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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
JOÃO CARLOS DIAS DE OLIVEIRA
A PRESENÇA DA MÍDIA NO COTIDIANO DOS PEQUENOS PRODUTORES
RURAIS EM PONTA GROSSA/PR: possíveis relações de apropriação da
produção midiática na agricultura familiar
PONTA GROSSA
2007
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JOÃO CARLOS DIAS DE OLIVEIRA
A PRESENÇA DA MÍDIA NO COTIDIANO DOS PEQUENOS PRODUTORES
RURAIS EM PONTA GROSSA/PR: possíveis relações de apropriação da
produção midiática na agricultura familiar
Dissertação apresentada em
cumprimento parcial aos requisitos para
obtenção do título de mestre em Ciências
Sociais Aplicadas, na área de
concentração História, Cultura e
Cidadania, na Universidade Estadual de
Ponta Grossa.
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Gadini
PONTA GROSSA
2007
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RESUMO
A presente dissertação tem como objetivo verificar se o agricultor familiar ponta-
grossense utiliza os meios de comunicação de massa como uma ferramenta na
busca de informações que sejam úteis para a atividade produtiva. Para tanto, foram
feitas entrevistas através de formulários de pesquisa com 60 pequenos produtores
que se enquadram nas características conceituais de agricultura familiar. Como o
objeto de estudo se encontra nas relações entre os canais de dia e o produtor,
também foram analisadas produções voltadas para a comunicação rural em rádio,
jornais e televisão, além de mais uma pesquisa, via formulário, junto às emissoras
de rádio de Ponta Grossa. A metodologia utilizada foi do levantamento empírico
quantitativo e qualitativo, além de pesquisas documentais e entrevistas orais. As
reflexões teóricas são sustentadas por autores que discutem a comunicação, a partir
da sua importância e as relações entre emissão e recepção das mensagens
midiáticas. As perspectivas levantadas no estudo geral apontam para a importância
da comunicação mediada dentro dos processos sociais. A fundamentação particular
apresenta uma análise crítica da produção dos canais para o meio rural e um
entendimento de quem é o público receptor de tais mensagens. Para melhor
conhecimento do objeto de estudo, pesquisas bibliográficas apresentam a formação
histórica, a conjuntura atual e a conceituação do agricultor familiar, tanto em termos
nacionais como no caráter particular do município. Ao final do trabalho foi possível
constatar que o público estudado tem acesso aos principais canais midiáticos e
conhecimento das formas mais populares de produção para o meio. No entanto,o
é prática corrente entre eles o uso da mídia como uma ferramenta dentro da
atividade rural.
Palavras-chave: Comunicação rural - Agricultor familiar – Produção midiática.
ABSTRACT
This study has as objective to verify if the familiar farmings of Ponta Grossa (Pr) use
the means of mass communication as a tool when searching for useful information
for their productive activities. In this way, it has been made interviews using research
forms with 60 producers from small rural communities that fit in the conceptual
characteristics of familiar agriculture. As the object of the study is inserted in the
relationship between the media chanells and the producer, were also analyzed
productions related to rural communication by radio, newspaper, and television,
besides a poll, using forms with radio stations in Ponta Grossa. The methodology
used was the quantitative and qualitative empirical investigation, and also
documental researches and oral interviews. Theoretical reflections are supported by
authors that discuss the communication, from its importance and its relationships
between emission and reception of the media messages. The perspectives in the
general study pointed out the importance of the communication that takes place into
the social processes. The particular basis presents a critical analyzes of the
production of the channels directed at rural places and an understanding of the
audience that receives the messages. For a better knowledge of the object of the
study, the bibliographic researches presents a historical formation, a present
conjuncture and a conception of familiar agriculture, either as in national terms as in
a particular character of the county. The results certify that the studied public has
access to the main media channels and knows about the most popular forms of
production in this field. Nevertheless, the use of media as a tool in their rural activity
is not a current practice between them.
Key words: Agricultural communication, familiar farming, media production
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1
QUADRO 2
QUADRO 3
QUADRO 4
QUADRO 5
QUADRO 6
QUADRO 7
QUADRO 8
QUADRO 9
QUADRO 10
QUADRO 11
QUADRO 12
QUADRO 13
QUADRO 14
QUADRO 15
QUADRO 16
QUADRO 17
Total de propriedades existentes em 1996 .................................
Área total, em hectares, em 1996 ...............................................
Principais produtos da agricultura familiar em 2000: Brasil e
Paraná ........................................................................................
Valor bruto de produção total (Familiar e Patronal) ....................
Renda total (Familiar e patronal) em 1996 ..................................
Propriedades rurais de Ponta Grossa divididas por tamanho de
área .............................................................................................
Principais culturas e orientação dos produtores sobre o que
produzir .......................................................................................
Tipos de tecnologias que os produtores utilizam na
propriedade, entre os 60 entrevistados........................................
Nível escolar dos produtores entrevistados e de seus
respectivos cônjuges, considerando que 53 disseram que são
casados........................................................................................
Situação do empreendimento no período em que pertence ao
produtor entrevistado...................................................................
Visão atual que o produtor tem da atividade rural.......................
QUADRO 12 Visão dos agricultores familiares sobre as
políticas públicas..........................................................................
O que os agricultores familiares esperam para o futuro dos
filhos.............................................................................................
Acesso dos agricultores familiares aos veículos de
comunicação................................................................................
Índice de agricultores que acompanham preços
agropecuários .............................................................................
Produtores que acompanham os noticiários agropecuários e os
veículos mais utilizados ..............................................................
Utilização das informações agropecuárias dentro da atividade,
considerando apenas os 45 produtores que acompanham o
noticiário ......................................................................................
41
41
42
43
44
45
100
102
104
106
107
108
108
110
113
116
120
QUADRO 18
QUADRO 19
QUADRO 20
QUADRO 21
QUADRO 22
QUADRO 23
Como o agricultor familiar toma as decisões para produzir .....
A importância do uso da comunicação na atividade
agropecuária ............................................................................
Já se comunicaram com os MCM e meios utilizados...............
Avaliação dos agricultores familiares sobre as facilidades ou
dificuldades de entender a comunicação rural ........................
Assuntos que mais chamam a atenção dos produtores nos
noticiários agropecuários .........................................................
Assuntos que o agricultor familiar gostaria de ver mais vezes
nos noticiários ..........................................................................
122
126
127
129
131
131
SUMÁRIO
Introdução ....................................................................................................... 9
Capítulo 1 - Contextualização rural brasileira e a agricultura familiar .. 22
1.1
1.2
1.3
1.3.1
1.4
1.5
1.6
1.7
Conceitos de agricultura familiar...........................................................
A formação fundiária brasileira..............................................................
Pequena e grande propriedade em Ponta Grossa................................
Consolidação da atividade primária......................................................
Conjuntura rural contemporânea...........................................................
Realidade conjuntural ponta-grossense................................................
"Modernidade" no campo......................................................................
Políticas públicas ..................................................................................
22
27
35
37
39
45
46
53
Capítulo 2 - A comunicação....................................................................... 55
2.1
2.2
2.3
2.4
2.4.1
2.5
2.6
2.7
2.8
2.9
Mudanças no cenário local no século XX.............................................
Agricultura empresarial e a busca de informações...............................
Mercado da comunicação rural.............................................................
Comunicação e inserção social.............................................................
Compreensão do universo do produtor rural.........................................
Mudanças ocorridas nas comunicações...............................................
O papel da comunicação no espaço social...........................................
Caminhos da comunicação na pequena propriedade...........................
Agricultor familiar como sujeito.............................................................
Comunicação rural................................................................................
55
56
60
63
65
67
69
72
73
80
Capítulo 3 - Consumo da mídia na agricultura familiar ponta-
grossense............................................................................... 90
3.1
3.1.1
3.1.2
3.1.3
3.1.4
3.1.5
3.2
3.2.1
3.2.2
3.2.3
3.2.4
3.2.5
3.3
3.3.1
3.3.2
3.3.3
3.4
3.4.1
Perfil do agricultor familiar participante da pesquisa............................
Faixa etária............................................................................................
Origem dos agricultores........................................................................
Ascendência dos entrevistados.............................................................
Aquisição da propriedade......................................................................
Número de componentes do grupo familiar..........................................
Formas de trabalho e produção adotadas............................................
Mão-de-obra utilizada............................................................................
O que produz.........................................................................................
Tecnologia adotada...............................................................................
Assistência técnica................................................................................
Utilização de crédito agrícola................................................................
Realidade econômica e educacional da agricultura familiar.................
Nível escolar..........................................................................................
Geração de renda na propriedade........................................................
Situação atual do empreendimento......................................................
Condições atuais e expectativas futuras...............................................
Avaliação das políticas públicas............................................................
95
95
95
96
96
97
98
98
98
100
102
103
103
103
104
105
106
107
3.4.2
3.5
3.6
3.6.1
3.6.2
3.6.3
3.6.4
3.6.5
3.6.6
3.7
3.7.1
3.7.2
3.7.3
O que espera para o futuro dos filhos...................................................
Acesso do produtor à informação.........................................................
Utilização dos produtos midiáticos........................................................
Acompanhamento de preços................................................................
Interesse pelos produtos midiáticos rurais............................................
Como utiliza as informações.................................................................
De que maneira o agricultor familiar decide o que vai produzir............
A importância da comunicação.............................................................
Comunicação do agricultor com os produtos de mídia.........................
Avaliação da comunicação rural...........................................................
Considera a linguagem adotada fácil ou difícil......................................
Assuntos que mais interessam aos entrevistados................................
O que deveria ter em noticiários para o agricultor familiar....................
108
109
110
111
113
116
120
122
126
127
127
129
131
Capítulo 4 - Análise dos veículos de comunicação.................................
133
4.1
4.2
4.2.1
4.2.2
4.3
4.3.1
4.3.2
4.3.3
O discurso jornalístico dos cadernos rurais...........................................
O rádio no meio rural.............................................................................
Comunicação rural no rádio ponta-grossense......................................
O Homem e a Terra..............................................................................
A televisão.............................................................................................
A televisão feita para o público rural.....................................................
Globo Rural...........................................................................................
Caminhos do Campo............................................................................
133
141
143
145
148
151
152
154
Conclusão.........................................................................................................
157
Referências bibliográficas..............................................................................
Apêndice A –Formulário de coleta de dados................................................
Apêndice B – Formulário de pesquisa nas rádios........................................
166
173
178
INTRODUÇÃO
As representões sobre o meio rural, via de regra, o de que as tarefas
diárias se restringem em plantar, cuidar da lavoura, colher e vender a produção.
Estas, realmente, o práticas comuns à agropecuária. Mas hoje a produção vai
além do trabalho manual. Isto vale para toda atividade, seja urbana ou rural. Um
fator determinante para o sucesso ou mesmo a sobrevivência em qualquer ramo
é o conhecimento. E para adquiri-lo é necessário contar com subdios da
comunicação, seja face a face, seja através de mediações.
O objeto de estudo desta dissertação são as relações existentes entre o
agricultor familiar e a produção midtica para o meio rural, como os primeiros
utilizam o meio e qual é a prodão da dia para o público em questão. O
estudo tem como foco o pequeno produtor rural de Ponta Grossa e para
pesquisá-lo foi utilizado o conceito de agricultor familiar. Em ntese, trata-se de
agricultores que vivem e trabalham em pequenas áreas, utilizando mão-de-obra
familiar e com a prodão voltada para o consumo e gerão de renda. Também
será usado o termo "pequeno produtor", mas apenas como sinônimo de agricultor
familiar, com o único objetivo de facilitar a prodão do texto sem desgastantes
repetições de palavras.
O fato de trabalhar com um público rural, o significa que há um
entendimento de que ele seja distinto do urbano enquanto receptor. A
dependência do meio rural ao urbano é reconhecida. O rural dialoga com a
cidade revelando um cruzamento de interesses do público entre um meio e o
outro, sendo que o produtor mantém relações diretas com instituições urbanas.
Ele se diferencia em suas relações com o meio onde vive e produz, nas relações
com o meio ambiente, moradia e atividade, que se confundem em um mesmo
local. Tais aspectos o considerados como relevantes no estudo da agricultura
familiar. A variável escolhida para conceituão do agricultor familiar partiu de um
recorte cio-econômico. No entanto, é preciso considerar que as relões
sociais tradicionais do meio rural também o importantes e fazem com que o
agricultor familiar não seja um público homogêneo.
No caso de Ponta Grossa, deve ser levado em considerão, também, que
se trata de um município pólo de sua região, os Campos Gerais, portanto é
hegenico no que tange às relações de troca com munipios vizinhos. Assim, é
posvel que as características do blico levantadas na pesquisa emrica
9
encontrem similaridade na região. No presente estudo optou-se por um recorte
geográfico de Ponta Grossa, mas pode ser que seja igual, em muitos aspectos,
em toda região.
No meio rural, os empresários rurais m usado mais uma ferramenta,
além do trator ou da colheitadeira, para produzir: a informação. Todas as suas
atividades o pautadas em conhecimentos repassados por instrumentos de
comunicação, que informam os preços, condões do clima, tecnologias, entre
outros temas. E o agricultor familiar, como utiliza os veículos de comunicação no
trabalho? Esta dissertação pretende verificar se este produtor utiliza tais meios
como ferramenta de trabalho.
Canais e mecanismos de produção que vão além dos atos de plantar,
colher e vender podem ajudar a conservar a existência da agricultura familiar. Os
meios de comunicação que pretendem atuar com esse blico devem estar
atentos ao desafio de fazer um trabalho útil para o êxito do pequeno agricultor.
As comunidades rurais sobrevivem ao longo do tempo, apesar de todas as
discussões sobre a sua localizão social, tanto geográfica, como produtiva.
Lefebvre (1981) lembra que essas comunidades permanecem, mesmo que
sofrendo transformões nos modos de produção: feudal, escravista, capitalista
ou outro. E o produtor reconhece as mudanças sócio-econômicas pelas quais
passa. Para o autor, a comunidade rural o é imutável, pode até desaparecer
num possível sistema industrial, mas não ficará estática.
A questão é saber em que condições ela vem se desenvolvendo. Lefebvre
(1981) destaca o fato de que a vida rural, hoje, não é mais autônoma, tendo suas
relações intimamente ligadas com a cidade. O produtor rural relaciona-se de
rias maneiras com a economia em geral, com a vida do país e com as novas
tecnologias. Para Lefebvre (1981), é importante destacar ainda que, no seu meio,
o mundo rural não pode ser visto como algo isolado, mas como uma área com
grande variedade de modelos e caractesticas próprias.
Diante disso, é possível considerar que é muito difícil o pequeno produtor
familiar brasileiro sobreviver, atualmente, dentro do modelo de produção
milho/feijão com baixa tecnologia. Baseado nesta cadeia produtiva, sem uma
busca de alternativas vveis para a pequena propriedade, a agricultura familiar
tem poucas chances de sucesso. A avaliação é do professor Jo Batista
Padilha, da Universidade Federal do Paraná (2001). A questão do milho e feijão é
colocada aqui como uma ilustração de tipos de culturas que são trabalhadas por
10
tal blico, já que são mesmo as mais comuns e que geralmente apresentam
baixos resultados econômicos.
O presente trabalho não pretende apontar formas de produção ou sugerir
modos de vida para os agricultores familiares, como a adão de agroecologia,
produção orgânica, ou opção por insumos qmicos. A tecnologia aqui defendida
como necesria é apenas da informão do conhecimento, independente da
opção produtiva a campo. Entende-se, então, tecnologia como uma adoção de
determinada forma de produzir, independente da forma de trabalho. Mesmo na
agroecologia, é necessário que o agricultor adquira conhecimentos e técnicas
que permitam um bom desempenho.
Sorokin, Zimmerman e Galpin (1981) destacam que as diferenças entre
campo e cidade cresceram a partir da modernidade, quantitativa e
qualitativamente, deixando muitos tros claros que definem estes locais. O meio
rural, assim como as cidades, mantém suas particularidades, com características
singulares.
Segundo Solari (apud MARTINS, 1981), ao mesmo tempo em que ocorre
uma migrão para os espaços urbanos na modernidade, acontece também uma
urbanizão dos espaços rurais. Mas o desenvolvimento não deve levar à
superação do rural, como acreditam muitos teóricos. O produtor agrícola pode
extrair o que há de bom no processo de urbanização para aplicar em suas
práticas cotidianas.
Para buscar novas alternativas, o produtor precisa reconhecer o espaço e
tempo em que está inserido e tamm ter noção de que é possível ter novas
possibilidades de atividades e gerão de renda. Uma maneira de fazê-lo é
lançando mão da informação formal, como se chamada, em alguns momentos,
neste trabalho, a produção midiática, feita pelos meios de comunicação de
massa (MCM).
Em se tratando mais especificamente da produção de mídia que se
pretende rural, essa deve trazer informões que sejam úteis para o
acompanhamento de mercado, tecnologia, nichos e novas oportunidades que
sejam viáveis, notícias de políticas agcolas e informações do que se passa
dentro da atividade, entre outros temas que sejam ecomica e socialmente
interessantes para o agricultor familiar e permitam a ele inter-relacionar-se com
os outros elos da cadeia produtiva. Corcuff (2001) diz que todos os indivíduos se
inter-relacionam, não apenas face a face, mas dentro de um complexo universal
11
mais global. A comunicação midiática, partindo de tal conceito, deve servir para
que o produtor exea relacionamentos, buscando as metas e esclarecimentos
que deseja.
Tal modelo, como pode ser visto no capítulo dois, é utilizado em larga
escala pelos grandes produtores, ou agricultores empresariais, que serão
utilizados aqui como sinimos. o se trata de sugerir o modelo de gestão do
grande para o agricultor familiar, mas compreender que no campo a comunicação
é utilizada como uma ferramenta de trabalho. Com o uso de informações, é
posvel que o produtor familiar também possa determinar as suas atividades
através de novos conhecimentos que lhe cheguem através dos veículos de
comunicação.
Ainda hoje, grande parte desse público trabalha através de modelos
herdados de gerações. Historicamente, a maioria dos agricultores familiares vive
e produz dentro de uma conjuntura familiar, onde poucas mudanças o tentadas
para alterar escala ou forma de trabalho. Os conhecimentos aplicados nas
propriedades são utilizados quase que regularmente de forma emrica e passam
por pequenas transformações, que poderiam ser mais significativas se buscadas
dentro de um plano mais abrangente.
Berger e Luckmann (1987, p. 120) explicam que o conhecimento é um
produto social e fator de transformação, operando de forma dialética com a base
social, numa constante troca que pode inserir formas inicialmente complexas na
rotina da sociedade. No campo sociogico, Corcuff (2001) diz que as novas
sociologias tendem a apreender indivíduos plurais, produzidos e produtores das
mais variadas relações sociais. O autor destaca, entre outras, a perspectiva
construtivista, pela qual as realidades sociais são apreendidas como constrões
dos atores, como indiduos e na coletividade em que estão inseridos. E tais
construções se dão, o apenas face a face, mas também de forma mediada.
Corcuff (2001) ressalta que os novos conhecimentos recebidos são
objetivados e interiorizados. Tanto farão parte do seu conhecimento como serão
expressos através de práticas e da comunicação. Os processos de comunicação
para o meio rural deveriam, portanto, ocorrer com liberdade de interação e
escolha do público, o que pouco ocorre na agricultura familiar. Segundo Freire
(2001), no que tange às novas tecnologias, trabalhos calcados mais na busca de
resultados eficazes, com aplicações científicas adequadas, são levados por
cnicos extensionistas, que impõem novas formas, muitas vezes sem respeitar o
12
que pensa o próprio produtor. A afirmão apresenta-se como um paradoxo entre
o fazer exatamente como o cnico mandou, sem questionar, e uma rejeão pela
novidade.
Ainda para Berger e Luckmann (1987), as pessoas fazem certas coisas,
o porque dão resultado, mas porque são certas, de acordo com o que sugerem
os especialistas. Corcuff (2001) destaca que a interdependência dos indiduos,
que podem ser observadas nesses aspectos de aprendizado, agem no ethos
pessoal e não apenas como constrangimentos exteriores. Por outro lado, Berger
e Luckmann (1987) também salientam que isso pode gerar conflito entre
especialistas e profissionais, como os agricultores, que podem considerar
pretensiosa a idéia do técnico, em querer ensinar como ele deveria fazer. Tais
barreiras se apresentam como dificuldades e desafios para a comunicação rural.
Além disso, "a novidade pode se apresentar como um problema o rotinizado,
que só o deixa de ser quando superada esta etapa" (BERGER e LUCKMANN,
1987, p. 41).
Diferente da maioria dos agricultores familiares, o grande produtor
programa anualmente a sua atividade, no caso de culturas anuais, prevendo, ao
menos em tese, obter lucro com as lavouras que serão implantadas. Para isso, o
grande produtor procura conhecer tendências, saber se determinada cultura está
com mercado favovel ou não. Com base em perspectivas, pode produzir mais
milho e menos soja no veo, ou vice-versa. Produzir trigo no inverno ou
simplesmente fazer adubão verde. A visão do emprerio, geralmente, é
macro, com observância do comportamento nacional e mundial. Para isso, utiliza
diversos mecanismos de informação ao seu alcance: cooperativa, escritórios de
planejamento, internet e outras mídias, conforme explica o empresário rural
Manoel Henrique Pereira
1
Padilha (2001) acredita que a informação é preponderante para quem
quiser sobreviver, hoje, dentro da atividade rural. É notório, portanto, que o
pequeno produtor, se não tiver mecanismos para também conhecer, o apenas
o mercado, mas toda a cadeia produtiva, do antes ao pós-porteira, corre o risco
de ser excldo do processo. Como vem ocorrendo ao longo das últimas décadas
e será salientado adiante. A falta de incentivo ao uso da comunicação para o
blico em questão pode ser considerada como mais uma forma de exclusão.
1
Entrevista concedida ao autor em 31 de janeiro de 2007
13
Bordenave (1995) explica que a comunicação está presente em todas as
etapas da vida humana e da sociedade. Para ele, "comunicão é processo,
tecnologia, sistema e cncia. A comunicação é um processo tão natural como
respirar, beber água e se alimentar". (1995, p.9).
Partindo de tais conceitos inicialmente colocados, o objetivo desta
dissertão é verificar se o agricultor familiar utiliza os meios de comunicação de
massa como ferramenta para a busca de informões que sejam úteis para a
aplicação na atividade rural.
Outros objetivos mais espeficos buscaram reconhecer os tipos de
informão e temas pelos quais o agricultor familiar ponta-grossense mais se
interessa; quais os meios de comunicação que utiliza e o que busca nos
informativos; observar a posvel aplicão da informação na cadeia produtiva;
verificar se ele considera que estar bem informado é importante para a produção
rural e melhoria das condições de vida e qual a vio do agricultor sobre a
comunicação rural, se considera bem feita e acessível, ou não. Além disso, foi
analisada a produção jornalística feita em jornais, televisão e rádio que circulam
e são sintonizados na rego. Nesse caso, a proposta foi observar a produção
editorial dos mesmos.
A definição de objetivo seguiu a metodologia proposta por Gil (1989). Para
o autor, os problemas propostos, geralmente, são bastante gerais. Para ter maior
precisão é necessário especificá-los. Dessa maneira, o objetivo geral é o ponto
de partida e os específicos vão delimitar a pesquisa.
Como recorte do objeto a ser estudado optou-se por limitar os estudos a
Ponta Grossa-Paraná, munipio que conta com 1.671 propriedades rurais, sendo
que 1.137 com menos de 50 hectares, segundo o censo demogfico do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000. Foi feita, então, uma
pesquisa emrica com 60 indiduos desse universo, estratificados de acordo
com o tamanho da área. O fenômeno central estudado foi a forma como a
comunicação rural é vista e utilizada por tal público.
O trabalho passou por duas etapas, com a pretensão de se
complementarem. Na primeira, os estudos foram desenvolvidos a partir de
pesquisa bibliográfica, que pudesse fundamentar teoricamente os conceitos e
afirmões sobre o objeto e fenômeno estudos, bem como para levantamento
hisrico e conjuntural. Também foram utilizados, no que Gil (1989) chama de
pesquisa de papel, documentos e leis que redimissem vidas e apresentassem
14
elementos para embasar a discuso sobre os temas levantados. Outra técnica
adotada foi de entrevistas orais, que ajudaram no levantamento histórico regional
e do pensamento de grandes empresários rurais sobre a comunicão. Na
pesquisa de campo, a técnica utilizada foi da elaboração de formurios, com
perguntas abertas e fechadas. A pesquisa teve o objetivo de cumprir duas
funções: descrever as características do grupo social estudado e medir as
varveis propostas, conforme propõe Richardson (1989).
Um documento importante para a análise de conjuntura do meio rural em
geral e da agricultura familiar em particular, por se tratar de dados oficiais, é o
censo agropecuário do IBGE, que serviu de base para muitas afirmações de
área, mero de agricultores, prodão agrícola, entre outros. Para isso, foram
usados números do último censo agropecuário, realizado em 1996. Enquanto se
desenvolvia a dissertão, o IBGE anunciou que no mesmo peodo (2007) seria
realizado novo censo, com os resultados sendo divulgados, provavelmente, em
2008. Os índices ora usados, portanto, devem sofrer alterações logo a seguir,
uma vez que os levantamentos de campo iniciam ainda no presente ano.
Propor uma discuso sobre o uso dado ao campo de mídia pelo agricultor
familiar ponta-grossense, se justifica, pela importância da produção midiática, de
forma geral, como uma ferramenta de trabalho. Entende-se, neste estudo, toda
produção informativa veiculada em forma de noticiários, jornais e revistas
especializadas, cadernos rurais encartados em jornais e programas específicos
de dio e televisão, além de materiais dirigidos, como boletins de associações e
cooperativas, informativos técnicos de extensão e pesquisa rural, bem como o
material disponível na internet. Autores que estudam a comunicação social e a
comunicação rural em particular, demonstram que o uso da informação é uma
necessidade para a manutenção do homem no campo com maior eficia.
Do outro lado, a literatura que discute o tema proposto explica que os
profissionais que trabalham com comunicação voltada para agricultores devem
entender que esclarecimentos e informações podem ser muito mais do que
apenas a divulgação de notícias. É possível pensar nos produtos midticos para
o agricultor familiar como uma ferramenta útil, como um suporte para o público
que é objeto do trabalho. Mas também é preciso que o agricultor familiar, de sua
parte, entenda a necessidade de permanecer informado sobre tudo que acontece
à sua volta, na região e nos lugares mais distantes, sobretudo quando se trata de
acontecimentos ligados à sua área de atuação. Independente da forma de
15
trabalho, seja com agricultura orgânica, produção de gos, fruticultura ou
olericultura, é fundamental saber o que acontece no meio e nas áreas que se
inter-relacionam com ele.
A informação já é amplamente utilizada na agricultura empresarial e é
viável também nas propriedades familiares. Bem informados, os pequenos
produtores podem ser mais capazes de tomar suas próprias decisões, concordar
com práticas ou questionar o sistema, optar por uma atividade, ou renegar
modelos que lhes são oferecidos. O processo bem compreendido pode ser
diatico e permitir que as famílias rurais encontrem seu próprio caminho para
atuar e viver na propriedade, sem precisar optar pela saída aparentemente mais
fácil, mas também, via de regra, mais negativa, que é largar a atividade rural e ir
engrossar os bolsões de miséria nas cidades.
As questões envolvendo o meio rural como uma particularidade, somente a
partir do culo XIX ocuparam espo nos meios acadêmicos. Lefebvre (1981)
destaca que foi com a divio das terras, por herança, que o meio começou a
despertar interesse na França de então. Outro fator que passava a chamar
ateão era a adoção de tecnologias rurais. O uso da comunicação, na
contemporaneidade, é mais um aspecto que deve ser estudado.
Muitos autores afirmam que a comunicação se mostra necessária no
desenvolvimento humano, individual e social. Pode-se citar Bordenave (1995),
para quem, em todas as etapas de produção e convívio da sociedade, este
processo está presente. Deve-se entender, , a informação midtica como uma
forma de viabilizar o diálogo entre emissor e receptor, em que o agricultor familiar
(receptor) se sirva da mensagem no seu cotidiano.
Para que os meios de comunicão especializados passem a prestar
informões mais úteis e dirigidas ao público em questão é necessário também
entender como estes recebem, atualmente, as informações e qual é o uso que
fazem dela. A hipótese levantada no presente trabalho foi de que o agricultor
familiar ponta-grossense o usa a dia efetivamente como uma ferramenta de
trabalho. Baseada em pressupostos tricos que defendem a necessidade de
estar bem informado, a pesquisa partiu da idéia de que é importante para o
pequeno produtor de base familiar entender melhor o que se passa no mercado,
no mundo e nas tecnologias, para que possa trabalhar de forma mais eficaz e
assim ter maior possibilidade de sucesso na atividade. Portanto, o objeto de
estudo o as relações existentes entre o agricultor familiar de Ponta Grossa e a
16
produção midiática. É preciso entender como ele recebe e utiliza as informões
voltadas ao meio rural.
O conceito de agricultor familiar, aqui estudado, parte do pensamento de
autores que o classificam como aquele produtor que utiliza basicamente a mão-
de-obra da falia nas atividades da propriedade. Os estudos se valem ainda das
refencias da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do
Paraná (SEAB), que definem como agricultor familiar, aquele com área de até 50
hectares, tamanho definido para aplicação de programas para o setor (PARANÁ,
1996). É usada ainda a Lei Federal 11.326/06 (2006), que considera como
agricultor familiar, quem tem área de até quatro módulos fiscais. Em Ponta
Grossa, cada módulo fiscal representa uma área de 12 hectares. Portanto, a área
da agricultura familiar, aqui utilizada, vai até 48 hectares.
A idéia de desenvolvimento utilizada neste projeto está baseada na forma
do agricultor familiar trabalhar e sobreviver de maneira decente na propriedade,
sem precisar optar pelo êxodo rural, que tem tirado muitos pequenos produtores
do campo. Veiga (2001) cita o conceito de Amartya Sem prêmio Nobel de
Economia de 1998 - , que diz que o desenvolvimento deve ser visto como um
processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam.
Contrastando com vies mais restritas, como as que identificam o
desenvolvimento com o simples crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Nesse caso, as liberdades são determinadas por aspectos como sde,
educação e tamm os direitos civis.
Mas Veiga (2001) entende ainda que a redão de desigualdades é que
ajuda a reduzir a pobreza. Quanto menos desigual for uma sociedade, mais o
crescimento econômico reduzirá a pobreza. O impacto, por outro lado, é pequeno
quando existe muita disparidade em fatores como o acesso à propriedade da
terra e à educação. De acordo com o autor, nas sociedades em que menor
desigualdade a tendência é que ocorra crescimento econômico com maior
rapidez.
Nas áreas com grandes concentrões das maiores propriedades rurais
especializadas há menos capacidade de desenvolvimento de médios e pequenos
negócios, conforme Veiga (2001). Quer dizer, é em áreas com agricultura
diversificada e, em geral de caráter familiar, que, quando organizadas, há uma
tendência de maior dinamismo ecomico. O autor considera que a existência
dessa categoria de propriedades, apenas, não é suficiente, é preciso também
17
que haja condições favoráveis de estímulo ao empreendedorismo, áreas de
serviços e também em termos de comunicações disponíveis.
Veiga (2001) explica que, no Brasil, a partir da redemocratização, foram
colocados em pauta dois projetos para o campo. O primeiro visa maximizar a
competitividade do agronecio. Os defensores de tal projeto, segundo o autor,
estimam que 15% da população do campo deve ir para as cidades nas próximas
cadas. Isto significaria a exclusão de 18 milhões de pessoas do setor primário.
Mas há outro projeto, apontado por Veiga (2001), que pode dinamizar o campo,
aproveitando suas potencialidades e especializações, com uma policultura, uma
agrodiversidade muito mais salutar, segundo o autor. Para ele, um maior
dinamismo no campo, não apenas na atividade agcola, propriamente dita, é útil
também para desafogar os grandes centros urbanos e reduzir o desemprego.
Propostas como estas, que apontam formas de produção, não são consideradas
neste projeto, que o tem a pretensão de dizer ao agricultor qual é a melhor
atividade para o meio rural. Mas é importante mostrar que a agricultura familiar é
viável e socialmente importante.
Navarro (2001) lembra que o período entre os anos 1950 e 1970 foi de
grande desenvolvimento tecnológico e econômico. No campo, com a Revolução
Verde, fenômeno que se materializou sobre forte uso de novas tecnologias,
rompendo com o passado, com novas formas de racionalidade produtiva e
mercantilizando gradualmente a vida social e quebrando a relativa autonomia
setorial que a agricultura teve em outros tempos. Esse era o conceito de
desenvolvimento rural dominante no período. O campo passou a ser subordinado
como parte de um processo produtivo, dependente de novos interesses, classes
e consumo majoritariamente urbanos, dentro da lógica capitalista.
Para Navarro (2001), a não de desenvolvimento rural, naqueles anos, foi
moldada pelo momento, com o "ímpeto modernizante". Dentro daquele contexto,
a transformação levaria de forma natural, também no campo, ao desenvolvimento
social das famílias mais pobres. Estimava-se que o aumento da produção e
produtividade fariam crescer a renda familiar e, assim, levariam ao
desenvolvimento rural. Trata-se de uma idéia liberal, que se esgotou, conforme
lembra o autor, ao final dos anos 1970, pois pouca coisa mudou em relação à
pobreza rural em vários países que adotaram tal política.
O desencanto, conforme Navarro (2001), aconteceu tamm devido ao
"estancamento" da fase econômica expansionista e a adoção de políticas
18
conservadoras, a partir dos anos 1980, com o que foi chamado de
neoliberalismo. O modelo enfraqueceu o papel do Estado na condução de suas
políticas. Um dos resultados disso foi a enorme redução do cdito subsidiado. O
desenvolvimento rural também saiu da cena de discussões. Já em meados dos
anos 1990, de acordo com Navarro (2001), iniciava um segundo momento no
debate, que considerava ser muito difícil conseguir o desenvolvimento rural no
campo.
Navarro (2001) destaca conceitos contemporâneos de desenvolvimento
para o meio rural, alguns de pouca utilidade para a inseão da agricultura
familiar. O primeiro deles é a expressão "desenvolvimento agrícola", que se
baseia na produção agropecuária, suas facetas ou evolução, como a área
plantada e produtividade, uso de tecnologias, entre outros dados muito
alardeados pelo agronecio e a dia, de forma geral. Outro modelo, segundo o
autor, é o de "desenvolvimento agrário", discutido por um longo peodo de
tempo. É central nas instituições e nas poticas para o campo, disputas entre
classes, condições de acesso e uso da terra, relões de trabalho, conflitos
sociais e mercado. De acordo com Navarro (2001), os estudos, nesse caso, são
macro-sociais e o pouca relevância aos processos micro-sociais ou da vida
cotidiana.
A terceira expressão, conforme Navarro (2001), é de "desenvolvimento
rural". Se diferencia das outras por ser uma ão previamente articulada, que
induz mudanças em um determinado ambiente rural. Assim, o Estado fica à
frente de qualquer proposta de desenvolvimento rural, como seu principal agente.
O autor destaca que, embora com mudanças no tempo, a melhoria do bem-estar
social das populações rurais é o principal objetivo no conceito de
desenvolvimento rural.
A quarta expressão é o "desenvolvimento rural sustentado", que surgiu em
meados dos anos 1980. Nasceu da observação dos impactos ambientais do
progresso material no pós-Segunda Guerra. Sustentado, de acordo com o autor,
refere-se ao plano ambiental. Incorpora nões que protejam o meio-ambiente
sem deixar de se desenvolver economicamente. Pode-se considerar que, nessa
linha, se encaixam as propostas de agroecologia, que ganha cada vez mais
espo entre organizações o governamentais (ONGs) e movimentos
camponeses a partir dos anos 1990.
19
Navarro (2001) aponta uma última expressão, que é de "desenvolvimento
local", livremente intercambiada com as demais. Surgem mais e mais ONGs, por
atuarem em setores sociais, com forte contraposão aos modelos globalizantes
e iniciativas governamentais ou não. Segundo o autor, a maior demanda social
da agricultura familiar também tem alimentado o processo de desenvolvimento
local.
Para Navarro (2001), as expreses o o totalmente segmentadas e
seus significados se cruzam. Neste trabalho, será entendido, com base nos
expostos acima, o desenvolvimento, com o uso da mídia, como uma forma de o
produtor familiar ter liberdade e determinão a partir do conhecimento
objetivado e subjetivado por ele próprio, através de conhecimentos adquiridos no
contato com os produtos midticos.
No capítulo um o apresentados os conceitos utilizados como definidores
do objeto de pesquisa. Logo a seguir é feito um levantamento histórico do mundo
rural brasileiro, com o objetivo de mostrar como surgiu a formão fundiária do
país, especialmente o desenvolvimento e consolidação da agricultura familiar. A
hisria chega ao munipio de Ponta Grossa, que é o recorte específico
analisado. Depois do mapeamento hisrico da formação rural, é apresentada a
conjuntura contemporânea da agricultura, partindo dos desenvolvimentos
tecnológicos que surgiram a partir da década de 1950, chegando aos momentos
atuais. Nesse aspecto, são utilizados dados oficiais e não oficiais que pretendem
ilustrar a realidade da pequena propriedade no Brasil e em Ponta Grossa e sua
importância econômica e social.
O segundo catulo discute o fenômeno da comunicão, especialmente
aquela voltada para o meio rural, como é feita, quais são suas potencialidades e
defeitos. Também é apresentada a visão de empresários rurais sobre a
importância de usar a informação na atividade rural. O objetivo é mostrar como
esse instrumento é utilizado por tal blico e que o pequeno produtor também
pode fazer uso. Será visto qual é o mercado da comunicação rural e a
importância dos fenômenos comunicacionais para a inserção social, o apenas
de uma forma geral, mas também no caso específico do grupo aqui estudado.
Ainda no segundo capítulo, se discute o público rural, como ele é formado,
sua cultura e especificidades. Na seqüência é apresentada a evolução histórica
das comunicações, da pré-história ao mundo contemporâneo, am do seu papel
20
no espo social e as relações entre emissor e receptor. Finalmente, será
focado o agricultor familiar e como é a comunicação para esse público e o que
deve ser levado em consideração pelo emissor para que a mensagem tenha
utilidade para o receptor em questão.
O terceiro capítulo mostra os resultados da pesquisa emrica, inicialmente
identificando aspectos do grupo social estudado. Na seqüência são apresentados
os levantamentos do fenômeno comunicação e a visão do agricultor familiar
sobre esse, com destaque para algumas variáveis que interferem nas
observões feitas.
O quarto capítulo analisa a comunicação rural que é oferecida ao agricultor
familiar de Ponta Grossa. A alise foca nos ts meios de comunicão de
massa mais utilizados entre os agricultores familiares entrevistados, a televio,
o rádio e os impressos.
21
CAPÍTULO 1
CONTEXTUALIZAÇÃO RURAL BRASILEIRA E A AGRICULTURA FAMILIAR
O objetivo do presente capítulo é contextualizar o objeto de estudo. Será
apresentado historicamente como se deu a ocupação do meio rural brasileiro e
nesse universo o surgimento da agricultura familiar, processo que começa a ocorrer
ainda no período do Brasil Colônia. Para melhor entender o fenômeno, também
serão mostrados os conceitos de agricultura familiar adotados. Na seqüência serão
expostas discussões sobre os rumos do mundo rural contemporâneo e como isso
afeta a produção familiar. Na análise de conjuntura, também foram levantados
números e a importância da pequena propriedade rural. Como o recorte do universo
é a agricultura familiar ponta-grossense, neste capítulo, os assuntos definidos, em
alguns casos, vão fluir para os aspectos locais.
Serão adotados os critérios de Richardson (1989) para quem, a pesquisa
histórica é importante porque, para compreender os fenômenos sociais da
atualidade, é necessário conhecer o passado. Assim, de acordo com o autor, os
acontecimentos atuais têm significado com relação ao contexto dos fatos
passados. Para dar conta dos objetivos, foram realizadas pesquisas bibliográficas e
documentais (GIL, 1989), além de entrevistas orais. De acordo com Luna (1996), as
fontes bibliográficas utilizadas podem ser classificadas de secundárias, ao passo
que as demais, fontes diretas, classificam-se como primárias.
1.1 CONCEITOS DE AGRICULTURA FAMILIAR
Antes de buscar raízes históricas para a formação do objeto estudado, ou
seja, a agricultura familiar, o trabalho deve apresentar os conceitos utilizados do
público. Assim, foram tomadas conceituações de vários autores, que convergem
para a idéia de que são produtores que, em síntese, vivem e trabalham em
pequenas propriedades, utilizando basicamente a mão-de-obra familiar.
Dois conceitos dominam a discussão sobre o pequeno produtor. De um lado
está a definição do público como camponeses, de outro como agricultores
familiares. A definição de camponês é colocada por muitos teóricos em
contraposição a agricultor familiar. Sodré, N. (apud GENRO FILHO, 1984) destaca
que a conceituação de camponês se a partir de relações de produção, que são
22
anteriores ao modelo econômico atual e exteriores ao modo de produção capitalista.
Já Fernandes (2004) diz que as diferenças não estão na forma de produzir, mas sim
em uma perspectiva política econômica. Para o autor, o conceito de camponês se
contrapõe claramente ao modelo econômico capitalista. Assim, a aplicação das
políticas econômicas para o campo, em conjunto com organismos internacionais, fez
com que o governo optasse pelo conceito de agricultor familiar a partir dos anos
1990.
Partindo das observações de Fernandes (2004) e outros teóricos que optam
pelo termo camponês, pode-se dizer que o conceito mostra um produtor em luta
antiimperialista e o ajustado às lógicas de mercado capitalista, mas também
produzindo na pequena propriedade. As formas de produção são voltadas para a
subsistência e venda de excedentes, conforme explica Lamarche (1993). Bunde
(2005), diretor do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), diz em entrevista
concedida ao site do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que esse é um
debate mais teórico e que o conceito de agricultura familiar foi desenvolvido “como
forma de salvar a agricultura no todo, pois o poder público não acreditava na
viabilidade do campesinato”. Bunde (2005) afirma que a agricultura familiar aparece
como “uma simbologia moderna de um novo patamar, de integração com a
agroindústria”. a agricultura camponesa, na visão do diretor do Movimento, não
foi formatada na academia, mas na “luta histórica”. É portanto, na visão de Bunde,
um conceito que une todos. Assim, a agricultura camponesa participa do mercado
também, mas de forma diferenciada, não integrada totalmente.
Na obra A pluriatividade na agricultura familiar, de Schneider (2003), são
apresentados conceitos de autores que definem o objeto. De acordo com o autor, no
Brasil ainda existem muitas dúvidas e divergências entre os estudiosos da área em
relação ao uso da noção de agricultura familiar. Os termos campesinato e pequeno
produtor também são utilizados, ora como sinônimos, ora em contraposição.
Schneider (2003) diz que o termo “agricultura familiar” vem ganhando legitimidade
nos discursos dos movimentos sociais e também nos meios acadêmicos,
especialmente nas Ciências Sociais, que passaram a dar mais atenção ao mundo
rural a partir dos anos 1980.
Autores como Abramovay, Veiga e Lamarche, citados por Schneider (2003),
acreditam que a agricultura familiar uma forma reconhecida e legitimada na
maioria dos países desenvolvidos, nos quais a estrutura agrária é majoritariamente
23
composta por explorações nas quais o trabalho da família assume importância
decisiva” (2003, p. 29).
Muitos autores, sob enfoque marxista, até os anos 1960, lidavam com a
noção de campesinato para tratar dos pequenos lavradores, identificados com
os minifúndios, em contraposição aos latifúndios, numa visão fortemente
impregnada de conteúdo político e ideológico. “Na década de 1970 houve um
deslocamento nesse debate e os proprietários de pequenos lotes de terra
deixaram de ser identificados como minifundiários para tornarem-se pequenos
produtores (SCHNEIDER, 2003, p. 33). Kageyama e Bergamasco, também
citados por Schneider (2003), levaram em consideração a existência de trabalho
assalariado ou eminentemente familiar. Daí resultou a oposição entre
estabelecimentos empresariais, com grande concentração de funcionários que
recebem salários, e familiares, distanciando-se da polarização entre pequenos e
grandes, com regras pautadas especificamente em tamanho de área. Tal
definão partiu da iia de que, já na década de 1970, existiam pequenas
propriedades empresariais, mais próximas de empresa, diferenciando-se dos
demais grupos familiares. Em Schneider (2003) também se encontram
referências ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e ao
Fundo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO), que classificam em patronal e familiar, sendo que essa apresenta como
caractestica a relação íntima entre trabalho e gestão.
De qualquer forma, a concretização do termo agricultura familiar parece
trazer importantes tros político/econômicos. Schneider (2003) lembra que a
partir dos anos 1980 os movimentos sociais passaram a discutir o espaço do
pequeno produtor nos modelos econômicos, principalmente com a formatação
do Mercosul, que apresentava, nos acordos, vários tratados do agronegócio,
que traziam forte competição para o setor. Segundo Schneider
A expressão agricultura familiar surge como uma noção de
convergência e unificadora dos interesses dos pequenos proprietários
rurais, que se julgavam, não apenas preteridos politicamente da
integração, mas afetados economicamente (2003, p. 30).
O termo, de acordo com o autor, surge como afirmação de uma categoria,
contra outras desgastadas, como camponeses ou pequenos proprietários.
24
Sandri (2004) diz que a pequena produção de base familiar se apresenta de
forma diferente da lógica do capital, pois não produz em escala. Outros fatores
destacados por Sandri (2004), para o conceito de agricultura familiar, são as formas
de divisão do trabalho, com todos os membros da família tendo responsabilidades
nas tarefas. Lamarche (1993, p. 15) define a agricultura familiar na mesma linha,
destacando que, nela, a propriedade e o trabalho estão "intimamente ligados à
família". Os três fatores, conjuntamente, são importantes, porque definem a forma
de exploração. O autor destaca ainda outro ponto característico bastante forte, que
é a transmissão da terra de geração para geração, dando continuidade à atividade
agrícola, com crescimento do patrimônio ou mesmo redução.
