os anos de 2005 e 2006. No levantamento qualitativo,
foram registradas 156 espécies de aves, distribuídas em 46 famílias, enquanto que no
levantamento quantitativo foram registradas 106 espécies em 90 amostras e 850
contatos. O IPA variou de 0,011 (1 contato) a 0,422 (38 contatos). A freqüência de
ocorrência e a abundância relativa das espécies foram correlacionadas nas três áreas,
podendo-se afirmar que as espécies frequentemente encontradas foram também as mais
abundantes e as espécies menos freqüentes foram as menos abundantes. As áreas da
Mata da Barragem, Pedra Verde e do Morro Seco não tiveram interferência tanto na
proporção de espécies das famílias Tyrannidae e Thraupidae quanto das espécies
insetívoras e onívoras, mas interferiram na proporção de indivíduos detectados. Foram
identificadas duas espécies que são endêmicas no Cerrado: o soldadinho, Antilophia
galeata (Lichtenstein, 1823) e o bico-de-pimenta, Saltator atricollis Vieillot, 1817,
ambas na área MS. O baixo nível de endemismo verificado na região exige medidas
efetivas que promovam o estudo detalhado destas espécies.
Palavras-chave: avifauna, cerrado, comunidade.
9
Richness, abundance and bird community composition in three areas
of Cerrado, in the area of Niquelândia, Goias state
Abstract. The knowledge of avifauna’s richness and abundance in local scale are
necessary for the understanding of his relationship with the richness patterns and
existent abundance in the Cerrado, that it possesses 837 bird species, in other words,
49% of the total species that happen in Brazil. The aim of this survey was to know the
richness, abundance and avifauna composition in three different areas of Cerrado,
relating the occurrence of the main families, it trophic structures and the endemism
degree, registered locally, with the existent patterns in Cerrado. The study was
conducted in the Mineradora Anglo-American CODEMIN reservation, in
Niquelândia, Goias state. Six visits were conducted, among the years of 2005 and 2006.
In the qualitative survey, 156 bird species were registered, distributed in 46 families,
while in the quantitative survey 106 species were registered in 90 samples and 850
contacts. IPA varied of 0,011 (1 contact) to 0,422 (38 contacts). The occurrence and the
species relative abundance were correlated in the three areas, could be affirmed that the
species frequently found were also the most abundant and the less frequent species were
the least abundant ones. The areas MB, PV and MS didn't have interference, neither for
species proportion of Tyrannidae and Thraupidae nor insetívores and omnivores, but
they interfered in the detected individual’s proportion. This survey identified two
species that are endemic in the Cerrado: the “helmeted-manakin”, Antilophia galeata
(Lichtenstein, 1823) and the “black-throated”, Saltator atricollis Vieillot, 1817, both in
the area MS. The low endemism level verified in the area demands effective measures
to promote the detailed study of these species.
Key word: avifauna, cerrado, community.
10
INTRODUÇÃO
O conhecimento da riqueza e abundância da avifauna em escala local é
necessário para o entendimento de sua relação com os padrões de riqueza e abundância
existentes no Cerrado, que possui 837 espécies de aves, ou seja, 49% do total das
espécies que ocorrem no Brasil, das quais 90,7% reproduzem-se nesse bioma (SILVA
1995, KLINK & MACHADO 2005). Em razão de sua rica constituição, com rios
mosaicos com características intrínsecas particulares (KLINK & MACHADO 2005), o
estudo dos diferentes habitats do Cerrado é fundamental para determinar a distribuição
da avifauna local (BIBBY et al. 2000, VIELLIARD 2000, SILVA & BATES 2002).
O conhecimento sobre a avifauna brasileira ainda pode ser considerado
incipiente, havendo pouco conhecimento da distribuição local e regional de muitas
espécies, o que se convencionou chamar de “déficit de Wallace” (WHITTAKER et al.
2005), que interfere diretamente nas análises de padrões da diversidade biológica,
tornando-as menos robustas. Da mesma forma, a maior parte da diversidade conhecida
ainda carece de melhor descrição e conseqüente compreensão, caracterizando o
chamado “déficit de Linneu”. Como exemplo, um total de dezenove espécies novas
(principalmente Passeriformes) foram descritas no Brasil desde 1990, com uma taxa de
mais de uma espécie descrita por ano (MARINI & GARCIA 2005).
A identificação das subáreas de ocorrência da avifauna no Cerrado é importante
para o direcionamento de estudos que esclareçam melhor alguns aspectos ecológicos
importantes, como por exemplo, a organização trófica das espécies, a composição da
riqueza e abundância local existentes nas diferentes fitofisionomias (SILVA & BATES
2002, KLINK & MACHADO 2005, MARINI & GARCIA 2005).
Entre as áreas consideradas prioritárias pelo MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
(2004), a região da Serra da Mesa/Niquelândia/Minaçu/Chapada dos Veadeiros foi
considerada de extrema importância biológica, sendo recomendado o manejo intensivo
da biodiversidade, além da criação de unidades de conservação.
Nosso estudo teve como objetivos: a) conhecer e analisar a riqueza e a
abundância da avifauna em três áreas de Cerrado da região de Niquelândia-GO; b)
relacionar a ocorrência das principais famílias, estrutura trófica e o grau de endemismo,
registrados localmente, com os padrões existentes no Cerrado.
11
METODOLOGIA
Foram realizadas seis campanhas nas áreas de estudo, uma por bimestre, com
duração de seis dias cada. Foram reservados dois dias para os levantamentos qualitativo
e quantitativo em cada área. As campanhas foram realizadas entre os meses de outubro
2005 e agosto de 2006, com um total de dois observadores.
Levantamento qualitativo ou exaustivo
Em cada campanha, as três áreas de estudo foram percorridas, por meio de
caminhadas iniciadas ao amanhecer e estendidas até o anoitecer, totalizando 126 horas
de estudo. Em razão da caminhada nas bordas e regiões de entorno, espécies de
ambientes circundantes também foram registradas na área MB.
Foram registrados: hora de registro, espécie; número de indivíduos e tipo de
contato (visual ou auditivo). O protocolo seguiu o modelo do Anexo 1.
Foram realizados procedimentos de captura-soltura de indivíduos com a
finalidade de obter-se maior confiabilidade na identificação das espécies e confirmação
de registro para o local, utilizando quatro redes de neblina de 35 mm, com 12 m × 2,5
m, totalizando, ao final do estudo, 36 horas/rede.
Os registros dos contatos visuais foram feitos com o auxílio de Binóculos Konus
8x40 e identificadas segundo MEYER DE SCHAUENSEE (1978), DUBS (1992), DUNNING
(1993), SOUZA (2004) e com o auxílio de CDs com gravações sonoras de aves: MAYER
(1996), VIELLIARD (1999) e BOESMAN (1999).
As vocalizações foram registradas por meio de gravador e microfone direcional
Sennheiser MKH 816T e depositadas no Arquivo Sonoro Neotropical, do laboratório de
Bioacústica da Unicamp - Campinas - SP.
Levantamento quantitativo
Para o levantamento quantitativo da comunidade de aves foi utilizada a
metodologia de pontos fixos segundo BLONDEL et. al. (1970) e adaptada por VIELLIARD
12
& SILVA (1990). Em cada área foram estabelecidos 20 pontos de observação, com
distância mínima de 200m entre eles, sendo amostrados 5 pontos após sorteio prévio,
entre 6h:00min e 8h:40min, período em que observa-se maior atividade da avifauna
(ANTAS E CAVALCANTI 1988). No total, foram amostrados 30 pontos em cada áreas,
totalizando 90 pontos amostrados em todo o estudo. O tempo de amostragem em cada
ponto foi de 20 min e foram consideradas e anotadas todas as detecções visuais e
auditivas com distância ilimitada, que permitiu calcular o IPA (Índice Pontual de
Abundância) para cada espécie.
Foram gravadas diversas vocalizações, inclusive de espécies identificadas
apenas posteriormente por comparação com gravações disponíveis, a fim de serem
incluídas nas análises.
As espécies foram agrupadas em categorias tróficas, conforme WILLIS (1979),
MOTTA-JUNIOR (1990) e SICK (1997). A nomenclatura das espécies seguiu SICK (1997),
com as devidas atualizações propostas pelo COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS
ORNITOLÓGICOS (2006). O protocolo para o registro em campo seguiu o modelo do
Anexo 2.
Análises
Foram calculadas, para cada área: a freqüência de ocorrência (FO) que
corresponde à razão entre o número de dias de registro de determinada espécie e o
número total de dias em que foi realizado o estudo e a abundância relativa, calculada
por meio do índice pontual de abundância (IPA):
Nc
Nt
Tanto a freqüência de ocorrência quanto o índice pontual de abundância
seguiram o proposto por VIELLIARD & SILVA (1990).
Foi utilizado o coeficiente de Spearman para verificar a correlação entre a
frequência de ocorrência e a abundância relativa das espécies.
IPA =
Onde:
Nc = número de contatos visuais;
Nt = número total de amostras.
13
O índice de Shannon-Wienner (Ln) e o coeficiente de Jaccard foram utilizados
para comparar, respectivamente, a diversidade e a similaridade nas três áreas. Ambas as
análises foram utilizadas conforme KREBS (1999).
As proporções de indivíduos e espécies das famílias mais representativas
(Tyrannidae e Thraupidae) e das categorias alimentares mais representativas de
(insetívoros e onívoros) foram comparadas nas três áreas de Cerrado, por meio do teste
qui-quadrado (?
2
) de independência. Ambas as análises foram realizadas utilizando o
software Bioestat 3.0 (AYRES et al. 2003).
14
RESULTADOS
Riqueza de espécies levantamento qualitativo
Foram registradas 156 espécies de aves para as três áreas durante as seis
campanhas realizadas (Tabela I). A riqueza total foi de 120 espécies na área MB, 102
espécies na área PV e 100 espécies na área MS.
Tabela I - Lista geral de espécies registradas em três áreas de Cerrado na reserva da Mineradora Anglo-
American -CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. (FO) Freqüência de ocorrência;
(IPA) Índice Pontual de Abundância; (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS)
Morro Seco; (D) Dieta.
IPA
Nome do Táxon Nome em Português
FO
(%)
MB PV MS
D
Tinamidae
Crypturellus undulatus (Temminck, 1815) jaó
50.00 0.033 0.033 0.067 oni
Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827)*** inhambu-chororó
100.00 - 0.333 0.300 oni
Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) perdiz
33.33 - 0.233 0.067 oni
Anatidae
Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) irerê
16.67 - - - -
Cairina moschata (Linnaeus, 1758)* pato-do-mato
- - - - -
Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) -vermelho
16.67 - - - -
Cracidae
Crax fasciolata Spix, 1825 mutum-de-penacho
16.67 - - 0.033 oni
Phalacrocoracidae
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) biguá
50.00 - - - -
Anhingidae
Anhinga anhinga (Linnaeus, 1766) biguatinga
16.67 - - - -
Ardeidae
Butorides striata (Linnaeus, 1758) socozinho
16.67 - - - -
Ardea cocoi Linnaeus, 1766* garça-moura
-
Ardea alba Linnaeus, 1758 garça-branca-grande
16.67 - - - -
Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824)* maria-faceira
- - - - -
Pilherodius pileatus (Boddaert, 1783) garça-real
16.67 - 0.033 - oni
Egretta thula (Molina, 1782) garça-branca-pequena
33.33 - - - -
Threskiornithidae
Theristicus caudatus (Boddaert, 1783) curicaca
50.00 - - - -
Platalea ajaja Linnaeus, 1758 colhereiro
16.67 - - - -
Ciconiidae
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) maguari
16.67 - - - -
Cathartidae
Cathartes aura (Linnaeus, 1758)
urubu-de-cabeça-
vermelha
100.00 0.067 0.033 0.033 det
Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-de-cabeça-preta
100.00 0.033 0.133 - det
15
Tabela I. Continuação.
IPA
Nome do Táxon Nome em Português
FO
(%)
MB PV MS
D
Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758) urubu-rei
16.67 - - - -
Accipitridae
Leptodon cayanensis (Latham, 1790) gavião-de-cabeça-cinza
16.67 - - - -
Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) sovi
50.00 - 0.033 - ins
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)*** gavião-carijó
83.33 0.133 0.033 0.033 car
Falconidae
Caracara plancus (Miller, 1777) caracará
66.67 0.033 - 0.033 car
Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) acauã
16.67 - 0.033 - car
Micrastur ruficollis (Vieillot, 1817) falcão-caburé
16.67 - - - -
Falco sparverius Linnaeus, 1758 quiriquiri
33.33 - - - -
Rallidae
Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) saracura-três-potes
33.33 - 0.033 - oni
Cariamidae
Cariama cristata (Linnaeus, 1766) seriema
100.00 0.033 0.300 0.233 ins
Charadriidae
Vanellus cayanus (Latham, 1790) batuíra-de-esporão
16.67 - - - -
Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero
50.00 - - -
Jacanidae
Jacana jacana (Linnaeus, 1766)* jaçanã
- - - - -
Columbidae
Columbina talpacoti (Temminck, 1811)*** rolinha-roxa
100.00 0.033 0.233 0.233 gra
Columbina squammata (Lesson, 1831)*** fogo-apagou
100.00 0.067 0.267 - gra
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) pombão
83.33 - 0.100 0.067 fru
Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) pomba-galega
66.67 - 0.133 0.067 gra
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855*** juriti-pupu
100.00 0.200 0.467 0.333 fru
Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) juriti-gemedeira
66.67 0.033 0.100 0.200 fru
Psittacidae
Ara ararauna (Linnaeus, 1758) arara-canindé
66.67 - 0.067 0.067 fru
Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) maracanã-pequena
83.33 - 0.033 0.100 fru
Aratinga aurea (Gmelin, 1788) periquito-rei
83.33 0.067 0.100 0.100 fru
Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818)
periquito-de-encontro-
amarelo
100.00 0.133 - - fru
Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) papagaio-verdadeiro
33.33 0.033 0.033 - fru
Cuculidae
Coccyzus americanus (Linnaeus, 1758)
papa-lagarta-de-asa-
vermelha
16.67 - - - -
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-de-gato
100.00 0.067 0.067 0.100 ins
Crotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto
66.67 - - - -
Guira guira (Gmelin, 1788) anu-branco
16.67 - - - -
Tapera naevia (Linnaeus, 1766) saci
83.33 - 0.100 0.133 ins
Strigidae
Megascops choliba (Vieillot, 1817) corujinha-do-mato
16.67 - - - -
Glaucidium minutissimum (Wied, 1830)*** caburé-miudinho
16.67 - - - -
Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) caburé
50.00 - - - -
Athene cunicularia (Molina, 1782) coruja-buraqueira
33.33 - - - -
Nyctibiidae
Nyctibius griseus (Gmelin, 1789)** mãe-da-lua
- - - - -
16
Tabela I. Continuação.
