Os contratados podiam ser tanto para as colônias como para o trabalho
nas fazendas. Esses, muitas vezes, se tornavam "escravos brancos", e
endividados. Entre os imigrantes vieram, principalmente, italianos, portugueses,
espanhóis e japoneses, entre 1887 e 1930 (PRIORE; VENÂNCIO, 2006, p. 153).
Nesse tempo, os sítios e chácaras já estão estabelecidos como um tipo
característico, que pode ser, conforme Viana (1973), o matuto ou o caipira, como
é caracterizado o homem simples do campo, que produz quase tudo o que
necessita em sua propriedade. Priore e Venâncio destacam que
Em meio a ilhas de grandes lavouras de exportação, ou voltadas para os
mercados internos de longa distância, havia um oceano de homens
livres, muitos deles pequenos proprietários (...) Na maior parte do Brasil,
os camponeses, na época do fim do tráfico internacional de escravos, já
haviam abandonado a tradicional forma de trabalho agrícola (...). Assiste-
se então a uma acentuada sobrevalorização da mão-de-obra familiar e
da vizinhança. (2006, p. 152)
De acordo com os autores, em 1870 o termo mutirão aparece pela primeira
vez nos dicionários brasileiros. Sobre tal forma de vida e trabalho, Martins (1973)
diz que o produtor é gerado a partir de um modelo histórico de preservação do
sistema econômico colonial. Muitos aparecem como proprietários, mas também
como força de trabalho, ou só força de trabalho, para manter o modelo em
funcionamento.
Priore e Venâncio (2006) dizem que, em meados do século XIX, o Brasil
passa por transformações sociais "modernizadoras", com o fim do escravismo e
do sistema monárquico. Martins (1973) diz que a Lei das Terras de 1850 e a
abolição da escravatura mudaram as regras no campo, criando uma relação mais
capitalista. Pela primeira, a terra tinha de ser comprada, equiparando-a ao
capital. No segundo caso, com a contratação de mão-de-obra, principalmente
imigrante, deu-se a separação entre força de trabalho e trabalhador, ou seja,
capital e trabalho, no caso, já que a força de trabalho deixou de ser "capital",
mercadoria.
Segundo Priore e Venâncio (2006), a experiência manteve intacto, por
exemplo, o acesso à terra e a monocultura exportadora. "Trata-se, portanto, de
uma modernização conservadora, conforme, aliás, já foi sublinhado por inúmeros
pesquisadores" (2006, p. 155). Os autores criticam o modelo, dizendo que não se
buscou outros caminhos apontados, como da diversificação agrícola, sugerida
em estudos mas renegada, principalmente pelos fazendeiros de café.
34