Lamarche (1993) também homogeneíza o debate sobre a "classificação" da
pequena propriedade, em familiar, camponesa ou de pequenos produtores. Para o
autor, a atividade associa estreitamente família e produção, mas com diferença na
forma de desenvolver os meios produtivos, onde "explorações familiares agrícolas
não constituem um grupo social homogêneo, ou seja, uma formação social que
corresponda a uma classe social no sentido marxista do termo" (1993, p. 18).
Portanto, a agricultura familiar pode apresentar uma série de diversidades, sendo
que a exploração camponesa também é familiar, segundo Lamarche (1993).
Rubelo (2001) segue na mesma linha de pensamento. O autor destaca que o
pequeno produtor rural baseia suas atividades no trabalho familiar. Nesse caso, o
pequeno produtor é um agricultor familiar. Vilela (2003) diz que algumas
características devem ser levadas em consideração, entre elas a necessidade de
observar se existe mão-de-obra assalariada, contratada pela propriedade. Além
disso, a produção que se obtém é normalmente utilizada no consumo interno, com o
excedente sendo comercializado. Atualmente, entretanto, é muito mais comum no
Sul do Brasil encontrar pequenos produtores produzindo mais para a venda do que
para o consumo. Vai depender da atividade pela qual ele opta. Vilela (2003) diz
ainda que a área da propriedade normalmente é reduzida e a renda baixa, se
comparada com a agricultura empresarial.
Sandri (2004) destaca que, mesmo que alguns conceitos definam que
agricultura familiar não signifique exatamente a pequena produção, no Brasil há uma
grande proximidade entre ambas. Isso devido, principalmente, às políticas adotadas
para o campo, que historicamente priorizaram a grande produção, dificultando o
desenvolvimento dos produtores de base familiar.
25
Neste trabalho, o conceito de agricultura familiar será forjado através dos
expostos acima, considerando ainda a idéia de pequeno produtor rural, que para a
Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB), para
efeito de aplicação de políticas públicas, é aquele com área inferior a 50 hectares
(PARANÁ, 1996), ou seja, dois hectares acima da área proposta em módulos.
A Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-
PR), vinculada à SEAB, é responsável pela aplicação de recursos para o meio rural
do programa de governo "Paraná 12 Meses". Dessa maneira, classifica os públicos
a serem atendidos de acordo com o documento do programa (PARANÁ, 1996).
Diante desse enquadramento, os agricultores familiares são aqueles com até 50
hectares de área, mas divididos nas categorias Produtor de Subsistência (PS) e
Produtor Simples de Mercadoria 1 (PSM1), com até 15 hectares de área,
benfeitorias produtivas a R$ 5 mil, equipamentos agrícolas até R$ 4 mil e 80% de
mão-de-obra familiar; PSM 2, até 30 hectares e benfeitorias produtivas não
ultrapassando R$ 12 mil, mesmo valor limite para equipamentos agrícolas e
participação de 50% de mão-de-obra da família; PSM 3, com área de até 50
hectares e benfeitorias produtivas até R$ 40 mil. Os equipamentos agrícolas não
podem superar o valor de R$ 36 mil e a participação da mão-de-obra familiar deve
ser de 50% também. Isso não quer dizer que podem ter empregados registrados,
mas a possibilidade de contratar algum tipo de serviço, como de tratoristas ou
diarista para a colheita.
Outra concretização importante do conceito, em que pese toda discussão
sobre o termo, se pela Lei 11.326/06 (BRASIL, 2006), pela qual o Governo
Federal enquadra os agricultores familiares como um segmento produtivo.
Conhecida como Lei da Agricultura Familiar, define os conceitos da agricultura
familiar e reconhece e classifica oficialmente a categoria e seus indivíduos,
reduzindo as dúvidas sobre a sua conceituação legal. Os parâmetros da Lei
11.326/06 consolidam a área da propriedade, além do trabalho familiar e outros
fatores apresentados pelos autores.
A Lei 11.326/06 diz que propriedade familiar é aquela com área de até quatro
módulos fiscais (unidade-padrão para todo o território brasileiro). No caso de Ponta
Grossa, o módulo fiscal tem 12 hectares, portanto, ao levar a lei em consideração,
estão inseridos produtores com área de até 48 hectares, dois a menos do que
aqueles considerados pela SEAB para aplicação de recursos. Para efeito de estudo
deste trabalho, o universo pesquisado analisa produtores com até 50 hectares,
26
levando em consideração que os levantamentos feitos pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) (1998), anteriores à Lei, oferecem divisões até este
tamanho, tornando difícil definir o público até 48 hectares. A Lei 11.326/06 diz ainda
que na propriedade deve predominar o uso de mão-de-obra da própria família nas
atividades econômicas.
Quanto à renda, prioritariamente deve se originar das atividades econômicas
vinculadas à própria propriedade. Em linhas gerais, a lei estabelece os mesmos
critérios que eram conceituados pelos autores citados, mas reforçando a idéia de
área. Assim como destacam Vilela (2003) e Sandri (2004), no projeto também se
reconhece que há uma relação forte entre área e forma de atividade, uma vez que em
grandes propriedades, pela forma de trabalho, via de regra, é utilizada mão-de-obra
contratada e na pequena, quem trabalha são os familiares. É verdade que existem
propriedades menores que 48 hectares que têm aplicação empresarial em atividades
específicas. Essas, entretanto, são descartadas neste estudo, que o se
enquadram no conceito.
Para efeito de desenvolvimento do texto, nesta dissertação, o termo pequeno
produtor será apresentado como sinônimo de agricultura familiar, mas considerando-
se os conceitos expostos acima.
1.2 A FORMAÇÃO FUNDIÁRIA BRASILEIRA
É importante apresentar também como surgiu a agricultura familiar no Brasil.
Como as propriedades e também a tradão do trabalho na terra vêm de gerações. A
atual estrutura agrária vai apresentar suas origens na formação do País. Muito do que
se observa no campo, em termos de propriedade rural, tamanho de áreas e forma de
produção, são produtos da maneira como se constituiu o meio rural nos primeiros
culos de colonização. Serão seguidas revisões históricas que, segundo Luna
(1996), são extremamente importantes. O principal objetivo da revisão histórica é a
recuperação da evolução de um conceito e a inserção dessa evolução de forma a
explicar os fatores e as implicações das mudanças, conforme Luna (1996).
As atividades agropecuárias brasileiras tiveram início ainda no Brasil Colônia.
naquele período a exploração do campo apresentava aspectos que viriam a
acompanhar sua trajetória até os dias de hoje. A importância econômica, os
paradoxos e desigualdades aparecem desde as primeiras lavouras. Depois do pau-
27
brasil e da extração mineral, que logo mostrou não ter todo o fôlego dela esperada,
foi a agricultura quem tomou frente na ainda nascente economia colonial.
De acordo com Priore e Venâncio (2006), o Brasil, assim como todo o Novo
Mundo, surgiu como fonte primária de recursos e produtos naturais para abastecer a
Europa. Sodré, N. (1975) destaca que a possibilidade de produzir açúcar foi o que
inseriu o Brasil Colônia no mercado internacional de produtos cultivados, ou seja,
além da extração mineral e vegetal. O objetivo era abastecer o mercado europeu e
aqui, conforme destaca o autor, os colonizadores portugueses encontraram grandes
áreas para o plantio da cana, além de um clima favorável. Segundo Priore e
Venâncio (2006), as práticas indígenas de derrubada da mata, colocar fogo e
preparar o terreno para o plantio foram adotadas também pelos colonos
portugueses, que devastaram grandes áreas a partir do século XVI para o plantio de
cana-de-açúcar. Importante destacar tais aspectos históricos, porque a forma de
cultivar a terra e a implantação das lavouras de cana terão relevância na formação
da agricultura familiar.
No início da exploração brasileira, toda renda gerada na Colônia ia para o
exterior. Priore e Venâncio (2006) explicam que a ocupação da terra foi feita com
instrumentos que viabilizaram a colonização mercantil, como as capitanias
hereditárias e sesmarias, que se multiplicaram no século XVI. O modelo adotado foi
da grande propriedade escravista que, segundo os autores, dificultaram a vida de
pequenos e médios produtores. Quem não tinha recursos nem para arrendar a terra
vivia em torno dos engenhos, trabalhando para esses.
Sodré, N. (1975) diz que a classe dominante, os portugueses que recebiam
o direito de aqui produzir, deram origem ao latifúndio, grande extensão de áreas de
que se apoderavam os “senhores dos engenhos”. Para o autor, o latifúndio é a
"terrível herança colonial", que permanece ao longo dos séculos em todo o país. As
mesmas características vão continuar com os fazendeiros de café, pecuaristas e
outros produtores, de culturas de menor expressão, segundo o autor.
Para Prado Júnior (1996), é essa conformação, calcada em propriedades de
vastas áreas, com mão-de-obra escrava e monocultura que vão determinar a
formação econômica e social do país, com grande concentração dos meios de
produção nas mãos de poucos. Mesmo assim, conforme explicam Priore e Venâncio
(2006), aos poucos se instituiu um número expressivo de pequenos produtores, que
começam a diversificar a lavoura no Brasil. Prado Júnior (1996) diz que para os
28
menos capitalizados, pequenos agricultores, era reservado o abastecimento interno,
das propriedades e das cidades.
Conforme explicam Priore e Venâncio (2006), no século XVII, o açúcar se
mantém como o principal produto da economia brasileira. De acordo com Prado
Júnior (1996), pela ordem, cana-de-açúcar, algodão e café, além do tabaco
sobreposto no período foram as principais atividades do meio rural entre os
séculos XVII e XIX, considerando as grandes lavouras (o café prossegue no século
XX), que tinham como principal fim a exportação para a Europa. A maior parte dos
canaviais, de acordo com Priore e Venâncio (2006), ficava em regiões de mata,
com terrenos rteis e abundância de lenha, mas não muito longe do litoral, para
não encarecer o transporte. Sem maiores tecnologias ou logísticas modernas, era
importante para o produtor ter os melhores terrenos e mais bem localizados, como
ocorre hoje com a agricultura mecanizada, que é realizada em terrenos planos,
deixando, em muitos casos, as áreas mais quebradas para os pequenos
produtores.
Prado Júnior (1996) apresenta, neste período, uma diferença significativa
na forma de trabalhar e importância entre a grande lavoura e o que ele chama de
agricultura de subsisncia, que seria uma precursora da pequena propriedade.
Essa era praticada fundamentalmente para o abastecimento alimentar interno das
colônias, fazendas, estâncias, engenhos e centros urbanos, enquanto que da
primeira, apenas uma pequena parcela fica dentro das fronteiras nacionais. O
objetivo central é o abastecimento dos grandes países europeus, ou seja, uma
agricultura focada na exportação, como ocorre hoje com a soja, principal cultura
agrícola das propriedades empresariais a partir dos anos 1970. "A concessão fácil
de terra, sobretudo para a elite, estimulava a prática de explorá-la de forma pouco
cuidadosa" (PRIORE; VENÂNCIO, 2006, p. 45). Tal descuido gerava problemas de
desabastecimento, não de desgaste do solo e do ambiente. Faltavam alimentos
para os moradores do país. A Bahia, mesmo rica, em alguns períodos do século
XVIII, não tinha o que comer. A situão chegou a ponto dos governadores das
capitanias obrigarem, por lei, proprietários de terras a plantarem uma área de
mandioca.
De outro lado, na agricultura de subsistência, somada à imigração européia
dos séculos XIX e XX, é que vão se formar as propriedades da agricultura familiar
de hoje. Viana (1973) reforça que também contribuíram para a formação do
agricultor familiar os imigrantes europeus, como alemães, poloneses e italianos,
29
principalmente na Região Sul. os caboclos vão proliferar como homens livres,
vivendo como agregados ou à margem das terras dos senhores de engenho,
segundo Viana (1973). E foram os pequenos que deram conta de alimentar o povo.
Prado Júnior (1996) lembra que os grandes proprietários da época
colonial detinham sesmarias cedidas pela Coroa com algumas léguas
2
de
área. A mão-de-obra aplicada era basicamente a escrava, com apenas alguns
empregados remunerados. O autor explica que o grande produtor brasileiro
pertencia a uma classe diferenciada no Brasil Colônia, onde a maioria da
população vivia na ignorância. Os senhores mantinham-se constantemente
bem informados sobre os preços praticados lá fora, onde estava o único
mercado comprador. Isso ocorria até por obrigação, pois seria impossível
prosperar sem um mínimo de conhecimento do mercado. Também tinham
noção sobre quantidades exportadas e programavam ganhos futuros, embora
não existisse um controle de produção. Instalou-se, assim, de acordo com o
autor, nos primeiros séculos do Brasil, um agronegócio monocultural bem
estabelecido, onde é possível observar os primeiros passos de um grande
produtor antenado ao que acontece à sua volta, como o que é discutido no
presente trabalho.
Priore e Venâncio (2006) explicam que a economia colonial não se
restringiu ao pau-brasil e cana-de-açúcar. Ela foi diversificada, até pelo
aumento interno de consumidores e incremento comercial europeu durante a
Revolução Industrial, a partir do século XVIII. "A diversificação das culturas
agrícolas matizava o tripé formado por monocultura, escravidão e latifúndio"
(2006, p. 105). Ou seja, a produção de uma cultura central, com uso de mão-
de-obra escrava em grandes propriedades. Floresciam outras atividades, como
o algodão. Os principais produtos exportados entre 1796 e 1811 foram couros
(9,8%), arroz (4%), tabaco (3,8%), cacau (2,7%), café (1,8%), algodão (24,4%)
e açúcar (34,7%). O interessante é que, em alguns casos, como do tabaco,
pelo pequeno volume de investimentos, era possível encontrar a presença de
pequenos produtores.
A exploração das grandes lavouras de exportação ocupava um grande
contingente de mão-de-obra. Para manter todos produzindo era necessário
alimentar as pessoas. Portanto, as grandes propriedades também praticavam
uma agricultura de subsistência, onde se produzia principalmente mandioca,
2
Unidade de medida agrária da época, que equivale a 4.356 hectares.
30
alimento utilizado em larga escala, na época, para a alimentação dos
escravos, enquanto que no Sul a preferência recaía para o milho, conforme
explica Prado Júnior (2003, p. 157- 168).
A produção de alimentos se encontrava próxima aos centros urbanos. A
maior parte era formada por pequenos proprietários ou ocupantes, que utilizavam
áreas cedidas pelos senhores. A produção era simples e desenvolvida com os filhos
e, no máximo, agregados ou um ajudante. Eles não tinham recursos ou maiores
conhecimentos técnicos.
Dentro de tal quadro vai se consolidando uma agricultura familiar. Priore e
Venâncio (2006) dizem que os pequenos produtores surgiam como homens livres,
sem recursos, conhecidos como roceiros, caipiras, caiçaras, caboclos, entre outras
denominações, dependendo da época e região. "Instalados além das cidades
coloniais, transformaram tais espaços físicos em espaços humanos" (2006, p.47).
Milhares de pequenos agricultores foram responsáveis pela subsistência e
abastecimento do mercado interno. "Durante séculos modelaram a produção e o
mercado colonial de gêneros alimentícios" (2006, p. 48). Sua formação, segundo os
autores, se deu da mistura dos índios com ex-escravos e brancos pobres, que foram
ocupando as terras não utilizadas pela agricultura de exportação, trabalhando de
forma rústica. Priore e Venâncio (2006) explicam que os trabalhadores faziam roças
pequenas, abertas nas clareiras das matas, para alimentar a família e vender algum
excedente ao mercado local.
Priore e Venâncio (2006) destacam que a família era a unidade básica de
existência desse produtor, tanto social como produtiva, formando uma "quase
autarquia, auto-suficiente e independente", trocando excedente por aquilo que
faltava, como sal, pólvora e ferramentas, na vila (2006, p. 48). A grande
disponibilidade de terra não cultivada, existente naquela época, fazia com que a
ocupação se desse de forma extensiva pela economia camponesa. Eles usavam
uma área, largando ao seu esgotamento e indo para outra.
A partir do século XVII, segundo Priore e Venâncio (2006), com a descoberta
do ouro, aumentam as migrações de portugueses e escravos africanos. A
concessão de cartas de liberdade a escravos e a ampliação da camada branca
empobrecida faz aumentar o número de pessoas que passam a trabalhar na
produção e comercialização de gêneros alimentícios, assim como na pequena
pecuária. Segundo os autores, não demorou para que os pequenos começassem a
31
abastecer, de forma contínua ou irregular, as vilas mais importantes. Alguns,
inclusive, prosperaram e passaram a adquirir escravos.
Havia uma relação direta entre o que se cultivava e o que se consumia.
Diferente da grande lavoura, a produção se pautava nas necessidades e
hábitos alimentares da família. Os costumes indígenas e brancos iam se
fundindo na formação desses povos do sertão, segundo Priore e Venâncio
(2006). As atividades dos pequenos produtores, na perspectiva portuguesa,
não tinham valor algum, já que o objetivo da Colônia era produzir para exportar.
A mandioca o "pão da terra" era a grande cultura da produção de
alimentos, por suas qualidades nutritivas, principalmente na forma de farinha,
adaptação a qualquer terreno e rusticidade. Só perde a liderança no Sul, onde o
milho é o principal alimento cultivado (PRADO JÚNIOR, 1996, p. 165).
Pode-se presumir, daí, que a cultura do milho entre os pequenos
produtores é um hábito secular na Região Sul, vindo dos agricultores de
subsistência, como denomina Prado Júnior (1996). Havia preferência pelo
cultivo do cereal também pela sua utilidade na alimentão animal, sobretudo
dos muares. Desse fator é possível traçar um paralelo para o hábito muito
comum no século XX e ainda usual, de se produzir milho para consumo na
propriedade. Os pequenos agricultores plantam o produto não apenas para
vender, mas também para o trato de animais, como suínos, frangos e gado.
Também contribuiu para dar origem ao que se concebe hoje como
pequena propriedade, a pecuária. Os vaqueiros, que eram quem dirigiam as
propriedades, recebiam sua paga com um quarto das crias, o que era feito ao
final de cinco anos, geralmente. Prado Júnior (1996) explica que estes
trabalhadores recebiam de uma única vez uma grande quantidade de cabeças,
com as quais iam se estabelecer, normalmente em terras arrendadas das
grandes sesmarias, nos sertões. Ali começavam uma nova atividade, em uma
pequena propriedade, onde trabalhava com a própria família.
Priore e Venâncio (2006) lembram que a pecuária ganhou destaque
naquele período, principalmente pela necessidade de carne e animais de carga
para abastecimento das regiões mineradoras. Grandes propriedades
trabalhavam com a criação de animais, atividade que contribuiu para o
aparecimento dos tropeiros, que foram determinantes na ocupação da Região
dos Campos Gerais.
32
As tensões no campo se fazem notar nesse período. Priore e Venâncio
(2006) destacam que, já no século XVIII, os grandes proprietários não hesitavam em
avançar sobre propriedades dos roceiros quando queriam ampliar as lavouras de
exportação. Isso ocorria principalmente em períodos de preços bons para suas
mercadorias. Os autores explicam que
Na Bahia, por volta de 1790, o professor de latim Luís dos Santos Vilhena
alerta para a necessidade de distribuir terra entre lavradores pobres,
levantando, provavelmente pela primeira vez, a bandeira contra o latifúndio
no Brasil. (2006, p. 122)
As diferenças entre grande propriedade exportadora, onde o fazendeiro é um
negociante importante, e a agricultura de subsistência, prosseguem até a República.
no século XX, ainda se encontra a última grande monocultura agrícola, o café,
que tem nos seus barões, homens que influenciam, inclusive, na vida política
nacional. Segundo Priore e Venâncio (2006), antes, no século XIX muitas lavouras
de roceiros ou caipiras, no Sudoeste, cedem lugar para grandes fazendas de café,
que começava a ganhar espaço no Brasil.
Buainain, Romeiro e Guanziroli (2003) destacam que o modelo fundiário
inicial alijou massas de imigrantes e escravos libertos da posse da terra. A expansão
cafeicultora até contou, segundo Priore e Venâncio (2006), com a participação de
pequenos lavradores, que plantavam café junto a suas outras culturas, mas os
pequenos continuavam sendo uma espécie de reserva de mão-de-obra barata dos
latifundiários, que não tinham como motivação a construção de uma nação. De
acordo com os autores, a exceção teria ocorrido no Sul, onde, por conta da
necessidade de proteger as fronteiras contra a América espanhola, criou-se uma
base de produtores agrícolas familiares.
De acordo com Priore e Venâncio (2006), em 1850 é abolido o tráfico de
escravos e o imigrante europeu começa a ser recebido como forma de substituição
da mão-de-obra escrava. São criadas várias colônias de imigrantes pelo país,
inclusive em Ponta Grossa. Geralmente, não ocupam áreas destinadas à economia
de exportação. Na maior parte dos casos, essas colonizações não deram certo,
porque as promessas de ajuda, feitas pelo governo para atraí-los, não se
concretizavam e as terras, em geral, não eram férteis. Além disso, muitos imigrantes
tinham origem urbana, o que também dificultava na ambientação à atividade rural.
33
Os contratados podiam ser tanto para as colônias como para o trabalho
nas fazendas. Esses, muitas vezes, se tornavam "escravos brancos", e
endividados. Entre os imigrantes vieram, principalmente, italianos, portugueses,
espanhóis e japoneses, entre 1887 e 1930 (PRIORE; VENÂNCIO, 2006, p. 153).
Nesse tempo, os sítios e chácaras já estão estabelecidos como um tipo
caractestico, que pode ser, conforme Viana (1973), o matuto ou o caipira, como
é caracterizado o homem simples do campo, que produz quase tudo o que
necessita em sua propriedade. Priore e Venâncio destacam que
Em meio a ilhas de grandes lavouras de exportação, ou voltadas para os
mercados internos de longa disncia, havia um oceano de homens
livres, muitos deles pequenos proprierios (...) Na maior parte do Brasil,
os camponeses, na época do fim do tráfico internacional de escravos,
haviam abandonado a tradicional forma de trabalho agrícola (...). Assiste-
se eno a uma acentuada sobrevalorização da o-de-obra familiar e
da vizinhança. (2006, p. 152)
De acordo com os autores, em 1870 o termo mutirão aparece pela primeira
vez nos diciorios brasileiros. Sobre tal forma de vida e trabalho, Martins (1973)
diz que o produtor é gerado a partir de um modelo histórico de preservação do
sistema econômico colonial. Muitos aparecem como proprietários, mas também
como foa de trabalho, ou força de trabalho, para manter o modelo em
funcionamento.
Priore e Vencio (2006) dizem que, em meados do século XIX, o Brasil
passa por transformões sociais "modernizadoras", com o fim do escravismo e
do sistema monárquico. Martins (1973) diz que a Lei das Terras de 1850 e a
abolão da escravatura mudaram as regras no campo, criando uma relão mais
capitalista. Pela primeira, a terra tinha de ser comprada, equiparando-a ao
capital. No segundo caso, com a contratão de mão-de-obra, principalmente
imigrante, deu-se a separação entre força de trabalho e trabalhador, ou seja,
capital e trabalho, no caso, já que a força de trabalho deixou de ser "capital",
mercadoria.
Segundo Priore e Venâncio (2006), a experiência manteve intacto, por
exemplo, o acesso à terra e a monocultura exportadora. "Trata-se, portanto, de
uma modernizão conservadora, conforme, aliás, já foi sublinhado por imeros
pesquisadores" (2006, p. 155). Os autores criticam o modelo, dizendo que não se
buscou outros caminhos apontados, como da diversificação agrícola, sugerida
em estudos mas renegada, principalmente pelos fazendeiros de café.
34
Martins (1973) diz que a propriedade capitalista e o trabalho livre
aprofundam o desenvolvimento desigual. O trabalhador realiza o ideal
burguês de se transformar em proprietário, mas ao mesmo tempo emprega
a força de trabalho familiar na atividade econômica. Capital e trabalho, para
esses, não se tornam independentes.
1.3 PEQUENA E GRANDE PROPRIEDADE EM PONTA GROSSA
A região dos Campos Gerais, onde está situada Ponta Grossa, já era
conhecida dos europeus desde o século XVI. Chamma (1988)
3
conta que o
espanhol Alvar Nuñes Cabeza de Vacca foi um dos primeiros europeus a
passar pelos Campos Gerais, em 1541, indo para o Paraguai. Um século
depois os jesuítas construíram um pequeno oratório próximo ao Rio
Pitangui, que viria a ser parte do município ponta-grossense.
Chamma (1988) diz que, ao passarem pelos Campos Gerais, muitos
paulistas se entusiasmaram com a região, "que parecia promissora para a
criação" (1988, p. 7). Em 1704, famílias de São Paulo, relacionadas com a
Coroa, requereram, por sesmarias, terras localizadas na região. A Igreja
Católica também participou desse povoamento, com a aquisição de áreas. A
autora explica que monges beneditinos adquiriram a Sesmaria do Rio
Verde, onde construíram uma fazenda de criação e invernada.
No ano de 1792, Ponta Grossa virou bairro, pertencente a Castro. Em
15 de setembro de 1823 passou à condição de freguesia.
Em pouco tempo a região passou a ser percorrida por pessoas que
iam ao Rio Grande do Sul procurar gado para iniciar rebanhos ou vender na
feira de Sorocaba, São Paulo. Esses tropeiros, segundo Chamma (1988),
ajudaram a desbravar e colonizar o Sul do Brasil. De acordo com a autora,
muitas sesmarias da região foram desmembradas entre herdeiros, com a
morte de seus proprietários, dando origem às grandes fazendas que iam
povoando os Campos Gerais. Vários tropeiros também solicitaram
sesmarias.
As fazendas eram auto-suficientes, para a subsistência. Também
criavam gado bovino para vender nas feiras de Sorocaba. Inicialmente, de
3
Embora a obra em questão não trate especificamente do tema proposto, em suas ruralidades, foi
objeto de pesquisa documental, uma vez que traz elementos históricos da formação do povo e
ocupação em Ponta Grossa.
35
acordo com Chamma (1988), tropeiros, quando passavam por aqui,
invernavam o gado em terras do governo. Com o tempo, as grandes
fazendas foram anexando essas áreas. Ai era necessário licença do
fazendeiro para descansar a tropa. Muitos alugavam as pastagens,
conseguindo um bom dinheiro com isso. A idéia de "viver de aluguel" fez
com que vários fazendeiros, já no século XIX, deixassem até de criar gado
para locar seus espaços.
Gonçalves e Pinto (1983) explicam que Ponta Grossa surgiu principalmente
através da atividade pecuarista. Situado ao longo do caminho das tropas, o vilarejo
oferecia boas condições para a comercialização de animais entre criadores e
compradores, que levavam o gado para Sorocaba. Ainda como Freguesia, se
integrou à economia nacional, justamente por estar no caminho das tropas, com
criatório, invernagem e comercialização do gado. Havia grande procura de animais
de carga e transporte para a região de Minas Gerais, inicialmente e depois, com o
café e o açúcar, para o Rio de Janeiro e São Paulo. "Trabalho bastante rentável,
proporcionou acúmulo de capitais e concentração de propriedades" (1983, p. 48).
Quando Ponta Grossa foi elevada a cidade, em 1862, a economia girava em
torno da erva-mate, madeira, gado e outros produtos, produzidos e comercializados
com a presença de imigrantes nacionais e estrangeiros, segundo levantamentos de
Gonçalves e Pinto (1983). De acordo com as autoras, a intensidade das atividades
de criação e comércio de animais, além da produção de erva-mate, fizeram com que
a agricultura, no século XIX, o se desenvolvesse, que os lucros daquelas
atividades eram muito maiores. A agricultura era reduzida e produzia o estritamente
necessário para o consumo local.
O desabastecimento interno de alimentos que se verifica em todo o País,
especialmente nos centros urbanos, destacado por Priore e Venâncio (2006),
também se observou nessa região. Segundo Gonçalves e Pinto (1983), houve uma
queda sensível na produção de alimentos no Paraná. Por isso, em 1857 o Ministério
da Agricultura pediu para as autoridades das Vilas de Ponta Grossa, Castro e Lapa,
através de circular, os motivos da elevação dos preços dos produtos alimentares. A
resposta, via de regra, era a falta de pessoas para trabalharem. Os homens da
região preferiam lidar com a pecuária, como explicado anteriormente. Além disso,
reclamavam da proibição do tráfico de escravos e fim da abertura de novas posses
de terras devolutas.
36
De acordo com Gonçalves e Pinto (1983), era a mão-de-obra escrava que
garantia a produção de alimentos, como milho e feijão, naquela época as culturas
preferenciais, como ocorre ainda hoje na agricultura familiar. Esses grãos eram
indispensáveis para o regime alimentar da época. As autoras dizem que para o
branco de origem portuguesa o trabalho na terra não era considerado digno, por
isso os proprietários não faziam as atividades pesadas.
1.3.1 Consolidação da atividade primária
Os imigrantes europeus surgiram como oão para resolver o problema da
produção. "A escassez de o-de-obra para a lavoura determinou a política
imigraria a ser adotada pelo império" (GONÇALVES; PINTO, 1983, p.110).
No Paraná, a maior parte dos imigrantes veio para desenvolver uma
agricultura de subsistência. Foram, então, criadas conias agrícolas próximas
dos centros urbanos, como forma de aproxi-los dos mercados consumidores.
Assim, os imigrantes ajudaram a consolidar a pequena propriedade na província
e em Ponta Grossa. Se juntaram a outros pequenos ocupantes que já viviam de
forma precária, desde o século XVIII na região. Chamma (1988) conta que
naquela época a populão do então bairro ia crescendo. Ao longo do caminho
existiam casas com moradores vivendo de pequenas roças e artesanatos, como
chaus, balaios, cestos, arreios de couro e baixeiros, que eram vendidos aos
tropeiros.
Segundo Gonçalves e Pinto (1983), o governo da Proncia entendia que a
crise alimencia de 1857 tinha como causa a falta de produção. Era necessário
criar condições para melhorar a agricultura. Para isso, entendiam as autoridades,
os europeus, com seus conhecimentos e técnicas, poderiam ser bastante úteis
no desenvolvimento agrícola. De acordo com as autoras, o governo acreditava
que os imigrantes da Europa produziriam mais, gerando sobras para abastecer
os centros urbanos e exportar alimentos.
De acordo com Gonçalves e Pinto (1983), entre 1877 e 1878, 3.809
russos-alemães entraram no Paraná. Desse total, 2.381 foram instalados em
colônias de Ponta Grossa. Nem todos ficaram, muitos foram para outras reges
e até deixaram o país. Um dos motivos da reimigração foi a pobreza do solo, que
resultou em colheitas fracassadas. De qualquer forma, muitos ficaram, se
37
tornando alguns dos primeiros imigrantes a se instalarem no município. Ainda em
fins do culo XIX chegaram poloneses.
Gonçalves e Pinto (1983) explicam que havia contentes e descontentes
convivendo lado a lado. Também, conforme relata Chamma (1988), muitos
imigrantes tiveram suas terras tomadas por fazendeiros, que os expulsavam com
jagunços. Eles vinham, então, para a cidade, trabalhar em atividades artesanais e
manufatureiras. Foram poucos, portanto, os imigrantes que realmente se fixaram na
terra.
Com a saída de muitos russos-alemães, as áreas destinadas inicialmente ao
grupo foram reocupadas por outros imigrantes que chegavam, como poloneses,
alemães e italianos. Conforme explicam Gonçalves e Pinto (1983), os europeus
contribuíram para o desenvolvimento econômico urbano e rural de Ponta Grossa.
Chamma (1988) explica que no final do século XIX o comércio de muares e
gado vindo do Sul vai se exaurindo e Ponta Grossa, cada vez mais, vai deixando a
atividade pecuária e agrícola em segundo plano. Mas os grandes fazendeiros
mantêm suas terras. A agricultura, propriamente dita, é atividade, principalmente, da
pequena propriedade. Para os fazendeiros, com a extinção paulatina da escravidão,
trabalhar na lavoura não era dignificante. A terra fraca para a agricultura, conforme
explicam as autoras, também não ajudava.
A partir do enfraquecimento da atividade tropeira, a região foi aos poucos
constituindo uma vida econômica própria, baseada nas atividades manufatureiras
industriais e comerciais em Ponta Grossa. No meio rural, que é o que interessa
neste trabalho, as formas de produção começam a dar origem à pequena
propriedade. De acordo com o Censo de 1920 (GONÇALVES; PINTO, 1983), as
atividades primárias representavam, então, apenas 17,7% da ocupação da
população masculina, a maioria na agricultura, produzindo para suprir o consumo
local. Naquele ano foram recenseadas 434 propriedades, que produziam cereais e
outros alimentos, sendo os mais significativos o milho e o feijão. Os levantamentos
são ricos em detalhes, mostrando que os agricultores da época produziam
mandioca, batata, trigo e arroz. A maioria também tinha bovinos e eqüinos, além de,
em menor proporção, ovinos, muares, suínos e caprinos. Havia ainda apicultura em
algumas propriedades, galinhas em quase todas, e também patos e perus. Seis
propriedades tinham erva-mate, 196 faziam farinha de mandioca e sete produziam
vinho de uva. Outras duas faziam outros tipos de vinho, não especificados.
38
A atividade agrícola, ao contrário do que ocorria com os primeiros
colonizadores, agora era desenvolvida em pequenas propriedades,
exploradas de forma diversificada, conforme explicam Gonçalves e Pinto
(1983). Os agricultores vendiam seus excedentes e adquiriam outros
produtos de que necessitavam, na cidade. Mas muitos foram para a área
urbana. Registros de 1889 a 1920, publicados pelas autoras, mostram que
apenas 20,6% dos imigrantes dedicavam-se à agricultura. Conforme
levantamento de Gonçalves e Pinto (1983), no período, havia 90 famílias de
imigrantes declaradas como "lavradores" no registro de casamento do
Cartório Santana.
Grande parte dos pequenos produtores de base familiar que vivem e
trabalham atualmente em Ponta Grossa são descendentes desses pioneiros,
que chegaram já no período da ocupação das áreas e imigrantes europeus.
Eles continuam na atividade e adotam muitas formas de produção, hábitos e
costumes de seus pais e avós.
1.4 CONJUNTURA RURAL CONTEMPORÂNEA
A inserção da agricultura na lógica da modernidade deixou cicatrizes
profundas no meio rural, sobretudo no modelo de agricultura familiar. Até a
década de 1960, os pequenos produtores do Sul do Brasil produziam
basicamente para a subsistência. Nos seus estabelecimentos, eles
conseguiam quase todos os gêneros alimentícios necessários para a
manutenção da família. A exclusão gerada pelas novas tecnologias e a
sedução pelo consumo, típico da modernidade, ajudaram a alterar tal quadro.
Já na década de 1970, os efeitos das políticas agrícolas incentivadoras
da produção em larga escala tinham deixado como resultado a valorização
da terra, que estimulava a venda entre agricultores não incluídos no
processo. Muitos migraram para as cidades, em busca de emprego. O
resultado pode ser constatado nos censos do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). Na década de 1960, 45% da população brasileira vivia
nas cidades, 10 anos mais tarde já eram 56% dos brasileiros no meio urbano.
Ferreira (1987) explica que tal opção de desenvolvimento foi
responsável por uma profunda alteração na organização rural no Paraná.
Entre 1960 e 1970, desapareceram 24,2% dos estabelecimentos com menos
39
de 20 hectares do Estado. No mesmo período, as propriedades com mais de
500 hectares apresentaram um crescimento quantitativo de 43,8%. O meio
rural paranaense perdeu 1.268.565 habitantes em 10 anos. Ponta Grossa
também registrou reflexos semelhantes, com a perda de mais da metade da
sua população rural de 1960 a 2000, de acordo com o IBGE.
O quadro atual, resultante das políticas concentradoras do passado, é
amplamente favorável à grande propriedade. O mais recente censo agropecuário do
IBGE (1998), realizado nos anos 1995/1996, mostrou que o Brasil conta com
4.859.864 estabelecimentos rurais que ocupam 353,6 milhões de hectares de área.
Do total registrado, a agricultura familiar tem 4.139.369 estabelecimentos, instalados
em uma área que corresponde a menos de um terço do total, ou seja, 107,7 milhões
de hectares. Ao mesmo tempo, a agricultura patronal soma 554.501 propriedades
em 240 milhões de hectares, o que significa uma área quase 2,5 vezes maior do
que aquela ocupada pela agricultura familiar. Percentualmente, as propriedades
patronais representam 11,4% do total, mas ocupando 67,9% da área, enquanto que
a agricultura familiar tem 85,2% das propriedades instaladas em 30,5% das terras
rurais do Brasil. Existem ainda 165.994 estabelecimentos que pertencem a
entidades públicas e instituições religiosas, o se enquadrando, portanto, nas
categorias familiar ou patronal. Essas, entretanto, não são consideradas neste
trabalho.
Ao se analisar apenas o Paraná, os números encontrados são melhores
distribuídos, mas bem próximos do quadro nacional. O Estado teria, em números de
1996, 369.875 propriedades rurais, que ocupam 15,9 milhões de hectares de terra.
Os estabelecimentos familiares somam 321.380, em 6,5 milhões de hectares. Na
agricultura patronal são 44.273 propriedades instaladas em 9,2 milhões de hectares
das terras rurais do Paraná. Assim, as grandes propriedades representam apenas
12% do total, mas ocupam 58,2% das terras, enquanto os agricultores familiares,
que representam 88% das propriedades, estão em 41% da área. Na média, as
propriedades da agricultura familiar têm 20 hectares no Estado, contra 210 hectares
da patronal. no Brasil, a média da pequena propriedade é de 26 hectares e da
grande, 433 hectares, de acordo com o Departamento de Estudos Sócios
Econômicos Rurais (DESER, 2001).
É importante destacar, ainda, que 39,8% das propriedades rurais da
agricultura familiar brasileira, de acordo com o IBGE, têm menos de 5 hectares.
40
Propriedades com tamanho entre 5 e 20 hectares representam 30% do total e 17%
entre 20 e 50 hectares.
PROPRIEDADE
RURAL Nº de Propriedades % de Propriedades
TOTAL FAMILIAR PATRONAL FAMILIAR PATRONAL
BRASIL 4.859.864 4.139.369 554.501 85,2% 11,4%
PARANÁ 369.875 321.380 44.273 86,9% 12,0%
QUADRO 1: Total de propriedades existentes em 1996
Fonte: IBGE/1998 e Deser/2001
ÁREA RURAL
(milhões de ha)
Área das Propriedades
(milhões de ha)
% das Propriedades
TOTAL FAMILIAR PATRONAL FAMILIAR PATRONAL
BRASIL
353.611.24
6
107.768.45
0
240.042.12
2 30,5% 67,9%
PARANÁ 15.946.632 6.541.584 9.275.501 41,0% 58,2%
QUADRO 2: Área total, em hectares, em 1996
Fonte: IBGE/1998 e Deser/2001.
Dados do Deser (2001) mostram ainda que a agricultura familiar, no Brasil,
ocupa 77% da mão-de-obra do campo, ou seja, de cada 10 trabalhadores, quase
oito atuam nesse modelo. São 17,9 milhões de pessoas ocupadas nas atividades
rurais, entre proprietários e assalariados. Do total, 13,7 milhões atuam em atividades
nas pequenas propriedades e 3,5 milhões nos grandes estabelecimentos
empresariais. No Paraná, 1.272.188 pessoas estão ocupadas em atividades do
meio rural, desses, 1.004.458 na agricultura familiar e 267.730 na propriedade
empresarial. São, portanto, 79% trabalhando nas pequenas propriedades de base
familiar.
Os levantamentos do Censo Agropecuário 1995/1996, do IBGE, mostram
ainda que, em média, a agricultura familiar gera um posto de trabalho a cada oito
hectares. Para render um emprego, a grande propriedade demanda 67 hectares,
resultado da produção mecanizada e criação de animais de corte, que demandam
pouca mão-de-obra.
41
Merece destaque o fato de que a agricultura familiar se ocupa
principalmente da produção de alimentos, tanto para a subsistência como
para o abastecimento dos centros urbanos. De acordo com o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), a agricultura familiar é responsável por 84%
da mandioca, 67% do feijão, 58% dos suínos, 54% da bovinocultura de leite,
49% do milho, 40% das aves e ovos, 32% da soja, entre outros produtos.
Tem, ainda, participação direta em 12 dos 15 produtos que têm impulsionado
a atividade agrícola nacional nos últimos anos. O quadro abaixo mostra os
principais produtos dos agricultores de base familiar no Brasil e no Paraná.
Mas, além dessas em destaque, o modelo também responde pela maior parte
da produção de hortifrutigranjeiros, que são produzidos principalmente nos
chamados "cinturões verdes", ou seja, propriedades próximas aos centros
urbanos.
BRASIL
PRODUTO Estabelecimento Área (ha) Renda (R$)
Pec. Leite 1,4 mi 61,9 mi 6,7 bi
Galinhas 2,6 mi 72,6 mi 7,8 bi
Pec. Corte 1,1 mi 55 mi 5,6 bi
Milho 2,2 mi 57 mi 6,6 bi
Soja 213 mil 5,9 mi 1,5 bi
Suínos 1,2 mi 37,6 mi 5,0 bi
Mandioca 1,0 mi 22 mi 3,4 bi
Fumo 159 mil 2,3 mi 976 mi
Feijão 1,8 mi 38,7 mi 4,5 bi
Café 256 mil 7,2 mi 1,0 bi
PARANÁ
PRODUTO Estabelecimento Área (ha) Renda (R$)
Soja 59,6 mil 1,7 mi 563,4 mi
Milho 208,3 mil 4,3 mi 1,0 bi
Galinhas 207 mil 4,1 mi 1,0 bi
Pec. Leite 152 mil 3,7 mi 899 mil
Suínos 139 mil 3,0 mi 759 mi
Pec. Corte 112 mil 3,2 mi 754 mi
42
Feijão 142 mil 2,7 mi 579 mi
Fumo 17,5 mil 291 mil 109 mi
Mandioca 60,7 mil 1,1 mi 350 mi
Algodão 18,4 mil 281 mil 75 mi
QUADRO 3 - Principais produtos da agricultura familiar em
2000: Brasil e Paraná
Fonte: Deser/2001.
A análise conjuntural da agricultura familiar mostra que esse modelo
apresenta grande importância no Brasil e também no Paraná, não social, mas
também econômica. Apesar de todas as dificuldades, presentes e históricas, que
enfrenta. Por isso merece ser observada com melhor atenção, tanto pelas políticas
públicas como pela comunicação formal. De acordo com a Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a agricultura familiar é responsável
por 28% da produção de alimentos do País. No caso do Paraná, tal contribuição
chega a 43% do total.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) (1999) também
apresenta dados significativos, pelos quais 75% dos estabelecimentos agrícolas do
Brasil são de pequenos produtores de base familiar, mas ocupam somente 25% de
todas as terras cultivadas. Mesmo com uma área bem menor do que aquela
ocupada pela agricultura patronal, o modelo responde por 35% de tudo que é
produzido na agropecuária nacional.
O grande produtor tem um ganho maior com a produção, respondendo com
61% do Valor Bruto da Produção (VBP), mesmo com um número menor de
propriedades, segundo levantamentos do Deser (2001). Mas no Paraná a agricultura
familiar é mais representativa, com quase metade do VBP, ou 48,2%. Em reais,
significa R$ 2,6 bilhões, no período, contra R$ 2,8 bilhões da agricultura
empresarial, conforme quadro abaixo.
VBP (em R$) TOTAL DO VBP (em R$) % DO VBP
TOTAL FAMILIAR PATRONAL FAMILIAR PATRONAL
BRASIL 47, 7 bi 18,1 bi 29,1 bi 37,90% 61,00%
Paraná 5,5 bi 2,6 bi 2,8 bi 48,20% 51,30%
QUADRO 4 - Valor bruto de produção total (Familiar e Patronal)
Fonte: Deser/2001.
43
Se for considerada a região Sul do Brasil, a agricultura familiar leva
vantagem, respondendo por 57,1% do VBP, contra 42,9% do grande produtor,
conforme dados do Deser (2001).
De acordo com o IBGE, a renda média anual da agricultura familiar
brasileira é de R$ 2.717,00 e da propriedade empresarial de R$ 19.085,00,
o que significa sete vezes mais o que ganha esta em comparação com
aquela. No Paraná, a diferença é de 5,5 vezes. Enquanto a média anual da
pequena propriedade é de R$ 4.658,00, o ganho médio da grande
propriedade chega a R$ 26.043,00. A diferença, provavelmente, ocorre
pelas técnicas e opções de produção da agricultura empresarial, que
pratica cultivo extensivo, usa agrotóxicos e tecnologia de ponta. Mas a
agricultura familiar apresenta melhores resultados na comparação da
renda total por hectare cultivado. Os números são de praticamente o dobro
no Paraná, em favor da pequena propriedade, e quase 250% maior no
Brasil, conforme o quadro abaixo:
Renda Total por
Estabelecimento (R$)
Renda Total Por
Hectare (R$)
FAMILIAR PATRONAL FAMILIAR PATRONAL
Brasil
2.717 19.085 104 44
Paraná
4.658 26.043 229 124
QUADRO 5 - Renda total (Familiar e patronal)
em 1996
Fonte: IBGE/1998 e Deser/2001.
A situação em que se encontra a agricultura familiar brasileira,
atualmente, pode ser representada por números nada animadores. A
Embrapa mostra, em estudo de 1999, que 3,1 milhões de propriedades de
base familiar apresentam algum tipo de dificuldade por falta de recursos
econômicos. Apenas 1,1 milhão mostram uma certa consolidação de fluxos
de capital e do uso de tecnologias adequadas. Entre os problemas
enfrentados, especialmente por aqueles 3,1 milhões com maiores
dificuldades, estão uma participação reduzida no mercado, posse precária
da terra, falta de assistência técnica, de organização produtiva e acesso
ao crédito (EMBRAPA, 1999).