Nome do Táxon Nome em Português
FO
(%)
IPA
D
Caprimulgidae
Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789) bacurau
16.67 - - - -
Caprimulgus rufus Boddaert, 1783*** joão-corta-pau
33.33 - - - -
Trochilidae
Phaethornis pretrei (Lesson & Delattre, 1839)*** rabo-branco-acanelado
66.67 - 0.033 0.033 nec
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura
16.67 - 0.033 - nec
Colibri serrirostris (Vieillot, 1816)***
beija-flor-de-orelha-
violeta
83.33 - 0.067 0.100 nec
Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) beija-flor-de-veste-preta
16.67 - 0.033 - nec
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812)
besourinho-de-bico-
vemelho
66.67 - 0.100 - nec
Thalurania furcata (Gmelin, 1788)*** beija-flor-tesoura-verde
33.33 - - - -
Trogonidae
Trogon curucui Linnaeus, 1766
surucuá-de-barriga-
vermelha
66.67 0.033 - 0.100 oni
Alcedinidae
Ceryle torquatus (Linnaeus, 1766) martim-pescador-grande
16.67 - - - -
Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador-verde
16.67 - - - -
Momotidae
Momotus momota (Linnaeus, 1766) udu-de-coroa-azul
50.00 0.033 - - ins
Galbulidae
Galbula ruficauda Cuvier, 1816*** ariramba-de-cauda-ruiva
100.00 0.267 0.067 - ins
Bucconidae
Nystalus chacuru (Vieillot, 1816) joão-bobo
33.33 - 0.033 0.100 ins
Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) rapazinho-dos-velhos
33.33 - - -
Monasa nigrifrons (Spix, 1824) chora-chuva-preto
100.00 0.467 0.100 0.067 ins
Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782) urubuzinho
16.67 0.033 - - ins
Ramphastidae
Ramphastos toco Statius Muller, 1776 tucanuçu
100.00 0.033 0.067 0.133 fru
Pteroglossus castanotis Gould, 1834 araçari-castanho
16.67 0.033 - - fru
Picidae
Picumnus albosquamatus d'Orbigny, 1840*** pica-pau-anão-escamado
66.67 0.100 - - ins
Melanerpes candidus (Otto, 1796)* pica-pau-branco
- - - - -
Veniliornis passerinus (Linnaeus, 1766) picapauzinho-anão
33.33 - - -
Piculus chrysochloros (Vieillot, 1818) pica-pau-dourado-escuro
33.33 - 0.067 - ins
Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) pica-pau-verde-barrado
33.33 - 0.033 - ins
Colaptes campestris (Vieillot, 1818) pica-pau-do-campo
16.67 - - - -
Celeus flavescens (Gmelin, 1788)
pica-pau-de-cabeça-
amarela
33.33 - - - -
Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766)
pica-pau-de-banda-
branca
50.00 - - - -
Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788)
pica-pau-de-topete-
vermelho
33.33 - - - -
Thamnophilidae
Taraba major (Vieillot, 1816)*** choró-boi
66.67 - - 0.067 ins
Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764)*** choca-barrada
66.67 - 0.067 0.067 ins
Thamnophilus punctatus (Shaw, 1809)*** choca-bate-cabo
100.00 0.333 0.067 0.200 ins
Thamnophilus torquatus Swainson, 1825 choca-de-asa-vermelha
16.67 - - 0.067 ins
Herpsilochmus atricapillus Pelzeln, 1868***
chorozinho-de-chapéu-
preto
100.00 0.700 0.067 0.400 ins
Formicivora grisea (Boddaert, 1783) papa-formiga-pardo
16.67 - - - -
Formicivora melanogaster Pelzeln, 1868
formigueiro-de-barriga-
preta
16.67 - 0.033 - ins
Formicivora rufa (Wied, 1831) papa-formiga-vermelho
66.67 0.033 0.033 0.033 ins
17
Tabela I. Continuação.
Nome do Táxon Nome em Português
FO
(%)
IPA
D
Dendrocolaptidae
Dendrocolaptes platyrostris Spix, 1825** arapaçu-grande
- - - - -
Xiphorhynchus guttatus (Lichtenstein, 1820)
arapaçu-de-garganta-
amarela
83.33 0.233 - - ins
Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot, 1818)*** arapaçu-de-cerrado
83.33 - 0.033 0.033 ins
Campylorhamphus trochilirostris (Lichtenstein, 1820) arapaçu-beija-flor
50.00 0.067 - - ins
Furnariidae
Furnarius rufus (Gmelin, 1788)** joão-de-barro
- - - - -
Synallaxis frontalis Pelzeln, 1859 petrim
100.00 0.033 0.233 0.033 ins
Tyrannidae
Hemitriccus margaritaceiventer (d'Orbigny &
Lafresnaye, 1837)***
sebinho-de-olho-de-ouro
83.33 - 0.100 0.067 ins
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822)***
guaracava-de-barriga-
amarela
66.67 0.033 0.033 0.067 oni
Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824)*** risadinha
16.67 - - - -
Phaeomyias murina (Spix, 1825)*** bagageiro
33.33 - - - -
Euscarthmus rufomarginatus (Pelzeln, 1868)*** maria-corruíra
16.67 - - - -
Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831)*** bico-chato-amarelo
16.67 - - - -
Contopus cinereus (Spix, 1825) papa-moscas-cinzento
16.67 - - - -
Xolmis cinereus (Vieillot, 1816)* primavera
- - - - -
Arundinicola leucocephala (Linnaeus, 1764) freirinha
- - - - -
Colonia colonus (Vieillot, 1818) viuvinha
50.00 - - - -
Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766)
bentevizinho-de-asa-
ferrugínea
100.00 - 0.167 0.033 ins
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi
100.00 0.067 0.200 0.100 oni
Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776)*** bem-te-vi-rajado
50.00 0.033 0.100 0.133 oni
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) neinei
100.00 - 0.433 0.300 oni
Empidonomus varius (Vieillot, 1818) peitica
33.33 - 0.033 - ins
Griseotyrannus aurantioatrocristatus (d'Orbigny &
Lafresnaye, 1837)***
peitica-de-chapéu-preto
50.00 - 0.100 0.133 ins
Tyrannus albogularis Burmeister, 1856
suiriri-de-garganta-
branca
66.67 - 0.133 0.033 ins
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819*** suiriri
100.00 0.067 0.333 0.167 ins
Tyrannus savana Vieillot, 1808 tesourinha
16.67 - 0.033 0.033 ins
Casiornis rufus (Vieillot, 1816)*** caneleiro
66.67 - 0.133 - ins
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789)*** maria-cavaleira
66.67 - 0.100 - ins
Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776)***
maria-cavaleira-de-rabo-
enferrujado
66.67 - 0.067 0.100 ins
Pipridae
Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) soldadinho
33.33 - - - -
Tityridae
Tityra cayana (Linnaeus, 1766)
anambé-branco-de-rabo-
preto
16.67 - - - -
Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818) caneleiro-preto
16.67 - - - -
Vireonidae
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari
100.00 0.100 0.233 0.100 ins
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766)*** juruviara
66.67 0.267 0.200 0.333 oni
Corvidae
Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) gralha-cancã
100.00 0.200 0.400 0.267 oni
Hirundinidae
Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) andorinha-do-rio
16.67 - - - -
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) andorinha-serradora
83.33 - - 0.100 ins
Troglodytidae
Troglodytes musculus Naumann, 1823 corruíra
100.00 - - 0.100 ins
18
Tabela I. Continuação.
Nome do Táxon Nome em Português
FO
(%)
IPA
D
Thryothorus leucotis Lafresnaye, 1845***
garrinchão-de-barriga-
vermelha
100.00 0.533 0.567 0.167 ins
Polioptilidae
Polioptila dumicola (Vieillot, 1817) balança-rabo-de-máscara
66.67 0.033 0.067 - ins
Turdidae
Turdus rufiventris Vieillot, 1818 ** sabiá-laranjeira
- - - - -
Turdus leucomelas Vieillot, 1818*** sabiá-barranco
100.00 0.167 0.333 0.267 oni
Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850*** sabiá-poca
50.00 0.033 0.133 0.200 oni
Mimidae
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823)* sabiá-do-campo
- - - - -
Coerebidae
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758)*** cambacica
100.00 0.033 0.067 - nec
Thraupidae
Nemosia pileata (Boddaert, 1783) saíra-de-chapéu-preto
83.33 0.067 0.067 - oni
Thlypopsis sordida (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) saí-canário
16.67 - - - -
Piranga flava (Vieillot, 1822) sanhaçu-de-fogo
33.33 - - 0.033 oni
Tachyphonus rufus (Boddaert, 1783)*** pipira-preta
100.00 0.033 0.267 0.233 oni
Ramphocelus carbo (Pallas, 1764)*** pipira-vermelha
100.00 0.200 0.067 - oni
Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766)*** sanhaçu-cinzento
66.67 0.067 0.267 0.167 oni
Thraupis palmarum (Wied, 1823) sanhaçu-do-coqueiro
50.00 0.033 - 0.033 fru
Tangara cayana (Linnaeus, 1766) saíra-amarela
100.00 - 0.067 0.100 oni
Tersina viridis (Illiger, 1811) saí-andorinha
16.67 0.033 - - oni
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766)*** saí-azul
83.33 0.033 - 0.033 oni
Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766) saíra-beija-flor
50.00 - - 0.167 fru
Hemithraupis guira (Linnaeus, 1766) saíra-de-papo-preto
100.00 0.067 0.067 0.033 ins
Conirostrum speciosum (Temminck, 1824)
figuinha-de-rabo-
castanho
33.33 - - - -
Emberizidae
Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776)*** tico-tico
100.00 0.033 0.300 0.133 gra
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) tico-tico-do-campo
66.67 0.033 0.033 - gra
Ammodramus aurifrons (Spix, 1825)* cigarrinha-do-campo
- - - - -
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766)*** tiziu
100.00 0.067 0.300 0.033 gra
Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823)*** papa-arroz
100.00 0.067 0.033 0.067 gra
Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) coleirinho
50.00 - 0.033 0.067 gra
Sporophila angolensis (Linnaeus, 1766) curió
16.67 - - 0.033 gra
Arremon taciturnus (Hermann, 1783) tico-tico-de-bico-preto
66.67 0.100 - - gra
Coryphospingus pileatus (Wied, 1821)*** tico-tico-rei-cinza
100.00 0.233 0.167 0.067 gra
Cardinalidae
Saltator maximus (Statius Muller, 1776)*** tempera-viola
16.67 - - - -
Saltator similis d'Orbigny & Lafresnaye, 1837*** trinca-ferro-verdadeiro
100.00 0.100 0.533 0.400 oni
Saltator atricollis Vieillot, 1817*** bico-de-pimenta
66.67 - - 0.133 oni
Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein, 1823)*** azulão
83.33 - - 0.067 gra
Parulidae
Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) mariquita
16.67 0.033 - 0.033 ins
Geothlypis aequinoctialis (Gmelin, 1789)*** pia-cobra
50.00 - - -
Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) pula-pula
100.00 0.300 0.233 0.100 ins
Basileuterus flaveolus (Baird, 1865)*** canário-do-mato
100.00 0.633 - 0.267 ins
Icteridae
Cacicus cela (Linnaeus, 1758) xexéu
33.33 0.033 0.033 - oni
Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) encontro
66.67 - - - -
19
Tabela I. Continuação.
Nome do Táxon Nome em Português
FO
(%)
IPA
D
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) graúna
100.00 0.033 0.067 0.333 oni
Fringillidae
Carduelis magellanica (Vieillot, 1805) pintassilgo
16.67 - - 0.033 fru
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) fim-fim
83.33 0.333 0.467 0.433 fru
Euphonia laniirostris d'Orbigny & Lafresnaye, 1837 ** gaturamo-de-bico-grosso
- - - - -
(*) Espécies registradas fora do horário de amostragem qualitativa, pertencentes a área MB;
(**) Espécies registradas em área antropizada, nas proximidades do alojamento da Mineradora.
(***) Espécies capturadas em rede de neblina.
Como o objetivo da metodologia qualitativa é a obtenção da lista mais completa
de espécies possível, foram incluídas, por exemplo, algumas espécies não características
de ambiente de mata, e sim, de ambientes aquáticos, como o biguá, Phalacrocorax
brasilianus, o irerê, Dendrocygna viduata, a biguatinga, Anhinga anhinga, o socozinho,
Butorides striata, o martim-pescador-grande, Ceryle torquatus e o martim-pescador-
verde, Chloroceryle amazona, que foram registradas no período chuvoso.
Algumas espécies foram registradas fora do período de amostragem. Estas
espécies, além daquelas registradas também ocasionalmente, nas proximidades do
alojamento, foram incluídas na listagem geral. Com o acréscimo destes registros
ocasionais, foram acrecentadas mais 14 espécies para a região, totalizando 170 espécies.
A curva cumulativa do número de espécies apresentada (Figura 1) corresponde a
126 horas de observação.
0
40
80
120
160
Out-05 Dez-05 Fev-06 Abr-06 Jun-06 Ago-06
Meses
Número acumulado de espécies
Log. (MS)
Log. (PV)
Log. (MB)
Log. (G)
Figura 1. Curva cumulativa do número de espécies de aves registradas no levantamento qualitativo, na
reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia - GO. (G) Geral; (MB)
Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro Seco.
MS
PV
MB
G
20
Freqüência de Ocorrência (FO%)
Em cada área, um total de 24 espécies apresentou freqüência de ocorrência
acima de 75%, correspondendo 20,0% do total na área MB, 23,7% na área PV e 24,0%
na área MS (Tabela II). Por outro lado, 81 espécies (67,5%) apresentaram freqüência de
ocorrência até 50% na área MB, enquanto que na área PV o total foi de 64 espécies
(63,3%) e na área MS foi de 65 espécies (65,0%).
Na área MB houve maior número de espécies com baixa freqüência de
ocorrência, em sua maioria decorrente das detecções realizadas nas bordas da mata, o
que indica serem espécies ocasionais para este tipo de ambiente, e que geralmente não
transitam pelo interior da vegetação. Outras espécies detectadas em áreas adjacentes e
num pequeno lago próximo, tiveram baixa freqüência de ocorrência, ou por não serem
típicas de ambiente florestal, ou pela própria característica do lago, seco em boa parte
do ano.
As espécies com freqüência de ocorrência máxima (100%) comuns às três áreas
estudadas foram: a gralha-cancã, Cyanocorax cyanopogon, o fim-fim, Euphonia
chlorotica e o garrinchão-de-barriga-vermelha, Thryothorus leucotis.
Tabela II. Número de espécies organizadas de acordo com a classe de freqüência de ocorrência, durante
o levantamento qualitativo na reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em
Niquelândia GO, 2005 - 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e MS (Morro
Seco).
