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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
SÉRGIO GINI
A CONSTRUÇÃO DA HEGEMONIA EMPRESARIAL:
O CASO DO MOVIMENTO REPENSANDO MARINGÁ
(1994-2004)
Maringá
2007
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ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
SÉRGIO GINI
A CONSTRUÇÃO DA HEGEMONIA EMPRESARIAL:
O CASO DO MOVIMENTO REPENSANDO MARINGÁ
(1994-2004)
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Universidade Estadual de Maringá, em 30 de
agosto de 2007, como exigência parcial para
obtenção do título de Mestre em História no
Programa de Pós-Graduação em História, sob a
orientação do Prof. Dr. Angelo Aparecido Priori.
Maringá
2007
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)
Gini, Sérgio
G492c A construção da hegemonia empresarial : o caso do
Movimento Repensando Maringá (1994-2004) / Sérgio
Gini. -- Maringá : [s.n.], 2007.
282 f. : il.
Orientador : Prof. Dr. Ângelo A. Priori.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de
Maringá. Programa de Pós-Graduação em História,
2007.
1. Ação política do empresariado - História -
Maringá, PR. 2. Sociologia política. 3. Empresariado
- História - Maringá, PR. 4. Movimento Repensando
Maringá. 5. Desenvolvimento econômico - Maringá,
1994-2004. 6. História do presente - Empresariado de
Maringá, PR. I. Universidade Estadual de Maringá.
Programa de Pós-Graduação em História. II. Título.
CDD 22.ed. 320.6
iii
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Angelo Aparecido Priori - UEM
Prof. Dr. Luiz Miguel do Nascimento - UEM
Prof. Dr. Paulo Roberto Neves Costa - UFPR
iv
À memória de meu bisavô paterno,
Vincenzo Gini, imigrante italiano que veio para o Brasil em 1884
fugindo da miséria e da fome e aqui morreu
pobre e saudoso
da terra distante.
À memória de meu tetravô materno,
José Pedro de Camargo, retirante e tropeiro, desbravador do sertão
paulista, que se radicou em Avaré, São Paulo,
nos idos de 1870.
Foto 1
Família reunida em Ourizona, Paraná, 1954
Fonte: arquivo pessoal do autor
v
À Luciana, Karen e Vincenzo, meus tesouros nesta terra;
DEDICO
vi
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar à minha companheira de tantas lutas, derrotas e vitórias, Luciana
Piovezan, que com seu carinho e compreensão sempre contribuiu para que eu não
desistisse da vida acadêmica.
Aos meus filhos, Karen e Vincenzo, que suportaram minhas ausências e, mesmo
sem entender o motivo, perdoaram-me pelos sábados e domingos em que estive no
meio dos livros ou na frente do computador.
Ao meu orientador, professor Dr. Angelo Priori, por ter confiado em mim e me dado a
liberdade, na medida certa, para desenvolver a pesquisa.
Aos professores Luiz Miguel do Nascimento (DHI) e Celene Tonella (DCS) que
participaram da banca de qualificação e apresentaram preciosas sugestões para a
redação final deste trabalho.
Ao amigo Altair Aparecido Galvão pelo exemplo de perseverança, engajamento e
amizade.
À Associação Comercial e Empresarial de Maringá que me permitiu ter acesso ao
Centro de Documentação Luiz Carlos Masson e aos documentos que foram as
fontes da pesquisa.
À Universidade Estadual de Maringá pela manutenção do ensino público gratuito e
de relevante qualidade, bem como pela manutenção do Programa de Pós-
Graduação em História.
Por fim, agradeço à minha família: meu pai, Juvenil; minha mãe, Odete; e meus
irmãos Odinéia, Dione e Ricardo César.
vii
Ergui os olhos e vi, iluminando as encostas da
colina, o planeta que sempre indica o bom
caminho; isso fez diminuir o assombro que
durante aquela angustiante noite turvara o lago
do meu coração. Como o náufrago que, mesmo
salvo das bravias ondas, fita o ameaçador mar
no qual se agitara, assim meu ânimo, tremendo
ansioso, pôs-se a remirar o espaço percorrido,
que nenhum homem jamais cruzou ileso.
Depois de dar algum descanso a meu corpo
lasso, segui viagem pela subida deserta,
firmando bem, em cada passo, o pé mais
baixo.
Dante Alighieri
O Inferno, Canto I
viii
RESUMO
Nesta pesquisa abordamos o processo de construção da hegemonia do
empresariado em Maringá, Paraná, a partir da segunda metade da década de 1990
até o ano de 2004, ano da eleição do atual prefeito da cidade. Este processo deu-se
por intermédio do Movimento Repensando Maringá que articulou e reuniu os
diferentes segmentos de grupos empresariais – entidades patronais, comércio,
indústria e prestação de serviços – para se transformar em uma força dirigente
capaz de ditar alguns rumos políticos da cidade a partir da idéia-força do
desenvolvimento econômico. O Movimento Repensando Maringá deu origem ao
Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá – Codem, criado por lei
municipal em 1997 e que é responsável pela gestão do Fundo Municipal de
Desenvolvimento Econômico, além de formular as políticas de desenvolvimento da
cidade. Formado por diversos grupos de segmentos e entidades diferentes – mais
de 80, ao todo -, o Repensando Maringá foi controlado desde seu início pela
Associação Comercial e Empresarial de Maringá - ACIM, cuja estratégia política lhe
permitiu se impor como liderança legítima sobre todo o conjunto. Embora se
apresentasse como um movimento apartidário e sem cunho político, as propostas do
Repensando serviram de base para os planos de governo dos prefeitos eleitos em
1996, 2000 (com o apoio quase declarado ao candidato do Partido dos
Trabalhadores, no segundo turno) e em 2004 quando o candidato eleito foi um
membro do Codem e conselheiro da Associação Comercial. O projeto hegemônico
gestado pelo grupo empresarial dirigente pautou as administrações municipais nesse
período. Neste sentido, acreditamos que esta pesquisa oferece subsídios para se
pensar nos modos de ação política do empresariado e entender as motivações que
o levaram a se afastar da política partidária e a atuar na influência direta do Poder
Executivo.
Palavras-Chave: empresariado, projeto político, hegemonia, desenvolvimento
econômico, história do presente.
ix
ABSTRACT
In this research we approach the process of construction of the hegemony of the
enterprises in Maringá, Paraná, from the second half of the decade of 1990 until the
year of 2004, year of the election of the current mayor of the city. This process was
given for intermediary of the Movimento Repensando Maringá that articulated and
congregated the different segments of enterprise groups - employers, commerce,
industry and rendering of services - to change itself into a leading force capable to
dictate some politics routes of the city from the idea-force of the economic
development. The Movimento Repensando Maringá gave origin to the Conselho de
Desenvolvimento Econômico de Maringá – Codem, created for municipal law in 1997
and responsible for the management of the Fundo Municipal de Desenvolvimento
Econômico, beyond formulating the politics of development of the city. Formed for
diverse groups of segments and different entities - more than 80 -, Repensando
Maringá was controlled since its beginning for the Associação Comercial e
Empresarial de Maringá - ACIM, whose politics strategies allowed it to impose itself
as legitimate leadership on all the set. Although it was presented as a neutral
movement and without politics matrixes the proposals of Repensando had served of
base for the plans of government of the elected mayors in 1996, 2000 (with the
almost declared support to the candidate of the PT, in as the second turn) and in
2004 when the elected candidate was a member of the Codem and council member
of the Associação Comercial. The hegemonic project managed by the leading
enterprise group registered the city administrations in this period. In this direction, we
believe that this research offers subsidies to think about the action ways politics of
the enterprises and to understand the motivations that had taken it if to move away
from the partisan politics and to act in the direct influence of the Executive.
Keywords: enterprises, political project, hegemony, economical development,
present history
x
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Foto 01: Família reunida em Ourizona, Paraná 1954................................. 04
Foto 02: Casa Planeta, de Angelo Planas, primeiro associado da ACIM... 34
Foto 03: Maringá em 1972.......................................................................... 37
Foto 04: Emerson Kapaz, ao lado de Jefferson Nogaroli, fala aos
empresários................................................................................... 119
Foto 05: Outdoor com a convocação para o ato público............................. 131
Foto 06: Manifestação de 13 de julho em frente à sede da ACIM 134
Foto 07: Reunião de conscientização do Repensando Maringá no Rotary
Clube.............................................................................................. 151
Foto 08: Os participantes do Planejamento Estratégico Maringá 2020....... 162
Foto 09: Jefferson Nogaroli apresenta o Repensando Maringá na
Câmara.......................................................................................... 180
Foto 10: Mesa de honra de posse do Codem............................................. 190
Foto 11: Trailer cedido pela ACIM para a campanha dos 200 mil eleitores 211
Foto 12: Panfletagem junto a automóveis na campanha Vote para
Deputado........................................................................................ 212
Foto 13: O prefeito Jairo Gianoto e seu secretário da Fazenda.................. 220
Foto 14: Assinatura da ACIM em outdoor divulgando o Orçamento
Participativo.................................................................................... 225
xi
LISTA DE IMAGENS
Imagem 01: Capa da Revista ACIM n. 367, Julho de 1996........................ 52
Imagem 02: Segunda capa da Revista ACIM n. 357, Agosto de 1995....... 95
Imagem 03: Capa da Revista ACIM, n. 392, Novembro de 1998............... 139
Imagem 04: Capa da Revista ACIM, n. 390, Setembro de 1998................ 208
Imagem 05: Material de divulgação do Codem........................................... 240
xii
LISTA DE MAPAS
Mapa 01: Município de Mandaguari em 1950............................................. 30
Mapa 02: Localização de Maringá............................................................... 31
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABDIB - Associação Brasileira De Infra-Estrutura E Indústrias De Base
ABRINQ - Associação Brasileira Das Indústrias De Brinquedo
ACIM - Associação Comercial E Empresarial De Maringá
ACOMAC - Associação Dos Comerciantes De Material De Construção De
Maringá E Região
ADUEM - Associação Dos Docentes Da Universidade Estadual De
Maringá
AEAM - Associação Dos Engenheiros E Agrônomos De Maringá
AM - Amplitude Modulada
APADI - Associação Paranaense Dos Administradores De Imóveis
APCE - Associação Paranaense De Consultores De Empresas
APEOP - Associação Paranaense De Empreiteiros De Obras Públicas
APRAS - Associação Paranaense De Supermercados
ARCOMAR - Associação Dos Revendedores De Combustíveis De Maringá
ARENA - Aliança Renovadora Nacional
BANCOOB - Banco Cooperativo Brasileiro
BANESTADO - Banco Do Estado Do Paraná
BBC - British Broadcasting Corporation
BNDES - Banco Nacional De Desenvolvimento Econômico E Social
CACB - Confederação Das Associações Comerciais E Empresariais Do
Brasil
CBMAE - Câmara Brasileira De Mediação E Arbitragem
CDL - Câmara Dos Dirigentes Lojistas
CEFET - centro federal de educação tecnológica
CESUMAR - Centro Universitário De Maringá
CEXPAR - Centro De Exportação Do Paraná
CIEE - Centro De Integração Empresa E Escola
CIESP - Centro Das Indústrias Do Estado De São Paulo
CMNP - Companhia Melhoramentos Norte Do Paraná
CNC - Confederação Nacional Do Comércio
xiv
CNDL - Confederação Nacional Dos Dirigentes Lojistas
CNI - Confederação Nacional Da Indústria
CNT - Confederação Nacional Do Transporte
COAL - Comissão Para Assuntos Legislativos
COCAMAR - Cooperativa Agroindustrial De Maringá
CODEM - Conselho De Desenvolvimento Econômico De Maringá
COMPAGÁS - Companhia Paranaense De Gás Natural
COPEL - Companhia Paranaense De Energia Elétrica
CORECON - Conselho Regional De Economia
CREA - Conselho Regional De Engenharia E Arquitetura
CRECI - Conselho Regional Dos Corretores De Imóveis
CRM - Conselho Regional De Medicina
CRO - Conselho Regional De Odontologia
CTM - Centro Tecnológico De Maringá
CUT - Central Única Dos Trabalhadores
DCS - Departamento De Ciências Sociais Da Universidade Estadual
De Maringá
DER - Departamento De Estradas De Rodagem
DHI - Departamento De História Da Universidade Estadual De
Maringá
EADI - Estação Aduaneira Do Interior
FACIAP - Federação Das Associações Comerciais Do Paraná
FAMPEPAR - Federação Das Associações De Micro E Pequenas Empresas
Do Paraná
FEABAM - Federação das Associações de Bairros de Maringá
FEBRABAN - Federação Brasileira De Bancos
FEIPAR - Feira De Integração Do Paraná
FIEP - Federação Das Indústrias Do Estado Do Paraná
FIESP - Federação Das Indústrias Do Estado De São Paulo
FIP - Federação Das Indústrias Do Piauí
FM - Freqüência Modulada
FMD - Fundo Municipal De Desenvolvimento Econômico
FUNDACIM - Instituto De Responsabilidade Social De Maringá
xv
IAP - Instituto Ambiental Do Paraná
IBGE - Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística
ICMS - Imposto Sobre Circulação De Mercadorias
IDR - Instituto Para O Desenvolvimento Regional
IEDI - Instituto De Estudos Para O Desenvolvimento Industrial
IEL - Instituto Euvaldo Lodi
IPTU - Imposto Predial E Territorial Urbano
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
MICROMAR - Associação Das Micro-Empresas De Maringá
OAB - Ordem Dos Advogados Do Brasil
OMS - Organização Mundial Da Saúde
PAN - Partido Dos Aposentados Da Nação
PDC - Partido Democrático Cristão
PDT - Partido Democrático Trabalhista
PFL - Partido Da Frente Liberal
PIB - Produto Interno Bruto
PL - Partido Liberal
PMDB - Partido Do Movimento Democrático Brasileiro
PMN - Partido Da Mobilização Nacional
PNBE - Pensamento Nacional Das Bases Empresariais
PP - Partido Popular
PPB - Partido Progressista Brasileiro
PPS - Partido Popular Socialista
PR - Partido Republicano
PROE - Programa De Complementação Educacional
PRÓ-UEM - Associação Pró-Desenvolvimento Da Universidade Estadual
De Maringá
PRP - Partido Republicano Progressista
PSB - Partido Socialista Brasileiro
PSC - Partido Social Cristão
PSD - Partido Social Democrático
PSDB - Partido Da Social Democracia Brasileira
PSP - Partido Social Progressista
xvi
PSTU - Partido Socialista Dos Trabalhadores Unificados
PT - Partido Dos Trabalhadores
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
PTC - Partido Trabalhista Cristão
PTN - Partido Trabalhista Nacional
PV - Partido Verde
RODOMAR - Sindicato Das Empresas De Transporte Rodoviário De
Passageiros Intermunicipais, Interestaduais E Internacionais De
Maringá
SCPC - Serviço Central De Proteção Ao Crédito
SEBRAE - Serviço Brasileiro De Apoio Às Micro E Pequenas Empresas
SECOVI - Sindicato Da Habitação E Condomínios
SENAC - Serviço Nacional De Aprendizagem Comercial
SENAI - Serviço Nacional De Aprendizagem Industrial
SENAT - Serviço Nacional De Aprendizagem Do Transporte
SEPROC - Serviço De Proteção Ao Crédito
SER - Serviço De Estágio Remunerado
SESC - Serviço Social Do Comércio
SESI - Serviço Social Da Indústria
SEST - Serviço Social Do Transporte
SIALPAR - Sindicato Da Indústria De Fabricação De Álcool Do Paraná
SIAPAR - Sindicato Da Indústria De Açúcar Do Estado Do Paraná
SICCPAR - Sindicato Da Indústria De Curtimento De Couro
SIMATEC - Sindicato Do Comércio Varejista De Ferragens, Tintas,
Madeiras, Materiais Elétricos, Hidráulicos E Materiais De
Construção De Maringá Região
SINACAD - Sindicato Das Academias E Atividades Afins
SINCOFARMA - Sindicato Do Comércio Varejista De Produtos Farmacêuticos
De Maringá
SINCOMM - Sindicato Do Comércio De Maringá
SINDHOTEL - Sindicato Dos Hotéis, Restaurantes, Bares E Similares De
Maringá
SINDIHOSPITAL - Sindicato Dos Hospitais E Estabelecimentos De Serviços De
xvii
Saúde De Maringá
SINDILIVRE - Sindicato Das Escolas Prestadoras De Cursos Livres
Particulares
SINDIMETAL - Sindicato Das Indústrias Metalúrgicas, Mecânica E De Material
Elétrico De Maringá
SINDIOMAS - Sindicato Das Escolas Particulares De Idiomas
SINDIREPA - Sindicato Da Indústria De Repação De Veículos E Acessórios
De Maringá
SINDUSCON-NOR – Sindicato Da Indústria Da Construção Civil Do Noroeste Do
Paraná
SINDVEST - Sindicato Da Indústria Do Vestuário De Maringá E Região
SINEPE NOPR - Sindicato Dos Estabelecimentos Particulares De Ensino Do
Noroeste Do Estado Do Paraná
SINFANTIL - Sindicato Das Escolas Particulares De Educação Infantil
SINGRAMAR - Sindicato Da Indústria Gráfica De Maringá
SINTEEMAR - Sindicato Dos Trabalhadores Em Estabelecimentos De Ensino
De Maringá
SIVAMAR - Sindicato Do Comércio Varejista De Maringá E Região
SPC - Serviço De Proteção Ao Crédito
TCCC - Transporte Coletivo Cidade Canção
TECNOPARK - Parque Industrial E Tecnológico De Maringá
TECPAR - Instituto De Tecnologia Do Paraná
TRE - Tribunal Regional Eleitoral
UDN - União Democrática Nacional
UEM - Universidade Estadual De Maringá
UNE - União Nacional Dos Estudantes
UNICAMP - Universidade De Campinas
WTTC - World Travel & Tourism Council
ZPA - Zona De Processamento Aduaneiro
xviii
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 21
INTRODUÇÃO 27
PRIMEIRA PARTE
OS FUNDAMENTOS
I O tema, o método e o universo teórico de referência 53
1.1 Considerações sobre o tema 54
1.2 A questão local 58
1.3. História do Tempo Presente e História Política 61
1.4. A força da idéia e o método 67
1.4.1 O marxismo como instrumental para a análise da sociedade 67
1.4.2 A renovação política e ideológica nas discussões sobre o Estado 69
1.4.3 O modelo marxista “renovado” 73
1.5. Sociedade Civil e consenso 77
1.6. As relações entre estrutura e superestrutura 80
1.7. O conceito de hegemonia 85
1.8 As fontes e a metodologia 90
SEGUNDA PARTE
EMPRESARIADO E POLÍTICA
II Universo de manifestação do empresariado 96
2.1 Estudos sobre empresariado e a política 97
2.2. O empresariado na conjuntura nacional 98
2.2.1 Confederação Nacional da Indústria - CNI 99
2.2.2 Confederação Nacional do Comércio - CNC 100
2.2.3 Confederação Nacional do Transporte - CNT 101
2.2.4 Confederação das Associações Comerciais do Brasil - CACB 102
2.2.5 Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas - CNDL 103
2.3 O empresariado na conjuntura local 106
2.3.1 Associação Comercial e Empresarial de Maringá - ACIM 107
2.3.2 Coordenadoria Regional da Federação das Indústrias do Paraná 109
2.3.3 Sindicato dos Lojistas do Comércio e do Comércio Varejista
de Maringá 110
2.3.4 Outras entidades de segmentos diversos 111
2.4 Considerações 112
III Os projetos de afirmação do empresariado 115
3.1 O início 116
3.2 O Núcleo Regional do Pensamento Nacional das Bases
Empresariais 117
3.3 A Associação Pró-Desenvolvimento da UEM – Pró-UEM 121
3.4 O Instituto para o Desenvolvimento Regional - IDR 126
3.5 O Movimento 13 de Julho 130
xix
3.6 Considerações 134
TERCEIRA PARTE
O PROJETO HEGEMÔNICO
IV O Movimento Repensando Maringá 140
4.1 A influência da ACIM 141
4.2 Conselho de entidades – O Repensando Maringá toma corpo 144
4.3 O Movimento se espalha para as entidades 148
4.4 O Movimento ganha a política 151
4.5 Considerações 157
V Maringá 2020 161
5.1 Pensando Maringá em 8 horas 162
5.2 O documento Maringá 2020 167
5.3 Considerações 170
VI O Conselho de Desenvolvimento Econômico 175
6.1 Uma idéia pronta 176
6.2 A representatividade 184
6.3 O relacionamento com o novo prefeito 187
6.4 A Prefeitura controla o Conselho 191
6.5 O Codem entre os discursos e os projetos 195
6.5.1 Zona de Processamento Aduaneiro - ZPA 195
6.5.2 Pólo da Indústria Têxtil e de Confecções 197
6.5.3 Campanha de otimismo e marketing de Maringá 198
6.5.4 Incubadora Tecnológica 200
6.5.5 Outros projetos e novos discursos 201
6.5.5.1 Banco Social 201
6.5.5.2 Região Metropolitana de Maringá 202
6.5.5.3 Ramal do Gasoduto 202
6.5.5.4 Hidrovia do Ivaí 202
6.5.5.5 Centro Tecnológico 202
6.5.5.6 Novos cursos da UEM 203
6.5.5.7 Internacionalização do Aeroporto 203
6.5.5.8 Atração da Gol Linhas Aéreas 203
6.5.5.9 Parque Tecnológico 204
6.6 Considerações 204
QUARTA PARTE
A POLÍTICA LOCAL NO CONTEXTO DA HEGEMONIA
VII O projeto hegemônico e as eleições municipais 209
7.1 Ações políticas 210
7.2 As eleições municipais de 1996 – A paz política 215
7.3 As eleições municipais de 2000 – Um novo modo de governar
Maringá 218
7.4 As eleições municipais de 2004 – Gente de Maringá 225
7.5 Considerações 229
xx
CONSIDERAÇÕES FINAIS 233
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 241
ANEXOS 256
1 Prefeitos, presidentes da ACIM e presidentes do Codem 257
2 Movimento “Repensando Maringá” 259
3 Diretrizes para Maringá 2020 275
21
APRESENTAÇÃO
(...) no campo científico natural existe todo um
espaço que é politicamente, ideologicamente e
socialmente condicionado; é tudo o que vem antes
e depois da investigação cientifica propriamente
dita, em seu sentido estrito.
Michael Löwy
1
1
LÖWY, Michael. Ideologias e Ciência Social. Elementos para uma análise marxista. 15ª. ed. São Paulo:
Cortez, 2002, p. 89
22
É um desafio para qualquer cientista social trabalhar com a história política,
principalmente a que se insere no campo do tempo presente. Isto porque, há uma
vasta literatura crítica que abomina o registro dos acontecimentos e fenômenos
históricos em sua forma tradicional, ou seja, como uma “visão de cima” e sem o
distanciamento de tempo que propicie certa “isenção” do tema em tela, e, ao mesmo
tempo, devido à espantosa velocidade de informação do mundo contemporâneo e
às transformações do dia-a-dia, se sobrepõem algumas necessidades urgentes para
a investigação histórica: buscar experiências de outras disciplinas, apresentar novos
temas e novos objetos e integrar todos os atores que moldam o processo histórico.
Não poderíamos e nem pretendemos realizar um trabalho de pesquisa que
contemple todos os parâmetros exigidos pelas grandes escolas e correntes da
disciplina histórica. Sabemos que os seus expressivos representantes, com salutar
preocupação, defenderam a elevação da disciplina de História ao ponto mais alto
das ciências. Por isso, esperamos poder contribuir com nossa capacidade de
pesquisa, embasada no rigor metodológico, para um trabalho de história política
que, ao analisar acontecimentos locais, compreenda a trama de ações políticas no
espectro geral, isto é, nacional, e que sirva para auxiliar no entendimento da
construção de projetos e ideologias que justifiquem a hegemonia de um grupo
dirigente no contexto local.
A questão que pretendemos abordar nesta pesquisa é o processo de construção da
hegemonia da classe empresarial de Maringá, assumindo uma participação direta no
arranjo político-institucional, a partir de um projeto liderado pela Associação
Comercial. De um início tímido em 1994 esta construção ganhou escala em 1996
com o Movimento Repensando Maringá, quando foi elaborado um documento com
as principais políticas de desenvolvimento para a cidade até o ano de 2020, e em
1997 quando foi institucionalizada a participação do empresariado na administração
pública, por meio do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá - Codem.
De acordo com esta perspectiva, nos propomos a analisar historicamente os
momentos de ação do empresariado – o Movimento Repensando Maringá - que o
alçaram à condição de agente político, “representante” da sociedade civil organizada
e “parte” integrante do Estado. Desta forma, colocamos o centro de nossa análise da
23
construção de um projeto hegemônico do empresariado sobre: 1º.) seu processo de
organização e representação, isto é, a partir de quando e liderado por quem ele se
organiza e como as entidades empresariais se representam nele e 2º.) sua relação
com o arranjo político-institucional da cidade, ou seja, como ele interfere nas ações
de governança do poder público. Nossa estratégia de análise privilegia mais como
se deu a articulação entre o empresariado para a construção desse projeto, e
posteriormente sua manutenção frente aos governos, influenciando a política local
nos rumos do desenvolvimento da cidade, do que propriamente o seu
comportamento frente à política econômica, o que é mais usual na literatura
conforme atesta Costa (2003, p. 11).
A pesquisa contempla a entidade representativa do empresariado maringaense mais
antiga, e que durante muito tempo manteve-se hegemônica entre esse grupo, a
Associação Comercial e Empresarial de Maringá - ACIM. Por não ter o caráter
sindical patronal e por ser uma entidade civil de livre associação, tornou-se porta-voz
de empresários que não participavam de sindicatos ou de empresários que ainda
não tinham órgãos legais de representação, mais especificamente o comércio.
Consideraremos esta entidade a partir de sua composição no sentido de saber quais
setores e segmentos atuavam por meio dela e do seu comportamento frente às
outras entidades empresariais, articulando estratégias para determinar que o projeto
esboçado por ela pudesse se tornar hegemônico. Essa análise é importante pelo
fato de esclarecer uma opção de ação política do empresariado, permitindo que a
ACIM liderasse o Movimento Repensando Maringá e tirasse das mãos do poder
público o controle do Codem.
É importante ressalvar que não desconsideramos que vários outros agentes,
movimentos sociais, fatores históricos e grupos políticos têm igual relevância no
processo de constituição do arranjo político-institucional em Maringá. Ao fazermos a
opção por estudar o empresariado tentamos compreender como este grupo social se
comportou frente à dinâmica política e institucional da cidade, lutando por estar
sempre presente nesse processo. Também é importante destacar que o
empresariado, em princípio, tem uma relevância sobre as formas de funcionamento
concreto da política e do Estado no capitalismo atual.
24
Partimos da hipótese de que o comportamento empresarial, a partir do Movimento
Repensado Maringá, influenciou a ação política por meio de um projeto hegemônico
interferindo decisivamente na formulação de políticas de desenvolvimento à mercê
de seus ideais. A problematização da construção dessa hegemonia nos permitirá
analisar como se deu a relação entre o empresariado e a sua interferência no
processo político-institucional. Este é o nosso objetivo fundamental.
Para consubstanciar o estudo proposto, entendemos ser necessário descrevermos
como se originou o Movimento Repensando Maringá e identificarmos como surgiu a
consciência de grupo entre os que estavam envolvidos no processo e como se
reconheciam nele. Nesse sentido, é essencial sabermos reconhecer o discurso e a
temática trabalhada pelos integrantes do Movimento, principalmente pelos
intelectuais que deram suporte orgânico a todo o processo. Como é de interesse
histórico, destacaremos como foi a mobilização da classe empresarial para que o
Movimento produzisse fruto, no caso o Codem, e identificaremos qual foi o
comportamento dos poderes Executivo e Legislativo com a entrada em cena de um
novo agente político. Daí, é possível apresentar quais as propostas, formulações de
leis e encaminhamentos foram realizados para o desenvolvimento da cidade,
garantindo a prevalência do projeto hegemônico.
Para a consecução dessa pesquisa e a submissão ao rigor metodológico, utilizamos
a documentação gerada no contexto histórico, produzida pela ACIM, entidade líder
do Movimento. Nossas fontes principais foram as edições dos anos de 1993 a 2004
da Revista ACIM, intitulada como órgão oficial da entidade. Ao todo foram 103
volumes que definimos como fonte principal, pelo fato de conterem documentos
originais do período a ser pesquisado e que compartilham de um universo temático
comum e da mesma ambiência social e cultural (CÔRTES, 2003, p.15). As
evidências foram os artigos e matérias escritos nesse período e que apresentam a
ação política da entidade para dar vez e voz às ações e projetos do Repensando
Maringá, num processo gradual de construção hegemônica.
Após analisar toda a documentação a que nos propusemos utilizar, vimos que a
histórica política não poderia se omitir, deixando apenas para a ciência política a
tarefa de explicar a construção da hegemonia empresarial em Maringá. Por isso, por
25
se tratar de uma pesquisa histórica, procuramos montar um quadro sobre a ação
política do empresariado de forma seqüencial e coordenada a fim de que as
concepções políticas do grupo fossem reveladas, desnudando seu projeto
hegemônico e favorecendo o entendimento de como esse comportamento
condicionou a governança municipal. Seguimos aqui a orientação de Hobsbawm de
que essa história é uma “colaboração entre modelos gerais de estruturas e mudança
social e o conjunto específico de fenômenos que de fato aconteceram”
(HOBSBAWM, 2005, p. 92). A delimitação temporal escolhida foi o período de 1994
a 2004, compreendendo as três gestões municipais pós-ascensão do projeto
hegemônico do empresariado maringaense.
A dissertação foi dividida em quatro partes. Anterior a elas, elaboramos uma
Introdução apresentando alguns aspectos da história de Maringá, como suas
primeiras eleições, o surgimento da ACIM e seu envolvimento na política local, as
transformações na economia do município, a polarização entre dois grupos políticos
e o surgimento de um Movimento empresarial para “retomar” o desenvolvimento da
cidade, estagnado com a crise do início dos anos 1990.
Na primeira parte do trabalho, intitulada Os Fundamentos, dedicamos o capítulo I
para tratar sobre as questões teóricas e metodológicas que embasam a pesquisa.
Corremos o risco de ter produzido um ensaio à parte, mas entendemos que tais
fundamentos deveriam estar bem claros no início do trabalho para que o leitor
entendesse nossas motivações pessoais e acadêmicas. No transcorrer da pesquisa,
utilizaremos esses mesmos referenciais para explicitar o que foi extraído das fontes
e como interpretamos o comportamento do grupo estudado.
Para a segunda parte, denominada Empresariado e Política, dedicamos dois
capítulos. No capítulo II veremos qual é o universo de manifestação do
empresariado, principalmente após a abertura política, tanto na conjuntura nacional
quanto local. No capítulo III veremos os projetos de afirmação do empresariado
local, no início da construção da hegemonia, contando com a participação de
intelectuais orgânicos: a criação do Instituto para o Desenvolvimento Regional, o
Movimento Pró-UEM e o Movimento 13 de Julho.
26
Na terceira parte – O Projeto Hegemônico – veremos como se deu a construção da
hegemonia empresarial e como esta se relacionou com a política institucionalizada.
No capítulo IV trataremos sobre o Movimento Repensando Maringá e a sua
articulação com os poderes Executivo e Legislativo para aprovar as leis que criaram
o Codem e o Fundo de Desenvolvimento. No capítulo V veremos como foi realizado
e qual o resultado do planejamento estratégico Maringá 2020 e no capítulo VI
discorreremos sobre a criação do Codem, seu relacionamento inicial com o novo
prefeito e com a nova diretoria da ACIM, na época. Apresentaremos também a
relação entre o discurso da hegemonia com a prática dos projetos apresentados.
Na quarta parte, veremos A Política Local no Contexto da Hegemonia. No capítulo
VII abordaremos as eleições municipais de 1996 e o projeto da paz política, que
estava no seio do Movimento quando este se iniciou; trataremos das eleições
municipais de 2000 e o projeto da ética e da moralidade, vitorioso com o Partido dos
Trabalhadores, e que teve apoio direto do empresariado. Veremos também as
eleições municipais de 2004 e o projeto de retorno ao desenvolvimento proposto
pelo candidato vencedor. Esta proposta foi um retorno às origens do Movimento
Repensado Maringá.
Por fim, em nossas considerações finais alinhavaremos as conclusões de cada
capítulo, trabalhando com os fundamentos apresentados na parte inicial da
dissertação. No final do trabalho, anexaremos farto material para conhecimento,
maiores esclarecimentos e futuras pesquisas sobre o tema em discussão.
27
INTRODUÇÃO
Seria óbvio encarecer à ilustrada Comissão
Especial, o que, social, econômica e
intelectualmente, o novo município de Maringá
representa para o nosso Estado. Sua sede, traçada
com todos os requisitos da moderna engenharia
urbanística, apresentando largas e extensas
avenidas, ruas bem traçadas e esplêndidos
logradouros públicos, com seus numerosos
estabelecimentos comerciais e industriais, casas
residenciais de apurado gosto e etc., está fadada a
muito em breve, apresentar-se como uma das mais
belas cidades do Paraná. A alta capacidade do seu
comércio e da sua indústria e, o que mais avulta,
dos seus imensos e esplendorosos cafezais, são a
garantia iniludível do seu inigualável futuro na vida
brasileira. (...) Maringá é um autêntico milagre no
cenário paranaense, fazendo jus aos foros de
Município, capaz de dirigir os seus próprios
destinos em busca do seu grandioso porvir.
Deputado Rivadávia Vargas, em 10/04/1951
2
2
Sugestão do deputado Rivadávia Vargas na sessão ordinária da Assembléia Legislativa do Paraná,
encaminhada para a Comissão especial encarregada de elaborar o anteprojeto da nova Divisão Administrativa do
Estado. In LUZ, France. O fenômeno urbano numa zona pioneira: Maringá. Maringá: a Prefeitura, 1997, pp.
110, 111.
28
Nossa pesquisa investiga um período da história local do município de Maringá,
terceira maior cidade do Estado do Paraná, importante centro regional e peça
fundamental para entender o processo histórico de colonização ou, como preferimos
optar, a (re)ocupação do norte do Paraná
3
. Fundada em 10 de maio de 1947
4
como
fruto de um dos mais bem sucedidos – na lógica capitalista - projetos privados, de
iniciativa inglesa
5
, Maringá foi projetada de acordo com “as mais avançadas normas
de planejamento” (LUZ, 1997, p. 46), baseado no modelo inglês de cidade-jardim
6
.
Este planejamento, pragmático, deveria cumprir com o “tecnicismo” do capital
privado, possuindo “um traçado urbano que expressasse uma funcionalidade e, mais
exatamente, uma racionalidade” (ANTONIO, 2004, p.4). Daí, deriva o discurso que
veremos no desenvolvimento do trabalho de cidade sempre moderna e dinâmica.
3
Memorialistas e historiadores têm escrito uma diversidade de trabalhos sobre o processo de colonização - para
uns - e reocupação - para outros - do Norte do Paraná. Na primeira opção recomendamos consultar: LUZ,
France. O fenômeno urbano numa zona pioneira: Maringá. Maringá, a Prefeitura, 1997; CANCIAN, Nadir
A. Cafeicultura paranaense -1900-1970. Curitiba: Grafipar, 1981; CERNEV, Jorge. Liberalismo e
colonização: o caso do Norte do Paraná. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Filosofia. Rio de Janeiro:
Universidade Gama Filho, 1988; MUSSALAN, René. Norte pioneiro do Paraná: formação e crescimento
através dos censos. Dissertação (Mestrado) – Departamento de História. Curitiba: Universidade Federal do
Paraná, 1974; SERRA, Elpídio. Processos de ocupação e a luta pela terra agrícola no Paraná. Tese
(Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Rio Claro: Unesp, 1991; CEZÁRIO,
Ana Cleide C. Norte novo: a expansão da fronteira e seu conteúdo simbólico. In: PAZ, Francisco M. (org).
Cenários de economia e política: Paraná. Curitiba: Prephacio, 1991; HILÁRIO, José. Maria do Ingá. Amargo
sabor de mel na colonização do Paraná. Maringá: Ideal, 1995; CORRÊA JÚNIOR, João Antonio. O trem de
ferro! Maringá: Editora 5 de Abril, 1991; RECCO, Rogério. À sombra dos ipês de minha terra. Londrina:
Midiograf, 2005.
Para a segunda opção, da qual somos partidários, recomendamos consultar: TOMAZI, Nelson Dacio. Norte do
Paraná: histórias e fantasmagorias. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2000; MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos
índios Kaigang: a história épica dos índios Kaigang no Paraná (1769-1924). Maringá: Eduem, 1994;
TOMMASINO, K. A história dos Kaigang da bacia do Tibagi: uma sociedade Jê meridional em
movimento. Tese (Doutorado) – Departamento de Antropologia. São Paulo: USP, 1995; LOPES, Ana Yara
Paulino. Pioneiros do capital: a colonização do Norte Novo do Paraná. Dissertação (Mestrado) – FFLCH.
São Paulo: USP-FFLCH, 1982; GONÇALVES, José Henrique R. História regional & ideologias: em torno de
algumas corografias políticas do norte-paranaense, 1930/1980. Dissertação (Mestrado em História Social)
Departamento de História. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1995; NOELLI, Francisco Silva; MOTA,
Lucio Tadeu. A pré-história da região onde se encontra Maringá, Paraná. In: DIAS, Reginaldo B;
GONÇALVES, José Henrique R. Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá: Eduem,
1999; GONÇALVES, José Henrique R. Quando a imagem publicitária vira evidência factual: versões e
reversões do Norte (Novo) do Paraná – 1930/1970. In: DIAS, Reginaldo B; GONÇALVES, José Henrique R.
Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá: Eduem, 1999.
4
Optamos por não entrar em detalhes sobre a história do surgimento e fundação da cidade de Maringá devido ao
nosso recorte temático e pelo fato de termos uma vasta literatura que trata sobre o tema, conforme citado na nota
anterior.
5
Sobre o ponto de vista do capital, consultar: COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ.
Colonização e desenvolvimento do Norte do Paraná, publicação comemorativa do cinqüentenário da
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, 24 de setembro de 1975, São Paulo.
6
O modelo de cidade-jardim foi desenvolvido pelo inglês Ebenezer Howard para servir de modelo aos projetos
das companhias inglesas de colonização no final do século XIX. Seu planejamento contempla a cidade ideal,
sadia e bela. Consultar: HOWARD, Ebenezer. Cidades jardins de amanhã. Hucitec, 2002.
29
A reocupação de Maringá se inicia na fase de consolidação do desenvolvimento da
economia cafeeira no norte do Paraná, iniciada com a expansão da cafeicultura
paulista a partir da década de 1920 e pelo “descobrimento” das terras-roxas do norte
do Estado (LUZ, 1997, p. 12). Isso se deu no início dos anos 1950, e Maringá se
tornou atrativa para os que vinham trabalhar na lavoura, bem como para os
comerciantes que vislumbraram aqui uma boa oportunidade de negócios devido a
abundância de matéria-prima e escassez de produtos finais. É possível, fazendo
uma analogia ao estudo desenvolvido por Mendes (1999, pp. 401-403), estruturar o
desenvolvimento econômico de Maringá nos seguintes ciclos:
1) Acumulação cafeeira e comercial (1952-1969);
2) Modernização da agricultura (1970-1979);
3) Desenvolvimento da agroindústria (1980-1989);
4) Pólo de prestação de serviços (1990-atual).
De 1947 a 1952 Maringá foi uma vila, e depois distrito, do próspero município de
Mandaguari (mapa 01), que no recenseamento geral de 1950, era a segunda cidade
mais populosa do Estado com 102.586 habitantes (Curitiba contava com 183.863
habitantes e Londrina com 72.144). Na época Maringá contava com 7.389
moradores em sua área urbana
7
. No recenseamento geral de 1960, Maringá já
emancipada de Mandaguari
8
(mapa 02), contava com 104.131 habitantes
9
.
Consolidava-se, então, como a terceira maior cidade do Paraná, atrás apenas de
Curitiba e Londrina. O processo acelerado de urbanização contribuiu para o
surgimento de inúmeras oportunidades de trabalho, atraindo migrantes de diversas
regiões do Brasil, notadamente do interior de São Paulo, “proporcionando
enriquecimento para alguns e sobrevivência para outros” (ANTONIO, 2004, p. 5).
7
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil 1950. Rio de Janeiro: IBGE, v. 11, 1951.
8
O município de Maringá, como a maioria dos novos municípios do Noroeste, Sudoeste e Centro-Oeste do
Estado, entre eles Cascavel, Toledo e Foz do Iguaçu, foi criado pela Lei n. 790, de 14 de novembro de 1951, que
instalou a nova divisão administrativa do Paraná, de autoria do governador Bento Munhoz da Rocha Neto.
9
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil 1961. Rio de Janeiro: IBGE, v. 22, 1961.
30
MAPA 01
Município de Mandaguari em 1950
A atividade comercial se mostrou próspera no primeiro ciclo de desenvolvimento
uma vez que a atividade agrícola, força motora do crescimento da cidade, era
também a principal consumidora. Segundo números levantados por Luz (1997, p.
143) em 1955 os estabelecimentos comerciais totalizavam 352. Em 1957 subiu para
569 estabelecimentos. “Os estabelecimentos comerciais mais numerosos eram os
de produtos alimentícios, bebidas e estimulantes (incluindo o fumo)” (LUZ, 1997,
p.144). É nesse contexto que é fundada em 12 de abril de 1953 a Associação
Comercial de Maringá
10
, principal agente de defesa dos interesses do neo-
empresariado local e peça chave para entender a ação empresarial no
desenvolvimento desta pesquisa.
10
No final da década de 1960 o nome foi mudado para Associação Comercial e Industrial de Maringá, derivando
daí a sigla ACIM, que será usada em todo o corpo desse trabalho. No começo do ano 2000 o nome foi mudado
para Associação Comercial, Industrial e de Prestação de Serviços de Maringá e alterado dois anos depois para o
nome atual: Associação Comercial e Empresarial de Maringá, continuando com a sigla ACIM.
31
MAPA 02
Localização de Maringá
A ACIM surgiu no âmago da primeira crise política vivenciada por Maringá. A
emancipação de Mandaguari abriu espaço para o comando de um município que
possuía uma arrecadação superior ao da antiga sede, revelando oportunidades de
negócios que poderiam se desenvolver a partir daí, bem como a possibilidade de
destaque aos administradores desses recursos, além da esfera municipal. Com isso,
logo cedo Maringá se viu envolvida em disputas pelo seu comando político com
grande efervescência nas relações de poder. “O processo de fundação da ACIM
está intimamente relacionado aos confrontos políticos da primeira eleição municipal
para prefeito, realizada em 1952” (ACIM, 2006, p. 39). Nessa eleição concorreram
Waldemar Gomes da Cunha, pela União Democrática Nacional - UDN, partido
presidido pelo comerciante Napoleão Moreira da Silva, com total apoio da
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná
11
; pelo partido do governador Bento
Munhoz da Rocha Neto, o Partido Republicano, o candidato foi Angelo Planas,
comerciante, “que gozava de grande prestígio junto ao eleitorado” (ANDRADE, 1979,
p. 149). O PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, do presidente Getúlio Vargas,
11
A CMNP apoiava tradicionalmente os candidatos da UDN. Em Londrina o candidato apoiado e vitorioso foi
Milton Ribeiro de Menezes. Em Maringá Waldemar Gomes da Cunha representava o capital da Companhia:
Não acreditem nestes Petebistas flagelados. Maringá precisa de dinheiro. Dinheiro só com a Cia. de Terras.
Cia. de Terras só com Waldemar”, era o texto de um boletim apócrifo da época da eleição. Cf. ESTRADA,
Jorge Ferreira Duque. Terra Crua. Curitiba: [s.n], 1961, p.55.
32
“lançou muito timidamente e sem muita pretensão o Sr. Inocente Vilanova Júnior
numa tentativa de buscar junto ao eleitorado as preferências que o pudessem
conduzir ao cargo máximo do município” (ANDRADE, 1979, p. 149). Também
concorreu pelo Partido Social Progressista o médico Raul Maurer Moletta. A
diferença de votos entre os três principais candidatos foi mínima, o que gerou
inclusive impugnação de uma urna
12
. Angelo Planas recebeu 1.707 votos; Waldemar
Gomes da Cunha conseguiu 1.725 e Inocente Vilanova Júnior foi eleito prefeito com
1.871 votos. A derrota de Angelo Planas foi uma surpresa para a maioria dos
empresários, por isso, “dentro desse contexto, ganhava força a idéia de se fundar
uma associação comercial. Planas foi um dos principais articuladores desta ação,
percorrendo a casa de diversos empresários e mobilizando companheiros” (ACIM,
2006, p. 39).
Esses fatores conjunturais indicam que as relações políticas sempre estiveram
presentes na elite
13
comercial da cidade, liderada pela Associação Comercial. É
revelador o próprio entendimento que a Associação tem de si:
Alguns presidentes da entidade procuraram dar à ACIM a aura de
uma força paralela e intocável em relação aos interesses políticos
partidários locais, estaduais ou nacionais e mesmo em relação a
interesses de grupos empresariais. Estes mesmos depoimentos,
porém, jamais negaram sua função política, e assumiram o
envolvimento como parte integrada de um poder que se constrói pela
necessidade das decisões e de garantia dos interesses destes
mesmos empresários. (ACIM, 2006, p. 39)
A expansão dos negócios comerciais trouxe a necessidade de uma organização
mínima, na qual fossem preservados os interesses dos investidores. As
transformações pelas quais a cidade vinha passando, entre elas a recente eleição
municipal e o atrito entre a prefeitura e a CMNP, que teve seus terrenos ainda não
comercializados, taxados
14
, motivaram a união dos comerciantes. “A mobilização
12
A apuração da eleição se deu em Mandaguari, sede da Comarca. A 24ª. urna foi impugnada e, por
determinação do juiz eleitoral, foi enviada para ser apurada na sede do Tribunal Regional Eleitoral, em Curitiba.
Os resultados divulgados em Mandaguari divergiram posteriormente dos resultados confirmados em Curitiba.
Cf. ANDRADE, Arthur. Maringá: ontem, hoje e amanhã. Maringá: [s.n], 1979, p. 150.
13
O termo elite aqui apresentado se refere não a uma classe dirigente, ainda em formação na cidade de Maringá,
mas a uma elite estratégica, especialmente concentrada pelo comércio local. Ver KELLER, Suzanne. O destino
das elites. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 69. Esta elite estratégica se transformará em classe dirigente alguns
anos depois, conforme veremos no desenvolver da pesquisa.
14
Obedecendo ao disposto na Lei n. 11/53 – Código Tributário, o prefeito Inocente Vilanova Júnior mandou
taxar todos os terrenos da CMNP (na época 5.040 datas). O valor que a CMNP teria que pagar somava na época
33
aconteceu dentro do contexto da necessidade dos empresários diante das
mudanças que a cidade estava atravessando” (ACIM, 2006, p. 40). A própria
Associação Comercial via essa questão como a oportunidade para se destacar no
comando do poder:
Seria impossível considerar que a ACIM não estivesse dentro de um
debate sobre os rumos do poder público municipal. Mas, este não
era um assunto debatido nas reuniões dos empresários. O
importante era a união do grupo visando a organização de uma
entidade que defendesse os interesses do setor. (...) Assim, o atrito
entre o poder público, CMNP e o setor empresarial foi se constituindo
ao longo da primeira gestão municipal como uma questão de honra
na demarcação do poder. (ACIM, 2006, p. 40)
Coube a Angelo Planas, candidato derrotado à prefeitura, liderar a assembléia de
fundação da Associação Comercial. Ele também se tornou o associado número um
da entidade (foto 2). Só não foi presidente porque tinha um atrito com o prefeito e
poderia prejudicar a associação que estava se formando. Américo Marques Dias
15
,
primeiro presidente da Associação Comercial, faz um depoimento revelador sobre
esse momento:
O Angelo Planas e o Alfredo Maluf sempre falavam da necessidade
de uma associação comercial. O prefeito tinha aumentado os
impostos de forma absurda. Então começamos a nos reunir no
Banco Comércio e Indústria. No começo nos reuníamos em três.
Depois o grupo cresceu. Aí veio a questão da vaidade, como o
Angelo Planas participava das reuniões, o prefeito achou que ele
estava organizando a associação para enfrentá-lo politicamente. O
Angelo Planas foi um homem que fez tudo por Maringá. Ele
realmente gostava da cidade. Gostava tanto que, por causa dos
comentários do prefeito e para preservar a associação, não quis ter
qualquer cargo ou destaque na fundação da entidade. (ACIM, 2006,
p. 40)
É evidente que a recém formada associação ocupou uma posição de vanguarda na
cidade. As principais empresas do período áureo da acumulação cafeeira faziam
parte de seu quadro de associados: as distribuidoras de alimentos e mercadorias,
mais de cinco milhões e meio de cruzeiros. A Companhia só aceitava o valor de um milhão e meio de cruzeiros.
A polêmica chegou a render um processo de cassação do mandato do prefeito e, mais tarde, o Código Tributário
foi revogado. Cf. ESTRADA, Jorge Ferreira Duque. Terra Crua. Curitiba: [s.n], 1961, p. 111, 112.
15
Américo Marques Dias nasceu em Portugal, em 1915. Veio para o Brasil ainda moço e se instalou em
Votuporanga, São Paulo, reduto de comerciantes portugueses. Aos 35 anos, em 1950, assumiu a presidência da
Associação Comercial daquela cidade. Em 1951 veio para Maringá juntamente com o empresário do setor
atacadista Alberto Dias para instalar uma filial da empresa Dias Martins S/A. Foi presidente da ACIM por dois
mandatos, de 1953/1954 e 1955/1956. Em 1957 saiu de Maringá e foi para Curitiba onde mora até hoje.
34
Dias Martins e J. Alves Veríssimo; as grandes casas de secos e molhados, Casa
Andó, J. Fujiwara, Germani e Irmãos Ribeiro; o Banco do Estado de São Paulo e o
Banco Sul Americano do Brasil; lojas de móveis como a Hermes Macedo e depósito
de materiais de construção, como o Depósito Rodolpho Bernardi, entre outros. A
união desses capitalistas, com o apoio do principal veículo de comunicação da
época, a Rádio Cultura de Maringá, representava uma força bem maior do que a do
poder público. Fato comprovado foi o mandado de segurança impetrado contra a
Prefeitura, em dezembro de 1953, quando a Associação Comercial conseguiu, por
meio de liminar, derrubar o aumento dos impostos proposto pela administração
municipal
16
.
Foto 2
Casa Planeta, de Angelo Planas, primeiro associado da ACIM
Fonte: Museu da Bacia do Paraná
A ACIM auferiu as vantagens de ter sido a primeira entidade de representação do
empresariado em Maringá e por ter ficado nessa posição até meados da década de
1970, quando surgiram o Sindicato dos Lojistas do Comércio Varejista e a
Coordenadoria Regional da Federação das Indústrias do Estado do Paraná,
16
A Associação Comercial se reuniu em Assembléia no dia 15 de dezembro de 1953, com transmissão ao vivo
pela Rádio Cultura, para deliberar uma ação contra o prefeito Inocente Vilanova Júnior que havia aumentado os
impostos. A Assembléia deliberou pelo confronto e foi impetrado um mandado de segurança que deu ganho de
causa aos empresários. Como retaliação, o prefeito atrasou o pagamento dos funcionários públicos, informando-
os que a culpa era do presidente da Associação Comercial (ACIM, 2006, p. 43).
35
entidades de classe dos empresários do setor de varejo e da indústria
17
. O apoio
político dado pela Associação Comercial aos candidatos a prefeito e governador
também foram fundamentais para a “demarcação de poder” da entidade. Nas
eleições gerais de 1960 apoiou declaradamente os candidatos João Paulino Vieira
Filho, do Partido Social Democrático (PSD), para prefeito; Ney Braga, do Partido
Democrata Cristão (PDC), para governador do Estado e Jânio Quadros, do Partido
Trabalhista Nacional (PTN), para a presidência da República. Para o empresário
Ermelindo Bolfer, que presidiu a ACIM em 1959, “a eleição de João Paulino como
prefeito em 1961 (sic), integrada ao processo eleitoral estadual, com Ney Braga para
governador, e nacional, Jânio Quadros para presidente, foi uma escolha do interesse
dos empresários” (ACIM, 2006, p.63). Bolfer, que havia deixado recentemente a
presidência da entidade, foi eleito vereador em 1960 pelo PDC
18
, o mesmo partido
do governador Ney Braga. É dele essa informação extremamente relevante:
Na época da eleição do Jânio Quadros, nós trouxemos para fazer
palestra na ACIM todos os candidatos a governador da época (sic):
Nelson Maculan, Munhoz da Rocha e Ney Braga e quase
transformamos a ACIM em um comitê do partido dele. Nós ajudamos
a eleger o Jânio, o Ney e João Paulino. (ACIM, 2006, p. 63)
A estratégia de estar próxima do prefeito e, principalmente, do governador, foi
fundamental para a entidade solidificar sua condição de poder hegemônico na
cidade. Os empresários foram beneficiados com a modernização de diversos
serviços, entre eles o de telecomunicações, e novos empreendimentos puderam ser
atraídos para a cidade que já se despedia da fase de ouro do café.
Tanto o apoio a Ney Braga como a eleição de João Paulo Vieira Filho
foram fundamentais para a mudança dos rumos da ACIM. No
Estado, encerrou-se o período de Moisés Lupion e se iniciou o de
Ney Braga. Em Maringá se encerrou o período de Américo Dias
Ferraz e se iniciou o de João Paulino. Dentro destas circunstâncias a
Associação Comercial, embora esteja ligada diretamente ao fato
político, trabalhou no sentido de procurar melhorias para o município,
sua população e sua produção. A ACIM, sendo credora junto ao
Município e ao Estado, era bem recebida e bem tratada. E os
problemas passaram a ser solucionados. (ACIM, 2006, p. 65)
17
O Sindicato do Comércio Varejista foi criado em 1974 como Associação dos Lojistas. Passou a ser sindicato
em 1976, com a sigla Sincomm. A Coordenaria Regional da Federação das Indústrias do Estado do Paraná
começou a funcionar na cidade em 1975.
18
Ermelindo Bolfer foi eleito vereador com 274 votos. Cf. REIS, Osvaldo. Maringá e seus prefeitos. Maringá:
Clichetec, 1996.
36
Nas eleições de 6 de dezembro de 1964
19
, o vice-presidente da Associação
Comercial, Victor Ivo Assmann, se elege com 6.756 votos e vai compor a
administração municipal com o prefeito Luiz Moreira de Carvalho, eleito por uma
coalizão de 6 partidos (REIS, 1996, p. 53). Outros dois diretores da ACIM também
são eleitos vereadores nesse pleito: Sílvio Magalhães Barros e Arlindo Planas, irmão
do principal articulador para a criação da ACIM, Angelo Planas. Em 1965, o
governador Ney Braga prestigia Maringá e nomeia o engenheiro agrônomo Anníbal
Bianchini da Rocha, funcionário da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná,
para o cargo de Secretário Estadual da Agricultura
20
. Nas eleições municipais de
1968, a primeira no sistema do bipartidarismo (Arena e MDB), Rodolfo Purpur, que
deixara a presidência da ACIM no início do mês de maio se candidata a vice-prefeito
na chapa do candidato da Arena, o ex-prefeito João Paulino Vieira Filho. Outro
diretor da ACIM, o empresário Ardinal Ribas, se candidata a prefeito pela segunda
legenda da Arena, tendo como vice-prefeito o médico Helenton Borba Cortes.
Ambos acabam derrotados pelo advogado Adriano Valente, do MDB.
Maringá entra na década de 1970 vivenciando o surgimento de novos agentes de
desenvolvimento na cidade (foto 3). Embora o café ainda fosse o carro-chefe da
economia local, a variedade agrícola já estava presente nas plantações que
circundavam a cidade, com o cultivo de lavouras extensivas e mecanizadas, e o
êxodo rural transformava outrora agricultores em trabalhadores urbanos
21
. O
recenseamento geral de 1970 mostrou Maringá com 121.461 moradores e a
colocava como a sede de uma região denominada Norte Novo de Maringá,
composta pelos municípios de Atalaia, Dr. Camargo, Floraí, Floresta, Itambé,
Ivatuba, Mandaguaçu, Mandaguari, Marialva, Ourizona, Paiçandu, São Carlos do
Ivaí, São Jorge do Ivaí e Uniflor
22
. Era a primeira indicação de que Maringá se
tornara um centro regional de fato.
19
O primeiro vice-prefeito de Maringá foi Mario Clapier Urbinatti, nomeado em 2 de abril de 1964 atendendo o
disposto na Emenda Constitucional n. 06. Em 6 de dezembro de 1964, Victor Ivo Asmann elegeu-se vice-
prefeito através de votação direta concorrendo com o udenista Jorge Sato (Cf. REIS, Osvaldo. A história em
conta-gotas. 1947-2004 Maringá. Maringá: [s/n], 2004.
20
Para saber mais sobre a atuação de Bianchini, falecido em 2007, consultar RECCO, Rogério. À sombra dos
ipês de minha terra. Londrina: Midiograf, 2005, 112 p.
21
Para melhor esclarecimento desta questão é importante ler CANCIAN, Nadir A. Cafeicultura paranaense -
1900-1970. Curitiba: Grafipar, 1981.
22
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil 1971, Rio de Janeiro: IBGE, v. 32, 1971.
37
Foto 3
Maringá em 1972
Fonte: Museu da Bacia do Paraná
A organização do mercado atacadista que colocou Maringá como o segundo
principal pólo do setor, no Brasil, até meados da década de 1980
23
, o surgimento de
novos produtos agrícolas e a mecanização da lavoura geram uma dinâmica
comercial e industrial que muda a paisagem urbana da cidade. A modernização da
agricultura força uma grande parte de pequenos proprietários e trabalhadores da
lavoura cafeeira a se deslocar para a cidade, estabelecendo a abundância de mão-
de-obra. É neste contexto que os empresários, representados pela única associação
que reunia comerciantes, industriais, prestadores de serviços e agentes financeiros,
entram na época do milagre econômico forjado pelos militares a partir dos anos
1970. É um período fértil na opinião da Associação Comercial:
Maringá caminha em processo rápido de desenvolvimento.
Incentivos agrícolas e industriais lançados pelo regime militar foram
fundamentais para o crescimento da região. O desenvolvimento de
culturas como trigo, milho, soja e a pecuária, contou com
investimentos do Ministério da Agricultura por meio do Banco do
Brasil. (ACIM, 2006, p. 80)
É nessa época que se multiplica o número de construtoras e os agentes imobiliários
conseguem alterações significativas no plano diretor da cidade para que a mesma
23
Maringá foi o segundo maior pólo atacadista do Brasil, reunindo empresas de destaque no setor como a Dias
Martins S/A, J.Alves Veríssimo, Irmãos Parizotto (Atacadão), Comercial Moreira e Casas Alô Brasil. Em 25 de
março de 1984 as instalações das Casas Alô Brasil pegaram fogo, em um incêndio que durou dois dias.
Começava o declínio do setor na cidade.
38
pudesse permitir a construção de edifícios comerciais e residenciais, que não faziam
parte do projeto inicial da cidade concebido pela CMNP
24
. É importante destacar
aqui a análise que a ACIM faz desse momento:
O desenvolvimento comercial e industrial se acelerou e a construção
civil viveu seus tempos áureos, marcada pelo surgimento de arranha-
céus concentrados no centro da cidade. Assim, a mudança da
paisagem urbana contrastou com o crescimento dos problemas
sociais e a necessidade de uma política empresarial sensível a
estas questões (ACIM, 2006, p.80, grifo nosso).
A grande geada que dizimou os cafezais do Paraná em 1975 contribuiu para o fim
da transição na economia regional, com a opção generalizada pela soja, dividida
anos mais tarde com o trigo. A consolidação da cultura da soja, principalmente pela
agroindústria, levou muitos agricultores a ficarem ricos e a investirem em imóveis,
consolidando definitivamente a cidade de Maringá como pólo de uma vasta região.
Graças aos fatores acima, a construção civil recebeu muitos
investimentos nos anos 1970 e 1980. E a cidade chegou a possuir o
maior índice percentual de crescimento urbano do país. Para atender
as demandas da população, também o setor de prestação de
serviços cresceu e se solidificou, principalmente nas áreas de saúde
e educação. Mas, mesmo assim, a cidade enfrentou graves
problemas com desemprego, causado principalmente pelo declínio
do café e a migração das populações rurais e de pequenas cidades
para os maiores centros e pólos regionais como Maringá. (ACIM,
2006, p. 93)
Mendes (1999, p. 401) apresenta a conta de 711 edifícios construídos ou em fase de
construção no período de 1980 a 1989 e faz uma observação pertinente sobre essa
fase áurea que contrastava com problemas sociais, principalmente no campo: “O
excedente de capital oriundo da agroindústria, além da política de crédito agrícola,
generosamente subsidiada em fins dos anos 70 e 80, propiciou a aplicação de tais
capitais na verticalização, desviados provavelmente do setor rural (MENDES, 1999,
p. 402).
Nessa década e meia (1970 a 1985) a Associação Comercial manteve-se ainda
como liderança hegemônica na condução do empresariado local. Em 1974, um dos
24
Sobre a atuação dos agentes imobiliários é importante destacar a obra de RODRIGUES, Ana Lúcia. A
pobreza mora ao lado: segregação socioespacial na região metropolitana de Maringá. Tese de doutoramento em
Ciências Sociais. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: São Paulo, 2004, 258 p.
39
seus ex-presidentes, Rodolfo Purpur, tornou-se reitor da Universidade Estadual de
Maringá que havia sido criada em novembro de 1969. Nessa época, Purpur e o
presidente da ACIM, Luiz Júlio Bertin, coordenaram uma comissão de 30
empresários que cobraram uma posição do governador Jayme Canet Júnior para
que este liberasse recursos para a manutenção da universidade (ACIM, 2006, p.84).
Outro empresário que aproximou a Associação Comercial da Universidade foi Álvaro
Miranda Fernandes, que era químico e professor da própria UEM. Fernandes, que
presidiu a ACIM entre 1976 e 1977, coordenou os estudos e viabilizou recursos do
exterior para financiar o projeto Stévia
25
, que existe até hoje na Universidade. O
curso de Agronomia
26
e a aquisição de boa parte do acervo bibliográfico da UEM
também foram frutos dessa aproximação entre a classe empresarial e a academia
(ACIM, 2006, p. 86).
No plano político estadual, no auge do regime militar, as incursões da Associação
Comercial se resumiram à elaboração de projetos, criação de idéias e pedidos de
melhorias para a cidade e para zona rural. Mesmo com a indicação do
“maringaense” Haroldo Leon Peres
27
para o Governo do Paraná, em 1971, não
houve uma aproximação maior como havia sido na época do governador Ney Braga,
na década anterior. Ubirajara de Araújo Pismel, que foi presidente da ACIM entre
1970 e 1971, resume assim o relacionamento com o governador:
Viajamos muitas vezes até Curitiba para levar projetos ao Governo.
Para nós não importava quem era o pai da criança, mas sim que ela
fosse saída. Do ponto de vista político, todos os lauréis ficavam com
25
O projeto para transformar o esteviosídeo, produto da planta Stevia rebaudiana bertoni, em um adoçante
natural e sem os prejuízos do açúcar, para diabéticos, começou a ser desenvolvido na UEM no final da década de
1970 pelo Prof. Dr. Mauro Alvarez. Em 1984, foi fundada a Ingá – Companhia de Desenvolvimento Industrial,
constituída por 300 acionistas, e presidida pelo empresário Raymundo do Prado Vermelho, ex-presidente da
ACIM. Em 1988 foi inaugurada a empresa Ingá Stevia Industrial S/A, a primeira do mundo a industrializar e
comercializar o esteviosídeo. Atualmente a UEM desenvolve projetos com o rebaudiosídeo, extraído da mesma
planta, mas com teor de dulçor superior.
26
O curso de Agronomia iniciou suas atividades na UEM em 6 de agosto de 1977.
27
Haroldo Leon Peres nasceu no Rio de Janeiro em 1922. Bancário, formou-se em Direito em 1952 e transferiu
residência para Maringá onde montou escritório e se filiou à União Democrática Nacional – UDN. Foi diretor da
Cofebraz e da Indopasa e membro da Associação Paranaense de Cafeicultura. Foi eleito deputado estadual por
Maringá por dois mandatos. Eleito deputado federal, apoiou o golpe militar de 1964 e se destacou na Câmara dos
Deputados, o que lhe valeu a indicação, pela via indireta, para ser governador do Paraná. Assumiu o Palácio
Iguaçu em 15 de março de 1971. Seu estilo veemente e agressivo entrou em rota de colisão com os principais
dirigentes do país, entre eles os próprios militares e parte da imprensa. Acusado de corrupção por uma
empreiteira e pressionado pelos militares, renunciou o mandato em 23 de novembro do mesmo ano. Para saber
mais a respeito, ler CARNEIRO, David e VARGAS, Túlio. História biográfica da República no Paraná.
Curitiba: Banestado, 1994, 307 p.
40
o Governo que gostava de marcar pontos. Mas, era preciso muito
esforço para ver os projetos da região aprovados (ACIM, 2006, p.
81).
Em 15 de março de 1979 o presidente da República, general João Baptista
Figueiredo, nomeou o novo Ministro do Trabalho. Tratava-se de Murilo Macedo, que
havia feito carreira como diretor de bancos como o Nacional e o do Estado de São
Paulo. Quase vinte e dois anos antes, em 19 de maio 1957, o mesmo Murilo Macedo
tomava posse como presidente da Associação Comercial de Maringá
28
. Na época,
era gerente do Banco Nacional e estava em Maringá desde 1953. Macedo ficou na
presidência da ACIM apenas no ano de 1957, pois foi promovido e mudou-se para
São Paulo a fim de assumir a diretoria do Banco Nacional. Foi Ministro do Trabalho
até 15 de março de 1985, data em que deveria ser empossado o primeiro presidente
civil depois de 1964, Tancredo Neves. Sua presença no Ministério abriu muitas
portas para reivindicações da classe empresarial local.
Nas eleições municipais de 1972, os maringaenses elegeram um político que tinha
profundas raízes com a ACIM. Sílvio Magalhães Barros, empresário do ramo de
revenda de veículos, eleito pelo Movimento Democrático Brasileiro – MDB, com
29.218 votos, era conselheiro da entidade desde 1957 e genro de um dos seus
fundadores, o empresário Odwaldo Bueno Neto, que foi presidente da ACIM em
1958. Sílvio Barros já havia sido deputado estadual (1967-1970) e deputado federal,
eleito nas eleições gerais de 1970. Dez anos depois, nas eleições de 1982,
novamente é eleito um prefeito que fazia parte do quadro da Associação Comercial:
Said Felício Ferreira, médico e dono de um hospital, eleito pelo Partido do
Movimento Democrático Brasileiro – PMDB, com 26.516 votos, que durante vários
anos fora membro do Conselho Fiscal da ACIM. Said Ferreira voltaria à prefeitura,
vencendo as eleições de 1992 com 64.713 votos, novamente pelo PMDB. Onze
anos depois, em 2003, outro candidato saído da Associação Comercial, Silvio
Magalhães Barros II
29
, é eleito prefeito pelo Partido Popular – PP, com 92.052 votos
28
Murilo Macedo foi o intermediador do Governo nas famosas greves do ABC paulista no início dos anos 1980.
Por um ato seu, o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo, ficou preso por vinte dias nas instalações do Dops de São Paulo. Macedo morreu de câncer
aos 81 anos em 26 de agosto de 2003.
29
Sílvio Magalhães Barros II nasceu em Maringá em 11 de dezembro de 1956, mas não é o primeiro prefeito
nascido na cidade. Seu irmão, Ricardo José Magalhães Barros, nascido em 15 de novembro de 1959, foi prefeito
41
obtidos em segundo turno. Sílvio Barros II era membro do Conselho do Comércio e
Serviços da ACIM.