44
1.5 REALIDADE CONJUNTURAL PONTA-GROSSENSE
O município de Ponta Grossa conta com uma área de 2.112,6 quilômetros
quadrados. Desse total, a área urbana ocupa 917,2 quilômetros quadrados e a rural
1.195,4. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2000, o município tinha 271.993 habitantes, sendo 265.060 na zona
urbana e 6.933 na zona rural. Estimativas atuais do mesmo instituto apontam para
uma população superior a 300 mil habitantes, o que pode ter reduzido ainda mais o
percentual da população rural. Os moradores da zona rural, em 2000,
correspondiam a 1.285 famílias. A área total ocupada com atividades agropecuárias,
em Ponta Grossa, é de 156.771 hectares. No total, são 1.671 propriedades rurais,
sendo que 1.137 têm menos de 50 hectares, o que corresponde a 68,08% do total.
Mais de 500 estabelecimentos ocupam menos de 5 hectares, de acordo com o que
mostra o quadro abaixo:
Propriedades rurais de Ponta Grossa
Propriedades N o. %
Menos de 1 ha 207 12,38%
1ha a 1,99 ha 90 5,38%
2 ha a 4,99 ha 243 14,38%
5 ha a 9,99 ha 138 8,49%
10 ha a 19,9 200 11,96%
20 ha a 49,9 ha 259 15,49%
50 ha 99,9 há 166 9,93%
100 ha a 199,9 ha 155 9,27%
200 ha a 499,9 ha 133 7,95%
500 ha a 999,9 ha 37 2,21%
1000 ha a 1999,9
ha 37 2,21%
2000 ha a 4999 ha 6 0,35%
TOTAL 1671 100%
QUADRO 6 – Propriedades rurais de Ponta
Grossa divididas por tamanho de área
Fonte: IBGE/1998
45
De acordo com o documento "Perfil da Realidade Econômica Municipal", da
Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Paraná)
(2006), as principais culturas das propriedades familiares do município são o milho e
o feijão. Os produtores plantam milho principalmente para o consumo na
propriedade, especialmente no trato de criações. o feijão, além de ser utilizado
no consumo interno, também é comercializado. Mas as propriedades familiares
apresentam ainda um traço diversificado. Nelas, de acordo com a Emater, são
produzidas olerícolas, frango de corte, ovos, mandioca, leite, peru, batata, suínos,
peixe, frutas e soja (em menor escala). Muitos pequenos produtores também
trabalham temporariamente em outras atividades, especialmente nos
reflorestamentos de pinus, e praticam a troca de serviços com vizinhos. Nos
estabelecimentos, metade trabalha com tração animal, outros 38% plantam e
colhem manualmente, especialmente em atividades como a olericultura. Outros 22%
utilizam alguma forma de tração mecânica, especialmente tratores de baixa
potência. O Censo Agropecuário do IBGE, de 1996, mostra ainda que a renda
média anual da agricultura familiar do município é de R$ 5.308,00.
1.6 "MODERNIDADE" NO CAMPO
Na década de 1960 o Brasil apresentou um quadro de crescimento
econômico acelerado, marcadamente no final da década, quando tinha como base
uma política de medidas de viabilidade econômica, principalmente no processo de
industrialização.
Essas transformações trouxeram reflexos também no âmbito rural,
especialmente com a "revolução verde", processo pelo qual, desde a década
anterior, começou a se desenvolver o uso de sementes classificadas, de defensivos,
mecanização, entre outras tecnologias aplicadas à agricultura. Priore e Venâncio
(2006) explicam que a "revolução verde" foi a disseminação de novas práticas,
permitindo um vasto aumento da produção. Conta com intensivo uso de sementes
melhoradas, insumos industriais, como fertilizantes e agrotóxicos, irrigação e
mecanização do trabalho. Por meio desse conjunto de técnicas, mais o crédito
acessível e preço mínimo, foi possível aumentar muito a produção e produtividade.
Segundo os autores, também aumentaram a extensão rural e a tecnologia agrícola,
através da criação de empresas de extensão agrícola e pesquisa, como Empresa
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e Empresa Brasileira
46
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). De acordo com Priore e Venâncio (2006), o
desenvolvimento de novas sementes e de outras tecnologias permitiu que o Brasil
aumentasse muito a produção de soja, milho e outros grãos, dando grande pujança
à agricultura brasileira. Também se viu isso na pecuária de corte e na avicultura,
que colocaram o Brasil entre os principais exportadores de muitas dessas culturas e
criações.
Tais medidas beneficiaram a produção de larga escala e a concentração de
renda aumentou sensivelmente. Como conseqüência, desenvolveu-se um novo
cenário rural, marcado pelo acesso à propriedade, o que levou a alterações nas
relações de trabalho, caracterizadas pelo assalariamento crescente na agricultura,
oriundo da mecanização e da utilização de insumos químicos como instrumentos de
capitalização. Priore e Venâncio (2006) destacam que a revolução verde, por outro
lado, gerou custo social elevado. Altas tecnologias e mecanização também
ocasionaram desemprego no campo, com as máquinas tomando o lugar dos
trabalhadores do plantio até a colheita.
Portanto, em meados dos anos 1960, a agricultura entrou em um novo ciclo:
da produção de soja. Cultura inicialmente considerada exótica, a oleaginosa logo foi
conquistando espaço junto aos grandes produtores. O novo produto oferecia uma
rentabilidade maior e foi largamente incentivado, inclusive com a implantação de
indústrias. O site Economia da Soja (2006) destaca que nos anos 1970 o governo
brasileiro estimulou a implantação de indústrias moageiras para exportar farelo e
aumentar o consumo interno de óleo. A euforia levou muitas regiões praticamente à
monocultura, com mercado interno e exportações. Um dos maiores parques
moageiros da olerícola na América Latina foi instalado em Ponta Grossa. Chamma
(1988) registra a instalação de grandes transnacionais, como Anderson Clayton,
Cargill, Coimbra e Sanbra no município, todas entre o final dos anos 1960 e início da
década de 1970. Essas empresas fizeram com que a motivação para plantar soja
fosse ainda maior. A cultura fez com que aumentasse o interesse pela terra, por
parte dos grandes produtores, que passavam a adquirir áreas de pequenos
produtores, que deixavam o campo, seduzidos pela imagem de conforto da cidade.
na década de 1980, com a transformação tecnológica, surgiram as
noções de integração e exclusão. Os integrados conseguiram se adequar às
agroindústrias e ao mercado. Muitos então foram alijados do processo, como explica
Schneider:
47
Pequenos produtores excluídos, por sua vez, eram aqueles que haviam sido
alijados do processo de modernização conservadora. Do ponto de vista
teórico, essas novas categorias acabaram reforçando a matriz teórica
marxista classista, que explicava esses processos a partir da idéia de que o
capitalismo expandia-se para o campo de modo indireto, subordinando os
pequenos produtores à sua lógica econômica e provocando um intenso
processo de diferenciação social. (2003, p. 34)
Priore e Venâncio (2006) explicam que entre 1990 e 2000 o setor agrícola
brasileiro diminuiu em 21% a necessidade de trabalhadores. Tal situação ampliou a
luta pela terra e engrossou as fileiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-
Terra (MST) e outros movimentos. "Encontrar uma solução que viabilize esse
projeto (da reforma agrária, que muito se fala, principalmente a partir dos anos
1960) ou fornecer uma alternativa a ele é o desafio das novas gerações" (2006, p.
215).
Sandri (2004) destaca que o modelo de exportação de produtos primários foi
a base econômica brasileira até a Primeira Guerra Mundial. A crise na Europa,
destruída no período, que se estende até o fim da Segunda Guerra Mundial, e
também nos Estados Unidos, com a quebra da Bolsa de 1929, fez o Brasil mudar
sua estrutura econômica, dando ênfase para a industrialização do país e mudança
de foco para o mercado interno a partir dos anos seguintes ao fim da Segunda
Guerra Mundial. A agricultura foi prejudicada, devido ao interesse maior dado ao
setor secundário (industrial). Sandri destaca que
Aumentaram as diferenças entre a agricultura mais desenvolvida e as áreas
marginalizadas, devido à proteção dos setores modernos. Houve
transferência de capital da agricultura especializada para a indústria. Em
conseqüência surgiu o desemprego, a pobreza, a migração campo-cidade e
as favelas urbanas. O controle de preços não permitiu que a pequena
exploração agrícola alcançasse níveis satisfatórios de desenvolvimento. A
pequena agricultura, considerada como o setor mais atrasado da economia,
ficou marginalizada (2004, p. 25).
Os incentivos de crédito foram oferecidos para as grandes propriedades,
que eram produtoras em escala e consumidoras dos novos insumos da revolução
verde que se iniciava e, principalmente, de máquinas e implementos. Os créditos
eram altamente subsidiados e atrelados à exigência de utilização das novas
tecnologias que poderiam aumentar a produtividade. Zagatto (1990) explica que a
idéia era competir no mercado internacional e, para isso, o incremento produtivo era
importante à política agrícola. O autor destaca que o aumento de produção e o
48
crescimento do setor mecânico industrial passavam pelo incentivo à grande
propriedade, que tinha mais poder de compra.
Kageyama (1996) assinala que o país continuava dependente da tecnologia
externa e que o foco na aquisição de novas tecnologias se dava em atividades de
interesse das grandes propriedades exportadoras, como de produtores de soja,
trigo, algodão e café. Por dependerem de escala, essas atividades não são viáveis
para pequenas áreas.
A partir da década de 1980 reduziram os investimentos e o ritmo de
modernização no campo, incluindo a grande propriedade. Para Silva (1996), quatro
razões levaram a tal quadro. A primeira delas foi a própria recessão da economia
brasileira, iniciada ainda na primeira metade da década de 1970; a segunda foi a
redução do crédito por parte do governo, que diminuiu os financiamentos para
investimentos no setor, dado que o parque industrial estava consolidado; a terceira
se deve ao caráter desigual e excludente no campo e em quarto lugar ele cita a
própria mudança de modelo para o campo, que ocorre no mundo, com aplicação de
novas tecnologias, como a informática e as biotecnologias.
Neste trabalho deve ser colocado um outro fator que alterou o quadro
econômico mundial a partir dos anos 1970 e trouxe reflexos ao meio rural. A partir
desse período, os países centrais passaram a adotar o modelo neoliberal, dando as
costas para a política de investimentos e consumo pautada no "Estado de Bem-
Estar Social", vigente até então no chamado Primeiro Mundo.
Foi a partir da década de 1920 que um novo modelo, o do comunismo da
União Soviética, passou a ser fonte de desejo do operariado explorado do mundo
ocidental. Por conta disso, conforme Singer (2003), o ocidente desenvolve o “Estado
de Bem-Estar Social”, baseado nos pressupostos teóricos de John Keynes, com
garantias de direitos trabalhistas, saúde, educação e de inserção no mercado de
consumo, que serve de contrapropaganda para o bloco comunista.
O bem-estar social foi um instrumento para "harmonizar" a sociedade mais
eqüitativamente no consumo. Era, portanto, uma proposta altamente materialista,
que previa a oferta do pleno emprego, por parte dos governos, para aumentar a
demanda e, conseqüentemente, a produção capitalista. Teve seu ápice a partir dos
anos 1940 e entrou em declínio nos 1970. Durou, portanto, pouco menos de três
décadas, conforme explica Costa (1999). A autora lembra que a política de bem-
estar social se desenvolveu nos países industrializados da Europa e nos Estados
Unidos. Embora não tenha sido aplicada nos países periféricos, pode-se considerar
49
que teve reflexos indiretos no Brasil, a partir dos anos 1950. Isso porque havia
interesse dos países industrializados em expandir seus negócios. O site Economia
da Soja (2006) destaca que, com as propostas da revolução verde, braço
industrializante do campo, os Estados Unidos passaram a exportar seus modelos de
produção para o resto do mundo, incluindo a produção de soja. Segundo o site, a
partir dos anos 1950 o governo brasileiro apoiava uma nova agricultura,
comercial, iniciada pelo trigo e o arroz irrigado no Rio Grande do Sul. Junto com as
grandes lavouras, desenvolveu-se um parque industrial de insumos e maquinários.
Aos conservadores, o modelo de bem-estar social, “encarecedor” dos
processos produtivos, incomodava e o neoliberalismo surgiu como reação desses
setores nos anos 1980. Com o declínio comunista e o fim da União Soviética, no
início dos anos 1990, não era mais preciso oferecer um modelo alternativo ao
comunismo e o capitalismo tentou enterrar ganhos sociais e baratear a mão-de-obra
no Primeiro Mundo. Paralelamente, o Brasil também viveu uma crise de inflação alta
e desemprego, no período.
O novo modelo, neoliberal, que então conquistou o espaço da proposta
anterior, é transnacional e busca mercados consumidores e produtores em todos os
cantos, com transferência de capital produtivo e financeiro, mas com a concentração
do lucro nos grandes centros mundiais. Para Hardt e Negri (2001), a globalização é
irresistível, em aspectos econômico e social. Dessa forma, o império está se
consolidando, com uma hegemonia universalizante. Uns comemoram a libertação
do capitalismo das amarras políticas dos estados e outros lamentam a perda do
trabalhador para a lógica do lucro.
Fica claro que o novo modelo, favorável ao mercado financeiro, reduz a
soberania do Estado-Nação, sobre os fluxos de capitais e sobre a economia. Hardt
e Negri (2001) mostram que a soberania, hoje, tem nova forma, através de
organismos nacionais e supranacionais, unidos por uma lógica única, ou seja, o
Império, sem fronteiras. O mundo é mais ameno para o capital, sem delimitações de
fronteiras ou cores. O poder do império torna-se difuso por todos os países.
O resultado do avanço neoliberal, em um mundo globalizado, é da
globalização das desigualdades. Costa (1999) destaca que o desemprego aumenta
com os avanços técnicos, uma precarização do emprego no mundo e
acumulação capitalista, que flexibiliza a produção com a economia de mercado em
todo mundo. O neoliberalismo mostra sua face mais cruel ao descortinar o avanço
50
do mercado financeiro que, interessado no lucro de papel, subordina a produção
para se tornar mais atrativo aos investimentos.
Fiori (1998) engrossa a crítica social ao modelo. Para ele, a globalização é o
mundo, aceito hoje como verdade absoluta, que vira realidade. No mundo global
transaciona-se muito mais finanças do que bens. A produção ainda depende, sim,
da localização, mas para o financeiro basta estar on-line, portanto o gera
produção local. Cresce, assim, o abismo entre pobres e ricos. O desemprego vira
problema insolúvel.
Tais fatores afetaram também o campo, que viu os investimentos reduzidos,
assim como ocorreu em todos os setores, por duas razões: pela lógica da livre
competição liberal e pela falta de recursos do Estado para aplicação nas mais
diferentes áreas, incluindo a agricultura.
Para o pequeno produtor, as dificuldades são ainda maiores, uma vez que
esse não chegou a passar pelo período de maiores incentivos. Embora hoje haja
financiamentos específicos para a agricultura familiar, o fato é que o pequeno
enfrentou graves dificuldades para se manter ao longo desse período. O caráter
desigual e excludente da modernização conservadora se deu pela incapacidade de
incorporar todo o segmento da agricultura. Sandri (2004) diz que tiveram benefícios
os “mais aptos”, aqueles que puderam acessar o crédito, enquanto foram excluídos
os que não tiveram capacidade de pagamento do crédito, geralmente aqueles com
menores áreas e piores terras. Sandri (2004) destaca que a modernização criou
uma instabilidade da agricultura familiar, porque privilegiou a agricultura exportadora
dos grandes produtores.
A pequena propriedade foi prejudicada por não participar desse processo.
Não recebia créditos e ficava estagnada, sem condições de entrar na competição.
Martine (1989) explica que a agricultura familiar continuava produzindo sem que
houvesse um trabalho específico para ela, enquanto o interesse era ampliar a
capacidade das culturas de grande escala, incluindo a pesquisa e a assistência
técnica praticada no país. O resultado foi a saída de muitos agricultores familiares
da atividade e a aquisição de suas terras por grandes produtores. Kageyama (1996)
destaca que esse modelo gerou exclusão do processo de desenvolvimento
tecnológico e êxodo para as periferias de grandes centros urbanos. Quem partia era
o pequeno produtor, que não conseguia se viabilizar dentro da modernidade
oferecida para o campo. Ocorreu então uma redução significativa na população
51
rural. Martine (1989) destaca que mais de 30 milhões de pessoas, no Brasil,
deixaram o campo entre as décadas de 1960 e 1980.
Tais reflexos puderam ser sentidos em Ponta Grossa. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na década de 1960, o município
contava com uma população rural de 13.196 indivíduos, para um total de 89.948
habitantes. Em 2000 eram 6.933 pessoas de um universo de 273.616 habitantes do
município (censo de 2000). Em 40 anos a população rural baixou de 15% do global
para 2,5%. São 1.285 famílias (todas de pequenos produtores) que vivem e
produzem em 1.671 propriedades. A diferença entre propriedades e famílias se
deve ao fato de que nem todas possuem habitação e os grandes produtores,
geralmente, moram na zona urbana. O meio rural é ocupado preferencialmente por
agricultores familiares. Os que restaram tentam viver dentro de uma lógica de
mercado capitalista, mas poucos com sucesso, devido às dificuldades citadas
acima.
De qualquer forma, o setor agrícola está inserido na lógica globalizante
atual. Para Brandenburg (1999), a globalização amplia a exclusão social,
pois muitos agricultores, segundo o autor, ficaram fora do projeto
modernizante. Brandenburg (1999) diz que eles continuam em suas
atividades, mas necessitam de apoio político e técnico para resgatar uma
dívida social. A própria comunicação rural deve concentrar as atenções na
recuperação do espaço perdido pelo agricultor familiar.
Buainain, Romeiro e Guanziroli (2003) destacam que o país precisa de
um projeto de desenvolvimento rural que tome como base a agricultura
familiar. Essa poderia ser uma forma de eliminar a pobreza e melhorar a
distribuição de renda. Segundo os autores, os produtores rurais de base
familiar carecem de capital de giro e recursos para investimentos. Afirmam
ainda que, ao contrário do que se apregoa, parte desses agricultores utiliza
insumos adquiridos no mercado e têm custos elevados que dependem de
dinheiro para a manutenção. Buainain, Romeiro e Guanziroli (2003) explicam
que
Se, no passado, essa carência o impedia de progredir os
agricultores familiares que exploravam sistemas conhecidos e
estáveis, no presente, ela se tornou um grave obstáculo. O ritmo das
mudanças técnicas e tecnológicas, assim como a necessidade de
introduzir novas atividades e de adaptar sistemas de produção
tradicionais às exigências do mercado superam, de longe, tanto o
52
conhecimento como o tempo de aprendizado autônomo dos
agricultores. Assistência técnica, extensão, serviços de
meteorologia, comercialização, etc. são fundamentais para a
viabilidade dos sistemas mais avançados, e sua ausência e/ou
deficiência restringe o desenvolvimento e consolidação de sistemas
produtivos nos quais os agricultores familiares poderiam ser
competitivos e viáveis. (2003, p. 15)
Um argumento a favor de uma política voltada para a agricultura
familiar, apresentado por Buainain, Romeiro e Guanziroli (2003), é que, até
entre aqueles que têm uma renda baixa insuficiente para uma manutenção
digna da família, o ganho é superior ao dos pobres do meio urbano, de
maneira geral. Portanto, socialmente, o setor teria uma função estratégica
determinante e seria preferível trabalhar na lógica do seu desenvolvimento a
apostar em um futuro na cidade para eles.
1.7 POLÍTICAS PÚBLICAS
É preciso ressaltar que há, especialmente nos últimos anos, programas
voltados para o público em questão, embora as críticas dos autores citados sejam
pertinentes. O Governo Federal desenvolve, atualmente, uma série de políticas
públicas que buscam dar sustentação aos agricultores familiares e também para os
trabalhadores rurais. No âmbito estadual, a Secretaria de Estado da Agricultura e do
Abastecimento (SEAB) também mantém programas voltados ao setor.
Políticas públicas são as ações organizadas e planejadas que têm como
objetivo atender às necessidades e demandas do conjunto ou de determinado grupo
da população. São desenvolvidas com a aplicação de recursos públicos. Entre as
políticas públicas federais, atualmente, o agricultor familiar pode contar com aquelas
aplicadas para a camada com menor renda, independente de ser rural ou urbana,
como o Bolsa Família e Brasil Alfabetizado. Além disso, conta com políticas
específicas para o setor, como o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf), Luz Para Todos, Crédito Fundiário e Compras da
Agricultura Familiar. No Paraná, a SEAB (2007) também tem programas específicos
para a agricultura familiar, além de aplicar os programas federais.
Mas a disponibilidade de crédito não significa exatamente garantia de
recursos. De acordo com matéria publicada no Jornal da Unicamp (SUGIMOTO,
2003), uma dissertação de mestrado do agrônomo Gilson Alceu Bittencourt,
53
apresentada no Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas-
SP (Unicamp), mostra que até 2003 50% do crédito anunciado anualmente pelo
governo para o Pronaf chegava ao produtor. Entre os motivos apontados por
Bittencourt (SUGIMOTO, 2003), destacam-se a falta de agentes financeiros que
trabalham com agricultores mais pobres, escassez de recursos para cobrir os custos
dos financiamentos, falta de possibilidades de oferecer garantias entre os
agricultores familiares, entre outros aspectos burocráticos.
Por conta das dificuldades burocráticas e outros motivos, como os preços
baixos das commodities e até mesmo o impacto da estiagem no período de
desenvolvimento desta dissertação, mais da metade dos agricultores familiares
pesquisados considera as políticas públicas atuais ruins, em que pese todos os
programas disponíveis, como é demonstrado no capítulo três.
54
CAPÍTULO 2
A COMUNICAÇÃO
Este capítulo trata especificamente da comunicação e sua importância social,
de uma forma geral e no meio rural, especificamente. A fundamentação teórica
demonstra a importância da comunicação e também discute a maneira como ela é
feita, disseminada e recebida, com seus prós e contras. Finalmente, o capítulo
aborda a comunicação rural, seus efeitos, conseqüências e utilidade para o
agricultor familiar, além das formas como é elaborada. Antes, como demonstrativo
do fenômeno na atividade econômica, um subitem mostra como o produtor
empresarial utiliza a informação no trabalho cotidiano.
Para o desenvolvimento do capítulo, foi trabalhado com bibliografia que
discute o fenômeno e fontes documentais primárias, baseadas nos conceitos de Gil
(1989) que classifica essas técnicas como "pesquisa de papel". Entrevistas face a
face, prática sugerida por Meihy (1996), ajudaram na explicação da história rural das
últimas décadas, no município. Também foram utilizadas como maneira de levantar
o entendimento dos produtores rurais.
2.1 MUDANÇAS NO CENÁRIO LOCAL NO SÉCULO XX
A realidade do meio rural chega na segunda metade do século XX sem
muitas diferenças na divisão agrária. De um lado ainda existiam as grandes
propriedades e de outro milhares de famílias de pequenos produtores que
protagonizavam um êxodo rural maior a partir dos anos 1960 e 1970, mas sobretudo
nos 1980. A atividade empresarial das grandes propriedades de Ponta Grossa e
região começou a sofrer uma mudança profunda a partir desse momento.
Foram utilizadas técnicas de entrevistas e recursos de história oral para
explicar melhor esses aspectos, especificamente em Ponta Grossa. De acordo com
Meihy (1996), a história oral é um recurso utilizado para estudos referentes à
experiência social de pessoas e grupos. É sempre uma história do presente e
também reconhecida como história viva, segundo o autor. Meihy (1996) diz que a
história oral pode ser utilizada como uma forma complementar para cobrir vazios
bibliográficos e documentais. Nesse sentido, foram ouvidos produtores rurais com
55
experiência e conhecimento no tema e a historiadora Aida Mansani Lavalle. A opção
se deu por falta de bibliografia que tratasse diretamente do desenvolvimento
agropecuário na segunda metade do século XX, em Ponta Grossa.
De acordo com Lavalle
4
, até os anos 60 os grandes proprietários de terra dos
Campos Gerais eram principalmente criadores de gado, que não utilizavam
nenhuma tecnologia, melhoramento genético ou de pastagens, ou uma melhor
aplicação em sanidade. As únicas atividades agrícolas que se encontravam em suas
terras eram a produção aleatória de arroz ou batata, principalmente a primeira. As
duas eram desenvolvidas por arrendatários, o dono da área, geralmente, não
realizava nenhum trabalho agrícola. Seu maior interesse em permitir o plantio era
porque a adubação feita pelos agricultores ajudava a melhorar os pastos que
voltariam a ser plantados na seqüência.
Foi o advento da sojicultura que mudou drasticamente essa realidade. O novo
produto oferecia uma rentabilidade maior e foi largamente incentivado. O produtor
rural Luiz Pilatti Rosas
5
diz que as primeiras plantações de soja, ainda de forma
incipiente, surgiram em Ponta Grossa no ano de 1965. A cultura começou a ser
plantada em escala comercial nos anos de 1968 e 1969 e ganhou impulso, para
dominar as grandes áreas do município e da região, a partir da década de 1970.
Com a produção de soja, milho e outras culturas de grãos em larga escala e
principalmente a mecanização do campo, incentivada pelo Governo Federal,
surgiram então os problemas do desgaste dos solos fracos da região. A partir desse
problema e a busca de soluções, os produtores passaram a ir atrás de referências
externas. Dessa maneira, se encontra uma atividade mais centrada na informação,
na agricultura empresarial ponta-grossense a partir dos anos 1970.
2.2 AGRICULTURA EMPRESARIAL E A BUSCA DE INFORMAÇÕES
Uma amostragem com quatro representantes de grandes produtores
apresenta uma realidade comum, iniciada na época de implantação das lavouras
mecanizadas. Todos os entrevistados dizem que não é possível trabalhar na
atividade rural sem estar constantemente em busca de informação. Não é objetivo
deste trabalho propor ou sugerir que o modelo empresarial capitalista seria a saída
para a agricultura familiar. O que se pretende é apenas mostrar que o "outro lado"
4
Entrevista concedida ao autor em 21 de outubro de 2006.
5
Entrevista concedida ao autor em 08 de dezembro de 2006.
56
do setor agropecuário, a agricultura patronal, usa a informação como ferramenta. O
número de quatro produtores foi considerado suficiente, uma vez que todos fazem
parte do mesmo grupo, que produz grãos em escala comercial (soja, milho, trigo,
aveia, entre outros) e pertencem a entidades de classe ruralistas. Assim, de acordo
com Gil (1989), se obtém uma amostragem estratificada, desde que a mesma esteja
situada dentro do universo de indivíduos que se pretende estudar.
Os produtores rurais entrevistados podem ser considerados grandes, de
acordo com a Lei 8.629 de 1993, a chamada "Lei Agrária" (CASA CIVIL, 1993), uma
vez que o menor deles produz em 700 hectares. De acordo com a lei, todas as
áreas com mais de 15 módulos fiscais são grandes propriedades. Como o módulo
fiscal de Ponta Grossa corresponde a 12 hectares, significa dizer que, no município,
todos os empreendimentos com mais de 180 hectares são classificados no referido
grupo.
O modelo utilizado para obtenção das respostas foi da entrevista face a face,
ou oral. De acordo com Richardson (1989), a técnica possibilita obter informações
de fatos que o entrevistado conhece ou de seu comportamento, saber qual é sua
opinião e motivações. Segundo o autor, se deve destacar o que é considerado
relevante em determinado problema. O modelo utilizado foi o que Meihy (1996)
chama de entrevista fechada, onde o entrevistador elabora um roteiro, e a
modalidade temática, uma vez que o objetivo foi levantar o que pensa o agricultor
empresarial sobre a comunicação. Para a montagem do texto, foram usados
fragmentos que dessem sentido à construção do pensamento, conforme propõe
Meihy (1996).
Um dos entrevistados é o agricultor Manoel Henrique Pereira
6
, que cultiva 1,5
mil hectares de grãos na região, além de trabalhar com pecuária de corte. Junto
com outro grande produtor, Franke Djikstra, de Carambeí, foi um dos pioneiros nos
Campos Gerais no uso da informação como forma de avançar na atividade rural. O
produtor explica que, com o início da mecanização, na década de 1960, dentro do
sistema convencional de plantio, mexeu-se muito na terra. Passaram a ser usados
tratores, arados, grades pesadas, safra após safra, desgastando o solo. Os
resultados negativos dessa forma descontrolada de cultivo da terra não tardaram a
aparecer. Pereira
7
diz que, "naquela época, para todo lado que a gente olhava havia
6
Entrevista concedida ao autor em 31 de janeiro de 2007.
7
Idem.
57
erosão. Milhões de toneladas de terras estavam indo parar nos leitos dos rios. O
meio ambiente começou a pedir socorro".
A partir daí, a busca por maiores informações e disseminação de
conhecimentos começou a ganhar maior importância. Com leituras de jornais,
revistas, livros e documentos, os grandes produtores desenvolveram formas de
evitar a perda de solos, inicialmente com a curva de nível (prática pela qual não se
planta morro abaixo, mas sim acompanhando as curvas do terreno) e terraceamento
(ondulações que funcionam como barreira para reter a enxurrada) e depois com o
“plantio direto na palha” (que consiste em plantar uma lavoura sobre a palhada do
plantio anterior, sem revolver a terra, o deixando o solo descoberto em nenhuma
etapa, mesmo quando está em preparo). O modelo foi buscado nos Estados Unidos,
no início dos anos 1970 e desenvolvido no Brasil, com início na região dos Campos
Gerais, a partir de 1976.
Desde então, Manoel Henrique Pereira
8
mantém toda uma estrutura centrada
em informação. O agricultor conta com dois agrônomos, um de campo e outro que
trabalha com projetos e planejamento. "Eles nos abastecem com informações, mas
estamos sempre atentos também a novidades que são repassadas pela Fundação
ABC (instituto de pesquisa que atende as cooperativas Castrolanda, Capal e
Batavo), que sou associado da Cooperativa Batavo", conta. Em seu escritório,
instalado no centro de Ponta Grossa, a ligação com a informação acontece durante
o dia todo. Um computador conectado à internet passa a ser uma ferramenta,
conforme explica, “tão importante quanto uma colheitadeira”. Embora obedeça às
necessidades de rotatividade, Manoel Henrique Pereira também decide quanto e
quando plantar, de acordo com as tendências de mercado. Revistas especializadas
e jornais econômicos também são ferramentas que ele costuma lançar mão. Para o
agricultor, "informação é fundamental, sem ela não chegaremos em lugar nenhum".
Por outro lado, o produtor diz que a mídia que trata de assuntos rurais deixa a
desejar, uma vez que se mostra ineficiente para dar resposta aos interesses do
momento do grande agricultor, uma vez que trabalha sobre fatos de
conhecimento dos produtores, na sua avaliação. A exceção, na sua opinião, são os
informativos específicos de determinados segmentos, como revistas e jornais de
institutos tecnológicos e associações de determinados segmentos, como da
Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha.
8
Idem.
58
Fábio Schmidt
9
cultiva, junto com seu pai, atualmente, em torno de
1.000 hectares na região. Produz soja, milho, feijão, cevada, aveia e trigo,
além de criar gado de corte e suínos. O entrevistado também defende a idéia
de que o agricultor moderno deve estar antenado a tudo o que ocorre na
atividade, destacando que hoje 50% de seu trabalho é campo e 50%
informação. "O produtor bem informado é que vai aproveitar as
oportunidades", diz Schmidt
10
. Todas as fases da sua atividade são
estudadas de acordo com o que o mercado está apresentando, mais as
possibilidades tecnológicas. Internet, jornal diário, corretores e informações
técnicas são as principais ferramentas que utiliza para trabalhar. Já o rádio e
a televisão são descartados. O produtor acha que são veículos mais voltados
para o pequeno produtor, portanto, não atendem aos seus interesses.
Douglas Taques Fonseca
11
cultiva anualmente 2.500 hectares na safra
de verão e 1.500 hectares no inverno. Na sua opinião, estar informado, com
conhecimento do que ocorre, é uma das coisas mais importantes de toda
atividade. As formas de acompanhar o mercado, estar atento ao que ocorre,
não diferem de outros grandes agricultores. Seus corretores passam
informações diárias sobre como estão as cotações presentes e futuras.
Também busca informações tecnológicas, especialmente de institutos de
pesquisa, como Embrapa e Iapar. Além disso, Douglas Taques Fonseca
12
acompanha os noticiários de agronegócios pelos jornais diários, televisão e
revistas especializadas em agricultura. Todas as informações, segundo ele,
são usadas para as tomadas de decisão.
Luiz Eduardo Pilatti Rosas
13
produz grãos em 700 hectares de área
desde 1976. Formado em Administração Rural, diz que desde a faculdade já
tinha noções de informação e, como agricultor, usa o máximo possível no
dia-a-dia. Suas ferramentas, nesse setor, são a internet, informativos de
cooperativas e empresas de agronegócios, além de jornais diários e revistas
especializadas em agricultura. Na sua opinião, o agricultor até pode trabalhar
sem estar informado, mas o ganho final será muito menor.
O resultado das entrevistas mostra que é necessário ter a informação
como uma ferramenta, no que diz respeito ao trabalho dentro de uma
9
Entrevista concedida ao autor em 18 de outubro de 2006.
10
Idem.
11
Entrevista concedida ao autor em 05 de dezembro de 2006.
12
Idem.
59
propriedade rural. Neste trabalho, entende-se que, independente do tamanho
da área, a comunicação tem igual importância para todos. No caso do
agricultor familiar, deve ser voltada para todos os aspectos cotidianos, uma
vez que ele não apenas trabalha, mas vive e se relaciona socialmente no
meio rural.
2.3 MERCADO DA COMUNICAÇÃO RURAL
Mas os estudos mostram que a comunicação midiática de informações para o
meio rural ainda é muito mais voltada para a agricultura empresarial e mais utilizada
por grandes produtores. Boteon (2004) estudou o mercado das comunicações no
meio rural. Embora tenha abordado apenas a informação digital, através da internet,
é ilustrativo o exemplo da autora como demonstração de que é na agricultura
empresarial que mais se utiliza a informação formal. O novo meio corre o risco de
apresentar mais uma forma de exclusão da agricultura familiar, a se manter o
quadro atual. Para Boteon (2004), a informação é muito importante hoje para as
tomadas de decisão do setor agropecuário. Para analisar como a informação via
internet vem sendo usada, a autora parte da teoria econômica, que apresenta um
perfil mais objetivo do estudo do objeto. Usa ainda um método quantitativo para
avaliar a oferta e demanda no setor, mas nem por isso merece ser descartada nas
Ciências Sociais, já que seus dados são reveladores.
Boteon (2004) destaca que, em 2003, apenas 4% do meio rural nacional tinha
acesso a informações agropecuárias via internet. Do total, 92% eram produtores ou
administradores da propriedade, com curso superior. Apenas 21% tinham receita
bruta anual abaixo de R$ 100 mil, o que revela que são grandes produtores que
utilizam a ferramenta. Boteon (2004) diz que resultados da Pesquisa Nacional de
Amostra por Domicílios (PNAD) de 2001 mostrou que 6% dos proprietários rurais
tinham no mínimo faculdade e 99,38% dos produtores apresentavam uma renda
abaixo de R$ 100 mil. São esses 6% os principais usuários dos sites de informação
agroeconômica, segundo a autora.
Para aqueles agentes que têm acesso à internet, as informações chegam por
sites públicos (que trazem informações mais gerais), entidades (que destacam
culturas do seu foco) e agências/consultorias que focam em cadeias de grande
importância econômica.
13
Entrevista concedida ao autor em 08 de dezembro de 2006.
60
De certa forma, a internet facilitou a distribuição da informação, ampliando a
atuação de intermediários. Antes, o trabalho era feito basicamente por meios
impressos, TV ou rádio, agora ocorre também digitalmente, com mais agilidade e
baixo custo. Boteon (2004) destaca, porém, que o conteúdo da informação, em si,
não sofreu alteração. As mensagens mudaram de canal. O principal papel da
internet, no agronegócio brasileiro, para a autora, é a ampliação ao acesso à
informação para os tomadores de decisão. Segundo Boteon (2004), a internet
propiciou uma redução nos custos de distribuição, que ainda é um fenômeno
muito recente, que mostra certa instabilidade.
Uma questão que merece ser destacada, que o estudo não discute, é a
exclusão digital, que se mostra bastante forte nesse meio. Mas os próprios números
indicam que 4% dos produtores têm acesso à mídia digital, mostrando o que
ocorre. Além disso, são os produtores mais capitalizados, agentes de comércio,
indústria e prestadores de serviços do meio agropecuário que utilizam a internet.
Miguel de Moragas Spa, citado por Martín-Barbero (2002, p. 45), destaca que
as novas tecnologias de comunicação estão reforçando a divisão entre a informação
e a cultura dirigidas para quem toma decisões na sociedade e outro tipo voltado
para as grandes massas. Martín-Barbero cita como exemplo a televisão paga, que
permite aos intelectuais, executivos e yuppies, escolher o que assistir. “Eles não
vêem mais uma televisão, uma informação comum. Eles se inscrevem numa
informação que lhes diz aquilo que realmente lhes interessa para os seus negócios,
seus trabalhos ou suas investigações” (2002, p. 45). Para o autor,
Nesse sentido, essa fragmentação do hábitat cultural vem reforçar a mais
velha e mais estrutural das divisões sociais, que é a divisão entre os que
ascendem de alguma forma ao poder, ou seja, os que têm informações para
tomar decisões e sabemos que hoje o poder passa cada vez mais pela
informação e a imensa maioria da população, para a qual os meios de
comunicação se dirigem. (...) Os meios de comunicação trabalham
fundamentalmente para essa imensa massa de gente cansada, estressada
(trabalhadores que voltam para casa), enquanto outro tipo de comunicação
e informação vai por outro lado, para poder realmente dirigir, orientar essa
sociedade para tomar decisões.(MARTÍN-BARBERO, 2002, p. 46)
Outra fragmentação apontada por Martín-Barbero (2002) diz respeito
ao conhecimento das novas tecnologias. Para os mais jovens, a utilização
das novas ferramentas tecnológicas, como o computador, é mais facilmente
assimilada do que para as pessoas mais velhas. Assim, é possível que a
61
"modernidade" no campo possa ser absorvida de forma mais eficaz pelos
filhos do que pela geração de chefes de família da agricultura familiar atual.
De acordo com Bordenave (1985), em grande medida o
desenvolvimento rural gira ao redor da comunicação, visto que os
agricultores necessitam dela para tomar suas decisões de produção e
convivência. O autor lembra que a comunicação rural é um processo mais
amplo do que a mera informação agrícola. O que se observa no meio, entre
agricultores familiares, é uma quase total incomunicação mediada que, para
Bordenave (1985), não vem apenas do isolamento geográfico, ocasionado
pelas longas distâncias entre uma propriedade e outra, ou difícil acesso às
cidades. A incomunicação é um fator causado pelo analfabetismo e baixo
nível de instrução. Soma-se a isso, segundo o autor, o trabalho pesado no
campo, que deixa o produtor exausto após as atividades, sem condições
físicas de buscar comunicar-se, mesmo em conversas com vizinhos.
A tomada de decisões na agricultura, na avaliação de Bordenave
(1985), é de grande importância. O sistema de produção na atividade é
formado por terra, capital, trabalho e administração. "Cada agricultor tem um
sistema de produção diferente porque cada um combina à sua maneira os
fatores disponíveis" (1985, p. 20 - 21). Com base no exposto, o produtor,
conforme lembra Bordenave (1985), deve constantemente tomar decisões
próprias sobre o uso da terra, tipos de culturas que serão adotadas, emprego
de mão-de-obra, utilização de tecnologia, investimento de capital e venda de
produtos. E a agricultura não depende apenas das suas decisões, mas
também de medidas de outras empresas, que apóiam o sistema de produção
ou se utilizam seus produtos. Segundo Bordenave,
A decisão baseia-se em três fatores: querer, saber e poder. A
comunicação influi decisivamente sobre os três fatores da decisão.
Os agricultores vão querer adotar uma inovação se sabem que ela
existe e quais são suas conseqüências; poderão executá-la se
aprendem como fazer, isto é, os procedimentos correspondentes.
A incerteza que rodeia o agricultor só pode ser reduzida usando seu
antídoto fundamental: a informação. A função básica da informação
é reduzir ao mínimo possível o caráter aleatório da agricultura,
fornecendo ao produtor guias seguros e confiáveis para as suas
decisões. A informação vem de várias fontes, como consulta a
família e discussão com vizinhos. A comunicação torna possível o
diálogo e a consulta, facilitando a tomada de decisões; além da
assistência técnica e associações. (1985, p.20 - 21)
62
A conclusão que se pode tirar do pensamento de Bordenave (1985) é
de que o agricultor, além de contar com fatores de produção, pode ter a seu
favor um outro fator muito importante, que é a informação. Ele considera que
sem ela, suas decisões estariam sujeitas à incerteza e à improvisação.
Assim, o autor reforça o pensamento defendido, neste trabalho, de que o
agricultor familiar necessita de esclarecimentos, incluindo os midiáticos no
seu cotidiano.
2.4 COMUNICAÇÃO E INSERÇÃO SOCIAL
O uso da comunicação deve ser destacado como uma forma importante de
inter-relação na comunidade e na atividade produtiva do agricultor. Thompson
(2002, p. 19) destaca que "os meios de comunicação têm uma dimensão simbólica
irredutível: eles se relacionam com a produção (...) de materiais que são
significativos para os indivíduos que os produzem e recebem". Os indivíduos se
relacionam entre si através dos meios de comunicação, segundo o autor.
Thompson explica ainda que, na produção dos meios simbólicos, os indivíduos,
geralmente, usam um meio técnico para passar a mensagem ao receptor.
Ainda de acordo com Thompson (2002), o ser humano está constantemente
remodelando as suas habilidades, capacidades e aumentando o conhecimento,
testando o que sente, o que gosta e expandindo os horizontes das experiências.
Sempre está ampliando os conhecimentos pelas mensagens, usando assim os
produtos da mídia, mesmo que, como define Thompson (2002), a produção seja
feita para um número indefinido de receptores e predominantemente de sentido
único, ou seja, do emissor para o receptor.
É bem possível que, com as ferramentas de comunicação, o agricultor
familiar possa incrementar suas atividades e formas de trabalhar na propriedade.
Pela comunicação os indivíduos vão poder se ligar a outros produtores e à cadeia
produtiva. "O intercâmbio de informação e conteúdo simbólico no mundo social
acontece, em proporção sempre crescente, em contextos de interação e quase-
interação mediadas, mais do que em contextos de interação face a face"
(THOMPSON, 2002, p. 81). O autor destaca ainda que cada vez mais as pessoas
buscam e recebem mais informações de forma mediada, ou que ele define como
"quase interação mediada" do que face a face, no mundo moderno. Como colocam
63
Defleur e Ball-Rokeach (1993), indivíduos, como sistemas sociais, criam
relacionamentos de dependência com a mídia. Tal relação busca uma compreensão
de fenômenos e orientação cotidiana, entre os quais, os aspectos produtivos e
econômicos.
Para Thompson (2002, p. 106), "a mídia se envolve ativamente na construção
do mundo social. Leva imagens e informações para pessoas que se encontram em
diferentes contextos". Assim, ela modela e influencia o curso dos acontecimentos,
ao mesmo tempo em que a própria mídia sofre influências da sociedade se
remodelando, dentro de uma relação complexa entre ambos.
Defleur e Ball-Rokeach (1993) destacam que os processos de comunicação
de uma sociedade estão significativamente relacionados com os aspectos da vida
diária. E quanto mais o homem sofre mudanças, a capacidade de se comunicar
também muda. Mas é possível considerar o contrário, de que o desenvolvimento
das comunicações colabora no processo de mudanças sociais.
Canclini (1999) destaca que nas sociedades latino-americanas uma
organização social popular que é oral e visual. Os meios de comunicação surgem
para o público como um espaço de respostas para necessidades. Se não
substituem as estruturas formais, oficiais, se mostram mais rápidas, uma vez que se
comunicam com eles e esperam soluções para muitos dos seus problemas. Assim,
Canclini (1999) afirma que as estruturas tradicionais, como partidos, associações e
grupos, muitas vezes perdem a sua eficácia.
Sendo assim, o paradigma da agricultura familiar, calcado apenas em hábitos
e costumes familiares, tem muita dificuldade de sobreviver no modus operandi dos
sistemas de produção e comercialização dominantes na atualidade. A necessidade
de gerar renda na propriedade passa obrigatoriamente pela capacidade de se
conhecer melhor o negócio, dentro e fora da propriedade. Figueiredo e Giangrande
(1999) consideram que quem quiser estar preparado para enfrentar
satisfatoriamente a globalização pela qual passa o mundo atualmente tem que
necessariamente transformar sua vida em um constante aprendizado. Figueiredo e
Giangrande (1999) consideram que hoje em dia é necessário estar preparado para a
constante troca de paradigmas que passam a ocorrer cada vez com mais freqüência
na vida pessoal e profissional das pessoas. Para isso, é necessário ter grande
capacidade comunicativa.
Figueiredo e Giangrande (1999) afirmam que a visão ou missão das
atividades deve ser claramente entendida pelas pessoas que interagem direta ou
64
indiretamente. É preciso entender as expectativas e oportunidades suas e também
dos clientes, ou seja, o que o consumidor está desejando e o que o mercado está
oferecendo. Tais observações merecem ser consideradas, ainda que o modelo
globalizante neoliberal seja rechaçado.
Para Lefebvre (1981), hoje em dia, nem um camponês, em qualquer lugar
do mundo, vive de forma isolada dos acontecimentos mundiais, embora a
agricultura, ainda que pareça contraditório, carregue tradições do passado,
principalmente em países subdesenvolvidos. Mas as formas tradicionais não
significam que o pensamento do produtor é linear. Canclini (2003) apresenta uma
visão interessante sobre as vivências sociais. Destaca que não uma cultura pura,
que elas se misturam e renovam. Sendo assim, podem conviver em um mesmo
espaço, costumes passados de gerações e novas tecnologias, que podem gerar um
novo padrão de produção no campo, por exemplo. Canclini (2003) lembra que
muitos tradicionalismos convivem com a modernidade econômica em diversos
grupos. A comunicação rural deve levar tais fatores em conta para obter resultados
eficazes.