Classes de Freqüência de Ocorrência (FO%)
Área
= 25 > 26 e = 50 > 50 e = 75 > 76 e = 99
100
Total
MB 39 (32,5%) 42 (35,0%) 15 (12,5%) 14 (11,7%) 10 (8,3%) 120 (100,0%)
PV 27 (26,8%) 37 (36,7%) 13 (12,8%) 11 (10,9%) 13 (12,8) 101 (100,0%)
MS 30 (30,0%) 35 (35,0%) 11 (11,0%) 13 (13,0%) 11 (11,0%) 100 (100,0%)
Além das espécies comuns às três áreas, apresentaram ocorrência máxima, na
área MB: o canário-do-mato, Basileuterus flaveolus, o periquito-de-encontro-amarelo,
Brotogeris chiriri, a cambacica, Coereba flaveola, a ariramba-de-cauda-ruiva, Galbula
ruficauda, o chorozinho-de-chapéu-preto, Herpsilochmus, o chora-chuva-preto ou bico-
de-brasa, Monasa nigrifrons e o suiriri, Tyrannus melancholicus, totalizando 10
espécies (8,3% do total de espécies identificadas para a área); na área PV: o tico-tico-
rei-cinza, Coryphospingus pileatus, o inhambu-chororó, Crypturellus parvirostris, o
21
juriti-pupu, Leptotila verreauxi, o nei-nei, Megarynchus pitangua, o bentevizinho-de-
asa-ferrugínea, Myiozetetes cayanensis, o trinca-ferro-verdadeiro, Saltator similis, a
pipira-preta, Tachyphonus rufus, o sanhaçu-cinzento, Thraupis sayaca, o sabiá-
barranco, Turdus leucomelas e o tico-tico, Zonotrichia capensis, totalizando 13 (12,8%)
espécies e na área MS: o canário-do-mato, Basileuterus flaveolus, a seriema, Cariama
cristata, a graúna, Gnorimopsar chopi, o chorózinho-de-chapéu-preto, Herpsilochmus
atricapillus, o trinca-ferro-verdadeiro, Saltator similis, a pipira-preta, Tachyphonus
rufus, o suiriri, Tyrannus melancholicus e o tico-tico, Zonotrichia capensis, totalizando
11 (11,0%) espécies.
Abundância relativa das espécies levantamento quantitativo
Ao final de nosso estudo quantitativo na região de Niquelândia, foi realizado um
total de 90 amostras, com 850 contatos registrados, e o Índice Pontual de Abundância
(IPA) calculado para cada espécie, apresentou variação de 0,011 (1 contato) a 0,422 (38
contatos). Foram registradas 106 espécies no levantamento quantitativo, com média de
29,7 espécies por campanha. Foram registradas 59 espécies para a área MB, 80 espécies
para a área PV e 73 espécies para a área MS.
A maioria dos registros foram auditivos (aproximadamente 2/3) para as três
áreas (Figura 2), sendo um resultado freqüentemente encontrado em estudos
ornitológicos.
0
5
10
15
20
25
30
MB PV MS
Áreas
Registros (%)
Visual Auditivo
Figura 2. Comparação de registros visuais e auditivos da avifauna para as três áreas na reserva da
Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia - GO. (MB) Mata da Barragem;
(PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco.
22
A ordenação decrescente das espécies de acordo com sua abundância relativa
(Figura 3), revelou que 10 (9,4%) espécies foram mais detectadas, enquanto 96 (90,6%)
espécies foram menos detectadas quando consideradas as áreas em conjunto (Figura 3a).
As espécies mais abundantes, quando consideradas todas as áreas, foram o garrinchão-
de-barriga-vermelha, Thryothorus leucotis, o fim-fim, Euphonia, o chorózinho-de-
chapéu-preto, Herpsilochmus atricapillus, o canário-do-mato, Basileuterus flaveolus, o
trinca-ferro-verdadeiro, Saltator similis, a juriti-pupu, Leptotila verreauxi, a gralha-
cancã, Cyanocorax cyanopogon, a juruviara, Vireo olivaceus, o sabiá-barranco, Turdus
leucomelas e o nei-nei, Megarynchus pitangua.
Considerando os valores de abundância relativa obtidos para cada uma das três
áreas, com um total de trinta amostras por área, obtivemos 238 contatos na área MB,
com variação no IPA de 0,033 (1 contato) a 0,700 (21 contatos). Nesta área, maiores
números de detecção foram registrados para seis espécies, quando considerado o valor
médio da escala de IPA para esta área (0,333); já a área PV acumulou 332 contatos, com
variação no IPA de 0,033 (1 contato) a 0,567 (17 contatos) e 12 espécies com
abundância maior que a média de IPA (0,267). A área MS apresentou 280 contatos
registrados, com variação no IPA de 0,033 (1 contato) a 0,433 (13 contatos) e 14
espécies mais abundantes que a média (0,200).
Os resultados esclarecem aspectos importantes da relação da avifauna com as
fitofisionomias do Cerrado estudadas na região de Niquelândia - GO. Quando
comparada com as áreas PV e MS, a área MB (Figura 3b) foi a que apresentou o menor
número de espécies com altos índices de abundância (maior dominância), sendo que
duas espécies apresentaram, em geral, maior abundância: o chorózinho-de-chapéu-
preto, Herpsilochmus atricapillus e o canário-do-mato, Basileuterus flaveolus,
indicando serem espécies fortemente relacionadas com o local. Entretanto, na área MB
houve poucas espécies com altos índices de abundância e também o menor número de
espécies detectadas se comparada às demais áreas.
Nas áreas PV (Figura 3c) e MS (Figura 3d), ao contrário, um maior número de
espécies apresentou altos índices de abundância (menor dominância). Entre as mais
abundantes, destacaram-se na área PV o garrinchão-de-barriga-vermelha, Thryothorus
leucotis, o trinca-ferro-verdadeiro, Saltator similis e a juriti-pupu, Leptotila verreauxi.
Na área MS, destacou-se o fim-fim, Euphonia chlorotica. Quando comparadas com a
área MB, as áreas PV e MS tiveram também maior número de espécies registradas.
23
A freqüência de ocorrência e a abundância relativa das espécies que foram
registradas nas metodologias de transectos e de pontos fixos foram correlacionadas nas
áreas PV (coeficiente de spearman r
s
=0,98; n=61) e MS (r
s
=0,96; n=79) e MB
(r
s
=0,75; n=71). De uma maneira geral, pode-se afirmar que as espécies
frequentemente encontradas foram também as mais abundantes e as espécies menos
freqüentes foram as menos abundantes.
Figura 3. Ordenação decrescente dos Índices Pontuais de Abundância das espécies de aves registradas no
levantamento quantitativo, na reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em
Niquelândia GO, 2005 - 2006. (G) Geral; (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS)
Morro Seco.
Nas trinta amostras realizadas em cada uma das três áreas, em que foram
registrados os 850 contatos, a média geral foi de 9,3 contatos/amostra, com variação de
7,5 a 11,1 contatos/amostra. Os registros sofreram variação no decorrer do ano e os
resultados obtidos no levantamento quantitativo indicaram, em geral, números menores
de contatos/amostra em fevereiro de 2006, e números maiores em agosto de 2006
(Figura 4a). A média de detecções foi de 29,7 espécies por campanha (considerando-se
0.000
0.100
0.200
0.300
0.400
0.500
0.600
0.700
0.800
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61
Espécies
IPA
0.000
0.100
0.200
0.300
0.400
0.500
0.600
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79
Espécies
IPA
0.000
0.100
0.200
0.300
0.400
0.500
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73
Espécies
IPA
0.000
0.100
0.200
0.300
0.400
0.500
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100
Espécies
IPA
c
a
G
PV
b
d
MB
MS
24
um total de cinco amostras) com variação de 15 espécies/campanha, em outubro de
2005, na área MB a 46 espécies/campanha, em agosto de 2006, na área PV (Figura 4b).
A dinâmica da avifauna nas áreas PV e MS sofreu maiores variações em relação
à área MB. Até o mês de fevereiro de 2006, o número de contatos/amostra e o número
de espécies oscilaram de maneira mais ou menos concordante na área PV, sofrendo
maior alteração a partir do mês de abril de 2006.
Está área manteve relativa constância no número de espécies em abril e junho de
2006, mas teve uma grande elevação no número de contatos/amostra neste mesmo
período.
Figura 4. Variação do número de contatos/amostra (a) e do número de espécies (b) da avifauna nas três
áreas de estudo, durante o levantamento quantitativo, na reserva da Mineradora Anglo-
American - CODEMIN, em Niquelândia GO. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde;
(MS) Morro Seco.
Na área MS, as oscilações entre contatos/amostra e número de espécies foram
constantes em todo o ano, porém os contatos/amostra oscilaram de forma mais intensa.
O índice de Shannon-Wienner obtido para a área PV foi maior (H’=3,31) do que o
registrado para as áreas MB (H’=2,87) e MS (H’=3,23).
A similaridade da avifauna, detectada nas três áreas (Figura 5), embora tenha
ocorrido de forma moderada entre as áreas, revelou-se maior entre as áreas PV e MS
(58%), resultado que de certa forma já era esperado, considerando que ambas
apresentam formações savânicas, constrastando com a área MB, com típica formação
florestal.
0
10
20
30
40
50
Out-05 Dez-05 Fev-06 Abr-06 Jun-06 Ago-06
Campanhas
Número de espécies
PV
0
2
4
6
8
10
12
14
Out-05 Dez-05 Fev-06 Abr-06 Jun-06 Ago-06
Campanhas
Contatos / amostra
MB
PV
MS
b
a
25
Figura 5. Similaridade (coeficiente de Jaccard) de espécies registradas em três áreas de Cerrado, na
reserva da Mineradora Anglo-American- CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 2006.
(MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro Seco. O método de agrupamento foi
o de simple average (MCALEECE 1997)
A avifauna da região de Niquelândia em relação ao Bioma Cerrado
Principais famílias
As 156 espécies registradas pelo levantamento qualitativo foram distribuídas em
46 famílias. Ao considerarmos as espécies registradas ocasionalmente, este número
passou a 49 famílias. Os Tyrannidae foram representados por 20 espécies (12,8%),
quando consideradas todas as áreas; os Thraupidae foram representados por 13 espécies
(8,3%); as famílias Picidae, Thamnophilidae e Emberizidae foram representadas por 8
espécies (5,12%), seguidas de Columbidae e Trochilidae com 6 espécies (3,8%).
Quando consideradas as áreas em separado, o predomínio dos Tyrannidae e Thraupidae
se manteve (Tabela III).
Os indivíduos das famílias Tyrannidae e Thraupidae detectados na área PV
tiveram proporções significativamente diferentes de espécies, se comparados com as
proporções registradas nas áreas MB (?
2
=5,07; gl=1; P<0,05), e MS (?
2
=5,55; gl=1;
P<0,05). Já a proporção de espécies detectadas das famílias Tyrannidae e Thraupidae
não teve diferença significativa (?
2
=0,30; gl=2; P>0,05) entre as três áreas.
A área MB teve maior abundância da família Emberizidae, com predomínio de
espécies que foram registradas nas bordas da área, como o tiziu, Volatinia jacarina, o
papa-arroz, Sporophila nigricollis e o tico-tico, Zonotrichia capensis.
26
Tabela III. Principais famílias registradas, durante o levantamento qualitativo, em três áreas de Cerrado
na Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. (MB)
Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco; (Esp.) Espécies; (Ind.)
Indivíduos.
MB PV MS
Famílias
Esp.
Ind.
Famílias
Esp. Ind.
Famílias
Esp. Ind.
Tyrannidae 12 55 Tyrannidae 14 66 Tyrannidae 13 41
Thraupidae 8 61 Thraupidae 7 38 Thraupidae 9 49
Emberizidae 7 63 Picidae 7 11 Thamnophilidae 7 13
Thamnophilidae 6 18 Emberizidae 6 45 Columbidae 5 21
Psittacidae 5 53 Columbidae 6 25 Psittacidae 4 23
Cuculidae 5 35 Psittacidae 5 20 Emberizidae 4 16
Columbidae 5 34 Thamnophilidae 4 16 Cardinalidade 4 20
Picidae 4 9 Tinamidae 3 8 Trochilidae 3 7
Parulidae 4 11 Cuculidae 3 12 Tinamidae 3 8
Falconidae 3 7 Cathartidae 3 14 Strigidae 3 4
Bucconidae 3 22
Cardinalidade 3 9
Picidae 3 4
Na área PV, ocorreu maior abundância de Tyrannidae, destacando-se o nei-nei,
Megarynchus pitangua e o suiriri, Tyrannus melancholicus. Na área MS houve um
predomínio de Thraupidae, com maior número de registros da saíra-beija-flor,
Cyanerpes cyaneus, da pipira-preta, Tachyphonus rufus e do sanhaçu-cinzento,
Thraupis sayaca.
Comparando o total de espécies das principais famílias que ocorrem nas três
áreas, foi feita a organização das mesmas de acordo com seu percentual de
representatividade (Figura 6), que é a razão entre o número de espécies registradas por
nosso estudo e o número total de espécies que ocorrem para determinada família no
Bioma Cerrado.
Os resultados indicaram que, na área PV, as famílias Picidae e Columbidae
apresentaram maior representatividade de espécies (53,8% e 46,1%, respectivamente)
que ocorrem no Bioma Cerrado, do que nas áreas MB (30,8% e 38,5%,
respectivamente) e MS (23,1 e 38,5, respectivamente). As famílias Thamnophilidae,
Thraupidae e Trochilidae apresentaram maior representatividade de espécies na área MS
(30,4%, 25,0% e 12,5%, respectivamente) enquanto que os Emberizidae foram mais
representativos em espécies na área MB (19,4%).
27
0
10
20
30
40
50
60
Pic
(n=13)
Col
(n=13)
Pst
(n=17)
Tha
(n=23)
Thr
(n=36)
Tyr
(n=70)
Emb
(n=36)
Tro
(n=24)
Representatividade (%)
MB PV MS
Figura 6. Representatividade de espécies das principais famílias registradas nas três áreas de estudo, com
relação à ocorrência total no Cerrado. Reserva da Mineradora Anglo-American- CODEMIN,
em Niquelândia GO, 2005 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro
Seco. (Col) Columbidae; (Pic) Picidae; (Pst) Psittacidae; (Tha) Thamnophilidae; (Thr)
Thraupidae; (Tyr) Tyrannidae; (Emb ) Emberizidae e (Tro) Trochilidae.
Guildas alimentares
Nas três áreas houve o predomínio das espécies insetívoras, seguidas pelas
espécies onívoras (Tabela IV) concordando com diversos estudos relatados por MARINI
(2001) em região de Cerrado. MOTTA-JUNIOR (1990) afirma, entretanto, que uma
melhor representação do uso de recursos alimentares ocorre quando consideramos, além
do número de espécies, o número de indivíduos.
Tabela IV. Guildas de alimentação encontradas na avifauna, em três áreas de Cerrado na reserva da
Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. (MB) Mata
da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco.
