na possibilidade de sua participação ativa na biblioteca, como na arrumação dos livros nas
estantes, por exemplo. A biblioteca, além de lugar de troca de conhecimentos, é, segundo os
entrevistados de Petit, lugar vivo, lugar de desenvolvimento natural e gratuito do saber, uma
vez que os livros, dispostos em prateleiras, disponíveis, amigos, podem levar o jovem a um
mundo de grandes descobertas. O autor salienta que: “A leitura de um livro proibido, atrás de
uma porta fechada, em uma noite de neve, é um dos maiores prazeres da vida.” (PETIT, 1999,
p. 153).
A leitura é uma atividade individual, cujo prazer também se constrói de forma
individual, mas isso não impede, ou melhor, muitas vezes, exige a participação de um
mediador como contribuição para o desenvolvimento da capacidade de usufruir desse prazer.
Ainda com Petit, vimos que a fruição da leitura é um processo construído e que a
escola pode ser a experiência mais negativa do jovem. É muito importante a mediação do
mestre nesse processo e a imposição do livro por ele torna-se o ponto nevrálgico desse erro.
Por outro lado, a biblioteca, até mesmo pela característica própria do lugar, constitui
espaço de fruição natural do gosto pela leitura, mesmo porque a freqüência a este lugar é
quase sempre espontânea. Os bibliotecários, por sua vez, dado, até mesmo ao lugar que
ocupam nesse universo tão rico, podem fazer a diferença com atitudes simples, como ser
amigo do leitor, perguntando sobre suas leituras, permitindo que o livro desça do altar, seja
dessacralizado, torne-se algo tocável, permissível e não um objeto intocável, que já está
acabado e você só precisa adorá-lo.
Os resultados das pesquisas de Petit mostram que a leitura é liberdade, aprendizado,
busca de si mesmo, crescimento e a biblioteca é o lugar perfeito para saciar essas
necessidades, constituindo-se um importante mediador entre o leitor e a leitura.
Zilberman (2001) denuncia o resultado da dissociação entre o literário e o não
literário como resultado pouco promissor no processo de formação do leitor:
A dissociação faz com que a literatura permaneça inatingível às
camadas populares que tiveram acesso à educação, reproduzindo-se a
diferença por outro caminho, respondendo os letrados não mais por
aqueles que sabem ler, e sim pelos que lidam de modo familiar com as
letras, os especialistas [...] Até um certo período da história do
Ocidente, ele era formado para a literatura; hoje, ele é alfabetizado e
preparado para entender textos escritos, mas nem sempre a literatura
se apresenta no horizonte, porque ainda é sacralizada pelas instituições
que a difundem. (ZILBERMAN, 2001, p. 71).