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JOSÉLIA MARIA LOYOLA DE OLIVEIRA GOMES
Significações e Ressignificações do Patrimônio Cultural: as Fazendas Históricas e o
Turismo nos Campos Gerais do Paraná
PONTA GROSSA
2007
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JOSÉLIA MARIA LOYOLA DE OLIVEIRA GOMES
Significações e Ressignificações do Patrimônio Cultural: as Fazendas Históricas e o
Turismo nos Campos Gerais do Paraná
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas
Interdisciplinar, da Universidade Estadual
de Ponta Grossa, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Ciências Sociais Aplicadas.
Orientadora: Profª. Drª. Cicilian Luiza
Löwen Sahr.
PONTA GROSSA
2007
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Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG
Gomes, Josélia Maria Loyola de Oliveira
G633s Significações e ressignificações do patrimônio cultural: as
fazendas históricas e o turismo nos Campos Gerais do Paraná /
Josélia Maria Loyola de Oliveira Gomes. Ponta Grossa, 2007.
148 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas),
Universidade Estadual de Ponta Grossa -PR.
Orientador: Profª. Drª.Cicilian Luiza Löwen Sahr.
1. Patrimônio cultural - Campos Gerais, Pr. 2. Fazendas
históricas - Campos Gerais, Pr. 3. Turismo - Campos Gerais, Pr.
4. Tropeirismo. I. Sahr, Cicilian Luiza Löwen. II. Universidade
Estadual de Ponta Grossa. Mestrado em Ciências Sociais
Aplicadas. III. T.
CDD: 338.479.1
iii
Dedico
Aos meus pais, em memória, Olávio e Rose Mary.
Aos meus filhos, Gabriela e Guilherme
.
iv
Agradecimentos
À Professora Orientadora Cicilian Luiza Löwen Sahr, pela constante disponibilidade e boa
vontade em me atender nas incontáveis dúvidas durante a realização desta pesquisa, por sua
amizade e dedicada atenção nas motivações para prosseguir, sugerindo-me caminhos e novas
pistas para o aperfeiçoamento de meus conhecimentos.
Ao Professor Wolf-Dietrich Gustav Johannes Sahr pelo apoio e colaborações.
Aos professores Andréa Paula dos Santos e Marcelino de Souza pela leitura, questionamentos,
críticas e sugestões.
Aos meus filhos, Gabriela e Guilherme, por suportarem minhas angústias, falta de tempo, por
acreditarem na minha força de superar obstáculos, pela compreensão e colaborações.
Aos meus colegas e amigos do Departamento de História, da Universidade Estadual de Ponta
Grossa pelo apoio e incentivo.
A Miriam Namur pela amizade sincera, incentivo, carinho e contribuições.
A Hamilton Luiz Taques Filho pela atenção redobrada ao pequeno Guilherme, para que eu
pudesse prosseguir em meus estudos.
Aos proprietários e funcionários das fazendas históricas da região dos Campos Gerais,
Maristela Suplicy, Zuleika Suplicy, Sabrina Carneiro, Paulo Maurício Bueno Machado, Maria
Sílvia Mattos, Reinaldo Rodrigues da Silva que contribuíram com informações para o
desenvolvimento da pesquisa, dedicação do seu tempo às entrevistas e contatos telefônicos.
A Nádia Terumi Joboji, Aldo César Carvalho, Deise Maria Fernandes Bezerra, Patrícia
Albanês, Lea Villela, Judith Carneiro de Mello, Carlos Roberto Solera, Andreia Maria Roque,
Sonia Maria de Mattos Lucas, Wilma Alencar, Moara Zuccherelli, Ronaldo Gonçalves pela
disponibilização de bibliografia, sugestões e informações.
Ao Coordenador Professor Constantino Ribeiro de Oliveira Júnior, aos professores e
funcionárias do Programa de Mestrado em Ciências Sociais pelo convívio e colaborações.
À Professora Silvana de Oliveira pela revisão de texto.
E a todas as pessoas amigas que durante este percurso me ofereceram bibliografia,
informações, sugestões, apoio, oportunidades, críticas e estímulos.
À Universidade Estadual de Ponta Grossa pelo apoio.
A chave
E de repente
o resumo de tudo é uma chave.
A chave de uma porta que não abre
para o interior desabitado
no solo que inexiste,
mas a chave existe.
Aperto-a duramente
para ela sentir que estou sentindo
sua força de chave.
O ferro emerge da fazenda submersa.
Que valem escrituras de transferência de domínio
se tenho nas mãos a chave-fazenda
com todos os seus bois e seus cavalos
e suas éguas e aguadas e abantesmas?
Se tenho nas mãos barbudos proprietários oitocentistas
de que ninguém fala mais, e se falasse
era para dizer: os Antigos?
(Sorrio pensando: somos os Modernos
provisórios, a-históricos...)
Os Antigos passeiam nos meus dedos.
Eles são os meus dedos substitutos
ou os verdadeiros?
Posso sentir o cheiro de suor dos guarda-mores,
o perfume-Paris das fazendeiras no domingo de missa.
Posso, não. Devo.
Sou devedor do meu passado,
cobrado pela chave.
Que sentido tem a água represa
no espaço onde as estacas do curral
concentram o aboio do crepúsculo?
Onde a casa vige?
Quem dissolve o existido, existindo
eternamente a chave?
[...]
Escuto a voz da chave, canavial,
uva espremida, berne de bezerro,
esperança de chuva, flor de milho,
o grilo, o sapo, a madrugada, a carta,
a mudez desatada na linguagem
que só a terra fala ao fino ouvido.
E aperto, aperto-a, e de apertá-la,
ela se entranha em mim. Corre nas veias.
É dentro em nós que as coisas são,
ferro em brasa – o ferro de uma chave.
(Carlos Drummond de Andrade, O Corpo, 1984)
v
vi
RESUMO
A atividade do tropeirismo nos séculos XVIII e XIX foi um marco na história brasileira,
possibilitando integrar efetivamente o sul ao restante do Brasil, articulando – nesse contexto –
a região dos Campos Gerais do Paraná. Em termos de patrimônio histórico-cultural – tangível
e intangível - o tropeirismo deixou importante legado. Os tropeiros traziam consigo um modo
de vida – linguajar, alimentação e vestimentas. Capelas e sedes de fazendas foram sendo
construídas ao longo de seus percursos. Os caminhos percorridos pelos tropeiros e os espaços
de vivência deste importante momento histórico, podem hoje, ressignificados, serem
conhecidos e vivenciados por moradores destes locais e por turistas vindos de regiões
adjacentes ou remotas. O objetivo central desta pesquisa é refletir sobre as significações e
ressignificações deste patrimônio pelo turismo. O estudo se pauta em material bibliográfico de
cunho teórico e regional, bem como, em trabalho de campo. A análise se concentra no
patrimônio arquitetônico das antigas fazendas relacionadas ao tropeirismo nos Campos Gerais
do Paraná, sobretudo aquelas que absorveram, num processo de ressignificação cultural, uma
nova linguagem através do turismo. Nas Fazendas, a ressignificação se apresenta das mais
diversas formas, entre estas: na visitação à casa-sede da fazenda - com móveis e decorações
conservadas, nos passeios a pé ou cavalgadas por trilhas antigas, na vivência das atividades da
fazenda, nos pratos típicos servidos, nas histórias e causos relembrados, nas rodas de fogo e
de chimarrão, nos documentários exibidos e nas encenações realizadas. O projeto “Rota dos
Tropeiros” do Paraná, lançado em 2003, vem possibilitando a articulação de diferentes ofertas
turísticas, dando-lhes um caráter regional e reforçando esse processo de ressignificação do
tropeirismo.
Palavras-Chave: Ressignificação Cultural, Tropeirismo, Fazendas Históricas, Campos
Gerais (PR), Turismo.
Título: Significações e Ressignificações do Patrimônio Cultural: As Fazendas
Históricas e o Turismo nos Campos Gerais
vii
ABSTRACT
The activity of cattle driving (tropeirsimo) has been a historical marker in the history of Brazil
throughout the 18
th
and 19
th
century resulting in the effective integration of the South into the
whole of the country. Thus, the Campos Gerais region has become an important element in
the country’s structure. Cattle driving has left us an important historical-cultural legacy both
in material and non-material forms. The herdsmen of the old times had developed a very
specific way of life – in language, nutritional behavior and clothing. Chapels and ranches
have been constructed along their trails. Today, the roads once used by the herdsmen and their
living spaces represent an important historical moment which can be re-signified both by the
local population and by tourists coming from near and far to visit this legacy. The main target
of this research is to reflect critically on processes of signification and re-signification in
relation to this heritage under the influence of tourism. For this purpose, vast theoretical and
regional bibliographical material has been evaluated, and extensive field work has been
performed. The analysis refers primarily to the architectural heritage of the old ranches
(fazendas) of the Campos Gerais region involved in the cattle driving process, especially to
those which have passed a process of re-signification acquiring a new language under the
influence of tourism. These processes of re-signification appear in different forms on the
ranches, ranging from visits to farm houses with preserved furniture and decorations,
participation in walking and riding trails along the old roads, experiencing the fazenda life of
the old days, with traditional dishes, story telling and memories, at the campfire and with
chimarrão (mate tea), up to the use of documentaries and folklore presentations. In 2003, a
specific tourist project, the “Rota dos Tropeiros” (=The cattle driving trail), has been
launched in Paraná to coordinate different tourist attractions based on its regional character
and reinforcing the re-signification process of the tropeirismo.
Keywords: Re-Signification, Culture, Cattle Driving, Tropeirismo, Historical Ranches,
fazendas, Campos Gerais (PR), Tourism.
Title: Signification and re-signification of Cultural Heritage: The historical ranches
(fazendas) of the Campos Gerais region in Southern Brazil and tourism
viii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Mapa das sesmarias concedidas ao clã de Pedro Taques de Almeida ....... 44
FIGURA 2 - Caminho das Tropas - séculos XVIII e XIX .............................................. 62
FIGURA 3 - Aquarela de Debret - Limite da Província de São Paulo com Curitiba ...... 64
FIGURA 4 - Muro de taipa de pedra na região de Lages (SC) a Bom Jesus (RS) .......... 68
FIGURA 5 - Planta baixa da Fazenda Roseira - Lapa .................................................... 77
FIGURA 6 - Fachada Frontal - Fazenda Roseira - Lapa ................................................. 78
FIGURA 7 - Lateral - Fazenda Roseira - Lapa ................................................................ 79
FIGURAS 8 e 9 - Antiga casa de colonos reformada e adaptada para Estalagem - Fazenda
Roseira - Lapa ................................................................................................................... 80
FIGURA 10 - Antigo estábulo convertido em churrasqueira e sala de jogos - Fazenda Roseira
- Lapa ................................................................................................................................ 80
FIGURA 11 - Fachada da Fazenda Capão Alto - Castro .................................................. 85
FIGURA 12 - Fachadas Frontal e Lateral da Fazenda Capão Alto - Castro ..................... 86
FIGURA 13 - Planta baixa da Fazenda Capão Alto - Castro ............................................ 87
FIGURA 14 - Rancho de tropeiro - Fazenda Capão Alto - Castro ................................... 88
FIGURA 15 - Fachada da Fazenda Boa Vista - Tibagi .................................................... 93
FIGURA 16 - Planta baixa da Fazenda Boa Vista - Tibagi ............................................... 95
FIGURA 17 - Fazenda Fortaleza - Tibagi ......................................................................... 99
FIGURA 18 - Planta baixa da Fazenda Fortaleza - Tibagi .............................................. 100
FIGURA 19 - Capela Bom Jesus da Cana Verde na Fazenda Fortaleza .......................... 101
FIGURA 20 - Imagem do Senhor Bom Jesus da Cana Verde na Capela da Fazenda Fortaleza
........................................................................................................................................... 102
FIGURA 21 - Fazenda Morungava na década de 1930 - Trincheira montada no jardim da
fazenda .............................................................................................................................. 104
ix
FIGURA 22 - Capela e Muro de pedra da Fazenda Morungava – Sengés .......................... 105
FIGURA 23 - Fazenda Morungava, reconstruída na década de 1940 - atual Fazenda Santa Gil
- Sengés .................................................................................................................................106
FIGURA 24 - Abrangência do Projeto Rota dos Tropeiros na região dos Campos Gerais do
Paraná ................................................................................................................................... 111
FIGURA 25 - Logotipo da Rota dos Tropeiros ................................................................... 113
FIGURA 26 - Ícones de qualificação utilizados no projeto Rota dos Tropeiros na região dos
Campos Gerais do Paraná .................................................................................................... 115
FIGURA 27 - Mapa de localização das fazendas históricas da região dos Campos Gerais do
Paraná ................................................................................................................................... 119
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Fazendas históricas com sedes preservadas na região dos Campos Gerais do
Paraná .................................................................................................................................... 74
TABELA 2 - Origem dos visitantes da Fazenda Capão Alto de 2000 a 2005 ...................... 89
TABELA 3 - Origem dos estudantes visitantes da Fazenda Capão Alto de 2000 a 2006
................................................................................................................................................. 90
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Roteiro Escolar da Fazenda Roseira ............................................................... 81
x
ABREVIATURAS
Abraturr/SP - Associação Brasileira de Turismo Rural de São Paulo/Fazendas Históricas
Paulistas
Abraturr - Associação Brasileira de Turismo Rural
Aceter - Associação Cearense de Turismo no Espaço Rural
AMCG - Associação dos Municípios dos Campos Gerais
Ametur - Associação Mineira de Empresários de Turismo Rural
Apeturr - Associação Pernambucana de Turismo Rural
Appan - Associação de Pousadas Pantaneiras
EcoParaná - Serviço Social Autônomo EcoParaná
Embratur - Instituto Brasileiro de Turismo
Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Mtur - Ministério do Turismo
Ong’s - Organizações - não governamentais
Preservale - Instituto de Preservação e Desenvolvimento do Vale do Paraíba
Prodetur/Sul - Programa de Desenvolvimento do Turismo na Região Sul e Mato Grosso do
Sul
Sebrae/Pr - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Paraná
Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Senac - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
Senar - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
Sescoop - Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo
SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
TER - Turismo no Espaço Rural
xi
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................... vi
ABSTRACT .................................................................................................................... vii
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... viii
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... ix
LISTA DE QUADROS ................................................................................................... ix
ABREVIATURAS ............................................................................................................ x
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1
CAPÍTULO I - PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL NO ESPAÇO RURAL E
TURISMO: ALGUMAS REFLEXÕES .......................................................................... 5
1-Patrimônio Histórico-Cultural: Significação e Ressignificação ....................................... 5
2-O mundo rural: ressignificação pelo turismo .................................................................. 22
CAPÍTULO II - AS FAZENDAS DE CRIAÇÃO NA REGIÃO DOS CAMPOS
GERAIS: SUA SIGNIFICAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL .................................... 38
1-Fazendas de criação e invernadas nos Campos Gerais: séculos XVIII e XIX ................ 39
2-Estradas e caminhos nos Campos Gerais dos séculos XVIII e XIX ................................ 55
CAPÍTULO III - A RESSIGNIFICAÇÃO DO TROPEIRISMO PELO TURISMO:
ELEMENTOS PARA UMA AVALIAÇÃO .................................................................... 71
1-Ressignificação das Fazendas: mudanças e permanências ............................................... 72
Fazenda Roseira .................................................................................................................... 76
Fazenda Capão Alto ............................................................................................................. 83
Fazenda Boa Vista ................................................................................................................ 93
Fazenda Fortaleza ................................................................................................................. 96
Fazenda Morungava ............................................................................................................ 103
2-A Ressignificação em roteiros turísticos ......................................................................... 107
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 128
REFERÊNCIAS .................................................................................................................132
1
INTRODUÇÃO
As edificações e os monumentos, segundo Choay (2001), podem ser entendidos
como discursos e alegorias nos quais um grupo social se expressa. A valorização do
patrimônio passa pelo conhecimento que se tem sobre ele e seu uso social, de qual significado
possui para a comunidade e seu entorno, articulado estreitamente à memória e às identidades
locais. O patrimônio histórico-cultural, portanto, é uma construção social, ou seja,
historicamente determinado e em permanente reconfiguração, como um processo simbólico
de legitimação social e cultural.
A atividade do tropeirismo nos séculos XVIII e XIX foi um marco na história
brasileira. A atividade garantiu o abastecimento da região mineradora, sem o que a exploração
das jazidas seria impossível; possibilitou, ainda, a ocupação do interior do Brasil,
contribuindo para a consolidação do domínio português e para o surgimento de vários núcleos
populacionais. Desta forma, a atividade tropeira foi fator determinante para integrar
efetivamente o sul ao restante do Brasil, articulando – nesse contexto – a região dos Campos
Gerais do Paraná.
Em termos de patrimônio histórico-cultural, o tropeirismo também deixou importante
legado. Não foram somente muares que foram tropeados do Rio Grande do Sul para as Minas
Gerais nos séculos XVIII e XIX, os tropeiros traziam consigo um modo de vida – linguajar,
alimentação e vestimentas. Capelas e sedes de fazendas foram também sendo construídas ao
longo dos caminhos percorridos, várias delas mantidas até os dias de hoje. Este patrimônio,
tangível e intangível, de certa maneira contribuiu para a composição da identidade cultural
dos Campos Gerais.
2
O patrimônio material e imaterial propicia a edificação de políticas culturais, de
interesses econômicos e das próprias características culturais de uma determinada região.
Partindo desse pressuposto, a análise desta pesquisa enfoca o patrimônio arquitetônico-
histórico das antigas fazendas relacionadas à fase do tropeirismo nos Campos Gerais do
Paraná. O objetivo central é refletir sobre a significação e ressignificação desse patrimônio
pelo turismo.
O turismo utiliza-se de uma nova linguagem para absorver a significação cultural
existente na região, ou até mesmo, para a ressignificação - a qual pode ocorrer através da
alimentação, trazida através de cardápios típicos de uma região; cavalgadas, por caminhos
antigos para admirar a paisagem e bens naturais; nas obras de artes e monumentos colocados
em praças ou pontos referenciais de uma determinada cidade, para remeter-lhe à sua
significação histórico-cultural; em roteiros culturais como indicativo de processo didático-
pedagógico; na preservação de conjuntos arquitetônicos e tantos outros possíveis.
Para a fundamentação teórico-conceitual do trabalho foram pesquisados inúmeros
autores: Françoise Choay; Kathryn Woordward; Margarita Barreto; Stela Maris Murta e
Celina Albano; Denys Cuche; Nestor Garcia Canclini; Icléia Vargas; Margarita Barretto; José
Reginaldo Santos Gonçalves; André Munhoz de Argollo Ferrão; Marutschka Moesch;
Jacques A. Wainberg; Paulo Peixoto; Alenka Verbole; Elsa Peralta; Susana Gastal, entre
outros.
Para a análise das fazendas históricas da região foram necessárias diversas fontes:
bibliográficas, documentais e depoimentos orais. As informações relacionadas à
ressignificação foram obtidas nos próprios sites das fazendas, no Guia e no site da “Rota dos
Tropeiros”. A análise se restringiu àquelas fazendas que de alguma forma exercem atividades
3
turísticas, dando destaque às fazendas Roseira e Capão Alto, a primeira por atuar com turismo
rural e a segunda por atuar com turismo histórico-cultural. Nestas foram realizados contatos
pessoais com os proprietários e observação in loco.
Buscando atingir o objetivo central, esta dissertação se compõe de três capítulos. No
primeiro apresenta-se uma reflexão teórico-conceitual sobre o patrimônio histórico-cultural,
sua significação e ressignificação. Discute-se conceitos como cultura, identidade cultural e
representação. Também se apontam os princípios para a interpretação do patrimônio e
aspectos da atratividade turística para a apropriação desses valores no meio rural através do
turismo.
No segundo capítulo, busca-se a contextualização histórica das fazendas de criação e
invernadas e também dos caminhos e estradas percorridos pelos tropeiros nos séculos XVIII e
XIX. A reflexão centra-se na significação das fazendas e caminhos numa abrangência que
extrapola a da região em estudo.
No terceiro capítulo, apresentam-se as fazendas históricas da região dos Campos
Gerais, como são vistas e trabalhadas no projeto “Rota dos Tropeiros”, mostrando sua
ressignificação cultural e potencialidades turísticas de seu patrimônio cultural e arquitetônico
rural.
Acredita-se ser necessário o fortalecimento da integração de órgãos públicos e atores
sociais privados, para que haja uma valorização desse rico patrimônio histórico-cultural
representado pelas fazendas ligadas ao tropeirismo. Igualmente importante é o estímulo a um
associativismo ancorado nas comunidades locais, buscando a identificação e valorização de
antigas rotas e roteiros como forma de organizar o turismo para fins de planejamento e gestão
regional.
4
Espera-se que os resultados desta pesquisa forneçam elementos indicativos para a
elaboração de novas propostas relativas à valorização do patrimônio histórico rural na região
dos Campos Gerais, tendo em vista a amplitude do universo de outros aspectos envolvidos.
5
I - PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL NO ESPAÇO RURAL E TURISMO:
ALGUMAS REFLEXÕES
Toda a estrutura de nossa sociedade colonial teve
sua base fora dos meios urbanos. Se (...) não foi a
rigor uma civilização agrícola o que os
portugueses instauraram no Brasil, foi, sem
dúvida, uma civilização de raízes rurais.
(Sérgio Buarque de Holanda, 1956, p. 87).
Este capítulo visa oferecer a fundamentação teórica-conceitual para o estudo
proposto. Primeiramente, são apresentadas reflexões sobre a significação e ressignificação do
patrimônio histórico-cultural. Na seqüência é abordada a significação cultural do meio rural e
sua conseqüente ressignificação através do turismo. Por ressignificação entende-se a mudança
de um referencial para lhe conferir um novo significado.
Para esta fundamentação foi pesquisado um grande número de autores. Não se trata,
entretanto, de uma apresentação exaustiva sobre a temática. As reflexões se centram,
principalmente, em uma apresentação sobre a temática no meio rural, seja pelo aspecto de
conservação e novos usos, seja pelo aspecto da atratividade turística para a apropriação desses
valores.
1- Patrimônio histórico-cultural: significação e ressignificação
No meio rural brasileiro está grande parte da sua própria história, o trabalho escravo,
a influências das fazendas de gado -
invernadas de gado, produtoras de café, cana-de-açúcar,
cacau, as técnicas e os costumes dos imigrantes. (MOLETTA, 1999).
6
O patrimônio arquitetônico rural brasileiro é uma herança cultural que nas últimas
décadas vem recebendo reconhecimento e ao qual incorporam-se novos valores por meio da
atividade turística. São sedes de antigas fazendas que trazem a lembrança viva da história do
Brasil, que marcaram as fases que pontuaram a economia e a conseqüente riqueza nacional.
Muitas dessas construções não foram conservadas ou se tornaram ruínas. Outras, em
compensação, mantiveram seu estilo arquitetônico, seu patrimônio histórico-cultural
conservado, sendo restauradas, recebendo inclusive novos usos e ressignificações.
Etimologicamente, patrimônio deriva do termo latim patrimonium para se referir à
propriedade herdada de antepassados, uma herança, o qual estava ligado "às estruturas
familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no tempo e no espaço"
(CHOAY, 2001, p. 11), levando-o a uma característica essencial - a permanência no tempo.
A idéia de um patrimônio institucionalizado, pertencente a um grupo social, nasce no
final do século XVIII, com a visão moderna de história e de cidade. (SANTOS, 2001). A isso
soma-se a idéia de que “O patrimônio surge como uma invenção, uma construção da
modernidade”. (ANICO, 2004).
Na atualidade, o patrimônio deixou de ser uma construção social com importância
política, para se constituir numa coleção simbólica unificadora, resultante de uma imposição
de língua nacional, de costumes nacionais, de uma história que se sobrepôs às memórias
particulares e regionais. (RODRIGUES, 2001). Como observa Françoise Choay (2001, p. 28),
foi preciso que surgissem ameaças concretas de perda dos monumentos e o culto à nação para
que a preservação dos monumentos se tornasse um tema de “interesse público”.
Icléia Albuquerque Vargas (2006) considera que a emergência do processo de
patrimonialização que se instaura no âmbito global busca se apoiar nas legitimidades
7
históricas ou geográficas dos territórios, promovendo resgates do passado, e assim o
patrimônio surge como um advento das sociedades modernas:
...como um artifício voltado para o fortalecimento de uma pertença a um
mesmo espaço simbólico, uma síntese simbólica de valores identitários que
contribuem para um sentimento de pertencimento e de identificação de um
coletivo social. (VARGAS, 2006, p. 228).
A noção de patrimônio para José Reginaldo Santos Gonçalves (2005) é apresentada
em três categorias, apontando as suas múltiplas dimensões sociais e simbólicas, discutindo os
contornos semânticos que ela pode assumir no contexto da modernidade. A ressonância do
patrimônio situa-o entre o passado e o presente, entre o cosmos e a sociedade, entre a cultura e
os indivíduos e entre a história e a memória. A sua materialidade torna-o tangível ou
intangível. Já a subjetividade apresenta-se como uma forma específica de continuidade entre
passado, presente e futuro, pois não há patrimônio que não seja ao mesmo tempo condição e
efeito de determinadas modalidades de autoconsciência individual ou coletiva. Essas
dimensões, para o autor, possibilitam trazer possivelmente uma contribuição para os debates
teóricos e políticos sobre os usos do conceito antropológico de cultura.
Na noção de patrimônio cultural, Gonçalves (2005, p. 14) adverte a necessidade de
se observar que: “por um lado, este pode ser entendido como a expressão de uma nação ou de
um grupo social, algo, portanto, herdado, por outro, ele pode ser reconhecido como um
trabalho consciente, deliberado e constante de reconstrução”. O autor sublinha ainda que os
"patrimônios culturais" seriam entendidos mais adequadamente se situados como elementos
mediadores entre diversos domínios social e simbolicamente construídos, estabelecendo
pontes e cercas entre categorias cruciais, tais como passado e presente, deuses e homens,
mortos e vivos, nacionais e estrangeiros, ricos e pobres. Ele sugere:
8
a possibilidade de pensar o patrimônio em termos etnográficos, analisando-o
como um “fato social total” (...), e desnaturalizando seus usos nos modernos
"discursos do patrimônio cultural". (...) O que é preciso colocar em foco
nessa discussão, penso, é a possibilidade de se transitar analiticamente com
essa categoria entre diversos mundos sociais e culturais, iluminando-se as
diversas formas que pode assumir. (GONÇALVES, 2005, p. 17-18).
A maneira mais simples para compreender o significado do patrimônio é, segundo
Margarita Barretto (2000, p. 9), aquela que se refere ao conjunto de bens que uma pessoa ou
uma entidade possuem. Levado a um determinado território, o patrimônio passa a ser um
conjunto de bens que estão dentro de limites de competência administrativa. Nesse contexto, a
autora classifica patrimônio em duas grandes divisões: natureza e cultura. Mas Hugues de
Varine-Boham, professor francês, cujas idéias foram anotadas e citadas por Carlos Lemos
(1984, p. 08), sugere que o patrimônio cultural seja dividido em três categorias de elementos:
naturais, como os rios, as matas, as praias; do saber, as técnicas e artes que o homem utiliza
para sobreviver, saber cozinhar, desenhar, transformar, dançar, esculpir; e, bens culturais que
surgem a partir de outros dois grupos que são objetos, artefatos e construções. Os bens
culturais se dividem em móveis (possíveis de serem colecionados - intangíveis - que são
mantidos pela tradição) e imóveis (tangíveis) que são os sítios históricos (cidades, conjuntos
totais ou parciais), os sítios arqueológicos e as edificações (arquitetura civil, militar, religiosa
e funerária) como capelas, igrejas, sedes de fazendas, residências, ruas, cidades, entre outras.
Pode-se, ainda, acrescentar os chamados bens integrados, os quais são elementos móveis que
se agregam aos imóveis. Por exemplo: retábulos, mesas de altares, púlpitos, etc.
O significado do patrimônio não é mais o bem que se herda, mas o bem constituído
da consciência de um grupo, articulado à memória e às identidades locais. “As idéias de
preservação de bem cultural se articula, estreitamente, ao seu conhecimento e ao seu uso
social, à ciência e à consciência do patrimônio”. (SEGALA, 2006).
9
A noção ampliada de patrimônio cultural abrange não somente os bens tangíveis,
materiais, mas também os bens intangíveis, imateriais
1
, incluindo as manifestações, por
múltiplas formas, do modo de viver, pensar e agir de uma sociedade: os saberes, as
celebrações, as formas de expressão e os lugares.
A palavra patrimônio pode, portanto, assumir diversos sentidos e usos, os quais nos
levam a outras indagações, como: “o que é cultura?” e “o que é identidade cultural?”. Elucidar
estas questões torna-se fundamental para a compreensão, em sua extensão, do significado do
patrimônio histórico-cultural.
Para Regis de Morais (1992, p. 41-45), a criação de cultura vem de fundamentais
necessidades do homem enquanto homem. A cultura é uma complexa rede de signos densos
de significados. A transmissão de significados constitui o fluxo intersubjetivo pelo qual
circula a cultura. A experiência vivida, o real sentido, percebido ou compreendido, o mundo
do real ou do imaginário, é mediado de homem a homem por entes concretos, capazes de
impressionar os sentidos: os signos. Esses, porém, apontam para fora de si, são presenças que
marcam ausências, os significados, que constitui em a seiva da cultura humana. A cultura é
uma organização sempre dotada de significado, saindo à procura de captar os muitos sentidos
que o compõem. A cultura, essa rede de signos, densos de significados, circula sentido. A
circulação de sentido implica numa relação dialética entre valor e valoração. O tecido cultural
é sempre uma permanência feita de efemeridades, uma continuidade feita de rupturas e
transformações.
1
No Brasil, apesar das discussões sobre patrimônio imaterial serem antigas, a sistematização desses debates é
recente. A Constituição Federal de 1988, nos artigos 215 e 216, abarca no conceito de patrimônio cultural tanto
as obras arquitetônicas, urbanísticas e artísticas de grande valor (patrimônio material), quanto as manifestações
de natureza imaterial, relacionadas aos fazeres, crenças e produções do cotidiano popular que tem relevância
para a comunidade. O Governo Federal brasileiro, através do decreto nº. 3551, de 04 de agosto de 2000, instituiu
o registro de bens de natureza imaterial, que constituem o patrimônio cultural brasileiro, em que os saberes,
celebrações, expressões, cantos, hábitos, festas, rituais e outras práticas populares brasileiras passam a ter
reconhecimento de sua prática. O registro tem como objetivo a valorização dos bens culturais e cria, para o
Estado, a obrigação de reunir e divulgar a documentação acerca do bem legalmente reconhecido. Esse registro
contribui para a identificação, promoção e a preservação desses bens culturais que não têm garantias de
permanência. O registro poderá ser feito em um dos seguintes livros de registros: dos saberes, das celebrações,
das formas de expressão, dos lugares e outros livros poderão ser abertos para outras manifestações reconhecidas.
10
Nesse mesmo sentido, Antônio Arantes (1998) define cultura ao afirmar, que em se
tratando de vida social, a cultura (significação) está em toda parte, tudo nas sociedades
humanas é constituído segundo os códigos e as convenções simbólicas:
...interpretar o significado das culturas implica em reconstituir, em sua
totalidade, o modo como os grupos representam as relações sociais que os
definem enquanto tais, na sua estruturação interna e nas suas relações com
outros grupos e com a natureza. (ARANTES, 1998, p. 34-35).