MB PV MS
Espécies Indivíduos Espécies Indivíduos Espécies Indivíduos
Guildas
(%) (%) (%) (%) (%) (%)
Insetívoros 22 36.1 168 52.8 31 38.8 144 31.7 28 38.4 132 31.1
Onívoros 17 27.9 61 19.2 21 26.3 148 32.6 20 27.4 155 36.5
Frugívoros 9 14.8 50 15.7 9 11.3 62 13.7 12 16.4 102 24.0
Granívoros 8 13.1 26 8.2 9 11.3 77 17.0 8 11.0 27 6.4
Carnívoros 2 3.3 5 1.6 2 2.5 3 0.7 2 2.7 2 0.5
Detritivoros 2 3.3 7 2.2 2 2.5 10 2.2 1 1.4 1 0.2
Nectarívoros 1 1.6 1 0.3 6 7.5 10 2.2 2 2.7 6 1.4
Total 61 318 80 454 73 425
As proporções de espécies insetívoras e onívoras não apresentaram diferença
significativa entre as três áreas (?
2
=0,09; gl=2; P>0,05), enquanto que a proporção de
28
indivíduos foi diferente entre as áreas MB e PV (?
2
=29,9; gl=1; P<0,05), MB e MS
(?
2
=38,1; gl=1; P<0,05) e PV e MS (?
2
=0,51; gl=1; P<0,05). O número de espécies
frugívoras foi equivalente ao número de espécies granívoras nas três áreas (9 frugívoros
e 8 granívoros em MB; 9 frugívoros e granívoros em PV e 12 frugívoros e 8 granívoros
em MS). Entretanto, foi notável a diferença entre indivíduos de ambas as categorias
tróficas na área MS com grande predomínio dos frugívoros (102 indivíduos contra 27
indivíduos de granívoros), o que não ocorreu nas outras duas áreas onde as diferenças
foram menores. Já na área PV, diferentemente das outras duas áreas houve predomínio
de granívoros (77 indivíduos).
Espécies endêmicas do Cerrado
Nós identificamos duas espécies que são endêmicas no Cerrado: o soldadinho,
Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) e o bico-de-pimenta, Saltator atricollis Vieillot,
1817, ambas na área MS. O soldadinho foi encontrado no interior da vereda, sendo visto
algumas vezes também no interior de uma mata adjacente a área MS, sozinho ou aos
casais. O bico-de-pimenta foi encontrado por sua vez no cerrado rupestre, na maioria
das vezes em grupos de três a cinco indivíduos deslocando-se pelo estrato arbustivo.
Numa campanha de reconhecimento, ao passarmos pela região de Barro Alto, nas
imediações do município de Niquelândia, visualizamos bandos de gralhas-do-campo,
Cyanocorax cristatellus (Temminck, 1823), outra espécie endêmica do Cerrado.
29
DISCUSSÃO
Riqueza de espécies levantamento qualitativo
As 156 espécies registradas correspondem a 18,76% de toda a avifauna do
Cerrado, que possui 837 espécies (SILVA 1995). Em razão do estudo qualitativo ter
incluído também as bordas e regiões de entorno, espécies de ambientes circundantes
(como, por exemplo, em uma lagoa formada na época das chuvas e num trecho de
cerrado sentido restrito) também foram registradas na área MB.
Em comparação com estudos recentes realizados no Cerrado (Tabela V), os
resultados obtidos na região de Niquelândia - GO podem ser considerados coerentes se
levarmos em conta a proporcionalidade de tempo entre os estudos. Fatores tais como
número de pesquisadores envolvidos nos levantamentos, eficácia na detecção de
espécies tanto visual quanto auditivamente e o esforço de amostragem em campo
(BIBBY et al. 1997), influenciam o resultado do levantamento qualitativo da avifauna.
Tabela V. Estudos comparativos de tempo de amostragem e total de espécies de aves registradas durante
levantamentos qualitativos realizados em seis estados brasileiros.
Autor Ambiente Localização
Tempo
(h)
Nº. de
espécies
BLAMIRES et al. (2002) Cerrado - GO 16º42’51”S; 49º00’07”W 120 124
CURSINO & FERABOLI (2005) Cerrado - MT 14º41’09”S; 52º20’09”W 192 175
STRAUBE et al. (2005) Cerrado - PR 24º10'00”S; 49º39'00”W 170 180
MONTEIRO & BRANDÃO (1995) Mata - GO 16º36’19”S; 49º15’77”W 192 96
RIBON et al. (2004) Zona da Mata - MG 21°30’39”S; 43°09’47”W 120 185
LYRA-NEVES et al. (2004) Mata Atlântica - PE 8º14’21”S; 35º03’04”W 337,5 220
POZZA & PIRES (2003) Mata - SP 22º05’02”S; 48º00’03”W 150 173
Apesar desta equivalência com outros estudos, as seis campanhas realizadas ao
longo do ano não foram suficientes para constatar forte tendência a estabilidade, o que
de certa forma já era esperado, pois mesmo levantamentos mais longos revelam este
mesmo padrão. Um número maior de campanhas favoreceria a detecção de espécies
raras, e mesmo com amostragens longas, novas espécies surgem em virtude da
constante detecção de espécies em campo, como afirmam WILLIS & ONIKI (1981).
30
Os resultados sobre a frequência de ocorrência máxima das espécies
corrobaboraram com os resultados encontrados por VIELLIARD & SILVA (1990) que
constataram que 10,0% da avifauna registrada no interior de São Paulo tiveram
freqüência de ocorrência máxima; LYRA-NEVES et al. (2004) encontraram 7,7% na Mata
Atlântica de Pernambuco e NETO et al. (1998) encontraram 11,0% em média para três
áreas de Mata em Minas Gerais. Embora os resultados obtidos em nosso estudo
corroborem com os dados obtidos pelos estudos citados acima, sugerindo um padrão de
aproximadamente 10,0% para espécies residentes que apresentaram abundância alta o
suficiente para serem constantemente encontradas (freqüência de ocorrência máxima),
fatores relacionados à amostragem empregada no levantamento qualitativo e as
características fitofisionômicas particulares de cada área estudada impossibilitam
determinar este padrão como atuante na estrutura da comunidade.
Segundo DEVELEY (2003) à medida que aumentamos o tamanho da amostragem,
aumentam as chances de encontrar espécies raras e também ocorre um aumento na
freqüência de ocorrência das espécies. Como exemplo em nosso estudo, o trinca-ferro-
verdadeiro, Saltator similis d'Orbigny & Lafresnaye, 1837, a pipira-preta, Tachyphonus
rufus (Boddaert, 1783), o suiriri, Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 e o tico-tico,
Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) tiveram freqüência de ocorrência máxima
em pelo menos duas áreas e 83,33% numa terceira área, indicando que também são
espécies frequentemente encontradas nas três localidades.
Abundância relativa das espécies levantamento quantitativo
A utilização de pontos fixos para a realização do levantamento quantitativo
modificou o número de espécies registradas para cada área. Como nosso estudo foi
conduzido basicamente no interior de cada fitofisionomia, com raras amostragens
próximas a borda, o número de espécies na área MB apresentou diferença no número de
espécies detectadas em relação aos resultados obtidos pelo levantamento qualitativo,
onde as bordas e adjacências foram exploradas, com vistas a detecção de mais espécies.
BAGNO & MARINHO-FILHO (2001) apresentaram resultados de riqueza similares aos
nossos, ao estudarem a avifauna do Distrito Federal. Eles registraram maior riqueza no
cerrado sentido restrito (327 espécies) seguido pela vereda (192 espécies) e pelo
cerradão (170 espécies), sugerindo que a baixa riqueza encontrada no cerradão poderia
31
estar associada à pequena representatividade desse ambiente, hoje reduzido a manchas
isoladas.
Com relação à abundância relativa das espécies, VIELLIARD & SILVA (1990)
afirmaram que a ordenação do IPA das espécies por ordem decrescente fornece uma
curva que permite ter uma melhor compreensão do perfil de uma comunidade. A
ordenação da abundância por espécie para as três áreas, além de ter revelado as relações
de dominância e equitabilidade, forneceu também dados comparativos para verificar a
estabilidade temporal da comunidade de aves no decorrer dos anos. Por meio de um
programa de monitoramento, novas amostragens da abundância poderão ser
correlacionadas com amostragens anteriores, detectando o efeito de eventuais mudanças
na estrutura da comunidade.
O número de detecções de espécies tende a aumentar com o aumento da
abundância média daquelas espécies na região (BRÄNDLE & BRANDL 2001) o que
também foi constatado por nosso estudo. A correlação entre a freqüência em que uma
espécie ocorre e sua abundância permitiu um melhor conhecimento dos seus níveis de
residência (Tabela V) além de fornecer subsídios provavelmente mais robustos para a
compreensão, em novos estudos comparativos nos próximos anos, da relação entre os
níveis de abundância e a persistência na comunidade. O fim-fim, Euphonia chlorotica
(Linnaeus, 1766) apresentou máxima freqüência e alta abundância nas três áreas. Isto se
deve, entre outros fatores, a distribuição diversificada desta espécie, habitando tanto as
matas ciliares quanto os cerrados e os cerradões (SICK 1997, ANTAS & CAVALCANTI
1988).
Num estudo realizado ao longo de vinte e um anos, MAGURRAN & HENDERSON
(2003) demonstraram que a abundância máxima (obtida para cada espécie no ano em
que ela foi mais abundante) é uma função do número de anos na qual elas foram
registradas. Portanto, a raridade ou não de uma espécie está diretamente relacionada ao
seu tempo de persistência na comunidade. Ao considerar-se, além disso, que a raridade
ou não das espécies é fortemente correlacionada com a disponibilidade de recursos
(WALKER 2006), compreende-se que a adaptação de algumas espécies na utilização dos
recursos disponíveis nas três áreas, ao longo do tempo, foi provavelmente um dos
fatores que permitiram a sua persistência na comunidade.
A maioria das espécies que apresentaram 100% de ocorrência e alta abundância
relativa (Tabela VI) numa determinada área não foram as mais freqüentes e abundantes
nas outras duas áreas, fato que pode estar relacionado à diferença que estas áreas
32
provavelmente possuem na disponibilidade de recursos, como por exemplo,
disponibilidade de alimento e abrigo para as espécies.
Tabela VI. Número de espécies com maior abundância e freqüência de ocorrência máxima, por área de
estudo. Reserva da Mineradora Anglo-American - CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 -
2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco.
IPA registrado por área
Espécie
MB PV MS
Basileuterus flaveolus (Baird, 1865) 0.63 - 0.27
Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) - 0.33 -
Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) - - 0.27
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) 0.33 0.47 0.43
Galbula ruficauda Cuvier, 1816 0.27 - -
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819), - - 0.33
Herpsilochmus atricapillus Pelzeln, 1868 0.70 - 0.40
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 - 0.47 -
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) - 0.43 -
Monasa nigrifrons (Spix, 1824) 0.47 - -
Saltator similis d'Orbigny & Lafresnaye, 1837 - 0.53 0.40
Thryothorus leucotis Lafresnaye, 1845 0.53 0.57 -
A hipótese da especialização ecológica estabelece que espécies que são hábeis
para explorar uma vasta gama de recursos teriam maior distribuição e maior abundância
local, enquanto espécies especializadas teriam distribuição restrita e baixa abundância
média (GASTON & LAWTON 1990, POMEROY & SSEKABIIRA 1990, HANSKI et al. 1993,
BRÄNDLE & BRANDL 2001). Como o recurso muitas vezes sofre influência da
sazonalidade, esta se torna um componente importante para a raridade ou não das
espécies num determinado período do ano. WALKER (2006), por exemplo, sugeriu que a
avifauna sofre flutuação de sua abundância em resposta a flutuação de disponibilidade
de recursos.
Os resultados obtidos de número de contatos/amostra durante o período de
estudo, concordaram com os dados obtidos na literatura (ANTAS & CAVALCANTI 1988,
SICK 1997), embora resultados mais precisos sejam conhecidos somente com estudos
conduzidos no decorrer dos anos.
A época reprodutiva das aves do Brasil ocorre entre setembro e janeiro (SICK
1997) e a riqueza de espécies tende a ser mais elevada nesta época (TUBELIS et al.
2004), provavelmente em virtude da maior disponibilidade de recursos. No Planalto
33
Central, a maior atividade das aves ocorre entre agosto e fevereiro, preponderantemente,
entre agosto e novembro, coincidindo com o período reprodutivo e com a passagem de
migrantes pela região. Quando começa a estação seca (abril/maio) a maioria dos
migrantes abandonou o Planalto Central e a atividade dos residentes torna-se mais baixa
(ANTAS & CAVALCANTI 1988).
Os resultados de nosso estudo, com níveis apenas moderados de similaridade
(Figura 5), refletem a heterogeneidade fitofisionômica de cada área. Entretanto, quando
comparadas as fitofisionomias, os resultados de similaridade obtidos entre diferentes
áreas na composição da avifauna obtidos por TUBELIS & CAVALCANTI (2001)
demonstraram maior similaridade entre formações savânicas e campestres. Já os estudos
de BAGNO & MARINHO-FILHO (2001), demonstraram menor relação de similaridade de
espécies entre ambientes florestais, e forte similaridade com ambientes de formação
savânica.
A avifauna da região de Niquelândia em relação ao Bioma Cerrado
As áreas MB, PV e MS não apresentaram diferença na proporção de espécies
detectadas Tyrannidae e Thraupidae, mas diferiram na proporção de indivíduos
detectados.
A proporcionalidade no número de espécies está relacionada, segundo SICK
(1997), ao fato de que a família Tyrannidae está entre as mais representativas no
Cerrado. A grande variedade de nichos ecológicos nos trópicos e a correspondente
fauna entomológica dão maiores vantagens a aves insetívoras, como Tyrannidae (SICK
1997). Além disso, esta família é a única que está presente em todos os estratos de mata,
aumentando sua representatividade próxima ao dossel e acima dele, onde os indivíduos
capturam insetos. Não obstante a abundância de indivíduos e o grande número de
espécies que os Thaupidae apresentam, estes não alcançam famílias insetívoras como
Tyrannidae (SICK 1997).
A representatividade obtida das famílias, em relação à sua ocorrência no
Cerrado, indicou a relação das espécies com cada área (Figura 6). Os resultados
indicaram a(s) área(s) que pode(m) ser considerada(s) para o trabalho com determinada
família, de acordo com seu grau de representatividade. No caso, por exemplo, dos
Picidae, os resultados indicaram que a área PV poderia ser escolhida prioritariamente
34
para desenvolver novos estudos envolvendo as espécies que compõe esta família, dado
seu grau de representatividade nesta área. MARINI & GARCIA (2005) demonstraram que
o número de espécies ameaçadas (48), associada à falta de informações sobre sua
ecologia, exige maior número de estudos, como é o caso da necessidade de melhor
compreensão da representatividade da avifauna, em escala local, em relação aos padrões
existentes no Cerrado.