O ano de 1985 é emblemático para o país. No dia 15 de março, a esperada posse
do presidente Tancredo Neves não ocorreu. Acometido de uma enfermidade,
Tancredo é hospitalizado e em seu lugar assume o vice, José Sarney. No dia 21 de
abril, Tancredo é declarado morto e Sarney empossado definitivamente como
presidente da República. O governo Sarney foi marcado por planos econômicos
controversos como o Plano Cruzado, caracterizado pelo congelamento de preços e
salários e por uma euforia nacional de curta duração, mas com conseqüências
diversas como falência de pequenas empresas, recessão e inflação. Para a classe
empresarial de Maringá também. Nas palavras do seu ex-presidente, Raymundo do
Prado Vermelho, Maringá “já não era mais uma ‘boca do sertão’. Era uma cidade
formada, que poderia perder a velocidade de seu crescimento se não criasse novas
oportunidades para manter o que herdara do passado” (ACIM, 2006, p. 96).
Entretanto, segundo o mesmo empresário, que presidiu a Associação Comercial de
1982 a 1983, a cidade “parou de crescer, principalmente a partir de 1985, mas
outras economias embrionárias nasceram e não permitiram que a cidade se
estagnasse” (ACIM, 2006, p. 97). Entre essas “economias” estavam os setores de
eletrônica, informática e educação, que impulsionaram a cidade para ser um pólo de
prestação de serviços anos mais tarde, conforme veremos no desenrolar deste
trabalho.
A ACIM também já não era a única entidade a defender o empresariado local. Além
do Sindicato do Comércio Varejista – Sivamar, outras entidades patronais
agrupavam seus representados e lutavam por seus interesses frente aos problemas
da economia na época. Em 1985 foi fundada em Maringá a Câmara de Dirigentes
Lojistas – CDL, chegando a sediar na cidade a Convenção Nacional dos CDL’s. Em
maio de 1986, os empresários do setor metalúrgico e mecânico fundaram a
Associação das Indústrias Metalúrgicas e Mecânicas de Maringá, que em dezembro
de 1987 se transformou no Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de
Material Elétrico de Maringá – Sindimetal. Os empresários do setor gráfico fizeram a
entre 1989 a 1992. Ambos são filhos do ex-prefeito Sílvio Magalhães Barros que governou a cidade entre 1973 a
1976.
42
mesma coisa em janeiro de 1987, fundando a Associação dos Empresários Gráficos
de Maringá. A associação se transformou no Sindicato da Indústria Gráfica de
Maringá – Singramar em 12 de julho de 1993. Em 13 de maio de 1990 foi fundado o
Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá e Região – Sindvest e em 14 de
dezembro de 1992 é fundado o Sindicato da Indústria da Construção Civil do
Noroeste do Paraná. Todos esses novos sindicatos se juntaram à Coordenadoria
Regional da FIEP que se tornou, até por concentrar a maior parcela do setor da
economia produtiva, uma força respeitável na cidade. Outra entidade de peso que se
estabeleceu em Maringá no início dos anos 1990 foi o Sebrae – Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas
30
, prestando cursos e assessorias para os
micro empresários e para aqueles que pensavam em abrir um negócio.
Em dezembro de 1990, a ACIM entra em atrito com a administração municipal,
travando uma verdadeira batalha na questão do aumento do IPTU do ano seguinte
promovido pelo prefeito Ricardo Barros. O presidente da Associação, o empresário
do setor supermercadista, Fernando Henriques “critica os valores altos lançados no
IPTU e acusa a prefeitura de aumentar acima da realidade do mercado o valor venal
dos imóveis” (ACIM, 2006, p. 109). A entidade inicia um movimento para articular
junto à Câmara de vereadores a apresentação de emendas concedendo descontos
e facilidades para o pagamento do IPTU e taxas da prefeitura. A queda de braço só
foi resolvida no ano seguinte, quando grande parcela da população já havia iniciado
os pagamentos do imposto e taxas:
A ACIM organiza um abaixo-assinado contra o aumento e, no dia 3
de abril, Fernando Henriques entrega ao presidente da Câmara
Municipal um ante-projeto de emenda popular com nove mil
assinaturas pedindo desconto de 70% no IPTU. O projeto é aprovado
beneficiando milhares de empresas e a população em geral (ACIM,
2006, p. 110).
Derrotada, a prefeitura reverteu a situação e se beneficiou do novo projeto induzindo
a população a entender que era um benefício seu aos contribuintes. Sobre essa
questão o jornalista e memorialista Messias Mendes escreveu à época:
30
O Sebrae foi criado pelo decreto 99.570 que regulamentou a Lei 8029, de 12 de abril de 1990, passando a ser
um serviço social autônomo e deixando de ter a vinculação pública aos ministérios do Planejamento e da
Indústria e Comércio como o antigo Cebrae - Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena Empresa.
No Paraná, o atual Sebrae se chamava CEAG - Centro de Assistência Gerencial à Pequena e Média Empresa do
Paraná.
43
O IPTU foi o calcanhar-de-aquiles da Administração Liberal, que
exagerou na dose dos tributos e taxas. Mas convenhamos, a
generosidade do novo prefeito para com os inadimplentes foi um
despautério. Antes de mais nada, os descontos absurdos
beneficiaram até quem não pagou 90 e 91. Quem temeu a cara feia
da dívida ativa e pagou em dia se sentiu um verdadeiro idiota.
Desses para Akira Kurozawa nenhum botar defeito (MENDES, 1995,
p. 53).
A questão do IPTU é central para se procurar entender o que ocorreu no período,
quando a cidade vivenciou uma batalha política entre dois grupos, o do prefeito da
época, Ricardo Barros e do ex-prefeito, Said Ferreira. Depois de cinco anos à frente
da administração municipal (1983-1988) e de um desgastante processo de embate
político com a Câmara de Vereadores e com seu próprio partido
31
, Said Ferreira não
conseguiu eleger seu sucessor, o empresário João Preis, que também tinha ligações
com a Associação Comercial. O vencedor do pleito de 1988 foi o engenheiro civil e
empresário do setor de comunicações (era sócio de duas emissoras de rádio, uma
FM e outra AM), Ricardo Barros, então com 28 anos. A administração de Barros foi
marcada pela polêmica da terceirização de serviços públicos essenciais como a
educação
32
, pela relação de fidelidade com o presidente da República à época,
Fernando Collor de Melo, que em 1989 fez campanha na cidade e retornou para
inaugurar o pátio de manobras ferroviária em 2 de agosto de 1991
33
. Barros havia
sido do segundo escalão do ex-prefeito Said Ferreira em 1986, quando assumiu um
cargo de confiança em uma de suas secretarias. Foi afastado quando surgiram
denúncias de negociata com uma construtora responsável pelo projeto de
construção do novo centro da cidade e da mudança do pátio ferroviário. “Tal caso
chegou até mesmo a provocar a instalação de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito na Câmara Municipal” (TONELLA, 1999, p. 294)
34
. Sua eleição foi
31
Sobre esses episódios consultar: TONELLA, Celene. As eleições municipais e a política local na reedição
do pluripartidarismo. In: DIAS, Reginaldo; GONÇALVES, José H. R. (orgs). Maringá e o Norte do Paraná:
estudos de história regional. Maringá: Eduem, 1999, pp. 285-301.
32
Para ver um panorama completo sobre o processo de privatização da educação em Maringá, consultar: DIAS,
Reginaldo (org). O público e o privado na educação: a privatização do ensino em Maringá e temas afins:
Maringá. Secretaria de Educação do Município, 1995.
33
Para saber mais sobre o relacionamento entre Collor e Ricardo Barros, na época, consultar: NASCIMENTO,
Luiz Miguel do. Olhar cotidiano sobre a política: a eleição presidencial de 1989 e a eleição municipal de 2000
em Maringá. Tese de doutoramento em História. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: São Paulo,
PUC, 2003, 300 p.
34
Esse episódio está detalhado em duas obras de: CORRÊA JÚNIOR, João Antonio. Maria Fumaça. Maringá:
Clichetec, 1988 e O trem de ferro! Maringá: Editora 5 de abril, 1991.
44
surpreendente, pois em todas as pesquisas eleitorais, seu nome não estava entre os
preferidos pelos eleitores e nem mesmo seu partido, o PFL, conseguiu eleger a
maioria dos vereadores
35
.
Por conta de supostas irregularidades em sua administração, o prefeito Ricardo
Barros sofreu o início de um processo de impedimento
36
junto à Câmara de
Vereadores, o que lhe trouxe sério desgaste. Embora a ACIM já tivesse tido um
embate com o prefeito anterior, Said Ferreira, por questão do aumento do IPTU em
1987 (ACIM, 2006, p. 102), foi na gestão de Barros que os empresários mais se
manifestaram contra os aumentos. O jornalista e historiador Messias Mendes lembra
que “como fonte de receita para a prefeitura, o IPTU sempre esteve na faixa dos três
por cento do total arrecadado anualmente” (MENDES, 1995, p. 113). As principais
fontes de recursos eram o Imposto sobre Circulação de Mercadorias – ICMS, verbas
estaduais e federais, repassadas a fundo perdido, e o Fundo de Participação dos
Municípios, uma divisão do total arrecadado pelo Estado. Entretanto, explica
Mendes:
A partir de 1989 a coisa mudou, o IPTU de Maringá passou a
representar cerca de doze por cento do orçamento. Houve protesto e
confrontos políticos muito sérios. Mas o povão (sic) acabou pagando,
sem choro nem vela. Só alguns setores da elite local estrilaram,
apostando na inadimplência e deixando o acerto de contas para fazer
com o prefeito seguinte (MENDES, 1995, p.113).
Barros encerrou a sua administração divulgando ser o autor de “400 obras em 4
anos”. Tinha na pessoa do ex-prefeito e agora deputado federal, Said Ferreira, seu
principal inimigo político. Assim, acabou sendo derrotado na tentativa de fazer o seu
sucessor. Seu candidato, o engenheiro Miro Falkemback, que havia sido secretário
municipal, foi derrotado por Said Ferreira com uma diferença de mais de 50 mil
votos. O ex-secretário de Said Ferreira e, agora, seu maior inimigo político, deixou a
35
“Os votos em Ricardo Barros foram personalistas: ele recebeu 38.902 votos (34,45%). O seu partido, o PFL,
recebeu apenas 9.187 votos (8,13%) e elegeu dois vereadores, o que impediu que o prefeito eleito formasse uma
bancada partidária de sustentação na Câmara de Vereadores”, conforme TONELLA, Celene. Op. cit. Para mais
detalhes sobre a eleição de Ricardo Barros, consultar: MENDES, Messias. Sociologia de botequim. Maringá:
Clichetec, 1995.
36
Os detalhes sobre os procedimentos da tentativa de impedimento do prefeito estão em DIAS, Reginaldo;
TONELLA, Celene. A experiência do Legislativo Municipal em Maringá 1947/1998. Maringá: Câmara
Municipal de Maringá, 1999. 111 p.
45
prefeitura de Maringá dois dias depois que o presidente Fernando Collor de Melo
renunciou ao mandato em 29 de dezembro de 1992.
Eleito para o segundo mandato com os votos de quase 60% do eleitorado local, o
médico Said Ferreira promoveu uma anistia tributária, reduzindo significativamente o
valor do IPTU, e dando descontos e perdões para os maiores devedores da
Prefeitura. Foi uma ação clara e direta contra o seu antecessor, reduzindo as
alíquotas para a casa dos três por cento, quase no mesmo patamar que era antes
da administração de Barros. Mendes comenta sobre essa atitude do prefeito:
Vale o argumento – utilizado pelo próprio Said como grande
contribuinte que é – de que os impostos da adminsitração Barros
eram impagáveis. Mas daí até “passar a régua” nos débitos, pura e
simplesmente, vai uma enorme diferença. Ora, quem devia Cr$ 200
mil de IPTU há um ano e vai pagar agora os mesmos Cr$ 200 mil,
sem dúvida que foi anistiado. Não pagou quem pôde pagar; foi
perdoado quem não precisava desse tipo de perdão (MENDES,
1995, p. 54).
Para poder dar conta das obras de infra-estrutura do município, Said Ferreira
precisou aumentar novamente os impostos. E os efeitos foram nocivos para a sua
administração. Comenta Mendes que “curiosamente, muitos empresários que
formaram o tal ‘paredão cívico’ contra o IPTU de Barros, viraram adversários de
Said” (MENDES, 1995, p.113). Com a volta por cima de Ricardo Barros, se elegendo
deputado federal em 1994 com mais de 54 mil votos, ficava clara a formação de dois
grupos políticos que lutavam pelo controle da cidade.
A relação da Associação Comercial com a administração municipal, ao contrário de
épocas passadas, era, no mínimo, distante. No último ano da gestão Ricardo Barros
e no primeiro ano da gestão de Said Ferreira, a ACIM foi presidida pelo empresário
Massao Tsukada, que havia sido vereador na primeira gestão de Ferreira e
candidato a vice-prefeito derrotado por Ricardo Barros, em 1988. Ambos eram
incomodados pela postura política de Tsukada que poderia ser-lhes um concorrente
direto. Entretanto, o presidente da ACIM voltou sua administração para consolidar a
entidade, numa época em que perdia espaço para outros segmentos, como a
“legítima” representante da classe empresarial. “Durante a gestão de Massao
Tsukada, a entidade conheceu o maior crescimento de sua história até então”
46
(ACIM, 2006, p. 111). O número de empresas associadas saltou de 1.200 para 1.600
e várias ações de fortalecimento da entidade foram realizadas, como a abertura de
uma filial no Jardim Alvorada, o maior bairro da cidade; a realização da 1ª. Feira
Ponta de Estoque, beneficiando pequenos comerciantes; a criação do Pró-UEM e a
criação do Instituto de Desenvolvimento Regional – IDR
37
.
Com a proeminência dos dois principais grupos políticos da cidade, Tsukada
fomentou na ACIM, no início de 1994, um grande debate entre lideranças
empresariais sobre a participação do empresário na política. O debate foi matéria de
capa da Revista ACIM de março daquele ano. A conclusão era que “de um modo
geral, os empresários defendem a participação da ACIM na política. A polêmica é
que ninguém se habilita a participar mais ativamente do processo, que pode ser
perigoso e desgastar a imagem da entidade perante a comunidade” (REVISTA
ACIM, n. 341, 1994, p. 07). Na mesma reportagem, o vice-presidente do Sindicato
do Comércio Varejista de Combustíveis Minerais do Paraná, Aulos Rodrigues, dizia
que a ACIM não poderia “ficar à margem de um processo tão importante quanto o
político” e que já era hora da ACIM lançar um candidato (p. 09). O industrial Emílio
Germani, ex-presidente da entidade, defendia que a ACIM liderasse um Fórum
Público, “onde a sociedade debateria as necessidades do município. Essas
necessidades poderiam então fazer parte do programa mínimo de trabalho dos
candidatos” (p. 10). Ainda na mesma matéria, o diretor da Cooperfios - uma das
maiores cooperativas de fiação de algodão do Paraná - Claudomiro Siroti, dizia que
a região noroeste era a “mais fraca politicamente da região” e que a ACIM deveria
fazer alguma coisa. “As pessoas não sabem o poder que a ACIM tem. Ela se
menospreza. É preciso usar esse poder, levantar propostas que sirvam como
bandeiras de nossos políticos” (p. 12). Duas intervenções nesta reportagem foram
sintomáticas e serviram como um “mote” inconsciente do movimento político-
empresarial que se levantou na cidade a partir daquele ano. A primeira é do
empresário e professor universitário José Carlos Alcântara
38
que propunha que a
ACIM devesse elaborar projetos visando o desenvolvimento da Região Metropolitana
37
Sobre o Pró-UEM e o IDR discorremos mais à frente em capítulo específico.
38
José Carlos Alcântara tem doutorado em História pela UNESP. Desenvolveu a tese “Dualismo Partidário no
Período de 1966 a 1982 e sua Representação Local” defendida em 2004. Foi proprietário da Nutrinella Refeições
em Maringá, associado da ACIM e professor do Departamento de Ciências Sociais da UEM. Atualmente é
professor titular do Centro Universitário de Maringá – Cesumar.
47
a longo prazo. Dizia o professor: “É preciso ter visão de futuro. Tudo é questão de
planejamento, de discutir e desenvolver projetos para os próximos 20 anos” (p. 13).
A outra é do empresário do setor de combustíveis, Aulos Rodrigues, que dizia que a
ACIM, como força econômica, tinha todas as condições para influenciar no futuro de
Maringá, objetivando, principalmente, melhores condições de vida, mais empregos e
infra-estrutura. “Ou essas lideranças tomam consciência disso por bem, ou por mal,
quer dizer, os trabalhadores estão se organizando e vão apertar os empresários em
busca de melhores condições de vida. Precisamos nos antecipar.” (p.13), concluía.
Com a criação do movimento Pró-UEM e do IDR, ainda em 1994, estava lançada a
semente do que viria a ser dois anos depois, em 1996, o Movimento Repensando
Maringá, articulado pela ACIM e pela Coordenadoria Regional da FIEP, que
envolveu mais de 80 líderes empresariais e segmentos como clubes de serviços,
sindicatos patronais, igrejas, escolas, universidade, entre outros, com o suporte
técnico do Sebrae. A partir da idéia-força do desenvolvimento econômico e da
constatação de que a cidade estava paralisada no tempo, envolvida em disputas
político-eleitorais de grupos antagônicos, o Repensando Maringá se transformou em
uma força dirigente capaz de assumir o controle político da cidade, mesmo sem
participar diretamente do processo eleitoral. A ACIM tornou-se, desde o início do
movimento, a principal entidade a liderar os grupos participantes e foi a principal
porta-voz do Repensando Maringá através de sua publicação mensal, a Revista
ACIM.
Nas eleições municipais de 1996 o candidato vitorioso, Jairo Gianoto (PSDB),
propugnava, como principal bandeira de campanha, a paz política, teorizando poder
unir em torno de um ideal – o do desenvolvimento de Maringá - grupos rivais e de
ideologias diferentes. A paz política foi um dos principais motes do trabalho
desenvolvido naquele ano pelo Repensando Maringá, conforme veremos no
desenvolver dessa pesquisa. Em 1997, o Repensando Maringá deu origem ao
Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá – Codem, organismo criado
por lei municipal e que se tornou responsável por “propor e fazer executar políticas
de desenvolvimento econômico e com competências deliberativas e consultivas”
(CODEM, 2006). Na mesma data, foi criado o Fundo Municipal de Desenvolvimento
48
Econômico – FMD
39
, para “financiar a elaboração de estudos, projetos e planos de
desenvolvimento, o fomento do desenvolvimento e o investimento em infra-estrutura
e na formação de capital de empreendimentos” (CODEM, 2006). Por lei municipal, o
Codem passou a ser o gestor do FMD.
Além do Conselho, outro resultado do Repensando Maringá foi o documento
Maringá 2020, um planejamento de longo prazo da cidade com os principais pontos
sobre o que se deseja que Maringá se transforme no futuro. “Essa definição
constituiu-se no norte orientador das ações e da construção de políticas de
desenvolvimento econômico do Codem” (CODEM, 2006). Entre as principais
definições desse planejamento, um verdadeiro plano de governo de longo prazo,
estão as estratégias para as áreas comunitária: “o crescimento da cidade deve ser
planejado de maneira a consolidar-se como cidade de porte médio com população
aproximada de 500.000 habitantes” e “o planejamento urbano deve integrar o
desenvolvimento humano com a natureza, de maneira a harmonizar o homem e a
natureza”; universitária: “ a formação empreendedora deve se constituir em matéria
curricular dos ensinos superior e médio”; comércio exterior: “atribuir à cidade a
função de centro internacional de comércio, com a constituição de um portal do
Brasil e do Resto do Mundo para o Mercosul”; agricultura e agroindústria: “consolidar
Maringá como pólo agroalimentar de base tecnológica, com agricultura empresarial
forte, diversificada e internacionalmente competitiva”, entre outras específicas
(CODEM, 2006).
Embora se apresentasse como um movimento sem “qualquer conotação político-
partidária” (Revista ACIM nº. 369, 1996, p. 26), as propostas do Repensando
Maringá estiveram na base dos planos de governo dos principais candidatos à
prefeitura da cidade em 1996. Quando da criação do Codem, em 1997, o seu
primeiro presidente foi imposto pelo prefeito Jairo Gianoto, que indicou o secretário
municipal de Indústria, Comércio e Turismo, Miguel Fuentes Salas, um ex-diretor da
ACIM. O presidente da Associação Comercial, Hélio Costa Curta, frisava que a
entidade considerava importante a aproximação de políticos e empresários:
39
O Codem foi instituído pela lei municipal n. 4275/96, com competências deliberativas e consultivas. O Fundo
Municipal de Desenvolvimento Econômico – FMD foi criado pela lei n. 4274/96, na mesma data da criação do
Codem. Veremos esses detalhes mais adiante em capítulo específico.
49
Se não somarmos nossas forças será difícil retomar o
desenvolvimento de Maringá e região. Na ACIM temos a
preocupação de fortalecer os laços de amizade com vereadores,
deputados estaduais e federais e com o prefeito. De todos, cobramos
atuações em prol da comunidade e região. (REVISTA ACIM nº. 374,
1997, p.13).
Em 1999, na edição nº. 20, de 16 de maio, a Revista Veja, então a de maior
circulação nacional, trouxe como tema de reportagem de capa a cidade de Maringá
referindo-se a ela como a Dallas brasileira, numa alusão à cidade norte-americana
tida como a capital do cinturão agrário dos Estados Unidos. Em uma das muitas
referências ao município paranaense, o jornalista Maurício Lima destaca:
(...) planejada durante a década de 40, a cidade paranaense é uma
Brasília regional. A diferença é que produz riqueza em vez de
escândalos. Se houvesse um hipotético país formado pelo cinturão
agrário brasileiro, Maringá poderia candidatar-se à capital. São
285.000 habitantes e renda per capita de 7.000 dólares. (LIMA, 1999,
p. 129).
O destaque recebido por Maringá em uma revista de amplitude nacional premiava os
esforços dos articuladores do Repensando Maringá que três anos atrás publicavam
na Revista ACIM a seguinte constatação:
Maringá parou de crescer há pelo menos uma década. O município
já foi o segundo pólo atacadista do país – hoje nem está entre os
maiores. Possuía uma agricultura bem mais rentável. Era o maior
centro de abate de bovinos do estado. E, mais recentemente, chegou
a ter 458 indústrias no setor têxtil e de confecções, hoje tem 352.
Eram 791 lojas atacadistas, hoje são 265. (...) A taxa de crescimento
do município de 1991 a 1994 foi de 19,28%, menor que a
paranaense, de 23,99%. (REVISTA ACIM, n. 368, 1996, p. 28)
O Movimento Repensando Maringá foi articulado para colocar a cidade na rota do
desenvolvimento econômico, desenvolvendo projetos como o fortalecimento da
“marca” Maringá, de atração de investimentos, de políticas de benefícios fiscais para
atração de empresas e incremento nos valores de ICMS que eram repassados pelo
Estado ao município.
Pouco mais de um ano depois da publicação da Revista Veja, Maringá se viu
envolvida em um dos maiores escândalos de corrupção administrativa do Brasil,
50
culminando com o afastamento do prefeito e a prisão do secretário de Fazenda do
município
40
. Apesar disso, o projeto político do Repensando Maringá seguia intacto,
fato comprovado nas eleições municipais de 2000, quando a cidade viu pela primeira
vez um candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) chegar à prefeitura e com uma
votação superior aos 100 mil votos. Em seu plano de alianças para o segundo turno
daquele pleito, o candidato do PT, José Cláudio Pereira Neto, se aproximou da
ACIM, dando total atenção ao plano de desenvolvimento econômico formulado pelo
Codem (REVISTA ACIM, nº. 399, 2000, p. 10), fato comprovado durante a sua
administração
41
. Novamente, nas eleições municipais de 2004, os planos de governo
dos candidatos a prefeito passaram pela cartilha do Codem. O prefeito eleito, Sílvio
Barros II, do PP, foi, inclusive, membro deste e ativo conselheiro da ACIM (REVISTA
ACIM, nº. 439, 2004, p. 06).
Do início do Movimento Repensando Maringá, em 1994, passando pela exaltação
ufanista da Revista Veja, os escândalos de corrupção, a vitória do PT e a eleição de
um prefeito saído de dentro da Associação Comercial, temos uma baliza cronológica
de 10 anos. Nesse período houve sempre a atuação direta da classe empresarial na
política local, seja pelas propostas do Repensando Maringá ou pela atuação
hegemônica da ACIM. Esse é o fato histórico de que trata essa pesquisa,
desenvolvida com um olhar crítico sobre o projeto político da classe empresarial,
liderada pela ACIM, que não visava apenas o poder local, como atesta o seu
presidente em 1997: “Iniciamos dois movimentos fortes visando resgatar a dignidade
do nosso povo. Um é o Repensando Maringá e o outro é a integração de todo o
Norte do Estado” (REVISTA ACIM, nº. 374, 1997, p.13).
40
Em outubro de 2000, logo após o primeiro turno da eleição municipal, veio a público um grande escândalo de
desvio de recursos na Prefeitura de Maringá, administrada por Jairo Gianoto, que ficou em terceiro lugar no
primeiro turno. O seu ex-secretário da Fazenda, Luiz Antonio Paulichi, foi acusado de comandar um esquema de
corrupção que lesou os cofres do município em mais de R$ 100 milhões, desviados nas gestões de Ricardo
Barros, Said Ferreira e Jairo Gianoto. Somente na conta de Jairo Gianoto, segundo o Ministério Público do
Paraná, foram encontrados R$ 1.885.945,60 desviados entre 1997 a 1999. O esquema envolvia também três
funcionários municipais que acabaram presos. Luiz Paulichi cumpriu pena em regime fechado e, atualmente,
cumpre pena em regime semi-aberto. O ex-prefeito chegou a passar duas noites na cadeia, mas um habeas
corpus garantiu sua liberdade. Atualmente, reside em sua fazenda em Nova Mutum, no Mato Grosso.
41
Ao se referir à gestão do PT à frente da Prefeitura de Maringá, o site nacional do partido incluiu esta notícia:
Em 2002, foi criado o Instituto Tecnópole Maringá, tendo como projeto inicial a criação de um parque
tecnológico do município. O objetivo é transformar a cidade num centro de excelência de desenvolvimento
científico e tecnológico, seguindo o que foi definido no Movimento Repensando Maringá e que culminou com a
criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (Codem)
Disponível em: <http://www.pt.org.br/site/secretarias_def/secretarias_int>, acesso em 15 out. 2005.
51
PRIMEIRA PARTE
OS FUNDAMENTOS
52
Imagem 1
Capa da Revista ACIM n. 367, Julho de 1996
53
Capítulo I
O tema, o método e
o universo teórico de referência.
Quem estuda a história contemporânea e da
antiguidade verá que os mesmos desejos e as
mesmas paixões reinaram e reinam ainda em todos
os governos, em todos os povos. Por isto é fácil,
para quem estuda com profundidade os
acontecimentos pretéritos, prever o que o futuro
reserva a cada Estado, propondo os remédios já
utilizados pelos antigos ou, caso isto não seja
possível, imaginando novos remédios, buscados na
semelhança dos acontecimentos. Porém, como
estas observações são negligenciadas (ou aqueles
que estudam não sabem manifestá-las), disto
resulta que as mesmas desordens se renovam em
todas as épocas.
Nicolau Maquiavel
42
42
MAQUIAVEL, Nicolau. Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. Brasília, UNB, 1979. 2. ed.
revista, 1982, p. 129
54
1.1 .Considerações sobre o tema
Este trabalho se insere em um campo de discussão acadêmica em construção que
articula estudos sobre o desenvolvimento local e as políticas públicas com estudos
sobre a atuação do empresariado no meio ambiente urbano. Está situado nos novos
campos da interdisciplinaridade que relacionam a História Política e a Ciência
Política com a questão do desenvolvimento econômico, o espaço urbano e a
governança. Não pretende aqui discutir aspectos da constituição e do papel a ser
exercido pela chamada “burguesia nacional”
43
que gerou trabalhos relevantes sobre
temas como o papel das elites empresariais na América Latina (CARDOSO, 1967), o
papel do empresariado industrial no desenvolvimento econômico (CARDOSO, 1964
e 1968), a atuação do empresariado na dimensão do capitalismo (DINIZ, 1978) e o
poder político dos banqueiros (MINELLO, 1988). Tem por objeto o exame detalhado
de atuação política desse segmento social em um dado momento histórico,
contextualizando o empresariado como ator político, que participa direta (partidos,
eleições e cargos nos governos) ou indiretamente do jogo político.
No caso da pesquisa em tela, é indissociável a questão da hegemonia com a
atuação empresarial. Diniz (1978) e Diniz e Boschi (1978) já haviam identificado na
burguesia nacional uma característica de atuação política que negava a “condição
de classe desprovida de vocação hegemônica”, rótulo que carregou em diversos
estudos nos anos 1960 e 1970. A primeira motivação para este trabalho foi procurar
entender como, no caso de uma cidade no interior do Estado, sem vocação industrial
de vulto, foi gerado pela classe empresarial um movimento político capaz de se
tornar hegemônico e que influenciou as relações entre o poder municipal e a
população.
Uma segunda motivação está ligada àquilo que identificamos como uma lacuna na
historiografia de Maringá, tanto na produção de memorialistas e jornalistas bem
como na produção de pesquisadores científicos: o empresariado como ator político
que assume o papel de influenciador das políticas públicas implantadas pelos
governantes. Maringá já foi estudada pelo prisma das ações dos empresários que a
43
Os trabalhos de orientação marxista, principalmente os das décadas de 1960 e 1970 chamam comumente o
empresariado local de “burguesia nacional”.
55
colonizaram ou (re) ocuparam as suas terras (CANCIAN, 1971; ANDRADE, 1979 e
LUZ, 1997); das ações dos agentes imobiliários e ocupação urbana (RODRIGUES,
2004 e GALVÃO, 2007); do esporte (COSTA, 2003); da arte e da cultura
(PELEGRINI, 2005); da memória (ZANIRATO, 2005); da modernização das relações
sociais, como gênero e trabalho (PRIORI, 1999; DIAS, 1999 e 2003;
CASAGRANDE, 1999; TAIT, 1999); da saúde e controle social (MARQUES, 1999 e
SOUZA CAMPOS, 1999); da moralidade e sexualidade (RIBEIRO, 1999); da pré-
história local e regional (NOELLI e MOTA, 1999); da chegada da energia elétrica
(RECCO, 2007), apenas para enumerar alguns. Outras pesquisas se dedicaram a
identificar os fenômenos ou agentes políticos que atuaram no âmbito do município
como as eleições (ALCANTARA, 1999 e 2004; TONELLA, 1999; NASCIMENTO,
2003), a revolução e a repressão (DIAS, 2003; HELLER, 1988), a igreja católica
(ROBLES, 2007), a universidade (SHEEN, 2001) e os conselhos gestores
(TONELLA, 2006); sem contar os inúmeros trabalhos de memorialistas e jornalistas,
onde se destaca Jorge Ferreira Duque Estrada (1961), autor do registro dos
embates políticos da primeira eleição de Maringá. Contudo, o empresariado como
ator central de um processo de controle hegemônico e de articulador de políticas de
desenvolvimento, ainda não foi estudado.
Não há dúvida e diversas pesquisas acadêmicas já provaram isso, de que os anos
1980 marcaram a transição política brasileira com o surgimento e diversidade de
vários movimentos sociais. O fim do regime militar e a esperança de uma
democracia ampla e de garantias para os setores da sociedade que estavam à
margem, mobilizaram esse movimentos a buscarem o seu espaço na vida pública
brasileira. Como exemplo, nos anos 1990, surgiram os Conselhos Gestores que
foram conquistas dos movimentos populares e da sociedade civil organizada para a
gestão das políticas públicas tanto em nível estadual quanto em nível local. Os
Conselhos se apresentaram como instrumento de representação da sociedade civil e
política que lutaram pela democratização dos órgãos e aparelhos estatais. Fizeram
parte de um novo modo de gestão dos negócios públicos via parcerias com a
sociedade civil organizada. Dessa conquista, emergiu uma nova noção de cidadania,
conforme atestam Paoli e Telles:
56
Além de incorporar uma agenda universalista de direitos e proteção
social, o novo texto legal traduz uma exigência de participação na
gestão da coisa pública e acena com as possibilidades da construção
partilhada e negociada de uma legalidade capaz de conciliar
democracia e cidadania. E é isso também que se traduziu na
conquista de espaços de representação e negociação em torno da
formulação e implementação de políticas públicas diversas nos anos
que se seguiram a 1988, multiplicaram-se, em níveis nacional,
estadual e municipal, fóruns públicos nos quais questões como
direitos humanos, raça e gênero, cultura, meio ambiente e qualidade
de vida, moradia, saúde e proteção à infância e adolescência se
apresentaram como questões a serem levadas em conta numa
gestão partilhada e negociada da causa pública (PAOLI e TELLES,
2000, p. 109).
Os grupos empresariais também aproveitaram esse momento e, ao reboque do
surgimento dos Conselhos Gestores, formaram os chamados fóruns civis não-
governamentais, cujo poder residia na força da mobilização e da pressão, porém
sem possuir assento institucional junto ao poder público. Ao elaborar o conceito de
modernização capitalista, no final dos anos 1960, Fernando Henrique Cardoso
elegeu o empresário nacional como o “sujeito modernizador do Brasil”; no entanto,
afirmava que o empresariado brasileiro não tinha consciência de pertencer a uma
classe, por isso, dizia que ele “quer ser dominante só economicamente e não
politicamente” e que “a burguesia atuará mais sobre o Estado do que através de
partidos políticos” (REIS, 1999, p.264). Entretanto, conforme a abordagem da
economia política no período do autoritarismo, entre 1974 e 1977, elaborada por
Cruz (1995), o empresariado teve uma participação capaz de, em diversos
momentos, influenciar no processo de transição do regime autoritário. A força de
atuação dos grupos empresariais, com destaque para as elites industriais, junto ao
Estado, independente de partidos políticos, norteou ações e conquistas que mais
pareciam dignas dos movimentos sociais nos tempos da Constituinte de 1987.
Atuando como agentes políticos, os empresários se engajaram em movimentos
como a Ação Empresarial, em 1991, para acompanhar, no Congresso, a tramitação
da Lei de Modernização dos Portos, a revisão constitucional e os debates sobre a
Reforma Tributária. Nessa mesma época a Confederação Nacional da Indústria criou
a Comissão Para Assuntos Legislativos – COAL - que passou a editar em 1996 a
Agenda Legislativa, especializada em fazer lobby entre os deputados e senadores
(DINIZ e BOSCHI, 2004, p. 85). A consciência de que os grupos empresariais
57
poderiam influenciar diretamente na política, inclusive com projetos que visavam o
consenso e a hegemonia, fez com que os mesmos transitassem, como era
esperado, da esfera nacional para a esfera local. A partir da década de 1990, os
interesses locais passaram a constar da pauta de ações do empresariado nacional.
Quase uma década antes, Chauí, no prefácio do livro 1930 - O Silêncio dos
Vencidos, assinalava que “o projeto intelectual da nossa burguesia é um projeto
econômico, social, político e cultural por meio do qual visa (e consegue) redefinir a
ação do Estado e a organização da sociedade. A força de nossa burguesia é
constituída por ela mesma através de seus organismos de classe.” (CHAUÍ, 1984, p.
23). Esse projeto está na essência da construção da hegemonia pelo Movimento
Repensando Maringá, como procuraremos explicitar no decorrer dessa dissertação.
Os estudos sobre as práticas de influência política das classes empresariais no
Brasil apontam uma diversidade de estratégias e de motivações (DINIZ e BOSCHI,
2004), o que nos leva a estudar o caso local a partir da documentação produzida
pelos agentes do Movimento Repensando Maringá. Entre essas fontes, destacam-se
a principal indutora do movimento, a Associação Comercial, mormente sua
publicação periódica, a Revista ACIM, registro das motivações que levaram a cabo o
projeto hegemônico; e o Conselho de Desenvolvimento - Codem, sobretudo as atas
de suas reuniões plenárias e o documento Maringá 2020. No plano das estratégias,
há a imperiosa necessidade de identificar os pontos de convergência construídos
pelos quadros dirigentes do Repensando Maringá de modo a configurar um projeto
capaz de tornar-se consensual junto à sociedade civil. Isto é, como atores
desconectados da política ou da vida partidária assumiram um papel possível de
superar até mesmo o dos agentes legalmente constituídos (GINZBURG, 1990).
O Movimento Repensando Maringá foi um acontecimento local que, entretanto, faz
parte de um quadro de mudanças e de novo impulso do empresariado nacional. Por
isso, ao pretender resgatar a história política desse movimento estaremos
transitando entre a esfera nacional e a local, pois é nesses setores que a política se
torna o “lugar onde se articulam o social e sua representação, a matriz simbólica
onde a experiência coletiva se enraíza e se reflete ao mesmo tempo"
(ROSANVALLON, 1995, p. 12). Daí, a importância de não perdermos a perspectiva
de que se trata de um movimento de caráter geral. Dessa forma, “poderemos
58
compreender como o político se apresenta numa perspectiva global, num movimento
que ora dilata e ora encolhe o seu campo” (RÉMOND, 2003).
1.2 A questão local
Um tema de história política desenvolvido em torno de um fato local é suscetível de
preconceitos. De um lado, dos que trabalham com o conceito de mundialização ou
descentralização; do outro, dos que possuem uma visão hiperlocalista da sociedade.
Sem entrar no mérito de uma discussão epistemológica, é importante ressaltar neste
ponto do trabalho a importância do local para o tema que está sendo apresentado.
Segundo Bourdin (2001, p. 17) “é impossível definir um objeto local e principalmente
dar-lhe um contorno territorial preciso”, embora Gonçalves (2005) destaque que este
não é um problema para os historiadores “para quem, via-de-regra, a idéia de local
tem um conteúdo tão vago e, paradoxalmente, tão consensual, que é difícil achar
manuais de teorias e métodos, enciclopédias e vocabulários que sequer toquem
nela”. Gonçalves realça que tanto entre os historiadores europeus quanto entre os
acadêmicos brasileiros há um consenso no que é chamado de “assemelhação entre
local e unidade fracionária mínima do objeto investigado”. Também o local passa a
ser reduzido a “continente de vida social demarcado pelos poderes político-
administrativos”. Essa simplificação, diferente da opinião de Bourdin, entretanto, é a
que tem direcionado a maior parte das produções no âmbito da história e da ciência
política, motivadas pela necessidade de evocar uma “identidade” para os objetos
estudados.
É preciso entender que, principalmente na Antropologia, os debates sobre a
identidade são realizados em torno de outros objetos como a religião, a cultura, a
etnia, a minoria, por exemplo; sendo a localidade contaminada por esses objetos.
Manuel Castells explicita bem essa questão:
As comunidades locais, construídas na ação coletiva e preservadas
pela memória coletiva, são fontes específicas de identidade. Mas
essas identidades, na maior parte dos casos, são reações de defesa
contra a imposição da desordem global, da mudança rápida e
inevitável. Elas constroem bons abrigos, não paraísos (CASTELLS,
2002, p. 84).
59
Essa relação entre a representação do território e as identidades individuais e
coletivas determina a construção do local a partir do grupo. É o que Bourdin chama
de “local cognitivo”, onde “o homem se define, se constrói, através de seu
conhecimento do entorno imediato” (BOURDIN, 2001, p. 34). O sentido de
pertencimento é essencial para entender a dimensão do local além da mera
circunscrição do sistema institucional. É o que ensina Bourdin:
Toda espacialidade exprime a pertença a um nós, que se constrói e
se manifesta em recortes territoriais. O espaço de pertença resulta
do conjunto dos recortes “que especificam a posição de um ator
social e a inserção de seu grupo de pertença num lugar”, o espaço
de referências define o sistema de valores espaciais em que se
inserem esses recortes e organiza a relação do aqui com o alhures.
(BOURDIN, 2001, p. 33)
Arruda (2002) ao fazer a análise da relação entre historiadores e a questão do
território, destaca que esta foi de grande importância na construção das
nacionalidades e nações a partir do século XIX. Destaca que “a história, a literatura e
a geografia, ao tomarem os territórios como tema de suas narrativas propiciaram os
elementos necessários para que os homens pudessem sentir-se participando de um
passado comum”. Ao projetarem o território em questão para o passado, valorizando
os eventos ocorridos nele, buscavam referendar aí as “possibilidades de hegemonia
e soberania da nação e a construção de um sentido de comunidade". Assim, para
Arruda, a nação e o nacionalismo seriam resultados de uma "comunidade
imaginada".
Se tentarmos estabelecer a associação entre a idéia de nação e a de região, pode-
se aproximar ou comparar a nação e a região como fenômenos semelhantes,
respeitados aqui, e isto é importante, os limites que essa comparação e redução
têm. No caso específico do Brasil, a questão regional assumiu majoritariamente a
reivindicação por uma identidade baseada na configuração espaço-administrativo,
ou seja, determinada configuração do espaço cristalizada em termos de unidades
estaduais (ARRUDA, 2002). As conseqüências políticas destes regionalismos são
absolutamente reacionários, pois sustentam suas visões de história em fatalismos
geográficos, no que se aproxima da superioridade de raça, como atributo da
natureza. É o caso de pensar o sul do país como o local ideal para o progresso e
60
desenvolvimento em contraste com o nordeste, região de pobreza e incapacidade de
desenvolvimento.
O regional ou o local, de acordo com Arruda, entretanto, não se limitam ao espaço
político e administrativo dos Estados e suas relações de negação e autonomia com o
campo centralizador representado pela união, embora, segundo Gonçalves (2005),
“o que realmente predomina na literatura em matéria de recomendações
metodológicas e técnicas é a fidelidade aos espaços político-administrativos, isto é,
a identificação entre local e unidade fracionária mínima de ação governamental.”
Essas assemelhações, para Gonçalves, não são ingênuas, pois “muitos defensores
da pesquisa e do ensino de Histórias Locais esperam que uma compreensão mais
ampla do entorno se traduza em reforço da integração social e política dos
indivíduos”. Arruda colabora com essa idéia ao esclarecer que
(...) internamente aos espaços políticos e administrativos estaduais,
surgem ‘imaginários sociais regionais’, na falta de melhor
denominação, que procuram se estabelecer, tornando-se
‘imaginários políticos’, mobilizando populações e servindo de suporte
para articulações e exercício do poder por grupos sociais
determinados (ARRUDA, 2002).
O perigo que se apresenta quando se estuda a questão local é, segundo Bourdin, a
possibilidade de se perder a capacidade de análise crítica do sistema dominante, o
que comprometeria totalmente a capacidade de pensar o local. Ele enfatiza que:
A onda neoliberal, o fim dos blocos, a frágil governabilidade dos
grandes conjuntos sociais prejudicaram o Estado-providência; a
Conferência de Instambul (1996) confirma espetacularmente o triunfo
das cidades sobre os Estados; a sorte das classes médias se torna
incerta; mesmo nos países mais ricos, o consumo pós-fordiano se
diversifica consideravelmente e deixa de ser um fator de
homogeneização social; o universalismo cede cada dia um pouco
mais diante de um relativismo tranqüilo para não dizer hipócrita; a
singularidade é o valor mais garantido que existe; as ideologias
comunitárias e “identitárias” se impõem (BOURDIN, 2001, p. 20).
Gonçalves também alerta sobre essa questão, reforçando o perigo da ideologia
identitária:
Tendo seus limites continuamente reforçados pela atuação do Poder
Público, as áreas administrativas são, efetivamente, unidades
61
imediatas da percepção geográfica. No dia-a-dia, forçados a nos
guiar por essa toposofia estatal, nós nos despreocupamos com
seus eventuais conteúdos ocultos e até a reforçamos através de
investimentos afetivos, como a simpatia (ou antipatia) por um time,
um grupo de referência, um objeto arquitetônico, uma paisagem etc.
Esses registros identitários tendem a se tornar significantes de uma
certa fantasia de autonomia ontológica do espaço significado. Os
lugares recebem, graças a esse procedimento retórico, atributos
antropomórficos. Não são apenas bons ou ruins, bonitos ou feios,
grandes ou pequenos, velhos ou novos, mas, adquirem pensamento
e vontade. Tornam-se entidades espaciais anímicas nas pautas
cotidianas de orientação das condutas (GONÇALVES, 2005, grifos
do autor).
Como o fato histórico, objeto desta pesquisa, está espacialmente localizado na
cidade de Maringá, nosso cuidado foi em não nos restringirmos a uma escala, mas
trabalharmos com um ambiente de relações e integrações sócio-econômicas e de
poder que interage num espectro que pode ser municipal, microrregional, regional e
até mesmo nacional. Assim, é o território, e ao mesmo tempo o espaço, pleno de
movimentos e interações sociais que se chocam e se complementam em volta dos
interesses difusos dos diferentes atores.
1.3 História do Tempo Presente e História Política
Tentamos realizar esta pesquisa nos novos caminhos e perspectivas que percorrem
e perpassam o campo da disciplina histórica. O período cronológico da temática
abordada faz parte das reflexões da História do Tempo Presente, justificada também
por estar umbilicalmente ligada à História Política (RÉMOND, 2003). Nas atuais
abordagens metodológicas da História “parece haver certo consenso em torno da
possibilidade de se compreender a história do tempo presente, assegurando-se o
emprego das técnicas usuais de pesquisa e certo distanciamento de dez a vinte
anos do acontecido” (JANOTTI, 1998, p. 50).
Admitindo a História como algo em construção, mas interpretativo, a história do
tempo presente remete aos primeiros esforços empreendidos para elaborar
investigações históricas tendo em mente que elas são escritas a partir do presente e
de seus desafios e problemas. Seu ponto de partida são assertivas até certo ponto
bastante comuns: o que existe nem sempre foi assim, nem era necessário que assim
tivesse ficado, sendo que se encontra impregnado de passados históricos
62
inacabados, e o leque de alternativas disponíveis para o devir é amplo e
indeterminado. Ou seja, esta abordagem estabelece, de imediato, um compromisso
com a vida, com a complexidade que a caracteriza e com as tentativas transitórias
de compreender suas manifestações. Em decorrência disso, a história do presente
aproxima historiadores de ofício dos outros profissionais que se debruçam sobre
compósitos complexos e traz consigo as responsabilidades de uma intervenção
pública em terrenos de incertezas, expressos em movimentos sociais e culturais que
politizam as subjetividades, ocupam os espaços civis e põem em jogo a importância
dos valores culturais como fenômenos de poder (RIOUX, 2003).
A história do presente fez com que o historiador penetrasse na seara do
contemporâneo e, com isso, ficasse sujeito a desapontamentos e desilusões por
conta de avaliações e expectativas feitas, muitas vezes, por “euforia” como bem
salienta Hobsbawm (2005, p. 254). Entretanto, o que de mais rico e proveitoso pode
haver numa pesquisa nessa área é a narrativa da história política, suas tramas e
estratégias. Desarmando a falsa imagem de que a história do tempo presente está
envolta nas lembranças e na experiência, uma pesquisa histórica bem cuidada,
como nos propomos nesse caso, tem como conseqüência desfazer armadilhas.
Como reflete René Rémond, muitos ainda esperam dos historiadores que estes
"resolvam os debates, que sejam os árbitros nas controvérsias que dividem a
consciência pública e confundem as opiniões, que façam a verdade. Exige-se que
exerçam uma magistratura" (RÉMOND, 2005, p. 206). Nesses termos, devemos
entender que o tempo presente não é uma história do instante. Não é a narrativa do
agora. É o pensar a complexidade, os detalhes, a produção de novas fontes, o
entrelaçamento de fatos. Essa outra racionalidade do tempo, não é "uma chapa
fotográfica que se contenta em observar fatos". O historiador do tempo presente
“contemporâneo ao seu objeto, partilha com aqueles cuja história ele narra as
mesmas categorias essenciais, as mesmas referências fundamentais” (RÉMOND,
2005, p. 208) podendo, portanto, superar a descontinuidade que costuma existir
entre o universo intelectual, afetivo e psíquico do historiador e dos homens e das
mulheres cujas vidas ele narra, escapando do perigo do anacronismo. Além disso,
como aprofunda a discussão Araújo, “a história do tempo presente representa o
último golpe numa concepção historiográfica sedimentada na idéia de
imparcialidade, pura objetividade, narrativa distanciada; ou seja, na crença
63
‘positivista’ de uma história isenta de subjetividade” (ARAÚJO, 2000, p. 345). Ao
estar o historiador do tempo presente comprometido com seu tempo, com as
questões do seu tempo, seu “engajamento pessoal e sua paixão” não podem ser
desprezados. E justamente por isso torna crucial a questão da verdade. Não uma
verdade pretensamente objetiva e imparcial (e por isso “científica”). Mas a busca da
verdade como compromisso ético moral do historiador. Ele sabe que a verdade
“total”, pura, cristalina é impossível de ser atingida. O historiador chega a “retalhos”
de verdade, pedaços parciais. Mas a busca por esta verdade — que ele sabe que,
de certa forma, nunca será atingida — é o que o move e o faz estar atento a
qualquer forma de manipulação da narrativa histórica. Não apenas do passado, mas
também do presente (ARAÚJO, 2000, p. 345).
A história do presente permitiu ao historiador sua presença nos acontecimentos que
pesquisa. Segundo Chaveau, a presença do historiador em seu tema pode ser
“direta ou indireta no tempo, presença intelectual, moral, filosófica, ou mais
simplesmente psicológica e física” (CHAUVEAU, 2001, p. 30). Esta nova relação
entre o cientista e seu campo de investigação, entre o pesquisador e o seu tema,
entre o historiador e seu tempo, é capaz de livrar qualquer tentativa de racionalizar
os relatos do passado, dotando-os de “algo que não poderia estar lá”, como
acontecem nas pesquisas históricas onde se recua centenas de anos. Rémond
amplifica o estatuto da história do tempo presente ao destacar que ela “evoca a
importância da contingência e do fato” (RÉMOND, 2005, p. 209).
Entretanto, este estatuto ainda está em construção o que, por seu turno, expressa
uma história também em construção. François Bédarida (2005) propõe que o caráter
inacabado e em constante movimento é, mais do que qualquer outra, constitutivo da
história do tempo presente, tornando-se assim um desafio que o historiador se
depara quando aborda temas controversos e que ainda tocam indelevelmente a vida
das pessoas. Utilizando a imagem do palimpsesto, Bédarida afirma que "o tempo
presente é reescrito indefinidamente utilizando-se o mesmo material, mediante
correções, acréscimos, revisões", num constante processo de reescrita (BÉDARIDA,
2005, p. 221). Podemos afirmar que a história do presente se identifica aqui com a
história escrita por historiadores que testemunharam os acontecimentos do seu
64
tempo e que esta participação nos acontecimentos é enriquecedora, na medida em
que a atualidade é restituída em suas raízes (GAMBOA, 2004).
Para Sá (2005) o mais importante é estabelecer qual é o impacto da reintegração do
tempo presente no trabalho do historiador, identificando quais são os efeitos sobre o
seu ofício e a prática de seus métodos. “De um lado, com relação às fontes, os
arquivos perderam seu caráter exclusivo, na medida em que se recorreu às fontes
orais, visuais, da imprensa, etc.. O historiador que trabalha com o tempo presente
tem a desvantagem da abundância das fontes ao invés da penúria.” Por outro lado,
o historiador do tempo presente varreu os últimos vestígios do positivismo, tanto
quando ele sabe que sua objetividade é frágil, quanto sobre sua importância para a
construção dos fatos (RÉMOND, 2005, p. 203-209).
Um dos novos objetos da história do presente é a história política, que ganhou vulto
na produção historiográfica brasileira acompanhando a tendência dos historiadores
franceses a partir dos anos 1980, que conferiram à história política um status de
“moda intelectual”, para utilizar as palavras de um dos maiores expoentes dessa
nova tendência, René Rémond. Durante muitos anos, a história política foi
identificada como “factual, subjetivista, psicologizante e idealista” (RÉMOND, 2003,
p. 18). Seu centro de discussão eram os grandes nomes, os grandes eventos, tecido
em torno de fatos e datas. Na historiografia inglesa a recuperação da história política
se deu pelo empenho da Escola Marxista Inglesa
44
que incorporou o tema das
massas, das seitas populares, dos camponeses, dos trabalhadores, dos movimentos
de esquerda e do marxismo, produzindo uma história política muito distante do
paradigma tradicional da história como uma “visão de cima”. Na historiografia
francesa esta recuperação se deu através de um grupo de historiadores que encetou
um movimento intelectual de valorização e resgate da história política. Nesse grupo,
entre outros, estavam René Rémond e Jean-Pierre Rioux
45
. Para Rémond (2003), o
44
O que ficou conhecido como Escola Marxista Inglesa ou, simplesmente, “marxismo inglês”, foi um
movimento surgido na Inglaterra a partir do início da segunda metade do século XX. Jovens expoentes do
Partido Comunista Inglês, como Rodney Hilton, Christopher Hill, Eric Hobsbawm e Edward P. Thompson, sob a
orientação de Maurice Dobb, fundaram em 1952 a revista Past and Present, iniciando uma série de novas
reflexões sobre o marxismo e o modo de produção capitalista. A mera história do cotidiano passou a ter um
componente político e cultural de extrema importância, superando as análises puramente economicistas do
marxismo.
45
A escola francesa retomou os estudos da história política, com novas abordagens, objetos e problemas, a partir
da década de 1980. René Remond e outros 11 historiadores ligados a Fondation Nationale des Sciences
65
vigoroso retorno da história política nas últimas décadas teria relação com algumas
características do cenário internacional contemporâneo, entre elas, a experiência
das guerras, a pressão das relações internacionais, o desenvolvimento das políticas
públicas sugerindo uma nova relação entre economia e política, as discussões em
torno das atribuições do Estado e as demandas da opinião pública. Tudo isso teria
contribuído para “dar crédito à idéia de que o político tinha uma consistência própria
e dispunha mesmo de certa autonomia em relação aos outros componentes da
realidade social” (RÉMOND, 2003, p. 23). Neste aspecto, esta nova história política
traz consigo novos temas e novos objetos: eleições e comportamento eleitoral,
mídia, opinião pública, intelectuais, a relação entre religião e política, partidos e
associações. Esta história política renovada tem também, como característica
essencial, a interdisciplinaridade. De fato, a renovação da história política foi
grandemente estimulada pelo contato com outras ciências sociais e pelas trocas
com outras disciplinas. Segundo o historiador francês, o contato com a Ciência
Política, por exemplo, fez com que o tema da participação na vida política passasse
a ocupar um espaço fundamental na produção historiográfica (RÉMOND, 2003, p.
29).
No estudo realizado por Rioux (2003) sobre a “Associação em Política”, analisando o
quadro político das eleições legislativas na França, em 1932, com a participação de
11 partidos políticos, percebemos que o seu foco não está nos partidos
institucionalizados, mas sim, nas 32 outras organizações, a maioria associações ou
federações de associações que “participam de uma estruturação, instável, mas
fecunda, da vida política” (RIOUX, 2003, p.101). Entre elas, estava a União dos
Interesses Econômicos que possuía como pauta única de luta política a ação direta
sobre os poderes públicos. Rioux esclarece que:
Todas essas associações de fato querem de alguma maneira
influenciar a opinião pública e dispor de meios de comunicação à
altura de suas ambições; fervilham em torno dos partidos que elas
denigrem ou contestam, às vezes em nome de outras regras
menos... partidárias do jogo democrático; agitam e promovem idéias
políticas, abrigam feudos ou tribunas de intelectuais; têm de entender
do Parlamento e da sua eleição, dissertam copiosamente sobre a
Politiques e à Universidade de Paris X-Nanterre participaram dessa retomada. Todos haviam entrado na vida
acadêmica no auge do predomínio do modelo de história proposto pela école des Annales, que preconizava que o
bom historiador deveria evitar a história política.
66
paz internacional e a ameaça de guerra, convocam quando
necessário o apoio de uma religião para avalizar sua luta (RIOUX,
2003, p. 103).
Na análise da história política, essas organizações apesar de não concorrerem para
o exercício direto do poder (participando de uma eleição, por exemplo) exercem uma
“pressão” sobre a opinião e os poderes públicos que lhes favorecem não apenas o
acesso ao político, “mas contribuem para estruturar o que os cientistas políticos
chamam de um ‘sistema’ político” (RIOUX, 2003, p. 103). O autor chama a atenção
para a dificuldade de proceder a uma análise histórica da “associação em política”
pelo fato das tipologias e cronologias não estarem fundamentadas ainda, e nem
mesmo ter chegado ainda o momento das sínteses. Não obstante, orienta que se
faça a história política dessas associações, “medindo sua investigação com o metro
de três dimensões – a do temporal, a do espacial e a do ideal” (RIOUX, 2003, p.
114).
Rosanvallon (1995, p. 16) descreve a história política como uma matriz simbólica
onde a experiência coletiva se enraíza e é refletida, identificando os “nós históricos”
em volta do quais se articulam novas racionalidades políticas, sociais e
organizacionais. Apoiado nessa tese, o historiador defende uma “história conceitual”,
onde os conceitos de igualdade, soberania e democracia emanam inteligibilidade,
situações e princípios de ativação. Esses recursos fazem do político um recurso do
tempo presente. A idéia da narrativa histórica passa por uma produção de uma
“história-problema” que vai trabalhar o desenrolar dos acontecimentos do tempo
presente, os jogos de disputas que o caracterizam e seu significado na vida em
coletividade.
Como para Rémond (2003) a nova história política integra todos os atores que
moldam o processo histórico e, sem individualismos ou exclusões, permite detectar a
continuidade do tempo, aplicamos no desenvolvimento dessa pesquisa um olhar
histórico cuja especificidade reserva lugar ao campo político de Maringá, à formação
de quadros dirigentes empresariais, aos intelectuais que formularam as bases do
Movimento Repensando Maringá e ao projeto hegemônico que se constituiu desde
então, tendo o político como “o ponto para onde conflui a maioria das atividades e
que recapitula os outros componentes do conjunto social” (RÉMOND, 2003, p. 447).
67
1.4 A força da idéia e o método
1.4.1 O marxismo como instrumental para a análise da sociedade
As contribuições da História para entender a sociedade humana tanto antes quanto
no século XIX foram, segundo Hobsbawm (2005, p.157), “insignificantes e
ocasionais”. Isto porque, a “história era uma disciplina extremamente – poder-se-ia
quase dizer deliberadamente – retrógrada”. As análises de causa e efeito ou de
determinismo e evolucionismo é que pautavam as investigações dos historiadores. O
referencial era extremamente idealista, carregado de positivismo, supondo que
apenas o estudo dos “fatos” faria brotar as suas hipóteses explicativas, como
ensinava a história acadêmica de Ranke
46
. É claro, acentua Hobsbawm, que “mais
cedo ou mais tarde teriam que ser encontradas maneiras alternativas e mais
produtivas de se investigar o passado humano”.
O marxismo emergiu no final do século XIX como uma alternativa importante para a
modernização da historiografia e catalisador do movimento anti-rankeano. Sua
principal contribuição, sem dúvida, foi ter acabado com as análises de causa e efeito
para a explicação da História. Marx instaurou uma análise processual da História,
trazendo para o centro das investigações o materialismo como o seu referencial.
Hobsbawm observa que essa contribuição levou “a um declínio da história política e
à ascensão da história econômica ou sociológica”, pelo fato de que os problemas
sociais já estavam no centro dos debates historiográficos na época (HOBSBAWM,
2005, p.157). Essa ascensão e valorização da economia, entretanto, combinada
com a análise da história da humanidade como uma “sucessão de sistemas
socioeconômicos”, impingiu ao materialismo a pecha de “determinismo econômico”,
mesmo que “além de rejeitar inteiramente a expressão, Marx certamente teria
também negado ser ele o primeiro a ressaltar a importância da base econômica do
desenvolvimento histórico” (HOBSBAWM, 2005, p.158).
Embora a penetração das idéias marxistas tenha sido lenta e tardia em alguns
países, como a França, por exemplo, ou a principal responsável pela introdução da
46
Para saber mais sobre Leopold Von Ranke é importante ler HOLANDA, Sérgio Buarque de. O atual e o
inatual em Leopold Von Ranke. História. São Paulo: Ática, 1979.
68
historiografia moderna, em outros, como na América Latina, Hobsbawm afirma que
esta influência foi
(...) identificada com umas poucas idéias relativamente simples,
ainda que vigorosas, que, de um modo ou de outro, foram
associadas a Marx e aos movimentos inspirados por seu
pensamento, mas que não são necessariamente marxistas, ou que,
na forma em que foram mais influentes, não são necessariamente
representativas do pensamento maduro de Marx. (HOBSBAWM,
2005, p.159)
Essa influência é denominada pelo autor inglês como de tipo “marxista vulgar” e os
seus principais elementos são: a economia como sendo fundamental e única para a
análise interpretativa da história; o modelo de base versus superestrutura; a luta de
classes como o “motor” da história e as leis históricas, que não permitem alternativas
para a própria história.
Se foram fundamentais, em diversos aspectos, para romper com as amarras da
história tradicional, as idéias do tipo “marxista vulgar” também foram utilizadas com o
sentido de militância, de forma simplificada, representando uma “escolha histórica”,
como esclarece Hobsbawm. Por isso, O Capital teve mais influência entre os
historiadores, com o tema das relações entre o protestantismo e o capitalismo, do
que o 18 Brumário, que falava da consciência de classe e do campesinato. Isso
porque “o problema da base social da ideologia em geral, e da natureza das
ortodoxias religiosas em particular, era um tema de interesse imediato e intenso”.
Nesse sentido, para Hobsbawm,
(...) o grosso do que consideramos como a influência marxista sobre
a historiografia certamente foi marxista vulgar (...). Devemos repetir
que essa tendência, embora sem dúvida produto da influência
marxista, não tem nenhuma ligação com o pensamento de Marx.
(HOBSBAWM, 2005, p.161)
Hobsbawm destaca que, para Marx, são primordiais as relações entre seres
humanos “mantidas com a finalidade de produção e reprodução”, o que originam as
sociedades (HOBSBAWM, 2005, p.162). Por isso, as “peculiaridades do marxismo”
como “base e superestrutura” e “contradições”, têm fundamental importância no
campo da história. São essas peculiaridades “que lhe permitem explicar por que e
como as sociedades mudam e se transformam: em outras palavras, os fatos da
69
evolução social”. É baseado nessa premissa que Hobsbawm acredita que “a ênfase
de Marx na história como dimensão necessária seja mais essencial do que nunca”,
haja vista as análises a-históricas e anti-históricas da existência dos sistemas sociais
hoje em dia (HOBSBAWM, 2005, p.163).
1.4.2 A renovação política e ideológica nas discussões sobre o Estado
O italiano Antonio Gramsci (1891-1937) construiu sua obra intelectual (quase a
totalidade dela) no cárcere, posteriormente organizada no que se chamou de os
Cadernos do Cárcere, se opondo, de forma vigorosa, ao marxismo prevalecente em
seu tempo – o da 2ª. Internacional -, em função das “deformações” e “acréscimos”
teóricos que teriam sido impostos à obra de Marx, cujas conseqüências foram o
economicismo, o evolucionismo e o fatalismo mecanicista. Os intérpretes de sua
obra são unânimes em afirmar que a contribuição original e decisiva de Gramsci, no
campo do marxismo, teria se verificado no terreno da análise política e da ideologia.
Luciano Gruppi, pensador italiano moderno, profundo conhecedor da obra de
Gramsci, o considera como “o portador autêntico do discurso científico do marxismo”
e, ao mesmo tempo, o criador de uma práxis revolucionária que se revela como um
desdobramento dos princípios formulados por Marx e Engels, e especialmente por
Lênin, que é quem Gramsci toma como referência
47
.
Levando em conta a especificidade e a particularidade do domínio capitalista no
Ocidente, Gramsci teria renovado a teoria do Estado (através da noção de “Estado
ampliado”) e valorizado as esferas da cultura e da ideologia (subestimadas, desde
Marx e Engels, pelo “marxismo vulgar”) como formas decisivas da dominação social
burguesa. Nessa direção, teria igualmente privilegiado a dimensão estratégica da
batalha pela hegemonia na luta pela transformação social. Essa renovação foi
extremamente importante, pois no “marxismo vulgar” como explica Mendonça
(1998), a influência do econômico forçava a interpretação de um Estado como
objeto:
A concepção do Estado como representante das classes dominantes
(proprietários de todo tipo) gerou várias correntes no interior do
marxismo, muitas das quais o consideraram – e ainda consideram –
47
Ver GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. 4ª. Ed. Rio de Janeiro, Graal, 2000.
70
de forma mecânica: a isto chamamos de determinismo do econômico
sobre o político, o social e o ideológico. Gestava-se, assim, como
uma variante do modelo marxiano, uma visão do Estado objeto, ou
seja, que existiria para garantir e fazer valer os interesses
econômicos das classes dominantes, baseado tanto na violência,
quanto no ‘engodo’ ideológico (MENDONÇA, 1998, p. 19).
Gramsci, ao observar e fazer parte das grandes transformações sociais e políticas
ocorridas nas duas primeiras décadas do século XX, pôde fazer uma análise do
Estado contemporâneo colocando-o no âmbito das relações sociais dos próprios
homens, norteando suas reflexões na definição do seu caráter ocidental e na
complexidade de suas determinações. Nesta nova ótica
O Estado, para Gramsci, não é nem sujeito – algo a pairar,
inconteste, acima da sociedade -, nem objeto – como propunham
algumas leituras marxistas economicistas -, mas sim uma Relação
Social, ou seja, a condensação das relações sociais presentes numa
dada sociedade (MENDONÇA, 1998, p. 20).
Em sua originalidade, Gramsci recupera e redefine os conceitos de sociedade civil e
sociedade política colocando-os ao lado da infra-estrutura para poder entender a
sociedade e o Estado, derivando daí a noção de Estado Ampliado
48
. A infra-estrutura
continua sendo o espaço das relações de produção e de trabalho, tal como em
Marx, mas a análise passa obrigatoriamente pela sociedade civil, que seria “o
conjunto de indivíduos organizados” para exercer pressão e uma ação política
consciente visando a “conquista de certos objetivos”, e pela sociedade política que
seria “o conjunto de aparelhos e agências do poder público, propriamente dito”.
Dessa forma,
O Estado – integrado pela sociedade civil e pela sociedade política –
tem uma outra dimensão, para além da força, que é tão ou mais
importante do que ela para sua estruturação e preservação. Esta
dimensão é, para Gramsci, a cultura (MENDONÇA, 1998, p. 21).
Desde sua militância inicial em Turim, quando fundou o periódico L’Ordine Nuovo
49
,
em 1919, Gramsci já defendia uma “associação cultural” que fixasse objetivos de
48
Para entender melhor o conceito ver GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. 8ª.
Ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1991.
49
O semanário L'Ordine Nuovo foi fundado em 1° de maio de 1919 por Antonio Gramsci e alguns jovens
intelectuais socialistas que viviam em Turim, entre eles Palmiro Togliatti (amigo de universidade), Angelo Tasca
e Umberto Terracini (dirigente da Federação Jovem Socialista).
71
classe, integrando ação econômica e política. Para o pensador italiano, cultura nada
tem a ver com o saber erudito, enciclopédico, mas sim com a conquista de uma
“consciência superior”, que permitisse ao homem compreender seu valor histórico,
seus direitos e deveres, e a autopercepção de seu lugar na sociedade. Para
Gramsci, todo homem é um intelectual ainda que não viva disso como profissão,
“mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais”
(GRAMSCI, 1995, p.07). Sua orientação é de que o próprio intelectual deve tomar
consciência de sua constituição sociológica, sua inserção real nas relações sociais,
que é sempre contraditória: superar seu isolamento, ligar-se às massas, unificando,
através de sua prática, o que toda sociedade de classes separa: a política e a
cultura. O ponto de vista de Gramsci, portanto, é o ponto de vista da luta de classes
na política
50
.