Lefebvre (1981) considera ainda que grandes complexidades
camponesas, que num mesmo espaço temporal apresenta produtores
extremamente desenvolvidos e outros trabalhando de forma precária. Lefebvre
(1981) destaca que o arcaico e o moderno convivem lado a lado. A comunicação
tem, então, um papel importante a cumprir, se prestar um serviço que ajude no
desenvolvimento rural.
Fernández e Amtmann (2007) destacam que a comunicação é um
mecanismo que facilita a difusão de elementos culturais dos setores relativamente
mais avançados para os menos desenvolvidos. Principalmente nos países mais
pobres, trata-se de um componente fundamental para o desenvolvimento em geral.
2.4.1 Compreensão do universo do produtor rural
Solari (apud MARTINS, 1981) aponta especificações no espaço em que vive
o agricultor familiar, como o fato do meio rural ser eminentemente agrícola. A
ocupação profissional do setor, portanto, caracteriza a população. Há uma
preponderância também da natureza, que escapa ao controle do agricultor e
condiciona a sua vida. Ao contrário, nas cidades, esses fenômenos estão quase
controlados, pelo menos no que diz respeito ao trabalho, segundo destaca o autor.
65
Solari entende também que a sociedade rural tende a ser mais homogênea em suas
relações psico-sociais. Tem ainda maior proporção de filhos que seguem a mesma
profissão dos pais, em que pese o êxodo rural. Significa que quem fica no campo,
via de regra, vai atuar na produção agropecuária. Compreende-se que outros
fatores, como sociais, culturais e de relação com o meio ambiente são importantes
na compreensão do universo do agricultor familiar, mas a atividade agrícola é, sem
dúvida, predominante nos interesses dos moradores em permanecer no meio rural.
Sorokin, Zimmerman e Galpin (1981) também destacam que a atividade
agrícola é o principal critério para a definição da população rural. Os autores
apontam ainda outras características que devem ser levadas em consideração no
público estudado, entre elas, a linguagem, crenças, opiniões, tradições e padrões de
comportamento, além do seu local, que conforme Martín-Barbero (2002), é onde o
indivíduo é alguém. É claro que devem ser consideradas aqui subjetividades que
vão diferenciar um produtor de outro. As proximidades ocorrem especialmente pelo
lugar em que vivem e pela ocupação agropecuária. Portanto, como destaca Canclini
(1999), entre o emissor e o receptor existem mediadores, como a família, o grupo ou
o bairro.
Na atualidade, Schneider afirma que podem haver dois cenários futuros,
sendo o primeiro, nada animador, de “um movimento acelerado em direção a
sistemas de produção contínuos, com um declínio paralelo no número de
produtores, à medida que cresce a especialização, intensidade de capital e escala
de produção” (2003, p. 51), o que vai excluir muitos pequenos produtores do
processo. no segundo cenário estão os métodos modernos de produção e
processamento de matérias-primas, reforçados com o avanço da biotecnologia. Tais
condições merecem ser observadas, ainda que se questione o modelo neoliberal de
condução das políticas agrícolas.
Grossi e Silva (2002) dizem que a partir da década de 1980 começou a surgir
uma nova conformação do meio rural brasileiro, com a produção de commodities e
novas atividades localizadas em nichos especiais, incluindo piscicultura,
horticultura, floricultura, fruticultura e criação de pequenos animais, que existiam
no país, mas não tinham maior importância econômica, e que hoje aparecem como
novas oportunidades. A questão é saber quem, entre os homens do campo, está
preparado para as mudanças e como fazê-las. A continuidade do êxodo rural mostra
que tais oportunidades não chegam igual para todos.
66
Callou (2002) diz que “é preciso analisar as mudanças que vão se
processando no cotidiano das famílias e da comunidade, em termos de lazer, da
ocupação do espaço e do tempo, do consumo e do desenvolvimento de novas
sociabilidades”. Para ele, as alterações que possam dar maior sustentação ao
pequeno produtor passam pela reestruturação da formação dos profissionais das
Ciências Agrárias, que melhorem as formas de extensão rural. A comunicação rural
também deve saber como trabalhar com as necessidades, sobretudo da agricultura
familiar.
2.5 MUDANÇAS OCORRIDAS NAS COMUNICAÇÕES
O elemento de comunicação está totalmente ligado ao desenvolvimento do
ser humano e das sociedades. Bordenave (1995) ilustra que, através de grunhidos,
o homem das cavernas provavelmente conseguiu descrever aos seus companheiros
algo que acabou de ver e queria contar. O outro que ouviu, dentro de uma
comunicação ainda precária, longe da complexidade de signos adotados
atualmente, conseguiu apreender o mesmo conhecimento do seu companheiro.
Provavelmente utilizou o mesmo modelo para passar aquela informação adiante.
Talvez assim começou a comunicação de forma mais elaborada.
Milhares de anos depois, no fim da Idade Média, na Europa, o
desenvolvimento cada vez maior das atividades econômicas passa a depender de
vários meios de anotação e até de proteção da informação no que concerne à
produção e troca de bens materiais. Segundo Thompson (2002), ter acesso à
informação se torna tão importante quanto produzir. "Com o desenvolvimento, ao
longo do tempo, dos meios de transporte e de comunicação, a relação
espaço/tempo vai tornando-se cada vez mais curta" (2002, p.40).
Thompson (2002) explica que a globalização da comunicação teve início
ainda no século XIX, mas se tornou parte inerente do cotidiano das pessoas no
século XX. O século passado assistiu a uma proliferação de canais de comunicação
e difusão de informação. E a atividade rural contribuiu para o desenvolvimento das
comunicações em tempos ainda mais remotos. Segundo Defleur e Ball-Rokeach
(1993), logo após a fixação de povos nômades e o início do cultivo da terra, as
pessoas precisaram de meios para registrar limites e direitos de propriedade,
estimulando a criação da escrita. O mesmo se com o crescimento da atividade
comercial, que aumentou o contato entre pessoas diferentes. "Não é de
67
surpreender, por conseguinte, que a escrita tenha se iniciado na antiga Suméria e
no Egito, regiões onde a agricultura foi inicialmente praticada" (1993, p. 33). Os
autores dizem que os meios de comunicação criaram uma nova dimensão espaço
temporal da sociedade, corroeram o isolamento das pessoas no mundo e
produziram mudanças significativas na organização e funcionamento da sociedade.
Defleur e Ball-Rokeach (1993) destacam que através da comunicação o ser
humano avançou. "Esta evolução dependeu mais do domínio da comunicação do
que dos materiais e ferramentas que fabricaram" (1993, p. 22). A consideração dos
autores pode até ser um exagero, mas o fato é que a comunicação sempre foi um
elemento importante para todas as sociedades. O homem ingressou na era da
comunicação de massa no século XIX, com o início dos jornais para a população em
geral e da mídia elétrica, como o telégrafo. Mas os autores lembram que a
verdadeira transição dos meios eletrônicos ocorreu no século XX, com o cinema,
rádio e televisão, chegando, agora, à sociedade informatizada. Tal processo não se
trata, na avaliação de Defleur e Ball-Rokeach (1993), de transição, mas de
acumulação de conhecimentos que formam os sistemas de comunicação.
De acordo com Thompson (2002), o desenvolvimento dos meios de
comunicação teve grande impacto na automação social. Na comunicação face a
face o conhecimento era local, e transmitido de geração a geração através do
intercâmbio oral e adaptado às necessidades da vida. Durante a maior parte da
história humana as interações presenciais dependiam dos relatos. Por conta disso,
o autor também reforça a idéia de que o conhecimento acabava sendo mais limitado
geograficamente e até no tempo. O desenvolvimento dos sistemas mediados de
comunicação mudou essa realidade e criou novas formas de relacionamentos
sociais e interações, tanto espaciais como temporais. Se no passado era, portanto,
possível a produção sem um maior intercâmbio de comunicação, atualmente a
realidade tem outros contornos.
Para Thompson (2002), o processo de formação do self se torna mais
dependente das formas mediadas de comunicação. Segundo o autor, o
desenvolvimento dos meios de comunicação fez aparecer novos tipos de ação à
distância. Thompson (2002) explica que hoje é comum indivíduos orientarem suas
ações para outros que não partilham o mesmo ambiente espaço-temporal. E
embora os receptores não estejam presentes, os produtores orientam o próprio
comportamento para esses. A facilidade de acesso à informação melhorou muito,
68
mas Coelho Netto (2003) alerta que, na sociedade de consumo atual, tudo se traduz
em números e mais informação nem sempre representa qualidade.
Tal resgate histórico serve para demonstrar que a importância da
comunicação, mediada ou não, ocorre muito tempo, pelo menos desde que o
homem vive em grupos sociais. Mas acelera-se no mundo contemporâneo, graças
às novas formas de transmissão do conhecimento midiático.
2.6 O PAPEL DA COMUNICAÇÃO NO ESPAÇO SOCIAL
O desenvolvimento das comunicações interferiu diretamente no cotidiano
social. Para Kellner (2001), no mundo contemporâneo, uma cultura veiculada
pela mídia que institui o tecido social, modelando, entre outros, o comportamento da
sociedade e forjando identidades. A cultura oferecida segue a lógica do capital, visa
audiência e lucro, por isso a sua utilização não deve ser vista sem preocupação.
Kellner (2001) atesta que, na maioria dos países capitalistas, a mídia veicula esta
forma comercial, produzida para o lucro. Os executivos tentam produzir coisas que
sejam comerciais e populares para um máximo de compradores. Segundo Sousa
(2002), no modelo capitalista vigente um sujeito que é consumidor de
mercadorias, que assim é considerado, na maioria dos casos, pela dia. Canclini
(2003) destaca que tais aspectos são reflexos do meio social, ou seja, a imprensa é
formatada pela estrutura social. No caso da América Latina, segundo o autor, é
preciso considerar aspectos como a modernidade tardia, estrutura fundiária e
oligárquica que interferem na mídia.
Questão interessante apontada por Kellner (2001) é que, embora feita pelas
classes dominantes, com o discurso dominante, a mídia também apresenta espaço
para a crítica social feita por movimentos progressistas. Com toda força de
propaganda, portanto, a dia oferece espaço para as contradições, mesmo do
capitalismo. Sousa (2002) também destaca tais aspectos. Para o autor, não é
possível pensar em um único cenário, devido à complexidade de espaços e grupos.
poderes simbólicos, de mercado, mas também de outras práticas de vida ou
reelaborações. São articulações de movimentos sociais, políticos e religiosos que
ajudam na formação de opinião do receptor.
Kellner (2001) também rejeita a idéia de que o público receptor receber
toda sorte de mensagens sem questionar. Afirma que não se deve pensar no
público como uma massa sem capacidade de pensar ou agir criticamente. O autor
69
diz que a mídia manipula, mas também é manipulada e usada pelo receptor. O
público pode, ainda, produzir os seus significados. Os canais, então, se inspiram
nas inquietações do público e se tornam parte de um circuito cultural. Seus textos
expressam experiências sociais. A cultura da mídia oferece recursos para a criação
de significados e identidades, mas também modela tais identidades, podendo
enquadrar diversas posturas. A questão é que a mídia é composta por empresas
comerciais e por isso age de acordo com interesses e influências, talvez do
patrocinador, da classe dominante e ao gosto do público.
Tais observações oferecem uma posição paradoxal na afirmação da
necessidade de utilização da mídia enquanto ferramenta de conhecimento para o
agricultor familiar, levando em conta toda carga negativa de considerações. Mas
pode-se voltar a Thompson (2002) para destacar novamente a importância da
comunicação social. Segundo o autor, os materiais mediados podem ser
incorporados na formação do self e os horizontes vão se alargando, confrontado
com novas possibilidades, permitindo uma reflexão crítica própria e as reais
circunstâncias humanas. Sousa (2002) entende que pelo menos nos estudos
acadêmicos, se observa que o receptor deixa de ser visto como mero consumidor,
mas como sujeito em determinada situação e condições e é mais bem visto através
da cultura. Melhoram, assim, as chances de encontrar o sujeito da comunicação.
É verdade que não devem ser descartados os aspectos negativos. Thompson
(2002) diz que importante enfatizar o caráter contextual da ideologia: mensagens
mediadas podem ser ideológicas, dependendo de como serão recebidas pelo
indivíduo e incorporadas reflexivamente em sua vida" (2002, p. 186). O autor alerta
ainda para a possibilidade das pessoas se tornarem mais e mais dependentes dos
sistemas sobre os quais têm pouco controle. A comunicação mediada também pode
provocar uma sobrecarga simbólica com uma diversidade de informação. Mas
Thompson acredita que, se filtrada, a experiência mediada serve na formação do
self. Pode adquirir profunda relevância, quando for reflexiva. Para Sousa (2002) a
comunicação, em tal contexto, não pode ser mais vista apenas como os veículos
que a compõem, mas ser entendida no processo em que eles atuam, dando a elas
um lugar social participante, também. Os meios de comunicação são espaços de
valores grupais, de negociações e debates.
Uma das dificuldades em se inserir o agricultor familiar na
contemporaneidade, com toda uma carga de informação, tomando como base a
comunicação formal existente, é tornar acessível a mensagem a esse blico.
70
Disponibilizar programas de televisão, rádio, internet e outras formas de
comunicação pode não ser tão difícil quanto melhorar a decodificação dos
códigos disponibilizados. Se forem colocadas informações das bolsas de
valores, por exemplo, com todo o seu "economês" para um agricultor com
baixa escolaridade, provavelmente ele não vai entender grande coisa. "O
indivíduo precisa conhecer os códigos para entender a mensagem", observa
Thompson (2002, p. 29). O autor diz que quando os indivíduos codificam ou
decodificam uma mensagem, não se valem apenas dos meios técnicos, mas
de conhecimentos e entendimentos no processo de troca de informações.
Tais conhecimentos estão baseados nos recursos culturais das pessoas. A
compreensão das mensagens também depende do conhecimento do receptor
e da forma cultural de como ele observa o que é transmitido. O agricultor
familiar, partindo-se de tais observações, vai precisar entender, não apenas
verbalmente, mas dentro de seus conceitos, as mensagens a ele
disponibilizadas.
Coelho Netto (2003) diz que uma mensagem será ou não significativa
de acordo com o repertório ser ou não de conhecimento do receptor. É
preciso considerar, porém, que existem cargas culturais e dificilmente se
encontrará duas iguais. Coelho Netto (2003) observa os processos através
da Teoria da Informação, onde é preciso saber não apenas o que diz o
conteúdo apresentado, mas quantas dúvidas ela pode eliminar. Tais
mensagens precisam reduzir as incertezas em que se encontra o receptor. O
autor declara que quanto maior for a eliminação de dúvidas por parte da
comunicação feita, melhor ela será.
Thompson (2002) reforça ainda que a recepção dos produtos da mídia
se sobrepõe a outras atividades. A importância dada a ela vai depender
exatamente das maneiras como as mensagens vão se relacionar com
aspectos de suas vidas. A forma de o receptor entender o que está sendo
comunicado varia de acordo com os indivíduos e com o contexto histórico e
social em que os mesmos estão inseridos.
Ao interpretar as formas simbólicas, os indivíduos as incorporam na
própria compreensão que têm de si mesmos e dos outros. Eles usam
como veículos para reflexão e auto-reflexão, como base para
refletirem sobre si mesmos, os outros e o mundo a que pertencem.
(THOMPSON, 2002 p. 45)
71
Thompson (2002) lembra ainda que, como emissor e receptor estão
afastados no espaço e no tempo, o sucesso da comunicação vai depender
também de uma boa contextualização da informação repassada. Defleur e
Ball-Rokeach (1993) também destacam que, para funcionar de forma
satisfatória, a comunicação humana necessita de uma interação simbólica
com convenções culturais de linguagens específicas.
Tais afirmativas encontram reforço, ainda, em Kellner (2001), que diz
que há um fluxo de sons, informações e imagens sem precedentes no mundo
contemporâneo. Assim, as mensagens chegam às casas das pessoas e é
preciso entender as leituras para melhor decodificá-las.
2.7 CAMINHOS DA COMUNICAÇÃO NA PEQUENA PROPRIEDADE
Os produtores empresariais entrevistados foram unânimes em dizer
que é necessário estar bem informado. Conhecimento sobre o que buscar
nos veículos oferecidos tem sua importância e pode servir de indicativo de
que a produção com grande ou pelo menos relativo sucesso melhora estando
atento a tudo que ocorre também fora da porteira, ou seja, na indústria e no
comércio, por exemplo. É evidente que a realidade da grande propriedade é
muito diferente da pequena, portanto pode não servir para ambos. Mas os
agricultores familiares entrevistados compartilham do mesmo pensamento,
ou seja, de que a informação é importante para o meio rural, embora não
utilizem a ferramenta, via de regra, de forma sistemática.
O poder aquisitivo, níveis de conhecimento e disponibilidade de
profissionais aos seus serviços são diferentes entre o agricultor familiar e o
grande empresário rural, que muitas vezes tem escritório na cidade,
agrônomos, corretores e cooperativas ao seu serviço. Mas a realidade
diferente de ambos os casos não sugere que o pequeno deve se acomodar
na fatalidade de não dispor de meios para buscar melhores embasamentos
dentro da sua atividade.
O agricultor familiar vive dentro de um universo institucional, dotado de
conhecimentos subjetivos e objetivações geradas através de aprendizados
empíricos, passados através das gerações mais velhas e também de
vizinhos. Berger e Luckmann (1987) explicam que o ser social vive dentro de
72
uma teia de relações onde a vida cotidiana está organizada em torno do aqui
e agora. Mas os autores reforçam que com um novo conhecimento o homem
passa a ter outra visão, além daquela da sua comunidade inicial, "o que vai
inseri-lo em um nível de maior complexidade e especialização" (1987, p.
129).
Na atual estrutura social da agricultura familiar, ainda pesa muito o
reconhecimento das formas como se fazem as coisas na prática. Shanin
(1990), apud SANDRI (2004) observa que a tradição oral e o próprio trabalho
são as formas predominantes como ocorre o aprendizado entre os pequenos
produtores. O conhecimento é repassado de geração para geração,
demandando aí um esforço intelectual de aprendizagem, além do físico das
atividades diárias. Mas isso não quer dizer que ele está totalmente fechado
para novidades externas. Se novas práticas derem resultados, o produtor as
levará em consideração. Prova disso são as tecnologias repassadas por
técnicos agrícolas e agrônomos, que são adotadas por muitos agricultores
familiares.
Em caso de estagnação na forma de trabalhar, as chances de se
manter na atividade são mínimas. Lamarche (1993) considera que, no
modelo econômico atual, uma exploração familiar terá dificuldades de
reprodução ou pode até desaparecer se continuar dependente do seu modelo
original, sem adaptar-se ao mercado. Por outro lado, Lamarche (1993)
também considera importante o patrimônio sociocultural dos produtores, sem
o qual ele também pode se extinguir. É esse patrimônio, construído através
do conhecimento, que vai oferecer soluções para que ele encontre
alternativas dentro do modelo econômico de seu tempo e ainda garanta o
consumo familiar.
2.8 AGRICULTOR FAMILIAR COMO SUJEITO
Os pequenos produtores se relacionam com diversos setores econômicos e
sociais. Dentro da sua atividade, muitos contam com a presença de extensionistas
14
,
profissionais que estão mais próximos dos pequenos produtores e podem ser os
14
Agrônomos, zootecnistas, veterinários e assistentes sociais que atuam em empresas como a
Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), levando assistência
técnica e novos conhecimentos para os agricultores familiares.
73
principais agentes da mudança necessária na forma de ver a atividade. Também
podem atuar diretamente com os profissionais de comunicação.
A atuação da extensão rural e assistência técnica está, portanto, calcada na
difusão de tecnologia, de acordo com os conhecimentos técnicos do profissional
agrônomo, técnico agrícola, veterinário, e outros. Também está voltada para a
execução de programas de governo (seja estadual ou municipal), decididos nos
gabinetes, de acordo com idéias técnicas e recursos disponíveis. Mas o problema
recai sobre as Ciências Sociais de forma geral. Guigou (1981) destaca que, muitas
vezes, o profissional dessa área acaba repassando, difundindo, a ideologia de quem
demanda o trabalho para as classes sociais que compõem o campo de intervenção.
É uma demanda de idéias de grupos ou instituições. A forma de atuar é colocada
pelo técnico que detém os conhecimentos. O agricultor, nesse modelo, é um
executor de significados e tarefas repassadas pelo profissional técnico.
Não é um objetivo do presente trabalho apresentar a extensão como objeto
de estudo. Mas é importante conhecer a sua atuação, para que a comunicação
também se paute nessas teorias, uma vez que o trabalho correto para o agricultor
familiar passa, necessariamente, por uma forma análoga de atividade, que
através dos meios de comunicação de massa.
Freire (2001) critica os modelos de extensão realizados no Brasil. O autor diz
que o extensionista busca normatizar e persuadir o homem para que ele proceda de
acordo com seus conhecimentos. Não há uma busca por fazer o produtor entender
aquilo que está sendo feito e porque está sendo feito. Educação, segundo Freire, é
um termo mais abrangente e libertador, de onde é preciso reconhecer o que esse
homem tem a dizer. Via de regra, o que ocorre é o contrário. O autor diz que "o que
a extensão faz é substituir uma forma de conhecimento por outra, de maneira
estática" (2001, p. 26).
No caso da comunicação, também cabe aqui uma avaliação do modelo.
Thompson (2002) diz que as mensagens são produzidas por um grupo de indivíduos
e transmitidas para outros situados em outro espaço e tempo. Portanto, os
receptores não são participantes de um processo recíproco, mas "de um sistema
estruturado de transmissão simbólica" (2002, p.31). "A recepção deveria ser vista
como uma atividade e não como algo passivo" (2002, p. 42). Tal maneira de receber
as mensagens, de acordo com o autor, é feita de formas simbólicas variadas, para
as suas próprias finalidades, uma vez que não estão circunscritas a lugares
particulares. As informações podem ser recebidas e trabalhadas de maneiras
74
diversas daquelas pretendidas pelos produtores. Vai depender, portanto, do
entendimento de quem vai recebê-la.
As propostas tecnológicas sugeridas pelo extensionista são geralmente
adequadas e podem apresentar resultados eficazes no produzir. O problema reside
na falta de troca entre os dois atores (o pequeno produtor e o profissional técnico).
Não há uma preocupação maior com o processo de aprendizagem. Freire (2001)
acredita que aprende aquele que apreende o conhecimento e pode aplicá-lo em
situações concretas. Quem recebe uma carga grande de conhecimentos sem ser
desafiado a entender não aprende. Tal atitude, segundo o autor, acaba por matar a
capacidade crítica da busca do conhecimento. Ou seja, assim o produtor pode até
melhorar sua produtividade e realizar tarefas conforme lhe foi orientado, mas
continuará agindo sem uma busca própria de melhoria. "O agente social deve ser
um agente de mudança, mas o homem não é apenas um objeto desta mudança"
(FREIRE, 2001, p. 44). É possível considerar então que a extensão pode estar mais
atrapalhando o processo de desenvolvimento humano do que ajudando.
Freire (2001) explica que todo esforço de educação popular deve ter por
objetivo fundamental possibilitar que o homem aprofunde sua tomada de
consciência da realidade na qual está inserido. "O trabalho do agrônomo como
educador não se esgota e não deve esgotar-se no domínio da técnica, pois que esta
não existe sem os homens e esses o existem fora da história, fora da realidade
que devem transformar", explica Freire (2001, p. 49).
O que se deve considerar é que o profissional precisa estar capacitado a
desafiar o agricultor, não apenas a adotar suas tecnologias, mas também a tomar as
decisões que lhe sejam necessárias. Para isso, é necessário haver comunicação,
pois "fora da comunicabilidade é impossível dar-se o conhecimento humano. É
preciso que haja diálogo entre técnico e produtor", (FREIRE, 2001, p. 65).
Thompson (2002) entende que o receptor tem condições de participar e contribuir
com eventos e conteúdo no processo comunicativo, escrevendo cartas, telefonando,
hoje em dia, via e-mail, ou simplesmente recusando a recepção. Daí que o processo
de comunicação, mesmo assimétrico, não fica completamente monológico ou de
sentido único.
O agricultor conectado às novidades e necessidades do mercado pode ser
um camponês idealizado para uma nova fase da atividade na pequena propriedade,
hoje definido como agricultor familiar. Bordenave (1985) lembra que pensar que toda
comunicação leva necessariamente à comunhão é desconhecer, até ingenuamente,
75
a natureza conflitual do homem na sociedade. É até possível obrigar outra pessoa a
modificar seus significados e aceitar os sugeridos, como ocorre em muitos casos de
aplicação de programas desenvolvidos para o meio rural, mas isso é uma "falsa
comunhão", como ressalta o autor. O resultado, freqüentemente, é uma
incomunicação.
O desenvolvimento da busca da comunicação passa necessariamente por um
despertar do pequeno produtor para o fazer pensar o negócio, entender o que se
passa e decidir, em conjunto com o técnico ou por seus próprios conhecimentos, o
caminho a seguir, as escolhas a serem feitas, de acordo com aquilo que a realidade
oferece. É preciso buscar a auto-estima.
De acordo com a visão de Bordenave (1985), pode-se entender que por não
estar bem informado, inserido no contexto, muitos agricultores familiares se sentem
inferiorizados frente ao técnico agrícola ou agrônomo, ao gerente de banco ou
qualquer outra pessoa. Ele se sente inválido, impotente e até insignificante. Esse
sentimento não ajuda em nada no desenvolvimento do pequeno produtor.
Capacitado para decidir, o receptor, decodificador da mensagem (no caso o
agricultor familiar preparado) deseja selecionar o que é importante para ele. Quer
entender e avaliar para poder decidir se aceita ou não o que lhe é proposto e aplicar
o que acha válido da mensagem, segundo Bordenave (1985).
A adoção de novos modelos é uma ação difícil, mas possível na maioria dos
casos, e a comunicação rural, no verdadeiro sentido de comunicar, pode ser uma
ferramenta eficaz. Segundo Bordenave
Talvez a função mais básica da comunicação seja a menos freqüentemente
mencionada: a de ser o elemento formador da personalidade. Sem
comunicação, de fato, o homem não pode existir como pessoa humana
(1985, p. 26).
Para Coelho Netto (2003), o esquema comumente disseminado na Teoria da
Comunicação, da existência de um emissor que envia uma mensagem através de
um canal formal para o receptor seria uma amarra que rebaixa o receptor como um
objeto da ação do sujeito. Seria um modelo paternalista. Coelho Netto (2003) diz
que
Ao invés de ser estimulado pelo emissor, o receptor deveria estimular a
fonte ao necessitar de uma informação, utilizando-a conforme seus próprios
interesses (...) Nesta nova concepção o receptor não é mais manipulado
pelo emissor, mas é ele que tem o controle do processo. (2003, p. 201)
76
Mas é evidente que tal processo de comunicação mais democrático, é
possível com um receptor no caso o agricultor familiar que tenha noção da
necessidade de obter mais informações. Thompson (2002) destaca que os recursos
simbólicos não estão disponíveis igualmente para todos os receptores. A
capacidade de absorver também exige certas habilidades, como conhecimento.
Também a forma de receber os materiais simbólicos e adotar vai ser diferente de
acordo com a capacidade e interesse de cada indivíduo.
Por isso é importante destacar mais uma vez a idéia da recepção. A situação
do receptor tem sido alvo de preocupação de muitos estudiosos que questionam a
forma como esse é visto, via de regra, pelos canais de mídia. Sousa (2002) destaca
que a idéia que primeiro desponta, ainda hoje, é de um predomínio do emissor para
o receptor, corroborando com o que afirma Coelho Netto (2003). Essa forma de
atuação, para o autor, sugere uma relação básica de poder, em que se prevê a
passividade do receptor. “Como se houvesse uma relação sempre direta, linear,
unívoca e necessária de um pólo, o emissor, sobre outro, o receptor”, (SOUSA,
2002, p.14). Thompson (2002) diz que se deve abandonar a idéia de que os
espectadores, ouvintes ou leitores são receptores passivos de mensagens. A
recepção também não acontece sem problemas ou críticas. Quem consome os
produtos da mídia não vai apenas receber a mensagem e absorver sem
questionamentos, em grande parte das vezes. um self formado, individual e
coletivo, que ajudará na escolha e absorção dos produtos midiáticos.
Para Sousa (2002), o receptor deve ser visto numa forma social, onde
possibilidades de lógicas explicativas sobre os caminhos da sociedade atual e
também da comunicação. Não é possível, por exemplo, pensar em um cenário único
de Terceiro Mundo, porque, de fato vários Terceiros Mundos. “A pluralidade de
circunstâncias que rege países subdesenvolvidos é tão importante em sua
compreensão como a própria noção do subdesenvolvimento”, diz Sousa (2002, p.
29). O autor salienta que o sujeito da comunicação é a própria ordem social em
funcionamento, mantendo o sistema em que está inserida.
Da mesma maneira, não é possível pensar em um único cenário de
agricultura familiar, porque diferentes contextos e maneiras de viver e atuar no
campo. Sousa entende que esses desenvolvimentos chegam à própria
comunicação, dado que ela não pode mais ser resumida aos veículos que a
compõem, mas exige ser entendida no processo em que a mídia atua (2002, p. 30).
77
Martín-Barbero (2002, p. 40), por sua vez, diz que a recepção não é
somente uma etapa no interior do processo de comunicação, mas uma
espécie de um outro lugar, o de rever e repensar o processo inteiro da
comunicação, que tem sido entendida regularmente, em muitos estudos, no
que ele chama de modelo mecânico, onde a mensagem vai de um pólo ao
outro, do emissor ao receptor, já pronta e acabada. Quem recebe, portanto,
seria um ponto de chegada daquilo que já está concluído. Tal concepção
condutista coloca a iniciativa do ato de comunicar toda do lado do emissor,
ao passo que o receptor só vai reagir a estímulos que lhe envia o receptor.
Segundo Martín-Barbero,
A concepção condutista estava perversamente fundida com outra
epistemologia, a iluminista, segundo a qual o processo de educação,
desde o século XIX, era concebido como um processo de
transmissão do conhecimento para quem não conhece. O receptor
era tábua-rasa, apenas um recipiente vazio para depositar os
conhecimentos originados, ou produzidos em outro lugar. (2002, p.
41)
Para Martín-Barbero (2002), as relações midiáticas ocorrem nas
mediações existentes no seio da sociedade e assim devem ser entendidas.
Outra questão levantada pelo autor, no estudo da recepção, é sobre a forma
como o receptor se coloca frente à mensagem, sobretudo na cultura escrita.
Ele descarta a idéia de que o receptor é apenas uma vítima desprotegida da
comunicação, o autor indaga sobre como pensar a reorganização dos meios
na América Latina, com a modernidade da informatização que entrelaça os
diferentes veículos e mensagens, para um público que praticamente não lê:
Saem da cultura oral e entram na modernidade por meio da
gramática do rádio, do cinema e da televisão? Enquanto nós
estamos pensando na modernidade ligada à ilustração, ao livro,
como o grande meio ilustrado, nossas maiorias não apenas estão
sendo incorporadas à modernidade, estão apropriando-se da
modernidade. Posso explicar o que chamo de apropriar-se da
modernidade, pelas maiorias nacionais, sem passar pelo livro,
porque a imensa maioria nunca aprende a ler ou lê muito pouco.
Estão incorporando-se à modernidade sem deixar a cultura oral.
(2002, p. 50)
Martín-Barbero (2002) lembra ainda que a indústria e os meios de
comunicação de massa (MCM) geram uma exclusão cultural, na medida em
78
que deslegitimam o gosto popular ou suas necessidades. Ou seja, tudo
aquilo que se vende como gosto da maioria não passa de uma imposição de
vulgaridades que não partem de uma vontade própria. Dessa forma, o
receptor comum é levado a achar que está consumindo o que necessita, sem
se questionar de que maneira aquilo chegou a seu conhecimento e, de uma
hora para outra, se tornou uma preferência. Temos que estudar, não o que
fazem os meios com as pessoas, mas o que fazem as pessoas com elas
mesmas, o que elas fazem com os meios, com sua leitura, afirma Martín-
Barbero (2002, p. 52).
Para Defleur e Ball-Rokeach (1993), parece claro que o campo de
mídia influencia as audiências e a sociedade como um todo. O que não se
tem claro, segundo os autores, é até que ponto isso ocorre. Assim sendo,
Kellner (2001) explica que a cultura da mídia também é o espaço em que se
travam batalhas pelo controle entre campos oponentes, como conservadores
e progressistas. "Há uma luta entre representações que reproduzem as lutas
sociais existentes e transcodificam os discursos políticos da época" (2001, p.
77). Isso quer dizer que a mídia reproduz aquilo que acontece na sociedade.
No campo das ideologias, Kellner (2001) explica que os meios de
comunicação de massa legitimam um sistema de dominação dos grupos
majoritários na construção social. Tentam justificar os privilégios de classes,
abstraindo as injustiças, representando o poder e a riqueza numa sociedade
supostamente igualitária. Para o autor, um estudo cultural crítico deve
questionar tais abstrações, das reificações e da ideologia. Todas essas
formas de uma teoria crítica servem como armas para a luta por uma
sociedade mais humana. É importante pensar em um sistema de
comunicação para a agricultura familiar de mão dupla, que tenha um
compromisso social. É assim que pode ser útil para a utilização da
informação na atividade cotidiana desse público. Defleur e Ball-Rokeach
(1993) indicam que a mídia depende do meio em que se encontra, podendo
influenciar a sociedade, mas sendo influenciada por ela também.
No presente subitem foram apresentadas diferentes posições de
autores, focando em uma visão condutista, que demonstra a existência de
campos de interesse na emissão da mensagem e também visões que
entendem que a mídia se desenvolve no seio da realidade, sendo
influenciada pela sociedade. Nesse trabalho se entende que as duas visões
79
não são de todo conflitantes, ainda que o receptor não seja "tábua rasa" para
recebimento das mensagens, como coloca Martín-Barbero (2002). Existe uma
produção que é levada pelo movimento da sociedade, mas há também um
embate de forças pelo controle das mensagens.
Nesse aspecto é relevante diferenciar, por exemplo, o acesso do
agricultor familiar à televisão, ao rádio e ao uso que faz de tais meios. Será
que trazem informações de interesse para a atividade produtiva? E será que
são realmente úteis? Ou, por outro lado, os produtos de mídia são usados
apenas para o lazer? O viés da recepção deve ser visto além da mensagem
passada por um emissor e seus interesses. É preciso compreender o
universo de quem está disposto a consumir e em que medida ele tem
interesse na absorção da mensagem. No final, a decisão é do agricultor
familiar, como indivíduo e ser social.
2.9 COMUNICAÇÃO RURAL
De acordo com Oliveira (1989), a informação rural ganhou novo impulso com
a organização da extensão rural, na década de 1940 (implantada em 1948 no
Brasil). No início, o público principal era formado pelas comunidades rurais. Vinte
anos mais tarde, no final da década de 1960, tinha outra conformidade. Com a
revolução verde, a comunicação para o meio rural passou a focar sua atenção em
pessoas que exploravam comercialmente as suas propriedades e não apenas os
moradores da zona rural.
Nos anos 1970 e 1980 os grandes meios de comunicação começaram a abrir
espaço para a área da comunicação rural. Também o rádio cedeu grande espaço,
devido ao crescimento do número de emissoras e audiência no meio. Oliveira (1989)
conta que a criação do Globo Rural, pela Rede Globo, por exemplo, se deu pela
constatação da existência de 4 milhões de aparelhos de TV no campo e um grande
potencial de investidores para a publicidade. Oliveira (1989) destacava, no final dos
anos 1980, que nos últimos 10 anos aumentava, tanto quantitativa como
qualitativamente, a oferta de informações para o meio rural, contribuindo para maior
aproximação e conhecimento recíproco entre campo e cidade.
De acordo com Oliveira (1989), uma ruralização da comunicação, devido
ao descobrimento do público potencial. Outros meios, mesmo os impressos,
disputam uma fatia desse mercado, interessados, não apenas em quem sabe ler,
80
mas em quem pode comprar, quem é um consumidor. Mas, segundo o autor, o
discurso para o meio rural não difere muito daquele adotado para o urbano, onde o
rural aparece apenas com alguns resquícios ou esteriótipos. É mais para dar uma
tonalidade do que para uma valorização cultural do meio. Dessa forma, a produção
discursiva para o meio rural segue as tendências da agricultura e sua importância no
processo de acumulação capitalista.
Embora Oliveira (1989) reconheça a importância da proliferação de meios e
mensagens voltados para a população rural, considera que os processos são
voltados muito mais para a transmissão da ideologia da classe dominante do que
como um "instrumento de participação da população rural nas decisões e
conteúdos" (1989, p. 163). Assim, os meios de comunicação contribuem para definir
uma produção e desenvolvimento rural decididos de fora para dentro. Canclini
(1999) diz que o problema é que a cultura da mídia está baseada no lucro, na
produção que retorno econômico. Assim, impera a lógica da superficialidade
narrativa, sem aprofundamento do tema. Mas a comunicação rural não apresenta o
pensamento apenas de quem toma decisões, também de quem participa de tais
processos decisórios, confirmando a importância das mediações. Dessa maneira, os
cadernos rurais dos jornais diários falam principalmente para o público participante
do agronegócio, com temas e abordagens que concordam com o pensamento do
próprio público leitor.
Nesse sentido, Felippi (2001) reforça a idéia de que a notícia é um produto
mercadológico com particularidades. Ou seja, a sua produção passa por
características próprias, que obedecem a linha editorial do veículo, relações com os
anunciantes e mesmo pela impressão pessoal do jornalista. Assim, não o
definidos apenas os assuntos em pauta, mas também o sentido, ou ângulo de
observação do tema, como aponta a autora.
Felippi (2001) diz ainda que o discurso jornalístico é polifônico (formado por
diversas vozes que compõem a notícia) e pode construir visões de mundo. Através
de uma avaliação inicial de impessoalidade e imparcialidade, característica que
todos os órgãos de comunicação defendem, constrói os sentidos que interessam e
apagam outros, que não interessam. Vale destacar outro fator que tem relevância
na carga de trabalho elevada das redações: a necessidade de fechar a edição. Para
isso, muitas vezes, o critério é mais quantitativo do que qualitativo. Publica-se
matérias para dar o tempo do programa de rádio ou televisão ou completar os
espaços em jornais ou revistas.
81
Talvez por essas características os meios de comunicação encontrem
dificuldades em se apresentar como uma ferramenta eficaz para o uso cotidiano dos
produtores. No caso dos chamados grandes veículos de comunicação, é relevante
ainda o fato de praticamente toda produção ser feita nos grandes centros urbanos,
como São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro ou Brasília. Nesse caso, o meio rural
aparece tão somente como fonte ou receptor, o que, indiretamente, reforça o
sentido difusionista. Assim, publicações de cooperativas ou associações, embora
destaquem interesses das direções, se mostram mais próximos do produtor rural.
Mesmo que a produção não seja das melhores, ainda assim a produção
midiática preserva sua necessidade. Bordenave (1985), Freire (2001) ou Thompson
(2002) reforçam a importância dos processos de comunicação, seja face a face,
seja através da mídia, para o desenvolvimento do produtor rural. O primeiro lembra
que os protagonistas principais da comunicação rural, ou seja, os atores a serem
pautados nas reportagens e matérias, são a população rural, o governo e as
empresas relacionadas com a agricultura, o que significa que as notícias do setor
passam, na maioria das vezes, por essas fontes, polifônicas. Martins (1981) diz que
é importante saber quem é o público de demanda da Sociologia Rural. Essa
concepção, ou seja, de saber a quem o trabalho está sendo dirigido, vale também
para outras áreas, incluindo a comunicação. "O campo de análise constitui-se das
concepções do público da demanda, mas se constitui também de características da
realidade que não são imediatamente visíveis ao próprio público da demanda"
(1981, p.35).
Em grande medida, a comunicação auxilia no desenvolvimento rural, visto
que os agricultores necessitam de informações para tomar suas decisões. A
população rural, segundo Bordenave (1985), concentra sua vida e seu
comportamento ao redor de uma atividade toda especial, muito complexa e
marcante, que é a agricultura. Conforme o autor, o agricultor e sua família trabalham
num ambiente formado pelo clima, a topografia do solo, a flora e a fauna. Suas
decisões são influenciadas por diversas organizações e instituições que formulam a
política agrária e fornecem crédito. As tomadas de decisões da agricultura
dependem da comunicação, não apenas da produção midiática, mas também face a
face. Defleur e Ball-Rokeach (1993) destacam que, na década de 1940,
estudantes de Sociologia Rural, em Erie Ohio, nos Estados Unidos, identificaram
que o processo de comunicação dos relacionamentos sociais informais influenciava
na tomada de decisões entre fazendeiros. Quando eram apresentadas novidades
82
tecnológicas, as interpretações dadas por vizinhos podiam ser decisivas na adoção
ou não.
Fernández e Amtmann (2007) mostram que a recepção e aceitação de
novidades no meio rural passam por fatores como conhecimento e inter-relação com
líderes que acabam conduzindo o processo. Um estudo desenvolvido por Rogers e
Shoemaker, citado pelos autores, demonstra que o líder de opinião está entre as
figuras que ajudam a formar o pensamento na comunidade. O líder, geralmente, é
um dos produtores da comunidade e, segundo os estudos, tem um nível sócio-
econômico, educacional e cosmopolita superior ao de seus seguidores. Também
tem mais contato com a mídia e relações interpessoais.
O estudo demonstra ainda que a adoção de inovações passa por diferentes
etapas, como conhecer o que é proposto, ser persuadido a aceitar, decidir se deseja
adotar as novas técnicas e passar a usar, rechaçar, ou mesmo voltar às técnicas
anteriores. Existem diferentes indivíduos, desde aqueles que logo adotam inovações
aos mais arraigados ao tradicionalismo. Entre os primeiros a adotar inovações estão
aqueles mais expostos às comunicações de massa ou relações interpessoais, os
que têm mais contatos com agentes e que são mais cosmopolitas. Geralmente têm
um nível sócio-econômico e educacional mais elevado. Por tal aspecto, os canais de
comunicação são relativamente mais importantes na fase de conhecimento e os
interpessoais na etapa de decidir sobre inovações. Evidente que esse não é um
circuito exato, mas, via de regra, tais situações são observadas pelos extensionistas.
Fernández e Amtmann (2007) dizem que é preciso compreender os aspectos
complexos do setor rural. O estudo das mudanças agrícolas é inseparável da vida
rural, história, crenças e suas instituições. Tais aspectos da ruralidade, portanto, são
fatores a serem considerados na produção midiática. Os autores também destacam
que o desenvolvimento rural não deve se pautar apenas na atividade agrícola. A
melhora da saúde, educação, conservação do meio ambiente, seguridade social,
entre outros componentes são necessários.
Sorokin, Zimmerman e Galpin (1981) explicam que as comunidades rurais
não têm aglomerações como as urbanas, porque existe a necessidade de terras
para o cultivo. Dessa maneira a comunicação mediada se torna ainda mais útil, pois
pode aproximar o agricultor, especialmente, dos centros fornecedores e
compradores da produção. Melo (1989) acrescenta que o crescimento da
comunicação rural contribui direta ou indiretamente para o desenvolvimento
83
econômico e social do homem do campo. Mas destaca a importância para que o
agricultor participe, não como objeto, e sim como sujeito do processo.
Nesse aspecto, Thompson (2002) destaca que é preciso considerar as
relações entre padrões de estruturação de comunicação global, de um lado, e as
condições locais de outro. Os materiais são recebidos por indivíduos em espaço-
tempo específicos. A apropriação dos produtos da mídia é sempre um fenômeno
localizado. Tais indivíduos contam com os recursos disponíveis para dar sentido e
incorporar as mensagens em suas vidas. Elas vão servir, desde que tenham sentido
prático no cotidiano. Portanto, a difusão é globalizada, mas a apropriação localizada.
Defleur e Ball-Rokeach (1993) dizem que a mídia pode influenciar na tomada
de decisões, ou pelo menos na construção subjetiva de pensamentos sobre temas.
uma influência seletiva da mensagem. Primeiro o produtor pode tomar
conhecimento de uma novidade através de alguma forma de comunicação de
massa. Daí vai decidir o que fazer. A questão da adoção ou não depende de
fatores, às vezes parecidos, incluindo a identificação. Personagens ouvidos na
notícia que pertençam à mesma categoria social influenciam na atenção.
Thompson (2002) explica que os receptores recebem as mensagens como as
entendem e incorporam em suas rotinas e práticas diárias. O sistema funciona com
formas de produção da comunicação de um lado e grupos que as vão interpretar de
outro.
Embora em uma sociedade “tecnocêntrica” seja difícil falar em espaço rural e
urbano, visto que esses setores atingem áreas de confluência, como explica Barreto
(2005), a informação para o meio se mostra necessária, porém precisa reconhecer
sua utilidade. A autora aponta como um dos primeiros momentos de destaque da
comunicação rural o “modelo difusionista”, que no Brasil é aplicado a partir da
década de 1940, quando são criados os serviços de extensão rural. A estratégia,
então, era persuadir os produtores a adotarem as inovações tecnológicas. Para a
autora, isto vai evidenciar uma utilidade específica para o extensionista rural, ou
seja, habilitar o agricultor para o desempenho de atividades racionais de produção.
Ele devia, portanto, ser funcional dentro de uma modernidade. Para Barreto (2005),
tal modelo contribuía para o êxodo rural, que, desde então, gerava exclusão
social de pequenos produtores que não podiam ou conseguiam acompanhar os
novos paradigmas de produção. A extensão rural não reconhecia a existência de
pluralidades de culturas e necessidades. A comunicação rural feita em consonância
84
com o trabalho das empresas extensionistas costumava seguir esses mesmos
modelos.