Nessa mesma perspectiva Antonio Carlos Castrogiovanni (2003, p. 45) menciona
que a cultura de um grupo social, numa leitura interacionista, é "na verdade, uma das maiores
riquezas, associada à busca de respostas dadas às provocações do meio". A cultura é uma das
"responsáveis pela diferença que cria e identifica um lugar", e é "justamente a ausência de
todos os lugares num certo lugar que desperta, fascina e atrai".
Para Eunice Ribeiro Durham (1984, p. 27-30), o conceito de cultura está relacionado
não apenas às obras, mas à capacidade humana de produzi-las e usufruí-las, como ação
significante que depende da manipulação de um instrumental simbólico, um conjunto de
códigos. Pensar a cultura é pensar a produção simbólica, relacionando-a ao seu uso, imersa
numa espessa camada de relações sociais, elaborações estéticas e formas rituais da qual
retiram muito de sua significação. A dimensão fundamental do conceito de cultura é a que
toma por referência básica a regularidade e o significado dos comportamentos criados pela
manipulação de sistemas simbólicos.
11
No que se refere a uma definição sobre cultura, o argentino Néstor Garcia Canclini
busca no cruzamento interdisciplinar da Antropologia, Sociologia, Comunicação, História,
Literatura, História da Arte, Filosofia, entre outras, a evidência de que a cultura
contemporânea é "híbrida", ou seja, tem caráter "nem culto, nem popular, nem massivo",
procurando elaborar uma interpretação plausível das contradições e dos fracassos da
modernidade, a qual permite abranger diversas mesclas interculturais. (CANCLINI, 1998, p.
19-20). A perspectiva proposta por Canclini, segundo Jacks (1997), legitima o papel cultural
dos meios ao colocá-los em pé de igualdade com as demais manifestações, resultado da
internacionalização da economia, transnacionalização da tecnologia, do turismo e das
migrações internas e externas. Nilda Jacks (1997) situa o conceito de cultura híbrida proposto
por Canclini, da seguinte maneira:
[...] serve para pensar tudo que não cabe mais sob os rótulos de culto,
popular e massivo, isto é, praticamente tudo que se produz atualmente, pois o
processo de globalização que abarca todos os setores da sociedade
contemporânea não deixaria de fora justamente as manifestações culturais,
tão sensíveis à dinâmica social. O processo de hibridização coloca no mesmo
plano as diversas manifestações da cultura contemporânea rompendo as
fronteiras estabelecidas pela lógica da modernidade, onde o culto deveria
estar nos museus e o popular nas praças e feiras. O tradicional e o moderno,
portanto, já não sofrem uma oposição tão evidente, pelo contrário, convivem
em um mesmo cenário social. Neste sentido, surgem novas formas de
identidade cultural, que já não podem mais ser consideradas como autênticas,
nem ligadas apenas a um território. [...] mas à ação sócio-comunicacional,
articulando o local, o regional, o nacional, o internacional e o pós- nacional,
questão emergente a partir dos vários tratados de livre comércio que estão em
andamento. Isso não quer dizer que o território perde sua significação, apenas
deve ser somado às participações em redes comunicacionais. [...] a
modernidade/pós-modernidade não acaba com o tradicional, apenas o
transforma, e que a identidade não poder ser atemporal, mas histórica.
(JACKS, 1997).
Durham (1984, p. 30-31) adverte que quando se aplica a noção de cultura como ação
significante, que depende da manipulação de um instrumental simbólico, pode-se associá-la à
noção de patrimônio cultural. O patrimônio pode ser definido em função do significado que
12
possui para a população, advertindo que o elemento chave na percepção do significado de um
bem cultural reside no uso que dele é feito na sociedade.
A noção do patrimônio, em sua extensão cultural e social, para Glauco Campello
(1998), invade todos os campos da memória coletiva, que constituem parte da matéria com a
qual se molda no presente a construção do futuro. O patrimônio é o tema com que as
comunidades poderão cultivar um sentimento de auto-estima e exercício da cidadania. Sob
esse aspecto, Julia Azevedo (2002, p. 136) enfatiza, principalmente, o caso do uso do
patrimônio histórico-cultural servir à recuperação e revitalização de áreas deprimidas ou
degradas.
Complementam essas afirmações as de Antonio Gilberto Ramos Nogueira (2000, p.
299), que adverte que quando se trata de uma definição mais consistente do conceito de
patrimônio não se pode entendê-lo apenas como um conjunto de bens de valor excepcional,
mas deve-se sublinhar que a designação de patrimônio cultural só é legítima na medida em
que o homem atribui a eles significados.
Todavia, mais do que ao pesquisador, importa à comunidade reconhecer sua
identificação cultural e assumir o papel de protagonista do seu próprio processo de
desenvolvimento local. (KASHIMOTO; MARINHO; RUSSEFF, 2002).
A construção do patrimônio cultural e sua preservação, portanto, é um ato que
depende das concepções que cada época, de um determinado local, de uma determinada
comunidade, tem a respeito do quê, o quê, para quê, por quê conservar e como conservar.
(RODRIGUES, 2001; LEMOS, 1984).
13
Para Julianna Nascimento Torenzani (2005, p. 2) “a cultura é o que nos torna
singulares, o patrimônio, enquanto expressão cultural, é que vai edificar os costumes, a
política, os interesses econômicos e as características do lugar”.
O patrimônio é, assim, de acordo com Marta Anico (2004, p. 4), uma construção
social, historicamente determinada e em permanente reconfiguração, um processo simbólico
de legitimação social e cultural, baseado na seleção e ativação de determinados referentes, que
permitem representar
2
uma determinada identidade. Essa representação processa-se através de
alguns referentes culturais que cumprem uma finalidade de identificação coletiva própria de
cada sociedade, por ela selecionados e constituídos em cada momento. Falar de patrimônio
pressupõe falar de identidades, assim, pode ser definido também como uma síntese simbólica
de valores identitários.
Maria Antonia Alonso de Andrade (1998, p. 141-149) complementa que a identidade
é uma questão chave na representação de qualquer objeto, ou seja, na estruturação de seu
campo de representação. Cada grupo social tem sua forma específica de representação de
mundo. Representar um objeto significa inseri-lo significativamente no nosso mundo, fazer
com que tenha um sentido para nós. E isto significa que podem ser estabelecidas clivagens
entre os grupos sociais segundo as suas representações. Indivíduos e grupos expressam sua
identidade através de suas representações.
Essas representações, para Kathryn Woordward (2000, p. 8-15) atuam
simbolicamente para classificar o mundo e as nossas relações no seu interior. A autora (2000,
p. 17-19) adverte ainda que ao examinarmos sistemas de representação é necessário analisar a
relação entre cultura e significado. “Só podemos compreender os significados envolvidos
2
Representações sociais é uma expressão filosófica que significa a reprodução de uma percepção retida na
lembrança ou do conteúdo do pensamento. Nas ciências sociais são definidas como categorias de pensamento
que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questionando-a. Enquanto material de estudo essas
percepções são consideradas consensualmente importantes, atravessando a história e as mais diferentes correntes
de pensamento sobre o social. (MINAYO, 2002).
14
nesses sistemas, se tivermos alguma idéia sobre quais posições de sujeito eles produzem e
como nós, como sujeitos, podemos ser posicionados em seu interior”. (2000, p. 17). E isso
compõe o 'circuito de cultura', no qual o foco se desloca dos sistemas de representação para as
identidades produzidas por aqueles sistemas. A identidade, pois, não é o oposto da diferença:
a identidade depende da diferença. (2000, p. 8-15).
Denys Cuche (2002) ressalta que as grandes interrogações sobre a identidade
remetem freqüentemente à questão da cultura. "Cultura" e "identidade" são conceitos que
remetem a uma mesma realidade, vista por dois ângulos diferentes. Mas não se podem
confundir as noções de cultura e identidade cultural, ainda que tenham grande ligação.
Para Cuche, a noção de cultura leva à ordem simbólica, que se refere ao sentido. É
ela que oferece a possibilidade de conceber a unidade do homem na diversidade de seus
modos de vida e de crenças, enfatizando-se a unidade ou a diversidade. O autor adverte,
entretanto, que a cultura pode existir sem consciência de identidade, ao passo que as
estratégias de identidade podem manipular e até modificar uma cultura que não terá então
quase nada em comum com o que ela era anteriormente:
A cultura depende em grande parte de processos inconscientes. A identidade
remete a uma norma de vinculação, necessariamente consciente, baseada em
oposições simbólicas. (...) A identidade cultural aparece como uma
modalidade de categorização da distinção nós/eles, baseada na diferença
cultural. (CUCHE, 2002, p. 176-177).
Na abordagem relacional e situacional, Cuche (2002, p. 183) afirma que a
identidade é uma construção social, que se faz no interior de contextos sociais que
determinam a posição de agentes e por isso mesmo orientam suas representações e suas
escolhas. A identidade existe sempre em relação a uma outra, a qual se constrói e se
reconstrói constantemente no interior das trocas sociais.
15
Vale também complementar aqui, conforme Clifford Geertz (1978, p. 15) que o
conceito de cultura é essencialmente semiótico
3
. A semiótica analisa o homem como um
animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu – a cultura sendo essas teias e a
sua análise, uma ciência interpretativa à procura de significados:
A cultura é pública porque o significado o é. Como sistemas entrelaçados de
signos interpretáveis (o que eu chamaria símbolos, ignorando as utilizações
provinciais), a cultura não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos
casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições
ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser
descritos de forma inteligível, isto é, descritos com densidade. (GEERTZ,
1978, p. 22-24).
Ao analisarmos o aspecto da cultura no meio rural, as considerações do pesquisador
português Paulo Peixoto (2002, p. 2-15) são válidas ao abordarem a convergência de duas
tendências ligadas à transformação dos meios rurais: de um lado, o aumento das ameaças
sobre o mundo rural e do outro lado, o aumento das preocupações com o patrimônio. O autor
ainda defende a tese de que o desaparecimento do mundo rural está associado a uma
3
Na análise de Rubens Pereira (2006) a semiótica é o estudo do processo de significação na natureza e na
cultura. Ou seja, é a ciência do processo de contextualização social e natural, é a ciência dos signos ou processos
de significação, é a ciência geral de todas as linguagens – “tem por objetivo o exame dos modos de constituição
de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido [...] busca divisar e
deslindar seu ser da linguagem, isto é, sua ação de signo”. (SANTAELLA, 1987, p. 13-14). Portanto, semiótica é
a doutrina dos signos, tendo por objeto o estudo da natureza, tipos e funções de signos. O signo é uma coisa que
representa uma outra coisa: seu objeto - carrega poder de representar - o signo não é o objeto, está apenas no
lugar do objeto. O signo é qualquer elemento que seja utilizado para exprimir uma dada realidade física ou
psicológica; nesta relação, o primeiro funciona como significante em relação à segunda, que é o significado (ou
referente); as relações entre significantes e significados podem ser de dois tipos: denotação e conotação. O nível
denotativo refere uma enumeração e descrição dos objetos num determinado contexto e espaço. O nível
conotativo refere-se à análise das mensagens ocultas numa imagem, e na forma como a informação aparece
escondida ou reforçada. É composta por todos os elementos observáveis: desde a menor unidade de análise,
como o ponto ou a linha até ao objeto de volume variável e materiais diferentes. Para Pereira (2006), é
importante “realçar que os signos por si próprios nada significam, para se tornarem compreensíveis pressupõem
a existência de um código que estabeleça, dentro duma dada comunidade, a totalidade das relações entre
significantes e significados, por forma a tornar possível a interpretação dos signos”. Pereira (2006) complementa
que “cada comunidade desenvolve os seus sistemas de signos e respectivos códigos, por forma a viabilizar a
comunicação entre os seus membros; à medida que se vai subindo na cadeia biológica as necessidades de
comunicação vão se intensificando, o que se reflete naturalmente em sistemas de signos e códigos de
comunicação cada vez mais sofisticados”.
16
descoberta
4
do patrimônio nos meios rurais tanto para descobrir algo que já existia, dando-lhe
uma segunda vida, ao ser redescoberto para novas funções, como também para manifestar-se
através de operações de invenção e de encenação de uma singularidade e de uma
continuidade. Essa descoberta do patrimônio, para Paulo Peixoto (2002) pelos meios rurais
traduz-se na necessidade de repensar certos espaços e objetos em função de novos usos,
atribuindo-lhes novas funcionalidades e sentidos. E ainda, para o autor, qualquer artefato
patrimonial necessita, para subsistir e perdurar, ser alvo de uma reinvenção ou de uma
reativação por indivíduos ou grupos sociais que o introduzem no seu cotidiano. Nas palavras
do autor
5
:
Trata-se, pelo contrário, de encarar o patrimônio e as suas representações
como uma invenção cultural que procura legitimar e naturalizar um
determinado tipo de discurso sobre a evolução recente do mundo rural e que
procura responder aos desafios presentes e futuros dos meios rurais. Neste
âmbito, o património corresponde a uma segunda vida das coisas, que
adquirem novos sentidos e funcionalidades. [...] a patrimonialização não é
apenas nem sobretudo uma espécie de seguro sobre o esquecimento,
funcionando antes como instrumento de afirmação e de legitimação de
determinados grupos sociais [...] Esta descoberta traduz-se, sobretudo, em
operações de valorização simbólica, cujo objectivo último é responder a uma
situação de crise acentuada. O que acaba por a distinguir são as
características dos processos de patrimonialização que a efectivam: o
alargamento infinitamente elástico da noção de património, a redução drástica
do tempo necessário para fazer eclodir uma consciência patrimonial e a
emergência e consolidação de um numeroso e activo grupo de profissionais.
(PEIXOTO, 2002, p 2-15).
Sobre essa questão, vale o argumento da arquiteta Daniela Lorena Fagundes de
Castro (2004) de que o comprometimento na preservação do patrimônio arquitetônico-
histórico, como garantia de continuidade, introduz questões importantes, já que representar a
identidade de um grupo recai sobre escolhas, sobre características eletivas, enquanto outros
seriam passíveis de esquecimento e destruição. Isto é, nem todos os vestígios do passado
podem ser considerados patrimônio, pois isso depende de uma seleção para o que se deseja
4
Grifo do próprio autor.
5
Nas citações do autor manteve-se a grafia vigente em Portugal.
17
preservar, cujo valor está permeável às flutuações de uma determinada época. Elsa Peralta
Silva
6
(2005) reitera esse pensamento ao apresentar a noção de patrimônio histórico-cultural:
O património não é só o legado que é herdado, mas o legado que, através de
uma selecção consciente, um grupo significativo da população deseja legar ao
futuro. Ou seja, existe uma escolha cultural subjacente à vontade de legar o
património cultural a gerações futuras. E existe também uma noção de posse
por parte de um determinado grupo relativamente ao legado que é
colectivamente herdado. [...] Valor que os seres humanos, tanto individual
como socialmente, atribuem ao legado material do passado, valor no sentido
do apreço individual ou social atribuído aos bens patrimoniais numa dada
circunstância histórica e conforme o quadro de referências de então. Trata-se
de um conceito relativo, que varia com as pessoas e com os grupos que
atribuem esse valor, permeável às flutuações da moda e aos critérios de gosto
dominantes, matizado pelo figurino intelectual, cultural e psicológico de uma
época. (SILVA, 2005, p.1).
Nessa mesma linha de pensamento, sobre o processo de seletividade da preservação,
Margarida Barretto (2000, p. 44) defende a “recriação de espaços revitalizados”, como um
dos fatores que podem desencadear o processo de identificação do cidadão, da comunidade
com sua história e cultura, sendo inclusive uma forma da população local conhecer e discutir
sua identidade. A preservação do patrimônio histórico-cultural tem entre suas funções o papel
de "continuidade cultural", ser o elo entre o passado e o presente, despertar o sentimento de
identidade, de pertencimento. Sobre esse mesmo aspecto, Fábio Reis (2004, p. 2) ressalta que
“a revitalização do patrimônio significa a ressignificação das manifestações culturais”.
Margarita Barretto (2000, p. 58-59) aponta ainda que os espaços revitalizados podem
ser transformados em "site museums" ou "museu no local" e preparados para representar uma
determinada época, fazendo com que o visitante conheça a história e a cultura do local. Para a
autora, os "site museums" permitem a sustentabilidade econômica do lugar, atraem turistas e
investimentos. Por outro lado, o sucesso desta experiência representa um desenvolvimento
que mantém a herança cultural, que insere a comunidade e que amplia os investimentos, os
empregos e a renda do lugar. Mas salienta que esse tipo de empreendimento necessita de
6
Nas citações dessa autora manteve-se a grafia vigente em Portugal.
18
pesquisas, com finalidades didático-pedagógico-cultural, de um sério trabalho de
restauradores, arquitetos, historiadores, antropólogos e outros profissionais capazes de
contribuir com a reconstrução de época. (BARRETTO, 2000, p. 38-39).
Maria José Pastor Alfonso (2003) analisa o patrimônio cultural como manifestação
da própria cultura, em que o sistema turístico aplicado a ele obriga-se a levar em conta tanto a
sociedade local como os visitantes, em que os estudos devem ser orientados a buscar o bem-
estar de ambos, tratando de minimizar os impactos negativos, sejam sociais, culturais, físicos
ou econômicos. A única maneira de compreender sua realidade é olhá-lo como produto da
sociedade em permanente estado de mudança, que varia segundo a concepção e medida do
tempo e do espaço.
Quanto à ativação do patrimônio histórico, Elsa Peralta (2003, p. 86) salienta que não
serve a mesma somente para usos políticos, mas, sobretudo, para fins de identificação
coletiva. Para a autora, o patrimônio histórico apresenta três dimensões para seu uso: político,
simbólico e aproveitamento turístico. Essas três dimensões possuem uma relação de
complementaridade e retroalimentação, pois os referentes simbólicos fornecem os motivos
que alimentam o turismo emanando novos referentes simbólicos à imaginação coletiva,
acrescentando-lhe novos elementos. “Porque sendo a autenticidade um constructo, o
património que é inventado para satisfazer a procura turística não é menos autêntico do que
aquele que é resgatado de um corpus cultural, nem a cultura que resulta desse processo de
recriação será”. (PERALTA
7
, 2003, p. 87).
7
Nas citações dessa autora manteve-se a grafia vigente em Portugal.
19
Stela Maris Murta e Celina Albano (2002), no livro Interpretar o patrimônio, um
exercício do olhar, advertem que uma comunidade que não conhece a si mesma dificilmente
poderá comunicar a importância de seu patrimônio, seja na interação com os visitantes, seja
na sensibilização das operadoras de turismo. A prática interpretativa deve, portanto, promover
a discussão entre os vários segmentos sociais sobre aquilo que torna o lugar especial e
diferente. Deve também levar os moradores a (re)descobrir novas formas de olhar e apreciar
seu lugar, de forma a desenvolver entre eles atitudes preservacionistas. Finalmente, a prática
interpretativa do patrimônio deve despertar novas vocações e possibilitar oportunidades de
trabalho e renda ligados ao turismo.
A obra organizada pelas autoras propõe um debate acadêmico e técnico sobre a
temática, na busca de também sensibilizar órgão públicos e entidades privadas que trabalham
na área de turismo, meio ambiente, patrimônio e planejamento urbano para a necessidade de
incluir a prática interpretativa em suas políticas e programas.
Para Stela Maris Murta e Brian Goodey (2002, p. 19-20) “a interpretação não é um
evento em si, mas um processo contínuo que envolve a comunidade com o passado, o
presente e o futuro de um acervo, de um sítio ou de uma cidade”. O objetivo da interpretação
do patrimônio é apresentá-lo, promovê-lo e atualizá-lo como marcos importantes e como
atrações.
Um plano interpretativo, incorporando as várias vozes da comunidade, deve, segundo
os autores (2002, p. 20) “estabelecer uma rede de descobertas e de desfrute para residentes,
visitantes e turistas, ampliando as possibilidades de desenvolvimento de projetos turísticos e
culturais”.
20
A interpretação, para Stela Maris Murta e Brian Goodey, cumpre uma dupla função
de valorização. De um lado, valoriza a experiência do visitante, levando-o a uma melhor
compreensão e apreciação do lugar visitado; de outro, valoriza o próprio patrimônio
incorporando-o como atração turística. Interpretar é uma comunicação que leva turistas e
moradores da localidade a entender o porquê de um lugar ou manifestação cultural merecer
proteção e visita, “é revelar significados, é provocar emoções, é estimular curiosidade, é
entreter e inspirar novas atitudes no visitante, proporcionar uma experiência inesquecível com
qualidade”. (2002, p. 14).
Brian Goodey (2002, p. 109) salienta que no desenvolvimento e na apresentação de
um local, do patrimônio histórico de interesse turístico, a interpretação e administração devem
ser consideradas dentro de um mesmo quadro de referência. Assim, é importante ter em mente
a perspectiva do visitante, que olhares e necessidades ele tem ao se aproximar e usar o lugar.
Seja qual for a estratégia adotada, conforme sugestões de Murta e Goodey (2002, p.
24-42), o papel de mediador na valorização aos olhos dos usuários é exercida por um
intérprete ou por diferentes meios e técnicas de interpretação: a) ao vivo com guias, atores,
contadores de casos - em que a interpretação contém muito do conceito de animação; b) com
textos e publicações em mapas ilustrados, guias, roteiros, folders e cartões postais, elemento
base para qualquer esquema de interpretação; c) Interpretação com base no design - placas,
letreiros, painéis informativos tradicionais ou iluminados, fotos do “antes” e “depois”,
desenhos, maquetes, instrumentos mecânicos e eletro-eletrônicos, guias portáteis sonorizados,
repetidores de mensagens, vídeos, equipamentos computadorizados e até simulação de
computador com dissoluções de imagens, aplicações em telas múltiplas, sincronizadas com
comentários.
21
Para Murta (2002, p. 140-141) a relação entre preservação, conservação e turismo é
ambígua e a superação deste conflito pode ser efetuada através da interpretação.
Stela Maris Murta e Brian Goodey (2002, p. 43) ponderam ainda que qualquer
patrimônio interpretado como atração requer freqüência na sua avaliação.
À interpretação do patrimônio defendida por Murta e Goodey se deve acrescentar o
ponto de vista de Marta Anico (2004, p. 3). A autora adverte que no atual contexto da
sociedade plural a ativação patrimonial resulta de um processo complexo de negociações
entre variados atores sociais e que a ativação depende, fundamentalmente, das ações dos
poderes políticos, pois são eles os detentores de um repertório político, tendo por base a
seleção de determinados elementos, a sua ordenação e posterior interpretação. O patrimônio é
resultante de um processo de reconhecimento e seleção de seus referentes, projetando-se e
encontrando uma justificação que se remete ao seu caráter simbólico, isto é, à necessidade de
preservar em função do significado que encerra ao coletivo, bem como a rentabilidade social,
sua utilidade e funcionalidade no plano social e econômico. Assim, o patrimônio, além de sua
ligação ao passado histórico funcionará como uma ferramenta de formação identitária e como
estratégia de captação de recursos. (ANICO, 2004).
Em contraponto, Carlos Eduardo Oliveira Bovo (2005) indica que como atores
sociais, os proprietários rurais, reunidos em uma relação participativa e consciente através de
uma atuação de cooperação associativista, poderão encontrar opções para as dificuldades
enfrentadas no campo, melhores oportunidades de representatividade junto ao poder público e
à iniciativa privada, maior organização operacional, valorização cultural e melhoria na auto-
estima. Essa atuação participativa é constatada no meio rural, principalmente, através das
associações de empreendimentos ligados ao turismo, proporcionando uma revitalização do
22
espaço rural. Uma reflexão com mais profundidade sobre o turismo no espaço rural e a
conseqüente ressignificação de seu patrimônio apresenta-se no tópico que segue.
2- O mundo rural: ressignificação pelo turismo
As novas atitudes ecológicas, os novos movimentos e paradigmas ambientalistas
enfatizam, conforme Verbole (2002), o retorno à simplicidade e à vida do campo, junto à
natureza, o que contribui sobremaneira para o fortalecimento do turismo rural. Assim, para
Gislene Silva (2000, p. 74) “O meio rural que era o lugar das ausências passa a ser o lugar das
presenças”.
Essa atitude com o natural, com o rural, revela resquícios da presença do sagrado na
relação homem com a natureza, com as raízes rurais, que o próprio passado do homem nos
revela. Isto nos faz repensar a sobrevivência no embate entre urbanização e natureza,
seguindo trilhas psicológicas, históricas, antropológicas e sociais que convergem na imagem
de um mundo melhor e de mais beleza, projetada no futuro:
Antes as cidades concentravam as vantagens para o capital, para as indústrias
e para a produção do conhecimento. No futuro essas vantagens deverão estar
onde tem terra, água, verde etc. Os luxos da modernidade, os bens mais
caros, não serão os materiais, mas justamente o tempo e o espaço livres,
descongestionados de atribulações, velocidade e apertos. (SILVA, 2000, p.
74).
A interação com o meio rural proporciona ao turista um refúgio do caos urbano, um
desligamento de tudo o que se relaciona às cidades, propiciando um alívio do stress,
momentos de descontração e diversão. A “busca do verde” revela um retorno ao estilo de vida
mais voltado à natureza.
23
Artur Cristóvão (2002, p. 84-85), em seus estudos, afirma que a problemática rural
em Portugal e na Europa não difere significamente do que se observa no Brasil e na América
Latina como, por exemplo, o interesse em assegurar a fixação do homem no campo. O autor
parte da análise das representações sobre o rural e a natureza, em que esses espaços ganham
um crescente valor simbólico. Essa busca pelo rural, como local de descanso, está marcada
pelo sentimento de nostalgia, por um sentido “retro”, veiculando na sua essência uma
legitimidade fundamentada na representação dos campos como locais de liberdade, beleza,
segurança, saúde, de pertença e enraizamento. Essa “reorientação de procuras”, que se traduz
numa revalorização social do rural e do local, induz uma busca do singular, do específico e do
autêntico, perpassando o domínio da alimentação e do turismo, além do reconhecimento das
estreitas relações de complementaridade e de esforço mútuo que as ligam.
Esse interesse pelo espaço rural, Verbole (2002, p. 118) afirma que se reflete numa
melhoria na qualidade de vida, em mudanças nos padrões de trabalho e no aumento do tempo
livre. O turismo rural é uma das alternativas tanto para os turistas quanto para os proprietários
rurais e comunidades locais para a melhoria da qualidade de vida, podendo representar para
esses um diferencial para a diversificação de renda e geração de trabalho.
Carminda Cavaco (2000, p. 89) adverte que junto à crescente valorização do
ambiente rural, da paisagem, do rústico, da história, da tradição e do sossego que sustenta
oportunidades ao turismo e ao lazer, a sua concretização está condicionada pela presença de
uma população permanente, garantia da tradição e da preservação desse meio.
24
Conjuntamente a esses estudos e reflexões que focalizam a atual revalorização do
rural vale aceitar a ponderação de Alenka Verbole (2002) que comenta sobre a necessidade de
haver uma reflexão com relação ao uso e significado do termo rural. Para tanto, a seguir, serão
apresentados rapidamente alguns autores para essa reflexão.
Maria de Nazareth Wanderley (1999) pondera que a formação histórica do meio rural
brasileiro apresenta diferenças marcantes em relação à do meio rural europeu e norte-
americano, ao mesmo tempo em que ele é bastante parecido com o de outros países não
desenvolvidos, principalmente com os da América Latina. No entanto, Wanderley (1999)
ressalta que é necessário retomar as funções específicas assumidas historicamente pelas
cidades brasileiras, a vinculação da grande agricultura de origem colonial ao mercado externo
e a possibilidade de dispersão da população por um vasto território, para entender a
particularidade brasileira no que se refere à constituição e composição das sociedades locais,
à relação campo/cidade e às relações entre o que é “agricultura” e o que é “rural”.
Para Wanderley (1999), o meio rural brasileiro, historicamente, foi percebido como
constituindo um “espaço diferenciado”, que corresponde a formas sociais distintas: as grandes
propriedades rurais (fazendas e engenhos), os pequenos aglomerados (povoados) e padrões
culturais específicos. Esses espaços, juntamente com as pequenas cidades do interior, tiveram
um importante papel na história do povoamento brasileiro, como “pontos de apoio da
civilização” (CÂNDIDO, 1964, p. 39 apud Wanderley, 1999), na expressão do escritor e
crítico literário Antônio Cândido, autor de uma das mais significativas obras a respeito do
modo de vida dos “caipiras”.
25
José Graziano da Silva (2001b, p. 32) afirma que até a década de 1970 havia a
dicotomia entre o urbano e o rural, significando a diferença entre o moderno e o atrasado,
urbanista e ruralista. A partir de 1990 a separação entre o rural e o urbano passou a refletir
também outras características da chamada “modernidade”, suposta diferença entre uma vida
agitada e violenta e a sensação de poder desfrutar de momentos de bucolismo. Para o autor
(2001a), atualmente, nas áreas rurais podem ser encontrados os mesmos setores e ramos de
atividades existentes nas áreas urbanas. “O traço comum entre o novo e o velho rural é a sua
heterogeneidade, o que impede a generalização de situações locais específicas” (p. 45). “Mais
ainda: a conformação produtiva das cidades em termos de ocupações geradas pelos diferentes
ramos e setores de atividades econômicas não-agrícolas afeta as áreas rurais que lhe são
contíguas”. (SILVA, 2002, p. 416). O rural brasileiro, para Silva (2001a), não pode mais ser
entendido como um conjunto de atividades agropecuárias e agroindustriais, pois adquiriu
novas funções em virtude das “novas” atividades rurais – agrícolas e não-agrícolas - que
passaram a configurar o meio rural.
Maria Beatriz Bianchini Bilac (2005, p. 57-58) assinala que os debates teóricos mais
recentes sobre o rural-urbano no Brasil mostram que os limites entre ambos estão sendo cada
vez mais reduzidos. Carlos Eduardo Oliveira Bovo (2003, p. 482-483) salienta que nas
diversas visões propostas a respeito do espaço devem estar presentes o conjunto dinâmico de
três elementos: o modo de vida, a identidade local e a natureza.
Roberto José Moreira (2003, p. 132-133), em suas reflexões, procura localizar o
mundo rural sobre três aspectos: suas instituições, suas políticas e suas práticas. No Brasil da
atualidade, para o autor, o mundo rural passa a ser compreendido não mais como espaço
exclusivo das atividades agrícolas, mas como lugar que aciona novas redes regionais,
estaduais, nacionais e mesmo transnacionais, em defesa do patrimônio natural e cultural, bem
como do fortalecimento dos turismos rurais (ecológico e cultural). Para o autor, esse processo
26
de revalorização do mundo rural, ressignificando-o (quando se trata de signos herdados ou
produzindo novos signos), consolidam atividades rurais e urbanas em áreas interioranas,
revertendo o processo de migração rural-urbana. Adverte Moreira (2003), que essas
ressignificações têm influído nas representações que marcam o rural, provocando necessária
revisão conceitual de “rural” e “urbano”. Ainda, para o autor, o conceito do rural, bem como a
política e a prática associadas ao mundo rural poderiam estar integrados a novas lógicas,
incorporação de cuidados ambientais, o cuidado com os direitos da cidadania (alfabetização,
alimentação, saúde, etc), a pluriatividade (atividades urbanas e rurais exercidas no espaço
rural) e uma possível multifuncionalidade do território (defesa dos patrimônios naturais e
culturais).