Além das reflexões sobre a cultura e a ideologia, a mais singular contribuição de
Gramsci para o “marxismo renovado” é o conceito de hegemonia, que veremos
amiúde e de que trataremos teoricamente mais à frente. Seu princípio de
funcionamento é exemplificado por Mendonça:
No mundo contemporâneo, nem sempre certos grupos conseguem
desenvolver sua própria visão de mundo, por falta de sua
organização em aparelhos privados de hegemonia dentro da
sociedade civil. Assim sendo, adotam, como sua, a visão de mundo
de outros grupos, quase sempre os dominantes. Esse é o princípio
de funcionamento do que Gramsci chama de hegemonia, ou seja,
quando a visão de mundo (cultura) de um dado grupo se impõe
sobre o conjunto dos demais, sendo por todos eles partilhada. Para
tanto é fundamental o papel do Estado em seu sentido restrito
(MENDONÇA, 1998, p.21).
A hegemonia, portanto, não opera “apenas sobre a estrutura econômica e sobre a
organização política da sociedade, mas também sobre o modo de pensar, sobre as
orientações ideológicas e inclusive sobre o modo de conhecer” (GRUPPI, 2000,
p.03). Com isso, Gramsci está refutando o materialismo mecânico das relações entre
classe e ideologia. Gruppi enfatiza que Gramsci explica a afirmação e difusão das
ideologias como um processo guiado pela hegemonia:
50
O conceito de cultura e como os intelectuais a organizam no Estado moderno podem ser mais bem
compreendidos em GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 9ª. Ed. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1995.
72
Uma determinada classe, dominante no plano econômico, e, por
isso, também no político, difunde uma determinada concepção do
mundo; hegemoniza assim toda a sociedade, amalgama um bloco
histórico de forças sociais e de superestruturas políticas por meio da
ideologia (GRUPPI, 2000, p.90).
A chamada “vontade coletiva organizada” para Gramsci é construída a partir de um
grupo organizado como um “aparelho privado de hegemonia” a quem ele chama de
“partido”. Os partidos políticos convencionais ou os sindicatos não formam a
“vontade coletiva”, mas a imprensa ou uma agremiação de intelectuais podem
formá-la. Daí o título do primeiro capítulo de Maquiavel, a Política e o Estado
Moderno
51
, considerando o “Moderno Príncipe” o “viveiro” de organizadores
selecionados, de intelectuais enquanto persuasores permanentes, por seu papel
politicamente indissociável de organização e instrumento de “elevação moral” das
massas, ou seja, a tomada de consciência crítica. O “Moderno Príncipe” é um
organismo, um elemento complexo da sociedade, onde haja vontade coletiva
concretizada em ação. Seu fim é fundar um novo Estado.
São extremamente caros para Gramsci os conceitos de sujeito coletivo organizado,
conjunto das relações sociais e a necessidade de construir um partido típico e
próprio do Ocidente. É dele a originalidade de destacar que a fábrica não era, como
até então se supunha, o território nacional da classe operária. Esse território seria o
conjunto de relações sociais, o que importaria a política e a cultura. Também é de
Gramsci a aversão a qualquer visão do Estado como “ditadura de um partido”. Para
Gramsci, o marxismo conteria em si todos os elementos fundamentais para
construir uma completa e integral concepção do mundo, uma filosofia e uma teoria
das ciências naturais.
51
Obra citada.
73
1.4.3 O modelo “marxista renovado”
A despeito de diversas tentativas de “libertar” o marxismo de suas características
evolucionistas do século XIX, como as teorias estrutural-funcionais de Lévi-Strauss e
Althusser
52
, a grande influência de Marx sobre os historiadores
(...) baseia-se, contudo, tanto em sua teoria geral (a concepção
materialista da história), com seus esboços, ou pistas, sobre a
compleição geral do desenvolvimento histórico humano a partir do
comunalismo primitivo até o capitalismo, quanto em suas
observações concretas relativas a aspectos, período e problemas
específicos do passado (HOBSBAWM, 2005. p.173, 174).
Derivando dessa observação, vários pensadores trataram durante o século XX de
“renovar” o modo de análise, sob o ponto de vista do marxismo, da sociedade.
Muitas análises, principalmente as ligadas aos conceitos de pós-modernidade,
acabaram deixando de lado o marxismo, possivelmente influenciadas pelas
profundas transformações que sofreram a economia e os processos produtivos no
século passado. Por outro lado, no entanto, a abordagem marxista da história
ganhou peso ao ser “renovada” pela Escola Marxista Inglesa ou, simplesmente,
“marxismo inglês”, a partir do início da segunda metade do século XX. Jovens
expoentes do Partido Comunista Inglês, entre eles Rodney Hilton, Christopher Hill,
Eric Hobsbawm e Edward P. Thompson, todos orientados por Maurice Dobb,
fundam, em 1952, a revista Past and Present, iniciando uma série de novas
reflexões sobre o marxismo e o modo de produção capitalista.
A contribuição desses homens foi, de fato, impressionante. Eles
romperam com a noção economicista do marxismo vulgar e com a
metáfora ‘base X superestrutura’, resgataram o conceito de história
como a História da luta de classes, renovaram a “history from below”,
anexando um caráter político e de luta cultural a uma história vista
como mera ‘história do cotidiano’, por exemplo, a escola dos Anais
(BERTONHA, 1997, p.33).
Depois da Itália, foi a Inglaterra o país a tomar conhecimento mais aprofundado das
idéias de Antonio Gramsci. Tonella (1996) informa que “Gramsci penetrou na cultura
52
Sobre o estruturalismo é importante destacar que os seus teóricos “não formam um bloco único e fechado”,
conforme BERTONHA, João Fábio. Culturalismo x estruturalismo: um debate com E.P. Thompson. Varia
Historia, Belo Horizonte, n. 17, Março de 1997. p. 34.
74
de esquerda inglesa na maré da distensão pós 1956, que foi produzida pelas
conseqüências advindas do XX Congresso do Partido Comunista Soviético”. Louis
Marks, renomado escritor e produtor da BBC de Londres, edita nesta época, pela
primeira vez, Maquiavel, a Política e o Estado.
Em 1959, com o surgimento da revista New Left Review, e após ter abandonado o
Partido em protesto pela invasão Soviética na Hungria, Edward Thompson se torna
um dos intelectuais mais fervorosos a propor uma mudança radical na consciência
política do operariado inglês (MUNHOZ, 1997) e se coloca como um dos principais
expoentes do que chamamos hoje de “marxismo renovado” e de nova esquerda.
As principais postulações do “marxismo renovado” em contraposição ao “marxismo
vulgar” podem ser analisadas como: as produções econômicas são fundamentais e
devem ser levadas em conta nas interpretações históricas, porém não podem ser as
únicas; as contradições das relações produtivas é que fazem a história, isso é um
grande potencial, mas não uma certeza absoluta; não há leis históricas e sim
tendências. Em suas obras, embora não tenha a pretensão de fornecer um modelo
do que seria uma historiografia marxista, Thompson se vê envolvido no interior de
problemáticas marxistas, mesmo quando ele propõe leituras pouco convencionais e
heterodoxas dos textos fundadores do marxismo.
Em suas principais obras, como The Making of the English Working Class, de 1963;
As Peculiaridades dos Ingleses, de 1964; A Miséria da Teoria, de 1978; Eithteenth
Century English Society: Class Strugle Without Class?, de 1978; Costumes em
Comum, de 1991, entre outras, as noções de classe, luta de classes e consciência
de classe são centrais para Thompson, vistas, porém, dentro de sua historicidade e
não como conceitos preexistentes. Nesse sentido, a noção de “classe para si” de
Marx, ou seja, a manifestação histórica da classe ganha uma leitura particular em
Thompson, ao retirar-lhe qualquer dimensão teleológica e ao conceber a
“consciência de classe” como resultado da autoconstrução da classe e não da
imposição externa de intelectuais ou de um partido político revolucionário. Munhoz
esclarece que “Thompson procura, através da análise da luta de classes,
reconceitualizar o materialismo dialético, possibilitando a melhor compreensão da
existência e da consciência social” (MUNHOZ, 1997, p. 3).
75
O trabalho intelectual de Thompson ganha peso importante quando analisa diversos
aspectos da obra de Marx e de vários de seus intérpretes, como a discussão da
metáfora base e superestrutura, particularmente através da autonomia relativa do
político, ou, ainda, as formas de dominação burguesas. Sobre a teoria política,
Thompson exaspera-se ao discutir com o marxista Perry Anderson sobre a história
da Grã-Bretanha: “Como é possível aos marxistas ignorá-la quando o próprio Marx,
em um relance, a enxergou como seu mais formidável oponente ideológico,
dedicando o esforço de uma vida para derrubá-la?” (THOMPSON, 1998, p. 63). Por
esta razão, a discussão desses temas em Thompson aponta para a idéia de que é a
ação humana no tempo que move o mundo: “mesmo que base não fosse uma
metáfora inadequada, teríamos de acrescentar, seja qual for seu significado, que
não é apenas econômica, mas também humana” (THOMPSON, 1998, p. 63). Para
ele, não há como construir um modelo sem a base empírica, o que faz com que o
contexto histórico também seja realçado. Sendo que a história funciona de acordo
com certa lógica, não sendo caótica, torna-se importante manter as conexões de
qualquer atividade humana para proceder as análises.
Em uma de suas mais influentes obras, a Miséria da Teoria, considerada
determinante na redefinição dos termos de influência do pensamento marxista na
historiografia, Thompson polemiza duramente com Louis Althusser, o teórico do
estruturalismo. Rechaça veementemente o que chama de “teoricismo” de Althusser
quanto a uma história que concebe “assepticamente”, ignorando o imperativo da
base empírica da investigação, sem a qual nenhuma teoria toma assento. Trata-se
ainda de uma polêmica acerca da perspectiva “culturalista” que Thompson adota em
sua análise, questão por certo a mais discutida inclusive dentro do campo marxista.
Por estar próximo da obra intelectual de Gramsci e por rechaçar o determinismo
econômico, é que Thompson passa a ser qualificado de “culturalista” (JOHNSON,
1983).
Thompson sempre insistiu no processo de criação de uma cultura específica de
classe mediante as lutas sociais. Para ele, classe só surge no processo de combate
social, ao longo do qual se constituem formas culturais peculiares nos e dos
membros da classe. Classe não é, pois, uma estrutura, mas uma cultura
(THOMPSON, 1981). Não há dúvida de que Thompson utiliza em suas obras e
76
reflexões acerca do marxismo parte do arcabouço teórico de Gramsci. Um de seus
comentaristas, inclusive, aponta que
A dívida de Thompson com Gramsci, um traço atrativo de grande
parte de seu recente trabalho, nunca foi propriamente reconhecido,
exceto em uma curta discussão sobre “The Peculariates of the
English” (JOHNSON, 1983, p. 64).
Os exemplos de Gramsci e Thompson são prova de que a análise da sociedade na
pesquisa histórica tem no marxismo seu grande referencial teórico e metodológico, a
despeito da chamada “crise geral” do marxismo dos anos 1970. Depurado de
dogmatismos a ele atribuídos e de amarras partidárias que o situam em uma ou
outra posição de militância, o marxismo sobrevive em pleno século XXI como
referencial adequado e, ainda, original para a pesquisa científica. Voltamos a
Hobsbawm e à importância que dá ao marxismo:
Marx continua a ser a base essencial de todo estudo adequado
de história, porque – até agora – apenas ele tentou formular
uma abordagem metodológica da história como um todo, e
considerar e explicar todo o processo da evolução social
humana. Nesse sentido, ele é superior a Max Weber, seu único
rival enquanto influência teórica sobre os historiadores, e, em
diversos sentidos, um importante complemento e corretivo
(HOBSBAWM, 2005, p.181).
Diante disso, ao pretender estudar um movimento político ocorrido em Maringá em
meados e fins dos anos 1990, não podemos utilizar outro referencial que não o
marxista. Primeiro, pela justificativa de Hobsbawm citada acima; depois pelo fato de
que o movimento em questão é produto e/ou resultado do embate entre
forças/grupos sociais diversos, em disputa pela inscrição de seus projetos – visões
de mundo – específicos junto a aparelhos do Estado, no caso a cidade de Maringá.
A visão do grupo que liderava este movimento tornou-se vencedora com um projeto
hegemônico que dura até hoje. Daí que o “marxismo renovado” de Gramsci e suas
reflexões sobre os conceitos de hegemonia, sociedade civil, bloco histórico,
intelectuais e partido, bem como as contribuições de Thompson servem-nos de
sustentação ao aporte teórico da pesquisa.
77
1.5 Sociedade Civil e consenso
Ao longo de toda a dissertação o termo “sociedade civil” aparece para designar o
conjunto de empresários e suas entidades representativas, assumindo o lugar e a
voz do restante da população. Diante disso, é importante esclarecer como este
conceito é trabalhado sob o ponto de vista do referencial teórico da pesquisa.
Segundo Bourdin, a noção de “sociedade civil” foi “concebida inicialmente por
Hobbes em oposição ao ‘estado de natureza’ ou à ‘guerra de todos contra todos’”.
Sob a influência de Adam Smith, esta noção se tornou “o oposto de Estado: o livre
jogo dos interesses assim como ele exerce no comércio”. Hegel interpreta que a
sociedade civil aparece “quando o indivíduo se emancipa da família para se tornar
um ‘burguês’ que é o próprio fim de sua ação”. Desse modo, “a sociedade civil não
desaparece quando aparecem o Estado e o cidadão, ela permanece sendo o lugar
da expressão dos interesses particulares e coletivos, quando o Estado é o lugar do
interesse geral”. Entretanto, explica Bourdin, é que todavia, para Hegel, “a sociedade
civil só existe em relação ao Estado” (BOURDIN, 2001, p. 53).
Influenciado por esta concepção hegeliana, Marx irá consagrar a identificação da
sociedade civil com a sociedade burguesa. A sociedade civil torna-se então, o
espaço onde ocorrem as relações econômicas, “a base real sobre a qual se eleva
uma superestrutura jurídica e política” (MARX, 1983, p. 24). Diante dessa afirmação,
a sociedade civil faz parte da estrutura, a esfera das relações econômicas, “à qual
correspondem determinadas formas de consciência social”.
Gramsci (1975) reutiliza essa concepção quando ele “vê na sociedade civil o
conjunto das instituições privadas sem as quais o Estado não poderia garantir um
poder hegemônico”. Entretanto, para este, o conceito adquire um significado
diferente daquele da interpretação realizada por Marx, ao elaborar dois planos
superestruturais, distinguindo a sociedade civil da sociedade política. A sociedade
civil abarcaria o conjunto de organismos privados, enquanto a sociedade política
(que ele também chama de Estado) corresponderia à função de hegemonia que o
grupo dominante exerce em toda a sociedade. Nas sociedades mais desenvolvidas,
o exercício do poder passa, muito mais, pelo aspecto da direção política e cultural do
78
que propriamente pela coerção. Afirma Gramsci que o Estado não deve ser
entendido unilateralmente, isto é, apenas como aparato "representativo", pois muitos
fatos importantes derivam, na realidade, de organismos privados. Isto significa,
portanto, que o Estado deve ser entendido para além do aparato governativo, ou
seja, deve ser entendido, também, como aparato de hegemonia ou como sociedade
civil, uma vez que os regimes políticos não se sustentam apenas baseados em
instrumentos de coação. São imprescindíveis, para Gramsci, a formação e difusão
dos valores dominantes, como escola, igreja, associações, entre outros. Por estes
mecanismos, a classe dominante exerce sua hegemonia, mas são espaços em
disputa, onde existe a possibilidade da construção de uma contra-hegemonia, a
partir do projeto das classes dominadas.
Segundo Remo Bodei (1978), toda a concepção gramsciana envolvendo os
conceitos de vontade e de hegemonia baseia-se numa análise histórica de
complexas mudanças ocorridas na economia e nas esferas social e política a partir
de uma data que ele situa simbolicamente em 1871. O Estado burguês, após a
derrota da Comuna de Paris e diante de uma grave recessão, reorganizou-se no
sentido de uma penetração cada vez mais maciça no campo da sociedade civil e da
busca do consenso, que tornassem impossíveis “golpes de mão” como aqueles de
1848 e 1871. Ocorre, portanto, uma ampliação burocrática e toda uma
reestruturação que passa pela expansão colonial e por uma maior interdependência
entre os diversos Estados. As relações internas e internacionais se tornam mais
complexas e a fórmula de 1848, da “revolução permanente”, é superada pela
fórmula da “hegemonia civil”. Com isso, começa um período no qual o Estado, para
funcionar, tem uma necessidade cada vez maior da colaboração ativa ou passiva
dos cidadãos e, portanto, da necessidade de obter ou extorquir o consenso (BODEI,
1978, p.89). Quanto mais desenvolvida for uma sociedade, o uso do aparelho de
coerção tende, também, a ser menor. Aqueles que governam, administram a
sociedade sob uma ampla base de consentimento dos governados, que é obtida por
meio da difusão de sua concepção da vida, do mundo, isto é, pelo seu projeto de
civilização. Tudo isso representa uma determinada consciência que se formou numa
época e se universalizou tornando-se a consciência de todos os indivíduos e não
apenas de uma classe.
79
Nogueira (2003, p. 186) enfatiza que para Gramsci, sociedade civil “é um conceito
com o qual se pode entender a realidade contemporânea”, mas também é, ao
mesmo tempo, “um projeto político, com o qual se pode tentar transformar a
realidade”. O pensamento gramsciano é muito diferente das formulações atuais,
tanto no campo da história quanto na ciência política, da nova sociedade civil.
Lavalle (1999) registra que “a orientação para a ação política nas formulações atuais
está baseada em uma oposição de valores entre o Estado e a sociedade”.
Entretanto, para Gramsci, sua teoria da sociedade civil está alicerçada “na dialética
de unidade-e-distinção daquelas duas instâncias constitutivas do social - Estado e
sociedade” (NOGUEIRA, 2003, p. 186). Dessa forma, como apontou Bodei e com a
contribuição de Frosini (2003), “Gramsci pôde atualizar o conceito de sociedade civil
vis-à-vis as tradições oitocentistas e assimilá-lo como fundamento de sua teoria da
hegemonia”.
Gramsci foi impelido a trabalhar esse conceito e projeto político como forma de
interpretar as transformações em curso nas sociedades capitalistas no início do
século XX. Essas transformações iam desde “alterações no padrão produtivo,
expansão da classe operária, crescimento do associativismo, da diversificação e da
organização dos interesses, socialização da política, maior peso do Estado vis-à-vis
o mercado, aumento da regulação e das políticas de proteção e bem-estar, etc.”
(NOGUEIRA, 1998). Era evidente que
Gramsci percebia que esse movimento era virtualmente unificador e
continha um impulso claro em direção a formas mais avançadas de
convivência, mas estava cortado por fortes tendências
desagregadoras, competitivas, individualistas. O próprio Estado
estava sendo reconfigurado: era invadido pela socialização da
política que se verificava e levado a ir além do aparato repressivo e
coercitivo. A força requeria sempre mais consenso e hegemonia. O
Estado se “ampliava” (...), articulando-se com a “nova” esfera do ser
social que se objetivava em conjunto com uma maior diferenciação
social e uma melhor organização dos interesses. A idéia gramsciana
de sociedade civil espelharia a nova situação: abrigava a plena
expansão das individualidades e diferenciações, mas acomodava
também, acima de tudo, os fatores capazes de promover agregações
e unificações superiores. Ela seria a sede de múltiplos organismos
“privados”, mas nem por isto menos estatais. Seus integrantes
estariam dispostos como vetores de relações de força, como agentes
de consenso e hegemonia, candidatos a “se tornar Estado”
(NOGUEIRA, 2003, p.190).
80
Para Gramsci, a sociedade civil não é um mero terreno de iniciativas “privadas”, mas
tem desde logo uma “função estatal”, na medida mesma em que se põe como
“hegemonia política e cultural de um grupo social sobre toda a sociedade, como
conteúdo ético do Estado” (GRAMSCI, 2000, p. 225). Nesse sentido, o Estado é
“reforçado”, pois passa a se conectar com diversas associações particulares e as
incorpora. Segundo Nogueira, aí acontece a redefinição da dominação política: “a
coerção – monopólio legítimo da violência (Weber), ação típica do Estado visto como
sociedade política – tinha de ser cada vez mais sintonizada com a busca de
consensos”. O Estado ganha uma espécie de “dimensão civil” com o concurso das
associações privadas. Essa dimensão civil torna-se base material da hegemonia
política e cultural. “Estado (coerção) e sociedade civil (consenso) passavam, desse
modo, a ser vistos como instâncias distintas, mas integradas, formando uma
unidade. Reuniam-se, portanto, dialeticamente” (NOGUEIRA, 2003, p.190). Em
Gramsci, o Estado será sempre uma combinação de hegemonia e coerção:
O exercício “normal” da hegemonia, no terreno tornado clássico do
regime parlamentar – escreverá –, caracteriza-se pela combinação
da força e do consenso, que se equilibram de modo variado sem que
a força suplante muito o consenso, mas, ao contrário, tentando fazer
com que a força pareça apoiada no consenso da maioria, expresso
pelos chamados órgãos da opinião pública (GRAMSCI, 2000, p. 95).
Nogueira sintetiza, com essa concepção, o espaço de atuação da sociedade civil
como “um espaço onde são elaborados e viabilizados projetos globais de sociedade,
se articulam capacidades de direção ético-política, se disputa o poder e a
dominação”. Vai além, destacando que a sociedade civil tem “um espaço de
invenção e organização de novos Estados e novas pessoas. Um espaço de luta,
governo e contestação, no qual se formam vontades coletivas” (NOGUEIRA, 2003,
p.191).
1.6 As relações entre estrutura e superestrutura
Como essa pesquisa procura historiar a formação de um grupo hegemônico na
condução da política local, torna-se necessário, assim como o fizemos na questão
do conceito de sociedade civil, trabalhar algumas considerações do pensamento
81
gramsciano sobre as relações entre estrutura e superestruturas, tão importantes
para o marxismo. Para tanto, é importante retomar as afirmações do próprio Marx:
(...) A conclusão geral a que cheguei e, uma vez alcançada, serviu de
guia aos meus estudos pode ser resumida da seguinte maneira: na
produção social de seus meios de existência, os homens ingressam
em relações definidas, indispensáveis e alheias a suas vontades,
relações de produção correspondentes a uma determinada etapa do
desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O agregado
dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da
sociedade, o verdadeiro alicerce sobre o qual se ergue uma
superestrutura jurídica e política e ao qual correspondem
determinadas formas de consciência social. O sistema de produção
dos meios materiais de existência condiciona todo o progresso da
vida social, política e individual. Não é a consciência dos homens que
determina a sua existência, porém, pelo contrário, é a existência
social que lhes determina a consciência (MARX, 1983, p. 187).
A tradição histórica marxista, de viés ortodoxo, utilizou essas afirmações de Marx
para formular uma interpretação segundo a qual as superestruturas ideológicas são
determinadas pela estrutura de base econômica e material e, conseqüentemente, de
que elas não se passam de mera aparência ou reflexo. Assim sendo, as ideologias
assumem um significado pejorativo, isto é, de algo que tem por função velar a
verdade ou a essência das coisas. O próprio Gramsci, na verdade, afirma que as
ideologias têm um duplo significado na obra de Marx. Tudo depende do ângulo a
partir do qual elas são abordadas. Especificamente para ele, e aí está o que
consideramos uma de suas grandes contribuições para renovar o marxismo,
interessa analisá-las a partir da sua validade como instrumento de direção política e
cultural. Essa análise implica, tanto na crítica, por elas servirem de meio para que as
classes dominantes exerçam o seu poder, quanto em sua aceitação enquanto
elemento fundamental na constituição de uma nova classe dirigente. Com essa
premissa, afirma Gramsci que:
(...) Para Marx as “ideologias” são exatamente o contrário de ilusões
e aparência; elas são uma realidade objetiva e operante, mas não
são o motor da história. Isso é tudo. Não são as ideologias que criam
a realidade social, mas é a realidade social, na sua estrutura
produtiva, que cria as ideologias. Como Marx poderia ter pensado
que as superestruturas são aparência e ilusão? Também as suas
doutrinas são uma superestrutura. Marx afirma explicitamente que os
homens adquirem consciência das suas funções no terreno
ideológico das superestruturas, o que não é uma afirmação qualquer
de “realidade”: a sua teoria quer, de fato, também “levar a uma
tomada de consciência” das próprias funções, da própria força, da
82
própria transformação de um determinado grupo social. Mas ele
destrói as “ideologias” dos grupos sociais adversários que, de fato,
são instrumentos práticos de domínio político sobre o restante da
sociedade: ele demonstra como eles estão privados de sentido,
porque estão em contradição com a realidade efetiva (GRAMSCI,
1975, p. 436, 437 - tradução nossa).
Ao assumirem, em alguns momentos, um significado negativo, as ideologias
trabalham sempre no sentido de explicitar as formas de dominação para que um
outro grupo possa adquirir consciência de sua importância no processo histórico.
Assim, as ideologias não são outra coisa senão a forma pela qual um determinado
grupo social, que nasce a partir de uma função básica no mundo da produção,
adquire sua consciência e cria os meios necessários à sua máxima expansão e
desenvolvimento. Em outras palavras, esta é a forma pela qual se constitui um
determinado sujeito histórico. Esse entendimento foi dado pelo próprio Marx:
(...) Um sistema social nunca perece antes de se terem expandido
todas as forças que nele cabem; e novas relações de produção, mais
elevadas, nunca aparecem antes de as condições materiais para a
sua existência terem amadurecido no ventre da própria sociedade
antiga. Logo, a humanidade sempre se propõe apenas os problemas
que é capaz de resolver; e mais, quando olhamos o assunto mais de
perto, sempre constatamos que o próprio problema só desponta
quando as condições materiais para a sua solução já se acham
presentes ou, pelo menos, em vias de concretizar-se (MARX, 1983,
p. 188).
Ao analisar precisamente essa passagem em seus Cadernos do Cárcere, Gramsci
extrai uma série de elementos ou categorias metodológicas para o estudo da
história, ao contrário de uma conclusão puramente determinista. Dentre essas
categorias, está a necessidade de se distinguir aquilo que é meramente ocasional
daquilo que é permanente e que reflete as reais necessidades de transformação.
Poderíamos dizer que os movimentos orgânicos são, relativamente, permanentes, e
os movimentos conjunturais são ocasionais, imediatos e quase acidentais. Mas, os
fenômenos conjunturais dependem, de certa forma, dos movimentos orgânicos,
embora, para Gramsci, seu significado não seja de grande importância histórica. Ele
entende que esses movimentos de conjuntura se referem à política do cotidiano e
aos pequenos grupos dirigentes, isto é, às personalidades diretamente ligadas ao
poder. Já os fenômenos orgânicos, ao invés, dão lugar à crítica histórico-social e
servem para julgar os grandes agrupamentos, indo além das pessoas imediatamente
83
responsáveis pelo poder. Assim, ao estudar um determinado período histórico, é de
grande importância levar-se em conta que, se existe uma crise prolongada, é porque
na estrutura são reveladas contradições insanáveis que forças políticas
conservadoras lutam para sanar mantendo aquela estrutura, pois nenhuma
formação social quer se confessar superada. É sobre este terreno do ocasional que
se organizam forças que procuram demonstrar que já existem as condições
materiais suficientes para que determinadas tarefas possam ser resolvidas. É o que
Gramsci afirma:
(...) O erro no qual freqüentemente se cai na análise histórica,
consiste em não saber determinar a relação entre o “permanente” e o
“ocasional” caindo, assim, ou na afirmação de causas remotas como
se elas fossem imediatas, ou na afirmação de que as causas
imediatas são as únicas causas eficientes. De um lado há o excesso
de “economicismo” e, de outro, o excesso de “ideologismo”; de uma
parte se sobrevalorizam as causas mecânicas e, de outra o elemento
“voluntário” e individual (GRAMSCI, 1975, p. 456 e 1580 – tradução
nossa).
Há outra categoria metodológica, também ligada a este mesmo problema, que é a
chamada correlação de forças, ou de maneira simples e genérica, as forças
favoráveis ou desfavoráveis a uma determinada tendência. Para Gramsci, esta
categoria, abstratamente considerada, não explica nada ou quase nada. É
necessário, então, distinguir aquilo que é uma categoria de pesquisa e interpretação
daquilo que é, de fato, causa histórica. Neste sentido, ele estabelece, na correlação
de forças, alguns momentos e nos restringiremos a apenas três deles.
De acordo com Favaretto (2004, p. 73), o primeiro momento é aquele que
corresponde a um processo de identificação em nível ainda corporativo e não de
classe. É quando, afirma Gramsci, a correlação de forças sociais está estreitamente
ligada à estrutura e é, portanto, objetiva, isto é, independe da vontade dos homens.
Diz respeito ao grau de desenvolvimento das forças materiais de produção, no qual
os diversos grupos sociais representam uma função e uma posição em relação à
estrutura. É nesta primeira disposição, na qual os diversos grupos se encontram,
que é possível estudar se existem ou não as condições suficientes necessárias para
uma transformação.
84
O segundo momento está relacionado diretamente com a política, pois corresponde
à correlação de que permite a avaliação do nível de homogeneidade e
autoconsciência alcançado pelos diversos grupos. Sobre essa autoconsciência,
Favaretto explica que ela oscila, por sua vez, em vários níveis:
Num primeiro nível, isto é, elementar ou econômico, a unidade se
restringe ao âmbito da categoria profissional. Num segundo nível há
uma consciência de solidariedade de interesses entre todos os
membros de um grupo social, mas ainda no âmbito do horizonte
dado. Em outros termos, já se coloca o problema do Estado, mas em
termos de igualdade política elementar, ou seja, coloca-se o direito
de participar na administração e legislação, mas ainda no âmbito da
ordem existente. Num terceiro nível os próprios interesses superam o
limite econômico e se tornam interesses de outros grupos sociais
subordinados. Este último corresponde ao momento mais
propriamente político e assinala a clara passagem da pura estrutura
às superestruturas complexas. Este seria o momento no qual as
ideologias anteriormente germinadas e em contraste, adquirem uma
unidade pelo prevalecimento de uma ou pela combinação de várias e
ela tende a se impor e a ser difundida determinando, além da
unidade econômica e política, também, aquela intelectual e moral
sobre um plano não mais corporativo, mas universal e de hegemonia
de um grupo social fundamental sobre os demais. (FAVARETTO,
2004, p.74)
O entendimento de Favaretto é de que o Estado-governo passa a ser concebido
como o organismo próprio de um grupo para criar o terreno favorável à sua máxima
expansão e desenvolvimento. Todavia, esta expansão é vista, também, como
universal e coligada aos interesses dos grupos subordinados, no qual os interesses
do grupo fundamental prevalecem, mas até certo ponto.
O terceiro momento é aquele da situação limite que leva à fundação de um novo
bloco histórico, precisamente quando a correlação de forças militares torna-se
imediatamente decisiva. Para Dias (1996, p. 14, 15), a realização de um novo bloco
histórico, de uma nova hegemonia, é a consecução de uma possibilidade inscrita na
totalidade social. Esta possibilidade não é fatal, pois tanto pode ser realizada quanto
bloqueada. A realidade histórica se realiza por movimentos tendenciais que são
possibilitados ou inviabilizados, mas sempre pela ação consciente dos homens que
reescrevem, sem cessar, suas estruturas materiais de produção e reprodução da
vida.
85
De qualquer modo, de acordo com Favaretto, o desenvolvimento histórico oscila
entre o primeiro e o terceiro momentos passando pela mediação do segundo. A
análise da correlação de forças é, portanto, imprescindível tanto no sentido da luta
pela manutenção da ordem existente, quanto na luta pela construção de uma nova
ordem. Ela permite a avaliação das reais possibilidades tanto para a constituição de
uma ação que deveria se efetivar de imediato, quanto na perspectiva de uma luta de
longo prazo e da lenta construção de uma nova hegemonia (FAVARETTO, 2004, p.
75).
Uma questão ligada a essas é aquela de que se os fatos históricos fundamentais
seriam ou não determinados pelas flutuações da economia, isto é, se seriam
determinados pelo bem-estar ou mal-estar econômico de uma sociedade. Neste
sentido, entende Gramsci que:
(...) Um exame da história mundial e européia parece obrigar-me a
excluir qualquer resposta taxativa a esse respeito e a proceder por
aproximação a uma reposta mais exatamente genérica e em um
plano não econômico imediato, mas de ordem política e intelectual
(GRAMSCI, 1975, p. 459 – tradução nossa).
Fica claro que para Gramsci existe uma unidade entre estrutura e superestrutura,
mas essa relação é orgânica, isto é, não determinada de modo imediato. A estrutura
está na base da vida, o que não significa que não exista espaço para a liberdade no
qual os diversos grupos adquirem consciência de sua função e interferem no
processo histórico. Muitas são as forças que atuam como determinantes no
processo histórico e o mundo da economia e da produção é uma delas e, talvez, a
principal. Dessa forma, estrutura e superestruturas estão organicamente ligadas e
formam um bloco histórico. (FAVARETTO, 2004, p.76).
1.7 O conceito de hegemonia
De acordo com Williams (1979, p.111), “a definição tradicional de hegemonia é
poder ou domínio político, especialmente nas relações entre Estados”. Foi o
marxismo que ampliou essa definição quando se definiu uma classe dirigente numa
relação entre as classes sociais. Entretanto, Gramsci deu uma nova interpretação
86
para a hegemonia, estabelecendo claramente a distinção entre esta e o domínio. A
diferença, segundo Williams é que:
O “domínio” é expresso em formas diretamente políticas e em
tempos de crise, pela coação direta ou efetiva. Mas a situação mais
normal é uma complexa combinação de forças políticas, sociais e
culturais, e a “hegemonia”, de acordo com diferentes interpretações,
é isso, ou as forças sociais e culturais ativas que são seus elementos
necessários (WILLIAMS, 1979, p.111).
O termo hegemonia, como afirma Gruppi (2000, p. 01), deriva do termo grego
eghestai que significa “conduzir”, “ser guia”, “ser líder”. Deriva também do verbo
eghemoneuo que significa “guiar”, “proceder”, “conduzir”, do qual derivam as
expressões “estar à frente”, “comandar”, “ser o senhor”. Dessa forma, o grego antigo
entendia por eghemonia a direção suprema do exército e, assim, trata-se de um
termo militar. Durante as guerras do Peloponeso usou-se a expressão “cidade
hegemônica” para indicar quem dirigia a aliança entre as cidades que participavam
das batalhas.
Gramsci se utiliza do termo hegemonia, em várias ocasiões, no sentido de aliança
política. É neste sentido, por exemplo, que ele afirma:
O proletariado pode tornar-se classe dirigente e dominante na
medida em que consegue criar um sistema de alianças de classes
que lhe permita mobilizar, contra o capitalismo e o Estado burguês, a
maioria da população trabalhadora, isto significa na Itália, nas reais
relações existentes, na medida em que consegue obter o consenso
das amplas massas camponesas (GRAMSCI, 1982, p. 135 -
tradução nossa).
Como afirma Gruppi (2000, p. 5), o termo hegemonia é utilizado por Gramsci no
sentido de capacidade de direção, de capacidade de conquistar alianças, isto é, de
capacidade de fornecer uma base social ao Estado proletário.
Williams vai além e destaca que o conceito de hegemonia, em Gramsci, inclui
imediatamente e ultrapassa dois conceitos “poderosos” do marxismo:
(...) o de “cultura” como “todo um processo social”, no qual os
homens definem e modelam todas as suas vidas, e o de “ideologia”,
em qualquer de seus sentidos marxistas, no qual um sistema de
87
significado de valores é a expressão ou projeção de um determinado
interesse de classe (WILLIAMS, 1979, p. 111).
Entretanto, como afirma Dias, existe no pensamento gramsciano um nexo entre a
capacidade de construção de uma visão de mundo (ideologia) e a realização da
hegemonia. “A construção da hegemonia por uma classe fundamental, depende de
sua capacidade de elaboração da própria visão de mundo” (DIAS, 1996, p. 10). Mas,
essa hegemonia não se forma, portanto, a partir de uma base qualquer ou do puro
arbítrio de um indivíduo em particular ou mesmo de um grupo. A esse propósito
afirma Gramsci:
É evidente que uma construção de massa de tal gênero não pode
ocorrer ‘arbitrariamente’, em torno de uma ideologia qualquer, pela
vontade formalmente construtiva de uma personalidade ou de um
grupo que a proponha pelo fanatismo das próprias convicções
filosóficas ou religiosas. A adesão da massa a uma ideologia ou a
não adesão é o modo pelo qual se verifica a crítica real da
racionalidade e historicidade dos modos de pensar. As construções
arbitrárias são mais ou menos rapidamente eliminadas pela
competição histórica ainda que, às vezes, por uma combinação de
circunstâncias imediatamente favoráveis gozem de certa
popularidade, enquanto as construções que correspondem às
exigências de um período histórico complexo e orgânico, acabam
sempre se impondo e prevalecendo mesmo que atravessem muitas
fases intermediárias, cuja afirmação ocorra somente por
combinações mais ou menos bizarras e heteróclitas (GRAMSCI,
1975, p. 1393 - tradução nossa).
Cabe à sociedade civil condensar, nesse sentido, o campo dos esforços societais
dedicados a organizar politicamente os interesses de classe – constantemente
fracionados pela própria dinâmica do capitalismo –, cimentá-los entre si e projetá-los
em termos de ação hegemônica. Para Favaretto (2004) o associativismo é a base de
tudo, mas desde que tratado politicamente. Gramsci não via grande vantagem na
agregação pela agregação, na agregação em função de interesses restritos: sua
ênfase repousava na superação política dessa disposição espontânea dos
indivíduos e grupos sociais (GRAMSCI, 1987). Dava-se o mesmo com a consciência
econômico-corporativa: ela existia como estado primário da consciência social, e
devia ser superada pela forma mais sofisticada da consciência política, promovendo-
se assim, como se diz nos Cadernos, “a passagem nítida da estrutura para a esfera
das superestruturas complexas” e o ingresso numa fase em que as ideologias lutam
entre si até que “uma delas, ou pelo menos uma única combinação delas, tenda a
88
prevalecer, a se impor, determinando, além da unicidade dos fins econômicos e
políticos, também a unidade intelectual e moral” (GRAMSCI, 2000, p. 41). A própria
noção de hegemonia – par lógico e político do conceito de sociedade civil –
desdobrava-se num empreendimento unificador. No entendimento de Gramsci, o
sujeito hegemônico seria aquele que viesse a se mostrar mais vocacionado para
agregar e unificar do que para separar e diferenciar. Seria nessa condição, aliás,
que ele poderia se afirmar como “dirigente intelectual e moral” ou como fundador de
Estados (FAVARETTO, 2004, p. 80).
Para Favaretto, está implícito no conceito de hegemonia a concepção de que aquilo
que chamamos de realidade ou simplesmente de real, resulta de uma determinada
relação que se estabelece entre a esfera das estruturas materiais e objetivas e a
esfera das superestruturas ideológicas e subjetivas. O real é, portanto, a totalidade
que reflete esta relação. A realização de uma hegemonia, em cada período histórico,
corresponde a uma “soldagem” entre essas esferas da qual resulta um determinado
“bloco histórico” ou, em outros termos, a configuração do cenário de uma
determinada época.
No entanto, essa "soldagem" entre a estrutura e as superestruturas, não acontece
de forma automática, pois ela passa pela mediação dos intelectuais e, precisamente,
por um tipo específico de intelectual: o intelectual orgânico. Tonella informa que
“neste ponto, Gramsci destaca a importância da ligação orgânica entre o homem
ativo das massas e o intelectual, que tornará possível a constituição de um bloco
intelectual-moral que conduzirá às mudanças” (TONELLA, 1996, p. 99). Para
Gramsci os intelectuais não são um grupo autônomo e independente, ou seja, não
constituem uma classe social propriamente dita, mas estão sempre ligados a alguma
classe. A esse respeito ele afirma:
Todo grupo social, nascendo no terreno originário de uma função
essencial no mundo da produção econômica cria, ao mesmo tempo,
organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão
homogeneidade e consciência da própria função não apenas no
campo econômico, mas também naquele social e político: o
empresário capitalista cria consigo o técnico da indústria, o cientista
da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um
novo direito etc., etc. (...) Pode se observar, que os intelectuais
“orgânicos”, que cada nova classe cria consigo mesmo e elabora no
seu desenvolvimento progressivo são, na maioria das vezes,
89
“especializações” de aspectos parciais da atividade primitiva do tipo
social novo que a nova classe trouxe à luz (GRAMSCI, 1975,
p.1513,1514 – tradução nossa).
Não existe, dessa forma, nenhum grupo ou intelectual em particular que não seja
representante de uma determinada classe social. Os intelectuais ou a sua atividade
decorre sempre da necessidade de se criar uma superestrutura ideológica que
corresponda à estrutura de base material e econômica emergente, à qual eles estão
indiretamente ligados.
A relação entre os intelectuais e o mundo da produção não é
imediata, como ocorre no caso dos grupos sociais fundamentais,
mas é “mediatizada” por todo o tecido social, pelo complexo das
superestruturas das quais, de fato, os intelectuais são os
“funcionários” (GRAMSCI, 1975, p. 1518 – tradução nossa).
Assim sendo, embora não exista uma relação imediata, é preciso considerar que a
formação dos intelectuais não se dá num terreno democrático abstrato e
independente, mas por processos históricos muito bem definidos.
Não existe uma relação direta ou imediata entre intelectuais e o mundo da produção,
uma vez que ela é mediada por todo o tecido social, ou seja, pelo conjunto das
superestruturas. Todavia, Gramsci diz ser possível verificar a organicidade dos
diversos estratos intelectuais ou a sua conexão mais ou menos estreita com o grupo
social fundamental. Esta conexão se dá, para ele, nos dois grandes planos
superestruturais: na sociedade civil e na sociedade política, ou Estado propriamente
dito. No primeiro caso, ela corresponde à função de hegemonia que o grupo
dominante exerce em toda a sociedade e, no segundo, corresponde ao domínio
direto. Ambas as funções são de ordem organizadora e conectiva e os intelectuais
os prepostos, os representantes do grupo dominante para o exercício das funções
subalternas de hegemonia social e de governo político. Em relação à hegemonia,
busca-se o consenso à orientação e direção exercida pelo grupo fundamental
dominante sobre toda a sociedade. Em relação ao governo político utiliza-se da
coerção estatal, do aparato jurídico, para assegurar a disciplina daqueles que não
consentem, isto é, daqueles que não querem colaborar com o projeto de sociedade
do grupo dominante ou, também, “utiliza-se deste aparato nos momentos de crise,
90
quando desaparece o consenso. As atividades intelectuais estão, portanto, ligadas à
organização e direção” (FAVARETTO, 2004, p. 81).
1.8 As fontes e a metodologia
Nossa principal fonte de pesquisa é a Revista ACIM, por isso utilizamos os recursos
que De Luca (2005, p. 111) aponta como importantes para a pesquisa que é a
“história por meio da imprensa”. Temos clara a noção de que uma notícia,
principalmente a divulgada em um órgão oficial, não é apenas aquilo que aparenta a
verdade absoluta, mas uma interpretação de uma realidade em um dado momento.
Por isso, a utilização de uma revista periódica como fonte pode nos fornecer
múltiplos aspectos do cotidiano nela registrados, como os costumes de uma época,
aspectos da vida urbana, idéias sobre a moral, relações sociais, políticas e
econômicas, entre muitos outros temas. Contier, em Imprensa e Ideologia em São
Paulo (1822-1842), nos apresenta a pesquisa que realizou nos jornais que
circulavam na cidade de São Paulo no final do reinado de D. Pedro I e evidencia
como essas fontes podem ser bem aproveitadas para estudar o momento histórico,
adequado à temática:
A análise dos periódicos, em especial dos fins do Primeiro Reinado e
inclusive do Período Regencial, tem por objetivo fundamental estudar
o vocabulário político e social dos agentes sociais paulistas a fim de
diagnosticar os matizes da ideologia dominante, procurando
compreender os comportamentos da elite intelectual e política em
relação à tomada de consciência do conceito de independência
política, no momento em que os quadros burocráticos e políticos,
outrora ocupados pelos portugueses ou colonialistas, passaram a ser
disputados pelos representantes da elite senhorial paulista, em
particular, e brasileira, em geral (CONTIER, 1979, p. 13).
Apesar da historiografia por meio de periódicos ter sido colocada sob suspeição por
diversos autores (ver RODRIGUES, 1968), uma série considerável de historiadores
de renome faz trabalhos de reflexão científica sobre o gênero revista, sendo
importante “destacar o livro de Maria Celeste Mira, O leitor e a banca de jornal, que
traz um histórico da trajetória do impresso revista no país” (DE LUCA, 2005, p. 122).
Capelato (1989) também utiliza a imprensa para discutir a ideologia e o projeto de
sociedade dos liberais paulistas da primeira metade do século XX. De Luca enfatiza
a importância do periódico revista como fonte “para a compreensão da paisagem
91
urbana e das representações e idealizações sociais” e dá destaque ao trabalho da
historiadora Ana Maria Mauad que discute os quadros de representação social e os
códigos de comportamento da classe dominante carioca na primeira metade do
século XX (DE LUCA, 2005, p. 123).
No âmbito dos novos estudos da história política brasileira, a imprensa também tem
parte importante. Jornais e revistas, seja no Estado Novo ou na ditadura militar,
tiveram papel de difusores da propaganda política do regime ou então se
constituíram em formas sutis de contestação (DE LUCA, 2005, p.129). Essas fontes
se constituem em material extremamente útil ao ofício dos historiadores e cientistas
políticos de hoje. Entretanto, a pesquisadora orienta que “historicizar a fonte requer
ter em conta, portanto, as condições de produção vigentes e a averiguação, dentre
tudo o que se dispunha, do que foi escolhido e por que” (DE LUCA, 2005, p.132).
A Revista ACIM é editada há 44 anos, sendo a primeira e principal publicação
empresarial de Maringá. Intitula-se o órgão oficial da Associação Comercial e
Empresarial de Maringá e a “Revista de Negócios do Paraná”. Quando de sua
fundação, em meados de 1963, se chamava Boletim Informativo da ACIM, com
conteúdo exclusivamente técnico. Em 1979 mudou de nome para Indústria &
Comércio e, em 1988, a partir do número 283, passou a se chamar oficialmente
Revista ACIM. Por ocasião da comemoração da edição número 400, em novembro
de 2000, a ACIM publicou a seguinte apologia ao seu órgão oficial, tratando-a como
uma jovem senhora de 37 anos:
Cumprindo sua missão, deu voz e vida a alguns movimentos que
mudaram a história da cidade: Segurança no Trânsito, que resultou
em mudanças profundas no sistema viário; Feira da Indústria Têxtil,
que se transformou em Moda Paraná e consolidou a região como
Pólo de Confecções; Maringá Vai Ganhar – Vote para Deputado, que
aumentou o número de votos válidos nas últimas eleições para o
Legislativo Estadual e Federal; e o Repensando Maringá, o maior
movimento da sociedade organizada em todos os tempos, que
eclodiu no Conselho de Desenvolvimento Econômico, o Codem, hoje
reconhecido em todo o Paraná. (...) Embora nunca tenha se filiado a
um partido político, sempre foi democrática, cedendo espaço para
que políticos se manifestassem. Candidatos a cargos eletivos,
prefeitos, vereadores e deputados foram ouvidos por ela. Os
governadores Mário Pereira (1994) e Jaime Lerner (1998) também
estiveram falando de suas propostas e conquistaram sua atenção
(REVISTA ACIM, n. 400, p. 24).
92
Atualmente a tiragem mensal da Revista é de 5 mil exemplares e a distribuição é
dirigida para as 3.453 empresas associadas à entidade
53
, associações congêneres
no Paraná, órgãos e entidades públicas. A redação, venda de anúncios, fotografias,
editoração e diagramação, impressão e distribuição, são realizadas por empresas
terceirizadas. O controle sobre o que é produzido é feito por uma diretora
responsável, que é vice-presidente de Marketing da ACIM, e um Conselho Editorial
formado por empresários, jornalistas e colaboradores. Os temas principais são
relacionados ao comércio, indústria, prestação de serviços e à produção como um
todo. As edições contêm opiniões, entrevistas, reportagens especiais e informações
que interessam diretamente à classe empresarial. Desde o ano de 2001 saem
regularmente dez edições por ano, excetuando-se os meses de janeiro e fevereiro.
As revistas fazem parte do acervo histórico da Associação Comercial e estão
arquivadas por ano de publicação, em encadernações de capa dura, catalogadas e
registradas em banco de dados do Centro de Documentação Luiz Carlos Masson
54
.
Os exemplares estão em ótimo estado de conservação. Até o mês de julho de 1997,
com exceção das capas, o conteúdo era em preto e branco, em papel couchet. A
partir de agosto de 1997 todo o material passou a ser editado em esquema de
quatro cores. Para essa pesquisa, tivemos contato com 103 volumes, que
correspondem às edições de fevereiro a dezembro de 1994, fevereiro a dezembro
de 1995, fevereiro a dezembro de 1996, fevereiro a dezembro de 1997, março a
dezembro de 1998, setembro e dezembro de 1999, junho, agosto a dezembro de
2000, março a dezembro de 2001, 2002, 2003 e 2004 e março de 2005. Com uma
média de 40 páginas por edição, pesquisamos cerca de 4.120 páginas.
Para complementar a pesquisa e não ficarmos apenas no discurso produzido pela
imprensa oficial, utilizamos outras fontes como entrevistas com algumas
personagens que participaram da Associação Comercial, do Movimento
Repensando Maringá e do Codem. Fazem parte também desse corpus documental
55
53
Número fornecido pela ACIM referente ao mês de abril de 2007.
54
O empresário Luiz Carlos Masson foi diretor da Revista ACIM de 1986 a 2000 e dá nome ao Centro de
Documentação da Associação Comercial desde abril de 2006.
55
Analisamos recortes ou seleções de determinadas matérias, sem nos atermos a uma consulta sistemática a
essas fontes.
93
matérias dos jornais O Diário do Norte do Paraná, O Jornal do Povo
56
, O Estado do
Paraná, Indústria & Comércio
57
e Folha de Londrina
58
e documentos produzidos pelo
Codem, como propostas de governança e o planejamento Maringá 2020. Na
questão das entrevistas, concebemos os testemunhos como fontes, pois
entendemos o pressuposto de que é “o material recolhido por um historiador para as
necessidades de sua pesquisa, em função de suas hipóteses e do tipo de
informações que lhe pareça necessário possuir” (VOLDMAN, 2005, p.36). Sobre as
matérias jornalísticas o cuidado foi no sentido de perceber que as mesmas, na
maioria das vezes, “são editadas em função de interesses bem demarcados pelas
forças sociais com as quais o jornal acaba estabelecendo uma relação, muitas
vezes, de dependência” (NASCIMENTO, 2003, p.38).
Para interpretar dentro de um contexto histórico o material pesquisado, nossa
análise dos textos seguiu as orientações de Cardoso e Vainfas (1997). Para ambos,
o “pressuposto essencial das metodologias propostas para a análise de textos em
pesquisa histórica é de que um documento é sempre portador de um ‘discurso’ que,
assim considerado, não pode ser visto como algo transparente” (CARDOSO e
VAINFAS, 1997, p. 377). Alertados de que “todo cuidado é pouco quando se trata de
aproximar lingüística e história”, analisamos os documentos produzidos pelo
Movimento Repensando Maringá relacionando “textos e contextos”, evitando reduzir
a história à estrutura do texto produzido e nem desprezar essa estrutura “para uma
análise do conteúdo histórico-social dos discursos” (CARDOSO e VAINFAS, 1997, p.
379). Para alcançarmos isso, propomos: a) não permitir que o documento falasse
por si mesmo; b) escolher o método compatível com o trabalho de historiador, e c)
ter certa flexibilidade no uso do método escolhido para evitar construir “um relatório
técnico” no lugar de uma “narrativa historiográfica” (CARDOSO e VAINFAS, 1997, p.
379).
56
Os jornais O Diário e O Jornal do Povo são editados em Maringá.
57
Os jornais O Estado do Paraná e Indústria & Comércio são editados em Curitiba. Na época, O Estado do
Paraná possuía uma sucursal na cidade.
58
O jornal Folha de Londrina é editado em Londrina e, na época, possuía uma sucursal em Maringá.
94
SEGUNDA PARTE
EMPRESARIADO E POLÍTICA
95
Imagem 2
Segunda capa da Revista ACIM n. 357, Agosto de 1995
96
Capítulo II
Universo de manifestação do empresariado
Vivemos, em princípio, em sistema capitalista. Mas
o capitalismo brasileiro é mais controlado pelo
Estado do que o de qualquer outro país, com
exceção dos comunistas. Setores industriais, como
os de energia elétrica, siderurgia, petróleo,
navegação, portos, estradas de ferro, que nos
Estados Unidos estão nas mãos das empresas
privadas, foram no Brasil absorvidos pelo Estado.
Bem assim, em grande parte, a rede bancária que
controla o crédito para as empresas privadas.
Eugênio Gudin, 12/12/1974
59
59
Discurso pronunciado por Eugênio Gudin ao receber o título “Homem de Visão”. In CRUZ, Sebastião C.
Velasco e. Empresariado e Estado na transição brasileira. Um estudo sobre a economia política do
autoritarismo (1974-1977). Campinas: Editora da Unicamp; São Paulo: Fapesp, 1995, p. 33.
97
2.1 Estudos sobre empresariado e a política
Nessa pesquisa, para evitar entendimentos diversos e interpretações sobre qual
segmento empresarial estamos estudando, procuramos nos orientar pelo conceito
de empresariado definido por Cruz: “o conjunto de agentes sociais que se definem
pela detenção da propriedade de uma unidade autônoma de capital e pelo exercício,
daí decorrente, das funções de organização e gestão de seu processo permanente
de valorização” (CRUZ, 1995, p. 24).
Recentes trabalhos têm dado uma contribuição essencial ao estudo da temática da
ação política do empresariado, seja no campo da ciência política quanto nos
canteiros da história. Costa (1998) faz uma análise da relação entre o empresariado
paulista e o Legislativo Federal no período de 1946 a 1964. Em Costa (2003)
encontramos o trabalho sobre empresariado e democracia no Brasil, abrangendo o
período de 1984 a 1994, onde ele estuda as ações estratégicas da Associação
Comercial de São Paulo e da Federação do Comércio do Estado de São Paulo para
participarem do novo arranjo político-institucional democrático. Diniz (1997 e 2000)
apresenta estudos sobre as implicações desta relação sobre o desenvolvimento e o
futuro da democracia no Brasil. Por seu turno, Cruz (1995) mostra em seu trabalho o
receio de grandes empresários em participar do processo de abertura e, quando
estes aderiram, principalmente o grande empresariado paulista, foi uma “adesão
tardia a uma tendência já consolidada” (CRUZ, 1995, p. 275). Entretanto, descarta a
idéia de oportunismo e centra a análise em outros fatores determinantes. Arruda
(2003) analisou como foi construída a hegemonia burguesa, notadamente industrial,
no Brasil no período de 1930 a 1954.
No passado, houve uma tendência da história em geral, conforme explica Lobo
(1997, p. 238), preocupada com cultura popular, cultura operária, sua identidade e
suas relações com a cultura como um todo, que desenvolveu trabalhos sobre a
cultura específica do empresariado. Entre essas pesquisas podemos citar os de
Fanganiello (1970), Carone (1977) e Leme (1978). Dreifuss (1981) sugere o
envolvimento do empresariado no Golpe de 1964, destacando que à sua parcela
hegemônica coube participar do novo arranjo autoritário que se instalou depois do
Golpe.
98
Costa (2003, p. 32) chama a atenção para o problema de se utilizar em estudos
sobre o empresariado termos genéricos e expressões imprecisas como “burguesia”,
“burguesia brasileira”, “burguesia nacional”, “classes dominantes”, “elites”,
“oligarquias”, etc. Cruz indica que a tradição de análise do empresariado no Brasil,
desde os trabalhos clássicos de Cardoso (1964) e Martins (1968) que passaram pela
revisão crítica de Diniz (1978) e Diniz e Boschi (1978), é caracterizada pela
imprecisão conceitual e a exclusão, sem justificativas, de segmentos importantes
(CRUZ, 1995, p.20-26). Eis o que comenta Costa:
Além do fato destas análises privilegiarem a relação entre
empresariado e economia, seja enquanto modelo de
desenvolvimento, seja enquanto política econômica, existe outro
aspecto que merece destaque. Com exceção dos trabalhos de
Cardoso e Martins acima mencionados, pouca importância é dada às
variáveis analíticas de natureza ideológica, ou seja, a possibilidade
de mobilizar variáveis relativas ao modo como os empresários
pensam e avaliam os processos nos quais estão inseridos, como
forma de buscar explicações sobre seus padrões de ação política e
de relação com o Estado e o Governo (COSTA, 2005, p. 424).
2.2 O empresariado na conjuntura nacional
As pesquisas citadas acima, concordam em sua maioria que a história tem
demonstrado que o empresariado não possui uma organização formal que articule
de maneira adequada seus interesses. Por esta análise, entre os empresários os
interesses individuais prevaleceriam sobre o coletivo. Para Oliveira (2003), isso, em
parte, “era resultado da organização corporativista do Estado desenvolvimentista
brasileiro”. Era preferível para o empresariado cultivar relações dentro do Estado e
defender seus interesses individuais, pois “a burocracia era porosa e vulnerável às
pressões externas e controlava um grande volume de recursos públicos que eram
distribuídos no plano individual de maneira arbitrária” (OLIVEIRA, 2003, p. 125). Não
havia justificativa para que o empresariado investisse em organizações com
agendas coletivas amplas. Foi assim durante os anos 1930 e durante o regime
militar. Entretanto, nos anos de 1980, a crise do Estado desenvolvimentista e a
escassez de recursos, retirou dos empresários esses incentivos, impelindo-os a se
articularem para competir com os movimentos sociais e com os sindicatos, que a
partir da abertura política, passaram a ser os grandes pressionadores do Estado,
conforme Schneider (1991).
99
Contribuiu para a desarticulação empresarial, conforme Oliveira (2003, p. 126), a
fragmentação do sistema partidário e a incapacidade dos empresários organizarem
um partido político, “à revelia dos abundantes recursos por eles aplicados nas
campanhas eleitorais de maneira lícita ou ilícita para defender seus interesses”
(DINIZ, 2000, p. 81). Desse modo,
(...) por detrás da aparente força empresarial, identificada em face
das múltiplas representações de classe, ocultava-se sua fragilidade
organizacional, pois não havia uma entidade nacional
suficientemente forte que pudesse representar o empresariado em
seus interesses coletivos. As instituições corporativas, como as
federações, eram pouco representativas e com projeção política
modesta (OLIVEIRA, 2003, p. 127).
Outro problema que contribuiu para a desarticulação empresarial foi a ausência de
lideranças expressivas, principalmente a partir da abertura comercial e o fim dos
grandes conglomerados nacionais. Enfim,
(...) além da mudança na estrutura física do setor produtivo, houve
um processo de esvaziamento de lideranças expressivas ligadas ao
antigo modelo. De um lado, os grandes conglomerados,
capitaneados pelo capital estrangeiro, de outro, a proliferação de
pequenos e microempresários, caracterizados por alta taxa de
mortalidade e substituição internas, dão ao empresariado um perfil
heterogêneo e segmentado, altamente diferenciado setorial e
regionalmente (DINIZ, 2000, p.93).
Para entender essa diferenciação setorial e regional, é importante fazer um breve
histórico das principais entidades que representam o empresariado brasileiro, as
chamadas confederações
60
, como se constituem e como se articulam.
2.2.1 Confederação Nacional da Indústria - CNI
A Confederação Nacional da Indústria - CNI é a instituição máxima de organização
do setor industrial brasileiro, com sede em Brasília. Foi fundada em 12 de agosto de
1938 e, atualmente coordena um sistema formado por 27 federações de indústria
dos estados e do Distrito Federal - às quais estão filiados 1.016 sindicatos
60
Uma confederação é uma associação sindical de grau superior que reúne pelo menos três federações; uma
federação também é uma associação sindical de grau superior que reúne ao menos cinco sindicatos
representativos de atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas. Já um sindicato é associação prevista
na legislação brasileira para representação de categoria profissional ou econômica.
100
patronais
61
, além das grandes associações industriais como a de fabricantes de
veículos, de produtos farmacêuticos e da indústria de base. A CNI também
administra o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, o Serviço Social
da Indústria - SESI (criados também por decreto do presidente Getúlio Vargas) e o
Instituto Euvaldo Lodi - IEL.
A CNI surgiu para ampliar em todo o território nacional as ações da expressiva
indústria nacional que já se organizava, desde 1928, no Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo – Ciesp, presidido pelo industrial Francisco Matarazzo. Com a
criação, em 1942, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp, a
CNI passou a ter em seu quadro de representadas a maior entidade empresarial do
país. Hoje, a Fiesp concentra 40% do PIB nacional e tem orçamento anual de
aproximadamente R$ 700 milhões. Por conta disso, extrapola em importância,
muitas vezes, a própria CNI, tendo montado em Brasília, onde fica a sede da
Confederação, um escritório para articulação política e defesa de seus interesses.
Essa contradição reflete o problema que acontece na organização dos empresários
em um organismo que o represente de fato. No caso da CNI, cada federação tem
direito a um voto. Por esse sistema, a Federação Industrial do Piauí – Fip, um
Estado rural, teria o mesmo voto que a Fiesp. “Em termos políticos, a voz da CNI,
em Brasília, no melhor dos casos, tem sido silenciosa (SCHNEIDER, 1991, p.
138,139).
2.2.2 Confederação Nacional do Comércio – CNC
A Confederação Nacional do Comércio – CNC foi criada em 30 de novembro de
1945 como a entidade máxima do empresariado comercial brasileiro
62
. O setor
industrial já estava bem representado desde o início dos anos 20 e depois com a
criação da CNI, mas o comércio necessitava de um órgão de expressão nacional
para reunir os interesses do segmento, principalmente dentro da visão propugnada
pelo governo do presidente Getúlio Vargas em harmonizar as relações entre patrões
e empregados. É por isso que em 1946 é criado o Serviço Nacional de
61
Disponível em <http://www.cni.org.br/>. Acesso em: 20 mai. 2007.
62
Disponível em < http://www.portaldocomercio.org.br>. Acesso em: 20 mai. 2007
101
Aprendizagem Comercial - SENAC, e logo depois, o Serviço Social do Comércio -
SESC.
A CNC representa 27 federações do comércio que por sua vez são compostas por
inúmeros sindicatos e associações, formando o Sistema Confederativo da
Representação Sindical do Comércio - Sicomércio. Além das federações do
comércio, a CNC também representa a Federação Nacional das Empresas
Prestadores de Serviços de Limpeza e Conservação – Febrac; Federação Nacional
dos Despachantes Aduaneiros – Feduaneiros; Federação Nacional dos Corretores
de Seguros Privados, de Capitalização, de Previdência Privadas e das Empresas
Corretoras de Seguros – Fenacor; Federação Nacional das Empresas de Serviços
Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas
– Fenacon; Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de
Valores – Fenavist; Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares
– Fnhrbs e a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes –
Fecombustíveis. A sede da entidade é em Brasília.
2.2.3 Confederação Nacional do Transporte – CNT
A Confederação Nacional do Transporte – CNT, fundada em 28 de janeiro de 1954,
possui sede em Brasília e atua como representante de 29 federações, 2 sindicatos
nacionais 16 associações nacionais vinculadas que se relacionam com os setores de
passageiros (viação e aviação civil), carga (viação e aviação comercial), autônomos
(táxis e demais prestadores de serviços) e aquaviários (transporte comercial e civil
via fluvial e marítimo). Esta estrutura compreende 60 mil empresas e 700 mil
transportadores autônomos, responsáveis pela geração de renda correspondente a
6,55% do PIB
63
. Nos mesmos moldes da CNI e da CNC possui o Serviço Social do
Transporte – SEST e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte - SENAT.
Estas três entidades possuem natureza sindical e são mantidas, em grande parte,
pelas receitas obtidas da contribuição compulsória. São originárias de um momento
histórico bem específico da história nacional e participaram de diversas conjunturas
63
Disponível em <http://www.cnt.org.br >. Acesso em: 20 mai. 2007.
102
econômicas. Faz-se necessário ainda verificarmos mais duas confederações,
originárias de outros momentos históricos e que passaram por outros regimes
políticos e que possuem um caráter civil, de livre associação. São extremamente
importantes para entendermos a representação empresarial.
2.2.4 Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil -
CACB
A CACB tem sua origem nas associações comerciais de cada estado, muitas
fundadas quando o país ainda era colônia de Portugal. Os primeiros pontos de
reuniões de comerciantes surgiram na Bahia e no Rio de Janeiro e todas tiveram
como objetivo fortalecer, dignificar e proteger todos que viviam em torno do comércio
e em defesa da liberdade e da cidadania.
64
Em 1811, enquanto a Bahia ainda se reerguia da crise gerada pela saída da capital
da Colônia para o Rio de Janeiro, 48 anos antes, o Governador D. Marcos de
Noronha e Barro, oitavo Conde dos Arcos, recebeu a autorização para construir a
sede da Praça do Comércio e em 1816 a entregava pronta. Nasceu assim a
Associação Comercial da Bahia.
Em 1912, o presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Barão de
Ibirocahy, reuniu em sua cidade os presidentes das associações dos estados de
Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Pará, Paraná, Rio de Janeiro e Sergipe.
Nascia assim a Federação das Associações Comerciais do Brasil que, em 1963,
passou a se chamar Confederação das Associações Comerciais do Brasil. Até 1994
a CACB funcionou junto à Associação Comercial do Rio de Janeiro, quando então
constituiu o Núcleo Operacional Brasília. Em 1999, decidiu pela transferência para
Brasília. Em 2002, para melhor representar todos os segmentos da economia, a
entidade passou a se chamar Confederação das Associações Comerciais e
Empresariais do Brasil.
64
Disponível em <http://www.cacb.org.br>. Acesso em: 20 mai. 2007.
103
A CACB reúne 2.038 associações comerciais e empresariais, congregando mais de
dois milhões de empresários, dos diversos segmentos como indústria, comércio,
agricultura, instituições financeiras, serviços e profissionais liberais, através das
federações de associações comerciais.
Como seus associados se reúnem de forma espontânea e sem nenhum vínculo
sindical, a manutenção da CACB depende de serviços prestados para as
associações comerciais e parcerias com as entidades sindicais. Entre esses serviços
estão a Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem – CBMAE e o Instituto Proe –
Programa de Complementação Educacional
65
, que trabalha com estágios e é
concorrente do Instituto Euvaldo Lodi, da Confederação Nacional da Indústria.
2.2.5 Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas - CNDL
A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas - CNDL foi fundada em 21 de
outubro de 1960 reunindo as Câmaras de Dirigentes Lojistas – CDLs que surgiram
no país a partir de 1955 descontentes com a inércia das associações comerciais e
da CNC no sentido de atuar em defesa da classe.
A CNDL é integrada pelas federações dos CDLs de cada Estado, que por sua vez
reúnem as câmaras lojistas e, até mesmo, associações comerciais dos municípios. A
CNDL se intitula a maior entidade representativa do comércio lojista do Brasil
66
.
Como não possui vínculo sindical, atua também com a prestação de serviços para
os seus associados, destacando-se entre eles o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao
Crédito), concorrente da Rede Nacional de Informações Comerciais – Renic que é
gerenciada pelas associações comerciais de São Paulo e Curitiba e que detém a
marca SCPC – Serviço Central de Proteção ao Crédito, o antigo Seproc.
67
65
O Instituto Proe foi criado pelo IDR em setembro de 2002 e logo repassado para a ACIM. Em 2004, o
programa de estágio foi repassado para a CACB, passando a fazer parte de seus serviços oferecidos às
federações filiadas. Disponível em < http://www.proe.org.br/portal/quemsomos.php>. Acesso em: 20 mai. 2007.