Em contraposição aos difusionistas é gestado, na década de 1960, o modelo
de Comunicação Participatória, mesmo ainda existindo o anterior, segundo Barreto
(2005). A idéia surge da teoria freiriana (baseada no método pedagógico de Paulo
Freire), que propunha a pedagogia de libertação dos oprimidos. Segundo Barreto, a
proposta, na comunicação rural, rompe com a separação entre o sujeito e o objeto,
estimulando o envolvimento e identificação. Nesse caso o comunicador não
propõe os conteúdos, na mesma concepção de Coelho Netto (2003), da mudança
de eixo emissor/receptor, vista anteriormente.
Barreto (2005) afirma que é necessário repensar o modelo de produção
midiática, privilegiando propostas locais em face ao agravamento das desigualdades
econômicas, políticas e sociais, advindas do processo de globalização da economia
e da incapacidade do Estado de iniciar e manter grandes projetos de
desenvolvimento. Para a autora, a questão da comunicação para o ambiente local
está centrada na lógica local, se preocupa com o local e regional, porém não perde
de vista a perspectiva global. Maffesoli, citado por Barreto (2005), diz que ao mesmo
tempo é preciso ter em conta uma concepção global da sociedade. Para ele, entre
as pequenas coisas e as grandes formas sempre um vai e vem (2005). Essa
visão global do processo é importante para o agricultor familiar.
Nesse caso, o desenvolvimento não pode abrir mão dos conhecimentos que
o produtor tem. Thompson (2002) critica aqueles que dizem que a tradição é algo
do passado e as sociedades modernas contrastam com sociedades tradicionais.
Antes da mídia, os conhecimentos, no passado, eram incorporados principalmente
na interação face a face e fazendo parte do seu ambiente. A mídia fez vislumbrar
outras possibilidades de incorporação de eventos. Mas a tradição, segundo o autor,
ainda tem importância atualmente, particularmente como forma de dar sentido ao
mundo e de pertencer a algo. No caso do agricultor familiar ponta-grossense, as
tomadas de decisão passam, na maioria dos casos, pela tradição, como poderá ser
visto no capítulo 3.
Mesmo assim, as tradições mudam com o desenvolvimento das
comunicações. "As tradições não desaparecem, mas perdem ancoragem nos locais
compartilhados da vida moderna" (THOMPSON, 2002, p. 165). Dessa forma,
Thompson diz que a mídia se torna um multiplicador da mobilidade.
85
Se quisermos entender o impacto cultural dos meios de comunicação no
mundo moderno, deveremos pôr de lado a visão de que a exposição à mídia
conduzi o indivíduo invariavelmente ao abandono das maneiras
tradicionais de viver e à adoção de modernos estilos de vida. (2002, p. 172)
Para Thompson (2002), cresce o conhecimento não local através da mídia,
mas não se destrói, na construção do self, o lugar compartilhado. O conhecimento
mediado depende do interesse dos receptores e dos recursos disponíveis para sua
apropriação. A mídia enriquece o self e cria novos tipos de intimidade, diferentes da
interação face a face. Defleur e Ball-Rokeach (1993) contribuem com tal
pensamento, afirmando que a própria sociedade está em constante mutação, não é
estática e, embora as tradições sejam importantes e influenciem o comportamento
do indivíduo, surgem sempre novos padrões de comportamento e conhecimentos.
De qualquer forma, Barreto (2005) salienta que as mudanças ocorridas nos
modelos de agricultura repercutem na comunicação rural. A busca de uma
agricultura sustentável, com novos modelos que apontam para outras
possibilidades, deve ser acompanhada também pelo comunicador que atue com as
questões rurais. Mas um dos desafios proposto pela autora é como pensar em
modernidade, ou mesmo pós-modernidade do setor, ou seja, em novas tecnologias
de informação, quando muitos atores sociais ainda vivem no que ela chama de "pré-
moderno", quer dizer, excluídos da digitalização. Segundo Barreto (2005), tais
formas salientam a pluralidade do meio, onde o espaço geográfico não serve como
definição única para o produtor. Deve ser levado em consideração o grau de
conhecimento de cada um. Callou (2002) reforça tal idéia, dizendo que gera um
certo desconforto não visualizar com nitidez, no meio rural, como nos centros
urbanos, as transformações operadas com a introdução de novas tecnologias.
Dessa forma, Thompson (2002) lembra que para se apropriar de uma nova
mensagem é preciso torná-la própria, incorporando à sua vida, dentro dos contextos
e circunstâncias em que se vive.
Alguns meios ainda chegam com mais facilidade e poderiam oferecer um
papel determinante na disseminação de informação para a agricultura familiar.
Deve-se destacar como exemplo o rádio, presente em mais de 90% dos lares
brasileiros. Otriwano (1985) aponta outras características do rádio como veículo, que
afirma ser o mais popular e de maior alcanceblico. Ela lembra que, muitas vezes,
o único a levar informações para populações que vivem em locais mais
distantes", o que reforça a idéia com relação ao pequeno produtor rural. A autora
86
também destaca a questão da linguagem oral, que dispensa maiores
conhecimentos da linguagem escrita, tornando o rádio viável para as pessoas mais
simples. Assim, permite que seja ouvido enquanto o produtor desenvolve outras
atividades. Defleur e Ball-Rokeach (1993) dizem que as pessoas podem ouvir o
rádio enquanto estão fazendo uma série de outras atividades.
Mas isso não descarta outras possibilidades, como da televisão e da mídia
impressa, essa ainda como um desafio, que pode ser alcançado, desde que com
uma linguagem e utilidade acessível ao agricultor familiar. Como destaca Coelho
Netto (2003, p. 127), “uma mensagem terá mais valor quanto maior for o número de
modificações que possa provocar”. Mas é preciso reconhecer o repertório do
receptor, para que ele entenda a mensagem de forma clara e útil. Guigou (1981)
salienta que o repasse de informações sem a linguagem adequada, sem que o
receptor entenda, não passa de letra morta. Também não para atrair de forma
agradável o ouvinte para as suas idéias.
O uso dos meios de comunicação pelo produtor rural tem sido objeto
freqüente de estudos nos últimos anos. Além de Boteon (2004), que estuda o
mercado de informação digital, outros trabalhos têm sido desenvolvidos. Entre eles,
Feliciano et al (2004) também analisam o impacto da tecnologia da informação, com
ênfase na agricultura familiar de Santa Catarina. A observação se concentra na
internet, mas faz levantamentos de campo interessantes de serem apresentados.
Feliciano et al (2004) destacam que nos países chamados desenvolvidos
muitas propriedades agrícolas atuam como empresas, usando várias técnicas de
trabalho, entre elas, de comunicação. No caso do Brasil, mais especificamente no
objeto de estudo deles - os pequenos produtores de Santa Catarina - uma questão
destacada é o isolamento de tal público. Feliciano et al (2004) consideram que o
conhecimento sobre o que se passa no meio em que atuam vai contribuir para o
desenvolvimento do agricultor. Portanto, para gerir qualquer negócio, na avaliação
dos pesquisadores, é preciso agregar conhecimento à atividade agropecuária. O
domínio da informação é essencial para o sucesso mercadológico, conforme
definem.
Por outro lado, Feliciano et al (2004) destacam que os geradores de
informação devem ter consciência de que o perfil atual, confiável e consistente, é a
chave para o êxito, tanto do emissor como do receptor das informações.
Feliciano et al (2004) trabalharam com informações de 463 associações de
produtores espalhadas por Santa Catarina. O estudo destaca o uso dos meios nas
87
associações, não propriamente nas propriedades. O rádio é utilizado diariamente
por 81,5% dos entrevistados (só 4% não o utilizam como fonte de informação); a TV
é usada diariamente por 83,9% para informação e 4,5% nunca usam com este fim.
Do total, 71,5% usam antena parabólica, por conta do sinal de TV ser ruim. Isso
compromete, no que diz respeito às informações estaduais e locais, de acordo com
os autores. Considerando ainda as associações, 25% usam jornais, mas 10%
diariamente. Em 25,3% se usa a internet e 94,5% utilizam informações dos técnicos
extensionistas.
Feliciano et al (2004) destacam os seguintes tipos de informação mais
utilizados: preços, 22,2% diariamente e 25,2% semanalmente; notícias do setor
agrícola são usadas por 93,5%, sendo 38,6% diariamente, 25,9% semanalmente e
19% eventualmente; indicadores econômicos o são usados por 30,8%, 23,2%
buscam diariamente, 8,4% semanalmente, 29,8% eventualmente. Para a previsão
do tempo, o rádio é considerado o meio mais eficiente entre as associações de
produtores pesquisadas em Santa Catarina.
De acordo com Feliciano et al (2004), o planejamento da safra é feito
mensalmente por 15,9% das associações e 42,4% o fazem eventualmente,
enquanto que 36,3% dos entrevistados não planejam. A pesquisa detecta que os
agricultores buscam as informações que lhes convêm (pelo menos aqueles que têm
acesso) na medida em que lhes surgem as necessidades. Os autores acreditam
que, com o hábito mais freqüente, poderiam ter subsídios no momento de tomar
decisões.
A fundamentação teórica apresentada no presente capítulo demonstra que a
comunicação é um fator central na formação individual e social. Ela está presente
no cotidiano de todas as pessoas, sejam do meio urbano ou rural. Não é possível
pensar em relações sociais sem se comunicar e estar informado sobre o que
acontece no ambiente próximo e distante. É preciso ter um entendimento crítico
sobre os processos midiáticos e especialmente no trânsito da mensagem entre
emissores e receptores. A recepção, por sinal, é um espaço bem mais complexo do
que o simples recebimento de informações. Diversos fatores, como cultura, o
espaço em que as pessoas vivem e as inter-relações pessoais são elementos que
interferem no que as pessoas fazem com os produtos da mídia.
O objeto do presente trabalho está exatamente nas relações entre a
comunicação e o agricultor familiar. O público estudado tem uma ligação especial
com o ambiente em que vive e depende de apoio, oficial ou não, para sua
88
manutenção no campo. Dessa maneira, a comunicação feita a eles precisa
reconhecer tais fatores, fugindo de um modelo simplesmente difusionista e
oferecendo um agendamento que seja de entendimento e utilidade para o público
em questão. Por outro lado, o que se na produção midiática é uma atividade
desenvolvida através de vários elementos de interferência, como linha editorial,
aspectos mercadológicos e impressões do jornalista e do veículo, em que pese toda
lógica defendida da imparcialidade. Todos esses aspectos formatam a comunicação
rural, especialmente no que é oferecido como produto final. Assim,m uma relação
direta com a maneira como o pequeno produtor rural utiliza as informações a que
tem acesso.
89
CAPÍTULO 3
CONSUMO DA MÍDIA NA AGRICULTURA FAMILIAR PONTA-GROSSENSE
Considerando a importância dos processos de comunicação no
desenvolvimento de qualquer atividade humana, defendida pelos autores estudados
nos capítulos anteriores, foi feita a pesquisa empírica, a campo, para analisar de
que maneira o agricultor familiar de Ponta Grossa usa os produtos de mídia como
ferramenta de trabalho. Alguns aspectos, como o êxodo rural e renda, não foram
questionados junto aos entrevistados, uma vez que se optou pela utilização de
fontes documentais, como o IBGE (1998) e Emater (2006), que apresentam tais
resultados.
A metodologia de coleta de dados utilizada foi o formulário, com questões
abertas e fechadas. Gil (1989) diferencia formulário de questionário. Para ele,
questionário é um conjunto de perguntas e respostas feitas por escrito pelo
pesquisado. no formulário, o pesquisador organiza questões previamente
elaboradas e anota as respostas. Dessa forma, o instrumento utilizado é o segundo,
de acordo com o autor.
Foram entrevistados, via formulário, 60 produtores rurais que se encaixam
nos conceitos apresentados na presente dissertação, que definem como
agricultores familiares aqueles que produzem para o consumo e geração de renda,
mas com uso quase que exclusivo da mão-de-obra familiar, contando
esporadicamente com a ajuda de terceiros, como diaristas, na colheita ou plantio.
Os agricultores ouvidos também estão situados dentro das características da Lei
11.326/06 (BRASIL, 2006), que reafirma as questões anteriores e ainda limita a área
em quatro módulos fiscais. Como o módulo de Ponta Grossa é de 12 hectares, o
limite máximo de caracterização por área de agricultor familiar, no município, é de
48 hectares para ser considerado um agricultor familiar, segundo a lei citada. a
Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB) considera o limite
de 50 hectares para enquadramento nos programas de geração de renda e
aplicação de recursos (PARANÁ, 1996). No trabalho, foi adotado o limite de 50
hectares devido ao último Censo Rural (IBGE, 1998) apresentar segmentações em
números redondos, o que impossibilitaria a opção por 48 hectares para efeito de
recorte do público.
90
Ponta Grossa conta com 1671 propriedades rurais, sendo 1137 com até 50
hectares, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
de 2000, sendo esse o total estimado de agricultores familiares, ou seja, de famílias
que vivem nessas propriedades. Gil (1989) explica que, independente do
instrumento utilizado para o levantamento dos dados, o primeiro passo é selecionar
indivíduos pertencentes ao grupo que se pretende estudar. É necessário que eles
sejam típicos em relação ao universo pesquisado. Foram ouvidos 60 produtores,
que representam pouco mais de 5% do total do universo, que é o todo da população
estudada, segundo Richardson (1989). Foi feita, então, uma amostragem
probabilística estratificada. Conforme Richardson (1989), a partir dela, dividindo em
grupos, é possível reduzir o universo para o estudo. De acordo com Gil (1989),
"amostragem estratificada, caracteriza-se pela seleção de uma amostra de cada
subgrupo da população considerada". Os produtores entrevistados também
representam uma estratificação, na medida em que apresentam algumas
características sócio-econômicas homogêneas, como ser agricultores familiares, de
acordo com o que defende o autor.
Para que os resultados fossem mais próximos da totalidade, ainda foi seguida
a idéia de Richardson (1989), dividindo o grupo de acordo com a área, em nova
estratificação, por subgrupos. Dessa forma, chegou-se à conclusão que, do universo
total de agricultores familiares, 540 têm sítios ou chácaras com área de até 5
hectares; 138 vivem e trabalham em propriedades de 5,1 a 10 hectares; 200 estão
em áreas de 10,1 a 20 hectares e 259 contam com propriedades de 20,1 a 50
hectares. Os 60 formulários foram distribuídos de maneira a obter proporcionalidade
igual, ouvindo 25% de cada estrato, chegando à totalidade de 100%. Sendo assim,
foram ouvidos 29 produtores familiares do primeiro grupo (até cinco hectares), sete
do segundo grupo (5,1 a 10 hectares), 10 do terceiro (10,1 a 20 hectares) e 14 do
quarto (20,1 a 50 hectares). Observou-se que uma aproximação na forma de
produzir e escolha de produção de acordo com o tamanho da área, podendo-se
encontrar mais olericultura nas pequenas áreas e mais lavouras de grãos nas
"grandes" propriedades, por exemplo.
Gil (1989) diz que é importante saber se a pessoa tem conhecimento
suficiente para responder as perguntas. Partindo de tal conceito, os produtores
entrevistados preenchem as características, uma vez que reconhecem o espaço em
que atuam, ou seja, a atividade e o meio rural.
91
Finalmente, foram observadas variáveis que pudessem apresentar diferentes
aspectos e segmentar mais uma vez o universo observado. Richardson (1989) diz
que as variáveis permitem especificar o grau pelo qual os diferentes aspectos estão
relacionados, permitindo um entendimento pelo qual elas estão operando. O autor
explica que deve ser utilizado quando o pesquisador quer obter melhor
entendimento do comportamento de diversos fatores e elementos que influem em
determinado fenômeno. Dessa forma, as questões específicas de comunicação
foram cruzadas com outras divisões: por idade dos entrevistados, pelo fato de
sempre ter trabalhado na lavoura ou não, expansão ou redução da propriedade,
grau de escolaridade e entendimento da atividade atualmente. O objetivo foi
observar se esses aspectos, de alguma maneira, influenciam no comportamento do
fenômeno. Algumas fogem das segmentações especificamente econômicas e
buscam novas relações, como a faixa etária, grau de escolaridade ou o tempo de
vivência no campo.
Os formulários foram elaborados com 25 questões
15
, sendo cinco abertas e
as demais fechadas. O levantamento feito é quantitativo e qualitativo, partindo do
conceito de Richardson (1989). Para o autor, o método quantitativo caracteriza-se
pelo emprego da quantificação na coleta e tratamento dos dados. Pode ser aplicado
para descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como na investigação da
relação de casualidade entre os fenômenos. Richardson (1989) explica que os
estudos quantitativos são utilizados em métodos descritivos de uma situação ou
grupo, para investigar o que é e as características de um fenômeno, a opinião ou
atitude de determinada população em uma situação. Assim, o levantamento oferece
características quantitativas, uma vez que busca tais levantamentos.
Ainda segundo Richardson (1989), a pesquisa com os agricultores familiares
de Ponta Grossa também pode ser considerada qualitativa, na medida em que
apresenta perguntas abertas e observação de variáveis importantes para determinar
os fatores que levaram ao resultado final. O autor diz que, na pesquisa, se faz
necessária uma observação qualitativa que mostre a atitude de indivíduos em um
contexto mais amplo. O autor reforça que mesmo nos estudos que adotam
características essencialmente quantitativas podem apresentar aspectos
qualitativos.
O questionário, ou formulário, como prefere Gil (1989), foi formado de
maneira a reconhecer a realidade social e histórica do objeto estudado. Também
15
Modelo do formulário de coleta de dados consta no apêndice A.
92
teve objetivo de saber qual é a representação que eles têm da atividade em que
atuam. Finalmente, as perguntas buscaram respostas para a relação dos
agricultores familiares com os meios de comunicação.
Richardson (1989) explica que os formulários cumprem duas funções, pelo
menos: descrever as características e medir as variáveis dos grupos sociais. Podem
ser classificados como sendo de perguntas fechadas, perguntas abertas e que
combinam ambos os tipos, como foi o modelo escolhido. As questões abertas
seguiram as características que o autor define como não estruturadas ou de
profundidade. O objetivo é obter do entrevistado o que ele considera relevante em
determinado problema. Segundo Richardson (1989), pretende-se obter informações
detalhadas que possam ser utilizadas em uma análise qualitativa.
As questões de reconhecimento da realidade do produtor serão usadas
também como forma de descrever o fenômeno, no qual, para Gil (1989), o
primordial é descrever determinadas características da população ou fenômeno.
São incluídas nesse grupo as pesquisas que pretendem levantar as opiniões,
atitudes e crenças de uma população; descobrir a existência de associações entre
variáveis, como a relação entre atitude ou preferência com a renda e determinar a
sua natureza. As pesquisas também serão explicativas, o que, para Gil (1989),
identifica fatores que contribuem para a ocorrência do fato estudado.
O formulário também foi formatado no sentido de responder aos objetivos da
dissertação, como orienta Gil (1989). Nesse caso, buscou-se observar se o
agricultor familiar de Ponta Grossa faz uso dos meios de comunicação de massa
como ferramenta na busca de informações que possam nortear a atividade rural. Os
objetivos específicos foram observados em questões que levantam os tipos de
informação e temas que o agricultor familiar ponta-grossense quer encontrar; quais
os meios de comunicação que utiliza e o que busca na mídia; foi observada a
possível aplicação da informação na cadeia produtiva do agricultor familiar e
verificado se o pequeno produtor considera que estar bem informado é importante
para a produção rural e melhoria das condições de vida.
A opção principal, neste estudo, foi por uma distribuição homogênea por
tamanho de área, aspecto que norteou a aplicação do formulário. Ainda assim,
houve a preocupação em abordar as variáveis acima e mais duas: localização e
gênero, embora, nesses casos, sem uma estratificação perfeita, o que tornaria o
trabalho quase inviável dentro da disponibilidade de tempo e recursos técnicos.
93
Estas observações o o apresentadas como forma de análise de variáveis,
mas tamm ajudam em uma maior distribuição do estrato entrevistado.
Ainda assim, foi conseguido abordar produtores de 23 localidades de
Ponta Grossa, sendo 10 da rego do distrito do Guaragi, 11 do Roxo Roiz, 13 da
região que engloba localidades como Uvaia, Periquitos e Boina; cinco do
Taquari, sete do distrito de Itaiacoca, nove dos arredores da zona urbana do
munipio e cinco das localidades de Santa Cruz e Sutil. Foram entrevistados
pequenos produtores de praticamente todos os extremos geogficos rurais de
Ponta Grossa.
No caso de nero, sem ser proposital, responderam aos formulários 44
homens e 16 mulheres. A entrevista ocorreu no contato com as famílias, onde, na
maioria dos casos, foi entrevistado quem atendeu, o marido ou a esposa. A
presença feminina poderia ser maior, mas em rias ocasiões, quando a esposa
atendia, preferia passar para o marido, dizendo que ele é que sabia falar sobre a
propriedade e formas de produção. A maior parte das entrevistas ocorreu nas
propriedades, mas, em alguns casos, foram aproveitados encontros de
produtores e atividades urbanas, como a comercializão em feiras para os
contatos.
Os formulários preenchidos foram inicialmente divididos dentro das
varveis por tamanho de área. Mas os resultados finais que mais interessaram
para análise foram das respostas globais. As segmentações serviram,
principalmente, para garantir uma participação percentual próxima entre os
agricultores familiares de diferentes tamanhos de área. Ainda assim, embora o
sendo um propósito central, são apresentadas as respostas percentuais por
grupos. A mesma lógica foi obedecida para os demais cruzamentos de varveis.
Feita a divio, o primeiro tratamento dado foi do levantamento estatístico
(percentual) de cada resposta, com o objetivo de conhecer quais eram as
respostas que apareciam e em que freência. Depois de obtidas as
informões, as questões passaram por uma avaliação qualitativa de observação
do que foi respondido, o que aparece nas análises de cada uma das questões
separadamente e na conclusão do trabalho, de forma global. A avaliação
qualitativa se , nesse caso, não apenas na obviedade dos números, mas na
observão do pesquisador, que diferencia, muitas vezes, uma obra de outra,
como destaca Queiroz (1992). Nesse aspecto, as observões apresentam
grande grau de subjetividade do autor.
94
A pesquisa realizada em Ponta Grossa apresentou resultados próximos
àqueles encontrados em Santa Catarina, com difereas de percentuais
(FELICIANO et al, 2004). Rádio e TV estão presentes em 96,7% dos lares dos
produtores entrevistados no município, desses 66,6% disseram que optam pela
TV e apenas 15,5% pelo rádio na busca por comunicão rural. Outro detalhe é
que, enquanto em Santa Catarina, 71,5% usam parabólica, em Ponta Grossa o
índice cai para 50%. A diferença se deve, provavelmente, pelo fato da pesquisa
mais ampla de Feliciano et al envolver também municípios pequenos, onde o
sinal de TV é mais deficitário. Também podem pesar varveis econômicas.
3.1 PERFIL DO AGRICULTOR FAMILIAR PARTICIPANTE DA PESQUISA
3.1.1 Faixa etária
Do universo total de pequenos produtores entrevistados, 16,7% m a 35
anos (10 produtores), 48,3% têm entre 36 e 50 anos (29 produtores) e 35%
acima de 50 anos de idade (21 produtores). Observa-se, portanto, um maior
presença de pessoas do grupo de idade intermediária na posição de comando da
propriedade, sejam homens e/ou mulheres.
3.1.2 Origem dos agricultores
Entre estes agricultores, 73,3% sempre viveram e trabalharam no meio
rural, enquanto que 26,7% são provenientes do meio urbano ou pessoas que
deixaram a atividade agropecuária por um tempo, foram tentar a sorte na cidade
e, depois de alguns anos, retornaram. O tempo de experiência como produtores,
nesse caso, varia entre seis anos (o nimo encontrado) e 30 anos (ximo
entre aqueles que não estiveram sempre no meio rural). Foi observado que,
dentro desse universo, uma relação muito forte da cidade com o campo.
Apenas um dos agricultores que veio da cidade disse não ter nenhuma relão
familiar anterior com o meio rural.
Nota-se que, dentro do universo pesquisado, os produtores com maior
área apresentam índice mais elevado de pessoas que sempre estiveram ligadas
à atividade agropecuária. Dos 10 agricultores com área entre 10,1 e 20 hectares,
oito (80%) sempre viveram e trabalharam no campo e dos 14 com mais de 20,1
95
hectares, apenas um veio da cidade, o que um percentual de 92,8% de
produtores originários da área rural. entre aqueles que têm a cinco hectares,
o percentual cai para 69% que sempre viveram no campo, contra 31% que
vieram ou estiveram no meio urbano, o que significa 20 pessoas contra 9,
respectivamente. Entre os sete agricultores familiares com área de 5,1 a 10
hectares, a queda é ainda maior, que quatro deles foram da cidade para o
campo, ou 57% contra 43% que sempre viveram no meio rural.
3.1.3 Ascendência dos entrevistados
Outra questão que expressa uma forte tradição familiar com o meio rural diz
respeito à presença de familiares no campo. De todos os entrevistados, 66,6% (o
que representa 40 pessoas) disseram que os pais e avós paternos e/ou maternos
também eram produtores. Apenas quatro (6,6%) afirmaram que os pais vinham
da atividade rural, outros quatro (6,6%) apontaram os avós como sendo agricultores,
mas os pais não, e cinco (8,3%) declararam que nem pais nem avós eram do meio
rural.
O tamanho de área não apresentou grande interferência nesse aspecto, uma
vez que 75,8% daqueles produtores com até cinco hectares são filhos e netos de
produtores, enquanto que 71,4% dos que contam com mais de 20,1 hectares
também são. Entre os agricultores familiares com área entre 10,1 e 20 hectares, o
índice de pais e avós também do meio rural ficou um pouco acima, registrando 80%.
Apenas entre aqueles com área de 5,1 a 10 hectares (sete produtores) é que o
percentual se distanciou, chegando a 100%.
A questão pode demonstrar que, mesmo com todas as dificuldades, o campo
ainda apresenta forte tradição de continuidade da atividade e forma de vida,
passando de pai para filho, reforçando as afirmações de Solari (apud MARTINS,
1981), que diz que o campo apresenta maior mero de filhos que seguem a
profissão dos pais do que a cidade.
3.1.4 Aquisição da propriedade
Mais um aspecto levantado que apresentou forte relação à tradição familiar,
foi a origem da propriedade. As repostas dadas mostraram que 63,3% (38
agricultores) receberam a terra em que vivem e trabalham de herança, ou disseram
96
que pertence à família, pelo menos desde a geração anterior, enquanto que 36,7%
(22 produtores) trabalham em uma área que não era da família.
Dividindo por tamanho de área, 55% dos produtores familiares com até cinco
hectares estão em propriedades recebidas por herança ou pertencentes à família
mais de uma geração; entre os agricultores de 5,1 a 10 hectares o índice é menor,
cai para 43% e é maior entre aqueles com mais terras, chegando a 90% dos
enquadrados entre 10,1 e 20 hectares e a 71% dos que têm mais de 20 hectares.
3.1.5 Número de componentes do grupo familiar
A pesquisa apontou que 35% dos grupos familiares abordados contam com
mais de cinco pessoas, outros 13,3% têm cinco membros, 20% contam com quatro
pessoas, 18,4% com três e 13,3% com duas. Foi perguntado quantas pessoas
viviam na propriedade, não considerando, portanto, filhos que moram na cidade ou
mesmo em outra área. Por outro lado, outros membros, como irmãos, sobrinhos,
pais, etc. que vivem na propriedade e participam dos trabalhos foram considerados,
uma vez que a idéia era ver, exatamente, a capacidade de absorção e sustento das
unidades familiares.
Dos 29 estabelecimentos com até cinco hectares, nove contam com mais de
cinco pessoas, sendo o maior índice, o mesmo acontece com aquelas com mais de
20 hectares, onde a metade (sete) têm mais de cinco membros. Em todos os outros
grupos uma divisão homogênea entre aquelas de duas a cinco pessoas. Por
esse quadro, pode se observar que no universo pesquisado não uma presença
muito elevada de grandes grupos familiares no estabelecimento, na atualidade, uma
vez que a maioria delas (65%) tem até cinco membros.
Todos os primeiros aspectos mostram que a maior parte dos produtores
entrevistados tem origem no meio rural, sempre trabalhou na atividade e é filho e
neto de agricultores. A propriedade em que vive, geralmente, era da família e,
portanto, representa uma continuidade no enraizamento regional.
97
3.2 FORMAS DE TRABALHO E PRODUÇÃO ADOTADAS
3.2.1 Mão-de-obra utilizada
Em 66,7% das propriedades analisadas o trabalho é feito apenas pelos
familiares, outras 33,3% usam trabalho temporário, principalmente na colheita.
Alguns também lançam mão desse artifício no plantio. O índice de utilização de
apenas a o-de-obra da família é maior nos estabelecimentos menores. No caso
daqueles com até cinco hectares, esse serviço representa 72,4%, já nas
propriedades do grupo de 5,1 a 10 hectares o índice é ainda maior, chegando a
85,7%. Nas propriedades com mais de 20 hectares a não utilização de mão-de-
obra externa ocorre em 64,3% dos casos analisados. nas propriedades de 10,1 a
20 hectares, apenas 40% disseram que trabalham com mão-de-obra familiar.
A questão do trabalho, portanto, demonstra que os produtores entrevistados
se enquadram nos conceitos apresentados de agricultores familiares, tanto os
oficiais como dos autores estudados.
3.2.2 O que produz
Os produtores participantes da pesquisa estão de acordo com os
levantamentos do censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) (1998), da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Emater-PR) (2006) e do Departamento de Estudos Sócio-
Econômicos Rurais (Deser) (2001), que dizem que a agricultura familiar é
responsável pela produção da maior parte dos alimentos consumidos no país. Os 60
agricultores familiares entrevistados apresentam uma grande diversificação na
produção agropecuária. Foram citadas 22 culturas diferentes, entre aquelas com
representatividade no estabelecimento. Não foram consideradas pequenas
atividades, como pomares caseiros e hortas, o que poderia ampliar ainda mais o
leque.
A tradição histórica, observada desde a ocupação do Sul do Brasil, pode ser
percebida na pesquisa, uma vez que o milho ainda é a principal cultura, estando
presente em 46,6% das propriedades, sendo mais representativo nas áreas com até
cinco hectares (21%) e naquelas com mais de 20 hectares (16,6%). Em segundo
98
lugar aparece a olericultura, presente em 35% das propriedades, sendo mais
freqüente naquelas com até cinco hectares. Das 21 unidades familiares que
produzem verduras, 14 são desse grupo.
Também merecem destaque a cultura do feijão, cultivada por 26,6% dos
entrevistados e a fruticultura, presente em 20% dos casos. Foram citados ainda os
cultivos de mandioca, abóbora, brotos, arroz, fumo, reflorestamento e trigo, todas
culturas presentes em apenas uma propriedade, cada.
Um produtor destacou também a suinocultura, dois criam frango de corte,
dois criam perus, dois têm gado de corte, um conta com caprinocultura e outro tem
piscicultura. O leite é encontrado em cinco propriedades e o mel em uma. Dois
pequenos agricultores disseram que trabalham com agroindústria (doces e geléias
de frutas) e outro vive do aluguel de pastagem.
Dos 60 entrevistados, 23 (38,3%) atuam com a monocultura (apenas uma
atividade) em suas áreas, contrariando a idéia de autores como Schneider (2003) e
Veiga (2001), que defendem a necessidade de diversificação para a viabilidade da
pequena propriedade rural.
Foi constatado que nas menores áreas, com menos de cinco hectares, se
encontram mais atividades alternativas, como a olericultura, presente em 14 das 29
propriedades, e a fruticultura, em seis. Ainda assim, 13 desses produzem milho e
oito, feijão. Entre os 14 que têm mais de 20 hectares, a prioridade é para a
produção de grãos, aproximando-se mais da opção de médios e grandes
produtores, sendo que 10 deles produzem milho em larga escala e quatro plantam
também feijão. Sete produtores que plantam soja (11,6%) pertencem a esse grupo.
Do total de entrevistados, 32 (53%) produzem para a comercialização, 21
(35%) para venda e consumo e sete (12%) apenas para consumir na propriedade.
No último caso, a renda familiar vem de fontes diversificadas, como artesanato,
trabalho fora da propriedade ou aposentadoria. Nas áreas de até cinco hectares,
dos 29 agricultores entrevistados, 13 plantam para vender, seis para o consumo e
10 vendem e consomem os produtos. Nos estabelecimentos de 5,1 a 10 hectares,
cinco produzem para vender, um para o consumo e outro para consumir e
comercializar. Nas áreas acima de 10 hectares, ninguém produz para o consumo
interno. No caso daquelas com área de 10,1 a 20 hectares, quatro só vendem e seis
vendem e consomem. entre os agricultores familiares que têm mais de 20
hectares, 10 trabalham para comercializar e quatro também para o consumo. É
nessas áreas que se encontram principalmente as produções de grãos.
99
A mandioca, embora representativa nacionalmente, conforme demonstrado
na análise de conjuntura, é inexpressiva entre os agricultores entrevistados. o
milho confirma os dados conjunturais e aparece, ainda, como uma cultura
tradicional. Prado Júnior (2003) e Priore e Venâncio (2006) demonstram que a
cultura é histórica no Sul. Gonçalves e Pinto (1983) destacam também que no início
do século XX o milho e o feijão tinham destaque em Ponta Grossa. As culturas,
de acordo com a pesquisa, não perderam espaço.
PRINCIPAIS
CULTURAS %
Milho 46,6%
Olericultura 35%
Feijão 26,6%
Fruticultura 20%
Soja 11,6%
ORIENTAÇÃO DA
PRODUÇÃO %
Para o comércio 53%
Consumo 12%
Comércio e consumo 35%
QUADRO 7 – Principais culturas e orientação dos produtores sobre o que produzir
3.2.3 Tecnologia adotada
No aspecto das tecnologias utilizadas pelos agricultores familiares,
buscou-se saber como eles trabalham atualmente com as lavouras. O
objetivo foi observar até que ponto as técnicas "modernas" estão presentes
na atividade e quais os focos de tradição que persistem. As respostas
encontradas não fecham 100% do universo, uma vez que, em muitas
questões, como na forma de tração utilizada, alguns citaram mais de um
sistema.
A mecanização é uma realidade perceptível. Apenas oito utilizam
tração animal no plantio da lavoura, sendo que cinco estão entre os
agricultores com até cinco hectares e um tem mais de 20 hectares de área
total. Já o plantio ou colheita mecânica é feito por dois terços (40). Disseram
que usam trator, mesmo que de baixa potência, 15 dos 29 produtores com
até cinco hectares, três dos sete que têm área de 5,1 a 10 hectares, todos os
10 com propriedade de 10,1 a 20 hectares e 12 dos 14 com mais de 20
hectares. Os números são diferentes daqueles apresentados pela Empresa
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) (2006),
100
que indicam 50% dos pequenos produtores de Ponta Grossa utilizando tração
animal e 22% com mecânica.
O plantio ou manejo manual é registrado em 26 propriedades. É
importante ressaltar que estão incluídas atividades como a fruticultura e
olericultura, onde se trabalha em várias etapas sem o uso de maquinários.
Nesse aspecto, há predominância dos menores estabelecimentos, com
menos de cinco hectares, onde 15 dos 29 entrevistados utilizam tal prática.
O uso de defensivos agrícolas e adubação também foram citados como
práticas adotadas por 40 entrevistados. Foram considerados inclusive os que
trabalham com produção orgânica, que contam com adubos orgânicos e
defensivos naturais. O menor índice de adoção está no grupo de até cinco
hectares, onde 13 dos 29 produtores disseram que usam algum desses
produtos. Fazem uso todos os sete do grupo de 5,1 a 10 hectares, oito dos
10 que têm entre 10,1 e 20 hectares e 12 dos 14 com mais de 20 hectares.
A correção de solos é encontrada em 39 estabelecimentos. Está
presente em 14 das 29 propriedades com até cinco hectares, em cinco das
sete de 5,1 a 10 hectares, em oito das 10 de 10,1 a 20 hectares e em 12 das
14 com mais de 20 hectares.
Entre aqueles que trabalham com lavouras, 37 utilizam sementes
selecionadas (adquiridas no mercado) e 23 plantam sementes próprias,
retiradas de uma classificação de produções anteriores. Dos 29 entrevistados
com até cinco hectares, 13 usam sementes selecionadas e 13 plantam
sementes próprias; entre os sete com área de 5,1 a 10 hectares, seis optam
por selecionadas e um por próprias; do grupo de 10,1 a 20 hectares, sete
têm selecionadas e três próprias e dos 14 com mais de 20 hectares, 11 usam
sementes selecionadas e seis plantam sementes próprias.
Os dados mostram um uso elevado de muitas tecnologias entre os
produtores entrevistados. Lefebvre (1981) afirma que os produtores rurais
estão mais próximos da cidade e intimamente ligados a novas tecnologias.
Buainain, Romeiro e Guanziroli (2003) destacam ainda que, ao contrário do
que é apregoado, os pequenos produtores utilizam muitos insumos
adquiridos no mercado. Os fundamentos teóricos parecem ser confirmados,
então, na presente pesquisa.
101
TECNOLOGIA ADOTADA.............................................TOTAL DE PRODUTORES
Tração mecânica...................................................................................................4 0
Tração animal..........................................................................................................8
Plantio manual....................................................................................................... 26
Defensivos e adubação.........................................................................................40
Correção de solos..................................................................................................39
Sementes selecionadas......................................................................................... 37
Sementes crioulas................................................................................................. 23
QUADRO 8 – Tipos de tecnologias que os produtores utilizam na propriedade, entre
os 60 entrevistados
3.2.4 Assistência técnica
A orientação profissional está presente na maioria dos estabelecimentos
analisados. Dos 60 entrevistados, 36 (60%) disseram que têm algum tipo de
assistência técnica e 24 (40%) afirmam não contar com nenhuma orientação na
atividade. No grupo de até cinco hectares 41,4% não têm assistência e 58,6% sim.
Entre aqueles com área de 5,1 a 10 hectares, 57,1% não têm e 42,9% têm. Das
propriedades de 10,1 a 20 hectares, 90% contam com assistência técnica e
naquelas com mais de 20 hectares, a orientação de um técnico ou agrônomo está
presente em 78,6% do total.
Entre os 36 agricultores familiares que disseram contar com assistência
técnica, 10 falaram que têm orientação do quadro da Secretaria da Agricultura da
Prefeitura, nove citaram a Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Emater-PR), 11 falaram que contam com os trabalhos de profissionais de
cooperativas ou associações e 12 são atendidos por particulares. Embora a maioria
tenha assistência (60%), pouco mais da metade, ou 19 agricultores, afirmaram que
ela é regular, ou seja, em todos os momentos necessários. Nesse caso, os
números, que num primeiro olhar parecem elevados, ficam aquém do ideal.
Também em termos comunicativos e de formação da opinião, o técnico deixa de ser
um agente tradicional para esses agricultores sem assistência.
102
3.2.5 Utilização de crédito agrícola
O custeio da atividade é feito, primordialmente, com recursos próprios. Dentro
do universo entrevistado, 58,3% não fazem uso de crédito agrícola público ou
privado, contra 41,7% que disseram se utilizar de dinheiro emprestado. O Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é o mais usado. Quem
mais conta com crédito agrícola é o produtor que tem mais de 20 hectares: 71,4%
do total dos entrevistados do grupo, e quem menos usa é o grupo de até cinco
hectares: 79,4%. Também no grupo de 5,1 a 10 hectares prevalecem os recursos
próprios, com 57,1%. nos estabelecimentos com área de 10,1 a 20 hectares,
60% tomam dinheiro emprestado e 40% disseram que não.
O fato de quanto maior a área, mais se usar crédito agrícola se deve,
principalmente, ao custeio das lavouras comerciais de grãos, mais encontradas
nessas propriedades.
Resumindo essa parte da pesquisa, pode-se afirmar que, entre os
agricultores familiares de Ponta Grossa entrevistados, a maior parte trabalha sem
ajuda de terceiros em nenhum momento e também quase não conta com
assistência técnica, muito embora ela apareça em mais da metade das
propriedades, que não é regular. O uso de recursos próprios é uma prática
majoritária e as tecnologias comerciais estão bastante presentes nesses
estabelecimentos. Comprova-se, também, uma grande variedade de culturas, ainda
que prevaleça a tradição de produzir milho, e é significativa a olericultura nas
menores áreas.
3.3 REALIDADE ECONÔMICA E EDUCACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR
3.3.1 Nível escolar
Entre os 60 agricultores familiares entrevistados, 28 têm o primeiro grau
incompleto, 10 terminaram o primeiro grau, quatro têm o segundo grau incompleto,
12 o segundo grau completo, um produtor está cursando o terceiro grau e cinco
disseram que têm nível superior. Do total, 53 são casados. No caso dos cônjuges,
25 têm o primeiro grau incompleto, 10 têm o primeiro grau completo, quatro o
segundo grau incompleto, nove o segundo grau completo e cinco o terceiro grau
completo.
103
Portanto, a maior parte dos casais de agricultores familiares tem, no máximo,
o primeiro grau. Se somados aqueles que concluíram a primeira etapa com os que
não concluíram, o resultado mostra que 63,4% dos entrevistados não passaram do
primeiro grau. No caso dos cônjuges, o índice sobe para 66%.
NÍVEL ESCOLAR ENTREVISTADO CÔNJUGE
1º grau incompleto 46,7% 47,2%
1º grau completo 16,7% 18,8%
2º grau incompleto 6,7% 7,6%
2º grau completo 20% 16,9%
3º grau incompleto 1,6% 0%
3º completo 8,3% 9,5%
QUADRO 9 – Nível escolar dos produtores entrevistados e de seus respectivos
cônjuges, considerando que 53 disseram que são casados
3.3.2 Geração de renda na propriedade
Entre os 60 entrevistados, 24 (40%) disseram que alguma das pessoas
que vivem na propriedade trabalha fora, seja temporariamente ou em
emprego fixo. Nos outros 36 (60%) estabelecimentos, ninguém tem ocupação
externa. O maior índice de ocupação em atividade fora está nas pequenas
propriedades de até cinco hectares, representando 48,3%, ou seja, quase a
metade dos representantes do grupo. Dessas, sete têm o marido atuando
fora em algum momento, cinco a esposa e em sete, algum filho. Dois
entrevistados citaram outro morador. Já entre as propriedades de 5,1 a 10
hectares, 71,4% (5) apresentam alguém trabalhando fora, sendo duas com o
marido, uma com a esposa e duas com filhos. Nas unidades de 10,1 a 20
hectares, 100% (10) dos moradores trabalham apenas na propriedade e
naquelas com mais de 20 hectares, 35,7% (5) têm alguém que também
trabalha fora. Em duas é o marido; duas a esposa e em uma, um filho.
Na maior parte dos casos (41,6%) as pessoas que trabalham fora estão
ocupadas em atividades rurais, prestando serviços em fazendas ou
reflorestamentos de pinus. O documento "Perfil da Realidade Econômica
Municipal", da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Emater-PR) (2006), também demonstra grande presença de produtores
trabalhando em reflorestamentos. Cinco citaram esposa ou filha como sendo
professoras e três atuam no comércio. Também foram citados, uma vez
104
cada: empregada doméstica, construção civil, saúde, eletricista e mecânica.
Em quase todos os casos, conforme foi informado, a renda principal vem da
propriedade. A exceção fica por conta daqueles 12% que produzem apenas
para o consumo. Nesse caso, fica difícil quantificar, uma vez que há a renda
indireta da produção de alimentos, prestação de serviços para terceiros e
alguma venda de excedentes, além da presença de aposentados na família.
3.3.3 Situação atual do empreendimento
De todas as 60 propriedades envolvidas na entrevista, 45 (75%)
apresentam um quadro de estabilidade, não aumentando nem diminuindo
desde que está nas mãos do atual proprietário. Do total entrevistado, 10
(16,6%) disseram que aumentaram a área do estabelecimento rural e cinco
(8,3%) que diminuíram. Dificuldades financeiras foram os fatores que
causaram a retração.
Aqui, o quadro é muito próximo entre as estratificações, uma vez que
permanecem iguais 75,8% das propriedades com até cinco hectares, 71,4%
daquelas entre 5,1 e 10 hectares, 70% das que têm entre 10,1 e 20 hectares
e 78,5% das com mais de 20 hectares. Aumentaram 13,8% das propriedades
com menos de cinco hectares, 14,2% do grupo entre 5,1 e 10 hectares, 30%
das entre 10,1 e 20 hectares e 14,2% daquelas com mais de 20 hectares. A
redução foi apontada por 10,3% dos entrevistados com menos de cinco
hectares, 14,2% de 5,1 a 10 hectares e 7,1% com mais de 20 hectares.
Nenhum do grupo entre 10,1 e 20 hectares teve redução, segundo foi
constatado.
Resumindo, dentro da realidade educacional, observa-se que o nível
escolar dos produtores que estão no comando da propriedade, excluindo-se
os filhos, é baixo, já que mais de 60% dos homens e mulheres estudaram
apenas até o primeiro grau. Quanto ao quadro econômico, confirma-se que o
estabelecimento não é apenas o local de moradia, mas a principal fonte de
renda e sustento da família. De qualquer forma, a atividade não tem
permitido um progresso material em termos de expansão da propriedade para
a maioria dos entrevistados.
105
PROPRIEDADE %
Aumentou 16,6%
Diminuiu 8,3%
Permanece igual 75%
QUADRO 10 Situação do
empreendimento no período
em que pertence ao produtor
entrevistado
3.4 CONDIÇÕES ATUAIS E EXPECTATIVAS FUTURAS
Buscou-se saber também qual é a visão que o produtor familiar ponta-
grossense tem da atividade em que atua em termos capitais e das políticas voltadas
para o setor. Além disso, saber o que espera para seus filhos é outro indicativo que
possibilita entender o que ele pensa do trabalho na lavoura, hoje.
Foram apresentadas três opções de visão sobre a atividade na atualidade: se
é difícil sobreviver, se para sobreviver ou se consegue viver bem. Dos 60
entrevistados, 31 (51,7%) disseram que, na atualidade, está muito difícil sobreviver
na pequena propriedade; 21 (35%) acreditam que é possível sobreviver e nove
(13,3%) entendem que estão conseguindo viver bem.