João Rua (2006) também se propõe a ver a realidade de outro modo, oposto àquele
fundado em dois pólos distintos - rural e urbano, retomando a idéia de um espaço híbrido, isto
é, de um conjunto inseparável de sistemas de objetos e sistemas de ações (variando em cada
momento histórico). Apresenta uma visão mais integradora das territorialidades na qual o
urbano e o rural se mesclam definindo particularidades e singularidades que marcam cada
localidade. Para o autor (2006), a sociedade local pode (e deve) exercer, permanentemente,
um diálogo com o território - “novas territorialidades”. “Esse diálogo assenta-se em intrincada
gama de elementos que marcam um dado local. Podem ser de natureza interna e atrair e
interagir com os fatores externos, numa combinação multiescalar que caracteriza cada lugar,
de maneira singular”. (p. 99). O rural para João Rua é assim entendido:
Podemos dizer que a produção de um rural híbrido transcende as condições
materiais e os processos que lhes dão origem. Tal origem está também
relacionada à produção de discursos sobre o rural e de poderosas imagens e
símbolos, através dos quais o rural é representado como o “outro”, em
relação ao urbano. Isto implica em múltiplas narrativas que relacionam as
práticas materiais, representacionais e simbólicas, cada uma apresentando
características particulares que internalizam relações dialéticas. O hibridismo
re-apresenta um processo de produção de espaços, feitos territórios, em um
movimento de vir-a-ser e de perpétua transgressão (criação). (2006, p. 89).
27
Valter Bianchini (2001) acrescenta a necessidade de um redimensionamento setorial
e espacial tanto para as atividades agrícolas quanto para o meio rural:
O rural não se confunde com o agrícola e a perspectiva setorial tende a ser
substituída pela perspectiva territorial, tendo como elemento central as
potencialidades específicas de cada local. Nesse contexto, rural tende a ser
crescentemente percebido (e valorizado) em quatro dimensões centrais: a de
espaço produtivo, a de espaço de residência, a de espaço de serviços
(inclusive os de lazer, turismo etc.) e a de espaço patrimonial (valorizado pela
função de preservação dos recursos naturais, dos bens comuns e culturais).
(BIANCHINI, 2001, p. 88).
Alenka Verbole (2002, p. 119) comenta que quando se fala em áreas rurais, deve-se
considerá-las uma realidade e um espaço socialmente construídos ao invés de pensá-las
simplesmente como uma realidade não urbana.
A expressão rural associada à expressão turismo, para Paulo Peixoto (2006, p. 123)
se converte em uma representação de alguma coisa, incluindo-se aquilo que, por vezes, nunca
se teve: qualidade de vida, as referências identitárias, as relações sociais de proximidades.
Para o autor (2002, p. 4-5) esse interesse pelo rural acentua-se à medida que o crescimento
urbano faz emergir reinvindicações e aspirações ligadas à natureza e ao ambiente e manifesta-
se através de fenômenos como as segundas habitações, novas formas de lazer e turismo, ou
ainda, através de estratégias de mudança residencial.
Associando-se o valor histórico e cultural com o gosto das pessoas pelos espaços
rurais, tem se desenvolvido uma linha de turismo que alia cultura, patrimônio e história,
permitindo-se conhecer a rotina e os produtos gerados que são vivenciados em todos os
sentidos: tátil, visual, olfativo, gustativo e auditivo. (FONSECA; ANTONIO; BORGES,
2005, p. 251). Nessa mesma linha de pensamento, o geógrafo chinês Yi-Fu Tuan trabalha os
sentidos humanos (visão, tato, audição e olfato) como traços comuns na percepção ambiental.
(apud VARGAS; HEEMANN, 2003, p. 137).
28
Para Verbole (2002, p. 120-121) o turismo rural define-se como aquele que acontece
no espaço rural. Diferentes formas de turismo rural desenvolveram-se com base na exploração
dos recursos rurais, tais como, a natureza, a população local e sua cultura. Desta forma, o
turismo rural representa um interessante exemplo de revelação da cultura, história, natureza e
hábitos alimentares. Assim,
... processos como globalização, aceleração, padronização e semelhantes têm
resultado numa ampla mercantilização da ruralidade, enquanto a qualidade de
vida está muito associada a viver em contato com a natureza, ar puro, comida
saudável (...) todos os ingredientes do imaginário rural. (VERBOLE, 2002, p.
130-31).
Andreia Maria Roque (2001, p. 34-35) adverte que erroneamente utiliza-se o termo
turismo rural como sinônimo de turismo no espaço rural. “Toda forma de turismo rural é uma
atividade turística no espaço rural, mas que nem toda forma de turismo no espaço rural segue
os moldes do turismo rural”. O universo do turismo rural encontra-se inserido dentro do
universo do turismo no espaço rural, que não pode ser entendido como a totalidade
representativa desse universo. A oferta do turismo rural se diferencia das outras formas de
turismo no espaço rural por apresentar a preocupação de ofertar aos visitantes um contato
único que permita a inserção no meio rural físico e humano, integrando-se a hábitos e crenças
regionais.
O turismo no espaço rural abrange também atividades que não necessariamente
mantêm relações diretas com as propriedades rurais, ainda que tenham uma área de contato
ampla com elas. (GONÇALVES, 2003, p. 42). Nessa modalidade as atividades desenvolvidas
no meio rural não estão identificadas com a cultura local, podendo ser desde spa’s a parques
temáticos localizados no meio rural. (PIMENTEL, 2003).
29
Já o turismo rural “estaria correlacionado a atividades agrárias passadas e presentes
que conferem à paisagem sua fisionomia nitidamente rural” (RODRIGUES, 2000, p. 54),
compondo um conjunto de incursões turísticas de lazer praticadas no campo, interligadas ao
modo de produção agropecuária e nos recursos naturais e culturais do local. (PIMENTEL,
2003). O turista tem o desejo de encontrar a vida rural, a vida do agricultor, a vida do
vaqueiro, sua cultura, seus costumes e quer também apreciar a paisagem, a vegetação, a
comida. (ALBUQUERQUE; ANDRADE NETO; CESÁRIO, 2003, p. 230).
A Abraturr (Associação Brasileira de Turismo Rural) define o turismo rural “como o
conjunto de atividades turísticas praticadas no meio rural, comprometido com a produção
agropecuária, agregando valor a produtos e serviços e buscando resgatar e promover o
patrimônio cultural e natural da comunidade”.
(SOLERA, 2003).
O turismo rural é um segmento de turismo que não existe somente como atividade
turística, mas nele estão associados os valores de suas atividades tradicionais e efetivas. Isto é,
desde que o sistema produtivo agropecuário se caracterize como atrativo ao visitante,
impulsionado pela sua característica especial, pela singularidade do lugar. As atividades de
turismo rural devem complementar as atividades agropecuárias já existentes nas propriedades;
a oferta de uma gastronomia típica, saborosa, higiênica; contato com a beleza natural da
propriedade e a tradição local; opções de atividades para os hóspedes acompanharem a rotina
da propriedade; acesso fácil; possibilidade de venda de produtos típicos, entre outras.
O turismo também pode ser um parceiro que poderá trazer nova vida para o
patrimônio histórico rural. É importante ressaltar, ainda, que a atividade turística não seja
vista como a solução para as questões do desenvolvimento local sustentável, mas como
complementar à integração e à articulação de vários setores ligados a ela, direta ou
indiretamente, de forma a promover e valorizar os recursos, tendo como referência a cultura
local. (SANTOS, 2003, p. 462). O turismo rural sustentável exige como requisito a
30
capacitação e qualificação da mão-de-obra, melhorias na infra-estrutura, programas de
divulgação, conscientização e legislação, conhecimento científico, entre outros, por sugerir a
integração do homem com o ambiente natural. (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 47).
Em contraponto, no aspecto referente à legislação no espaço rural, Elias Medeiros
Vieira (2006, p. 17) aponta que no turismo rural as ações públicas e privadas em fase de
consecução deparam-se com a constatação de que não há regramento legal específico, na
medida em que se encontra emaranhado, suscetível e submetido a várias legislações que se
interpenetram, no âmbito federal, estadual e municipal, além de disciplinarem realidades
distintas do espaço urbano e rural.
O turismo rural apresenta também a característica de satisfazer as necessidades de
quem o oferece e de quem o recebe, por permitir ao visitante um contato personalizado, seja
na integração às atividades rurais, aos costumes e ao modo de vida local. Busca-se que o
visitante não seja apenas espectador, mas que esteja integrado, compreendendo a importância
das manifestações e valorizando os hábitos da comunidade visitada. Margarita Barretto (2003)
faz uma reflexão sobre a necessidade de melhorar as relações de turismo no que se refere ao
paradoxo da relação turistas-anfitriões para o desenvolvimento de um turismo responsável, o
que corresponde a:
Ajudar a entender os processos psicossociais desencadeados pelo fenômeno
turístico, as expectativas, desejos, satisfações e frustrações das populações
anfitriãs e dos turistas, as motivações para agir de uma ou outra maneira, a
busca para além da simples viagem, a dinâmica cultural em que o turismo
está inserido, a diversidade de interesses e necessidades sociais que o turismo
afeta, enfim, seus dilemas e paradoxos seria uma enorme contribuição das
ciências sociais para o planejamento equilibrado de um turismo responsável.
(BARRETTO, 2003, p. 26).
31
“O patrimônio histórico-cultural é importante para o turismo, por ser o turismo o
eixo da promoção e da divulgação da cultura, garantindo também a desenvolvimento
sustentável da localidade”. (TORENZANI, 2005, p. 9). O turismo, por sua vez, preserva e
reconfigura os bens culturais.
A relação existente entre cultura e turismo é visivelmente notada quando o turismo se
apropria das manifestações culturais, das artes, dos artefatos da cultura. (BATISTA, 2005). O
turismo proporciona o espaço do encontro, de um lado está a cultura do anfitrião, dos
proprietários do empreendimento, do outro está a cultura do visitante, do turista. Susana
Gastal (2001, p.127-129) afirma que não se deve produzir uma cultura para o turista. A
cultura é insumo turístico importante desde que seja praticada pela comunidade em seu
cotidiano. A cultura passa a ser, portanto, um veículo de socialização entre visitantes e
visitados.
Para Carlos Lima (2003, p. 62) “o turismo cultural integra a cultura enquanto
processo e enquanto produto”. Enquanto processo, pelo qual uma comunidade se identifica
consigo própria e sua forma de vida; a sua autenticidade. Enquanto produto, pela
operacionalização de um conjunto de recursos, infra-estruturas, serviços e criações culturais,
oferecidos de modo organizado e regular num determinado tempo e lugar. O sucesso do
turismo contemporâneo, para Lima, assenta-se em três vetores base – os três E’s – que, de
igual modo, se ajustam à especificidade do turismo cultural: [E]ntretenimento; [E]moção; e
[E]ducação. (2003, p. 67).
Paralelamente a essa discussão, Jacques Wainberg (2003, p. 13) ressalta que nas
definições de turismo estão presentes três fatores decisivos para seu entendimento. O primeiro
é a existência da fronteira. O segundo, por decorrência, é a diferença entre os lados da
fronteira. O terceiro, é o movimento de um lado da fronteira ao outro. Numa reflexão
32
antropológica, esses três fatores apontados por Wainberg remetem ao enfrentamento entre o
“eu e o outro” e as relações que se estabelecem nesse contato, as quais nos remetem à questão
da alteridade:
a conjunção entre o turístico e o cultural implica a interação entre o turista e a
comunidade receptora, um espaço em que os dois protagonistas possam
dialogar sobre o universo de significados e concepções que se defrontam e as
possibilidades e perspectivas que possam emergir do encontro. (BILAC,
2005, p. 55).
Para Wainberg (2003), o que caracteriza o fenômeno turístico é a existência da
fronteira e sua permanência demarcando territórios distintos, o determinante é a natureza da
fronteira. Para o autor, o turismo é também um encontro, um fenômeno de consumo e
interação simbólica cuja articulação é disparada pela diferença. O turismo tem a virtude de
compreender a dimensão comunicacional do fenômeno.
Segundo Beni (2000, p. 168) o turismo é um elemento importante da vida social e
econômica de uma comunidade. Reflete as aspirações legítimas das pessoas em assimilar
culturas diferentes, beneficiar-se de atividades ou descansar longe do local habitual de sua
residência. Pompeu Figueiredo Carvalho (1999) complementa apontando que, historicamente,
as pessoas buscam interações com outras fora de seus lugares, o “estar” é necessário para a
construção/ realização do “ser”:
O homem que conhece outros lugares, quando volta, tem uma leitura
diferenciada do seu próprio lugar. Seus olhos, seu ser, estão modificados.
Modifica-se o seu “ser” e, conseqüentemente, o seu "estar". Passa-se não
apenas a olhar, mas "ver" o seu lugar. (1999, p. 101).
33
Para tanto, vale registrar também as considerações de Moesch (2000, p. 54-55) ao se
referir ao turismo como um fenômeno histórico:
porque é humano e por acontecer dentro de um mundo que se movimenta e se
desenvolve ocasionando experiências reais suscetíveis de serem entendidas e,
portanto, sistematizadas de maneira dialética. Essas experiências do turismo
podem ser lidas e compreendidas como uma unidade rica e contraditória,
plena de elementos constitutivos que se acham num movimento próprio e
constante, estando em relação com outros processos de realidade que
possuem características similares. Logo, por haver conjuntos dentro de um
conjunto mais amplo, na realidade global, podemos estabelecer relações
dialética, entre eles, contextualizando-os a cada experiência particular.
Para Moesch (2000, p. 65), o fenômeno turístico, na abordagem dialética-histórica-
estrutural, busca aplicar novas categorias de análise que transcendem o contexto da produção
turística, a sua aparência e avança sobre o fazer-saber, em que a realidade é entendida como
uma criação dos sujeitos que com seus pensamentos, sentimentos e ações transformam o
mundo natural em cultura dando-lhe sentido:
A exigência de um tratamento interdisciplinar do turismo origina-se,
marcadamente, de sua realidade, de sua prática histórica, da sociedade pós-
moderna, em que o econômico e tecnológico, de forma simbiótica, são
resultantes das necessidades subjetivas do imaginário, da diversão, da
comunicação, da ideologia, criados pelos sujeitos e por eles consumidos.
(MOESCH, 2000, p. 97-98).
A utilização de sedes de antigas fazendas como meio de hospedagem, para Gleice R.
Guerra et al (2003, p. 437), exige adaptações ou alterações, sendo necessário avaliar quais
seriam necessárias, seus impactos e a estimativa de investimentos, mas também denota a
oportunidade de mostrar ao visitante a realidade de uma determinada época histórica.
André Munhoz de Argollo Ferrão (2004) afirma que os estudos sobre a arquitetura
rural brasileira têm evoluído nos últimos anos. A paisagem rural confere a esses estudos uma
dimensão sócio-econômica importante. O autor afirma que ao se estudar a arquitetura rural
sob o enfoque transdisciplinar e a visão de processos, há de se abordar o planejamento do
espaço físico e os valores que se poderá adicionar ao processo de desenvolvimento rural
sustentável, valorizar as áreas históricas de cada região a ponto de caracterizar sua paisagem
34
cultural e ser reconhecida a relação intrínseca entre processo produtivo e reorganização
territorial.
No enfoque transdisciplinar, Ferrão (2004) adverte que no estudo de qualquer
fenômeno há de se aceitar o conhecimento advindo de fóruns não acadêmicos. A arquitetura
rural entendida como interdisciplinar é também integradora dos campos da arquitetura e
ciências agrárias, abrangendo todas as correlações entre os elementos arquitetônicos,
estruturais e ambientais, referentes aos vários segmentos da engenharia, co-existentes na
paisagem rural: nas habitações rurais, arquitetura agrícola, arquitetura agro-ecológica,
patrimônio cultural rural, infra-estrutura física. Na abordagem sistêmica, Argollo Ferrão
(2004) argumenta que se tem a visão de processos. Assim, a arquitetura rural deve levar em
conta as relações entre técnica e arquitetura no âmbito de uma cadeia produtiva, considerar o
universo em que está inserido, cujos elementos são ora determinantes, ora resultantes de sua
evolução. Essa abordagem permite caracterizar as tipologias arquitetônicas rurais por períodos
e sub-regiões delimitados histórica e geograficamente, contextualizando-os.
Argollo Ferrão (2004) também ressalta que a esse imenso patrimônio cultural rural
brasileiro - repleto de fazendas centenárias, antigas estruturas de engenharia, ícones da
história econômica e da história da técnica – deve-se acrescentar a promoção do turismo rural,
cultural e ecológico, além de alavancar o turismo de eventos (encontros de profissionais,
eventos acadêmicos) relativo aos estudos do espaço rural.
35
Celso Lago Paiva (1997) adverte que os proprietários devem polarizar a atenção dos
turistas com recursos culturais autênticos e expressivos, baseados no patrimônio histórico,
dificilmente encontrado no meio urbano, os quais podem ser utilizados para hospedagem. Mas
o proprietário, o empreendedor rural, tem que estar consciente de que os lucros não serão
imediatos.
A história do turismo rural no Brasil é bastante recente e está relacionada às diversas
fases do processo de ocupação do território. Nas últimas décadas, muitas sedes de fazendas do
período colonial brasileiro têm “aberto suas porteiras”, acolhendo várias pessoas interessadas
na história e também em participar do cotidiano das atividades rurais.
No Brasil, a região pioneira a ter a iniciativa de implantar o turismo rural em fazenda
centenária foi Lages, em Santa Catarina, em 1986, na Fazenda Pedras Brancas. Inicialmente,
os proprietários ofertaram aos visitantes o “dia de campo”, com algumas atividades lúdicas
relacionadas ao cotidiano da fazenda, funcionando dentro de um esquema familiar, cujas
atividades estavam voltadas para complementaridade das produções agrícola e pecuária
tradicionais, valorizando a paisagem agrária típica na região. (RODRIGUES, 2000). Nesse
“dia de campo”, o visitante era recepcionado pela manhã, permanecendo até o anoitecer,
participando da tosa das ovelhas, do plantio e da colheita. Num segundo momento, outras
fazendas da região, como Barreiro
8
e Boqueirão, começaram a ofertar hospedagem, além do
“dia de campo”. (RODRIGUES, 2000; ROQUE, 2001).
Outras iniciativas começaram a se multiplicar no Brasil, particularmente na região
Sul e Sudeste, tendo como eixo comum a valorização do campo. Cada Estado tem sua história
e passado próprios, e, por isso, é possível identificar as diversificações de valores que
caracterizam e norteiam seus respectivos produtos turísticos rurais
9
. (ROQUE, 2001).
8
Essa fazenda preserva a casa de pedra tradicional, construída a mais de 200 anos para pouso de tropeiro.
(RODRIGUES, 2000, p. 63).
9
Utilizo as palavras de Andréia Roque (2001, p. 46) para apresentar uma rápida contextualização do turismo
rural nas outras regiões do Brasil. No final dos anos de 1980, em São Paulo, na região de Mococa, um grupo de
36
As paisagens rurais brasileiras, assim como seus aspectos marcantes, se constituíram
através dos chamados “ciclos econômicos”, originando um diversificado patrimônio histórico-
cultural. Assim, podem-se citar, como exemplo, algumas rotas turísticas que valorizam esse
aspecto da ressignificação do patrimônio histórico arquitetônico rural brasileiro: na Bahia
observa-se a “Rota do Cacau”, que consorcia grandes fazendas cacaueiras com atividades
turísticas; em Pernambuco, identifica-se o “Roteiro dos Engenhos”; em Minas Gerais
observa-se a “Rota da Cachaça”, “Estrada Real”; no Rio de Janeiro e em São Paulo, a “Rota
do Café”; no Mato Grosso do Sul, a “Rota Pantaneira”, no Rio Grande do Sul
10
a “Rota
Romântica”, “Caminho das Tropas”, “Caminho das Pedras”; em Santa Catarina a “Rota das
Fazendas”.
Atualmente, nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo
observa-se a “Rota dos Tropeiros”. Este projeto foi idealizado através de um diagnóstico
cultural
11
realizado pelo Sebrae/PR (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas/Paraná), em 2001, visando propor uma rota tematizada no tropeirismo e que
valorizasse o patrimônio histórico-cultural ligado ao antigo caminho das tropas, utilizado
pelos tropeiros no século XVIII e XIX.
proprietários se reuniu e construiu um produto turístico formado por 15 antigas fazendas da região, ofertando
cavalgadas, hospedagem e gastronomia típica. Em 1991, tem-se o primeiro empreendimento turístico no espaço
rural mineiro, na Fazenda do Engenho, em Carrancas. Em 1993, no Rio Grande do Sul o turismo no espaço rural
passa a ser também desenvolvido em Lavras do Sul. No Paraná, em 1992, há os primeiros passos, com a Pousada
das Alamandas e Fazenda Cainã. Complementado a idéia da autora acrescento que em 1994, no Rio de Janeiro,
há a criação do Instituto de Preservação e Desenvolvimento do Vale do Paraíba – Preservale – tendo como
fundadores cerca de sessenta pessoas - proprietários de fazendas, arquitetos, historiadores, ambientalistas,
agentes de viagem e apaixonados pela história e pelo patrimônio do período histórico do Café, admiradores da
riqueza arquitetônica herdada e comprometidos com uma visão de preservação do patrimônio histórico rural.
(PRESERVALE, 2006).
10
No espaço rural gaúcho o turismo rural adota diferentes características, quer por culturas regionais, quer pela
dinâmica dos insumos e fatores que compõe cada projeto. Estão categorizados quatro tipos de classificações para
identificar seu produto turístico: Casas de Fazenda, Casas de Colônia, Fazenda e Hospedarias, Hospedarias
Coloniais. As Casas de Fazenda estão concentradas na região de Lavras do Sul, São Francisco de Paula, São José
dos Ausentes, entre outros.
11
No período de 1983 a 1986 houve o projeto de pesquisa e extensão que visava reconstituir o trajeto e a cultura
material do antigo caminho das tropas que ligava os campos do sul com a feira de Sorocaba, numa iniciativa
conjunta dos organismos de preservação do patrimônio histórico dos quatro estados do sul do Brasil e do IPHAN
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), na época denominado como SPHAN (Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
37
Ao pensarmos a “Rota dos Tropeiros” no Paraná, poderíamos ter também suas
fazendas históricas inseridas em uma rota específica. Para tanto, torna-se necessário
identificá-las, valorizando seu patrimônio histórico-cultural e estimular seus proprietários,
através de uma organização associativa que se proponha a desenvolver ações articuladas com
vistas a maiores ações para o turismo rural, para a inserção de produtores rurais e da
comunidade rural, distribuindo, com isso, os benefícios do turismo e as dimensões de
sustentabilidade do turismo. As fazendas históricas ligadas ao troperismo na região dos
Campos Gerais do Paraná são objeto de estudo nos capítulos que seguem.
38
II - AS FAZENDAS DE CRIAÇÃO NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS:
SUA SIGNIFICAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL
... a vida seguia como se fosse lenta, porque em
lombo de burro a pressa não tinha dia certo.
Chegar era apenas certeza, feito as fases da lua.
Havia essa aproximação. A natureza participava
do dia-a-dia muito mais do que o relógio. O
homem incorporava o ritmo das trilhas no meio do
mato. Trilhas aberta pelos índios e que os
viajantes da época, os tropeiros, sabiam respeitar.
(Sílvio Ferreira Leite, 1992, p. 9).
A partir daqui realiza-se a apresentação de um quadro bibliográfico referencial das
obras que tratam dos Campos Gerais
12
do Paraná, cujas informações estarão dispersas em
aspectos históricos, econômicos e políticos, permitindo-se uma análise ampla sobre o
contexto das fazendas históricas dos Campos Gerais.
Um grande número de fazendas compôs a paisagem rural da região dos Campos
Gerais no cenário do tropeirismo, do século XVIII e XIX. Além das sedes das fazendas, havia
outras construções necessárias ao desenvolvimento das atividades pecuárias: cercados,
currais, mangueiras, açudes.
A contextualização histórica da região delimitada por esta pesquisa está centrada nos
aspectos referentes a fazendas de criação e invernadas. O objetivo do capítulo é analisar a sua
12
A região denominada Campos Gerais do Paraná, atualmente, não tem uma definição única e permanente. Nos
estudos realizados na Universidade Estadual de Ponta Grossa têm prevalecido critérios de identidade histórica e
geográfica, além da área de influência da Universidade e seus campis avançados. Para a Associação dos
Municípios dos Campos Gerais (AMCG) na “Rota dos Tropeiros” prevalecem critérios econômicos e políticos,
em que a região abrange dezesseis municípios: Rio Negro, Lapa, Campo Largo, Ponta Grossa, Porto Amazonas,
Carambeí, Castro, Jaguariaíva, Telêmaco Borba, Sengés, Tibagi, Arapoti, Balsa Nova, Palmeira, Pirai do Sul e
Campo do Tenente. Nesta pesquisa prevalecerão esses critérios adotados pela AMCG e “Rota dos Tropeiros”,
pois nesta região é possível se contrapor, em virtude da proposta de turismo, a significação e a ressignificação
das Fazendas.
39
significação histórico-cultural, bem como dos caminhos e roteiros percorridos pelos tropeiros,
que as interligavam.
A região dos Campos Gerais é caracteriza por sua paisagem natural, seus campos,
mas a abertura dos caminhos das tropas é um marco das transformações no ambiente que
acolheu as grandes fazendas de criação e invernadas. (SANTOS; ZUCCHERELLI, 1991, p.
44).
1- Fazendas de criação e invernadas
13
nos Campos Gerais: séculos XVIII e XIX
O tropeirismo é uma atividade, no seu contexto histórico, que transcende a região dos
Campos Gerais e o próprio Estado do Paraná. Essa atividade implicou na conquista e na
ocupação de toda a imensidão de campos existentes desde os limites atuais com o Uruguai e a
Argentina, no extremo sul do país, até o Paraná, com desdobramentos para os campos
situados ao sul do Estado de São Paulo. Desta forma, o tropeirismo tem uma relação direta
com o povoamento brasileiro e contribuiu para a consolidação de fronteiras e mudanças na
história das relações comerciais desenvolvidas no Brasil.
Sob a análise de sua significação cultural, devido ao mosaico de miscigenação de
costumes, crenças e valores existentes no Paraná, cada região tem suas características e
manifestações culturais. Procura-se determinar uma identidade cultural única, mas na
realidade, o Paraná possui uma história diferenciada em relação aos outros estados brasileiros,
seja pela sua emancipação política
14
tardia, seja por sua variada formação étnica. Portanto,
13
Designação de pastagens fechadas por obstáculos naturais ou construídas destinadas a guardar os cavalares,
muares e bovinos, durante certo período, para que repousem e se restaurem das desgastantes viagens
proporcionando engorda nas criações advindas do sul. “Cobrava-se [...] pelo aluguel dos campos para invernadas
e descanso das tropas, mas nunca pela estadia dos viajantes”. (SOLERA, 2006, p. 584-585).
14
Somente em 1853 foi instalada a Província do Paraná, a qual foi separada da Província de São Paulo. Desde os
primeiros tempos da emancipação político-administrativa no Paraná promoveu-se uma política imigratória
40
conclui-se que a identidade cultural paranaense está vinculada à formação da população, a sua
evolução, a sua expansão demográfica, territorial, política e cultural. (OLIVEIRA, 2003).
Ainda sobre o aspecto dessa significação, outro dado peculiar a ser considerado é que
não foram somente os muares que os tropeiros
15
carregaram do Rio Grande do Sul para o
Brasil Central, trouxeram um linguajar comum, o modo de vestir, de comer, de negociar, de
agir, enfim, um modo de vida construído ao longo dos anos, nos séculos XVIII e XIX, os
quais estão presentes no cotidiano social de modo acentuado ou não, mas que de certa
maneira sempre são focalizados para a identidade cultural paranaense e da região dos Campos
Gerais.
A sociedade rio-grandessense inventou o “gaúcho”
16
e disseminou, através do
tropeirismo, os elementos de sua cultura. Traços comuns são evidenciados nas populações dos
campos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, especialmente em relação a
trajes, expressões artística e artesanais (música, dança, artesanato em couro, ferro, arreios e
facas), expressões lingüísticas. (GEMIN, 2006, p. 19). Embora haja necessidade de
considerar que a cultura, tradição e história sob esse aspecto sejam mais perceptíveis no Rio
Grande do Sul e Santa Catarina.
adaptada às condições particulares da Província - o problema imigratório foi desde logo colocado no sentido de
criar-se uma agricultura de abastecimento.
15
O tropeiro propriamente dito era o chefe do negócio, embora pudesse ter um ou mais sócios. De modo geral,
costuma-se atribuir o termo tropeiro a todos os envolvidos na condução da tropa. Entretanto, havia uma
hierarquia dentre os envolvidos na condução das tropas que os diferenciava social e economicamente. Havia os
peões (responsáveis pelas tarefas árduas da tropeada) e os capatazes. Quando da ausência do dono, o capataz era
contratado como responsável pela transação e viagem da tropa. Mas havia outros salariados componentes da
tropa: cozinheiro, madrinheiro, arribator, tocadores, costeadores, entre outros. Todo pouso ou fazenda recebia o
tropeiro e sua comitiva com hospitalidade e cordialidade. “A hospitalidade era muito mais que simples ato de
delicadeza social e de agrado, pois era uma necessidade vital para uma gente que passava a maior parte do ano
viajando por terras distantes [...] Com o passar dos tempos surgiram estalagens e vendas a beira da estrada, com
gêneros necessários à viagem”. (SOLERA, 2006, p. 586).
16
O “gaúcho” ainda é termo erroneamente, mas comumente, utilizado para substituir a nomenclatura dos sul-rio-
grandenses (pessoas nascidas no Estado do Rio Grande do Sul). Mas, “ser gaúcho” é um estado de espírito,
cultuando costumes, cultura e tradicionalismo, resultado da disseminação entre os estados da região sul do
Brasil, e ainda de povos de outros paises da região pampiana do cone sul do continente, estes localizados na
região do Prata: Uruguai e Argentina. (PIANTAVINI, 2004, p. 20). O “gaúcho” se caracteriza por sua atividade,
seu modo de viver, pelos usos, costumes, crenças, valores e cultura. Esse gauchismo sobrevive folcloricamente
por meio dos “Centros de Tradições Gaúchas”, principalmente, no eixo Rio Grande do Sul à São Paulo, mas
também no restante do país e até fora dele.
41
Deve-se ressaltar, entretanto, que a noção de identidade é uma construção social, que
se faz no interior de contextos sociais. Berger e Luckmann (2004, p. 228-230) afirmam que a
identidade é um fenômeno que deriva da dialética entre indivíduo e sociedade. A identidade é
um elemento chave para a realidade subjetiva. Só existe em relação ao outro. Os tipos de
identidade são produtos sociais. A história das sociedades é feita por homens com
particularidades específicas. A identidade permanece ininteligível a não ser quando é
localizada em um mundo. As teorias sobre identidade têm relação com o universo simbólico e
sua interpretação se faz à luz de teorias mais amplas sobre sociedades e realidade.
A identidade histórico-cultural da região dos Campos Gerais, ligada ao tropeirismo,
remete-nos ao século XVIII. Neste momento, graças aos pastos e também à abundância de
invernadas com boa água e relevo suave, constituiu-se a rota do tropeirismo do sul do Brasil,
com o deslocamento de tropas de muares e gado provenientes do Rio Grande do Sul com
destino aos mercados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Teoricamente, conforme adverte Kathryn Woordward (2000, p.17-19) “Todas as
práticas de significação que produzem significados envolvem relações de poder, incluindo o
poder para definir quem é incluído e quem é excluído”. A cultura molda a identidade ao dar
sentido à experiência e ao tornar possível optar, entre as várias identidades possíveis, por um
modo específico de subjetividade. Toda significação nasce de um contexto. A representação
inclui, portanto, as práticas de significação e os sistemas simbólicos, por meio dos quais os
significados são produzidos, posicionando-nos como sujeitos.
