Se há uma demanda tão grande, a escola pública tem um papel
social a desempenhar e a população reconhece isso. Se apesar
do sucateamento da escola pública, pessoas se aglomeram,
dormem nas filas na esperança de uma, histórias submersas
estão sendo escritas e contadas pelos usuários e profissionais da
educação. Histórias que contrariam a imagem subliminarmente
propagada de que profissionais da educação pública e seus
usuários são incompetentes. Histórias que mostram uma
possibilidade de alianças forte, de contato produtivo e positivo
entre usuários e profissionais. Histórias de força e insurreição,
histórias de vidas que são desconhecidas ou desqualificadas.
Contudo, Trindade (2005: 15) não nega que existe sim, acomodação, a rotina alienante
e a reprodução de desigualdades na escola, mas existe, também, um fluxo fascinante
promovido pela pluralidade de vidas, interesses, desejos presentes no cotidiano escolar. Existe
sim o sucateamento da escola pública, em função do cronificado quadro, no nosso país, de
produção e manutenção de desigualdades sociais, raciais, culturais, de gênero etc., mas há
também histórias de lutas contra esse quadro. Opondo-se a muitos argumentos em contrário,
ela esclarece:
Tem e sempre teve muita gente querendo romper com o quadro
de exclusão e legitimação da exclusão que alguns querem colar
à escola. Histórias submersas porque não ganharam a mídia, os
cenários oficiais e legitimados positivamente, e não foram
fixadas na nossa memória coletiva, mas que precisam ser
contadas, ouvidas, lidas, tocadas, recriadas, pois elas nos fazem
orgulhosos da nossa condição de profissionais de educação, não
como aliados à exclusão social, à reprodução das desigualdades
étnicas, culturais, de gênero, sociais – aliás limiar ao qual
estamos cotidianamente sujeitos, mas não sujeitados – mas
orgulhosos da nossa condição de educadores de uma pedagogia
promotora da vida e do ser humano (Trindade, 2005: 16).
Confirmando os argumentos de Trindade, Frigotto nos conta, em entrevista de
22/05/2006, que felizmente há sim uma luta contra-hegemônica instalada no Brasil, mas ela é
pouco expressiva tanto qualitativa quanto quantitativamente. Sua tese, com a qual concordo, é
que tal luta é
duplamente não qualitativa: uma porque nega-se à grande parte da sociedade