Dos 29 entrevistados com área até cinco hectares, 17 acreditam que é difícil
sobreviver no meio rural, nove consideram que para viver e três que é possível
viver bem. Entre os sete que têm de 5,1 a 10 hectares, quatro dizem que está difícil
e três acreditam que dá para viver. No grupo com área de 10,1 a 20 hectares, quatro
dos 10 entrevistados afirmam que está difícil viver na pequena propriedade
atualmente, dois que para viver e quatro consideram que vivem bem. Finalmente,
entre os 14 com mais de 20 hectares, seis dizem que está difícil, sete afirmam que
dá para sobreviver e um que vive bem.
Nota-se que entre os que têm menor área, 58,7% com até cinco hectares e
57,1% de 5,1 a 10 hectares, são exatamente os que mais apresentam respostas
negativas com relação às dificuldades encontradas. E é no grupo de 10,1 a 20
hectares que se encontra o maior número de satisfeitos, 40%.
106
VISÃO DA ATIVIDADE
Acha difícil sobreviver 51,7%
Dá para viver 35%
Consegue viver bem 13,3%
QUADRO 11 Visão atual que o produtor
tem da atividade rural
3.4.1 Avaliação das políticas públicas
A visão dos agricultores familiares ponta-grossenses não é favorável aos
governos, ao menos na atualidade. De todos os entrevistados, 34 (56,6%)
consideram que as políticas públicas para a agricultura familiar são ruins, 15 (25%)
afirmam que são razoáveis e 11 (18,4%) que são boas. Na questão, foram
avaliadas pelos produtores, na maioria dos casos, as atuações dos executivos
federal, estadual e municipal, ainda que o último não fosse foco da pergunta.
É no grupo com área de até cinco hectares que se encontra o maior número
de satisfeitos, 24,2%. Mesmo assim, 48,2% consideram ruins e 27,6% razoáveis.
entre os que têm de 5,1 a 10 hectares aumenta a insatisfação, chegando a 57,1%
dos entrevistados. Outros 14,2% dizem que são boas e 28,6% razoáveis. No grupo
de 10,1 a 20 hectares o mesmo que tem maior grau de satisfação com as
condições de vida também está o maior equilíbrio na avaliação do governo, ainda
que 40% também achem as políticas públicas ruins. Outros 30% consideram
razoáveis e 30%, boas. entre os produtores com mais de 20 hectares é que se
concentra o maior grau de insatisfação, 85,7%. Apenas 14,3% declaram que são
razoáveis e nenhum aprova as políticas adotadas.
Vale ressaltar que as políticas de liberação de crédito, especialmente o
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) são os itens
aprovados e a burocracia para conseguir o dinheiro é reprovada, bem como o
estado ruim das estradas rurais. Nesse caso, uma crítica ao governo municipal.
Importante destacar ainda que os maiores produtores (que cultivam grãos) estão
descontentes com as políticas de câmbio que reduziram os preços de milho e soja,
entre outros. Também se observou que estão pessimistas por conta das condições
climáticas. As recentes secas causaram perdas e endividamentos nesse estrato,
que na maior parte usa crédito agrícola. Por isso adotam o mesmo discurso
contrário ao governo federal que é utilizado pelos grandes produtores rurais.
107
POLÍTICAS PÚBLICAS
São boas 18,4%
Ruins 56,6%
Razoáveis 25%
QUADRO 12 – Visão dos agricultores
familiares sobre as políticas públicas
3.4.2 O que espera para o futuro dos filhos
Dos 60 produtores que participaram da pesquisa, 49 têm filhos em idade
escolar. Desses, 27 (55,1%) querem que os filhos estudem, mas que continuem na
propriedade. Outros quatro (8,1%) declaram que estudar não é importante, mas os
filhos devem continuar no meio rural. Por outro lado, 15 (30,6%) entrevistados
avaliam que o melhor para os filhos é estudar e ir tentar a vida na cidade, enquanto
que três (6,2%) acreditam que estudar não é necessário, mas ir para a cidade sim.
No total, portanto, 42 produtores, ou 85,7%, dizem que o estudo é importante,
independente do fato de ficar no meio rural ou ir para a cidade.
Merece destaque o fato de que 12 de 24 entrevistados com área até cinco
hectares, declaram que o melhor é ficar na atividade rural e 12 consideram melhor ir
para a cidade. entre aqueles com mais de 20 hectares, 10 afirmam que é mais
viável ficar no campo e dois avaliam que é mais interessante ir viver na cidade.
De uma forma geral, portanto, mais da metade dos produtores tem
considerado difícil viver dentro da atividade rural na atualidade. Ao mesmo tempo,
as políticas públicas, apesar de ampliadas para a agricultura familiar nos últimos
anos, desagradam os entrevistados. Ainda assim, a maioria dos produtores acha
que a melhor opção para os filhos, é seguir a mesma vida deles, ou seja, continuar
trabalhando na agropecuária. Esses fatores são importantes para a avaliação da
necessidade de uma participação efetiva da comunicação no e para o meio rural.
EXPECTATIVA PARA OS FILHOS %
Que estudem e fiquem na atividade rural 55,1%
Não estudem e fiquem na atividade rural 8,1%
Que estudem e vão para a cidade 30,6%
Não estudem e vão para a cidade 6,2%
QUADRO 13 – O que os agricultores familiares
esperam para o futuro dos filhos
108
3.5 ACESSO DO PRODUTOR À INFORMAÇÃO
Procurou-se saber também qual é o acesso que o agricultor familiar tem
aos meios de comunicão. Quanto à disponibilidade, confirmou-se que o rádio e
a televisão são os veículos mais presentes na vida dos pequenos produtores.
Dos 60 entrevistados, 58 disseram que têm pelo menos um aparelho de rádio em
casa. O mesmo mero foi encontrado com relão à televisão. Mas a metade
dos agricultores entrevistados (30) utiliza antena parabólica. Eles alegam que o
sinal de TV é ruim para pegar na antena simples. Assim, ficam alheios às
informões do Estado, que a programação recebida é direta das emissoras
"caba de rede", a maioria instalada em o Paulo e Rio de Janeiro. Também
foi levantado que 30 propriedades (50%) contam com videocassete e 31 com
DVD.
a mídia impressa está pouco presente no cotidiano dos produtores
entrevistados. Apenas nove disseram que compram jornal ou revista
regularmente. Outros dois afirmaram que assinam. No caso de jornais ou revistas
específicos de assuntos da agropecuária, 12 disseram que compram ou recebem
com regularidade (no segundo caso, informativos de cooperativas ou
associações). Outro disse que assina uma revista agrícola. Assim, considerando
compras, distribuição gratuita ou assinatura, 18,3% dos pequenos produtores
dizem fazer uso da mídia impressa para informação geral e 21,6% para
informões do meio rural.
Outros 15 produtores (25%) disseram ainda que têm computador em casa
e 10 (16,6%) contam com internet. No caso do telefone convencional, está
presente em apenas 22 propriedades (36,6%), mas o telefone celular incluindo
celular fixo é uma realidade entre 41 (68,3%) dos 60 entrevistados. É
interessante destacar o número relativamente alto de agricultores familiares com
internet em casa, 16,6%. É bom lembrar que nos estudos de Boteon (2004),
apenas 4% do universo rural brasileiro tinha acesso à rede em 2003, incluindo
grandes propriedades. Mas, de maneira geral, a pesquisa demonstra que o
agricultor familiar, diferente do que ocorria há três ou quatro décadas, tem
acesso à tecnologia moderna presente no meio urbano. Uma casa de uma
pequena propriedade rural conta, ou pode contar, com tudo aquilo que se
encontra nos lares da classe média baixa das cidades.
109
VEÍCULOS %
Rádio 96,7%
Televisão 96,7%
Antena parabólica 50%
Jornais e revistas 18,3%
Impressos especializados 21,6%
Computador 25%
Internet 16,6%
Vídeo 50%
DVD 51,6%
Telefone convencional 36,6%
Telefone celular
68,30%
QUADRO 14 Acesso dos agricultores
familiares aos veículos de comunicação
3.6 UTILIZAÇÃO DOS PRODUTOS MIDIÁTICOS
Reconhecida a realidade dos agricultores familiares entrevistados, foram
feitas, então, oito perguntas diretamente ligadas aos objetivos deste projeto, ou seja,
que levantam o interesse pela comunicação como ferramenta de trabalho e decisão
na atividade rural. Três das perguntas, por se entender que de outra forma os
entrevistados podiam ser influenciados, foram abertas. Outras três, para ampliar as
respostas, foram elaboradas de forma mista, e duas fechadas.
Embora a estratificação central seja definida pelo fato de serem todos
agricultores familiares e selecionados percentualmente pela área, optou-se pelo
cruzamento com outras variantes em seis das oito perguntas. Foram, portanto,
analisadas as respostas por tamanho de área, entre aqueles que sempre viveram no
meio rural e quem veio da cidade; por ampliação, redução ou estabilidade da área;
nível escolar dos entrevistados, expectativa com relação às atividades rurais e por
idade. Os novos cruzamentos foram feitos com dois objetivos centrais de análise: o
primeiro deles para dar novas garantias nos resultados obtidos na divisão por
grupos e o segundo buscou avaliar possíveis relevâncias de outras variantes na
utilização dos produtos midiáticos.
110
Importante explicar que, no caso da faixa etária, foram formados três grupos,
sendo o primeiro até 35 anos; o segundo de 36 a 50 anos e o terceiro com mais de
51 anos. A opção coloca o primeiro grupo, na juventude, mais próximo da existência
da informática, ou seja, quando eram jovens havia tal recurso, ainda que, para os
mais velhos, de forma precária. Não quer dizer que eles tinham acesso às redes de
informação, mas elas existiam. o segundo grupo era jovem na época da
disseminação da televisão, que começa a ocorrer de forma mais acentuada nos
anos 1970, segundo Sodré, N. (2001). o terceiro grupo, grosso modo, não
contava com a televisão (ou muito pouco) quando era jovem.
Sem levar em consideração se tinham ou não tais equipamentos em suas
casas, entende-se, aqui, que uma divisão por faixa etária que estude comunicação,
poderia estar mais próxima do ideal da maneira como foi feita.
3.6.1 Acompanhamento de preços
O preço dos produtos tem sido um balizador de muitos agricultores para
saber a melhor hora de plantar ou vender a produção. No caso dos agricultores
familiares entrevistados, 61,7% disseram que acompanham os preços regularmente,
enquanto que 38,3% o o fazem de forma regular. Entre os produtores com até
cinco hectares, 55,2% acompanham o mercado; daqueles com área de 5,1 a 10
hectares o índice sobe para 71,4% do total; de 10,1 a 20 hectares, chega a 80% que
acompanham os preços; já no caso dos entrevistados que têm mais de 20 hectares,
o índice de acompanhamento novamente cai, chegando a 57,2% do total. Há,
portanto, menor interesse nos extremos, em se tratando de tamanho de área,
embora a maioria diga que acompanha.
O interesse pelos preços por faixa etária apresenta pouca variação. Dos 10
entrevistados com até 35 anos, seis disseram que acompanham preços e quatro
não; do grupo de 29 agricultores entre 36 a 50 anos, 17 acompanham e 12 não se
preocupam com o mercado; entre os 21 com 51 anos ou mais, 14 se interessam
por preços e sete não. Percentualmente, o interesse, por grupos, apresentou 60%,
58,6% e 66,7%, respectivamente. Constata-se que os mais velhos estão um pouco
acima no nível de interesse.
Considerando os 44 agricultores que sempre trabalharam no meio rural, 29
(65,9%) disseram que acompanham os preços e 15 (34,1%) não. Entre os 16 que
moraram na cidade, oito se interessam por informações de mercado e oito não.
111
Portanto, um interesse maior pelo mercado entre os produtores entrevistados
que sempre viveram no campo.
Dos 10 produtores familiares que tiveram aumento de área, quatro (40%) se
interessam por informações de preços e seis (60%) não. entre os cinco que
registraram redução de área, quatro (80%) buscam esse tipo de informação e um
(20%) não. São 45 agricultores que mantêm a área inalterada desde que estão na
propriedade. Desses, 29 (64,4%) acompanham preços e 16 (35,6%) não.
Exatamente entre aqueles que tiveram incremento de área é que estão os menos
interessados por informações sobre mercado agropecuário.
Quando divididos por nível escolar, percebe-se que o aprendizado pouco tem
influenciado no interesse de informações por mercado agropecuário, uma vez que
57,1% dos 28 com primeiro grau incompleto se interessam pelo assunto, 70% dos
10 que têm primeiro grau completo, 50% dos quatro que cursaram o segundo grau
sem terminar, 75% dos 12 que concluíram o segundo grau e 60% dos cinco
produtores com formação superior. O produtor que está fazendo curso de terceiro
grau disse que não busca informação.
na divisão por expectativa, 67,7% dos 31 que consideram que está difícil
viver na pequena propriedade se informam sobre preços. O índice cai para 47,6%
dos 21 que declaram que a propriedade permite sobreviver. Entre os oito que
afirmam que estão vivendo bem, 75% acompanham preços.
O veículo mais utilizado para se obter informações de mercado agropecuário
é a televisão, uma vez que 51,3% dos 37 entrevistados que acompanham o
mercado fazem uso do meio. O rádio aparece em segundo lugar, sendo citado por
43,2% dos entrevistados, depois o próprio comércio, lembrado por 27%. Fontes
orais, como vizinhos e compradores são utilizadas por 13,5% e as cooperativas e
associações por 5,4%. É importante ressaltar que a televisão aparece à frente do
rádio até porque o primeiro praticamente não oferece informações para o produtor
rural. Os meios impressos não foram citados, o que se justifica pelo fato de tais
veículos pouco serem utilizados entre os agricultores familiares.
Também é importante ressaltar que o conhecimento dos preços, feito por
61,7% dos entrevistados, serve para saber como está o mercado, mas pouco
influencia na decisão do que produzir, que, quando perguntados sobre como
tomam as decisões, os preços e comércio caem para 35% dos aspectos
importantes, como será visto mais à frente.
112
Se forem levados em consideração os maiores percentuais, chega-se a um
denominador que aponta os mais velhos acima de 50 anos como os que mais
buscam informações de preços. Também m maior interesse sobre o assunto os
produtores que sempre trabalharam na lavoura, os que têm entre 10,1 e 20
hectares, aqueles que sofreram redução de área, os que dizem que vivem bem na
pequena propriedade e agricultores com o segundo grau completo.
Assim, observando todas as variantes, o é possível traçar um perfil
específico de quem busca esse tipo de informação. para afirmar apenas que a
maioria (61,7%) dos entrevistados dizem que acompanham, mas pouco interfere
nas opções de produção.
Acompanha preços Não acompanha preços
37 produtores (61,7%) 23 produtores (38,3%)
QUADRO15 – Índice de agricultores que acompanham preços agropecuários
3.6.2 Interesse pelos produtos midiáticos rurais
Atualmente existem diversos programas jornalísticos de rádio, de televisão,
revistas, jornais e cadernos que tratam de assuntos ligados à atividade agropecuária
ou outros assuntos de interesse do meio rural. Entre os 60 agricultores de base
familiar entrevistados, 45 deles (75%) disseram que acompanham algum destes
noticiários, outros 15 (25%) afirmaram que não.
Daqueles com área de até cinco hectares, 82,7% afirmaram que
acompanham; dos agricultores com propriedade de 5,1 a 10 hectares, o índice é de
71,4%; daqueles de 10,1 a 20 hectares sobe para 80% e cai para 57,1% entre os
produtores com mais de 20 hectares, que são os que apresentam menor interesse
no uso da informação.
Todos os 10 produtores (100%) com até 35 anos acompanham noticiários
agropecuários, entre aqueles de 36 a 50 anos, são 23 (79,9%) dos 29 que se
interessam por notícias de seu meio. Para 12 dos 21 agricultores com mais de 50
anos o noticiário do mundo rural tem interesse, o que representa 57,2% do total.
Dos 44 agricultores que sempre viveram no meio rural, 34 (77,3%)
acompanham os noticiários. Dos 16 que vieram da cidade, 11 se informam sobre
atividades rurais, ou seja, 68,7%.
113
Na separação por crescimento ou redução observa-se que 70% dos 10 que
aumentaram a sua área desde que estão nela se interessam por notícias agrícolas.
Três (60%) dos cinco que tiveram redução acompanham esses assuntos. O
noticiário agrícola chama a atenção de 35 (77,8%) dos 45 produtores que
permanecem com a área inalterada.
Dos 28 agricultores familiares com primeiro grau incompleto, 18 (64,3%)
acompanham noticiários agropecuários; dos 10 com primeiro grau completo, 9
(90%) acompanham; entre os quatro com segundo grau incompleto, três (75%) se
interessam; de 12 com segundo grau completo, 10 (83,3%) se informam sobre
notícias de agropecuária e fazem o mesmo quatro (80%) daqueles com terceiro grau
completo. O produtor que está cursando universidade também faz
acompanhamento dos noticiários.
Entre os 31 agricultores que consideram que está difícil viver na propriedade
de base familiar, 71% acompanham o noticiário agropecuário. No caso dos 21 que
consideram que está sendo possível sobreviver, o índice de acompanhamento é de
81% e cai para 75% entre os oito entrevistados que disseram que estão
conseguindo viver bem.
A televisão foi o veículo mais citado entre aqueles que acompanham o
noticiário agropecuário. De 45 produtores, 40 assistem programas de TV sobre o
tema, o que representa 88,9% do total. Sete utilizam o rádio, dois citaram revistas e
um falou em jornal. O programa Globo Rural é o preferido, sendo lembrado 32
vezes; nove citaram a programação do Canal do Boi (TV via satélite); cinco
disseram que assistem ao Canal Rural (também por satélite); dois acompanham o
SBT Rural e um disse que assiste ao programa Vida no Campo, produzido pela
Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) e
transmitido pela Rede Vida. No caso do rádio, foi citado por dois agricultores o O
Homem e a Terra, programa diário, também da Emater-PR, e uma emissora de Irati,
sem especificar qual. A idéia de reforçar propostas locais, defendida por Barreto
(2005), fica comprometida no momento em que se opta pela televisão, que tem a
maior parte da produção feita de forma generalista, para todo território nacional.
Vale destacar que embora 10 agricultores afirmem ter internet em casa,
nenhum citou a rede como uma forma de buscar informações. Essa mídia, portanto,
como era suposto, ainda está muito distante do agricultor familiar ponta-
grossense.
114
A presente questão buscou saber apenas se o agricultor familiar
acompanha ou não o noticiário agropecuário, na seqüência serão
observados os usos feitos das informações. Assim, constatou-se que 75%
deles o fazem. Mas ficam algumas observações importantes sobre o
acompanhamento midiático do meio rural.
Percebe-se que o interesse diminui à medida que aumenta a idade
dos entrevistados, sendo menor no grupo acima de 50 anos. O que mostra
que a vivência maior com os meios de comunicação gera outros hábitos.
Como a televisão é a mídia mais utilizada os mais velhos se ocupam
menos da sua utilização. Também são menos adeptos aos noticiários
rurais aqueles que tiveram redução de área. O nível de escolaridade é
outro fator de destaque, já que os agricultores com primeiro grau
incompleto apresentam menor índice de uso da mídia. É um pouco
superior entre os produtores que sempre trabalharam na agricultura. Quem
veio da cidade se interessa menos pelos assuntos do setor. Considerar
fácil ou difícil viver na atividade rural se mostrou um aspecto de pouca
relevância para ser receptor ou não desses produtos.
Os produtores com maior área são os que apresentam menor índice
de interesse pelos noticiários agropecuários. Ocorre que esses trabalham
em atividades muito próximas da agricultura empresarial, já que produzem
grãos. A pouca objetividade e agendamento inconstante de programas de
televisão e rádio pode não lhes atrair profissionalmente. Ao mesmo tempo,
esse grupo não desenvolveu o hábito de utilizar jornais impressos ou
mesmo a internet. Fica aí uma lacuna na oferta midiática.
A opção por programas de televisão também mostra que há uma
lógica do entretenimento no fato de se assistir aos programas, como foi
observado em muitas respostas que destacam o aspecto "agradável" da
produção. Ademais, reforça a utilização do meio, uma vez que 96,7% dos
entrevistados têm televisão, contra 18,3% que compram jornais, por
exemplo. Canclini (2003) apresenta um dado que merece ser observado. O
autor lembra que o atraso modernizante pode ter deixado reflexo no jeito
de ser do brasileiro. Em 1940 ainda eram 57% de analfabetos no país.
Sabidamente, ainda mais no campo. Assim, a opção pela oralidade e a
linguagem visual é uma tradição que, de certa forma, explica o pouco
interesse pela leitura.
115
Acompanha os noticiários agropecuários
SIM: 45 entrevistados O: 15 entrevistados
Veículos utilizados
Televisão 40 entrevistados
Rádio 7 entrevistados
Revista 2 entrevistados
Jornal 1 entrevistado
QUADRO 16 Produtores que acompanham os
noticiários agropecuários e os veículos mais
utilizados
3.6.3 Como utiliza as informações
Logo a seguir foi perguntado aos produtores se eles utilizam as informações
rurais na atividade e se buscam, registram ou aplicam de alguma maneira os
assuntos encontrados, ou seja, se a informação é utilizada como uma ferramenta de
trabalho, cuja decisão de uso é do receptor. Foi uma pergunta aberta para ver como
seria respondida. Na maioria dos casos, as respostas foram vagas. Os assuntos ou
interesses puderam ser reunidos em seis grupos, sendo que o primeiro,
excludente, era daqueles que disseram não usar as informações. Outro grupo
aglomerou respostas como dicas de plantio, manejo ou colheita e possibilidade de
experimentar na propriedade algum assunto que apareceu na mídia. Respostas
diretas sobre preços e/ou comércio ficaram no terceiro grupo. O quarto abrangeu
respostas do tipo "quando é útil pode ser utilizado". Duas respostas indicaram para
o sentido de usar as informações no aperfeiçoamento da atividade e o sexto, mais
consistente, indicou uma sistematização de busca de informações, registros (em
papel ou computador) e direcionamento na atividade. As respostas, que indicaram
uma busca de conhecimento e reconhecimento, foi dada por apenas três
produtores.
Dos 45 agricultores familiares entrevistados que acompanham o noticiário
agropecuário, 23 disseram que o utilizam tais informações nas atividades diárias,
o que representa 51% do total. Somados aos 15 que não acompanham, são 38, ou
63,3%, que dizem não usar informações como uma forma de nortear em algum
momento a produção. Dicas de plantio e manejo, além de experimentar alguma
sugestão repassada pela mídia, foram formas de aplicação citadas por nove
produtores, ou seja, 20% dos 45 que fazem uso do noticiário. Outros quatro
disseram que incorporam quando consideram útil, quatro afirmaram que se
interessam por preços e comércio e dois para se aperfeiçoar na atividade. Apenas
116
três entrevistados (6,7%) disseram que fazem registros sistemáticos de
informações, inclusive buscando aquilo que precisam para melhorar ou
resolver problemas através da comunicação.
Para o cruzamento das variáveis foram considerados apenas os 45
entrevistados que disseram acompanhar o noticiário agropecuário. Dos três
produtores que fazem uso mais sistemático da informação, dois têm menos de
cinco hectares e um possui mais de 20 hectares. Não usam, de nenhuma
maneira, 45,8% dos agricultores familiares com área de até cinco hectares,
60% daqueles de 5,1 a 10 hectares, 62,5% dos que têm entre 10,1 e 20
hectares e 50% dos produtores com mais de 20 hectares.
Todos os 10 produtores com até 35 anos acompanham o noticiário, mas
seis não utilizam as informações agropecuárias na atividade, três dizem estar
atentos a dicas ou fazem algum experimento com o que viram e um se
interessa por matérias de comércio e preços. No grupo de 29 agricultores na
faixa de 36 a 50 anos, 23 acompanham os noticiários, sendo que 13 (56,5%)
não utilizam as informações, cinco se interessam por dicas e/ou fazem
experimentos, dois usam aquilo que é útil, um se importa com preços ou
mercado, um busca aperfeiçoamento e um faz registros sistemáticos. Os
outros dois produtores que dizem que registram as informações têm mais de
50 anos. Desse grupo, outros quatro não utilizam nada daquilo que encontram
nos veículos de comunicação, dois utilizam algo que acham que é útil, dois
têm interesse nas notícias de mercado, um falou que aproveita dicas e outro
usa informações para aperfeiçoamentos.
Dos 34 produtores que sempre viveram e trabalharam no campo e
acompanham o noticiário, 17 (50%) não usam as informações na atividade,
nove (26,5%) aproveitam dicas, dois (5,9%) utilizam aquilo que consideram
útil, quatro (11,8%) se apropriam de notícias sobre preços, um (2,9%)
aproveita para se aperfeiçoar e outro (2,9%) utiliza a informação de forma
sistemática. Os outros dois (18,2%) que aplicam estão entre os 11 produtores
que vieram da cidade. Desse grupo, seis (54,5%) não aplicam informações da
mídia, dois (18,2%) quando consideram útil e um (9,1%) para se aperfeiçoar.
Entre os sete produtores que aumentaram suas áreas ao logo do tempo
e acompanham o noticiário, seis não usam as informações e um aplica quando
acha útil. Dos cinco que tiveram redução, três se ocupam de programas ou
notícias agrícolas, sendo que um não os usa na atividade, outro apenas
117
quando acha útil e o terceiro está entre os que sistematizam as informações.
São 35 produtores, entre os que permanecem com a área inalterada, que
acompanham notícias agrícolas. Desses, 16 não usam as informações, nove
aproveitam dicas, dois usam aquilo que consideram útil, quatro se apropriam
de notícias de preços ou comércio, dois se interessam por coisas que possam
aperfeiçoar a atividade e dois fazem uso sistemático da comunicação.
Dos 18 produtores com primeiro grau incompleto que acompanham
noticiários agropecuários, oito não utilizam as informações, cinco aproveitam
dicas, três se interessam por preços, um acompanha para se aperfeiçoar e
outro está entre aqueles que usam a comunicação de forma sistemática. Dos
nove com primeiro grau completo que se interessam por noticiários do seu
meio, cinco não usam as informações, dois se interessam por dicas, um presta
atenção naquilo que acha útil e outro, em preços. Nenhum com segundo grau
incompleto usa assuntos da mídia, enquanto que entre aqueles com segundo
grau completo são quatro que não utilizam. Dois produtores com segundo
grau dizem que aproveitam dicas e dois focam em coisas que consideram
úteis, enquanto um busca se aperfeiçoar e outro utiliza sistematicamente.
Entre os quatro com curso superior, dois não usam informações, outro busca
entender aquilo que considera útil e o quarto está entre os que adotam a
comunicação no todo da atividade. O produtor com terceiro grau incompleto
não faz uso.
Na divisão por expectativa dentro da atividade observou-se maior
concentração numa mesma resposta, ou seja, pela não utilização da
informação. É o caso de 12 (54%) entre os que consideram difícil a vida na
pequena propriedade. Os outros 10 se dividem entre as demais alternativas. O
mesmo pôde ser observado no grupo que considera que dá para viver na
agricultura familiar, onde nove (53%) não usam e os demais se distribuem nas
outras alternativas. Dos seis agricultores que consideram que vivem bem e
acompanham os noticiários, dois não fazem uso, dois aproveitam dicas e um
anota preço. O detalhe interessante é que os três que dizem adotar a
informação como uma das ferramentas se dividem entre os três grupos, um
em cada.
Observa-se na questão acima que a maioria (45) dos produtores
acompanha o noticiário agropecuário, porém mais da metade (51,5%) não
costuma usar informações do meio. Os outros 48,5% usam de alguma
118
maneira, o que significa que é útil a informação, para eles, em determinados
momentos. Entretanto, só três produtores (6,7%) têm a informação como uma
ferramenta de trabalho e decisão sistemática ou habitual.
Mas quando o agricultor familiar responde que aproveita dicas e até
experimenta algumas alternativas, quando acha determinada informação útil e
se interessa por ela, ou quando busca se aperfeiçoar através de alguns
assuntos da mídia, pode-se concluir também que ele não desconhece as
possibilidades da comunicação. Assim, pode se ampliar para 30%, os
produtores familiares que usam a informação midiática em algum momento, o
que ainda é um percentual baixo.
Assim como observaram Feliciano et al (2004), as informações são
usadas na medida em que surgem necessidades. A busca ocorre em
momentos que o produtor precisa resolver algum problema pontual. Mas na
pesquisa observou-se, também, que alternativas ou notícias apresentadas
pela mídia, ainda que num primeiro momento não estejam na pauta de
prioridades do agricultor familiar entrevistado no presente trabalho, podem
passar a interessar, ao ponto dele buscar saber mais sobre o assunto. Como
cita Bordenave (1985), o desenvolvimento rural gira em torno da comunicação
mediada, na medida em que o produtor precisa dela para tomar decisões.
A comunicação mediada, como é apresentada na fundamentação
teórica, de uma forma ou outra, atua no conhecimento e tomadas de decisões.
O que mostra a pesquisa é que, muitas vezes, o produtor não se dá conta de
que ela pode e deve ser uma ferramenta freqüente e até metodológica. Ainda
assim a comunicação participa da formação do self, junto com aspectos da
tradição, como coloca Thompson (2002). E na medida em que as respostas
mostraram uma seleção de questões pontuais de interesse, os agricultores
familiares acabam fazendo uma seleção de mensagens, como citam Defleur e
Ball-Rokeach (1993). Quer dizer, nem tudo interessa, mas aquilo que é
importante, chama a atenção de cada entrevistado, individualmente.
Os cruzamentos demonstraram que o uso ou não da mídia está pouco
ligado a fatores variáveis, uma vez que em praticamente todos os casos os
índices são próximos entre os grupos. A diferença é que os mais velhos,
embora acompanhem menos os noticiários, como demonstrou a questão
anterior, quando o fazem, procuram tirar algum proveito. Para eles, portanto,
119
tais produtos midiáticos não significam mero entretenimento, na maioria dos
casos.
Grupo de respostas Total %
Não utiliza as informações 23* 51,5%
Dicas para a atividade 9 20%
Preços e mercado 4 8,9%
Quando acha útil 4 8,9%
Para aperfeiçoamento 2 4,4%
Registros sistemáticos 3 6,7%
QUADRO 17 Utilização das informações
agropecuárias dentro da atividade, considerando
apenas os 45 produtores que acompanham o
noticiário.
* Somando os 15 que não acompanham, o percentual
de não utilização chega a 63,3%
3.6.4 De que maneira o agricultor familiar decide o que vai produzir
Outra questão buscou saber como o produtor decide o que vai produzir em
sua propriedade, para quem trabalha com culturas anuais. No caso daqueles com
atividade fixa, como pecuária de leite ou fruticultura, a pergunta variou para como
ele optou pela produção. A questão também foi aberta para não influenciar na
resposta e teve a intenção de saber até que ponto a informação era determinante na
escolha.
As várias respostas, para efeito de apresentação, foram aproximadas em seis
grupos. Quem respondeu que sempre plantou determinada cultura, que a família
trabalhava com isso, ou que não costuma fazer grandes mudanças tem o foco da
sua atividade na "tradição". O segundo grupo concentrou produtores que decidem
pelo próprio consumo, enquanto que o terceiro produz de acordo com o mercado,
preços ou comércio, ou calendário agrícola, não fazendo grandes alterações, mas
dando prioridades para um ou outro produto. É o caso dos feirantes. O quarto grupo
engloba agricultores que são integrados de empresas, como os avicultores e os
pecuaristas de leite, que produzem de acordo com determinações e tendências do
comprador, que é fixo. No quinto segmento aparecem dois que disseram estar na
atual atividade porque viram nela uma alternativa de renda e o sexto (só um caso)
que planta milho e feijão por sugestão de um parente.
120
Em nenhuma resposta a comunicação, que seria mais um item, apareceu
como um componente de decisão. Outro dado interessante é que o Governo do
Estado, através da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Emater-PR), e a Secretaria Municipal de Agricultura, desenvolvem programas em
que incentivam os produtores em culturas como plantio melhorado de feijão e milho,
fruticultura e leite, mas em nenhuma vez foram lembrados pelos entrevistados,
embora, em respostas anteriores, alguns fruticultores e pecuaristas de leite tenham
comentado a atuação da extensão rural na implantação e acompanhamento da
atividade. Se a ação da extensão é decisiva para a opção de muitas atividades, por
algum motivo os agricultores não a internalizaram.
Portanto, analisando as respostas, observou-se que, dos 29 produtores com
área de até cinco hectares, 12 produzem de forma tradicional, sem alterações,
quatro decidem pelo consumo, nove pelas tendências do comércio e calendário
agrícola, três são integrados e um produz por sugestão de uma terceira pessoa.
Dos sete que têm entre 5,1 e 10 hectares, três atuam de acordo com preços, três
são integrados e um decide de acordo com o consumo na propriedade. Daqueles
com área de 10,1 a 20 hectares, cinco plantam de acordo com a tradição e cinco por
preços ou calendário agrícola. nas áreas acima de 20 hectares a tradição é mais
forte, com oito produtores (a maioria cultiva grãos) produzindo dessa maneira.
Quatro se pautam pelos preços ou calendário agrícola e dois o fazem como
alternativa de renda.
No global, portanto, 25 agricultores familiares plantam culturas de acordo com
a tradição, o que representa 41,6% do total. Outros cinco (8,3%) se pautam nas
necessidades de consumo na propriedade; 21 (35%) consideram preços e
calendário como fator norteador da produção; seis (10%) são integrados de
cooperativas ou empresas, trabalhando para elas; dois (3,3%) têm nas atividades
atuais uma alternativa de renda e um (1,6%) se baseia em sugestão de uma terceira
pessoa.
A comunicação formal – ou de meios de comunicação de forma geral - não foi
citada como fator de ajuda na opção feita, embora as decisões tomadas através de
preços ou a busca por alternativa de renda possam ser analisadas como
provenientes da comunicação, face a face ou mediada.
Bordenave (1985) afirma que a tomada de decisões na agricultura é de
grande importância. Cada produtor decide o que vai fazer de acordo com fatores
disponíveis, conforme o autor. E isso fica claro nas respostas apresentadas pelos
121
entrevistados. E não são apenas as suas vontades que definem o que fazer. O
sistema de capital, necessidades e mercado norteiam de fora para dentro a
produção no campo. Querer, saber e poder baseiam a atividade, segundo
Bordenave (1985), e a comunicação influi decisivamente nos três fatores.
Ampliam-se as capacidades e experiências pela mídia, segundo Thompson
(2002), mas o que se observa na pesquisa é que os produtores entrevistados, de
forma geral, não têm tal noção. A tradição oral e o próprio trabalho representam
para os produtores entrevistados fatores fundamentais de produção, confirmando o
que diz Thompson (2002), ou seja, que essa forma de observar e trabalhar não
pode ser desprezada. Entende-se aqui que agentes tradicionais, representados por
instituições importantes, como a igreja, parentes, ou comunidade, têm um peso
importante na tomada de decisão do produtor, mais do que a mídia, confirmando os
estudos apresentados por Fernández e Amtmann (2007), que indicam que tais
ligações são determinantes.
Mas os agricultores familiares, conforme se pôde observar, estão abertos a
novidades externas, como mostram as respostas em que as decisões são tomadas
pelo comércio ou participação em programas desenvolvidos pela extensão rural ou
por empresas.
Tomada de decisão Total %
Por tradição 25 41,6%
Pelo consumo 5 8,3%
Preços e mercado 21 35%
Integrados de empresas 6 10%
Alternativa de renda 2 3,3%
Sugestão de terceiros 1 1,6%
QUADRO 18 Como o agricultor familiar toma as
decisões para produzir
3.6.5 A importância da comunicação
Foi perguntado aos produtores familiares qual é a importância da
comunicação, de se estar bem informado. Como também se trata de uma
questão aberta, as respostas foram divididas em cinco grupos, sendo o
primeiro de entrevistados que disseram que não é importante. No segundo
grupo foram colocadas as respostas daqueles que apenas consideram que
há importância, mas não souberam ou quiseram especificar. O terceiro grupo
122
englobou produtores que destacaram ser fundamental saber de preços e
mercado para venda. No quarto, se encontram dois entrevistados (3,3%) que
disseram que sem se comunicar e saber o que acontece no meio é
impossível trabalhar.
Outras respostas foram consideradas pontuais, ou seja, destacando
um ou dois fatores da produção como um todo, mas que se assemelham.
Estão nesse grupo os aspectos de melhoria das condições de determinada
lavoura, informações de tecnologias, ajuda para o desenvolvimento da
cultura, informações sobre pragas e cuidados com a lavoura. Um citou que
procura saber seus direitos e dois apenas destacaram que é importante para
saber mais. O resultado final da questão nem sempre fecha 100%, já que
alguns entrevistados deram mais de uma resposta.
A questão mostrou que há uma contradição entre o que pensa e o que
faz o agricultor familiar participante da pesquisa, uma vez que apenas 11,6%
dos entrevistados acreditam que comunicação não é um fator importante na
atividade agropecuária. Os outros 88,4% disseram que é importante estar
informado. Foram 25% que apenas destacaram a importância, sem explicar
por que; 38,3% apontaram o conhecimento de preços e mercado como fator
determinante; 3,3% avaliam que sem informação não é possível continuar na
atividade e 53,3% apontaram outros fatores, entre aqueles destacados
acima.
Entre os produtores que não consideram a informação como fator
importante, quatro têm menos de cinco hectares, um tem entre 5,1 e 10
hectares e dois têm mais de 20 hectares. Daqueles que não dizem em que
ela ajuda, sete têm menos de cinco hectares, um entre 5,1 e 10 hectares,
quatro entre 10,1 e 20 hectares e três possuem mais de 20 hectares.
Consideram importante saber como andam preços e mercado nove
agricultores familiares com até cinco hectares, dois de 5,1 a 10 hectares,
cinco com área entre 10,1 e 20 hectares e sete com área acima de 20
hectares. Um produtor do grupo de 5,1 a 10 hectares e outro acima de 20
hectares consideram que não é possível trabalhar sem informações.
Na divisão em grupos por idade destaca-se que seis dos sete que não
dão importância à comunicação têm mais de 50 anos, o sétimo pertence ao
grupo entre 36 a 50 anos. Nenhum do grupo até 35 anos deu tal resposta.
Do grupo de até 35 anos, quatro (40%) não especificam, três (30%) apontam
123
preços ou mercado. As outras alternativas são destacadas por seis
agricultores (60%). Do grupo entre 36 e 50 anos que considera necessário
estar informado, nove (31%) não especificam. A importância de saber sobre
preços e mercados é afirmada por 14 entrevistados (48,2%), um diz que é
fundamental para se manter na atividade e outros fatores são destacados por
10 (34,4%) produtores da faixa. Entre aqueles com mais de 50 anos, dois
(9,5%) não dizem por que da importância, seis (28,5%) destacam preços, um
diz ser fundamental e sete (33,3%) apontam outras opções.
Dos produtores que sempre atuaram na atividade agrícola, três (6,8%)
disseram que estar informado não é importante, 11 (25%) não especificaram
a importância, 19 (43,2%) destacaram preços e mercado, dois (4,5%)
disseram que comunicação é fundamental e 18 (40%) apontaram outros
fatores. Dos agricultores que vieram da cidade, quatro (25%) não consideram
importante a informação rural, quatro (25%) não souberam dizer por que,
embora considerem importante, quatro (25%) destacaram preços e mercado
e cinco (31,2%) destacaram outros itens.
Entre os agricultores familiares que tiverem aumento de área, dois não
consideram a informação uma ferramenta importante; quatro não
especificam; dois dizem que a importância está nas informações de preços e
quatro citam outras opções. No caso dos agricultores que tiveram redução de
área, um não especifica, um acha que a importância está nos preços, um
considera que a informação é fundamental e dois citam outras alternativas.
Já entre aqueles que mantém a área inalterada, cinco (11,1%) não
consideram importante; 10 (22,2%) não especificam, 20 (44,4%) citam
preços, um diz que a informação é fundamental para a atividade e 17 (37,7%)
apontam outras alternativas.
Quando o cruzamento se dá por nível escolar, não consideram a
comunicação importante quatro produtores com primeiro grau incompleto, um
com segundo grau incompleto, um com segundo grau completo e um com
curso superior. Consideram que há importância, mas não explicam por que,
sete produtores com primeiro grau incompleto, um com primeiro grau
completo, cinco com segundo grau completo, um que está cursando
universidade e outro com terceiro grau completo. A questão preço é citada
por 12 agricultores familiares com primeiro grau incompleto, seis com
primeiro grau completo, três com segundo grau incompleto e dois com
124
segundo grau completo. Os outros itens de importância são citados por 11
entrevistados com primeiro grau incompleto, cinco com primeiro grau
completo, um com segundo grau incompleto, três com segundo grau
completo e três com formação superior.
Entre aqueles que consideram difícil viver, hoje em dia, na pequena
propriedade, seis (19,3%) entrevistados não colocam a informação como
importante, sete (22,6%) dizem que é importante mas não especificam, 11
citam preços como componentes necessários de conhecimento, um (3,2%)
diz que sem a comunicação não é possível se manter na atividade e nove
(29%) apontam alguns entre os outros itens. Todos aqueles que afirmam que
dá para viver na pequena propriedade consideram a comunicação
importante, porém cinco (23,8%) não dizem por que, 11 (52,4%) apontam
preços com itens principais, um (4,7%) diz que não é possível trabalhar sem
informação e 11 (52,4%) apontam outros fatores de importância. Já entre
aqueles que vivem bem na agricultura familiar, um (12,5%) não classifica a
comunicação como importante, três (37,5%) não especificam, um (12,5%)
aponta preços e três (37,5%) destacam outros fatores necessários de serem
conhecidos.
O aspecto mais importante é que, mesmo sem fazer um uso
sistemático, quase todos os produtores familiares entrevistados consideram
que estar informado é importante. Apenas sete dizem que não há importância
na comunicação. Vale destacar que seis são do grupo com mais de 51 anos
e seis que consideram difícil viver na pequena propriedade. Mas mesmo
entre essas estratificações é maior o índice daqueles que consideram a
importância da comunicação. Pensam assim 80,7% dos entrevistados que
consideram difícil sobreviver na agricultura familiar e 71,5% do grupo acima
de 50 anos.
Ao menos no discurso, os produtores familiares entrevistados
comungam com os conceitos apresentados, de que a comunicação é
importante no processo de produção. É possível que eles não conheçam
alguma forma mais eficaz de trabalhar com a comunicação mediada, mas
sabem que não podem viver fechados. Também nesse caso, os cruzamentos
mostraram pouca relevância, até porque o percentual daqueles que acham
que a comunicação não é uma ferramenta importante foi de apenas 11,6%. O
problema é que as respostas são apenas discursivas, uma vez que a
125
comunicação não é implementada efetivamente para a maioria, como
acontece com outras ferramentas.
Importância da
comunicação
Total
%
Não sabe dizer 15 25%
Por preços e mercado 23 38,3%
Fundamental na atividade 2 3,3%
Outras respostas 32 53,3%
Não acha importante 7 11,6%
QUADRO 19 A importância do uso da
comunicação na atividade agropecuária
3.6.6 Comunicação do agricultor com os produtos de mídia
A posição dos 60 agricultores familiares ponta-grossenses entrevistados
frente aos veículos de comunicação é apenas de receptor, sem nenhuma interação.
Apenas cinco (8,3%) disseram que se comunicaram com veículos atrás de
informação ou para dar sugestões. Três deles têm até cinco hectares. Um disse que
o fez várias vezes e de todas as formas, o segundo afirmou que não usou a
internet. O telefone foi a opção utilizada pelos outros três produtores, um do grupo
até cinco hectares, um do grupo de 10,1 a 20 hectares e um com mais de 20
hectares. Nenhum procurou jornal, televisão ou rádio pessoalmente.
Dos cinco produtores que se comunicaram com veículos de comunicação,
três são da faixa de 36 a 50 anos e dois com mais de 50 anos. Quatro deles sempre
trabalharam na lavoura e um não, dois tiveram aumento de área e três permanecem
com a propriedade inalterada. Merece destaque o fato de que três deles têm
primeiro grau incompleto, um tem primeiro grau completo e outro segundo grau
incompleto. Portanto, os produtores com maior nível escolar não estão entre os que
se comunicaram com veículos de mídia. No caso da divisão por expectativa, se
comunicaram dois que dizem ser difícil viver na propriedade familiar, dois que
acreditam que dá para viver e um que considera que vive bem.
Nesse aspecto, os agricultores familiares entrevistados pecam no uso da
informação. Vale lembrar o que diz Thompson (2002), para quem o receptor pode
participar e até contribuir no processo comunicativo, escrevendo cartas, telefonando,
via e-mail, ou simplesmente recusando a recepção. Assim, Thompson (2002)
lembra que o processo de comunicação, mesmo ainda sendo assimétrico, não ficará
126
completamente monológico. Coelho Netto (2003) reforça que o receptor deveria
estimular a fonte ao necessitar de uma informação, utilizando-a conforme seus
próprios interesses.
Comunicação com os MCM
Sim: 5 (8,3%) Não: 55 (91,7%)
Meios utilizados para se comunicar
Carta 2
Telefone 5
Internet 1
Pessoalmente 0
QUADRO 20: se comunicaram com os
MCM e meios utilizados
3.7 AVALIAÇÃO DA COMUNICAÇÃO RURAL
O último fator observado foi a visão que o agricultor familiar tem do trabalho
que os veículos de comunicação fazem para o meio, considerando os programas de
rádio e televisão e a mídia impressa, mas foi possível perceber que as respostas se
pautaram mais nos veículos eletrônicos, provavelmente porque poucos fazem uso
de outros meios.
3.7.1 Considera a linguagem adotada fácil ou difícil
De todos os entrevistados, 40 (66,6%) disseram que é fácil entender a
linguagem da mídia para o meio e 18 (30%) disseram que não. Outros dois (3,3%)
não responderam. Os motivos mais citados para considerar fácil foram: linguagem
simples, comunicação feita por pessoas que entendem do assunto, mensagens bem
explicadas, explicações claras e fáceis, linguagem de costume deles, o fato de
serem informações dirigidas e também por que os comunicadores "têm estudo".