42
Cecília Rodrigues Santos observa que o patrimônio histórico-cultural deixou de ser
simplesmente herdado para ser estudado, discutido, compartilhado e, até reivindicado. “Passa-
se a valorizar não somente vestígios de um passado distante, mas também a
contemporaneidade, os processos, a produção”. (2001, p. 44).
Uma das notícias mais antigas que encontramos sobre a criação de gado nas terras
curitibanas nos é dada através das sesmarias concedidas no século XVII. Para a autora Marina
Ritter (1980, p. 129-130), a documentação referente a esse período demonstra a “existência de
animais nos Campos de Curitiba antes de 1661, quando Baltazar Carrasco dos Reis pediu
terras no Barigui. Em 1668, Mateus Leme solicitara nos Campos de Curitiba uma sesmaria de
meia légua de testada de uma roça que tem defronte do seu curral, da outra banda do Barigui”.
Em 1693, a constituição de Curitiba enquanto Vila assinalou o início da definição de
uma identidade regional, fundada na pecuária. (NADALIN, 2001, p. 44). De acordo com
Roselys Roderjan, “Com o estabelecimento de novos currais e aquisição crescente de
sesmarias, o povoamento se expande aos campos contíguos dos primitivos Campos de
Curitiba e novos caminhos se definem”. (1992, p. 30).
Jailson Trindade aponta que:
As primeiras estâncias ou fazendas de gado instaladas na região sul do Brasil,
para abastecer com gado em pé mercados situados ao norte, foram os dos
Campos de Curitiba ou dos Campos Gerais, no Paraná, formadas em fins do
século XVII e início do século XVIII. Esses campos faziam parte da
Capitania de São Paulo. (1992, p. 44).
43
Desde o início do povoamento do Brasil, possuir sesmaria
17
era um meio de ascensão
social. “Nas hierarquias sociais do Paraná foram bastante expressivos os tropeiros e
comerciantes de gado que representavam uma posição social de destaque, em ascensão”.
(RITTER, 1980, p. 195).
O primeiro requerimento de sesmaria na região dos Campos Gerais atendido foi o de
Pedro Taques de Almeida, em 1704. O paulista Pedro Taques de Almeida, homem de grande
prestígio
18
, ocupou em São Paulo vários cargos de confiança.
Pedro Taques de Almeida requereu terras com extensão de 14 léguas na região dos
Campos Gerais. Nesse requerimento apareceram grande parte dos componentes do seu clã
familiar. Para justificar as pretensões, Pedro Taques empregou justificativas muito simples,
alegando, entre outras coisas, que seu filho José de Góis e Morais e seu genro Antonio Pinto
Guedes queriam “se aposentar”. (BLAJ, 1998, p. 287). Para a Coroa portuguesa, mesmo
interessada em estimular o povoamento, a solicitação do Capitão-mór era ambiciosa e
ultrapassava o limite estabelecido para a concessão de terras na Colônia. O clã de Pedro
Taques contornou habilmente a resistência de Portugal, redigindo novos requerimentos em
17
Ruy Cirne Lima comenta que na própria palavra sesmaria está resumida as características principais deste
instituto e como se transmitiu à legislação posterior: “sesmaria deriva, para alguns, de sesma, medida das terras
do alfoz; como para outros, de sesma ou sesmo, que significa a sexta parte de qualquer cousa; ou ainda para
outros, do baixo latim caesina, que quer dizer incisão, corte”. (1954, p. 15). Para a autora Marina Ritter (1980a,
p. 65), a sesmaria não foi um direito pleno de uso da terra, determinada de modo rígido: fora concebida de
variadas formas, atendendo-se à exigência própria de cada atividade econômica nas diversas áreas da Colônia.
Assim surgiram as Sesmarias do Litoral no ciclo do açúcar; do Sertão, nas áreas pastoris; das Minas, na fase da
mineração; dos Caminhos, para agricultura de subsistência durante o tropeirismo; Invernadas para engorda e
descanso de gados e ainda as Sesmarias Urbanas, terras entregues no termo da vila para incentivar a
concentração urbana. “Mesmo que a concessão de sesmaria se limitasse a três léguas para as áreas concedidas no
sertão, esta representava uma dimensão bastante grande para ser totalmente aproveitada”. (RITTER, 1980, p.
64). A légua de sesmaria é uma medida de área (6.600 x 6.600 metros ou 43.560.000 metros quadrados ou 4.356
hectares), encontrada como medida de comprimento, correspondendo a aproximadamente a 6.600 metros. A
sesmaria de campo equivalia à área correspondente de uma légua de frente e três de fundo, ou seja, 6.600 x
19.800 metros ou 13.068 hectares. Considerando que a medida de um
hectare vale 10.000 m
2
. A concessão das
sesmarias foi suspensa pela Resolução Imperial de 17 de julho de 1822. Segundo Mattos Neto (2003, p. 13), com
a suspensão da concessão de sesmarias até a edição da Lei n° 601 (Lei da Terra), de 1850, o acesso a terra
passou a ser feito através da posse. No século XX, a propriedade latifundiária perdeu sua hegemonia, houve a
proliferação da pequena propriedade, principalmente no sul e centro-sul do país.
18
Prestou serviços como Provedor e Contador da Capitania de São Paulo e entre 1684 e 1687 foi Capitão-Mór e
Governador da Capitania de São Vicente e São Paulo. Foi ainda Juiz de Alfândega e vedor da gente de guerra da
praça de Santos, Capitão-Mór, Alcaide-Mór, procurador da Coroa e administrador-geral das aldeias do real
padroado. (BLAJ, 1998, p. 287).
44
que cada membro pedia separadamente sesmarias de três léguas quadradas dentro da área
solicitada anteriormente.
Estas sesmarias, solicitadas por 22 pessoas do clã familiar de Pedro Taques,
abrangiam vasta extensão territorial, com áreas correspondentes, hoje, aos municípios de
Jaguariaíva, Piraí do Sul, Castro e parte de Ponta Grossa. (PARANÁ, 1985). (Figura 1).
Figura 1 – Mapa das sesmarias concedidas ao clã de Pedro Taques de Almeida
Fonte: Museu do Tropeiro, 2001.
45
José de Góis e Moraes, filho do Capitão-Mór, se tornou um dos maiores sesmeiros da
região. Com a morte de seu pai, passou a liderar o clã familiar. Em 1713 requereu, juntamente
com seus primos João Gonçalves Siqueira e João Pedroso de Barros, sesmaria entre os rios
Pitangui e Iapó, a sesmaria de Carambeí. Aliando-se a Bartholomeu Paes de Abreu e Antonio
Pinto Guedes, em 1725, solicita sesmaria na paragem chamada São João, “as quais depois
adquiriria tornando-se o único proprietário das terras compreendidas entre o Iapó, Pitangui e o
Tibagi, a antiga pretensão de seu pai”. (MOREIRA, 1975, p. 926).
Todavia, a mais antiga referência encontrada sobre doação de sesmaria na região está
ligada à Joana Rodrigues de França, que em 1701 recebeu doação de três léguas de terras,
recebidas por influência de seu pai, o Capitão-Mór João Rodrigues de França, tenente do
donatário da Capitania de Paranaguá. (LAVALLE, 1991, p. 18; NEGRÃO, 1928, p. 5).
Segundo Ritter, Embora grande parte das terras dos Campos Gerais tenha sido
concedida em sesmaria ao clã familiar dos Taques, outros paulistas foram proprietários de
diversas fazendas na região” (1980, p. 144). Pode-se citar como exemplo Domingos Teixeira
de Azevedo, nomeado como guarda-mór das minas do distrito da Vila de Curitiba, tinha
propriedades em Santos e em Paranaguá. Ele conseguiu formar as fazendas de Cambijú,
Santana de Itaiacoca e Botuquara. Após sua morte, suas propriedades foram administradas por
sua viúva, Ana de Siqueira, e por seu filho José Tavares de Siqueira. Ana de Siqueira era
também herdeira da fazenda Tibagi. (LAVALLE, 1991, p. 21).
46
Ilana Blaj (1998, p. 289) aponta que “No âmbito da política patrimonialista
portuguesa, observa-se a cristalização de uma elite paulistana que concentra em suas mãos
terras, escravos, produção, comércio, contratos e cargos”.
No século XVIII, no Paraná, segundo Carlos Roberto Antunes dos Santos (2001, p.
14), estabeleceram-se duas áreas econômicas não integradas: a área da economia da pecuária
nos Campos Gerais, integrada à economia central do país, e a área com o prevalecimento de
padrões específicos da economia de subsistência, esta situada ao redor das pequenas vilas do
planalto e do litoral, estando isolada dos grandes mercados e apresentando ritmo lento de
produção.
As fazendas de criação nos Campos Gerais, segundo Mário Mattos, passaram a ser
estimuladas nesta fase.
Antigos criatórios de mulas eram mantidos pelos espanhóis nas terras das
margens direita do rio Uruguai - em Corrientes, Entre-Rios e outras
províncias que iam até o Paraguai - e que forneciam esses animais para as
minas do Potosi. A época da ascensão do ouro brasileiro declinava as minas
de prata espanholas. (...) Por isso, no início, as Minas Gerais foram
abastecidas com cavalos e não com mulas. Os fazendeiros dos Campos
Gerais foram incentivados pelo conde de Assumar a criar eqüinos e bovinos.
Na mesma época - começo do século 18 - também chegavam, pelo porto do
Rio de Janeiro, animais trazidos do Sul por via marítima. (MATTOS, 1984,
p. 18).
Moacir Flores (1995, p. 139-142) aponta, todavia, que no século XVIII o comércio
de mulas inicialmente estava agravado com duas proibições reais, que somente no século
seguinte houvera a permissão para a criação e comércio de mulas em todas as províncias
brasileiras. Somente a partir de 1825, liberou-se a criação e o comércio de mulas entre todas
as províncias brasileiras.
A criação de gado não exigia tanto capital quanto a empresa açucareira, nem muitos
braços, sendo relativamente fácil a organização de fazendas de criar. Nesse tipo de atividade
já não era somente a posse de escravos, mas a de gado que condicionaria o requerente à
47
obtenção de terras. “A pecuária representou também uma atividade importante para a
ocupação e desbravamento de diversas regiões do Brasil. Foi ela que deu ao homem colonial a
noção de valor econômico das áreas que não tinham riquezas minerais e que não se prestavam
à agricultura”. (RITTER, 1980, p. 53).
No século XVIII, a administração das fazendas era feita por um “fazendeiro” ou
“feitor”. Os proprietários, em geral, moravam em Curitiba, Paranaguá, Santos ou São Paulo.
Havia também nas fazendas o capataz, geralmente um escravo. O serviço de roças e a lida
com o gado eram feitos pelos escravos e também pelos “administrados”, espécie de escravos
não negros, geralmente descendentes de índios. (LOPES, 1974, p. 70). Geralmente o trabalho
nas fazendas era realizado por assalariados brancos, negros forros, mestiços e mesmo índios
dedicando-se aos ofícios de vaqueiro e peão. Esses vaqueiros ou “fazendeiros” eram
remunerados com a quarta parte das crias, após cinco anos de trabalho. Decorridos esse tempo
podiam fundar fazendas, uma vez que possuíam gado suficiente para solicitar sesmarias. Ou
ainda, apossavam-se de terras próximas às fazendas ou arrendavam-nas dos proprietários.
(RITTER, 1980, p. 88-89 e p. 101).
A partir do século XIX, a fazenda era local de moradia e trabalho, constituindo-se em
um complexo com numerosas construções e instalações relativamente menos dispendiosas do
que aquelas necessárias à montagem de um engenho. Geralmente eram construídos cercados,
currais, açudes, casa do proprietário e senzala. Os cercados eram, normalmente, construídos
de pau a pique e os maiores denominados mangas. Estes, com dimensão de meia légua
quadrada, recolhiam os animais para a engorda. A benfeitoria mais importante de uma
fazenda, o curral
19
, de forma retangular, era construído de madeira. Na maioria das fazendas
havia a cacimba, um poço amplo, aberto na areia de rios e riachos. Outras utilizavam açudes,
com profundidade máxima de cinco metros. Normalmente, os moradores tinham seus
19
Nos currais eram recolhidas as vacas áridas separadas dos rebanhos para a ordenha da manhã, o gado que
exigia tratamento e os bois destinados à venda. (MUSEU DO TROPEIRO, 2001, p. 4).
48
roçados, plantando para abastecimento próprio. A casa da fazenda era uma moradia coberta de
telhas, com muitos cômodos e ainda uma varanda que proporcionava sombra e abrigo às
montarias. O mobiliário era composto de peças rústicas, como bancos, mesas, prateleiras e
redes. A casa do administrador era uma choupana de paredes de taipa, também coberta de
telhas. As senzalas e ranchos serviam de abrigo para os escravos. (RITTER, 1980, p. 81-82).
Na economia das fazendas e invernadas do Paraná havia o trabalho fundamental da
produção de alimentos que se consistia basicamente em carne de porco, milho, feijão, arroz,
mandioca, plantava-se e moia-se o trigo. A criação de gado vacum, razão econômica da
existência da fazenda na região, era produto de exportação e a esse fim reservado. Não se
comercializavam os produtos de subsistência produzidos nas fazendas e em sua produção se
empregava maior número de mão-de-obra. Estavam as casas das fazendas cercadas de
pomares e hortas. (BALHANA; PINHEIRO MACHADO; WESTPHALEN, 1969, p. 88-91).
As mulheres dos Campos Gerais, no século XIX, desempenhavam as funções de
chefe de família, com marido ausente, que passava em casa dois ou três meses por ano, em
razão de viagens ao Rio Grande ou Sorocaba. Como já observou Gilberto Freyre, em outras
regiões do Brasil, não como titulares de um matriarcado social, mas como representantes do
patriarca ausente e tão somente em seu nome. Auxiliada por poucas escravas no serviço de
casa, era também a mãe de família, a mantenedora do culto doméstico. Todas as noites, filhos
e crioulos repetiam, em torno dela, as orações que lhes ensinava. Aos sábados, abria-se o
grande oratório e rezava-se o terço. Aos domingos, toda a família ia à Missa, seguindo do
sítio, ela, os filhos e uma escrava, a cavalo; as outras a pé, carregando crianças ou balaios,
onde ia o jantar que se fazia na freguesia. (WESTPHALEN, 1983).
49
O poder dos proprietários não era exercido somente sobre seus escravos. Na
composição dos clãs, além de todos os familiares figuravam os rendeiros, trabalhadores livres
e agregados. Como homens livres, ligavam-se ao senhor das terras por mero favoritismo,
retribuindo o benefício de viver em sua casa de diversas maneiras. Freqüentemente o grande
proprietário concedia-lhes o direito de explorar uma parcela inaproveitada de suas terras, em
retribuição exigia do agregado a fidelidade e prestação de pequenos serviços. (RITTER, 1980,
p. 91-92). Residiam em terras da fazenda, em pontos mais distantes da sede, como vigilantes
das invernadas mais longínquas, eram feitores, capatazes, capangas, compadres, formando
uma rudimentar clientela dos donos da fazenda. Em geral, eram parte de uma população
flutuante e móvel da Província, que vagava de fazenda em fazenda e que acorria em massa
para os ervais, nos períodos do corte da erva, quando os preços eram altos. (PINHEIRO
MACHADO, 1963, p. 15-16).
Nem toda a extensão dos Campos Gerais estava coberta pelos latifúndios, havia os
sítios, que eram pequenas propriedades perto dos povoados, à beira das estradas, ou mesmo
localizadas dentro das próprias fazendas. (PINHEIRO MACHADO, 1968, p. 34). Os sítios, às
vezes obtidos através de compra, arrendamento ou posse, foram unidades produtivas de
retaguarda das fazendas, principalmente na fase do tropeirismo. As fazendas, com suas
invernadas, não tinham uma produção capaz de abastecer a grande quantidade de homens e
animais vindos do sul. (RITTER, 1980, p. 81-82).
50
O latifúndio criou “o padrão da formação social brasileira”, mobilizando a força
econômica da colonização. E no sul também organizou a produção, possibilitando a inserção
da região, e das outras, “na estrutura econômica mundial, segundo os colonizadores
esperavam da colônia”. (NADALIN, 2001, p. 52).
Embora as fazendas desempenhassem a função de invernadas houve aumento na
produção agrícola dos sítios e da pecuária:
Comparando-se o levantamento das fazendas e sítios recenseados em 1772
com aqueles de 1818 verifica-se que embora nesta última data as Fazendas
desempenhassem a função de Invernada com maior intensidade, houve um
aumento na produção agrícola dos sítios e da pecuária nas fazendas. (...) No
que diz respeito ao número de propriedades recenseadas, verificamos que em
1772 foram arrolados 221 estabelecimentos referentes a 91 fazendas e 130
sítios. Em 1818, portanto 46 anos depois, foram relacionadas 2.070
propriedades. (...) No início do século XIX os latifúndios não abrangeram
toda a extensão dos campos do Paraná. Houve grande número de sítios
adquiridos através da compra, herança e ocupados por posse. A propriedade
sofrera tantas transações, que não se distinguiam suas origens pela aquisição
da terra em sesmaria. Sofrera um esfacelamento tão expressivo, que as
sesmarias não configuravam na origem da propriedade, perdendo a
característica da primeira concessão. (RITTER, 1980, p. 205).
Com a Independência do Brasil, em 1822, os chefes das grandes famílias fazendeiras
começaram a participar da vida política, apoiando os presidentes de Província e com a criação
da Província do Paraná, a liderança política se institucionalizou com os fazendeiros dos
Campos Gerais. Acentuavam-se os laços patriarcais da organização social pelas maiores
exigências de lealdade, que tinham como base o parentesco, sob a forma de oligarquia.
(PINHEIRO MACHADO, 1963, p. 16). Até hoje, observa-se que os descendentes dessa elite
campeira se fazem presentes como representantes políticos atuantes na região.
O viajante francês Saint’Hilaire (1964; 1978), botânico que esteve no Paraná em
1820, percorrendo os caminhos de Itararé à Curitiba, descreve algumas fazendas da região, o
modo de vida da época e a hospitalidade de seus proprietários: Fazenda Boa Vista (Tibagi),
Caxambu (Castro), Fortaleza (Tibagi), Fazenda Guartelá (Tibagi), Fazenda Igreja Velha
51
(Tibagi), Fazenda Carambei (Carambei), Fazenda Pitangui (Castro), Fazenda Santa Cruz
(Castro). Em linhas gerais afirma sobre elas:
As casas, apesar de não terem a magnificência que se observa nas fazendas
dos antigos mineiros, são limpas e, como já declarei, muito bem conservadas.
O mobiliário é extremamente simples, consistindo o da sala de visitas em
uma mesa e bancos de paus. Da mesma forma que em Minas, é na guarnição
das camas que ostentam maior luxo; não usam cortinados, mas os lençóis são
de fazenda finíssima e bordados em volta. O travesseiro é metido num saco
de musselina que se abotoa por um dos lados, e sobre este colocam outro
travesseiro menor, todo bordado. Nas residências dos proprietários ricos,
servem chá com queijo, biscoitos e doces, em lindas bandejas envernizadas,
luxo esse em contraste com a singular penúria da casa. (SAINT-HILAIRE,
1964, p. 16).
Nas fazendas estava presente a religiosidade cristã, perceptível através de oratórios
localizados na sala ou em pequenos cômodos anexos à sala, ou ainda, por possuírem uma
capela isolada da casa da fazenda. “Nesses oratórios e capelas realizavam-se atos religiosos,
por padres itinerantes ou por um capelão residente no local”. (LAVALLE, 1991, p. 29).
Em meados do século XIX, as fazendas de criação de gado atingem toda a sua
potencialidade dentro do sistema econômico-social de um período histórico. (PINHEIRO
MACHADO, 1963, p. 7). Essa sociedade campeira, estruturada nos Campos Gerais, expande-
se com o criatório, até os campos de Guarapuava e aos campos de Palmas, configurando a
ocupação do território do Paraná Tradicional.
A promulgação da Lei de Terras em 1850 significou uma vitória dos cafeicultores
paulistas. As terras devolutas só podiam ser adquiridas por meio de compra, dificultando as
pretensões dos imigrantes mais pobres, restando-lhes a alternativa do trabalho nos latifúndios
cafeeiros. (NADALIN, 2001, p. 70).
Antes de 1888 no Paraná, já não é mais a escravatura que caracteriza a sociedade. A
partir de certo momento é o trabalho livre que a impregna e reelabora o sistema social,
inexoravelmente, marcando-o de modo cada vez mais acentuado e atuando na destruição dos
remanescentes econômico-sociais escravistas. (IANNI, 1962, p. 284-5). Desde 1865 foi
grande a aquisição ou o arrendamento de escravos do Paraná para as fazendas de café. Em
52
1867, o imposto arrecadado pela Província sobre os escravos que saíam para São Paulo “era
quase igual ao imposto sobre os animais”. (BALHANA; PINHEIRO MACHADO;
WESTPHALEN, 1969, p. 127-128).
A revenda dos escravos negros do Paraná para as fazendas paulistas, a mobilização
do restante da população para a crescente economia do mate e o desenvolvimento da
urbanização - com o aumento crescente de consumidores - levava a uma intolerável
dependência dos paranaenses da importação de artigos do exterior e das outras províncias. A
vinda de colonos, como resultado, começou a ser vista como um remédio para resolver o
problema da carestia e dos altos preços dos alimentos. (NADALIN, 2001, p. 71).
Para Carlos Roberto Antunes dos Santos,
A vinda dos camponeses imigrantes para o Paraná, na segunda metade do
século XIX, trouxe, ao longo do processo, profundas renovações nos
conhecimentos agrícolas que permitiram maior produtividade e padrões de
consumo mais elevados, que acabaram por constituir, juntamente com outros
elementos, as engrenagens da formação de um sistema de produção
agroalimentar na província. (2001, p. 82).
A motivação de criar uma agricultura de abastecimento personalizou a história de
colonização no Paraná, durante quase trinta anos (1853 a 1879), razão dominante que
justificou uma política imigratória provincial. De 1869 a 1878 foram instalados vários núcleos
a distâncias que variavam de 2 a 16 km de Curitiba, constituídos por alemães de diversas
origens, franceses, franceses argelinos, ingleses, italianos, poloneses e suecos. Os resultados
satisfatórios estimularam a extensão do programa ao litoral e aos Campos Gerais. O fracasso
do projeto de povoamento do interior assinala o fim de um ciclo, desenvolvido principalmente
sob os auspícios de recursos públicos. (NADALIN, 2001, p. 76-77).
53
A partir de 1875 começa a declinar o número de muares entrados em Sorocaba. A
conjuntura trouxe um rápido processo de empobrecimento para os fazendeiros. A fazenda,
com as estruturas que sobre ela se criaram, não cumpria mais a função de integrar uma
comunidade no conjunto e, logo depois, nem a manter as grandes fazendas enobrecidas dentro
do contexto social da Província e do Estado. Forçosamente essa estrutura se desagrega. As
novas gerações emigram para São Paulo, Rio Grande do Sul, para as cidades. Os filhos de
fazendeiros de Ponta Grossa, Lapa e Palmeira se fixam nos campos de Passo Fundo, Palmeira
das Missões, Soledade, Nonoai, Santa Maria, no Rio Grande. Algumas fazendas dos Campos
Gerais também foram vendidas à colonização russa e a companhias frigoríficas, as quais não
se mantiveram por muito tempo. (BALHANA; PINHEIRO MACHADO; WESTPHALEN,
1969, p. 152-155).
A alteração da utilização fundiária foi o reflexo da desagregação do sistema
econômico-social estabelecido sobre a economia da pecuária. Diversas famílias de
fazendeiros passaram a morar na cidade, movimentando ainda mais o comércio das mesmas e
provocando a cristalização do poder urbano sobre o poder rural. Toda essa situação anunciava
um novo Paraná caracterizado agora pela expansão do poder urbano. As evidências estavam
no aumento da população nos perímetros urbanos, na maior movimentação do comércio, no
crescimento da importação de artigos de luxo, nas benfeitorias públicas, nos aumentos dos
preços de escravos, e também na utilização de escravos domésticos como negros de ganhos e
de aluguel. (SANTOS, 2001, p. 64-65).
54
Portanto, segundo Santos (2001, p. 85-86), a história do Paraná pode ser pensada por
três grandes espaços regionais: 1) Ao longo do século XVIII, se estabelece uma sociedade
campeira, patriarcal, escravista e latifundiária, baseada na criação e na invernagem do gado
nas fazendas dos Campos Gerais, integrada ao circuito nacional que, por sua vez, constituiu
peça da engrenagem da economia-mundo; 2) Na primeira metade do século XIX, nas
atividades extrativas e na exportação da erva-mate para os mercados do Prata e do Chile.
Nessa fase econômica se constitui uma sociedade ervateira dominada por uma burguesia
comercial, que impulsionou o processo de urbanização. 3) Na segunda metade do século XIX
se estabelece um novo sistema de colonização com o estabelecimento de colônias agrícolas ao
redor dos centros urbanos, povoados por imigrantes europeus, como saída para a escassez de
produtos agrícolas e de subsistência. Esse novo sistema visou a formação de uma estrutura
agroalimentar em condições de abastecer a Província. A corrente imigratória para o Paraná
abarca o período de transição do Paraná Tradicional para o Paraná Moderno, modificando a
estrutura luso-brasileira e reorganizando o trabalho livre e a propriedade da terra.
Sob esse contexto histórico do Paraná, o tropeirismo, as próprias fazendas e
invernadas da região dos Campos Gerais constituem-se em uma gama de significações
culturais, as quais podem ser estudadas nos mais diversos aspectos, como, por exemplo,
religiosidade, arquitetura, escravidão, trabalho, alimentação, hospitalidade, entre outros.
Para uma análise detalhada da significação cultural das fazendas históricas dos
Campos Gerais, salienta-se a necessidade de observar que os conceitos de patrimônio
histórico-cultural se relacionam com os aspectos que se referem tanto ao patrimônio material,
tangível, as edificações (sedes históricas, senzalas, cercados, mangueiras, capelas) quanto com
o patrimônio intangível, imaterial (causos, músicas, hábitos e costumes). Segundo Gonçalves
(2005, p. 4), o aspecto de materialidade do patrimônio histórico é uma categoria que transita
entre o material (tangível) e o imaterial (intangível), reunindo em si as duas dimensões. O
55
material e o imaterial aparecem de modo indistinto nos limites dessa categoria. E ainda para
este mesmo autor (2005, p. 5) é possível que a categoria de materialidade do patrimônio
histórico sublinhe, entre outras, a dimensão imaterial da vida social e cultural.
2- Estradas e Caminhos nos Campos Gerais dos séculos XVIII e XIX
Para se referir às estradas e caminhos percorridos pelos tropeiros na região dos
Campos Gerais e entender sua significação cultural torna-se necessário perpassar por aspectos
históricos, sociais e econômicos, não somente numa abrangência regional. Os caminhos das
tropas marcaram profundamente a história das regiões por elas atravessadas: determinaram a
ocupação do espaço, propiciaram o surgimento de assentamentos urbanos e núcleos agro-
pastoris, influenciaram o modo de vida, os costumes e tradições da população que se
estabeleciam. Além de que os caminhos das tropas foram se tornando gradativamente em
rotas de passagem e comércio para o Brasil do século XVIII e XIX.
A topografia foi um elemento decisivo no roteiro e na abertura do Caminho de
Curitiba a Sorocaba. Os Campos do Paraná e suas áreas de pastagens naturais e acessíveis
despertaram a cobiça de clãs poderosos de São Paulo e de algumas famílias de Paranaguá.
(RITTER, 1980, p. 148), no início do século XVIII, os quais requeriam mais e mais sesmarias
para o estabelecimento de novos currais.
56
Para Celso Furtado (1977, p. 76-77), a pecuária que encontrara no sul um habitat
excepcionalmente favorável para desenvolver-se – e que, não obstante sua baixíssima
rentabilidade, subsistia graças às exportações de couro – passará por uma verdadeira
revolução com o advento da economia mineira. O gado do sul que sempre havia permanecido
com preços baixos, comparativamente aos que prevaleciam na região açucareira, valoriza-se
rapidamente e alcança, em ocasiões, preços excepcionalmente altos. No Rio Grande e mesmo
no Mato Grosso já existia uma economia pecuária rudimentar de onde saia alguma
exportação. Por um lado, a economia pecuária elevou a rentabilidade desta atividade,
induzindo a utilização mais ampla das terras e dos rebanhos. Por outro, fez interdependentes
as diferentes regiões, especializadas umas nas criações, outras na engorda e distribuição e
outras constituindo os principais mercados consumidores. Assim, a economia mineira, através
de seus efeitos indiretos, permitiu que se articulassem as diferentes regiões do sul do país.
A primeira rota ligando os campos sulinos às demais regiões do Brasil-Colônia foi o
caminho aberto, no final do século XVII, entre as vilas de Sorocaba
20
e Curitiba, pertencentes
à Capitania de São Paulo. (TRINDADE, 1992, p. 30). Para o litoral, os caminhos já estavam
abertos, apesar de serem precários. (RODERJAN, 1992, p. 55). O transporte pela praia era o
mais penoso e o grande sonho dos tropeiros era construir um caminho que ligasse os campos
do Sul aos de Curitiba e dos Campos Gerais.
20
Sorocaba, a partir de meados do século XVIII, serviu como ponto terminal da estrada aberta pelo governo para
estabelecer e suprir, por terra, as regiões de Curitiba, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essas áreas
começaram a criar gado e produzir couro e carne seca na segunda metade do referido século. O mercado para
esses produtos era a Europa, o Caribe e a América do Norte (por mar) e as três províncias dinâmicas do centro:
Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (por terra). Estas três regiões tornaram-se dependentes dos animais
provenientes do sul: cavalos, gado e, sobretudo, mulas. Embora as três regiões do sul fornecessem cavalos e
gado, era o Rio Grande do Sul o mais famoso por sua produção de mulas, pois havia proibições, em outras
regiões, para as criações de mulas. O mercado de Sorocaba era um importante ponto final de vendas, tornou-se o
grande mercado para venda de animais provenientes do sul. Com este natural desenvolvimento, foi inevitável
que o governo real e imperial decidisse estabelecer uma alfândega interna na cidade e cobrar uma taxa de
trânsito ou imposto de barreira sobre os animais que ali passasse, exigindo que os animais vendidos na província
de São Paulo passassem exclusivamente por este mercado. (KLEIN, 1989, p. 350). Fora Sorocaba, ocorriam
outras feiras, a de Itapetininga, Cabreúva, Apiaí, Itararé, Avaré e tantas outras, assim como o desenvolvimento
do porto de Santos.
57
Roselys Roderjan descreve os caminhos que precederam o tropeirismo:
Os caminhos mais antigos que atravessaram os planaltos paranaenses teriam
sido originados do caminho indígena do Peabiru e das suas variantes. Por eles
andaram bandeirantes paulistas e os primeiros mineradores que alcançaram
os Campos de Curitiba, durante o século XVII. Depois de passar pelo Campo
da Faxina (Itapeva) e do Apiaí, em território paulista, antigo ramal do
Caminho do Peabiru, ingressava no primeiro planalto paranaense, atingindo
o vale do Açungui. Para essa região partiam pelo norte de Curitiba caminhos
que, transpondo o rio Ribeira, seguiam rumo a Apiaí e Itapeva, a fim de
alcançarem a Estrada de Sorocaba. Infletindo para noroeste, chegavam à vila
de Castro, atingindo a mesma estrada. Esses caminhos foram sempre usados
no transporte de tropas de gado e também de tropas arreadas, assim chamadas
as que transportavam cargas. (RODERJAN, 1995, p. 28).