Os resultados referentes à organização em guildas tróficas, obtidos por nosso
estudo, concordam com os obtidos por MOTTA-JUNIOR (1990), que também conduziu
seus estudos em três fitofisionomias diferentes (mata de galeria, cerrado sentido restrito
e eucaliptal) e encontrou iguais proporções de espécies (?
2
=2,4; gl=2; P>0,05) e
diferentes proporções de indivíduos (?
2
=22,2; gl=2; P<0,05) de insetívoros e onívoros
nas três áreas. Assim, a exemplo do ocorrido com as famílias, as áreas MB, PV e MS
não tiveram influência na proporção de espécies detectadas para cada nível trófico, mas
tiveram influência na proporção de indivíduos. MOTTA-JUNIOR (1990) e NETO et al.
(1998) afirmaram que, quanto maior a perturbação de uma área, maiores as chances de
aumentarem as proporções de aves onívoras em relação às insetívoras. Assim, a
equivalência no número de indivíduos insetívoros e onívoros na área PV é um
indicativo do estado perturbação da área, pela influência humana, quando das atividades
iniciais da mineradora.
Das trinta e seis espécies endêmicas do Cerrado, apenas seis foram estudadas no
campo por pelo menos um ano (MARINI & GARCIA 2005) e não dispomos de
informações precisas de como estas espécies estão distribuídas no Cerrado e a chave da
questão para a conservação é identificar subáreas de endemismo neste Bioma (SILVA &
BATES 2002).
O baixo nível de endemismo observado, somado ao fato de que o Cerrado é o
segundo Bioma com maior número de espécies endêmicas ameaçadas no Brasil
(MACHADO et al. 2004), exige medidas efetivas que promovam o estudo detalhado
destas espécies. Alguns estados brasileiros (das regiões Sul e Sudeste) compilaram, por
exemplo, listas vermelhas estaduais de espécies ameaçadas, as quais têm enorme valor
na divulgação da situação da fauna e flora de cada estado, influenciando e direcionando
as medidas de conservação (MARINI & GARCIA 2005). Os estados do Centro-Oeste
brasileiro não organizaram ainda suas listas e sem estas informações básicas sobre o
status de ameaça das espécies na região Central do Brasil, a real magnitude do impacto
promovido pela ação humana sobre a avifauna do Cerrado não será conhecida.
35
CONCLUSÕES
Os resultados que encontramos sobre a frequência de ocorrência máxima das
espécies, similares aos encontrados em outros estudos, sugerem um padrão de
aproximadamente 10,0% para espécies residentes, ou seja, que apresentaram
abundância alta o suficiente para serem constantemente encontradas. Entretanto,
fatores relacionados à amostragem empregada no levantamento qualitativo e as
características fitofisionômicas particulares impossibilitam determinar este
padrão como atuante na estrutura da comunidade.
A freqüência de ocorrência e a abundância relativa das espécies comuns às
metodologias de transectos e de pontos fixos foram correlacionadas nas áreas
PV e MS e MB, podendo-se afirmar que as espécies frequentemente encontradas
foram também as mais abundantes e as espécies menos freqüentes foram as
menos abundantes.
As famílias mais representativas foram Tyrannidae e Thraupidae e as categorias
tróficas mais representativas foram os insetívoros e onívoros. As áreas MB, PV
e MS não tiveram interferência na proporção de espécies detectadas das duas
famílias, mas interferiram na proporção de indivíduos, o mesmo ocorrendo em
relação à organização tróficas das espécies.
Nosso estudo identificou duas espécies que são endêmicas no Cerrado: o
soldadinho, Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) e o bico-de-pimenta,
Saltator atricollis Vieillot, 1817, ambas na área MS. O baixo nível de
endemismo verificado na área, somado ao fato de que o Cerrado é o segundo
Bioma com maior número de espécies endêmicas ameaçadas no Brasil, exige
medidas efetivas que promovam o estudo detalhado destas espécies.
36
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SPECIAL
40
Anexo 1 Modelo de planilha utilizada para o levantamento qualitativo da avifauna da região de
Niquelândia GO. 2005-2006.
41
Anexo 2 Modelo de planilha utilizada para o levantamento quantitativo da avifauna da região de
Niquelândia GO. 2005-2006.
42
CAPÍTULO 2
Análise do tempo de amostragem da avifauna, utilizando a
metodologia de pontos fixos, em três áreas de Cerrado na região de
Niquelândia - GO
Resumo. A padronização da metodologia é fundamental para o estabelecimento de
comparações, por meio de amostragens que represente ao máximo a riqueza e a
abundância da comunidade estudada. Os objetivos de nosso estudo foram: analisar o
efeito do horário de amostragem e do número de campanhas nas detecções das espécies;
estimar a riqueza acumulada por tempo de permanência no ponto e verificar o efeito das
relações entre número de pontos x tempo de permanência x tempo de deslocamento
entre pontos sobre a eficiência de detecções por hora de estudo. Os dados para a análise
foram coletados em três áreas de Cerrado no entorno da Mineradora Anglo-American -
CODEMIN, em Niquelândia - GO, durante seis campanhas em que foram amostrados
90 pontos fixos. Até o final da segunda campanha, as detecções para as áreas da Mata
da Barragem, Pedra Verde e Morro Seco ultrapassaram 50% do total, e os dois
primeiros pontos de amostragem acumularam, em média, por 70% do total de “novas”
detecções. Verificou-se que não houve diferença no número de detecções em 15 e 20
minutos, tanto na estimativa de riqueza de espécies quanto para a média de espécies
detectadas. A comparação da eficiência de detecções por hora está associada ao tempo
de deslocamento entre os pontos de amostragem. A maior eficiência foi observada na
relação de 7 pontos de 20 min, com deslocamentos de 15 min entre os pontos
(7x20x15). A escolha da melhor relação entre número de pontos x tempo de
permanência x tempo de deslocamento entre os pontos exige estudos comparativos em
diferentes fitofisionomias, visando a maior eficiência da metodologia.
Palavras chave: Avifauna, cerrado, metodologia.
43
Analysis of birds sampling time, using point counts methodology, in
three areas of Cerrado in Niquelândia, Goias state
Abstract. The standardization of the methodology is fundamental for the establishment
of comparisons among the studies conducted in different Biomas. However, each survey
should be driven considering the characteristics of each area, demanding
methodological adaptations. The aim of this survey were: to analyze the effect of both
sampling schedule and number of visits in species detections; to esteem the
accumulated richness for time of permanence in the point count and to verify the effect
of the relationships among point number x permanence time x non-counting time on the
efficiency of detections per hour of survey. The data for the analysis were collected in
three areas of Cerrado near Mineradora Anglo-American - CODEMIN, Niquelândia,
Goias state, during six visits in that were sampled 90 point counts. Until the end of the
second visit, the detections for the areas MB, PV and MS crossed 50%, and the first two
sampling point counts were responsible, on average, for 70% of the total of "new"
detections. It was verified no difference between 15 and 20 min counting time, neither
for the estimate of species richness nor for the average of detected species. The
comparison of the efficiency of detections per hour is associated at non-counting time
and to the vegetation type studied. The largest efficiency was observed in the
relationship of 7 point counts of 20 min, with displacements of 15 min among the points
(7x20x15). The choice of the best relationship among number of points counts x
permanence time x displacement time among the points, demands comparative surveys
in different Brazilian Biomas.
Key words: Avifauna, cerrado, methodology.
44
INTRODUÇÃO
Levantamentos quantitativos fornecem uma visão abrangente sobre a estrutura
de uma comunidade de organismos e a determinação de padrões de riqueza e abndância
depende, entre outros fatores, da coleta de informações quantitativas em campo (ANJOS
1996).
A grande mobilidade de muitas espécies, bem como as diferenças
interespecíficas, que influenciam na capacidade de detecção (ANJOS 1996), são fatores
que podem acarretar uma estimativa incorreta da riqueza de aves (NICHOLS et al. 1998).
Nas regiões tropicais tem sido utilizado, com sucesso, o método de amostragem
por pontos fixos, desenvolvido na França por BLONDEL et. al. (1970) e adaptado às
regiões Neotropicais por VIELLIARD & SILVA (1990). Por meio desse método, a
abundância das espécies em um determinado local pode ser estimada (ANJOS 2001).
O número de artigos publicados usando pontos fixos tem aumentado desde 1990
no Brasil, embora não se compare ao número de artigos publicados em regiões
temperadas. Há somente 16 artigos publicados no Brasil que usam esta metodologia,
principalmente, em São Paulo e no Paraná, embora existam outros resultados ainda não
publicados (ANJOS 2004). No método de pontos fixos o observador permanece parado
por um tempo pré-determinado anotando todas as aves registradas por observação ou
audição (VIELLIARD & SILVA 1990). O método pode ser utilizado para: medir, ano a
ano, a flutuação no número de espécies; detectar os efeitos das variações sazonais
incluindo efeitos catastróficos; medir tendências de longo prazo na comunidade de aves
e para descrever e analisar as flutuações e tendências populacionais em uma
determinada região ou habitat (BIBBY et al. 1997).
O número total de pontos é variável, sendo importante que estes pontos estejam
distribuídos em toda a área de estudo, para que a amostragem represente adequadamente
a heterogeneidade de habitats de um determinado local.
A padronização da metodologia é fundamental para o estabelecimento de
comparações, por meio de amostragens que represente ao máximo a riqueza e a
abundância da comunidade estudada. O tempo de amostragem utilizado no método de
pontos fixos, por exemplo, varia entre as regiões temperadas e tropicais. De acordo com
BIBBY et al. (1997), estudos de contagem por pontos fixos têm usado durações que
variam entre 2 e 20 min. Na maioria dos trabalhos realizados em regiões temperadas, o
45
pesquisador permanece entre 5 e 10 min em cada ponto (DEVELEY 2003), onde os
registros são acumulados rapidamente (BIBBY et al. 1997). No Brasil, a maioria dos
trabalhos utiliza 20 min de amostragem, conforme a metodologia proposta por
VIELLIARD & SILVA (1990), adaptada a partir de BLONDEL et. al. (1970), devido a maior
riqueza da avifauna em regiões tropicais. Entretanto, alguns autores recentemente
optaram por uma adaptação da metodologia em estudos realizados no Brasil,
permanecendo por 15 min (POZZA & PIRES 2003) ou por 10 min (MARSDEN et al. 2003,
SANTOS 2004) em cada ponto. Quanto maior o tempo de observação em um dado ponto,
maiores as chances de detecção de espécies mais raras, embora seja também maiores as
chances de contar o mesmo indivíduo mais de uma vez (BIBBY et al. 1997, DEVELEY
2003).
Além do tempo de observação, o tempo utilizado para o deslocamento entre os
pontos influencia no número de detecções que podem ser efetuadas por hora de estudo e
a aplicação de comparações metodológicas, de maneira simultânea, para a comparação
posterior dos resultados (ANJOS 1996) fornece informações sobre vantagens e
desvantagens de cada uma delas na obtenção de uma melhor estimativa da riqueza e da
abundância da avifauna.
Os objetivos de nosso estudo foram: analisar o efeito do horário de amostragem
e do número de campanhas nas detecções das espécies; avaliar o efeito do tempo de
permanência no ponto e verificar sua relação com o número de pontos amostrados e o
tempo de deslocamento entre pontos, na eficiência de detecções por hora de estudo.
46
METODOLOGIA
Foram realizadas seis campanhas nas três áreas, uma por bimestre, com duração
de três dias cada (um dia para cada área). As campanhas foram realizadas entre os
meses de outubro 2005 e agosto de 2006, com um total de dois observadores.
Foi utilizada a metodologia de pontos fixos segundo BLONDEL et. al. (1970) e
adaptada por VIELLIARD & SILVA (1990). Em cada área foram estabelecidos 20 pontos
de observação, com distância mínima de 200 m entre eles, sendo amostrados 5 pontos
após sorteio prévio, entre 6h:00min e 8h:40min, período em que observa-se maior
atividade da avifauna (ANTAS E CAVALCANTI 1988). No total, foram amostrados 30
pontos em cada áreas, totalizando 90 pontos amostrados em todo o estudo, com a
utilização de dois observadores. O tempo de amostragem em cada ponto foi de 20
minutos e foram consideradas e anotadas todas as detecções visuais e auditivas com
distância ilimitada, que permitiu calcular o IPA (Índice Pontual de Abundância) para
cada espécie.
O registro foi dividido em intervalos de 5 min: = 5 min; > 5 e = 10 min; > 10 e =
15 min e > 15 e = 20 min (Anexo 1). Com o auxílio de um cronômetro, foram
registradas as espécies e o número de indivíduos detectados por espécie.
Foi utilizado o número acumulado de “novas” espécies para verificar os efeitos
do número de campanhas e de pontos amostrados, além de serem utilizados na
estimativa de riqueza acumulada por tempo de amostragem nos pontos.
Análises
Foi utilizada uma análise de regressão linear para verificar o efeito das horas da
manhã (pontos fixos) sobre o número de espécies e indivíduos registrados.
Os dados de acumulação de espécies por campanha, por pontos fixos e por
tempo de amostragem em cada ponto correspondem a 100 permutações geradas pelo
software EstimateSwin7.50 (COLWELL 2005).
Para obter a eficiência de detecção de indivíduos e espécies por hora de estudo
foi utilizada técnica de análise das diferentes combinações de tempos de amostragem e
de deslocamento entre os pontos, conforme proposto por VERNER (1988):
47
E = (NP)
Onde:
E = Eficiência (detecções/hora).
P = Tempo de amostragem no ponto fixo.
D = Tempo de deslocamento entre os pontos.
NP = Número médio de detecções obtidas em P.
A detecção de aves por hora foi utilizada porque ela incorpora tanto o tempo de
contagem quanto o deslocamento. Maximizando o número de registros por hora, a
probabilidade de detectar as espécies e indivíduos é maximizada, resultando numa
melhor estimativa da abundância relativa e aumento do poder estatístico (THOMPSON
1995). Os dados para análise da eficiência foram baseados na média de espécies e
indivíduos detectados nos pontos de amostragem. A estimativa de eficiência considerou
quatro diferentes tempos de deslocamento entre os pontos (5, 10, 15 e 20 min) e
permitiu analisar a influência do deslocamento no número final de detecções realizadas
nos pontos fixos.
O intervalo de confiança (IC
95%
) para as diferentes eficiências de detecção foi
obtido com base no erro padrão da média obtida para as espécies detectadas em cada
tempo de permanência nos pontos:
IC
95%
= [m - (t x EPM)] a [m + (t x EPM)]
Onde:
IC
95%
= Intervalo de confiança
m = dia das espécies por tempo de amostragem
t = valor da estatística t (student)
EPM = Erro padrão da média
A freqüência de ocorrência das espécies foi calculada dividindo-se o número de
amostras em que a espécie ocorreu, em cada intervalo de tempo, pelo número total de
amostras realizadas pelo estudo (90 amostras).