Os fatores limitantes para o entendimento mais lembrados foram: que se
entende quando tem experiência no assunto, que vai depender do tema tratado, que
as matérias são complexas, que é superficial, não falam da realidade do pequeno
produtor e que a linguagem é muito técnica.
Entre os produtores com área de até cinco hectares, 75,8% consideram a
linguagem dos meios de comunicação fácil, 17,3% difícil, enquanto 6,9% não
responderam. É entre os produtores com maior área que se encontra maior grau de
dificuldade. Daqueles com área entre 5,1 e 10 hectares, 42,8% consideram a
127
linguagem difícil; dos produtores que têm entre 10,1 e 20 hectares, 40% avaliam
como difícil e 42,9% com mais de 20 hectares também pensam assim.
Para 80% dos produtores familiares de até 35 anos a linguagem dos meios
de comunicação é de fácil entendimento. Na faixa de 36 a 50 anos o índice cai para
62%, enquanto 34,4% encontram dificuldades e um (3,4%) não respondeu. No caso
dos entrevistados com mais de 50 anos, o índice de boa aceitação é de 66,6%,
contra 28,5% que consideram a linguagem difícil. Um não respondeu, o que significa
4,7%.
Entre os 44 agricultores familiares que sempre viveram e trabalharam na
atividade rural, 63,6% consideram as notícias do meio rural de fácil entendimento,
34% difícil e um, que corresponde a 2,4%, não respondeu. Dos 16 entrevistados que
vieram da cidade, 75% acham fácil de entender e 18,7% não. Um, que representa
6,3%, não deu resposta.
Dos 10 entrevistados que aumentaram a área da propriedade, quatro (40%)
têm facilidades em entender as informações para o meio rural dos produtos de
mídia e seis (60%) encontram dificuldades. O índice é inversamente proporcional
para quem registrou redução de área. Três de tal grupo (60%) consideram as
matérias de fácil compreensão e dois (40%) não. Entre os agricultores que
permanecem com área igual, 33 (73,3%) disseram que é fácil entender e 10 (22,2%)
que é difícil. Dois (4,5%) não respondem a pergunta.
Na variação por nível escolar, observa-se que maior grau de compreensão
entre aqueles com mais escolaridade, embora, percentualmente, a facilidade é
maior do que a dificuldade em todos os níveis. Destoam apenas aqueles com
segundo grau incompleto, que dois (50%) afirmam ser fácil entender e dois (50%)
não. Entre os entrevistados com primeiro grau incompleto, 17 (60,7%) consideram
as matérias de agropecuária fáceis de entender e 10 (35,7%) não. Um deles (3,6%)
não respondeu. Para sete (70%) com primeiro grau completo é fácil e para dois
(20%) difícil. Um (10%) não deu resposta. Nove (75%) com segundo grau completo
não encontram dificuldades e três (25%) encontram. Dos cinco produtores que têm
curso superior, quatro (80%) acreditam que é fácil e um (20%) difícil. O agricultor
familiar que está cursando universidade também respondeu que considera fácil.
Na divisão por expectativa na atividade, 20 (64,5%) daqueles que consideram
difícil viver na pequena propriedade disseram que a linguagem é fácil, nove (29%)
que é difícil e dois (6,5%) não responderam. Para 15 (71,4%) agricultores que
consideram que é possível sobreviver na agricultura familiar as matérias para o meio
128
rural são de fácil entendimento e seis (28,6%) afirmam que o. Os produtores que
dizem viver bem apresentam maior índice de dificuldade, que cinco (62,5%)
afirmam que o jornalismo rural é bem expressado e três (37,5%) acreditam que não.
A conclusão deste item é de que a linguagem adotada é aprovada pela
maioria dos produtores, já que mais de dois terços dos entrevistados não encontram
dificuldades em entender as matérias. Importante destacar que justamente os
grupos de produtores com mais de cinco hectares são os que apresentam maior
índice de dificuldade, acima de 40%. Daqueles com menor área, apenas 17,5%
acham a comunicação difícil. Nos grupos com mais idade também aumentam as
dificuldades, como pôde ser observado. No caso da escolaridade, acham mais fácil
entender à medida que têm mais tempo de escola. Quem teve aumento da área
apresenta maior índice de dificuldade de entendimento do que aqueles que
reduziram a propriedade, o que pode ser um indicativo que maior ou menor área,
entre os entrevistados, não representa linearmente, maior discernimento
comunicativo. quem veio da cidade tem um percentual mais elevado do que
aqueles que sempre viveram no campo. Estar otimista ou não com atividade não
apresentou relevância na resposta.
Fica evidente, ainda, nas observações das respostas, que os entrevistados
tratam principalmente do caso da televisão e do rádio, veículos que realmente
tentam, até de forma simplória, se aproximar do que consideram o linguajar do
homem do campo.
De fácil entendimento 40 66,7%
Difícil de entender 18 30%
Não responderam 02 3,3%
TOTAL 60
QUADRO 21 Avaliação dos agricultores
familiares sobre as facilidades ou dificuldades de
entender a comunicação rural
3.7.2 Assuntos que mais interessam aos entrevistados
Na seqüência, foi perguntado aos agricultores familiares quais são
os assuntos que mais chamam a atenção nos noticiários agropecuários.
Foram apresentados oito temas correntes nos programas, jornais e
revistas que tratam do tema, mais uma questão para apontarem outros,
que porventura lembrassem.
129
O tema de maior aprovação entre os entrevistados foi "cuidados com
a lavoura", apontado por 63,3% dos agricultores. Depois aparecem
"notícias sobre preços" e "novas tecnologias", com 60%. A sugestão
"melhora na qualidade dos produtos" foi assinalada por 58,3% e "decisões
do governo e políticas públicas" ficaram com 56,6%. Os itens que
despertaram menor interesse foram "criação de animais", apontado por
43,3% dos produtores, e "armazenagem", com apenas 28,3%. Somente
três entrevistados citaram outros temas, que foram: mais exemplos de
atividades, perdas na lavoura e espaço para perguntas e respostas, ou
seja, para participação do receptor.
Na divisão por área, todas as questões foram marcadas, mas com
variações de interesse. Entre os 29 agricultores familiares com área de até
cinco hectares, os temas mais destacados foram "cuidados com a
lavoura", "preços" e "novas tecnologias", lembrados 17 vezes. As
"decisões de governo" foram apontadas 16 vezes. Os itens que chamaram
menos atenção foram "criação de animais", importante para oito
produtores do grupo e "armazenagem", para cinco. Entre os sete
agricultores que têm entre 5,1 e 10 hectares, as "técnicas de plantio",
"cuidados com a lavoura" e "melhora na qualidade dos produtos" tiveram
cinco apontamentos cada, enquanto "novas tecnologias" apareceu quatro
vezes e as demais três. São desse grupo, também, os três que destacaram
outros assuntos. As decisões de governo chamam mais a atenção dos
agricultores de 10,1 a 20 hectares, já que o item foi apontado por nove dos
10 entrevistados do grupo. Já "armazenagem" só apareceu quatro vezes.
Para oito dos 14 com mais de 20 hectares os "cuidados com a lavoura" e
"preços" são temas importantes. Já armazenagem perde também no grupo,
sendo destacado cinco vezes.
As repostas mostram, portanto, que os agricultores familiares têm
interesses diversificados, mas sempre ligados àquilo que já produzem.
Porém, é preciso lembrar que as sugestões eram fechadas. Ao indicar de
forma livre o item "outros", apenas três o fizeram.
130
TEMAS TOTAL %
Técnicas de plantio 33 55%
Cuidados com a lavoura 38 63,3%
Armazenagem 17 28,3%
Melhoras da lavoura 35 58,3%
Criação de animais 26 43,3%
Preços 36 60%
Novas tecnologias 36 60%
Decisões do governo 34 56,6%
Outros 3 5%
QUADRO 22 Assuntos que mais chamam a
atenção dos produtores nos noticiários
agropecuários
3.7.3 O que deveria ter em noticiários para o agricultor familiar
Foi perguntado aos agricultores familiares como deveria ser um noticiário
para o pequeno produtor. Essa também foi uma questão aberta, com o objetivo de
não influenciar na resposta.
Dos 60 entrevistados, 22 (36,6%) não souberam responder. Daqueles que
responderam, sete disseram que seria importante trazer mais informações de
interesse da agricultura familiar. Três temas tiveram seis opiniões: preços,
tecnologias e orientações para o pequeno produtor. Apareceram três vezes os
temas cuidados com a lavoura e informações sobre programas de apoio para o
público em questão. Foram citadas, duas vezes cada, informações sobre culturas
para pequenas áreas, novas oportunidades e técnicas de plantio. Uma vez, notícias
sobre fruticultura e apicultura, além de políticas públicas para a agricultura familiar.
Mais uma vez, muitos agricultores destacaram temas ligados às suas
atividades atuais. Mas foi visível, ainda, que eles buscam mais orientações. Isso
aparece em respostas como: orientações e informações para a agricultura familiar e
notícias sobre programas de apoio à pequena propriedade.
TEMAS TOTAL
Preços e mercado 6
Culturas para pequenos produtores 2
Cuidados com a lavoura 3
Mais enfoque na agricultura familiar 7
Programas de apoio ao pequeno 3
Tecnologia 6
Fruticultura 1
Orientações técnicas 6
Apicultura 1
131
Políticas agrícolas 1
Novas oportunidades 2
Técnicas de plantio 2
Não souberam responder 22
QUADRO 23 Assuntos que o agricultor familiar
gostaria de ver mais vezes nos noticiários
Considerando as duas últimas questões, verifica-se que uma
heterogeneidade de interesse entre os produtores familiares. A comunicação rural
deve, então, trabalhar com a idéia de que não existe um público específico de
agricultor familiar, mas agricultores familiares, com algumas características comuns,
porém com uma diversidade de práticas que vão nortear suas preocupações.
132
CAPÍTULO 4
ANÁLISE DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
No presente capítulo será apresentado o resultado de pesquisas de veículos
de comunicação, que são o outro lado do fenômeno estudado. O objetivo é analisar
como o emissor enxerga o público a quem dirige a mensagem e qual é o produto
oferecido ao agricultor familiar. Para isso, foram feitas pesquisas da mídia impressa,
rádio e televisão.
A metodologia adotada para análise partiu de uma pesquisa documental dos
jornais e análise editorial de programas específicos de rádio e televisão, utilizados
como amostragem de produtos, ao menos em tese, disponíveis para o agricultor
familiar. No caso do rádio, também foi realizado um levantamento nas emissoras,
através de formulários, para entender porque elas não trabalham com a
comunicação rural em Ponta Grossa. Em todos os casos foram feitas análises
qualitativas e quantitativas das matérias publicadas. O objetivo foi de avaliar o
conteúdo das notícias e como estas são passadas ao receptor.
Os aspectos observados foram as formas de agendamento das notícias,
critérios de noticiabilidade, discurso adotado nos textos e apresentações, relevância
social, atores envolvidos, linguagem adotada e tratamento do receptor.
4.1 O DISCURSO JORNALÍSTICO DOS CADERNOS RURAIS
A primeira análise que será apresentada é do jornalismo impresso que,
conforme demonstra a pesquisa, tem pouca procura por parte dos agricultores
familiares entrevistados. Preços, falta de hábito de leitura, dificuldade de distribuição
para o meio rural, linguagem utilizada e assuntos tratados, são alguns dos aspectos
que podem ser colocados como desmotivadores do veículo.
De acordo com Traquina (2005), o jornalismo, na forma que é conhecido
atualmente, surgiu no século XIX e a imprensa escrita foi o primeiro meio de
comunicação de massa (MCM). Seu objetivo era fornecer informações e não
propaganda. Acabou se tornando um negócio que visa lucro. Segundo o autor, a
escolarização das massas, na mesma época, com a instituição de escolas públicas,
contribuiu para o crescimento do jornal, junto com a redução dos preços, o que
133
viabilizou o acesso das massas aos diários. Mas, se for considerado o Brasil, o
jornal nunca chegou à maioria, especialmente ao meio rural.
Erbolato (1985) destaca que a linguagem do jornalismo impresso torna o
veículo inacessível para grande parte do público. A situação se agrava no Brasil,
onde a maioria das pessoas não tem o hábito da leitura. Como a mídia escrita tem a
concorrência do rádio e da televisão, deveria, segundo o autor, se sobrepor atraindo
a atenção do público. Uma das maneiras é utilizar linguagem de fácil entendimento.
Erbolato (1985) destaca também que os custos dos jornais pesam no orçamento
das pessoas, e assim elas deixam de comprar. Segundo o autor, o mesmo indivíduo
que faz prestações para adquirir uma televisão ou um rádio não gasta com o jornal.
Isso se deve, em parte, pelo fato do eletrodoméstico representar mais do que um
meio de comunicação, é um aparato de lazer.
Considerando os aspectos citados acima por Erbolato (1985), percebe-se que
o veículo, via de regra, não se norteia pelos interesses do agricultor familiar. Para
chegar ao público, Callou (2002) diz que a comunicação rural deve saber como
enfrentar as novas ruralidades. No que diz respeito à presente pesquisa, isso
praticamente não ocorre nos jornais analisados.
De acordo com os fundamentos teóricos apresentados no capítulo dois, que
tratam da comunicação em geral e da comunicação rural, em particular, foi
analisado o agendamento de três jornais diários que circulam no município e
possuem cadernos rurais
16
: Diário dos Campos, de Ponta Grossa, com o caderno
Agribusiness; Gazeta do Povo, de Curitiba, com o Caminhos do Campo e O Estado
de São Paulo, com o suplemento Agrícola. Tanto o Agribusiness como o Agrícola
têm edições semanais, o Caminhos do Campo circula quinzenalmente. Todos
tratam de agropecuária, mas com um foco preferencial na chamada agricultura
empresarial.
Apenas para efeito de conhecimento, vale destacar que o Diário dos Campos
tem circulação, no máximo, regional. Pode ser encontrado em Ponta Grossa e
alguns municípios da região dos Campos Gerais; Caminhos do Campo, da Gazeta
do Povo, de Curitiba, circula em todo o Estado; e o Agrícola, do jornal O Estado de
São Paulo, tem cobertura nacional. Todos circulam em Ponta Grossa, por isso
foram escolhidos para o estudo.
16
O conteúdo desta discussão sobre o jornalismo impresso foi apresentado, pelo mesmo autor,
inicialmente, no IX Seminário de Inverno de Estudos em Comunicação da Universidade Estadual de
Ponta Grossa, realizado de 26 a 30 de junho de 2006 e publicado nos anais do evento.
134
Foram analisados os modelos de produção destacados nas matérias, o
agendamento e critérios de noticiabilidade, o discurso jornalístico adotado e o papel
para o desenvolvimento rural, especialmente da agricultura familiar. Para avaliar a
atenção dada pelos jornais ao agricultor familiar, foram acompanhados o
equivalente a dois meses de atividade dos cadernos, o que corresponde a oito
edições dos cadernos Agribusiness e Agrícola e cinco edições do Caminhos do
Campo.
O Agrícola (Estado de São Paulo) tem 20 páginas, sendo que de sete a nove,
nas edições pesquisadas, são ocupadas integralmente com anúncios, além de
muita publicidade veiculada nas outras páginas. Apesar de o Paraná ser um estado
de grande destaque agropecuário, o caderno da Gazeta do Povo (Caminhos do
Campo) demonstra o pouco interesse do jornal pela área, pois, no período
analisado, circulava apenas quinzenalmente e com oito páginas. Vale destacar que
é pouco explorado comercialmente, uma vez que o espaço publicitário é reduzido.
No caso do Agribusiness (Diário dos Campos), que também tem oito páginas, a
publicidade é quase inexistente.
O período coberto foi da segunda quinzena de março ao final da primeira
quinzena de maio de 2006. A análise, provavelmente, apresentaria pouca variação
se o período fosse outro, uma vez que o calendário agrícola, embora com
diferenciações nas épocas de plantar, manejar, colher e vender, abrange o ano
todo, portanto, com possibilidades de noticiabilidade em qualquer época. Como se
trata de cadernos com um planejamento fixo, o período analisado foi considerado
suficiente, sem a necessidade de uma quantificação percentual.
A metodologia adotada para análise parte de uma pesquisa documental dos
três cadernos pesquisados, que devem ser considerados como fontes primárias,
uma vez que se trata diretamente do objeto de estudo, o que é preferencial,
segundo Luna (1996). Foram feitas análises qualitativas e quantitativas das matérias
publicadas, no primeiro caso avaliando o conteúdo e no segundo o percentual de
cada tema e público a que se dirige.
Nos períodos analisados, ficou claro que uma preferência pelos
assuntos do agronecio empresarial, que no Brasil prioriza a pecuária de corte,
gado leiteiro, produção de grãos (milho, soja e arroz), café e cana-de-açúcar.
Sem considerar pequenas notas, agendas, calendários, entre outros. No caderno
Agrícola, de O Estado de o Paulo, 63% das matérias se enquadram nas
classificões acima, outras 12% são matérias sobre poticas agrícolas ou
135
tecnologias que interessam ao grande produtor e 8,7% relacionadas à
agroindústria. O jornal publicou 10,9% de nocias oficiais governo, pesquisa,
entre outros e apenas 5,4% de notícias que, de alguma forma, podem
interessar ao pequeno produtor, como produção de frutas ou olericultura. A
definão do interesse do agricultor familiar parte dos levantamentos que
mostram a forma de produzir e as culturas trabalhadas nas propriedades
familiares dos entrevistados.
O jornal oferece grande destaque para a pecria, com 36% das matérias,
sendo que o gado de corte, criado por grandes fazendeiros, capitalizados, tem
preferência. A prodão de grãos aparece com 32,6% e outras culturas da
grande propriedade, como cana e café (que, é verdade, também podem ser
encontrados em pequenas propriedades), ficam com 24,7%. De acordo com os
cririos de alise da pesquisa, 5,6% destacam a pequena propriedade, mas
ainda no âmbito do agronegócio. Apenas 1,1%, ou seja, uma matéria sobre o uso
responsável da água, apresenta alguma tendência social.
No caderno Agribusiness, do Diário dos Campos, a análise apresenta
maiores dificuldades, uma vez que o encarte é produzido por apenas uma
jornalista, com apoio de agências de notícias, e sem uma linha editorial mais
definida de preferência pelo grande, médio ou pequeno produtor. Ainda assim, os
resultados mostram maior favorecimento editorial para a agricultura empresarial e
nenhum enfoque proposital para a prodão familiar, als, a palavra não
aparece na fala do redator, ou seja, na terceira pessoa.
O jornal oferece grande destaque para a pesquisa voltada ao campo,
inclusive com um selo indicando matérias da área. Os cursos de Agronomia da
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e também da Cescage
(faculdade particular de Ponta Grossa) são utilizados freqüentemente como
fonte. Por conta disso, 26,7% das notícias publicadas no peodo são de
divulgação de pesquisas e estudos. O enfoque direto ao agronegócio é
encontrado em 49,3% das matérias. Outras 85 se referem a assuntos oficiais e
políticas da grande propriedade e 6,7% da agroinstria. Notícias oficiais, que
podem interessar a pequenos e médios produtores, o 6,7% do campo editorial
do caderno e somente 2,6% das matérias dizem respeito diretamente a assuntos
ligados à agricultura familiar, mas sem uma referência do termo por parte da
jornalista, como foi destacado. A agricultura empresarial es presente em
34,8% das matérias, mesmo índice da pecuária. Outras culturas, pesquisa e
136
notícias oficiais são 24,2% dos assuntos, enquanto que 6,2% destacam o
agronegócio da pequena e média propriedade. Refencias sociais da agricultura
familiar não aparecem.
O caderno Caminhos do Campo, no peodo avaliado, é o veículo que
apresenta, entre os três analisados, maior preocupação social e destaque ao
agricultor familiar, que trata de matérias ambientais e de questões que tratam
da pequena propriedade, mas, ainda assim, o agronegócio empresarial ganha de
longe maior espaço. As commodities, pecuária e outras atividades da grande
agricultura ficam com 55% do espaço editorial. Outras 2,5% tratam de assuntos
políticos da grande propriedade. Ainda assim, 10% tratam da agricultura familiar,
com destaque para propostas de desenvolvimento dessa. Assuntos de dios
produtores ficam com 7,5% do espaço (considerando culturas que regularmente
o trabalhadas por tal blico). A pesquisa e assuntos de políticas agrícolas
ocupam 25% do espaço.
Do total de matérias analisadas, 32,5% tratam de commodities (produção
de grãos), 27,5% o assuntos da pecuária de corte e outras 27,5% abordam
outros temas do agronegócio. Uma matéria (2,5%) trata de alternativas para a
agricultura familiar e 10% destacam a educão rural e os problemas ambientais.
O caderno também apresenta, na edição do dia 9 de maio, uma matéria especial,
que ocupa três páginas, sobre os 50 anos da Empresa Paranaense de
Assistência cnica e Exteno Rural (Emater-PR), autarquia que presta
serviços, principalmente, ao pequeno produtor. Mas essa não pode ser
caracterizada como assunto para a agricultura familiar, já que trata
especificamente dos feitos da empresa, assim, foi classificada como uma matéria
oficial.
Os cadernos rurais analisados dão maior espo para as notícias factuais,
mas tamm destacam muitas matérias trabalhadas, especialmente no que tange
à pesquisa e alternativas de renda. Apenas o Caminhos do Campo, em 10% das
matérias, se pauta em questões sociais, como educão e meio ambiente. Tal
preocupação o aparece nenhuma vez nos outros cadernos. A pauta do
Caminhos do Campo é completada, no peodo, com 55% de assuntos factuais e
35% de matérias frias” ou trabalhadas. No Agribusiness, a relão é de 68,3% a
31,7% em favor do factual, e no Agrícola a diferença é de 65,9% factuais a
34,1% frias ou trabalhadas.
137
Os critérios de noticiabilidade confirmam a tendência pelo factual, uma vez
que a pauta prioriza o calendário do agronegócio, como época de plantar,
manejar, colher e vender e suas relações com o mercado. Os eventos, que
incluem seminários, reuniões, encontros, festas e, especialmente, exposições
feiras, são sempre acompanhados, com cobertura especial ou na agenda,
dependendo de critérios como proximidade e importância dada ao evento,
principalmente comercial. Mas os cadernos também destacam o que vem sendo
chamado de crise no campo, sempre com enfoque favorável ao grande produtor;
políticas atuais para o agronegócio; alternativas para reduzir custos e aumentar a
competitividade; e pesquisas e novidades para o setor. Poucas vezes a relação
social, com o homem no centro da discuso, aparece. Tal proposta foi
encontrada no caderno da Gazeta do Povo, único, também, a expor sua opino
sobre temas da edão, através de um editorial.
Fica evidente na análise que a construção do discurso dos cadernos não
tem como foco a agricultura familiar, ou um desenvolvimento social rural, como
aponta Bordenave (1985) ser uma função da comunicação. Não tem como
prioridade a redão do êxodo rural, ou sua extinção, tampouco na fixação do
homem no campo. Apenas em 10% das matérias, de um único caderno, o
Caminhos do Campo, é que se encontra algum discurso voltado para educação,
diversificação ou alternativas de renda, temas de interesse do pequeno produtor.
A linguagem adotada, onde prevalecem termos técnicos e mercadológicos,
também pode ser considerada uma barreira para o agricultor familiar, ainda que a
pesquisa com os produtores tenha mostrado que a maioria o acha difícil a
forma de apresentação das notícias. Mas como foi destacado, os entrevistados
se referiam mais à televio e ao dio. De uma maneira geral, tanto na
linguagem adotada, como nos cririos de noticiabilidade, a comunicação
apresenta alguma relevância apenas para o agronecio e não para o homem,
como ser social integrante do universo do meio rural. Os resultados do percentual
dos temas demonstram claramente tal conjuntura.
Importante ainda destacar que o modelo difusionista da cada de 1940,
apontada por Barreto (2005) como excludente, ainda está em voga na
comunicação rural, considerando os cadernos analisados, que m como foco
principal o grande produtor, teoricamente mais esclarecido. A difusão de
tecnologia, sem uma análise mais profunda de custos ou reflexos sociais, está
presente em 20% dos principais textos do Agribusiness, 21,7% do Agrícola e em
138
25% do Caminhos do Campo. Uma matéria do caderno de O Estado de o
Paulo chega a destacar que a mecanizão pode reduzir os custos com mão-de-
obra.
Para Sousa (2002), é preciso que o comunicador entenda as
circunsncias do campo e sua pluralidade de interesses, onde o um único
tipo de pessoas ou atividades. Nos vculos analisados há uma certa variação de
temas, porém pontuais. Só ocorre um acompanhamento regular das commodities
e da pecuária de corte, com seus preços, mercado, problemas e possibilidades
de ganho.
Assim, se for considerado que a maior parte da produção de grãos em
larga escala e pecuária de corte ocorrem em grandes propriedades, 53,3% das
matérias do Agribusiness interessam exclusivamente para a agricultura
empresarial, entre as demais, apenas 5,3% m maior relevância para o
agricultor familiar, ou seja, 10% do total da primeira. O restante é composto por
temas da agroinstria, potica e pesquisa, que se tornam mais difícil de
determinar sobre a opção de público, podendo variar do pequeno ao grande, mas
seguramente com maiores possibilidades para o segundo, especialmente no
caso dos temas da agroindústria e política agcola, que trata mais da questão
dos preços de commodities e câmbio.
Dentro da mesma gica, 65,2% dos temas abordados pelo Agcola
interessam exclusivamente ao grande produtor, enquanto que 5,4% ao pequeno,
em uma proporção ainda menor na comparação entre os dois blicos do que
aquela encontrada no Agribusiness. Proporção um pouco menor aparece no
Caminhos do Campo, da Gazeta do Povo, que tem 60% das matérias voltadas
para o grande agronegócio e 10% para a agricultura familiar. Outras 30% são
varveis, podem atingir diferentes públicos.
O caderno Agrícola, de O Estado de São Paulo, é o único a oferecer um
espo para o leitor. Mas uma alise das cartas publicadas mostra um aspecto
interessante. Elas o trazem uma discussão dos temas do campo. Em geral,
m um perfil chacareiro, que a maioria é de pessoas, muitas da cidade, que
pedem orientações sobre plantas ornamentais, pomares e afins. O caderno
também traz agenda e classificados, que destacam eventos e negócios do
agronegócio empresarial. As notas curtas do Caminhos do Campo e do
Agribusiness seguem a mesma lógica de agendamento dos eventos a serem
realizados na seqüência, bem como reunes e preços de commodities.
139
Intencionalmente, ou não, os cadernos rurais priorizam seu agendamento
nos temas do grande produtor, commodities e gado de corte. A pauta destaca os
assuntos que a esse interessam e raramente se volta para o pequeno produtor.
Desse modo, apesar de ser maioria, o segundo público é desconsiderado como
potencial leitor dos vculos. Esse, seguramente é um dos motivos que afastam
os agricultores familiares da dia impressa. É bem verdade que, dentro das
condições sociais do País, quem tem maior poder aquisitivo, teoricamente, lê
mais jornal. Por outro lado, a falta de feedback mostra que o produtor, grande ou
pequeno, também não pauta sua atividade, necessariamente, nos produtos da
grande imprensa. No Paraná, as empresas do setor parecem o enxergar a
validade desses produtos, uma vez que pouco anunciam nos cadernos
agropecuários.
Embora a análise atual leve a relações mais complexas de inter-relão,
com meio termo para um lado e o outro, o mundo rural brasileiro apresenta dois
expoentes: o grande produtor empresarial e o agricultor familiar. O primeiro pode
ser considerado como a elite capitalizada do campo, com altas produtividades e
ganhos (em que pese as perdas cliticas ou de pros). Em Ponta Grossa, na
maioria dos casos, o é um público que vive no campo, que o fazendeiro
mora na cidade, participa da sociedade local e tem acesso posvel a toda mídia.
O agricultor familiar mora na zona rural, onde se relaciona socialmente e
trabalha, sem participar diretamente das discussões sobre poticas agrícolas que
o definir sua vida a cada ano. Também o freenta regularmente as salas
dos governantes do primeiro escalão, tampouco conta com uma bancada
ruralista no Congresso. Mas, de nenhuma forma, pode ser considerado um
blico homogêneo.
Da mesma maneira, se autores como Sousa (2002) destacam que não é
posvel pensar em um único cenário de agricultura, porque há diferentes
contextos e maneiras de viver e atuar nessa área, a observação passa longe da
dia impressa, que trata de forma homonea o meio rural, sem discutir a
possibilidade de existirem outros cenários.
Vale destacar o que diz Traquina (2005). Segundo o autor, partindo da
teoria organizacional, a produção do jornalismo é influenciada por fatores como o
ecomico da organizão, que é uma empresa e depende da publicidade, por
exemplo. Outros aspectos, como parcialidade ou objetividade também
influenciam na noticiabilidade. Partindo da análise, não para deixar de
140
ressaltar que o caderno Agrícola, de O Estado de São Paulo, é o que apresenta a
maior clareza de linha editorial, optando pelo agronegócio empresarial. Bom ou
ruim, é o caderno que demonstra maior retorno publicitário, ao menos
considerando o que é publicado.
4.2 O RÁDIO NO MEIO RURAL
Apesar de estar presente em 96,7% dos lares dos produtores familiares
entrevistados, o rádio é muito pouco utilizado para a obtenção de informações
rurais. Apenas 15,5% dos agricultores se utilizam do meio para tal fim. Uma
entrevista feita com representantes das oito emissoras de Ponta Grossa demonstra
que não é propriamente alguma deficiência do veículo rádio que causa desinteresse
do receptor por informações do meio, mas a quase ausência de informativos
agropecuários nas rádios locais. Atualmente, apenas um informativo diário, de 10
minutos, produzido pela Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Emater-PR), é veiculado em uma emissora, a Rádio Santana, AM.
Cabral (1996) lembra que o rádio foi implantado no Brasil no início dos anos
1920. No início o veículo surge elitista. Era caro e não tinha uma organização
empresarial. De tal forma, foi custeado pelos próprios ouvintes, no sistema de "rádio
clube". Foi com a regulamentação da publicidade e propaganda radiofônica, através
do Decreto Lei nº 21.111, de de março de 1932, assinado pelo presidente Getúlio
Vargas, que as emissoras começaram a ganhar maior sustentação e obter lucros.
Embora nas primeiras décadas o receptor ainda fosse caro, nos anos que se
seguiram, até meados da década de 1950, o rádio tornou-se o meio de
comunicação mais popular do país, seguindo a mesma tendência de outros países.
Tavares (1999) destaca que as décadas de 1940 e 1950 ficaram conhecidas como a
"era de ouro" do rádio. Naquele período o veículo tinha o poder e importância que
tem a televisão hoje.
E foi justamente a implantação da TV, em 1950, que decretou o fim da força
econômica do rádio, que perdeu anunciantes para o novo veículo. A partir de então
as emissoras precisaram se adaptar aos novos tempos. Cabral (1996) conta que as
rádios tiveram que reduzir o quadro de pessoal contratado, pois não tinham mais
condições de manter grandes elencos de atores, atrizes, músicos, entre outros,
como era costume até então. Com menos anunciantes, que migravam para a
televisão, e espaços mais baratos, passaram a usar discos e manter uma estrutura
141
mais modesta. Mas, ainda assim, o rádio nunca deixou de estar presente no
cotidiano de praticamente todas as pessoas. Se consolidou tocando músicas,
prestando serviços e apostando na informação, ainda que, na maioria dos casos, de
qualidade duvidosa.
Estudiosos do rádio destacam aspectos negativos do veículo, como o texto
fugidio. Meditsch (1999) explica que no rádio, ao contrário dos impressos, o receptor
tem uma chance de ouvir a notícia. Não pode voltar a ela se não entender.
Aponta ainda o uso político do veículo, falta de profissionalismo em muitas
emissoras, unilateralidade da mensagem e outros aspectos. No presente trabalho
será dado maior destaque aos pontos positivos, que mostram como e porque o rádio
poderia ser muito mais útil ao agricultor familiar.
Meditsch (1999) destaca inicialmente que o rádio é o meio de comunicação
de maior presença no cotidiano dos brasileiros. Considerando apenas os lares, sem
contar locais de trabalho, por exemplo, ultrapassa os 90% de incidência. Na média,
cada casa chega a ter três aparelhos receptores (MEDITSCH, 1999). Os custos de
aquisição e uso são mais baixos do que de outros meios, como a TV ou os
impressos, por isso é encontrado em quase toda parte. Para a produção, o rádio
também tem um custo reduzido, já que não depende de impressão ou de imagens.
Otriwano (1985) destaca que, por tais aspectos, o rádio é o mais popular
entre os veículos de comunicação e tem a vantagem de conseguir chegar aos locais
mais distantes. Meditsch (1999) diz que chega até mesmo nos sítios afastados,
coisa que é bem mais difícil para os impressos e até mesmo para a televisão.
Por conta da agilidade e facilidade de transmissão, o rádio apresenta outras
características positivas. Uma delas, destacada por Meditsch (1999), é o
imediatismo, que permite a uma emissora repassar uma notícia segundos após a
sua ocorrência, ou mesmo no momento em que o fato está acontecendo. Do outro
lado, o receptor fica sabendo no mesmo instante em que o emissor está no ar, de
forma instantânea.
Por utilizar apenas a linguagem oral, conforme lembra Otriwano (1985), o
rádio depende somente da audição, dispensando maiores conhecimentos. Prado
(1989) destaca que, por conta da oralidade, o veículo pode ser utilizado mesmo por
aqueles receptores que não sabem ler. Segundo o autor, devido à heterogeneidade
do público e por não permitir uma revisão da mensagem de parte do ouvinte, o rádio
deve sempre utilizar uma linguagem coloquial. A simplicidade da transmissão, se
142
aproximando da forma de falar do cotidiano, coloca a comunicação radiofônica mais
próxima das pessoas.
Por fim, Prado (1989) destaca ainda a mobilidade do veículo. Por necessitar
de apenas um sentido (a audição) a recepção radiofônica permite que as pessoas
façam outras coisas enquanto escutam rádio. Dessa maneira, é possível trabalhar e
ouvir a programação simultaneamente, fato bem comum em muitas propriedades
rurais.
4.2.1 Comunicação rural no rádio ponta-grossense
Apesar de todas as características favoráveis e de Ponta Grossa e região
contarem com um grande mero de pessoas ligadas à atividade rural, nenhuma
emissora da cidade produz programas voltados para esse público. O fato foi
constatado em pesquisa empírica realizada nas três rádios FM (Tropical, Mundi e
FM 94) e nas cinco AM (Rádio Clube, Central, Santana, Difusora e CBN) da cidade.
Inicialmente, a idéia era entrevistar, via formulário, diretamente os diretores, mas em
muitos casos eles direcionavam para outra pessoa, inclusive via secretária, sem
receber o entrevistador, alegando que a fonte eleita estava capacitada para
responder. Ainda assim, em alguns casos, os entrevistados tiveram de pedir um
tempo para buscar mais subsídios para dar as respostas.
Para a obtenção dos dados foi feita a opção pelo formulário (GIL, 1989),
aplicado pelo próprio entrevistador, com questões abertas e fechadas
17
. Por se
tratar de um número pequeno oito emissoras também foi decidido aplicar os
formulários em 100% do universo.
A primeira pergunta buscava saber se a emissora tem algum programa de
informação rural. Das oito rádios, apenas uma, Rádio Santana (AM), conta com um
programa de informações para o agricultor e, ainda assim, não é uma produção
própria. O programa em questão é O Homem e a Terra, produzido pela Empresa
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) e distribuído
para emissoras de todo o Paraná, que decidem o melhor momento de colocá-lo no
ar. O seu público é o agricultor familiar. No caso da emissora AM de Ponta Grossa,
coloca o informativo das 6h30 às 6h40.
Na seqüência foi perguntado se a emissora teve algum programa de
informação para o homem do campo. Dependendo da resposta, positiva ou
17
Modelo do formulário de coleta de dados consta em anexo
143
negativa, o formulário foi direcionado para questões específicas. Somente
duas delas já tiveram, uma FM e outra AM, e nos dois casos trata-se do
mesmo O Homem e a Terra, da Emater-PR, apenas veiculado em épocas
diferentes. Na primeira de 1980 a 1986, deixando de veicular por falta de
repercussão, e na segunda, de 1998 a 2002, quando o governo do Estado,
segundo as informações do entrevistado, deixou de patrocinar. No caso da
rádio FM, não há interesse de voltar a contar com algum programa para o
meio rural. A resposta, na AM, foi de que pode acontecer, desde que seja
viável financeiramente.
Foi perguntado aos entrevistados das rádios que nunca tiveram
programas rurais se há ou houve interesse em contar com algo do gênero.
Em três delas, todas AM, as respostas foram positivas. Quando indagado por
que, a resposta na primeira foi de que poderia aumentar a audiência e ainda
levar informação para o homem do campo; na segunda, para melhorar a
informação para o público do meio rural; e na terceira, o entrevistado não
soube dizer.
Das emissoras que não têm interesse, duas são FM e uma AM. Em uma
FM a alegação é de que esse público já é atendido pela programação, que
atinge "a todas as camadas da sociedade"; na outra FM não foi respondido o
motivo e na rádio AM os motivos apresentados são econômicos.
Três emissoras, sendo duas AM e uma FM, destacam que a audiência
no meio rural é alta. Em uma das AM, o entrevistado destacou que a
repercussão é maior no período da manhã. A Santana, que veicula o programa
rural da Emater, pertence à Igreja Católica. O representante da emissora
considera que, "por terem uma boa relação com a igreja" as pessoas do
campo escutam a rádio. Na FM, eles dizem que todos escutam a programação
deles. Apenas em uma FM a resposta foi de que a audiência no meio rural é
considerada baixa. Em outras quatro dios, não souberam responder ou
disseram que não tinham dados específicos sobre a audiência.
A conclusão possível, pela análise dos formulários, é de que não há
interesse em abrir espaço para um programa voltado ao público rural no rádio
ponta-grossense, a menos que as emissoras consigam um retorno financeiro.
Por outro lado, como boa parte dos espaços é vendida, basta que alguém
arque com os custos para ter direito de levar qualquer programa ao ar,
144
incluindo algum rural. Mas dificilmente a iniciativa vai partir das emissoras,
mesmo entre aquelas que disseram poder haver interesse.
4.2.2 O Homem e a Terra
Foi realizada uma análise editorial do único programa de noticiário rural
disponível para o agricultor familiar ponta-grossense em rádio, veiculado por uma
emissora local. Trata-se do O Homem e a Terra, produzido pela Empresa
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR). O programa é
feito em Curitiba e distribuído, gratuitamente, para rádios de todo o Paraná. O
programa tem 10 minutos de duração e vai ao ar de segunda a sexta, no horário que
a emissora que veicula achar melhor. Em Ponta Grossa, atualmente, ele é
reproduzido pela Rádio Santana AM, das 6h30 às 6h40.
O programa é exibido em um único bloco, com uma média de duas a quatro
matérias, mais recados e conselhos considerados importantes. Para a execução da
referida etapa da pesquisa foi acompanhada uma semana do programa, de 4 a 8 de
dezembro de 2006. O tempo foi considerado suficiente, levando-se em conta a
lógica da estratificação sugerida por Richardson (1989). Como o programa é
produzido o ano todo pela mesma equipe e seguindo o mesmo modelo, não é
necessário fazer uma avaliação de período mais amplo para reconhecer o modelo.
No período em que O Homem e a Terra foi acompanhado, todas as matérias
foram apresentadas apenas na locução do apresentador, Ramon Ribeiro, sem
participação de repórter ou sonoras (entrevistas em que aparece a voz do
entrevistado) com personagens dos assuntos. Diariamente, ao final do programa,
antes das despedidas, também teve um comentário a respeito de transgênicos, com
tempo entre 1'10'' a 1'50'', feito por um agrônomo da Empresa Paranaense de
Classificação de Produtos (Claspar), do governo do Estado. O discurso adotado foi
contrário à transgenia, seguindo o pensamento dominante da atual Administração
Estadual.
O agendamento do programa não segue uma lógica factual, com observância
de calendário agrícola ou mercado agropecuário. Durante toda a semana as edições
foram bem variadas, com diversos temas, todos ligados à agricultura familiar. A
pauta foi determinada com base em informações de extensionistas rurais da própria
Emater, de diversos municípios do Paraná. Trata-se de apresentação de trabalhos
desenvolvidos por eles ou com seus acompanhamentos técnicos.
145
No primeiro dia, segunda-feira, 4 de dezembro, foi divulgada a distribuição de
alevinos feita em Ortigueira, gratuitamente, e um exemplo de como combater pragas
em cultivo de tomate. Na terça-feira, dia 5 de dezembro, o programa mostrou como
pequenos produtores estão obtendo renda extra com a produção de rosas e outra
matéria tratava da obrigatoriedade do agricultor manter mata ciliar nos cursos de
água.
Na quarta-feira, dia 6 de dezembro, foram apresentadas duas pequenas
notas, uma alertando para os perigos da hantavirose e como evitar e outra dando
dicas de aproveitar a água de ovos cozidos, rica em minerais, no jardim. Na
seqüência, entrou uma matéria mostrando exemplo de como os produtores de leite
de São Miguel do Iguaçu estão conseguindo melhorar a qualidade do produto,
lembrando que o trabalho é feito com recursos do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O programa foi lembrado
novamente logo no tema seguinte, que falava que pequenos produtores de
Marechal Cândido Rondon estão fazendo reflorestamento com esses recursos.
A edição da quinta-feira, dia 7 de dezembro, teve um conselho para os
ouvintes sobre a necessidade de recolher as embalagens vazias de agrotóxicos.
Depois contou que pequenos produtores de São Miguel do Iguaçu estão
conseguindo "dinheiro extra" com a plantação de pepino. É destacado que a cultura
foi implantada com recursos de um programa do governo estadual. Fechou falando
que em Ortigueira está sendo feita a recomposição da mata ciliar nos rios com
mudas de árvores do Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
No fechamento da semana, sexta-feira, dia 8 de dezembro, o programa
começou aconselhando os ouvintes a se protegerem do sol para evitar doenças
como o câncer de pele. Logo a seguir mostrou que em Cornélio Procópio produtores
de tomate estão conseguindo até melhorar a produtividade com uso racional de
agrotóxicos. A última matéria tratou da apicultura, destacando uma campanha
contra mel falsificado no município de Agudos do Sul.
Foi possível observar que o programa não se pauta pelo factual. As edições
são montadas de acordo com assuntos disponíveis, destacados pelos
extensionistas. As exceções ficam para campanhas, como as feitas contra os
transgênicos. Exemplos de bons resultados e conselhos dão o tom do noticiário, que
destaca a todo o instante a presença do governo e de programas oficiais nas
atividades desenvolvidas. Importante ressaltar que o foco não se fixa apenas na
produção. São tratados temas como saúde (perigo do câncer de pele e da
146
hantavirose), meio ambiente (importância de conservar a mata ciliar) e dicas para
dona de casa, como no caso do uso de água de ovo cozido para fortificar as plantas
do jardim.
Não há, portanto, um critério de agendamento pautado no calendário.
O programa não trouxe, por exemplo, nenhuma vez, cotações de produtos
agrícolas. Mas há um padrão, baseado nas idéias e sugestões que podem
ajudar, na concepção do emissor, o agricultor familiar. O discurso adotado,
portanto, é o da extensão rural, difusionista de temas e formas de trabalho.
Diariamente o programa fala qual é a fase da Lua, conta quais são os santos
do dia e os municípios que estão de aniversário.
Os atores sociais envolvidos na programação são as empresas
públicas, governos estadual e municipais, os técnicos e os produtores rurais.
Em todas as matérias percebe-se a presença do extensionista rural e do
produtor envolvido nas atividades, embora não sejam utilizadas sonoras a
campo. O extensionista é o orientador do trabalho, o agente da mudança ou
novidade, e o produtor é colocado no papel de receptor envolvido na
proposta, que implementa as práticas e comemora os resultados
conseguidos.
A linguagem adotada é extremamente coloquial, tentando se aproximar
da forma de falar do homem do campo, com toda simplicidade. Os termos
considerados mais difíceis são explicados em outras palavras. O
apresentador tenta passar um clima de amizade e até cumplicidade com o
ouvinte, chamando-o de "amigo" e "amiga", "minha gente". Na quarta-feira,
dia 6 de dezembro de 2006, abriu usando os termos "compadre" e
"comadre". Vale destacar que não são esquecidos os gêneros masculino e
feminino. No final, se despede calorosamente, deixando um abraço e dizendo
que estarão de volta no dia seguinte.
É possível dizer que o programa se pauta nas diretrizes
governamentais, dando publicidade ao governo do Estado, muitas vezes não
permitindo ao ouvinte decidir por ele mesmo, mostrando que há outras
possibilidades. Mas também procura ter um perfil social, com muitas
orientações úteis aos agricultores, algumas muito importantes, como a
necessidade de reduzir o uso de agrotóxicos, tomar cuidado com a
hantavirose ou o câncer de pele.
147
Os maiores problemas estão na falta de um agendamento
fundamentado e no tempo curto, apenas 10 minutos diários. Outro fator
negativo é a abrangência, uma vez que é feito um único programa para todo
o Estado. Nesse caso, temas que interessam ao Norte do Estado, por
exemplo, podem não ter nenhum interesse no Sul, e vice-versa.
4.3 A TELEVISÃO
A pesquisa empírica demonstrou que a televisão é o principal meio de
comunicação utilizado pelo produtor de base familiar, entre os entrevistados, para
saber o que está acontecendo no meio rural. O aparelho de TV está presente em
96,7% dos lares dos agricultores familiares em questão. Do universo de 60
agricultores, 40 (66%) citam esse meio como forma de informar sobre notícias
agrícolas, sendo que 32, ou seja, 71,1% dos 40, são espectadores do programa
Globo Rural, da TV Globo. E os produtores entrevistados não são uma exceção.
Mendes (2002) diz que a televisão é o meio de comunicação de maior penetração
entre os segmentos sociais. Em média, a população em geral assiste mais de três
horas diárias de TV, o que representa 20% do tempo que uma pessoa permanece
acordada. Esse tempo cresce para quase quatro horas no final de semana e
ultrapassa 21 horas por semana.