Os animais dos Campos de Curitiba, entretanto, não se multiplicavam com a mesma
intensidade com que eram procurados. Não conseguiam suprir um mercado tão vasto e em
contínuo crescimento. A solução para essa crescente escassez de carne e meios de transporte,
despertadas pela descoberta das minas de ouro, estava mais ao sul: apontava para a região da
enorme Vacaria do Mar, para as campanhas próximas à Colônia do Sacramento e para os
campos do Rio Grande de São Pedro do Sul – cheias de gado vacum, cavalhadas, muladas que
os castelhanos criavam em quantidade. (TRINDADE, 1992, p. 30).
Para Barroso (1995, p. 37), muitas eram as dificuldades enfrentadas pelos tropeiros
que conduziam animais pelo litoral “especialmente com os obstáculos da travessia dos rios
Tramandaí, Mampituba e Araranguá, que provocavam perdas de animais com a ação
turbulenta das suas águas na direção do mar”. A idéia de uma estrada pelo interior foi do
Sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar. (MARTONI, 2005, p. 70).
58
O paulista Bartolomeu Pais de Abreu, grande fazendeiro dos Campos Gerais,
argumentava que, efetivamente, o caminho, só poderia ser aberto “pelo interior do sertão”.
(apud TRINDADE, 1992, p. 30).
Novos caminhos se desbravavam:
Por volta de 1723, Zacarias Dias Cortes, filho de Guilherme Dias Cortes e
neto de Baltazar Carrasco dos Reis, organizou uma bandeira exploradora para
descobrir as lendárias minas do Inhanguera, levado pelas informações de
Manoel Gonçalves de Aguiar. Zacarias situou essas minas no “sertão da
Enseada das Garroupas e Ilhas de Santa Catarina” e deixou um roteiro
21
com
informações que teriam orientado Francisco de Sousa e Faria na abertura do
caminho dos Conventos. (RODERJAN, 1992, p. 55).
Com as informações prestadas pela Câmara de Curitiba, com o mapa e roteiro
elaborados por Zacarias Dias Cortes, o governador de São Paulo, D. Rodrigo César de
Menezes, em 1724, não se contentou e ordenou por ofício à Câmara, a Francisco Xavier
Pizarro, Capitão-mór da Vila de Curitiba e homem prático em minas, que examinasse o que
havia de positivo nas informações de Zacarias Dias Cortes e organizasse para isso nova
bandeira. Xavier Pizarro convocou os mineiros da expedição anterior e partiu de Curitiba. A
trabalhosa jornada exigiu oito meses de provações sem nenhum resultado prático. (EHLKE,
1973, p. 77).
A partir de 1725, começavam a ser ocupados os campos do Viamão, ao sul de
Laguna, referenciados pelo estuário do rio Guaíba, Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim.
(TRINDADE, 1992, p. 30).
Em novembro de 1725, o governador da Capitania de São Paulo D. Rodrigo César de
Menezes, permite o transporte de gado vacum do sertão de Curitiba e dos campos de Vacaria
para a zona de mineração, de Cuiabá, devido às dificuldades de abastecimento desta região.
(SIMONSEN, 1957, p. 161).
21
O roteiro e o mapa, este numa tentativa de reconstituição, estão transcritos na obra de: EHLKE, Cyro. A
conquista do planalto catarinense. Bandeirantes e Tropeiros no “sertão de Curitiba”. Rio de Janeiro:
Laudes/EDUSC, 1973, p. 72-77.
59
A região serrana e as campanhas do Rio Grande estavam cheias de gado selvagem
que poderiam suprir as regiões mineiras, se fosse possível conduzi-lo para lá. Mas não havia
ligação por terra entre Rio Grande e Curitiba, separados por léguas de campos desconhecidos.
Nessa conjuntura, o governador de São Paulo, Caldeira Pimentel, em 1727, mandou abrir a
estrada de Laguna, que ligando os campos do Rio Grande com os de Curitiba, possibilitaria a
subida de tropas de gado. (BALHANA; PINHEIRO MACHADO; WESTPHALEN, 1969, p.
64).
Francisco de Sousa e Faria, em 1730, concluiu o caminho desde o Rio Grande do Sul
até os Campos de Curitiba. Apresentou-se à Câmara afirmando haver saído nos Campos de
Curitiba na paragem dos Carlos, faltando completar o trecho de Curitiba até São Paulo.
(RITTER, 1980, 141).
Cristovão Pereira de Abreu, entre 1733 e 1734, repete a façanha trazendo até Curitiba
3.000 cavalgaduras. (RODERJAN, 1992, p. 57), conduzidas pela via dos Conventos. Ao
longo do trajeto, Cristóvão e seus companheiros de Santa Fé, Laguna e São Paulo tiveram de
retificar o traçado e construir centenas de pontes. Com a abertura do caminho, a Vila de
Laguna, que se localiza mais ao norte, ficou prejudicada. (MARTONI, 2005, p. 74-75).
Em 1738, Cristóvão Pereira de Abreu abandona o primitivo acesso ao planalto por
Araranguá, no litoral, estabelecendo outro mais conveniente pela depois chamada Guarda ou
Patrulha do Viamão. (TRINDADE, 1992, p. 31). Cristóvão Pereira de Abreu abre um
caminho que parte de Santo Antonio da Patrulha, perto do Viamão, no Rio Grande de São
Pedro, evitando o antigo caminho dos Conventos ou de Araranguá, no litoral. (RODERJAN,
1992, p. 57). Cristóvão Pereira de Abreu abriu uma ligação entre os campos dos Curitibanos e
Santo Antonio da Patrulha, evitando o itinerário pelo Morro dos Conventos. (LOPES, 2004, p.
13).
60
O caminho aberto por Souza Faria ficou conhecido pela denominação de estrada
“Dos Conventos” e o de Cristovão Pereira era chamado de “Estrada Real”, Caminho do
Viamão, Estrada de Sorocaba, Estrada das Tropas, Estrada de Viamão-Sorocaba, Estrada da
Mata, ou ainda Estrada do Sertão. O nome de Viamão deve-se ao fato de que, em chegando os
curitibanos no alto da serra da Vacaria, vindos do norte, de lá divisavam os rios da planície,
que tinham o formato de uma mão aberta. Daí a denominação de Vi-a-mão. (TRAMUJAS
NETO, 1989, p. 16).
O único trecho que oferecia dificuldades no trajeto era o sertão de Lages, na Serra do
Espigão, posteriormente conhecida como Estrada da Mata. Eram quase 300 quilômetros de
matas. (TRINDADE, 1992, p. 31-32).
A ligação do Viamão pelo caminho que partia de Santo Antonio da Patrulha para os
campos de Curitiba trouxe, como conseqüência, a decadência de Laguna, que perdeu sua
posição invejável e ponto de passagem obrigatória para o sul. Curitiba e Sorocaba é que se
tornaram lugares de convergência, advindo a prosperidade a essas localidades. (MOREIRA,
1975, p. 702).
O Caminho do Viamão, vindo do Rio Grande do Sul e o caminho de Sorocaba, se
encontravam nos Campos Gerais, onde o rio Iapó tinha vau
22
. E a “paragem do Iapó”
transformou-se em ponto de pouso estratégico para os tropeiros que traziam o gado bovino,
cavalos e mulas dos campos de Vacaria e Viamão, no Rio Grande do Sul para abastecer a
feira de Sorocaba, que ficava a 18 léguas de São Paulo.
22
Trecho raso do rio, onde se pode transitar a pé ou no lombo de um animal.
61
Este caminho, que era utilizado pelos tropeiros:
...vinha desde Viamão, ligada, por outros caminhos à campanha riograndense
e platina, e subia pela região serrana das vacarias, atravessava o planalto
catarinense por Lages e Curitibanos e, depois de vencer dificuldades as matas
do sul do rio negro, se espraiava pelos Campos Gerais, passando pelo Campo
do Tenente, pela Lapa donde ia atingir o rio Iguaçu a 14 léguas de Curitiba,
em cujas margens estava instalado o Registro, para a cobrança dos direitos
“sobre gados e cavalgaduras”; seguia para Campo Largo e, atravessando a
Serra de S. Luis do Purunã, alcançava a Palmeira e logo depois Ponta Grossa
e Castro, de onde continuando para o norte e passando pelo rio Itararé, por
Itapeva, Itapetininga, chegava a Sorocaba, depois a São Paulo, onde se
entrosava com os sistemas de caminhos que iam para o Rio e para Minas.
(PINHEIRO MACHADO, 1963, p. 7).
O Caminho do Viamão (Figura 2) foi descrito pela primeira vez em 1745, num relato
feito pelo Brigadeiro José Custodio de Sá Faria
23
(TRINDADE, 1992, p. 34). Ele partiu em 28
de fevereiro de 1745 do Rio Grande do Sul e chegou em 1º de fevereiro de 1746 em
Escaramuça (próximo de Itapetininga, em São Paulo). (LOPES, 1974, p. 72).
Outros vinte e um roteiros dos Caminhos dos Campos Gerais estão mencionados na
obra “Caminhos das Comarcas de Curitiba e Paranaguá”, de Julio Estrela Moreira
24
.
Descrever esses roteiros de caminho do tropeirismo no seu quadro integral, indubitavelmente,
fugiria aos propósitos da pesquisa em questão.
23
O título do diário é “Roteiro que se fez do Caminho do Certão, que principia na Patrulha aonde se acha o
curral da Contage pegado ao Rio do Sino, pa. entrar a sobir Serra e seguir pa. Coritiba e São Paulo, anno de
1745”, o trecho referente ao estado do Paraná está transcrito por Lopes (1974, p. 72-76) e por Moreira (1975, p.
750-759, 883 e p. 976-977).
24
Recomenda-se a leitura do Capítulo VIII de Moreira (1975, p. 973-1032).
62
Figura 2 - Caminho das Tropas – Séculos XVIII e XIX
Fonte: Trindade (1992) - Adaptação de Santos (2005)
63
Ao longo da estrada do Viamão iam, aos poucos, se formando “pousos”. Neles os
tropeiros podiam descansar, invernar o gado e abastecer-se para continuar a viagem.
Freqüentemente estes se situavam em fazendas, destacam-se os pousos: do Rio Negro, Campo
do Tenente, Santo Antonio da Lapa, Registro de Rio Grande (Iguaçu), Carlos, Tamanduá,
Redondo, Botuquara, Porcos, Cambijú, Itaiacoca, Pitangui, Boqueirão, Carambeí, Iapó, Piraí,
Furnas, Jaguariaíva, Limoeiro, Boa Vista, Jaguaricatu, Morungava e o da Fazenda de São
Pedro do Itararé, linha divisória da Comarca de Paranaguá e Curitiba com a de São Paulo.
(RITTER, 1980, p. 194).
Os pousos dos tropeiros, inicialmente, eram armados com os próprios instrumentos
de viagem: canastra, pelego, pala, etc. No entanto, com as paradas freqüentes teve início a
construção de ranchos rudimentares. Posteriomente, os “pousos” de tropeiros, situados ao
longo dos caminhos, darão origem às povoações (RODERJAN, 1992, p. 54), que “enfileiram-
se uma após outra, tais como as contas de um colar, ao longo de sua rota. Cada cidade está
separada da outra por uma distância que corresponde a um dia de viagem do tropeiro”.
(WACHOWICZ, 1995, p. 102).
O viajante Richard Burton chegou a estabelecer as fases de evolução do pouso: a
primeira fase é a do pouso, em que os proprietários consentem que os tropeiros dêem água aos
seus animais e os amarrem aos mourões; a segunda fase é a do rancho, consistia num telheiro
coberto; a terceira fase é a venda, em que há a combinação de venda de mercadorias e
hospedagem; a quarta fase é a estalagem ou hospedaria e a quinta fase é o hotel com a cidade.
Por esta descrição é nítida a idéia de desdobramento social que se opera de pouso a origem de
povoações. (apud GOULART, 1961, p. 144-146).
Para a historiadora Marina Ritter (1980, p. 136), no Paraná o centro de criação de
gado compreendeu três áreas principais: Campos de Curitiba, de 1608 em diante; Campos
64
Gerais, a partir de 1704; e Campos de Guarapuava a partir do século XIX. Os dois primeiros
ficaram conhecidos como Campos de Curitiba ou Campos Gerais de Curitiba.
No século XIX, a região dos Campos Gerais se tornou um local de passagem também
de escritores, pintores, naturalistas e botânicos europeus. Destacam-se, principalmente, os
olhares de Auguste Saint’Hilaire (1820), Jean Baptiste Debret (1820) e Thomas Bigg-Wither
(1872). Debret passou pela região dos Campos Gerais, no final da década de 1820,
produzindo uma série de aquarelas sobre toda a região. A aquarela da Figura 3 retrata como os
tropeiros atravessavam o rio Itararé, divisa da Província de São Paulo com Curitiba, sobre um
pranchão de madeira, constituindo-se em uma manobra arriscada tanto para os tropeiros como
para as tropas.
Figura 3 - Aquarela de Debret – Limite da Província de São Paulo com Curitiba
Fonte: Prado (1970)
Acervo: Biblioteca Virtual Mario de Andrade
65
Nos primeiros anos do século XIX, o trecho entre o Passo de Santa Vitória e a
Patrulha do Viamão, começou a ser abandonado. Só entrava gado excedente mais para o
oeste, até atingir a região das Missões, depois de percorrerem os campos da Vacaria do
Pinhal, Passo Fundo, Cruz Alta, Tupaciretã e Santiago. Essa diretriz, mais favorável, chamada
de Caminho Novo de Vacaria, buscava diretamente as fontes fornecedoras de muares e outras
espécies de gado. Passou a integrar o Caminho do Sul ou ao inverso o Caminho de São Paulo.
Quando se consolida esse acesso ao Rio Grande pelos Campos da Vacaria adiante, a
referência de Viamão perde significado para os tropeiros que percorrem o Caminho do Sul, a
denominação usual passa a ser Estrada Geral para o Rio Grande do Sul. (TRINDADE, 1992,
p. 33).
Os animais também eram taxados pelo governo provincial local quando deixavam o
Rio Grande do Sul, quando passavam por Santa Catarina e Paraná. O registro era o local onde
se realizava a contagem dos animais (muares, bovinos e cavalares) para a cobrança de
impostos, quando o tropeiro recebia um comprovante, uma guia de passagem que deveria ser
apresentado nos registros posteriores. (SAINT’HILAIRE, 1964, p. 252-253). Podem-se citar
como Registros mais conhecidos os da Guarda Velha do Viamão, do Passo de Santa Vitória,
de Curitiba, este depois substituído pelo do Rio Negro e, finalmente, a Guarda de Sorocaba.
Em 1820, foi autorizada a construção da Estrada da Mata
25
, atual Serra do Espigão,
ligando Lages à Vila do Príncipe (Lapa). Essa estrada aproveitou o trajeto do antigo caminho
das tropas, o qual foi aberto, desmatado e alargado entre Campo Alto e Campo do Tenente.
(ALBUQUERQUE, 1978, p. 142)
25
Hoje a Rodovia BR 116 possui uma diretriz aproximada dessa estrada.
66
No final da década de 1840, firma-se uma nova via de trânsito para o território rio-
grandessense: a estrada das Missões ou de Palmas, uma tentativa bem sucedida de chegar
diretamente ao território missioneiro. Essa estrada era um ramal do eixo tradicional de
Viamão. A Estrada das Missões nasceu quando já estava plenamente assegurado o novo
traçado, a partir de Ponta Grossa e via Palmeira, Belém de Guarapuava e Palmas, chegando a
Santo Ângelo das Missões. O caminho dos campos de Palmas, a serviço dos tropeiros, veio
dar suporte à fixação permanente da população e à criação de latifúndios pastoris na área
setentrional dos antigos Sete Povos. O novo caminho não reduziu a circulação de tropas pelo
velho Caminho do Sul. Ambas representavam boas alternativas de acesso às zonas de criação
e invernadas em expansão no Rio Grande. (TRINDADE, 1992, p. 35-37).
Essa linha tropeira, chamada de Estrada das Missões ou de Palmas, era uma
alternativa mais direta entre os campos de criação e os de comercialização. (MARTONI,
2005, p. 128). Ou seja, seu roteiro:
...vinha da região missioneira do Rio Grande, ligada a Corrientes, na
Argentina, atravessava o atual planalto catarinense em Xapecó, cortava o
Campo Erê, atingia Palmas, donde seguia para o norte atravessando o rio
Iguaçu, seguindo pelo vale do rio Jordão, chegava a Guarapuava, daí,
seguindo por Imbituva, alcançava Ponta Grossa, onde se entrosava com a
primeira estrada, a do Viamão. (PINHEIRO MACHADO, 1963, p. 7-8).
No entanto, pelo maior número de criatórios da região oeste e pela abertura do
caminho a partir de Ponta Grossa, que permitia um trânsito mais direto, o trecho do Caminho
do Viamão na Coxilha Rica
26
passou a ser cada vez menos utilizado. (MARTONI, 2005, p.
129).
26
Coxilha é uma denominação para campos ondulados. Pelos componentes da paisagem os campos situados ao
sul de Lages/SC foram denominados de “Coxilha Rica”. (MARTONI, 2005, p. 111).
67
No período de 1855 a 1860 o comércio de muares foi bastante significativo na
economia da Província do Paraná. Em 1857, o Vice-governador do Paraná, Vaz de
Carvalhães, relatou que “a renda que mais avulta é a proveniente da passagem de animais
cavallares e muares pelo registro do Rio Negro”, demonstrando que no exercício de 1855-
1856 as cifras correspondentes a 9.558 cavalos e 56.854 mulas passados pelo posto
alfandegário de Rio Negro. Apesar da cifra elevada da renda provincial, adverte o Vice-
Governador que a “Presidência tem encontrado embaraços para acudir ao pagamento dos
serviços a cargo da província depois que foi abolido o desconto de letras aceita nas
respectivas agências pelos introdutores de animais, e que constituem a renda mais avultada da
província”. (apud CARVALHAES, 1857, p. 74).
Entretanto, no período de 1863-64, houve violenta queda na arrecadação dos
impostos sobre os animais, causada pelo desenvolvimento da guerra do Paraguai, afetando
dessa maneira os mercados sulinos. Apesar da recuperação após o final da guerra, a
arrecadação dos impostos já não mais compete com a receita dos orçamentos paranaenses,
apresentando uma estagnação na arrecadação dos impostos no período de 1865 a 1875. Após
1875, a arrecadação entra numa grave crise, provocando declínio cada vez maior no comércio,
principalmente, de bovinos. (SANTOS, 2001, p. 62).
As marcas deixadas pelo ir e vir dos tropeiros constituiu uma paisagem cultural
característica em cada região cortada pelo caminho. (MARTONI, 2005, p. 80). Durante o
trajeto pela Estrada do Sul, os tropeiros se orientavam pela observação da paisagem com suas
ocorrências naturais, passíveis de serem nomeadas e memorizadas, eram a ‘carta de
navegação’ do viandante. Mesmo os mais débeis sinais serviam de marco. (TRINDADE,
1992, p. 59). Os antigos locais de pouso das tropas ou Registros ainda são identificáveis, por
guardarem, no todo ou em partes, seus nomes tradicionais na época do tropeirismo. (GEMIN,
2006, p. 14-15).
68
Na estrada entre Lages/SC a Bom Jesus/RS, em direção ao antigo registro do Passo
de Santa Vitória, no rio Pelotas foram construídos corredores para a passagem de tropas.
Esses “corredores” de muros de pedras, denominados de taipa, amoldados à topografia,
provavelmente eram usados para delimitar a estrada, facilitar a lida dos tropeiros na condução
dos animais e evitar que a tropa se misturasse com as criações das fazendas que começavam a
ser estabelecidas. (MARTONI, 2005, p. 80). Os muros de taipa de pedra amontoadas, também
denominados de “pedra seca” serviram para delimitar as propriedades, dividir os pastos e dar
o contorno aos mangueirões onde o gado era separado para alguma função necessária. “Os
campos junto ao caminho dos tropeiros eram ladeados por quilômetros e quilômetros de
muros divisionais formando extensos corredores”. (TRINDADE, 1992, p. 52). Ainda é visível
a verificação de parte desse corredor de muros de pedras na estrada de Lages/SC à Bom
Jesus/RS, numa extensão de 80 km. (Figura 4).
Figura 4 – Muro de taipa de pedra na região de Lages (SC) a Bom Jesus (RS)
Fonte: Projeto (2005)
69
Na região dos Campos Gerais há resquícios de muros de pedras na região da Capela
Nossa Senhora das Neves, em Palmeira; na Fazenda Butuquara, em São Luiz do Purunã; na
Fazenda Capão Grande, em Ponta Grossa; entre outras.
Para Ellis Junior (1951, p. 76), a estrada do Rio Grande do Sul a São Paulo talvez
“tenha sido a rota de maior importância na história do Brasil, pois sem ela não teria havido o
ciclo do ouro, não teria havido o café e nem a unidade nacional teria sido levada a cabo”.
Geraldo Bonadio (1984, p. 45) complementa que o tropeirismo foi o ciclo-suporte
que forneceria a infra-estrutura que viabilizaria, sucessivamente, a exploração aurífera em
Minas Gerais, o desenvolvimento da produção de açúcar em São Paulo e na baixada
Fluminense e uma parte do ciclo do café. Deve-se mencionar ainda as operações militares da
Guerra do Paraguai, dependentes de armas, munições e víveres conduzidos em lombo de
mulas, pelos caminhos abertos do tropeirismo.
Entre 1886 e 1897 a expansão ferroviária é enorme. O avanço da ferrovia e a marcha
do café para o oeste fizeram declinar o comércio de mulas. O comércio em Sorocaba funciona
até 1897. Esse ano coincide com o evento de uma epidemia de febre amarela. A feira muda-se
para Itapetininga, a qual resiste até meados da década de 1930, mas a condução de tropas para
São Paulo persiste com caráter residual pelo menos até a década de 1950.
70
Essas rotas percorridas pelos antigos tropeiros, com a paisagem das fazendas e
invernadas nos sugere passos para a ressignificação desse patrimônio rural brasileiro, mas
para isso são necessárias ações tanto públicas quanto da iniciativa privada que possam
estimular a significação e valorização da cultura tropeira, proporcionando a preservação de
bens históricos, culturais, arquitetônicos (as sedes de fazendas), arqueológicos, ambientais e
paisagísticos ainda existentes. Algumas reflexões nesse sentido são trabalhadas no capítulo
que segue.
71
III – A RESSIGNIFICAÇÃO DO TROPEIRISMO PELO TURISMO:
ELEMENTOS PARA UMA AVALIAÇÃO
Neste capítulo, a análise está centrada na ressignificação do Tropeirismo pelo
turismo na região dos Campos Gerais. Para tanto, num primeiro momento, busca-se avaliar a
ressignificação das Fazendas Históricas através das mudanças e permanências que sofreram
para se adequar ao turismo. Num segundo momento, a avaliação se volta para os caminhos
das tropas, ressignificados como roteiro turístico.
Para a análise das fazendas históricas da região foram necessárias diversas fontes.
Com as fontes bibliográficas procurou-se a compreensão do contexto histórico-cultural de
cada fazenda sem esgotar a totalidade de materiais existentes. As informações relacionadas à
ressignificação foram obtidas nos próprios sites das fazendas, no Guia e no site da “Rota dos
Tropeiros”. A análise se restringiu àquelas fazendas que, de alguma forma, exercem
atividades turísticas, dando destaque às fazendas Roseira e Capão Alto, a primeira por atuar
com turismo rural e a segunda por atuar com turismo histórico-cultural. Nestas foram
realizados contatos pessoais com os proprietários e observação in loco.
A ressignificação em roteiros turísticos limitou-se à análise do Projeto “Rota dos
Tropeiros”, dos dados obtidos no Guia e no próprio site da Rota, em jornais e no Boletim
Informativo da “Rota dos Tropeiros”, para a interpretação dada pelo projeto aos caminhos
rurais que levam às fazendas históricas na região, ou seja, os indicativos que são propostos
para o turista conhecer as potencialidades histórico-culturais rural.
72
1- Ressignificação das Fazendas: mudanças e permanências
As casas das fazendas históricas da região dos Campos Gerais refletem um espaço de
singularidade que vem desde os tempos do tropeirismo, dos séculos XVIII e XIX, tipicamente
representadas pela sua arquitetura rural e também por estarem envoltas por um quadro mítico,
ligado às representações construídas sobre elas.
Na região dos Campos Gerais, as casas de fazendas históricas refletem
historicamente o modo de vida e a adaptação ao meio ambiente, ou seja, “a relação intrínseca
entre processo produtivo e reorganização territorial”. (FERRÃO, 2004). E também, por outro
lado, permitem o desvendamento das raízes rurais da região, por justamente focalizar o seu
patrimônio histórico-rural, intrinsecamente, relacionado à história regional do tropeirismo.
Durante grande parte do século XIX, a vida econômica dos Campos Gerais esteve
baseada na criação e no comércio de muares. A essas atividades acrescentavam-se os aluguéis
das pastagens para o descanso e a engorda das tropas, isto é, as invernadas. A invernada
propiciou ao fazendeiro uma renda mais fácil de ser alcançada do que através da criação de
gado. (SANTOS, 2001, p. 61). Em meados do século XIX, as fazendas de criação de gado,
atingem toda a sua potencialidade dentro do sistema econômico-social de um período
histórico. (PINHEIRO MACHADO, 1963, p. 7). No recenseamento de 1818 verifica-se que o
total de proprietários no Paraná era de 2070, significando um aumento desde o recenseamento
de 1772, de 1849 unidades. (RITTER, 1980, p. 205).
Diante da totalidade das construções ainda existentes da época do tropeirismo, pode-
se afirmar que nos restam poucos exemplares desse patrimônio histórico-arquitetônico na
73
região dos Campos Gerais. Em sua maioria, as sedes que foram construídas, principalmente,
durante a segunda metade do século XIX, sobrevivem ao tempo, modificadas e adaptadas a
novos usos ou em ruínas.
Na região dos Campos Gerais, segundo Lange (2002) e conhecimento desta
pesquisadora, podem ser citados cinco sedes de fazendas históricas significativas para a
história regional do tropeirismo que não estão devidamente conservadas ou, até mesmo, já
foram destruídas pela ação do tempo ou por uma intencionalidade casual de seus
proprietários, seja pelas dificuldades encontradas quanto à manutenção da preservação do
patrimônio ou por falta de um interesse real. Trata-se da Fazenda dos Carlos (Balsa Nova),
Fazenda Siá Maria ou Santa Maria (Papagaios Novos/Palmeira), Fazenda Capão Bonito 1
(Palmeira), Fazenda Cachoeira (Ponta Grossa) e Fazenda Cambiju (Ponta Grossa/Campo
Largo).
As fazendas históricas da região, segundo os autores Francisco Lothar Lange (2002)
e Jailson Biltran Trindade (1992), que possuem suas sedes conservadas na região dos Campos
Gerais estão totalizadas em trinta e quatro exemplares. (Tabela 1).
74
Tabela 1
Fazendas históricas com sedes preservadas na região dos Campos Gerais do Paraná
Município
Nome da Fazenda
Palmeira 1- Fazenda Padre Inácio
2- Fazenda Conceição
3-
Fazenda Capão Bonito 2 (Benfica)
4- Fazenda Alegre (Colônia do Lago)
5- Fazenda Santa Cruz do Sutil
6-
Fazenda Palmeira
7- Fazenda Alegre (Colônia do Lago/ Benfica)
Ponta Grossa 8- Fazenda Carazinho (Itaiacoca)
9-
Fazenda da Lagoa (Guaragi)
10-
O Casarão (Uvaia)
11-
Santa Cruz Pitangui (Margem da antiga estrada Ponta
Grossa – Periquitos a Tibagi)
Castro 12- Fazenda Boa Vista do Alagado (Abapã)
13- Fazenda São Tomé (Castro/Tibagi)
14-
Fazenda Pedrinhas (Socavão)
15- Fazenda da Barra (Socavão)
16-
Fazenda São João
17-
Fazenda Capão Alto
18- Fazenda Cunhaporanga
19-
Fazenda Casa Branca (Castro/Tibagi)
20-
Fazenda Santo André (Castro/Tibagi)
21- Fazenda Tabatinga (Castro/Tibagi)
22-
Fazenda Marumbi (Castro/Tibagi)
23-
Fazenda São Bento (Castro/Tibagi)
24- Fazenda Igreja Velha (Castro/Tibagi)
Carambei 25- Fazenda Carambei
Tibagi 26- Fazenda Santa Cruz Pitangui (Tronco)
27-
Fazenda Bom Sucesso
28-
Fazenda Boa Vista
29-
Fazenda Potreinho
30-
Fazenda Fortaleza
31-
Fazenda Taquara
32-
Fazenda Vorá
Lapa 33- Fazenda Santa Amélia (Assentamento Contestado)
34- Fazenda Roseira
Organização: GOMES, Josélia Maria Loyola de Oliveira, 2006.
Fonte: LANGE (2002) e TRINDADE, (1992)
A análise da ressignificação das fazendas históricas da região dos Campos Gerais,
com origens no tropeirismo dos séculos XVIII e XIX, estará centrada aqui naquelas onde o
uso turístico foi incorporado. Ou seja, naquelas em que houve mudança de referencial, de
sentido, de significação histórica e que agora atuam e agregam valores ligados ao turismo seja
75
rural ou histórico-cultural. Nestas, via de regra, ocorre a manutenção da forma, entretanto,
altera-se ou agrega-se esta nova função.
As construções das sedes das fazendas da região dos Campos Gerais apresentam-se
com um único pavimento, com exceção da sede da Fazenda Capão Alto, em Castro. Segundo
os autores Santos e Zuccherelli (1991, p. 48-49), as edificações rurais na região
harmonizavam-se à paisagem, ficavam “de certa maneira cercadas por divisores naturais,
quando necessário, para delimitar os perímetros das construções, levantando-se muros de
pedra, ou eram abertas valetas, servindo inclusive de proteção ao desconhecido”.
De modo geral, as edificações das sedes de fazendas na região apresentam a
característica de que o corpo principal da edificação é formado por um quadrilátero, ao qual
estava anexado um outro (área de serviço), dando-lhes um formato em “L”. (SANTOS e
ZUCCHERELLI, 1991). Outro detalhe característico nas edificações destas fazendas são os
quartos, sem portas e janelas – as alcovas – que tinham como principal função “manter longe
as filhas dos olhos dos estranhos”. (1991, p. 49).
Das 34 fazendas históricas que possuem suas sedes conservadas na região dos
Campos Gerais, cinco incorporaram atividades turísticas em suas funções: a Fazenda Roseira
(turismo rural e cultural), a Fazenda Capão Alto (turismo cultural), a Fazenda Fortaleza
(turismo religioso), a Fazenda Boa Vista (turismo rural) e Fazenda Santa Gil (antiga fazenda
Morungava – turismo rural/turismo holístico). A ressignificação dessas fazendas é analisada a
seguir, respectivamente.
Essas cinco fazendas são analisadas a seguir no seu processo de ressignificação,
dando ênfase às fazendas Roseira e Capão Alto, nas quais aprofundou-se a pesquisa de campo
76
em virtude de trabalharem mais intensamente o turismo e de representarem um contraponto,
uma atuando com o turismo rural e outra com o histórico-cultural.
a)
Fazenda Roseira
A Fazenda Roseira localiza-se a 15 km da cidade da Lapa, na região da Lapinha,
conhecida historicamente, por ter sido ponto de paragem dos antigos tropeiros. Em 1838, foi
lavrada escritura pública de Manoel Ferreira Cardoso e sua Mulher Francisca de França ao
comprador Tobias Pinto Rebelo no lugar designado “Bom Retiro” (Fazenda Bom Retiro).