66
Disponível em < http://www.cndl.org.br/ >. Acesso em: 20 mai. 2007.
67
O SPC Brasil e a Renic detêm o monopólio do cadastro de inadimplentes no Brasil, uma espécie de cartório
onde são armazenados dados sobre os consumidores em débito em todo o comércio nacional.
104
Não contemplamos nessa apresentação outras entidades de igual prestígio ou
representatividade nacional como a Federação Brasileira de Bancos – Febraban,
que reúne os empresários do setor financeiro; o próprio Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo – Ciesp; o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial – Iedi, fundado em 1989 e que reúne 46 grandes empresários do Brasil
que formulam políticas para o desenvolvimento econômico integrado com o Estado e
a Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base – Abdib, fundada em
1955 e que tem como associados cerca de 160 grupos empresariais das áreas de
Energia Elétrica, Petróleo, Gás e Derivados, Transporte, Construção e Engenharia,
Saneamento Ambiental, Telecomunicações, Indústrias de Base (Mineração/Cimento,
Siderurgia, Papel e Celulose), além de Bancos de Investimentos e outras empresas
de serviços, que se relacionam com o setor de Infra-estrutura.
Com entidades segmentadas e setorizadas com a expressividade das que vimos, é
difícil encontrar uma convergência de interesses e uma entidade que represente por
sua vez e extensão todo o empresariado brasileiro. É por isso, segundo Diniz e
Boschi que “historicamente a classe empresarial notabilizou-se pela ausência de
posições ideológicas claramente definidas, revelando um comportamento
marcadamente pragmático no que se refere a questões de natureza político-
institucional” (DINIZ e BOSCHI, 2004, p. 56, 57). Na esfera nacional, as entidades
com o maior poder econômico tendem a monopolizar o debate e a construir projetos
que determinem a sua hegemonia sobre os demais.
Como vimos no capítulo I, o empresariado passa a ter uma participação mais ativa
na defesa de seus interesses a partir dos anos 1990, com a predominância dos
setores defendidos pela Fiesp, CNI e a Abdib. O Congresso Nacional passa a ser a
arena de atuação desses setores, através da atividade de lobby realizada por
profissionais altamente qualificados, principalmente da área industrial (DINIZ e
BOSCHI, 2004, p. 84). E é aí que surge o Movimento Ação Empresarial, em 1991,
liderado pelas entidades do setor industrial, para acompanhar a tramitação de
projetos de interesses, mais destacadamente a tramitação da Lei de Modernização
dos Portos. Por não estar representado em uma pessoa jurídica, isto é, sem uma
organização formal, o Movimento conseguiu representar uma vasta gama de
105
interesses abrangentes, que afetavam o conjunto do empresariado. É o que
explicam Diniz e Boschi:
(...) a Ação Empresarial caracterizou-se desde o início como um
movimento dotado de alto grau de flexibilidade e de liberdade de
ação, englobando um amplo leque de interesses, atuando em
momentos estratégicos na defesa de aspectos gerais da pauta
empresarial. Além da nova legislação portuária, agiu intensamente
durante a revisão constitucional de 1995 e, posteriormente,
concentrou sua atividade em torno da tramitação da reforma
tributária no Congresso (DINIZ e BOSCHI, 2004, p. 84, 85).
No âmbito da CNI foi criada também no início dos anos 1990 a Comissão de
Assuntos Legislativos – COAL, uma assessoria que tem por objetivo o
acompanhamento do trabalho dos parlamentares, fornecendo informações para
diversas entidades de classe sobre os principais projetos em tramitação no
Congresso e, que, ao mesmo tempo, encaminha aos parlamentares dados, estudos
e sugestões formuladas pelas organizações empresariais. Desde 1996, a Coal edita
a Agenda Legislativa com todas as informações dos projetos que estão sendo
apresentados ou em tramitação. Esse modelo também já vigora nas federações
estaduais, com acompanhamento sistemático das ações das assembléias
legislativas.
Outro exemplo de atuação se dá no final da década de 1990 quando o consenso
sobre a forma de condução do Plano Real já não era o mesmo. Segundo Oliveira
(2003, p.127) sinais de ruptura com o discurso neoliberal e de críticas ao governo de
Fernando Henrique Cardoso tornaram-se freqüentes. Horácio Lafer Piva, presidente
da Fiesp, critica fortemente o afastamento do empresariado dos processos
decisórios governamentais, ao afirmar que a classe tomava conhecimento das
políticas governamentais por meio da imprensa. Critica também a política econômica
do governo, que estaria mais preocupada com questões financeiras do que com o
setor industrial e questiona o tratamento especial ao capital internacional ao mesmo
tempo em que reivindicava isonomia para a empresa nacional (DINIZ, 2000, p.96).
Por isso, a aproximação com o Congresso foi uma estratégia para que o
empresariado nacional pudesse ver aprovados os seus interesses e tivesse uma
106
participação ativa na ação política. Esta é a visão de um dos dirigentes da CNI ao se
referir sobre a Agenda Legislativa:
Aquilo partiu da percepção que passamos a ter na década de 90, de
que era muito melhor, e menos oneroso, em que pese você ter uma
estrutura voltada para o Congresso, você levar as questões de
interesse do setor industrial para discutir no Congresso. Pela
transparência, absoluta transparência, e pela pluralidade. Você não
vai discutir com um membro do Poder Executivo, um secretário (...).
Você vai discutir com um congressista, titular do Poder e que carece
de informações. Ele não tem informações. O Congresso não tem
condições de produzir (informações). Se o setor industrial tem
condições de levar informações que sejam suficientes para
fundamentar o voto do parlamentar sobre uma proposição, é muito
melhor. Vamos lá conversar com cinqüenta deputados, mandar
correspondência para os quinhentos, mas vamos deixar sempre bem
claro o que a gente pensa (DINIZ e BOSCHI, 2004, p. 210, 211).
2.3 O empresariado na conjuntura local
Quando se alterna para a esfera regional e local, o campo de ação política do
empresariado é mais próximo, palpável e de resultados mais expressivos. A atuação
local se dá na representação municipal dos interesses, um local onde a amizade, o
compadrio, a convivência, flexibilizam as relações ao mesmo tempo em que,
dialeticamente, criam entraves difíceis de serem transpostos.
Há uma série de novos estudos sobre a atuação empresarial na esfera local. Todos
eles têm como característica a ausência do dilema da representação empresarial,
tão comum no sub-capítulo anterior. Peres (2001) discute as políticas de
competitividade industrial em cidades do Chile e da Argentina; Celso Daniel (2001)
apresenta como a Câmara Regional do Grande ABC, em São Paulo, reunindo
empresários e trabalhadores, contribuiu para o desenvolvimento econômico de toda
aquela região. Carvalho e Fischer (2003) discutem como foram criadas redes sociais
urbanas através de alianças estratégicas entre moradores e empresários no caso do
Shopping Iguatemi, em Salvador (BA). Silva (2003) analisa como a cultura
organizacional pode ser colocada em ação, desenvolvendo uma forma de poder
invisível, no caso da Siderúrgica Rio-grandense, pertencente ao Grupo Gerdau.
107
Para um melhor entendimento de como é o universo empresarial em Maringá,
apresentaremos a seguir as principais entidades que defendem os interesses do
empresariado.
2.3.1 Associação Comercial e Empresarial de Maringá – ACIM
Nesse caso é importante retomar o que já foi apresentado na Introdução e no
capítulo II quando fizemos uma rápida exposição sobre a ACIM, liderança
hegemônica do Movimento Repensando Maringá.
Fundada em 12 de abril de 1953, um ano e meio depois da criação do Município, foi
a única entidade de representação do empresariado maringaense até 1974 quando
foi criada a Associação dos Lojistas do Comércio, que dois anos mais tarde se
transformou em Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Maringá –
Sincomm, hoje Sivamar. Assim, era natural que muitas questões da cidade
passassem pela ACIM:
A associação passou a ser porta-voz da comunidade em
reivindicações como instalação de agências do Correio e Telégrafo,
Coletoria Federal e Banco do Brasil. (...) a ACIM iniciou uma
campanha para aumento da capacidade da Rede Ferroviária, sendo
atendida em seu pleito. Entre suas primeiras ações de
responsabilidade social, a associação reivindicou postos de
assistência médica, assistência odontológica gratuita para as
crianças pobres, plantão noturno das farmácias e abertura, inclusive
em finais de semana e feriados, e ainda lutou pela abertura de um
ponto do Serviço Social do Comércio na cidade (ACIM, 2006, p. 45).
A ACIM foi a quarta associação do país a montar o Serviço Central de Proteção ao
Crédito - SCPC, em 1962. Apoiou diretamente a criação, em 1963, da Cooperativa
dos Cafeicultores de Maringá, a Cocamar, hoje Coooperativa Agroindustrial de
Maringá. Nos anos 1970 lutou para que as empresas de construção civil da cidade
fossem as responsáveis pela execução de obras de grande porte, como os edifícios,
por exemplo, o que garantiu a vinda para a cidade de empresas de vultosos capitais.
No final dos anos 1980, realizou uma série de protestos contra a política econômica
do Governo Sarney tendo como ponto alto o movimento deflagrado em 19 de
fevereiro de 1987 com a publicação de artigos em jornais, passeatas e protestos. No
dia 26, foi realizado o “Dia do Protesto”, quando o comércio fechou as portas e os
108
empresários foram para praça pública reclamar da política econômica do Governo.
No início dos anos 1990 travou a já relatada “batalha” contra a prefeitura devido a
questão do IPTU; instalou uma “filial” no maior bairro da cidade, o Jardim Alvorada e
criou os conselhos da mulher empresária e dos jovens empresários visando ampliar
a sua capilaridade (ACIM, 2006, p. 61-114).
Em 1994 os reflexos tardios da crise econômica do final da década de 1980 chegam
a Maringá. A economia local sente os efeitos da estagnação e alguns setores são
comprometidos, em especial muitas empresas atacadistas de confecções e facções
industriais, que eram grandes fontes geradoras de empregos na região. A ACIM
realiza um movimento, denominado “13 de Julho”, para protestar contra os juros
altos que penalizavam ainda mais as empresas que estavam em situação
econômica deficitária (ACIM, 2006, p. 115). Este movimento é embrião do projeto
hegemônico que começava a ser apresentado pela Associação Comercial. A política
local também dá sinais de desgaste com a polarização de dois grupos, um do ex-
prefeito e deputado federal Ricardo Barros e o outro do prefeito Said Ferreira. É
nessa mesma época que a entidade cria o Instituto para o Desenvolvimento
Regional - IDR, corpo técnico para criar projetos de desenvolvimento não só para o
município, mas para toda a região Noroeste. Em 1996, já com o projeto hegemônico
definido, lidera o Movimento Repensando Maringá e conquista a sua participação
efetiva na política local em 1997 com a criação do Codem, hoje o conselho que
reúne todas as entidades empresariais e de profissionais liberais da cidade.
Em 1999, tornou-se a primeira associação comercial do sul do país a criar uma
Cooperativa de Crédito para o setor empresarial, o Sicoob Metropolitano, que hoje
atua em várias cidades do Estado do Paraná. Em 2001, foi certificada pelo Instituto
de Tecnologia do Paraná - Tecpar, de acordo com as normas ISO 9002. Nesse ano
também, criou o Instituto de Responsabilidade Social de Maringá – Fundacim, que
tem por objetivo auxiliar o empresariado local em suas ações de responsabilidade
social. Em 2003, a ACIM criou o Proe - Programa de Complementação Educacional,
um agente de integração entre empresas e escolas para a contratação de
estagiários. O Proe, hoje, é um produto repassado para a CACB e está presente em
109
14 estados brasileiros
68
. Em 2004, a ACIM lançou o ACIMCard, um cartão de crédito
para o comércio local, através de uma parceria com o Banco Cooperativo Brasileiro
– Bancoob e a Operadora de Cartões Cabal Brasil
69
(PORTAL ACIM, 2007).
Na missão da ACIM, fruto de um planejamento estratégico, vemos a síntese do
projeto hegemônico, quando esta se coloca como representante de toda a
comunidade, não só da classe empresarial:
A missão da ACIM é integrar e representar a comunidade
promovendo o desenvolvimento, atuando como formadora de opinião
e multiplicadora de conceitos de excelência empresarial, procurando
sempre a qualidade, que implica em constante evolução. Buscando
sempre a integridade, competência e profissionalismo - a mais
eficiente prestação de serviços aos associados e à comunidade.
(PORTAL ACIM, 2007)
2.3.2 Coordenadoria Regional da Federação das Indústrias do Estado do
Paraná – FIEP
A Federação das Indústrias do Paraná, entidade de caráter sindical e que é mantida
pelas associações e sindicatos da indústria, foi criada em agosto de 1944 em
Curitiba. Em Maringá, a Fiep só instalou a sua coordenadoria regional em 1975,
aproveitando a estrutura do Senai – Serviço Nacional da Indústria e do Sesi –
Serviço Social da Indústria, que já funcionavam na cidade. O primeiro coordenador
da Fiep em Maringá foi o empresário Amorim Moleirinho, que também era diretor da
Associação Comercial.
A Coordenadoria da Fiep é formada pelos seguintes sindicatos empresariais:
Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Maringá –
Sindimetal, criado em 1987; Sindicato da Indústria Gráfica de Maringá – Singramar,
criado em 1993; Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá e Região - Sindvest,
fundado em 1990; Sindicato da Indústrias da Construção Civil do Noroeste do
Paraná – Sinduscon-Nor, criado em 1992; a Associação de Produtores de Álcool e
Açúcar do Estado do Paraná, criada em 1981 e que engloba os sindicatos da
68
Disponível em <http://www.proe.org.br>. Acesso em: 29 abr. 2007.
69
A Cabal Brasil é uma subsidiária do Sistema Cabal criado na Argentina em 1980 e que já opera em países
como Chile, Uruguai, Paraguai e Cuba. Disponível em <http://www.cabal.com.br/1historico.htm>. Acesso em:
29 abr. 2007.
110
Indústria de Fabricação de Álcool do Paraná – Sialpar e da Indústria de Açúcar do
Estado do Paraná – Siapar; Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e
Acessórios de Maringá – Sindirepa, criado na década de 1990 e o Sindicato da
Indústria de Curtimento de Couro do Paraná – Siccpar, criado em 1980.
Em Maringá, a Coordenadoria da Fiep administra o Sesi, o Senai e o Instituto
Euvaldo Lodi – Iel, um organismo que faz a intermediação de estágios de estudantes
universitários para a indústria.
Desde 2000, a coordenadoria regional da Fiep indica o vice-presidente para
Assuntos da Indústria da Associação Comercial, cargo este que já está
institucionalizado. Para a gestão 2006-2008, da ACIM, o seu 1º. Vice-presidente é o
atual coordenador da Fiep, o empresário Paulo Meneguetti.
2.3.3 Sindicato dos Lojistas do Comércio e do Comércio Varejista de Maringá e
Região – Sivamar
Fundado em 1974 como Associação dos Lojistas do Comércio, obteve a carta
sindical em 1976, passando a se chamar Sindicato do Comércio de Maringá –
Sincomm, tendo como seu primeiro presidente o empresário Luiz Júlio Bertin que
havia sido presidente da ACIM em 1974 e 1975. O sindicato atua na representação
dos interesses dos lojistas da cidade e tem sua base territorial em 19 outros
municípios. Atualmente possui 4.500 empresas associadas e possui uma Câmara de
Conciliação Trabalhista, junto com o Sindicato dos Comerciários, para a resolução
de conflitos no comércio
70
.
Desde 1997, quando o ex-presidente da ACIM, Massao Tsukada, assumiu o
sindicato e mudou o nome para Sivamar, mantém estreito relacionamento com a
ACIM, assinando em conjunto com esta entidade todas as campanhas e ações
promovidas em Maringá. Também, desde 2000, o sindicato indica o vice-presidente
para Assuntos do Comércio da ACIM, cargo já institucionalizado. O atual presidente
70
Disponível em <http://www.sivamar.com.br/website/>. Acesso em: 20 mai. 2007.
111
do Sivamar (2006-2007), Adilson Emir Santos, é o vice-presidente do Comércio da
ACIM.
Em 2006 o Sivamar se filiou ao Sistema Fecomércio que desde os anos 1970
mantém em Maringá a estrutura do Sesc – Serviço Social do Comércio e do Senac –
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.
2.3.4 Outras entidades de segmentos diversos
Há outros sindicatos que representam empresários de diversos grupos de
interesses. O setor de comércio e varejo, por exemplo, possui outras três entidades
de representação: o Sindicato do Comércio Varejista de Ferragens, Tintas,
Madeiras, Materiais Elétricos, Hidráulicos e Materiais de Construção de Maringá e
região – Simatec, fundado em 1987 e que atua em 13 municípios; o Sindicato do
Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Maringá – Sincofarma e a
Associação dos Revendedores de Combustíveis de Maringá e Região – Arcomar,
criada em 1997.
Os empresários dos bares, hotéis e restaurantes são representados pelo Sindhotel –
Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Maringá, fundado em
1957, mas que só passou a atuar como sindicato reconhecido em 1991. Os agentes
imobiliários estão representados no Sindicato da Habitação e Condomínios – Secovi,
que reúne as empresas de compra, venda, locação, administração, incorporação e
loteamentos de imóveis, e dos edifícios em condomínios residenciais e comerciais.
Os empresários do setor educacional são representados pelo Sindicato dos
Estabelecimentos Particulares de Ensino do Noroeste do Estado do Paraná –
Sinepe-NoPr, que engloba também os sindicatos das Academias e Atividades Afins
– Sinacad, das Escolas Particulares de Idiomas – Sindiomas; das Escolas
Particulares de Educação Infantil – Sinfantil e das Escolas Prestadoras de Cursos
Livres Particulares – Sindilivre. Há também a representação dos empresários do
setor de saúde que se agrupam no Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de
Serviços de Saúde de Maringá – Sindihospital.
112
Há também uma série de outras entidades que representam os profissionais liberais,
categoria que se destaca em Maringá pelo fato de ser um pólo regional de prestação
de serviços. Se não são considerados como empresários, os profissionais liberais,
em sua maioria, são empreendedores de suas carreiras e, hoje, já são admitidos no
quadro de associados da ACIM e possuem assento nas câmaras técnicas do
Codem.
Como vimos, em Maringá a maioria das entidades de representação do
empresariado possui caráter sindical e, por conta disso, atua em uma área
específica de defesa dos interesses da classe. Existem outras associações civis com
o caráter de promover o segmento, como a Associação Paranaense de
Supermercados – Regional Noroeste – Apras ou a Associação dos Comerciantes de
Material de Construção de Maringá e Região – Acomac. No entanto, todas elas sem
exceção e todos os sindicatos estão representados na ACIM, bem como possuem
assento no Codem. É a máxima que pautou a entidade desde o início do Movimento
Repensando Maringá e expressa pelo seu ex-presidente e um dos líderes daquele
movimento, Jefferson Nogaroli
71
: “uma entidade é tão forte quanto seu poder de
mobilização” (ACIM, 2006, p. 142).
2.4 Considerações
Na esfera local e pelas circunstâncias da própria formação da cidade de Maringá, o
empresariado que se formou ao longo dos anos se constituiu de pequenos e micros
empreendedores, com perfis heterogêneos e segmentados. Pela falta de indústrias e
grandes conglomerados, o empresariado local se caracterizou por atuações
endógenas, voltadas para o seu próprio interesse, sem ter uma ligação maior com o
que acontecia na esfera nacional.
A ACIM, por ser a primeira entidade a reunir os empresários locais – a maioria
pequenos comerciantes -, e por seu envolvimento direto com as questões do
município, efetivamente após apoiar abertamente a campanha do prefeito João
Paulino Vieira Filho, em 1960, tornou-se a líder circunstancial do empresariado. Por
71
Sobre a atuação desse empresário falaremos mais adiante.
113
isso, diversas ações que comandou nos anos 1960, 1970 e 1980 tiveram a
característica de um posicionamento de vanguarda. O enfraquecimento do Estado,
principalmente no plano municipal, a partir da década de 1990, possibilitou a
construção de um projeto que viesse a se tornar dirigente e colocasse o
empresariado à frente da condução dos rumos da cidade. Gramsci (1991) havia
previsto isso ao comentar sobre os movimentos dos grupos que querem dominar o
Estado: “Nas lutas atuais muitas vezes verifica-se esse fenômeno: uma organização
estatal debilitada é como um exército enfraquecido; entram em ação os grupos de
assalto, isto é, as organizações armadas privadas” (GRAMSCI, 1991, p. 70).
Em sentido inverso ao que Gramsci previu para os trabalhadores, podemos inferir
que para o empresariado maringaense, em determinado momento, tornou-se
necessário ser:
(...) uma classe dirigente antes mesmo de ser uma classe
dominante, impor sua própria direção intelectual e moral, desagregar
o bloco ideológico superestrutural do adversário e fazer explodir suas
contradições para (...) criar um novo sistema hegemônico capaz de
destruir a retaguarda do inimigo (MACCIOCCHI, 1980, p. 160).
Gramsci apontava como um problema histórico a questão da força hegemônica se
manter enquanto tal após a conquista do poder, mas esclarecia que a representação
da força hegemônica deve vir antes da conquista do poder (MACCIOCCHI, 1980, p.
143). As ações da ACIM nos dão base para interpretar a sua constituição como força
hegemônica, que depois unificará todos os participantes do Movimento Repensando
Maringá, antes mesmo de iniciar o processo que culminará com a criação do
Codem: a participação na criação da Cocamar, em 1963; a participação na criação
da UEM, em 1970; as mudanças no plano diretor do município para beneficiar os
agentes imobiliários, os protestos contra a política econômica do Governo Sarney e
o Movimento 13 de Julho. Após a constituição do Codem, em 1997, exerce a sua
hegemonia sobre o conjunto de entidades, por ações como a criação da primeira
cooperativa de crédito dos comerciantes, em 1999; pela conquista da ISO 9002, em
2001; pela criação do Instituto de Responsabilidade Social de Maringá, também em
2001; pela criação do Programa de Complementação Educacional, agente de
estágios entre empresas e estudantes, com o objetivo de vender facilidades para
114
estudantes e empresas, em 2003; e pelo lançamento do seu próprio cartão de
crédito, o ACIMCard, em 2004.
Ao conseguir desenvolver e manter essas ações, a ACIM deixa de depender de
qualquer agente externo, inclusive nacional, e consolida-se como a “dirigente” e
“dominante” do processo que envolve outras entidades e que se apresenta como
projeto hegemônico, isto é, o Codem.
115
Capítulo III
Os projetos de afirmação do empresariado
(...) o diálogo do setor privado com o Governo está
no nível mais baixo da história. A burocracia estatal
se tornou auto-suficiente e arrogante e desrespeitou
a experiência do empresariado industrial e do setor
financeiro. Ressalvadas as exceções, eles não nos
ouvem e, quando ouvem, não acreditam.
Eugênio Staub
72
72
Diretor-presidente da Gradiente e presidente do Conselho Diretor do Iedi. In Diniz (2000, p.96).
116
3.1 O início
O Movimento Repensando Maringá foi oficialmente lançado em 1996. Sua gênese,
entretanto se dá dois anos antes quando o presidente da ACIM, Massao Tsukada
incita uma discussão sobre o papel do empresário na política, o que foi alvo de
ampla reportagem na Revista ACIM n. 341, conforme já apresentamos na Introdução
desse trabalho. Tsukada já possuía uma experiência política tendo sido vereador na
gestão 1983-1988, eleito como o segundo mais votado pelo PDS – Partido
Democrático Social, com 1.415 votos, se licenciando no último ano do mandato para
disputar a eleição como candidato a vice-prefeito. Derrotado, continuou na política
até ser eleito presidente da ACIM no final de 1991 para a gestão 1992/1994.
Nossa principal fonte revela que nesse período a ACIM vive um de seus melhores
momentos com diversas ações de valorização dos associados que chegam, ao
último ano do mandato de Tsukada, ao expressivo número de 1.600 filiados.
Algumas ações estratégicas são realizadas para colocar a entidade como destaque
na representação empresarial. Na época, a ACIM e o Sivamar, o sindicato do
comércio varejista, tinham um relacionamento difícil e Tsukada resolveu entrar na
“área” do sindicato
73
e “intensificou os trabalhos das Consultorias Tributária, Fiscal e
Trabalhista”, setores onde tradicionalmente os sindicatos atuam fortemente (ACIM,
2006, p. 111). Para colocar a entidade ainda mais próxima dos comerciantes dos
bairros, abriu uma filial da ACIM no Jardim Alvorada, o maior bairro de Maringá e
promoveu a 1ª. Feira Ponta de Estoque, beneficiando pequenos comerciantes. Outra
ação importante da gestão Tsukada foi assumir a Casa Mercosul, na época um
órgão criado pela Prefeitura, com apoio técnico do Sebrae, para fomentar o comércio
exterior, mas que não conseguia avançar. Para coordenar a área de comércio
exterior da ACIM, Tsukada convidou o jovem empresário do setor supermercadista
Jefferson Nogaroli que já era o seu segundo vice-presidente. Nogaroli terá um papel
fundamental em todo o processo do Movimento Repensando Maringá, participando,
73
Três anos depois, em 10 de abril de 1997, Massao Tsukada tomou posse como presidente do Sivamar depois
de derrotar a chapa de situação, comandada pelo empresário Luiz Júlio Bertin, ex-presidente da ACIM e que
estava há mais de vinte anos dirigindo o Sindicato do Comércio.
117
inclusive, do seu núcleo gerador, estruturando as bases de sustentação do
movimento: o PNBE, o Pró-UEM e o IDR.
74
Nenhum movimento começa do nada. Não existe nenhuma ação que seja
desprovida de um intento, que seja neutra. No processo de construção de seu
projeto hegemônico, a ACIM utilizou uma lógica para conseguir convencer o
segmento empresarial de seus projetos e idéias. Teve a colaboração, é verdade, do
momento político que a cidade vivia – a polarização de dois grupos políticos – e da
tensa situação econômica pela qual o país ainda passava. Neste capítulo, veremos
as duas principais articulações que fazem parte da gênese do movimento de
repensar a cidade, de recolocá-la no trilho do desenvolvimento econômico, da
prosperidade, da geração de emprego e renda, conforme apregoavam seus
idealizadores. Veremos também sobre a criação de um instituto de desenvolvimento
que foi o início de todo o processo. Nessas três articulações teremos a presença de
intelectuais que deram sustentação às ações. Finalizaremos o capítulo com uma
ação direta da entidade, onde mostrou a sua cara para a população, saiu na rua e
teve o apoio de setores antes inatingíveis, como comerciários e estudantes.
3.2 O Núcleo Regional do Pensamento Nacional das Bases Empresariais -
PNBE
No dia 15 de setembro de 1993, o presidente da ACIM, Massao Tsukada trouxe a
Maringá o empresário Emerson Kapaz para participar de um seminário promovido
pelo Conselho do Jovem Empresário da ACIM, com apoio do Sebrae. Kapaz, dono
da empresa Elka Plásticos e presidente da Associação Brasileira das Indústrias de
Brinquedos – Abrinq, havia acabado de sair de uma disputa eleitoral que o projetara
74
Jefferson Nogaroli é natural de Astorga – Pr., onde nasceu em 1964. Seu pai, Valdir Nogaroli, abriu um
pequeno mercado em Maringá, em 1982, no Parque das Palmeiras, na época um bairro da periferia de Maringá.
O Supermercado São Francisco cresceu rápido e, em pouco mais de 10 anos já contava com 4 lojas, sendo uma
em Paranavaí – Pr e outra em Dourados – MS (hoje são 13 lojas). Nogaroli assumiu os negócios da família ainda
muito jovem e foi o responsável pela ampliação dos negócios. Em 1989, aos 25 anos, foi convidado para ser o
presidente da regional da Associação Paranaense de Supermercados – Apras, não conseguindo concluir o curso
de Geografia que havia começado na UEM. Em 1992 assumiu a 2ª. Vice-presidência da ACIM, na gestão de
Massao Tsukada. Foi diretor de Comércio Exterior por seis anos, de onde saiu em 1998 para assumir a
presidência da entidade. No seu mandato, implantou o sistema de reeleição e assumiu mais um mandato de 2000
a 2002. Ao deixar a diretoria da ACIM, assumiu a Federação das Associações Comerciais do Estado do Paraná –
FACIAP, onde ficou por dois mandatos até o início de 2006. Atualmente é o vice-presidente do Sebrae-Pr e
presidente da Central das Cooperativas de Crédito do Sistema Sicoob no Paraná.
118
para o cenário nacional. Fora candidato de oposição à presidência da Fiesp,
criticando duramente o presidente daquela entidade, Mario Amato, e o presidente da
CNI, Albano Franco. Mesmo sendo derrotado, ganhou projeção
75
pelo seu estilo
crítico e por assumir, em 1992, a coordenação do PNBE, um movimento empresarial
criado em junho de 1987 que se propunha ser o aliado de uma grande quantidade
de empresários descontentes com os rumos tomados por suas bases, que os alijava
dos processos decisórios.
Em Maringá, Kapaz falou para uma platéia de empresários no Hotel Deville (foto 4) e
deu uma série de reportagens para a imprensa. A Revista ACIM, edição de outubro
daquele ano, deu destaque para a visita publicando uma entrevista com o
empresário e fazendo uma matéria especial sobre a palestra. As informações que
retiramos dessa fonte nos fornecem dados importantes para identificarmos as
premissas do futuro movimento. Eis a própria fala de Kapaz:
Hoje nós estamos presentes em vários estados do Brasil e a
preocupação é ter um pensamento nacional empresarial e não um
pensamento do sul ou do sudeste. O PNBE foi um dos articuladores
das negociações do pacto no Governo Collor e principal negociador
com as classes sindicais de saídas para a crise. Nós temos
condições hoje de elaborar propostas de reforma fiscal, tributária e
saídas negociadas na questão da Revisão Constitucional. Estamos
articulando a atuação do empresário na Revisão e achamos que isso
é extremamente importante no momento em que o país vive, para
conseguirmos sair deste impasse e realizarmos as reformas
estruturais que precisam ser feitas (REVISTA ACIM, n. 337, 1993, p.
05).
Em um dos momentos de seu discurso, Kapaz chamou os empresários para a ação:
“o empresário não pode mais se preocupar apenas com a sobrevivência de sua
empresa. Vivemos a era da globalização da economia e se o país estiver mal, isso
acabará se refletindo nas empresas” (REVISTA ACIM, n. 337, 1993, p. 16). Esse
mesmo discurso será usado no futuro, pelo Movimento Repensando Maringá, para
destacar que se a cidade fosse mal, os negócios empresariais também iriam.
Identificamos também, em um trecho da reportagem, a utilização do termo
“sociedade” para designar a classe empresarial: “um dos objetivos do PNBE é
75
Emerson Kapaz foi eleito deputado federal pelo PSDB de São Paulo em 1999, transferindo-se depois para o
PPS. Foi Secretário de Ciência e Tecnologia de São Paulo, no governo Mário Covas. Atualmente é o presidente
do Instituto Etco – Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial.
119
justamente organizar o meio empresarial no sentido de conscientizar a sociedade do
papel importante que ela pode desempenhar na vida do país” e complementava,
como um vaticínio: “podemos nos organizar em nível local. A médio prazo
passaremos a pressionar as esferas estaduais, até chegarmos a um movimento
nacional” (REVISTA ACIM, n. 337, 1993, p. 16).
Foto 4
Emerson Kapaz, ao lado de Jefferson Nogaroli, fala aos empresários
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
A pregação de Emerson Kapaz deu resultados e no primeiro dia de dezembro
daquele ano, em um jantar empresarial, a ACIM lançava o Núcleo Regional do
PNBE. Para o “batismo” do grupo, que consistia em abonar as fichas dos 27 filiados,
Kapaz foi novamente o convidado especial. O empresário e vice-presidente da
ACIM, Jefferson Nogaroli, foi escolhido para ser o coordenador regional. Na ocasião,
após pesadas críticas ao presidente Itamar Franco e ao seu ministro Fernando
Henrique Cardoso, Kapaz anunciou que “o PNBE está preparando e vai discutir um
Projeto de Desenvolvimento para o Brasil. Vamos interferir nos programas de
governo dos candidatos que tiverem afinidade maior com nossas idéias” e concluía
destacando que o projeto seria consistente, “com a expectativa de resultados a
curto, médio e longo prazo” (REVISTA ACIM, n. 339, 1993, p.15).
120
Nessa mesma ocasião, Jefferson Nogaroli profere um dos seus primeiros discursos,
de muitos que viriam, sobre a participação do empresariado maringaense na
condução dos destinos da cidade:
Nosso país é o 5º. do mundo em extensão, possui terras produtivas,
tem recursos hídricos, energéticos e humanos em abundância e o 7º.
mercado consumidor do mundo. Em contrapartida, somos o 70º. país
em qualidade de vida (...) um país como o Brasil não pode permitir a
existência de 35 milhões de indigentes ou desaparecimento de 400
mil crianças que morrem de fome por ano. Que país é este? Não
podemos assistir esta situação de maneira passiva (REVISTA ACIM,
n. 339, 1993, p. 15).
E alertava sobre a situação local:
Maringá possui 11.700 famílias indigentes, aquelas que tem renda
suficiente apenas para adquirir uma cesta básica. Nossa região
metropolitana tem 350 mil habitantes, dos quais 68 mil são
indigentes. Isto representa um relógio prestes a explodir. O que gera
a violência é a miséria (...) falta força de vontade a muitos
empresários que só sabem reclamar. Para mudar o Brasil
precisamos organizar a sociedade civil. Se as coisas não estão boas,
é hora de parar e discutir saídas para termos um país melhor
(REVISTA ACIM, n. 339, 1993, p. 15).
É a própria Revista ACIM que informa, na já mencionada edição de março de 1994,
quando publicou a matéria sobre o Empresário e a Política, que o exemplo de Kapaz
e a criação do Núcleo Regional do PNBE foram “a faísca que faltava para acender a
fogueira” (REVISTA ACIM, n. 341, 1994, p. 07).
Entretanto, o Núcleo Regional do PNBE teve dificuldades de avançar. O próprio
órgão oficial da ACIM dá pouca visibilidade a ele, talvez pela mudança da diretoria
ocorrida em abril de 1994, quando assumiu a presidência da entidade o empresário
do setor imobiliário Pedro Granado Martines, embora o seu coordenador, Jefferson
Nogarolli tenha continuado na diretoria. Há uma pequena nota na seção Capital de
Giro na edição de abril daquele ano informando da visita do secretário executivo do
PNBE, Alfredo Sette, que veio “concretizar o núcleo regional do órgão na cidade”
(REVISTA ACIM, n. 342, 1994, p. 29). Na edição de maio há outra pequena
referência ao trabalho do PNBE com o movimento sobre ética na política e só. As
ações se resumiram a reuniões internas e a estudos de acompanhamento da
121
economia nacional. Entretanto, a “faísca” já havia começado o fogo, conforme a
Revista ACIM.
3.3 A Associação Pró-Desenvolvimento da Universidade Estadual de Maringá -
Pró-UEM
Em outubro de 1993 o professor Joilson Dias, docente da Universidade Estadual de
Maringá – UEM
76
, acabara de retornar de um período de estudos e pesquisas nos
Estados Unidos, onde havia concluído o Doutorado em Economia pela Universidade
da Carolina do Sul, em 1991, e onde permanecera até aquele ano desenvolvendo
um projeto de pesquisa sobre Agência de Desenvolvimento e dando aulas de Micro
e Macroeconomia no campus de Fort Jackson. O currículo do professor “chamou a
atenção do então diretor de Comércio Exterior da ACIM, Jefferson Nogarolli” que o
aproximou da ACIM uma vez que este recebera algumas propostas de outras
universidades para sair de Maringá (ACIM, 2006, p. 113).
Dias apresentou aos empresários a idéia de criar em Maringá uma Agência de
Desenvolvimento nos moldes da que trabalhou em um projeto similar nos EUA.
Numa primeira reunião na sede da ACIM, noticiada no dia 30 de outubro pelos
jornais Correio de Maringá e Jornal do Povo e no dia 31 pelo jornal Folha de
Londrina, a entidade reuniu empresários e executivos do Banestado, Banco do
Brasil, Sebrae, Prefeitura, Sindvest, Sincomm (Sindicato do Comércio), Cocamar,
Sindimetal e Sindirepa para ouvirem o professor. Das primeiras reuniões surgiu a
necessidade de envolver a UEM, até porque Dias tinha vínculo profissional com a
Universidade.
Nessa mesma época um grupo de empresários, profissionais liberais e professores
da UEM iniciaram uma série de entendimentos visando fortalecer aquela instituição e
aproximá-la da comunidade empresarial. Entre os motivos, alguns específicos como
a questão da autonomia universitária e a evasão de professores, notadamente
76
O professor Joilson Dias esteve de 1987 a 1991 realizando os estudos de Doutorado em Economia na
Universidade da Carolina do Sul. Entre 1991 e 1993 trabalhou no South Carolina State Development Board,
como assistente de pesquisas e comunicações, atuando na análise do perfil de empresas nacionais e
internacionais nos Estados Unidos e deu aulas no College Of Business Administration da Universidade da
Carolina do Sul. Retornou aos Estados Unidos entre 2001 e 2003 para fazer o Pós-doutorado como bolsista do
CNPq.
122
mestres e doutores (ACIM, 2006, p. 113). Em uma reunião na Biblioteca Central da
UEM, no dia 18 de novembro de 1993, foi organizada oficialmente a Associação Pró-
Desenvolvimento da Universidade Estadual de Maringá – Pró-UEM, tendo como
coordenador da Assembléia de fundação o engenheiro agrônomo e presidente do
Sindicato Rural, Anníbal Bianchini da Rocha. Na reunião, Bianchini
Expôs as razões que levaram um grupo de cidadãos à formulação de
uma proposta de constituição de uma associação que se dedicasse a
promover a integração universidade-comunidade, visando ao
fortalecimento da universidade e ao apoio científico e tecnológico
para projetos da região noroeste do Paraná (PRÓ-UEM, 1993).
O primeiro item que consta dos objetivos sociais do Pró-UEM, aprovado no Estatuto
Social naquela noite, dizia que a nova associação deveria “aproximar as culturas
universitária, empresarial e comunitária, desenvolvendo a mentalidade de projetos
em parceria, fundamentados em bases científicas e tecnológicas”. Todos os
presentes à reunião foram admitidos como sócios fundadores, além dos membros
natos (reitores e ex-reitores da UEM). O Estatuto também deixava aberta a adesão
de novos sócios, ex-alunos da graduação ou pós-graduação, além de pessoas
físicas ou jurídicas que demonstrassem interesse em trabalhar pela Universidade.
Conforme o artigo três, parágrafo terceiro, do Estatuto do Pró-UEM, as pessoas
jurídicas admitidas seriam: “federações de classe, associações de classe,
associações profissionais, associações rurais, clubes de serviços, cooperativas de
produção rural, sindicatos e lojas maçônicas” (PRÓ-UEM, 1993).
Dois diretores da ACIM faziam parte do grupo de fundadores do Pró-UEM: o
presidente Massao Tsukada e o diretor de comércio exterior, Jefferson Nogaroli. Os
demais sócios fundadores foram: o ex-prefeito Ricardo Barros, o reitor Décio
Sperandio
77
, os professores João Lino de Oliveira (Sinteemar), Aroldo Xavier, Leonel
Ricardo Sheller, Manoel Jacó Garcia Gimenes e Luiz Antonio de Souza (vice-reitor);
os advogados Roberto Verdade (representando as Lojas Maçônicas), Luiz Lourenço
(presidente da Cocamar), Paulo Roberto Pereira de Souza (também professor) e
Odair Vicente Moreschi; os empresários, além de Tsukada e Nogaroli, João Noma
(representando a Fiep) e Leonildo Carnevalli; o médico Antonio Mestriner (Rotary
77
Coincidentemente o professor Décio Sperandio é novamente reitor da UEM no ano que redigimos esse
trabalho.
123
Clube), o promotor de justiça Joel Coimbra, o veterinário Néri Fabre (da Sociedade
Rural), o técnico administrativo José Carlos Gomes (funcionário da UEM) e os
engenheiros agrônomos e civis Anníbal Bianchini da Rocha (Sindicato Rural), Valter
Progiante (Lions Clube), Francisco Scarpari Neto (Cooperativa Agrícola de Goioerê),
Paulo Sérgio Magalhães Silva (Associação dos Empreiteiros de Obras Públicas),
Sidnei Aparecido Baroni (Associação dos Engenheiros Agrônomos) e João Carlos
Seravalli (Associação dos Engenheiros e Arquitetos). Embora presentes na reunião,
o arcebispo de Maringá, D. Jaime Luiz Coelho, e o presidente da Câmara Municipal,
vereador Nereu Vidal Cezar, não constaram como sócios fundadores (PRÓ-UEM,
1993). Massao Tsukada, presidente da ACIM, foi eleito membro do Conselho
Consultivo e vice-presidente da Diretoria Executiva que tinha o advogado e
presidente da Cocamar, Luiz Lourenço, como presidente.
O Pró-UEM foi a primeira iniciativa que envolveu um número maior de entidades
para aproximar pessoas da comunidade à UEM, todavia sem nenhuma ingerência
nas ações, projetos e administração da Universidade. Prova disse é que o Conselho
Universitário – COU e o Conselho de Administração – CAD só foram se abrir para a
participação de membros da comunidade local e regional em 1998
78
.
Uma das primeiras ações do Pró-UEM foi trazer o economista Nelson Antonio
Camacho, professor e diretor técnico da Assessoria de Planejamento Orçamentário
da Universidade de Campinas – Unicamp, para uma palestra
79
. No dia 13 de janeiro
de 1994, Camacho falou para um grupo de empresários, professores da UEM e
diretores do Pró-UEM, na sede da ACIM, sobre a importância da universidade abrir
as portas para a iniciativa privada e sobre a questão da autonomia, implantada na
Unicamp no período de 1990 a 1993. Questionado sobre a parceria entre
universidade e empresas, Camacho defendia essa integração:
Nós consideramos esse contato de fundamental importância para os
dois lados, porque tudo aquilo que é desenvolvido dentro da
universidade é repassado para o setor industrial. Por outro lado, esse
contato é importante para as linhas de pesquisa da própria
78
Resolução nº 001/98-COU, de 16/03/1998.
79
Nelson Antonio Pereira Camacho se graduou em Economia na UEM, em 1970. Fez pós-graduação na PUC de
São Paulo e Doutorado em Economia na Unicamp, onde exerceu cargos de direção de 1972 a 1996. É autor do
livro O custo do aluno universitário: subsídio para uma sistemática de avaliação na Unicamp. Campinas,
Editora da Unicamp, 1993.
124
universidade. Nós temos hoje 800 empresas que são parceiras da
Unicamp (REVISTA ACIM, n. 340, 1994, p. 06).
No mesmo evento, o presidente do Pró-UEM, Luiz Lourenço, também defendia a
parceria da universidade com empresas, enfatizando o discurso de que a
universidade deveria servir à cidade: “a universidade deve estar direcionada para
atender a vocação sócio-econômica da sua região de abrangência” (REVISTA ACIM,
n. 340, 1994, p. 18). Para que isso pudesse acontecer, Camacho defendia a
autonomia da UEM:
Foi o que fizeram as universidades públicas do Estado de São Paulo.
Elas conquistaram autonomia financeira e quando viram que os
recursos destinados pelo governo eram insuficientes, abriram suas
portas para a iniciativa privada. No caso da Unicamp estas
associações possibilitaram, no ano passado, um crescimento de 25%
sobre a arrecadação de 1992, algo em torno de US$ 20 milhões
(REVISTA ACIM, n. 340, 1994, p. 18).
O presidente da ACIM também defendida a autonomia como alavanca para o
desenvolvimento: “Os investimentos serão feitos em áreas definidas de prioridade
para a melhoria do ensino, da pesquisa, e do relacionamento com a comunidade.
Melhor gerenciadas, as instituições vão estimular o desenvolvimento do Paraná
(REVISTA ACIM, n. 340, 1994, p. 18). Já o reitor da UEM, professor Décio
Sperandio, apostava no sucesso do Pró-UEM e dizia que já era hora da
universidade se abrir para a região: “Será um caminho de mão dupla cheio de
benefícios para ambas as partes. Vamos trabalhar ao lado da comunidade que
estará mais sensível aos problemas da instituição” (REVISTA ACIM, n. 340, 1994, p.
18).
A aproximação entre empresários e a UEM acabou se resumindo a discussões
acerca da autonomia universitária e audiências com o secretário de Estado da
Ciência e Tecnologia e o governador do Paraná. Em uma dessas audiências, em
julho de 1994, o presidente da ACIM, Pedro Granado Martines, acompanhou os
diretores do Pró-UEM na solicitação de verbas para o Hospital Universitário. Na
ocasião o governador Mário Pereira atendeu as reivindicações do grupo
maringaense (REVISTA ACIM, n. 346, 1994, p. 29). Na edição de outubro da Revista
ACIM, o presidente Pedro Granado fazia uma avaliação da atuação política da
entidade e destacava:
125
Essa atuação política não diz respeito à atuação junto a partidos,
mas na vida comunitária. Participamos ativamente, por exemplo, do
Pró-UEM, que ajudamos, junto com empresários e com o ex-reitor
Décio Sperandio, a buscar verbas do Governo do Estado para o
término do Hospital Universitário e outras obras. Sugerimos também
que o Unibanco fizesse a indicação de verbas para a compra de
equipamentos para o HU, através do Pró-UEM (REVISTA ACIM, n.
348, 1994, p. 03).
No dia 10 de outubro de 1994 assumia a reitoria da UEM o professor Luiz Antonio de
Souza, um dos fundadores do Pró-UEM. Seu discurso sobre a autonomia era de que
deveria ser adequada para manter normalmente as atividades universitárias e que
não poderiam aceitar “qualquer tipo de autonomia” (REVISTA ACIM, n. 348, 1994, p.
07). Sobre a aproximação da UEM com a comunidade, principalmente sobre a idéia
que havia de que a Avenida Colombo “separava” a Universidade da comunidade,
Souza dizia: “Vamos tentar. Mas quero salientar que não é só a universidade que
deve atravessar a Colombo. A comunidade também tem que pensar em medidas
que aproximem a UEM, para que haja um intercâmbio maior entre universidade e
comunidade” (REVISTA ACIM, n. 348, 1994, p. 08).
Em dezembro de 1994, por iniciativa do Pró-UEM e com a participação direta da
ACIM, foi assinado um convênio entre a Universidade e os empresários criando o
Serviço de Estágio Remunerado – SER, coordenado pelo professor Tadeu França,
que havia sido vereador, deputado estadual e deputado federal por Maringá. No final
do primeiro semestre letivo de 1995, o programa já contava com 200 empresas e
400 alunos cadastrados. O presidente da ACIM destacava o anseio da classe
empresarial em aproveitar os recursos da UEM: “o interesse da classe empresarial
demonstra que a sociedade necessita e quer aproveitar melhor os recursos
humanos formados pela UEM” (REVISTA ACIM, n. 353, 1995, p. 26). Ainda em
1995, a ACIM e o Instituto de Línguas da UEM formalizam um convênio para um
curso de espanhol voltado para empresários que negociavam com o Mercosul. A
iniciativa foi do diretor Jefferson Nogaroli, membro fundador do Pró-UEM (REVISTA
ACIM, n. 353, 1995, p. 24). Durante o ano de 1995, por conta dessa aproximação
entre a UEM e os empresários, professores e pesquisadores da universidade são
convidados a escrever artigos para a Revista ACIM. Na edição de junho, o professor
do Departamento de Administração, Francisco Giovanni David Vieira, escreve artigo
sobre o equívoco da aceitação do cheque pré-datado para concessão de crédito
126
(REVISTA ACIM, n. 355, 1995, p. 34); na edição de julho, o professor do
Departamento de Economia, Joilson Dias, escreve sobre os juros elevados e os
créditos existentes no mercado (REVISTA ACIM, n. 356, 1995, p. 32); na de
novembro, o professor do Departamento de Ciências Sociais, José Carlos Alcântara,
escreve sobre o perfil para o próximo prefeito de Maringá, incitando a participação
dos empresários na sugestão de planos de governo (REVISTA ACIM, n. 360, 1995,
p. 28).
Em 1996, o Pró-UEM
80
acabou sendo superado pelo Movimento Repensado
Maringá que tinha objetivos mais amplos e que trouxe também para junto de si a
discussão com a universidade, agora não mais representada somente pela UEM,
mas também pelo Centro Universitário de Maringá – Cesumar, faculdade privada,
que começava a formar as suas primeiras turmas
81
.
Percebemos, como já nos orientava Gramsci, que o projeto hegemônico que estava
em curso pela ACIM necessitava da presença e participação de intelectuais, isto
para lhe dar homogeneidade e consciência, segundo o pensador italiano, “não
apenas no campo econômico, mas também naquele social e político” (GRAMSCI,
1975, p. 1513, tradução nossa). O intelectual atua como o “organizador de uma nova
cultura”, de um “novo direito”, ideologias que servirão de orientação para a
organização das massas humanas. É por meio delas que um determinado grupo
adquire consciência da importância de sua função na totalidade social e se torna
dirigente ao mesmo tempo em que cria as condições favoráveis à sua máxima
expansão e desenvolvimento (FAVARETTO, 2005, p. 95).
3.4 O Instituto para o Desenvolvimento Regional - IDR
A aproximação entre a ACIM e a UEM abriu caminho para que o professor Joilson
Dias pudesse levar adiante o seu projeto de implantar uma Agência de
80
Desativado em 1996 o Pró-UEM foi reorganizado em 2005, quando houve uma Assembléia Geral
Extraordinária no dia 6 de julho, na Prefeitura. Na ocasião, o ex-reitor Luiz Antonio de Souza (1994-1998)
“lembrou que a associação desempenhou um papel político muito importante na história da UEM, em especial, o
papel político porque muitas das negociações efetivadas com o governo do Estado somente foram possíveis
graças à intermediação da entidade. Por meio do Pró-UEM, a comunidade passou a considerar a Universidade
como um patrimônio dela mesma” (Ata da Assembléia Geral Extraordinária do Pró-UEM, 06/07/2005).
81
Sobre o Cesumar trataremos mais adiante.
127
Desenvolvimento em Maringá. A parceria com a Universidade era essencial para
isso. Por isso, no dia 26 de novembro de 1993, o presidente da ACIM, Massao
Tsukada, juntamente com Jefferson Nogarolli e outros diretores da entidade,
acompanhados do professor Joilson Dias e do professor José James da Silveira, um
dos fundadores da UEM, foram pedir o apoio do reitor Décio Sperandio para a
criação da Agência. No dia seguinte o Jornal do Povo dava a seguinte manchete
“Universidade e ACIM se unem para a criação de agência de desenvolvimento” e
trazia a seguinte informação:
Segundo o professor, o objetivo da agência é monitorar a economia
regional, atrair novos investimentos – nacionais e internacionais – e
transferir tecnologia existente no exterior para empresas locais, gerar
novos empregos e, principalmente, fomentar a economia local. O
projeto do professor foi encampado pela ACIM, que se propôs a
ceder a estrutura física da entidade para que possam ser
desenvolvidos os trabalhos da agência (JORNAL DO POVO,
27/11/1993).
Jefferson Nogaroli também apareceu na reportagem com a seguinte intervenção:
“este é um trabalho muito amplo que será viabilizado se houver a participação de um
‘pool’ de entidades que participem junto com a ACIM do projeto” (JORNAL DO
POVO, 27/11/1993). O jornais O Diário e Folha de Londrina também comentaram a
notícia. Para O Diário, o reitor Décio Sperandio destacou: “o projeto servirá como um
pré-requisito para o desenvolvimento tecnológico da região, e é importante porque
abrirá perspectiva de um trabalho multidisciplinar para a universidade” (O DIÁRIO,
28/11/1993). Na Folha de Londrina, o reitor da UEM dizia que “a intenção é reunir
empresas e entidades em torno do projeto ainda este ano, e começar os trabalhos
no máximo em fevereiro, antes do início do curso de especialização em
Desenvolvimento Regional” (FOLHA DE LONDRINA, 30/11/2003).
Para viabilizar a participação da UEM no projeto, o reitor fez um termo aditivo em um
convênio de cooperação que a Universidade mantinha com a ACIM desde 1989,
incluindo a agência de desenvolvimento. Após várias discussões decidiu-se que a
agência seria na verdade um instituto, característica que lhe possibilitaria o aporte de
recursos de órgãos de fomento. A assembléia de fundação foi marcada para o dia
21 de fevereiro de 1994, sendo convidadas 32 empresas e entidades para serem as
128
sócias fundadoras, sendo que compareceram 16
82
. A manchete do jornal O Diário do
dia anterior, um domingo, trazia o seguinte: “Parceria ACIM-UEM cria Instituto Pró-
Noroeste”, destacando que a idéia não era apenas trabalhar com os dados de
Maringá, mas também dos municípios da região (O DIÁRIO, 22/02/1994, p. 07).
Para manter o controle sobre o recém criado instituto, a ACIM garantiu três
representantes na composição do Conselho Diretivo do IDR. Todas as demais
entidades e empresas entraram com apenas um representante. A primeira diretoria
foi constituída com todos os membros da ACIM: Massao Tsukada, Jefferson
Nogaroli e Fernando Vieira Raimundo. O professor Joilson Dias foi contratado
imediatamente como diretor executivo da nova instituição (IDR, 21/02/1994).
A Revista ACIM publicou, na já comentada edição de março, uma matéria sobre a
criação do Instituto, destacando que o professor Joilson Dias havia sido cedido pela
UEM, pelo prazo de um ano, para ser o coordenador do IDR. Na reportagem, traz
também uma importante declaração do reitor da UEM sobre a importância do
fortalecimento das relações entre a classe empresarial e a comunidade científica:
“Juntos vamos trabalhar na promoção de investimentos, incentivos à transferência
de tecnologia, melhor qualificação de gerenciamento de produção das empresas,
através do estímulo à qualificação da mão-de-obra” (REVISTA ACIM, n. 341, 1994,
p. 24). Já o presidente da ACIM, acreditava que o resultado do trabalho do Instituto
poderia contribuir para aumentar o número de empregos, efetuar uma melhor
distribuição de renda e a conseqüente melhoria no bem-estar social da população.
“Vamos formar uma base sólida para o surgimento de empresas perenes”, declarava
(REVISTA ACIM, n. 341, 1994, p. 24).
No seu discurso de posse como novo presidente da ACIM, em 9 de março de 1994,
o empresário Pedro Granado Martines chama a atenção para a união entre a classe
empresarial e os políticos, destacando que a atuação da entidade extrapolava os
limites de prestação de serviços para os associados:
82
Compareceram à assembléia de fundação do Instituto, na sede da ACIM, as seguintes empresas e entidades,
consideradas sócias fundadoras: ACIM, UEM, Sindvest, Sindimetal, Coordenadoria Regional da FIEP, Cocamar,
Aeam, Apras Noroeste, Micromar, Prefeitura de Maringá, Prefeitura de Paranavaí, Secovi, Sindicombustíveis,
Sincontábil, Sinduscon e Sociedade Rural de Maringá (IDR, 21/02/1994).
129
Cremos que somente através da união da classe empresarial e
política é que garantiremos conquistas sólidas, e a ACIM cobrará de
todos os que aqui vivem, de todos os que aqui têm suas atividades,
um comprometimento por Maringá. Não queremos participação
limitada e discursos, mas efetiva. E para mostrar que estamos
falando sério, a mais recente conquista da ACIM foi a criação e
implantação do IDR (...) fruto da parceria ACIM/UEM, detentora do
conhecimento científico que muito tem contribuído para a
consecução dos objetivos da classe empresarial (REVISTA ACIM, n.
342, 1994, p. 11).
É instigante perceber que em nenhum momento se fala da participação dos poderes
constituídos, Executivo e o Legislativo, nessa tarefa de desenvolver a cidade. No
material pesquisado, há poucos registros sobre a necessidade de envolver a
Prefeitura e nenhum registro sobre o envolvimento dos vereadores. Um dado
interessante é revelado na edição de maio de 1994 da Revista ACIM. O IDR
comemora a adesão da prefeitura de Paranavaí, cidade localizada a 80 quilômetros
de Maringá, como membro do Instituto, o que dava uma característica regional de
fato ao Instituto (REVISTA ACIM, n. 343, 1994, p. 16). A prefeitura de Maringá só vai
aderir ao IDR em julho de 1995, depois que o vereador e diretor da ACIM, Valdir
Pignata, elaborou uma lei autorizando a filiação da prefeitura. A notícia saiu sem
nenhum destaque na seção Capital de Giro, na edição de julho de 1995 (REVISTA
ACIM, n. 356, 1995, p. 22).
Em dezembro de 1994, ao fazer um balanço das atividades do Instituto, a Revista
ACIM destacava que o IDR “se consolida como promotor do desenvolvimento
regional, e busca agora instrumentos capazes de gerar um novo impulso na
economia, através da viabilização de negócios rentáveis no Paraná” (REVISTA
ACIM, n. 350, 1994, p. 29). Na verdade, o IDR ainda realizava um trabalho
incipiente, procurando formar um banco de dados com informações econômicas
para os futuros investidores e trabalhando na elaboração de projetos de viabilidade
econômica sob demanda. Mas, o que importa para essa pesquisa não são os
resultados em si obtidos pelo Instituto. Com a visibilidade que o IDR teve e,
principalmente, com a atuação de seu coordenador, Joilson Dias, não podemos
negar que os empresários ligados à ACIM conseguiram se instrumentalizar com
dados, informações e a situação da nossa economia naquele momento. Tanto o IDR
quanto o professor Joilson Dias serão fundamentais em todo o processo do
Movimento Repensando Maringá como veremos adiante. O IDR como órgão de
130
assessoramento do Movimento e Dias como um dos principais intelectuais orgânicos
do mesmo.
3.5 O Movimento 13 de Julho
Em 1987, no dia 26 de fevereiro, a ACIM havia realizado o “Dia do Protesto” para
reclamar dos juros altos que atrapalhavam a economia nacional. O fato, na época,
teve repercussão nacional e os artigos do presidente da entidade, Alcides Siqueira
Gomes, havia sido publicados em grandes jornais nacionais como Gazeta Mercantil,
Folha de São Paulo e Estado de São Paulo (ACIM, 2006, p. 100). No dia 15 de
março de 1995 novamente a ACIM participa de um protesto organizado em Maringá
por agricultores que reclamavam da política econômica. O presidente da ACIM,
Pedro Granado, participou do protesto e assinou um manifesto, chamado de
“Manifesto da Indústria e do Comércio” que foi enviado para as autoridades em
Brasília (REVISTA ACIM, n. 353, 1995, p.12).
O senso crítico formado pela ação dos intelectuais como já citamos e pelo
acompanhamento da queda nas vendas e aumento da inadimplência, forjou uma
tomada de atitude por parte da ACIM. Uma comissão formada pelos diretores da
entidade, Hélio Costa Curta, Elizabete Emídio e Claudomiro Siroti, juntamente com o
representante da Central Única dos Trabalhadores – CUT, o professor João Lino de
Oliveira e o representante do Centro Patriótico Tiradentes, José Pacheco dos
Santos, organizou como seria o movimento. Diversas reuniões foram feitas, inclusive
uma na sede da ACIM onde compareceram líderes de 25 associações comerciais do
Estado, diretores de sindicatos, deputados, representantes da prefeitura e a Força
Sindical. “A decisão de fechar as portas das empresas e de realizar um ato público
foi tomada durante uma reunião histórica com a presença de empresários,
estudantes e trabalhadores ligados à CUT. Também nessa reunião ficou definido o
slogan da manifestação: “Em defesa da Nação. Salvem nossas empresas e
empregos” (REVISTA ACIM, n. 357, 1995, p. 07). Alguns dias antes, foram
espalhados diversos outdoors pela cidade (foto 5), assinados pela ACIM, onde
estava escrito: “Os empregos estão ameaçados. Isto é real. Ato público e
fechamento das empresas da região, dia 13 de julho, das 9 às 11 horas, em frente à
ACIM” (REVISTA ACIM, n. 357, 1995, p. 06). Uma audiência de líderes empresariais
131
de todo o país foi conseguida em Brasília, com o presidente Fernando Henrique
Cardoso, no dia 12 de julho, e para lá foi o presidente da ACIM, que voltou com esse
discurso: “O presidente sabe que movimentos como o nosso não tem conotação
partidária. São empresários e trabalhadores lutando por um país melhor” (REVISTA
ACIM, n. 357, 1995, p. 07).
Foto 5
Outdoor com a convocação para o ato público
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
A Revista ACIM destaca como foi a estratégia para juntar gente no manifesto:
Quinta-feira, 13 de julho. Às oito horas da manhã os diretores da
ACIM e líderes sindicais saem de pontos estratégicos do centro da
cidade para passar pelas lojas, conversar com os comerciantes e
colocar adesivos de participação nas portas fechadas. Os ônibus da
TCCC
83
recolhem funcionários de indústrias e shoppings de vestuário
mais distantes. Várias comitivas de empresários e trabalhadores da
região também chegam para participar do ato público (REVISTA
ACIM, n. 357, 1995, p. 08).
Em frente à sede da ACIM, na esquina da Avenida Herval com a rua Néo
Alves Martins, começa a manifestação com “cerca de duas mil pessoas
empunhando bandeirinhas do Brasil”. Discursam o presidente da Cocamar, Luiz
Lourenço; um diretor da União Nacional dos Estudantes – UNE
84
; o presidente do
Sindicato do Comércio, Luiz Julio Bertin; o presidente do Sindicato dos Servidores
Municipais de Maringá, Claudemir Romancini, que pregou que o povo deveria eleger
83
Transporte Coletivo Cidade Canção. É a empresa concessionária do transporte público em Maringá.
84
Infelizmente, as fontes não mencionam o nome do estudante.
132
quem “defende os médios e pequenos empresários”; depois discursaram o
presidente da Associação Comercial de Paranavaí, Teruo Kato; o professor da UEM,
Moacir Colombo; o presidente do Centro Patriótico Tiradentes, o advogado Alberto
Abraão Wagner da Rocha; o representante da CUT, João Lino de Oliveira e, por fim,
o presidente da ACIM, Pedro Granado Martines (REVISTA ACIM, n. 357, 1995, p.
09, 10).
O movimento originou a “Carta Aberta ao Presidente” que foi enviada à Brasília. No
documento, os principais pontos de acordo entre empresários e trabalhadores são
expostos como reivindicação:
Atenuação do arrocho brutal do crédito, redução imediata das taxas
de juros, uma reforma tributária moderna, coerente com a reforma do
Estado, e eliminação imediata dos mecanismos que provocam o
crescimento das dívidas de empresas e produtores rurais, em níveis
superiores às variações dos preços ou possibilidades de geração de
renda (REVISTA ACIM, n. 357, 1995, p. 09).
A carta foi assinada pelas associações comerciais de Maringá, Umuarama, Cianorte,
Francisco Beltrão, Campo Mourão, Barracão, Astorga, Floresta, Jandaia do Sul,
Terra Boa, Paranavaí, Colorado, Mandaguari, Nova Esperança, Sarandi, Rolândia,
Marialva, Goioerê, Ubiratã, Terra Roxa, Arapongas e Loanda. Também assinaram a
Federação das Associações Comerciais do Paraná – Faciap, a Federação das
Associações de Micro e Pequenas Empresas do Paraná – Fampepar, o Sindicato
Varejista da Madeira e Materiais de Construção; Sociedade Rural de Maringá,
Sindimetal, Associação das Micro-empresas de Maringá – Micromar, Sindicato
Varejista de Combustíveis de Maringá, Associação Paranaense de Supermercados –
Apras; Indústrias de confecções do Noroeste do Paraná, Sindicato dos Contabilistas
de Maringá, Sindicato do Comércio de Maringá, Sindicato dos Trabalhadores em
Estabelecimentos de Ensino de Maringá e o Sindicato dos Servidores Municipais de
Maringá.
O movimento, tanto em sua fase preparatória quanto na de execução, ganhou amplo
destaque na mídia. Os programas jornalísticos de rádio e televisão deram
significativo espaço para divulgar o que se pretendia. Nos jornais, o movimento
começou a aparecer no final de junho dando grande cobertura para o evento: “ACIM
133
debate novamente a atual crise” (O DIÁRIO, 25/06/1995); “Empresas fecham
semestre no vermelho” (JORNAL DO POVO, 25/06/1995); “Economia é tema de
reunião amanhã na ACIM” (JORNAL DO POVO, 25/06/1995); “Empresários e
trabalhadores se unem em protesto contra o governo” (JORNAL DO POVO,
28/06/1995); “Patrões e empregados contra o governo” (O DIÁRIO, 28/06/1995);
“Associações comerciais do Noroeste vão parar” (FOLHA DE LONDRINA,
28/06/1995); “Noroeste do Paraná prepara novo protesto” (O ESTADO DO PARANÁ,
29/06/1995); “Protesto terá adesões de associações comerciais” (FOLHA DE
LONDRINA, 30/06/1995); “13 de Julho – Paraná pode parar em solidariedade ao
movimento do Noroeste” (JORNAL DO POVO, 30/06/1995); “ACIM se reúne amanhã
com trabalhadores” (O DIÁRIO, 02/07/1995); “Comércio fechará as portas no dia 13”
(O DIÁRIO, 05/07/1995); “Crise fecha comércio de Maringá” (JORNAL DO POVO,
05/07/1995); “Protesto em Maringá ganha adesões” (O ESTADO DO PARANÁ,
05/07/1995); “Trabalhadores se juntam à ACIM” (FOLHA DE LONDRINA,
05/07/1995); “500 demitidos no comércio este ano” (O DIÁRIO, 08/07/1995); “Setor
do vestuário também em crise: 40 lojas fechadas” (O DIÁRIO, 08/07/1995);
“Movimento ganha adesões” (O DIÁRIO, 09/07/1995); “Crise – Maringá tem protesto
de empresários nesta quinta” (INDÚSTRIA & COMÉRCIO, 11/07/1995); “Comércio e
Indústria fecharão dia 13” (O DIÁRIO, 11/07/1995); “Comércio e indústria fecharão
por duas horas” (JORNAL DO POVO, 11/07/1995); “Crise força empresas a
conceder férias coletivas” (JORNAL DO POVO, 11/07/1995); “Empresas de 20
cidades protestam” (FOLHA DE LONDRINA, 12/07/1995); “Maringá organiza ‘ato
histórico’” (O ESTADO DO PARANÁ, 12/07/1995); “Faciap vai reclamar da crise com
o presidente” (INDÚSTRIA & COMÉRCIO, 12/07/1995); “Combustíveis – postos
demitem funcionários” (O DIÁRIO, 12/07/1995); “Crise atinge setor metalúrgico e
trabalhadores são dispensados” (O DIÁRIO, 12/07/1995); “Movimento 13 de Julho –
Granado tem audiência com o presidente FHC” (O DIÁRIO, 12/07/1995);
“Manifestação espera reunir 10 mil hoje” (FOLHA DE LONDRINA, 13/07/1995);
“Comércio pára por duas horas em Maringá” (JORNAL DO POVO, 13/07/1995).
O pós-evento também ganhou destaque na imprensa: “Empresários levam pedidos a
FHC” (O ESTADO DO PARANÁ, 14/07/1995); “Protesto contra juros altos reúne 10
mil” (FOLHA DE LONDRINA, 14/07/1995); “Manifesto pára comércio em Maringá”
(JORNAL DO POVO, 14/07/1995); “Movimento 13 de Julho pára comércio” (O
134
DIÁRIO, 14/07/1995); “Empresários se juntam à CUT em protesto contra a política
econômica” (INDÚSTRIA & COMÉRCIO, 14/07/1995).