60
P + D
48
RESULTADOS
Ao final de nosso estudo na região de Niquelândia, foram obtidas 90 amostras
de 20 min no levantamento quantitativo, onde foi registrado um total de 106 espécies,
sendo 59 espécies para a área MB, 80 espécies para a área PV e 73 espécies para a área
MS.
Do total de 850 detecções efetuadas nas 90 amostras, 42,5% (361) foram
efetuadas no intervalo de 0 a 5 min, 22,4% (190) no intervalo de 6 a 10 min, 16,9%
(144) no intervalo de 11 a 15 min e 18,2% (155) no intervalo de 16 a 20 min (anexo 1).
Efeito do horário de amostragem
Nos cinco pontos aleatórios de amostragem visitados no período da manhã, foi
observada a dinâmica temporal da avifauna, com maior número médio de espécies
(11,3) e indivíduos (17,6) na primeira amostragem, realizada sempre por volta das
6h:00min da manhã, e menor número médio de espécies (7,7) e indivíduos (11,9), por
volta das 8h:40min.
A progressão das horas da manhã influenciou fortemente o número de espécies
detectadas, com F(4gl)=115,26; P<0.01 e R
2
=0,97, mas não influenciou o número de
indivíduos detectados, com F(4gl)=6,54; P>0.05 e R
2
= 0,6858 (Figura 1). A razão
entre o número de indivíduos por espécie se manteve sempre muito próximo à média de
1,4 indivíduos/espécie, embora as linhas indiquem uma tendência a diminuição da
relação de indivíduos por espécies com o passar do tempo.
y = -0.9611x + 12.172
R
2
= 0.9746
y = -1.3222x + 17.378
R
2
= 0.6858
0
5
10
15
20
6h00 6h40 7h20 8h00 8h40
hora da manhã
Espécies e indivíduos
riqueza abundância
Figura 1. Média do número de espécies e indivíduos de aves, nos cinco pontos fixos amostrados durante
a manhã. Levantamento quantitativo realizado em três áreas de Cerrado na região de
Niquelândia - GO. 2005 2006
49
Efeito do número de campanhas
Com os dados obtidos durante as seis campanhas, foi possível obter a curva
cumulativa de espécies detectadas nas três áreas. Seis coletas não foram suficientes para
atingir a estabilidade das curvas (Figuras 2a e 2b). O padrão de desenvolvimento da
curva de acumulação de espécies para as áreas e para o estudo geral foi equivalente, não
havendo fortes alterações nas tendências de diminuição do número de “novas” espécies,
no decorrer das campanhas.
Figura 2. Número acumulado de espécies, com 100 permutações geradas pelo programa EstimateS
win7.50 (COLWELL 2005), para três áreas de Cerrado, na região de Niquelândia - GO. 2005 -
2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco (G) Geral.
Efeito do número total de pontos amostrados por área
O sorteio de cinco pontos de amostragem durante a manhã (entre os vinte
possíveis) forneceu, ao final de seis campanhas, informações sobre o percentual de
novas espécies acumuladas em cada um dos pontos (Figura 3).
No primeiro ponto ocorreram 41,9% das detecções de espécies na área MB, e as
áreas PV e MS apresentaram praticamente igual número de detecções (50,8% e 50,2%,
respectivamente). No segundo ponto, foram detectadas 64,0% das espécies na área MB,
70,7% das espécies na área PV e 72,6% das espécies na área MS. Posteriormente, o
percentual de espécies detectadas diminuiu até chegar ao quinto ponto, não havendo
estabilidade da curva de acumulação de espécies para as três áreas em separado (Figuras
3a). A curva cumulativa geral apresentou, igualmente, alto percentual de espécies
25
50
75
100
1 2 3 4 5 6
Número de campanhas
Espécies acumuladas (%)
MB (n=59)
PV (n=80)
MS (n=73)
G (n=106)
25
50
75
100
1 2 3 4 5 6
Número de campanhas
Espécies acumuladas (%)
a
b
50
detectadas no primeiro (62,5%) e no segundo ponto (79,9%), não apresentando
estabilidade ao final do quinto ponto, a exemplo do ocorrido com a curva gerada após
seis campanhas (Figura 3b).
Figura 3. Número acumulado de espécies, por pontos fixos, com 100 permutações geradas pelo programa
EstimateS win7.50 (COLWELL 2005), para três áreas de Cerrado, na região de Niquelândia -
GO. 2005 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde; (MS) Morro Seco (G) Geral.
Portanto, para novos estudos a serem realizados na região, um maior número de
pontos e campanhas é necessário para se abranger uma parcela mais significativa da
comunidade de aves, levando-se em consideração que um estudo conduzido na mesma
região, utilizando o método de transectos, conseguiu detectar 156 espécies, com
equivalente número de horas de esforço de amostragem, gerando uma estabilidade bem
maior a curva de acumulação de espécies.
Estimativa da riqueza acumulada por tempo de amostragem no ponto
O número de detecções de “novas” espécies, acumuladas após 30 pontos de
amostragem, forneceu a estimativa de riqueza geral e de cada uma das áreas, nos quatro
tempos de amostragem. Não houve diferença significativa entre as “novas” espécies
detectadas com 15 e 20 min em cada uma das três áreas e no estudo geral (Figura 4). No
estudo geral (Figura 4a), ao final de 30 pontos, o tempo de amostragem de 15 min
acumulou 99 “novas” espécies (IC
95%
=93-105) e o tempo de 20 min de amostragem foi
responsável por 106 espécies acumuladas (IC
95%
=100-112), não havendo diferença
significativa entre os dois tempos.
25
50
75
100
1 2 3 4 5
Pontos fixos
Espécies acumuladas (%)
MB (n=59)
PV (n=80)
MS (n=73)
G (n=106)
25
50
75
100
1 2 3 4 5
Pontos fixos
Espécies acumuladas (%)
a b
51
As diferenças entre os tempos de amostragem de 15 e 20 min nos pontos fixos,
em termos de número de espécies, foram iguais a 6, 3 e 8, para as áreas MB (54-60) ,
PV (77-80) e MS (65-73), respectivamente, não havendo diferença significativa entre os
dois tempos (Figura 4b e Tabela I).
Figura 4. Número acumulado de espécies, por tempo de amostragem nos pontos fixos, para três áreas de
Cerrado, na região de Niquelândia - GO. 2005 2006. Os dados correspondem a 30 pontos
amostrados em cada área, com 100 permutações geradas pelo software EstimateSwin7.50
(COLWELL 2005). (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco; (G) Geral.
Os resultados sugerem que o pesquisador que opta por permanecer 15 min em
cada ponto obterá, ao final de 30 amostras, um número estatisticamente equivalente de
“novas” espécies que o obtido pelo pesquisador que opta por permanecer 20 min em
cada ponto.
Tabela I. Estimativa da riqueza de espécies, considerando 15 e 20 min de amostragem por ponto fixo,
com os respectivos intervalos de confiança, em três áreas de Cerrado, Niquelândia GO, 2005
- 2006. Os dados correspondem a 30 pontos amostrados em cada área, com 100 permutações
geradas pelo software EstimateSwin7.50 (COLWELL 2005). (MB) Mata da Barragem; (PV)
Pedra Verde e (MS) Morro Seco.
Área e tempo de amostragem (min) Número de espécies IC
95%
MB15 54 44 - 64
MB20
60
51
-
69
PV1
5
77
67
-
87
PV20
80
73
-
87
MS15
65
59
-
71
MS20
73
67
-
79
55
75
95
115
5 10 15 20
Tempo de amostragem (min)
15
35
55
75
95
MB05
MB10
MB15
MB20
PV05
PV10
PV15
PV20
MS05
MS10
MS15
MS20
Tempo de amostragem (min)
G
a
b
52
Eficiência de detecções nos pontos fixos
Em nosso estudo, a média de tempo gasto em deslocamento de um ponto
aleatório até outro (com aproximadamente 200 metros de distância entre os pontos) foi
de 14,3 min (s = 6,545) para a área MB, de 15,2 min (s = 8,608) para a área PV e de
16,2 (s =9,066) para a área MS.
O tempo de deslocamento, associado ao tempo de amostragem acumulado e à
média de espécies (independente de serem “novas” ou não para nosso estudo) e
indivíduos detectados, permitiu estimar a eficiência de detecções das três áreas, por hora
de estudo, baseada no tempo aproximado de deslocamento de 15 min (Figura 5).
Figura 5. Número estimado de detecções, por hora, de espécies (a) e indivíduos (b) com o aumento do
tempo de amostragem de 5 a 20 min, em três áreas de Cerrado, durante o levantamento
quantitativo na região de Niquelândia - GO. 2005 2006. O intervalo de confiança (IC
95%
) foi
obtido com base no erro padrão da média de espécies e indivíduos) . O tempo de deslocamento
foi, em média, de 14,3 min na área MB (Mata da Barragem); 15,2 min na área PV (Pedra
Verde) e 16,2 min na área MS (Morro Seco).
Os resultados indicaram igualdade entre os tempos de amostragem de 15 e 20
min na detecção de espécies e indivíduos (Tabela II) nas três áreas. No caso dos
indivíduos, a igualdade verificou-se já com 10 min de amostragem para as três áreas.
Com as médias de detecções obtidas nas três áreas para os quatro diferentes
tempos de amostragem, obteve-se a estimativa da eficiência de detecção de espécies e
indivíduos (Figura 6) considerando teoricamente diferentes tempos de deslocamento
entre os pontos (5, 10, 15 e 20 min). Os resultados indicaram que as detecções, por hora,
são bem maiores com tempos de deslocamento e de amostragem menores.
10
13
16
19
22
25
28
31
MB05
MB10
MB15
MB20
PV05
PV10
PV15
PV20
MS05
MS10
MS15
MS20
Tempo de amostragem (min)
Indivíduos detectados por hora
7
9
11
13
15
17
19
21
MB05
MB10
MB15
MB20
PV05
PV10
PV15
PV20
MS05
MS10
MS15
MS20
Tempo de amostragem (min)
Espécies detectadas por hora
a
b
53
O tempo de deslocamento afetou fortemente o número de detecções que podem
ser efetuadas por hora de amostragem.
Tabela II. Eficiência de detecções de indivíduos e espécies, por hora de estudo, considerando 15 e 20
min de amostragem por ponto fixo, com os respectivos intervalos de confiança, em três áreas
de Cerrado, Niquelândia GO, 2005 - 2006. Os dados correspondem a 30 pontos amostrados
em cada área, com 100 permutações geradas pelo software EstimateSwin7.50 (COLWELL 2005).
(MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro Seco.
Área e tempo de amostragem (min)
Número de espécies (IC
95%
) Número de indivíduos (IC
95%
)
MB15 13,2 (12,3 - 14,1) 18,9 (17,4 - 20,4)
MB20
13,
1 (12,2
-
14,0)
18,6 (17,1
-
20,1)
PV15
17,5 (16,5
-
18,5)
23,9 (21,7
-
26,1)
PV20
18,9 (17,6
-
20,2)
25,5 (23
-
28,0)
MS15
14,5 (13,6
-
15,4)
22,9 (21,2
-
24,6)
MS20
15,4 (14,2
-
16,6)
24,2 (22,0
-
26,4)
Em todas as áreas, por exemplo, a amostragem no ponto fixo por 5 min
apresentou grande eficiência de detecções por hora para deslocamentos de 5 min, mas
teve menor eficiência para deslocamentos de 20 min. De maneira geral, as diferenças
nas detecções de espécies e indivíduos tenderam a diminuir conforme o aumento do
tempo de amostragem no ponto. A maior eficiência na detecção de espécies foi
verificada, por exemplo, na amostragem de 10 min em cada ponto, com deslocamentos
de 5 min e houve notável equivalência na eficiência de detecções de espécies e de
indivíduos, no geral para 10, 15 e 20 min de amostragem, ao considerarmos 10 min de
deslocamento entre os pontos (Figura 6).
Na área MB, constatou-se uma equivalência na eficiência de detecções de
espécies e indivíduos, por hora, entre 10, 15 e 20 min de amostragem, para
deslocamentos entre os pontos fixos também realizados em 10, 15 e 20 min (Figuras 6a
e 6b). Para 20 min de deslocamento entre os pontos, por exemplo, a eficiência na
detecção de espécies foi de 10,2 (IC
95%
=9,4-11,0) em 10 min de amostragem; de 11,0
(IC
95%
=10,1-11,9) em 15 min e de 11,2 (IC
95%
=10,3-12,1) em 20 min de amostragem.
para deslocamentos de 5 min entre os pontos, houve diferença na eficiência de detecção
das espécies entre 15 min (19,4; IC
95%
=18,5-20,3) e 20 min (17,9; C
95%
=17,0-18,8) de
amostragem.
As áreas PV e MS responderam de maneira diferente da área MB à variação nos
tempos de deslocamento, com a tendência de diferença nas detecções de espécies e
54
indivíduos entre 15 e 20 min de amostragem nos pontos, para deslocamentos maiores, e
tendência a equivalência na eficiência de detecções para tempos menores de
deslocamento entre os pontos (Figuras 6c a 6f).
5
10
15
20
25
30
05 10 15 20
Tempo de amostragem (min)
Espécies detectadas/hora
5
10
15
20
25
30
05 10 15 20
Tempo de amostragem (min)
Espécies detectadas/hora
0
5
10
15
20
25
05 10 15 20
Tempo de amostragem (min)
Espécies detectadas/hora
5
10
15
20
25
30
35
05 10 15 20
Tempo de amostragem (min)
Indivíduos detectados/hora
5
15
25
35
45
05 10 15 20
Tempo de amostragem (min)
Indivíduos detectados/hora
5
15
25
35
45
05 10 15 20
Tempo de amostragem (min)
Indivíduos detectados/hora
MB
MB
MS
MS
a
b
c
d
e
f
Tempo de
deslocamento
05
10
15
20
Tempo de
deslocamento
05
10
15
20
Tempo de
deslocamento
05
10
15
20
Tempo de
deslocamento
05
10
15
20
Tempo de
deslocamento
05
10
15
20
Tempo de
deslocamento
05
10
15
20
55
Figura 6. Eficiência esperada na detecção de espécies e indivíduos, por hora, em três áreas de Cerrado.
Niquelândia - GO. 2005 - 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro
Seco. O intervalo de confiança (IC
95%
) foi obtido com base no erro padrão da média de
espécies e indivíduos.
Na área PV, por exemplo, houve uma pequena diferença na detecção de espécies
entre os tempos de amostragem de 15 (15,0; IC
95%
=14,0-16,0) e 20 min (16,6;
IC
95%
=15,3-17,9), e equivalência, considerando 5 min de deslocamento, para 15 min
(26,4; IC
95%
=25,4-27,4) e para 20 min (26,5; IC
95%
=25,2-27,8) de amostragem.