Mais tarde, em 1869, Eduardo Alberto Virmond (genro de Tobias) adquiriu e legitimou o
imóvel Fazenda Rio da Várzea, que juntamente com a do Bom Retiro passou a integrar a
Fazenda Roseira. (BIGARELLA, BLASI, BREPOHL, 1997, p. 154).
Com o falecimento de Tobias Pinto Rabello, Eduardo Alberto Virmond e sua esposa
Lourença Virmond tornaram-se herdeiros da referida fazenda. Entre 1890 e 1896 a Fazenda
foi vendida a Prisciliano & Cia., de Paranaguá, que pretendia fazer uma fábrica de banha.
Com a Revolução de 1894 a firma acabou indo à falência. (BIGARELLA, BLASI,
BREPOHL, 1997, p. 154).
Artur Suplicy arrematou em leilão a propriedade entre 1895-1896, e, posteriormente,
montou ali uma serraria com locomóvel, para serrar pinheiro e imbuia. “As matas de araucária
existentes na época forneceram madeiras para diversas construções na fazenda, bem como
para a cobertura das casas”. (BIGARELLA; BLASI; BREPOHL, 1997, p. 154-158).
Historicamente tinha como economia lavouras, gados de corte e colheita de erva
mate, caminho e paragem das tropas e seus condutores. Ainda hoje a fazenda é produtiva,
77
com leiteria (ordenha mecânica com música), lavoura (plantio direto) e gado de corte. Possui
uma área de 1.161,60 hectares
27
e continua pertencente à família Suplicy, nas mãos da sétima
geração. Também possui 363 hectares de mata
araucária nativa preservada e uma pedreira.
(SUPLICY, 2006).
A única descrição encontrada bibliograficamente, dos materiais empregados na
edificação da sede da fazenda é a de Santos e Zuccherelli (1991, p. 70): as paredes internas e
externas são de adobe, com alvenaria de tijolos (nas alterações); os forros e pisos são de
tabuado; os pisos nos banheiros são de cerâmicas; a cobertura é de quatro águas, com telha
francesa; o beiral é tabuado. A sede da fazenda possuía originalmente uma sala de estar, uma
sala de jantar, seis quartos, duas alcovas, uma cozinha anexa e uma despensa. (Figura 5).
Figura 5 - Planta baixa da Fazenda Roseira - Lapa
Fonte: SANTOS; ZUCCHERELLI, 1991.
27
Equivalente a 480 alqueires. O alqueire é equivalente a 2,42 hectares. (SUPLICY, 2007).
78
A sede apresenta características arquitetônicas originais preservadas, colonial rural
portuguesa, tendo sido construída provavelmente por volta de 1838. Possui também peças de
mobiliário e decoração preservadas, importadas em sua maioria da Áustria e França, além de
fotografias da região e da família. (MARQUES, 2003, p. 29).
A sede da fazenda é pintada de branco, com portas e janelas azuis. O formato em “L”
da edificação, tão característico na região dos Campos Gerais, pode ser também observado
nesta construção (Figuras 6 e Figura 7).
Figuras 6 - Fachada Frontal - Fazenda Roseira - Lapa
Fonte: Fotos de Josélia Gomes, julho, 2006.
79
Figura 7 - Lateral - Fazenda Roseira - Lapa
Fonte: Fotos de Josélia Gomes, julho, 2006.
A Fazenda Roseira atua com o turismo rural desde 1998, como uma maneira de
diversificação das atividades. Além da sede histórica possui uma casa específica para a
hospedagem (Figuras 8 e 9), a Estalagem, a qual é uma antiga casa de colonos reformada e
adaptada e possui a capacidade para até 25 hóspedes. Para o antigo estábulo foi atribuída nova
função, se caracterizando com um espaço para roda de fogo, churrasqueira e sala de jogos.
(Figura 10).
80
Figuras 8 e 9 - Antiga casa de colonos reformada e
adaptada para Estalagem - Fazenda Roseira - Lapa
Fonte: http://www.fazendaroseira.com.br
Figura 10 - Antigo estábulo convertido em churrasqueira e sala de jogos - Fazenda Roseira - Lapa
Fonte: Fotos de Josélia Gomes, julho, 2006.
81
O nome Roseira, dado à fazenda, foi escolhido porque rosas vermelhas, brancas e
cor-de-rosa florescem o ano todo em frente ao casarão. Na sede antiga reside a proprietária da
fazenda, Dona Zuleika Suplicy, viúva de Aroldo Suplicy, a qual ainda produz para consumo e
venda: doces caseiros, geléias, compotas, macarrão, queijos, temperos e artesanatos. Na sede
antiga a cozinha preserva o uso do fogão a lenha. Nela ainda estão mantidas duas alcovas –
quarto sem janelas, que ficam no meio da edificação – ‘quarto das donzelas’.
Como atrativo turístico, a fazenda oferece roteiros escolares (Quadro 1) - turismo
pedagógico - para as áreas de História, Geografia, Ciências, Língua Portuguesa, Matemática e
Zootecnia. É possível também a visitação para lazer sem pernoite, permitindo a caminhada
por trilhas interpretativas para educação ambiental, observação de animais silvestres, passeios
a cavalo (com possibilidade de conhecer um corredor de aproximadamente 9 km por onde
passavam as tropas de animais) e oferta do café colonial (café com mistura).
Quadro1 – Roteiro Escolar da Fazenda Roseira
9:30 h - Chegada à Lapa (Painel do artista plástico Paranaense "Poty Lazarotto", no trevo da chegada);
Visita ao centro Histórico(tombado pelo patrimônio Histórico Nacional), começando pelo teatro São
João, Igreja de Santo Antônio, Casa Lacerda ( museu de época.), Panteon dos Heróis e Casa da memória.
11:30 h - Chegada à Estalagem da Fazenda Roseira, explanação sobre o surgimento da Fazenda Roseira
em 1838 no caminho dos tropeiros.
12:00 h - Almoço com alimentos produzidos na fazenda organicamente, comida caseira, pratos típicos
de fazendas de nossa região e dos tropeiros.
13:30 h - Caminhada até a pedreira que é a mesma formação de Vila Velha, onde será possível desfrutar
de uma vista maravilhosa com observação da formação rochosa , seu surgimento e origem. Passeio pela
trilha na mata de Araucária. Será possível ainda a visita e banho na cachoeira, água que nasce dentro da
Fazenda e não passa por nenhuma lavoura e nem casa de ninguém, forma uma piscina natural com
profundidade máxima de 1 metro e meio. Trazer uma muda de roupa e toalha de banho.
16:00 h - Lanche ( opcional)
16:00 h - Visita à sala de ordenha, entreposto de vendas, casa sede de 1838, pomar horta, galinheiro etc.
17:00 h - Retorno
Fonte: http://www.fazendaroseira.com.br/roteiro_escolar.htm
82
O café colonial já é uma referência aos hóspedes do “Lar Lapeano de Saúde
28
” -
Fazenda Margarida – nas proximidades da Fazenda Roseira, os visitantes são recebidos
especialmente por Dona Zuleika, a proprietária. (SUPLICY, 2006); a Fazenda Roseira
também possibilita a realização de eventos em suas instalações.
Ao final da visitação ou hospedagem é entregue um cartão postal que apresenta
diversas fotos e pequeno histórico da fazenda. A fazenda possui um site próprio
29
no qual
estão disponibilizadas informações sobre hospedagem, aspectos históricos e atrativos
turísticos. A fazenda também está cadastrada no Armazém do Turismo Rural
30
, empresa
integrante da Associação Paranaense de Turismo Rural, que funciona como central de
reservas para as pousadas cadastradas, proporcionando opção de turismo de evento para
empresários e turistas em geral.
Quanto aos aspectos de permanências e mudanças ocorridas na história da fazenda,
observa-se que a mesma mantém os padrões para a produção agropecuária, mas agora
adaptados às exigências tecnológicas da atualidade. Na hospedaria, estão presentes itens que
agregam valores culturais: alimentação típica lapeana, sendo o jantar servido à luz de velas;
recepção dada por suas proprietárias (Zuleika e Maristela Suplicy); histórias e lembranças
contadas; livro dos visitantes – em que é possível observar as mensagens deixadas por
hóspedes e visitantes; roda de fogo ao lado da hospedaria, convidando para uma observação
do céu e da lua; caminhadas e cavalgadas por trilhas antigas; roda de chimarrão e conversas
28
Adquirida por Margarida Langer, na década de 1960. Tinha a designação de Invernada e fazia parte da
Fazenda Roseira. Atualmente é uma casa especializada em medicina biológica, dietética, emagrecimento,
desintoxicação e fisioterapia. O “Lar Lapeano de Saúde” possui dois livros editados: o primeiro aponta aspectos
históricos da área rural da região – “Lapinha - a natureza da Lapa”, de João José Bigarella, Oldemar Blasi e
Dieter Brepohl, de 1997; o segundo, “Receitas da Lapinha”, de Margareth Novaes Brepohl, de 2002 - contém
receitas baseadas na medicina naturalista, de uma dieta à base de cereais integrais, mel, leite e derivados, frutas e
verduras frescas.
29
Disponível em: http://www.fazendaroseira.com.br
30
Disponível em: http://www.armazemdeturismorural.tur.br
83
sobre a história da região; além de toalhas e lençóis branquíssimos. Isto entre tantas outras
possibilidades do hóspede ou visitante sentir-se num espaço histórico-cultural e rural, como
participante e observador.
Na Fazenda Roseira, até o presente momento, não houve a preocupação de seus
proprietários em criar uma estatística do número de visitantes e hóspedes, existindo somente
uma agenda para a hospedagem e um livro de visitantes. Nesse livro, não há a obrigatoriedade
do hóspede deixar sua mensagem, funcionando este tão somente como um livro de
lembranças.
Na interpretação realizada pelo projeto “Rota dos Tropeiros”, no Guia (2005, p. 23),
a Fazenda Roseira, infelizmente, somente é apontada como possibilidade de hospedagem
rural, citada somente com os contatos de telefone e site, não há referência quanto aos seus
aspectos de significação histórico-cultural vinculados ao do tropeirismo regional.
b)
Fazenda Capão Alto
A Fazenda Capão Alto, localizada a 20 km da cidade de Castro, é o único exemplar
da arquitetura rural tropeira tombada como patrimônio histórico-cultural no Estado do Paraná.
O processo de tombamento deu-se em 1983 (Processo n. 82, Inscrição n. 80, Livro do Tombo
Histórico) pela Secretaria de Estado da Cultura e Coordenadoria de Cultura e Patrimônio
Histórico do Paraná. (LYRA, 1994, p. 21).
Trata-se de uma requintada sede de fazenda construída pelo Barão do Monte
Carmelo, Bonifácio José Baptista, na década de 1870, construída com técnicas e materiais
vindos de São Paulo, trouxe luxo e conforto à vida campeira da região dos Campos Gerais.
84
Cercado por mobiliário caríssimo, Bonifácio Baptista fixou residência na fazenda. (PARANÁ,
1985, p. 15-16).
Localizada em sesmaria concedida pela Coroa Portuguesa à família Taques de
Almeida, em 1704, tornou-se mais tarde propriedade da Ordem Carmelita no Brasil.
Utilizando-se a mão-de-obra escrava, os frades carmelitas desenvolveram ali a produção de
alimentos e a criação de gado, transformando a fazenda num dos primeiros e mais expressivos
núcleos de povoamento local, situados sobre o estratégico caminho das tropas. Durante
muitos anos, já no século XIX, quando da saída dos carmelitas, a fazenda foi administrada
pelos próprios escravos. Passou, depois, pelas mãos de diversas gerações da aristocracia e da
alta sociedade castrense, até que, em 1979, foi vendida à Cooperativa Central de Laticínios do
Paraná – um dos grupos econômicos que fizeram de Castro a mais importante bacia leiteira do
Estado. (PARANÁ, 1985, p. 15-16). (MUSEU DO TROPEIRO, 2001).
O conjunto arquitetônico da Fazenda compõe-se de 12 edifícios distintos, além de
cinco outras unidades complementares: casa-sede, casa do capataz, depósito-celeiro e casa de
arreios, cocheira, fábrica de queijos, estábulos, celeiros, aviário e depósito. Algumas são de
taipa-de-pilão com divisões internas de pau-a-pique ou estuque e delimitam os pátios fronteiro
e posterior. (PARANÁ, 1985, p. 37-39). Atualmente, muitas dessas edificações estão em
ruínas.
A sede da fazenda apresenta uma escada central semi-circular na varanda da frente,
cuja estrutura superior apresenta colunas, com elementos característicos do final do século
XIX. Os detalhes do gradil da varanda, segundo indícios não comprovados, teriam sido
importados de Portugal, sendo o parapeito de madeira. Possui, além de 2 portas janelas, uma
sacada corrida com gradil em ferro fundido, também do final do século XIX, como a varanda
85
frontal. A cobertura é em quatro águas. O piso da varanda também se destaca com seus
ladrilhos hidráulicos decorados em duas cores, com desenhos geométricos em forma de flores.
(PARANÁ, 1985, p. 41-42).
Internamente a casa chama a atenção com uma faixa decorativa que se eleva nas
paredes da sala da capela até um quarto de sua altura. No altar essa mesma faixa se prolonga
até o forro. É uma decoração típica do final do século XIX e início do século XX, realizada
com pintura de rolo sobre chapa de papel. (PARANÁ, 1985, p. 43).
Com relação ao número de pavimentos, a construção da sede da fazenda Capão Alto
apresenta-se com dois pavimentos, constituindo-se em uma exceção no Estado do Paraná
(Figura 11 e 12). No pavimento superior, a escada termina numa ante-sala que se comunica
com um vestiário e um quarto, o qual se abre para a sacada por meio de duas portas-janelas.
Deste se projeta um mirante sobre o telhado da varanda (PARANÁ, 1985, p. 40).
Figura 11 – Fachada da Fazenda Capão Alto - Castro
Fonte: Cartão postal entregue na visitação na Fazenda
86
Figura 12 – Fachadas Frontal e Lateral da Fazenda Capão Alto - Castro
Fonte: PARANÁ (1985).
O corpo principal da edificação é formado por um quadrilátero, ao qual está anexado
um outro (área de serviço), dando-lhes um formato em “L”. Este formato, que apresenta-se na
Fazenda Capão Alto, é uma das características das edificações das sedes das fazendas da
região dos Campos Gerais. (Figura 13).
87
Figura 13 - Planta baixa da Fazenda Capão Alto - Castro
Fonte: PARANÁ (1985, p. 44).
O atual proprietário da fazenda é Koob Petter, mas desde 2001, esta passou a ser
administrada também pela empresa denominada “Fazenda Capão Alto Empreendimentos
Culturais e Turísticos S/A”. Possui uma área total de 43,01 hectares, sendo que 22,71
hectares são de mata nativa, a sede e seu entorno possuem 0,38 hectares, o restante é área
arrendada. (CARNEIRO, 2007).
A Fazenda Capão Alto constitui-se em um referencial patrimonial do tropeirismo.
Como atrativo turístico tem-se a visitação cultural do casario antigo e seu entorno. Ela
também tem sido utilizada como cenário para filmagens cinematográficas de produções
nacional e regional, embora não preserve nenhum mobiliário de época.
88
A visitação à fazenda é guiada pelo único funcionário contratado, João Klempovus, o
qual apresenta aos visitantes os principais pontos históricos da fazenda, faz acompanhamento
pela sede histórica e também providencia a exibição de filmes e documentários realizados na
fazenda: “Luz e Som: concessão de sesmarias nos Campos Gerais
31
” e “Tropeiro: @lma Sem
Fronteira”. Ali também está disponibilizado um pequeno acervo bibliográfico referente à
fazenda, para consulta no local. Ao final da visitação é entregue um cartão postal (Figura 11)
que contém fotos e um breve histórico da fazenda no seu verso.
Quando há comemorações relativas à história do tropeirismo na região dos Campos
Gerais, a Fazenda Capão Alto e seu entorno constitui-se em lugar ideal para a encenação e
realização de acampamentos, tropeadas, dada a importância de seu patrimônio histórico-
cultural e paisagístico. Inclusive nas proximidades da sede da fazenda observa-se uma réplica
de um antigo rancho tropeiro, com cobertura de folhas de capim, ou sapé, utilizado como
cenário para as encenações de descanso de antigos tropeiros. (Figura 14).
Figura 14: Rancho de tropeiro - Fazenda Capão Alto
Fonte: Foto de Josélia Gomes, novembro, 2005.
31
Nessa encenação houve a participação de pessoas da sociedade local e regional, composta de
aproximadamente 60 figurantes.
89
Segundo Sabrina Carneiro (2007), responsável pelo agendamento da visitação, o
retorno econômico das visitações é simbólico, não cobre as despesas mínimas para sua
manutenção e necessária restauração. Para o proprietário, a preservação deste patrimônio
histórico-cultural é seu hobbie predileto, visto ser também proprietário de outras fazendas
produtivas na região. O principal uso da Fazenda Capão Alto é o didático-pedagógico-
cultural, o qual vem se intensificando nos últimos anos, não havendo a agregação de
atividades agropecuárias. A Fazenda Capão Alto mantém um livro de registro de visitantes.
(Tabelas 2 e 3).
Tabela 2
Origem dos visitantes da Fazenda Capão Alto de 2000 a 2005
2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total Média/ano
Castro
874 1133 473 700 1121 784
5.085 848
Ponta Grossa
336 1365 310 348 741 823
3.923 654
Curitiba
161 120 130 159 215 423
1.208 201
Paraná
505 443 221 334 246 582
2.331 389
Outros Estados
262 276 181 232 216 307
1.474 246
Holanda
582 117 39 30 66 212
1.046 174
Outros Países
59 13 17 20 62 102
273 46
TOTAL 2.779 3.467 1.371 1.823 2.667 3.233 15.340 2.557
Fonte: Livro de visitas da Fazenda Capão Alto
Empreendimentos Culturais e Turísticos S/A
90
Tabela 3
Origem dos estudantes visitantes da Fazenda Capão Alto de 2000 a 2006
Por localidade 2000 2001 2002 2003 2004 2005
2006
Janeiro a Maio
Total geral
Arapoti - - - - 45 - - - - - - - - 45
Blumenau - - - - - - - - 27 - - - - 27
Campo Largo 77 - - - - - - - - - - - - 77
Carambei 120 88 - - 81 36 22 23 370
Castro 620 457 189 532 834 464 80 3176
Castrolanda - - 60 - - 81 119 72 - - 332
Colombo - - - - - - - - 38 - - - - 38
Curitiba - - - - - - 28 42 79 44 193
Curitiba/PUC - - - - - - - - 41 - - - - 41
Florianópolis - - - - - - - - - - 100 - - 100
Guarapuava - - - - - - - - - - 40 - - 40
Imbaú - - 30 - - - - - - - - - - 30
Imbituva 70 101 - - 24 - - - - - - 195
Ipiranga 43 - - - - - - 80 36 - - 159
Lapa - - - - - - - - - - - - 15 15
Londrina - - 46 - - - - - - - - - - 46
Mandaguari - - 30 - - - - - - - - - - 30
Palmas 30 - - - - - - - - - - - - 30
Piraí do Sul - - 100 - - - - - - - - - - 100
Ponta Grossa 95 1137 374 546 599 611 105 3467
Ponta
Grossa/UEPG
6 - - 18 - - 98 71 16
209
Prudentopólis - - - - - - - - - - 57 - - 57
Reserva - - - - - - 50 30 31 - - 111
Rio Claro/Unesp 13 - - - - 22 - - 38 - - 73
Ribeirão do Pinhal - - - - - - - - - - 20 - - 20
Rio de
Janeiro/UFF
- - 11 - - - - - - - - - -
11
Santana Itararé - - - - 15 - - - - - - - - 15
Santo Antonio da
Platina
- - - - - - - - - - 33 - -
33
Telêmaco Borba - - 30 - - 38 65 - - - - 133
Wenceslau Braz - - - - - - - - 16 - - - - 16
Total por ano
1074 2.090 641 1.402 2.025 1.674 283 9189
Média mensal
89 174 57 117 923 536 - - - -
Fonte: Livro de visitas da Fazenda Capão Alto
Empreendimentos Culturais e Turísticos S/A
91
Cerca de 33,1% dos visitantes do período em análise (Tabela 2) são oriundos do
próprio município de Castro, 25,6% de Ponta Grossa, 7,9 % de Curitiba, 15,2% de outras
localidades do estado do Paraná, 9,6 de outros estados brasileiros e 8,6% de outros países,
sobretudo da Holanda. A alta incidência de holandeses deve-se ao fato de a Fazenda Capão
Alto localizar-se nas circunvizinhanças da sede de Castrolanda, antiga colônia de origem
holandesa, o que atraí parentes e amigos deste país.
Dos estudantes visitantes da Fazenda Capão Alto (Tabela 3) no período de 2000 a
maio/2006, a grande maioria vem da própria região ou de regiões circunvizinhas: 37,7% são
de Ponta Grossa, 34,6% de Castro, 4,0% de Carambei, 3,6% de Castrolanda, 2,1% de
Curitiba. Também há visitações de estudantes de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina,
porém, em menores proporções. Dentre os estudantes universitários visitantes a
representatividade maior é a da Universidade Estadual de Ponta Grossa, com 2,27%; seguidos
de 0,79% de Rio Claro/SP, da Universidade Estadual de São Paulo e 1,09% de
Florianópolis/SC.
O processo de tombamento do conjunto arquitetônico da Fazenda Capão Alto pela
Secretaria de Estado da Cultura teve como conseqüência a orientação de um projeto de
restauração das edificações que previa seu aproveitamento como pousada, com capacidade
para 40 hóspedes, sem prejuízo da constituição original ou de seu valor como patrimônio
cultural e artístico, o qual previa “amplas áreas de lazer (churrasqueiras, piscinas, play-
ground, sala de jogos, charretes e cavalos de passeio) e diversas áreas de estar”. (PARANÁ,
1985, p. 16, 50). Este projeto
32
nunca foi implantado.
32
Para maiores detalhes sugere-se pesquisa referente a esse projeto, aberto a quem possa interessar, na
Coordenadoria do Patrimônio Cultural, Secretaria de Estado da Cultura, em Curitiba.
92
No interior da sede da Fazenda é possível observar uma maquete, com a proposta de
aproveitamento da fazenda como hospedaria, apresentada pela proprietária Cooperativa
Central de Laticínios, na década de 1980, no período do tombamento da fazenda. Tal projeto
não previa todas as orientações sugeridas na época pela Secretaria de Estado da Cultura,
embora também tenha sido aprovado. (CARNEIRO, 2007). Hoje, essa readequação não teria
validade dada as condições em que se encontra a sede e seu entorno, já que a prioridade deve
estar centrada na restauração e na conservação.
A fazenda foi a responsável pelo povoamento ao seu redor e na região de Castro;
teve implantado em terras Carmelitas um quilombo e no início do século XX transformou-se
em um animado centro social que recebia, com luxo e fartura, a aristocracia de São Paulo para
festivas temporadas de verão a convite da família Baptista Madureira. Mais recentemente,
durante anos seguidos manteve-se desativada e em abandono. Atualmente constitui-se em
uma empresa cultural. Observa-se, portanto, mudanças permanentes na Fazenda, a sua sede e
algumas outras edificações, entretanto, permanecem, embora necessitando de restauração,
sobretudo por ter agregado o valor de bem cultural tombado pelo Patrimônio Histórico
Cultural do Estado.
Na interpretação realizada pelo projeto “Rota dos Tropeiros”, no Guia (2005, p.17), a
Fazenda Capão Alto é a única das fazendas da região dos Campos Gerais situada como
patrimônio histórico-cultural rural, aparecendo na categoria “história e cultura”. No Guia da
Rota tem-se um breve histórico da fazenda e a indicação do horário de visitação e contato
telefônico.
93
c)
Fazenda Boa Vista
A Fazenda Boa Vista está localizada na rodovia
PR 340 km 32 (Tibagi/Castro), a 10
km da sede do Parque Estadual do Guartelá, em Tibagi.
As figueiras centenárias das cercarias
da casa já tiveram suas raízes perturbadas por caçadores de tesouros e há vários “causos”
sobre acontecimentos na história da fazenda. (LANGE, 2002, p. 2-30 e 3-30). Suas terras
faziam parte da sesmaria de Bartolomeu Paes de Abreu, Antonio Pinto Guedes e José de Góes
e Moraes, requerida em 06/02/1725. A sede histórica da fazenda apresenta-se em excelente
estado de conservação, tendo sido pouco alterada ao longo dos anos. Esta teria sido
construída, provavelmente, em 1810
33
. (LANGE, 2002, p. 2-30 e 3-30). A fazenda também
recebeu a denominação de Fazenda Laranjeiras. (MUSEU DO TROPEIRO, 2001). (Figura
15).
Figura 15: Fachada da Fazenda Boa Vista - Tibagi
Fonte: Museu do Tropeiro, 2001.
33
Segundo alguns relatos a casa teria sido construída em 1786, contudo, poderia ter existido outra construção no
local, atribuída a padres carmelitas. (SANTOS; ZUCCHERELLI, 1991).
94
Segundo Jailson Biltran Trindade (1992, p. 80-81), a sua parte frontal tem muita
semelhança com a das casas rurais de velhas cidades paulistas, construída entre meados do
século XVII e meados do século XVIII. As terras da fazenda serviam de invernada de gado,
situando-se no trajeto das tropas que se dirigiam a Ponta Grossa e Curitiba. (SANTOS;
ZUCCHERELLI, 1991).
A sede está situada na área da antiga fazenda denominada São Bento, uma das cinco
fazendas deixadas pelo Capitão-mor José de Góes e Moraes, falecido em 1763. Até o início
do século XIX, no trajeto entre a Vila de Castro e o bairro de Tibagi, onde está situada a Boa
Vista, havia outras duas grandes fazendas - a de São João e a de São Bento, ambas também
herança de Góes e Moraes. (SANTOS; ZUCCHERELLI, 1991).
A casa possuía originalmente uma sala de estar, uma sala de jantar, cinco quartos,
duas alcovas, cozinha anexa, quarto/cozinha externa do capataz, capela e depósito. Também
pode ser observado nessa edificação o formato em “L”. (Figura 16).
Na descrição dos materiais empregados na edificação da sede da fazenda, segundo
Santos e Zuccherelli (1991, p. 81), observa-se as seguintes características: as paredes internas
e externas eram de estuque; o forro de tabuado; os pisos de tabuado e com cimento alisado e
tijolos no anexo; piso de terra batida no cômodo frontal; calçada de pedra circundando a sede;
cobertura de quatro águas, com telha capa e canal; beiral de tabuado. Existe um poço no pátio
dos fundos, com cobertura com telha francesa; varanda frontal incrustada no corpo da casa,
sem forro; cômodos em ambos os lados da varanda, com acessos independentes; janela em um
destes cômodos apresentando paus roliços, na vertical; cabides afixados nas paredes de
95
cômodos da casa. Na parte frontal da sede existe um muro de pedra, com 1,50 metros de
altura.
Figura 16 - Planta baixa da Fazenda Boa Vista - Tibagi
Fonte: SANTOS; ZUCCHERELLI, 1991.
Atualmente, a Fazenda Boa Vista possui uma área de 968 hectares, ou ainda, o
equivalente a 400 alqueires. Desenvolve atividades agro-pecuárias, criação de gado, plantio
de soja, milho e trigo. Atua com o turismo rural desde 2000, sob agendamento prévio. Oferece
a opção de participação nas atividades rurais, caminhadas por trilhas, passeios a pé e a cavalo,
visitas a cachoeiras e uma vista a 1,5 km da fazenda do paredão do Canyon Guartelá
34
. A
fazenda tem a capacidade para hospedar até 21 pessoas, na sede histórica. (MACHADO,
34
O Canyon do Guartelá, em Tibagi, tem uma extensão de 32 km, que se estende do Parque Estadual a outras
áreas particulares.
96
2007). No site
35
da fazenda estão disponíveis informações, sobre a localização, acomodações,
contatos telefônicos e fotos da fazenda.
Os proprietários da fazenda não tiveram até o momento a preocupação de registrar o
número de hóspedes. Não há também nenhum livro de registro de mensagens deixadas por
hóspedes.
Na interpretação realizada pelo projeto “Rota dos Tropeiros”, no Guia (2005, p. 41),
a Fazenda Boa Vista somente está contemplada como indicativo de hospedagem rural, citando
sua localização e contato telefônico, não há a preocupação em revelar sua significação
histórico-cultural.
d)
Fazenda Fortaleza
A Fazenda Fortaleza está localizada à margem da rodovia BR 153 (Transbrasiliana),
no trecho entre Tibagi e Ventania.
José Felix da Silva Passos, em 20 de maio de 1788, obteve de Frei José Raymundo
Chichorro da Gama Lobo, Governador Interino da Capitania de São Paulo, as terras da
Sesmaria. Em 20 de setembro de 1796, José Félix adquiriu as terras compreendidas "na
paragem chamada o Campo dos bugres, desde a barra chamada Faisqueira, seguindo pelo rio
Alegre acima até a barra do ribeirão denominado Bromado, correndo o sertão até intestar com
a sesmaria do capitão Manoel Antonio de Araújo (Fazendinha)”.
(FERNANDES, 1974, p. 17-
21).
Quando José Félix estabeleceu-se na fazenda, esta ficava na região dos índios
caingangues, exposta aos seus freqüentes ataques. Todavia, José Felix não deixava sem
35
Disponível em: http://www.fazendaboavistaguartela.kit.net
97
respostas os ataques, indo aos toldos indígenas trazendo arcos, flechas e outros utensílios
caingangues e aprisionando os índios que não se evadiam a tempo. (LEÃO, 1926, p. 666).
Posteriormente, em 1810, José Félix contribuiu com uma tropa para a expedição de
Guarapuava e, em 1812, organizou à sua custa uma companhia de aventureiros e entrou nos
Campos do Tibagi, com a finalidade de expulsar os índios. (PINHEIRO MACHADO, 1968,
p. 35).
Apesar da continuidade das expedições obrigando os índios a recuarem sertão
adentro para que pudessem plantar, fazendeiros como José Félix da Silva (Fazenda Fortaleza),
Antonio Fogaça (Fazenda Montenegro) e Francisco Xavier da Silva (Fazenda Caxambu)
mantinham sempre negros de sua confiança armados de guarda para defesa de possíveis
investidas de índios, enquanto outros trabalhavam. (PINTO, 1992, p. 74).
O nome da fazenda nada tem a ver com a posição de sentinela avançada no sertão
primitivo e nem com o posto ocupado pelo seu proprietário. O nome da fazenda tem sua
origem na denominação de um rio das Fortalezas, assim chamado e conhecido de longa data,
muito antes do nascimento de José Félix, falecido aos 62 anos de idade, no ano da
Independência do Brasil, em 1822. No livro das Sesmarias, volume II, página 207, há uma
concessão feita no ano 1725 a Francisco Rodrigues Penteado e Mateus de Mattos de uma
gleba de campos entre o rio das Fortalezas e o ribeirão do Vorá – hoje, fazenda do Vorá –
terras essas próximas à sesmaria da Fortaleza. O rio das Fortalezas tem seu nome ligado ao
aspecto que oferece ao observador, possibilitando atalaias e esconderijos, fortaleza natural na
eventualidade de um combate com os índios. (BORBA, 1969).
As terras de José Felix incluíam, além da Fortaleza, as fazendas Fazedinhas,
Taquara, e outras, com uma área de aproximadamente 30.000 alqueires, o equivalente a
98
72.600 hectares. (LANGE, 2002, p. 8-33). A Fazenda Fortaleza compreendia
aproximadamente 4.000 alqueires e foi onde ele construiu a sede de suas propriedades,
rodeada por duas muralhas de taipa. (FERNANDES, 1974, p. 17-21).