A ACIM tinha finalmente mostrado a sua “cara” na rua (foto 6). Havia ganho a
simpatia de outras entidades, estava próxima dos trabalhadores, da UEM e agora
estava pronta para ocupar o seu lugar como liderança hegemônica e para “falar” em
nome da comunidade. Essa é a observação da própria entidade sobre o ocorrido: “O
movimento teve repercussão na mídia estadual e nacional, fato que impulsionou
ainda mais a ACIM na liderança da comunidade de Maringá” (ACIM, 2006, p. 115).
Justificava-se a escolha do lema da gestão de Granado, “ACIM – a força empresarial
que une e constrói”.
Foto 6
Manifestação de 13 de julho em frente à sede da ACIM
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
3.6 Considerações
Na Itália do século XVI, de acordo com Gramsci ao interpretar a obra de Maquiavel,
quem tem necessidade de educar-se politicamente é a classe que se dedicava à
atividade mercantil e industrial e que “precisava criar uma nova ordem política que
lhe permitisse superar os entraves da feudalidade corporativa” (SCHLESENER,
1992, p. 79). Maquiavel escrevia para a burguesia de Florença para que esta se
135
apropriasse de seu discurso e se posicionasse como força revolucionária
progressista da história.
Sem comparações, mas trabalhando com as inferências possíveis da obra de
Maquiavel e da interpretação que lhe dá Gramsci, ao destacar a questão da
hegemonia e da relação de forças entre dominadores e dominados, verificamos que
as ações protagonizadas pelo empresariado maringaense e, principalmente o que
depreendemos do seu discurso, demonstra as relações de “crença e força”, “coerção
e consenso”, “política e moral”, “ordem e disciplina” e “direito e liberdade”, que
formam a base da hegemonia gramsciana (SCHLESENER, 1992, p. 83).
A aliança política que a ACIM foi buscar com as outras entidades e organizações,
visava a retomada do desenvolvimento econômico de Maringá, numa crítica clara e
aberta de que o modelo atual, polarizado pelas disputas entre grupos políticos, não
interessava ao empresariado. Para estabelecer um projeto hegemônico político e,
também, cultural o empresariado cria mecanismos para o surgimento de “uma
vontade coletiva” de mudanças da ordem vigente, inclusive com palavras de ordem e
temas correlatos, como vimos no caso do surgimento do PNBE, do Pró-UEM, do IDR
e do Movimento 13 de Julho. Nesse caso, segundo Schlesener:
(...) é imprescindível, para o surgimento e desenvolvimento de uma
vontade coletiva, explicitar as condições históricas e compreender o
modo como se constituiu a sociedade, as forças políticas e
econômicas que atuaram no processo, e como as classes populares
foram sendo excluídas das principais decisões tomadas na história
(SCHLESENER, 1992, p. 89).
Cabe aqui substituir o termo “classes populares” por “empresariado” e relembrar que
o empresariado ficou fora das principais decisões políticas tomadas pelo governo
municipal na época.
É importante destacar nessas considerações que a participação do empresário
Emerson Kapaz, o apoio para a Universidade e a criação do IDR estão articuladas
na necessidade de elaborar um projeto hegemônico, função que caberia aos
intelectuais orgânicos, os “elaboradores e divulgadores de ideologias, educadores e
dirigentes”. Como para Gramsci não existem intelectuais autônomos em relação ao
136
grupo dominante, tanto no sentido de um grupo no poder ou de um grupo que aspira
ao poder, eles são percebidos como “representantes da hegemonia”, “funcionários
das superestruturas”, “criados do grupo dominante”, aqueles que servirão de “elos
entre a superestrutura e a infra-estrutura” (MACCIOCCHI, 1980, p. 188). Os
intelectuais são partes indispensáveis no processo:
O grupo no poder utiliza os intelectuais não somente para ganhar o
apoio das massas, mas também para moldá-las ideológica e
moralmente, de acordo com a sua própria visão de mundo. A
“sociedade civil”, essa densa rede de instituições que vai da escola à
igreja, passando pelos sindicatos, os partidos e todos os setores de
atividades culturais e de especialização, não poderia funcionar sem a
participação da poderosa massa de intelectuais (MACCIOCCHI,
1980, p. 195).
Para Gramsci, intelectual não é apenas o que produz ideologias. Há os intelectuais
modernos que são os técnicos, os empresários, os engenheiros, enfim, todos os que
estão ligados ao desenvolvimento das forças produtivas. Nesse caso, o empresário
acaba tendo uma participação mais efetiva, além de organizar a divisão técnica do
trabalho. Simionatto esclarece que:
Os intelectuais são, portanto, primeiramente os organizadores da
função econômica da classe a que estão ligados organicamente.
Além de controlar o mundo da produção, eles organizam a
hegemonia da classe burguesa na sociedade civil, bem como a
coerção que, por meio do Estado, esta exerce sobre as demais
frações e camadas de classe (SIMIONATTO, 2004, p. 58).
Gramsci destaca em suas notas nos Cadernos que os intelectuais têm uma função
cosmopolita, isto é, conseguem transitar em regiões diferentes (universidade e
empresa, por exemplo) e unificar as relações de ambientes opostos (GRAMSCI,
1995, p. 25). Quando a ACIM organiza o Movimento 13 de Julho, uma comissão
reúne numa mesma mesa, sindicalistas, empresários, professores e advogados, que
saem unidos para protestar contra o Governo. As motivações de cada grupo são
diferentes umas das outras, no entanto, são esses intelectuais que unificam a
“vontade coletiva”, o que acaba beneficiando o projeto do empresariado
representado pela ACIM.
137
O relacionamento com a Universidade, enfatizado com a criação do Pró-UEM e do
IDR, também nos revela as intenções de buscar um “aliado” que não fosse apenas
institucional, mas que pudesse legitimar, através de seus intelectuais, o projeto que
estava em gestação. Esse projeto, como veremos nos capítulos seguintes, opera no
sentido de valorizar a especialização da mão-de-obra, a chamada qualificação da
força de trabalho, tão necessária para o avanço dos projetos elaborados pelo
Codem. Entretanto, com a criação de programas de estágios remunerados como o
SER, em 1994, e depois o PROE, os empresários passam a ter a opção de contar
com acadêmicos, ainda em formação, em seus quadros de funcionários, em
detrimento de profissionais formados e qualificados pela própria universidade. Com
isso, é incentivada a prática de uma remuneração inadequada para o profissional e
uma concorrência desleal onde o estudante será sempre aproveitado em uma
função onde um profissional deveria estar atuando. Nesse sentido, a universidade é
cobiçada pelo empresariado porque, na opinião de Tragtenberg:
(...) é a porta que dá acesso ao desempenho, às funções
hegemônicas, obedecendo ao processo de industrialização, onde a
alta densidade tecnológica implica em funções de supervisão
exercidas por “acadêmicos”. Ao definir uma distribuição diferencial de
saber ela reproduz a distribuição diferencial de poder econômico e
político, perpetuando através da “cultura de desconversa”, o ensino
do irrelevante que leva a exclusão de grandes massas de estudantes
pelo desinteresse que os cursos apresentam, assim realizando as
funções de hegemonia dos setores dominantes. Desta forma,
transforma a dominação de fato em dominação de direito, a
desigualdade social em “natural” (TRAGTENBERG, 1981, p. 08).
São esses intelectuais, identificados aqui pela primeira vez, e outros que veremos
adiante que pavimentam o percurso do Movimento Repensando Maringá, criando o
“elo” que unirá as entidades empresariais da cidade em torno do projeto da ACIM.
138
TERCEIRA PARTE
O PROJETO HEGEMÔNICO
139
Imagem 3
Capa da Revista ACIM n. 392, Novembro de 1998
140
Capítulo IV
O Movimento Repensando Maringá
(...) se esse movimento vai dar certo, não sei. Se
não der é em razão desses tecnocratas nunca
terem manobrado um trator ou uma colheitadeira.
Hélio Costa Curta
85
85
Frase do diretor da ACIM, sobre o futuro do Movimento 13 de Julho (O DIÁRIO, 14/07/1995).
141
4.1 A influência da ACIM
O ano de 1996 se inicia com uma série de preocupações para a classe empresarial
maringaense, representada pela ACIM, conforme o editorial assinado pelo
presidente Pedro Granado Martines, na Revista ACIM de fevereiro daquele ano, com
o título “Eleições e Democracia”. O Plano Real ainda não se afirmara, Maringá
estava dividida entre dois grupos políticos e esse seria o ano de escolher o novo
prefeito e, coincidentemente o novo presidente da Associação Comercial. Na capa
da edição de fevereiro, uma frase emblemática que demonstrava como a entidade
se posicionava naquele momento: “Hoje, pouco se faz na comunidade sem que a
ACIM opine ou participe” (REVISTA ACIM, n. 362, 1996, p.01).
O último ano da gestão do prefeito Said Ferreira se iniciava com uma série de obras
que prometiam dar um novo rumo à cidade. Estavam em fase de conclusão as obras
do Porto Seco
86
, do novo aeroporto e da nova rodoviária. No novo centro, o
rebaixamento dos trilhos havia sido concluído restando detalhes finais para o
fechamento do túnel ferroviário. Havia também a expectativa sobre a cidade ganhar
um ramal do gasoduto Brasil-Bolívia
87
e uma unidade do Cefet (Centro Federal de
Educação Tecnológica) em um prédio que a prefeitura construía na zona Sul da
cidade. Na opinião da ACIM, estas obras deveriam “gerar um maior fôlego aos
empresários e cidadãos de um modo geral” (REVISTA ACIM, n. 363, 1996, p. 03).
Por isso, a entidade defendia que o novo prefeito não “bastaria ser honesto”, teria
“que ser um empreendedor” (REVISTA ACIM, n. 362, 1996, p. 23).
86
O Porto Seco, ou Estação Aduaneira do Interior é um depósito alfandegário localizado na zona secundária
(fora do porto organizado), geralmente no interior. Recebe as cargas ainda consolidadas, podendo nacionalizá-las
de imediato ou trabalhar como entreposto aduaneiro. Dessa forma, a Eadi armazena a mercadoria do importador
pelo período que este desejar, em regime de suspensão de impostos, podendo fazer a nacionalização fracionada.
O Porto Seco movimenta cargas de importação. A Eadi de Maringá foi inaugurada em 1996, como o primeiro
do interior do Brasil.
87
O Gasoduto Brasil-Bolívia, também conhecido como Gasbol, é uma via de transporte de gás natural entre a
Bolívia e o Brasil com 3.150 quilômetros de extensão, sendo 2.593 em território brasileiro e 557 em território
boliviano. Começou a ser construído em 1997, iniciando sua operação em 1999. Estima-se que estará
plenamente operativo em 2010, com o objetivo de que o gás natural chegue a 15% de todo o consumo energético
brasileiro. O gasoduto tem seu início na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra e seu fim na cidade gaúcha
de Canoas, atravessando também os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, passando
por cerca quatro mil propriedades em 135 municípios.
Disponível em <
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gasoduto_Brasil-Bol%C3%ADvia>. Acesso em: 20 mai. 2007.
142
No dia 28 de fevereiro, os associados da ACIM elegeram o empresário do setor da
construção civil Hélio Costa Curta para o biênio 1996-1998. Engenheiro Civil
formado em Curitiba, com especialização em Hidráulica, Costa Curta foi professor da
UEM, funcionário da autarquia estadual de saneamento e abastecimento – Sanepar
e, em 1975, fundara a Hiconci – Hidráulica e Construção Civil, empresa que
trabalhava no ramo da construção civil, saneamento e pavimentação. Antes de
assumir a ACIM, havia sido presidente da Sociedade Rural por dois mandatos e
presidente da Coordenadoria das Associações Comerciais do Noroeste do Paraná –
Cacinor. Na edição de março de 1996, em entrevista para a Revista ACIM, falando
de suas metas como presidente, destacava entre outras coisas que iria “organizar
um Fórum Sobre o Desenvolvimento Regional para descobrir a verdadeira vocação
da nossa região. Seria um complemento ao trabalho já desenvolvido pelo IDR”
(REVISTA ACIM, n. 363, 1996, p. 07). No final da entrevista, em tom de promessa,
enfatizou: “E a ACIM vai trazer os políticos para nossas reuniões e cobrar. Isso
quero ressaltar: seremos cobradores insaciáveis dos políticos. Não tenham dúvidas
disso”.
Jefferson Nogaroli, que havia entrado na ACIM na gestão de Massao Tsukada,
continuava na diretoria de Costa Curta no mesmo cargo: diretor para Assuntos de
Comércio Exterior, tendo em sua pasta a responsabilidade de comandar uma série
de ações estratégicas. Outra novidade da nova gestão foi a criação das Câmaras
Setoriais, pensadas como incubadoras de projetos e ações específicas para o setor.
Foram criadas as câmaras de Cursos e Pesquisas, sob a coordenação da
professora Rosa Izelli Martins
88
; Turismo e Eventos, Empresarial dos Bairros,
coordenada pelo empresário Antonio Fermentão
89
; Agroindústria, Desenvolvimento
Regional, Hotéis, Restaurantes, Buffets e Atividades Afins e a de Informática. O
objetivo das câmaras era “colocar em prática projetos que possam gerar o
desenvolvimento” (REVISTA ACIM, n. 364, 1996, p. 03).
88
Sobre a professora Rosa Izelli Martins, que foi secretária municipal de Indústria, Comércio e Turismo na
gestão do Partido dos Trabalhadores, veremos mais adiante.
89
Antonio Fermentão viria a ser presidente do Codem por duas gestões. Veremos sobre isso mais adiante.
143
A questão política, principalmente com respeito às eleições, deu rumo ao
posicionamento da ACIM desde o início da nova gestão. Mais uma vez, o presidente
Costa Curta, em um editorial, destacava qual seria a posição da entidade:
De forma alguma, apoiaremos este ou aquele candidato ou partido.
Mas, queremos influir no plano de trabalho de todos. Existem
questões primordiais que precisam ser discutidas, como
desemprego, atração de empresas – não só indústrias – nossa
vocação turística, segurança pública e outras (REVISTA ACIM, n.
364, 1996, p.03).
Dentre essas questões primordiais estava saber qual era a verdadeira “vocação” de
Maringá. A cidade ainda vivia reflexos tardios da crise do Plano Cruzado,
acumulados com as incertezas do Plano Real. Era necessário “repensar” a cidade.
Para isso, tornava-se essencial que a ACIM criasse um fórum de discussões
envolvendo diversos setores para “discutir formas de incentivar o desenvolvimento
econômico”. Caberia à ACIM ser a responsável por fomentar essa discussão,
conforme o discurso de posse de Costa Curta, em solenidade no dia 12 de março:
Nessa discussão, eu gostaria de contar com a participação efetiva da
Fiep, através de seu presidente José Carlos Gomes de Carvalho; de
toda classe política, aqui representada pelo secretário da Indústria,
Comércio e Turismo, João Carvalho Pinto; pela Igreja, representada
pelo monsenhor Bernardo Cnudde, e pelo Sebrae. (...) Vamos atrás
dos incentivos existentes. Onde não existirem, vamos sugerir ao
Governo a criação deles. Vamos atrás de capital de giro,
empréstimos para ampliações e investimentos, e se possível, tendo
como exemplo a securitização do setor agrícola, vamos buscar uma
atenuante junto à rede bancária para os débitos da indústria e
comércio (REVISTA ACIM, n. 364, 1996, p. 10).
É importante percebermos como a ACIM se posicionava estrategicamente em suas
ações, principalmente com relação aos poderes Executivo e Legislativo. Embora
desde 1993 tivesse na Câmara Municipal um vereador que fazia parte de sua
diretoria, o empresário Valdir Pignata, Diretor da Agência do Jardim Alvorada, não
conseguimos localizar, em nenhum momento nesse período, qualquer discurso ou
ação que envolvesse diretamente os vereadores. Por outro lado, a Prefeitura era
sempre requisitada para estar “junto” com a ACIM nas propostas para a cidade:
“Precisamos ter sempre do nosso lado a Prefeitura Municipal e o Sebrae, além de
outras empresas e entidades que trabalham para o desenvolvimento de nossa
região” (REVISTA ACIM, n. 364, 1996, p. 19). A exclusão do Legislativo Municipal
144
perdurará até o momento chave do Movimento Repensando Maringá quando este
precisará do apoio dos vereadores para transformar o projeto hegemônico em lei
municipal, conforme veremos mais adiante.
4.2 Conselho de Entidades – o Repensando Maringá toma corpo
Na noite de quarta-feira, dia 8 de maio de 1996, a ACIM promoveu uma reunião com
líderes empresariais de vários segmentos para discutirem uma pauta única de
reivindicações para ser apresentada ao governador do Paraná, Jaime Lerner, que
viria a Maringá na sexta-feira, dia 10 de maio, aniversário de 49 anos da cidade, e
ao secretário de Estado do Planejamento, Cássio Taniguchi, que teria reunião com
os empresários na segunda-feira, dia 13. Em reportagem publicada no jornal O
Diário, falando sobre a reunião do dia 8, o presidente da ACIM destacava que a
entidade entregaria ao governador um estudo de viabilidade econômica para
investimentos do Estado no setor têxtil e de confecções, possibilitando solucionar a
crise que abalava o setor. O vice-presidente da ACIM, Fernando Rezende, dizia que
aquela era “uma boa hora para cobrarmos uma posição quanto à importância que
Maringá e toda a região Noroeste têm para o Governo do Estado” (O DIÁRIO,
09/05/1996). Na mesma reunião, Hélio Costa Curta comenta sobre a criação de um
Conselho de Entidades que seria o responsável por administrar o Conselho de
Desenvolvimento de Maringá – Codem, criado por Lei Municipal em 10 de fevereiro
de 1993
90
e que ainda não havia sido regulamentado pela Prefeitura. Participaram
daquela reunião na ACIM, além de Costa Curta e Fernando Rezende, o presidente
do Sinduscon, Paulo Magalhães; o presidente da Bolsa de Cereais e Mercadorias,
Aníbal Vitorino da Silva; o diretor do Centro de Integração Empresa Escola – Ciee,
José Cardoso; o presidente do Sindicato do Comércio, Luiz Julio Bertin; o diretor do
Sindicato do Comércio, Clineu Wolff Júnior; o coordenador da Câmara de
Informática da ACIM, Sandro Molés da Silva; o representante da UEM, Luiz Henry
Monken e Silva; a presidente do Conselho da Mulher Empresária da ACIM, Elizabete
Emídio; o diretor de Prestação de Serviços da ACIM, José Luiz Sander; o diretor do
Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros Intermunicipais,
Interestaduais e Internacionais de Maringá – Rodomar, Massao Vilson Horita; o
90
O primeiro Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá – Codem foi criado pela lei municipal n.
3335/1993. Esta lei foi revogado pela Lei Ordinária n. 4275 que criou o novo Codem, em 1996.
145
presidente da Cocamar, Luiz Lourenço e o presidente da Coordenadoria Regional da
FIEP, João Noma (O DIÁRIO, 09/05/1996).
Os empresários acabaram não conseguindo entregar o documento para o
governador durante a sua visita a Maringá, talvez uma retaliação pelas faixas que
foram colocadas pela ACIM no aeroporto no dia da chegada da comitiva, e que
apontavam os números da crise em Maringá e cobravam uma atenção do Governo
para a cidade. Apesar de frustrado por não conseguir a audiência com Lerner, o
presidente da ACIM explicou o motivo: “O assunto é sério demais para ser tratado
assim, durante uma visita. Vamos fazer uma comissão, pedir audiência e falar com o
governador lá em Curitiba” (O DIÁRIO, 12/05/1996). Entretanto, como estava
previsto, na segunda-feira, dia 13 de maio, o secretário de Planejamento, Cássio
Taniguchi, se reuniu à noite com os empresários na sede da ACIM, onde, segundo
números da Revista ACIM, compareceram mais de 100 pessoas, entre empresários,
presidentes e dirigentes de associações de classe, representantes da UEM,
secretários municipais, deputados estaduais e o prefeito. Costa Curta pôde, então,
entregar ao secretário o projeto “Geração de Empregos”, elaborado pelo IDR, com
os números do setor têxtil e de confecções, e as sugestões para que o Governo
pudesse investir em Maringá. Também foi entregue ao secretário cópia do projeto
entregue um ano antes à vice-governadora Emília Belinatti, propondo que seja
criado em Maringá o Pólo da Indústria Têxtil e de Confecção, com incentivos fiscais
do Estado. Segundo a revista da entidade: “a reunião transformou a sede da ACIM
em um centro de reivindicações e queixas dos empresários” (REVISTA ACIM, n.
366, 1996, p. 32). O presidente da ACIM lembrou que “muitas empresas têm
fechado ou encolhido em Maringá, diminuindo as opções de empregos,
principalmente no setor têxtil e de confecções, que é o forte da economia local”. Na
mesma reunião, por sugestão do Conselho de Entidades, foram entregues outros
documentos reivindicatórios ao secretário, elaborados pelo Sinduscon, Cocamar,
UEM e pela Câmara de Informática da ACIM.
No dia 12 de junho daquele ano, a ACIM promoveu o seu 52º. Almoço Empresarial,
reunindo cerca de 120 empresários, para ouvir o prefeito Said Ferreira falar sobre o
tema “Perspectivas Econômicas de Maringá”. A reunião acabou se transformando
em um palanque antecipado das eleições municipais, com o prefeito tecendo
146
pesadas críticas ao seu antecessor na prefeitura, o deputado federal Ricardo
Barros. O jornal O Diário, do dia 13 de maio, estampava como manchete “Said volta
a criticar Ricardo” e dava enfoque a uma frase do prefeito dita para os empresários
de que “Maringá não é uma fazenda de um dono só” (O DIÁRIO, 13/06/1996). A
polarização Said-Ricardo acabou obscurecendo a fala do presidente da ACIM na
abertura do evento: “estamos unindo a classe empresarial. Vamos realizar um fórum
e elaborar um Plano Diretor para o desenvolvimento de Maringá” (O DIÁRIO,
13/06/1996). O ex-prefeito Ricardo Barros havia se reunido com os empresários da
ACIM dois dias antes e ficou evidente o mal estar para a entidade com as
manchetes estampadas nos jornais. Era chegada a hora, na opinião dos
empresários, da cidade acabar com essas disputas. Era o momento de união de
todos em prol da cidade. O discurso oficial do Movimento Repensando Maringá já
estava pronto.
Na edição de julho de 1996, pela primeira vez, a Revista ACIM chama as constantes
reuniões entre os líderes empresariais de movimento e lhe dá um nome: Movimento
Repensando Maringá. O nome vira título da matéria de capa da revista daquele mês,
destacando no subtítulo: “Porque chega um momento em que é preciso parar para
pensar” (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 01). O presidente da ACIM informava no
editorial daquela edição:
A ACIM, em parceria com várias outras entidades, está iniciando um
movimento para discutir soluções para que o município volte a se
desenvolver como nos bons tempos. Uma das primeiras conclusões
é de que precisamos descobrir as vocações do município e da
região, criar projetos e colocá-los em prática. Notamos nessas
discussões, que falta união aos nossos políticos e empresários. Por
isso, uma das sugestões do movimento que estamos iniciando é criar
um Conselho Municipal de Desenvolvimento, que elaboraria um
Plano Diretor para a cidade. Daí, sonhamos mais alto: esse Conselho
poderia ser inserido na Lei Orgânica do Município, com orçamento
próprio, e definir o que é prioritário para a Administração. Estamos
iniciando reuniões com todos os setores da cidade. É preciso o
engajamento de toda sociedade. Todos opinando. É um passo
importante para o futuro de Maringá. Lógico, o que este movimento
deliberar tentaremos colocar no plano de governo dos candidatos à
prefeitura (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 03).
A reportagem da revista dizia que o movimento era silencioso, liderado pela ACIM e
pela FIEP, reunindo diversas entidades, visando a “conscientização sobre a
147
necessidade de retomar o desenvolvimento de Maringá”. Com a adesão de
entidades como o Sindimetal, o Sindvest, o Sincomm (depois mudou o nome para
Sivamar) e a Apras foi constatado, depois de várias reuniões, que era necessário
repensar também outras áreas da cidade: “Maringá não necessita apenas de
diretrizes para retomar o desenvolvimento, mas também precisa urgente repensar a
sua infra-estrutura em todas as áreas, desde a saúde até a educação, saneamento
básico, planejamento urbano, habitação e outras” (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p.
11). Todas as bases e diretrizes do que se esperava do movimento foram colocadas
nesta reportagem, o que confirma a hegemonia da ACIM sobre as demais entidades,
pois, se o movimento estava apenas começando, ele não teria ainda um projeto
definido se não fosse aquele pensado e desenvolvido pela associação. Estava lá a
síntese do Movimento e, com pequenas mudanças, o que efetivamente conseguiu
em menos de 12 meses:
O movimento Repensando Maringá acredita que a cidade precisa de
um Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico, com caráter
deliberativo. Para tanto, tem que se alterar a Lei Orgânica do
Município, outorgando poderes ao Conselho para formular a Política
de Desenvolvimento Econômico de Maringá. Com este poder, o
Conselho vai elaborar propostas e sugestões que poderão
eventualmente ultrapassar em muito o mandato de um determinado
prefeito, mas que serão acompanhadas e executadas como um
projeto de toda sociedade. O Movimento sugere a criação do Fundo
Municipal para o Desenvolvimento de Maringá. O Fundo receberia
um percentual do orçamento do município e de outras fontes, para
ser gerido e administrado pelo Conselho de Desenvolvimento. O
objetivo da criação do Fundo é respaldar financeira e
estrategicamente o órgão executor das políticas de desenvolvimento
econômico, ou seja, a Secretaria Municipal da Indústria, Comércio e
Agricultura (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 11).
O industrial Carlos Walter Martins Pedro, que acabara de substituir João Noma na
Coordenadoria Regional da FIEP, enfatizou na reportagem que as idéias
apresentadas tinham sido “criadas a partir de reuniões iniciais”, mas que, com a
participação de toda a comunidade “novas idéias”, iriam surgir. Quem também fala
em participação da comunidade é o advogado, professor, ex-reitor da UEM e ex-
secretário de Estado da Ciência e Tecnologia, Paulo Roberto Pereira de Souza
91
,
que logo de início foi guindado ao posto de um dos líderes do movimento: “o
91
Paulo Roberto Pereira de Souza foi reitor da UEM no período de 1982 a 1986. No governo de Álvaro Dias foi
secretário especial do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, de 1988 a 1990, quando também assumiu a
Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. Também foi diretor de Fomento do Banestado S/A.
148
Conselho seria um órgão transparente, onde toda a comunidade poderia opinar”
(REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 12). Outro empresário citado na reportagem como
um dos líderes do Repensando Maringá é Jefferson Nogaroli, chamado de
“idealizador” do movimento. Nogaroli defende uma cobrança direta ao Governo do
Estado para que este financie os empreendedores locais:
(...) é preciso conscientizar o Governo Estadual sobre as
necessidades do interior e para isso tem que ser feito um grande
movimento político, que una todos os segmentos da sociedade.
Somente assim, a comunidade terá condições de demonstrar a sua
insatisfação com o destino dos recursos que o Estado tem
arrecadado (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 13).
Note-se que o termo “comunidade” é usado para definir o segmento empresarial,
mas ao mesmo tempo remete também à idéia de que as entidades representam a
comunidade, a sociedade civil, como um todo. Essa percepção nos auxilia a
entender o processo de ação política do Movimento nos anos seguintes.
Além do presidente da ACIM, Hélio Costa Curta, e do empresário João Noma, da
FIEP, os outros líderes do Movimento Repensando Maringá passam a ser Jefferson
Nogaroli, Carlos Walter Martins Pedro e Paulo Roberto Pereira de Souza. São eles
os responsáveis pela condução de reuniões, por audiências com representantes
públicos, para falar com a imprensa e para fomentarem o movimento, são os
“intelectuais” do movimento, no sentido gramsciano do termo de que a atividade
intelectual não se reduz à pura reflexão ou ao ato de pensar, mas está diretamente
relacionada ao exercício da direção e da organização. O suporte técnico, com
dados, pesquisas, projetos de viabilidade econômica, era dado pelo IDR, através do
professor Joilson Dias.
4.3 O Movimento se espalha para as entidades
Na primeira reportagem sobre o Movimento Repensando Maringá mencionada
anteriormente, já é apresentado um cronograma das atividades programadas para
os próximos meses até alcançarem o objetivo que era a criação do Conselho de
Desenvolvimento. O cronograma previa, com a observação de que as datas
149
poderiam sofrer alterações de acordo com a disponibilidade dos participantes do
movimento:
17/07: reunião com líderes de entidades
Período de 19/07 a 23/08: palestras motivadoras/conscientizadoras
nas entidades
Até o dia 02/09: entrega de sugestões pelas entidades para
elaboração de um pré-projeto de Plano Diretor
De 03/09 a 15/09: compilação dos dados recebidos
Dia 16/09: reunião de líderes para avaliação do movimento e análise
final das sugestões recebidas das entidades
17/09 a 20/09: estrutura do Conselho, Regulamentação Inicial,
definição da participação das entidades
Entre 23 e 26/09: realização do Fórum (REVISTA ACIM, n. 367,
1996. p. 12).
O lançamento oficial do Movimento Repensando Maringá se deu no dia 17 de julho
de 1996, uma quarta-feira à noite, em reunião realizada no Hotel Deville e com as
presenças de líderes das entidades empresariais, de clubes de serviços, políticos e
a imprensa. Na mesa principal que conduziu a reunião sentaram-se Hélio Costa
Curta, João Noma, Carlos Walter Martins Pedro, Jefferson Nogaroli, Paulo Roberto
Pereira de Souza e Joilson Dias. Na sexta-feira, os jornais deram a primeira notícia
sobre o Movimento: “Empresários lançam movimento histórico” (O DIÁRIO,
19/07/1996) e “Empresariado quer solução para Maringá” (O ESTADO DO PARANÁ,
20/07/1996).
No dia 19 de julho, sexta-feira, foi realizado um café da manhã com diretores e
jornalistas dos veículos de comunicação de Maringá onde lhes foi apresentada a
idéia de todo o Movimento. Segundo matéria publicada no O Diário, “os profissionais
da imprensa gostaram da iniciativa e aderiram ao movimento”. Na mesma reunião,
foram escolhidos três profissionais da área para atuarem junto com o Movimento,
representando o segmento da imprensa: “Verdelírio Barbosa, diretor do O Jornal do
Povo; Reginaldo Nunes Ferreira, diretor da Rádio Cultura e Messias Mendes, vice-
presidente do Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná e editor da TV Tibagi” (O
DIÁRIO, 20/07/1996). No dia 31 de julho, novamente os jornalistas, liderados pelo
seu sindicato, se reuniram com os líderes do Repensando Maringá para ampliar o
debate. O resumo do encontro foi apresentado pelo vice-presidente do Sindicato,
Messias Mendes:
150
Os jornalistas consideraram importante que, após o amadurecimento
das discussões sobre os rumos que a cidade deve tomar, deve ser
feito um projeto e entregue aos candidatos a prefeito e vereador (sic).
Eles têm que se comprometer com a vontade do partido maior que é
Maringá (O DIÁRIO, 01/08/1996).
A expressão cunhada por Mendes, de que o partido do movimento era Maringá, foi
utilizada diversas vezes pelos líderes do Repensando. Com a adesão da imprensa, o
projeto encontrava ressonância entre os formadores de opinião.
No dia 1º. de agosto, o Movimento foi levado à Câmara Municipal para ser
apresentado aos vereadores. Foi uma reunião ampla, onde os pontos genéricos do
movimento foram colocados, com ênfase no discurso de que Maringá estava
perdendo o seu potencial de crescimento econômico. Na ocasião, foi apresentada a
idéia do Fundo Municipal de Desenvolvimento que receberia 1% (um por cento) do
orçamento do município para criar projetos para a cidade. Jefferson Nogaroli, em
reportagem sobre o Movimento na Revista ACIM, destacou que “os vereadores se
sensibilizaram sobre a importância da união em torno de projetos que tirem Maringá
da estagnação em que o município se encontra” (REVISTA ACIM, n. 368, 1996, p.
28). O que foi divulgado nos jornais, também trazia apenas informações superficiais
da reunião:
Os organizadores gostaram muito da receptividade durante a
palestra na Câmara Municipal. Vários vereadores pediram a palavra,
ressaltando a importância de um movimento como o Repensando,
para que Maringá consiga voltar a se desenvolver tanto social quanto
economicamente (O DIÁRIO, 06/08/1996).
Estrategicamente, haveria um outro momento de conversar com os vereadores. O
momento em que deveria haver o pedido para a aprovação da lei que instituiria o
Codem e que veremos em outro capítulo. Enquanto isso, o trabalho era intenso:
Praticamente todos os dias da semana os coordenadores do
Repensando Maringá têm se reunido. São encontros internos, seja
para estudar os rumos do movimento ou articular o conteúdo do
projeto. São realizadas ainda reuniões de conscientização nos mais
variados setores da comunidade” (O DIÁRIO, 22/08/1996).
É importante destacar nesse ponto da pesquisa que as “reuniões de
conscientização” que eram realizadas pelo Movimento Repensando Maringá, tanto
151
com jornalistas, clubes de serviços como o Rotary e o Lions (foto 7), entidades de
classe, setores da indústria, prestadores de serviços, setor agropecuário e com os
representantes das igrejas evangélicas e católica, quanto com os vereadores e
secretários municipais, eram apenas para “amplificar” os ecos do movimento. Os
objetivos específicos eram conscientizar sobre o que estava acontecendo com
Maringá e ganhar a adesão ao projeto. As sugestões para diretrizes, novas idéias,
enfim tudo o que estava fora do escopo original, pensado pela ACIM, com auxílio
técnico do IDR, seriam analisados em uma reunião de Planejamento Estratégico,
coordenada pelo Sebrae. Foram os coordenadores do Movimento que elaboraram,
por exemplo, o projeto que previa a criação do Conselho Municipal de
Desenvolvimento Econômico – Codem, sustentando pelo Fundo Municipal de
Desenvolvimento com uma dotação orçamentária de 1 a 2% do total do orçamento
municipal.
Foto 7
Reunião de conscientização do Repensando Maringá no Rotary Clube
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson
4.4 O Movimento ganha a política
No dia 23 de agosto, 41 dias antes das eleições municipais, os nove candidatos a
prefeito de Maringá se reuniram na sede da ACIM para conhecerem as propostas do
152
Repensando Maringá. Na abertura do encontro, o presidente Hélio Costa Curta
observou que:
O movimento está sendo coordenado por pessoas altamente
capazes técnica e eticamente e não tem qualquer conotação político-
partidária. Não é um movimento apenas de palavras ou discursos.
Ele é formado por representantes das entidades que movem Maringá
e o objetivo é fazer uma parceria com o Poder Público para
buscarmos o desenvolvimento da região (O DIÁRIO, 24/08/1996).
Cada um dos candidatos recebeu as propostas do Movimento e no final da reunião
expressaram suas opiniões. O candidato do PL, Ari Jacomossi, disse que o
movimento era “louvável e bate com nosso plano de governo”. Falou também que
“os empreendedores que procuram uma cidade para se instalar observam a união
dos empresários com o Poder Público. Com o Repensando, quem vier de fora verá
uma forte liderança formada pelos setores público e privado”. Nilton Servo, candidato
do PMN, frisou que as propostas do movimento deveriam ser bem analisadas,
“principalmente a criação do Codem, para que este não seja um órgão paralelo que
tome decisões sem ouvir os anseios da comunidade”. Antonio Picoli, do Partido
Verde, informou que estava construindo quatro indústrias em cidades fora de
Maringá porque estas lhe davam incentivos para a industrialização e geração de
empregos, enquanto “Maringá não”. Assendino Santana, do PRP, disse que o seu
plano de governo vinha “ao encontro do Repensando Maringá” e parabenizou os
empresários que tocavam o projeto. Antonio Carlos Pupulin, vereador, presidente da
Câmara licenciado, candidato do PMDB, disse que o seu projeto de governo era
“semelhante ao Repensando Maringá” e destacou que ficava feliz por ter as mesmas
idéias dos dirigentes do Movimento. Joel Coimbra, candidato do PDT, apoiado pelo
prefeito Said Ferreira, disse que o movimento era “um marco” a partir do qual
Maringá seria uma outra cidade, e concluía dizendo que aquele momento era “a
conscientização da sociedade, de que todos têm que trabalhar para melhorar a
cidade”. José Cláudio, candidato do PT, disse que teve “a ousadia de colocar um
projeto semelhante ao Repensando” em seu plano de governo e frisou que os
“maiores exemplos de boa administração vêm daquelas prefeituras que dividem o
poder”. Sílvio Barros, candidato do PFL, enfatizou que o movimento poderia ainda “ir
mais longe e discutir muitos aspectos importantes” e que a “união em torno do
movimento” era muito importante. Por fim, o candidato Jairo Gianoto, do PSDB,
153
declarou abertamente que “o Repensando Maringá é o caminho. É uma discussão
bastante aberta entre empresários e políticos”. Destacava também que era preciso
pensar Maringá “além dos quatro anos” do mandato (REVISTA ACIM, n. 369, p. 26).
Hélio Costa Curta mostrou otimismo em seu editorial da Revista ACIM de setembro,
dizendo que os candidatos a prefeitos aceitaram as idéias do Movimento sem
demagogias: “conheceram as diretrizes do Movimento Repensando Maringá e
prometeram, caso eleitos, adotar, se não em sua plenitude, ao menos as premissas
básicas do projeto”. Entretanto, fez questão de frisar:
Se eu fosse candidato, adotaria os projetos do Repensando. Afinal,
as premissas do Movimento satisfazem os anseios dos eleitores e,
claro, da população. O documento contempla todos os setores
básicos, desde o emprego, passando pela saúde, educação, até a
cultura. Os projetos estão à disposição de todos (REVISTA ACIM, n.
369, 1996, p. 03).
No dia 28 de agosto, Jefferson Nogaroli, Carlos Walter M. Pedro e Paulo Roberto P.
de Souza, se reuniram reservadamente com o presidente em exercício da Câmara
Municipal, vereador José Carlos Valêncio
92
, para discutir, de forma estratégica,
como seria o encaminhamento dos projetos do Repensando Maringá para que se
transformassem em lei municipal (O JORNAL DO POVO, 29/08/1996). Foram
ajustados todos os pontos para que o projeto pudesse passar pela aprovação dos
vereadores sem emendas ou discussões mais acaloradas. Na sessão ordinária do
dia 29 de agosto, uma quinta-feira, antes do início das votações dos projetos
constantes em pauta, os vereadores ouviram novamente a explanação da minuta do
projeto desenvolvido pelo Movimento Repensando Maringá, que sugeria a criação
do Codem e do Fundo Municipal de Desenvolvimento. Paulo Roberto Pereira de
Souza foi o responsável por discursar em nome do movimento, pedindo que os
vereadores fossem os subscritores da lei. O empresário João Noma, da FIEP,
entregou a minuta do projeto ao presidente da Câmara (O DIÁRIO, 01/09/1996). No
dia 30 de agosto foi a vez do prefeito Said Ferreira receber o anteprojeto que
instituía o Codem e o Fundo de Desenvolvimento para captar anualmente 2% do
total de receitas do orçamento municipal, o que na época somava R$ 1,4 milhão. A
92
José Carlos Valêncio era o vice-presidente da Câmara. Estava no cargo de presidente porque Antonio Carlos
Pupulin havia se licenciado para disputar a eleição para prefeito. Em 2000, quando já não era mais vereador,
ingressou na diretoria da ACIM.
154
informação repassada pelo jornal O Diário, sobre esse item do anteprojeto, era a
seguinte:
Os recursos serão destinados ainda para financiamentos de
atividades na área comercial, industrial e de serviços do município;
custeio e elaboração de projetos técnicos de viabilidade econômico-
financeiro; estudos e pesquisas que orientam programas setoriais
para expansão de investimentos; contratação de pessoal e outras
despesas de interesse social e econômico da cidade (O DIÁRIO,
31/08/1996).
A idéia inicial dos organizadores do Movimento era de que o projeto fosse uma
proposta da Câmara de Vereadores, para que fosse evitado de que o mesmo tivesse
um “pai”, no caso o prefeito que estava próximo de deixar o seu mandato e
trabalhava pela eleição de seu candidato, o ex-promotor e na época deputado
estadual, Joel Coimbra. Entretanto, como se tratava de uma matéria orçamentária,
somente o Poder Executivo poderia propor a sua aprovação para a Câmara. Por
isso, no dia 3 de setembro, o presidente da ACIM, Hélio Costa Curta, em reunião
dos empresários e políticos na prefeitura, entregou nas mãos do prefeito Said
Ferreira os projetos de lei para a criação do Codem e do Fundo Municipal de
Desenvolvimento. Imediatamente, o prefeito assinou e entregou o projeto, agora
como proposta do Executivo, para o presidente da Câmara. O presidente da ACIM
registrou aquele momento como “histórico para a cidade”, enfatizando que a “união
entre empresários e políticos” era fundamental para o desenvolvimento sócio-
econômico de Maringá. Paulo Roberto P. de Souza também falou que os projetos
representavam a necessidade da sociedade se organizar: “E esta não é uma
tentativa de substituição da classe política, eleita pelo povo. É sim um momento de
união”. O tom do discurso também foi o mesmo para o presidente da Câmara de
Vereadores: “Nós notamos que os líderes do movimento não têm interesses
pessoais, mas sim comunitários. Não vemos uma pessoa à frente da iniciativa. É
toda comunidade que está envolvida e por isso o movimento tem todo apoio do
Legislativo” (O DIÁRIO, 04/09/1996). Mas, o prefeito da época não poderia deixar de
se aproveitar da ocasião. A própria Revista ACIM divulgou isso em sua edição de
setembro, na reportagem sobre a entrega do projeto de lei pelo prefeito à Câmara
Municipal: “O prefeito Said Ferreira afirmou que o ato dos empresários vem coroar a
política da atual administração, responsável por obras como o aeroporto, o Cefet, o
novo centro e a nova rodoviária, entre outras” (REVISTA ACIM, n. 369, 1996, p. 24).
155
Em 2003, Said Ferreira publicou um pequeno livro se defendendo das acusações do
Ministério Público de que teria participação nos desvios de dinheiro público
identificados na gestão do seu sucessor, Jairo Gianoto. No livro, Ferreira enumera
as obras e ações desenvolvidas em sua gestão. Sobre o nosso objeto de estudo, diz
o seguinte:
No interesse e visão administrativa de abrir ainda mais politicamente
a comunidade e trazê-la mais perto para mentalização dos projetos
municipais, em 1996, em nossa segunda administração, criamos o
CODEM – Conselho de Desenvolvimento de Maringá. A intenção
seria aquela de reunir lideranças empresariais, acadêmicas, sociais e
representativas de vários setores para que por intermédio da
“discussão do presente e futuro de Maringá” elaborassem projetos
para submetê-los ao Executivo e Câmara de Vereadores de nossa
cidade. Este conselho nasceu de um projeto do Executivo Municipal,
gestão Said Ferreira, já que fazia parte de seu plano de trabalho e
não de uma geração espontânea. Foi implementado e aprovado no
último ano da administração municipal (1996) com recursos
orçamentários próprios a serem liberados na gestão seguinte, em
virtude das dificuldades financeiras em que o Município se
encontrava (FERREIRA, 2003, p. 7).
O vereador José Carlos Valêncio, responsável por fazer o projeto tramitar na
Câmara Municipal, entretanto, tem outra opinião. Segundo ele, em entrevista ao
projeto “10 anos que mudaram a história de Maringá”
93
, realizado pela ACIM em
2005, o Poder Legislativo não tinha idéia da proporção do Movimento:
Esta informação dentro do poder público que havia um Movimento,
talvez consciência de que era um Movimento, que tamanho que era o
Movimento, não tinha. Quando eu estava lá dentro eu tinha certeza
disso, que não tinha conhecimento. Que houve tentativas anteriores
deste grupo de pessoas, desta comunidade, em oficializar estas
coisas, houve, mas, que o poder público não tinha noção de que
trabalho estava sendo feito... um trabalho que estava sendo feito,
bem organizado, bem pautado em reuniões, tudo compilado, tudo
registrado para dar consistência ao trabalho. As pessoas que
estavam pensando no trabalho, com certeza estavam pensando
bem, e pensando para o futuro essas coisas. Tinham consciência de
um trabalho que ia apresentar, e, o poder público não. O poder
público não imaginava a proporção do trabalho que era feito na
comunidade. Porque ocorre isso: acha que o legislador é o dono da
comunidade, esta coisa muda, muda e tem que mudar. É um
parceiro, o local para oficializar é lá, mas não havia esta parceria,
tanto que eu tenho certeza que neste grupo não participou nenhum
93
O projeto “10 anos que mudaram a história de Maringá” foi iniciado em 2005 pela ACIM, sob a coordenação
da professora e mestre em História, Márcia Regina Lupion. O projeto consiste em, através das técnicas da
História Oral, ouvir as pessoas que participaram do Repensando Maringá.
156
legislador, inicialmente. Não enumerei, eu não fiz essa presença dos
membros que estudaram o Repensando Maringá. Mas, certeza que
nenhum legislador não tinha no meio naquela época. Então isto
chegou, tinha que chegar, e chegou bem conduzido, e tão bem
conduzido por este grupo de pessoas, e a gente deu
encaminhamento que tinha... a gente achou que tinha que dar na
época, para aprovar mesmo, que não pudesse virar polêmica, porque
normalmente vira, vira polêmica, isso (VALÊNCIO, 2005).
Na Câmara, os projetos receberam os números 4.274/96 (criação do Fundo) e
4.275/96 (criação do Codem). No dia 10 de setembro, sem nenhum senão e por
unanimidade os projetos foram aprovados pelos vereadores. Na opinião do
presidente da Câmara “quem seria o poder Legislativo para impedir a vontade da
comunidade?”. Para Antonio Fermentão, empresário do setor de publicidade, que
viria a ser, por dois mandatos, presidente do Codem, quando o projeto chegou para
ser votado pelos vereadores já estava tudo acertado, tudo conversado:
Isso tudo é organizado. Isso tudo foi muito bem conversado, muito
bem trabalhado, e eu volto a frisar que nós teríamos que evitar o IOP
(Inveja, Ódio e Pessimismo). Obviamente que uma pessoa, com todo
respeito que eu tenho por cada edil da época, como ele, tem essa
responsabilidade e foi eleito para legislar pela comunidade.
Tínhamos que evitar qualquer tipo de ruído que pudesse acontecer
tipo: “Por quê eu vou aprovar isso se não foi eu que fiz?”. Então a
gente tinha que ter essa responsabilidade, essa capacidade de
sensibilizar o edil para que ele pudesse ser um co-participe desse
processo. E vale ressalvar aqui, frisar, que cada vereador teve a sua
participação, a sua responsabilidade naquele momento, para
viabilizar aquele projeto que era um projeto extremamente [...], como
é que eu posso te dizer, assim, disputado por qualquer um, um
vereador que tivesse a idéia de implantar um projeto como esse. E
ele veio numa mão contrária. Ele não veio de cima para baixo. O
Conselho foi formado de baixo para cima. Ele veio começando com a
formação de um casulo pequenininho e depois foi se transformando
até que virou seda, e de seda virou tecido e de tecido virou essa bela
estampa que nós temos hoje (FERMENTÃO, 2005).
As leis foram, então, encaminhadas para a sanção do prefeito o que ocorreu no dia
16 de setembro. Restava apenas a regulamentação da lei para que o Codem
funcionasse de fato, com os recursos provenientes do Fundo de Desenvolvimento.
157
4.5 Considerações
Gruppi destaca que as classes dominadas ou subalternas em um processo de
hegemonia, “participam de uma concepção de mundo que lhes é imposta pelas
classes dominantes. E a ideologia das classes dominantes corresponde à função
histórica delas, e não aos interesses (...) das classes subalternas” (GRUPPI, 2000,
p. 67). Com isso, se torna fácil com que a ideologia do grupo dominante chegue aos
outros grupos, “por vários canais”, e este grupo construa a sua influência “ideal”
sobre toda a coletividade.
Nos discursos que vimos nesse capítulo, em todo momento os líderes do Movimento
Repensando Maringá apontam que a “comunidade” está participando, que a
“comunidade” está interferindo nos rumos da cidade. Mas, na pesquisa das fontes,
não se vê, em nenhum momento, a participação de representantes de associações
de bairros, de populares, de estudantes e dos trabalhadores que não possuem
sindicato de representação. Antonio Fermentão, que foi presidente do Codem de
2003 a 2005, ao ser questionado sobre quem era a “comunidade” que o
empresariado se referia, se posicionou da seguinte forma:
Eu estou me referindo a todas as ideologias, etimologias (sic), a
todos os segmentos da nossa sociedade produtiva, da nossa
comunidade. Da sociedade de bairros, das igrejas de uma forma
geral, dos clubes de serviços, dos sindicatos de comércio varejistas,
dos sindicatos de comércio da indústria, enfim, de todos os
segmentos representativos da nossa comunidade que tem assento
neste Conselho. Qualquer assunto de relevância para a comunidade
ele tem no Codem o seu lastro forte para ser levado a público, para
que seja executado caso seja uma necessidade da comunidade
(FERMENTÃO, 2005).
Percebemos que o acesso das pessoas “comuns” ao Conselho não se dá
diretamente, ou inversamente na mesma proporção em que o projeto hegemônico
do empresariado fala por elas:
As pessoas consideradas comuns elas têm, na realidade,
associações de bairros e, através das associações de bairros todas
têm assento neste Conselho. Como eu disse para você são 103
entidades que têm assento no Codem. Todas elas têm voz quando
querem reivindicar alguma coisa da sua necessidade. Enfim, toda a
sociedade organizada ou toda a pessoa que quiser ter acesso a
alguma coisa que seja de interesse coletivo e, aqui, não
158
individualizado, ela apresenta isso à sua entidade, à sua associação
de bairro, ao clube de serviço, à sua igreja e isso é trazido ao seio do
Codem para que isso seja analisado se esse projeto é de interesse
coletivo ou não. Obviamente que você tem várias vertentes de
independência ideológica, você não tem aqui pessoas apenas da
classe trabalhadora ou da classe empresarial. Você tem todos os
segmentos unidos que discutem as pertinências necessárias aos
benefícios da coletividade e isso é executado ou não de acordo com
a necessidade e análise deste plenário e das câmaras técnicas que
compõem o Codem (FERMENTÃO, 2005).
Gramsci apresenta em sua tese sobre o Estado de que o mesmo é fruto da
sociedade política somada com a sociedade civil, o que resulta na hegemonia
“revestida de coerção” (BADALONI, 1978, p. 43). Quando a classe operária
conseguisse dar cabo dessa operação, constituindo-se como “bloco histórico”, a
sociedade civil seria o “espaço através do qual são transmitidos os novos impulsos
hegemônicos”. Mais uma vez, invertendo o lado da premissa gramsciana, vemos no
resultado do Movimento Repensando Maringá a apropriação dessa característica de
ser a sociedade civil, invocando o “individualismo” empresarial e obtendo o consenso
dos demais participantes da vida coletiva.
Como vimos no relato do então presidente da Câmara de Vereadores, José Carlos
Valêncio, o Poder Público, especialmente o Poder Legislativo, ficou assistindo a
ação empresarial ser desenvolvida em torno do Movimento Repensando Maringá,
tendo a participação dos vereadores se resumido apenas a aprovar os projetos de
lei, inclusive sem muita discussão sobre o que se estava propondo. Eis o que revela
Valêncio:
Porque que surgem essas coisas? Surgem idéias das cabeças? Não
estou desmerecendo o grupo de pessoas que representava a
comunidade naquele momento no município, mas a cabeça não
estava para isso. Não estava porque não fez, e não tinha condições
técnicas de fazer. Então eu acho isso, o município em si, o Poder
Público, não trabalhou isso, porque não havia condição técnica, uma
capacidade técnica de fazer isso, e também não se pensa nisso, o
planejamento não existe. Existe o dia-a-dia da Câmara, planejamento
é muito pouco, porque a pessoa sabe que ela está trabalhando
quatro anos, e ela tem que trabalhar paralelamente a sua campanha,
se ela quiser continuar. Então, isso inibe você de ter tempo para
planejar. Como vou saber planejar se o meu mandato é de quatro
anos, é um mandato temporário. Termina um mandato, morreu, se
você não quiser continuar você morreu com seu mandato, você volta
a ser um simples mortal ali. Então não havia condição de uma
câmara de vereadores, de legisladores, pensar nisso. Agora você
159
como de fora do sistema, sem depender de um voto para colocar
naquela função, você está como comunidade, você é comunidade o
resto da vida. Eleito ou não, você está na comunidade, você é pai de
família, você é empresário, você é investidor independente de voto,
ou de campanha ou não. Então aí se pensa no futuro. Mas você com
período pequeno, chega até a se pensar, mas não numa
profundidade que pensou o Repensando Maringá. Certeza que havia
condição de aprofundar como o grupo que repensou Maringá na
época pensou, havia esta condição de imaginar o que poderia
acontecer. Tinha cabeça pensando, tinha cabeça consciente do que
se queria, do que se imaginava, e com condições técnicas de
desenvolver isso, o que faltava no Poder Público. E faltou, porque,
durante várias vezes esse grupo tentou mostrar várias vezes para o
Poder Público e o Poder Público não aceitou essas condições, é isto
que acontece geralmente nestes meios (VALÊNCIO, 2005).
O que podemos inferir é que além dos vereadores estarem totalmente fora do
processo, até pelas razões expostas acima, de falta de capacidade mesmo, o
discurso do empresariado era muito convincente. É aí que surge um outro
componente da hegemonia, entendida não só como “política, mas também um fato
cultural, moral, de concepção de mundo”: a supremacia. “A supremacia é domínio e
direção. Pode-se dizer que é domínio e hegemonia” (GRUPPI, 2000, p. 73, 79). É no
terreno da supremacia que:
A luta política se torna assim uma série de fatos pessoais entre
espertalhões que têm as rédeas nas mãos e aqueles que são
ludibriados pelos próprios dirigentes que não querem se convencer
de sua incurável burrice. Aliás, enquanto esses movimentos não
chegarem ao poder, se pode sempre pensar que vão fracassar
(SADER, 2005, p. 32).
Por isso, para não fracassar os líderes do Movimento Repensando Maringá criaram
mecanismos para valorizar ao extremo as ações desenvolvidas e a quantidade de
pessoas envolvidas no processo de reconstrução do desenvolvimento econômico
local. Tornou-se habitual dizer que o Codem tem mais de 100 entidades
representadas no seu plenário e câmaras técnicas; de que foram feitas “mais de 140
reuniões com toda a sociedade civil organizada” (ACIM, 2006, p. 127) para
apresentar o Movimento, entre outros números que não podem ser comprovados.
Esses números ajudaram a formar o consenso ou o consentimento ao projeto
hegemônico do empresariado, “um tipo de direção consensual sobre os que aceitam
ou consentem, e inclui uma dimensão coercitiva sobre os que se recusam, ou seja,
160
os que extrapolam os meios de oposição considerados legítimos pelo grupo
hegemônico” (SECCO, 2002, p. 100).
161
Capítulo V
Maringá 2020
O Repensando já é lei. Veio para ficar. É a
manifestação espontânea de membros da
comunidade, exercendo seu direito de cidadania,
opondo-se a atos autoritários ou a omissões futuras
de pessoas que exercerão o poder municipal. Não
será mais possível pensar Maringá à revelia do
povo.
Luiz Antonio de Souza, reitor da UEM
94
94
REVISTA ACIM, n. 370, 1996, p. 10.
162
5.1 Pensando Maringá em 8 horas
O Movimento Repensando Maringá já contava com o projeto hegemônico do
empresariado aceito pelos poderes constituídos quando, em 11 de setembro de
1996, reuniu todos os segmentos que participavam de uma maneira ou outra do
processo para traçar um Planejamento Estratégico para Maringá até o ano 2020.
Participaram da reunião no Hotel Deville 63 pessoas, que discutiram as chamadas
diretrizes macro, previamente definidas pelos líderes do Movimento, para os
segmentos produtivos e para o plano social da cidade (foto 8). Conforme a Revista
ACIM, entre os participantes estavam o reitor da UEM, professor Luiz Antonio de
Souza; o diretor da TV Cultura de Maringá
95
, Nilson Tadeu Campos Silva; o
presidente do Sindicato dos Comerciários, Cícero Moreira dos Santos; o presidente
do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de Maringá, João
Lino de Oliveira; o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Epifânio Magalhães e o
Arcebispo de Maringá, Dom Jaime Luiz Coelho; além de “outras dezenas de
representantes de sindicatos patronais e de trabalhadores, profissionais liberais,
autoridades religiosas, políticas e empresariais, professores e executivos” (REVISTA
ACIM, n. 370, 1996, p. 08).
Foto 8
Os participantes do Planejamento Estratégico Maringá 2020 posam
para a foto após "projetarem" a Maringá do futuro
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
95
A TV Cultura é retransmissora da Rede Globo de Televisão.
163
Para coordenar a reunião de planejamento foram convidados consultores do Sebrae.
Inclusive o seu superintendente estadual, Hélio Cadore, veio de Curitiba para
participar da reunião. A moderação dos trabalhos ficou a cargo do consultor Cláudio
Serrato, especialista em dinâmicas de grupo. Todo o planejamento durou oito horas
de trabalho: das 14 até às 22 horas. Os temas trabalhados foram: indústria,
comércio, prestação de serviços e agricultura; qualidade de vida, educação, saúde e
lazer. Segundo Claudio Serrato, a participação do Sebrae ajudou no sentido de
“como fazer” as coisas pensadas pelo Movimento acontecerem:
Uma série de entidades participaram, UEM, ACIM, FIEP, acho que
foram os grandes catalisadores do processo no início e, a partir daí
se desenvolveu uma visão do que se queria. Mais, eu acho, que não
se tinha muito a forma de como fazer. A forma como poderia ser feito
e foi aí que o Sebrae entrou. Nesta visão de como estruturar um
método, de como ajudar a estruturar um método onde como
pudesse, a partir do envolvimento da participação das pessoas, gerar
um resultado, gerar uma sinergia e essa sinergia mais na linha de um
compromisso ou comprometimento com esse resultado. É esse
desafio que a gente levou, que a gente discutiu bastante no Sebrae
para estruturarmos o evento que aconteceu daí em 11 de setembro,
que foi o evento que imagino que trouxe a público, tornou realmente
válido a partir daí, o Movimento Repensando Maringá (SERRATO,
2005).
Nesta entrevista, Serrato também evidencia que o Sebrae tinha uma preocupação
de conseguir extrair dos participantes conteúdos que pudessem significar algo válido
para o Movimento, por isso a decisão de trabalhar também com o emocional das
pessoas:
(...) isso para nós se tornou realmente um desafio enorme porque
precisávamos fazer um evento que extraísse desse público um
conteúdo com qualidade, um conteúdo das percepções e dos
desejos dessas lideranças mais, também, ao mesmo tempo, nós
precisávamos criar um evento que trouxesse crença, que trouxesse
sinergia, que trouxesse um diferencial de tudo que já havia sido feito
ou que essas pessoas tinham vivenciado (...) e nós resolvemos fazer
um trabalho com um processo de dinâmicas onde tivesse o processo
participativo como ênfase para extrair de todas as pessoas e que
todos que estivessem no evento pudessem opinar, trazer suas
opiniões sobre as questões que estavam sendo discutidas, ao
mesmo tempo, nos também criamos nesse evento, o objetivo de
gerar uma troca de experiências, um intercambio de experiências
que isso ajudaria a gerar uma relação de proximidade entre as
pessoas e de confiança entre as pessoas para que esse processo de
confiança fosse estendido na hora das decisões que foram tomadas
naquele dia. Também colocamos como um objetivo um processo de
trabalho que pudesse trabalhar um dos aspectos do comportamento
164
daquelas pessoas que estavam no evento. Então, muito mais do que
produzir uma decisão, transcrever para o papel uma idéia,
transcrever uma decisão ou uma proposta, nós queríamos criar
nesse evento uma empolgação onde o emocional também estivesse
envolvido (SERRATO, 2005).
Para despertar o emocional dos participantes, a equipe do Sebrae editou um vídeo
do filme Sociedade dos Poetas Mortos
96
com alguns trechos que falavam do
companheirismo e de acreditar sempre no futuro.
Sociedade dos Poetas Mortos fala muito sobre crença, então a gente
editou algumas partes do filme que falavam sobre crença. E a gente
trabalhou com as pessoas dentro do evento a crença: crença no
futuro, crença na capacidade dele, no propósito, nas propostas que
se tinha. Trabalhamos com alguns assuntos (...) fortaleceu ainda
mais a crença, a visão de que uma ação, plano de trabalho, uma
idéia, muitas vezes ela tem início, mas ela não tem fim por si só.
Então, ela é de muito longo prazo, então, as pessoas têm uma
crença continuada. Por que não adianta você pensar no momento
que se estabelece um plano de trabalho em que as coisas começam
e que aí, por si só, ela vai dar continuidade. Então, as pessoas
precisaram acreditar e colocar energia e se disponibilizar a colocar
energia nesse processo por um tempo longo. A gente trabalhou isso
também (SERRATO, 2005).
Ao fazer a reportagem sobre a reunião onde o Movimento escreveu o que se queria
do futuro de Maringá, na edição de outubro de 1996, a Revista ACIM informava que
ainda não tinha o conteúdo do que havia sido planejado, mas
O que se pode antecipar é que várias condições foram levantadas
para que Maringá consiga atingir seu pleno desenvolvimento. Entre
estas condições estão o entrosamento entre a Universidade e a
comunidade; o resgate do Planejamento de Maringá; a mudança do
modelo agrário e incentivo ao desenvolvimento agro-industrial; a
melhor qualificação profissional dos trabalhadores; a união política; a
criação do Pólo da Indústria Têxtil; o fortalecimento de nossas
instituições, principalmente nas áreas de saúde e educação e a
maior atenção do Governo do Estado para com a cidade. É preciso
haver, enfim, uma mudança de mentalidade (REVISTA ACIM, n. 370,
1996, p. 09).
Entretanto, para uma atualização do discurso, a Revista ACIM ouviu as impressões
de alguns participantes do Planejamento. Carlos Walter Martins Pedro, coordenador
96
O filme Sociedade dos Poetas Mortos, original em inglês Dead Poets Society, lançado nos Estados Unidos em
1989, fala de um professor universitário que chega para dar aulas de Literatura em um colégio conservador. O
professor revoluciona os métodos de ensino ao propor que seus alunos aprendam a pensar por si mesmos.
Ganhou o Oscar de melhor roteiro original
165
regional da FIEP, destacou que “nossa luta apenas começou” e dizia que “a
comunidade tem que continuar unida, participando, dando idéias e auxiliando na
execução das diretrizes do Repensando Maringá”. Hélio Costa Curta, presidente da
ACIM, disse que “a comunidade tem que ser responsável pelo desenvolvimento
econômico”, pois o poder público “já tem problemas de ordem social, como saúde,
educação e habitação”. Ele defendeu que o setor produtivo deveria ser responsável
por “definir as prioridades de investimentos”. O arcebispo, Dom Jaime Luiz Coelho,
frisou que “esta união de forças vivas de nossa sociedade levará ao futuro prefeito e
ao governador um pensamento único, que é a vontade de desenvolver o potencial
de nossa região”. Já a fala do reitor da UEM é uma das mais destacadas pela
reportagem:
Quando membros expressivos da comunidade maringaense, num
momento nacional de alta competitividade e individualismo
exacerbado, se despojam de interesses pessoais e se reúnem em
defesa intransigente da retomada do desenvolvimento sócio-
econômico e cultural de Maringá, é porque algo mudou, e para
melhor (REVISTA ACIM, n. 370, 1996, p. 10).
O sindicalista João Lino de Oliveira, presidente do Sinteemar, também ganha
destaque em uma de suas falas, se referindo ao resultado do planejamento: “é uma
obra fabulosa, que pode mudar nossa realidade, construindo uma política voltada
para o interesse comum e criando agentes políticos com representatividade”. Para o
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Epifânio Magalhães, o planejamento
poderia “acender a chama do desenvolvimento” e que Maringá só teria a ganhar
“com a união de classes”. Representando os veículos de comunicação, o diretor da
TV Cultura, Nilson Tadeu Campos Silva, foi enfático: “com o envolvimento tão
grande da comunidade, o Poder Público terá que respeitar as decisões do
movimento” (REVISTA ACIM, n. 370, 1996, p. 09, 10, 11 e 12).
Questionado se os líderes do Movimento influenciaram com algum direcionamento
prévio dos assuntos para chegar a um determinado objetivo, o consultor do Sebrae
revelou que houve uma série de discussões anteriores para que o resultado do
trabalho fosse aquele esperado:
(...) nós participamos dessa discussão por várias vezes porque é
uma preocupação que eu sempre tenho quando eu vou produzir um
166
evento, de buscar a realização de um evento, porque por mais que
as pessoas estão contratando um evento, muitas vezes elas não têm
muito claramente o que elas desejam, como resultado no final, mas
elas têm uma idéia: “- olha, nós gostaríamos de sair com uma
posição mais ou menos assim”. Aí a gente extraiu dessas pessoas
por várias vezes, questionando, contra-questionando: “olha, isso”,
“segue com isso”, “tá bom?”, “mas o que mais?” e diante de toda
essa expectativa colocada, nós dimensionamos inclusive esse
método e a linha de raciocínio que nós queríamos para o evento,
aquilo que as pessoas extraíram como em extrato, como um resumo
de trabalho dentro de um foco, que os objetivos fossem dentro
daquela linha desejada por essa equipe. Ou seja, os principais
objetivos que se queria naquele dia era gerar, acima de tudo, uma
interação dessas pessoas, para que se gerasse uma proximidade,
então o evento tinha esse objetivo de gerar esse senso de uma
equipe, as pessoas tinham que passar a partir dali, se vendo um
pouco mais integrante de uma equipe para construir um futuro em
conjunto. Mas, ao mesmo tempo, a gente tinha que produzir algumas
visões sobre o futuro que pudessem canalizar os esforços das
diversas entidades e dos projetos para atingir aqueles objetivos na
visão, podemos até chamar de sonho, uma visão de 24 anos à frente
naquela época que nós produzimos, mas tinha que ser algo possível
de ser realizado, ou seja, não poder ser uma coisa tão pequena que
as pessoas não se mobilizam para isso, mas também não pode ser
algo tão extraordinário, tão diferente que também a pessoas não se
mobilizassem para buscar aquilo porque elas não acreditam que
aquilo seria possível. Então, a gente sempre se preocupou com isso.
E ai nós desenhamos e discutimos muito a questão dos objetivos
fundamentados nisso: “olha, nós queremos gerar integração,
queremos gerar algumas diretrizes”, ou seja, um plano que norteie o
andamento do Codem, com uma visão de longo prazo, esse prazo
nós estabelecemos em conjunto. Inicialmente seria uma coisa de
menor prazo, mas, aí nós conseguimos estimular os coordenadores
a pensar numa visão de mais longo prazo. Porque a gente sabia que
naquele momento era importante pensar mais à frente, até porque
numa visão de processo de desenvolvimento sabemos que 24 anos
é nada (SERRATO, 2005).
Não se pode afirmar que fazia parte da estratégia do Movimento, mas o resultado do
planejamento Maringá 2020 não foi divulgado na época. Nada apareceu na
imprensa e, tampouco, foi mostrado pela Revista ACIM. Poucos tiveram acesso ao
documento. Na reportagem de outubro, o empresário Jefferson Nogaroli havia
destacado que os resultados seriam apresentados em um Fórum de
Desenvolvimento que seria realizado até o final do ano. No dia 24 de outubro,
novamente no Hotel Deville, e para um público de 160 pessoas, conforme a Revista
ACIM, aconteceu a chamada reunião dos “notáveis” que contou entre eles com a
presença do prefeito eleito, Jairo Gianoto. No encontro, o coordenador do
Movimento, Paulo Roberto Pereira de Souza, explicou toda a forma de
167
funcionamento do Codem e do Fundo de Desenvolvimento, que já haviam sido
aprovados por lei municipal. O coordenador também traçou qual o perfil ideal para os
conselheiros que iriam fazer parte do Codem. Entretanto, nada foi apresentado
sobre o planejamento Maringá 2020.
