vida melhor, teoricamente melhor, hipoteticamente falando, mas assim... Eles
só queriam mesmo um espaço para ser ouvidos, serem acolhidos dentro das
suas angústias.
Jade também traz essa consideração em seu discurso e afirma que as pessoas
“voltam pra ter um acolhimento porque ninguém está compreendendo lá fora”.
Segundo Rubi, é a escuta clínica que diferencia a atuação e intervenção do
psicólogo clínico, ela expressa a seguinte opinião,
Veja bem, uma dinâmica, quem é que não pode aplicar, me diz, qualquer um,
não precisa ser psicólogo,... se não tiver alguém atinado ao discurso, às
intervenções, aos cuidados, aí não é psicólogo, qualquer um pode..., perde a
particularidade do sujeito, que a gente tem que ficar muito atento a isso... Um
psicólogo que não tenha assim nenhuma formação... Fica muito difícil, ou vira
um administrador, tecnocrata, ou qualquer outra coisa, vira um pedagogo,
essa é nossa especificidade, é a escuta, né?
Nessa mesma direção, Cruz (2003) diz que “é sobre o invalidado, sobre o que
não escutamos que devemos prestar atenção... Na escuta que fazemos de nossas
escutas” (p.58). Para esse autor, o que é próprio da clínica é a sua capacidade de escuta.
Uma escuta, que para ele significa,
Escuta antes de tudo daquilo que não está aparente que não se encontra audível
e que, portanto, não encontrou sua forma de expressão... Mesmo que a questão
do lugar possa parecer um tanto elementar, o onde se faz ainda assume um
peso relevante no estabelecimento dos lugares de fala e de escuta. (p.60)
Pérola, em seu depoimento, indica partir do mesmo princípio, embora discorde
que apenas o psicólogo clínico tenha essa escuta e afirma,
Não é uma exclusividade, mas certamente é uma ferramenta que normalmente
deveria ter ou tem e que outros não têm ou não tiveram essa preocupação,
essa prioridade. Mas acho que é claro que é uma ferramenta que está mais
presente na nossa rotina do que em outros profissionais. Se ele não tiver essa
escuta, fica complicado, é muito difícil ouvir o outro é um exercício você quase
que se abstrair de você mesmo e tentar estar junto do outro, não é uma tarefa
fácil. Mas não diria que é exclusiva do psicólogo clínico, acho que tem
profissionais que são muito sensíveis mesmo.
75