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deixara para seus três filhos um patrimônio estimado em 3:543$765 réis
252
. Os
imóveis do inventariado, avaliados em 1:800$000 ou 50,8% da riqueza,
compreendiam uma fazenda com suas terras minerais com ranchos de recolher
fumo, com seus bananais, árvores de espinho e monjolo, e uma sesmaria de
terras minerais. Fora mencionada uma morada de casas no arraial da Piranga,
atrás da matriz, com seu quintal, bananal e pasto. O plantel era de 17 cativos,
avaliados em 1:480$000 ou 41,8% do monte-mor. Os instrumentos, estimados em
67$515 ou 1,9% do monte, correspondiam a um forno de cobre de fazer farinha,
tear e seus pertences, enxadas (7), foices (7) e alavancas (4). O rebanho, no
valor de 117$400, era formado por suínos (50), bovinos (13), animais de tiro (4) e
um eqüino. Destacavam-se ainda móveis e jóias
253
.
De forma geral, descrevemos a composição da fortuna de alguns dos
mineradores/lavradores mais ricos da freguesia de Guarapiranga, mencionados
na lista dos mais abastados da capitania em 1756. Qual seria, então, a diferença
da riqueza dos mesmos em relação àqueles classificados como camponeses ou
roceiros, neste caso, os avençados com montante do dízimo inferior a 9$600 réis
252
ACSM, Códice 66, Auto 1457, 2º Ofício. APM, CC, Livro 2040, Re. 15.
253
Um dos homens mais ricos de Guarapiranga foi o capitão Antônio Alvarez Ferreira. Caso ele
estivesse vivo em 1756 seria mencionado na relação secreta dos homens de negócio mais
abastados das Minas. O capitão faleceu em 1749. Após um ano, a viúva, Ana Cabral da Câmara,
foi avençada pelo dízimo em 46 oitavas (55$200 réis). O testamento do inventariado foi avaliado
em 17:623$007 réis. O capitão procurava conjugar a atividade minerária com a agropecuária.
Dentre os imóveis, possuía quatro datas de terras minerais no rio Guarapiranga, com ferragem de
roda e caixão, e mais quatro roças. Na primeira roça é descrito um sítio e lavra com terras
minerais e “água metida”, paiol, moinho, engenho e casas de vivenda e senzalas cobertas de
telha. Na segunda é relatada uma terra de roça com capoeiras que “levarão” 35 alqueires de
planta e mato virgem de uma e outra parte do rio Piranga com terras minerais, córrego de “águas
metidas” com roda e caixão e “o mais necessário de serviço”. Na terceira roça é mencionada umas
capoeiras que “levarão” 150 alqueires de planta com restingas de mato virgem, situadas no
córrego chamado Angu. A quarta consiste numa “posse de roça” com terras de matas virgens sitas
no ribeirão do Turvo que faz barra no rio Xopotó, “a qual pela vizinhança do gentio por hora não se
lhe pode dar valor algum”. O conjunto dos sete imóveis valiam 6:405$000 ou 36,3% da riqueza. O
inventariado possuía ainda uma morada de casas térreas cobertas de telha com seu quintal no
arraial de Guarapiranga, no valor de 384$000, e mais duas casas de morada que lhe serviam de
venda e loja, ao “pé” da capela de Santo Antônio, não inventariadas. O plantel era composto de 58
escravos, avaliados em 5:134$000 ou 29% do inventário. Constavam ainda alguns poucos animais
no valor de 60$000 e instrumentos de trabalho como enxadas (10), foices (5), alavancas (5),
machados (1), almocafres (8), tachos (4), fornos (1) que compunham apenas 0,3% da riqueza. A
sua característica de credor da freguesia pode ser notada no elevado montante deixado em
dívidas ativas: 5:001$116 ou 28,3% do monte-mor. Dentre os bens pessoais (móveis, jóias e
metais), estimados em 971$106 (5,5% da riqueza), constavam utensílios e apetrechos sofisticados
e rústicos como caixas de jacarandá sem torneamento, catres e mesa de pau branco, oratórios de
madeira tosco, vestidos de carmesim, saias de veludo e seda, lençóis de linho e de bretanha,
toalhas rendadas, toalhas de guimarães com seus guardanapos, colheres de prata (16), uma
“salva” de prata, pratos de estanho (9), brincos de ouro e de diamantes, cordões de ouro grosso,
ouro em pó etc (ACSM, Códice 36, Auto 843, 1º Ofício. APM, CC, Livro 2040, Re. 192).