Uma pequena e rápida menção ao Maringá 2020 foi feita em uma reportagem do O
Jornal do Povo, destacando um documento elaborado pela UEM e entregue aos
representantes do Movimento Repensando Maringá:
A Universidade Estadual de Maringá (UEM), através de professores
de diferentes áreas, elaborou um documento intitulado “Diretrizes
para elaboração de plano de desenvolvimento econômico de
Maringá”, que consiste na apresentação de subsídios para a
elaboração de um plano de desenvolvimento, estruturado para o
setor rural, industrial, comercial e de serviços (O JORNAL DO POVO,
04/12/1996).
Doze professores da UEM, coordenados pelo diretor do Centro de Estudos Sócio-
Econômicos, professor José Roberto Pinheiro de Mello – outro intelectual do
movimento - diagnosticaram os principais problemas apontados durante a reunião de
planejamento Maringá 2020 e elaboraram um plano de desenvolvimento para a
cidade com o horizonte até o ano 2000. No documento, também foram “identificadas
algumas tendências a partir de observações e expectativas de mudanças que vêm
ocorrendo em nível global e, por último, definidas as diretrizes para a retomada do
crescimento e desenvolvimento econômico e social” (O JORNAL DO POVO,
04/12/1996). Este estudo também sequer foi mencionado na Revista ACIM e seu
conteúdo ficou apenas nas mãos dos líderes do Repensando Maringá.
5.2 O documento Maringá 2020
O portal eletrônico que o Codem mantém atualmente na Internet apresenta uma
síntese do que foi o planejamento feito no dia 11 de setembro. Entretanto, não
podemos afirmar que se trata de uma cópia fiel do documento produzido, uma vez
que encontramos outros documentos com conteúdos diferentes, sendo que um
deles está no Anexo nº 3 deste trabalho.
168
Essa é a íntegra do documento que se encontra na Internet, planejando oito áreas
estratégicas da cidade:
O Movimento Repensando Maringá, que culminou com a criação do
CODEM, definiu a Maringá esperada para o ano 2020, como esforço
de programação de longo prazo da cidade desejada para o futuro.
Essa definição constituiu-se no norte orientador das ações e da
construção de políticas de desenvolvimento econômico do Codem.
Foram as seguintes principais definições, por área, para a Maringá
de 2020 (CODEM, 2007).
As definições para a área comunitária foram as seguintes:
O crescimento da cidade deve ser planejado de maneira a
consolidar-se como cidade de porte médio com população
aproximada de 500.000 habitantes. A qualidade de vida deve
constituir-se no principal objetivo da sociedade, compreendendo
melhor distribuição da renda, elevados padrões de renda, educação,
saúde, saneamento, habitação, comunicação, transporte, segurança,
etc., e o desenvolvimento harmônico do maringaense em artes,
música, filosofia, folclore, literatura, esporte, lazer e línguas. O
planejamento urbano deve integrar o desenvolvimento humano com
a natureza, de maneira a harmonizar o homem e a natureza. A
sociedade civil deve ser organizada e representativa. Maringá deve
constituir-se no local onde o ser humano possa ser plenamente feliz
com a sua dignidade respeitada num ambiente de plena liberdade
(CODEM, 2007).
Para a área universitária as diretrizes foram:
Transformar Maringá em centro de excelência de desenvolvimento
científico e tecnológico e de formação universitária. As demandas,
necessidades e/ou deficiências regionais devem ser objeto de
profunda investigação e domínio no sentido de identificar os meios
de atendê-las ou superá-las. A formação empreendedora deve se
constituir em matéria curricular dos ensinos superior e médio
(CODEM, 2007).
Para a área de integração tecnológica:
O crescimento econômico deve ter como fim último o
desenvolvimento social e o seu processo contínuo deve buscar
sustentabilidade com controle e preservação ambiental. Portanto, o
que se pretende é que a cidade se torne um centro avançado de
integração tecnológica, com capacidade para desenvolver e
aprimorar produtos e serviços (CODEM, 2007).
Área de investimentos:
As oportunidades de negócios devem ser criadas para o
aproveitamento dos vazios setoriais e para o alongamento da cadeia
169
produtiva, privilegiando a agroindústria, as atividades de alta
agregação de valor e intensivas de tecnologia. Os investimentos em
turismo e lazer devem merecer atenção especial (CODEM, 2007).
Diretrizes da área de agricultura e agroindústria:
Consolidar Maringá como pólo agroalimentar de base tecnológica,
com agricultura empresarial forte, diversificada e internacionalmente
competitiva (CODEM, 2007).
Para a área de comércio e serviços:
Aperfeiçoar a vocação de centro prestador de serviços, consolidando
a cidade como pólo de excelência de serviços de educação e de
saúde e aperfeiçoá-la na realização de eventos e nas atividades de
turismo, lazer, artes, arquitetura e urbanismo e gastronomia, entre
outras (CODEM, 2007).
Para a área de comércio exterior:
Atribuir à cidade a função de centro internacional de comércio, com a
constituição de um portal do Brasil e do Resto do Mundo para o
MERCOSUL (CODEM, 2007).
As diretrizes da área de gestão empresarial foram:
Caracterizar Maringá como um centro de formação e treinamento de
recursos humanos para diversas áreas da produção e da gestão
industrial e de serviços, mediante a instalação de Centro de
Tecnologia Industrial, de Incubadoras Tecnológicas e um Centro de
Empreendedorismo, visando a consolidação de uma Tecnópolis. O
objetivo é o de alcançar modelo econômico sustentável, com
atividades de grande agregação de valor que proporcionem elevados
níveis de emprego e renda à população local (CODEM, 2007).
É importante ressaltar que as diretrizes trabalhadas no planejamento foram aquelas
que já haviam sido apresentadas pelos coordenadores do Repensando Maringá,
fomentadas nas “reuniões de conscientização” e que já faziam parte de outros
projetos da ACIM, principalmente os que haviam sido elaborados pelo IDR e
entregues ao Governo do Estado.
170
5.3 Considerações
Os empresários, a partir desta reunião de 11 de setembro, validaram
consensualmente uma forma de atuação, dentro do seu projeto hegemônico, com
grande interferência nas políticas urbanas. O planejamento serviu como uma
bússola para orientar o discurso de que para a cidade superar a crise do início dos
anos 1990 era necessário torná-la competitiva para a atração de investimentos e
para o desenvolvimento regional. Para isso, a idéia era transformar a cidade em uma
empresa bem estruturada e que pudesse ter uma capacidade de inovação para
gerar riqueza e renda aos seus moradores.
Esse discurso está na gênese do Movimento Repensando Maringá, foi elaborado
pelos seus líderes e pelos intelectuais orgânicos que deram sustentação ao
movimento. Em matéria jornalística publicada no jornal O Diário do Norte do Paraná
sobre o lançamento do Movimento, há o comentário de que a sua intenção era
“auxiliar na retomada do desenvolvimento do município, que vem sofrendo com a
falta de projetos nesse sentido, com o descaso do governo estadual, e com as
políticas econômicas do Governo Federal” (O DIÁRIO, 19/07/1996). O diretor da
FIEP e presidente do Sindimetal, na época, Carlos Walter Martins Pedro, da linha de
frente do movimento, anuncia a conclusão que havia tirado de estudos apresentados
por intelectuais que participavam daquele momento:
Já que perdemos os modelos econômicos que tínhamos, precisamos
substituí-los. Nunca foi feita uma análise de conjuntura de Maringá: o
que somos, o que precisamos, para onde vamos. Precisamos de um
modelo para seguir. Estamos fazendo este movimento porque não
estamos vendo ações que apontem uma saída (O DIÁRIO,
19/07/1996).
Pensar a cidade quase 24 anos à frente, convenhamos, não seria possível de ser
feito em apenas 8 horas de planejamento estratégico. Fica claro, pelo estudo das
fontes já apresentadas, que o Movimento buscou estabelecer um consenso entre os
participantes, por intermédio do “envolvimento das pessoas, no intercâmbio de
experiências, na troca e no emocional” (SERRATO, 2005). Nesse consenso, as
diretrizes para até 2020, revelam a necessidade de transformar Maringá em uma
171
cidade competitiva, empreendedora, que saiba vender a sua marca, entendida como
a boa qualidade de vida.
As inspirações do empreendedorismo urbano são as mesmas do empreendedorismo
individual, segundo as quais todos poderiam se tornar empresários. O objetivo
principal seria “aumentar a capacidade de inovação e adaptação das regiões
envolvidas” (BENKO, 1999, p.137), além de mobilizar esforços e recursos (humanos,
financeiros, tecnológicos e políticos) locais para organizar e coordenar a acumulação
privada. Esse era o discurso da ACIM e o discurso do Movimento Repensando
Maringá: “Por que os investimentos que levam ao desenvolvimento do setor
produtivo não podem ser decididos pelos próprios empresários?” (REVISTA ACIM,
n. 369, 1996, p.03). Não resta dúvida que da perseguição aos objetivos do
empreendedorismo urbano, como no caso planejado para Maringá, pode resultar
uma nova configuração dos recursos locais que potencialmente favorece os
interesses econômicos dominantes em detrimento de políticas sociais e de
redistribuição de renda e riqueza (BRAGA, 2001, p 26), por mais que aquele
discurso pregasse o contrário.
O discurso da necessidade de Maringá ser uma cidade empreendedora que vimos
como resultado do Maringá 2020, apresenta um perigo, ao nosso ver, já explicitado
por Braga (2001) ao estudar caso semelhante em Belo Horizonte, que é: “a erosão
da distinção entre interesses públicos e privados e de transformação, pela via do
discurso do consenso, de interesses puramente particulares, em objetivos coletivos
os quais a sociedade como um todo deve dar suporte” (BRAGA, 2001, p. 26).
A estratégia do empreendedorismo urbano pressupõe uma economia local flexível,
atrativa para grandes investimentos, com redes de empresas e de distritos
industriais (BENKO, 1999, p. 228). Há também a necessidade de que a cidade seja
um centro de inovação tecnológica para poder firmar-se na liderança de uma
economia de escala, altamente empreendedora. Tudo isso foi previsto no
planejamento estratégico do Repensando Maringá, a partir dos estudos dos seus
intelectuais orgânicos.
172
O presidente da ACIM, Hélio Costa Curta, no editorial da Revista ACIM de setembro
de 1996, dizia que a entidade lutava pelo Movimento Repensando Maringá pois
“acreditava que as mudanças devem ocorrer de baixo para cima” e que estava
“tomando iniciativas políticas e administrativas” para tentar “tirar a corda” do
pescoço dos empresários e trabalhadores. De acordo com Braga, o modelo de
desenvolvimento local proposto a partir de estratégias como essas, é do tipo reativo.
Segundo a autora:
Frente ao processo de reestruturação econômica propõe-se uma
estratégia de desenvolvimento focada no plano local ao estilo “salve-
se quem puder”, ou “querer é poder”. Argumentam os defensores de
tais estratégias que elas seriam capazes de promover um
desenvolvimento “de baixo para cima” porque o controle dos
processos econômicos e das condições indutoras das decisões de
investir estariam nas mãos dos atores locais, sejam eles públicos ou
privados, e porque haveria um “interesse local” comum, uma
finalidade única para o qual convergiria a ação de todos os atores.
Tal visão só pode ser aceita quando se expurga o conflito do campo
de análise. Ora, há que se considerar que não há possibilidade de
participação autêntica, verdadeira, onde não há o reconhecimento do
conflito, dos interesses em conflito, isto é, onde não há política.
Portanto, podemos concluir que a participação proposta por essas
teorias ocorrem predominantemente no âmbito do discurso (BRAGA,
2001, p. 27).
Braga também destaca que o empreendedorismo urbano tem como outra estratégia
a “criação de fóruns de discussão e articulação”, como o caso do Movimento
Repensando Maringá. No entanto, esses fóruns são realizados “segundo uma ótica,
composição e regras de funcionamento” tais que “funcionam antes como arenas de
legitimação dos interesses dominantes do que como instâncias de participação
cidadã efetiva” (BRAGA, 2001, p. 28).
Aliada a tese do empreendedorismo urbano está a da cidade competitiva, que em
resumo seria colocar a cidade “no mapa do mundo”. A cidade competitiva deve estar
inserida “na nova economia de fluxos de capitais, mercadorias e informações, de
modo a lhe conferir posição de destaque na hierarquia global de cidades”, só assim
será possível atrair “investimentos estrangeiros, matrizes das grandes corporações,
instituições internacionais, feiras, convenções e turistas” (BRAGA, 2001, p. 30).
173
No planejamento Maringá 2020, o Movimento Repensando Maringá dá a orientação
para que os futuros governos locais tenham como principal tarefa o cumprimento de
uma agenda de antecipação, produção e oferta dos requisitos de produtividade e
competitividade de Maringá, que passaria pela oferta de infra-estrutura e qualidade
de vida, requisitos essenciais para mão-de-obra altamente qualificada, um dos
objetivos intrínsecos do planejamento. De acordo com Castells e Hall (1996), fazem
parte desse ambiente competitivo na cidade os “edifícios inteligentes”, dotados de
redes de fibras óticas; os teleportos, que seriam estações terrestres de
telecomunicações; as infra-estruturas de transportes de alta velocidade (como um
novo aeroporto), bem como os hotéis e residências de luxo dotados com infra-
estrutura de lazer e cultura e localizados em ambiente agradável (limpo, seguro,
preservado e embelezado), além de universidades tecnológicas e científicas de
primeira linha. Tudo isso, de um modo ou outro, está contido no Maringá 2020.
É importante recuperarmos a discussão feita por Vainer (1999) de que a cidade
resultante do planejamento estratégico é vista como mercadoria e como empresa.
Como cidade-mercadoria ela está posta à venda e à compra em um “mercado
constituído pela demanda de localizações pelo grande capital” (VAINER, 1999, p.
03). Já a cidade como empresa, um sujeito econômico, tem obrigação de gerir seus
recursos de forma a maximizar sua capacidade de concorrer internacionalmente e
que tem seus objetivos subordinados à lógica do mercado, à produtividade e
competitividade (VAINER, 1999). Para Braga, a função do poder público em uma
cidade vista como empresa e como mercadoria, é o de “assumir o papel de gerente
e promover sua produção, marketing e venda” (BRAGA, 2001, p. 32). Nessa função,
o poder público deverá estimular a iniciativa privada “para construção de prédios de
escritórios, shoppings centers, prédios de apartamentos de luxo, hotéis e centros de
convenções”. De acordo com Rodrigues (2004) esses estímulos constituem
concessões aos agentes imobiliários, na forma de flexibilização da legislação
urbanística. A cidade pensada e produzida desse modo torna-se um lugar sem
regulamentos, sem lei, onde os atores privados, o capital externo
97
, barganham
abertamente por vantagens, ganhando espaço e poder político dentro do poder
público (BRAGA, 2001, p. 32).
97
“Externo”, nesse sentido, corresponde a tudo o que está fora do “local”.
174
Utilizamos a discussão feita por Braga para concluirmos essas considerações sobre
o planejamento Maringá 2020, que vai exatamente ao encontro daquilo que
apresentamos como o projeto hegemônico do empresariado local:
(...) pode-se concluir que a cidade competitiva não é apenas um
instrumento de planejamento urbano, mas também um instrumento
de dominação social e legitimação de interesses econômicos
privados, na qual consenso é a palavra mágica. Entretanto, tal
consenso é, ao que tudo indica, uma peça de ficção em cidades
marcadas pela tendência estrutural de desigualdade social e pelas
assimetrias de poder entre os diferentes atores que tomam assento
nas estruturas locais “promotoras de consenso” (BRAGA, 2001, p.
33).
E o problema torna-se mais sério ainda no plano do simbólico e nos efeitos que trará
sobre a política e a democracia urbana, colocando em oposição diversos atores
sociais.
175
Capítulo VI
O Conselho de Desenvolvimento Econômico
Não adianta sermos uma cidade rica em uma
região miserável. Se isto acontecesse, teríamos
duas classes: a dos que não comem e a dos que
não dormem. Por isto, precisamos ter uma política
permanente que esteja atenta ao desenvolvimento
auto-sustentado da região.
Jefferson Nogaroli
98
98
Citação do presidente da ACIM parafraseando o embaixador do Brasil na ONU, Josué de Castro, morto em
1973 (ACIM, 2006, p. 143).
176
6.1 Uma idéia pronta
Embora alguns acontecimentos relatados nesse capítulo já tenham sido historiados,
principalmente no capítulo V, entendemos ser necessário reforçar a estratégia e o
esforço político do empresariado para aprovar a lei que criou o Codem e o Fundo
Municipal de Desenvolvimento, retomando inclusive o discurso dos atores do
Movimento. Acreditamos que as informações complementares darão o sentido que
esperamos no entendimento do processo histórico.
Em 10 de fevereiro de 1993 o prefeito Said Ferreira assinou a lei municipal nº. 3335
criando o Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá – Codem, três anos
antes do Movimento Repensando Maringá iniciar a construção de seu projeto
hegemônico. O Conselho tinha caráter apenas consultivo, de acordo com o artigo
segundo da referida lei. Suas finalidades eram:
a) estabelecer intercâmbio permanente de informes com os demais
órgãos municipais, visando o maior desenvolvimento econômico
do município;
b) estimular, fortalecer e institucionalizar a participação dos setores
organizados da sociedade de Maringá no processo de tomada de
decisões, no setor de desenvolvimento e consultoria econômica
do Governo Municipal;
c) desenvolver o espírito associativo entre os representantes
populares que militam nos órgãos públicos federais e estaduais;
d) realizar e promover o estudo dos problemas que cerceiam o
progresso econômico do município;
e) estudar a legislação adotada, incrementar medidas, estabelecer
fluxos contínuos e permanentes de informações, nos segmentos
econômicos, a fim de facilitar os processos de planejamento e
decisão (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ, 1993).
Apesar da lei, o Codem não saiu do papel por falta de regulamentação. Na edição
da Revista ACIM de outubro de 1993 é publicada uma explicação do prefeito para a
não regulamentação do Conselho, atribuída à falta de recursos na Prefeitura: “de
nada adiantaria estar com a estrutura montada, mas sem condições de realizar um
trabalho a altura do que a cidade merece” (REVISTA ACIM, n. 337, 1993, p. 21).
Informava ainda a reportagem:
Como prevê a lei, o funcionamento do Codem depende de recursos
que devem estar incluídos no orçamento do município, e de
convênios a serem assinados com instituições financeiras mantidas
177
pelos governos estadual e federal. Estes recursos vão estar à
disposição do Conselho através do Fundo Municipal de
Desenvolvimento. O Fundo dará suporte financeiro para as
atividades do Codem. Assim, será possível a realização de projetos
de incentivo à instalação de novas empresas e de melhoria na
qualidade de vida da população (REVISTA ACIM, n.337, 1993, p.
21).
A esta altura da dissertação, essas informações sobre o Codem e o Fundo não são
nenhuma novidade. O diferencial está na questão de que tudo já estava pronto em
1993. A idéia do Codem, inclusive como auxiliador na tomada de decisões no setor
de desenvolvimento econômico, estava pronta. Havia até a especificação de como
seria o conselho:
A diretoria do Conselho será composta pelo prefeito – como
presidente de honra – e representantes da universidade, dos poderes
Legislativo e Judiciário, do Ministério Público, da Ordem dos
Advogados do Brasil, de entidades religiosas e de associações de
assistência social, de classe, de serviços e de bairros. O conselho se
reunirá a cada três meses em sessões públicas e seus membros
levantarão problemas e discutirão sugestões para eliminá-los
(REVISTA ACIM, n. 337, 1993, p. 21).
O diretor de Fomento Econômico do Banco do Estado do Paraná – Banestado
99
,
Paulo Roberto Pereira de Souza, já aparecia na época como o grande incentivador
do Codem: “é o município, através de seus cidadãos, controlando e discutindo seu
próprio destino, o que considero uma visão moderna e inovadora de
desenvolvimento” (REVISTA ACIM, n. 337, 1993, p. 21).
Foi por intermédio de Paulo Roberto P. de Souza, em 1996, que o presidente da
ACIM, Hélio Costa Curta, e o diretor de comércio exterior, Jefferson Nogaroli,
tomaram conhecimento da existência do projeto engavetado na prefeitura. Quando o
Movimento Repensando Maringá começou a ganhar corpo, o projeto foi sacado
como um trunfo pelos seus líderes e apresentado como a alternativa de solução para
a crise pela qual Maringá passava, no entanto Costa Curta revela que:
O projeto era muito limitado e foi necessário envolver a sociedade
em nossa idéia. Começou então o Movimento Repensando Maringá.
99
O Banestado era o banco estatal do Paraná. Em 17/10/2000 foi vendido para o Grupo Itaú por R$ 1.625,00
milhões, dentro do processo de privatização dos bancos estatais patrocinado pelo governo Fernando Henrique
Cardoso.
178
Houve a participação de líderes, como Jefferson Nogaroli, que
implantou mudanças importantes no município; Paulo Roberto
Pereira de Souza, que defendeu a idéia e foi um dos articuladores da
criação do Conselho; e Joilson Dias, que levantava os dados sócio-
econômicos do Município provando que precisávamos pensar no
futuro para levantar nossa economia novamente. O Conselho é uma
junção de entidades representativas da cidade. Todos abraçaram a
idéia e ninguém pode dizer ser dono dela (ACIM, 2006, p. 118).
À parte das “reuniões de conscientização”, os coordenadores do Repensando
Maringá se reuniam para estruturar, com base na lei do Codem já existente, como
deveria ser o Conselho, o que ele traria de novidade e como se daria sua relação
institucional com os poderes Legislativo e Executivo. Participaram dessa
estruturação os intelectuais Joilson Dias, Paulo Roberto P. de Souza, Álvaro Gilmar
Estevam de Araújo
100
, José Roberto Pinheiro de Mello e Márcio Pereira de
Andrade
101
. A proposta foi formatada rapidamente e aprovada pelos coordenadores
do Movimento. O Codem deveria ter um plenário
102
, órgão máximo de deliberação e
execução, e oito câmaras técnicas responsáveis por trabalhar segmentos
específicos: Assuntos Comunitários, Assuntos Universitários, Integração
Tecnológica, Atração de Investimentos, Agricultura e Agroindústria, Comércio e
Serviços, Comércio Exterior e Construção Civil e Setor Imobiliário (REVISTA ACIM,
n. 369, 1996, p. 25, 26). Para que o mesmo tivesse um caráter deliberativo, a
proposta era de que fosse alterada a Lei Orgânica do Município, concedendo ao
novo Conselho poderes para formular a Política de Desenvolvimento Econômico de
Maringá. Como forma de obter recursos para formular tais políticas, propunham
também a criação do Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico que
receberia um percentual do orçamento para gerir o Codem (REVISTA ACIM, n. 367,
1996, p. 11).
100
Álvaro Gilmar E. de Araújo era consultor de empresas e foi cedido pelo Sebrae para trabalhar junto com o
Movimento. Depois, desligou-se do Sebrae e assumiu a diretoria técnica do Codem, cargo que exerce até a
presente data.
101
Márcio Pereira de Andrade, pastor evangélico e advogado, era assessor da diretoria da FIEP. Com a eleição
de Jairo Gianoto, foi trabalhar como diretor da Secretaria de Administração em janeiro de 1997.
102
A proposta do Repensando Maringá era de que o plenário do Codem fosse constituído da seguinte forma: pelo
prefeito como presidente de honra; um secretário municipal representando os setores da indústria, comércio,
turismo e agricultura; o secretário municipal de Planejamento; o secretário municipal da Fazenda; três
representantes da Câmara Municipal; o reitor da Universidade Estadual de Maringá; um representante do Sebrae;
quatro representantes da ACIM, sendo um deles o seu presidente; três representantes da Coordenadoria Regional
da FIEP; dois representantes do setor agropecuário, sendo um indicado pela Sociedade Rural e outro pelo
Sindicato Rural Patronal; um representante dos sindicatos patronais; um representante dos sindicatos de
trabalhadores no comércio, indústria e agricultura; um representante dos veículos de comunicação e um
representante dos profissionais liberais, eleito dentre as entidades representativas de classe (REVISTA ACIM, n.
369, 1996, p. 25).
179
A articulação junto aos poderes Executivo e Legislativo ficava a cargo da
coordenação do Movimento. O prefeito Said Ferreira foi o primeiro a ser procurado
tão logo o Repensando Maringá se tornou um movimento com nome e objetivos, no
início de junho de 1996. Para se aproximar ainda mais do prefeito, no dia 12 daquele
mês, a ACIM realizou o almoço empresarial com o prefeito, conforme já historiamos
no capítulo V. Já o relacionamento com a Câmara Municipal começou no dia 31 de
julho, quando os coordenadores do Movimento participaram de uma reunião com os
vereadores (foto 9). Quando do encaminhamento do projeto, os coordenadores se
reuniram separadamente com o presidente do Legislativo para que este tomasse
conhecimento de tudo o que se pretendia com o Codem e o Fundo de
Desenvolvimento. José Carlos Valêncio lembra que sua participação no processo se
tornou importante para o sucesso do Movimento:
Foi convocada uma reunião, eu como presidente da Câmara de
Vereadores e uns membros da ACIM, da FIEP, umas entidades
organizadas na sociedade, para que pudesse conversar sobre este
assunto, e isto foi feito. Nós tivemos esta reunião, foi apresentado
este documento que era uma minuta de lei, para que pudéssemos
transformar todo este trabalho, Repensando Maringá, numa
legislação, numa lei para que pudesse ser obedecida, para que
pudesse ser tratada como um planejamento do nosso município. De
posse da minuta, era uma lei que criava um Conselho de
Desenvolvimento Municipal, hoje denominado Codem, e uma lei de
Fundo de Desenvolvimento. Então, nós tínhamos duas minutas de lei
para ser transformadas em Legislação. Isto foi dado um
encaminhamento, eu acatei as propostas das empresas dos
trabalhadores que tinham preparado o Repensando Maringá.
Sabedor de que, historicamente, tinha sido um trabalho muito
intenso, muito grande por parte da parcela de uma comunidade, bem
representativa, bem técnica, bem conhecedora dos assuntos, por um
longo tempo foram feitas estas reuniões, chegou a este trabalho de
repensar a cidade no futuro. Encaminhei isso para a redação da
Câmara. Foram feitas as revisões da minuta de lei e nós
encaminhamos para as comissões da Câmara para que pudesse
virar depois uma pauta de aprovação na Câmara (VALÊNCIO, 2005).
180
Foto 9
Jefferson Nogaroli apresenta o Repensando Maringá na Câmara Municipal
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
Valêncio era engenheiro civil e detinha certo conhecimento técnico da legislação
municipal, o que era essencial para o Movimento naquela oportunidade. O projeto
não poderia esbarrar em erros de normas e procedimentos, tampouco sofrer
emendas que poderiam descaracterizar o que se pretendia. O Repensando Maringá
contava com o presidente da Câmara para que o projeto seguisse sem dificuldades:
Isto teve uma certa maneira de conduzir também. Na posição técnica
que eu tinha, conhecedor do assunto, ficou um pouco mais fácil a
interpretação daquela necessidade que nós tínhamos que oficializar
este Conselho e este Fundo de Desenvolvimento. Tomei cuidado de
que maneira conduzir isso na aprovação, para que isso não se
transformasse numa dificuldade, numa polêmica, ou se beneficiasse
de certos assuntos, de certa pauta na reunião plenária para que
pudesse mudar um pouco a informação, que se pudesse mudar a
votação também. Porque hoje nós temos dentro do poder legislativo,
que é a Casa, que tem a competência, que tem atribuição para se
legislar isso aí, para se criar as leis, de que tomasse uma conotação
diferenciada do que era realmente a proposta da comunidade
naquele momento (VALÊNCIO, 2005).
Como já explicamos em capítulo anterior, devido à Lei Orgânica do Município, os
projetos de lei teriam que ser encaminhados pelo Executivo para que os vereadores
votassem como matéria que implicaria no orçamento. A vantagem era de que os
projetos, encaminhados antecipadamente para o presidente do Legislativo pelos
coordenadores do Movimento, já haviam tramitado pelas comissões internas da
181
Câmara. O Movimento Repensando Maringá então articulou uma solenidade para
que o projeto fosse entregue ao prefeito e este entregasse à Câmara. Foi no dia 3
de setembro, em uma reunião na Prefeitura, com a presença de vários empresários,
secretários municipais e da imprensa, que o presidente da ACIM, Hélio Costa Curta,
entregou o projeto do Repensando para o prefeito Said Ferreira (REVISTA ACIM, n.
369, 1996, p. 24). Antonio Fermentão, que havia assumido uma diretoria na ACIM
naquele ano, lembra que a aproximação com o prefeito foi importante e estratégica
para que o Movimento lograsse êxito:
Na realidade, em nenhum momento o poder público esteve alijado da
condução desse processo. Em todas as situações que iam se
criando, de novas nuances, de novas necessidades, sempre era
chamado o poder público para ser co-participe dessa situação.
Quando eu digo para você que todo segmento produtivo estava
reunido, o poder público também estava através da Câmara
Municipal, através do Executivo, sempre esteve presente conosco.
Então, toda idéia que era discutida era referendada pelo poder
público, então ele não tinha como se contrapor. Até por conta de que,
se ele se contrapusesse momentaneamente, era discutido aquilo no
momento daquela reunião e transposta qualquer duvida que
porventura pudesse acontecer. E, dentro disso, a gente chegava à
deliberação dos assuntos como é que poderiam ser (FERMENTÃO,
2005).
No projeto que foi encaminhado à Câmara, com mensagem do prefeito Said
Ferreira, pequenas alterações foram realizadas no sentido de dar mais peso
institucional ao Conselho. Também, para não criar entraves com a Lei Orgânica do
Município, os líderes do Repensando concordaram em suprimir o caráter “executivo”
do Codem, substituindo-o por “consultivo”. Antonio Fermentão comenta que essa
alternativa foi muito melhor para o Codem:
O Conselho ele era executivo e deliberativo e o executivo saiu do
Conselho para que ele não tivesse essa responsabilidade de
trabalhar com o dinheiro público. Então ele passou a ser deliberativo
e consultivo e não executivo. (...) Eu creio que isso foi um grande
beneficio até por conta de que você se isenta de qualquer
responsabilidade financeira, de onde está sendo empregado esse
dinheiro (FERMENTÃO, 2005).
Além do plenário e das câmaras técnicas, o projeto criava também uma Mesa
Diretora com um presidente, um vice-presidente e um secretário, eleitos entre os
membros do plenário, para dirigirem o Codem com o mandato de um ano, podendo
182
ser reeleitos (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ 2, 1996). Na verdade,
tudo o que o Movimento havia proposto estava ali. José Carlos Valêncio recorda que
teve que “priorizar algumas coisas” com alguns vereadores, para que pudessem
ajudar na aprovação do projeto, evitando as polêmicas, haja vista que o projeto que
criava o Fundo Municipal de Desenvolvimento destinava 2% do total do orçamento
municipal para ser gerido pelo Conselho que seria criado:
Tive cuidado de como encaminhar isto. Como na Câmara naquela
época eram 21 votos, todos os votos são iguais, tanto da pessoa que
lê o projeto, como da que não leu o projeto. Se ela interpretou o
projeto de uma maneira errada, ou correta ou tem, ou quer ou não
quer aquele assunto, ela é um voto igual. Então, tomei um cuidado
de priorizar algumas coisas com pessoas que pudessem fortalecer a
proposta deste projeto. Encaminhamos isto pelos meios normais, ela
passou para todas as comissões da Câmara, foi pautada para
reunião da aprovação, seguiu corretamente, passou pela primeira
reunião, a segunda e foi para a redação. Foi um processo um pouco
normal, então não houve dificuldade nenhuma a aprovação, não
tivemos polêmica, até pela maneira de conduzir. De repente você
cria um assunto novo, alguma pessoa que fique em dúvida no
assunto, ela pode polemizar, dar uma conotação diferente, então
tivemos a cautela e a estratégia de não fazer alarde (VALÊNCIO,
2005).
Antonio Fermentão revela que os integrantes do Movimento conversaram com cada
vereador para explicar o projeto e cobrar o voto favorável:
Quando se foi mandado isso para a Câmara nós lotamos a Câmara
Municipal com diversos membros da nossa sociedade. Isto é um tipo
de livre e espontânea pressão, para que aquele documento fosse
aprovado. Obviamente que nesta época a gente trabalhou junto a
cada vereador, a cada edil de nossa comunidade, explicando
exaustivamente e fazendo com que eles também participassem
(FERMENTÃO, 2005).
Entretanto, a polêmica acabou vindo à tona depois que o projeto foi aprovado:
Então tive este cuidado de como conduzir a condução deste projeto,
após a aprovação ficou polêmico, que tinha que mexer no orçamento
do município. Você tinha um Conselho que deliberava, que tinha
poder de deliberação, que tinha poder não tinha só de informação, e
também tinha participação de com uma parcela do orçamento do
município de 2%, então se cria uma polêmica. Porque, 2% num
município como Maringá é um volume, se isto ia se gastar só com
técnicos, só com aluguel, ou telefone ou não, tinha um entendimento
que isto era para gastar com toda área de planejamento urbano, ou
planejamento geral da cidade. Tanto que o Fundo de
Desenvolvimento do município, quando foi criado, quem assina,
183
quem gera as receitas e as despesas e os orçamentos, é o
Secretário da Fazenda e o Secretário da Indústria e Comércio. Então
era realmente muito difícil administrar isso ai, não vinha para
comunidade. Mas, a comunidade tinha, esta autonomia através de lei
de coordenar esta parcela do orçamento do município. Então a
gente fez esta condução e foi realmente aprovado, foi tranqüilo não
teve dificuldade alguma, posterior sim, que as pessoas começaram a
ler com mais carinho, com mais cuidado, e começaram a se
preocupar em como o município poderia passar uma parcela desse
tanto para a comunidade organizada. Porque, se acaba criando
certos ciúmes, em quem vai gerenciar isso, quem vai cuidar disso,
quando o Codem funciona através disso, esta preocupação de quem
é o autor, até mesmo para você achar alguém para entrevistar tem
esta dificuldade, ninguém quer. Eu sou o dono do ovo, ou da
galinha? Tem esta preocupação (VALÊNCIO, 2005).
O percentual aprovado em lei para ser destinado ao Fundo de Desenvolvimento
correspondia, na época, a R$ 1,4 milhão, isto é, 2% (dois por cento) do total das
receitas do município de Maringá, “resultantes de todos os impostos, bem como das
transferências dos Governo Federal e Estadual, excetuadas as decorrentes de
empréstimos com finalidade específica” (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE
MARINGÁ, 1996).
Antecipando-se à disputa eleitoral marcada para o dia 3 de outubro, o prefeito Said
Ferreira tratou logo de sancionar as leis que criavam o Fundo de Desenvolvimento e
o Codem. A lei do Fundo foi assinada no dia 13 de setembro e a do Codem no dia
16. A estratégia, acordada com os líderes do Movimento, era realizar um Fórum com
todas as entidades e representantes onde seria feita a constituição oficial do Codem,
cabendo ao prefeito entregar aos líderes do Repensando as leis por ele
sancionadas.
Entretanto, passadas as eleições e não tendo conseguido eleger o seu sucessor
103
,
o prefeito Said Ferreira acabou se distanciando do Movimento. O Repensando
Maringá programou para o dia 24 de outubro a reunião onde o prefeito “sancionaria”
as leis e as entidades indicariam seus representantes no Codem. Os jornais O Diário
e O Jornal do Povo chegaram a publicar na edição dominical de 20 de outubro
matéria encaminhada pela assessoria do Movimento: “Codem e FMD serão criados
nesta quinta”. Com a recusa do prefeito Said Ferreira em participar da reunião,
103
O candidato apoiado por Said Ferreira, o deputado estadual Joel Coimbra (PPB/PDT/PSL/PSB) ficou em 3º.
lugar, com 27.934 votos.
184
enviando como seu representante o secretário municipal de Indústria, Comércio,
Agricultura e Turismo, a reunião realizada no Hotel Deville acabou se tornando um
encontro para definir qual o perfil ideal dos conselheiros que seriam indicados ao
Codem e esclarecimentos gerais sobre o Fundo Municipal de Desenvolvimento. A
Revista ACIM nominou o encontro como “uma reunião de notáveis”, se referindo aos
representantes que lá estavam, bem como ao prefeito eleito Jairo Gianoto que
empenhou apoio ao novo conselho: “quem administra com conselhos erra menos”.
Concluía a reportagem a seguinte observação: “as discussões do Repensando
concluíram que para alcançar o pleno desenvolvimento, a cidade precisa do Codem
e da união política e empresarial, inclusive com o apoio do Governo do Estado”
(REVISTA ACIM, n. 371, 1996, p. 16,17).
6.2 A representatividade
O ano de 1996 chegou ao fim com as conquistas mais significativas do Movimento
Repensando Maringá: o Codem e o Fundo de Desenvolvimento. A base do projeto
hegemônico estava solidificada. Seria necessário agora avançar na regulamentação
do Conselho, na montagem do plenário e de suas câmaras técnicas e tirar da gaveta
os projetos que o IDR havia desenvolvido fazia algum tempo.
Embora o esperado Fórum, que prometia ser um “evento histórico” (REVISTA ACIM,
n. 371, 1996, p. 16) não tenha acontecido, as reuniões do Repensando Maringá
continuaram, agora para explicar às entidades como funcionaria o Codem e como
seriam utilizados os recursos do Fundo de Desenvolvimento. No dia 29 de outubro, o
professor José Roberto Pinheiro de Mello, diretor do Centro de Estudos Sócio-
Econômicos da UEM, coordenou uma reunião com professores, técnicos e pró-
reitores da Universidade para elaborar um documento com as diretrizes para o
desenvolvimento econômico de Maringá (O DIÁRIO, 30/10/1996). Os jornais
também noticiam outras reuniões do Movimento para a estruturação do Codem no
final daquele ano. No dia 12 de novembro foi marcada uma reunião na sede da
ACIM com “representantes de sindicatos de trabalhadores no comércio, na
agricultura e serviços; representantes dos veículos de comunicação e também dos
conselhos oficiais de regulamentação de profissionais liberais (como OAB, CRM,
CRO, Crea, Corecon, de Psicologia e de Farmácia)” para definir como esses órgãos
185
elegeriam os seus representantes para terem assento no Codem (O JORNAL DO
POVO, 09/11/1996).
Dentro do projeto hegemônico era extremamente importante definir os
representantes das entidades para que o Codem expressasse a sua funcionalidade.
Pela lei que o criou, o Codem tem em seu plenário as seguintes representações: o
prefeito municipal, como presidente de honra; um secretário municipal
representando os setores da Indústria, Comércio, Turismo e Agricultura; o secretário
municipal de Planejamento, o secretário municipal de Fazenda, um representante do
Sinducon-Nor, um representante do Secovi, um representante da Apras, o reitor da
Universidade Estadual de Maringá, um representante do Sebrae, quatro
representantes da ACIM, três representantes da FIEP, um representante da
Sociedade Rural de Maringá, um representante do Sindicato Rural Patronal, um
representante de todos os sindicatos patronais, um representante dos sindicatos dos
trabalhadores no comércio, indústria e agricultura; um representante dos veículos de
comunicação e um representante dos profissionais liberais, eleito dentre as
entidades representativas dos segmentos (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE
MARINGÁ 2, 1996). Por isso, a preocupação dos líderes do Repensando Maringá
em realizar diversas reuniões antes para definir quem seriam os representantes e
eleger, ou escolher, os que participariam do plenário. Era isso o que os jornais
divulgavam: “Como é impossível colocar um membro de cada entidade de Maringá
no Codem, foi necessário juntar várias entidades afins e ceder uma vaga. Agora,
essas entidades devem se reunir para escolher um representante” (O JORNAL DO
POVO, 09/11/1996).
As câmaras técnicas permanentes que foram criadas com o objetivo de propor
estudos estratégicos para o desenvolvimento econômico da cidade, também tinham
uma composição que expressava a maior afinidade possível com o Movimento. Elas
se compunham com um (ou dependendo o caso, de vários) representante da
entidade e um suplente, ficando dessa forma, de acordo com a Lei 4275/96:
1) Câmara de Assuntos Comunitários: Rotaries Clubes, Lions Clubes, Lojas
maçônicas, Federação das Associações de Bairros de Maringá, Arquidiocese,
186
Ordem dos Pastores Evangélicos e Conselho da Mulher Empresária e Executiva da
ACIM.
2) Câmara de Assuntos Universitários: três representantes da UEM, um
representante do Sinteemar, um representante da Aduem, um representante das
instituições privadas de ensino superior de Maringa, um representante de cada um
dos conselhos oficiais de regulamentação de profissionais liberais, como: OAB,
CRM, CRO, Crea, Corecon, Conselho Regional de Psicologia e Conselho Regional
de Farmácia.
3) Câmara de Integração Tecnológica: um representante da UEM, um representante
do Tecpar, um representante do Cefet, um representante do Sindimetal, Sindvest,
Alcopar e Sinduscon-Nor; um representante da Cocamar e um representante do
Conselho Permanente do Jovem Empresário da ACIM.
4) Câmara de Comércio e Serviços: um representante do setor de comércio
atacadista, um representante do setor de comércio varejista, um representante das
empresas hoteleiras, um representante das agências de viagens e turismo, um
representante da Sociedade Médica de Maringá, um representante da Associação
dos Hospitais de Maringá e um representante da Associação Paranaense de
Consultores de Empresas – APCE.
5) Câmara de Atração de Investimentos: um representante da Secretaria Municipal
de Indústria, Comércio, Turismo e Agricultura; um representante da UEM, um
representante do Sebrae, um representante da Associação Maringaense de
Imprensa, um representante das empresas de mídia, um representante de cada um
dos bancos oficiais localizados em Maringá, um representante da Delegacia
Regional da Fazenda Estadual, um representante da Copel, um representante da
Sanepar, um representante do Departamento de Estradas de Rodagem – DER, um
representante do Instituto Ambiental do Paraná – IAP, um representante da Telepar
e um representante da APCE.
6) Câmara de Agricultura: um representante da Secretaria Municipal de Indústria,
Comércio, Turismo e Agricultura; um representante da Sociedade Rural de Maringá,
187
um representante da Secretaria de Estado da Agricultura, um representante da
Emater, um representante da Associação dos Agrônomos de Maringá, um
representante do Sindicato Rural Patronal de Maringá e um representante do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Maringá.
7) Câmara de Comércio Exterior: dois representantes da ACIM, dois representantes
da FIEP, um representante do Centro de Exportação do Paraná – Cexpar, um
representante do Porto Seco, um representante do Sebrae e um representante do
setor de comércio exterior do Banco do Brasil.
8) Câmara da Construção Civil e Setor Imobiliário: dois representantes do
Sinduscon-Nor, um representante do Secovi, um representante do Crea, um
representante da Associação Paranaense das Empreiteiras de Obras Públicas –
Apeop, um representante da secretaria municipal de Planejamento, um
representante da AEAM, um representante da Associação Paranaense de
Administradores de Imóveis – Apadi e um representante do Creci.
A Câmara de Atração de Investimentos foi a primeira a ser constituída, em 12 de
dezembro de 1996 (O JORNAL DO POVO, 14/11/1996). No dia 17, foram
constituídas as câmaras técnicas de Comércio e Serviços e de Comércio Exterior.
Segundo a reportagem do O Jornal do Povo, “o plano dos coordenadores do
Repensando Maringá é estruturar o Codem (com a formação das câmaras técnicas)
este ano para que a posse dos conselheiros seja realizada no início de 97” (O
JORNAL DO POVO, 19/12/1996). Entretanto, apenas as três câmaras foram
constituídas ainda em 1996, restando para o ano seguinte a composição das demais
e a já esperada posse dos membros do Codem: “um acontecimento histórico para
Maringá” e cuja solenidade deveria ser “do tamanho da importância do movimento”
(O JORNAL DO POVO, 19/12/1996).
6.3 O relacionamento com o novo prefeito
O ano de 1997 inicia prometendo ares de desenvolvimento e crescimento para a
cidade de Maringá, de acordo com a visão de seus empresários. O novo prefeito,
Jairo Gianoto, estrutura o seu secretariado e nomeia como secretário municipal de
188
Indústria, Comércio e Turismo, o empresário do setor têxtil, ex-diretor da ACIM e ex-
presidente do Sindvest, Miguel Fuentes Salas, que também intregrava o Movimento
Repensando Maringá. O projeto de aproximação política com outros grupos,
pregado pelo novo prefeito ainda na época da campanha eleitoral
104
, e sua
proximidade com o governador Jaime Lerner despertaram nos líderes do Movimento
o sentimento de que Maringá estava, finalmente, no “caminho certo”.
No dia 27 de janeiro, o Movimento Repensando Maringá realizou um jantar com as
presenças dos secretários de Estado do Planejamento, Rafael Greca, e da Indústria
e Comércio, Nelson Justus, para apresentar as principais idéias que haviam
culminado na criação do Codem e do Fundo de Desenvolvimento. Paulo Roberto
Pereira de Souza foi o responsável por “vender” a idéia do Movimento para os
secretários, naquele momento muito oportuna, pois o IDR estava concluindo um
projeto para implantar em Maringá uma área de desembaraço de mercadorias
importadas
105
, com incentivos fiscais do Estado, aproveitando o recém instalado
Porto Seco.
Entretanto, apesar de existir no papel e já estar trabalhando com suas câmaras
técnicas desde dezembro de 1996, o Poder Executivo ainda não havia
regulamentado o Codem e nem havia sido definido quem seriam os membros da sua
Mesa Diretora, incluindo aí o seu presidente. Para cobrar agilidade do prefeito, os
coordenadores do Movimento Repensado Maringá se reuniram com ele e seus
secretários no dia 4 de março, quando apresentaram um extenso balanço das ações
desenvolvidas até então. Participaram da reunião, pelo Movimento, o presidente da
ACIM, Hélio Costa Curta; o presidente do Sindimetal, Carlos Walter Martins Pedro; o
vice-presidente da FIEP, João Noma; o diretor da ACIM, Jefferson Nogaroli e o
consultor jurídico da ACIM, Paulo Roberto Pereira de Souza. De acordo com partes
do balanço apresentadas no O Jornal do Povo “em três meses de trabalho, os mais
de 180 representantes da comunidade participaram de várias reuniões das câmaras
e identificaram dezenas de projetos a serem executados pelo organismo de fomento
da economia regional” (O JORNAL DO POVO, 06/03/1997). Entre esses projetos
104
Esse projeto de campanha era chamado de “Paz Política”. Veremos sobre isso em capítulos específico mais
adiante.
105
Este foi um dos principais projetos do Codem, que culminou com a criação da Zona de Processamento
Aduaneiro – ZPA. Veremos mais adiante sobre isso.
189
estavam a revisão dos estudos de implantação do gasoduto Bolívia-Brasil e a
transformação do Porto Seco na grande indústria maringaense, através de
incentivos fiscais do Estado, como a dilação no prazo de recolhimento do ICMS de
mercadorias desembaraçadas aqui. O resultado da reunião foi o esperado pelos
líderes do Repensando:
Jairo Gianoto ficou surpreso com o relato dos coordenadores do
Codem. “Sabíamos que o trabalho estava sendo intenso. Mas o
relatório apresentado comprova que o movimento será o principal
instrumento para a retomada do crescimento de Maringá”. Após
comentar os resultados apresentados, o prefeito autorizou os
membros do Conselho a preparar o cronograma de regulamentação
da lei e da posse dos conselheiros. “Vamos chamar a atenção do
Paraná. Mostrar que esta iniciativa pioneira e única no país será o
nosso diferencial para o futuro”, frisou o prefeito (O JORNAL DO
POVO, 06/03/1997).
O acordo era de que a posse do Codem seria realizada no mês de abril,
coincidentemente o mês de aniversário da ACIM. Mas, na primeira reunião do
plenário do Codem, em 25 de março, o prefeito informou que havia convidado o
governador Jaime Lerner a vir instalar o seu governo em Maringá por ocasião do
aniversário dos 50 anos da cidade, em maio, e com a aceitação deste a solenidade
de posse deveria ser transferida para aquele mês. Houve consenso na mudança da
data e uma comissão formada por representantes do Secovi, ACIM, FIEP, UEM,
prefeitura e Sebrae foi nomeada para organizar o evento, definindo dia, local e
horário da posse do Conselho (O JORNAL DO POVO, 26/03/1997).
A posse ficou confirmada para o dia 8 de maio, uma quinta-feira, às vinte horas, no
Teatro Calil Haddad, com capacidade para 800 pessoas. No dia 28 de abril foi
realizada uma reunião na Câmara Municipal com todos os membros do plenário e
das câmaras técnicas, 183 pessoas no total, para que fosse repassado a todos
como seriam os procedimentos da solenidade tão aguardada: “a expectativa em
torno da solenidade é tanta, que a Coordenação acredita que mil pessoas vão lotar o
Teatro Calil Haddad. Além dos conselheiros é esperada a presença de autoridades e
lideranças de todo o Paraná” (O DIÁRIO, 01/05/1997).
Não é possível precisar, mas mais de 800 pessoas participaram da solenidade de
posse dos 183 membros do Codem, no Teatro Calil Haddad, no dia 8 de maio,
190
dentro das comemorações do cinqüentenário de Maringá (foto 10). Além do
governador, estiveram presentes “seis secretários de Estado, nove deputados (entre
federais e estaduais), o prefeito Jairo Gianoto, religiosos, vereadores, presidentes e
diretores de entidades de âmbito estadual e municipal” (REVISTA ACIM, n. 376,
1997, p. 08). Na ocasião, o governador sancionou a lei estadual que criava o Pólo
Têxtil e de Confecções em Maringá
106
, um projeto que havia sido elaborado pelo IDR
em 1995 e apresentado na Assembléia Legislativa pelo deputado Joel Coimbra. O
governador também assinou um protocolo de intenções para a transformação do
Porto Seco de Maringá em uma Zona Especial de Processamento Aduaneiro, um
projeto que “poderá aumentar a receita do Noroeste do Paraná em até R$ 20
milhões” (O DIÁRIO, 10/05/1997). Já o prefeito, aproveitou para sancionar a lei que
criava o Prodem – Programa de Desenvolvimento de Maringá, com uma série de
incentivos a novos empreendimentos que fossem gerados na cidade, indo desde a
isenção de IPTU até doação de terrenos para a instalação de empresas.
Foto 10
Mesa de honra da posse do Codem onde aparecem da esquerda para a direita: Valdomiro Meger
(deputado federal), Odílio Balbinotti (deputado federal), Nabor Nishikawa (juiz diretor da Comarca),
Jairo Gianoto (prefeito), Jaime Lerner (governador), Ulisses Maia (vereador, presidente da Câmara) e
Dom Jaime Luiz Coelho (arcebispo metropolitano)
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
106
Entre os benefícios do Pólo Têxtil e de Confecções destacam-se a ampliação dos benefícios fiscais
concedidos aos industriais e a integração do setor à cadeia produtiva prioritária do Estado (REVISTA ACIM, n.
376, 1997, p.12).
191
Os discursos que se seguiram após a posse do prefeito como presidente de honra
do Codem e da posse de cada um dos seus 183 membros, foram no mesmo tom,
enaltecendo a “união” dos maringaenses em defesa do futuro da cidade. Do
governador Jaime Lerner: “Gostaria que todas as cidades do Paraná e do Brasil
seguissem este exemplo. Não faltam parceiros para o desenvolvimento de cada
região. Mas cada uma tem que criar condições para que isso aconteça”. Do prefeito
Jairo Gianoto: “hoje existe um sentimento de maringaísmo na cidade, um sentimento
positivo que leva as pessoas a buscarem o bem comum”. Do presidente da FIEP,
José Carlos Gomes de Carvalho: “Maringá venceu o abismo que separa o sonho da
realidade e está buscando suas próprias soluções”. Do coordenador do Movimento
Repensando Maringá, Paulo Roberto P. de Souza: “Precisamos aproveitar a
oportunidade que a história está nos oferecendo, de não passar pela vida como
meros espectadores”. Ao relatar esses discursos, a Revista ACIM apresenta um
outro que resume toda intenção do projeto hegemônico do empresariado
maringaense: “Para muitos, o Codem é o acontecimento mais importante da história
do município” (REVISTA ACIM, n. 376, 1997, p. 08. 09, 10, 11 e 12).
6.4 A Prefeitura controla o Conselho
Como presidente de honra do Codem, o prefeito Jairo Gianoto chamou para si as
rédeas da sua administração. Talvez, uma estratégia para conter qualquer voz
destoante que pudesse questionar a administração municipal naquele momento. Na
reunião do plenário no dia 17 de junho, foram definidas as formas de como seria a
primeira eleição para a Mesa Diretora do Codem. Em princípio, foi estipulado um
prazo para que chapas fossem inscritas, mas os antigos líderes do Movimento
Repensando Maringá queriam alguém de consenso, evitando o desgaste de uma
eleição. Houve quem temesse pela continuidade do Conselho:
A escolha da primeira diretoria do Codem foi cercada de lances
dramáticos que quase fizeram com que o órgão fosse extinto antes
mesmo de iniciar seus trabalhos. Os voluntários do conselho queriam
um presidente que saísse da comunidade, que não fosse “chapa
branca”. O prefeito Jairo Gianoto, por sua vez, temia perder as
rédeas da condução do desenvolvimento da cidade (ACIM, 2006, p.
127).
192
O empresário Jefferson Nogaroli foi convidado pelo prefeito para assumir o Codem,
tendo em vista que o mesmo já afirmara em outras ocasiões que jamais teria
intenções de disputar qualquer cargo político eletivo. Na época, Nogaroli já era o
nome de consenso para substituir Hélio Costa Curta na presidência da ACIM no
início de 1998 e não aceitou o convite do prefeito. Então,
Com a recusa de Nogaroli, o prefeito impôs o nome do secretário de
Indústria e Comércio, Miguel Fuentes Salas. A definição do nome foi
durante reunião da Plenária do Codem na prefeitura. Houve intenso
debate. Em alguns momentos acalorado, com Paulo Roberto Pereira
de Souza rebatendo a indicação oficial. No final, o prefeito deixou
claro que se seu candidato não fosse aprovado, ele não apoiaria as
ações do conselho. Pelo bem do futuro do Codem, e como Miguel
Salas era também empresário e tinha uma participação ativa tanto na
ACIM como no Sindvest, os conselheiros aceitaram seu nome
(ACIM, 2006, p. 128).
Na realidade a aceitação do nome de Salas foi fruto de uma negociação que
envolvia a indicação do diretor executivo do Codem. O nome escolhido pelos ex-
líderes do Movimento Repensando Maringá era o do professor João Celso Sordi,
economista que havia sido Gerente Municipal na gestão do prefeito Ricardo Barros
(1989-1992). O prefeito não concordava, pois temia a ingerência política do ex-
prefeito e agora deputado federal. No final, o prefeito ganhou com a indicação do
presidente do Codem e os empresários ganharam com a indicação do diretor
executivo (ACIM, 2006, p. 128).
A polêmica acabou, entretanto, indo parar nas páginas da Revista ACIM que
publicou um desabafo do presidente da Associação Comercial, Hélio Costa Curta, no
editorial da edição de julho daquele ano:
Empresários ligados à ACIM e Fiep foram idealizadores do
Movimento Repensando Maringá, que culminou com a criação do
Conselho de Desenvolvimento, Codem. Com a posse da Plenária e
Câmaras Técnicas, estes mesmos empresários deixaram de ser os
articuladores para serem participantes do processo. Além deles, é
bom lembrar, no Codem existem membros das principais entidades
maringaenses. Cabe pois, a estas pessoas e seus representados,
não deixar que um trabalho tão nobre e que nos encheu de
esperanças quanto ao futuro de Maringá, morra prematuramente
(REVISTA ACIM, n. 378, 1997, p. 03).
193
Costa Curta ainda frisava que a ACIM havia cumprido o seu objetivo inicial, mas que
já não dependia dela o desenvolvimento do Conselho:
Se daqui para a frente o Codem não deslanchar, lavamos nossas
mãos. Claro, faremos o possível para que tudo dê certo. Mas, como
lembrei antes, somos parte de um processo. Queremos ser parceiros
de confiança. Se não for possível... ao menos tentamos (REVISTA
ACIM, n. 378, 1997, p. 03).
A partir deste editorial, a Revista ACIM deixou de dar o destaque que vinha dando
tanto ao Movimento Repensando Maringá quanto ao Codem. Foram registradas
apenas uma pequena nota sobre uma reunião de membros do Conselho com o
secretário de Estado da Fazenda, em Curitiba, para tratar sobre a instalação da
Zona de Processamento Aduaneiro - ZPA (REVISTA ACIM, n. 380, 1997, p. 22) e
uma outra reportagem de meia página apenas sobre a assinatura da lei que criava a
ZPA (REVISTA ACIM, n. 382, 1997, p. 20). Na Revista ACIM de dezembro daquele
ano, em uma entrevista, o prefeito Jairo Gianoto revelava a sua opinião sobre o
caso:
ACIM: O senhor chegou a ser criticado por ter apoiado o secretário
Miguel Salas para a presidência do Codem. Hoje, o senhor sente que
foi a decisão certa?
GIANOTO: Acredito que sim. Mas não apoiei um secretário. Apoiei
um empresário que é secretário. Fiz isto porque este empresário é
uma pessoa ligada à administração. E o Codem necessitava disto,
para que pudesse ser estruturado. Tivemos problemas para
implantação, principalmente de ordem financeira, já que não havia
como o Codem receber recursos diretos do Município. Necessitamos
do Codem, que nos presta assessoria gratuita. E o Codem necessita
do município para sua sobrevivência. Além disto, não é o presidente
quem manda no Codem. O conselho é formado por empresários de
alto nível, com idéias próprias e não é uma única pessoa que detém
o poder (REVISTA ACIM, n. 383, 1997, p. 07).
Em 12 de março de 1998 assumiu a presidência da ACIM o empresário Jefferson
Nogaroli, vice-presidente do Codem. Uma de suas primeiras providências foi
determinar que em todas as ações da entidade, inclusive as campanhas comerciais,
fosse inserida a logomarca do Codem e que se falasse do conselho em todos os
eventos da ACIM. No editorial da Revista ACIM de abril de 1998, Nogaroli deixou
explícita a sua posição:
194
Gosto de falar do Codem. Nos próximos dois anos, a ACIM estará
sempre ao lado deste órgão do qual tive a felicidade de ser um dos
fundadores. É impossível que um conselho que tem orçamento
próprio e que conta com a participação das entidades mais
representativas de Maringá (seja de empresários ou de
trabalhadores) não consiga mudar o perfil da cidade e região. (...) O
Codem é uma realidade. As mudanças já estão acontecendo. O
órgão é um verdadeiro celeiro de idéias. Algumas saíram do papel,
como a ZPA, que atraiu quatro empresas e tantas outras estão
estudando nossas propostas. Graças ao Codem, somos Pólo das
Indústrias Têxteis e de Confecções. Os projetos em andamento são
tantos que precisaria de uma revista inteira para enumerá-los. (...)
Com o Conselho de Desenvolvimento mostramos que os
empresários estão aprendendo a andar na direção do
desenvolvimento. Durante anos esperamos que o Poder Público nos
desse a vara e o anzol. Hoje posso garantir que aprendemos a
pescar (REVISTA ACIM, n. 385, 1998, p. 03).
Além da disposição de Nogaroli em falar sempre do Codem, o Conselho ganhou
outro forte aliado em sua divulgação institucional. O ex-presidente da ACIM, Pedro
Granado Martines, assumiu em março de 1998 a Secretaria de Estado do Emprego
e Relações do Trabalho, no último ano do Governo Jaime Lerner. A nomeação de
Pedro Granado, articulada por várias lideranças políticas e empresariais,
correspondia ao anseio do início do Movimento Repensando Maringá quando seus
líderes clamavam por maior representatividade no Governo do Estado. Embora
tecnicamente não representasse muito para a cidade pelo fato de que o novo
secretário teria apenas até o mês de julho para assinar projetos e liberações de
recursos, por conta da legislação eleitoral, estrategicamente a participação de um
maringaense no Governo reforçava a imagem do Codem.
Durante esse seu primeiro ano de vida era claro para os líderes empresariais que o
Codem necessitava de uma exposição positiva na mídia. Tudo o que era divulgado
sobre o Conselho, especialmente pelo seu “órgão oficial”, a Revista ACIM,
destacava essa estratégia:
Ninguém pode negar: o Codem trouxe novo alento para Maringá. O
clima de otimismo, que contrapõe com o desânimo dos últimos anos,
é latente nas salas de reuniões, nos gabinetes e entre as lideranças
que acreditam e trabalham pelo renascimento econômico da cidade
(REVISTA ACIM, n. 386, 1998, p. 22, grifo nosso).
195
Várias expressões carregadas com esse sentido eram corriqueiras no discurso
positivo sobre o Codem: “recolocar Maringá nos trilhos do desenvolvimento”,
destacava sempre qual era o objetivo principal; “verdadeiro celeiro de idéias”,
reforçava a tese de que os empresários é quem estavam “pensando” a cidade;
“comunidade trabalhando unida”, expressava a conquista da hegemonia; “a grande
virada”, que sinalizava a retomada do comando da cidade.
Esse conjunto de táticas e estratagemas possibilitou que a relação entre os
empresários líderes do Movimento Repensando Maringá e a prefeitura fosse
acomodada, sem prejuízos ao Codem. O fato do controle político do Conselho ter
ficado nas mãos do prefeito em um ano de eleições
107
acabou beneficiando a
seqüência dos próprios projetos e discursos dos empresários, o que foi colaborado
também com a reeleição do governador Jaime Lerner, aliado político do prefeito
Jairo Gianoto.
Em 1999 assumiu a presidência do Codem o empresário Carlos Walter Martins
Pedro, coordenador regional da FIEP e vice-presidente da ACIM, tendo como vice-
presidente Jefferson Nogaroli, presidente da ACIM, e como secretário o advogado
Paulo Roberto Pereira de Souza, assessor jurídico da ACIM. Era o rompimento do
cordão umbilical com a Prefeitura e a consolidação da hegemonia da ACIM no
Conselho de Desenvolvimento, inclusive abrigando em sua sede a estrutura física do
Codem.
6.5 O Codem entre os discursos e os projetos
6.5.1 Zona de Processamento Aduaneiro - ZPA
O projeto que criou a ZPA em Maringá, elaborado pelos técnicos do IDR, rendeu ao
Codem o maior período de exposição positiva na mídia, influenciou diretamente a
arrecadação de recursos para o município e é considerado até hoje como a principal
contribuição do Conselho para Maringá. Segundo o prefeito Jairo Gianoto, na época,
107
Em 1998 ocorreram eleições para o Governo do Estado, para deputados estaduais e federais e para Senador.
196
“só esta ação validaria a existência do Conselho, tal é a sua importância” (REVISTA
ACIM, n. 394, 1999, p. 20).
O projeto foi elaborado em 1996, antes da posse oficial do Codem, como uma
contribuição direta do IDR para o Movimento Repensando Maringá. A idéia era
aproveitar a estrutura recentemente inaugurada da Estação Aduaneira do Interior
(Porto Seco) para atrair empresas que poderiam desembaraçar mercadorias
exportadas com agilidade e benefícios fiscais. O questionamento dos empresários
era de que se o Governo do Estado podia oferecer benefícios fiscais para as
grandes montadoras de automóveis se instalarem na região metropolitana de
Curitiba, como o caso da Renault, por que não poderia beneficiar empresas que
utilizassem o Porto Seco de Maringá? Quando foi convidado para vir à posse do
Codem, em maio de 1997, o governador Jaime Lerner conheceu o projeto e se
comprometeu em assinar um protocolo de intenções onde o Governo se
comprometeria em estudar a viabilidade da implantação da ZPA. Na solenidade de
posse do Conselho, no dia 8 de maio, o governador assinou o protocolo de
intenções da ZPA na frente de uma platéia de cerca de 800 pessoas. De posse da
concordância do governador em estudar o projeto, os técnicos do IDR, que
trabalhavam para o Codem, iniciaram os contatos com os técnicos do Governo,
principalmente os da Secretaria da Fazenda, para que o projeto saísse do papel.
Segundo a ACIM, “o projeto era audacioso e inteligente, pois previa a dilação do
prazo de 48 meses para que as empresas começassem a pagar 80% do ICMS dos
produtos importados. Os outros 20% seriam pagos durante a comercialização
desses produtos” (ACIM, 2006, p. 118).
Diversas viagens foram feitas à Curitiba para convencer os técnicos do Governo e o
secretário da Fazenda de que o projeto deveria ser transformado em lei. Entretanto,
havia interesses de outros municípios em jogo:
Devido às facilidades para a atração de empresas, o projeto sofreu
forte pressão de deputados e prefeitos de outros municípios do
Paraná para não ser assinado. Esta afirmação foi feita pelo próprio
secretário da Fazenda, Giovani Gionédis, em uma reunião com
empresários maringaenses em Curitiba (ACIM, 2006, p. 119).
197
Os empresários tiveram que utilizar a pressão para que o governador pudesse
assinar o decreto de lei, a contragosto da Secretaria da Fazenda. Segundo o vice-
presidente do Codem, na época, Jefferson Nogaroli, o governador Jaime Lerner foi
pressionado para assinar:
Nós dissemos que se o projeto não fosse assinado iríamos lotar o
teatro Calil Haddad e contar para todos os associados que naquele
mesmo local o governador tinha prometido assinar a Lei da ZPA e
não havia honrado a promessa. No final, valeu a pressão (ACIM,
2006, p. 119).
O decreto nº. 3708 criando a ZPA foi assinado em 31 de outubro de 1997,
abrangendo as cidades de Maringá, Marialva, Paiçandu e Sarandi. Em outubro de
2000, 22 empresas estavam operando com os benefícios da lei, responsáveis pela
“geração direta de quase mil empregos” (ACIM, 2006, p. 128). Os benefícios
duraram apenas durante a gestão do Governo Jaime Lerner, mas acabaram tendo
um grande impacto na economia local, principalmente elevando o valor da parcela
do ICMS que o município recebe do Estado.
6.5.2 Pólo da Indústria Têxtil e de Confecções
O projeto original para transformar a região de Maringá em um pólo da indústria têxtil
e de confecções foi elaborado pelo IDR em 1995 e entregue à vice-governadora
Emília Belinatti durante a Feipar Moda
108
daquele ano. Em 1996, já no auge do
Movimento Repensando Maringá o projeto foi entregue desta vez ao secretário de
Estado do Planejamento, Cássio Taniguchi, durante uma visita a Maringá. O projeto
previa um apoio direto do Governo do Estado para desenvolver o setor têxtil e da
confecção “considerado o forte da economia local” (REVISTA ACIM, n. 366, 1996, p.
32)
109
, principalmente na questão dos “100% de deferimento do ICMS às novas
empresas que aqui se instalarem”, além da “facilidade na abertura de linhas de
crédito para empresas que produzam dentro da cadeia do setor têxtil” e outros
108
A Feipar (Feira de Integração do Paraná) foi criada pela ACIM em 1993, substituindo a Feira da Indústria de
Maringá – Feimar. A Feipar reunia três principais segmentos: vestuário, metal-mecânico e moveleiro. Em 1995
ficou apenas o setor do vestuário e o evento passou a ser chamado de Feipar Moda. Em 1998 o evento passou a
se chamar Moda Paraná, nome cedido pela ACIM ao Sindvest em 2002.
109
Em 1996 Maringá possuía no setor 265 lojas atacadistas, 352 indústrias e 3 shoppings de atacado. O número
de empregos gerados era de 13 mil, com renda mensal gerada de R$ 32,5 milhões (REVISTA ACIM, n. 366,
1996, p. 33).
198
benefícios que auxiliariam na “geração de empregos”. Todos esses itens já eram
contemplados pelo Governo do Estado nos Pólos Industriais, por isso a intenção de
criar esse Pólo na região de Maringá.