A eficiência estimada das detecções de espécies em diferentes relações entre
número de pontos fixos x tempo de amostragem x tempo de deslocamento (Tabela III)
considerou a média de 227 min (relativos ao estudo conduzido nas primeiras horas da
manhã) e verificou a equivalência entre diferentes combinações de cada uma das três
variáveis.
Entre os oito exemplos, maior eficiência foi observada na relação de 7 pontos de
20 min com deslocamento entre pontos de 15 min (7x20x15), embora tenha havido uma
proximidade de detecções para a relação de 8 pontos de 15 min, com deslocamentos de
15 min (8x15x15). A mesma proximidade na eficiência de detecções foi observada entre
as relações 6x20x20 e 7x15x20.
Considerando as diferenças de tempo gasto no deslocamento nas áreas MB e PV
e MS, houve também um número mais aproximado nas detecções de espécies entre as
relações 12x5x15 e 8x10x20.
Tabela III. Eficiência estimada na detecção de espécies para tempos de deslocamento de 20 min e 15
min, considerando um estudo hipotético de, em média, 227 min em três áreas de Cerrado,
Niquelândia GO, 2005 - 2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Verde e (MS) Morro
Seco.
Tempo de deslocamento entre os pontos
20 min 15 min
Área
6 x 20 (*) 7 x 15 8x 10 10x 5 7 x 20 8 x 15 10 x 10 12 x 5
MB 41,0 41,5 37,4 31,5 49,0 48,5 47,9 38,6
PV 60,8 56,5 51,3 41,0 72,7 66,0 65,8 50,2
MS 51,3 48,4 43,7 36,1 61,3 56,5 56,0 44,2
EA(**) 220 225 220 230 230 225 235 225
(*) Número de pontos amostrados x tempo de amostragem; (**) Tempo total de esforço de amostragem, em min.
O tempo de amostragem nos pontos fixos mostrou-se determinante também para
a detecção das espécies de acordo com seu grau de conspicuidade. As espécies com
baixa freqüência de ocorrência nas áreas (até 5%) foram mais detectadas com 11 a 15
min (63 espécies) e 16 a 20 min de amostragem (68 espécies), enquanto que as espécies
com alta freqüência de ocorrência (11 a 15% e 16 a 25%) foram detectadas nos
56
primeiros 5 min de amostragem (8 espécies). Assim, espécies com maior facilidade de
detecção foram registradas nos primeiros minutos de amostragem, enquanto que
espécies mais difíceis de serem ouvidas e/ou visualizadas só foram registradas com
tempos maiores de amostragem (Anexo 2 e Tabela IV).
Tabela IV. Frequência de ocorrência das espécies em cada tempo de amostragem, durante o
levantamento quantitativo em três áreas de Cerrado na reserva da Mineradora Anglo-
American-CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006.
Classes de Frequência de Ocorrência (%)
Tempo de amostragem (min)
= 5% > 5% e = 10% > 10 e = 15% > 15 e = 25%
0 a 5 55 13 6 2
6 a 10 60 6 2 0
11 a 15 63 3 0 0
16 a 20 68 2 0 0
O canário-do-mato, Basileuterus flaveolus (Baird, 1865), apresentou maior
frequência de ocorrência nos primeiros 5 min de amostragem, sendo um exemplo de
espécie frequentemente encontrada neste tempo de amostragem, enquanto que o
caneleiro, Casiornis rufus (Vieillot, 1816), apresentou maior ocorrência em tempos
maiores de amostragem (Tabela V), sendo exemplo de espécie com maior dificuldade
de detecção em campo.
Tabela V. Exemplo de ocorrência das espécies em cada um dos intervalos de amostragem, durante o
levantamento quantitativo, em três áreas de Cerrado na reserva da Mineradora Anglo-
American -CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. (FO) Freqüência de ocorrência.
Intervalo de tempo (min)
= 5 > 5 e = 10 > 10 e = 15 > 15 e = 20
Nome do Táxon Nome em Português
FO (%) FO (%) FO (%) FO (%)
Maior ocorrência nos 5 min iniciais
Basileuterus flaveolus (Baird, 1865) canário-do-mato
22.2 6.7 4.4 4.4
Saltator similis d'Orbigny & Lafresnaye, 1837 trinca-ferro-verdadeiro
17.8 7.8 3.3 5.6
Turdus leucomelas Vieillot, 1818 sabiá-barranco
14.4 5.6 5.6 2.2
Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) juriti-gemedeira
7.8 1.1 1.1 1.1
Galbula ruficauda Cuvier, 1816
ariramba-de-cauda-
ruiva
6.7 2.2 2.2 -
Número equivalente de ocorrêencia
Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaçu-cinzento
4.4 4.4 4.4 3.3
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) graúna
3.3 4.4 4.4 2.2
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari
4.4 2.2 5.6 2.2
Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) pula-pula
3.3 2.2 2.2 5.6
Ramphastos toco Statius Muller, 1776 tucanuçu
1.1 2.2 2.2 2.2
Maior ocorrência acima de 10 min
Casiornis rufus (Vieillot, 1816) caneleiro
- 1.1 3.3 -
Arremon taciturnus (Hermann, 1783) tico-tico-de-bico-preto
- 1.1 - 2.2
57
Thamnophilus torquatus Swainson, 1825 choca-de-asa-vermelha
- - 1.1 1.1
Carduelis magellanica (Vieillot, 1805) pintassilgo
- - - 1.1
Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) pica-pau-verde-barrado
- - - 1.1
DISCUSSÃO
Efeito do horário de amostragem, do número de campanhas e do
número de pontos amostrados por área
A maior atividade das espécies e indivíduos, apesar de variar muito, ocorre
principalmente entre o nascer do sol e o meio da manhã. Em dias com elevada
temperatura, há uma clara redução da atividade (ANTAS & CAVALCANTI 1988). LYNCH
(1995) e BUSKIRK & MCDONALD (1995) encontraram resultados similares, que
indicaram que, para a maioria dos casos, as três primeiras horas da manhã são mais
indicadas para trabalhar com a metodologia de pontos fixos.
Em nosso estudo, geralmente conduzido até 8h:40min, a relação negativa entre
as horas da manhã e o número de espécies confirmou o efeito do horário nas detecções
efetuadas nos pontos amostrados. Estes dados justificam a casualização dos pontos
fixos, para que todos tenham a mesma chance de ser sorteados nas horas de maior
atividade, minimizando ao máximo possíveis tendências relacionadas com a hora da
amostragem.
Os resultados indicaram que, além das seis campanhas realizadas, novas
campanhas seriam necessárias para detectar mais espécies até obter-se maior
estabilidade da curva acumulativa. Entretanto, ao verificar outros estudos conduzidos
em região de cerrado envolvendo a metodologia de pontos fixos, constatou-se que,
mesmo com esforços amostrais diferentes, com maior número de pontos fixos e de
campanhas, o número de espécies não apresentou grande variação, com média de 108
espécies (Tabela VI).
Tabela VI. Estudos comparativos de amostragens realizadas em área de Cerrado, durante levantamentos
quantitativos conduzidos em diferentes estados brasileiros. (NC-T) Número de campanhas
tempo; (A) Número de amostras; (C) Número de contatos e (E) Número de espécies.
Estudo Estado
Localização NC - T A C E
NOSSO ESTUDO GO
14º09’34”S; 48º20’06”W
06 - 01 ano 90 850 106
VIELLIARD & SILVA (1990) SP
22º48’00”S; 48º55’ 00”W
22 - 03 anos 110 2194 111
TUBELIS & CAVALCANTI (2001) DF
15º55’00”S; 47º52’00”W
10 - 10 meses 238 5755 110
CURSINO & FERABOLI (2005) MT
14º41’09”S; 52º20’09”W
06 - 06 meses 90 929 105
58
Até o final da segunda campanha, as detecções para as áreas MB, PV e MS
ultrapassaram 50%, chegando a 71,3% no estudo geral, entretanto, em regiões
temperadas, PETIT et al. (1995) detectaram até 90% das espécies em somente duas
campanhas, evidenciando a diferença na diversidade encontrada nas regiões tropicais.
Os dois primeiros pontos foram responsáveis, em média, por 70% das novas
detecções e este percentual foi maior considerando as áreas em conjunto (79,9%),
confirmando que o maior número de detecções realizadas no início da manhã favorece
também a detecção de “novas” espécies.
Muitos autores (VERNER & RITTER 1988; PETIT et al. 1995; HUTTO et al.1995;
PENDLETON 1995) discutiram a relação entre a detectabilidade da avifauna e a estrutura
da vegetação, evidenciando que em ambientes florestais a detectabilidade torna-se mais
difícil, sendo importante a acuidade auditiva e o registro sonoro das vocalizações da
avifauna.
Estimativa da riqueza acumulada por tempo de amostragem no ponto
O registro acumulado de espécies por tempo de amostragem no ponto (Figura 4)
indicou, ao final do estudo, que 15 min de amostragem são suficientes para detectar um
número equivalente de espécies que são detectadas ao final de 20 min. Esta equivalência
revelou-se maior na área PV. Como a estimativa de riqueza das espécies em 10 min
também foi equivalente estimativa de riqueza em 15 e 20 min de amostragem nas áreas
MB e PV (Figura 4), novos estudos com aumento no número de campanhas ou de
pontos amostrados poderão indicar se 10 min de amostragem já seriam suficientes para
identificar o mesmo número de espécies que identificamos em 20 min nas três áreas.
Estudos conduzidos em regiões temperadas (THOMPSON 1995, KELLER 1995,
LYNCH 1995) verificaram que os primeiros 3 a 5 minutos de amostragem resultaram
num grande número detecções (50% e 60% do total). A taxa de detecção de novas
espécies, em nosso estudo foi de 0,79 espécies/min, para o intervalo de 0 a 5 min. O
primeiro intervalo teve, por exemplo, mais que o dobro de detecções que o intervalo de
16 a 20 min (0,34 espécies/min). No caso de indivíduos detectados, a taxa foi de 1,2
indivíduos/min para o intervalo de 1 a 5 min, praticamente o mesmo que a soma dos
59
demais intervalos, que foi de 1,5 indivíduos/min, e 2,5 vezes maior que último intervalo
(16 a 20 min) isoladamente, que teve taxa de detecção de 0,5 indivíduos/min.
Eficiência de detecções nos pontos fixos
O tempo de deslocamento entre os pontos variou, devido a fatores como a
observação ocasional de espécies entre um ponto e outro (fora da metodologia de pontos
fixos) e as características geográficas de cada área. A estimativa, obtida com base no
tempo médio de 15 min de deslocamento, permitiu confirmar uma equivalência na
eficiência de detecções de espécies e de indivíduos, para a área MB, a partir dos 10 min
de amostragem. Nas demais áreas houve uma tendência ao aumento da eficiência nos
decorrer dos quatro tempos de amostragem nos pontos, embora tenha havido
equivalência entre 15 e 20 min de amostragem tanto para detecções de espécies quanto
de indivíduos (Figura 5).
O tempo para percorrer a distância entre os pontos fixos afetou fortemente o
mero de contagens que podem ser feitas por hora (WELSH 1995) e foi importante para
estimar a eficiência de detecção de espécies e indivíduos para as três áreas. Ao associar
a variação nos tempos de amostragem com a hipotética variação nos tempos de
deslocamento entre os pontos (5, 10, 15 e 20 min de deslocamento) obteve-se o efeito
direto do tempo entre os pontos no resultado final da eficiência na detecção das espécies
e dos indivíduos (Figura 6).
Os resultados indicaram que a maior eficiência na detecção de espécies e
indivíduos ocorre com baixos tempos de amostragem nos pontos e baixos tempos de
deslocamento entre eles. Se fosse diminuído cada vez mais o tempo de amostragem e o
deslocamento entre os pontos, haveria tendência de aproximação das características
próprias da metodologia de transectos, onde o pesquisador caminha por uma
determinada trilha registrando as espécies detectadas. O menor tempo de amostragem
num ponto fixo tem a vantagem de diminuir o risco de um possível registro repetido de
espécies que se locomovem pela área (DEVELEY 2003), mas aumentam também as
detecções de espécies mais comuns e diminuem as detecções de espécies raras.
THOMPSON (1995), KELLER (1995) e LYNCH (1995) indicaram que o tempo de
amostragem no ponto de contagem influencia a detecção de algumas espécies mais que
outras. Espécies raras ou crípticas são menos detectáveis em contagens curtas (Tabela
60
IV). Assim, essas espécies requerem um método particular de pesquisa. Aves pouco
conspícuas, em razão de sua distância em relação ao ponto ou de sua baixa freqüência
de vocalização, podem ser mais facilmente detectadas com maiores períodos de tempo
no ponto fixo (DAWSON et al. 1995).
Portanto, deve-se buscar um equilíbrio na escolha do tempo de amostragem e
deslocamento de modo a aumentar as chances de encontrar espécies raras e, ao mesmo
tempo, maximizar o número de detecções como um todo.
Os trabalhos envolvendo levantamentos da avifauna conduzidos no Brasil
adotam, geralmente, o tempo de 20 min de amostragem por ponto fixo. Ao comparar as
detecções de 20 min com as de 15 min verificou-se que, à medida que se diminui o
tempo de deslocamento entre os pontos nas áreas PV e MS (Figuras 6c a 6f), maior o
número de espécies e indivíduos detectados, por hora, nos esforços de 15 e 20 min de
amostragem e maior a igualdade no número de detecções entre estes dois tempos de
amostragem. Por outro lado, quanto maior o tempo de deslocamento, menos indivíduos
e espécies são detectados, aumentando também a diferença entre os esforços de 15 e 20
min.
No caso da área MB (Figuras 6a e 6b) a relação é inversa, com maior diferença
de detecções entre 15 e 20 min de amostragem à medida que diminuímos o tempo de
deslocamento, minimizando o número de detecções com o aumento do tempo de
deslocamento entre os pontos. Esse padrão na área MB justifica-se ao considerar-se a
menor detectabilidade de espécies e indivíduos nos tempos maiores de amostragem
nesta área, já que a maioria das detecções ocorre nos primeiros 10 min.
Assim, a comparação da eficiência de detecções por hora para o tempo de 20
min (adotado pela maioria dos pesquisadores brasileiros) e de 15 min, está associada ao
tempo de deslocamento entre os pontos de amostragem e ao tipo de fitofisionomia que
está sendo estudada. Novas pesquisas são, entretanto, necessárias para a compreensão
das condições de eficiência de detecção em regiões neotropicais.
A área MB foi a que apresentou a menor riqueza (59 espécies) entre as três
áreas, e fatores como as particularidades intrínsecas do habitat e o próprio padrão de
riqueza de aves em formações florestais do Cerrado podem explicar o menor número de
espécies encontradas.