José Felix casou-se em 1781, com a jovem Onistarda, logo após o casamento houve
desconfiança de José Félix sobre a virginidade de sua esposa e daí por diante começa o drama
da Fazenda Fortaleza. José Felix acusou-a como mandante de um atentado que o aleijou para
o resto da vida; teve os dedos da mão esquerda decepados, cortados três da direita, e tornou-se
coxo de uma perna. Onistarda foi julgada, condenada e a pedido do marido, perdoada (1808),
mas ficou mantida em cárcere na Fazenda Fortaleza. (FERNANDES, 1974, p. 17-21). José
Felix teve uma filha, Anna Luiza, que foi mãe de Manoel Ignácio do Canto e Silva, sogro de
Bonifácio Baptista, o Barão de Monte Carmelo (Fazenda Capão Alto). (LANGE, 2002, p. 8-
33).
Parte da história da Fazenda Fortaleza está registrada nos livros de Saint-Hilaire e
Bigg-Wither, nas pinturas de Theodor de Bona
36
e no romance de Davi Carneiro
37
. Saint-
Hilaire ficou na Fazenda Fortaleza quatro dias, em 1820, e em seu livro retrata as conversas
com José Félix, a hospitalidade, as impressões do aspecto e situação da fazenda e, também do
seu proprietário.
Já o engenheiro e viajante Bigg-Whiter (1974, p. 367-368), em 1875, descreve a sede
da fazenda:
Enquanto os escravos punham na espaçosa varanda a comida na mesa, de
sólida estrutura e que, pelo seu aspecto, podia ter sido uma relíquia dos
antigos tempos baroniais da Inglaterra [...] devo descrever sucintamente a
36
A fazenda está retratada nos bicos de pena de Theodor de Bona. Foram comprados nos anos de 1990, em um
leilão, por Márcio Mattos, na época proprietário da fazenda, e doados, posteriormente, ao Museu de Tibagi.
37
“O drama da fazenda Fortaleza”, de Davi Carneiro, de 1941. E com base nessa obra, foi produzido um
documentário com o mesmo título, de produção da cineasta paranaense Berenice Mendes, em 1988, sobre a
história de amor e ódio entre José Felix e Onistarda, o relacionamento conturbado relatado no romance.
99
fazenda Fortaleza como era então [...] Víamos um terreno quadrado grande,
confinado dos dois lados em parte por casas baixas caiadas de branco - os
alojamentos dos escravos, e, noutra parte, por muros sólidos, cobertos de
telhas e caiados. O terceiro lado, em toda a sua extensão de umas 80 ou 90
jardas, era ocupado por um muro de taipa, de uma altura mais ou menos de 8
pés. Do lado oposto das casas baixas, havia uma série de postes, com as
arestas redondas e devastadas. Eram os troncos de açoitamento, que nos
antigos tempos haviam testemunhado cenas de gelar o sangue [...] A casa era
um edifício grande e maciço, de madeira e taipa, e coberto de enorme telhado
de empena, de pequena altura e com a habitual e pesada telha de beiral,
comum a todo Brasil.
Quanto aos aspectos de permanências e mudanças ocorridas na história da fazenda,
observa-se que a mesma mantém os padrões para a produção agro-pecuária, mas, agora, esta
se adaptada às exigências tecnológicas. Possui atualmente uma área de 571,12 hectares, o
equivalente a 236 alqueires. Grande parte da área está arrendada para o plantio de soja e trigo.
No entanto, seus atuais proprietários mantêm uma criação de carneiros. (MATTOS, 2007). A
sede da fazenda se mantém conservada, embora as características originais tenham sido
modificadas ao longo dos anos. (Figura 17).
Figura 17 - Fazenda Fortaleza - Tibagi
Fonte: Museu do Tropeiro, 2001.
100
A descrição dos materiais empregados na edificação da sede da fazenda, segundo
Santos e Zuccherelli (1991, p. 91-92), atende às seguintes características: paredes internas e
externas de alvenaria de pedra, nas alterações alvenaria de tijolo; forros de madeira, tipo
paulista; pisos – calçada de pedra circundando a sede; cobertura de quatro águas, com telha
francesa; beiral tabuado. Ao redor da casa, existiam construções de madeira para o uso dos
escravos, serviços e para a hospedagem de viajantes. Apenas os parentes eram recebidos no
interior da sede. O formato em “L” da edificação é também observável nessa sede de
fazenda. (Figura 18).
Figura 18 - Planta baixa da Fazenda Fortaleza - Tibagi
Fonte: SANTOS; ZUCCHERELLI, 1991.
101
Na sede da fazenda se mantém conservada a Capela dedicada ao Senhor Bom Jesus
da Cana Verde, cuja imagem possui 1,81 m de altura. (Figuras 19 e 20). Essa capela, segundo
sua atual proprietária, Maria Silvia Mattos, é uma construção de 1948, a qual substituiu uma
anterior existente de madeira, que pegou fogo em função da quantidade de velas que eram
acessas durante a romaria em devoção ao Santo Bom Jesus da Cana Verde. A construção foi
realizada por seu avô Argemiro Camargo Ribas, na época um dos proprietários da fazenda.
(MATTOS, 2007).
Figura 19: Capela Bom Jesus da Cana Verde na Fazenda Fortaleza
Foto: Alberto Verhagen Junior
Fonte: Site http://www.tibagi.pr.gov.br/turismo/faz_fortaleza.htm
102
igura 20: Imagem do Senhor Bom Jesus da Cana Verde na Capela da Fazenda Fortaleza
Fonte: GARBIN, Lucian. In: O Estado de São Paulo. Edição especial Brasil 150.
Acesso em jan/2005.
Disponível em: http://txt.estado.com.br/edicao/especial/brasil/brasil150.html
Os proprietários da fazenda não tiveram até o momento a preocupação de registrar o
número de visitantes. Não há também nenhum livro de registro de mensagens deixadas por
visitantes à capela.
Na interpretação realizada pelo projeto “Rota dos Tropeiros”, no Guia (2005, p. 42),
a Fazenda Fortaleza é referenciada somente no aspecto da religiosidade, na categoria “fé e
misticismo”, à devoção ao Santo Bom Jesus da Cana Verde, na visitação à capela. Entretanto,
não indica a localização nem contato telefônico, remetendo ao histórico da fazenda somente
no sentido de mencionar que a mesma foi fundada no século XVIII e está envolta em
mistérios e lendas. Não menciona também que está aberta à visitação, diariamente.
103
e)
Fazenda Morungava
A fazenda Morungava está situada na antiga estrada entre Curitiba e São Paulo, no
atual município de Sengés, atualmente recebe o nome de Fazenda Santa Gil. Localizada na
divisa entre Paraná e São Paulo, situada entre os rios Itararé e Jaguaricatu, nas proximidades
da famosa barreira de Itararé, descrita por Debret
38
.
Pertenceu ao Brigadeiro Raphael Tobias de Aguiar, esposo da Marqueza de Santos.
Está localizada em uma área que corresponde a uma das mais antigas sesmarias, concedida
por Carta Régia em 21 de janeiro de 1721. “Morungava é palavra abanheen que significa
assemblea ou grande reunião de guerreiros, localizada no morro de mesmo nome da fazenda”.
(LEÃO, 1926. p. 1373).
Na relação de 1772, a Fazenda Morungava pertencia ao Sargento-mor Antônio
Francisco de Andrade, morador na Parnaíba. Entre os anos de 1783 a 1788, os herdeiros de
Antônio Francisco de Andrade venderam a fazenda para o alferes José Novais Dias. (LOPES,
2002, p. 12-13).
O último proprietário a usar mão-de-obra escrava foi o Cel. Jordão do Canto e Silva,
falecido em 1918, que a recebera de herança de seu bisavô, capitão-mor José Felix da Silva.
(FAZENDA SANTA GIL). Esse foi também proprietário das Fazendas Monte Alegre e
Fortaleza, entre outras.
Decorridos anos de sua propriedade, Cel. Jordão do Canto e Silva vendeu-a a uma
grande empresa madeireira norte-americana. A área do imóvel na época estava estimada em
37.000 alqueires, ou seja, 89.540 hectares. Posteriormente, na vigência do "Estado Novo"
38
Anteriormente citada na Figura 3, página 64.
104
(1937-1945), não sabendo ao certo a data específica, a propriedade foi incorporada ao
patrimônio da União, sendo nomeado como interventor Manoel Ribas, responsável por todo o
acervo da firma americana e da própria fazenda, pertencente à União. Os jardins da fazenda e
a sede se constituíram em abrigo para o Exército paulista na Revolução de 1.930 (Batalha de
Itararé) e, posteriormente, em 1932, para as tropas gaúchas, na Revolução Constitucionalista.
(Figura 21). (FAZENDA SANTA GIL). A sede da fazenda teve que ser praticamente
reconstruída, em função dos bombardeios e ataques sofridos na década de 1930, reconstruída,
na década de 1940, sob os alicerces da antiga. (SILVA, 2007).
Figura 21 - Fazenda Morungava na década de 1930
Trincheira montada no jardim da fazenda
Fonte: http://www.fazendasantagil.com
Posteriormente, Moisés Lupion, Governador do Estado do Paraná, na década de
1950, adquiriu a fazenda e a transformou numa agro-indústria, com pecuária e fábrica de
tijolos, telhas, serraria, aumentando consideravelmente sua área, a qual atingiu
aproximadamente 52.000 alqueires. (FAZENDA SANTA GIL).
Desde 1984, pertence à família de Reinaldo Rodrigues da Silva, atualmente
residentes em Araraquara/SP. A área da fazenda atualmente possui aproximadamente 110,33
105
alqueires, ou ainda, o equivalente a 267 hectares, abrangendo área de parceria agrícola para o
plantio de soja. A atuação da fazenda, no momento, está voltada à hospedagem, possui gado e
plantação para o consumo de seus caseiros e hóspedes.
O mundo campeiro, a lida com o gado, a atividade de castração de touros são
aspectos descritos no livro do viajante francês Saint’Hilaire, quando de sua passagem pela
Fazenda Morungava, em 1820. As atividades de rodeio e de castração de touros são descritas
sob o aspecto de divertimento e como uma das atividades mais esperadas do ano pelos
moradores da fazenda e habitantes circunvizinhos, mostrando a dimensão social e cultural de
espetáculo. (SAINT-HILAIRE, 1978, p.19-23, 36).
Quanto aos aspectos da arquitetura da antiga fazenda Morungava, nas fontes
utilizadas por essa pesquisa nada foi encontrado. Possui a sede da fazenda, embora a
edificação tenha sido reconstruída, possui uma Capela e uma cerca de taipa (muro de pedra).
(Figuras 22 e 23).
Figura 22: Capela e Muro de pedra da Fazenda Morungava - Sengés
Fonte: http://www.fazendasantagil.com
106
Figura 23 - Fazenda Morungava, reconstruída na década de 1940 - atual Fazenda Santa Gil - Sengés
Fonte: http://www.fazendasantagil.com
No site
39
da Fazenda, o turismo é apresentado com características que agregam
valores culturais rural, alimentação caseira, histórias e causos da região, banhos de cachoeira
e piscina natural, passeios a cavalo ou a pé por trilhas e bosques, recepção realizada pelos
proprietários da fazenda, vivência nas atividades da fazenda, como tropeadas entre
invernadas, vacinação, marcação e supervisão do gado. Também sugere o turismo holístico,
direcionado a grupos específicos, interessados em trabalhar corpo, mente e alma, oferecendo
terapias como banhos aromáticos, alimentação natural, cromoterapia, massagens corporal
indiana, entre outras opções.
A fazenda atua com o turismo desde 1997 e possui acomodações para 28 pessoas,
áreas de lazer como churrasqueira, quadras de esportes para vôlei e futebol, sala de banhos,
escritório, galpão para o manejo de gado. (SILVA, 2007). Também possui a Sala de
Atividades da Fazenda, outrora moinho de trigo movido por roda d’água e tulha para
armazenar a safra de grãos, tem capacidade para eventos, reuniões, cursos, palestras e
39
Disponível em: http://www.fazendasantagil.com
107
workshops, além das atividades da fazenda. Possui também cinco trilhas que variam de 400
metros a 3.000 metros com nível de esforço variado, estas se encontram em uma das maiores
áreas de reflorestamento do mundo. (FAZENDA SANTA GIL).
Na fazenda há um livro para o registro de hóspedes. Mas ainda não há um livro de
registro de lembranças deixadas pelos visitantes ou hóspedes.
Na interpretação realizada pelo projeto “Rota dos Tropeiros”, no Guia (2005, p. 38),
a Fazenda Santa Gil está situada tão somente como espaço para hospedagem rural,
mencionando contato telefônico e o site da fazenda, não apontando aspectos de sua
significação histórico-cultural.
2- A Ressignificação em roteiros turísticos
No caminho das tropas no Paraná, no sentido sul/norte, na região dos Campos Gerais
são mencionadas as seguintes cidades, atualmente sedes de municípios que se formaram no
período do tropeirismo: Rio Negro
40
(1870), Campo do Tenente
41
, Lapa, Porto Amazonas,
Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Pirai do Sul, Jaguariaíva e Sengés.
Essas dez cidades nasceram em conseqüência da economia tropeira e, juntamente
com as do litoral, constituem o grupo de núcleos populacionais mais antigos do Estado do
Paraná. Dada a importância histórica, elas servem como suporte para a memória dos
paranaenses, pois são referenciais da ocupação de seu território a partir do século XVIII.
40
O núcleo de colonização iniciou-se ao redor do registro fiscal, na região conhecida por “Serra da Mata” ou
“Mata do Sertão”. (FERREIRA, 2006, p. 268).
41
O nome Campo do Tenente é termo de origem cartográfica, constando em mapas cartográficos de grande
importância histórica”. (FERREIRA, 2006, p. 70).
108
Posteriormente, outras cidades também passaram a ser vistas como referenciais da história do
tropeirismo: Campo Largo, Balsa Nova, Carambeí, Tibagi, Telêmaco Borba e Arapoti. No
projeto “Rota dos Tropeiros”, aqui analisado, todas essas dezesseis cidades estão inclusas.
Pequenas freguesias e vilas, nos séculos XVIII e XIX, tiveram seu desenvolvimento
inicial dependente das fazendas e do movimento das tropas. Nasceram da necessidade comum
de estabelecer pontos onde os tropeiros pudessem se abrigar e comercializar alguns produtos
no final de cada etapa de viagem. O uso constante desses pontos transformou esses locais em
pousos e esses pousos em pequenos vilarejos onde se fixaram um razoável número de
pessoas, formando mais tarde, pequenas cidades. A primeira foi Castro (Pouso do Iapó),
depois a Lapa (Vila do Príncipe), Palmeira (Freguesia Nova), Piraí (Furnas), Tibagi e no
século XIX, Ponta Grossa, Jaguariaíva e Guarapuava.
A Província do Paraná, em 1872, possuía quinze cidades, cinco na Comarca da
Capital (Curitiba, Campos Largo, Votuverava, Arraial Queimado, São José dos Pinhães),
quatro na de Paranaguá (Paranaguá, Guaratuba, Morretes e Antonina), duas na de Castro
(Castro e Pitangui), uma em Guarapuava (o mesmo nome) e três na da Lapa (Príncipe, Rio
Negro e Palmeira). (OLIVEIRA LISBOA, 1872, p. 6).
Cabe lembrar que a partir de 1875 começa a reduzir o número de muares entrados na
Feira de Sorocaba, provocando declínio cada vez maior no comércio de bovinos e muares.
Consequentemente há uma alteração fundiária, as famílias passam a morar cada vez mais nas
cidades. (SANTOS, 2001, p. 61-65). Ou seja, nas últimas décadas do século XIX a situação
era diferente daquela que presidira o desenvolvimento da criação de gado nas fazendas do
Paraná e caracterizava-se uma crise que se manifestava pela deterioração dos negócios de
invernagem, ocasionando a desintegração do sistema e a decadência da classe.
109
O fim dos negócios de tropeirismo e de invernagem é marcado, desta forma, pelo
aparecimento das estradas de ferro na zona do café paulista. Concomitantemente a esse fator
concorreram outros: completa ocupação das áreas de campo, impedindo a colocação no
sistema, das novas gerações, fato que se correlaciona à emigração dos grupos familiares
fazendeiros para as cidades e a procura de novos meios de vida. (PINHEIRO MACHADO,
1968, p. 43).
As cidades surgidas na região os Campos Gerais, no caminho das tropas em função
do tropeirismo, mantém características arquitetônicas próprias daquele período, sendo Castro,
Palmeira e Lapa as que mais se destacam. Em projetos culturais do Governo do Estado como,
por exemplo, o do “Caminho das Tropas”, desenvolvimento nas décadas de 1980 e 1990,
estavam somente contempladas as dez primeiras cidades como referenciais da história do
tropeirismo. No atual projeto “Rota dos Tropeiros” participam dezesseis cidades, como já
mencionado.
Buscando-se uma rota turística tematizada sobre o tropeirismo, ressignificando-a
culturalmente - com base nos recursos históricos, culturais, arquitetônicos e paisagísticos
paranaenses - foi oficialmente lançado pelo Governo do Estado em maio de 2003, na Fazenda
Capão Alto
42
em Castro, o projeto “Rota dos Tropeiros”, com recursos do Prodetur/Sul
43
. Na
42
Nesse lançamento na Fazenda Capão Alto foi encenado o espetáculo Luz e Som: concessão de sesmarias nos
Campos Gerais. Esse espetáculo foi exibido várias vezes em 2003 e 2004, em comemoração ao tricentenário da
ocupação oficial portuguesa nos Campos Gerais – comemorado, especificamente, em março de 2004. O
proprietário da fazenda Capão Alto tinha como projeto transformar este espetáculo em uma produção efetiva,
com realização uma vez ao mês, com venda de um pacote turístico histórico-cultural as agências de turismo da
região, entretanto, até o momento isto não se efetivou.
43
Prodetur/Sul (Programa de Desenvolvimento do Turismo na região Sul e Mato Grosso do Sul) - programa
desenvolvido pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul que visa
contribuir para o desenvolvimento sustentável da Região Sul, ampliando as oportunidades de trabalho, geração
de renda e divisas, incrementando a renda turística regional pela consolidação, ampliação e melhoria da
qualidade dos produtos e serviços ofertados. Como meta pretende-se criar corredores de turismo com os Estados
110
sua elaboração, o projeto contou com a parceria de cinco entidades representativas do turismo
estadual: Sebrae/Pr (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas); AMCG
44
(Associação dos Municípios dos Campos Gerais); EcoParaná
45
; Paraná Turismo
46
e Fórum
para o Turismo Sustentável no Paraná. (DIÁRIO DOS CAMPOS, 29 de março de 2003;
GAZETA DO POVO, 31 de maio de 2003; DIÁRIO DA MANHÃ, 27 de maio de 2003).
Os temas propostos pela “Rota dos Tropeiros” no Paraná estão apresentados em
quatro categorias: “história e cultura”; “natureza e aventura”; “fé e misticismo”; “saúde e
bem-estar”. A categoria “história e cultura” se propõe a apresentar roteiros históricos e
culturais: visitas a casarios e museus; fazendas antigas; gastronomia típica regional e roteiros
das etnias. A categoria “natureza e aventura” apresenta o patrimônio natural com suas
cachoeiras, trilhas, pedreiras, o turismo de aventura como rapel, rafting, trekking, canoagem,
entre outros esportes radicais. A categoria “fé e misticismo” é um roteiro para a paz interior,
misticismo, religiosidade, igrejas e capelas. A categoria “saúde e bem” aparece como uma
opção para valorizar os recantos, estâncias, acampamentos, parques municipais, medicina
naturalista, tratamentos estéticos, etc.
A “Rota dos Tropeiros” no Paraná se propõe a explorar o turismo cultural, rural, de
lazer e esportes, agregando à história do tropeirismo, as cavalgadas e as belezas naturais das
componentes e os países limítrofes, Argentina, Uruguai e Paraguai e com a Bolívia e o Chile, países ligados ao
Mercosul. (SILVEIRA, 2002, p. 198).
44
AMCG é órgão de representação municipal e microrregional, sendo constituído sob a forma de sociedade
civil, sem fins lucrativos.
45
EcoParaná - Serviço Social Autônomo - foi criado, em 1998, para ajudar a desenvolver o amplo potencial
turístico do Paraná tendo em vista a consolidação de uma atividade econômica consistente, sob o enfoque da
sustentabilidade. A EcoParaná é uma empresa privada que tem como missão planejar, promover e gerenciar
projetos e ações relacionadas ao turismo no Estado, com ênfase no turismo em áreas naturais, como instrumento
para proteção do meio ambiente e desenvolvimento econômico do Estado. (ECOPARANÁ, 2006).
46
Atualmente a ParanáTurismo encontra-se vinculada à Secretaria de Estado do Turismo (Setu).
111
regiões. A rota é um destino turístico que integra municípios da região dos Campos Gerais.
(Figura 24).
Figura 24 - Abrangência do Projeto Rota dos Tropeiros na região
dos Campos Gerais do Paraná
Fonte: Guia Rota dos Tropeiros-Paraná, 2004.
112
No ano de 2003 foram treinados 630 profissionais através de cursos de capacitação
para a atuação no turismo rural. Os treinamentos foram conduzidos por instrutores do Sebrae
e Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). (DIÁRIO DOS CAMPOS, 18 de
dezembro de 2003). No ano de 2004, a “Rota dos Tropeiros” incluiu um programa de
qualificação do produto turístico, capacitação profissional, valorização cultural e marketing
turístico.
No final de 2004 e início de 2005, a Secretaria de Turismo (Setu) através de uma
parceria com a Brasil Telecom
47
, lançou um cartão telefônico temático com detalhes da idéia
do destino turístico da “Rota dos Tropeiros”, colocando à venda 95 mil cartões no Estado do
Paraná. (DIÁRIO DOS CAMPOS, 6 a 9 de fevereiro de 2005).
Em 2005, a região sul do Brasil reuniu esforços num projeto maior, também
designado “Rota dos Tropeiros”, buscando unir os três Estados do Sul do país - Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul - mais São Paulo
48
em torno de um eixo turístico. Este partiria
da região de Viamão (RS) até Sorocaba (SP) para apontar como linha-mestre os atrativos
relacionados ao tropeirismo, embora outros temas também sejam trabalhados. Ainda nesse
mesmo ano, as Secretarias de Turismo dos Estados do Sul do país e de São Paulo criaram o
“Instituto Caminho das Tropas”
49
para a busca de recursos junto ao Mtur (Ministério do
47
Desde 1998, a Brasil Telecom presta serviços de telefonia fixa local no Distrito Federal e nos estados do Acre,
Rondônia, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
48
No Vale do Paraíba, em São Paulo, a tropeada envolverá os municípios de Aparecida, Cunha, Jacareí,
Jambeiro, Paraibuna, Santo Antonio do Pinhal, São José dos Campos, Silveiras e Taubaté.
49
O Instituto se propôs a organizar uma "tropeada" anualmente. A idéia é partir de Viamão e reunir tropeiros dos
quatros Estados participantes pelo caminho, até chegar a Sorocaba, como faziam os antigos comerciantes.
Depois, o grupo retomará o rumo para São Paulo, para participar de uma festa temática, de quatro dias - um para
cada Estado - no Parque da Água Branca (zona oeste). Serão passeios a cavalo, organizados por agências de
turismo, que percorrerão os municípios por onde passavam as antigas tropas para comercialização em Sorocaba.
Além dessa grande tropeada, cada Estado terá a sua rota dos tropeiros, programas que permitem o percurso em
parte do traçado. Também o Instituto prevê a realização de uma exposição itinerante que conte a história dos
tropeiros, o lançamento de um livro de receitas do caminho, um Guia Turístico do Roteiro das Tropas, o diário
113
Turismo)
50
e iniciativa privada. Para os representantes dos quatros Estados integrantes, o
Instituto será uma maneira de garantir a permanência do produto turístico que estão criando,
independentemente da vontade de qualquer governo futuro. A iniciativa conta com o apoio
dos representantes do Sebrae dos quatros Estados e da direção nacional. A “Rota dos
Tropeiros” para os quatro Estados integrantes foi comparada a outros roteiros internacionais,
como La Ruta Maya – que abrange México, Belize, Guatemala e Honduras - e o Caminho de
Santiago, que tem a participação da Espanha e da França. (FOLHA DO SUL, 15 de fevereiro
de 2005).
A “Rota dos Tropeiros” no Paraná possui uma marca de identidade visual, um
logotipo, que busca trabalhar o foco de interpretação. Essa marca deverá aparecer no portal de
entrada das dezesseis cidades integrantes e também nos empreendimentos identificados pelo
Projeto. Trata-se de um tropeiro montado, circundado pela indicação “Rota dos Tropeiros”.
(Figura 25).
Figura 25 - Logotipo da Rota dos Tropeiros
Fonte: http://www.rotadostropeiros.net
da tropeada e um livro didático, além de treinar professores da rede pública para passar aos estudantes a
importância dessa fase da História para os municípios envolvidos.
50
Em 2002, a história do turismo nacional foi marcada pela criação de um Ministério exclusivo de Turismo –
conseqüência de uma antiga reivindicação do setor – que até o momento não existia especificamente, composto
pela seguinte estrutura político-administrativa: Secretaria de Políticas de Turismo, Secretaria de Programas de
Desenvolvimento do Turismo, Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) e Conselho Nacional de Turismo.
(BRASIL, 2003b).
114
Em setembro de 2006, o projeto “Rota dos Tropeiros” e seus parceiros realizaram
uma oficina de sinalização e de marcos turísticos com o objetivo de capacitar engenheiros,
arquitetos e técnicos das Prefeituras Municipais atuantes nas áreas de planejamento, obras e
turismo, para torná-los aptos a especificar serviços, contratar e acompanhar projetos de
sinalização turística que visem o desenvolvimento turístico local. (ROTA DOS TROPEIROS,
2006).
Outro importante instrumento de divulgação da “Rota dos Tropeiros” é o Guia da
Rota (2005), em sua quarta edição, traduzindo-se como importante estratégia para impulsionar
a vinda de turistas para a região. Nesse Guia estão identificadas as quatro categorias de
turismo propostas, apontando as potencialidades culturais e turísticas dos municípios
integrantes. Cada município tem uma pequena apresentação do seu contexto histórico, além
de esclarecimentos sobre como chegar, onde obter informações (posto de atendimento aos
turistas), onde ficar (hotelaria, hospedagem) e onde comer (restaurantes, lanchonetes,
pizzarias, churrascarias). O Guia é distribuído gratuitamente em feiras e eventos de turismo
rural, bem como em agências de turismo e prefeituras municipais.
As quatros categorias temáticas da Rota - “história e cultura”, “natureza e aventura”,
“fé e misticismo”, “saúde e bem-estar” – estão identificadas com ícones neste Guia. Os ícones
também indicam locais para alimentação; áreas de banho, de esportes e de pesca; áreas
naturais e de preservação; locais para compra de artesanato, locais para a prática de
caminhadas, canoagem e cavalgadas; existência de churrasqueiras, sanitários,
estacionamentos e mirantes, etc. (Figura 26).
115
Figura 26 - Ícones de qualificação utilizados no projeto Rota dos Tropeiros
na região dos Campos Gerais do Paraná
Fonte: Guia Rota dos Tropeiros-Paraná, 2005.
Embora a “Rota dos Tropeiros” preconize destinos culturais e turísticos por
caminhos rurais que passam por fazendas históricas, o Guia somente aponta - dentro da
categoria “história e cultura” - a Fazenda Capão Alto, em Castro. Na categoria “fé e
misticismo” aparece ainda referência à Capela de Bom Jesus da Cana Verde na Fazenda
Fortaleza, em Tibagi. E no critério “onde ficar” (hospedagem) são citadas as fazendas: Cainã
(Balsa Nova), Estalagem Fazenda Roseira (Lapa), Monte Alegre/Hotel Ikape (Telêmaco
Borba), Pousada do Canyon Guartelá (Castro), Aldeia dos Pioneiros/Fazenda Ponte Alta
(Tibagi), Pousada Fazenda Guartelá (Tibagi) e Fazenda Santa Gil (Sengés).
116
Segundo Murta e Goodey (2002, p. 19-23) no desenho e montagem proposto para um
“plano interpretativo” de um determinado roteiro, o mapa emotivo deve definir de forma
eficaz para os usuários (no caso os turistas) “o que queremos que saibam, que sintam e que
façam”. Sob esse aspecto, concluiu-se que o Guia da ”Rota dos Tropeiros”, deve ter um
aperfeiçoamento na interpretação de suas potencialidades culturais e turísticas referentes às
fazendas históricas da região dos Campos Gerais. As fazendas históricas poderiam estar
identificadas na categoria “história e cultura” e receberem a sinalização de um ícone
específico (FH = Fazendas Históricas), assim como há outros bens culturais apontados H, de
Ponto Histórico e M, de Museu. Conjuntamente, ao receberem o ícone de FH de Fazendas
Históricas, estas poderiam receber outros ícones como, por exemplo, hospedagem, cavalgada,
capela, ponto histórico, autorização, festa religiosa, trilhas, área de preservação, entre outros
possíveis, para facilitar a identificação desse importante referencial do patrimônio histórico-
cultural da região.
De modo geral, dentre as fazendas que atuam com o turismo nos Campos Gerais, as
que já estão sendo trabalhadas pela “Rota dos Tropeiros” são: 1) Estalagem Fazenda Roseira
51
(Lapa); 2) Cainã
52
(Balsa Nova); 3) Capão Alto
53
(Castro); 4) Pousada do Canyon Guartelá
54
(Castro); 5) Aldeia dos Pioneiros/Fazenda Ponte Alta
55
(Tibagi); 6) Pousada Fazenda
Guartelá
56
(Tibagi); 7) Boa Vista
57
(Tibagi), 8) Fortaleza
58
(Tibagi), 9) Fazenda Monte
51
Disponível em: http://www.fazendaroseira.com.br/
52
Disponível em: http://www.pousadacaina.com.br/
53
Disponível em: http://www.castrotur.com.br/capaoalto/index.html
54
Disponível em: http://www.pousadadocanyonguartela.com.br/
55
Disponível em: http://www.itaytyba.com.br/aldeia.htm
56
Disponível em: http://www.pousadafazendaguartela.com.br/
57
Disponível em: http://www.fazendaboavistaguartela.kit.net
58
Disponível em: http://www.tibagi.pr.gov.br/turismo/faz_fortaleza.htm
117
Alegre/Hotel Ikape
59
(Telêmaco Borba); e 10) Fazenda Santa Gil
60
-antiga fazenda Morungava
(Sengés).
Após pesquisas na internet, observou-se que as fazendas possuem seus sites
específicos, os quais já poderiam estar divulgados no próprio Guia da “Rota dos Tropeiros”.
Isso nem sempre ocorre, faltando inclusive, muitas vezes, a localização ou o telefone de
contato. Algumas das fazendas têm no Guia apenas o seu nome citado, sem nenhuma outra
informação, deixando o leitor/turista sem as informações necessárias, caso não conheça a
região devidamente, tendo que buscar essas informações por outros meios.
A “Rota dos Tropeiros”
61
também possui um site específico para divulgação. Em
seus links estão disponibilizados: história do tropeirismo, boletim informativo, curiosidades,
galeria de fotos, notícias, projeto e municípios. Em relação aos links não houve a preocupação
de seguir os mesmo parâmetros adotados no Guia da “Rota dos Tropeiros” da versão
impressa, sendo seu conteúdo apresentado de maneira bem mais geral. Também não estão
mencionadas sugestões de onde ficar (hotelaria e hospedagem) e onde comer (restaurantes,
lanchonetes, pizzarias e churrascarias). Há a intenção de contratualização para depois divulgar
aspectos referentes aos serviços de hospedagem e alimentação no site da Rota.