O projeto foi repassado para o Codem que articulou com o deputado Joel Coimbra
para que este apresentasse a sugestão da lei na Assembléia Legislativa. A lei foi
aprovada e o governador Jaime Lerner a sancionou durante a solenidade de posse
do Codem, em 8 de maio de 1997. Como Pólo industrial, todo o setor acabou sendo
revigorado pelos benefícios fiscais do Estado, culminando também com a criação
dos cursos superiores de Design e Moda e de Engenharia Têxtil pela UEM nos
campi de Cianorte e Goioerê, e do curso de Moda pelo Centro Universitário de
Maringá. O desenvolvimento do setor também possibilitou a Feipar Moda fosse
transformada no evento Moda Paraná, concentrando em Maringá o terceiro maior
evento de moda do Brasil, atrás apenas das semanas de moda de São Paulo e do
Rio de Janeiro.
6.5.3 Campanha de otimismo e marketing de Maringá
Logo após a posse do Codem, os empresários iniciaram uma campanha visando
resgatar o otimismo dos moradores da cidade, “abordando pontos como a qualidade
de vida, cidade ecológica e planejada”. A idéia principal era de que ao mostrar os
pontos positivos da cidade, despertaria nos empresários a confiança em realizar
mais investimentos na cidade, além de contribuir para a atração de empresas de
grande porte, conforme dizia reportagem da época:
Com o aumento de investimentos, segundo avaliação do Codem,
ameniza-se, em contrapartida, o problema do desemprego e outros
problemas sociais. Deve-se levar em consideração também que
Maringá é uma cidade que possui qualidade de vida, a observar pela
extensão da rede de água e esgotos, que atinge todos os bairros (O
JORNAL DO POVO, 18/06/1997).
Em maio de 1998 foi iniciada uma campanha consistente, envolvendo inclusive as
agências de publicidade e veículos de comunicação, cujo objetivo era “divulgar
Maringá como o melhor lugar para se investir e viver”, além de “transformar os
maringaenses em embaixadores de Maringá, mostrando lá fora toda a beleza da
199
cidade canção” (REVISTA ACIM, n. 387, 1998, p. 22). A idéia surgiu depois que foi
ao ar, em rede nacional de televisão, pelo programa Bom Dia Brasil, da rede Globo,
uma entrevista com o jogador de voleibol, campeão olímpico em 1992, Paulão
110
, na
época jogador do time da Cocamar que disputava a Superliga Nacional de Voleibol.
Paulão afirmou que estava satisfeito em ter trocado, há quatro anos, a vida agitada
de São Paulo por Maringá e que “não trocaria Maringá por nenhuma outra cidade”.
Acabou sendo eleito pelos empresários, o garoto-propaganda de Maringá.
O vice-presidente da ACIM e empresário do setor publicitário, Antonio Fermentão,
juntamente com o secretário do Codem, Paulo Roberto Pereira de Souza foram os
responsáveis por coordenar essa campanha de marketing da cidade, que envolveu a
criação de um vídeo mostrando as belezas da cidade e destacando os pontos
favoráveis a novos investimentos. O vídeo foi traduzido para o inglês, espanhol e
japonês, sendo encaminhado para diversos lugares. Paulo Roberto Pereira de
Souza defendia que divulgar o amor pela cidade era uma tendência mundial e
poderia contribuir para a atração de investimentos:
É uma tendência mundial este tipo de valorização da cidade onde se
mora. Quando os moradores demonstram interesse pela cidade,
automaticamente eles participam muito mais dos projetos municipais
e acabam influindo na administração política. Esta demonstração de
cidadania impressiona muito, principalmente aqueles que buscam um
lugar para viver ou para investir, já que esta participação dos
moradores expressa uma sociedade mais organizada, com poderes
de decisão que se perpetuam e não tende a acabar após um
mandato político (REVISTA ACIM, n. 387, 1998, p. 22).
Fermentão fazia coro com o diretor do Codem e destacava que era preciso “divulgar
o que a nossa cidade tem de melhor, ou seja, a qualidade de vida, a exuberante
arborização, as ruas planejadas, enfim, todas as vantagens que ela oferece”. Neste
sentido foram utilizados todos os meios para fazer a divulgação da cidade, inclusive
com matérias pagas ou sugeridas em veículos de comunicação de abrangência
estadual e nacional, como a Gazeta Mercantil que, em 15 de junho de 1998,
divulgou uma página inteira de reportagem sobre Maringá, suas belezas naturais e o
110
Paulo André Jukoski da Silva, Paulão, atuou por 23 anos no voleibol. Participou de três Olimpíadas: Seul
(1988), Barcelona (1992) e Atlanta (1996); foi Campeão Olímpico de 1992, Campeão da Liga Mundial de 1993,
Campeão Sul-americano e Campeão Brasileiro. Atuou por quatro anos defendendo o time de voleibol da
Cocamar, que representou a cidade de Maringá na Superliga Nacional de Vôlei.
200
envolvimento do Codem nas políticas de desenvolvimento econômico. Ainda em
1998, “Maringá foi apontada pela Revista Veja como uma das 10 melhores cidades
do Brasil para se viver; o jornal O Estado de São Paulo afirmou que Maringá tem o
quarto maior consumo per capita do país” (REVISTA ACIM, n. 392, 1998, p. 9).
A qualidade de vida foi o tema escolhido pelo Codem para estruturar o marketing
sobre a cidade. Foi considerado o “produto mais precioso, a moeda forte de
Maringá”. Para isso, em maio de 1999, com o apoio de agências de publicidade, foi
lançada a campanha “Qualidade de Vida”, com a confecção de camisetas, bottons e
um adesivo para carro com a figura de uma árvore e os dizeres “Maringá é mais
Qualidade de Vida”, que passou a ser distribuído para todas as entidades que
participavam do Conselho. Todos esses esforços em torno da “grife” Maringá, que
vinham desde o ano anterior, foram amplificados nacionalmente com a publicação
da já citada matéria na Revista Veja em 16 de maio de 1999, comparando Maringá a
Dallas, cidade dos Estados Unidos. Completando esse ciclo de marketing atrativo,
em 2000, o ranking anual das 100 melhores cidades para investimentos, publicado
pela Revista Exame
111
, apontou Maringá em 18º. lugar, à frente de algumas capitais
e de outras cidades de maior porte.
A constante exposição de Maringá na mídia nacional acabou levantando suspeitas
do Ministério Público que, no processo que causou o afastamento do prefeito Jairo
Gianoto, no final de 2000, constatou irregularidades nos gastos com divulgação por
parte da Prefeitura, além de um considerável volume de recursos gastos com
promoção pessoal.
6.5.4 Incubadora Tecnológica
Em julho de 1998 o Codem criou a Incubadora Tecnológica, um projeto desenvolvido
para unir os setores econômico e científico, desenvolvendo conceitos de empresas
de base tecnológica. A idéia era dar suporte administrativo, físico e tecnológico para
empresas e técnicos que pudessem desenvolver novos produtos ou serviços que
ainda não tivessem sido lançados no mercado. Tanto empresas estabelecidas na
111
Revista Exame n. 9, de 03 de maio de 2000.
201
cidade, quanto empreendedores com um projeto de serviço ou produto poderiam ser
beneficiados pela Incubadora, que iria “dar apoio a pessoas que têm projetos, mas
não possuem conhecimento e nem experiência administrativa ou tecnológica para
desenvolver e colocar os produtos no mercado, ou os serviços em prática”. O
espaço físico necessário também seria colocado à disposição do empreendedor
(REVISTA ACIM, n. 388, 1998, p. 22). Segundo o economista João Celso Sordi,
diretor executivo do Codem, “as chances de sucesso no mercado econômico de uma
empresa com base tecnológica é muito maior e nesse sentido, a Encubadora (sic)
atuará como uma instituição de total apoio aos projetos que economicamente são
viáveis a Maringá” (REVISTA ACIM, n. 388, 1998, p. 23).
Participaram da criação da Incubadora além do Codem, a FIEP, a ACIM, a UEM, o
Instituto de Tecnologia do Paraná – Tecpar, o Sindimetal, o IDR, o Sebrae e a
Secretaria Municipal de Indústria e Comércio. A aproximação com a UEM, permitiu
que a sede da Incubadora fosse instalada no campus, sob a supervisão do Centro
de Tecnologia da universidade.
6.5.5 Outros projetos e novos discursos
Nossa intenção não é fazer um inventário de todos os projetos e discursos que
consolidaram a hegemonia empresarial em Maringá. Entretanto, entendemos
importante relacionar alguns outros pela sua importância em colaborar com a nossa
hipótese de pesquisa.
6.5.5.1 Banco Social: o Codem iniciou os estudos para criar linhas de crédito
facilitadas para micro-empresários em junho de 1997 (O JORNAL DO POVO,
18/06/1997). O projeto inicial visava captar recursos a fundo perdidos junto ao Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Em 2001, na
administração do PT, o Codem entregou os estudos para a Prefeitura (REVISTA
ACIM, n. 406, 2001, p. 13) que, com alguns acréscimos e ajustes, criou a instituição
Maringá Crédito Solidário, chamado de Banco do Povo, com recursos a juros
extremamente baixos para financiar micros investidores.
202
6.5.5.2 Região Metropolitana de Maringá: o Codem apoiou e subsidiou com
estudos o projeto do deputado estadual Joel Coimbra que criou a Região
Metropolitana de Maringá, em 17 de julho de 1998. A lei complementar nº 83/98,
sancionada pelo governador Jaime Lerner, formava a RMM com oito municípios:
Maringá, Marialva, Mandaguari, Mandaguaçu, Sarandi, Paiçandu, Iguaraçu e
Ângulo. Em 2002, pela Lei Complementar nº. 13/565-2002 foi acrescido o município
de Floresta. Em 2005, Doutor Camargo, Ivatuba, Astorga e Itambé, foram incluídos
pela Lei Complementar nº. 018/2005 e Presidente Castelo Branco, Lobato e Santa
Fé, pela Lei Complementar nº. 442/2005.
6.5.5.3 Ramal do gasoduto: desde a sua criação, o Codem desenvolve esforços
para atrair para Maringá o ramal do gasoduto Bolívia-Brasil. Realizou, juntamente
com a Compagás, em 2000, um estudo de demanda potencial para a implantação
do gás natural no trecho Maringá-Londrina.
6.5.5.4 Hidrovia do Ivaí: o Codem resgatou um projeto do início dos anos 1980 que
visava transformar o rio Ivaí
112
em uma hidrovia que possibilitasse a conexão com o
trecho rio Paraná-Tietê e com a Bacia do Prata, na Argentina. Pelos estudos o rio
Ivaí teria capacidade de transportar até 6 milhões de toneladas por ano, com o custo
do frete a um terço do custo do frete rodoviário (O DIÁRIO, 21/05/2000, p. 9), ligando
Doutor Camargo a Buenos Aires.
6.5.5.5 Centro Tecnológico: o Codem liderou a criação da Fundação Tecnópolis
Maringá que ficou responsável para gerenciar uma unidade construída na gestão do
prefeito Said Ferreira, em 1996, para abrigar o Cefet, o que acabou não
acontecendo na época pela falta de um projeto junto ao Governo Federal. Em
agosto de 2000 o Ministério da Educação aprovou o projeto do Centro Tecnológico
de Maringá, liberando “R$ 2,2 milhões para a aquisição de equipamentos de
laboratório de última geração”. Segundo o projeto do Codem, o Centro iria
“beneficiar, no mínimo, 20% da população economicamente ativa da região,
formando, qualificando e requalificando profissionais nas áreas de eletromecânica,
112
O rio Ivaí é um dos rios mais importantes do Paraná. Nasce em Prudentópolis, na região central do Estado.
Percorre inúmeros municípios, entre eles 10 na região de Maringá. Desemboca no rio Paraná, na altura da cidade
de Porto Camargo.
203
têxtil, alimentos, construção civil, informática e outros que venham ser demandados”
(REVISTA ACIM, n. 398, 2000, p. 18).
6.5.5.6 Novos cursos da UEM: o Codem apoiou institucionalmente e participou das
reuniões em Curitiba para a aprovação de 11 novos cursos para a UEM, no início de
2000. Sete desses cursos foram para a área de produção e tecnologia, atendendo a
demandas apontadas pelo Conselho, e foram alocados no Centro Tecnológico de
Maringá: Agroindústria, Confecção Industrial, Construção Civil, Software, Engenharia
de Alimentos, Engenharia Mecânica, e Arquitetura e Urbanismo (O DIÁRIO,
19.03/2000, p.4). Os outros cursos criados foram os de Ciências Sociais, Filosofia,
Estatística e Secretariado Executivo Trilíngüe. Além dos novos cursos, o Codem e a
ACIM interferiram para que houvesse aumento no número de vagas nos cursos de
Odontologia e Medicina, a pedido da reitora Neusa Altoé. Cada curso tinha apenas
20 vagas e a pretensão era elevar o número para 40. Para isso, através do Codem,
houve o compromisso de que as entidades de Maringá doariam os equipamentos
necessários para o funcionamento dos cursos com mais alunos. No dia 28 de março
de 2001, o Codem e a ACIM organizaram uma solenidade para repassar ao
Laboratório de Histologia da UEM 21 microscópios e um televisor de 29 polegadas,
possibilitando o aumento no número de vagas (REVISTA ACIM, n. 402, 2001, p. 14).
6.5.5.7 Internacionalização do aeroporto: desde a inauguração do novo aeroporto
de Maringá, em 1999
113
, o Codem desenvolve estudos e projetos para transformá-lo
em aeroporto industrial, ou de cargas internacionais. Em 2000, um dos principais
trabalhos do Codem foi o projeto da implantação da aduana aeroportuária,
levantando toda a legislação pertinente (REVISTA ACIM, n. 406, 2001, p. 13).
6.5.5.8 Atração da Gol Linhas Aéreas: o Codem reputa com uma de suas grandes
conquistas a atração da companhia Gol Linhas Aéreas para operar no aeroporto de
113
O novo aeroporto de Maringá substitui o antigo aeródromo Gastão Vidigal que serviu a cidade de 1970 até
2001. Foi inaugurado três vezes: em 1996, o prefeito Said Ferreira, antes de deixar o cargo, inaugurou o seu
Terminal de Cargas. Em 1999, o prefeito Jairo Gianoto realizou a inauguração oficial da pista com a presença do
governador Jaime Lerner. Em julho de 2000, novamente com o governador Jaime Lerner, foi inaugurado o
Terminal de Passageiros. O aeroporto é administrado por um consórcio público e privado, a Prefeitura e a
Terminais Aéreos SBMG S/A, devidamente conveniado com o Ministério da Aeronáutica. Desde 12 de março de
2001 está habilitado para operações de vôos diurnos e noturnos. O nome, homologado em 6 de maio de 2005, foi
dado em homenagem ao jovem político Sílvio Name Júnior, morto em acidente aéreo em 2000.
204
Maringá. A Gol começou a operar com o vôo da rota Maringá a São Paulo, com
escala em Curitiba, no dia 6 de junho de 2002 (REVISTA ACIM, n. 415, 2002, p. 16).
6.5.5.9 Parque Tecnológico: o projeto desenvolvido pelo Codem para abrigar o
Tecnopark contempla “muito mais que um aglomerado de empresas de alta
tecnologia. É quase uma cidade” (REVISTA ACIM, n. 433, 2004, p. 15). A área para
a sua construção foi garantida por decreto assinado pelo prefeito João Ivo Caleffi,
em 26 de fevereiro de 2004, declarando de utilidade pública uma área de 91,9
alqueires – cerca de 2,2 milhões de metros quadrados – localizada na zona norte da
cidade. A atuação da secretária municipal de Indústria e Comércio, professora Rosa
Izelli Martins, foi essencial para que o projeto tivesse o apoio do prefeito e fosse uma
espécie de menina dos olhos da administração petista, conforme o prefeito José
Cláudio em uma entrevista em março de 2003: “Queremos atrair os empresários não
apenas em função de um projeto econômico, mas de um projeto de cidade. O
projeto do parque tecnológico foi discutido e gestado por muita gente boa”
(REVISTA ACIM, n. 422, 2003, p. 08).
6.6 Considerações
Na análise minuciosa das nossas fontes e por tudo o que já foi apresentado até aqui
é quase redundante dizer sobre a ingerência direta da ACIM no Codem. Há diversas
citações de personagens ligados à ACIM ou de fora dela que denunciam a ligação
mais do que umbilical entre a entidade empresarial e o conselho. Podemos apontar
alguns fatos como a questão da representatividade da ACIM no plenário do Codem
ser a maior, quatro cadeiras, entre as entidades, além de participar de cinco
câmaras técnicas (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ 2, 1996). Embora
não exista nenhum documento onde isso esteja escrito, há um acordo para que a
ACIM participe sempre da mesa diretora do Codem o que vem ocorrendo desde a
sua primeira diretoria: Jefferson Nogaroli (vice-presidente) e Paulo Roberto P. de
Souza (secretário) em 1997-1999; Carlos Walter M. Pedro (presidente) e Paulo
Roberto P. de Souza (secretário) em 1999/2002; Antonio Fermentão (presidente) e
Carlos Walter M. Pedro (vice-presidente) em 2002/2005; Wilson de Matos Silva
(vice-presidente) em 2005/2007 e Wilson de Matos Silva (presidente) e Ariovaldo
Costa Paulo (vice-presidente) atualmente.
205
Acompanhando a interpretação que Coutinho (2003) dá à obra de Gramsci,
podemos afirmar que o Codem se transformou no “aparelho privado de hegemonia”
da ACIM, pois segundo um de seus ex-presidentes, o imobiliarista Pedro Granado
Martines, “o Codem é uma das maiores realizações da história da ACIM” (REVISTA
ACIM, n. 385, 1998, p. 11). Quando o Movimento Repensando Maringá ganhou a
adesão da imprensa, e o historiador e jornalista político Messias Mendes frisou que
as autoridades do município teriam “que se comprometer com a vontade do partido
maior que é Maringá” (O DIÁRIO, 01/08/1996, grifo nosso), talvez não tivesse a
consciência de que esse “partido” seria o Codem conduzido pela ACIM. No caso, o
Codem seria o partido adequado às condições expostas por Gramsci, de acordo
com Dias:
Uma associação pode ser chamada de “partido político” só enquanto
possuir “uma doutrina constitutiva, sua, própria; só enquanto
conseguir concretizar uma noção, sua própria, de Estado; só
enquanto concretizar e divulgar entre as grandes massas um
programa de governo, apto para organizar praticamente um Estado,
e isto em condições determinadas, com homens reais e não com
fantasias abstratas de humanidade (DIAS, 2000, p. 169).
Outra questão importante para essas considerações é sobre a promoção da imagem
da cidade, uma das principais propostas do Codem, tanto na questão do “marketing”
de Maringá quanto das ações para tornar a cidade competitiva, conforme já
comentamos no capítulo anterior. É inegável que o marketing urbano se constitui
em peça fundamental na atração de investimentos, principalmente de empresas
transnacionais, produzindo imagens que, associadas a determinados padrões de
consumo, produzem diferenciais que valorizam a “marca” da cidade. Sánchez
explica que estas imagens são produzidas a partir de uma “seleção simbólica de
fragmentos escolhidos da paisagem urbana”, que ao serem tomadas por uma
síntese da cidade, cumprem a missão de apresentar como imagens legítimas o que,
na realidade, não passa de processos de “exemplificação, seleção, inclusão e
omissão de espaços e de ângulos das práticas sociais” (SÁNCHEZ, 1999, p. 124).
Nesse contexto, as diversas ações de promoção da imagem da cidade que incluem
tanto o investimento em obras públicas quanto os instrumentos de marketing,
inclusive os propalados pelo Codem, têm por objetivo dinamizar a vida econômica e
cultural da cidade, transformando-a em um espetáculo: “Maringá é mais qualidade
206
de vida!”. Como afirma a autora, em uma cidade espetáculo, a população passiva,
se comporta antes como espectador que como cidadão. “Essa assistência ao
espetáculo é muito útil porque, ao criar uma ilusão de participação, torna fácil a
legitimação dos interesses dominantes” (BRAGA, 2001, p. 32).
O marketing urbano é na verdade um instrumento de representação social. Ele
apresenta a cidade “asséptica de problemas como violência, desemprego, pobreza,
favela, poluição, depredação ambiental, entre outros”. É um tipo de propaganda que
tenta “elevar a qualidade de vida, as condições sócio-econômicas, ambientais, para
patamares que fogem da realidade concreta da dinâmica de uma cidade” (SILVA,
2006, p. 109). Em Maringá, o marketing de “cidade verde”, “cidade ecológica”,
“cidade sempre limpa”, com ruas largas, arborizadas, praças ordenadas, tem
propiciado uma representação social de cidade “mitificada por uma imagem prosápia
que na realidade atende a interesses políticos e econômicos dos grupos dirigentes”
(SILVA, 2006, p. 111).
207
QUARTA PARTE
A POLÍTICA LOCAL NO
CONTEXTO DA HEGEMONIA
208
Imagem 4
Capa da Revista ACIM, n. 390, Setembro de 1998
209
Capítulo VII
O projeto hegemônico e as eleições municipais
Comunidade e governo, juntos, determinando o
nosso futuro.
Lema do Codem.
210
7.1 Ações Políticas
Na última parte desta dissertação procuraremos apresentar como o projeto
hegemônico do empresariado se relacionou com a política institucionalizada, mais
precisamente com os candidatos vitoriosos nas três eleições municipais do período
de abrangência da pesquisa. Com exceção da campanha de 1996, quando o projeto
ainda não havia conquistado o status de hegemonia e por ser o início do Movimento
Repensando Maringá, nas duas outras campanhas para prefeito as idéias da elite
empresarial foram parar nos planos de governo dos eleitos. Mesmo assim, como
veremos, o prefeito eleito em 1996 utilizou os mesmos argumentos do Movimento
para dar base à sua campanha.
A participação dos empresários na política maringaense no período pesquisado
também ocorreu em ações suprapartidárias que serviram para dar uma visibilidade
ampla às idéias do Movimento Repensando Maringá e, posteriormente, ao Codem: a
campanha para aumentar o colégio eleitoral visando chegar aos 200 mil eleitores,
realizada em 1998; a campanha Maringá Vai Ganhar – Vote para Deputado e o
documento O que Maringá espera do novo Governo.
Em março de 1998, uma iniciativa da Justiça Eleitoral envolveu a prefeitura, câmara
de vereadores, partidos políticos e os empresários com o objetivo de elevar o colégio
eleitoral de Maringá para chegar aos 200 mil eleitores. Na época, a cidade contava
com 174 mil pessoas aptas a votar. Os objetivos eram “aumentar a
representatividade política do município e, consequentemente, o poder de
reivindicação nas esferas estadual e federal” (REVISTA ACIM, n. 386, 1998, p. 16).
Este discurso estava no cerne do Movimento Repensando Maringá como já vimos
anteriormente. Na época, Maringá estava representada politicamente por três
deputados federais e três deputados estaduais
114
e, no entender do prefeito da
época, com o aumento no número de eleitores poderia haver aumento no número de
deputados e aí “com mais dois deputados a via de reivindicações fica mais
acessível, principalmente porque necessitamos de recursos para terminar diversas
obras e projetos importantes para o desenvolvimento econômico de Maringá”
114
Deputados federais: Odílio Balbinotti, Ricardo Barros e Valdomiro Meger. Deputados estaduais: Emerson
Nerone, Joel Coimbra e Marquinhos Alves.
211
(REVISTA ACIM, n. 386, 1998, p. 16). Os empresários se envolveram diretamente
na campanha e, por meio de uma parceria com a prefeitura, viabilizaram um trailer
que percorreu os bairros, atualizando os títulos eleitorais dos moradores. Em duas
semanas estacionado na Praça Raposo Tavares (foto 11), ponto central da cidade e
ao lado do terminal de ônibus urbano, foram emitidos 1.642 novos títulos eleitorais.
Ao final de dois meses de campanha, Maringá havia conseguido 16.285 novos
eleitores, aumentando para 190.285 o seu colégio eleitoral. O juiz eleitoral e diretor
do Fórum de Maringá, Nabor Nishikawa, comemorou o resultado: “Agora dois terços
da população está apta a votar, além disso, assim que atingirmos 200 mil, teremos
dois turnos para prefeito” (REVISTA ACIM, n. 386, 1998, p. 16).
Foto 11
Trailer cedido pela ACIM para a campanha dos 200 mil eleitores
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
A campanha para angariar novos eleitores despertou o interesse em realizar uma
outra campanha no sentido de valorizar o processo eleitoral, “visando reduzir o
número de votos nulos, brancos e abstenções” e destacar a importância de escolher
representantes da cidade nas eleições para deputados estaduais e federais que se
avizinhava. Em agosto de 1998, o Codem, com o patrocínio financeiro da ACIM,
lançou a campanha Maringá Vai Ganhar - Vote para Deputado. O texto da
campanha publicitária dizia:
212
As Eleições estão chegando. Precisamos de recursos para realizar
os benefícios que nos conectem com o próximo milênio. A força
política de Maringá, com nossos representantes em Brasília e
Curitiba, vem conquistando investimentos que significam grandes
mudanças para a cidade e região. E este trabalho tem que ser
ampliado. Nós precisamos de mais deputados estaduais e federais
defendendo nossos interesses. Por isso, não fique sem argumentos
para exercer a cidadania: não vote nulo, nem em branco. Vote por
Maringá, vote para Deputado. Deputado traz recursos e benefícios
para a cidade” (REVISTA ACIM, n. 389, 1998, p. 02).
A justificativa para a campanha, além do que estava explícito no texto, era a de que
nas eleições anteriores, em 1994, dos 156 mil eleitores de Maringá, apenas 80 mil
votaram em deputados. Deduzia-se então que a cidade poderia ter eleito, ao invés
de seis deputados, dez representantes, sendo cinco em cada parlamento (REVISTA
ACIM, n. 389, 1998, p.03). Foram espalhados diversos outdoors pela cidade,
distribuídos selos autocolantes para estampar camisas e carros e outras ações de
marketing direto, como panfletagem (foto 12), bonés, cartilhas e camisetas com os
dizeres da campanha. Estrategicamente, a campanha foi pensada também pelo fato
das eleições em Maringá, naquele ano, serem realizadas pela primeira vez com as
urnas eletrônicas e de já haver um histórico de votos errados nesse tipo de
equipamento, como afirmava o juiz eleitoral Renê Pereira da Costa: “(...) a primeira
eleição eletrônica em cidades como Curitiba e Londrina apresentou um percentual
de votos nulos acima da média. Muitos eleitores despreparados acabam anulando
seus votos por não saber operar a urna direito” (REVISTA ACIM, n. 390, 1998, p.
11).
Foto 12
Panfletagem junto a automóveis na campanaha Vote para Deputado
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
213
Apurados os votos de 3 de outubro, ao contrário do que se esperava Maringá perdeu
a representatividade que tinha na Câmara Federal e manteve a mesma na
Assembléia Legislativa, elegendo apenas dois deputados federais e três deputados
estaduais
115
. Os organizadores da campanha colocaram a culpa no grande número
de candidatos: “Na avaliação do presidente da ACIM, Jefferson Nogaroli, com estes
resultados, Maringá só não elegeu mais deputados em função do grande número de
candidatos, que acabou pulverizando os votos” (REVISTA ACIM, n. 391, 1998, p.
13). Entretanto e embora a finalidade da campanha fosse aumentar o número de
representantes, os empresários comemoraram os resultados, invertendo o discurso:
Em comparação com as eleições de 94, os números, fornecidos pelo
Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, mostram que a campanha
teve papel fundamental nos resultados das urnas em Maringá. O
número de eleitores que votaram para deputado cresceu de forma
significativa (20,41% para deputado estadual e 32,12% para federal).
O universo de votos brancos e nulos no município caiu 62,94%. Por
outro lado, o colégio eleitoral maringaense cresceu quase duas
vezes mais que a média paranaense em relação à eleição de 94.
Enquanto o Paraná teve um aumento de 11,10% o de Maringá foi de
20,38% (REVISTA ACIM, n. 391, 1998, p. 13).
As eleições daquele ano também eram para o governo do Estado, onde
concorreram o então governador Jaime Lerner e o ex-governador Roberto Requião,
entre outros candidatos, polarizando a eleição. Para poder cobrar ações diretas do
novo governador e dos novos parlamentares
Numa atitude inédita, integrantes do Conselho de Desenvolvimento
Econômico de Maringá (Codem), formado por representantes de
diversos setores da comunidade, se reuniram, em julho, e
elaboraram um farto documento intitulado “O que Maringá espera do
novo governo”. As propostas visando o desenvolvimento organizado
do município e melhorias nos setores da saúde, educação e infra-
estrutura estão contidas no manual que tem 38 páginas e que foi
entregue a todos os candidatos ao governo do Estado e a deputados
estaduais e federais (REVISTA ACIM, n. 390, 1998, p. 22).
A idéia do documento era garantir que os eleitos se comprometessem com as
propostas elaboradas “de acordo com os anseios dos maringaenses”. O então
prefeito Jairo Gianoto destacava que havia chegado “a hora do governo respeitar o
115
Foram reeleitos os deputados federais Odílio Balbinotti e Ricardo Barros. Valdomiro Meger ficou como
primeiro suplente. Nenhum deputado estadual foi reeleito e entram os novatos Serafina Carrilho, Ricardo Maia e
Divanir Braz Palma.
214
potencial de Maringá” e que o documento elaborado demonstrava “o interesse e a
capacidade da comunidade em se organizar e reivindicar benfeitorias que nem
sempre são lembradas pelo governo do Estado e pelos parlamentares na
Assembléia Legislativa” (REVISTA ACIM, n. 390, 1998, p. 22). O conjunto de
políticas, ações e projetos que foram propostos pelo Codem iam desde o setor de
saúde pública, passando pela infra-estrutura, agroindústria e a educação básica e
superior.
O governador Jaime Lerner foi eleito no primeiro turno, mas seu oponente, o ex-
governador Roberto Requião, ficou à sua frente no resultado final em Maringá. Este
fato preocupou as lideranças empresariais que temiam o distanciamento do
governador como represália por perder a eleição na cidade. Daí, a preocupação em
saber se o governador havia estudado as propostas do documento O que Maringá
espera do novo Governo e se apoiaria as ações do Codem. “Recebi e analisei
cuidadosamente”, respondeu Lerner em entrevista para a Revista ACIM, em
novembro de 1998:
Este documento é mais uma ferramenta para me auxiliar no
Governo. Como já disse anteriormente, o envolvimento da sociedade
consolida um processo de gestão participativa. É a partir dessas
discussões que podemos dimensionar melhor os projetos e
programas do governo. Todas as propostas que puderem ser
incorporadas ao programa de governo, serão implementadas
(REVISTA ACIM, n. 392, 1998, p. 07).
Com a experiência da realização dessas ações políticas, o Codem continuou a
apoiar a campanha para elevar o número de eleitores para 200 mil, o que aconteceu
no final de 1999. Para as campanhas eleitorais de 2000 (prefeito e vereadores),
2002 (deputados, governador e presidente da República) e 2004 (prefeito e
vereadores), o Codem elaborou os documentos específicos para cada um sobre O
que Maringá espera do novo Governo. No caso dos documentos entregues para os
candidatos à presidência da República, José Serra, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro
Gomes e Garotinho receberam pessoalmente quando visitaram Maringá em
campanha. Nessa mesma eleição (2002), o Codem realizou de forma tímida a
campanha Vote para Deputado, e a representatividade de Maringá caiu ainda mais:
apenas um deputado estadual eleito e a manutenção dos dois deputados federais.
215
Veremos a seguir como foi o relacionamento do movimento hegemônico do
empresariado com a política institucionalizada em nível local.
7.2 As eleições municipais de 1996 - A paz política
As convenções partidárias que apontaram os candidatos para as eleições municipais
de 1996 aconteceram durante o mês de junho, na mesma época em que o
Movimento Repensando Maringá ganhava alarde. O primeiro candidato a aparecer
com suas propostas e a se comunicar diretamente com os empresários foi Jairo
Gianoto, justamente o que acabaria sendo eleito
116
, na edição de julho da Revista
ACIM, a mesma edição que apresentou pela primeira vez o Movimento. Outro
detalhe que chama a atenção é o fato da reportagem sobre o plano de governo de
Gianoto ter saído em cores quando a Revista era em preto e branco, tendo apenas a
capa colorida.
A reportagem sobre o candidato do PSDB, mesmo partido do presidente da
República Fernando Henrique Cardoso, trazia como título: “Só industrializar não
basta”. Nela, o candidato defendia que paralelo ao incremento da indústria, a cidade
deveria “implementar uma ação conjunta que possibilite aos órgãos do poder público
e aos empresários opções para o desenvolvimento, criando novos mercados,
abrindo novas frentes de investimentos e, talvez mais importante, treinando a mão-
de-obra” (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 20). Gianoto também reclamava da falta
de dados concretos sobre o desenvolvimento econômico do município: “Não existem
pesquisas nem estudos que possam orientar esse desenvolvimento”; e propunha
A criação do Conselho de Desenvolvimento, que seria formado por
empresários da Associação Comercial e Industrial de Maringá, mais
os técnicos da Secretaria de Indústria e Comércio, da FIEP,
sindicatos, Sebrae e UEM, que juntos poderiam equacionar
problemas e dirigir metas (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 20).
116
Jairo Gianoto (PSDB/PTB/PSC/PPS) foi eleito com 48.888 votos. Sílvio Barros II ficou com 31.081 votos;
Joel Coimbra com 27.934; Antonio Carlos Pupulin com 11.405 e José Cláudio com 10.597 votos.
216
As demais propostas que são apresentadas pelo candidato, praticamente eram as
mesmas proposições do Movimento Repensando Maringá, sendo impossível
precisar quem pensou em quais e primeiro que o outro.
Gianoto defendia que o Conselho de Desenvolvimento deveria coordenar uma
pesquisa com todas as áreas econômicas de Maringá para coletar dados concretos
do que a cidade possuía e poderia ainda desenvolver. Dizia que “esta pesquisa
ouviria empresários, trabalhadores, autoridades públicas ligadas às áreas do
comércio e indústria” e que o banco de dados “estaria disponível a todos sendo
complementado todos os anos, servindo até de parâmetro para avaliação do que foi
implementado” (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 20). Em linhas gerais, o que
Gianoto sugeria era um grande censo econômico que pudesse mostrar como estava
Maringá em termos de desenvolvimento
117
. Com exceção do censo, todas as demais
pesquisas sugeridas pelo candidato já eram feitas e tinham acompanhamento
sistemático do IDR desde 1994 e foram elas que deram suporte teórico às propostas
similares feitas pelo Repensando Maringá.
Gianoto também apresentava a proposta de utilizar os conhecimentos da UEM para
desenvolver pólos econômicos ligados diretamente aos profissionais de nível
superior que eram formados pela universidade:
Poderíamos ter aqui um parque só com indústrias de química fina,
utilizando a excelência conseguida pelos cursos de Engenharia
Química e de Química da UEM. Outra área poderosa e pouco
explorada no interior do país, seria a criação de um pólo de software
em Maringá, um setor que abre perspectivas inúmeras de
desenvolvimento (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 20).
Ambas as idéias seriam depois assimiladas pelo Codem, na criação da Incubadora
Tecnológica dentro da UEM e na proposta do Tecnopark já na gestão do prefeito
seguinte.
O discurso também acompanhava o tom empregado pelo Movimento Repensando
Maringá de que era o momento de “colocar a cidade nos trilhos do
117
O Censo Econômico de Maringá foi realizado em 2001, na gestão do PT, por iniciativa da secretária de
Indústria e Comércio, Rosa Izelli Martins, que havia sido indicada pela classe empresarial.
217
desenvolvimento”, de fazer com que os produtos de Maringá fossem conhecidos fora
de suas fronteiras: “Temos que colocar Maringá como passagem obrigatória no
corredor aberto pelo Mercosul, e isso é urgente, sob pena de perdermos mercado
externo” (REVISTA ACIM, n. 367, 1996, p. 20). Gianoto falava o que os empresários
queriam ouvir e tinham dificuldades de encontrar nos outros candidatos melhores
colocados nas pesquisas: Joel Coimbra (PDT), candidato apoiado pelo prefeito Said
Ferreira, apostava no Repensando Maringá como importante para gerar empregos
(REVISTA ACIM, n. 368, 1996, p. 29); Sílvio Barros (PFL), que havia sido secretário
de Turismo no Governo Jaime Lerner via no Movimento a ajuda ideal para levar
adiante seu projeto de transformar Maringá num grande centro de eventos
(REVISTA ACIM, n. 368, 1996, p. 19) e Antonio Carlos Pupulin (PMDB) dizia que o
seu plano intitulado “Projeto Maringá” era a mesma idéia do Repensando Maringá
(REVISTA ACIM, n. 368, 1996, p. 17). Jairo Gianoto se mostrava mais presente para
o empresariado:
O que nós estamos propondo é o trabalho coordenado. A prefeitura,
o município, tem que estar em consonância com o empresariado que
quer investir para desenvolver seus negócios. Criar instrumentos de
incentivos, ser parceiro nas promoções (REVISTA ACIM, n. 367,
1996, p. 20).
Vinha ao encontro dos anseios dos líderes do Movimento Repensado Maringá esse
discurso de valorizar o empresário, de priorizar os investidores, de “reverter as
tendências” de Maringá naquele momento. Gianoto concluía sua apresentação aos
empresários, sua primeira exposição de plano de governo, sendo bem enfático:
“Temos que fazer a riqueza circular em nosso município, estimulando os
investimentos, utilizando para isso, à plena carga, toda a nossa capacidade
industrial, vocação que sem dúvida Maringá também tem” (REVISTA ACIM, n. 367,
1996, p. 20).
Outra preocupação dos empresários e que Gianoto soube trabalhar muito bem,
transformando inclusive em “bandeira” de campanha, foi a falta de união entre os
políticos, o que ele chamou de “paz política”. Segundo ele, a unidade política era
fundamental para o desenvolvimento econômico de Maringá:
218
A partir do momento em que dois grupos divergentes tomaram conta
de Maringá, perdemos espaço político. Foi instalado o método da
política de divisão e não de soma. E isto acabou fazendo com que
Maringá ficasse sempre ausente do contexto político do Estado. Isso
aconteceu nos governos José Richa, Álvaro Dias e Roberto Requião.
Sempre reclamamos que esses governadores privilegiaram outras
cidades. Só que o governador não privilegia esta ou aquela
comunidade porque gosta mais ou menos. Ele investe onde existe
organização política que briga pelos benefícios daquela região e
daquela cidade (REVISTA ACIM, n. 370, 1996, p. 06).
Com este discurso apropriado ao que estava sendo proposto pelo Movimento
Repensando Maringá, e por ter colocado o projeto em seu plano de governo,
conclamando os empresários a estarem ao seu lado, Gianoto se mostrou o
candidato ideal para estar aliado ao projeto hegemônico do empresariado, fato
comprovado por ser um dos personagens que mais vezes apareceu em reportagens
na Revista ACIM de 1997 a 2000.
7.3 As eleições municipais de 2000 – Um novo modo de governar Maringá
Jairo Gianoto foi o primeiro prefeito de Maringá a disputar a reeleição, beneficiado
por uma emenda constitucional que permitiu a segunda disputa consecutiva para os
cargos executivos em todo o Brasil. A eleição municipal de 2000 também foi a
primeira com a possibilidade do segundo turno já que a cidade contava com 203.750
eleitores. Além de Gianoto se lançaram na disputa os candidatos José Cláudio
Pereira Neto (PT) em seu segundo pleito; Sílvio Name Júnior (PMDB), pela primeira
vez; Cida Borghetti (PPB), primeira vez; João Cioffi (PAN), primeira vez; Ulisses
Maia (PPS), vereador e ex-presidente da Câmara, pela primeira vez; Doutor Batista
(PTB), primeira vez; Inês Leal de Castro (PSTU), primeira vez e Assendino Santana
(PRP), pela terceira vez.
Principal proponente da paz política, Gianoto não conseguiu reunir sob a sua
candidatura políticos que eram ligados ao governador Jaime Lerner, como Cida
Borghetti, ex-assessora especial do governador em Brasília e Ulisses Maia, irmão do
deputado estadual Ricardo Maia, da base de apoio do Governo. Ao se aliar ao ex-
vice-prefeito Willy Taguchi (1989-1992), do PFL, que foi seu candidato a vice-
prefeito, Gianoto teve problemas com a Justiça Eleitoral por conta do mesmo ser
219
inelegível
118
. Inclusive, até o final da disputa no primeiro turno a coligação ainda
estava sub judice.
Denúncias de gastos excessivos na prefeitura, principalmente com verbas de
propaganda, e de utilizar a máquina pública para promoção pessoal, minaram a
campanha de Gianoto
119
. Ao final do primeiro turno as urnas indicaram a seqüência
da disputa entre José Cláudio (PT) e Doutor Batista (PTB). O primeiro tendo
alcançado 40.633 votos e o segundo 39.281. Um equilíbrio que apontava que o
vencedor seria aquele que soubesse atrair os votos dos candidatos derrotados,
principalmente os que haviam sido dados a Jairo Gianoto e a Cida Borghetti.
Logo a seguir explode o escândalo de desvio de recursos na prefeitura de Maringá,
culminando com o afastamento do prefeito Jairo Gianoto, impedido pela justiça de
continuar no cargo, e o pedido de prisão do secretário de Fazenda, Luiz Antonio
Paulichi (foto 13). O tom da campanha passa a ser agora a ética e a moralidade. É
aí que o advogado e pequeno empresário José Cláudio Pereira Neto se elege
prefeito com a votação recorde de 107.320 votos: “Ocorre que a população mandou
um recado nas urnas: chega de improbidade administrativa. Prevaleceu então, o
voto depositado em cima de pessoas éticas e honestas” (REVISTA ACIM, n. 400,
2000, p. 07).
118
Para a Justiça Eleitoral Willy Taguchi não se licenciou em tempo hábil da diretoria do Sindicato dos
Tecnólogos e Engenheiros da Região Noroeste e, portanto, seria inelegível.
119
As denúncias foram feitas ao Ministério Público (Promotoria de Defesa do Patrimônio Público) pelo ex-
prefeito Said Ferreira em duas ocasiões: 19 de abril de 2000, através de uma carta endereçada ao promotor e em
26 de abril quando prestou depoimento à Promotoria.
220
Foto 23
O prefeito Jairo Gianoto e seu secretário de Fazenda, Luis A. Paulichi,
por ocasião da posse do Codem
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
José Cláudio não era um desconhecido da população maringaense e tampouco dos
empresários. Na eleição de 1996 havia feito mais de 10 mil votos, até então a maior
votação do PT em Maringá. Em junho de 2000, mês das convenções partidárias,
anunciou a sua empresa, a Del Rey Colchões, na Revista ACIM, estampando ao
invés do produto que vendia a sua própria foto, que, aliás, seria usada nos
“santinhos” de propaganda na época da campanha. O texto do anúncio associava a
figura de José Cláudio aos micro e pequenos empresários que venciam os desafios
impostos para as empresas: “A Del Rey Colchões, do empresário e advogado José
Claudio Pereira Neto, encontra-se firme há 11 anos no mercado, vencendo todos os
desafios e dificuldades que se apresentam às micro e pequenas empresas no Brasil”
(REVISTA ACIM, n. 396, 2000, p. 40). Essa aproximação com o empresariado fazia
parte das recomendações da direção nacional do PT, conforme as teses do 2º
Congresso do partido em 1999, perfeitamente compreendidas quando em 2002 o
candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, se aliou a um
dos maiores empresários do Brasil, o industrial do ramo têxtil José Alencar, senador
do PL, ganhando as eleições.
O Plano de Governo de José Cláudio chamava-se Um novo modo de governar
Maringá. Sua principal linha condutora era criar “mecanismos públicos de controle
221
sobre a ação de governo, e também novos mecanismos de participação e de
decisão que vão permitir transparência no funcionamento da máquina e maior
interferência dos cidadãos” (REVISTA ACIM, n. 398, 2000, p. 11). Para isso,
propunha implantar o Orçamento Participativo
120
, criar conselhos de representantes
nos bairros e subprefeituras nos distritos de Iguatemi e Floriano. Diretamente ao
empresariado, o plano do candidato do PT apresentava idéias que iam ao encontro
do que estava delineado no projeto hegemônico do Repensando Maringá:
1) Apoio às iniciativas do Codem, no sentido de se criar incentivos
municipais para o fortalecimento das micro, pequenas e médias
empresas já existentes na cidade, as quais terão prioridade nos
incentivos fiscais. Se Maringá se tornar um excelente local de
produção e vendas para as empresas implantadas há bastante
tempo, isso atrairá, naturalmente, outras que queiram participar do
desenvolvimento da cidade. A partir daí, o Codem estabelecerá quais
empresas deverão ser atraídas (REVISTA ACIM, n. 399, 2000, p.
10).
Para a ACIM, o plano contemplava uma área estratégica da entidade que era a sua
recém lançada cooperativa de crédito:
2) Tendo em vista a criação do Sicredi, um banco de cunho social,
caberá à prefeitura apoiar seu fortalecimento, assim como destinar
recursos que propiciem linhas de crédito com taxas diferenciadas
para as micro e pequenas empresas, além de criar formas de
colaborar com o fortalecimento dos agricultores de Maringá,
incentivando a produção de alimentos componentes da cesta básica
para serem consumidos em nossa própria cidade e, com isso, gerar
mais empregos e recursos. O município é o maior consumidor
regional desses produtos (utilizados na merenda escolar) e, no
entanto, exporta-os de outras localidades (REVISTA ACIM, n. 399,
2000, p. 10).
O candidato também prometia dar atenção para as empresas que haviam fechado
as portas, incentivando projetos para que elas voltassem a operar:
3) Desenvolvimento de projetos de economia solidária, com vistas à
criação de cooperativas de trabalho, para que as empresas
maringaenses, desativadas em função de medidas econômicas
adversas, possam reabrir e ser dirigidas por trabalhadores e ex-
120
Sobre o Orçamento Participativo em Maringá consultar BRANDÃO, Elias Canuto. Limites, desafios e
avanços da participação popular no Orçamento Participativo. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade
Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho: Unesp, 2005.
222
proprietários, além de possibilitar o surgimento de outras (REVISTA
ACIM, n. 399, 2000, p. 11).
O plano destacava que para alcançar êxito nesses três primeiros tópicos seria
necessário estabelecer parcerias com a UEM, com as faculdades privadas e com a
comunidade, para aproveitar as assessorias e consultorias para as micro e
pequenas empresas, um projeto que também era desenhado pelo Movimento
Repensando Maringá desde o seu surgimento.
Os demais tópicos do plano contemplavam, quase que na totalidade, os projetos do
Codem e do empresariado:
4) Consolidação da Agência de Desenvolvimento Regional – ADR,
que conta com a articulação da UEM e da ACIM, para estudar e criar
novos nichos de crescimento de negócios e de empregos, não só em
Maringá como também nas cidades vizinhas, sobretudo nos ramos
de turismo e serviços.
5) Criar a Secretaria de Ciência e Tecnologia.
6) Estabelecimento de uma política tributária justa para todos,
decorrente de debates francos com as partes interessadas: município
e contribuintes, a respeito de IPTU, ISSQN e demais taxas
(REVISTA ACIM, n. 399, 2000, p. 11).
As duas propostas seguintes foram retiradas das propostas do Codem, contidas no
documento O que Maringá espera do novo Governo:
7) Implantar a Cidade Industrial de Maringá.
8) Consolidar o Centro Tecnológico de Maringá (antigo Cefet) e
ampliar sua capacidade de formação de mão-de-obra especializada
(REVISTA ACIM, n. 399, 2000, p. 11).
As quatro últimas medidas propostas eram:
9) Organizar, em conjunto com a ACIM, campanhas que promovam
Maringá como centro regional de comércio e indústria, ou seja, como
uma Capital de Negócios. Uma primeira medida, nesse sentido, é o
projeto Cidade Luz.
10) Assumir e liderar resolutamente as campanhas de nível
macrorregional que resultem em conquistas de obras de infra-
estrutura, como a duplicação das rodovias de acesso a nossa cidade
(Maringá-Guaíra, Maringá/Cascavel/Foz, Maringá/Curitiba e
Maringá/Paranavaí).
11) Implantar o sistema redutor social de impostos e taxas.
12) Converter Maringá em pólo turístico nacional, aproveitando tanto
sua beleza natural quanto sua localização estratégica para o
223
Mercosul, sobretudo o ecoturismo e o turismo rural (REVISTA ACIM,
n. 399, 2000, p. 11).
O candidato ainda esclarecia que para adotar as medidas propostas, os recursos
viriam “do cumprimento da lei que determina que 2% do orçamento do município
(cerca de 2 milhões de reias/ano) sejam direcionados ao financiamento de iniciativas
privadas, por meio do Codem”. O candidato argumentava:
Esse dinheiro surgirá à medida que se acabe de vez com o
desperdício na administração pública, sem contar também que existe
dinheiro a fundo perdido em várias instituições nacionais e
internacionais para financiar projetos e programas sérios. Tais
recursos serão auferidos pela mobilização de uma equipe
especializada em atuar na captação de numerário, junto a
organizações daquela natureza (REVISTA ACIM, n. 399, 2000. p.
11).
A proposta de José Claudio era a proposta do Codem. Era tudo o que os
empresários tinham almejado, dentro do seu planejamento para Maringá até o ano
2020. Por isso, quando o presidente do Codem, Carlos Walter Martins Pedro,
entregou o documento O que Maringá espera do novo Governo aos candidatos a
prefeito e vice do PT, José Cláudio e João Ivo Caleffi, em uma reunião na sede da
ACIM, houve um acordo de que se os mesmos fossem vitoriosos o secretário
municipal de Indústria, Comércio e Turismo seria indicado pelos empresários, fato
confirmado com a indicação pelo Codem da professora Rosa Izelli Martins, ex-
professora do Departamento de Administração da UEM e que havia sido diretora da
Incubadora Tecnológica de Curitiba.
Entretanto, o empresariado para adequar o discurso ao novo estilo de administração
que seria implantado pelo PT, se colocou como o grande vencedor das eleições de
2000. Jefferson Nogaroli, presidente da ACIM e vice-presidente do Codem, propalou
esse conceito:
Nesses anos todos compondo a diretoria (e agora ocupando a
presidência) da ACIM, aprendi uma lição vital. A de que a sociedade
organizada é forte o suficiente para alterar os rumos da história. Acho
que o melhor exemplo a ser citado é o Conselho de Desenvolvimento
Econômico de Maringá (Codem), que hoje integra mais de 200
representatividades locais e é ponto de referência na cidade e região.
224
Tenho dito e ouvido que o Codem foi o grande vencedor dessas
eleições (REVISTA ACIM, n. 400, 2000, p. 03, grifo nosso).
Na mesma edição da Revista ACIM, o diretor administrativo do Colégio Nobel de
Maringá e diretor da ACIM, professor Carlos Anselmo Corrêa, assinou um artigo
intitulado “A sociedade organizada é a mais forte das instituições”. Nele faz uma
crítica aos candidatos que tentaram, durante o processo eleitoral, valorizar suas
ideologias e as suas próprias pessoas em, detrimento, segundo a sua opinião, das
instituições legalizadas:
Felizmente Maringá é uma cidade privilegiada neste sentido pois,
graças a um trabalho coletivo de instituições, temos uma sociedade
organizada que já percebeu que a participação na definição de seu
bem-estar atual e futuro vai além das participações nas entidades
filantrópicas, clubes de serviços e congêneres. Temos o Codem –
Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá – instância
absolutamente democrática, onde a sociedade organizada se faz
presente para definir estratégias de desenvolvimento de curto, médio
e longo prazo (REVISTA ACIM, n. 400, 2000, p. 38).
O empresário chega a colocar, inclusive, o Codem em posição superior à nova
administração municipal:
Foi ele, o Codem, o grande vitorioso da nossa eleição municipal,
visto ter sido reconhecido por todas as candidaturas como instância
deliberativa para a política maringaense de desenvolvimento
econômico. Ao aceitar esta realidade, admite-se também que o
principal fator para a justiça social, para a eliminação das
desigualdades, para propiciar o acesso universal à educação e à
saúde, temas tão comuns nas falsas promessas políticas, é o
crescimento econômico sério e bem planejado, que não esteja
condenado a sofrer rupturas por questões ideológicas, partidárias e,
em especial, para atender a interesses de pequenos grupos
(REVISTA ACIM, n. 400, 2000, p. 38).
Esses discursos ilustram que o relacionamento institucional dependeria dos projetos
que a administração petista assumisse para efetivar o programa hegemônico do
empresariado. Nesse sentido, a participação da secretária Rosa Izelli Martins,
indicada pelo Codem, foi essencial para manter a união entre empresariado e
prefeitura (foto 14).
225
Foto 14
Assinatura da ACIM em outdoor da Prefeitura divulgando o Orçamento Participativo
Fonte: Centro de Documentação Luiz Carlos Masson (ACIM)
7.4 As eleições municipais de 2004 – Gente de Maringá na retomada do
desenvolvimento
Em maio de 2002 o prefeito José Cláudio tirou licença de dois meses e meio para
tratamento de saúde. Era o início de um calvário que contou ainda com mais dois
pedidos de licença, em novembro de 2002 e em agosto de 2003. O câncer o matou
no dia 16 de setembro de 2003. O professor João Ivo Caleffi que já havia assumido
interinamente nas licenças anteriores foi confirmado no cargo de prefeito com a
missão de substituir um “líder nato” e um ‘hábil negociador”, além de iniciar uma
carreira política própria, fora da sombra do ex-companheiro.
Nas prévias internas para escolher qual seria o candidato do partido nas eleições de
2004, João Ivo disputou a indicação com o secretário municipal de Governo,
professor Ênio Verri
121
, que havia sido secretário de Fazenda quando José Cláudio
estava no cargo. Verri tinha a simpatia da maioria dos secretários municipais do
partido e de boa parte dos filiados. Tinha também fácil trânsito junto ao
empresariado, pois quando Jefferson Nogaroli foi presidente da ACIM, Verri prestava
121
Ênio José Verri é professor licenciado da UEM, economista com doutorado em Integração da América Latina.
Foi eleito deputado estadual pelo PT nas eleições de 2006, com 36.800 votos. Convidado pelo governador
Roberto Requião, assumiu a Secretaria de Estado do Planejamento em fevereiro de 2007.
226
consultoria profissional ao grupo do empresário, a rede de Supermercados São
Francisco. Entretanto, prevaleceu o nome de João Ivo como candidato do PT para a
prefeitura. João Ivo disputou o primeiro turno das eleições com os candidatos Sílvio
Barros (PP), que disputava pela segunda vez depois de ter sido derrotado por Jairo
Gianoto em 1996; Doutor Batista (PTB), com quem José Cláudio havia disputado o
segundo turno em 2000; Edmar Arruda (PPS), pela primeira vez; João Batista
Beltrame – Joba (PV), pela primeira vez; Wilson Quinteiro (PSB), primeira vez;
Nilson Santos (PSC), primeira vez e Rogério Mello (PTC), também pela primeira vez.
No primeiro turno João Ivo saiu na frente com 49.706 votos e o segundo lugar ficou
com o candidato Sílvio Barros com 43.133 votos. Como em 2000, novamente a
diferença de votos entre os dois era mínima e a habilidade em ganhar os votos dos
eleitores dos outros candidatos poderia fazer a diferença. Diferentemente das
eleições anteriores, quando a Revista ACIM publicou o perfil dos candidatos e os
seus planos de governo, dessa vez nenhuma linha saiu sobre este ou aquele
candidato. Já definidos os nomes para o segundo turno, o presidente da ACIM,
Ariovaldo Costa Paulo, publicou um editorial na Revista de novembro intitulado
“Democracia ou guerra de interesses?”. Nele, defende que as entidades devem ser
neutras no processo eleitoral, bem como os órgãos de comunicação e o Poder
Judiciário, criticando no caso as pesquisas eleitorais que davam no segundo turno
João Ivo e Doutor Batista. Defendendo a posição democrática do empresariado,
concluiu o artigo desse modo:
E agora, para o 2º. turno, em conjunto com o Codem e demais
entidades da cidade, reunimos os dois candidatos, em momentos
diferentes, com o objetivo principal de levá-los a assumir
compromissos com a continuidade de projetos importantes. É dessa
forma que se faz a democracia. Temos de ter responsabilidade
como empresários, como líderes e formadores de opinião (REVISTA
ACIM, nº 440, 2004, p. 03).
João Ivo falou aos empresários em reunião realizada no dia 18 de outubro e Sílvio
Barros foi ouvido na reunião do dia 19. No dia 31 de outubro, Sílvio Barros foi eleito
prefeito de Maringá com 92.052 votos. Depois de 12 anos outro representante da
família Barros voltava ao comando do município. A vitória de Barros possibilitou duas
leituras, embora superficiais, que apontam o que poderia ter desequilibrado a
227
campanha: uma, a desunião interna do PT e, em segundo, a adesão do
empresariado ao projeto de retomada do desenvolvimento que era proposto pelo
candidato vitorioso. Questionado sobre a primeira hipótese, Mário Sérgio Verri, irmão
de Ênio Verri e um dos líderes locais do PT, tendo sido eleito vereador naquela
eleição, deu a seguinte entrevista ao jornal O Diário, já em janeiro de 2006:
(P) Afinal, houve ou não um churrasco para comemorar a derrota do
João Ivo?
(R) Se houve não fomos convidados. Isso é até um absurdo. Uma
vez perguntaram para mim e também me falaram que houve um
churrasco depois do dia que o Zé Cláudio morreu. Chega a ser um
absurdo estas coisas. Acho que não tem cabimento uma coisa desta,
o Partido dos Trabalhadores estava empenhado na eleição do João
Ivo e o meu grupo, que até considero o mais forte de nosso partido, a
Unidade na Luta, é quem deu a condição para que o João Ivo fosse
candidato. Foi a Unidade que deu a condição do João Ivo governar,
que era também a tendência do Zé Cláudio, onde tivemos a condição
de fazer o governo que fizemos.
(P) Mas, o PT foi para as eleições municipais meio dividido, em
função de que houve uma convenção interna na qual seu irmão, Ênio
Verri [então secretário de Governo], foi derrotado pelo João Ivo. Esta
divisão permaneceu até o final?
(R) Não. Tanto é que a coordenação, não total, a maioria da
coordenação, era de pessoas ligadas à gente. Demos uma estrutura
muito grande para a campanha. A maioria dos secretários acabou
votando no Enio nas prévias e depois fazendo campanha. Todo o PT
foi fazer campanha pro João Ivo. Não tínhamos outra opção também.
Não tinha como votar no Silvio Barros naquela altura. A minha
preferência pessoal era o Ênio Verri, como de outros companheiros
nossos. Acabou ali, em janeiro de 2004. O que houve foram diversos
erros que culminou na derrota do João Ivo (O DIÁRIO, 29/01/2006).
Sobre a segunda hipótese é possível inferir pela própria ligação existente entre
Sílvio Barros e a ACIM. Depois que fixou residência definitiva em Maringá em
2003
122
, Barros tornou-se associado da ACIM e membro do Conselho do Comércio e
Serviços da entidade. Sua circulação entre os empresários era mais constante do
que a do prefeito João Ivo. Quando visitou a ACIM, depois de ter sido eleito prefeito,
e ouvir novas propostas da entidade, “ele declarou não ter ficado surpreso como o
que viu na ACIM porque, como membro do Conselho do Comércio, já vinha
acompanhando os trabalhados da entidade”, e citou nominalmente alguns projetos:
122
Sílvio Barros II foi diretor para o Brasil do World Travel & Tourism Council – WTTC, tendo residido em
diversas cidades do Brasil como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, cidade onde permaneceu por
mais tempo.
228
O que percebi foi a possibilidade de ampliar o impacto desses
projetos desenvolvidos pela ACIM com a parceria com a prefeitura,
entre os quais o Conselho de Segurança, a Biblioteca Digital e
principalmente os desenvolvidos pela Fundacim – que é uma área
em que podemos ter um desempenho muito importante. (...) Espero
que a prefeitura de Maringá consiga ser uma referência estadual e
nacional de tão boa qualidade como a ACIM é dentro do contexto
paranaense e brasileiro (REVISTA ACIM, nº 441, 2004, p. 48).
As propostas de campanha dos dois candidatos que foram para o segundo turno
eram muito similares em termos daquilo que o Codem definia como prioridades para
o desenvolvimento econômico de Maringá: internacionalização do aeroporto, ramal
do gasoduto, cidade industrial ou o Tecnopark, parcerias público-privadas em
diversos níveis da administração. A diferenciação no discurso do prefeito eleito era o
retorno de alguns temas que estavam na origem do projeto hegemônico do
empresariado, que estavam na origem do discurso do Movimento Repensando
Maringá: a qualidade de vida e a cidade saudável e limpa; a atração de empresas de
base tecnológica, a consolidação de Maringá como centro de eventos e a atuação
direta da prefeitura com os empresários.
Sobre a questão da qualidade de vida, Barros entendia ser o marketing ideal que a
cidade precisa: “A minha meta é fazer de Maringá a primeira cidade saudável do
Brasil. O programa Cidade Saudável, da OMS, já existe há uns quinze anos.
Nenhuma cidade brasileira assumiu o desafio imposto pelo órgão de se tornar uma
cidade saudável” (REVISTA ACIM, nº. 442, 2005, p. 06). Para isso, era preciso
deixar a cidade limpa, resolver os problemas das ruas esburacadas: “A prefeitura
tem outra necessidade urgentíssima a atender: melhorar o sistema viário que está
um caos. Temos 250 quilômetros de ruas esburacadas que não podem ficar assim.
(...) é um ônus, uma dívida que nós temos com a comunidade” (REVISTA ACIM, nº
442, 2005, p. 07).
Sobre a atração de empresas e o desenvolvimento econômico, sua idéia era de que
O modelo macroeconômico para Maringá se baseia em empresas de
alta tecnologia, que sejam capazes de absorver a mão-de-obra de
nível superior que a gente forma aqui. Queremos trabalhar na
consolidação do Tecnoparque. Nosso objetivo é tornar projeto
irreversível até o final deste ano, com a conclusão dos projetos de
viabilidade econômica. Inclusive já temos recursos para isso. Além
disso, vamos desapropriar mais áreas para se chegar aos 30
229
alqueires necessários para a implantação do núcleo inicial.
Entendemos que desta forma os parceiros do Tecnoparque é que
virão até nós. Com os projetos nas mãos, queremos buscar também
alguns bancos que tenham interesse em ser sócios do
empreendimento, algo que é muito comum em outros países. Além
disso, pretendemos fechar com pelo menos duas empresas de alta
tecnologia, que serão âncoras do Tecnoparque, até o final deste ano
(REVISTA ACIM, nº 442, 2005, p. 08).
Sobre o potencial da cidade para atrair eventos de negócios, Barros destacava que
Pretendemos ser indutores do turismo de compras, voltado
especificamente para o setor de confecções, dos shoppings
atacadistas. Temos também projeto de instalar em alguns parques
da cidade empreendimentos turísticos que se tornem atrativos para a
cidade. Mas isso será feito em parceria com a iniciativa privada. São
negócios rentáveis, onde se cobram ingressos, e que são de
interesse do empresariado (REVISTA ACIM, nº 442, 2005, p. 08).
Na relação com o empresariado, Barros defendia uma aproximação ainda maior:
Vamos incrementar ainda mais a política de parceria com o Codem.
A classe empresarial, junto com a prefeitura, tem a possibilidade de
definir uma situação invejável para aumentar a competitividade de
Maringá na atração de investimentos e negócios. Prefeitura voltada a
atrair empresas todos os municípios do Brasil têm. Mas um conselho
de desenvolvimento econômico, com mais de cem instituições
privadas atuando junto com a prefeitura, com um orçamento público
para ser gerido, quantas cidades têm? Esse é o diferencial de
Maringá. Eu quero fortalecer essa parceria, porque é isso que faz de
Maringá uma cidade diferente das outras (REVISTA ACIM, nº 442,
2005, p. 08).
Esse foi o projeto que o empresariado elegeu. Projeto gerido por gente de
Maringá
123
e focado em recolocar a cidade novamente nos trilhos do
desenvolvimento econômico, bem ao sabor do projeto hegemônico implantado.
7.5 Considerações
Ao tornar-se participante do jogo político não com candidatos aos cargos municipais,
mas com propostas de governo para os prefeitos, o Codem assumiu a sua posição
de aparelho da hegemonia empresarial. Com exceção da campanha municipal de
123
Sílvio Barros II utilizou como nome de sua coligação no processo eleitoral o slogan Gente de Maringá, numa
referência crítica ao fato do PT ter trazido pessoas de outras cidades para atuar em setores estratégicos da
administração. Também era uma resposta aos que lhe eram oposição e afirmavam que não morava na cidade.
230
1996, quando o Movimento Repensando Maringá ainda estava no início, as outras
ações empresariais junto à política local demonstram o esforço para que os projetos
pensados a partir do centro do poder pudessem se tornar realidade, esforço capaz
inclusive de superar, ou esconder, ideologias partidárias. Em nenhuma das fontes
pesquisadas há qualquer menção de oposição ou contrariedade a qualquer governo
no plano local. O que não é mantido no caso do governo do Estado e,
principalmente, do governo Federal. O centro do poder local, portanto, é essencial
para o projeto do empresariado.
A ação empresarial junto aos candidatos demonstra, como vimos, a necessidade de
que o líder político assuma os projetos como seus, o que poderia garantir o alcance
dos objetivos propostos no projeto hegemônico. No caso do prefeito Jairo Gianoto e
sua pregação sobre a “paz política” é importante percebermos que o mesmo utilizou
um mote que já estava no embrião do Movimento Repensando Maringá: a crítica à
desunião de nossos políticos e a conseqüente perda de representatividade. Havia no
entendimento dos empresários a idéia de que fazer oposição era ser contra o
desenvolvimento de Maringá. Gianoto soube muito bem tirar proveito disso, inclusive
fazendo prevalecer sua indicação para a presidência da primeira mesa diretora do
Codem.
Entretanto, a “paz política” teve um custo não previsto pelo Movimento e que acabou
direcionando uma nova escolha na eleição seguinte, a partir de outro projeto de
Governo. Dias corrobora com essa nossa idéia ao destacar, em um artigo de jornal
de 29 de outubro de 2000, que:
Ao longo de seu mandato, o atual prefeito tentou deslegitimar a
oposição política em Maringá. Vestindo o manto de quem,
supostamente, promoveu a paz política e superou todas as
divergências, tentou propagar a insidiosa lógica de que fazer
oposição a seu governo era trabalhar contra o município. Com isso,
montou um esquema para abafar a voz da oposição e neutralizar a
fiscalização sobre seu mandato (DIAS, 2003, p. 98).
Ao ser traído por Gianoto, pelos motivos já enunciados, o empresariado percebe que
a mudança para um governo que defendia a ética e a moralidade daria ressonância
aos seus projetos de desenvolvimento. Ao propagarem a idéia de que o Codem teria
231
sido o grande vencedor das eleições de 2000, desvinculam a imagem do ex-prefeito
e aproximam-se com idéias, projetos e disponibilidade de auxílio ao novo mandatário
da cidade. Este auxílio é claro na indicação da secretária de Indústria e Comércio,
Rosa Izelli, bem como na indicação dos novos diretores da Secretaria, o consultor
Sebastião da Silva Freitas, ligado à ACIM desde 1997, e o empresário Moacir
Montalvão, diretor do Sivamar e membro do Conselho do Comércio da ACIM.
Com a idéia de que o melhor governo para uma cidade é aquele que está no poder,
o Codem conseguiu na gestão do PT realizar os seus maiores projetos. Como a
confiança do prefeito José Cláudio e, posteriormente, do prefeito João Ivo era muito
forte para com os empresários, o trânsito para a elaboração de projetos foi, sem
dúvida, facilitado. Mas, houve problemas com alguns líderes do Movimento. Paulo
Roberto Pereira de Souza, por exemplo, não aceitou a participação do Codem na
administração petista e acabou se desvinculando do Conselho, inclusive, não mais
participando de suas reuniões mensais.