A presença da televisão entre os brasileiros vem num crescente, desde seu
surgimento no país, 57 anos. A primeira emissora instalada no País foi a PRF-3
TV Difusora de São Paulo, em 18 de setembro de 1950. Mais tarde rebatizada como
TV Tupi. Paternostro (1999) lembra que, no começo, a televisão era para poucos,
mas foi se disseminando. Em 1954 existiam apenas 12 mil aparelhos em São Paulo
e no Rio de Janeiro. Quatro anos mais tarde, em 1958, eram 78 mil em todo país.
Defleur e Ball-Rokeach (1993), se referindo aos Estados Unidos, dizem que nos
anos 1940 a televisão virou um símbolo de status, uma referência de capacidade de
consumo para quem tinha um aparelho em casa. No Brasil aconteceu a mesma
coisa no início. Mas o novo meio precisava disseminar sua audiência e por isso a
aquisição do eletrodoméstico foi sendo facilitada com o barateamento ao longo dos
anos e o crédito. A televisão se popularizou de fato a partir da década de 1970 e
hoje está presente em quase todos os lares. Paternostro (1999) conta que na
década de 1950 havia emissoras de TV em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo
148
Horizonte. Atualmente a televisão está presente em todas as regiões de todos os
Estados.
Em 1965 surgiu a TV Globo, no Rio de Janeiro. Em 1969 essa mesma
emissora transmitiu o primeiro programa em rede nacional, o Jornal Nacional. Para
isso se valeu do fato de que pouco tempo antes a Embratel aderiu a um consórcio
internacional para o uso de satélites de telecomunicações o Intelsat
(PATERNOSTRO, 1999). Em 1972 a TV Difusora de Porto Alegre fez a primeira
transmissão em cores no Brasil, a transmissão da abertura da Festa da Uva de
Caxias do Sul. Paternostro (1999) conta que ainda na década de 1970 as emissoras
começaram a trabalhar em rede com uma programação nacional, que vai impor
padrões de usos e costumes do Rio de Janeiro e de São Paulo para todo o país.
O jornalismo também foi abrindo espaço rapidamente na mídia televisiva.
Bourdieu (1997) destaca que nos anos 1950 o jornalismo era pouco presente na
televisão. Com o tempo a relação se inverteu completamente e hoje a televisão
tende a se tornar dominante econômica e simbolicamente no campo jornalístico. O
que reforça tal visão, segundo o autor, é a crise dos jornais impressos, com muitos
desaparecendo. Em se tratando de Brasil, o jornalismo ganhou espaço desde o
início na televisão. Paternostro (1999) diz que ainda em 1950 a TV Tupi colocava no
ar o primeiro telejornal, "Imagens do Dia". De para o modelo foi ganhando
espaço e nunca mais saiu da TV.
Apesar de ter se espelhado inicialmente no rádio, a televisão trouxe ao
público novas características de recepção. Erbolato (1985) diz que a TV atinge mais
sentidos do que a mensagem escrita, mobilizando a visão e a audição do
espectador. Também não exige nenhum esforço ou imaginação. Chega a todos,
mesmo àqueles que não sabem ler, tornando-se formadora de opinião junto a
esses. De acordo com Paternostro (1999), a informação visual, com imagem em
movimento, é a "arma" da televisão contra a vantagem do imediatismo do rádio.
Uma deficiência do veículo, segundo Paternostro (1999), é a limitação da
análise da mensagem. Geralmente as informações são repassadas de forma rápida
e breve. Por outro lado, a autora destaca que a televisão é abrangente e de grande
alcance. Não distingue classe social ou econômica. O jornalismo na TV deve,
portanto, considerar que a notícia vai ser vista de maneiras distintas, por públicos
distintos.
Mas apesar das qualidades destacadas, a televisão é alvo de críticas
contundentes quanto a forma e conteúdo. Para Erbolato (1985), o modelo televisivo
149
acaba por tornar a mensagem superficial, destinando-se mais ao entretenimento e à
informação instantânea. Sodré, M. (1984), ao analisar a maneira como se produz
para o veículo, diz que, por não poder distinguir classes, a televisão tende a dar
homogeneidade aos mais diferentes conteúdos culturais, tornando-os facilmente
aceitáveis pelo blico. Os modelos são criados através de estereótipos levados ao
telespectador de maneira impositiva. Segundo Sodré, M. (1984)
A imagem televisiva não conceitualiza. A sua capacidade expressiva não
ultrapassa os limites do individual: a imagem fenomenaliza sempre o objeto
que representa, presa que está à simulação do vivido, perdendo seu
significado tão logo é substituída por outra. (1984, p. 74)
Tratando do telejornalismo francês, Bourdieu (1997) critica a forma utilizada,
que prioriza notícias de variedades ou esportivas. Essas recebem os melhores
espaços. Além dos acidentes e catástrofes, que apenas suscitam curiosidade, sem
uma discussão política ou mais profunda. O autor chama tais pautas de "assuntos-
ônibus", que não levantam problemas, conformizando e despolitizando a
informação.
Os fatos têm alguns fatores que influenciam nos meios de comunicação em
geral e com a televisão não é diferente. Para Sodré, M. (1984), a TV é um sistema
atua focado nos fatores de economia de mercado e acionado pelo desenvolvimento
tecnológico. Bourdieu (1997) afirma que o acesso à televisão gera uma perda da
autonomia, principalmente porque os assuntos são impostos e o tempo é curto
demais para que qualquer coisa possa ser dita. Segundo o autor, ela é um
instrumento de manutenção de ordem simbólica, com toda forma de censura.
De acordo com Bourdieu (1997), o veículo usa a lógica do exagero, da
dramatização, amplia importância e gravidade dos fatos. Dessa forma, apresenta
um mundo de imagens, dominado pelas palavras. O que interessa para a televisão
são os fatos considerados extraordinários, não interesse pelo cotidiano e se
houvesse poderia mostrar o mundo real, o que é um perigo político para quem
domina o meio.
Bourdieu (1997) também aponta os índices de audiência como fatores que
prejudicam a qualidade da mensagem televisiva. Tais índices ditam o que é bom e o
que é ruim, o sucesso comercial e o que deve continuar no ar ou ser excluído. O
autor diz que a televisão é um meio de comunicação pouco autônomo, com muitas
restrições, e conivente com interesses comuns.
150
Considerando todos os aspectos, Sodré, M. (1984) afirma que um dos efeitos
da televisão sobre o telespectador é apagar as diferenças individuais, através de
uma linguagem uniformizante do consumo e da afirmação do status quo. Ao mesmo
tempo faz o receptor/consumidor pensar que ele tem absoluta escolha em suas
decisões de consumo. Bourdieu (1997) diz que muitas pessoas não lêem nenhum
jornal e o totalmente devotadas à televisão como única fonte de informação.
Assim, segundo o autor, a TV tem uma espécie de monopólio sobre a formação do
pensamento de grande parte da população, preenchendo seu tempo com vazios.
Para Bourdieu (1997), o receptor não tem nada ou quase nada. Essas pessoas se
afastam de informações pertinentes, que deveriam ter para exercer seus direitos
democráticos. São novos hábitos gerados pela tecnologia que, segundo Kucinski
(2005), acabam gerando novos valores.
Em se tratando especificamente sobre o meio rural, as questões de modelos
e participação parecem não ter muita diferença. Callou (2007) diz que o modelo
utilizado para a informação voltada aos agricultores segue o padrão do Globo Rural.
4.3.1 A televisão feita para o público rural
Parece evidente que a penetração da televisão, hoje, também é grande no
meio rural. Assim como o morador dos centros urbanos, o agricultor familiar usa o
meio para lazer ou nas horas de descanso. Quando se trata de buscar informação,
a pesquisa demonstrou que a maior parte dos entrevistados continua preferindo o
mesmo eletrodoméstico da diversão. E o programa preferido é o Globo Rural.
Para entender como funciona a informação via televisão, foi realizada uma
pesquisa de dois programas oferecidos ao produtor familiar ponta-grossense, o
Globo Rural, da Rede Globo, transmitido para todo o Brasil, e o Caminhos do
Campo, da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), rede estadual de televisão
afiliada à Globo.
O Globo Rural conta com edições diárias, de 15 minutos, pela manhã, e outra
mais elaborada aos domingos, com uma hora de duração, das 8 às 9 horas. o
Caminhos do Campo vai ao ar aos domingos, das 7 horas às 7h30. Para a
presente etapa do trabalho, foram observadas quatro edições dominicais do Globo
Rural e quatro do Caminhos do Campo, entre os dias 21 de janeiro e 11 de fevereiro
de 2007. Gonçalves, E. (2005), que faz uma análise do programa da Rede Globo
em 2005, diz que, por ter uma estrutura permanente, o mero de episódios não
151
influencia na análise. Assim, o estudo da autora não se propõe à construção de
uma amostra representativa, mas de material suficiente para análise. A autora
analisou quatro programas diários e dois dominicais. A mesma lógica foi aplicada
aqui. A opção por quatro programas se deu para ter uma margem de segurança
maior.
O Globo Rural está no ar desde 1980. De acordo com Gonçalves, E. (2005),
o programa tem contribuído para a divulgação da ciência do meio rural, ainda que
haja críticas com relação à seleção dos assuntos. Segundo a autora, a qualidade
técnica do programa causa atração e fidelidade do público. Gonçalves, E. (2005) diz
que o Globo Rural segue a lógica da televisão, meio que, para a autora,
preferência para o espetacular e para assuntos muito próximos do público alvo, para
conseguir maior audiência e mais investimentos publicitários. Embora o público
principal seja o agricultor, tem boa penetração também nos centros urbanos, onde
muitos espectadores assistem, na busca de um contato com o campo, por saudade
ou como forma de fuga da agitação urbana.
4.3.2 Globo Rural
Nas edições acompanhadas do Globo Rural foi possível registrar que o
programa segue um padrão, formado com matérias mais longas, que podem
variar de um até cinco minutos, notas inferiores a um minuto, divulgação de
festas e eventos do meio rural, mercado agropecuário e especiais, que
chegam a ocupar dois blocos. Agricultura, clima e meio ambiente estão
presente na programação, mas no período analisado a pecuária dominou o
quadro das matérias completas, com oito das 19 que foram ao ar. Em
segundo lugar apareceram a produção de grãos e artesanatos, com duas
matérias para cada tema. A pecuária também tem preferência quando se
trata de mercado agropecuário. Estranhamente, no período acompanhado,
somente o preço do boi e da saca de café eram divulgados.
De resto, o programa apresentou uma variação de temas, com
olericultura orgânica, produção de açafrão, de gengibre, mostrou uma festa
comunitária no interior de São Paulo, produção de biodiesel, volta da chuva
em Pernambuco e colheita de uma fruta chamada pequi. Todas as matérias
foram apresentadas em um tom otimista, como do fim da estiagem, e
mostradas como exemplos de possibilidades de lucros.
152
Os VTs (matérias jornalísticas) mais longos aparecem entremeados por
notas menores, geralmente produzidas para outros telejornais e
reaproveitadas. No período analisado, o problema das enchentes no Sudeste
teve maior destaque, aparecendo cinco vezes em quatro edições. Outras
duas notas trataram do oposto, da seca em regiões do Nordeste. A lógica
segue o calendário e ocorrências da semana. Apareceram, uma vez cada,
informações sobre colheita de cebola, de milho, de marmelo e melão.
Destacou uma crise que ocorria na bataticultura, com produtores jogando
batata fora no Paraná, falou de um evento técnico, também no Estado, da
morte de crianças indígenas e de políticas públicas.
Foram reapresentadas três matérias especiais feitas no ano anterior,
2006. Duas delas de meio ambiente, a primeira abordando a desertificação
no Nordeste e outra de recuperação de um pantanal na Flórida, Estados
Unidos. Foi mostrada ainda uma reportagem especial sobre pecuária, com
novas técnicas para o setor desenvolvidas por uma pesquisadora
estadunidense.
O agendamento do Globo Rural segue a lógica da novidade nas
matérias completas, com informações para o pequeno, médio e o grande
produtor. No último caso, basicamente tratando de pecuária. As notas se
voltam para o factual, numa espécie de balanço da semana. O programa faz
alertas aos problemas ambientais causados pelo desmatamento ou pelo uso
incorreto do solo, mas chamando a atenção da responsabilidade apenas do
produtor, sem passar parcela de culpa para outros setores, como a indústria
ou governos.
Os critérios de noticiabilidade, além da agenda, passam notadamente
por lógicas de mercado, alertas aos produtores e exemplos considerados
pela equipe que produz o programa como bons. Não há uma análise de
outros ângulos, que podem significar pontos negativos da opção pela cultura
apresentada. Algumas matérias aparecem fora de contexto, como enchentes
em cidades ou morte de crianças em uma reserva indígena, que não são
temas rurais e estariam melhor colocados nos telejornais da emissora. Uma
matéria completa, que trata de uma determinada gramínea que oferece
excelentes resultados, apareceu antes de um intervalo onde entrou um
comercial da fazenda que vende sementes da mesma pastagem.
153
O discurso adotado vai das vantagens que os produtores estão
obtendo com alguma técnica, manejo ou cultura, até alertas sobre as formas
corretas de se trabalhar. O programa "vende" modelos e idéias, mas em
nenhum momento adotou postura crítica ou com enfoque de diferentes
ângulos dos assuntos mostrados, optando por uma "neutralidade". A
linguagem é coloquial, de fácil entendimento, mas sem buscar muita
intimidade, como é feito no programa de rádio O Homem e a Terra. Há
diferença entre as matérias da equipe própria, melhor elaboradas e afinadas
com a linha editorial do programa, e aquelas produzidas pelas afiliadas, que
seguem mais o padrão Globo de jornalismo, com o qual os repórteres estão
acostumados.
Os atores sociais são os produtores rurais, técnicos e analistas, além
de autoridades. Todas as matérias, desde aquelas do pequeno produtor até o
grande pecuarista, recebem o aval de alguma autoridade técnica ou política,
que vai confirmar o que está sendo falado. Essa, aliás, é uma lógica adotada
no jornalismo contemporâneo, onde a fonte oficial serve como um registro de
imparcialidade.
O Globo Rural segue a lógica do entretenimento, com matérias bem
elaboradas e um tom de voz suave. Mesmo quando trata de problemas, o
discurso é mostrado sem rispidez. De uma maneira geral, nas edições
acompanhadas, o público que se buscou envolver foi amplo, do pequeno ao
grande produtor, mas sempre favorável ao mercado. Falta um alerta, no caso
dos exemplos em que agricultores estão obtendo sucesso, sobre a
necessidade de buscar entender melhor o negócio, ver se é viável ou não e
onde encontrar informações. Vale lembrar que o Globo Rural é nacional,
portanto, nem todos os temas servem aos espectadores de Ponta Grossa.
4.3.3 Caminhos do Campo
O programa Caminhos do Campo, da Rede Paranaense de Comunicações, é
feito com matérias produzidas por equipes da rede e um apresentador fixo, que
também faz reportagens. São apresentados dois tipos de matérias, as factuais, de
temas de momento e de culturas que estão dando bom retorno financeiro. Também
é mostrada agenda de festas e receitas. uma predileção em mostrar como se
preparam pratos, geralmente fechando matérias. Em quatro edições foram
154
mostrados cinco, sempre com a dica de que podem ser encontrados no site da
emissora. O programa não apresenta cotações.
Não foi observada uma tendência maior para determinado tema. A pauta se
mostrou bem variada, com hidroponia, produção de banana orgânica, palmito,
batata, uva, framboesa, entre outros. As factuais destacaram estiagem, colheita de
soja, elevação do preço do milho, perdas no feijão, entre outros. O maior destaque
fica para a produção de grãos, mas ainda assim foram apenas quatro matérias
(soja, feijão e milho, duas vezes). Ao contrário do Globo Rural, o Caminhos do
Campo não prioriza a pecuária. Teve apenas uma nota sobre o baixo preço do suíno
e uma matéria de uma raça de bovinos desenvolvida pelo Iapar, em Ponta Grossa.
Em três dos quatro programas, foi apresentada uma série sobre produção de tilápia
e a última edição acompanhada focou no aniversário de um ano do programa, que
foi apresentado de um sítio no município de Doutor Camargo, onde montaram uma
pequena festa, com direito a orquestra rural.
O programa não demonstra ter um critério lógico de agendamento. As
edições são montadas com matérias enviadas pelas repetidoras espalhadas pelo
Estado. O discurso se mostra extremamente favorável aos temas apresentados,
como sendo excelentes negócios. Isso pode ser observado em assuntos como
hidroponia, produção de banana orgânica, de palmito no litoral, framboesa, entre
outros. Foram temas parciais, com um único ângulo observado, sem uma análise
dos contras. As reportagens também deixam de destacar os custos de produção ou
quais são as dificuldades para entrar no mercado. Em muitos momentos, tanto o
repórter como o apresentador fazem questão de adotar um tom entusiasmado com
o assunto, assumindo claramente uma posição. Em alguns casos, como do preço
elevado do milho por conta desse receber cotação como combustível, ou da
possibilidade de se plantar culturas para fazer biodiesel, em nenhum momento se
levanta o problema de que o pensamento hegemônico em favor da energia pode ter
como efeito colateral a redução da produção de alimentos, por exemplo. É, portanto,
a mesma lógica da imprensa em geral, que trata de vários assuntos de interesse do
status quo, com pensamento único.
O programa não apresenta uma preocupação social ou ambiental, nem se
define por algum tipo de público, variando do grande ao pequeno. O agricultor
familiar geralmente é apresentado como alguém bem sucedido, que leva uma vida
agradável, longe da agitação urbana. Os atores, invariavelmente, são produtores
rurais e em muitos casos é dispensada, inclusive, a presença de um técnico ou
155
autoridade, diferenciando do Globo Rural nesse aspecto. Quanto à linguagem,
apenas o apresentador procura carregar no sotaque, tentando interpretar o modelo
do homem do campo. os repórteres da rede, seguem o modelo da própria RPC,
sem uma diferenciação na condução do texto ou da matéria por se tratar de tema
específico.
É possível considerar que o Caminhos do Campo é pautado semanalmente
de acordo com a necessidade de fechar os 30 minutos do programa e não na
necessidade do receptor. Tal direcionamento pode ser observado no fato de as
matérias entrarem de diferentes municípios sem uma lógica que busque absorver o
calendário agrícola. Não trata de preços, de mercado, nem mesmo aprofunda
problemas. No período analisado havia dificuldade para produtores de feijão, devido
às chuvas em período de colheita, e de batata, com preços muito baixos. Ambos
mereceram apenas uma nota. A questão dos transgênicos, que também é polêmica,
apareceu em uma pequena matéria, apenas defendendo a prática, sem questionar.
O mesmo aconteceu em relação aos biocombustíveis, destacados apenas como
uma excelente oportunidade de ganhos.
156
CONCLUSÃO
Para melhor compreensão do meio rural, tendo como recorte o ambiente
ponta-grossense, fica claro que o agricultor familiar diferencia-se do grande produtor
por suas características. O local em que vive é também onde trabalha e produz e
produzir está essencialmente ligado à sua permanência no meio rural. Ele
desenvolve sua atividade basicamente com a mão-de-obra da família e planta e
colhe para o consumo e para a venda. É daí, principalmente, que tira seu sustento.
Mas não é possível pensar em um agricultor familiar como público
homogêneo. Características individuais diferenciam as famílias, sendo possível
pensar em dezenas de grupos, com costumes próprios, produção, tradições,
culturas, entre outros aspectos. O que mais os aproxima é o ambiente e a atividade
rural, como destaca Solari (apud MARTINS, 1981). Algumas características,
entretanto, são dominantes em Ponta Grossa. A maioria (73,3%) sempre viveu e
trabalhou no meio rural e 66,6% são descendentes de agricultores. Para 63,3%, a
terra em que vivem e trabalham foi recebida por herança.
Foi demonstrado, também, que o agricultor familiar se diferencia do grande
produtor, desde suas origens. A chamada grande propriedade sempre esteve
voltada para o comércio, utilizou escravos e hoje empregados. o pequeno
produtor se desenvolveu às margens dos latifúndios, muitas vezes atrelada a ele.
Atualmente pode ser mais independente, mas do Brasil Colônia até o século XXI se
voltou preferencialmente para a produção de alimentos que abastecem as feiras e
supermercados.
Essas considerações demonstram que a importância da continuidade da
agricultura familiar não é somente social - como se isso não bastasse mas
também econômica. Por isso necessita de atenção especial, tanto dos órgãos
públicos, como da produção midiática, se for entendido que a comunicação é
importante para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
Como foi apontado no referencial teórico, a comunicação midiática, assim
como a interpessoal, se mostra muito importante na medida em que os indivíduos
se relacionam e têm compreensão do universo local e distante a partir dela.
Thompson (2002) explica que as pessoas ampliam os seus horizontes e se
remodelam usando os produtos midiáticos. E com o agricultor familiar não é
diferente, também precisa estar interado de tudo o que acontece. Seria exagero
157
dizer que as dificuldades do pequeno produtor e o êxodo rural ocorrem por conta
desse não fazer uso dos produtos de mídia de forma sistemática. Outros fatores
muito mais relevantes, como a opção dos governantes pela agroindustrialização e
produção de grãos, foram determinantes na exclusão no campo, como demonstrado
no presente trabalho. Mas é possível que um maior grau de informação poderia
ajudar nas tomadas de decisões na agricultura familiar. E, nesse aspecto, a mídia
se mostra importante.
As formas mediadas são cada vez mais usadas. Os meios de comunicação
podem oferecer importantes respostas para os anseios da sociedade, inclusive no
campo. Produzir apenas por hábito, sem conhecimento, é cada vez mais difícil e o
produtor necessita dos processos de comunicação. Nenhum camponês vive de
forma isolada hoje em dia, como destaca Lefebvre (1981). Os processos de
comunicação existem há séculos, mas a partir do século XX se intensificaram. As
relações se dão cada vez mais à distância, através de processos midiáticos, e os
acontecimentos externos interferem nos processos internos, mesmo nas menores
localidades. Assim, diversos fatores formam as relações da agricultura familiar e a
busca de conhecimento é importante para o trabalho e permanência no campo.
Nunca, na história da humanidade, existiu tanta disponibilidade de recursos
comunicativos como no mundo contemporâneo. Portanto, as condições para busca
de conhecimento estão postas, precisam ser trabalhadas, de lado a lado. Se a
formação do conhecimento se dá, em grande medida, a partir da mídia, as
construções midiáticas muitas vezes demonstram que nem sempre é possível o
indivíduo se expor à informação sem uma postura crítica. É preciso ter entendimento
da comunicação de massa. Dentro da estrutura capitalista vigente prevalece uma
lógica comercial direcionada para a busca do lucro. Assim, muitas vezes as
construções são voltadas para o retorno financeiro imediato. Mas a estrutura social
também modela a mídia. Não é, portanto, uma definição que parte apenas da
vontade dos veículos, mas de todo o movimento da sociedade, que pauta a
produção noticiosa. que na formação, geralmente predomina o pensamento das
classes dominantes, que detêm os meios de comunicação de massa. Mas também
oferece espaço aos movimentos sociais, ainda que por vias diferentes, e vai expor
as questões da sociedade, porque os veículos estão inseridos no seio das
comunidades, como destaca Kellner (2001). Além do mercado, poderes
simbólicos que interferem diretamente no agendamento das notícias, devido à
complexidade de espaços e grupos, segundo Sousa (2002).
158
Se a mídia manipula e constrói a realidade, também acaba manipulada pela
mesma realidade. No contexto, uma gama enorme de produção, inclusive para o
meio rural e não é possível receber tudo e absorver. É preciso filtrar o que é
interessante, o que, de certa forma, faz o cidadão em geral e o agricultor em
particular. É no seio das mediações destacadas por Sousa (2002) que ocorre a
produção da mídia, da qual o leitor ou expectador é fonte e receptor. Além da
escolha, é preciso que o produtor tenha entendimento do que é noticiado. O
recebimento das formas simbólicas será útil se o receptor compreender a
linguagem, importância e contexto da mensagem.
O grande produtor usa a comunicação de forma regular e o agricultor familiar
também acredita que ela é importante, mas não usa por diversos fatores que
demonstram grande complexidade. Não entre os pequenos produtores uma
formação cultural/educacional focada na centralidade da informação oferecida a
partir dos produtos de mídia e os próprios meios de comunicação de massa não
oferecem um produto que os tornem fundamentais para o dia-a-dia. Se houver um
entendimento de que a comunicação merece um espaço maior na prática cotidiana
rural, tanto por parte dos meios acadêmicos como dos setores governamentais, é
preciso que a agricultura familiar seja melhor orientada para as possibilidades
existentes no conhecimento midiático. O trabalho intelectual pode, então, ser tão
importante como plantar ou colher bem. Com um nível de esclarecimento mais
elevado, o próprio produtor pode exigir uma comunicação rural mais eficaz e de
qualidade.
Tais mudanças não são impossíveis, se for lembrado que o agricultor familiar
não está totalmente fechado a novidades, ainda que a tradição, o conhecimento e
costumes repassados de geração para geração sejam mais importantes para ele. As
duas relações, novo conhecimento e patrimônio cultural podem ser fundamentais na
continuidade e progresso da pequena propriedade.
Assim como se relacionam com os extensionistas, líderes comunitários,
vizinhos e parentes, os agricultores familiares podem se relacionar com a
comunicação, como participantes e não apenas no sentido de receptores, que vão
aceitar ou ignorar a mensagem. A partir daí ele vai decidir, com maior entendimento
do contexto, quais são os melhores caminhos que se apresentam dentro da sua
realidade. Não um único cenário possível, mas vários, que precisam ser
entendidos pela ordem social, que, como destaca Sousa (2002), é o sujeito da
comunicação.
159
É claro, também, que tal adoção não se dará sem trauma, visto que o campo
da mídia busca influenciar as audiências de maneira geral, num desempenho
próximo ao difusionismo da extensão rural do passado e ainda praticado em muitos
casos. Mas a decisão cabe ao produtor, ou grupo social em que está inserido, e
pode ser feita com maior ou melhor conhecimento.
A comunicação rural tem mudado ao longo do tempo. Se no início era voltada
para as comunidades rurais, nos anos 1960 o público passou a ser os agricultores,
ou seja, o foco mudou para a produção. nos anos 1970 e 1980 a grande mídia
descobriu o mundo rural e foi abrindo espaço cada vez maior, com interesse de
ampliar audiência ou vendagens e obter lucro, além de transmitir as ideologias
dominantes. No caso específico dos meios impressos, destaca-se o pensamento do
principal consumidor das próprias publicações, o sujeito do agronegócio, no campo
ou na cidade. A comunicação rural feita a partir de então apresenta outros entraves,
como a falta de vivência e entendimento da realidade do campo, que é produzida
no meio urbano, por sujeitos, via de regra, urbanos. Ademais, deve atender a
segundos interesses. Mas, ainda assim, é melhor o agricultor familiar saber o que se
anda produzindo no campo midiático do que ficar alheio aos acontecimentos.
Como foi demonstrado na fundamentação teórica, a comunicação rural para a
agricultura familiar precisa conhecer quem é o público de demanda da sua produção
e suas necessidades. Também deve ir além dos aspectos meramente produtivos.
Saúde, educação, conservação do meio ambiente são temas que devem fazer parte
da pauta cotidiana dos meios informativos. A falta de uma visão mais global de todo
o universo rural pode ser um dos motivos do pequeno produtor não definir a
comunicação como uma ferramenta sistemática nas suas atividades. Mas se eles
encontrarem sentido prático, podem interagir de forma diferente.
Outra consideração destacada na fundamentação teórica do presente
trabalho é de que é preciso entender as pluralidades de interesses e necessidades
nos espaços rurais. E esse é um desafio para o incremento da comunicação rural.
Também não podem ser ignoradas as diferenças sócio-econômicas. A agricultura
familiar não é heterogênea apenas na forma de pensar ou por diferentes interesses
ou atividades agrícolas. O grau de desenvolvimento econômico e, por
conseqüência, material, também difere muito de um produtor para outro. Assim, o
mais coerente, talvez, seja pensar em comunicações rurais e não em uma
comunicação rural, no singular. E é um desafio, não apenas para os canais de mídia
160
privados, mas para o sistema público, que pouca atenção para a produção
midiática voltada à agricultura, na atualidade.
Ainda que pouca atenção seja dada para a qualidade da produção midiática
para o rural a primeira conclusão a que se chega no presente trabalho é de que o
agricultor familiar, de certa forma, utiliza produtos midiáticos feitos para o meio, uma
vez que 45 dos 60 entrevistados acompanham algum tipo de comunicação rural.
Portanto, ele tem conhecimento de muito do que se produz.
Assim como na cidade, no campo, a televisão é o meio que domina a atenção
da população, estando presente em quase todos os lares. Quando se trata de
comunicação rural, tal mídia confirma a preferência que desperta, que 40 dos 45
produtores que acompanham noticiários para o meio, usam a TV, posição muito
superior ao rádio, que também é encontrado em quase todas as casas, mas é
utilizado para a comunicação por sete dos entrevistados.
Por outro lado, os veículos impressos são quase ignorados na agricultura
familiar. Não o hábito da leitura, reflexo, talvez, da cultura visual, oral e eletrônica
da média dos brasileiros, que preferem assistir ou ouvir, em vez de ler.
Apenas um entrevistado diz que caderno rural e dois citaram revistas, o
que dá um total de 5% que utilizam impressos. Quase nada.
Parece estar longe, também, o dia em que a internet se tornará uma
ferramenta do cotidiano desse público. Mais provável é que as próximas gerações,
dependendo do sucesso ou não da agricultura familiar, possam ter o hábito de
buscar informações rurais na rede.
Mas se o agricultor familiar tem conhecimento e até acompanha os
noticiários, fica claro que os produtos midiáticos não são considerados uma
ferramenta necessária e sistemática na vida profissional do agricultor familiar. Mais
da metade (61,7%) acompanha os preços, porém, com o objetivo principal de saber
quanto está custando na hora de vender e não como forma de tomada de decisão
ou planejamento, o que acontece muito mais nas relações interpessoais. Os
próprios veículos não servem de parâmetro, uma vez que se a maioria diz que
acompanha o mercado pelo rádio e televisão, a pesquisa desses meios mostrou que
não uma cobertura eficaz, que aborde todos os campos e nem faz uma análise
dos mercados para o agricultor familiar.
A questão dos preços pode ser pontual, mas, mais da metade (51,5%)
informou que o costuma usar as informações do meio, mesmo que acompanhem
noticiários rurais. Sobram 48,5% que se interessam em experimentar alguma coisa
161
do que vêem, mas desses apenas 3 (6,7%) dos 45 dizem que a informação é
habitual e usada nas decisões em geral na propriedade. Para os demais, ficou
constatado o uso em momentos específicos, que podem significar o interesse ou
curiosidade por experimentar o objeto de determinada matéria. Ele não desconhece
as possibilidades da mídia lhe mostrar novidades ou dicas para diversos assuntos,
mas, por outro lado, não insere a informação como ferramenta de trabalho.
O que reforça o resultado de que a mídia não está presente nas principais
decisões do agricultor familiar é o fato dela não ser lembrada como uma maneira de
tomar decisões na hora de produzir. Outras instituições e agentes, como família,
vizinhos, mercado ou técnicos são mais decisivos. Mais importante ainda são os
hábitos e costumes, elementos apontado por vários teóricos como determinante e
que foi confirmado por 41,6% dos entrevistados.
Por outro lado, é instigante observar que 88,4% dos entrevistados acreditam
que a produção midiática é importante. A resposta pode ser apenas retórica, como
muitas no seio social, como considerar a reforma agrária necessária ou entender
que é preciso se proteger para aplicar agrotóxicos. O que falta é colocar o
reconhecimento da importância da comunicação em prática. A relação com a mídia
se coloca como um outro lugar, distante, o que é demonstrado pelo fato de apenas
cinco agricultores familiares terem, em algum momento, entrado em contado com
veículos de comunicação.
Os resultados demonstraram que o agricultor familiar não vive isolado na sua
propriedade. Ele tem acesso à produção midiática, no mesmo nível da média das
pessoas da cidade, sendo que 96,7% têm televisão e rádio em casa, 18,3%
adquirem jornais e/ou revistas, 16,6% contam com internet, metade tem vídeo-
cassete e mais da metade aparelho de DVD. Além disso, mais de um terço conta
com telefone fixo e dois terços com celular. Ainda assim, a maioria tem uma relação
interpessoal mais relevante do que a própria mídia, haja visto que a informação
chega pelo mercado, por técnicos, vizinhos e conhecidos. Nesse contexto, as
práticas se definem com maior consistência através das tomadas de decisões que
ocorrem nas trocas de informações diárias. Assim, a mídia é mais um elemento,
que serve para um primeiro contato, que depois será discutido face a face.
Os temas que mais interessam aos agricultores sugerem uma busca
imediatista e pontual para suas necessidades, que as respostas da pesquisa
empírica se focaram principalmente em fatos relacionados com o que produzem. Às
vezes nem isso, dado que 38,3%, por exemplo, não buscam informações sobre
162
preços. As respostas do capítulo três, nos subitem 3.7.2 e 3.7.3, indicam que
assuntos ligados à atividade em que atuam no momento são mais importantes do
que um entendimento global da ruralidade, do meio em que vivem. Mas é possível
perceber, ainda, que o agricultor familiar se recente de um apoio mais consistente
do poder público ou de outras instituições. Isso fica claro na medida em que 56,6%
gostam de saber das decisões do governo para o meio, mas menos de um terço
conta com assistência técnica regular. Um trabalho mais abrangente da extensão
rural, seja estadual ou municipal, seria fundamental no processo educacional do
pequeno produtor, que poderia ser provocado a se interar mais sobre suas
possibilidades e a realidade do meio em que vive.
A falta de uso da comunicação como ferramenta sistemática na atividade
econômica da agricultura familiar se por vários fatores, conforme indicativos que
apareceram na pesquisa empírica. Pelas respostas dos entrevistados, não passa
pela técnica adotada pela mídia, ao menos em se tratando dos produtos midiáticos
que eles utilizam, uma vez que 66,7% consideram a linguagem de fácil
entendimento. A pesquisa oferece pistas de outras razões, então, das relações
entre a mídia e a agricultura familiar não serem tão eficazes como deveriam. As
principais são a falta de hábito e critérios de noticiabilidade que o atendem as
demandas de tal público.
O pequeno produtor tem televisão, rádio, alguns compram jornais e revistas e
têm até internet, mas não enquadram esses materiais como ferramenta de trabalho.
Porém, é bom lembrar que o agricultor familiar não está sozinho. Entre os
trabalhadores urbanos de forma geral, também não uma tradição na busca por
informações que ajudem no aprimoramento ou entendimento profissional. A
diferença é que os meios de comunicação de massa produzem materiais
específicos para a agricultura, porém, mais especificamente para o agronegócio. O
nível educacional na agricultura familiar também é um aspecto relevante. Vale
destacar que 50 dos 60 entrevistados na pesquisa empírica têm menos que o
segundo grau completo. Há, ainda, o reflexo de o Brasil ter uma cultura iletrada, com
um processo de alfabetização tardio, como destaca Canclini (2003). Bordenave
(1985) também diz que o baixo nível de instrução das pessoas causa
incomunicação. Assim, a busca do conhecimento não é uma tradição.
Soma-se à falta de hábito a produção oferecida, que não atende aos
interesses de tal público como deveria. Portanto, se torna ineficaz aquilo que se
apresenta como produção para o pequeno produtor. Martín-Barbero (2002) destaca
163
que é necessário ter entendimento do contexto em que se a comunicação. O
agricultor familiar tem uma formação própria, com cultura e interesses próprios, nos
quais, conforme demonstrou a pesquisa empírica, a produção midiática rural tem
sido utilizada mais como uma instituição de lazer ou preenchimento do tempo, como
curiosidade, do que como trabalho intelectual.
As tomadas de decisões se encontram mais em fatores tradicionais, talvez
porque falte provocação dos agentes técnicos ou de educação, mas também pelos
aspectos produtivos da mídia, que costuma se postar distante de qualquer desafio
que a leve a ter um grau elevado de importância para o agricultor familiar, como se
observa no capítulo quatro. É verdade que quase todos os produtores contam com
mídia eletrônica e muitos têm ou poderiam ter acesso aos impressos, mas essa
observação não é levada em conta pelos canais de mídia. Como é levantado por
Oliveira (1989), a criação de diversos produtos para o mundo rural se pautou mais
nas possibilidades de lucro.
Foram analisados na pesquisa empírica dois programas rurais de televisão:
Globo Rural e Caminhos do Campo, e ambos adotam uma lógica muito mais de
entretenimento. A realidade é construída pela mídia com cores e cheiros da vida
rural, mas sem atender as perspectivas de quem nele vive e trabalha. Os atores
sociais são os agricultores, técnicos, analistas, entre outros. Mas ao dar movimento
a essas peças a televisão não preenche as lacunas necessárias.
O Globo Rural pauta grande parte do seu conteúdo na novidade, no que é
curioso, contemplando muito mais a audiência descontraída, inclusive das zonas
urbanas, e complementando com assuntos factuais da semana. Para apresentar
essa programação, o tom de voz é neutro e simples, mesmo quando trata de
problemas do meio. Sendo assim, não informa como um todo. Além disso, é
abrangente demais, tanto no recorte de público como geograficamente. Vai do
sitiante ao grande empresário do agronegócio e, assim, não atende de forma
satisfatória nem a um nem ao outro. Como o Brasil é um país de tamanho
continental, também se mostra ineficaz na definição de temas, já que são poucas as
culturas encontradas de Norte a Sul, e mesmo quando são as mesmas, obedecem a
tecnologias diferentes.
o Caminhos do Campo tem uma característica maior de proximidade, por
ser estadual. Mas apenas esse critério não é suficiente para torná-lo útil ao
agricultor familiar. O programa não tem um público definido e se pauta mais nas
suas necessidades de fechamento da edição. Posiciona-se frente a questões
164
contemporâneas sem uma posição crítica, sem ver o "outro lado", e não se foca na
agenda de interesse do agricultor.
Portanto, não se pode considerar a produção televisiva como algo didático
ou norteador para o agricultor familiar, nem parece ser esse o objetivo de tal
emissor.
O rádio também está presente na casa dos pequenos produtores. Ainda
assim, a pesquisa empírica demonstrou que as emissoras locais parecem não se
importar com tal presença. A lógica para as rádios é o mercado e nenhuma explora
as possibilidades existentes. programas como O Homem e a Terra, produzido
pela Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR),
mas que também apresenta limitações, especialmente de tempo, que são apenas
10 minutos diários. Sendo assim, não contempla de forma suficiente as
necessidades do meio rural.
Quanto aos jornais, aqueles que têm cadernos rurais focam a linha editorial
no agronegócio. Sua produção é, preferencialmente, voltada para o grande
produtor, ficando longe das necessidades do agricultor familiar.
Em resumo, a noticiabilidade da mídia para o meio rural confirma a tendência
mercadológica, onde se busca vender produtos e idéias dominantes, em que pese o
fato da movimentação social nortear os meios. O recorte do campo é
mercadológico, focado no desempenho do agronegócio, e idealizado.
Portanto, a falta de uso dos produtos midiáticos de forma sistemática pelos
agricultores familiares pode ser entendida na complexidade das relações entre o
pequeno produtor rural e os meios de comunicação e não apenas nas limitações
produtivas e de receptividade. São os dois aspectos, juntos, que sugerem pistas
para tal compreensão, e que podem ser frutos de novos estudos sobre o problema.
165
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172
APÊNDICE A – Formulário de coleta de dados
173
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – UEPG
TEMA: Agricultura familiar na era da informação
MESTRANDO: João Carlos Dias de Oliveira
ORIENTADOR: Prof. Dr. Sérgio Luiz Gadini
Nome:
Área (ha):
Localidade:
Idade:
___________________________________________________________________
________________
1 - A sua propriedade foi recebida por herança?
( ) Sim ( ) Não
___________________________________________________________________
________________
2 – Sempre trabalhou na lavoura?
( ) Sim ( ) Não Há quantos anos?_______________________
___________________________________________________________________
________________
3 – Pais e avós também eram do meio rural?
( ) Pais ( ) Avós
___________________________________________________________________
________________
4 - A propriedade tem aumentado, diminuído ou permanece igual, desde que o
senhor (a) está trabalhando na agricultura?
( ) Aumentou ( ) Diminuiu ( ) Permanece igual
___________________________________________________________________
________________
5 - O que o senhor (a) produz e com que objetivo, para o consumo ou
comercialização?
___________________________________________________________________
________________
6- Como o senhor (a) decide o que vai produzir ou criar a cada safra?
___________________________________________________________________
________________
7 - Que tipo de tecnologia utiliza:
( ) Tração animal
( ) Mecânica
( ) Plantio manual
( ) Usa sementes selecionadas ou crioulas
( ) Usa defensivos e adubação
( ) Faz correção de solos
___________________________________________________________________
________________
8 - Conta com alguma assistência técnica?
( ) Sim ( ) Não
Qual?_________________________________
174
___________________________________________________________________
________________
9 - Acompanha os preços e o mercado regularmente?
( ) Sim ( ) Não
Como?___________________________
___________________________________________________________________
________________
10 - O trabalho na propriedade é realizado:
( ) Só pela família
( ) Com algum funcionário temporário. Quantos?__________
( ) Mutirão com vizinhos
( ) Outros
___________________________________________________________________
________________
11 - Alguém, da família, trabalha fora da propriedade?
( ) Sim ( ) Não
Em que (onde)_________________________
___________________________________________________________________
________________
12 - Quantas pessoas vivem na propriedade, entre pais, filhos ou outros?
( ) Uma ( ) Duas ( ) Três ( ) Quatro ( ) Cinco ( ) Mais de cinco
___________________________________________________________________
________________
13 - O que espera do futuro dos filhos?
( ) Que estudem e continuem na atividade rural
( ) Que não estudem e continuem na atividade rural
( ) Que estudem e vão trabalhar para a cidade
( ) Que não estudem e vão trabalhar na cidade
___________________________________________________________________
________________
14 - Qual é o seu nível escolar e de seu cônjuge?
DO ENTREVISTADO (a) DO CÔNJUGE
( ) Primeiro grau incompleto ( ) Primeiro grau incompleto
( ) Primeiro grau completo ( ) Primeiro grau completo
( ) Segundo grau incompleto ( ) Segundo grau incompleto
( ) Segundo grau completo ( ) Segundo grau completo
( ) Terceiro grau incompleto ( ) Terceiro grau incompleto
( ) Terceiro grau completo ( ) Terceiro grau completo
___________________________________________________________________
________________
15 - Como está a vida, hoje, na atividade rural?
( ) É difícil sobreviver
( ) Dá para sobreviver
( ) Consegue viver bem
___________________________________________________________________
________________
16 - Como avalia as políticas públicas para pequena propriedade?
175
( ) São boas
( ) Ruins
( ) Razoáveis
___________________________________________________________________
________________
17 – Utiliza crédito agrícola?
( ) Sim ( ) Não
___________________________________________________________________
_______________
18- O senhor (a) tem em casa:
( ) Rádio
( ) Televisão
( ) Antena parabólica
( ) Compra regularmente jornal ou revista de informação ( ) Assina?
( ) Compra regularmente revista ou jornal de agricultura ( ) Assina?
( ) Tem computador
( ) Internet
( ) Vídeo
( ) DVD
( )Telefone convencional
( ) Celular
___________________________________________________________________
________________
19- Acompanha o noticiário agropecuário?
( ) Sim ( ) Não Qual? _______________________
___________________________________________________________________
________________
20 - De que modo o senhor (a) utiliza as informações rurais em sua atividade?
Registra as informações de forma escrita ou outra maneira?
___________________________________________________________________
________________
21 - Para o senhor (a), qual é a importância de estar informado sobre a atividade
agropecuária? Em que ela o ajuda?
___________________________________________________________________
________________
22 – É fácil de entender a forma como os veículos de comunicação falam dos
assuntos rurais?
( ) Sim ( ) Não
Por que_______________________________________
___________________________________________________________________
________________
23 – Que assuntos mais chamam a sua atenção nos noticiários sobre agricultura?
( ) Técnicas de plantio
176
( ) Cuidados com a lavoura
( ) Como armazenar
( ) Melhora na qualidade dos produtos
( ) Criação de animais
( ) Preços
( ) Novas tecnologias
( ) Decisões do governo
( ) Outros / Quais________________________________
___________________________________________________________________
________________
24 – Em sua avaliação, que assuntos um noticiário rural deveria trazer para o
agricultor familiar?
___________________________________________________________________
________________
25 - Já se comunicou com algum veiculo de comunicação para dar sugestões ou
pedir informações da sua área?
( ) Sim ( ) Não
Através de ( ) Carta ( )Telefone ( ) Internet ( )
Pessoalmente
177
APÊNDICE B – Formulário de pesquisa nas rádios
178
NOME DA EMISSORA:
NOME DO ENTREVISTADO/CARGO:
Perguntas:
1 - A emissora tem algum programa de informação rural?
( ) Sim ( ) Não
1.1 – Qual é o nome do programa?
1.2 - Qual é o horário e duração do programa?
1.3 – Que assuntos são tratados no programa?
2 – A emissora já teve programa de informação agrícola?
( ) Sim ( ) Não
CASO A RESPOSTA SEJA SIM
2.1 – Qual era o nome do programa?
2.3 - De quando a quando teve o programa de informação rural?
2.4 – Quais eram os assuntos tratados no programa?
2.5 – O programa era voltado mais para pequenos ou grandes produtores?
2.6 – Por que o programa (s) terminou?
2.7 – Haveria interesse da emissora em voltar a apresentar um programa de
informação rural?
( ) Sim ( ) Não Por
que?____________________________________________________
CASO A RESPOSTA SEJA NÃO
3 – Já houve interesse em ter um programa de informação rural?
( ) Sim ( ) Não
Por que?
___________________________________________________________________
4 – Qual é a penetração da emissora entre o público de produtores rurais,
principalmente de agricultores familiares?
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