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Dra. Helena: Eu costumo perguntar pros meus alunos: me fala uma doença da
adolescência, que seja da adolescência? Aí eles pensam, pensam, pensam e não
conseguem responder. Aí eu falo: é, vocês não sabem porque não tem. Acho que
a única que eu conheço é acne!... (risos).
Fernando Costa: E que pode não ser grave, mas que perturba bastante o
adolescente... (risos)
Dra. Helena: Mas, enfim, é uma doença própria da adolescência. As outras são
de outras faixas etárias às vezes mais prevalentes na adolescência.
Ou pelas palavras de outro médico:
Dr. Marcelo: (...) O adolescente, ele está numa fase em que ele fica pouco doente.
A verdade é assim. A gente tem picos de doença: a criança fica muito doente;
doenças orgânicas... É resfriado, dor de garganta, dor de barriga, cólica, otitite...
Quem já teve filho sabe... Toda pessoa que tem uma lembrança boa da infância
sabe, que na infância você fica muito doente. Na adolescência você passa um
período com poucas recorrências clínicas!... E tanto a adolescência quanto o
adulto jovem... E depois é que você vai voltar a ter outros problemas. Então é
uma fase que as doenças orgânicas... Não que uma doença psiquiátrica, ainda
mais eu que sai da psiquiatria, da psicologia, não seja uma doença. Você tem
uma quantidade menor de doenças. Você fica doente muito menos vezes.
Principalmente doenças agudas (inaudível). Você tem pouco. E o que (...) vai
aparecer?!... A grande sacada do adolescente... É uma fase de transição, ao meu
ver, (inaudível) a gente perdeu os grandes marcos de transição... Hoje existe
adolescência socialmente falando, antigamente não existia. Existia... É uma coisa
interessante. Antigamente existia puberdade e não adolescência. Hoje a gente
tem puberdade em conjunto com a adolescência, com a síndrome da
adolescência. Essa é uma visão que eu tenho. E o que acontece?!... Hoje a gente
tem isso. Então, uma grande parte das queixas: é queixa de socialização, é
queixa psiquiátrica... Entendeu?!... Então assim... Não é que o adolescente [seja]
(...) tudo doido, é tudo (inaudível) mental; não é!... Mas existe uma grande
parcela. Outra parcela dos adolescentes doentes... é... tem uma grande parcela
de adolescentes doentes cronicamente. Que tem febre reumática, que tem um
problema renal. Por isso que eu falo é melhor um clínico geral atender o... do
que... que o pediatra. O clínico geral, ele está com mais... a pessoa que fez a
residência de clínica médica tem mais visão de doença crônica do que o pediatra
no geral.
Fernando Costa: Que está muito mais vinculado (inaudível) aquelas doenças
típicas da infância.
Dr. Marcelo: Mais típicas... Tem doenças crônicas, mas é muito diferente. É
muito... Uma coisa é você trabalhar uma criança com HIV, outra coisa é você
tratar um adolescente com HIV. A dinâmica e as demandas do adolescente são
muito mais compatíveis com um cara de trinta anos com HIV: (inaudível)
sexual, adesão ao tratamento. Muito mais parecido. Por exemplo... Na prática, o
pediatra não tem que se preocupar muito com a adesão ao tratamento. É uma
preocupação, é. Mas não é uma preocupação final. Se ele pega gente com mais
recursos, ele sabe que há grande probabilidade da criança aderir ao tratamento
porque a mãe quer, a mãe que faz o tratamento. Agora, o adolescente não; o