A opção do empresariado para o projeto de governo do candidato Sílvio Barros II,
nas eleições de 2004, não é tão claro nas fontes. A idéia de continuidade parecia
agradar mais, exatamente pelo fato de alguns projetos terem saído do papel na
gestão do PT, como o Tecnopark, por exemplo. Entretanto, a disputa do segundo
turno revelou aos empresários a idéia de que, independente de quem fosse o
prefeito, os projetos teriam continuidade. É sintomática a observação do presidente
da ACIM, Ariovaldo Costa Paulo, logo depois de concluído o processo eleitoral:
Se olharmos para nossa cidade, o sentimento não pode ser outro
senão o de orgulho. Acabamos de passar por um processo eleitoral
extremamente democrático e, diferentemente de outras cidades,
temos um planejamento traçado, um rumo que não poderá ser
alterado por este ou aquele prefeito. Nossa sociedade é muito
participativa – através das entidades de classe – e acostumou-se a
governar junto com o poder público (REVISTA ACIM, n. 441, 2004, p.
03)
Não podemos deixar de observar, também, que para o empresariado local nunca
interessou participar do jogo político em relação ao Poder Legislativo. Não por falta
de condições ou de nomes para serem lançados como candidatos. Mas, pelo fato de
que a presença próxima, constante, ao lado do chefe do Executivo, ser mais
232
interessante do que estar institucionalizado em um cargo de vereador. Há também
como peso nessa estratégia, o fato dos prefeitos geralmente conseguirem a maioria
dos vereadores para a aprovação de seus projetos, o que evitaria assim ao
empresariado ter que estar dependente da Câmara de Vereadores para fazer
avançar suas proposições, uma vez que, no caso dos projetos do Codem, as
mesmas são remetidas pelo Prefeito. No período compreendido por essa pesquisa,
como representantes diretos do empresariado na Câmara Municipal tivemos apenas
o vereador Valdir Pignata (1993/96 e 1997/2000), que era diretor da ACIM até 1999,
e Edmar Arruda que foi eleito vereador em 2000, e que também havia sido diretor da
ACIM. Pignata foi candidato a vice-prefeito na chapa de Cida Borghetti, em 2000, e
Arruda foi candidato a prefeito nas eleições de 2004.
233
Considerações Finais
Conto ao senhor é o que eu sei e o senhor não
sabe; mas principal quero contar é o que eu não sei
se sei, e que pode ser que o senhor saiba.
Interlocutor
124
124
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Ed. Comemorativa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006,
p. 209
234
Quando nos propusemos a fazer este trabalho sobre o processo de construção da
hegemonia da classe empresarial de Maringá, assumindo uma participação direta no
arranjo político-institucional, tínhamos uma hipótese a considerar e um objetivo a
alcançar. A criteriosa pesquisa nas fontes foi corroborada com o referencial teórico
de que dispúnhamos e com a interdisciplinaridade entre a História e a Ciência
Política. Por ela, entendemos válida a hipótese de que o Movimento Repensando
Maringá canalizou os interesses do empresariado local, articulando a sua ação
política, e passou a influenciar diretamente na formulação das políticas de
desenvolvimento econômico, com um discurso de que Codem – principal fruto desse
movimento – teria sido a coisa mais importante surgida em Maringá nos últimos vinte
anos.
Nosso objetivo, ao problematizar a construção de um projeto hegemônico do
empresariado, era analisar como se deu a relação entre os empresários, vindos de
diferentes setores da economia local como o comércio, a indústria e a prestação de
serviços, representados por várias entidades; como que eles se arranjaram em torno
da proposta da ACIM e, depois, como foi a sua interferência no processo político-
institucional, jamais participando da disputa por cargos políticos, se ausentando do
conflito, mas com interesses bem claros e definidos sobre a forma de condução do
Poder Executivo. Acreditamos que alcançamos também esse objetivo. Entretanto, à
guisa de conclusão, ainda temos a considerar alguns pontos essenciais.
Em primeiro lugar é importante ressalvar que Gramsci constrói toda a sua obra
refletindo sobre as possibilidades da construção da hegemonia operária, tendo o
partido (no caso o moderno príncipe) como condutor. É desnecessário argumentar
que no caso da construção da hegemonia operária o objetivo era destruir o bloco
histórico da hegemonia que estava no poder. Por isso, entendemos que ao utilizar
os conceitos gramscianos para estudar a formação de uma hegemonia do
empresariado contribuímos também para a reflexão dos grupos contra-hegemônicos.
Outro detalhe importante é que a reflexão de Gramsci está inserida no âmbito da luta
de classes, na possibilidade de um processo revolucionário de tomada do Estado.
Embora não pareça ser esse o objetivo da hegemonia empresarial, que nega no
discurso qualquer ênfase ao conflito, vemos nas entidades empresariais que fazem
parte do projeto hegemônico estudado, diversas arenas de lutas concretas onde se
235
apresentam os “aparelhos de Estado”, como os sindicatos, por exemplo. Para Hirst
(apud Costa, 2003, p. 323), “estas instituições são representantes mais ou menos
adequados das classes”.
Em segundo lugar é importante considerar que vários outros agentes, movimentos
sociais, grupos políticos e até mesmo fatores históricos têm igual relevância no
processo de constituição do arranjo político-institucional em Maringá. Mas, no caso
dos empresários estes já estão aconchegados na dinâmica capitalista que os
favorece em detrimento aos demais grupos. Devemos considerar que já existe um
comportamento hegemônico que dita as regras de consumo e que coloca, até
espacialmente, cada um no seu lugar. O que o empresariado local fez foi
potencializar as suas possibilidades para tentar o controle do arranjo político. Talvez
esteja aí a necessidade de enfatizar sempre no discurso a ausência do conflito.
Entendemos que estimular o fim dos conflitos, fugir do debate aberto, só enfraquece
a dinâmica da sua participação política. Exemplo disso foi a saída de um dos
principais líderes do Repensando Maringá, Paulo Roberto Pereira de Souza, que se
afastou do Codem quando este se alinhou com a administração petista (2001-2004),
preferindo se retirar de um projeto ao qual havia dedicado quase dez anos de sua
vida a ter que ir para o confronto com a administração municipal. Nesse aspecto,
entendemos que a política perde, pois “... há que se considerar que não há
possibilidade de participação autêntica, verdadeira, onde não há o reconhecimento
do conflito, dos interesses em conflito, isto é, onde não há política” (BRAGA, 2001, p.
27).
Desse modo, fica deslocado o discurso do Movimento Repensando Maringá de ser o
representante de uma sociedade civil amalgamada com o Poder Público. A
sociedade civil, ao contrário do que prega o Codem, se apresenta como o local da
heterogeneidade, onde atuam múltiplos agentes tantos dos setores progressistas
quando dos setores conservadores, que também se manifestam em espaços
diversos e multifacetados, como associações, sindicatos, conselhos, fóruns, entre
outros. E são nesses espaços que estão em disputa projetos políticos distintos. De
acordo com Dagnino (2004), estes projetos apontam em direções opostas e até
antagônicas, mas todos reivindicam uma sociedade civil participativa e propositiva.
236
Por conta disso atualmente o empresariado já mudou o discurso, substituindo o
termo sociedade civil por “terceiro setor”, mas com as mesmas referências como
cidadania, participação e democracia. Para a autora “nessa disputa, na qual os
deslizamentos semânticos e os deslocamentos de sentido são as armas principais, a
prática política se constitui, assim, como um terreno minado, onde qualquer passo
em falso leva ao campo adversário” (DAGNINO, 2004, p. 97).
Em terceiro lugar é importante ratificar a presença dos intelectuais orgânicos que
deram sustentação teórica ao Movimento e à sua manutenção enquanto hegemonia.
O empresariado foi buscar na Universidade esses intelectuais para legitimar o seu
projeto, para valorizar a especialização da mão-de-obra, a chamada qualificação da
força de trabalho, tão necessária – na lógica do Movimento - para que a cidade
pudesse se constituir como pólo de prestação de serviços e excelência do
agronegócio. Por seu lado, o avanço do tecnicismo abafando o processo da
constituição do saber, naquilo que Tragtenberg (1990) chamou de “delinqüência
acadêmica”, relacionado diretamente ao discurso neoliberal, também veio a calhar
para os empresários que passaram a aproveitar os recursos humanos da
Universidade na forma de estagiários que se submetem a receber bolsas de auxílio
sem as garantias legais do regime trabalhista do Brasil. É óbvio que esses
intelectuais não atuaram apenas nessa frente, tecnicista, em favor do projeto
hegemônico do empresariado. Pesou também a pesquisa favorável às tecnologias,
quase sempre determinada pelo interesse empresarial, que colocou o conhecimento
científico dentro de uma perspectiva de produção. Todos os projetos elaborados
pelo Codem tiveram a participação de intelectuais ligados às disciplinas das áreas
técnicas e de produção.
Os intelectuais também são utilizados pelo grupo dominante para ganhar o apoio
popular, bem como para moldar ideologicamente esse grupo. E esses mesmos
intelectuais, segundo Gramsci (1995), também exercem uma função cosmopolita,
pois conseguem transitar em regiões diferentes como a universidade e a empresa,
por exemplo, unificando as relações entre esses ambientes opostos.
Entendemos que a educação, representada pela universidade, pela sua condição
essencial de diversidade (seja de conhecimento ou de pessoas) pode ser também o
237
espaço da construção da contra-hegemonia. É na universidade que o debate é
qualificado, tem o seu nível elevado, além de despertar a consciência crítica dos
educandos. Por isso, ela não pode estar submissa aos poderes instituídos e às
classes dominantes; servir apenas para formar intelectuais orgânicos do sistema,
mantenedores e dependentes de sua estrutura.
Atualmente, com a entrada em cena do Cesumar – Centro de Ensino Superior de
Maringá
125
, a UEM já não representa mais toda força como legitimadora da
hegemonia empresarial. O Cesumar tem se mostrado como agente importante na
forma de manutenção dessa hegemonia, até porque o seu atual reitor, professor
Wilson Matos Silva, é o presidente do Codem em 2007.
Em quarto lugar devemos realçar que a justificativa para a implantação e
continuidade do projeto hegemônico era “recolocar” Maringá nos “trilhos” do
desenvolvimento. Para isso, foi forjado o discurso de que para a cidade superar a
crise do início dos anos 1990 era necessário torná-la competitiva para a atração de
investimentos e para o desenvolvimento regional, transformando-a em uma empresa
bem estruturada e que pudesse ter uma capacidade de inovação para gerar riqueza
e renda aos seus moradores. Para legitimar o discurso, foi criado o documento
Maringá 2020 a partir de um planejamento estratégico que pensou a cidade para 24
anos em apenas oito horas. O planejamento, na verdade, como apresentamos no
capítulo específico, serviu mais para buscar o consenso dos participantes sobre
temas previamente escolhidos pelos líderes do movimento.
Com isso, o Movimento ditou rumos a serem tomados por Maringá, inclusive pelos
seus candidatos a prefeito: tornar-se uma cidade competitiva, empreendedora, que
tivesse como marca a ser explorada a sua boa qualidade de vida. A estratégia do
empreendedorismo urbano, de acordo com Benko (1999) pressupõe uma economia
local flexível, atrativa para grandes investimentos, com redes de empresas e de
distritos industriais, tornando a cidade um centro de inovação tecnológica para poder
firmar-se na liderança de uma economia de escala, altamente empreendedora. O
125
O Cesumar realizou o seu primeiro vestibular em 1990 para os cursos de Administração e Processamento de
Dados. Em 2003 transformou-se em Centro Universitário. Atualmente conta com 39 cursos de graduação, 12 mil
alunos e mais de 550 professores.
238
resultado disso foi o projeto do Tecnopark que saiu do papel durante a gestão do
prefeito João Ivo Caleffi (PT) e que, atualmente, está em vias de conclusão das
desapropriações de propriedades.
Faz parte do discurso neoliberal, conforme Vainer (1999), a necessidade de
transformar as cidades em mercadoria à disposição do grande capital. Essa cidade é
o resultado do planejamento estratégico, que lhe dá também o status de empresa.
Como cidade-mercadoria ela está posta à venda e à compra e como cidade-
empresa ela tem que gerir seus recursos para ter capacidade de concorrência,
sempre subordinada à lógica do mercado. Neste sentido, o projeto hegemônico
estudado apresentou as principais características desse discurso, com o
empresariado assumindo o papel de pensar as principais políticas de
desenvolvimento para a cidade, ficando o Poder Público com a função de gerente,
promotor do marketing e da venda dessa mercadoria. Essas ações, a partir de
princípios de gestão e metodologias empresariais, conforme podemos entender,
atuam como reproduções imperfeitas da política urbana, que na realidade têm
objetivos de ocultar a retirada da política da vida urbana, com o discurso do
consenso. Com isso, os interesses econômicos dominantes são favorecidos em
detrimento das políticas sociais e de redistribuição de riqueza e renda. Surge
também, com isso, como vimos nos projetos propostos pelo Codem, a
transformação de interesses particulares em objetivos de toda a comunidade, que
também é conclamada a dar suporte a esses ideais.
E por último, percebemos que o projeto hegemônico do empresariado ampliou a
lacuna da participação popular nas discussões sobre o futuro e desenvolvimento da
cidade. Não há, nos documentos consultados informações sobre as preocupações
do empresariado sobre os bairros populares e de trabalhadores, que carecem de
infra-estrutura, rede de educação e saúde, empregos, entre outros. Isso aponta que
a preocupação do Movimento Repensando Maringá esteve depositada no centro da
cidade, no centro do poder, no capital. Não percebemos nos discursos do
empresariado a inclusão política de indivíduos que estão desconectados do mundo
do trabalho ou da educação, por exemplo; antes, há sempre a preocupação em
esconder as tensões oriundas das complexas mudanças da sociedade, com idéias
de “cooperação” e “solidariedade” (IVO, 2002). Há também o discurso da parceria
239
público-privada para transformar a cidade de modo que se “pareça” um lugar
inovador, criativo, seguro para viver, seguro para investir, visitar ou consumir.
Segundo Harvey (1996) esse modelo de parceria tem por “objetivo político e
econômico imediato, o investimento imobiliário pontual e especulativo”, focado na
divisão espacial do consumo. Por isso, as camadas populares não estão no centro
do discurso do empresariado.
A dificuldade que o cidadão que não é empresário ou representante de uma
entidade de classe tem de ter acesso ao Conselho está estampada na composição
das câmaras técnicas do Codem. Somente a Câmara de Assuntos Comunitários tem
espaço para associações de moradores, representados pela Federação das
Associações de Bairros de Maringá – Feabam. Assim mesmo, é apenas uma vaga.
Com isso, fica evidente a desconexão entre o discurso de que a “comunidade” está
interferindo nos rumos da cidade ou “determinando” o futuro, e a prática do
empresariado.
O projeto hegemônico estudado foi construído a partir de idéias que vieram da
Associação Comercial que lhe dá o suporte necessário até hoje. Por isso, a ACIM
faz parte da maioria das câmaras técnicas e tem preferência na indicação dos
candidatos que disputam a presidência do Codem. É da ACIM que se produz o
discurso de que o “partido maior” do maringaense é a cidade, daí deriva a ênfase
que a ação empresarial dá em declarar que o melhor governo para a cidade é
sempre aquele que está no poder. Mas, o Codem tem procurado nos processos
eleitorais, como vimos, e nos posteriores a 2004 também, garantir que os líderes
políticos assumam os seus projetos e se alinhem ao seu próprio discurso.
É aqui que entendemos que a pesquisa pode prosseguir ou que, pelos menos, inicie
uma série de contribuições com o estudo do comportamento do empresariado local,
diretamente influenciado pelos rumos das políticas nacionais, mas internamente
voltado para resolver os seus problemas na cidade. Deixamos uma questão aberta
que poderá ser respondida por novas investigações. Seria o Codem o “príncipe
moderno” maringaense?
240
Imagem 5
Parte do material de divulgação do Codem
241
Referências bibliográficas
Agora, eu, eu sei como tudo é: as coisas que
acontecem, é porque já estavam ficando prontas,
noutro ar, no sabugo da unha; e com efeito tudo é
grátis quando sucede, no reles do momento.
Fragmentos
126
126
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Ed. Comemorativa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006,
p. 400.
242
1. Fontes
1.1 Periódicos
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ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL 1971, Rio de Janeiro: IBGE, v. 32, 1971.
FOLHA DE LONDRINA. Londrina: Empresa Jornalística Folha de Londrina, diário,
1995 e 2003
JORNAL INDÚSTRIA & COMÉRCIO. Curitiba: Indústria & Comércio, diário, 1995.
O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ. Maringá: Editora Central, diário, 1993-2006.
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O JORNAL DO POVO. Maringá: Editora Setentrião, diário, 1993-1997.
REVISTA ACIM. Maringá: Associação Comercial e Empresarial de Maringá, 1993-
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REVISTA EXAME. As 100 melhores cidades para se investir. Guia do Investidor.
nº 9. São Paulo: Editora Abril, 03 mai. 2002.
1.2 Entrevistas
FERMENTÃO, Antonio. Depoimento ao projeto ACIM: 10 anos que mudaram
Maringá. 27 out. 2005. Entrevista concedida a Márcia Regina de Oliveira Lupion.
SERRATO, Cláudio. Depoimento ao projeto ACIM: 10 anos que mudaram
Maringá. 28 out. 2005. Entrevista concedida a Márcia Regina de Oliveira Lupion.
VALÊNCIO, José Carlos. Depoimento ao projeto ACIM: 10 anos que mudaram
Maringá. 27 out. 2005. Entrevista concedida a Márcia Regina de Oliveira Lupion.
1.3 Atas, documentos e leis
INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL. Ata da Assembléia Geral
de Constituição e Eleição de Diretoria. IDR: Maringá, 21 fev. 1994.
243
INSTITUTO PRÓ-DESENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
MARINGÁ. Ata de Constituição, Eleição da Diretoria e Aprovação do Estatuto
Social. Pro-UEM: Maringá, 1993.
INSTITUTO PRÓ-DESENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
MARINGÁ. Ata da Assembléia Geral Extraordinária. Pró-UEM: Maringá, 06 jul.
2005.
PARANÁ (Pr). Decreto nº 3708 de 31 de outubro de 1997. Enquadra os
estabelecimentos importadores situados nos municípios de Maringá, Marialva,
Paiçandu e Sarandi cujas operações se realizarem através da Estação Aduaneira do
Interior de Maringá nos incentivos fiscais do Regulamento do ICMS. D.O. nº 5121:
Curitiba, 31 out. 1997.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ. Lei municipal nº 3335/1993. Institui o
Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá – CODEM. Paço Municipal,
Maringá, 10 fev. 1993.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ. Lei municipal nº 4274/1996. Institui o
Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico – FMD. Paço Municipal, Maringá,
16 set. 1996.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ 2. Lei municipal nº 4275/1996. Institui
o Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá – CODEM. Paço Municipal:
Maringá, 16 set. 1996.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Resolução nº 001/98-COU. Dispõe
sobre a participação de membros da comunidade no Conselho Universitário. UEM:
Maringá, 16 mar. 1998.
1.4 Internet
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2020. Disponível em: <http://www.codem.org.br/codem/?action=maringa>. Acesso
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PORTAL ACIM. Associação Comercial e Empresarial de Maringá. 2007.
Disponível em: <httt://www.acim.com.br>. Acesso em: 08 mai. 2007.
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em: < http://www.cndl.org.br/ >. Acesso em: 20 mai. 2007
CÔRTES, Norma. Como escrever um projeto de pesquisa em História. Apostila
didática, 2003. Disponível em <http://www.artesdotempo.hpg.com.br>
GASODUTO. Verbete. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Gasoduto_Brasil-
Bol%C3%ADvia>. Acesso em: 20 mai. 2007.
GAMBOA, Ángel Soto. Historia del presente: Estado de la cuestión y
conceptualización. Revista Electronica Historia Actual On-Line. Año II, n. 3, Cádiz,
Invierno, 2004. Disponível em: <http://www.hapress.com>.
INSTITUTO PROE. Quem somos. Disponível em:
<http://www.proe.org.br/portal/quemsomos.php>. Acesso em: 20 mai. 2007.
PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT). O PT à frente da Prefeitura de Maringá.
Disponível em: <http://www.pt.org.br/site/secretarias_def/secretarias_int>. Acesso
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SÁ, Antonio Fernando de Araújo. História do presente e a dialética presente-
passado. Infonet: Política e Economia, publicado em 28/02/2005. Disponível em
<http://www.infonet.com.br/politicaeeconomia/ler.asp?id=32690&titulo=artigos>
SINDICATO DOS LOJISTAS E DO COMÉRCIO VAREJISTA DE MARINGÁ E
REGIÃO. SIVAMAR. Disponível em: <http://www.sivamar.com.br/website/>. Acesso
em: 20 mai. 2007
256
Anexos
(...) no viver tudo cabe.
Fragmentos
127
127
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Ed. Comemorativa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006,
p. 62.
257
Anexo 1:
Prefeitos, presidentes da ACIM e presidentes do Codem
Ano Prefeito Presidente da ACIM Presidente do Codem
1952 Inocente Villanova Júnior
(PTB)
1953 Inocente Villanova Júnior Américo Marques Dias
1954 Inocente Villanova Júnior Américo Marques Dias
1955 Inocente Villanova Júnior Américo Marques Dias
1956 Inocente Villanova Júnior Américo Marques Dias
1957 Américo Dias Ferraz (PSP) Américo Marques Dias
Murilo Macedo
128
1958 Américo Dias Ferraz Murilo Macedo
Alfredo Moisés Maluf
129
Odwaldo Bueno Netto
130
1959 Américo Dias Ferraz Ermelindo Bolfer
131
1960 Américo Dias Ferraz Ermelindo Bolfer
Manoel Mário de Araújo Pismel
132
1961 João Paulino V. Filho
(PSD)
Manoel Mário de Araújo Pismel
1962 João Paulino V. Filho Manoel Mário de Araújo Pismel
Emílio Germani
133
1963 João Paulino V. Filho Emílio Germani
1964 João Paulino V. Filho Emílio Germani
Manoel Mário de Araújo Pismel
134
1965 Luiz Moreira de Carvalho
(PDC)
Manoel Mário de Araújo Pismel
Victor Ivo Assmann
135
1966 Luiz Moreira de Carvalho Manoel Mário de Araújo Pismel
João de Faria Pioli
136
1967 Luiz Moreira de Carvalho Rodolfo Purpur
137
1968 Luiz Moreira da Carvalho Rodolfo Purpur
Ermelindo Bolfer
138
Joaquim Dutra
139
1969 Adriano Valente (MDB) Joaquim Dutra
1970 Adriano Valente Ubirajara de Araújo Pismel
1971 Adriano Valente Ubirajara de Araújo Pismel
1972 Adriano Valente Ermelindo Bolfer
1973 Silvio Magalhães Barros
(MDB)
Ermelindo Bolfer
1974 Silvio Magalhães Barros Luiz Júlio Bertin
1975 Silvio Magalhães Barros Álvaro Miranda Fernandes
140
Luiz Júlio Bertin
1976 Silvio Magalhães Barros Álvaro Miranda Fernandes
1977 João Paulino V. Filho
(ARENA)
Álvaro Miranda Fernandes
1978 João Paulino V. Filho Sidney Meneguetti
128
Eleito e empossado em 19 de maio de 1957.
129
Era vice-presidente de Macedo e assumiu como presidente quando este foi transferido para São Paulo no
início de 1958.
130
Eleito e empossado em 25/05/1958.
131
Vice-presidente de Bueno Netto, assumiu como presidente no final de 1958 por renúncia do titular.
132
Eleito e empossado em maio de 1960.
133
Eleito e empossado em 07/06/1962.
134
Eleito e empossado em 14/05/1964.
135
Vice-presidente de Pismel, assumiu a presidência por curto período em 1965.
136
Eleito e empossado em 13/05/1966.
137
Vice-presidente de Pioli, assumiu a presidência no início de 1967 por afastamento do titular por motivo de
saúde.
138
Eleito e empossado em 15/05/1968.
139
Por motivo de renúncia de Bolfer e seu vice-presidente Ruben Ávila, em 27/11/1968, Joaquim Dutra foi
escolhido presidente da ACIM, tendo Manoel Mário de Araújo Pismel como vice-presidente.
140
Vice-presidente de Bertin, assumiu como presidente devido a licença do titular.
258
1979 João Paulino V. Filho Sidney Meneguetti
1980 João Paulino V. Filho Josuan Piassi de Morais
Atair Niero
141
1981 João Paulino V. Filho Atair Niero
1982 João Paulino V.Filho
Sincler Sambatti
142
Raymundo do Prado Vermelho
1983 Said Ferreira (PMDB) Raymundo do Prado Vermelho
1984 Said Ferreira Fernando Henriques
1985 Said Ferreira Fernando Henriques
1986 Said Ferreira Alcides Siqueira Gomes
1987 Said Ferreira Alcides Siqueira Gomes
1988 Said Ferreira Carlos Ajita
1989 Ricardo Barros (PFL) Carlos Ajita
1990 Ricardo Barros Fernando Heriques
1991 Ricardo Barros Fernando Henriques
1992 Ricardo Barros Fernando Henriques
Massao Tsukada
143
1993 Said Ferreira (PMDB) Massao Tsukada
1994 Said Ferreira Massao Tsukada
Pedro Granado Martines
144
1995 Said Ferreira Pedro Granado Martines
1996 Said Ferreira Pedro Granado Martines
Hélio Costa Curta
145
1997 Jairo Gianoto (PSDB) Hélio Costa Curta Miguel Fuentes Salas
1998 Jairo Gianoto Hélio Costa Curta
Jefferson Nogaroli
146
Miguel Fuentes Salas
1999 Jairo Gianoto Jefferson Nogaroli Miguel Fuentes Salas
Carlos Walter M. Pedro
147
2000 Jairo Gianoto
João Alves Corrêa
148
Jefferson Nogaroli Carlos Walter M. Pedro
2001 José Cláudio P. Neto (PT) Jefferson Nogaroli Carlos Walter M. Pedro
2002 José Cláudio P. Neto Jefferson Nogaroli
Ariovaldo Costa Paulo
149
Carlos Walter M. Pedro
Antonio Fermentão
150
2003 José Cláudio P. Neto
João Ivo Caleffi
151
Ariovaldo Costa Paulo Antonio Fermentão
2004 João Ivo Caleffi Ariovaldo Costa Paulo Antonio Fermentão
2005 Sílvio Barros II (PP) Ariovaldo Costa Paulo Antonio Fermentão
Valdir Scalon
152
2006 Sílvio Barros II Ariovaldo Costa Paulo
Carlos Alberto T. Cardoso
153
Valdir Scalon
2007 Sílvio Barros II Carlos Alberto T. Cardoso Valdir Scalon
Wilson de Matos Silva
154
141
Vice-presidente de Morais, assumiu a presidência logo que este renunciou por motivo de mudança de
domicílio ficando apenas um mês no cargo.
142
Por motivo de renúncia de João Paulino para concorrer ao cargo de vice-governador, o vice-prefeito Sincler
Sambatti assumiu a prefeitura no dia 14/05/1982.
143
Assume a presidência da ACIM em março de 1992.
144
Assume a presidência da ACIM em março de 1994.
145
Assume a presidência da ACIM em março de 1996.
146
Assume a presidência da ACIM em março de 1998.
147
Eleito e empossado presidente do Codem em junho de 1999.
148
Com o afastamento do prefeito Jairo Gianoto pelo Ministério Público em 27/10/2000, o presidente da
Câmara, vereador João Alves Corrêa assumiu a prefeitura até o fim do mandato.
149
Assume a presidência da ACIM em abril de 2002.
150
Eleito e empossado presidente do Codem em junho de 2002.
151
Em virtude do falecimento do prefeito José Cláudio, em 16/09/2003, João Ivo Caleffi assumiu como prefeito
em 23/09/2003.
152
Eleito e empossado presidente do Codem em junho de 2005.
153
Assume a presidência da ACIM em abril de 2006.
154
Eleito e empossado presidente do Codem em março de 2007.
259
Anexo 2:
MOVIMENTO
“ R E P E N S A N D O M A R I N G Á ”
Prezado Senhor,
Com satisfação passamos às suas mãos este material que é parte do fruto de
cinco meses de trabalho do Movimento Repensando Maringá.
Durante esses meses foram ouvidas dezenas de pessoas e entidades; mantidas
reuniões, realizados debates e desenvolvido um grande trabalho no sentido de unir a
comunidade Maringaense com vistas a retomada do prestígio e da pujança econômica de
nossa querida cidade.
De todas ações desenvolvidas emergiu este material que inclui, como ponto alto, a
Lei que criou o CODEM – Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá e a Lei
que instituiu o Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico.
Por sua contribuição até o momento, nossa sincera gratidão. Estamos contando
com seu comprometimento para efetivação destas conquistas que, certamente, se eternizarão
nos anais da história de Maringá como um marco de conquista para gerações futuras.
Os Coordenadores.
260
QUADRO ECONÔMICO E SOCIAL
DE MARINGÁ
E
SUGESTÕES DE
POLÍTICAS E DIRETRIZES
ECONÔMICAS
261
INTRODUÇÃO
O município de Maringá se desenvolveu baseado na exploração do mercado
regional, cuja região de abrangência que considera os mercados das cidades circunvizinhas
estende-se até o sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
MARINGÁ E OS MERCADOS:
SUL DE SÃO PAULO E MATO GROSSO DO SUL
No entanto este perfil de mercado sofreu profunda alteração com o
Mercosul. As empresas aqui situadas, bem como as políticas municipais de desenvolvimento
econômico devem considerar necessariamente esta nova realidade.
CURITIBA
MARINGÁ
Cam
p
o Mourão
Assis Chateaubrian
d
Foz do I
g
ua
ç
ú
Nova Andradina MS
Presidente Prudente SP
Marília SP
São Paulo SP
A
p
ucaran
a
Londrin
a
Umuarama
Cianorte
Paranavaí
262
A partir de Maringá num raio de 1.400 quilômetros situam-se todos os
principais mercados do Mercosul, conforme gráfico 2. E é esta localização privilegiada que
deve permear as políticas de desenvolvimento do município daqui por diante.
MARINGÁ E O MERCOSUL
As políticas municipais de desenvolvimento econômico devem ter como
objetivo sempre a melhoria da qualidade de vida, que pode ser resumida como de excelente
padrão. Dentre os indicadores de qualidade de vida (tabela a seguir), podemos destacar os
seguintes:
PIB per capita acima da media paranaense e nacional;
Quase 100% dos domicílios possuem água e luz elétrica.
Mortalidade infantil igual a de primeiro mundo.
263
Indicadores Básicos de Desenvolvimento e Qualidade de Vida
Indicador 1993 1994
PIB per capita US$ 4473.53 US$ 4818.91
Domicílios com ligação água 0.99 0.99
Domicílios com ligação elétrica 0.968 0.969
População atendida com esgoto 0.514 0.508
Domicílios com coleta de lixo 1 1
Emissoras de rádio 7 7
Emissoras de televisão 6 6
Terminais telefônicos por 1000 habitantes 164 162
Automóveis por 1000 habitantes 207 220
Consumo de energia elétrica per capita/MWH 0.54 0.55
Consumo per capita de água em M3 55.8 56.9
Coeficiente de mortalidade infantil (por 1000) 17.1 15
Coeficiente de mortalidade geral (por 1000)* 5 4.4
Mortalidade acima de 50 anos* 0.701 0.7051
Leitos hospitalares por 1000 habitantes ND 4.4
Cobertura vacina básica 1 1
Rede municipal de saúde unidades básicas ND 24
Teatros 4 4
Cinemas 4 4
Auditórios 34 34
Bibliotecas 8 8
Parques Florestais 9 9
Praças 95 95
Área Verde por Hab. (m2) 26.65 26.65
* Estimativas preliminares para o ano de 1994, sujeitas a alterações
FONTE: IPARDES, IBGE, SMS, COPEL, TELEPAR, DENTEL, DETRAN, SANEPAR.
Em resumo, Maringá é hoje uma cidade onde se estima viver 255.000
pessoas, produzindo, aproximadamente, o correspondente a R$ 1,3 bilhões em produtos e
serviços ao ano. Apesar disto, veremos a seguir que alguns indicadores econômicos são
preocupantes e a não-reversão dos mesmos pode gerar uma drástica alteração no quadro atual
de qualidade de vida. A seguir apresentam-se os fatores preocupantes.
264
ASPECTOS ECONÔMICOS PREOCUPANTES:
A disponibilidade limitada de dados não permite que nossa análise seja
mais completa. Portanto, limitaremos a mesma às variáveis mais importantes. Os dados
utilizados a seguir foram obtidos junto ao IPARDES - Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social.
O primeiro fator de desempenho que se busca analisar de uma sociedade é a
sua capacidade de produzir bens e serviços. Maringá no período 1991 - 1994, cresceu em
média 19,28%, portanto menos que o Estado do Paraná que cresceu 23,99%. O que significa
que o município não acompanhou o desempenho do estado como um todo.
Um outro elemento que se considera é o valor adicionado do município. O
valor adicionado mede a capacidade do município em agregar valor aos insumos.
O valor adicionado para o período de 1980, 1985, 1990 e 1993, apresentado
na figura a seguir, nos informa que o ano de 1985, onde ocorreu o ápice, tivemos um valor de
aproximadamente R$ 860,00 milhões de reais. Esta capacidade de agregar valor declinou
até 1993 onde atingiu R$ 635,00 milhões de reais. Sendo que, o valor adicionado de 1993 é
inferior ao de 1980, R$ 694,00 milhões de reais.
FIGURA 4
VALOR ADICIONADO TOTAL - PERÍODO 1980, 1985, 1990 e 1993
0
100000000
200000000
300000000
400000000
500000000
600000000
700000000
800000000
900000000
VALOR
ADICIONADO
TOTAL 198
0
VALOR
ADICIONADO
TOTAL 198
5
VALOR
ADICIONADO
TOTAL 199
0
VALOR
ADICIONADO
TOTAL 199
3
265
Esta preocupação aumenta quando consideramos outra importante variável,
recolhimento de ICMS. O recolhimento de ICMS que atingiu em 1980, a cifra aproximada de
R$61,5 milhões de reais caiu vertiginosamente até 1994, quando atingiu R$42,5 milhões de
reais. Se verificarmos que deste total de recolhimento de ICMS somente 25% retorna ao
município e, conforme figura 5, a receita tributária municipal e as transferências estaduais
reduziram-se a partir de 1994, podemos concluir que a capacidade de investir do município
reduziu drasticamente a partir de 1994.
FIGURA 5
ICMS TOTAL, RECEITA TRIBUTARIA MUNICIPAL E TRANSFERÊNCIA DO ESTADO 1980, 1985, 1990 e 1994
0
10,000,000
20,000,000
30,000,000
40,000,000
50,000,000
60,000,000
70,000,000
ICMS TOTAL 1980
REC. TRIB.
MUNICIPAL 1980
TRANSF. DO
ESTADO - TOTAL
1985
ICMS TOTAL 1985
REC. TRIB.
MUNICIPAL 1985
TRANSF. DO
ESTADO - TOTAL
1990
ICMS TOTAL 1990
REC. TRIB.
MUNICIPAL 1990
TRANSF. DO ESTADO
- TOTAL 1993
ICMS TOTAL 1994
REC. TRIB.
MUNICIPAL 1994
TRANSF. DO ESTADO
- TOTAL 1994
Em síntese, estes indicadores econômicos pedem a implementação urgente
de uma política econômica que reverta esse quadro. A seguir apresentaremos algumas idéias
de políticas econômicas.
266
SUGESTÕES DE DIRETRIZES E POLÍTICAS ECONÔMICAS
Desde 1993, vem se tentando privilegiar o setor têxtil e da confecção em
nosso município, tendo em vista que ele gera empregos a custo baixíssimo, aproximadamente
R$ 2.500,00 por novo emprego. A última radiografia que fizemos do setor de confecções, nos
revelou um quadro assustador. Entre 1995 e 1996 fecharam 106 empresas, onde estima-se
perda de 4.636 empregos. Atualmente, este setor possui os seguintes aspectos econômicos:
* Emprega oficialmente e extra-oficialmente aproximadamente 13.200
pessoas;
* Gera uma renda mensal estimada de R$ 32,0 milhões de reais;
* Possui em média 27 máquinas por empresa;
* O percentual de máquinas ociosas estimado é de 14%.
A importância deste setor como fonte geradora de empregos, foi
recentemente confirmada por estudos do BNDES que criou uma linha especial de
investimento para o setor.
Cabe ressalvar que para que este setor se torne dinâmico em nosso
município precisam ser implementadas as seguintes políticas:
* Implantação do Pólo Têxtil e da Confecção, com os seguintes:
i) Crédito de 17% do valor do total do investimento realizado em ICMS,
para empresas novas e a expansão das atuais;
ii) Isenção de tributos municipais por 10 anos;
iii) Aprovação do Projeto Geração de Empregos junto ao governo do
Estado, cujo valor solicitado de R$ 2,5 milhões de reais para capital de giro, irá gerar
aproximadamente 2.000 novos empregos, igual ao gerado pela Renault. A fonte deste recurso
é o FDE do Estado que vem sendo exclusivamente utilizado nos investimento da região
metropolitana.
* Aprovação de uma lei que compute o ICMS gerados pela energia
elétrica e telefonia, para as cidades, onde ocorre fator gerador. Apesar de não termos
confirmação oficial, aparentemente o recolhimento de ICMS é computado inteiramente para a
cidade de Curitiba, tendo em vista a localização da matriz das empresas naquela cidade.
267
* Aprovação de uma lei onde o recolhimento de ICMS por substituição
tributária seja distribuído eqüitativamente entre os municípios.
* Elaboração do Anuário Econômico e Social de Maringá, para ser
utilizado como marketing na atração de novos investimentos.
* Aprovação do Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico e o
Conselho de Desenvolvimento Econômico, para que conjuntamente com o poder executivo
possa implementar políticas específicas para o desenvolvimento econômico e social do
município.
R E P E N S A N D O M A R I N G Á
A Associação Comercial e Industrial de Maringá e o Núcleo da Federação
das Indústrias do Paraná, após diversas sugestões e propostas de associados, decidiram iniciar
o movimento REPENSANDO MARINGÁ, objetivando a retomada do prestígio e do
crescimento econômico que Maringá teve no passado.
Pretende-se ainda sugerir a criação de um Conselho Municipal de
Desenvolvimento Econômico, com caráter deliberativo, o que se obteria com uma alteração
da Lei Orgânica do Município, outorgando poderes ao mesmo para formular a Política de
Desenvolvimento Econômico de Maringá. Com tais poderes poderemos ter um órgão que irá
elaborar propostas e sugestões que poderão eventualmente ultrapassar em muito o mandato de
um determinado prefeito, mas que serão acompanhadas e executadas como um projeto da
sociedade. Igualmente pretende-se sugerir a criação do FMDM - FUNDO MUNICIPAL
PARA O DESENVOLVIMENTO DE MARINGÁ, que receberia um percentual do
orçamento e de outras fontes, para ser gerido e administrado pelo Conselho Municipal de
Desenvolvimento, objetivando respaldar financeira e estrategicamente o órgão executor das
políticas de desenvolvimento econômico, ou seja, a Secretaria Municipal de Indústria,
Comércio e Agricultura.
O Conselho terá grandes responsabilidades como:
268
Com o caráter deliberativo e consultivo, formular e fazer executar as
políticas de desenvolvimento econômico.
O Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá-CODEM,
terá ainda, as seguintes atribuições:
I - Buscar o intercâmbio permanente com os demais órgãos municipais,
estaduais e federais, assim como organismos internacionais e instituições financeiras,
visando, a execução da política municipal de desenvolvimento econômico;
II - Gerir o Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico-FMD,
estabelecendo programas, e prioridades para a aplicação dos seus recursos;
III - Estabelecer diretrizes com vistas a geração de empregos e
desenvolvimento econômico do Município;
IV - Criar, no âmbito de sua competência e com os recursos disponíveis do
FMD ou outras fontes, programas e linhas de crédito de interesse da economia local;
V - Realizar estudos visando a identificação das potencialidades e vocação
da economia do Município;
VI - Identificar problemas e buscar soluções para a geração de emprego,
fortalecimento da economia e atração de investimentos;
VII - Firmar convênios acordos, convênios, termos de cooperação, ajustes,
contratos, com instituições pública ou privadas nacionais ou internacionais;
IX - Contratar serviços de instituições ou profissionais no âmbito público
ou privado, para atender, quando necessário seus objetivos;
X - Instituir, Câmaras técnicas, grupos temáticos, para a realização de
estudos, pareceres, análises de matérias específicas, objetivando subsidiar suas decisões;
XI - Promover fóruns, seminários, ou reuniões especializadas, com o
intuito de ouvir a comunidade sobre os temas de sua competência, quando for necessário, a
juízo do plenário.
XII - Identificar e divulgar as potencialidades econômicas de Maringá,
bem como, desenvolver diretrizes para a atração de investimentos;
XIII - Formular diretrizes para o estabelecimento de uma política de
incentivos fiscais, tributários e outros, visando a atração de novos investimentos, bem como,
a expansão, modernização e consolidação dos existentes;
269
XIV - Divulgar as empresas e produtos de Maringá, objetivando a abertura
e conquista de novos mercados;
XV - Criar um sistema de informações, objetivando orientar a tomada de
decisões, e a avaliação das políticas de desenvolvimento econômico do Município;
XVI - O Conselho no exercício das atribuições previstas nesta Lei, poderá
estender suas ações aos Municípios ou entidades da Região.
Política Industrial
Que aproveite nossa posição estratégica no MERCOSUL, que com o
advento da Estação Aduaneira do Interior (Porto Seco), com a viabilização do novo aeroporto,
deve ser melhor explorada, buscando-se a realização de ações que projetem Maringá como
um centro internacional de negócios do Mercosul, que pode polarizar uma grande área do
interior do Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil, especialmente em relação a negócios com a
Argentina e o Paraguai.
incentivos tributários
isenção de impostos municipais por dez anos
retorno de cinqüenta por cento do ICMS, gerado pelo novo
investimento durante os primeiro cinco anos;
criação de distritos industriais, com venda ou doação de terrenos, nos
termos da política industrial formulada pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento
Econômico de Maringá;
incubadoras industriais - o projeto das incubadoras industriais tem por
objetivo a cessão do espaço físico necessário ao funcionamento de empresas novas, pelo
prazo de até dois anos, onde o empresário encontrará uma estrutura básica compartilhada em
regime de condomínio industrial, e durante o prazo de concessão terá oportunidade para
consolidar-se e, no momento em que puder ter o seu espaço físico próprio deixará a
incubadora abrindo espaço para uma nova empresa.
integração horizontal e vertical da produção em setores chaves - através
deste programa uma ação do município identificaria os setores que poderiam ser objeto de
integração da produção, integração, da gestão, integração da aquisição de matérias-primas,
270
integração da comercialização. Dessa forma usando uma única logomarca, um setor inteiro,
como por exemplo moveleiro, venderiam conjuntos inteiros, como se tivesse sido produzido
por uma única fábrica. Uma empresa produzira por exemplo, tampos de mesa, outra as
cadeiras, outra balcões, outras o estofado, outras acessórios e integradas teriam o seu produto
comercializado com uma marca que as identificasse recebendo suporte do Município na
promoção, divulgação e comercialização de seus produtos, inclusive em nível internacional,
como MERCOSUL. Esta proposta seria viável, para alimentos, confecções, inclusive
agroindústria.
Banco Municipal de Fomento - em decorrência da criação do FUNDO
MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO e, através de convênio com o Banco do Estado do
Paraná S.A, o FMD definiria linhas de crédito para a criação de pequenos negócios. Por
exemplo, a Fundação de Desenvolvimento Social de Maringá, criando um programa para
profissionalizar pessoas à margem da cadeia produtiva, criaria uma linha de crédito especial
de prazo longo, para incentivar a criação do próprio negócio. Exemplo: um bóia fria, treinado
pela Fundação poderia tornar-se um jardineiro, um encanador, um eletricista, um dedetizador,
etc. Evidentemente faltar-lhe-ia capital, para a compra dos equipamentos, ferramentas, enfim
o instrumental necessário ao início da atividade. Provavelmente nenhum banco lhe concederia
tal linha de crédito. Necessitaria também algum capital de giro, até que o seu pequeno negócio
começasse a render. Dessa forma, através do FMD e do convênio mencionado, teria nascido
O BANCO MUNICIPAL DE FOMENTO, que poderia viabilizar um número ilimitado de
linhas, programas, e ações, a juízo do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico.
Criação de cooperativas de trabalhadores autônomos - os pequenos
negócios criados pelo programa, poderiam ser fortalecidos através de uma cooperativa que
congregue trabalhadores autônomos, em uma central que receberia chamados, faria
divulgação, e controle de qualidade dos serviços prestados por seus membros, sendo
desligados aqueles que não atendessem estas condições.
Implantação e fortalecimento de um polo têxtil e da confecção -
Maringá, possui 352 indústrias de confecções, que somadas às da região, ultrapassam mil
empresas.
Estas empresas sofrem a grande competição com os produtos importados, e
não tem claramente definido seu espaço mercadológico, por não possuírem um produto
competitivo e diferenciado.
271
O setor têxtil necessita de um tratamento especial do poder público,
passando, por uma política fiscal e tributária diferenciada, por linhas de crédito que viabilizem
a maturação do projeto em um prazo maior do que as existentes, na adoção de modernas
técnicas de produção, com a incorporação de tecnológica de vanguarda, como CAD
(computer aided design) - onde a montagem do molde de corte é feita pelo computador
minimizando perdas) e do CAM (computer aided manufacturing ), sendo que tais sistemas
poderiam ser compartilhados por empresas e viabilizados pelo FMD, onde o fundo os
adquiriria colocando-os à disposição dos empresário.
Criação de um centro de design, para treinamento de desenhistas de moda,
modelistas, que viabilizassem a geração do produto diferenciado por padrões de modelagem
inovadora, criando um espaço de mercado.
Promoção da cidade como produtora de moda de alto padrão e qualidade.
Central de compras de matérias primas, insumos, equipamentos e demais
componentes da indústria de confecções.
Inserção de Maringá e Região nas políticas macro do Governo do Estado
É necessária uma ação urgente do Governo Estadual para a retomada do
investimento e desenvolvimento na região.
É flagrante o caso do desemprego, do desaquecimento da economia, da falta
da criação de novas empresas e novos negócios, razão pela qual se impõe um tratamento
diferenciado para a região, como meio de contrabalançar as vantagens comparativas de
Curitiba e Região Metropolitana, que nos últimos anos passaram a concentrar os principais e
mais importantes investimentos do Estado do Paraná.
A concentração de investimentos naquela região - Capital e Região
Metropolitana - vem representando também contração de problemas sociais, na medida em
que gera uma expectativa em milhares de pessoas do Paraná e outros Estados para lá se
dirigem na busca do que é hoje o maior sonho do trabalhador que é um emprego digno com
um salário justo.
Dessa forma, para equilibrar tais diferenças regionais, é necessário que o
prefeito de uma cidade como Maringá, assuma posições políticas claras no sentido de mostrar
às autoridades a necessidade de um tratamento tributário que viabilize a atração dos
investimentos tão necessários e desejados.
272
Turismo
Ações junto a operadores de turismo dos grandes centros, objetivando
integrar Maringá, no pacotes, por ele negociais, especialmente nos casos de turismo de
compra, inclusive buscando fortalecer Guaíra como um pólo de turismo de compra, uma vez
que o fortalecimento daquela cidade resultará em grandes benefícios para Maringá.
Buscar na realização de feiras e eventos do gênero, a realização simultânea,
de eventos de nível regional, estadual e nacional, com temas de interesse dos participantes,
como forma de incrementar o turismo de eventos.
A verticalização dos produtos básicos da agricultura regional
Nossa região tem grande produção de grãos, como soja, milho, trigo, de
amido de mandioca, de cana de açúcar, de bovinos, de aves e de suínos e nosso maior desafio
é industrializá-los em todos os níveis, formando uma cadeia produtiva integrada de todos os
produtos.
Dessa forma o grande número de avicultores existentes na região, resulta na
transformação de milho em proteína animal, sendo indispensável o fortalecimento de tal setor
em razão do grande número de empregos, que gera, da distribuição de renda que proporciona,
exigindo um tratamento diferenciado por parte das autoridades.
O Governo do Paraná através do FDE - FUNDO ESTADUAL DE
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, viabilizou a implantação de um pólo dessa natureza
na região de Pitanga, através de linhas de crédito especiais, como prazo longo e taxas de juros
compatíveis, com o retorno da atividade, onde um grande número de produtores passaram a
integrar-se com a FRIGROBRÁS-SADIA, sendo o fomento da atividade avícola todo feito
pelo Governo do Estado.
Necessitamos buscar, atrair empresas com tecnologia de vanguarda para a
verticalização do milho, do amido, o que será possível através da realização de estudos de
viabilidade técnica e econômica, de pré-projetos, que o Município poderia elaborar e oferecer
a investidores no Brasil e no MERCOSUL.
A criação de um Pólo Alcool-Químico, agregando valor à produção da cana
de açúcar que hoje ocupa extensas áreas na região, podendo gerar um maior valor agregado.
Fortalecimento do setor de couros e curtumes, buscando a implantação de
unidades de terminação de couros e de industrialização de seus derivados. Grande parte dos
273
curtumes do Paraná encontram-se em nossa região, todavia quase todos não terminam o
processo de industrialização do couro, sendo que uma ação importante seria a terminação do
couro e a criação de indústrias de derivados a partir da oferta de tais matérias primas,
inclusive produzindo moda de couro, para cujos produtos há grande demanda, integrando e
fortalecendo o setor de confecções, hoje já representativo em nossa região.
Política de Desenvolvimento Agro-Industrial
Profundas mudanças no modelo agrícola de nosso Município fizeram com
que perdessemos população no campo.
Tal situação exige de nossas autoridades uma política agressiva de suporte
ao homem do campo, com a adoção de tecnologia de ponta, de um programa forte de micro-
indústrias rurais, onde possamos inverter a rota levando o homem de volta para o campo,
produzindo alimentos de alto valor agregado, com o Município e o Estado, oferecendo suporte
de crédito, assistência técnica e comercialização. É viável a criação de um grande centro de
comercialização de produtos agro-industriais, aproveitando o potencial de Maringá como
polo de uma região de quase dois milhões de pessoas, além de milhares de turistas que
mensalmente passam por Maringá em direção ao Paraguai.
O produtos seriam gerados a partir de programas do Município com a
EMATER, como resultado de um programa, que passa pelo treinamento, dos produtores,
divulgação de técnicas e processos produtivos, controle de qualidade feito pela Universidade
Estadual de Maringá e pelo Instituto de Tecnologia do Paraná-TECPAR.
Planejamento
Criação de um órgão forte que possa planejar ações, estratégias, buscar
caminhos, recursos, e sugerir medidas que beneficiem o desenvolvimento de Maringá e
região.
Fortalecimento de nossas Instituições
Buscar definição de política do Governo do Paraná para o ensino superior e
o fortalecimento de nossa rede de saúde, apoiando, as reivindicações e projetos institucionais,
274
é indispensável para o desenvolvimento econômico, a existências de instituições de
excelência em educação e saúde.
Pelo exposto, as lideranças empresariais de Maringá estão conduzindo o
movimento denominado REPENSANDO MARINGÁ, com a esperança de empolgar pessoas,
envolver entidades e fazer com que cada Maringaense seja parte ativa neste processo de
retomada do desenvolvimento, da recuperação do prestígio, uma vez que só temos duas
alternativas: CRESCER OU CRESCER.
Estamos nos colocando como força auxiliar de nossas autoridades e da
classe política. Não se trata de um movimento de substituição dos políticos ou de autoridades,
mas sim da busca do exercício da cidadania da integração das organizações da sociedade civil,
com nossas autoridades e representantes.
275
Anexo 3:
DIRETRIZES PARA MARINGÁ 2020
Objetivos para a consolidação
O Movimento Repensando Maringá, que culminou com a criação do CODEM,
definiu a Maringá esperada para o ano 2020, como esforço de programação de
longo prazo da cidade desejada para o futuro. Essa definição constitui-se em norte
orientador das ações e da construção de políticas de desenvolvimento
econômico do CODEM. Foram as seguintes principais definições de objetivos a
serem perseguidos, por câmara técnica ou grupo de estudo, para a Maringá de
2020.
1- CÂMARA DE ASSUNTOS COMUNITÁRIOS
Diretrizes
O crescimento da cidade deve ser planejado de maneira a consolidá-la como cidade
de porte médio com população aproximada de 500.000 habitantes. A qualidade de
vida deve constituir-se no principal objetivo da sociedade, compreendendo melhor
distribuição de renda, elevados padrões de riqueza, de educação, de saúde, de
saneamento, de habitação, de urbanização, de comunicação, de transporte, de
segurança, a preservação do meio ambiente e com desenvolvimento harmônico do
maringaense em artes, música, filosofia, folclore, literatura, esporte, lazer e línguas.
O planejamento urbano deve integrar o desenvolvimento humano com a natureza,
de maneira a harmonizar o homem e a natureza. A sociedade civil deve ser
organizada e representativa na ação política objetivando o bem comum. Maringá
deve constituir-se no local onde o ser humano possa ser plenamente feliz com a sua
dignidade respeitada num ambiente de plena liberdade.
2- CÂMARA DE ASSUNTOS UNIVERSITÁRIOS E CÂMARA ESPECIAL PARA
ASSUNTOS DA UEM
Diretrizes
Transformar Maringá em centro de excelência de desenvolvimento científico e
tecnológico e de formação universitária. As demandas, necessidades e/ou
deficiências regionais devem ser objeto de profunda investigação e domínio no
sentido de identificar os meios de atendê-las ou superá-las. A formação
empreendedora deve se constituir em matéria curricular dos ensinos superior e
médio.
3- CÂMARA DE INTEGRAÇÃO TECNOLÓGICA
Diretrizes
276
O crescimento econômico deve ter como fim último o desenvolvimento social e o seu
processo contínuo deve buscar sustentabilidade com controle e preservação
ambiental. Portanto, o que se pretende é que a cidade se torne um centro avançado
de geração e integração tecnológica, com capacidade para desenvolver e aprimorar
produtos, processos e serviços. Para isso, poderá instalar o Centro de Tecnologia
Industrial, Incubadoras Tecnológicas e um Centro de Empreendedorismo, visando a
consolidação de uma Tecnópolis. O objetivo é o de alcançar modelo econômico
sustentável, com atividades de grande agregação de valor que proporcionem
elevados níveis de emprego e renda à população local. Novas atividades, tais como
software e comunicações, devem receber especial atenção para vocacionar a
Cidade na geração dessas riquezas.
4- CÂMARA DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS
Diretrizes
As oportunidades de negócios devem ser criadas para o aproveitamento dos vazios
setoriais e para o alongamento de cadeias produtivas, privilegiando a agroindústria,
as atividades de alta agregação de valor e com uso intensivo de tecnologias. Os
investimentos em turismo e lazer devem merecer atenção especial. Também deve
estabelecer mecanismo para detectar e possibilitar acesso a fontes de
financiamentos e investidores para as diversas áreas objeto da ação do CODEM. O
setor de serviços será o maior absorvedor de mão-de-obra, portanto, o seu
fortalecimento contribuirá para a geração de postos de trabalho, vocacionando a
cidade como centro prestador de serviços, consolidando-a como pólo de excelência
em seus serviços tradicionais de educação e saúde e aperfeiçoa-la na realização de
eventos e nas atividades de turismo, lazer, artes, arquitetura, urbanismo e
gastronomia, entre outras.
5- CÂMARA DE AGRICULTURA E AGROINDÚSTRIA
Diretrizes
Consolidar Maringá como pólo agroalimentar de base tecnológica, com agricultura
empresarial forte, diversificada e internacionalmente competitiva. As pequenas e
micro propriedades rurais devem ser preservadas, buscando-se, para isso,
desenvolver atividades que permitam sustentabilidade econômica e ambiental.
6- CÂMARA DO COMÉRCIO EXTERIOR
Diretrizes
Atribuir à Cidade a função de centro de comércio internacional, com a constituição
de um portal do Brasil e do Resto do Mundo para o Mercosul e vice-versa. Também
deve integrar as diversas entidades empresariais para definir políticas e diretrizes
com o objetivo de fomentar ações que fortaleça as condições para consolidar
Maringá como cidade exportadora. O setor de serviços será o maior absorvedor de
277
mão-de-obra, portanto, o seu fortalecimento contribuirá para a geração de postos de
trabalho.
7- CÂMARA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E SETOR IMOBILIÁRIO E COMISSÃO
NOVO CENTRO/AEROPORTO
Diretrizes
O crescimento da cidade deve ser planejado de maneira a consolidá-la como cidade
de porte médio com população aproximada de 500.000 habitantes. A qualidade de
vida deve constituir-se no principal objetivo da sociedade, compreendendo
saneamento, habitação, urbanização, comunicação, transporte. O planejamento
urbano deve integrar o desenvolvimento humano com a natureza, de maneira a
harmonizar o homem e a natureza. O setor de serviços será o maior absorvedor de
mão-de-obra, portanto, o seu fortalecimento contribuirá para a geração de postos de
trabalho.
8- CÂMARA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E SETOR DO VESTUÁRIO
Diretrizes
Transformar Maringá em Pólo da Indústria Têxtil e centro produtor de moda
reconhecido como “Capital da Moda” do sul do Brasil. E ainda caracterizar Maringá
como um centro de formação e treinamento de recursos humanos para diversas
áreas de produção e da gestão industrial e de serviços, mediante a instalação de
Centro de Tecnologia Industrial, de Incubadoras Tecnológicas e de um Centro de
Empreendedorismo, visando a consolidação de uma Tecnópolis. O objetivo é o de
alcançar modelo econômico sustentável, com atividades de grande agregação de
valor que proporcionem elevados níveis de emprego e renda à população local. O
setor de serviços será o maior absorvedor de mão-de-obra, portanto, o seu
fortalecimento contribuirá para a geração de postos de trabalho.
09- CÂMARA DA EDUCAÇÃO (Incluída)
Diretrizes
A educação é fator importante para a população maringaense no processo de
desenvolvimento e está adaptada às necessidades de formar consciência e preparar
para o mundo competitivo. O ensino médio é de qualidade com formação em áreas
técnicas para atender as necessárias do município A formação empreendedora e de
liderança deve se constituir em matéria curricular.
Que Maringá seja reconhecida como cidade de cultura elevada e geradora de
conhecimento, tornando-se um polo referencial em educação.
10- CÂMARA DE SERVIÇOS DE SAÚDE (Incluída)
278
Diretrizes
Consolidar Maringá como centro prestador de serviços, transformando a cidade
como pólo de excelência em serviços de saúde, integrando os vários setores da
atividade, para ampliar a oferta de especialidades, desenvolvendo e absorvendo
novas tecnologias.
11- CÂMARA DE ASSUNTOS DO GASODUTO (Assuntos de Infra-estrutura)
Diretrizes
9 Gasoduto e Rede de distribuição
9 Termelétrica
9 Hidrovia do Ivaí
9 Aeroporto Internacional
9 Parques Industriais, Cidade Industrial, Business Park
9 Rodovias
9 Ferrovia
9 Telecomunicações/Teleporto
9 Hidroelétrica de Três Figueiras
ESTRATÉGIA DE AÇÃO DO CODEM
Tomando o conjunto de objetivos definidos para a Maringá de 2020 como diretriz
para as ações do CODEM, este definiu suas estratégias que conduzisse a Cidade
para aquilo que sua comunidade almeja que ela seja em 2020.
O primeiro passo foi o de eleger um modelo teórico que pudesse explicar e orientar
as ações que promovam o desenvolvimento econômico e que, portanto, poderia ser
tomado como estratégico para o cumprimento das funções do Conselho.
Neste sentido, o CODEM entende que o desenvolvimento econômico de uma
sociedade está estreitamente ligado à capacidade inovadora de seu povo. A
inovação se manifesta de diversas formas e são pelos novos investimentos que ela
gera que se impulsiona o desenvolvimento econômico e social. Sem a inovação e os
aspectos monopolísticos a ela intrínsecos, a economia não experimentará surtos de
desenvolvimento, mas simplesmente poderá crescer até o nível do aumento
vegetativo da sua população.
A capacidade inovadora é uma das principais características do empreendedor.
Portanto, quanto mais empreendedores dispor uma sociedade, maior poderá ser o
seu nível de desenvolvimento. Uma sociedade cresce e se desenvolve por meio da
figura do empreendedor, cuja principal função é criar novos produtos ou serviços ou
novas maneiras de produzi-los para atender determinada demanda, efetiva ou
potencial.
279
Sob o ponto de vista local ou regional, os empreendedores podem ser formados
através de seu sistema educacional e/ou obtidos por migração e/ou atraídos por
meio de oportunidades para seus empreendimentos.
A hipótese da migração do empresário empreendedor é muito remota, o que não
recomenda esforços específicos. A formação do empresário empreendedor trará
resultados somente no longo prazo, mas é uma estratégia de implementação
indispensável, para os propósitos do desenvolvimento auto-sustentável. Finalmente,
a hipótese de atrair os empreendedores por meio de seus investimentos, é a que
proporciona resultados mais imediatos, podendo, inclusive, criar ambiente mais
propício para o surgimento de empresários empreendedores locais.
Diante dessas premissas, a espinha dorsal do planejamento do desenvolvimento
estabelecida pelo CODEM, envolve ações, cujos retornos esperados, estão calcadas
em três dimensões temporais: curto, médio e longo prazos.
1. Curto Prazo:
Criação de mecanismos e políticas que atraem empreendedores externos a facilitem
os aqui existentes a ampliarem seus investimentos e negócios. Sob estas
perspectivas, foram ou estão sendo implementados os seguintes projetos ou ações:
Zona de Processamento Aduaneiro (ZPA); Executado
Centro de Distribuição do Mercosul; Proposto
Cinturão Verde; Proposto
PRODEM – Programa de Desenvolvimento Econômico de Maringá-; Executado
Incubadora Tecnológica; Executado
Apoio aos Executivos Municipal e Estadual, na Atração de Investimentos
(Solabiá, GVT, Alcatel e outras Empresas ZPA e várias em negociação); Em
andamento
Maringá é Qualidade de Vida; Em parte
Casa de Microcrédito –Banco do Povo-; Executado
Selo de Qualidade e de Controle Sanitário de Produtos Artesanais para Consumo
Humano, de Origem Animal ou Vegetal; Proposto mas não evoluiu. Deverá ser
retomado com o projeto do Agropólo
Pólo da Indústria Têxtil e da Confecção; Proposto: evolução parcial
Marketing de Maringá (Folder, Vídeos, CD-ROM, Web Page, etc.) Executado;
fazer nova edição atualizada
Cursos de Treinamento e Requalificação Profissional (SERT/FAT); Em execução
Contenção dos Condomínios Rurais; Executado
Audiência Pública para Corrigir Problemas de Impacto Ambiental; Executado
Escola de Jardinagem; Em andamento
Projeto Via Empresa da SEICT; Em andamento
Participação na defesa do projeto do Arenito Caiuá; Em andamento
Proposta de extensão do Projeto Arenito Caiuá para as regiões de arenito dos
Estados de São Paulo e do Mato Grosso do Sul; Proposta ao Governo do Estado
Proposta de ocupação do Novo Centro e do Aeroporto Gastão Vidigal; Em
andamento
Revitalização da ZPA; Em andamento
280
Implantação do Maringá “Convention and visitors Bureau”; Projeto sendo
conduzido pela SEICT
Projeto de abordagem estratégica para a reciclagem do lixo de Maringá; Proposto
ao Município e não implantado
Censo Econômico em Maringá; Em andamento
Agropólo para a Região da AMUSEP; Em andamento
Centro Regional de Tecnologias Emergentes da Grande Área de Maringá; Em
andamento
Via Turística Rural; Em andamento
2. Médio Prazo:
Direcionamento dos investimentos por meio dos planos de desenvolvimento setoriais
visando atrair, consolidar e emergir novos empreendedores nos diversos ramos do
comércio, indústria e prestação de serviços, em especial, naqueles em que, devido a
vocação do Município e da Região, possuem vantagens comparativas.
Diante das impossibilidades financeiras e técnicas do Conselho elaborar os planos
de desenvolvimento setoriais, optou por gerar um documento a partir de propostas
formuladas, discutidas e eleitas pelas entidades que o compõem, denominado “O
Que Maringá Espera do Novo Governo”. O objetivo foi de propor aos então
candidatos a governador do Estado, um conjunto de ações que viessem ao encontro
dos propósitos de desenvolvimento econômico de Maringá e Região, para serem
implementadas pelo Governo eleito.
Este documento tem balizado o CODEM em suas ações de alcance de médio prazo.
Vários projetos e propostas de políticas de desenvolvimento nele contidos, estão ou
devem ser implementadas. Além desse documento, novos projetos de carácter
instrumental e estrutural estão sendo definidos e implementados.
Agência de Desenvolvimento Regional: Proposto como ZPA 2, mas ainda não
prosperou;
Cursos Profissionalizantes de Nível Pós-Médio; Centro Tecnológico de Maringá -
CTM
Programa de Industrialização do Interior do Paraná: Infra-Estrutura
Internacionalmente Competitiva, compreendendo:
- Gasoduto; em andamento
- Termelétrica; em andamento
- Hidrovia do Ivaí; em início
- Hidroelétrica de Três Figueiras; em discussão
- Duplicação das Rodovias; PPA (Gov. Fedral0
- Extensão da Ferrovia de Cianorte a Guaíra e de Maringá a Campo Mourão;
PPA (Gov. Federal)
Região Metropolitana de Maringá; Lei a regulamentar
Cidade Industrial de Maringá e Distritos Industriais das Cidades da Região
Metropolitana e Business Park;
Aeroporto Internacional de Maringá/Parque de Negócios;
281
Trem de passageiros Maringá/Londrina (VLT);
Maringá-Tecnópolis (incubadoras, laboratórios, facilidades físicas, infra-
estruturais, financeiras, logísticas, etc.)
Construção e análise de Indicador de Atividade Econômica; em andamento
Matriz Insumo-Produto para a Região Metropolitana; em andamento.
3. Longo Prazo:
São políticas que visam a formação de novos empreendedores, por meio da
adequação do sistema educacional local. Neste sentido o CODEM:
Participou ativamente para viabilizar a oferta de cursos de formação de
empreendedores, pela Universidade Estadual de Maringá e pelo SEBRAE,
destinados a alunos de graduação;
Prestou o seu apoio institucional e participou das negociações para viabilizar a
oferta dos cursos de graduação pela UEM na área de tecnologia (Engenharias);
Vem participando do processo de viabilização dos recursos para as edificações
do Câmpus da Universidade;
Vem implementando, por meio de sua Câmara de Assuntos Universitários, o
projeto que visa adequar os currículos dos cursos oferecidos pelas IES de
Maringá, para oportunizar a formação de empreendedores, objetivando alertar as
IES para essa conveniência e passar a incluir em seus cursos, conteúdos
programáticos que contemplem tal formação. Pesquisa nesse sentido está sendo
elaborada envolvendo os alunos formados pelas IES (Instituições de Ensino
Superior) de Maringá;
Participou ativamente da criação do CTM –Centro Tecnológico de Maringá- o
qual viabilizará a oferta dos cursos de formação profissional de níveis médio e
pós-médio. Já foi firmado convênio com o Ministério da Educação no valor de R$
2,2 milhões para instalar os laboratórios do Centro. No próximo ano, os cursos
devem ser ofertados em parceria com o Senai.
282
Uma economia só presta, só faz sentido, só vale, se
ela existir para alimentar, educar e empregar as
pessoas. Todas as empresas públicas ou privadas,
grandes ou pequenas, nacionais ou multinacionais,
só prestam, só valem a pena, se elas contribuírem
para construir um país onde todos possam ter o
atendimento de suas necessidades fundamentais.
Betinho
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