BAGNO & MARINHO-FILHO (2001) encontraram menor riqueza em ambiente
florestal no Distrito Federal, quando comparado com o cerrado sentido restrito e com
área de vereda. Esses autores sugeriram que a baixa riqueza encontrada poderia estar
61
associada à pequena representatividade desse ambiente, hoje reduzido a manchas
isoladas.
Além das razões apontadas, há também o fato de que as formações florestais,
com espécies arbóreas de grande porte (RIBEIRO & WALTER 1998), como é caso da área
MB, a detecção das espécies de aves torna-se mais difícil, em virtude de muitas espécies
locomoverem-se no dossel das árvores e acima dele. A visualização de longa distância
também é prejudicada pela densidade da vegetação no interior da mata, sendo muitas
vezes difícil identificar espécies que se locomovem a poucos metros de distância do
observador. BIBBY et al. (1997) demonstraram, por meio de um estudo da relação entre
o grau de detectabilidade da avifauna e a densidade do habitat, que em ambientes com
características florestais há menor conspicuidade das aves e, consequentemente, menor
detectabilidade, relação esta que foi oposta para ambientes abertos. Os recursos de
gravação da vocalização das espécies e da capacidade de detecção no interior da mata
são de extrema importância para a amostragem segura neste tipo de ambiente.
JOHNSON (1995) recomendou um maior tempo de amostragem para áreas com
maior complexidade na estrutura de vegetação ou onde o deslocamento entre locais
possui séria limitação, apesar de ter-se constatado em nosso estudo que tempos mais
longos de amostragem não possuem o mesmo aproveitamento no registro da avifauna.
Por outro lado, a maior amostragem pode favorecer a detecção das espécies raras, que
em levantamentos rápidos seria dificultada.
Quanto maior a familiaridade com a região, maior será a taxa de detecção da
avifauna, e cada vez mais próximos de sua realidade ecológica no que se refere a sua
dinâmica temporal e espacial. Entretanto, somente as informações levantadas ano após
ano refletirão a verdadeira natureza da estrutura de uma comunidade e a comparação
com novos estudos realizados em diferentes locais poderá fornecer conclusões cada vez
mais seguras da dinâmica temporal da avifauna para os diferentes ambientes de cada
Bioma.
A projeção do número de detecções, por hora, num estudo hipotético de 227
min, equivalente ao tempo de estudo realizado numa manhã (Tabela III), apresenta o
mesmo padrão já discutido de aumento do tempo de deslocamento associado a um
menor número de indivíduos e espécies detectados, aumentando a diferença entre os
esforços de 15 e 20 min. Entretanto ao empregar-se, para cada esforço de amostragem
matinal, diferentes relações entre quantidade de pontos amostrados e tempo gasto para
62
cada ponto, obtem-se eficiências equivalentes de detecções que podem orientar novos
estudos da avifauna.
O número de detecções de espécies que ocorre com o aumento dos pontos e/ou
com a diminuição dos tempos de deslocamento exige uma análise mais aprofundada no
sentido de detectar a incidência de espécies comuns e raras nos diferentes tempos de
amostragem já que, conforme discutido, espécies raras são menos detectáveis em
contagens rápidas. A escolha da melhor relação entre número de pontos x tempo de
amostragem x tempo de deslocamento entre os pontos exige estudos comparativos nos
Biomas brasileiros, e a metodologia bem empregada será uma ferramenta cada vez mais
eficiente que permitirá compreender melhor a dinâmica temporal e espacial da avifauna.
63
CONCLUSÕES
Os dados apresentados sobre o efeito da hora da manhã na detecção da avifauna
justificam a casualização dos pontos fixos, para que todos tenham as mesmas
chances de serem sorteados nas horas de maior atividade.
O registro acumulado de “novas” espécies por tempo de amostragem no ponto
indicou que 15 min são suficientes para detectar um número equivalente de espécies
que são detectadas ao final de 20 min.
A estimativa, obtida com base no tempo de 15 min em média de deslocamento
(utilizado em nosso estudo), permitiu confirmar uma equivalência na eficiência de
detecções, para a área MB, a partir dos 10 min de amostragem, enquanto que nas
demais áreas houve uma tendência ao aumento da eficiência no decorrer dos quatro
tempos de amostragem nos pontos.
A comparação da eficiência de detecções, por hora, para os tempos de 20 min e
de 15 min, está associada ao tempo de deslocamento entre os pontos de amostragem.
A escolha da melhor relação entre numero de pontos x tempo de amostragem x
tempo de deslocamento entre os pontos exige novas comparações, para que a
metodologia, bem empregada, seja uma ferramenta cada vez mais eficiente que
permitirá compreender melhor a dinâmica temporal e espacial da avifauna.
64
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PSW-GTR-149.
67
Anexo 1. Modelo de ficha de campo utilizada para o registro dos dados de campo para a avifauna durante
o levantamento quantitativo na região de Niquelândia - GO. 2005 - 2006. Obs. (V) registro
visual; (A) registro auditivo e (G) gravação de vocalização.
Nome Observador (es): Data: Ficha nº
Local: Fitofisionomia:
Hora de Início: Hora de Término: Condições de tempo:
Obs.
Tempo de permanência (min)
Hora Pto
Conta
tos
Espécie
0 a 5
6 a 10
11 a 15
16 a 20
V A
G
68
Anexo 2. Lista geral de espécies registradas, em ordem decrescente de ocorrência, em quatro intervalos
de tempo, durante o levantamento quantitativo, em três áreas de Cerrado na reserva da
Mineradora Anglo-American -CODEMIN, em Niquelândia GO, 2005 - 2006. (FO)
Freqüência de ocorrência
Intervalo de tempo (min)
= 5 > 5 e = 10 > 10 e = 15 > 15 e = 20 Nome do Táxon Nome em Português
FO (%) FO (%) FO (%) FO (%)
Thryothorus leucotis Lafresnaye, 1845
garrinchão-de-barriga-
vermelha
20.0 8.9 5.6 7.8
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) fim-fim 17.8 8.9 6.7 7.8
Herpsilochmus atricapillus Pelzeln, 1868 chorozinho-de-chapéu-preto 17.8 13.3 3.3 4.4
Basileuterus flaveolus (Baird, 1865) canário-do-mato 22.2 6.7 4.4 4.4
Saltator similis d'Orbigny & Lafresnaye, 1837 trinca-ferro-verdadeiro 17.8 7.8 3.3 5.6
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti-pupu 15.6 12.2 2.2 3.3
Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) gralha-cancã 13.3 5.6 6.7 3.3
Turdus leucomelas Vieillot, 1818 sabiá-barranco 14.4 5.6 5.6 2.2
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) juruviara 15.6 5.6 2.2 3.3
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) neinei 6.7 6.7 8.9 2.2
Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) inhambu-chororó 11.1 4.4 2.2 3.3
Monasa nigrifrons (Spix, 1824) chora-chuva-preto 5.6 10.0 - 5.6
Thamnophilus punctatus (Shaw, 1809) choca-bate-cabo 10.0 3.3 4.4 2.2
Cariama cristata (Linnaeus, 1766) seriema 10.0 4.4 2.2 2.2
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 suiriri 11.1 - 3.3 4.4
Tachyphonus rufus (Boddaert, 1783) pipira-preta 6.7 5.6 2.2 3.3
Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaçu-cinzento 4.4 4.4 4.4 3.3
Columbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha-roxa 7.8 - 3.3 5.6
Coryphospingus pileatus (Wied, 1821) tico-tico-rei-cinza 6.7 2.2 2.2 4.4
Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) tico-tico 7.8 2.2 1.1 4.4
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) graúna 3.3 4.4 4.4 2.2
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari 4.4 2.2 5.6 2.2
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) tiziu 8.9 3.3 - 1.1
Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) pula-pula 3.3 2.2 2.2 5.6
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi 4.4 5.6 2.2 -
Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 sabiá-poca 4.4 2.2 1.1 3.3
Columbina squammata (Lesson, 1831) fogo-apagou 4.4 1.1 3.3 2.2
Galbula ruficauda Cuvier, 1816 ariramba-de-cauda-ruiva 6.7 2.2 2.2 -
Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) juriti-gemedeira 7.8 1.1 1.1 1.1
Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) perdiz 3.3 3.3 2.2 1.1
Synallaxis frontalis Pelzeln, 1859 petrim 4.4 4.4 - 1.1
Aratinga aurea (Gmelin, 1788) periquito-rei 4.4 2.2 2.2 -
Myiodynastes maculatus (Statius Muller,
1776)
bem-te-vi-rajado 5.6 2.2 - 1.1
Ramphocelus carbo (Pallas, 1764) pipira-vermelha 2.2 1.1 3.3 2.2
Griseotyrannus aurantioatrocristatus
(d'Orbigny & Lafresnaye, 1837)
peitica-de-chapéu-preto 2.2 - 3.3 2.2
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-de-gato 1.1 3.3 1.1 2.2
Ramphastos toco Statius Muller, 1776 tucanuçu 1.1 2.2 2.2 2.2
Xiphorhynchus guttatus (Lichtenstein, 1820) arapaçu-de-garganta-amarela 5.6 1.1 - 1.1
Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766) bentevizinho-de-asa-ferrugínea 2.2 1.1 1.1 2.2
Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) pomba-galega 2.2 1.1 1.1 2.2
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó 3.3 1.1 1.1 1.1
Taraba major (Vieillot, 1816) choró-boi 4.4 - 1.1 1.1
Colibri serrirostris (Vieillot, 1816) beija-flor-de-orelha-violeta 1.1 1.1 2.2 1.1
69
Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-de-cabeça-preta 1.1 - 2.2 2.2
Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766) saíra-beija-flor 3.3 - - 2.2
Hemithraupis guira (Linnaeus, 1766) saíra-de-papo-preto 2.2 1.1 - 2.2
Anexo 1. Continuação.
Intervalo de tempo (min)
= 5 > 5 e = 10 > 10 e = 15 > 15 e = 20 Nome do Táxon Nome em Português
FO (%) FO (%) FO (%) FO (%)
Hemitriccus margaritaceiventer (d'Orbigny &
Lafresnaye, 1837)
sebinho-de-olho-de-ouro - 2.2 1.1 2.2
Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776)
maria-cavaleira-de-rabo-
enferrujado
2.2 - - 3.3
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) pombão 2.2 1.1 1.1 1.1
Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) papa-arroz 1.1 1.1 - 3.3
Tangara cayana (Linnaeus, 1766) saíra-amarela 2.2 2.2 - 1.1
Tyrannus albogularis Burmeister, 1856 suiriri-de-garganta-branca 1.1 1.1 2.2 1.1
Ara ararauna (Linnaeus, 1758) arara-canindé 3.3 - - 1.1
Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818) periquito-de-encontro-amarelo 2.2 1.1 1.1 -
Casiornis rufus (Vieillot, 1816) caneleiro - 1.1 3.3 -
Cathartes aura (Linnaeus, 1758) urubu-de-cabeça-vermelha 1.1 - 1.1 2.2
Crypturellus undulatus (Temminck, 1815) jaó 3.3 1.1 - -
Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) maracanã-pequena 2.2 1.1 1.1 -
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) guaracava-de-barriga-amarela - 3.3 1.1 -
Nemosia pileata (Boddaert, 1783) saíra-de-chapéu-preto 1.1 1.1 1.1 1.1
Nystalus chacuru (Vieillot, 1816) joão-bobo 1.1 - 3.3 -
Saltator atricollis Vieillot, 1817 bico-de-pimenta 3.3 - - 1.1
Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) choca-barrada 3.3 1.1 - -
Arremon taciturnus (Hermann, 1783) tico-tico-de-bico-preto - 1.1 - 2.2
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) besourinho-de-bico-vemelho 1.1 - - 2.2
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica 1.1 - 2.2 -
Formicivora rufa (Wied, 1831) papa-formiga-vermelho 1.1 1.1 1.1 -
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) maria-cavaleira - 2.2 1.1 -
Picumnus albosquamatus d'Orbigny, 1840 pica-pau-anão-escamado 1.1 - 2.2 -
Polioptila dumicola (Vieillot, 1817) balança-rabo-de-máscara - 2.2 - 1.1
Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) coleirinho - 2.2 1.1 -
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) andorinha-serradora 2.2 - 1.1 -
Tapera naevia (Linnaeus, 1766) saci 2.2 - 1.1 -
Troglodytes musculus Naumann, 1823 corruíra - 1.1 1.1 1.1
Trogon curucui Linnaeus, 1766 surucuá-de-barriga-vermelha - 2.2 - 1.1
Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) papagaio-verdadeiro 1.1 1.1 - -
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) tico-tico-do-campo 2.2 - - -
Cacicus cela (Linnaeus, 1758) xexéu 1.1 1.1 - -
Campylorhamphus trochilirostris
(Lichtenstein, 1820)
arapaçu-beija-flor - 1.1 1.1 -
Caracara plancus (Miller, 1777) caracará 1.1 1.1 - -
Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein, 1823) azulão 1.1 - 1.1 -
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) saí-azul - - - 2.2
Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot, 1818) arapaçu-de-cerrado 1.1 - 1.1 -
Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) mariquita - - 1.1 1.1
Phaethornis pretrei (Lesson & Delattre, 1839) rabo-branco-acanelado 1.1 1.1 - -
Piculus chrysochloros (Vieillot, 1818) pica-pau-dourado-escuro 1.1 - - 1.1
Thamnophilus torquatus Swainson, 1825 choca-de-asa-vermelha - - 1.1 1.1
Thraupis palmarum (Wied, 1823) sanhaçu-do-coqueiro - - 1.1 1.1
Tyrannus savana Vieillot, 1808 tesourinha - 1.1 - 1.1
Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) beija-flor-de-veste-preta - - 1.1 -
Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) saracura-três-potes 1.1 - - -
Carduelis magellanica (Vieillot, 1805) pintassilgo - - - 1.1
70
Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782) urubuzinho - - - 1.1
Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) pica-pau-verde-barrado - - - 1.1
Crax fasciolata Spix, 1825 mutum-de-penacho 1.1 - - -
Anexo 1. Continuação.
Intervalo de tempo (min)
= 5 > 5 e = 10 > 10 e = 15 > 15 e = 20 Nome do Táxon Nome em Português
FO (%) FO (%) FO (%) FO (%)
Empidonomus varius (Vieillot, 1818) peitica 1.1 - - -
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura - 1.1 - -
Formicivora melanogaster Pelzeln, 1868 formigueiro-de-barriga-preta - 1.1 - -
Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) acauã - - - 1.1
Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) sovi - - - 1.1
Momotus momota (Linnaeus, 1766) udu-de-coroa-azul 1.1 - - -
Pilherodius pileatus (Boddaert, 1783) garça-real - - 1.1 -
Piranga flava (Vieillot, 1822) sanhaçu-de-fogo - 1.1 - -
Pteroglossus castanotis Gould, 1834 araçari-castanho - - 1.1 -
Sporophila angolensis (Linnaeus, 1766) curió - - - 1.1
Tersina viridis (Illiger, 1811) saí-andorinha 1.1 - - -
71
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