No Guia da “Rota dos Tropeiros”, caso houvesse uma interpretação mais centrada na
questão de caminhos rurais que passam por fazendas históricas, poderiam também, de modo
sumário, identificar as essas fazendas num roteiro específico de destino rural histórico - a
exemplo do que já acontece em outras regiões brasileiras. Ao final do próprio Guia, na sua
contracapa, adverte-se que cada usuário poderá montar seu próprio roteiro dentre os atrativos
59
Disponível em: http://www.hotelikape.com.br
60
Disponível em: http://www.fazendasantagil.com
61
Disponível em: http://www.rotadostropeiros.net
118
enfocados nos temas propostos pela “Rota dos Tropeiros”, entretanto, somente são apontados
os municípios. Esse espaço poderia apresentar roteiros propriamente ditos.
Outro detalhe de relevância é quanto ao aspecto de validação das informações
contidas nesse Guia. No próprio texto do Guia adverte-se que as informações contidas são de
responsabilidade das Prefeituras Municipais. Acredita-se que com a validação das
informações haveria melhor interpretação, contendo, principalmente, informações atualizadas.
Com relação a este aspecto, sabe-se que a Setu e o Sebrae/Pr iniciaram em novembro
de 2006, a validação dos dados contidos no guia, com visitas técnicas aos empreendimentos,
patrimônios naturais e histórico-culturais referenciados no Guia, sem uma previsão específica
para seu término. (BEZERRA, 2006).
Um exemplo deste tipo de falha no Guia é o da Fazenda Santa Gil. Esta atua com o
turismo holístico e de bem-estar, entretanto, em nenhum momento o Guia “Rota dos
Tropeiros” faz referência a isso, seja na indicação do empreendimento, seja na indicação do
município na contracapa do Guia, onde aparecem sugestões sumárias por temática. Ela só é
mencionada no critério de hospedagem do município de Sengés.
Vale ressaltar que dessas dez fazendas apontadas para a identificação de um futuro
roteiro das fazendas dos Campos Gerais, somente as fazendas Roseira (Lapa), Capão Alto
(Castro), Boa Vista (Tibagi), Fortaleza (Tibagi) e Santa Gil (Sengés) possuem suas sedes
históricas, relativas ao patrimônio histórico-cultural do tropeirismo, em bom estado de
conservação. (Figura 27). Mas, deve-se referenciar que na região dos Campos Gerais há
outras fazendas, como já visto anteriormente neste capítulo, que mantém preservado seu
patrimônio histórico-cultural tangível e mesmo edificado, embora não atuem com turismo ou
visitação com agendamento prévio.
119
Figura 27 – Mapa de localização das fazendas históricas da região dos Campos Gerais
Organização e Adaptação: GOMES, Josélia M.Loyola de Oliveira; GOMES, Gabriela de Oliveira, 2007
Fonte: SANTOS; ZUCCHERELLI, 1991
120
Outro aspecto relevante sobre a significação cultural dessas fazendas pode ser
observado no Mapa Político Rodoviário
62
do Estado do Paraná, de 2004, do Departamento de
Estradas de Rodagem, o qual faz referencia à localização de três importantes fazendas
históricas paranaense: Fortaleza (Tibagi), Capão Alto (Castro) e a Morungava, atual Fazenda
Santa Gil (Sengés).
Ainda pode ser destacado que quatro dentre essas dez fazendas apontadas na “Rota
dos Tropeiros” tem seus proprietários morando no local: Pousada do Canyon Guartelá
(Castro); Estalagem Fazenda Roseira (Lapa); Pousada Cainã (Balsa Nova) e Pousada Fazenda
Guartelá (Tibagi). (PORTAL DE HOSPEDAGEM, 2006).
No Paraná, entre outubro e dezembro de 2006, as cinco instituições parceiras do
projeto “Rota dos Tropeiros”, alguns representantes de empreendimentos e as prefeituras
envolvidas no projeto reuniram-se por iniciativa do Sebrae/Pr, que também se constitui em
uma das instituições parceiras, para a articulação e institucionalização da Instância de
Governança
63
para este roteiro turístico no Paraná. Essa iniciativa assenta-se numa proposta
generalizada da rota, envolvendo todos os segmentos dos empreendimentos turísticos, sem
necessariamente apontar para um associativismo envolvendo uma rota específica de suas
fazendas. Essa proposta de institucionalização da Instância de Governança visa o
62
Indica-se consulta desse mapa, com visualização de 400 a 800% de zoom, disponível em:
http://www.ipardes.gov.br/pdf/mapas/infra_estrutura/parana_politico_rodoviario.pdf
63
Em reunião realizada no Sebrae/Pr, em Curitiba, no dia 04 de outubro de 2006, na qual tive a oportunidade
participar como convidada de Aldo César Carvalho, representante responsável pela Rota dos Tropeiros no
Sebrae/Pr, foram apontadas juridicamente as diferentes formas para a formação da Instância de Governança. A
proposta aceita pelos participantes – em sua maioria representantes dos órgãos públicos sendo apenas dois
empreendedores - foi o formato de Associação, por justamente ser a única entidade a oferecer a oportunidade de
ser gestora de recursos públicos. Na semana posterior a essa reunião foi enviada, por correio e por e-mail, a
todos os integrantes do projeto, a proposta do Estatuto, solicitando que fossem pensadas sugestões e opiniões
para que pudesse haver sua aprovação no menor tempo possível, provavelmente na próxima reunião. A
Assembléia para aprovação desse estatuto está prevista para março de 2007, tendo como pauta a aprovação do
nome da Associação, Agencia de Fomento e seu Estatuto.
121
fortalecimento do roteiro turístico da “Rota dos Tropeiros” e a adequação ao Programa de
Roteirização de Turismo
64
para a melhoria da gestão dos recursos recebidos por órgãos
públicos.
Na proposta de roteirização para a Macrorregião Sul
65
, identificada nos “Roteiros
turísticos para obtenção de padrão de qualidade internacional”
66
(BRASIL, 2005d), no roteiro
turístico, do Paraná, “Natureza e História na Rota dos Tropeiros” estão inseridos somente os
municípios de Curitiba, Ponta Grossa, Castro e Tibagi, das regiões Metropolitana de Curitiba
e dos Campos Gerais. Esse roteiro turístico está sendo trabalhado com o apoio do Mtur e do
64
O Programa de Regionalização do Turismo (BRASIL, 2005c), lançado em abril de 2004, segue diretrizes
políticas e operacionais, constituindo-se em um modelo de gestão de política pública descentralizada,
coordenada e integrada, que acontece simultaneamente em todos os Estados do Brasil. O que se propõe nas
diretrizes operacionais deste Programa é que cada região turística conte com uma Instância de Governança. Esta
Instância de Governança é uma organização representativa dos poderes público e privado, da sociedade e dos
municípios, com a missão de coordenar, acompanhar e gerir o processo de regionalização do turismo em cada
região turística. Pode ser constituída por um Conselho, um Fórum, um Comitê ou uma Associação. Dentre essas,
a Associação é a única capaz de constituir-se em uma entidade gestora dos recursos públicos, por possuir
personalidade jurídica sem fins lucrativos. Esse formato de rede de cooperação associativa é uma estratégia
organizacional horizontalizada, em que empresas do mesmo porte, com o mesmo perfil e do mesmo ramo atuam
conjuntamente para o desenvolvimento do turismo rural. (LUCCHESE, 2002). A Instância de Governança é
também a entidade responsável pela definição de prioridades, coordenação do processo decisório e execução do
processo de desenvolvimento do turismo na região turística, induzindo-se, dessa maneira, a integração dos
municípios com vistas ao desenvolvimento regional. Nesse contexto, o princípio da cooperação torna-se
condição para uma atuação conjunta, na qual governo, iniciativa privada, terceiro setor e sociedade
compartilham a escolha de prioridades e a participação no processo decisório. (BRASIL, 2005b, 2005c). O
segmento de Turismo Rural insere-se no contexto do Plano Nacional do Turismo 2003-2007, proposto pelo
Mtur, na medida em que contribuiu para: diversificar a oferta turística; aumentar os postos de trabalho e a renda
no meio rural; valorizar a pluralidade e as diferenças regionais; consolidar produtos turísticos de qualidade; e
interiorizar a atividade turística. A roteirização, articulando os municípios em uma escala regional, é um
processo de unir, a partir de um planejamento integrado, em um mesmo itinerário, atrativos, equipamentos e
serviços turísticos de uma ou mais região turística, de forma a agregá-los e consolidá-los em um produto de
turismo, para ser comercializado no mercado nacional e internacional. A roteirização se propõe a auxiliar o
processo de identificação, elaboração e consolidação de novos roteiros turísticos. (BRASIL, 2005c). Pelo caráter
participativo voltado à mobilização social e à construção de parcerias, a roteirização pretende promover, em
nível regional, a integração dos atores envolvidos, o adensamento dos negócios na região, a inclusão social, o
resgate e a preservação dos valores culturais e ambientais da região. Cabe ressaltar que a elaboração dos roteiros
turísticos é papel da iniciativa privada, a qual também tem a competência de qualificar seus produtos ou serviços,
criar rede de ações com empresários do setor e do poder público, além de promover e comercializar os produtos
turísticos. (BRASIL, 2005c).
65
Compreende os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
66
São 87 roteiros turísticos a serem atendidos pelo Mtur a curto prazo para a obtenção de padrão de qualidade
internacional (82 indicados pelos Estados e 5 da Rede de Cooperação Técnica para Roteirização). Os 87 roteiros
contemplam 116 regiões turísticas e 474 municípios (451 do Brasil, 2 da Bolívia, 2 do Chile, 6 da Argentina, 9
Paraguai e 4 do Peru).
122
próprio Estado do Paraná. A identificação do produto turístico da “Rota dos Tropeiros” dentro
dessa proposta de qualidade internacional perpassa somente os segmentos de ecoturismo,
turismo cultural e turismo de aventura, não inserindo ainda a modalidade de turismo rural.
A identificação de um roteiro específico de fazendas na “Rota dos Tropeiros”
colaboraria na valorização tematizada no tropeirismo, no que se refere ao próprio apelo rural
da Rota. Embora esse roteiro esteja preconizado, até o presente momento não está ainda
devidamente estruturado. São dez fazendas
67
que poderiam receber um roteiro próprio
sugerido dentro da “Rota dos Tropeiros”, mapeando-as e identificando-as da melhor maneira,
seja através de panfletos próprios, seja através de um site que as identifique conjuntamente, a
exemplo das outras regiões do país – Rio de Janeiro
68
, Ceará
69
, Pernambuco, São Paulo
70
,
Minas Gerais
71
, Rio Grande do Sul
72
, Santa Catarina
73
.
67
Estalagem Fazenda Roseira (Lapa); Pousada Cainã (Balsa Nova); Capão Alto (Castro); Pousada do Canyon
Guartelá (Castro); Aldeia dos Pioneiros/Fazenda Ponte Alta (Tibagi); Pousada Fazenda Guartelá (Tibagi); Boa
Vista (Tibagi); Fortaleza (Tibagi); Fazenda Monte Alegre/Hotel Ikape (Telêmaco Borba) e Fazenda Santa Gil
(Sengés).
68
No Rio de Janeiro, com as parcerias estabelecidas e atores sociais organizados, a região do Vale do Paraíba, o
Vale do Café, transformou-se em um espaço de cultura, turismo e lazer. Em 2004, vinte e três fazendas estavam
abertas à visitação, sendo que nove delas trabalhavam com o serviço de hospedagem. Os eventos realizados
promoveram o aumento do tempo de permanência do turista na região. A consciência da importância da
preservação e da potencialidade turística da região fez com que todos os municípios experimentassem uma
trajetória de crescimento econômico e de melhoria progressiva dos indicadores sociais. (SEBRAE, 2004).
Atualmente, são dezenove fazendas históricas distribuídas nos municípios do Vale da Paraíba fluminense: Barra
do Pirai (4 fazendas), Valença (4 fazendas), Vassouras (4 fazendas), Rio das Flores (4 fazendas), Miguel Pereira
(2 fazendas) e Paty do Alferes (1 fazenda). Conta com os sites: http://www.valedocafe.com.br e
http://www.preservale.com.br
69
Disponível no site: http://www.aceter.org.br
70
No Estado de São Paulo, o grupo "Fazendas Paulistas" está organizado em núcleos regionais e tem como
objetivo receber turistas interessados em conhecer o patrimônio arquitetônico e cultural de suas fazendas
históricas, totalizadas em treze fazendas. Em cada núcleo regional há fazendas abertas para visitação e outras que
oferecem hospedagem. São fazendas do período áureo do açúcar (século XVIII), do período da colonização
mineira (início do século XIX) e do período do café (segunda metade do século XIX a 1929). Os núcleos
regionais são oferecidos como roteiros turísticos e abrangem os municípios de Campinas (2 fazendas), Itu (2
fazendas), Limeira (3 fazendas), Mococa (3 fazendas) e São Carlos (3 fazendas). Esses núcleos regionais
possibilitam a visitação de várias fazendas numa mesma viagem. As “Fazendas Paulistas” estabeleceram duas
diretrizes que lhe são comuns: as fazendas históricas enquanto locais privilegiados para visitação, almoços,
123
No entanto, cabe ressaltar que essas iniciativas dependem em grande parte dos
próprios empreendedores, proprietários das fazendas, para ações articuladas, desenvolvidas
entre esses diversos empreendedores rurais. Ações dessa natureza possibilitam também
atuações e reivindicações junto às esferas públicas e outras instituições para a agregação de
valores e qualidade nos seus atrativos turísticos, seja para a melhoria de condições de infra-
estrutura ou até mesmo sociais, como, por exemplo, melhoria de acesso rodoviário, de
capacitação profissional, seja para a roteirização regional de um produto turístico, entre outros
itens possíveis de serem listados.
Verifica-se com isso, no Paraná, que na realidade não há um turismo rural que
agregue valores da cultura, música, raízes, artesanato, com investimento no social, mas,
sobretudo, uma maneira tão somente de diversificar as atividades da fazenda, de modo
individual. Seria interessante que novas visões fossem utilizadas para que não somente o
turismo rural representasse valor aos interesses individuais de seus empreendedores, mas que
de modo associativista pudessem reverter atitudes e benefícios em comum, principalmente, no
que se refere a benefícios sociais para o seu entorno; valorização pelo que lhes é próprio de
sua cultura, música, artesanato, comidas típicas. (ALENCAR, 2007).
passeios ecológicos, reuniões de negócios ou comemorativas, pesquisa e ensino e, também, como proposta de
preservação do patrimônio histórico natural e construído. Conta com o site http://www.fazendaspaulista.com.br
71
. No Estado de Minas Gerais, na Ametur (Associação Mineira de Empresas de Turismo Rural) estão
cadastradas vinte propriedades rurais, sendo três categorizadas como fazendas históricas: duas no município de
Santana dos Montes e uma em Matozinhos, as quais atuam com serviço de hospedagem. Disponível no site:
http://www.ametur.tur.br
72
O RS conta com o site para a divulgação de turismo rural temático:
http://www.turismo.rs.gov.br/turtematico/rural.asp
73
O Estado de Santa Catarina, como pioneiro do turismo rural brasileiro, na década de 1980, criou recentemente
a “Rota das Fazendas” na Serra Catarinense, em fazendas que atuam com atividades de pecuária e/ou de
fruticultura e algumas sendo centenárias. Os hábitos e costumes da lida campeira estão preservados e
considerados como um atrativo. Nesse roteiro estão inclusas cinco fazendas: Fazenda Água Santa, Fazenda do
Barreiro, Fazenda Pedras Brancas, Fazenda Boqueirão e Fazenda Panelão. E na Serra Catarinense também há um
roteiro de cavalgada pelo antigo Caminho das Tropas, caracterizado como turismo eqüestre. A região de Lages
possui um site com informações básicas sobre as fazendas e contatos: http://www.guialages.com.br/hotfaz.asp
124
O turismo com base no legado cultural, o turismo de tradição, cujo principal atrativo
é o patrimônio histórico, tende a desencadear um processo cíclico. Neste processo ocorre o
incremento da memória, mediante a recuperação do patrimônio, reafirma o interesse por este
último que, mais valorizado, estimula, num ato contínuo, o conhecimento da história, a
revitalização da memória social e a descoberta de novos patrimônios. (BANDUCCI JR.,
2003, p. 124).
A criação de roteiros regionais integrados, que se proponham a desenvolver ações
articuladas visando o desenvolvimento turístico é bem evidente nas associações regionais de
turismo rural criadas nas diversas regiões do país. No cenário do turismo rural brasileiro são
vários os exemplos de uma cooperação associativa entre os seus atores sociais organizados,
ou seja, os próprios proprietários rurais dos empreendimentos turísticos, que se reúnem de
modo associativo, para agregar valor e qualidade às suas atividades.
O associativismo, nesse caso, tem como objetivo, portanto, a superação de
dificuldades, a solução de problemas e a geração de benefícios comuns aos associados e à
comunidade local e regional. O associativismo é um sistema que se baseia no trabalho e não
no lucro; na ajuda mútua e não na concorrência e competição, em que as sinergias produzidas
dinamizam esse espaço, proporcionando inclusive a valorização e preservação do patrimônio
histórico-cultural encontrado no espaço rural. (SESCOOP, 2002).
125
Essa atuação de cooperação associativa é configurada no Brasil, principalmente, no
espaço rural pelo Consórcio “Fazendas do Brasil”
74
, em que o estímulo ao associativismo,
expresso em todas as etapas do processo, faz do consórcio uma rede única, ancorada nas
comunidades regionais, com suas formas associativas: o Preservale
75
(Instituto de Preservação
e Desenvolvimento do Vale do Paraíba), no Rio de Janeiro; a Ametur
76
(Associação Mineira
de Empresários de Turismo Rural); a Aceter
77
(Associação Cearense de Turismo no Espaço
74
O Consórcio “Fazendas do Brasil” é uma rede de cooperação associativa de âmbito nacional, identificada por
uma marca que destaca dois aspectos: o nome “Brasil”, que projeta o destino turístico em seu caráter nacional e
internacional e, o apelo rural “Fazendas”, que promove uma realidade brasileira nos mercados nacional e
internacional. (LUCAS, 2005, p. 40). As propriedades rurais no programa “Fazendas do Brasil” foram
classificadas em três grupos: fazendas históricas, fazendas de produção e fazendas de lazer. As fazendas
históricas são as que apresentam interesse histórico e valor patrimonial, referências na arquitetura tradicional
brasileira, mobiliário e decoração adequada à época da construção. As fazendas de produção são aquelas que
proporcionam alojamento e animação de agro-turismo, satisfazendo os elevados padrões de qualidade. As
fazendas de lazer são as propriedades direcionadas a programas de entretenimento de caráter lúdico, cultural e
ambiental. Essa classificação proposta acomoda a diversidade da oferta do turismo rural brasileiro, procurando,
entretanto, não perder, a qualidade primordial do Referencial TER - Referencial de Turismo no Espaço Rural. As
“Fazendas do Brasil” integram quase oitenta residências rurais nos Estados de Minas Gerais, Ceará e Rio de
Janeiro, tendo esta rede se estendido para Mato Grosso do Sul, Pernambuco e São Paulo. (LUCAS, 2005). O
aspecto mais relevante das “Fazendas do Brasil” é a possibilidade de implantação, em praticamente todo o país,
de uma rede nacional que, guardadas as peculiaridades e características de cada região, é capaz de manter a
identidade de serviços de atendimento, de qualidade e de escala, permitindo a segmentação, de modo definido e
diferenciado, na formação de uma rede de cooperação. (LUCAS, 2005, p. 45). As parceiras de cada Estado,
através de experiências direcionadas ao turismo rural, tem provado serem estas um fator de desenvolvimento
econômico local, de estímulo ao empreendedorismo no interior, de valorização da cultural regional, de retomada
dos valores rural, de preservação do ambiente e do patrimônio histórico. (LUCAS, 2005). Vale considerar
também que o associativismo no turismo faz parte de uma das estratégias que integra o Programa de
Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil (BRASIL, 2005c), o qual apresenta uma nova visão para a
gestão pública do desenvolvimento do turismo no Brasil, com o objetivo de desenvolver o setor nas cinco
regiões do país.
75
Com a fundação do Preservale no Rio de Janeiro, em 1994, essa sociedade civil passou a contar com um
instrumento de utilização de seus patrimônios histórico-culturais pelo turismo cultural e rural, como forma de
garantir a sustentabilidade e permanência para as gerações futuras. A atuação do Preservale ganhou espaço na
mídia e
repercutiu em vários setores institucionais que “descobriram” o potencial turístico da região. (LUCAS,
2001, p. 258). O Preservale trabalha com três níveis de parcerias estratégicas: comunitárias, empresariais e
institucionais. Desde a sua fundação, Fernando Tasso Fragoso Pires, faz parte da diretoria e do Conselho Diretor
do Preservale, admirador do Vale da Paraíba e autor de diversos livros sobre o patrimônio histórico da região:
"Antigas Fazendas de Café da Província Fluminense", "Fazendas: as grandes casas rurais do Brasil" e "Fazendas:
solares da região cafeeira do Brasil Imperial", entre outros títulos. (SEBRAE, 2004).
76
A Ametur foi criada em 1996 com o objetivo de valorização e desenvolvimento do potencial turístico do meio
rural de Minas Gerais.
77
A Aceter foi criada em 1999 por uma iniciativa da Secretaria de Turismo (Setur), com o apoio de lideranças
públicas municipais, bem como empresários e empresas privadas.
126
Rural); a Appan
78
(Associação de Pousadas Pantaneiras); Apeturr
79
-(Associação
Pernambucana de Turismo Rural); e a Abraturr/SP
80
(Associação Brasileira de Turismo Rural
de São Paulo/Fazendas Históricas Paulistas).
Talvez em um futuro próximo possa essa atuação associativa ser observada e atuante
entre os proprietários de empreendimento rurais históricos ou não na região dos Campos
Gerais, no Paraná. Um dos caminhos iniciais aponta que a própria instância de governança da
“Rota dos Tropeiros”, junto com as parcerias estabelecidas, poderá dar passos para o
desenvolvimento de uma política de intervenção para a preservação, a conservação, a
divulgação desse riquíssimo patrimônio histórico-cultural da região dos Campos Gerais,
pouco identificável no seu conjunto cultural. Conseqüentemente, isso auxiliaria os
proprietários atuais nas condições para a preservação desse patrimônio e sua atuação no
turismo rural associativo, o que resultaria em benefícios não só aos proprietários dos
empreendimentos rurais, mas sobretudo para a comunidade local e regional, como forma de
planejamento e gestão.
O associativismo, com o foco para o espaço turístico rural, poderá facilitar e
colaborar na resolução de problemas comuns. Numa ação interdependente e complementar
dos empreendedores rurais, reunidos em um grupo com interesses comuns, poderão,
conseqüentemente, melhorar a organização e a divulgação de seus produtos e serviços;
78
A Appan foi criada em fevereiro de 2001. Determinada a promover o ordenamento e estimular a atividade
turística, sempre de forma harmônica com a cultura pantaneira e com a devida responsabilidade perante a
natureza. A Associação preocupa-se com a manutenção das estradas por sua importância no desenvolvimento e
conservação do meio ambiente e como fator de promoção das relações humanas na região. A Appan opera o
setor responsável por um avanço histórico no contexto social e econômico local: a diversificação das atividades.
79
A Apeturr foi criada em maio de 2002. Surgiu a partir da necessidade de congregar esforços em prol do
desenvolvimento de uma modalidade de turismo até então pouco explorada na região: o Turismo Rural.
Atualmente este órgão associa e representa os proprietários e empreendedores do setor, contando também com o
apoio e incentivo de empresas públicas e privadas.
80
A Associação Fazendas Históricas Paulistas foi constituída em 11 de abril de 2005, em uma reunião do grupo
na Fazenda Santa Gertrudes, em Limeira/SP.
127
desenvolver em conjunto os princípios e características do turismo rural da região, tendo
como finalidade a oferta de um produto turístico atrativo e diversificado, fruto da cultura
regional, proporcionando, consequentemente, benefícios sociais para seu entorno.
128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os caminhos percorridos pelos tropeiros e os espaços de vivência deste importante
momento histórico, que marcou os séculos XVIII e XIX, podem hoje, numa linguagem
ressignificada, serem percorridos e vivenciados por moradores destes locais e por turistas
vindos de regiões adjacentes ou remotas. No Paraná, essa possibilidade assume concretude e
articulação na região dos Campos Gerais através do projeto turístico “Rota dos Tropeiros”,
lançado oficialmente em 2003.
Iniciativas pontuais, entretanto, antecedem este projeto e, de certa forma, são a base
de sua sustentação. Elementos de ressignificação (Monumentos/Painéis) e espaços de
ressignificação (Museus e Casas da Memória), que buscam reafirmar uma identidade tropeira
na região vão surgindo gradativamente estimulando o imaginário de moradores e turistas,
entre estes temos:
a) O Monumento do Tropeiro na Lapa: Inaugurado em 1965 durante a construção da
rodovia Lapa-Curitiba, busca ressaltar a importância da Lapa como ponto de parada das
tropas. A ressignificação ocorre através dos olhos de Poty Lazarotto, renomado artista
paranaense, que retrata – de forma estilizada - um tropeiro com vestimentas típicas, as tropas
que o seguem e a paisagem de araucária do Paraná num painel de azulejos colocado na
entrada da cidade.
b) O Museu do Tropeiro em Castro: Inaugurado em 1977, ocupa a casa mais antiga
da cidade com o objetivo de resgatar e preservar a memória do tropeirismo. A ressignificação
se dá aqui através de seu acervo – vestimentas e objetos pessoais de antigos tropeiros, mapas,
129
documentos, móveis de época e coleção de arte sacra – que procuram retratar, sobretudo, a
vida do tropeiro.
c) A Casa da Memória de Carambeí: É inaugurada em 2001 e tem como temática
central a história da imigração holandesa no município. Criando elementos para “reviver” o
processo de ocupação destas terras são apresentadas uma maquete da Colônia Carambeí (em
menor escala) e réplicas (em maior escala) das principais edificações que marcaram sua
história. Neste contexto aparece ressignificada, enquanto réplica, a sede Fazenda Carambeí
81
.
O estudo aqui apresentado teve como questão central a análise das fazendas ou
invernadas históricas, ligadas ao tropeirismo, sobretudo aquelas que absorveram, num
processo de ressignificação cultural, essa nova linguagem através do turismo. Diferentes
iniciativas dos proprietários destas fazendas mostram a diversidade de ressignificações
possíveis para se trazer à tona a valorização da identidade cultural tropeira.
Na Fazenda Roseira a ressignificação se apresenta das mais diversas formas: na
visitação sugerida à sede da fazenda; na hospitalidade e recepção, nos passeios a pé ou
cavalgadas por trilhas antigas, nos pratos típicos servidos, nos painéis e quadros de fotografias
encontrados tanto na sede da fazenda quanto na hospedaria, nos móveis conservados e na
decoração da sede da fazenda, nas histórias e causos relembrados, na roda de fogo ao lado da
hospedaria, na roda de chimarrão e conversas sobre a história da região e também no cartão
postal entregue ao final da visitação ou hospedagem.
Na Fazenda Capão Alto, a ressignificação está presente na visitação pela sede da
fazenda, nas histórias e nos causos contatos pelo guia, nos documentários exibidos, na réplica
81
A sede desta Fazenda, mantida em bom estado de conservação e utilizada como moradia por imigrantes
holandeses, ainda não apresenta um programa de visitação, entretanto, é comum a parada de ônibus de turismo
defronte a mesma.
130
de um antigo rancho tropeiro, nas encenações e acampamentos realizados, nas tropeadas e
também no cartão postal entregue ao final da visitação.
Essas ressignificações reaparecem na Fazenda Boa Vista com seus passeios a pé ou a
cavalo pela região; nos móveis e na decoração da sede da fazenda; nos pratos típicos servidos;
nas histórias e causos relembrados; além das rodas de chimarrão. Estão presentes também na
Fazenda Fortaleza, sobretudo, na religiosidade voltada à devoção ao Senhor Bom Jesus da
Cana Verde com sua capela aberta diariamente para visitação. O processo de ressignificação
diferencia-se na Fazenda Morungava com a possibilidade de vivência nas atividades da
fazenda, como tropeadas, invernadas, vacinação, marcação e supervisão do gado.
O projeto “Rota dos Tropeiros” do Paraná, unindo as diferentes ofertas turísticas,
procura reforçar esse processo de ressignificação do tropeirismo e lhe atribuiu um caráter
regional. Isto é perceptível na própria marca de identidade visual do projeto, um logotipo
centrado na figura do tropeiro. Esta escolha, que coloca o tropeiro em evidência, difere-se do
quadro político da fase estudada – séculos XVIII e XIX. Enquanto naquela fase histórica o
centro político se coloca na figura do fazendeiro, na atualidade o projeto turístico oferece
ainda pouca visibilidade a este e ao cenário das fazendas.
Nesse trajeto turístico, que perpassa 16 municípios dos Campos Gerais e que se
diferencia das rotas antigas que traziam as tropas, o objetivo está focado na condução de
turistas e, portanto, aglutina espaços tidos como de maior atratividade. Deve-se ressaltar,
entretanto, que essas atratividades muitas vezes estão correlacionadas às políticas de
incentivos e valorização tanto municipais como estaduais, condicionadas a pesos e medidas
diferentes, ou seja, de acordo com interesses econômicos e políticos. Este fato gera
contradições e impasses, distanciando – muitas vezes – significação e ressignificação.
131
Conclui-se, assim, que o turismo utiliza-se de significações existentes em uma
determinada região para redimensioná-las em processo de ressignificação específicas - seja
através da alimentação, cavalgadas, valorização e edificação de obras de artes e monumentos,
roteiros culturais e preservação de conjuntos arquitetônicos, reconstituição de trilhas para
ecoturistas, provas do laço e da montaria, entre outros aspectos. Observa-se, todavia, que nem
sempre o turismo absorve a linguagem que a própria comunidade valoriza e reconhece como
sendo de seu pertencimento, esquecendo-se da revitalização da memória social, e com isso, da
descoberta de novos patrimônios.
132
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ENTREVISTAS
ALENCAR, Wilma. Entrevista concedida a Josélia Maria Loyola de Oliveira Gomes em
11 de janeiro de 2007.
BEZERRA, Deise Maria Fernandes. Entrevista concedida a Josélia Maria Loyola de
Oliveira Gomes em 05 de outubro de 2006.
CARNEIRO, Sabrina. Entrevista concedida a Josélia Maria Loyola de Oliveira Gomes
em 10 de janeiro de 2007.
150
CARVALHO, Aldo César. Entrevista concedida a Josélia Maria Loyola de Oliveira
Gomes em 05 de outubro de 2006.
MACHADO, Paulo Maurício Bueno. Entrevista concedida a Josélia Maria Loyola de
Oliveira Gomes em 21 de janeiro de 2007.
MATTOS, Maria Silvia. Entrevista concedida a Josélia Maria Loyola de Oliveira Gomes
em 20 de janeiro de 2007.
SILVA, Reinaldo Rodrigues da. Entrevista concedida a Josélia Maria Loyola de Oliveira
Gomes em 20 de janeiro de 2007.
SUPLICY, Maristela. Entrevista concedida a Josélia Maria Loyola de Oliveira em 26 de
junho de 2006.
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